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Manual de impactos ambientais: orientações básicas sobre aspectos ambientais de atividades produtivas

Marilza do Carmo Oliveira Dias


Banco do Nordeste, 1999 MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

INTRODUÇÃO

A acelerada degradação dos recursos naturais compromete a qualidade


de vida das atuais e futuras gerações e, por outro lado, leva a sociedade a buscar
modelos alternativos que harmonizem o desenvolvimento econômico com a
indispensável proteção do meio ambiente.
A crescente preferência dos consumidores por produtos considerados
menos agressivos ao meio ambiente impõe um desafio ao setor produtivo, influindo
fortemente na competitividade das empresas.
O que se apresenta neste novo cenário é um indicativo de que a proteção
ambiental está deixando de ser considerada responsabilidade exclusiva dos órgãos
oficiais de meio ambiente, passando a ser compartilhada por todos os setores da
sociedade.
Adequando-se à tendência mundial, e cientes da sua responsabilidade
frente às questões ambientais, algumas instituições de financiamento, dentre as
quais o Banco do Nordeste, assinaram a Carta de Princípios do Desenvolvimento
Sustentável no âmbito do Protocolo Verde, na qual são orientadas diretrizes e
estratégias para a incorporação da variável ambiental no processo de concessão
e gestão de crédito oficial e benefícios fiscais às atividades produtivas.
Este Manual é o resultado de uma etapa de trabalho desenvolvida pelo
Banco do Nordeste. Nele procurou-se disponibilizar um instrumento para suprir
a carência de informações sobre os aspectos ambientais de atividades produtivas,
ao mesmo tempo em que foram desenvolvidos e implementados mecanismos
operacionais para a observância da variável ambiental no seu processo de
concessão e gestão de crédito.
O trabalho foi produzido por uma equipe de consultores contratados no
âmbito do Convênio BRA/95/002, firmado com o Instituto Interamericano de
cooperação para a Agricultura (IICA), contando, ainda, com a participação de
diversos técnicos do Banco do Nordeste que colaboraram com a redação e revisão
técnica do Manual.
Para a elaboração do conteúdo aqui exposto, foram consultados vários
documentos sobre avaliação de impactos ambientais existentes em nível mundial,
principalmente o Guia de Proteção Ambiental do Ministério Federal de Cooperação
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MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Econômica e Desenvolvimento da Alemanha (BMZ) e o Livro de Consulta para


Avaliação Ambiental do Banco Mundial.
A concepção do Manual visa promover a informação técnica o mais acessível
possível. Neste sentido encontram-se em cada um dos temas abordados, os seguintes
tópicos:
a ) Descrição da atividade sob o enfoque ambiental: introduz-se a
atividade abordando as principais características ambientais.
b) Os potenciais impactos ambientais negativos: destacam-se os
principais impactos ambientais negativos da atividade, buscando
interpretá-los de modo simples e prático.
c ) Recomendações de medidas atenuantes: procura informar as
principais medidas que podem ser adotadas para mitigar e/ou
compensar os impactos ambientais negativos gerados pela atividade.
d) Referências para análise ambiental da atividade: busca-se
referenciar a atividade num contexto mais amplo, indicando os principais
aspectos que devem ser considerados na análise ambiental.
e ) Quadro-resumo: o objetivo do quadro-resumo é dispor de maneira
fácil e acessível os impactos ambientais negativos, relacionando-os com
as medidas atenuantes a serem adotadas para minimizar ou compensar
o efeito destes impactos, assim como apresentar as principais leis
ambientais federais aplicáveis a cada atividade.
Para a seleção dos temas apresentados neste Manual foram consideradas
as atividades que mais se desenvolvem ou apresentam potencial para
desenvolvimento na Região Nordeste, porém, sem a pretensão de contemplar a
totalidade das atividades produtivas ou de esgotar o assunto sobre os temas
abordados.
Certamente, muito há que ser acrescentado para o aprimoramento deste
trabalho, dadas a diversidade e abrangência do tema, e esperam-se sugestões
de todos aqueles que queiram contribuir para a o aperfeiçoamento técnico deste
manual em suas próximas edições.
Finalmente, cabe salientar que este documento tem o objetivo de somar
esforços para a contrução coletiva de uma sociedade verdadeiramente sustentável.

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MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

CAPÍTULO 1
AGROPECUÁRIA

Para melhor visualização do assunto, este Manual subdivide as atividades


Agropecuárias em dois blocos: o da produção vegetal e o da produção animal.
Na Produção Vegetal são tratados aspectos ambientais das atividades
agrícolas voltadas para a produção de alimentos e exploração econômica de
produtos florestais. Para o desenvolvimento dessas atividades, pressupõem-se
ações de planejamento que envolvem utilização de plano de manejo florestal
sustentado, reflorestamento ou supressão da cobertura vegetal.
Na Produção Animal analisam-se aspectos ambientais relacionados às
atividades de bovinocultura, suinocultura, caprino-ovinocultura, piscicultura e outros
ramos do manejo animal.
Na descrição dos impactos ambientais negativos da produção vegetal e da
produção animal são examinados, em conjunto, os impactos negativos da utilização
de algumas técnicas agrícolas e de produtos veterinários, respectivamente.
Porém, antes de abordar os aspectos ambientais das atividades
agropecuárias deve-se ressaltar alguns pontos a serem observados em relação
à propriedade rural.

1.1 Aspectos ambientais a serem observados na propriedade rural

Os aspectos destacados a seguir devem ser observados na propriedade


rural, tendo em vista a sua importância na sustentabilidade da produção e na
conservação e preservação dos recursos naturais:

Reserva Legal
A Reserva Legal, de acordo com o Código Florestal Brasileiro, deve ser
entendida como a área de, no mínimo, 20% de cada propriedade, onde não é
permitido o corte raso, devendo ser averbada à margem da inscrição de matrícula
do imóvel, no registro de imóveis competente, sendo vedada a alteração de sua
destinação nos casos de transmissão a qualquer título, ou de desmembramento

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da área. Para algumas regiões este mínimo eleva-se para 50% e até para 80%,
quando a cobertura vegetal se constitui de unidades fitofisionômicas importantes,
como é o caso da Região da Amazônia Legal, que inclui parte do Estado do
Maranhão a oeste do meridiano 44° W, de acordo com o determinado na Medida
Provisória n.º 1.511-2 de 19/09/96.
A inexistência da Reserva Legal, além do comprometimento ambiental
da propriedade, poderá acarretar problemas jurídicos ao proprietário e ao
agente financeiro credor, quando for o caso, uma vez que este é co-responsável
pelo cumprimento da legislação ambiental vigente (autorização de
desmatamento, licenciamento ambiental, aprovação de Plano de Manejo Florestal
Sustentado etc.), cabendo àquele a obrigatoriedade da recomposição do
percentual mínimo exigido, de acordo com o estabelecido pelo Código Florestal
Brasileiro, Lei Federal 4.771 de 15/09/65, alterado pela Lei Federal 7.803 de
18/07/89 e pela Lei Federal 8.171 de 17/01/91, da Política Agrícola.
Deve-se destacar que a Lei Federal 7.803, de 18/07/89, abre uma alternativa
para pequenas propriedades com áreas de 20 a 50 hectares, onde podem ser
computados para fins de reserva legal todos os maciços florestais existentes,
inclusive os exóticos e os formados por espécies frutíferas.
A Lei n.º 8.171, de 17/01/91, que dispõe sobre a política agrícola,
considerando as dificuldades encontradas pelos agricultores para cumprir a
exigência de manutenção da reserva florestal legal da propriedade, estabelece,
no seu artigo 99, a possibilidade de uma recomposição gradual da cobertura
vegetal original, mediante o plantio, em cada ano, a partir do ano seguinte ao de
promulgação desta Lei, de pelo menos um trinta avos da área total necessária
para complementar a referida Reserva.
Além dos aspectos legais, quando se trata de garantir a recuperação da
Reserva Legal, outras questões são importantes, entre elas:
• a definição de critérios ambientais mínimos para execução de projetos de
recuperação da Reserva Legal como, por exemplo, o plantio de espécies
nativas da região e a localização adequada no ecossistema da propriedade;
• o incentivo à pesquisa científica, na busca das espécies nativas e nas formas
de manejo adequadas para o plantio;
• a disponibilidade de assistência técnica, mudas e/ou sementes para o
agricultor que deseja recuperar sua Reserva Legal;
• o acompanhamento e a fiscalização do processo de recuperação da Reserva
Legal, por parte dos órgãos ambientais e
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• o planejamento regional das ações de recuperação, segundo as


necessidades ambientais da região.

Áreas de Preservação Permanente / Reservas Ecológicas


Áreas de Preservação Permanente, de acordo com o Código Florestal:
(Lei 4.771/65), são florestas e demais formas de vegetação natural, situadas: (i)
ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seu nível mais alto em
faixa marginal com largura mínima de 30 a 600 metros, variando em função da
largura do curso d’água; (ii) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’águas
naturais ou artificiais; (iii) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados
“olhos d’água”; (iv) no topo de morros, montes, montanhas e serras; (v) nas
encostas ou parte destas com declividade superior a 45º, equivalente a 100% na
linha de maior declive; (vi) nas restingas como fixadoras de dunas ou
estabilizadoras de mangues; (vii) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas e (vii)
em altitudes superiores a 1.800m, qualquer que seja a vegetação.
Deve-se observar, ainda, que não é permitida a derrubada de florestas
situadas em áreas de inclinação entre 25º e 45º, só sendo nelas toleradas a extração
de toros quando em regime de utilização racional, que visem a rendimentos
permanentes, mediante plano de manejo florestal sustentado, aprovado pelo órgão
licenciador competente.
Em suma, além das faixas marginais dos rios, de outros cursos d’água e
dos locais de declives acentuados, devem ser consideradas como Áreas de
Preservação Permanente aquelas regiões cuja vegetação natural se destine a
atenuar os efeitos da erosão das terras, fixação de dunas, estabilização de
mangues, formação de faixas de proteção de rodovias e ferrovias, proteção de
sítios de excepcional beleza ou de valor científico ou histórico, asilo de exemplares
da fauna ou flora ameaçadas de extinção, além da manutenção de ambientes
necessários à vida das populações silvícolas e a assegurar condições de bem-
estar público (Art. 3° Lei Federal – 4771/65).
Na forma dos Art. (s). 1º e 3º da Resolução COMANA (Conselho Nacional do
Meio Ambiente) n.º 004/85 são consideradas Reservas Ecológicas as formações
florísticas, as áreas de florestas de preservação permanente e demais formas de
vegetação natural situadas:

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a) Ao longo dos rios ou de qualquer corpo d’água, em faixa marginal além


do leito maior sazonal medido horizontalmente, cuja largura mínima seja de:
• 30 metros para os rios com menos de 10 metros de largura;
• 50 metros para os rios de 10 a 50 metros de largura;
• 100 metros para os rios de 50 a 200 metros de largura;
• 200 metros para os rios de 200 a 600 metros de largura;
• 500 metros para os rios com largura maior de 600 metros.
b) Ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais ou artificiais,
desde o seu nível mais alto medido horizontalmente, em faixa marginal cuja
largura mínima seja de:
• 30 metros para os que estejam situados em área urbana;
• 100 metros para os que estejam em áreas rurais, exceto os corpos
d’água com até 20 hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50
metros;
• 100 metros para as represas hidrelétricas;
c) Nas nascentes permanentes ou temporárias, incluindo os olhos d’água
e veredas, seja qual for a situação topográfica, com faixa mínima de 50 metros a
partir da margem, de tal forma que proteja, em cada caso, a bacia de drenagem
contribuinte, entre outras.
Faz-se necessário destacar que a supressão total ou parcial de florestas
de preservação permanente só será admitida com a prévia autorização do Poder
Executivo Federal, quando for necessária à execução de obras, planos, atividades
ou projetos de utilidade pública ou interesse social (Lei Federal 4771/65).
Por fim, cabe ressaltar a importância do cumprimento da Lei, por parte do
agricultor, mantendo em sua propriedade as Áreas de Preservação Permanente,
que garantem a proteção dos recursos naturais, especialmente dos recursos
hídricos, da flora e da fauna.

Conservação de Solos
O objetivo da Conservação de Solos é combater a erosão e evitar o seu
empobrecimento através utilização de técnicas racionais, tais como manejo
adequado, rotação de culturas, adubação de reposição, manutenção dos níveis
desejáveis de matéria orgânica etc., mantendo e melhorando a sua fertilidade.

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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

A Lei Federal 8.171, de 17 de janeiro de 1991, que dispõe sobre a Política


Agrícola, em seu Capítulo VI, da Proteção ao Meio Ambiente e da Conservação
dos Recursos Naturais, através do artigo 19 inciso II, diz que o Poder Público
deverá disciplinar e fiscalizar o uso racional do solo e da água, da fauna e da
flora. Nesse propósito as entidades governamentais de financiamento ou gestoras
de incentivos deverão condicionar a concessão de qualquer benefício à
comprovação do licenciamento ambiental devendo avaliar as implicações
decorrentes da implantação de qualquer empreendimento visando minimizar os
impactos negativos do negócio com relação ao meio ambiente.
Assim sendo, é fundamental que a propriedade agrícola tenha seu pedido
de financiamento condicionado à adoção de práticas conservacionistas de proteção
dos recursos naturais.
Para tanto, torna-se importante que a extensão rural estabeleça um processo
de educação informal que objetive o uso racional dos recursos naturais e a prestação
da assistência técnica pertinente, para a consolidação das práticas conservacionistas
que garantirão a continuidade e a sustentabilidade do processo produtivo da
propriedade.
Dentre as práticas conservacionistas existentes pode-se citar:

a) Práticas de caráter edáfico:

São aquelas que visam manter ou melhorar a fertilidade e as características


físicas, químicas e microbiológicas dos solos. Baseiam-se principalmente no
ajustamento da capacidade de uso, na eliminação ou controle das queimadas e na
rotação de culturas.
O ajustamento à capacidade de uso refere-se ao limite máximo de uso do
solo, além do qual o mesmo sofrerá com a erosão. Por exemplo, os solos com
declive muito acentuado têm capacidade de serem usados, no máximo, para
reflorestamento, sendo desaconselhável o uso com culturas anuais.
No sistema de rotação de culturas, devido às diferentes exigências
nutricionais das plantas, o solo seria levado menos intensamente à exaustão de
seus nutrientes, especialmente pela contribuição diferenciada da matéria orgânica
e pela perspectiva de intensa e diversificada atividade microbiológica. É o caso do
consórcio do algodão, milho ou trigo com a soja em que tanto os cultivos como o
solo são favorecidos pelo incremento das atividades químicas e microbiológicas,
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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

além do melhoramento das condições físicas do solo. Acrescente-se, como


decorrência, que nesses casos reduz-se a incidência de ciclos de pragas e doenças,
evitando-se ataques com maior intensidade e o conseqüente aumento do uso de
agrotóxicos.

b) Práticas de caráter vegetativo:

São práticas que visam controlar a erosão utilizando a cobertura vegetal


do solo, protegendo-o através da interceptação das gotas da chuva, evitando as
enxurradas, fornecendo matéria orgânica e sombreamento para o solo. Entre as
práticas de caráter vegetativo, encontram-se o reflorestamento, as culturas em
faixas e/ou em nível, o plantio de grama nos taludes das estradas, as faixas de
árvores formando quebra-ventos, o controle das capinas, a roçada do mato em
vez de arranquio, a cobertura do solo com palha ou acolchoamento, entre outras.

c) Práticas de caráter mecânico:

São as práticas que utilizam máquinas no trabalho de conservação,


introduzindo algumas alterações no relevo, procurando corrigir os declives
acentuados com construção de patamares em nível que interceptam as águas de
enxurradas.
Entre as principais práticas mecânicas de conservação de solos estão o
preparo do solo e plantio em curvas em nível, a subsolagem, os terraços, a
disposição racional dos carreadores, entre outras.

d) Práticas culturais e de manejo:

São práticas que visam melhorar a estrutura do solo. Dentre elas pode-se
citar a adubação verde, o plantio direto, entre outras.
O plantio direto, por deixar de gradear, arar, escarificar, ou seja, revolver a
terra, como é feito no preparo convencional, revolucionou conceitos milenares e
criou uma nova forma de manejo dos solos agrícolas, que reduz significativamente
as perdas de solo e água, incrementa a quantidade de matéria orgânica, entre
outros efeitos, que melhoram as propriedades físicas, químicas e biológicas dos
solos.

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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Agrotóxicos
A questão dos agrotóxicos merece neste Manual um destaque à parte do
contexto da Produção Vegetal, uma vez que afeta diretamente todo o
agroecossistema, incluindo neste contexto o homem.
A Lei Federal n.° 7.802 de 11 de julho de 1989, em seu artigo 2°, define
agrotóxico como:
“os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados
ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos
agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de
outros ecossistemas e também ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja
finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da
ação danosa de seres vivos considerados nocivos.”

A Lei 7.802, entre outros, dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a


produção, a embalagem e rotulagem, o transpor te, o armazenamento, a
comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação,
o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle,
a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins.
Dentro desta visão, a Lei busca englobar todos os produtos utilizados na
defesa sanitária vegetal e animal, referidos como “defensivos”, que serão chamados
neste Manual de agrotóxicos.
A facilidade de compra (sem receituário agronômico e florestal) e a
aparente rápida eficiência dos agrotóxicos têm levado à sua grande utilização, o
que ao mesmo tempo leva ao risco do uso indiscriminado, provocando uma
aplicação não rentável (subdosagem e/ou superdosagem), além de causar
impactos negativos sobre a saúde humana e ao meio ambiente.
Entre os efeitos do uso indiscriminado de agrotóxicos para o meio ambiente,
destacam-se a toxicidade aguda e crônica, a contaminação de material e produtos
de colheita, dos solos, da água, do ar, além da fauna, da flora e do homem.
A classificação dos agrotóxicos segundo seus grupos destinatários dá uma
impressão errada de toxicidade limitada, tais como os grupos de herbicidas,
fungicidas, inseticidas etc. A maioria dos produtos é de amplo espectro, tem
efeitos letais e/ou inibidores sobre os organismos, afetando seus processos
metabólicos básicos.
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Segundo a Organização Mundial de Saúde, estima-se que anualmente 1,5


milhão de pessoas são intoxicadas por agrotóxicos no mundo, sendo fatal para
cerca de 1,8%. (LEVINE, 1986).
Além das substâncias ativas, os agrotóxicos contêm aditivos destinados a
dar-lhes aderência, entre outras funções e, segundo a EPA (Agência Norte-
Americana de Proteção Ambiental), de 1.200 aditivos examinados, 50 deveriam
ser classificados como tóxicos.
Os riscos de contaminação no uso dos agrotóxicos estão em todas as
partes do processo, no armazenamento, transporte, na utilização, no descarte
de embalagens, além disso, destaca-se o perigo da contaminação dos alimentos,
entre outros.
Várias práticas inadequadas de uso de agrotóxicos foram constatadas após
anos de estudos e pesquisas realizadas em propriedades rurais no mundo todo,
entre elas:
• a aplicação incorreta por par te dos agricultores, geralmente mal
informados, com dosagem errada e a não observação dos prazos de
carência;
• a utilização de embalagens de agrotóxicos como vasilhame de alimentos e
água;
• a não utilização de Equipamentos de Proteção Individual para o manuseio
e a aplicação dos agrotóxicos, pois quase nunca existe vestuário adequado
às condições climáticas locais e
• a disposição incorreta dos resíduos de agrotóxicos, como embalagens, que
provocam a contaminação do solo, da água, do ar, da fauna, da flora e do
homem.
Deve-se destacar, ainda, que o amplo espectro da maioria dos agrotóxicos
tem provocado constantes alterações nas cadeias alimentares, com a eliminação
de espécies úteis, como insetos polinizadores, entre outros, que muitas vezes
provocam prejuízos maiores que o da eliminação de algumas espécies
consideradas nocivas.
Por fim, é importante salientar que novas práticas de proteção vegetal surgem
como alternativa aos agrotóxicos, entre elas estão as práticas de controle biológico,
a busca de variedades geneticamente resistentes e o controle integrado, que visam
à redução e, quando possível, a eliminação da utilização de agrotóxicos, produzindo
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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

assim um alimento mais saudável, com menor risco para o meio ambiente e para
o homem.

1.2 - Produção vegetal

1.2.1 - Descrição da atividade sob o enfoque ambiental


Os sistemas agrícolas tradicionais em geral estão orientados para uma
produção de subsistência, com pouca ou até nenhuma utilização de insumos
modernos, como fertilizantes e agrotóxicos. É a chamada agricultura da enxada,
que quase sempre agride menos o meio ambiente, porém não deixa de ser
importante para a proteção ambiental, uma vez que, de forma geral, este agricultor
tem escassas informações técnicas, em especial sobre o manejo de solos e águas,
bem como sobre noções de saúde e saneamento básico.
Nos sistemas agrícolas chamados modernos, incluem-se as plantações
extensivas e os famosos agronegócios, em geral monoculturas, algumas de cultivo
anual, como a cana-de-açúcar, a soja etc., e algumas de cultivo permanente como
é o caso, entre outros, dos reflorestamentos para fins comerciais, do café e do
cacau. Estes sistemas de produção orientados ao mercado são altamente
dependentes de técnicas agrícolas utilizadoras de insumos modernos externos à
propriedade, tais como: sementes melhoradas, máquinas agrícolas, combustíveis
fósseis, fertilizantes, agrotóxicos etc., assim como, ocupam grandes extensões
de terra, o que aumenta em muito o risco ambiental desta atividade, especialmente
em relação à degradação, contaminação e o desequilíbrio destes
agroecossistemas.
As técnicas mais aplicadas nos sistemas modernos são a mecanização,
para preparo da área e do solo, a utilização de fertilizantes artificiais e agrotóxicos
e a irrigação. (Esta última é tratada em capítulo específico deste manual.)
No caso dos reflorestamentos para fins comerciais, deve-se observar que
o período de produção e geração de bens materiais é diferenciado das demais,
especialmente quanto ao longo prazo de tempo que leva entre o plantio e o
ponto de cor te das essências florestais utilizadas. Merecem também serem
observados os fatores de superfície florestal mínima, água, nutrientes e luz, que
acarretam limites econômicos a esta atividade, basicamente estabelecida em
grandes unidades de produção (MUELLER-HOHENSTEIN, 1989).
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MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
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Os ecossistemas agrícolas diferenciam-se dos naturais, visto que o homem


passa a ser o elemento regulador ao invés da natureza, estabelecendo a
possibilidade da geração de grande número de impactos ambientais, dos quais
passaremos a destacar os negativos, que são objeto de análise deste trabalho.

1.2.2 - Potenciais impactos ambientais negativos


As plantas formam parte dos ecossistemas e são fator decisivo para a
conservação do meio ambiente. Métodos de cultivo inadequados, geralmente
causam impactos negativos para o meio ambiente, no qual a atividade está
inserida. Dentre os principais impactos negativos, podemos citar:
• redução da diversidade de espécies;
• erosão, compactação, redução da fertilidade dos solos, com salinização
e desertificação de áreas;
• contaminação dos solos, ar, água, fauna e flora por agrotóxicos e
fertilizantes;
• poluição do ar por fumaça e material particulado, devido às queimadas;
• aumento da velocidade do vento, devido ao desmatamento, e
• contaminação do agricultor devido à utilização incorreta de agrotóxicos.
As atividades agrícolas, com alta demanda de terras, uma vez que pouco é
investido em produtividade e sim em produção, alteram os ecossistemas naturais
e prejudicam as espécies da flora e da fauna com a redução do habitat nativo. O
crescimento das áreas de produção agrícola aumenta o risco da perda de espécies
e o desequilíbrio do meio ambiente.
A retirada de florestas e vegetações nativas para a construção de infra-
estrutura agrícola, como estradas rurais (capítulo 6), fraciona e reduz o espaço
dos ecossistemas naturais, provocando a diminuição considerável de animais,
tais como primatas, aves, felinos, entre outros.
Uma das conseqüências mais negativas da agricultura é a erosão dos
solos, ocasionada devido às práticas incorretas de manejo dos solos. O arraste
de solos pela água e vento varia de acordo com o tipo de solo e cultivo, além das
condições ambientais da área analisada. Por exemplo, quando se utiliza um solo
arenoso numa região de chuvas intensas, a preocupação com a erosão deve ser
dobrada, uma vez que, a desagregação das partículas do solo é maior em solos
arenosos que nos argilosos.

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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

A erosão dos solos afeta as águas com o aporte de sedimentos, carregados


de nutrientes, provocando a eutrofização, o assoreamento de rios, barragens e
lagos, bem como a contaminação por resíduos de agroquímicos.
A contaminação por agroquímicos é uma constante nas propriedades
agrícolas e produzem impactos sobre a saúde humana, poluindo as águas, o solo
e o ar, prejudicando a flora e a fauna. A questão dos agrotóxicos, devido à
impor tância, é abordada com maior profundidade no início do capítulo de
agropecuária, juntamente com as questões pertinentes à conservação dos solos,
reserva legal e matas ciliares.
Os cultivos anuais, que exigem um trabalho freqüente do solo, aumentam
os riscos de erosão, já os cultivos perenes como, por exemplo, a fruticultura e os
reflorestamentos, como geram sombra e mantêm equilibrada as condições de
estrutura do solo, apresentam um risco menor. Porém, deve-se ressaltar que no
caso de reflorestamentos para fins comerciais, quando do corte deve-se tomar
os devidos cuidados com o arraste dos troncos e não deixar o solo exposto às
intempéries, o que poderá gerar compactação e erosão dos solos (MORGAN, 1980).
Esses reflorestamentos para fins comerciais, devido ao baixo número de
espécies utilizadas, tanto quanto a monocultura agrícola, constituem uma ameaça
biológica, química e física, podendo aumentar a aridez, com a escassez de água,
diminuir a fertilidade dos solos, aumentando ainda mais a pobreza de espécies do
ambiente. Esta padronização agrícola e florestal visando ao aumento de rendimentos,
com o objetivo de produzir para o grande mercado consumidor, tem contribuído
para a perda genética. Além disso, deve-se destacar o alto poder de combustão dos
reflorestamentos em zonas secas, sendo fundamental a proteção dos solos e das
águas e a formação de linhas sem vegetação (BROWN, 1973) e (GOLDAMMER, 1988).
Um impacto importante dos sistemas modernos é a mecanização excessiva,
especialmente em solos pouco estruturados, que provoca, entre outras
conseqüências, a compactação com menor infiltração de água e entrada de ar no
solo. As práticas de mecanização agrícola devem ser realizadas com os cuidados
necessários e com o conhecimento adequado por parte do agricultor, uma vez que,
mal empregadas, tais práticas poderão causar, entre outros impactos, a modificação
da estrutura do solo e a redução de sua capacidade produtiva.
Essa modificação da estrutura do solo ocorre devido ao emprego de máquinas
pesadas e o excesso de operações mecanizadas, que reduzem o volume de poros
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MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

e a conseqüente capacidade de absorção e acumulação de água. Em campo molhado


pode-se produzir a compactação do solo, enquanto em campo seco, de acordo
com a porção de argila, pode-se formar torrões ou a pulverização do solo em finas
partículas.
Além disso, a mecanização agrícola envolve a utilização de equipamentos,
combustíveis, lubrificantes de motores e demais produtos agrícolas, que muitas
vezes expõem os operários rurais, não raro despreparados e desinformados, a
riscos de acidentes. Neste particular, deve-se destacar os acidentes com agrotóxicos,
ocasionando a contaminação do aplicador. Por outro lado, a lavagem de máquinas
e demais equipamentos nos cursos d’água contribui para a contaminação e
degradação ambiental dos recursos hídricos.
As monoculturas, voltadas em geral para o mercado externo, além de
apresentarem maiores riscos para compactação dos solos, devido à intensa
mecanização, favorecem a proliferação de pragas e em conseqüência aumentam a
tendência de utilização de agrotóxicos para o controle, com grandes prejuízos à fauna,
a flora e à saúde humana. A compactação do solo apresenta, entre outros, impactos
sobre o crescimento das plantas, sobre os microrganismos úteis do solo (ex.: minhocas)
e sobre a disponibilidade e o metabolismo de nutrientes para as plantas.
Deve ser observado também, na dinâmica dos solos, o papel importante
desempenhado pela matéria orgânica, seja como reservatório de água e habitat
para organismos do solo, seja como depósito de nutrientes. A aplicação de fertilizantes
minerais deve ser determinada em relação às quantidades de matéria orgânica do
solo, pois sem essa determinação corre-se o risco de que os fertilizantes sejam
lixiviados e transportados para as camadas mais profundas do solo e inacessíveis
às plantas. Em conseqüência desta situação, ocorrem aplicações excessivas de
fertilizantes que provocam o aumento dos custos de produção e dos danos ao meio
ambiente.
Outro aspecto importante a ser analisado é o crescimento da família rural,
que impõe a subdivisão freqüente da propriedade rural, provocando a exploração
excessiva dos recursos naturais da unidade de produção. Esta maior subdivisão e
utilização das terras de uma mesma propriedade, quando não avaliadas
tecnicamente, podem causar o rápido desgaste dos solos, prejudicando a todos.
Por fim, deve ser analisada a perda de fertilidade dos solos nas áreas de
irrigação, originadas geralmente poucos anos depois da implantação do sistema

14
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

de irrigação, provocando a salinização e sedimentação, além de consideráveis perdas


econômicas. Esta situação decorre do uso de águas de má qualidade para a irrigação
e/ou drenagem deficiente (capítulo 6).

1.2.3 - Recomendações de medidas atenuantes


A intensa substituição dos ecossistemas naturais por sistemas artificiais de
uso do solo para a produção vegetal altera e desagrega estes ecossistemas, assim
sendo, deve-se buscar formas de minimizar os impactos ambientais negativos desta
atividade.
O solo é a base da produção vegetal e sua proteção é fundamental para
mantê-la. Portanto, o combate à erosão, à salinização e à conseqüente perda de
fertilidade deve estar na ordem do dia de todo agricultor.
Entre as medidas atenuantes a serem tomadas para evitar a degradação
dos solos, pode-se citar:
• a cobertura do solo, para manter o solo protegido das intempéries, podendo
ser cobertura vegetal de plantas cultivadas (cobertura viva), ou mortas
(cobertura morta);
• os cultivos integrados, com a utilização de diversas culturas (rotação de
culturas) e época de descanso;
• a divisão da área agrícola em pequenas parcelas com a implantação de
quebra-ventos, transversalmente à direção principal do vento;
• a integração de ár vores e arbustos na agricultura e na pecuária
(agrossilvipastorilcultura);
• a formação de faixas de proteção contra a erosão, utilizando a prática de
curvas em nível e terraços, especialmente em áreas inclinadas;
• a redução da utilização de máquinas pesadas, diminuindo a pressão
exercida sobre o solo, buscando utilizar máquinas e tratores mais leves
e menores, providos de pneus pequenos;
• o reflorestamento das terras mais pobres, com espécies nativas;
• a adubação orgânica para a conservação e incrementação dos níveis de
matéria orgânica no solo;
• a utilização de métodos de controle biológico e/ou integrado para o
controle de pragas, reduzindo a ação danosa dos agrotóxicos e a
conseqüente contaminação das águas, dos solos, do ar, da fauna, da
flora e do homem, ou seja, dos ecossistemas da propriedade e vizinhos;
15
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• a manutenção das áreas de matas ciliares e de vegetação nativa


remanescente, ao menos dentro dos limites legais, conservando, assim, a
biodiversidade local e
• o plantio direto.
A adoção de práticas conservacionistas no manejo dos solos é, sem dúvida,
a maior arma do agricultor para atenuar as perdas de fertilidade do solo, que
juntamente com a escolha adequada das culturas em relação às características
ambientais da propriedade, são as ferramentas básicas para o desenvolvimento
agrícola sustentável.
Outras medidas atenuantes de possíveis impactos ambientais negativos
da produção vegetal são:
• o planejamento e organização da unidade de produção;
• a escolha da cultura adequada ao ecossistema da propriedade;
• a utilização de práticas de cultivo de acordo com as características naturais
do lugar;
• a conservação dos elementos típicos da paisagem, com a conservação
dos principais biótopos, considerando a necessidade de manutenção da
Reserva Legal e das Reservas Ecológicas, em especial das matas de
galeria;
• o tratamento correto do solo, assegurando sua estrutura, seus processos
biológicos e a fertilidade do mesmo;
• a nutrição balanceada das plantas, utilizando preferencialmente adubos
orgânicos;
• a utilização de variedades geneticamente resistentes às adversidades locais.
Para o caso dos reflorestamentos com fins comerciais, os métodos com
menores impactos negativos, em geral, são aqueles que renunciam às
monoculturas, ou seja, à utilização de uma única espécie florestal, ao corte raso e
que contribuem para a conservação da vegetação nativa, das matas ciliares, produzindo
formas heterogêneas de florestas.

1.2.4 - Referências para análise ambiental da atividade


Considerando os reflorestamentos, as monoculturas de soja, café, as
pastagens, entre outras, a produção vegetal representa, em relação à superfície,
a intervenção mais importante do homem no sistema natural da Terra, ocupando
grandes extensões e utilizando exaustivamente os solos e as águas.

16
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

A produção vegetal está amplamente ligada a outras atividades, entre elas


destacam-se:
• proteção vegetal;
• irrigação;
• melhoramento vegetal;
• conservação dos solos;
• infra-estrutura rural;
• armazenamento e comercialização rural.
Na produção vegetal e na propriedade rural, efetuando-se diversas
medições diretas e/ou indiretas e partindo de alguns critérios de avaliação, podem
ser observados diversos quesitos no decorrer da implementação do processo
produtivo, entre os quais destacam-se:
• as modificações dos ecossistemas, seja na variedade de espécies da
fauna e flora, como na situação atual dos solos da propriedade;
• a situação das reservas de água da propriedade, a quantidade e qualidade
das mesmas;
• as relações energéticas da produção, ou seja, o balanço de energia ligada
à produção das plantas cultivadas, das colheitas obtidas e da energia
consumida para a produção;
• o grau de contaminação por substâncias químicas, existentes na
propriedade;
• a fertilidade dos solos, destacando a análise dos níveis de salinização e
desertificação.
Devido ao amplo espectro de características ambientais das propriedades
rurais, antes do planejamento e aprovação de um projeto é necessário estudar
com profundidade as características do local. Isto inclui a análise dos tipos de
solos, seus nutrientes, sua suscetibilidade à erosão, a taxa de infiltração, o nível
de húmus, a atividade biológica, a capacidade de campo, assim como o relevo, a
qualidade do ar e os aspectos climáticos da propriedade, como as médias,
máximas e mínimas temperaturas e os índices pluviométricos da região.
Para os solos nordestinos, especial atenção deve ser dada aos sintomas
de carência de macro e micronutrientes e da toxicidade em plantas cultivadas, o
que exige a determinação do estado destes nutrientes e da contaminação por
substâncias nocivas, sendo que através da medição da capacidade efetiva de
intercâmbio catiônico (CTC) e da saturação de bases (V) é possível avaliar o
desequilíbrio de nutrientes e o grau de salinização.

17
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Quanto à qualidade das águas, a determinação do pH, da temperatura,


do nível de oxigênio, de fosfatos, nitratos, da DBO – Demanda Bioquímica de
Oxigênio, dará condições para concluir sobre o grau de eutrofização e
contaminação por matéria orgânica degradável, entre outros.
Quanto ao uso da água para irrigação, deve-se estar atento para a
Condutividade Elétrica (CE) e a Relação ou Taxa de Adsorção do Sódio (RAS), para
verificar a classificação da água, conforme está descrito no tema de Irrigação
deste Manual.
No campo da utilização das águas, em especial nas áreas de clima semi-
árido, como grande parte do Nordeste brasileiro, deve-se estudar a hidrogeologia,
avaliando o nível das reservas subterrâneas de água, informando as condições
do subsolo, a localização das principais zonas de captação, a evaporação anual e
a taxa de reposição destas águas, uma vez que a utilização indevida destes
mananciais, ou seja, a extração maior que a reposição, poderá produzir graves
impactos negativos sobre o balanço hídrico.
No sentido de evitar modificações não desejadas no contexto da produção
vegetal, é importante registrar a situação atual e estimar as alterações futuras,
para tanto, pode ser necessária a comprovação periódica das mudanças
prognosticadas e realmente produzidas no meio ambiente. O mesmo é válido
para a área social, econômica e para os fatores culturais, que estão intimamente
relacionados com o meio ambiente.
Geralmente, os impactos produzidos pela produção agrícola em escala
comercial manifestam-se na redução da variedade de espécies, no
empobrecimento do nível e ciclo de nutrientes e nas características físicas, químicas
e biológicas do solo, assim como na contaminação ambiental.
Porém, com um planejamento e uma execução adequada, a produção
vegetal pode alcançar os resultados necessários, ou seja, suprir o mercado com
os alimentos, em compatibilidade com o meio ambiente e com as estruturas
sociais, sendo ao mesmo tempo rentável e ambientalmente sustentável.

continua
18
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

1.2.5 - Quadro-Resumo – Produção Vegetal


IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
• Redução da diversidade de espécies da • A conservação dos elementos típicos da paisagem, com a
fauna e da flora. conservação dos principais biótopos, considerando a
necessidade de manutenção da Reserva Legal e das
Reservas Ecológicas, em especial das matas de galeria,
conservando assim a biodiversidade local.
• A escolha da cultura adequada ao ecossistema da
propriedade.
• A utilização de práticas de cultivo de acordo com as
características naturais do lugar.
• Contaminação dos solos, ar, água, fauna • A utilização da rotação de culturas, de variedades
e flora por agrotóxicos e fertilizantes. geneticamente resistentes, do controle biológico e
integrado de pragas, evitando ao máximo a utilização de
agrotóxicos e a conseqüente contaminação das águas, dos
solos, ou seja, dos ecossistemas da propriedade e
vizinhos.
• Aumento da velocidade do vento, devido • A divisão da área agrícola em pequenas parcelas com a
ao desmatamento. implantação de quebra-ventos, transversalmente à direção
principal do vento.
• A integração de árvores e arbustos na agricultura
(agrossilvicultura).
• Contaminação do agricultor devido à • A utilização de métodos de controle biológico e/ou
utilização de agrotóxicos. integrado para o controle de pragas, reduzindo o uso e a
conseqüente ação danosa dos agrotóxicos.
• A utilização adequada dos agrotóxicos, segundo os
preceitos do receituário agronômico e florestal, com as
dosagens e recomendações técnicas pertinentes.
• A utilização correta dos agrotóxicos e dos Equipamentos de
Proteção Individual (EPIs), quando da aplicação.
• Poluição do ar por fumaça e material • Não utilização da prática de queimadas, especialmente em
particulado, devido às queimadas. grandes dimensões; havendo necessidade de utilizar tal
prática, buscar orientação e autorização da autoridade
ambiental competente.

19
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES


• Erosão, compactação, redução da • A cobertura do solo, para manter o solo protegido das
fertilidade dos solos, com salinização intempéries, podendo ser cobertura vegetal de plantas
e desertificação de áreas. cultivadas (cobertura viva), ou mortas (cobertura morta);
• Os cultivos integrados, com a utilização de diversas
culturas (rotação de culturas) e pousio.
• A formação de faixas de proteção contra a erosão,
utilizando a prática de curvas em nível e terraços,
especialmente em áreas inclinadas.
• A redução da utilização de máquinas pesadas,
diminuindo a pressão exercida sobre o solo, buscando
utilizar máquinas e tratores mais leves e menores.
• reflorestamento, das terras mais pobres e declivosas,
com espécies nativas.
• A adubação orgânica para a conservação e incremento
dos níveis de matéria orgânica no solo.
• tratamento correto do solo, assegurando sua estrutura,
seus processos químicos e biológicos e sua fertilidade.
• A utilização da prática do plantio direto.
• Impactos dos efeitos climáticos sobre • planejamento e organização da unidade de produção;
a produção. • A seleção de variedades de sementes resistentes às
adversidades locais.
• Melhoria da resistência das plantas, por meio da nutrição
correta e balanceada, utilizando preferencialmente
adubos orgânicos.
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
• Lei 4.771 – 15/09/65 – Código Florestal Brasileiro e MP 1.511 – 2 de 19/09/96.
• Lei 7.803 – 18/07/85 – Inclui pontos importantes ao Código Florestal, em especial quanto
às Reservas Florestais Legais.
• Lei 8.171 – 17/01/91 – Lei de Política Agrícola – Estabelece a Proteção Ambiental dos
Recursos Naturais da Propriedade Agrícola.
• Lei 6.938 – 31/08/81 – Estabelece a Política Ambiental: determina as Áreas de
Preservação Permanente como Reservas Ecológicas.
• Resolução CONAMA 004/85 – Estabelece as áreas consideradas como Reservas Ecológicas.
• Lei 6.225 – 14/07/75 – Dispõe sobre a discriminação por parte do Ministério da Agricultura
de regiões de execução obrigatória de Planos de Proteção do Solo e de combate à erosão.
• Decreto 77.775 – 08/06/76 – Regulamenta a Lei 6.225/75.
• Decreto 94.076 de 05/03/87 – Institui o Programa Nacional de Microbacias Hidrográficas.

20
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

1.3 - Produção Animal


1.3.1 - Descrição da atividade sob o enfoque ambiental
A produção animal interage com o meio ambiente de diversas formas,
especialmente pela necessidade de água para a dessedentação e pela alimentação
extraída do solo por meio de pastagens naturais ou cultivadas.
Os sistemas de exploração adotados (extensivo, semi-extensivo e intensivo)
exercem influências distintas, com níveis diferentes de degradação do meio
ambiente.
A produção animal pode ser praticada em todos os lugares em que a
agricultura é viável e até em alguns locais onde esta última não se viabiliza
plenamente. Mesmo em regiões menos privilegiadas em termos de recursos
hídricos e vegetais, à semelhança das regiões áridas ou semi-áridas nordestinas,
é possível o desenvolvimento econômico dessa atividade, desde que observados
os cuidados de garantia mínima de suprimento alimentar e de manejo adequado.
Neste capítulo serão avaliados os principais impactos ambientais da
produção animal abordando-se aspectos ambientais relevantes da suinocultura,
caprino-ovinocultura e avicultura, com maior destaque para bovinocultura e a
aqüicultura.

1.3.2 - Potenciais impactos ambientais negativos da produção animal


Produção Animal Extensiva:
No sistema de exploração extensivo um dos impactos ambientais negativos
mais expressivos da produção animal é gerado pelo superpastoreio que provoca,
a partir do pisoteio excessivo, alterações significativas na estrutura da camada
superficial do solo e na composição das espécies vegetais. O superpastoreio
intensifica a compactação dos solos e a subtração da cober tura vegetal,
favorecendo o processo de erosão. A intensidade dos impactos depende da espécie,
porte e carga animal das unidades produtivas, bem como da topografia e do tipo
do solo da área.
Da energia dos nutrientes ingeridos, somente uma pequena parte aparece
nos produtos consumidos pelo homem. A maior parte é eliminada por meio das
fezes e da urina e, no caso dos ruminantes, há a eliminação do gás metano.
Embora a contribuição do metano seja menos significativa que outros gases
como, por exemplo, o dióxido de carbono, para a formação do chamado “efeito
21
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

estufa” e, ainda que a geração de gás metano na produção animal pareça


insignificante, ela tem sido considerada em nível global, nos estudos que visam à
redução deste efeito.
As fezes e urina expelidas pelos animais depositam-se aleatoriamente ao
longo das áreas de pastagem e nos recursos hídricos. Embora a incorporação
desta matéria orgânica ao solo seja benéfica para sua fertilização, o mesmo não
se pode assegurar com relação aos recursos hídricos, que podem ser
contaminados pelo excesso desse material, principalmente quando essa atividade
é desenvolvida em regiões com altas taxas de evaporação e com poucas
oportunidades de renovação hídrica.
Geralmente, ao redor das fontes de abastecimento de água concentram-
se muitos animais, assim os cursos d’água e principalmente os açudes podem
ser facilmente contaminados pelas fezes, o que acaba por aumentar os riscos à
saúde, quando esta água é utilizada para consumo humano.
Próximo às fontes d’água ocorre também o comprometimento da
vegetação, devido ao pisoteio intenso destes locais, ou simplesmente devido à
supressão das matas ciliares para facilitar o acesso dos animais à água.
Dentre os principais impactos ambientais negativos da atividade de produção
animal extensiva, pode-se destacar:
• a eliminação e/ou redução da fauna e flora nativas, como conseqüência
do desmatamento de áreas para o cultivo de pastagens;
• o aumento da degradação e perdas de nutrientes dos solos, em especial
devido ao pisoteio intensivo e à utilização do fogo;
• a contaminação dos produtos de origem animal, devido ao uso
inadequado de produtos veterinários para o tratamento de enfermidades
dos animais e de agrotóxicos e fertilizantes químicos nas pastagens;
• a redução na capacidade de infiltração da água no solo devido à
compactação;
• a degradação da vegetação e compactação dos solos e
• a contaminação das fontes d’água e assoreamento dos recursos hídricos.

Produção Animal Confinada:


Com relação à produção animal confinada, considerando-se não apenas a
bovinocultura, mas também a avicultura, caprino-ovinocultura, suinocultura e outros
animais de pequeno porte, os impactos desse sistema de exploração sobre o meio

22
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

ambiente deverão ser aferidos levando-se em conta a quantidade, espécie e porte


dos animais, além da origem e composição dos ingredientes utilizados nos
concentrados e rações.
A conversão da produção animal de extensiva para confinada pode, por um
lado, representar ganhos ambientais em termos da proteção de alguns ecossistemas
mas, por outro lado, aumenta a concentração de resíduos líquidos e sólidos, podendo,
se não forem adotadas medidas de controle pertinentes, contaminar águas
superficiais e subterrâneas, gerar odores e contribuir para a proliferação de vetores.
No confinamento de animais podem ocorrer perdas de nutrientes para os
solos e para as plantas, devido à deposição dos excrementos nos currais onde são
confinados e não mais nas pastagens, como é o caso do pastoreio extensivo. O
acúmulo destes excrementos nos currais, pode gerar um problema de poluição
ambiental, caso não haja o manejo adequado deste material.
Quando a instalação do estábulo não se dá de forma adequada, a
concentração de gases (amoníaco, metano, gás sulfídrico etc.) no seu interior, assim
como a poeira e os gérmens presentes no ar, podem atuar negativamente sobre a
saúde dos animais e das pessoas que ali trabalham.
Dependendo da localização dos estábulos, pode ocorrer também impactos
negativos sobre as áreas vizinhas, por meio da emissão de odores e ruídos e da
proliferação de vetores.
O uso de animais de alto rendimento normalmente resulta em maiores
exigências quanto ao suprimento de forragens, rações e assistência técnica sanitária,
podendo, no caso de utilização inadequada de produtos veterinários (quimioprofilaxia),
desenvolver-se agentes patogênicos resistentes.
As unidades produtoras de animais de alto rendimento, geralmente, são de
grande porte e consomem mais energia fóssil por unidade de produção, em relação
às unidades tradicionais. Além disso, normalmente se agregam às forragens e
rações substâncias como hormônios e uréia, para intensificar o crescimento dos
animais, e utiliza-se antibióticos para protegê-los contra doenças, o que aumenta o
risco da presença destas substâncias nos alimentos de origem animal.

1.3.3 - Recomendações de medidas atenuantes


Várias são as medidas que podem ser adotadas no sentido de atenuar os
impactos negativos da produção animal, sendo que muitas delas já foram abordadas
quando das recomendações sugeridas no capítulo relacionado com a produção
vegetal (Capítulo 1.2.3), especialmente as que dizem respeito à proteção dos solos.
23
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Especificamente quanto à produção animal extensiva, pode-se destacar a


necessidade de controlar a pressão dos animais sobre as áreas de pasto e
ecossistemas naturais da propriedade, mediante a adoção das seguintes medidas:
• executar rotação de pastos;
• limitar o número de animais por área, evitando o superpastoreio;
• controlar a duração do pastoreio;
• implementar o replantio e a produção de forragem;
• instalar em locais estratégicos as fontes de água e sal;
• restringir o acesso dos animais às áreas instáveis como, por exemplo,
encostas;
• restringir o acesso dos animais às áreas de florestas nativas (Reserva
Legal e Áreas de Preservação Permanente) evitando a degradação destas
áreas;
• adotar medidas de controle da erosão;
• implementar políticas de administração dos recursos hídricos de forma
a garantir o suprimento de água para as necessidades da unidade de
produção nos períodos secos;
• conser var a biodiversidade das unidades produtivas, planejando e
implementando estratégias de manejo de áreas para o pastoreio,
buscando reduzir os impactos negativos sobre a fauna e a flora silvestre,
estabelecendo refúgios compensatórios para a fauna;
• evitar o desmatamento e as queimadas, quando estritamente necessário
deve-se buscar o pertinente licenciamento junto à Autoridade Ambiental
competente;
• adotar Sistemas Integrados de Produção, como os Sistemas Agroflorestais
(SAFs), entre outras.
Para o caso da produção animal em regime de confinamento entre outras
medidas a serem adotadas, destacam-se:
• a adequada instalação dos estábulos, visando ao melhor posicionamento
quanto à insolação, ventilação e proximidade de habitações;
• o estabelecimento de distâncias adequadas de assentamentos humanos,
visando minimizar possíveis conflitos com moradores vizinhos;
• a implementação de medidas de armazenamento, tratamento, utilização
e disposição adequada dos resíduos líquidos e sólidos gerados;
24
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• a observação da legislação e normas técnicas pertinentes, quanto ao


uso de substâncias aceleradoras de crescimento (hormônios) e
antibióticos, respeitando a dosagem correta e o tempo de carência e
• a adoção de medidas de higiene como a desinfecção.
Para o aproveitamento de efluentes, na produção suína confinada, pode-
se estabelecer a criação de peixes integrada ao criadouro, porém deve-se estar
atento para a relação entre a quantidade de suínos, o tamanho do lago e a
quantidade de peixes a serem criados.
Por fim, deve-se destacar ainda que, em algumas áreas, a criação de
animais da fauna nativa tem sido uma alternativa economicamente viável para a
produção de carne, pele e couro. Como estes animais são adaptados às condições
ambientais locais, a intervenção no meio ambiente geralmente é bem menor.
Portanto, antes da introdução de animais de outros ambientes (exóticos), deve-
se buscar avaliar as vantagens apresentadas pela fauna nativa da região.

1.3.4 - Referências para análise ambiental da atividade


A produção animal é uma atividade diretamente relacionada com a produção
vegetal, de onde obtém a base da alimentação dos animais, a partir das forragens,
leguminosas e restos de cultivo. Ambas são supridoras de matérias-primas para
as indústrias e agroindústrias, desempenhando um papel fundamental na cadeia
produtiva.
Os impactos ambientais negativos da produção animal são proporcionais
à relação entre a intensidade com que a mesma é praticada e a disponibilidade
de recursos naturais.
No sistema de produção animal extensiva, faz-se necessário observar que
o uso de grandes áreas para a produção animal não representa necessariamente
a garantia da sustentabilidade do pastoreio. Essas grandes áreas, para serem
formadas, reduzem a variedade vegetal, provocam o uso desequilibrado dos
recursos naturais, com maior escoamento das águas das chuvas, erosão e até
podem provocar mudanças micro-climáticas na região (HARRINGTON,1984).
Para o caso do sistema de confinamento, na análise e elaboração dos
projetos, é fundamental para a proteção ambiental a previsão de medidas de
tratamento e disposição adequada dos efluentes e resíduos gerados, assim como
a correta localização dos estábulos.

25
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Outro aspecto a ser considerado é a utilização inadequada de antibióticos


e hormônios, que representam grave perigo para a saúde dos consumidores de
produtos animais. No caso dos hormônios e antibióticos, devem ser observadas
as normas técnicas e legais existentes.

1.3.5 - Quadro-resumo – Produção animal


IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
• Eliminação e/ou redução da fauna e • Conservar a biodiversidade das unidades produtivas,
flora nativas, como conseqüência do planejando e implementando estratégias de manejo de
desmatamento de áreas para o cultivo áreas para o pastoreio, buscando reduzir os impactos
de pastagens. negativos sobre a fauna e a flora silvestre,
estabelecendo refúgios compensatórios para a fauna.
• Evitar o desmatamento e as queimadas para, quando
estritamente necessário deve-se buscar o pertinente
licenciamento junto à Autoridade Ambiental competente.
• Riscos de contaminação do ar, das • Localização adequada dos estábulos, especialmente com
águas e dos solos no sistema de a adoção de distâncias adequadas de assentamentos
confinamento. humanos.
• A adoção de medidas de armazenamento, tratamento,
utilização e disposição adequada dos resíduos líquidos e
sólidos gerados com a concentração de excrementos.
• Adoção de medidas de higiene como a desinfecção.
• Deterioração da fertilidade e das • Executar rotação de pastos.
características físicas do solo devido à • Limitar o número de animais por área.
eliminação da vegetação pelo super- Controlar a duração do pastoreio.

pastoreio e à compactação do solo Mesclar espécies para otimizar o uso da vegetação.
pelo pisoteio intensivo. •
• Implementar o replantio e a produção de forragem.
• Redução na capacidade de infiltração
• Restringir o acesso dos animais às áreas instáveis como,
da água no solo devido à
por exemplo, encostas.
compactação.
• Adotar medidas de controle da erosão.
• Contaminação dos animais e • Evitar o uso de insumos que possam contaminar as
alimentos, devido ao uso inadequado áreas de pastoreio, assim como produtos veterinários,
de produtos veterinários para o tais como antibióticos e hormônios que possam deixar
tratamento de enfermidades e resíduos químicos nos animais, devendo, sempre quando
hormônios indutores de crescimento. utilizados, respeitar a legislação e as normas técnicas
• Contaminação das áreas e dos pertinentes.
animais, devido ao uso inadequado de
agrotóxicos e fertilizantes para o
manejo de pasto.
• Utilização inadequada da água, para a • Implementar políticas de administração dos recursos
dessedentação dos animais, hídricos de forma a garantir o suprimento de água para
especialmente em áreas secas. as necessidades das unidades produtivas nos períodos
secos.

• Degradação da vegetação e do solo • Instalar em locais estratégicos as fontes de água e sal.


próximo às fontes de água.
continua

26
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

conclusão
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
• Lei 4.771 – 15/09/65 – Código Florestal Brasileiro e MP 1.511 – 2 de 19/09/96.
• Lei 7.803 – 18/07/85 – Inclui pontos importantes ao Código Florestal, em especial quanto às Reservas
Florestais Legais.
• Lei 8.171 – 17/01/91 – Lei de Política Agrícola – Estabelece a Proteção Ambiental dos Recursos
Naturais da Propriedade Agrícola.
• Lei 6.938 – 31/08/81 – Estabelece a Política Ambiental: determina as Áreas de Preservação
Permanente como Reservas Ecológicas.
• Resolução CONAMA 004/85 – Estabelece as áreas consideradas como Reserva Ecológicas.
• Lei 6.225 – 14/07/75 – Dispõe sobre a discriminação por parte do Ministério da Agricultura de regiões
de execução obrigatória de Planos de Proteção do Solo e de combate à erosão.
• Decreto 77.775 – 08/06/76 – Regulamenta a Lei 6.225/75.
• Decreto 94.076 de 05/03/87 – Institui o Programa Nacional de Microbacias Hidrográficas.

1.4 - Produção animal – aqüicultura

1.4.1 - Descrição da atividade sob o enfoque ambiental


A aqüicultura considera os usos múltiplos (alternativos e competitivos) dos
recursos dos quais depende: terra, água, sementes (alevinos, pós-larvas, girinos
e outros) e alimentos. O uso, bem como o acesso e a apropriação quantitativa e
qualitativa desses recursos, determina a natureza e a escala das interações com
o ambiente e a conseqüente sustentabilidade dos empreendimentos.
Portanto, essa atividade não pode ser isolada do ambiente maior em que
ela se insere. Seu desenvolvimento pode ser severamente limitado pela poluição
das águas embora, paradoxalmente, ela própria cause algum grau de poluição.
Na prática da aqüicultura tem-se a possibilidade de exercer o controle
sobre diversas etapas da produção como, por exemplo, a escolha da espécie
mais adequada para os fins produtivos desejados, a reprodução, a qualidade e
quantidade das águas. Portanto, faz-se necessária a boa escolha do local para a
produção, orientando-se pela proteção dos ecossistemas naturais, especialmente
dos recursos hídricos.
Ao processo de produção seguem-se, até o consumo, outros processos
também relevantes do ponto de vista do meio ambiente, tais como: a conservação,
o processamento/elaboração, a embalagem, o transporte e a comercialização
dos pescados, atividades estas que devem observar todos os aspectos ambientais
a elas relacionados, evitando potenciais impactos ambientais negativos.

27
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

1.4.2 - Potenciais impactos ambientais negativos


Para a aqüicultura é fundamental a preparação do local de forma adequada.
É neste ponto que se deve prestar a maior atenção, pois na área poderão ocorrer,
entre outros, os seguintes impactos:
• Degradação da flora e da fauna local, devida ao desmatamento ou limpeza
da vegetação nativa para a construção de tanques e viveiros, sem
observância da legislação pertinente.
• Ocupação de espaços inadequados, do ponto de vista ambiental, como
os manguezais.
• Alteração do fluxo da água, tendo-se presente que em locais com poucos
recursos hídricos pode-se diminuir a quantidade de água para outros
fins, gerando conflitos de uso e
• Lançamento de efluentes poluentes provenientes dos viveiros que
deteriorem a qualidade dos ecossistemas aquáticos naturais.
Com relação à ocupação de espaços inadequados, do ponto de vista
ambiental, para a introdução dos tanques, segundo SAKTHIVEL (1985) In LEE et
al.(1997), que avaliou projetos de carcinicultura na Ásia, as áreas pantanosas e
manguezais, como estavam mais próximos ao abastecimento de água, foram
destruídos na construção de tanques, mas atualmente já existe uma
conscientização de que estas áreas são importantes para o cultivo de peixes e
crustáceos, como também para a proteção contra inundações.
Quanto aos efluentes da aqüicultura, segundo BROWN (1989) In LEE et al.
(1997), em vários países os efluentes das fazendas de cultivo, que podem conter
antibióticos, organismos produtores de doenças virulentas ou de bactérias
resistentes, são despejados livremente sobre as praias onde representam um
risco potencial para as fazendas vizinhas e possivelmente ao público.
Segundo BOYD (1997), vários são os elementos presentes nos efluentes
dos tanques/viveiros de aqüicultura, entre eles a amônia, excretada pelos peixes,
camarões e microrganismos, que é tanto uma toxina para os animais aquáticos
como um poluente no efluente. Além disso, a matéria orgânica e o nitrogênio do
efluente, uma vez descarregados em ecossistemas aquáticos naturais, impõem
uma carga poluente, e a capacidade de assimilação dos sistemas naturais pode
ser sobrecarregada pelos efluentes dos viveiros, deteriorando a qualidade dos
corpos d’água que os recebem.

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MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Ainda, quanto aos efluentes, nos tanques e estações de reprodução, segundo


BROWN(1989) In LEE et al. (1997), quando em áreas confinadas ou onde são
reduzidas a mistura e dispersão, existem riscos de eutrofização, presença de
algas tóxicas e transferência de doenças entre os tanques, onde podem acumular-
se patógenos ou bactérias resistentes aos antibióticos.
Segundo LEE et al. (1997), é impor tante destacar que na engorda e
maturação sexual o uso de compostos terapêuticos é praticado amplamente nas
medidas comerciais e de pesquisa, mas muito poucos agentes químicos estão
aprovados para uso em animais destinados ao consumo humano. Tal situação
pode gerar impactos à saúde do consumidor e deve ser tratada com rigor técnico,
além de obedecidas as normas legais. Por outro lado, as enfermidades e parasitas,
associados com os peixes cultivados em tanques-rede, podem disseminar-se
entre os peixes nativos e no ecossistema em geral.
Outro aspecto é a eliminação da incrustação marinha nos sistemas de cultivo,
com o emprego de substâncias químicas que são biocidas. Estas substâncias tóxicas
não só eliminam os organismos incrustadores, mas também seu uso prolongado
faz com que se incorporem: i) ao meio circundante, contaminando-o e fazendo-o
improdutivo; ii) aos tecidos dos organismos cultivados e, iii) a macrofauna preexistente
no local de cultivo. A eliminação ou depuração dos mesmos dos tecidos dos
organismos afetados é lenta ou inexistente, passando portanto ao organismo
humano, se este os consome.
Outros impactos ambientais negativos da aqüicultura originam-se da
introdução de espécies exóticas, que estabelecem processos de competição e
até destruição das espécies nativas. Como se adaptam com facilidade ao novo
ecossistema, uma vez que geralmente não possuem inimigos naturais, estas
espécies exóticas podem se proliferar em grandes proporções, representando
um risco à diversidade biológica nativa. Vários são os exemplos de introdução de
espécies que causaram desequilíbrios, um deles é a dos bagres exóticos (Clarias
gariepinus e Ictalurus punctatus) nas bacias dos rios Amazonas e Paraguai, que
atualmente são proibidos pela Portaria IBAMA n.º 142 de 22/12/1994.

1.4.3 - Recomendações de medidas atenuantes


Na aqüicultura, deve-se procurar realizar o planejamento correto antes da
implantação, evitando futuros impactos ambientais negativos. A escolha correta
do local, o conhecimento das espécies e suas exigências e a construção dos

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MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

tanques de forma adequada, assim como o manejo correto, são os principais


fatores para o sucesso da aqüicultura.
Várias são as medidas atenuantes que podem ser adotadas na aqüicultura
como forma de minimizar seus impactos ambientais negativos. Dentre elas,
destacam-se:
• Evitar a construção de tanques em áreas de interesse do ponto de vista
ambiental, tais como várzeas, manguezais e áreas de remanescentes florestais
primários.
• Localizar os tanques de modo que não interfiram nos usos tradicionais
da água a jusante e montante dos mesmos.
• No caso de águas interiores, buscar os usos múltiplos para as águas dos
tanques/viveiros, integrando a aqüicultura com outras atividades, tais
como a agricultura irrigada.
• Evitar a introdução de espécies exóticas, exceto quando conhecida a
biologia da espécie e esta não demonstre riscos para o ecossistema
natural.
• Realizar o tratamento dos efluentes dos viveiros para remoção de
poluentes, seja pela utilização de uma caixa de sedimentação, seja pela
construção de uma várzea, antes da descarga no ambiente natural.
• Efetuar monitoramento sanitário freqüente para identificação e eliminação
de doenças e parasitas e
• Requerer a outorga do uso d’água de forma a controlar o seu uso, de
acordo com as vazões permitidas, evitando conflitos entre produtores e
vizinhos, que utilizam a mesma bacia hidrográfica.
Um dos principais problemas da aqüicultura é o descarte de seus efluentes,
ricos em nutrientes (nitrogênio, fósforo), matéria orgânica e sedimentos. Segundo
BOYD (1997), para viveiros de água doce a troca de águas entre os viveiros e
sistemas de irrigação pode ser uma boa solução, uma vez que estes efluentes
podem promover algum benefício para determinadas culturas, através do aumento
da umidade do solo e do fornecimento de pequenas quantidades de nutrientes e
matéria orgânica.
Ainda, segundo BOYD (1997), é freqüentemente possível transferir os primeiros
80% do volume de água do viveiro para viveiros adjacentes com a reutilização da
água. Os últimos 20% do volume da água dos tanques são concentrados em poluentes
e devem ser tratados para melhorar sua qualidade, antes da descarga em águas
naturais.

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MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

A utilização de espécies consumidoras de dejetos de outros setores, como,


por exemplo, o consórcio piscicultura-suinocultura, pode solucionar os problemas
dos efluentes da suinocultura. Porém, segundo BOYD (1997), estercos têm baixas
concentrações de nutrientes e devem ser aplicados em quantidades maiores que
fertilizantes químicos, criando uma alta demanda de oxigênio, podendo provocar
falta desse elemento na água. Além disso, os resíduos de antibióticos e outros
produtos químicos adicionados na alimentação animal podem estar presentes no
esterco e contaminar os peixes e camarões cultivados. A grande vantagem dos
estercos é que estes são produtos de descarte e são baratos, mas devem ser
tomados todos os cuidados necessários para que a carga de dejetos seja
equilibrada com a área do tanque e a quantidade de peixes. Neste caso, são
fundamentais a gestão adequada e o controle periódico da qualidade da água.
Com relação às aplicações de medicamentos destinados a prevenir e tratar
doenças e combater parasitas, estes não devem ser aplicados em água corrente e
nem em sistemas abertos. Sendo necessário, devem ser aplicados em tanques
especiais e fechados, evitando a contaminação dos corpos d’água com resíduos de
medicamentos.
Segundo BOYD (1997), algumas medidas podem otimizar o uso da terra,
aumentar a eficiência da transformação de proteína, reduzir custos de energia,
diminuir impactos ambientais negativos e aumentar a sustentabilidade da
aqüicultura em viveiros, entre elas o autor destaca:
• Quando possível, localizar os viveiros em terras que não têm alto valor
para outras culturas.
• Evitar construir viveiros em áreas alagadas.
• Locais com potenciais solos ácido-sulfato ou solos orgânicos podem ser
usados para viveiros, mas serão problemáticos e devem ser usados
somente se áreas melhores não forem disponíveis.
• Usar métodos de cultivo relativamente intensivos para reduzir a área de
viveiros, mas não intensificar a ponto da qualidade da água dos viveiros
ser negativamente afetada.
• Para conservar a água e minimizar o uso de energia de bombeamento,
operar os viveiros por vários anos sem drenar, permitir capacidade de
armazenamento dos viveiros para reter água da chuva, usar o mínimo
de troca de água possível, selar o fundo dos viveiros para reduzir infiltração,
e reutilizar a água onde possível.
• Fornecer aeração, mas somente operar os aeradores quando necessário,
de acordo com a concentração de oxigênio dissolvido.

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MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• Usar ração de alta qualidade que não contenha mais nitrogênio e fósforo
que o realmente demandado pelo peixe ou camarão.
• Evitar rações com alta porção de finos (pó) e não super-arraçoar.
• Tentar manter boa qualidade da água e do solo por meio da aeração
apropriada, calagem de viveiros acidificados, e tratamento de fundo de
viveiros para melhorar a decomposição de matéria orgânica. Evitar o uso
de tratamentos nos viveiros que não sejam comprovadamente benéficos.
• Quando os viveiros forem drenados, bombear a água para viveiros adjacentes
para que possa ser reutilizada.
• Se a água deve ser descarregada, permita que passe por uma caixa de
sedimentação ou por uma várzea construída antes que entre em um corpo
de água natural.
BOYD (1997) destaca que obviamente todas as sugestões não são aplicáveis
a determinados tipos de aqüicultura em viveiros ou locais, mas a maioria tem
aplicação geral.
Por fim, os fatores externos que atuam sobre a aqüicultura estão ligados
aos impactos negativos de atividades que afetam a qualidade e quantidade da
água, sendo importante salientar que a qualidade dos pescados depende, além
das boas práticas de manejo, do estado físico-químico e biológico das águas onde
se pratica a aqüicultura.

1.4.4 - Referências para análise ambiental da atividade


Os principais aspectos de meio ambiente que devem ser considerados na
aqüicultura, são os que podem produzir impactos negativos sobre os ecossistemas.
Estão geralmente ligados às atividades da aqüicultura, que influem principalmente
na qualidade das águas, por meio do descarte de efluentes, assim como nos conflitos
entre usuários, que podem ser gerados, quando da não regulamentação e
administração adequada dos recursos hídricos.
Além dos aspectos a serem observados, já descritos nas medidas atenuantes,
o aqüicultor deverá requerer a legalização do seu projeto junto ao IBAMA- Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, por meio da
solicitação de seu registro, conforme o estabelecido na Portaria IBAMA n.º 095 de
3/08/1993. Para obtenção deste registro, o requerente deverá atender algumas
exigências, dentre as quais inclui-se a licença ambiental e a outorga do uso do
recurso hídrico.
Finalmente, segundo BOYD (1997), a intensidade do cultivo interage com
muitas variáveis que influenciam o lucro, a eficiência produtiva e a sustentabilidade.
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MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Se a taxa de estocagem ótima for definida como a estocagem que proporciona o


maior lucro, esta taxa de estocagem também provavelmente otimiza as taxas de
horas de aeração, uso da água, perdas por doenças, qualidade do efluente, e
conversão alimentar da produção de peixes, e porque todos estes fatores contribuem
direta ou indiretamente para a sobrevivência e o crescimento dos peixes ou camarões,
que são fundamentais para o retorno. Parece provável que sistemas aqüaculturais
podem ser manipulados de modo que o lucro e a sustentabilidade possam ser
otimizados ao mesmo tempo. A aqüicultura comercial nunca é um empreendimento
de baixa incorporação de insumos livres de problemas ambientais, mas é possível
fazer melhor do que se faz no presente.

1.4.5 - Quadro-resumo – Produção animal – aqüicultura


IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
• Degradação da flora e da fauna na • Evitar a construção de tanques em áreas de interesse do
área de construção dos tanques. ponto de vista ambiental, tais como: várzeas,
• Construção de viveiros em locais manguezais e áreas de remanescentes florestais
inadequados, do ponto de vista primários, observando a legislação pertinente.
ambiental.
• Destruição e ocupação das áreas
costeiras alagáveis, principalmente
manguezais.
• Alteração do fluxo da água, sendo que • Localizar os tanques de modo que não interrompam os
em locais com poucos recursos usos tradicionais da água a jusante e montante dos
hídricos, pode-se diminuir a mesmos;
quantidade de água para outros fins, • Buscar os usos múltiplos para as águas dos tanques,
gerando conflitos de uso. tais como a agricultura irrigada;
• Requerer a outorga do uso d’água para controlar o seu
uso, de acordo com as vazões permitidas, evitando
conflitos futuros entre produtores e vizinhos, que utilizam
a mesma bacia hidrográfica.
• Lançamento de efluentes poluentes • Evitar lançamentos de efluentes sem a remoção de
provenientes dos viveiros que poluentes.
deteriorem a qualidade dos
ecossistemas aquáticos naturais.
• Contaminação do meio ambiente com
produtos químicos e drogas usadas
no manejo dos cultivos.
• Riscos de processos de competição e • Evitar a introdução de espécies exóticas, exceto quando
até destruição de espécies nativas, conhecida a biologia da espécie e esta não demonstre
pela introdução de espécies exóticas e riscos para o ecossistema natural.
patógenos associados. • Observar a legislação específica que orienta sobre a
introdução de espécies exóticas.
• Sobrecarga por incremento do nível • Determinação da capacidade de suporte, avaliando a
de carbono, nitrogênio e fósforo. influência da localização dos tanques-rede no
ecossistema.
• Modificação do meio ambiente socio- • Implementar condições para a participação comunitária
econômico regional. nos processos decisórios, quando da implantação de
projetos de aqüicultura.
continua
33
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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

conclusão
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
• Decreto Lei n.° 24.643 de 10 de julho de 1934 – (Código das Águas) – Estabelece os possíveis e
diferentes usos das águas em geral, bem como sua propriedade.
• Lei 4.771 – 15/09/65 – (Código Florestal) – Define medidas de proteção de certas formas de
vegetação, especialmente daquelas intimamente associadas aos recursos hídricos (matas ciliares,
reservatórios, mangues).
• Lei n.o 221 de 28/02/1967 – (2° Código de Pesca) – Estabelece e regulamenta as condições para a
prática da pesca; proíbe a importação ou exportação de quaisquer espécies aquáticas, em qualquer
estágio de evolução, bem como a introdução de espécies nativas ou exóticas nas águas interiores, sem
autorização prévia do órgão público competente; obriga a tomada de medidas de proteção à ictiofauna
pelos proprietários/concessionários de represas em cursos d’água; trata da exploração dos campos ou
bancos naturais de invertebrados aquáticos, estabelecendo que qualquer atividade extrativista nesses
locais só pode ser executada dentro das condições estabelecidas pelo órgão competente (os bancos
naturais de moluscos têm servido tanto para coleta de reprodutores, como de sementes destinadas à
engorda em cultivos); define que o Poder Público deve incentivar “a criação de estações de biologia e
aqüicultura federais, estaduais e municipais, bem como dar assistência técnica às particulares” e,
estabelece que “será mantido o registro de aqüicultores em todo o País”, do qual se derivou a Portaria
IBAMA n.º 95-N de 03/08/93.
• Lei 6.225 – 14/07/75 – Dispõe sobre a discriminação, por parte do Ministério da Agricultura, de
regiões de execução obrigatória de Planos de Proteção do Solo e de Combate a Erosão.
• Decreto 77.775 – 08/06/76 – Regulamenta a Lei 6.225/75.
• Portaria SUDEPE 001 de 04/01/1977 – Prevê a construção de estações de piscicultura ou escadas de
peixes como medidas de preservação da ictiofauna em ambientes aquáticos alterados pela construção
de barragens.
• Lei n.º 6.938 de 31/08/1981 – Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, cria o CONAMA,
prevê o zoneamento ambiental e a avaliação de impactos ambientais.
• Portaria SUDEPE n.º 019 de 30/05/1984 – Define as condições para obter-se autorização para
explorar bancos naturais de invertebrados aquáticos.
• Lei 7.803 – 18/07/85 – Inclui pontos importantes ao Código Florestal, em especial quanto às Reservas
Florestais Legais e as matas ciliares.
• Resolução CONAMA n.º 004 de 18/09/1985 – Estabelece como áreas de preservação permanente os
manguezais e outras de interesse para a aqüicultura.
• Resolução CONAMA n.º 001 de 23/01/1986 – Estabelece e regulamenta a Avaliação de Impactos
Ambientais para o licenciamento de atividades potencialmente degradadoras do meio ambiente.
• Resolução CONAMA n.º 020 de 18/06/1986 – Classifica as águas segundo seus usos e estabelece a
classe destinada ao uso pela aqüicultura.
• Decreto 94.076 de 05/03/87 – Institui o Programa Nacional de Microbacias Hidrográficas.
• Lei n.º 7.661 de 16/05/1988 (Lei do Gerenciamento Costeiro) – Disciplina o uso racional dos recursos
naturais renováveis e não-renováveis ao longo da costa brasileira.
• Lei 8.171 – 17/01/91 – Lei de Política Agrícola – Estabelece a Proteção Ambiental dos Recursos
Naturais da Propriedade Agrícola.
• Portaria IBAMA n.º 091 de 03/07/1993 – Cria a Comissão de Licenciamento Ambiental para os projetos
de Salmonicultura da Área de Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira.
• Portaria IBAMA n.º 095 de 03/08/1993 – Estabelece normas para o registro do aqüicultor junto ao
IBAMA.
• Portaria IBAMA n.º 142 de 22/12/1994 – Proíbe a introdução, cultivo e a comercialização de formas
vivas dos bagres exóticos (Clarias gariepinus e Ictalurus punctatus) nas bacias dos rios Amazonas e
Paraguai.
• Decreto n.º 1.695 de 13/11/1995 – Regulamenta a aqüicultura em águas públicas de domínio da
União, delegando ao IBAMA e ao SPU a competência de baixar seus atos complementares, os quais
encontram-se em elaboração.
• Decreto n.° 2.869 de 09/12/1998 – Regulamenta a cessão de águas públicas para a exploração da
aqüicultura, e dá outras providências.

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MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

1.5 - Bibliografia consultada


ALEMANHA. Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ). Guía de protección
ambiental: material auxiliar para la identificación y eveluación de impactos ambientales. Eschborn: (GTZ)
GmbH, 1996. Tomo II,730p.
BANCO MUNDIAL. Libro de consulta para evaluación ambiental: lineamientos sectoriales. Washington,
1991. v.2, 276p.
BARBOZA, T. S., BARBOSA, W. O. A Terra em transformação. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1992. 257p.
BOYD, C. Manejo do solo e da qualidade da água em viveiro para aqüicultura. Campinas:
Departamento de Aqüicultura Mongiana Alimentos, 1997. 55p.
BRASIL. Comissão Interministerial para Preparação da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento. O desafio do desenvolvimento sustentável. Brasília: SEPLAN, 1991. 204 p.
_____. Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República. Resoluções CONAMA, 1984-1990.
Brasília: SEMA, 1991. 231p.
_____. Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República Resoluções CONAMA, 1984-1991.
Brasília: SEMA, 1992. 245p.
BROWN, A.A., DAVIS, K.P. Forest fire: control and use. New York: McGraw Hill, 1973.
BURGER, D. Ordenamento florestal na produção florestal. Curitiba: Curso de Engenharia Florestal.
Universidade Federal do Paraná, 1976. 124p.
CAVALCANTI, L. B. Camarão: manual de cultivo do Macrobrachium ronsebergii. Recife: Aquaconsult, 1986.
ELY, A. Economia do meio ambiente: uma apreciação introdutória interdisciplinar da poluição, ecologia e
qualidade ambiental. Porto Alegre: Fundação de Economia e Estatística. 1988. 146p.
GOLDAMMER, J.G. Rural land-use and willand fires in the tropics. Agroforestry Systems. Dotrecht.
1988.
GORE, A. A Terra em balanço: ecologia e o espírito humano. São Paulo: Augustus, 1993. 447p.
IICA – INSTITUTO INTERAMERICANO DE COOPERAÇÃO PARA A AGRICULTURA. Desarrollo sostenible,
agricultura, recursos naturales y desarrollo rural. San Jose: BMZ/GTZ/IICA, 1996. Tomo5.498p.
LEE, D. O’C. WICKINS, J. F. Cultivo de crustáceos. Zaragoza: Acribia, 1997. 449p.
LEVINE, R.S. Assessment of mor tality and morbility due to unintentional pesticide. Dosonings.
Genebra: WHO, 1986. Document, VBC, 86, 929.
LOMBARDI, J. V. Recomendações técnicas para a criação do camarão de água doce
Macrobrachium rosenbergii. São Paulo: Instituto de Pesca, Coordenadoria da Pesquisa Agropecuária,
1996.
GIMA Guia de indicadores e métodos ambientais. Curitiba: IAP/GTZ, 1993. 72p.
MAIA Manual de avaliação de impactos ambientais. Curitiba: IAP/GTZ, 1992.
MORGAN, R.D.C. Soil erosion. Londres: Longman House, 1980.
MULLER-HOHESTEIN, K. Die geookologischen zonen der ede. Bayrenth, 1989.
PARANÁ. Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e do Meio Ambiente. Coletânea de legislação
ambiental. Curitiba: SEDU, 1991. 536p.
_____. Secretaria de Estado de Meio Ambiente. Coletânea de legislação ambiental. Curitiba: IAP/GTZ, 1996.

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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

CAPÍTULO 2
AGROINDÚSTRIA

2.1 - Descrição da atividade sob o enfoque ambiental


A agroindústria compreende, por definição, a atividade econômica de
industrialização ou beneficiamento de produtos agropecuários. Sua característica
primordial consiste em conservar e transformar as matérias-primas, bem como
extrair e enriquecer ou concentrar os componentes que lhes agregam valor. A
agroindústria mais impor tante é a alimentar, cujos principais produtos
industrializados são: frutas legumes e hortaliças; grãos; oleaginosas; carnes; leite
e pescados.
Os projetos agroindustriais têm impor tância fundamental para o
desenvolvimento econômico e social do país, possibilitando agregar valor às
matérias-primas originais, induzindo a modernização do setor primário e o
crescimento dos serviços, além de minimizar o impacto negativo da liberação de
mão-de-obra do campo para os grandes centros urbanos.
Existem agroindústrias em diferentes níveis tecnológicos, desde os mais
artesanais e tradicionais até os mais sofisticados. Em cada situação ocorre uma
intervenção ambiental específica, dependendo da sua localização e suporte dos
recursos naturais, especialmente da água.
Neste capítulo, destacam-se, de forma generalizada, as agroindústrias que
processam produtos vegetais, de origem animal e da pesca. As atividades de
curtume e processamento de fibras vegetais são tratadas em capítulos específicos
(Capitulo 3 – 3.2 – Indústria do Couro e Capitulo 3 – 3.1 – Indústria Têxtil).

