Sie sind auf Seite 1von 12

16/05/2018 Depressão no ambiente hospitalar: do paciente ao profissional de saúde

Siga-nos Facebook Google + Newsletter | Contatos | Publicidade

Conheça o QuickBooks

Conteúdos

HOME / CONTEÚDOS / OPINIÃO / ORGANIZAÇÕES E TRABALHO

PUB

Depressão no ambiente hospitalar: do


paciente ao profissional de saúde A- A A+

Susana Alamy 2017


alamysusana@gmail.com
Psicóloga clínica e hospitalar, psicoterapeuta, docente livre, autora do livro “Ensaios de
Psicologia Hospitalar: a ausculta da alma” (3ª. ed.), membro da Sociedade Brasileira de
Psicologia Hospitalar (SBPH). Autora do blog http://alamysusana.blogspot.com.br/

Artigo realizado a partir do âmbito da palestra de mesmo título proferida no “II Circuito de
IEP Saúde Mental: Depressão”, no Hospital Santa Casa de Belo Horizonte, Minas
Gerais, Brasil

Publicado no Psicologia.pt a: 2017-12-24 | Idioma: Português (Brasil) | Palavras-chave:

Partilhar 701 Share


Share Partilhar

Falar sobre depressão é sempre


necessário e impostergável.
Neste ano de 2017 deve ser um
tema ainda mais explorado, pois
foi eleito o ano de combate à
depressão pela Organização
Mundial de Saúde (OMS), com o
lema “vamos conversar?”; tendo
como objetivos eliminar os
estigmas, disseminar
informações e incentivar as
pessoas a buscarem ajuda e tratamento.

Considerando a importância do tema depressão, cabe ressaltar que a estatística


mundial, segundo a OMS, estimada em que mais de 300 milhões de pessoas sofrendo
de depressão (dados de 2015), sendo que só no Brasil são 11 milhões (dados de 2013).
E que até 2020 será a segunda causa mais incapacitante em países desenvolvidos e a
primeira em países em desenvolvimento.

http://www.psicologia.pt/artigos/ver_opiniao.php?depressao-no-ambiente-hospitalar-do-paciente-ao-profissional-de-saude&codigo=AOP0449 1/1
16/05/2018 Depressão no ambiente hospitalar: do paciente ao profissional de saúde

Então faço um recorte para falar da depressão no ambiente hospitalar, que abrange a
todos que ali estão, desde o paciente até o profissional de saúde, passando inclusive por
aqueles que prestam serviços administrativos.

Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde e a Organização Mundial de Saúde


(OPAS/OMS), “a depressão é um transtorno mental comum, caracterizado por tristeza
persistente e uma perda de interesse por atividades que as pessoas normalmente
gostam, acompanhadas por uma incapacidade de realizar atividades diárias por 14 dias
ou mais. Além disso, as pessoas com depressão normalmente apresentam vários dos
seguintes sintomas: perda de energia; alterações no apetite; dormir mais ou menos do
que se está acostumado; ansiedade; concentração reduzida; indecisão; inquietação;
sentimentos de inutilidade, culpa ou desesperança; e pensamentos de autolesão ou
suicídio.”

Lembrando que atividades da vida diária (AVD) são aquelas atividades básicas que
normalmente a pessoa executa sozinha, como banhar-se, alimentar-se e vestir-se,
dentre outras.

Assim, a depressão não só afeta a própria pessoa, “mas os que estão à sua volta: sua
família, seus amigos e colegas. Afeta comunidades e sociedades e tem um alto custo
social e econômico. Devido ao estigma associado à depressão, poucos querem falar
sobre ela” (Dra. Clarissa F. Etienne, diretora da OPAS/OMS, in “O ano de 2017 será da
luta contra a depressão. Informe-se e ajude alguém”, http://brasileiros.com.br/MqKNL,
acesso: 13/08/2017).

Referindo-se ao profissional de saúde, Oliveira e Cunha (p. 80) nos colocam que “(...) na
área da saúde o profissional deve estar em boas condições físicas e emocionais para
que possa desempenhar um serviço de qualidade”. Pensamos, então, que é
imprescindível, pois estará lidando com pessoas doentes, vulneráveis e mais sensíveis
às intempéries, bem como com suas famílias, que demandam atenção e que podem
estar inseguras quanto ao seu futuro, o que pode gerar medo, ansiedade e depressão.
Se não estiverem bem poderão se prejudicar, bem como prejudicar aqueles que estão
sob seus cuidados.

