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Escola de Medicina
Departamento de Medicina de Família, Saúde Mental e Saúde Coletiva
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Abril/2019
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RECURSO SEMIOTÉCNICO PARA O ATENTIMENTO EM PSIQUIATRIA
Esteja atento para que a sequência abaixo não se sobreponha as características singulares do relato do paciente. Nesse sentido,
procure descrever incluindo as expressões e as emoções manifestadas e, caso algum tópico seja evocado fora da ordem aqui
proposta, siga a espontaneidade do diálogo, aproveitando os momentos de abertura oferecidos.
O objetivo principal deste roteiro é dar um suporte mnemônico para aqueles momentos em que nos sentimos perdidos e
arrastados em uma enxurrada de informações.
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:
A queixa somática pode ser um subterfúgio para a verdadeira Não objetifique o paciente. Há ali um sujeito ativo que deve ser
queixa emocional, portanto, evite a preocupação excessiva com considerado;
os fatores orgânicos;
O excesso de insistência pode provocar um aumento da
Cuidado com reações intensas de pena e compaixão; com resistência; respeito o tempo e o silêncio do paciente;
comentários valorativos ou julgamentos; com demonstrações de
frieza e neutralidade; Avaliação do paciente começa a partir do primeiro contato, antes
mesmo, em certas situações, de entrar no consultório. A todo
Reflita sobre a possibilidade e a sua reação ao um ato de momento esteja atento aos itens da súmula patológica para uma
hostilidade do paciente; em alguns casos, risos e perguntas sobre descrição mais fidedigna e completa do paciente;
o entrevistador, com a intenção de descredibilizá-lo, são
mecanismos de defesa desenvolvidos pelo paciente para reduzir Evite o excesso de escrita durante a entrevista; a prioridade é a
a sensação de inferioridade e impotência, além de ser uma ato de encontro e comunicação com o paciente.
maneira de evitar o contato com sua própria história;
“A maior descoberta de Freud, aquela que se acha na raiz da psicodinâmica, é que a grande causa de muita doença psicológica é o
medo do autoconhecimento – do conhecimento de nossas emoções, nossos impulsos, nossas recordações, capacidades,
potencialidades, nosso destino... Nossa tendência é temer qualquer conhecimento que faça com que desprezemos a nós mesmos ou
com que nos sintamos inferiores, fracos, inúteis, maus, vergonhosos. Nós nos protegemos e protegemos a imagem ideal de nós
mesmos por meio da repressão e de defesas semelhantes, que são essencialmente técnicas pelas quais evitamos a consciência de
verdades desagradáveis e perigosas. ”
(Maslow apud Ernest Becker, in “A Negação da Morte”, p.76. Grifos meus)1
“O que há de mais próprio no conhecimento do psicopatologista, advém do trato com as pessoas. O que, então, apreende, depende
do modo com que ele se relaciona na respectiva situação e da maneira com que colabora terapeuticamente no processo de encontro,
esclarecendo, ao mesmo tempo, a si mesmo e o outro. Não percebe indiferentemente como na leitura de um dado. Exerce uma
compreensão perceptiva na visão da alma.
O psicopatologista depende do alcance, da abertura e da plenitude de sua capacidade de vivenciar e perceber. Há uma grande
diferença entre as pessoas que andam cegas de olhos abertos pelo mundo dos doentes e a segurança que a sensibilidade da
participação confere a uma percepção clara.
A repercussão na própria alma do que acontece no outro, exige, então, do pesquisador que objetive pelo pensamento suas
experiências. Comover-se ainda não é conhecer, mas apenas a fonte de intuições que trazem o material indispensável ao
conhecimento... Frieza e empatia não se devem se opor e sim completar uma a outra. Somente a observação fria não vê o essencial.
Ambas numa ação recíproca é que podem conduzir ao conhecimento. ”
(Karl Jaspers, in “Psicopatologia Geral”, vol. 1, p. 35. Grifos meus)2
1
BECKER, Ernest. A Negação da Morte. 7. Ed. Rio de Janeiro: Record, 2015.
