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DIREITO CONSTITUCIONAL
MINISTÉRIO PÚBLICO
O Ministério Público Estadual tem legitimidade para atuar diretamente no STJ nos processos em que figure como
parte. Assim, o MPE POSSUI LEGITIMIDADE PARA ATUAR DIRETAMENTE EM RECURSO POR ELE INTERPOSTO E SUBMETIDO A
JULGAMENTO PERANTE O STJ.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.327.573-RJ, Rel. originário e voto vencedor Min. Ari Pargendler, Rel. para acórdão
Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/12/2014 (Info 556).
Qual órgão do Ministério Público participa no STF e STJ como custos legis?
MPF. É importante ressaltar que a atuação do Ministério Público como custos legis no STF e STJ continua sendo
feita sempre pelo Procurador-Geral da República ou pelos Subprocuradores da República (por delegação ou
designação).
Desse modo, o que se passou a permitir foi a atuação direta do Ministério Público Estadual como parte no STF e
STJ.
Vale sublinhar, inclusive, que nos processos em que o MPE for parte, no STJ e STF, o MPF atuará como custos
legis (fiscal da lei), oferecendo parecer.
Nos casos de ação penal de competência originária do STF e do STJ, qual órgão do Ministério Público
oferecerá a denúncia e atuará no processo criminal?
MPF. Em tais hipóteses, a atribuição continua sendo do MPF, por meio do Procurador-Geral da República (ou um
Subprocurador-Geral, mediante delegação do Procurador-Geral). Nesse sentido: STJ Corte Especial. APn 689-BA,
Rel. Min. Eliana Calmon, julgada em 17/12/2012.
Trata-se de previsão legal do art. 46, parágrafo único, III e 48, II, da LC n. 75/93.
No processo penal, quando o Ministério Público for intimado pessoalmente em cartório, dando ciência
nos autos, o seu prazo recursal se iniciará nessa data, e não no dia da remessa dos autos ao seu
departamento administrativo. Isso porque o prazo recursal para o MP inicia-se na data da sua
intimação pessoal. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.347.303-GO, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 10/12/2014
(Info 554).
Nessa hipótese, deve-se considerar realizada a intimação pessoal no dia em que o processo chegou no MP,
ou somente na data em que o membro do MP apuser seu ciente nos autos?
A intimação considera-se realizada no dia em que os autos são recebidos pelo MP. Logo, segundo o STJ e o STF,
o termo inicial da contagem dos prazos é o dia útil seguinte à data da entrada dos autos
no órgão público ao qual é dada a vista. “A contagem dos prazos para a Defensoria Pública ou para
o Ministério Público tem início com a entrada dos autos no setor administrativo do órgão e, estando
formalizada a carga pelo servidor, configurada está a intimação pessoal, sendo despicienda, para a contagem do
prazo, a aposição no processo do ciente por parte do seu membro.”
INTIMAÇÃO PESSOAL DOS MEMBROS DO MP NO PRÓPRIO CARTÓRIO JUDICIAL
Na prática forense, pode acontecer a seguinte situação: o Promotor de Justiça ou o Procurador da República,
após a audiência, vai até o Cartório/Secretaria da Vara e lá indaga se existem processos para serem
remetidos ao MP. O escrivão/diretor de secretaria afirma que sim e mostra a pilha de autos que seguirão ao
Parquet. O membro do MP começa a examinar e percebe que alguns são apenas para que ele tome ciência de
decisões ou sentenças que foram proferidas pelo juiz. Diante disso, para facilitar, ele decide ali mesmo
tomar ciência de alguns deles. Para isso, escreve ao final da decisão/sentença: “Ciente em XX/XX/XX. Carimbo e
assinatura”.
A pergunta que surge é a seguinte: tais processos em que o Promotor/Procurador deu ciência ainda
precisarão seguir ao MP? O prazo para o MP recorrer contra essa decisão/sentença iniciou neste dia ou para
isso será necessário ainda remeter o processo à Instituição?
NÃO. Não será mais necessário que tais processos sejam remetidos ao MP. O prazo para recurso começou neste
dia em que o Promotor/Procurador apôs seu ciente.
O STJ decidiu que, quando o Ministério Público for intimado pessoalmente em cartório, dando ciência nos
autos, o seu prazo recursal se iniciará nessa data, e não no dia da remessa dos autos ao seu departamento
administrativo. Isso porque o prazo recursal para o MP inicia-se na data da sua intimação pessoal e o
Promotor/Procurador foi intimado nesta data.
Portanto, se você é Promotor de Justiça ou Procurador da República, cuidado: só tome ciência de qualquer
decisão ou sentença no cartório judicial (Secretaria da Vara) se tiver certeza que não irá interpor recurso. Isso
porque, caso aponha seu ciente, saiba que seu prazo recursal iniciará nesta data.
DEFENSORIA PÚBLICA
Defensor Público não precisa de procuração para atuar como representante do assistente de acusação
Em regra, o Defensor Público não precisa de mandato (procuração) para representar a parte em processos
administrativos ou judiciais. Isso está previsto na LC 80/94.
Exceção: será NECESSÁRIA PROCURAÇÃO SE O DEFENSOR PÚBLICO for praticar algum dos atos para OS QUAIS A LEI
EXIGE PODERES ESPECIAIS (exemplos: transigir, desistir, renunciar – art. 38 do CPC).
Se a vítima (ou seus sucessores) quiserem ingressar no processo criminal como ASSISTENTE DE
ACUSAÇÃO, será necessário que outorguem uma procuração ao Defensor Público para que este as
represente em juízo?
NÃO. Quando a Defensoria Pública atuar como representante do assistente de acusação, é dispensável
a juntada de procuração com poderes especiais. O Defensor Público deve juntar procuração judicial somente
nas hipóteses em que a lei exigir poderes especiais. Atuar como representante do assistente de acusação não é
considerado um poder especial, não se exigindo procuração especial.
A participação da Defensoria Pública como representante do assistente de acusação pode ser negada pelo juiz
sob o argumento de que a vítima ou seus sucessores não são hipossuficientes (“pobres”)? NÃO. COMPETE À
PRÓPRIA DEFENSORIA O DIREITO DE APURAR O ESTADO DE CARÊNCIA DE SEUS ASSISTIDOS.
STJ. 5ª Turma. HC 293.979-MG, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 5/2/2015 (Info 555).
TRIBUNAL DE CONTAS
INFORMATIVO 552, STJ - ILEGITIMIDADE DO MP PARA EXECUÇÃO DE CONDENAÇÃO PROFERIDA PELO TRIBUNAL DE CONTAS.
MUDANÇA DE ENTENDIMENTO! O MINISTÉRIO PÚBLICO POSSUI LEGITIMIDADE PARA AJUIZAR A EXECUÇÃO DE TÍTULO EXECUTIVO
EXTRAJUDICIAL DECORRENTE DE CONDENAÇÃO PROFERIDA PELO TRIBUNAL DE CONTAS? NÃO. A LEGITIMIDADE PARA A
PROPOSITURA DA AÇÃO EXECUTIVA É APENAS DO ENTE PÚBLICO BENEFICIÁRIO. O MINISTÉRIO PÚBLICO, ATUANTE OU NÃO
JUNTO ÀS CORTES DE CONTAS, seja federal, seja estadual, É PARTE ILEGÍTIMA. Essa é a posição tanto do STF
(Plenário. ARE 823347 RG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 02/10/2014. Repercussão geral), como do STJ
(2ª Turma. REsp 1.464.226-MA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 20/11/2014).
- As decisões do Tribunal de Contas que determinem a imputação de débito (ressarcimento ao erário) ou
apliquem multa terão eficácia de título executivo extrajudicial, nos termos do § 3º do art. 71 da CF/88. Logo,
podem ser executadas por meio de uma ação de execução de título extrajudicial.
- NÃO HÁ NECESSIDADE DE ESSE DÉBITO SER INSCRITO EM DÍVIDA ATIVA.
- O ART. 71, § 3º, DA CF/88 NÃO OUTORGOU AO TCU LEGITIMIDADE PARA EXECUTAR SUAS DECISÕES DAS QUAIS RESULTE
IMPUTAÇÃO DE DÉBITO OU MULTA. A competência para tal é do titular do crédito constituído a partir da decisão, ou
seja, o ENTE PÚBLICO PREJUDICADO (AI 826676 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma,
julgado em 08/02/2011).
TERRAS INDÍGENAS
Importante!!!
Em 2000, João comprou uma fazenda que fica ao lado da reserva indígena Wassú-Cocal. Essa reserva indígena
foi demarcada em 1987, ou seja, antes da CF/88. Em 2012, o Ministro da Justiça, a partir de estudo da FUNAI,
editou portaria ampliando os limites da reserva indígena Wassú-Cocal. Pela nova demarcação proposta, João
perderia a sua fazenda, que passaria a fazer parte da reserva indígena. Segundo argumentaram a FUNAI e o
Ministério da Justiça, a remarcação agora realizada é um procedimento destinado a "corrigir falhas" cometidas
na demarcação originária já que esta não teria observado os parâmetros impostos pela CF/88. Desse modo, seria
uma correção para adequar a demarcação às regras da CF/88.
A jurisprudência concorda com essa prática? Se uma terra indígena foi demarcada antes da CF/88, é possível que
agora ela seja “remarcada”, ampliando-se a área anteriormente já reconhecida?
Direito Administrativo
PODER DE POLÍCIA
O Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial (INMETRO) NÃO É COMPETENTE para
fiscalizar as balanças de pesagem corporal disponibilizadas gratuitamente aos clientes nas farmácias. STJ. 1ª
Turma. REsp 1.384.205-SC, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 5/3/2015 (Info 557).
Compete aos Conselhos Regionais de Farmácia fiscalizar se as drogarias e farmácias funcionam com a
presença constante de um farmacêutico
As farmácias e drogarias deverão, obrigatoriamente, ter em seu estabelecimento, durante todo o período de
funcionamento, um farmacêutico inscrito no Conselho Regional de Farmácia.
A competência para fiscalizar essa exigência é dos Conselhos Regionais de Farmácia.
A VIGILÂNCIA SANITÁRIA NÃO FISCALIZA A PRESENÇA DO FARMACÊUTICO no
estabelecimento. Sua ATUAÇÃO FICA RESTRITA AO LICENCIAMENTO do estabelecimento e à FISCALIZAÇÃO DO
CUMPRIMENTO DE PADRÕES SANITÁRIOS.
NÃO É OBRIGATÓRIA A INSCRIÇÃO, nos CONSELHOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA, DOS PROFESSORES E MESTRES DE DANÇA,
IOGA E ARTES MARCIAIS (karatê, judô, tae-kwon-do, kickboxing, jiu-jitsu, capoeira e outros) para o
exercício de suas atividades profissionais. STJ. 2ª Turma. REsp 1.450.564-SE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em
16/12/2014 (Info 554).
CONCESSÃO DE RODOVIA
Concessionária de rodovia pode cobrar de concessionária de energia elétrica pelo uso de faixa de
domínio de rodovia para a instalação de postes e passagem de cabos aéreos efetivada com o intuito de
ampliar a rede de energia, na hipótese em que o contrato de concessão da rodovia preveja a possibilidade
de obtenção de receita alternativa decorrente de atividades vinculadas à exploração de faixas marginais. STJ.
1ª Seção. EREsp 985.695-RJ, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 26/11/2014 (Info 554).
SERVIDORES PÚBLICOS
APOSENTADORIA POR INVALIDEZ COM PROVENTOS PROPORCIONAIS SE A DOENÇA NÃO ESTIVER PREVISTA NO ART. 186 DA
LEI 8.112/1990
A CF/88 prevê, em seu art. 40, § 1º, I, a possibilidade de os servidores públicos serem aposentados caso se
tornem total e permanentemente incapazes para o trabalho. Trata-se da chamada aposentadoria por invalidez.
Em regra, a aposentadoria por invalidez será paga com proventos proporcionais ao tempo de contribuição.
Excepcionalmente, ela será devida com proventos integrais se essa invalidez for decorrente de acidente em
serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, especificada em lei.
Assim, a concessão de aposentadoria por invalidez com proventos integrais exige que a doença incapacitante
esteja prevista em rol taxativo da legislação de regência.
O art. 41, § 1º, I, da CF/88 é bastante claro ao exigir que a lei defina as doenças e moléstias que ensejam
aposentadoria por invalidez com proventos integrais. Logo, esse rol legal deve ser tido como exaustivo
(taxativo).
Com base no entendimento acima exposto, O STJ TEM DECIDIDO QUE SERÃO PROPORCIONAIS (E NÃO INTEGRAIS)
OS PROVENTOS DE APOSENTADORIA DE SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL DIAGNOSTICADO COM DOENÇA GRAVE, CONTAGIOSA
OU INCURÁVEL QUE NÃO ESTEJA PREVISTA NO ART. 186, § 1º, DA LEI N. 8.112⁄1990 NEM INDICADA EM LEI.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.324.671-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 3/3/2015 (Info 557). STF. Plenário. RE
656860/MT, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 21/8/2014 (Info 755).
INFORMATIVO 553, STJ - INAPLICABILIDADE DO DIREITO À RECONDUÇÃO DO ART. 29, I, DA LEI 8.112/90 A SERVIDOR PÚBLICO
ESTADUAL.
Importante!!! Se A LEGISLAÇÃO ESTADUAL NÃO PREVÊ A RECONDUÇÃO, É POSSÍVEL APLICAR A LEI 8.112/90
POR ANALOGIA? NÃO. Não é possível a aplicação, por analogia, do instituto da recondução previsto no
art. 29, I, da Lei 8.112/19901 a servidor público estadual na hipótese em que o ordenamento jurídico do estado
for omisso acerca desse direito. Segundo a jurisprudência do STJ, SOMENTE É POSSÍVEL APLICAR, POR ANALOGIA, A LEI
8.112/90, AOS SERVIDORES PÚBLICOS ESTADUAIS E MUNICIPAIS se HOUVER OMISSÃO, na legislação estadual
ou municipal, SOBRE DIREITO DE CUNHO CONSTITUCIONAL e QUE SEJA AUTOAPLICÁVEL e DESDE
QUE TAL SITUAÇÃO NÃO GERA O AUMENTO DE GASTOS. Ex: aplicação, por analogia, das regras da Lei 8.112/90
sobre licença para acompanhamento de cônjuge a determinado servidor estadual cuja legislação não prevê esse
afastamento (RMS 34.630⁄AC, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 18/10/2011). Nesse
exemplo, o STJ reconheceu que a analogia se justificava para proteção da unidade família, valor protegido
constitucionalmente (art. 226 da CF/88). No caso da recondução, contudo, NÃO É POSSÍVEL A
ANALOGIA PORQUE ESSE DIREITO NÃO TEM CUNHO CONSTITUCIONAL. STJ. 2ª Turma.
RMS 46.438-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 16/12/2014 (Info 553).
INFORMATIVO 559, STJ - ACUMULAÇÃO DE APOSENTADORIA DE EMPREGO PÚBLICO COM REMUNERAÇÃO DE “CARGO”
TEMPORÁRIO
Importante!!! Maria é empregada pública federal aposentada. Como se aposentou cedo e ainda está cheia de
vitalidade, ela decide que deseja continuar trabalhando e, por isso, se inscreve no processo seletivo aberto pelo
Ministério do Meio Ambiente para contratar servidores temporários. A empregada pública aposentada poderá
ser contratada e receber, ao mesmo tempo, os proventos da aposentadoria e também a remuneração
proveniente do serviço temporário? SIM. É POSSÍVEL A CUMULAÇÃO DE PROVENTOS DE APOSENTADORIA DE EMPREGO
PÚBLICO COM REMUNERAÇÃO PROVENIENTE DE EXERCÍCIO DE “CARGO” TEMPORÁRIO. O § 3º DO ART. 118 DA LEI
8.112/90 PROÍBE APENAS A ACUMULAÇÃO DE PROVENTOS DE APOSENTADORIA COM REMUNERAÇÃO DE CARGO OU
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Art. 29. Recondução é o retorno do servidor estável ao cargo anteriormente ocupado e decorrerá de:
I - inabilitação em estágio probatório relativo a outro cargo;
II - reintegração do anterior ocupante.
Parágrafo único. Encontrando-se provido o cargo de origem, o servidor será aproveitado em outro,
observado o disposto no art. 30.
EMPREGO PÚBLICO EFETIVO. Os servidores temporários contratados sob o regime do art. 37, IX, NÃO ESTÃO
VINCULADOS A UM CARGO OU EMPREGO PÚBLICO, EXERCENDO APENAS UMA FUNÇÃO ADMINISTRATIVA TEMPORÁRIA
(função autônoma, justamente por não estar vinculada a cargo ou emprego). Além disso, ainda que se considere
que isso é um “cargo” público, NÃO SE TRATA DE CARGO PÚBLICO EFETIVO JÁ QUE AS PESSOAS SÃO SELECIONAS MEDIANTE
PROCESSO SELETIVO SIMPLIFICADO E IRÃO EXERCER ESSA FUNÇÃO POR UM PRAZO DETERMINADO, NÃO POSSUINDO DIREITO À
ESTABILIDADE. Em suma, não é cargo; mas mesmo que fosse, não seria cargo efetivo. Ademais, a aposentadoria da
interessada se deu pelo Regime Geral de Previdência Social – RGPS (ela era empregada pública), não se lhe
aplicando, portanto, o disposto no § 10 do art. 37 da CF/88, segundo o qual “É vedada a percepção simultânea
de proventos de aposentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a remuneração de cargo,
emprego ou função pública, ressalvados os cargos acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos eletivos e
os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e exoneração”. Isso porque a aposentadoria dos
empregados públicos, concedida no regime do RGPS, é disciplinada não pelo art. 40 da CF/88, mas sim pelo art.
201. Logo, não se pode atribuir interpretação extensiva em prejuízo do empregado público aposentado pelo
RGPS. STJ. 2ª Turma. REsp 1.298.503-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/4/2015 (Info 559).
SERVIDORES TEMPORÁRIOS
O art. 37, IX, da CF/88 autoriza que a Administração Pública contrate pessoas, sem concurso público, tanto para o
desempenho de atividades de caráter eventual, temporário ou excepcional, COMO TAMBÉM PARA O
DESEMPENHO DAS FUNÇÕES DE CARÁTER REGULAR E PERMANENTE, desde que INDISPENSÁVEIS AO ATENDIMENTO
DE NECESSIDADE TEMPORÁRIA DE EXCEPCIONAL INTERESSE PÚBLICO. Esse é o entendimento do STF (Plenário. ADI
3247/MA, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 26/3/2014. Info 740).
O STJ adotou essa mesma conclusão. No caso concreto, o Ministério da Saúde autorizou a contratação de 200
profissionais para a Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS. O sindicato dos servidores públicos impetrou
MS contra este ato alegando que os servidores estavam sendo contratados para a análise de processos
administrativos do órgão, o que não é uma atividade temporária, mas sim permanente e, portanto, não se
enquadraria no art. 37, IX, da CF/88, devendo ser desempenhada por servidores estatutários da autarquia. O MS
foi julgado improcedente. Segundo decidiu o STJ, ADMITE-SE A CONTRATAÇÃO POR TEMPO DETERMINADO PARA
ATENDER A NECESSIDADE TEMPORÁRIA DE EXCEPCIONAL INTERESSE PÚBLICO (ART. 37, IX, DA CF/88) AINDA QUE PARA O
EXERCÍCIO DE ATIVIDADES PERMANENTES DO ÓRGÃO OU ENTIDADE. No caso concreto, as contratações temporárias se
fazem necessárias em decorrência do crescente número de demandas e do enorme passivo de procedimentos
administrativos que estão parados junto à ANS. Ademais, o quadro de pessoal da agência já está completo,
inexistindo, portanto, cargos vagos para a realização de concurso público.
STJ. 1ª Seção. MS 20.335-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 22/4/2015 (Info 560).
Servidores temporários
Os servidores que são contratados com base nesse fundamento são chamados de servidores temporários.
Características
Para ser válida, a contratação com fundamento no inciso IX deve ser...
• feita por tempo determinado (a lei prevê prazos máximos);
• com o objetivo de atender a uma necessidade temporária; e
• que se caracterize como sendo de excepcional interesse público.
CONSELHO PROFISSIONAL
TERMO INICIAL DO PRAZO PRESCRICIONAL PARA PUNIÇÃO DE PROFISSIONAL LIBERAL POR INFRAÇÃO DISCIPLINAR
Qual é o prazo prescricional que o Conselho profissional possui para punir o profissional liberal a ele vinculado e
a partir de quando é contado?
5 ANOS. COM BASE NO ART. 1º DA LEI N. 6.838/80. Esse prazo começa a ser contado, NÃO
DA DATA EM QUE A INFRAÇÃO DISCIPLINAR OCORRER, mas SIM DO DIA EM QUE O CONSELHO PROFISSIONAL TIVER
CONHECIMENTO DO RESPECTIVO FATO (art. 1º da Lei 6.838/80).STJ. 1ª Turma. REsp 1.263.157-PE, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, julgado em 5/3/2015 (Info 557).
Obs.: Advogados - No caso de infrações disciplinares cometidas por advogados, não se aplica a Lei n. 6.838/80,
mas sim a Lei n. 8.906/94 (Estatuto da OAB): Art. 43. A pretensão à punibilidade das infrações disciplinares
prescreve em cinco anos, contados da data da constatação oficial do fato.
RESPONSABILIDADE CIVIL
Determinada pessoa foi presa e torturada por policiais. Foi instaurado inquérito policial para apurar o ocorrido.
Qual será o TERMO DE INÍCIO DA PRESCRIÇÃO DA AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS?
Se tiver sido ajuizada ação penal contra os autores do crime: O TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO SERÁ O TRÂNSITO EM
JULGADO DA SENTENÇA PENAL.
SE O INQUÉRITO POLICIAL TIVER SIDO ARQUIVADO (NÃO FOI AJUIZADA AÇÃO PENAL): O TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO DA AÇÃO
DE INDENIZAÇÃO É A DATA DO ARQUIVAMENTO DO IP.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.443.038-MS, Rel. Ministro Humberto Martins, julgado em 12/2/2015 (Info 556).
Alguns de vocês podem estar se confundindo e pensando: “eu li em algum lugar que as ações de indenização
em caso de tortura são imprescritíveis”. Isso é correto?
Não é bem assim. Se você pensou nisso, não se confunda. Vou relembrar essa situação:
As ações de indenização por danos morais decorrentes de perseguição, tortura e prisão, POR MOTIVOS POLÍTICOS,
DURANTE O REGIME MILITAR, são imprescritíveis. Para esses casos, não se aplica o prazo prescricional de 5 anos
previsto no art. 1º do Decreto 20.910/1932 (STJ. 2ª Turma. REsp 1.374.376-CE, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 25/6/2013. Info 523).
O STJ concluiu que tais demandas são imprescritíveis porque se referem a um período (regime militar) em que a
ordem jurídica foi desconsiderada, com legislação de exceção, tendo havido, sem dúvida, incontáveis abusos e
violações dos direitos fundamentais, mormente do direito à dignidade da pessoa humana (AgRg no Ag
1391062/RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 09/08/2011). No exemplo acima, a
tortura ocorreu depois do regime militar, ou seja, já no período em que vivemos um regime democrático. Logo,
a ação de indenização submete-se ao prazo de 5 anos.
O banco mantinha contrato com a empresa de Vigilância Privada “XXX” por meio do qual esta se comprometia a
prestar serviços de vigilância armada nas agências bancárias.
Determinado dia, o banco foi assaltado por um grupo de oito ladrões fortemente armados.
O banco ajuizou ação de indenização contra a empresa de vigilância sustentando que, por expressa disposição
contratual, a empresa deveria ser responsabilizada pelo roubo e pelos prejuízos suportados pela instituição
bancária.
A tese do banco foi aceita? A empresa de vigilância foi condenada a indenizar?
NÃO. A cláusula de contrato de prestação de serviço de vigilância armada que impõe o dever de obstar
assaltos e de garantir a preservação do patrimônio de instituição financeira não acarreta à contratada
automática responsabilização por roubo contra agência bancária da contratante, especialmente quando
praticado por grupo fortemente armado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.329.831-MA, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/3/2015 (Info 561).
Obrigação de meio
A obrigação da empresa de vigilância é de meio (e não de resultado), sendo impossível garantir que não haverá
assaltos.
A empresa de vigilância tem apenas o dever de envidar todos os esforços razoáveis para evitar danos ao
patrimônio da contratante e de agir com a diligência na minimização dos riscos. Todavia, não se pode exigir dos
seguranças atitudes heroicas perante grupo criminoso fortemente armado.
Se fosse admitida a tese do banco, o contrato de vigilância iria se transformar em um verdadeiro contrato de
seguro.
Ilegitimidade passiva da União em demanda que envolve erro médico ocorrido em hospital do SUS
Atualize seu livro de 2014
A União não tem legitimidade passiva em ação de indenização por danos decorrentes de erro médico ocorrido
em hospital da rede privada durante atendimento custeado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo
com a Lei 8.080/90, a responsabilidade pela fiscalização dos hospitais credenciados ao SUS é do Município, a
quem compete responder em tais casos.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.388.822-RN, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 13/5/2015 (Info 563).
Não se deve confundir a obrigação solidária dos entes federativos em assegurar o direito à saúde e garantir o
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação, com a
responsabilidade civil do Estado pelos danos causados a terceiros. Nesta, o interessado busca uma reparação
econômica pelos prejuízos sofridos, de modo que a obrigação de indenizar se sujeita à comprovação da conduta,
do dano e do respectivo nexo de causalidade.
Dessa forma, não há qualquer elemento que autorize a responsabilização da União, seja porque a conduta não
foi por ela praticada, seja em razão da impossibilidade de aferir-se a existência de culpa in eligendo ou culpa in
vigilando.
Responsabilidade civil dos administradores de rede social por violação de direito autoral causada por
seus usuários
"Habeas aula" é um curso jurídico "on line" preparatório para concursos públicos. Determinado dia, o gerente da
instituição descobriu que havia uma comunidade na rede social Orkut® onde estavam sendo vendidas, em DVD,
as aulas do curso, de forma não autorizada ("pirataria"). Diante disso, o curso propôs ação contra a Google®
(proprietária do Orkut®) pedindo:
a retirada do ar da referida comunidade;
a identificação do IP, ou seja, o número do "computador" (dispositivo) de onde partiram as publicações;
b) a reparação pelos danos morais que sofreu durante o período em que a comunidade esteve "on line".
Quando o autor pede a retirada do ar e a identificação do IP de determinado perfil, página ou comunidade que
está presente em uma rede social, ele precisa informar a URL da página (ex: o perfil abusivo está no endereço
www.orkut.com/xxx123yyy456)? Ou essa informação não é necessária?
É sim necessária. O STJ tem entendimento consolidado no sentido de que o titular que teve direito autoral
violado pela comercialização desautorizada de sua obra em rede social deve indicar a URL específica da página
na qual o ilícito foi praticado, caso pretenda que o provedor torne indisponível o conteúdo e forneça o IP do
usuário responsável pela violação.
E o pedido de indenização por danos materiais, deverá ser acolhido? No caso relatado, a Google® deverá ser
condenada a indenizar o autor?
NÃO. A Google® não é responsável pelos prejuízos decorrentes de violações de direito autoral levadas a efeito
por usuários que utilizavam a rede social Orkut® para comercializar obras sem autorização dos respectivos
titulares, desde que constatado que:
o provedor de internet (Google®) não obteve lucro ou contribuiu decisivamente com a prática ilícita e
os danos sofridos ocorreram antes da notificação do provedor acerca da existência do conteúdo infringente
(ou seja, as vendas foram antes de o provedor ser notificado sobre as páginas ilícitas).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.512.647-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 13/5/2015 (Info 565).
Inexistência de fair use ("uso justo") dos materiais protegidos por direitos autorais.
O primeiro requisito para responsabilizar o provedor de internet é que o uso dos materiais protegidos
por direitos autorais não tenha sido um uso justo (fair use).
Se o uso foi justo, não há dever de indenizar. Ex: em 1984, logo no início dos chamados videocassetes,
a Universal Studios ajuizou ação de indenização contra a Sony alegando que os adquirentes dos
videocassetes da ré estavam copiando filmes transmitidos em canais de televisão, cujos direitos eram
de titularidade da autora. A justiça norte-americana julgou o pedido improcedente por entender que a
destinação conferida ao produto da Sony pelos usuários representava uso legítimo de direito autoral
(fair use). "Ficou comprovado que a principal finalidade dos donos de videocassetes era copiar o
programa desejado para assisti-lo em horário mais cômodo, uso doméstico que, segundo
entendimento adotado, não configuraria violação de direitos autorais." (SOARES, Sílvia Simões.
Aspectos jurídicos do compartilhamento de arquivos MP3 P2P via internet. In. Direito e Internet. Vol.
II. Newton de Lucca e Adalberto Simão Filho (Coord.). São Paulo: Quartier Latin, 2008).
Responsabilidade contributiva: deve-se provar que o provedor de internet, de forma intencional,
induziu ou encorajou terceiros a cometerem ato ilícito utilizando a estrutura da rede oferecida. Ex: a
Justiça norte-americana condenou a rede social Napster®, que permitia a troca de músicas entre os
seus usuários por entender que estava presente a responsabilidade contributiva da empresa já que ela
sabia e incentivava essa troca de músicas mesmo tendo consciência que em sua esmagadora maioria
se tratavam de obras protegidas por direitos autorais e que não poderiam ser comercializadas
livremente.
Responsabilidade vicária: a responsabilidade vicária está configurada quando fica provado que o
provedor de internet aufere lucros, ainda que indiretos, com os ilícitos praticados, razão pela qual se
nega a exercer o poder de controle ou de limitação dos danos, quando poderia fazê-lo. O exemplo
novamente é o Napster®. A Justiça norte-americana entendeu que os responsáveis pela rede
poderiam controlar os compartilhamentos que eram feitos entre os usuários cancelando as contas dos
usuários infratores e filtrando os arquivos em seu próprio sistema. Além disso, ficou demonstrado que
o Napster® obtinha retorno financeiro com a ilegalidade cometida pelos usuários, uma vez que estes
eram atraídos exatamente pela facilidade na obtenção gratuita de obras protegidas por copyright, ao
passo que, para o Napster®, havia a possibilidade de anúncios e propagandas patrocinadas dirigidas
aos integrantes da rede.
DESAPROPRIAÇÃO
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
COMPETÊNCIA PARA JULGAR AÇÃO DE IMPROBIDADE PROPOSTA POR MUNICÍPIO CONTRA EX-PREFEITO QUE NÃO PRESTOU
CONTAS DE CONVÊNIO FEDERAL
Importante!!! Determinado Município ajuizou Ação Civil Pública de Improbidade Administrativa contra o ex-
prefeito da cidade, sob o argumento de que este, enquanto prefeito, firmou convênio com órgão/entidade
federal e recebeu recursos para aplicar em favor da população e, no entanto, não prestou contas no prazo
devido, o que fez com o que o Município fosse incluído no cadastro negativo da União, estando, portanto,
impossibilitado de receber novos recursos federais. Esta ação de improbidade administrativa deverá ser
julgada pela Justiça Federal ou Estadual?
Regra: COMPETE À JUSTIÇA ESTADUAL (E NÃO À JUSTIÇA FEDERAL) PROCESSAR E JULGAR AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA NA QUAL SE APURE IRREGULARIDADES NA PRESTAÇÃO DE CONTAS, POR EX-PREFEITO, RELACIONADAS A
VERBAS FEDERAIS TRANSFERIDAS MEDIANTE CONVÊNIO E INCORPORADAS AO PATRIMÔNIO MUNICIPAL.
SÚMULA 208-STJ: COMPETE À JUSTIÇA FEDERAL NÃO SE ESTÁ AFIRMANDO QUE AS SÚMULAS 208 E
PROCESSAR E JULGAR PREFEITO MUNICIPAL POR
DESVIO DE VERBA SUJEITA A PRESTAÇÃO DE CONTAS
209 DO STJ NÃO POSSAM SER APLICADAS COMO
PERANTE ÓRGÃO FEDERAL. CRITÉRIOS PARA DEFINIÇÃO DE COMPETÊNCIA EM
SÚMULA 209-STJ: COMPETE À JUSTIÇA ESTADUAL MATÉRIA CÍVEL. EXISTEM INÚMEROS PRECEDENTES DO STJ
QUE UTILIZAM ESSES ENUNCIADOS EM PROCESSOS CÍVEIS,
PROCESSAR E JULGAR PREFEITO POR DESVIO DE VERBA
INCLUSIVE EM AÇÕES DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
TRANSFERIDA E INCORPORADA AO PATRIMÔNIO
MUNICIPAL. O QUE SE ESTÁ EXPLICANDO É QUE AS REFERIDAS SÚMULAS,
EM ESPECIAL O ENUNCIADO 208, NÃO PODEM SER APLICADAS
DE FORMA ABSOLUTA NOS PROCESSOS CÍVEIS. PARA A
DEFINIÇÃO DA COMPETÊNCIA CÍVEL, O PRINCIPAL SERÁ SABER
SE A UNIÃO, SUAS ENTIDADES AUTÁRQUICAS OU EMPRESAS
PÚBLICAS ESTÃO INTERVINDO NO PROCESSO OU NÃO.
O MEMBRO DO MINISTÉRIO PÚBLICO PODE SER PROCESSADO E CONDENADO POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA?
SIM. É pacífico o entendimento de que o Promotor de Justiça (ou Procurador da República) pode ser
processado e condenado por ato de improbidade administrativa, com fundamento na Lei 8.429/92.
MESMO GOZANDO DE VITALICIEDADE E A LEI PREVENDO UMA SÉRIE DE CONDIÇÕES PARA A PERDA DO CARGO, O MEMBRO DO
MP, SE FOR RÉU EM UMA AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, PODERÁ SER CONDENADO À PERDA DA FUNÇÃO PÚBLICA? O
MEMBRO DO MP PODE SER RÉU EM UMA AÇÃO DE IMPROBIDADE DE QUE TRATA A LEI 8.429/92 E, AO FINAL, SER CONDENADO À
PERDA DO CARGO MESMO SEM SER ADOTADO O PROCEDIMENTO DA LEI 8.625/93 E DA LC 75/93?
SIM. O STJ decidiu que é possível, no âmbito de ação civil pública de improbidade administrativa, a
condenação de membro do Ministério Público à pena DE PERDA DA FUNÇÃO PÚBLICA PREVISTA NO ART. 12 DA LEI
8.429/92.
A LEI 8.625/93 (LEI ORGÂNICA NACIONAL DO MP) E A LC 75/93 PREVEEM UMA SÉRIE DE REGRAS PARA QUE POSSA SER
AJUIZADA AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE PERDA DO CARGO CONTRA O MEMBRO DO MP. TAIS DISPOSIÇÕES IMPEDEM QUE O MEMBRO
DO MP PERCA O CARGO EM AÇÃO DE IMPROBIDADE?
NÃO. Segundo o STJ, o fato de essas leis preverem a garantia da vitaliciedade aos membros do MP e a
necessidade de ação judicial para a aplicação da pena de demissão não significa que elas proíbam que o
membro do MP possa perder o cargo em razão de sentença proferida na ação civil pública por ato de
improbidade administrativa.
Essas leis tratam dos casos em que houve um procedimento administrativo no âmbito do MP para apuração de
fatos imputados contra o Promotor/Procurador e, sendo verificada qualquer das situações previstas nos incisos
do § 1º do art. 38, deverá obter-se autorização do Conselho Superior para o ajuizamento de ação civil
específica.
Desse modo, tais leis não cuidam de improbidade administrativa e, portanto, nada interferem nas disposições
da Lei 8.429/92.
Em outras palavras, existem as ações previstas na LC 75/93 e na Lei 8.625/93, mas estas não excluem (não
impedem) que o membro do MP também seja processado e condenado pela Lei 8.429/92. Os dois sistemas
convivem harmonicamente. UM NÃO EXCLUI O OUTRO.
Se o membro do MP praticou um ato de improbidade administrativa, ele poderá ser réu em uma ação civil e
perder o cargo? Essa ação deverá ser proposta segundo o rito da lei da carreira (LC 75/93 / Lei 8.625/93) ou
poderá ser proposta nos termos da Lei 8.429/92?
SIM. O membro do MP que praticou ato de improbidade administrativa poderá ser réu em uma
ação civil e perder o cargo. Existem duas hipóteses possíveis:
• Instaurar o processo administrativo de que trata a lei da carreira (LC 75/93: MPU / Lei 8.625/93: MPE) e, ao
final, o PGR ou o PGJ ajuizar ação civil de perda do cargo contra o membro do MP.
• Ser proposta ação de improbidade administrativa, nos termos da Lei 8.429/92. Neste caso, não existe
legitimidade exclusiva do PGR ou PGJ. A ação poderá ser proposta até mesmo por um Promotor de Justiça (no
caso do MPE) ou Procurador da República (MPF) que atue em 1ª instância.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.191.613-MG, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 19/3/2015 (Info 560).
Em suma, os dispositivos da a LC n. 75/93 e da Lei n. 8.625/93 tratam sobre outra hipótese de ação civil
pública para perda do cargo e tais leis não impedem que seja proposta ação específica de improbidade (Lei
n. 8.429/92) contra o membro do MP, podendo ele, inclusive, perder o cargo em decorrência dela.
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
INFORMATIVO 552, STJ - IMPRENSA TEM DIREITO DE ACESSO A INFORMAÇÕES DETALHADAS DO CARTÃO CORPORATIVO DO
GOVERNO.
Importante!!! Determinado jornal solicitou que o governo federal fornecesse a relação dos gastos efetuados
com o cartão corporativo pela chefe da representação da Presidência da República em SP. O Governo
concedeu ao jornal a relação dos gastos efetuados no período, ou seja, os valores despendidos. No entanto,
negou-se a fornecer informações detalhadas como os tipos de gastos, as datas, valores individuais de cada
transação, CNPJ/razão social das empresas contratadas etc. O STJ ENTENDEU QUE ESSA RECUSA AO
FORNECIMENTO DO EXTRATO COMPLETO (INCLUINDO TIPO, DATA, VALOR DAS TRANSAÇÕES EFETUADAS E CNPJ DOS
FORNECEDORES) CONSTITUI ILEGAL VIOLAÇÃO AO DIREITO DE ACESSO À INFORMAÇÃO DE INTERESSE
COLETIVO (LEI 12.527/2011), já que não havia qualquer evidência de que a publicidade desses elementos
atentaria contra a segurança do Presidente e Vice-Presidente da República ou de suas famílias. STJ. 1ª Seção.
MS 20.895-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 12/11/2014 (Info 552).
PERSONALIDADE JUDICIÁRIA
Súmula 525-STJ: A CÂMARA DE VEREADORES NÃO POSSUI PERSONALIDADE JURÍDICA, APENAS PERSONALIDADE
JUDICIÁRIA, somente podendo DEMANDAR EM JUÍZO PARA DEFENDER OS SEUS DIREITOS INSTITUCIONAIS.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 22/04/2015, DJe 27/4/2015.
RESUMINDO:
A Câmara de Vereadores, por ser um órgão, não possui personalidade jurídica (não é pessoa jurídica). Apesar
de não ter personalidade jurídica (civil), a Câmara pode ser parte em algumas causas judiciais em virtude de
gozar de personalidade judiciária. No entanto, essa personalidade judiciária não é ampla e ela só pode
demandar em juízo para defender os seus direitos institucionais (aqueles relacionados ao funcionamento,
autonomia e independência do órgão).
LICITAÇÕES
Termo inicial da punição prevista no art. 7º da Lei n.10.520/2002 (Lei do Pregão)
Devem ser impostas tanto ao condutor quanto ao proprietário do veículo as penalidades de multa e de
registro de pontos aplicadas em decorrência da infração de trânsito consistente em conduzir veículo que não
esteja registrado e devidamente licenciado (art. 230, V, do CTB).
STJ. 2ª Turma. REsp 1.524.626-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 5/5/2015 (Info 561).
ATOS ADMINISTRATIVOS
O Poder Judiciário não tem competência para autorizar, ainda que a título precário, a prestação de serviço de
radiodifusão com finalidade exclusivamente educativa.
O art. 223 da CF/88 atribui competência ao Poder Executivo para outorgar e renovar concessão, permissão e
autorização, bem como fiscalizar o serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens.
O funcionamento das rádios educativas, mesmo que a título precário, está definido na legislação
infraconstitucional, em portaria do Ministério das Comunicações e em portaria interministerial do Ministério
das Comunicações e do Ministério da Educação, exigindo prévia outorga do poder concedente, a qual não
pode ser suprida por autorização judicial.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.353.341-PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 12/5/2015 (Info 562).
DIREITO AMBIENTAL
INFRAÇÃO AMBIENTAL
Configurada infração ambiental grave, é possível a aplicação da pena de multa sem a necessidade de prévia
imposição da pena de advertência (art. 72 da Lei 9.605/98).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.318.051-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 17/3/2015 (Info 561).
João é posseiro de um imóvel rural há muitos anos e propôs ação de usucapião a fim de se tornar o
proprietário do terreno.
A sentença foi julgada procedente, declarando que João adquiriu a propriedade.
Vale lembrar que a sentença de usucapião deve ser registrada no Cartório de Registro de Imóveis para que
nele fique consignado que o novo proprietário é aquela pessoa que teve em seu favor a sentença de
usucapião. Em outras palavras, JOÃO DEVERÁ AVERBAR A SENTENÇA DE USUCAPIÃO NO CARTÓRIO DE REGISTRO DE
IMÓVEIS PARA SER CONSIDERADO PROPRIETÁRIO.
Ocorre que o juiz que sentenciou a ação de usucapião condicionou o registro da sentença no Cartório do
Registro de Imóveis ao prévio registro da Área Legal no CAR (Cadastro Ambiental Rural). Em outras palavras, o
juiz afirmou que a usucapião só poderia ser averbada se, antes, o autor inscrevesse a Área de Reserva Legal
no CAR.
Agiu corretamente o magistrado? Ele poderia ter feito essa exigência?
SIM. Para que a sentença declaratória de usucapião de imóvel rural sem matrícula seja registrada no
Cartório de Registro de Imóveis, É NECESSÁRIO O PRÉVIO REGISTRO DA RESERVA LEGAL NO CADASTRO AMBIENTAL
RURAL (CAR).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.356.207-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 28/4/2015 (Info 561).
Assim, por uma construção jurisprudencial, respaldada em precedentes do STJ, firmou-se o entendimento de
que a averbação da reserva legal seria condição para o registro de qualquer ato de transmissão,
desmembramento ou retificação de área de imóvel rural.
Nessa linha de raciocínio, deve-se impor a averbação da Reserva Legal como condição para o registro da
sentença de usucapião.
Natureza
A Área de Reserva Legal consiste em uma limitação ao direito de propriedade (limitação administrativa
existente em função do princípio da função sócio-ambiental da propriedade).
Trata-se de obrigação “propter rem”, ou seja, é uma obrigação que acompanha a coisa e vincula todo e
qualquer proprietário ou possuidor de imóvel rural, já que adere ao título de propriedade ou à posse.
Onde fica a área de reserva legal dentro do imóvel rural? Em outras palavras, em um sítio, por exemplo,
como a pessoa sabe onde está a área de reserva legal? É o proprietário/possuidor que define isso?
NÃO. A localização da área de Reserva Legal dentro da propriedade ou posse rural deverá ser aprovada
pelo órgão estadual integrante do SISNAMA ou instituição por ele habilitada, conforme os critérios previstos
no art. 14 do Código Florestal.
Existem imóveis rurais que não precisam constituir área de reserva legal?
SIM. Segundo prevê os §§ 6º a 8º do art. 12, não será exigida Reserva Legal para:
a) empreendimentos de abastecimento público de água e tratamento de esgoto;
b) áreas adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessão, permissão ou autorização para exploração de potencial
de energia hidráulica, nas quais funcionem empreendimentos de geração de energia elétrica, subestações ou sejam
instaladas linhas de transmissão e de distribuição de energia elétrica;
c) áreas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de implantação e ampliação de capacidade de rodovias e
ferrovias.
Depois da Lei n.12.651/2012 (novo Código Florestal), a Área de Reserva Legal ainda precisa ser inscrita
no registro de imóveis?
NÃO. O registro da Reserva Legal no CAR desobriga a averbação no cartório de Registro de Imóveis. Desse
modo, desde a vigência do novo Código Florestal, a Área de Reserva Legal não é mais averbada no cartório
de Registro de Imóveis.
A inscrição da Reserva Legal no CAR possui natureza constitutiva ou declaratória? Se a Área de Reserva
Legal não estiver registrada, o possuidor/proprietário estará desobrigado de respeitá-la?
NÃO. A inscrição da Reserva Legal possui natureza declaratória. O dever de respeitar as limitações
impostas pela Área de Reserva Legal decorre da lei (e não do registro). A inscrição no CAR tem por objetivo
dar publicidade a esse fato.
DIREITO CIVIL
PRESCRIÇÃO
Prescreve em 10 ANOS( NÃO EXISTE PRAZO ESPECÍFICO, APLICA-SE A REGRA GERAL; NÃO APLICA O
ESTATUTO DA OAB) o prazo para que um ADVOGADO AUTÔNOMO POSSA COBRAR DE OUTRO ADVOGADO O VALOR
CORRESPONDENTE À DIVISÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS CONTRATUAIS e de SUCUMBÊNCIA referentes a ação judicial
na qual ambos trabalharam em parceria. STJ. 3ª Turma. REsp 1.504.969-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 10/3/2015 (Info 557).
QUANTO AOS BENS ADQUIRIDOS ANTES DA LEI 9.278/96 (DOIS APARTAMENTOS): APLICA-SE O REGIME DA PROVA
DO ESFORÇO COMUM (SÚMULA 380 DO STF).
QUANTO AOS BENS ADQUIRIDOS APÓS A LEI 9.278/96 (CASA E SÍTIO): aplica-se a PRESUNÇÃO LEGAL DE QUE A
MULHER TEM DIREITO À MEAÇÃO DOS BENS, INDEPENDENTEMENTE DE PROVA DO ESFORÇO COMUM. STJ. 2ª Seção. REsp
1.124.859-MG, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão Min.
Maria Isabel Gallotti, julgado em 26/11/2014 (Info 556).
ANTES DA CF/88 DEPOIS DA CF/88, ANTES DA CF/88
A “união estável” não tinha Abandonou-se o termo Continua sendo usado o termo
esse nome e era chamada de concubinato e passou-se a “união estável”.
concubinato. utilizar a nomenclatura “união A Lei n.9.278/96 estabeleceu
O concubinato não gozava da estável”. uma presunção legal relativa de
mesma proteção porque a A CF/88 afirmou que a união comunhão dos bens adquiridos
visão que o Direito tinha era a estável deve ser reconhecida a título oneroso durante a
de que só existia família no como entidade familiar, ou união estável.
casamento (entre homem e seja, o Direito passou a tratar a Assim, em regra, para todos os
mulher). união estável como família. bens adquiridos durante a
Assim, as pessoas que viviam Quanto aos bens, cada união estável, presume-se que
em concubinato não formavam companheiro da união estável foram adquiridos pelo esforço
uma entidade familiar, mas sim somente continuava tendo comum do casal (ambos terão
uma “sociedade de fato” direito aos bens que contribuiu direitos iguais sobre eles).
(equiparada a uma empresa para a formação do patrimônio Como exceção, não haverá esta
informal). Quando ocorria a comum. No entanto, a presunção se a aquisição se der
dissolução da sociedade de interpretação do que fosse com o produto de bens
fato, o concubino só ficava com “contribuição para a formação adquiridos anteriormente ao
os bens que ele tinha do patrimônio comum” início da união.
contribuído (com dinheiro ou tornou- se mais abrangente, Quando há a dissolução da
trabalho) para adquirir. Logo, incluindo também a união estável, para que o(a)
se apenas o homem tivesse solidariedade e o apoio companheiro(a) tenha direito
comprado o bem, somente ele recíprocos no âmbito familiar. aos bens adquiridos durante a
ficaria com a coisa quando Não havia presunção legal de relação, ele(a) não precisará
ocorresse a dissolução. Isso esforço comum para a partilha provar que contribuiu para a
estava previsto na súmula 380 de bens. aquisição.
do STF. Ao final do relacionamento, os Com a edição da Lei 9.278⁄96,
bens amealhados no período os bens a partir de então
eram proporcionalmente ao adquiridos por pessoas em
esforço comprovado, direto ou união estável passaram a
indireto, de cada convivente. pertencer a ambos em
Ainda vigorava, em parte, o meação, salvo se houver
raciocínio da súmula 380 do estipulação em sentido
STF quanto à necessidade de contrário ou se a aquisição
provar o esforço comum (o patrimonial decorrer do
enunciado havia sido superado produto de bens anteriores ao
quanto ao caráter da união início da união.
estável, que deixou de ser Com a Lei n. 9.278/96 fica
concubinato e passou a superada a súmula 380 do STF.
entidade familiar).