E o que acontece muitas vezes é que os “profissionais da área de saúde, incluindo


médicos, tem diminuído a capacidade de produção, realizando atividades com menor
precisão, aumentando o absenteísmo, adoecido com maior frequência, trabalhando
tensos e cansados. Estão ansiosos e depressivos, com atenção dispersa, desmotivados
e com baixa realização pessoal devido ao alto grau de estresse em suas atividades”.
(Oliveira e Cunha apud Santos, p. 81-82).

Mas o que é estresse? Segundo Lentine, Sonda e Biazin é “resposta fisiológica,


psicológica e comportamental de uma pessoa, visando adaptação a mudanças ou
situações novas, geradas por pressões externas ou internas” (p. 103). E ainda “é um
estado produzido por uma mudança no ambiente que é percebido como desafiador,
ameaçador ou perigoso para o balanço ou equilíbrio dinâmico da pessoa” (p. 105).

O stress ao qual estão submetidos, tanto profissionais de saúde quanto pacientes, pode
levá-los à depressão, esta por sua vez levá-los à desatenção que pode gerar danos. No
caso de profissionais de saúde estes danos podem causar prejuízos irreparáveis,
levando-os a negligenciar a escuta do paciente através da anamnese, das queixas, a
prescrever inadequadamente, avaliar erroneamente os resultados de exame, chegando
à iatrogenia. No caso de pacientes podem sofrer danos por se medicarem
inadequadamente, esquecendo o horário, confundindo os medicamentos, deixando de
fazerem os exames pedidos, dentre outros. A desatenção em grau elevado pode,
inclusive, provocar a morte do paciente, seja por negligência médica, da enfermagem ou
do próprio paciente.

O trabalho em equipe se faz emergente quando falamos em depressão, pois “é cada vez
mais necessário que haja ente os profissionais um trabalho de cooperação, para que a

http://www.psicologia.pt/artigos/ver_opiniao.php?depressao-no-ambiente-hospitalar-do-paciente-ao-profissional-de-saude&codigo=AOP0449 2/1
16/05/2018 Depressão no ambiente hospitalar: do paciente ao profissional de saúde

saúde seja vista de maneira total e não unicamente como um problema biológico ou
psicológico”. (Escobar y Medina, p. 261). Pois a depressão mal diagnosticada será “mal”
tratada, o que poderá repercutir na incapacitação prolongada do sujeito ou até mesmo
culminar na sua morte.

Um dos maiores problemas que encontramos é ser a depressão pouco diagnosticada


por psiquiatras, porque os pacientes não chegam até eles, permanecendo em consulta
com clínicos ou outras especialidades médicas. “Os motivos para o subdiagnóstico
advêm de fatores relacionados aos pacientes e aos médicos. Os pacientes podem ter
preconceito em relação ao diagnóstico de depressão e descrença em relação ao
tratamento. Os fatores relacionados aos médicos incluem falta de treinamento, falta de
tempo, descrença em relação à efetividade do tratamento, reconhecimento apenas dos
sintomas físicos da depressão e identificação dos sintomas de depressão como uma
reação ‘compreensível’” (FLECK, et al).

Sempre considerando que as causas da depressão são multifatoriais, biopsicossociais,


podemos levantar algumas mais comuns:

Doença do paciente, sendo que quanto mais grave a patologia, mais suscetível
estará o paciente de desencadear um quadro depressivo. No profissional, a
dificuldade em lidar com as limitações da sua profissão.

Conflito entre a equipe ou entre profissional e paciente.

Stress quando o paciente não se consegue o reajuste necessário à adaptação


exigida pela patologia e no caso de profissionais de saúde quando não conseguem
lidar adequadamente com pressões e tensões.

Incapacidade para ajudar os pacientes e seus familiares em suas demandas e o


paciente na incapacidade para o enfrentamento da doença, incapacidade para
lidar com sofrimento.

Autonomia. No caso de pacientes falta de autonomia para decidir, para continuar


sua vida como antes. No caso de profissionais, falta de autonomia para assumir os
riscos inerentes à sua conduta.

