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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

DIREITO CONSTITUCIONAL
MINISTÉRIO PÚBLICO

LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL PARA ATUAR NO STJ

O Ministério Público Estadual tem legitimidade para atuar diretamente no STJ nos processos em que figure como
parte. Assim, o MPE POSSUI LEGITIMIDADE PARA ATUAR DIRETAMENTE EM RECURSO POR ELE INTERPOSTO E SUBMETIDO A
JULGAMENTO PERANTE O STJ.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.327.573-RJ, Rel. originário e voto vencedor Min. Ari Pargendler, Rel. para acórdão
Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/12/2014 (Info 556).

Argumentos que fundamentam a atuação do MP Estadual no STF e STJ:


INEXISTÊNCIA DE HIERARQUIA ENTRE MPU E MPE
A CF/88 organiza o Ministério Público brasileiro em dois segmentos:
I – o Ministério Público da União, que compreende:
O Ministério Público Federal
O Ministério Público do Trabalho
O Ministério Público Militar
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios
II – os Ministérios Públicos dos Estados
Desse modo, conclui-se que o Ministério Público é dividido em dois ramos distintos (MPE e MPU),
não havendo qualquer relação de hierarquia ou subordinação entre eles.
O chefe do Ministério Público da União é o Procurador-Geral da República (art. 128, § 1º da CF/88).
Por sua vez, o chefe de cada Ministério Público estadual é o seu respectivo Procurador-Geral de
Justiça (art. 128, § 3º).
Logo, não há qualquer sentido em se permitir que o MPF atue diretamente nas Cortes Superiores e
negar esse poder aos Ministérios Públicos Estaduais.
PRINCÍPIO FEDERATIVO
Viola o regime federativo impedir que o Ministério Público Estadual tenha acesso aos Tribunais
Superiores, uma vez que haveria uma diferença de tratamento em relação ao MPF, o que mitigaria
sua autonomia funcional.
AUTONOMIA DO MPE
Está também relacionada com o princípio federativo, considerando que não permitir que o
Ministério Público Estadual atue, no STF e STJ, nos processos de seu interesse, significaria tolher a
autonomia e liberdade de atuação do Parquet estadual
MPU E MPE NÃO SÃO UNOS ENTRE SI
O Ministério Público, de fato, é uno (art. 127, § 1º, CF/88). No entanto, a unidade institucional é
princípio aplicável apenas no âmbito de cada Ministério Público. Não é possível dizer, por exemplo,
que entre o Ministério Público estadual e o Ministério Público federal exista unidade. Desse modo,
quando houver necessidade de atuação do Ministério Público Estadual nos processos que tramitam
no STF e STJ, esta deverá ocorrer por meio do seu Procurador-Geral de Justiça, não suprindo isso o
fato de haver a intervenção do Procurador-Geral da República
OS INTERESSES DEFENDIDOS PELO MPE PODEM, EVENTUALMENTE, SER CONFLITANTES COM OS DO MPU
Poderia acontecer de os Ministérios Públicos Estaduais deduzirem pretensão no STF e STJ com a
qual não concorde, eventualmente, a chefia do Ministério Público da União, o que obstaria o acesso
do Parquet estadual aos Tribunais Superiores (STF Rcl 7358/SP)
PARIDADE DE ARMAS
Fazer com que o Ministério Público estadual ficasse na dependência do que viesse a entender o
Ministério Público Federal seria incompatível, dentre outros princípios, com o da paridade de armas,
considerando que, em eventual conflito entre o MPE e o MPU, o chefe do MPU (PGR) poderia atuar
diretamente no STF, mas não o MPE (STF Rcl 7358/SP)

Qual órgão do Ministério Público participa no STF e STJ como custos legis?
MPF. É importante ressaltar que a atuação do Ministério Público como custos legis no STF e STJ continua sendo
feita sempre pelo Procurador-Geral da República ou pelos Subprocuradores da República (por delegação ou
designação).
Desse modo, o que se passou a permitir foi a atuação direta do Ministério Público Estadual como parte no STF e
STJ.
Vale sublinhar, inclusive, que nos processos em que o MPE for parte, no STJ e STF, o MPF atuará como custos
legis (fiscal da lei), oferecendo parecer.

Nos casos de ação penal de competência originária do STF e do STJ, qual órgão do Ministério Público
oferecerá a denúncia e atuará no processo criminal?
MPF. Em tais hipóteses, a atribuição continua sendo do MPF, por meio do Procurador-Geral da República (ou um
Subprocurador-Geral, mediante delegação do Procurador-Geral). Nesse sentido: STJ Corte Especial. APn 689-BA,
Rel. Min. Eliana Calmon, julgada em 17/12/2012.
Trata-se de previsão legal do art. 46, parágrafo único, III e 48, II, da LC n. 75/93.

O prazo recursal para o MP inicia-se na data da sua intimação pessoal

MUITO IMPORTANTE!!!! MUDANÇA DE ENTENDIMENTO!!!!

No processo penal, quando o Ministério Público for intimado pessoalmente em cartório, dando ciência
nos autos, o seu prazo recursal se iniciará nessa data, e não no dia da remessa dos autos ao seu
departamento administrativo. Isso porque o prazo recursal para o MP inicia-se na data da sua
intimação pessoal. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.347.303-GO, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 10/12/2014
(Info 554).

INTIMAÇÃO PESSOAL OCORRE NA DATA EM QUE OS AUTOS SÃO RECEBIDOS NO ÓRGÃO


No caso da intimação pessoal do membro do MP ser feita mediante entrega dos autos com vista, o que
normalmente ocorre na prática é a remessa do processo da Vara para a Instituição (MP ou Defensoria), sendo
os autos recebidos por um servidor do órgão.

Nessa hipótese, deve-se considerar realizada a intimação pessoal no dia em que o processo chegou no MP,
ou somente na data em que o membro do MP apuser seu ciente nos autos?
A intimação considera-se realizada no dia em que os autos são recebidos pelo MP. Logo, segundo o STJ e o STF,
o termo inicial da contagem dos prazos é o dia útil seguinte à data da entrada dos autos
no órgão público ao qual é dada a vista. “A contagem dos prazos para a Defensoria Pública ou para
o Ministério Público tem início com a entrada dos autos no setor administrativo do órgão e, estando
formalizada a carga pelo servidor, configurada está a intimação pessoal, sendo despicienda, para a contagem do
prazo, a aposição no processo do ciente por parte do seu membro.”
INTIMAÇÃO PESSOAL DOS MEMBROS DO MP NO PRÓPRIO CARTÓRIO JUDICIAL
Na prática forense, pode acontecer a seguinte situação: o Promotor de Justiça ou o Procurador da República,
após a audiência, vai até o Cartório/Secretaria da Vara e lá indaga se existem processos para serem
remetidos ao MP. O escrivão/diretor de secretaria afirma que sim e mostra a pilha de autos que seguirão ao
Parquet. O membro do MP começa a examinar e percebe que alguns são apenas para que ele tome ciência de
decisões ou sentenças que foram proferidas pelo juiz. Diante disso, para facilitar, ele decide ali mesmo
tomar ciência de alguns deles. Para isso, escreve ao final da decisão/sentença: “Ciente em XX/XX/XX. Carimbo e
assinatura”.

A pergunta que surge é a seguinte: tais processos em que o Promotor/Procurador deu ciência ainda
precisarão seguir ao MP? O prazo para o MP recorrer contra essa decisão/sentença iniciou neste dia ou para
isso será necessário ainda remeter o processo à Instituição?
NÃO. Não será mais necessário que tais processos sejam remetidos ao MP. O prazo para recurso começou neste
dia em que o Promotor/Procurador apôs seu ciente.
O STJ decidiu que, quando o Ministério Público for intimado pessoalmente em cartório, dando ciência nos
autos, o seu prazo recursal se iniciará nessa data, e não no dia da remessa dos autos ao seu departamento
administrativo. Isso porque o prazo recursal para o MP inicia-se na data da sua intimação pessoal e o
Promotor/Procurador foi intimado nesta data.
Portanto, se você é Promotor de Justiça ou Procurador da República, cuidado: só tome ciência de qualquer
decisão ou sentença no cartório judicial (Secretaria da Vara) se tiver certeza que não irá interpor recurso. Isso
porque, caso aponha seu ciente, saiba que seu prazo recursal iniciará nesta data.