Se uma união estável foi dissolvida antes da Lei n.9.278/96, mas a partilha dos bens somente foi julgada
após essa Lei, ela poderá ser aplicada ao caso? NÃO . As regras relativas ao patrimônio dos companheiros
estabelecidas pela Lei n. 9.278/96 não se aplicam às uniões estáveis dissolvidas antes de sua vigência, devendo
a partilha de bens submeter-se à prova do esforço comum.
Por que a Lei n.9.278/96 não pode ser aplicada para os bens adquiridos antes de sua vigência? Porque SENÃO
HAVERIA A RETROAÇÃO DA LEI PARA ATINGIR ATO JURÍDICO PERFEITO E DIREITO ADQUIRIDO. Segundo decidiu o STJ, com
base nas lições de Francisco José Cahali, a titularidade dos bens se consuma no momento da respectiva
aquisição, tornando-se um ato jurídico perfeito. A pessoa que adquiriu o bem tornou-se titular de um direito
adquirido. Logo, essa aquisição, esse negócio jurídico, estará imune à nova legislação, que não poderá retroagir
para interferir nesse patrimônio.
Não é lícito aos conviventes atribuírem efeitos retroativos ao contrato de união estável, a fim de eleger o
regime de bens aplicável ao período de convivência anterior à sua assinatura.
Ex: em 2010, Christian, rico empresário, começa a namorar Anastasia. O relacionamento fica sério e se
transforma em uma união pública, duradoura e contínua. Eles, inclusive, falam em constituir uma família. Em
2015, orientado por seus advogados, Christian decide celebrar com Anastasia um “contrato de união estável”
(contrato de convivência). No instrumento é estipulado que o regime de bens do casal é o da separação total.
Consta uma cláusula no contrato prevendo que esse regime de bens retroage ao ano de 2010, quando
começou o relacionamento entre o casal. O STJ ENTENDE QUE ESSA CLÁUSULA DE RETROAÇÃO É INVÁLIDA.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.383.624-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 2/6/2015 (Info 563).
Fundamento:
O regime de bens entre os companheiros começa a vigorar na data da assinatura do contrato, assim como o
regime de bens entre os cônjuges começa a produzir efeitos na data do casamento (§ 1º do art. 1.639 do CC).
Assim, em nosso exemplo, Anastasia será proprietária de metade do que Christian adquiriu onerosamente
desde que começou a união estável até a data da assinatura do contrato quando passa a vigorar o regime da
separação total. O contrato de união estável é válido, mas somente gera efeitos para o futuro, ou seja, o STJ
não admitiu a atribuição de efeitos pretéritos. Em suma, só a cláusula da retroação é que era ilícita.
ALIMENTOS
VALOR DA PRESTAÇÃO ALIMENTAR EM FACE DE CONSTITUIÇÃO DE NOVA UNIDADE FAMILIAR PELO ALIMENTANTE
A CONSTITUIÇÃO DE NOVA FAMÍLIA pelo DEVEDOR DE ALIMENTOS NÃO ACARRETA, por si só, REVISÃO DA QUANTIA
ESTABELECIDA A TÍTULO DE ALIMENTOS EM FAVOR DOS FILHOS ADVINDOS DE ANTERIOR UNIDADE FAMILIAR formada pelo
alimentante, sobretudo SE NÃO HOUVER PROVA DA DIMINUIÇÃO DA CAPACIDADE FINANCEIRA DO DEVEDOR EM
DECORRÊNCIA DA FORMAÇÃO DO NOVO NÚCLEO FAMILIAR.
Ex: João, rico empresário, paga R$ 4 mil de pensão alimentícia para seu filho, que teve com sua ex-esposa.
Determinado dia, João se casa e dessa união nasce uma filha. Com base unicamente nesta nova circunstância,
João ajuíza ação revisional de alimentos pedindo que o valor pago de pensão a seu filho seja reduzido. Para que
o devedor consiga reduzir a prestação paga, além de alegar que suas despesas aumentaram por conta da nova
família, ele deverá provar também que o valor fixado anteriormente está acima das suas possibilidades, ou
seja, que ele não tem mais condições de pagar aquela quantia.STJ. 3ª Turma. REsp 1.496.948-SP, Rel. Ministro
Moura Ribeiro, julgado em 3/3/2015 (Info 557).
DIREITO A ALIMENTOS PELO ROMPIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO
É JURIDICAMENTE POSSÍVEL o pedido de ALIMENTOS decorrente do ROMPIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL
HOMOAFETIVA. STJ. 4ª Turma. REsp 1.302.467-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 3/3/2015 (Info
558).
INFORMATIVO 552, STJ - RENÚNCIA AOS ALIMENTOS FEITA DURANTE A VIGÊNCIA DA UNIÃO ESTÁVEL NÃO PERDURA SE
HOUVE FATO SUPERVENIENTE QUE REDUZIU A CAPACIDADE DE TRABALHO DE UM DOS CONVIVENTES.
Importante!!! Um homem e uma mulher, na época em que conviviam juntos em união estável, fizeram uma
declaração, por escritura pública, afirmando que, em caso de dissolução da união, nenhum dos dois iria
pleitear pensão alimentícia. Em outras palavras, ambos renunciaram ao direito aos alimentos. O STJ decidiu
que, mesmo com essa renúncia, seria possível que a ex-convivente pedisse e tivesse direito aos alimentos na
hipótese em que, após essa renúncia, ela tenha sido acometida de uma moléstia grave, que reduziu sua
capacidade laboral, comprometendo sua situação financeira. São irrenunciáveis os alimentos devidos na
constância do vínculo familiar (art. 1.707 do CC). É VÁLIDA E EFICAZ A RENÚNCIA MANIFESTADA NO
MOMENTO DO ACORDO DE SEPARAÇÃO JUDICIAL OU DE DIVÓRCIO.
No entanto, por outro lado,
NÃO PODE SER ADMITIDA A RENÚNCIA FEITA DURANTE A VIGÊNCIA DA UNIÃO
ESTÁVEL. STJ. 4ª Turma. REsp 1.178.233-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 18/11/2014 (Info 553).
INFORMATIVO 552, STJ - VERBAS EVENTUAIS RECEBIDAS PELO DEVEDOR E REFLEXO NO VALOR DA PENSÃO ALIMENTÍCIA
Tema polêmico! ALIMENTOS FIXADOS EM PERCENTUAL SOBRE A REMUNERAÇÃO E VERBAS EVENTUAIS
RECEBIDAS PELO DEVEDOR. AS PARCELAS PERCEBIDAS A TÍTULO DE PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS
INTEGRAM A BASE DE CÁLCULO DA PENSÃO ALIMENTÍCIA QUANDO ESTA É FIXADA EM PERCENTUAL SOBRE OS RENDIMENTOS,
salvo se houve disposição transacional ou judicial em sentido contrário. Assim, SE A PENSÃO ALIMENTÍCIA FOI
FIXADA EM PERCENTUAL (EX.: 30% SOBRE OS RENDIMENTOS), NO MÊS QUE O DEVEDOR RECEBER PARTICIPAÇÃO NOS
LUCROS DA EMPRESA, o percentual incidirá sobre tal valor.
ALIMENTOS ARBITRADOS EM VALOR FIXO NÃO VARIAM SE HOUVER RECEBIMENTO DE VERBAS EVENTUAIS
PELO DEVEDOR. O 13º salário, a participação nos lucros e outras gratificações extras (eventuais) não
compõem a base de cálculo da pensão alimentícia quando esta é estabelecida em valor fixo, salvo se houver
disposição transacional ou judicial em sentido contrário.
AVISO PRÉVIO. O aviso prévio não integra a base de cálculo da pensão alimentícia, salvo se houve disposição
transacional ou judicial em sentido contrário. Assim, não importa que a pensão tenha sido fixada em valor fixo
ou percentual variável, o aviso prévio não interfere no valor a ser pago como pensão alimentícia. STJ. 4ª
Turma. REsp 1.332.808-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/12/2014 (Info 553)
RESPONSABILIDADE CIVIL
OFENSAS PUBLICADAS EM BLOG E NECESSIDADE DE INDICAÇÃO DOS ENDEREÇOS ELETRÔNICOS PELO OFENDIDO
Na hipótese em que tenham sido publicadas, em um blog, ofensas à honra de alguém, incumbe ao ofendido
que pleiteia judicialmente a identificação e rastreamento dos autores das referidas ofensas (e não ao provedor
de hospedagem do blog) a indicação específica dos URLs das páginas onde se encontram as mensagens. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.274.971-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 19/3/2015 (Info 558).
Importante!!! O dano social é uma NOVA ESPÉCIE DE DANO REPARÁVEL, que NÃO SE CONFUNDE COM OS DANOS
MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS, e que DECORRE DE COMPORTAMENTOS SOCIALMENTE REPROVÁVEIS, QUE
DIMINUEM O NÍVEL SOCIAL DE TRANQUILIDADE. Em uma ação individual, o juiz condenou o réu ao
pagamento de danos morais e, de ofício, determinou que pagasse também danos sociais em favor de uma
“
instituição de caridade. O STJ ENTENDEU QUE ESSA DECISÃO É NULA, por ser EXTRA PETITA”. Para que
haja condenação por dano social, é indispensável que haja pedido expresso. Vale ressaltar, no entanto, que,
no caso concreto, mesmo que houvesse pedido de condenação em danos sociais na demanda em exame, o
pleito não poderia ter sido julgado procedente, pois esbarraria na ausência de legitimidade para postulá-lo.
Isso porque, na visão do STJ, a CONDENAÇÃO POR DANOS SOCIAIS SOMENTE PODE OCORRER
EM DEMANDAS COLETIVAS e, portanto, APENAS OS LEGITIMADOS PARA A PROPOSITURA DE
AÇÕES COLETIVAS PODERIAM PLEITEAR DANOS SOCIAIS. Em suma, NÃO É POSSÍVEL
DISCUTIR DANOS SOCIAIS EM AÇÃO INDIVIDUAL. STJ. 2ª Seção. Rcl 12.062-GO, Rel.
Ministro Raul Araújo, julgado em 12/11/2014 (recurso repetitivo) (Info 552).
- Danos sociais, segundo Antônio Junqueira de Azevedo, “SÃO LESÕES À SOCIEDADE, NO SEU NÍVEL DE VIDA,
TANTO POR REBAIXAMENTO DE SEU PATRIMÔNIO MORAL – PRINCIPALMENTE A RESPEITO DA SEGURANÇA
– QUANTO POR DIMINUIÇÃO NA QUALIDADE DE VIDA. Os danos sociais são causa, pois, de indenização
punitiva por dolo ou culpa grave, especialmente, repetimos, se atos que reduzem as condições coletivas de
segurança, e de indenização dissuasória, se atos em geral da pessoa jurídica, que trazem uma diminuição do
índice de qualidade de vida da população.”
Alguns exemplos dados por Junqueira de Azevedo: O PEDESTRE QUE JOGA PAPEL NO CHÃO, o passageiro
que atende ao celular no avião, o pai que solta balão com seu filho. Tais condutas socialmente reprováveis
podem gerar danos como o entupimento de bueiros em dias de chuva, problemas de comunicação do avião
causando um acidente aéreo, o incêndio de casas ou de florestas por conta da queda do balão etc.
Diante da prática dessas condutas socialmente reprováveis, o juiz deverá condenar o agente a pagar uma
indenização de caráter punitivo, dissuasório ou didático, a título de dano social.
Conforme explica Flávio Tartuce, OS DANOS SOCIAIS SÃO DIFUSOS E A SUA INDENIZAÇÃO DEVE SER
DESTINADA NÃO PARA A VÍTIMA, MAS SIM PARA UM FUNDO DE PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR, AO MEIO
AMBIENTE ETC., ou mesmo para uma instituição de caridade, a critério do juiz (Manual de Direito do
Consumidor. São Paulo: Método, 2013, p. 58).
Os danos sociais representam a aplicação da função social da responsabilidade civil (PEREIRA, Ricardo Diego
Nunes).
Ricardo Pereira cita alguns casos práticos:
Um deles é a decisão do TRT-2ª Região (processo 2007-2288), que condenou o Sindicato dos Metroviários de
São Paulo e a Cia do Metrô a pagarem 450 cestas básicas a entidades beneficentes por terem realizado uma
greve abusiva que causou prejuízo à coletividade.
Outro exemplo foi o caso de uma fraude ocorrida em um sistema de loterias, no Rio Grande do Sul, chamado
de “Toto Bola”. Ficou constatado que a loteria seria fraudulenta, retirando do consumidor as chances de
vencer. Nesse episódio, o TJ/RS, no Recurso Cível 71001281054, DJ 18/07/2007, determinou, de ofício,
indenização a título de dano social para o Fundo de Proteção aos Consumidores. (TJRS – Recurso Cível
71001281054 – Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais – Rel. Des. Ricardo Torres Hermann – j.
12.07.2007).
Na V Jornada de Direito Civil do CJF/STJ foi aprovado um enunciado reconhecendo a existência dos danos
sociais: Enunciado 455: A expressão “dano” no art. 944 abrange não só os danos individuais, materiais ou
imateriais, mas também os danos sociais, difusos, coletivos e individuais homogêneos a serem reclamados
pelos legitimados para propor ações coletivas.
- Imagine agora a seguinte situação adaptada: João passou várias horas na fila do banco para ser atendido.
Inconformado, ingressou, no Juizado Especial, com ação pedindo unicamente indenização por danos morais.
O juiz julgou procedente, determinando que o réu pagasse R$ 3 mil a João pelos danos morais sofridos. Além
disso, de ofício, condenou o banco a pagar R$ 15 mil a título de danos sociais, valor a ser revertido em favor
de uma instituição de caridade.
O banco interpôs recurso inominado (art. 41 da Lei n. 9.099/95) alegando que a decisão violou o princípio da
adstrição/congruência, considerando que o condenou ao pagamento de algo que não foi pedido. A Turma
Recursal, contudo, manteve a sentença.
Quais os recursos cabíveis contra as decisões proferidas pela Turma Recursal? Embargos de declaração e
recurso extraordinário. No caso concreto, não cabe recurso extraordinário porque a matéria não envolve
questão constitucional, restringindo-se apenas a aspectos processuais (de lei federal).
É cabível a interposição de Recurso Especial? NÃO. Súmula 203-STJ: Não cabe recurso especial contra decisão
proferida por órgão de segundo grau dos Juizados Especiais.
O QUE O BANCO FEZ NO PRESENTE CASO? A INSTITUIÇÃO FINANCEIRA AJUIZOU RECLAMAÇÃO NO STJ CONTRA A DECISÃO
DA TURMA RECURSAL.
É CABÍVEL RECLAMAÇÃO CONTRA ACÓRDÃO DA TURMA RECURSAL? SIM. O STJ entende possível utilizar
reclamação contra decisão de Turma Recursal quando a decisão proferida:
afrontar jurisprudência do STJ pacificada em recurso repetitivo (art. 543-C do CPC);
violar súmula do STJ;
for teratológica.
O que o STJ decidiu ao julgar a reclamação? O STJ entendeu que a decisão da Turma Recursal era teratológica
e nula por ser “extra petita”. PARA QUE HAJA CONDENAÇÃO POR DANO SOCIAL, É INDISPENSÁVEL QUE HAJA
PEDIDO EXPRESSO, SOB PENA DE VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA DEMANDA, DA INÉRCIA E,
FUNDAMENTALMENTE, DA ADSTRIÇÃO/CONGRUÊNCIA, O QUAL EXIGE A CORRELAÇÃO ENTRE O PEDIDO E O PROVIMENTO
JUDICIAL A SER EXARADO PELO PODER JUDICIÁRIO.
No caso concreto, em uma ação individual houve condenação do réu ao pagamento de indenização por danos
sociais em favor de terceiro estranho à lide, sem que houvesse pedido nesse sentido ou sem que essa questão
fosse levada a juízo por qualquer das partes. Nessa medida, a decisão condenatória extrapolou os limites
objetivos e subjetivos da demanda, uma vez que conferiu provimento jurisdicional diverso daquele requerido
na petição inicial, beneficiando terceiro alheio à relação jurídica processual posta em juízo.
E se o autor tivesse pedido a condenação por danos sociais, seria possível seu deferimento? NÃO. Mesmo que
houvesse pedido de condenação em danos sociais na demanda em exame, o pleito não poderia ter sido
julgado procedente, pois esbarraria na ausência de legitimidade para postulá-lo. Isso porque, NA VISÃO DO STJ,
A CONDENAÇÃO POR DANOS SOCIAIS SOMENTE PODE OCORRER EM DEMANDAS COLETIVAS E, PORTANTO, APENAS OS
LEGITIMADOS PARA A PROPOSITURA DE AÇÕES COLETIVAS PODERIAM PLEITEAR DANOS SOCIAIS. EM SUMA, NÃO É POSSÍVEL
DISCUTIR DANOS SOCIAIS EM AÇÃO INDIVIDUAL.
Prazo prescricional da ação de indenização proposta contra pessoa jurídica de direito privado prestadora de
serviço público
É de 5 anos o prazo prescricional para que a vítima de um acidente de trânsito proponha ação de
indenização contra concessionária de serviço público de transporte coletivo (empresa de ônibus). O
fundamento legal para esse prazo está no art. 1º-C da Lei 9.494/97 e também no art. 14 c/c art. 27, do CDC.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.277.724-PR, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 26/5/2015 (Info 563).
DIVÓRCIO
ADOÇÃO DE MAIORES
A ADOÇÃO DE PESSOA MAIOR DE IDADE NÃO PRECISA DO CONSENTIMENTO DE SEU PAI BIOLÓGICO
Imagine que André foi abandonado, ainda criança, pelo seu pai biológico (João), tendo sido criado por Bento,
quem considera seu verdadeiro pai.
Quando André atinge a maioridade, Bento ajuíza ação para adotar o rapaz.
João (pai biológico) apresenta contestação, não concordando com a adoção, e invocando o caput do art. 45 do
ECA: “A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do adotando.”
O simples fato de o pai biológico não concordar com a adoção de seu filho maior de 18 anos é motivo
suficiente para impedir que ela aconteça? Aplica-se ao caso o caput do art. 45 do ECA? NÃO. ESTABELECIDA
UMA RELAÇÃO JURÍDICA PATERNO-FILIAL (VÍNCULO AFETIVO) ENTRE O ADOTANTE E O ADOTANDO, A ADOÇÃO DE PESSOA
MAIOR NÃO PODE SER REFUTADA PELO PAI BIOLÓGICO QUE ABANDONOU O FILHO, A MENOS QUE ELE APRESENTE UMA
JUSTA CAUSA.
A ADOÇÃO DE PESSOAS MAIORES DE 18 ANOS É REGIDA PELO ECA. No entanto, no caso, NÃO SE APLICA
A EXIGÊNCIA DO CAPUT DO ART. 45 DO ECA PORQUE O § 1º DO MESMO ARTIGO AFIRMA QUE ESSE CONSENTIME
NTO DO PAI É DISPENSADO CASO ELE TENHA SIDO DESTITUÍDO DO PODER FAMILIAR. O poder familiar
termina quando o filho atinge a maioridade. Logo, sendo André maior que 18 anos, João não mais tem poder
familiar sobre ele, não sendo necessário seu consentimento para a adoção. STJ. 3ª Turma. REsp 1.444.747-DF,
Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 17/3/2015 (Info 558).
Assim, sendo possível ao filho maior buscar suas origens biológicas, partindo-se de uma interpretação
teleológica desse dispositivo, é possível reconhecer também o direito de afastá-las por definitivo, por meio de
adoção quando ele atingir a maioridade.
BEM DE FAMÍLIA
SIM. É legítima a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação. Isso porque o
art. 3º, VII, da Lei 8.009/90 afirma que a impenhorabilidade do bem de família não se aplica no caso de dívidas
do fiador decorrentes do contrato de locação. O STF DECIDIU QUE ESSE DISPOSITIVO É
CONSTITUCIONAL E NÃO VIOLA O DIREITO À MORADIA. STJ. 2ª Seção. REsp 1.363.368-MS, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/11/2014 (recurso repetitivo) (Info 552).
CONTRATOS
AÇÃO REVISIONAL POR CONTA DA DESVALORIZAÇÃO DO REAL FRENTE AO DÓLAR EM CONTRATO CELEBRADO EM MOEDA
ESTRANGEIRA
Determinado médico importou um equipamento para utilizar em sua atividade profissional. A aquisição foi
feita por meio de um financiamento celebrado em moeda estrangeira (dólar). Na época, o valor do dólar e do
real eram muito próximos, sendo a conversão próxima de 1 real para cada 1 dólar. Ocorre que, em janeiro
1999, ocorreu na economia brasileira uma grande desvalorização do real e o dólar passou a valer cerca de 2
reais.
NO CASO CONCRETO, O MÉDICO PODE SER CONSIDERADO CONSUMIDOR?
NÃO. Não há relação de consumo entre o fornecedor de equipamento médico-hospitatar e o médico que
firmam contrato de compra e venda de equipamento de ultrassom com cláusula de reserva de domínio e de
indexação ao dólar americano, na hipótese em que o profissional de saúde tenha adquirido o objeto do
contrato para o desempenho de sua atividade econômica.
Fundamento: Com efeito, consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza, como destinatário final, produto ou
serviço oriundo de um fornecedor. Assim, segundo a teoria subjetiva ou finalista, adotada pelo STJ, destinatário final é aquele que
ultima a atividade econômica, ou seja, que retira de circulação do mercado o bem ou o serviço para consumi-lo, suprindo uma
necessidade ou satisfação própria. Por isso, fala-se em destinatário final econômico (e não apenas fático) do bem ou serviço, haja vista
que não basta ao consumidor ser adquirente ou usuário, mas deve haver o rompimento da cadeia econômica com o uso pessoal a
impedir, portanto, a reutilização dele no processo produtivo, seja na revenda, no uso profissional, na transformação por meio de
beneficiamento ou montagem ou em outra forma indireta. Desse modo, a relação de consumo (consumidor final) não pode ser
confundida com relação de insumo (consumidor intermediário).
Na hipótese em foco, não se pode entender que a aquisição do equipamento de ultrassom, utilizado na atividade profissional do
médico, tenha ocorrido sob o amparo do CDC.
Obs: imagino que muitos de vocês devem estar pensando: não seria o caso de aplicar a teoria finalista mitigada? Penso que sim,
contudo, nenhum dos votos sequer aventou essa possibilidade. Assim, nas provas de concurso, caso seja cobrada uma situação
semelhante à narrada acima, responda exatamente o que foi decidido, ou seja, que não há relação de consumo porque o equipamento
foi adquirido pelo médico para o desempenho de sua atividade econômica.
É POSSÍVEL A APLICAÇÃO DA TEORIA DA BASE OBJETIVA NA PRESENTE SITUAÇÃO?
NÃO. A teoria da base objetiva ou da base do negócio jurídico TEM SUA APLICAÇÃO RESTRITA ÀS RELAÇÕES JURÍDICAS
DE CONSUMO, NÃO SENDO APLICÁVEL ÀS CONTRATUAIS PURAMENTE CIVIS.
É POSSÍVEL ACOLHER O PEDIDO DO MÉDICO PARA A REVISÃO DO CONTRATO COM BASE NA TEORIA DA IMPREVISÃO E DA
ONEROSIDADE EXCESSIVA?
NÃO. Tratando-se de relação contratual paritária – a qual não é regida pelas normas consumeristas -, a
MAXIDESVALORIZAÇÃO DO REAL EM FACE DO DÓLAR AMERICANO OCORRIDA A PARTIR DE JANEIRO DE 1999 NÃO AUTORIZA A
APLICAÇÃO DA TEORIA DA IMPREVISÃO OU DA TEORIA DA ONEROSIDADE EXCESSIVA, com intuito de promover a revisão
de cláusula de indexação ao dólar americano.
O histórico econômico do Brasil já indicava que seria possível que ocorresse uma desvalorização do real frente
ao dólar, não sendo possível, portanto, falar que isso era um fato imprevisível ou extraordinário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.321.614-SP, Rel. originário Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 16/12/2014 (Info 556).
O que é a teoria da base objetiva?
O CDC, ao contrário do CC-2002, não adotou a teoria da imprevisão, mas sim uma outra teoria chamada de
teoria do rompimento da base objetiva do negócio jurídico, inspirada na doutrina alemã, muito bem
desenvolvida por Karl Larenz.
Pela teoria da base objetiva, haverá revisão do contrato se um fato superveniente alterou as bases objetivas
do ajuste, ou seja, o ambiente econômico inicialmente presente. Não interessa se este fato era previsível ou
imprevisível.
Conforme lição do Professor Leonardo Garcia, podemos fazer as seguintes comparações entre as duas teorias
(Direito do Consumidor. Código Comentado e Jurisprudência. 3ª ed., Niterói: Impetus, 2007, p. 39):
TEORIA DA IMPREVISÃO TEORIA DA BASE OBJETIVA DO NEGÓCIO JURÍDICO
SURGIDA NA FRANÇA, no pós 1ª Guerra. SURGIDA NA ALEMANHA, também no pós 1ª
Guerra.
É uma TEORIA SUBJETIVA. É uma TEORIA OBJETIVA.
Prevista nos ARTS. 317 E 478 DO CC. Prevista no art. 6º, V do CDC.
Exige a IMPREVISIBILIDADE e a DISPENSA A IMPREVISIBILIDADE e o
EXTRAORDINARIEDADE DO FATO SUPERVENIENTE. caráter extraordinário dos fatos supervenientes.
SOMENTE EXIGE UM FATO SUPERVENIENTE QUE
ROMPA A BASE OBJETIVA.
Exige a EXTREMA VANTAGEM PARA O CREDOR. NÃO EXIGE ESTA CONDIÇÃO.
CONTRATO DE CORRETAGEM
DIREITOS REAIS
NÃO. O STJ entendeu que o terceiro que explorou clandestinamente área objeto de outorga para pesquisa
de viabilidade de lavra de minérios deve sim indenizar o particular que possuía o direito de pesquisa e de lavra.
Ainda que a União seja a proprietária exclusiva das reservas minerais existentes no solo e subsolo, ao
concessionário particular (mineradora) é garantida a propriedade do produto de sua exploração, fazendo
emergir da nossa ordem constitucional o princípio do livre acesso aos recursos minerais. A fim de ordenar o
livre acesso aos recursos minerais, o Código de Mineração utiliza-se do direito de prioridade, e, por
consequência, assegura ao pesquisador, de forma exclusiva, a futura exploração da reserva pesquisada, bem
como a possibilidade de eventual negociação desse direito. Terceiro que explora, clandestina e ilicitamente, a
reserva pesquisada, atenta contra o direito de prioridade e causa dano direto ao legítimo pesquisador,
devendo, pois, ressarcir-lhe integralmente o prejuízo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.471.571-RO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/2/2015 (Info 556).
EFICÁCIA SUBJETIVA DA COISA JULGADA DE AÇÃO REINTEGRATÓRIA PROFERIDA EM PROCESSO NO QUAL O POSSUIDOR DE BOA-FÉ
NÃO PARTICIPOU
Fernando vendeu um imóvel para Pedro. Este, por sua vez, alienou o bem para João.
Ocorre que Pedro não pagou Fernando, razão pela qual este propôs ação de rescisão contratual cumulada com
reintegração de posse unicamente contra Pedro.
A sentença foi procedente, determinado a rescisão da venda feita para Pedro e determinado que ele
devolvesse a posse do imóvel para Fernando.
Sucede que Pedro não mais reside no imóvel. Quem está na posse do imóvel é João, que assumiu o local antes
de a ação de reintegração ser proposta.
Os efeitos da sentença de reintegração de posse estendem-se a João (terceiro de boa-fé)?
NÃO. Não está sujeito aos efeitos de decisão reintegratória de posse proferida em processo do qual não
participou o terceiro de boa-fé que, antes da citação, adquirira do réu o imóvel objeto do litígio.
Em regra, A SENTENÇA FAZ COISA JULGADA SOMENTE PARA AS PARTES DO PROCESSO, não beneficiando
nem prejudicando terceiros (art. 472 do CPC 1973; art. 506 do CPC 2015). Também não é caso de aplicar o art.
42, § 3º do CPC 1973 (art. 109, § 3º do CPC 2015) porque João (terceiro) adquiriu o imóvel ANTES da ação
proposta pelo autor. No momento em que ele comprou a coisa, esta ainda não era litigiosa, ou se seja, ainda
não havia nenhuma demanda judicial disputando este bem. O BEM OU DIREITO SOMENTE SE TORNA LITIGIOSO COM
A LITISPENDÊNCIA, OU SEJA, COM A LIDE PENDENTE. A lide é considerada pendente, para o autor, com a propositura
da ação, enquanto que, para o réu, com a citação válida (art. 219 do CPC 1973) (art. 240 do CPC 2015). Se o
bem é adquirido por terceiro de boa-fé antes de configurada a litigiosidade, não há
falar em extensão dos efeitos da coisa julgada ao adquirente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.458.741-GO, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 14/4/2015 (Info 560).
SIM. Aos cônjuges é permitido incluir ao seu nome o sobrenome do outro, ainda que após a data da
celebração do casamento. Vale ressaltar, no entanto, que esse acréscimo terá que ser feito por INTERMÉDIO
DA AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE REGISTROS PÚBLICOS, nos termos dos arts. 57 e 109 da Lei de Registros
Públicos (Lei n. 6.015/1973). Assim, NÃO SERÁ POSSÍVEL A ALTERAÇÃO PELA VIA ADMINISTRATIVA, mas somente em
juízo.
STJ. 4ª Turma. REsp 910.094-SC, Rel. Raul Araújo, julgado em 4/9/2012.
9) UNIÃO ESTÁVEL
SE DUAS PESSOAS VIVEM EM UNIÃO ESTÁVEL, É POSSÍVEL INCLUIR O PATRONÍMICO DE UM DELES NO NOME DO OUTRO? EX: CARLOS
ANDRADE VIVE EM UNIÃO ESTÁVEL COM JULIANA BARBOSA. É PERMITIDO QUE JULIANA ACRESCENTE O PATRONÍMICO DE SEU
COMPANHEIRO E PASSE A SE CHAMAR “JULIANA BARBOSA ANDRADE”? SIM, também é possível, conforme entendeu o
STJ. Foi aplicado, por analogia, o art. 1.565, § 1º do CC, visto acima, que trata sobre o casamento.
Como a união estável e o casamento são institutos semelhantes, é possível aplicar a regra de um para o outro,
pois “onde impera a mesma razão, deve prevalecer a mesma decisão” (ubi eadem legis ratio ibi eadem
dispositio). STJ. 4ª Turma. REsp 1.206.656–GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/10/2012.
Observação: Exigências para o acréscimo do patronímico do companheiro: Segundo decidiu o STJ, são feitas
duas exigências para que a pessoa possa adotar o patronímico de seu companheiro:
Deverá existir prova documental da relação feita por instrumento público;
Deverá haver a anuência do companheiro cujo nome será adotado.
10) SEPARAÇÃO/DIVÓRCIO
REGRA: NA SEPARAÇÃO E NO DIVÓRCIO O NOME É MANTIDO, salvo se a pessoa que acrescentou o sobrenome de
seu cônjuge desejar retirá-lo.
Exceção: somente haverá A PERDA DO SOBRENOME CONTRA A VONTADE DA PESSOA que acrescentou se
preenchidos os seguintes requisitos:
Houver PEDIDO EXPRESSO DO CÔNJUGE QUE “FORNECEU” O SOBRENOME;
A perda NÃO PODE CAUSAR PREJUÍZO À IDENTIFICAÇÃO DO CÔNJUGE. Ex: Marta Suplicy;
A perda NÃO PODE CAUSAR PREJUÍZO À IDENTIFICAÇÃO DOS FILHOS;
Estar provada CULPA GRAVE POR PARTE DO CÔNJUGE.
DIREITO DE A PESSOA RETIFICAR SEU PATRONÍMICO NO REGISTRO DE NASCIMENTO DE SEU FILHO APÓS DIVÓRCIO
Se a genitora, ao se divorciar, volta a usar seu nome de solteira, É POSSÍVEL QUE O REGISTRO DE NASCIMENTO DOS
FILHOS SEJA RETIFICADO PARA CONSTAR NA FILIAÇÃO O NOME ATUAL DA MÃE.
É DIREITO SUBJETIVO DA PESSOA RETIFICAR SEU PATRONÍMICO NO REGISTRO DE NASCIMENTO DE SEUS FILHOS APÓS
DIVÓRCIO.
A averbação do patronímico no registro de nascimento do filho em decorrência do casamento atrai, à luz do
princípio da simetria, a aplicação da mesma norma à hipótese inversa, qual seja, em decorrência do divórcio,
um dos genitores deixa de utilizar o nome de casado (art. 3º, parágrafo único, da Lei nº 8.560/1992).
Em razão do princípio da segurança jurídica e da necessidade de preservação dos atos jurídicos até então
praticados, o nome de casada não deve ser suprimido dos assentamentos, procedendo-se, tão somente, a
averbação da alteração requerida após o divórcio. STJ. 3ª Turma. REsp 1.279.952-MG, Rel. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, julgado em 3/2/2015 (Info 555).
PATERNIDADE
NÃO. O pai que questiona a paternidade de seu filho registral (não biológico), que ele próprio
registrou conscientemente, está VIOLANDO A BOA-FÉ OBJETIVA, MAIS ESPECIFICAMENTE A REGRA DA
VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM (PROIBIÇÃO DE COMPORTAMENTO CONTRADITÓRIO).
Para que seja possível a anulação do registro é indispensável que fique provado que o pai registrou o
filho enganado (induzido em erro), ou seja, É IMPRESCINDÍVEL QUE TENHA HAVIDO VÍCIO DE
CONSENTIMENTO.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.330.404-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 5/2/2015 (Info 555).
C) O QUE É A CHAMADA “ADOÇÃO À BRASILEIRA”?
“ADOÇÃO À BRASILEIRA” OU “ADOÇÃO À MODA BRASILEIRA”: ocorre quando o homem e/ou a mulher declara, para
fins de registro civil, o menor como sendo seu filho biológico sem que isso seja verdade.
D) POR QUE RECEBE ESSE NOME?
Essa prática é chamada pejorativamente de “adoção à brasileira” porque é como se fosse uma “adoção” feita
sem observar as exigências legais, ou seja, uma adoção feita segundo o “jeitinho brasileiro”. TECNICAMENTE,
CONTUDO, NÃO SE TRATA DE ADOÇÃO, porque NÃO SEGUE O PROCEDIMENTO LEGAL. Consiste, em verdade, em UMA
PERFILHAÇÃO SIMULADA.
D) A “ADOÇÃO À BRASILEIRA” É PERMITIDA?
NÃO. Formalmente, esta CONDUTA É ATÉ MESMO PREVISTA COMO CRIME PELO CÓDIGO PENAL.
Artigo. 242
SIM. O STJ entende que, mesmo que o filho tenha sido acolhido e tenha usufruído de uma relação socioafetiva, nada lhe
retira o direito, em havendo sua insurgência ao tomar conhecimento de sua real história, de ter acesso à sua verdade
biológica que lhe foi usurpada, desde o nascimento até a idade madura. Presente o dissenso, portanto, prevalecerá o
direito ao reconhecimento do vínculo biológico (REsp 833.712/RS).
Dessa forma, A FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA DESENVOLVIDA COM O PAI REGISTRAL NÃO AFASTA O DIREITO DO FILHO DE VER
RECONHECIDA A SUA FILIAÇÃO BIOLÓGICA.
PAI REGISTRAL AJUÍZA AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE E FILHO AJUÍZA AÇÃO INVESTIGATÓRIA DE PATERNIDADE E
NULIDADE DE REGISTRO NULIDADE DE REGISTRO
PARA QUE SEJA JULGADA PROCEDENTE É NECESSÁRIO QUE: A AÇÃO PODERÁ SER JULGADA PROCEDENTE, MESMO QUE
A) ELE TENHA SIDO ENGANADO (INDUZIDO A ERRO) TENHA SIDO CONSTRUÍDA UMA RELAÇÃO SOCIOAFETIVA ENTRE
B) NÃO TENHA SIDO CONSTRUÍDA UMA RELAÇÃO SOCIOAFETIVA ELE E O PAI REGISTRAL
ENTRE ELE E O FILHO APÓS DESCOBRIR QUE NÃO ERA PAI
BIOLÓGICO
FUNDAMENTOS: PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DO MENOR FUNDAMENTOS: DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E
E BOA-FÉ OBJETIVA (VEDAÇÃO AO VENIRE CONTRA FACTUM RECONHECIMENTO DA ANCESTRALIDADE BIOLÓGICA COMO
PROPRIUM) DIREITO DA PERSONALIDADE
E) QUADRO-RESUMO: O encerramento irregular das atividades da empresa devedora autoriza, por si só, que se
busque os bens dos sócios para pagar a dívida?
CÓDIGO CIVIL: NÃO
CDC: SIM
LEI AMBIENTAL: SIM
CTN: SIM
DIREITO AUTORAL
O titular dos DIREITOS AUTORAIS sobre essas fotos será o FOTÓGRAFO (e não a modelo).
Em se tratando de fotografia, para efeitos de proteção do direito autoral, o autor – e, portanto, o titular do
direito autoral – é o fotógrafo (e não o fotografado). O fotógrafo, detentor da técnica e da inspiração, é quem
coordena os demais elementos complementares ao retrato do objeto – como iluminação – e capta a
oportunidade do momento e o transforma em criação intelectual, digna, portanto, de tutela como
manifestação de cunho artístico.
A PESSOA FOTOGRAFADA terá PROTEÇÃO JURÍDICA, MAS COM BASE NO DIREITO DE IMAGEM (e
não no direito autoral). Desse modo, a PROTEÇÃO DO FOTOGRAFADO É FEITA COM FUNDAMENTO NO ART. 20 DO
CÓDIGO CIVIL (e não com base na Lei 9.610/98).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.322.704-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 23/10/2014 (Info 554).
VÍCIO REDIBITÓRIO
O PRAZO DECADENCIAL PARA O EXERCÍCIO DA PRETENSÃO REDIBITÓRIA OU DE ABATIMENTO DO PREÇO DE BEM MÓVEL É DE
30 DIAS (ART. 445 DO CC).
No caso de VÍCIO OCULTO EM COISA MÓVEL, o adquirente tem o PRAZO MÁXIMO DE 180 DIAS PARA PERCEBER O
VÍCIO (§ 1º do art. 445) e, se o notar neste período, TEM O PRAZO DE DECADÊNCIA DE 30 DIAS (A PARTIR DA
VERIFICAÇÃO DO VÍCIO) PARA AJUIZAR A AÇÃO REDIBITÓRIA.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.095.882-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 9/12/2014 (Info 554).
A análise acerca da legalidade da utilização da Tabela Price - mesmo que em abstrato - passa,
necessariamente, pela constatação da eventual capitalização de juros (ou incidência de juros compostos,
juros sobre juros ou anatocismo), que é questão de fato e não de direito, motivo pelo qual não cabe ao STJ
tal apreciação (Súmulas 5 e 7 do STJ).
É exatamente por isso que, em contratos cuja capitalização de juros seja vedada, é necessária a interpretação
de cláusulas contratuais e a produção de prova técnica para aferir a existência da cobrança de juros não
lineares, incompatíveis, portanto, com financiamentos celebrados no âmbito do Sistema Financeiro da
Habitação antes da vigência da Lei 11.977⁄2009, que acrescentou o art. 15-A à Lei n. 4.380⁄1964.
EM SE VERIFICANDO QUE MATÉRIAS DE FATO OU EMINENTEMENTE TÉCNICAS FORAM TRATADAS COMO EXCLUSIVAMENTE DE DIREITO,
RECONHECE-SE O CERCEAMENTO, PARA QUE SEJA REALIZADA A PROVA PERICIAL. STJ. Corte Especial. REsp 1.124.552-RS,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Corte Especial, julgado em 3/12/2014 (recurso repetitivo) (Info 554).
INFORMATIVO 552, STJ - MP TEM LEGITIMIDADE PARA AJUIZAR ACP EM DEFESA DE MUTUÁRIOS DO SFH.
O Ministério Público tem legitimidade ad causam para propor ação civil pública com a finalidade de defender
interesses coletivos e individuais homogêneos dos mutuários do Sistema Financeiro da Habitação. O STJ
entende que os temas relacionados com SFH possuem uma expressão para a coletividade e o interesse em
discussão é socialmente relevante. STJ. 3ª Turma. REsp 1.114.035-PR, Rel. originário Min. Sidnei Beneti, Rel.
para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 7/10/2014 (Info 552).
INFORMATIVO 552, STJ - A UTILIZAÇÃO DO SISTEMA DE AMORTIZAÇÃO EM SÉRIE GRADIENTE EM CONTRATOS DO SISTEMA
FINANCEIRO DA HABITAÇÃO (SFH) NÃO É INCOMPATÍVEL COM O PLANO DE EQUIVALÊNCIA SALARIAL (PES).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.114.035-PR, Rel. originário Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão Min. João Otávio de
Noronha, julgado em 7/10/2014 (Info 552).
- O Sistema de Amortização em Série Gradiente (“Tabela Gradiente”) é uma forma utilizada para calcular as
amortizações dos pagamentos efetuados pelos mutuários nos saldos devedores.
-Plano de Equivalência Salarial (PES) é uma forma de reajuste do encargo mensal dos contratos de
financiamento do SFH, estando disciplinado pela Lei n. 8.692/93. Com o PES, a prestação e os acessórios são
reajustados em função da data base da categoria profissional do mutuário.
INFORMATIVO 552, STJ - POSSIBILIDADE DE PURGAÇÃO DA MORA MESMO APÓS A CONSOLIDAÇÃO DA PROPRIEDADE EM NOME
DO CREDOR FIDUCIÁRIO.
Na alienação fiduciária de bem imóvel, é possível que ocorra a purgação da mora mesmo após já ter
havido a consolidação da propriedade em nome do credor? Até que momento é possível a purgação? SIM.
MESMO QUE JÁ CONSOLIDADA A PROPRIEDADE DO IMÓVEL DADO EM GARANTIA EM NOME DO CREDOR FIDUCIÁRIO, É
Nos contratos de alienação fiduciária de bem imóvel (regido pela Lei 9.514/97) aplica, subsidiariamente, o
Decreto-Lei 70/1966, que prevê o seguinte que “é lícito ao devedor, a qualquer momento, até a assinatura do
auto de arrematação, purgar o débito”.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.462.210-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 18/11/2014 (Info 552).
- O STJ decidiu que é NULA A NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL REALIZADA COM O FIM DE CONSTITUIR EM MORA O
DEVEDOR FIDUCIANTE DE IMÓVEL, quando NA REFERIDA COMUNICAÇÃO CONSTAR NOME DIVERSO DO REAL CREDOR
FIDUCIÁRIO. A notificação em questão produz severas consequências para o devedor, de forma que qualquer
vício em seu conteúdo É HÁBIL A TORNAR NULOS SEUS EFEITOS, PRINCIPALMENTE QUANDO SE TRATA DE ERRO CRASSO,
COMO O QUE HÁ NA TROCA DA PESSOA NOTIFICANTE. STJ. 4ª Turma. REsp 1.172.025-PR, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 7/10/2014 (Info 550).
- Decorrido o prazo de 15 dias sem a purgação da mora, o oficial do Registro de Imóveis certificará esse fato e
promoverá a averbação, na matrícula do imóvel, da consolidação da propriedade em nome do fiduciário
(credor) (§ 7º do art. 26). Em outras palavras, o credor passa a ser o proprietário pleno do imóvel.
- Após ser consolidada a propriedade em nome do fiduciário (credor), este terá o prazo de 30 dias, contados
da data do registro, para promover leilão público para a alienação do imóvel (art. 27, caput). Depois de o bem
ter sido alienado, é lavrado um auto de arrematação.
CONTRATO DE SEGURO
INFORMATIVO 553, STJ - VIA ADEQUADA PARA COBRANÇA DE INDENIZAÇÃO FUNDADA EM CONTRATO DE SEGURO DE
AUTOMÓVEL.
A via adequada para cobrar A INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA FUNDADA EM CONTRATO DE SEGURO DE AUTOMÓVEL É A
AÇÃO DE CONHECIMENTO SOB O RITO SUMÁRIO (e NÃO A AÇÃO EXECUTIVA). Não é possível propor diretamente a
execução nesse caso PORQUE O CONTRATO DE SEGURO DE AUTOMÓVEL NÃO SE ENQUADRA COMO TÍTULO EXECUTIVO
EXTRAJUDICIAL (art. 585 do CPC). Por outro lado, os CONTRATOS DE SEGURO DE VIDA, por serem
dotados de liquidez, certeza e exigibilidade, são TÍTULOS EXECUTIVOS EXTRAJUDICIAIS (art. 585, III), podendo
ser COBRADOS POR MEIO DE AÇÃO DE EXECUÇÃO. STJ. 3ª Turma. REsp 1.416.786-PR, Rel. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, julgado em 2/12/2014 (Info 553).
-Obs.: Os contratos de seguro de VIDA, por serem dotados de liquidez, certeza e exigibilidade, são títulos
executivos extrajudiciais (art. 585, II, CPC).
A cláusula de contrato de seguro de vida que estabelece o aumento do prêmio do seguro de acordo com a
faixa etária mostra-se abusiva quando imposta ao segurado maior de 60 anos de idade e que conte com mais
de 10 anos de vínculo contratual.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.376.550-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 28/4/2015 (Info 561).
Suicídio premeditado
No seguro de vida, se o segurado se suicidar, a seguradora continua tendo obrigação de pagar a indenização?
Se o suicídio ocorreu ANTES dos dois primeiros anos do contrato: NÃO.
O beneficiário não terá direito ao capital estipulado quando o segurado se suicida nos primeiros dois
anos de vigência inicial do contrato ou nos dois primeiros anos depois de o contrato ter sido
reiniciado (recondução) depois de um tempo suspenso (art. 798 do CC). Obs: o beneficiário não terá
direito à indenização, mas receberá o valor da reserva técnica já formada, ou seja, terá direito à
quantia que o segurado pagou a título de prêmio para a seguradora. A seguradora será obrigada a
devolver ao beneficiário o montante da reserva técnica já formada mesmo que fique provado que o
segurado premeditou o suicídio.
Se o suicídio ocorreu DEPOIS dos dois primeiros anos do contrato: SIM.
Se o suicídio ocorrer depois dos dois primeiros anos do contrato, será devida a indenização ainda que
exista cláusula expressa em contrário.
Obs: é nula a cláusula contratual que exclua a indenização da seguradora em caso de suicídio
ocorrido depois dos dois primeiros anos do contrato (art. 798, parágrafo único). Assim, se o suicídio
ocorre depois dos dois primeiros anos, é devida a indenização ainda que exista cláusula expressa
dizendo que a seguradora não deve indenizar.
Atenção: estão SUPERADAS a Súmula 105 do STF, a Súmula 61 do STJ e o Enunciado 187 da
Jornada de Direito Civil.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.334.005-GO, Rel. originário Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min.
Maria Isabel Gallotti, julgado em 8/4/2015 (Info 564).
Terceiro prejudicado não pode ajuizar a ação de indenização apenas contra a seguradora do causador do
dano
Súmula 529-STJ: No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo
terceiro prejudicado direta e exclusivamente em face da seguradora do apontado causador do dano.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 13/05/2015, DJe 18/05/2015.
Quais os principais argumentos utilizados pelo STJ para chegar à conclusão exposta na súmula:
A obrigação da seguradora de ressarcir os danos sofridos por terceiros pressupõe a responsabilidade
civil do segurado. Em outras palavras, a seguradora só paga o terceiro prejudicado se o segurado teve
“culpa” pelo acidente. Como regra, não se pode reconhecer a responsabilidade civil do segurado
em um processo judicial sem que ele tenha participado, sob pena de ofensa ao devido processo
legal e à ampla defesa.
A obrigação da seguradora está sujeita a condição suspensiva, que não se implementa pelo
simples fato de ter ocorrido o sinistro, mas somente pela verificação da eventual obrigação civil do
segurado.
