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Universidades e Movimentos Sociais:

experiências e desafios da prática pedagógica.


Jan Bitoun•
(Rede das Metrópoles / Observatório Pernambuco de Políticas Públicas)

Os movimentos sociais apresentam-se como um objeto rebelde a qualquer tentativa de


definição simples. Às vezes fugazes, eles podem ganhar permanência; microlocais, eles
podem ampliar seus raios de ação; tematizam questões fortemente diferenciadas: do
Direito de Propriedade à condição de gênero e de raça, passando pelo acesso a bens de
consumo coletivo e à degradação ambiental; às vezes institucionalizados, podem,
também se apresentar sob forma anárquica; integrados às práticas de gestão de
aparelhos públicos e às de governo de representações formais, podem também procurar
salvaguardar uma “santa” autonomia, apoiados em instituições clericais e em organismos
não governamentais. Em suma, quando falamos de movimentos sociais englobamos um
conjunto de atores diversos que configura uma “nebulosa” social à qual pertencemos, às
vezes esporadicamente, com a qual convivemos no espaço urbano e que se apresenta
como um desafio teórico e metodológico na nossa tarefa de entender espaço urbano e
sociedade.

O Observatório Pernambuco de Políticas Públicas, resultado da prática em comum da


FASE Pernambuco e de acadêmicos (professores e estudantes) de diversos cursos da
UFPE, sob a responsabilidade da Pós-Graduação em Geografia, é um campo de
experiências e aprendizagem neste convívio. As diversas tarefas assumidas, cursos,
palestras, assessorias no âmbito local e em rede, com os parceiros dos outros
Observatórios, hoje reunidos no Observatório das Metrópoles, configuram as práticas no
decorrer das quais surgem questões desafiadoras acerca da relação entre Academia e
Movimentos Sociais Urbanos.

A primeira questão remete à estrutura de classe numa sociedade com o nível de


desigualdade da sociedade brasileira. O acesso à universidade é tão restrito e a
sociedade é tão fraturada que, entre os acadêmicos e os componentes dos movimentos
sociais, existe um inevitável estranhamento, mitigado pela informalidade e a simpatia que
caracterizam as relações pessoais na cultura brasileira, ou mediado pelas ONGs, mas
que não pode ser negado. O cotidiano dos acadêmicos, os espaços que freqüentam, as
suas perspectivas profissionais são radicalmente diferentes dos segmentos populares
historicamente excluídos dos espaços universitários. Esse estranhamento permite que se
mantenham atitudes equivocadas por parte de ambos os lados. Nas universidades, as
atividades de extensão são tradicionalmente marcadas pela postura cristã de levar a “boa
palavra”, a “boa ação” ou o “bom saber” a quem deles é desprovido. Entre os acadêmicos
com propostas de militância política não raro se constrói uma auto-imagem de vanguarda,
encarregada de politizar ou conscientizar o povo. Essas duas atitudes convergem numa
concepção de vasos comunicantes, sendo que um, o da academia, teria o papel de
preencher o outro, o do povo, visto como oco ou ingênuo. Essa concepção pode
encontrar respaldo, no demasiado respeito e prestigio que a Universidade ainda conserva


Professor do Departamento de Ciências Geográficas – Universidade Federal de Pernambuco – UFPE,
Coordenador do Observatório Pernambuco de Políticas Públicas.
nos segmentos populares. Estes, por ignorar de todo a instituição acadêmica, por não ter
nenhuma perspectiva de poder nela ingressar, a idealizam como uma abstração e se
colocam em posição de demanda modesta, aceitando o que poderá vir dela. Claro, há
mudanças: se, entre os mais idosos, o respeito parece ser a regra, entre os mais jovens,
há uma demanda mais tensa, já que internalizaram que da apropriação do conhecimento
e dos diplomas dependem suas possibilidades de escapar das suas tão precárias
condições. Também, cada vez mais, o estranhamento respeitoso pode dar lugar à
impaciência e a uma legítima cobrança para que a universidade fale uma linguagem mais
inteligível e trate de questões mais vividas.

