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Resumo
Este ensaio apresenta algumas reflexões realizadas por ocasião
do II Seminário Impacto das políticas de avaliação externa nos
sistemas municipais de ensino: ensino desseriado e avaliação da
aprendizagem, promovido em maio de 2013, na Universidade
Federal de Juiz de Fora, pelo Grupo de Estudo em Sistema de
Ensino – GESE. Na ocasião tive a oportunidade de assistir a
um significativo levantamento de dados de dez municípios da
Baixada Fluminense, que se preocupava em verificar como as
secretarias de educação estavam (ou não) relacionando-se com
as políticas nacionais implementadas no campo da avaliação.
O GESE apresentou o histórico dos ciclos, os documentos
orientadores encontrados, as propostas de avaliação da
aprendizagem em cada um dos municípios (Duque de Caxias;
Guapimirim; Nilópolis; Mesquita; Niterói; Nova Iguaçu; São
Gonçalo; Queimados; São João do Meriti e Rio de Janeiro) e
dados sobre as políticas do MEC nestes contextos: formação
de professores; Plano de Desenvolvimento da Escola – PDE
e desempenho nas provas externas. Este ensaio propõe-se a
discutir as políticas e práticas encontradas, questionando o que
entendemos por organização escolar em ciclos e como temos
utilizado as políticas nacionais implementadas no campo da
educação, considerando as necessidades de democratização da
escola e do conhecimento escolar.
Palavras-chave: Ciclos; Políticas educacionais; Avaliação;
Currículo.
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Apenas o nome do aluno é fictício.
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Os trabalhos e os relatórios de estágio foram cedidos para a pesquisa
“Conhecimento escolar: processos de inclusão e exclusão, movimentos
20 curriculares e práticas avaliativas da escola de ensino fundamental” (2009-2011),
Educ. foco, Juiz de Fora,
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nov 2012 / fev 2013 coordenada por mim na UNIRIO/RJ.
características e as características de um colega (com troca Ciclos & Séries: contextos
e conceitos na discussão
de letras e necessidade de sistematização das chamadas das práticas curriculares e
avaliativas
dificuldades ortográficas); listar produtos recortados de um
encarte de supermercado; distinguir diferenças entre o mundo
que temos e o mundo que queremos; identificar o tempo de
decomposição de materiais como papel, pano, chiclete, latas
e vidro; distinguir lixo orgânico de lixo inorgânico; selecionar
materiais de acordo com as categorias vidros, plásticos, metais,
papéis e restos de alimento; avaliar atitudes positivas e negativas
na relação com o ambiente.
Nos trabalhos realizados na oficina, é possível
perceber que Leandro ainda apresenta muito a aprender
na sistematização da escrita, e dificuldades com cálculos,
mas, o que se pode concluir da observação das atividades
realizadas nas oficinas, é que o aluno sabe muitas coisas e
não apresenta dificuldade de entendimento dos conteúdos
estudados. Todavia, nas provas padronizadas, seu resultado
é muito ruim (quatro questões certas, em vinte e cinco das
propostas).
Analisando a prova aplicada a todos os alunos de
seu ano de escolaridade, na rede de ensino em que estuda
(no 3º bimestre de 2009), percebe-se um conjunto de
atividades que são apresentadas buscando informação sobre
a capacidade do aluno de perceber um horário em um relógio
com ponteiros; identificar qual o menor número em uma
série de números entre 138 e 831; resolver um problema
que envolve multiplicação; contar moedas e representar o
resultado em cédulas de dinheiro; interpretar um gráfico;
operar com frações; identificar o número ausente em uma
lacuna numérica; identificar a centena em um numeral;
subtrair com empréstimo; resolver problemas utilizando
adição com transporte.
Na segunda parte da referida prova, em língua por
tuguesa, as questões propunham interpretação de diver
sos textos pequenos, de diferentes categorias textuais;
interpretação de legendas em um calendário e interpretação
de desenhos. As atividades propostas, tanto em matemática
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Educ. foco, Juiz de Fora,
Um GRANDE encontro!
Há 17 anos, o mergulhador Marco Queral se dedica à
fotografia submarina.
Marcos teve um encontro impressionante com uma baleia
Jubarte, a 15 metros de profundidade, no Oceano Pacífico!
