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Sistemas Filosóficos e Pe.

Locher na Era Castilhista

Luiz Osvaldo Leite1 e


Paulo Roberto Konzen2

O ambiente filosófico no RS, nos últimos 25 anos do


século XIX, estava marcado sobretudo por três grupos de
doutrinas e pensadores: 1º cientificismo e naturalismo, 2º
positivismo e spencerismo, 3º neo-tomismo e neo-escolástica.
No 1º grupo, cabe registrar José de Araújo Ribeiro (1800-
1879), doutor em Leis pela Universidade de Coimbra, ex-
Presidente da Província e ex-Senador, que publicou, em 1875,
O fim da criação ou a natureza interpretada pelo senso
comum, no qual se propõe desenvolver a sua concepção sobre o
mundo e a vida universal, através das teorias acreditadas na
ciência do tempo. Araújo Ribeiro é um cientificista, que aceita
a teoria transformista de Laplace e desenvolve seu pensamento
de acordo com o figurino naturalista da época.
No mesmo grupo, deve ser registrado o nome do alemão
Karl von Koseritz (1834-1890), curiosa figura polemista,
cientista, jornalista, historiador, orador, teatrólogo e
romancista, entre outras coisas, que veio ao RS em 1851, e que,
a partir de 1878, em conferências proferidas com a veemência
de um precursor, passa a divulgar o evolucionismo naturalista
de Darwin. Muitas destas conferências foram reunidas no livro
A Terra e o Homem à luz da moderna ciência (1884): “O
darwinismo está destinado a rematar a revolução encetada por
Copérnico. O positivismo não conquistará o mundo, não terá as

