Sie sind auf Seite 1von 17

Rutura Epistemológica e Construção

de Objetos Sociológicos

Unidade curricular: Objeto e Método da Sociologia


Trabalho de Avaliação Contínua e 1ºÉpoca - Ano letivo 2018/2019 | 1º
Semestre

Trabalho submetido como elemento de avaliação final para aprovação na


unidade curricular
Objeto e Método da Sociologia

Docente: Pedro Vasconcelos

Matias Nunes Jarego De Amorim Lúcio


mnjal@iscte-iul.pt
Número 87701
Sociologia 1º ano
Turma S-PL-A2

16 de Janeiro de 2019
Rutura Epistemológica e Construção de Objetos Sociológicos

Índice

Introdução .................................................................................................................................. 3
Sociologia................................................................................................................................... 4
Senso Comum ........................................................................................................................... 5
Rutura Epistemológica ........................................................................................................... 6
Construção do Objeto Sociológico ..................................................................................... 7
Obstáculos à construção do objeto sociológico ............................................................. 8
Obstáculos Naturalistas............................................................................................................. 9
Obstáculos Individualistas....................................................................................................... 10
Obstáculos Etnocentristas ...................................................................................................... 11
Classificações Sociais .......................................................................................................... 12
Analise do Documentário “Nados e Criados Desiguais” ............................................ 14
Conclusão ................................................................................................................................ 16
Bibliografia ............................................................................................................................... 17

ISCTE-IUL Página | 2
Matias Lúcio
Rutura Epistemológica e Construção de Objetos Sociológicos

Introdução
Neste trabalho, que nos foi proposto no âmbito da unidade curricular de
Objeto e Método da Sociologia, tendo como objetivo a exposição e exploração
do tema a Rutura Epistemológica e Construção de Objetos Sociológicos, que é
um tema bastante discutido.

Assim sendo, começo por definir a disciplina Sociologia, que é uma


ciência social bastante recente com inicio no fim do século XIX. De segunda faço
uma breve introdução do senso, sobre do que é, para fazer a discussão de como
a rutura epistemológica com o senso comum é ou não necessária para originar
conhecimento científico, dentro das ciências sociais. Entretanto entramos em
confronto com obstáculos à construção do objeto sociológico, onde irei apontar
quais são e elaboram um pouco como são realmente obstáculos. Após sabermos
os obstáculos, prosseguirem para a sua dita construção e qual o método de
investigação. Falarei, ainda, sobre as classes sociais. Por fim, é discutido neste
trabalho o documentário “Nados e Criados Desiguais” de Maria Filomena
Mónica, onde é abordado a temática das desigualdades económico-sociais se
são um fator determinante para o sucesso de empregabilidade e de
sustentabilidade.

Neste trabalho vou basear-me aos vários autores que desenvolveram


este tópico na sociologia, tais como: António Firmino da Costa; Anthony Giddens;
Augusto Santos Silva; Pierre Bourdieu; entre outros sociólogos interpretados na
unidade curricular Objeto e Método da Sociologia.

ISCTE-IUL Página | 3
Matias Lúcio
Rutura Epistemológica e Construção de Objetos Sociológicos

Sociologia
A sociologia é uma ciência social que estuda o comportamento dos
humanos face à interação progressiva de uns com os outros, a relação com
grupos, organizações e até movimentos. Tem como objetivo a compreensão
destas relações e das modificações das nossas sociedades. No seu método de
estudo, a sociologia avalia grandes aspetos sociais, retratando tanto
acontecimentos individuais, como acontecimento de grande escala social.

Com o seu surgimento no século XIX, tendo como criador do termo, o


filósofo francês Augusto Comte, tinha inicialmente como método científico o
mesmo que as ciências naturais. Comte acreditava que a sociologia daria regras
gerais dos fenómenos sociais, o que nos daria respostas sobre como intervir nos
problemas socias.