DEFENSORIA PÚBLICA

Defensor Público não precisa de procuração para atuar como representante do assistente de acusação
Em regra, o Defensor Público não precisa de mandato (procuração) para representar a parte em processos
administrativos ou judiciais. Isso está previsto na LC 80/94.
Exceção: será NECESSÁRIA PROCURAÇÃO SE O DEFENSOR PÚBLICO for praticar algum dos atos para OS QUAIS A LEI
EXIGE PODERES ESPECIAIS (exemplos: transigir, desistir, renunciar – art. 38 do CPC).

Se a vítima (ou seus sucessores) quiserem ingressar no processo criminal como ASSISTENTE DE
ACUSAÇÃO, será necessário que outorguem uma procuração ao Defensor Público para que este as
represente em juízo?

NÃO. Quando a Defensoria Pública atuar como representante do assistente de acusação, é dispensável
a juntada de procuração com poderes especiais. O Defensor Público deve juntar procuração judicial somente
nas hipóteses em que a lei exigir poderes especiais. Atuar como representante do assistente de acusação não é
considerado um poder especial, não se exigindo procuração especial.
A participação da Defensoria Pública como representante do assistente de acusação pode ser negada pelo juiz
sob o argumento de que a vítima ou seus sucessores não são hipossuficientes (“pobres”)? NÃO. COMPETE À
PRÓPRIA DEFENSORIA O DIREITO DE APURAR O ESTADO DE CARÊNCIA DE SEUS ASSISTIDOS.
STJ. 5ª Turma. HC 293.979-MG, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 5/2/2015 (Info 555).

TRIBUNAL DE CONTAS
INFORMATIVO 552, STJ - ILEGITIMIDADE DO MP PARA EXECUÇÃO DE CONDENAÇÃO PROFERIDA PELO TRIBUNAL DE CONTAS.
MUDANÇA DE ENTENDIMENTO! O MINISTÉRIO PÚBLICO POSSUI LEGITIMIDADE PARA AJUIZAR A EXECUÇÃO DE TÍTULO EXECUTIVO
EXTRAJUDICIAL DECORRENTE DE CONDENAÇÃO PROFERIDA PELO TRIBUNAL DE CONTAS? NÃO. A LEGITIMIDADE PARA A
PROPOSITURA DA AÇÃO EXECUTIVA É APENAS DO ENTE PÚBLICO BENEFICIÁRIO. O MINISTÉRIO PÚBLICO, ATUANTE OU NÃO
JUNTO ÀS CORTES DE CONTAS, seja federal, seja estadual, É PARTE ILEGÍTIMA. Essa é a posição tanto do STF
(Plenário. ARE 823347 RG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 02/10/2014. Repercussão geral), como do STJ
(2ª Turma. REsp 1.464.226-MA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 20/11/2014).
- As decisões do Tribunal de Contas que determinem a imputação de débito (ressarcimento ao erário) ou
apliquem multa terão eficácia de título executivo extrajudicial, nos termos do § 3º do art. 71 da CF/88. Logo,
podem ser executadas por meio de uma ação de execução de título extrajudicial.
- NÃO HÁ NECESSIDADE DE ESSE DÉBITO SER INSCRITO EM DÍVIDA ATIVA.
- O ART. 71, § 3º, DA CF/88 NÃO OUTORGOU AO TCU LEGITIMIDADE PARA EXECUTAR SUAS DECISÕES DAS QUAIS RESULTE
IMPUTAÇÃO DE DÉBITO OU MULTA. A competência para tal é do titular do crédito constituído a partir da decisão, ou

seja, o ENTE PÚBLICO PREJUDICADO (AI 826676 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma,
julgado em 08/02/2011).

TERRAS INDÍGENAS

Impossibilidade de remarcação ampliativa de terra indígena

Importante!!!

Em 2000, João comprou uma fazenda que fica ao lado da reserva indígena Wassú-Cocal. Essa reserva indígena
foi demarcada em 1987, ou seja, antes da CF/88. Em 2012, o Ministro da Justiça, a partir de estudo da FUNAI,
editou portaria ampliando os limites da reserva indígena Wassú-Cocal. Pela nova demarcação proposta, João
perderia a sua fazenda, que passaria a fazer parte da reserva indígena. Segundo argumentaram a FUNAI e o
Ministério da Justiça, a remarcação agora realizada é um procedimento destinado a "corrigir falhas" cometidas
na demarcação originária já que esta não teria observado os parâmetros impostos pela CF/88. Desse modo, seria
uma correção para adequar a demarcação às regras da CF/88.
A jurisprudência concorda com essa prática? Se uma terra indígena foi demarcada antes da CF/88, é possível que
agora ela seja “remarcada”, ampliando-se a área anteriormente já reconhecida?

NÃO. Tanto o STF como o STJ condenam essa prática.


A alegação de que a demarcação da terra indígena não observou os parâmetros estabelecidos pela CF/1988 não
justifica a remarcação ampliativa de áreas originariamente demarcadas em período anterior à sua promulgação.

Desde o julgamento da Pet 3.388-RR (Caso Raposa Serra do Sol),


a jurisprudência passou a
entender que é vedada a ampliação de terra indígena já demarcada , salvo em
caso de vício de ilegalidade do ato de demarcação e, ainda assim, DESDE QUE RESPEITADO O PRAZO
DECADENCIAL.
É inegável que a CF/88 mudou o enfoque atribuído à questão indígena e trouxe novas regras mais favoráveis a
tais povos, permitindo a demarcação das terras com critérios mais elásticos, a partir da evolução de uma
perspectiva integracionista para a de preservação cultural do grupamento étnico. Isso, contudo, não é motivo
suficiente para se promover a revisão administrativa das demarcações de terras indígenas já realizadas,
especialmente nos casos em que se passou o prazo decadencial.
STJ. 1ª Seção. MS 21.572-AL, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 10/6/2015 (Info 564). STF. 2ª Turma. RMS
29542/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 30/9/2014 (Info 761).

Direito Administrativo
PODER DE POLÍCIA

INCOMPETÊNCIA DO INMETRO PARA FISCALIZAR BALANÇAS GRATUITAMENTE DISPONIBILIZADAS POR FARMÁCIAS

O Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial (INMETRO) NÃO É COMPETENTE para
fiscalizar as balanças de pesagem corporal disponibilizadas gratuitamente aos clientes nas farmácias. STJ. 1ª
Turma. REsp 1.384.205-SC, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 5/3/2015 (Info 557).

Compete aos Conselhos Regionais de Farmácia fiscalizar se as drogarias e farmácias funcionam com a
presença constante de um farmacêutico

As farmácias e drogarias deverão, obrigatoriamente, ter em seu estabelecimento, durante todo o período de
funcionamento, um farmacêutico inscrito no Conselho Regional de Farmácia.
A competência para fiscalizar essa exigência é dos Conselhos Regionais de Farmácia.
A VIGILÂNCIA SANITÁRIA NÃO FISCALIZA A PRESENÇA DO FARMACÊUTICO no
estabelecimento. Sua ATUAÇÃO FICA RESTRITA AO LICENCIAMENTO do estabelecimento e à FISCALIZAÇÃO DO
CUMPRIMENTO DE PADRÕES SANITÁRIOS.

INSCRIÇÃO DE PROFESSORES E MESTRES NO CEF

NÃO É OBRIGATÓRIA A INSCRIÇÃO, nos CONSELHOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA, DOS PROFESSORES E MESTRES DE DANÇA,
IOGA E ARTES MARCIAIS (karatê, judô, tae-kwon-do, kickboxing, jiu-jitsu, capoeira e outros) para o
exercício de suas atividades profissionais. STJ. 2ª Turma. REsp 1.450.564-SE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em
16/12/2014 (Info 554).