1
Professor Emérito da UFRGS e pesquisador do pensamento sul-rio-
grandense. Av. Ganzo, 385, Apto. 706, CEP 90.150-071, Porto Alegre, RS,
Brasil. E-mail: luizoleite@bol.com.br
2
Doutorando em Filosofia da UFRGS. Bolsista do CNPq – Brasil. E-mail:
prkonzen@yahoo.com.br
honras do domínio absoluto (...). O futuro pertence à síntese
objetiva: Darwin matará Comte”.
Mais tarde, em 1886, no editorial de apresentação de um
pequeno jornal, O Combate, Argemiro Galvão e Karl von
Koseritz, no curso das mesmas idéias, proclamariam
enfaticamente:
Por muitos séculos dominaram as
doutrinas teológico-metafísicas; estamos
hoje em pleno domínio crítico-realista. As
entidades materiais, os fantasmas
impalpáveis e os raciocínios apriorísticos
foram eliminados das especulações
humanas. A razão, atualmente, medita
sobre os dados fornecidos pela experiência.
As ciências formam-se, classificam-se,
ordenam fatos, desses fatos induzem-se leis
e das leis de cada ciência engendra-se a
verdade filosófica.
No 2º grupo, cresciam as idéias de A. Comte e H.
Spencer. Em 1874, ocorreu, através da imprensa, a primeira
manifestação comteana no RS: Augusto Luiz, na Revista do
Partenon Literário, no artigo “Duas palavras sobre Literatura”,
conclamou a poesia a louvar a ciência. São os primórdios do
advento da poesia científica.
Em 1877, Júlio de Castilhos (1860-1903) ingressou na
Faculdade de Direito, de São Paulo, onde, em 1880, assumiu a
direção de A República, periódico do Clube Republicano
Acadêmico. Também em 1880, iniciou-se a publicação da
revista mensal, da Sociedade Científica e Literária, Culto às
Letras, fundada pelos oficiais-alunos da Escola Militar de
Porto Alegre. Os colaboradores eram positivistas spenceristas e
darwinistas. Em 1881, Júlio de Castilhos retorna a Porto
Alegre. Em 1884, foi fundado o jornal A Federação,
divulgador de concepções filosóficas e políticas positivistas.
No mesmo ano, publica-se o programa do Partido Republicano
Riograndense (PRR). Em 1887, Júlio de Castilhos e Demétrio
Ribeiro publicaram, em A Federação, artigo sob o título:
“Augusto Comte, profissão de fé e expressão de convicções
filosóficas”, por ocasião do 30º aniversário da morte do mestre
de Montpellier. No mesmo dia, Torres Homem pronunciou
conferência no Teatro São Pedro, na qual sugeriu a fundação,
em Porto Alegre, de um Centro Positivista. Em 1890, criou-se,
em Bagé, um núcleo positivista. Em 1891, foi promulgado a
Constituição Sul-Rio-Grandense, inspirada nos ideais
positivistas. A Carta poderia ser adjetivada como “Constituição
Castilhista”. No mesmo ano, Miguel Lemos escreveu carta a
Demétrio Ribeiro, censurando-o em função de sua atitude de
entrar em dissidência com Júlio de Castilhos. Em 1896, o Pe.
Júlio Maria, então sacerdote secular, mais tarde missionário
redentorista, veio a Porto Alegre e pregou na Catedral, onde
combateu os novos sistemas filosóficos. Ainda em 1896, foi
fundada a Escola de Engenharia de Porto Alegre. Seus
fundadores eram, em sua maioria, positivistas, muitos deles
amigos e discípulos de Benjamin Constant. Em 1897, Carlos
Maximiliano escreveu o prefácio da obra, de Alcides Maya,
Pelo Futuro, e J. J. Felizardo Jr. publicou a tradução da obra de
Jorge Lagarrigue: Positivismo e Catolicismo; além disso, o Tte.
Cel. Rodolfo Cardoso Pau Brasil discorreu sobre a evolução da
Filosofia e encerrou o seu curso com a apologia de Spencer,
denominado “ponto culminante do pensamento moderno”.
Finalmente, antes de aparecer o livro de Koseritz,
Graciano de Azambuja (1847-1911), historiador e jornalista,
fundador e diretor em Porto Alegre do Anuário da Província
do Rio Grande do Sul, mais tarde denominado Anuário do
Estado do Rio Grande do Sul (1889-1911), iniciava a
publicação, na Gazeta de Porto Alegre, de março a novembro
de 1880, de suas “Lições de Filosofia Elementar”,
consideradas, na época, por Sílvio Romero e Carlos
