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Isabella Gouveia de Oliveira

Mulheres e Participação Política

Rio de Janeiro
2019
1 - Está em cartaz em São Paulo a exposição “História das mulheres artistas: até 1900”,
que reúne obras dos séculos I ao XIX.
Além de dar espaço ao trabalho desenvolvido por elas, a curadoria coloca em discussão
a falta de reconhecimento das mulheres na arte durante longo período.
Analise o conceito da exposição utilizando pelo menos dois conteúdos apresentados
durante o curso. Quais as razões dessa invisibilidade? Ela é consequência da falta de
questionamentos e lutas? Desenvolva considerando aspectos sociais, políticos e
econômicos.
A exposição em questão evidencia que, apesar da existência de talentos femininos
ilustres em séculos passados, estes não eram expostos, valorizados, providos de notoriedade e,
majoritariamente, sua existência era desconhecida pela massa. Tal fato está intrínseco ao
contexto no qual tais mulheres artistas estavam inseridas, sendo este regido por extrema
desvalorização da mulher enquanto ser humano digno de direitos civis, políticos, sociais e
econômicos.
É notório símbolos de resistência, luta e questionamentos em obras publicadas na
exposição “História das mulheres artistas: ate 1900”, como por exemplo a pintura de uma
figura feminina rodeadas de livros e fisionomia que esbanja reflexão. A obra que retrata uma
mulher que segura uma aquarela, o que expõe o provável fato de que a mesma é artista, pode
ser interpretada como uma forma de afirmação e ratificação da possibilidade de tal feito.
Da mesma maneira, é de suma importância estabelecer o recorte de classe que se faz
presente na invisibilidade das mulheres artistas. Apesar de ser notório o machismo e a
ausência de cidadania na vida de mulheres de uma maneira geral nos séculos passados, é
evidente que mulheres de baixa renda pertencentes às classes populares eram alvos de
questões particulares que não afligiam (ou não da mesma forma) as mulheres pertencem às
classes médias. Na matéria que discorre sobre as obras expostas no Museu de Arte de São
Paulo, é explícita as posições de prestígio que determinadas mulheres desfrutavam nas
sociedades andinas. Mulheres como Sofonisba Anguissola, que teve a oportunidade de
trabalhar para a corte espanhola no século XVI; Mary Beale, que teve seu marido como
assistente de ateliê no século seguinte; Elisabeth Louise Vigée Le Brun, ocupante do cargo de
“primeira pintora” da rainha da França no século XVIII; e à nível nacional, Abigail de
Andrade, ganhadora de medalha de ouro no Salão de 1884 no período do Brasil imperial, são
exemplos da situação explicitada.
Uma análise acerca da questão sob um recorte racial é, da mesma forma,
indispensável. Assim como a questão de classe ser influenciadora na invisibilidade ainda mais
intensa das mulheres artistas do século passado, o preconceito estrutural intenso presente nos
tempos em questão contribui para uma invisibilidade ainda maior que circunda as mulheres
negras de maneira significativa. A legitimação de práticas escravistas no tempo em questão é,
igualmente, um fator influenciador que, circunscrito por conservadorismo e um cenário
sociopolítico que dificulta a expressão de descontentamento e questionamentos acerca da
problemática em questão, acentua a situação.
É imprescindível ressaltar que a superação, ainda que parcial, mas significativa, de tal
situação está associada a luta feminina ao longo dos séculos, de maneira a evidenciar que as
mesmas não se submetiam ao rótulo de cidadãos passivas. Dessa forma, ressalta-se que a
invisibilidade que permeia tais mulheres fazia-se presente. Todavia, esta não está
correlacionada a falta de lutas e questionamentos femininos, ponderando que diversas
mulheres contribuíram, da maneira possível na época em questão, para a emancipação
feminina em diferentes aspectos que estão relacionadas à cidadania como sociais, políticos e
econômicos.
No que tange o aspecto econômico, é indubitável o fato de que as mulheres eram