De acordo com Durkheim, a sociologia analisa a realidade social e encara


os fenómenos sociais como factos sociais que envolvem relações entre os
indivíduos e integra-os no seu contexto social. Mas por outro lado, esta ciência
social também se interessa por tentar compreender o sentido que os indivíduos
dão as suas ações. Ainda outro aspeto fundamental da análise sociológica é
saber as causas sociais para os fenómenos sociais, isto é, as determinações
sociais da ação dos indivíduos.

Nos dias de hoje, a sociologia não é vista como uma ciência de “como
deve ser”, mas sim como “pode ser”. Assim, a sociologia como ciência social,
define o seu objeto de estudo e relaciona-o com os comportamentos sociais e
com as interações do individuo com o mundo social e vice-versa. Como diz
Norbert Elias: “A sociedade que é muitas vezes colocada em oposição ao
indivíduo, é inteiramente formada por indivíduos, sendo nós próprios um ser
entre os outros.” (Elias;2005; pp. 13), ou seja, para se fazer sociologia não
devemos por em oposição o individuo com a sociedade, visto que estão em
constante reciprocidade um com o outro. Mas, é preciso distanciar-se de nós
mesmos “Para compreendermos de que se trata a sociologia temos que nos
distanciar de nós mesmos” (Elias; 2005; pp13), o que levanta um enorme
problema na construção de um objeto de estudo.

ISCTE-IUL Página | 4
Matias Lúcio
Rutura Epistemológica e Construção de Objetos Sociológicos

“Todos os sociólogos concordam que a Sociologia é uma disciplina em


que nós pomos de lado os nossos próprios modos de ver o mundo, para
observarmos cuidadosamente as influências que dão forma às nossas vidas e
ás dos outros.” (Giddens;2004; pp. 18)

Senso Comum
Não faz sentido falar de sociologia sem falar de senso comum. O senso
comum são as ideias pré-concebidas, as pré-noções que todos os indivíduos
têm em relação ao mundo social. As personagens, quer coletivas, quer
individuais, conectam-se entre uns e outros pelo senso comum, porque é uma
maneira de compreenderem e de arranjarem respostas para os acontecimentos
e interações que ocorrem neste nosso mundo social, O individuo pratica, assim,
uma constante produção de “conhecimento”, tendo como base o senso comum,
pois é uma maneira fácil, que requer pouco esforço, para a explicação do que
acontece do mundo social, e parece “lógico”, acabando por ser aceite pela
sociedade.

Segundo António Firmino da Costa (2001), em na sua obra “Sociologia”,


a sociologia é uma ciência social caracterizada por ser bastante reflexiva e
critica. Por um lado, o sociólogo necessita de se distanciar ao máximo da
realidade social. Não pode aceitar juízos de valor “sem uma inspeção cuidadosa”
pois precisa “de explicar os implícitos sociais, de questionar o pretensamente
obvio, de procurar ver alem das evidencias imediatas” (Costa, 2001, pp. 24).
Mas, por outro lado, são essas ideias e juízos de valores que “fazem parte, elas
próprias. da realidade social”. E por fazerem parte das interações sociais,
importam para a sociologia. Entram em análise para o estudo das culturas e das
interações da sociedade, “incluem relações de poder e formas de convívio,
atividades quotidianas e acontecimentos excecionais, organizações diversas e
artefactos de toda a espécie produzidos pelo homem em sociedade” (Costa,
2001, pp. 24).

ISCTE-IUL Página | 5
Matias Lúcio
Rutura Epistemológica e Construção de Objetos Sociológicos

Como Bourdieu (1989) dizia:

“O sociólogo tem um objeto a conhecer, o mundo social, de que ele próprio é


produto e, deste modo, há todas as probabilidades de os problemas que põe a
si mesmo acerca desse mundo os conceitos e, em especial, as noções
classificatórias que emprega para o conhecer, noções comuns como os nomes
de profissões, noções eruditas como as transmitidas pela tradição da disciplina-
sejam produto desse mesmo objeto.” (pp. 34)

Rutura Epistemológica
Na sociologia, existe um grande obstáculo ao conhecimento que é
pensarmos que temos conhecimento da realidade social porque nós vivemos e
trocamos constantemente experiências de interação com esta. Os estudos das
ciências sociais devem afastar se das ideias pré-concebidas do mundo social,
ideias estas que todos nós como individuas participantes neste mundo, isto quer
dizer, tem que haver a rutura do senso comum.