2.2 - Potenciais impactos ambientais negativos


Um dos temas mais importantes associado à atividade da agroindústria é
o estudo de localização da mesma, em função do abastecimento d’água, lançamento
de efluentes e disposição dos resíduos sólidos. O suporte natural deve ter condições
de absorver os impactos ambientais, considerando que todos os critérios técnicos
e legais tenham sido obedecidos. Os cuidados com o manuseio, preparação,
processamento e armazenamento das matérias-primas beneficiadas e
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MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

transformadas têm uma importância fundamental, uma vez que grande parte destes
materiais são facilmente degradáveis e necessitam de cuidados sanitários especiais.
Em relação à atividade agroindustrial, os principais impactos estão
relacionados ao elevado consumo de água (como insumo, processamento, limpeza,
resfriamento, segurança, geração de vapor etc.), contaminação das águas devido à
geração de efluentes, geração de poluentes atmosféricos e de resíduos sólidos,
além das alterações em relação ao uso do solo. Também existem os efluentes de
origem sanitária, denominadas águas servidas (pias, chuveiro, sanitários etc.) que
devem ter destino adequado, preferencialmente em rede pública de coleta de esgoto.
A geração de resíduos depende fundamentalmente das matérias-primas e
dos processos de produção. Os resíduos podem ter origem nas diversas unidades,
desde a limpeza das edificações e de equipamentos, do processamento em si, das
instalações sanitárias, entre outras. Esta geração e sua reciclagem ou tratamento
merecem um estudo detalhado, que também pode influenciar na localização da
unidade de produção.
Em relação à contaminação das águas, podem ser verificados efeitos
ambientais que variam de acordo com a vazão dos efluentes, gerados principalmente
nas operações de: lavagem, enxágüe, transporte interno das matérias-primas e
limpeza do ambiente de trabalho e dos respectivos equipamentos.
Esses efluentes possuem alto nível de demanda bioquímica e química de
oxigênio (DBO e DQO), sólidos suspensos e dissolvidos, óleos e graxas e, conforme
a matéria-prima e processo utilizado, a presença de colibacilos. Podem haver outros
contaminantes que dependem dos insumos utilizados, a exemplo de resíduos de
agrotóxicos, óleos complexos, compostos alcalinos e outras substâncias orgânicas.
No âmbito das emissões atmosféricas podem ser gerados nos diversos
processos: poeiras e materiais particulados, materiais pulverizados, dióxido de enxofre,
óxidos nitrosos, hidrocarbonetos e outros compostos orgânicos.
O armazenamento incorreto das matérias-primas e a eliminação e/ou
disposição dos resíduos sólidos podem contaminar o solo, as águas superficiais e
subterrâneas e degradar a vegetação.
Os principais impactos ambientais que podem ser gerados pelas
agroindústrias são os seguintes:
• Contaminação das águas superficiais e subterrâneas em função do
lançamento de efluentes sem tratamento ou com tratamento parcial.
• Contaminação do solo devido à disposição incorreta de resíduos sólidos.
• Incômodos à vizinhança pela geração de odores desagradáveis, devido à
deterioração de resíduos e dos efluentes.

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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• Contaminação da atmosfera em função do lançamento de material


particulado, especialmente nas unidades que possuem caldeira para a
produção de calor e vapor d’água.
• Poluição sonora gerando incômodos à vizinhança.
• Proliferação de vetores de doenças devido à incorreta disposição de
resíduos e ao lançamento de efluentes.
Na seqüência será apresentado um breve resumo de algumas atividades,
consideradas exemplificadoras do setor agroindustrial, destacando-se seus
potenciais impactos ambientais negativos.

Processamento de cereais
Existem vários métodos de processamento de cereais, que variam de
acordo com a sofisticação tecnológica aplicada ao empreendimento. O
processamento de cereais é uma atividade essencial para a produção de alimentos
para consumo humano e de animais, especialmente na moagem do milho, trigo,
e no descascamento e moagem do sorgo e descascamento do arroz.
Os processos tradicionais consistem da moagem a seco ou úmida realizada
em pequenos moinhos de pedras ou de pratos movidos manualmente. Com o
avanço tecnológico e melhoria das condições sócioeconômicas são também
utilizados moinhos de pedra, de prato, de discos rotatórios ou de martelo acionados
mecanicamente, podendo o processo ser uma combinação de vários
equipamentos.
Nas grande centrais de processamento e considerando a moagem a seco,
os efeitos ambientais observados são a emissão de pó e a geração de ruídos, que
provocam incômodos no local de trabalho e no entorno da unidade. A geração de
resíduos, tanto pelo acúmulo de pó como pela retirada da casca de cereais, pode
provocar a contaminação do solo e das águas superficiais, se não forem dispostos
adequadamente.

Processamento de estimulantes (café e chá) e especiarias


De maneira geral, o processo de produção de chá consiste basicamente
em: secagem/desidratação das folhas, naturalmente ou por calor induzido,
prensamento das folhas para obtenção do suco e socagem para quebrar as
folhas, fermentação, secagem, armazenamento, classificação e empacotamento.

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O processamento do café pode ser feito a seco ou por via úmida. No


processamento a seco, faz-se a secagem dos grãos ao sol e o maceramento
para eliminação da casca. Na via úmida, o processo é mais complexo, com a
possibilidade de contaminação ambiental, constituindo-se em separação dos grãos,
maceramento para separação da casca, fermentação, lavagem e secagem. Neste
processo demandam-se grandes quantidades de água.
Os efeitos mais intensos das unidades processadores de chá, café e especiarias
são a fermentação e a eliminação dos resíduos. As substâncias formadas durante a
fermentação podem ser acumuladas no solo, causando prejuízos à microfauna e
microflora. A lavagem após a fermentação produz águas residuárias biologicamente
contaminantes que, lançadas em cursos d’água, podem contaminar as águas superficiais
e a fauna aquática.

Centrais de processamento de leite, derivados e laticínios


O processamento do leite tem por finalidade prolongar o período de
conservação do leite, devido a sua característica de fácil deterioração, e agregar valor
ao produto através de sua transformação em vários derivados.
O processamento do leite pode ser realizado por meio de três métodos
diferentes, que podem combinar entre si, em função do tipo de unidade processadora.
1) Aumento de acidez ou redução do pH do leite com a finalidade de atrasar
ou impedir a crescimento de organismos que provocam a deterioração. O
aumento da acidez pode ser efetuado pela fermentação do ácido láctico
(fermentação do açúcar do leite, transformando a lactose em ácido láctico)
ou adição de ácidos orgânicos, p.ex. vinagre).
2) Diminuição da umidade até o nível de reduzir ou impossibilitar o crescimento
de microrganismos que deteriorem o leite tornando-o mais estável. A redução
da umidade pode ser efetuada pela evaporação da água usando o calor;
coagulação e extração do soro; separação mecânica da gordura; adição de
sal e açúcar para reter parte da água; secagem ao sol e secagem mecânica.
3) Aquecimento e resfriamento para produzir leite pasteurizado ou esterilizado.
Geralmente as unidades processadoras de leite são continuamente abastecidas
de matéria-prima, o que resulta na permanente geração de águas residuárias,
especialmente de lavagem. As unidades processadoras de leite podem ser

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classificadas nas que produzem exclusivamente o leite pasteurizado e nas que


produzem também outros produtos lácteos. A primeira atividade consiste na
recepção do leite, seu aquecimento e sua clarificação por meio da separação do
creme. Nessas unidades são geradas águas residuárias resultantes da lavagem
de equipamentos e da limpeza de áreas (edificações).
As unidades que continuam o processo, além da produção do leite
pasteurizado, fazem a separação do creme, produzem queijo, manteiga, bebida
láctea, leite condensado, leite em pó, requeijão, iogurte etc. Na produção do
queijo é gerado o soro, que, se não for aproveitado, é um forte poluente ambiental.
O soro pode ser utilizado na produção de bebidas lácteas e por precipitação,
evaporação e desidratação pode-se obter matéria-prima na forma líquida ou em
pó, utilizada no processamento de alimentos ou como forragem para animais. Na
produção de manteiga também são gerados o soro e a água de lavagem da
manteiga.
A produção dos derivados do leite possui uma ampla variedade de produtos,
incluindo: leite pasteurizado, leite condensado, leite em pó, queijo, soro, manteiga,
sor vete, iogur te e requeijão, compreendendo principalmente, as seguintes
operações:
• recepção e armazenamento de matérias-primas;
• clarificação para eliminar os sólidos suspensos e separação do creme;
• homogeneização, cultivo, condensação e secagem (centrifugação);
• empacotamento e armazenamento.
A composição do leite e de seus produtos determinam os constituintes dos
resíduos das unidades processadoras de leite. De igual maneira, a quantidade e a
composição destes resíduos dependem principalmente do volume de leite que é
perdido durante o processamento e se estas substâncias são reutilizadas ou lançadas
como efluentes.
Em função de as características do leite exigirem processos com elevada
higiene, utilizam-se produtos químicos de limpeza que podem contaminar as
águas superficiais. As águas de lavagem podem conter também resíduos de leite,
que constituem fonte de contaminação das águas residuárias.
Resumidamente, os principais resíduos e efluentes das unidades
processadoras de leite são:
• Água de resfriamento e condensação, em sua maioria não contaminantes.
• Águas de processo contaminadas por componentes de leite.
• Resíduos de enxágüe, de perdas e de purificação, contaminados por
soluções alcalinas, ácidas e desinfetantes.
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• Resíduos sanitários.
As águas residuárias geradas nas unidades processadoras de leite, para
obtenção de diversos produtos, possuem diferentes origens dependendo do tipo
de unidade e tecnologia utilizada, como as relacionadas a seguir:
• Recepção de leite, lavagem dos recipientes e limpeza.
• Resfriamento de leite cru, armazenamento, lavagem de tubos e tanques.
• Lavagem de veículo tanque e/ou bujões de transporte de leite.
• Desnatamento, armazenamento do leite desnatado e do creme.
• Desnatamento, armazenamento do leite desnatado e pasteurização do creme.
• Fabricação e lavagem da manteiga.
• Evaporação do leite desnatado para obtenção de sólidos totais reduzidos.
• Evaporação do leite desnatado para obtenção da elevação de sólidos e
desidratação em pulverizador.
• Desidratação em rolos.
• Pasteurização do leite e armazenamento.
• Envasamento do leite pasteurizado.
• Lavagem de embalagens (caixas de transporte).
• Pasteurização do leite e armazenamento, envasamento do leite e lavagem
de embalagens (caixas).
• Coalhagem do creme.
• Pasteurização e envasamento do creme.
• Fabricação de queijo (prensado).
• Fabricação de requeijão.
• Condensação do soro.
• Lavagem da unidade (áreas das edificações).
• Condensação do leite condensado açucarado.
• Fabricação e embalagem de sorvetes.
As unidades processadoras de leite geralmente utilizam em suas caldeiras lenha
como combustível. Neste caso deve ser avaliada a origem do material lenhoso quanto
à sua legalidade (autorização) ou Plano de Manejo de Rendimento Sustentado,
bem como a emissão de poluentes na atmosfera, gerada pela queima da lenha.

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Pode ocorrer a geração de odor em função da disposição incorreta de


resíduos de leite e ausência de limpeza sistemática do pátio e áreas de recebimento
da matéria-prima, o que atrai a presença de vetores de doenças.

Beneficiamento/Processamento de frutas, legumes e hortaliças


O processamento de frutas e hor taliças é realizado utilizando-se de
diferentes técnicas e níveis tecnológicos. De forma generalizada, o beneficiamento/
processamento tem a finalidade de melhorar a apresentação das frutas, legumes
e hortaliças para a sua comercialização de forma natural, mediante limpeza,
seleção e acondicionamento, ou sua transformação em doces (em calda, pasta
etc.), polpas, geléias, sucos, vinagres, filtrados, cristalizados e desidratados.
Os métodos comumente utilizados para a conservação de frutas e hortaliças
incluem a limpeza, classificação, retirada de pele e casca, classificação por tamanho,
estabilização e processamento. O método que antecede o processamento inclui a
lavagem e enxágüe com grandes quantidades de água, com a presença ou não de
detergentes. Durante a lavagem e descascamento de muitas frutas pode haver a
eliminação de terra, agrotóxicos, cascas grossas e/ou espessas.
No processo de limpeza de frutas e hortaliças, tem relevância a água utilizada
para a lavagem, de 2 a 3,5 m3 por tonelada de matéria-prima processada, que pode
conter alguns produtos químicos residuais do tratamento das frutas e vegetais
(agrotóxicos e produtos químicos). As águas residuárias contêm substâncias que
podem produzir odores desagradáveis e corrosão.
A limpeza de ambientes e de equipamentos também gera águas residuárias
que podem conter detergentes. A limpeza de equipamentos pode ser efetuada com a
utilização de vapor.
O tratamento da matéria-prima pode ocorrer com calor; a frio, com adição de
vinagre, sal ou açúcar; por desidratação ou fermentação. No caso da fermentação é
gerada água residuária em forma de salmoura ou ácida.
Os tipos mais comuns de águas residuárias geradas no beneficiamento/
processamento de frutas e hortaliças são especificadas na TABELA abaixo:

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ETAPAS DO PROCESSAMENTO TIPO DE ÁGUA RESIDUÁRIA SUBSTÂNCIAS RESIDUAIS


Descarga dos produtos / entrega Água pluvial. Terra, restos de frutas e hortaliças
Lavagem, classificação e Água de lavagem, água de Terra, pó superficial, restos e
transporte de produtos não transporte. sucos vegetais.
elaborados.
Preparação e corte. Sucos vegetais, aditivos, restos
vegetais
Descascamento mecânico, com Solução para descascamento, Cascas, restos de vegetais, ácidos
ácido. vapor condensado, água de orgânicos.
enxágüe.
Branqueamento. Água de branqueamento, vapores, Sucos vegetais, restos de vegetais,
água de enxágüe. aditivos branqueadores.
Prensagem e outros métodos de Água de enxágüe. Sucos vegetais, salmoura, sal.
extração.
Condicionamento (preparação, Água de enxágüe. Restos vegetais, sucos vegetais,
embalagem). resíduos e provenientes da
infusão.
Preservação. Água de refrigeração, Constituintes dos produtos.
condensados.
Limpeza da unidade, recipientes e Água de limpeza. Perdas de produtos, detergentes.
equipamentos.
Fonte: CEPIS/GTZ 1991

Os resíduos sólidos gerados são constituídos das cascas e restos de polpas


não utilizáveis. Estes resíduos em muitos casos são reaproveitados na produção de
composto orgânico e rações. Deve ser dada atenção especial ao destino/reutilização
destes materiais (resíduos), especialmente se a disposição for na própria unidade,
uma vez que são potenciais geradores de odores e vetores de doenças.
A geração de vapor para limpeza e cozimento de frutas e hortaliças demanda
energia que geralmente é gerada por caldeiras, abastecidas de biomassa vegetal
(lenha). Tanto o suprimento da lenha deve ser baseado em um plano de manejo,
como deve ser considerada a possibilidade de contaminação atmosférica provocada
pelo material particulado da chaminé da caldeira.

Processamento de cana-de-açúcar
O processamento da cana-de-açúcar pode destinar-se à obtenção de vários
produtos, entre os quais destacam-se o açúcar, o álcool, a aguardente e a rapadura.
Todos os processos demandam grande quantidade de água e, conseqüentemente,
ocorre a geração de águas residuárias de lavagem e de processos (condensadores).
As operações de lavagem de equipamentos podem ser realizadas a frio ou a quente,
ocorrendo a geração de águas residuárias e demanda de energia para a produção
de vapor, com o uso geralmente de biomassa vegetal (lenha).
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Açúcar: O processamento da cana para a produção de açúcar compreende


geralmente as seguintes fases: preparação da matéria-prima > trituração/
esmagamento da cana e extração do caldo > purificação do caldo – sulfitação,
calagem, pré-aquecimento, decantação- > evaporação > cozimento > cristalização
> turbinagem > secagem e ensacamento.
Os processos sofrem variações de acordo com a tecnologia utilizada e
produtos e subprodutos gerados, como a produção integrada de açúcar branco
tipo usina, açúcar escuro, açúcar refinado, produção de álcool, levedura, e o tratamento
do bagaço (produção de papel, plástico, aglomerados etc.).
Na produção de açúcar de cana-de-açúcar podem ser gerados efluentes
hídricos e atmosféricos, bem como resíduos sólidos, os quais podem provocar a
contaminação do solo, das águas superficiais e subterrâneas e do ar.
A geração de águas residuárias ocorre principalmente na lavagem da cana
(até 10 m3 por tonelada de cana), na purificação do caldo, nas extrações de
evaporação e cozimento (condensadores e limpeza), refinação, limpeza dos pátios
e precipitadores. As principais fontes de contaminação das águas residuárias são
os resíduos removidos na lavagem da cana ( 260 a 700 mg/l DBO5) e os provenientes
da lavagem dos filtros (2.500 a 10.000 mg/l DBO5).
A limpeza das unidades de extração do suco (moinhos e prensas) é
geralmente realizada com detergentes e biocidas, com a finalidade de evitar a
contaminação constante do caldo pela proliferação de microrganismos. Este aspecto
merece atenção, uma vez que pode contaminar as águas residuárias e o próprio
produto(caldo).
As emissões atmosféricas são as procedentes do sistema de caldeiras
(material particulado, dióxidos de enxofre, óxidos de nitrogênio e monóxido de
carbono produzidos na queima de lenha, bagaço de cana etc.), da preparação da
matéria-prima (poeira), da extração e purificação do caldo de cana (amoníaco),
bem como das reações bioquímicas dos componentes orgânicos das águas
residuárias nos tanques (amoníaco e compostos de enxofre).
A geração de odor desagradável acontece tanto pela emissão de amoníaco
como no processo de tratamento das águas residuárias por processo anaeróbio,
com a formação de ácido sulfídrico e butírico.
Os resíduos sólidos são gerados na preparação da matéria-prima (terra
e restos vegetais), na geração de vapor (cinzas) e na purificação do caldo (lodo
dos filtros). Nesta fase também ocorre uma intensa geração de ruído, que merece

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atenção em relação à distância da unidade de áreas habitadas e à proteção dos


trabalhadores.
Após a extração do caldo, é realizada a sua purificação, através de
procedimentos mecânicos e químicos. Primeiramente as partículas de fibras e
células vegetais são separadas mecanicamente do caldo e posteriormente,
por meio do processo químico, purifica-se o caldo, mediante a precipitação e
separação do precipitado. No processo químico geralmente se utiliza o
tratamento com carbonato de cálcio (defecção) e o tratamento com cal e dióxido
sulfuroso (sulfodefecção). A matéria decantada é posteriormente filtrada, e daí
se origina o lodo ou torta de filtro que integra os efluentes da unidade. Este
lodo geralmente pode ser utilizado na própria área de cultivo como fertilizante
ou ainda como complemento alimentar de bovinos. Ao final das fases de
evaporação, cozimento e cristalização é gerado o melaço.
Durante a trituração e extração do caldo, realizados no processo de
moagem, é gerado o resíduo fibroso ( bagaço), em quantidade aproximada de
25 a 30 kg por 100 kg de cana. O bagaço pode ter utilização na própria unidade,
como combustível na caldeira. Também pode ser tratado para posterior utilização
nas seguintes aplicações: plásticos, lacas, álcool, açúcares, glicose, carvão, gás
combustível, produtos de destilação seca, auxiliar de filtrações, adobes, cama
de animais, absorventes para melaço ou para amoníaco na fabricação de rações
alimentícias, absorventes de nitroglicerina na fabricação de dinamites ou de
explosivos não gelatináveis, chapas, papel, entre outras.
O melaço, que apresenta composição variável dependendo do processo,
constitui-se basicamente de sacarose, açúcar e água. Tem aplicação nas
indústrias de fermentação e destilação, na alimentação de gado e na obtenção
de substâncias protéicas. Pode ainda ser utilizado na produção de aguardente
e álcool industrial anidro, por meio da fermentação, e de acetona e butanol.
O resíduo que se obtém da filtragem da borra no processo de clarificação,
denominado pasta de filtragem, pode ser reaproveitado para extração da matéria
cerífera que recobre a cana.
Álcool: A produção do álcool se faz na grande maioria do resíduo da
fabricação do açúcar, denominado mel residual ou melaço, originando o chamado
álcool-residual. Quando a produção se dá diretamente da cana ou mel rico,
derivado do açúcar, o álcool é chamado de álcool direto.
As destilarias fabricam dois tipos de álcool, o anidro e o hidratado. O
álcool anidro é o álcool desidratado, de graduação igual ou superior a 99,5o G.L

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a 20o C, denominado álcool carburante e destinado na grande maioria à mistura


com gasolina. O álcool hidratado tem a graduação igual ou inferior a 99,4o G.L
a 20o C, denominado álcool industrial e mais utilizado nos processos industriais.
Em média, dependendo da tecnologia do processamento da cana e do
melaço, obtêm-se 66 litros de álcool de uma tonelada de cana. De uma tonelada
de melaço com 55% de açúcares redutores totais (ART), obtêm-se 300 litros
de álcool (uma tonelada de cana fornece 90 quilos de açúcar e 36 quilos de
melaço).
O processo de produção de álcool obedece geralmente às seguintes
fases: tratamento da matéria-prima (cana) > trituração/prensagem >
preparação > extração do caldo > tratamento do caldo > fermentação >
centrifugação > destilação. Na produção autônoma/independente de álcool
demanda-se de 40 a 120 litros de água por litro de álcool produzido. Esta
variação ocorre em função da tecnologia utilizada e dos diferentes esquemas
de uso da água, sendo o maior consumo na lavagem da cana, refrigeração dos
condensadores de álcool, nos tanques de fermentação e na limpeza em geral
(pisos, ambientes, equipamentos etc.). Igualmente na produção de açúcar, ocorre
a lavagem da cana com grande consumo de água e produção de águas
residuárias.
O preparo do caldo/mosto consta de uma série de tratamentos para
tor ná-lo mais adequado ao processo de fermentação alcoólica. Esses
tratamentos envolvem desde processos mais simples, como a limpeza mecânica
por peneiragem, até processos com tratamentos físico-químicos, com a adição
de produtos químicos, aquecimento e decantação. A fermentação consiste na
transformação dos açúcares totais fermentáveis presentes no caldo/mosto por
células de levedura, o que resulta no vinho que contém como produto final de
maior importância econômica o etanol. A recuperação ou separação do álcool
contido no vinho produzido na fermentação é realizada mediante a destilação
fracionada em colunas específicas. Nesta destilação (fracionada) obtém-se o
álcool hidratado ou retificado e para que se obtenha o álcool anidro é necessária
a realização de uma fase da destilação com o uso de desidratante (mais
freqüentemente utiliza-se o benzol).
As águas residuárias de uma unidade de produção de álcool são
altamente poluidoras, particularmente pela vinhaça/vinhoto. A produção de águas
residuárias (vinhoto) em geral é de 12 a 15 litros por litro de álcool produzido.

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Processamento de mandioca
No processo de produção de fécula e de farinha são geradas águas residuárias
e resíduos sólidos. As águas residuárias contaminadas biologicamente podem
provocar a superfertilização e a redução de oxigênio das águas, comprometendo a
qualidade, alterando a microflora e microfauna e perturbando a fauna aquática.
Os resíduos sólidos constituídos principalmente pelas cascas geram odores
desagradáveis. Estes produtos podem ser reutilizados na fabricação de ração para
animais. A geração de energia para secagem/torrefação da farinha geralmente
utiliza como combustível biomassa vegetal (lenha).

Matadouros
O processo operacional nos matadouros de pequeno porte compõe-se das
seguintes etapas: espera nos currais, abate, eliminação do sangue, separação de
pele (gado), eliminação de pêlo (ovinos), destripamento e preparação para o
comércio. Nos matadouros o processo está concentrado na produção de carne
fresca e respectivos cortes, sendo que os demais subprodutos (sangue, pele, pêlo e
tripas) necessitam de processos adicionais.
Nos grandes matadouros ocorre uma maior concentração dos animais em
currais de espera, acarretando a geração de resíduos (fezes) em grande quantidade.
A limpeza dos animais também gera uma grande quantidade de águas residuárias
(lavagem) contendo concentração de resíduos sólidos e líquidos que necessitam
de tratamento e disposição final.
Após a limpeza dos animais, ocorre o sangramento, podendo o sangue ser
reaproveitado, desde que seja realizada a coleta em separado das águas residuárias.
Seqüencialmente, o animal é colocado em água quente para eliminação do pêlo,
gerando águas residuárias com pêlo e quantidade acentuada de graxas. Nas demais
etapas, ocorre a retirada das vísceras, estômago e tripas, processadas em unidades
específicas, que gera águas residuárias com concentração de sangue e fezes,
necessitando de tratamento.
O consumo de água nos matadouros é relativamente acentuado, podendo
transformar-se em águas residuárias, sendo assim estimado:
• Para bovinos – de 600 a 800 litros por animal.
• Para suínos – de 300 a 500 litros por animal.
• Para ovinos – de 200 a 300 litros por animal.

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A quantidade média de água residuária gerada e de poluentes nas águas


residuárias ou efluentes produzidos nos matadouros está citada na tabela abaixo:

TIPO DE RESÍDUO UNIDADE ANIMAIS PEQUENOS GADO


Quantidade de água m3/ animal. 0,26 0,98
residuária (*).
Substâncias
sedimentáveis após duas l/ animal. 6 13,5
horas.
Matéria sólida seca Kg/animal. 0,19 0,42
DBO5 (*). Kg O2/animal. 0,43 2,39
(*) Quando o sangue não é coletado separadamente ou mesmo inadequadamente, a carga de contaminação pode ser 2 a 3 vezes maior, bem
como a quantidade de água residual (A DBO5 do sangue é aproximadamente 145.000 mg O2/l).
Fonte: CEPIS/GTZ - 1991

Os principais impactos ambientais negativos estão relacionados com a geração


de efluentes hídricos que podem provocar a contaminação do solo e das águas
superficiais e subterrâneas, além de gerar odor indesejável na decomposição da
matéria orgânica.
Em relação à contaminação atmosférica por odores desagradáveis, a
origem pode estar relacionada aos estábulos, ao armazenamento e à própria
deterioração de materiais (resíduos).
A geração de ruído pode ocorrer nas diversas unidades, entre as quais destacam-
se a área de currais e abastecimento de animais (descarregamento), área de abate,
área de processo mecanizado e câmara de refrigeração (saída de ar).

Processamento de Carne
As unidades processadoras de carnes trabalham com as peças provenientes
de matadouros, para a produção de carnes cozidas, curadas (secas), defumadas e
enlatadas, embutidos, carne fatiada congelada ou fresca, tripas para lingüiça, entre
outros.
As linhas de processamento de carne mais comuns são: i) corte da carne
para atendimento de setores de consumo direto (restaurantes, hotéis etc.). ii)
produção de presunto, defumados ou enlatados; iii) produção de embutidos
(salsichas, mortadelas, fiambre, etc.); iv) produção de lingüiça e de charque.
Os principais impactos ambientais negativos que podem ser gerados nas plantas
de processamento de carne são decorrentes da produção de: i) águas residuárias; ii)
gases de escape/saída de ar; iii) ruído; iv) desperdícios; v) calor residual; vi) resíduos
sólidos.
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As águas residuárias geradas nas unidades processadoras de carne


possuem características equivalentes às de matadouros, com menor concentração
de sangue, porém com mais graxas. No caso de produção de embutidos, consome-
se em média de 10 a 15 m3 de água por tonelada produzida.
As águas residuárias nas unidades processadoras estão assim
caracterizadas (média):
TIPO DE RESÍDUOS UNIDADE E QUANTIDADE
Quantidade de água residual. 0,96 m3/cabeça.
Substâncias sedimentáveis. 4,4 l/cabeça.
Matéria sólida seca. 0,23 Kg/cabeça.
Matéria orgânica. 87,7 %, em relação ao sólido total.
DBO5 na superfície. 1.37 Kg O2/cabeça.
Fonte: CEPIS/GTZ – 1991.

Geralmente as peças recebidas são congeladas e seu descongelamento


pode ser feito com água, gerando grande quantidade de efluentes.
As águas residuárias são geradas com maior intensidade na produção de
presunto e carne enlatada, com características de elevada demanda bioquímica
de oxigênio, presença de sólidos totais suspensos, óleos e graxa.
Nas unidades processadoras de carne, a geração de águas residuárias
tem a seguinte origem:
• De 10 a 15% no salgamento e processamento das vísceras, apresentando
alto teor de cloro.
• De 20 a 25% na fabricação de embutidos.
• De 60 a 70% nas operações de limpeza.
Os resíduos sólidos (sobras) produzidos na limpeza da carne e o osso
podem ser aproveitados em indústrias de graxas e rações.
As emissões atmosféricas são produzidas durante o cozimento (odor) e
na produção de vapor (fuligem da caldeira).
A geração de ruídos ocorre especialmente nas unidades de processamento
mecanizado na câmara de refrigeração/saída de ar.

Extração e processamento de óleos vegetais


As matérias-primas para a extração e refinamento de óleos vegetais mais
utilizáveis são as sementes oleaginosas (soja, algodão, girassol etc.) as amêndoas
(babaçu, amendoim, amêndoa de dendê etc.) e mesocarpo (óleo de palma). Os
óleos são obtidos das graxas sólidas e dos óleos gasosos.
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Os processos de extração e beneficiamento dependem do nível tecnológico


aplicado ao empreendimento, o que influenciará decisivamente na qualidade e
quantidade dos efluentes gerados.
Os efluentes da obtenção de óleos vegetais são em sua maioria
toxicologicamente inofensivos e degradam-se biologicamente, entretanto a
degradação destes materiais demanda grande quantidade de oxigênio.
O processamento de óleos vegetais, de maneira geral, divide-se nas
seguintes fases:
1. Preparação por retirada da casca e limpeza, trituração e
acondicionamento da matéria-prima.
2. Cocção dos frutos ou prensagem ou alta prensagem e/ou extração do
óleo de sementes/castanhas oleaginosas mediante o uso de solventes.
3. Separação da fase oleosa líquida no caso da cocção; filtragem da graxa
escorrida no caso da prensagem; separação do óleo virgem com
evaporação simultânea e recuperação dos solventes no caso de extração
com solventes.
4. Preparação (secagem) e processamento consecutivo dos resíduos.
5. Tratamento do óleo virgem por refinamento através de: desmucilamento;
desacidificação; branqueamento; desodorificação.
6. Processamento seqüencial (matéria-prima) do óleo refinado.
Os impactos ambientais potenciais na extração e processamento de óleos
vegetais estão relacionados com as fases citadas acima, nas quais são gerados
os seguintes contaminantes:

LIMPEZA REFINO
CLASSE DE ARMAZENA- TRITURAÇÃO PRENSAGEM
CONTAMI- MENTO ACONDICIO- COCÇÃO EXTRAÇÃO TRATA- EMBALAGEM
NANTE NAMENTO MENTO
Pó X X X
Ruído X X X
Odores / X X X X X X
contaminantes
Água
residuária X X X X X
Fuligem X
Resíduos /
resíduos X X X X
especiais
Fonte: Guía de Protección Ambiental / 1996

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Durante a elaboração e processamento de óleos vegetais são gerados em


média 10 m3 de água residuárias por tonelada de semente processada.
A maior parte do material particulado gerado (pó) ocorre na fase de limpeza,
trituração e acondicionamento, o qual é de origem vegetal e pode degradar-se
biologicamente ou ainda ser utilizado como fertilizante. A maior parte das águas
residuárias é gerada durante a extração e a cocção/cozimento.
As águas residuárias precisam passar por processo de separadores de óleo
facilitando a sua degradação, uma vez que o óleo contido nos efluentes pode dificultar
a entrada de oxigênio formando uma película oleosa na superfície da água.
Os materiais particulados gerados devem ser aspirados e separados em
ciclones ou filtro de purificação. O mofo pode ser gerado no armazenamento, de
acordo com o tipo da matéria-prima, com possibilidades de gerar problemas de
saúde nos operadores, através da sua aspiração para os pulmões.
Na limpeza e trituração são gerados os ruídos e o pó que pode ser aspirado
pelo sistema de eliminação de pó. Nesta fase as águas residuárias geradas devem-
se ao processo de limpeza e lavagem.
No acondicionamento é incorporada água, através de bafo de vapor, para
regular a umidade do produto, podendo produzir substâncias com odores, elimináveis
por meio de uma limpeza com álcalis nas tubulações.
Na prensagem são geradas águas residuárias resultantes da lavagem dos
respingos de óleos nos equipamentos (decorrentes dos bafos de vapor), que
necessitam de tratamento para separação do óleo.
Se o processo de extração for realizado por meio de solventes, utilizando-se
hexano (C6H14), são geradas águas com resíduos do solvente mais utilizado, que
devem ser eliminados.
O refino do óleo objetiva eliminar substâncias indesejáveis. O refino consiste
basicamente na desmucilagem, na desacidificação, no branqueamento e na
desodorificação do óleo virgem. É nesta fase que é gerada a maior quantidade de
águas residuárias com substâncias odoríferas indesejáveis. A desacidificação do
óleo (eliminação dos ácidos graxos livres) pode ser realizada por método físico ou
químico. No método químico é utilizado o ácido, que é neutralizado com a adição de
soda cáustica, e no físico a desacidificação é feita por destilação de vapor de água.
Para o refino de óleo de coco e de palma, aplica-se o método físico e no caso do
refino de óleo de soja, algodão e girassol, o método químico.

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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Os componentes básicos das águas residuárias são o sulfato sódico ou


cloro sódico, fosfato de cálcio, ácidos graxos, mono-di e triglicerídeos, glicerina,
proteína (albumina), lecitina, aldeídos e acetonas.
O óleo de palma é extraído da polpa da fruta, mediante processos de
separação do fruto do cacho, digestão dos frutos, drenagem da polpa, retirada
do óleo por prensagem, centrifugação, filtragem e clarificação, o mesmo
acontecendo com o dendê, que é extraído da amêndoa. Nestes processos são
gerados resíduos sólidos: folhas, cachos e cascas, fibras e resíduos de extração.
Parte destes resíduos pode ser recuperada para produção de energia ou alimento
de animais e outra parte necessita de tratamento e disposição final.
Os impactos ambientais negativos potenciais são causados pelos resíduos
sólidos e efluentes líquidos, que possuem elevada demanda bioquímica e química
de oxigênio, sólidos em suspensão, óleos, graxas e nitrogênio.
As águas residuárias geradas no enxágüe e limpeza em diferentes processos
caracterizam-se nos seguintes tipos:
• Águas de extração, que contém resíduos de benzeno.
• Destilados de ácidos graxos. Óleo neutro e graxas saponificadas
provenientes do tratamento com vapor do óleo (25 kg vapor / 100 kg de
óleo).
• Águas de refrigeração dos processos de destilação e extração
Fonte : CIPES/GTZ - 1991

A produção de vapor geralmente ocorre utilizando-se como combustível


biomassa vegetal (lenha), com a geração de material particulado que é lançado
pela chaminé.

Beneficiamento de castanha de caju


As unidades que beneficiam castanhas utilizam a parte seca do fruto,
separada do pedúnculo. A castanha é constituída basicamente de três partes, a
casca, a película e a amêndoa.
Todas as partes da castanha possuem ampla utilização, de acordo com o
processo industrial utilizado. No processamento para a extração da amêndoa da
castanha de caju (ACC), obtêm-se os subprodutos LCC (Líquido da Castanha de
Caju), a casca, a película e o óleo de amêndoa. De maneira genérica, da casca,
que representa em média 50 a 80% do peso da castanha, é extraído o LCC,
utilizado desde 1943 como insumo na indústria automobilística para fabricação

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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

de produtos que aumentem a fricção (lonas e pastilhas de freio), fabricação de


tintas, vernizes e esmaltes especiais, inseticidas, fungicidas, pigmentos,
plastificantes, antioxidantes e adesivos ou aglutinantes para placas e painéis de
madeira (aglomerados).
A película, que representa em média 2,5% do peso da castanha, pode ser
aproveitada na composição de rações para aves e bovinos e na extração de
tanino para a indústria de curtume e de pigmentos para a fabricação de tintas.
No processamento da castanha do caju, que objetiva essencialmente a
obtenção de amêndoas tipo exportação, são utilizados processos diferenciados,
que consistem basicamente na retirada da casca ou descortificação, o que define
o grau de sofisticação tecnológica aplicada. Existem dois processos, o manual e o
mecanizado, este com duas variantes, o que consiste da descortificação através
de lâminas/ serras ou por choque/ impacto através de força centrífuga.
O processo totalmente manual, quase artesanal e atualmente de pouca
utilização, consiste do sapecamento/assamento da castanha em bandejas
diretamente no fogo, com o resfriamento em areia e posterior retirada da casca
por golpes de madeira.
Ainda existe a aplicação do processo semimecanizado, que consiste no
aquecimento da castanha por vapor direto, em autoclaves, para facilitar o corte.
O corte é realizado por equipamento manuseado por uma operária - “cortadeira”
- que aciona uma alavanca e um pedal, executando o corte e outra operária –
“tiradeira” - que separa a casca da amêndoa.
O processo mecanizado consiste basicamente das etapas relacionadas
abaixo: Recepção > Pesagem > Armazenagem > Secagem > Pré-limpeza >
Classificação > Lavagem > Aquecimento e extração do LCC > Centrifugação >
Resfriamento > Descortificação > Secagem da amêndoa > Despeliculagem >
Seleção > Acondicionamento/Empacotamento > Armazenagem.
No processo mecanizado, a castanha é imergida em LCC aquecido, 200 oC,
para facilitar a retirada da casca, resultando também na extração de parte do LCC da
casca. Posteriormente a castanha sofre o corte ou choque para a retirada da casca.
O subproduto LCC que representa 25% do peso da castanha, dependendo
do processo, é parcialmente extraído durante o aquecimento da castanha, sendo
o líquido residual retirado através da prensagem da casca ou ainda extraído por
solvente, processo que aproveita quase a totalidade do LCC contido na casca.
A casca, após a retirada da amêndoa e do LCC, geralmente é utilizada pelas
próprias unidades industriais de beneficiamento de castanha como combustíveis

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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

nas caldeiras. Dependendo da quantidade de LCC residual contida na casca, pode


ser utilizada na fabricação de painéis e aglomerados de madeira, funcionando como
aglutinante.
Para a retirada da película da castanha pode ser utilizada a raspagem, e
mais recentemente o processo mecânico com a utilização de ar comprimido, após
a etapa de secagem da amêndoa, o que facilita o desprendimento da película.
A operação final consiste na classificação e no empacotamento da amêndoa,
geralmente realizada manualmente, o que proporciona a geração de muitos
empregos. O empacotamento atualmente utilizado consiste em acondicioná-la com
o teor de umidade entre 4 a 6% em embalagens de alumínio, tipo laminados, com
a expulsão do ar por meio da injeção de CO 2, o que também proporciona a
conservação da amêndoa por um período maior.
Os principais impactos ambientais negativos potenciais que podem ser
verificados no processamento estão relacionados com:
• Geração de material par ticulado na descarga/recepção do material,
dependendo da qualidade/origem da castanha.
• Geração de ruído no processo de centrifugação e descortificação da casca.
• Geração de águas residuárias na lavagem da castanha.
• Geração de material particulado na operação da caldeira de geração de
vapor, dependendo do insumo (lenha, casca da castanha).
• Geração de borra/resíduos do LCC com material da castanha no processo
de cozimento.
• Acidentes no processo de manuseio (quebra) manual da castanha
(queimaduras com o LCC).

Processamento de pescados
O processamento de peixe e de moluscos compreende a recepção, limpeza,
pré-cozimento, conservação e empacotamento. A operação pode utilizar diferentes
técnicas, entre as quais a secagem, conservação, enlatamento, congelamento e
extração de produtos e subprodutos.
O processamento pode envolver diferentes tipos de peixes, compreendendo
entre outros:
• Peixe de carne branca, cujo conteúdo de graxas é de aproximadamente
1% e a carne contém 80% de água. A maior parte da gordura encontra-se
no fígado, que em muitos processos é aproveitado para produzir óleo de
fígado.
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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• Peixes oleosos (sardinha, atum, cavala), que contém em média de 6 a


25% de graxa e 55 a 80% de água.
Os peixes, após o seu descarregamento, passam imediatamente para o
processamento. Por meio de esteira ou tanques de águas, são conduzidos até a
unidade de lavagem/limpeza, onde são produzidas grandes quantidades de águas
residuárias, contendo escamas, restos de carnes, barbatanas. Em processos posteriores
são gerados produtos residuais, como cabeças, espinhas, vísceras, barbatanas que
podem ser coletados para a produção de ração (farinha de peixe).
Existe uma variação considerável entre diferentes unidades processadoras em
relação ao volume de águas residuárias. Estas águas contêm elevada demanda química
e bioquímica de oxigênio, sólidos totais suspensos, óleos e graxas e podem degradar-
se rapidamente, podendo gerar odores desagradáveis.
No caso de processo de defumação não são geradas águas residuárias e o
óleo de peixe gerado neste processo pode ser coletado e reutilizado.
Na produção de enlatados, após o processamento inicial e de acordo com a
espécie, o peixe e/ou molusco é colocado em um banho com sal e ácido acético que
possibilita uma nova limpeza e oferece firmeza à carne. Pode ser agregado peróxido
de hidrogênio e acido acético. No processo de enlatamento ocorre a produção de
água residuárias, com restos de pescado, graxas e substâncias protéicas.
Os resíduos sólidos gerados podem ser, na sua grande maioria, aproveitados
em unidades de produção de rações, iscas e artesanatos. Os resíduos sólidos não
aproveitados devem ser destinados adequadamente a aterros sanitários, de forma a
não apresentarem riscos à saúde e odores indesejáveis.

2.3 - Recomendações de medidas atenuantes


É importante que o projeto considere, dentre outros aspectos, o estudo
detalhado da localização do empreendimento, principalmente no que diz respeito à:
• Proximidade de fontes de água para o abastecimento, suficientes ao
atendimento das diversas demandas do empreendimento (consumo
humano, matéria-prima, processo, resfriamento, limpeza etc.), e que
possam receber a descarga dos efluentes devidamente tratados, de acordo
com as especificações (classe de uso) do corpo d’água com capacidade
de dissolução e absorção das águas residuárias.
• Possibilidade de geração de odores. A localização do empreendimento
deve considerar a distância de áreas habitadas, em topografia superior e
com direção de vento predominante para áreas desabitadas.
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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• Geração de impactos. Manter distância de áreas ecologicamente sensíveis


(banhados/pântanos/várzeas, áreas de proteção, parques), áreas de
recreação, turismo e áreas urbanizadas.
• Disponibilidade de área para todas as operações previstas na unidade
(armazenamento, processamento e tratamento de efluentes e resíduos).
Respeitadas as especificidades de cada unidade agroindustrial, normalmente
podem ser aplicadas as seguintes técnicas de controle ambiental:

Quanto ao tratamento dos efluentes hídricos:


• lagoas aeradas;
• lagoas de estabilização;
• tratamento de lodo ativado;
• sedimentação, floculação, neutralização e clarificação;
• aplicação do efluente pré-tratado em irrigação.

Quanto ao tratamento das emissões atmosféricas:


• ciclones;
• filtros de manga;
• precipitação eletrostática;
• filtração com carvão ativado (controle de odor);
• lavagem de gases;
• torres de absorção;
• separação com hipoclorito de sódio (para controlar o odor).
Em relação às agroindústrias selecionadas para exemplificar os impactos
ambientais, citadas no item anterior, deve-se observar as medidas relacionadas
a seguir.

Matadouros
O projeto deverá estabelecer os estudos necessários em relação à localização
do empreendimento, que em muitos casos são instalados próximos a fundos de vale
e cursos de água, em função da disponibilidade de água e do lançamento de efluentes.
Nestes casos deve ser protegida a vegetação ciliar na faixa de preservação permanente.
É importante reduzir a geração de águas residuárias, o que pode ser efetuado
com a recirculação ou reutilização de águas de refrigeração. A redução da carga
contaminante pode ser feita mediante retenção das substâncias residuais com
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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

origem na desviscerização e na coleta de esterco contido na água, recuperando as


graxas em separadores e processando adequadamente o sangue, peles e pêlos.
As águas residuárias necessitam de tratamento antes de seu lançamento de
disposição final. Em um primeiro momento, o tratamento pode ser efetuado por
meio de decomposição anaeróbia com lodo digerido durante dois a três dias.
Posteriormente, as águas residuárias pré-tratadas podem passar por tratamento
biológico completo em lagoas de filtração no solo; por utilização em áreas agrícolas;
em leitos biológicos e em unidades de lodo ativado (aeração) ou ainda em valas de
oxidação. Caso exista rede de coleta de esgoto com estação de tratamento de
esgoto (ETE) no município, os efluentes podem ser lançados na respectiva rede,
desde que obedeça aos critérios técnicos e à capacidade da ETE, como a remoção
de resíduos sólidos e graxas dos efluentes (pré-tratamento).
Importante também é procurar o aproveitamento dos resíduos sólidos,
especialmente do esterco que pode ser uma fonte para a compostagem.
Para a redução das fontes geradoras de odor deve-se implantar sistemas de
lavagem e filtragem biológica, e acima de tudo manter o ambiente limpo e evitar o
acúmulo de materiais degradáveis. O tratamento das fontes geradoras de odores
pode ser efetuado com a instalação de biofiltros, lavagem de gases de escape e uso
de carvão ativado.
A redução dos ruídos pode ser efetuada mediante a montagem de
silenciadores no sistema de ventilação, isolamento/enclausuramento de
equipamentos.

Processamento de carne
De igual forma aos matadouros é possível reduzir a geração de águas
residuáriais e da carga de contaminantes pela recirculação de água, especialmente
da água de limpeza. Devem ser procurados processos adequados para a separação
e recuperação de graxas, uma vez que este procedimento consome um volume
considerável de água.
O tratamento dos efluentes deve ser efetuado antes do seu lançamento no
corpo receptor, procurando-se reduzir ao máximo a produção de odor, devido às
características favoráveis à deterioração das águas residuárias.
A emissão de material particulado deve ser controlada, especialmente quando
é usado combustível de biomassa vegetal (lenha) em caldeira.
Para evitar a contaminação do ar, deve-se tratar os gases de escape por
meio de pós-combustão, condensação, absorção/adsorção, separadores
eletrostáticos ou têxteis.

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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

A redução dos ruídos pode ser efetuada através da montagem de


silenciadores no sistema de ventilação, isolamento/enclausuramento de
equipamentos.
Tanto nos matadouros como no processamento de carne, alguns produtos ou
subprodutos considerados como resíduos de abate e processamento podem ser
aproveitados, a exemplo do descrito na TABELA a seguir:

SUBPRODUTO OU INDÚSTRIA
RESÍDUOS COMPLEMENTAR PRODUTO APLICAÇÃO
Sangue. Preparação de sangue. Plasma. Indústria alimentícia.
Sangue. Aproveitamento de gado Farinha de sangue. Alimento para animais.
abatido.
Pêlo/Crina. Preparação de pêlo. Pincéis. Gerais.
Esterco / Resíduos de - Composto / biogás. Fertilizantes , energia.
estômago/intestino.
Couro / pele. Curtumes / indústria de Couro. Artigos de couro.
couro.
Osso. Fusão de graxa. Graxa, farinha de osso. Indústria de sabão,
alimento para animais.
Osso. Fusão de graxa. Gelatina de graxa. Indústria alimentícia.
Sebo. Fusão de graxa. Graxa alimentícia. Indústria alimentícia.
Fonte: Guía de Protección Ambiental / 1996

Processamento de cereais
Instalação de dispositivos de aspiração de pó e isolamento sonoro dos
equipamentos para a redução das emissões e ruídos, bem como o uso de Equipamentos
de Proteção Individual (EPIs). Em relação aos resíduos sólidos, é importante possuir
um aterro sanitário controlado para disposição final daqueles resíduos que não têm
aproveitamento em outra atividade.

Processamento de mandioca
As medidas de controle e atenuação podem ser efetivadas mediante a
instalação de decantadores mecânicos e tanques de aeração, com a finalidade
de reduzir a DBO5, o que não descarta a implantação de medidas de otimização
dos processos, com a finalidade de reduzir a contaminação das águas residuárias.
Por outro lado, é possível agregar a produção de biogás para aproveitamento
daquelas águas altamente contaminadas. No caso da produção de farinha de
mandioca, ocorre o consumo de lenha para a produção de calor, o que deve ser

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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

acompanhado de manejo florestal.

Extração e processamento de óleos vegetais


A redução da contaminação das águas residuárias pode ser obtida pela
instalação de decantadores, separação e tratamento em tanques aerados, além
de se procurar melhorar e otimizar as técnicas utilizadas nos processos. As
emissões de vapor podem ser aspiradas com a finalidade de atenuar os riscos
aos operadores.
As águas residuárias do refinamento podem ser reduzidas em até 90% ,
caso a água de refrigeração utilizada na condensação seja reintegrada ao circuito.
Recomenda-se ainda adotar medidas especiais no caso de derramamento
de solventes, lixívia e ácidos devido à possibilidade de acidentes, prevendo-se áreas
especiais de depósito e armazenamento e terreno necessário para estas
emergências. É necessário também realizar o treinamento de equipes especiais
para os casos de emergências.
Os resíduos gerados, oriundos das cascas e cachos e mesmo dos processos
de esmagamento/trituração e cozimento para a extração do óleo, necessitam de
tratamento adequado, podendo os mesmos ser reutilizados ou reaproveitados
na produção de alimentos e ingredientes de rações de animais ou ainda como
fonte de energia para a geração de calor.
Caso a produção de energia ocorra pela utilização de lenha, é possível
reduzir este consumo mediante a queima de substâncias residuais produzidas
durante os processos. O abastecimento de matéria-prima florestal deve estar
em conformidade com o plano de manejo florestal.

Processamento de frutas e hortaliças


A redução de águas residuárias e da carga de contaminação nas unidades
de processamento de frutas e hortaliças pode ser efetuada por meio das seguintes
medidas:
• Melhoria dos processos, evitando-se perdas de produção.
• Redução da demanda de água, mediante a recirculação múltipla.
• Separação dos diferentes tipos de águas residuárias contaminadas,
promovendo a evaporação e utilizando-as como forragem.
• Filtragem dos resíduos de frutas e hor taliças, possibilitando a sua
utilização como forragem.
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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

O consumo de energia também pode ser alternativamente reduzido com a


instalação de secadores solares, para as frutas desidratadas.

Centrais leiteiras, derivados do leite e laticínios


A geração média de águas residuárias em uma usina de processamento de
leite é de 0,5 a 3,0 m3 para cada 1.000 litros de leite processado, com carga
contaminante de DBO5 entre 0,3 a 4,0 Kg.
O soro é o subproduto que encontra maior dificuldade de eliminação/tratamento.
Geralmente empregam-se os métodos de produção de alimentos para gado, irrigação,
concentração e secagem e lançamento em sistemas de tratamento de esgoto.
Para o tratamento das águas residuárias podem ser utilizados métodos naturais
e tecnológicos. O método natural relaciona-se com a utilização agropecuária, aplicando-
se na irrigação de culturas, na criação de peixes (lagoas) e no solo para filtragem.
Os métodos tecnológicos relacionam-se às lagoas de tratamento, aos sistemas
de lodo ativado e às unidades de oxidação.
Resta ainda a técnica de lançar os efluentes na rede pública de coleta de
esgoto que tenha sistema de tratamento, o que requer avaliação quanto à capacidade
para receber esses efluentes.
Conforme a capacidade da unidade de tratamento, pode ser adotado um
sistema tipo lagoas de estabilização, com a finalidade de equilibrar a carga a ser
lançada, dimensionadas com capacidade de retenção dos efluentes.
Em relação ao uso de produtos químicos para efetuar a limpeza dos ambientes
e que contaminam as águas residuárias, pode-se procurar a utilização de biodegradáveis
diluídos.
É importante desenvolver processos que reduzam a quantidade de águas
residuárias, entre as quais pode-se citar:
• Entrega de leite em veículo tanque.
• Utilização de sistema de limpeza de alta pressão, que promova uma limpeza
efetiva, permitindo a redução do consumo de água.
• Uso de água quente ou vapor excedente para os enxágües.
• Utilização de ar para secagem das tubulações e retirada de resíduos.
• Inspeções regulares.
• Coleta dos materiais que gotejam (fugas) – (uma gota por segundo em 10
horas pode gerar material equivalente a aproximadamente 200 g de DBO).
• Instalar sistema de recirculação de água de lavagem, possibilitando maior
concentração de produto e conseqüentemente possibilitando a sua
reutilização.
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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• Desenvolvimento de processo com a máxima utilização de resíduos,


incluindo a sua comercialização.

Processamento de cana-de-açúcar
Deve-se ter cuidados especiais no planejamento em relação às águas
residuárias, à emissão de material particulado e à produção de odores no processo
de tratamento dos efluentes.
As águas residuárias geradas na produção de açúcar, de acordo com a
tecnologia utilizada, podem variar de 20 a 30% do volume total de água de
abastecimento da usina e começam a decompor-se muito rapidamente. É importante
que sejam adotadas algumas medidas visando ao seu tratamento:
• Separação das águas residuárias segundo o tipo de processamento ou do
sistema de circulação.
• Reutilização da água, com a finalidade de reduzir ao máximo o volume de
águas residuárias.
• Instalação de lagoas para aliviar a carga sobre o corpo receptor.
• Utilização do efluente para irrigação / fertirrigação.
Os efluentes são amplamente utilizados na irrigação da própria cultura da
cana (pré-tratado em lagoas até o limite aconselhável de DBO5 - mínimo 180 mg
DBO5) para a fertirrigação. É importante observar entre outros aspectos: a utilização
de áreas planas; solos profundos; nível profundo do lençol freático (superior a 1,30
metros). Nestas áreas podem ocorrer os seguintes processos, os quais devem ser
monitorados:
• Filtragem mecânica na superfície.
• Absorção das substâncias dissolvidas pelas bactérias do solo.
• Oxidação biológica do material filtrado e absorvido pelas bactérias do solo
durante as pausas entre as distintas aplicações das águas residuárias.
Para a produção do açúcar, o Banco Mundial recomenda que seja avaliada a
contaminação das águas residuárias com a utilização de substâncias biodegradáveis,
considerando principalmente, as seguintes análises:
• DBO para determinar o material orgânico consumidor de oxigênio.
• Sólidos totais suspensos em mg/l para determinar a quantidade total de
substâncias em suspensão.
• pH (uma mudança brusca de pH prejudica a fauna aquática).
Cuidados especiais devem ser tomados em relação à localização do
empreendimento, geralmente distante de áreas habitadas em função da geração
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de ruídos e de odores. A emissão de material particulado deve ser controlada,


em função do tipo de combustível utilizado.
As emissões de pó podem ser reduzidas com o uso de lavadores de gases
e filtros de manga. As cinzas expelidas podem ser controladas instalando-se
ciclones. Os incômodos com os odores desagradáveis provocados pelo amoníaco
podem ser evitados pelo uso de circuitos fechados.
O efluente de maior poder contaminante gerado na produção do álcool é a
vinhaça/vinhoto, que geralmente é reciclado mediante a sua aplicação na lavoura
de cana (fertirrigação).
No planejamento do projeto da unidade de produção de álcool, é importante
que seja definido o volume de vinho necessário à destilação, para as diferentes
concentrações alcóolicas, o que possibilita estimar a produção de efluentes e o
tratamento que será efetuado. As demais recomendações em relação às emissões
atmosféricas e à utilização do bagaço são equivalentes às da produção do açúcar.

Produção de estimulantes (chá e café)


É importante possuir água em quantidade suficiente para abastecer todos
os processos, principalmente o de fermentação. Nas unidades de fermentação
devem ser verificadas as condições de forma a não contaminar o solo, efetuando-
se a sua impermeabilização. Os efluentes hídricos gerados devem ser tratados
antes do seu lançamento no corpo receptor. As águas residuais podem ser fonte
de produção de biogás.
As unidades de torrefação podem consumir matéria-prima florestal, o
que deve ser acompanhado de comprovação de sua origem (manejo florestal).
Pode ocorrer a geração de odores e o lançamento de material particulado pelas
chaminés, necessitando da instalação de equipamentos de controle ambiental.

Beneficiamento de castanha de caju


Em relação aos aspectos ambientais relacionados à atividade, destaca-se
a necessidade de prevenção de acidentes no processo de descortificação manual
devido a queimaduras com LCC, o tratamento de águas de lavagem da castanha
e a contenção de ruídos internos e externos. Medida especial deve ser adotada
em relação ao controle da poluição atmosférica provocada pela caldeira (emissão
de particulados), dependendo do combustível utilizado (lenha, casca de castanha
de caju, óleo BPF).
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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Processamento de peixe
A produção de águas residuárias em uma unidade de processamento de
peixes possui grande variação, em função da época da produção e/ou captura de
peixes e processos utilizados. Referidas águas contêm grande quantidade de
graxas. O tratamento preliminar é considerado simples, consistindo na separação/
eliminação de graxas através do separador de graxas. O tratamento completo
das águas residuárias apresenta-se mais complexo devido à presença de
compostos protéicos e de elevada concentração de sal, no caso de produção de
conservas.
Para o tratamento destas águas, pode ser realizado em um primeiro
momento a neutralização através da adição de cal ou outros agentes alcalinos e,
se necessário, agregação de cloro.
A geração de odores desagradáveis nesta unidade pode ser evitada pelo
processo de manutenção da unidade, não deixando acumular material, e pelo
tratamento correto dos efluentes. De todas as maneiras, deve ser evitada a
proximidade de áreas habitadas.

2.4 - Referências para análise ambiental da atividade


Para a avaliação direta ou indireta, é importante observar os seguintes
critérios:
• alterações no meio ambiente em função das emissões da unidade;
• alteração no meio ambiente em função das atividades indiretas que a
unidade demanda, a exemplo do consumo de energia ou a variação da
quantidade de água utilizada, ou mesmo do processo de produção das
matérias-primas;
• processo de tratamento dos efluentes, especialmente quando é utilizada a
irrigação (fertirrigação);
• repercussão sobre os trabalhadores;
• repercussões sobre a comunidade do entorno e imediações.
Os padrões da qualidade do ar estão previstos na resolução CONAMA 03/90
e os da emissão de poluentes estão previstos na Resolução CONAMA 09/90. Devem
ser observados os critérios adotados pelo organismo ambiental regional para o
lançamento de efluentes hídricos, sendo em termos nacionais previstos na Resolução
n.o 20/86 do CONAMA. É importante verificar a demanda de água, necessitando
consultar/solicitar autorização do organismo estadual e/ou federal competente em
relação à outorga de direito de uso de água. Em caso de atingir áreas próximas a
cursos de água, verificar as disposições do Código Florestal Brasileiro, Lei 4.771/65.

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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

2. 5 - Quadro-resumo - agroindústria
IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
• Alteração com perda de perfil do • Localizar a unidade distante de áreas pantanosas, úmidas
solo e da flora, com modificação e outros habitats frágeis e ecologicamente importantes,
dos recursos naturais, culturais e com a finalidade de reduzir e/ou concentrar os efeitos
sítios arqueológicos. ambientais potenciais sobre o meio ambiente.
• A vazão dos cursos d’água e/ou do manancial subterrâneo
Alteração da drenagem superficial deve ser suficiente para abastecer a unidade e diluir os
• efluentes tratados (manancial superficial), sem
durante a implantação e operação comprometer os demais usos do manancial, ou em
do projeto. condições geológicas de menor possibilidade de
contaminação (ex. existência de falhas geológicas que
possibilitem a infiltração de efluentes).
• Contaminação das águas pela • Controlar a qualidade dos efluentes, especialmente da
descarga de efluentes, e pela temperatura, pH, níveis de óleos e graxas, sólidos totais
disposição inadequada dos dissolvidos e suspensos, DBO e DQO.
resíduos sólidos. Lançamento dos efluentes deve obedecer aos critérios

legais estabelecidos em regulamentos (CONAMA – 020/86)
e diretrizes do organismo ambiental.
• No caso de tratamento por meio da reciclagem/
fertirrigação, verificar as condições de absorção/
capacidade do solo.
• Para o tratamento dos resíduos sólidos deve-se
considerar: a capacidade do local em suportar o destino
final, a existência de depósito nas proximidades (privados)
ou de aterros sanitários públicos.
• Procurar formas alternativas de reciclagem ou reutilização
dos resíduos sólidos, nos processos ou por outras
unidades (agrícolas, industriais) na região.
• Contaminação do ar por partículas • Deve-se procurar locais altos em comparação à topografia
suspensas e a geração de dominante, de menor possibilidade de ocorrência de
incômodos pelos gases e odores inversão térmica e que não se posicionem em direção
indesejáveis. favorável aos ventos predominantes às áreas habitadas.
• Procurar técnicas de filtragem e coletores ou
precipitadores eletrostáticos e verificar a manutenção dos
equipamentos de controle ambiental das emissões.
• Reduzir as emissões com a adequação do processo às
características das matérias-primas utilizadas e instalação
Vazamentos eventuais de solventes de equipamentos de controle de emissões atmosféricas.

e materiais ácidos e alcalinos • Manutenção de condições adequadas de armazenamento e
potencialmente perigosos. eliminação de dejetos, com a previsão de equipamentos de
prevenção quanto a acidentes (vazamentos).
• Geração de ruídos, provocando • Procurar o isolamento/enclausuramento de máquinas e
incômodos ao redor do equipamentos, saídas de ar de câmaras frias.
empreendimento. Prever projeto específico de tratamento acústico.

• Aumento da circulação de veículos, • Planejamento integrado com os organismos responsáveis
com a geração de ruídos, pó e pelo tráfego de veículos e instalação de medidas
riscos de acidentes. (sinalização, cobertura de carrocerias).
• Saúde e segurança dos • Provisão de programa de segurança e saúde ocupacional,
trabalhadores, sujeitos a ruídos, com detalhamento de todas as fases dos processos e suas
poeira, manejo de materiais, relações com a ocorrência de acidentes e prejuízos à
efluentes e resíduos sólidos. saúde dos trabalhadores. Instalação de equipamentos
individuais e coletivos de prevenção e proteção a
acidentes.
continua

65
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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

conclusão
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
• Código Florestal Brasileiro – Lei 4.771/65 – áreas de preservação permanente.
• Resolução CONAMA 001/86 – Dispõe sobre a Avaliação de Impactos Ambientais. Resolução 20/86
CONAMA - Estabelece a classificação das águas doces, salobras e salinas, segundo seu uso
preponderante e estabelece padrões de emissão para efluentes hídricos.
• Resolução CONAMA 001/90 – Dispõe sobre a emissão de ruídos em decorrência de quaisquer
atividades industriais e outras.
• Resolução 03/90 CONAMA - Estabelece padrões de qualidade do ar e amplia o número de poluentes
atmosféricos passíveis de monitoramento e controle.
• Resolução CONAMA 008/90 – Estabelece limites máximos de emissão de poluentes do ar em nível
nacional.
• Lei 9.433 – Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos (outorga pelo direito de uso da água).
• Resolução CONAMA 237/97 – Dispõe sobre o licenciamento ambiental.
• Normas ABNT - NBR 10151 - Avaliação de ruídos em áreas habitadas.
• Normas ABNT - NBR 10152 - Níveis de ruído para conforto acústico.
• Leis Estaduais que instituem a Política Estadual de Recursos Hídricos e outras providências:
• Lei 11.996/92 do Estado do Ceará.
• Lei 11.504/95 do Estado de Minas Gerais.
• Lei 6.855/95 do Estado da Bahia.
• Lei 6.308/96 do Estado da Paraíba.
• Lei 6.908/96 do Estado do Rio Grande do Norte.
• Lei 11.426/97 do Estado de Pernambuco.
• Lei 3.870/97 do Estado de Sergipe.

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2.6 - Bibliografia consultada


ALAU H. Varnam. Bobina, Tecnologia Química Y Microbiologia. Zaracioza. Espanha. 1994. 487 p.
ALEMANHA. Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ). Guía de protección
ambiental: material auxiliar para la identificación y eveluación de impactos ambientales. Eschborn: (GTZ) GmbH,
1996. Tomo II,730p.
BANCO MUNDIAL. Libro de consulta para evaluación ambiental: lineamientos para evaluación ambiental
de los proyectos energéticos e industriales.. Washington, 1992. V.3. 233p.
BRASIL. Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República. Resoluções CONAMA, 1984-1990.
Brasília: SEMA, 1991. 231p.
_____. Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República. Resoluções CONAMA, 1984-1991.
Brasília: SEMA, 1992. 245p.
BRUGNARO.C. SBRAGIA R. (Coord.). Gerência industrial em destilarias de álcool. Piracicaba: Instituto do
Açucar e do Álcool. Programa Nacional de Melhoramento da Cana-de Açucar, 1984. 313 p.
CENTRO PANAMERICANO DE INGENIERÍA SANITÁRIA Y CIENCIAS DEL AMBIENTE. Manual de disposición de
águas residuales. Lima: CEPIS, 1991. Tomo I. 442p.
_____. Manual de disposición de águas residuales. Lima: CEPIS, 1991. Tomo II. 442p.
FUNDO DE DESENVOLVIMENTO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA AS MULHERES (UNIFEM). Extração de óleo. Roma,
1989.47p.
_____. Laticínios. Roma, 1995. 76 p.
_____. Processamento de peixes. Roma, 1989. 94 p.
_____. Procesamiento de cereales. Lima, 1994. 66 p.
_____. Procesamiento de frutas y vegetales. Lima,1995. 75 p.
GERMEK, H. A. Processo de destilação do álcool. Ministério da Indústria e Comércio. Apostila. 60p.
INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL. Brasil/Açúcar. Rio de janeiro: IAA/MIC, 1.972. 239 p.
LEITE, L. A. de S. A Agroindústria do Caju no Brasil - Políticas públicas e transformações
econômico. IMBRAPA - CNPQ. Fortaleza. 1994. 195p.
LIMA. Vicente de Paiva Maia Santos (Org). Cultura do Cajueiro no Nordeste do Brasil. BNB/GTENG.
1988. Fortaleza. 480p.
PARANÁ. Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e do Meio Ambiente. Coletânea de legislação
ambiental. Curitiba: SEDU, 1991. 536p.
_____. Secretaria de Estado de Meio Ambiente. Coletânea de legislação ambiental. Curitiba: PIAB-
IAP/GTZ, 1996.
RASOVSKY, E. M. Álcool: Destilarias. Rio de Janeiro: IAA/MIC, 1973.
SÃO PAULO. Governo do Estado de. Tecnologia Agro-industrial, Edificações de Indústrias
Alimentares. São Paulo, SP. 209 p.
VARNAM, A. H.; SUTHELLAND J.P. Bebidas: Tecnologia, Quimica y Microbiologia. Zaragosa: Acribia, 1997. 487 p.

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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

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CAPÍTULO 3
INDÚSTRIA

3.1 - Indústria têxtil

3.1.1 - Descrição da atividade sob o enfoque ambiental


Em sua origem a indústria têxtil processava somente matéria-prima natural
de origem vegetal (ex. algodão, linho ) e animal (ex. lã, seda). Atualmente a
produção têxtil contempla também as fibras artificiais e as fibras sintéticas.
As fibras artificiais são produzidas a partir de alterações da matéria-prima
natural orgânica como, por exemplo, a viscose obtida da madeira e resíduos de algodão.
As fibras sintéticas são produzidas a partir das poliamidas, poliésteres e poliacrílicos
(produtos derivados do petróleo).
As fibras de algodão são as mais populares e as mais importantes entre as
fibras usadas pela indústria nacional. O mercado de lã e do raiom também se apresenta
razoavelmente estável. O uso das fibras sintéticas combinadas com as naturais vem
crescendo em todo o mundo devido ao seu custo e à aparência.
As etapas do processo de produção da indústria têxtil compreendem:
• Tratamento e/ ou Fabricação de Fibras Têxteis.
• Fiação.
• Tecelagem e
• Acabamento Têxtil.
Um dos aspectos de maior relevância na análise de um projeto de indústria
têxtil é o elevado consumo de água, especialmente nas etapas de acabamento, o que
implica, conseqüentemente, a previsão de processos adequados de tratamento de
águas residuárias.

3.1.2 - Potenciais impactos ambientais negativos


A geração de resíduos líquidos, sólidos ou gasosos na indústria têxtil, varia
à medida que são desenvolvidos novos processos, novos maquinários, novas
técnicas e novos reagentes.
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Descreveremos a seguir, para cada etapa da fabricação têxtil, os possíveis


impactos ambientais negativos que possam ser gerados.

3.1.2.1 - impactos ambientais negativos na fase de produção/ tratamento das fibras

Fibras de algodão

Desgranamento
A quantidade de fibras fiáveis obtidas no desgranamento do algodão depende
da variedade do algodão, do tipo de fio e/ou tecido desejado e do maquinário
utilizado. Geralmente esta quantidade representa um terço do peso da cápsula de
algodão. Depende também desses fatores a obtenção de fibras curtas como produto
derivado, que são utilizadas, entre outras finalidades, para a fabricação de seda
artificial e viscose.
No desgranamento do algodão obtém-se também como produto derivado a
semente, da qual se pode obter óleo e farinha. Outro produto derivado são as fibras
curtas, que se utilizam, entre outras finalidades, para a fabricação de seda artificial
e viscose. As cascas e resíduos representam aproximadamente 15% do peso da
cápsula e podem ser devolvidos ao solo.
O desgranamento do algodão é um processo mecânico e seco, do qual se
originam muito ruído e a poeira.

Branqueamento do algodão
O algodão é uma fibra vegetal muito econômica que contém principalmente
celulose. Antes de usar a fibra, é necessário eliminar os constituintes não celulósicos.
No processo de branqueamento, as fibras de algodão são fervidas primeiro em
soluções fortemente alcalinas, compostas de soda ( hidróxido de sódio). Isto elimina
as pectinas contidas no algodão. Após, é realizado o branqueamento com soluções
diluídas de cloreto de cálcio ou outras soluções à base de cloro, para depois passar
ao tratamento com ácidos diluídos. Após cada processo, os materiais tratados
passam por banhos de enxágüe com água abundante.
Estima-se que a quantidade de águas residuárias nas plantas de
branqueamento de algodão varie de 50 a 100m³ de água por tonelada de produto,
sendo o total de contaminantes (impurezas) contidos nos resíduos do
branqueamento do algodão aproximadamente 196 kg por tonelada de material.

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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Fibras de lã
Na preparação da lã são problemáticos os efluentes ou águas residuárias
geradas na lavagem da lã virgem.
Para eliminar os contaminantes aderidos à lã: suor, graxas de lã, contaminantes
vegetais, biocidas, pó e excremento, geralmente se limpa superficialmente o animal antes
da tosquia e posteriormente lava-se a lã em máquinas desenvolvidas para este fim.
O processo de lavagem gera águas de enxágüe altamente concentradas,
contendo substâncias que chegam a representar entre 25 a 60% do peso da lã antes
do processamento (variando de acordo com a origem da lã crua e o grau de limpeza
da ovelha antes da tosquia).
Além destas substâncias (graxas, suor, sólidos orgânicos e inorgânicos), são
agregados também detergentes, como soda e sabão, e também óleos utilizados
para amaciar a lã, os quais são eliminados com um novo enxágüe no final do
processo de lavagem.
Podem ser produzidos até 100 m³ de águas residuárias por uma tonelada de
lã e a sua composição pode variar consideravelmente segundo a quantidade de água
que foi utilizada.
Geralmente as águas residuárias da lavagem de lã apresentam entre 350 a
400 kg de contaminantes totais por tonelada de produto (destes, até 200 kg são
substâncias orgânicas).
As graxas ou gorduras de lã têm aplicação na indústria cosmética e, atualmente,
são recuperadas das águas residuárias.

Preparação de fibras de linho e cânhamo

O banho do linho e do cânhamo se realiza em duas etapas:


• na primeira etapa, liberam-se as fibras do talo mediante o banho;
• na segunda etapa , o produto semi-acabado passa a ser lavado, centrifugado
e secado para serem extraídas as fibras dos talos.
Existe a remoção das fibras a seco e o processo úmido. O processo úmido se
realiza em plantas de grande escala onde podem ser utilizados os métodos de banho
de tanque ou de pedestal ou o uso de banhos em canal ou em água corrente.
No método de banho em tanque ou pedestal, onde não há a entrada
constante de água, necessita-se aproximadamente 20 m³ de água por tonelada
de palha de linho ou de cânhamo.
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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

No banho por canal, a água passa constantemente por vários canais,


instalados uns próximos aos outros. As estruturas de madeira que contêm o material
em fardos, são acionadas contra a corrente mediante estruturas de palanques. O
volume de água despejada no final do canal corresponde ao fluxo de entrada (entre
40 e 60 m³ de água por tonelada de palha de linho).
As águas residuárias da preparação das fibras de linho e cânhamo consistem
em um licor de banho, enriquecido com produtos de decomposição, nitrogênio,
ácido fosfórico, potássio, cal e outros compostos afins que são arrastados pela
água. Além destas, existem as águas de lavagem das plantas e máquinas.
Nas modernas plantas de banho, as águas residuárias são de tonalidade
entre amarelo claro e marrom escuro, turvas e apresentam um odor característico
levemente ocre. Aquelas que provêm de banho em tanque geralmente apresentam
um nítido odor de gás sulfídrico imediatamente após a retirada do linho. Os resíduos
de banho, tanto por tanque como por canal, geralmente contêm pequena quantidade
de sólidos suspensos (abaixo de 100 mg/l), e estes são principalmente de natureza
orgânica.
Os ácidos orgânicos voláteis, gerados no processo de banho, consistem
basicamente em ácido acético e ácido butírico; há também, em menor proporção,
ácido fórmico, ácido propiônico e ácido valérico.
Em muitas plantas de banho, para se obter linho e cânhamo com
características similares ao algodão, o linho e o cânhamo desfibrados são convertidos
em fios, mediante um processo seco (mecânico), seguido por tratamento químico.
Para o tratamento químico podem ser empregados os processos
denominados de Korte ou de Lixiviação.
O processo Korte consiste no tratamento preliminar dos fios verdes com
uma solução de ácido clorídrico diluído, enxágüe com água fresca, remoção dos
resíduos de ácidos finais mediante um banho de soda, novo enxágüe e fervura em
solução de soda diluída, vários enxágües, lavagem e polimento.
No processo de lixiviação, as fibras verdes são banhadas em água e
submetidas à fervura sem pressão em solução de soda muito diluída e se desintegra
aplicando pressão. Os licores de desintegração são eliminados com banhos de
enxágüe, o álcali remanescente se neutraliza com um banho ácido e se removem
os resíduos ácidos em um banho de soda, passando as fibras por nova lavagem e
polimento.
O processo Korte gera resíduos ácidos e o processo de lixiviação gera resíduos
alcalinos. Os resíduos diferem também na quantidade de sais inorgânicos que contêm.

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Preparação da seda
A seda natural é obtida dos fios com que o bicho da seda fabrica seus casulos.
As substâncias que constituem a fibra (fibroína) e a goma da seda (sericina), eliminam-
se mediante fervura (limpeza e desengomagem). Além das proteínas, a fibra bruta
contém substâncias solúveis em éter e etanol, e outros sais.
O processamento dos casulos consiste na eliminação do pó, lavagem na água,
tratamento com vapor direto e finalmente o enovelamento dos fios.
A seda crua, assim obtida, passa a ser fervida em uma solução de sabão, para
liberá-la da goma da seda e de seus corantes naturais. Após o banho de sabão,
aplicam-se banhos de enxágüe, primeiro com água de soda fraca e finalmente com
água fria. Cada 7 a 9 kg de casulos cozidos, ou seja, tratados com vapor, produzem
1kg de seda crua.
As águas residuárias totais de uma planta de cozimento de seda apresentam
coloração marrom escura, altamente concentrada e putrescível. Os principais
contaminantes são: sabões, detergentes, goma de seda (sericina) proveniente dos
casulos, bichos de seda mortos, casulos danificados e corantes naturais dos fios de
seda.

Fabricação de seda artificial e fibras de raiom


As fibras que se produzem quimicamente para a indústria têxtil dividem-se em
dois grupos: as fibras de polímeros naturais (fibras artificiais) e as fibras de polímeros
sintéticos (fibras sintéticas). Dentre as primeiras, incluem-se as fibras “regeneradas”
de celulose como a lã de viscose, seda de viscose, seda de viscose de super cordel e
raiom cuproamônico, e ainda as fibras de éster celulósico como o raiom de acetato.
Dentre as fibras sintéticas estão as fibras de poliamidas, de cloreto de polivinil,
de poliacrilonitrilos e de poliésteres.
Quando se usam “borras” de algodão em rama como matéria-prima, é
necessário tratá-las anteriormente, fervendo-as em solução de soda (aproximadamente
a 4%), para eliminar os contaminantes vegetais, tais como cera, pectinas, açúcares
etc. Após, as borras são enxaguadas em água para eliminar os restos da solução.
Para isto se requer uma quantidade de água 10 a 20 vezes maior.
As águas residuárias totais, resultantes deste processo, apresentam
concentração média de soda cáustica, na ordem de 2 a 4 g/l e alta concentração de
matéria orgânica (DBO de 1500 a 2000 mg/l). A quantidade de águas residuárias
geradas é de aproximadamente 50 m³ por tonelada de fibra.
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No processo de lixiviação de celulose para obtenção de viscose, a hemicelulose


é transformada num composto celulósico em solução, o qual se transforma em
xantogenato sódico de celulose depois da decomposição controlada das
macromoléculas com dissulfeto de carbono. O xantogenato é dissolvido com solução
de soda para a obtenção da viscose, que passa a ser filtrada e desgaseificada,
sendo posteriormente conduzida a um banho de coagulação. Quando sai do banho
de coagulação, a fibra inchada é esticada e enxaguada várias vezes para eliminar
o licor do banho de coagulação que ainda se encontra aderido. Posteriormente as
fibras são tratadas com álcali, para eliminar o sulfeto remanescente.
As águas residuárias geradas neste processo são compostas por: águas de
refrigeração, banhos ácidos, soluções alcalinas, águas de lavagem e enxágüe
provenientes do filtro do banho de coagulação. Quando as águas de refrigeração
são reutilizadas, a quantidade total de águas residuárias atinge em torno de 300 a
600 m³ por tonelada de fibra (de raiom); quando só se fabrica seda artificial, a
quantidade pode alcançar níveis próximos a 1000 m³ por tonelada de fibra. A
quantidade total de sólidos suspensos (principalmente orgânicos) pode variar de
valores menores que 100 mg/l até 1g/l.
Na fabricação de seda artificial ou de fibra de raiom, por meio de processo
com cuproamônio, a dissolução da celulose se obtém com a ação de uma mistura
de sulfato de cobre básico (20%) e amoníaco (25%). Depois de agregar os compostos
como ácido tartárico e açúcares, esta solução passa a ser filtrada e desaerada sob
pressão, sendo posteriormente conduzida aos banhos de coagulação lenta (primeiro
água morna, abrandada, desaerada e depois ácido sulfúrico diluído). A esticagem
posterior produz fibras finas que são endurecidas e liberadas do cobre, utilizando-
se ácido sulfúrico diluído. Logo após, são tratadas com uma solução fraca de soda e
submetidas a vários enxágües com água fria. Em seguida, passam por um banho
com sabão e vão para a secagem. Os resíduos líquidos deste processo são compostos
pelos precipitadores utilizados que contêm cobre, águas de lavagem e enxágüe,
solução de sabões e resíduos de amoníaco. O consumo de água é de
aproximadamente 1.300 m³ por tonelada de fibra.
No processo com acetilcelulose, a celulose é transformada em triacetato de
celulose mediante a ação de ácido acético anidro ou ácido acético glacial, em
presença de catalisadores como o ácido sulfúrico, ácido perclórico, cloreto de zinco
etc. O triacetato é lavado, dissolvido em acetona e transformado em fios em seco,
utilizando ar quente. Os ácidos inorgânicos livres e outras substâncias, como cloreto
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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

de zinco, são drenados como resíduos pelas águas de lavagem, enquanto os produtos
orgânicos valiosos (acetona, ácido acético, álcool) são recuperados em sua maioria.
A quantidade de águas residuárias é menor que em outros processos utilizados
para a fabricação de seda artificial; chega a uns 10 a 15 m³ de águas residuárias
por tonelada de triacetato. Os resíduos são ácidos com poucos sólidos suspensos
(menos de 100 mg/l), porém com muitos constituintes dissolvidos.

