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H483A: Brasil II (Brasil Império)

2º semester de 2010
Professor: Robert Slenes

PROVA (1ª avaliação)


Ensaio a ser feito fora da sala de aula

Escreva um ensaio sobre UMA das seguintes questões:

1. A seguir, uma citação do historiador italiano Giovanni Levi sobre a micro-história.


Comente-a (concordando, discordando, criticando) à luz da bibliografia sobre a
escravidão no Brasil.

“Embora a escala como uma característica inerente da realidade certamente não seja
um elemento estranho, no debate da micro-história ela é, sem dúvida, tangencial; porque
o problema real está na decisão de reduzir a escala de observação para propósitos
experimentais. O princípio unificador de toda pesquisa micro-histórica é a crença em
que a observação microscópica revelará fatores previamente não observados. Alguns
exemplos desse procedimento intensivo são a reinterpretação do caso contra Galileu
como uma defesa das noções aristotélicas de substância, e da Eucaristia contra um
atomismo que teria tornado impossível a transformação de vinho e pão em sangue e
carne; o enfoque sobre um único quadro e a identificação de quem ele representa como
um meio de investigação do mundo cultural de Piero della Francesca; o estudo das
estratégias matrimoniais consangüíneas em uma pequena aldeia na região de Como para
revelar o universo mental dos camponeses do século dezessete; a [análise da] introdução
do tear mecânico, observada em uma pequena aldeia têxtil, para explicar o tema geral da
inovação, seus ritmos e efeitos; o estudo das transações de terra de uma aldeia para
descobrir as regras sociais do intercâmbio comercial que operam em um mercado (...).
(...)
“Apesar de ter suas raízes no interior do círculo de pesquisa histórica, muitas das
características da micro-história demonstram os laços próximos que ligam a história à
antropologia – particularmente aquela ‘descrição densa’ que Clifford Geertz encara
como a perspectiva adequada do trabalho antropológico. Em vez de se iniciar com uma
série de observações e tentativas para impor sobre elas uma teoria do tipo legal [sic:
deve ser ‘teoria que tente estabelecer “leis”’], esta perspectiva parte de um conjunto de
sinais significativos e tenta ajusta-los em uma estrutura inteligível. A descrição densa
serve portanto para registrar por escrito uma série de acontecimentos ou fatos
significativos que de outra forma seriam imperceptíveis, mas que podem ser
interpretados por sua inserção no contexto, ou seja, no fluxo do discurso social. Essa
abordagem é bem-sucedida na utilização da análise microscópica dos acontecimentos
mais insignificantes, como um meio de se chegar a conclusões de mais amplo alcance”.

Giovanni Levi, “Sobre a Micro-História”, in: Peter Burke, org., A Escrita da História:
Novas Perspectivas (São Paulo: Ed. Unesp, 1992), pp. 139-40.
2. A seguir, uma citação do historiador Stuart Schwartz a respeito do padrão de posse de
escravos no Brasil na primeira metade do século XIX e suas implicações sociais,
culturais e políticas. Comente o trecho (concordando, discordando, criticando) à luz da
bibliografia sobre as questões levantadas por ele.