Há, portanto, uma contradição estrutural no âmbito da qual todos se arrumam e procuram
seus espaços. Uma aproximação mais respeitosa da parte dos acadêmicos exige tempo e
experiência, para superar o conforto de um saber instituído e o substituir pelo
reconhecimento dos seus limites e pela necessidade de, na convivência com parcela do
cotidiano popular, reconstruir um saber mais relevante e capaz de atuar na cooperação
com outros, estranhos cidadãos da mesma cidade. Em todos os momentos de
convivência propiciados pelo programa de trabalho do Observatório, o que ocorre de mais
rico é esse alerta permanente sobre os limites do saber acadêmico e a aceitação por
parte de docentes e de estudantes de revisar métodos, mesmo os mais consagrados,
para reinventar algo mais pertinente.

Entretanto, o ambiente universitário atual não parece ser muito favorável à paciência e à
modéstia. É o que Marilena Chauí demonstra quando trata da passagem da Universidade
da condição de instituição social para a de organização social, descrevendo a
“Universidade Operacional”. Constata que, na sua trajetória histórica, a universidade
européia:

tornou-se inseparável das idéias de formação, reflexão, criação e crítica.


Com as lutas sociais e políticas dos últimos séculos, com a conquista da
educação e da cultura como direitos, a universidade tornou-se também
uma instituição social inseparável da idéia de democracia e de
democratização do saber: seja para realizar essa idéia, seja para opor-se a
ela, a instituição universitária não pôde furtar-se à referência à democracia
como idéia reguladora, nem pôde furtar-se a responder, afirmativa ou
negativamente, ao ideal socialista.

A mesma autora prossegue:

Uma organização difere de uma instituição por definir-se por uma prática
social, qual seja, a de sua instrumentalidade: está referida ao conjunto de
meios particulares para obtenção de um objetivo particular. Não está
referida a ações articuladas às idéias de reconhecimento externo e interno,
de legitimidade interna e externa, mas a operações definidas como
estratégias balizadas pelas idéias de eficácia e sucesso no emprego de
determinados meios para alcançar o objetivo particular que a define. É
regida pelas idéias de gestão, planejamento, previsão, controle e êxito. Não
lhe compete discutir ou questionar sua própria existência, sua função, seu
lugar no interior da luta de classes, pois isso, que para a instituição social
universitária é crucial, é, para a organização, um dado de fato. Ela sabe (ou
julga saber) por que, para que ou onde existe. A instituição social aspira à
universalidade. A organização sabe que sua eficácia e seu sucesso

2
dependem de sua particularidade. Isso significa que a instituição tem a
sociedade como seu princípio e sua referência normativa e valorativa,
enquanto a organização tem apenas a si como referência, num processo
de competição com outras que fixaram os mesmos objetivos particulares.
Em outras palavras, a instituição se percebe inserida na divisão social e
política e busca definir uma universalidade (ou imaginária ou desejável) que
lhe permita responder às contradições impostas pela divisão. Ao contrário,
a organização pretende gerir seu espaço e tempo particulares aceitando
como dado bruto sua inserção num dos pólos da divisão social, e seu alvo
não é responder às contradições, e sim vencer a competição com seus
supostos iguais.

Constata ainda que:

A forma atual do capitalismo se caracteriza pela fragmentação de todas as


esferas da vida social, partindo da fragmentação da produção, da dispersão
espacial e temporal do trabalho, da destruição dos referenciais que
balizavam a identidade de classe e as formas da luta de classes. A
sociedade aparece como uma rede móvel, instável, efêmera de
organizações particulares definidas por estratégias particulares e
programas particulares, competindo entre si.1

Na universidade operacional, a docência é “transmissão e adestramento”; mas, não mais


formação. E a pesquisa “é uma estratégia de intervenção e de controle de meios ou
instrumentos para a consecução de um objetivo delimitado. Em outras palavras, uma
pesquisa é um survey de problemas, dificuldades e obstáculos para a realização do
objetivo, e também um cálculo de meios para soluções parciais e locais para problemas e
obstáculos locais. Pesquisa, ali, não é conhecimento de alguma coisa, mas posse de
instrumentos para intervir e controlar alguma coisa. Por isso mesmo, numa organização
não há tempo para a reflexão, a crítica, o exame de conhecimentos constituídos, sua
mudança ou sua superação. Numa organização, a atividade cognitiva não tem como nem
por que realizar-se.

