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CURSO DE EXTENSÃO ONLINE – PSICOMOTRICIDADE

Prof. Ma Juliana Montenegro

APOSTILA

Apresentação do professor

Juliana Montenegro Seron – mestra em Educação Física pelo Programa de Pós-


graduação Associado UEM/UEL; graduada em Educação Física pela Universidade
Estadual de Maringá – UEM. Atua na docência desde 2001, já ministrou aula para
todos os segmentos da Educação Básica. Atualmente é gestora do Colégio Axia e
professora de Educação Física e Arte na mesma instituição, que atende Ensino
Médio. Realiza palestras, cursos de capacitação para professores e consultoria
educacional em diversos municípios. Atua como docente de cursos de
especialização em áreas da Educação, Educação Especial, Psicomotricidade,
Coaching, Gestão Escolar, Educação Física, entre outros. Ministra palestras
motivacionais em empresas, por vezes representando a UniFCV.

Link do Lattes:

https://wwws.cnpq.br/cvlattesweb/PKG_MENU.menu?
f_cod=0D38E3D668A3B48FBA87FF3CFBE0DB68

Apresentação do curso

Caro(a) aluno(a)

Seja bem-vindo ao curso de extensão em Psicomotricidade. Espero que os


momentos que iremos passar juntos sejam de aprendizado e possam contribuir na
sua formação pessoal e profissional. A intenção do curso é fornecer uma base
teórica sobre esta ciência bem como apresentar possibilidades de intervenção
que possam ser utilizadas em diversos âmbitos, como escola, clube, clínicas e
afins.

O estudo da Psicomotricidade possibilita entender a maneira como a


criança se torna consciente do seu corpo, das possibilidades de expressão por
meio desse corpo e das relações construídas a partir dele, nas quais está em
constante contato com objetos, pessoas, animais e tudo a sua volta. A
Psicomotricidade tem por objetivo estimular as aprendizagens por meio do corpo
em movimento, seu principal objeto de estudo.

Ao estudarmos o comportamento de uma criança, percebemos como é o


seu desenvolvimento. O comportamento e a conduta são termos adequados para
todas as suas reações, sejam elas reflexas, voluntárias e espontâneas, ou
aprendidas. Da mesma forma que corpo cresce, o comportamento evolui e as
aprendizagens amadurecem no decorrer da vida.

No processo de desenvolvimento a criança evolui em diferentes dimensões,


quais sejam, motora, cognitiva e socio afetiva. As primeiras evidências de que o
desenvolvimento está acontecendo de maneira saudável são observadas pelas
ações motoras e pela aquisição de movimentos. Todavia, os sinais para possíveis
dificuldades ou “atrasos” no desenvolvimento também são oriundos das
manifestações corporais que a criança realiza.

À medida que acontece a maturação do sistema, o comportamento se


diferencia e se modifica.

Para que ocorra um desenvolvimento motor adequado, é necessário um


amadurecimento neural, ósseo, muscular, além de crescimento físico, juntamente
com o aprendizado.

Vale ressaltar que este curso traz informações e pressupostos teóricos


básicos para entender a Psicomotricidade e não se constitui como formação que o
habilite a atuar como Psicomotricista. Mas pode fomentar interesse em tal
formação.

Diante disso convido você a conhecer a Psicomotricidade e se encantar por


esta ciência que podemos considerar como pré-requisito para as inúmeras
aprendizagens que ocorrem durante a vida. Afinal de contas, é possível grafar se
não tiver condição motora para segurar o lápis?!?!?!?

Pense nisso...

CAPÍTULO 1
(...) o corpo humano como sistema biológico é afetado pela religião, pela ocupação,
pelo grupo familiar, pela classe e outros intervenientes sociais e culturais” de modo
que a experiência do corpo é sempre modificada pela experiência da cultura”
J. C. Rodrigues (1983).

Histórico, Conceito e Fundamentos da Psicomotricidade

Para iniciarmos nossos estudos, vamos conhecer, de maneira resumida,


aspectos históricos da concepção de corpo, a fim de fornecer suporte para os
conhecimentos específicos bem como auxiliar na compreensão da temática central
deste curso. E aí então podemos enveredar pelos assuntos acerca da
Psicomotricidade bem como principais conceitos e terminologia comumente utilizada
na área.

A busca por entender e conceituar o corpo se entrecruza com a história. Com


o passar dos tempos o sentido e significado do corpo foi sendo modificado, algumas
vezes por descobertas científicas, em outras situações pela diversidade cultural dos
povos ou até mesmo pelas mudanças sociais.

Na Grécia Antiga o corpo era visto como algo a ser representado nas
manifestações artísticas buscando fazê-lo com perfeição, equilíbrio, simetria; ou, no
caso dos homens, usado como ferramenta de combate e, portanto, deveria ser
preparado para situações de conflito, fato este que deu origem aos jogos olímpicos,
cujo objetivo era melhorar as capacidades físicas dos homens. Em virtude disso o
corpo masculino da antiguidade grega era torneado e musculoso.

Desde a Antiguidade, os seres humanos buscam melhorar a forma do corpo e


desenvolver a musculatura. Os gregos cultuavam o corpo em estádios, nas
esculturas e nas pinturas. Filósofos como Platão e Aristóteles trouxeram reflexões
importantes sobre o corpo. Platão entende o corpo meramente como lugar para uma
alma que é imortal. Já Aristóteles afirma que a alma é que molda o corpo, pois
entende que esta alma tem a função de educar e movimentar o homem e seus
músculos.

No período medieval e com o advento do Cristianismo o corpo passou a ser


visto como local de pecado e muitas práticas corporais foram proibidas, pois a
intenção era materializar os dogmas construídos e difundidos pela Igreja.
No Renascimento o entendimento do corpo passa a ser construído numa
perspectiva científica. Artistas e cientistas realizam estudos da anatomia humana,
investigando diferentes órgãos em cadáveres. Um bom exemplo dessa prática foram
os estudos de Leonardo da Vinci, além de pintor, desenhista e outras tantas
profissões, era um anatomista que, por meio de desenhos mostrava aspectos
anatômicos do ser humano. Se você ficou curioso para aprofundar seus
conhecimentos sobre o gênio Leonardo da Vinci, coloquei um link de uma
reportagem disponível no Youtube sobre ele. Acesse:
https://www.youtube.com/watch?v=9Au6Sq-kGpA

Com o passar dos tempos e as mudanças ocorridas em sociedade, o corpo


foi ganhando diferentes significados e possibilitou diversas configurações. O que não
podemos negar é que durante muito tempo o corpo e a mente foram separados,
numa relação dicotômica. Inclusive os estudiosos construíam suas teorias
separadamente, aqueles que estudavam o desenvolvimento motor não
consideravam a mente, nem tampouco os que investigavam aspectos do psiquismo
olhavam o corpo como representação de pensamentos e ideias.