Segundo Bourdieu, em “A profissão do sociólogo” (2004), a única maneira


de a sociologia conseguir separar-se do senso comum é se opuser resistência
de um conhecimento do social cujos princípios contradizem os pressupostos da
"filosofia primeira do social". O sociólogo tem que romper o mundo social para o
seu exterior, e observa-lo como um mundo desconhecido e distante. “Na medida
em que tem mais dificuldade do que qualquer outra ciência para se liberar da
ilusão da transparência e para realizar, irreversivelmente, a rutura com as
prenoções” (Bourdieu, 2004, pp. 36).

De maneira contrária das ciências socias, nas ciências naturais, o


investigador consegue estar em contacto direto e distante do seu objeto de
estudo; têm um saber pratico. Já nas ciências sociais, este acontecimento não é
possível, pois o senso comum baseia-se em crenças e saberes do quotidiano.
“A vigilância epistemológica impõe-se particularmente, no caso das ciências do
homem nas quais a separação entre a opinião comum e o discurso científico é
mais imprecisa que alhures.” (Bordieu, 2004, pp. 23)

ISCTE-IUL Página | 6
Matias Lúcio
Rutura Epistemológica e Construção de Objetos Sociológicos

A sociologia é então uma ciência cujo o objeto de estudo está em


complicações por o investigador ser também próprio produto da sociedade, ele
mesmo está inserido nas ideologias, conceitos, estigmas que todas as
sociedades culturais possuem. O impacto e influencia que isto tem para
realização de estudo sociológico é indeclinável se o investigador não se
conseguir “distanciar-se” do seu próprio senso comum que tem devido ao facto
de pertencer também na sociedade. Isto, implicaria, então, uma rutura com o
senso comum para o investigador conseguir adquirir conhecimento científico. É
deste modo que, quando está perante a análise sociológica, o investigador deve
adotar e a garantir uma posição crítica e neutra.

Também na perspetiva de Augusto Santos Silva, “As Ciências Socias”


devem ser estudadas rompendo as pré-noções do nosso conhecimento sobre o
quotidiano. Assim, as matérias das ciências sociais são permeáveis as
interpretações que temos do senso comum. Já as ciências como a física e
astronomia têm a facilidade de romper com o senso comum por possuírem já
uma linguagem científica categorizada e processos de demonstração para as
suas teorias. Nas ciências sociais isto não é possível por não existirem
“instrumentos” para a “fuga” da realidade social.

Construção do Objeto Sociológico


Muitos foram os sociólogos que debateram sobre este tema com o
objetivo de estruturarem o objeto da sociologia.

Para realizar-se a construção de um objeto sociológico e fazer sociologia


seria, portanto, romper com o senso comum que “transborda” em todos os
indivíduos na nossa realidade social. Na perspetiva de Pierre Bourdieu, é
segundo a dúvida radical, cujo o seu objetivo é pôr em causa as ideias pré-
estabelecidas interiorizadas pelo próprio sociólogo, porque é ele mesmo também
produto real da sociedade.

"Todavia construir um objeto científico é, antes de mais e sobretudo,


romper com o senso comum, quer dizer, com representações partilhadas por
todos, quer se trate dos simples lugares-comuns da existência vulgar, quer se

ISCTE-IUL Página | 7
Matias Lúcio
Rutura Epistemológica e Construção de Objetos Sociológicos

trate das representações oficiais, frequentemente inscritas nas instituições, logo,


ao mesmo tempo na objetividade das organizações sociais e nos cérebros. O
pré construído está em toda a parte. O sociólogo está literalmente cercado por
ele, como o está qualquer pessoa.” (Bourdieu,1989, pp. 34).