Em contrapartida, no jogo estratégico da competição do mercado, a organização se


mantém e se firma se for capaz de propor áreas de problemas, dificuldades e obstáculos
sempre novos, o que é feito pela fragmentação de antigos problemas em novíssimos
microproblemas, sobre os quais o controle parece ser cada vez maior. A fragmentação,
condição de sobrevida da organização, torna-se real e propõe a especialização como
estratégia principal, como também entende por pesquisa a delimitação estratégica de um
campo de intervenção e controle. É evidente que a avaliação desse trabalho só pode ser
feita em termos compreensíveis para uma organização, isto é, em termos de custo-
benefício, pautada pela idéia de produtividade, que avalia em quanto tempo, com que
custo e quanto foi produzido.”2

Na universidade operacional, a prática paciente do Observatório representa algo estranho


e que não se integra nos parâmetros da organização, pois as suas produções seguem o
ritmo da aprendizagem mútua: formação crítica dos acadêmicos e respeito ao ritmo dos

1
CHAUÍ, Marilena. Folha de São Paulo, São Paulo, 9 de maio de 1999.
2
CHAUÍ, Marilena. Idem

3
movimentos sociais com seus momentos intensos e urgentes e a sua paciência histórica.
Isso tem pouco a ver, portanto, com a cadência da produção acadêmica tal como a
planeja a organização universitária. Será possível manter e desenvolver espaços dentro
da Universidade que iriam de encontro ao adestramento dos acadêmicos, tal como
descrito por Sá?

Estamos paulatina e ideologicamente esquecendo de pôr a nossa razão de


cientistas em busca de enxergar, repetindo M. Santos, o mundo como ele é
e funciona, pois estamos mais para cães de guarda do poder global do que
seus críticos; estamos mais preocupados com a busca do brilhantismo de
nossas carreiras dando suporte à funcionalidade do mundo da razão
instrumental, do que buscar o sentido real da funcionalidade desse mundo.
A palavra de ordem, seja no conhecimento geográfico ou em áreas afins, é
a cultura empreendedora; e ai de quem não assimilá-la como natural. A
produção acadêmica assume a lógica cada vez mais flexível de que as
vicissitudes humanas e seus diversos espaços são explicados por
fragmentos conceituais (raça, gênero, símbolos etc.) sem unidade
explicativa de seus fenômenos, sem a busca de uma síntese. A produção
fordista, em série, rígida, de artigos e mais artigos sobre esses espaços,
busca o seu entendimento para melhor serem explorados pelo capital fluido
nos campos do turismo, da agricultura, da indústria e dos serviços.

É neste ambiente que estão paulatinamente se fixando nos alunos e


profissionais a naturalização da ideologia da ausência de qualquer
questionamento sobre os destinos do mundo e a premência cada vez mais
veloz da qualificação fragmentária com vista a sua implementação alienada
no mundo alheio do ciberespaço. É neste ambiente que estão se
proliferando também o veneno da discórdia e a competição ferrenha entre
alunos e, inclusive, entre estes e professores, além da disputa entre
docentes com seus grupos de pesquisa, todos, talvez, com a ilusão, ainda
moderna de que seus trabalhos e pensamentos serão eternos,
universalizantes, mesmo imersos num mundo inundado de informações no
qual todos seus esforços são mais fugazes que relâmpagos.3

Outra questão, na convivência entre acadêmicos e movimentos sociais, remete


exatamente às diretrizes metodológicas que os primeiros podem construir nessa relação,
sempre se guardando da idéia da prestação de serviços que os levaria a se submeter às
práticas da universidade operacional.

