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A utopia expressionista de Kandinsky1

Sheila Cabo Geraldo


Na obra artística e teórica de Kandinsky, especialmente na do período em que viveu em Munique
e Murnau, identifica-se trama de referências artísticas e culturais que inclui tanto as informações
do modernismo francês quanto as ressonâncias de tradição oriental, além daquelas da pintura
em vidro, de cunho popular, do sul da Alemanha. Mas, sobretudo, sua obra está marcada pelo
que Fellmann chamou de abstração expressiva ou vontade de transcendência, que podemos
aproximar do entendimento de utopia, como defende Ernst Bloch.
Expressionismo, utopia, abstracionismo.

Já quase no final da primeira década deste novo sécu- racionalismo, havia traçado uma barreira contra os va-
lo, identificado como o do tempo do conhecimento, lores metafísicos, deixando o homem fechado no mun-
mas, sobretudo, como aquele em que o fenômeno da do das aparências. Conclama os observadores a apren-
globalização se impõe, quando a discussão da arte vem der os segredos da arte primitiva para que se desligas-
carregada do debate sobre as diversidades, assim como sem do individualismo e da condição fragmentada da
sobre as diluições das características locais na genera- arte do passado recente. Para Worringer, a arte primi-
lidade das relações culturais, me parece importante tiva, elementar, efetivamente mística, era capaz de le-
pensar historicamente a obra de um artista como var a novas direções.
Kandinsky, em seu matiz utópico moderno, em espe-
cial no período em que viveu em Munique e Murnau, O movimento artístico na Alemanha do início do sé-
cidades que escolheu para desenvolver sua ação teó- culo 20, como observou Donald Gordon, 5 de uma
rico-artística dos primeiros anos do século 20. certa maneira corroborando Worringer, foi composto
dessa inevitável rede de influências e reações, de que
De início seria interessante identificar alguns pontos de fariam parte não só informações do pós-
confluência entre a produção teórica e artística de impressionismo francês, sobretudo as dos fauvistas,
Kandinsky e as teses desenvolvidas contempo - mas também as do simbolistas e dos artistas que se-
raneamente por Wilhem Worringer, sobretudo as que guiam o Jugendstil, no norte da Europa, 6 além das
ele defende no debate que se impôs naquele momen- referências às tradições gótica e romântica, que de
to e que ficou conhecido como o Debate alguma maneira levaram à valorização da arte primi-
expressionista, 2 desencadeado pela defesa de uma tiva, da arte oriental e dos desenhos infantis. Segun-
certa arte alemã por Carl Vinnen,3 o que impeliu do o próprio Gordon, em Kandinsky haveria um es-
Worringer a publicar o texto “O desenvolvimento his- pecial entrelaçamento de várias dessas fontes. É ain-
tórico da Arte Moderna” na combativa antologia A Luta da esse historiador que nos aponta a importância do
pela Arte: a resposta ao “Protesto dos artistas alemães”.4 artista russo para a formação do que viria a ser con-
Ali o teórico alemão afirma a importância de critérios siderada uma modernidade expressiva na cidade de
artísticos para a avaliação artística, independente das Munique, para onde se muda em 1896 e onde de-
fronteiras nacionais, assim como argumenta que a cha- senvolve sua obra artística e teórica em direção à
mada nova arte, considerada por seus detratores “sem abstração, o que nos permite identificar o que pro-
forma”, decadente e superficial, estaria, em verdade, duziu ali com as premissas abstratas associadas ao
Paisagem romântica,
ligada à metafísica e à tradição primitiva. Defende, nes- espiritual na arte, que Ferdinand Fellmann chamou
1910-1911
Óleo sobre tela se texto, que a herança clássica do Renascimento eu- de abstração expressiva, uma forma, de acordo com
Fonte: Lenbachhaus, München ropeu, cujo foco se concentraria no ilusionismo e no Ernst Bloch, de utopia em arte.