O seguro de responsabilidade civil facultativo não é espécie de estipulação a favor de terceiro alheio
ao negócio. O indivíduo que faz o seguro de veículos não contrata a seguradora para pagar uma
indenização em favor de terceiros. O segurado contrata a seguradora para que esta cubra os prejuízos
que ele, segurado, for obrigado a pagar. Assim, diz-se que quem sofre o prejuízo é o causador do dano
e este prejuízo é “garantido” (pago) pela seguradora.
O ajuizamento direto e exclusivamente contra a seguradora ofende os princípios do contraditório e da
ampla defesa, pois a ré (seguradora) não teria como defender-se dos fatos expostos na inicial,
especialmente no que tange à descrição e aos detalhes do sinistro (acidente).
O ajuizamento direto e exclusivamente contra a seguradora inviabiliza, também, que a seguradora
possa discutir no processo eventuais fatos extintivos da cobertura securitária, pois, a depender das
circunstâncias em que o segurado se envolveu no sinistro, poderia a seguradora eximir-se da
obrigação contratualmente assumida. É o caso, por exemplo, do contrato de seguro que diz que se o
segurado estava embriagado a seguradora se isenta da obrigação contratual. Se o segurado não está
na lide, tais discussões não poderão ser suscitadas pela seguradora.
Essa é a explicação da súmula. Se você queria entendê-la, até aqui está bom. No entanto, abaixo vou
aprofundar um pouco mais o tema com dois tópicos importantes.
ASTREINTES
A depender do caso concreto, o valor de multa cominatória pode ser exigido em montante superior ao da
obrigação principal.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.352.426-GO, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 5/5/2015 (Info 562).
Em suma, deve-se ter em conta o valor da multa diária inicialmente fixada e não o montante total alcançado
em razão da demora no cumprimento da decisão. Portanto, a fim de desestimular a conduta recalcitrante do
devedor em cumprir decisão judicial, é possível se exigir valor de multa cominatória superior ao montante da
obrigação principal.
JULGAMENTO PARCIAL
Ex: João ajuizou ação de indenização contra determinada empresa pedindo a condenação da ré ao pagamento
de R$ 100 mil a título de danos emergentes e R$ 200 mil por lucros cessantes.
A empresa apresentou contestação e pediu a realização de perícia para aferir se realmente houve lucros
cessantes e qual seria o seu valor exato. Não foi pedida a realização de instrução probatória no que tange aos
danos emergentes. Sendo permitida sentença parcial de mérito, o juiz poderá cindir o feito e julgar desde logo
o pedido dos danos emergentes, determinando o prosseguimento do feito quanto ao pedido de lucros
cessantes.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.281.978-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 5/5/2015 (Info 562).
Obs1: vários doutrinadores de peso defendem que, mesmo no CPC 1973, a decisão parcial de mérito já seria
admitida com base no art. 273, § 6º. Eles sustentem que o § 6º do art. 273 do CPC não é, propriamente, tutela
antecipada, mas sim uma hipótese de julgamento antecipado parcial da lide. Nesse sentido: Fredie Didier
Júnior, Cássio Scarpinella Bueno, Daniel Mitidiero, Leonardo José Carneiro da Cunha e Joel Dias Figueira
Júnior. Essa corrente, contudo, não foi adotada pelo STJ. Para a Corte, a decisão a que se refere o § 6º do art.
273 do CPC, apesar de ser concedida mediante técnica de cognição exauriente, continua sendo, por opção
legislativa, uma hipótese de tutela antecipada. Sobre o tema, confira o REsp 1.234.887-RJ, Rel. Min. Ricardo
Villas Bôas Cueva, julgado em 19/9/2013, explicado no Info 532. Desse modo, a mudança do CPC possui sim
importantes reflexos práticos.
Obs2: se o juiz proferiu julgamento parcial de mérito na vigência do CPC 1973, tal decisão é equivocada e
deverá ser anulada, ainda que analisada após a entrada em vigor do CPC 2015. A entrada em vigor do novo
CPC não convalida a decisão parcial de mérito eventualmente prolatada no sistema anterior. Isso porque
incide o princípio do tempus regit actum.
DPVAT
Prazo prescricional para cobrança ou complementação de valor do seguro DPVAT (obs: nem todos os
concursos cobram esse tema; verifique seu edital para não estudar matérias desnecessárias)
Qual é o prazo que o beneficiário possui para ajuizar ação cobrando da seguradora a indenização do DPVAT
que não lhe foi paga? Qual é o termo inicial? A ação de cobrança do seguro obrigatório DPVAT prescreve em 3
anos (Súmula 405-STJ e art. 206, § 3º, IX, do CC). O termo inicial do prazo prescricional é a data em que o
segurado teve ciência inequívoca do caráter permanente da invalidez ou da morte.
E se o beneficiário recebeu apenas uma parte do seguro, mas não concorda com o valor e quer o pagamento
do restante? Ex: sofreu invalidez permanente, recebeu R$ 10 mil, mas acha que tem direito a R$ 13.500,00.
Qual é o prazo neste caso? O prazo de prescrição para o recebimento da complementação do seguro DPVAT
também é trienal. Não há motivo para que o prazo da ação pedindo o complemento seja diferente daquele
previsto para que se pleiteie o todo. O prazo prescricional começa no dia que foi realizado o pagamento
administrativo que o beneficiário considera que tenha sido menor que o devido. Em suma, a pretensão de
cobrança e a pretensão a diferenças de valores do seguro DPVAT prescrevem em três anos, sendo o termo
inicial, no último caso, o pagamento administrativo considerado a menor. STJ. 2ª Seção. REsp 1.418.347-MG,
Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 8/4/2015 (recurso
Cessão de crédito relativo ao seguro DPVAT
A incidência de atualização monetária nas indenizações por morte ou invalidez do seguro DPVAT, prevista no
§ 7º do art. 5º da Lei 6194/74, redação dada pela Lei 11.482/2007, opera- se desde a data do evento danoso.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.483.620-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 27/5/2015 (Info 563).
João faleceu em um acidente de trânsito, deixando esposa e filhos. Foi aberto inventário, tendo sido nomeado
seu irmão como inventariante. O espólio de João ajuizou ação cobrando o pagamento da indenização do
DVPAT. Agiu corretamente o espólio de João? O espólio do morto poderá cobrar a indenização do DPVAT?
NÃO. O espólio, ainda que representado pelo inventariante, não possui legitimidade ativa para ajuizar ação de
cobrança do seguro obrigatório (DPVAT) em caso de morte da vítima no acidente de trânsito.
Segundo a Lei do DPVAT, o valor indenizatório deve ser pago metade ao cônjuge não separado judicialmente
e o restante aos herdeiros da vítima, segundo a ordem de vocação hereditária (art. 4º da Lei 6.194/1974).
Desse modo, depreende-se que o valor oriundo do DPVAT não integra o patrimônio da vítima de acidente de
trânsito. Em outras palavras, o valor da indenização não é um crédito da vítima falecida. Não integra o
patrimônio deixado pelo morto.
O valor da indenização do DPVAT, em caso de morte, passa diretamente para os beneficiários (cônjuge
supérstite e demais herdeiros).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.419.814-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 23/6/2015 (Info 565).
FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA
INFORMATIVO 552, STJ - NECESSIDADE DE INSTRUÇÃO PROBATÓRIA PARA COMPROVAR A FILIAÇÃO SOCIOATIVA
Maria e Francisca eram um casal homoafetivo. Maria registrou Carla como sua filha, sendo a criança criada
por Maria e Francisca durante vários anos, como uma família. Na época em que Carla nasceu, a união
homoafetiva não era protegida pelo Direito brasileiro, razão pela qual em seu registro de nascimento
constava apenas o nome de Maria como sendo sua mãe, não havendo qualquer referência a Francisca. Apesar
disso, para Carla, ela sempre teve duas mães, Maria e Francisca, que exerciam na prática esse papel. Passados
mais alguns anos, Maria e Francisca romperam a união que mantinham e Francisca casou-se com Ricardo.
Quando Francisca faleceu, Carla ingressou com ação judicial pedindo que fosse reconhecido que a falecida foi
sua mãe socioafetiva, de forma que constasse em seu registro civil duas mães: Maria e Francisca. O juiz
afirmou que não havia necessidade de produzir prova em audiência e, portanto, fez o julgamento antecipado
da lide, nos termos do art. 330, I, do CPC. Na sentença, o magistrado julgou improcedente o pedido da autora
alegando que não ficou demonstrado nos autos que a suposta mãe socioafetiva teve, efetivamente, a
pretensão de “adotar” a requerente em conjunto com a mãe registral. PARA O STJ, O MAGISTRADO COMETEU
UM ERRO PROCESSUAL, POIS NÃO ERA POSSÍVEL, NO CASO CONCRETO, JULGAR IMPROCEDENTE O PEDIDO DE
RECONHECIMENTO POST MORTEM DA MATERNIDADE SOCIOAFETIVA SEM QUE HOUVESSE SIDO PERMITIDA A REALIZAÇÃO
DE INSTRUÇÃO PROBATÓRIA. Em outras palavras, NÃO ERA HIPÓTESE DE JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE
(ART. 330, I, DO CPC). O magistrado, ao não permitir que a autora demonstrasse os fatos alegados,
promoveu cerceamento de defesa. Vale ressaltar que o pleito da autora para ter “dupla maternidade” é um
pedido juridicamente possível. STJ. 3ª Turma. REsp 1.328.380-MS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado
em 21/10/2014 (Info 552).
- Para que seja reconhecida a filiação socioafetiva, é necessário que fiquem demonstradas duas circunstâncias
bem definidas:
A) VONTADE CLARA E INEQUÍVOCA DO APONTADO PAI OU MÃE SOCIOAFETIVO DE SER RECONHECIDO(A), VOLUNTÁRIA E
JURIDICAMENTE COMO TAL (DEMONSTRAÇÃO DE CARINHO, AFETO, AMOR); E
B) CONFIGURAÇÃO DA DENOMINADA “POSSE DE ESTADO DE FILHO”, COMPREENDIDO PELA DOUTRINA COMO A PRESENÇA (NÃO
CONCOMITANTE) DE TRACTATUS (TRATAMENTO, DE PARTE À PARTE, COMO PAI/MÃE E FILHO); NOMEN (A PESSOA TRAZ
CONSIGO O NOME DO APONTADO PAI/MÃE); E FAMA (RECONHECIMENTO PELA FAMÍLIA E PELA COMUNIDADE DE RELAÇÃO DE
FILIAÇÃO), QUE NATURALMENTE DEVE APRESENTAR-SE DE FORMA SÓLIDA E DURADOURA.
Assim, tais requisitos precisam ser provados nos autos, o que pode ser feito por qualquer meio idôneo e
NÃO SE PODE SUBTRAIR DA PARTE A OPORTUNIDADE DE COMPROVAR
legítimo de prova.
SUAS ALEGAÇÕES.
INTERDIÇÃO
INFORMATIVO 553, STJ - DESNECESSIDADE DE NOMEAÇÃO DE CURADOR ESPECIAL SE A INTERDIÇÃO NÃO FOI PROPOSTA PELO
MP.
Importante!!! A curatela é um encargo (múnus) imposto a um indivíduo (chamado de “curador”) por meio do
qual ele assume o compromisso judicial de cuidar de uma pessoa (“curatelado”) que, apesar de ser maior de
idade, possui uma incapacidade prevista no art. 1.767 do CC. Para que a curatela seja instituída, é necessária a
instauração de um processo judicial por meio de uma ação de interdição.
É necessário que o juiz nomeie curador especial ao interditando?
• SE A AÇÃO DE INTERDIÇÃO FOR PROPOSTA PELO MP: SIM. O juiz deverá nomear curador à lide (curador
especial), nos termos do art. 1.179 do CPC.
- Obs.: NÃO CONFUNDIR O CURADOR DO INTERDITANDO, que é nomeado ao final, caso a ação seja julgada
procedente (art. 1.183, parágrafo único do CPC), com O CURADOR À LIDE (curador especial), que é
designado logo no início da ação (art. 1.179). Apesar do nome ser parecido, são figuras completamente
diferentes. O CURADOR À LIDE É UM INSTITUTO PROCESSUAL, que SÓ EXISTE ENQUANTO PERDURAR O
PROCESSO. O CURADOR DO INTERDITANDO É UMA FIGURA DE DIREITO MATERIAL, que VAI SURGIR CASO A
AÇÃO DE INTERDIÇÃO SEJA JULGADA PROCEDENTE.
CONTRATO DE FIANÇA
Pedro faz um contrato de mútuo bancário, ou seja, toma dinheiro emprestado de um banco. João aceita figurar
no contrato como fiador. Depois de algum tempo, João vê que os juros bancários são muito altos e,
preocupado com eventual inadimplência, resolve ingressar, em nome próprio, com uma ação contra o Banco
pedindo a revisão do contrato sob a alegação de que os juros são abusivos e, por isso, merecem ser
reduzidos. João tem legitimidade para propor essa demanda?
NÃO. O fiador de mútuo bancário NÃO tem legitimidade para, exclusivamente e em nome próprio, pleitear
em juízo a revisão e o afastamento de cláusulas e encargos abusivos constantes do contrato principal.
O FIADOR ATÉ POSSUI INTERESSE DE AGIR, mas falta-lhe LEGITIMAÇÃO , já que ele NÃO É TITULAR DO DIREITO
MATERIAL QUE SE PRETENDE TUTELAR EM JUÍZO (não foi ele quem assinou o contrato de mútuo).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.178.616-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 14/4/2015 (Info 560).
É válida a cláusula que prevê a prorrogação automática da fiança em caso de prorrogação do contrato
principal?
SIM. É lícita (e, portanto, válida) cláusula em contrato de mútuo bancário que preveja expressamente que a
fiança prestada prorroga-se automaticamente com a prorrogação do contrato principal.
Em regra, a fiança não se estende além do período de tempo previsto no contrato. Justamente por isso, para
que a fiança seja prorrogada, é preciso a concordância expressa do fiador. Sobre o tema, o STJ editou,
inclusive, um enunciado: Súmula 214-STJ: O fiador na locação não responde por obrigações resultantes de
aditamento ao qual não anuiu.
No entanto, o STJ decidiu que é válido que o contrato preveja uma cláusula dizendo que, em caso de
prorrogação do contrato principal, a fiança (pacto acessório) também será prorrogada. Havendo expressa e
clara previsão contratual da manutenção da fiança, em caso de
prorrogação do contrato principal, o pacto acessório também é prorrogado automaticamente,
seguindo a sorte do principal.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.253.411-CE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/6/2015 (Info 565). STJ. 3ª
Turma. AgRg no AREsp 731.315/RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 03/09/2015.
Observação Final:
Ressalte-se que, no caso concreto acima explicado, a avença principal não envolvia relação contratual
de consumo, pois cuidava-se de mútuo mediante o qual se obteve capital de giro para o exercício de
atividade empresarial. Existe, contudo, um precedente da 4ª Turma aplicando o mesmo
entendimento para os casos de contrato de consumo sob o argumento de que não se trata de cláusula
abusiva (art. 51 do CDC) (STJ. 4ª Turma. REsp 1.374.836-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
3/10/2013. Info 534).
USUCAPIÃO
IMPOSSIBILIDADE DE DECLARAÇÃO DE OFÍCIO DA USUCAPIÃO
Alguns autores afirmam que a USUCAPIÃO também pode ser chamada de prescrição aquisitiva. Assim,
existiriam em nosso ordenamento jurídico, duas formas de prescrição:
• Prescrição extintiva (prescrição propriamente dita).
• Prescrição aquisitiva (usucapião).
O § 5º do art. 219 do CPC 1973 prevê que “o juiz pronunciará, de ofício, a prescrição”.
Essa regra do art. 219, § 5º do CPC 1973 aplica-se apenas para a prescrição extintiva ou também para a
prescrição aquisitiva (usucapião)? O juiz pode reconhecer, de ofício, a usucapião? Ex: Pedro, mesmo sem
ser proprietário, está morando em um imóvel há mais de 20 anos sem ser incomodado por ninguém;
determinado dia, João (que figura no registro de imóveis como proprietário do bem) ajuíza ação de
reintegração de posse; o juiz, mesmo sem que Pedro alegue, poderá declarar que houve usucapião (prescrição
aquisitiva)?
NÃO. O § 5º do art. 219 do CPC 1973 não autoriza a declaração, de ofício, da usucapião. Em outras palavras,
o juiz não pode reconhecer a usucapião a não ser que haja requerimento da parte. Não se aplica o § 5º do art.
219 do CPC 1973 à usucapião.
O disposto no § 5º do art. 219 está intimamente ligado às causas extintivas, conforme expressamente dispõe o
art. 220.
Além disso, a prescrição extintiva e a usucapião são institutos diferentes, sendo inadequada a aplicação da
disciplina de um deles frente ao outro, uma vez que a expressão “prescrição aquisitiva” como sinônima de
usucapião, tem razões mais ligadas a motivos fáticos/históricos.
Essa conclusão acima exposta persiste com o CPC 2015? SIM. Mesmo com o novo CPC, o juiz
continuará sem poder declarar de ofício a usucapião.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.106.809-RS, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão Min. Marco Buzzi,
julgado em 3/3/2015 (Info 560).
Usucapião
Usucapião é...
• um instituto jurídico por meio do qual a pessoa que fica na posse de um bem (móvel ou imóvel)
• por determinados anos
• agindo como se fosse dono
• adquire a propriedade deste bem ou outros direitos reais a ele relacionados (exs: usufruto, servidão)
• desde que cumpridos os requisitos legais.
Fundamento:
O § 5º do art. 219 do CPC 1973 não estabeleceu qualquer distinção em relação à espécie de prescrição. Sendo
assim, num primeiro momento, até se poderia cogitar ser possível ao juiz declarar de ofício a aquisição
mediante usucapião de propriedade. Entretanto, em uma análise mais calma, percebe-se que não se pode
chegar a essa conclusão.
Primeiro, porque o disposto no § 5º do art. 219 está intimamente ligado às causas extintivas, conforme
expressamente dispõe o art. 220.
Segundo, porque a prescrição extintiva e a usucapião são institutos diferentes, sendo inadequada a aplicação
da disciplina de um deles frente ao outro, uma vez que a expressão “prescrição aquisitiva” como sinônima de
usucapião, tem razões mais ligadas a motivos fáticos/históricos do que a contornos meramente temporais.
Essa diferenciação é imprescindível, sob pena de ocasionar insegurança jurídica, além de violação aos
princípios do contraditório e ampla defesa, pois, no processo de usucapião, o direito de defesa assegurado ao
confinante é impostergável, eis que lhe propicia oportunidade de questionar os limites oferecidos ao imóvel
usucapiendo.
Como simples exemplo, se assim fosse, nas ações possessórias o demandante poderia obter um julgamento de
mérito, pela procedência, antes mesmo da citação da outra parte, afinal, o magistrado haveria de reconhecer a
prescrição (na hipótese, a aquisitiva-usucapião) já com a petição inicial, no primeiro momento.
Consequentemente, a outra parte teria eliminada qualquer possibilidade de defesa do seu direito de
propriedade constitucionalmente assegurado, sequer para alegar uma eventual suspensão ou interrupção
daquele lapso prescricional.
Ademais, conforme a doutrina, o juiz, ao sentenciar, não pode fundamentar o decidido em causa não
articulada pelo demandante, ainda que por ela seja possível acolher o pedido do autor. Trata-se de decorrência
do dever de o juiz decidir a lide “nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões, não
suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte” (art. 128 do CPC). Ainda de acordo com a doutrina,
essa vedação, em razão do princípio da igualdade das partes no processo, aplica-se não só ao demandado,
mas, também, ao réu, de sorte que o juiz não poderia reconhecer ex officio de uma exceção material em prol
do réu, como por exemplo, a exceção de usucapião.
COMPRA E VENDA
Importante!!!
A compra e venda de bens IMÓVEIS pode ser feita por meio de contrato particular ou é necessário escritura
pública?
Em regra: é necessário escritura pública (art. 108 do CC).
Exceção: a compra e venda pode ser feita por contrato particular (ou seja, sem escritura pública) se o valor do
bem imóvel alienado for inferior a 30 salários-mínimos.
Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que
visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a
trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.
Para fins do art. 108, deve-se adotar o preço dado pelas partes ou o valor calculado pelo Fisco? O valor
calculado pelo Fisco. O art. 108 do CC fala em valor do imóvel (e não em preço do negócio). Assim, havendo
disparidade entre ambos, é o valor do imóvel calculado pelo Fisco que deve ser levado em conta para verificar
se será necessária ou não a elaboração da escritura pública. A avaliação feita pela Fazenda Pública para fins de
apuração do valor venal do imóvel é baseada em critérios objetivos, previstos em lei, os quais admitem aos
interessados o conhecimento das circunstâncias consideradas na formação do quantum atribuído ao bem.
Logo, trata-se de um critério objetivo e público que evita a ocorrência de fraudes.
Obs: está superado o Enunciado 289 das Jornadas de Direito Civil do CJF.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.099.480-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 2/12/2014 (Info 562).
CONDOMÍNIO DE FATO
As taxas de manutenção criadas por associações de moradores não obrigam os não associados ou que a elas
não anuíram.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.280.871-SP e REsp 1.439.163-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão
Min. Marco Buzzi, julgados em 11/3/2015 (recurso repetitivo) (Info 562)
Condomínio de fato
O custo e a lista de exigências necessárias para se constituir um condomínio edilício é muito grande,
especialmente em se tratando de condomínio de casas, devendo ser observados os ditames da Lei
n. 4.591/64. Em virtude dessa imensa burocracia, se formos pensar em 20 anos atrás, iremos recordar que
havia pouquíssimos condomínios edilícios de casas (na linguagem popular: “condomínios fechados” de casas).
Ou a pessoa morava em um bairro residencial (aberto, sem condomínio) ou, então, em condomínios edilícios
de prédios (chamados de condomínio edilício horizontal).
Ocorre que a violência no país cresceu bastante, o que fez com que as incorporadoras e imobiliárias
passassem a oferecer aos consumidores cada vez mais opções de condomínios edilícios de casas
(condomínios “fechados” de casas), com guarita, vigilantes armados, área de lazer etc. Tais condomínios, no
entanto, são em geral muito caros e inacessíveis a boa parte da população.
A fim de se proteger da violência, os moradores de alguns bairros residenciais começaram a se reunir e a
constituir associações de bairros, recolhendo contribuições dos habitantes daquele conjunto e, com o
dinheiro arrecadado, fizeram cancelas nas ruas, contrataram seguranças particulares e aquilo que era um
bairro residencial, com acesso livre para qualquer pessoa, transformou-se em um “condomínio fechado” de
casas, com acesso restrito por meio de controle de cancela e portaria.
A ideia parece excelente. O problema é que essa “transformação” é feita sem a observância da Lei do
parcelamento do solo urbano (Lei n. 6.766/79), do Estatuto das Cidades (Lei n. 10.257/2001) e do plano
diretor do Município, já que as exigências burocráticas são imensas e praticamente impossíveis de serem
atendidas por um simples grupo de moradores.
Além do que, no condomínio edilício de casas, o incorporador compra um terreno e as ruas ali existentes são
privadas (particulares), enquanto que no “fechamento” de um bairro residencial, as casas são privadas, mas
as ruas são públicas (bens de uso comum do povo), o que torna ainda mais questionável a regularidade desse
“fechamento”.
Tais bairros que se transformam em “condomínios fechados”, por não atenderem a legislação, não existem
juridicamente, sendo por essa razão chamados de “condomínios de fato”.
Diversos Municípios têm combatido essa prática e inúmeras ações civis públicas ajuizadas pelo Ministério
Público têm sido propostas com o objetivo de acabar com esses “condomínios de fato”, retirando as cancelas
e reabrindo o livre acesso às ruas.
CONDOMÍNIO
Súmula 530-STJ: Nos contratos bancários, na impossibilidade de comprovar a taxa de juros efetivamente
contratada - por ausência de pactuação ou pela falta de juntada do instrumento aos autos -, aplica-se a taxa
média de mercado, divulgada pelo Bacen, praticada nas operações da mesma espécie, salvo se a taxa
cobrada for mais vantajosa para o devedor.
JUROS
Capitalização de juros e instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional
Súmula 539-STJ: É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual em contratos
celebrados com instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir de 31/3/2000 (MP 1.963-
17/00, reeditada como MP 2.170-36/01), desde que expressamente pactuada.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 10/06/2015, Dje 15/06/2015.
Súmula 541-STJ: A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da
mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada. STJ. 2ª Seção. Aprovada em
10/06/2015, Dje 15/06/2015.
SUCESSÃO DO CÔNJUGE
Se a pessoa morrer e for casada, o cônjuge terá direito à herança? O cônjuge é herdeiro?
SIM. O cônjuge é herdeiro necessário (art. 1.845 do CC).
O cônjuge será considerado herdeiro necessário mesmo que ele e o falecido fossem casados sob o regime
da separação de bens?
SIM. O cônjuge, qualquer que seja o regime de bens adotado pelo casal, é herdeiro necessário (art. 1.845).
Exceção:
O cônjuge não será herdeiro se, quando houve a morte, o casal estava separado, nos termos do art. 1.830 do
CC:
Art. 1.830. Somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge sobrevivente se, ao tempo da morte do outro, não estavam
separados judicialmente, nem separados de fato há mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se
tornara impossível sem culpa do sobrevivente.
Esqueça a exceção. Voltemos à regra (o casal não estava separado, ou seja, continua junto). O cônjuge irá
herdar se o falecido deixou descendentes?
Depende. Aí termos que analisar o regime de bens. A regra está no art. 1.829, I, do CC: Art. 1.829. A sucessão
legítima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido
no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo
único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens
particulares;
Esse inciso é muito confuso e mal redigido, o que gera bastante polêmica na doutrina e jurisprudência. O que
se pode extrair dele é o seguinte: o cônjuge é herdeiro necessário, mas há situações em que a lei deu primazia
(preferência) para os descendentes do morto. Assim, foram previstos alguns casos em que o herdeiro, a
depender do regime de bens, não irá ter direito à herança, ficando esta toda com os descendentes. Vejamos:
Observação importante para fins de concurso: o fato de o cônjuge não ter direito à herança, se existirem
descendentes do falecido e dependendo do tipo de regime de bens, não faz com que ele (cônjuge) perca sua
qualidade de herdeiro necessário. Ele continua sendo chamado de “herdeiro necessário” mesmo que,
eventualmente, no caso concreto, não venha a ter direito à herança. Chamo atenção para isso porque é o
entendimento do STJ e pode ser cobrado na prova. Veja o que disse o Min. João Otávio de Noronha:
“E a norma contida no art. 1.829, I, do mesmo codex não altera essa realidade. O que ali está definido são as
situações em que o herdeiro necessário cônjuge concorre com o herdeiro necessário descendente. Aí, sim, a
lei estabelece que, a depender do regime de bens adotado, tais herdeiros necessários concorrem ou não
entre si aos bens da herança. E percebam: a lei não afasta a condição de herdeiro necessário do cônjuge nos
casos em que não admite a concorrência; simplesmente atribui ao descendente a primazia na ordem da
vocação hereditária. (...)”. (REsp 1.382.170-SP).
Qual é a justificativa do legislador para que o herdeiro não concorra com os descendentes nas situações do
quadro II?
Segundo aponta a doutrina, o objetivo foi evitar que o cônjuge tivesse direito à meação e também à
herança a mesmo tempo, fazendo com que ele ficasse em uma situação de muita vantagem em relação aos
descendentes. Em outras palavras, havendo descendentes, o legislador não quis que o cônjuge supérstite
(sobrevivente) fosse, ao mesmo tempo, meeiro e herdeiro.
Veja abaixo a razão em relação a cada um dos regimes:
Comunhão universal
Se o casal é casado no regime da comunhão universal, isso significa que, quando a pessoa morre, seu cônjuge
tem direito à meação, ou seja, metade dos bens do falecido já pertencem obrigatoriamente ao cônjuge
supérstite. A outra metade é que será a herança.
Ora, o legislador pensou o seguinte: “se o cônjuge já vai ter direito à metade dos bens pelo fato de ser
meeiro, não é justo que ele também tenha parte da outra metade em prejuízo dos descendentes; vamos
excluir o cônjuge da herança para que ela fique toda para os descendentes.”
Comunhão parcial
Assim, se ele era casado no regime da comunhão parcial de bens, em regra, o cônjuge não terá direito à
herança porque o cônjuge já terá direito à meação (metade dos bens). O cônjuge só terá direito à herança
quanto aos bens que o falecido deixar e que eram suas coisas particulares. Isso porque os bens particulares
do falecido não integram o conceito de “meação”. Logo, tais bens particulares serão herdados tanto pelo
cônjuge como pelos descendentes (eles dividirão/concorrerão).
Se o cônjuge era casado sob o regime da comunhão parcial de bens e o falecido deixou
descendentes, o cônjuge terá direito à herança?
Se o falecido NÃO deixou bens particulares: o cônjuge sobrevivente não terá direito à herança. Vale
ressaltar, no entanto, que ele, como cônjuge, já tem direito à metade desses bens por ser meeiro.
Ex: João morreu e deixou quatro casas de igual valor; João não deixou bens particulares; Maria (esposa de
João) terá direito a duas casas por ser meeira; os filhos de João herdarão as outras duas casas; Maria não terá
direito à herança.
Se o falecido deixou bens particulares: tais bens particulares serão herdados tanto pelo cônjuge como pelos
descendentes (eles dividirão/concorrerão).
Ex: João morreu e deixou quatro casas de igual valor; duas dessas casas eram bens comuns do casal (casas “A”
e “B”); as duas outras eram bens particulares de João (casas “C” e “D”, que ele possuía em seu nome mesmo
antes de se casar); Maria (esposa de João) terá direito a uma casa (ex: “A”) por ser meeira (a meeira tem
direito a metade dos bens comuns); os filhos de João herdarão sozinhos (sem a participação de Maria) a casa
”B”; os filhos de João, em concorrência com Maria, herdarão também as casas “C” e “D” (bens particulares de
João).
Em execução de dívida divisível do autor da herança ajuizada após a partilha, cada herdeiro beneficiado pela
sucessão responde na proporção da parte que lhes coube na herança.
Ex: João faleceu e deixou como únicos herdeiros seus cinco filhos. O patrimônio deixado por João foi
equivalente a R$ 1 milhão, tendo cada filho herdado a quota parte de 20% desse valor. Depois de ter sido
feito o inventário e a partilha dos bens, apareceu Mário cobrando uma dívida de R$ 500 mil da qual João era
devedor. Mário terá que ingressar com a execução contra os cinco herdeiros e cada um responderia por 20%
da dívida (proporcional à parte que coube a cada um). Logo, como a dívida total é R$ 500 mil, cada herdeiro
somente poderia ser condenado a pagar, no máximo, R$ 100 mil.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.367.942-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/5/2015 (Info 563).
COLAÇÃO DE BENS
Direito de o herdeiro exigir a colação mesmo que ainda não concebido no momento da doação
Importante!!!
O filho do morto tem o direito de exigir de seus irmãos a colação dos bens que estes receberam via doação
a título de adiantamento da legítima, ainda que sequer tenha sido concebido ao tempo da liberalidade.
Para efeito de cumprimento do dever de colação, É IRRELEVANTE SE O HERDEIRO NASCEU ANTES OU APÓS A
DOAÇÃO, NÃO HAVENDO TAMBÉM DIFERENÇA ENTRE OS DESCENDENTES, se são eles irmãos germanos ou unilaterais
ou se supervenientes à eventual separação ou divórcio do doador.
Ex: em 2007, João doou todo o seu patrimônio (casas, apartamentos, carros etc.) para seus três filhos (Hugo,
Tiago e Luis). Em 2010, João teve um novo filho (João Jr.), fruto de um relacionamento com sua secretária. Em
2012, João faleceu. Foi aberto inventário de João e, João Jr., o caçula temporão, representado por sua mãe,
habilitou-se nos autos e ingressou com incidente de colação, distribuído por dependência nos autos do
inventário, requerendo que todos os bens recebidos em doação por Hugo, Tiago e Luis fossem colacionados
(devolvidos) para serem partilhados. Os donatários (Hugo, Tiago e Luis) contestaram o pedido afirmando que
João Jr. ainda não havia nascido e sequer tinha sido concebido ao tempo das doações, o que afastaria o seu
interesse em formular pedido de colação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.298.864-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/5/2015 (Info 563).
Conceito de colação
Colação
é...
- o dever imposto pelo Código
Civil
- aos herdeiros necessários do
falecido
- no sentido de que, se eles receberam alguma doação do falecido quando este ainda era
vivo,
- serão obrigados a trazer de volta para o monte esses
bens
- a fim de que, reunido todo o patrimônio que pertencia ao
morto,
- ele seja partilhado entre os herdeiros na forma prevista na
lei.
PESSOAS JURÍDICAS
Dissolução de sociedade de advogados
Na avaliação e na partilha de bens em processo de dissolução de sociedade de advogados, não podem ser
levados em consideração elementos típicos de sociedade empresária, tais quais bens incorpóreos, como a
clientela e a sua expressão econômica e a "estrutura do escritório".
STJ. 4ª Turma. REsp 1.227.240-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/5/2015 (Info 564).
CONSÓRCIO
Taxa de administração de administradoras de consórcio
Súmula 538-STJ: As administradoras de consórcio têm liberdade para estabelecer a respectiva taxa de
administração, ainda que fixada em percentual superior a dez por cento.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 10/06/2015, Dje 15/06/2015.
CONTRATOS AGRÁRIOS
Nulidade de cláusula de renúncia à indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis nos contratos agrários
No contrato de parceria agrícola, é possível a previsão de uma cláusula por meio da qual o outorgado (que irá
trabalhar a terra) renuncia ao direito às benfeitorias que realizar?
NÃO. Nos contratos agrários, é NULA a cláusula de renúncia à indenização pelas benfeitorias necessárias e
úteis.
Os contratos de direito agrário são regidos tanto por elementos de direito privado, como por normas de
caráter público e social, de observância obrigatória e, por isso, irrenunciáveis, tendo como finalidade principal
a proteção daqueles que, pelo seu trabalho, tornam a terra produtiva e dela extraem riquezas, conferindo
efetividade à função social da propriedade.
Apesar de sua natureza privada e de ser regulado pelos princípios gerais que regem o direito comum, o
contrato agrário sofre repercussões de direito público em razão de sua importância para o Estado, do
protecionismo que se quer emprestar ao homem do campo, à função social da propriedade e ao meio
ambiente, fazendo com que a máxima do "pacta sunt servanda" não se opere em absoluto nestes casos.
A legislação dos contratos de parceria agrícola preconiza o direito à indenização pelas benfeitorias como
sendo uma cláusula obrigatória. Logo, não pode o contrato de parceria agrícola prever a renúncia à
indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis, sendo nula qualquer disposição nesse sentido.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.182.967-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 9/6/2015 (Info 564).
DIREITO DO CONSUMIDOR
COBRANÇA DE ÁGUA
ASSISTÊNCIA TÉCNICA
INEXISTÊNCIA DE DEVER DO COMERCIANTE DE RECEBER E ENVIAR OS APARELHOS VICIADOS PARA A ASSISTÊNCIA TÉCNICA
O comerciante tem o dever de receber do consumidor o aparelho que esteja viciado (“defeituoso”) com o
objetivo de encaminhá-lo à assistência técnica para conserto? NÃO. O COMERCIANTE NÃO TEM O DEVER DE
RECEBER E DE ENCAMINHAR PRODUTO VICIADO À ASSISTÊNCIA TÉCNICA, a NÃO SER QUE ESTA NÃO ESTEJA LOCALIZADA NO
MESMO MUNICÍPIO DO ESTABELECIMENTO COMERCIAL.
EXISTINDO ASSISTÊNCIA TÉCNICA ESPECIALIZADA E DISPONÍVEL NA LOCALIDADE DE ESTABELECIMENTO do comerciante (leia-se,
no mesmo Município), NÃO SE PODE IMPOR AO COMERCIANTE A OBRIGAÇÃO DE INTERMEDIAR O RELACIONAMENTO ENTRE
SEU CLIENTE E O SERVIÇO DISPONIBILIZADO, visto que essa exigência apenas dilataria o prazo para efetiva solução e
acrescentaria custos ao consumidor, sem agregar-lhe qualquer benefício. STJ. 3ª Turma. REsp 1.411.136-RS,
Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 24/2/2015 (Info 557).
INFORMATIVO 552, STJ - INOCORRÊNCIA DE DANO MORAL PELA SIMPLES PRESENÇA DE CORPO ESTRANHO EM REFRIGERANTE.
Atualize o Info 537-STJ: A simples aquisição de refrigerante contendo inseto no interior da embalagem, sem
que haja a ingestão do produto, NÃO É CIRCUNSTÂNCIA APTA, POR SI SÓ, A PROVOCAR DANO MORAL
INDENIZÁVEL. Obs.: existe precedente em sentido contrário, mas o que prevalece é que não há dano moral.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.395.647-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 18/11/2014 (Info 553).
- Realmente, os Correios estão certos quando dizem que NÃO É POSSÍVEL EXIGIR DE UM BANCO POSTAL
TODAS AS EXIGÊNCIAS DE SEGURANÇA PREVISTAS NA LEI N. 7.102/83, tais como: equipamentos de
filmagem, vigilância ostensiva, artefatos que retardem a ação de criminosos, cabina blindada, dentre outros.
Até mesmo porque acabaria inviabilizando a instalação e o funcionamento dos bancos postais em diversas
localidades do país.
No entanto, mesmo sem ter que cumprir todas as exigências da Lei, ainda assim a ECT possui
responsabilidade civil no caso concreto com base no Código de Defesa do Consumidor. As pessoas que vão
até a agência dos Correios, seja para utilizar os serviços postais propriamente dito, seja para os serviços do
banco postal, são consideradas consumidoras, desde que sejam “destinatárias finais” do produto ou serviço.
PORTANTO, OS CORREIOS, ENQUANTO EMPRESA PÚBLICA PRESTADORA DE SERVIÇOS PÚBLICOS, SUBMETE-SE À
RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA, SEJA POR FORÇA DO ART. 37, § 6º DA CF/88, SEJA EM RAZÃO DO ART. 14 DO CDC,
DEVENDO INDENIZAR O CONSUMIDOR.
- O serviço prestado pelos Correios foi inadequado e ineficiente, porque descumpriu o dever de segurança
legitimamente esperado pelo consumidor, NÃO HAVENDO FALAR EM CASO FORTUITO (EXTERNO) para fins
de exclusão da responsabilidade com rompimento da relação de causalidade, mas SIM FORTUITO INTERNO,
PORQUANTO INCIDE NA PROTEÇÃO DOS RISCOS ESPERADOS DA ATIVIDADE EMPRESARIAL DESENVOLVIDA.
RESPONSABILIDADE CIVIL
Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou
meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o
fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado
Assim, a oferta possui caráter vinculativo, integrando o contrato, de modo que o fornecedor de produtos ou
serviços se responsabiliza também pelas expectativas que a publicidade venha a despertar no consumidor,
especialmente quando veicula informação de produto ou serviço com a chancela de determinada marca.
A fabricante participou da oferta (publicidade) garantindo, com a sua marca, a qualidade do produto
oferecido. Logo, ela também se vinculou solidariamente àquilo que foi anunciado.
A sociedade empresária de transporte coletivo interestadual não deve ser responsabilizada pela partida do
veículo, após parada obrigatória, sem a presença do viajante que, por sua culpa exclusiva, não compareceu
para reembarque mesmo após a chamada dos passageiros, sobretudo quando houve o embarque tempestivo
dos demais.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.354.369-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 5/5/2015 (Info 562).
PRÁTICAS ABUSIVAS
INEXISTÊNCIA DE ABUSIVIDADE NA COBRANÇA DE CUSTO EXTRA EM CASO DE PAGAMENTO POR BOLETO BANCÁRIO
DETERMINADA EMPRESA QUE OFERECE ASSINATURA DE REVISTAS PERMITE QUE OS CLIENTES PAGUEM DE TRÊS FORMAS: POR
BOLETO BANCÁRIO, DÉBITO EM CONTA CORRENTE E CARTÃO DE CRÉDITO. SE O CLIENTE OPTAR PELO BOLETO BANCÁRIO,
ELE É INFORMADO QUE TERÁ QUE PAGAR MAIS UM R$ 1 REFERENTE AO CUSTO QUE O BANCO EXIGE PARA EMITIR E RECEBER
O BOLETO. ESSA PRÁTICA É ABUSIVA?
NÃO. O STJ entendeu que, no caso concreto, a cobrança feita pela empresa NÃO ERA ABUSIVA
considerando que:
O consumidor tinha outras opções de pagamento;
A quantia exigida pela utilização dessa forma de pagamento NÃO FOI EXCESSIVAMENTE ONEROSA;
Houve INFORMAÇÃO PRÉVIA DE SUA COBRANÇA; e
O valor pleiteado correspondeu exatamente ao que o fornecedor recolheu à instituição financeira
responsável pela emissão do boleto bancário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.339.097-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 3/2/2015 (Info 555).
INFORMATIVO 552, STJ - Prática de venda casada por operadora de telefonia celular gera dano moral coletivo in
re ipsa.
Importante!!! Configura dano moral coletivo in re ipsa a realização de venda casada por operadora de
telefonia. A prática de venda casada por parte de operadora de telefonia é capaz de romper com os limites da
tolerância. No momento em que oferece ao consumidor produto com significativas vantagens - no caso, o
comércio de linha telefônica com valores mais interessantes do que a de seus concorrentes - e de outro,
impõe-lhe a obrigação de aquisição de um aparelho telefônico por ela comercializado, realiza prática
comercial apta a causar sensação de repulsa coletiva a ato intolerável, tanto que encontra proibição expressa
em lei. Afastar, da espécie, o DANO MORAL DIFUSO, é fazer tábula rasa da proibição elencada no art. 39, I, do
CDC e, por via reflexa, legitimar práticas comerciais que afrontem os mais basilares direitos do consumidor.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.397.870-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 2/12/2014 (Info 553).
Súmula 532-STJ: Constitui prática comercial abusiva o envio de cartão de crédito sem prévia e expressa
solicitação do consumidor, configurando-se ato ilícito indenizável e sujeito à aplicação de multa
administrativa.
STJ. Corte Especial. Aprovada em 03/06/2015.
E se o consumidor, mesmo não tendo solicitado o cartão, optar por ficar com ele?
Flávio Tartuce defende que, no caso de envio de cartão de crédito sem solicitação, se o consumidor quiser
com ele permanecer, a instituição não poderá cobrar anuidade, devendo esse serviço ser considerado como
amostra grátis, com base no art. 39, parágrafo único, do CDC (Manual de Direito do Consumidor. São Paulo:
Método, 2014, p. 377)
PROTEÇÃO CONTRATUAL
NECESSIDADE DE INFORMAR QUE O CÔMPUTO DA ÁREA TOTAL DO IMÓVEL RESIDENCIAL VENDIDO ESTÁ CONSIDERANDO
TAMBÉM O TAMANHO DA GARAGEM.
Na compra e venda de imóvel, a vaga de garagem, ainda que individualizada e de uso exclusivo do
proprietário da unidade residencial, NÃO PODE SER CONSIDERADA NO CÔMPUTO DA ÁREA TOTAL DO IMÓVEL
vendido ao consumidor CASO ESSE FATO NÃO TENHA SIDO EXPOSTO DE FORMA CLARA NA PUBLICIDADE e no contrato.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.139.285-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 18/11/2014 (Info 552).
Cobertura de home care por plano de saúde
João é cliente de um plano de saúde. Após ficar doente, ele foi internado no hospital, onde permaneceu por
algumas semanas. Até então, o plano de saúde estava pagando todas as despesas. O médico que
acompanhava seu estado de saúde viu que seu quadro clínico melhorou e recomendou que ele fosse para
casa, mas lá ficasse realizando tratamento domiciliar (home care) até que tivesse alta completa. Ocorre que o
plano de saúde não aceitou, afirmando que o serviço de home care não está no rol de cobertura previsto no
contrato firmado com João. Segundo a operadora, apenas o tratamento hospitalar está incluído.
O plano de saúde pode ser obrigado a custear o tratamento domiciliar (home care) mesmo que isso não
conste expressamente do rol de serviços previsto no contrato?
SIM. No caso em que o serviço de home care (tratamento domiciliar) não conste expressamente do rol de
coberturas previsto no contrato de plano de saúde, a operadora ainda assim será obrigada a custeá-lo em
substituição à internação hospitalar contratualmente prevista, desde que respeitados os seguintes requisitos:
tenha havido indicação desse tratamento pelo médico assistente;
o paciente concorde com o tratamento domiciliar;
não ocorra uma afetação do equilíbrio contratual em prejuízo do plano de saúde (exemplo em
que haveria um desequilíbrio: nos casos em que o custo do atendimento domiciliar por dia
supera a despesa diária em hospital).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.378.707-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/5/2015 (Info 564).
EXCEÇÕES: Existem duas exceções em que NÃO HAVERÁ INDENIZAÇÃO por danos morais mesmo
não tendo havido a prévia comunicação do devedor:
1) Se o DEVEDOR JÁ POSSUÍA INSCRIÇÃO NEGATIVA no banco de dados e foi realizada uma nova inscrição
sem a sua notificação. Súmula 385-STJ: Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe
indenização por dano moral quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.
2) Se o órgão de restrição ao crédito estiver APENAS REPRODUZINDO INFORMAÇÃO NEGATIVA QUE CONSTE DE
REGISTRO PÚBLICO (ex.: anotações de protestos que constem do Tabelionato de Protesto, anotações de
execução fiscal que sejam divulgadas no Diário Oficial).
- SE NÃO HOUVE COMUNICAÇÃO PRÉVIA, a indenização é devida mesmo que depois fique provado que o débito
realmente existe?
INFORMATIVO 552, STJ - REQUISITOS PARA A PROPOSITURA DE AÇÃO DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS RELATIVOS AO
CREDISCORE.
Para existir interesse de agir em ação cautelar de exibição de documentos ajuizada por consumidor com o
objetivo de obter extrato contendo sua pontuação no sistema Crediscore, é necessário que o requerente
comprove:
A) QUE A RECUSA DO CRÉDITO SE DEU EM RAZÃO DA PONTUAÇÃO QUE LHE FOI ATRIBUÍDA PELA DITA FERRAMENTA DE SCORING;
E
B) QUE TENHA HAVIDO RESISTÊNCIA DA INSTITUIÇÃO RESPONSÁVEL PELO SISTEMA NA DISPONIBILIZAÇÃO DAS INFORMAÇÕES
REQUERIDAS PELO CONSUMIDOR EM PRAZO RAZOÁVEL (EXIGIR QUE O CONSUMIDOR FAÇA O PEDIDO PESSOALMENTE NÃO
CARACTERIZA RECUSA).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.268.478-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/12/2014 (Info 553).
- No “credit scoring”, a pessoa que está pedindo o crédito é avaliada por meio de fórmulas matemáticas, nas
quais são consideradas diversas variáveis como a idade, a profissão, a finalidade da obtenção do crédito etc.
Tais variáveis são utilizadas nas fórmulas matemáticas e, por meio de ferramentas da estatística, atribui-se
uma espécie de pontuação (nota) para a pessoa que está pedindo o crédito. Quanto maior a nota, menor
seria o risco de se conceder o crédito para aquele consumidor e, consequentemente, mais fácil para ele
conseguir a liberação.
- O STJ ENTENDEU QUE ESSA PRÁTICA COMERCIAL É LÍCITA, estando autorizada pelo art. 5º, IV e pelo art. 7º, I, da
Lei n. 12.414/2011 (Lei do Cadastro Positivo), que, ao tratar sobre os direitos do cadastrado nos bancos de
dados, menciona indiretamente a possibilidade de existir a análise de risco de crédito. Vale ressaltar, no
entanto, que para o “credit scoring” ser lícito, é necessário que respeite os limites estabelecidos pelo sistema
de proteção do consumidor no sentido da tutela da privacidade e da máxima transparência nas relações
negociais, conforme previsão do CDC e da Lei n. 12.414/2011.
- O CONSUMIDOR TERÁ DIREITO DE SABER A SUA PONTUAÇÃO E AS INFORMAÇÕES PESSOAIS UTILIZADAS. No entanto,
NEM O CONSUMIDOR NEM NINGUÉM TERÁ DIREITO DE SABER A METODOLOGIA DE CÁLCULO, ou seja, qual foi a fórmula
matemática e os dados estatísticos utilizados no “credit scoring”. ISSO PORQUE ESSA FÓRMULA É FRUTO DE ESTUDOS
E INVESTIMENTOS, CONSTITUINDO SEGREDO DA ATIVIDADE EMPRESARIAL (art. 5º, IV, da Lei n. 12.414⁄2011:
..."resguardado o segredo empresarial”).