Costa (2011) apresenta que “a crença de que o corpo e a mente eram


unidades distintas no próprio homem fundamentou-se numa visão cartesiana, que
deu sustentação teórica aos princípios sociopolíticoeducacionais” (COSTA, 2011, p.
21).

A pesquisadora traz ainda o entendimento do corpo a partir da lógica


cartesiana, ao afirmar que

Cartesianamente, o corpo é pensado como objeto, obedece às leis


da mecânica e é marcado por uma mente que pensa. Exterioriza
seus pensamentos através da linguagem e apresenta uma
superioridade intelectual em oposição à irracionalidade dos outros
animais. O homem, dicotomicamente dividido em corpo e alma,
subjuga também sua ação sociopolítica e educacional, impede a
criatividade e a espontaneidade, esmera-se na repetição e no
treinamento. Essa dicotomia está calcada na concepção de “corpo-
máquina”, regido pela lei da mecânica (COSTA, 2011, p. 23).

E esta ideia permaneceu até o início do século XX, em que, por meio da
Neurologia foi cunhado o termo Psicomotricidade. Neste momento eram estudadas
disfunções motoras graves que aconteciam sem associação direta com lesão
cerebral ou em casos em que a região lesionada não tinha sido descoberta com
precisão.

Sobre a história da Psicomotricidade Fonseca (1988) afirma que

A história do saber da psicomotricidade representa já um século de


esforço de ação e de pensamento. A sua cientificidade na era da
cibernética e da informática, vai-nos permitir certamente, ir mais
longe da descrição das relações mútuas e recíprocas da convivência
do corpo com o psíquico. Esta intimidade filogenética e ontogenética
representam o triunfo evolutivo da espécie humana, um longo
passado de vários milhões de anos de conquistas psicomotoras.
(FONSECA, 1988, p. 99.)

De acordo com texto publicado no site da Associação Brasileira de


Psicomotricidade sobre a origem desta ciência

A França foi o grande berço da Psicomotricidade. O termo surge a


partir do discurso médico, na área neurológica, e atribui-se a Karl
Wernick, célebre neuropsiquiatra austríaco, a primeira nomeação em
1870, resultante de seus trabalhos na área das afasias. O conceito
de Psicomotricidade aparece em um primeiro momento como uma
tentativa bem-sucedida, de ultrapassar o modelo anátomo-clínico,
que não era mais suficiente para enfocar certos fenômenos
patológicos. O ato do nascimento da Psicomotricidade é, sem dúvida,
mais ou menos arbitrário, pois toda a inovação é fruto de um longo
processo contemporâneo às pesquisas de Dupré (Associação
Brasileira de Psicomotricidade, conteúdo online).

A medicina concluiu que mesmo sem uma lesão aparente, algumas áreas do
cérebro podem ter seu funcionamento comprometido, ocasionando disfunções
neurológicas, ou seja, dificuldades motoras podem ser provenientes de alterações e
não necessariamente de lesões.

E assim tudo começa quando são diagnosticados distúrbios na gestualidade


ou na atividade práxica dos pacientes. Como tais transtornos eram descobertos sem
estarem associados com uma lesão neurológica focal traz para os médicos a
necessidade de encontrar a explicação para situações clínicas percebidas. E surge
assim a Psicomotricidade.

Inicialmente as investigações enfatizam a abordagem neurológica. Em 1909,


o neuropsiquiatra Dupré afirma que possíveis debilidades motoras – que afetam o
sistema psicomotor - podem não ser correlatas aos aspectos neurológicos do
paciente.

Caro aluno, antes de continuarmos essa conversa, gostaria que refletisse a


partir das seguintes indagações: Qual a relação entre corpo e alma no ser humano?
É possível dissociar o psiquismo da gestualidade e das ações motoras? De que
maneira aspectos emocionais e sensoriais apresentam relação ao corpo e à mente?

Parei o nosso percurso propositadamente, para que você possa refletir sobre
questionamentos que permeiam a Psicomotricidade desde sua criação até os dias
atuais. Agora podemos continuar...

Falávamos de Dupré e suas teorias acerca da relação entre disfunções


motoras e lesões neurológicas. Sobre este fato FALCÃO e BARRETO (2009)
explicam que

É Dupré, neurologista francês que, em 1907, a partir de seus estudos


clínicos, define a síndrome da debilidade motora, composta de
sincinesias (movimentos involuntários que acompanham uma ação),
paratonias (incapacidade para relaxar voluntariamente uma
musculatura) e inabilidades, sem que lhes sejam atribuídos danos ou
lesão extrapiramidal. Ele rompeu com os pressupostos da
correspondência biunívoca entre a localização neurológica e
perturbações motoras da infância e formulou a noção de
psicomotricidade através de uma linha filosófica neurológica,
evidenciando o paralelismo psicomotor, ou seja, a associação
estreita entre o desenvolvimento da psicomotricidade, inteligência e
afetividade. A patologia cortical, a neurofisiologia e a neuropsiquiatria
são conhecidas como as três vias de acesso do conceito de
psicomotricidade (FALCÃO e BARRETO, 2009, p. 87).

No campo científico Henry Wallon é considerado o pioneiro da


Psicomotricidade. Wallon é médico, psicólogo e pedagogo e, ao estudar o bebê, no
que tange ao desenvolvimento neurológico, e a criança, observando suas aquisições
psicomotoras, traz informações essenciais para a evolução da Psicomotricidade.
Para Wallon, as atividades motoras expressam aspectos psíquicos da criança, haja
vista que é por meio do corpo que a criança está em contato com o meio.

Em suas teorias, Wallon afirma que a criança representa suas necessidades,


interesses e se comunica usando a motricidade. Para ele as ações motoras resultam
da condição psíquica, e os deslocamentos no espaço são fruto do desenvolvimento
humano de maneira integral: motricidade, afetividade e cognição. Tais dimensões do
desenvolvimento são indissociáveis.

Existem muitos pesquisadores que investigam a Psicomotricidade. Porém, é


fundamental o estudo das teorias de Henry Wallon para entender a Psicomotricidade
tendo em vista que esclarece de que formas se estabelece a relação do
desenvolvimento cognitivo, socio afetivo e psicomotor, com a educação.