3.1.2.2 - impactos ambientais negativos que possam ser gerados nos processos de
fiação e tecelagem

A fiação consiste no processamento das fibras para sua transformação em


fios, e a tecelagem é o processo pelo qual os fios são transformados em pano.
Nestas duas fases da produção têxtil, os principais problemas ambientais
que podem ser gerados são: emissão de poluentes atmosféricos (poeira), ruídos e
vibrações.
Podem ser executados nesta fase também o tingimento de fios (após a
fiação) e a engomagem (antecedendo a tecelagem). Nestes processos há a geração
de efluentes hídricos.
O elevado esforço mecânico a que são submetidas as fibras no processo de
fiação ocasiona uma considerável formação de pó, que deve ser aspirado, tanto
para proteção do local de trabalho como para garantir a qualidade da produção.
Para evitar as emissões, a poeira gerada é captada diretamente nas máquinas
e o ar de retorno é conduzido através de sistemas de filtros.
Nas fiações também é considerável as emissões de ruídos, gerados pelas
máquinas de fiação. Nas áreas de trabalho são constatados índices de pressão
sonora de 70 a 100 dB(A).
Em muitos casos, as plantas de fiação necessitam de instalações de proteção
acústica. Da mesma forma, no setor de tecelagem, embora tenha se obtido um
considerável avanço tecnológico nos últimos vinte anos, as emissões de ruídos e
vibrações, geradas pelos teares automáticos, constituem um problema de difícil
solução.
De acordo com o tipo de construção, equipamentos, colocação e número de
máquinas empregadas, estrutura dos tecidos etc., os níveis sonoros no interior das
salas de tecelagem podem variar entre 85 e 108 dB(A).
Nas salas de tecelagem ocorre também a geração de poeira, sendo
recomendadas as mesmas medidas de proteção citadas para as plantas de fiação.
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MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
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No que diz respeito às vibrações, geralmente há a necessidade de uso de


amortecedores especiais nos teares automáticos, para evitar danos às edificações
e incômodos à vizinhança.
Ainda vinculada à fiação pode ocorrer o tingimento dos fios, que consiste
em ferver os fios em rolos ou em bobinas, em soluções de soda cáustica e
detergente, lavá-los em água corrente e posteriormente mergulhá-los em soluções
contendo corantes. Esta operação gera despejos líquidos de cor forte, que contém
basicamente: soda cáustica exaurida, detergentes e sabões.
Os fios tingidos em bobinas vão direto para a tecelagem e os tingidos em rolo,
para a engomagem.
A engomagem consiste na passagem dos fios crus ou tingidos, que vêm em
rolos de urdume, por uma solução de goma de fécula fervida e vão formar os rolos
engomados da tecelagem.
Na engomagem podem ser utilizados produtos naturais, como celulose e amido,
e produtos sintéticos, como álcool polivinílico, acrilatos, PVC, óleos e graxas.
Os vapores que se formam no processo de secagem constam, em sua maior parte,
de vapor de água; os produtos de engomagem, contidos nestes vapores, geralmente
encontram-se em proporções tão reduzidas que não são considerados contaminantes.
Os despejos oriundos do setor de engomagem são constituídos pelas águas
de lavagem das panelas onde são preparadas as soluções e pelas descargas das
engomadeiras. Estes despejos são concentrados e possuem DBO elevada.
A engomagem tem repercussões mais graves na fase de acabamento têxtil que
segue a anterior, uma vez que nesta fase deve-se primeiramente eliminar toda a goma.
Para este setor, a tendência tem sido o uso de gomas reutilizáveis, que pode
representar uma economia de até 90% do produto de engomação e ainda elimina a
necessidade de tratamento de águas residuárias.

3.1.2.3 - impactos ambientais negativos que possam ser gerados na fase de


acabamento têxtil

Nesta fase da indústria têxtil, não há geração de ruídos significativa. Ocorre,


porém, geração de emissões gasosas derivadas dos processos de secagem e
termofixação, e grande quantidade e diversidade de contaminantes hídricos.
A indústria de acabamento têxtil consome um volume de água relativamente
elevado e gera grande quantidade de águas residuárias.

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Nos processos de acabamento têxtil dos tecidos de raiom-viscose, algodão,


poliéster algodão e poliéster náilon, por exemplo, além do tingimento dos fios e
engomagem, que antecedem a tecelagem, são desenvolvidas as seguintes etapas:
Chamuscagem: É a queima das penugens do pano, obtida pela passagem
do pano sobre grelhas acesas.
Desengomagem e lavagem: O pano sai da unidade de chamuscagem e entra
direto em um saturador onde é embebido com enzimas, detergentes alcalinos quentes
ou sabões emolientes dissolvidos na água, com a finalidade de destruir as gomas. Após
o período de embebição (que varia de 2 a 10 horas em temperatura superior a 120 °C),
as enzimas destroem os amidos. A seguir, o pano passa por lavadeiras especiais.
Os despejos desta fase são formados pelos produtos da decomposição da
goma de amido e dos reagentes de hidrólise. O volume é relativamente baixo e a DBO
alta, podendo contribuir com 50% da DBO total.
Cozimento e lavagem: O cozimento é feito por meio de vapor, soda cáustica e
pequena quantidade de produtos químicos diversos. Pode ser feito por método contínuo
ou por cargas.
Alvejamento e lavagem: Nesta operação utiliza-se água oxigenada e/ou cloro,
para remoção da cor natural da fibra. Os despejos são contínuos e contêm cloro,
hipoclorito e peróxido. Os que possuem cloro e hipoclorito apresentam característica
fortemente alcalina e possuem matérias orgânicas removidas do algodão. A carga de
DBO destes despejos pode variar de 680 a 2900 mg/l e pode representar 10% da
carga total. Apresentam também bissulfito de sódio ou ácido sulfúrico fraco.
Mercerização e lavagem: Nesta operação, o pano é embebido em solução de
soda cáustica forte e permanece esticado por meio de correntes durante um período
pré-determinado; após, é lavado em água com vapor. A soda cáustica é recuperada. Os
despejos desta fase são contínuos, porém contribuem com pequena carga de poluição.
Secagem: As secadeiras são constituídas por uma série de cilindros aquecidos
com vapor. No processo de secagem, a água condensada destes cilindros volta
para as caldeiras, não havendo, portanto, despejos resultantes desta fase.
Estamparia: Os tecidos são gravados por meio de rolos ou quadros com
corantes reativos. Os despejos contêm pigmentos (corantes) e, em alguns casos,
soda cáustica e goma.
Tinturaria: No tingimento, o pano é passado por uma solução de tinta,
fixado e lavado. Os despejos do tingimento variam em função dos diferentes tipos de
77
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corante e dos métodos de aplicação. São volumosos, apresentam coloração forte e


podem ser tóxicos. A DBO é geralmente baixa, mas pode chegar a 37% da carga
total de DBO, em algumas plantas. Em alguns banhos de tingimento, são usados
agentes redutores, o que faz com que as águas residuárias apresentem considerável
demanda imediata de oxigênio.
Lavagem: A lavagem ocorre nas ensaboadeiras, nelas os panos passam
por oito caixas, sendo que, nas quatro primeiras, os despejos são altamente
concentrados e contínuos. Os despejos das quatro caixas finais são praticamente
isentos de impurezas. Este processo gera um grande volume de despejos, os quais
podem ser reutilizados como água de lavagem de latas (recipientes), pisos etc.
Vaporização: Nos processos antigos de vaporização ocorrem despejos
constituídos por água e ácido acético. Nos processos com uso de vaporizadeiras
“Atos” não são gerados despejos, o consumo de água ocorre somente para
umedecer o vapor.
Acabamento: Consiste na aplicação de gomas e resinas que são secadas
ou fixadas sob temperaturas controladas, por meio de processos mecânicos e
químicos. Os despejos são provenientes das lavagens dos cilindros, das máquinas e
do piso e contêm uréia, formol, trifosfato, amido, estearato, óleo sulforicinado,
emulsões de resinas polivinílicas e sais de magnésio.

3.1.2.4 - principais poluentes ambientais gerados na indústria têxtil

3.1.2.4.1 - poluentes hídricos presentes nas águas residuárias


As substâncias presentes nas águas residuárias da indústria têxtil são, em
sua maioria, biodegradáveis. Porém, mesmo no processo de biodegradação, os
compostos lançados em um corpo d’água podem reduzir seu conteúdo de oxigênio
a níveis abaixo do suficiente para garantir sua autodepuração.
O setor de acabamento têxtil utiliza uma série de compostos que não são
biodegradáveis. Os despejos das várias unidades dos setores de acabamento têxtil
apresentam principalmente os seguintes compostos e características: Substâncias
orgânicas: amido, dextrina, gomas glucose, graxas, pectina, álcoois, ácido acético,
sabões e detergentes; Substâncias inorgânicas: hidróxido de sódio, carbonato,
sulfato e cloreto. O pH dos despejos varia entre 8 e 11, apresenta turbidez coloidal
acinzentada, a coloração depende do corante de maior predominância utilizado, o
teor de sólidos totais varia de 1000 a 1600 mg/l; a DBO apresenta-se entre 200 a
600 mg/l a alcalinidade total de 300 a 900 mg/l; o teor de sólidos em suspensão é de

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30 a 50 mg/l e o teor de cromo pode ser superior a 3 mg/l. O volume de efluentes é


muito grande, variando de 120 m3 a 380 m3 por 1.000 metros de tecido processado.
Além dos poluentes hídricos gerados no setor de acabamento, cabe citar alguns
outros poluentes que podem estar presentes nas águas residuárias da indústria
têxtil, considerando-se todas as etapas de produção. Assim, citamos brevemente os
seguintes:
• Metais pesados: A contaminação das águas residuárias têxteis, por metais
pesados, atualmente é limitada. Em alguns procedimentos de tintura as
águas residuárias podem conter cromo, cobalto e cobre derivados de
acabamentos de alta qualidade, ou zinco, cuja ocorrência se dá em
quantidades muito reduzidas.
• Hidrocarbonetos: Os hidrocarbonetos que podem estar presentes nas
águas residuárias são levados, em sua maior parte, por fios que contêm um
revestimento oleoso para obter determinadas características de deslizamento.
Outra possível fonte são os restos de agentes de impregnação.
• Compostos orgânicos halogenados: Os compostos orgânicos halogenados
incluem os compostos orgânicos de cloro, hidrocarbonetos clorados,
pigmentos, clorofenóis tóxicos etc. As fontes principais destas substâncias
são os banhos de branqueamento com cloro, os aceleradores de tintura
(carrier), empregados para o tingimento de fibras sintéticas, os corantes
reativos com cloro e sabões enriquecidos com a série de hidrocarbonetos
clorados, como os que são empregados exclusivamente na limpeza a seco.
• Detergentes tensoativos: Estas substâncias são empregadas como
produtos de lavagem, emulsionantes, umectantes, corretores de processos
de tintura e outros fins. Muitas destas substâncias não são totalmente
biodegradáveis. A contaminação das águas por detergentes não se deve
somente à sua carga orgânica, mas também a seus efeitos tensoativos, que
dificultam a capacidade de autodepuração dos rios e representam ameaça
aos organismos aquáticos.
3.1.2.4.2 - emissões atmosféricas
Além das emissões de pó (material particulado), que ocorrem nas operações
de fiação e tecelagem, nos processos de acabamento têxtil são produzidas também
emissões de gases e vapores, especialmente nas operações de tingimento e secagem.
De maior gravidade são as emissões produzidas nas operações de termofixação
de artigos de fibras sintéticas. Nesta fase podem ser expelidos para o ar, “oligômeros”

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de fibras e fragmentos de produtos alisantes (entre outros, óxido de etileno), cujas


emissões podem chegar a 0,2% do peso do material processado.
Mediante as instalações recuperadoras de calor, necessárias em qualquer
caso por questões energéticas, é retida uma parte considerável destas substâncias
como óleo condensado, porém, nas operações de limpeza (com uso de limpadores
de alta pressão), estas substâncias serão levadas às águas residuárias.
Outro poluente atmosférico é o formaldeído, uma substância de efeito
lacrimogêneo e irritante para a pele, que pode ser emitido nas operações de
acabamento de alta qualidade de artigos de algodão.
A carga de formaldeídos tem sido reduzida consideravelmente graças ao
uso, nessas operações, de produtos esterificados, com baixo teor de formaldeídos.
Outra fonte de emissão de gases e vapores são as instalações de revestimento
onde se produzem dissolventes, dentre eles, podem estar os hidrocarbonetos
clorados, que são considerados poluentes de alto poder contaminante.

3.1.2.4.3 - emissões de ruídos


A geração de ruídos, em níveis significativos, na indústria têxtil, ocorre
principalmente nas fases de fiação e tecelagem, tendo como fontes geradoras, os
equipamentos mecânicos utilizados neste processo.

3.1.3 - Recomendação de medidas atenuantes


3.1.3.1 - medidas de atenuação de impactos sobre a qualidade da água
Para evitar o lançamento de águas residuárias, em condições que venham
a comprometer a qualidade dos corpos hídricos receptores, devem ser
considerados, no tratamento dos efluentes da indústria têxtil, os seguintes aspectos:
• redução dos despejos na fonte;
• condições para lançamento dos despejos na rede pública de esgotos;
• tratamento adequado dos despejos na indústria, antes da disposição final.

Redução dos despejos na fonte:


A redução da geração de efluentes na fonte, ou no processamento, em muitos
casos, pode representar vantagens econômicas e deve ser considerada sob dois
aspectos:
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• redução do volume dos despejos;


• alteração de quantidade e/ou qualidade de produtos contaminantes da água
utilizados no processo.
Para a redução do volume dos despejos há que se considerar como preocupação
básica a redução do consumo de água, que pode ser obtida, por exemplo, por meio de
recirculação ou reutilização da água para o mesmo processo ou outro compatível.
Outro aspecto importante é a redução de produtos químicos. Geralmente, utilizam-
se mais produtos químicos na fabricação têxtil do que o necessário, como margem de
segurança para se evitar o reprocessamento. Estima-se que 90% da carga poluidora
presente nas águas residuárias é oriunda dos processos em que se utilizam produtos
químicos.
Alguns setores já vêm reduzindo a quantidade de produtos químicos empregados,
em até metade da quantidade original, obtendo redução de 30% da carga poluidora. Isto
implica economia de matéria-prima e economia no tratamento de águas residuárias.
Outra forma é a recuperação e a reutilização de produtos químicos ou
subprodutos, que já é empregada no caso da soda caústica e na recuperação da gordura
de lã.
Outro aspecto a ser considerado é a modificação nos processos de fabricação,
como, por exemplo, o uso de processamento contínuo, que consome menos água e
produtos químicos por quantidade de material processado. Outra alteração importante
refere-se ao processamento com solvente nas operações de lavagem e desengomagem,
que pode representar uma grande redução no consumo da água, além de reduzir a
carga poluidora das águas residuárias, uma vez que as impurezas solúveis são coletadas
em estado pastoso, nos tanques de purificação.
Deve ser considerada, também, a manutenção adequada da fábrica, no que se
refere ao uso da água, evitando desperdícios de consumo e os derrames acidentais.

Condições para o lançamento dos despejos na rede pública de esgotos


Embora seja esta a alternativa mais simples e a de menor custo para a empresa,
há que considerar que a maioria das cidades brasileiras não possui rede de coleta e
sistemas de tratamento de esgotos suficientes para atender toda a demanda e recepção
desses efluentes.
Portanto, esta alternativa cabe somente para algumas situações, ou seja, quando
a região onde se pretende implantar o empreendimento tenha atendimento de coleta e
tratamento de esgoto sanitário.
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Neste caso, sob o aspecto econômico, seria vantajoso para a empresa efetuar
o lançamento na rede pública, isto considerando que normalmente o cálculo da
tarifa para despejos industriais na rede pública é baseado no volume, DBO (Demanda
Bioquímica de Oxigênio) e MS (Materiais sedimentáveis). Como nos despejos destas
indústrias, a DBO e os MS são inferiores aos do esgoto doméstico, a tarifa seria
aplicada somente sobre o volume de lançamento.
Cabe, porém, salientar que, para lançamento destes efluentes na rede pública,
devem ser consideradas as características de sua composição, com relação à
eficiência do tratamento ao qual serão submetidos no sistema público. Por exemplo,
a presença de metais pesados e substâncias tóxicas.

Tratamento adequado dos despejos na indústria, antes do lançamento final


As substâncias presentes nas águas residuárias da indústria têxtil
diferenciam-se entre partes sedimentáveis e partes que podem ser oxidadas biológica
ou quimicamente.
O tratamento dessas águas residuárias deve ser cuidadosamente planejado,
devido à diversidade de produtos e de concentrações presentes nos despejos, bem
como às variações súbitas de vazão.
Os principais métodos de tratamento empregados são as lagoas ou tanques
de equalização, neutralização e, posteriormente, o tratamento secundário (ou
biológico), sendo os mais utilizados os sistemas de filtro biológico e lodos ativados.
O tratamento das águas residuárias deverá ser operado de forma que o efluente
para lançamento final atenda os padrões definidos pela Resolução 020 de 1986 do
Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA, dos quais destacam-se:
QUADRO 1. *Padrões de Lançamento de Efluentes Hídricos:
PARÂMETRO VALOR MÁXIMO
PH. Entre 5 e 9.
**DBO5. 50 mg/l.
Temperatura. Inferior a 40oC.
Minerais até 20 mg/l.
Óleos e graxas.
Vegetais e animais até 50 mg/l.
Materiais flutuantes. Ausentes.
Cromo hexavalente. 0,5 mg/l Cr.
Cromo trivalente. 2,0 mg/l Cr.
Fenol. 0,05 mg/l.
*Resolução 20/86 do CONAMA.
** Sujeito a alteração dependendo das condições do corpo hídrico receptor.

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3.1.3.2 - medidas de atenuação de impactos sobre a qualidade do ar

As emissões atmosféricas geradas nos diversos processos da indústria


têxtil, já citadas no item 3.1.2.4.2, devem ser mantidas sob controle adequado,
tanto no ambiente de trabalho como no ambiente externo, em face dos efeitos
nocivos que esses poluentes representam sobre a saúde, bem como em face de
sua ação na deterioração dos materiais.
Apresentamos no quadro a seguir os principais poluentes emitidos e medidas
atenuantes de impactos.

QUADRO 2: Medida de Controle de Poluentes Atmosféricos


POLUENTE EMITIDO MEDIDA DE CONTROLE / TRATAMENTO
• Componentes minerais de óleos evaporados, • Controle mediante: resfriamento e eliminação
emitidos nas operações de secagem e de aerossóis, lavador de gases ou combustão
termofixação de artigos de fibras sintéticas. térmica posterior (pós-queimador).
• “Carrier” (halogenados aromáticos) aplicados • Lavador de gases de alta potência ou
como aceleradores de tintura nas operações de combustão térmica posterior.
tingimento de fibras sintéticas.
• Componentes de benzina pesada, derivados de • Eliminação por meio de filtros de carvão ativado
espessantes de emulsão de tingimento com ou combustão térmica posterior.
pigmentos, emitidos na secagem após as
operações de estamparia.
• Vapores e substâncias odoríferas (suavizantes • Podem ser eliminados parcialmente, mediante o
catiônicos, alguns corantes etc.), parafina, uso de lavador de gases com substâncias
emitidos na secagem após aplicação de químicas de efeito absorvente.
hidrorrepelentes.
• Dissolventes, emitidos na secagem após • Eliminação mediante condensação e filtro de
operações de revestimento. carvão ativado.

3.1.3.3 - medidas de atenuação de ruídos

A geração de ruídos representa um problema sério nas fiações e tecelagens,


onde os níveis de pressão sonora produzidos vão de 70 a 110 dB(A) .
Aqui também devem ser considerados os aspectos de saúde ocupacional,
sendo necessário o controle das emissões na fonte e/ou uso de EPIs (Equipamentos
de Proteção Individual) adequados, conforme as normas de segurança no trabalho.
Para atendimento aos limites de emissão de ruídos, faz-se necessária a
adoção de medidas de proteção acústica que podem ser:
• proteção acústica nos equipamentos geradores de ruídos;

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• manutenção adequada de equipamentos mecânicos;


• revestimento acústico nas edificações.

3.1.4 - Referências para a análise ambiental da atividade


Na análise ambiental de um empreendimento do setor têxtil, devem ser
consideradas, além das emissões específicas dos processos de produção têxtil,
outras cargas que podem ser geradas, decorrentes de atividades de suporte ou
complementares, tais como:
• Instalações de combustão: Necessárias para suprir o consumo de energia
térmica, relativamente alto, especialmente nas operações de acabamento têxtil.
• Instalações para tratamento de água: Em função da necessidade de uma
determinada qualidade da água de processo, para as operações de
acabamento têxtil, pode ocorrer a necessidade de tratamento da água. As
instalações de purificação da água podem gerar efluentes com alto teor de
sais, os quais devem ser direcionados, com as águas residuárias dos
processos, ao tratamento.
Outro aspecto a ser observado, refere-se às matérias-primas utilizadas, com
relação aos efeitos da obtenção ou extração desses materiais sobre o meio
ambiente.
Quanto aos aspectos ambientais negativos, deve ser dada atenção especial
às empresas dedicadas às atividades de lavagem de lã virgem, em função da
forte contaminação das águas residuárias, e às atividades de acabamento têxtil,
considerando-se o elevado consumo de água e energia, a intensa utilização de
produtos químicos, a contaminação das águas e do ar devido aos procedimentos
empregados e à eliminação de resíduos.
Cabe reforçar que, de uma maneira geral, no atual estado tecnológico,
considerando-se tanto as tecnologias de produção como as tecnologias de controle
ambiental disponíveis, o setor têxtil pode desenvolver-se de maneira perfeitamente
compatível com o meio ambiente, em todos os níveis de produção.

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3.1.5 - Quadro-resumo - Indústria têxtil


IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
• Poluição da água ou do solo, • Redução do volume dos despejos, mediante recirculação
provocada por geração de efluentes ou reutilização da água.
hídricos contendo substâncias • Redução da quantidade ou alteração da qualidade dos
orgânicas e inorgânicas, alteração produtos contaminantes utilizados no processo.
de pH, corantes e metais pesados, • Recuperação e reutilização de produtos químicos e
hidrocarbonetos e detergentes subprodutos, como: hidróxido de sódio e gordura de lã.
tensoativos. • Modificação nos processos de fabricação, com o uso de
processamento contínuo e substituição da água por
solvente, entre outros.
• Tratamento adequado dos despejos na indústria. Os
sistemas mais utilizados são as lagoas ou tanques de
equalização, neutralização e posteriormente o tratamento
secundário, sendo os mais utilizados os sistemas de filtro
biológico e lodos ativados.
Poluição atmosférica provocada por:

• Componentes minerais de óleos • Limpeza da saída em caso de cargas elevadas, mediante:


evaporados, emitidos nas resfriamento e eliminação de aerossóis, lavador de gases
operações de secagem e ou combustão térmica posterior (pós-queimador).
termofixação de artigos de fibras
sintéticas.

• “Carrier” (halogenados aromáticos) • Lavador de gases de alta potência ou combustão térmica


aplicados como aceleradores de posterior.
tintura nas operações de tingimento
de fibras sintéticas.

• Componentes de benzina pesada, • Eliminação por meio de filtros de carvão ativado ou


derivados de espessantes de combustão térmica posterior.
emulsão de tingimento com
pigmentos, emitidos na secagem
após as operações de estamparia.

• Vapores e substâncias odoríferas • Podem ser eliminados parcialmente, mediante o uso de


(suavizantes catiônicos, alguns lavador de gases com substâncias químicas de efeito
corantes etc.), parafina, emitidos na absorvente.
secagem após aplicação de
hidrorrepelentes.

• Dissolventes, emitidos na secagem • Eliminação mediante condensação e filtro de carvão


após operações de revestimento. ativado.

• Emissão de material particulado, • Instalação de filtros na chaminé como ciclone ou lavador de


óxidos de enxofre e nitrogênio, em gases.
caso de utilização de caldeira à
lenha ou óleo combustível.
• Poluição sonora geradas nas • Proteção acústica nos equipamentos geradores de ruídos.
plantas de fiação e tecelagem. • Manutenção adequada de equipamentos mecânicos.
• Revestimento acústico nas edificações.
continua

85
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conclusão
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
• Resolução CONAMA 020/86 - Padrões de emissão para efluentes hídricos.
• Resolução CONAMA 003/90 - Padrões de qualidade do ar.
• Resolução CONAMA 008/90 - Padrões de emissão de poluentes atmosféricos.
• Resolução CONAMA 001/90 - Limites de emissão de ruídos.
• Norma ABNT - NBR - 10151- Avaliação de ruídos em áreas habitadas.
• Norma ABNT - NBR - 10152 - Níveis de ruído para conforto acústico.
• Resolução CONAMA 006/88 - Licenciamento ambiental de atividades industriais geradoras de resíduos
perigosos.

3.2 - Indústria do couro

3.2.1 Descrição da atividade sob o enfoque ambiental


O Nordeste produz quase todos os tipos de couros, desde a sola bruta
para arreios e montarias até os mais finos para bolsas, calçados etc. Alguns
curtumes no Piauí e Maranhão produzem solas para sapatos. Existem curtumes
especializados na produção de couro fino para vestimentas, estofamentos e
calçados em Natal, Paraíba e na Bahia. O Ceará também dispõe de unidades
destinadas à produção de couro nas suas diversas fases, desde wet blue, vaquetas
até as peças acabadas destinadas aos mercados interno e externo.
A matéria-prima para beneficiamento, ou seja, pele de animais, apresenta
grande diversidade variando em função da região onde os mesmos são criados,
da cor do pêlo, da idade, do sexo, do manejo do criatório, além de outras.
Alguns problemas que ocorrem durante a criação deixam marcas e
cicatrizes, muitas vezes em partes nobres da pele do animal, que se transferem
também para o produto final, devendo-se desprender cuidados quanto a doenças
(bernes e carrapatos), riscos e cortes provocados por chifres e arames farpados
e, ainda, com relação a marcas com fogo que muitas vezes são feitas em locais
inadequados da pele e acabam por refletir na qualidade e valorização da matéria-
prima e do produto final.
As imperfeições na pele ocasionam também uso de maior quantidade de insumos
no processo industrial para se conseguir melhores resultados na qualidade do produto
final, o que representa acréscimos na carga poluidora de efluentes e resíduos.
Outro aspecto relacionado com a procedência das peles refere-se às
condições em que se realiza o abate. As peles procedentes dos matadouros são,
86
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em geral, de qualidade inferior, apresentando principalmente problemas por ocasião


da esfola. Nos frigoríficos, por sua vez, são utilizados alguns equipamentos mecânicos
de esfola que associados à mão-de-obra mais treinada, resulta em melhor qualidade
do produto a ser processado.
Alguns curtumes processam o couro somente até a fase de curtimento. Nesse
estágio o couro curtido é denominado wet blue e representa a primeira fase de
comercialização. Outras plantas produzem o couro semi-acabado, também denominado
Crust, que representa a segunda fase de comercialização e possui especificações
definidas de espessura, cor, maciez e umidade. Existem, ainda, curtumes que realizam
somente o acabamento ou todo o processo até o couro acabado, que é aquele pronto
para ser usado nas fábricas de artefatos.
O processo de fabricação consiste na transformação de peles de animais em
couro, envolvendo três etapas básicas: a preparação do couro, também chamada
etapa de ribeira, a etapa de curtimento e a etapa de acabamento. As principais
operações de cada etapa são descritas a seguir.

Preparação da Pele ou Etapa de Ribeira


As principais operações desta etapa são:
Preparação da Pele: A preparação da pele inicia-se logo depois da esfola.
As peles são bem lavadas e escovadas do lado carnal, para impedir a proliferação de
microrganismos. A pele neste estágio recebe a denominação de “pele verde”. A
conservação é feita por imersão em salmoura forte, durante um período de dezesseis
a vinte horas. A operação seguinte consiste numa salga seca: as peles são empilhadas,
intercalando-se camadas de sal entre elas, o que provoca a desidratação parcial do
couro, com a eliminação das proteínas solúveis e o aumento da resistência aos
microrganismos.
Antes de passar para a fase seguinte, as peles são classificadas de acordo com
seu comprimento e peso.
Remolho: Objetiva restaurar a água dos couros e remover sujeiras, soro, sangue,
sal etc. O remolho é realizado em tanques ou fulões ( cilindros rotativos) nos quais as
peles são imersas em banhos contendo água, detergente, produtos umectantes e
bactericidas.
Pré-descarne: Visa à remoção da camada hipodérmica (carnaça) das peles.
É um processo mecânico, realizado antes da operação de depilação - caleiro, evitando
a presença de produtos químicos na carnaça removida, possibilitando o seu
aproveitamento, facilitando seu tratamento e melhorando a qualidade dos subprodutos.
87
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Depilação - Caleiro: É uma das fases iniciais mais impor tantes do


curtimento. Promove a retirada dos pêlos e da epiderme, provoca o inchamento
da pele, preparando as fibras colágenas e elásticas para serem curtidas e,
também, saponifica as gorduras. Consiste num banho com agitação periódica,
numa solução contendo água, sulfeto de sódio e cal hidratada.
O sulfeto de sódio, em meio alcalino, elimina os pêlos; sua maior ou menor
concentração irá determinar se os pêlos serão recuperáveis ou não. Quando a recuperação
dos pêlos não for economicamente interessante, eles serão completamente destruídos.
Descarnagem: É a remoção do tecido adiposo e do sebo aderentes à face
interna da pele. A descarnagem pode ser feita manualmente ou por máquinas especiais.
Como operação posterior, ocorre o recorte das aparas (pelanca) que são utilizadas
para fabricação de colas ou gelatinas. O sebo é recuperado em quase todos os grandes
curtumes, sendo o subproduto de maior valor. É utilizado na fabricação de sabão,
graxas e velas. A descarnagem permite uma penetração mais fácil e mais eficiente dos
curtientes na pele.
Divisão: É uma operação que consiste em dividir em duas camadas a pele
inchada e depilada. A que estava em contato com a carne recebe o nome de “raspa”
ou “crosta” e a parte externa recebe o nome de “flor” ou “vaqueta”. Esta operação
é empregada apenas nos curtumes que produzem couro para a parte superior
dos calçados. Não é usada na fabricação de solas. Para produção de solas usa-se
o couro na sua espessura integral.
A divisão da pele, geralmente, é efetuada sem adição de água, em máquinas
nas quais a pele passa entre dois rolos, enquanto uma faca giratória, operando
entre os rolos, corta a manta em duas.

Etapa de Curtimento
Na etapa de curtimento ocorrem as seguintes operações:
Descalcinação e Purga: Realiza-se com o objetivo de remover o excesso
de cal e sulfeto das peles e prepará-las para o curtimento, tornando-as mais macias,
porosas, flexíveis e menos enrugadas. A descalcinação é realizada em fulões
(tambores rotativos), nos quais as peles são imersas em banho contendo soluções
de sais de amônia e ácidos. A purga é realizada nos mesmos fulões, e as peles são
lavadas com enzimas proteolíticas ou fungos e sais de amônia, que têm a função de
digerir e soltar a matéria epidérmica, junto com o resto das raízes dos pêlos.
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Piquelagem: Consiste na acidificação da pele com ácidos orgânicos ou,


geralmente, ácido sulfúrico e cloreto de sódio, a fim de evitar o inchamento e a
precipitação de sais de cromo, no caso de curtimento ao cromo. Antes do
curtimento vegetal (com tanino), não se usa a piquelagem. A piquelagem pode
ser realizada em tanques ou fulões. Pode ser empregada também como um
meio de preservar as peles durante a armazenagem, antes do curtimento.
Remoção de Gorduras: Atualmente é pouco empregada, a não ser em curtumes
especializados em couros de carneiros, cabras e porcos. A remoção de gorduras tem
por finalidade eliminar áreas gordurosas, para tornar o material mais permeável aos
agentes curtientes e aos corantes. O desengorduramento pode ser obtido por três
processos: emulsificação por meio de solução aquosa de detergentes, dissolução por
meio de um solvente orgânico e por compressão mecânica.
Curtimento: Visa transformar a pele em material imputrescível, o couro,
estabilizando definitivamente sua estrutura fibrosa, por meio da reação entre o agente
curtiente e a pele. Embora haja muitos reagentes utilizáveis no curtimento, apenas
cinco são empregados em quantidades expressivas: tanino vegetal, taninos
sintéticos, cromo, sais de alumínio e zircônio.
O curtimento ao cromo é utilizado na produção de couros leves. A principal
vantagem é a abreviação do tempo de curtimento e a produção de um couro mais
resistente ao calor e ao desgaste. A maioria dos couros ao cromo é produzida
em um único banho de sulfato básico de cromo. O couro absorve sais de cromo
na proporção de 3 a 7% do seu peso, sendo que esta operação é realizada no
banho de píquel, adicionando-se sais de cromo (sulfato) com um mínimo de 1,5%
e um máximo de 5% de óxido de cromo.
No curtimento vegetal, as peles piqueladas, ou não, são curtidas por imersão
numa solução de tanino, em banhos de concentrações crescentes. A purga é
eventual, e o recurtimento é feito com taninos vegetais e sintéticos. As fontes
mais empregadas de tanino no Brasil são: casca e extrato de quebracho, casca
de acácia negra e casca de barbatimão.

Etapa de Acabamento
Nesta etapa são realizadas operações que conferem ao couro propriedades
específicas de umidade, flexibilidade e aparência. As principais operações são:

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Enxugamento: Visa à remoção da umidade do couro. O enxugamento é


realizado mediante a passagem do couro em rolos compressores, revestidos com
feltros.
Rebaixamento: Visa nivelar a superfície do couro e uniformizar sua espessura,
o que é realizado por máquinas constituídas por um cilindro com navalhas.
Neutralização: Visa retirar da superfície do couro os sais solúveis de cromo,
os sais alcalinos e ácidos livres, a fim de que as operações posteriores de tingimento
e engraxe possam ocorrer sem problemas. A neutralização é realizada em fulões,
nos quais os couros são imersos em banhos contendo soluções de formiato de
cálcio e carbonato de sódio ou bicarbonato de sódio.
Prensagem: É realizada tanto para se eliminar o excesso de umidade,
quanto para se obter o nivelamento das superfícies do couro.
Tingimento: Esta operação é realizada em fulões, nos quais os couros são
imersos em banhos de corantes aniônicos, naturais ou sintéticos. Esta operação
pode ser realizada antes ou após o engraxe.
Recurtimento: Esta operação é semelhante ao curtimento e objetiva conferir
ao couro características especiais desejadas. É realizada em fulões, contendo
soluções de tanantes sintéticos ou naturais, ou ainda, óxidos de cromo.
Engraxe: Pode ser feito no mesmo banho de tingimento, consiste na
impregnação do couro com óleos e graxas especiais, geralmente óleos sulfonados,
de baleia e de rícino, para evitar o seu fendilhamento e torná-lo mais macio,
dobrável, forte e resistente ao rasgo.
Secagem: Pode ser realizada por meio de diferentes processos, dependendo
das características desejadas no produto final. Os processos mais usuais são:
secagem a vácuo, em secotherms (placas metálicas verticais aquecidas por
eletricidade ou vapor, nas quais o couro é fixado) e pasting (placas de vidro que
entram numa estufa com controle de ar e temperatura).
Lixamento: As vaquetas de qualidade inferior devem ser lixadas na flor para
corrigir os defeitos; antes, porém, devem passar pela câmara de umedecimento.

3.2.2 - Potenciais impactos ambientais negativos


A poluição causada pelos curtumes está relacionada diretamente a uma
grande geração de efluentes líquidos e resíduos sólidos, que podem provocar a
contaminação do solo e das águas e geração de odores. Estas razões fazem com
que as plantas de fabricação de couro sejam localizadas preferencialmente distantes

90
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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

de áreas habitacionais, tanto pelo incômodo gerado pelos odores emitidos quanto
pela necessidade de áreas relativamente grandes para o tratamento das cargas
residuárias.

3.2.2.1 - Geração de Efluentes Líquidos


As principais características dos efluentes líquidos gerados nos curtumes são:
• elevado pH;
• presença de cal e sulfetos livres;
• presença de cromo potencialmente tóxico;
• grande quantidade de matéria orgânica ( elevada DBO );
• elevado teor de sólidos em suspensão (principalmente pêlos, fibras, sujeira
etc.);
• coloração leitosa devido à cal, verde-castanho ou azul, devido à curtição e
cores variadas do tingimento;
• dureza das águas de lavagem;
• elevada salinidade (sólidos dissolvidos totais);
• elevada DQO.
A geração dos efluentes varia de acordo com cada etapa da produção; também
há grande variação de curtume para curtume, dependendo dos processos industriais
utilizados e das medidas de controle interno adotadas.
Na operação de remolho, ocorre a dissolução do sal (cloreto de sódio) . O
sangue e outras substâncias orgânicas constituirão carga orgânica no efluente.
O caleiro residual contém matéria orgânica em grande quantidade (proteínas),
cal e sulfetos.
As operações seguintes, depilação, purga, piquelagem e curtimento, produzem
uma poluição salina e/ou tóxica (cromo). Quando se utiliza tanino, o problema é a
coloração escura do efluente.
As operações de recurtimento, tingimento e engraxe resultam na presença de
sais minerais, tanino e de corantes nos banhos residuais.
As águas provenientes do setor de acabamento, que são principalmente as
águas de lavagem de pisos e máquinas, geralmente contêm solventes.

3.2.2.2 - Geração de resíduos sólidos

Os resíduos sólidos gerados nos curtumes compreendem:


Resíduos sólidos não curtidos representados por:
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• carnaça: obtida na operação de descarne, composta por tecidos adiposos,


conjuntivo e muscular;
• aparas não caleadas: fragmentos do couro não submetidos ainda à
depilação - caleiro;
• aparas caleadas de 2a : fragmentos do couro submetidos à depilação -
caleiro, mas não divididos;
• aparas de 1a: fragmentos de couro caleirado e divididos.
Resíduos sólidos curtidos, que compreendem:
• aparas de couro curtido;
• pó de lixadeira;
• serragem da operação de rebaixamento.
Lodo gerado no tratamento de efluentes líquidos:
O lodo produzido no sistema de tratamento de efluentes é também
classificado como resíduo sólido. O lodo apresenta uma consistência altamente
fluídica, sendo conveniente concentrá-lo antes da sua disposição final.

3.2.2.3 - Geração de poluentes atmosféricos

São gerados nos curtumes, gases e vapores dos banhos, que saem dos
fulões, especialmente quando estes são abertos para a retirada da carga após o
curtimento. Esses gases e vapores geralmente ficam restritos à área interna da
planta, representando riscos à saúde dos trabalhadores, os quais devem utilizar
equipamentos de proteção individual (EPIs) apropriados.
Geralmente, os curtumes necessitam geração de vapor ou energia térmica
adicional para o aquecimento dos banhos de curtimento e utilizam caldeiras com
esta finalidade. A utilização de caldeira a lenha, carvão ou óleo, pode gerar
poluentes atmosféricos como material particulado e óxidos de enxofre, resultantes
da combustão.
O problema mais grave de poluição atmosférica produzida nas plantas
de cur timento refere-se à geração de odores, que ocorre especialmente na
decomposição da matéria orgânica presente nos resíduos e efluentes.

3.2.3 - Recomendações de medidas atenuantes


Dentre as medidas de atenuação que podem ser aplicadas, estão a redução
da quantidade de efluentes ou resíduos gerados, e/ou redução da carga

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contaminante presente nos efluentes e resíduos, e as medidas de tratamento


dos efluentes e resíduos. Dentre as primeiras, destacamos:
Redução da quantidade de água: o principal ponto de desperdício e de
geração de efluentes líquidos nos curtumes é o consumo exagerado e desnecessário
de água. O consumo de água em um curtume convencional, sem nenhuma medida
de controle interno ou de recuperação dos banhos, chega a um metro cúbico por
pele processada. Até a fase Wet Blue, este consumo chega a 0,8 metros cúbicos por
pele processada.
Na racionalização do consumo da água, podem ser adotadas desde medidas
simples até as mais complexas, tais como: utilização de peles verdes, que demandam
menor consumo de água nas operações de remolho; utilização de sistemas
computadorizados de controle de volumes, que proporcionam a dosagem dos banhos
com grande precisão; o uso de fulões e a aceleração dos processos; substituição
das lavagens contínuas por lavagens descontínuas com volumes padronizados;
reciclagem das águas de lavagem e de banhos.
Redução da quantidade de reagentes: os produtos colocados em
excesso na produção não têm efeito sobre a pele, ou seja, não melhoram a qualidade
final do produto e vão contribuir para um aumento na carga poluidora. Este é um
problema comum nos curtumes e para ser modificado necessita de conscientização
da direção da empresa e do seu quadro funcional.
Outro aspecto a ser considerado, quanto ao consumo de reagentes, é o
problema das grandes diferenças de peso encontradas na matéria-prima; o ideal é
efetuar uma separação prévia das peles por peso e utilizar formulações adequadas.
Utilização de produtos alternativos: existem estudos em andamento
visando à substituição de produtos considerados tóxicos, por outros menos
agressivos. Exemplo disto é a depilação com sulfato de dimetilamina e com ajuda
de enzimas, ao invés de sulfeto de sódio.
Recuperação de reagentes ou reciclagem direta dos banhos: a
recuperação de reagentes ou reciclagem dos banhos resulta em economia no
consumo de produtos. Entre a opção de recuperação de um reagente ou reciclagem
do banho como um todo, deve-se considerar a qualidade do produto final e o fator
econômico.
Melhorias nos procedimentos operacionais: aspectos como a duração
dos banhos, funcionamento adequado dos equipamentos, cargas etc., devem ser
controlados no sentido de otimizar a eficiência e esgotamento dos banhos.
93
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Recuperação de subprodutos: muitos materiais de valor comercial


podem ser recuperados, freqüentemente com vantagens econômicas. Na tabela
a seguir, são citados materiais recuperáveis, extraídos dos levantamentos de
resíduos industriais - Industrial Waste Profiles, executados pelo Ministério do
Interior dos Estados Unidos. Na referida tabela foi incluído o sebo, que é recuperado
em alguns curtumes brasileiros, com grande vantagem econômica.

TABELA: Materiais Recuperáveis como Subprodutos


MATERIAL APLICAÇÃO
• Extração de gorduras.
• Transformação em produtos comestíveis
Aparas de pele e carnaças. (gelatinas, tripas artificiais para salsicharia
etc.).
• Fabricação de cola industrial.
Pêlos. • Produção de tapetes, feltros etc.
Solvente para desengorduramento. • Recuperado para reutilização.
Resíduos líquidos do curtimento ao cromo. • Retenção e reutilização no curtume.
Resíduos líquidos do curtimento ao tanino. • Evaporação para venda como aditivos
para caldeiras.
• Algumas vezes empregada na fabricação de
Casca residuária da extração do tanino. papelão e de pigmento de zinco branco
(carbonato de zinco hidratado).
Sebo. • Produção de sabão etc.

Tratamento de Efluentes Líquidos


Os processos de tratamento aplicáveis aos curtumes podem ser os seguintes:
Tratamento preliminar: compreende o gradeamento, mistura e
homogeneização, retenção de sebo e lançamento em vazão regularizada. O
gradeamento serve para reter os materiais grosseiros como carnaças e pelancas,
e geralmente é feito por meio de grades de barras, com limpeza manual através de
rastelos. São empregadas também peneiras para retenção do material fino. A
retenção do sebo é feita em tanques retentores que devem ser dimensionados de
forma a permitir a retenção do sebo e a saída dos sólidos sedimentáveis.
A homogeneização e mistura são feitas em tanques que devem ter tempo de
detenção tanto maior quanto menor for a indústria. Os tanques de mistura e
homogeneização uniformizam o lançamento da carga poluidora, evitando sobrecargas
momentâneas. Esses tanques podem ser empregados também como reguladores
da vazão.

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Tratamento primário: é realizado por meio do tratamento preliminar,


seguido de coagulação, floculação e decantação, com remoção do lodo do fundo
dos decantadores de forma manual ou mecanizada. O lodo removido pode ser
secado ao ar, em leitos de secagem, ou desidratado em filtros-prensa ou filtros a
vácuo. Após a secagem, pode ser usado como fertilizante, disposto em aterro ou
incinerado, dependendo das suas características finais.
Tratamento secundário: envolve a diminuição da carga orgânica, por
processos como lodos ativados, valos de oxidação, lagoas aeradas, facultativas
etc. Geralmente esta etapa do tratamento deve ser precedida de tratamento
químico e apresenta custo elevado, assim como o tratamento terciário.
Tratamento terciário ou de polimento final: é aquele no qual o efluente
líquido tratado é submetido a processos e operações como adsorção sobre carvão
ativo, remoção de nitrogênio, fósforo, substâncias inorgânicas dissolvidas e outros.
O tratamento terciário confere melhor aspecto à aparência, removendo a coloração
do efluente final.

Tratamento dos resíduos sólidos


Praticamente todos os resíduos sólidos curtidos e não curtidos, como:
carnaça, aparas, pó e serragem, courinhos, pelancas etc., constituem subprodutos
reaproveitáveis. Cabe considerar a viabilidade econômica de seu reaproveitamento,
porém, em caso de não ser viável, a disposição destes materiais deve ser feita
em aterro especialmente controlado.
Classifica-se também como resíduo sólido de curtume, o lodo produzido
no tratamento de efluentes líquidos.
O tratamento do lodo é feito através de desidratação em leitos de secagem
ou por meios mecânicos com o uso de filtros-prensa, belt-press e outros.
Após a desidratação e classificação, o resíduo poderá ter os seguintes
tratamentos ou destinação final:
Disposição final no solo: em aterros específicos, em conjunto ou não com
lodos de tratamento de esgoto sanitário e outros resíduos. Esta alternativa depende
da classificação do resíduo. Se for classificado como perigoso, necessita aterro
especial. A NBR – 10157 apresenta critérios para projeto, construção e/ou operação
de aterros de resíduos perigosos.

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Incineração: da mesma forma que a alternativa anterior, se o resíduo for


classificado como perigoso (classe 1), a queima ou incineração só poderá ser feita
em equipamentos apropriados, considerando o que estabelece a NBR – 1265 –
Incineração de Resíduos Sólidos Perigosos – Padrão de Desempenho.
Uso agrícola: o lodo isento de cromo pode ser incorporado ao solo em áreas
agrícolas, em princípio, sem maiores restrições, observando somente cuidados na
aplicação.

Tratamento das emissões atmosféricas


As emissões provenientes de caldeiras podem ser reduzidas pela
alimentação correta das mesmas e do uso de sistema de filtro na chaminé (ciclone,
multi-ciclone, lavador de gases etc.).
A geração de odores pode ser reduzida mediante o armazenamento e
conservação adequada das matérias-primas e do tratamento eficiente dos resíduos
e efluentes.

3.2.4 - Referências para análise ambiental da atividade


A fabricação de couro está entre as atividades de maior potencial para a
geração de efluentes líquidos.
A quantidade dos despejos varia muito de indústria para indústria. Há
curtumes que lavam mais seus produtos, utilizando soluções de reagentes mais
ou menos diluídas. A vazão dos despejos também é muito variável, o que faz com
que, para a caracterização do efluente de determinado curtume, tenha que se
avaliar caso a caso, considerando as especificidades de cada planta industrial. De
maneira geral, pode-se considerar a geração de 30 a 100 litros de despejos por
quilograma de pele tratada.
Os despejos de curtumes contêm grande quantidade de material putrescível,
como proteínas, sangue, fibras musculares etc., e de substâncias tóxicas, como
sais de cromo e sulfeto de sódio.
A reação dos contaminantes presentes nestes despejos geram, com grande
facilidade, gás sulfídrico que, além de produzir odor, pode tornar as águas
receptoras impróprias para utilização.
Esses despejos apresentam também elevada demanda química e bioquímica
de oxigênio (DQO e DBO), fazendo com que o oxigênio dissolvido, presente nos
cursos d’água receptores, seja rapidamente consumido.
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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

A alcalinidade elevada também pode causar mortandade de peixes. Os


colóides e sabões presentes nos efluentes podem gerar grande quantidade de
espumas.
A combinação dos óxidos de ferro existentes no leito do rio ou dissolvidos na
água combina-se com o ácido tânico contido nos curtientes descartados, formando
tanato férrico, de cor negra.
Os sólidos sedimentáveis formam banco de lodos de aspecto desagradável e
odor repugnante. As carnaças, pêlos e restos de peles, quando depositados
inadequadamente, atraem ratos e moscas.
Para se evitar todos estes inconvenientes, os resíduos sólidos e líquidos
dos cur tumes requerem tratamento em grau elevado, o que representa custo
alto para a maioria dos curtumes, especialmente os de médio e pequeno porte.
Por este motivo, busca-se o desenvolvimento de processos de tratamento
de custo suportável para a indústria, com a aplicação de medidas paralelas para
a redução da carga poluidora durante a fabricação do couro.
Muitos materiais considerados “resíduos” podem ser recuperados e
utilizados como subprodutos, representando freqüentemente vantagens
econômicas, como, por exemplo, o sebo, cujas instalações necessárias para o
seu aproveitamento pagam-se em poucos meses com o valor do produto.
Um dos aspectos que pode facilitar a recuperação de subprodutos é a
realização das operações de ribeira nos matadouros e frigoríficos, os quais têm
melhores condições de recuperação das carnaças, pêlos, fibras musculares, sebo
e sangue, o que resolveria o problema da disposição destes resíduos. Restariam
aos curtumes as operações de curtimento e acabamento.
Outra medida destinada a reduzir o custo de tratamento é a coleta, em
sistemas independentes, das águas pluviais, do esgoto sanitário, das águas
concentradas de processo e das águas diluídas de lavagem.
Na análise de projetos dessa natureza, deve-se considerar sempre a adoção
de medidas de controle ambiental que: evitem o desperdício, priorizem a
reutilização e a adoção de tratamento adequado para os efluentes e resíduos
que não possam ser recuperados.

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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

3.2.5 - Quadro-Resumo: Indústria do Couro

IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES


• Contaminação das águas superficiais • Redução da quantidade de efluentes hídricos mediante a
ou subterrâneas pelos efluentes implementação de medidas, tais como:
hídricos gerados nos curtumes. • utilização de couros verdes;
• controle de volume de água dos banhos;
• reciclagem das águas de lavagem e de banhos.
• Redução do desperdício na utilização de reagentes.
• Utilização de produtos (reagentes) menos agressivos ao
meio ambiente.
• Recuperação de reagentes e dos subprodutos.
• Dimensionamento e implementação de tratamento para os
efluentes hídricos de acordo com as especificidades de
cada planta, no que se refere à qualidade e à quantidade
de efluentes gerados.
• Contaminação do solo e/ou das • Redução da quantidade de resíduos sólidos, mediante o
águas superficiais e subterrâneas aproveitamento desses como subprodutos.
pela disposição inadequada de • Para os resíduos sólidos que não possam ser
resíduos sólidos gerados nos reaproveitados, pode ser realizada a disposição em aterro
curtumes que compreendem: controlado de resíduos industriais (aterro especial classe
• carnaças; 1, caso o resíduo seja classificado como perigoso).
• aparas de couro; • O lodo produzido no tratamento de efluentes líquidos
• pó de lixadeira e serragem; deve ser desidratado e posteriormente submetido ao
• lodo gerado no tratamento de tratamento mediante a incineração, disposição em aterros
efluentes líquidos. industriais controlados (aterro especial classe 1, caso o
resíduo seja classificado como perigoso), ou uso agrícola,
desde que o lodo não apresente cromo.
• Emissão de odores que geram • Na escolha de áreas para localização do empreendimento,
incômodo significativo às deve evitar-se áreas próximas às regiões habitadas, ou
comunidades situadas próximas aos áreas onde a direção dos ventos predominantes seja no
curtumes. sentido de regiões habitadas.
• Emissão de poluentes atmosféricos • Dimensionamento adequado da altura da chaminé.
resultantes do uso de caldeira à • Utilização de sistema de filtros (ccciclone, multiciclone,
lenha, carvão ou óleo combustível. lavador de gases).
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
• Resolução CONAMA 020/86 – Padrões de emissão para efluentes hídricos.
• Resolução CONAMA 003/90 – Padrões de qualidade do ar.
• Resolução CONAMA 008/90 – Padrões de emissão de poluentes atmosféricos.
• Resolução CONAMA 006/88 – Licenciamento ambiental de atividades industriais geradoras de resíduos
perigosos.
• Norma da ABNT – NBR – 10157 – Critérios para Projetos, Construção e Operações de Aterros de
Resíduos Perigosos.
• Norma da ABNT – NBR – 1265 – Incineração de Resíduos Sólidos Perigosos – Padrão de
Desempenho.

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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

3.3 - Indústria química

A Indústria Química apresenta uma enorme variedade de processos e


produtos, podendo ser considerado o setor mais diversificado da área industrial.
É também o setor industrial sobre o qual se concentram de maneira mais
intensa as preocupações quanto à contaminação ambiental, seja pelos processos
utilizados, em que os reagentes e produtos químicos obtidos em sua grande parte
são inflamáveis e explosivos, tóxicos e/ou carcinogênicos, seja pela aplicação desses
produtos em outros ramos de atividades e suas conseqüências danosas para o
meio ambiente.
De acordo com a Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE,
instituída pela Resolução 054 de 19 de dezembro de 1994, do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE, os grupos de atividades abrangidos pela fabricação
de produtos químicos são os seguintes:
• fabricação de produtos químicos inorgânicos;
• fabricação de produtos químicos orgânicos;
• fabricação de resinas e elastômeros;
• fabricação de fibras, fios, cabos e filamentos contínuos artificiais e sintéticos;
• fabricação de produtos farmacêuticos;
• fabricação de defensivos agrícolas;
• fabricação de sabões, detergentes e artigos de perfumaria;
• fabricação de tintas, vernizes, esmaltes, lacas e produtos afins;
• fabricação de produtos e preparados químicos diversos.
Neste capítulo, na descrição da atividade sob o enfoque ambiental, são
abordados os aspectos ambientais relevantes para alguns segmentos, considerados
representativos da Indústria Química, sendo eles: i) Indústria Química Inorgânica,
compreendendo a Fabricação de Soda Cáustica e Cloro, a Fabricação de Ácidos
Inorgânicos, a Fabricação de Pigmentos Inorgânicos e a Fabricação de Fertilizantes;
ii)Indústria Química Orgânica, compreendendo a Indústria Petroquímica Básica e iii)
Fabricação de Produtos Farmacêuticos.
Na seqüência, são mencionados os potenciais impactos ambientais negativos
e recomendações de medidas atenuantes que devem ser considerados, em linhas
gerais, para todos os setores da Indústria Química, sem contudo, prescindir da
necessidade de aprofundamento quando da elaboração e/ou análise de cada projeto
específico, devido à grande variedade de processos possíveis de serem aplicados.
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MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

3.3.1 - Descrição da atividade sob o enfoque ambiental


3.3.1.1 - Indústria química inorgânica

A composição dos efluentes das fábricas de produtos inorgânicos varia


quantitativamente e qualitativamente dependendo dos tipos de matérias-primas
empregadas, processos utilizados e produtos fabricados. Devido a este aspecto,
para análise aprofundada, deve ser avaliado cada processo individualmente.
Os fluxos produtivos ocorrem em unidades fabris separadas ou em instalações
mais complexas, mediante realização de inúmeros processos, os quais são
responsáveis pela oferta de diversos produtos.
Os produtos químicos inorgânicos podem ser fabricados em instalações que
produzem compostos altamente tóxicos. Por conseguinte, seus efluentes podem
também conter quantidades substanciais de materiais potencialmente tóxicos.
A seguir são descritos os principais aspectos ambientais de alguns processos
da fabricação de produtos químicos inorgânicos:

Fabricação de Soda Cáustica e Cloro


A produção de álcalis, principalmente o hidróxido de sódio (soda cáustica),
está intimamente ligada à produção de cloro. O processo de fabricação mais
difundido na indústria atual é o processo de eletrólise do cloreto de sódio.
O cloreto de sódio é obtido principalmente pela evaporação da água do
mar que contém, também, dentre outros, sais de cálcio e magnésio. A outra fonte
de obtenção do cloreto de sódio são as minas de sal gema que fornecem um
produto bastante puro.
A eletrólise do cloreto de sódio pode ser feita em dois tipos de células: células
a diafragma e células a mercúrio.
Os dois processos, de um modo geral, obedecem às seguintes fases:
• dissolução do cloreto de sódio;
• purificação da salmoura;
• eletrólise com produção de cloro, hidrogênio e hidróxido de sódio em solução;
• retorno da salmoura diluída para ressaturação.
Embora essas fases sejam comuns nos dois processos, existem grandes
diferenças com relação à poluição, causada em cada um deles.
100
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Nas células a diafragma, os diafragmas que servem como parede divisória


entre os dois eletrodos são constituídos por um material poroso, quimicamente
inerte. O ânodo é fabricado em grafite ou titânio e o cátodo em ferro.
As células a mercúrio apresentam como principal característica o cátodo
de mercúrio, cuja função é formar uma amálgama com o sódio que irá se
decompor em uma câmara ligada em série com a célula.
Quanto ao produto final obtido, apresentam-se as seguintes diferenças:
• Nas células a mercúrio, a lixívia cáustica é concentrada, isenta de cloreto
de sódio e, portanto, muito pura. .
• Nas células da diafragma, a lixívia cáustica é diluída, apresenta cloreto
de sódio, necessitando ser purificada posteriormente.
Quanto à poluição, a eletrólise em células a mercúrio apresenta as mesmas
características da eletrólise em células a diafragma, acrescentando-se os
problemas decorrentes do emprego do mercúrio. As principais emissões são:
• contaminação da salmoura das células de eletrólise com grãos de grafite
em suspensão e mercúrio metálico;
• desprendimento de hidrogênio contaminado com elevado teor de
mercúrio (reação exotérmica da amálgama com água na pilha de
decomposição);
• líquido residual contendo ácido sulfúrico após utilização como agente
desidratante nas colunas de secagem do cloro;
• precipitado contendo sulfatos e carbonatos resultantes da purificação da
salmoura. Este precipitado também arrasta a grafite e o mercúrio contidos
na salmoura da eletrólise.
Os pontos que mais contribuem para as perdas de mercúrio, elevando os
teores deste metal nos vários efluentes, são:
• a pressão de vapor do mercúrio implica fácil contaminação do ar ambiente;
• a sua mobilidade dificulta a coleta em pisos ásperos ou com fendas;
• a necessidade de constante reposição de mercúrio nas células;
• a presença do mercúrio em todo o circuito da salmoura, de forma que
qualquer vazamento ou purga implicará um efluente com mercúrio.
Os métodos que podem contribuir para a minimização dos volumes de
despejos e redução dos teores de mercúrio nos líquidos residuais são:
• resfriamento do hidrogênio à temperatura abaixo de 0 oC a uma pressão
de 2 (duas) atmosferas e retorno do condensado para a pilha;
101
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• retorno do condensado obtido do resfriamento do cloro para a salmoura;


• filtração das águas residuais através de carvão ativo;
• tratamento de águas residuais com sulfeto de sódio, com subseqüente
coagulação, sedimentação e filtração;
• tratamento das águas residuais por meio de resinas trocadoras de íons;
• recirculação da água utilizada em produção.

Fabricação de Ácidos Inorgânicos


Ácido Clorídrico
Grande parte do ácido clorídrico é obtida como subproduto da cloração de
hidrocarbonetos. Os efluentes contêm compostos de cloro sendo tratados por
neutralização. Em instalações que utilizam o processo sintético, ou seja, a queima
de hidrogênio em cloro gasoso, os efluentes podem ser utilizados para neutralizar
os despejos alcalinos de usinas de fabricação de cloro e álcalis, caso estas sejam
situadas próximas ou adjacentes.

Ácido Nítrico
As fontes de resíduos na fabricação de ácido nítrico estão restritas às
operações de lavagem de áreas, purgas nas águas de resfriamento e amostras
colhidas para controle de qualidade. Estas águas residuais são recolhidas e
retornam como água de processo para a fabricação.

Ácido Sulfúrico
É fabricado normalmente pela reação entre oxigênio e enxofre em processo
relativamente livre de poluição. As águas de processo normalmente não são
descarregadas. As possibilidades de poluição estão relacionadas aos reagentes
utilizados nas águas de resfriamento (quando ocorre descarte das águas de
resfriamento), vazamentos e operações de lavagem. Normalmente as águas de
lavagem são recolhidas e reutilizadas. Nas fábricas mais antigas as águas de
lavagem são neutralizadas com cal antes do descarte.

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MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Ácido Fluorídrico
É obtido na reação do ácido sulfúrico com espato-flúor (CaF2). O gesso é
subproduto desta reação. Os efluentes das fábricas de ácido fluorídrico contêm sulfato
de cálcio, ácido sulfúrico, óxidos metálicos, sílica e ácido fluorídrico. O método padrão
de tratamento consiste na adição de cal para neutralizar o ácido sulfúrico, reduzir
o teor em fluoreto seguindo-se uma operação de sedimentação para a separação
do sulfato de cálcio e fluoreto de cálcio formados.

Fabricação de Pigmentos Inorgânicos


Na fabricação de pigmentos inorgânicos a indústria de pigmentos à base
de dióxido de titânio é a que apresenta maiores problemas de poluição.
O titânio é um componente comum da crosta terrestre, sendo encontrado
em quase todas as rochas.
A produção de dióxido de titânio se faz, normalmente, segundo dois
processos de ataque ao mineral:
• pelo cloro, o que acarreta a produção de cloreto férrico;
• pelo ácido sulfúrico puro, que gera também grande quantidade de sulfato
ferroso, dificilmente utilizáveis, além de ácido sulfúrico livre e de sulfatos
e óxidos de todos os elementos presentes inicialmente no mineral.
Na produção de dióxido de titânio são geradas grandes quantidades de
efluentes ácidos dificilmente tratáveis ou recuperáveis, que contêm: ácido sulfúrico,
sulfato ferroso, titânio, cádmio, vanádio, chumbo e cromo trivalente.
A disposição desses efluentes tem sido o lançamento no mar, o que não
representa, sob o aspecto ambiental, a condição adequada para a sua disposição,
que permanece ainda como um desafio.

Fabricação de Fertilizantes
As plantas de produção de fertilizantes requerem a fabricação de compostos
que proporcionam os nutrientes para as plantas: nitrogênio, fósforo e potássio,
seja individualmente (fertilizantes simples) ou em combinação (fertilizantes
mistos).
Os fer tilizantes nitrogenados mais comuns são: nitrato de amônio
(produzido com amoníaco e ácido nítrico), uréia (produzida com amoníaco e
103
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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

dióxido de carbono), sulfato de amônia (produzido à base de amoníaco e ácido


sulfúrico), nitrato de cálcio e amônio, nitrato cálcico, amoníaco anidro e soluções
nitrogenadas.
As matérias-primas iniciais para produção destes fertilizantes são: amoníaco,
ácido nítrico, ácido sulfúrico, uréia e calcita.
O amoníaco constitui a principal base para a produção destes fertilizantes e é
produzido a partir do gás natural, carvão, nafta e óleo combustível.
Os fertilizantes de fosfatos mais comuns são os seguintes: pedra de fosfato
moída, escória básica (subproduto da fabricação de ferro e aço), superfosfato (produzido
a partir do tratamento da pedra de fosfato moída com ácido sulfúrico), triplo superfosfato
(produzido ao tratar a pedra de fosfato com ácido fosfórico) e fosfato mono e diamônico.
As matérias-primas básicas utilizadas na produção dos fertilizantes de fosfatos
são: pedra de fosfato, ácido sulfúrico, ácido fosfórico e água.
Os fertilizantes de potássio são fabricados com base em salmouras ou depósitos
subterrâneos de potassa. As formulações principais são: cloreto de potássio, sulfato
de potássio e nitrato de potássio.
Os fertilizantes mistos podem ser produzidos misturando-os a seco, granulando
vários tipos de fertilizantes intermediários misturados em solução ou tratando a pedra
de fosfato com ácido nítrico (nitrofosfatos).
Normalmente os fer tilizantes são produzidos para a agricultura
predominantemente em forma granulada ou em pó. As soluções nitrogenadas, para
cujo uso é necessário um sistema de estações de mistura e distribuição, são menos
utilizadas.
Na fabricação de fertilizantes são gerados efluentes líquidos, gasosos e resíduos
sólidos que devem ser tratados adequadamente, sob pena de causar sérios danos ao
meio ambiente.
As águas servidas ou residuais podem ser muito ácidas ou alcalinas e,
dependendo do tipo de planta, podem conter substâncias tóxicas, tais como: amoníaco
ou compostos de amônia; uréia das plantas de produção de nitrogênio; cádmio, arsênio
e flúor das operações de produção de fosfato, caso estejam presentes como impurezas
na pedra de fosfato.
Nos efluentes hídricos, comumente se encontram: sólidos suspensos, nitrato e
nitrogênio orgânico, fósforo e potássio, o que resulta em alta concentração de DBO
(demanda bioquímica de oxigênio).
Com exceção da DBO, os outros poluentes podem estar presentes também
nas águas pluviais que escorrem nas áreas de armazenamento dos materiais e
descartes.
104
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

As emissões atmosféricas contêm partículas provenientes das caldeiras e dos


trituradores de pedra de fosfato, flúor (que é o contaminante principal que se origina
nas plantas de produção de fosfato), névoas ácidas, amoníaco, óxidos de enxofre e
nitrogênio.
Os resíduos sólidos são produzidos principalmente nas plantas de fosfatos e
consistem usualmente em cinzas (quando se emprega carvão para produzir vapor
para o processo) e gesso (que pode ser considerado perigoso devido à possibilidade
de conter cádmio, urânio e outros elementos tóxicos da pedra de fosfato).
A contaminação da água provocada pela descarga de efluentes e pela lixiviação
dos materiais através das águas de chuva pode ser controlada com a adoção de
medidas de tratamento, para as quais devem ser consideradas possibilidades como:
• reutilização de águas servidas;
• troca iônica ou filtração de membrana (plantas de ácido fosfórico);
• neutralização de águas servidas ácidas ou alcalinas;
• sedimentação, floculação e filtração de sólidos suspensos;
• tratamento biológico (nitrificação/desnitrificação).
Para controle das emissões atmosféricas devem ser selecionados, de acordo
com as características do processo, equipamentos de controle, tais como: precipitadores
eletrostáticos, lavadores de gases, filtros e ciclones.
Para os resíduos sólidos gerados devem ser consideradas as possibilidades de
reaproveitamento; por exemplo, o gesso gerado na produção de fertilizantes de fosfato
pode ser utilizado na fabricação de cimento ou utilizado para recobrimento de aterros
sanitários. Porém, se estiver contaminado com metais tóxicos ou radioativos, necessitará
tratamento especial.
Assim também outros resíduos, tais como catalisadores de vanádio provenientes
das plantas de ácido sulfúrico e lodos de arsênio, provenientes das fábricas de ácido
sulfúrico que utilizam piritas, são considerados resíduos potencialmente perigosos
que requerem tratamento especial, sendo que sua disposição no solo só deve ser feita
em aterros especialmente projetados e controlados para esta finalidade.

3.3.1.2 - Indústria química orgânica – petroquímica básica


As atividades da indústria petroquímica, pela multiplicidade de processos
empregados e de produtos obtidos, acarretam a geração de muitos tipos de efluentes
sólidos, líquidos e gasosos, implicando a utilização de toda uma gama de métodos
e técnicas especiais de tratamento.

105
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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Em um pólo petroquímico, não existem processos com descarga zero,


havendo sempre a necessidade de instalações de tratamento de efluentes e
disposição de resíduos.
Par te do custo necessário para tratar os resíduos pode ser absorvida,
com vantagens, com uma melhor tecnologia de processo e conseqüente redução
da carga poluente mediante o uso de unidades de produção mais eficientes.
Assim, o processamento de matérias-primas, o tratamento de resíduos e
outros fatores, devem ser inter-relacionados, visando à reutilização e reciclagem
dos despejos.
Outro aspecto a ser considerado, são os controles internos que constituem
um dos primeiros passos a serem dados para melhoria do tratamento dos resíduos
e efluentes. Estes controles incluem a recuperação de substâncias que não
reagiram, recuperação de subprodutos, recirculação de água e redução de
vazamentos e respingos.
Medidas como estas podem resultar em redução da concentração de quase
todos os poluentes potenciais e redução dos volumes de despejos a serem tratados.
Para o alcance de índices satisfatórios de qualidade do meio ambiente e
sob o aspecto econômico do desenvolvimento das atividades petroquímicas, devem
ser ponderados os seguintes elementos:
• variáveis de produção;
• redução do líquido residual e sua influência na produção de poluentes
secundários;
• quantidade de energia necessária;
• área necessária para armazenagem de lodos;
• efeitos dos resíduos líquidos obtidos pelo controle dos efluentes
atmosféricos;
• variações da qualidade e quantidade de resíduos e comportamento das
unidades de tratamento;
• efeito do índice pluviométrico na obtenção de uma descarga mínima de
poluentes.
Os despejos na indústria petroquímica podem-se originar das seguintes
atividades:
• descargas provenientes diretamente das unidades de produção;
• purgas de caldeira e sistemas de resfriamento;
• esgotos sanitários provenientes das áreas administrativas, casas de
controle, vestiários e refeitórios;

106
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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• águas pluviais contaminadas;


• descargas diversas resultantes de despejos desordenados como
vazamentos, operações de emergência e acidentes;
• águas de lavagem de equipamentos para manutenção, laboratórios etc.
As águas residuais de um pólo petroquímico, de um modo geral, podem ser
tratadas através dos seguintes processos:
• Tratamento primário: separação por gravidade.
• Tratamento intermediário: Neutralização, coagulação química-sedimentação,
filtração, flotação.
• Tratamento final (físico, químico e biológico): lodos ativados, lagoas
aeradas, filtros biológicos, lagoas de estabilização, torres de oxidação,
filtração, adsorção em carvão ativo e osmose reversa.
Na indústria petroquímica são gerados também efluentes gasosos e
resíduos sólidos que necessitam tratamento. De um modo geral, as diretrizes
para o tratamento de resíduos e efluentes de um complexo petroquímico consistem
em:
• definição dos processos de produção, tendo em vista as características
qualitativas e quantitativas dos efluentes e resíduos resultantes;
• desenvolvimento dos estudos de tratabilidade para avaliação dos possíveis
tratamentos;
• conceituação dos processos tendo-se em vista a eficiência de remoção
de poluentes e o impacto que os efluentes finais irão provocar no meio
ambiente.

3.3.1.4 - Fabricação de produtos farmacêuticos

Na indústria farmacêutica ocorre a geração de efluentes hídricos e gasosos.


Os efluentes gasosos, ou seja, as emissões atmosféricas, normalmente pela própria
necessidade de controle do ambiente de produção, ficam restritas e são controladas
na própria área de produção ou são aspiradas e tratadas antes da saída do ar.
As indústrias que se dedicam à preparação de especialidades farmacêuticas
(medicamentos), têm maior facilidade para controlar os seus despejos do que
aquelas que, além dessas atividades, produzem sua própria matéria-prima por
via fermentativa, extrativa ou sintética. Estas, por necessitarem de instalações
bem mais complexas e mais caras, existem em menor número.

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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

O despejo da indústria farmacêutica em si pode ser considerado um despejo


modesto e de fácil tratamento. Porém, dependendo dos tipos de produtos farmacêuticos
e das quantidades produzidas, a necessidade da destinação adequada dos resíduos
do produto ou de intermediários do produto pode tornar-se um problema bastante
complicado.
Além de serem considerados um tipo particular de despejos químicos, os
despejos da indústria farmacêutica apresentam características muito próprias e com
uma elevada multiplicidade de variações. As observações válidas para um caso
quase nunca são válidas para outro.
Os despejos resultantes da fabricação de medicamentos provêm
principalmente das áreas de produção que se inicia na pesagem da matéria-
prima e termina na embalagem e acondicionamento dos produtos. Na linha de
produção, a matéria-prima passa por misturadores, secadores, granuladores,
máquinas de encapsular, máquinas de comprimir, drageamento, máquinas de
enchimento, filtros etc. terminando na linha de embalagem.
Em geral, não se espera poluição nessas operações, uma vez que
dificilmente algum componente entra e sai do processo. Trata-se de um processo
aditivo, de composição, não havendo rejeitos de materiais durante a operação.
Entretanto, tratando-se de material biologicamente ativo, que pode interferir
no meio ambiente, modificando-o, poderá haver poluição da água por meio das
seguintes operações:
• lavagem e limpeza de tanques misturadores;
• lavagem da área de fabricação;
• lavagem das áreas de pesagem;
• lavagem e limpeza de máquinas em geral;
• emprego de detergentes nas operações de lavagem.
O maior problema dos despejos da indústria farmacêutica é o fato de as
substâncias que podem estar presentes nestes despejos, serem biologicamente
ativas, podendo provocar alterações no meio ambiente, mesmo quando em
pequeníssimas concentrações. Como exemplo dessas substâncias, citam-se os
hormônios esteróides e os antibióticos.
Os antibióticos, quando presentes em concentrações consideráveis na água,
ou no ar, induzem o fenômeno da seleção de bactérias resistentes a essas
substâncias. Sabe-se que a transferência genética entre espécies, subespécies e
gêneros de bactérias é possível por meio de certos processos pelos quais o fator
de resistência de uma bactéria é incorporado ao conteúdo genético de outra.
108
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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Deste modo, pode ser provocado um decréscimo da eficiência de alguns antibióticos


sobre os processos infecciosos mais comuns.
Outros poluentes que podem estar presentes nos despejos da indústria
farmacêutica são os produtos mercuriais e arseniais, compostos orgânicos
metálicos solúveis que hoje têm sua produção restrita a poucos fabricantes, mas
que ainda contribuem para a manutenção desses poluentes no ciclo biológico.
Alguns despejos podem conter também derivados clorados e fenólicos
sintéticos que, muitas vezes, são utilizados como desinfetantes de máquinas ou
em produtos de uso farmacêutico.
Os despejos podem ser tratados biologicamente por lodos ativados, por
filtros biológicos ou processos anaeróbios, dependendo do volume e das
características.
A limpeza de máquinas em geral pode ser feita por bombas de vácuo. O pó
proveniente desta operação, assim como o pó retirado pelos exaustores, deve
ser recolhido e incinerado, caso contenha princípios ativos que não possam ser
lançados no meio ambiente.

Fabricação de Produtos Farmacêuticos - Produção de Matérias-Primas


As matérias-primas farmacêuticas são produzidas por síntese química
direta, por via fermentativa ou por extração de substâncias de órgãos vegetais ou
animais. Estes processos geram principalmente efluentes hídricos, sendo que os
principais despejos são:
Despejos químicos - Para tratamento biológico destes despejos, há
necessidade de pré-tratamento com a correção de pH (neutralização), aclimatação
de microrganismos e eliminação de componentes tóxicos, precipitação de metais
pesados e até eliminação de cianetos, se for o caso.
Muitas vezes, a solução, apesar de cara, é a concentração dos despejos
que pode ser posteriormente incinerado ou disposto em aterro adequado, quando
não for possível a recuperação. Muitos despejos químicos são apenas armazenados
em grandes reservatórios, sem nenhum tratamento.
Despejos de processos fermentativos – Mediante o processo de
fermentação, utilizando-se microrganismos como bactérias e fungos, obtêm-se
praticamente todos os antibióticos comercializados atualmente.

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Esteróides, vitaminas e enzimas também são produzidos por via fermentativa.


Estes processos são caros e de alto potencial poluidor. O principal problema é o
chamado caldo fermentado ou mosto, de onde se extrai a matéria-prima (antibiótico
ou esteróide) e que é constituído por um meio muito rico de proteínas, lipídios e
glicídios. Este caldo tem carga muito elevada de DBO (demanda bioquímica de
oxigênio).
Os sistemas de tratamento mais indicados são os filtros biológicos e lodos
ativados ou associações de ambos.
Muitas vezes, a concentração desses despejos pode ser economicamente
vantajosa, devido a sua possibilidade de usar como complemento de rações para
animais.
Despejos de processos extrativos - Nas extrações de substâncias de órgãos
de animais, como a da insulina do pâncreas, são utilizados detergentes e solventes;
estes arrastam consigo nas lavagens uma carga enorme de matéria orgânica que
deve ser oxidada.
O mesmo ocorre na extração da camada muscular dos intestinos de carneiro
ou de boi, cuja composição protéica é utilizada na produção de suturas cirúrgicas.
Os únicos sistemas viáveis para tratamento destes despejos são: lodos ativados
para grandes volumes ou para despejos mistos, ou concentração e incineração
para volumes pequenos. No caso do sistema de lodos ativados é necessário um
longo tempo de detenção, um excelente poder de aeração e um eficiente sistema
de remoção de gorduras.
Para se proceder a extração de substâncias vegetais, há necessidade do
emprego de solventes. Normalmente utilizam-se folhas e raízes, e mais raramente
frutos, flores ou cascas. O solvente mais comumente usado é o álcool etílico, no
processo chamado percolação. Nas indústrias que trabalham com extratos naturais
de plantas, o solvente é recuperado, de maneira que a carga poluente fica
sensivelmente reduzida.
Os processos usados no tratamento destes despejos são os mesmos utilizados
no tratamento de efluentes resultantes do processo fermentativo.
Produtos radiativos - Os produtos radiativos são manufaturados por poucos
fabricantes. Os despejos radiativos são mantidos em tanques por longo tempo até
que o nível de radiação seja aceitável para que se possa descartá-los.
Os elementos usados em radiofarmácia são elementos de meia vida curta,
como o iodo 131, por exemplo.
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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

3.3.2 - Potenciais impactos ambientais negativos


Na indústria química são empregadas grandes quantidades de água, para
o processo e para as operações de resfriamento e lavagem. Durante o processo
de produção, a água pode ser contaminada com produtos químicos e subprodutos.
Dentre os contaminantes que podem representar perigo, caso sejam descartados
em rios ou aqüíferos subterrâneos, estão os materiais tóxicos, compostos
carcinogênicos, sólidos suspensos e substâncias que apresentam uma alta
demanda de oxigênio bioquímico e químico (DBO e DQO).
Os recursos hídricos subterrâneos e superficiais podem ser contaminados
através da água da chuva proveniente dos pátios de tanques, áreas de descarga
e processamento de produtos, tubulações, purgas de águas de resfriamento,
águas de lavagem e limpeza e derrames casuais de matérias-primas ou produtos
acabados.
Normalmente, para se evitar este impacto negativo, é necessário implantar
sistemas de drenagem que direcionem as águas da chuva, que possam estar
contaminadas, para bacias de detenção que devem receber tratamento antes da
descarga.
Dependendo do processo que se utilize, os contaminantes atmosféricos
incluem partículas e um grande número de compostos gasosos, como óxidos de
enxofre, óxidos de carbono e de nitrogênio, procedentes das caldeiras e fornos
de processo, amoníaco, compostos de nitrogênio e cloro, entre outros,
provenientes de várias fontes, incluindo equipamentos de processo, instalações
de armazenamento, bombas, válvulas e retentores que podem apresentar fugas.
Os resíduos sólidos da indústria química podem incluir restos de matéria-
prima, polímeros residuais, lodos provenientes das caldeiras, materiais
provenientes da limpeza de equipamentos, inclusive dos equipamentos de controle
de emissões e cinzas de fornos e caldeiras. Estes resíduos podem estar
contaminados com as substâncias químicas aplicadas no processo. Na indústria
petroquímica, a eliminação dos catalisadores utilizados pode representar um
problema para o meio ambiente. Atualmente muitos fornecedores recolhem estes
materiais para reaproveitamento.
Em função das características específicas dos despejos da Indústria Química,
deve se dar atenção especial aos descartes bioindustriais e/ou farmacêuticos que
podem conter microrganismos, vírus ou materiais radiativos. Estas substâncias,
mesmo em concentrações muito pequenas, podem causar modificações
extremamente danosas sobre o meio ambiente.
111
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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Outro aspecto a ser considerado são os potenciais impactos das plantas


de formulação, em que os produtos químicos são misturados, segundo fórmulas
especiais. Entre estas, temos, por exemplo, as plantas de formulação de pesticidas
e as fábricas de explosivos. Nestas plantas, além de todas as medidas de segurança
para manejo de materiais perigosos, devem também ser adotados os mesmos
procedimentos ambientais que se aplicam nas instalações que fabricam as
matérias-primas utilizadas nestes processos.
Outra característica especial da Indústria Química que deve ser considerada,
pelos impactos potenciais que pode apresentar sobre o meio ambiente, está relacionada
ao fato de que os materiais utilizados na fabricação de produtos químicos, em
sua maioria, são inflamáveis e/ou explosivos, além de muitos deles serem tóxicos
e alguns carcinogênicos. Portanto, os riscos potenciais de explosão são muito
grandes, isto porque os compostos são muito reativos e as pressões que ocorrem
durante sua manufatura e manejo são altas.
Quanto à geração de ruídos, as principais fontes são as seguintes:
compressores e centrífugas de alta velocidade, válvulas de controle, sistemas de
tubulações, turbinas a gás, bombas, fornos, trocadores de calor com resfriamento a
ar e torres de resfriamento.
Os níveis típicos de ruído variam entre 70 a 100 dB(A). Os fabricantes de
equipamentos têm procurado desenvolver alternativas de menor geração de ruídos,
porém, a solução mais prática, em muitos casos, tem sido o isolamento acústico
de áreas ou equipamentos.

3.3.3 - Recomendações de medidas atenuantes


As medidas de controle ambiental adotadas como forma de evitar a
degradação do meio ambiente, devem primeiramente buscar a redução da
geração de poluentes.
Uma das formas de reduzir a geração de efluentes líquidos refere-se à
reutilização da água de um processo em outro, tal como utilizar as águas de
purga das caldeiras de alta pressão como alimento para as caldeiras de baixa
pressão ou utilizar o efluente tratado de um processo como água de complemento
para o mesmo processo ou para outro; por exemplo, as águas servidas resultantes
da produção de ácido fosfórico podem ser utilizadas com água de processo na
mesma planta.