2
JASPERS, Karl. Psicopatologia Geral. Vol. 1. São Paulo, SP: Livraria Atheneu, 1987
4
Sono:
* Apetite;
EFEITOS COLATERAIS
Início dos sintomas; Gastrointestinais:
Características dos sintomas; Motricidade;
Principais alterações
Frequência e Duração dos sintomas; Atenção;
Intensidade; Humor e Afeto;
Fatores Agravantes e Atenuantes; Memória;
Comprometimentos da profissional e das relações
Sensopercepção;
interpessoais.
Comportamento;
Relações interpessoais.
6
Infância
Data (utilize as expressões do próprio paciente);
Existe um papel identificável na narrativa em que o
paciente se coloca (p.ex. sofredor – “carregador de Falecimentos; Há predominância/repetição de alguém no
cruz”, vítima inerme, herói, onipotência, observador Acidentes; relato? Quem? Existe alguma emoção
crítico distante/indiferente, autorreferente – Traumas; perceptível associada?
“centro de todas as atenções”)? Separação de pais; Alguém nunca é mencionado no relato?
Adolescência
Quais termos/expressões o paciente usou para se Amizades/Relacionamentos A descrição de alguém provoca
autodescrever? (início, término, casamentos); manifestações/alterações emocionais
Existe uma estrutura na narrativa perceptível? Trabalho (início, demissão); perceptíveis no paciente? Quem? Qual reação
Existem omissões ou saltos temporais que lhe Experiências e hábitos de vida foi desencadeada?
chamaram a atenção? (relações sexuais, uso de A menção ou pergunta sobre alguém deixa o
Vida Adulta
PERSONALIDADE PRÉ-MÓRBIDA: mudanças comportamentais que antecedem o início dos primeiros sintomas que motivaram a
consulta psiquiátrica.5
Um padrão pré-mórbido de sintomas pode ser a primeira evidência da doença, embora a importância dos sintomas geralmente
seja reconhecida apenas de maneira retrospectiva.4
Sinais e sintomas prodômicos, por outro lado, são aqueles manifestos ao início do transtorno, representam de fato a fase
precoce, inicial do adoecimento.1
Crianças extremamente inquieta e agitada, facilmente estimulável e com difícil controle motor;
INSTABILIDADE PSICOMOTORA
É desajeitada e hiperativa;
Crianças/adolescente bastante preocupada, ansiosa, teme ser criticada ou até mesmo avaliada;
SINTOMAS ANSIOSOS Evita situações consideradas ansiogênicas, sendo bastante insegura e dependente;
Timidez excessiva.
Não consegue se inserir em um grupo novo, pois teme ser rejeitado ou desprezado;
Consegue iniciar o contato com crianças novas, mas é incapaz de manter e consolidar a amizade por
não tolerar ser confrontado ou desacatado;
Quer que tudo seja do seu jeito sempre;
DIFICULDADES DE SOCIALIZAÇÃO Inabilidade no contato social;
Não consegue lidar com a diferença;
Ausência de contato visual ou verbal;
Não aceita contato físico; não se aconchega no colo;
Seus interesses são particulares e restritos, não se encaixa no contexto do grupo.
Fonte: MIGUEL, 2011
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“Se tivéssemos conceitos claros, a terminologia seria fácil. Parece de todo impossível elaborar-se
agora, por uma comissão, uma terminologia uniforme. Para isso faltam inteiramente conceitos
fixos, universalmente válidos. Deve-se exigir apenas de quem trabalha em psicopatologia que
conheça os conceitos dos grandes pesquisadores e que exprima conscientemente, com suas
próprias palavras, determinados conceitos. ” 3
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5. NÍVEL DE CONSCIÊNCIA 1,6 Delirium: síndrome orgânica cerebral aguda, de etiologia inespecífica;
Definição neuropsicológica: sentido de estado vígil, em que consciência transitório e de intensidade flutuante; rebaixamento leve a moderado,
equivale ao grau de clareza sensório; trata-se do nível de consciência.1 acompanhado de desorientação temporoespacial, dificuldade de
concentração, perplexidade, ansiedade em graus variados, agitação ou
Desperta;
lentificação psicomotora, discurso ilógico e confuso e
Lúcido;
ilusões/alucinações, quase sempre visuais.