Maximiliano, como o único tratado de Filosofia moderna,
aparecido no Brasil até 1897. Sílvio manifestou a intenção de
adotá-las como livro de texto no Colégio D. Pedro II, do Rio de
Janeiro, onde lecionava a cadeira de Filosofia. Graciano
afinava com a filosofia dominante no seu tempo. Era um
empirista e um relativista. Todas as teorias que não pudessem
ser comprovadas rigorosamente pelo método experimental,
como a própria teoria da evolução, não passava para ele de
simples hipótese. “A teoria da evolução é a única que apresenta
a explicação racional e grandiosa do universo e que, ligando
todos os fenômenos da natureza com um encadeamento de
efeitos da mesma causa, satisfaz, não plenamente, porém mais
do que outra qualquer, nossa aspiração intelectual de
causalidade”. Graciano é precursor do spencerismo no RS.
Embora simpático de A. Comte e de sua filosofia positiva,
principalmente quanto ao método, percebe-se que sua afinidade
é maior com H. Spencer, cujas concepções se lhe afiguram de
horizonte mais amplos, podendo abranger os vários e diferentes
aspectos da fenomenologia universal. Adeptos do pensamento
de Spencer foram também Alcides Maya e Carlos
Maximiliano.
Os dois grupos até aqui registrados têm em comum
posição atéia ou agnóstica.
No 3º grupo, vamos encontrar o pensamento teísta,
concretizado no viés católico pela filosofia neo-escolástica dos
jesuítas alemães, ensinada nos colégios e seminários dirigidos
no RS. Essa filosofia era originária de pensadores como J.
Kleutgen, SJ (1811-1883), o principal restaurador do neo-
tomismo na Alemanha e autor de Die Philosophie der Vorzeit
(1863), que vivera longo tempo em Roma, respirando a
atmosfera do tomismo reformado no ambiente romano, e de F.
Ehrle, SJ (1895-1934), responsável pela biblioteca vaticana,
que traçou, aos eruditos das universidade, um plano de estudo e
publicação de manuscritos medievais. Os jesuítas alemães da
época observavam literalmente os preceitos de Leão XIII, na
Encíclica Aeterni Patris (1879), que recomendava o
seguimento da filosofia de São Tomás de Aquino.
Os jesuítas alemães, deste período, haviam estudado na
Faculdade de Maria Laach, a qual publicara um curso
filosófico neo-escolástico completo, denominado Philosophia
Lacensis, editado em Friburg-Br., pela Editora Herder, em onze
volumes, por T. Pesch, Th. Meyer e J. Hontheim. Sucessora
desta Faculdade foi a de Valkenburg, que publicou também um
Cursus Philosophicus, in usum scholarum, em substituição ao
Lacensis, com 6 volumes, a saber: 1. Logica (1894), de Carolus
Frick, SJ; 2. Ontologia (1894), de Carolus Frick, SJ; 3.
Philosophia Naturalis (1926), de Carolus Franck, SJ; 4.
Psychologia Speculativa (1927), em 2 volumes, de Josephus
Fröbes, SJ; 5. Theodicea (1926), de Josephus Hontheim, SJ; e
6. Philosophia Moralis (1893), de Victor Cathrein, SJ. Todas
as obras aqui registradas foram publicadas em latim, idioma
oficial dos estudos eclesiásticos na época.
Neste contexto filosófico, com suas diferentes
tendências, é preciso inserir o Pe. Gustavo Locher, SJ (1853-
1943). Mas, quem foi Pe. Locher?
Pe. Locher nasceu aos 14.08.1853, em Tettnang, na
Suábia, próximo ao lago de Constança. O jovem Gustavo
estudou no colégio Stella Matutina de Feldkirch, de 1865 a
1870, quando ingressou na Companhia de Jesus. Em sua
formação jesuítica, Pe. Locher cumpriu as seguintes etapas:
Noviciado, em Gorheim (1870-72); Humanidades e Retórica,
em Wynandsrade, Holanda (1873-74); Filosofia, em
Blyenbeck, Holanda (1875-77); Prática Pedagógica, no colégio
Mongré, Lyon, França (1878-79); Teologia, Ditton-Hall,
próximo de Liverpool, Inglaterra (1880-1882), ano de sua
ordenação sacerdotal; e, finalmente, Terceira Provação, no
Pórtico, Inglaterra (1882-83).
Em 1883, Pe. Locher viajou da Inglaterra para o RS,
onde iniciou os seus trabalhos, entre os quais merece destaque
o seu livro Vade mecum philosophico: offerecido à mocidade
brasileira.