Wallon foi significativo para aprofundarmos os estudos acerca da


Psicomotricidade por diversos fatores, quais sejam: a concepção psicogenética
dialética que construiu, que possibilitou olhar o ser humano de modo global; a
relação dialética entre afetividade, cognição com aspectos biológicos e
socioculturais e suas implicações no processo ensino-aprendizagem; interação da
psicologia com a educação; desenvolvimento motor como fruto de aspectos
diversos, como pensamento, linguagem, movimento e emoção.

Wallon entende que a escola é fundamental nesse processo e contribui para


entender a relação entre professor e aluno. Diante disso, MAHONEY (2002) afirma
que

O professor tem participação fundamental neste contexto, pois é


através da relação dos pares que se efetiva o processo ensino
aprendizagem. Professor e aluno constituem par unitário e indivisível
quando analisamos o que ocorre na sala de aula. A aprendizagem é
o resultado desse encontro. Essa interação leva para transformações
na direção da aprendizagem, na medida em que considera situações
que satisfaçam, ao mesmo tempo, necessidades motoras, afetivas,
cognitivas dos dois polos da relação (MAHONEY, 2002, p.13).

Na perspectiva walloniana o desenvolvimento das ações motoras interfere


diretamente no psiquismo do sujeito. Embasado na psicologia genética - como
origem do psiquismo - e no interacionismo, Wallon entende que a genética e
aspectos constituem a gênese da inteligência humana.

Na imagem abaixo você pode observar aspectos da Teoria de Wallon no que


tange ao desenvolvimento psicomotor organizado de acordo com a idade.
Pirâmide do desenvolvimento psicomotor

Fonte: Desenvolvimento Psicomotor e Aprendizagem, Vitor da Fonseca pág. 18

De acordo com os escritos de Wallon

É contra a natureza tratar a criança fragmentariamente. Em cada


idade, ela constitui um conjunto indissociável e original. Na sucessão
de suas idades, ela é um único e mesmo ser em curso de
metamorfoses. Feita de contrastes e de conflitos, a sua unidade será
por isso ainda mais susceptível de desenvolvimento e de novidade
(WALLON, 2007, p.198).

O que você achou da teoria do Henry Wallon? Na sessão Saiba Mais indico
leituras que podem complementar o assunto.

Continuando nosso percurso histórico, vamos conhecer outro estudioso da


Psicomotricidade, que, inspirado pelas teorias de Wallon, traz a reeducação motora,
composta por atividades motoras que tem por objetivo a correção de aprendizagens
motoras errôneas bem como otimização das aprendizagens que possam apresentar
falhas no desenvolvimento do indivíduo, ou seja, reeducar a motricidade humana
consiste em propor atividades que reeducam a tonicidade e o controle motor. Este
teórico é o neuropsiquiatra Edouard Guilman.

Você já ouviu falar em Jean Piaget? Se você tem qualquer formação que
pertença à Educação, já deve ter ouvido falar dele e da Teoria do Desenvolvimento
Cognitivo. Se você ainda não se recorda, vou dar algumas uma dica: Piaget
organiza a maneira como a criança aprende em estágios, são eles: sensório-motor,
pré-operatório, operatório concreto e operatório formal.

Piaget contribuiu para os estudos em Psicomotricidade ao entender o


movimento como essencial para o desenvolvimento da inteligência humana.
Principalmente na primeira etapa que é a sensório-motora, haja vista que nesse
período, que vai do nascimento até 2 anos, a criança ainda não adquiriu habilidade
de linguagem, e, portanto, usa o corpo como forma de interagir com o meio e
comunicar seus interesses.

Outros estudiosos também contribuíram para legitimação da


psicomotricidade, tais como:

Ajuriaguerra, que em seu Manual de Psiquiatria Infantil, define os transtornos


motores “que oscilam entre o neurológico e o psiquiátrico”. Ajuriaguerra modifica o
conceito de debilidade motora ao considerar como síndrome com propriedades
peculiares;

Le Bouch ao escrever, em 1966, o livro A Educação pelo movimento, com


aporte teórico na teoria walloniana, tinha o proposito de sensibilizar os professores
para os dilemas vividos pela educação psicomotora. Junto com Le Bouch alguns
nomes expressivos: Andre Lapierre, Bernard Auconturier, De Fontaine, entre outros.

Para Le Boulch (1988) “...o objetivo da educação pelo movimento é contribuir


ao desenvolvimento psicomotor da criança, de quem depende, ao mesmo tempo, a
evolução de sua personalidade e o sucesso escolar” (p.15).

Caso haja interesse em conhecer outros teóricos da Psicomotricidade, segue


uma tabela explicativa. Pois, para este momento não cabe aprofundarmos em todos
os possíveis pesquisadores do tema, dada a configuração do curso de extensão.
FONTE: FONSECA, 2008, p. 10

O objetivo deste curso é oferecer subsídios para profissionais da Educação e


outros interessados para utilizar a Psicomotricidade como ferramenta que otimiza o
processo ensino aprendizagem. Portanto não irei aprofundar nos aspectos
históricos, o que

“Considerando que o nosso mundo é sensorial, um dos primeiros desafios do


bebê é organizar, interpretar e integrar informações dos vários sistemas sensoriais,
de forma a dar sentido ao que se passa a sua volta” (MAGALHAES &
LAMBERTUCCI, 2004, p.299).

No entendimento dos autores

Integração sensorial é o processo neurológico que organiza as


sensações do próprio corpo e do ambiente, permitindo a organização
do comportamento e o uso eficiente do corpo nas ações e atividades
que fazemos rotineiramente.
[...] Todas as nossas ações, não só motoras, mas também processos
de aprendizagem e formação de conceitos, são dependentes da
capacidade para interpretar informações sensoriais (MAGALHAES &
LAMBERTUCCI, 2004, p. 299)

Sobre os teóricos que investigaram a Psicomotricidade e que são relevantes


para quaisquer estudo sobre o assunto a Associação Brasileira de Psicomotricidade
afirma que

O segundo período da evolução da Psicomotricidade é caracterizado


pela emergência de uma identidade, inicialmente teórica e prática,
precedendo a institucional. Trata-se de um novo marco. Ajuriaguerra
em 1947, entrelaçando as contribuições de Dupré, Wallon e Piaget,
lança um novo olhar sobre o corpo e o movimento, redefinindo os
transtornos psicomotores e delimitando os termos motricidade e
Psicomotricidade; o desenvolvimento práxico é correlacionado com o
instrumento corporal e seu significado relacional. A Psicomotricidade
é vista como uma atividade de um organismo total e expressa a
personalidade inteira, que corresponderia a uma análise geral do
indivíduo, traduzindo um certo modo de ser motor e caracterizando
todo o seu comportamento. É o rompimento com o imperialismo
neurológico. O polo psicomotor vai se liberando gradativamente do
pólo orgânico, situando-se num prisma psicofisiológico, vinculado aos
afetos e emoções. Concretiza-se, definitivamente, o afastamento da
visão do dualismo cartesiano e a palavra psico-motricidade perde o
seu hífen (Associação Brasileira de Psicomotricidade, conteúdo
online).

