Sie sind auf Seite 1von 35

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/303346737

Métodos de Investigação qualitativa: Estudo de Casos na Investigação em


sistemas de Informação

Article · January 2011

CITATIONS READS

2 1,471

2 authors, including:

Fernando Belfo
Instituto Politécnico de Coimbra
39 PUBLICATIONS   134 CITATIONS   

SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

People, Technology and Processes Trilogy: Reviewing Relations and Modes of Interaction View project

MLearn View project

All content following this page was uploaded by Fernando Belfo on 19 May 2016.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


Referência:
Martins, José Carlos, & Belfo, Fernando. (2011).
Métodos
Métodos de Investigação Qualitativa - Estudos de Casos na de Investigação Qualitativa
Investigação em Sistemas de Informação.
Proelium, Revista da Academia Militar(14), 39-71.

MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA


ESTUDOS DE CASOS NA INVESTIGAÇÃO EM
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO

José Carlos L. Martins 1


Tenente Coronel Infantaria
Fernando Belfo 2
Mestre

ABSTRACT

The main objective of this article is to characterize, in general terms,


the method of investigation of case studies by exploring the conditions for its
appropriate use in an investigation and comparing it with other alternative or
complementary investigation methods, either in a more positivist or interpretati-
ve epistemological approach. The aim is not to deeply explore the subject, but
simply to look at some key dimensions of this research method. The publication
of this issue in this journal is primarily justified by the need to contribute to the
training of future Portuguese Army officers in terms of Research Methodology.
This study is mainly based on a review of literature made by the authors for a
seminar on Research Methods which look place during their PhD program at the
Information Systems Department of the School of Engineering, at Minho Univer-
sity. Essentially authors present the reasons to choose this research method and
the main aspects to be considered when developing a Design Research involving

1 
Docente da Academia Militar (AM), do Instituto Superior Politécnico do Oeste e do Mestrado em Guerra
de Informação da AM. Coordenador da área de Segurança da Informação na associação Nacional CIIWA,
investigador no CINAMIL (AM) e no centro Algoritmi da Universidade do Minho. Licenciado em Ciências
Militares (AM) e em Engenharia Informática (FCT/UNL), com Pós-Graduações em Guerra de Informação
(AM) e Tratamento Estatístico de Dados (ISCTE). Mestre em Sistemas de Informação e actualmente Dou-
torando em Tecnologias e Sistemas de Informação na Escola de Engenharia da Universidade do Minho.
2 
Docente do Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra (ISCAC), Instituto Politécnico
de Coimbra, na licenciatura em Informática de Gestão e mestrado em Sistemas de Informação de Gestão.
Investigador no centro Algoritmi da Universidade do Minho. Licenciado em Engenharia Electrotécnica, na
especialidade de Informática, Mestre em Economia Financeira e actualmente Doutorando em Tecnologias e
Sistemas de Informação na Escola de Engenharia da Universidade do Minho.

– 39 –
Proelium – Revista da Academia Militar

the Case Study Method, namely the main steps of its implementation and some
possible techniques for collecting empirical material. The article also highlights two
different philosophical approaches in the analysis of collected data, the positivist
and the interpretative perspective, and the corresponding orientation of the Case
Study, which can be more predominantly statistics or content oriented. Finally, it
presents a final aspect about generalization in case studies, justified by the fact
that this is a major concern of those who make and use research.
Keywords:  Research Methodology, Research Methods, Method Case Study, Re-
search in Information Systems.

RESUMO
O presente artigo tem como objectivo principal, caracterizar, numa perspec-
tiva geral, o método de investigação Estudo de Caso, explorando as condições da
sua adequada utilização de per si numa investigação e ainda comparativamente
com outros métodos de investigação alternativos ou complementares, quer numa
abordagem epistemológica mais positivista ou interpretativista. Não se pretende
esgotar o assunto, mas somente explorar algumas das principais dimensões do
referido método de investigação. A publicação deste assunto nesta revista, justifica-
se fundamentalmente com a necessidade sentida de contribuir para a formação dos
futuros Oficiais do Exército Português na Metodologia de Investigação. O estudo
apresentado fundamenta-se essencialmente numa revisão de literatura efectuada
pelos autores, para um dos múltiplos seminários em Métodos de Investigação
realizados durante o seu Programa Doutoral no Departamento de Sistemas de
Informação da Escola de Engenharia da Universidade do Minho. Na essência
apresentam-se as razões da escolha deste método de investigação e os principais
aspectos a considerar aquando do desenvolvimento de um Plano de Investigação,
que envolva o Método Estudo de Caso, nomeadamente os principais passos da
sua aplicação e algumas das possíveis técnicas de recolha de materiais empíricos.
O artigo destaca também as duas diferentes abordagens filosóficas na análise
dos dados empíricos recolhidos, a positivista e a interpretativista, e a correspon-
dente orientação do Estudo de Caso, mais predominantemente estatitistica ou
de conteúdos, respectivamente. Por fim, apresenta-se ainda um ponto sobre a
generalização em Estudos de Caso, justificando pelo facto de esta ser uma das
maiores preocupações de quem faz e usa investigação.
Palavras-Chave: Metodologia de Investigação, Métodos de Investigação, Método
Estudo de Caso, Investigação em Sistemas de Informação.

– 40 –
Métodos de Investigação Qualitativa

INTRODUÇÃO

O estudo de caso é um dos métodos mais significantes na investigação


em Sistemas de Informação (Palvia, Mao, Salam, & Soliman, 2003). A revista
“Journal of Information Technology Cases & Applications” dedica-se inclusive
a publicar trabalhos de investigação na área das Tecnologias de Informação (TI)
baseados em estudos de caso. O trabalho de Palvia et al. (2003) promoveu uma
análise de conteúdo a sete das mais relevantes revistas científicas na área dos
Sistemas de Informação (SI), entre os anos de 1993 e 1997, com o objectivo de
analisar vários factores associados às metodologias usadas na investigação desta
área, analisando para esse efeito 843 artigos, havendo alguns destes artigos com
mais do que um método usado. Segundo este trabalho, num total de treze métodos
distintos, o estudo de caso aparece como o quarto método mais usado, com 10%
dos artigos a usar este método, numa lista liderada pela sondagem, seguida do
modelo conceptual/“framework” e ainda pela experiência laboratorial. Segundo
esta investigação, aparentemente a tendência de utilização de estudos de caso na
área das TI é de subida nos últimos anos. Outro trabalho idêntico, promoveu um
exame exaustivo à investigação feita na área dos SI durante os anos 1991 a 2001,
examinando 1893 artigos publicados em oito das mais conceituadas revistas cien-
tíficas (Chen & Hirschheim, 2004). Nesta investigação, concluiram da importância
que a método estudos de caso está a ganhar, com 36% dos trabalhos publicados,
apenas atrás do “survey” com 41% do total. Esta exaustiva análise evidenciou
igualmente o crescimento da investigação qualitativa (30%), estudos empíricos
(61%) e estudos de caso longitudinais (33%), sugerindo aparentemente que os
investigadores de SI estão cada vez mais interessados em obter conhecimento
científico através de ambientes do mundo real.
O presente artigo apresentará no ponto seguinte um conjunto de definições
provenientes de diferentes autores para o conceito de “estudo de caso” e caracteri-
zará, numa perspectiva geral, este método de investigação, explorando as condições
da sua adequada utilização de per si numa investigação e ainda comparativamente
com outros métodos de investigação alternativos ou complementares. Enquadrará
ainda o estudo de caso enquanto método de investigação seleccionado na área
dos SI, explicitando as razões normalmente avançadas para a sua utilização numa
investigação desta área do conhecimento.
O ponto dois deste artigo pretende inicialmente enquadrar as duas tradições
filosóficas que têm recebido uma atenção alargada da comunidade científica da
disciplina de Sistemas de Informação: o positivismo e o interpretativismo. Em