DIREITO EMPRESARIAL
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
- RECUPERAÇÃO JUDICIAL: A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga “concordata” e tem por objetivo
viabilizar a superação da situação de crise do devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se
mantenha e, com isso, sejam preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores. A
recuperação judicial consiste, portanto, em um processo judicial, no qual será construído e executado um
plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de efetivamente ir à falência.
FASES DA RECUPERAÇÃO
De forma resumida, a recuperação judicial possui 3 fases:
POSTULAÇÃO: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até o despacho de processamento;
PROCESSAMENTO: vai do despacho de processamento até a decisão concessiva;
EXECUÇÃO: da decisão concessiva até o encerramento da recuperação judicial.
NÃO. O DEFERIMENTO DO PROCESSAMENTO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL, POR SI SÓ, NÃO ENSEJA A SUSPENSÃO OU O
CANCELAMENTO DA NEGATIVAÇÃO DO NOME DO DEVEDOR NOS CADASTROS DE RESTRIÇÃO AO CRÉDITO E NOS TABELIONATOS
DE PROTESTOS.
O deferimento do processamento de recuperação judicial suspende o curso das ações e execuções propostas
em face do devedor. Como vimos acima, isso está expressamente previsto no art. 6º, caput e § 4º, da Lei nº
11.101/2005. Contudo, essa providência (suspensão das ações e execuções) não significa que o direito dos
credores (direito creditório propriamente dito) tenha sido extinto. A dívida continua existindo.
Assim, se a dívida continua existindo (e apenas a execução é que está suspensa), não se pode aceitar a
retirada do nome da empresa em recuperação dos serviços de proteção ao crédito e tabelionato de
protesto.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.374.259-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/6/2015 (Info 564).
E haverá algum momento a partir do qual será possível retirar o nome da empresa dos cadastros
restritivos?
SIM. Quando o plano de recuperação judicial for aprovado será possível providenciar a baixa dos protestos
e a retirada do nome da empresa dos cadastros de inadimplentes em relação às dívidas que estiverem
sujeitas ao referido plano. Isso porque havendo a aprovação do plano ocorre a novação dos débitos, ou seja,
as dívidas anteriores serão substituídas pelas novas condições firmadas no plano. Ressalte-se, no entanto, que
essa baixa dos protestos e retirada do nome dos cadastros ficará sob condição resolutiva devendo a empresa
cumprir todas as obrigações previstas no acordo de recuperação judicial uma vez que, se desatendê-las, será
possível reinclui-la nos referidos cadastros.
(STJ. 3ª Turma. REsp 1.260.301/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/08/2012. Info 502).
SIM. Diferentemente do regime existente sob a vigência da antiga Lei de Falência e Concordata,
PORQUE GERA NOVAÇÃO.
Art. 59. O plano de recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e obriga o devedor e
todos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias, observado o disposto no § 1º do art. 50 desta Lei.
Como a NOVAÇÃO INDUZ A EXTINÇÃO DA RELAÇÃO JURÍDICA ANTERIOR, substituída por uma nova, NÃO SERÁ MAIS
POSSÍVEL FALAR EM INADIMPLÊNCIA DO DEVEDOR COM BASE NA DÍVIDA EXTINTA (Min. Nancy Andrighi).
G) A NOVAÇÃO DECORRENTE DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL IMPLICA A EXTINÇÃO DE GARANTIAS QUE HAVIAM SIDO PRESTADAS
AOS CREDORES? NÃO.
NOVAÇÃO DO CC EM REGRA, EXTINGUE AS GARANTIAS PRESTADAS.
NOVAÇÃO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL
EM REGRA, NÃO extingue as garantias
prestadas.
ENUNCIADO 43: A SUSPENSÃO DAS AÇÕES E EXECUÇÕES PREVISTAS NO ART. 6º DA LEI N. 11.101⁄2005 NÃO SE
ESTENDE AOS COOBRIGADOS DO DEVEDOR.
SOCIEDADE LIMITADA
CRITÉRIOS PARA A APURAÇÃO DE HAVERES DO SÓCIO RETIRANTE DE SOCIEDADE POR QUOTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA
Ocorre a dissolução parcial da sociedade limitada quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela
é preservada e continua suas atividades.
Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de
denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte
daquela sociedade.
Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a
sociedade em relação aos demais sócios.
O cálculo do valor devido ao sócio que deixa a sociedade é feito por meio de um procedimento denominado de
APURAÇÃO DE HAVERES.
Qual é o critério adotado para se fazer a apuração de haveres do sócio retirante?
SEGUNDO O ENTENDIMENTO DO STJ:
O contrato social pode prever o critério para a apuração dos haveres do sócio retirante no caso de dissolução
parcial de sociedade limitada;
No entanto, o critério previsto no contrato social somente prevalecerá se houver consenso entre as partes
quanto ao resultado alcançado;
Caso não haja concordância entre as partes, deve-se aplicar o “balanço de determinação”, que é o critério que
melhor reflete o valor patrimonial da empresa;
O fluxo de caixa descontado, por representar a metodologia que melhor revela a situação econômica e a
capacidade de geração de riqueza de uma empresa, pode ser aplicado juntamente com o balanço de
determinação na apuração de haveres do sócio dissidente.
SEGUNDO O CPC 2015:
A primeira opção no caso de apuração dos haveres é adotar o critério previsto no contrato social (art. 604, II).
Somente se o contrato social for omisso, ou seja, apenas se ele não previr um critério de apuração de haveres,
é que será adotado o “balanço de determinação” (art. 606).
Enquanto o novo CPC não entra em vigor, fique com o entendimento do STJ. Após março de 2016, o mais
seguro é assinalar nos concursos a redação literal do art. 606, que irá ser bastante cobrado nas provas.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.335.619-SP, Rel. originária e voto vencedor Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min.
João Otávio de Noronha, julgado em 3/3/2015 (Info 558).
Como ocorre a dissolução da sociedade em conta de participação? Qual é o fundamento legal? Não existe
regra específica para disciplinar a dissolução da sociedade em conta de participação. Diante disso, O STJ
DECIDIU QUE DEVERÁ SER APLICADA, SUBSIDIARIAMENTE, A REGRA DO ART. 1.034 DO CC, QUE DEFINE, DE FORMA TAXATIVA,
AS HIPÓTESES PELAS QUAIS SE ADMITE A DISSOLUÇÃO JUDICIAL DAS SOCIEDADES.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.230.981-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 16/12/2014 (Info 554).
CARACTERÍSTICAS
Sociedade em conta de participação é um tipo de sociedade empresária que se destaca por duas
características peculiares:
É uma sociedade oculta, considerando que terceiros (pessoas que não sejam os sócios) não sabem que ela
existe. Por essa razão, é chamada também de “sociedade secreta” ou “empresa virtual”.
NÃO POSSUI PERSONALIDADE JURÍDICA.
Art. 991. Na sociedade em conta de participação, a atividade constitutiva do objeto social é exercida unicamente pelo sócio
ostensivo, em seu nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade, participando os demais dos resultados
correspondentes.
Parágrafo único. Obriga-se perante terceiro tão-somente o sócio ostensivo; e, exclusivamente perante este, o sócio participante,
nos termos do contrato social.
EXEMPLO
A sociedade em conta de participação não é tão simples de entender, mas com um exemplo ficará mais fácil. Imagine que uma
construtora (XXX Sociedade LTDA) deseja fazer um pequeno edifício.
A construtora procura João (que é muito rico) e propõe que eles construam juntos.
João fala: “nem pensar, não quero ter que lidar com clientes, com fornecedores, com operários; estou fora.”
A construtora, então, faz a seguinte proposta: vamos fazer uma sociedade em conta de participação; eu (construtora)
serei o sócio ostensivo e você (João) será o sócio participante; nós celebramos um contrato entre si, no qual você se
obriga a fornecer 2 milhões de reais para o projeto e eu me comprometo a construir e vender os apartamentos; o
lucro será dividido.
A sociedade em conta de participação é como se fosse um contrato de investimento no qual o investidor é o
sócio participante (oculto) e o financiado é o sócio ostensivo. É como se fosse um contrato de investimento
que a lei resolveu dar o tratamento de uma sociedade empresária, sendo, no entanto, uma sociedade oculta
para terceiros e que não tem personalidade jurídica.
QUAL VAI SER, ENTÃO, A DIFERENÇA ENTRE A SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO E UM CONTRATO DE INVESTIMENTO?
Alguns autores afirmam que seria a mesma coisa, mas é possível sim enxergar uma diferença:
No contrato de investimento, O INVESTIDOR NÃO SE ENVOLVE NA FINALIDADE DA EMPRESA, ou seja, O SEU
CRÉDITO ESTÁ DESVINCULADO DO RESULTADO DO NEGÓCIO EMPRESARIAL. Em simples palavras, o investidor não
receberá mais ou menos se o projeto der certo ou errado. Para ele, isso tanto faz. ELE EMPRESTOU O
DINHEIRO E DAQUI A DETERMINADO TEMPO, DEVERÁ RECEBER DE VOLTA, ACRESCIDO DE JUROS.
Na SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO, O SÓCIO PARTICIPANTE, MESMO QUE EM UM GRAU BEM MENOR, ASSUME O
RISCO EMPRESARIAL JUNTAMENTE COM O SÓCIO OSTENSIVO. Em nosso exemplo, João irá receber metade do lucro.
Logo, se o empreendimento for um fracasso, ele terá prejuízo.
SOCIEDADE ANÔNIMA
Legitimidade ativa para ação social
Acionistas e companhia podem litigar em litisconsórcio facultativo ativo em ação de responsabilidade civil
contra o administrador pelos prejuízos causados ao patrimônio da sociedade anônima (art. 159 da Lei
6.404/1976), quando não proposta a ação pela companhia no prazo de três meses após a deliberação da
assembleia-geral (§ 3º).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.515.710-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 12/5/2015 (Info 563).
FALÊNCIA
O FALIDO PODERÁ PROPOR AÇÃO RESCISÓRIA PARA DESCONSTITUIR A SENTENÇA QUE DECRETOU A FALÊNCIA? SIM. O
falido tem capacidade para propor ação rescisória para desconstituir a sentença transitada em julgado que
decretou a sua falência.
DEPOIS QUE É DECRETADA A FALÊNCIA, A SOCIEDADE EMPRESÁRIA FALIDA NÃO MAIS POSSUI PERSONALIDADE JURÍDICA E
NÃO PODERÁ POSTULAR, EM NOME PRÓPRIO, DIREITOS DA MASSA FALIDA, NEM MESMO EM CARÁTER EXTRAORDINÁRIO.
Diz-se que ela sofre uma CAPITIS DIMINUTIO (DIMINUIÇÃO DE SUA CAPACIDADE) referente aos direitos
patrimoniais envolvidos na falência, sendo afastada da administração dos seus bens. Sendo assim, num
processo em que se discuta, por exemplo, a venda desses bens, o falido apenas poderia acompanhá-lo como
assistente. Ele não poderia, portanto, tomar a iniciativa das ações com relação a bens da massa.
No entanto, no caso em que se pretenda rescindir decisão que decreta falência, a situação é diferente. Nesse
caso, nem a massa nem os credores têm interesse na desconstituição da decretação de falência. Realmente, o
falido é o único interessado. Por isso, se a legitimidade deste para propor a rescisão do decreto falimentar
fosse retirada, ele ficaria eternamente falido, ainda que injustamente, ainda que contrariamente à ordem legal.
Desse modo, o STJ ENTENDE QUE O FALIDO MANTÉM A LEGITIMIDADE PARA A PROPOSITURA DE AÇÕES PESSOAIS,
PODENDO, INCLUSIVE, AJUIZAR AÇÃO RESCISÓRIA PARA TENTAR REVERTER O DECRETO FALIMENTAR. STJ. 3ª Turma. REsp
1.126.521-MT, Rel. originário Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha,
julgado em 17/3/2015 (Info 558).
CHEQUE
Ação monitória fundada em cheque prescrito e dispensabilidade da menção ao negócio jurídico subjacente
à emissão da cártula
Súmula 531-STJ: Em ação monitória fundada em cheque prescrito ajuizada contra o emitente, é dispensável a
menção ao negócio jurídico subjacente à emissão da cártula.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 13/05/2015, DJe 18/05/2015.
CONTRATOS DE TRESPASSE
Nos contratos de trespasse (alienação do estabelecimento comercial) existe, de forma implícita, por força de lei,
uma cláusula de não concorrência (cláusula de não restabelecimento). Isso significa que, em regra, o alienante não
pode fazer concorrência ao adquirente.
Segundo o art. 1.147, o prazo da cláusula de não concorrência é de 5 anos.
As partes NÃO PODEM PREVER QUE A CLÁUSULA DE “NÃO RESTABELECIMENTO” SERÁ
POR PRAZO INDETERMINADO. O ordenamento jurídico pátrio, salvo expressas exceções, não aceita
que cláusulas que limitem ou vedem direitos sejam estabelecidas por prazo indeterminado. Logo, a cláusula
de não restabelecimento fixada por prazo indeterminado É CONSIDERADA ABUSIVA .
STJ. 4ª Turma. REsp 680.815-PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 20/3/2014 (Info 554).
É válida a cláusula contratual de não concorrência, desde que limitada espacial e temporalmente. Isso porque
esse tipo de cláusula protege a concorrência e os efeitos danosos decorrentes de potencial desvio de
clientela, sendo esses valores jurídicos reconhecidos constitucionalmente.
Assim, quando a relação estabelecida entre as partes for eminentemente comercial, a cláusula que estabeleça
dever de abstenção de contratação com sociedade empresária concorrente pode sim irradiar efeitos após a
extinção do contrato, desde que por um prazo certo e em determinado lugar específico (limitada temporária
e espacialmente).
Ex: João resolveu montar um quiosque no shopping para vender celulares, cartões pré-pagos etc. Para isso,
ele fez um contrato com a operadora de celular “XXX” por meio da qual ele somente iria vender os produtos e
serviços dessa operadora e, em troca, ela ofereceria a ele preços diferenciados, consultoria e treinamento
para abrir a loja. No contrato assinado com a operadora, havia uma cláusula dizendo que João estava
proibido, por 6 meses após a extinção do contrato, de contratar com qualquer empresa concorrente naquela
cidade. Essa cláusula de não concorrência é válida.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.203.109-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 6/5/2015 (Info 561).
PROCESSO CIVIL
LITISCONSÓRCIO
O PRAZO EM DOBRO DOS LITISCONSORTES COM PROCURADORES DIFERENTES APLICA-SE AOS PROCESSOS JUDICIAIS ELETRÔNICOS?
Importante!!!
Quando houver litisconsórcio, seja ele ativo (dois ou mais autores) ou passivo (dois ou mais réus), caso os
litisconsortes tenham advogados diferentes, os seus prazos serão contados em dobro. É o que determina o art.
191 do CPC 1973.
O art. 229 do CPC 2015 também traz regra semelhante, exigindo, contudo, que, além de serem procuradores
(advogados) diferentes, os causídicos também sejam de escritórios de advocacia diferentes: “Os litisconsortes
que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, terão prazos contados em dobro
para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal, independentemente de requerimento.”
O benefício do prazo em dobro para os litisconsortes vale para processos eletrônicos?
NO CPC 1973: SIM. O objetivo do prazo em dobro é facilitar o acesso aos autos, já que, havendo
advogados diferentes, eles não poderiam tirar os autos do cartório. Com base nisso, o STJ entende que não
haveria justificativa para o prazo em dobro nos processos eletrônicos, contudo, como o art. 191 do CPC 1973
não faz qualquer distinção entre processos físicos e eletrônicos, o STJ afirma que não se pode excluir o prazo
em dobro mesmo nos processos eletrônicos, sob pena de haver uma afronta ao princípio da legalidade.
NO CPC 2015: NÃO. O § 2º do art. 229 do CPC 2015 “corrige” essa falha da lei e determina
expressamente que não se aplica o prazo em dobro para litisconsortes diferentes se o processo for em autos
eletrônicos.
Desse modo, quando o CPC 2015 entrar em vigor, os litisconsortes não terão prazo em dobro no processo
eletrônico mesmo que possuam procuradores diferentes. Até lá, contudo, continua sendo aplicado o prazo em
dobro tanto para processos físicos como eletrônicos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.488.590-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 14/4/2015 (Info 560).
COMPETÊNCIA
INAPLICABILIDADE DA CLÁUSULA DE ELEIÇÃO DE FORO PREVISTA EM CONTRATO SEM ASSINATURA DAS PARTES
Nos casos em que A PARTE QUESTIONA A PRÓPRIA VALIDADE DO CONTRATO, ela NÃO PRECISARÁ RESPEITAR O FORO DE
ELEIÇÃO REFERENTE A ESSE AJUSTE.
Ex: duas empresas fizeram um contrato e elegeram como foro de eleição a comarca de Florianópolis; ocorre
que o contrato, apesar de aprovado, não chegou a ser assinado. Uma das empresas ajuizou ação questionando
a validade desse ajuste pelo fato de ele não ter sido assinado. Neste caso, em que a própria validade do
contrato está sendo objeto de apreciação judicial pelo fato de que não houve instrumento de formalização
assinado pelas partes, a cláusula de eleição de foro não deve prevalecer, ainda que ela já tenha sido prevista
em contratos semelhantes anteriormente celebrados entre as mesmas partes. STJ. 3ª Turma. REsp 1.491.040-
RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 3/3/2015 (Info 557).
- FORO DE ELEIÇÃO: Foro de eleição é um ajuste (normalmente uma cláusula do pacto) feito entre os
contratantes por meio da qual fica combinado que, se houver necessidade de uma disputa judicial envolvendo
aquele contrato, esta ação deverá ser proposta em determinado foro (comarca) escolhido previamente pelas
partes.
O CPC prevê as regras sobre a competência territorial (ex: a ação deverá ser proposta no foro do domicílio do
réu) e o foro de eleição é uma forma de afastar essas regras processuais com as partes decidindo em que lugar
(comarca) querem litigar se isso for necessário.
- ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE O FORO DE ELEIÇÃO:
As partes só podem eleger o foro (comarca), mas não podem escolher a vara, o juiz etc. Assim, não seria válida
a cláusula que dissesse: “fica eleita a 4ª vara cível da comarca de São Luís como foro de eleição”).
A cláusula de eleição deverá ser obrigatoriamente escrita (não pode ser oral).
Deve se referir a um contrato específico. Em outras palavras, para cada contrato deverá haver a previsão de
uma cláusula de eleição específica.
A cláusula de eleição obriga também os herdeiros e sucessores das partes (é transmissível).
- NOVIDADES DO CPC2015:
Art. 63:
§ 3º Antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode ser reputada ineficaz de ofício pelo juiz,
que determinará a remessa dos autos ao juízo do foro de domicílio do réu.
§ 4º Citado, incumbe ao réu alegar a abusividade da cláusula de eleição de foro na contestação, sob pena de
preclusão.
Essa parte em cinza é novidade do CPC 2015 e, por isso, deve ser destacada com as seguintes observações:
Se a cláusula de eleição de foro for abusiva, o juiz poderá, de ofício, declará-la ineficaz. Repare que a lei não fala em
nulidade, mas sim em ineficácia, o que será explorado em provas objetivas. O CPC 1973 tratava o tema como “nulidade”.
O juiz pode, de ofício, declarar a ineficácia da cláusula abusiva. No entanto, antes de tomar essa decisão, ele deverá
obrigatoriamente ouvir o autor sobre a suposta abusividade para que ele participe do contraditório. Nesse sentido é o
importante art. 10 do novo CPC: “O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a
respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual
deva decidir de ofício.” (DIDIER, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 1, p. 229).
No CPC 1973, a cláusula de foro de eleição somente poderia ser declarada abusiva se fosse referente a um contrato de
adesão. No CPC 2015, a cláusula de foro de eleição pode ser declarada ineficaz, em tese, em qualquer espécie de contrato,
não se exigindo que seja contrato de adesão.
INFORMATIVO 552, STJ - COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR AÇÃO DE DIVÓRCIO QUANDO O MARIDO FOR INCAPAZ.
Importante!!! COMPETE AO FORO DO DOMICÍLIO DO REPRESENTANTE DO MARIDO INTERDITADO POR DEFICIÊNCIA
MENTAL – e NÃO AO FORO DA RESIDÊNCIA DE SUA ESPOSA CAPAZ E PRODUTIVA – processar e julgar ação de divórcio
direto litigioso, independentemente da posição que o incapaz ocupe na relação processual (autor ou réu). No
confronto entre o art. 100, I, do CPC (que prevê o foro do domicílio da mulher) e o art. 98 (que preconiza o
foro do domicílio do representante do incapaz), deverá prevalecer este último em virtude de o incapaz
apresentar maior fragilidade, necessitando, portanto, de uma maior proteção. STJ. 4ª Turma. REsp 875.612-
MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 4/9/2014 (Info 552).
Existem autores [Fredie Didier na aula da LFG, por exemplo], contudo, que defendem que é possível que
exista conexão entre duas ou mais ações mesmo que o pedido e a causa de pedir sejam diferentes. Em outras
palavras, pode haver conexão em situações que não se encaixem perfeitamente no conceito legal de conexão.
Tais autores defendem a chamada TEORIA MATERIALISTA DA CONEXÃO, que sustenta que,
em determinadas situações, é possível identificar a conexão entre duas ações não com base no pedido ou na
causa de pedir, mas sim em outros fatos que liguem uma demanda à outra. Eles sustentam, portanto, que a
definição tradicional de conexão é insuficiente. Essa teoria é chamada de materialista porque defende que,
para se verificar se há ou não conexão, o ideal não é analisar apenas o objeto e a causa de pedir , MAS SIM A
RELAÇÃO JURÍDICA DE DIREITO MATERIAL QUE É DISCUTIDA EM CADA AÇÃO. EXISTIRÁ CONEXÃO SE A RELAÇÃO JURÍDICA
VEICULADA NAS AÇÕES FOR A MESMA OU SE, MESMO NÃO SENDO IDÊNTICA, EXISTIR ENTRE ELAS UMA VINCULAÇÃO. Essa
Importante: o CPC 2015 manteve, no caput do art. 55, a definição tradicional de conexão. No entanto, dando
razão às criticas da doutrina, o novo CPC adota, em seu § 3º, a teoria materialista ao prever a conexão por
prejudicialidade: § 3º Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar risco de
prolação de decisões conflitantes ou contraditórias caso decididos separadamente, mesmo sem conexão
entre eles. STJ. 4ª Turma. REsp 1.221.941-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/2/2015 (Info 559).
- Obs.: Uma coisa é a conexão (fato); outra é o efeito (reunião de processos). Em alguns casos, o juiz pode
reconhecer que há a conexão (“realmente as duas ações possuem uma semelhança entre si”), mas, mesmo
assim, não ser possível/recomendável a reunião (“mesmo sendo conexas, serão julgadas em separado”).
NESSES CASOS, EM VEZ DE REUNIR, UM DOS PROCESSOS FICARÁ SUSPENSO AGUARDANDO O JULGAMENTO DO OUTRO,
NOS TERMOS DO ART. 265, IV, “A”, DO CPC 1973 (ART. 313, V, “A,”, DO CPC 2015).
SUSPENSÃO DO PROCESSO
PRAZO MÁXIMO PARA SUSPENSÃO DO PROCESSO CÍVEL NOS CASOS DO ART. 110 DO CPC 1973
O art. 110 do CPC 1973 prevê que, se o resultado do processo (conhecimento da lide) depender
necessariamente da verificação da existência de fato delituoso, o juiz do processo cível pode mandar sobrestar o
andamento do processo até que o juízo criminal decida se houve ou não o crime.
O STJ decidiu que a suspensão do processo determinada com base no art. 110 do CPC 1973 NÃO PODE
SUPERAR 1 ANO, de modo que, ULTRAPASSADO ESSE PRAZO, PODE O MAGISTRADO APRECIAR A
QUESTÃO PREJUDICIAL (pode o juízo cível decidir se houve ou não crime), que, no entanto, não fará coisa
julgada material.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.198.068-MS, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 2/12/2014 (Info 555).
Deve ser suspensa a ação reivindicatória de bem imóvel, pelo prazo máximo de um ano (art. 265, IV, "a", do
CPC 1973 / art. 313, V, “a”, do CPC 2015), enquanto se discute, em outra ação, a nulidade do próprio negócio
jurídico que ensejou a transferência do domínio aos autores da reivindicatória.
STJ. 1ª Turma. EREsp 1.409.256-PR, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 6/5/2015 (Info 563)
No caso concreto, está configurada a chamada “prejudicialidade externa” entre as ações. Isso porque a
existência da ação de nulidade é uma questão prejudicial (externa), cuja solução irá interferir no resultado da
ação reivindicatória. Se a ação anulatória for procedente, faltará legitimidade ativa ad causam ao autor da
ação reivindicatória, justificando-se, portanto, a suspensão da ação reivindicatória pelo prazo máximo de 1
ano.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
A EXECUÇÃO DE CONTRATO DE HONORÁRIOS NÃO PODE SER PROPOSTA CONTRA PESSOA JURÍDICA QUE NÃO TENHA
ASSINADO O PACTO, MESMO QUE INTEGRANTE DO MESMO GRUPO ECONÔMICO.
Determinado advogado assinou contrato de prestação de serviços advocatícios com a empresa “A” que,
depois de alguns meses, mostrou-se inadimplente.
O advogado ajuíza, então, execução de título extrajudicial contra a empresa “A” e também contra duas
outras pessoas jurídicas “B” e “C”, que têm personalidades jurídicas distintas, mas que integram o mesmo
grupo econômico da empresa “A”.
Ele poderia ter feito isso? As empresas “B” e “C” podem figurar no polo passivo dessa execução em virtude de
fazerem parte do mesmo grupo econômico?
NÃO. NÃO ESTÃO LEGITIMADAS A INTEGRAR O POLO PASSIVO DE AÇÃO DE EXECUÇÃO DE HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS AS SOCIEDADES EMPRESÁRIAS QUE NÃO FIGURAREM NO TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL, AINDA
QUE SEJAM INTEGRANTES DO MESMO GRUPO ECONÔMICO da sociedade empresária que firmou o contrato de
prestação de serviços advocatícios.
O fato de sociedades empresárias pertencerem a um mesmo grupo econômico, por si só, não as torna
automaticamente solidárias nas respectivas obrigações.
Cada pessoa jurídica tem personalidade e patrimônio próprios, distintos, justamente para assegurar a
autonomia das relações e atividades de cada sociedade empresária, ainda que integrantes de um mesmo
grupo econômico. Somente em casos excepcionais essas distinções podem ser superadas, motivadamente
(art. 50 do CC).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.404.366-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 23/10/2014 (Info 555).
JUSTIÇA GRATUITA
NÃO. Quando a assistência judiciária gratuita for deferida, a eficácia da concessão do benefício prevalecerá,
independentemente de renovação de seu pedido, em todas as instâncias e para todos os atos do processo –
alcançando, inclusive, as ações incidentais ao processo de conhecimento, os recursos, AS RESCISÓRIAS,
assim como o subsequente processo de execução e eventuais embargos à execução.
Assim, depois de a justiça gratuita ter sido concedida, ELA IRÁ PERDURAR AUTOMATICAMENTE ATÉ O FINAL DO
PROCESSO, E SÓ PERDERÁ SUA EFICÁCIA SE O JUIZ OU O TRIBUNAL EXPRESSAMENTE REVOGAREM CASO TENHA
COMPROVADAMENTE MELHORADO A CONDIÇÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA DO BENEFICIÁRIO.
Exemplo: João ajuizou ação de indenização contra Pedro e pediu o benefício da justiça gratuita, o que foi
deferido pelo magistrado logo na decisão inicial. O juiz julgou o pedido improcedente. João interpôs apelação.
O autor não precisará recolher as custas porque já lhe foi deferida justiça gratuita (e isso ainda está valendo).
No recurso proposto, João não necessita pedir novamente o benefício. Imaginemos que o Tribunal condene
Pedro a pagar a indenização. No momento do cumprimento de sentença (fase de execução), João continuará
tendo direito à justiça gratuita mesmo que não faça novo pedido nesse sentido.
STJ. Corte Especial. AgRg nos EAREsp 86.915-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 26/2/2015 (Info 557).
- Garantia de assistência jurídica integral e gratuita
A CF/88 prevê a garantia da assistência jurídica integral e gratuita em seu art. 5º, LXXIV: “o Estado prestará
assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”.
Esse dispositivo constitucional consagra duas garantias:
II – Gratuidade da justiça
I – Assistência jurídica integral e gratuita
(Assistência Judiciária Gratuita – AJG).
Fornecimento pelo Estado de orientação e defesa Isenção das despesas que forem necessárias para
jurídica, de forma integral e gratuita, a ser que a pessoa necessitada possa defender seus
prestada pela Defensoria Pública, em todos os interesses em um processo judicial.
graus, aos necessitados (art. 134 da CF). Era regulada pela Lei nº 1.060/50, mas o CPC 2015
Regulada pela Lei Complementar 80/94. passou a tratar sobre o tema, revogando quase
toda essa lei.
Dispensabilidade do prévio preparo do recurso contra a decisão que indeferiu a justiça gratuita
A pessoa que pediu justiça gratuita e esta foi negada, para que possa recorrer terá que pagar as custas do
recurso e comprovar o pagamento no momento da interposição?
O CPC 2015 afirma que NÃO . O recorrente não precisará fazer o recolhimento das custas até que haja
uma decisão do relator sobre a questão, antes do julgamento do recurso (art. 101, § 1º). Exemplo: João
interpõe o agravo de instrumento e não precisará ainda, neste momento, pagar as custas do recurso. O
Desembargador que for sorteado como relator, ao receber o recurso, irá proferir uma decisão monocrática
que pode ser:
deferindo o benefício da justiça gratuita até que se julgue o mérito do recurso pelo Tribunal.
negando o benefício da justiça gratuita até que o Tribunal examine o recurso. Neste caso, o relator
determinará ao recorrente o recolhimento das custas processuais no prazo de 5 dias, sob pena de não
conhecimento do recurso.
Essa decisão do Relator é monocrática (tomada sozinho) e provisória (isso porque o tema ainda será
apreciado pelo colegiado do Tribunal).
E antes do novo CPC, como a jurisprudência do STJ encarava o tema? A pessoa que pedia justiça gratuita e
esta era negada, no momento em que ia recorrer contra a decisão estava DISPENSADA de pagar as custas
do recurso?
1ª corrente: SIM. STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 600.215-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
julgado em 2/6/2015 (Info 564).
2ª corrente: NÃO. Posição majoritária nas demais Turmas do STJ. Quando o novo CPC entrar em
vigor esta 2ª corrente estará superada.
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 600.215-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 2/6/2015 (Info
564).
RECURSOS
O preparo consiste no pagamento das custas e do porte de remessa e de retorno dos autos.
A parte que interpõe recurso contra uma decisão precisa comprovar, no momento da interposição, o preparo.
Se a parte, no ato da interposição do recurso, recolhe apenas uma das verbas indispensáveis ao seu
processamento (paga só as custas ou paga só as despesas com o porte de remessa e retorno), ela deverá ser
intimada para suprir o preparo no prazo de 5 dias. Caso não faça isso no prazo, será decretada a sua deserção.
STJ. Corte Especial. REsp 844.440-MS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 6/5/2015 (Info 563).
RECURSO ESPECIAL
CABIMENTO DE RESP EM CASO DE APLICAÇÃO DE LEI NOVA A SITUAÇÃO JURÍDICA JÁ CONSTITUÍDA ANTES DE SUA EDIÇÃO
Cabe recurso especial – e não recurso extraordinário – para examinar se ofende o art. 6º da Lei de Introdução
às normas do Direito Brasileiro (LINDB) a interpretação feita pelo acórdão recorrido dos conceitos legais de
direito adquirido e de ato jurídico perfeito a qual ensejou a aplicação de lei nova a situação jurídica já
constituída quando de sua edição. STJ. 2ª Seção. REsp 1.124.859-MG, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão,
Rel. para acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 26/11/2014 (Info 556).
A jurisprudência do STF orienta-se no sentido de que não cabe recurso extraordinário por ofensa aos princípios
constitucionais da legalidade, do devido processo legal, da coisa julgada, do direito adquirido, entre outros, se,
para apreciá-la, for necessária a interpretação de legislação ordinária (AgRg no AG 135.632-RS, Primeira Turma,
DJ 3/9/1999).
Duas situações são possíveis de serem imaginadas:
Se a lei ordinária possui uma previsão dizendo que ela é retroativa e que se aplica a fatos pretéritos: essa lei,
em tese, viola diretamente o art. 5º, XXXVI, da CF/88, sendo cabível recurso extraordinário.
Se a lei ordinária não diz que é retroativa e cabe ao intérprete decidir se a lei nova se aplica ou não a
determinada relação jurídica existente quando de sua edição: a questão será infraconstitucional porque irá
depender da análise dos conceitos de ato jurídico perfeito e coisa julgada, definições que são fornecidas pelo
art. 6º da LINDB. Logo, caberá recurso especial.
SÚMULA 518-STJ: PARA FINS DO ART. 105, III, A, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, NÃO É CABÍVEL RECURSO
ESPECIAL FUNDADO EM ALEGADA VIOLAÇÃO DE ENUNCIADO DE SÚMULA.
STJ. CORTE ESPECIAL. APROVADA EM 26/02/2015 (INFO 556).
A) PARA OS FINS DO ART. 105, III, “A”, O QUE SE ENTENDE POR “LEI FEDERAL”?
A expressão “lei federal” é interpretada em sentido amplo e abrange:
Lei complementar federal/nacional;
Lei ordinária federal/nacional;
Lei delegada federal/nacional;
Decreto-lei federal/nacional;
Medida provisória federal/nacional;
Decreto autônomo federal/nacional.
Quando a pessoa interpõe recurso especial e fundamenta no art. 105, III, “a”, da CF/88, ela deverá indicar, de
forma individualizada, o dispositivo da “lei federal” que foi violado. Se não o fizer, o REsp não será conhecido.
“A ausência de indicação de dispositivo de lei federal que teria sido violado pelo acórdão recorrido ou
interpretado de forma divergente pelos tribunais, torna o recurso especial interposto com base nas alíneas ‘a’ e
‘c’ do permissivo constitucional deficiente em sua fundamentação. Incidência, por analogia, da Súmula
284/STF.” (STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 635.592/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
24/02/2015).
Conforme EXPLICAM FREDIE DIDIER E LEONARDO DA CUNHA (p. 329), os demais atos, diplomas ou instrumentos
normativos, uma vez desatendidos, não são objeto de análise em recurso especial. Assim, NÃO CABE
RECURSO ESPECIAL POR OFENSA a:
PORTARIA;
INSTRUÇÃO NORMATIVA;
RESOLUÇÃO;
DECRETO-LEGISLATIVO;
PARECER NORMATIVO.
“(...) o recurso especial não constitui via adequada para análise de interpretação de resoluções, portarias ou
instruções normativas, por não estarem tais atos normativos compreendidos na expressão ‘lei federal’,
constante da alínea ‘a’ do inciso III do art. 105 da Constituição Federal.” (STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp
1494995/RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 12/02/2015).
Também NÃO CABE RECURSO ESPECIAL SE A NORMA VIOLADA FOR ESTADUAL OU
MUNICIPAL.
B) CABE RECURSO ESPECIAL POR VIOLAÇÃO A REGIMENTO INTERNO DE TRIBUNAL?
NÃO. Não cabe recurso especial por violação de lei federal, quando a ofensa alegada for a regimento de
tribunal. Esse tema foi pacificado há muitos anos com a edição da Súmula 399 do STF (época em que ainda
nem havia STJ nem recurso especial).
Assim, é “inviável a análise, em recurso especial, do preceito regimental, pois não se enquadra no conceito de
lei federal, por aplicação analógica da Súmula 399/STF” (STJ. REsp 1316889/RS, julgado em 19/09/2013).
C) FUNDAMENTO DA SÚMULA:
.
O motivo é muito singelo: SÚMULA NÃO É LEI Súmula é enunciado que expressa o entendimento
consolidado do Tribunal sobre determinado tema. Não pode ser considerada como um “ato normativo”. Em
resumo, o conceito de súmula não se enquadra na definição de lei federal, não podendo a ela ser equiparada.
D) ATÉ AQUI, TUDO BEM, VOCÊ JÁ ENTENDEU A SÚMULA 518. VAMOS AGORA AVANÇAR E APROFUNDAR EM UM ASPECTO DE
ORDEM PRÁTICA. O QUE A PARTE PREJUDICADA DEVERÁ FAZER SE O ACÓRDÃO DO TJ OU TRF CONTRARIAR O ENTENDIMENTO
EXPOSTO EM UMA SÚMULA DO STJ?
Uma súmula do STJ nada mais é do que a intepretação que este Tribunal deu para determinada lei federal.
Logo, se o acórdão do TJ ou TRF afronta entendimento exposto em súmula do STJ, isso significa que, em última
análise, essa decisão viola a intepretação que o STJ deu para aquele tema.
Assim, neste caso, a parte prejudicada deverá interpor recurso especial alegando que o acórdão do TJ ou TRF,
ao decidir daquele modo, contrariou não a súmula (porque aí não caberá REsp), mas sim que a decisão violou o
art. XX da Lei Federal XX (cuja intepretação deu origem àquela súmula).
Exemplo: no acórdão, o TJ afirmou que as regras do CDC não se aplicam para os contratos de plano de saúde. O
STJ possui um enunciado que diz o contrário (Súmula 469: Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos
contratos de plano de saúde). Se a parte prejudicada interpuser recurso especial alegando que o acórdão
violou a súmula 469, ele nem será conhecido. Dessa forma, a parte deverá interpor o REsp aduzindo que o TJ
contrariou o art. 3º da Lei federal n. 8.078/90. Isso porque o STJ editou a Súmula 469 com base na
interpretação dada a esse dispositivo legal.
FREDIE DIDIER E LEONARDO DA CUNHA EXPLICAM O TEMA COM MAIS TÉCNICA E ELEGÂNCIA:
“O que se permite é que, no recurso especial, se demonstre que o dispositivo foi interpretado pelo tribunal de
origem diferentemente do STJ. Em outras palavras, a jurisprudência do STJ não foi seguida, exatamente porque
determinado dispositivo foi interpretado diferentemente da orientação por ele ministrada. Logo, deve o
recurso especial apontar violação ao respectivo dispositivo legal, e não à jurisprudência ou ao enunciado da
súmula do STJ.” (p. 330).
Em julgamentos submetidos ao rito do art. 543-C do CPC 1973 (art. 1.036 do CPC 2015), cabe ao STJ traçar as
linhas gerais acerca da tese aprovada, descabendo a inserção de soluções episódicas ou exceções que
porventura possam surgir em outros indetermináveis casos, sob pena de se ter de redigir verdadeiros
tratados sobre todos os temas conexos ao objeto do recurso.
STJ. Corte Especial. EDcl no REsp 1.124.552-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 6/5/2015 (Info 562).
RECURSO ADESIVO
IMPOSSIBILIDADE DE DESISTÊNCIA DO RECURSO PRINCIPAL SE FOI CONCEDIDA TUTELA ANTECIPADA NO RECURSO ADESIVO
Em regra, se a parte que interpôs o recurso principal pede a sua desistência, o recurso adesivo seguirá a
mesma sorte, e não será mais conhecido (art. 500, III, do CPC).
Vale ressaltar, ainda, que o recorrente poderá, a qualquer tempo, desistir do recurso, mesmo que sem a
anuência do recorrido (art. 501).
No entanto, segundo decidiu o STJ, SE JÁ FOI CONCEDIDA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA NO
João propõe ação de indenização por danos morais contra Pedro pedindo o pagamento de R$ 30 mil. O juiz
julga o pedido procedente, condenando o réu a pagar a indenização por danos morais, mas fixando o valor
em R$ 10 mil. João pensou consigo mesmo: “eu queria mais, no entanto, prefiro acabar logo com esse
processo e receber imediatamente esses R$ 10 mil do que ficar tentando R$ 30 mil por mais alguns anos; não
vou recorrer”. Ocorre que, no último dia do prazo, Pedro interpôs apelação.
João foi, então, intimado para apresentar contrarrazões à apelação. Neste momento, ele pensou: “ah, já que
ele recorreu, então agora eu também quero recorrer para aumentar o valor da indenização; já que vou
esperar mesmo, então quero tentar uma quantia maior”.
Diante disso, o advogado de João interpõe recurso adesivo pedindo a majoração do valor da indenização por
danos morais.
Pedro apresenta contrarrazões alegando que o recurso interposto por João é incabível, considerando que o
recurso adesivo só cabe se existir sucumbência recíproca e, no caso, não houve, conforme preconiza a súmula
326 do STJ: “Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na
inicial não implica sucumbência recíproca.”
A tese de Pedro está correta?
NÃO. O recurso adesivo pode sim ser interposto pelo autor da ação de indenização julgada procedente,
quando arbitrado, a título de danos morais, valor inferior ao que era almejado. Isso porque, neste caso, estará
configurado o interesse recursal do demandante em ver majorada a condenação, hipótese caracterizadora de
sucumbência material.
Realmente, só cabe recurso adesivo se houver sucumbência recíproca, ou seja, se tanto o autor como o réu
perderem na sentença.
Se o autor pediu a condenação do réu em R$ 30 mil a título de danos morais e conseguiu a condenação em R$
10 mil, ele ganhou a demanda sob o ponto de vista formal (processual). Não se pode dizer que houve
sucumbência formal, já que a providência processual requerida foi atendida (o réu foi obrigado a pagar). No
entanto, sob o ponto de vista material, o autor teve sim uma sucumbência parcial (derrota parcial). Isso
porque ele não obteve exatamente o bem da vida que pretendia (queria 30 e só teve 10). Logo, neste caso, o
autor terá interesse em ver majorada a condenação, hipótese caracterizadora, portanto, da sucumbência
material viabilizadora da irresignação recursal.
Não se aplica a Súmula 326 do STJ porque esse enunciado é baseado na definição da responsabilidade pelo
pagamento de despesas processuais e honorários advocatícios. Ele não está relacionado com interesse
recursal. A correta leitura da súmula 326 é a seguinte:
Para fins de definição de quem irá pagar as despesas processuais e os honorários advocatícios, “na ação de
indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica
sucumbência recíproca”.
Logo, se o autor pediu uma quantia a título de danos morais e obteve valor inferior ao desejado, podemos
concluir que:
Sob o ponto de vista formal, ele foi o vencedor da demanda e não terá que pagar as despesas
processuais e os honorários advocatícios do réu (Súmula 326-STJ);
Sob o ponto de vista material, ele foi sucumbente e terá direito de interpor recurso (principal ou
adesivo), já que não obteve o exato bem da vida pretendido.
STJ. Corte Especial. REsp 1.102.479-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, Corte Especial, julgado em 4/3/2015 (recurso
repetitivo) (Info 562).
Sucumbência FORMAL: ocorre quando a parte não consegue aquilo que poderia ter processualmente
obtido em virtude do pedido formulado ao órgão jurisdicional.
Sucumbência MATERIAL: diz respeito aos aspectos materiais do processo. A análise aqui não é
processual, mas sim sobre o bem ou os bens da vida que a parte poderia obter em virtude do
processo judicial e que não obteve em razão da decisão judicial. Essa discrepância entre o desejado
no mundo prático e o praticamente obtido no processo gera a sucumbência material da parte.
Todas as vezes que houver sucumbência formal, haverá também a material. Se a parte não conseguiu a
providência processual requerida, isso significa que, no mundo real, também não obteve o bem da vida
pretendido. Por outro lado, pode haver a sucumbência material sem que exista a sucumbência formal, ou
seja, a parte obteve a providência processual, mas não conseguiu exatamente o bem da vida desejado.
AGRAVO DE INSTRUMENTO
POSSIBILIDADE DE CONHECER AG INSTRUMENTO INTERPOSTO PELA FAZENDA NACIONAL COM CÓPIA DO TERMO DE
ABERTURA DE VISTA E REMESSA DOS AUTOS
COISA JULGADA
Caso haja duas sentenças transitadas em julgado envolvendo as mesmas partes, mesma causa de pedir e
mesmo pedido, qual delas deverá prevalecer?
Existem duas correntes na doutrina e no STJ:
1ª) Prevalece a 1ª coisa julgada.
Posição da 3ª Turma do STJ.
Na doutrina: Arruda Alvim, Nelson Nery Jr. e Rosa Nery, Araken de Assis, Teresa Wambier,
Sérgio Gabriel Porto, Sálvio de Figueiredo Teixeira.
A segunda sentença seria inexistente, porque foi proferida numa demanda em que o autor era
carente de ação (por falta de interesse jurídico). A coisa julgada também é um pressuposto processual
negativo (ou extrínseco), de forma que a segunda ação foi proposta em afronta a esse pressuposto, o
que também conduz à inexistência da segunda sentença.
Para essa corrente, a partir do momento em que se entende que a segunda sentença é inexistente,
não há necessidade de ação rescisória, podendo-se obter a declaração de inexistência perante o
próprio juízo de origem, por meio de ação ou objeção, esteja ou não transcorrido o prazo decadencial
da rescisória. Vale ressaltar, no entanto, que o lesado poderá perfeitamente alegar o vício por meio
de rescisória.
2ª) Prevalece a 2ª coisa julgada, a não ser que ela seja desconstituída por ação rescisória.
Posição da 2ª Turma do STJ.
Na doutrina: Pontes de Miranda, Vicente Greco Filho, Barbosa Moreira, Cândido Rangel
Dinamarco, Humberto Theodoro Jr.
Havendo conflito entre duas coisas julgadas, prevalecerá a que se formou por último, enquanto não
desconstituída mediante ação rescisória. Assim, em regra, prevalece a segunda sentença transitada
em julgado, a não ser que ela seja desconstituída por meio de ação rescisória. Enquanto não for, ela é
que vale. Se passar o prazo de 2 anos da rescisória, a segunda valerá para sempre.
Havendo conflito entre duas coisas julgadas, prevalecerá a que se formou por último, enquanto não
se der sua rescisão para restabelecer a primeira. A exceção de pré- executividade não serve no caso
para substituir a ação rescisória.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.354.225-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/2/2015 (Info 557). STJ.
2ª Turma. REsp 1.524.123-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 26/5/2015 (Info 565).
INAPLICABILIDADE DA TEORIA DA RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA INCONSTITUCIONAL PARA ERRO NA FIXAÇÃO DOS
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
A MERA ALEGAÇÃO DE QUE HOUVE UM ERRO DE JULGAMENTO NÃO É APTA A JUSTIFICAR A APLICAÇÃO DA
TEORIA DA RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA com vistas a desconstituir DECISÃO QUE FIXOU
EQUIVOCADAMENTE OS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS com base no § 3º do art. 20 do CPC, quando deveria ter utilizado
o § 4º do referido dispositivo, ainda que o valor dos honorários seja excessivo e possa prejudicar os demais
credores. STJ. 4ª Turma. REsp 1.163.649-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 16/9/2014 (Info 556).
TEORIA DA RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA
A jurisprudência do STJ até admite, em alguns casos, a aplicação da teoria da relativização da coisa julgada,
contudo SOMENTE A ACEITA EM SITUAÇÕES EXCEPCIONAIS, nas quais A SEGURANÇA JURÍDICA, que é O SEU PRINCÍPIO
INFORMADOR, TIVER QUE CEDER ESPAÇO EM FAVOR DE OUTROS PRINCÍPIOS OU VALORES MAIS IMPORTANTES.
É o caso, por exemplo, da relativização da coisa julgada feita com o objetivo de se proteger:
A BUSCA DA VERDADE REAL (ex: ações tratando sobre filiação nas quais a decisão transitada em julgado conflite
com resultados de exames de DNA posteriores);
A FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO e a MÁXIMA EFICÁCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS (ex: nas execuções de
títulos judiciais fundados em norma declarada inconstitucional pelo STF); e
A JUSTA INDENIZAÇÃO (ex: ações de desapropriação que estabelecem indenizações excessivas ou incompatíveis
com a realidade dos fatos).
Assim, o erro decorrente da aplicação equivocada do § 3° do art. 20 do CPC, em vez do § 4° do referido
dispositivo, mesmo gerando um crédito excessivamente elevado, não tem o condão de afastar a imutabilidade
da coisa julgada, ainda que o pagamento do referido valor possa prejudicar os demais credores concursais.