De acordo com o mesmo site, a Psicomotricidade vem trilhando caminhos


bastante favoráveis no Brasil e no mundo, essa ciência vem ganhando legitimidade
em números de pesquisas e pesquisadores. Além disso, tem interessando cada vez
educadores e demais profissionais da Educação.

O momento atual da psicomotricidade brasileira é extremamente


promissor, com grande penetração da teoria e da prática
psicomotora, em berçários, creches, escolas de Educação Infantil e
de Ensino Fundamental, escolas especiais, instituições e clínicas
multidisciplinares, clínicas geriátricas, hospitais e empresas além de
vários projetos sociais, desenvolvidos em hospitais, ambulatórios e
com comunidades em diversas áreas do Brasil. Segundo os
estatutos da Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, a clientela
atendida inclui bebês de alto risco, crianças, adolescentes, adultos e
idosos e as indicações mencionam a normalidade, os desvios e as
patologias(Associação Brasileira de Psicomotricidade, conteúdo
online).
Conhecendo a perspectiva histórica fica mais claro as razoes pelas quais a
Psicomotricidade vem ganhando cada vez mais espaço e significado. Tanto em
ambiente escolar quanto fora dele.

Devidamente apresentados os aspectos históricos, continuaremos nossos


estudos, agora tratando de definições acerca do tema.

A Associação Brasileira de Psicomotricidade apresenta a seguinte definição:

Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o


homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu
mundo interno e externo. Está relacionada ao processo de
maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas,
afetivas e orgânicas.
É sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o
intelecto e o afeto.
Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma
concepção de movimento organizado e integrado, em função das
experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua
individualidade, sua linguagem e sua socialização.” (Associação
Brasileira de Psicomotricidade, conteúdo online)

Até agora tenho falado bastante da infância, mas a Psicomotricidade pode ser
utilizada com bebês a partir de 6 meses até idosos, perpassando as diversas etapas
do desenvolvimento humano. O que torna esta ciência absolutamente inclusiva e
democrática, as atividades podem ser aplicadas em diversos formatos: individual,
em pequenos ou grandes grupos, na escola, na clínica e outros espaços. Vale
explicar que a abordagem e a escolha das atividades vão depender das
necessidades das pessoas.

A base da Psicomotricidade é a Ludicidade, que consiste na utilização de


jogos, brincadeiras, brinquedos, música e dança para aprender. A ideia é aprender
brincando e brincar aprendendo. Vamos pensar que brincar é inerente ao
desenvolvimento humano. Para as crianças, brincar é sério, pois ela utiliza a
brincadeira para compreender o mundo a sua volta. Além disso, brincar contribui na
formação do psiquismo.

De acordo com Fonseca (2018) “a Psicomotricidade pode ser definida e


conceitualizada como o campo multidisciplinar e transdisciplinar que estuda e
investiga o desenvolvimento biocultural nas relações sistêmicas entre o psiquismo e
a motricidade” (p. 13).

O autor acrescenta ainda que

O psiquismo nesta perspectiva é por nós entendido como sendo


constituído pelo conjunto do funcionamento mental, ou seja, integra
as sensações, as percepções, as imagens, as emoções, os afetos,
os fantasmas, os medos, as projeções, as aspirações, as
representações, as simbolizações, as conceitualizações, as ideias,
as construções mentais etc., assim como a complexidade dos
processos relacionais e sociais que estão na sua origem e os
contextualizam.
O psiquismo, nesta dimensão, integra a totalidade dos processos
perceptivos, cognitivos e práxicos, compreendendo desde as funções
tônico-atencionais, as funções de processamento, estruturação e
integração do ego (ditas interoceptivas e proprioceptivas) e
ecognósias (ditas exteroceptivas) até as funções executivas de
planificação, antecipação, priorização, regulação, monitorização e
controle de respostas comportamentais adaptativas (FONSECA,
2018, p. 13-4).

E ENTÃO?

Está gostando do que tem estudado até agora? Pois bem, caro aluno, ainda
tem muita Psicomotricidade pela frente. No próximo tópico você irá conhecer alguns
termos típicos da psicomotricidade e que são fundamentais que conheça. Além
disso, vou apresentar assuntos considerados basilares para começar a entender
esta ciência, e que, com certeza, vão contribuir para aumentar seu interesse sobre o
assunto e fomentar novas curiosidades e buscas.

Para concretizar nossos estudos sobre a definição e contextualização da


Psicomotricidade, segue esquema apresentado por FONSECA (2008) a fim de
apresentar a relação entre a estrutura do cérebro e as aprendizagens e
desenvolvimento psicomotor. Como podem observar na imagem abaixo, a
Psicomotricidade vai além de perceber as ações motoras do ser humano, os estudos
envolvem perspectivas neurológicas e são respaldados em dados neuro científicos
para construção dos pressupostos teóricos que a amparam.
FONTE: FONSECA (2008) p. 21.

Observe que o esquema apresentado traz diversas aprendizagens que


verificamos no cotidiano. No próximo tópico você irá conhecer alguns dos tantos
termos que circundam a Psicomotricidade e que são fundamentais que conheça.

Entendendo termos essenciais

Neste momento do curso trarei duas definições fundamentais para o


entendimento da psicomotricidade como uma ciência que estuda o homem por meio
do seu corpo em movimento, tomando como suporte o processo evolutivo da
espécie humana e o desenvolvimento do indivíduo, desde a fecundação até a morte.

Vale lembrar que este conteúdo é específico da apostila, caso queira


aprofundar, busque as referências citadas.

Neste momento vou apresentar termos essenciais da Psicomotricidade como


uma espécie de glossário, buscando referenciar em pesquisadores renomados no
cenário nacional e internacional.

Sobre o assunto deste momento Vitor da Fonseca esclarece que


Ao decorrer de duas heranças essenciais, a genética ou biológica por
um lado e a socio-histórica ou cultural por outro, como órgão
incomparável de excelência bio-cultural, o cérebro humano com os
seus processos mentais aprendidos ao longo da ontogênese
individual, pessoal, evolutiva, total e única, produz e cria com o corpo
e a sua motricidade todas as formas de comportamento,
aprendizagem e de experiência até hoje conhecidas (FONSECA,
2018, p. 23).

