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Cultura e a Terra em Moçambique

Por Reginaldo Albino Gundane

Introdução
O direito à terra é uma das questões centrais quando se fala de desenvolvimento, moradia,
igualidade de género e à preservação do património cultural. Tais associações, surgem
pela ausência, no direito internacional, de uma legislação de terra.
Será que o direito à terra constitui um direito humano? Deve constituir, na medida em
que não é possível se respeitar os direitos acima referidos sem a terra. Mas a terra, para
além de constituir uma base de subsistência física, os seus habitantes lhe atribuem vários
significados, que podem ser locais sagrados, de diversão, de identidade, de educação ou
de culto, o que a transformará em um território simbólico.
A Lei de Terra coloca as normas costumeiras no centro do registo e segurança da terra,
desta forma os lideres comunitários são a extenção do Estado. No ano 2000, o governo
reconheceu formalmente o líderes tradicionais, como gestores dos processos de registo,
consulta às comunidades e gestão de conflitos locais, desde que estejam em conformidade
com a constituição. Será que ao elaborar tais leis, tomou-se em consideração o significado
que a terra representa às comunidades? Como é que os sistemas de atribuição e de registo
são feitos com base no território simbólicos?
Este ensaio defende que os direitos da terra devem ser vistos como direitos de territórios
simbólicos e devem ser defendidos acima dos interesses económicos.
.
 Cultura e a terra
Habitar uma terra implica um ligação que ultrapassa o espaço físico. O Homem, é um ser
activo, na medida em que não só é influenciado pelo local em que habita mas ao mesmo
tempo ele influencia este local. Ao habitar um local, o Homem, começa a se ligar com
um a história local ao mesmo tempo que se insere e construi uma outra. Esta história que
se encontra carregada de custumes, valores, moral e religiões, está em contínua mutação,
ou seja o homem está sempre num processo de formação histórico-cultural (Nascimento,
2010: 46).
Esta fusão dos antigos e novos aspectos culturais, irá tornar este lugar simbólico. Começa
a se atribuir significados a certos locais, tais como sagrados, de diversão ou de comércio.
Por exemplo: na comunidade Caiana dos Crioulos, no Brasil, quando morrem o pai e a
mãe de uma família, na casa onde eles moravam não passa a morrar ninguém, e passa a
ser considerado sagrado (Nascimento, 2010: 46). Como é que um espaço físico passou a
ser sagrado? A terra, para este povo, é o lugar e razão da fé e confiança na presênça dos
seus antepassados e da esperança da posse definitiva de uma nova habitação após a morte
(Reis, 2012: 106).
O espaço físico é o lugar de dimensões simbólicas e se transforma em território a partir
de uma identidade criada pelos seus habitantes e de uma ideologia cultural manifestada
nas relações políticas, sociais, econômicas e culturais (Sousa, 2013: 167). Não é a terra
que determina o significado simbólico, que a ela se atribui, mas as comunidades. Por
exemplo, os ciganos, que são um povo nómada, quando chegam a um determinado local,
trazem consigo modos de vida e objectos encharcados de significados. Este povo, dá
sempre um mesmo significado às diferentes terras que habita, pois sempre leva consigo
um território simbólico (Nascimento, 2010: 48).
Segundo Sousa (2013:167), a dimensão simbólica depende do espaço e do tempo e é
percebida nas diferentes práticas cotidianas dos grupos e por isso é imensurável e
imaginária. Torna-se imaginativa porque é dentro das comunidades que se desenvolve a
simbologia da terra, ou seja não se sabe onde ela começa e nem onde termina, variando
de comunidade para comunidade. Cada comunidade, no entanto, será um lugar cultural,
com técnicas, representações e expressões artísticas. Por exemplo os conhecimentos
culturais da população paraibana são dos moradores do paraíbe que podem ser diferentes
dos moradores da machava (Nascimento, 2010: 48).
