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Cidadania e Profissionalidade

CP1 – Liberdade e responsabilidade


democrática

Nome do formando: Ana Alina Tripon Turma EFA 6 N.º 1 Data: 24/ 10/ 2010

FERNANDO PESSOA – Aspectos da sua vida e


obra

1
ÍNDICE

Introdução...................................................................................................................... 3

Biografia......................................................................................................................... 3

Contexto Histórico.......................................................................................................... 5

Ortónimo e Heterónimos................................................................................................ 5

Pessoa ortónimo ............................................................................................................ 5

Temáticas de Fernando Pessoa ortónimo.......................................................................6

Heterónimos................................................................................................................... 7

Alberto Caeiro................................................................................................................. 7

Temáticas de Alberto Caeiro..........................................................................................8

Álvaro de Campos.......................................................................................................... 9

Temáticas de Álvaro de Campos..................................................................................10

Ricardo Reis.................................................................................................................. 11

Temáticas em Ricardo Reis..........................................................................................12

Obra............................................................................................................................. 13

Conclusão..................................................................................................................... 13

Bibliografia................................................................................................................... 14

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Introdução

Este trabalho foi realizado no âmbito das Novas Oportunidades para a disciplina
Cultura, Língua e Comunicação e tem como tema o poeta Fernando Pessoa, uma das
personalidades mais representativas não só da literatura portuguesa, como da literatura
universal do séc. XX.

Biografia

Fernando Pessoa nasceu a 13 de Junho de 1888 em Lisboa, no Largo de São Carlos,


em frente à ópera de Lisboa. O pai, Joaquim de Seabra Pessoa, natural de Lisboa, era
funcionário público do Ministério da Justiça e crítico musical do Diário de Notícias. A mãe,
D. Maria Madalena Pinheiro Nogueira Pessoa, era natural dos Açores (mais propriamente,
da Ilha Terceira). Viviam com eles a avó Dionísia, doente mental, e duas criadas velhas,
Joana e Emília.
A sua infância e a adolescência foram marcadas
por factos que o influenciariam posteriormente.
Quando Fernando Pessoa tinha cinco anos, o pai
morreu vítima de tuberculose. A mãe vê-se obrigada
a leiloar parte da mobília e muda-se para uma casa
mais modesta. Foi também neste período que surgiu
o primeiro heterónimo de Fernando Pessoa,
Chevalier de Pas, facto relatado pelo próprio a Adolfo
Casais Monteiro, na carta em que relata a origem dos
heterónimos. A mãe casa-se pela segunda vez em
1895 por procuração, na Igreja de São Mamede, em
Lisboa, com o comandante João Miguel Rosa, cônsul de Portugal em Durban (África do
Sul), que havia conhecido um ano antes. Em África, Pessoa viria a demonstrar desde
cedo talento para a literatura.

Juventude em Durban

Devido ao casamento, viaja com a mãe para Durban,


acompanhados por um tio-avô que voltaria para Lisboa no mês
seguinte. Faz a instrução primária na escola de freiras
irlandesas da West Street, revelando-se um aluno brilhante (fez
em dois anos o equivalente a quatro).
Em 1899 ingressa no Liceu de Durban, onde permanecerá
durante três anos e será um dos primeiros alunos da turma. No
mesmo ano, cria o pseudónimo Alexander Search do qual
envia cartas a si mesmo. No ano de 1901, é aprovado com
distinção no primeiro exame Cape School High Examination e
escreve os primeiros poemas em inglês. Na mesma altura,
morre a sua irmã Madalena Henriqueta, de dois anos. Em 1901
parte com a família para Portugal, para um ano de férias. Em
Lisboa, mora com a família em Pedrouços e depois na Avenida
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de D. Carlos I. Na capital portuguesa, nasce João Maria, quarto filho do segundo
casamento da mãe de Pessoa. Tendo de dividir a atenção da mãe com os filhos do
casamento e com o padrasto, Pessoa isola-se, o que lhe propicia momentos de reflexão.
Tendo recebido uma educação britânica, que lhe proporcionou um profundo contacto
com a língua inglesa, os seus primeiros textos e estudos foram em inglês. O Inglês teve
grande destaque na sua vida, trabalhando com o idioma quando, mais tarde, se torna
correspondente comercial em Lisboa, além de o utilizar em alguns dos seus textos e
traduzir trabalhos de poetas ingleses. Com excepção de Mensagem, os únicos livros
publicados em vida são os das colectâneas dos seus poemas ingleses escritos entre 1918
e 1921.

