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CONCEPÇÕES DE LÍNGUA: ENSINO E AVALIAÇÃO;
AVALIAÇÃO E ENSINO
irandé antunes*

Resumo conjunto de princípios a partir dos quais se deinem e se


delimitam. Tais concepções ou princípios é que imprimem
O presente artigo tem como objetivo, dentre outros a direção da atividade, é que demarcam: luxo, direção e
mais especíicos, discutir a relação entre língua, ensino e objetivos de cada passo. Assim, é que nada acontece por
avaliação escolar. Neste sentido, busco mostrar que é ine- acaso, isto é, tudo que se faz em uma sala de aula tem sua
gável a recíproca relação entre ensinar e avaliar. Ambos razão de ser: o que percebemos e o que fazemos, ou sua
são atos do “drama” insconstitucional escolar, atos ineren- contrapartida, o que deixamos de perceber e o que deixa-
temente interligados e, em parte, intercondicionantes. En- mos de fazer.
sinar e avaliar são atividades e, como tais, são dependentes consequentemente, ensinar língua e avaliar ensino
de um sistema de concepções, deum conjunto de princípios de língua são atividades em que se reletem as concepções
a partir dos quais se deinem e se delimitam. Ensinar língua que temos acerca do que é uma língua, do que são seus
e avaliar ensino de língua são atividades em que se reletem diferentes componentes, e de como tais componentes in-
as concepções que temos acerca do que é uma língua, do tervêm na sua atualização. destas concepções vai derivar,
que são seus diferentes componentes e de como tais com- naturalmente, o próprio objeto do ensino e da avaliação e,
ponentes intervêm na sua atualização. Neste cenário, des- em desdobramento, todos os paradigmas de tratamento das
taco também o papel da escola e os mecanismos de que ela questões linguísticas. Objetivos e conteúdos, atividades e
dispõe como processos de avaliaçao, como o vestibular, práticas, tudo vai ser apenas conseqüência das linhas às
por exemplo. Por im, destaco a disposição dos órgãos quais emprestamos credibilidade e saliência. As atuações
institucionais – acadêmicos e administrativos – para ofere- pretendidas para as áreas do ensino e da avaliação ressen-
cerem um suporte teórico capaz de promover concepções tem-se, assim, da natureza das concepções teóricas que as
mais amplas, mais condições reais de uso de língua. No inspiram (cf. MARcUscHI, 1999).
entanto, ainda sepodem registar apenas tímidas e pouco chegamos agora ao âmbito da segunda relação que
substâncias mudanças no âmbito do ensino. concuindo, quisemos estabelecer aqui – aquela mais pontual existente
insisto em que não se pode negar a vinculação entre as entre ‘ensino’ e ‘avaliação’.
concepções de língua e as atividades pedagógicas de ensi- comecemos por ressaltar que ensinar presume ob-
nar e avaliar. jetivos muito mais abrangentes, muito mais pretensiosos e
abertos que avaliar. seus limites remontam a determinações
O título da presente relexão sugere dois níveis de um tanto quanto luidas e até certo ponto heterogêneas e
relação entre as questões que pretendemos levantar: assistemáticas. Os sujeitos envolvidos na atividade de en-
a) primeiro, a relação mais abrangente entre, por um sinar e de aprender, em princípio, comparecem no exercício
lado, concepções de língua e, por outro, ensino e avaliação; ativo de sua própria subjetividade e de seu próprio arbítrio.
b) segundo, a relação mais pontual, de dupla direção Em relação à avaliação, os parâmetros são outros.
ou de reciprocidade, entre ensino e avaliação. Os objetivos são mais pontualmente direcionados e os li-
No âmbito da primeira relação, começamos por mites decorrentes da natureza contingente e técnica de seus
dizer que ensinar e avaliar são ‘atividades’ e, como tais, instrumentos implicam uma série de restrições que afetam
são dependentes de um sistema de concepções, de um a extensão de seu alcance.