A definição de comunidade, embora o nome possa ser diferênte de entre alguns países,
trata de indivíduas que habitam um certo local. Por exemplo, o artigo 1 da Lei de Terras
de Moçambique, define a terra como um agrupamento de famílias e indivíduos, vivendo
em circunscrição territorial de nível de localidade ou inferior, que visa a salvaguarda de
interesses comuns, através da proteção de árias habitacionais, áres agrícolas, sejam elas
cultivadas ou em pousio, florestas, sítios de importância cultural, pastagens, fontes de
água e áres de expansão. O artigo 196 do Código de 1940 e Lei Orgânica Ultramar, define
fraguesia rural como um agregado de famílias que, adentro do território municipal ou
concelhio, desenvolve uma acção social comum por intermédio de órgãos próprios
(Cambaza, 2009: 6).
Ou seja, para as comunidades, terra é a condição de sobrevivência física, e a cultura, o
elo de ligação simbólica. Por exemplo, o governo, que assegura o desenvolvimento
económico, para poder intervir ou apoiar as comunidades deve primeiro consultá-las, por
mais que haja espaços desabitados ou projectos que não afetem directamente a
comunidade (Reis, 2012: 119).
Então, a terra, deve ser encarada não só como espaço fisico, mas também como o espaço
cultural que é, em essência, a identidade e património de um povo. Por isso que “as
práticas, representações, expressõpes, conhecimentos e técnicas – junto com os
instrumentos, objectos, artefactos e lugares culturais que lhe são associados – que as
comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte
integrante do seu património cultural” (UNESCO: 2003)
Assim, a UNESCO (2003) afirma que a terra, é um lugar cultural, e por sua vez, a
Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) no artigo 22, afirma que os direitos
culturais devem ser respeitados pois são indispensáveis a dignidade humana e ao livre
desenvolvimento da personalidade e acrescenta, no artigo 27, os direitos dos indivíduos
na participação da vida cultural da sua comunidade.
Barreto (2007: 83), afirma que espaço cultural é um direito humano e deve ser protegida
de repressores que desejam limitar ou retirar do indivíduo, temos desta forma, o direito
à terra, a partir da cultura.
Reis (2012: 119-120) apresenta uma visão mais ampla acerca da entrada das questões da
terra nas discussões internacionais, ao afirmar que o direito à terra, surge na relação entre
a posse da terra e o gozo de outros direitos humanos tais como o direito à alimentação e
à moradia; da crítica ao reconhecimento absoluto da propriedade; na necessidade de
resgatar o elo histórico entre as subjectividades colectivas com o acesso à terra, que
implica o acesso à história, à religião, às crenças e ao meio ambiente; e na necessidade da
justiça, no que se refere ao conflito de terras, por exemplo as divergências registadas por
todo mundo entre os camponêses e as empresas privadas.
A necessidade de preservação dos direitos da terra, através destes argumentos, levou a
criação da Via Campesina, em 1993 na Bélgica, do qual fazem parte pequenos produtores
de vários paíes de todos os continentes. Um dos seus objectivos era que a questão da
posse da terra fezesse parte das agendas das organizações Internacionais, como a
Organização das Naçoers Unidas, como uma das bases do combate à fome no mundo
(Reis, 2012: 121).
Esta via de se chegar ao direito à terra através dos outros direits, demonstra a lacuna no
direito internacional em relação a terra como direito humano. Mas, ao mesmo tempo, esta
situação mostra uma certa contradição ao se falar do campesinato, da moradia e da
alimentação sem se falar em primeiro lugar do alicerce destes direitos, que é a terra
(Gilbert, 2013: 121).
Porém estes direitos apresentam polémicas, mesmo, no direito internacional, por exemplo
o direito à propriedade que é vista como uma questão de segurança, para os que já
possuem as terras, e como uma forma de eliminação de discriminações contra as
mulheres, exeste o problema de aceitação por parte de alguns países como Moçambique,
onde a terra propriedade é do Estado (Gilbert, 2013: 121).