Fernando Pessoa permanece em Lisboa, enquanto a família regressa a Durban. Volta


sozinho para a África mais tarde e matricula-se na escola comercial de Durban, escola de
ensino nocturno, enquanto de dia estuda as disciplinas humanísticas para entrar na
universidade. Em 1903, candidata-se à Universidade do Cabo da Boa Esperança. Na
prova de exame de admissão, não obtém boa classificação, mas tira a melhor nota entre
os 899 candidatos no ensaio de estilo inglês. Um ano depois, ingressa novamente no
Liceu de Durban, onde frequenta o equivalente a um primeiro ano universitário. Aprofunda
a sua cultura, lendo clássicos ingleses e latinos. Nasce a sua irmã Maria Clara. Publica no
jornal do liceu um ensaio crítico intitulado Macaulay. Por fim, encerra os seus bem
sucedidos estudos na África do Sul com o «Intermediate Examination in Arts», na
Universidade, obtendo uma boa classificação.

Volta definitiva a Portugal e início de carreira

Deixando a família em Durban, regressa definitivamente à


capital portuguesa, sozinho, em 1905. Passa a viver com a avó
Dionísia e as duas tias na Rua da Bela Vista, n.º 17. A mãe e o
padrasto regressam também a Lisboa, durante um período de
férias de um ano em que Pessoa volta a morar com eles.
Continua a produção de poemas em inglês e, em 1906,
matricula-se no Curso Superior de Letras (actual Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa), que abandona sem sequer
completar o primeiro ano. Em Agosto de 1907, morre a sua
avó Dionísia, deixando-lhe uma pequena herança, com a qual
monta uma pequena tipografia sob o nome de Empreza Ibis —
Typographica e Editora — Officinas a Vapor, que rapidamente
faliu. A partir de 1908, dedica-se à tradução de
correspondência comercial, uma actividade a que poderíamos dar o nome de
"correspondente estrangeiro". Nessa profissão trabalha a vida toda, tendo uma modesta
vida pública.
Inicia a sua actividade de ensaísta e crítico literário com o artigo A Nova Poesia
Portuguesa Sociologicamente Considerada, a que se seguiriam Reincidindo… e A Nova
Poesia Portuguesa no Seu Aspecto Psicológico publicados em 1912 pela revista A Águia,
órgão da Renascença Portuguesa.
Pessoa é internado no dia 29 de Novembro de 1935, no Hospital de São Luís dos
Franceses, com diagnóstico de "cólica hepática", provavelmente associada a cirrose
hepática com origem no óbvio excesso de álcool ao longo da sua vida. Morre no dia 30 de
Novembro, com 47 anos de idade. Nos últimos momentos de vida, pede os óculos e
clama pelos seus heterónimos. A sua última frase foi escrita no idioma no qual foi
educado, o Inglês: «I know not what tomorrow will bring» (Não sei o que o futuro trará).

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Contexto Histórico

O grande Fernando Pessoa viveu entre 1888 e 1935. Atravessa, por isso, uma época
conturbada e conflituosa em Portugal.
Em 1910, é implantada a República. No período de 16 anos (de 1910 a 1926) que se
seguiu houve 7 Parlamentos, 8 Presidentes da República e cerca de 50 governos. A
Ditadura Nacional ou Ditadura militar foi a denominação do regime militar autoritário
instaurado em Portugal pelo General Gomes da Costa, através do Golpe de 28 de Maio
de 1926.
Havia grande instabilidade política, aproveitada pela Oposição, a par de uma crise
económica e financeira que tinha estado na origem da contestação, o que mostrava a
inoperância dos governos republicanos. Esta situação agravou-se com a participação de
Portugal na 1ª Grande Guerra. A permanente interferência do Congresso na actividade
governativa tornava ineficaz a acção dos governos. Os constantes desentendimentos
entre os partidos com assento parlamentar geravam impasses irresolúveis e que,
facilmente, por questões secundárias, faziam cair governos e presidentes.
Dá-se ainda em vida do poeta a ascensão do fascismo e de Salazar, com o Estado
Novo, a Constituição de 1933 e a cessação das liberdades individuais e colectivas.