112
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Outro aspecto importante na redução da geração de efluentes e emissões


constitui a aplicação de procedimentos efetivos de inspeção e manutenção, de
forma a evitar vazamentos e fugas.
Uma das principais condicionantes para o efetivo controle da contaminação
ambiental refere-se à seleção e implantação de equipamentos e métodos de tratamento
eficientes para a redução e/ou eliminação de poluentes.
Atualmente existem equipamentos de controle de poluentes atmosféricos e
hídricos, para quase toda a gama de poluentes gasosos ou líquidos, que possam ser
gerados. Dentre os equipamentos de controle da poluição atmosférica estão os sistemas
de lavadores de gases, de separação por membranas, ciclones, precipitadores
eletrostáticos, filtros, catalisadores, incineradores e sistemas de absorção.
Os efluentes hídricos podem ser tratados mediante neutralização,
evaporação, aeração, floculação, separação de óleos e graxas, absorção de
carbono, troca iônica, osmose reversa e tratamento biológico, entre outros.
As medidas de proteção quanto ao ruído que podem ser adotadas,
compreendem o tratamento acústico mediante enclausuramento de equipamentos
ou de proteção acústica na(s) edificação(ões) onde estão instalados os equipamentos
ruidosos.
Devem ter tratamento especial também os resíduos sólidos que não possam
ser reaproveitados. Dentre as possibilidades de tratamento para os resíduos sólidos
da indústria química, estão a incineração, a destinação em aterro apropriado para
esta categoria de resíduos, a queima em fornos de produção de cimento ou a
inertização química e solidificação.
É também necessário adotar procedimentos que garantam a
implementação de ações rápidas e efetivas no caso de ocorrência de acidentes
como derrames, incêndios e/ou explosões maiores, que representam graves riscos
para o meio ambiente e para a comunidade vizinha. Estes procedimentos devem
estar organizados em um plano de emergência.
Geralmente, as agências de governo local e de serviços comunitários
(unidades de saúde, corpo de bombeiros etc.) têm um papel chave nesse tipo de
emergência, por isso devem ser envolvidos no processo de planejamento de planos
desta natureza.
Outra componente de fundamental importância para a adoção de medidas
de atenuação de impactos no setor da Indústria Química, refere-se à capacitação

113
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

do corpo funcional, para aplicar corretamente os procedimentos operacionais relativos


ao controle e monitoramento ambiental.
Para avaliação e acompanhamento da efetividade das medidas de controle
ambiental aplicadas, deve ser previsto o plano de monitoramento da atividade, sendo
que a definição da periodicidade da realização de análises e dos indicadores que
devem ser analisados dependerá de cada caso, devendo, porém, serem considerados,
como base para a definição do plano de monitoramento, os seguintes parâmetros:
• observação do grau de enegrecimento da fumaça das chaminés;
• monitoramento periódico, ou contínuo dependendo do caso, das emissões
gasosas (óxidos de enxofre e de nitrogênio, compostos de flúor e cloro,
hidrocarbonetos) e de partículas para controlar a presença de químicos
utilizados ou gerados no processo;
• medição periódica ou contínua da temperatura dos gases das chaminés;
• avaliação da qualidade do ar do entorno da planta, para verificar a presença
de poluentes característicos do processo empregado;
• monitoramento periódico da água do corpo hídrico receptor, com avaliações
a montante e a jusante dos despejos, para se verificar se está ocorrendo
poluição das águas, decorrentes dos despejos da planta;
• monitoramento das águas do lençol freático, para se verificar se há infiltração
de águas contaminadas e, conseqüentemente, presença de poluentes nas
águas subterrâneas;
• avaliação periódica dos efluentes hídricos, após tratamento e antes do despejo,
quanto ao pH, sólidos suspensos totais e dissolvidos, amoníaco, nitratos,
nitrogênio orgânico, fósforo, fosfatos, Demanda Bioquímica de Oxigênio, óleos
e graxas, metais pesados, fenóis e outros parâmetros específicos do processo
empregado;
• aferições dos níveis de pressão sonora nas áreas internas e externas da
planta, para se controlar a poluição sonora;
• Podem integrar o plano de monitoramento, as inspeções periódicas que
devem ser feitas para se assegurar que se cumpram os procedimentos de
segurança e de controle da contaminação ambiental, assim como os
procedimentos adequados de manutenção.

3.3.4 - Referências para a análise ambiental da atividade


As medidas de atenuação de impactos ambientais passíveis de serem adotadas
nas indústrias químicas devem ser consideradas desde a fase de planejamento, ou

114
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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

seja, do desenvolvimento do projeto, de forma que na implantação, e especialmente


na operação da atividade, estas medidas sejam eficientes.
Assim, na análise de um projeto desta natureza, deve ser observada a
previsão de medidas de atenuação de impactos sob os seguintes aspectos:
• alternativas do projeto, compreendendo a seleção da área de localização
e a seleção dos processos de fabricação;
• medidas de controle da contaminação ambiental: compreendendo as
medidas de redução da geração de resíduos e redução de desperdícios,
os equipamentos e métodos de tratamento e destinação de resíduos e
efluentes e os planos de emergência;
• monitoramento ambiental.
Com relação às alternativas do projeto, devem ser considerados os critérios
para a seleção da área onde deseja se implantar o empreendimento e a escolha
do processo de produção.
Para a localização, além dos fatores econômicos e técnicos comumente
avaliados, como condições físicas do terreno, fontes de energia, transporte e
mão-de-obra, impostos e disponibilidades de serviços públicos e de apoio, devem
ser considerados também os aspectos relacionados à capacidade do ambiente
natural e social para a assimilação das alterações produzidas pelo
empreendimento.
Além de levar em conta as emissões e efluentes gerados, outro aspecto
que requer atenção especial é o transporte de matérias-primas e produtos
acabados, quando consistirem de materiais tóxicos ou inflamáveis.
Ao lado das medidas de segurança adotadas nos meios de transporte,
deve-se avaliar as condições de acesso para a chegada da matéria-prima e
escoamento dos produtos, evitando-se a circulação de cargas perigosas por áreas
densamente habitadas ou ecologicamente frágeis.
Para a escolha do processo de produção deve-se considerar, dentre as
alternativas tecnológicas existentes, aquelas que possam evitar ou reduzir as
possibilidades de contaminação ambiental, seja mediante a utilização de materiais
com menor potencial poluidor, seja pelo emprego de matérias-primas que são
subprodutos de outros processos, seja ainda pela melhoria de qualidade dos
“resíduos” gerados, possibilitando a reutilização dos mesmos.
As indústrias químicas necessitam de licenciamento ambiental para sua
instalação e funcionamento, a ser expedido por par te do órgão ambiental
competente, do Estado ou do Município, podendo inclusive, dependendo do porte
115
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

do empreendimento, ser necessária a realização de Estudo de Impacto Ambiental,


conforme prevê a Resolução 001 de 1986 do CONAMA.
Para a elaboração e análise de projetos de indústrias químicas, deve-se
atender às disposições da legislação ambiental, considerando-se especialmente,
no que se refere à geração de resíduos e efluentes, as disposições das resoluções
006/88, 020/86, 003/90 e 008/90 do Conselho Nacional de Meio Ambiente –
CONAMA.
Quanto aos resíduos sólidos industriais, considerando a necessidade de
controle específico, a resolução CONAMA 006/88 estabelece a obrigatoriedade de
apresentação das informações sobre a geração, características e destino final
dos resíduos, ao órgão ambiental competente, mediante o preenchimento de
formulário denominado “Inventário de Resíduos”.
Para o lançamento de efluentes hídricos, a resolução 020/86 do CONAMA
estabelece a classificação das águas doces, salobras e salinas, de acordo com
seus usos preponderantes, indicando os parâmetros de qualidade para
enquadramento das mesmas. Nesta resolução são estabelecidos os limites
máximos de concentração de poluentes para descarga dos efluentes hídricos nos
corpos d’água receptores.
Quanto às emissões de poluentes atmosféricos, por fontes fixas, a legislação
brasileira possui limites fixados somente para processos de combustão externa
(caldeiras, geradores de vapor, centrais para geração de energia elétrica, fornos,
fornalhas, estufas, secadores, incineradores e gaseificadores). Os limites fixados
nesta resolução referem-se à emissão de partículas totais, densidade colorimétrica
e dióxido de enxofre.
Para os demais poluentes, deve-se ter como base os padrões de qualidade
do ar estabelecidos na resolução 003/90 do CONAMA, adotando-se as medidas
de controle ambiental necessárias, para que as emissões provenientes da unidade
industrial a ser implantada não provoquem a concentração de poluentes no ar
acima dos limites indicados como padrões de qualidade na referida resolução.

116
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

3.3.5 - QUADRO-Resumo: Indústria Química


IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
• Contaminação hídrica devido ao • Não deve ser lançada nenhuma água residuária, sem o
lançamento de efluentes, águas de tratamento necessário para sua depuração, nos rios ou em
lavagem, águas de resfriamento e locais onde possa ocorrer infiltração.
lixiviação das áreas de depósitos de • Os efluentes hídricos podem ser tratados por meio de:
materiais ou rejeitos. neutralização, evaporação, aeração, floculação, separação de
óleos e graxas, absorção de carbono, osmose reversa, troca
iônica, tratamento biológico etc., dependendo do tipo de carga
contaminante que se quer remover.
• Para lançamento de efluentes líquidos nos corpos hídricos
receptores, devem ser observados os padrões para emissão
de efluentes constantes da resolução do CONAMA 020/86.
• Os depósitos de materiais que possam ser lixiviados através
das águas da chuva, devem ser cobertos e possuir sistema de
drenagem de forma a evitar a contaminação das águas
pluviais.
• As áreas de armazenamento e manuseio de matérias-primas e
produtos devem ser impermeabilizadas e contar com sistema
de canaletas ou ralos coletores de forma que os derrames
eventuais sejam conduzidos ao tratamento, assim como as
águas de lavagem destas áreas.
• Emissões de partículas para a • As emissões de partículas podem ser controladas pelo uso de
atmosfera, provenientes de todas as equipamentos como ciclones, filtros de manga, precipitadores
operações da planta. eletrostáticos e lavadores, entre outros.
• A emissão de poeira dos pátios e áreas externas, onde não
haja contaminantes químicos, pode ser controlada através de
pulverização de água.
• Emissões gasosas de óxidos de • O controle das emissões de gases pode ser feito pelo uso de
enxofre e nitrogênio, amoníaco, lavadores de gases, ou absorção com carvão ativado entre
névoas ácidas e compostos de flúor. outras técnicas.
• Liberação casual de solventes e • Manutenção preventiva de equipamentos e áreas de
materiais ácidos ou alcalinos, armazenamento para se evitar fugas casuais.
potencialmente perigosos. • Instalar diques e bacias de contenção ao redor ou a jusante
dos tanques de armazenamento de produtos perigosos ou que
possam apresentar riscos para o meio ambiente.
• Contaminação do solo e/ou de águas • Os resíduos sólidos que não possam ser recuperados e
superficiais ou subterrâneas pela reaproveitados devem ser tratados adequadamente antes da
disposição inadequada de resíduos disposição final.
sólidos resultantes dos processos da • Para escolha do tratamento adequado deve ser observada a
indústria química, nos quais se classificação do resíduo, de acordo com a norma da ABNT -
incluem também os lodos de NBR 10004.
tratamento de efluentes hídricos e • De acordo com a natureza do resíduo, as possibilidades de
gasosos e partículas sólidas dos tratamento incluem: incineração, disposição em aterro
coletores de poeira. industrial controlado (Classe1), inertização e solidificação
química, encapsulamento, queima em fornos de produção de
cimento etc.
• Não havendo possibilidade de tratamento na área da indústria,
o resíduo pode ser tratado em outra planta que disponha de
instalações adequadas para tratamento, neste caso, deve-se
ter cuidado especial com o transporte.
• No caso do resíduo não ser tratado imediatamente após sua
geração, deve-se prever, na área da indústria, locais
adequados para seu armazenamento.
continua

117
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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

conclusão
IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
• Alterações no trânsito local, decorrentes • Devem ser avaliadas as condições de acesso e sistema viário
da circulação de caminhões de durante o estudo de viabilidade do empreendimento, selecionando-
transporte de carga (inclusive cargas se as melhores rotas, de forma a reduzir os impactos e riscos de
perigosas). acidentes.
• Devem ser desenvolvidos Planos de Rmergência e regulamentos
que devem ser atendidos pelos motoristas, para reduzir os riscos
de acidentes, especialmente quando se tratar de cargas perigosas.
• Poluição sonora causada pelo uso de • Tratamento acústico por meio do enclausuramento de
equipamentos e operações que geram equipamentos ou de proteção acústica nas edificações onde estão
ruídos elevados. instalados os equipamentos ruidosos e/ou nas unidades cujas
operações gerem níveis de ruído significativos.
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
• Lei Federal 6803 de 02/07/80 – Dispõe sobre as diretrizes básicas para o zoneamento industrial em
áreas críticas de poluição e dá outras providências.
• Decreto-lei 1413 de 14/08/75 – Dispõe sobre o controle da poluição do meio ambiente provocada por
atividades industriais.
• Decreto Federal 76389 de 03/10/75 – Dispõe sobre as medidas de controle ambiental de que trata o
Decreto-lei 1413/75.
• Portaria MINTER 092 de 19/06/80 – Estabelece critérios e diretrizes para a emissão de ruídos e sons
em decorrência de quaisquer atividades industriais e outras.
• Resolução CONAMA 001 de 23/01/86 – Dispõe sobre a Avaliação de Impactos Ambientais.
• Resolução CONAMA 020 de 18/06/86 – Estabelece a classificação das águas doces, salobras e
salinas, segundo seu uso preponderante e estabelece padrões de emissão para efluentes hídricos.
• Resolução CONAMA 006 de 15/06/88 – Dispõe sobre o licenciamento ambiental de atividades
industriais geradoras de resíduos perigosos.
• Resolução CONAMA 005 de 15/06/89 – Institui o Programa Nacional de Controle da Qualidade do Ar –
PRONAR e dá outras providências.
• Resolução CONAMA 001 de 08/03/90 – Dispõe sobre a emissão de ruídos em decorrência de
quaisquer atividades industriais e outras.
• Resolução CONAMA 002 de 08/03/90 - Institui o Programa Silêncio.
• .Resolução CONAMA 003 de 28/06/90 – Estabelece padrões de qualidade do ar e amplia o número de
poluentes atmosféricos passíveis de monitoramento e controle.
• Resolução CONAMA 006 de 17/10/90 – Dispõe sobre a obrigatoriedade de registro e de prévia
avaliação pelo IBAMA, dos dispersantes químicos empregados nas ações de combate aos derrames de
petróleo.
• Resolução CONAMA 008 de 06/12/90 – Estabelece limites máximos de emissão de poluentes do ar
em nível nacional.
• Resolução CONAMA 009 de 31/08/93 – Dispõe sobre óleos lubrificantes e dá outras providências.
• Resolução CONAMA 237/97 – Dispõe sobre o licenciamento ambiental.
• Normas ABNT - NBR 10151 - Avaliação de ruídos em áreas habitadas.
• Normas ABNT - NBR 10152 - Níveis de ruído para conforto acústico.
• Normas ABNT - NBR 10004 - Classificação de resíduos.

118
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

3.4 - Indústria metal-mecânica

A Indústria Metal-Mecânica compreende a metalurgia, a siderurgia e a


produção de equipamentos mecânicos.
A metalurgia contempla os processos de extração de metais de seus
minérios, obtenção de ligas e acabamento mecânico. A metalurgia do ferro
denomina-se siderurgia.
Neste capítulo trataremos da produção e transformação de ferro e aço
(siderurgia) e da produção de metais não ferrosos como alumínio, chumbo, cobre
e zinco (metalurgia). A produção de equipamentos mecânicos está incluída no
capítulo 3.9 – Indústrias Diversas.

3.4.1 - Produção de ferro e aço


3.4.1.1 - Descrição da atividade sob o enfoque ambiental

O ferro encontrado na natureza está em forma de minério (óxidos,


hidróxidos e carbonatos de ferro), sendo os mais conhecidos: a hematita rubra,
com teor de ferro puro de 40 a 69,5%; a hematita parda (limonita), com teor de
ferro puro de 28 a 35%; a magnetita, com teor de ferro puro até 60%, e a siderita
com teor de ferro puro de 30 a 40%.
Um minério é considerado rico quando contém uma porcentagem de ferro
puro acima de 50%. O Brasil, além de possuir as maiores reservas mundiais de minério
de ferro, possui um dos minérios mais ricos em teor de ferro, a hematita compacta
de itabira, com até 69,5% de ferro puro.
O processo de obtenção do ferro ocorre nos altos-fornos mediante a
redução (retirada do oxigênio de uma combinação química) do minério de ferro.
Na siderurgia o principal redutor é o carbono, tanto que a classificação da liga
ferro-carbono se faz de acordo com o teor de carbono.
O ferro líquido pode absorver até 6,67% de carbono, o qual, no processo
de solidificação, conforme a temperatura, tratamento térmico e existência de
outras substâncias, se encontra em estado livre, sob a forma de grafite ou em
combinação com o ferro, como cementita.
O produto siderúrgico classifica-se, de acordo com o teor de carbono, em:
ferro gusa (teor de carbono de 1,7 a 6,67%) e aço (teor de carbono de 0,2 a 1,7%).

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MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

O principal produto dos processos de redução e fusão no alto-forno é o ferro


gusa, que contém em sua composição, além do alto teor de carbono, cerca de 2% de
silício e menores quantidades de manganês, fósforo e enxofre.
O refino do ferro gusa pode ser separado em dois tipos de operações: a
fabricação de ferro fundido (realizada em cubilô ou forno elétrico) e a fabricação do
aço.
Na fabricação do aço, a partir do ferro gusa, o teor de carbono tem que ser
reduzido a uma porcentagem inferior a 1,7%, o silício e o manganês permanecem no
aço com 0,4 a 0,9%. O fósforo e o enxofre têm que ser eliminados até o máximo
possível.
São empregados diferentes processos de produção do aço, com o uso de
conversores ou fornos, resultando na obtenção de aços comuns, aços especiais ou
aços ligados.
A produção de ferro e aço está baseada fundamentalmente em procedimentos
pirometalúrgicos. Nesses processos a contaminação do ar é o fator mais relevante.
Além de numerosos contaminantes gasosos, as emissões de poeira (material
particulado) representam o maior problema, tanto por ser gerada em grande
quantidade quanto por conter substâncias perigosas ( por exemplo, metais pesados
tais como chumbo, mercúrio e cádmio).
Com a utilização de água nos sistemas de refrigeração e nos sistemas de
depuração de gases, surgem problemas de contaminação de águas residuárias.
Nos processos siderúrgicos também são produzidas escórias (sobras removidas
do minério na obtenção do ferro e aço), que devem ser aproveitadas para outros
usos. Se estes materiais não são reutilizados de maneira eficaz, ou armazenados
adequadamente, podem gerar acúmulo de poeira e lodo, levando à contaminação do
ar, solo e água.
Nas plantas de fundição são produzidas quantidades significativas de resíduos
de areia usada, de pedaços de peças e escória dos fornos.
Outro aspecto a ser considerado na análise de empreendimentos desta natureza
é a geração de ruídos e vibrações, que ocorrem principalmente nos altos fornos, nas
aciarias, nas instalações laminadoras e nas instalações de fundição e forja.

3.4.1.2 - Potenciais impactos ambientais negativos


Para identificação dos potenciais impactos ambientais negativos, serão descritas
as principais fases do processo de produção de ferro e aço. Vale notar que essas fases
podem estar integradas em uma única planta siderúrgica ou instaladas de forma
individual.

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MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Plantas de sinterização
O processo de sinterização é o procedimento clássico para a recuperação
dos resíduos das plantas siderúrgicas. Consiste em uma operação pirometalúrgica,
por meio da qual o material finamente dividido é aglomerado em um bloco poroso,
por ação do calor. Ocorre apenas uma fusão incipiente.
Os materiais finos que entram no processo de sinterização são:
• partículas de minério de ferro (abaixo de 10 mm);
• poeira dos altos-fornos, coletadas pelos depuradores de ar de saída;
• partículas finas de calcário (abaixo de 3 mm) adicionadas para tornar o
material auto-fundente e dar-lhe maior porosidade;
• partículas de coque (abaixo de 3 mm), adicionadas com a finalidade de
fornecer calor ao processo.
Ao final do processo o sínter é descarregado ainda quente, quebrado e
peneirado. Os pedaços maiores são conduzidos ao alto-forno e os finos retornam à
sinterização.
Os gases residuais e poeira, gerados nas plantas de sinterização,
apresentam os seguintes componentes: dióxidos de enxofre – (SO2 ), óxidos de
nitrogênio – (NOx), dióxido de carbono – (CO2 ), compostos de flúor e cloro – (HF
e HCl), metais pesados como: arsênio – (As), chumbo – (Pb), cádmio – (Cd),
cobre – (Cu), mercúrio – (Hg), tálio – (Tl) e zinco – (Zn).
Entre os componentes do material particulado gerado, deve ser dada
especial atenção aos metais pesados como: chumbo, cádmio, mercúrio, arsênio
e tálio, em face dos efeitos nocivos que apresentam sobre o meio ambiente.
As indústrias de ferro e aço estão entre as indústrias em cujo entorno se
encontram as maiores concentrações de metais pesados no ar e no solo.
Quanto à geração de ruídos, nesta fase do processo, uma das principais
fontes geradoras são os grandes ventiladores utilizados nas instalações de
sinterização, com o objetivo de refrigerar o aglomerado de sinterização e segurar a
poeira. Os índices de ruído em uma planta de sinterização, sem amortizadores
sonoros nos canais de ventilação, podem chegar até 133 dB(A), que é considerado
extremamente elevado.

Produção do Ferro Gusa


O ferro gusa é a base metálica por meio da qual são obtidos praticamente
todos os produtos siderúrgicos, exceto o ferro esponja, que é um produto metálico
resultante da redução do ferro sem que se tenha processado uma fusão (redução
121
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

dos óxidos de ferro à baixa temperatura – máximo de 1100 0C). O ferro é separado
da ganga e briquetado. É empregado na metalurgia fria e na indústria química.
Os processos mais comuns de produção de ferro gusa são os de alto-
forno a coque (o mais utilizado), alto-forno a carvão e forno elétrico de redução.

Alto-Forno a Coque
Os altos-fornos são reatores de fluxo invertido, que recebem por cima a carga
e coque, e retiram-se por baixo o ferro fundido e a escória. Na parte inferior do forno
injeta-se ar quente em fluxo invertido.
A forma geométrica do alto-forno é tal que pode-se dividi-lo em três partes:
dois troncos de cone estão unidos pela base maior e apoiados sobre uma parte
cilíndrica. O tronco de cone inferior é chamado cuba e o superior é chamado corpo. O
cilindro é denominado cadinho. Pela parte superior do alto-forno (chamada tragante,
boca ou goela), introduz-se a mistura de minério, coque e calcário (usado como
fundente).
Na parte inferior da cuba, através de dispositivos chamados ventaneiras ou
tubeiras, introduz-se ar quente sob pressão, o qual queima o coque, libertando calor.
A carga (minério, material fundente e coque) passa pelas diversas zonas de
aquecimento do forno obtendo-se na zona de fusão, onde a temperatura alcança
1800 0C, o ferro gusa líquido que cairá no cadinho.
No cadinho há duas bocas que são vedadas com argila refratária e que são
abertas a cada 3 ou 4 horas, a fim de permitir o escoamento do ferro gusa líquido
(pela boca inferior) e das escórias (pela boca superior) que são mais leves que o ferro
gusa.
O ferro gusa líquido, destinado à fundição corre dentro de moldes prismáticos,
formando lingotes. O gusa destinado à produção de aço é despejado diretamente nas
caçambas que os transportam para os misturadores e conversores.

Altos-Fornos a Carvão Vegetal


Em vez de coque, pode-se utilizar carvão vegetal, porém, a produção através
desse processo é limitada por dois fatores: capacidade dos altos-fornos e produção
de carvão vegetal.
Os maiores altos-fornos a carvão vegetal possuem capacidade aproximada
de 300 toneladas por dia, isto porque o carvão vegetal, possuindo menor resistência
mecânica, não suporta a alta tonelagem de minério e material fundente sem se
esmigalhar, o que dificulta a circulação do ar insuflado.
122
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Forno Elétrico de Redução


Para se produzir uma tonelada de ferro gusa em fornos elétricos, são necessários
cerca de 2500 kWh, daí estar este processo limitado à disponibilidade e dependente
do custo do kWh, sendo empregado em países onde a energia elétrica é abundante e
de baixo custo.
Este processo encontra uma grande restrição na capacidade dos fornos elétricos
de redução. O maior deles, possui capacidade para 200 toneladas diárias.
Na produção do ferro gusa, as emissões e resíduos mais importantes são:
• Gás de alto-forno: o gás de escape do alto forno pode apresentar os seguintes
componentes: monóxido de carbono (CO), dióxido de carbono (CO2), dióxido
de enxofre (SO2), óxidos de nitrogênio (NOx) e metais pesados como: arsênio
(As), cádmio (Cd), mercúrio (Hg), chumbo (Pb), tálio (Tl) e zinco (Zn).
• Poeira (material particulado seco) presente no gás: rica em ferro (35 a
50%) procedente das instalações depuradoras de gás do alto-forno, e poeira
coletada nas naves de fundição.
• Escória: silicato complexo, no estado fundido, formado pelas impurezas
contidas na carga. Apresenta como principais componentes: dióxido de silício
(SiO2), óxido de alumínio (Al2O3), óxido de cálcio (CaO) e óxido de manganês
(MnO).
• Lodo: resultante da depuração do gás de escape.
• Água residuária: procedente da depuração do gás, apresenta substâncias
tóxicas, como cianetos, fenóis e amoníaco.
Nas instalações de altos-fornos, produzem-se também emissões sonoras
procedentes principalmente dos sopradores de ar comburente e da boca de carga. A
emissão de ruídos nestas instalações é em torno de 110 a 125 dB(A) e nas imediações
diretas, o ruído de fundo pode alcançar de 75 a 80 dB(A).

Produção de aço bruto


O ferro gusa, produto principal dos processos de redução e fusão nos
altos-fornos, contém sempre, além de alto teor de carbono, doses de silício (Si),
Manganês (Mn), Fósforo (P) e Enxofre (S).
A transformação do ferro gusa em aço consiste, basicamente, na combustão
dessas substâncias estranhas.

123
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Os processos de fabricação do aço são desenvolvidos por conversores que


sopram ar puro ou enriquecido com oxigênio (Processo Bressemer, Tropenas e
Thomas): que sopram oxigênio puro (Processo L/D, LD/AC, LDP e Kaldo) ou por
meio de fornos (Siemens-Martin ou elétricos).
Na produção de aço bruto, são geradas emissões significativas de:
- Gases residuais: Nos gases residuais estão presentes os seguintes
componentes: Monóxido de Carbono (CO), Óxidos de Nitrogênio (NOx), Dióxido de
Enxofre (SO2 ), Flúor ( F), Cádmio (Cd), Cromo (Cr), Cobre (Cu), Mercúrio (Hg),
Manganês (Mn), Níquel (Ni), Chumbo (Pb), Silício (Si), Tálio (Tl), Vanádio (V),
Zinco (Zn) e ainda, dependendo do procedimento empregado, se apresentam
amoníaco, fenol, hidróxido de enxofre e compostos cianógenos. Entre as
substâncias gasosas formam-se também, além de monóxido de carbono,
compostos inorgânicos de flúor, quando se adiciona fluorita, assim como pequenas
quantidades de dióxidos de enxofre e óxidos de nitrogênio. Outras substâncias
gasosas de alto poder contaminante que podem ser geradas no processo, são as
dibenzodioxinas e dibenzofuranos polihalogenadas. Entre as fontes potenciais de
emissão destas substâncias está a utilização de sucatas de ferro nas plantas de
produção de aço (a utilização de sucatas é possível no processo Siemens-Martin
ou de forno elétrico). A causa da formação destas substâncias é a contaminação
das sucatas com compostos halogenados, além das condições de funcionamento
do processo.
- Poeira: Decorrente especialmente da insuflação de oxigênio necessária
à oxidação e dos sistemas de depuração dos gases residuais.
- Escórias: resíduos sólidos do processo.
- Águas residuárias: resultantes do despoeiramento a úmido.
Quanto à geração de ruídos, nas fábricas de aço soprado, os sopradores
de alta potência e as instalações depuradoras de poeira são importantes fontes
de ruído. Nos fornos elétricos, as principais fontes são o arco voltaico e o
transformador. Nestas plantas, a geração de ruído está entre 117 a 132 dB(A),
muito difícil de suportar sem o uso de protetores auditivos.

Lingoteamento e Laminação do aço


No lingoteamento do aço, utiliza-se água nos sistemas de refrigeração da
modelagem, das máquinas e no resfriamento por aspersão. No lingoteamento
descontínuo, a água é aplicada por aspersores para refrigeração dos moldes e

124
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

dos lingotes e para limpeza da área.


Os moldes quentes são aspergidos com água e ao mesmo tempo recebem
pequenas pancadas para soltar as carepas que aderiram à superfície.
Os resíduos gerados no lingoteamento do aço são:
• carepas contaminadas com óleos e graxas;
• águas residuárias do resfriamento por aspersão, contendo sólidos suspensos
e óleos e graxas.
Nas plantas laminadoras, as emissões mais significativas ocorrem:
 durante o processo de transformação do aço bruto em aço laminado, sendo:

• raspas de laminação, manchadas de óleo;


• gases residuais dos fornos;
• águas residuárias contaminadas com óleos e graxas.
 durante a produção da chapa de aço, sendo geradas:

• águas residuárias contaminadas com óleos e graxas;


• ar de escape dos banhos de decapagem;
• resíduos do decapante utilizado, presentes nas águas residuárias.

Acabamento do Aço
No acabamento do aço, quanto à produção de despejos, ressaltam-se as
operações de decapagem e fabricação de derivados.
• Decapagem: esta fase é necessária para remover as impurezas
metálicas indesejáveis, carepas e outras crostas que possam dificultar o
trabalho de recobrimento. O tipo de processo de decapagem depende
da capa a ser removida e da base metálica.
A maior parte dos processos usados na decapagem é de natureza ácida
e, geralmente, consiste de solução de ácido sulfúrico, nítrico, sulfídrico e
mais raramente, o fluorídrico.
Além dos banhos ácidos, também são usados banhos alcalinos, com
soluções de sulfito de sódio, cianeto de sódio, hidróxido de sódio e enxofre.
A operação de decapagem é realizada com temperatura entre 60 e 80
ºC. O metal retirado do banho é submetido a várias lavagens e, depois de
seco, fica pronto para uso posterior.
• Fabricação de derivados: do ferro gusa são feitos, posteriormente,
aços especiais, placas zincadas, folhas de flandes e outros produtos.

125
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Para evitar problemas de corrosão, são submetidos a processos de


eletrogalvanização, nos quais são feitos tratamentos com níquel, cobre,
cromo etc. Os despejos mais importantes, por sua alta toxidez, são o
cromo e o cianeto.
Quanto à geração de ruídos, nos trens de laminação são produzidos níveis de
95 a 110 dB(A); na laminadora, o nível de ruído ultrapassa 106 dB(A) 5 m antes do
trem laminador de barras e no trem laminador de tubos, chega ao índice máximo
de 124 dB(A). Estes níveis de ruído são muito elevados e podem causar danos
irreversíveis ao sistema auditivo, mesmo em pouco tempo de exposição, caso
não sejam utilizados equipamentos de proteção auditiva.

Plantas de fundição e de forja


O ferro fundido tem aplicação na produção de peças que são submetidas
a pequenos esforços, como por exemplo: fogão, estufas etc. Apresenta como
vantagem sobre outros materiais o custo, que é baixo. Nas plantas de fundição e
de forja, são produzidas peças de ferro fundido.
A fundição se realiza em fornos de cuba e em fornos de fundição elétrica. As
emissões gasosas resultantes dos processos de fundição são constituídas por:
monóxido de carbono, dióxido de enxofre, compostos de flúor e óxidos de nitrogênio.
Podem também ocorrer emissões, por períodos curtos, de: fenol, amoníaco,
aminas, compostos de cianetos e hidrocarbonetos aromáticos.
Há formação de poeira durante a preparação da areia para moldes e para
peças, na fabricação dos moldes e peças, no resfriamento das peças fundidas, na
retirada das peças dos fornos e no tratamento da superfície das peças.
Na fundição de grandes quantidades de carepas misturadas com óleo,
tintas e plásticos, originam-se emissões adicionais de ácido clorídrico e traços
de compostos orgânicos, podendo ocorrer a formação de dioxinas.
Nas plantas de fundição para peças pequenas, para as quais os moldes se
fabricam segundo os procedimentos de caixa fria, de caixa quente ou croning,
são utilizadas substâncias de odor penetrante como formaldeídos, fenóis e
amoníaco, e geram emissões de alto poder de contaminação do ar. Estas
substâncias têm odor penetrante e efeito lacrimejante, causam danos ao sistema
respiratório e às mucosas.

126
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

A mistura de águas residuárias e lodo proveniente do tratamento de gases


contém substâncias perigosas para a saúde e meio ambiente como cádmio,
chumbo e zinco e ainda fenóis procedentes dos aglomerantes da areia de
moldagem.
O nível de ruído gerado nas fundições pode chegar até 120 dB(A). As principais
fontes de ruído são: os trabalhos de carga, os procedimentos de mistura, os
desempoeiradores, o tratamento da areia, os equipamentos de transporte e os
sopradores.

3.4.1.3 - Recomendações de medidas atenuantes


Da mesma maneira que a identificação dos potenciais impactos ambientais
negativos, as recomendações de medidas atenuantes serão apresentadas considerando
as seguintes fases do processo:

3.4.1.3.1 - Recomendações de medidas atenuantes no processo de sinterização

Tratamento das emissões atmosféricas


A captação das emissões atmosféricas das plantas de sinterização é feita
geralmente por um sistema de depuração, constituído por um ciclone e um precipitador
eletrostático, colocados em série, que pode apresentar eficiência de até 95% de remoção
de poeira. O gás, depois de limpo, passa pelo exaustor e vai para a chaminé.
Na descarga e resfriamento do sínter a área é coberta por uma coifa, com a
finalidade de recolher os gases resultantes desta fase, que devem passar por outro
sistema de depuração, geralmente constituído por um ciclone que extrai cerca de
90% da poeira.
As cargas de material particulado retidas nas instalações de depuração, que
podem oscilar entre 75 e 100 mg/m3, são devolvidas ao processo de sinterização.
Como conseqüência da devolução contínua ao processo, pode ser produzida uma
concentração de metais pesados como chumbo e zinco na poeira das plantas
sinterizadoras.
As possibilidades de reciclagem são limitadas, entre outros fatores, pelo conteúdo
de zinco, pois este contribui para as incrustações nos altos-fornos, com interferência
na circulação de gases.

127
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Durante as paradas para manutenção ou por avaria na correia de


sinterização, as instalações depuradoras de ar devem ser mantidas em
funcionamento.
As plantas de sinterização modernas possuem sistemas de filtração do ar
coletado dos compartimentos, ou seja, das áreas de descarga e manuseio do
material.
A emissão de substâncias tóxicas gasosas como, por exemplo, compostos
inorgânicos de flúor e cloro, óxidos de nitrogênio e dióxido de enxofre, podem ser
reduzidas com a adoção de medidas primárias, como a utilização de coque ou
carvão com menor teor de enxofre, para reduzir a emissão de dióxido de enxofre,
ou com o aumento da dose de cal na mistura de minérios. Desta forma, transferem-
se as substâncias problemáticas ao pó filtrado. Quando há a necessidade de se
recorrer ao uso de dessulfurizadores a úmido, haverá geração de águas residuárias,
as quais também necessitam tratamento.
Devido ao grande volume de gases para tratamento, a dessulfurização é
parcial. As instalações de depuração de gases constam geralmente de
precipitadores eletrostáticos e lavador de gases.

Tratamento de águas residuárias da sinterização


O tratamento das águas residuárias deve ser projetado em função do
sistema de lavagem de gases empregado.
Os despejos dos lavadores de gases escoam para um adensador de lodos. O
lodo adensado é retirado pelo fundo e seco por centrífugas ou por filtros a vácuo. O
líquido filtrado volta para o processo e o lodo seco volta para as unidades de
sinterização.
Em alguns casos, há necessidade de adição de produtos químicos para
ajudar a floculação e diminuir o tempo de decantação.

Medidas de atenuação de ruídos


Para atenuação de ruídos nas plantas de sinterização, as tubulações de
ventilação/exaustão devem ser dotadas de amortizadores sonoros.
Outra medida que pode ser adotada é o isolamento de cada grupo de
equipamentos.
Mediante a blindagem e a separação das fontes de ruídos, protegem-se
também as áreas de trabalho, evitando a exposição dos funcionários a níveis
128
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

elevados de ruído. A previsão das medidas ideais de proteção acústica deve-se


realizar paralelamente à concepção da unidade de produção.

3.4.1.3.2 - Medidas de atenuação de impactos gerados na produção do Ferro Gusa


Tratamento das emissões atmosféricas
Os gases residuais dos altos-fornos são tratados previamente por meio de
coletores gravitacionais (ciclones) e, em uma segunda etapa, submetidos a
lavadores de alta pressão ou filtros eletrostáticos.
As emissões periféricas são coletadas também para tratamento em
sistemas como filtros eletrostáticos, filtros de manga etc.
O material particulado que é coletado, o qual apresenta alto teor de ferro
(partículas de ferro bruto), é devolvido à sinterização e depois ao alto-forno.

Tratamento de águas residuárias


As águas residuárias originadas nos sistemas de tratamento de gases (lavadores
de gases) são submetidas à decantação e geralmente circulam em circuito, sendo
reutilizadas.
As substâncias em suspensão com sólidos suspensos, sulfetos, cianetos,
fenóis e amoníaco dissolvidos, necessitam tratamento físico-químico. O lodo das
águas de lavagem pode ser submetido a tratamento, através de hidro-ciclones,
para separação do zinco e chumbo presentes, sendo que o lodo pode ser
reaproveitado em fábricas de metais não ferrosos. De qualquer maneira, mesmo
com a recuperação de metais pesados existentes no lodo, a água de filtração
deve ser submetida a tratamento químico antes do descarte final.

Tratamento de resíduos sólidos


Os resíduos sólidos gerados são as escórias, que se destinam quase sempre
à pavimentação de vias e acessos. A areia de escória (escória líquida resfriada
br uscamente resultando em forma granulada) pode ser utilizada para
pavimentação ou para produção de cimento portland e de alto-forno.
Os depósitos de escória devem ser impermeabilizados, uma vez que as águas de
infiltração podem ser contaminadas por sulfetos dissolvidos, levando à contaminação do
solo.

129
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Medidas de atenuação de ruídos


As medidas de redução de ruídos devem ser definidas na etapa de
planejamento de implantação do alto-forno (uso de amortizadores, blindagem
de equipamentos, proteção do cargueiro etc.) e devem considerar tanto o
maquinário quanto o processo.

3.4.1.3.4 - Medidas de atenuação de impactos gerados na produção do aço bruto

Tratamento das emissões atmosféricas


O tratamento dos gases de processo procedentes dos conversores de oxigênio
inicia-se com a utilização de uma cúpula rebaixável ou montada de forma fixa, que
impede a infiltração de ar externo ou a saída de gases do conversor.
A retirada do material particulado presente no gás é feita por meio de sistema
úmido, com a combinação de lavadores e filtros eletrostáticos úmidos ou a seco com
o uso de filtros projetados para resistir a pressões internas muito altas (apresentam
risco de explosão). A utilização do sistema a seco apresenta a vantagem de que o pó
coletado pode ser devolvido ao conversor, depois do briqueteamento. As áreas de
carga e mistura devem ser dotadas também de coletores de poeira. Geralmente,
utilizam-se filtros de manga ou eletrostáticos para separação dos poluentes presentes
no ar coletado destas áreas.
A manutenção destes sistemas é muito impor tante para se obter
constantemente uma boa eficiência no tratamento.
Durante o funcionamento do conversor, ocorre a produção de grandes
quantidades de monóxido de carbono, o qual deve ser conduzido à combustão
controlada em um queimador de gás ou caldeira, podendo ser aproveitado para
geração de energia.
Para controle de emissão de dioxinas e furanos, além dos aspectos relacionados
à modificação de processos, encontram-se também em desenvolvimento procedimentos
de filtração e absorção com o uso de carvão ativado e de sistemas de resfriamento
brusco de gases de escape, porém ainda não há comprovação de eficiência desses
procedimentos.

Tratamento de águas residuárias


Os despejos líquidos resultam dos sistemas de coleta dos fumos, fumaças
e gases. O resfriamento por aspersão, apagamento ou resfriamento úmidos
resultam em despejos líquidos contendo material particulado.
130
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

As águas residuárias são clareadas com o uso de hidrociclones ou tanques


de decantação e dirigidas em circuito. O lodo separado é desidratado em filtro de
tambor a vácuo e retorna à sinterização.

Medidas de proteção acústica


Como medidas de controle de ruído, podem ser aplicadas, entre outras:
• redução das aberturas em volta do forno;
• blindagem ou isolamento acústico da área do forno;
• amortecedores de ruído nas bocas de entrada e saída de ar;
• uso de ventiladores de refrigeração lentos.

3.4.1.3.5 - Medidas de atenuação de impactos no lingoteamento e na laminação do aço

A mistura de carepas com resíduos de óleo e água é separada em tanques


de decantação, utilizando-se floculantes em determinadas condições.
Os óleos e graxas de laminação, flutuantes, são removidos por raspagem.
As carepas sedimentadas e filtradas retornam à sinterização, a água residuária,
depois de tratada, circula em circuito sendo reutilizada nos sistemas de
resfriamento.

3.4.1.3.6 - Medidas de atenuação de impactos ambientais nas plantas de fundição e de forja

Tratamentos das emissões atmosféricas


É fundamental para o tratamento adequado das emissões atmosféricas
que o sistema de captação atenda à cada fase do processo, tanto na injeção de
ar como na fundição propriamente dita.
Os sistemas de tratamento são compostos por filtros de manga, ciclones e
lavadores de gases de grande potência.
Para tratamento das emissões de formaldeídos, fenóis e amoníaco utilizam-
se lavadores de fluxo invertido com solução de ácido fosfórico e circulação da
solução de tratamento em circuito.

Tratamento das águas residuárias


As águas residuárias e o lodo resultante dos sistemas de tratamento de
gases a úmido (lavadores de gases) podem conter substâncias como cádmio,
131
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

chumbo e zinco, além de fenóis, procedentes da areia de moldagem.


O tratamento das águas residuárias é realizado por precipitação e sedimentação,
podendo a água de lavagem ser reutilizada após a separação dos sedimentos, que
deverão ser encaminhadas a tratamento adequado.
O local de depósito de sedimentos deve ser controlado em face do risco de
contaminação do solo devido à lixiviação.

Proteção quanto ao ruído


As medidas de controle de ruído adotadas nesta fase são equivalentes às já
citadas para as outras fases da produção de ferro e aço.
Além das emissões sonoras, nas plantas de forja são produzidas vibrações.
Entre as medidas para redução das vibrações, encontram-se: a previsão de bases
(estruturas) adequadas na fase de planejamento e na etapa de construção e o uso
adequado de medidas de isolamento antivibratório.

3.4.1.4 Referências para análise ambiental da atividade


A contaminação procedente das instalações produtoras de ferro e aço e dos
ramos tecnológicos relacionados, afeta o ar, a água, o solo, a flora e a fauna, e produz
resíduos, bem como ruídos e vibrações.
Para a redução da contaminação do ar, dispõe-se de equipamentos depuradores
de gases que apresentam grande eficiência. No entanto, sob este aspecto, é importante
ressaltar a importância de serem adotados sistemas de coleta de gases eficientes
também para proceder à captação das fontes difusas de emissão de poeira, por
exemplo, das naves de trabalho.
Considerando que a maior parte do pó captado pode ser devolvida ao processo,
a adoção de um sistema eficiente de coleta de gases é importante, tanto para proteção
do ambiente como por motivos econômicos.
Outro aspecto a ser considerado é a necessidade de monitoramento das
emissões. Os metais pesados podem depositar-se no solo e como conseqüência da
sua concentração, tanto no solo como nas plantas, podem ser prejudiciais à saúde
humana. Nos trabalhos de monitoramento, deve-se prestar atenção especial ao cádmio
e mercúrio.
Uma condição fundamental para minimizar o impacto ambiental desta atividade
é que se tenha um grau elevado de aproveitamento material ou energético dos gases,
poeira e lodo. Para os materiais que não podem ser reaproveitados, deve ser adotada
uma técnica de disposição que permita o armazenamento definitivo desses materiais,
com baixo impacto para o meio ambiente, como, por exemplo, em aterro industrial
controlado.
132
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Apesar da utilização elevada de água, nas plantas siderúrgicas, o consumo da


água pode ser mantido em níveis baixos mediante a reutilização (até cerca de 80%
pode ser reutilizada) e o uso de sistemas de refrigeração em circuito fechado. A
possibilidade de reutilização da água está relacionada às técnicas de tratamento de
águas residuárias adotadas.
Com o uso de medidas de controle de emissões de ruídos, é possível minimizar
a poluição sonora. No entanto, é necessário que se mantenha uma distância suficiente
entre as instalações de produção e as edificações habitacionais, de forma a evitar
incômodos à comunidade vizinha.
Quanto ao ruído que se propaga no ambiente externo do empreendimento, a
Resolução do CONAMA n.º 001/90 determina que a emissão de ruídos em decorrência
de atividades industriais, entre outras, deve estar de acordo com os níveis considerados
aceitáveis pela NBR 10.151 – Avaliação de Ruído em Áreas Habitadas Visando ao
Conforto da Comunidade, da Associação Brasileira de Normas Técnicas, que indica,
por exemplo, para uma área urbana residencial o índice de 55 dB(A) para o período
diurno e de 50 dB(A) para o período noturno. Para um área urbana industrial, o nível
indicado é de 70 dB(A), para o período diurno e de 65 dB(A) para o período noturno.

3.4.1.5 - QUADRO-Resumo: Indústria Metal-Mecânica - Produção de Ferro e Aço

IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES


• Poluição atmosférica por emissões de • Utilização de sistemas de captação e filtragem de ar
gases residuais e poeira geradas na como: filtros eletrostáticos, ciclones, filtros de manga,
manipulação e processamento dos lavadores de gases, filtros de absorção com carvão
materiais. ativado etc.
• Utilização de matérias-primas (coque ou carvão) com
menor teor de enxofre.
Poluição das águas superficiais e
subterrâneas, por meio de águas
residuárias resultantes da:
• Refrigeração de unidades de • Necessidade de resfriamento somente para manter o
produção, com sistemas de circuito sistema. Não há necessidade de manter temperatura
fechado e intensa recirculação da constante. (Só ocorre contaminação dessas águas se a
água. vedação das instalações não for satisfatória)

• Águas residuárias procedentes dos • Devem ser submetidas a tratamento, que geralmente é
sistemas de depuração de gases. feito por sedimentação e/ou floculação e refrigeração.

• Águas residuárias geradas no • Devem ser submetidas a tratamento, normalmente por


processo de laminação do aço. meio de: tanque de sedimentação com dispositivos de
retirada de sobrenadantes e raspador de fundo,
precedido ou não de floculação química; tanque
separador de óleo; centrífuga (usada no tratamento de
despejos oleosos emulsionados); ultrafiltração (usada
para concentrar o óleo solúvel, eliminando ou
reaproveitando a água).
continua
133
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

conclusão
IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
• Poluição do solo e das águas • Tratamento por meio de hidrociclones.
superficiais e subterrâneas, por meio • Desidratação em filtro de tambor a vácuo.
do lodo resultante dos sistemas de • A água de filtração deve ser submetida a tratamento
depuração de gases e tratamento das químico antes da reutilização ou descarte.
águas residuárias. • Reaproveitamento do lodo em fábricas de metais não
ferrosos.
• Retorno do lodo à sinterização, dependendo do teor de
zinco que ele apresenta.
• Poluição do solo ou das águas • Impermeabilização de áreas de depósito, de forma a evitar
superficiais e subterrâneas, em função a contaminação do solo por lixiviação.
da deposição de escórias e resíduos • Utilização das escórias e areia de escórias para a
sólidos. pavimentação de vias e acessos, após inertização.
• Aproveitamento na produção de cimento Portland e de alto
forno.
• Retorno das "carepas" geradas na laminação do aço à
sinterização.
• Destinação dos resíduos sólidos que não podem ser
reaproveitados, a aterros apropriados.
• Poluição sonora em função das • Blindagem de equipamentos e separação das fontes de
emissões de ruídos que ocorrem em ruídos.
todas as fases do processo. • Uso de amortecedores sonoros.
• Proteção de cargueiros.
• Redução de aberturas em volta dos fornos.
• Amortecedores de ruídos nas bocas de entrada e saída de ar.
• Uso de ventiladores de refrigeração lentos.
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
• Lei Federal 6803 de 02/07/80 – Dispõe sobre as diretrizes básicas para o zoneamento industrial em
áreas críticas de poluição e dá outras providências.
• Decreto-lei 1413 de 14/08/75 – Dispõe sobre o controle da poluição do meio ambiente provocada por
atividades industriais.
• Decreto Federal 76389 de 03/10/75 – Dispõe sobre as medidas de controle ambiental de que trata o
Decreto-lei 1413/75.
• Portaria MINTER 092 de 19/06/80 – Estabelece critérios e diretrizes para a emissão de ruídos e sons em
decorrência de quaisquer atividades industriais e outras.
• Resolução CONAMA 001 de 23/01/86 – Dispõe sobre a Avaliação de Impactos Ambientais.
• Resolução CONAMA 020 de 18/06/86 – Estabelece a classificação das águas doces, salobras e salinas,
segundo seu uso preponderante e estabelece padrões de emissão para efluentes hídricos.
• Resolução CONAMA 006 de 15/06/88 – Dispõe sobre o licenciamento ambiental de atividades industriais
geradoras de resíduos perigosos.
• Resolução CONAMA 005 de 15/06/89 – Institui o Programa Nacional de Controle da Qualidade do Ar –
PRONAR e dá outras providências.
• Resolução CONAMA 001 de 08/03/90 – Dispõe sobre a emissão de ruídos em decorrência de quaisquer
atividades industriais e outras.
• Resolução CONAMA 002 de 08/03/90 - Institui o Programa Silêncio.
• .Resolução CONAMA 003 de 28/06/90 – Estabelece padrões de qualidade do ar e amplia o número de
poluentes atmosféricos passíveis de monitoramento e controle.
• Resolução CONAMA 006 de 17/10/90 – Dispõe sobre a obrigatoriedade de registro e de prévia avaliação
pelo IBAMA, dos dispersantes químicos empregados nas ações de combate aos derrames de petróleo.
• Resolução CONAMA 008 de 06/12/90 – Estabelece limites máximos de emissão de poluentes do ar em
nível nacional.
• Resolução CONAMA 009 de 31/08/93 – Dispõe sobre óleos lubrificantes e dá outras providências.
• Resolução CONAMA 237/97 – Dispõe sobre o licenciamento ambiental.
• Normas ABNT - NBR 10151 - Avaliação de ruídos em áreas habitadas.
• Normas ABNT - NBR 10152 - Níveis de ruído para conforto acústico.
• Normas ABNT - NBR 10004 - Classificação de resíduos.

134
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

3.4.2 - Indústria metal-mecânica – metais não ferrosos


3.4.2.1 - Descrição da atividade sob o enfoque ambiental
O setor de metais não ferrosos compreende os seguintes subsetores:
• Fundição de matérias-primas para obtenção de metais.
• Elaboração de materiais de reciclagem em fundições secundárias e
• Transformação de metais em semiproduto comercial.
Como exemplo dos muitos metais não ferrosos processados industrialmente,
neste Manual serão citados os mais importantes, sendo eles: alumínio, cobre, chumbo e
zinco.
Dentre as técnicas de processamento de metais não ferrosos aplicadas atualmente
estão as técnicas pirometalúrgicas e os processos de desagregação hidrometalúrgicos.
Na aplicação das técnicas pirometalúrgicas, as medidas de conservação da pureza
do ar são as mais importantes; além disso, são produzidas escórias que, dependendo
da sua composição, podem provocar a contaminação do solo e das águas.
Na aplicação dos processos de desagregação hidrometalúrgicos, as medidas de
proteção da água e do solo ganham papel mais importante, uma vez que ocorre a
geração de efluentes hídricos em maior proporção.
No processamento de metais não ferrosos pode ocorrer a geração de ruídos em
praticamente todas as fases do processo, devendo ser considerados os danos que podem
ser gerados tanto no local de trabalho como nas áreas vizinhas.
O consumo de energia depende do processo utilizado: geralmente nas fundições
secundárias, o consumo de energia é menor.

3.4.2.2 - Potenciais impactos ambientais negativos


Os potenciais impactos ambientais negativos serão apresentados considerando
os seguintes processos:
• Obtenção do Alumínio;
• Fundição de minerais de metais pesados;
• Fundições secundárias;
• Fabricação de semiprodutos de metais não ferrosos.

3.4.2.2.1 - Potenciais impactos ambientais negativos da obtenção do alumínio


A matéria-prima utilizada para alimentação das fundições primárias de alumínio
é o óxido de alumínio, fabricado quase exclusivamente através do “procedimento
Bayer”, no qual a bauxita se desagrega com hidróxido sódico em autoclaves, sob
135
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

pressão e temperatura, formando hidróxido de alumínio e “lodo vermelho”. Depois


de sedimentado e filtrado, o hidróxido de alumínio transforma-se em óxido de
alumínio (alumina) por calcinação em leito fluidizado à temperatura de 1.100ºC,
aproximadamente. O lodo vermelho é separado, lavado e filtrado, podendo ser
aproveitado ou destinado a depósito controlado.
Durante a descarga e transporte de materiais finos (bauxita, argila) pode ser
produzida uma contaminação do ar em função da dispersão de partículas finas.
Há a necessidade de controle destas emissões por meio do transporte encapsulado
e do armazenamento adequado.
Os fornos de calcinação geram gases que contêm material particulado, o qual
contém óxido de alumínio. Os gases de escape são captados e filtrados a seco. O
óxido de alumínio precipitado retorna ao processo.
Para a obtenção do alumínio puro, utiliza-se com freqüência o método de
“eletrólise em fusão”, no qual se dissolve o óxido de alumínio a 950 ºC em uma
mistura fundida de fluoreto de alumínio e criolita e se desdobra mediante corrente
contínua em alumínio puro e oxigênio. O alumínio puro é aspirado periodicamente
e despejado em moldes.
Na obtenção do alumínio puro são produzidas as seguintes emissões e
resíduos:
• Poeira de argila desprendida durante o transporte, armazenamento e carga.
• Aglomerantes voláteis, flúor procedente do gás de escape dos fornos de
calcinação de ânodos.
• Gás de escape dos fornos de eletrólise contendo fluoretos (em forma de
poeira e gás), fluoreto de hidrogênio gasoso (que é extremamente
corrosivo), monóxido e dióxido de carbono.
• Águas residuárias.

3.4.2.2.2 - Potenciais impactos ambientais negativos gerados na fundição de


minerais de metais pesados
A composição das matérias-primas é decisiva para a técnica de fundição
aplicável e também para o tipo e quantidade de substâncias perigosas para o
meio ambiente que serão geradas no processo.
Os concentrados de minerais sulfurosos fundem-se, preferencialmente, por
via pirometalúrgica, enquanto os concentrados de minerais oxídicos, sulfuro-
oxídicos e complexos se fundem por métodos hidrometalúrgicos.
136
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Aplicam-se, também, técnicas combinadas em que o material calcinado


pirometalurgicamente segue sendo tratado por via hidrometalúrgica. O material de
alimentação é mineral enriquecido por preparação.
O Processo Pirometalúrgico compreende as seguintes etapas:
Calcinação: dessulfurização parcial ou completa de material de alimentação.
Calcinação Sinterizante: queima de enxofre com entrada de ar
(transformação dos sulfetos em óxidos metálicos e dióxido de enxofre), com
aglomeração simultânea do produto calcinado para a carga nos fornos de cuba.
Rotação de Forno: enriquecimento de óxido metálico mediante volatilização
controlada (com zinco).
Fusão: separação das escórias; obtenção de sulfetos metálicos de alto valor,
por combustão parcial do conteúdo de enxofre ou redução de óxidos metálicos (PbO,
ZnO) sob combustão de coque com injeção de ar.
Soprado: transformação do sulfeto metálico em metal no conversor.
Refinação Pirometalúrgica: eliminação, nas ligas metálicas fundidas de
oxigênio, enxofre, impurezas e metais acompanhantes, por precipitação intermetálica,
retirada de escórias e/ou volatilização.
Empobrecimento de Escórias: processamento térmico das escórias para
obtenção de componentes metálicos.
Nas etapas do processo pirometalúrgico citadas, são produzidas emissões e
resíduos como:
 Gases de escape de diferentes origens, tais como:

• poeira primária de material de alimentação;


• poeira de metais voláteis, p.ex.: chumbo, zinco, arsênio, estanho, cádmio,
mercúrio e seus compostos (condensados depois do resfriamento);
• substâncias gasosas como: dióxidos de enxofre, compostos inorgânicos
de flúor e cloro, monóxido e dióxido de carbono.
 Águas residuárias de circuitos de refrigeração e dos sistemas de lavagem

dos gases.
 Escórias finais com conteúdos metálicos residuais e sulfatos (as provenientes

de calcinação alcalina do cobre apresentam potencial para formação de


dioxinas e furanos).
 Material de desprendimento do forno com conteúdo de arsênio, chumbo,

cádmio, mercúrio e cianetos.

137
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

O processo hidrometalúrgico compreende as seguintes etapas:


Lixiviação: desagregação e dissolução dos metais a serem obtidos. Por
exemplo, para fabricação do zinco utiliza-se ácido sulfúrico diluído.
Enriquecimento: concentração de soluções pobres por extração líquida,
mediante o uso de solventes orgânicos e, ao mesmo tempo, purificação alcalina.
Purificação: separação de substâncias acompanhantes e impurezas, por
extração sólido-líquido e/ou precipitação.
Obtenção: separação eletrolítica do metal, com ânodos insolúveis, por exemplo,
zinco e cobre.
Refinação: separação eletrolítica do metal, com ânodos solúveis, por
exemplo, cobre e chumbo.
Nas etapas do processo hidrometalúrgico citadas, podem ser produzidas
as seguintes emissões e resíduos:
 Água residual: pode apresentar metais pesados.

 Resíduos de lixiviação: contêm compostos metálicos contaminantes.

 Gases de escape: névoa ácida e vapores de ácido sulfúrico são gerados na

eletrólise de obtenção; nos fornos com ânodo de cobre bruto, são gerados
vapores que contêm metais e no processo de enriquecimento são geradas
emissões de solventes orgânicos.
 Lodo de ânodos: no lodo aparecem metais e compostos metálicos.

3.4.2.2.3 Potenciais impactos ambientais negativos nas fundições secundárias

As fundições secundárias elaboram principalmente material de reciclagem


(carepas, cabos, baterias etc.), carepas mistas com alto grau de impurezas,
escórias, desperdícios metálicos e outros resíduos contendo metais. Para a
recuperação dos metais são utilizados preferencialmente técnicas
pirometalúrgicas. A contaminação do meio ambiente, nas fundições secundárias,
pode ocorrer principalmente em função das impurezas e contaminantes contidos
no material de alimentação como, por exemplo, óleo, tinta, plásticos, solventes e
sais. No quadro a seguir, são citados os principais tipos de fundições secundárias
e as principais emissões geradas:

138
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

TIPO DE FUNDIÇÃO PRINCIPAIS EMISSÕES PROCESSO DE GERAÇÃO


FUNDIÇÃO SECUNDÁRIA DE ESCÓRIAS SALINAS - As carepas de alumínio fundem-se geralmente em
ALUMÍNIO fornos de tambor giratório, sob uma camada salina
fluida que impede a entrada do ar. O sal absorve
as impurezas presentes nas carepas de alumínio, e
as geradas durante o processo de fusão, e
precipita como escória salina.

GASES DE ESCAPE - O alumínio fundido refina-se em conversores por


meio de gás cloro. Os gases de escape contêm:
poeira, compostos clorados e fluorados e gás
cloro. Também podem conter substâncias
orgânicas e, dependendo das condições
operacionais, pode ocorrer a formação de dibenzo-
dioxinas e dibenzo-furanos policlorados.
FUNDIÇÃO SECUNDÁRIA POEIRA - Quando se fundem os resíduos que contêm
DE COBRE cobre, nos fornos de cuba, devem ser captadas
todas as emissões durante a alimentação e a
sangria e separá-las por meio do uso de filtros a
seco. Podem aparecer névoas oleosas devido às
impurezas presentes nas carepas de cobre.
FUNDIÇÃO SECUNDÁRIA GASES DE ESCAPE - Quando se carrega o forno com baterias velhas,
DE CHUMBO os componentes residuais de PVC originam, às
vezes, durante o processo de fusão, compostos
clorados inorgânicos gasosos que se fixam na
poeira e nas escórias.
- Quando se carrega o forno com cabos, os gases
de escape podem conter pequenas quantidades
de dibenzo-dioxinas e dibenzo-furanos
policlorados.

3.4.2.2.4 - Potenciais impactos ambientais negativos na fabricação de semiprodutos


de metais não ferrosos

Nas fábricas de semiprodutos os principais problemas de emissões


para a atmosfera provêm das oficinas de fundição. Estas oficinas utilizam,
além do metal para fundir, grandes quantidades de carepas que podem
requerer uma purificação pirometalúrgica em fusão (por exemplo, o caso
do alumínio, com mesclas de gases clorados).
A carepa oleosa e recoberta de plástico produz, durante a fusão, névoa
oleosa e névoa ácida que contém cloro e flúor, não se descartando uma possível
formação de dibenzo-dioxinas e dibenzo-furanos polihalogenados. Por isso,
deve-se efetuar uma limpeza prévia das carepas em fornos de evaporação
com câmara de combustão posterior. Os gases de escape devem ser purificados
em filtros elétricos e/ou lavadores de gases.
139
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

O gás de escape dos fornos de fusão pode conter óxidos metálicos, vapores
metálicos voláteis e compostos halogenados, que deverão ser retidos em filtros
ou lavadores de gases.
As áreas de refrigeração de peças metálicas e escórias que desprendam
gases, devem possuir coletores que conduzam os gases emitidos ao sistema de
tratamento de gases de escape.
Para o desengraxe, limpeza e decapagem de superfícies metálicas devem
ser utilizadas soluções alcalinas ou ácidos. Deve ser evitado o uso de solventes
orgânicos halogenados.
As águas de lavagem devem ser tratadas em instalações de neutralização.
Os resíduos de lodo devem ser processados pirometalurgicamente ou
depositados em aterro apropriado, sempre que não contenham contaminantes.
Os vapores procedentes dos banhos de decapagem e de limpeza a quente devem
ser aspirados, condensados em lavador de gases e depois neutralizados.
Os resíduos contaminados e os restos de produção inaproveitáveis podem ser
depositados em aterro que possua captação e tratamento de águas de infiltração.
As fábricas de semiprodutos de metais não ferrosos são potencialmente
geradoras de ruídos e, considerando que muitas vezes são implantadas próximas a
áreas habitacionais, devem ser adotadas medidas de proteção contra o ruído.

3.4.2.3 - Recomendações de medidas atenuantes

3.4.2.3.1 - Medidas atenuantes para os impactos negativos gerados na obtenção


do alumínio:
Poeira Volátil • Uso de meios de transporte encapsulados (p.ex.: transportadoras
pneumáticas)
Poeira gerada na confecção de • Aspiração das emissões de poeira e gasosas, depuração
ânodos eletrostática do gás de escape, separação do flúor por via
química.
Emissões dos fornos de eletrólise • Aspiração e depuração do gás de escape, recuperação do flúor
por via química. A separação por via química, com recirculação da
água, produz um lodo que, depois de seco, só em parte pode
realimentar o processo. Em caso de absorção em seco, com o uso
de filtros têxteis, a poeira filtrada pode retornar ao processo.
Emissões das naves de eletrólise • A aspiração e depuração do ar das naves são necessárias, se o
forno não estiver encapsulado.
Material de desprendimento de • O depósito destes materiais só deve ser feito em aterros
cátodos e fornos especialmente protegidos. Por processamento, pode-se obter a criolita
como fundente para a eletrólise (retroalimentação de flúor).
Águas residuárias • As águas residuárias deverão receber tratamento para eliminação
ou redução de DQO (Demanda Química de Oxigênio), alumínio e
fluoretos.

140
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

3.4.2.3.2. - Medidas de atenuação de impactos negativos gerados na fundição


de minerais de metais pesados

Na aplicação do processo pirometalúrgico:

Poeira • Depuração dos gases de escape, normalmente em sistemas


de filtros secos (ciclones, filtros eletrostáticos, filtros de
manga). Há necessidade do uso de elementos filtrantes de
grande eficiência para a retenção da poeira fina.
Dióxido de enxofre • Tratamento do gás de escape por meio de lavador de gases
seguido de neutralização.
Névoas oleosas • Gases de escape devem ser submetidos à recombustão
térmica.
Escórias finais – desprendimento do • Disposição em aterro especialmente protegido. Dependendo
forno do conteúdo de metal residual e outras substâncias podem
ser reprocessados ou utilizados em pavimentação.
Águas residuárias • O tratamento das águas residuárias, segundo o atual estado
tecnológico, baseia-se no uso de sistemas de ultrafiltrações,
osmose reversa, procedimentos térmicos para a
concentração etc.

Na aplicação do processo hidrometalúrgico:


Águas residuárias • Tratamento por meio de troca iônica, ultrafiltração, osmose
reversa etc.
Resíduos de lixiviação • Tratamento por processos de lavagem e neutralização.
Gases de escape • Mediante a adequada circulação do ar das naves e, se
preciso, lavagem do ar de saída, é possível manter a
concentração permitida para a névoa de ácido sulfúrico.
• Os compostos metálicos gasosos podem ser retidos com uso
de filtros de mangas adaptados aos fornos com ânodo de
cobre.
• Na extração líquido-líquido, com solventes orgânicos, deve-se
tomar cuidado com o risco de explosão e incêndio.
Lodo anódico / eletrólito residual • Para a recuperação de materiais úteis e extração de resíduos
de metais presentes no lodo, são utilizados processos de
aproveitamento hidro ou pirometalúrgicos especiais.

141
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

3.4.2.3.3 Medidas de atenuação de impactos negativos gerados nas fundições


secundárias

TIPO DE PRINCIPAIS PROCESSO DE GERAÇÃO MEDIDAS DE ATENUAÇÃO


FUNDIÇÃO EMISSÕES
FUNDIÇÃO ESCÓRIAS • As carepas de alumínio fundem-se • Tratamento e reutilização no
SECUNDÁRIA SALINAS geralmente em fornos de tambor processo de fusão.
DE ALUMÍNIO giratório, sob uma camada salina fluida
que impede a entrada do ar. O sal
absorve as impurezas presentes nas
carepas de alumínio, e as geradas
durante o processo de fusão, e precipita
como escória salina.
GASES DE • O alumínio fundido é refinado em • A separação da poeira e
ESCAPE conversores por meio de gás cloro. Os dos compostos inorgânicos
gases de escape contém: poeira, é feita por absorção a seco
compostos clorados e fluorados e gás e filtros têxteis. A emissão
cloro. Também podem conter de substâncias orgânicas
substâncias orgânicas e, dependendo pode ser evitada pela
das condições operacionais, pode classificação e limpeza das
ocorrer a formação de dibenzo-dioxinas carepas ou por meio de
e dibenzo-furanos policlorados. recombustão térmica.
FUNDIÇÃO POEIRA • Quando se fundem os resíduos que • Captação das emissões e
SECUNDÁRIA contêm cobre, nos fornos de cuba, separação a seco.
DE COBRE devem ser captadas todas as emissões Tratamento das névoas
durante a alimentação e a sangria e oleosas por meio de
separá-las por meio do uso de filtros a recombustão térmica.
seco. Podem aparecer névoas oleosas
devido às impurezas presentes nas
carepas de cobre.
FUNDIÇÃO GASES DE • Quando se carrega o forno com baterias • Utilização de sistemas de
SECUNDÁRIA ESCAPE velhas, os componentes residuais de filtração e absorção com
DE CHUMBO PVC originam, às vezes, durante o uso de carvão ativo (em
processo de fusão, compostos clorados experimentação).
inorgânicos gasosos que se fixam na
poeira e nas escórias.
• Quando se carrega o forno com cabos,
os gases de escape podem conter
pequenas quantidades de dibenzo-
dioxinas e dibenzo-furanos policlorados.

3.4.2.3.4 - Medidas de atenuação de impactos gerados na fabricação de


semiprodutos de metais não ferrosos

Na fabricação de semiprodutos de metais não ferrosos podem ser adotadas


medidas de controle de emissões, tratamento de resíduos, de águas residuárias
e de ruídos, de maneira que o desenvolvimento da atividade resulte menos danosa
para o meio ambiente.
Destas medidas destacam-se:
• Antecedendo a fusão, execução de limpeza prévia das carepas oleosas e
recobertas com plásticos, em fornos de evaporação com pós-queimador

142
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

para os gases gerados e tratamento dos gases de escape em eletrofiltros


e/ou lavadores de gases.
• Tratamento dos gases de escape dos fornos de fusão com o uso de
ciclones, filtros têxteis e/ou lavadores de gases.
• Coleta e tratamento dos gases desprendidos das peças e escórias nas áreas
de resfriamento.
• Redução do descarte de águas residuárias, mediante tratamento por
neutralização e reutilização no processo.
• Armazenamento ou destinação final de material contaminante deverá ser
feito em aterros ou depósitos que satisfaçam exigências rigorosas quanto
à impermeabilização, captação e tratamento de água infiltrada.

3.4.2.4 - Referências para a análise ambiental da atividade

As fábricas que processam metais não ferrosos aplicando métodos


termoquímicos ou pirometalúrgicos, produzem quantidades consideráveis de
poluentes atmosféricos, tanto que, inclusive em regiões com pouca ou sem pré-
contaminação, as emissões atmosféricas das fundições não devem ser lançadas
no ar sem prévia depuração dos gases.
No funcionamento das plantas é necessário que se faça monitoramento periódico
das emissões, a fim de se verificar a eficácia dos sistemas de tratamento de gases existentes.
Além do aspecto ambiental, a redução das emissões atmosféricas pode oferecer
vantagens econômicas, uma vez que com o processamento da poeira e dos gases
recuperam-se conteúdos metálicos de alto valor ou se obtém ácido sulfúrico.
Nas plantas que utilizam processos hidrometalúrgicos, os resíduos são
processados e submetidos a repetidos tratamentos térmicos, filtrações e operações
de lavagem seguidas de neutralização.
As águas residuárias procedentes das instalações de lavagem de gases ou
de oficinas de decapagem devem ser neutralizadas quimicamente, e deve
proceder-se à remoção dos sólidos para posterior lançamento ou, de preferência,
reaproveitamento por uso múltiplo.
Para o lançamento de águas residuárias devem ser observados os padrões
para lançamento de efluentes líquidos definidos na legislação (Resolução n.º 20
de 1986 do CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente).

143
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Para as fundições secundárias, deve-se considerar o problema dos materiais


de alimentação contendo impurezas, especialmente aquelas que contêm materiais
residuais de cloro ou PVC, que, em combinação com matérias orgânicas e
dependendo das condições de operação das fundições, representam uma fonte
potencial de emissão de dioxinas e furanos.
Tanto para as emissões atmosféricas, águas residuárias, como para resíduos
sólidos, devem ser observados os riscos potenciais para a qualidade das águas
superficiais e subterrâneas, e para o solo.
O armazenamento de material com conteúdo contaminante deve ser feito
somente em aterros apropriados, que possuam condições adequadas de
impermeabilização, captação e tratamento de águas de infiltração.
A contaminação do solo com metais pesados pode comprometer a sua utilização
para fins agrícolas. Deve-se avaliar se há contaminação especialmente com zinco,
cobre, cromo, chumbo, níquel e cádmio, nas regiões próximas às fundições.
A tendência do desenvolvimento tecnológico do setor aponta para a
produção em circuito fechado, mediante: melhor aproveitamento dos materiais
de alimentação; da fabricação de produtos intermediários e finais puros, sem a
necessidade de ocupação de áreas com aterro; o aperfeiçoamento das medidas
de proteção contra as emissões e do aproveitamento da poeira e dos sólidos
separados. Com a adoção destas medidas, as atividades de processamento
metálico, que hoje estão entre as atividades que apresentam grande potencial
poluidor, reduzirão significativamente a carga de poluentes gerados.

144
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

3.4.2.5 - QUADRO-resumo – Indústria Metal Mecânica – Metais Não Ferrosos

IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES


Emissões geradas na obtenção do
alumínio:

• Poeira volátil. • Uso de meios de transporte encapsulados (por exemplo,


transportadoras pneumáticas).

• Poeira gerada na confecção de • Aspiração das emissões de poeira e de gases, depuração


ânodos. eletrostática do gás de escape, separação do flúor por via
química.

• Emissões dos fornos de eletrólise. • Aspiração e depuração do gás de escape, recuperação do


flúor por via química. A separação por via química, com
recirculação da água, produz um lodo que, depois de seco,
só em parte pode realimentar o processo. Em caso de
absorção a seco, com o uso de filtros têxteis, a poeira
filtrada pode retornar ao processo.

• Emissões das naves de eletrólise. • A aspiração e depuração do ar das naves é necessária, se


o forno não estiver encapsulado.

• Material de desprendimento de • O depósito destes materiais só deve ser feito em aterros


cátodos e fornos. especialmente protegidos. Por processamento pode-se
obter a criolita como fundente para a eletrólise
(retroalimentação de flúor).

• Águas residuárias. • As águas residuárias deverão receber tratamento para


eliminação ou redução de DQO (Demanda Química de
Oxigênio), alumínio e fluoretos.
Emissões geradas na fundição de metais
pesados - Processo pirometalúrgico:

• Poeira. • Depuração dos gases de escape, normalmente em


sistemas de filtros secos (ciclones, filtros eletrostáticos,
filtros de manga). Há a necessidade do uso de elementos
filtrantes de grande eficiência para a retenção da poeira
fina.
• Dióxido de enxofre. • Tratamento do gás de escape por meio de lavador de
gases seguido de neutralização.
• Névoas oleosas. • Os gases de escape devem ser submetidos à recombustão
• térmica.
• Escórias finais - desprendimento do • Disposição em aterro especialmente protegido.
forno. Dependendo do conteúdo de metal residual e outras
substâncias, podem ser reprocessados ou utilizados em
pavimentação.
• Águas residuárias. • O tratamento das águas residuárias, segundo o atual
estado tecnológico, baseia-se no uso de sistemas de
ultrafiltrações, osmose reversa, procedimentos térmicos
para a concentração etc.
continua

145
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

continuação
IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
Emissões geradas na fundição de metais
pesados - Processo hidrometalúrgico:

• Águas residuárias. • Tratamento através de troca iônica, ultrafiltração,


osmose reversa etc.

• Resíduos de lixiviação. • Tratamento por processos de lavagem e neutralização.

• Gases de escape. • Mediante a adequada circulação do ar das naves e, se


preciso, lavagem do ar de saída, é possível manter a
concentração permitida para a névoa de ácido sulfúrico.

• Os compostos metálicos gasosos podem ser retidos com


o uso de filtros de mangas, adaptados aos fornos com
ânodo de cobre.

• Lodo anódico / eletrólito residual. • Utilização de processos hidro ou pirometalúrgicos


especiais.
Emissões geradas nas Fundições
Secundárias:

• Escórias salinas das fundições • Tratamento e reutilização no processo de fusão.


secundárias de alumínio .

• Gases de escape das fundições • A separação da poeira e dos compostos inorgânicos é


secundárias de alumínio. feita por absorção a seco e filtros têxteis. A emissão de
substâncias orgânicas pode ser evitada mediante
classificação e limpeza das carepas, ou através de
recombustão térmica.

• Poeira gerada nas fundições • Captação das emissões e separação a seco. Tratamento
secundárias de cobre. das névoas oleosas por meio de recombustão térmica.

• Gases de escape das fundições • Utilização de sistemas de filtração e absorção com uso
secundárias de chumbo. de carvão ativo (em experimentação).
continua

146
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

continuação
IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
Emissões geradas na fabricação de
subprodutos:

• Névoa oleosa e névoa ácida que • Antecedendo à fusão, execução de limpeza prévia das
contém cloro e flúor, geradas carepas oleosas e recobertas com plásticos, em fornos de
durante a fusão de carepas. evaporação com pós-queimador para os gases gerados e
tratamento dos gases de escape em eletrofiltros e/ou
lavadores de gases.

• Óxidos metálicos, vapores metálicos • Tratamento dos gases de escape dos fornos de fusão com
voláteis e compostos halogenados, o uso de ciclones, filtros têxteis e/ou lavadores de gases.
presentes nos gases de escape dos
fornos de fusão.

• Gases desprendidos das áreas de • Coleta e tratamento dos gases desprendidos das peças e
refrigeração de peças metálicas e escórias nas áreas de resfriamento.
escórias.

• Águas residuárias do desengraxe, • Redução do descarte de águas residuárias, mediante


limpeza e decapagem de superfícies tratamento por neutralização e reutilização no processo.
metálicas.

• Resíduos de lodo, outros resíduos • Armazenamento ou destinação final de material


contaminados e os restos de contaminante deverá ser feito em aterros ou depósitos que
produção inaproveitáveis. satisfaçam exigências rigorosas quanto à
impermeabilização, à captação e ao tratamento de água
infiltrada.

• Vapores procedentes dos banhos • Devem ser aspirados, condensados em lavador de gases e
de decapagem e de limpeza a depois neutralizados.
quente.

• Emissão de ruídos das fábricas de • Adoção de medidas de proteção acústica, tanto nos
semiprodutos de metais não equipamentos quanto na edificação.
ferrosos.

147
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
• Lei Federal 6803 de 02/07/80 – Dispõe sobre as diretrizes básicas para o zoneamento industrial em
áreas críticas de poluição e dá outras providências.
• Decreto-lei 1413 de 14/08/75 – Dispõe sobre o controle da poluição do meio ambiente provocada por
atividades industriais.
• Decreto Federal 76389 de 03/10/75 – Dispõe sobre as medidas de controle ambiental de que trata o
Decreto-lei 1413/75.
• Portaria MINTER 092 de 19/06/80 – Estabelece critérios e diretrizes para a emissão de ruídos e sons
em decorrência de quaisquer atividades industriais e outras.
• Resolução CONAMA 001 de 23/01/86 – Dispõe sobre a Avaliação de Impactos Ambientais.
• Resolução CONAMA 020 de 18/06/86 – Estabelece a classificação das águas doces, salobras e
salinas, segundo seu uso preponderante e estabelece padrões de emissão para efluentes hídricos.
• Resolução CONAMA 006 de 15/06/88 – Dispõe sobre o licenciamento ambiental de atividades
industriais geradoras de resíduos perigosos.
• Resolução CONAMA 005 de 15/06/89 – Institui o Programa Nacional de Controle da Qualidade do Ar –
PRONAR e dá outras providências.
• Resolução CONAMA 001 de 08/03/90 – Dispõe sobre a emissão de ruídos em decorrência de
quaisquer atividades industriais e outras.
• Resolução CONAMA 002 de 08/03/90 - Institui o Programa Silêncio.
• Resolução CONAMA 003 de 28/06/90 – Estabelece padrões de qualidade do ar e amplia o número de
poluentes atmosféricos passíveis de monitoramento e controle.
• Resolução CONAMA 006 de 17/10/90 – Dispõe sobre a obrigatoriedade de registro e de prévia
avaliação pelo IBAMA, dos dispersantes químicos empregados nas ações de combate aos derrames de
petróleo.
• Resolução CONAMA 008 de 06/12/90 – Estabelece limites máximos de emissão de poluentes do ar
em nível nacional.
• Resolução CONAMA 009 de 31/08/93 – Dispõe sobre óleos lubrificantes e dá outras providências.
• Resolução CONAMA 237/97 – Dispõe sobre o licenciamento ambiental.
• Normas ABNT - NBR 10151 - Avaliação de ruídos em áreas habitadas.
• Normas ABNT - NBR 10152 - Níveis de ruído para conforto acústico.
• Normas ABNT - NBR 10004 - Classificação de resíduos.

3.5 - Indústrias da Construção Civil

3.5.1 - Descrição da atividade sob o enfoque ambiental


A construção civil é uma atividade executada com a finalidade de atender
às demandas básicas de moradia, prover instalações para o desenvolvimento de
atividades produtivas e a implantação de equipamentos públicos para diferentes
camadas sociais.
Compreende de forma geral a criação, conservação e saneamento de
espaços habitáveis, demandando a disponibilização de solos edificáveis e infra-
estrutura (arruamento, transporte coletivo, telecomunicações, abastecimento de
água potável, esgotamento sanitário, drenagem pluvial, coleta de resíduos sólidos
e fornecimento de energia elétrica), além do abastecimento de materiais de
construção e respectivas técnicas de construção.
148
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Portanto, a construção civil é uma componente relacionada aos demais


temas abordados neste manual, e seus impactos devem ser considerados na
elaboração e análise de todos os projetos que demandem a implantação de
infra-estrutura e/ou edificações.