CONCESSÃO DE RODOVIA

Concessionária de rodovia pode cobrar de concessionária de energia elétrica pelo uso de faixa de
domínio de rodovia para a instalação de postes e passagem de cabos aéreos efetivada com o intuito de
ampliar a rede de energia, na hipótese em que o contrato de concessão da rodovia preveja a possibilidade
de obtenção de receita alternativa decorrente de atividades vinculadas à exploração de faixas marginais. STJ.
1ª Seção. EREsp 985.695-RJ, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 26/11/2014 (Info 554).

SERVIDORES PÚBLICOS

APOSENTADORIA POR INVALIDEZ COM PROVENTOS PROPORCIONAIS SE A DOENÇA NÃO ESTIVER PREVISTA NO ART. 186 DA
LEI 8.112/1990

A CF/88 prevê, em seu art. 40, § 1º, I, a possibilidade de os servidores públicos serem aposentados caso se
tornem total e permanentemente incapazes para o trabalho. Trata-se da chamada aposentadoria por invalidez.
Em regra, a aposentadoria por invalidez será paga com proventos proporcionais ao tempo de contribuição.
Excepcionalmente, ela será devida com proventos integrais se essa invalidez for decorrente de acidente em
serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, especificada em lei.
Assim, a concessão de aposentadoria por invalidez com proventos integrais exige que a doença incapacitante
esteja prevista em rol taxativo da legislação de regência.
O art. 41, § 1º, I, da CF/88 é bastante claro ao exigir que a lei defina as doenças e moléstias que ensejam
aposentadoria por invalidez com proventos integrais. Logo, esse rol legal deve ser tido como exaustivo
(taxativo).
Com base no entendimento acima exposto, O STJ TEM DECIDIDO QUE SERÃO PROPORCIONAIS (E NÃO INTEGRAIS)
OS PROVENTOS DE APOSENTADORIA DE SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL DIAGNOSTICADO COM DOENÇA GRAVE, CONTAGIOSA
OU INCURÁVEL QUE NÃO ESTEJA PREVISTA NO ART. 186, § 1º, DA LEI N. 8.112⁄1990 NEM INDICADA EM LEI.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.324.671-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 3/3/2015 (Info 557). STF. Plenário. RE
656860/MT, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 21/8/2014 (Info 755).

INFORMATIVO 553, STJ - INAPLICABILIDADE DO DIREITO À RECONDUÇÃO DO ART. 29, I, DA LEI 8.112/90 A SERVIDOR PÚBLICO
ESTADUAL.

Importante!!! Se A LEGISLAÇÃO ESTADUAL NÃO PREVÊ A RECONDUÇÃO, É POSSÍVEL APLICAR A LEI 8.112/90
POR ANALOGIA? NÃO. Não é possível a aplicação, por analogia, do instituto da recondução previsto no
art. 29, I, da Lei 8.112/19901 a servidor público estadual na hipótese em que o ordenamento jurídico do estado
for omisso acerca desse direito. Segundo a jurisprudência do STJ, SOMENTE É POSSÍVEL APLICAR, POR ANALOGIA, A LEI

8.112/90, AOS SERVIDORES PÚBLICOS ESTADUAIS E MUNICIPAIS se HOUVER OMISSÃO, na legislação estadual
ou municipal, SOBRE DIREITO DE CUNHO CONSTITUCIONAL e QUE SEJA AUTOAPLICÁVEL e DESDE
QUE TAL SITUAÇÃO NÃO GERA O AUMENTO DE GASTOS. Ex: aplicação, por analogia, das regras da Lei 8.112/90
sobre licença para acompanhamento de cônjuge a determinado servidor estadual cuja legislação não prevê esse
afastamento (RMS 34.630⁄AC, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 18/10/2011). Nesse
exemplo, o STJ reconheceu que a analogia se justificava para proteção da unidade família, valor protegido
constitucionalmente (art. 226 da CF/88). No caso da recondução, contudo, NÃO É POSSÍVEL A
ANALOGIA PORQUE ESSE DIREITO NÃO TEM CUNHO CONSTITUCIONAL. STJ. 2ª Turma.
RMS 46.438-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 16/12/2014 (Info 553).

INFORMATIVO 559, STJ - ACUMULAÇÃO DE APOSENTADORIA DE EMPREGO PÚBLICO COM REMUNERAÇÃO DE “CARGO”
TEMPORÁRIO

Importante!!! Maria é empregada pública federal aposentada. Como se aposentou cedo e ainda está cheia de
vitalidade, ela decide que deseja continuar trabalhando e, por isso, se inscreve no processo seletivo aberto pelo
Ministério do Meio Ambiente para contratar servidores temporários. A empregada pública aposentada poderá
ser contratada e receber, ao mesmo tempo, os proventos da aposentadoria e também a remuneração
proveniente do serviço temporário? SIM. É POSSÍVEL A CUMULAÇÃO DE PROVENTOS DE APOSENTADORIA DE EMPREGO
PÚBLICO COM REMUNERAÇÃO PROVENIENTE DE EXERCÍCIO DE “CARGO” TEMPORÁRIO. O § 3º DO ART. 118 DA LEI
8.112/90 PROÍBE APENAS A ACUMULAÇÃO DE PROVENTOS DE APOSENTADORIA COM REMUNERAÇÃO DE CARGO OU

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Art. 29. Recondução é o retorno do servidor estável ao cargo anteriormente ocupado e decorrerá de:
I - inabilitação em estágio probatório relativo a outro cargo;
II - reintegração do anterior ocupante.
Parágrafo único. Encontrando-se provido o cargo de origem, o servidor será aproveitado em outro,
observado o disposto no art. 30.
EMPREGO PÚBLICO EFETIVO. Os servidores temporários contratados sob o regime do art. 37, IX, NÃO ESTÃO
VINCULADOS A UM CARGO OU EMPREGO PÚBLICO, EXERCENDO APENAS UMA FUNÇÃO ADMINISTRATIVA TEMPORÁRIA
(função autônoma, justamente por não estar vinculada a cargo ou emprego). Além disso, ainda que se considere
que isso é um “cargo” público, NÃO SE TRATA DE CARGO PÚBLICO EFETIVO JÁ QUE AS PESSOAS SÃO SELECIONAS MEDIANTE
PROCESSO SELETIVO SIMPLIFICADO E IRÃO EXERCER ESSA FUNÇÃO POR UM PRAZO DETERMINADO, NÃO POSSUINDO DIREITO À
ESTABILIDADE. Em suma, não é cargo; mas mesmo que fosse, não seria cargo efetivo. Ademais, a aposentadoria da
interessada se deu pelo Regime Geral de Previdência Social – RGPS (ela era empregada pública), não se lhe
aplicando, portanto, o disposto no § 10 do art. 37 da CF/88, segundo o qual “É vedada a percepção simultânea
de proventos de aposentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a remuneração de cargo,
emprego ou função pública, ressalvados os cargos acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos eletivos e
os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e exoneração”. Isso porque a aposentadoria dos
empregados públicos, concedida no regime do RGPS, é disciplinada não pelo art. 40 da CF/88, mas sim pelo art.
201. Logo, não se pode atribuir interpretação extensiva em prejuízo do empregado público aposentado pelo
RGPS. STJ. 2ª Turma. REsp 1.298.503-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/4/2015 (Info 559).