desprovidas de independência econômica, estando este fator diretamente relacionado a
questões dos mais variados aspectos. Em tempos hodiernos, é perceptível a continuação do
ciclo de violência doméstica contra a mulher, por exemplo, reiterado pelo fato da mesma não
ter condições econômicas que garantem que a mesma subsidie o próprio sustento. O ainda
presente pensamento machista de que designa-se às mulheres os cuidados relacionados ao lar
enquanto os homens são responsáveis pelo provimento do mesmo, conjunto à ideia de
superfluidade de obtenção de uma renda própria da mulher e, até mesmo, de uma carreira
profissional, corrobora para a perpetuação da dificuldade de rompimento com o ciclo de
violência contra a mulher notável em tempos recorrentes.
Outrossim, o discurso de autoridades e pessoas influentes no mundo contemporâneo
acerca da conjuntura supracitada sanciona a continuidade de tal questão ainda no século XXI.
Há, como exemplo, o recente discurso da figura pública Edir Macedo, fundador e líder da
Igreja Universal do Reino de Deus. Diante de fiéis, afirma o fato de ter proibido que suas
filhas fossem graduadas em universidades, de maneira a justificar por meio de um discurso
que exprime a necessidade da mulher servir a Deus o que, segundo o mesmo, com uma
carreira profissional e instrução intelectual, torna-se impossível pois “A mulher serviria a si
mesma, e não a Deus.” Pronuncia, da mesma maneira, a concepção de que não é admissível
que mulheres sejam mais instruídas intelectualmente que homens pois, assim, “Ela seria a
cabeça, e não ele”, de forma a condenar o fato de que mulheres instruídas não se sujeitem aos
homens em um relacionamento. Em suma, faz-se explícita a gravidade do discurso perpetuado
em um ambiente de relevante influência sobre a sociedade, contribuindo para a permanência
do problema.
Em tempos remotos, do mesmo modo, a questão de independência financeira fazia-se
presente, o que dificultava o reconhecimento e visibilidade das mulheres artistas. Além da
dificuldade de obtenção de materiais para a execução e produção das obras, por exemplo, há a
possibilidade de a dependência financeira dos cônjuges, assim como em tempos hodiernos,
serem usados como justificativas para a submissão das mulheres aos homens, inclusive no que
concerne às suas vontades e perspectivas de vida da própria mulher conduzida pelas figuras
masculinas.
No que concerne o aspecto social, é perceptível que as mulheres eram, e ainda são,
mesmo que em menor escala, submetidas às regras sociais que regiam uma determinada
sociedade, sendo considerado inaceitável aquela que desobedeça ou até mesmo questione a
ordem social vigente. Em tempos atuais, ainda se faz necessária a luta por pautas sociais
relacionadas à liberdade da mulher como, por exemplo, a concepção de que a mesma não é
capaz de exercer atividades consideradas pelo corpo social como “masculinas” com a mesma
eficiência; o fato de que a mulher que tenha os mesmos comportamentos que homens têm
frente à sociedade são insultadas; os direitos de liberdade homoafetiva das mulheres lésbicas
em espaços públicos ou não; a violência física, psicológica, patrimonial, sexual e moral,
contra a mulher, entre muitos outros aspectos.
No tempo em questão, tais situação eram ainda mais intensas, permeadas por um
machismo que não era questionado e discutido pela grande massa e, inclusive, tais situação
eram legitimadas. Na questão das mulheres artistas, era condenável o fato de que as mesmas
exercessem profissões, sendo retirado tal direito das mesmas. As mulheres eram vistas como
seres sociais subalternos sem direitos sociais, sendo extremamente difícil “quebrar” a
concepção vigente na época, sob pena de repressão social, em determinadas vezes, física.
Tem-se, como exemplo, o episódio de “Caça às Bruxas”, que permeou a Europa entre os
séculos XV e XVIII, tratando-se de uma perseguição de cunho religioso e social. É
perceptível em tal episódio a perseguição às mulheres dotadas de um certo conhecimento na
sociedade em questão, sofrendo repressões, inclusive, físicas, como o fato das mesmas serem