COLABORAÇÃO • SHEILA CABO GERALDO 87


É fato que desde o grupo Phalanx (1901-1904), de experiências coletadas, mas uma ressonância espi-
Kandinsky vinha organizando na cidade exposições ritual que penetra a experiência coletada.
com a presença de artistas chamados de impressio-
nistas, mas também daqueles ligados ao movimento Também no texto Über die Form frage (Sobre a ques-
simbolista ou, ainda, dos que se organizaram como tão da forma), que escreveu para o Almanaque, o ar-
Jugendstil. Suas pinturas dessa época fazem referên- tista reitera algumas de suas posições defendidas no
cia ao Gesamtkunstwerk (arte total), que, embora fosse livro e reafirma a forma como uma ressonância: “Atra-
conceito neo-romântico, o levava para a nova arte, vés da ressonância a alma se manifesta na forma, agin-
que de alguma maneira já apontava para a abstração do do interior para o exterior”. 10 A ressonância, por
ou para a expressão. sua vez, está vinculada a uma necessidade, que faz com
que o “espírito abstrato” tome impulso e se exteriorize.
É necessário, também, reconhecer que se nesse perí-
odo em Dresdem e Berlim expunha-se e discutia-se o Entre 1909 e 1912, Kandinsky trabalha em uma varie-
que era chamado de expressionismo francês, como dade de pinturas que corresponde à multiplicidade de
movimento moderno, até a criação, em 1909, da Nova seus interesses e pesquisas, e que classificou11 como
Associação de Artistas de Munique (Neue Künstler Impressões, Improvisações e Composições. Pintava
Vereingung Münchem–NKVM) fundada e dirigida por então, ao mesmo tempo, Impressão III (Concerto), Com
Kandinsky, a cidade, que fora um dos mais importan- três cavaleiros (Mit Drei Reitern), além de Paisagem ro-
tes centros artísticos no século 19, não havia recebido, mântica (Romantische Landschaft), sendo as duas últi-
até então, exposições públicas dos chamados artistas mas, mesmo retornando ao tema dos cavaleiros, pin-
modernos franceses ou dos alemães de Dresdem e turas exemplares do processo de abstração expressi-
Berlim. Kandinsky, por intermédio da associação, vai va. A primeira é uma aquarela, de 1910-1911, com o
mostrar na cidade esses novos artistas, imprimindo um desenho de três cavalos em salto. O que se vê, no
sentido de troca e convivência entre diversas tendên- entanto, em síntese, são três longas linhas curvas que
cias, mas também apontando para o que viria a ser sua cortam a superfície do papel, descrevendo o galope
forma “expressionista de pensar”. 7 dos cavalos, sobre os quais estão os cavaleiros do títu-
lo insinuados por três pequenas manchas de cor. Ou-
Quando escreve a apresentação das exposições da tras manchas de variados tamanhos conformam uma
Nova Associação de Artistas, assim como, mais tar- paisagem. Essa é, sem dúvida, a mesma paisagem por
de, no livro Über das Geist in der Kunst (Do espiritu- onde cavalgam os três cavaleiros de Paisagem românti-
al na arte), Kandinsky defende a vida interior, que se
ca, pintura a óleo, de janeiro de 1911. Mesmo reto-
formaliza na arte, mas vida interior que é fruto de
mando seu antigo tema, esses trabalhos são, entretan-
uma espécie de armazenamento de experiências
to, mais coerentes com Impressão III (Concerto) do que
configurantes do absoluto espiritual. Para o
com qualquer de suas pinturas de tema medieval. O
Almanaque (1911), realizou uma gravura em madei-
próprio Kandinsky afirma a independência de Paisa-
ra, em preto e azul, cuja imagem se refere a São Jor-
gem romântica do antigo romantismo que perpassa suas
ge, como se verifica na comparação com a pintura
paisagens russas do início do século.
em vidro São Jorge II, também de 1911. A imagem,
bastante popular no sul da Alemanha, está em mui- Nesse processo, o artista estaria desenvolvendo o que
tos dos estudos conservados na Lembachhaus 8 de Ferdinand Fellmann chamou de “um conceito
Munique, tanto em vidro quanto em aquarela, e aca- expressionista de pensar”, 12 coincidente com o que
bou sendo a capa do Almanaque. O trabalho de denominou “abstração expressiva”, em que Kandinsky
Kandinsky, como se percebe também pelos estudos aponta uma possibilidade em arte, que, não sendo a
para o sinete que elaborou para o grupo, é, nesse naturalista clássica, também não é a abstração primiti-
momento, uma procura de imagens que, como escre- va nem a semítico-oriental. A forma expressionista de
veu, “revelem a penetração das experiências coletadas pensar, como conceito expressionista da realidade, se
por formas que sejam livres de toda irrelevância, para revelaria na “intensificação da realidade”, que Fellmann
expressar com força o que é essencial....”9 O que se entende ser correspondente à “teoria da redução
evidencia é que a forma não compõe uma figuração fenomenológica”, de Husserl, quando a perda da rea-

