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Artigo realizado a partir do âmbito da palestra de mesmo título proferida no “II Circuito de
IEP Saúde Mental: Depressão”, no Hospital Santa Casa de Belo Horizonte, Minas
Gerais, Brasil
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16/05/2018 Depressão no ambiente hospitalar: do paciente ao profissional de saúde
Então faço um recorte para falar da depressão no ambiente hospitalar, que abrange a
todos que ali estão, desde o paciente até o profissional de saúde, passando inclusive por
aqueles que prestam serviços administrativos.
Lembrando que atividades da vida diária (AVD) são aquelas atividades básicas que
normalmente a pessoa executa sozinha, como banhar-se, alimentar-se e vestir-se,
dentre outras.
Assim, a depressão não só afeta a própria pessoa, “mas os que estão à sua volta: sua
família, seus amigos e colegas. Afeta comunidades e sociedades e tem um alto custo
social e econômico. Devido ao estigma associado à depressão, poucos querem falar
sobre ela” (Dra. Clarissa F. Etienne, diretora da OPAS/OMS, in “O ano de 2017 será da
luta contra a depressão. Informe-se e ajude alguém”, http://brasileiros.com.br/MqKNL,
acesso: 13/08/2017).
Referindo-se ao profissional de saúde, Oliveira e Cunha (p. 80) nos colocam que “(...) na
área da saúde o profissional deve estar em boas condições físicas e emocionais para
que possa desempenhar um serviço de qualidade”. Pensamos, então, que é
imprescindível, pois estará lidando com pessoas doentes, vulneráveis e mais sensíveis
às intempéries, bem como com suas famílias, que demandam atenção e que podem
estar inseguras quanto ao seu futuro, o que pode gerar medo, ansiedade e depressão.
Se não estiverem bem poderão se prejudicar, bem como prejudicar aqueles que estão
sob seus cuidados.
O stress ao qual estão submetidos, tanto profissionais de saúde quanto pacientes, pode
levá-los à depressão, esta por sua vez levá-los à desatenção que pode gerar danos. No
caso de profissionais de saúde estes danos podem causar prejuízos irreparáveis,
levando-os a negligenciar a escuta do paciente através da anamnese, das queixas, a
prescrever inadequadamente, avaliar erroneamente os resultados de exame, chegando
à iatrogenia. No caso de pacientes podem sofrer danos por se medicarem
inadequadamente, esquecendo o horário, confundindo os medicamentos, deixando de
fazerem os exames pedidos, dentre outros. A desatenção em grau elevado pode,
inclusive, provocar a morte do paciente, seja por negligência médica, da enfermagem ou
do próprio paciente.
O trabalho em equipe se faz emergente quando falamos em depressão, pois “é cada vez
mais necessário que haja ente os profissionais um trabalho de cooperação, para que a
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16/05/2018 Depressão no ambiente hospitalar: do paciente ao profissional de saúde
saúde seja vista de maneira total e não unicamente como um problema biológico ou
psicológico”. (Escobar y Medina, p. 261). Pois a depressão mal diagnosticada será “mal”
tratada, o que poderá repercutir na incapacitação prolongada do sujeito ou até mesmo
culminar na sua morte.
Doença do paciente, sendo que quanto mais grave a patologia, mais suscetível
estará o paciente de desencadear um quadro depressivo. No profissional, a
dificuldade em lidar com as limitações da sua profissão.
Despreparo para lidar com a morte, tanto de pacientes e familiares, quanto dos
profissionais de saúde. Pois a morte ainda continua sendo um tabu em nossa
sociedade.
Frustrações quando não se alcança os resultados desejados, como a cura e a
melhora, que repercutem tanto em pacientes quanto nos profissionais de saúde.
Vergonha por sentirem-se deprimidos, tanto profissionais quanto pacientes, o que
os leva a não procurar tratamento.
Sofrimento do paciente e do profissional de saúde como reflexo de diversas
causas.
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16/05/2018 Depressão no ambiente hospitalar: do paciente ao profissional de saúde
Mas antes de qualquer intervenção é preciso lembrar que a depressão vem carregada
de preconceitos por se tratar de doença mental, entendida muitas vezes como “frescura”
de quem reclama. Carrega o estigma de ser considerada pela pessoa deprimida como
uma vergonhosa doença mental e é encarada como um fracasso pessoal. É considera
tabu em nossa sociedade, o que leva as pessoas a não procurarem o adequado
tratamento. Estes preconceitos devem ser valorados antes de qualquer intervenção, para
que não caiamos na leitura mais simplória de tratar-se de um problema que pode ser
tratado apenas com medicamentos.
Campos nos traz uma leitura diferenciada para a depressão, como sintoma do
sofrimento psíquico, onde em psicoterapia o sujeito pode resgatar sua interioridade e
acessar-se através da fala. Assim, deve ser tratada como um sofrimento único e
individual, peculiar de cada um.
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Campos nos traz que os benefícios da medicação serão sentidos como melhora em 60 a
65% dos pacientes e que destes, 50% terão recaídas. O que nos mostra um índice
insatisfatório com o tratamento medicamentoso. Ele se refere neste contexto como
“farmacoterapia da depressão”.