– 41 –
Proelium – Revista da Academia Militar

seguida, apresentará os métodos indutivo e dedutivo, enquanto métodos usados no


processo de criação de conhecimento, bem como a sua relação com os elementos
informativos básicos (os dados ou observações e as teorias ou postulados teóri-
cos) e apresentará também a pertinência da utilização de métodos qualitativos,
quantitativos ou mistos. Este ponto abordará ainda os diversos tipos de estudos
de caso, com alguns enquadramentos de classificação, nomeadamente o enqua-
dramento usado por Yin (2003), com variadas tácticas de estudos de caso para
quatro tipos de testes: a validade do constructo, a validade interna, a validade
externa e a confiança. Apresentará igualmente o enquadramento proposto por
Cavaye (1996) com os tipos de estudos de caso divididos em quatro conceitos
de pesquisa, designadamente epestimologia, objectivo de pesquisa, desenho de
pesquisa e método de pesquisa.
Em seguida, o ponto três apresentará situações de utilização de estudos de
caso, com diversos exemplos concretos de utilização. De acordo com Hartley
(2004), os estudos de caso são úteis em variadas situações, nomeadamente,
quando é importante compreender qual o impacto do contexto organizacional e
do seu ambiente, podendo também ser úteis na exploração de processos ou com-
portamentos novos ou emergentes, tendo uma importante função na geração de
hipóteses e construção de teorias ou então, por exemplo, com vista à captura de
propriedades emergentes e em mutação na vida das organizações. O artigo expõe
também critérios de escolha da unidade para a aplicação de um estudo de caso,
nomeadamente o tipo de indústria, a dimensão da organização, a sua estrutura,
estatuto privado ou público, implantação geográfica e grau de integração vertical/
horizontal, bem como outros aspectos que devem ser tidos em conta na altura da
decisão da escolha duma unidade para a investigação.
O ponto quatro do artigo desenvolve diversos aspectos a serem tidos em
conta aquando do desenvolvimento do plano de investigação que envolva um
estudo de caso, nomeadamente os principais passos da sua aplicação e técnicas de
recolha de materiais empíricos. Também a análise dos dados empíricos recolhidos
é tratada neste ponto, destacando as duas diferentes abordagens nesta matéria,
positivista ou interpretativista, e a correspondente orientação do estudo de caso,
mais predominantemente estatística ou de conteúdos, respectivamente.
Este artigo propõe ainda um ponto sobre generalização, justificado pelo facto
de esta ser uma das maiores preocupações de quem faz e usa investigação (Lee
& Baskerville, 2003). O artigo destaca o enquadramento composto por Lee and
Baskerville (2003) que apresentam quatro tipos de generalização e generabilidade,

– 42 –
Métodos de Investigação Qualitativa

organizadas em diferentes formas, distintas entre afirmações do tipo empíricas ou


teoréticas. Apresenta-se também neste ponto alguns dos aspectos mais importantes
a considerar quando se decide a utilização de um ou de múltiplos estudos de caso.
Embora a investigação feita com recurso a diversos estudos de caso seja a mais
usada, a investigação com a utilização de apenas um estudo de caso também é
adequada nalguns casos.

1.  Características Principais, Forças e Fraquezas

Os SI são uma área do conhecimento, que integra diversas disciplinas científicas


de referência, consequentemente existe um conjunto de métodos de investigação
qualitativos e quantitativos que provém destas e que podem ser utilizados na
condução e legitimação da investigação conduzida pelos seus investigadores.
Sendo que nos SI existe uma tradição e aceitação em crescimento da utiliza-
ção da investigação qualitativa, na qual o método estudo de caso figura em
destaque (Dubé & Paré, 2003).
O estudo de caso mostra-se potencialmente valioso entre os diversos métodos
qualitativos de investigação utilizados nos SI, especialmente nas problemáti-
cas que envolvem a utilização das tecnologias no contexto das organizações
(Pozzebon & de Freitas, 1998), sendo uma das mais comuns estratégias de
investigação seguidas na gestão dos SI (Hamilton & Ives, 1982).
A sua utilização na investigação em SI passa fundamentalmente por três razões
(Benbasat, Goldstein, & Mead, 1987, p. 370):
•  O investigador pode estudar Sistemas de Informação num ambiente natural,
aprender o “estado da arte” e criar teorias derivadas da prática.
•  É permitido ao investigador responder a questões do tipo “como” e “porquê”,
ou seja, entender a natureza e a complexidade dos processos que ocorrem.
•  É um modo apropriado de investigação numa área de conhecimento com
poucos estudos desenvolvidos anteriormente.

1.1.  Lista de definições


Mas afinal em que consiste o Estudo de Caso? Não existe uma definição
unanimemente aceite pela comunidade científica, no entanto a sua des-
crição pode ser realizada pela listagem das principais características, das
suas forças e fraquezas.

– 43 –
Proelium – Revista da Academia Militar

Tendo em consideração esta premissa, procura-se apresentar algumas


das definições identificadas da revisão de literatura realizada, de onde se
salientam as seguintes:
“Utilizar evidência empírica obtida em locais sociais específicos (i.e.
organizações) para alargar ou aprofundar o conhecimento científico sobre
determinados fenómenos sociais” (Ramos, 2010).
“O estudo de caso é definido como aquele que examina um fenómeno
em seu ambiente natural, pela aplicação de diversos métodos de colecta
de dados, visando a obter informações de uma ou mais entidades. Essa
estratégia de pesquisa possui carácter exploratório, sem nenhum controle
experimental ou de manipulação. Além disso, as fronteiras do fenómeno
não são evidentes” (Pozzebon & de Freitas, 1998, p. 145).
“Um estudo de caso examina um fenómeno no seu ambiente natural, em-
pregando múltiplos métodos de recolha de dados para albergar informação
de uma ou de várias entidades (pessoas, grupos, ou organizações). Os
limites do fenómeno não são claramente evidentes no início da investi-
gação e não é utilizado nenhum controlo experimental ou manipulação”
(Benbasat, et al., 1987, p. 370).
“Um caso de investigação pode descrever fenómenos, pode construir uma
teoria, ou pode testar conceitos teóricos existentes e as relações entre
eles” (Cavaye, 2008, p. 234).

Pode-se concluir tendo por base as várias definições apresentadas que o


estudo de caso é um método de investigação que examina um fenómeno
social no seu ambiente natural, através da recolha e análise de material
empírico a partir de locais sociais específicos, (e.g. organizações), tendo
como objectivos fundamentais, o alargar ou aprofundar o conhecimento
científico sobre determinados fenómenos sociais, o poder construir uma
teoria ou testar conceitos teóricos e relações entre os mesmos.

1.2.  Características principais e dificuldades na aplicação


Embora reconhecendo a importância da aplicação do método estudo de
caso na investigação nos SI, deve-se ter consciência das suas principais
características, das forças, fraquezas e dificuldades na aplicação, de modo
a que o investigador possa potenciar os aspectos positivos e mitigar os
negativos. Pode-se sintetizar as suas principais características através da

– 44 –
Métodos de Investigação Qualitativa

Tabela 1, que simultaneamente nos permite orientar na escolha do método


estudo de caso, em substituição de outros qualitativos ou quantitativos.

Tabela 1 – Características principais do método estudo de caso

1. O fenomeno é examinado no seu ambiente natural.


2. Os dados são recolhidos através de diversos meios.
3. Uma ou poucas entidades são examinadas (pessoa, grupo ou organização).
4. A complexidade da unidade é estudada intensivamente.
5. Os estudos de caso são mais aconselhados para a exploração, a classificação e nos
diversos passos de desenvolvimento de hipóteses associados ao processo de construção
do conhecimento; o pesquisador deve ter uma atitude receptiva para a exploração.
6. Não há envolvimento de nenhum controle experimental ou manipulação.
7. O investigador poderá não especificar previamente o conjunto de variáveis inde-
pendentes e dependentes.
8. Os resultados obtidos dependem muito do poder de integração do investigador.
9. Podem ocorrer mudanças na escolha do local e nos métodos de recolha de dados
quando o investigador desenvolve novas hipóteses.
10. O estudo de caso é útil no estudo das questões “porquê” e “como” porque lidam
com ligações operacionais para ser seguidas ao longo do tempo em vez de por
frequência ou incidência.
11. O foco está nos acontecimentos actuais.
Fonte: Adaptado de Benbasat, et al. (1987, p. 371)

O método de Estudo de Caso apresenta como uma das suas principais


forças a sua versatilidade, podendo ser utilizado com uma abordagem
mais positivista, interpretativista ou crítica (Benbasat, et al., 1987), no
entanto existem algumas dificuldades e fraquezas a considerar. Ao nível
das dificuldades salientam-se fundamentalmente os seguintes aspectos:
• o esforço do investigador para a recolha, a análise e a estruturação dos
dados obtidos através de diferentes técnicas de recolha de materiais
empíricos;
• a tomada de decisão sobre a unidade de análise (e.g. indivíduos, gru-
pos ou organizações, ou ainda por projectos, sistemas ou processos de
decisão específicos);
• e a escolha dos Casos (Pozzebon & de Freitas, 1998).