Em termos de corrente literária, vivia-se na época do modernismo (ou movimento


moderno) que consistiu num conjunto de movimentos culturais, escolas e estilos que
permearam as artes e o design da primeira metade do século XX.
Pessoa viveu no meio de tudo isto e foi um cidadão atento e que opinava com
frequência sobre o que se ia passando em Portugal na época.

Ortónimo e Heterónimos

Pessoa ortónimo
Fernando Pessoa recebe influências muito diversas (saudosismo, decadentismo,
simbolismo1, futurismo) mas o grande valor da sua obra está na profunda, quase chocante
originalidade da sua poesia: ele nunca pensa nem diz como os outros, ainda mesmo
quando “imita”. A força do seu estilo está no imprevisto, no escândalo do anormal, no
choque do paradoxo e, sobretudo, no jogo artístico do fingimento. Para o poeta, a arte é
um jogo, conseguindo sintetizar, como verdadeiro motor da sua arte, a sensibilidade e a
razão: «o que em mim sente está pensando».
A própria criação dos heterónimos (o seu “drama em gente”) é o fingimento supremo,
a maior e mais genial das metáforas. É o Fernando Pessoa ortónimo que estabelece a
ligação com a poesia tradicional portuguesa. Pessoa exprime as suas vivências íntimas
em tom quase sempre triste de quem se recorda de uma infância perdida (Ex.: “O sino da
minha aldeia”). Afasta-se no entanto de outros poetas tradicionais pelo seu natural anti-

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Os simbolistas caracterizam-se:
- pela busca do eu profundo, numa zona obscura do ser, só captável através de sonhos, devaneios, visões, alucinações. Esse eu
profundo é igualmente atingível pela intuição, pela percepção da unidade última dada pelas correspondências entre o mundo
visível e invisível, ou entre as sensações que se interpenetram e evocam entre si;
- pela noção de que o poeta é um decifrador de símbolos, um vidente, procurando palavras e associações de palavras
plurissignificativas que a cada leitura signifiquem mais e diferentemente;
- pela busca de uma linguagem nova, rica de imagens, alegorias, metáforas, desconexões lógicas, sinestesias, musicalidade,
hermetismo;
- busca de uma “poesia poética”, “inútil”, não metafísica, não social, não pragmática, de arte pela arte.
Para os simbolistas, a poesia é um canto de alma, todo em sugestões, cujos temas são a vida imediata, a melancolia, a decadência, o
humor triste. O poeta é um decifrador que a partir do desregramento de todos os sentidos acede à visão de um mundo novo.
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sentimentalismo e pela ausência de toda a biografia «Eu simplesmente sinto/ Com a
imaginação/ Não uso o coração». O saudosismo que se encontra na obra de Pessoa é
segundo ele próprio o diz, uma “atitude literária” a vivência de um estado imaginário. Foi
esta atitude anti-sentimentalista que o levou a separar-se de A Águia e da Renascença
Portuguesa.
Há no entanto um conjunto de poemas de Pessoa que estão dentro da tradição
poética portuguesa, não só pela sua métrica popular mas também pela expressão da
saudade da infância, do tédio, do pessimismo.

TUDO O QUE FAÇO OU MEDITO

Tudo o que faço ou medito


Fica sempre na metade.
Querendo, quero o infinito.
Fazendo, nada é verdade.

Que nojo de mim fica


Ao olhar para o que faço!
Minha alma é lúcida e rica
E eu sou um mar de sargaço –

Um mar onde bóiam lentos


Fragmentos de um mar de além...
Vontades ou pensamentos?
Não o sei e sei-o bem.
in Cancioneiro, Obra Poética de Fernando Pessoa,
I Volume, Circulo de Leitores

No Pessoa ortónimo o ritmo, a musicalidade são muito importantes. Até em poemas


de cariz intelectual, como Autopsicografia, usa a redondilha maior (verso de sete sílabas
métricas), o nosso verso mais popular.