O cientista tem de distanciar-se ao máximo das ideias pré-concebidas


para assim entender o objeto de pesquisa sociológico. Com isto, antes de
tentarmos compreender e descobrir o objeto sociológico devemos em primeiro
lugar compreender-nos como cientistas sociais, e em que meio estamos
inseridos. Visto que “[...] uma prática científica que se esquece de se por a si
mesma em causa não sabe, propriamente falando, o que faz.” (Bourdieu, 2004,
pp. 35).

Então, o objeto sociológico é dependente do conhecimento e da ciência


que o estuda. E que este objeto tem uma enorme influência com a nossa
sociedade de cultura. Bourdieu conecta o campo da ciência à sociedade, o
avanço tecnológico e científico também resulta na progressão da sociedade,
numa dupla determinação. “À medida que a ciência progride, e progride sua
divulgação, os sociólogos devem esperar encontrar cada vez mais
frequentemente, realizada em seu objeto, a ciência social do passado.”
(Bourdieu; 1989; pp. 16).

Obstáculos à construção do objeto sociológico


Segundo Augusto Santos Silva em “Metodologia das Ciências Sociais”,
remete para a ideia que a rutura epistemológica é só possível se recorremos à
construção de teorias que possam ser testáveis, e que estas teorias ultrapassem
os obstáculos ao conhecimento científico. “(…) considerando os três níveis a que
podem emergir obstáculos ao conhecimento científico sobre o social: o nível das
representações mais «imediatas», mais «espontâneas», sobre a realidade, a
que chamaremos senso comum ou conhecimento pratico; o das conceções mais
trabalhadas, enquadradas em formações ideológico-doutrinadas precisas; o das
ramificações de umas e outras no interior de disciplinas científicas consolidadas.”
(Silva, 1986, pp. 31).

ISCTE-IUL Página | 8
Matias Lúcio
Rutura Epistemológica e Construção de Objetos Sociológicos

Esses obstáculos teórico-epistemológicos produzidos pelo senso comum,


partem do princípio do facto de o senso comum desempenhar funções sociais
concretas, e do facto de o senso comum procurar explicar os factos sociais da
nossa realidade através de características relacionadas com a “natureza” do
Homem, de fatores individualistas e dos sistemas de valores, crenças de grupos
e culturas às quais pertencemos como indivíduos da sociedade.

Assim, segundo Augusto Santos Silva (1986) “Centrar-nos-emos em três


questões face às quais (…) o conhecimento corrente, as representações
ideológicas e mesmo as teorias científicas continuam a revelar-se inseguras: as
relações de natureza e cultura; entre individuo e a sociedade.”, ou seja,
encontramos obstáculos de “interpretações naturalistas, individualistas e
etnocêntricas”. (pp. 31-32)

Obstáculos Naturalistas
De ordem natural são explicações proporcionadas por fatores físicos
como anomalias ou não do individuo, por fatores biológicos e da maneira como
os indivíduos interagem na sociedade por motivos de culturais como o facto do
género de um individuo, ser homem ou mulher, não ser determinado à nascença,
mas sim pelos ensinamentos que a nossa a sociedade nos transmite

Na perspetiva do autor, existe uma certa discrepância nesta ideia quando


relacionamos a “natureza” e a grande variedade dos contextos sociais criados
pela humanidade, elucidando que quando consideramos as relações entre
sexos, ou etnias observamos variações de acordo com contextos socio-
históricos divergente, e que essas mesmas variações caracterizam esses
contextos, ao contrário dos fatores “naturais”.