* (UECE/CESVASF)

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contudo, é inegável a recíproca relação entre ensinar Tal inversão – vestibular versus ensino – pelas
e avaliar. Ambos são atos do “drama” institucional escolar, circunstâncias em que se deu, foi incontestavelmente
atos inerentemente interligados e, em parte, intercondicio- perniciosa. Primeiro, porque, por mais que se abram as
nantes. Ainal, avaliamos o que foi supostamente ensinado, possibilidades avaliativas de uma prova, nunca se pode
com o claro objetivo de obtermos algum tipo de mensura- atingir todo o contingente do que é possível fazer à volta
ção, quanto à apreensão do que foi objeto de ensino. Em de um objeto de ensino; segundo, porque, nos moldes em
contrapartida, a avaliação serve de referência para deter- que inicialmente acontecia, a prova de português punha
minarmos a seqüência das opções de ensino. Há, pois, um em relevo apenas aspectos marginais da comunicação
olhar na avaliação, que é retrospectivo e, ao mesmo tempo, verbal. Além disso, tal inversão um tanto quanto linear
prospectivo, enquanto aponta para trás e aponta para futu- foi perniciosa, porque nada garante que todos os alunos
ros rumos e decisões. que concluem o ensino médio devam pretender o ingresso
A interinluência entre ensino e avaliação, contudo, à universidade. Aquele que optasse por não fazer vesti-
não acontece de forma linear, transparente e inequívoca. bular teria tido restrita a oportunidade de ampliar seus
Ressente-se de toda a imponderável complexidade e hete- conhecimentos e suas habilidades. Muito do que se pre-
rogeneidade que envolve as atuações humanas. só muito cisa aprender para ser um cidadão conscientemente
simplistamente poderíamos admitir um mútuo condiciona- participativo e um proissional competente não cabe nos
mento entre ensino e avaliação que não reletisse a previ- limites restritos das questões de qualquer vestibular. O
sível imprevisibilidade de todos os processos humanos. vestibular funcionou, portanto, como uma redução, uma
A esta altura, assoma uma questão bastante polê- redução que chegou a ser perversa e nociva, dos amplos
mica nos dias atuais, a questão do vestibular: um conjunto ins a que a escola se propõe para formar e informar o
de provas em torno dos programas curriculares desenvol- jovem cidadão. Tem-se que reconhecer que é “pouco
vidos até o inal do ensino médio, instituído para avaliar demais” pôr a escola toda, seus objetivos, seu ideal maior,
e selecionar os candidatos ao ensino superior. Natural- seus programas, suas atividades - e até a formação dos
mente, estes limites deixaram o vestibular, nos primeiros professores - em função dos limites estreitos do vestibu-
anos de sua instalação, em forte vinculação com o ensino lar, um exame que é apenas uma circunstância, uma
médio, tendo como referência maior seus programas contingência pontual de um momento temporalmente
curriculares, para deinir os conteúdos das provas. Porém, localizado. Esta redução favoreceu a conversão da escola
mais do que talvez se pudesse esperar, o vestibular foi em empresa particular de ensino, submetida a todos os
assumindo uma grande e inusitada repercussão social, com jogos da competitividade de mercado, nem que, para isso,
desdobramentos em todos os pontos do país e em todas se tivesse que abrir mão dos ideais que deinem a natureza
as classes sociais, principalmente na classe média, para da autêntica prática educativa.
quem o vestibular chegou a ser uma espécie de objetivo Em suma, se no início o ensino “alimentou” o ves-
a que não se podia fugir. Pouco a pouco, ele próprio, e tibular, o deiniu, o estipulou, posteriormente, o vestibular
não mais o ensino médio, foi-se constituindo ponto de passou a ser a referência do ensino, e com o agravante de
referência do ensino, de maneira que as coisas se inver- que as diretrizes do vestibular nem sempre coincidiam com
teram. Não era mais o ensino médio que ditava as regras o que havia de mais consistente e relevante em termos do
do vestibular, mas o vestibular que inspirava, que orien- que deveria ser uma avaliação.
tava e dirigia cada setor do ensino médio e até do ensino Em relação às línguas, como áreas de avaliação
de etapas anteriores. Nestas circunstâncias, passou a ser dos vestibulares, o quadro não foi diferente, embora apre-
a referência maior do ensino – para não dizer a única re- sentasse as suas idiossincrasias. As concepções de língua
ferência - , passou a ser a medida, o ponto a partir do qual que orientavam o ensino ressentiam-se da visão imanen-
se decidia o que ensinar ou deixar de ensinar. Tinha im- tista, descontextualizada e normativa da língua, o que
portância o que caía nos exames vestibulares, que passa- repercutiria no tratamento das questões linguísticas pre-
ram, assim, a funcionar a inalidade, o ponto de chegada sentes às provas. Toda uma tradição histórica, que não
do ensino. “Estudar para o vestibular” era a meta, como cabe analisar aqui, havia conferido à gramática um valor
se “não houvesse vida” depois dele. Na esteira dessa in- que não corresponde a suas limitadas dimensões e a sua
luência, veio a indústria dos cursinhos, vieram as incon- especíica função. E daí provieram muitos equívocos,
táveis produções didáticas, cada uma sintonizada com as distorções, simplismos e reduções falseadas acerca dos
tendências das últimas provas. Ou seja, o vestibular dei- fatos linguísticos.
nia tudo; não havia imprecisão ou qualquer falta de rumo. E o círculo (vicioso!) aqui também se instaurou:
Os parâmetros estavam, claramente, e sem ambigüidades, avaliava-se tal qual se ensinava e, consequentemente, se
deinidos. Este quadro, muito bem pintado por Britto ensinava o que e como se avaliava. O vestibular veio, então,
(1997), ainda permanece substancialmente, em alguns reforçar o ensino de uma língua cujos constituintes se sa-
pontos do país. tisfaziam nos limites de sua própria natureza interna e,