No Pacto Colonial de 1933, o governo colonial garantia a propriedade e posse de terra
aos indígenas, mas em 1954, a Lei Orgânica do Ultramar, retirou o direito á propriedade,
defendendo os direitos aos indígenas pela sua ligação à terra através dos seus ancestrais.
Isto porque, o direito à terra no período colonial, funcionava apenas como parte integrante
de um precesso de subordinação e dominação portuguesa (Cambaza, 2009:7).
O direito à propriedade nunca mais voltou a ser reconhecido na legislação moçambicana,
nem no tempo colonial nem no período pós colonialismo (Cambaza, 2009:7), ao mesmo
tempo que a Declaração dos direitos Humanos de 1948, afirma no artigo 17, que toda
pessoa tem direito à propriedade. Tal facto não significa que há alguma violação deste
declaração por parte do Estado Moçambicano, como afirmamos antes, não existe uma
ligação directa do direito à terra nos declarações e pactos internacionais. Mas permanece
o facto de que o direito à terra ou a terra como propriedade é vista como fazendo parte de
liberdade contra o arbítrio governamental (Gilbert, 2013: 125).
Uma das discussões da actulidade é questão da imacipação das mulheres. Em matérias de
género, o direito á terra está ligado à herança, na medidada em que em sociedades
machistas existe a preferências em se passar a terra aos filhos varões; ao casamento, por
ser frequente o registo da terra ser feiro pelos homems e à distribuição tendenciosa, por
parte dos governos, que favorece aos homems (Narciso, 2013: 1-2). Mas o facto de estas
formas de encarar a mulher aparecer em estudos recentes, indica pouca evolução na
aplicação dos decretos internacionais. Já em 1979 a UNESCO (1979), assegurava, aos
cônjugues, os mesmos direitos em relação á propriedade e trazia uma solução não só de
igualidade mas de equidade de género (Gilbert, 2013: 125).
Para Moçambique, sendo um país que depende da agricultura, a questão do direito à terra
para as mulheres é fundamental, principalmente se estiver ligada às comunidades e à
família, pois elas são o maior número de camponeses. Esta questão de género, por estar
ligada a luta contra a pobreza mas ao mesmo tempo o desenvolvimento, vai ao encontro
da justiça social. Assim, o governo tem a obrigação de que os sistemas informais e formais
não descriminem as mulheres no acesso à terra e que não haja fovoritismo masculino
nesse processo (Gilbert, 2013: 129).
São os camponêses que trabalham a terra e a sua marioa é do género feminino. O
Dicionário de Filosofia (1993), defende que a justiça de um lado exige o respeito da
norma do direito positivo e do outro lado exige o respeito aos direitos dos outros (Durozoi,
1993).
A pergunta que se coloca é esta: se a terra, que é propriedade do Estado é um pontencial
de erradicação da pobreza urbana e rural, e ao mesmo tempo é um bem comum que deve
ser usado em benefício de todos os moçambicanos, será que os mais pobres teriam
chances do que os mais ricos, ou por outra será que os nativos tem as mesmas
oportunidades que as impresas têm, num contexto onde o dinheiro é uma parte integrante
da maioria das relações sociais em Moçambique?
Poderíamos responder a esta pergunta, analisando o negócio de terrenos em Maputo e
Matola. Nestes lugares existe, por dois motivos, a periferização dos nativos. Primeiro, as
pessoas desprovidas de recursos e pobres com terrenos próximos dos centros urbanos são
obrigados a vendê-los para obterem recursos para a sua subsistência. Segundo, os pobres
são cada vez mais excluídos da posse do Direito de Uso e Aproveitamento da Terra, já
que não têm capacidade financeira para poderem adquirir os terrenos a preços elevados.
Alguns agregados familiares são desfavorecidos, nos processos de atribuição por boa fé,
pois acabam não obtendo os direitos adquiridos por via costumeira, sendo afastados para
lugares recôndidos (CIP, 2009: 23).