SERVIDORES TEMPORÁRIOS

CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA DE SERVIDOR PÚBLICO PARA ATIVIDADES DE CARÁTER PERMANENTE

O art. 37, IX, da CF/88 autoriza que a Administração Pública contrate pessoas, sem concurso público, tanto para o
desempenho de atividades de caráter eventual, temporário ou excepcional, COMO TAMBÉM PARA O
DESEMPENHO DAS FUNÇÕES DE CARÁTER REGULAR E PERMANENTE, desde que INDISPENSÁVEIS AO ATENDIMENTO
DE NECESSIDADE TEMPORÁRIA DE EXCEPCIONAL INTERESSE PÚBLICO. Esse é o entendimento do STF (Plenário. ADI
3247/MA, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 26/3/2014. Info 740).
O STJ adotou essa mesma conclusão. No caso concreto, o Ministério da Saúde autorizou a contratação de 200
profissionais para a Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS. O sindicato dos servidores públicos impetrou
MS contra este ato alegando que os servidores estavam sendo contratados para a análise de processos
administrativos do órgão, o que não é uma atividade temporária, mas sim permanente e, portanto, não se
enquadraria no art. 37, IX, da CF/88, devendo ser desempenhada por servidores estatutários da autarquia. O MS
foi julgado improcedente. Segundo decidiu o STJ, ADMITE-SE A CONTRATAÇÃO POR TEMPO DETERMINADO PARA
ATENDER A NECESSIDADE TEMPORÁRIA DE EXCEPCIONAL INTERESSE PÚBLICO (ART. 37, IX, DA CF/88) AINDA QUE PARA O
EXERCÍCIO DE ATIVIDADES PERMANENTES DO ÓRGÃO OU ENTIDADE. No caso concreto, as contratações temporárias se
fazem necessárias em decorrência do crescente número de demandas e do enorme passivo de procedimentos
administrativos que estão parados junto à ANS. Ademais, o quadro de pessoal da agência já está completo,
inexistindo, portanto, cargos vagos para a realização de concurso público.
STJ. 1ª Seção. MS 20.335-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 22/4/2015 (Info 560).
Servidores temporários
Os servidores que são contratados com base nesse fundamento são chamados de servidores temporários.
Características
Para ser válida, a contratação com fundamento no inciso IX deve ser...
• feita por tempo determinado (a lei prevê prazos máximos);
• com o objetivo de atender a uma necessidade temporária; e
• que se caracterize como sendo de excepcional interesse público.

Atividades de caráter regular e permanente


No serviço público há algumas atividades que são regulares e permanentes. Exs.: servidores das áreas de
saúde, educação e segurança pública.
Por outro lado, existem atividades que possuem caráter eventual, temporário ou excepcional. Ex.: servidores
para a realização do censo pelo IBGE.
Em resumo, mesmo em atividades públicas de natureza permanente, como as desenvolvidas nas áreas de
saúde, educação e segurança pública, é possível, em tese, a contratação por prazo determinado para suprir
uma demanda eventual ou passageira.

CONSELHO PROFISSIONAL

TERMO INICIAL DO PRAZO PRESCRICIONAL PARA PUNIÇÃO DE PROFISSIONAL LIBERAL POR INFRAÇÃO DISCIPLINAR

Qual é o prazo prescricional que o Conselho profissional possui para punir o profissional liberal a ele vinculado e
a partir de quando é contado?
5 ANOS. COM BASE NO ART. 1º DA LEI N. 6.838/80. Esse prazo começa a ser contado, NÃO
DA DATA EM QUE A INFRAÇÃO DISCIPLINAR OCORRER, mas SIM DO DIA EM QUE O CONSELHO PROFISSIONAL TIVER
CONHECIMENTO DO RESPECTIVO FATO (art. 1º da Lei 6.838/80).STJ. 1ª Turma. REsp 1.263.157-PE, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, julgado em 5/3/2015 (Info 557).
Obs.: Advogados - No caso de infrações disciplinares cometidas por advogados, não se aplica a Lei n. 6.838/80,
mas sim a Lei n. 8.906/94 (Estatuto da OAB): Art. 43. A pretensão à punibilidade das infrações disciplinares
prescreve em cinco anos, contados da data da constatação oficial do fato.

RESPONSABILIDADE CIVIL

TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO DE PRETENSÃO INDENIZATÓRIA DECORRENTE DE TORTURA E MORTE DE PRESO

Determinada pessoa foi presa e torturada por policiais. Foi instaurado inquérito policial para apurar o ocorrido.
Qual será o TERMO DE INÍCIO DA PRESCRIÇÃO DA AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS?
 Se tiver sido ajuizada ação penal contra os autores do crime: O TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO SERÁ O TRÂNSITO EM
JULGADO DA SENTENÇA PENAL.
 SE O INQUÉRITO POLICIAL TIVER SIDO ARQUIVADO (NÃO FOI AJUIZADA AÇÃO PENAL): O TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO DA AÇÃO
DE INDENIZAÇÃO É A DATA DO ARQUIVAMENTO DO IP.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.443.038-MS, Rel. Ministro Humberto Martins, julgado em 12/2/2015 (Info 556).

Alguns de vocês podem estar se confundindo e pensando: “eu li em algum lugar que as ações de indenização
em caso de tortura são imprescritíveis”. Isso é correto?
Não é bem assim. Se você pensou nisso, não se confunda. Vou relembrar essa situação:
As ações de indenização por danos morais decorrentes de perseguição, tortura e prisão, POR MOTIVOS POLÍTICOS,
DURANTE O REGIME MILITAR, são imprescritíveis. Para esses casos, não se aplica o prazo prescricional de 5 anos
previsto no art. 1º do Decreto 20.910/1932 (STJ. 2ª Turma. REsp 1.374.376-CE, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 25/6/2013. Info 523).
O STJ concluiu que tais demandas são imprescritíveis porque se referem a um período (regime militar) em que a
ordem jurídica foi desconsiderada, com legislação de exceção, tendo havido, sem dúvida, incontáveis abusos e
violações dos direitos fundamentais, mormente do direito à dignidade da pessoa humana (AgRg no Ag
1391062/RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 09/08/2011). No exemplo acima, a
tortura ocorreu depois do regime militar, ou seja, já no período em que vivemos um regime democrático. Logo,
a ação de indenização submete-se ao prazo de 5 anos.

INFORMATIVO 553, STJ - EXISTÊNCIA DE CADÁVER EM DECOMPOSIÇÃO EM RESERVATÓRIO DE ÁGUA.


Foi encontrado um cadáver humano em decomposição em um dos reservatórios de água que abastece uma
cidade. Determinado consumidor ajuizou ação de indenização contra a empresa pública concessionária do
serviço de água e o STJ entendeu que ela deveria ser condenada a reparar os danos morais sofridos pelo cliente.
FICOU CONFIGURADA A RESPONSABILIDADE SUBJETIVA POR OMISSÃO DA CONCESSIONÁRIA DECORRENTE DE FALHA DO
DEVER DE EFETIVA VIGILÂNCIA DO RESERVATÓRIO DE ÁGUA. Além disso, RESTOU CARACTERIZADA A FALHA NA PRESTAÇÃO
DO SERVIÇO, INDENIZÁVEL POR DANO MORAL, QUANDO A COMPANHIA NÃO GARANTIU A QUALIDADE DA ÁGUA

DISTRIBUÍDA À POPULAÇÃO. O DANO MORAL, NO CASO, É IN RE IPSA, OU SEJA, O


RESULTADO DANOSO É PRESUMIDO. STJ. 2ª Turma. REsp 1.492.710-MG, Rel. Min. Humberto
Martins, julgado em 16/12/2014 (Info 553).

AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE DA EMPRESA DE VIGILÂNCIA PRIVADA EM CASO DE ASSALTO A BANCO

O banco mantinha contrato com a empresa de Vigilância Privada “XXX” por meio do qual esta se comprometia a
prestar serviços de vigilância armada nas agências bancárias.
Determinado dia, o banco foi assaltado por um grupo de oito ladrões fortemente armados.
O banco ajuizou ação de indenização contra a empresa de vigilância sustentando que, por expressa disposição
contratual, a empresa deveria ser responsabilizada pelo roubo e pelos prejuízos suportados pela instituição
bancária.
A tese do banco foi aceita? A empresa de vigilância foi condenada a indenizar?