3.5.2 - Potenciais impactos ambientais negativos


Os potenciais impactos ambientais negativos da construção civil podem
ser divididos nas fases de planejamento da urbanização e da construção
propriamente dita.
Para o planejamento da urbanização devem ser verificados os potenciais
impactos ambientais relacionados ao uso do solo local e regional, ou seja, a
adequação do projeto aos critérios do zoneamento e de uso e ocupação do solo.
Nos casos em que o projeto se situa em regiões onde não existem Planos Diretores,
devem ser atendidas as especificações das legislações estaduais relacionadas ao
assunto e das legislações ambientais.
Outro aspecto a ser considerado é se a área a ser ocupada não constitui
área de risco (inundações, alta tensão, explosões, incêndios, deslizamentos e
sujeitas a ocorrência de vetores de doenças).
Ainda no que diz respeito ao planejamento da urbanização, deve-se
considerar as diferentes interferências na utilização do solo, provocadas pela
implantação de edificações e/ou equipamentos, com implicações ambientais como:
• aumento da estrutura de transporte e de tráfego, o que pode acarretar
a geração de ruído e emissão de poluentes atmosféricos;
• impermeabilização do solo e aumento no fluxo de águas superficiais
acarretando maior demanda no sistema de drenagem e interferindo no
ciclo das águas subterrâneas;
• aumento de demanda de água do sistema de abastecimento público;
• aumento na geração de resíduos sólidos e conseqüentemente na coleta,
transporte, tratamento e disposição final;
• aumento na geração de esgoto e conseqüentemente implicações no
processo de coleta, tratamento e disposição final dos efluentes e lodo.
Por outro lado, a fase de implantação do projeto, ou seja, a construção
propriamente dita, possui implicações sob os aspectos ambientais, com destaque
para:
• alteração no fluxo das águas provocada pelos serviços de drenagem do
terreno;

149
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• degradação da flora e da fauna em função da remoção da vegetação natural


do local;
• geração de material de aterro (solo) e de poeira pela movimentação do
terreno, para a execução de serviços de terraplenagem;
• geração de resíduos oriundos dos serviços de terraplenagem e dos materiais
de construção a serem descartados por meio de “bota-fora”;
• geração de ruído pelas máquinas e equipamentos em períodos intermitentes
durante a construção;
• alteração no fluxo de veículos e tráfego local para a execução dos serviços de
terraplenagem e do abastecimento de materiais para a execução das obras,
com geração de ruídos, material particulado e resíduos nas vias públicas.

3.5.3 - Recomendações de medidas atenuantes


O processo de urbanização requer medidas de efeito amplo, por intermédio
de políticas públicas de médio e longo prazo, que definam parâmetros construtivos
para uso e ocupação do solo, através de Planos Diretores e Leis Municipais de
Zoneamento. Neste contexto deverão estar inseridas as variáveis ambientais
(preservação de áreas verdes, fundos de vale etc.), que possibilitem a minimização
dos impactos ambientais negativos da urbanização sobre o meio ambiente.
Por outro lado, é necessário estabelecer mecanismos que orientem ações
pontuais e locais para atenuar os impactos ambientais negativos da construção
civil em geral, entre as quais destacam-se:
• localização do empreendimento adequado às normas locais;
• definição de índices ou taxas de ocupação, aproveitamento e permeabilidade
do solo;
• atendimento às especificações do sistema de drenagem existente, caso
contrário prever a sua implantação, incluindo áreas de escoamento e infiltração
das águas superficiais (áreas livres, áreas verdes);
• previsão de reposição da vegetação alterada e/ou degradada mediante a
implantação de projeto de arborização e paisagismo;
• atendimento/adequação à disponibilidade de água do sistema de
abastecimento público e no caso de abastecimento próprio (domiciliar),
considerar as distâncias mínimas entre a fonte de água e os efluentes (esgoto);
• fontes de geração de esgoto sanitário, sua coleta e interligação ao sistema
público ou implantação de tratamento individual;
150
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• fontes de geração de resíduos sólidos, acondicionamento, coleta e


tratamento, em conformidade com as especificações das leis municipais;
• utilização de materiais de construção preferencialmente produzidos na
própria região e adaptados às condições regionais;
• fontes de geração de ruídos com origem direta e indireta do projeto, tais
como funcionamento de equipamentos, tráfego de veículos, orientando
medidas para atenuação, a exemplo de isolamento acústico dos
equipamentos geradores de ruído e definição de horários de trabalho.
Durante o período de implantação das obras, é importante que sejam
implementadas medidas de atenuação, tais como:
• definição de horário de funcionamento das máquinas e equipamentos ruidosos,
de tal forma a gerar menor incômodo à população do entorno;
• previsão de local para deposição de entulhos (bota-fora) com proteção às
águas superficiais;
• sinalização adequada dos locais de circulação de veículos (saídas e
entradas) com sistema de lavagem do rodado para evitar a deposição de
solo nas vias públicas;
• proteção ao sistema de escoamento de águas superficiais, evitando a
ocorrência de erosão e sedimentação de materiais sólidos;
• correta operação do sistema de coleta e tratamento de esgotos, quando
não existir sistema público de esgotamento sanitário, evitando esgoto não
tratado no sistema de drenagem de águas pluviais.

3.5.4 - Referências para análise ambiental da atividade


Para a elaboração e análise dos projetos de construção civil, deve-se,
necessariamente, observar o atendimento aos critérios exigidos pelas Prefeituras
Municipais, em especial os previstos nas denominadas “Leis Municipais de Uso
do Solo” ou “Zoneamento do Solo” e Planos Diretores.
A identificação de impactos ambientais negativos e a proposição de medidas
atenuantes para a construção civil devem ocorrer proporcionalmente ao porte
da obra.
Os projetos urbanísticos acima de 100 ha, ou em áreas consideradas de
relevante interesse ambiental, a critério dos orgãos de meio ambiente, estão
sujeitos à exigência de Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto
Ambiental, para análise quanto ao seu licenciamento.
151
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Tratando-se de projetos de loteamentos, a Lei Federal 6.766/79, que dispõe


sobre o parcelamento do solo urbano e dá outras providências, estabelece as
diretrizes que devem ser observadas no projeto e indica a proibição de implantação
destes empreendimentos em áreas de preservação ecológica, entre outros
aspectos.

3.5.5 - QUADRO-resumo – Construção Civil


IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
• Alteração no fluxo das águas, • Manejar as águas superficiais (pluviais) considerando:
provocada pelos serviços de minimização das áreas impermeáveis; implantar áreas de
drenagem do terreno. infiltração, manter espaços livres com vegetação; utilizar
• Degradação da flora e da fauna em vegetação para estabilizar taludes e facilitar a infiltração
função da remoção da vegetação de água; implantar retentor de água para retardar o
natural do local de implantação da lançamento nas galerias de águas pluviais.
obra. • Promover a reposição da vegetação, mediante o plantio
de árvores no terreno ou na região.
• Degradação dos horizontes do solo, • Implantar medidas de controle durante os serviços de
geração de poeira, erosão e terraplenagem, com proteção às águas superficiais,
sedimentação. umedecimento das vias de circulação interna e se for
necessário implantar lagoa para sedimentação e
remoção de sólidos suspensos antes do lançamento nas
águas pluviais.
• Danos à população pela geração de • Implementar medidas de controle – horários específicos
ruídos provocados por máquinas e para funcionamento de equipamentos e máquinas
equipamentos. ruidosas (bate-estaca, retroescavadeira, caminhões etc.)
e medidas de isolamento de equipamentos
(compressores, geradores de energia etc.)
• Degradação da qualidade ambiental • Estabelecer medidas de acondicionamento adequado
pelo aumento da geração de resíduos dos resíduos sólidos para a coleta e tratamento em
sólidos e de esgoto. unidade do Município (aterro, unidade de
processamento) e adequar-se às exigências do sistema
de coleta e tratamento de esgoto disponível ou implantar
unidade de tratamento local.
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
• Lei 4.771 de 15/09/65 – Institui o Código Florestal.
• Lei 6.766 de 19/12/79 – Dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e dá outras providências.
• Resolução CONAMA 001 de 23/01/86 – Trata do uso e implementação da Avaliação de Impactos
Ambientais.
• Legislações Municipais de Uso do Solo (zoneamento) e Código de Posturas.

3.6 - Indústria de minerais não metálicos


3.6.1 Descrição da atividade sob o enfoque ambiental
No setor de Indústrias de Minerais Não Metálicos estão incluídas as indústrias
de cimento, cal e gesso; as indústrias cerâmicas e a fabricação de vidro, entre outras.

152
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Neste capítulo serão abordados os principais aspectos ambientais relacionados


à produção de cimento, cal, gesso e vidro. A Indústria Cerâmica será tratada no
capítulo 3.9.
As fábricas de cimento, cal e gesso geram principalmente produtos em forma
de pó, que com a adição de água são modeláveis e após determinado tempo de
reação, endurecem. As etapas de fabricação destes produtos são as seguintes:
• preparação: que compreende o transporte, trituração, dosificação de
materiais suplementares, armazenamento e preparação da matéria-prima;
• cocção;
• armazenamento e trituração dos produtos calcinados;
• inclusão de aditivos e
• embalagem e envio.
Na fabricação de cimento utilizam-se basicamente dois métodos de produção:
o método úmido e o método seco.
• No método úmido, a matéria-prima é moída com a adição de água até
formar um lodo que contém 35 a 40% de água. Durante a cocção a água
se evapora. O consumo de energia chega a ser 100% maior que no método
seco e a geração de gases de escape também é bem maior.
• No método seco, a matéria-prima é triturada ao mesmo tempo em que é
submetida à secagem. No método de contracorrente, a matéria-prima é
pré-aquecida no chamado intercambiador térmico por meio de gases
quentes que saem do forno. São utilizados fornos giratórios que elevam a
temperatura dos materiais a cerca de 1.400 ºC, que é a temperatura de
aglomeração das matérias-primas.
As matérias-primas utilizadas são principalmente calcário e argila, nos
métodos a seco e úmido. Para a produção de cimento a partir de xisto e ardósia
emprega-se o agregado leve, composto por: ardósia, areia de sílica ( agregado de
sílica, alumínio e ferro em forma de areia) argila, xisto e areia grossa. O gesso é
introduzido na fase final do processo.
Na Indústria da “cal”, para a cocção do calcário utilizam-se fornos de cuba
e giratórios. A temperatura de cocção é de 850 a 1000 0C.
Na cocção da cal, efetuada em instalações consideravelmente menores que
as de fabricação de cimento, emite-se dióxido de carbono (CO2 ) com o gás de
combustão, porém, a quantidade de gás de escape é bem menor que nas fábricas
de cimento, isto em função do tamanho das instalações e também das temperaturas
de cocção que são bem mais baixas.

153
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

O sulfato de cálcio dihidratado ocorre na natureza “gesso ou gipsita”, e


por aquecimento perde água, resultando o sulfato de cálcio hemi-hidratado (também
chamado gesso cozido). O gesso se desidrata parcialmente a temperaturas que
vão de 200 0C ao máximo de 300 0C. Para a cocção utilizam-se fornos giratórios de
fluxo contínuo, moinhos de calcinação ou calcinadores e digestores.
Em quase todas as jazidas se encontra anidrita, que é uma forma anidra de
sulfato cálcico (CaSO4), associada com gesso. A anidrita pode ser utilizada como
aglomerante rápido sem tratamento térmico prévio.
A Indústria do “Vidro” utiliza como matéria-prima principalmente areia, cal,
soda, dolomita, feldspato, borosilicatos e numerosos materiais adicionais. A produção
da indústria de vidro representa uma ampla variedade de produtos acabados e
produtos intermediários, com diferentes propriedades.
A preparação das matérias-primas para produção de vidro requer instalações
apropriadas, posto que se trata da mistura de materiais muito diferentes que têm
de ser adequadamente dosados.
Muitas fábricas compram a matéria-prima já preparada, de acordo com as
características físicas e composição química desejadas para sua produção.
A fundição da mistura é feita em fornos de cuba ou fornos-tanques, com
capacidade variada de 8 a 1000 toneladas por dia, dependendo do tipo de vidro a
ser fabricado. Utilizam-se também fornos de crisol ou de cadinhos, com capacidade
para produção de até 8 toneladas por dia, usados geralmente na pequena produção
de vidros especiais, ou quando é essencial proteger o material fundido da ação dos
produtos da combustão.
Depois da fusão os vidros são moldados e posteriormente resfriados de
acordo com a utilização prevista. Geralmente são submetidos a técnicas de
acabamento ou aperfeiçoamento mediante tratamento térmico, físico ou químico, a
fim de: endurecer a superfície, colar, flexionar, soldar, esmerilhar, lapidar etc.
As temperaturas de fusão do vidro oscilam geralmente entre 1200ºC a 1500ºC,
dependendo em grande parte da mistura e do produto a ser elaborado.

3.6.2 - Potenciais impactos ambientais negativos


Os potenciais impactos ambientais negativos da Indústria de Minerais Não
Metálicos estão relacionados a emissões atmosféricas, hídricas e à geração de
resíduos e ruídos nas plantas de fabricação, que podem causar a poluição do ar, da
água e do solo.

154
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Também apresentam relação direta com as atividades de exploração mineral,


em face da extração de matérias-primas. Sobre este aspecto deve ser observado o
que consta no capítulo que trata da mineração.
Os poluentes atmosféricos gerados são emitidos por meio de gases de escape
ou de combustão e de poeira produzida especialmente na trituração dos materiais.
Os gases de escape são gerados principalmente na cocção e são constituídos
por dióxido de carbono (resultante da descarbonatação), vapor de água, compostos
de enxofre, óxidos de nitrogênio e pode ocorrer a presença de cloro e de flúor gasosos.
As emissões de vapor de água e de dióxido de carbono (CO2 ) são inerentes ao
processo de fabricação de cimento, cal e gesso. As emissões de compostos de enxofre
podem ser reduzidas com o uso de matérias-primas e combustíveis com menor teor
de enxofre e com o controle do processo de combustão. Até certos limites, os compostos
sulfurados (de enxofre) são fixados pelo clínquer de cimento durante a cocção.
Em função da temperatura de chama, na fabricação de cimento, que pode
alcançar até 1.800 0C, são formados mais óxidos de nitrogênio do que na fabricação
da cal.
Na indústria de cimento, podem ser utilizados, como materiais combustíveis
complementares, óleos e graxas, solventes, resíduos de tinta, pneus ou outros resíduos
com características combustíveis. A tecnologia e o processo de fabricação de cimento
são muito apropriadas para a destruição de uma variedade de resíduos, incluindo
alguns resíduos perigosos.
Esta técnica de destruição de resíduos é chamada co-processamento.
Normalmente, os contaminantes presentes nestes resíduos são fixados pelo
clínquer e não passam aos gases de escape; no entanto, é de extrema importância
que se faça um controle especial na admissão destes resíduos e durante o processo,
de forma a evitar a emissão de contaminantes adicionais.
Na cocção da cal emite-se também dióxido de carbono (CO2) com o gás de
escape ou combustão, porém em quantidades bem menores que na fabricação de
cimento.
Na cocção do gesso também são emitidos para a atmosfera vapor de água
e gases de combustão em quantidades bem menores que na produção de cimento.
Na fabricação de cimento, cal e gesso, gera-se poeira em diferentes
etapas do processo, sendo que as principais fontes de geração correspondem à
trituração e mistura de matéria-prima, à cocção do cimento, à trituração do clínquer
de cimento e mistura com gesso e à cocção da cal.

155
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Na fabricação do vidro, um aspecto problemático é a emissão de poeira dos


fornos de fundição, gerada pelas elevadas temperaturas e pela evaporação de partes
da mistura, as quais se convertem por sublimação em finíssimas partículas de poeira.
O material particulado gerado pode conter compostos de cloro, flúor e sulfatos.
Os gases residuais da produção de vidros especiais podem conter ainda partículas de
chumbo, cádmio, selênio, arsênio, antimônio, vanádio e níquel que são metais pesados
tóxicos.
A maior utilização de água, na fabricação de cimento, está nos sistemas de
refrigeração de equipamentos. A maior parte desta água se encontra em circulação,
havendo necessidade de repor somente as perdas. Nas instalações que empregam o
método seco, também se consome água para refrigeração dos gases de escape dos
fornos. Nas instalações que operam com o método úmido a água é adicionada à
matéria-prima, na moagem, até a formação do lodo e depois se desprende por
evaporação.
Na indústria da cal utiliza-se água para o abrandamento da cal cozida. Quanto
maior a qualidade de pureza exigida, maior é o consumo de água na fabricação da
cal, posto que, para maior pureza, há necessidade de lavagem do calcário bruto. As
águas de lavagem são destinadas a tanques de sedimentação ou piscinas de clarificação,
onde as partes finas se depositam e a água residual se evapora ou é reutilizada.
Na fabricação de gesso, o consumo de água para refrigeração é relativamente
baixo, uma vez que no processo não são utilizadas temperaturas altas.
Na produção de cimento, cal, gesso e vidro, uma fonte de contaminação hídrica
encontra-se nos derrames de material de alimentação dos fornos, que podem gerar
efluentes com as seguintes características: alto pH, sólidos suspensos e sólidos
dissolvidos (principalmente potássio e sulfatos).
O escoamento de águas das áreas de armazenamento de materiais e de
eliminação de descartes pode ser uma fonte de contaminação das águas superficiais
e freáticas, bem como do solo.
Na fabricação do vidro, a maior demanda de água está nos seguintes setores:
• refrigeração de equipamentos;
• tanques de esfriamento do vidro;
• transformação posterior do vidro mediante esmerilhado, brocado etc.
As águas residuais produzidas nestes setores podem ser resfriadas e reutilizadas,
inclusive para outras funções, tais como:
• umedecimento da mistura a fim de evitar levantamento de poeira;
• refrigeração de gases de combustão ou gases de escape;

156
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• umidificação de produtos de cálcio para filtros de absorção seca.


As águas residuais de produção de vidro podem estar contaminadas com
óleos, havendo necessidade de depuração através da passagem por separadores de
óleo.
Nas plantas de produção de cimento, cal, gesso e vidro, a contaminação do
solo pode ocorrer por deposição de partículas, caso não se faça o controle adequado
das emissões atmosféricas ou pelo depósito de materiais que possam ser lixiviados,
em locais permeáveis.
A geração de ruídos é maior nas fábricas de cimento e vidro do que nas de cal
e gesso. A maior parte dos trituradores ou moinhos de matérias-primas e cimento
produz um ruído tão intenso que estes devem ser instalados em locais com proteção
acústica e onde não haja postos de trabalho permanentes.
As instalações de cocção necessitam de numerosos ventiladores de grande
porte, que são também fontes significativas de emissão de ruídos.
A poluição sonora na indústria de vidro é importante, especialmente nas fases
de fundição, modelagem e resfriamento. Durante a fusão nos fornos de cuba e no
alimentador podem produzir-se níveis de ruído de até 110 dB(A), (equivalente ao nível
de ruído gerado por uma turbina de avião), originados pelas elevadas velocidades do
ar. Os grandes ventiladores, para geração das quantidades necessárias de ar, e os
compressores produzem ruídos adicionais relativamente elevados.
Um setor especialmente crítico, no que diz respeito às emissões sonoras, à
contaminação por temperaturas elevadas e por vapores de óleo é a modelagem de
vidro para recipientes, com máquinas de ar comprimido. Os níveis de ruído geralmente
são de 90db(A) – semelhante ao nível de ruído percebido a um metro de uma rua
com tráfego muito intenso.
Neste setor, não é possível isolar ou enclausurar totalmente as máquinas pelo
fato de que é necessário lubrificá-las regularmente com óleo e limpar os moldes.

3.6.3 - Recomendações de medidas atenuantes


As emissões de compostos de enxofre podem ser reduzidas pelo uso de
matérias-primas e combustíveis adequados (com menor teor de enxofre) e com o
controle do processo de combustão.
Para a redução da emissão de óxidos de nitrogênio podem ser adotados
procedimentos tais como:
• uso de instalações com filtro de carvão ativo;

157
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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• otimização do regime de cocção e


• transformação das fábricas em instalações de calcinação em duas etapas
(oxidante e redutora), com o uso de pré-calcinadores.
Na fabricação de vidro, pode-se reduzir as emissões de dióxido de enxofre,
fluoretos e cloretos mediante reações de adição com compostos de cálcio e substâncias
alcalinas. Estes poluentes podem ser absorvidos por meio de compostos de cálcio ou
de sódio.
Para controle da emissão de material particulado é imprescindível o uso de
instalações de aspiração e equipamentos separadores de poeira como precipitadores
eletrostáticos, filtros de manga e ciclones.
A maior parte da poeira separada é reconduzida ao processo, a menos que
esta possa causar acumulações de metais pesados no gás de escape. Somente sob
condições desfavoráveis de matérias-primas e combustíveis pode ser necessário
separar e descartar parte do material particulado coletado que pode ainda,
dependendo das características, ser aproveitado em outros setores industriais.
Na fabricação de vidro, dependendo do tipo de forno de fundição e de seu
rendimento, são utilizados procedimentos elétricos de despoeiramento, despoeiramento
têxtil com adsorção ou lavagem úmida. A eliminação da poeira deve contribuir, ao
mesmo tempo, para diminuir as emissões de fluoretos, de sulfatos e de cloretos,
assim como de metais pesados tóxicos.
A emissão de poeira pode ser reduzida também mediante o uso de coberturas
ou fechamento das esteiras transportadoras, trituradores, pontos de transferência de
materiais e armazenamento e, ainda, da pavimentação dos acessos da planta.
A utilização de filtros de alta qualidade permite atualmente à indústria de
minerais não metálicos, obter gases de escape com um conteúdo reduzido de poeira.
O controle da contaminação da água pode ser feito mediante procedimentos
como:
• condução da água residual do processo úmido para o forno;
• uso de torres e piscinas de resfriamento;
• uso de diques para controlar o escoamento de água da chuva mediante
áreas de armazenamento de matérias-primas e produtos para descarte;
• impermeabilização de áreas de armazenamento;
• utilização de caixas separadoras de óleos e graxas para remoção destes
materiais das águas provenientes das instalações de corte, moldagem e
uso de compressores na produção de vidro;
• reutilização das águas residuais após passagem pelos tanques de

158
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sedimentação ou de clarificação.
A geração de resíduos sólidos não é significativa, uma vez que os resíduos
gerados podem ser reabsorvidos no processo.
Quanto à poluição sonora, as medidas de controle que podem ser adotadas
referem-se ao tratamento acústico de áreas de trabalho ou de equipamentos.
Em algumas áreas de produção, por razões técnicas, não é possível ainda tratar
adequadamente com proteção acústica as máquinas modeladoras de vidro,
especialmente vidros para recipientes, de tal forma que os trabalhadores destas
áreas têm que usar equipamentos de proteção individual (protetores auriculares).
Como critério para controle da emissão de ruídos, deve-se considerar dois
aspectos: os níveis de pressão sonora no ambiente interno de trabalho, que pode
afetar a saúde dos trabalhadores, e os níveis de pressão sonora no ambiente
externo, que pode provocar desde incômodos até danos à saúde da população
residente no entorno do empreendimento.
Segundo a Portaria n.º 3214/1978 do Ministério do Trabalho, considera-se
como critério para exposição ao ruído, no ambiente de trabalho (recinto fechado),
os seguintes limites, de acordo com o tempo de exposição (TABELA 1):

TABELA 1: LIMITES DE RUÍDOS POR TEMPO DE EXPOSIÇÃO


INTENSIDADE [DB(A)] TEMPO DE EXPOSIÇÃO
85 8h
86 7h
87 6h
88 5h
89 4h30min
90 4h
91 3h30min
92 3h
93 2h40min
94 2h15min
95 2h
96 1h45min
98 1h15min
100 1h
102 45min
104 35min
105 30min
106 25min
108 20min
110 15min
112 10min
114 08min
115 07min

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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Quanto ao ruído que se propaga no ambiente externo do empreendimento, a


Resolução do CONAMA n.º 001/90 determina que a emissão de ruídos em decorrência
de atividades industriais, entre outras, deve estar de acordo com os níveis considerados
aceitáveis pela NBR 10.151 – Avaliação de Ruído em Áreas Habitadas Visando ao
Conforto da Comunidade, da Associação Brasileira de Normas Técnicas, que indica,
por exemplo, para uma área urbana residencial o índice de 55 dB(A) para o período
diurno e de 50 dB(A) para o período noturno. Para uma área urbana industrial, o nível
indicado é de 70 dB(A) para o período diurno e de 65 dB(A) para o período noturno.

3.6.4 - Referências para a análise ambiental da atividade


O impacto ambiental de indústrias de minerais não metálicos provem
diretamente das emissões de gases de escape e poeira, geração de ruídos e poluição
das águas.
Os valores limites para emissão de poluentes devem ser fixados pelo órgão
ambiental quando do licenciamento da atividade, com base na legislação vigente,
ou, tomando como referência os limites estabelecidos pela legislação internacional,
adaptando-os à nossa realidade.
Na elaboração e análise de projetos de empreendimentos desta natureza,
deve-se considerar, além da previsão de instalações que garantam o efetivo
cumprimento das normas sobre emissões de poluentes, as condições do terreno, a
integração com a paisagem e a infra-estrutura existente.
A infra-estrutura compreende, por exemplo, as condições de habitação para
os trabalhadores, os sistemas e volume de tráfego, industrialização da região etc.
Estes aspectos devem ser considerados, posto que as alterações provocadas
pelo empreendimento não serão restritas à área da fábrica.
Devem também ser considerados quais os mecanismos internos de controle
previstos pela empresa para manter adequadamente as instalações de proteção
ambiental, uma vez que todas as técnicas de controle dependem de manutenção
sistemática para eficiência na sua operação.
Além dos controles operacionais é imprescindível que haja um plano de
monitoramento com avaliações periódicas das emissões (caso não seja possível o
monitoramento contínuo), para se verificar a presença de materiais contaminantes
e comprovação do atendimento dos padrões de emissão.
Na fabricação de vidro, o reaproveitamento de vidros usados no processo
pode reduzir a demanda energética de produção e a carga de resíduos destinados

160
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

para aterros sanitários, aumentando a vida útil destas áreas. Cabe considerar, no
entanto, que o processamento de vidros que tenham sido fundidos com fluorita,
pode aumentar a concentração de compostos de flúor nos gases de escape, o
que precisa ser controlado.
Também como alternativa para eliminação de resíduos, a indústria de
cimento ganha cada vez maior importância.
A prática de destruição de resíduos em fornos de cimento, iniciou-se nos
Estados Unidos em 1979 e é chamada co-processamento.
A alta temperatura da chama e a natureza do produto fazem com que os fornos
de cimento sejam atrativos para destruir uma variedade de materiais orgânicos perigosos.
Manejados corretamente, os fornos constituem uma alternativa de menor
custo que os incineradores de resíduos e podem apresentar maior eficiência.
Muitos compostos metálicos tóxicos podem ser queimados em fornos de
cimento, porém requerem cuidado especial no manuseio. Alguns deles só podem
ser introduzidos em quantidades que sejam suficientemente pequenas para não
afetar negativamente a qualidade do produto, nem a segurança, isto porque estes
materiais se vinculam à escória e chegam a fazer parte do produto.
Outro aspecto que requer atenção especial no co-processamento de
resíduos que contenham metais pesados tóxicos, é a emissão destes materiais
para a atmosfera, por exemplo, com relação ao chumbo, até a metade da
quantidade introduzida no forno sai com os gases de escape e se precipita em
forma de poeira. O Tálio não se vincula aos sólidos e é emitido junto com os
gases de escape. Sobre o comportamento do mercúrio, não há ainda conclusões
suficientes.
A utilização dos fornos de cimento para o co-processamento requer
instalações secundárias para armazenamento e manuseio dos resíduos, que
garantam a segurança tanto para os trabalhadores como para o meio ambiente,
tal qual uma planta de processamento de resíduos perigosos.

161
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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

3.6.5 - QUADRO-resumo: Indústrias de Minerais Não Metálicos

IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES


• Contaminação hídrica devido aos • Primeiro, deve-se procurar reciclar as águas de
efluentes, águas de resfriamento e ao resfriamento.
escoamento de águas de drenagem • Em caso de descarte, só pode ocorrer em temperatura
da chuva pelas pilhas de materiais tal que não provoque aumento de temperaturas das
(matéria-prima ou de descarte). águas de recepção maior que 3 0C.
• Os efluentes e águas de lavagem devem ser submetidos
a tratamento anterior ao descarte, de forma a remover
os sólidos suspensos e dissolvidos, a corrigir o pH e
remover óleos e graxas.

Deve-se adotar medidas de drenagem e revestimento
das áreas de armazenamento de forma que se reduza
no mínimo a quantidade de águas de chuva que possam
se infiltrar e lixiviar materiais.
Contaminação atmosférica devido à:
• Emissão de partículas para a • Utilização de sistemas de coleta e separação de
atmosfera. Provenientes de todas as partículas com o uso de filtros.
operações da planta: trituração, • Utilização de coberturas ou fechamento de esteiras
manejo de materiais, fornos, transportadoras, trituradores etc.
resfriadores de escória etc. • Pavimentação das vias de acesso
• Umedecimento superficial das pilhas de armazenamento.

• O dióxido de enxofre assim como os cloretos e fluoretos


• Emissão de dióxido de enxofre, pelo podem ser absorvidos pela ação de substâncias
forno, proveniente da queima de alcalinas, portanto, pode ser reduzida a emissão destes
combustível. poluentes com a adição de substâncias de cálcio e sódio.
Esta ação pode ser melhorada com o pré-aquecimento e
secagem de matérias-primas durante a moagem.
• Emissão de óxidos de nitrogênio. • Redução mediante uso de filtros de carvão ativo e de
fornos de pré-aquecimento e pré-calcinadores.
• Emissão de contaminantes tóxicos e • Qualquer resíduo perigoso só pode ser co-processado
metais como p.ex. chumbo, após ser submetido a teste de queima que comprove a
decorrentes da queima de resíduos sua eliminação sem conseqüências danosas para o meio
perigosos como combustíveis ambiente.
adicionais complementares. • Devem ser avaliadas as condições da planta para
manuseio dos resíduos e se as instalações de controle
ambiental são suficientes para assimilar a poluição
adicional que pode ser produzida.
• Emissão se ruídos. • Tratamento acústico de áreas de trabalho ou de
equipamentos.
• Utilização de EPI (equipamento de proteção individual –
protetor auricular).
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
• Resolução CONAMA - 020/86 - Padrões de emissão para efluentes líquidos.
• Resolução CONAMA - 006/88 - Licenciamento ambiental de atividades industriais geradoras de resíduos
perigosos.
• Resolução CONAMA - 003/90 - Padrões de qualidade do ar.
• Resolução CONAMA - 008/90 - Padrões de emissão de poluentes atmosféricos.
• Resolução CONAMA - 001/90 - Limites de emissão de ruídos.
• Resolução CONAMA - 002/90 - Programa silêncio.
• Normas ABNT - NBR 10151 – Avaliação de ruídos em áreas habitadas.
• Normas ABNT - NBR 10152 – Níveis de ruído para conforto acústico.
• Resolução CONAMA – 237/97 – Licenciamento Ambiental.

162
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

3.7 - Indústrias Diversas


Serão abordados neste capítulo os principais impactos ambientais e medidas
atenuantes relacionados ao desenvolvimento das seguintes atividades:
• Fabricação de Equipamentos Mecânicos, Elétricos e Eletrônicos.
• Indústria da Madeira.
• Indústria de Papel e Celulose.
• Indústria de Cerâmica Vermelha e
• Indústria de Sal.

3.7.1 - Fabricação de equipamentos mecânicos, elétricos e eletroeletrônicos


O setor de fabricação de máquinas e equipamentos representa uma
produção altamente diversificada, que elabora produtos semi-acabados e/ou
acabados e fornece equipamentos para utilização nos diversos setores da
economia.
A produção de equipamentos mecânicos se dá principalmente em
operações de transformação de materiais metálicos, em alguns casos são
utilizadas matérias-primas com considerável risco para o meio ambiente (p.ex.
metais pesados) e substâncias perigosas (p.ex. solventes clorados). No processo
de fabricação são gerados vapores, radiação térmica e ruído, assim como resíduos
diversos e águas residuárias, que apresentam riscos potenciais para o meio
ambiente e especialmente para a saúde dos trabalhadores.
Destacam-se as seguintes operações e procedimentos, que podem ser
desenvolvidos isoladamente ou em conjunto, dependendo do produto a ser
fabricado e do porte do empreendimento.

Usinagem e Acabamento de Metais


Usinagem é o processo pelo qual se produzem peças metálicas ou se faz
o acabamento de peças. Envolve o uso de uma série de máquinas similares,
especializadas na execução de determinado tipo de trabalho ( fabricar uma peça
específica, aparar rebarbas etc.), por meio, basicamente, do corte do metal. O
resultado é a peça pronta e as aparas do metal, que são consideradas resíduos
deste processo, podendo, no entanto, ser reaproveitadas, por exemplo, na
produção de aço (no caso de metais ferrosos).
163
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

O processo de usinagem pode ser feito a seco ou a úmido, sendo o último


mais tradicional e de maior utilização. O principal problema deste processo é a
utilização do óleo emulsionado na peça que está sendo usinada.
Este óleo é geralmente recirculado na própria máquina, mas as aparas ou
cavacos do metal saem umedecidos com o óleo. As aparas geralmente são vendidas
para plantas de reciclagem de metais. Muitas empresas fazem a remoção do óleo
emulsionado antes da venda. Os procedimentos de limpeza das peças são os mesmos
descritos a seguir no item “Limpeza e Desengraxe de Peças”.
Cada máquina deverá ter contenção para o caso de vazamentos de óleo.
No processo a seco, as máquinas não necessitam refrigeração por óleo
emulsionado. As aparas são retiradas secas e vendidas, porém, apesar de
apresentar vantagens sob o aspecto ambiental, o processo ainda é pouco utilizado.
Nas unidades de usinagem são gerados também outros tipos de resíduos
que merecem atenção quanto ao destino a ser dado, como: embalagens de
produtos químicos e materiais (ex. estopa) contaminados com óleos ou solventes.

Limpeza e desengraxe de Peças


Antes de serem submetidas a tratamento de superfície, as peças fabricadas
devem ser limpas, a fim de eliminar substâncias tais como: óleos, graxas, resinas,
ceras ou plástico.
O desengraxe e a limpeza de peças podem ser feitos mediante distintos
procedimentos (p.ex.: desengraxe a frio, a quente ou a vapor). O desengraxe é
feito, normalmente, por imersão da peça em algum tipo de solvente.
Devido às propriedades como solventes de graxas e à grande volatibilidade, os
hidrocarbonetos clorados são utilizados como desengraxantes em quase todas
as áreas de transformação de metais, tanto na limpeza a frio como a quente.
A prática de lavagem com solventes clorados propicia a difusão de vapores
nocivos à saúde, especialmente no ambiente de trabalho. Por contato com a pele ou
aspiração, os solventes clorados podem causar danos às mucosas, ao sistema nervoso
central, ao fígado, aos rins e aos pulmões.
A maioria dos solventes orgânicos são combustíveis e altamente
contaminantes para a água. Nos procedimentos alternativos utilizam-se soluções
aquosas alcalinas (p. ex.: detergentes) ou água a alta pressão.

164
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Portanto, para atividades que desenvolvam estas operações, devem estar


previstas, no projeto, soluções para os seguintes aspectos:
• controle das emissões evaporativas de solventes, que pode ser executada
pela exaustão forçada do ar, nas áreas onde estão instalados os banhos e
filtragem por meio de lavador de gases ou sistemas de filtros com carvão
ativo;
• tratamento do banho em caso de descarte após repetidas utilizações, que
deve compreender a decantação e a neutralização das águas residuárias
antes do descarte;
• tratamento da borra ou lodo residual, que pode ser realizado mediante
processo de desidratação, inertização e solidificação, destinação em aterro
especial classe 1 ou outra alternativa, de acordo com a norma NBR 10004
– Classificação de resíduos, da ABNT;
• sistema de coleta (drenagem) e tratamento das águas residuárias
resultantes das operações de limpeza dos pisos das áreas dos banhos e
de armazenagem de produtos químicos;
• utilização de equipamentos de segurança.

Galvanização
Existem diversos tipos de tratamento para a obtenção de determinadas
características superficiais, aplicados com a finalidade de proteger contra a corrosão,
aumentar a dureza e a espessura de certas peças e para embelezamento.
A galvanotécnica é o método de revestimento, por processos químicos e
eletrolíticos, de superfícies metálicas, com outras superfícies metálicas. Quase todos
os serviços galvanotécnicos se processam por meio de banhos em tanques. Os banhos
se constituem de um sal do metal que irá depositar-se na superfície da peça.
Os banhos podem ser ácidos, alcalinos ou neutros. Existem dois tipos de banhos:
os banhos de imersão simples, nos quais as peças são simplesmente imersas durante
algum tempo, e os banhos eletrolíticos, nos quais a deposição metálica ou a limpeza
das peças se processa por intermédio de corrente elétrica.
Para se proceder a eletrodeposição de um metal sobre uma peça, esta deverá
entrar no banho rigorosamente limpa. A limpeza das peças pode ser feita por meio
dos banhos de limpeza e desengraxe, citados no item Limpeza e Desengraxe de
Peças, ou por banhos de decapagem.

165
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

A decapagem é aplicada quando há necessidade de desoxidar (remover


ferrugem) ou retirar camadas de tinta ou outras películas das peças. É geralmente
feita com ácido sulfúrico, ácido clorídrico ou soda cáustica, em banhos frios ou quentes.
São várias as possibilidades de revestimento de um metal qualquer por outro
metal. Os metais mais usados para recobrimento são: zinco (geralmente cianeto de
zinco, óxido de zinco, cianeto de sódio, hidróxido de sódio e carbonato de cálcio),
cromo (geralmente anidrido crômico e ácido sulfúrico) e níquel (geralmente sulfato
de níquel e cloreto de amônia), às vezes combinados na mesma planta. Nos banhos
de zinco ainda é comum usar cianeto, embora sua utilização venha sendo substituída
pelos outros já mencionados, devido à sua alta toxicidade.
Os resíduos líquidos de eletrodeposição são gerados nos seguintes pontos:
• extravasores dos tanques de lavagem das peças;
• descarga de fundo dos tanques para a renovação completa dos banhos
eletrolíticos, após semanas ou meses de utilização;
• respingos entre os tanques na transferência de objetos de uma unidade
para a outra;
• vazamentos de tanques e canalizações.
Estes resíduos são extremamente prejudiciais para o meio ambiente, devido à:
• presença de metais tóxicos, especialmente de cromo hexavalente, cádmio e
outros;
• presença de ânions tóxicos, especialmente de cianetos, sulfetos e fluoretos;
• acidez e/ou alcalinidade pronunciadas; no caso de despejos da decapagem,
prevalece sempre o caráter ácido.
As parcelas mais importantes destas águas residuárias são as que provêm
dos extravasores dos tanques de lavagem de peças. Entre cada imersão no banho, a
peça é lavada (às vezes com solução ácida ou básica). Esta descarga é geralmente
contínua e seu tratamento tende a ser negligenciado em algumas plantas,
principalmente as mais artesanais.
Nos casos em que existe uma estação de tratamento de águas residuárias, a
mesma deverá conter tanque de separação de metais pesados. A precipitação dos
metais pesados gera uma borra denominada lodo galvânico, que merece tratamento
especial (aterro especial classe 1, inertização e solidificação, ou outra alternativa,
considerando a classificação do resíduo de acordo com a NBR 10004 da ABNT). É
comum fazer o armazenamento do lodo no interior da planta, muitas vezes em condições
inadequadas, com sérios riscos de contaminação para o solo e para as águas superficiais
e subterrâneas.

166
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Processo de Pintura
Os tipos de pintura mais comuns são: pintura por imersão, pintura a
pistola, e pintura eletrostática a pó. Os mesmos processos podem ser
empregados para envernizamento.
Na pintura por imersão, as peças passam por um banho de tinta e seguem
para uma estufa onde o solvente evapora, gerando emissão atmosférica.
Na pintura a pistola, a tinta é aplicada sob pressão normalmente em
câmaras fechadas, chamadas cabines de pintura, que podem apresentar sistemas
de “cor tina d’água” localizadas ao fundo da câmara, as quais absorvem o
excedente da tinta. A tinta excedente coagula e precipita, a água, após filtragem
é recirculada. O resíduo, chamado borra de tinta, é classificado como resíduo
perigoso e deve ter tratamento especial (inertização, solidificação, disposição em
aterro especial classe 1 ou incineração). Pode ser co-processado em fornos de
produção de cimento, dado ao seu alto poder calorífico, e pode também ser
reutilizado na fabricação de tinta de segunda linha.
Na pintura eletrostática a pó, a peça é magnetizada e o pó adere à sua
superfície. A peça passa então por uma estufa, onde são liberados os solventes.
Ocorrem também sobras de tinta/verniz em pó, que devem ser captados por
sistema de exaustão e filtro (pode ser filtro de mangas). O pó é geralmente
reciclado, devido ao seu alto valor comercial.

Operações com Material Abrasivo


As operações com material abrasivo consistem nas atividades de lixamento,
polimento, esmerilhamento etc. São características destas atividades as elevadas
temperaturas, o desprendimento de material da peça que está sendo trabalhada
e o desgaste da lixa ou disco do abrasivo utilizado.
Além do ruído, os riscos de poluição procedem principalmente das emissões
de poeira ou partículas de abrasão provenientes da lixa, da peça, e em alguns
casos do seu recobrimento.
Dependendo das circunstâncias, as emissões podem conter partículas das
substâncias lubrificantes de refrigeração ou poeira metálica (p. ex.: de cromo, cobalto,
níquel e berílio). Estes metais se incluem dentre as substâncias potencialmente
cancerígenas.
167
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Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Para atenuação dos impactos ambientais, deve ser realizada a aspiração


e coleta da poeira e partículas geradas nas operações de abrasão. Deve também
ser garantida a utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs),
especialmente do ouvido e vias respiratórias.

3.7.1.1 - QUADRO-resumo: Fabricação de Equipamentos Mecânicos, Elétricos e


Eletro-eletrônicos
IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
• Poluição do solo e contaminação • Não deve ser lançada nenhuma água residuária, sem o
hídrica devido ao lançamento de tratamento necessário para sua depuração, nos rios ou
efluentes, águas de lavagem, descarte em locais onde possa ocorrer infiltração.
de águas de banhos de peças e/ou • Os efluentes hídricos podem ser tratados por:
disposição inadequada do lodo neutralização, evaporação, separação de óleos e graxas,
residual, provenientes das operações dependendo do tipo de carga contaminante que se quer
de limpeza e desengraxe e dos remover. No tratamento deve ser previsto tanque de
banhos de decapagem e separação de metais pesados. O lodo residual necessita
galvanização. tratamento especial (aterro especial classe 1,
inertização, solidificação, entre outros).
• Para lançamento de efluentes líquidos nos corpos
hídricos receptores, devem ser observados os padrões
para emissão de efluentes constantes da resolução do
CONAMA 020/86.
• Os depósitos de materiais que possam ser lixiviados
pelas águas da chuva, devem ser cobertos e possuir
sistema de drenagem de forma a evitar a contaminação
das águas pluviais.
• As áreas de armazenamento e manuseio de matérias-
primas e produtos (especialmente os reagentes
utilizados nos banhos), devem ser impermeabilizadas e
contar com sistema de canaletas ou ralos coletores de
forma que os derrames eventuais sejam conduzidos ao
tratamento, assim como as águas de lavagem destas
áreas.
• Emissões de partículas ou poeira para • As emissões de partículas podem ser controladas por
a atmosfera, provenientes das meio do uso de equipamentos de aspiração das
operações de abrasão (lixamento, partículas, acoplados nos equipamentos de abrasão. Os
esmerilhamento etc.). operadores dos equipamento mecânicos devem utilizar
Equipamentos de Proteção Individual apropriados.
• Emissões gasosas e evaporativas de • O controle das emissões de gases pode ser feito por
solventes e desengraxantes utilizados meio de sistemas de exaustão e captação dos gases e
nos banhos de limpeza e tratamento tratamento mediante o uso de lavadores de gases, ou
e/ou solventes e partículas emitidas absorção com carvão ativado, entre outras técnicas.
nos processos de pintura.
• Liberação casual de solventes e • Manutenção preventiva de equipamentos e áreas de
materiais ácidos ou alcalinos, armazenamento para se evitar fugas casuais.
potencialmente perigosos. • Instalar diques e bacias de contenção ao redor ou a
jusante dos tanques de banhos e/ou de armazenamento
de produtos perigosos ou que possam apresentar riscos
para o meio ambiente.
continua

168
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

conclusão
IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
• Contaminação do solo e/ou de águas • Os resíduos sólidos que não possam ser recuperados e
superficiais ou subterrâneas pela reaproveitados devem ser tratados adequadamente
disposição inadequada de antes da disposição final.
embalagens de produtos químicos • Para escolha do tratamento adequado deve ser
e/ou materiais contaminados com observada a classificação do resíduo, de acordo com a
óleos emulsionados (aparas norma da ABNT - NBR 10004.
resultantes da usinagem de peças), • De acordo com a natureza do resíduo, as possibilidades
bem como materiais com borra de de tratamento incluem: incineração, disposição em aterro
tinta ou lodo residual dos banhos. industrial controlado (Classe1), inertização e solidificação
química, encapsulamento, queima em fornos de
produção de cimento etc.
• Não havendo possibilidade de tratamento na área da
indústria, o resíduo pode ser tratado em outra planta
que disponha de instalações adequadas para
tratamento, neste caso, deve-se ter cuidado especial
com o transporte.
• No caso do resíduo não ser tratado imediatamente após
sua geração, deve-se prever, na área da indústria, locais
adequados para seu armazenamento.
• Poluição sonora causada pelo uso de • Tratamento acústico por meio do enclausuramento de
equipamentos e operações que geram equipamentos ou de proteção acústica nas edificações
ruídos elevados. onde estão instalados os equipamentos ruidosos e/ou
nas unidades cujas operações gerem níveis de ruído
significativos.

3.7.2 - Indústria da madeira


Apesar da disponibilidade de materiais metálicos, químico-sintéticos e
minerais, a madeira tem se mantido como importante matéria-prima com aplicação
variada como materiais de trabalho e decoração, especialmente nos últimos 30
anos. Na maioria dos países tropicais e subtropicais, a madeira tem um papel
decisivo também como recurso energético.
A indústria da madeira compreende o processamento mecânico
(desdobramento, cepilhamento, fresagem e lixamento), a fabricação de materiais
derivados da madeira (painéis, aglomerados e compensados), a fabricação de papel
e celulose, que será tratada num item específico, e a produção de carvão vegetal.

Beneficiamento Mecânico da Madeira


O processamento mecânico da madeira começa nas serrarias. A madeira
serrada é utilizada diretamente como material de construção ou é enobrecida mediante
cepilhamento, fresagem, lixamento, pintura ou impregnação, dentre outros tratamentos.

169
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Os equipamentos mecânicos empregados na indústria da madeira produzem


níveis elevados de ruídos, e este problema se acentua quando são construídas serrarias
abertas.
O beneficiamento mecânico da madeira gera, além de ruídos, emissões de
poeira. Nas serrarias que fazem somente o corte inicial da madeira, por tratar-se
quase sempre de madeiras frescas e fibras saturadas, as emissões de poeira têm
uma importância relativamente pequena, sendo desnecessário o uso de filtros. No
caso de armazenamento da serragem ao ar livre, devem ser adotadas medidas de
precaução para evitar o carregamento de poeira pelo vento.
A formação de poeira tem uma importância maior nas carpintarias, fábricas
de móveis e empresas afins. Nestes lugares, a qualidade e a quantidade da poeira são
diferentes das que se produz nas serrarias. Especialmente em função de que se gera
poeira fina, as quais são mais difíceis de serem eliminadas e têm mais facilidade de
atingir os pulmões, provocando danos à saúde. Quando se trabalha com madeira
quimicamente tratada, a poeira gerada torna-se potencialmente mais perigosa.
Para reduzir a emissão de poeira, as máquinas devem ser dotadas de dispositivos
de aspiração, dimensionados adequadamente, de forma que se consiga uma sucção
suficiente da poeira, tendo-se cuidado com a pressão negativa que pode ser gerada.
Antes de evacuar o ar aspirado para o exterior, deve-se separar a poeira
mediante o uso de separadores centrífugos (ciclones) ou filtros têxteis.

Fabricação de Materiais Derivados da Madeira


Os materiais derivados da madeira compreendem as placas de aglomerados
de madeira estratificada (produzida a partir da colagem de várias folhas de chapa),
pranchas de fibras e compensados. Excetuando-se alguns tipos de pranchas de fibras,
estes produtos contêm aglutinantes orgânicos e inorgânicos e, em parte, aditivos.
Os aglutinantes são, principalmente, resinas aminoplásticas e fenoplásticas,
produtos derivados da condensação de compostos de amônia (uréia, melanina) ou de
substâncias fenólicas ( fenol, formaldeídos). A colagem de placas de madeira estratificada
a base de colas de diisocianato é relativamente nova. Nas placas de madeira
estratificadas utilizam-se colas de acetato de polivinil (pedra branca).
No acabamento das placas de aglomerados, de madeira estratificada e de
pranchas de fibras, produz-se uma poeira de madeira especialmente fina que deve
ser aspirada e separada do ar por meio de ciclones ou filtros têxteis.
170
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

As emissões gasosas surgem na secagem do material e na compressão


para formação das placas. Na compressão das placas de compensados, e de madeira
estratificada, em caso de serem utilizadas resinas aminoplásticas ocorrem emissões
de formaldeídos. As resinas de fenolformadeído emitem vestígios de fenol e
formaldeídos em menor quantidade que as resinas aminoplásticas. Os fenóis e
formaldeídos são potencialmente tóxicos para a saúde.
Na limpeza das máquinas de aplicação de cola e das prensas ocorre a
geração de águas residuárias. Quando se utilizam procedimentos úmidos na
fabricação de pranchas de fibras, originam-se águas residuárias que contêm finas
partículas de madeira, celulose, aglutinantes e outros produtos que podem ser
eliminados mediante procedimentos físicos (sedimentação, filtração) e/ou biológicos.
Os materiais de sobra, em forma de partículas de madeira, podem ser
reintroduzidos no processo de produção de placas de aglomerados ou podem ser
utilizados como material combustível para as caldeiras.

Produção de Carvão Vegetal


O carvão vegetal é produzido mediante um processo de decomposição
térmica da madeira, com controle de ar. Este processo gera produtos gasosos e
líquidos como gás, vinagre, álcool etílico e alcatrão da madeira.
A carbonização se realiza sob temperaturas compreendidas entre 400 e 600
ºC. O produto mais importante é o carvão vegetal, que, além do uso como recurso
energético, pode ser utilizado como carburante e redutor na metalurgia e, ainda,
como matéria-prima na indústria farmacêutica. O alcatrão da madeira e as demais
substâncias líquidas orgânicas podem ser processadas ou queimadas com fins
energéticos.
A carbonização da madeira e a obtenção de celulose são os únicos
procedimentos, em escala industrial, que modificam consideravelmente as
características químicas da madeira, por isso, ao invés de serem considerados
como um setor da indústria madeireira, constituem mais apropriadamente, um
setor especial da indústria química.
A carbonização da madeira freqüentemente é realizada em pequenas
empresas, que cortam elas mesmas os materiais de partida (lenha), ou os obtêm
dos resíduos de madeira das serrarias próximas.
As emissões gasosas da carbonização da madeira, em forma de fumaça
e com odor intenso, além de serem incômodas, podem apresentar, caso não se
171
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

trabalhe adequadamente, derivados da pirólise como o benzapireno, que podem ser


prejudiciais para a saúde das pessoas que trabalham na produção, ou das populações
do entorno, em caso de elevadas concentrações. (Apresenta riscos de causar câncer).
Na carbonização da madeira são produzidas consideráveis quantidades de
água pirolítica (até cerca de 15% do material de partida) estas águas contêm, além
de alcatrão pirolítico, substâncias orgânicas dissolvidas.
Nas indústrias de carbonização da madeira de grande escala, os produtos
líquidos derivados da pirólise, devem ser tratados adequadamente, atendendo aos
mesmos padrões aplicáveis às instalações da indústria química. Normalmente, na
produção em pequena escala não se adotam, ainda, medidas de tratamento para
estes produtos.

3.7.2.1 - QUADRO-Resumo: Indústria da Madeira


IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
• Poluição do solo e contaminação • Não deve ser lançada nenhuma água residuária, sem o
hídrica provocada pelo lançamento de tratamento necessário para sua depuração, nos rios ou em locais
águas residuárias provenientes das onde possa ocorrer infiltração.
operações de limpeza de máquinas de • Os efluentes hídricos podem ser tratados por: neutralização,
aplicação de cola e prensas utilizadas evaporação, separação de óleos e graxas, dependendo do tipo
na fabricação de materiais derivados de carga contaminante que se quer remover. No tratamento deve
da madeira, e pelo lançamento de ser previsto tanque de separação de metais pesados. O lodo
produtos líquidos derivados da pirólise residual necessita tratamento especial (aterro especial classe I,
da madeira (extrato sulfuroso). inertização, solidificação, entre outros).
• Para lançamento de efluentes líquidos nos corpos hídricos
receptores, devem ser observados os padrões para emissão de
efluentes constantes da resolução do CONAMA 020/86.
• Os depósitos de materiais que possam ser lixiviados pelas águas
da chuva, devem ser cobertos e possuir sistema de drenagem de
forma a evitar a contaminação das águas pluviais.
• As áreas de armazenamento e manuseio de matérias-primas e
produtos (especialmente os reagentes utilizados nos banhos)
devem ser impermeabilizadas e contar com sistema de canaletas
ou ralos coletores de forma que os derrames eventuais sejam
conduzidos ao tratamento, assim como as águas de lavagem
destas áreas.
Poluição atmosférica provocada pela:
• emissão de poeira produzida no • As emissões de partículas podem ser controladas por
beneficiamento da madeira e equipamentos de aspiração e separação mediante o uso de
armazenamento da serragem. ciclones. A serragem deve ser armazenada em local coberto,
• emissão de poeira fina e emissões evitando-se a dispersão de partículas através do vento.
gasosas produzidas na fabricação de
placas de aglomerados e
compensados.
• Poluição sonora provocada pelo uso • Tratamento acústico através do enclausuramento de
de equipamentos mecânicos no equipamentos ou de proteção acústica nas edificações onde
beneficiamento da madeira. estão instalados os equipamentos ruidosos e/ou nas
unidades cujas operações gerem níveis de ruído significativos.
• No caso de instalação de serrarias abertas, procurar adotar
distância suficiente de áreas habitadas.

172
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

3.7.3 - Indústria de papel e celulose


A Indústria de papel e celulose compreende as seguintes etapas de produção:
preparação da madeira ou outra matéria-prima, produção de pasta ou polpa e
fabricação do papel.
A produção de papel pode realizar-se em conjunto com a produção de polpa
(fábricas de papel integradas) ou separadamente. Nas fábricas não integradas utiliza-
se a polpa seca, a qual é misturada com água antes de entrar na produção de
papel.
Os processos de produção de polpa são mecânicos, termomecânicos,
quimiotermomecânicos, químicos ou semiquímicos, utilizando o processo Kraft, Sulfito
ou Kraft/Sulfito. O processo Kraft é o dominante devido à sua versatilidade. Algumas
plantas mais antigas empregam o processo Sulfito, que predominou até 1935.
A madeira é a matéria-prima principal para a produção de polpa, porém se
empregam também fibras vegetais como: palha, bagaço, cana, sisal, linho, juta etc.
O papel de descarte (reciclagem) é uma matéria-prima cada vez mais importante,
especialmente para a produção de papel jornal e certos tipos de papel de seda,
revistas e cartões. O único tratamento químico necessário é a eliminação da tinta,
porque a maioria do papel reciclado se reduz a polpa mecanicamente.
As fábricas de polpa e papel empregam grandes quantidades de água na
lavagem das toras, necessária para a remoção de impurezas, barro, areia etc.
Normalmente utiliza-se água recuperada da fábrica de papel para a lavagem. As
águas de lavagem podem ser recirculadas após a separação dos sólidos.
Eventualmente, há necessidade de descarte.

Polpa de Kraft e Soda


Os efluentes do processo Kraft e Soda consistem em licor utilizado e
condensados contaminados. O condensado deve ser tratado antes de ser lançado
no ambiente, por meio de separação com ar ou vapor. A separação com vapor é
mais cara, porém é mais utilizada porque os volumes de gases a serem manejados
são menores. Quando se utilizam operações de branqueamento com cloro, este
pode aumentar a toxicidade do condensado.
O “licor negro” que se produz durante a lavagem da polpa, tem de ser
concentrado mediante evaporação e posteriormente queimado. Para este processo
deve-se empregar um evaporador de múltiplas etapas. Devido às importantes

173
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

emissões de sulfetos de hidrogênio que são produzidas, não deve ser utilizado o
método de evaporação direta com gases de escape.
As emissões gasosas do processo Kraft e Soda consistem em compostos de
enxofre, compostos orgânicos, dióxidos de enxofre e óxidos de nitrogênio.
Especialmente os compostos de enxofre podem causar graves problemas de emissão
de odores. Os gases devem ser coletados e lavados de forma muito cuidadosa. A
caldeira de recuperação ou o forno, onde se queima o licor após evaporação, pode
ser uma fonte considerável de emissão de partículas.

Polpa de Sulfito
A contaminação atmosférica produzida no processo Sulfito é diferente da
que se produz no sistema Kraft. O contaminante principal é o dióxido de enxofre. A
fim de evitar a contaminação atmosférica deve ser projetado criteriosamente o
sistema de preparação do ácido e o sistema de eliminação de gases de digestão.

Polpa Mecânica e Termomecânica


São os processos mais simples para produzir polpa de madeira e a quantidade
de descartes é muito menor que a dos processos químicos. A redução mecânica
conver te cerca de 90 a 95% da madeira em polpa, comparado com
aproximadamente 50% para o processo Kraft. A contaminação atmosférica é mínima
e a contaminação hídrica depende principalmente do tipo de madeira que se utiliza;
consiste em carbohidratos, lignina, extratos, ácido acético, ácido fórmico, metanol e
cinza. A toxicidade e a Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) se originam dos
sólidos solúveis em água, como certos carbohidratos, extratos e soluções inorgânicas
que provêm do conteúdo das fibras e do processo de putrefação.

Fabricação de Papel
A fabricação de papel requer grandes quantidades de água, a maior parte
da qual pode ser reciclada depois de tratada. As características dos efluentes variam
muito de uma fábrica para outra, dependendo do grau de reciclagem da água, do
tipo de papel que se produz, do tamanho da fábrica e da matéria-prima que se
emprega. Os principais contaminantes que podem estar presentes são: sólidos
suspensos e sólidos dissolvidos, provenientes das fibras da madeira e os aditivos
empregados na produção de papel.
174
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Efluentes, Emissões e Resíduos das Fábricas de Polpa e Papel


O volume de águas residuárias corresponde aproximadamente ao volume de
água usada. Uma das formas de reduzir o consumo de água é a adoção de circuitos
fechados internos, o que pode resultar em economia, quando se considera o
dimensionamento das instalações necessárias para a clarificação das águas.
Os principais contaminantes que podem estar presentes nas águas residuárias
são:
• reagentes utilizados para a obtenção da celulose (polpa) e para a recuperação
de produtos químicos;
• reagentes usados para o branqueamento da celulose;
• água de evaporação (condensada) durante a recuperação de substâncias
químicas;
• substâncias químicas residuais e substâncias solúveis provenientes da lavagem
do papel usado (reciclagem);
• substâncias dissolvidas provenientes da fabricação de papel e de sua
estocagem;
• substâncias dissolvidas provenientes das águas residuárias de instalações
secundárias.
Esses poluentes podem exercer efeitos nocivos sobre os corpos d’água, como
modificar o pH, colorir as águas, consumir oxigênio, produzir turbidez e ainda apresentar
toxicidade.
Há a necessidade de instalações para tratamento dos efluentes hídricos,
incluindo instalações para clarificação (depuração secundária) antes do descarte.
Os componentes mais importantes das emissões gasosas das plantas de
produção de celulose e papel são: dióxido e monóxido de carbono, poeira (de madeira
ou de substâncias minerais), vapor de água, dióxido de enxofre, compostos reduzidos
de enxofre (mercaptanas, entre outros), óxidos de nitrogênio, compostos de
hidrocarbonetos, gás de cloro e de dióxido de cloro. Estes poluentes apresentam
riscos para a saúde, são potencialmente tóxicos, apresentam riscos de incêndio e
odores desagradáveis, além dos demais efeitos que causam sobre a qualidade do ar.
As medidas de proteção e redução da emissão de poluentes incluem desde a
recuperação, recirculação, combustão ou outros processos químicos de transformação
no interior da planta, até a lavagem, filtragem e absorção de gases em instalações
secundárias.
As fontes de geração de resíduos sólidos são tão diversas quanto as de emissões
gasosas. Os descartes sólidos são formados em grande parte por resíduos da madeira,

175
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

como também por resíduos minerais como lodos calcários, areia e demais implementos
auxiliares, e também as cinzas de caldeiras.
Normalmente, os resíduos sólidos são queimados em caldeiras nas próprias
plantas, sendo submetidos anteriormente à secagem. Na destinação dos resíduos,
deve-se dar atenção especial àqueles que podem apresentar-se como substâncias
críticas, especialmente no lodo dos digestores e dos sistemas de tratamento (metais
pesados das tintas , compostos tóxicos etc.), estes necessitam tratamento especial.
Na fabricação de celulose e papel é grande a geração de ruído, cujas principais
fontes de emissão são: o processamento da matéria-prima (corte da madeira), as
máquinas transpor tadoras e trituradoras, as bombas de vácuo, as máquinas
processadoras, a saída de vapor das caldeiras e o funcionamento dos motores.
Para reduzir os efeitos da poluição sonora podem ser adotadas medidas, tais
como: realizar o corte de madeira e o tráfego pesado somente durante o dia, já que
estas atividades podem ser desenvolvidas de forma intermitente; instalar os
equipamentos ruidosos em recintos apropriados, utilizando materiais de absorção
acústica e eliminar o vapor das caldeiras somente com o uso de dispositivos
silenciadores.
3.7.3.1 - QUADRO-resumo: Indústria de Papel e Celulose
IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
• Poluição do solo e contaminação • Adotar sistemas de circuito fechado interno para
hídrica provocada pelo descarte de reutilização das águas passíveis de reaproveitamento, de
águas residuárias. forma a reduzir o volume de efluentes para tratamento.
• Não deve ser lançada nenhuma água residuária, sem o
tratamento necessário para sua depuração, nos rios ou
em locais onde possa ocorrer infiltração.
• Os efluentes hídricos podem ser tratados por meio de
sistema de tratamento primário (decantação,
sedimentação) e secundário (lagoas de oxidação, lagoas
aeradas, lodos ativados etc.).
• Equilibrar a carga de lançamento sobre as instalações de
tratamento, de forma a garantir sua eficiência.
• Monitorar os efluentes após tratamento e antes da
descarga em corpo hídrico receptor, de forma a
comprovar a eficiência do tratamento.
• Para lançamento de efluentes líquidos nos corpos
hídricos receptores, devem ser observados os padrões
para emissão de efluentes constantes da resolução do
CONAMA 020/86.
• Poluição atmosférica provocada pela • Controlar as emissões mediante operação adequada da
emissão de poluentes como dióxidos caldeira e/ou forno de recuperação do “licor”.
de enxofre, compostos reduzidos de • Remover os compostos reduzidos de enxofre por meio
enxofre, óxidos de nitrogênio, material do uso de lavador de gases com solução alcalina e
particulado, compostos orgânicos posterior recombustão dos gases de escape.
tóxicos (p. ex. cloro e sulfetos de • Adotar sistemas de filtros como ciclones, lavadores de
hidrogênio). gases, precipitadores eletrostáticos ou outros, para a
remoção das partículas.
continua
176
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES


• Poluição do solo e/ou das águas • Reduzir e separar os resíduos na fonte.
superficiais ou subterrâneas • Os depósitos de materiais que possam ser lixiviados
provocadas pela disposição pelas águas da chuva, devem ser cobertos e possuir
inadequada e lixiviação de resíduos sistema de drenagem de forma a evitar a contaminação
sólidos. das águas pluviais.
• Os resíduos sólidos que não possam ser recuperados e
reaproveitados devem ser tratados adequadamente
antes da disposição final.
• Para escolha do tratamento adequado deve ser
observada a classificação do resíduo, de acordo com a
norma da ABNT - NBR 10004.
• De acordo com a natureza do resíduo, as possibilidades
de tratamento incluem: incineração, disposição em aterro
industrial controlado (Classe1), inertização e solidificação
química, encapsulamento, queima em fornos de
produção de cimento etc.
• Não havendo possibilidade de tratamento na área da
indústria, o resíduo pode ser tratado em outra planta
que disponha de instalações adequadas para
tratamento, neste caso, deve-se ter cuidado especial
com o transporte.
• No caso do resíduo não ser tratado imediatamente após
sua geração, deve-se prever, na área da indústria, locais
adequados para seu armazenamento.
• Poluição sonora provocada pela • Realizar o corte da madeira somente durante o dia.
emissão de ruídos do processamento • Instalar os equipamentos ruidosos em recintos
da matéria-prima, das máquinas apropriados, utilizando materiais de absorção acústica e
transportadoras, trituradoras e eliminar o vapor das caldeiras somente com o uso de
processadoras, bem como da saída dispositivos silenciadores.
de vapor das caldeiras e
funcionamento de motores.

3.7.4 - Indústria de sal


O sal é um composto cristalino de sódio (NaCl), encontrado em estado
natural em alguns terrenos ou diluído na água do mar. É usado principalmente
como condimento e na conserva de carnes, embutidos e enlatados. No Nordeste
brasileiro, a produção de sal está concentrada na exploração de salinas a partir
da água do mar, cujo processo é denominado de “Processo de produção de sal
por evaporação solar” .
A produção tem início com a captação da água do mar, com densidade de
3,5º Be (27 g/l NaCl), pela estação de bombeamento inicial, ou pela abertura de
comportas nas marés altas, nas pequenas salinas, e posterior adução para a
área de evaporação da salina, a qual é subdividida em áreas menores, chamadas
de evaporadores.

177
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

A circulação da salmoura na área de evaporação é realizada por gravidade


e por estações de bombeamento interligadas. À medida que a salmoura percorre
a área de evaporação, aumenta a sua concentração devido à evaporação da
água, e ao atingir a densidade de 25 a 26 º Be (255 - 268 g/l NaCl ), a salmoura
é transferida por bombeamento para a área de cristalização que, por sua vez, é
subdividida em vários cristalizadores. Nesta área ocorre a cristalização do cloreto
de sódio (NaCl), e a salmoura, ao atingir a densidade de 29º Be, fase em que a
salmoura é chamada de “água mãe”, é descartada para o mar.
Após a precipitação do sal e durante o período de colheita (a partir de
agosto), os cristalizadores são drenados e o sal é colhido por máquinas colhedeiras
e transportado para o sistema de lavagem. O sal colhido do cristalizador é
descarregado num funil de alimentação do sistema de lavagem, para ser lavado
e depois empilhado por esteiras rolantes e tratores na área de estocagem, para
posterior beneficiamento.
O meio ambiente influencia diretamente a qualidade do sal por meio da
qualidade de sua matéria-prima, a água do mar.
Dentre os impactos ambientais negativos, que podem ser gerados na
produção do sal, destacam-se:
• degradação de áreas de mangue: provocada pela remoção da
cobertura vegetal e alteração das camadas de solo, em face da abertura
de canais, implantação dos evaporadores e demais instalações da planta
e também à deposição de material em áreas adjacentes. A instalação de
salinas nos manguezais causa a morte de toda a flora e fauna da área
utilizada. Mesmo depois de desativadas as áreas das salinas não voltam
a ser manguezal (não se regeneram), tornando-se secas, arenosas e
sem vegetação, com aparência típica de apicum;
• impactos sobre a fauna silvestre regional: decorrentes da retirada
da vegetação e destruição do seu habitat, a exemplo de crustáceos. É
impor tante verificar se o empreendimento não causará prejuízo à
migração de aves que se utilizam de regiões salineiras para fazerem
suas escalas, a exemplo do que acontece na região de Galinhos, no
estado do Rio Grande do Norte;
• degradação do solo e águas: decorrentes da disposição inadequada
dos rejeitos da produção do sal, com destaque para a “água mãe”, que

178
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

é uma salmoura de alta concentração, que não se presta para a produção


de sal, e devido a sua alta concentração não pode ser jogada em qualquer
lugar, pois pode, por exemplo, matar a microfauna existente no mangue,
se ali for despejada; o sulfato de cálcio e o “carágua”, que é uma camada
de sal “doce” que se forma nos cristalizadores, que apesar de não causar
maiores impactos, torna-se preocupante pela quantidade produzida.
Considerando-se que os impactos ambientais negativos causados pela
produção de sal são controláveis e mitigáveis, destacam-se as seguintes medidas
atenuantes:
• redução da área a ser desmatada, procurando não atingir manguezais
para a implantação da salina, mediante a otimização das etapas de adução
e evaporação, diminuindo conseqüentemente a área destinada aos
evaporadores;
• despejo da “água mãe” no mar;
• utilização do sulfato de cálcio e aproveitamento do “carágua” no
capeamento de estradas internas das salinas, que até então não se
presta para outro tipo de aproveitamento.
Na elaboração e análise de projetos de salinas, deve-se observar a ocorrência
de:
• alterações no meio ambiente, tais como aumento da concentração de sal da
água, que é captada com 27g/l NaCl, com a possibilidade de morte da
microfauna;
• alterações provocadas pela remoção da vegetação nativa para
implantação da infra-estrutura;
• alterações no Meio Ambiente em função da destinação dos resíduos da
produção. A “água mãe” deve sempre retornar ao mar;
• danos sobre a saúde dos trabalhadores, especialmente com as partes
do corpo que ficam em contato direto com o sal, tais como pés e mãos.
São muito comuns acidentes como cortes nos pés causados pelo sal,
que podem ser reduzidos com o uso de “equipamentos de proteção
individual”.
• Ocorrência de poluição sonora provocada especialmente pelas máquinas
de moagem do sal, que pode gerar incômodos à comunidade do entorno
e imediações, no caso de o empreendimento localizar-se em áreas de
adensamentos populacionais.
179
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

3.7.4.1- QUADRO-resumo: Indústria de Sal


IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
• Degradação de áreas de mangue: • Redução da área a ser desmatada, procurando não
provocada pela remoção da cobertura atingir manguezais e demais áreas de vegetação nativa
vegetal e alteração das camadas de para a implantação da salina, otimizando as etapas de
solo, em face da abertura de canais, adução e evaporação, diminuindo conseqüentemente a
implantação dos evaporadores e área destinada aos evaporadores.
demais instalações da planta e
também à deposição de material em
áreas adjacentes.
• Degradação da fauna e flora
silvestres, próximas das áreas
exploradas.
• Degradação do solo e águas: • Despejo da "água mãe" no mar.
decorrentes da disposição inadequada • Utilização do sulfato de cálcio e aproveitamento do
dos rejeitos da produção do sal, com "carágua" no capeamento de estradas internas das
destaque para a "água mãe", que é salinas, que até então não se presta para outro tipo de
uma salmoura de alta concentração, aproveitamento.
que não se presta para a produção de
sal, e devido a sua alta concentração
não pode ser jogada em qualquer
lugar, pois pode, por exemplo, matar
a microfauna existente no mangue, se
ali for despejada; o sulfato de cálcio e
o "carágua", que é uma camada de sal
"doce" que se forma nos
cristalizadores, que apesar de não
causar maiores impactos, torna-se
preocupante pela quantidade
produzida.
• Danos sobre a saúde dos • Uso de equipamentos de proteção individual.
trabalhadores, especialmente com as • Treinamento e orientação dos trabalhadores sobre riscos
partes do corpo que ficam em contato ocupacionais.
direto com o sal, tais como pés e
mãos.

3.7.5 - Indústria cerâmica


A indústria cerâmica, notadamente no Nordeste, está voltada para a
cerâmica vermelha, e conforme descrito pelo Projeto PNUD/FAO/IBAMA, utiliza a
lenha como combustível para a queima dos produtos em fornos intermitentes do
tipo chama descendente (câmara retangular ou circular) ou chama ascendente
(tipo caieira). Algumas indústrias utilizam, também, forno contínuo tipo Hoffmann.
O processo de produção empregado ainda é o mesmo do século passado,
e as raras inovações tecnológicas objetivam apenas a automação do processo,
visando reduzir o custo de mão-de-obra.

180
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

A indústria cerâmica brasileira apresenta uma grande variedade tanto de


processos quanto de produtos, havendo desde os mais rudimentares até os mais
sofisticados. Entretanto, apesar da diversidade, pode-se constatar a ocorrência
de algumas etapas comuns, tais como:
Preparação da matéria-prima - a matéria-prima (argila) é em geral
transportada das jazidas para os pátios de estocagem das indústrias. A argila é,
normalmente, desagregada ao passar pelo desintegrador, cuja função é triturar
os torrões maiores, facilitando o trabalho dos laminadores. Do laminador, a massa
segue para o misturador onde é adicionada água necessária à modelagem,
seguindo para a conformação como uma massa plástica uniforme pronta para a
extrusão;
Conformação/Extrusão - a transformação da matéria-prima em corpo
de forma geométrica desejada, ocorre por meio de processo extrusivo,
conformação plástica e, às vezes, prensagem. Do misturador, a massa plástica
segue para a maromba (extrusora), que impulsiona a massa por meio de uma
rosca sem fim, forçando-a a passar através de uma matriz de ferro (boquilha)
onde é dada à massa a forma do produto desejado (tijolo, telha etc.).
Processamento Térmico - pode ser considerada a etapa mais importante
do processo cerâmico; é caracterizada também por um consumo intensivo de
energia, sendo a lenha o combustível tradicionalmente utilizado como fonte de
energia térmica nas duas principais fases do processo: a secagem e a queima
dos produtos. O tratamento térmico das peças já preparadas (secagem e queima)
corresponde à operação onde ocorrerão as transformações de estrutura e
composição, as quais são responsáveis pela obtenção das propriedades finais
das peças cerâmicas como: cor, porosidade, resistência mecânica etc.
Secagem das peças - o material cerâmico é extrudado pela maromba
de forma contínua, sendo então cor tado, por meio de cortador manual ou
automático, em tamanhos padronizados e os blocos úmidos obtidos são então
transportados para os galpões de secagem ou para os secadores artificiais. A
fase de secagem das peças corresponde à retirada da água adicionada na fase
de conformação ou modelagem do material, para que o mesmo seja extrudado.
A quantidade de água acrescentada varia, geralmente, na faixa de 20 a 30
%, dependendo do tipo de argila. A quantidade de energia consumida nesta fase
é considerável, uma vez que, para evaporar 1 Kg de H2O, em condições normais,
são necessários 540 Kcal. No processo de secagem natural é possível reduzir a
umidade do material para até 10 %, entretanto a umidade ideal para que o

181
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

material seja enfornado é da ordem de 3 %. O tempo de secagem natural é


demorado e bastante variável, podendo levar até 30 dias, dependendo da matéria-
prima utilizada e das condições climáticas.
Queima - é nesta fase do processo que os produtos cerâmicos atingem
suas características funcionais. As peças sofrem, por meio do tratamento térmico
que estão sendo submetidas, transformações físicas e químicas que lhes conferem
as propriedades cerâmicas. Na operação de queima, as peças secas são levadas
ao forno e submetidas a uma determinada curva de queima.
O Projeto PNUD/FAO/IBAMA descreve os principais fenômenos que podem
ocorrer na queima de um corpo cerâmico:
• até 100 ºC ou pouco mais, ocorre a eliminação da água livre não eliminada
totalmente na secagem, ou absorvida do ambiente;
• em torno de 200 ºC, dá-se a eliminação da água coloidal, que permanece
intercalada entre as pequenas partículas de argilo-minerais depois da
secagem;
• entre 350 e 650 ºC, ocorre a combustão de substâncias orgânicas contidas
na argila e a dissociação de compostos sulfurosos;
• entre 450 e 650 ºC, ocorre também a decomposição das argilas, com
liberação sob a forma de vapor, da água de constituição;
• acima de 700 ºC, começam a se desenvolver reações químicas da sílica
e da alumina com elementos fundentes, formando sílico-aluminatos
complexos que dão aos corpos cerâmicos características como: dureza,
estabilidade e resistência físico-química. Atinge-se, assim, o início da
sinterização;
• entre 800 e 950 ºC, os carbonatos (calcário e dolomita) se decompõem
e liberam o CO2;
• acima de 1.000 ºC, os sílico-aluminatos, que estão na forma vítrea,
começam a amolecer dando ao corpo maior dureza, compacticidade e
impermeabilidade com retração considerável.
A carga e descarga dos fornos são, em geral, feitas pelas portas laterais.
No carregamento as peças são empilhadas sobre o piso, até preencherem todo
o espaço disponível da câmara. Depois as portas são fechadas com tijolos, já
queimados, e vedadas com argila. Após estes procedimentos inicia-se a queima.
No descarregamento, as peças são retiradas do forno e empilhadas no pátio.
Os principais impactos ambientais negativos que são produzidos pelo
desenvolvimento das atividades da indústria cerâmica, são os seguintes:

182
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Consumo de Lenha – É importante destacar que o ramo cerâmica é o


principal consumidor de lenha, entre os diversos ramos do setor industrial, que
se utilizam de biomassa como fonte de energia, conseqüentemente, exigindo um
suprimento constante, mantido na maioria das vezes pelo simples desmate de
áreas de vegetação nativa. Se considerarmos as cerâmicas com fornos contínuo,
segundo o Projeto PNUD/FAO/BRA 87/007, o consumo específico é de 1,0 st (metro
estéreo, que é uma pilha de lenha de um metro cúbico) por milheiro de peça.
Deve-se destacar que todos os consumidores de matéria-prima florestal são
obrigados a se registrar como tal no IBAMA e a repor o volume consumido, ou
consumir produtos de origem comprovada, ou seja oriunda de desmatamentos
autorizados ou de áreas exploradas sob regime de manejo de rendimento
sustentado.
Dentre as alternativas para a redução do consumo de lenha, pode ser
considerada a modificação do processo com a utilização de outros materiais
combustíveis como fonte de energia, como o óleo BPF e o gás natural.
Cabe considerar, porém, que estas alternativas têm sido muito pouco
utilizadas até o momento, em função da indisponibilidade de fornecimento, no
caso do gás natural, e dos custos que ainda são mais elevados do que o da lenha.
Emissões atmosféricas – Durante a queima, ocorre a emissão de
poluentes atmosféricos, tais como: material particulado, dióxidos de enxofre
(SO 2) e óxidos de nitrogênio (NO x). Devido à movimentação de materiais
armazenados no pátio, ocorre também a emissão de poeira.
Extração de Argila – Como potenciais impactos decorrentes da extração
da argila destacam-se: o desmatamento da área da jazida e degradação do solo
com abertura de buracos e desbarrancamento de áreas das jazidas, especialmente
quando se trata de margens de rios (matas ciliares). Sobre este aspecto deve ser
observado o Capítulo 5 – Mineração.
Como medidas atenuantes para os impactos ambientais negativos devem
ser adotadas, entre outras, as seguintes:
• implantar reflorestamentos com fins energéticos visando ao auto-
suprimento de lenha;
• realizar a recuperação das áreas degradadas durante a exploração das
jazidas;
• executar o controle da emissão de poluentes na atmosfera, mediante a
fixação da altura adequada das chaminés e a instalação de equipamentos
para depuração dos gases;

183
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• reduzir a emissão de poeira na área do empreendimento mediante o


umedecimento das áreas de circulação interna;
• a utilização por parte dos trabalhadores, de “equipamentos de proteção
individual” - EPIs, tais como botas, luvas, capacete, protetores auriculares
e óculos;
• realizar quando necessário, o tratamento acústico de equipamentos e/
ou edificações, de forma a evitar a ocorrência de poluição sonora.