Deve-se ter simultaneamente consciência das suas fraquezas, das quais se


salientam a impossibilidade de generalizar os resultados obtidos, de controlar
as variáveis independentes limitando desta forma as conclusões do estudo

– 45 –
Proelium – Revista da Academia Militar

e apesar de possibilitar o estabelecimento de relações entre variáveis, nem


sempre permite indicar a direcção causa-efeito (Cavaye, 2008).
A fim de evitar alguns erros comuns detectados na aplicação do método
estudo de caso, o investigador deve apresentar de modo claro os objec-
tivos originais da investigação, a justificação sobre a escolha do local
onde vai efectuar o estudo e descrever de modo detalhado as técnicas
utilizadas para recolha e análise dos dados, bem como as fontes utilizadas
(Pozzebon & de Freitas, 1998).
Para finalizar, é importante que o investigador tenha consciência da
influência que as suas características pessoais e os seus conhecimentos
anteriores podem ter sobre o estudo realizado, em virtude da recolha e da
análise de dados, ser um processo subjectivo, que resulta da interpretação
do investigador (Darke, Shanks, & Broadbent, 1998).

1.3.  Estudo de Caso na investigação em SI – O porquê da sua utilização

Após se ter caracterizado o método de investigação estudo de caso, é


necessário garantir que este é o método adequado para realizar a investiga-
ção, sendo necessário que esta validação responda às seguintes questões e
que se obtenham as respostas assinaladas (Benbasat, et al., 1987, p. 372):
a.  Pode o fenómeno de interesse ser estudado fora do seu ambiente natural?
Não
b.  Deve o estudo focar sobre acontecimentos actuais?
Sim
c.  O controlo ou manipulação dos sujeitos ou eventos é necessário?
Não
d.  O fenómeno de interesse desfruta de uma base teórica estabelecida?
Não

Se as respostas obtidas estão correctas, então é fundamental para o inves-


tigador que antes de proceder à sua aplicação, esclareça a diferenciação
entre este método e outros métodos de investigação qualitativa, dos quais
se salientam como principais a Aplication Description, a Action Resear-
ch, a Ethnografy e o Field Study, de modo a utilizar os procedimentos
correctos da sua aplicação e não confundir processos ou principios de
aplicação de métodos de investigação diferentes.

– 46 –
Métodos de Investigação Qualitativa

Na Tabela 2, pode-se identificar um possível conjunto de características


que permitem distinguir os respectivos métodos de investigação.
Tabela 2 – Características de comparação entre o estudo de caso e outros métodos

Fonte: Adaptado de Cavaye (2008, p. 231)

Os métodos indicados na Tabela 2 podem ser caracterizados sumariamente


da seguinte forma:
•  Field Study: “Os investigadores medem as variáveis dependentes e in-
dependentes no seu contexto natural; porém, não está envolvido nenhum
controlo ou manipulação” (Benbasat, et al., 1987, p. 370).
•  Action Research: Neste método o investigador desempenha também o
papel de participante, pois na realidade ao contrário do método estudo
de caso, ele não se limita apenas a observar e interpretar, mas intervém
activamente para resolver um determinado problema (Benbasat, et al.,
1987). Na realidade “o investigador não define o problema de investi-
gação e os seus construtos a priori, mas permite que o problema seja
definido no local. Não há nenhum controlo sobre quaisquer variáveis”
(Cavaye, 2008, p. 230).
•  Application Description: Descreve detalhadamente a experiência do autor
do estudo na implementação de uma aplicação particular, onde o autor

– 47 –
Proelium – Revista da Academia Militar

conduz na realidade uma implementação e não um estudo de investigação.


O produto final consiste na apresentação de uma lista de recomendações
de modo a que futuros trabalhos idênticos possam atingir o mesmo nível
de sucesso (Benbasat, et al., 1987; Cavaye, 2008). 
•  Ethnographic: Neste método existe uma imersão do investigador na cultura
da organização que necessita estudar, durante um tempo bastante dilatado
(e.g. seis meses ou mais), na qual procura ter a máxima interacção com a
cultura da organização. “Em vez de interpretar os dados de um ponto de
vista teórico ou do ponto de vista de investigador, os dados são interpretados
através dos olhos dos participantes no fenómeno” (Cavaye, 2008, p. 230).

É importante entender as semelhanças e as diferença dos métodos de


investigação apresentados na Tabela 2 de modo a evitar confusões e
incorrecções na sua aplicação durante a investigação de um problema.

2.  Tipos de Estudos de Caso

2.1.  Positivista ou Interpretativista


O positivismo e o interpretativismo são duas tradições filosóficas que têm rece-
bido uma atenção alargada da comunidade científica da disciplina de Sistemas
de Informação. Num dos extremos, o positivismo sustenta que qualquer campo
de estudo, se quiser ser considerado científico, deverá ser nomotético e por essa
via trabalhar no sentido ideal de descobrir leis gerais e universais. Por outro
lado, o interpretativismo sustenta que o objectivo de buscar leis universais é
inapropriado no estudo das questões humanas porque os indivíduos, os grupos
e outras unidades sociais são todas únicas e por consequinte necessitam de
teorização ideográfica em alternativa (Lee & Baskerville, 2003).
Segundo Lee e Baskerville (2003) o positivismo assenta numa tradição
filosófica cujo aspecto principal é o da generalização. O primeiro objec-
tivo do positivismo é o de descobrir as leis universais e invariáveis que
governam um determinado fenómeno. Por outro lado e em contraste, o
interpretativismo é uma tradição filosófica que não tem nenhum enfoque
especial na generalização e na tentativa de encontrar leis universais.
Será importante explicitar o significado do que normalmente se designa por
investigação interpretativa. E isto é ainda mais pertinente se atendermos a que
muitas vezes não se faz uma distinção clara entre investigação “qualitativa” e
“interpretativa”, embora tais termos não sejam sinónimos. Assim, poderá haver

– 48 –
Métodos de Investigação Qualitativa

investigação qualitativa que é do tipo interpretativa ou não, dependendo acima


de tudo, dos pressupostos filosóficos do investigador (Klein & Myers, 1999).
No que se refere aos estudos de caso, suportados numa metodologia qualitativa,
estes poderão ser do tipo positivista, interpretativa ou crítica.

2.2.  Indutivo e dedutivo


Qualquer processo de criação de conhecimento científico baseia-se em dois
elementos informativos básicos: os dados ou observações e as teorias ou
postulados teóricos. O método científico associado ao primeiro caso é o
método indutivo, assente na compreensão da realidade. O investigador, nesta
abordagem, pretende descobrir mais conhecimento sobre um dado problema,
ou complementar a visão duma teoria compreensiva sobre esse mesmo pro-
blema. O processo de aquisição de conhecimento nesta abordagem inicia-se
com a recolha de um conjunto de dados parciais, pretendendo obter um re-
sumo descritivo dos fenómenos observados, formando as eventuais relações
e primeiras explicações desses fenómenos (Almeida & Freire, 2008). Este
enquadramento parte dum conjunto de dados empíricos e pretende chegar à
teoria, caracterizado como sendo do tipo ET, generalizando para asserções
teóricas, segundo Lee e Baskerville (2003). Tal como vimos anteriormente,
segundo este autores, o tipo ET corresponde à generalização de medições,
observações e outras descrições para teorias. A proposta da utilização de es-
tudos de caso para este propósito é extensa, baseando-se numa generalização
de asserções empíricas para construção de teorias (Yin, 1994).
O método dedutivo está associado a um processo em que o primeiro passo
é o elaborar de uma hipótese a partir dum conjunto de pressupostos teóricos,
organizados e consistentes e num segundo passo passar para a sua testagem/
contestação (Almeida & Freire, 2008). O teste está preocupado com a vali-
dação ou não duma teoria existente, sendo a dedução o meio de desenvolver
esse teste de acordo com o modelo das ciências naturais. De acordo com o
modelo científico de investigação, o investigador usa uma ou mais teorias para
formular proposições que são conclusões lógicas ou previsíveis de acordo com
a teoria. Em seguida, as proposições são testadas através da comparação das
descobertas resultado da observação da realidade com os resultados esperados
das proposições avançadas anteriormente (Cavaye, 1996). De acordo com o
enquadramento proposto por Lee e Baskerville (2003), o método dedutivo
corresponde essencialmente ao enquadramento do tipo TE (de Teoria para

– 49 –
Proelium – Revista da Academia Militar

asserções Empíricas). Como se viu anteriormente, o utilidade da generalização


duma teoria para descrições, assenta no reconhecimento da utilidade dessa teoria
num ambiente real e prático. Enquanto que o método indutivo é mais huerís-
tico e exploratório, o segundo assenta mais na réplica, testagem, explicação e
controlo dos fenómenos (Almeida & Freire, 2008).