Temáticas de Fernando Pessoa ortónimo


• Fingimento poético
• Lucidez e dor de ser lúcido, de pensar
• Vontade de ser inconsciente
• Intelectualização de emoções
• Oposição Pensar / Sentir
• Dificuldade em distinguir sonho e realidade
• Estranheza, perplexidade
• Fragmentação do Eu
• Angústia, insatisfação
• Tédio, náusea, resignação
• Nostalgia do Eu, de um bem perdido (tema da perda)
• Nostalgia da infância
• Identidade perdida;
• Consciência do absurdo da existência;
• Tensão sinceridade/fingimento, consciência/inconsciência, sonho/realidade;
• Oposição sentir/pensar, pensamento/vontade, esperança/desilusão;
• Anti-sentimentalismo: intelectualização da emoção;
• Estados negativos: solidão, cepticismo, tédio, angústia, cansaço, desespero,
frustração;
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• Inquietação metafísica, dor de viver;
• Auto-análise.

Heterónimos

Alberto Caeiro

É o poeta que, teoricamente, aceita o mundo como ele é, sem


procurar investigar-lhe a natureza e a origem. O poeta vive da
observação da realidade, captando-a através dos sentidos. A sua
poesia baseia-se nas sensações do mundo real, privilegiando-se a
visão. Para ele não há passado nem futuro, porque recordar é
atraiçoar a natureza (que é apenas o agora) e o futuro é campo de
miragens enganadoras. É, em suma, o poeta do real e do objectivo.
Só os sentidos contam para ele.
Caeiro nega a filosofia, a metafísica, o pensamento, o misticismo: «Há metafísica
bastante em não pensar em nada», «o único sentido oculto das coisas é elas não terem
sentido oculto nenhum». No entanto, Caeiro, ao recusar a metafísica, já está a
demonstrar as suas faculdades como pensador e constrói uma espécie de anti-metafísica.
Pessoa concebe-o como um poeta pouco instruído (com a 4.ª classe apenas), mas ao
mesmo tempo coloca-o como mestre de todos os outros heterónimos e de si próprio,
talvez por, ao contrário de todos, Caeiro procurar na tranquilidade, na despreocupação, a
resposta para o mistério da existência que angustia os seus discípulos. Caeiro é o único
que tem uma mensagem jovial. Ele é a eterna criança, é, pelo menos em teoria, sereno e
irreflectido. O seu olhar vazio de pensamento evita a “dor de pensar”: «Sejam como eu –
não sofrerão».
Para Caeiro, «pensar é estar doente dos olhos». A ele basta-lhe existir. Nos Poemas
Inconjuntos, Caeiro marca o contraste entre o místico que em tudo vê «um sentido
velado» e ele próprio que, «por ter olhos só para ver», vê «ausência de significação em
todas as cousas».

Tu, místico, vês uma significação em todas as coisas.


Para ti tudo tem um sentido velado.
Há uma coisa oculta em cada coisa que vês.
O que vês, vê-lo sempre para veres outra coisa.

Para mim graças a ter olhos só para ver,


Eu vejo ausência de significação em todas as coisas;
Vejo-o e amo-me, porque ser uma coisa é não significar nada.
Ser uma coisa é não ser susceptível de interpretação.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"


Heterónimo de Fernando Pessoa

Mas só em teoria Caeiro é completamente objectivo. Na verdade a sua linguagem é


sobretudo abstracta, mais adaptada ao raciocínio do que à descrição impressionista da
realidade. O seu realismo ingénuo, paradoxalmente, desemboca sempre no raciocínio.
Assim, este poeta bucólico, camponês, que se descreve como um «guardador de
rebanhos», guarda afinal «pensamentos» e deixa transparecer que tudo não passa afinal
de um jogo literário. Caeiro dá-nos a impressão de um homem culto que pretende
despir-se da farda pesada de toda a cultura amontoada ao longo de séculos: «O essencial
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é saber ver / Saber ver sem estar a pensar, / Mas isso (triste de nós que trazemos a alma
vestida!), / Isso exige um estudo profundo, / Uma aprendizagem de desaprender…»;
«Procuro despir-me do que aprendi».
Nalguns dos seus poemas também perpassa uma sombra de profunda melancolia,
inteiramente fora da «luminosidade» habitual, o desejo de ser algo de diferente.