Caso contrário, abrir-se-ia a possibilidade de que em todos os processos concursais (falência, recuperação
judicial, liquidação extrajudicial, concurso de credores, etc.) os créditos representados por títulos judiciais
transitados em julgado fossem casuisticamente revistos, em prejuízo, frise-se mais uma vez, da segurança
jurídica que a coisa julgada visa garantir e preservar.
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
Fundamento:
Art. 475-N, I, do CPC 1973 (art. 515, I, do CPC 2015):
Art. 475-N. São títulos executivos judiciais: I – a sentença proferida no processo civil que
reconheça a existência de obrigação de fazer,
não fazer, entregar coisa ou pagar quantia;
Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo I - as decisões proferidas no processo civil que
cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos reconheçam a exigibilidade de obrigação de
previstos neste Título: pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de
entregar coisa;
ASSIM, AS SENTENÇAS QUE, MESMO NÃO QUALIFICADAS COMO CONDENATÓRIAS, AO DECLARAREM UM DIREITO, ATESTEM DE
FORMA EXAURIENTE A EXISTÊNCIA DE OBRIGAÇÃO CERTA, LÍQUIDA E EXIGÍVEL, SERÃO DOTADAS DE FORÇA EXECUTIVA.
Não precisa haver intimação pessoal. A INTIMAÇÃO PODE SER REALIZADA NA PESSOA DO ADVOGADO do
devedor, POR MEIO DE PUBLICAÇÃO NA IMPRENSA OFICIAL.
H) ESSA MULTA PODE SER APLICADA EM CASO DE EXECUÇÃO PROVISÓRIA OU SOMENTE SE HOUVER TRÂNSITO EM JULGADO?
Essa multa É PRÓPRIA DA EXECUÇÃO DEFINITIVA, de modo que deve ter havido o trânsito em julgado da
sentença. A execução provisória de sentença não comporta a cominação da multa prevista no art. 475-J do CPC
(STJ AgRg nos EDcl no REsp 1229705/PR).
I) SE O DEVEDOR CONDENADO É INTIMADO PARA PAGAR E NÃO EFETUA O PAGAMENTO NO PRAZO DE 15 DIAS, O QUE ACONTECERÁ
EM SEGUIDA?
O montante da condenação será automaticamente acrescido de multa de 10%;
O credor deverá formular petição ao juiz apresentando o demonstrativo do débito atualizado e requerendo a
expedição de mandado para que sejam penhorados e avaliados os bens do devedor para satisfação do crédito.
Neste momento, inicia-se a execução forçada do título, diante do não cumprimento espontâneo.
J) NA FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA EXISTE ALGUMA FORMA DE “DEFESA” DO DEVEDOR?
Sim. A defesa típica do devedor executado no cumprimento de sentença é a chamada impugnação.
K) HÁ CONDENAÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS NA FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA? EM OUTRAS PALAVRAS, O
DEVEDOR PODE SER CONDENADO A PAGAR NOVOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA?
SIM. É CABÍVEL O ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS NA FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.
Os honorários advocatícios fixados na sentença remuneram o trabalho desenvolvido pelo advogado na fase de
conhecimento.
Como é necessário que o credor faça um requerimento, por meio de advogado, para que seja dado início à fase
de cumprimento de sentença, além de acompanhar toda a tramitação, o STJ entendeu que caberá a
condenação do devedor ao pagamento de novos honorários advocatícios de sucumbência, salvo se ele decidir
cumprir voluntariamente a obrigação.
L) PARA QUE HAJA CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS, É NECESSÁRIO QUE O DEVEDOR TENHA APRESENTADO IMPUGNAÇÃO?
NÃO. São devidos honorários advocatícios no cumprimento de sentença, haja ou não impugnação. Passou
o prazo de 15 dias e o devedor não pagou, já incidirão os honorários e mais a multa de 10%.
M) RESUMINDO:
Se o credor inicia o cumprimento de sentença, o devedor é intimado e paga dentro do prazo de 15 dias, isso é considerado
pelo STJ como sendo pagamento espontâneo do devedor.
Em outras palavras, há pagamento espontâneo do devedor que, intimado a fazê-lo, cumpre a determinação dentro do
prazo de 15 dias previsto no art. 475-J do CPC.
“Na fase de cumprimento de sentença, o devedor deverá ser intimado, na pessoa de seu advogado, mediante publicação
na imprensa oficial, para efetuar o pagamento no prazo de 15 (quinze) dias, a partir de quando, caso não o efetue, passará
a incidir a multa de 10% (dez por cento) sobre o montante da condenação (art. 475-J do CPC).” (STJ. Corte Especial. REsp
1.262.933⁄RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19⁄6⁄2013).
Não há que se falar em cobrança de honorários advocatícios quando há cumprimento espontâneo da obrigação. Assim,
havendo o adimplemento espontâneo do devedor no prazo fixado no art. 475-J do CPC, não são devidos honorários
advocatícios, uma vez que foi desnecessária a prática de quaisquer atos para obrigar o devedor a pagar (STJ. 4ª Turma.
REsp 1.264.272/RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/5/2012).
Por outro lado, se o devedor foi intimado e passou o prazo de 15 dias sem que ele pagasse, a partir daí já são cabíveis
honorários advocatícios, haja ou não impugnação.
IMPUGNAÇÃO
A) NA FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA EXISTE ALGUMA FORMA DE “DEFESA” DO DEVEDOR?
NÃO. Para o STJ, trata-se de MERO INCIDENTE PROCESSUAL (REsp 1134186/RS). Obs:
EXISTEM POSIÇÕES DIFERENTES NA DOUTRINA.
C) PARA QUE O DEVEDOR APRESENTE IMPUGNAÇÃO É INDISPENSÁVEL A GARANTIA DO JUÍZO, OU SEJA, É NECESSÁRIO QUE HAJA
PENHORA, DEPÓSITO OU CAUÇÃO?
SIM. A GARANTIA DO JUÍZO CONSTITUI CONDIÇÃO PARA A PRÓPRIA APRESENTAÇÃO DE IMPUGNAÇÃO ao cumprimento
de sentença, e NÃO APENAS PARA SUA APRECIAÇÃO.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.265.894-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/6/2013 (Info 526).
D) A TESE DO CREDOR É ACEITA PELO STJ? SE A IMPUGNAÇÃO OFERECIDA PELO DEVEDOR É JULGADA IMPROCEDENTE, O DEVEDOR
TERÁ QUE PAGAR, POR CAUSA DISSO, NOVOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS (ALÉM DOS QUE JÁ DEVERÁ PAGAR POR FORÇA DO
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA TER SE INICIADO)?
NÃO. Na hipótese de rejeição da impugnação ao cumprimento de sentença, não são cabíveis novos
honorários advocatícios. Dito de outro modo: o devedor não terá que pagar novos honorários advocatícios
pelo fato de ter perdido a impugnação (obs: esse devedor continuará tendo que pagar honorários advocatícios
por não ter pago voluntariamente a obrigação, ou seja, terá que pagar honorários advocatícios por causa do
cumprimento de sentença).
E) E SE A IMPUGNAÇÃO OFERECIDA PELO DEVEDOR FOR JULGADA PROCEDENTE, HAVERÁ CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS? SIM. SE
A IMPUGNAÇÃO FOR JULGADA PROCEDENTE O CREDOR SERÁ CONDENADO A PAGAR HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS EM FAVOR DO
DEVEDOR.
Em suma:
REQUISITOS PARA A IMPOSIÇÃO DA MULTA PREVISTA NO ART. 475-J DO CPC NO CASO DE SENTENÇA ILÍQUIDA
O art. 475-J do CPC 1973 (art. 523, § 1º do CPC 2015) prevê que o devedor será intimado para pagar a quantia
na qual ele foi condenado no prazo de 15 dias. Caso não pague, o valor da condenação será acrescido de multa
de 10%.
A liquidez da obrigação é pressuposto para o pedido de cumprimento de sentença . Assim, essa multa
do art. 475-J do CPC 1973 (art. 523, § 1º do CPC 2015) só será imposta se a obrigação já estiver líquida, ou seja,
se houver o valor certo que o devedor deverá pagar.
Se a sentença foi ilíquida, antes de intimar o devedor para pagar sob pena da multa do art. 475-J do CPC 1973
(art. 523, § 1º do CPC 2015), será necessário fazer a sua liquidação.
Desse modo, para fins de recurso especial repetitivo, o STJ fixou a seguinte tese:
No caso de sentença ilíquida, para a imposição da multa prevista no art. 475-J do CPC, revela-se indispensável
(i) a prévia liquidação da obrigação; e, após, o acertamento, (ii) a intimação do devedor, NA FIGURA DO SEU
ADVOGADO, para pagar o quantum ao final definido no prazo de 15 dias. Em outras palavras, somente após
ter certeza do valor devido (liquidação) é que se poderá
intimar o devedor para pagar. Se ele, mesmo depois de intimado, não quitar a dívida no prazo
de 15 dias, aí sim haverá a imposição da multa de 10% do art. 475-J do CPC 1973 (art. 523, § 1º do CPC 2015).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.147.191-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 4/3/2015 (recurso
repetitivo) (Info 560).
EXECUÇÃO
O art. 649, X, do CPC afirma que “são absolutamente impenhoráveis até o limite de 40 (quarenta) salários
mínimos, a quantia depositada em CADERNETA DE POUPANÇA.”
O STJ confere interpretação extensiva ao inciso X do art. 649 do CPC, permitindo que essa
impenhorabilidade abranja outras aplicações financeiras, além da poupança, como é o caso do fundo de
investimento.
Assim, É IMPENHORÁVEL a quantia oriunda do recebimento, pelo devedor, de VERBA RESCISÓRIA
TRABALHISTA POSTERIORMENTE POUPADA EM MAIS DE UM FUNDO DE INVESTIMENTO, desde que a SOMA DOS
VALORES NÃO SEJA SUPERIOR A 40 SALÁRIOS MÍNIMOS.
Admite-se, PARA ALCANÇAR O PATAMAR DE 40 SALÁRIOS MÍNIMOS, QUE O VALOR INCIDA EM MAIS DE UMA
APLICAÇÃO FINANCEIRA, desde que respeitado tal limite. Em outras palavras, caso o devedor possua mais de
um fundo de investimento, todas as respectivas contas devem ser consideradas impenhoráveis, até o limite
global de 40 salários mínimos (soma-se todos os fundos de investimento e o máximo protegido é 40 salários
mínimos).
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.330.567-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/12/2014 (Info 554).
A) SE A PESSOA RECEBE SEU SALÁRIO NA CONTA BANCÁRIA, MAS NÃO O UTILIZA NO MÊS E LÁ O DEIXA DEPOSITADO, TAL QUANTIA
CONTINUARÁ SENDO IMPENHORÁVEL?
NÃO.
Para o STJ, na hipótese de qualquer quantia salarial se mostrar, ao final do período (isto é, até o recebimento
de novo provento de igual natureza), superior ao custo necessário ao sustento do titular e de seus familiares,
essa sobra perde o caráter alimentício e passa a ser uma reserva ou economia, tornando- se, em princípio,
penhorável.
MUDANÇA DE ENTENDIMENTO
O julgado noticiado neste Info 554 (EREsp 1.330.567-RS) adota em quase tudo as conclusões já expostas no
Info 547 (REsp 1.230.060-PR). Houve, no entanto, mudança de entendimento em um ponto, que deve ser
destacado:
NO RESP 1.230.060-PR (INFO 547), O STJ AFIRMOU QUE OS 40 SALÁRIOS MÍNIMOS DEVERIAM ESTAR DEPOSITADOS EM UMA SÓ CONTA DE
INVESTIMENTO (NÃO PODERIA HAVER MAIS DE UMA);
NO ERESP 1.330.567-RS (INFO 554), O STJ DECIDIU QUE SERÁ CONSIDERADA IMPENHORÁVEL A QUANTIA DE 40
SALÁRIOS MÍNIMOS MESMO QUE ESTEJA DEPOSITADA EM MAIS DE UM FUNDO DE INVESTIMENTO.
Outro ponto a ser destacado é que neste julgado (EREsp 1.330.567-RS), o STJ afirmou que a remuneração do
EXECUTADO SÓ SERÁ CONSIDERADA IMPENHORÁVEL SE ELA NÃO SUPERAR O VALOR DO
TETO CONSTITUCIONAL REFERENTE À REMUNERAÇÃO DE MINISTRO DO STF. Emoutras
palavras, o “salário” da pessoa só será impenhorável se ela receber até o valor que o Ministro do STF
ganha. O QUE ULTRAPASSAR ESSA QUANTIA, MESMO ESTANDO NO MÊS DO RECEBIMENTO, PODERÁ SER PENHORADO.
NÃO. As dívidas condominiais anteriores à alienação judicial e que não estavam previstas no edital não
serão de responsabilidade do arrematante, devendo ser quitadas com o valor obtido com a alienação judicial
do imóvel, podendo o arrematante pedir a reserva de parte desse valor para o pagamento das referidas
dívidas (STJ. 3ª Turma. REsp 1092605/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/06/2011).
Situação 2. Houve uma tentativa de alienação judicial do bem, mas não apareceram interessados. Diante
disso, o exequente decidiu adjudicar o apartamento. O exequente ficará responsável pelo pagamento dessas
cotas condominiais que venceram antes da adjudicação? SIM. O exequente que adjudicou o imóvel deve
arcar com as despesas condominiais anteriores à aquisição, AINDA QUE TAIS DÍVIDAS TENHAM SIDO
OMITIDAS NO EDITAL DA HASTA PÚBLICA.
A adjudicação e a arrematação possuem características diversas e, portanto, merecem tratamento distinto no
que diz respeito à vinculação ao edital. A adjudicação consiste na aquisição espontânea pelo exequente do
bem penhorado por preço não inferior ao da avaliação, não havendo sua subordinação ao edital de praça,
haja vista que essa forma de aquisição da propriedade não se insere no conceito de hasta pública. Logo, não
podem ser aplicados à adjudicação os mesmos dispositivos que tratam sobre a arrematação.
Imagine que um contrato preveja uma confissão de dívida (líquida, certa e exigível). Neste mesmo contrato, há
uma cláusula compromissória dizendo que eventuais divergências sobre o ajuste deverão ser dirimidas via
arbitragem.
Se a parte que se obrigou a pagar o valor confessado mostrar-se inadimplente, a parte credora poderá
executar o contrato na via judicial ou terá que instaurar o procedimento arbitral? Poderá propor
diretamente a execução na via judicial. Ainda que possua cláusula compromissória, o contrato assinado
pelo devedor e por duas testemunhas pode ser levado a execução judicial relativamente à cláusula de
confissão de dívida líquida, certa e exigível. Isso porque o juízo arbitral não possui poderes coercitivos
(executivos). Ele não pode penhorar bens do executado, por exemplo, nem levá-los à hasta pública. Em outras
palavras, O ÁRBITRO ATÉ DECIDE A CAUSA, mas se a parte perdedora não cumprir voluntariamente o que
lhe foi imposto, a parte vencedora terá que executar esse título no Poder Judiciário. Logo, não há
sentido instaurar a arbitragem para exigir o valor que já está líquido, certo e exigível por força uma confissão
de dívida.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.373.710-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 7/4/2015 (Info 560).
Agiu corretamente o juiz?
NÃO. Ainda que possua cláusula compromissória, o contrato assinado pelo devedor e por duas testemunhas
pode ser levado a execução judicial relativamente à cláusula de confissão de dívida líquida, certa e exigível.
O documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas tem força executiva, de modo que,
havendo uma cláusula reconhecendo dívida (obrigação) líquida, certa e exigível, é possível a propositura de
execução na via judicial (art. 585, II, CPC 1973; art. 784, III, do CPC 2015).
Mas e a cláusula compromissória?
Realmente, a cláusula compromissória, como é uma convenção de arbitragem, a princípio, afasta a jurisdição
estatal, tendo em vista que cabe ao árbitro decidir as questões sobre a validade da própria convenção e do
contrato que contenha cláusula compromissória, segundo o disposto no art. 8º, parágrafo único, da Lei nº
9.307/96. Por conseguinte, se a parte que celebrou a cláusula compromissória optar por ingressar com ação
judicial em vez de instaurar o procedimento arbitral, a solução correta a ser adotada pelo juiz é realmente a
extinção do processo judicial sem resolução de mérito, com base no art. 267, VII, do CPC 1973 (art. 485, VII, do
CPC 2015).
Todavia, caso se trate de um contrato que possua cláusula compromissória, mas ao mesmo tempo tenha uma
confissão de dívida, nesta hipótese será possível desde logo a execução na via judicial da confissão de dívida,
que se constitui em título executivo extrajudicial (líquido, certo e exigível). Isso porque o juízo arbitral não
possui poderes coercitivos (executivos). Ele não pode penhorar bens do executado, por exemplo nem levá-los à
hasta pública. Em outras palavras, o árbitro até decide a causa, mas se a parte perdedora não cumprir
voluntariamente o que lhe foi imposto, a parte vencedora terá que executar esse título no Poder Judiciário.
Logo, não há sentido instaurar a arbitragem para exigir o valor que já está líquido, certo e exigível por força
uma confissão de dívida. Nesse sentido:
(...) não é razoável exigir que o credor seja obrigado a iniciar uma arbitragem para obter juízo de certeza sobre
uma confissão de dívida que, no seu entender, já consta do título executivo. Além disso, é certo que o árbitro
não tem poder coercitivo direto, não podendo impor, contra a vontade do devedor, restrições a seu
patrimônio, como a penhora, e nem excussão forçada de seus bens. (...)
(STJ. 3ª Turma. REsp 944.917/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/9/2008).
Trata-se também da opinião de Cândido Rangel Dinamarco:
“(...) A convenção de arbitragem, que impede a tutela jurisdicional cognitiva por via judicial (art. 267, inc. VII,
do CPC (...), não é impeditiva da execução forçada, porque os árbitros jamais podem ser investidos do poder de
executar; existindo um título executivo extrajudicial, é lícito instaurar o processo executivo perante a Justiça
estadual apesar da existência da convenção de arbitragem, porque do contrário a eficácia do título seria
reduzida a nada.” (Instituições de Direito Processual Civil. Vol. IV. 2ª ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 83).
Cancelamento da distribuição da impugnação ou dos embargos à execução por falta de recolhimento das
custas
Sobre o tema, cancelamento da distribuição da impugnação ou dos embargos à execução por falta de
recolhimento das custas, é possível apontar as seguintes conclusões:
No CPC 1973:
1. Cancela-se a distribuição da impugnação ao cumprimento de sentença ou dos embargos à execução
na hipótese de não recolhimento das custas no prazo de 30 dias, independentemente de prévia
intimação da parte.
2. Não se determina o cancelamento da distribuição se o recolhimento das custas, embora
intempestivo, estiver comprovado nos autos.
No CPC 2015:
1. Cancela-se a distribuição da impugnação ao cumprimento de sentença ou dos embargos à execução
na hipótese de não recolhimento das custas no prazo de 15 dias, que só começam a ser contados
depois que a parte for intimada na pessoa de seu advogado (art. 290).
2. Não se determina o cancelamento da distribuição se o recolhimento das custas, embora
intempestivo, estiver comprovado nos autos.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.361.811-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Primeira Seção, julgado em 4/3/2015
(Info 561).
Os juízes, servidores do Judiciário, arbitradores, peritos e outros serventuários ou auxiliares da justiça não
podem adquirir bens que estejam sendo leiloados pelo tribunal ou juízo do lugar onde atuarem (art. 497, III,
do CC).
Essa vedação estende-se também para oficiais de justiça aposentados? Eles também estão proibidos de
arrematar?
NÃO. A vedação contida no art. 497, III, do CC não impede o oficial de justiça aposentado de arrematar
bem em hasta pública. A proibição tem como razão de ser o exercício efetivo da função, a fim de evitar
influências ou favorecimentos.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.399.916-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 28/4/2015 (Info 561).
Os recursos do Fundo Partidário são absolutamente impenhoráveis, inclusive na hipótese em que a origem do
débito esteja relacionada às atividades previstas no art. 44 da Lei n.9.096/95. Fundamento legal: art. 649, XI,
do CPC 1973; art. 833, XI, do CPC 2015.
Ex: a empresa de publicidade “XXX” ajuizou ação de cobrança contra o Partido “ZZZ” em virtude do não
pagamento pela prestação de serviços de marketing eleitoral realizados na campanha. A sentença foi julgada
procedente, determinando o pagamento de R$ 100 mil reais.
Como não houve pagamento voluntário após a condenação, iniciou-se a fase de cumprimento de sentença. O
juiz determinou a penhora “on line” e a quantia devida foi penhorada em uma conta bancária em nome do
partido político. Após a penhora, o partido apresentou impugnação alegando que a conta bancária onde os
valores foram penhorados é utilizada exclusivamente para o recebimento de repasse oriundo do Fundo
Partidário e, portanto, trata- se de verba impenhorável. A alegação do partido política está correta. O CPC
estabelece um rol de bens que não podem ser objeto de penhora. Dentre esses, encontram-se previstos os
“recursos do fundo partidário”.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.474.605-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 7/4/2015 (Info 562).
EXECUÇÃO FISCAL
INFORMATIVO 552, STJ - REQUISITOS PARA A INDISPONIBILIDADE DE BENS E DIREITOS NA EXECUÇÃO FISCAL.
Importante!!! O art. 185-A do CTN prevê a possibilidade de ser decretada a indisponibilidade dos bens e
direitos do devedor tributário na execução fiscal. Vale ressaltar, no entanto, que a indisponibilidade de que
trata o art. 185-A do CTN só pode ser decretada se forem preenchidos três requisitos:
1) deve ter havido prévia citação do devedor;
2) o executado deve não ter pago a dívida nem apresentado bens à penhora no prazo legal;
3) não terem sido localizados bens penhoráveis do executado mesmo após a Fazenda Pública esgotar as
diligências nesse sentido.
Obs.: para que a Fazenda Pública prove que esgotou todas as diligências na tentativa de achar bens do
devedor, basta que ela tenha adotado duas providências:
a) pedido de acionamento do Bacen Jud (penhora “on line”) e consequente determinação pelo magistrado;
b) expedição de ofícios aos registros públicos do domicílio do executado e ao Departamento Nacional ou
Estadual de Trânsito - DENATRAN ou DETRAN.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.377.507-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/11/2014 (recurso repetitivo) (Info
552).
Redirecionamento da execução contra sócio que não era gerente no momento do fato gerador
Em 2012, a sociedade empresária "ABC" deixou de pagar determinado imposto, tornando-se inadimplente
com o Fisco. Em 2013, João tornou-se sócio-gerente da sociedade empresária "ABC". Em 2014, a sociedade
empresária "ABC" fechou suas portas sem observar as formalidades legais, ou seja, foi dissolvida de forma
irregular. Em 2015, o Fisco ajuizou execução fiscal contra a referida sociedade empresária, não tendo,
contudo, encontrado ninguém no endereço onde ela funcionava. A dissolução irregular da sociedade autoriza
o redirecionamento da execução para o sócio-gerente (súmula 435-STJ). A pergunta que surge, no entanto, é
a seguinte:
É possível redirecionar a execução fiscal contra João mesmo sabendo que ele não exercia a gerência no
momento do fato gerador do tributo cobrado? É permitido o redirecionamento da execução fiscal contra o
sócio-gerente que, no momento da dissolução, exercia a gerência, mas que não era o gerente no momento
do fato gerador do tributo?
1ª corrente:NÃO . É a posição tradicional do STJ, ainda adotada pela 1ª Turma. AgRg no AREsp 729.285/SC,
Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 06/08/2015.
2ª corrente: SIM. É a nova posição da 2ª Turma do STJ. REsp 1.520.257-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em
16/6/2015 (Info 564).
STJ. 2ª Turma. REsp 1.520.257-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 16/6/2015 (Info 564).
Importante!!!
Sistemática da RPV:
Regra: SIM. Em regra, é cabível a fixação de verba honorária nas execuções contra a Fazenda Pública,
ainda que não embargadas, cujo pagamento da obrigação é feito mediante RPV.
Exceção: a Fazenda Pública não terá que pagar honorários advocatícios caso tenha sido adotada a
chamada “execução invertida”.
No caso de RVP, não se aplica o art. 1º-D da Lei 9.494/97.
A execução invertida consiste no seguinte: havendo uma decisão transitada em julgado condenando a
Fazenda Pública ao pagamento de uma quantia considerada como de “pequeno valor”, o próprio Poder
Público (devedor) prepara uma planilha de cálculos com o valor que é devido e apresenta isso ao credor. Caso
este concorde, haverá o pagamento voluntário da obrigação. Desse modo, a Fazenda Pública, em vez de
aguardar que o credor proponha a execução, ela já se antecipa e apresenta os cálculos da quantia devida. O
Poder Público, sem necessidade de processo de execução, cumpre voluntariamente a condenação.
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 630.235-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 19/5/2015 (Info 563).
FRAUDE À EXECUÇÃO
1) Em regra, para que haja fraude à execução, é indispensável que tenha havido a CITAÇÃO VÁLIDA DO
DEVEDOR.
2) Mesmo sem citação válida, haverá fraude à execução se, quando o devedor alienou ou onerou o bem, o
credor já havia realizado a AVERBAÇÃO DA EXECUÇÃO NOS REGISTROS PÚBLICOS (art. 615-A do CPC).
Presume-se em fraude de execução a alienação ou oneração de bens realizada após essa averbação (§ 3º do
art. 615-A do CPC).
3) Persiste válida a Súmula 375 do STJ, segundo a qual o reconhecimento da fraude de execução depende do
REGISTRO DA PENHORA DO BEM ALIENADO ou da PROVA DE MÁ-FÉ DO TERCEIRO ADQUIRENTE.
4) A PRESUNÇÃO DE BOA-FÉ É PRINCÍPIO GERAL DE DIREITO UNIVERSALMENTE ACEITO, devendo ser respeitado a parêmia
(ditado) milenar que diz o seguinte: “a boa-fé se presume, a má-fé se prova”.
5) Assim, NÃO HAVENDO REGISTRO DA PENHORA NA MATRÍCULA DO IMÓVEL, É DO CREDOR O ÔNUS DE PROVAR QUE O
TERCEIRO ADQUIRENTE TINHA CONHECIMENTO DE DEMANDA CAPAZ DE LEVAR O ALIENANTE À INSOLVÊNCIA (art. 659, §
4º, do CPC). STJ. Corte Especial. REsp 956.943-PR, Rel. originária Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min.
João Otávio de Noronha, julgado em 20/8/2014 (recurso repetitivo) (Info 552).
- Se o credor perceber que o devedor, mesmo após ter sido proposta a execução, procedeu à alienação ou
oneração de bens, precisará ajuizar uma ação para provar que houve a fraude à execução? NÃO. BASTA QUE
O CREDOR LESADO APRESENTE UMA PETIÇÃO AO JUÍZO ONDE TRAMITA A EXECUÇÃO PEDINDO QUE SEJA RECONHECIDA A FRAUDE
À EXECUÇÃO e DECLARADA A INEFICÁCIA DO ATO DE DISPOSIÇÃO (ALIENAÇÃO OU ONERAÇÃO).
- Como fica a situação da pessoa que adquiriu o bem alienado (chamado de “terceiro”)? Esse terceiro perderá
o bem? Como protegê-lo? Ao mesmo tempo que se deve evitar a fraude à execução, é também necessário
que se proteja o terceiro de boa-fé. Pensando nisso, o STJ firmou o entendimento de que somente será
possível reconhecer a fraude à execução se:
FICAR PROVADO A MÁ-FÉ DO TERCEIRO ADQUIRENTE; ou
Se no momento da alienação, O BEM VENDIDO JÁ ESTAVA PENHORADO NA EXECUÇÃO E ESSA PENHORA ESTAVA
REGISTRADA NO CARTÓRIO DE IMÓVEIS (§ 4º do art. 659).
A fim de que não houvesse mais polêmica, essa posição foi sumulada pelo STJ. Veja: Súmula 375-STJ: O
reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-
fé do terceiro adquirente.
Deve-se alertar para o fato de que alguns doutrinadores criticam esse enunciado porque ele confunde o
instituto da “fraude à execução” com a “alienação de bem penhorado”. Para a doutrina, quando o executado
vende um bem seu que está penhorado, ele não comete “fraude à execução”, mas sim um ato fraudulento
ainda mais grave e atentatório à jurisdição, chamado de “alienação de bem penhorado”.
No caso em que a garantia à execução fiscal tenha sido totalmente dispensada de forma expressa pelo juízo
competente - inexistindo, ainda que parcialmente, a prestação de qualquer garantia (penhora, fiança,
depósito, seguro-garantia) -, o prazo para oferecer embargos à execução deverá ter início na data da
intimação da decisão que dispensou a apresentação de garantia, não havendo a necessidade, na intimação
dessa dispensa, de se informar expressamente o prazo para embargar.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.440.639-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 2/6/2015 (Info 563).
AÇÃO MONITÓRIA
Ação monitória é um procedimento especial, previsto no CPC, por meio do qual o credor exige do devedor o
pagamento de soma em dinheiro, a entrega de coisa fungível ou a entrega de determinado bem móvel com
base em prova escrita que não tem eficácia de título executivo. Obs: com o CPC de 2015, a ação monitória
poderá ser utilizada para exigir a entrega de coisas infungíveis e também para exigir a entrega de bens imóveis,
situações que não eram abarcadas pelo antigo Código. Além disso, o CPC 2015 prevê que a ação monitória
serve também para exigir que o réu cumpra obrigação de fazer ou não fazer sobre a qual ele está inadimplente.
O réu citado poderá defender-se das alegações do autor. A defesa na ação monitória é denominada de
“embargos à ação monitória”. Os embargos à ação monitória são classificados como uma forma de defesa,
sendo semelhante à contestação.
Para que o réu apresente embargos monitórios, ele precisa pagar previamente as custas?
NÃO. NÃO SE EXIGE O RECOLHIMENTO DE CUSTAS INICIAIS PARA OFERECER EMBARGOS À AÇÃO
MONITÓRIA. ISSO PORQUE OS EMBARGOS À MONITÓRIA TÊM NATUREZA JURÍDICA DE DEFESA. Vimos acima que é
como se fosse uma contestação e o réu não precisa recolher custas para apresentar contestação. Isso vale
tanto para o CPC 1973 como para o novo CPC.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.265.509-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 19/3/2015 (Info 558).
AÇÃO MONITÓRIA
Ação monitória é um procedimento especial, previsto no CPC, por meio do qual o credor exige do devedor o
pagamento de soma em dinheiro ou a entrega de coisa com base em prova escrita que não tenha eficácia de
título executivo.
Ex1: ação monitória para cobrança de cheque prescrito.
Ex2: ação monitória para cobrança de valores baseados em contrato bancário de abertura de conta- corrente.
Opção 1: Se o credor tem título executivo, pode ingressar desde logo com a execução.
Opção 2: Se o credor não tem nenhuma prova documental, só lhe resta a ação de cobrança.
Opção 3: Se o credor tem prova escrita que não goza de eficácia de título executivo: cabe ação monitória.
Novidades do CPC 2015
CPC 1973 CPC 2015
A ação monitória poderia ser utilizada para que A ação monitória poderá ser utilizada para que
o autor exigisse do devedor (art. 1.102-A): o autor exija do devedor (art. 700):
O pagamento de SOMA EM DINHEIRO; O pagamento de QUANTIA EM DINHEIRO;
A entrega de COISA FUNGÍVEL; ou a entrega DE COISA FUNGÍVEL ou INFUNGÍVEL ou de
A entrega de DETERMINADO BEM MÓVEL. BEM MÓVEL ou IMÓVEL;
o adimplemento de OBRIGAÇÃO DE FAZER ou de
NÃO FAZER.
Nos CONTRATOS DE MÚTUO E FINANCIAMENTO, O DEVEDOR NÃO POSSUI INTERESSE DE AGIR PARA A AÇÃO
DE PRESTAÇÃO DE CONTAS.
O entendimento acima exposto continua válido com o CPC 2015, mas devem ser feitas duas observações:
O nome da ação passou a ser “ação de exigir contas”;
O CPC 2015 não mais fala em “condição da ação”. Essa categoria foi abolida. O interesse de agir, que era uma
condição da ação, continua sendo examinado, mas agora tem NATUREZA JURÍDICA DE REQUISITO DE
ADMISSIBILIDADE DO PROCESSO. Trata-se de um PRESSUPOSTO DE VALIDADE OBJETIVO EXTRÍNSECO.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.293.558-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/3/2015
RECURSO REPETITIVO:
A questão foi julgada segundo a sistemática do recurso repetitivo, tendo sido firmada a seguinte tese: “NOS
CONTRATOS DE MÚTUO E FINANCIAMENTO, O DEVEDOR NÃO POSSUI INTERESSE DE AGIR PARA A AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE
CONTAS.”
NOVO CPC
O entendimento acima exposto continua válido com o CPC 2015, mas devem ser feitas duas observações:
O nome da ação passou a ser “ação de exigir contas”;
O CPC 2015 não mais fala em “condição da ação”. Essa categoria foi abolida. O interesse de agir, que era uma
condição da ação, continua sendo examinado, mas agora tem natureza jurídica de requisito de admissibilidade
do processo. Trata-se de um pressuposto de validade objetivo extrínseco.
AÇÃO RESCISÓRIA
SIM. A AÇÃO RESCISÓRIA É UMA AÇÃO e, portanto, o autor, na petição inicial, deverá indicar o
valor da causa.
Qual é o critério para se atribuir o valor da causa na ação rescisória?
EM REGRA, o valor da causa na ação rescisória deverá ser O MESMO QUE FOI ATRIBUÍDO PARA A AÇÃO PRINCIPAL
(ORIGINÁRIA), DEVIDAMENTE ATUALIZADO MONETARIAMENTE (valor da causa da ação originária + correção
monetária).
EXCEÇÃO: É POSSÍVEL QUE, MESMO O AUTOR TENDO INDICADO O MESMO VALOR DA AÇÃO PRINCIPAL, A PARTE RÉ IMPUGNE O
VALOR DA CAUSA DEMONSTRANDO QUE O BENEFÍCIO ECONÔMICO PRETENDIDO NA RESCISÓRIA ESTÁ EM DESCOMPASSO COM
ESSA FIXAÇÃO (ex: provando que HOUVE UMA EXCEPCIONAL VALORIZAÇÃO DO BEM pretendido na ação rescisória). O
impugnante deverá demonstrar, com precisão, o valor correto que entende devido para a ação rescisória,
instruindo a inicial da impugnação com os documentos necessários à comprovação do alegado.
STJ. 2ª Seção. PET 9.892-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/2/2015 (Info 556).4
INFORMATIVO 553, STJ - PRORROGAÇÃO DO TERMO FINAL DO PRAZO PARA AJUIZAMENTO DA AÇÃO RESCISÓRIA
Importante!!! Que dia ocorre o trânsito em julgado? O trânsito em julgado ocorre no dia imediatamente
subsequente ao último dia do prazo para o recurso em tese cabível.
Qual é o termo inicial do prazo de 2 anos da ação rescisória? O prazo de 2 anos começa a ser contado do
exato dia em que ocorre o trânsito em julgado. O termo "a quo" para o ajuizamento da ação rescisória
coincide com a data do trânsito em julgado da decisão rescindenda. Dito de outro modo, o prazo decadencial
para a propositura de ação rescisória começa a correr da data do trânsito em julgado da sentença
rescindenda, INCLUINDO-SE-LHE NO CÔMPUTO O DIA DO COMEÇO.
SE O ÚLTIMO DIA DO PRAZO DA RESCISÓRIA FOR SÁBADO, DOMINGO OU FERIADO, HAVERÁ PRORROGAÇÃO PARA O PRIMEIRO
DIA ÚTIL SUBSEQUENTE? SIM. O TERMO FINAL DO PRAZO PARA O AJUIZAMENTO DA AÇÃO RESCISÓRIA, EMBORA
DECADENCIAL, PRORROGA-SE PARA O PRIMEIRO DIA ÚTIL SUBSEQUENTE SE RECAIR EM DIA DE NÃO FUNCIONAMENTO DA
SECRETARIA DO JUÍZO COMPETENTE.
STJ. Corte Especial. REsp 1.112.864-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, Corte Especial, julgado em 19/11/2014 (recurso
repetitivo) (Info 553).
NULIDADE
INEXISTÊNCIA DE NULIDADE PELO SIMPLES FATO DE A DEFESA DA UNIÃO, EM CAUSA NÃO FISCAL, TER SIDO FEITA PELA
PROCURADORIA DA FAZENDA NACIONAL
EMBARGOS DE TERCEIRO
INFORMATIVO 553, STJ - EMBARGOS DE TERCEIRO NÃO SERVEM PARA IMPUGNAR DECISÃO SE O FUNDAMENTO INVOCADO
PELO AUTOR NÃO É A POSSE, MAS SIM, UNICAMENTE, A PROPRIEDADE.
O PROPRIETÁRIO SEM POSSE A QUALQUER TÍTULO NÃO TEM LEGITIMIDADE PARA AJUIZAR, com
FUNDAMENTO NO DIREITO DE PROPRIEDADE, EMBARGOS DE TERCEIRO CONTRA DECISÃO TRANSITADA EM
JULGADO PROFERIDA EM AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE, DA QUAL NÃO PARTICIPOU, E NA QUAL
NEM SEQUER FOI AVENTADA DISCUSSÃO EM TORNO DA TITULARIDADE DO DOMÍNIO. STJ. 3ª Turma. REsp
1.417.620-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 2/12/2014 (Info 553)
- O que são os embargos de terceiro?
UMA AÇÃO DE CONHECIMENTO
Com RITO ESPECIAL SUMÁRIO,
Por meio da qual uma PESSOA OBJETIVA LIVRAR UM BEM DO QUAL TENHA POSSE (como senhor/proprietário ou
possuidor),
Bem este que ESTÁ SOFRENDO OU NA IMINÊNCIA DE SOFRER
UMA CONSTRIÇÃO JUDICIAL (exs: penhora, arresto, sequestro etc.)
- No caso, o embargante, na via estreita dos embargos de terceiro, não buscou apenas discutir se o bem
deveria ou não ser objeto de constrição/apreensão. Seu objetivo foi tornar mais complexa a discussão
material inicialmente travada, alegando que o domínio e, consequentemente, a posse do imóvel, não seria
nem do autor nem do réu, mas sua, por força do direito de propriedade. Ora, na demanda originária nem
sequer foi aventada discussão em torno da titularidade do domínio. Ademais, o propósito dos embargos é a
liberação do bem que foi objeto de equivocada constrição judicial, e não impugnar ato judicial que
determinou, com base em decisão transitada em julgado, a reintegração do bem objeto da discussão à parte
vitoriosa na demanda, sem nem sequer poder ser afirmada a existência de melhor posse em relação à parte
vencedora. OS EMBARGOS DE TERCEIRO TÊM COGNIÇÃO LIMITADA E DISCUTEM APENAS SE O EMBARGANTE TEM MELHOR
POSSE OU, AINDA, NAS HIPÓTESES DO ART. 1.047, QUE NÃO SE ENQUADRAM NA PRESENTE SITUAÇÃO.
- ELE DEVERIA AJUIZAR AÇÃO PETITÓRIA (ex: ação reinvidicatória) CONTRA O VENCEDOR DA AÇÃO DE
REINTEGRAÇÃO DE POSSE (no caso, Pedro). Nesta demanda, aí sim, poderia ser discutido o seu direito de
propriedade.
INTERDIÇÃO
INFORMATIVO 553, STJ - Desnecessidade de nomeação de curador especial se a interdição não foi proposta pelo
MP
Importante!!! A curatela é um encargo (múnus) imposto a um indivíduo (chamado de “curador”) por meio do
qual ele assume o compromisso judicial de cuidar de uma pessoa (“curatelado”) que, apesar de ser maior de
idade, possui uma incapacidade prevista no art. 1.767 do CC. Para que a curatela seja instituída é necessária a
instauração de um processo judicial por meio de uma ação de interdição. É necessário que o juiz nomeie
curador especial ao interditando?
• Se a ação de interdição for proposta pelo MP: SIM. O juiz deverá nomear curador à lide (curador especial), nos
termos do art. 1.179 do CPC.
• Se a ação de interdição for proposta por outro legitimado: NÃO é necessária a nomeação de curador à lide
porque o próprio MP já irá fazer a defesa dos interesses do interditando (art. 1.770 do CC).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.099.458-PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 2/12/2014 (Info 553).
INTIMAÇÃO
INFORMATIVO 553, STJ - Publicação de intimação com erro na grafia do sobrenome do advogado
Importante!!! NÃO há nulidade na publicação de ato processual em razão do acréscimo de uma letra ao
sobrenome do advogado no caso em que o seu prenome, o nome das partes e o número do processo foram
cadastrados corretamente, sobretudo se, mesmo com a existência de erro idêntico nas intimações anteriores,
houve observância aos prazos processuais passados, de modo a demonstrar que o erro gráfico não impediu a
exata identificação do processo. O entendimento do STJ é no sentido de que o erro insignificante na grafia do
nome do advogado, aliado à possibilidade de se identificar o processo por outros elementos, como o seu
número e o nome da parte, não enseja a nulidade da publicação do ato processual. STJ. Corte Especial. EREsp
1.356.168-RS, Rel. originário Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão Min. Jorge Mussi, julgado em 13/3/2014
(Info 553).
JUIZADOS ESPECIAIS
Requisitos para admissibilidade de reclamação e de pedido de uniformização de jurisprudência
Importante!!! Não é cabível reclamação, tampouco pedido de uniformização de jurisprudência ao STJ contra
acórdão de Turma Recursal do Juizado Especial da Fazenda Pública sob a alegação de que a decisão
impugnada diverge de orientação fixada em precedentes do STJ. STJ. 1ª Seção. Rcl 22.033-SC, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, julgado em 8/4/2015 (Info 559).
- O que acontece, então, se a decisão da Turma Recursal disser respeito à interpretação de lei federal e
contrariar entendimento consolidado ou mesmo sumulado do STJ? Já que não cabe recurso especial, como a
parte poderá questionar essa decisão? A resposta aqui irá variar conforme o microssistema do Juizado. Veja:
1) Juizados Especiais Cíveis e Criminais estaduais - A Lei n. 9.099/95 não previu solução para esse impasse.
Diante disso, o STJ idealizou a tese de que, enquanto a Lei não for alterada para criar um incidente de
uniformização, será possível que a parte ingresse com reclamação no STJ contra o acórdão da Turma Recursal
do Juizado Especial Estadual que contrariar entendimento da Corte. Existe até uma Resolução nº 12/2009 do
STJ tratando sobre “o processamento, no Superior Tribunal de Justiça, das reclamações destinadas a dirimir
divergência entre acórdão prolatado por turma recursal estadual e a jurisprudência desta Corte”. O STJ
entende que a parte pode ajuizar reclamação contra decisão de Turma Recursal estadual quando a decisão
proferida: a) afrontar jurisprudência do STJ pacificada em recurso repetitivo (art. 543-C do CPC); b) violar
súmula do STJ; c) for teratológica.
2) Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal - Não será necessária reclamação
porque a Lei do JEF, como é posterior à Lei n. 9.099/95, já corrigiu essa falha e previu mecanismos para fazer
com que o entendimento do STJ prevaleça. A Lei do JEF (Lei nº 10.259/2001) trouxe, em seu art. 14, a
previsão de que a parte pode formular pedido de uniformização de jurisprudência para a Turma Regional de
Uniformização (TRU) ou para a Turma Nacional de Uniformização (TNU), a depender do caso. Se a orientação
acolhida pela Turma de Uniformização contrariar súmula ou jurisprudência dominante no STJ, a parte
interessada poderá provocar a manifestação deste, que dirimirá a divergência (§ 4º). Os detalhes sobre isso
você não precisa saber, devendo apenas ler o art. 14 da Lei nº 10.259/2001 se estiver fazendo concursos
federais. Em suma, no que se refere aos Juizados Especiais Federais, a parte poderá formular junto ao STJ
pedido de uniformização de jurisprudência quando a orientação da Turma Nacional de Uniformização
contrariar: a) jurisprudência dominante do STJ; ou b) súmula do STJ.
Em virtude de existir essa possibilidade na própria Lei, o STJ não admite reclamação contra acórdãos da
Turma Recursal dos Juizados Especiais federais.
3) Juizados Especiais da Fazenda Pública - A Lei nº 12.153/2009 (Lei dos Juizados da Fazenda Pública), assim
como a Lei do JEF, trouxe a previsão de pedido de uniformização em seu art. 18: Art. 18. Caberá pedido de
uniformização de interpretação de lei quando houver divergência entre decisões proferidas por Turmas
Recursais sobre questões de direito material. (...) § 3º Quando as Turmas de diferentes Estados derem a lei
federal interpretações divergentes, ou quando a decisão proferida estiver em contrariedade com súmula do
Superior Tribunal de Justiça, o pedido será por este julgado. Art. 19. Quando a orientação acolhida pelas
Turmas de Uniformização de que trata o § 1º do art. 18 contrariar súmula do Superior Tribunal de Justiça, a
parte interessada poderá provocar a manifestação deste, que dirimirá a divergência. Desse modo, quanto ao
microssistema dos Juizados Especiais da Fazenda Pública, é cabível o pedido de uniformização de
jurisprudência quando: a) as Turmas de diferentes Estados derem à lei federal interpretações divergentes; ou
b) a decisão proferida estiver em contrariedade com súmula do STJ.
Em virtude de existir essa possibilidade na própria Lei, o STJ também não admite reclamação contra acórdãos
da Turma Recursal dos Juizados Especiais da Fazenda Pública.
- Logo, não é cabível nem pedido de uniformização nem reclamação ao STJ contra acórdão de Turma Recursal
do Juizado da Fazenda Pública que contrarie orientação fixada em precedentes do STJ. O STJ entendeu que
não cabia reclamação neste caso em razão não se verificarem as hipóteses nas quais ela é permitida: a)
usurpação de competência do STJ ou; b) necessidade de garantir a autoridade das decisões do STJ.
PENHORA
INFORMATIVO 553, STJ - POSSIBILIDADE EXCEPCIONAL DE PENHORA SOBRE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
Importante!!! Os honorários advocatícios (contratuais ou sucumbenciais) são a remuneração do advogado e,
portanto, possuem caráter alimentar. Logo, são, em princípio, impenhoráveis, com base no art. 649, IV, do
CPC. No entanto, o STJ entende que o art. 649, IV, do CPC não pode ser interpretado de forma literal ou
absoluta. Em determinadas circunstâncias é possível a sua relativização. Assim, SE OS HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS RECEBIDOS SÃO EXORBITANTES E ULTRAPASSAM VALORES QUE SERIAM RAZOÁVEIS PARA SUSTENTO
PRÓPRIO E DE SUA FAMÍLIA, A VERBA PERDE A SUA NATUREZA ALIMENTAR (FINALIDADE DE SUSTENTO) E PASSA A SER
POSSÍVEL A SUA PENHORA, LIBERANDO-SE APENAS UMA PARTE DESSE VALOR PARA O ADVOGADO. STJ. 2ª Turma. REsp
1.264.358-SC, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 25/11/2014 (Info 553).
A tese construída pelo exequente é correta? SIM . Se duas pessoas vivem em união estável, é como se elas
fossem casadas sob o regime da comunhão parcial de bens (art. 1.725 do CC). POR ISSO, O COMPANHEIRO (NO
CASO, JOÃO) POSSUI DIREITO À METADE DOS BENS DA COMPANHEIRA (BEATRIZ), INCLUINDO METADE DAS QUOTAS SOCIAIS
PORQUE ESTAS FORAM ADQUIRIDAS ONEROSAMENTE DURANTE À UNIÃO ESTÁVEL, DE FORMA QUE SE COMUNICAM AO
COMPANHEIRO.
PROCESSO CAUTELAR
INFORMATIVO 553, STJ - AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS BANCÁRIOS.
A propositura de ação cautelar de exibição de documentos bancários (cópias e segunda via de documentos) é
cabível como medida preparatória a fim de instruir a ação principal, bastando a demonstração da existência
de relação jurídica entre as partes, a comprovação de prévio pedido à instituição financeira não atendido em
prazo razoável, e o pagamento do custo do serviço conforme previsão contratual e normatização da
autoridade monetária. STJ. 2ª Seção. REsp 1.349.453-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção,
julgado em 10/12/2014 (recurso repetitivo) (Info 553).
INFORMATIVO 553, STJ - CONTRATO DE SEGURO DE AUTOMÓVEIS NÃO É TITULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL.