É fundamental conhecer tais etapas do desenvolvimento humano tendo em


vista os diversos aspectos que interferem na formação, o que é respeitado e
estudado pelo viés da Psicomotricidade. Além disso, tais concepções abordam a
maneira como somos concebidos, como nascemos, crescemos, aprendemos,
reproduzimo-nos e morremos.

Vamos começar pela Filogênese, que trata de aspectos pertinentes à


evolução do cérebro humano, relacionando evolução e maturação do sistema
nervoso. De acordo com Fonseca, a perspectiva filogenética estuda o cérebro a
partir de três formas comportamentais, quais sejam:

- comportamentos não aprendidos, ditos inatos, que repartimos com


os mamíferos inferiores. Neles se integram as funções fisiológicas
básicas: respirar, sugar, mastigar, deglutir, digerir, tossir, sentir fome e
sede, urinar, defecar, tensão sexual, cólera, dor, raiva, medo,
saborear, ouvir, tocar, vocalizar, distinguir graduações de luz, orientar,
explorar etc.;
- comportamentos aprendidos, que também repartimos com outros
mamíferos, nomeadamente os primatas. Neles se integram a forma
como vemos (ou percebemos) o mundo físico a nossa volta,
reconhecimento básico das significações do que se vê, ouve, cheira,
toca, saboreia etc.;
- comportamentos aprendidos que não repartimos com mais
nenhuma outra forma de vida. Neles se integram as praxias, o
trabalho, a linguagem falada e escrita, a autoconsciência, o
autojulgamento, o pensamento abstrato, os valores, a ética et
(FONSECA, 2012, p. 22).

As dimensões de desenvolvimento humano que estão sendo apresentadas


nesse tópico estabelecem uma relação dialética, que, de acordo com Vitor da
Fonseca

Os seres humanos realizam a aventura do desenvolvimento a partir


de uma dupla herança (filogênese e sociogênese) em uma
dimensão ontogenética se as condições genéticas do organismo
forem intactas e as condições envolvimentais e socioculturais forem
facilitadoras. Caso contrário, emerge a disontogênese. A
ontogênese tende à retrogênese... (FONSECA, 2018, p. 25).

Percebe como existe uma inter-relação das áreas que estamos conhecendo?

Para entender o desenvolvimento humano é necessário compreender as


diferentes dimensões que buscam estudar a evolução enquanto espécie humana,
também as mudanças neurológicas que viabilizam as diversas aprendizagens que
fazem parte da vida. Além disso é essencial compreender as adversidades que
afetam a aquisição de habilidades e que, por vezes, interferem na vida e na
convivência das pessoas.

Nesse sentido a Ontogênese se destina a estudar o desenvolvimento do


organismo por meio dos aspectos maturacionais. Afinal de contas, para toda
aprendizagem humana existe um período destinado ao seu amadurecimento, até
que esteja completamente aprendida. Por exemplo, quando a criança aprende a
andar, antes das passadas é necessário que fique na posição em pé em equilíbrio, o
que seria um pré-requisito. A partir disso tem início o processo de aprendizagem,
que vai desde a ação motora realizada de maneira rudimentar, com desequilíbrios
até a execução de maneira madura. Esse processo é entendido como maturação.

Tem-se ainda outras duas dimensões que são importantes para entender o
ser humano: a disontogênese, que tem por objetivo estudar “as perturbações, os
desvios, as atipicidades e as dificuldades e diferenças funcionais e adaptativas”, que
são expressas nas necessidades educacionais especificas, quais sejam, sensoriais,
motoras, socio-afetivas, cognitivas e de comunicação. E a retrogênese, buscando
compreender “o envelhecimento normal, a senescência e a longevidade dita
saudável, bem assim a involução e a neurodegenerescência humana, dita demencial
ou de declínio precoce e acelerativo”. (FONSECA, 2018, p. 24)

O desenvolvimento humano está atrelado a essas dimensões e todas as


aprendizagens que acontecem durante a vida estão, de alguma forma relacionada a
uma ou mais das dimensões apresentadas.
Saiba Mais: Leia o artigo: Tendências da Educação Psicomotora Sob o Enfoque
Walloniano, escrito por Elda Maria Rodrigues de Carvalho.

Disponível no link: http://www.scielo.br/pdf/pcp/v23n3/v23n3a12.pdf

Leitura interessante: texto disponível no site da Associação Brasileira de


Psicomotricidade, intitulado EM TEMPOS DE INFÂNCIAS APRISIONADAS E
CRIANÇAS PRIVATIZADAS, O QUE FAZER?

Disponível em: https://psicomotricidade.com.br/em-tempos-de-infancias-


aprisionadas-e-criancas-privatizadas-o-que-fazer/

Veja na Prática: Assista a entrevista com o Prof. Lino Castellani sobre o que é
Psicomotricidade.

Psicomotricidade: Prof. Lino explica


https://www.youtube.com/watch?v=dZxUoysFfxg

Exercitando: Segue link de acesso a apostila com diversas atividades psicomotoras

https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/379264/mod_folder/content/0/cartilha
%20psicomotricidade.pdf?forcedownload=1

CAPÍTULO 2

Vertentes da Psicomotricidade – Educação Psicomotora, Reeducação,


Relacional

Neste capítulo iremos conhecer 3 das principais vertentes da


Psicomotricidade. Nas nossas videoaulas, que são complementares para o material
apostilado, você poderá conhecer explicações e exemplos para cada uma delas.

A Psicomotricidade é entendida como uma ação educativa integrada que está


embasada na comunicação, na linguagem e nos movimentos conscientes e
espontâneos da criança, os chamados movimentos naturais. Seu propósito é
aprimorar a conduta global humana. Faz uso de ações psicomotoras como
possibilidade de se comunicar por meio da exploração de movimentos conscientes,
intencionais e sensíveis tanto em formação quanto em aspectos evolutivos,
entendida como foco central das vivências sensoriais, motoras, emocionais, afetivas,
cognitivas e sociais, de maneira integral.

Vista como habilidade de realização de movimentos de modo intencional, de


modo que o movimento da a entender as diversas funções neurocognitivas, como:
afetividade, memória, linguagem, raciocínio, atenção, discriminação, entre outras.
Os estudos em Psicomotricidade mostram que o que possibilita ações motoras está
relacionado as situações de contração e relaxamento muscular.

Por meio das praxias, que são os movimentos realizados voluntariamente


ocorre o estímulo da criatividade, além de contribuir na conscientização do corpo
num diálogo constante com as emoções, com vista a reconectar o ser humano
consigo mesmo e com os outros.

