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Jorge Oliveira
O Presidente do Espaço t
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CRISTINA ATAÍDE
"...são bons estes LUGARES de cinza..." (al berto)
ACTO I
Em registo fotográfico, definitivamente para ser sempre – presentificam-se as fotografias
como imagens de existências, encenações e simulacros mas com tópicos de genuinidade.
Os protagonistas entram em cena e são cativados.
Assumem os seus lugares no cenário.
O adereço é um sofá circular, em material que imita pele - napa mais concretamente; é
branco e acolchoado – diga-se, néo-barroco.
Do mezzanino obtém-se uma vista em perspectiva aérea dos protagonistas.
Os protagonistas vestem roupas coloridas, têm proporções e fisionomias diversificadas e
as respectivas posturas demonstram que cada um decide, por si, onde quer ser.
Algumas pessoas distribuem-se, sentam-se, em redor do sofá néo-barroco e outras
colocam-se na sua proximidade. Mas, privilegiando sempre o círculo como desenho
compulsivo a ser fotografado.
“Só termina quando acaba.” “Pode parar-se o relógio mas não o tempo.”
Estas são frases anónimas que ouvi e memorizei; ou li-as, nem sei bem onde e quando. O
facto é que quem as tenha proferido ou escrito, não pretendeu manter posse exclusiva do
que pensou e formulou. Talvez porque os respectivos conteúdos remetem para algo – a
existência na sua condição precária e de irreversibilidade - que sendo por demais
universal, se estende, inexoravelmente, a todos e aos demais. Não importa quem tenha
sido o emissor, interessa sim que existam receptores, capazes de as absorver, vomitar ou
sobre elas ponderar. Mas estimule-se, dentro de cada um de nós, o sadio convívio com
todas as inumeráveis frases que, pelo contrário, existem, procedendo de autores ―além-
tempo‖, cuja singularidade delimita territórios próprios; assim, permanecem e retêm suas
particularidades originárias (embora susceptíveis de serem apossadas – leia-se
interpretadas, etc. - por outras tantas inumeráveis gerações…)
É o caso de:
“O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.”1
Ou:
“É tempo de meio silêncio,
de boca gelada e murmúrio,
palavra indireta, aviso na esquina.
Tempo de cinco sentidos
num só.(…)”2
1 Carlos Drummond de Andrade, “Mãos dadas”, Antologia Poética, Lisboa, Dom Quixote, 2002, p.149
2 Carlos Drummond de Andrade, “Nosso tempo”, Op. Cit., p.153
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O tempo. Numa fotografia, supostamente, congela-se o tempo. Congelam-se as figuras no
tempo pois deixam de ser pessoas e talvez sejam, transitoriamente, personagens. Não é
verdade?
“Julgamos que nos libertamos dos lugares que deixamos para trás de nós.
Mas o tempo não é o espaço e é o passado que está diante de nós. Deixá-lo
não nos distancia. Todos os dias vamos ao encontro daquilo de que
fugimos.”3
As imagens fotográficas revelam decisões estéticas de cariz e fundamento antropológico e
societário. Tais pressupostos, que igualmente são princípios impulsionadores para a sua
concretização, transportam a carga psico-afectiva da autora e adquirem tensão e
cumplicidade das suas personagens…quase Pirandello…mas, neste caso, o autor
procurou os seus actores tanto quanto as suas personagens o aceitaram.
Mais, nos Cadernos que Cristina Ataíde pediu às pessoas organizassem, preservando
seus desidérios ou intenções, a conivência entre as imagens visuais e as palavras
(caligráficas ou imprimidas) concretiza-se através da ingenuidade — em estado de
ingenuidade pessoal. Por sua vez, como condição para a criação, a ingenuidade tem de
ser promotora da verdade, essa verdade, mais uma vez, metafórica, do menino que
chegou tarde à escola porque esteve a olhar para uma boneca, como nos afirmou Almada
Negreiros.4
A verdade das pessoas existe, provada pelo uso das palavras que tomam para si: "O
preço de uma pessoa vê-se na maneira como gosta de usar as palavras. Lê-se nos olhos
das pessoas. As palavras dançam nos olhos das pessoas conforme o palco dos olhos de
cada um."5
As palavras que as pessoas usam são, de algum modo, os seus nomes, o que se associa
directamente à relevância que, societária e culturalmente, se atribui ao "nome", um
pressuposto de evidência ambígua (seja) — conceptual — para a assunção mas
sobretudo o reconhecimento da identidade pessoal.
