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TUDO O QUE FAÇO OU MEDITO, de Fernando Pessoa

1ª quadra: O sujeito lírico é dono de uma VOCABULÁRIO


Tudo que faço ou medito imaginação muito rica, sempre a “ferver” com novos Nojo:
Fica sempre na metade. projetos e ideias. Porém, vê-se dominado pela substantivo masculino
Querendo, quero o infinito. frustração de não conseguir realizar os seus 1. Repulsão do estômago;
Fazendo, nada é verdade.
intentos. repugnância; náusea.
Que nojo de mim me fica
2. [Figurado] Tédio,
2ª quadra: Esta estrofe é mais emotiva, como se aborrecimento.
Ao olhar para o que faço!
nota pelo recurso à expressão “nojo de mim”. 3. Luto (ex.: viveu em
Minha alma é lúcida e rica,
E eu sou um mar de sargaço — Apesar de ter consciência da sua inteligência casa dos tios durante o
(“alma é lúcida e rica”), numa atitude período de nojo)
Um mar onde boiam lentos menosprezadora assume-se como incapaz de Sargaço:
Fragmentos de um mar de além... pôr em prática os seus anseios por se sentir Planta fucácea marinha
Vontades ou pensamentos? inerte e incapaz de agir (“sou um mar de (da família das algas).
Não o sei e sei-o bem. sargaço”).
13-9-1933
Poesias. Fernando Pessoa.
(Nota explicativa de João Gaspar Simões 3ª quadra: O sujeito lírico introduz a explicação anunciada com o travessão que
e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 termina a estrofe anterior: sente-se fragmentado, disperso, preso nos seus
(15ª ed. 1995). - 177.
movimentos, impedido de agir de modo independente. Para finalizar, apresenta
um paradoxo intrigante que é frequente na sua poesia: assume que se
desconhece. Além disso, deixa uma reflexão final ambígua (“Não o sei e sei-o
bem”) que vem reforçar a indefinição do “eu”.

“O sujeito poético procura autoanalisar-se com a sua lucidez aguda, a sua alma “lúcida e rica”, na tentativa de se
autoconhecer. No entanto, aquilo que encontra é um espelho sem reflexo, “um mar de sargaço” que impede o encontro
consigo mesmo. Este poema revela a tentativa da descoberta de si mesmo, que lhe revela a impossibilidade de se
conhecer.
Pessoa foi considerado por muitos como um insincero verídico. O mesmo é dizer que muitos o viram como alguém que
fingia tudo o que dizia, enquanto poeta. É o próprio Pessoa que o confirma quando nos diz "o poeta é um fingidor". Mas na
realidade, até que ponto ele fingia nos seus poemas, sobretudo naqueles em que transparecia uma maior emoção?
O poema "Tudo que faço ou medito" é um poema tardio, de 1933, escrito dois anos antes da sua morte. É peculiar no todo
da obra ortónima por ser mais emotivo do que de costume. É bem verdade que Pessoa se mutilava em favor dos seus
heterónimos, para que no fim - como ele próprio dizia - restar ele próprio, simples e sem interesse. Não será bem assim,
pois em alguns momentos a poesia ortónima atinge graus de grande génio, mas nunca é tão coerente e consistente como
as poesias dos heterónimos.
A poesia ortónima Pessoana segue algumas regras. A saber: estados negativos e depressivos, presença de uma constante
autoanálise e reflexão fria e racional perante o presente e o passado, uso abundante de símbolos e paradoxos que passam
uma ideia de desespero e de futilidade de viver e agir.”
In https://sites.google.com/site/apontamentoslimareis/tudo-o-que-eu-faco (cons. dia 18/10/2015- com adap.)

NOTA EXPLICATIVA SOBRE O “MAR DE SARGAÇOS”: Já os antigos navegantes, desde o século XII, tinham levado para a Europa a
curiosa notícia de que, no Oceano Atlântico, entre as Antilhas e os Açores, existia uma espécie de pradaria, vastíssima e perigosa
para a navegação. Eles não foram os únicos a difundir tal notícia, pois Cristóvão Colombo, quando se dirigia para o Novo Mundo,
atravessara essa região marinha, em setembro de 1492 e, ao voltar à Espanha, deu notícias mais detalhadas sobre a extensão de
erva que vira, misteriosamente, flutuando sobre as águas e povoadas de milhares de aves marinhas. Hoje sabe-se que aqueles
antigos navegantes não encontraram uma pradaria, mas sim algas flutuantes, agrupadas de modo a formar numerosas ilhotas
de 10 a 12 metros de largura. Estas algas possuem, variadamente dispostas, algumas bexiguinhas em forma de grãos e cheias de
ar que permitem flutuar. Têm folhas mais ou menos alongadas segundo a espécie, e tinta que varia do amarelo-escuro ao
castanho.
Devido à sua proximidade com as Bermudas (e, consequentemente, com o Triângulo das Bermudas), ao mar são creditados
alguns dos estranhos desaparecimentos ali ocorridos; além disso, o estigma é reforçado pela total ausência de vento que, por
vezes, se sente na sua superfície e a possibilidade de que embarcações modernas se enredem nos sargaços, resultando em mais
embarcações encalhadas. Por estas razões, ele é por vezes citado como um cemitério de navios.

Uma lenda do século XIX afirmava que as algas do Mar dos Sargaços eram carnívoras e devoravam os marinheiros das
embarcações que se perdiam na área.

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