2.3.  Usar métodos qualitativos, quantitativos ou mistos


De acordo com Cavaye (1996), a investigação qualitativa está interessada em
apurar os significados e o entendimento de um determinado fenómeno, não
se preocupando em primeiro lugar com a sua medição. Os investigadores
qualitativos consideram que não é possível associar significado a um fenómeno
(ou comportamento) sem a descrição do seu contexto e sem entender a posi-
ção da pessoa que afecta ou é afectada pelo fenómeno (ou comportamento).
Assim, os métodos qualitativos estão associados a uma pesquisa baseada em
contacto pessoal “cara-à-cara”, com dados verbais e observações.
No entanto, apesar das virtudes dos dados qualitativos, como a sua rele-
vância e riqueza, estes também têm fraquezas, tais como o tempo gasto e
a exigência necessária na recolha e análise dos dados. Os diferentes tipos
de dados recolhidos, o seu volume e a maior dificuldade em tratar estes
dados face à análise quantitativa tornam esta tarefa difícil e morosa. Existe
contudo um conjunto de regras lógicas que suportam esta metodologia,
potenciando a imersão de evidências, através da análise formal dos dados
(Cavaye, 1996). Por outro lado, a pesquisa qualitativa ainda é relativamente
recente no campo dos SI. Este facto justifica mesmo o aparecimento e a
dinamização dum espaço único na internet que permita à comunidade de
investigação um único ponto com informação pertinente para a condução,
avaliação e publicação de investigação qualitativa e que permita motivar e
dinamizar o trabalho deste grupo de investigadores tão diverso (Myers, 1997).
Embora o uso de métodos quantitativos seja valorizada numa perspectiva
positivista, a investigação através do uso não só deste tipo de métodos,
mas também de métodos qualitativos, é mesmo considerada e valorizada
na investigação na área dos Sistemas de Informação (Dennis & Valaci-
ch, 2001). Qualquer método de investigação é imperfeito, não havendo
métodos melhores que outros no geral, mas sim, melhores nuns aspectos
e piores noutros. Segundo Dennis e Valicich (2001), em circunstâncias
ideais, será interessante combinar pesquisa experimental com análise qua-

– 50 –
Métodos de Investigação Qualitativa

litativa, de forma a permitir compreender melhor os fenómenos. Embora


alguns estudos de caso usem apenas métodos qualitativos, a maioria usa
combinação entre métodos qualitativo e quantitativos (Cavaye, 1996).

2.4.  Enquadramentos de classificação


Segundo Yin (2003), a qualidade de um plano de investigação depende
de um conjunto de determinados testes lógicos. Como existe um conjunto
de quatro testes genericamente usados para estabelecer a qualidade de um
estudo social empírico e os estudos de caso são uma das formas desse tipo
de estudo, então precisamente esses quatro testes são também importantes
para os estudos de caso (Yin, 2003). A Tabela 3 ilustra os quatro tipos
de testes (a validade do constructo, a validade interna, a validade externa
e a confiança), as respectivas tácticas de estudos de caso e a respectiva
fase da pesquisa em que a táctica ocorre.
Tabela 3 – Tácticas de estudos de caso para quatro tipos de testes

Fonte: Adaptado de Yin (2003)


A forma subjectiva e o falhanço no desenvolvimento de suficientes me-
didas operacionais no processo de recolha de dados em estudos de caso
é muitas vezes apontada com um dos pontos fracos desta metodologia
(Yin, 2003).
Para obstar essa crítica, propõem-se três tácticas para aumentar a validade
dos constructos. A primeira táctica é o uso de múltiplas fontes de evidên-
cia, de modo a promover linhas de inquirição convergentes, importante

– 51 –
Proelium – Revista da Academia Militar

na fase de recolha de dados. As outras tácticas propõe o estabelecimento


duma cadeia de evidências e a elaboração dum rascunho do relatório do
estudo de caso revisto por importantes informadores.
A validade interna é aplicável em estudos de caso explanatórios (cau-
sais), no qual o investigador pretende determinar se o evento x conduz
ao evento y. No caso do investigador concluir da relação causal entre x
e y, sem no entanto perceber a influência dum outro factor z sobre y,
então o plano de investigação falhou no que respeita à validade interna.
Estes tipos de estudos de caso explanatórios contrastam com os estudos
de caso exploratórios, nos quais não existe a preocupação com relações
causais. Por outro lado, existe um conjunto de preocupações associadas
à inferência. Por exemplo, quando o investigador conclui que um evento
depende doutro, tal facto não é normalmente directamente observável, mas
antes resultado de entrevistas ou documentação analisada. No entanto, será
que todas as hipóteses alternativas terão sido equacionadas ou será que a
evidência é convergente? A Tabela 3 apresenta quatro tácticas usadas para
perseguir a construção da validade interna; a descoberta de repetição em
padrões, a construção de explicações, o avanço com explicações alternativas
e o uso de modelos lógicos (Yin, 2003).
A generalização para além dum estudo de caso particular é a preocupação
da validade externa. Este é um dos aspectos em que os estudos de caso
são mais criticados, comparativamente por exemplo a sondagem, na quais,
uma amostra correctamente seleccionada é generalizável a um universo
maior. No entanto, esta analogia com amostra e universos é incorrecta
quando se fala em estudos de caso (Yin, 2003). Enquanto que as sondagem
se baseiam em generalização estatística, os estudos de caso baseiam-se
em generalização analítica, onde o investigador procura generalizar um
conjunto de resultados particulares para uma teoria abrangente. O uso de
replicação noutros estudos de caso, em ambientes onde a teoria avançada
especificou que os mesmos resultados do primeiro estudo de caso seriam
também esperados é uma das tácticas usadas para suportar fortemente
essa teoria.
Segundo Yin (2003), se um outro investigador seguir mais tarde o mesmo
procedimento e conduzir o mesmo estudo de caso que o investigador inicial
seguiu (e não outro), deverá chegar às mesmas conclusões da primeira
investigação. E isso é confiança, o último dos quatro tipos de testes que

– 52 –
Métodos de Investigação Qualitativa

suportam as diversas tácticas em estudos de caso. O objectivo da con-


fiança é garantir a minimização dos erros e do enviasamento no estudo.
E a melhor maneira de garantir isto é através da operacionalização dum
conjunto de passos e através do rigor do método usado, possibilitando
facilmente uma “auditoria” a todo o processo.
Cavaye (1996) apresenta um enquadramento dos tipos de estudos de caso
divididos em quatro conceitos de pesquisa, designadamente epestimologia,
objectivo de pesquisa, desenho de pesquisa e método de pesquisa. A Tabela
4 ilustra os quatro tipos de conceitos de pesquisa propostos.
Tabela 4 – Enquadramento com quatro tipos de conceitos de pesquisa

Fonte: Adaptado de Cavaye (1996, p. 232)

Para cada conceito de pesquisa, existem diversas variantes de investigação,


podendo existir nalguns casos, combinação entre essas variantes.

3.  Situações de Utilização e Critérios de Escolha da Unidade


3.1.  Situações e exemplos de utilização
Os estudos de caso são úteis em situações em que é importante compreender
qual o impacto do contexto organizacional e do seu ambiente, nomeada-
mente a sua influência em processos sociais. Os estudos de caso podem
ser úteis no esclarecimento do comportamento que só pode ser plenamente
compreensível num contexto mais amplo das forças que agem no âmbito
ou sobre uma organização, independentemente destas forças serem actuais
ou históricas (Hartley, 2004). Por exemplo, Pawlowski e Robey (2004)
desenvolveram um estudo de caso interpretativo que examina a mediação
de conhecimento como um aspecto do trabalho dos profissionais de TI. O
objectivo deste estudo foi compreender a intermediação do conhecimento