queimadas vivas.
Da mesma maneira, é perceptível que a ausência de direitos sociais está
intrinsecamente associada ao aspecto político, ponderando que, uma vez que na sociedade a
mulher é vista de maneira subalterna, ocupa uma posição diferentes dos homens em função de
uma perspectiva machista e são designadas a funções sociais que diferem das que são
atribuídas aos homens. Assim, estas encontram-se em grande desvantagem no que toca a
questão política. Em tempos atuais é evidente a discrepância de direitos políticos entre
homens e mulheres apesar da presença de cotas de 30% de mulheres presentes na composição
de entidades de representação civil. Todavia, é notório que há falhas em tal lei. Com a
obrigatoriedade de reserva de vagas, há partidos que não investem e empenham-se na
promoção, divulgação e visibilidade da candidata em questão, de maneira a acarretar no não
preenchimento de tais vagas reservadas. Uma solução para tal problemática seria 30% das
cadeiras reservadas para mulheres pois, assim, os partidos se empenhariam em promover
meios que auxiliem na visibilidade da mulher para que estas ocupem tais cadeiras.
No tempo em questão a ausência de participação política das mulheres torna-se ainda
mais neutro, não por falta de interesse e luta por partes das mesmas, mas em função da
posição social a qual estas estavam submetidas. Considerando a associação entre aspecto
político e social, faz-se notável algumas análises sobre determinada temática. No momento
em que é negado a um ser humano inserido em uma sociedade, ao que se designaria o termo
“cidadão”, o direito de participação política, como o direito ao voto e de ser votado, o mesmo
não exerce sua cidadania de maneira plena, visto a impossibilidade de influenciar em decisões
capazes de intervir na sociedade como um todo, sejam elas de cunho social, político ou
econômico, de maneira indireta (pelo voto) ou direta (ao ser eleito). Ao ponderar que as
mulheres não são vistas como “dignas” de exercerem participação política, e que a
subalternidade social das mesmas corrobora tal concepção, visto que estas são seres
impedidos de exercerem a participação política de maneira plena, é notória as consequências
de tal impedimento. À medida que as mulheres dos séculos em questão não têm poder de
influência sobre os diferentes aspectos que regem uma sociedade, pautas que dizem respeito
aos seus interesses não recebem a devida atenção, não são discutidas e, muitas vezes, sequer
mencionadas. Dessa forma, a situação das mulheres artistas como seres invisíveis permanece,
tornando-se ainda mais complexo e de difícil resolução a situação de subalternidade.
No que tange os aspectos supracitados, é de importância relatar que a renomada autora
Mary Wollstonecraft em sua obra “Reivindicação dos Direitos da Mulher”, contribuiu para a
discussão significativamente discursando acerca do acesso aos direitos considerados básicos à
mulher do século XVIII, principalmente no que tange a educação formal de mulheres. A
questão da educação formal, no que tange a temática abordada na questão, é um fator a ser
considerado. A mulher como gênero subalterno na sociedade dos séculos passados era privada
ao direito à educação formal o que, conjunto a outras problemáticas, contribuía para a
permanência do clico de exclusão. Tem-se, como exemplo, a questão de uma visibilidade
relativamente maior às mulheres de classe média com acesso à educação formal.
É de importância evidenciar a incorporação da ideia de Kant no que está relacionada à
concepção de esclarecimento. A mesma está baseada na saída do ser humano de sua
menoridade, definida como a incapacidade de servir-se de seu próprio conhecimento e
entendimento com a tutela de terceiros, para a própria maioridade, estabelecida pela
capacidade de servir-se de tal entendimento sem a tutela de outras pessoas, sendo importante
para tal processo a coragem. Dessa forma, norteando-se pela temática abordada
incessantemente ao longo do curso e, também, na questão do trabalho acadêmico, ressalta-se a