NÃO. A cláusula de contrato de prestação de serviço de vigilância armada que impõe o dever de obstar
assaltos e de garantir a preservação do patrimônio de instituição financeira não acarreta à contratada
automática responsabilização por roubo contra agência bancária da contratante, especialmente quando
praticado por grupo fortemente armado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.329.831-MA, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/3/2015 (Info 561).

Obrigação de meio
A obrigação da empresa de vigilância é de meio (e não de resultado), sendo impossível garantir que não haverá
assaltos.
A empresa de vigilância tem apenas o dever de envidar todos os esforços razoáveis para evitar danos ao
patrimônio da contratante e de agir com a diligência na minimização dos riscos. Todavia, não se pode exigir dos
seguranças atitudes heroicas perante grupo criminoso fortemente armado.
Se fosse admitida a tese do banco, o contrato de vigilância iria se transformar em um verdadeiro contrato de
seguro.

Ilegitimidade passiva da União em demanda que envolve erro médico ocorrido em hospital do SUS
Atualize seu livro de 2014
A União não tem legitimidade passiva em ação de indenização por danos decorrentes de erro médico ocorrido
em hospital da rede privada durante atendimento custeado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo
com a Lei 8.080/90, a responsabilidade pela fiscalização dos hospitais credenciados ao SUS é do Município, a
quem compete responder em tais casos.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.388.822-RN, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 13/5/2015 (Info 563).
Não se deve confundir a obrigação solidária dos entes federativos em assegurar o direito à saúde e garantir o
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação, com a
responsabilidade civil do Estado pelos danos causados a terceiros. Nesta, o interessado busca uma reparação
econômica pelos prejuízos sofridos, de modo que a obrigação de indenizar se sujeita à comprovação da conduta,
do dano e do respectivo nexo de causalidade.
Dessa forma, não há qualquer elemento que autorize a responsabilização da União, seja porque a conduta não
foi por ela praticada, seja em razão da impossibilidade de aferir-se a existência de culpa in eligendo ou culpa in
vigilando.

Responsabilidade civil dos administradores de rede social por violação de direito autoral causada por
seus usuários

"Habeas aula" é um curso jurídico "on line" preparatório para concursos públicos. Determinado dia, o gerente da
instituição descobriu que havia uma comunidade na rede social Orkut® onde estavam sendo vendidas, em DVD,
as aulas do curso, de forma não autorizada ("pirataria"). Diante disso, o curso propôs ação contra a Google®
(proprietária do Orkut®) pedindo:
a retirada do ar da referida comunidade;
a identificação do IP, ou seja, o número do "computador" (dispositivo) de onde partiram as publicações;
b) a reparação pelos danos morais que sofreu durante o período em que a comunidade esteve "on line".

Quando o autor pede a retirada do ar e a identificação do IP de determinado perfil, página ou comunidade que
está presente em uma rede social, ele precisa informar a URL da página (ex: o perfil abusivo está no endereço
www.orkut.com/xxx123yyy456)? Ou essa informação não é necessária?
É sim necessária. O STJ tem entendimento consolidado no sentido de que o titular que teve direito autoral
violado pela comercialização desautorizada de sua obra em rede social deve indicar a URL específica da página
na qual o ilícito foi praticado, caso pretenda que o provedor torne indisponível o conteúdo e forneça o IP do
usuário responsável pela violação.

E o pedido de indenização por danos materiais, deverá ser acolhido? No caso relatado, a Google® deverá ser
condenada a indenizar o autor?
NÃO. A Google® não é responsável pelos prejuízos decorrentes de violações de direito autoral levadas a efeito
por usuários que utilizavam a rede social Orkut® para comercializar obras sem autorização dos respectivos
titulares, desde que constatado que:
 o provedor de internet (Google®) não obteve lucro ou contribuiu decisivamente com a prática ilícita e
 os danos sofridos ocorreram antes da notificação do provedor acerca da existência do conteúdo infringente
(ou seja, as vendas foram antes de o provedor ser notificado sobre as páginas ilícitas).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.512.647-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 13/5/2015 (Info 565).

Requisitos para responsabilidade dos provedores de internet por pirataria


Esse tema (responsabilidade dos provedores de internet por pirataria) já foi bastante discutido no exterior,
em especial nos EUA.
Segundo tem sido decidido no direito comparado, a responsabilidade civil de provedores de internet por
violações de direitos autorais praticadas por terceiros somente é reconhecida se presentes três requisitos:

 Inexistência de fair use ("uso justo") dos materiais protegidos por direitos autorais.
O primeiro requisito para responsabilizar o provedor de internet é que o uso dos materiais protegidos
por direitos autorais não tenha sido um uso justo (fair use).
Se o uso foi justo, não há dever de indenizar. Ex: em 1984, logo no início dos chamados videocassetes,
a Universal Studios ajuizou ação de indenização contra a Sony alegando que os adquirentes dos
videocassetes da ré estavam copiando filmes transmitidos em canais de televisão, cujos direitos eram
de titularidade da autora. A justiça norte-americana julgou o pedido improcedente por entender que a
destinação conferida ao produto da Sony pelos usuários representava uso legítimo de direito autoral
(fair use). "Ficou comprovado que a principal finalidade dos donos de videocassetes era copiar o
programa desejado para assisti-lo em horário mais cômodo, uso doméstico que, segundo
entendimento adotado, não configuraria violação de direitos autorais." (SOARES, Sílvia Simões.
Aspectos jurídicos do compartilhamento de arquivos MP3 P2P via internet. In. Direito e Internet. Vol.
II. Newton de Lucca e Adalberto Simão Filho (Coord.). São Paulo: Quartier Latin, 2008).
 Responsabilidade contributiva: deve-se provar que o provedor de internet, de forma intencional,
induziu ou encorajou terceiros a cometerem ato ilícito utilizando a estrutura da rede oferecida. Ex: a
Justiça norte-americana condenou a rede social Napster®, que permitia a troca de músicas entre os
seus usuários por entender que estava presente a responsabilidade contributiva da empresa já que ela
sabia e incentivava essa troca de músicas mesmo tendo consciência que em sua esmagadora maioria
se tratavam de obras protegidas por direitos autorais e que não poderiam ser comercializadas
livremente.

 Responsabilidade vicária: a responsabilidade vicária está configurada quando fica provado que o
provedor de internet aufere lucros, ainda que indiretos, com os ilícitos praticados, razão pela qual se
nega a exercer o poder de controle ou de limitação dos danos, quando poderia fazê-lo. O exemplo
novamente é o Napster®. A Justiça norte-americana entendeu que os responsáveis pela rede
poderiam controlar os compartilhamentos que eram feitos entre os usuários cancelando as contas dos
usuários infratores e filtrando os arquivos em seu próprio sistema. Além disso, ficou demonstrado que
o Napster® obtinha retorno financeiro com a ilegalidade cometida pelos usuários, uma vez que estes
eram atraídos exatamente pela facilidade na obtenção gratuita de obras protegidas por copyright, ao
passo que, para o Napster®, havia a possibilidade de anúncios e propagandas patrocinadas dirigidas
aos integrantes da rede.

Inexistência de fair use


No caso concreto envolvendo o Orkut®, o primeiro requisito está preenchido, considerando que o criador
da comunidade fez um uso não justo das aulas do curso. O fato de ele ter comprado o curso não daria
direito de ele reproduzir para revender para terceiros o material.
Desse modo, no âmbito da rede social oferecida pelo provedor de internet, alguns usuários estavam
fazendo uso não justo de materiais protegidos.

Inexistência de responsabilidade contributiva


No caso em exame, o STJ entendeu que não estava presente a responsabilidade contributiva da Google®.
Isso porque o Orkut® não era uma rede social que tinha como finalidade principal o compartilhamento de
músicas, vídeos, aulas etc. Não era uma rede para troca de arquivos. Logo, não se pode dizer que a Google
ou o Orkut® incentivavam essa prática.

Inexistência de responsabilidade vicária


Por fim, o STJ concluiu que não se pode punir a Google com base na teoria da responsabilidade vicária.
Isso porque não se verificou que a empresa estivesse lucrando com os ilícitos praticados pelos usuários.
Além disso, não se identificou que o provedor tenha se negado a exercer o poder de controle sobre os
ilícitos que identificou ou limitar os danos mesmo podendo fazê-lo.