– 53 –
Proelium – Revista da Academia Militar

a partir da perspectiva dos profissionais de TI como reflexão sobre sua


prática profissional. Como mediadores do conhecimento, os profissionais
de TI perspectivam a facilitação do fluxo de conhecimento sobre as TI e as
práticas de negócio, ultrapassando os limites que normalmente demarcam
as unidades de trabalho nas organizações (Pawlowski & Robey, 2004).
Estudos de caso podem também ser úteis na exploração de processos ou
comportamentos novos ou emergentes, tendo uma importante função na
geração de hipóteses e construindo teoria (Hartley, 2004; Yin, 2003). A
identificação inicial das questões de investigação e do enquadramento
teórico funcionará melhor quando existe a tentativa e o reconhecimento
de que os pontos e a teoria podem variar em função da análise repetitiva
do enquadramento e conceitos face aos dados que vão sendo sistemati-
camente recolhidos. De acordo com Hartley (2004), os estudos de caso
podem ser usados quando a intenção é explorar não a normalidade mas
antes a excepção e limites com o objectivo de esclarecer processos. Por
exemplo, o estudo de caso desenvolvido por Howcroft e Mitev (2000)
analisa uma organização de saúde do Reino Unido como um veículo para
ilustrar a complexidade dos aspectos sociais e técnicos em torno do uso
da internet e as dificuldades de gestão entre a prática médica. Este estudo
evidencia, a um primeiro nível, que a adopção e a difusão das TI nas
práticas gerais (cirurgias ou grupos de profissionais) são muito variadas
e há enormes diferenças nos níveis de compromisso com a gestão da
informação. Neste estudo de caso é evidente a um nível individual, que
alguns profissionais são entusiastas relativamente à tecnologia, enquanto
outros são positivamente “tecno-fóbicos”, mostrando comportamentos
bastante distintos entre eles. Uma explicação possível para justificar com-
portamentos tão distintos poderá basear-se nas prioridades definidas entre
a opção da “navegação” na auto-estrada da informação e, em oposição,
a opção de tratar adequadamente doentes, relegando para segundo plano
a formação pessoal (Howcroft & Mitev, 2000). 
Estudos com vista à captura de propriedades emergentes e em mutação
na vida das organizações também é uma oportunidade para o uso dum
estudo de caso. Uma sondagem poderá ser um método muito estático para
captar as oscilações na actividade organizacional, em especial quando esta
muda muito rapidamente (Hartley, 2004). Por exemplo, o estudo de caso
promovido por Von Krogh, Spaeth e Lakhani (2003) desenvolve uma teoria

– 54 –
Métodos de Investigação Qualitativa

indutiva do processo de inovação do software de código aberto, focando


a atenção na criação da Freenet, um projecto que visa desenvolver uma
rede ponto-a-ponto de partilha de arquivos electrónicos descentralizada
e anónima. O estudo incidiu particularmente nas estratégias e processos
pelos quais as pessoas se juntam às comunidades de desenvolvimento de
software existentes, e como, inicialmente, contribuem com código. Após
a análise dos dados de várias fontes sobre o processo de desenvolvimento
de software Freenet, geraram-se as construções de “rotina de adesão”,
“especialização”, “barreiras à contribuição” e “ofertas futuras”, propondo-
se relações entre estes, implicações para a teoria e discussão de pesquisa
(von Krogh, Spaeth, & Lakhani, 2003). Os aspectos associados a estas
actividades organizacionais, em mudança constante, características duma
comunidade open source, apenas poderão provavelmente ser recolhidos
numa metodologia do tipo estudo de caso.
O estudo de caso poderá também ser um metodo de investigação eficaz
quando esta se faz numa organização em que o comportamento é muito
informal, invulgar ou ainda ilícito. E, embora o estudo de caso possa não
ser o único método adequado para estas situações, este método permite
a aquisição de uma confiança entre o investigador e os membros da or-
ganização em estudo, resultado do tempo que o investigador passa nessa
organização, permitindo-lhe recolher mais e detalhados elementos que não
estariam acessíveis numa única entrevista sem continuidade (Hartley, 2004).
Um caso de estudo interessante que realça esta versatilidade poderia incidir
sobre a tentativa de descoberta das razões que levam os elementos duma
organização a instalar programas sem licença adequada.
Por último, a utilização de estudos de caso em investigação cruzada é
essencial, relevando o entendimento íntimo do significado dos conceitos
para as pessoas, associados aos seus comportamentos e à forma de como
estes se relacionam. Ainda, os estudos de caso podem ser usados em es-
tudos longitudinais para entender comportamentos que não são detectáveis
num contacto de carácter mais breve, mas durante um período de tempo
significativamente extenso (Hartley, 2004).
Será também importante referir que de acordo com o conceito relativa-
mente alargado de estudo de caso referido inicialmente, existem alguns
investigadores que usam este termo duma forma que não é habitual na
comunidade científica. Por exemplo, o exemplo do estudo promovido por

– 55 –
Proelium – Revista da Academia Militar

Geels (2001) aborda a questão de como as Transições Tecnológicas (TT)


aparecem numa organização. A perspectiva das TT não envolve apenas
mudanças tecnológicas, mas também práticas dos utilizadores, regras,
redes industriais, infra-estruturas e significados simbólicos ou culturais
(Geels, 2002). A investigação pretendeu descobrir eventuais padrões ou
mecanismos nesse aparecimento de TT. No final foram descritos três me-
canismos particulares em TT: acumulação em nichos, acrescento tecnoló-
gico e hibridação, conjuntamente com crescimento do mercado. Segundo
o autor, a perspectiva foi “empiricamente ilustrada com um estudo de
caso qualitativo, da transição dos barcos a velas para os barcos a vapor,
1780-1900”. Ora, este tipo de estudos não examina um fenómeno em
seu ambiente natural, nem investiga um fenómeno contemporâneo dentro
do seu contexto de vida real (Yin, 2003), pelo que se deverá ter algum
cuidado na sua utilização.

3.2.  Critérios de escolha da unidade para a sua aplicação


De acordo com Benbasat, Goldstein e Mead (1987), a escolha do tipo de
unidade mais apropriada para a investigação deverá anteceder a própria
escolha da unidade propriamente dita. A questão será assim, numa primeira
fase, analisar qual o tipo de unidade mais adequado. Se a análise deverá
ser individual ou de grupo, e se, no segundo caso se será, por exemplo,
ao nível de equipa, de centro de actividade, de grupo de SI ou mesmo
ao nível de toda uma organização.
Quando a investigação assenta num único estudo de caso, os motivos que
estão subjacentes à utilização dum único estudo, como por exemplo, a procura
de situações específicas, ou então, o teste de certos fenómenos associados
a uma teoria apenas disponíveis num determinado número de organizações,
deverão suportar a escolha dessa mesma organização (Benbasat, et al., 1987).
Por outro lado, em situações de estudos de caso múltiplos, a preocupação
pode centrar-se na necessidade da replicar fenómenos em organizações,
onde o critério é a tentativa de encontrar resultados similares. Ainda,
os locais poderão ser seleccionados com o objectivo de encontrar resul-
tados contraditórios face aos resultados previsíveis duma determinada
teoria. Assim, neste caso, com um cuidado especial na selecção do local,
as proposições iniciais da teoria a ser testada podem ser estendidas em
função das características da unidade seleccionada e dos seus fenómenos

– 56 –
Métodos de Investigação Qualitativa

particulares (Benbasat, et al., 1987). Alguns aspectos, entre outros, a


serem considerados nessa escolha são o tipo de indústria, a dimensão
da organização, a sua estrutura, estatuto privado ou público, implantação
geográfica e grau de integração vertical/horizontal.
Segundo Benbasat, Goldstein e Mead (1987), a cooperação dentro da
organização escolhida deverá ser promovida, tentando por um lado não
causar nenhum alarme com a sua presença, garantindo uma relação de
confiança com os seus colaboradores e o acesso a um conjunto de in-
formações indispensáveis à investigação a desenvolver. Se necessário,
poderá ser útil garantir à organização e aos colaboradores em particular,
um determinado grau de sigilo, que poderá ir desde a invisibilidade da
identidade da organização até à dos seus colaboradores. Essa garantia po-
derá ser necessária e então negociada antecipadamente de forma a melhor
promover a obtenção dos elementos a recolher. Por fim, as vantagens da
organização ao participar na investigação deverão ser evidenciadas, nome-
adamente, o melhor conhecimento da sua organização e a sua contribuição
para a criação de conhecimento.

