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Territórios, cidades e migrações: diálogos interdisciplinares

Grupo de Trabalho 4: Povos indígenas e territorialidade

O “Plano de Vida” das comunidades indígenas da Amazônia colombiana. Uma


ferramenta de planejamento territorial participativo que vai além da demarcação
geográfica no distrito de Tarapacá.

RESUMO

Perante os problemas socioambientais que ameaçam a vida e a permanência dos


povos indígenas na região Amazônica, salienta-se a existência do “Plano de Vida” na
Amazônia colombiana, como um documento com validade administrativa que facilita
a comunicação entre os povos indígenas e as instituições do Estado. Neste trabalho,
são analisados os casos dos resguardos indígenas UITIBOC e Cotuhé-Putumayo no
distrito departamental de Tarapacá (Amazonas, Colômbia). A pesquisa foi feita por
meio de documentação bibliográfica e trabalho de campo realizado no primeiro
semestre de 2018. Entre os resultados, destaca-se que o desenho e a implementação
do Plano de Vida contribuem com o registro histórico dos conhecimentos tradicionais
em relação com o território, assim como o desenvolvimento de processos
organizativos e a valorização dos recursos ambientais acorde com sua disponibilidade
e uso.
INTRODUÇÃO

A floresta amazônica é um cenário de múltiplos conflitos em questões territoriais e


socioambientais, muitos deles sem resolver e a maioria em detrimento dos povos
indígenas.

Na Colômbia, os “resguardos indígenas” funcionam de forma semelhante à


“Terra Indígena” no Brasil. Dentro desse esquema, o documento “Plano de Vida” (Plan
de Vida em língua castelhana) é a ferramenta prática para que os povos indígenas
exerçam sua autonomia e velem pelos seus direitos territoriais perante as instituições
administrativas do Estado. Neste trabalho, analisamos como essas projeções próprias
das comunidades são levadas na prática pelos resguardos indígenas UITIBOC e
Cotuhé-Putumayo, localizados na Amazônia.

OBJETIVO

Analisar a formulação e implementação do Plano de Vida dos resguardos indígenas


UITIBOC, e Cotuhé-Putumayo no que respeita ao ordenamento territorial no distrito
departamental de Tarapacá, na Amazônia colombiana.

MÉTODOS

Área de estudo
O distrito departamental de Tarapacá está localizado ao norte da cidade de
Letícia, capital do departamento colombiano de Amazonas (coordenadas da área
urbana: 2°53'31.61"S, 69°44'30.48"O, altitude 54m). Possui, aproximadamente, 3.950
habitantes, distribuídos na área urbana (53%) e em pequenos vilarejos chamados de
cabildos (47%), todos eles dispersos nas margens dos rios mais próximos (DANE,
2005).
Todo o território de Tarapacá ocupa uma área aproximada de 14.000 km2 e
limita ao norte com o distrito de La Pedrera, ao Sul com o Município de Letícia, ao
Oeste com o distrito de Puerto Arica e com o Peru, e ao Leste com o Brasil. No distrito
departamental convergem diferentes figuras de ordenamento territorial de acordo com
as políticas do estado colombiano: Distrito departamental (área não municipalizada),
resguardos indígenas (equivalente a Terras indígenas), Reservas florestais (áreas
para uso florestal) e Parques Nacionais Naturais (Unidades de Conservação).

Metodologia

Foi feito um estudo de caso, de caráter qualitativo das organizações indígenas


ASOAINTAM (Asociación de Autoridades Tradicionales de Tarapacá Amazonas) que
administra o resguardo indígena UITIBOC, que corresponde às etnias Uitoto, Inga,
Ticuna, Bora e Cocama (ASOAINTAM; FRANCO ANGULO, 2007) e CIMTAR (Cabildo
Indígena Mayor de Tarapacá) que administra o resguardo Cotuhé-Putumayo.
Em um primeiro momento foi feita uma pesquisa bibliográfica de fontes
primárias e secundárias, com o intuito de compreender o contexto histórico, cultural e
socioeconômico da região. Posteriormente, foi realizado o trabalho de campo em
Tarapacá, no período compreendido entre janeiro e maio de 2018. Para a recoleção
de dados foram utilizadas técnicas como a observação participante, diário de campo
e entrevistas com informantes chave (BOEF, DE; THIJSSEN, 2007) dos resguardos
indígenas e das instituições públicas presentes nesse território.
RESULTADOS