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lidade experimentada se transforma em “renúncia me- em cores vibrantes, à esquerda, caminha, em cortejo,
tódica”. Assim, como redução, há o isolamento das em direção ao espectador. Depois de enorme vazio
coisas, para que, distanciadas dos contextos históricos localizado no centro, outro cortejo, cujas figuras estão
e sociológicos, possam alcançar a intensificação do as- apenas delineadas em negro, parece deixar o quadro
pecto habitual. Mediante o isolamento, as coisas ad- pela borda direita. Kandinsky não dá nenhuma indica-
quirem concisão tal, que seriam capazes de se apre- ção de sentido que a possa ligar a uma experiência
sentar em toda a sua potência estética: uma estética, acumulada do mundo real, como faz a respeito de
no caso, marcada pela “falta de harmonia originária suas impressões. Improvisações são, como ele diz, re-
entre homem e mundo”. A criação artística, então, seria sultantes de experiências interiores. A pergunta a res-
resultante de uma força formadora do homem que se peito de seu sentido permanece e, sem dúvida, não
manifesta em abstração e que seria conseqüente a um terá resposta no nível que associa pintura e represen-
esforço de compensação dos sentimentos de angús- tação. Seu sentido está no nível da exteriorização que
tia, para alcançar um “estado de tranqüilidade”. envolve a ação emotiva e involuntária. Improvisação 19
é cortejo – se não nominalmente fúnebre – da ausên-
Improvisação 19, de março de 1911, é, sem dúvida, cia, da falta, que é a maneira como a vida se mostra ao
Cavaleiro do Apocalipse I uma pintura exemplar desse isolamento e dessa in- artista. Há nesse quadro um espaço central só preen-
(Apokaliptische Reiter I), 1911 tensificação, que o artista chamou também de “ex-
Têmpera, nanquim e bronze chido por azul-violáceo, e se o azul, segundo Kandinsky,
dourado sobre vidro, 29,5x20,3cm pressão de processos de caráter íntimo”. Trata-se de é cor típica do céu, é também a cor da nostalgia ro-
Fonte: Lenbachhaus, München uma intrigante pintura em que um grupo de figuras mântica. O azul-violeta aí corresponde à ausência e à
nostalgia, e, como tal, à memória do que foi e à vonta-
de de ser, ao desejo de preenchimento espiritual, mas
que se nega às facilidades das evidências. O espiritual
em Improvisação 19 não está apenas na maneira de
ordenar, sem equilíbrio artificioso, massas e cores.
Corresponde ao que está para ser alcançado pelo re-
conhecimento da falta.