Pe. Locher e o Positivismo


O livro Vade-mécum filosófico3, de Pe. Gustavo Locher,
foi escrito durante a década de 1890 e publicado em 1898. É
dedicado ou oferecido à mocidade brasileira, aos jovens
estudantes, com os quais Pe. Locher atuara e atuava no colégio
Conceição, de São Leopoldo (1884-90), no Anchieta, de Porto
Alegre (1891-93), no São Luís Gonzaga, de Pelotas (1894-97),
e novamente no Conceição (1898-1904). Como bibliotecário,
censor de livros, pregador, professor de religião, diretor da
Congregação Mariana, do Colégio São José, e do Apostolado
da Oração, o Pe. Locher sentiu-se instigado a escrever a favor
da fé católica e contra as doutrinas proclamadas ateístas, entre
elas a do positivismo. No Prefácio do seu livro, escreve:
Quem, como o humilde compilador
deste Vade-mécum, é amigo e admirador da
mocidade brasileira, não pode, sem mágoa,
ver esta primavera soberba exposta ao
sopro glacial de uma filosofia ímpia, que,
há alguns decênios, tomou o rumo desta
terra (...). No intuito de equipar o jovem
estudante, e em geral a qualquer zelador da

3
LOCHER, Gustavo, SJ. Vade-mécum filosófico. 2ª ed. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 2000. 304 p. Coleção Pensadores Gaúchos, 7. Reedição de
Vade mecum philosophico: offerecido à mocidade brasileira. São Paulo:
Typographia Brazil de Carlos Gerke & CIA, 1898. 336 p. Bibliografia do
Pe. Locher: Oração Fúnebre, celebrando-se as solenes exéquias do
santíssimo Leão XIII (1903); A Cia. de Jesus - Centenário de sua
Restauração (1914); A Cia. de Jesus - 4º centenário de sua existência
(1540-1940) (1940); Somos ainda católicos?; Um século de glórias, de
prosperidades, de bênçãos, sob a égide da fé (1922); Lutar, não desesperar
(1925); Conferências sobre a Graça e a Fé (1925); Apelo à Mocidade
Católica do Brasil, In: Revista Social, Porto Alegre, v. 16, fasc. 157 (1921-
22).
verdade, para as campanhas inevitáveis da
vida, ofereço-lhes, como armadura
indispensável, um elenco de algumas das
mais importantes verdades com seus
respectivos argumentos (p. 23).
A motivação de sua obra, portanto, é oferecer à juventude
estudantil um contraponto para as muitas filosofias
consideradas ateístas, as quais estariam pervertendo os jovens.
Por isso, Pe. Locher inclusive afirma: “É coisa entranhável que
tantos jovens, apesar de haverem recebido educação religiosa,
já às primeiras lançadas da filosofia atéia hodierna, percam o
equilíbrio moral e sofram uma queda lastimosa” (p. 25).
Entre as várias filosofias criticadas no livro, encontra-se
o positivismo de A. Comte, ao qual Pe. Locher dedica o
capítulo I (p. 29-55). Já no início, afirma que o positivismo é
um “adversário da religião de nossos pais”, sobretudo porque
estaria “tolhendo-lhe [da mocidade brasileira] as forças nativas
e incapacitando-a de ver a luz da verdade” (p. 29). Na
seqüência, afirma literalmente: “Damos, sem pedir vênia, ao
positivismo o predicado de alucinação sistematizada” (p. 29).
Tal crítica enfática gerou grande repercussão e produziu
as mais diversas reações. Isso pode ser exemplificado pela
carta de Frater Germano Middeldorf, escrita em 03.10.1898,
São Leopoldo:
Aprendemos Português com (...)
Padre Locher (...). De momento é o mesmo
aqui um dos homens mais falados na
imprensa periódica. É que nesta terra o
positivismo importa (...) e seu incubador
(Ausbrüter) vem a ser o semilouco Augusto
Comte (...). Partidário ou defensor principal
do mesmo é nosso anterior presidente
estadual do Rio Grande, Júlio de Castilhos
(...). Deu-se, porém, que, faz alguns meses,
o Padre Locher publicou, qual vade-mécum
para a juventude estudantil, uma obra
filosófica de cunho popular. Não passa ela,
propriamente, de simples compilação de
toda a Filosofia. Mas o padre tinha pisado
precisamente àquele senhor nos calos
positivistas, de modo que, em quase todos
os jornais, levantaram-se gritos de clamor
por socorro contra o padre, mas também,
aqui e ali, alguns a seu favor4.
A crítica de Pe. Locher ao positivismo atingia um dos
maiores partidários ou o seu principal defensor no Rio Grande
do Sul, a saber, Júlio de Castilhos. Porém, no livro, em nenhum
momento, o nome de Júlio de Castilhos é citado. Apesar de
discorrer sobre a relação entre Estado e Religião, Pe. Locher
não menciona a realidade gaúcha. Todas as referências contra o
positivismo se baseiam na vida de A. Comte e na sua doutrina.
Mas, indiretamente, suas críticas questionam e ocorrem durante
a era castilhista.
No livro, Pe. Locher busca desqualificar A. Comte e sua
doutrina. Começa com relatos sobre a sua vida, buscando
mostrar como “extravagante era Comte em sua vida familiar e
moral” (p. 32). Afirma que A. Comte vivenciou “alguns
tentames frustrados de suicídio e um tratamento feliz no
hospício do Dr. Esquirols” (p. 31). Em suma, que a “alienação
mental de Comte” (p. 35) talvez seja a desencadeadora de sua
“filosofia e política subversivas” (p. 30).
Tais afirmações, procurando depreciar a vida do
fundador do positivismo, não cabem aqui serem avaliadas, pois
não envolvem argumentos filosóficos. Como o próprio Pe.
Locher reconhece, cabe apresentar uma refutação mais direta
ao positivismo:
Parece que registrar e ler esses
desvarios já é condenar o positivismo, e se
no capítulo seguinte, e mais adiante, na