Responsiva;
Delirium tremens: síndrome de abstinência com delirium; estado
Consciente/Cônscio;
psicótico agudo; geralmente ocorre 48h após a retirada/diminuição do
Sonolenta;
consumo de álcool;
Desacordada;
Estados crepusculares: estreitamento do campo da consciência de
Confusão: geralmente relacionada doença orgânica; caracterizado por
surgimento abrupto; conservação da atividade psicomotora; podem
desorientação, lentificação dos processos cerebrais, perda de iniciativa,
ocorrer neste estado atos explosivos/violentos e episódios de
comprometimento da atenção;
descontrole emocional
Obnubilação/Turvação: rebaixamento em grau leve ou moderado;
Estado segundo: atividade psicomotora que permanece estranha à
diminuição da sensopercepção, lentidão da compreensão e da elaboração
consciência; atos incongruentes e extravagantes;
de impressões sensoriais;
Dissociação da consciência: fragmentação ou divisão do campo da
Estupor: manifestações da atividade estão reduzidas ao grau mínimo ou
consciência em razão da perda da unidade psíquica; desencadeada por
mesmo abolidas; falta mais ou menos completa de iniciativa e uma
acontecimentos psicologicamente significativos; curta duração;
fundamental ausência de reações diante dos estímulos externos.
Transe: estado de dissociação da consciência que se assemelha a
Sopor: estado de marcante turvação da consciência, no qual o paciente
sonhar acordado; presença de atividade motora automática e
só pode ser despertado por estímulo doloroso, enérgico; sem qualquer
estereotipada acompanhada de suspensão parcial de movimentos
ação espontânea;
voluntários;
Coma: grau mais profundo de rebaixamento; não é possível qualquer
Estado hipnótico: estado de consciência reduzida e estreitada e de
atividade voluntária consciente; ausência de qualquer indício de
atenção concentrada, que pode ser induzido por outra pessoa.
consciência; alteração de reflexos neurológicos;
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9. HUMOR 6,7
É a disposição afetiva de fundo que penetra toda a experiência psíquica,
Euforia ou Alegria patológica: alegria desproporcional as
a lente afetiva que dá às vivências do sujeito, a cada momento, uma cor
circunstâncias, sentimento morbidamente exagerado de bem-estar
particular, ampliando ou reduzindo o impacto das experiências reais e,
físico e emocional;
muitas vezes, modificando a natureza e o sentido das experiências
vivenciadas.1 Puerilismo: regressão ao nível infantil - reações de impaciência e de
Disposição afetiva fundamental, rica em todas as instâncias emocionais e obstinação fúteis por seus motivos, ingênuos em sua expressão e
instintivas, que dá a cada um dos nossos estados de ânimo uma desproporcionados por sua intensidade; sugestibilidade extrema na
tonalidade entre dois pólos, um patético e outro apático.6 conversação;
Irritado;
EMOÇÃO: podem ser definidas como reações afetivas agudas,
Elação: sensação subjetiva de grandeza poder; ALEGRIA PATOLÓGICA
momentâneas, desencadeadas por estímulos significativos; reação ao
+ EXPANSÃO DO EU;
mesmo tempo psíquica e orgânica;
SENTIMENTO: são estados e configurações afetivas estáveis; são mais Mania: exaltação do humor, em discordância com as circunstâncias
atenuados em sua intensidade e menos reativos a estímulos em que o indivíduo se encontra e que pode variar desde uma
passageiros; comumente associados a conteúdos intelectuais, valores, jovialidade despreocupada até uma excitação incontrolável;
representações.