4.  Plano de Investigação do Estudo de Caso


4.1.  Principais passos da sua aplicação e recolha de materiais empíricos
O rigor de um estudo de caso passa na essência pela relevância dos mate-
riais empíricos recolhidos que suportam os resultados do estudo, devendo
estes ser obtidos de diferentes fontes, das quais se podem salientar princi-
palmente a documentação (e.g., memorandos, relatórios), as entrevistas e
a observação directa (Pozzebon & de Freitas, 1998). Sendo fundamental
registar a origem das fontes de informação utilizadas no estudo de caso,
tal como se apresenta a título exemplificativo na Tabela 5 e 6.
Tabela 5 – Fontes da recolha de materiais empíricos

– 57 –
Proelium – Revista da Academia Militar

As evidências do estudo de caso de acordo com Yin podem resultar de seis


fontes privilegiadas: “documentos, registos de arquivo, entrevistas, observação
directa, observação participante e artefactos fisicos” (2003, p.83) ou segundo
Isabel Ramos (2010) de fontes primárias (e.g. entrevistas, documentos não
publicados) e fontes secundária (e.g. livros, artigos de revistas científicas),
procurando os documentos obtidos das fontes primárias dar profundidade
e credibilidade ao estudo e as secundárias à sua fundamentação.
Tabela 6 – Diário de campo

Também o questionário (e.g. administrado presencialmente) e as entrevistas


(e.g. estruturadas, semi-estruturadas, não estruturadas) são utilizados na
recolha de informação com qualidade, os quais obedecem a um conjunto
de procedimentos cuja descrição sai fora do âmbito deste estudo.
Segundo Isabel Ramos (2010), Para assegurar a qualidade da informação
recolhida e das interpretações efectuadas, pode ser feita a triangulação de
informação, das técnicas de recolha e/ou de técnicas de análise da informação.
Mas afinal em que consiste a triangulação?
“Tendo em conta princípios básicos de geometria, múltiplos pontos de vista
permitem um maior rigor. Da mesma forma, os investigadores organizacionais
podem melhorar o rigor das suas decisões através da recolha de dados de
diferentes origens sobre o mesmo fenómeno [...]. Para os investigadores da
organização, isso envolveu a utilização de vários métodos para examinar
a mesma dimensão de um problema de investigação” (Jick, 1979, p. 602).
A triangulação permite fundamentalmente que os investigadores tenham
mais confiança nos resultados obtidos com o estudo, estimula novas ma-
neiras de capturar o problema e simultaneamente diminui a possibilidade
do enviesamento dos resultados obtidos (Jick, 1979, p. 608).

– 58 –
Métodos de Investigação Qualitativa

Apesar da segurança que a triangulação confere ao investigador, este não se


deve esquecer que após finalizar a investigação, um qualquer investigador
pode repetir os mesmos procedimentos e desta forma deve chegar aos mes-
mos resultados. Consequentemente durante a aplicação do estudo de caso,
é obrigatório descrever os procedimentos utilizados na recolha (i.e. “case
study protocol”) e na transcrição, análise e “armazenagem” dos materiais
empíricos (i.e. “case study database”) (Dubé & Paré, 2003, pp. 615,616).

4.2.  Técnicas de análise de dados


A análise dos dados empíricos recolhidos pode ser realizada segundo uma
abordagem mais predominantemente estatística ou de conteúdos, face à cor-
respondente orientação do estudo de caso mais positivista ou interpretativista.
De acordo com a revisão de literatura efectuada por (Dubé & Paré,
2003, p.605):
“ […] a análise dos dados diz respeito à descrição do processo, bem ao
uso de técnicas preliminares (por exemplo, anotações de campo, codificação
de dados em bruto, exibição de dados), e aos modos dominantes de análise
de dados (por exemplo, testes empíricos, construção da explicação). Embo-
ra alguns investigadores possam considerar a nossa lista de atributos para
constituir um modelo de “como fazer” estudos de caso positivistas, outros
investigadores, podem reivindicar que o estado da arte em casos de investi-
gação positivistas, ainda não se estabeleceu definitivamente […] ”

No entanto os autores apresentam um enquadramento de atributos na


Tabela 7 que de acordo com a sua opinião lhes permite ajudar os novos
investigadores numa de abordagem com o método estudo de caso mais
positivista, a qual na nossa perspectiva é um importante ponto de partida
para a utilização do método estudo de caso.
Procura-se também com este estudo identificar e analisar algumas das
possíveis técnicas de análise de dados qualitativos, das quais destacamos
de imediato a contribuição do processo de Barley (1990) apresentado na
Tabela 8. O seu método de análise é desenvolvido em quatro fases principais:
o desenvolvimento de categorias, a identificação de padrões e scripts, o
agrupamento de dados e a comparação de scripts Sincrônica e Diacrónica.
A interpretação dos dados qualquer que seja a abordagem seguida é o foco
principal da investigação qualitativa, consequentemente apresentam-se de

– 59 –
Proelium – Revista da Academia Militar

Tabela 7 – Atributos usados para avaliar casos de estudo positivistas – Análise de dados

Fonte: Adaptada de Dubé & Paré (2003, p. 606)

seguida algumas das suas principais técnicas e que consistem na codificação


teórica, codificação temática, análise de conteúdo qualitativa e análise global.
Devido à provável aplicação destas técnicas potencialmente valiosas na
investigação conduzida nos SI, descrevem-se sumariamente a codificação
teórica e com algum detalhe a análise de conteúdo qualitativa.
A interpretação dos dados é o ponto fundamental da investigação quali-
tativa, variando de acordo com as várias técnicas que se podem utilizar.
De acordo com Flick,
“A interpretação de textos pode visar dois objectivos opostos: um é
revelar, desvendar ou contextualizar as afirmações feitas no texto, o que
conduz normalmente à ampliação do material […]; o outro visa reduzir
o material textual, parafraseando-o, resumindo-o ou categorizando-o. As
duas estratégias são aplicadas quer em alternativa quer sucessivamente.
Em suma, podem distinguir-se duas estratégias no tratamento do texto:
uma é a codificação do material, com objectivos de categorização ou de
elaboração de uma teoria; outra é a análise sequencial, mais ou menos
estrita do texto, visando a reconstituição da estrutura do texto e do caso”
(2005, pp. 178,180).

– 60 –
Métodos de Investigação Qualitativa

Tabela 8 – Análise de dados qualitativos

Fonte: Citando Pozzebon & de Freitas (1998, p. 152), adaptado de Barley (1990)

No caso da codificação teórica do material empírico, o objectivo principal


é a elaboração de uma teoria, em que a codificação usada para analisar
o material empírico recolhido pode ser realizada segundo três procedi-
mentos diferentes no processo de tratamento e interpretação do texto e
que consistem na codificação aberta, na codificação axial e codificação
selectiva (Flick, 2005).
A codificação aberta pode ser aplicada linha a linha, frase a frase, parágrafo
a parágrafo ou a um texto, visando obter numa primeira etapa uma rede de
conceitos, através da codificação de dados ou fenómenos. Posteriormente
será realizada uma categorização desses mesmos códigos, agrupando-os em
torno dos fenómenos descobertos no material empírico, podendo às novas
categorias ser-lhe atribuído códigos novamente e consequentemente pode-

– 61 –
Proelium – Revista da Academia Militar

rem serem sujeitos a nova categorização e agrupamento, evoluindo deste


modo os códigos (i.e., conceitos) até a um nível elevado de abstracção.
Na codificação axial o objectivo é seleccionar e diferenciar as categorias
finais obtidas da codificação aberta e estabelecer a relação entre elas. No
caso da codificação selectiva a finalidade é formular a categoria nuclear
integrativa na continuidade da codificação axial (Flick, 2005).
A análise de conteúdos consiste na análise e interpretação de material empírico
escrito (e.g. entrevistas, normas), tendo como objectivo principal a sua redução.
“Um dos seus traços essenciais é a utilização de categorias, derivadas fre-
quentemente de modelos teóricos: as categorias são aplicadas ao material
empírico, não necessariamente extraídas dele, embora sejam repetidamente
confrontadas com ele e, se necessário, modificadas” (Flick, 2005, p. 193).
Existem no entanto outras abordagens na interpretação dos dados obtidos que
prestam mais atenção à forma do texto, como sejam a análise conversacional,
a análise do discurso, a análise da narrativa e a hermenêutica objectiva.
“Estas abordagens são orientadas pelo pressuposto de que a ordem é
produzida em cada iteração (análise conversacional), de que o signifi-
cado se adensa no desempenho de actividades (hermenêutica objectiva)
e de que o conteúdo das entrevistas só tem apresentação fiável, se for
apresentado em forma narrativa (análise narrativa). Em todos os casos,
o princípio metodológico é uma forma específica de sensibilidade ao
contexto” (Flick, 2005, p. 199).
Na análise de material empírico considera-se essencial a existência de um
procedimento sistemático e racional que permita a escolha de um método
de interpretação e avaliação da sua aplicação, face ao que apresentamos
o descrito por Flick (2005), em que este fornece uma lista de controlos
para a sua escolha na Tabela 9.
Outros investigadores abordam a temática de modo diferenciado, Yin
(2003) por exemplo considera que o aspecto mais importante para conduzir
um estudo de caso é a escolha inicial de uma estratégia geral analítica,
podendo esta ser realizada segundo as três seguintes abordagens: Relying
Theoretical Preposition, Rival Explanation e Case Descriptions.
Sendo as técnicas analíticas de materiais empíricos escolhidas em função
da estratégia inicialmente traçada pelo investigador e podendo estas ser
de quatro tipos principais: Pattern Matching, Explanation Building, Time-
series analysis e Logical Models.