4
Apud: RABUSKE, Arthur. “Prefácio”. In: LOCHER, Gustavo. Vade-
mécum filosófico. 2ª ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000. p. 21.
parte ética, dedicamos a essa
pseudofilosofia uma refutação mais direta,
visamos menos o positivismo comtista do
que o materialismo e o empirismo, que, sob
a capa multicor do positivismo hodierno,
tentam fazer prosélitos entre os espíritos
incautos e pensadores menos enérgicos (p.
48).
Na parte III, do cap. I, intitulada “Refutação do
positivismo”, Pe. Locher busca apresentar e refutar os
fundamentos do positivismo. O principal elemento de embate
com a fé católica, afirmada por Pe. Locher como a verdadeira,
é que o positivismo insiste em “negar, redondamente, que para
nós exista o supra-sensível, o metafísico” (p. 48). Na medida
em que o positivismo nega a metafísica, atendo-se meramente
ao empirismo (experimentalismo), segundo Pe. Locher, “ele é
uma tentativa muito inepta e malsucedida de destruir a
verdadeira filosofia” (p. 40). Para o autor, “o positivismo,
negando a metafísica, impossibilita ao homem a cogitação e o
deprime ao nível do bruto” (p. 53); contudo, “na vida prática,
os próprios positivistas desmentem sua teoria absurda” (p. 52),
a saber, “quanto mais combatem a metafísica, argumentando,
mais a afirmam e mais condenam eles mesmos seu princípio
fundamental”. Pe. Locher procura assim apresentar uma
refutação direta do princípio fundamental do positivismo: o de
que toda ciência se funda e se encerra na experiência, nos fatos
observáveis. Conforme afirmação do Pe. Locher: “Essas
poucas observações bastam para mostrar que o positivismo é
uma contradição e uma impossibilidade. Em que lhe pese, a
metafísica é uma realidade, inseparável da alma inteligente, e a
verdadeira filosofia passa à ordem do dia” (p. 54). Por último,
como parágrafo final do capítulo, consta:
Deixemos, pois, aqui o positivismo
nos tremedais de sua negação, de sua
pobreza de espírito e de seu baixo
sensualismo; passemos a barreira quimérica
do “ignoramos”, e, de velas enfunadas,
sigamos o rasto luminoso da verdadeira
filosofia, que nos levará ao paraíso do
espírito humano, ao mundo ideal, supra-
sensível, onde encontraremos o que há de
mais positivo - a eterna e puríssima fonte
da verdade e ciência, Deus! (p. 55).
Tais críticas ao positivismo têm em vista, sobretudo, a
sua influência na ordem moral e social e, também, suas
implicações na ordem política ou no Estado. No capítulo XI:
“A ordem moral e social segundo o positivismo” (p. 215-224),
Pe. Locher ainda afirma:
A tais absurdos chega o espírito
humano, que orgulhosamente se desprende
do grande fundamento, de todo saber e
poder: do Deus-Criador! Tirar essa base da
criação material e espiritual é destruir tudo:
a alma imortal, a verdade, virtude, dever,
lei, autoridade, família, Estado, e a própria
inteligência e dignidade do homem (p.
223).
No capítulo XIV: “O Estado” (p. 277-294), consta ainda
o seguinte:
Na opinião do positivismo, como já
vimos, o indivíduo desaparece igualmente
diante da divindade do Grande-Ser, a
humanidade. O Estado ideal positivista é
uma república universal, em que exerce a
supremacia - a moral, isto é, o altruísmo.
Todo cidadão - altruísta nato -
desempenhará espontaneamente seu papel
de funcionário da humanidade. (...) Todas
essas teorias fantásticas, às quais se filiam
todos os modernos sistemas ateístas, cujo
ideal é a cultura, o progresso indefinido da
humanidade, fazem do Estado uma pessoa
moral distinta dos cidadãos (p. 285).
O conjunto de afirmações do Pe. Locher é bem mais
amplo e complexo, contudo, já fica claro as críticas enfáticas
ao positivismo, o qual era, durante o período castilhista, a
principal cartilha no Rio Grande do Sul e, por isso, toda a
reação que o texto acabou promovendo.