Formação deficitária dos profissionais de saúde, que desconsidera o paciente


enquanto um todo, fragmentando-o ao objeto de seu estudo. Por exemplo, para os
psicólogos a mente, para os médicos o biológico. Como se o paciente não fosse
um ser único e indivisível.

Despreparo para lidar com a morte, tanto de pacientes e familiares, quanto dos
profissionais de saúde. Pois a morte ainda continua sendo um tabu em nossa
sociedade.
Frustrações quando não se alcança os resultados desejados, como a cura e a
melhora, que repercutem tanto em pacientes quanto nos profissionais de saúde.
Vergonha por sentirem-se deprimidos, tanto profissionais quanto pacientes, o que
os leva a não procurar tratamento.
Sofrimento do paciente e do profissional de saúde como reflexo de diversas
causas.

Dificuldade em acolher o sofrimento do outro, seja como paciente, familiar ou


profissional de saúde.

Sensação de fracasso, principalmente no atendimento de pacientes crônicos e/ou


terminais, quando todos os esforços não são capazes de ajudá-los a melhorar. Os
pacientes em relação a não conseguirem alcançar os resultados desejados e pelos
quais tanto se empenharam. Isso acontece com frequência quando vem a recidiva
do câncer.

Dores físicas e emocionais.


E ainda imaturidade, baixa remuneração e excesso de trabalho para os
profissionais, dentre outras.

http://www.psicologia.pt/artigos/ver_opiniao.php?depressao-no-ambiente-hospitalar-do-paciente-ao-profissional-de-saude&codigo=AOP0449 3/1
16/05/2018 Depressão no ambiente hospitalar: do paciente ao profissional de saúde

E como as pessoas falam de seus sintomas? Como os descrevem? Seguem alguns


exemplos que podem ser descritos por pacientes, familiares e/ou profissionais de saúde,
que nos servem de alerta para um possível caso de depressão.

Dificuldade para lidar com problemas.


Sensação de cabeça “vazia”.

Sensação de cansaço físico e emocional.


Prostração ligada ao cansaço físico e emocional.

Ansiedade frente a doença e o tratamento.


Labilidade de humor.

Estresse físico e emocional.


Memória ruim. Lembrando que de modo geral quando as pessoas se queixam da
memória, estão se queixando da atenção, pois para que haja algum problema de
memória é preciso que haja alguma alteração funcional.

Sensação de vazio, de impotência e de fracasso.


Desmotivação, perda de interesse por qualquer atividade que antes lhe dava
prazer.
Perda de tônus, fraqueza muscular.

Sentimento de intensa tristeza.


Temos também que considerar que muitas pessoas, apesar dos sintomas e das queixas,
não reconhecem que estão deprimidas e se recusam a buscar tratamento. Assim, é
importante investigar junto a elas como lidam com suas queixas, o porquê delas
existirem e o que os sintomas querem nos dizer através do corpo.

Mas antes de qualquer intervenção é preciso lembrar que a depressão vem carregada
de preconceitos por se tratar de doença mental, entendida muitas vezes como “frescura”
de quem reclama. Carrega o estigma de ser considerada pela pessoa deprimida como
uma vergonhosa doença mental e é encarada como um fracasso pessoal. É considera
tabu em nossa sociedade, o que leva as pessoas a não procurarem o adequado
tratamento. Estes preconceitos devem ser valorados antes de qualquer intervenção, para
que não caiamos na leitura mais simplória de tratar-se de um problema que pode ser
tratado apenas com medicamentos.

Campos nos traz uma leitura diferenciada para a depressão, como sintoma do
sofrimento psíquico, onde em psicoterapia o sujeito pode resgatar sua interioridade e
acessar-se através da fala. Assim, deve ser tratada como um sofrimento único e
individual, peculiar de cada um.

Proponho que pensemos a depressão a partir de 3 classificações para que possamos


conduzir nossos atendimentos.

Depressão endógena: aquela provocada por fatores constitucionais, que não


depende de fatores externos para ser desencadeada. Podemos pensar também na
depressão que inicialmente advém de uma doença, como encefalopatia, e que
mesmo depois de tratada a patologia, continua a existir devido às lesões
provocadas pela doença; também podemos pensar naquela provocada por uso de
medicamento, pois não se trata de uma resposta emocional, mas sim de uma
resposta orgânica.