Augusto Santos Silva acentua esta ideia ao referir o conceito de


sexualidade, defendendo que a sexualidade é originada por fatores biológicos,
genética, no entanto, as formas de comportamento sexual são determinadas
também por parte de “ensinamentos” da sociedade, e não apenas por fatores
biológicos,”(…) a sexualidade constitui um imperativo biológico; as formas de
comportamento sexual são, porém, culturalmente determinadas, e podem ir

ISCTE-IUL Página | 9
Matias Lúcio
Rutura Epistemológica e Construção de Objetos Sociológicos

contra as aparentes “indicações” físicas; o mesmo se passa com a alimentação,


a divisão sexual do trabalho, a intervenção nos ecossistemas, etc.”(Silva, 1986,
pp.33-34). Por outro lado, o autor considera ser possível integrar fatores
biológicos em modelos explicativos da investigação social se estes forem
considerados e incluídos em conjuntos de fatores sociais, como é observado no
estudo de conceitos como a fecundidade e natalidade, onde ocorre uma relação
entre fatores biológicos e sociais.

Obstáculos Individualistas
Ao nível das explicações individualistas dos factos sociais, estas
classificam-se por defenderem a existência singular dos indivíduos seja qual for
o contexto social em que se encontrem, havendo uma dita separação do
“individual” face ao grupo “social”, e que os indivíduos que constroem as
sociedades possuem um carácter único e singular e que as ações dos mesmos
são realizadas por vontade própria e individual, não dependem de terceiros.
Estas ações são explicadas através de razões, leis “naturais” e baseando nas
varias decisões e vontades individuais de cada individuo. Posto isto, há
regularidades observáveis à escala pra-individual, mas estas são semelhantes à
escala individual, então a sociologia deve ser obtida por sobre-exceder as
singularidades dos indivíduos. Essas regularidades que representam um vasto
grupo de personagens (uma coletividade) são resultado final das ações
individuais e pessoais de cada individuo, movido pelas suas próprias aspirações,
motivos e desejos. E de todas essas ações é de maior importância as dos líderes
[(aqueles sujeitos que “por natureza psicológica ou posição no grupo, conduzem
os movimentos coletivos” (Silva, 1986, pp.41)].

Ainda que isto tudo iria implicar explicações científicas das ciências
sociais, que deviam estar devidamente validas. Mas, por outro lado, Augusto
Santos Silva sublinha que existe uma grande inconsistência nas explicações
individualistas ao referir que, se assim fosse, “tudo isto implicarias que as
explicações cientifico-sociais, seguramente validas, teriam, contudo, um alcance
limitado: porque deveriam conformar-se às leis psicológicas; porque não seriam
deterministas; porque um certo número de características relevantes da

ISCTE-IUL Página | 10
Matias Lúcio
Rutura Epistemológica e Construção de Objetos Sociológicos

condição humana, independentes do contexto social, lhes escapariam.”


(Silva;1986; pp. 41).

O autor remete para a ideia que as explicações individualistas contem


inúmeras falhas logicas, por isso, invalidas, e que nenhuma das explicações
acima é aceitável para de fazer conhecimento científico. Não é possível explicar
a relação que o individuo tem com a sociedade e a relação que a sociedade tem
com individuo. “A reprodução de uma série de práticas é que garante a
estruturação das estruturas; só que, se as estruturas se constituem, assim,
através da ação, esta, por seu turno, só se constitui nas condições fixadas por
aquelas” (Silva, 1986, pp. 42).

Obstáculos Etnocentristas
Os obstáculos etnocentristas explica os pensamentos dos indivíduos que
estão integrados em sociedades e grupos sociais com culturas distintas (local,
regional, transnacional), refletindo as suas opiniões pessoais a cultura que
aprenderam. O etnocentristas caracteriza-se pela relação dos “nós (o individuo
responsável pela definição da identidade de certos grupos, etnias, religiões,
nações) com os “outros”, os outros indivíduos de identidades de certos grupos,
etnias, religiões e nações diferentes na universalização da cultura. O problema
que daqui decorre é o de que os indivíduos generalizam as suas opiniões e ideias
pessoais, mesmo quando pretendem explicar comportamentos ou fenómenos
que ocorrem em sociedades ou grupos com culturas diferentes. Uma
característica das explicações etnocentristas é a formalização de preconceitos
de outas culturas. Os indivíduos de contextos e/ou de grupos sociais diferentes
dos outros, leva-os a criar opiniões, na maioria reflexões negativas. Têm a
tendência para considerar cultura de um grupo ou sociedade a que o próprio
individuo pertence como sendo superior. As formas mais extremas que existem
do etnocentrismo são o genocídio colonial, o racismo e o fanatismo religioso. É
por este motivo que faz com que a analise científica do investigador seja invalida,
“até porque tem por si a ilusão de transparência do que nos é familiar, do que é
«nosso», constitutivo da nossa sociedade em grupo” (Silva; 1986; pp. 47)