3.7.5.1 Quadro-Resumo: Indústria Cerâmica


IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
• Emissões atmosféricas, tais como: • Executar o controle da emissão de poluentes na
material particulado, dióxidos de atmosfera, mediante a fixação da altura adequada das
enxofre (SO2) e óxidos de nitrogênio chaminés e a instalação de equipamentos para
(NOx) da queima e poeira do pátio. depuração dos gases.
• As emissões de partículas podem ser controladas pelo
uso de equipamentos de aspiração e separação
mediante o uso de ciclones. A serragem deve ser
armazenada em local coberto, evitando-se a dispersão
de partículas pelo vento.
• O controle das emissões de gases pode ser feito pelo
uso de sistemas de exaustão e captação dos gases e
tratamento mediante o uso de lavadores de gases, ou
absorção com carvão ativado entre outras técnicas.
• A emissão de poeira na área do empreendimento pode
ser reduzida mediante o umedecimento das áreas de
circulação interna.
• Degradação do solo, dos rios, da flora • Realizar a recuperação das áreas degradadas durante a
e da fauna da área da jazida. exploração das jazidas.
• Consumo excessivo de lenha como • Implantar reflorestamentos com fins energéticos visando
fonte de energia, estimulando, em ao auto-suprimento de lenha.
alguns casos, o desmate irregular de
vegetação nativa.
• Poluição sonora provocada pelo uso • Realizar quando necessário, o tratamento acústico de
de equipamentos geradores de equipamentos e/ou edificações, de forma a evitar a
ruídos. ocorrência de poluição sonora.
continua

184
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

conclusão
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
• Lei Federal 6803 de 02/07/80 – Dispõe sobre as diretrizes básicas para o zoneamento industrial em
áreas críticas de poluição e dá outras providências.
• Decreto-lei 1413 de 14/08/75 – Dispõe sobre o controle da poluição do meio ambiente provocada por
atividades industriais.
• Decreto Federal 76389 de 03/10/75 – Dispõe sobre as medidas de controle ambiental de que trata o
Decreto-lei 1413/75.
• Portaria MINTER 092 de 19/06/80 – Estabelece critérios e diretrizes para a emissão de ruídos e sons
em decorrência de quaisquer atividades industriais e outras.
• Resolução CONAMA 001 de 23/01/86 – Dispõe sobre a Avaliação de Impactos Ambientais.
• Resolução CONAMA 020 de 18/06/86 – Estabelece a classificação das águas doces, salobras e
salinas, segundo seu uso preponderante e estabelece padrões de emissão para efluentes hídricos.
• Resolução CONAMA 006 de 15/06/88 – Dispõe sobre o licenciamento ambiental de atividades
industriais geradoras de resíduos perigosos.
• Resolução CONAMA 005 de 15/06/89 – Institui o Programa Nacional de Controle da Qualidade do Ar –
PRONAR e dá outras providências.
• Resolução CONAMA 001 de 08/03/90 – Dispõe sobre a emissão de ruídos em decorrência de
quaisquer atividades industriais e outras.
• Resolução CONAMA 002 de 08/03/90 - Institui o Programa Silêncio.
• .Resolução CONAMA 003 de 28/06/90 – Estabelece padrões de qualidade do ar e amplia o número de
poluentes atmosféricos passíveis de monitoramento e controle.
• Resolução CONAMA 006 de 17/10/90 – Dispõe sobre a obrigatoriedade de registro e de prévia
avaliação pelo IBAMA, dos dispersantes químicos empregados nas ações de combate aos derrames de
petróleo.
• Resolução CONAMA 008 de 06/12/90 – Estabelece limites máximos de emissão de poluentes do ar
em nível nacional.
• Resolução CONAMA 009 de 31/08/93 – Dispõe sobre óleos lubrificantes e dá outras providências.
• Resolução CONAMA 237/97 – Dispõe sobre o licenciamento ambiental.
• Normas ABNT - NBR 10151 – Avaliação de ruídos em áreas habitadas.
• Normas ABNT - NBR 10152 – Níveis de ruído para conforto acústico.
• Normas ABNT - NBR 10004 – Classificação de resíduos.

3.8 - Bibliografia consultada


ALEMANHA. Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ). Guía de protección
ambiental: material auxiliar para la identificación y eveluación de impactos ambientales. Eschborn: (GTZ)
GmbH, 1996. Tomo II,730p.
BANCO MUNDIAL. Libro de consulta para evaluación ambiental: lineamientos para evaluación
ambiental de los proyectos energéticos e industriales.. Washington, 1992. V.3. 233p.
BRAILE, P. M., CAVALCANTI, J. E. W. A. Manual de tratamento de águas residuárias industriais. São
Paulo: CETESB, 1993. 764p.
BRASIL. Ministério da Indústria e do Comércio. Reciclagem dos resíduos urbanos, agropecuários,
industriais e minerários: síntese. Brasília: MIC, 1985. 183p.
_____. Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República. Resoluções CONAMA, 1984-1990.
Brasília: SEMA, 1991. 231p.
_____. Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República. Resoluções CONAMA, 1984-1991. Brasília:
SEMA, 1992. 245p.

185
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

BRINK, J. A., SHREVE, R. N. Indústrias de processos químicos. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 1980.
717p.
BÜHRER, N. E. Sinopse de tecnologia química. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 1977. 125p.
CENTRO PANAMERICANO DE INGENIERÍA SANITÁRIA Y CIENCIAS DEL AMBIENTE. Manual de disposición
de aguas residuales. Lima: CEPIS, 1991. Tomo I. 442p.
_____. Manual de disposición de aguas residuales. Lima: CEPIS, 1991. Tomo II. 442p
CORSON, W. H. Manual global de ecologia. São Paulo: Augustus, 1993. 413p.
GIMA Guia de indicadores e métodos ambientais. Curitiba: IAP/GTZ, 1993. 72p.
INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ. Manual de controle da poluição hídrica em indústrias de
papel e celulose. Curitiba: IAP/GTZ, 1995. 95p.
MAIA Manual de avaliação de impactos ambientais. Curitiba: IAP/GTZ, 1992.
NEHMI, V. A. Química inorgânica metais e não-metais. São Paulo: Disal, 1980. 260p.
ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE. Contaminación de aguas subterrâneas. Lima, 1993. 338
p.
PARANÁ. Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e do Meio Ambiente. Coletânea de legislação ambiental.
Curitiba: SEDU, 1991. 536p.
_____. Secretaria de Estado de Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos. Coletânea de legislação ambiental.
Curitiba: IAP/GTZ, 1996.
_____. Secretaria de Estado de Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos. Manual de controle da poluição hídrica
em curtumes. Curitiba: IAP/GTZ, 1997. 67p.
_____. Secretaria de Estado de Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos. Manual de controle da poluição hídrica
em indústrias de papel e celulose. Curitiba: IAP/GTZ, 1997. 67p.
SHREVE, R.N., BRINK, J.A.JR. Indústrias de processos químicos. Rio de janeiro: Guanabara Dois, 1977. 717p.

186
MANUAL DE IMPACTOS ABIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

CAPÍTULO 4
TURISMO

Este capítulo aborda os principais impactos ambientais negativos da atividade de


turismo, provocados pela implantação, estabelecimento, ampliação de instalações destinadas
às atividades turísticas, bem como descreve medidas atenuantes a estes impactos.

4.1- Descrição da atividade sob o enfoque ambiental

As instalações para uso na atividade de turismo são aqui consideradas


como todas as construções e infra-estrutura de apoio que se destinam ao
alojamento, deslocamento e abastecimento do turista e do pessoal de serviços
de apoio ao turista, tais como:
• meios de hospedagem: hotéis, pousadas, hospedarias, albergues, “camping”,
colônias de férias e leitos domiciliares (casas de família );
• empresas e locais de entretenimento: clubes, parques de diversão, praças,
jardins, cinemas, casas de espetáculo, boates/discotecas etc.;
• empresas de alimentação: restaurantes, bares, cafés, lanchonetes, casas de
chá e confeitarias, cervejarias, casa de sucos e sorvetes etc.;
• serviços: operadoras turísticas, agências de viagens e turismo, informações
turísticas, centros comerciais etc.;
• sistemas de distribuição de energia elétrica;
• sistemas de tratamento e distribuição de água;
• sistemas de coleta e tratamento de esgotos;
• sistemas de coleta e disposição de resíduos sólidos;
• sistemas de comunicação;
• equipamentos de saúde: hospitais, clínicas, pronto socorros etc.;
• sistemas de transporte terrestres, aéreos e hidroviários (rodovias, portos,
aeroportos etc.), entre outros.
Os projetos de turismo podem incluir a criação de zonas livres de comércio, a
instalação de complexos esportivos, marinas, unidades de conservação, entre outros,
onde a infra-estrutura de apoio turístico (sistema de transporte, de comunicação, de
segurança etc.) são fundamentais para a manutenção desta atividade.

187
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

A infra-estrutura de apoio é um componente importante de todos os


projetos de turismo. Freqüentemente, torna-se necessária a construção ou
melhoria de rodovias, portos, aeroportos, sistemas de coleta e disposição de
resíduos sólidos, sistemas de abastecimento de água potável e esgotamento
sanitário, entre outros, que são tratados em capítulos específicos deste Manual.
O turismo é uma atividade crescente em todo o mundo, especialmente nos
últimos anos, mas seu crescimento, muitas vezes desordenado, tem provocado danos
às paisagens, às populações nativas e ao meio ambiente das regiões afetadas.
O turismo contribui para melhorar os ingressos financeiros e pode, quando
planejado adequadamente, proteger espaços naturais importantes. Porém, quando
realizado de maneira desordenada, com o uso inadequado dos recursos naturais, as
atividades turísticas podem provocar grandes desequilíbrios ambientais.
Neste contexto, pode-se compreender a importância da redução, ao mínimo,
dos impactos ambientais negativos dos projetos turísticos, buscando na atividade de
turismo um aliado à proteção do meio ambiente.
Dentro do conceito de turismo sustentável, como forma permanente de
desenvolvimento desta atividade em harmonia com a natureza, deve-se ressaltar que
o manejo adequado, cuidadoso e respeitoso para com o meio ambiente, a cultura e as
formas de vida das populações locais, não diminui o valor destas áreas como lugares
de descanso e lazer, ao contrário, é fator positivo para a atividade turística.

4.2 - Potenciais impactos ambientais negativos

A estreita relação entre os projetos turísticos e a qualidade do meio


ambiente faz com que os impactos ambientais negativos destes empreendimentos
causem a degradação dos mesmos ambientes, dos quais depende o êxito dos
projetos, reduzindo os seus benefícios.
Portanto, sem o adequado planejamento da atividade, buscando o equilíbrio
entre a intensidade e tipo das atividades turísticas e a capacidade de suporte e
fragilidade do meio ambiente, os projetos turísticos não serão apenas ambientalmente
danosos, como também economicamente insustentáveis.
Assim sendo, é necessário destacar os principais impactos ambientais negativos
dos projetos turísticos, tais como:

188
MANUAL DE IMPACTOS ABIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• degradação da paisagem, devido a construções inadequadas,


especialmente de edifícios, que por suas dimensões, formas, cores e
matérias-primas utilizadas podem ser considerados arquitetonicamente
inadequados ao lugar;
• aumento da utilização e da necessidade de abastecimento de água potável;
• contaminação da água dos rios e mares, devido ao aumento de esgotos não
tratados;
• degradação da flora e da fauna local, devido aos desmatamentos, caça e
pesca predatórias;
• redução da população dos animais, que tem sua coleta dirigida ao atendimento
da alimentação dos turistas, tais como: camarão, caranguejo etc.;
• aumento da geração de resíduos sólidos;
• aumento da demanda de energia elétrica;
• aumento do tráfego de veículos, com a conseqüente redução da qualidade
do ar e aumento dos ruídos;
• assoreamento da costa, devido às ações humanas, com destruição de corais,
recifes, mangues, restingas, dunas etc., onde se destacam os constantes
aterros realizados em praias para aumentar a área urbana;
• alterações sobre o estilo de vida das populações nativas;
• mudanças nas formas de exploração econômica da região afetada, com alterações,
tais como da agricultura e da pesca para a prestação de serviços ao turista;
• aumento sazonal de população com diversas implicações sobre a área afetada,
sua infra-estrutura e sua população nativa;
• deslocamento e marginalização das populações locais;
• perda de benefícios econômicos para as comunidades locais;
• necessidade de implantação de obras de infra-estrutura causadoras de
impactos ambientais negativos, tais como: estradas, sistemas de drenagem,
aterros com grande movimentação de terra, entre outros.
Com relação aos solos das áreas afetadas por projetos turísticos, muitas vezes,
a impermeabilização excessiva, a erosão, a contaminação por disposição inadequada
de resíduos sólidos, a compactação para construção de estradas e urbanização e a
eliminação da vegetação protetora, especialmente em regiões litorâneas e
montanhosas, são os impactos ambientais negativos mais freqüentes.

189
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Em relação às águas, os impactos ambientais negativos mais comuns são


o consumo não sustentável e a contaminação dos mananciais, especialmente
nas épocas de temporada, quando, por exemplo, o consumo de um hotel pode
chegar a oscilar entre 350 a 1.200 litros/dia/ hóspede. Além disso, nas áreas
litorâneas, o lançamento de esgotos no mar, assim como as constantes
contaminações por resíduos e óleos das embarcações, nas zonas portuárias e
petrolíferas, são riscos constantes à balneabilidade das praias.
O microclima e a qualidade do ar também podem ser impactados negativamente
por projetos turísticos, especialmente devido à grande quantidade de edifícios altos, a
impermeabilização do solo, especialmente na orla marítima, impedindo, em
determinados períodos do dia, a chegada dos raios solares até as praias, diminuindo
o acesso dos banhistas e alterando a movimentação dos ventos. Além disso, nas
áreas excessivamente urbanizadas, pode ocorrer o aumento de temperatura em até
3° C, em relação às áreas pouco urbanizadas (DIAS, 1995).
Deve-se destacar que o aumento da urbanização e o conseqüente aumento do
tráfego na área afetada, causam, entre outros danos, o aumento dos níveis de poluição
do ar e dos ruídos.
A fauna, a flora e os ecossistemas geralmente são afetados com a eliminação
ou a modificação da cobertura vegetal da região, devido às instalações turísticas, tais
como: hotéis, instalações esportivas e marinas, que, segundo a amplitude, podem
afetar ambientes frágeis como mangues, restingas, florestas e suas funções ambientais,
especialmente em relação ao abrigo da fauna e a proteção dos cursos d’água, entre
outros. Além disso, certas atividades, como a prática de esportes aquáticos, podem,
devido aos ruídos provocados, afugentar aves que buscam alimentar-se e abrigar-se
em determinados locais onde há a prática destes esportes, assim como o óleo dos
motores, geralmente é fator de contaminação destes ambientes. Observa-se, ainda,
maior demanda por alimentos provenientes de ecossistemas frágeis.
A paisagem pode ser afetada negativamente pelo estabelecimento de instalações
turísticas e pela construção de infra-estrutura de apoio. Em áreas povoadas, pode
constituir-se uma perturbação visual a concentração de edifícios, que por suas
dimensões, materiais e cores empregados e estilo, não são harmônicos com o local.
Como conseqüência, ocorrerá a modificação permanente de estruturas típicas da região
e de seu meio ambiente, perdendo-se, com o tempo, o importante acervo urbanístico-
histórico local.
190
MANUAL DE IMPACTOS ABIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Em áreas virgens, ou seja, longe de lugares povoados, a paisagem pode ser


alterada por construções isoladas, se estas não estiverem integradas com a paisagem
do local. Os edifícios de vários andares e a utilização de materiais de construção que não
são típicos do lugar, transmitirão a impressão de tratar-se de um corpo estranho à paisagem,
com a perda do valor da paisagem natural, tão importante para a atividade turística.
As atividades turísticas podem causar diversos impactos socioculturais negativos,
que passam a exercer pressão sobre o sistema ecológico do local afetado.
Entre estes impactos destacam-se:
• possível mudança de valores e formas de comportamento tradicionais da
população local, ao ver-se confrontados com o modo de vida dos turistas;
• modificação do estilo de vida de grupos nativos, com a introdução da economia
monetária;
• comercialização de festas e cerimônias tradicionais das populações locais,
como atração aos turistas, com a possibilidade de perda de identidade por
parte dos nativos e do sentido real de suas festividades;
• violação e inobservância às tradições religiosas;
• ocorrência do uso indiscriminado do álcool e das drogas, assim como da
prostituição;
• crescimento da população, com a concentração espacial e urbanização não
planejada, vinda de comerciantes, fabricantes e pessoas em busca de trabalho,
que serão concorrentes da população local e poderão acentuar desequilíbrios
sociais;
• limitação de atividades tradicionais que utilizam recursos naturais de maneira
artesanal, como a pesca, e da própria produção de outros produtos artesanais e
• aumento dos preços dos gêneros de primeira necessidade, devido ao aumento
da demanda dos turistas.
Deve-se destacar, ainda, os impactos à fauna e à flora provocados pelo turismo
em “unidades de conservação”. Nesses locais, o fluxo excessivo de turistas, muitas
vezes sem controle, pode provocar diversos impactos ambientais negativos, entre
eles:
• forte perturbação aos animais, devido à excessiva aproximação de pessoas,
veículos e geração de ruídos;
• maior risco de acidentes com animais, devido ao aumento do tráfego de veículos;
• modificação do comportamento natural instintivo dos animais, devido ao
191
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

recebimento de alimentos dos turistas;


• transmissão de doenças aos animais e aos próprios homens, através do
contato com os turistas e com seus dejetos;
• maior risco de ocorrência de incêndios florestais, dizimando espécies da
flora e da fauna e
• coleta de espécies da fauna e da flora de forma predatória.
Os impactos negativos dos projetos de turismo são bastante variados e
numerosos. Por isso, o planejamento prévio da atividade, antes da execução de infra-
estrutura de apoio, meios de hospedagem, alimentação, entretenimentos etc., é
fundamental para o sucesso e a minimização destes impactos. A seguir, ressaltam-se
as principais medidas atenuantes a serem adotadas com esse intuito, para que os
empreendimentos com fins turísticos se ajustem às necessidades ambientais das áreas
onde serão desenvolvidos.

4.3 - Recomendações de medidas atenuantes

A principal medida preventiva aos impactos ambientais negativos do turismo


é o bom planejamento. Nesta fase, deve-se avaliar todos os componentes de um
projeto turístico, seus impactos e o conjunto de ações que devem ser adotadas
para a condução adequada do mesmo em relação ao meio ambiente.
É possível que sejam necessários vários planos para implementar um projeto
sólido de turismo, tais como: plano de controle de poluição, de uso e ocupação do
solo, de normas construtivas e de recuperação ambiental, entre outros. Porém, todos
os planos devem estar associados à visão de sustentabilidade do projeto turístico, em
relação ao meio ambiente do local de desenvolvimento do projeto.
Várias são as medidas atenuantes específicas que podem ser adotadas para
minimizar os impactos ambientais negativos dos projetos de turismo. Entre elas,
destacam-se:
• estabelecimento de ”zonas de proteção ambiental”, em áreas sensíveis
e de significativo interesse ambiental, tais como florestas e demais formas
de cobertura vegetal, especialmente as situadas em topo de montanhas,
restingas, mangues, entre outros, de acordo com a legislação ambiental;
• estabelecimento de “planos diretores” para os municípios afetados para

192
MANUAL DE IMPACTOS ABIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

evitar desordenamento e especulação imobiliária;


• planejamento da utilização sustentável da água, avaliando-se a quantidade e
qualidade das reservas disponíveis em comparação com as necessidades
previstas;
• definição da capacidade de suporte, de forma que a população de turistas
possa ser atendida no lugar, sem sobrecarregar a infra-estrutura e os
recursos naturais existentes;
• adequação dos sistemas de coleta e tratamento de esgotos e resíduos
sólidos, para atendimento das demandas geradas pelo turismo;
• planejamento integrado dos acessos e da malha urbana, evitando grandes
concentrações de veículos e pedestres, reduzindo o tráfego e o ruído;
• criação de estruturas governamentais pertinentes para a prestação de
serviços necessários na região de estabelecimento dos projetos de
turismo, com orçamento e capacitação necessários para monitorar e
fiscalizar;
• implantação de projetos paisagísticos com redução da impermeabilização
e com o plantio de árvores e outros vegetais, que venham a minimizar
os problemas de poluição e ruídos nas áreas urbanizadas;
• redução da altura dos edifícios, permitindo o fluxo dos ventos e dos raios
solares, especialmente nos balneários;
• elaboração e implantação de “planos de manejo para as unidades de
conservação”, com a previsão da harmonização das características
ambientais da unidade com o turismo;
• estabelecimento de programas de “educação ambiental” para orientação
do turista, com especial atenção à reciclagem do lixo, bem como às
formas e posturas ambientais que devem ser mantidas nas áreas de
turismo, especialmente nas “unidades de conservação e
• adequação da legislação ambiental às áreas turísticas para o atendimento
à realidade existente, especialmente quanto à proteção dos atributos da
natureza e de valor histórico-cultural.
Em relação à disposição de resíduos sólidos urbanos das áreas de turismo,
que apresentam sazonalidade destacada, incumbe ao poder público planejar o
sistema de coleta, tratamento e disposição, buscando orientar o turista para a
separação e criando condições para a reciclagem dos materiais recicláveis.
Para atenuar os impactos negativos dos empreendimentos turísticos sobre
a população local, algumas medidas podem ser adotadas. Entre elas, destacam-se:
• possibilitar a par ticipação da população afetada no processo de
planejamento e execução dos empreendimentos;

193
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• implantar medidas compensatórias à população, por par te dos


empreendedores, como geração de emprego, indenizações etc.;
• planejar o turismo respeitando as formas de vida e as tradições da
população local;
• adotar medidas para a capacitação e o aprimoramento profissional da
população local e
• implementar dispositivos legais que protejam os interesses locais.
Nas áreas de “unidades de conservação”, o planejamento do ecoturismo
deve estar atento à proteção da fauna e da flora, mediante a elaboração e
implantação de um “plano de manejo”, para evitar que o turismo coloque em
risco os ecossistemas sensíveis, os quais devem ser protegidos. Igualmente deve-
se prever a informação ao turista sobre os atributos naturais e zoneamento
destas Unidades, os locais de visitação e práticas de atividades que estejam em
sintonia com o ecossistema protegido. Na execução do “plano de manejo”, devem
estar previstas, ações como:
• fechamento de zonas de significativo interesse ambiental;
• proibição de coletas de material, como espécies da fauna e da flora,
exceto para fins científicos e devidamente autorizadas;
• estabelecimento de estradas e caminhos ou trilhas abertas ao público;
• estabelecimento de limites de quantidade de turistas e excursões nas unidades
e
• informação ao turista sobre as formas de conduta na unidade, utilizando-
se de informativos, placas, cartazes etc., mediante a implantação de um
programa de comunicação social e educação ambiental.
A paisagem é outro aspecto ambiental extremamente afetado pelo
turismo desordenado e mal planejado, sendo necessária a implantação de
“planos diretores municipais” que impeçam a proliferação de construções que
agridam a paisagem. Devem ser fixadas regras para o desenvolvimento local,
estabelecendo proibições de construção em determinadas zonas e parâmetros
construtivos a serem observados nas demais. O cumprimento destas regras
deve ser controlado, mediante a concessão de licenças e através da fiscalização
exercida pelos órgãos municipais, estaduais e federais.
Por fim, o apoio institucional do setor público é fundamental para o êxito
dos empreendimentos turísticos, através de diversas ações, seja mediante o
fortalecimento da administração pública nos locais de turismo, com a capacitação
de pessoal para o atendimento adequado ao turista, seja pela instituição de
instrumentos legais para a proteção das áreas dedicadas ao turismo.
194
MANUAL DE IMPACTOS ABIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

4.4 - Referências para análise ambiental da atividade

A implantação de atividades turísticas implica impactos ambientais muito


variados e complexos, podendo gerar conflitos em diversas atividades, entre elas:
• ordenamento territorial;
• planejamento regional;
• sistema habitacional;
• saneamento urbano;
• desenvolvimento rural;
• instalações e infra-estrutura públicas, entre outros.
Por exemplo, pode-se abrir ao turismo uma área que se encontra pouco
desenvolvida e de difícil acesso, provocando com isso amplas mudanças ambientais e
socioeconômicas que, dependendo da magnitude do projeto, podem ocasionar
alterações permanentes que afetem a população local, os recursos naturais,
especialmente os solos, as águas, a fauna, a flora e a paisagem.
Os diferentes níveis de interferência sobre o meio ambiente devem ser
considerados quando se trata de projetos turísticos, o que faz com que cada caso
seja analisado de acordo com suas particularidades. Porém, alguns critérios gerais de
avaliação podem ser adotados, pelos quais, por exemplo, deverá ser evitada a
implantação de projetos que:
• eliminem ou coloquem em risco ecossistemas que por seu valor ambiental
devem ser protegidos, tais como: mangues, restingas, dunas, recifes, corais,
falésias, floresta atlântica, entre outros de comprovada importância e
fragilidade ambiental;
• em função do aumento de consumo de água, comprometam o equilíbrio dos
ambientes naturais, a manutenção das atividades agrícolas e o abastecimento
das populações locais;
• não apresentem ações concretas para a correto tratamento e disposição de
resíduos sólidos e esgotos, assim como o planejamento adequado, sob o
ponto de vista ambiental, da infra-estrutura necessária, como estradas, redes
de energia elétrica, entre outros.
No planejamento da implantação de pólos turísticos, deve-se respeitar e
dar a devida importância à participação da população local, afetada diretamente
pelos impactos do projeto. Com isso, haverá maior aceitação dos projetos, como

195
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

também, a população poderá cobrar medidas necessárias para a melhoria da qualidade


de vida local, além de poder posicionar-se sobre as diferentes alternativas de
desenvolvimento regional.

4.5 - Quadro-Resumo: Turismo


IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
• Aumento da utilização e da • Planejamento da utilização sustentável da água,
necessidade de abastecimento de avaliando-se a quantidade e qualidade das reservas
água potável. disponíveis, em comparação com as necessidades
• Aumento da geração de resíduos previstas.
sólidos. • Definição da capacidade de suporte, de forma que a
• Aumento da demanda de energia população de turistas possa ser atendida no lugar, sem
elétrica. sobrecarregar a infra-estrutura e os recursos naturais
• Aumento do tráfego de veículos, com existentes.
a conseqüente redução da qualidade • Adequação dos sistemas de coleta e tratamento de
do ar e aumento da geração de esgotos e resíduos sólidos para atendimento das
ruídos. demandas geradas pelo turismo.
• Contaminação da água dos rios e • Planejamento integrado dos acessos e da malha urbana,
mares, devido ao aumento de esgotos evitando grandes concentrações de veículos e pedestres,
não tratados. reduzindo o tráfego e o ruído.
• Degradação da flora e da fauna local, • Criação de estruturas governamentais pertinentes para a
devido aos desmatamentos, caça e prestação de serviços necessários na região de
pesca predatórias. estabelecimento dos projetos de turismo, com orçamento
• Redução da população dos animais, e capacitação para monitorar e fiscalizar.
que tem sua coleta dirigida ao • Estabelecimento de Planos Diretores para os municípios
atendimento da alimentação dos afetados para evitar desordenamento e especulação
turistas, tais como: camarão, imobiliária.
caranguejo etc.
• Necessidade de implantação de obras
de infra-estrutura causadoras de
impactos ambientais negativos, tais
como: estradas, sistemas de
drenagem, aterros com grande
movimentação de terra, entre outros.
• Assoreamento da costa, devido às • Estabelecimento de Zonas de Proteção Ambiental, em
ações humanas, com destruição de áreas sensíveis e de significativo interesse ambiental,
corais, recifes, mangues, restingas, como florestas e demais formas de cobertura vegetal,
dunas etc., onde se destacam os especialmente as situadas em topo de montanhas,
constantes aterros realizados em restingas, mangues, entre outros, de acordo com a
praias para aumentar a área urbana. legislação ambiental.
• Degradação da paisagem, devido a • Implantação de projetos paisagísticos com redução da
construções inadequadas, impermeabilização e com o plantio de árvores e outros
especialmente de edifícios, que por vegetais, que venham a minimizar os problemas de
suas dimensões, formas, cores e poluição e ruídos nas áreas urbanizadas.
matéria-prima utilizada podem ser • Redução da altura dos edifícios, permitindo o fluxo dos
considerados arquitetonicamente ventos e dos raios solares, especialmente nos
inadequados ao lugar. balneários.
continua

196
MANUAL DE IMPACTOS ABIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

continuação
IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
• Aumento sazonal de população com • Possibilitar a participação da população afetada no
diversas implicações sobre a área processo de planejamento e execução dos
afetada, sua infra-estrutura e sua empreendimentos.
população nativa. • Implantar medidas compensatórias à população, por
• Possível mudança de valores e formas parte dos empreendedores, como geração de emprego,
de comportamento tradicionais da indenizações etc.
população local, ao ver-se • Planejar o turismo respeitando as formas de vida e as
confrontados com o modo de vida dos tradições da população local.
turistas. • Adotar medidas para a capacitação e o aprimoramento
• Comercialização de festas e profissional da população local e
cerimônias tradicionais das • Implementar dispositivos legais que protejam os
populações locais, como atração aos interesses locais.
turistas, com a possibilidade de perda
de identidade por parte dos nativos e
do sentido real de suas festividades.
• Mudanças nas formas de exploração
econômica da região afetada, com
alterações, tais como da agricultura e
da pesca para a prestação de serviços
ao turista.
• Crescimento da população, com a
concentração espacial e urbanização
não planejada, a vinda de
comerciantes, fabricantes e pessoas
em busca de trabalho, que serão
concorrentes da população local e
poderão acentuar desequilíbrios
sociais.
• Modificação do estilo de vida de
grupos nativos, com a introdução da
economia monetária.
• Violação e inobservância às tradições
religiosas.
• Ocorrência do uso indiscriminado do
álcool e das drogas, assim como da
prostituição.
• Limitação de atividades tradicionais
que utilizam recursos naturais de
maneira artesanal, como a pesca, e
da própria produção de outros
produtos artesanais.
• Aumento dos preços dos gêneros de
primeira necessidade, devido ao
aumento da demanda dos turistas.
continua

197
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

conclusão
IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
"Nas Unidades de Conservação":
• Forte perturbação aos animais, devido • Elaboração e implantação de planos de manejo para as
à excessiva aproximação de pessoas, unidades de conservação, com a previsão da
veículos e geração de ruídos. harmonização das características ambientais da Unidade
• Maior risco de acidentes com animais, com o turismo.
devido ao aumento do tráfego de • Estabelecimento de programas de “educação ambiental”
veículos. para orientação do turista, com especial atenção à
• Modificação do comportamento reciclagem do lixo, bem como às formas e posturas
natural instintivo dos animais, devido ambientais que devem ser mantidas nas áreas de
ao recebimento de alimentos dos turismo, especialmente nas “unidades de Conservação”.
turistas. • Informação ao turista sobre as formas de conduta na
• Transmissão de doenças aos animais Unidade, utilizando-se informativos, placas, cartazes etc.,
e aos próprios homens, através do mediante a implantação de um programa de
contato com os turistas e com seus comunicação social.
dejetos. • Estabelecimento de estradas e caminhos ou trilhas
• Maior risco de ocorrência de abertas ao público.
incêndios florestais, dizimando • Adequação da legislação ambiental nas áreas turísticas
espécies da flora e da fauna. para o atendimento à realidade existente, especialmente
• Coleta de espécies da fauna e da flora quanto à proteção dos atributos da natureza e de valor
de forma predatória. histórico-cultural, entre outras.
• Fechamento de zonas de significativo interesse
ambiental.
• Proibição de coletas de material, como espécies da fauna
e da flora, exceto para fins científicos e devidamente
autorizadas.
• Estabelecimento de estradas e caminhos ou trilhas que
são abertas ao público.
• Estabelecimento de limites de quantidade de turistas e
excursões nas Unidades e
• Informação ao turista sobre as formas de conduta na
Unidade.
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL APLICADA À ATIVIDADE
• Além das leis previstas para as diversas obras de infra-estrutura, já tratadas nos capítulos específicos
deste manual, deve-se observar leis especiais para Áreas de Interesse Turístico e Proteção do
Patrimônio Histórico, Artístico e Natural, tais como:
• Lei 6.513 de 20 de dezembro de 1977 - Dispõe sobre a criação de Áreas Especiais e Locais de
Interesse Turístico; sobre o inventário com finalidades turísticas dos bens de valor cultural e natural e
dá outras providências.
• Decreto Lei 86.176 de 16 de julho de 1981, que regulamenta a Lei acima mencionada.
• Decreto 25/37 de 30 de novembro de 1937 – Organiza a proteção do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional.
• Lei 3.924/61 de 26 de julho de 1961 – Dispõe sobre Monumentos Arqueológicos e Pré-Históricos.
• Portaria SPHAN – 11/86 de 11 de setembro de 1986 – Dispõe sobre normas para instauração dos
processos de tombamento.

198
MANUAL DE IMPACTOS ABIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

4.6 - Bibliografia consultada


ALEMANHA. Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ). Guía de protección
ambiental: material auxiliar para la identificación y eveluación de impactos ambientales. Eschborn:
(GTZ) GmbH, 1996. Tomo I, 613p.
BANCO MUNDIAL. Libro de consulta para evaluación ambiental: lineamientos sectoriales.
Washington, 1991. V.2, 276p.
BARBOZA, T. S., BARBOSA, W. O. A Terra em transformação. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1992.
BRASIL. Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República. Resoluções CONAMA, 1984-1990.
Brasília: SEMA, 1991. 231p.
_____. Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República. Resoluções CONAMA, 1984-1991.
Brasília: SEMA, 1992. 245p.
DIAS, P. L. F. Qualidade do ar da área central de Curitiba. Curitiba, 1995. 75 f. Monografia (Curso de
Pós - Graduação em Análise Ambiental) – Setor de Tecnologia, Universidade Federal do Paraná.
GORE, A. A Terra em balanço: ecologia e o espírito humano. São Paulo: Augustus, 1993. 447p.
GIMA Guia de indicadores e métodos ambientais. Curitiba: IAP/GTZ, 1993. 72p.
MAIA Manual de avaliação de impactos ambientais. Curitiba: IAP/GTZ, 1992.
PARANÁ. Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e do Meio Ambiente. Coletânea de legislação
ambiental. Curitiba: SEDU, 1991. 536p.
_____. Secretaria de Estado de Meio Ambiente. Coletânea de legislação ambiental. Curitiba: IAP/
GTZ, 1996.

199
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

200
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

CAPÍTULO 5
MINERAÇÃO

5.1 - Descrição da atividade sob o enfoque ambiental


A atividade de explotação mineral ou “mineração” propriamente dita é tida
como uma das mais impactantes ao meio ambiente, haja vista os diversos impactos
que gera: degradação visual da paisagem, do solo, do relevo; alterações na qualidade
das águas; transtornos gerados às populações que habitam o entorno dos projetos
minerários e à saúde das pessoas diretamente envolvidas no empreendimento.
Segundo a Produção Mineral Brasileira – PMB de 1992 (MMA), o Brasil está
entre os cinco mais importantes produtores de minerais no mundo ocidental. Esta
posição, contudo, não significa que o Brasil esteja adequadamente desenvolvido em
termos de extração e processamento de minerais. Pelo contrário, os índices de
consumo de minerais por habitante estão muito aquém do desejável, considerando
que o consumo de minerais para construção civil não ultrapassa 1 t/hab/ano, muito
abaixo de 6 t/hab/ano dos países desenvolvidos. Estes indicadores econômicos
também servem para demonstrar o longo caminho que teremos que percorrer
para aperfeiçoar os critérios socioambientais necessários para implementar
satisfatoriamente a atividade minerária.
A mineração é, sem dúvida, uma atividade indispensável à sobrevivência do
homem moderno, dada a impor tância assumida pelos bens minerais em
praticamente todas as atividades humanas; das mais básicas como habitação,
construção, saneamento básico, transporte, agricultura, às mais sofisticadas como
tecnologia de ponta nas áreas de comunicação e medicina. Ao mesmo tempo,
apresenta-se como um desafio para o conceito de desenvolvimento sustentável,
uma vez que retira da natureza recursos naturais exauríveis, ou seja, recursos que
não se renovam.
Conseqüentemente, a atividade mineral é também um desafio para os
organismos ambientais, pois caracteriza-se como o setor que mais demanda pedidos
de licenciamento ambiental na maioria dos Estados Brasileiros. Tanto é que, com a
finalidade de propor um novo ordenamento de gestão ambiental para o setor, o
Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, elaborou
em 1996 um estudo específico intitulado “diretrizes ambientais para o setor mineral”.
201
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Um bom exemplo de problema ambiental grave gerado pela atividade mineral


no território brasileiro, é a extração de areia das dunas no Nordeste brasileiro
destinada à construção civil, que ocorre mesmo sendo inadequada a sua utilização
para este fim. Entre outros impactos, a extração de areia destrói as dunas,
influenciando o regime dos ventos da região, o que tem levado os organismos
estaduais de meio ambiente a adotarem medidas específicas de proteção e controle
ambiental das mesmas.
Para melhor compreensão das práticas envolvidas no ciclo dos bens minerais
e seus respectivos aspectos ambientais, as mesmas foram assim divididas: i)
reconhecimento, prospecção e exploração; ii) lavra a céu aberto; iii) lavra subterrânea.

5.1.1 - Reconhecimento, prospecção e exploração


Os recursos minerais caracterizados neste capítulo são fundamentalmente
as matérias-primas minerais e as águas subterrâneas, excluindo-se as jazidas de
petróleo e gás natural.
A extração ou lavra dos recursos minerais deve ser precedida de ações,
denominadas nesta par te introdutória de “reconhecimento, prospecção e
exploração”, que são efetuadas com a finalidade de identificar as jazidas disponíveis
numa determinada região.
A fase de “reconhecimento” tem por finalidade identificar e delimitar as zonas
de prováveis ocorrências de matérias-primas minerais e/ou descobrir formações
geológicas associadas à presença de um determinado mineral de interesse.
Compreende basicamente o inventário desses recursos e o seu registro em bases
cartográficas.
Na fase de “prospecção”, tem-se por finalidade localizar e definir potenciais
jazidas e áreas de aproveitamento. Compreende trabalhos de campo nos quais
podem ser utilizados métodos de investigação geológicos, geoquímicos e geofísicos.
A fase de “exploração” abrange o estudo detalhado das prováveis jazidas,
aplicando-se os mesmos métodos da prospecção, porém com a ocorrência de
intervenções diretas ao meio ambiente.
Os estudos relacionados às águas subterrâneas compreendem, entre outros,
o manejo quantitativo, a vazão, os padrões de qualidade, a proteção dos recursos,
os efeitos ecológicos resultantes do seu aproveitamento, a sensibilidade dos
ecossistemas existentes e o comprometimento dos aqüíferos.

202
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

É possível afirmar que os impactos ambientais decorrentes da lavra dos


bens minerais, em sua maioria, podem ser diagnosticados ainda nessas fases
dos estudos. É importante que os mesmos sejam antecipados no projeto.

5.1.2 Lavra a céu aberto


A “lavra a céu aberto” compreende a extração de matérias-primas minerais
de jazidas próximas à superfície, geralmente com a retirada da camada superior
(recobrimento estéril) para extração do minério, o que pode ser efetuado por
meio da utilização de vários métodos de lavra:
i) A seco: para minerais soltos ou consolidados, posteriormente transportados
e processados mecanicamente.
ii) Via úmida: os materiais são extraídos mecânica ou hidraulicamente, sendo
as unidades de lavra e beneficiamento instaladas, na maioria dos casos,
diretamente na água, em plataformas flutuantes nos leitos de rios ou
lagos artificiais.
iii) Em plataforma continental: materiais soltos em jazidas próximas à costa;
métodos de lavra semelhantes aos da via úmida.
iv) Submarina de profundidade: extração de materiais do fundo marinho.

5.1.3 Lavra subterrânea


Na “lavra subterrânea”, os minerais são extraídos a médias e grandes
profundidades e depois transportados à superfície por meio de poços e galerias para
posterior beneficiamento.
Uma preocupação constante na extração de minérios subterrâneos são as
condições de trabalho, em função de fatores como: a umidade do ambiente,
temperatura do ar, presença de radiações nocivas, presença de gases tóxicos e
explosivos, presença de água, formação de pó e a emissão de ruídos. Esses fatores
podem ser minimizados dependendo do tipo de rocha, da profundidade da mina e
do uso de equipamentos adequados.
Outras variáveis a serem consideradas na lavra de bens minerais são a
ocorrência em diferentes regiões, o volume a ser extraído e a profundidade de
extração.
203
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

5.2 - Potenciais impactos ambientais negativos

5.2.1 - Potenciais impactos negativos das atividades de reconhecimento e


prospecção
Os impactos ambientais potenciais aumentam de intensidade à medida
que se passa de uma fase para outra: são muito pouco significativos na fase de
reconhecimento, aumentam na fase de prospecção e intensificam-se na fase de
exploração. Na seqüência, são relacionadas as principais intervenções.

Acesso ao local de trabalho


Em todas as etapas - reconhecimento, prospecção e exploração - faz-se
necessária a abertura de caminhos, picadas e estradas ao local de trabalho, o que
gera diferentes impactos sobre a vegetação, fauna, cursos d’água, solo e meio social,
que, por menores que sejam, devem ser levantados.

Levantamentos e instalações auxiliares


Os levantamentos estão relacionados aos trabalhos de campo dos serviços
cartográficos e constam da abertura de picadas e clareiras que, dependendo do
planejamento efetuado, podem afetar, em diferentes intensidades, as condições de
flora e fauna. A implantação de instalações depende das necessidades e envergadura
de cada projeto, e pode incluir acampamentos, habitações provisórias, escritórios de
apoio, depósito de materiais, que podem também afetar as condições de solo, água,
flora e fauna.

Levantamentos geofísicos
Os métodos geofísicos aplicados podem apresentar diferentes intervenções
no meio, dependendo da opção adotada pelo projeto. Métodos sísmicos requerem a
abertura de picadas e clareiras para execução das perfurações para colocação de
explosivos. Métodos geofísicos não sísmicos podem interferir no meio pela presença
de combustíveis utilizados na geração de energia para colocar os equipamentos em
funcionamento, de tal forma que se deve ter cuidado no armazenamento de produtos
combustíveis. Métodos geofísicos aplicados em perfurações propiciam interferências

204
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

relativamente locais, dependendo do tipo de fonte que pode ser: magnética, elétrica,
acústica, mecânica, térmica ou radiométrica.

Estudos hidrogeológicos
Os métodos de reconhecimento e prospecção utilizados nos estudos
hidrogeológicos podem variar de acordo com o projeto e podem incluir desde testes
de bombeamento contínuo a ensaios de injeção ou de rastreamento. Interferências no
meio podem ocorrer, por exemplo, quando são aplicados testes de bombeamento
contínuo, que podem causar o rebaixamento do lençol freático ou alterar o regime das
águas subterrâneas com prejuízos aos poços instalados no entorno da área de testes.

Amostragem
O objetivo desta etapa é garantir a obtenção das amostras dos materiais para
os ensaios. Os impactos podem ocorrer em função dos tipos de amostragem utilizados
no projeto e da profundidade da ocorrência dos minerais a serem amostrados.
A obtenção de amostras pode ocorrer por desnudamento da rocha-mãe com a
execução de escavações que podem interferir nas condições ambientais locais. A
remoção da cobertura vegetal, a declividade do terreno e a forma de execução das
escavações podem gerar focos de erosão no local amostrado.
Na impossibilidade de se amostrar o material por pequenas escavações, utilizam-
se poços e galerias, optando-se por galerias horizontais e poços verticais. As
interferências no meio ambiente estão relacionadas a possíveis contaminações do
lençol freático, o que pode influenciar a qualidade das águas utilizadas para
abastecimento humano, e ao risco que os poços ou galerias abertas representam
para a comunidade, cujo acesso deve ser restringido.
Quando o material a ser amostrado encontra-se a média ou grande
profundidade, opta-se pela execução de sondagens (perfurações), o que geralmente
propicia excesso de ruído, possibilidade de contaminação das águas subterrâneas e
geração de lodo.
Nesse caso, não só a qualidade como também a vazão (quantidade) do aqüífero
pode sofrer alterações. Resíduos e rejeitos resultantes das sondagens devem ter
tratamento e disposição final adequada, especialmente o lodo e os resíduos de
perfuração, para que não contaminem os cursos de água por lixiviação, erosão e
dispersão eólica.

205
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

A amostragem a céu aberto propriamente dita não proporciona impactos


acentuados, a não ser que se realizem atividades complementares às descritas acima,
como o emprego de perfuratrizes (martelamento) para quebra do material, quando
ruídos são gerados. Amostragens executadas na costa marinha requerem outros tipos
de cuidados para a proteção dos ecossistemas costeiros.

Estudos de laboratórios
Análises laboratoriais realizadas através de métodos químicos e físicos geram
resíduos sólidos, líquidos e gasosos, que geralmente possuem misturas tóxicas. Nesse
caso, faz-se necessário o tratamento dos efluentes gasosos, líquidos e sólidos, tanto
em nível de manejo interno como de disposição final.

5.2.2 - Potenciais impactos ambientais negativos das atividades de lavra a


céu aberto
Os impactos ambientais oriundos do processo de lavra a céu aberto podem
ser de diferentes grandezas, variando em função das características das jazidas e das
técnicas de lavra utilizadas; podem atingir desde áreas reduzidas até áreas ocupando
vários quilômetros quadrados. Na maioria dos casos a lavra mineral está associada ao
local de ocorrência da jazida, podendo também implicar conflitos de interesse, em
relação ao uso e ocupação do solo na região.
Os possíveis impactos ambientais em função do método de lavra utilizado são
resumidos na TABELA 1.

206
TABELA 1: Demonstrativa dos Processos de Lavra a Céu Aberto e Seus Efeitos em Função dos Métodos Adotados

MÉTODO EXTRAÇÃO EM PLATAFORMA EXTRAÇÃO MARINHA


EXTRAÇÃO A SECO EXTRAÇÃO ÚMIDA CONTINENTAL DE PROFUNDIDADE
COMPONENTE
Superfície Devastação da superfície. Devastação da superfície. Modificação da morfologia do
Terrestre Alteração da morfologia. Alteração dos cursos d’água. terreno marinho.
Destruição de bens culturais. Modificação da morfologia. Erosão costeira.
Perigo de desmoronamento. Formação de grandes depósitos (resíduos, rejeitos).
Ar Ruídos e vibrações em geral. Ruídos gerados pelos equipamentos geradores de Ruídos. Ruídos.
Ruídos e vibrações das detonações. energia, trabalho de extração, tratamento e transporte Gases de escapamentos. Gases de escapamentos.
Formação de poeira e erosão pelo tráfego. Gases de escapamentos.
Poeira.
Vapores.
Gases nocivos.
Águas Alteração do ciclo de nutrientes. Desnitrificação. Elevação da turbidez. Elevação da turbidez
superficiais Contaminação com águas residuais. Contaminação do leito receptor com grandes. Incremento da demanda de Incremento da demanda de
Contaminação causada por uma intensificação da quantidades de águas residuais com lodos e/ou águas oxigênio. oxigênio.
erosão. residuais contaminadas. Contaminação com águas Contaminação com águas
residuais. residuais.
Solo Erosão na zona de lavra. Erosão da zona de lavra. Modificação do terreno marinho e Redução dos nutrientes
Diminuição do rendimento, dissecação e desidratação redução dos nutrientes. no solo marinho.
do solo.
Perigo de alagamento após o restabelecimento do
nível freático / Erosão.
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS

Flora Destruição da flora na área de exploração. Destruição da flora na área de exploração.


Destruição parcial/alteração da flora na área
circundante devido à alteração do nível freático.
Fauna Deslocamento da fauna. Deslocamento da fauna. Destruição de organismos Destruição de organismos
marinhos imóveis (corais). marinhos imóveis(corais).
População Conflitos relacionados com o uso do solo. Conflitos relacionados ao uso do solo. Deterioração da pesca Deterioração da pesca
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Estabelecimento ou aumento de populações a partir do Conflitos sociais nos períodos de auge da lavra. (destruição de zonas de desova). (destruição de zonas de
local das atividades de mineração. Estabelecimento ou aumento de assentamentos devido desova).
Destruição das zonas de recreação. às atividades minerais.
Edificações Danos causados pela água após o restabelecimento do
nível freático.
Outros Possível modificação do microclima. Modificação do microclima.
Proliferação de agentes patogênicos e vetores de
doenças nas águas paradas.

207
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

5.2.3 - Potenciais impactos ambientais negativos das atividades de lavra


subterrânea
Os impactos ambientais de uma lavra mineral subterrânea podem ser
classificados em três níveis distintos:
i) no depósito mineral e nas rochas adjacentes;
ii) nas escavações abertas no subsolo e
iii) na superfície do terreno.
Os impactos no “depósito mineral e nas rochas adjacentes” podem estar
relacionadas às seguintes situações:
• algumas matérias-primas como carvão mineral e materiais sulfurosos são
inflamáveis e podem provocar explosões;
• tratando-se dos bens minerais de recursos não renováveis, deve-se planificar
cuidadosamente a extração para que jazidas adjacentes não sejam afetadas;
• desmoronamentos nas rochas adjacentes podem provocar alterações na
superfície do terreno e interrupções nas galerias e poços;
• alteração do fluxo das águas subterrâneas, que pode ser causada pela construção
de galerias, o que favorece a concentração ou o escoamento de água;
• rebaixamento do nível do lençol freático, que acelera a degradação da
vegetação na área de influência;
• deterioração da qualidade das águas subterrâneas, que pode ocorrer tanto
por lixiviação de materiais, como por vazamentos de gases durante a
escavação dos poços e galerias.
Os principais impactos ambientais verificados no “subsolo” relacionam-se à:
• segurança da lavra: na lavra de minerais subterrâneos ocorre uma interação
entre o homem, as máquinas, as rochas e o clima; os cuidados, porém, devem
ser prioritariamente direcionados à segurança e saúde dos mineradores;
• a qualidade do ar a médias e grandes profundidades pode alterar-se em
função da temperatura das rochas e da presença de gases e líquidos;
• as condições atmosféricas podem ser alteradas por fatores como geração
ou presença de: radiação, metano, pó de carbono, monóxido de carbono,
dióxido de carbono, óxido de nitrogênio, gases de escapamentos, aerossóis
de óleos, calor; e a deficiência de oxigênio.

208
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Os principais impactos ambientais sobre a “superfície” do terreno


relacionam-se à:
• comunicação das galerias com a superfície, a extração do material e seu
transporte, o sistema de ventilação e implantação de infra-estrutura na superfície;
• qualidade do ar que é influenciada pela produção de pó no manejo dos
minerais causando danos à flora, ao solo e aos recursos hídricos; esses
impactos podem ser amenizados com a implantação de barreiras vegetais. A
produção de gases, em especial de metano, na lavra de carvão mineral é um
outro fator de impacto;
• dependendo das características dos minerais lavrados, pode ocorrer a
acidificação da água, implicando a contaminação das águas subterrâneas, o
que afeta não só o consumo humano, bem como os ecossistemas frágeis da
superfície, caso as águas sejam lançadas sobre a mesma;
• um impacto importante a ser previsto e controlado é o rebaixamento do
solo, uma vez que a implantação das galerias e canais de escoamento de
água pode provocar deslizamentos, afundamento, desníveis das camadas
do solo e compressão da superfície, afetando a infra-estrutura instalada,
edificações e o meio ambiente natural;
• disposição final inadequada de rejeitos e resíduos decorrentes da lavra que
pode comprometer a paisagem e degradar o solo e águas superficiais.

5.3 - Medidas atenuantes recomendadas

Nas etapas consideradas “de reconhecimento, prospecção e exploração”


é impor tante que se conheça com profundidade o projeto e o seu grau de
interferência no meio ambiente, estabelecendo-se algumas condicionantes
essenciais, tais como:
• os danos permanentes devem ser evitados ao máximo;
• as intervenções inevitáveis devem ser adequadas às condições naturais;
• todas as condicionantes estabelecidas no projeto para a recuperação e/ou
reabilitação da área onde ocorrerem as intervenções devem ser
implementadas integralmente.
Muito embora a atividade de lavra mineral a céu aberto seja considerada
temporária, as intervenções provocadas pela mesma deixam marcas permanentes e
podem ser consideradas irreversíveis.

209
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Conforme demonstrado na TABELA 1, os danos causados pela lavra de um


bem mineral podem gerar impactos que afetam a superfície do terreno, as águas
subterrâneas e superficiais, o solo, as condições atmosféricas e acústicas, as
comunidades bióticas, e até conflitos sociais relacionados aos usos do solo.
É de fundamental importância uma análise detalhada da situação atual da
região onde a lavra será implantada, levando-se em conta as alterações estruturais
que a mesma provocará e os impactos ambientais decorrentes. Atenção especial
deve ser dada aos aspectos sociais (indenizações e reassentamentos), às medidas
de planejamento regional em função do porte do empreendimento, assim como
às alterações socioambientais que serão geradas no cenário do projeto não só
durante a lavra como após o esgotamento da jazida.
É relevante também que se conheça o perfil do empreendedor, sua capacidade
técnica e operacional, e se o projeto prevê um sistema de gestão ambiental para o
empreendimento. Estas premissas possibilitarão identificar as potencialidades e
deficiências do empreendimento, sugerindo e/ou exigindo ajustes para o fortalecimento
organizacional, em especial na área ambiental.
No momento já existem experiências de recuperação de áreas degradadas,
ainda que incipientes, e na maioria dos casos, realizadas por grandes empreendimentos.
É imprescindível que se conheça a extensão dos danos a serem provocados e as
medidas previstas no EIA/RIMA ou no Plano de Controle Ambiental – PCA.

5.4 - Referências para análise ambiental da atividade

É impor tante que se obser ve o conteúdo do projeto técnico a ser


apresentado nas instâncias competentes (Organismo Ambiental Estadual, Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente – IBAMA, Departamento Nacional de Produção Mineral
– DNPM, Prefeituras Municipais), especialmente no que diz respeito a:
• monitoramento ambiental durante a implantação e operação do projeto;
• recuperação / revitalização da área após a desativação do projeto.
A norma que rege o setor mineral é o Código de Mineração, instituído através
do Decreto Lei n.º 227 de 1967; entre outros critérios, classifica as jazidas minerais
em nove classes distintas.
Em 1989, foi instituída, através do Decreto n.o 97.632, a exigência para que os
empreendimentos de extração mineral já implantados e os novos empreendimentos

210
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

em fase de licenciamento apresentassem os denominados Planos de Recuperação


de Áreas Degradadas – PRADs.
Baseado no Código de Mineração (Decreto-Lei 227/67), o Conselho Nacional
de Meio Ambiente – CONAMA aprovou em 1990 duas Resoluções (009 e 010)
específicas para o setor, de acordo com as classes dos minerais e as licenças ambientais
a serem expedidas. Estas Resoluções regulamentam a necessidade de apresentação
da documentação para o licenciamento da atividade, entre os quais o Estudo de
Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental, conforme TABELA 2, a seguir:

TABELA 2: Documentação e Licenciamento Ambiental para Mineração


DOCUMENTAÇÃO EXIGIDA PELA DOCUMENTAÇÃO EXIGIDA PELA
RESOLUÇÃO 009/90 * RESOLUÇÃO 010/90 ** TIPO DE LICENÇA AMBIENTAL

♦ Requerimento da LP. ♦ Requerimento da LP.


♦ Publicação do pedido de LP. ♦ Publicação do pedido de LP. LICENÇA PRÉVIA
♦ Certidão da Prefeitura ♦ EIA/RIMA ou se dispensado o LP
Municipal. Relatório de Controle Ambiental.
♦ EIA/RIMA.
♦ Requerimento de LI. ♦ Requerimento de LI.
♦ Publicação do pedido de LI. ♦ Publicação do pedido de LI.
♦ Cópia da publicação da LP. ♦ Cópia da publicação da LP.
♦ Aprovação do Plano de ♦ Licença da Prefeitura LICENÇA DE INSTALAÇÃO
Aproveitamento Econômico Municipal.
LI
(DNPM). ♦ Plano de Controle Ambiental
♦ Plano de Controle Ambiental – PCA.
– PCA. ♦ Licença de Desmatamento.
♦ Licença de Desmatamento.
♦ Requerimento da LO. ♦ Requerimento da LO.
♦ Publicação do pedido de LO. ♦ Publicação do pedido de LO. LICENÇA DE OPERAÇÃO
♦ Cópia da publicação da LI. ♦ Cópia da publicação da LI. LO
♦ Portaria de Lavra (DNPM). ♦ Registro de licença (DNPM).
Fonte: Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal/1997.
* Todos minerais exceto Classe II
** Minerais Classe II (Uso direto na construção civil)

211
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

5.5 - Quadro-Resumo: Mineração

IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES


• Acesso às obras com possíveis • Planejar trajetos para: a) acessar aos locais, de tal forma
impactos provocados pelos caminhos, a causar a menor interferência sobre a vegetação, fauna,
estradas, picadas e clareiras. águas superficiais; b) em áreas de menor declividade
e/ou acompanhando as curvas em nível, de tal forma a
evitar processos erosivos.
• Localização das instalações auxiliares • Adequar a localização dos acampamentos, edificações e
e levantamentos preliminares com a habitações provisórias, escritórios e depósitos de
geração de danos à vegetação, solo e materiais nas condições mais adequadas: distantes de
fauna. moradias, segurança na armazenagem de combustíveis.
• Levantamentos geofísicos com • Tomar cuidados especiais com o armazenamento de
possibilidade de gerar ruídos, combustíveis e com o uso de explosivos.
explosões e vazamento de
combustíveis.
• Estudos hidrogeológicos com a • Estudar todas as possibilidades para que os métodos a
possibilidade de interferência nos serem utilizados não interfiram no rebaixamento do
recursos hídricos subterrâneos. lençol freático, com prejuízo ao abastecimento de água
(poços domésticos e públicos)
• Perfuração de poços e galerias para • Nas escavações superficiais de minerais próximas ao
pesquisa e preparação da lavra, com solo, tomar medidas para que não sejam instalados
a possibilidade de prejuízo à flora, às processos erosivos.
águas subterrâneas, ao solo e à • Nas escavações de subsolo profundo, dedicar especial
segurança de comunidades. atenção para que não sejam contaminadas as águas
subterrâneas.
• Definir critérios para a disposição dos escombros das
escavações, de tal forma a não contaminar o solo e as
águas superficiais.
Mineração a céu aberto
• Danos à vegetação, ao ar, às águas • Implantação de medidas de proteção à vegetação, com
superficiais e subterrâneas, à fauna, cortinas vegetais, redução da emissão de pó e
solo e às populações. planejamento de recomposição da vegetação pós-lavra.
Proteção das matas ciliares.
• Implantação de tanques/barragens de retenção de lodos
e materiais suspensos e águas residuais contaminadas
com minerais tóxicos.
• Planejamento do uso e ocupação do solo, especialmente
nos reassentamentos populacionais ou no estudo de
tendências de urbanização no entorno da área minerada.
• Levantamento de todas as interferências sobre as águas
superficiais e subterrâneas, com a definição de medidas
de atenuação (disposição de resíduos/ rejeitos, tanques
de lodo e águas para decantação).
continua

212
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

conclusão
IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
Mineração subterrânea:
• Danos ao depósito e às rochas • Extração de jazidas com planejamento e controle, de
adjacentes, por desmoronamento, forma a não provocar danos às jazidas adjacentes, evitar
explosões. a alteração do fluxo e qualidade das águas e prevenir a
ocorrência de desmoronamentos.
• Danos à saúde dos mineradores • Previsão de medidas de segurança dos
devido à alteração das condições trabalhadores/mineradores, tal como a manutenção da
ambientais no interior das galerias e qualidade do ar no interior das galerias e uso de EPIs.
poços. • Planejar e executar medidas de manejo da vegetação,
• Danos à vegetação, às águas com sua reposição após desativação da mina, com a
superficiais, subterrâneas e aos solos previsão de depósito adequado de rejeitos com
na área utilizada na superfície da respectivo tratamento.
mina.
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
• Lei 4.771 de 15/09/65 - Institui o Código Florestal.
• Lei 5.197 de 03/01/67 – Dispõe sobre a Proteção da Fauna.
• Lei 6.938 de 31/08/81 - Dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente.
• Lei 7.805 de 18/07/89 – Altera o Decreto-Lei n.° 227/67, cria o regime de permissão de lavra
garimpeira, extingue o regime de matrícula, e dá outras providências.
• Decreto-Lei n.o 227 de 28/02/67 – Institui o Código de Mineração.
• Decreto 97.632 de 10/04/89 – Institui a obrigatoriedade de execução de Planos de Recuperação de
Áreas Degradadas – PRAD(s), para atividades de exploração mineral.
• Decreto 97.634 de 10/04/89 - Estabelece a obrigatoriedade de cadastramento junto ao IBAMA dos
importadores, produtores e comerciantes de mercúrio metálico.
• Resolução n.o 009 06/12/90 – CONAMA – Estabelece normas para o licenciamento ambiental visando
pesquisas minerárias que envolvam o emprego de guia de utilização.
• Resolução n.o 010 de 06/12/90 – CONAMA – Estabelece o licenciamento ambiental prévio para
exploração de bens minerais de classe II.
• Resolução CONAMA 001 de 23/01/86 - Trata do uso e implementação da Avaliação de Impactos
Ambientais.
• Resolução CONAMA 004 de 18/09/85 – Trata das Reservas Ecológicas.
• Resolução CONAMA 237 de 19/12/97 – Trata do licenciamento ambiental de empreendimentos.

5.6 - Bibliografia consultada


ALEMANHA. Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ). Guía de protección
ambiental: material auxiliar para la identificación y evaluación de impactos ambientales. Eschborn:
(GTZ) GmbH, 1996. Tomo II,730p.
BANCO MUNDIAL. Libro de consulta para evaluación ambiental: lineamientos para evaluación ambiental
de los proyectos energéticos e industriales.. Washington, 1992. v.3. 233p.
BRASIL. Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República. Resoluções CONAMA, 1984-1990.
Brasília: SEMA, 1991. 231p.
_____. Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República. Resoluções CONAMA, 1984-
1991. Brasília: SEMA, 1992. 245p.

213
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL. Coletânea de trabalhos técnicos sobre


controle ambiental na mineração. Brasília: DNPM, 1985. 376p.
INSTITUTO BRASILEIRO DE MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS. Manual de
recuperação de áreas degradadas pela mineração: técnicas de revegetação. Brasília: IBAMA,
1990. 96 p.
INSTITUTO BRASILEIRO DE MINERAÇÃO. Mineração e meio ambiente. Belo Horizonte, 1987. 59 p.
MINERAIS DO PARANÁ. Mineração e meio ambiente. Curitiba, 1991. 115p.
PARANÁ. Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e do Meio Ambiente. Coletânea de legislação
ambiental. Curitiba: SEDU, 1991. 536p.
_____. Secretaria de Estado de Meio Ambiente. Coletânea de legislação ambiental. Curitiba: IAP/
GTZ, 1996.
SIMPÓSIO NACIONAL RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS, 1., 1992, Curitiba. Anais do... Curitiba:
Universidade Federal do Paraná, 1992. 520p.
SIMPÓSIO NACIONAL RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS, 2., 1994, Foz do Iguaçu. Anais do... Foz
do Iguaçu: FUPEF, 1994. 679p.

214
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

CAPÍTULO 6
INFRA-ESTRUTURA

6.1 - Saneamento

6.1.1 - Abastecimento de água


6.1.1.1 - Descrição da atividade sob o enfoque ambiental

Os sistemas de abastecimento de água visam proporcionar o atendimento


às demandas de consumo, na qualidade indispensável à preservação da saúde e
na quantidade necessária aos seus diversos usos.
O abastecimento de água pode ser de caráter individual ou coletivo, este último,
na forma de sistema de abastecimento público, destinado a atender as demandas de
áreas urbanizadas. Nesta seção são priorizados os sistemas coletivos, ressaltando
que as soluções individuais se aplicam às zonas rurais, mas ainda são muito utilizadas
em cidades, devido à inexistência de sistemas coletivos, o que tem resultado, muitas
vezes, em problemas sanitários, pois nem sempre é garantida a qualidade indispensável
ao consumo humano.
Os sistemas de abastecimento de água são constituídos de várias unidades,
desde a captação da água no manancial, que é a fonte de onde é retirada a água,
podendo ser superficial ou subterrâneo, até a sua distribuição. Os sistemas de
abastecimento são constituídos basicamente pelas seguintes unidades:
“Captação” Captação da água do manancial, podendo ser feita por meio de tomada direta
ou utilizando sistema de bombeamento.
“Adução” Transporte da água entre duas unidades do sistema de abastecimento, através
de tubulações ou canais (adutoras).
“Tratamento” Conjunto de processos adotados, visando a transformar a água bruta em água
potável.
“Reservação” Acumulação da água em reservatórios.
“Rede de distribuição” Tubulações dispostas nas vias públicas, para efetuar o fornecimento de água
às edificações, podendo incluir estações elevatórias ou de recalque,
dependendo da topografia do terreno.

De acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente, o consumo de água


médio brasileiro é da ordem de 130 litros/dia/habitante, o que pode ser acrescido se
215
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

considerada as perdas que ocorrem na maioria das redes de distribuição. O índice


médio de desperdício e perdas de água no Brasil gira em torno de 45%, computando-
se a capacidade operacional das empresas de saneamento das principais capitais
brasileiras.
O tratamento de água para abastecimento varia conforme o porte do sistema
adotado, os padrões de qualidade da água bruta e os padrões de potabilidade da
água a ser distribuída.
A água para ser utilizada para consumo humano deve ter qualidade adequada,
ou seja, não conter impurezas em níveis superiores aos padrões de potabilidade, os
quais foram fixados, no Brasil, pela Portaria n.º 036/90, do Ministério da Saúde.

6.1.1.2 - Potenciais impactos ambientais negativos

A implantação de sistemas de abastecimento de água apresenta em si benefícios


significativos para a elevação da qualidade de vida das populações. Porém, é importante
observar alguns critérios durante o planejamento e elaboração do projeto e durante
a implantação e operação do sistema, com a finalidade de prevenir a ocorrência de
potenciais impactos ambientais negativos.
Na fase de planejamento e elaboração do projeto do sistema de abastecimento
de água, é fundamental considerar a capacidade do manancial existente em atender à
demanda de consumo prevista.
Na execução das obras de implantação dos sistemas de abastecimento podem
ocorrer diversos impactos ambientais negativos, tais como:
• degradação da flora e da fauna em função da remoção da vegetação
natural local;
• extinção de ecossistemas e perda de biodiversidade;
• geração de material de aterro (camadas de solo removidas);
• alteração de fluxo de veículos e tráfego local durante a execução das
obras;
• geração de poeira e ruídos decorrentes das obras e
• inundação de grandes áreas por ocasião da construção de barragens
para armazenamento de água.
Na fase de operação, os potenciais impactos ambientais negativos dos
sistemas de abastecimento de água estão relacionados com a quantidade e a
qualidade dos recursos hídricos. Estes efeitos podem agrupar-se em três
categorias: i) na captação; ii) na adução e tratamento e iii) na distribuição.
216
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Captação
Para análise dos potenciais impactos ambientais da captação d’água, deve-
se diferenciá-los em captação de “fonte superficial” e de “fonte subterrânea”.
Captação superficial
“A exploração das águas superficiais altera o balanço hidrológico e pode
gerar efeitos ambientais negativos, entre os quais o desequilíbrio entre a
disponibilidade e uso das águas superficiais e subterrâneas”.
As diferenças de disponibilidade de água entre regiões estão relacionadas
com as diferenças climáticas, o aumento do escoamento superficial provocado pelas
alterações na cobertura vegetal, a compactação do solo ou a urbanização, ou ainda o
lançamento de águas residuárias sem tratamento nos corpos receptores.
A disponibilidade de água é atualmente dimensionada em função não só da
quantidade, como da qualidade dos recursos hídricos existentes, uma vez que a poluição
e contaminação dos mananciais de superfície provocam a sua indisponibilidade e exigem
o uso de técnicas de tratamento cada vez mais inviáveis, do ponto de vista econômico.
O aumento de captação de águas superficiais tem como causa principal o
crescente consumo de água potável em função: i) da melhoria do padrão de vida da
população ou crescimento demográfico; ii) do incremento da demanda de água de
processos em indústrias, comércio, serviços e uso agrícola; iii) do desperdício de
água; iv) da perda de água na rede de distribuição e v) da sazonalidade climática.
O aumento do consumo acima da capacidade de suporte dos mananciais provoca
a degradação dos recursos paisagísticos e ecológicos, e altera a estabilidade ecológica
da região. As alterações climáticas e mudanças na cobertura vegetal nas áreas de
mananciais podem reduzir o volume das águas superficiais, ocasionando variação
temporal na disponibilidade deste recurso.
A supressão da cobertura vegetal nas áreas de mananciais, incluindo a
vegetação de preservação permanente, é um dos fatores a influenciar o processo de
erosão (hídrica ou eólica) dos solos, provocando conseqüentemente, o carreamento
de sedimentos para os cursos d’água e posterior assoreamento dos mesmos.
Outra questão a ser considerada na captação de águas superficiais é a
possibilidade de estarem sendo introduzidas substâncias tóxicas no sistema de
abastecimento (por exemplo alguns princípios ativos de agrotóxicos), que o sistema
de tratamento não identifica por deficiência, como aquelas que passam pelo sistema
por serem consideradas doses mínimas e que podem ser cancerígenas quando
acumuladas no organismo humano.
217
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Captação subterrânea
A demanda crescente de água pode estar acompanhada pela redução da
quantidade e qualidade das águas superficiais, o que gera a necessidade de utilização
de reservas subterrâneas. Porém, deve-se considerar, antes da captação de águas
subterrâneas para consumo, que estas também estão sujeitas à deterioração de sua
qualidade, embora em proporções bem menores que as águas superficiais, em função
principalmente de:
• acumulação e infiltração de minerais nas águas subterrâneas, em função da
irrigação e da alta taxa de evaporação, que ocorre com maior freqüência
nas zonas áridas e semi-áridas;
• lixiviação e difusão de substâncias contaminantes que se encontram fixas no solo;
• infiltração de águas residuais sem tratamento de esgotamento sanitário ou
de fossas sépticas ou sumidouros, e pela infiltração de substâncias tóxicas
de efluentes industriais.
Portanto, nem sempre é possível a utilização de água subterrânea sem submetê-
la a tratamento prévio. Cabe considerar, no entanto, que quanto mais profundo o
lençol subterrâneo, menor será sua suscetibilidade à poluição.
O aproveitamento de aqüíferos para fins de abastecimento público pode ter
variados efeitos sobre o balanço hídrico, provocando alterações sobre seus
componentes de carga e descarga, descritos a seguir:
• componentes de carga: precipitações e águas superficiais que contribuem
para regeneração do aqüífero, alimentação subterrânea de aqüíferos
contíguos e recarga artificial por infiltração;
• componentes de descarga: confluência do aqüífero com águas superficiais,
drenagens e extração de água.
Os principais efeitos ambientais da alteração do balanço hídrico compreendem,
entre outros:
• alteração a longo prazo da qualidade das águas subterrâneas;
• aumento da velocidade de fluxo;
• alteração do fluxo das águas subterrâneas, mediante o desvio de cargas e
infiltrações de águas superficiais;
• entrada de águas salinas em aqüíferos costeiros;
• geração de infiltrações no aqüífero, procedentes de aqüíferos de qualidade
inferior;
218
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• rebaixamento do lençol freático.


O aproveitamento de águas subterrâneas mediante sua extração causa
invariavelmente o seu rebaixamento. As principais conseqüências do rebaixamento
das águas subterrâneas são:
• redução da umidade do solo, podendo provocar alteração de determinadas
espécies de vegetação;
• esgotamento das reservas de águas subterrâneas em épocas de secas
prolongadas;
• secagem de mananciais e de cursos d’água.

Transporte (adução) e tratamento


A água bruta deve ser submetida a um processo de tratamento, cuja tecnologia
deve conduzir ao menor custo, sem, contudo, deixar de lado a segurança na produção
de água potável, ou para outros fins a que se propõe. Os principais processos utilizados
em estações de tratamento de água são os seguintes: coagulação, floculação, decantação,
filtração, desinfecção e fluoração. Dependendo da qualidade da água bruta, pode ser
necessária a adoção de processos de tratamento específicos, complementares aos que
foram descritos, para a remoção de contaminantes orgânicos e inorgânicos.
A operação correta do sistema de tratamento pressupõe a eficiência técnica
do tratamento, o adequado funcionamento dos equipamentos de controle e alerta e
as possibilidades de ajustar o tratamento às variações sazonais na qualidade da água
a ser tratada.
Por outro lado, a operação inadequada destes sistemas pode gerar efeitos
ambientais indesejáveis, como a aplicação de doses excessivas de produtos químicos
e o lançamento de substâncias residuárias contidas no lodo dos decantadores e filtros,
e das salmouras da dessalinização em águas superficiais.

Rede de distribuição
Sob o aspecto ambiental, o principal problema da rede de distribuição é o
desperdício de água, provocado pelas perdas que ocorrem geralmente em função de
deficiências do sistema.
A rede de distribuição pode apresentar elevados riscos de contaminação,
caso não tenha permanente manutenção, entre os quais se destacam: i) vazamento
219
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

e perdas de água; ii) interrupções temporárias de abastecimento com a


possibilidade da contaminação interna dos canos com águas contaminadas
(pressão externa maior que a interna); iii) baixa pressão hidráulica com a
possibilidade de água parada e início do processo de degradação.

6.1.1.3 - Recomendações de medidas atenuantes

A exploração de águas superficiais requer medidas que podem atenuar os efeitos


negativos, tais como: i) uso de sistema de medição e controle da qualidade e quantidade
da água, permitindo a vigilância da contaminação; ii) análise e avaliação do uso atual das
águas superficiais em toda a área dos mananciais, de tal forma a adotar medidas
preventivas e corretivas, legais e operacionais; iii) prevenção do desperdício.
Na fase de planejamento do sistema de abastecimento, a avaliação do uso
atual do solo nos mananciais superficiais (bacia hidrográfica) e subterrâneos (região
de carga e recarga do aqüífero) é um aspecto indispensável para a adoção de medidas
corretivas e/ou preventivas, visando à sustentabilidade dos mananciais e
conseqüentemente do sistema de abastecimento.
Mesmo nos sistemas de tratamento com operação adequada, é necessário
adotar medidas de atenuação dos impactos ambientais negativos, tais como: i) informar
a população sobre a qualidade das águas, bruta e tratada; ii) implantar plantas de
tratamento para os efluentes dos filtros e lodo de decantadores; iii) fixar medidas de
segurança para o armazenamento de produtos químicos e medidas de prevenção aos
possíveis vazamentos; iv) instalar equipamentos de medição e controle da qualidade
da água, capaz de detectar anomalias no processo; v) atender às normas legais para
a qualidade dos efluentes da estação de tratamento.
As medidas adotadas para minimizar os efeitos prejudiciais provocados pela
exploração de águas subterrâneas podem estar mais diretamente relacionadas com
a seleção correta do empreendimento, as técnicas de construção e a modalidade de
operação dos poços. A sobre exploração de um aqüífero pode ser atenuada ou prevenida
pelo uso eficiente da água, com a aplicação de medidas reguladoras do consumo em
distintas épocas do ano, introduzindo sistemas tarifários diferenciados, entre outros.
A eficiência das medidas de atenuação requer estudos hidrogeológicos
preliminares e a avaliação do balanço hidrológico. É importante compreender
que a elevação crescente no consumo de água tratada pressupõe uma elevação

220
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

de nível equivalente de águas residuárias, o que também merece o devido cuidado


para que estas mesmas águas residuárias não venham a provocar a contaminação
dos sistemas de abastecimento público.

6.1.1.4 - Referências para análise ambiental da atividade

Para a elaboração e análise de projetos de abastecimento de água, é


importante levar em consideração os seguintes aspectos: i) avaliação dos recursos
hídricos disponíveis e seu uso multisetorial; ii) avaliação da eficiência do uso da
água nos projetos de abastecimento atuais e projetados; iii) planejamento do
sistema de abastecimento, segundo critérios ecológicos.
A classificação das águas superficiais adequadas ao abastecimento público é
regulamentada pela Resolução n.o 20 de 1986 do Conselho Nacional de Meio
Ambiente – CONAMA.
Um dos aspectos básicos para a análise ambiental é o cumprimento da Portaria
do Ministério da Saúde n.o 36/90, que dispõe sobre as condições e parâmetros de
potabilidade da água para consumo humano. A rigor, se esta portaria fosse cumprida
à risca, tais como o monitoramento da qualidade em todos os parâmetros citados,
estaria sendo garantida a qualidade da água para o consumo humano.
Os critérios exigidos para a proteção das margens dos cursos d’água, lagos e
das represas (matas ciliares) são especificados no Código Florestal, Lei 4.771/65.
Os critérios para o licenciamento ambiental de projetos de abastecimento de
água estão especificados na Resolução CONAMA n.o 005/88, os quais podem estar
regulamentados e especificados nas leis e normas estaduais, que dispõem sobre o
sistema de licenciamento.
É importante verificar as exigências dos estados em relação à necessidade da
outorga de direito de uso da água, prevista desde o Código das Águas e regulamentada
através das Leis Estaduais de Recursos Hídricos. Também é importante verificar os
critérios da Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9.433/97), que se encontra
em fase de regulamentação.

221
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

6.1.1.5 - Quadro-Resumo: Abastecimento de Água


IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
• Modificação dos cursos d’água. • Implantar programas de proteção ambiental dos
• Alteração do balanço hídrico. mananciais, mediante a recuperação e manutenção das
• Remoção da vegetação. matas ciliares, conservação dos solos e do planejamento
• Erosão das margens e assoreamento territorial.
dos cursos d’água. • Implantar sistema de medição e controle da qualidade e
• Alteração da fauna e da flora aquática e quantidade da água, permitindo a vigilância da
terrestre e contaminação.
• Rebaixamento do lençol freático. • Análise e avaliação do uso atual das águas superficiais em
toda a área dos mananciais de tal forma a adotar medidas
preventivas e corretivas, legais e operacionais.
• Riscos de danos à saúde pública por • Realizar controle sanitário em pontos estratégicos e críticos
consumo de água contaminada, por da rede.
falha no sistema de tratamento e/ou .
vazamento/infiltração na rede.
• Desperdício de água por falhas no • Implantar programas de prevenção do desperdício.
sistema de distribuição.
• Contaminação do solo e de águas • Implantar tecnologia adequada para reutilização das águas
superficiais e subterrâneas, pela de lavagem (residuárias).
disposição inadequada do lodo e águas • implantar sistema de disposição adequada do lodo do
residuárias do sistema de tratamento sistema de tratamento.
(limpeza de filtros e decantadores).
• Alteração do fluxo de veículos e tráfego • Informar a comunidade afetada e implantar sistema de
durante a implantação das obras. sinalização adequado para minimizar riscos de acidentes.
• Geração de poluição atmosférica • Selecionar locais adequados para implantação dos
(emissão de poeira) e ruídos durante a sistemas de captação e tratamento, evitando a proximidade
execução das obras civis e geração de de áreas populosas.
ruídos na operação do sistema de • Planejar corretamente a execução das obras, evitando
captação e tratamento. horários inadequados dos trabalhos.
• Planejar a implantação dos equipamentos geradores de
ruídos para áreas que não afetem a comunidade ou
implantar isolamento acústico nas fontes geradoras de
ruídos dos sistemas de tratamento e captação.
• envolvimento da comunidade para conhecimento das obras
e seus impactos ambientais potenciais.
• Riscos de acidentes ambientais e de • Implantação de medidas de segurança na unidade de
trabalho provocados por vazamentos de armazenamento, no laboratório e na unidade de
produtos químicos, em especial o cloro. tratamento.
• Implantação da Comissão Interna de Prevenção de
Acidentes.
• Riscos de acidentes por falha no sistema • Implantação de sistema de alerta e comunicação entre as
de bombeamento, adução ou unidades.
reservação.
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL:
Lei 4.771 de 15/09/65 - Institui o Código Florestal.
Lei 9.433 de 08/01/97 - Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos.
Decreto-Lei 24.643 de 10/07/34 – Institui o Código das Águas.
Decreto-Lei 852 de 11/11/38 - Mantém, com modificações, o Decreto-Lei 24.643 (Código das Águas).
Resolução CONAMA 001 de 23/01/86 - Trata do uso e implementação da Avaliação de Impactos Ambientais.
Resolução CONAMA 004 de 18/09/85 – Trata das Reservas Ecológicas.
Resolução CONAMA 020 de 18/06/86 – Estabelece a classificação das águas doces, salobras e salinas
segundo seu uso preponderante.
Resolução CONAMA 005 de 15/06/88 – Dispõe sobre o licenciamento de obras de saneamento.
Resolução CONAMA 237 de 19/12/97 – Trata do licenciamento ambiental de empreendimentos.
Portaria 036/90 – Ministério da Saúde – Estabelece padrões de potabilidade da água para consumo humano.