A via adequada para cobrar a indenização securitária fundada em contrato de seguro de automóvel é a ação
de conhecimento sob o rito sumário (e não a ação executiva). Não é possível propor diretamente a execução
nesse caso porque o contrato de seguro de automóvel não se enquadra como título executivo extrajudicial
(art. 585 do CPC). Por outro lado, os contratos de seguro de vida, por serem dotados de liquidez, certeza e
exigibilidade, são títulos executivos extrajudiciais (art. 585, III), podendo ser cobrados por meio de ação de
execução. STJ. 3ª Turma. REsp 1.416.786-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 2/12/2014 (Info
553).
DENUNCIAÇÃO DA LIDE
Denunciação da lide da seguradora e condenação ao pagamento da indenização
Súmula 537-STJ: Em ação de reparação de danos, a seguradora denunciada, se aceitar a denunciação ou
contestar o pedido do autor, pode ser condenada, direta e solidariamente junto com o segurado, ao
pagamento da indenização devida à vítima, nos limites contratados na apólice.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 10/06/2015, Dje 15/06/2015.
Nesta situação acima relatada, o juiz irá condenar José e a “Seguradora X”, de modo que Pedro poderá
executar tanto o denunciante (José) como a denunciada (Seguradora).
Isso é bom porque a vítima não será obrigada a perseguir seu direito somente contra o autor do dano (José), o
qual poderia não ter condições de arcar com a condenação.
Principais fundamentos do entendimento do STJ:
pacificação social;
efetividade da tutela judicial prestada;
garantia da duração razoável do processo;
indenizabilidade plena do dano sofrido.
Ressalte-se que a seguradora denunciada terá direito ao contraditório e à ampla defesa, com todos os meios
e recursos disponíveis.
Obs: a seguradora pode recusar a denunciação da lide, desde que tenha uma razão jurídica para isso (ex: o
contrato com o segurado já havia expirado). Neste caso, ela não poderá ser condenada junto com o segurado,
ao pagamento da indenização.
O prazo de cinco dias previsto no art. 892 do CPC 1973 (art. 541 do CPC 2015) NÃO se aplica para depósitos
judiciais relacionados com créditos tributários.
O crédito tributário é exigível a partir do dia de seu vencimento. Se ele não é pago nesta data, deverá ser
cobrado acrescido de juros, multa e correção monetária. Isso ocorre por força de lei.
Para que o depósito judicial possa acarretar a suspensão da exigibilidade do crédito tributário, ele deve ser
feito dentro do prazo de vencimento da obrigação.
Se a tese acima exposta fosse aceita, o contribuinte que ingressasse com ação de consignação em pagamento
passaria a ser agraciado com cinco dias extras para pagar o tributo pelo simples fato de ter proposto essa
ação. Por outro lado, o contribuinte que não tivesse proposto a ação continuaria tendo que pagar na data do
vencimento. Perceba, portanto, que haveria uma violação ao princípio da isonomia tributária (art. 150, I, da
CF/88), além de estar-se criando uma espécie de moratória tributária, de caráter geral, sem previsão legal.
Desse modo, o Fisco poderá sim cobrar multa e juros caso o depósito não seja realizado dentro do prazo para
o pagamento do tributo.
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.365.761-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 9/6/2015 (Info 564).
A indenização prevista no art. 18, caput e § 2º, do CPC 1973 (art. 81, caput e § 3º do CPC 2015) tem caráter
reparatório (ou indenizatório), decorrendo de um ato ilícito processual.
Apesar disso, é desnecessária a comprovação do prejuízo para que haja condenação ao pagamento da
indenização prevista nesse dispositivo.
Em outras palavras, é desnecessária a comprovação de prejuízo para que haja condenação ao pagamento de
indenização por litigância de má-fé (art. 18, caput e § 2º, do CPC 1973 / art. 81, caput e § 3º do CPC 2015).
STJ. Corte Especial. EREsp 1.133.262-ES, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 3/6/2015 (Info 565
PROCESSO COLETIVO
APLICABILIDADE DO ART. 18 DA LACP PARA AÇÃO CIVIL PÚBLICA MOVIDA POR SINDICATO
O art. 18 da Lei 7.347/85 prevê que o autor da ACP, antes de ajuizar a ação, não terá que adiantar custas,
emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem será condenado em honorários
advocatícios, custas e despesas processuais, salvo comprovada má-fé. O STJ DECIDIU QUE ESSE ART. 18 DA LEI
7.347/85 É APLICÁVEL TAMBÉM PARA A AÇÃO CIVIL PÚBLICA MOVIDA POR SINDICATO NA DEFESA DE DIREITOS
INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS DA CATEGORIA QUE REPRESENTA.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.322.166-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 4/3/2015 (Info 558).
O art. 18 da LACP e o art. 87 do CDC preveem que, nas ações de que tratam estas leis, não haverá
adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da
associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e despesas processuais.
O STJ decidiu que ESSAS REGRAS DE ISENÇÃO SÓ SE APLICAM PARA AS CUSTAS JUDICIAIS em:
AÇÕES CIVIS PÚBLICAS (QUALQUER QUE SEJA A MATÉRIA);
AÇÕES COLETIVAS QUE TENHAM POR OBJETO RELAÇÃO DE CONSUMO; e
Na AÇÃO CAUTELAR PREVISTA NO ART. 4º DA LACP (QUALQUER QUE SEJA A MATÉRIA).
NÃO É POSSÍVEL ESTENDEr, por analogia ou interpretação extensiva, essa isenção para OUTROS TIPOS DE AÇÃO
(COMO A RESCISÓRIA) ou para INCIDENTES PROCESSUAIS (como a IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA), mesmo que
tratem sobre direito do consumidor.
STJ. 2ª Seção. PET 9.892-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/2/2015 (Info 556).
Na execução de título judicial oriundo de ação coletiva promovida por sindicato na condição de
substituto processual, não é possível destacar os honorários contratuais do montante da condenação sem
que haja autorização expressa dos substituídos ou procuração outorgada por eles aos advogados.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.464.567-PB, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 3/2/2015 (Info 555).
A) IMAGINE A SEGUINTE SITUAÇÃO HIPOTÉTICA:
O sindicato, na condição de substituto processual (defendendo em nome próprio direito alheio), ajuizou
ação coletiva contra a União.
A ação foi julgada procedente e a ré foi condenada a pagar 1 milhão de reais em favor da categoria que o
sindicato representa.
A sentença transitou em julgado.
Como não houve pagamento espontâneo, o sindicato, por meio de advogado, ingressou com ação de
execução de título judicial.
No pedido de execução, o referido advogado alegou que tinha um contrato assinado entre ele e o sindicato
por meio do qual a entidade sindical se obrigou a lhe pagar R$ 100 mil a título de honorários contratuais.
Por conta disso, o causídico juntou o aludido contrato e pediu que houvesse o destaque desses
honorários do precatório, ou seja, que esse valor fosse descontado daquilo que os substituídos iriam
receber da União. Em palavras mais simples, o advogado pediu que a União, ao pagar o débito, pagasse
a ele R$ 100 mil por RPV e para os substituídos os R$ 900 mil restantes por meio de precatório.
O magistrado indeferiu o pedido alegando que não havia autorização expressa dos substituídos ou
procuração outorgada por eles ao advogado.
O § 4º do art. 22 da Lei n. 8.906/94 (Estatuto da OAB) traz a seguinte regra:
§ 4º Se o advogado fizer juntar aos autos o seu contrato de honorários antes de expedir-se o mandado de
levantamento ou precatório, o juiz deve determinar que lhe sejam pagos diretamente, por dedução da
quantia a ser recebida pelo constituinte, salvo se este provar que já os pagou.
ASSIM, NOS TERMOS DO CITADO ARTIGO, PARA QUE HAJA A RETENÇÃO, É IMPRESCINDÍVEL PREVISÃO
CONTRATUAL.
INFORMATIVO 552, STJ - MP TEM LEGITIMIDADE PARA AJUIZAR ACP EM DEFESA DE MUTUÁRIOS DO SFH.
O MINISTÉRIO PÚBLICO TEM LEGITIMIDADE AD CAUSAM PARA PROPOR AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM A FINALIDADE DE
DEFENDER INTERESSES COLETIVOS E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS dos mutuários do Sistema Financeiro da Habitação.
O STJ entende que os temas relacionados com SFH possuem expressão para a coletividade e que o interesse
em discussão é socialmente relevante. STJ. 3ª Turma. REsp 1.114.035-PR, Rel. originário Min. Sidnei Beneti,
Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 7/10/2014 (Info 552).
de recurso especial. Após o STJ decidir o recurso, os efeitos dessa decisão serão nacionais? NÃO. O
SIMPLES FATO DE A CAUSA TER SIDO SUBMETIDA À APRECIAÇÃO DO STJ, POR MEIO DE RECURSO
ESPECIAL, NÃO FAZ COM QUE OS EFEITOS DA SENTENÇA PROLATADA NA ACP PASSEM A TER ALCANCE
NACIONAL. Assim, OS EFEITOS DA ACP CONTINUARIAM RESTRITOS AOS LIMITES DA
COMPETÊNCIA TERRITORIAL DO JUIZ PROLATOR DA SENTENÇA. Ex.: se a sentença foi proferida
por um juiz de direito de Limeira (SP), os efeitos da decisão somente valerão para os titulares dos direitos
individuais homogêneos de Limeira (SP), mesmo tendo o STJ confirmado a sentença. STJ. 3ª Turma. REsp
1.114.035-PR, Rel. originário Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em
7/10/2014 (Info 552).
- Resumo das principais críticas ao dispositivo (DIDIER, Fredie; ZANETI, Hermes):
Gera PREJUÍZO À ECONOMIA PROCESSUAL E PODE OCASIONAR DECISÕES CONTRADITÓRIAS ENTRE JULGADOS PROFERIDOS EM
MUNICÍPIOS OU ESTADOS DIFERENTES;
Viola o PRINCÍPIO DA IGUALDADE POR TRATAR DE FORMA DIVERSA OS BRASILEIROS (PARA UNS IRÁ VALER A DECISÃO, PARA
OUTROS NÃO);
Os DIREITOS COLETIVOS “LATO SENSU” SÃO INDIVISÍVEIS, DE FORMA QUE NÃO HÁ SENTIDO QUE A DECISÃO QUE OS DEFINE SEJA
SEPARADA POR TERRITÓRIO;
A redação do dispositivo MISTURA “COMPETÊNCIA” COM “EFICÁCIA DA DECISÃO”, QUE SÃO CONCEITOS DIFERENTES. O
LEGISLADOR CONFUNDIU “COISA JULGADA” E “EFICÁCIA DA SENTENÇA”;
O art. 93 do CDC, que se aplica também à LACP, traz regra diversa, já que prevê que, em caso de danos
nacional ou regional, a competência para a ação será do foro da Capital do Estado ou do Distrito Federal, o
que indica que essa decisão valeria, no mínimo, para todo o Estado/DF.
- Para oSTJ , o ART. 16 DA LACP É VÁLIDO? Trata-se de tema polêmico. Podemos encontrar no STJ
julgados defendendo dois entendimentos diferentes:
1ª corrente: O ART. 16 DA LACP NÃO É VÁLIDO. Assim, os efeitos e a eficácia da sentença prolatada em
ação civil coletiva NÃO ESTÃO CIRCUNSCRITOS A LINDES GEOGRÁFICOS, mas AOS LIMITES OBJETIVOS E
SUBJETIVOS DO QUE FOI DECIDIDO (STJ. Corte Especial. REsp 1.243.887⁄PR, Min. Luis Felipe Salomão, julgado
em 19/10/2011) (STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 1326477/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
06/09/2012). (STJ. 2ª Turma. REsp 1.377.400-SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 18/2/2014. Info 536).
2º corrente: O ART. 16 DA LACP É VÁLIDO, PORÉM, SÓ SE APLICA A AÇÕES CIVIS PÚBLICAS QUE
ENVOLVAM DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. LOGO, ESSE ART. 16 NÃO VALE PARA ACPS QUE
TRATEM SOBRE DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS “STRICTO SENSU” (STJ. 3ª Turma. REsp 1.114.035-PR, Rel.
originário Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 7/10/2014). Para
essa segunda corrente, o art. 16 da LACP somente se aplica aos direitos individuais homogêneos porque estes
podem ser divididos, ou seja, o tratamento pode ser diferente para cada um dos titulares. Por outro lado, os
direitos difusos e coletivos “stricto sensu” são indivisíveis, de forma que não há lógica em alguém dizer que
uma decisão envolvendo o meio ambiente, por exemplo (direito difuso), irá valer apenas para determinados
limites territoriais.
É interessante destacar duas observações feitas pelo Min. João Otávio de Noronha para defender seu
entendimento:
I) O STF NEGOU A MEDIDA CAUTELAR PARA DECLARAR O ART. 16 INCONSTITUCIONAL (ADI 1576 MC);
ii) ao contrário do que se comumente afirma, a invalidade do art. 16 da LACP ainda não foi assentada pela
Corte Especial, considerando que no julgamento do REsp 1.243.887⁄PR, a conclusão de que esse dispositivo
não poderia ser aplicado foi mero obiter dictum feito pelo Min. Luis Felipe Salomão, não tendo integrado a
decisão.
INFORMATIVO 552, STJ - EFICÁCIA SUBJETIVA EM CASO DE ACP PROPOSTA PELO MP NO DISTRITO FEDERAL COM A
PARTICIPAÇÃO DE ENTIDADES DE ÂMBITO NACIONAL.
TEM ABRANGÊNCIA NACIONAL A EFICÁCIA DA COISA JULGADA DECORRENTE DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA AJUIZADA PELO
MINISTÉRIO PÚBLICO, COM ASSISTÊNCIA DE ENTIDADES DE CLASSE DE ÂMBITO NACIONAL, PERANTE A SEÇÃO JUDICIÁRIA
DO DISTRITO FEDERAL, e SE NDO O ÓRGÃO PROLATOR DA DECISÃO FINAL DE
PROCEDÊNCIA O STJ. É o que se extrai da inteligência dos arts. 16 da LACP, 93, II, e 103, III, do CDC.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.319.232-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 4/12/2014 (Info 552).
- O MPF ajuizou, na seção judiciária do Distrito Federal, ação civil pública contra a União, o Banco Central e o
Banco do Brasil. Na ação, intervieram, como assistentes do autor, algumas entidades de classe de âmbito
nacional. A lide proposta pelo MPF versava sobre direitos individuais homogêneos. O juiz julgou procedente o
pedido e, após passar pelo TRF, a questão chegou, por meio de recurso especial, até o STJ.
AÇÃO POPULAR
Determinado contrato administrativo foi celebrado, tendo havido, no entanto, irregularidades formais no
procedimento de licitação. A empresa contratada cumpriu exatamente os serviços previstos no contrato e
recebeu por isso.
Neste caso, o STJ entendeu que até seria possível a declaração de nulidade de contrato administrativo, mas
NÃO SE PODERIA CONDENAR A EMPRESA A RESSARCIR O ERÁRIO se NÃO HOUVE COMPROVAÇÃO REAL DE LESÃO AOS
COFRES PÚBLICOS.
Para o STJ, eventual violação à boa-fé e aos valores éticos esperados nas práticas administrativas não
configura, por si só, elemento suficiente para ensejar a presunção de lesão ao patrimônio público, uma vez que
a responsabilidade dos agentes em face de conduta praticada em detrimento do patrimônio público exige a
comprovação e a quantificação do dano. Adotar entendimento em sentido contrário acarretaria evidente
enriquecimento sem causa do ente público, que usufruiu dos serviços prestados em razão do contrato firmado
durante o período de sua vigência.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.447.237-MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 16/12/2014 (Info 557).
DIREITO PENAL
POSSIBILIDADE DA PRÁTICA DE CALÚNIA, DIFAMAÇÃO E INJÚRIA POR MEIO DA DIVULGAÇÃO DE UMA ÚNICA CARTA
É possível que se impute, de forma concomitante, a prática dos crimes de calúnia, de difamação e de injúria ao
agente que divulga, em uma única carta, dizeres aptos a configurar os referidos delitos, sobretudo no caso em
que os trechos utilizados para caracterizar o crime de calúnia forem diversos dos empregados para demonstrar
a prática do crime de difamação.
Ex: João, síndico do prédio, brigou com Pedro em virtude de desavenças quanto à prestação de contas. Pedro
escreveu, então, uma carta, distribuída a todos os demais condôminos, na qual dizia que João, no mês de
09/2014, desviou R$ 10 mil da conta do condomínio em proveito próprio (calúnia); que, no dia da assembleia
ocorrida em 22/10/2014, estava tão bêbado que não conseguia parar em pé (difamação) e que ele era um
gordo, feioso e burro (injúria).STJ. 5ª Turma. RHC 41.527-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 3/3/2015 (Info
557).
CRIME CONTINUADO
No caso de crime continuado, o art. 71 do CP prevê que o juiz deverá aplicar a pena de um só dos crimes, se
idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de 1/6 a 2/3.
O STJ entende que, EM REGRA, a escolha da quantidade de aumento de pena deve LEVAR EM
CONSIDERAÇÃO O NÚMERO DE INFRAÇÕES PRATICADAS pelo agente.
Porém, nem sempre será fácil trazer para os autos o número exato de crimes que foram praticados,
especialmente quando se trata de delitos sexuais. É o caso, por exemplo, de um padrasto que mora há
meses ou anos com a sua enteada e contra ela pratica constantemente estupro de vulnerável. NESSAS
HIPÓTESES, MESMO NÃO HAVENDO A INFORMAÇÃO DO NÚMERO EXATO DE CRIMES QUE FORAM
COMETIDOS, O JUIZ PODERÁ AUMENTAR A PENA ACIMA DE 1/6 E, DEPENDENDO DO PERÍODO DE TEMPO,
ATÉ CHEGAR AO PATAMAR MÁXIMO.
Assim, constatando-se a ocorrência de DIVERSOS CRIMES SEXUAIS DURANTE LONGO PERÍODO DE
TEMPO, É POSSÍVEL O AUMENTO DA PENA PELA CONTINUIDADE DELITIVA NO PATAMAR MÁXIMO DE 2/3 (ART. 71
DO CP), AINDA QUE SEM A QUANTIFICAÇÃO EXATA DO NÚMERO DE EVENTOS CRIMINOSOS. STJ. 5ª Turma. HC
311.146-SP, Rel. Min. Newton Trisotto (Desembargador convocado do TJ-SC), julgado em 17/3/2015
(Info 559).
O art. 71, caput, do CP prevê que o aumento na continuidade delitiva varia de 1/6 a 2/3. Qual é o critério que o
juiz deve adotar no momento da dosimetria da pena?
O critério para o aumento no crime continuado é o número de crimes praticados:
2 CRIMES AUMENTA 1/6
3 CRIMES AUMENTA 1/5
4 CRIMES AUMENTA 1/4
5 CRIMES AUMENTA 1/3
6 CRIMES AUMENTA 1/2
7 OU MAIS AUMENTA 2/3
O CRIME SE CONSUMOU. Assim, se o réu praticou esse fato antes da Lei 12.015/2009,
responderá por atentado violento ao pudor com violência presumida (art. 214 c/c art. 224, “a” do CP) ou, se
depois da Lei, por estupro de vulnerável (art. 217-A), AMBOS NA MODALIDADE CONSUMADO.
Para que o crime seja considerado consumado, não é indispensável que o ato libidinoso praticado seja
invasivo (introdução do membro viril nas cavidades da vítima). Logo, TOQUES ÍNTIMOS PODEM
SERVIR PARA CONSUMAR O DELITO.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.309.394-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 3/2/2015 (Info 555).
CONSIDERAR CONSUMADO ATOS LIBIDINOSOS DIVERSOS DA CONJUNÇÃO CARNAL SOMENTE QUANDO INVASIVOS, OU SEJA,
NAS HIPÓTESES EM QUE HÁ INTRODUÇÃO DO MEMBRO VIRIL NAS CAVIDADES ORAL, VAGINAL OU ANAL DA VÍTIMA, NÃO
CORRESPONDE AO ENTENDIMENTO DO LEGISLADOR, TAMPOUCO AO DA DOUTRINA E DA JURISPRUDÊNCIA ACERCA DO TEMA.
A) OUTRO PRECEDENTE DO STJ:
SOBRE ESSE TEMA, O STJ JÁ HAVIA DECIDIDO EM SENTIDO SEMELHANTE EM 2013:
A consumação do delito de estupro de vulnerável (art. 217-A do Código Penal) dá-se não apenas quando há
conjunção carnal, mas sim todas as vezes em que houver a prática de qualquer ato libidinoso com menor
de 14 anos.
No caso, o agente deitou-se por cima da vítima com o membro viril à mostra, após retirar-lhe as calças, o que,
de per si, configura ato libidinoso para a consumação do delito de estupro de vulnerável.
O STJ entende que é INADMISSÍVEL QUE O JULGADOR, DE FORMA MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA À LEI E UTILIZANDO-SE
DOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE, RECONHEÇA A FORMA TENTADA DO DELITO, EM RAZÃO DA
ALEGADA MENOR GRAVIDADE DA CONDUTA.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.353.575-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 5/12/2013 (Info 533).
NÃO. Em se tratando de crime sexual praticado contra menor de 14 anos, A EXPERIÊNCIA SEXUAL ANTERIOR
e A EVENTUAL HOMOSSEXUALIDADE DO OFENDIDO NÃO SERVEM PARA JUSTIFICAR A DIMINUIÇÃO DA
PENA-BASE A TÍTULO DE COMPORTAMENTO DA VÍTIMA. A experiência sexual anterior e a eventual
homossexualidade do ofendido, assim como não desnaturam (descaracterizam) o crime sexual
praticado contra menor de 14 anos, não servem também para justificar a diminuição da pena- base,
à título de comportamento da vítima.
STJ. 6ª Turma. REsp 897.734-PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 3/2/2015 (Info 555).
INFORMATIVO 553, STJ - AÇÃO PENAL NO CASO DE CRIME PRATICADO CONTRA VÍTIMA QUE ESTAVA
TEMPORARIAMENTE VULNERÁVEL
O art. 225 do CP prevê que, nos crimes sexuais, em regra, a ação penal é condicionada à representação.
Existem duas exceções previstas no parágrafo único:
1) SE A VÍTIMA É MENOR DE 18 ANOS: INCONDICIONADA.
2) SE A VÍTIMA É PESSOA VULNERÁVEL: INCONDICIONADA.
A interpretação que deve ser dada a esse parágrafo único é a de que, em relação à vítima possuidora de
incapacidade permanente de oferecer resistência à prática dos atos libidinosos, a ação penal seria sempre
incondicionada. Mas, EM SE TRATANDO DE PESSOA INCAPAZ DE OFERECER RESISTÊNCIA APENAS NA
OCASIÃO DA OCORRÊNCIA DOS ATOS LIBIDINOSOS, A AÇÃO PENAL PERMANECE CONDICIONADA À
REPRESENTAÇÃO DA VÍTIMA. Assim, procede-se mediante ação penal condicionada à representação no crime
de estupro praticado contra vítima que, por estar desacordada em razão de ter sido anteriormente agredida,
era incapaz de oferecer resistência apenas na ocasião da ocorrência dos atos libidinosos. STJ. 6ª Turma. HC
276.510-RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/11/2014 (Info 553).
- O estupro de vulnerável (art. 217-A) é sempre crime de ação penal pública incondicionada por causa do
parágrafo único do art. 225 do CP?
A EXPRESSÃO “PESSOA VULNERÁVEL” EMPREGADA PELO PARÁGRAFO ÚNICO É O MESMO CONCEITO DE “VULNERÁVEL” DO ART.
217-A DO CP?
NÃO. Para a 6ª Turma do STJ, a “pessoa vulnerável” de que trata o parágrafo único é somente aquela
que possui uma incapacidade permanente de oferecer resistência à prática dos atos libidinosos. Se a pessoa é
incapaz de oferecer resistência apenas na ocasião da ocorrência dos atos libidinosos, ela não pode ser
considerada vulnerável para os fins do parágrafo único do art. 225 do CP, de forma que a ação penal
permanece sendo condicionada à representação da vítima.
1) Se a vítima é pessoa 2) Se a vítima está apenas
PERMANENTEMENTE VULNERÁVEL. TEMPORARIAMENTE VULNERÁVEL.
Ex: vulnerável em razão de doença mental. Ex: encontra-se desmaiada.
- Enquadra-se no conceito de vulnerável do - Enquadra-se no conceito de vulnerável do
art. 217-A do CP. art. 217-A do CP.
- Amolda-se na definição do parágrafo único - NÃO SE AMOLDA NA DEFINIÇÃO DO
do art. 225 do CP.
PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 225 DO CP.
- O crime será de ação pública
incondicionada. - O crime será de AÇÃO PÚBLICA
CONDICIONADA.
HOMICÍCIO
A MORTE INSTANTÂNEA DA VÍTIMA NEM SEMPRE IRÁ AFASTAR A CAUSA DE AUMENTO DE PENA DO § 4º DO ART. 121 DO
CP
No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima,
não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante (§ 4º do art. 121 do
CP).
Se a vítima tiver morte instantânea, tal circunstância, por si só, é suficiente para afastar a causa de
aumento de pena prevista no § 4º do art. 121? NÃO. NO HOMICÍDIO CULPOSO, A MORTE INSTANTÂNEA DA
VÍTIMA NÃO AFASTA A CAUSA DE AUMENTO DE PENA PREVISTA NO ART. 121, § 4º, DO CP, A NÃO SER QUE O
ÓBITO SEJA EVIDENTE, ISTO É, PERCEPTÍVEL POR QUALQUER PESSOA. STJ. 5ª Turma.
HC 269.038-RS, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 2/12/2014 (Info 554).
ESTELIONATO
O delito de estelionato não será absorvido pelo de roubo na hipótese em que o agente, dias após roubar um
veículo e os objetos pessoais dos seus ocupantes, entre eles um talonário de cheques, visando obter
vantagem ilícita, preenche uma de suas folhas e, diretamente na agência bancária, tenta sacar a quantia
nela lançada.
A falsificação da cártula não é mero exaurimento do crime antecedente. Isso porque há diversidade de
desígnios e de bens jurídicos lesados. Dessa forma, inaplicável o princípio da consunção.
STJ. 5ª Turma. HC 309.939-SP, Rel. Min. Newton Trisotto (Desembargador convocado do TJ-SC), julgado em
28/4/2015 (Info 562).
ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO
O art. 9º da Lei 10.684/2003 prevê que o pagamento integral do débito fiscal realizado pelo réu é causa de
extinção de sua punibilidade.
Imagine que determinado indivíduo tenha praticado estelionato contra o INSS, conhecido como estelionato
previdenciário (art. 171, § 3º do CP). Antes do recebimento da denúncia, o agente paga integralmente o
prejuízo sofrido pela autarquia. Isso poderá extinguir sua punibilidade, com base no art. 9º da Lei
10.684/2003?
NÃO. NÃO EXTINGUE A PUNIBILIDADE DO CRIME DE ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO (ART. 171, § 3º,
DO CP) A DEVOLUÇÃO À PREVIDÊNCIA SOCIAL, ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA, DA
VANTAGEM PERCEBIDA ILICITAMENTE.
O art. 9º da Lei 10.684/2003 menciona os crimes aos quais são aplicadas suas regras:
A) ARTS. 1º E 2º DA LEI Nº 8.137/90;
B) ART. 168-A DO CP (APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA);
C) ART. 337-A DO CP (SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA).
Repare, portanto, que o estelionato previdenciário (art. 171, § 3º do CP) não está listado nessa lei.
Mesmo sem o estelionato previdenciário estar previsto, não é possível aplicar essas regras por analogia em
favor do réu?
NÃO. O ART. 9º DA LEI 10.684/2003 SOMENTE ABRANGE CRIMES TRIBUTÁRIOS
MATERIAIS, delitos que são ontologicamente distintos do estelionato previdenciário e que protegem
bens jurídicos diferentes. Dessa forma, não há lacuna involuntária na lei penal a demandar analogia.
O fato de o agente ter pago integralmente o prejuízo trará algum benefício penal?
SIM. O AGENTE PODERÁ TER DIREITO DE RECEBER O BENEFÍCIO DO ARREPENDIMENTO POSTERIOR, tendo sua pena
reduzida de 1/3 a 2/3 (art. 18 do CP).
STJ. 6ª Turma. REsp 1.380.672-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 24/3/2015 (Info 559).
ART. 273 DO CP
§ 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica as ações previstas no § 1º em relação a produtos em
qualquer das seguintes condições:
I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária competente;
II - em desacordo com a fórmula constante do registro previsto no inciso anterior;
III - sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua comercialização;
IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade;
V - de procedência ignorada;
VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente.
Lei 9.677/98
O § 1º-B foi inserido no art. 273 do CP por força da Lei n. 9.677/98.
O objetivo do legislador foi o de punir pessoas que vendem determinados “produtos destinados a fins
terapêuticos ou medicinais” e que, embora não se possa dizer que sejam falsificados, estão em determinadas
condições que fazem com que seu uso seja potencialmente perigoso para a população.
Em simples palavras, o legislador disse o seguinte: se o produto for vendido nas condições listadas nos incisos
do § 1º-B, a pessoa que vendeu será punida como se ele fosse falsificado. Foi feita uma presunção de que
comercializar produtos terapêuticos ou medicinais nas condições do § 1º-B é tão perigoso como vender
produtos falsificados.
Em que consiste o delito do § 1º-B:
No § 1º-B a lei pune o agente que:
I. - vende (formal ou informalmente)
II. - expõe à venda (quando a polícia chega no local, o agente não está vendendo, mas o produto está na
prateleira, p. ex.)
III. - tem em depósito para vender (quando os fiscais da ANVISA chegam, encontram vários produtos no estoque,
p. ex.)
IV. - distribui (repassa para outras pessoas)
V. - ou entrega a consumo (fornece, ainda que gratuitamente, para alguém usar/consumir)
VI. - produto terapêutico ou medicinal que se enquadre em um dos incisos do § 1º-B.
C) Inciso III: produto sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua comercialização
A ANVISA possui resoluções nas quais impõe as características de identidade e qualidade que os produtos
terapêuticos ou medicinais precisam possuir para serem comercializados.
Caso o sujeito venda, exponha à venda etc. produto que não atenda a essas normas técnicas da ANVISA, ele
responderá por este crime.
D) Inciso IV: produto com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade
Em palavras simples, valor terapêutico de um medicamento é o seu grau de eficácia para aliviar ou curar a
doença apresentada pelo paciente.
Aqui também terão que ser considerados aspectos técnicos disciplinados pela ANVISA.
E) Inciso V: produto de procedência ignorada
Pune-se o agente que vende produto terapêutico ou medicinal cuja origem se desconhece.
Ex: sujeito que vende um medicamento importado, mas no rótulo não se informa em qual país foi produzido.
F) Inciso VI: produto adquirido de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente
Os estabelecimentos que produzem produtos terapêuticos ou medicinais precisam também de registro na
ANVISA. Assim, se uma empresa produz medicamentos fitoterápicos industrializados, por exemplo, ela precisa
estar registrada na ANVISA. Imagine que esta empresa não esteja e que João compre os produtos e os
revenda em sua drogaria. João responderá pelo inciso VI, e os responsáveis pela empresa pelo inciso I.
G) INCONSTITUCIONALIDADE DA PENA PREVISTA PARA O § 1º-B DO CP
Como vimos, o § 1º-B foi acrescentado ao art. 273 pela Lei n. 9.677/98.
O legislador determinou que a conduta do § 1º-B fosse sancionada com a mesma pena do caput do art. 273.
Assim, para o legislador, a conduta de quem comercializa um produto não necessariamente falsificado, mas
nas condições irregulares do § 1º-B, deve ser punida com uma pena de 10 a 15 anos de reclusão.
Ocorre que essa pena é muito alta e, por conta disso, começou a surgir entre os advogados que militam na
área a constante alegação de que essa pena seria inconstitucional por violar o princípio da proporcionalidade.
H) A tese foi acolhida pelo STJ? A pena prevista para o crime do § 1º-B do art. 273 do CP é inconstitucional?
SIM. A CORTE ESPECIAL DO STJ, AO APRECIAR UM HABEAS CORPUS, DECIDIU QUE O PRECEITO SECUNDÁRIO DO ART. 273, § 1º-B,
INCISO V, DO CP É INCONSTITUCIONAL POR OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE.
Inicialmente, o STJ relembrou que é possível que o Poder Judiciário realize o controle de constitucionalidade de
leis penais, inclusive daquelas que estabeleçam penas. Nesse sentido já decidiu o STF:
“(...) mandatos constitucionais de criminalização [...] impõem ao legislador [...] o dever de observância do
princípio da proporcionalidade como proibição de excesso e como proibição de proteção insuficiente. A ideia
é a de que a intervenção estatal por meio do Direito Penal, como ultima ratio, deve ser sempre guiada pelo
princípio da proporcionalidade [...] Abre-se, com isso, a possibilidade do controle da constitucionalidade da
atividade legislativa em matéria penal”.
(STF. 2ª Turma. HC 104410, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 06/03/2012)
I) RESUMO DOS PRINCIPAIS ARGUMENTOS PELOS QUAIS A PENA DO ART. 273, § 1º, B, INCISO V, VIOLA OS PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE:
1º) Se for comparado com o crime de tráfico de drogas (notoriamente mais grave e cujo bem jurídico também é a
saúde pública), percebe-se a total falta de razoabilidade do preceito secundário do art. 273, § 1º-B, do CP. O
delito de tráfico de drogas (art. 33 da Lei 11.343/2006) possui pena de 5 a 15 anos de reclusão, sendo
importante lembrar que existe a possibilidade de aplicação do § 4º do mesmo artigo, que trata da figura do
traficante privilegiado, com a redução da pena em 1/6 a 2/3. Com isso, em inúmeros casos, o pequeno
traficante pode receber a pena de 1 ano e 8 meses, que pode ser convertida em pena restritiva de direitos. O
condenado pelo art. 273, § 1º-B, por sua vez, ainda que receba a pena mínima, seria condenado a 10 anos de
reclusão em regime fechado.
2º) Comparado com o homicídio, a pena mínima do art. 273, § 1º-B é maior que três vezes a pena máxima do
homicídio culposo e corresponde a quase o dobro da pena mínima do homicídio doloso simples.
3º) Além disso, a pena do art. 273, § 1º-B é cinco vezes maior que a pena mínima da lesão corporal de natureza
grave, sendo também maior que a reprimenda do estupro, do estupro de vulnerável, da extorsão mediante
sequestro. Tais comparações revelam gritante desproporcionalidade no sistema penal.
4º) O delito do art. 273, § 1º-B é crime de perigo abstrato, ou seja, para a sua consumação NÃO É NECESSÁRIO
PROVAR A OCORRÊNCIA DE EFETIVO Risco. É DISPENSÁVEL QUE TENHA OCORRIDO DANO CONCRETO À SAÚDE DO PRETENSO
USUÁRIO DO PRODUTO. Logo, trata-se de UMA REPRIMENDA MUITO ALTA PARA UM CRIME DE PERIGO ABSTRATO.
5º) Uma outra demonstração de que o legislador penal exagerou no momento da FIXAÇÃO DA PENA ESTÁ NO FATO DE
QUE A CONDUTA DE IMPORTAR MEDICAMENTO NÃO REGISTRADO NA ANVISA, CONSIDERADA CRIMINOSA E HEDIONDA PELO
ART. 273, § 1º-B, DO CP ACARRETA, NO ÂMBITO ADMINISTRATIVO, UMA MERA PUNIÇÃO DE ADVERTÊNCIA (arts. 2º, 4º, 8º,
IV e 10, IV, Lei 6.437/77). Em outras palavras, no âmbito administrativo a pena recebida é mínima e no âmbito
penal (que deveria ser a ultima ratio), a reprimenda é altíssima.
J) Ok, tudo bem. A pena prevista pelo legislador para o art. 273, § 1º-B foi declarada inconstitucional. Então,
neste caso, qual pena deverá ser aplicada em substituição?
O STJ ENTENDEU QUE DEVERÁ SER APLICADA A PENA ABSTRATAMENTE PREVISTA PARA O TRÁFICO
DE DROGAS (art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006), qual seja, “RECLUSÃO DE 5 (CINCO) A 15 (QUINZE) ANOS E
PAGAMENTO DE 500 (QUINHENTOS) A 1.500 (MIL E QUINHENTOS) DIAS-MULTA”.
Além disso, o STJ entendeu que SERÁ POSSÍVEL APLICAR PARA O RÉU QUE PRATICOU O ART. 273, § 1º-B DO CP A CAUSA
DE DIMINUIÇÃO PREVISTA NO § 4º DO ART. 33 DA LEI N. 11.343/2006.
INFORMATIVO 553, STJ - DENÚNCIA NO CASO DE HOMICÍDIO CULPOSO DEVE APONTAR QUAL FOI A CONDUTA NEGLIGENTE,
IMPRUDENTE OU IMPERITA QUE OCASIONOU A MORTE DA VÍTIMA
É INEPTA A DENÚNCIA QUE IMPUTA A PRÁTICA DE HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR (art. 302
da Lei n. 9.503/1997) sem descrever, DE FORMA CLARA E PRECISA, a conduta negligente, imperita ou
imprudente que teria gerado o resultado morte, SENDO INSUFICIENTE A SIMPLES MENÇÃO DE QUE O
SUPOSTO AUTOR ESTAVA NA DIREÇÃO DO VEÍCULO NO MOMENTO DO ACIDENTE. STJ. 6ª Turma. HC
305.194-PB, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 11/11/2014 (Info 553).
DOSIMETRIA DA PENA
Caso o réu tenha confessado a prática do crime (o que é uma atenuante), mas seja reincidente (o que
configura uma agravante), qual dessas circunstâncias irá prevalecer?
1ª) POSIÇÃO DO STJ: em regra, REINCIDÊNCIA E CONFISSÃO SE COMPENSAM. Exceção: SE O RÉU
FOR MULTIRREINCIDENTE, PREVALECE A REINCIDÊNCIA.
O juiz pode aumentar a pena-base com fundamento na excessiva velocidade? NÃO . Na primeira fase da
dosimetria da pena, o excesso de velocidade não deve ser considerado na aferição da culpabilidade (art. 59
do CP) do agente que pratica delito de homicídio e de lesões corporais culposos na direção de veículo
automotor. O excesso de velocidade não constitui fundamento apto a justificar o aumento da pena-base pela
culpabilidade, por ser inerente aos delitos de homicídio culposo e de lesões corporais culposas praticados na
direção de veículo automotor, caracterizando a imprudência, modalidade de violação do dever de cuidado
objetivo, necessária à configuração dos delitos culposos.
O juiz pode aumentar a pena-base com fundamento no fato de que o réu estava transportando droga no
carro para levá-la a uma festa?
SIM. O juiz, na análise dos motivos do crime (art. 59 do CP), pode fixar a pena-base acima do mínimo
legal em razão de o autor ter praticado delito de homicídio e de lesões corporais culposos na direção de
veículo automotor, conduzindo-o com imprudência a fim de levar droga a uma festa. Isso porque o fim de
levar droga a uma festa representa finalidade que desborda das razoavelmente utilizadas para esses crimes,
configurando justificativa válida para o desvalor.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 153.549-DF, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 2/6/2015 (Info 563).
INFORMATIVO 772, STF - INQUÉRITOS POLICIAIS E AÇÕES PENAIS SEM TRÂNSITO EM JULGADO.
Importante!!! A existência de INQUÉRITOS POLICIAIS OU DE AÇÕES PENAIS SEM TRÂNSITO EM JULGADO NÃO PODEM
SER CONSIDERADOS COMO MAUS ANTECEDENTES PARA FINS DE DOSIMETRIA DA PENA. STF. Plenário. RE 591054/SC,
Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/12/2014 (Info 772).
- NÃO PODEM SER UTILIZADAS COMO MAUS ANTECEDENTES (Plenário do STF):
• PROPOSTAS DE TRANSAÇÃO PENAL ACEITAS (art. 76, § 6º da Lei 9.099/1995);
• REMISSÃO EM PROCEDIMENTO JUDICIAL DO ECA, COM APLICAÇÃO DE MEDIDA DE CARÁTER REEDUCACIONAL;
• SENTENÇAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE, excetuados os resultantes em indulto individual, coletivo ou comutação
de pena.
Obs: A CONDENAÇÃO DE PESSOAS BENEFICIADAS COM INDULTO OU COMUTAÇÃO DE PENA PODEM CONTINUAR SENDO
UTILIZADAS COMO MAUS ANTECEDENTES.
- As CONDENAÇÕES POR FATOS POSTERIORES AO CRIME QUE ESTÁ SENDO JULGADO, AINDA QUE TENHAM
TRANSITADO EM JULGADO, TAMBÉM NÃO SÃO APTAS A DESABONAR, NA PRIMEIRA FASE DA DOSIMETRIA,
OS ANTECEDENTES PARA EFEITO DE EXACERBAÇÃO DA PENA-BASE.
DESCAMINHO
NÃO. Segundo a posição atual do STJ, o pagamento do tributo devido NÃO EXTINGUE A
PUNIBILIDADE DO CRIME DE DESCAMINHO.
STJ. 5ª Turma. RHC 43.558-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 5/2/2015 (Info 555).
A) LEI N. 12.382/2011
Em 2011, foi editada a Lei n. 12.382, que alterou o art. 83 da Lei n. 9.430/96 e passou a dispor sobre os
efeitos do parcelamento e do pagamento dos créditos tributários no processo penal. Veja o que diz a Lei:
§ 4º Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos no caput quando a pessoa física ou a pessoa jurídica relacionada com o agente
efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos, inclusive acessórios, que tiverem sido objeto de concessão de
parcelamento. (Incluído pela Lei 12.382/2011).
B) DESCAMINHO NÃO ESTÁ PREVISTO NAS LEIS N. 9.430/96 E 10.684/2003:
O art. 9º da Lei n. 10.684/2003 e o art. 83 da Lei n. 10.684/2003 mencionam os crimes aos quais são
aplicadas suas regras:
o ARTS. 1º E 2º DA LEI Nº 8.137/90;
o ART. 168-A DO CP (APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA);
o ART. 337-A DO CP (SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA).
Apesar disso, a JURISPRUDÊNCIA MAJORITÁRIA ENTENDIA que as disposições dessas leis deveriam ser
aplicadas, por analogia, ao descaminho. Isso porque, segundo SUSTENTAVAM OS JULGADOS, O DESCAMINHO, ASSIM
COMO ESSES QUATRO ACIMA LISTADOS, TAMBÉM SERIA UM CRIME TRIBUTÁRIO MATERIAL, motivo pelo qual não
haveria razão de receber tratamento diferenciado. Logo, se o réu efetuasse o pagamento integral da dívida
tributária, havia a extinção da punibilidade. O
DESCAMINHO É CRIME FORMAL.
Desse modo, o STJ PASSOU A ENTENDER QUE O DESCAMINHO NÃO PODE SER EQUIPARADO AOS CRIMES MATERIAIS
CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA, o que revela a impossibiidade de que o agente acusado da prática do crime de
descaminho tenha a sua punibilidade extinta pelo pagamento do tributo.
Na ocasião, afirmou-se que o bem jurídico tutelado pelo art. 334 do CP não é apenas o valor do imposto
sonegado, pois, além de lesar o Fisco, o CRIME ATINGE A ESTABILIDADE DAS ATIVIDADES COMERCIAIS
dentro do país, DÁ ENSEJO ao COMÉRCIO ILEGAL e à CONCORRÊNCIA DESLEAL, gerando uma série de
prejuízos para a atividade empresarial brasileira.
INFORMATIVO 552, STJ - DECISÃO ADMINISTRATIVA OU JUDICIAL FAVORÁVEL AO CONTRIBUINTE CARACTERIZA QUESTÃO
PREJUDICIAL EXTERNA FACULTATIVA.
Ainda que o descaminho seja delito de natureza formal, a existência de decisão administrativa ou judicial
favorável ao contribuinte – anulando o auto de infração, o relatório de perdimento e o processo
administrativo fiscal – caracteriza questão prejudicial externa facultativa, que autoriza a suspensão do
processo penal (art. 93 do CPP). STJ. 6ª Turma. REsp 1.413.829/CE, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
julgado em 11/11/2014 (Info 552).
- TANTO O STJ COMO O STF ENTENDEM QUE O DESCAMINHO É CRIME TRIBUTÁRIO FORMAL. Logo,
para que seja proposta ação penal por descaminho, não é necessária a prévia constituição definitiva do
crédito tributário. NÃO SE APLICA A SÚMULA VINCULANTE 24 DO STF. O crime se consuma com
a simples conduta de iludir o Estado quanto ao pagamento dos tributos devidos quando da importação ou
exportação de mercadorias.
PENA DE MULTA
SÚMULA 521-STJ: A LEGITIMIDADE PARA A EXECUÇÃO FISCAL DE MULTA PENDENTE DE PAGAMENTO IMPOSTA EM SENTENÇA
CONDENATÓRIA É EXCLUSIVA DA PROCURADORIA DA FAZENDA PÚBLICA.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 25/03/2015, DJe 6/4/2015.
SANÇÃO PENAL
Sanção penal é a resposta dada pelo Estado à pessoa que praticou uma infração penal. EXISTEM DUAS ESPÉCIES DE
SANÇÃO PENAL:
1º) Pena.
2º) Medida de segurança.
CONCEITO: Multa é uma espécie de pena, por meio da qual o condenado fica obrigado a pagar uma
quantia em dinheiro que será revertida em favor do Fundo Penitenciário.
O QUE ACONTECE CASO O CONDENADO NÃO PAGUE NEM PARCELE A MULTA NO PRAZO DE 10 DIAS?
Antes da Lei n.9.268/96: se o condenado, deliberadamente, deixasse de pagar a pena de multa, ela deveria ser
convertida em pena de detenção. Em outras palavras, a multa era transformada em pena privativa de
liberdade.
Atualmente: a Lei n.9.268/96 alterou o art. 51 do CP e previu que, se a multa não for paga, ela será considerada
dívida de valor e deverá ser cobrada do condenado pela Fazenda Pública por meio de execução fiscal.
Quem executa a pena de multa?
A pena de multa é executada pela Fazenda Pública por meio de execução fiscal que tramita na vara de
execuções fiscais. O rito a ser aplicado é o da Lei n.6.830/80.
Obs: A Lei n.9.268⁄96, ao alterar a redação do art. 51 do CP, AFASTOU A TITULARIDADE DO MINISTÉRIO
PÚBLICO PARA COBRAR A PENA DE MULTA.
O MINISTÉRIO PÚBLICO TEM LEGITIMIDADE PARA PROMOVER MEDIDA ASSECURATÓRIA QUE VISE À GARANTIA DO PAGAMENTO
DE MULTA IMPOSTA POR SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA.
É certo que, com a edição da Lei 9.268/1996, que deu nova redação ao art. 51 do CP, a legitimidade para a
cobrança da pena de multa passou a ser da Fazenda Pública. No entanto, a pena de multa continua tendo
natureza jurídica de sanção penal e, no caso em tela, não se está discutindo a legitimidade do MP para
cobrança de pena de multa, mas sim para promover medida assecuratória, providência que está assegurada
pelo art. 142 do CPP e pela própria CF/88, quando esta prevê que o MP é titular da ação penal.
Enquanto não há trânsito em julgado da condenação, a Fazenda Pública não pode tomar qualquer providência
relacionada com a cobrança da pena de multa. Assim, se não fosse permitido que o MP atuasse nesse caso,
ninguém mais teria legitimidade para essas medidas acautelatórias, já que a atuação da Fazenda Pública na
execução da multa penal só ocorre muito mais tarde, após o trânsito em julgado.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.275.834-PR, Rel. Min. Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ-SP), julgado
em 17/3/2015 (Info 558)
SÚMULA 522-STJ: A CONDUTA DE ATRIBUIR-SE FALSA IDENTIDADE PERANTE AUTORIDADE POLICIAL É TÍPICA, AINDA QUE EM
SITUAÇÃO DE ALEGADA AUTODEFESA.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 25/03/2015, DJe 6/4/2015.
O Pacto de San José da Costa Rica, que vige em nosso ordenamento jurídico com caráter supralegal, estabelece
em seu art. 8º, inciso II, alínea “g”, que “TODA PESSOA TEM DIREITO DE NÃO SER OBRIGADA A DEPOR
CONTRA SI MESMA, NEM A DECLARAR-SE CULPADA”.
Por fim, o Código de Processo Penal também preconiza:
Art. 186. Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor da acusação, o acusado será
informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer calado e de não responder
perguntas que lhe forem formuladas.
Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser interpretado em prejuízo da
defesa.