Formação socioespacial do distrito de Tarapacá

Segundo Rincón (2005), a história recente do povoamento da área urbana de


Tarapacá está ligada com três acontecimentos: 1) No início do século XX, indígenas
uitoto chegaram a esse território, fugindo da escravidão da exploração da borracha;
2) Tarapacá virou ponto importante de aprovisionamento de matérias primas e
principal porto da região para a saída dos produtos pelo rio Içá-Putumayo, atraindo
assim mais pessoas, não somente indígenas, mas também mestiços colombianos,
peruanos e brasileiros; e 3) O conflito com o Peru entre 1.932 e 1.934 produz que
Tarapacá virasse ponto estratégico do exército colombiano. Como resultado desses
processos históricos, Tarapacá é hoje um cenário multicultural, onde interagem
comerciantes colombianos, peruanos e brasileiros, assim como a população mestiça
e indígena que habita a área urbana, bem como ao longo dos rios em pequenos
vilarejos denominados comunidades e que politicamente são definidos como
Cabildos.
Atualmente, o Distrito de Tarapacá está ligado às economias de extração
indiscriminada dos recursos biológicos e o avanço da cultura ocidental ou dos
‘brancos’ em um território com uma baixa presença dos organismos de estado e
ausência dos benefícios das políticas públicas para as comunidades rurais. Apesar
disso, as famílias mantêm muitas tradições próprias do manejo do ambiente para a
manutenção do sustento das famílias.
O sistema agrícola principal é conhecido como “chagra” e consiste em espaços
destinados para a horticultura de roça, derrubada e queima, constituindo sistemas
altamente diversos (policultivos) e complexos, pois implicam manejo do tempo e o
espaço a partir da identidade cultural (CABRERA T, 2004; TRIANA-MORENO;
RODRÍGUEZ; GARCÍA, 2006).
⁠ Em Tarapacá, nas chagras são plantadas geralmente sementes e mudas de
espécies como banana, mandioca, tabaco, coca, inhame, milho, arroz, cana, pimenta,
limão, abacate, tangerina, manga, amendoim, tomate, araçá, entre outras
(ASOAINTAM; FRANCO-ANGULO, 2007)⁠. Nos quintais das casas, os habitantes
também costumam plantar espécies para o seu consumo, principalmente frutas e
legumes (DE LA CRUZ NASSAR et al., 2016)⁠, assim como também criam espaços
para plantar espécies condimentares e medicinais, junto com a cria de animais
pequenos como galinhas, patos e perus.

Aspectos gerais referentes à implementação dos Planos de Vida

A Constituição Política da República de Colombia (1991) deu continuidade à


organização política y administrativa centralista. É na capital nacional (Bogotá) onde
se concentram as sedes principais dos Ministérios Públicos. A distribuição dos
recursos públicos se realiza por meio das Governações departamentais que, por sua
vez, decidem sobre os orçamentos municipais contemplados nos Planos
Departamentais de Desenvolvimento.
Pese à sua importância para o departamento de Amazonas, Tarapacá não
conseguiu o status de município, ficando relegado dos investimentos em serviços
domésticos e infraestructura. Essa situação precariza a vida e permanência das
comunidades que coabitam nesse distrito. Dado que a Carta Magna contempla o
direito de autonomia dos povos indígenas, o Plano de Vida constitui a ferramenta
administrativa que eles têm para legitimar seus direitos sobre as terras coletivas e
para ter acesso aos orçamentos departamentais. Consequentemente, a realização do
Plano requer que se faça um levantamento topográfico do território e uma demarcação
de terras.
Para o desenho de um Plano de Vida, os povos indígenas dialogam sobre estas
e outras questões: Qual é a nossa história?, Qual é a nossa cosmogonia?, O que nós
queremos como comunidade?, Como podemos conseguir aquilo que propomos?.
Deste modo, esses documentos servem como relatos escritos da história das
comunidades nesse território e constitui um fundamento para a tomada de decisões
sobre os usos do território.
A coerência do Plano de Vida com a realidade local é a principal vantagem
salientada por um grupo de voceros indígenas citados em outra pesquisa: “El Plan de
Vida nos ayuda a ponernos de acuerdo en lo que queremos como comunidades,
haciéndolo conocer a las entidades, para que los dineros de la nación que nos
corresponden nos lleguen a tiempo y completos. Esto es importante porque siempre
han decidido por nosotros personas que no son indígenas” (MONJE-CARVAJAL,
2015, p. 15).