Depressão reativa: é aquela depressão que vem como resposta emocional a


fatores externos, e se dá, 2º Elisabeth Kübler-Ross, como reação a perdas
passadas.

Depressão preparatória: é um termo cunhado por E. Kübler-Ross a partir de seus


estudos junto a pacientes terminais. Refere-se à depressão que se dá em

http://www.psicologia.pt/artigos/ver_opiniao.php?depressao-no-ambiente-hospitalar-do-paciente-ao-profissional-de-saude&codigo=AOP0449 4/1
16/05/2018 Depressão no ambiente hospitalar: do paciente ao profissional de saúde

decorrência de perdas futuras. É comum em pacientes terminais quando percebem


que seu fim está próximo.

Campos nos traz que os benefícios da medicação serão sentidos como melhora em 60 a
65% dos pacientes e que destes, 50% terão recaídas. O que nos mostra um índice
insatisfatório com o tratamento medicamentoso. Ele se refere neste contexto como
“farmacoterapia da depressão”.

A medicação ajuda a tirar o paciente da letargia e em um primeiro momento é


interessante por nos possibilitar trabalhá-lo em terapia. Porque quando o paciente está
em quadro muito grave de depressão, podendo mesmo ser confundido com quadro
demencial, ele não consegue nem raciocinar e nem ter atenção, bem como nada o
interessa, nem mesmo seu tratamento. Todo cuidado é pouco neste momento, pois
tirando o paciente do quadro de letargia pode-se ajudá-lo a passar ao ato e este intentar
o suicídio. Foi o que ocorreu há anos atrás quando lançaram o “Prozacâ” (fluoxetina) e
houve uma intensa divulgação pela mídia como a “pílula da felicidade”.

Hoje temos uma tendência à medicalização da dor, do sofrimento e da depressão, como


uma solução mágica e rápida. Onde a medicalização é destinada aos sintomas
descritivos, como colocados pelo DSM-5, desconsiderando os fatores psicossociais de
quem adoece. No entanto, não adianta combater sintomas sem eliminar as causas.

Campos nos chama a atenção para os remédios ganhando “o estigma de recurso


terapêutico plenamente efetivo”, com promessa de felicidade. Nos traz em seu texto que
“o conceito de medicalização foi cunhado e trabalhado em sua nova dimensão conceitual
e histórica mais ampla por Foucault (1998, 2008), para afirmar o lugar de centralidade
que passa a ocupar o saber médico a partir da modernidade na configuração de
dinâmica social e política” (p. 31)

Assim, podemos dizer que a medicalização do sofrimento tenta combater sintomas sem
tratar as causas, que “problemas não médicos passam a ser definidos e tratados como
tais, ou seja, em que as diversas dimensões sociais, históricas, políticas e culturais,
próprias da condição humana, passam a ser reduzidas estritamente a uma dimensão
biológica e médica, com notáveis efeitos ideológicos”. (CAMPOS, p. 31). E mais adiante
Campos completa dizendo que o medicamento é “uma promessa de alívio da dor sem
entrar na subjetividade” (p. 32).

Então temos a sedução da medicação que está na promessa de resolução de conflitos


psíquicos, sem que o sujeito tenha que entrar na dimensão psíquica de seu sofrimento.
Desta maneira, torna-se mais fácil e cômodo, mesmo que com o baixo alcance de
resultados, transferir a responsabilidade pela felicidade para algo externo (medicamento)
ao invés de responsabilizar-se por si mesmo em um processo psicoterapêutico, lidando
com seu sofrimento psíquico.

As pessoas nos chegam, de modo geral, queixando-se de verem o mundo em preto e


branco, sem cor e sem alegria. Relatando que se perderam em um mundo cruel e sem
atrativos, onde seu sofrimento supera qualquer vontade de fazer alguma coisa. E isso
me remete a Campos (p. 32) quando ele diz que “é um indivíduo a quem dói desejar”. Já
não há o que desejar e “seu refúgio está no corpo: no corpo que dorme, que se recusa a
levantar, que não quer viver. Seu desejo é ver isso passar, mas nessa passagem há uma
resistência muito grande de entrada nas fantasias que ordenam esse sofrimento”.