Educar o movimento significa promover aprendizagens de acordo com as


etapas de desenvolvimento do ser humano, respeitando as especificidades de cada
idade, bem como as condições organizas, motoras e psíquicas, entendendo o ser
humano de maneira integrada, o que constitui uma só unidade psicomotora. Para os
estudiosos da área, os estímulos psicomotores auxiliam na formação do caráter,
além de contribuir no desenvolvimento da competência em realizar tarefas
cotidianas.

O movimento é inerente à condição humana, pois precisamos realizar ações


motoras para nos comunicar com o mundo e para viver e conviver em sociedade.
Entendendo que os seres humanos estabelecem, no decorrer da sua existência, três
tipos básicos de relação: consigo mesmo, com o outro – aquele que está próximo,
objetos, pessoas e elementos da natureza, e com o meio de maneira geral, haja
vista que somos afetados por situações que sequer temos contato direto, como algo
que acontece do outro lado do mundo, por exemplo.

Interagir socialmente é essencial para o desenvolvimento de habilidades e


competências afetivas, cognitivas e éticas, e tais interações acontecem por meio de
ações motoras, que se materializam em gestos, emoções, percepções, entre outros.
Sendo assim é altamente relevante a aprendizagem psicomotora, que viabiliza a
comunicação, a expressividade e a atuação das crianças em atividades de equipe,
valorizando a ludicidade.
A Educação Psicomotora entende que a escola é um espaço de
aprendizagem e que educar o corpo carece de uma proposta pedagógica
consistente e sistematizada. Nesse aspecto, o lúdico vai ser entendido como
ferramenta didática e o corpo como instrumento de aprendizagem. O jogo vai atuar
como método facilitador de aquisição de saberes.

Por meio da Educação Psicomotora, a criança descobre possibilidades


cinestésicas usando a expressão pelo corpo e no corpo. Para Jean Piaget (1977) a
ação psicomotora antecede o desenvolvimento cognitivo e o pensamento de
representação. E afirma que as ações motoras, visuais, táteis e auditivas realizadas
por meio da interação das crianças é de suma importância para seu
desenvolvimento global. Entende que as habilidades psicomotoras colocam a
criança em contato com o meio, haja vista que é pelos sentidos que estamos em
conexão com o mundo.

Fique tranquilo que teremos um tópico somente para estudar os sentidos


humanos que são essenciais para entendermos as contribuições da
Psicomotricidade.

Se você é da Educação já deve ter ouvido falar nas etapas do


desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget. Só pra lembrar: Sensório-motor, Pré-
operatório, Operatório Concreto e Operatório formal. Neste estudo Piaget observa a
maneira como aprendemos com base nas diferentes idades, até 12 anos, que
passamos a aprender por abstração, no já citado Estágio Operatório Formal.

Para Costallat (1987) numa perspectiva educativa

A Psicomotricidade, como ciência da educação, enfoca esta unidade


educando o movimento ao mesmo tempo que põe em jogo as
funções intelectivas. (...) somente um método combinado, que ao
mesmo tempo que eduque o movimento atue sobre o intelecto, o fará
progredir realmente no caminho da recuperação total (COSTALLAT,
1987).

Em suma, a Educação Psicomotora é uma abordagem voltada para o espaço


escolar que tem por objetivo contribuir nas aprendizagens do aluno por meio do
corpo em movimento, respeitando as emoções e usando como referência as etapas
do desenvolvimento cognitivo de Piaget.
Segundo Garanhani (2008, p. 128)

A escola da pequena infância, ao proporcionar um meio favorável ao


desenvolvimento infantil nos seus diversos domínios - a afetividade,
a cognição e o movimento, realiza a mediação entre a criança e o
conhecimento culturalmente construído e traduzido em diferentes
linguagens: oral, corporal, musical, gráfico-pictórica e plástica. Ao
mesmo tempo, desenvolve na criança habilidades para a expressão
e comunicação.
Ainda dentro desse contexto, Garanhani (2008, p. 129) afirma que

Para que o conhecimento e o desenvolvimento de diferentes


linguagens estejam presentes na educação da pequena infância, é
necessário estar atento ao fazer pedagógico da Educação Infantil,
que deverá contemplar ações pedagógicas que privilegiem diversas
formas de interação e comunicação da criança com o meio e com
seu grupo. Essa condição está diretamente atrelada à formação da
educadora responsável pela escolarização dessa idade.

Segundo Le Boulch (1987, p. 129)

A educação psicomotora na idade escolar deve ser antes de tudo


uma experiência ativa de confrontação com o meio escolar, tem a
finalidade não de ensinar à criança comportamentos motores, mas
sim de permitir-lhe, mediante o jogo, exercer sua função de
ajustamento, individualmente ou com outras crianças. No estágio
escolar, a primeira prioridade constitui atividade motora lúdica, fonte
de prazer, permitindo a criança prosseguir a organização de sua
imagem do corpo ao nível do vivido e de servir de ponto de partida
na sua organização práxica em relação com o desenvolvimento das
atitudes de análise perceptiva.
Para Oliveira (2004, p. 51)

Um esquema corporal organizado, portanto, permite uma criança se


sentir bem, na medida em que seu corpo lhe obedece, em que tem
domínio sobre ele, em que o conhece bem, em que pode utilizá-lo
para alcançar um maior poder cognitivo. Ela deve ter o domínio do
gesto e do instrumento que implica em equilíbrio entre as forças
musculares, domínio de coordenação global, boa coordenação óculo-
manual.

Sobre Educação Psicomotora, Duarte (2015) afirma que

Uma das maiores dificuldades na atualidade é a criança conseguir encontrar


um lugar amplo para brincar, pintar, explorar a liberdade de seus movimentos e as
possibilidades variadas de “fazer tudo”.
Os espaços livres das escolas, pátios de recreação, devem ser
organizados visando torná-los mais ricos de estímulos colocando:
troncos de arvores, pranchas, bancos, brinquedos de parque
(escorregador, túbulos de concreto, gangorra, etc.) bem como, a
utilização da agua e da areia. Outros materiais aconselhados seriam:
bolas e balões de diferentes tamanhos, pneus e círculos, bambolês,
palitos de madeira ou plástico, cordões e barbantes de diferentes
tamanhos, corda de pular, sucata, etc (DUARTE, 2015, p. 97).