Em 1911 Kandinsky trabalha em Murnau. Dedica-


se, no intervalo entre as pinturas, ao Almanaque Der
Blaue Reiter. Concomitantemente explora as possi-
bilidades da pintura em vidro. São dessa época os
trabalhos que mais apresentam relação com temas
religiosos e espirituais: o apocalipse, os anjos, os
santos, as trombetas. Em novembro desse ano ter-
mina Composição V, cujo tema é o Julgamento Final
ou a Ressurreição. Essa é considerada uma pintura-
emblema da “abstração expressiva” ou do “modo
expressionista de pensar”. Foi também o pivô da
saída de Kandinsky da Nova Associação de Artistas,
que rejeitara o quadro. As imagens de cavalos, bar-
cos e homens, maximamente reduzidas, apresen-
tam-se cada vez mais como intensidades de cor,
embora, em alguns casos, como ressonâncias de for-
mas. Ainda que não fosse seu propósito abolir as
imagens, reconhecê-las é, muitas vezes, um traba-
lho de identificação de um certo acervo do artista,
que nos remete a seu mundo espiritual. Esse pro-
cesso de Kandinsky corresponderia ao que escre-

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veu Ernst Bloch: “quando o mundo visível parece já cebe também, imediatamente, o perigo da “arte orna-
desmoronar, se esvaziar, perder suas categorias, as mental”, 16 que considerou uma “existência ilusória de
sonoridades do mundo invisível podem tomar, em formas estilizadas”.
si e para si, forma plástica”. 13
Os estudos para Composição VI e VII são pesquisas
A dificuldade em reunir no puramente fenomênico a interiores de ressonâncias de formas, que, como ele
unidade entre espírito e matéria é que leva Kandinsky, diz, não poderiam ser inventadas, mas intuídas.
tal como levara os primeiros românticos, a apostar Kandinsky escreve: “Todas as formas que empreguei
em uma certa força da origem. O tema do Julgamen- nasceram por si mesmas”. 17 E ainda afirma: “No que
to Final, que foi, como declarou Kandinsky, de onde me concerne pessoalmente, amo toda forma nascida
partiu para a realização de Composição V, corresponde necessariamente do Espírito, criada pelo Espírito. Do
a essa afirmação inaugural do sentido da existência, mesmo modo que odeio toda forma que não o é”. 18
como marca fenomênica, que é também processo Composição VI,19 cuja elaboração ele descreve no tex-
de deslocamento de imagens de um contexto real to anexo a Olhar sobre o passado , e Composição VII
ou mitológico, ou mesmo de um tempo espiritual são provas indiscutíveis desse processo.
(medieval), para fazê-las reverberação de uma me- Kandinsky atesta que as formas não podem ser
mória. Esse foi, em essência, o processo de abstra- senão diversas, mas que, a uni-las haveria um gran-
ção expressiva de Kandinsky ou, segundo palavras de manancial, tal qual uma “memória” bergsoniana
suas, que o levou à arte “real” e que foi, ainda, pro- de onde o espírito extrai o material disponível a
cesso determinado por uma utopia. ser organizado segundo ordem nascida dos limites
interiores, que devem sobrepor-se aos limites ex-
A arte real14 é portadora de um mundo próprio, espi- teriores. Klaus Lankheit 20 foi quem primeiro cha-
ritual. Impunha-se no mundo tal qual uma realidade. mou atenção para a relação entre essa organiza-
Essa realidade da arte foi a que Kandinsky pensou ser ção e as idéias romântico-utópicas. 2 1 Há em
possível depois de vislumbrar o vazio que se seguiu à Kandinsky uma certa concepção de obra de arte
percepção de que os objetos prejudicavam seus qua- em que a substância contém a inalienável justifica-
dros. “Um abismo medonho, uma profusão de ques- tiva da obra. Além disso, há também uma concep-
tões de todos os tipos, nas quais minha responsabili- ção de artista como fundador de um mundo novo
dade estava em jogo, apresentava-se ao meu espírito. e em oposição ao que lhe é dado. Esta é a utopia
E a mais importante: o que deve substituir o objeto de Kandinsky: a criação de um mundo de símbolos
falante?”15 ele escreve em Olhar sobre o passado. Per- espirituais, de uma espécie de religião do espírito,
que pudesse preencher os espa-
ços que, como em Improvisação
19, ele constatava vazios. A pro-
posição de uma obra de arte que
se formalize a partir de uma “ne-
cessidade interior”, de uma
“interioridade” é quase um ma-
nifesto de rest abelecimento de
um certo romantismo que sofre-
ra, ao longo do século 19, pro-
cesso de fechamento e
estratificação nos modelos de es-
tilo. Haveria em Kandinsky, assim,
sensível percepção e identifica- Pintura em vidro com sol,
(Glasbild mit Sonne),1910
ção do que fora para os primei-
Têmpera e óleo com prata e
ros românticos a noção de esta- bronze dourado sobre vidro,
rem vivendo o fim de uma situa- 31x40,6cm
ção histórica e o poder e a von- Fonte: Lenbachhaus, München