222
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

6.1.2 - Esgoto
6.1.2.1 - Descrição da atividade sob o enfoque ambiental

Da água distribuída pelo sistema de abastecimento público e efetivamente


utilizada nas atividades humanas, 80%, em média, é transformada em esgoto, o qual
deve ser coletado e tratado antes de ser lançado no solo ou em corpos d’água.
As características físicas e químicas do esgoto sanitário variam em função dos
usos da água e podem apresentar em sua composição, além de grande quantidade
de matéria orgânica, microrganismos patogênicos e substâncias químicas tóxicas. Estes
componentes precisam, portanto, ser coletados e tratados adequadamente, de forma
que seja evitada a transmissão de doenças ao homem e minimizados os seus impactos
sobre o meio ambiente.
O tratamento de esgoto adotado pode ser individual ou coletivo. Nas
aglomerações urbanas é recomendável que exista um sistema coletivo de esgotamento,
composto de rede de coleta e estação de tratamento para as águas residuárias. As
soluções individuais são indicadas para o meio rural ou para áreas de baixa densidade
habitacional. Em ambas as situações, a adoção do esgotamento sanitário poderá causar
novos danos ao homem e ao meio ambiente, caso não seja planejado e implantado de
acordo com as recomendações técnicas pertinentes.
É importante reconhecer que as soluções que têm sido adotadas para o
saneamento básico, na maioria dos casos, compreendem projetos que demandam
recursos financeiros indisponíveis em função do volume necessário para intervenção
na maioria das cidades brasileiras. Assim, na seleção de alternativas para o esgotamento
sanitário, deve-se considerar a possibilidade de implantação de projetos simplificados,
que podem ser tão eficientes quanto os denominados “convencionais” e que demandam
volumes menores de recursos financeiros.
Com a finalidade de amenizar os impactos negativos do esgoto sanitário, existem
várias tecnologias alternativas de coleta e tratamento. O Banco Mundial enumera as
seguintes alternativas como uma breve sugestão:

223
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

SISTEMAS DE COLETA
Tratamento local, incluindo fossa séptica, filtros anaeróbio.
Rede de gravidade, pressão ou vazio de pequeno diâmetro.
Rede de pouca profundidade.
Rede plana.
Sistema simplificado de rede.
Sistema regional de coleta.
Sistema comunitário ou sub-regionais.
OBRAS DE TRATAMENTO
Sistemas locais comunitários, incluindo fossas coletivas e filtros anaeróbios.
Franjas de oxidação.
Tanques de estabilização.
Lagoas aeradas.
Tratamento no solo.
Tratamento biológico convencional.
Tratamento físico-químico.
ELIMINAÇÃO/LANÇAMENTO
Reutilização na agricultura, silvicultura, aqüicultura ou melhoramento da paisagem.
Reutilização em aplicações industriais.
Lançamento no mar.
Descarga em águas superficiais.
MANEJO DO LODO
Produção de adubo/composto.
Produção de composto combinado com lixo orgânico.
Reutilização na agricultura ou silvicultura.
Incineração.
Aterro sanitário.
Eliminação no mar.

Os projetos de esgotamento sanitário, quando corretamente executados, têm


a finalidade de minimizar os efeitos do lançamento do esgoto in natura sobre o ambiente,
caracterizando-se, assim, como um impacto positivo, possibilitando a redução dos
índices de doenças e de perigo à saúde da população, a melhoria de qualidade das
águas e o aumento dos benefícios dessas águas para os diversos usos.
Nesta seção são abordados os aspectos ambientais relacionados à
implantação de sistema coletivo de esgotamento sanitário, o qual compreende:
• Rede de coleta e transporte de esgoto (coletores, interceptores e emissários).
• Estações elevatórias.
• Estações de tratamento.
• Manejo de lodo de estações de tratamento de esgoto.
• Estrutura de lançamento de esgoto tratado.
224
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

6.1.2.2 - Potenciais impactos ambientais negativos

Os potenciais impactos ambientais negativos das águas servidas, aqui


denominadas esgoto, estão relacionados com a quantidade de materiais contaminantes
contidos nessas águas, caracterizados principalmente por:
• sólidos suspensos;
• sólidos dissolvidos;
• matéria orgânica e inorgânica, nutrientes, óleos e graxas ;
• microrganismos patogênicos;
• substâncias químicas tóxicas.
O esgoto sanitário que não passa por tratamento é um risco potencial à saúde
humana, podendo provocar:
• infecção parasitária, provocada pelo contato direto com a matéria fecal;
• hepatite;
• contaminação da água e alimentos podendo provocar doenças gastrintestinais,
incluindo a cólera e a febre tifóide.
O esgoto bruto (sem tratamento) ou os efluentes de fossas sépticas, lançados
diretamente nos cursos d’água causam riscos potenciais para o habitat aquático e
marinho, diminuindo o nível de oxigênio dissolvido e causando contaminação da cadeia
alimentar por bioacumulação, quando da presença de substâncias tóxicas.
Quando estes efluentes são lançados em sistemas confinados, como baías,
lagoas, açudes ou lagos, aumenta o risco de contaminação afetando áreas de lazer e
de pesca profissional ou artesanal.
Na elaboração e análise de projetos de sistemas de esgotamento sanitário
deve-se ainda minimizar os impactos negativos decorrentes das obras, como geração
de poeira, ruídos e obstrução de vias com a conseqüente interrupção de trânsito de
veículos e pedestres, supressão de cobertura vegetal, que poderão ocasionar
alterações temporárias da qualidade de vida da população local.
Um aspecto ambiental importante, que deve ser observado na operação da
estação de tratamento, é a geração de odor durante o processo e no lançamento do
efluente no corpo receptor, que pode afetar a comunidade próxima à Estação de
Tratamento de Esgoto (ETE), bem como anular a potencialidade turística do local.
Os resíduos oriundos do processo de tratamento (lodo), quando dispostos
incorretamente, podem causar a contaminação do solo e das águas superficiais
e subterrâneas.

225
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Dependendo da eficiência do sistema de tratamento de esgoto implantado, o


lançamento de efluentes do tratamento pode comprometer a qualidade da água do
corpo receptor.
Sob este aspecto, ressalta-se que o lançamento de efluentes sanitários nos
cursos d’água, assim como de qualquer carga poluidora, deve ser considerado em
seus efeitos cumulativos. A análise isolada de um determinado sistema de
esgotamento não é suficiente para avaliar seus efeitos sobre um curso d’água,
sendo sempre necessário considerar os demais lançamentos na mesma bacia
hidrográfica. Esclarece-se que os corpos receptores devem ser classificados de
acordo com o que determina a Resolução CONAMA n.º 20/86, e que mesmo após o
lançamento dos efluentes de esgotos, estes devem manter-se de acordo com os
parâmetros que identificam a sua classificação.
Para a elaboração e análise de projetos de coleta e tratamento de esgotos
sanitários, possuem peso fundamental os seguintes aspectos:
• realização de um amplo planejamento;
• seleção de tecnologia de coleta e tratamento apropriada às condições
regionais;
• caracterização do sistema operacional e de manutenção;
• dimensionamento dos impactos ambientais e socioculturais.
Na identificação dos impactos ambientais negativos dos sistemas de coleta e
tratamento de esgoto sanitário, deve-se considerar:
Em relação aos “Recursos hídricos”:
• Degradação da qualidade de águas superficiais receptoras (corpo receptor).
• Contaminação das águas subterrâneas por lançamento de esgoto bruto
ou tratado e/ou substâncias tóxicas.
Em relação aos Solos:
• Contaminação do solo por substâncias tóxicas e/ou agentes patogênicos.
Em relação aos Recursos Biológicos:
• Alteração dos habitat da fauna e/ou flora aquáticas.
• Contaminação direta de organismos aquáticos, da fauna e da flora, por
metais pesados.
Em relação à “Qualidade de Vida”:
• O processo de tratamento ou operações de lançamento produzem odores
e/ou ruídos agressivos.
• Alterações das condições de vida dos residentes próximos ao local de
implantação, durante a execução das obras.

226
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• Riscos à saúde para os trabalhadores rurais nas zonas de lançamento


e/ou reutilização de efluentes e/ou lodo tratado.
• Riscos à saúde para os consumidores de produtos submetidos à irrigação
com efluentes tratados e/ou utilização de lodo tratado.
• Riscos de contaminação ambiental devido a deficiências operacionais no
sistema.

6.1.2.3 - Recomendações de medidas atenuantes

Os projetos de sistemas coletivos de esgotamento sanitário apresentam na


sua grande maioria impactos positivos em sua implantação, uma vez que são
dimensionados com a finalidade de influenciar diretamente na diminuição dos índices
de ocorrência de epidemias e doenças que coloquem em risco a saúde pública. No
entanto, poderão causar impactos ambientais adversos, principalmente no local de
tratamento e lançamento dos efluentes.
O reaproveitamento de águas tratadas ou do lodo pode implicar a elevação de
custos em relação à disposição final convencional em aterro ou lançamento em corpo
receptor, porém é necessário avaliar as alternativas e necessidades regionais, como
disponibilidade de água para irrigação e o incremento da produção agrícola com a
fertilização e/ou enriquecimento do solo, o que pode obter uma avaliação positiva.
Indiretamente, os projetos de esgotamento sanitário são promotores de
desenvolvimento local, possibilitando a adequação de bairros e cidades, favorecendo
o desenvolvimento da pesca, do lazer e do turismo, entre outros benefícios.
O planejamento é a medida mais correta para dimensionar as medidas
atenuantes, mediante a coleta de informações básicas que possibilitem conhecer a
concentração do esgoto, localização, volume gerado e tipo de tratamento exigido.

6.1.2.4 - Referências para análise ambiental da atividade

A disposição de efluentes domésticos possui uma estreita relação com os


aspectos ambientais e conta com uma gama de requisitos técnicos e legais que orientam
os procedimentos relativos ao esgotamento sanitário, desde a elaboração e
avaliação de projetos até o tratamento e lançamento de esgoto tratado.
Os impactos sobre o meio ambiente e a saúde pública necessitam da
construção de indicadores que possam medir a relação custo/benefício dos
227
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

projetos de saneamento. No caso da saúde, os benefícios podem ser medidos,


por exemplo, pela quantificação da redução de custos com gastos médicos e dias
de trabalho perdidos, por paralisação de serviços motivada pela falta ao trabalho
devido à ocorrência de doenças. Ao mesmo tempo, os resultados com o turismo,
pesca e recreação podem medir as melhorias ou deficiências que o saneamento
provoca em uma determinada região.
A Resolução n.o 001/86 CONAMA estabelece os critérios e necessidades de
elaboração de Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental
para projetos de saneamento, especialmente troncos coletores e emissários. Em 1988,
foi editada a Resolução n.o 005 do CONAMA, que especifica a necessidade de
licenciamento ambiental para obras de saneamento.
O enquadramento dos cursos de água, de acordo com a Resolução do
CONAMA n.o 020/86, estabelece as classes das águas doces, salobras e salinas
segundo os usos preponderantes. Estas classes devem ser observadas com a
finalidade de planejar o lançamento de efluentes domésticos, de acordo com os
respectivos parâmetros físico-químicos e bacteriológicos.

228
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

6.1.2.5 - Quadro-Resumo: Esgoto

IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES


• Modificação do equilíbrio hidrológico da • Avaliar, durante o planejamento, a utilização de tecnologias
bacia hidrográfica pela coleta de de menor impacto, como por exemplo, sistemas regionais e
grandes áreas. comunitários de pequeno porte.
• planejar adequadamente a localização, processo de
tratamento e lançamento dos efluentes, de forma a não
comprometer a qualidade do corpo hídrico receptor;
• Alterações nos habitat da flora e fauna • implantar sistema de monitoramento e acompanhamento
aquática durante a construção do das obras, em especial de erosão e sedimentação dos
sistema. cursos de água durante as obras.
• Modificação temporária das condições • Implementar programas especiais que envolvam a
de vida da população durante a comunidade no conhecimento dos impactos e medidas
execução das obras. atenuantes durante a execução das obras.
• adotar medidas que minimizem as interferências no fluxo
de veículos, circulação de pedestres, geração de ruídos e
de material particulado, durante a execução das obras.
• Produção de odores e ruído do processo • Planejar a localização das unidades compatíveis com o uso
de tratamento e de operação do sistema do solo regional, com tecnologia adequada e com sistema
de eliminação de lodo. de eliminação e controle de odores.
• Comprometimento do solo, culturas • Realizar o planejamento que assegure o uso de tecnologia
agrícolas ou águas subterrâneas e/ou para manejo, tratamento e destinação adequada do lodo,
proliferação de vetores transmissores de considerando também a possibilidade de aplicação no solo
doenças pelo manejo e eliminação de lodo. e em cultivos agrícolas.
• Riscos de acidentes devido à • Estabelecer medidas de segurança e capacitação da equipe
acumulação de gases na rede coletora. responsável pela manutenção da rede coletora.
• Riscos de contaminação e • Estabelecer programa de monitoramento e manutenção
comprometimento da saúde pública, sistemática do sistema de coleta, bombeamento e
devido ao vazamento (transbordamento) tratamento, com a limpeza periódica da rede.
e a acumulação de esgoto bruto, ou • implantar sistema de alerta por falhas no sistema de
ainda por falha no fornecimento de bombeamento e/ou tratamento.
energia para o tratamento. conscientizar a comunidade sobre os riscos de dispor

resíduos sólidos na rede coletora.
• implantar conjunto de geradores de energia (automáticos).
• Desmatamento de áreas para • Reflorestamento de áreas equivalente.
implantação das estações.
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
• Lei 4.771 de 15/09/65 - Institui o Código Florestal.
• Lei 9.433 de 08/01/97 - Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos.
• Decreto-Lei 24.643 de 10/07/34 – Institui o Código das Águas.
• Decreto-Lei 852 de 11/11/38 - Mantém com modificações o Decreto-Lei 24.643 (Código das Águas).
• Resolução CONAMA 001 de 23/01/86 - Trata do uso e implementação da Avaliação de Impactos Ambientais.
• Resolução CONAMA 004 de 18/09/85 – Trata das Reservas Ecológicas.
• Resolução CONAMA 020 de 18/06/86 – Estabelece a classificação das águas doces, salobras e salinas,
segundo seu uso preponderante.
• Resolução CONAMA 005 de 15/06/88 – Dispõe sobre o licenciamento de obras de saneamento.
• Resolução CONAMA 237 de 19/12/97 – Trata do licenciamento ambiental de empreendimentos.

229
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

6.1.3 - Resíduos sólidos


6.1.3.1 - Descrição da atividade sob o enfoque ambiental

O termo resíduo sólido, comumente conhecido por lixo, define tudo aquilo que
deixa de ter utilidade e é jogado fora, e que se apresenta no estado sólido ou semi-
sólido. É produzido praticamente em todas as atividades humanas e composto por
uma grande diversidade de substâncias.
Na atualidade, o volume de lixo com que a humanidade convive é resultado dos
padrões culturais impostos pela sociedade industrial. A produção de bens e serviços
e a forte indução para a elevação no padrão de consumo intensificam a geração de
resíduos, ao mesmo tempo que as mudanças no estilo de vida são orientadas pela
criação de novas necessidades, que por sua vez estimulam ainda mais o consumo.
Assim, cada vez são produzidas maiores quantidades de resíduos e cresce também a
complexidade da sua composição, com o conseqüente aumento dos impactos da sua
destinação final.
A sociedade moderna vive, portanto, um paradoxo; ao mesmo tempo em que
aumenta a preocupação com o esgotamento dos recursos naturais, que é pouco
disseminada, permanece o encorajamento dos hábitos de consumo indiscriminados,
veiculados especialmente pelos meios de comunicação de massa, com elevado potencial
de impacto em nível global e intergeracional.
A concentração da geração de resíduos ocorre principalmente nas áreas
urbanas, agravando-se e alcançando até mesmo dimensões dramáticas nas grandes
metrópoles, onde é alto o grau de concentração populacional e de consumo.
Proporcionalmente ao aumento das aglomerações urbanas e ao crescimento
da população, ocorre uma diminuição de áreas disponíveis para a destinação dos
resíduos gerados.
Não obstante a gravidade dos problemas vinculados à gestão dos resíduos
sólidos no país, há um baixo nível de compreensão dos seus impactos negativos
e, conseqüentemente, as soluções possíveis são retardadas. O setor público, via
de regra, tem fortes limitações para funcionar como gestor e apresenta baixa
capacidade financeira de investimentos. O setor empresarial, principal gerador,
direto e indireto, dos resíduos, tem baixo nível de envolvimento com o problema.
A população em geral entende que o problema é do governo e também não
compreende a dimensão dos custos e benefícios de um bom sistema de gestão
230
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

de resíduos sólidos.
O equacionamento destes problemas, bem como o melhor aproveitamento
das áreas destinadas à disposição e ao tratamento do lixo, a busca de novas
tecnologias para a minimização, a reutilização e o reaproveitamento dos resíduos
tornaram-se, diante da nova realidade urbana-industrial, em nível global, um
fator vital para o desenvolvimento sustentável em qualquer aglomerado humano.
Portanto, a gestão dos resíduos sólidos, que compreende todas as medidas
adotadas para a prevenção e redução da geração dos resíduos, sua reutilização,
manuseio, tratamento, disposição final adequadas e recuperação de áreas de aterros,
deve estar orientada à: proteção da saúde humana, manutenção da qualidade de vida
e melhoria das condições ambientais e conservação dos recursos naturais.
A adoção dessas medidas depende da compreensão clara dos impactos
negativos dos resíduos sólidos, de modelos eficazes de gerenciamento integrado, do
conhecimento técnico específico quanto à natureza dos resíduos, das normas legais e
administrativas expedidas pelas autoridades federais, estaduais e municipais, aplicáveis
no âmbito dos municípios, bem como da capacidade de fiscalização dessas autoridades.
No Brasil, os resíduos sólidos são classificados pela NBR 10004 da Associação
Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, em:
“Resíduos Classe I” – Perigosos: inclui os resíduos sólidos ou mistura de resíduos
que, em função de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade,
toxicidade e patogenicidade, podem apresentar riscos à saúde pública, provocando
ou contribuindo para um aumento de mortalidade ou incidência de doenças e/ou
apresentar efeitos adversos ao meio ambiente, quando manuseados ou dispostos de
forma inadequada.
“Resíduos Classe II” – Não Inertes: São classificados como Classe II ou resíduos
não inertes os resíduos sólidos ou mistura de resíduos sólidos que não se enquadram
na Classe I – perigosos ou na Classe III – inertes. Estes resíduos podem ter propriedades
tais como: combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade em água.
“Resíduos Classe III” – Inertes: contempla os resíduos sólidos ou mistura de
resíduos sólidos que, submetidos ao teste de solubilização (Norma NBR 10006 –
Solubilização de Resíduos – Procedimento) não tenham nenhum de seus constituintes
solubilizados, em concentrações superiores aos padrões definidos na Listagem 8 –
Padrões para os testes de solubilização. Como exemplo destes materiais, pode-se
citar: rochas, tijolos, vidros e certos tipos de borrachas e plásticos que não são
231
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

facilmente decompostos.
De acordo com a origem, os resíduos sólidos podem ser classificados em:
 “Resíduos Urbanos”, que compreendem os:

• resíduos domiciliares ou domésticos, oriundos das residências e compostos


basicamente por restos de alimentos, embalagens plásticas, de metal, de
vidro, de papel e de papelão; jornais, revistas etc.;
• resíduos comerciais, que incluem os resíduos originados de atividades
realizadas em escritórios, hotéis, lojas, cinemas, teatros, mercados,
terminais etc. e são compostos basicamente por papel, papelão e
embalagens em geral;
• resíduos públicos (varrição), incluindo os resíduos resultantes da limpeza
de vias públicas, praças e jardins, compostos principalmente por papéis,
embalagens, restos de cigarros, folhagens e sedimentos diversos.
 “Resíduos Industriais”: são os resíduos provenientes das atividades industriais,

em geral contêm uma variedade muito grande de materiais e substâncias


que não se decompõem ou podem permanecer muito tempo estáveis, sem
mudar suas características; estes tipos de resíduos, que muitas vezes
representam sérios perigos para a saúde pública, exigem acondicionamento,
transporte e destinação especiais.
 “Resíduos dos Serviços de Saúde”: também conhecido como lixo hospitalar,

são aqueles resultantes das atividades exercidas pelos estabelecimentos


prestadores de serviços de saúde, como: hospitais, clínicas médicas e
veterinárias, farmácias, laboratórios etc. Estes resíduos são considerados,
de acordo com a NBR 10004, como classe I – perigosos, devido à sua
patogenicidade. No entanto, cabe considerar que somente uma parcela dos
resíduos dos serviços de saúde apresentam características de patogenicidade
e/ ou periculosidade. São aqueles classificados como Classe A – Resíduos
Infectantes e Classe B – Resíduos Especiais (radioativo, farmacêutico e
químico perigoso) pela NBR 12808 da ABNT.
 “Resíduos Especiais”: são resíduos que não podem ser recolhidos pela

coleta regular, por se apresentarem em grandes volumes (mobiliário


etc.) ou que necessitam de coleta especial por sua toxicidade.
O arcabouço de leis, regulamentos e procedimentos para tratar do lixo é definido
nas três esferas: federal, estadual e municipal. Porém, a grande responsabilidade
232
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

é do município que responde pela coleta, transporte, tratamento e disposição


final dos resíduos sólidos urbanos, ficando sob responsabilidade do Estado o
licenciamento e/ou a fiscalização ambiental e cabendo à União, a definição das
normas gerais.
Na gestão dos resíduos sólidos industriais, cabe ao gerador desse tipo de
resíduo seu armazenamento, tratamento e disposição final adequada.
Quanto aos resíduos sólidos dos serviços de saúde, a Resolução 005/93 do
CONAMA, atribui aos geradores a responsabilidade sobre o seu manuseio,
acondicionamento, transporte, tratamento e disposição final.
A execução dos serviços de limpeza pública urbana, constitui um dos poucos
serviços públicos de competência exclusiva do poder municipal. As prefeituras
criam regulamentos próprios e estabelecem formas de gestão e administração
dos resíduos, muitas vezes associando-se a outros municípios (consórcios) e
sempre buscando alternativas adequadas à sua própria realidade.
Neste contexto, muitas vezes o setor privado participa da operacionalização
dos sistemas de coleta, tratamento e destinação dos resíduos urbanos, mediante
a terceirização dos serviços por parte do poder público municipal.
O gerenciamento dos resíduos sólidos compreende basicamente cinco
etapas, as quais não necessariamente devam ser cumpridas à risca para todos
os tipos de resíduos: i) coleta e transporte, incluindo quando for o caso a coleta
seletiva e o transbordo; ii) tratamento; iii) armazenamento; iv) deposição; v)
aproveitamento. Inclui-se também no gerenciamento a recuperação dos aterros
desativados.
O tratamento dos resíduos sólidos pode ser efetuado mediante a aplicação
dos seguintes processos: i) biológicos (aeróbio e anaeróbio); ii) químico e iii)
físicos. O armazenamento pode ser adotado em função das características técnicas
ou econômicas dos resíduos tratados, aguardando o seu aproveitamento final.
A deposição refere-se à etapa de disposição final, geralmente em aterros,
de acordo com as técnicas adotadas para cada tipo de resíduo, o que caracteriza
uma etapa final para uma grande maioria dos resíduos, especialmente para os
resíduos domiciliares.
O aproveitamento refere-se aos procedimentos adotados para a
recuperação ou utilização de substâncias consideradas úteis, que pode
compreender: i) reciclagem dos materiais; ii) transformação em composto
orgânico e energia (biogás); iii) incineração com aproveitamento energético.

233
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

6.1.3.2 - Potenciais impactos ambientais negativos


Os resíduos sólidos, quando não são tratados adequadamente, constituem
uma permanente ameaça à saúde pública e ao meio ambiente, limitando as
potencialidades econômicas locais.
Mediante contato de pessoas e animais domésticos com o lixo, nas áreas de
depósito, pode ocorrer a disseminação de enfermidades. Também o vento pode ser
um veículo de transporte de elementos patogênicos e materiais perigosos. Os gases
gerados no processo de biodegradação dos “lixões”, além do odor desagradável,
podem conter gases orgânicos voláteis, tóxicos e potencialmente cancerígenos, a
exemplo da benzina e cloro vinil, bem como os subprodutos típicos (metano, dióxido
de carbono e gás sulfídrico). A fuligem gerada pela queima dos resíduos a céu aberto
pode causar problemas respiratórios.
Os recursos naturais que mais sofrem efeitos negativos da disposição
inadequada dos resíduos sólidos são os solos, as águas (subterrâneas e superficiais)
e o ar, resultantes em sua grande maioria pela localização e operação inadequada de
depósitos de lixo.
Os solos são diretamente afetados com o espalhamento dos resíduos em
áreas clandestinas e abertas, causando a degradação visual da paisagem. Tanto nos
“lixões” quanto nos aterros sanitários, os solos podem ser contaminados por
microrganismos patogênicos, metais pesados, sais e hidrocarbonetos clorados, contidos
no “chorume” (líquido resultante da decomposição do lixo). O grau de contaminação
dos solos depende fundamentalmente da sua porosidade, capacidade de troca de
íons e capacidade de absorver e precipitar os sólidos dissolvidos. Os ânions como
cloro e nitrato passam com facilidade na maioria dos solos.
Os solos argilosos e com matéria orgânica possuem maior capacidade de
atenuar os efeitos de contaminantes, do que os arenosos ou sedimentares, desde que
respeitada a sua capacidade de absorção, caso contrário estarão liberando os poluentes
para as águas subterrâneas e conseqüentemente para as superficiais.
O ar pode ser contaminado principalmente pelos odores indesejáveis que são
gerados a partir da decomposição anaeróbia da massa de lixo a céu aberto, exalando
o cheiro podre de gás sulfídrico. No caso de produção de composto utilizando processos
aeróbios operados corretamente, o odor pode ser inofensivo, caso contrário haverá a
geração de odores fétidos. Cabe destacar que a emissão de gás metano, proveniente
dos depósitos e/ou aterros de resíduos, contribuem para a formação do chamado
“efeito estufa”, considerado com um dos impactos globais da poluição do ar.
234
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Do ponto de vista econômico, as cidades ou regiões sem tratamento adequado


de seus resíduos sólidos (lixo) podem perder atratividade nos investimentos privados,
particularmente nas áreas turísticas. No tocante ao aspecto social, a qualidade de vida
das pessoas envolvidas com a atividade de resíduos apresenta baixo nível de equidade.
Portanto, os projetos de tratamento de resíduos são adotados com o objetivo
de minimizar seus efeitos negativos no que tange ao social, econômico e ambiental,
devendo todos os métodos de gerenciamento de lixo serem utilizados no sentido de
reduzir, ao mínimo, os impactos negativos gerados.
A disposição do lixo no solo, mesmo em aterros sanitários, pode causar a
contaminação do solo e das águas superficiais e subterrâneas, quando não atendidas
as condições técnicas para construção, manutenção e operação dos aterros sanitários.
Quando o lixo é incinerado, os gases liberados podem conter dioxinas além de
outros poluentes atmosféricos perigosos, necessitando o monitoramento das emissões
atmosféricas e o uso de sistemas de depuração de gases.
Portanto, é de fundamental importância, na escolha da alternativa tecnológica
e locacional para o tratamento de resíduos, a previsão dos potenciais impactos e
medidas atenuantes que devem ser implementadas, de forma que as mesmas sejam
contabilizadas para a tomada de decisão. A fiscalização sistemática pelas autoridades
competentes constitui também elemento importante no processo de atenuação do
potencial poluidor.
Serão descritos a seguir, de forma sintética, os principais impactos negativos que
podem ocorrer nas etapas de tratamento e disposição final do sistema de gerenciamento
de resíduos, considerando-se os métodos ou técnicas que são mais aplicados.

Resíduos Sólidos Urbanos


Das tecnologias para tratamento de resíduos sólidos urbanos existentes,
as mais utilizadas são a disposição no solo (em aterro sanitário), a compostagem
e, em proporção bem menor, a incineração. Como técnica de reaproveitamento,
inclui-se também no tratamento de resíduos a reciclagem.

Aterro Sanitário
O aterro sanitário é um processo utilizado para disposição de resíduos no
solo, que permite um confinamento seguro em termos de controle de poluição,
desde que projetado, implantado e operado dentro de padrões técnicos adequados.

235
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

O aterro sanitário deve conter os seguintes elementos: sistema de


drenagem das águas superficiais, impermeabilização do solo nas áreas ou células
de disposição de resíduos, sistema de drenagem e remoção dos líquidos
percolados, sistema de tratamento dos líquidos percolados (chorume), sistema
de drenagem, remoção e aproveitamento dos gases e poços de monitoramento
para avaliação das águas do lençol freático. Além disso, devem ser previstas, nos
projetos de aterros sanitários, as áreas destinadas às construções para
gerenciamento de toda a planta.
O processo de disposição do lixo no aterro sanitário consiste basicamente
nas seguintes etapas:
• Pesagem: o lixo chega em caminhões e é encaminhado ao sistema de
pesagem, que tem por finalidade manter um inventário da quantidade
de lixo que está sendo disposta no aterro.
• Disposição no aterro: o lixo é basculado na célula de deposição, sendo
efetuada a compactação do material disposto.
• Cobertura: a cobertura é feita com fina camada de terra, com o objetivo
de evitar a proliferação de vetores e propagação de mau cheiro.
Os impactos ambientais negativos se apresentarão na fase de planejamento,
implantação e operação do aterro sanitário.
Durante a fase de planejamento e implantação, os principais impactos
ambientais referem-se ao meio socioeconômico, devido à desvalorização
imobiliária das áreas adjacentes à área de implantação do aterro e à grande
resistência da comunidade residente na região, bem como no tocante às definições
que impactam as pessoas envolvidas com resíduos, tais como: operadores do
sistema, catadores, empresas recicladoras e de compostagem, cooperativas etc.
Outro aspecto que deve ser considerado, na fase de implantação, refere-se à
degradação da flora e da fauna, provocada pela remoção da vegetação natural da
área.
Na operação do aterro sanitário podem ocorrer:
• contaminação das águas do corpo receptor, provocada pelo lançamento
final dos efluentes do sistema de tratamento do chorume;
• alteração na qualidade da água do lençol freático, decorrente da possível
infiltração de líquidos percolados;
• impactos sobre a comunidade vizinha, devido à geração de odores, ruídos
e proliferação de vetores;
• alterações no sistema viário da região, devido à intensa circulação de

236
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

caminhões para transporte dos resíduos;


• alterações na qualidade do ar, devido à queima dos gases removidos
das células de disposição dos resíduos.

Compostagem
A compostagem fundamenta-se na estabilização da matéria orgânica, por
meio de processo biológico. O produto obtido é um material livre de agentes
patogênicos, chamado composto orgânico, e pode ser utilizado na agricultura
como fertilizante.
O método de compostagem mais comum é “a céu aberto”, que pode ser
considerado aeróbio.
No processo de compostagem o lixo passa por duas etapas: separação física,
para a retirada dos componentes não biodegradáveis, que são considerados rejeitos
e devem ser aterrados ou reciclados, conforme o caso; e trituração, para facilitar a
degradação.
Após o preparo, o lixo é fer mentado ou digerido pela ação de
microrganismos presentes, ou inoculados e adicionados no material.
Vários fatores influenciam o processo de compostagem: qualidade do
material, temperatura, teor de oxigênio, umidade, tipo de microrganismos
presentes, quantidade de material a ser degradado etc.
Os principais impactos ambientais negativos que podem ocorrer nas plantas
de compostagem referem-se à geração de odor e proliferação de vetores.
Outro aspecto a ser considerado refere-se à possibilidade da presença de
contaminantes no composto orgânico, como, por exemplo, metais pesados, que
inviabilizam seu uso para a agricultura.

Incineração
A incineração é um processo de combustão controlada do lixo. Existem vários
tipos de incineradores, que podem operar em processo contínuo ou em bateladas.
São constituídos basicamente de: sistema de alimentação, câmara(s) de combustão,
sistema de recolhimento de cinzas e saída de gases, sendo que alguns possuem
sistema de lavagem de gases.
Devido ao alto custo de implantação, operação e manutenção, a incineração
tem maior aplicação na destruição de resíduos perigosos ou quando as áreas
disponíveis para aterros são extremamente escassas e, portanto, de custos elevados.

237
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

O principal impacto ambiental negativo da incineração refere-se à


contaminação do ar. A emissão de gases no processo de incineração varia de
acordo com o tipo de equipamento utilizado (forma de alimentação, temperatura
nas câmaras de combustão etc.) e também em função da composição do lixo
incinerado, se os resíduos destinados à incineração apresentarem PVC, por
exemplo, podem ser geradas dioxinas, além de outros poluentes característicos
do processo de combustão. Portanto, referências técnicas dos equipamentos,
qualificação da equipe de gestão e da equipe técnica de operação, bem como,
especificações bem definidas acerca do alcance dos contratos de manutenção,
são de extrema importância.

Reciclagem
A reciclagem tem por objetivo reaproveitar materiais já utilizados,
reintroduzindo-os no processo produtivo e economizando, desta forma, recursos
naturais que deixam de ser extraídos para a produção de novos materiais e
áreas de disposição de resíduos, como aterros sanitários, aumentando sua vida
útil.
Nos projetos de gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser considerada, na
elaboração de projetos de aterros sanitários, a previsão de áreas específicas para a
implantação das etapas de reciclagem e compostagem.
Quanto aos impactos ambientais negativos, deve-se considerar que nas unidades
de separação e de preparação dos materiais para a reciclagem, as quais são integrantes
do sistema de gerenciamento de resíduos, quando não projetadas ou operadas dentro dos
padrões técnicos adequados, podem ocorrer a geração de odor, proliferação de vetores e
geração de águas residuárias provenientes da lavagem dos materiais (ex.: vidro).

Resíduos Industriais
Os resíduos industriais devem ser tratados em função das suas propriedades.
No caso de resíduos classe II – não inertes e classe III – inertes (NBR 10004 –
ABNT), não sendo passíveis de reaproveitamento, podem ser dispostos em aterros
sanitários comuns, tomando-se os devidos cuidados.
Quanto aos resíduos perigosos, existe uma grande diversidade de processos
que podem ser empregados no tratamento, sendo os mais usuais a incineração,
encapsulamento, biodegradação e aterros especiais. Para cada alternativa de

238
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

tratamento deve-se considerar os potenciais impactos ambientais que podem


ser gerados, prevendo-se as medidas de atenuação correspondentes.
A definição quanto ao tratamento indicado para cada tipo de resíduo inicia-
se pela sua classificação, de acordo com os critérios definidos pelas normas da
ABNT, relacionadas a seguir:
• NBR 10004 – Resíduos Sólidos – Classificação.
• NBR 10005 – Lixiviação de Resíduos – Procedimento.
• NBR 10006 – Solubilização de Resíduos – Procedimento.
• NBR 10007 – Amostragem de Resíduos – Procedimento.
Cabe ressaltar que a responsabilidade quanto ao tratamento dos resíduos
industriais é do gerador.

Resíduos dos Serviços de Saúde


No tratamento dos resíduos sólidos dos serviços de saúde, a parcela de
resíduos considerada infectante, ou seja, originária da atividade própria dos
serviços de saúde, necessita tratamento especial, com eficiência para a destruição
de microrganismos patogênicos.
Um aspecto que merece atenção no gerenciamento destes resíduos refere-
se à sua segregação na fonte, evitando que os resíduos infectantes sejam
misturados aos demais, fazendo com que a totalidade dos resíduos gerados
necessitem de tratamento especial.
A Resolução do CONAMA 005/93 e a NBR 12809 da ABNT estabelecem os
critérios que devem ser observados no manuseio, acondicionamento, coleta
interna, armazenamento, abrigo e transporte destes resíduos.
As técnicas de tratamento e disposição final mais utilizadas são: a disposição
no solo (vala séptica), incineração, desinfecção através de vapor ou microondas,
esterilização através de processos físicos (calor, radiação) ou químicos (líquidos,
gases e vapor). Após o tratamento e descaracterização do resíduo, a destinação
pode ser feita em áreas específicas do aterro sanitário.
A disposição em vala séptica constitui uma solução alternativa para dispor
quantidades pequenas de resíduos. Apresenta o risco potencial de causar a
contaminação das águas subterrâneas e superficiais.
A incineração apresenta o risco de causar a contaminação do ar, conforme
já mencionado. Quanto às demais técnicas, deve-se atentar para a possibilidade
de geração de vapores e/ou águas residuárias contaminadas.

239
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

6.1.3.3 - Recomendações de medidas atenuantes

A previsão de medidas de atenuação dos impactos ambientais negativos


dos resíduos sólidos, a rigor, deve iniciar-se quando da concepção dos produtos
a serem introduzidos no mercado. Assim, a visão correta do ciclo de vida do
produto é de extrema impor tância para a definição de políticas e ações
necessárias a uma gestão eficiente e eficaz dos resíduos sólidos.
Especificamente, para a definição do modelo de tratamento e destinação
que deve ser adotado, o qual deve integrar-se à realidade de cada cidade, faz-se
necessário:
• Mapear as necessidades atuais e futuras do município em termos de
resíduos sólidos, mediante a elaboração de um diagnóstico preciso, com
informações detalhadas sobre população atual e projetada, setor
empresarial, potencialidades econômicas e sociais, produção atual e
futura de lixo, situação dos resíduos em termos de geração, coleta,
tratamento e disposição existentes e também a desejada.
• Caracterizar a situação ambiental da região, particularmente das bacias
hidrográficas, diagnosticando os níveis de contaminação de águas
subterrâneas e superficiais, do solo e do ar, entre outros.
• Identificar os aspectos relacionados aos municípios vizinhos, inclusive
potencialidades econômicas e possibilidades de arranjos institucionais;
• Estabelecer as relações socioeconômicas existentes na localidade,
considerando especialmente os segmentos populacionais de menores
recursos.
• Apresentar alternativas sob o ponto de vista cultural, social e econômico,
inclusive no tocante à gestão, capazes de mobilizar a comunidade,
buscando apoio e parcerias para a sua implementação na iniciativa
privada, nos agentes de saúde pública e no sistema formal de educação;
• Estabelecer no campo da saúde os indicadores que possam estar
relacionados com a cadeia epidemiológica do lixo.
• Analisar as normas ambientais existentes, de origem federal, estadual e
municipal, bem como a sua aplicabilidade e as possibilidades de
adequação, considerando-se as deficiências na base legal atual;
• Classificar os tipos de resíduos gerados no município ou região,
determinando sua composição e as tecnologias mais adequadas para o
tratamento, redução e reutilização.
240
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• Estabelecer um programa de implementação e buscar apoio técnico e


financeiro em organismos nacionais, internacionais e na iniciativa privada, ou
utilizar-se de mecanismos de concessão para a implantação e funcionamento
do sistema, sempre que viável do ponto de vista econômico e social.
A atenuação dos impactos ambientais causados pelos resíduos sólidos devem
ser previstos e dimensionados de acordo com o projeto a ser implantado, observando-
se todas as providências necessárias para eliminar ou reduzir os impactos negativos,
em todas as fases do sistema, considerando-se especialmente os itens descritos na
seqüência:
“Coleta e Transporte”
• Estabelecer um serviço eficiente de coleta, adaptado às especificidades de
cada região, minimizando-se a ocorrência de pontos de descarga clandestinos;
• Utilizar sistemas comunitários de coleta com o uso de caçambas estacionárias
em locais de difícil acesso para os caminhões coletores.
• Considerar os hábitos socioculturais da população, quando da definição do
plano de coleta.
• Adotar técnicas que induzam a novos padrões de comportamento, que facilitem
e reduzam o custo da coleta.
• Divulgar amplamente os horários e freqüência da coleta de acordo com o
roteiro estabelecido.
• No caso da realização de coleta noturna, identificar áreas mais afastadas de
moradias para a compactação do material, reduzindo-se os efeitos da poluição
sonora.
• Realizar a coleta separada de materiais recicláveis, bem como de materiais
perigosos.
• Divulgar as normas legais e padrões técnicos aceitos relativamente à coleta
de resíduos e responsabilidades dos geradores.
“Tratamento e Disposição Final”
• Implantar programas de redução da geração de resíduos na fonte.
• Implantar programas que estimulem a reutilização de resíduos.
• Planejar a localização da unidade de tratamento ou disposição final (prevendo
áreas específicas para plantas de reciclagem e compostagem, bem como
áreas destinadas ao suporte técnico e gerenciamento), em função do plano
diretor da cidade, implantando zonas de proteção.
• Restringir a disposição de resíduos potencialmente perigosos em aterros de
resíduos sólidos urbanos.

241
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• Selecionar áreas para a implantação de aterros em locais de solos com


propriedades para atenuar os efeitos negativos, preferencialmente impermeáveis,
com lençol freático profundo e distantes de cursos d’água superficiais.
• Executar a operação adequada do aterro, com espalhamento, compactação
e cobertura diária do material, de forma a evitar a geração de odor e
proliferação de vetores.
• Estabelecer zona de amortização dos impactos (cortina vegetal), com a
pavimentação dos acessos e umedecimento das ruas internas do aterro, de
forma a evitar a emissão de poeira.
• Implantar sistema de coleta, tratamento e/ou utilização energética dos gases
gerados no aterro.
• Implantar sistema de drenagem e tratamento dos líquidos percolados (chorume);
• Cercar a área do aterro de forma a impedir o acesso de pessoas alheias à
operação do mesmo.
• Realizar o monitoramento periódico do sistema de tratamento de efluentes
(chorume), a fim de comprovar a sua eficiência.
• Realizar o monitoramento periódico das águas do lençol freático, a fim de
verificar a ocorrência de infiltração de líquidos percolados.
• Nas unidades de compostagem, manter condições aeróbias adequadas para
a decomposição da matéria orgânica, de forma a evitar a geração de odores;
• Controlar as emissões atmosféricas nas plantas de incineração.

6.1.3.4 - Referências para análise ambiental da atividade

Com raras exceções, o problema dos resíduos sólidos urbanos vem


assumindo um caráter puramente emergencial, caracterizado na maioria das
vezes por ações pontuais, sem integração com outros setores e sem o apoio de
instrumentos legais e estratégias capazes de modificar a situação e de estimular
a mudança de comportamento dos geradores de resíduos.
Na concepção, elaboração e análise de projetos deve-se considerar que qualquer
iniciativa para equacionar a gestão dos resíduos sólidos, necessita estar amparada
numa ampla rede de instrumentos legais e de intercâmbio entre órgãos do setor
público, do setor privado e também entre os cidadãos.
O princípio da sustentabilidade deve ser o marco conceitual básico para a
solução dos problemas criados pela crescente geração de resíduos. Sob este

242
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

enfoque, a gestão de resíduos deve estar assentada sobre condições ambientais


adequadas, em que sejam considerados todos os aspectos envolvidos, desde a
fonte geradora até a disposição segura, bem como os aspectos de reciclagem
máxima de materiais, buscando-se, inclusive, incorporar as mudanças dos padrões
de produção e consumo.
Assim, na análise de projetos de tratamento e disposição de resíduos sólidos,
devem ser considerados os seguintes aspectos:
• Antecedentes e consistência do planejamento, com todo o elenco de ações
que estão sendo desenvolvidas ou projetadas para a comunidade a ser
beneficiada com o projeto.
• Previsão de desenvolvimento de programas de educação ambiental nas
escolas e nas comunidades, visando informar e sensibilizar a população
sobre os prejuízos à saúde pública e perdas econômicas provocadas pelo
manejo inadequado dos resíduos.
• Condições jurídicas e requisitos legais que devem ser atendidos;
• Exposição da situação técnica atual dos resíduos gerados (diagnóstico).
• Objetivos do projeto, incluindo a justificativa da alternativa tecnológica e de
localização a ser adotada, o modelo de gestão e a definição clara do “Gestor”
do sistema.
• Análise integrada entre os objetivos adotados frente ao planejamento local
e regional em matéria de resíduos sólidos, bem como a observância das
políticas públicas federais.
• Motivos da seleção da técnica a ser adotada e seus componentes (coleta,
transporte, tratamento, procedimentos adotados, unidade de triagem e
reciclagem, unidade de tratamento dos resíduos potencialmente perigosos
etc.).
• Análise das alternativas tecnológicas e locacionais, considerando-se os
aspectos ambientais, as vertentes econômicas e sociais.
• Adoção de modelos institucionais que assegurem a efetividade do projeto
a longo prazo e também proporcionem e estimulem a participação da
comunidade.
• Previsão de planos de monitoramento nas fases de concepção, implantação
e operação, de forma que sejam minimizados os riscos de insucesso e
• Previsão de planos para desativação, recuperação e reutilização das áreas
de aterros para outros fins.
243
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

6.1.3.5 - Quadro-Resumo: Resíduos Sólidos


IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
Resíduos sólidos abandonados em locais • Estabelecer um serviço eficiente de coleta, adaptado às
inadequados (lixões), com a possibilidade especificidades de cada região.
de provocar: • Aplicação do código de posturas municipal e/ou
• Obstrução de galerias de drenagem; legislação pertinente.
• Degradação estética.
• Redução do valor da terra e do
entorno.
• Queima a céu aberto gerando fuligem
e gases irritantes.
• Proliferação de vetores transmissores
de doenças.
• Falta de cooperação dos moradores • Realizar levantamento sobre o comportamento e
em relação ao acondicionamento e à características socioculturais que possam auxiliar na
colocação dos resíduos de forma identificação de métodos que melhorem o sistema de
adequada para a coleta. coleta.
• Promover ampla divulgação das rotas, freqüência e
horários de coleta.
• Geração de ruído e levantamento de • Minimizar a geração de poeira mediante a colocação de
poeira na coleta de caçambas número adequado de caçambas em locais próprios e
estacionárias (comunitárias). realizar a coleta em horários de menor movimento e
circulação de pessoas.
• Acidentes ocupacionais com resíduos • Promover a segregação dos resíduos na fonte, com o
de serviços de saúde não acondicionamento adequado dos resíduos,
acondicionados adequadamente. especialmente dos pérfuro-cortantes.
• Levantamento de poeira e ruídos nas • Isolar as áreas de transferência com cortinas vegetais e
unidades de transferência realizar a carga e descarga em local fechado, com
(transbordo). sistema de exaustão e filtragem do ar.
• Emissão de poeira na área do aterro • Estabelecer zona de amortização dos impactos (cortina
em função do trânsito, descarga, vegetal), com a pavimentação dos acessos e
espalhamento e compactação dos umedecimento das ruas internas do aterro.
resíduos.
• Geração de odores provenientes do • Operação adequada do aterro, com espalhamento,
aterro sanitário. compactação e cobertura diária, implantação de sistema
de tratamento de gases e de líquidos percolados.
• Geração de odores provenientes das • Manter condições aeróbias adequadas para a
unidades de produção de composto decomposição da matéria orgânica.
orgânico.
• Contaminação das águas • Implantar sistema de drenagem superficial, evitando-se o
subterrâneas e/ou superficiais por infiltração/escoamento das águas pluviais sobre a área
lixiviação do aterro sanitário. de aterro.
• Emissão de gases orgânicos voláteis e • Restringir a disposição de resíduos potencialmente
potencialmente tóxicos nos aterros perigosos em aterros de resíduos urbanos domiciliares.
sanitários.
• Degradação da vegetação devido à • Implantar sistema de controle e tratamento dos gases
contaminação com gases do aterro. gerados no aterro
• Conflitos sobre o uso do solo na • Planejar a localização da unidade de tratamento ou
região onde está localizado o aterro disposição final em função do plano diretor da cidade,
sanitário ou a unidade de tratamento. implantando zonas de proteção no entorno da área
selecionada.
continua

244
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

conclusão
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
• Lei Federal 5.318 de 26/06/67 – Institui a Política Nacional de Saneamento.
• Lei Federal 6.938 de 31/08/81 – Institui a Política Nacional do Meio Ambiente (regulamentada pelo
Decreto 99.274, de 06/06/90).
• Lei Federal 7.347 de 24/07/85 – Disciplina a ação civil pública por danos causados ao meio ambiente.
• Lei Federal 7.802 de 11/08/89 – Dispõe sobre agrotóxicos (regulamentada pelo Decreto n.º 98.816 de
11/01/90).
• Lei Federal n.º 9.605 de 12/02/98 – Disciplina sobre o crime ecológico.
• Resolução CONAMA 005 de 15/06/88 - Dispõe sobre o licenciamento de obras de saneamento.
• Resolução CONAMA 006 de 15/06/88 – Dispõe sobre o licenciamento ambiental de atividades
industriais geradoras de resíduos perigosos.
• Resolução CONAMA 006 de 19/09/91 – Determina a não obrigatoriedade de quaisquer tratamentos de
queima de resíduos sólidos oriundos de estabelecimentos de saúde, portos e aeroportos.
• Resolução CONAMA 008 de 19/09/91 – Proíbe a entrada, em território nacional, de materiais residuais
destinados à disposição final e incineração.
• Resolução CONAMA 005 de 05/08/93 – Define os procedimentos mínimos para o gerenciamento dos
resíduos sólidos, provenientes dos serviços de saúde, portos e aeroportos.
• Resolução CONAMA 009 de 31/08/93 – Dispõe sobre a reciclagem e destinação de óleos lubrificantes.
• Resolução CONAMA 007 de 04/05/94 – Dispõe sobre a importação de resíduos à luz da Convenção da
Basiléia.
• Resolução CONAMA 019 de 19/09/94 – Autoriza, em caráter de excepcionalidade, a exportação de
resíduos perigosos contendo bifenilas policloradas (PCBs).
• Resolução CONAMA 037 de 30/12/94 – Proíbe a importação de resíduos perigosos classe 1, em todo o
território nacional, para qualquer fim.
• Instrução Normativa SEMA/SCT/CRS 001 de 10/06/83 – Disciplina o manuseio, armazenamento e
transportes de PCBs.
• Portaria Interministerial 19 de 20/01/82 – Proíbe a produção, uso e a comercialização de PCBs.
• Portaria MINTER 053 de 01/03/79 – Determina que os projetos específicos de tratamento e disposição
de resíduos sólidos, ficam sujeitos à aprovação do órgão estadual competente.
• Portaria IBAMA 1197 de 16/07/90 – Dispõe sobre a prévia autorização do IBAMA para a importação de
materiais que especifica (sucatas, resíduos, desperdícios e cinzas).
• Decreto Legislativo 034 de 16/06/92 – Aprova o texto da Convenção sobre o Controle de Movimentos
Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e sua Eliminação, concluída em Basiléia, Suíça, em 22 de
março de 1989.
• ABNT - NBR 10004 – Resíduos Sólidos – Classificação.
• ABNT - NBR 10005 – Lixiviação de Resíduos - Procedimento.
• ABNT - NBR 10006 – Solubilização de Resíduos – Procedimento.
• ABNT - NBR 10007 – Amostragem de Resíduos – Procedimento.
• Regulamentos e/ou Códigos Municipais de Limpeza Pública e
• Planos Diretores de Desenvolvimento Urbano.

6.2 - IRRIGAÇÃO

6.2.1 - Descrição da atividade sob o enfoque ambiental


A irrigação é atualmente uma componente importante no desenvolvimento
da agricultura não somente nas regiões áridas e semi-áridas, mas também em
outras regiões, proporcionando o equilíbrio da produção e evitando as possíveis
interferências ocasionais provocadas pela falta de água.
245
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Com a introdução da irrigação, grandes áreas passam a incorporar-se ao


sistema produtivo. Porém, os projetos de irrigação podem interferir em diversas
áreas, necessitando muitas vezes de infra-estruturas de apoio, externas aos sistemas
de irrigação, tais como: represas, reservatórios, açudes, poços, estações de
bombeamento, canais de transporte d’água, desvio e retificação de corpos d’água
etc., que resultam em mudanças nas zonas afetadas, especialmente nas bacias
hidrográficas.
Para uma adequada irrigação, torna-se necessária a drenagem da água,
que ocorre em grande parte por meio da estrutura natural do solo, mas em muitos
casos requer soluções técnicas já na fase de planejamento do projeto de irrigação,
pois a falta de drenagem e/ou a drenagem incorreta trará, entre outros problemas,
danos ao solo, destacando-se a salinização e o aumento do nível do lençol freático.
As técnicas de pouco controle são as que provocam maiores impactos
ambientais, especialmente em relação à utilização excessiva de água para execução
da irrigação. Entretanto, deve-se destacar que as soluções técnicas sofisticadas
necessitam, geralmente, de maiores quantidades de recursos financeiros, além de
exigir assessoramento técnico e motivação por parte do agricultor.
Os custos de operação e da manutenção dos equipamentos utilizados nos
sistemas modernos de irrigação, assim como a necessidade de assistência técnica,
podem apresentar conseqüências econômicas negativas aos agricultores, além de
aumentar as diferenças sociais, entre os que podem e os que não podem pagar.
Segundo o BANCO MUNDIAL (1991), em 95% dos projetos de irrigação são
empregadas as técnicas de inundação e por sulcos, técnicas estas pouco
controladoras da quantidade da água utilizada na irrigação. Outros sistemas
empregados, como a aspersão e o gotejamento, são comprovadamente mais
eficientes na utilização da água, porém exigem investimentos iniciais maiores, além
da capacitação de mão-de-obra.
Praticamente todos os métodos de irrigação repercutem sobre o meio
ambiente, podendo, em alguns casos de boa adaptação e gestão correta, apresentar
situações de equilíbrio de nutrientes e benefícios para a microflora e microfauna;
porém a má gestão poderá provocar, como já enfatizado, impactos ambientais de
difícil reversão.

6.2.2 - Potenciais impactos ambientais negativos


Dentre os principais impactos ambientais negativos da irrigação, encontram-
se a salinização dos solos, decorrente especialmente do manejo incorreto da
246
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

técnica e do sistema de drenagem, além do tipo dos solos e qualidade das águas
utilizadas para a irrigação, que ocasionam desequilíbrio de nutrientes, com o excesso
de sais, com a conseqüente desestruturação e impermeabilização do solo.
A saturação e a salinização dos solos são problemas comuns da irrigação.
A saturação é causada, principalmente, pela drenagem inadequada e irrigação
excessiva, que provocam a concentração dos sais adsorvidos no perfil do solo na
zona das raízes das plantas.
A irrigação inadequada aumenta os problemas de salinização, que, geralmente,
são mais intensos nas zonas áridas e semi-áridas, onde a evaporação superficial é
mais intensa.
A conseqüência direta da salinização é o atraso no crescimento das plantas
com a redução da produtividade. Também a deficiência de drenagem natural pode
incorrer em saturação do solo e ocasionar o denominado estresse de excesso, trazendo
conseqüências semelhantes às decorrentes da salinização.
Segundo LIMA & VALARINI (1996), constituem-se impactos ambientais
intrínsecos da agricultura irrigada: o risco à degradação do solo, a alteração
microclimática, que pode favorecer a incidência de pragas e doenças e a alteração
das propriedades químicas e físicas dos corpos da água sujeitos à poluição.
Constituem-se em impactos ambientais extrínsecos da agricultura irrigada: a
poluição e contaminação por agroquímicos, implicando risco de intoxicação humana
e animal, além da alteração da cobertura vegetal provocada pela expansão da
área irrigada, com conseqüentes reduções de biodiversidade, alterando o valor
dos recursos naturais e a qualidade de vida de agricultores e consumidores.
Assim sendo, dentre os potenciais impactos ambientais negativos dos projetos
de irrigação destacam-se:
• a potencial ocorrência de erosão dos solos;
• a saturação e salinização dos solos;
• a lixiviação dos nutrientes dos solos;
• o aparecimento de algas e a proliferação de pragas;
• a deterioração da qualidade da água do rio, a jusante do projeto de irrigação,
e a contaminação da água do lençol freático;
• a redução das vazões dos rios a jusante do projeto de irrigação, afetando os
usuários situados abaixo da área irrigada;
• a alteração ou destruição do habitat da fauna ou obstrução do seu movimento;

247
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• a alteração ou perda da vegetação marginal aos cursos e fontes d’água,


com o conseqüente assoreamento desses rios e fontes;
• a maior incidência de doenças transmitidas ou relacionadas com a água e
• as mudanças no estilo de vida das populações locais.
Em relação à erosão, esta é causada especialmente por métodos de irrigação
que têm dificuldade em controlar a lâmina d’água que entra no sistema, bem como
por projetos mal dimensionados e mal manejados, basicamente no que se refere à
intensidade de aplicação de água versus capacidade de infiltração do solo, além da
não observação das limitações topográficas da área onde se pretende irrigar.
Os grandes projetos de irrigação, que necessitam de obras complementares
para sua execução, como barragens e açudes, por exemplo, têm maior potencial
para causar impactos ambientais negativos, resultando em mudanças hidrológicas
e limnológicas das bacias hidrográficas (ver Capítulo 6 - 6.4 - Barragens/Represas).
O desvio e a perda de água em função da irrigação reduzem a vazão que
chega aos usuários a jusante, incluindo indústrias, áreas urbanas e outros
agricultores, reduzindo o potencial de diluição e depuração de despejos, podendo
aumentar os riscos de contaminação, prejudicando espécies aquáticas e gerando
conflitos entre os usuários do mesmo rio.
Impactos negativos surgem também da utilização excessiva da água do lençol
freático, uma vez que podem ser retiradas destas fontes quantidades maiores que
a capacidade de recarga, que podem causar a não sustentabilidade da irrigação.

6.2.3. - Recomendações de medidas atenuantes


Segundo a FAO (1993) In SAMPAIO et al. (1997), a água de irrigação é
responsável por aproximadamente 70% do consumo da água doce do Planeta.
Portanto, deve-se dar a máxima atenção aos seguintes aspectos:
• a quantidade e qualidade da água existente, uma vez que os projetos
exploram grandes quantidades d’água e trazem grandes riscos ao meio
ambiente;
• adotar sistemas de monitoramento da irrigação, visando fornecer água
em quantidade compatível com a necessidade das culturas, evitando
desperdiçar água e/ou originar conflitos por escassez deste recurso, dando
sustentabilidade ao projeto;
• comprovar se as medidas adotadas correspondem tecnológica e
financeiramente às necessidades do agricultor, respeitando as condições
naturais existentes.
248
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

No caso da salinização, constatada como um dos principais problemas da


irrigação, mesmo que os solos das zonas áridas e semi-áridas tenham uma
tendência natural a sofrer com este impacto, muitos problemas poderiam ser
atenuados com a instalação de sistemas adequados de drenagem, podendo
também reduzir este impacto com a adoção de métodos de irrigação de maior
controle da água, como, por exemplo, o gotejamento e a aspersão.
A adoção da lâmina de lixiviação (calculada de acordo com o nível de
salinização presente no solo e o nível de sais incorporados através da água de
irrigação) deveria ser implementada como forma de controlar o nível de sais
na zona das raízes.
Outro ponto importante a destacar é o consumo de energia utilizada na
operação dos sistemas de irrigação. Dentre outras medidas para se obter energia,
pode-se utilizar fontes renováveis da própria propriedade rural, como as rodas
d’água, que reduzem os custos de operação e, até mesmo, projetar corretamente
os sistemas utilizando a gravidade.
A utilização de método para monitorar a exigência da água pelas plantas
reduz o excesso de água aplicado, bem como as horas de bombeamento,
diminuindo o consumo de energia para este fim.
O desenho técnico e o dimensionamento do sistema de irrigação devem
ser comprovadamente apropriados para que os agricultores possam aproveitá-lo
de forma rentável. O BANCO MUNDIAL (1991) propõe como medidas alternativas
a serem adotadas para os projetos de irrigação, entre outras, as seguintes:
• melhorar a eficiência dos projetos existentes e restaurar as terras
degradadas, antes de se estabelecer um novo projeto de irrigação;
• desenvolver sistemas de irrigação de pequena escala, de propriedade
individual, como alternativa para os grandes programas públicos;
• desenvolver, onde seja possível, sistemas de irrigação que utilizem,
conjuntamente, as águas superficiais e freáticas, para aumentar a
flexibilidade da irrigação e reduzir os impactos hidrológicos negativos;
• utilizar métodos de irrigação de maior controle da água (ex.: gotejamento
e aspersão), como alternativa para a irrigação superficial, com o objetivo
de reduzir os riscos de saturação, salinização, erosão e o uso ineficaz
d’água;
• localizar o projeto de irrigação de tal forma que sejam reduzidos os
impactos sociais e ambientais negativos.
249
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Dentre todas as medidas atenuantes já citadas, cabe ainda salientar


algumas, que merecem destaque e devem, sempre que possível, ser adotadas
para a implementação de um projeto de irrigação, tais como:
• projetar corretamente os sistemas de drenos, evitando gradientes muito
excessivos e nivelando o terreno quando necessário para reduzir os riscos
de erosão;
• regular a aplicação da água, evitando a irrigação excessiva e utilizando
técnicas de maior controle da quantidade de água (gotejamento, aspersão),
determinando criteriosamente o momento de irrigar e a quantidade a aplicar;
• instalar e manter sistema adequado de drenagem, quando a drenagem natural
mostrar-se insuficiente ou inadequada;
• aplicar corretamente os adubos no solo, evitando especialmente a perda de
nutrientes como o nitrogênio e o fósforo;
• melhorar o manejo da água, mediante critérios técnicos pertinentes, das
práticas agrícolas e do controle dos insumos aplicados, especialmente os
agrotóxicos e fertilizantes químicos;
• usar corretamente a água do manancial, buscando manter níveis
adequados de vazão para os demais usuários;
• localizar os projetos de forma que se evite ou seja reduzida a intervenção
sobre áreas frágeis do ponto de vista ambiental, prevendo corredores para
a movimentação da fauna e reservas de vegetação nativa compensatórias;
• implementar sistema de controle de distribuição de água entre os usuários,
buscando a distribuição eqüitativa e controlada, limitando sua utilização aos
níveis de recarga.
Por fim, é importante reforçar que, como já foi dito anteriormente, existem
grandes extensões de terras irrigadas em todo o mundo. Segundo a FAO (1996),
cerca de 60 a 80 milhões de hectares estão deixando de produzir devido à degradação
de seus solos, sendo conveniente e de grande benefício para o meio ambiente a
recuperação desses solos, antes de se aumentar as áreas de irrigação.

6.2.4 - Referências para análise ambiental da atividade


O planejamento e a execução de sistemas de irrigação compatíveis com o meio
ambiente constituem necessidade técnica e política para implantação dos mesmos,

250
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

assim sendo, deve-se buscar sempre a adoção de medidas ambientais,


tecnológicas, econômicas e sociais adequadas, examinando-as freqüentemente,
uma vez que estas medidas podem ser restritivas do ponto de vista financeiro.
A irrigação está ligada ao setor da Produção Vegetal, sendo fundamental
para as regiões áridas e semi-áridas, especialmente para o semi-árido nordestino,
onde sem a implantação deste sistema a agricultura é praticamente impossível
de ser executada e onde deve-se dar maior atenção às modificações ambientais.
O exemplo da salinização dos solos nordestinos irrigados é admitido por
OLIVEIRA (1996) In SAMPAIO et al. (1997) como grave, mas ainda com pouca
informação sobre a extensão de terras atingidas. LEPRUN & SILVA (1995) In SAMPAIO
et al. (1997) consideraram a salinização a mais importante causa de degradação
dos solos nordestinos, destacando que o problema seria mais grave nas áreas
sob irrigação. SOUZA et al. (1994) In SAMPAIO et al. (1997) avaliam que 50% da
área irrigada no Nordeste estaria afetada, com situações mais críticas nos
perímetros dos açudes, verificando-se um aumento dos riscos de salinização à
medida que os projetos vão esgotando a possibilidade de utilização de solos mais
aptos e passam a utilizar solos com menor aptidão, assim como águas de menor
qualidade.
Com relação à qualidade da água de irrigação, é necessário destacar que
tanto a concentração quanto a qualidade dos solutos presentes são importantes
para o controle da salinização. A concentração de sais é medida por meio da
Condutividade Elétrica (CE) da água. Na TABELA 1 mostra-se a classificação mais
comum das águas de irrigação, baseada na CE.

TABELA 1: Qualidade da Água de Irrigação em Relação à CE


Qualidade CE (mmhos/cm a 25°C) Risco de salinidade
A <0,75 Baixo
B 0,75 a 1,5 Médio
C 1,5 a 3,0 Alto
D > 3,0 Muito alto
Fonte: REICHART (1978).

Segundo REICHART (1978), em relação à CE, as águas de qualidade A são


ótimas e geralmente podem ser utilizadas sem problemas. As outras, especialmente
as de qualidade C, devem receber tratamento especial e as de qualidade D nunca
deveriam ser utilizadas. Porém, segundo AYERS & WESTCOT (1991), nem todas as
culturas respondem igualmente à salinidade: algumas produzem rendimentos
251
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

aceitáveis aos níveis altos de salinidade e outras são sensíveis aos níveis
relativamente baixos. Esta diferença deve-se à melhor capacidade de adaptação
osmótica que algumas culturas têm, o que permite absorver, mesmo em condições
de salinidade, maior quantidade de água. Para melhor exemplificar, a tabela 2
mostra alguns exemplos de tolerância à salinidade das culturas selecionadas e
seu rendimento potencial em função da salinidade do solo ou da água.

TABELA 2
Tolerância à Salinidade das Culturas Selecionadas E seu Rendimento Potencial
em Função da Salinidade do Solo ou da Água
RENDIMENTO POTENCIAL1
CULTURAS 100% 90% 75% 50 0%
CEes CEa CEes CEa CEes CEa CEes CEa CEes CEa
Algodoeiro(Gosssypium hirsutum) 7,7 5,1 9,6 6,4 13,0 8,7 18,0 12,0 28,0 19,0
Beterraba (Beta vulgaris) 4,0 2,1 5,1 3,4 6,8 4,5 9,6 6,4 15,0 10,0
Sorgo (Sorghum bicolor) 6,8 4,5 7,4 5,0 8,4 5,6 9,9 6,7 13,0 8,7
Soja (Glycine max) 5,0 3,3 5,5 3,7 6,3 4,2 7,5 5,0 10,0 6,7
Caupi (Vigna unguiculata) 4,9 3,3 5,7 3,8 7,0 4,7 9,1 6,0 13,0 8,8
Arroz (Oryza sativa) 3,3 2,2 3,8 2,6 5,1 3,4 7,2 4,8 11,0 7,4
Amendoim (Arachis hypogaea) 3,2 2,1 3,5 2,4 4,1 2,7 4,9 3,3 6,6 4,4
Cana (Saccharum officinarum) 1,7 1,1 3,4 2,3 5,9 4,0 10,0 6,8 19,0 12,0
Milho (Zea mays) 1,7 1,1 2,5 1,7 3,8 2,5 5,9 3,9 10,0 6,2
Feijão (Phaseolus vulgaris) 1,0 0,7 1,5 1,0 2,3 1,5 3,6 2,4 6,3 4,2
Brócolis (Brassica oleracea botrytis) 2,8 1,9 3,9 2,6 5,5 3,7 8,2 5,5 14,0 9,1
Tomate (Lycopersicum esculentum) 2,5 1,7 3,5 2,3 5,0 3,4 7,6 5,0 13,0 8,4
Pepino (Cucumis sativus) 2,5 1,7 3,3 2,2 4,4 2,9 6,3 4,2 10,0 6,8
Espinafre (Spinacia oleracea) 2,0 1,3 3,3 2,2 5,3 3,5 8,6 5,7 15,0 10,0
Batata (Solanum tuberosum) 1,7 1,1 2,5 1,7 3,8 2,5 5,9 3,9 10,0 6,7
Batata-doce (Ipomoea batatas) 1,5 1,0 2,4 1,6 3,8 2,5 6,0 4,0 11,0 7,1
Pimentão (Capsicum annuum) 1,5 1,0 2,2 1,5 3,3 2,2 5,1 3,4 8,6 5,8
Alface (Lactuca sativa) 1,3 0,9 2,1 1,4 3,2 2,1 5,1 3,4 9,0 6,0
Cebola (Allium cepa) 1,2 0,8 1,8 1,2 2,8 1,8 4,3 2,9 7,4 5,0
Cenoura (Daucus carota) 1,0 0,7 1,7 1,1 2,8 1,9 4,6 3,0 8,1 5,4
Fonte: MAAS & HOFFMAN (1977) In AYERS & WESTCOT (1991) (Modificado).
1 CEes é a salinidade da zona radicular medida em condutividade elétrica no extrato de saturação do solo, expressa em DeciSiemens

por metro (dS/m) a 25°C e CE a é a condutividade elétrica da água de irrigação em dS/m.

Ainda com relação à qualidade da água, quando um solo é irrigado com


águas de alto teor de sódio, desenvolve-se uma condição de solo sódico, que
diminui a permeabilidade do solo à água. A qualidade da água com respeito ao

252
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

sódio é, geralmente, avaliada por meio da relação sódio/cálcio + magnésio,


denominada Taxa ou Relação de Adsorção do Sódio (RAS). Na TABELA 3 são
indicadas as qualidades de águas segundo o valor da RAS.

TABELA 3: Qualidade da Água de Irrigação em Relação à RAS


Risco de diminuição de
Índice de sódio RAS
permeabilidade
A <3 Baixo
B 3a5 Médio
C 5a8 Alto
D >8 Muito alto
Fonte: REICHART (1978).

Os benefícios da irrigação numa região onde o fator limitante é a água são


óbvios e podem ser claramente aferidos pelo aumento da produtividade. Os
resultados econômicos nos municípios do Pólo de Irrigação de Pernambuco são
evidentes, sendo que a renda per capita anual é de US$ 2.180,00 enquanto no
resto do semi-árido é de apenas US$ 306,00 (GOMES & VERGOLINO, 1995 In SAMPAIO
et al., 1997). Por tanto, a pressão pela ampliação das áreas irrigadas é
economicamente compreensível.
Assim sendo, é fundamental para o futuro da agricultura do semi-árido
nordestino o recebimento de grandes investimentos governamentais nesta área (SOUZA
et al. 1994). Porém, deve-se avaliar os impactos ambientais negativos e buscar
implementar as medidas para atenuá-los e, à luz deste conhecimento, tratar as questões
ambientais, sociais e econômicas, no sentido de harmonizá-las, objetivando uma
melhor qualidade de vida das populações afetadas.

253
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

6.2.5 Quadro-Resumo – Irrigação

IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES


• Erosão dos solos. • Projetar corretamente os sistemas de drenos, evitando
gradientes muito excessivos, nivelando o terreno,
quando necessário, para reduzir os riscos de erosão;
• Projetar adequadamente a lâmina de irrigação a ser
aplicada.
• Saturação e salinização dos solos. • Regular a aplicação da água, evitando a irrigação
excessiva, utilizando técnicas de maior controle da
quantidade de água (gotejamento, aspersão);
• Aplicar lâmina de lixiviação, quando necessária;
• Implantar sistema de monitoramento da lâmina de
irrigação, controlando especialmente os balanços de sais
na zona radicular;
• Instalar e manter sistema adequado de drenagem.
• Lixiviação dos nutrientes dos solos. • Aplicar corretamente os adubos no solo, evitando
especialmente a perda de nutrientes como o nitrogênio e
o fósforo;
• Evitar irrigações excessivas.
• Aparecimento de algas e a • Evitar a perda de nutrientes do solo, especialmente o
proliferação de pragas. nitrogênio e o fósforo, mediante o uso de práticas
agrícolas adequadas.
• Deterioração da qualidade da água do • Melhorar o manejo da água, das práticas agrícolas e
rio a jusante do projeto de irrigação e controlar os insumos aplicados, especialmente os
contaminação da água do lençol agrotóxicos e fertilizantes químicos.
freático.
• Redução das vazões dos rios a • Reduzir a retirada de água do manancial utilizado,
jusante do projeto de irrigação, buscando manter níveis adequados de vazão para os
afetando os usuários situados abaixo demais usuários;
da área irrigada. • Implementar sistema de controle de distribuição da água
entre os usuários, buscando uma distribuição eqüitativa
e controlada, limitando sua utilização aos níveis de
recarga;
• Respeitar a faixa de vegetação ciliar, como forma de
prevenir o assoreamento dos mananciais;
• Evitar irrigações excessivas com desperdício de água.
• Alteração ou destruição do habitat da • Localizar os projetos de forma que se evite a intervenção
fauna ou obstrução do seu sobre áreas frágeis do ponto de vista ambiental,
movimento. prevendo corredores para a movimentação da fauna.
• Alteração ou perda da vegetação • Implantar programas de recuperação de matas ciliares e
marginal aos cursos e fontes d'água e de controle da qualidade da água utilizada nos sistemas
redução da qualidade destas águas. de irrigação.
• Maior incidência de doenças • Implementar medidas de prevenção e controle de
transmitidas ou relacionadas com a doenças transportadas ou relacionadas com a água,
água. evitando águas estanques ou lentas, usando canais
revestidos, tratando as águas de baixa qualidade antes
de usá-las e controlando as fontes de contaminação.
continua

254
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

conclusão
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
• Decreto-Lei 24.643 de 10/07/34 – Institui o Código das Águas.
• Decreto-Lei 852 de 11/11/38 - Mantém com modificações o Decreto-Lei 24.643 (Código das Águas);
• Lei 4.771 de 15/09/65 - Institui o Código Florestal.
• Lei 5.197 de 03 de janeiro de 1967 – Dispõe sobre a Proteção da Fauna.
• Lei 6.225 - 14/07/75 - Dispõe sobre a discriminação por parte do Ministério da Agricultura de regiões
de execução obrigatória de Planos de Proteção do Solo e de combate a erosão.
• Decreto 77.775 - 08/06/76 - Regulamenta a Lei 6.225/75.
• Lei 6.662, de 25/06/79 – Dispõe sobre a Política Nacional de Irrigação.
• Lei 6.938 de 31/08/81 - Dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente.
• Decreto 89.336, de 31/01/84 – Dispõe sobre as reservas ecológicas e áreas de relevante interesse
ecológico.
• Decreto 94.076 de 05/03/87 - Institui o Programa Nacional de Microbacias Hidrográficas.
• Lei 8.171 - 17/01/91 - Lei de Política Agrícola – Estabelece a Proteção Ambiental dos Recursos
Naturais da Propriedade Agrícola.
• Lei 9.433 de 08/01/97 - Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos.
• Resolução CONAMA 001 de 23/01/86 - Trata do uso e implementação da Avaliação de Impactos
Ambientais.
• Resolução CONAMA 004 de 18/09/85 – Trata das Reservas Ecológicas.
• Resolução CONAMA 237 de 19/12/97 – Trata do licenciamento ambiental de empreendimentos.

6.3 - Projetos de transpor te

Os transportes possuem benefícios sócioeconômicos por proporcionarem


incrementos na comunicação, na integração e no desenvolvimento. Isto decorre,
sobretudo, a partir das possibilidades geradas com os acessos aos mercados para
produtores e consumidores, acesso aos centros urbanos e mobilidade para contratação
e utilização de mão-de-obra para as diversas atividades. Entretanto, estes
benefícios devem levar em conta os potenciais e complexos impactos ambientais
negativos decorrentes da implantação de um projeto de transporte.
Os projetos de transporte podem ser enquadrados do ponto de vista ambiental
em três níveis: terrestres, aéreos e aquáticos. Todos estes níveis envolvem impactos
nas fases de planejamento, construção, manutenção e operação dos sistemas de
transporte. No nível terrestre estão enquadradas as obras rodoviárias pavimentadas
e não pavimentadas (pistas simples, autopistas, rodovias principais, vicinais, em leito
natural e obras de arte como pontes e viadutos) e as obras ferroviárias com a instalação
da via férrea permanente e aquisição do material rodante. No nível aéreo estão
as instalações de grandes aeroportos, aeroportos regionais, pequenos aeroportos
e pistas de pouso e decolagem, além das áreas destinadas à aproximação de
255
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

aeronaves. Já no nível aquático podem inserir-se os portos, postos fluviais e as hidrovias.


A seguir descrevem-se as principais características de cada um destes níveis.

a) Transporte Terrestre
Compreende todas as ações que visam à movimentação de bens e pessoas
por intermédio de rodovias ou ferrovias, formando-se assim uma malha viária
hierarquizada de acordo com a movimentação média de veículos. Assim, esta infra-
estrutura corresponde aos grandes corredores de transporte terrestre interligados
por ramais de menor significado. As instalações em transpor tes terrestres
correspondem a:
• Leito ou lastro da via.
• Faixa de Domínio.
• Terminais de cargas e passageiros.
• Obras de arte: pontes, viadutos, elementos de drenagem, elementos de
sinalização horizontal e vertical.
O tipo, o projeto e a instalação da infra-estrutura de uma rodovia ou ferrovia
dependerá da topografia, da natureza do terreno, do tipo de material necessário para
a composição do leito da via e do material utilizado na pavimentação. Existem
pavimentações asfálticas, de concreto e por produtos naturais como cascalhos e piçarras.

b) Transporte Aéreo
Compreende todas as ações que visam efetivar, em condições seguras, o
transporte de passageiros e mercadorias, através do ar, utilizando-se para isso os
mais diversos tipos de aeronaves. As instalações aeroportuárias compreendem
basicamente a estrutura de apoio e a estrutura de tráfego.
Estrutura de apoio:
• Terminal de cargas.
• Terminal de passageiros.
• Terminal de combustíveis.
• Terminal de “catering”.
Estrutura de tráfego:
• Pistas de pouso e decolagem.
• Pistas de taxiamento.
• Pátio de manobras.
256
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

A principal dificuldade na instalação de um aeroporto está na definição da


grande área territorial para a implantação dos terminais o que, em geral, envolve um
maior comprometimento dos recursos naturais.

c) Transporte Aquático
Compreende as ações que visam efetivar, em condições seguras, o transbordo,
a armazenagem, o transporte de mercadorias no estado sólido, líquido, gasoso ou
alimentos, no transcurso de seu tranlado, além do transporte de passageiros. As
estruturas em projetos de transporte aquático compreendem instalações terrestres
e aquáticas.
Entre as instalações terrestres encontram-se:
• Estradas e ferrovias.
• Áreas de armazenamento , silos, áreas de manejo de guindastes e
empilhadeiras.
• Pontes, oleodutos.
• Instalações para o abastecimento de água e energia, de disposição de resíduos
sólidos, óleos, graxas e tratamento de esgoto.
• Instalações para contenção de enchentes (diques - caso de portos que estão
expostos ao risco de inundações).
• Edifícios de serviços, dependências administrativas, oficinas de equipamentos
e manutenção.
• Edifícios industriais do setor portuário, estaleiros, entre outros.
Entre as instalações aquáticas encontram-se:
• Eclusas, canais de acesso, portões de segurança, elevatórias etc..
• Atracadouros, rebocadores, pontes de atracagem.
• Instalações de atracagem para estaleiros, entre outros.
O tipo, o projeto e a instalação da infra-estrutura de um porto ou hidrovia
dependerá das condições locais, como a topografia, a natureza do terreno, profundidade
etc.; do tipo e da quantidade de cargas transportadas, por exemplo, cargas a granel,
em containers, ou gases e líquidos; das diferentes articulações de transportes
ferroviário, hidroviário, rodoviário e dutos condutores das cargas e das estruturas
existentes ou em construção na área de instalação do porto, entre outros.
Para melhor exemplificar os impactos ambientais negativos dos projetos de
infra-estrutura de transporte, assim como as medidas atenuantes a serem adotadas,
este manual descreve a seguir os três tipos de empreendimentos mais usuais no
sistema de transporte brasileiro e do Nordeste, ou seja portos, estradas e aeroportos.
257
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

6.3.1 - Portos
6.3.1.1 - Descrição da atividade sob o enfoque ambiental
O transporte hidroviário mobiliza mais de 80% do comércio mundial, os projetos
de portos estão, geralmente, associados a benefícios econômicos de grande alcance.
A integração dos meios de transporte aéreo, terrestre e hídrico aumentam a
complexidade dos portos aumentando também os impactos ambientais desta atividade,
implicando alterações dos ecossistemas locais, com influência sobre os animais, vegetais,
à paisagem e ao ser humano.
O tipo, o desenho e a instalação da estrutura de um porto dependerão das
condições locais em terra e mar, como a topografia e natureza do terreno, do tipo de
cargas que serão transportadas e das possíveis combinações de transporte para o
interior do país, sejam elas vias férreas, estradas, vias navegáveis ou dutos, assim
como, das estruturas existentes no entorno da área. Portanto, deve-se destacar que
uma estrutura portuária apresenta inter-relação com diversas outras atividades e
seus impactos ultrapassam os limites da área do porto.

6.3.1.2 - Potenciais impactos ambientais negativos


Os impactos ambientais provocados pelos portos têm suas origens, por um
lado, na construção, reforma ou ampliação de instalações e, por outro lado, no
funcionamento e manutenção das instalações portuárias, industriais, nos serviços e
nos sistemas de transporte.
Os impactos ambientais dos portos afetam a água, o solo, o ar, as plantas, os
animais aquáticos e terrestres e o ser humano. Estes impactos são maiores quanto
maior for a obra e quanto mais intensas as atividades de carga e descarga do porto.
Uma instalação portuária ocupa, geralmente, grandes superfícies, especialmente
se estão previstas áreas de armazenamento e instalação de indústrias. Neste sentido,
uma instalação portuária significa sempre um considerável impacto sobre a paisagem
natural existente, uma vez que as áreas de praias, mangues ou outras áreas marinhas
ou ribeiras são artificialmente trabalhadas no sentido de nivelar as superfícies.
O desenvolvimento de uma zona por tuária com os correspondentes
estabelecimentos industriais representa uma enorme sobrecarga para as redes de
abastecimento de água e energia e disposição de resíduos.