Para o mesmo autor

A educação psicomotora deve ter como objetivo inicial ensinar a


criança a ficar sentada, adquirir boa postura, ouvir, etc.,
posteriormente será atingir a capacidade de receber ordens,
concentrar-se, usar a memória, executar tarefas do começo ao fim. O
progresso pode ser lento, mas o objetivo principal é o de não deixar
lacunas entre as etapas de desenvolvimento. A educação
psicomotora na idade escolar necessita de ajuda educativa dos pais,
e do meio escolar não para simplesmente ensinar comportamentos
motores, mas permitir-lhe exercer sua função de ajustamento,
individualmente ou com outras crianças (DUARTE, 2015, p. 108).

Pensando que, em algumas situações a criança acaba não desenvolvendo as


aprendizagens de acordo com o esperado para a idade e que, pode ainda aprender
de maneira inadequada, é que surge a Reeducação Psicomotora. O objetivo desta
abordagem é justamente corrigir aprendizagens erradas. Como, por exemplo,
quando a criança “aprende” a pegar no lápis de maneira que não é correta, como
isso pode afetar o desenvolvimento de outras habilidades, cabe à reeducação
corrigir tal aprendizagem, trazendo exercícios que propiciem ao aluno realizar tal
ação motora da maneira adequada.

Para tanto Duarte esclarece que

É aconselhado que a educação psicomotora seja iniciada o mais


cedo possível, pois quanto mais nova for a criança, a redução tornar-
se-á menos longa em sua duração. É necessário sensibilizar a
criança para que adquira as estruturas motoras ou intelectuais
corretas, caso esta já tenha assimilado esquemas errados, cabe ao
reeducador fazê-la esquecê-los antes de inculcar-lhe os esquemas
corretos (DUARTE, 2015, p. 112).
Sendo assim é fundamental que tais esquemas sejam percebidos
precocemente para que seja feita a intervenção adequada para a necessidade da
criança.

Para Duarte (2015) é urgente trabalhar a reeducação

para trabalhar sobre os problemas afetivos, isso porque a criança


pode ir se bloqueando ao observar-se em comparação aos seus
conhecidos e sentir-se angustiada, sendo assim, a reeducação a
auxiliará a adotar um novo comportamento/postura e que ira aos
poucos oferecer-lhe uma visão mais positiva (DUARTE, 2015, p.
112).

A criança que apresente dificuldades precisa de atendimento imediato tendo


em vista que fatores emocionais podem interferir na aprendizagem. Quanto mais a
criança percebe suas dificuldades, mais complexo pode ficar o acesso a ele em
virtude das condições afetivas.

E, por fim iremos falar da Psicomotricidade Relacional, que consiste numa


abordagem que busca contribuir para que o ser humano saiba lidar com seus
conflitos psicoafetivos. Nesse caso Andre Lapierre, que é o idealizador dessa teoria
tem na psicanálise seu aporte teórico.

De acordo com o site Psicomotricidade Relacional

A finalidade da Psicomotricidade Relacional é a de atuar sobre os


fatores psico-afetivos relacionais adquiridos na infância. Esses
fatores estão diretamente vinculados a dificuldades de adaptação no
cotidiano e no convívio social. Esta prática propicia a descoberta dos
meios que facilitam o desenvolvimento global do SER.
O ineditismo do método reside no fato de que a criança, através do
lúdico consegue revelar, de modo natural, o que se passa no seu
mundo interior, sem necessidade de qualquer expressão verbal. Elas
expressam desejos, necessidades e dificuldades, sem se darem
conta do que acontece, fazendo o que elas mais gostam e sabem
fazer: brincar. Para elas o brincar é coisa séria e é brincando que as
crianças estruturam o seu aparelho psíquico, brincam para aprender
e a simbolizar, portanto, o brincar já é uma terapia
(psicomotricidaderelacional.com, conteúdo online).

A psicomotricidade Relacional foi criada na década de 1970 por Lapierre, que


estudou sistematicamente por meio de aspectos cognitivos, socioafetivos,
psicomotores e relacionais.
Na década de 70, diferentes autores, entre eles André Lapierre e
Aucouturier, definiram a Psicomotricidade como uma motricidade da
relação. Naquele momento abriu-se um espaço significativo no
âmbito educativo, possibilitando uma pedagogia baseada na
descoberta, no desejo de aprender e no movimento espontâneo.
(VIEIRA, BATISTA, LAPIERRE, 2007, p. 26)
Para os mesmos autores

A Psicomotricidade Relacional no espaço escolar busca estimular a


capacidade relacional de alunos e professores. Insere-se no contexto
educativo proporcionando um espaço para expressão corporal da
criança e do adulto, na manifestação dos impulsos inconscientes que
os levam à busca do conhecimento, a afirmação da própria
identidade e a superação de conflitos normais do desenvolvimento,
potencializando o desejo para a aprendizagem. Deve portanto, ser
incluída no Currículo Escolar como uma atividade sistemática com
fins preventivos e profiláticos. (VIEIRA, BATISTA, LAPIERRE,
2005.p. 141)

A partir da abordagem a criança que tiver sucesso social terá melhores


resultados na aprendizagem, e que, por meio das técnicas utilizadas, serão
estabelecidas relações significativas, com compreensão do meio simbólico, o que
permite estabelecer condutas reais de maneira saudável e eficaz.

Tal socialização não é uma coisa pronta, que poderá ser adquirida
globalmente e sem choques; ela é construída pouco a pouco, com
fases de evolução que podem, a cada instante, colocá-la em
questão. É acompanhando e respeitando a evolução dessas fases
que ajudaremos a criança a realizar essa transposição. (LAPIERRE,
AUCOUTURIER, 2004. p. 85)
Num primeiro momento o sujeito precisa desejar ser e agir, para então desejar
e ser capaz de aprender. A Psicomotricidade Relacional está buscando contribuir na
formação do SER. Nesse sentido

A Psicomotricidade Relacional propõe uma ação educativa partindo


do pressuposto de que “a aquisição de conhecimentos se situa não
como uma meta em si, mas como parte integrante de uma dinâmica
de afirmação da pessoa no seio de um grupo social. O desejo de
aprender é apenas um dos elementos secundários do desejo de agir,
do desejo de ser. A expressão abstrata também não passa de um
outro meio de afirmação, que vai tomar progressivamente o lugar da
expressão motora, ao assegurar a continuidade e assumir todo o
conteúdo simbólico (LAPIERRE, 1997 apud VIEIRA, BATISTA,
LAPIERRE, 2005. p. 144).
Durante as atividades os praticantes são orientados a explorar livremente
alguns materiais básicos desta prática, quais sejam: bolas, arcos, tecidos, caixas de
papelão, jornais, cordas e bastões. De acordo com a abordagem ao se relacionar
com tais objetos o praticante está em contato corporal com elementos que tem uma
representação no campo simbólico e não simplesmente com o objeto em si, numa
relação de desenvolvimento de habilidades motoras.