ISCTE-IUL Página | 11
Matias Lúcio
Rutura Epistemológica e Construção de Objetos Sociológicos

Como ciência social, a sociologia deve basear-se em princípios validos


para criar conhecimento científico, autonomamente de qual seja o fenómeno
social em investigação. Segundo João Ferreira de Almeida, os três principais
métodos de investigação desta disciplina são: primeiro o método da logica
“extensiva”, que “caracteriza-se pelo uso dominante de técnicas quantitativas”,
como o uso de inquéritos. Esta estratégia é utlizada para obtermos informações,
dados, sobre uma determinada população, a qual temos o interesse científico de
contruir series de perguntas já pensadas para perceber o publico geral; segundo
é o método da logica “intensiva”, que tem como objetivo analisar em
profundidade as opiniões e problemáticas dos indivíduos/populações. Ao
contrario da “extensiva”, é uma abordagem direta que estuda os indivíduos nos
seus próprios contextos sociais; por fim a última logica, a logica da “investigação-
ação” é distinta das anteriores porque dá realmente inicio à investigação, tem
uma especificidade de objetivos de aplicação direta dos conhecimentos
conseguidos. “Tal especificidade tem implicações quer na estratégia de
investigação, quer na organização dos tempos, quer no faseamento da pesquisa,
que não são apenas dependentes dos ritmos da investigação própria. Depois de
um primeiro momento de aproximação ao terreno, desencadeia-se um vai e vem
constante entre reflecção e ação” (Almeida, 1995, pp. 200).

Classificações Sociais
No âmbito da sociologia e das ciências sociais em geral, a expressão
categorias sociais, de acordo com Fichter (1969), designa uma pluralidade de
pessoas que são consideradas como uma unidade social pelo facto de serem
efetivamente semelhantes em um ou mais aspetos, não havendo necessidade
de proximidade física ou contacto mútuo. Por exemplo, uma determinada

ISCTE-IUL Página | 12
Matias Lúcio
Rutura Epistemológica e Construção de Objetos Sociológicos

categoria religiosa pode incluir membros espalhados por todo o mundo e sem
nunca terem tido contactos diretos entre si.

Dito isto, podemos observar que no nosso contexto social existem infinitas
categorias socias e, sempre que a história avança, vão sendo criadas as mais
variadas categorias e até a extinção de muitas delas.

O simples ato de praticar uma determinada ação, como fumar um cigarro,


ou partilhar certas características semelhantes ou ideologias, já implica
pertencermos a uma dada categoria social. Assim, temos diversas categorias
sociais nas nossas sociedades, tais como partilha de ideologias religiosas,
orientação sexual, partido político, crenças e, em relevância para este trabalho,
o sexo e o género de cada um dos indivíduos.

Segundo António Firmino da Costa em “Classificações Sociais” (1998), as


classificações são parte construtiva da sociedade, “(…) as classificações são
parte intrinsecamente constitutiva das sociedades.” (Costa,1998, pp. 65), que
estas classificações estão presentes em todo o mundo social. Observando as
relações sociais do quotidiano, retira que as pessoas utilizam vários graus de
classificação enquanto interagem entre si, sejam eles positivos ou negativos.

As classificações são também juízos recíprocos, estratégias de avaliação


de conduta. Não são só uma maneira de classificar pessoas, mas também
classificam ações e conhecimentos, “isto é, não só as pessoas, mas igualmente
os produtos da sua ação social.” (Costa,1998, pp. 67). Sempre que classificamos
criamos oportunidades, dificuldades. Facilidades, etc., temos sempre um
objetivo de atingir um fim.