Talvez, a primeira diretriz seja – reconhecendo que os movimentos sociais e as ONGs


estão também cada vez mais ameaçados de se transformar em organizações adotando a
lógica instrumental e se despolitizando, processo vivido intensamente pela Universidade –
cooperar para resistir em conjunto a essa tendência. Dentro desse objetivo, cabe aos
acadêmicos evidenciar que a opressão social não é natural e, para isso, fazer que todos
se relembrem da trajetória histórica que permitiu a construção das identidades. Propiciar
essa recuperação do tempo longo é, ao nosso ver, uma das estratégias para fortalecer a
posição dos movimentos sociais nas instâncias participativas, às quais freqüentemente é
imposta uma agenda imediatista e novidadeira decidida pelo poder. Ampliar a escala do
tempo, mas também ampliar a escala espacial, evidenciando as solidariedades que

3
SÁ, José Alcindo de. In: Revista de Geografia. UFPE/DCG-NAPA, Recife, 2002. p. 14-15

4
existem além dos limites dos bairros, dos municípios e dos estados e mesmo, quiçá, das
nações. Estas são, sem dúvida, responsabilidades específicas da Universidade que tem
na sua essência a função de arquivista do patrimônio e alguns resquícios de uma visão
universalista.

Essa tarefa peculiar da Universidade na sua relação com os movimentos sociais de os


ajudar a recuperar a diversidade das suas escalas de atuação é de grande importância
política conforme pode ser visto através dos escritos de Michel de Certeau e de Claude
Raffestin.

Michel de Certeau estabelece, no estudo do cotidiano, uma diferença entre atores, uns
dotados de capacidade estratégica e outros de capacidade tática. “Chamo de estratégia”,
diz este autor,

o cálculo ou a manipulação de relações de força que se tornam possíveis a


partir do momento em que um sujeito de vontade ou poder é isolável e tem
um lugar de poder ou de saber. A estratégia postula um lugar próprio
susceptível de ser circunscrito e de ser a base de uma distinção frente a
uma exterioridade.4

Em contraste, a tática é “a ação calculada ou a manipulação de relações de forças


quando não se tem algum lugar próprio”. As táticas se desenvolvem no campo dos outros
e esse ator, nos diz Certeau, pode ser comparado a um “caçador furtivo”. Nas relações
que estabelecem entre si os atores identificados pela observação do cotidiano, cabe ao
pesquisador distinguir estratégias e táticas. Para fazê-lo, o “lugar” se torna uma categoria
central que deve ser analisada na abordagem da Geografia do Poder, ou seja, das
territorialidades.

A definição dada por Claude Raffestin a esse conceito, nos parece bastante operacional,
pois se vincula estreitamente à preocupação de Michel de Certeau no que se refere à
análise do cotidiano. A territorialidade, escreve Raffestin,

pode ser definida como o sistema de relações mantido por uma


coletividade, que pode chegar a ser um indivíduo, com a exterioridade.
Estas relações se realizam num processo de intercâmbio e de
comunicação simétricos ou dissimétricos, situados no espaço e no tempo
em escalas temporal e espacialmente diferenciadas.

Tomamos a liberdade de destacar alguns termos no conjunto desta definição:


“coletividade”, porque um movimento social somente ganha força à medida que se mostra
capaz de ampliar o número de seus participantes e este é quantificável; “exterioridade”,
porque a nossa questão se situa no campo da avaliação da força política relativa deste
ator na definição da Gestão e do Planejamento do espaço urbano. “Realizar-se”, porque
este verbo expressa com clareza que estamos retratando jogos de práticas que se dão no
espaço concreto, geográfico. “Simétricos ou dissimétricos”, porque é observando estas
características das relações, nas suas práticas, que podemos distinguir atores dotados de
capacidade estratégica e outros reduzidos à capacidade tática, conforme definidos por
Certeau. Maior a dissimetria numa dada relação e num determinado espaço, mais

4
CERTEAU M., Teoria e Método no Estudo das Práticas Cotidianas. In: Cotidiano, Cultura e Planejamento.
São Paulo: FAUSP, 1985.

5
concentrados serão os definidores de estratégias numa selva lotada de “caçadores
furtivos” limitados a táticas; e menor será a possibilidade de gestão efetiva e democrática
do espaço. “Escalas temporais diferenciadas”, porque o levantamento das práticas se faz
no tempo do cotidiano; e, como investigamos o espaço concreto carregado de objetos
acumulados na escala do tempo histórico, as relações concernem a esses objetos e se
referem aos poderes e aos saberes que acumularam os atores. “Escalas espaciais
diferenciadas”, porque tanto a estratégia quanto as táticas são noções relativas a um
espaço circunscrito; num espaço maior, o estrategista pode se tornar um tático; ademais,
o espaço urbano não é um espaço isolado, mas a expressão particular de ordens de
relações que o traspassam: ordem da propriedade, ordem dos objetos de uso coletivo,
ordem política, e ordem econômica, todas resultando de arranjos históricos e alvos de
rearranjos a depender das relações de força que os atores sócio-geográficos estabelecem
entre si.