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tade de estabelecer uma época nova e melhor. 8 Nesse momento o trabalho de Kandinsky é muito próximo daquele
feito por Gabriele Münter, mas também do de Jawlensky, que,
Suas obras, que são sonoridades do mundo invisí- junto com Marienne Werefkin, forma um grupo e passa longas
vel, correspondem, como diz Bloch, a “uma facha- temporadas em Murnau. A simplificação da forma até a chegada
da que desaparece, uma abundância que se cor- ao abstracionismo espiritual deve-se em grande parte à influência
do trabalho que Gabriele vinha desenvolvendo sobre desenhos
rói, são a metamorfose em uma floresta, um fluxo infantis e com os artesãos locais de pintura em vidro. O trabalho
e um refluxo de coisas na floresta de cristal do Eu, de Kandinsky, que experimenta muitas vezes a pintura em vidro,
uma explosão mais criativa, mais profunda; é o pan- vai ser definitivamente marcado por esse primitivismo artesanal.

subjetivismo presente nas coisas, por trás das coi- 9 Long, op. cit.: 39.
sas, ainda que nas coisas mesmo”. 22 10 Kandinsky, W. “Sobre a questão da Forma”. InOlhar sobre o passa-
do. São Paulo: Martin Fontes, 1991: 118.
Sheila Cabo Geraldo é doutora em História pela UFF, onde de-
11 Kandinsky, Wassily. De lo espiritual en el arte. Barcelona: Barral,
fendeu a tese Arte e Modernidade Germânica, em 2001. É profes-
1982 (4ª ed.): 121.
sora do PPGartes da Uerj, onde também é pesquisadora
procientista desde novembro de 2006. Atualmente faz parte do 12 Fellmann, op.cit.
grupo de pesquisa Arte y Política: Argentina, Brasil, Chile e
Espanha: 1989-2004 e desenvolve investigação de pós- 13 Bloch, Ernst.L’Esprit de l’utopie. Paris: Gallimard, 1977: 47.
doutoramento na Universidade Complutense de Madri.
14 Em 1935 Kandinsky escreveu o texto Abstrakte Malerei (Pintura
abstrata), discutindo o termo abstrato e propondo em seu lugar
a expressão “arte real”: “Já desde algum tempo procura-se subs-
Notas tituir (o que fiz antes da guerra) abstrato por absoluto. A bem
dizer, isso não melhora muito as coisas. A meu ver, o melhor
1 Este texto, apresentado agora com algumas modificações, foi parte termo seria arte “real”, já que essa arte justapõe ao mundo exte-
da tese de doutoradoArte e Modernidade germânica,defendida rior um novo mundo da arte, de natureza espiritual. Um mundo
em 2001, na UFF. como só a arte pode engendrar. Um mundo real...” ApudOlhar
sobre o passado, op. cit.: 185, nota 25.
2 Machado, Carlos Eduardo Jordão. Um capítulo da história da
modernidade estética: debate sobre o expressionismo. São Paulo: 15 Id., ibid.: 88.
Editora Unesp, 1998.
16 O terno ornamental aqui é usado no sentido exatamente oposto
3 Vinnen, Carl.“Quousque Tandem” Ein Protest deutscher Künstler.Jena: ao atribuído por Ernst Bloch. A essa estilização das formas, Bloch
Eugen Diederichs, 1911. Reeditado in Long, Rose Carol W. German chama decorativa. Para Bloch, ornamental seria aquela linha ca-
Expressionism. Documents from the End of Empire to the Rise of paz de guardar a “força interior”. Bloch Ernst. “Production de
National Socialism. New York: Hall and Co., 1996. L’ornament “. InL’esprit de l’utopie. Paris: Gallimard, 1977.