Quem me dera que eu fosse o pó da estrada


E que os pés dos pobres me estivessem pisando...

Quem me dera que eu fosse os rios que correm


E que as lavadeiras estivessem à minha beira...

Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio


E tivesse só o céu por cima e a água por baixo...

Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro


E que ele me batesse e me estimasse...

Antes isso que ser o que atravessa a vida


Olhando para trás de si e tendo pena...

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XVIII"


Heterónimo de Fernando Pessoa

Temáticas de Alberto Caeiro

Os principais temas da obra de Caeiro são:

• O objectivismo;
• O sensacionismo;
• A antimetafísica (recusa do conhecimento das coisas);
• Panteísmo naturalista (adoração pela natureza).

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Álvaro de Campos

Álvaro de Campos, nasceu no Algarve em 1890. A sua formação era de engenharia


mecânica e naval na Escócia. Homem viajado, e dedicado à literatura e às polémicas
literárias e políticas. É o heterónimo que mais se identifica com Fernando Pessoa e o seu
percurso foi marcado por três fases:

1.ª fase – Decadentista – De disforia e angústia. Esta fase ocorre porque há um


desencanto em relação à vida. O refúgio era o ópio. Os sentimentos eram de tédio,
náusea e cansaço, e tinha necessidades de novas sensações.

2.ª fase – Futurista e Sensacionista – Fase de euforia e exaltação de sentimentos.


Esta fase explode com a influência do aparecimento da máquina, com os progressos
decorrentes desse aparecimento e com a dinâmica da vida moderna. Poeta de
sensações, quer sentir tudo de todas as maneiras, tem a excitação da procura e da busca
incessante. Comprova-se na sua escrita: através da desordem de ritmos, violência de
metáforas, e no seu estilo caótico: “Ode Triunfal”.
Nesta fase de Campos, a sensação é tudo. O sensacionismo
torna a sensação a realidade da vida e a base da arte. O Eu do
poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência
ou possibilidade de existir. Álvaro de Campos é quem melhor
procura a totalização das sensações, mas sobretudo das
percepções conforme as sente, ou, como ele próprio afirma,
“sentir tudo de todas as maneiras”. Isto significa, para o poeta, a
tentativa de abarcar o Todo, numa ânsia incontida e exuberante.
Fernando Pessoa afirma que Álvaro de Campos é o “filho
indisciplinado da sensação”. O seu sensacionismo distingue-se do
de Alberto Caeiro, na medida em que este considera a sensação
captada pelos sentidos como a única realidade e rejeita o
pensamento.

3.ª fase – Intimista – De entrega total à depressão. Nesta


fase há uma incapacidade de realização trazendo de volta o
abatimento, as insónias e a agorafobia, pelo que os ambientes
fechados fazem-no sentir aconchegado. Vive obcecado por ser feliz, mas não consegue,
e chega a tentar banir o vício de pensar. Fase de uma profunda confusão emocional e de
perda de identidade.