Planos de Vida como dinamizadores na construção de território


Para os dois resguardos, a formulação e efetivação dos Planos de Vida, tem
dinamizado outros processos ligados a pensar o território e a efetivar su uso. Para o
primeiro aspecto, foram definidos regulamentos de uso dos recursos naturais,
calendários ecológico e zonificação ambiental dos resguardos. No caso do segundo,
foram desenvolvidas iniciativas produtivas para fins comerciais e atividades para o
fortalecimento de sistemas produtivos tradicionais (chagras), visando a soberanía
alimentaria e a consolidação de espaços de participação efetiva das mulheres. A
construção deste tipo de ferramentas de organização também permite que abordem
a questão multiétnica, avançando no reconhecimento e valoração de cada uma como
parte fundamental do resguardo.
Por outro lado, a vinculação das escolas rurais na discussão sobre o Plano de
Vida tem sido importante para a construção coletiva do território, dado que, mediante
uma disciplina denominada “ordenando o nosso território” novas gerações têm se
vinculado ativamente no processo.

Conclusões
A formulação participativa dos Planos de vida nos resguardos indígenas
UITIBOC e Cotuhé-Putumayo, tem se convertido em uma ferramenta que propicia
espaços para se repensar como indígenas, para discutir sobre o significado de
território, entre eles mesmos e com as entidades regionais e nacionais, assim como
dinamizador de processos de autogestão do território.

BIBLIOGRAFIA

ASOAINTAM; FRANCO ANGULO, M. Plan de vida de los Cabildos Uitoto,


Tikuna, Bora, Cocama e Inga de la Asociación de Autoridades Tradicionales de
Tarapaca Amazonas ASOAINTAM. Tarapacá, Amazonas: CODEBA, 2007.

BOEF, W. S. DE; THIJSSEN, M. H. Ferramentas participativas no trabalho com


cultivos, variedades e sementes. Wageningen,: Wageningen International, 2007.
CABRERA T, M. E. El agrosistema “chagra” entre los indígenas de la Amazonía.
Revista Luna Azul, v. 18, n. 10, p. 10–18, 2004.

DANE- Departamento Administrativo Nacional de Estadística. Censo General 2005.


Colombia: Departamento Administrativo Nacional de Estadística-DANE, 2005.

MONJE-CARVAJAL, J.J. El Plan de Vida de los pueblos indígenas de Colombia, una


construcción de etnoecodesarrollo. Revista Luna Azul. n. 41, jul-dez, 2015, pp. 29-
56.

REPÚBLICA DE COLOMBIA, Constitución Política. Constitución política de Colombia.


Bogotá, Colombia: Leyer, 1991.

RINCÓN, H. Tarapacá: Un asentamiento producto de la presencia peruana en la Amazonía


Colombiana. Maguaré. Revista del Departamento de Antropología. Facultad de Ciencias
Humanas. Universidad Nacional de Colombia, v. 19, p. 132-145, 2005.

TRIANA-MORENO, L. A.; RODRÍGUEZ, N. C.; GARCÍA, J. Dinámica del sistema


agroforestal de chagras como eje de la producción indígena en el Trapecio
Amazónico (Colombia). Agronomía Colombiana, v. 24, n. 1, p. 158-169, 2006.

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