As fitas vermelhas que os suspendem, caindo desde o mezzanino, tecem uma cortina
penetrável quanto as emoções possam ser desveladas?! São actos de espera, de
perseverança e lucidez.
São uma obra feita Todos.
6 «La mentalité naïve entraîne nécessairement aussi un langage de paroles et de gestes qui est naïf lui
aussi et qui est l’élément essentiel de la Grâce. » Schiller, Poésie Naïve et Poésie Sentimentale, "Du
Naïf", Paris, Aubier, s/d., p.87. Para Schiller, a solução implicava que o homem reencontrasse a unidade,
a simplicidade e a necessidade — próprias — do estado de natureza, em liberdade. A perfeição ideal
situava-se num estado de confluência e acordo entre a razão e a liberdade do homem, aliadas ao seu
instinto.
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ACTO II
“…areias de cor indecisa são bons estes lugares de cinza, para a solidão
insuspeita dos pássaros…”7
Como se pode inferir da observação das 4 obras da série Involvement existem intervalos,
episódios da paisagem, portadores de valências complementares. Por um lado, são
intervalos reveladores de artisticidade, da dimensão escultural que lhes define muito
peculiar carácter: entre a madeira existe um espaço vazio até que a camada de pigmento
encarnado permita a respiração chegue até à opacidade irreversível do chumbo. Por outro
lado, são intervalos estéticos que organizam, impelem, arritmias pois se trata de
suspensões (dir-se-iam, seguindo Edmund Husserl,
epoché). Suspendendo, exibindo internamente para cada espectador aceder a si,
desocultando, ordenadamente (e agora, seguindo Heidegger), atravessando camadas
sucessivas até tocar o núcleo primordial: ―intervalo entre mim e mim‖…
Quando a matericidade inequívoca se transporta e é cativada por frottage - procedimento
técnico assim designado pelos surrealistas – torna-se leve mas tão transcendente que
acusa a dicotomia judaico-cristã de corpo e alma tornados inconciliáveis: Noli me
tangere… (pois, claro!)
7 Al Berto, “Outras Feridas”, Vígilias, Lisboa, Assírio & Alvim, 2004, p.25
8 Fernando Pessoa, Livro do Desassossego, vol. I, Lisboa, Ática, 1983, p.25
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E, mais uma vez, sabe-se que o eu-pele (Didier Anzieu) é, resolutamente, um conceito de
imprescindibilidade estética e ontológica, portanto de compulsiva exigência humana e
pessoal.
Protege e acusa o próprio e o outro, tornando-os insuspeitos, converte-os à sua
necessidade mútua.
A madeira é a substância matricial, fértil; matéria aderente ao primordial, pois residindo na
terra. A terra é um princípio cosmogónico insuspeito pois dela irrompem as suas raízes. A
madeira, embora perecível pelo fogo (esse outro elemento dominante) ainda que
carbonizada é capaz de gerar o alimento para a obra, num coercivo relacionamento entre
Eros e Thanatos.
O pigmento é uma ferida visível, que não se sabe, nasce ou descansa, na epiderme do
desenho.
Essa pele que o pigmento atravessa, manifesta uma espécie de nudez pictural que se
converte em função aderente à paisagem segmentada, pois incompleta.
O chumbo, num entendimento hermético, alquímico, simboliza o princípio de onde parte a
evolução e a incorruptibilidade. Encontra-se associado a Saturno, donde evocar a
simbologia da ―noite saturnina‖ em que o corpo é presa da dissolução e putrefacção…‖9
Todavia, este era avô de Apolo que é a incarnação do Sol (Ouro) …Daí, paradoxalmente,
decorrer uma acepção estética diurna tão envolvente e impregnadora/geradora quanto a
nocturna!