Por força desses dispositivos, a doutrina e a jurisprudência entendem que, no interrogatório, tanto na fase
policial, como em juízo, o réu poderá:
Ficar em silêncio, recusando-se a responder as perguntas sobre os fatos pelos quais ele está sendo acusado;
Obs.1: PREVALECE QUE O RÉU NÃO PODE NEGAR-SE A RESPONDER AS PERGUNTAS RELATIVAS À SUA QUALIFICAÇÃO, sendo
o DIREITO AO SILÊNCIO RELATIVO APENAS À SEGUNDA PARTE DO INTERROGATÓRIO.
Obs.2: o SILÊNCIO DO INTERROGADO NÃO PODE SER INTERPRETADO COMO CONFISSÃO FICTA, devendo ser encarado pelo
magistrado como mera ausência de resposta.
Obs.3: o direito ao silêncio também é conhecido como nemo tenetur se detegere.(Divergência Doutrinária)
Mentir ou faltar com a verdade quanto às perguntas relativas aos fatos;
Obs.1: diferentemente das testemunhas, o réu não tem o dever de dizer a verdade porque tem o direito
constitucional de não se autoincriminar. Logo, O RÉU, AO SER INTERROGADO E MENTIR, NÃO RESPONDE POR FALSO
TESTEMUNHO (ART. 342 DO CP).
Obs.2: o DIREITO DE MENTIR NÃO PERMITE QUE IMPUTE FALSAMENTE O CRIME A TERCEIRA PESSOA INOCENTE. Caso isso
ocorra, RESPONDERÁ POR DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA (ART. 399, CP).
Obs.3: em alguns países, como nos EUA, é crime mentir durante o interrogatório. Ressalte-se que, no direito
norte-americano, também se garante ao acusado o direito ao silêncio e à não autoincriminação (privilegie
against self-incrimination), no entanto, na hipótese de o réu decidir responder as perguntas, não poderá faltar
com a verdade. Trata-se do chamado crime de perjúrio.
LIMITES DA AUTODEFESA
A AUTODEFESA É UM DIREITO ILIMITADO?
NÃO. A AUTODEFESA NÃO É UM DIREITO ABSOLUTO. Exemplo disso, já consagrado há muito tempo, é o fato de
que se o réu, em seu interrogatório, imputar falsamente o crime a pessoa inocente, responderá por
denunciação caluniosa (art. 399, CP).
Assim como no caso do uso de documento falso, também na hipótese de falsa identidade, O STF ENTENDE QUE
HÁ CRIME QUANDO O AGENTE, PARA NÃO SE INCRIMINAR, ATRIBUI A SI UMA IDENTIDADE QUE NÃO É SUA. Essa questão
já foi, inclusive, analisada pelo Pleno do STF em regime de repercussão geral:
O princípio constitucional da autodefesa (art. 5º, inciso LXIII, da CF/88) não alcança aquele que atribui falsa
identidade perante autoridade policial com o intento de ocultar maus antecedentes, sendo, portanto, típica a
conduta praticada pelo agente (art. 307 do CP). O tema possui densidade constitucional e extrapola os limites
subjetivos das partes.
STF. Plenário. RE 640139 RG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 22/09/2011.
(...) O Plenário Virtual, ao analisar o RE 640.139/DF, reconheceu a repercussão geral do tema versado nestes
autos e, na ocasião, reafirmou a jurisprudência, já consolidada no sentido de que comete o delito tipificado no
art. 307 do Código Penal aquele que, conduzido perante a autoridade policial, atribui a si falsa identidade com
o intuito de ocultar seus antecedentes. (...)
STF. 2ª Turma. RE 648223 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 18/10/2011
INFORMATIVO 553, STJ - DESNECESSIDADE DE PROVA PERICIAL PARA CONDENAÇÃO POR USO DE DOCUMENTO FALSO
Importante!!! É possível a condenação pelo crime de uso de documento falso (art. 304 do CP) com
fundamento em documentos e testemunhos constantes do processo, acompanhados da confissão do
acusado, SENDO DESNECESSÁRIA A PROVA PERICIAL PARA A COMPROVAÇÃO DA MATERIALIDADE DO CRIME,
especialmente se a defesa não requereu, no momento oportuno, a realização do referido exame. O crime de
uso de documento falso se consuma com a simples utilização de documento comprovadamente falso, dada a
sua natureza de delito formal. STJ. 5ª Turma. HC 307.586-SE, Rel. Min. Walter de Almeida Guilherme
(Desembargador convocado do TJ/SP), julgado em 25/11/2014 (Info 553).
FURTO
PARA QUE CONFIGURE A QUALIFICADORA DA DESTREZA , É NECESSÁRIO QUE O AGENTE TENHA SUBTRAÍDO O BEM COM
EXCEPCIONAL HABILIDADE SEM SER DESCOBERTO
No crime de furto, deve ser reconhecida a qualificadora da “destreza” (art. 155, § 4º, II, do CP) caso inexista
comprovação de que o agente tenha se VALIDO DE EXCEPCIONAL – INCOMUM – HABILIDADE para subtrair
a coisa que se encontrava na posse da vítima SEM DESPERTAR-LHE A ATENÇÃO.
Destreza, para fins de furto qualificado, é a especial habilidade física ou manual que permite ao agente
subtrair bens em poder direto da vítima sem que ela perceba o furto. É o chamado “punguista”. STJ. 5ª
Turma. REsp 1.478.648-PR, Rel. para acórdão Min. Newton Trisotto (desembargador convocado do TJ/SC),
julgado em 16/12/2014 (Info 554).
A) PRISÃO EM FLAGRANTE AFASTA A FIGURA DA DESTREZA
Se o AGENTE QUE TENTAVA REALIZAR O FURTO É PRESO EM FLAGRANTE PRÓPRIO, significa QUE NÃO PODERÁ
INCIDIR A QUALIFICADORA DA DESTREZA, devendo responder por tentativa de furto simples. Isso
porque se ele foi descoberto tentando subtrair o bem da vítima, CONCLUI-SE QUE ELE NÃO TEM HABILIDADE
EXCEPCIONAL PARA FURTAR. Logo, NÃO HÁ DESTREZA.
A existência de sistema de segurança ou de vigilância eletrônica não torna impossível, por si só, o crime de
furto cometido no interior de estabelecimento comercial.
Ex: João ingressa em um supermercado e, na seção de eletrônicos, subtrai para si um celular que estava na
prateleira. Ele não percebeu, contudo, que bem em cima deste setor havia uma câmera por meio da qual o
segurança do estabelecimento monitorava os consumidores, tendo este percebido a conduta de João.
Quando estava na saída do supermercado com o celular no bolso, João foi parado pelo segurança do
estabelecimento, que lhe deu voz de prisão e chamou a PM, que o levou até a Delegacia de Polícia.
No caso em tela, não se pode falar em absoluta impropriedade do meio. Trata-se de inidoneidade RELATIVA
do meio. Em outras palavras, o meio escolhido pelo agente é relativamente ineficaz, visto que existe sim uma
possibilidade (ainda que pequena) de o delito se consumar. Sendo assim, se a ineficácia do meio deu-se
apenas de forma relativa, não é possível o reconhecimento do instituto do crime impossível previsto no art.
17 do CP.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.385.621-MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 27/5/2015 (recurso repetitivo)
(Info 563).
ROUBO
GRAVE AMEAÇA/VIOLÊNCIA CONTRA MAIS DE UMA PESSOA, MAS SUBTRAÇÃO DE UM SÓ PATRIMÔNIO
A PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA DO CRIME DE APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA (ART. 168- A DO CP)
PERMANECE SUSPENSA ENQUANTO A EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO ESTIVER SUSPENSA EM RAZÃO DE DECISÃO DE
ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA NO JUÍZO CÍVEL. Isso porque a decisão cível acerca da exigibilidade do crédito
tributário repercute diretamente no reconhecimento da própria existência do tipo penal, visto ser o crime de
apropriação indébita previdenciária um delito de natureza material, que pressupõe, para sua consumação, a
realização do lançamento tributário definitivo.
STJ. 5ª Turma. RHC 51.596-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 3/2/2015 (Info 556).
A) A APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA É UM CRIME TRIBUTÁRIO MATERIAL? PARA QUE HAJA A CONSUMAÇÃO DO DELITO É
NECESSÁRIA A CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO? APLICA-SE A SV 24-STF?
SIM. A apropriação indébita previdenciária (art. 168-A do CP) é CRIME OMISSIVO MATERIAL (e não
formal), de modo que, por FORÇA DO PRINCÍPIO DA ISONOMIA, APLICA-SE A ELE TAMBÉM A SV 24 (STJ. 6ª
Turma. HC 270.027/RS, julgado em 05/08/2014). Assim, para a sua consumação, é indispensável o prévio
exaurimento da via administrativa em que se discute a exigibilidade do tributo. Em outras palavras, é
necessário que, no âmbito administrativo-fiscal, a questão já tenha sido definitivamente julgada e haja uma
certeza de que o tributo é realmente devido.
ESTELIONATO JUDICIAL
SE NÃO FOR POSSÍVEL AO MAGISTRADO, DURANTE O PROCESSO, TER ACESSO ÀS INFORMAÇÕES QUE CARACTERIZAM A
FRAUDE, SERÁ POSSÍVEL A CONFIGURAÇÃO DO ESTELIONATO
SIM. O agente utilizou procuração e comprovante de residência falsos para ingressar com a ação,
tendo praticado, em tese, o delito previsto no ART. 304 DO CP (USO DE DOCUMENTO FALSO).
MOEDA FALSA
Imagine que o réu tenha utilizado uma nota de R$ 100 falsificada para pagar uma dívida. Após alguns dias,
descobriu-se que a cédula era falsa e, antes que houvesse denúncia, o agente ressarciu o credor por
seus prejuízos. O réu praticou o crime de moeda falsa. É POSSÍVEL APLICAR A ELE O BENEFÍCIO DO ARREPENDIMENTO
POSTERIOR (ART. 16 DO CP)?
NÃO. Nos crimes tributários materiais, o pagamento do débito previdenciário APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO
DA SENTENÇA CONDENATÓRIA NÃO ACARRETA A EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE.
FUNDAMENTO:
O art. 9º da Lei 10.684/2003 trata da extinção da punibilidade pelo pagamento da dívida antes do trânsito em
julgado da condenação, uma vez que faz menção expressa à pretensão punitiva do Estado. Após o trânsito em
julgado da condenação, o Estado já exerceu o seu direito de punir (fixar sanção). Começa, a partir daí, o seu
poder de executar a punição, o que é um instituto diferente.
STJ. 6ª Turma. HC 302.059-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 5/2/2015 (Info 556).
Após o trânsito em julgado da condenação, o Estado já exerceu o seu direito de punir (fixar sanção). Começa, a
partir daí, o seu poder de executar a punição, o que é um instituto diferente.
Repito: o art. 9º da Lei n. 10.684/2003 fala em extinção da PUNIBILIDADE. Esse artigo somente poderia ser
aplicado após o trânsito em julgado se ele falasse em extinção da punibilidade e da EXECUTORIEDADE.
ESTATUTO DO DESARMAMENTO
O porte de arma de fogo a que têm direito os policiais civis NÃO SE ESTENDE AOS POLICIAIS APOSENTADOS.
Isso porque, de acordo com o art. 33 do Decreto 5.123/2004, que regulamentou o art. 6º da Lei 10.826/2003,
O PORTE DE ARMA DE FOGO ESTÁ CONDICIONADO AO EFETIVO EXERCÍCIO DAS FUNÇÕES INSTITUCIONAIS POR PARTE DOS
POLICIAIS, MOTIVO PELO QUAL NÃO SE ESTENDE AOS APOSENTADOS. STJ. 5ª Turma. HC 267.058-SP, Rel. Min. Jorge
Mussi, julgado em 4/12/2014 (Info 554).
O raciocínio é o seguinte: se não fizer nada, não tomar nenhuma providência, o policial, quando se
aposenta, perde direito ao porte de arma que tinha quando era da ativa. Isso porque o porte como policial da
ativa está condicionado ao efetivo exercício das funções institucionais. Logo, a se aposentar ele perde,
automaticamente, o porte e terá que devolver a arma da corporação.
No entanto, o art. 37 do Decreto 5.123/2004 permite que o policial aposentado conserve a autorização de
porte de porte de arma de fogo de sua propriedade (arma de fogo particular) (a funcional deve ser
devolvida), desde que seja feito um requerimento formal nesse sentido e cumpridos alguns requisitos,
como os testes de avaliação da aptidão psicológica, realizados de 3 em 3 anos.
CONCURSO PUBLICO
Em concursos públicos, você deve adotar a redação literal do que decidiu o STJ:
“DE ACORDO COM O ARTIGO 33 DO DECRETO FEDERAL 5.123/2004, QUE REGULAMENTOU O ARTIGO 6º DA LEI
10.826/2003, O PORTE DE ARMA DE FOGO ESTÁ CONDICIONADO AO EFETIVO EXERCÍCIO DAS FUNÇÕES INSTITUCIONAIS POR
PARTE DOS POLICIAIS, MOTIVO PELO QUAL NÃO SE ESTENDE AOS APOSENTADOS.”
Em uma prova discursiva, prática ou oral, contudo, você pode explicar a existência dessa autorização de
porte de arma de fogo particular constante do art. 37 do Decreto 5.123/2004.
INFORMATIVO 775, STF - O PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DEVE SER ABSORVIDO PELO CRIME DE HOMICÍDIO?
Importante!!! Se o agente, utilizando arma de fogo, atira e mata alguém, haverá homicídio e porte de arma de
fogo ou apenas homicídio? Se uma pessoa pratica homicídio com arma de fogo, a acusação por porte deverá
ser absorvida? Aplica-se o princípio da consunção?
Depende da situação:
• Situação 1: NÃO. O CRIME DE PORTE NÃO SERÁ ABSORVIDO SE FICAR PROVADO NOS AUTOS QUE O AGENTE PORTAVA
ILEGALMENTE A ARMA DE FOGO EM OUTRAS OPORTUNIDADES ANTES OU DEPOIS DO HOMICÍDIO E QUE ELE NÃO SE
UTILIZOU DA ARMA TÃO SOMENTE PARA PRATICAR O ASSASSINATO. Ex: a instrução demonstrou que João adquiriu a
arma de fogo três meses antes de matar Pedro e não a comprou com a exclusiva finalidade de ceifar a vida da
vítima.
• Situação 2: SIM. SE NÃO HOUVER PROVAS DE QUE O RÉU JÁ PORTAVA A ARMA ANTES DO HOMICÍDIO OU SE FICAR
PROVADO QUE ELE A UTILIZOU SOMENTE PARA MATAR A VÍTIMA. Ex: o agente compra a arma de fogo e, em
seguida, dirige-se até a casa da vítima, e contra ela desfere dois tiros, matando-a.
No caso concreto julgado pelo STF, ficou provado que o réu havia comprado a arma 3 meses antes da morte
da vítima. Além disso, também se demonstrou pelas testemunhas que o acusado, várias vezes antes do crime,
passou na frente da casa da vítima, mostrando ostensivamente o revólver utilizado no crime. Desse modo,
RESTOU PROVADO QUE OS TIPOS PENAIS CONSUMARAM-SE EM MOMENTOS DISTINTOS E QUE TINHAM
DESÍGNIOS AUTÔNOMOS, RAZÃO PELA QUAL NÃO SE PODE RECONHECER O PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO ENTRE O
HOMICÍDIO E O PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO.STF. 1ª Turma. HC 120678/PR, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o
acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em 24/2/2015 (Info 775).
ESTATUTO DO TORCEDOR
HAVERÁ CRIME DE CAMBISMO MESMO QUE, NO MOMENTO EM QUE O CAMBISTA ATUA AINDA EXISTAM INGRESSOS
DISPONÍVEIS NA BILHETERIA.
CAMBISTA É A PESSOA QUE VENDE INGRESSOS COM ÁGIO, FORA DAS BILHETERIAS DOS TEATROS, ESTÁDIOS ETC. O
cambista comete o delito previsto no art. 41-F da Lei 10.671/2003 (Estatuto do Torcedor): “Vender
ingressos de evento esportivo, por preço superior ao estampado no bilhete”.
Para a CONFIGURAÇÃO DO CRIME de cambismo, NÃO É NECESSÁRIO PROVAR QUE, NO MOMENTO DA OFERTA,
NÃO HAVIA INGRESSOS DISPONÍVEIS NA BILHETERIA.
O tipo penal não exige essa circunstância e o simples fato de oferecer o ingresso com preço superior ao
da face já é conduta que ofende o bem jurídico protegido.
O cambismo é comportamento dotado de reprovabilidade penal pela simples razão de envolver a
exploração, artificiosa, de um bem finito: a quantidade de lugares nos estádios.
APLICAÇÃO DA PENA
INFORMATIVO 552, STJ - Aumento da pena-base pelo fato de a corrupção passiva ter sido praticada por
Promotor de Justiça (circunstância judicial desfavorável).
O fato de o crime de corrupção passiva ter sido praticado por Promotor de Justiça no exercício de suas
atribuições institucionais pode configurar circunstância judicial desfavorável na dosimetria da pena. Isso
porque esse fato revela maior grau de reprovabilidade da conduta, a justificar o reconhecimento da
acentuada culpabilidade, dadas as específicas atribuições do promotor de justiça, as quais são distintas e
incomuns se equiparadas aos demais servidores públicos “latu sensu”. STJ. 5ª Turma. REsp 1.251.621-AM, Rel.
Min. Laurita Vaz, julgado em 16/10/2014 (Info 552).
INFORMATIVO 552, STJ - INAPLICABILIDADE DO ART. 92, I, DO CP A SERVIDOR PÚBLICO APOSENTADO ANTES DA
CONDENAÇÃO CRIMINAL.
Importante!!! Réu, servidor público, foi denunciado pela prática de crime contra a Administração Pública.
Durante o curso do processo criminal, ele se aposenta. O juiz profere sentença, condenando-o à pena de 5
anos de reclusão. É possível que o juiz o condene também à perda da aposentadoria com base no art. 92, I, do
CP? NÃO. AINDA QUE CONDENADO POR CRIME PRATICADO DURANTE O PERÍODO DE ATIVIDADE, O
SERVIDOR PÚBLICO NÃO PODE TER A SUA APOSENTADORIA CASSADA COM FUNDAMENTO NO ART. 92, I,
DO CP, MESMO QUE A SUA APOSENTADORIA TENHA OCORRIDO NO CURSO DA AÇÃO PENAL. O ROL DO ART. 92
DO CP É TAXATIVO E NELE NÃO ESTÁ PREVISTA A PERDA DA APOSENTADORIA. STJ. 5ª Turma.
REsp 1.416.477-SP, Rel. Min. Walter de Almeida Guilherme (Desembargador convocado do TJ/SP), julgado em
18/11/2014 (Info 552).
INFORMATIVO 552, STJ - PROMOTOR DE JUSTIÇA CONDENADO E REGRAS ESPECIAIS SOBRE A PERDA DO CARGO.
Importante!!! Em ação penal decorrente da prática de corrupção passiva praticada por membro vitalício do
Ministério Público Estadual, não é possível determinar a perda do cargo com fundamento no art. 92, I, a, do
CP. AS REGRAS SOBRE A PERDA DO CARGO DE MEMBRO DO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL ESTÃO
PREVISTAS NA LEI 8.625/93, QUE, POR SER NORMA ESPECIAL, PREVALECE SOBRE O CÓDIGO PENAL
(NORMA GERAL). STJ. 5ª Turma. REsp 1.251.621-AM, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 16/10/2014 (Info
552).
PARA QUE SE CONFIGURE O DELITO, É INDISPENSÁVEL QUE AS INFORMAÇÕES REQUISITADAS SEJAM INDISPENSÁVEIS À
PROPOSITURA DE ACP
Importante!!!
A Lei de Ação Civil Pública (Lei 7.347/85) prevê como crime a seguinte conduta:
Art. 10. Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais multa de 10 (dez) a 1.000
(mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, a recusa, o retardamento ou a omissão de dados
técnicos indispensáveis à propositura da ação civil, quando requisitados pelo Ministério Público.
O crime CONSISTE NA CONDUTA DA PESSOA QUE RECEBEU UMA REQUISIÇÃO DO MP QUE EXIGIA DETERMINADO
DOCUMENTO E/OU INFORMAÇÃO E O DESTINATÁRIO, em vez de cumpri-la, recusa, retarda ou se omite.
O STJ entende que se as informações requisitadas pelo MP não forem INDISPENSÁVEIS à propositura da ACP,
não haverá crime. Ex: o MP instaurou IC e requisitou determinadas informações do Secretário de Saúde. Este
prestou as informações fora do prazo assinalado, de forma que houve retardamento. Em tese, o agente público
teria praticado o crime do art. 10. Ocorre que, após receber as informações, o MP decidiu arquivar o IC por
entender que não houve qualquer violação a direitos transindividuais. Por via de consequência, não existiu o
crime do art. 10, já que as informações retardadas não eram indispensáveis à propositura de ACP.
STJ. 5ª Turma. HC 303.856-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 7/4/2015 (Info 560).
A Lei de Ação Civil Pública (Lei n.7.347/85) prevê como crime a seguinte conduta:
Art. 10. Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais multa de 10 (dez) a 1.000
(mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, a recusa, o retardamento ou a omissão de dados
técnicos indispensáveis à propositura da ação civil, quando requisitados pelo Ministério Público.
Sujeito passivo: trata-se de crime comum. Pode ser praticado por qualquer pessoa física que receba a
requisição do MP e, em vez de cumpri-la tempestivamente, adota uma das três condutas previstas no tipo
penal.
Elemento subjetivo: o crime somente é punido a título de dolo.
O art. 7º, IX, da Lei nº 8.137/90 prevê o seguinte delito: Art. 7º Constitui crime contra as relações de consumo:
IX — vender, ter em depósito para vender ou expor à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou
mercadoria, em condições impróprias ao consumo;
Pena — detenção, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou multa.
Para caracterizar o delito previsto no art. 7º, IX, da Lei 8.137/1990 (crime contra relação de consumo), é
IMPRESCINDÍVEL A REALIZAÇÃO DE PERÍCIA A FIM DE ATESTAR SE AS MERCADORIAS APREENDIDAS ESTÃO
EM CONDIÇÕES IMPRÓPRIAS PARA O CONSUMO, não sendo suficiente, para a comprovação da
materialidade delitiva, auto de infração informando a inexistência de registro do Serviço de Inspeção
Estadual (SIE).
STJ. 5ª Turma. RHC 49.752-SC, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 14/4/2015 (Info 560).
A conduta de prestar, sem autorização da ANATEL, serviço de provedor de acesso à internet a terceiros por
meio de instalação e funcionamento de equipamentos de radiofrequência configura o crime previsto no art.
183 da Lei 9.472/97:
Art. 183. Desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicação:
Pena - detenção de dois a quatro anos, aumentada da metade se houver dano a terceiro, e multa de R$
10.000,00 (dez mil reais). Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, direta ou indiretamente, concorrer
para o crime.
Vale ressaltar que, segundo a jurisprudência do STJ, é inaplicável o princípio da insignificância ao delito
previsto no art. 183 da Lei 9.472⁄97, pois o desenvolvimento clandestino de
atividades de telecomunicação é crime formal, de perigo abstrato, que tem como bem jurídico
tutelado a segurança dos meios de comunicação. A exploração clandestina de sinal de internet, sem
autorização do órgão regulador (ANATEL), já é suficiente a comprometer a regularidade do sistema de
telecomunicações, razão pela qual o princípio da insignificância deve ser afastado. Sendo assim, ainda
que constatada a baixa potência do equipamento operacionalizado, tal conduta não pode ser
considerada, de per si, um irrelevante penal.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.304.262-PB, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 16/4/2015 (Info 560). STJ. 6ª
Turma. AgRg no AREsp 599.005-PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 14/4/2015 (Info 560).
Vedação da fixação de regime prisional mais severo do que aquele abstratamente imposto
Se a pena privativa de liberdade foi fixada no mínimo legal, é possível a fixação de regime inicial mais severo
do que o previsto pela quantidade de pena? Ex.: Paulo, réu primário, foi condenado a uma pena de seis anos
de reclusão. As circunstâncias judiciais foram favoráveis. Pode o juiz fixar o regime inicial fechado?
NÃO. A posição que prevalece no STJ é a de que, fixada a pena-base no mínimo legal e sendo o acusado
primário e sem antecedentes criminais não se justifica a fixação do regime prisional mais gravoso (STJ. 5ª
Turma. AgRg no HC 303.275/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 03/02/2015). Assim, por exemplo, no crime
de roubo, o emprego de arma de fogo não autoriza, por si só, a imposição do regime inicial fechado se,
primário o réu, a pena-base foi fixada no mínimo legal.
STJ. 5ª Turma. HC 309.939-SP, Rel. Min. Newton Trisotto (Desembargador convocado do TJ-SC), julgado em
28/4/2015 (Info 562)
MEDIDAS DE SEGURANÇA
Súmula 527-STJ: O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena
abstratamente cominada ao delito praticado.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 13/05/2015, DJe 18/05/2015.
A pergunta que surge, então, é a seguinte: qual é o prazo máximo de duração das medidas de segurança?
Imagine que determinado agente está cumprindo medida de segurança e se atingiu o máximo do tempo
permitido para cumprimento (30 anos, para o STF; máximo da pena, para o STJ). A perícia médica, contudo,
indica que o agente continua com alto grau de periculosidade. O juiz, mesmo assim, terá que desinterná-lo.
Existe alguma medida que poderá ser proposta pelo Ministério Público no caso?
SIM. Neste caso, O MINISTÉRIO PÚBLICO OU OS PRÓPRIOS FAMILIARES DO AGENTE PODERÃO PROPOR AÇÃO CIVIL
DE INTERDIÇÃO EM FACE DESSE AGENTE, CUMULADA COM PEDIDO DE INTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA COMPULSÓRIA.
Em outras palavras, o MP pedirá ao Poder Judiciário que decrete a interdição civil do agente em virtude de ele
sofrer de doença mental grave (art. 1.767 c/c art. 1.769, I, do CC). Nesta ação, o Parquet, além de pedir a
interdição, postulará também que o doente fique internado compulsoriamente, com base no art. 6º da Lei nº
10.216/2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais.
LESÃO CORPORAL
Lesão corporal qualificado pela deformidade permanente e posterior cirurgia plástica reparadora
Importante!!!
A qualificadora “deformidade permanente” do crime de lesão corporal (art. 129, § 2º, IV, do CP) não é
afastada por posterior cirurgia estética reparadora que elimine ou minimize a deformidade na vítima. Isso
porque, o fato criminoso é valorado no momento de sua consumação, não o afetando providências
posteriores, notadamente quando não usuais (pelo risco ou pelo custo, como cirurgia plástica ou de
tratamentos prolongados, dolorosos ou geradores do risco de vida) e promovidas a critério exclusivo da
vítima.
STJ. 6ª Turma. HC 306.677-RJ, Rel. Min. Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ-SP), Rel. para
acórdão Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/5/2015 (Info 562).
ESTUPRO DE VULNERÁVEL
Nos crimes sexuais contra vulnerável, quando inexiste certidão de nascimento atestando ser a vítima menor
de 14 anos na data do fato criminoso, o STJ tem admitido a verificação etária a partir de outros elementos de
prova presentes nos autos.
Em suma, a certidão de nascimento não é o único meio idôneo para se comprovar a idade da vítima,
podendo o juiz valer-se de outros elementos.
No caso concreto, mesmo não havendo certidão de nascimento da vítima, o STJ considerou que esta poderia
ser provada por meio das informações presentes no laudo pericial, das declarações das testemunhas, da
compleição física da vítima e das declarações do próprio acusado.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 12.700-AC, voto vencedor Rel. Min. Walter de Almeida Guilherme
(Desembargador convocado do TJ/SP), Rel. para acórdão Min. Gurgel de Faria, julgado em 10/3/2015 (Info
563).
O STJ interpreta esse parágrafo único da seguinte forma:
Em regra, o estado civil das pessoas no processo penal deverá ser provado por meio das certidões de
nascimento/identidade.
Na falta desses documentos, são admitidos outros meios de prova.
CONCUSSÃO
Momento da consumação e flagrante delito
Para espancar quaisquer dúvidas que ainda restem, confira os ensinamentos de Cleber Masson:
Consumação: Firmou-se em sede jurisprudencial o entendimento no sentido de tratar-se de
crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado: consuma-se com a exigência –
que deve chegar ao conhecimento da vítima – pelo funcionário público, para si ou para outrem,
da vantagem indevida, prescindindo-se do seu recebimento. A reparação do dano ou a restituição da
coisa ao ofendido não exclui o delito, ensejando, no máximo, a diminuição da pena pelo
arrependimento posterior (art. 16 do CP).
Concussão e prisão em flagrante: Em se tratando de crime formal, somente será cabível a prisão
em flagrante no momento da exigência da vantagem indevida, ou logo após sua realização (art. 302, I
e II, do CPP), sendo ilegal se efetuada por ocasião do recebimento da vantagem indevida, muito
tempo após sua exigência, hipótese em que ocorrerá o exaurimento do delito. O relaxamento da
prisão em flagrante não leva à caracterização do crime impossível, pois o delito já estava
consumado. A ilegalidade repousa unicamente na lavratura do auto de prisão em flagrante, mas
jamais na configuração da concussão." (Código Penal comentado. São Paulo: Método, 2013, p. 1128).
Súmula 536-STJ: A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos
sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 10/06/2015, Dje 15/06/2015.
INQUÉRITO POLICIAL
É POSSÍVEL
MOTIVO DO ARQUIVAMENTO DESARQUIVAR?
1) AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTO PROCESSUAL OU DE SIM
CONDIÇÃO DA AÇÃO PENAL
2) FALTA DE JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL (NÃO
HÁ INDÍCIOS DE AUTORIA OU PROVA DA
SIM
MATERIALIDADE)
3) ATIPICIDADE (FATO NARRADO NÃO É CRIME) NÃO
4) EXISTÊNCIA MANIFESTA DE CAUSA EXCLUDENTE DE NÃO
ILICITUDE (MAJORITÁRIA)
5) EXISTÊNCIA MANIFESTA DE CAUSA EXCLUDENTE DE NÃO
CULPABILIDADE
6) EXISTÊNCIA MANIFESTA DE CAUSA EXTINTIVA DA NÃO
PUNIBILIDADE EXCEÇÃO: CERTIDÃO DE ÓBITO FALSA
INDICIAMENTO
INFORMATIVO 552, STJ - Indiciamento é atribuição exclusiva da autoridade policial, não podendo ser determinada
por magistrado.
O magistrado não pode requisitar o indiciamento em investigação criminal. Isso porque o indiciamento constitui
atribuição exclusiva da autoridade policial. É por meio do indiciamento que a autoridade policial aponta
determinada pessoa como a autora do ilícito em apuração. Por se tratar de medida ínsita à fase investigatória,
por meio da qual o delegado de polícia externa o seu convencimento sobre a autoria dos fatos apurados, não se
admite que seja requerida ou determinada pelo magistrado, já que tal procedimento obrigaria o presidente do
inquérito à conclusão de que determinado indivíduo seria o responsável pela prática criminosa, em nítida
violação ao sistema acusatório adotado pelo ordenamento jurídico pátrio. Nesse mesmo sentido é a inteligência
do art. 2º, § 6º, da Lei 12.830/2013, que afirma que o indiciamento é ato inserto na esfera de atribuições da
polícia judiciária. STJ. 5ª Turma. RHC 47.984-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 4/11/2014 (Info 552).
PRISÃO E LIBERDADE
MANUTENÇÃO DA PRISÃO CAUTELAR MESMO O RÉU TENDO SIDO CONDENADO A REGIME SEMIABERTO OU ABERTO
Réu respondeu o processo recolhido ao cárcere porque havia motivos para a prisão preventiva. Na sentença, foi
condenado a uma pena privativa de liberdade em regime semiaberto ou aberto. Pelo fato de ter sido imposto
regime mais brando que o fechado, ele terá direito de recorrer em liberdade mesmo que ainda estejam presentes
os requisitos da prisão cautelar?
1ª corrente: NÃO. Não há incompatibilidade no fato de o juiz, na sentença, ter condenado o réu ao regime
inicial semiaberto e, ao mesmo tempo, ter mantido sua prisão cautelar. Se ainda persistem os motivos que
ensejaram a prisão cautelar, o réu deverá ser mantido preso mesmo que já tenha sido condenado ao regime
inicial semiaberto. Deve ser adotada, no entanto, a seguinte providência: o condenado permanecerá preso,
porém, ficará recolhido e seguirá as regras do regime prisional imposto na sentença. STJ. 5ª Turma. HC
289.636-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 20/5/2014 (Info 540); STF. 1ª Turma. HC 123267, Rel. Min.
Rosa Weber, julgado em 02/12/2014.
2ª corrente: SIM. Caso o réu seja condenado a pena que deva ser cumprida em regime inicial diverso do fechado
(aberto ou semiaberto), não será admissível a decretação ou manutenção de prisão preventiva na sentença
condenatória, notadamente quando não há recurso da acusação quanto a este ponto. Se fosse permitido que o
réu aguardasse o julgamento preso (regime fechado), mesmo tendo sido condenado a regime aberto ou
semiaberto, seria mais benéfico para ele renunciar ao direito de recorrer e iniciar imediatamente o cumprimento da
pena no regime estipulado do que exercer seu direito de impugnar a decisão perante o segundo grau. Isso soa
absurdo e viola o princípio da proporcionalidade. A solução dada pela 1ª corrente (aplicar as regras do
regime semiaberto ou aberto) significa aceitar a existência de execução provisória da pena, o que não é admitido pela
CF/88. STJb. 5ª Turma. RHC 52.407-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 10/12/2014 (Info 554).
O que fazer nos concursos públicos?
Em provas práticas (alegações finais, recurso, habeas corpus etc.) deve-se adotar a tese favorável à defesa (no
caso da Defensoria Pública) ou à acusação (em concursos do MP).
Se a prova for objetiva ou discursiva, deve-se ficar atento para os elementos fornecidos pelo enunciado da
questão porque provavelmente estará sendo utilizado o caso concreto.
Na dúvida, o entendimento que prevalece é o exposto no HC 289.636-SP (Info 540), ou seja, é possível
manter a prisão preventiva do réu mesmo que ele tenha sido condenado a regime semiaberto e tenha
recorrido contra a sentença. O réu, contudo, deverá ser colocado no regime para o qual foi condenado. Esta
parece ser a posição majoritária.
Réu respondeu o processo recolhido ao cárcere porque havia motivos para a prisão preventiva. Na sentença, foi
condenado a uma pena privativa de liberdade em regime semiaberto ou aberto. Pelo fato de ter sido imposto
regime mais brando que o fechado, ele terá direito de recorrer em liberdade mesmo que ainda estejam presentes
os requisitos da prisão cautelar?
• 1ª corrente: NÃO. Não há incompatibilidade no fato de o juiz, na sentença, ter condenado o réu ao regime inicial
semiaberto e, ao mesmo tempo, ter mantido sua prisão cautelar. Se ainda persistem os motivos que ensejaram a
prisão cautelar, o réu deverá ser mantido preso mesmo que já tenha sido condenado ao regime inicial
semiaberto. Deve ser adotada, no entanto, a seguinte providência: o condenado permanecerá preso, porém,
ficará recolhido e seguirá as regras do regime prisional imposto na sentença.Nesse sentido: STJ. 5ª Turma. HC
289.636-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 20/5/2014 (Info 540); STJ. 5ª Turma. RHC 53.828-ES, Rel. Min.
Jorge Mussi, julgado em 14/4/2015 (Info 560); STF. 1ª Turma. HC 123267, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em
02/12/2014.
• 2ª corrente: SIM. Caso o réu seja condenado a pena que deva ser cumprida em regime inicial diverso do fechado
(aberto ou semiaberto), não será admissível a decretação ou manutenção de prisão preventiva na sentença
condenatória, notadamente quando não há recurso da acusação quanto a este ponto. Se fosse permitido que o
réu aguardasse o julgamento preso (regime fechado), mesmo tendo sido condenado a regime aberto ou
semiaberto, seria mais benéfico para ele renunciar ao direito de recorrer e iniciar imediatamente o cumprimento
da pena no regime estipulado do que exercer seu direito de impugnar a decisão perante o segundo grau. Isso soa
absurdo e viola o princípio da proporcionalidade. A solução dada pela 1ª corrente (aplicar as regras do regime
semiaberto ou aberto) significa aceitar a existência de execução provisória da pena, o que não é admitido pela
CF/88. Nesse sentido: STJ. 5ª Turma. RHC 52.407-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 10/12/2014 (Info 554). STJ.
5ª Turma. RHC 53.828-ES, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 14/4/2015 (Info 560).
AÇÃO PENAL
O princípio da indivisibilidade significa que a ação penal deve ser proposta contra todos os autores e partícipes
do delito.
Segundo a posição da jurisprudência, o princípio da indivisibilidade só se aplica para a ação pena privada (art. 48
do CPP).
O que acontece se a ação penal privada não for proposta contra todos? O que ocorre se um dos autores ou
partícipes, podendo ser processado pelo querelante, ficar de fora? Qual é a consequência do desrespeito ao
princípio da indivisibilidade?
Se a omissão foi VOLUNTÁRIA (DELIBERADA): se o querelante deixou, deliberadamente, de oferecer queixa
contra um dos autores ou partícipes, o juiz deverá rejeitar a queixa e declarar a extinção da punibilidade
para todos (arts. 104 e 109, V, do CP). Todos ficarão livres do processo.
Se a omissão foi INVOLUNTÁRIA: o MP deverá requerer a intimação do querelante para que ele faça o
aditamento da queixa-crime e inclua os demais coautores ou partícipes que ficaram de fora (Obs: o
querelante só poderá incluir o outro autor/partícipe se ainda estiver dentro do prazo decadencial de 6
meses.)
Assim, conclui-se que a NÃO INCLUSÃO DE EVENTUAIS SUSPEITOS NA QUEIXA-CRIME NÃO CONFIGURA, POR SI SÓ,
RENÚNCIA TÁCITA AO DIREITO DE QUEIXA. Para o reconhecimento da renúncia tácita ao direito de queixa, exige-se a
demonstração de que a não inclusão de determinados autores ou partícipes na queixa-crime se deu de forma
deliberada pelo querelante.
STJ. 5ª Turma. RHC 55.142-MG, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 12/5/2015 (Info 562).
MOTIVAÇÃO
É NULO o ACÓRDÃO QUE SE LIMITA A RATIFICAR A SENTENÇA E A ADOTAR O PARECER MINISTERIAL, SEM SEQUER TRANSCREVÊ-LOS,
DEIXANDO DE AFASTAR AS TESES DEFENSIVAS OU DE APRESENTAR FUNDAMENTO PRÓPRIO. Isso porque, nessa hipótese, está
caracterizada a nulidade absoluta do acórdão por falta de fundamentação.
A jurisprudência admite a chamada fundamentação per relationem, MAS DESDE QUE O JULGADO FAÇA
REFERÊNCIA CONCRETA ÀS PEÇAS QUE PRETENDE ENCAMPAR, TRANSCREVENDO DELAS PARTES QUE JULGAR
INTERESSANTES PARA LEGITIMAR O RACIOCÍNIO LÓGICO que embasa a conclusão a que se quer chegar.
STJ. 6ª Turma. HC 214.049-SP, Rel. originário Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Maria Thereza de Assis
Moura, julgado em 5/2/2015 (Info 557).
COMPETÊNCIA
No caso em que, APÓS INICIADA A AÇÃO PENAL PERANTE DETERMINADO JUÍZO, ocorra modificação da competência em
razão da investidura do réu em cargo que atraia foro por prerrogativa de função, SERÃO VÁLIDOS OS ATOS
PROCESSUAIS – INCLUSIVE O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA – REALIZADOS ANTES DA CAUSA SUPERVENIENTE DE MODIFICAÇÃO
DA COMPETÊNCIA, sendo DESNECESSÁRIA, no âmbito do novo juízo, QUALQUER RATIFICAÇÃO DESSES ATOS, que,
CASO OCORRA, NÃO PRECISARÁ SEGUIR AS REGRAS QUE DEVERIAM SER OBSERVADAS PARA A PRÁTICA, EM
AÇÃO ORIGINÁRIA, DE ATOS EQUIVALENTES AOS ATOS RATIFICADOS.
Ex: o réu foi denunciado pelo Promotor, tendo a denúncia sido recebida pelo juízo de 1ª instância. O processo prosseguia normalmente,
quando o acusado foi eleito Prefeito. Diante disso, foi declinada a competência para que o TJ julgasse a causa. No Tribunal, o processo teve
prosseguimento e o réu foi condenado. Nesse caso, quando o processo chegou ao TJ, não se fazia necessária a ratificação da denúncia e dos
atos praticados pelo juízo. Isso porque não se tratam de atos nulos, mas sim válidos à época em que praticados, cabendo ao Tribunal
apenas prosseguir no julgamento do feito a partir daquele instante. STJ. 6ª Turma. HC 238.129-TO, Rel. originária Min. Maria
Thereza de Assis Moura, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 16/9/2014 (Info 556).
STJ. 5ª Turma. HC 202.701-AM, Rel. Ministro Jorge Mussi, julgado em 14/5/2013 (Info 522).
Devem ser mantidos íntegros todos os atos processuais até então praticados EM ATENÇÃO AO
PRINCÍPIO DO TEMPUS REGIT ACTUM, uma vez que, no momento em que os atos foram praticados,
o juiz era competente para tanto.
OBSERVAÇÃO: SITUAÇÃO DIVERSA OCORRE SE A DENÚNCIA NÃO TIVER SIDO RECEBIDA AINDA: Assim, se o Ministério
Público estadual oferece uma denúncia na Justiça estadual contra o réu e esta é posteriormente encaminhada ao
STJ, TAL DENÚNCIA SOMENTE PODERÁ SER PROCESSADA E JULGADA SE FOR RATIFICADA PELO PROCURADOR-GERAL DA
REPÚBLICA OU POR UM DOS SUBPROCURADORES-GERAIS.
A partir do momento em que houve modificação de competência para o processo e julgamento do feito, a
denúncia oferecida pelo parquet estadual somente poderá ser examinada pelo STJ se for ratificada pelo MPF,
órgão que tem legitimidade para atuar nas ações penais de competência originária do Tribunal da Cidadania.
STJ. Corte Especial. APn 689-BA, Rel. Min. Eliana Calmon, julgada em 17/12/2012 (Info 511).
COMPETE À JUSTIÇA FEDERAL (E NÃO À JUSTIÇA ESTADUAL) PROCESSAR E JULGAR O CRIME CARACTERIZADO PELA OMISSÃO DE
ANOTAÇÃO DE VÍNCULO EMPREGATÍCIO NA CTPS (ART. 297, § 4º, DO CP).
No delito tipificado no art. 297, § 4º, do CP (Falsificação de documento público), o sujeito passivo é o Estado
(Previdência Social), uma vez que a ausência de anotação de informações relativas ao vínculo empregatício na
CTPS afeta diretamente a arrecadação das contribuições previdenciárias (espécie de tributo), já que estas são
calculadas com base no valor do salário pago ao empregado.
ASSIM, QUANDO O PATRÃO OMITE OS DADOS DE QUE TRATA O § 4º, ELE ESTÁ LESANDO, EM PRIMEIRO LUGAR, A ARRECADAÇÃO DA
PREVIDÊNCIA SOCIAL, ADMINISTRADA PELO INSS, QUE É UMA AUTARQUIA FEDERAL. O EMPREGADO É PREJUDICADO DE FORMA
APENAS INDIRETA, REFLEXA.
STJ. 3ª Seção. CC 135.200-SP, Rel. originário Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 22/10/2014 (Info 554).
MUDANÇA DE ENTENDIMENTO
Vale ressaltar que houve uma mudança na jurisprudência do STJ que, anteriormente, decidia de forma diversa,
ATÉ BEM POUCO TEMPO, QUE A COMPETÊNCIA ERA DA JUSTIÇA ESTADUAL. Nesse sentido: STJ. 3ª Seção. AgRg
no CC 107.283/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 13/08/2014.
Atualize, portanto, seu material de estudos.
A COMPETÊNCIA PARA JULGAR O DELITO DO ART. 297, § 4º DO CP É AGORA DA JUSTIÇA FEDERAL.
LATROCÍNIO COMETIDO CONTRA POLICIAIS RODOVIÁRIOS FEDERAIS QUE REPRIMIRAM ASSALTO A BANCO
Uma quadrilha roubou um banco privado e, quando os ladrões saíam da instituição, cruzaram com uma viatura
da Polícia Rodoviária Federal que passava casualmente pelo local. Os policiais perceberam que os homens
estavam armados e, por isso, ordenaram que eles parassem. Houve troca de tiros. O MP denunciou os réus por
latrocínio.
De quem é a competência para julgar o delito?
JUSTIÇA FEDERAL. COMPETE À JUSTIÇA FEDERAL PROCESSAR E JULGAR CRIME DE LATROCÍNIO NO QUAL
TENHA HAVIDO TROCA DE TIROS COM POLICIAIS RODOVIÁRIOS FEDERAIS QUE, EMBORA NÃO ESTIVESSEM EM SERVIÇO DE
PATRULHAMENTO OSTENSIVO, AGIAM PARA REPRIMIR ASSALTO A INSTITUIÇÃO BANCÁRIA PRIVADA. O crime foi praticado
contra policiais rodoviários federais que, diante da ocorrência de um flagrante, tinham o dever de agir. Assim,
o delito foi cometido contra servidores públicos federais no exercício da função (Súmula 147 do STJ).
STJ. 5ª Turma. HC 309.914-RS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 7/4/2015 (Info 559).
COMPETÊNCIA PARA JULGAR CRIME ENVOLVENDO VERBA PÚBLICA REPASSADA PELO BNDES AO ESTADO-MEMBRO
NÃO. O fato de LICITAÇÃO ESTADUAL ENVOLVER RECURSOS REPASSADOS AO ESTADO-MEMBRO PELO BNDES POR
MEIO DE EMPRÉSTIMO BANCÁRIO (MÚTUO FENERATÍCIO) NÃO ATRAI A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL PARA PROCESSAR
E JULGAR CRIMES RELACIONADOS A SUPOSTO SUPERFATURAMENTO NA LICITAÇÃO.
Mesmo havendo superfaturamento na licitação estadual, o prejuízo recairá sobre o erário estadual (e não o
federal), uma vez que, não obstante a fraude, o contrato de mútuo feneratício entre o Estado-Membro e o BNDES
permanecerá válido, fazendo com que a empresa pública federal receba de volta, em qualquer circunstância, o
valor emprestado ao ente federativo.
O recebimento da denúncia é previsto como causa de interrupção do prazo prescricional (art. 117, I, do CP).
SITUAÇÃO1: se a DENÚNCIA FOI RECEBIDA POR JUÍZO ABSOLUTAMENTE INCOMPETENTE, pode-se dizer
que houve interrupção do prazo de prescrição?
NÃO. DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA SÃO UNIFORMES NO SENTIDO DE QUE O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA POR
MAGISTRADO ABSOLUTAMENTE INCOMPETENTE NÃO INTERROMPE O CURSO DO PRAZO PRESCRICIONAL. Assim, mesmo que,
posteriormente, a denúncia seja recebida pelo juízo competente, aquele primeiro recebimento feito pelo
magistrado absolutamente incompetente não servirá como marco interruptivo da prescrição. Ex: se um juiz de 1ª
instância recebe denúncia formulada contra réu que detém foro por prerrogativa de função no Tribunal (STJ.
Corte Especial. APn 295-RR, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 17/12/2014).
SIM. Pelo PRINCÍPIO DA CONVALIDAÇÃO, O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA POR PARTE DE JUÍZO TERRITORIALMENTE
INCOMPETENTE TEM O CONDÃO DE INTERROMPER O PRAZO PRESCRICIONAL.
Se a denúncia foi recebida pelo juízo relativamente incompetente em 2010 e depois foi ratificada em 2011,
considera-se que houve interrupção em 2010. A CONVALIDAÇÃO POSTERIOR POSSUI NATUREZA
DECLARATÓRIA, SERVINDO APENAS PARA CONFIRMAR A VALIDADE DAQUELA PRIMEIRA DECISÃO.
Repetindo: o recebimento da denúncia por parte de Juízo territorialmente incompetente tem o condão de
interromper o prazo prescricional (STJ. 5ª Turma. RHC 40.514/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 08/05/2014).
STJ. Corte Especial. APn 295-RR, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 17/12/2014 (Info 555).