O drama de Álvaro de Campos concretiza-se numa frustração total, feita da


incapacidade de unificar, abarcar em si o mundo inteiro. Toda a desordem de ritmos, toda
a violência de metáforas e expressões provém do desespero de não poder meter nas
palavras o tamanho das sensações. A sua poesia oscila entre os versos “falhei em tudo” e
os que prolongam o seu anseio de ser mais completo, “mais análogo serei a Deus, seja
ele quem for. Porque seja ele quem for, com certeza que é tudo. E fora d’ Ele há só Ele, e
tudo para Ele é pouco.”
Revela, como Pessoa, a mesma inadaptação à existência e a mesma demissão da
personalidade íntegra. É com Campos que o ortónimo partilha a fragmentação interior, a
dor de pensar, a solidão/inadaptação, o tédio e um cansaço atroz perante a vida e uma
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saudade viva da infância. Mas, pela sua violência e franqueza, põe mais a claro o que em
Pessoa ficou discreto e implícito. Diz Pessoa: “se eu fosse mulher – na mulher os
fenómenos histéricos rompem em ataques e coisas parecidas – cada poema de Álvaro de
Campos (o mais histericamente histérico de mim) seria um alarme para a vizinhança. Mas
sou homem – e nos homens a histeria assume principalmente aspectos mentais: assim
tudo acaba em silêncio e poesia” e afirma também: “pus em Álvaro de Campos toda a
emoção que não dou a mim nem à vida”.
Caracteriza-o a sua faceta anti-social, o seu desprezo pelo burguês e pela sociedade
materialista, exigente de comportamentos estereotipados, cujos valores caducos ele
contesta, numa revolta veemente. Assume-se como um dândi, sempre pronto a provocar,
a chocar os seguidores da ordem estabelecida, causando escândalo. O poeta escreve:
“Não me peguem no braço! Não gosto que me peguem no braço.(...)” Álvaro de Campos
agita, pela raiz, as estruturas de uma sociedade em que a moral se tornou o absurdo, por
excelência, pois não corresponde às aspirações mais profundas do Homem no século XX,
condenando-o à hipocrisia e à ilusão de felicidade.
A sua procura da chave do ser e da inteligência do mundo torna-se desesperante.
Tanto a “Ode Triunfal” com a “Ode Marítima” são epopeias do mundo mecânico, do
mundo do futuro que caminha para o absurdo. Concretamente, na “Ode Triunfal”, Campos
canta a civilização e a corrupção na política, os progressos, todas as coisas modernas
como “Nova revelação metálica e dinâmica de Deus”; canta a raiva mecânica em
contraste com o desejo de sossego e de serenidade. Mas é já aqui na Ode Triunfal e
também na Ode Marítima que Campos nos dá a sensação de uma frustração radical – é
na máquina, irracional e exterior que se projectam os sonhos e os desejos do poeta: “Ah,
poder exprimir-me todo como um motor se exprime! / Ser completo como uma máquina”.
É defendendo uma postura amoral, e indo mais longe do que os que preconizaram a
ideia da “arte pela arte”, que Álvaro de Campos propõe uma estética não-aristotélica,
substituindo o conceito de beleza pelo de força, ao nível da emoção individual – a forma
de se impor taxativamente aos outros (a arte deve subjugar pelo seu poder).
A fluência jorrante, manifestada em versos tempestuosos, exprime a dor de uma
solidão assumida e desejada, um tédio imenso perante a vida, um cansaço atroz. As
elocuções febris traduzem um cepticismo sem remédio e não excluem uma saudade viva
da infância, de um tempo anterior, em que o poeta sentia ter tido um espaço, para sempre
perdido, porque os outros tinham esperanças por ele.
Campos recusa a acção, pois não se insere no sistema social que o envolve e grita a
sua diferença de uma forma pungente, reivindicando para si mesmo a condição daquele
que “não nasceu para isso”, aquele que tem consciência de que entre si e os outros existe
um abismo intransponível.

Temáticas de Álvaro de Campos

As temáticas abordadas por Campos são:

• Decadentismo – cansaço, tédio, busca de novas sensações;


• Futurismo – corte com o passado, exprimindo em arte o dinamismo da vida
moderna. O vocabulário onomatopaico pretende exaltar a modernidade;
• Sensacionismo – corrente literária que considera a sensação como base de toda a
arte;
• Pessimismo – última fase, vencidismo