Finalmente, as cinzas significam os resíduos, constituindo ―matericamente‖ o mal pois
relacionadas com a ―esfera dos infernos‖. Mas, já Novalis, em Hymnen an die Nacht,
exponencializara a sua poeticidade implícita enquanto sinónimo
esteticizado (pois metafórico) dos resíduos que os afectos
permitem na alma: ―Quisera fundir-me em gotas de orvalho e
misturar-me com as cinzas.‖
Relembre-se que a partir do séc. XVI europeu ocidental, na
pintura, a paisagem se liberta das figuras que até então a tinham
absorvido como fundo (salvaguardando casos específicos), como
sublinha Javier Maderuelo:
Mª de Fátima Lambert
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Cristina Ataíde
www.cristinataide.com
PRÓXIMAS EXPOSIÇÕES
2009
RETROSPECTIVA, Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea,
Almada [curadora Emília Ferreira]
AQUI, Galeria Magda Bellotti, Madrid
LUGARES DE DERIVA, Galeria Fonseca Macedo, Ponta Delgada
[curador Paulo Reis]
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1997
VENTRES EMERSOS, Galeria Trem e Arco, Faro *
REENCONTROS, Casa Museu de Almeida Moreira, Viseu
1996
GARDE-FOU, Galeria Graça Fonseca, Lisboa
... DOS CORPOS AUSENTES, Galeria da Universidade, Braga *
1995
ALGUNS PECADOS E UMA VIRTUDE, Museu do Mosteiro de S. Martinho de Tibães, Braga *
VERMELHO, Galeria Gomes Alves, Guimarães
1994
OPOSIÇÕES, Galeria Graça Fonseca, Lisboa *
OPOSIÇÕES II, Galeria Fernando Santos, Porto
CABINET D’AMATEUR OU ARTE COMO FORMA DE VIDA, Galeria Luís Serpa projectos,
Lisboa
2005
DENSIDADE RELATIVA/ RELATIVE DENSITY, CAM, Fundação Calouste Gulbenkian,
Lisboa *
ARTE NA URGÊNCIA, Hospital de S. Francisco Xavier, Lisboa
5º PRÉMIO AMADEU DE SOUSA CARDOSO, Amarante *
FEIRA DE ARTE CONTEMPORÂNEA, FIL, Lisboa com as Galerias Fernando Santos,
Fonseca Macedo e Quattro
15 ANOS, Galeria Gomes Alves, Guimarães *
2004
19 SENTIDOS CONTEMPORÂNEOS, Álvaro Roquette, Lisboa
HORIZONTE, 20 anos [1984-2004] Galeria Luís Serpa projectos, Cordoaria Nacional, Lisboa *
CRIAR UM LUGAR, Metro da Casa da Música pelo Espaço T, Porto
FOTOPORTFÓLIO (20 ANOS), Galeria Luís Serpa, Lisboa
IV SIMPÓSIO DA PEDRA, Cantanhede
SIMPPETRA '04, Caldas da Rainha
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2003
ARTE CONTEMPORÂNEA, Colecção CGD, Obras de 1968 a 2002, MEIAC; Badajoz *
DESENHO, 1993-2003, Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea, Almada
A ARTE DOS ARTISTAS, Culturgest, Lisboa *
2002
ARTE CONTEMPORÂNEA, NOVAS AQUISIÇÕES, Colecção CGD - Culturgest, Lisboa *
DESENHO CONTEMPORÂNEO, Instituto Açoriano de Cultura, Angra do Heroísmo
2001
ARCO 2001,Galeria André Viana, Madrid
REGRESSO À CONDIÇÃO, Museu Almeida Moreira, Viseu
2000
ARCO 2000, Galeria André Viana, Madrid
MOTE E TRANSFIGURAÇÕES, Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa
BOLSAS / GRANTS:
Bolseira da F.L.A.D. em 1986, 1988 e 1997.
Bolseira da Fundação Oriente em 1998 e 2003.
Subsídio Projectos Especiais, SEC, 1991.
Subsídios da Fundação Calouste Gulbenkian em 1994,95,98 e 2005.
PRÉMIOS/ AWARDS:
Prémio Revelação na I Bienal de Sintra, 1987.
Prémio Design em Pedra, SK/Marbrito, 1993.
Selo Design, Centro Português de Design, 1993.
Distinção no Espaço Design 94, Exponor, Porto, 1994.
Menção Honrosa de Escultura da 6ª Bienal das Caldas da Rainha, 1995.
Escultura seleccionada para os ―Recorridos de ARCO‖, Madrid,1996.
Prémio aquisição Unión Fenosa, La Coruña, 1997 e | and 1999.
Paisagen blanca, projecto para Blanca, Espanha, 2009
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