Compete à JUSTIÇA FEDERAL (e não à Justiça Eleitoral) processar e julgar o crime caracterizado pela
DESTRUIÇÃO DE TÍTULO ELEITORAL DE TERCEIRO, quando NÃO HOUVER QUALQUER VINCULAÇÃO
COM PLEITOS ELEITORAIS e o intuito for, tão somente, impedir a identificação pessoal.
A SIMPLES EXISTÊNCIA, NO CÓDIGO ELEITORAL, DE DESCRIÇÃO FORMAL DE CONDUTA TÍPICA NÃO SE TRADUZ,
INCONTINENTI, EM CRIME ELEITORAL, SENDO NECESSÁRIO, TAMBÉM, QUE SE CONFIGURE O CONTEÚDO MATERIAL DE TAL
CRIME.
Sob o aspecto material, deve a conduta atentar contra a liberdade de exercício dos direitos políticos,
vulnerando a regularidade do processo eleitoral e a legitimidade da vontade popular. Ou seja, a par da
existência do tipo penal eleitoral específico, faz-se necessária, para sua configuração, a existência de violação
do bem jurídico que a norma visa tutelar, intrinsecamente ligado aos valores referentes à liberdade do
exercício do voto, à regularidade do processo eleitoral e à preservação do modelo democrático.
A destruição de título eleitoral da vítima, despida de qualquer vinculação com pleitos eleitorais e com o
intuito, tão somente, de impedir a identificação pessoal, não atrai a competência da Justiça Eleitoral.
STJ. 3ª Seção. CC 127.101-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 11/2/2015 (Info 555).
O art. 109, IX, da CF/88 afirma que compete à Justiça Federal julgar os crimes praticados a bordo de navios ou
aeronaves, com exceção daqueles que forem da Justiça Militar.
Navio = embarcação de grande porte. Para que o crime seja de competência da Justiça Federal, é necessário
que o navio seja uma “embarcação de grande porte”. Assim, se o delito for cometido a bordo de um pequeno
barco, lancha, veleiro etc., a competência será da Justiça Estadual.
Aeronave voando ou parada: a competência será da Justiça Federal mesmo que o crime seja cometido a bordo
de uma aeronave pousada. Não é necessário que a aeronave esteja em movimento para a competência ser da
Justiça Federal.
Navio em situação de deslocamento internacional ou em situação de potencial deslocamento: para que
o crime cometido a bordo de navio seja de competência da Justiça Federal, é necessário que o navio esteja em
deslocamento internacional ou em situação de potencial deslocamento (ex: está parado provisoriamente no
porto, mas já seguirá rumo a outro país).
Se o navio estiver atracado e não se encontrar em potencial situação de deslocamento, a competência será
da Justiça Estadual.
STJ. 3ª Seção. CC 118.503-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 22/4/2015 (Info 560).
Por que esta diferença de tratamento entre avião pousado e navio atracado?
Não há muita razão lógica. Foi uma distinção feita pela jurisprudência e que acabou se consolidando.
Súmula 528-STJ: Compete ao juiz federal do local da apreensão da droga remetida do exterior pela via postal
processar e julgar o crime de tráfico internacional.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 13/05/2015, DJe 18/05/2015.
PROCEDIMENTO
A decisão que acolher ou não as teses defensivas declinadas na resposta à acusação (“defesa preliminar”)
estabelecida no art. 396-A do CPP deve ser fundamentada?
SIM. O JUIZ DEVERÁ FUNDAMENTAR, AINDA QUE SUCINTAMENTE, A DECISÃO QUE ACOLHER OU NÃO AS TESES DEFENSIVAS
DECLINADAS NA DEFESA PRELIMINAR estabelecida no art. 396-A do CPP, SOB PENA DE CONFIGURAR A
NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL (STJ. 5ª Turma. HC 183.355-MG, julgado em 3/5/2012.
Info 496).
SE O JUIZ DECIDIR NEGAR A ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA E DETERMINAR O PROSSEGUIMENTO DO PROCESSO, ELE PRECISARÁ REFUTAR AS
TESES TRAZIDAS PELA DEFESA NA RESPOSTA ESCRITA?
SIM. O magistrado, ao PROFERIR DECISÃO QUE DETERMINA O PROSSEGUIMENTO DO PROCESSO, DEVERÁ AO MENOS
ALUDIR ÀQUILO QUE FORA TRAZIDO NA DEFESA PRELIMINAR, não se eximindo também da incumbência de enfrentar
questões processuais relevantes e urgentes.
STJ. 6ª Turma. RHC 46.127-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 12/2/2015 (Info 556).
CASO CONCRETO
Na situação julgada pelo STJ, o juiz, após receber a resposta à acusação oferecida pela defesa, negou a absolvição sumária
com uma decisão de apenas duas linhas, que dizia apenas o seguinte:
“As matérias alegadas se tratam de defesa de mérito e nele serão analisadas.
Diante do exposto, designo audiência de instrução e julgamento para o dia XX⁄XX⁄XX, às XX horas.”
O STJ entendeu que a DECISÃO ACIMA FOI DEFICIENTE e ANULOU O PROCESSO A PARTIR DELA, determinando que seja proferida
outra decisão, apreciando-se, desta vez, os termos da resposta preliminar.
PROVAS
VALIDADE DO DEPOIMENTO SEM DANO NOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
O DEPOIMENTO SEM DANO consiste na OITIVA JUDICIAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES QUE FORAM
SUPOSTAMENTE VÍTIMAS DE CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL por MEIO DE UM PROCEDIMENTO ESPECIAL,
que consiste no seguinte: A CRIANÇA OU O ADOLESCENTE FICA EM UMA SALA RESERVADA, SENDO O DEPOIMENTO COLHIDO POR
UM TÉCNICO (PSICÓLOGO OU ASSISTENTE SOCIAL), QUE FAZ AS PERGUNTAS DE FORMA INDIRETA, POR MEIO DE UMA CONVERSA EM
TOM MAIS INFORMAL E GRADUAL, À MEDIDA QUE VAI SE ESTABELECENDO UMA RELAÇÃO DE CONFIANÇA ENTRE ELE E A VÍTIMA. O
juiz, o Ministério Público, o réu e o Advogado/Defensor Público acompanham, em tempo real, o depoimento em
outra sala por meio de um sistema audiovisual que está gravando a conversa do técnico com a vítima.
Atualmente, a legislação não prevê expressamente essa prática.
Apesar disso, O STJ ENTENDE QUE É VÁLIDA NOS CRIMES SEXUAIS CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTE, a
inquirição da vítima na modalidade do “depoimento sem dano”, em respeito à sua condição especial de pessoa
em desenvolvimento, INCLUSIVE ANTES DA DEFLAGRAÇÃO DA PERSECUÇÃO PENAL, MEDIANTE PROVA
ANTECIPADA. Assim, NÃO CONFIGURA NULIDADE POR CERCEAMENTO DE DEFESA O FATO DE O DEFENSOR E O ACUSADO
DE CRIME SEXUAL PRATICADO CONTRA CRIANÇA OU ADOLESCENTE NÃO ESTAREM PRESENTES NA OITIVA DA VÍTIMA devido à
utilização do método de inquirição denominado “depoimento sem dano”.
STJ. 5ª Turma. RHC 45.589-MT, Rel. Min.Gurgel de Faria, julgado em 24/2/2015 (Info 556).
BUSCA E APREENSÃO
ENCONTRO FORTUITO DE PROVAS NO CUMPRIMENTO DE MANDADO DE BUSCA E APREENSÃO EM ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA
É LÍCITA A APREENSÃO, em escritório de advocacia, de drogas e de arma de fogo, em tese pertencentes a advogado,
NA HIPÓTESE EM QUE OUTRO ADVOGADO TENHA PRESENCIADO O CUMPRIMENTO DA DILIGÊNCIA POR SOLICITAÇÃO DOS POLICIAIS,
ainda que o mandado de busca e apreensão tenha sido expedido para apreender arma de fogo supostamente
pertencente a estagiário do escritório – e não ao advogado – e mesmo que no referido mandado não haja
expressa indicação de representante da OAB local para o acompanhamento da diligência.
STJ. 5ª Turma. RHC 39.412-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 3/3/2015 (Info 557).
Fundamento: Apesar de o mandado de busca e apreensão ter sido expedido para apuração de crime
praticado pelo estagiário do escritório, verificou-se, coincidentemente, no cumprimento da medida, a ocorrência
flagrancial de dois outros crimes que possuem natureza permanente, ou seja, sua consumação se protrai no
tempo.
SENTENÇA
RÉU DENUNCIADO POR DELITO NA FORMA CONSUMADA E POSTERIORMENTE CONDENADO NA FORMA TENTADA; RÉU DENUNCIADO
POR CRIME DOLOSO E POSTERIORMENTE CONDENADO POR DELITO CULPOSO
SITUAÇÃO 1:
O réu foi denunciado por estupro consumado, tendo o MP reafirmado essa tipificação nos memoriais (“alegações
finais”). O juiz poderá condenar o acusado por estupro tentado mesmo que não haja aditamento da denúncia na
forma do art. 384 do CPP?
O RÉU DENUNCIADO POR CRIME NA FORMA CONSUMADA PODE SER CONDENADO EM SUA FORMA TENTADA, MESMO QUE
NÃO TENHA HAVIDO ADITAMENTO À DENÚNCIA. A TENTATIVA NÃO É UMA FIGURA AUTÔNOMA, pois a vontade contrária
ao direito existente na tentativa é igual à do delito consumado. O DELITO PLENO (CONSUMADO) E A TENTATIVA NÃO SÃO
DUAS DIFERENTES MODALIDADES DE CRIME, MAS SOMENTE UMA DIFERENTE MANIFESTAÇÃO DE UM ÚNICO DELITO.
STJ. 6ª Turma. HC 297.551-MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 5/3/2015 (Info 557).
SITUAÇÃO 2:
O réu foi denunciado pelo crime “X”, na forma dolosa, tendo o MP reafirmado essa tipificação nos memoriais
(“alegações finais”). Vale ressaltar que nem na denúncia nem em qualquer outra peça processual, o MP falou em
negligência, imprudência ou imperícia. O juiz poderá condenar o acusado pelo crime “X”, na forma culposa,
mesmo que não haja aditamento da denúncia na forma do art. 384 do CPP?
QUANDO NA DENÚNCIA NÃO HOUVER DESCRIÇÃO SEQUER IMPLÍCITA DE CIRCUNSTÂNCIA ELEMENTAR DA MODALIDADE
CULPOSA DO TIPO PENAL, o magistrado, ao proferir a sentença, NÃO PODE DESCLASSIFICAR A CONDUTA DOLOSA
DO AGENTE (ASSIM DESCRITA NA DENÚNCIA) PARA A FORMA CULPOSA DO CRIME, SEM A OBSERVÂNCIA DO
REGRAMENTO PREVISTO NO ART. 384, CAPUT, DO CPP.(MUTATIO LIBELI)
A prova a ser produzida pela defesa, no decorrer da instrução criminal, para comprovar a ausência do elemento
subjetivo do injusto culposo ou doloso, é diversa. Em outras palavras, a prova que o réu tem que produzir para
provar que não agiu com negligência, imprudência ou imperícia é diferente da prova que deverá produzir para
demonstrar que não agiu com dolo (vontade livre e consciente). Assim, SE A DENÚNCIA NÃO DESCREVE SEQUER
IMPLICITAMENTE O TIPO CULPOSO, A DESCLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA DOLOSA PARA A CULPOSA, AINDA QUE REPRESENTE APARENTE
BENEFÍCIO À DEFESA, EM RAZÃO DE IMPOSIÇÃO DE PENA MAIS BRANDA, DEVE OBSERVAR A REGRA INSERTA NO ART. 384, CAPUT, DO
CPP A FIM DE POSSIBILITAR A AMPLA DEFESA. STJ. 6ª Turma. REsp 1.388.440-ES, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em
5/3/2015 (Info 557).
Doutrina: Afronta ao princípio da correlação: Na verdade, o que faz com que uma imputação por ato doloso
dê origem a uma sentença por delito culposo é a descoberta de novos fatos que indicam que o agente não teve
consciência e vontade do resultado, mas, sim, que sua maneira de agir representou uma violação do dever de
cuidado a todos imposto.
Assim, não se pode admitir alteração do elemento subjetivo do delito sem que ocorra uma alteração da
imputação, com a possibilidade de reação defensiva. Embora o elemento subjetivo, em si, não integre o fato
processual, somente a alteração dos fatos lançados no processo é que permitirá concluir pela alteração do
elemento subjetivo.” (BADARÓ, Gustavo. Correlação entre acusação e sentença. 3. ed. São Paulo: RT, 2013, p.
225).
NULIDADES
Hipótese em que a ausência de intimação pessoal do defensor dativo não gera reconhecimento de nulidade
Importante!!!
Repetindo: a falta de intimação pessoal do advogado nomeado (constituído) pelo próprio réu acerca da
data do julgamento do recurso não consubstancia nulidade processual. Somente se exige intimação pessoal
para o Defensor Público ou defensor dativo (STJ. 5ª Turma. HC 187.757-SP, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado
em 22/5/2012).
RECURSOS
PRAZO PARA OPOSIÇÃO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO CONTRA ACÓRDÃO QUE ANALISA ASTREINTES IMPOSTAS POR JUÍZO
CRIMINAL
É de 5 dias (art. 536 do CPC /1973) – e não de 2 dias (art. 619 do CPP) – o prazo para a
por quem não seja parte na relação processual penal, de embargos de declaração
oposição,
(E.D) contra acórdão que julgou agravo de instrumento (A.I) manejado em face de decisão,
juízo criminal, que determinara, com base no art. 3º do CPP, o pagamento de
proferida por
multa diária prevista no CPC/1973 em razão de atraso no cumprimento de ordem judicial de
fornecimento de informações decorrentes de quebra de sigilo no âmbito de inquérito policial.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.455.000-PR, Rel. originária Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. para acórdão Min.
Rogerio Schietti Cruz, julgado em 19/3/2015 (Info 559).
A) IMAGINE A SEGUINTE SITUAÇÃO HIPOTÉTICA:
Durante um inquérito policial instaurado para apurar crimes relacionados com pedofilia na internet, o juiz da
vara criminal determinou que o Facebook® apresentasse os dados do usuário no prazo por ele fixado, sob pena
de multa diária de R$ 50 mil.
B) O CPP PREVÊ A IMPOSIÇÃO DE ASTREINTES (MULTA COMINATÓRIA)? COMO O MAGISTRADO FUNDAMENTOU SUA DECISÃO?
O CPP não tem um dispositivo que trate sobre o tema. Assim, os juízes criminais, quando precisam impor
obrigação de fazer com ameaça de multa cominatória, devem se valer do Código de Processo Civil, que é
aplicável analogicamente aos processos criminais em caso de lacuna, nos termos do art. 3º do CPP:
Art. 3º A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento
dos princípios gerais de direito.
C) AGRAVO DE INSTRUMENTO
Contra essa decisão, o Facebook® interpôs agravo de instrumento afirmando que não tinha como fornecer as
informações no prazo exigido.
O Tribunal negou provimento ao agravo de instrumento.
Agora o Facebook® deseja opor embargos de declaração contra a decisão no agravo de instrumento.
D) DIANTE DISSO, SURGIU A SEGUINTE DÚVIDA: QUAL É O PRAZO PARA OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NESTE CASO? APLICA-SE
O PRAZO DE 2 DIAS PREVISTO NO ART. 619 DO CPP OU INCIDE O PRAZO DE 5 DIAS TRAZIDO PELO ART. 536 DO CPC 1973?
5 DIAS.
FUNDAMENTOS:
1º porque o responsável pelo cumprimento da ordem judicial não é parte na relação processual penal, mas
apenas terceiro interessado.
2º pois a decisão judicial foi tomada com apoio no CPC/1973, tanto assim que foi objeto de agravo de
instrumento; usou, por analogia, o art. 3º do CPP, mas o fundamento da medida foi a questão das
astreintes – ou seja, a cominação de multa diária por atraso no cumprimento de ordem judicial –, tema
tipicamente cível.
3º porquanto houve interposição de agravo de instrumento, meio de impugnação também previsto apenas na
legislação processual civil.
Se o próprio CPP, como também o CPC/1973, permite a aceitação de um recurso por outro, como expressão do
princípio da fungibilidade recursal – quando, por uma questão de interpretação, a parte interpõe um
recurso por outro, ausente a má-fé –, deve-se considerar um ônus muito grande não permitir que a
questão principal venha a ser analisada, por uma interpretação de que o prazo dos embargos de declaração
opostos à decisão colegiada seria de dois dias e não de cinco, apenas porque a matéria teria surgido no bojo
de um inquérito policial.
1. INFORMATIVO 553, STJ - MANUTENÇÃO DO REGIME INICIAL FIXADO, MAS COM FUNDAMENTAÇÃO DIVERSA
O Tribunal, na análise de apelação exclusiva da defesa, NÃO ESTÁ IMPEDIDO DE MANTER A SENTENÇA
CONDENATÓRIA RECORRIDA COM BASE EM FUNDAMENTAÇÃO DISTINTA DA UTILIZADA EM PRIMEIRA
INSTÂNCIA, desde que respeitados a imputação deduzida pelo órgão de acusação, a extensão cognitiva da
sentença impugnada e os limites da pena imposta no juízo de origem. ISSO NÃO VIOLA O PRINCÍPIO DO NON
REFORMATIO IN PEJUS. STJ. 6ª Turma. HC 302.488-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 20/11/2014 (Info
553).
- O princípio da “non reformatio in pejus” não proíbe que, em recurso contra sentença condenatória, possa o
órgão de jurisdição superior, no exercício de sua competência funcional, agregar fundamentos à sentença
recorrida, quer para aclarar-lhe a compreensão, quer para conferir-lhe melhor justificação. Assim, NÃO HÁ
IMPEDIMENTO DE QUE, SEM AGRAVAMENTO DA SITUAÇÃO PENAL DO RÉU, O TRIBUNAL, A QUEM SE DEVOLVEU O
CONHECIMENTO DA CAUSA POR FORÇA DE RECURSO EXCLUSIVO DA DEFESA, POSSA EMITIR SUA PRÓPRIA E MAIS APURADA
FUNDAMENTAÇÃO SOBRE AS QUESTÕES JURÍDICAS AMPLA E DIALETICAMENTE DEBATIDAS NO JUÍZO A QUO, OBJETO DA SENTENÇA
IMPUGNADA.
HABEAS CORPUS
POSSIBILIDADE DE HABEAS CORPUS MESMO QUE O PACIENTE TENHA ACEITADO SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO
O fato de O DENUNCIADO TER ACEITADO A PROPOSTA DE SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO formulada pelo
Ministério Público (art. 89 da Lei 9.099/1995) NÃO CONSTITUI EMPECILHO PARA QUE SEJA PROPOSTO E JULGADO
HABEAS CORPUS EM SEU FAVOR, no qual se pede o trancamento da ação penal. Isso porque o réu que está
cumprindo suspensão condicional do processo fica em liberdade, mas ao mesmo tempo terá que cumprir
determinadas condições impostas pela lei e pelo juiz e, se desrespeitá-las, o curso do processo penal retomará.
Logo, ELE TEM LEGITIMIDADE E INTERESSE DE VER O HC SER JULGADO PARA EXTINGUIR DE VEZ O PROCESSO.
STJ. 5ª Turma. RHC 41.527-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 3/3/2015 (Info 557).
É cabível impetração de habeas corpus para que seja analisada a legalidade de decisão que determina o
afastamento de prefeito do cargo, quando a medida for imposta conjuntamente com a prisão.
STJ. 5ª Turma. HC 312.016-SC, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 16/4/2015 (Info 561).
INAPLICABILIDADE DO ART. 28 DO CPP NOS PROCEDIMENTOS INVESTIGATIVOS QUE TRAMITEM ORIGINARIAMENTE NO STJ
Imagine que um Subprocurador-Geral da República, após autorização do STJ, instaurou procedimento de
investigação contra um Governador do Estado (art. 105, I, “a”, da CF/88). Ao final das diligências, o membro do
MPF concluiu que não havia elementos para oferecer a denúncia e requereu ao STJ o arquivamento do
procedimento. O STJ PODERÁ DISCORDAR DO PEDIDO?
NÃO. Se o membro do MPF que atua no STJ requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer
peças de informação que tramitem originariamente perante o STJ, este, MESMO QUE NÃO CONCORDE COM AS RAZÕES
INVOCADAS PELO MP, DEVERÁ DETERMINAR O ARQUIVAMENTO SOLICITADO.
Como o pedido foi feito por um Subprocurador-Geral da República, se o STJ discordar, ele não poderá remeter os
autos para análise do Procurador-Geral da República, aplicando, por analogia, o art. 28 do CPP?
NÃO. NÃO EXISTE ESTA POSSIBILIDADE DE REMESSA PARA O PGR. Não se aplica o art. 28 do CPP
neste caso. ISSO PORQUE OS MEMBROS DO MPF QUE FUNCIONAM NO STJ ATUAM POR DELEGAÇÃO DO PROCURADOR-
GERAL DA REPÚBLICA. Assim, em decorrência do sistema acusatório, nos casos em que o titular da ação penal se
manifesta pelo arquivamento de inquérito policial ou de peças de informação, não há alternativa, senão acolher o
pedido e determinar o arquivamento. Em suma, NÃO HÁ QUE SE FALAR EM APLICAÇÃO DO ART. 28 DO CPP NOS
PROCEDIMENTOS DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO STJ. O MPF PEDIU O ARQUIVAMENTO, ESTE TERÁ QUE SER
HOMOLOGADO PELA CORTE.
STJ. Corte Especial. Inq 967-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 18/3/2015 (Info 558).
REVISÃO CRIMINAL
O réu foi condenado, sentença que transitou em julgado. Um tempo depois, foi ajuizada revisão criminal
pedindo a desconstituição da condenação. O Tribunal de Justiça votou no sentido de NEGAR o pedido do réu.
Apesar disso, por uma FRAUDE, o resultado do julgamento foi alterado e a proclamação saiu como se o pedido
do réu houvesse sido aceito e ele tivesse sido absolvido na revisão criminal. O acórdão “fraudulento” foi
publicado, tendo o Ministério Público sido intimado e não apresentado recurso, razão pela qual houve o
trânsito em julgado da revisão criminal. Cerca de um ano e meio mais tarde, após uma reportagem de jornal, o
TJ descobriu a fraude que havia sido perpetrada. Diante disso, o Tribunal, de ofício, convocou nova sessão na
qual os Desembargadores retificaram o julgamento e publicaram novo acórdão, agora proclamando o
resultado correto, ou seja, indeferindo a revisão criminal.
O autor da revisão criminal interpôs recurso contra esse segundo acórdão publicado. Alegou que houve
violação da coisa julgada e ofensa ao princípio da segurança jurídica, ao argumento de que, após a publicação do
acórdão absolutório, sem que houvesse a interposição de recurso, não poderia o Tribunal, de ofício, modificar
sua decisão, especialmente quando decorridos mais de um ano e meio desde o trânsito em julgado.
O STJ CONCORDOU COM A PROVIDÊNCIA ADOTADA PELO TJ?
SIM. O STJ DECIDIU QUE O TRIBUNAL PODE, A QUALQUER MOMENTO E DE OFÍCIO, DESCONSTITUIR ACÓRDÃO DE REVISÃO
CRIMINAL QUE, DE MANEIRA FRAUDULENTA, TENHA ABSOLVIDO O RÉU, QUANDO, NA VERDADE, O POSICIONAMENTO QUE
PREVALECEU NA SESSÃO DE JULGAMENTO FOI PELO INDEFERIMENTO DO PLEITO REVISIONAL.
A PUBLICAÇÃO INTENCIONAL DE ACÓRDÃO IDEOLOGICAMENTE FALSO – QUE NÃO RETRATA, EM NENHUM ASPECTO, O
JULGAMENTO REALIZADO - com o objetivo de beneficiar uma das partes, mesmo após o trânsito em julgado, não
pode reclamar a proteção de nenhum instituto do sistema processual (coisa julgada, segurança jurídica etc.).
STJ. 6ª Turma. REsp 1.324.760-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti
Cruz, julgado em 16/12/2014 (Info 555).
EXECUÇÃO PENAL
SAÍDA TEMPORÁRIA
SÚMULA 520-STJ: O BENEFÍCIO DE SAÍDA TEMPORÁRIA NO ÂMBITO DA EXECUÇÃO PENAL É ATO JURISDICIONAL INSUSCETÍVEL DE
DELEGAÇÃO À AUTORIDADE ADMINISTRATIVA DO ESTABELECIMENTO PRISIONAL.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 25/03/2015, DJe 6/4/2015.
SE FICAR CONSTATADO QUE O APENADO PRATICOU A FALTA GRAVE, É DEVER DO MAGISTRADO DECRETAR A PERDA DOS DIAS
REMIDOS. O JUIZ TERÁ, NO ENTANTO, DISCRICIONARIEDADE PARA ESCOLHER A FRAÇÃO DA PERDA, QUE TERÁ COMO LIMITE MÁXIMO
1/3 DOS DIAS REMIDOS.
Uma das punições impostas em caso de falta grave é a perda de parte dos dias remidos, conforme previsto no art.
127 da LEP:
Art. 127. Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 (um terço) do tempo remido, observado o disposto no art. 57,
recomeçando a contagem a partir da data da infração disciplinar.
QUANDO O ART. 127 FALA QUE O JUIZ PODERÁ REVOGAR ATÉ 1/3 DO TEMPO REMIDO, ISSO SIGNIFICA QUE O MAGISTRADO TEM A
POSSIBILIDADE DE, MESMO TENDO SIDO PRATICADA UMA FALTA GRAVE, DEIXAR DE REVOGAR O TEMPO REMIDO?
NÃO. A prática de falta grave IMPÕE A DECRETAÇÃO DA PERDA DE ATÉ 1/3 DOS DIAS REMIDOS, devendo a expressão
“poderá”, contida no art. 127 da LEP, ser INTERPRETADA COMO VERDADEIRO PODER-DEVER do magistrado, ficando
NO JUÍZO DE DISCRICIONARIEDADE DO JULGADOR APENAS A FRAÇÃO DA PERDA, que terá como limite máximo 1/3 dos dias
remidos.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.430.097-PR, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 19/3/2015 (Info 559).
INEXISTÊNCIA DE CASA DE ALBERGADO E CUMPRIMENTO DA PENA EM LOCAL COMPATÍVEL
Imagine que não existe Casa do Albergado na localidade. Por conta disso, os presos que estão no regime
aberto cumprem pena no presídio, mas em um local destinado apenas para eles, separado dos presos do
regime fechado. Essa situação é ilegal? O preso deverá receber prisão domiciliar neste caso?
NÃO. A INEXISTÊNCIA DE CASA DE ALBERGADO NA LOCALIDADE DA EXECUÇÃO DA PENA NÃO GERA O RECONHECIMENTO DE
DIREITO AO BENEFÍCIO DA PRISÃO DOMICILIAR QUANDO O PACIENTE ESTIVER CUMPRINDO A REPRIMENDA EM
LOCAL COMPATÍVEL COM AS REGRAS DO REGIME ABERTO.
Quando não há Casa do Albergado na localidade, o STJ tem admitido, excepcionalmente, a concessão da
prisão domiciliar. Todavia, na hipótese em que o réu, em face da inexistência de casa de albergado, esteja
cumprindo pena em local compatível com as regras do regime aberto – tendo o juízo da execução
providenciado a infraestrutura necessária, atento ao princípio da razoabilidade e da proporcionalidade –, NÃO
SE VISLUMBRA O NECESSÁRIO ENQUADRAMENTO NAS HIPÓTESES EXCEPCIONAIS DE CONCESSÃO DO REGIME PRISIONAL
DOMICILIAR.
STJ. 5ª Turma. HC 299.315-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 18/12/2014 (Info 554).
A progressão de regime para os condenados por tráfico de entorpecentes e drogas afins dar- se-á, se o
sentenciado for reincidente, após o cumprimento de 3/5 da pena, AINDA QUE A REINCIDÊNCIA NÃO SEJA ESPECÍFICA EM
CRIME HEDIONDO OU EQUIPARADO.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.491.421-RS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 4/12/2014 (Info 554).
Importante!!!
Remição é o direito que possui o condenado ou a pessoa presa cautelarmente de reduzir o tempo de
cumprimento da pena mediante o abatimento de 1 dia de pena a cada 12 horas de estudo ou de 1 dia de pena a
cada 3 dias de trabalho.
A remição pelo trabalho abrange apenas o trabalho interno ou também o externo? Se o preso que está no
regime fechado ou semiaberto é autorizado a realizar trabalho externo, ele terá direito à remição?
SIM. É possível a remição de parte do tempo de execução da pena quando o condenado, em regime fechado
ou semiaberto, desempenha atividade laborativa extramuros (trabalho externo).
A LEP, ao tratar sobre a remição pelo trabalho, não restringiu esse benefício apenas para o trabalho interno
(intramuros). Desse modo, mostra-se indiferente o fato de o trabalho ser exercido dentro ou fora do ambiente
carcerário. Na verdade, a lei exige apenas que o condenado esteja cumprindo a pena em regime fechado ou
semiaberto para que ele tenha direito à remição pelo trabalho.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.381.315-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 13/5/2015 (recurso
repetitivo) (Info 562).
Súmula 533-STJ: Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar no âmbito da execução penal, É
IMPRESCINDÍVEL A INSTAURAÇÃO DE PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO pelo diretor do estabelecimento prisional,
assegurado o direito de defesa, a SER REALIZADO POR ADVOGADO CONSTITUÍDO OU DEFENSOR PÚBLICO
NOMEADO.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 10/06/2015, Dje 15/06/2015.
Súmula 534-STJ: A prática de falta grave interrompe a contagem do prazo para a progressão de regime de
cumprimento de pena, o qual se reinicia a partir do cometimento dessa infração. STJ. 3ª Seção. Aprovada em
10/06/2015, Dje 15/06/2015.
Súmula 535-STJ: A prática de falta grave não interrompe o prazo para fim de comutação de pena ou indulto.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 10/06/2015, Dje 15/06/2015.
APLICAÇÃO ANALÓGICA DOS ARTS. 61 E 62 DA LEI DE DROGAS PARA CRIMES REGIDOS PELO CPP
Os arts. 61 e 62 da Lei 11.343/2006 permitem que, após autorização judicial, veículos, embarcações, aeronaves e
quaisquer outros meios de transporte sejam utilizados pela autoridade de polícia judiciária, comprovado o
interesse público.
O juiz poderá AUTORIZAR QUE A AERONAVE SEJA UTILIZADA PELO ÓRGÃO MESMO O RÉU NÃO ESTANDO RESPONDENDO POR
TRÁFICO DE DROGAS?
SIM. É POSSÍVEL A APLICAÇÃO ANALÓGICA DOS ARTS. 61 E 62 DA LEI 11.343/2006 para admitir a utilização pelos
órgãos públicos de aeronave apreendida no curso da persecução penal de crime não previsto na Lei de Drogas,
sobretudo se presente o interesse público de evitar a deterioração do bem. O art. 3º do CPP afirma que a lei
processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios
gerais de direito. Assim, É POSSÍVEL A APLICAÇÃO DA LEI DE DROGAS PARA CRIMES REGIDOS PELO CPP COM BASE NO USO
DA ANALOGIA.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.420.960-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 24/2/2015 (Info 556).
Se, em decisão transitada em julgado, DECIDE-SE PELA IMPROCEDÊNCIA DE EMBARGOS DE TERCEIRO OPOSTOS CONTRA
APREENSÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR – em razão de não ter sido comprovada a propriedade, a posse ou a origem
lícita dos recursos utilizados na aquisição do automóvel – O AUTOR DOS REFERIDOS EMBARGOS, NA CONDIÇÃO DE
TERCEIRO PREJUDICADO, NÃO TEM INTERESSE DE RECORRER CONTRA PARTE DA SENTENÇA CONDENATÓRIA QUE, AO FINAL
DA AÇÃO PENAL, DECRETOU O PERDIMENTO DO BEM EM FAVOR DA UNIÃO. ISSO PORQUE HÁ IDENTIDADE DE DEMANDAS
ENTRE OS EMBARGOS DE TERCEIRO QUE SE DIRIGIRAM CONTRA A APREENSÃO DO VEÍCULO E A APELAÇÃO INTERPOSTA CONTRA A
DECRETAÇÃO DE PERDIMENTO DO AUTOMÓVEL EM FAVOR DA UNIÃO. Isto é, há identidade de partes e de pedidos
(devolução do bem), bem como em relação à causa de pedir (a suposta propriedade do automóvel). STJ. 6ª
Turma. REsp 1.247.629-RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 6/11/2014 (Info 552).
REMIÇÃO DA PENA
Remição é o direito que possui o condenado ou a pessoa presa cautelarmente de reduzir o tempo de
cumprimento da pena mediante o abatimento de 1 dia de pena a cada 12 horas de estudo ou de 1 dia de pena a
cada 3 dias de trabalho.
É POSSÍVEL COMPUTAR A REMIÇÃO PELO ESTUDO AINDA QUE AS AULAS OCORRAM DURANTE FINAIS DE SEMANA E DIAS NÃO-
ÚTEIS?
SIM. A remição da pena pelo estudo deve ocorrer independentemente de a atividade estudantil ser
desenvolvida em dia não útil. O art. 126 da Lei 7.210/84 dispõe que a contagem de tempo para remição da pena
pelo estudo deve ocorrer à razão de 1 dia de pena para cada 12 horas de frequência escolar, NÃO HAVENDO
QUALQUER RESSALVA SOBRE A CONSIDERAÇÃO APENAS DOS DIAS ÚTEIS PARA REALIZAÇÃO DA REFERIDA CONTAGEM, sendo,
inclusive, expressamente mencionada a possibilidade de ensino à distância.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.487.218-DF, Rel. Min. Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ/SP),
julgado em 5/2/2015 (Info 556).
ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO
Impossibilidade de seguradora intervir como assistente da acusação em processo que apure homicídio do
segurado
Segundo o art. 268 do CPP, poderá intervir, como assistente do Ministério Público, o ofendido (pessoalmente ou
por meio de seu representante legal, caso seja incapaz).
Caso a vítima tenha morrido, poderá intervir como assistente: a) o cônjuge; b) o companheiro;
c) o ascendente; d) o descendente; ou e) o irmão do ofendido.
Imagine que Maria fez um seguro de vida no qual foi previsto o pagamento de indenização de R$ 500 mil a seu
marido (João) caso ela morresse. Alguns meses depois, Maria apareceu morta, envenenada. O inquérito policial
concluiu que havia suspeitas de que João foi o autor do crime, razão pela qual ele foi denunciado por homicídio
doloso. Uma das cláusulas do contrato prevê que, se o beneficiário foi quem causou a morte da segurada, ele não
terá direito à indenização. A seguradora poderá intervir no processo criminal como assistente da acusação para
provar que João foi o autor do crime? NÃO . A seguradora não tem direito líquido e certo de figurar como
assistente do Ministério Público em ação penal na qual o beneficiário do seguro de vida é acusado de ter
praticado o homicídio do segurado. O art. 268 prevê quem poderá intervir como assistente de acusação e neste
rol não se inclui a seguradora.
O sujeito passivo do crime de homicídio é o ser humano e o bem jurídico é a vida, de forma que, por mais que se
reconheça que a seguradora possui interesse patrimonial no resultado da causa, isso não a torna vítima do
homicídio.
Vale ressaltar que, em alguns casos, a legislação autoriza que certas pessoas ou entidades, mesmo não sendo
vítimas do crime, intervenham como assistentes de acusação.
STJ. 6ª Turma. RMS 47.575-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 14/4/2015 (Info 560).
Observação:
Não cabe assistente da acusação no IP.
Não cabe assistente da acusação no processo de execução penal.
Poderes do assistente
Ao assistente será permitido:
a) propor meios de prova;
b) formular quesitos para a perícia e indicar assistente técnico;
c) formular perguntas às testemunhas (sempre depois do MP);
d) aditar os articulados, ou seja, complementar as peças escritas apresentadas pelo MP;
e) participar do debate oral;
f) arrazoar os recursos interpostos pelo MP
g) interpor e arrazoar seus próprios recursos;
h) requerer a decretação da prisão preventiva e de outras medidas cautelares;
i) requerer o desaforamento no rito do júri.
Obs1: segundo entendimento do STJ, O CPP PREVÊ TAXATIVAMENTE O ROL DOS ATOS QUE O ASSISTENTE DE
ACUSAÇÃO PODE PRATICAR.
Obs2: O ASSISTENTE DA ACUSAÇÃO NÃO PODERÁ ADITAR A DENÚNCIA FORMULADA PELO MP.
Durante os debates no Plenário do Tribunal do Júri, o Promotor de Justiça pediu a absolvição do réu, tendo ele
sido absolvido pelos jurados. O assistente de acusação, que intervinha no processo, tem legitimidade para
recorrer contra essa decisão?
SIM. O assistente de acusação possui legitimidade para interpor recurso de apelação, em caráter supletivo,
nos termos do art. 598 do CPP, ainda que o Ministério Público tenha requerido a
absolvição do réu.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.451.720-SP, Rel. originário Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão Min. Nefi
Cordeiro, julgado em 28/4/2015 (Info 564).
EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO
Para que o Defensor Público represente o assistido no processo penal, é necessário que este outorgue uma
procuração?
Regra: NÃO. O Defensor Público não precisa de mandato (procuração).
Exceção: será necessária a procuração se o Defensor Público for praticar algum dos atos para os quais a lei exige
poderes especiais.
O art. 98 do CPP prevê que, para ser proposta exceção de suspeição do juiz, o defensor precisa de procuração
com poderes especiais.
O Defensor Público que faz a defesa do réu precisará de procuração com poderes especiais para arguir a
suspeição do juiz?
SIM. É EXIGÍVEL PROCURAÇÃO COM PODERES ESPECIAIS PARA QUE seja oposta exceção de suspeição por réu
representado pela Defensoria Pública, MESMO QUE O ACUSADO ESTEJA AUSENTE DO DISTRITO DA CULPA.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.431.043-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 16/4/2015 (Info 560).
Na prática, o Defensor Público simplesmente não irá apresentar a exceção de suspeição. Isso porque se ele não
tem nem como falar com o réu, não terá condições, obviamente, de coletar sua procuração
Outra opção é o réu assinar a peça juntamente com o defensor.
TRIBUNAL DO JÚRI
A sentença de pronúncia deve ser fundamentada. No entanto, é necessário que o juiz utilize as palavras com
moderação, ou seja, valendo-se de termos sóbrios e comedidos, a fim de se evitar que fique demonstrado na
decisão que ele acredita firmemente que o réu é culpado pelo crime. Se o magistrado exagera nas palavras
utilizadas na sentença de pronúncia, dizemos que houve um “excesso de linguagem”, também chamado de
“eloquência acusatória”.
O excesso de linguagem é proibido porque o CPP afirma que os jurados irão receber uma cópia da sentença de
pronúncia e das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação e do relatório do processo (art. 472,
parágrafo único). Assim, se o juiz se excede nos argumentos empregados na sentença de pronúncia, o jurado irá
ler essa decisão e certamente será influenciado pela opinião do magistrado.
Havendo excesso de linguagem, o que o Tribunal deve fazer?
Deverá ANULAR a sentença de pronúncia e os consecutivos atos processuais, determinando-se que outra seja
prolatada.
Em vez de anular, o Tribunal pode apenas determinar que a sentença seja desentranhada (retirada do processo)
ou seja envelopada (isolada)? Isso já não seria suficiente, com base no princípio da economia processual?
NÃO. Não basta o desentranhamento e envelopamento. É necessário anular a sentença e determinar que outra
seja prolatada. Isso porque, como já dito acima, a lei determina que a sentença de pronúncia seja distribuída aos
jurados. Logo, não há como desentranhar a decisão, já que uma cópia dela deverá ser entregue aos jurados. Se
essa cópia não for entregue, estará sendo descumprido o art. 472, parágrafo único, do CPP.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.442.002-AL, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 28/4/2015 (Info 561).
Anulação da decisão absolutória do júri em razão da contrariedade com as provas dos autos
Ainda que a defesa alegue que a absolvição se deu por clemência do Júri, admite-se, mas DESDE QUE POR
UMA ÚNICA VEZ, o PROVIMENTO DE APELAÇÃO FUNDAMENTADA NA ALEGAÇÃO DE QUE A DECISÃO DOS
JURADOS CONTRARIOU MANIFESTAMENTE À PROVA DOS AUTOS (art. 593, III, "d", do CPP). STJ. 6ª Turma.
REsp 1.451.720-SP, Rel. originário Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão Min. Nefi Cordeiro, julgado em
28/4/2015 (Info 564).
LIVRAMENTO CONDICIONAL
NÃO. A progressão de regime para os condenados por crime hediondo ocorre após o cumprimento de 3/5 da
pena, ainda que a reincidência não seja específica em crime hediondo ou equiparado.
A Lei dos Crimes Hediondos não faz distinção entre a reincidência comum e a específica. Desse modo, havendo
reincidência, ao condenado deverá ser aplicada a fração de 3/5 da pena cumprida para fins de progressão do
regime.
Ex: João foi sentenciado, com trânsito em julgado, por furto simples (crime não hediondo) e depois foi
condenado por homicídio doloso (crime hediondo). As penas foram unificadas e ele está no regime fechado.
Para que progrida para o regime semiaberto precisará cumprir 3/5 da pena mesmo não sendo reincidente
específico em crime hediondo.
STJ. 6ª Turma. HC 301.481-SP, Rel. Min. Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ-SP), julgado em
2/6/2015 (Info 563).
COISA JULGADA
Duas condenações transitadas em julgado, sendo uma proferida por juízo incompetente
Constatado o trânsito em julgado de duas decisões condenando o agente pela prática de um único crime – a
primeira proferida por juízo estadual absolutamente incompetente e a segunda proferida pelo juízo federal
constitucionalmente competente –, a primeira condenação deve ser anulada caso se verifique que nela fora
imposta pena maior do que a fixada posteriormente.
Ex: João praticou um roubo, com arma de fogo, contra uma agência própria dos Correios. Logo, a competência
seria da Justiça Federal (art. 109, IV, da CF/88). Ocorre que, por equívoco, foram iniciados dois processos sobre
este mesmo crime: um na Justiça Estadual e outra na Justiça Federal. Assim, João foi condenado a 8 anos pelo
crime na Justiça Estadual. Esta sentença transitou em julgado. Dois meses depois, João foi novamente
condenado, pelo mesmo delito, na Justiça Federal, recebendo uma pena de 6 anos de reclusão. Essa decisão
também transitou em julgado.
STJ. 5ª Turma. HC 297.482-CE, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 12/5/2015 (Info 562).
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
INFORMATIVO 553, STJ - POSSIBILIDADE DE CUMPRIMENTO IMEDIATO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA IMPOSTA NA
SENTENÇA.
Tema polêmico! Em regra, a apelação contra a sentença que aplica medida socioeducativa de internação
deverá ser recebida no efeito meramente devolutivo ou no duplo efeito?
1ª corrente: apenas no efeito devolutivo, impondo-se ao adolescente infrator o cumprimento imediato da
medida socioeducativa (STJ. 6ª Turma. HC 301.135/SP).
2ª corrente: com a revogação do art. 198, VI, do ECA, as apelações interpostas contra sentenças menoristas
devem ser recebidas, em regra, no duplo efeito, com exceção da hipótese prevista no art. 520, VII, do CPC, o
qual dispõe que os apelos interpostos contra sentenças que confirmam a antecipação dos efeitos da tutela são
recebidos apenas no efeito devolutivo (STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 292.200/PA). STJ. 6ª Turma. HC 301.135-SP,
Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 21/10/2014 (Info 553). STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 292.200/PA, Rel.
Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/08/2014.
1ª CORRENTE 2ª CORRENTE
Nos processos decorrentes da prática Existem inúmeras decisões em sentido contrário,
de atos infracionais, em regra, a ou seja, afirmando que, DEPOIS DA LEI N.
APELAÇÃO INTERPOSTA CONTRA A 12.010/2009 TER REVOGADO O INCISO VI DO ART.
SENTENÇA QUE APLICOU INTERNAÇÃO 198 DO ECA, A REGRA AGORA É QUE OS RECURSOS
SEJAM RECEBIDOS NOS EFEITOS DEVOLUTIVO E
DEVERÁ SER RECEBIDA APENAS NO
SUSPENSIVO.
EFEITO DEVOLUTIVO, impondo-se ao
adolescente infrator o cumprimento (...) Com a revogação do art. 198, VI, do Estatuto da
imediato da medida socioeducativa. Criança e do Adolescente, as apelações interpostas
contra sentenças menoristas devem ser recebidas
Apesar de a Lei n. 12.010/2009 ter no duplo efeito, com exceção da hipótese prevista
revogado o inciso VI do art. 198 do ECA, no art. 520, VII, do Código de Processo Civil, o qual
que conferia apenas o efeito devolutivo dispõe que os apelos interpostos contra sentenças
ao recebimento dos recursos, continua que confirmam a antecipação dos efeitos da tutela
a viger o disposto no art. 215 do ECA, são recebidos apenas no efeito devolutivo. (...)
que determina o seguinte:
(STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 292.200/PA, Rel. Min.
Art. 215. O juiz poderá conferir efeito Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/08/2014)
Suspensivo aos recursos, para evitar
dano irreparável à parte. (...) A Lei n.º 12.010/2009 revogou o art. 198 do
Estatuto da Criança e do Adolescente, que previa a
regra geral segundo a qual a interposição da
apelação geraria apenas o efeito devolutivo. Com o
advento da Lei n.º 12.010/2009, adotou-se a regra
do art. 520 do Código de Processo Civil, pelo qual o
recurso de apelação detém tanto o efeito
devolutivo quanto o suspensivo.
3. Em regra, não se admite mais a execução
provisória de decisão menorista impugnada por
intermédio de apelação. Dentre os casos que
comportam exceção à referida regra, verifica-se a
hipótese de superveniência da interposição de
recurso apelatório em face de sentença que aplicou
medida socioeducativa de internação, após o
deferimento de medida cautelar consistente em
internação provisória, nos termos do art. 520, do
Código de Processo Civil. (...) (STJ. 5ª Turma. RHC
41.359/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
12/11/2013).
O adolescente que cumpria medida de internação e foi transferido para medida menos rigorosa não pode ser
novamente internado por ato infracional praticado antes do início da execução, AINDA QUE COMETIDO EM
MOMENTO POSTERIOR AOS ATOS PELOS QUAIS ELE JÁ CUMPRE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA.
STJ. 5ª Turma. HC 274.565-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 12/5/2015 (Info 562).
Art. 45. Se, no transcurso da execução, sobrevier sentença de aplicação de nova medida, a autoridade judiciária
procederá à unificação, ouvidos, previamente, o Ministério Público e o defensor, no prazo de 3 (três) dias sucessivos,
decidindo-se em igual prazo.
§ 1º É vedado à autoridade judiciária determinar reinício de cumprimento de medida socioeducativa, ou deixar de
considerar os prazos máximos, e de liberação compulsória previstos na Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990
(Estatuto da Criança e do Adolescente), excetuada a hipótese de medida aplicada por ato infracional praticado
durante a execução.
§ 2º É vedado à autoridade judiciária aplicar nova medida de internação, por atos infracionais praticados
anteriormente, a adolescente que já tenha concluído cumprimento de medida socioeducativa dessa natureza, ou
que tenha sido transferido para cumprimento de medida menos rigorosa, sendo tais atos absorvidos por aqueles aos
quais se impôs a medida socioeducativa extrema.
No art. 45, caput e parágrafos foram traçadas as regras a serem seguidas no caso de superveniência
de nova medida socioeducativa em duas situações distintas, quais sejam:
por ato infracional praticado DURANTE a execução da medida (regra do §
1º);
por ato infracional cometido ANTES do início do cumprimento da medida (hipótese do §
2º).
O raciocínio do legislador foi o seguinte: se o adolescente já esteve na internação e ganhou o direito de ir
para um regime mais brando, isso significa que já passou por um processo de ressocialização e retornar
para a internação seria um retrocesso.
Quando falamos em adolescente em conflito com a lei, devemos lembrar que o objetivo da medida não é
punitivo (não existe pretensão punitiva), mas sim educativo, considerando que o adolescente está em
condição peculiar como pessoa em desenvolvimento (art. 6º do ECA), sujeito à proteção integral (art. 1º).
Ademais, deve-se recordar que a aplicação da medida socioeducativa de internação rege-se pelos princípios
da excepcionalidade e do respeito à condição peculiar do jovem em desenvolvimento (art. 121 do ECA),
segundo os quais aquela somente deverá ser aplicada como ultima ratio, ou seja, quando outras não forem
suficientes à sua recuperação.