258
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

A dragagem de portos, quando necessária para a manutenção dos calados,


provoca uma série de impactos ambientais, diretos e indiretos, especialmente
devido à disposição e composição do material dragado, entre eles:
• O material dragado (lodo) pode estar contaminado, contendo petróleo, metais
pesados etc.
• Necessita-se grandes áreas para dispor este material, resultando em custos
com aquisição de áreas e a recuperação das mesmas.
• No caso de se efetuar a disposição no mar, altera-se a configuração submarina,
a flora e a fauna aquáticas.
Nas zonas de aqüicultura costeira e fluvial, estas podem ser prejudicadas pela
construção de portos e hidrovias, uma vez que são perdidos espaços de cria, além da
existência de riscos motivados indiretamente pela instalação portuária e pelo transporte
hidroviário, que são os danos provocados pelos esgotos desta instalação e/ou de
embarcações, alterando a qualidade dos pescados, aumentando os riscos para a
saúde da população.
Durante o processo de transporte de carga e descarga de petróleo, produtos
químicos e outras substâncias perigosas, existe o risco de ocorrer acidentes que
contaminam as águas e podem provocar incêndios e explosões, com a produção de
gases e prejuízos para a fauna, a flora e o ser humano.
Nas operações de carga e descarga de mercadorias a granel, como cereais,
minerais, sais industriais, entre outros, os impactos ambientais negativos mais
importantes são os ruídos gerados e a poeira ocasionada nestas operações.
Nas operações de atraque e desatraque, os riscos de acidentes são constantes,
resultando destes, impactos ambientais de considerável monta, especialmente no
caso de carga e descarga de combustíveis, na eliminação de resíduos dos navios
(esgotos e resíduos sólidos), na limpeza de tanques e nas operações de reparo.
Vários impactos ambientais negativos podem ser observados, tanto na
implantação como na operação de portos, entre eles pode-se citar:
• Degradação de ecossistemas frágeis, dos recursos pesqueiros, bem como
da paisagem da região, alterando a qualidade do meio ambiente.
• Impactos das dragagens, que elimina e altera a fauna e a flora da área
dragada, podendo ocorrer menor penetração de luz e menor atividade
fotossintética, além de existir a possibilidade de acidentes com dutos e
cabos submarinos;
259
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• Degradação da qualidade do ar da região de localização do porto devido


às intensas atividades geradoras de poeira e emissão de poluentes da
combustão de motores.
• Degradação da qualidade das águas devido aos derrames de óleos e graxas
das embarcações.
• Riscos de derrames de cargas tóxicas.
• Efeitos sobre a saúde da população, tanto no tocante às doenças infecto-
contagiosas, devido à presença de grandes contingentes de pessoas de
diferentes regiões na área portuária, como em função da degradação da
qualidade ambiental do entorno.
• Interrupção dos padrões de trânsito, geração de ruídos e congestionamentos,
aumentando o perigo para os pedestres, devido aos caminhões pesados
que transportam materiais até as instalações portuárias e
• Sobrecarga sobre as redes de abastecimento de água potável, energia
elétrica, disposição de resíduos sólidos e coleta e tratamento de esgotos.

6.3.1.3 - Recomendações de medidas atenuantes

As medidas de proteção ambiental são fundamentais, tanto na fase de


planejamento como na implantação e operação dos portos. As áreas de carga,
descarga e armazenamento devem ser planejadas de acordo com o tipo e fluxo
de cargas, em consonância com os seguintes critérios:

Cargas minerais
• Deve-se buscar áreas de terrenos resistentes para a armazenagem e
prover este da devida impermeabilização, evitando alterações no subsolo
e possíveis contaminações.
• No entorno das áreas de armazenagem deve ser providenciada a
instalação de um sistema de drenagem capaz de escoar as águas das
chuvas, dimensionando-o de acordo com a quantidade de precipitações
do local, impedindo infiltrações e fugas de águas contaminadas.
• Deve-se instalar tanques de sedimentação e plantas de tratamento para as
águas que estão em contato com os minerais.

260
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Cargas a granel
• Realizar medidas preventivas para o controle da poeira em suspensão, com
a pulverização de água, quando couber, e utilizando sistemas de carga e
descarga confinados.

Cargas líquidas e petróleo


• Impermeabilizar as áreas de possíveis contatos com as cargas, provendo-as
de drenos de segurança, especialmente no entorno dos tanques de
estocagem.
• Prover a área de instalações e equipamentos separadores e de sucção de
óleo, além de todas as medidas de segurança que a área requer.
Na fase de construção dos portos, vários fatores devem ser observados.
entre eles destacam-se:
• A escolha das áreas segundo a finalidade do porto.
• O emprego de substâncias e materiais de construção de baixo impacto ambiental;
• A prevenção de erosão dos solos.
• A adaptação arquitetônica dos edifícios e demais equipamentos do porto ao
estilo construtivo da região;
• Construção de infra-estrutura no setor de abastecimento de água e gestão
de esgotos, garantindo reservas.
Outras medidas importantes que devem ser adotadas são: a reconstituição
de um local de características abióticas semelhantes àquele degradado pela obra,
a fim de promover o repovoamento por parte da biota marinha, e a elaboração
de um Plano de Monitoramento, com um cronograma de acompanhamento da
movimentação de sedimentos e influência da obra portuária sobre o regime do
rio ou da costa e com o acompanhamento da qualidade da água, por meio de
medições executadas dentro das normas técnicas.

6.3.1.4 - Referências para a análise ambiental da atividade

Para planejar um porto, deve-se realizar uma análise detalhada das condições
locais da via hídrica, sendo os pontos programáticos mais importantes deste
planejamento, os seguintes:

261
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• Quantificar e qualificar as características das correntes e dados


oceanográficos.
• Realizar ensaios físicos e matemáticos de simulação para determinar a melhor
configuração possível das condições hidrodinâmicas e impedir as sedimentações e
• Analisar o tráfego efetivo.
Deve-se prestar atenção especial ao objetivo de garantir e respeitar os valores
limites, com o compromisso por parte dos responsáveis pela implantação e
operação do porto, com a proteção do meio ambiente. É necessário reforçar a
importância de assegurar que o por to seja instrumentalizado com todos os
equipamentos de controle, vigilância e combate a desastres.
Os portos e suas vias de acesso representam modificações consideráveis
na estrutura natural e socioeconômica de uma região. Neste sentido, na fase de
planejamento, deve-se detectar os vários impactos possíveis, exigindo um
planejamento regional, de comunicação, energético, de recursos hídricos e de
infra-estrutura pública, entre outros.
Deve-se definir com clareza o objetivo do projeto, aplicando-se uma
concepção integral dos aspectos de construção e operação do porto, analisando
em profundidade as condições do entorno da área, incluindo nesta análise todas
as inter-relações e conflitos de uso.
Uma vez terminada as instalações, os responsáveis pela operação devem
desenvolver suas atividades respeitando as normas ambientais, buscando a
capacitação dos recursos humanos do por to também na área ambiental,
especialmente em relação aos potenciais impactos ambientais e riscos existentes
na operação de um porto.
Por fim, somente com a conjugação de planejamento e execução com
critérios ambientais, junto com a posterior operação, dentro dos mesmos critérios,
é que se contribuirá de forma duradoura para a melhoria das condições
econômicas, sociais e ambientais da área portuária.

262
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

6.3.1.5 - Quadro-Resumo: Portos

IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES


• Degradação de ecossistemas frágeis, • Realizar análise de alternativas locacionais para escolha
recursos pesqueiros e da paisagem da área de implantação das instalações portuárias,
da região, alterando a qualidade do evitando atingir áreas ambientalmente frágeis, como
meio ambiente. mangues e outros.
• A realização de operações de • Planejar as operações de dragagem minimizando os
dragagem, que elimina e altera a impactos sobre a fauna e a flora local;
fauna e a flora da área dragada, • Identificar e documentar a localização de instalações
podendo ocorrer menor penetração submarinas, como cabos e dutos, procurando alterar os
de luz e menor atividade planos de dragagem ou a mudança destas estruturas;
fotossintética, além de existir a • Buscar a redução da turbidez das operações de
possibilidade de acidentes com dutos dragagem mediante ao uso eficiente do equipamento de
e cabos submarinos. dragagem, cortinas de sedimento e dragagem durante
períodos de baixo fluxo.
• Degradação da qualidade do ar da • Monitorar a qualidade do ar e reduzir as operações que
região de localização do porto devido apresentam uma qualidade não aceitável.
às intensas atividades geradoras de
poeira.
• Degradação da qualidade da água • Elaborar planos e programas para a prevenção e limpeza
devido aos derrames de óleos e de possíveis derrames, provendo equipamentos
graxas das embarcações. necessários e capacitando uma equipe para tal atividade.
• Riscos de derrames de cargas tóxicas. • Elaborar planos de contingência para emergências,
minimizando o risco de acidentes durante o transporte.
• Efeitos sobre a saúde da população, • Avaliar o ambiente sociocultural local, antes de
tanto no tocante às doenças infecto- implementar o projeto portuário, elaborando medidas
contagiosas, devido à presença de específicas de atenuação dos impactos ambientais sobre
grandes contingentes de pessoas de a população, com a participação da comunidade;
diferentes regiões, na área portuária, • Instruir os empregados da instalação portuária para os
como devido à degradação da potenciais perigos ocupacionais da atividade e
qualidade ambiental da área. estabelecer um programa de saúde e segurança do
trabalhador.
• Interrupção dos padrões de trânsito, • Implantar estrutura viária alternativa, escolhendo as
geração de ruídos e melhores vias de acesso, reduzindo conflitos nas vias
congestionamentos, aumentando o urbanas existentes.
perigo para os pedestres, devido aos
caminhões pesados que transportam
materiais até as instalações portuárias
• Sobrecarga sobre as redes de • Construção de infra-estrutura no setor de abastecimento
abastecimento de água potável, de água, garantindo reservas e gestão de esgotos e
energia elétrica, disposição de resíduos sólidos.
resíduos sólidos e coleta e tratamento
de esgotos.
continua

263
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

conclusão
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL:
• Lei Federal 5.357 de 17/11/67 - Estabelece penalidades para embarcações e terminais marítimos ou
fluviais que lançarem detritos ou óleo em águas brasileiras e dá outras providências.
• Lei Federal 7.661 de 16/05/88 - Institui o Plano de Gerenciamento Costeiro e dá outras providências.
• Decreto 50.877 de 29/06/61 - Dispõe sobre o lançamento de resíduos tóxicos ou oleosos nas águas
interiores ou litorâneas do país e dá outras providências.
• Resolução do CONAMA 001 de 23/01/86 - Estabelece as definições, as responsabilidades, os critérios
básicos e diretrizes gerais para uso e implementação da Avaliação de Impacto Ambiental.
• Resolução CONAMA 006 de 17/10/90 - Institui a obrigatoriedade de registro e de prévia avaliação pelo
IBAMA dos dispersantes químicos empregados nas ações de combate aos derrames de petróleo.
• Resolução CONAMA 006 de 19/09/91 - Determina a não obrigatoriedade de quaisquer tratamentos de
queima de resíduos sólidos oriundos de estabelecimentos de saúde, portos e aeroportos.
• Resolução CONAMA 005 de 05/08/93 - Define os procedimentos mínimos para o gerenciamento de
resíduos sólidos, provenientes de serviços de saúde, portos e aeroportos.

6.3.2 - Estradas
6.3.2.1 - Descrição da atividade sob o enfoque ambiental

Na implantação de estradas destinadas ao transporte de passageiros e cargas,


sejam elas rodovias pavimentadas (pistas simples, autopistas, rodovias principais)
ou estradas rurais (sem pavimento ou pavimento primário), vários são os aspectos
ambientais que devem ser observados, tanto nas fases de planejamento e
construção quanto nas de operação e manutenção.
O planejamento de uma estrada deve avaliar principalmente as condições
morfológicas e os recursos naturais do terreno que pretende atravessar, bem
como o volume de tráfego ao qual se destina. Porém, como as estradas são
meios de ligação e integração entre diversas comunidades, não se pode deixar
de analisar os aspectos sociais e culturais afetados por elas.
As estradas possuem benefícios socioeconômicos por proporcionarem o
incremento de comunicação e transporte, bem como constituem um indicador
de desenvolvimento, acesso a mercados, acesso a centros urbanos etc. Entretanto,
estes benefícios devem ser adequadamente dimensionados em função dos
potenciais e complexos impactos ambientais negativos existentes na maioria dos
projetos de estradas durante as distintas fases citadas anteriormente.
Segundo LOPES & QUEIROZ In MAIA (1992), os impactos ambientais
produzidos pelas obras rodoviárias são praticamente os mesmos oriundos das
obras ferroviárias; entretanto, os níveis dos impactos variam, como, por exemplo,
264
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

os efeitos de isolamento entre os dois lados de uma ferrovia são, geralmente,


mais acentuados que no caso da rodovia, enquanto impactos como a poluição
visual, auditiva e por gases e fuligem costumam ser maiores nesta última.

6.3.2.2 - Potenciais impactos ambientais negativos


Embora existam diferentes impactos ambientais negativos nas fases de
planejamento, construção, operação e manutenção de estradas, os diretos e mais
significativos estão relacionados com a construção e correspondem à limpeza, ao
nivelamento e à pavimentação, sendo eles:
• destruição da camada vegetal nativa, com conseqüente degradação da
flora e da fauna ao longo do traçado projetado;
• alteração do uso da terra e exclusão de determinados usos na área afetada
pelo projeto;
• alteração das condições hidrológicas dos rios e hidrogeológicas das áreas
alagadas, com impactos negativos sobre os ecossistemas da área;
• aumento da quantidade de sedimentos nos rios atravessados, nas áreas
de terraplanagem e nos “bota-foras”;
• modificação no sistema natural de drenagem;
• degradação da paisagem e de sítios culturais (arqueológicos);
• degradação das águas superficiais pela contaminação por óleos, graxas,
combustíveis e tintas, especialmente nos canteiros de obras, acampamentos
e usinas de asfalto;
• interferência na circulação ou movimentação de gado, animais silvestres e
da população local, inclusive com a possibilidade de interromper rotas
migratórias de espécies da fauna nativa;
• contaminação do ar e solo devido à operação da usina de produção de
asfalto e britagem, com a geração de fuligem, gases e materiais particulados;
• produção de pó e ruído pelo funcionamento de equipamentos de construção
e detonações;
• contaminação do solo e das águas devido à utilização de agrotóxicos para
limpeza de áreas;
• geração de acúmulo de resíduos sólidos, especialmente nos canteiros de
obra;
• possibilidade de ocorrência de queimadas acidentais ou para limpeza
executada no trecho do projeto;

265
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• transmissão de doenças infecto-contagiosas dos trabalhadores para a


população local e vice-versa;
• aumento da caça e pesca ilegal, especialmente por parte dos trabalhadores
na construção, entre outros.
Ainda podem ocorrer impactos em áreas adjacentes à área do projeto, em
áreas de empréstimo para exploração de material de aterro e de saibro ou cascalho,
pedreiras e nas áreas de armazenamento de materiais (ver mineração).
Os impactos provenientes da operação e manutenção estão associados a:
• crescente demanda de combustíveis impor tados, utilizados para
movimentação e funcionamento de motores nas rodovias;
• crescente contaminação do ar, geração de ruído pela movimentação de
veículos;
• geração de acúmulo de resíduos sólidos, especialmente nas margens e faixas
de domínio das rodovias;
• riscos de acidentes com mortes de animais e pessoas ao cruzarem a rodovia;
• riscos de acidentes ambientais com cargas perigosas em movimentação na
rodovia;
• contaminação da água, ar e solo provocados por acidentes com vazamentos,
e/ou acumulação de materiais poluentes na superfície e entorno das estradas;
• degradação visual devido à colocação de painéis ao longo da rodovia;
• degradação provocada pela urbanização induzida ou sem planejamento, ao
longo ou em pontos específicos da rodovia;
• alteração local e regional da posse e distribuição da terra, devido ao caráter
especulativo;
• facilidade de acesso a áreas com características de significativo interesse
ambiental, como: parques, reservas biológicas e demais áreas com florestas
nativas;
• migração de mão-de-obra e alteração ou deslocamento da economia de
subsistência;
• impactos da construção de outros caminhos de caráter secundário, no sentido
de diminuir distâncias ou evitar postos de pedágio;
• indução ao desenvolvimento desordenado de atividades de produção, serviços
e moradia ao longo das rodovias, entre outros.
As estradas rurais, geralmente com pavimento primário, possuem uma gama
de impactos ambientais negativos que são de menor intensidade que as rodovias
principais, especialmente os relacionados à geração de ruídos. Porém, essas estradas

266
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

nas ocasiões de chuvas torrenciais podem sofrer acentuada erosão, com maior
intensidade em áreas onduladas e inclinadas, tornando-se intransitáveis e gerando
danos às terras limítrofes com prejuízo à produção agropecuária. Esta erosão pode
acarretar danos à vegetação e às águas superficiais pelo deslizamento de encostas e
sedimentação dos rios.
As rodovias apresentam impactos ambientais indiretos no que diz respeito ao
acesso a áreas de significativo interesse ambiental, expondo-as aos riscos da
degradação da flora e fauna, especialmente devido ao desmatamento, à pesca e à
caça ilegais. Alguns dos recursos naturais, anteriormente protegidos da exploração,
por se encontrarem inacessíveis, podem imediatamente tornar-se desprotegidos, com
a implantação de uma determinada estrada.

6.3.2.3 - Recomendações de medidas atenuantes

A medida que deve ser adotada com maior poder de atenuação dos impactos
ambientais negativos da implantação de uma rodovia está relacionada ao efetivo
planejamento, que contemple todas as alternativas de traçado, buscando as
melhores condições para evitar e/ou minimizar estes impactos sobre os recursos
naturais, históricos-culturais, sobre a população e sobre o uso da terra.
As medidas para a atenuação devem ser específicas para cada projeto,
nas distintas fases de planejamento, construção, operação e manutenção,
orientadas para o controle de erosão e sedimentação, coleta e tratamento de
resíduos sólidos, prevenção e controle de riscos de acidentes, reabilitação e/ou
recuperação de áreas degradadas, especialmente as de empréstimo (aterro,
cascalho e pedreiras) ou utilizadas para apoio e produção de insumos (depósito
de materiais, usina de asfalto).
Segundo LOPES & QUEIROZ In MAIA(1992), dentre as medidas testadas em
nível internacional, podem ser apontadas:
• Reconfor tar e proteger as superfícies de terrenos expostas pelas
operações de terraplenagem com materiais naturais (terra vegetal,
plantio de grama, hidrossemeadura) ou artificiais (telas, geotêxteis etc.).
• Proceder ao corte de árvores previamente à execução da limpeza da
faixa, retirando e aproveitando a madeira para as necessidades da obra
e proibindo o corte fora da área terraplenada.
• Limitar a limpeza à faixa situada dentro dos off-sets delimitados para a
terraplenagem.
267
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• Acumular e estocar o horizonte orgânico dos solos para posterior


reaproveitamento na recobertura das superfícies expostas.
• Proibir a execução de queimadas para a limpeza da faixa de domínio;
• Proibir a caça e a pesca ilegal e/ou predatória pelos operários da construção
e usuários da rodovia.
• Dotar as oficinas, canteiros e acampamentos de caixas de coleta de resíduos,
combustíveis, graxas, óleos etc. e prever nos acampamentos coleta e
disposição correta de resíduos sólidos e líquidos.
• Prever a utilização de dispositivos e equipamentos de controle de gases,
ruídos e materiais particulados, especialmente em pedreiras, instalações de
britagem e usinas de asfalto, mantendo sempre os motores e máquinas em
boa condição de regulagem e operacionalidade.
• Manter carros-pipas para umedecimento e equipamentos para manutenção
de caminhos de serviços.
• Utilizar traçado e características técnicas adaptadas às condições
paisagísticas locais, evitando, sempre que possível, áreas alagadiças,
instáveis, ecologicamente importantes ou ambientalmente frágeis.
• Executar dispositivos de dissipação de energia à saída das estruturas de
drenagem de modo a evitar que a erosão se instale a partir desses
pontos de concentração de fluxo.
• Executar e manter em boas condições: sinalização, acostamentos,
defensas, terceiras faixas etc.
• Manter um controle médico da saúde dos operários, comissões para
reduzir acidentes de trabalho e proteção aos trabalhadores,
especialmente contra excessos de ruídos, poeira, gases etc.
• Evitar a geração de focos de vetores de transmissão de doenças como
charcos, alagados, depósitos de lixo etc.
• Estabelecer diálogo e buscar critérios justos para as desapropriações e
relocações.
• Manter um esquema eficiente de manutenção rotineira e prevenção de danos
graves à rodovia, especialmente em períodos de acentuada precipitação
pluviométrica.
• Desenvolver e manter planos, pessoal e equipamentos para situações
de emergência como acidentes graves, especialmente, com
derramamento de substâncias perigosas, designando para o transporte
268
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

destas, rotas especiais e fazendo cumprir a legislação específica sobre


esse tipo de transporte.
• Desenvolver um planejamento global de uso do solo ao longo da rodovia
e um plano funcional, incluindo nesse planejamento os organismos
intervenientes em todos os níveis.
• Compatibilizar, com segurança e sem prejuízos a ambas as partes, em nível
local, o uso de meios de transporte não motorizado, entre outras.

6.3.2.4 - Referências para análise ambiental

Para avaliar e atenuar os impactos ambientais de um projeto de construção de


uma rodovia ou uma ferrovia, é fundamental realizar previamente um planejamento
regional e um estudo detalhado das alternativas de traçado. Neste estudo convém
avaliar várias alternativas, elaborando mapas que destaquem as diversas situações
encontradas nas distintas alternativas analisadas, como: áreas protegidas, núcleos
habitacionais, propriedades rurais, tipos de solos etc. Deve-se frisar que a análise
de alternativas é uma medida prevista na Resolução n.o 001/86 do CONAMA.
A construção de estradas e ferrovias permite a abertura de zonas até
então inacessíveis ou de difícil acesso. Neste sentido representam sempre uma
ingerência sobre o meio natural de uma região, o que induz a modificações das
suas condições socioeconômicas, culturais e ambientais.
Quando da realização de um projeto de rede viária, deve-se levar em conta
os numerosos e variados aspectos que obrigam a um tratamento específico para
cada projeto, uma vez que os impactos ambientais têm relevância e incidência
variáveis, para cada caso, dependendo especialmente das condições ambientais
e socioculturais das regiões afetadas.
O objetivo essencial do planejamento e da avaliação de impactos ambientais
de projetos viários é minimizar os danos ambientais, mediante o ordenamento
territorial da região afetada, dando especial atenção aos aspectos sociais e à
integração do traçado com seu entorno natural.

269
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

6.3.2.5 - Quadro-Resumo: Estradas

IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES


• Destruição da camada vegetal nativa, • Modificar o trajeto projetado nos locais considerados
com conseqüente degradação da flora frágeis e identificados nos estudos como de risco
e da fauna ao longo do traçado ambiental para a flora e fauna.
projetado. • Proceder ao corte de árvores previamente à execução da
limpeza da faixa, retirando e aproveitando a madeira
para as necessidades da obra e proibindo o corte fora
da área terraplenada.
• Limitar a limpeza à faixa situada dentro dos off-sets
delimitados para a terraplenagem.
• Degradação da paisagem e de sítios • Procurar o desenho arquitetônico mais adequado
naturais, históricos e culturais integrando a obra, o mais natural possível, com a
(arqueológicos). paisagem.
• Promover a revegetalização das áreas, utilizando
preferencialmente espécies da flora nativa da região;
• Utilizar traçado e características técnicas adaptadas às
condições paisagísticas locais, evitando, sempre que
possível, áreas alagadiças, instáveis, ecologicamente
importantes ou ambientalmente frágeis.
• Acumular e estocar o horizonte orgânico dos solos para
posterior reaproveitamento na recobertura das
superfícies expostas.
• Aumento da quantidade de • Proteger as superfícies com materiais impermeáveis ou
sedimentos nos rios atravessados, de permeabilidade adequada (telas, bidim) e promover a
nas áreas de terraplanagem e nos revegetalização das áreas de risco.
“bota-foras”. • Incentivar o uso de práticas de conservação de solos
• Erosão dos cortes e aterros e (curvas de nível) nas áreas vizinhas às rodovias;
sedimentação das vias de drenagem • Revestir as superfícies receptoras com pedras e/ou
natural. concreto.
• Erosão do solo abaixo do leito da • Executar dispositivos de dissipação de energia à saída
estrada, por receber as águas da das estruturas de drenagem de modo a evitar que a
drenagem. erosão se instale a partir desses pontos de concentração
de fluxo.
• Reconfortar e proteger as superfícies de terrenos
expostas pelas operações de terraplenagem com
materiais naturais (terra vegetal, plantio de grama,
hidrossemeadura), ou artificiais (telas, geotêxteis etc.).
• Manter um esquema eficiente e rotineiro de prevenção
de danos graves à rodovia, especialmente em períodos
de acentuada precipitação pluviométrica.
• Degradação das águas superficiais pela • Dotar as oficinas, canteiros e acampamentos de caixas
contaminação por óleos, graxas, de coleta de resíduos, combustíveis, graxas, óleos etc.
combustíveis e tintas, especialmente nos
canteiros de obras, acampamentos e
usinas de asfalto.
continua

270
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

continuação
IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
• Contaminação do ar e solo devido à • Instalar equipamentos de controle de contaminação do ar;
operação da usina de produção de • Reunir e reciclar os lubrificantes.
asfalto e britagem, com a geração de Prover os acampamentos de coleta e disposição correta

fuligem, gases e materiais particulados; de resíduos sólidos e líquidos.
• Produção de pó e ruído pelo Utilizar dispositivos e equipamentos de controle de

funcionamento de equipamentos de gases, ruídos e materiais particulados, especialmente
construção e detonações. nas pedreiras, instalações de britagem e usinas de
• Contaminação devido à utilização de asfalto, mantendo sempre os motores e máquinas em
agrotóxicos para limpeza de áreas. boa condição de regulagem e operacionalidade.
• Geração de acúmulo de resíduos sólidos, • Utilizar limpeza manual e/ou mecânica, evitando o uso de
especialmente nos canteiros de obra. herbicidas.
• Interferência na circulação ou • Executar e manter em boas condições: sinalização,
movimentação de gado, animais acostamentos, defensas, terceiras faixas etc.
silvestres e da população local, • Compatibilizar, com segurança e sem prejuízos a ambas
inclusive com a possibilidade de as partes, em nível local, o uso de meios de transporte
interromper rotas migratórias de não motorizado.
espécies da fauna nativa.
• Possibilidade de ocorrência de • Proibir a execução de queimadas para a limpeza da faixa
queimadas acidentais ou para limpeza de domínio.
executada no trecho do projeto. • Manter carros-pipas para umedecimento e controle de
incêndios e equipamentos para manutenção de caminhos
de serviço.
• Transmissão de doenças infecto- • Manter um controle médico da saúde dos operários,
contagiosas dos trabalhadores para a comissões para reduzir acidentes de trabalho e proteção
população local e vice-versa. aos trabalhadores, especialmente contra excessos de
ruídos, poeira, gases etc.
• Evitar a geração de focos de vetores de transmissão de
doenças como charcos, alagados, depósitos de lixo etc.
• Risco de acidentes ambientais com • Desenvolver e manter planos, pessoal e equipamentos
cargas perigosas em movimentação para situações de emergência como acidentes graves,
na rodovia com contaminação da especialmente, com derramamento de substâncias
água, ar e solo. perigosas, designando para o transporte destas, rotas
especiais e fazendo cumprir a legislação específica sobre
esse tipo de transporte.
• Produção de poeira e ruído na área • Umedecer periodicamente os locais de circulação de
do projeto. veículos durante a implantação da obra.
• Manter os silenciadores de veículos e equipamentos em
ordem e fazer isolamento acústico de equipamentos
ruidosos.
• Aumento da caça e pesca ilegal, • Proibir a caça e a pesca ilegal e/ou predatória pelos
especialmente por parte dos operários da construção e usuários da rodovia.
trabalhadores na construção, entre
outros.
• Geração de acúmulo de resíduos • Executar programa de comunicação social e educação
sólidos, especialmente nas margens e ambiental, informando sobre a importância de não jogar
faixas de domínio das rodovias. resíduos dos automóveis.
continua

271
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

conclusão
IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
• Degradação provocada pela urbanização • Desenvolver um planejamento global de uso e
induzida ou sem planejamento, ao longo ou ordenamento do solo ao longo da rodovia e um plano
em pontos específicos da rodovia; funcional, incluindo nesse planejamento os organismos
• Degradação visual devido à colocação de intervenientes em todos os níveis, inclusive os órgãos de
painéis ao longo da rodovia. fiscalização ambiental.
• Facilidade de acesso a terras com
características de significativo interesse
ambiental, como parques, reservas biológicas e
demais áreas com florestas nativas.
• Impactos da construção de outros caminhos
de caráter secundário, no sentido de diminuir
distâncias ou evitar postos de pedágio.
• Indução ao desenvolvimento desordenado de
atividades de produção, serviços e moradia
ao longo das rodovias.
• Alteração local e regional da posse e • Estabelecer diálogo e buscar critérios justos para as
distribuição da terra, devido ao caráter desapropriações e relocações.
especulativo.
• Alteração do uso da terra e exclusão de
determinados usos na área afetada pelo
projeto.
• Migração de mão-de-obra e alteração ou
deslocamento da economia de
subsistência.
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
• Lei 4.771 de 15/09/65 – Institui o Código Florestal.
• Lei 5.197 de 03 de janeiro de 1967 – Dispõe sobre a Proteção da Fauna.
• Lei 6.938 de 31/08/81 - Dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente.
• Lei 9.433 de 08/01/97 - Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos.
• Decreto-Lei 24.643 de 10/07/34 – Institui o Código das Águas.
• Decreto-Lei 852 de 11/11/38 - Mantém com modificações o Decreto-Lei 24.643 (Código das Águas).
• Decreto-Lei n.o 227 de 28/02/67 – Institui o Código de Mineração.
• Decreto 89.336, de 31/01/84 – Dispõe sobre as reservas ecológicas e áreas de relevante interesse ecológico.
• Decreto 97.632 de 10/04/89 – Institui a obrigatoriedade de execução de Planos de Recuperação de
Áreas Degradadas – PRAD(s), para atividades de exploração mineral.
• Resolução CONAMA 001 de 23/01/86 - Trata do uso e da implementação da Avaliação de Impactos
Ambientais.
• Resolução CONAMA 004 de 18/09/85 – Trata das Reservas Ecológicas.
• Resolução CONAMA 006 de 06/11/87 – Trata do licenciamento de obras de grande porte.
• Resolução CONAMA 010 de 03/12/87 – Estabelece como pré-requisito para o licenciamento de obras de
grande porte a implantação de Estação Ecológica.
• Resolução n.o 010 de 06/12/90 – CONAMA – Estabelece o licenciamento ambiental prévio para
exploração de bens minerais de classe II.
• Resolução CONAMA 237 de 19/12/97 – Trata do licenciamento ambiental de empreendimentos.

272
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

6.3.3 - Aeroportos
6.3.3.1 - Descrição da atividade sob o enfoque ambiental

O ordenamento territorial e o planejamento regional são ferramentas


fundamentais a serem utilizadas na implantação de um aeroporto. Situações como a
escolha da área adequada para a navegação aérea, as possibilidades existentes e
potencialidades para implantação do sistema de abastecimento e saneamento, a aptidão
do solo, a situação das águas superficiais e aqüíferos, entre outros, devem ser avaliadas
para a escolha da melhor alternativa locacional para sua implantação. O planejamento
de um aeroporto deve integrar-se a um plano urbanístico ou regional existente, evitando
sua localização em zonas conurbadas.
Deve-se destacar que o projeto de um aeropor to inclui uma série de
aspectos técnicos ligados a diversas áreas. Além do planejamento regional e o
ordenamento urbano, o planejamento de tráfego, o planejamento industrial, o
turismo e sua infra-estrutura de apoio, o abastecimento d’água, a coleta e
tratamento de esgotos, a disposição e tratamento de resíduos sólidos e a
construção de acessos (rodovias, ferrovias, entre outros).
Portanto, deve-se levar em conta a integração do projeto do aeroporto
com os demais setores, buscando avaliar todos os impactos ambientais negativos
e quais as medidas que devem ser adotadas, no sentido de atenuá-los.

6.3.3.2 - Potenciais impactos ambientais negativos

Vários são os impactos ambientais negativos da implantação de aeroportos.


Estes impactos incidem sobre a socioeconomia, os ecossistemas, a paisagem, o
microclima e a qualidade do ar, além do incômodo que pode ser provocado pelo nível
elevado de ruídos gerados.

Sobre a socioeconomia
A influência da construção de um aeroporto sobre a socioeconomia apresenta
impactos de difícil mensuração e delimitação. Entre outras, é possível destacar a
ocorrência de:
• Alteração do uso do solo.
• Alteração nas relações de propriedade.
273
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• Alteração na estrutura de preços das terras.


• Alteração na qualidade de moradia do entorno.
• Aumento da pressão para instalação de empresas comerciais, de transporte,
de hotelaria e serviços próximos ao aeroporto.

Sobre o ecossistema e a paisagem


Com relação aos ecossistemas locais, a implementação dos aeroportos provoca
a degradação da flora e da fauna nas áreas destinadas às instalações aeroportuárias,
alterando a vegetação nativa e provocando o desaparecimento de animais, que
utilizavam este ambiente.
A construção de um aeropor to exige, normalmente, uma grande
movimentação de terras e disposição de materiais de construção. A degradação
ambiental destas áreas é inevitável, devendo, porém, ficar restrita ao local das
obras e ser limitada a partir do correto planejamento da construção.
A impermeabilização de grandes superfícies nas áreas edificadas e nas
áreas de manobras e pistas de aviões apresenta impacto ambiental significativo
sobre o sistema de drenagem do local afetado, obrigando ao planejamento de
um sistema adequado de escoamento para as águas das chuvas.
A contaminação das águas das chuvas pode ser produzida a partir das
áreas impermeabilizadas para a movimentação das aeronaves, devido aos
resíduos de óleos, combustíveis, anticongelantes (nas regiões frias), detergentes
e resíduos dos desgastes de pneus.
Em relação aos esgotos e aos resíduos sólidos gerados pelo aeroporto, os
mesmos deverão ser coletados, tratados e/ou dispostos adequadamente. Quanto aos
resíduos sólidos, os estabelecimentos aeroportuários devem possuir Plano de
Gerenciamento de Resíduos Sólidos, de acordo com o disposto na Resolução 005/93
do CONAMA.
No âmbito de um aeroporto se manejam e se consomem grandes quantidades
de substâncias perigosas, cujo armazenamento representa um risco constante,
devendo-se adotar todas as medidas pertinentes no sentido de evitar acidentes.
Porém, não estão excluídas as possibilidades de ocorrerem acidentes que
provoquem a contaminação de águas superficiais e subterrâneas. Portanto, não se
deve localizar aeroportos em áreas de mananciais de abastecimento d’água.

274
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Com relação à paisagem, a forte presença das estruturas aeroportuárias


e a grande área de impermeabilização representam consideráveis agressões
sobre o entorno. Estruturas metálicas e grandes blocos de concreto inserem-se
no ambiente provocando impacto visual, devido ao uso de estilos distintos dos da
paisagem natural.

Ruído
O aumento dos níveis de pressão sonora nas regiões próximas aos
aeroportos é outro impacto ambiental negativo a ser destacado. Uma das fontes
de ruídos mais desagradáveis é a produzida por aviões, que nas áreas
aeroportuárias, nas rotas de decolagem e aterrissagem, são inevitáveis, sendo
possível tão-somente o seu controle buscando a redução dos níveis. Além dos
ruídos provocados pelas aeronaves, devem ser observados os provocados pelo
intenso tráfego de veículos nas áreas de acesso ao aeroporto.

Microclima e qualidade do ar
As construções que ocupam grandes superfícies de solo freqüentemente
produzem alterações microclimáticas, formando um microclima próprio, com
modificação do balanço térmico. Segundo DIAS(1995), podem ocorrer, em áreas
urbanizadas e impermeabilizadas, diferenças de mais de 2° C de temperatura
em relação à área rural ou não impermeabilizada.
A esta situação de alteração microclimática adiciona-se a redução da
qualidade do ar, devido à concentração elevada de poluentes atmosféricos emitidos
pelas aeronaves que, em aeroportos de intenso movimento, podem apresentar
elevados níveis de hidrocarbonetos, monóxido de carbono e óxidos de nitrogênio,
especialmente em períodos de inversão térmica.

6.3.3.3 - Recomendações de medidas atenuantes

O planejamento prévio, mediante planos de ordenamento territorial


ambientalmente adequados, é a grande ferramenta para atenuar os impactos
ambientais da implantação de um aeroporto. A escolha da alternativa, que cause
o menor número de impactos ambientais negativos de grande magnitude, deve
ser o resultado deste planejamento prévio.

275
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Durante o planejamento, várias são as medidas específicas que podem ser


adotadas para evitar potenciais impactos ambientais negativos da implantação de um
aeroporto. Por exemplo, em relação à fauna e à flora é fundamental a realização de
estudos sobre as reservas vegetais e sobre as espécies animais afetadas em cada
uma das alternativas analisadas. Deve ser excluída a possibilidade de implantação do
aeroporto em regiões onde existam espaços naturais protegidos e áreas de significativo
interesse ambiental.
Ainda na fase de planejamento, deve-se buscar compatibilizar o projeto das
estruturas aeroportuárias, em seu estilo e formas, com os aspectos da paisagem local,
evitando grandes contrastes e buscando a harmonia entre as instalações e a natureza.
Com relação às alterações microclimáticas e à contaminação do ar, devem
ser adotadas medidas que controlem o excesso de impermeabilização das áreas
do aeroporto e que estimem a freqüência dos períodos de inversão térmica na
região. O estudo climático permitirá a tomada de decisão quanto à construção ou
não de um aeroporto numa determinada região, evitando situações de aeroportos
constantemente fechados e excessivamente poluídos.
Na fase de construção de um aeroporto, várias são as medidas que devem
ser adotadas, entre elas destacam-se:
• a otimização das vias de acesso à obra;
• a utilização de mão-de-obra local;
• exigência da utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs)
por parte dos operários;
• utilização de materiais de construção existentes ou produzidos na região;
• implantar sistema de controle da movimentação de operários e máquinas,
controlando especialmente os impactos causados durante a terraplenagem,
pelos sedimentos sobre os rios, devendo ser instalada rede de drenagem
adequada.
Na operação de um aeroporto, várias outras medidas podem ser adotadas
para atenuar os potenciais impactos ambientais negativos causados, por exemplo,
com relação à contaminação das águas pelo derrame de óleos, combustíveis etc.;
deve-se estabelecer sistema de drenagem adequado para as águas das chuvas, que
as conduzam para um sistema de separação de óleos, antes de serem enviadas ao
emissário. Quanto às águas residuárias produzidas no aeroporto (esgotos), as mesmas
devem ser encaminhados para o sistema de tratamento.
276
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Em relação aos resíduos sólidos deverá ser implementado um plano de


gerenciamento com a previsão de medidas de acondicionamento, transporte,
tratamento e disposição final adequados, conforme o estabelecido na Resolução
005/93 do CONAMA.
No manejo e estocagem de substâncias perigosas, durante as operações
aeroportuárias, devem ser adotadas medidas de controle do manejo e de proteção
das áreas de estoque, que evitem possíveis acidentes e/ou minimizem os impactos,
quando da ocorrência destes. É fundamental a informação do pessoal desta área,
para que sejam evitados estes acidentes. Com relação à proteção da área de
estocagem, a construção de sistema de retenção e alarme de vazamentos são
as medidas mais seguras.
Quanto aos ruídos das aeronaves, durante o pouso e decolagem, várias
medidas podem ser adotadas no sentido de minimizá-los, tais como:
• implantação das restrições de horários para aterrissagem e decolagem;
• fixação de rotas e uso de rotas alternativas para aterrissagem e
decolagem, evitando áreas densamente povoadas;
• proteção acústica de casas e edifícios existentes nas zonas expostas aos
ruídos;
• implantação de sistema de monitoramento de ruídos, com a aplicação
de sanções para as aeronaves que apresentem médias acima das de
sua especificação, entre outras.
Por fim, é impor tante salientar que algumas estruturas e áreas são
incompatíveis com as instalações aeroportuárias, como, por exemplo, estruturas
que favoreçam a criação de habitat para aves próximos aos aeroportos. As aves
apresentam riscos constantes para a aviação, uma vez que o choque com a
aeronave pode resultar na queda do avião. Esta potencialização da presença de
aves ocorre, geralmente, quando da existência de aterros e/ou depósitos de
resíduos sólidos e áreas agrícolas. Portanto, devem ser adotadas medidas que
restrinjam a presença destes aterros e de plantações agrícolas que sirvam de
alimento para as aves, nas proximidades do aeroporto e das rotas de pouso e
decolagem dos aviões.

6.3.3.4 - Referências para análise ambiental

A construção de um aeropor to é um projeto que produz inevitáveis


agressões ao meio ambiente.
277
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Numa primeira etapa deve-se obser var os potenciais impactos


ambientais negativos que o empreendimento poderá causar, analisar as
medidas atenuantes a serem adotadas e se a aplicação destas é suficiente para
atenuar os impactos previstos.
Em seguida, devem ser analisados os custos da implantação destas
medidas e finalmente a viabilidade financeira do projeto, comparando sua
utilidade social e econômica com os custos necessários para a implementação
ambientalmente correta do mesmo.
Os grupos sociais afetados devem ser envolvidos na fase de planejamento
do projeto, dando ênfase especial aos aspectos que irão causar alterações em
suas condições de vida, como, por exemplo, as alterações provocadas pelo ruído
gerado pelo trânsito de aeronaves.
No caso da necessidade de ocupar áreas de produção agrícola, deve-se
buscar a melhor forma não só de indenizar os afetados, como também criar
possibilidades alternativas de emprego e renda para eles.
As metas de planejamento do projeto e as diretrizes de sua execução
devem ser orientadas a limitar ao máximo os impactos ambientais negativos,
buscando a aplicação de medidas efetivas, que evitem ou reduzam estes
impactos, o que pressupõe a existência de rigoroso sistema de controle e
fiscalização, tanto por parte do órgão ambiental como por parte dos demais
órgãos envolvidos na implantação e/ou operação de aeroportos.

278
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

6.3.3.5 - Quadro-resumo: Aeroportos

IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES


• Alteração do uso do solo, das relações • Estabelecer programa de indenização e criação de
de propriedade e da estrutura de preços alternativas de emprego e renda para os afetados.
das terras. • Otimizar as vias de acesso ao aeroporto.
• Alteração na qualidade de moradia do • utilizar na construção mão-de-obra local.
entorno.
• Aumento da pressão para instalação de • Estabelecer plano de ordenamento territorial com
empresas comerciais, de transporte, de diretrizes de zoneamento das áreas de entorno dos
hotelaria e serviços próximos ao aeroportos.
aeroporto.
• Degradação da flora e da fauna nas • Realizar estudos prévios sobre as reservas vegetais e
áreas destinadas às instalações sobre as espécies animais afetadas em cada uma das
aeroportuárias. alternativas de localização analisadas. Havendo
presença de espécies de significativo interesse
ambiental, deve ser excluída esta alternativa.
• limitar degradação ambiental das áreas utilizadas para
implementação do aeroporto, devendo ficar restrita ao
local das obras e ser controlada, mediante o correto
planejamento da construção.
• Impermeabilização de grandes • Compatibilizar o projeto das estruturas aeroportuárias,
superfícies nas áreas edificadas e nas em seu estilo e formas, com os aspectos da paisagem
áreas de manobras e pistas de aviões. local, evitando grandes contrastes e buscando a
• Contaminação das águas das chuvas por harmonia entre as instalações e a natureza.
óleos e combustíveis das aeronaves. • estabelecer sistema de drenagem adequado para as
• Agressões sobre a paisagem, devido à águas das chuvas, que as conduzam para um sistema
forte presença das estruturas de separação de óleos, antes de serem enviadas ao
aeroportuárias e à grande área de emissário. Quanto às águas residuárias produzidas no
impermeabilização. aeroporto (esgotos), estas devem ser encaminhadas
Geração de esgotos e resíduos sólidos. para o sistema de tratamento.

• implantar sistema de controle da movimentação de
operários e máquinas, controlando especialmente os
impactos causados durante a terraplenagem, pelos
sedimentos sobre os rios, devendo ser instalada rede
de drenagem adequada.
• implantar Plano de Gerenciamento de Resíduos
Sólidos, de acordo com o estabelecido na Resolução
005/93 do CONAMA.
• Riscos de acidentes com substâncias • Informação do pessoal desta área, para que sejam
perigosas. evitados estes acidentes.
• proteção da área de estocagem, com a construção de
sistema de retenção e alarme de vazamentos.
continua

279
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

conclusão
IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
• Aumento dos níveis de pressão • Implantação das restrições de horários para
sonora nas regiões próximas aos aterrissagem e decolagem.
aeroportos. • Fixação de rotas e uso de rotas alternativas para
aterrissagem e decolagem, evitando áreas densamente
povoadas.
• Proteção acústica de casas e edifícios existentes nas
zonas expostas aos ruídos.
• Implantação de sistema de monitoramento de ruídos,
com a aplicação de sanções para as aeronaves que
apresentem médias acima das de sua especificação.
• Alteração microclimática e redução da • Controlar o excesso de impermeabilização das áreas do
qualidade do ar. aeroporto.
• Estimar a freqüência dos períodos de inversão térmica
na região.
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
• Lei 4.771 de 15/09/65 - Institui o Código Florestal.
• Lei 5.197 de 03 de janeiro de 1967 – Dispõe sobre a Proteção da Fauna.
• Lei 6.938 de 31/08/81 - Dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente.
• Lei 9.433 de 08/01/97 - Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos.
• Decreto-Lei 24.643 de 10/07/34 – Institui o Código das Águas.
• Decreto-Lei 852 de 11/11/38 - Mantém com modificações o Decreto-Lei 24.643 (Código das Águas).
• Decreto 89.336, de 31/01/84 – Dispõe sobre as reservas ecológicas e áreas de relevante interesse ecológico.
• Resolução CONAMA 001 de 23/01/86 - Trata do uso e implementação da Avaliação de Impactos Ambientais.
• Resolução CONAMA 004 de 18/09/85 – Trata das Reservas Ecológicas.
• Resolução CONAMA 006 de 06/11/87 – Trata do licenciamento de obras de grande porte.
• Resolução CONAMA 010 de 03/12/87 – Estabelece como pré-requisito para o licenciamento de obras
de grande porte a implantação de Estação Ecológica.
• Resolução CONAMA 006 de 19/09/91 – Determina a não obrigatoriedade de quaisquer tratamentos de
queima de resíduos sólidos oriundos de estabelecimentos de saúde, portos e aeroportos.
• Resolução CONAMA 005 de 05/08/93 – Define os procedimentos mínimos para o gerenciamento de
resíduos sólidos, provenientes de serviços de saúde, portos e aeroportos.
• Resolução CONAMA 237 de 19/12/97 – Trata do licenciamento ambiental de empreendimentos.

6.4 - Bar ragens / Represas


6.4.1 - Descrição da atividade sob o enfoque ambiental
Este capítulo do manual é dedicado às construções hidráulicas que visam
regular a água, retendo-as de forma que possam ser aproveitadas para usos hídricos
ou energéticos.
As construções de contenção podem ser diques, muros ou barragens, mediante
as quais se alteram os fluxos d’água com os mais diversos objetivos, entre eles:
• geração de energia elétrica;
• controle de enchentes;
280
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

• irrigação;
• navegação;
• abastecimento de águas;
• regularização de vazões;
• piscicultura, entre outras.
O objetivo principal das barragens é garantir um determinado nível regulado
de água para cumprir sua finalidade, seja assegurando uma profundidade mínima
para a navegação, o fluxo necessário para a geração de energia elétrica ou a
quantidade necessária para o abastecimento público, irrigação, seja a simples
contenção do excesso de águas que poderiam provocar enchentes a jusante.
Segundo MULLER (1995), em 1990, do total de 343 aproveitamentos
hidráulicos cadastrados na Comissão Técnica de Barragens e Reservatórios de
Usos Múltiplos, 124 destinavam-se à geração de energia hidrelétrica, 4 à navegação,
72 para o abastecimento de água, 37 para irrigação, 3 para a piscicultura, 76
para regularização, 12 para o controle de cheias e outras 15 destinadas a outros
usos, sendo que os 37,9% das barragens de concessionárias de energia elétrica
acumulavam 95% de todo o volume de água represado no Brasil.
A utilização de uma represa para determinado fim pode prejudicar outros
usos da água, provocando os chamados conflitos de usos. Assim, os usos de uma
represa devem ser disciplinados de forma a garantir o melhor aproveitamento
econômico e social da água acumulada (SUETÔNIO, 1995).
A implantação de barragens, mesmo que projetadas dentro das técnicas
modernas e buscando provocar poucos impactos ambientais negativos, produz conflitos
de objetivos, especialmente relacionados com a proteção e o aproveitamento dos
recursos naturais. Por esta razão, na concepção e dimensionamento, na
implantação e na operação de barragens, o empreendedor deve adotar uma
série de medidas no sentido de evitar e/ou atenuar impactos ambientais negativos
decorrentes desta atividade, os quais são detalhados a seguir.

6.4.2 - Potenciais impactos ambientais negativos


Para determinação dos impactos é necessário definir a natureza geral do
impacto do projeto sobre a área de influência do mesmo (inundação, mudança
de regime hidrológico, p.ex.), sendo também fundamental identificar os tipos
específicos de ecossistemas que serão afetados.

281
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

O barramento de um rio, pela construção da barragem, implica a


modificação brusca de um ecossistema terrestre para aquático e, ao mesmo
tempo, implica também a mudança de um ecossistema lótico (águas correntes -
rio) para lêntico (águas paradas - lago artificial, reservatório). (PEREZ, 1992)
A inundação, em alguns casos, de superfícies extensas ocasiona a perda
de forma irreversível de áreas agricultáveis, florestas, sítios histórico-culturais,
paisagens de grande valor ecológico e espécies da fauna e da flora.
Com o barramento da água, o sistema terrestre transforma-se em
aquático, a vegetação terrestre é destruída, reduzindo os espaços para a fauna.
Os impactos negativos das barragens sobre a vida silvestre são consideráveis.
Sobre este aspecto, cabe observar que os animais ameaçados de desaparecimento
são muitos. Uma relação publicada pela Academia Brasileira de Ciências, em
1972, registrava 68 espécies, e a publicada em 1989 registrou mais 139 animais,
totalizando 207 espécies.
A presença de grandes quantidades de nutrientes nos reservatórios pode provocar
impactos com conseqüências graves, especialmente em áreas de clima quente,
onde ocorre o rápido e forte crescimento de algas e plantas aquáticas superiores,
que consomem o oxigênio dissolvido na água, podendo dificultar o aproveitamento
da água, principalmente para o caso de barragens com fins de abastecimento
público e piscicultura.
A reduzida qualidade da água afeta também as estruturas da barragem,
produzindo agressão química sobre as estruturas de concreto e aço, e sobre as
turbinas, no caso de geração de energia. Estes riscos se intensificam com a profundidade
e o aumento da permanência da água no reservatório, bem como com o crescente
acúmulo de nutrientes no lago, geralmente provocados pelo lançamento de águas
residuárias, fertilizantes e excrementos animais, entre outros.
Os nutrientes acumulados no reservatório, geralmente impedidos pela
barragem de se deslocarem a jusante, privam estas águas de seu valor fertilizante,
muito útil quando do uso das mesmas para irrigação, especialmente nas regiões
áridas ou semi-áridas. Nestas regiões, devido à evaporação excessiva, ocorre a
diminuição do volume de água dos reservatórios e a conseqüente redução da
vazão média do rio a jusante, prejudicando outros usos, como o da irrigação.
As árvores, quando não retiradas das áreas inundadas, podem interromper
ou prejudicar a navegação e a pesca no reservatório, prejudicando também o
282
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

seguro funcionamento da barragem, uma vez que galhos e troncos terão acesso
ao ponto de tomada d’água. As emissões de metano procedentes da biomassa
acumulada no reser vatório podem alcançar, em casos extremos, índices
comparáveis às termelétricas, contribuindo para o efeito estufa.
As mudanças nas condições de fluxo das águas, acompanhadas de uma
ampliação de áreas de águas pouco profundas nas margens dos reservatórios,
especialmente em zonas de clima quente, fazem surgir ambientes adequados para a
proliferação de vetores transmissores de doenças ligadas à água, como malária,
esquistossomose, entre outras.
Cuidado especial deve-se ter com as mudanças provocadas no nível do lençol
freático, especialmente em zonas utilizadoras de fossas sépticas e que se encontram
a montante da barragem, já que as mesmas, com a elevação do nível do lençol,
podem transbordar. O mesmo cuidado deve ser observado na implantação de aterros
sanitários e cemitérios nessas áreas.
As superfícies ocupadas por áreas de empréstimo, depósitos de material rochoso
e de “bota-foras” dos canteiros de obras, são espaços alterados, cuja recuperação é
um problema considerável, tanto pela necessidade de remoção de rejeitos quanto
pelo fato de que as operações de construção, com equipamentos pesados, compactam
os solos, reduzindo-se a possibilidade de ocorrer a regeneração natural.
A construção de uma barragem pode interromper rodovias, estradas rurais e
demais vias de comunicação e até mesmo cidades completas, gerando desvantagens
econômicas e sociais para os habitantes ribeirinhos e para a região. O deslocamento
de populações é um problema de difícil amenização, uma vez que altera valores culturais
e históricos intrínsecos ao desenvolvimento das áreas rurais e cidades inundadas.
Segundo SOUZA (1986), “há toda uma dimensão histórica e cultural, que
se vê seriamente ameaçada, quando não destruída, que não se materializa em
terra, habitação, benfeitorias, ou hábitos alimentares”.
Portanto, na implantação de grandes projetos, como barragens, deve-se
levar em consideração as tradições das populações locais e regionais, suas
expectativas e aspirações, impedindo o aumento do grau de miserabilidade de
um número considerável de comunidades e o extermínio de grupos étnicos.
Segundo MOREIRA (1992), as populações rurais e indígenas são as mais
afetadas pelos grandes projetos, pelas próprias características de seu modo de
vida e sua vinculação orgânica com a terra, seu principal meio de produção.
283
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

O adequado dimensionamento dos impactos sobre o meio antrópico exige


um conhecimento aprofundado e atualizado da estrutura social, econômica,
demográfica e cultural da população atingida. Independente das características
dos projetos, a desconsideração desses aspectos implicará o aumento de tensão
e conflitos no interior dos grupos e no empobrecimento econômico e cultural das
populações envolvidas (MOREIRA,1992).
Assim sendo, deve-se buscar medidas atenuantes adequadas, que não
somente minimizem os impactos ambientais negativos, mas que produzam
também os benefícios econômicos e ambientais necessários para as comunidades
afetadas.
Por fim, os reservatórios de grande porte podem causar diversos impactos
ambientais negativos, tanto para os ecossistemas terrestres e aquáticos como
para o homem. Os quadros 1, 2 e 3, segundo ELETROBRAS (1986), In JUCHEM
(1992), mostram alguns dos principais impactos ambientais das barragens sobre
fatores ambientais dos meios físico, biológico e socioeconômico, respectivamente.

QUADRO 1:
Identificação dos Impactos Ambientais Negativos sobre o Meio Físico
FATOR AMBIENTAL IMPACTOS PREVISTOS
Condições climáticas. Possibilidade de alteração do clima com conseqüências no meio ambiente.
Geologia e Geomorfologia. Sismicidade induzida.
Instabilidade dos taludes marginais do reservatório.
Inundação das jazidas minerais.
Mudanças na paisagem regional.
Solos e Capacidade de Uso das Desaparecimento de extensas áreas de terras.
Terras. Degradação de solos para a construção da barragem.
Mudanças na capacidade de uso das terras.
Uso atual do solo. Mudanças no uso do solo.
Intensificação dos processos erosivos, com decorrente assoreamento do
reservatório e contaminação da água .
Recursos hídricos. Transformação do meio hídrico.
Contaminação e eutrofização das águas.
Proliferação de macrófitas aquáticas.
Erosão das margens e a jusante da barragem.
Redução do valor fertilizante da água efluente.
Fonte: ELETROBRAS, 1986 (In: JUCHEM, 1992).

284
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

QUADRO 2:
Identificação dos Impactos Ambientais Negativos sobre o Meio Biológico
FATOR AMBIENTAL IMPACTOS PREVISTOS
Vegetação Desaparecimento de áreas florestais e de outras formações vegetais
Decomposição da biomassa submergida
Criação de impedimentos à navegação, à pesca e às atividades de lazer
Fauna terrestre Redução da fauna
Alterações na composição da fauna
Deslocamento de animais durante o enchimento
Fauna aquática Interrupção da migração de peixes
Alterações na composição da ictiofauna
Mortandade de peixes a jusante da barragem
Prejuízos a outros animais aquáticos.
Fonte: ELETROBRAS, 1986 (In: JUCHEM, 1992).

285
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

QUADRO 3:
Identificação dos Impactos Ambientais Negativos sobre o Meio Sócioeconômico

FATOR AMBIENTAL IMPACTOS PREVISTOS


• Situação demográfica rural e • Transferência compulsória da população afetada.
urbana. • Aumento da taxa de desemprego.
• Problemas habitacionais durante a fase de construção da barragem.
• Aspectos sociais e culturais. • Desagregação das relações sociais.
• Desarticulação dos elementos culturais.
• Surgimento de situações de apreensão e insegurança, em face da
incerteza das futuras condições de vida.
• Surgimento de choques entre a população local e o contingente
alocado à construção
• Populações indígenas. • Transferência compulsória de populações indígenas.
• Desagregação da organização social vigente.
• Desarticulação dos elementos culturais.
• Núcleos populacionais. • Inundação de áreas urbanas.
• Alterações na rede de polarização regional.
• Criação de pólos de atração com o conseqüente aumento da
demanda de serviços e equipamentos sociais.
• Quebra de comunicação, com o conseqüente isolamento de pólos de
abastecimento e comercialização.
• Infra-estrutura regional. • Interrupção do sistema viário, incluindo rodovias, ferrovias, hidrovias
e aeroportos.
• Segmentação do sistema de transmissão e distribuição de energia
elétrica.
• Segmentação do sistema de telecomunicações.
• Atividades econômicas: Setor • Desorganização das atividades agrícolas e pesqueiras.
Primário. • Perda de áreas agrícolas, com o conseqüente decréscimo da
produção de alimentos e outros produtos agropecuários.
• Aumento da taxa de desemprego rural.
• Atividades econômicas: Setor • Desorganização das atividades industriais.
Secundário. • Paralisação ou redução na produção de unidades industriais, em
virtude da inundação ou da falta de matéria-prima.
• Aumento da taxa de desemprego industrial.
• Atividades econômicas: Setor • Desorganização das atividades comerciais e de serviços.
Terciário. • Redução das atividades do setor terciário, em conseqüência da
queda de produção nos setores agrícolas e industrial.
• Aumento da taxa de desemprego no setor.
• Prejuízos às finanças municipais.
• Saúde pública. • Surgimento de focos de moléstias diversas.
• Disseminação de moléstias endêmicas da região.
• Importação e disseminação de novas morbilidades.
• Acidentes com a população local e com o pessoal alocado às obras.
• Colapso da rede médico-hospitalar.
• Acessibilidade ao serviço de saúde.
• Educação, recreação e lazer. • Aumento da demanda por escolas.
• Maior procura por centros de recreação e lazer.
• Acessibilidade à educação, recreação e lazer.
• Patrimônio cultural, histórico, • Desaparecimento de prédios e sítios com valor cultural e histórico.
arqueológico e paisagístico. • Desaparecimento de sítios com valor arqueológico e paisagístico.
Fonte: ELETROBRAS, 1986 (In: JUCHEM, 1992).

286
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

6.4.3 - Recomendações de medidas atenuantes


Na fase de planejamento da barragem deve-se buscar a melhor área para
a localização da represa, assim como a melhor cota de inundação, evitando perdas
de florestas primárias, áreas de grande capacidade agrícola e áreas populosas.
Para o dimensionamento do projeto deve-se definir claramente a cota de
inundação e os custos econômicos e ambientais da ocupação deste espaço.
Na extração de materiais para a construção da barragem, como é o caso das
pedreiras, estas devem, dentro das possibilidades, localizar-se em zona que futuramente
será inundada, evitando impactos ambientais negativos sobre a paisagem.
Nas obras de contenção de enchentes deve-se definir exatamente em que
medida elas são necessárias, buscando evitar a alteração do curso das águas,
especialmente quando estas são importantes para a manutenção e proteção de
várzeas, recarga de lençóis subterrâneos e proteção das espécies da fauna, entre
outros.
Deve-se planejar corretamente os usos múltiplos da futura represa, evitando
conflitos durante a fase de operação da barragem, especialmente entre as necessidades
de irrigação, de geração de energia elétrica e de navegação, e também das
demandas dos usuários situados a jusante da barragem, que devem ter garantido
um fluxo de água suficiente para o atendimento de suas necessidades.
No caso de atingir áreas urbanas e agrícolas, deve-se estabelecer amplo
processo de comunicação social com a comunidade, buscando solucionar, de
maneira democrática e participativa, não somente os problemas econômicos
(indenização, substituição das bases de subsistência) resultantes de um possível
reassentamento, como também os problemas sociais (moradia, infra-estrutura
social e sanitária) e culturais (traslado de cemitérios e instalações culturais e de
culto, vínculos etnológicos). As medidas necessárias devem ser tomadas durante
a fase de planejamento e implantação do empreendimento.
No caso de interrupção de vias de acesso devem-se construir vias
alternativas que permitam o livre trânsito da comunidade. Deve-se resguardar o
direito de vizinhança buscando não segmentar comunidades que apresentam
fortes laços de união.
Para prevenir problemas de qualidade d’água do reservatório deve-se limpar
a área a ser inundada, promovendo a eliminação da vegetação desta área e de outras

287
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

fontes de nutrientes. A legislação brasileira - Lei N.º 3824, de 23 de novembro de


1960 - obriga a destoca e conseqüente limpeza das bacias hidráulicas dos açudes,
represas ou lagos artificiais, permitindo apenas a reserva de áreas com vegetação
necessária à proteção da ictiofauna e das reservas indispensáveis à garantia da
piscicultura.
O controle da eutrofização pelo tratamento do esgoto e disposição, e
regulação de taxa de fluxo, a proteção e recuperação da bacia de drenagem, o
reflorestamento das margens do lago e seus tributários, o monitoramento das
atividades para controle da eutrofização e toxicidade, os cuidados nos locais de
relocação da população humana com provimento de saneamento, também são
medidas impor tantes a serem adotadas para atenuar os impactos ambientais
negativos provocados pelas represas.
A população deve ser amplamente informada dos riscos para a saúde
advindos do novo ambiente (lago artificial), mediante campanhas sanitárias
preventivas e medidas de controle de vetores.
Deve ser garantida uma vazão adequada a jusante do reservatório, que propicie
a continuidade das atividades usuárias de água existentes nestas áreas, especialmente
onde há necessidade do uso para abastecimento público e irrigação. Estas quantidades
de água a jusante devem ser previstas já na fase de planejamento da barragem
e devem constar no licenciamento ambiental da mesma.
A conservação da biodiversidade pode ser implementada mediante a
manutenção de espécies importantes para a regulação dos ecossistemas e que
dão importantes benefícios diretos e indiretos (polinização, nidificação), bem como
a reprodução em cativeiro de espécies em perigo de extinção. Uma importante
medida de compensação é a implantação de unidades de conservação para manter
as espécies em seus habitats. Estes habitats, quando possível, devem ser
razoavelmente próximos aos afetados pela inundação.
A Resolução 010/87 do CONAMA, para o caso de barragens, obriga a
compensação por danos ao meio ambiente com a implantação de “estação
ecológica”, pelo proponente do projeto. A compensação, para ser a mais válida
possível, deve compreender a doação da área ao órgão público competente,
como é o caso da “estação ecológica - unidade de proteção ambiental”, cujo
pressuposto é ser de domínio público (CORREA, 1989).

288
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

Para a recuperação das áreas de empréstimo, torna-se necessária a


remodelação do terreno, eliminando bacias de estagnação de água, atenuando
taludes íngremes e reordenando a configuração do terreno, de forma a reintegrar
o local à paisagem, evitando, ao mesmo tempo, o desenvolvimento de processos
erosivos. O recobrimento da superfície com solos férteis, utilizando-se para isso
aqueles inicialmente removidos da primeira raspagem das jazidas, cheios de
matéria orgânica e contendo a camada superficial da terra, também é medida
fundamental. A camada de recobrimento precisa ter espessura suficiente para
abrigar a vegetação que ali se reintroduzirá. Entre as espécies que devem ser
introduzidas estão as variedades que formam a cadeia de sucessão vegetal
naquela região.
Entre as medidas atenuantes mais importantes, para os usos múltiplos
do futuro reservatório, está a implementação do plano de uso e ordenamento
territorial da bacia hidrográfica, estabelecendo um zoneamento com critérios
de utilização, proteção e recuperação das áreas da bacia. Este plano é um
instrumento fundamental na proteção ambiental da bacia e na solução de
conflitos de uso e deve ser elaborado de maneira democrática com a
par ticipação de todos os afetados e envolvidos no empreendimento.
Os quadros 4, 5 e 6, segundo JUCHEM (1992), mostram algumas medidas
mitigadoras selecionadas para empreendimentos hidrelétricos nos meios físico,
biológico e socioeconômico, respectivamente.
QUADRO 4:
Seleção de Medidas Mitigadoras para Impactos Ambientais
de Hidrelétricas sobre o Meio Físico
MEDIDAS MITIGADORAS - MEIO FÍSICO
Controle de deslizamento de encostas marginais.
Controle de áreas ambientais críticas.
Utilização do reservatório para controle de enchentes.
Controle de erosão e instabilidade das encostas nas
margens do reservatório.
Controle da vazão mínima para permitir o uso da água na quantidade e qualidade necessária a jusante da
barragem.
Reintegração do canteiro de obras à paisagem local.
Recuperação de áreas degradadas, como locais de empréstimo e "bota-fora".
Controle do nível d’água do reservatório evitando grandes variações, exposição dos solos marginais à ação
erosiva e conseqüências negativas para ictiofauna.
Fonte: JUCHEM, 1992.

289
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

QUADRO 5:
Seleção de Medidas Mitigadoras para
Impactos Ambientais de Hidrelétricas sobre o Meio Biológico
MEDIDAS MITIGADORAS - MEIO BIOLÓGICO
Conservação da flora e fauna no entorno do reservatório.
Limpeza da bacia de acumulação como:
Desmatamento com erradicação total ou parcial da vegetação.
Controle do crescimento da vegetação aquática.
Operação e demolição de edificações.
Salvamento e conservação da fauna aquática durante o fechamento da barragem.
Implantação de reservas biológicas (fauna e flora).
Aproveitamento científico da flora e fauna.
Controle e racionalização do uso de agrotóxicos.
Contenção da entrada de nitrogênio e fósforo proveniente da vegetação nas margens dos tributários e do
próprio reservatório.
Medidas sanitárias para evitar a entrada de esgotos nos tributários da represa.
Fonte: JUCHEM, 1992.

290
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

QUADRO 6:
Seleção de Medidas Mitigadoras para
Impactos Ambientais de Hidrelétricas sobre o Meio Socioeconômico

MEDIDAS MITIGADORAS - MEIO SOCIOECONÔMICO


Reorganização, reativação e desenvolvimento da economia local e regional.
Comunicação social empreendedor-comunidade afetada .
Desenvolvimento e apoio à microempresa e à pequena produção rural.
Reassentamento de população rural e urbana.
Reassentamento de grupos indígenas.
Relocação física de núcleos populacionais urbanos e rurais.
Integração de vilas residenciais e barrageiros aos núcleos populacionais existentes.
Adequação da infra-estrutura para fase de construção:
- Sistema viário.
- Sistema de comunicações.
- Sistema de atendimento à saúde.
- Sistema educacional.
- Sistema energético.
- Sistema telefônico.
Relocação e adequação da infra-estrutura social:
- centros comunitários.
- escolas.
- unidades hospitalares.
- templos.
Salvamento e preservação do patrimônio:
- cultural.
- histórico.
- arqueológico.
- paisagístico.
Geração de empregos no meio rural e urbano.
Fomento à renda familiar via alternativas para ocupação das pessoas.
Reintegração local e regional do contingente, ou parte dele, de operários ocupados na fase de construção do
projeto.
Adequação dos municípios diretamente afetados.
Aproveitamento múltiplo do reservatório - turismo, pesca, lazer, irrigação e transporte.
Educação ambiental para:
- esclarecimento à população.
- convivência com a natureza do empreendimento.
- adequação ao novo meio ambiente, no entorno do reservatório ou local do reassentamento.
Orientação e apoio às administrações municipais para controle de adensamento populacional nas cidades e
povoados.
Reassentamento e adequação de atividades produtivas.
Fonte: JUCHEM, 1992

291
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

6.4.4 - Referências para análise ambiental da atividade


As barragens e suas represas produzem alterações evidentes no meio
ambiente. Enquanto os benefícios resultantes destas obras podem ser bem
quantificados, os impactos ambientais negativos de tais projetos são de difícil
mensuração.
A valoração final deve apresentar, de maneira clara, o aproveitamento principal
e os usos secundários do empreendimento e compará-los com os prejuízos
ocasionados às outras formas de aproveitamento.
Os impactos ambientais das barragens são extremamente complexos e
estão submetidos a interações temporais de difícil registro. Os impactos de cada
represa são distintos, não havendo regras preestabelecidas de avaliação. Porém,
algumas considerações e a resposta a alguns questionamentos podem orientar
uma análise geral destes empreendimentos, por exemplo:
• Que tipo de superfícies serão inundadas (usos atuais da terra, vegetação
existente)?
• Que tipo de vegetação será destruída de forma irreversível ? Que valor
tem essa vegetação?
• Que espécies animais (fauna) terão que migrar ou serão extintos?
• Quantas pessoas serão afetadas pela construção da barragem? Seu espaço
de trabalho e bases de existência serão destruídos? Estas pessoas serão
mantidas em sua atividade atual?
• Serão limitadas ou alteradas as formas atuais de uso da terra em
conseqüência de novas atividades econômicas ou de desenvolvimento da
infra-estrutura no entorno da represa? De que forma? Qual será a
configuração futura do uso da terra?
• O projeto possibilitará novas modalidades de exploração econômica das
áreas afetadas? Quais?
• O lago formado poderá causar alterações no clima local? Em que níveis?
• Serão inundados sítios arqueológicos e reservas indígenas?
• Existem riscos de erosão, alteração da qualidade de água, alteração do
nível do lençol freático, riscos de inundações, maior evaporação, entre
outros?
Por fim, a comparação do projeto com outros já existentes em áreas climáticas
e ecossistemas semelhantes, ou em condições topográficas similares, pode ser um
método de grande ajuda para a obtenção de conclusões fundamentadas.

292
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

6.4.5 Quadro-Resumo: Barragens / Represas


IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
• Possibilidade de alteração do clima com • Avaliar os riscos das alterações climáticas; quando
conseqüências no meio ambiente. elevados, propor alterações no projeto, especialmente com
relação ao tamanho do reservatório.
• Sismicidade induzida. • Controle de áreas ambientais críticas.
• Instabilidade dos taludes marginais do • Controle de deslizamento de encostas marginais.
reservatório.
• utilização e/ou compensação pela inundação de jazidas
• Inundação das jazidas minerais. minerais.
• Mudanças na paisagem regional.
• Desaparecimento de extensas áreas de • Análise de alternativas para redução do tamanho do
terras. reservatório, evitando inundar áreas de potencial agrícola;
• Degradação de solos para a construção • reintegração do canteiro de obras à paisagem local,
da barragem. recuperação das áreas de empréstimo e "bota-foras".
• Mudanças na capacidade de uso das
terras.
• Transformação do meio hídrico. • Controle de erosão e instabilidade das encostas nas
margens do reservatório e implantação de programas de
• Intensificação dos processos erosivos, conservação de solos na bacia hidrográfica.
com decorrente assoreamento do
reservatório e contaminação da água. • controle do nível d’água do reservatório evitando grandes
variações, exposição dos solos marginais à ação erosiva e
• Contaminação e eutrofização das águas. conseqüências negativas para ictiofauna.
• Proliferação de macrófitas aquáticas. disciplinamento do uso e ocupação do solo da bacia
• Erosão das margens e a jusante da • hidrográfica.
barragem.
limpeza da bacia de acumulação com a erradicação total ou
• Redução do valor fertilizante da água • parcial da vegetação.
efluente a jusante da barragem, devido à
privação de sedimentos. • controle do crescimento da vegetação aquática.
• Criação de impedimentos à navegação, à • demolição de edificações.
pesca e às atividades de lazer. • controle e racionalização do uso de agrotóxicos na bacia
hidrográfica.
• Redução da vazão média do rio devido a
perdas no resevatório, quanto este se • contenção da entrada de nitrogênio e fósforo proveniente
localiza em regiões áridas e semi-áridas; da vegetação nas margens dos tributários e do próprio
reservatório.
• Alterações do nível das águas
subterrâneas. • construir canais de desvio de sedimentos (sediment
bypassing).
• Desaparecimento de áreas florestais e • Implantação de Programa de conservação da flora e fauna
de outras formações vegetais. no entorno do reservatório.
• Redução da fauna e alterações na • estabelecer Estação Ecológica na região para preservação
composição da fauna. de espécies da fauna e da flora nativa.
• Deslocamento de animais durante o • implantar programa de aproveitamento científico da flora e
enchimento com riscos à população. da fauna.
• Interrupção da migração de peixes, • realizar o salvamento (resgate) da fauna durante o
alterações na composição da ictiofauna fechamento da barragem.
e mortandade de peixes a jusante da
barragem. • construir eclusa, escada e/ou elevador para peixes.
• Prejuízos a outros animais aquáticos.
• Transferência compulsória da população • Reassentamento de população rural e urbana;
afetada.
• reorganização, reativação e desenvolvimento da economia
• Aumento da taxa de desemprego. local e regional.
• Problemas habitacionais durante a fase • implantar infra-estruturas necessárias (casas, hospitais,
de construção da barragem. estradas etc.).
continua

293
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

continuação
IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
• Desagregação das relações sociais. • Reintegração local e regional do contingente, ou parte dele,
• Desarticulação dos elementos culturais. de operários ocupados na fase de construção do projeto.
Surgimento de situações de apreensão e implantação de programa de comunicação social e

insegurança, em face da incerteza das educação ambiental para esclarecimento à população para
futuras condições de vida. a convivência com a natureza do empreendimento e
Surgimento de choques entre a população adequação ao novo meio ambiente.

local e o contingente alocado à construção.
• Transferência compulsória de populações • Reassentamento adequado dos grupos indígenas,
indígenas com a desagregação da buscando preservar ao máximo sua cultura.
organização social vigente e a
desarticulação dos elementos culturais.
• Inundação de áreas urbanas. • relocação física de núcleos populacionais urbanos e rurais
• Alterações na rede de polarização regional. com a integração de vilas residenciais e barrageiros aos
Criação de pólos de atração com o núcleos populacionais existentes.

conseqüente aumento da demanda de • relocação e adequação da infra-estrutura local:
serviços e equipamentos sociais. - centros comunitários;
Quebra de comunicação, com o - templos;

conseqüente isolamento de pólos de - Sistema viário;
abastecimento e comercialização. - Sistema de comunicações;
Interrupção do sistema viário, incluindo - Sistema de atendimento à saúde;
• - Sistema educacional;
rodovias, ferrovias, hidrovias e aeroportos.
- Sistema energético e
• Segmentação do sistema de transmissão e
- Sistema telefônico.
distribuição de energia elétrica.
• Segmentação do sistema de
telecomunicações.
• Aumento da demanda por escolas.
• Maior procura por centros de recreação e
lazer.
• Desorganização das atividades agrícolas e • Reassentamento e adequação de atividades produtivas;
pesqueiras. • desenvolvimento de programa de Apoio à microempresa e
• Perda de áreas agrícolas, com o à pequena produção rural para geração de empregos no
conseqüente decréscimo da produção de meio rural e urbano.
alimentos e outros produtos agropecuários. • aproveitamento múltiplo do reservatório - turismo, pesca,
• Desorganização das atividades industriais. lazer, irrigação e transporte, com geração de emprego e
• Paralisação ou redução na produção de renda.
unidades industriais, em virtude da
inundação ou da falta de matéria-prima (ex:
oleiros).
• Aumento da taxa de desemprego.
• Desorganização das atividades comerciais • fomento à renda familiar via alternativas para ocupação das
e de serviços. pessoas.
• Redução das atividades do setor terciário, • orientação e apoio às administrações municipais para
em conseqüência da queda de produção controle de adensamento populacional nas cidades e
nos setores agrícolas e industrial. povoados.
• Aumento da taxa de desemprego no setor; • adequação da infra-estrutura dos municípios diretamente
• Prejuízos às finanças municipais. afetados, por meio da implantação de planos e programas
de desenvolvimento e de usos múltiplos do reservatório.
continua

294
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

conclusão
IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS MEDIDAS ATENUANTES
• Surgimento de focos de moléstias • Adequação do sistema médico-hospitalar nos municípios
diversas. afetados pela represa com acessibilidade ao serviço de
• Disseminação de moléstias endêmicas saúde.
da região. • orientação à população na área de saúde e preparação
• Importação e disseminação de novas desta para o novo ambiente criado pelo reservatório e as
morbilidades. novas moléstias possíveis de serem ocasionadas.
• Riscos de acidentes com a população • atendimento médico hospitalar e orientação aos
local e com o pessoal alocado às operários da construção.
obras.
• Colapso da rede médico-hospitalar.
• Desaparecimento de prédios e sítios • Salvamento e preservação do patrimônio:
com valor cultural e histórico. - cultural;
• Desaparecimento de sítios com valor - histórico;
arqueológico e paisagístico. - arqueológico e
- paisagístico.
LEGISLAÇÃO AMBIENTAL:
• Lei 3.824 de 23/11/60: Torna obrigatória a destoca e conseqüente limpeza das bacias hidráulicas dos
açudes, represas e lagos artificiais.
• Lei 4.771 de 15/09/65 – Institui o Código Florestal.
• Lei 5.197 de 03 de janeiro de 1967 – Dispõe sobre a Proteção da Fauna.
• Lei 6.938 de 31/08/81 – Dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente.
• Lei 7.990 de 28/12/89 – Institui a compensação financeira aos Estados e Municípios, pelo resultado
da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia
elétrica, entre outros.
• Lei 9.433 de 08/01/97 – Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos.
• Decreto-Lei 24.643 de 10/07/34 – Institui o Código das Águas.
• Decreto-Lei 852 de 11/11/38 - Mantém com modificações o Decreto-Lei 24.643 (Código das Águas).
• Decreto 89.336, de 31/01/84 – Dispõe sobre as reservas ecológicas e áreas de relevante interesse ecológico.
• Resolução CONAMA 001 de 23/01/86 - Trata do uso e implementação da Avaliação de Impactos Ambientais.
• Resolução CONAMA 004 de 18/09/85 – Trata das Reservas Ecológicas.
• Resolução CONAMA 006 de 06/11/87 – Trata do licenciamento de obras de grande porte.
• Resolução CONAMA 010 de 03/12/87 – Estabelece como pré-requisito para o licenciamento de obras de
grande porte a implantação de Estação Ecológica.
• Resolução CONAMA 237 de 19/12/97 – Trata do licenciamento ambiental de empreendimentos.

6.5 - Bibliografia consultada


ALEMANHA. Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ). Guía de protección
ambiental: material auxiliar para la identificación y evaluación de impactos ambientales. Eschborn:
(GTZ) GmbH, 1996. Tomo I, 613p.
AYERS, R. S., WESTCOT, D. W. A qualidade da água na agricultura. Campina Grande: Universidade
Federal da Paraíba, 1991. 218p.
BANCO MUNDIAL. Libro de consulta para evaluación ambiental: lineamientos para evaluación
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295
MANUAL DE IMPACTOS AMBIENTAIS
Orientações Básicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas

BANCO MUNDIAL. Libro de consulta para evaluación ambiental: lineamientos sectoriales.


Washington, 1991. v.2, 276p.
BARBOZA, T. S. BARBOSA, W. O. A Terra em transformação. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1992.
BARTOLOMÉ, E. G. Relocalización massiva de población: objetivos para los programas de acción
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CORREA, E. M. Aspectos jurídicos em estudos e relatórios de impacto ambiental. In:
SEMINÁRIO SOBRE AVALIAÇÃO E RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL. 1989, curitiba. Anais... Curitiba:
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