A segunda diretriz refere-se, assim, aos instrumentos que se podem construir para que os
próprios movimentos sociais assumam cada vez mais a função de arquivistas da história
e do patrimônio que vêm constituindo. A consolidação das informações é hoje mediada
por tecnologias de grande capacidade de armazenamento e de representação. A
Universidade dispõe de grande parte dessas tecnologias, e muitos acadêmicos transitam
também na esfera estatal, bem como nela transitam muitas representações de
movimentos sociais. Ambos, então, adentram o aparelho burocrático que, segundo Pierre
George,

tem como efeito acumular uma enorme massa de dados que podem ser
introduzidos num processo de pesquisa geográfica, não sendo eles, nem
por destino nem por natureza, dados geográficos. Portanto, neste caso,
trata-se de mobilizá-los enquanto documentos que contribuem para a
construção de uma imagem ou de um processo geográfico, de que são
sintomas, ou melhor, indicadores.

O mesmo autor adverte:

Atualmente, aqueles que se confessam não só apaixonados pela geografia,


como também fascinados pela instrumentação informática, elaboram
estruturas lógicas para neles introduzirem as paisagens e as sociedades
como sistemas abstratos. Sem dúvida que é uma ciência atual... mas todas
as ciências devem acautelar- se dos erros da cientificidade que as
encerram num universo fechado e irreal, onde não há nada a descobrir, já
que se bastam a si próprias e escapam à dinâmica dos fatos.

E aconselha:

Se não se proceder com avanços e recuos, por mudança de escala e


associação da observação direta com o registro estatístico, há o risco de
um desvio perigoso, que consiste em substituir o espaço real e vivido por
imagens de sistemas, isto é, figuras abstratas, derivadas do cálculo e de
hipóteses prévias. O mapa é substituído pelo gráfico: simples questão de
método e de filosofia da geografia no laboratório, que convida a exercícios

6
interessantes, mas perigosos quando o documento geográfico deve ou
pode ser utilizado em aplicações pragmáticas.5

Entre essas aplicações pragmáticas, a que interessa aqui é a da possibilidade de elaborar


instrumentos de formação e informação para que os movimentos sociais possam competir
na esfera da decisão nas arenas participativas. Para esse fim, são pertinentes as
observações do geógrafo: selecionar na massa das informações aquelas poucas que,
sem redundâncias e de modo mais simples possível, indicam o que realmente está em
jogo nos embates políticos; desconfiar do fascínio que acomete freqüentemente aqueles
que lidam com as tecnologias de informação e, para isso, garantir que a arquitetura dos
dados se fundamente no conhecimento do espaço vivido. Conhecimento este que, em
última instância, representa a verdadeira legitimidade do saber acadêmico quando
pretende conviver com o saber popular.

Face à desigualdade que marca a sociedade brasileira e, portanto, esse convívio, face
também às imposições e aos ritmos que a pós-modernidade imprimiu nas universidades e
nos movimentos sociais, uma construção cooperativa visando prosseguir no caminho de
uma emancipação e de um mundo mais humano, os desafios parecem de grande porte.
Não são, no entanto, insuperáveis desde que nos afazeres cotidianos, a serem realizados
com modéstia, respeito e paciência, não se percam de vista diretrizes ambiciosas. Com
estas, garante-se a disposição descrita por Milton Santos:

Não importa que, diante da aceleração contemporânea, e graças ao tropel


dos acontecimentos, o exercício de repensar tenha de ser heróico. Essa
proibição do repouso, essa urgência, esse estado de alerta exigem da
consciência um ânimo, uma disposição, uma força renovadora.6

5
GEORGE, Pierre. O Homem na Terra. A Geografia em acção. Lisboa: Edições 70, 1993.
6
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço. São Paulo: Hucitec, 1996.

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