Eutimia;
Distimia:
o Hipotímica ou Melancólica: “Triste”; “Deprimido”; “Rebaixado”;
aumento da reatividade para os sentimentos desagradáveis; tristeza
profunda e imotivada acompanhada de lentidão e inibição de todos os
processos psíquicos
o Hipertiímica ou Eufórica;
o Disforia: distimia acompanhada de uma tonalidade afetiva
desagradável;
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13. LINGUAGEM 6 Mutismo: ausência de resposta verbal oral por parte do doente; pode
ser uma forma de negativismo verbal, de tendência automática a se
Disfemia: alteração da linguagem falada; sem lesão ou disfunção opor às solicitações do ambiente;
orgânica; associada a estados emocionais intensos; o Eletivo: base emocional; habilidade em certas situações e fracasso em
o Gagueira: dificuldade ou impossibilidade de pronunciar certas outras específicas;
sílabas; fenômeno análogo ao tique; o Seletivo: fracasso persistente em situações sociais específicas;
associado a conflitos interpessoais, ansiedade social, timidez ou
Dislalia: deformação, omissão ou substituição dos fonemas; hostilidade não-elaborada por meio de uma comunicação mais clara;
Logorréia = Taquifasia: fluxo incessante de palavras ou frases, o Acinético: coma vigil; completa não-responsividade com manutenção
frequentemente associado ao taquipsiquismo geral, podendo dos olhos abertos;
haver perda da lógica do discurso; “pressão para falar”;
Bradifasia: associada a quadros depressivos graves, estados Tiques verbais: produção de fonemas ou palavras de forma
demenciais e esquizofrenia crônica ou com sintomas graves; recorrente, imprópria e irresistível.
Loquacidade: aumento da fluência verbal sem qualquer prejuízo da o Coprolalia: repetição de palavras vulgares, obscenas ou relativas a
lógica do discurso; excrementos;
Estereotipia verbal; o Verbigeração: repetição, de forma monótona e sem sentido
Neologismos; comunicativo aparente, de palavras, sílabas ou trechos de frases;
Ecolalia: repetição da última ou últimas palavras dirigidas ao associada a esquizofrenia;
paciente o Mussitação: repetição de uma voz muito baixa, murmurada;
Glossolalia: fala gutural associada a esquizofrenia;
Jargonofasia: “salada de palavras”; afrouxamento das associações;
Palilalia: repetição automática e estereotipada da última ou últimas Para-respostas: inflexão verbal correta de uma resposta, mas
palavras; desestruturação do controle voluntário da linguagem; conteúdo alheio a pergunta feita; relacionada as psicoses; diferenciar
Logoclonia: repetição automática e involuntária das últimas sílabas; de uma atitude voluntária, como birra, ironia e escárnio.
desestruturação do controle voluntário da linguagem;
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14. PENSAMENTO 1, 6, 7
Dissociação: perda progressiva da organização, da sequência lógica e
O pensamento se compõe, classicamente, da articulação entre
da articulação dos juízos;
conceitos (formados a partir das representações intelectuais de
Afrouxamento das articulações: perda dos enlaces associativos;
experiências sensórias e da imaginação), juízos (relação entre dois
Descarrilhamento: associado a distraibilidade; pensamento escapa
conceitos) e o raciocínio (sequência de juízos).1
do curso normal, se desviando ou retomando;
Desagregação: perda total dos enlaces associativos; sobram apenas
CURSO: é o modo como o pensamento flui, a sua velocidade e seu fragmentos, muitas vezes irreconhecíveis;
ritmo ao longo de tempo: Perseveração: repetição da mesma resposta para várias questões
Acelerado: mania; esquizofrenia; ansiedade intensa; psicoses diferentes;
tóxicas;
Lentificado: depressão grave; intoxicações; CONTEÚDO: aquilo que dá substância ao pensamento, os seus temas
Bloqueio: interrupção brusca e repentina do pensamento, sem predominantes, o assunto em si.