Pe. Locher e o Spencerismo


Além do positivismo, Pe. Locher critica o darwinismo, o
panteísmo, o espiritismo e, também, o spencerismo. No
capítulo XIII, intitulado “A moral independente de Spencer”
(p. 245-275), o autor afirma que “a construção filosófica de
Spencer é um castelo no ar” (p. 246). No sub-capítulo “II.
Exame crítico da teoria de Spencer”, Pe. Locher procura
demonstrar “a nulidade do fundamento em que Spencer ergue
sua moral independente”, na medida em que sua teoria
“contradiz toda a tradição do gênero humano e princípios
universalmente aceitos no mundo” (p. 251). Além disso,
assevera: “Spencer pretende destruir e não explicar as idéias
fundamentais da ordem moral”. Talvez como resumo, Pe.
Locher afirma:
O leitor, que, com longanimidade,
seguiu a filosofia cristã na ingrata tarefa de
dar a Spencer um colégio de lógica, não
terá, por certo, ouvido a menor observação
que não fosse o fruto de sã razão e do
raciocínio o mais objetivo. Por isso, sem
exaltar-se com as invectivas do oráculo
filosófico do darwinismo, a ciência
verdadeira leva a cabo sua missão de
anatomizar o sistema de Spencer, provando
ainda quanto ele é funesto em suas
conseqüências (p. 272).
Em suma, são afirmações veementes, o que explica o
rumoroso eco gerado e as mais diversas repercussões quando
da publicação do texto. A mais destacada reação foi a de
Alcides Maya, que publicou uma série de 17 artigos, de 12.09 a
30.11.1898, atacando Pe. Locher e seu Vade-mécum filosófico
nas páginas do jornal A República, de Porto Alegre. Um
destaque e resumo desses artigos foram publicados, em cinco
artigos, no Correio do Povo, também de Porto Alegre, de 25.10
a 11.11.1898.

Conclusão
O Vade-mécum filosófico do Pe. Locher foi uma pequena
semente, lançada à mocidade estudantil brasileira, envolvida
pelas doutrinas positivistas, spenceristas, evolucionistas,
cientificistas, materialistas, ateístas, entre outras. Obra
polêmica, questionável e até revolucionária, que certamente
não unificou e monopolizou o pensamento filosófico sul-rio-
grandense, mas serviu para fomentá-lo e, no campo cristão,
canalizou o pensamento católico a um futuro destacado e
significativo, ao lado das numerosas tendências que
caracterizam as diversas linhas filosóficas contemporâneas.

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