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Ricardo Reis

Ricardo Reis surge de forma latente em Fernando Pessoa


“aí por volta de 1912, salvo erro”, conforme este diz na carta a
Adolfo Casais Monteiro sobre a génese dos heterónimos, e
apresenta-se desde logo como um poeta clássico. É o seu
irmão quem melhor o define, Frederico Reis, ao apresentá-lo
como um epicurista triste.
Nas suas odes, evidencia um espírito grave, medido,
ansioso de perfeição. Como Caeiro, seu mestre, aconselha a
aceitar calmamente a ordem das coisas: não queiramos “mais
vida/ Que a das árvores verdes”. Ambos elogiam o viver
campestre, convencidos de que a sabedoria está em gozar a
vida pensando o menos possível. Mas enquanto Caeiro é o
homem ingénuo, aberto, contente por natureza (o prazer vem
ao seu encontro, prazer de ver e de sentir-se existir), Reis é
um homem ressentido, que experimenta a dor da miséria
humana: o Fado, a Velhice, a Morte. Vai à conquista do prazer
relativo, sempre toldado pela tristeza de saber que o é. O seu objectivo é iludir a dor.
Sentindo-se estrangeiro no mundo, recolhe-se com orgulho ao castelo interior “Façamos
de nós mesmos o retiro/Onde esconder-nos...”. Em teoria, Caeiro é uma inteligência
primitiva, instintiva, Reis, um civilizado, um “pagão da decadência” que cultiva a elegância
de maneiras, a beleza do artifício, a arquitectura estrita da ode.
O seu conceito de vida terrena e extraterrena aparenta-se, em linhas gerais, com o
homérico. Lá em cima, no Olimpo, em banquetes, ao som de música inefável, divertem-se
eternamente os deuses. Interessam-se pelos homens? Reis ora os descreve “cheios de
eternidade e desprezo por nós”, ora dá a entender que premeiam e castigam. A sua
concepção dos deuses é vária e incerta “não sejamos/Inteiros numa fé talvez sem causa”,
é um pagão que duvida. Reis pressente acima dos deuses uma força maior, uma entidade
implacável a que todos obedecemos: o Fado. Este dita os passos da nossa breve
existência, no fim da qual se encontra a morte. Como os gregos, Reis sofre
profundamente com esta ideia. Pensando bem, todos os homens são já seres
moribundos. Angustiado perante um Destino mudo, Reis procura na sabedoria dos
antigos um remédio para os seus males, optando por aceitar com altivez o destino que lhe
é imposto, fazendo da vida uma arte. Quer, então, encarar o destino de frente, lúcido e
solene: “Antes, sabendo/Ser nada, que ignorando:/Nada dentro de nada”. O homem de
sabedoria constrói a sua autonomia interior na restrita área de liberdade que lhe ficou.
Essa conquista começa por um acto de abdicação: “Abdica/E sê rei de ti próprio”. Reis
propõe-se e propõe-nos um duro esforço de autodisciplina. O primeiro objectivo é a
submissão voluntária a um destino involuntário, que deste modo cumprimos altivamente,
sem um queixume: “Teu íntimo destino involuntário/Cumpre alto.” O homem de sabedoria
chega a antecipar-se ao próprio destino, aceitando livremente a morte: “E quando
entremos pela noite dentro/Por nosso pé entremos”. O segundo objectivo é depurar a
alma de instintos e paixões que nos prendem ao transitório, alienando a nossa vida. Com
Epicuro, Reis aprende a ataraxia, que não implica a ausência de prazer mas indiferença
perante todo o prazer que nos compromete, colocando-nos na dependência dos outros e
das coisas. Além da sensação elementar, os prazeres tipicamente epicuristas são
espirituais. Na poesia de Reis, é constante a desconfiança perante a Fortuna, os
sentimentos fortes, o prazer. Diz a sabedoria antiga que a Fortuna é insidiosa e nada
devemos esperar que não provenha de nós mesmos. O melhor é viver longe do tumulto
das cidades, mas até no retiro campestre, tão grato a Epicuro, cumpre fugir dos laços do
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amor demasiado intenso. A amada de Reis é apenas a companheira de viagem “pagã
triste e com flores no regaço”; não se beijam nem sequer apertam as mãos, para que,
morrendo um deles, a sua lembrança não fira o coração do outro.
A felicidade consiste em gozar ao de leve os “instantes volúveis”, buscando “o mínimo
de dor ou gozo”, colhendo as flores para logo as largar das mãos. Tudo é inútil: “Não vale
a pena/Fazer um gesto”. O resultado e quando muito, um calmo contentamento: “Não há
tristezas/Nem alegrias/Na nossa vida”.
Reis, como Caeiro, é a expressão abstracta de um modo conceber e sentir a vida. É
um epicurista egoísta, um contemplativo extremamente pobre de calor afectivo, sem
amizades que transpareçam na poesia, sem capacidade para o amor autêntico. Reis
parece apenas querer remediar o sentimento de fraqueza humana através da arte de
viver que permita chegar à morte de mãos vazias e com um mínimo de sofrimento.
Ricardo Reis foi aquele que melhor traduziu a evidência da tragédia humana. Existir é
nada ter, é nada poder. o fatalismo condena o homem.
Este poeta não acredita na obtenção de verdades e a sua única certeza é a de que
não fugiremos ao nosso fado, que culminará inevitavelmente na morte. Então, propõe a
anulação da vontade, a aceitação passiva de todas as coisas, a recusa da emoção e do
prazer intenso. Para Ricardo Reis, o homem é um prisioneiro da sua condição. A renúncia
é a única coisa que nos resta perante uma vontade divina que nos transcende, perante
Cronos (o Tempo), que devora os seus próprios filhos.
A imitação da Antiguidade não esconde a preocupação que caracteriza os tempos
modernos: a angústia perante a morte, o horror do nada, preocupações igualmente
presentes na poesia ortónima e na de Álvaro de Campos. Assim, apesar das estruturas
estróficas e métricas, da latinização da sintaxe, do léxico erudito e arcaico, à maneira
clássica, a poesia de Reis deixa sempre perpassar a angústia metafísica do próprio
Fernando Pessoa face ao enigma da existência.
O estilo das Odes de Reis utiliza todos os ingredientes do classicismo: o epicurismo e
o carpem diem e aurea mediocritas de Horácio, a teoria do fluir inexorável da vida de
Heráclito, o uso estilístico do hipérbato, o emprego de latinismos, quer de palavras, quer
de construções.
Reis distancia-se de Caeiro porque aceita a força ordenadora da razão, porque pensa
que as coisas devem ser sentidas não só como são, mas também de modo a integrarem-
se num certo ideal de medida e regra clássicas. O próprio estilo de Reis, elegante e
cuidado (contraposto ao descuido estilístico de Caeiro), manifesta bem a tentativa de
adequar a linguagem (a forma) a uma concepção do mundo e da vida.
Reis aproxima-se de Caeiro pelo seu paganismo e pelo apego à natureza campestre.
Mas enquanto em Caeiro a observação da natureza se realiza numa aceitação alegre, em
Ricardo Reis há apenas uma satisfação aparente, uma serenidade que esconde um
recôndito desespero, como se o poeta fosse um desterrado num mundo estranho.