– 62 –
Métodos de Investigação Qualitativa

Para finalizar, o fundamental para uma análise de elevada qualidade é


que este na recolha de materiais empíricos efectuada tenha tido em con-
sideração todas as evidências necessárias, na interpretação realizada tenha
em consideração todas as outras possíveis interpretações (i.e. as rivais), a
análise responda as questões levantadas no estudo de caso e use a priori
conhecimentos especializados.

Tabela 9 – Lista de Controlo para a escolha de um método de interpretação e avaliação


da sua aplicação

Fonte: Adaptado de Flick (2005, p. 220)

– 63 –
Proelium – Revista da Academia Militar

5.  Generalização
5.1.  Princípios da generalização
Uma das maiores preocupações de quem faz e usa investigação é a sua
generalização (Lee & Baskerville, 2003). A percepção de muitos investiga-
dores, quer qualitativos, quer quantitativos, é de que a generalização apenas
se consegue através da noção de amostra e a sua respectiva generalização
estatística. Segundo Lee e Baskerville (2003), este conceito de generalização
suportado apenas em redor duma abordagem estatística poderá resultar
em parte pela pressão exercida por revisores, editores ou presidentes de
programas científicos. Ou então, poderá ser resultado de muitas vezes das
generalizações se esperar erradamente que tragam proposições provadas,
em vez de hipóteses por testar, embora, bem fundamentadas.
A utilização acrítica da generalização através da estatística baseada na
amostra é colocada em causa através dos princípios da análise indutiva. A
análise indutiva pode ser vista como um sinónimo de generalização (Lee
& Baskerville, 2003). Wood (2000) oferece uma explicação detalhada do
problema de indução segundo Hume, um filósofo escocês do século XVIII.
Segundo essa explicação, a indução está normalmente associada a proble-
mas em que a conclusão não segue logicamente uma premissa ou então,
numa lógica silogística, a verdade da premissa maior não é garantida. A
lógica subjacente é o designado silogismo, um termo filosófico com o
qual Aristóteles designou a argumentação lógica perfeita, constituída de
três proposições declarativas que se ligam de tal modo que a partir das
primeiras duas, chamadas premissas, é possível deduzir uma conclusão.
Segundo Wood (2000), no que designa por segunda tentativa de justificar
a indução, propõe-se o seguinte argumento:
I. Se na experiência ocorrida todos os testes confirmaram a Teoria
1, então o próximo teste confirmará a Teoria 1 ou todos os testes
futuros confirmarão a Teoria 1.
II. Na experiência ocorrida todos os testes confirmaram a Teoria 1.
III. Então o próximo teste confirmará a Teoria 1 ou todos os testes futuros
confirmarão a Teoria 1.

Aplicando a primeira premissa (premissa maior) à segunda premissa (pre-


missa menor) inevitavelmente somos conduzidos à conclusão. Este é o

– 64 –
Métodos de Investigação Qualitativa

princípio de base da chamada forma silogística normal aplicado à criação


de teoria. Contudo, como normalmente não é possível garantir a veracidade
premissa maior, o truísmo de Humme leva Campbell e Standley (1963),
a afirmarem que “a indução ou a generalização nunca é completamente
justificada logicamente”. No entanto, inúmeros exemplos de investigação
em SI ilustram a resistência dos respectivos investigadores em aceitarem o
truísmo de Humme. Em muitos desses exemplos é evidenciada a convicção
de que uma amostra pequena ou um pequeno número de casos oferecerá
uma limitada ou mesmo impossível generalização.
Segundo Lee & Baskerville (2003), fazendo uma extensão do truísmo de
Humme à generalização estatística, um aumento da dimensão da amostra
fará uma diferença no nível da significância estatística ou seja, da proba-
bilidade P(erro da decisão | H0), mas não da certeza com que se pensa
que H0 seja verdadeiro, ou seja, P(H0). Assim, estes autores concluem
que um aumento da dimensão duma amostra melhora a generalização
de pontos da amostra relativamente à estimação da amostra. No entanto,
isto será diferente da generalização do comportamento da amostra para
toda a população completa da qual apenas funciona como estimação.
Concluem que um aumento do tamanho da amostra em nada contribuirá
para a generalização global.

5.2.  Um ou múltiplos estudos de caso


O investigador pode, através dum estudo de caso, tentar desenvolver uma
teoria que seja generalizável no âmbito do caso que escolheu. Num estudo
estatístico, a utilização de medidas de características da população através
duma amostra generalizável para além da estimativa dessa amostra permiti-
rá testar uma determinada teoria. No entanto, quer num caso, quer noutro,
não será adequado criticar uma teoria por falta de generalização para outros
conjuntos. De acordo com o truísmo de Hume, uma teoria não poderá ser
generalizada para conjuntos em que não foi empiricamente testada e confir-
mada. E o grau de generalização duma teoria não aumentará mesmo que se
aumente a dimensão duma determinada amostra num estudo estatístico ou
então mesmo que se aumente o número de unidades a investigar em estudos
de caso múltiplos (Lee & Baskerville, 2003).
Embora a investigação feita com recurso a vários estudos de caso seja mais a
mais requerida, a utilização de apenas um estudo de caso também é apropria-
da nalguns casos. Um projecto de estudo de caso único é útil no âmbito da

– 65 –
Proelium – Revista da Academia Militar

geração de teoria associada a situações previamente inacessíveis e ainda, mais


tarde, numa fase de tese de teoria num caso de estudo muito particular, que
representa um caso crítico de eventual aplicação duma teoria, com características
muito especiais (Benbasat, et al., 1987). Por outro lado, a investigação com
estudo de caso único é usada para testar as fronteiras duma teoria já madura.
Segundo Benbasat, Goldstein e Mead (1987), uma investição com múltiplos
estudos de caso é desejável quando o objectivo da investigação é a descrição,
a construção da teoria ou do seu teste em geral.

5.3.  Tipos de generalização


Lee and Baskerville (2003) propõem um enquadramento composto por
quatro tipos de generalização e generabilidade. Este enquadramento tem
por objectivo a classificação as diferentes formas de generalização, orga-
nizando-as em quatro diferentes formas, distintas entre afirmações do tipo
empíricas ou teoréticas. Baseia-se no cruzamento de dois blocos. Um bloco
assenta na distinção feita entre asserções empíricas e asserções teóricas.
As empíricas referem-se a dados, medidas, observações ou descrições
acerca de fenómenos empíricos ou do mundo real. O outro bloco assenta
na distinção implícita entre “de” quê o investigador está a investigar e
“para” quê essa investigação está a ser feita. Cruzando estes dois blocos
entre eles, os autores concluem que a generalização poderá ocorrer de
quatro formas: de asserções empíricas para outras asserções empíricas,
de asserções empíricas para asserções teóricas, de asserções teóricas para
asserções empíricas e de asserções teóricas para outras asserções teóricas
(Lee & Baskerville, 2003). A Figura 1 apresenta o framework proposto
com os respectivos quatro tipos de generabilidade referidos.
Embora este ‘framework’ não tenha sido propositadamente desenvolvido
para efeitos de classificação específica de estudos de caso, estes também
se poderão classificar neste enquadramento.
Com o tipo EE o investigador generaliza de asserções empíricas, dum
conjunto de dados duma amostra, para outras asserções empíricas, para uma
medida, uma observação ou uma descrição. Este processo pode ser feito
no âmbito dum estudo de caso, onde, por exemplo, se pretende medir a
Utilidade (U) que um conjunto de gestores duma determinada organização
acha duma tecnologia em particular. Para isso, o investigador selecciona
uma amostra do universo dos gestores da organização, pedindo-lhes uma

– 66 –
Métodos de Investigação Qualitativa

Fonte: Adaptado de Lee e Baskerville (2003)

Figura 1 – Framework com 4 tipos de generabilidade.

classificação de U, numa escala de 1 a 5. A “média da amostra servirá


como estimativa ou medida da média da população”.
O tipo ET corresponde à generalização de medições, observações e outras
descrições para teorias. Yin (1984,1994) propõe diversos exemplos de
generalização de asserções empíricas para asserções teóricas, nomeada-
mente a generalização feita através de descobertas vindas de estudos de
caso para construção de teorias. Descrições empíricas que servem como
entradas no processo de generalização podem especificar os ricos detalhes
obtidos num estudo de caso numa determinada organização. Os tipos
de estudos de caso usados no tipo ET ou EE são normalmente do tipo
estudos de caso exploratório.
O interesse da generalização duma teoria para descrições, caracterizada
pelo tipo TE, assenta na comprovação da utilidade dessa teoria num meio
real e prático, ambiente de executivos, gestores, consultores e outros
profissionais (Lee & Baskerville, 2003). Neste tipo, o processo inicia-