importância da atuação de mulheres nas políticas, no âmbito social e econômico de partir de
uma perspectiva delas, sem uma tutela, com opiniões próprias e apoiadas pelos direitos que
convém às mesmas. Para a efetivação de tal feito, o esclarecimento é imprescindível, sendo
este capaz de acarretar em outros esclarecimentos em diferentes âmbitos e na sociedade civil
como um todo, suscitando em mudanças efetivas e, até mesmo, na lei. Apesar de tal discurso,
é preciso reconhecer se são oferecidas às mulheres condições favoráveis e possibilidade de
desenvolver tal esclarecimento para que, assim, possam gerir a própria vida a partir de uma
perspectiva de lhe é própria. Conclui-se que, nos séculos em questão, tal fator não era
propiciado, visto a condição social na qual as mulheres encontravam-se e o cerceamento de
direitos que assolavas as mesmas.
Da mesma forma, a ilustre autora Maria da Glória Gohn, na obra “Movimento Sociais
na Modernidade” discursa acerca dos movimentos sociais, seus impactos e importância.
Baseando-se na perspectiva de que a partir de movimentos sociais se pode ocupar espaços,
explicita a importante relação entre movimentos sociais e educação, sendo ela formal ou
informal. Tal educação é capaz de afligir não apenas os membros de tal movimento, mas
também a sociedade civil de uma maneira geral. No que está relacionado à sociedade civil,
amplamente falando, faz-se notória a capacidade de propagação de uma ideia, concepção,
fato, pauta, direito, situação de opressão, entre outras situações através de movimentos
sociais, propiciando, inclusive uma tendência a incorporação e identificação das ideias por
outras pessoas, que podem passar a aderir uma causa e tornar-se membro de um movimento.
Ademais, a mesma ressalta o fato de que movimentos sociais constroem propostas no
que estão relacionadas a uma determinada realidade social e que, a partir de uma atuação em
rede, é possível a construção de ações coletivas que podem aderir uma função de resistência à
exclusão, suscitando em uma luta pela inclusão social. Portanto, é possível associar, por
exemplo, a tendência de incorporação de novos membros a partir de um conhecimento de uma
determinada pauta ou situação e, então, aderir a uma causa e lutar por esta, ao conceito de
esclarecimento citado anteriormente.
Assim, conclui-se que, com um contexto social que não permitia questionamentos,
perpetuação de ideias e até mesmo acesso a conhecimentos no que tange às mulheres, assim
como uma organização de movimentos sociais de maneira livre e sem repressões, o
conhecimento acerca de determinados e direitos e determinadas pautas eram “bloqueados” à
sociedade civil de mulheres como um todo, o que tornava inviável o esclarecimento das
mesmas. No que concerne a questão das mulheres artistas, não era exibido à estas que existia
uma outra forma de vida, sendo essa que garante os direitos civis, sociais e políticos de tais
mulheres, a possibilidade de uma carreira profissional e, consequente, visibilidade de seus
trabalhos, independência econômica, entre outros fatores. Por conseguinte, tem-se a ausência
de uma resistência a determinada exclusão e, da mesma forma, de uma luta por uma inclusão
social, o que pode acarretar na perpetuação do ciclo de cerceamento de direitos nas diferentes
esferas.
Em suma, é viável considerar que, a situação exposta de falta de visibilidade e
reconhecimento das mulheres não está intrínseca a uma omissão geral das mulheres dos
tempos remotos, tampouco à falta de lutas e questionamentos. Estes eram feitos de acordo
com o que era propiciado pelo contexto e tem relevante importância no que tange a conquista
dos direitos das mulheres.
2 - Nos séculos XVIII e XIX importantes movimentos políticos e sociais tiveram como
foco a defesa da liberdade e da igualdade de direitos. A literatura estudada - porém -
questiona o impacto dessas transformações. Analise tais críticas a partir de - no mínimo
- dois conteúdos estudados. Considere também as especificidades das operárias e
mulheres negras.