Como uma maneira de se alcançar essa subjetividade e de resgatar-se enquanto sujeito,


Campos apud Machado e Ferreira nos trazem que “qualquer reflexão sobre si fica
excluída ou se torna obsoleta, uma vez que remete ao sofrimento psíquico e à
interioridade do sujeito. Esquece-se, por exemplo, que a psicanálise, acessando o
inconsciente e tomando a depressão como um sintoma do sofrimento psíquico em suas
diferentes roupagens na atualidade, é capaz de resgatar essa interioridade e acessar a
verdade do sujeito através da fala” (p. 32).

http://www.psicologia.pt/artigos/ver_opiniao.php?depressao-no-ambiente-hospitalar-do-paciente-ao-profissional-de-saude&codigo=AOP0449 5/1
16/05/2018 Depressão no ambiente hospitalar: do paciente ao profissional de saúde

E qual não é o lema da OMS neste 2017 quando o elege para o ano do combate à
depressão? “Vamos conversar”. Com este lema busca-se incentivar as pessoas a
falarem da sua tristeza, da sua depressão. “O primeiro passo para receber tratamento é
falar. Se você conhece alguém com depressão, escute o que ela tem a dizer. Se você
sofre de depressão, dê o primeiro passo hoje. Fale com alguém”. (CLARISSA F.
ETIENNE, diretora da OPAS/OMS).

E se é você a pessoa que ouve quem está deprimido, seja acolhedor e compreensivo,
não julgue, não critique, não desvalorize as queixas e ofereça ajuda.

E indo mais além do incentivo a falar, devemos também estar preparados, não só os
profissionais de saúde, mas toda a população, para perceber os sintomas da depressão
em terceiros, aqueles que não se dão conta de que estão deprimidos, para só, então,
motivá-los a falar do que os incomoda.

Na minha prática tenho pacientes que chegam ao consultório dizendo que estão bem e
que vieram porque alguém os mandou vir. Neste momento aproveito que já estão ali e já
faço a minha intervenção iniciando uma pequena anamnese de maneira a motivá-los a
falar. Vejo-os como quem percebe a vida como uma fotografia impressa e já velha que
vai se esmaecendo com o tempo até se apagar. É preciso interceder, é preciso ajudá-los
de alguma maneira a se resgatarem neste tempo, de maneira a encontrarem o que antes
lhes dava prazer. E isso é possível através da terapia, da sua fala que é escutada em si
mesmo, passível de compreensão, de uma releitura, de uma elaboração.

Temos então como alternativas de tratamentos para reduzir os sintomas da depressão o


uso de medicamentos, que ajudarão a pessoa em um primeiro momento, mas não
resolverão sua depressão, temos também a psicoterapia, e a psicoterapia associada ao
medicamento. E para tratar a depressão temos a psicoterapia e a psicoterapia associada
ao medicamento. Sempre considerando que a depressão grave pode levar o sujeito ao
suicídio. “Estima-se que cerca de 90% dos indivíduos que puseram fim às suas vidas
cometendo suicídio tinham alguma perturbação mental e que, na altura, 60% deles
estavam deprimidos. (...) O risco elevado de suicídio também tem sido associado com a
esquizofrenia, abuso de substâncias, perturbações da personalidade, perturbações da
ansiedade, incluindo perturbação de stress pós-traumático, e co-morbidade destes
diagnósticos” (OMS, p. 5, Prevenção do Suicídio).

Não são raros os pacientes que me chegam ao consultório já estando medicados há


meses e sem resultado satisfatório, queixando-se de problemas somáticos intimamente
ligados ao emocional.

Segundo a psiquiatra Alexandrina Maleiro, na I Jornada Brasileira de Saúde Mental dos


Médicos, devemos estar alertas para “algumas hipóteses em relação ao comportamento
dos médicos que cometem suicídio:

Especial vulnerabilidade. “Manifestam especial vulnerabilidade ou experiências


de eventos circunstanciais diferentes (recente perda profissional ou pessoal,
problemas financeiros ou de licença) em relação aos outros médicos”.

Jornada de trabalho excessiva. “Tendem a trabalhar mais horas que os outros


colegas”.

Abuso de álcool e/ou outras drogas.