Na Matola, por exemplo, no processo de parcelamento, no quadro da ocupação por boa
fé, são atribuídos cinco talhões a cada família, independentemente do espaço que eles
acupavam. Será que há justiça, num lugar onde as famílias reclamam que cinco talhões é
insignificante para a dimensão do seu agregado e que os seus membros são obrigados a
se deslocarem para zonas mais afastadas dos centros urbanos (CIP, 2009: 24)?
Em matérias de direitos humanos, podemos dizer que onde existe sofimento humano e
onde exite coisa errada, na ordem moral ou económica, existe violação dos direitos
humanos (Barreto, 2007: 81). No contexto acima referido, a periferização dos nativos,
existe uma clara injustiça e desordem moral, motivado dum lado pelas questões
económicas e do outro, políticas, ligados a má gestão e à corrupção (Reis, 2012: 102).
As estruturas sociais moçambicana, no que se refere a terra, foram construídas sobre a
injustiça, pois provém de uma situação capitalista dependente dos grandes empresas
(Reis, 2012: 103). Por exemplo, o Estado obtém das empresas mineiras a receita mínima
para compensar as deslocações das populações, as perdas de emprego e perda alternativa
do desenvolvimento, para além de que, em alguns casos, as empresas não deixam escolas,
fontes de água, hospitais, nas comunidades (Cambaza, 2009: 20).
Poderíamos argumentar que o estado detém líderes comunitários para assegurar os
interesses dos nativos e da segurança de terra. Primeiro, os chefes comunitários, dentro
das áreas da sua jurisdição, controlam a distribuição de terra, resolvem os conflitos locais,
aplicando as normas consuetudinárias por isso, são extensões do poder do Estado. Daí
que, as populações lhes devem obediência mas, esse respeito deve estar em conformidade
com os interesses da administração e do Governo. Desta forma as autoridades tradicionais
são um recursos valiosos na busca da segurança da terra (Cambaza, 2009: 12-13).
Mesmo tendo esta importância nos direitos da terra, só em 2000 que o Estado
Moçambicano reconheceu os líderes tradicionais (Decreto 17/200), porque é nas
comunidades onde reside a maior parte da população e de onde provém o maior volume
das exportações assim, havia uma necessidade de harmonizar os procedimentos de
aquisição de títulos de terra através de normas costumeiras e formais. Portanto nesse
empornderamento comunitário existe um interesse económico que, em essência,
beneficia os interesses externos. (Cambaza, 2009: 19).
Nos artigos 12, 13, 14 e 15 da Legislação de Terras, o registo da terra pode ser feito por
ocupação e depois registada, em caso da necessidade de comprovação, testemunhas das
comunidades, homens e mulheres, poderão depor. Temos, no entanto, leis que a prior
defendem as comunidades e os seus membros, mas se estas terras forem valiosas para um
projecto económico e se houver conflitos, o Estado revela uma passividade (Lei 19/1997).

Conclusão
No início deste ensaio, argumentamos que a terra, para os seus habitantes, era muito mais
do que um espaço físico, tinha significados maiores: culturais e simbólicos. Mas podemos
ver que o processo da gestão e distribuição da terra em Moçambique não respeita esses
significados. Na medida em que os moradores, necesstando de melhorias de vida, acabam
aceitando sair dos seus locais de residência para outros locais, quando há implementação
de projectos económicos.
Populações mais pobres são afastadas dos seus locais de residências para as zonas mais
recôndidas pois são obrigadas a vendê-los para obterem recursos para a sua subsistência.
Quando se trata da aquisição da terra por ocupação, no momento de parcelamento, os
nativos perdem uma parte das suas terras. Assim, alguns destes nativos devem abandonar
as suas terras natais pois já não há espaço para eles.
No direito internacional, o direito à terra, está vinculada a outros direitos tais como da
moradia, igualidade de género, território entre outros. Ou seja estes direitos só podem ser
adquiridos e respeitados por pessoas que tenham terra. Mas uma vez tendo a terra, ela se
transforma em território simbólico. Esta questão deve ser vista acima dos interesses
económicos que estão ligados às empresas, porque a terra é a identidade e patrimínio de
um povo.

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