Conversando com um jornalista, Marcos declarou: – Na
minha opinião, elas (as baleias) decidem se eu posso tirar
fotos delas ou não, porque, geralmente, as baleias são
tímidas e cautelosas com os seres humanos.
Fonte: http://robertoff.sites.uol.com.br/baleia.gif
O trecho que indica uma opinião é
“... elas (as baleias) decidem se eu posso tirar fotos delas
ou não”.
“... o mergulhador Marcos Queral se dedica à fotografia
submarina”.
“Conversando com um jornalista, Marcos declarou: ...”
“Marcos teve um encontro impressionante...”
(idem, questão 15)
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Ver KRUG (2001). nov 2012 / fev 2013
Andréa Rosana o processo de alfabetização seria desnecessária, fez com
Fetzner
que o período, tal qual o nome se refere, fosse entendido
como um tempo de alfabetização na escola e não como
um tempo de infância em processos de alfabetização. Este
entendimento talvez tenha sido a base da associação dos
ciclos a um determinado processo (ou conteúdos) que devem
ser desenvolvidos ou assimilados em determinado período.
Os ciclos de aprendizagem, citados nos Parâmetros
Curriculares Nacionais – PCNs de 1996, também faziam tal
associação: as antigas séries anuais passaram a ser chamadas
de ciclos e ter a duração de dois anos. Em que pese a reforma
curricular implementada pelos PCNs, a ideia de que organizar
a escola em ciclos era indicar um conjunto de conteúdos a
ser desenvolvido a cada dois anos.
Os ciclos de formação, conceito adotado pela Escola
Cidadã em Porto Alegre, em 1995, eram definidos com
base na ideia de que todas as crianças precisariam entrar na
escola e nela aprender durante os nove anos da escolarização
fundamental, em agrupamentos com seus pares em idade
aproximada, e tendo o currículo construído por meio da
pesquisa na comunidade, considerando-se assim, os problemas
sociais e as especificidades da infância (agrupamentos de
crianças entre 6 e 8 anos); da pré-adolescência (entre 9 e 11
anos) e da adolescência (entre 12 e 14 anos).
Para que os ciclos fossem a forma de agrupamento escolar
de fato adotada, seriam necessários: o planejamento coletivo
na escola, e entre os professores que trabalham com cada
ciclo; a organização dos tempos escolares de forma contínua
e não em períodos letivos curtos (50 ou 60 minutos de aula,
por exemplo, eram substituídos por turnos de trabalho com
determinado estudo); espaços de aprendizagem diferenciados
voltados para dar conta das necessidades de aprendizagem
dos alunos (Laboratórios de aprendizagem, salas de recursos,
salas de línguas estrangeiras e artes); incentivo das trocas de
experiências entre alunos com saberes diferentes; práticas
avaliativas coletivas e direcionadas para o conjunto da escola
(Fetzner, 2009).
Tomando-se o conceito de ciclos de formação de Porto
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nov 2012 / fev 2013 Alegre como referência, muitas propostas de agrupamento
escolar em ciclos podem ser problematizadas, inclusive as Ciclos & Séries: contextos
e conceitos na discussão
que entendem que o agrupamento etário seria suficiente para das práticas curriculares e
avaliativas
dar conta das aprendizagens escolares.
Referências
evaluative
Abstract
This paper presents some reflections made on the occasion
of the II Seminar Impact of policies external evaluation
in municipal systems education, held in May 2013 at the
Federal University of Juiz de Fora, by Study Group System
Teaching - GESE. On occasion I had the opportunity
to attend a significant data collection ten municipalities
of the Baixada Fluminense, who cared to see how the
education departments were (or not) linking up with
national policies implemented in the evaluation field.
The GESE presented the historical cycles, the guiding
documents found, proposals for evaluation of learning in
each of the municipalities (Duque de Caxias, Guapimirim,
Nilópolis, Mesquita, Niterói, Nova Iguaçu, São Gonçalo,
Queimados, São João de Meriti and Rio de Janeiro)
and data on the policies of the MEC in these contexts:
teacher training; School Development Plan - PDE and
performance in external tests. This essay proposes to discuss
policies and practices found, questioning what we mean
by school organization in cycles and how we have used
national policies implemented in the field of education,
considering the needs of democratization of school and
school knowledge.
Keywords: Cycles; educational policies; Evaluation;
Curriculum.
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