Insatisfação com a profissão. “Estão mais insatisfeitos com suas carreiras


médicas que outros médicos”.

Intenção de suicidar-se. “Dão sinais de aviso da intenção de suicidar-se a outros”.

Transtorno mental e emocional. “Têm transtorno mental e emocional com mais


frequência”.

Problemas familiares. “Tiveram dificuldades na infância e seus problemas


familiares são comuns”.
http://www.psicologia.pt/artigos/ver_opiniao.php?depressao-no-ambiente-hospitalar-do-paciente-ao-profissional-de-saude&codigo=AOP0449 6/1
16/05/2018 Depressão no ambiente hospitalar: do paciente ao profissional de saúde

Automedicação. “Automedicam-se mais frequentemente que os outros colegas”.

E quanto aqueles pacientes internados? Diante da minha prática em hospitais pude


perceber que algumas situações demandam especial atenção dos profissionais de
saúde, pois em muitos casos pode culminar em um processo depressivo. Temos, então,
como alguns exemplos:

Diagnóstico de doença grave. O que deixa o paciente “sem chão” e sem


esperança de melhora ou cura. Pode sentir-se desesperado frente ao diagnóstico.

Diagnóstico de doença crônica com limitação das suas atividades.

Impossibilidade de continuidade de tratamento por terem se esgotado todas as


possibilidades terapêuticas.

Internação em setores de grande ocorrência de óbitos, onde os pacientes têm


os mesmos diagnósticos, criando a “fantasia” de que ele poderá ser o próximo a
morrer.

Internação prolongada, afastando o paciente dos seus entes queridos e das suas
atividades. O que pode gerar sentimentos de inutilidade e também de “peso” para
as pessoas queridas e/ou que cuidam dele.

Perda financeira em decorrência do custo do tratamento da doença e/ou do


afastamento do paciente das suas atividades.

Encaminhamento do paciente para os cuidados paliativos. O paciente se sente


como se estivesse diante de morte iminente, percepção carregada de estereótipos
do passado em relação ao que sejam os cuidados paliativos.

Recebimento de resultado de exames/biópsia com resultados positivos para


doenças graves e ainda pior se forem doenças associados a estigmas
preconceituosos. Como, por exemplo, HIV positivo.

Necessidade de procedimento cirúrgico para amputação de membro.

Pós-operatório doloroso e complicado.

Dor física, dor crônica, que acabam por prejudicar o paciente, por mantê-lo em
alerta na sua dor, direcionando sua atenção para somente seu sofrimento.

Depressão pré-existente intensificada a partir do adoecimento e/ou acidente.

Incapacitação e perda de autonomia em decorrência da doença e/ou acidente.

Ansiedade frente à morte, a sua e/ou de outros pacientes internados, seja esta
iminente ou não.

Comunicação deficiente entre paciente e profissionais de saúde, gerando


transtornos e fantasias que poderiam ser evitados.

Sentimento de culpa pelo aparecimento da doença e/ou da desorganização


familiar provocada pela internação.

Ociosidade no hospital quando se tratando de pacientes conscientes e não


incapacitados.

Sentimentos de solidão e desamparo.

Para finalizarmos, o sujeito deve, então, ser pensado como um todo e não somente nos
critérios descritivos do DSM-5, considerando-se sua subjetividade e a etiologia dos seus
sintomas. “O problema em jogo nas caracterizações diagnósticas atuais é, justamente,
ter aberto mão do lugar da subjetividade no diagnóstico como garantia de objetividade e
universalidade. Essa posição abre mão de hipóteses etiológicas e coloca no lugar
critérios sintomatológicos”. (CAMPOS).

http://www.psicologia.pt/artigos/ver_opiniao.php?depressao-no-ambiente-hospitalar-do-paciente-ao-profissional-de-saude&codigo=AOP0449 7/1
16/05/2018 Depressão no ambiente hospitalar: do paciente ao profissional de saúde

Podemos, então, concluir que precisamos acolher que tem depressão. E acolher
implica em respeitar, escutar o que a pessoa tem a dizer, considerando sua
subjetividade, ou seja, considerando aquilo que é dela: seus sentimentos, seus valores,
suas vivências, enfim, sua individualidade. Assim, escutar e diagnosticar, diagnosticar
para tratar e se for o caso, encaminhar para tratar-se.