A representação simbólica que cito está relacionada com aspectos da


psicanálise bem como explica a maneira como ocorre a interação corpo e objeto.

Por ser a prática da Psicomotricidade Relacional um lugar onde as


relações acontecem livremente e são imprevisíveis, nas quais
encadeiam instantâneas e espontaneamente as respostas motrizes,
o profissional corre o risco de não dominar bem seus próprios
impulsos, de substituir a problemática da criança pela sua própria, de
decodificar de forma projetiva (VIEIRA, BATISTA, LAPIERRE, 2005.
p. 135).

A psicomotricidade Relacional pode ser utilizada em diferentes espaços, e,


neste caso ocorre a interação do psicomotricista com o grupo. Pode ser aplicada em
famílias, turmas escolares, pequenos ou grandes grupos. Para os proponentes ela
tem um caráter preventivo, podendo atuar de maneira terapêutica também, haja
vista que busca a formação do ser humano e não necessariamente a aquisição de
habilidades motoras.

Neste capítulo conhecemos 3 das principais abordagens da Psicomotricidade:


Educação, Reeducação e Relacional. Existem outras nomenclaturas e vertentes,
mas entendo que, para esta formação, as abordagens estudadas dão conta de
apresentar o quão rica em possibilidades e formas de utilização a psicomotricidade
pode ser.

Espero que seu encantamento esteja sendo tal qual me proponho a


apresentar esta ciência para você. Fazer uso das possibilidades de intervenção
poderão te ajudar em sua atuação profissional.

No próximo item iremos conhecer outros termos essenciais para o


entendimento desta ciência.

Fique comigo e explore outros materiais, como livros, vídeos, artigos, etc.
Desenvolvimento Humano - Principais marcos

Existem diversas referências de desenvolvimento infantil. Antes de


continuarmos nossos estudos te convido a refletir sobre alguns questionamentos:

 Como sabemos se um bebê está se desenvolvendo de maneira saudável?


 Que aspectos consideramos para afirmar que a criança está aprendendo até
os 5 anos?
 As ações motoras, como aprender a sentar sem apoio, são observadas no
desenvolvimento infantil?
 Se porventura você tiver contato com uma criança de 3 anos que não fala e
não anda, qual será seu pensamento sobre o fato?
 Todas as crianças têm aprendizagens iguais? Ou seja, aprendem da mesma
maneira com a mesma idade?
 É possível aprender sem que haja estímulos?

Penso que depois de refletir sobre as indagações acima você esteja


preparado para continuar nossos estudos. A minha intenção é de fazer com que
você pense sobre os marcos do desenvolvimento infantil, que são as aprendizagens
que a criança adquire e que nos mostram se está tudo transcorrendo como o
esperado.]

Mas o que seria o esperado?

São as referências que temos para saber a idade que determinada habilidade
deve ser adquirida. Por exemplo, esperamos que uma criança seja capaz de se
sentar sem apoio até os 7 meses, gatinhar usando os 6 apoios até os 10 meses de
vida.

Evidente que existem alterações com base no referencial utilizado, mas vale
observar que mesmo com essas diferenças há um padrão entre todas as tabelas.

Vou te dar uma dica simples: a carteira de vacinação da criança.

Isso mesmo, lá existem diversas tabelas de referência de desenvolvimento


infantil que devem ser utilizadas e sempre atualizadas. Pois os marcos de
desenvolvimento nos mostram um panorama das aprendizagens da criança.
Aprendizagens essas que são fundamentais para a vida.
Dando continuidade aos nossos estudos vamos falar sobre Praxia, Dispraxia
e Apraxia. Lembre-se sempre que o desenvolvimento infantil depende diretamente
dos estímulos que o ser humano recebe no decorrer da vida.

De qualquer forma o quadro abaixo pode te auxiliar quanto aos aspectos do


desenvolvimento.

FONTE: FONSECA,

Praxia, Dispraxia e Apraxia

Neste tópico vamos falar sobre três termos comumente vistos em estudos
sobre o desenvolvimento humano bem como em situações relacionadas a
transtornos, síndromes ou desordens.

No quadro a seguir é possível visualizar aspectos da praxia nos diversos


aspectos do desenvolvimento humano
FONTE: FONSECA (2008), p. 219.

Você já ouviu falar em Apraxia da fala????

Pois bem...

Iremos conhecer neste momento tais designações, haja vista que estão
relacionadas ao desenvolvimento e aprendizagem que envolvem a motricidade
humana.

De maneira geral entendemos que PRAXIA é a capacidade de realização de


movimentos voluntários/intencionais. Nesse sentido, APRAXIA seria a NÃO-
realização de tais movimentos e DISPRAXIA representa situações em que há
dificuldade em realizar ações motoras.

De acordo com Fonseca (2014) para Wallon, a organização funcional


do cérebro encerra um processo de projeção de centros subjacentes
em centros superiores, com base em uma integração funcional
sequencial desenhada em termos cronológicos.
Seguindo esta linha de integração de diversas dimensões funcionais,
Wallon equaciona a noção de vinculação de uns centros em outros,
resultante das suas interações funcionais empáticas e permanentes,
a partir da qual se configuram novas aptidões e novos recursos,
envolvendo multicomponentes motoras, afetivas e cognitivas, que, no
seu todo funcional, ilustram a praxia. Em contrapartida, quando tais
interações se encontram desvinculadas, torpes e disfuncionais,
estamos em presença da dispraxia (FONSECA, 2014, p. 20).

Saiba Mais: Caso você tenha ficado curioso sobre Apraxia da Fala, segue
uma indicação de site com muitas informações – ABRAPRAXIA – Associação
Brasileira de Apraxia de Fala na infância

https://apraxiabrasil.org/?
gclid=EAIaIQobChMI7ZSHrK6x5AIVhRCRCh3aogt6EAAYASAAEgLbl_D_BwE

Veja na Prática: Assista ao filme O enigma de Kaspar Hauser, disponível no


YOUTUBE. Link de acesso:

https://www.youtube.com/watch?v=Wplj0ITkwho&t=42s

Exercitando: Com base na Psicomotricidade Relacional, promova momentos


de livre exploração dos seguintes materiais: BOLAS, ARCOS, CORDAS,
BASTÕES, JORNAL, CAIXAS DE PAPELÃO, TECIDOS.

*Procure variar os tamanhos, cores, formatos. Estabeleça combinados com o


grupo que permitam que a brincadeira aconteça de maneira espontânea e
prazerosa e brinque junto.

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