Sie sind auf Seite 1von 2

“Há um risco claro” https://veja.abril.com.

br/politica/ha-um-risco-claro/

“Há um risco claro”

Por Ana Clara Costa

Filósofo José Arthur Giannotti diz que “versão descontrolada” de


um governo Bolsonaro pode ferir democracia, mas acha que volta
do PT seria pior para o país
access_time 26 out 2018, 07h00

MAL MENOR - Giannotti reconhece caráter “virulento” e os perigos de um governo Bolsonaro, mas diz que vitória
do PT seria mais nociva, por impedir renovação (Werther Santana/Estadão Conteúdo)

1 of 2 30/10/2018 07:30
“Há um risco claro” https://veja.abril.com.br/politica/ha-um-risco-claro/

Quando os protestos de junho de 2013 tomaram o país, o filósofo e professor emérito da Universidade de São
Paulo (USP) José Arthur Giannotti constatou, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, que não havia
surgido, até então, um “líder demagogo” capaz de fazer a ponte entre os protestos e a política. Cinco anos depois,
ele reconhece que a liderança apareceu. “Só não imaginava que o demagogo fosse um perverso da direita”, afirma.
Em entrevista a VEJA, Giannotti diz que a provável vitória de Jair Bolsonaro levará o país a “travar uma
verdadeira batalha” pela democracia e que, caso o presidenciável “não se civilize”, correrá o risco de ser alvo de
impeachment. Giannotti considera que Bolsonaro representa um risco à democracia maior que o PT, mas pondera
que, com Fernando Haddad, a chance de renovação na política é menor, o que o faz preferir o “risco Bolsonaro” ao
petismo.

O senhor vê riscos à democracia num governo Bolsonaro? Vejo que há um risco claro. Há uma escalada
contra a democracia que já havia começado com o PT e seus arroubos contra tudo aquilo com que o partido não
concordava. E isso culminou nesse processo de renovação que acabou levando à liderança de votos Jair Bolsonaro,
uma pessoa de alta virulência. O que se desenha é um período de grande preocupação, em que nós, como
sociedade, teremos de travar uma verdadeira batalha para defender a democracia.

O que, exatamente, o preocupa? A coerção de liberdades, o que seria, a meu ver, a pior versão, a versão
descontrolada de um governo Bolsonaro. Se isso se confirmar e ele afrontar princípios básicos da Constituição,
criará inevitavelmente uma situação de conflito com os poderes — o Congresso e o Judiciário — e com a população.
Em outra instância, também pode se indispor com as Forças Armadas, que são hoje muito mais democráticas do
que no passado e certamente não apoiariam nenhum ímpeto autoritário dele.

Em 2013, o senhor escreveu que nenhum “líder demagogo” havia sido capaz de fazer a ponte entre
os protestos e a política. Bolsonaro seria esse demagogo? Parece-me que virei profeta. Só não imaginava
que o demagogo fosse um perverso da direita.

O senhor acha que o STF pode ser o principal alvo de eventuais medidas autoritárias de um
governo Bolsonaro? Não acho. O que o filho dele falou naquele vídeo três meses atrás me pareceu algo
impensado. Precisamos esperar para ver como ele se enquadrará, se sua vitória se confirmar. Algo que me
preocupou foi seu discurso para os manifestantes no domingo (em que Bolsonaro diz que “marginais vermelhos
serão banidos do país”). Ele precisa aprender a se conter, a respeitar a divergência de opinião. Ou ele se civiliza,
ou os conflitos e a violência dentro do país entrarão em escalada ainda maior. E seu governo não sobreviverá,
haverá impeachment. A população não vai mais suportar um governo de força, não vai apoiar. Vai criar uma
situação contra ele. Não há demanda na sociedade por algo que fuja da via democrática.

Qual o maior risco a que um eventual governo Bolsonaro estará exposto? O fato de Bolsonaro ter
chance de ganhar somente por causa da rejeição ao PT, e não pelo apoio às suas propostas de ultradireita. E ele
precisa entender isso. Ele só poderá vencer por causa do fator rejeição. Diante disso, se fizer um governo
autoritário, muita gente vai lutar contra e vai trabalhar para que ele caia. Agora, outras coisas também põem seu
possível governo em risco. Todos vão querer saber o que ele fará para sanar o problema dos 13 milhões de
desempregados, uma situação completamente intolerável. Ele também vai ter de responder sobre a segurança, sua
principal bandeira. Não dá para vivermos num país em que há mais mortes por ano do que na guerra da Síria. Se
ele não resolver esses dois problemas, a situação poderá degringolar.

No caso de vitória do PT, que riscos enxerga? No caso do PT, temos uma falsificação do que se pensa que
seja um governo de esquerda. Trata-se, na verdade, de um governo populista. Um governo de esquerda combate
ou tenta se posicionar diante de um capitalismo tal como ele é. Não é o que faz o PT. O mundo vive um capitalismo
de alta tecnologia, com os Estados Unidos em ascensão econômica puxada por uma renovação tecnológica
extraordinária. E nós aqui ainda pensando em educação primária e secundária. Estamos fora do jogo. E essa
situação, que tem muito a ver com o PT, é, a meu ver, muito prejudicial.

Entre os dois, Haddad e Bolsonaro, qual apresenta o maior risco? Bolsonaro traz mais risco, mas
também maior possibilidade de renovação, considerando a troca que já vemos acontecer no Congresso e que deve
se reproduzir em toda a máquina pública. Há uma estrutura que era fechada e que se abrirá para dar espaço a um
novo governo, e isso é positivo. Já uma vitória de Haddad traria menos riscos, mas também pouquíssima
possibilidade de renovação. Apesar dos riscos, fico com a primeira opção.

Publicado em VEJA de 31 de outubro de 2018, edição nº 2606

Notícias sobre BrasilEleições 2018EntrevistaFernando HaddadfilosofiaGovernoJair BolsonaroOpiniãoPresidência


da RepúblicaPT - Partido dos Trabalhadores

2 of 2 30/10/2018 07:30

Das könnte Ihnen auch gefallen