DESAPROPRIAÇÃO

INDENIZAÇÃO POR DESAPROPRIAÇÃO E PROVA DE APENAS PARTE DA PROPRIEDADE DO IMÓVEL


Se, em procedimento de desapropriação por interesse social, ficar constatado que a área medida do bem é
maior do que a escriturada no Registro de Imóveis, o expropriado receberá indenização correspondente à área
registrada, ficando a diferença depositada em Juízo até que, posteriormente, se complemente o registro ou se
defina a titularidade para o pagamento a quem de direito. A indenização devida deverá considerar a área
efetivamente desapropriada, ainda que o tamanho real seja maior do que o constante da escritura, a fim de
não se configurar enriquecimento sem causa em favor do ente expropriante. STJ. 2ª Turma. REsp 1.466.747-PE,
Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 24/2/2015 (Info 556). STJ. 2ª Turma. REsp 1.286.886-MT, Rel. Min.
Herman Benjamin, julgado em 6/5/2014 (Info 540).

EXERCÍCIO DA ADVOCACIA E CARGOS PÚBLICOS


INFORMATIVO 552, STJ - O CARGO DE FISCAL FEDERAL AGROPECUÁRIO É INCOMPATÍVEL COM O EXERCÍCIO DA ADVOCACIA.
O cargo de Fiscal Federal Agropecuário é incompatível com o exercício da advocacia por se enquadrar no
inciso V do art. 28 do Estatuto da OAB. A VEDAÇÃO DO INCISO V DO ART. 28 ABRANGE NÃO APENAS A ATIVIDADE
POLICIAL ESTRITAMENTE VOLTADA À SEGURANÇA PÚBLICA, MAS TAMBÉM ENGLOBA O AGENTE QUE POSSUI PODERES DE
POLÍCIA ADMINISTRATIVA, COMO O CASO DO FISCAL FEDERAL AGROPECUÁRIO, QUE REALIZA FISCALIZAÇÃO, AUTUAÇÃO,
APREENSÃO E INTERDIÇÃO. Essa interpretação é baseada na parte final do inciso V, que fala em “atividade
policial de qualquer natureza”. Ademais, a finalidade da norma é a de proibir a prática da advocacia por
agente público que, exercendo atividade de polícia, possa se beneficiar da sua atuação funcional, vulnerando
as suas atribuições administrativas e⁄ou gerando privilégio na captação de clientela, mormente se
considerado o poder de decisão que detém, com base no cargo que exerce, sobre os administrados. STJ. 1ª
Turma. REsp 1.377.459-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 20/11/2014 (Info 552).

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
COMPETÊNCIA PARA JULGAR AÇÃO DE IMPROBIDADE PROPOSTA POR MUNICÍPIO CONTRA EX-PREFEITO QUE NÃO PRESTOU
CONTAS DE CONVÊNIO FEDERAL

Importante!!! Determinado Município ajuizou Ação Civil Pública de Improbidade Administrativa contra o ex-
prefeito da cidade, sob o argumento de que este, enquanto prefeito, firmou convênio com órgão/entidade
federal e recebeu recursos para aplicar em favor da população e, no entanto, não prestou contas no prazo
devido, o que fez com o que o Município fosse incluído no cadastro negativo da União, estando, portanto,
impossibilitado de receber novos recursos federais. Esta ação de improbidade administrativa deverá ser
julgada pela Justiça Federal ou Estadual?
Regra: COMPETE À JUSTIÇA ESTADUAL (E NÃO À JUSTIÇA FEDERAL) PROCESSAR E JULGAR AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA NA QUAL SE APURE IRREGULARIDADES NA PRESTAÇÃO DE CONTAS, POR EX-PREFEITO, RELACIONADAS A
VERBAS FEDERAIS TRANSFERIDAS MEDIANTE CONVÊNIO E INCORPORADAS AO PATRIMÔNIO MUNICIPAL.

Exceção: SERÁ DE COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL SE A UNIÃO, AUTARQUIA FEDERAL, FUNDAÇÃO


FEDERAL OU EMPRESA PÚBLICA FEDERAL MANIFESTAR EXPRESSAMENTE INTERESSE DE INTERVIR NA
CAUSA porque, neste caso, a situação se amoldará no art. 109, I, da CF/88. STJ. 1ª Seção. CC 131.323-TO, Rel.
Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 25/3/2015 (Info 559).
COMPETÊNCIA PENAL COMPETÊNCIA CIVIL
ART. 109. AOS JUÍZES FEDERAIS COMPETE ART. 109. AOS JUÍZES FEDERAIS COMPETE PROCESSAR E
PROCESSAR E JULGAR: IV - OS CRIMES POLÍTICOS E AS JULGAR: I - AS CAUSAS EM QUE A UNIÃO, ENTIDADE
INFRAÇÕES PENAIS PRATICADAS EM DETRIMENTO DE AUTÁRQUICA OU EMPRESA PÚBLICA FEDERAL FOREM
BENS, SERVIÇOS OU INTERESSE DA UNIÃO OU DE SUAS INTERESSADAS NA CONDIÇÃO DE AUTORAS, RÉS, ASSISTENTES
ENTIDADES AUTÁRQUICAS OU EMPRESAS PÚBLICAS, OU OPONENTES, EXCETO AS DE FALÊNCIA, AS DE ACIDENTES DE
EXCLUÍDAS AS CONTRAVENÇÕES E RESSALVADA A TRABALHO E AS SUJEITAS À JUSTIÇA ELEITORAL E À JUSTIÇA DO
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR E DA JUSTIÇA TRABALHO;
ELEITORAL;
EM MATÉRIA CÍVEL, A JUSTIÇA FEDERAL SÓ SERÁ COMPETENTE
EM RELAÇÃO ÀS MATÉRIAS PENAIS, O ART. 109 SE A UNIÃO POSSUIR INTERESSE QUE LHE PERMITA ATUAR
ESTABELECE CRITÉRIOS MAIS AMPLOS NA FIXAÇÃO DA COMO AUTORA, RÉ, ASSISTENTE OU OPONENTE. LOGO, SE A
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL DO QUE QUANTO UNIÃO, ENTIDADE AUTÁRQUICA OU EMPRESA PÚBLICA NÃO
ÀS AÇÕES CÍVEIS. ISSO PORQUE NO ÂMBITO FIGURAR COMO PARTE NO PROCESSO CÍVEL, A COMPETÊNCIA
CRIMINAL, PARA QUE A COMPETÊNCIA SEJA FEDERAL, NÃO SERÁ DA JUSTIÇA FEDERAL.
BASTA QUE EXISTA INTERESSE DA UNIÃO, ENTIDADES
AUTÁRQUICAS E EMPRESAS PÚBLICAS.

SÚMULA 208-STJ: COMPETE À JUSTIÇA FEDERAL NÃO SE ESTÁ AFIRMANDO QUE AS SÚMULAS 208 E
PROCESSAR E JULGAR PREFEITO MUNICIPAL POR
DESVIO DE VERBA SUJEITA A PRESTAÇÃO DE CONTAS
209 DO STJ NÃO POSSAM SER APLICADAS COMO
PERANTE ÓRGÃO FEDERAL. CRITÉRIOS PARA DEFINIÇÃO DE COMPETÊNCIA EM

SÚMULA 209-STJ: COMPETE À JUSTIÇA ESTADUAL MATÉRIA CÍVEL. EXISTEM INÚMEROS PRECEDENTES DO STJ
QUE UTILIZAM ESSES ENUNCIADOS EM PROCESSOS CÍVEIS,
PROCESSAR E JULGAR PREFEITO POR DESVIO DE VERBA
INCLUSIVE EM AÇÕES DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
TRANSFERIDA E INCORPORADA AO PATRIMÔNIO
MUNICIPAL. O QUE SE ESTÁ EXPLICANDO É QUE AS REFERIDAS SÚMULAS,
EM ESPECIAL O ENUNCIADO 208, NÃO PODEM SER APLICADAS
DE FORMA ABSOLUTA NOS PROCESSOS CÍVEIS. PARA A
DEFINIÇÃO DA COMPETÊNCIA CÍVEL, O PRINCIPAL SERÁ SABER
SE A UNIÃO, SUAS ENTIDADES AUTÁRQUICAS OU EMPRESAS
PÚBLICAS ESTÃO INTERVINDO NO PROCESSO OU NÃO.