Com isto, o autor consegue retirar quatro conclusões sobre as


classificações sociais: primeiro as classificações sociais são padrões da cultura,
estas são variáveis da cultura e, portanto, são socialmente contingentes, variam
de sociedade para sociedade, não são universais; segundo são um modo de
compreender o mundo social, decorre com as experiencias da vida, desde de
inicio ela é classificada através de instrumentos culturais partilhados. Desde que
haja sociedade há nela classificações; terceiro são também um instrumento de
excelência de ação social, as classificações na interação corrente produzem

ISCTE-IUL Página | 13
Matias Lúcio
Rutura Epistemológica e Construção de Objetos Sociológicos

efeitos sociais, o que constitui um forte instrumento na ação-social; e por fim as


classificações sociais são transmitidas de geração em geração, são apreendidas
nos meios de socialização de uma cultura.

Assim as sociedades contruem as classificações sociais e vice-versa, e


que, logicamente os indivíduos classificam e são classificados.

Analise do Documentário “Nados e Criados Desiguais”


No documentário “Nados e Criados Desiguais” da autoria de Maria
Filomena Mónica, gravado pela RTP nem 1974, consiste em entrevistas a
crianças que frequentam primeiro ciclo (3º e 4º classe) de varias escolas. Escolas
estas que diferenciam por o tipo de condições têm e pela classe socioeconómica
dos pais das crianças que as frequentam. Aqui podemos observar que condições
não só escolares, mas como familiares as crianças têm e que saídas
profissionais sonhavam ter no futuro.

O documentário procura responder as seguintes questões: “Estarão os


filhos dos pobres e os filhos dos ricos nas mesmas condições à partida? E depois
durante a escola ser-lhes-ão dadas as mesmas condições, os mesmos
instrumentos? Ou haverá alguns para quem as condições e instrumentos serão
diferentes o que lhes permitirá alcançar a meta e melhores condições ao mesmo
tempo” (03’42’’)

Na sociedade, os indivíduos filhos de pobres não sonham alto, isto é, não


esperam em para empregos de prestígio. Tomando o exemplo do documentário,
na escola primaria de Baldia, concelho de Montemor-o-Novo, situada num sítio
rural, com população envelhecida e maioritariamente agrícola. É uma escola
com poucas condições, não tem: ginásio, aquecimento, visitas de médicos. Há
pouca interação com os pais dos alunos e dificuldade em prosseguir os estudos.
Os estudantes Carlos e Francisco, crianças com 8 e 7 anos, respetivamente,
vêm ambos de casas com dificuldades financeiras. Os seus pais trabalham no
campo, parte deles analfabetos, vivem em casas minúsculas, sem agua e luz.
Ambos gostavam de ser choferes de autocarro, apesar de gostarem também de
prosseguir os estudos, o que é difícil por falta de transportes, não têm a ambição

ISCTE-IUL Página | 14
Matias Lúcio
Rutura Epistemológica e Construção de Objetos Sociológicos

de fazer mais da sua vida, ficam satisfeitos por um emprego simples. Até a mãe
do Francisco concorda com a sua profissão, mas não tem qualquer ideia de que
queria que o seu filho seguisse respondendo “Não sei, não sei. Não sei
responder a essas perguntas” (15’50’’) as perguntas em relação ao futuro
profissional do filho.

Já numa família de burguesia alta, os filhos tendem a sonhar alto, querem


empregos de sucesso. Como é o caso do Luís Bernardo, que frequenta uma
escola no centro de Lisboa. A sua escola tem todas as condições, tem tudo que
a escola de Francis e Carlos não tinha: assistência medica; aquecimento, etc.
Luís Bernardo é filho de pais ricos, seu pai é medico e ganha bom dinheiro. Numa
casa de 15 quartos, alem de ter casa de banho, luz e agua também possui
televisão e rádio. Com altas aspirações pelo sua situação e contexto social,
sonha em ser medico como o pai. A mãe do Luís Bernardo acredita que o seu
filho vai acabar o liceu e ir ate para a faculdade e acredita que as famílias pobres
têm as mesmas oportunidades que os ricos.