Os princípios da Revolução Francesa, episódio suscitado devido a situação econômica,


social e política que aflige a França no final do século XVIII, era circunscrito pelos princípios
de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, de maneira a prezar pela dignidade dos indivíduos.
Dessa forma, ponderando tal episódio como uma forma de libertação da sociedade como um
todo de uma monarquia e de um contexto socioeconômico e político desfavorável, espera-se
que tais princípios englobem a sociedade de uma maneira geral. Entretanto, é perceptível a
negligência para com os direitos das mulheres nos mais variados âmbitos, seja ele político,
social ou econômico, estando essas às margens do que era propagado.

Faz-se notável, por exemplo, no que tange as questões da defesa da liberdade e


igualdade de direitos, a falta de efetividade no que concerne as mesmam em relação às
mulheres nos séculos XVIII e XIX, com um intenso cerceamento desses aspectos. A restrição
à participação política, sem direito ao voto e de ser votada; ao direito civil, como o direito à
propriedade; direitos sociais, como o impedimento de uma educação formal às mulheres, de
maneira a ratificar a posição de submissão à ordem social vigente e aos homens do tempo em
questão, assim como restrição ao direito ao divórcio; ampliando assim para uma restrição à
cidadania, evidencia a falta de legitimidade de tal episódio na sociedade de uma maneira
geral, principalmente em relação ao direito das mulheres, considerando que deixa de
assegurar tais princípios para cerca de 50% da população. É de importância ressaltar, ainda,
concepções que permanecem até os dias atuais, como a concepção de uma obrigatoriedade
relativa no que toca a responsabilidade de procriação da mulher; a questão da falta de
liberdade sexual da mesma, inclusive sendo alvo de sanções sociais; atividades do lar e do
cuidado com os filhos designadas à estas com uma intensidade um pouco maior ao que é
designado aos homens, entre outros fatores.

É de importância ressaltar autoras de grande importância no que tange o processo de


questionamento da situação impostas às mulheres. Olímpia de Gouges, por exemplo, além de
posicionar-se contra a escravidão, favorável à reforma agrária e imposto sobre o luxo, era
favorável ao divórcio e aos direitos das mulheres, defendendo a ideia do direito ser uma ideia
natural a inalienável. Escreve a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, opondo-se ao
patriarcado vigorante na época.

Nísia Floresta, feminista do século XIX, da mesma forma, tinha como principal pauta
o intuito de promover educação formal às mulheres. Sendo imprescindível fazer um recorte de
classe, é viável evidenciar que as poucas mulheres com acesso à educação formal eram as de
classes mais abastadas. Nísia exprime, ainda, que não deseja revolucionar a ordem e nem
mesmo promover uma conspiração contra os homens, evidenciando uma estratégia de
aderência popular com base no que era permitido e aceitado pela massa no contexto social da
época.

No contexto em questão, faz-se necessário, também, considerar as especificidades que


estão relacionadas às mulheres operárias. A ilustre autora Flora Tristan aborda tal temática de
maneira exitosa. A mesma usufrui de brilhante estratégia, argumentando que a questão da
falta de liberdade das mulheres também influencia de maneira negativa na vida dos homens,
prejudicando-os. Por exemplo, se é oferecido à mulher um salário menor em relação ao que é
oferecido ao homens, e tal ação é legitimidade pelo consenso da sociedade, há uma tendência
de um contrato maior de mulheres, visto que, com menos salários à quem exerce o trabalho, a
lucratividade seria maior. Da mesma maneira como é explicitado anteriormente, é evidente
que o momento político e social no contexto da época não é propício para o que é considerado
pela massa uma radicalização das ideias, justificando tal estratégia.