motivo aparente; esquizofrenia; Ansiosos; Depressivos;
Roubo do pensamento: sensação de que seu pensamento foi Fóbico;
roubado de sua mente por um agente externo; associado ao delírio Obsessivos: pensamentos recorrentes, invasivos e sem sentido, que
de influência; esquizofrenia; a pessoa reconhece como produtos de sua própria mente; podem ser
acompanhados de comportamentos repetitivos;
FORMA: é a estrutura básica, a “arquitetura” do pensamento,
Persecutório;
preenchida pelos mais diversos conteúdos e interesses do
Depreciativo; Ruína; Culpa;
indivíduo; organização formal; continuidade e eficácia em atingir
Hipocondríaco;
um determinado objetivo:
Religioso;
Fuga de ideias: as associações entre as palavras passam a ocorrer
Sexuais;
inadequadamente, por assonância (associações ressonantes) e por
Poder; Riqueza; Prestígio; Grandeza;
estímulos externos contingentes; secundária à aceleração do
Concreto
pensamento;
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14. PENSAMENTO 1, 6, 7
TIPOS DE PENSAMENTO:
Pensamento oligofrênico: pobre e rudimentar; sem distinções precisas
Pensamento mágico: relação puramente subjetiva de ideias –
entre as categorias, nas relações de causa e efeito, entre real e
ligações ocasionais e aleatórias - assumida como uma associação
imaginário;
objetiva dos fatos;
o Ilhotas de memória: memorização extensa de determinado conteúdo de
Pensamento dereístico: realidade adaptada aos anseios do enfermo; forma mecânica e rígida (p. ex. números de telefones); autistas
tudo lhe é possível, tudo lhe é favorável;
Pensamento demencial: empobrecimento desigual entre as áreas;
Pensamento concreto: sem distinção entre a dimensão abstrata e
Pensamento confusional: associado a turvação da consciência;
simbólica e a dimensão concreta e imediata fatos; pensamento
incoerente, tortuoso; dificuldade de estabelecer relações;
aderido ao nível sensorial; incapacidade de compreender metáforas;
Pensamento desagregado: mistura aleatória de palavras, radicalmente
Pensamento inibido: ambiguidade; obscuridade dos conceitos; falta incoerente;
de clareza e precisão; Pensamento obsessivo: ideias ou representação com conteúdo absurdo
Pensamento prolixo: dificuldade para concluir ou repulsivo, se impõe a consciência de modo persistente e
o Circunstancialidade: o objetivo final é longamente adiado pela incontrolável.
incorporação de detalhes irrelevantes;
o Tangencialidade: fala de forma vaga, sem atingir um objetivo ou com
objetivo mal definido; pobreza do conteúdo do pensamento;
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16. JUÍZO CRÍTICO 2, 4 DELÍRIOS: ideias delirantes são juízos patologicamente falsos que
Juízos são atos noéticos (intelectuais/mentais) em que se exprimem os possuem, em variados graus, a seguintes características:
vínculos e as relações existentes entre os objetos e fenômenos da 1 - Convicção extraordinária – certeza subjetiva incomparável;
natureza. Pode expressar a verdade ou o erro, conforme suas 2 - Impossibilidade de influenciamento – seja pela experiência ou pela via do
afirmações correspondam ou não a realidade. discurso/raciocínio;
Todo juízo implica um julgamento que é, em parte, subjetivo, singular, 3 - Impossibilidade/Inverossimilhança do conteúdo;
mas também socialmente e historicamente produzido e compartilhado. “O sujeito da vivência persiste no juízo falso da realidade, apesar de conhecer
as razões em contrário, apesar de todas as reflexões, sem alimentar a menor
ERRO SIMPLES: corrigido pela experiência; relacionado a ignorância, dúvida, até mesmo diminuído as dúvidas iniciais. ”
pressa no julgamento, premissas falsas, preconceitos, confusão,
Delírio de Perseguição: Inquietação e Insegurança -> Desconfiança ->
consideração de coincidências como relações de causa e efeito;
Hipocrisia e Hostilidade -> Dissimulação -> Círculo íntimo como
perseguidor;
PERCEPÇÃO DELIRANTE: quando se atribui a uma percepção normal Delírio de Relação: o que acontece no mundo exterior está de maneira
um significado anormal, que parece surgir sem um motivo especial relacionado com o enfermo; relações egocêntricas anormais;
compreensível para um observador; geralmente no sentido de Delírio de Influência: o paciente se sente vítima de influências
autorreferência; habitualmente aparece como comovente, telepáticas, radiações, que lhe são aplicados a distância;
transcendental, implicando sempre, em certo sentido, uma alusão Delírio de ciúme;
pessoal; vislumbre de uma “realidade superior”, “revelação” que Delírio de grandeza: superioridade em relação aos demais; apreciação
domina e subjuga o eu (“vivência numinosa; a alteração se encontra exagerada da própria personalidade, adoção de atitudes solenes,
no ato de doar sentido; alteração da estrutura da vivência linguagem rebuscada (delírio ambicioso); invenção e descobertas
perceptiva; mundo povoado de significações mágicas; surpreendentes (delírio de invenção); reformador moral e social, com
intenso empenho na propagação de suas ideias (delírio de reforma);
paixão com certeza de correspondência, que vai desde uma atitude
platônica a atos violentos de posse (delírio erótico).