Estes diferentes contextos e desigualdades sociais moldam os


pensamentos dos indivíduos, criando nelos juízos de valores dependendo da sua
classificação social e em que contexto social interagem. Ao observar a vida dos
seus pais tomam as crianças caiem na sua realidade e criam juízos de valores
para eles mesmos.

Após de analisarmos este objeto de estudo, nós próprios criamos também juízos
de valor, averiguando a classe social em que estes pertencem. Tal como vimos
Carlos e Francisco por pertencerem a uma classe baixa, viverem na pobreza e
não terem as condições necessárias na sua escola, eles criam juízos de valores
de acordo a sua realidade social, tal como seus pais. O mesmo acontece com o
Luís Bernardo, que pertencendo a classe alta e terem as condições escolheres
bastante boas, assimilou com a profissão do pai e ter sucesso.

Assim a construção de um objeto sociológico põe em questionamento a


classificação social, e apesar de haver senso comum, o investigador impõe uma
posição neutra, sobre o qual o rompe, mas os indivíduos do estudo estabelecem
juízos de valor. Contudo, até o próprio individuo tem que romper com o senso
comum para ultrapassar os estigmas socias estruturados na sua realidade

ISCTE-IUL Página | 15
Matias Lúcio
Rutura Epistemológica e Construção de Objetos Sociológicos

social. As diferentes classes pensam de maneira idêntica, ambas acham que vão
ser semelhantes a outra geração, mas por outro lado, a classe “superior” acredita
que a classe “inferior” tem as mesmas oportunidades, já o mesmo não acontece
com as crenças da classe “inferior”.

Conclusão
Concluímos desta forma que, a sociologia é uma ciência social
caracterizada pela sua complexidade e pelo seu problema com o senso comum.
Exige o máximo de atenção para não cair no erro de seguir por juízos de valores.
É preciso, então, fazer uma rutura do senso comum para que o investigador
consiga contruir um objeto de estudo e adquirir conhecimento científico.

Depois de analisarmos o vídeo, observa-se que as categorias sociais são


um fator determinante para a tomada de juízo de valores. O contexto social no
qual interagimos e a classe que vivemos é decisório para o senso comum.

ISCTE-IUL Página | 16
Matias Lúcio
Rutura Epistemológica e Construção de Objetos Sociológicos

Bibliografia
ALMEIDA, João Ferreira de (1995), Introdução à Sociologia, Lisboa,
Universidade Aberta, pp. 193-222

Bourdieu, Pierre (2004), “Metodologia da pesquisa na sociologia”, in Oficio do


Sociólogo, Petrópolis: Vozes, pp.17-53

Bourdieu, Pierre (1989), “Introdução a uma sociologia reflexiva”, in O Poder


Simbólico, Lisboa, Difel

COSTA; António Firmino (1998), “Classificações Sociais”, Leituras: Revista da


Biblioteca Nacional, 3(2), pp.65-75

COSTA, António Firmino da (2001), “Sociologia”, Lisboa, Difusão Cultural (3ª


ed.), pp.13-28

SILVA, Augusto Santos (1986), “A ruptura com o senso comum nas Ciências
Sociais”, in A. S. Silva e J. M. Pinto (orgs.), Metodologia das Ciências Sociais,
Porto, Afrontamento, pp. 29-53.

Giddens, Anthony (2004), “O que é a sociologia?”, Sociologia, Lisboa, Calouste


Gulbenkian (4ª ed.), pp. 2-19.

Fichter, J. H. (1969). “Review of religious research”, in Religious Research


Association, 10 (3), 169-177.

ISCTE-IUL Página | 17
Matias Lúcio

Das könnte Ihnen auch gefallen