Flora, buscando uma efetiva transformação na situação, exprime que a mulher é párea
na sociedade, na lei a na Igreja. Em sua concepção, para que haja de fato uma mudança, é de
suma importância que a mulher tenha o mesmo direito legal que o homem para que seja
respeitada pelas instituições sociais, como a Igreja e a família. Assim, exprime-se a
necessidade uma lei que equipare direitos. A autora ressalta, ainda, que a militância em tal
processo era fundamental, visto que a escrita, por exemplo, não atingiria membros da
sociedade que tiverem acesso à educação e, em determinados casos, não sabiam ler.

É de importância ressaltar um episódio que transmite a grave e intensa situação de


subalternidade e falta de credibilidade no que tange as mulheres. O mesmo está relacionado a
uma tentativa de publicar uma obra denominada “A união operária” em um jornal editado por
operários. Todavia, há uma desconfiança sobre a mesma pelo fato dela ser uma mulher
intelectual. Mostra-se, assim, que mesmo que as pautas desta dizem respeito aos seus próprios
interesses, o fato da mesma ser mulher é um fator influenciador em tal questão, sendo esta
cercada por desconfiança e reprovações.

Com bases nos argumentos supracitados, é de importância ressaltar a falácia do


conceito da universalidade de direitos pregada pelo sistema no bojo dos movimentos socais
dos séculos em questão. Apesar de considerar o contexto da época de maneira a evitar uma
radicalização, encontrar diferentes formas de difundir as ideias defendidas e, por fim, ter uma
das materializações de suas ideias negadas por setores que, a princípio, deveriam aderir,
evidencia a complexidade e intensidade da problemática, visto que a mulher permanece párea
frente a todos os âmbitos citados, apesar da insistente luta e tentativa de mudanças efetivas. É
essencial, também, enfatizar que o conceito de injustiça pós Revolução Francesa é pior que
anteriormente pois, diferentes do que era posto previamente, havia o agrupamento dos
excluídos e, posteriormente, é evidente que o homem se tornou livre, mas as mulheres não.
Observa-se, por fim, a contradição da mulher párea dentro de um contexto de movimentos
sociopolíticos que prezam pela defesa da liberdade de igualdade de direitos.

A especificidade das mulheres negras, igualmente, é indubitavelmente importante de


ser considerada. A renomada autora, feminista, ativista e educadora Angela Davis, em sua
famosa obra “Mulheres, Raça e Classe”, primordialmente esclarece a transversalidade entre as
questões de gênero, o fato de ser mulher abrange especificidades; raça, o racismo estrutural
evidenciado, e classe; que toca as diferenças presentes entre ser burguesa, operária ou mulher
escravizada. Ainda, é importante ponderar aspectos relacionados a sexualidade, idade,
religião. Ademais, além de evidenciar questões como a inexistência de uma exigência da
feminilidade das mulheres negras escravizadas, já que essas eram vistas, assim como os
homens, meras forças de produção, é notória a formação de uma família como uma forma de
resistência e de humanizar um ambiente e uma vida desumana, além de ser um meio de
afirmar uma individualidade e, igualmente, de liberdade, assim como no que está relacionada
a questão da maternidade da mulher.
A autora explicita o fato de que, no que está relacionado ao contexto da escravidão, as
mulheres escravas são alvos de situações que não afligem homens na mesma condição, como
por exemplo, a questão do estupro. Ainda, mesmo grávidas, eram submetidos a esforços e
castigos que colocavam em risco a gravidez. Uma das situações exteriorizadas é o fato de que
não era permitida a amamentação no período de exploração do trabalho das mulheres
escravizadas, fato que causava intensa dor e, somando a isso, os chicotes que acertavam os
seios acarretavam em sangrando e leite materno, o que evidencia a brutalidade na qual
as mesmas estavam submetidas. Apesar das questões supracitadas, é essencial ressaltar que as
diferenças entre os gêneros não eram consideradas devido ao fato de que o único superior em
tal situação era o senhor.