Ninguém está imune à depressão e todo alerta deve ser considerado, tanto por parte dos
profissionais de saúde quanto por parte dos pacientes/familiares, para que possa ser
devidamente tratada, não prejudicando, assim, a qualidade de vida e a alegria de viver.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALAMY, Susana. Ensaios de Psicologia Hospitalar: a ausculta da alma. 3ª. ed. Belo
Horizonte: Ed. do autor, 2013.

BERTHOLET, Roberto. La depresión, una lectura desde el psicoanálisis. IV Congreso


Internacional de Investigación y Práctica Profesional em Psicología XIX Jornadas de
Investigación VIII Encuentro de Investigadores em Psicología del MERCOSUR. Facultad
de Psicología - Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires: 2012.

CAMPOS, Érico Bruni Viana. Uma perspectiva psicanalítica sobre as depressões na


atualidade. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, Londrina, v. 7, n. 2, p. 22-24, dez.
2016.

CERQUEIRA, Yohanna; LIMA, Patrícia. Suicídio: a prática do psicólogo e os principais


fatores de risco e de proteção. Revista IGT na Rede, v. 12, n. 23, 2015; 444-458.

CHACHAMOVICH, Eduardo; STEFANELLO, Sabrina; BOTEGA, Neury; TURECKI,


Gustavo. Quais são os recentes achados clínicos sobre a associação entre depressão e
suicídio? Rev. Bras. Psiquiatr. 2009; 31 (Supl. I): S18-25.

CRUZ, Elizabeth Pérez. Síndrome de burnout como factor de riesgo de depresión em


médicos residentes. Medicina Interna de México, vol. 22, n. 4, julio-ago., 2006; 22:282-6.

Dalgalarrondo, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. São Paulo:


Artmed, 2008, 2ª ed.

Dicionário de Psicologia. APA - American Psychological Association. VandenBos, Gary


R. (org.). Rio Grande do Sul: ArtMed, 2010.

DSM-5 - Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. American Psychiatric


Association. São Paulo: Artmed, 2014.

ESCOBAR, Sergio González y MEDINA, José Luis Valdez. Significado psicológico de la


depresión em médicos y psicólogos. Psicología y Salud, vol. 15, n. 2: 257-262, julio-
diciembre de 2005.

FLECK, Marcelo Pio de Almeida; LAFER, Beny; SOUGEY, Evrton Botelho; PORTO, José
Alberto Del; BRASIL, Marco Antônio; JURUENA, Mário Francisco. Diretrizes da
Associação Médica Brasileira para o tratamento da depressão (versão integral). Rev.
Bras. Psiquiat. 2003; 25(2): 114-22.

KÜBLER-ROSS, Elisabeth. Sobre a morte e o morrer: o que os doentes pterminais têm


para ensinar aos médicos, enfermeiras, religiosos e aos próprios pacientes. São Paulo:
Martins Fontes, 1981.

LENTINE, Edvilson Cristiano; SONODA, Tereza Kiomi; BIAZIN, Damares Tomasin.


Estresse de profissionais de saúde das unidades básicas do município de Londrina.
Terra e Cultura, ano XIX, n. 37: 103-123.

http://www.psicologia.pt/artigos/ver_opiniao.php?depressao-no-ambiente-hospitalar-do-paciente-ao-profissional-de-saude&codigo=AOP0449 8/1
16/05/2018 Depressão no ambiente hospitalar: do paciente ao profissional de saúde

MANETTI, Marcela Luísa; MARZIALE, Maria Helena Palucci. Fatores associados à


depressão relacionada ao trabalho de enfermagem. Estudos de Psicologia 2007, 12(1),
79-85.

MELEIRO, A. M. A. S. Suicídio entre médicos e estudantes de medicina. Rev. Ass. Med.


Bras. 1998; 44(2): 135-40.

MENDES, Valéria. Falta de cuidados com a saúde mental leva médicos à depressão,
dependência química e ao suicídio. I Jornada Brasileira de Saúde Mental dos Médicos.
Nova Lima/MG: 28-30/03/2014.

NUNES, Paula Vilela (et al). Doença de Alzheimer: uma perspectiva do tratamento
multiprofissional. São Paulo: Atheneu, 2012.