– 67 –
Proelium – Revista da Academia Militar

se com uma teoria já desenvolvida, testada e confirmada, devidamente


publicada em revistas científicas, desenvolvendo-se numa organização
específica, onde se pretende obter asserções empíricas sobre o que o in-
vestigador espera observar nessa mesma organização. O método científico
normalmente usado em Tecnologias e Sistemas de Informação é o estudo
de caso e este é normalmente do tipo estudo de caso confirmatório ou
explanatório. A aplicação da teoria é feita através dum conjunto de testes
empíricos. Por fim, de acordo com Lee & Baskerville (2003), no tipo TT,
é feita uma generalização de asserções teóricas, na forma de conceitos,
nomeadamente variáveis, construtos ou outros conceitos, para uma nova
teoria, especificamente num conjunto de proposições consistentes. Neste
último tipo não é tão adequada a utilização de estudos de caso para este
efeito, mas antes, por exemplo, revisão de literatura ou análise conceptual.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Do estudo elaborado verifica-se que o estudo de caso é um dos metodos de


investigação mais significativos em Sistemas de Informação, quer numa abordagem
mais positivista, interpretativista ou crítica. Pode-se considerar que é um método
de investigação que examina um fenómeno social no seu ambiente natural, através
da recolha e análise de material empírico a partir de locais sociais específicos
(e.g. organizações), tendo como objectivos fundamentais, o alargar ou aprofundar
o conhecimento científico sobre determinados fenómenos sociais, o poder cons-
truir uma teoria ou testar conceitos teóricos e relações entre os mesmos. Apesar
das suas forças, deve-se ter em consideração a impossibilidade de generalizar os
resultados obtidos e de controlar as variáveis independentes limitando desta forma
as conclusões do estudo.
Existem caracteristicas do método, que o permitem diferenciar de outros
métodos de investigação qualitativa, dos quais se salientam a Aplication Des-
cription, a Action Research, a Ethnografy e o Field Study. Pode-se concluir que
é necessário no seu processo de operacionalização, garantir a triangulação da
informação, a utilizão correcta de técnicas de recolha e/ou das técnicas de aná-
lise da informação de modo a garantir a qualidade da informação recolhida e as
interpretações efectuadas pelo investigador.
De um modo geral, os investigadores são unânimes em considerar que para
a aplicação do método, é fundamental a definição da unidade de análise (e.g.

– 68 –
Métodos de Investigação Qualitativa

organização), a necessidade de definir o número de momentos no tempo para


a recolha de dados empiricos (longitudinal ou cross sectional), a definição do
número de casos (i.e. um ou mais casos) e a escolha dos locais, a definição das
técnicas de recolha e de análise de materiais impíricos.
A interpretação dos dados é o ponto fundamental da investigação qualitativa,
variando de acordo com as várias técnicas que se podem utilizar. Identificam-se
e apresentam-se de modo sumário a codificação teórica do material empírico,
segundo três procedimentos diferentes no processo de tratamento e interpretação
do texto e que consistem na codificação aberta, na codificação axial e codificação
selectiva. Na interpretação dos dados obtidos que prestam mais atenção à forma
do texto, identificam-se as técnicas de análise de conteúdos, de análise conver-
sacional, a análise do discurso, a análise da narrativa e a hermenêutica objectiva.
Para finalizar, o fundamental para uma análise de elevada qualidade é que o
investigador na recolha de materiais empíricos efectuada tenha tido em consideração
todas as evidências necessárias, na interpretação realizada tenha em consideração
todas as outras possíveis interpretações, a análise responda as questões levantadas
no estudo de caso e use a priori conhecimentos especializados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, L. S., & FREIRE, T. (2008). Metodologia Da Investigação Em Psi-


cologia E Educação (5ª Edição Ed.): Psiquilíbrios Edições.
BARLEY, S. (1990). Images Of Imaging: Notes On Doing Longitudinal Field
Work. Organization Science, 1(3), 220-247.
BENBASAT, I., GOLDSTEIN, D., & MEAD, M. (1987). The Case Research
Strategy In Studies Of Information Systems. MIS Quarterly, 11(3), 369-386.
CAVAYE, A. (1996). Case Study Research: A Multi-Faceted Research Approach
For IS. Information Systems Journal, 6(3), 227-242.
CAVAYE, A. (2008). Case Study Research: A Multi-Faceted Research Approach
For IS. Information Systems Journal, 6(3), 227-242.
CHEN, W., & HIRSCHHEIM, R. (2004). A Paradigmatic And Methodological
Examination Of Information Systems Research From 1991 To 2001. Information
Systems Journal, 14(3), 197-235.
DARKE, P., SHANKS, G., & BROADBENT, M. (1998). Successfully Completing Case
Study Research: Combining Rigour, Relevance And Pragmatism. ISJ, 40, 273-289.

– 69 –
Proelium – Revista da Academia Militar

DENNIS, A., & VALACICH, J. (2001). Conducting Research In Information


Systems. Communications Of The AIS, 7(5), 1-41.
DUBÉ, L., & PARÉ, G. (2003). Rigor In Information Systems Positivist Case
Research: Current Practices, Trends, And Recommendations. MIS Quarterly,
27(4), 597-636.
FLICK, U. (2005). Métodos Qualitativos Na Investigação Ciêntifica (1ª Ed.).
Lisboa: Monitor.
GEELS, F. (2002). Technological Transitions As Evolutionary Reconfiguration
Processes: A Multi-Level Perspective And A Case-Study. Research Policy, 31,
1257-1274.
GREENHILL, A. The Research Approach And Methodology Used In An Interpre-
tive Study Of A Web Information System: Contextualizing Practice. Information
Systems Research, 213-231.
HAMILTON, S., & IVES, B. (1982). MIS Research Strategies. Information And
Management, 5(6), 339-347.
HARTLEY, J. (2004). Case Study Research. In C. C. A. G. Symon (Ed.), Essential
Guide To Qualitative Methods In Organizational Research: SAGE Publications Ltd.
HOWCROFT, D., & MITEV, N. (2000). An Empirical Study Of Internet Usage
And Difficulties Among Medical Practice Management In The UK. Internet
Research: Electronic Networking Applications And Policy, 10(2).
JICK, T. (1979). Mixing Qualitative And Quantitative Methods: Triangulation In
Action. Administrative Science Quarterly, 602-611.
KLEIN, H., & MYERS, M. (1999). A Set Of Principles For Conducting And Evaluating
Interpretative Field Studies In Information Systems. MIS Quarterly, 23(1), 67-94.
LEE, A. S., & BASKERVILLE, R. L. (2003). Generalizing Generalizability In
Information Systems Research. Information Systems Research, 14(3).
MYERS, M. (1997). Qualitative Research In Information Systems. MIS Quarterly,
21(2), 241-242.
PALVIA, P., MAO, E., SALAM, A. F., & SOLIMAN, K. S. (2003). Management
Information Systems Research: What’s There In A Methodology. Communications
Of The Association For Information Systems (CAIS), 11(16), 33.
PAWLOWSKI, S., & ROBEY, D. (2004). Bridging User Organizations: Know-
ledge Brokering And The Work Of Information Technology Professionals. MIS
Quarterly, 28(4), 645-672.

– 70 –
Métodos de Investigação Qualitativa

POZZEBON, M., & DE FREITAS, H. (1998). Pela Aplicabilidade-Com Um


Maior Rigor Científico-Dos Estudos De Caso Em Sistemas De Informação
Dos Estudos De Caso Em Sistemas De Informação Dos Estudos De Caso Em
Sistemas De Informação. RAC, Nº2, 143-170.
RAMOS, I. (2010). Acetatos De Métodos De Investigação Qualitativos. Unpu-
blished Manuscript.
VON KROGH, G., SPAETH, S., & LAKHANI, K. (2003). Community, Joining,
And Specialization In Open Source Software Innovation: A Case Study. Rese-
arch Policy, 32(7), 1217-1241.
YIN, R. (1994). Case Study Research: Design And Methods, Applied Social Re-
search Methods Series, Vol. 5. Thousand Oaks: Sage, 1(2), 3.
YIN, R. (2003). Case Study Research: Design And Methods (Vol. 5): Sage Pu-
blications, Inc.

– 71 –
Proelium – Revista da Academia Militar

– 72 –

View publication stats

Das könnte Ihnen auch gefallen