A partir da leitura e posteriormente a uma análise feita sobre os conteúdos explicitados


na obra, faz-se evidente, da mesma maneira, a ilegitimidade no argumento de universalidade
de direitos difundido, visto a situação de extrema opressão sinalizada. É notório o tratamento
da mulher negra escravizada, assim como os homens, como propriedade dos senhores e como
mera força de produção em tal sistema escravista, usufruindo não só da exploração de mão-
de-obra, mas também de castigos físicos, cerceamento de qualquer tipo de liberdade, seja ela
social, sexual, econômica, política, intelectual, entre outros. Da mesma forma, é notória a
invisibilidade destas frente a movimentos sociais que supostamente prezariam pega dignidade
humana e defesa intransigente de direitos, visto que estas estão em situação extrema de
vulnerabilidade e de impedimento de acesso aos direitos pregados como universais.

Faz-se perceptível, da mesma forma, a vagarosidade no que tange a erradicação da


escravidão, sendo possível identificar muitos resquícios até os tempos atuais. À nível
nacional, é discursado a erradicação da escravidão em 1800 com a assinatura da Lei Áurea.
Sobretudo, é necessário expor que tal feito é meramente uma afirmação política de que não
era apropriado tal comportamento para com pessoas escravizadas, sendo antecedido por leis
inefetivas, como a Lei dos Sexagenários e Lei do Ventre Livre, por exemplo, visto a
improbabilidade de uma pessoa escravizada completar 60 anos e a impossibilidade de uma
criança manter-se em liberdade sem os subsídios. É de importância ressaltar o interesse
econômica no que está relacionado a erradicação da escravidão, evidenciando que tal episódio
não tem relação com um sentimento de remorso ou humanização.

Posteriormente, escravos e escravas foram “libertos” sem qualquer tipo de subsídio


governamental e inserido em um contexto ainda extremamente racista. Os diversos anos sem
acesso á educação, direitos, liberdade econômica, entre outros fatores, propiciam a
permanência destes em situação extrema de vulnerabilidade perante a sociedade, sendo difícil
o rompimento de tal ciclo de subalternidade. Por isso, faz-se perceptível a permanência do
racismo estrutural em dias recorrentes.

No que está relacionada à questão das mulheres, a objetificação e sexualização do


corpo negro das mesmas; o estereótipo da mulher negra cercada por uma obrigatoriedade de
domínio em certos aspectos como o samba e questão da sexualidade; a ausência destas na
formação de cursos de graduação compostos basicamente por uma elite branca, assim como
no mercado de trabalho que está relacionado a tais cursos; o assassinato que assola estas, que
são vítimas não só de feminicídio, mas também de racismo, entre outros aspectos, torna
explícita a permanência ainda em dias recorrentes.
Em suma, faz-se notável a inefetividade, ineficácia e falta de abrangência no que
concerne tais movimentos com pressupostos de questões universalidade. Diversos setores da
sociedade no geral, especificando a mulher negra e operária, não foram contemplados com
tais princípios, demonstrando a falha na questão da liberdade e igualdade de direito
defendidas.
Referências Bibliográficas

1- WOLLSTONECRAFT, Mary. Reivindicação dos Direitos da Mulher. São Paulo:


Boitempo, 2016

2- TRINTÁN, Flora. União Operária. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abrahmo, 2015.

3- DAVIS, Angela. Mulheres, Raça e Classe. São Paulo: Boitempo, 2016

4- GOHN, Maria de Gloria. Movimentos Sociais na Contemporaneidade. São Paulo: Revista


Brasileira de Educação, 2011.

5- DALLARIA, Dalmo de Abreu. Os direitos da Mulher e da Cidadã por Olimpia de


Gouges. Saraiva, 2016.

6- HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Pensamento Feminista Brasileiro: formação e


contexto. São Paulo: Revista Estudos Sociais Avançados, 2003.

7- História das Mulheres: Artistas até 1900- 2019- https://masp.org.br/exposicoes/historias-


das-mulheres - Acesso em: 23 de setembro de 2019

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