OAPS/OMS - Organização Pan-Americana da Saúde e Organização Mundial da Saúde


(BR). http://www.paho.org/bra/index.php?
option=com_content&view=article&id=5385:com-depressao-no-topo-da-lista-de-causas-
de-problemas-de-saude-oms-lanca-a-campanha-vamos-conversar&Itemid=839 [site]
Com depressão no topo da lista de causas de problemas de saúde, OMS lança a
campanha “Vamos conversar”. 2017 Mar 30. Acesso em 16/08/2017.

OLIVEIRA, Rosalvo de Jesus e CUNHA, Tarcísio. Estresse do profissional de saúde no


ambiente de trabalho: causas e consequências. Caderno Saúde e Desenvolvimento, Vol.
3, n. 2, jul-dez. 2014. p. 80.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Prevenção do suicídio: um manual para


profissionais da mídia. OMS: Genebra, 2000.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Prevenção do suicídio: um recurso para


conselheiros. OMS: Genebra, 2006.

PORTNOI, Andréa G. A psicologia da dor. São Paulo: Guanabara Koogan, 2014.

SILVA, Darlan dos Santos Damásio (et al). Depressão e risco de suicídio entre
profissionais de enfermagem: revisão integrativa. Rev. Esc. Enferm. USP, 2015; 49(6):
1027-1036.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Saúde mental: nova concepção, nova esperança.


Lisboa: Ministério da Saúde. Relatório mundial da saúde, 2002.

ZORTEA, Tiago C. E quando o psicólogo ou psiquiatra morre... por suicídio? Glasgow,


2015. Disponível em https://comportamentoesociedade.com/2015/09/22/e-quando-o-
psicologo-ou-psiquiatra-morre-por-suicidio/. Acesso em 16/08/2017.

0 comentários Ordenar por Os mais re

Adicionar um comentário...

Plug-in de comentários do Facebook

http://www.psicologia.pt/artigos/ver_opiniao.php?depressao-no-ambiente-hospitalar-do-paciente-ao-profissional-de-saude&codigo=AOP0449 9/1
16/05/2018 Depressão no ambiente hospitalar: do paciente ao profissional de saúde

MAIS OPINIÃO SOBRE ORGANIZAÇÕES E TRABALHO

O autoconhecimento especializado nas organizações

O stress e o assédio moral como fator do absentismo laboral

A maledicência e o ´triplo filtro´ de Sócrates no ambiente laboral

O trânsito e as novas relações de trabalho

Novas regras para a produtividade

+ opinião

PUB

Publicar no Psicologia.pt

Publique os seus trabalhos

Como citar artigos obtidos na internet

Conteúdos Colunistas Notícias

Ser Mãe é…
Carreira e Desenvolvimento / Joana Simão Valério

Quando os comentários de quem gosta de nós nos


magoam…
Carreira e Desenvolvimento / Joana São João Rodrigues

Doença de Alzheimer em suas possibilidades de tratamento


Artigo / Eliene da Silva Targino, Wenner Daniele Venancio dos Santos

Psicopatologia: definições, conceitos, teorias e práticas

http://www.psicologia.pt/artigos/ver_opiniao.php?depressao-no-ambiente-hospitalar-do-paciente-ao-profissional-de-saude&codigo=AOP0449 10/
16/05/2018 Depressão no ambiente hospitalar: do paciente ao profissional de saúde

Artigo / Marcus Deminco

O acolhimento institucional e o papel do psicólogo


Artigo / Flávio Aparecido de Almeida

mais conteúdos

PUB
Anúncio

Consultar

http://www.psicologia.pt/artigos/ver_opiniao.php?depressao-no-ambiente-hospitalar-do-paciente-ao-profissional-de-saude&codigo=AOP0449 11/
16/05/2018 Depressão no ambiente hospitalar: do paciente ao profissional de saúde

Sobre o Psicologia.pt Informações Legais Publicidade Colaboradores Contatos

ISSN 1646-6977
© 2005-2017 Psicoglobal, Lda - Todos os direitos reservados

http://www.psicologia.pt/artigos/ver_opiniao.php?depressao-no-ambiente-hospitalar-do-paciente-ao-profissional-de-saude&codigo=AOP0449 12/

Das könnte Ihnen auch gefallen