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consequentemente, de uma gramática cuja pretendida limitadas, sem a necessária interlocução com outros
consistência a isentava de qualquer interferência externa. textos e na rigidez quase mecânica de modelos tipoló-
Por este viés, se reforçava o caráter normativo-prescritivo gicos e de estratégias discursivas que anulam a subjeti-
dos usos da língua, e se reairmava o único foco que pare- vidade necessária a toda autoria. Ainda assim, na sequ-
cia dirimir todas os problemas da língua: o da correção, o ência dos anos, a prova de redação veio a ser o indicador
do irrefutavelmente “certo”. Nesta perspectiva, o que po- a que mais frequentemente se recorre para avaliar a
deria ganhar saliência eram as regras morfossintáticas, qualidade do desempenho dos alunos. Na verdade, até
conforme estavam descritas nos manuais e, depois, o campo agora, são poucos os dados que nos asseguram, com
das nomenclaturas e das classiicações metalingüísticas. precisão, que a prova de redação trouxe significativos
Estudar a língua era, assim, afastar-se da intrínseca hetero- avanços no estudo da língua e, consequentemente, no
geneidade de seus múltiplos usos, para, através de abstra- desempenho dos alunos. Parece que nos satisfazemos
ções de toda ordem, dar conta das mais reinadas, inusitadas apenas com a suposição de que, ruim com a prova de
e inequívocas particularidades de identiicação dos fatos. redação, muito pior sem ela.
Nem é preciso considerar quanto os limites tão estreitos Atualmente, é evidente a disposição dos órgãos
destas concepções repercutiram nas representações acerca institucionais - acadêmicos e administrativos – para
do que seja uma língua, do que seja estudar uma língua, de oferecerem um suporte teórico capaz de promover
quem seja o professor de língua e o que lhe compete saber concepções mais amplas, mais condizentes com as con-
e fazer. (Professor de Português é alguém que serve para dições reais de uso da língua. Aí está o documento dos
apontar “erros” e, por outro lado “mostrar” a única forma Parâmetros curriculares, aí estão as orientações do
certa de se dizer as coisas). sAEB e outras similares. Ou seja, pode-se constatar uma
As reações surgiram e redundaram, entre outras visão de língua que já inclui sua realização como uma
medidas, na inclusão da prova de redação no vestibular, das formas de as pessoas atuarem socialmente; ou, uma
como meio de marcar o lugar da língua como expressão, visão que privilegia a natureza dialógica e interativa da
cujo exercício naturalmente implica a ativação de conhe- língua, sua dimensão discursivo-textual, sua irrestrita e
cimentos de diversas ordens. inevitável dependência das múltiplas e variadas condi-
Pensava-se, assim, providenciar para o vestibular ções de uso. Tanto o ensino como a avaliação podem,
um instrumento discursivo de avaliação, capaz de apreender neste instante, desfrutar de bases teóricas capazes de
mais ielmente a competência linguística dos alunos e, em respaldar opções pelas múltiplas competências implica-
conseqüência, conceder à escola a oportunidade de trazer das nos usos da modalidade oral e da modalidade escrita
para os programas as questões textuais. Não estava fora, da língua.
também agora, a pretensão pedagógica do vestibular. Es- No entanto, ainda se podem registrar apenas tí-
perava-se que, desta forma, as escolas cuidariam para de- midas e pouco substanciais mudanças no âmbito do
senvolver nos alunos a competência para a produção de ensino. O peso de uma experiência que “miticamente”
bons textos escritos. foi defendida como a legítima ainda exclui como objeto
Neste quadro, a força da escola pública manifes- de ensino-aprendizagem e avaliação o uso interativo e
tou-se um tanto quanto insignificante. vista (de maneira interpessoal da língua. Nem mesmo a constatação de
equivocada) como incapaz de competir com a escola que certos pontos já não são objeto de questões em
particular, na tarefa de preparar os alunos para os intrin- provas de vestibular, nem mesmo a significativa pon-
cáveis meandros do vestibular, foi criando a represen- tuação atribuída à prova de redação têm tido a força
tação de uma universidade acessível exclusivamente suficiente para deslocar da “pura metalinguagem”,
àqueles que provinham de escolas particulares, onde daquela eminentemente classificatória e terminológica
esses alunos podem ter acesso aos sofisticados, e cada – pelo menos, tanto quanto se poderia legitimamente
vez mais especializados, meios de preparação. com esta esperar - o interesse e o foco do ensino. O que os novos
distorção, as pretensões pedagógicas que se poderiam modelos de provas de português podem ter querido
propor para o vestibular ficaram comprometidas, uma demonstrar parece ainda não ter criado vínculos efeti-
vez que entrava em ação o interesse financeiro das vos na escola.
agências de ensino, por vezes direta e explicitamente Na área da linguagem, não podemos deixar de re-
vinculadas às imposições do mercado. É sumamente ferir as imensas diiculdades de uma avaliação, como a do
desconfortável admitir que as premências de uma escola- vestibular, em que predominem questões objetivas, de
-empresa, influenciadas pelas imposições do lucro es- múltipla escolha, mas que pretenda, sobretudo, avaliar
perado, tenham prevalecido, por mais ideais que fossem competências, de fato, comunicativamente relevantes. Uma
as pretensões pedagógicas pensadas para o vestibular. situação naturalmente paradoxal: o que é mais relevante,
As oportunidades de exercício da produção escrita, por expressivo e propriamente deinidor do que é uma língua
tudo isso, ainda aconteceram em condições bastante não pode ser reduzido ao irrefutável, ao absolutamente