“No Sul dos Estados Unidos [1790-1850] e no Recôncavo [baiano, 1816-1832],


menos de 10% dos escravos viviam em plantéis de mais de cem cativos, em contraste
com mais de 60% dos escravos nas mesmas condições na Jamaica [em 1832, que era
bastante típica das outras ilhas caribenhas produtoras de açúcar na mesma época]. (...)
Na Bahia, [a categoria de proprietários de 1-5 escravos] englobava 64% dos senhores e
15% dos escravos. [São porcentagens semelhantes às dos Estados Unidos: 55% dos
senhores e 15% dos escravos em 1790, e respectivamente 50% e 10% em 1860.]
Presumivelmente os números para o Brasil como um todo seriam iguais ou maiores,
considerando sua diversidade econômica. (...)
“Essa análise quantitativa (...) sugere uma série de implicações acerca das ações e
percepções de escravos e livres na sociedade baiana. (...) [O]s complexos arranjos
quanto à posse de escravos na produção açucareira, o grande número de plantéis
pequenos e médios e a ampla distribuição da propriedade de escravos entre a população
livre significavam que aquela não era uma sociedade de meros senhores de engenho e
seus cativos. Em vez disso, centenas de indivíduos ou famílias com um ou dois ou
mesmo cinco cativos, cujo investimento na escravidão era quantitativamente pequeno
mas cuja vinculação à instituição não era menos real, devem também ser considerados
integrantes do sistema escravista. Eles formavam a maioria dos proprietários de escravos
e controlavam uma substancial proporção da escravaria. Qualquer discussão sobre vida,
aculturação, oportunidades familiares e rebeliões escravas devem levar em conta esse
padrão. (...)
“Em The world the slaveowners made [O mundo que os senhores de escravos
criaram], Eugene Genovese apontou o que lhe pareceu uma anomalia: os proprietários
de escravos no sul dos Estados Unidos e no Brasil eram muito parecidos. Esse autor
afirmou que, apesar das origens burguesas dos senhores sulistas norte-americanos e das
tradições senhoriais dos senhores de engenho baianos, ‘ambos aproximavam-se ao
máximo dos padrões de paternalismo que associamos à plantation patriarcal’. Atribuiu
essa semelhança ao regime de grande lavoura e ao contato entre negros e brancos nele
existente. (...). [Também,] enfatizou a importância de uma classe de proprietários
residentes na formação dessas sociedades patriarcais, mas o que pode ser até mais
importante é o fato de a maioria dos senhores viverem em propriedades com menos de
cem cativos, lugares grandes o bastante para desenvolverem-se todas as estruturas
básicas da vida cotidiana, mas de um tamanho que permitia ao proprietário ou
proprietária conhecer seus cativos bem o suficiente para interferir em suas vidas de
maneira direta e pessoal. (...)
“Parece que o problema na Bahia e nos Estados Unidos não era o fato de o
patriarcalismo sofrer as restrições dos plantéis de escravos grandes demais. Muito pelo
contrário, a maioria dos senhores e a maioria dos escravos viviam em residências sob
condições de trabalho nas quais os ideais do patriarcalismo eram difíceis de manter. As
grandes famílias aristocráticas de latifundiários realmente estabeleciam o caráter social
das sociedades escravistas. Porém, dada a predominância de pequenos plantéis, a
hegemonia das atitudes aristocráticas e sua difusão geral por uma população que não
dispunha de base material para sustentá-las simboliza a força do escravismo como
ideologia e como sistema econômico. As relações de produção eram tipificadas pelas
grandes propriedades agrícolas, mas na verdade nem a maioria dos senhores nem a
maioria dos escravos interagia dentro daquele contexto.
“Na historiografia brasileira desenvolveu-se uma interpretação do movimento pela
independência e seu relacionamento com a mudança social que pode ser chamada de
neopopulista. Ora claramente afirmada, ora implícita, essa interpretação sustenta que nos
esforços pela obtenção da independência, as estruturas existentes da propriedade e da
sociedade não foram seriamente questionadas, porque as principais figuras em tais
movimentos (...) eram das elites de comerciantes e latifundiários, precisamente as
pessoas mais fortemente interessadas na continuidade da escravidão. (...) [Ora,] [s]em
dúvida a elite determinou a trajetória da independência política, mas o programa que
formulou não era extrínseco ao contexto da sociedade brasileira como esta se
desenvolvera no período colonial. De fato, um grande número de brasileiros participou
da instituição da escravidão, ou ligou-se a ela de outro modo, e desejava – ou até mesmo
ansiava por – sua continuidade”.

Stuart B. Schwartz, Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial (São


Paulo: Cia das Letras, 1988 [1985]), pp. 374-76.

Entrega das provas: até 2ª feira, 15/11, final da tarde, na secretaria do


Departamento de História, IFCH.

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