Assim, podemos dizer que a medicalização do sofrimento tenta combater sintomas sem
tratar as causas, que “problemas não médicos passam a ser definidos e tratados como
tais, ou seja, em que as diversas dimensões sociais, históricas, políticas e culturais,
próprias da condição humana, passam a ser reduzidas estritamente a uma dimensão
biológica e médica, com notáveis efeitos ideológicos”. (CAMPOS, p. 31). E mais adiante
Campos completa dizendo que o medicamento é “uma promessa de alívio da dor sem
entrar na subjetividade” (p. 32).
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16/05/2018 Depressão no ambiente hospitalar: do paciente ao profissional de saúde
E qual não é o lema da OMS neste 2017 quando o elege para o ano do combate à
depressão? “Vamos conversar”. Com este lema busca-se incentivar as pessoas a
falarem da sua tristeza, da sua depressão. “O primeiro passo para receber tratamento é
falar. Se você conhece alguém com depressão, escute o que ela tem a dizer. Se você
sofre de depressão, dê o primeiro passo hoje. Fale com alguém”. (CLARISSA F.
ETIENNE, diretora da OPAS/OMS).
E se é você a pessoa que ouve quem está deprimido, seja acolhedor e compreensivo,
não julgue, não critique, não desvalorize as queixas e ofereça ajuda.
E indo mais além do incentivo a falar, devemos também estar preparados, não só os
profissionais de saúde, mas toda a população, para perceber os sintomas da depressão
em terceiros, aqueles que não se dão conta de que estão deprimidos, para só, então,
motivá-los a falar do que os incomoda.
Na minha prática tenho pacientes que chegam ao consultório dizendo que estão bem e
que vieram porque alguém os mandou vir. Neste momento aproveito que já estão ali e já
faço a minha intervenção iniciando uma pequena anamnese de maneira a motivá-los a
falar. Vejo-os como quem percebe a vida como uma fotografia impressa e já velha que
vai se esmaecendo com o tempo até se apagar. É preciso interceder, é preciso ajudá-los
de alguma maneira a se resgatarem neste tempo, de maneira a encontrarem o que antes
lhes dava prazer. E isso é possível através da terapia, da sua fala que é escutada em si
mesmo, passível de compreensão, de uma releitura, de uma elaboração.
Internação prolongada, afastando o paciente dos seus entes queridos e das suas
atividades. O que pode gerar sentimentos de inutilidade e também de “peso” para
as pessoas queridas e/ou que cuidam dele.
Dor física, dor crônica, que acabam por prejudicar o paciente, por mantê-lo em
alerta na sua dor, direcionando sua atenção para somente seu sofrimento.
Ansiedade frente à morte, a sua e/ou de outros pacientes internados, seja esta
iminente ou não.
Para finalizarmos, o sujeito deve, então, ser pensado como um todo e não somente nos
critérios descritivos do DSM-5, considerando-se sua subjetividade e a etiologia dos seus
sintomas. “O problema em jogo nas caracterizações diagnósticas atuais é, justamente,
ter aberto mão do lugar da subjetividade no diagnóstico como garantia de objetividade e
universalidade. Essa posição abre mão de hipóteses etiológicas e coloca no lugar
critérios sintomatológicos”. (CAMPOS).
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16/05/2018 Depressão no ambiente hospitalar: do paciente ao profissional de saúde
Podemos, então, concluir que precisamos acolher que tem depressão. E acolher
implica em respeitar, escutar o que a pessoa tem a dizer, considerando sua
subjetividade, ou seja, considerando aquilo que é dela: seus sentimentos, seus valores,
suas vivências, enfim, sua individualidade. Assim, escutar e diagnosticar, diagnosticar
para tratar e se for o caso, encaminhar para tratar-se.
Ninguém está imune à depressão e todo alerta deve ser considerado, tanto por parte dos
profissionais de saúde quanto por parte dos pacientes/familiares, para que possa ser
devidamente tratada, não prejudicando, assim, a qualidade de vida e a alegria de viver.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALAMY, Susana. Ensaios de Psicologia Hospitalar: a ausculta da alma. 3ª. ed. Belo
Horizonte: Ed. do autor, 2013.
FLECK, Marcelo Pio de Almeida; LAFER, Beny; SOUGEY, Evrton Botelho; PORTO, José
Alberto Del; BRASIL, Marco Antônio; JURUENA, Mário Francisco. Diretrizes da
Associação Médica Brasileira para o tratamento da depressão (versão integral). Rev.
Bras. Psiquiat. 2003; 25(2): 114-22.
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16/05/2018 Depressão no ambiente hospitalar: do paciente ao profissional de saúde
MENDES, Valéria. Falta de cuidados com a saúde mental leva médicos à depressão,
dependência química e ao suicídio. I Jornada Brasileira de Saúde Mental dos Médicos.
Nova Lima/MG: 28-30/03/2014.
NUNES, Paula Vilela (et al). Doença de Alzheimer: uma perspectiva do tratamento
multiprofissional. São Paulo: Atheneu, 2012.
SILVA, Darlan dos Santos Damásio (et al). Depressão e risco de suicídio entre
profissionais de enfermagem: revisão integrativa. Rev. Esc. Enferm. USP, 2015; 49(6):
1027-1036.
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ISSN 1646-6977
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