Temáticas em Ricardo Reis


Reis aborda os temas seguintes:
• busca da felicidade relativa
• moderação nos prazeres
• fuga à dor
• ataraxia (tranquilidade capaz de evitar a perturbação)
• prazer do momento
• Carpe Diem (caminho da felicidade, alcançada pela indiferença à perturbação)
• não cedência aos impulsos dos instintos
• calma, ou pelo menos, a sua ilusão
• ideal ético de apatia que permite a ausência da paixão e a liberdade
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Obra

A obra de Fernando Pessoa é muito vasta. Ainda hoje existem textos inéditos.
Algumas das suas obras são:
-Poesias do Cancioneiro
-Poesias de Fernando Pessoa - Poesia Lírica & Épica
-Poesias Coligidas;
-Mensagem;
-Poesias Inéditas (1919-1930);
- Poesias Inéditas (1930-1935);
-Poemas Para Lili;
-Excertos de Fausto: Tragédia Subjectiva
-Passos da Cruz;
-Poesias de Orpheu;
-Quadras ao Gosto Popular
-Canções de Beber
-Poesia Inglesa I
-Poesias Dispersas

Conclusão

Com a realização deste trabalho, concluí que Fernando Pessoa foi um poeta
extraordinário do início do século XX. É uma personagem de grande pluralidade e
densidade psicológica, pois ele era capaz de se “subdividir” em várias personalidades
completamente diferentes da sua, os heterónimos.
Cada um tinha uma maneira completamente distinta de escrever, tendo despertado
grande curiosidade e levando muitos especialistas a estudar Pessoa
A obra de Pessoa está traduzida em várias línguas e pode ser dividida em duas
grandes categorias – ortónima e heterónima.

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Bibliografia
J. Prado Coelho, Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa, Editorial Verbo.
Magalhães, Olga, Costa, Fernanda, Entre Margens, Português 12, Porto Editora,
2006
António Afonso Borregana, Fernando Pessoa e Heterónimos, Texto Editores, 2000

Sites consultados :

http://faroldasletras.no.sapo.pt/fernando_pessoa.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa

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