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certo, principalmente com base numa interpretação forço- Tudo o que envolve ensino e avaliação envolve a
samente subjetiva de determinado interpretante, que é o inexorável imprevisibilidade da dimensão humana. O que
elaborador da questão. A “certeza”, na verdade, provém é absolutamente previsível é que não se pode abrir mão
do universo reduzido das alternativas. Tudo o mais não é dos ideais. Nunca foi tão urgente promover uma escola
cogitado. A subjetividade de quem é avaliado já está sub- que seja, de fato, uma porta de entrada de todas as pessoas
metida e limitada pela outra do outro sujeito criador da para o mundo da participação e do desfrute dos bens
“opção correta”. materiais e culturais que temos produzido. Faz muito
tempo que as portas da escola (pelo menos da escola que
sumarizando todas as considerações aqui levanta-
favorece o engajamento, a participação) não se abrem. E
das, insistimos em que não se pode negar a vinculação
nesse tempo, o ensino e a avaliação que izemos em torno
entre as concepções de língua e as atividades pedagógicas
da língua “excluíram” mais que “botaram pra dentro”
de ensinar e avaliar. como não se pode negar, ainda, a
aqueles que nos bancos da escola se sentaram. Escola que
reciprocidade de relação entre ensinar e avaliar, logo,
representa, de qualquer maneira, um de nossos direitos
consequentemente, entre as “provas” (como o vestibular)
fundamentais. A sociedade não pode mais esperar ...
e o ensino de língua. contudo, queremos ressaltar um
ponto que foi icando bastante claro à medida que íamos
desenvolvendo a presente relexão: por mais previsíveis reFerências
que sejam tais relações, elas nunca acontecem de forma
BRITTO, Luiz Percival Leme. A sobra do caos - ensino
linear e inequívoca. Ou seja, por mais que se pretenda para
de língua x tradição gramatical. Campinas, SP: ALB: Mer-
o vestibular a pretensão pedagógica de interferir no ensino,
cado de Letras, 1997. (coleção Leituras no Brasil).
são sempre ainda limitadas tais interferências, pois inter-
ferir em educação é muito mais que, pela lógica dos cál- Marcuschi, Elisabeth. Avaliação da Língua Portuguesa. In.
culos e pontuação das conclusões, transpor elementos de Mascuschi, Elisabeth (org.) Formação do educador, ava-
um universo para outro. liação & ensino. Recife: Editora da UFPE, 1999.

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