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16. CONSCIÊNCIA DO EU 1, 3
DESPERSONALIZAÇÃO: vivência profunda de estranhamento e
A consciência do eu possui quatro características: 1 – sentimento de infamiliaridade consigo mesmo; sentimentos angustiosos de profunda
atividade, uma consciência da ação; 2 – a consciência da unidade: sou perplexidade; pode ocorrer em crises intensas de ansiedade, nas crises
um no mesmo momento; 3 – a consciência da identidade: sou o mesmo de pânico, nas psicoses tóxicas por alucinógenos, nos episódios agudos
que antes; 4 – a consciência do eu em oposição ao exterior e aos outros de esquizofrenia e em formas graves de depressão;
[alteridade].3
DESREALZAÇÃO: perda da relação de familiaridade com o mundo
PERSONALIZAÇÃO: tom especial de “meu”, do “eu”, de “pessoal”, comum, no sentido de uma relação de profunda estranheza daquilo, que,
de atividade própria em todo o ato psíquico. cotidianamente, é comum e familiar; associada a despersonalização;
Alteração da consciência da existência: enfermos relatam que se Alterações da imagem ou esquema corporal: p.ex. hipocondríaco,
sentem modificados, estranhos a si mesmos; “sou uma máquina”; anoréxico, membros fantasmas
“sinto-me com um morto”;
Alteração da consciência de execução: autoria atribuída a um agente
externo; possessão por um poder estranho;
Alteração da consciência de identidade: perda da continuidade
histórica, como o eu passado sendo interpretado com uma outro;
Alteração da consciência de alteridade: expansão do eu para o
NARCISISMO: direcionamento do indivíduo para si próprio. A libido
mundo exterior, com perda da diferenciação entre ambos;
volta-se para o próprio eu, deixando de investir no mundo e nas pessoas;
identificação em objetos inanimados;
não é necessariamente positivo ou negativo;
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.
2. DESHAIES, Gabriel. Psicopatología General. Buenos Aires, Argentina: Editora Kapelusz, 1961
3. JASPERS, Karl. Psicopatologia Geral. São Paulo, SP: Livraria Atheneu, 1987
4. KAPLAN, 2017. Compêndio de psiquiatria: ciência do comportamento e psiquiatria clínica. 11. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2017
5. MIGUEL, Euripedes Constantino; GENTIL, Valentim; GATTAZ, Wagner Farid. Clínica psiquiátrica – A visão do Departamento e do Instituto
de Psiquiatria do HCFMUSP. Barueri, SP: Manole, 2011.
6. PAIM, Isaías. Curso de Psicopatologia. 8. ed. São Paulo, SP: Livraria Editora de Ciências Humanas, 1980.
7. ZUARDI, A.W. e LOUREIRO, S.R. Semiologia psiquiátrica. Medicina, Ribeirão Preto, 29: 44-53, jan. /mar. 1996.