4 A esse respeito, diz Worringer no texto que responde a Vinnen: “... 17 Kandinsky, W. Olhar sobre o passado,op.cit.
Ele que realmente sabe o que é ser alemão, que sabe toda a
história da arte alemã, ele sabe que não nos foi dado, com nossa 18 Id., ibid.: 103.
ambigüidade nata, e com nossa instintiva, sensual, inata incerteza,
19 Essa pintura de 1913, que pertence ao Museu do Ermitage, de
achar o caminho para a forma... ele sabe que nós sempre pega-
São Petersburgo, só conseguimos ver numa reprodução em
mos caminho primeiro de fora da Alemanha, que sempre preci-
preto-e-branco (W. Kandinsky, A Colourful Life,The Collection
samos desistir e nos perder para achar nosso ser real. Essa foi a
of Lenbachhaus, Munich: 366). Constitui uma das mais significa-
tragédia e a grandeza de Dürer a Marées, e ele, que quer cortar
tivas pinturas dessa época. Foi exibida no Primeiro Salão de
nossa arte da interação com outros mundos, está traindo nossa
tradição nacional... para mim, a qualidade característica da história Outono Alemão, em Berlin, em 1913 e, além de ser objeto de
da arte alemã tem sido sempre o teatro do engajamento e essa um texto de Kandinsky, foi também impressa no álbum editado
apaixonada luta em sua própria estreita fronteira. Eu não gostaria por Der Sturm na época. Conclui-se, portanto, que é, junto com
de estar sem essa tragédia, essa ambigüidade, porque isso tem Composição VII, uma pintura que sintetiza as preocupações do
dado à arte alemã sua dinâmica singular”. Worringer, W. Apud. artista nesse período.
Long, Rose Carol. Op. cit.
20 Lankheit, Klaus. Apud Zweite, Armim. “Kandinsky et le Blaue Reiter”.
5 Gordon, Donald.Expressionism: Arte and Idea. New Haven and In Figures du Moderne 1905–1914.L’ExpressionnismeenAlemagne.
London: Yale University Press, 1987. Paris: Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris, 1992/3.

6 Peg Weis diz que as características doJugendstil, como o jogo arbi- 21 Carla Schulz-Hoffmann escreveu sobre a tradição do idealismo
trário com a linha, forma e cor, assim como a tendência para alemão na arte do século 20, observando que não só a obra e
bidimensionalidade, seu espírito reformista e messiânico e, acima as idéias de Kandinsky concentram a utopia romântica, como
de tudo, sua luta pelo ideal de um meio determinado pela estéti- também a de seu mais próximo colaborador, Franz Marc. “Franz
ca, tiveram ramificações significantes na arte do século 20. Cf. Marc et la tradition de l’idealisme allemand dans l’art du XXe
Weis, Peg. In. Kandinsky in Munich, catálogo. The Salomon Siècle. Potentialités et limites d’une utopie”. In Figures du
Guggenheim Museum, New York, 1982: 32. Moderne. Op. cit.
7 Fellmann, Ferdinand.Fenomenologia y Expressionismo.Barcelona/Ca- 22 Bloch, op. cit.: 47.
racas: Editorial Alfa, 1984.

COLABORAÇÃO • SHEILA CABO GERALDO 91

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