APLICAÇÃO DA PENA DE PERDA DA FUNÇÃO PÚBLICA A MEMBRO DO MP EM AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

ATENÇÃO! MINISTÉRIO PÚBLICO

O MEMBRO DO MINISTÉRIO PÚBLICO PODE SER PROCESSADO E CONDENADO POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA?
SIM. É pacífico o entendimento de que o Promotor de Justiça (ou Procurador da República) pode ser
processado e condenado por ato de improbidade administrativa, com fundamento na Lei 8.429/92.
MESMO GOZANDO DE VITALICIEDADE E A LEI PREVENDO UMA SÉRIE DE CONDIÇÕES PARA A PERDA DO CARGO, O MEMBRO DO
MP, SE FOR RÉU EM UMA AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, PODERÁ SER CONDENADO À PERDA DA FUNÇÃO PÚBLICA? O
MEMBRO DO MP PODE SER RÉU EM UMA AÇÃO DE IMPROBIDADE DE QUE TRATA A LEI 8.429/92 E, AO FINAL, SER CONDENADO À
PERDA DO CARGO MESMO SEM SER ADOTADO O PROCEDIMENTO DA LEI 8.625/93 E DA LC 75/93?
SIM. O STJ decidiu que é possível, no âmbito de ação civil pública de improbidade administrativa, a
condenação de membro do Ministério Público à pena DE PERDA DA FUNÇÃO PÚBLICA PREVISTA NO ART. 12 DA LEI
8.429/92.
A LEI 8.625/93 (LEI ORGÂNICA NACIONAL DO MP) E A LC 75/93 PREVEEM UMA SÉRIE DE REGRAS PARA QUE POSSA SER
AJUIZADA AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE PERDA DO CARGO CONTRA O MEMBRO DO MP. TAIS DISPOSIÇÕES IMPEDEM QUE O MEMBRO
DO MP PERCA O CARGO EM AÇÃO DE IMPROBIDADE?

NÃO. Segundo o STJ, o fato de essas leis preverem a garantia da vitaliciedade aos membros do MP e a
necessidade de ação judicial para a aplicação da pena de demissão não significa que elas proíbam que o
membro do MP possa perder o cargo em razão de sentença proferida na ação civil pública por ato de
improbidade administrativa.
Essas leis tratam dos casos em que houve um procedimento administrativo no âmbito do MP para apuração de
fatos imputados contra o Promotor/Procurador e, sendo verificada qualquer das situações previstas nos incisos
do § 1º do art. 38, deverá obter-se autorização do Conselho Superior para o ajuizamento de ação civil
específica.
Desse modo, tais leis não cuidam de improbidade administrativa e, portanto, nada interferem nas disposições
da Lei 8.429/92.
Em outras palavras, existem as ações previstas na LC 75/93 e na Lei 8.625/93, mas estas não excluem (não
impedem) que o membro do MP também seja processado e condenado pela Lei 8.429/92. Os dois sistemas
convivem harmonicamente. UM NÃO EXCLUI O OUTRO.
Se o membro do MP praticou um ato de improbidade administrativa, ele poderá ser réu em uma ação civil e
perder o cargo? Essa ação deverá ser proposta segundo o rito da lei da carreira (LC 75/93 / Lei 8.625/93) ou
poderá ser proposta nos termos da Lei 8.429/92?
SIM. O membro do MP que praticou ato de improbidade administrativa poderá ser réu em uma
ação civil e perder o cargo. Existem duas hipóteses possíveis:
• Instaurar o processo administrativo de que trata a lei da carreira (LC 75/93: MPU / Lei 8.625/93: MPE) e, ao
final, o PGR ou o PGJ ajuizar ação civil de perda do cargo contra o membro do MP.
• Ser proposta ação de improbidade administrativa, nos termos da Lei 8.429/92. Neste caso, não existe
legitimidade exclusiva do PGR ou PGJ. A ação poderá ser proposta até mesmo por um Promotor de Justiça (no
caso do MPE) ou Procurador da República (MPF) que atue em 1ª instância.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.191.613-MG, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 19/3/2015 (Info 560).

Pode parecer um pouco estranho, mas foi como decidiu o STJ:


“Assim, a demissão ou perda do cargo por ato de improbidade administrativa (art. 240, V, “b”, da LC 75/1993)
não só pode ser determinada por sentença condenatória transitada em julgado em ação específica, cujo
ajuizamento deve ser provocado por procedimento administrativo e é da competência do Procurador-Geral,
como também pode ocorrer em decorrência do trânsito em julgado da sentença condenatória proferida em
ação civil pública prevista na Lei n. 8.429/92.” (REsp 1.191.613-MG).

Em suma, os dispositivos da a LC n. 75/93 e da Lei n. 8.625/93 tratam sobre outra hipótese de ação civil
pública para perda do cargo e tais leis não impedem que seja proposta ação específica de improbidade (Lei
n. 8.429/92) contra o membro do MP, podendo ele, inclusive, perder o cargo em decorrência dela.

PENSÃO POR MORTE (LEI 8.112/90)


INFORMATIVO 553, STJ - PESSOA DESIGNADA QUE RECEBERÁ A PENSÃO NÃO PRECISA TER SIDO INSCRITA NOS ASSENTOS
FUNCIONAIS DO SERVIDOR.
Para fins de concessão da pensão por morte de servidor público federal, A DESIGNAÇÃO DO BENEFICIÁRIO NOS
ASSENTOS FUNCIONAIS DO SERVIDOR É PRESCINDÍVEL SE A VONTADE DO INSTITUIDOR EM ELEGER O
DEPENDENTE COMO BENEFICIÁRIO DA PENSÃO HOUVER SIDO COMPROVADA POR OUTROS
MEIOS IDÔNEOS. STJ. 2ª Turma. REsp 1.486.261-SE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 20/11/2014
(Info 553).

PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
INFORMATIVO 552, STJ - IMPRENSA TEM DIREITO DE ACESSO A INFORMAÇÕES DETALHADAS DO CARTÃO CORPORATIVO DO
GOVERNO.

Importante!!! Determinado jornal solicitou que o governo federal fornecesse a relação dos gastos efetuados
com o cartão corporativo pela chefe da representação da Presidência da República em SP. O Governo
concedeu ao jornal a relação dos gastos efetuados no período, ou seja, os valores despendidos. No entanto,
negou-se a fornecer informações detalhadas como os tipos de gastos, as datas, valores individuais de cada
transação, CNPJ/razão social das empresas contratadas etc. O STJ ENTENDEU QUE ESSA RECUSA AO
FORNECIMENTO DO EXTRATO COMPLETO (INCLUINDO TIPO, DATA, VALOR DAS TRANSAÇÕES EFETUADAS E CNPJ DOS
FORNECEDORES) CONSTITUI ILEGAL VIOLAÇÃO AO DIREITO DE ACESSO À INFORMAÇÃO DE INTERESSE
COLETIVO (LEI 12.527/2011), já que não havia qualquer evidência de que a publicidade desses elementos
atentaria contra a segurança do Presidente e Vice-Presidente da República ou de suas famílias. STJ. 1ª Seção.
MS 20.895-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 12/11/2014 (Info 552).

PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR


Possibilidade de execução imediata de penalidade imposta em PAD
Importante!!! Atenção! Advocacia Pública. Determinado servidor público federal recebeu pena de demissão
em processo administrativo disciplinar contra si instaurado. O servidor interpôs recurso administrativo com a
decisão proferida. Ocorre que, antes mesmo de ser julgado o recurso, a Administração Pública já cessou o
pagamento da remuneração do servidor e o afastou das funções. É possível que a sanção aplicada (demissão)
seja desde logo executada mesmo que ainda esteja pendente recurso interposto no âmbito administrativo?

SIM . É POSSÍVEL O CUMPRIMENTO IMEDIATO DA PENALIDADE IMPOSTA AO SERVIDOR LOGO APÓS O


JULGAMENTO DO PAD E ANTES DO JULGAMENTO DO RECURSO ADMINISTRATIVO CABÍVEL. Não há qualquer
ilegalidade na imediata execução de penalidade administrativa imposta em PAD a servidor público, ainda que
a decisão não tenha transitado em julgado administrativamente. STJ. 1ª Seção. MS 19.488-DF, Rel. Min.
Mauro Campbell Marques, julgado em 25/3/2015 (Info 559).
- Argumentos:

1º) OS ATOS ADMINISTRATIVOS GOZAM DE AUTOEXECUTORIEDADE, possibilitando que a Administração


Pública realize, através de meios próprios, a execução dos seus efeitos materiais, independentemente de
autorização judicial ou do trânsito em julgado da decisão administrativa.
2º) A EXECUÇÃO DOS EFEITOS MATERIAIS DE PENALIDADE IMPOSTA AO SERVIDOR PÚBLICO (ex: corte da emuneração)
NÃO DEPENDE DO JULGAMENTO DE RECURSO INTERPOSTO NA ESFERA ADMINISTRATIVA, já que este , EM REGRA,
NÃO POSSUI EFEITO SUSPENSIVO, conforme previsto no art. 109 da Lei n. 8.112/90: O recurso poderá ser
recebido com efeito suspensivo, a juízo da autoridade competente.

PERSONALIDADE JUDICIÁRIA

Personalidade judiciária das Câmaras de Vereadores

Súmula 525-STJ: A CÂMARA DE VEREADORES NÃO POSSUI PERSONALIDADE JURÍDICA, APENAS PERSONALIDADE
JUDICIÁRIA, somente podendo DEMANDAR EM JUÍZO PARA DEFENDER OS SEUS DIREITOS INSTITUCIONAIS.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 22/04/2015, DJe 27/4/2015.
RESUMINDO:
A Câmara de Vereadores, por ser um órgão, não possui personalidade jurídica (não é pessoa jurídica). Apesar
de não ter personalidade jurídica (civil), a Câmara pode ser parte em algumas causas judiciais em virtude de
gozar de personalidade judiciária. No entanto, essa personalidade judiciária não é ampla e ela só pode
demandar em juízo para defender os seus direitos institucionais (aqueles relacionados ao funcionamento,
autonomia e independência do órgão).

LICITAÇÕES
Termo inicial da punição prevista no art. 7º da Lei n.10.520/2002 (Lei do Pregão)

O pregão é uma modalidade de licitação disciplinada pela Lei 10.520/2002.


O art. 7º da Lei prevê que o licitante que for convocado dentro do prazo de validade de sua proposta e não
celebrar o contrato, deixar de entregar a documenação, apresentar documentação falsa, retardar a execução
do que contratado, não mantiver a proposta, falhar ou fraudar na execução do contrato, comportar-se de
modo inidôneo ou cometer fraude fiscal, ficará impedido de licitar e contratar com a União, Estados, Distrito
Federal ou Municípios pelo prazo de até 5 anos.
Esse prazo de 5 anos (ou menos) de punição começa a ser contado quando? Inicia-se com a publicação da
decisão no Diário Oficial ou somente no dia em que é feito o registro negativo sobre a empresa no SICAF? Isso
é importante porque a inserção dessa informação no SICAF pode demorar um tempo para acontecer. Qual é,
portanto, o termo inicial da sanção?
A data da publicação no Diário Oficial.
O termo inicial para efeito de contagem e detração (abatimento) da penalidade prevista no art. 7º da Lei
10.520/2002, aplicada por órgão federal, coincide com a data em que foi publicada a decisão administrativa
no Diário Oficial da União – e não com a do registro no SICAF.
STJ. 1ª Seção. MS 20.784-DF, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. para acórdão Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em
9/4/2015 (Info 561).

CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO

RESPONSABILIDADE POR INFRAÇÃO RELACIONADA À CONDUÇÃO E À PROPRIEDADE E REGULARIDADE DE VEÍCULO

Devem ser impostas tanto ao condutor quanto ao proprietário do veículo as penalidades de multa e de
registro de pontos aplicadas em decorrência da infração de trânsito consistente em conduzir veículo que não
esteja registrado e devidamente licenciado (art. 230, V, do CTB).
STJ. 2ª Turma. REsp 1.524.626-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 5/5/2015 (Info 561).

ATOS ADMINISTRATIVOS

Incompetência do Poder Judiciário para autorizar o funcionamento de rádio educativa

O Poder Judiciário não tem competência para autorizar, ainda que a título precário, a prestação de serviço de
radiodifusão com finalidade exclusivamente educativa.
O art. 223 da CF/88 atribui competência ao Poder Executivo para outorgar e renovar concessão, permissão e
autorização, bem como fiscalizar o serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens.
O funcionamento das rádios educativas, mesmo que a título precário, está definido na legislação
infraconstitucional, em portaria do Ministério das Comunicações e em portaria interministerial do Ministério
das Comunicações e do Ministério da Educação, exigindo prévia outorga do poder concedente, a qual não
pode ser suprida por autorização judicial.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.353.341-PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 12/5/2015 (Info 562).

GREVE NO SERVIÇO PÚBLICO

Possibilidade de desconto dos dias parados da remuneração dos grevistas


Deve ser suspensa a execução da decisão liminar (art. 25, § 3º, da Lei 8.038/1990) proibitiva de desconto
salarial dos dias de paralisação decorrentes de greve dos professores do Estado de São Paulo, movimento
paredista que durava mais de 60 dias até a análise do pedido de suspensão de segurança, sem êxito nas
tentativas de acordo e sem notícia de decisão judicial sobre as relações obrigacionais entre grevistas e o
Estado, e que, além disso, já havia levado ao dispêndio de vultosos recursos na contratação de professores
substitutos, como forma de impedir a iminente interrupção da prestação do serviço público educacional do
Estado.
STJ. Corte Especial. AgRg na SS 2.784-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 3/6/2015 (Info 563).

DIREITO AMBIENTAL
INFRAÇÃO AMBIENTAL

Infração ambiental grave e aplicação de multa independentemente de prévia advertência

Configurada infração ambiental grave, é possível a aplicação da pena de multa sem a necessidade de prévia
imposição da pena de advertência (art. 72 da Lei 9.605/98).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.318.051-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 17/3/2015 (Info 561).

Requisito para registro da sentença declaratória de usucapião

João é posseiro de um imóvel rural há muitos anos e propôs ação de usucapião a fim de se tornar o
proprietário do terreno.
A sentença foi julgada procedente, declarando que João adquiriu a propriedade.
Vale lembrar que a sentença de usucapião deve ser registrada no Cartório de Registro de Imóveis para que
nele fique consignado que o novo proprietário é aquela pessoa que teve em seu favor a sentença de
usucapião. Em outras palavras, JOÃO DEVERÁ AVERBAR A SENTENÇA DE USUCAPIÃO NO CARTÓRIO DE REGISTRO DE
IMÓVEIS PARA SER CONSIDERADO PROPRIETÁRIO.
Ocorre que o juiz que sentenciou a ação de usucapião condicionou o registro da sentença no Cartório do
Registro de Imóveis ao prévio registro da Área Legal no CAR (Cadastro Ambiental Rural). Em outras palavras, o
juiz afirmou que a usucapião só poderia ser averbada se, antes, o autor inscrevesse a Área de Reserva Legal
no CAR.
Agiu corretamente o magistrado? Ele poderia ter feito essa exigência?

SIM. Para que a sentença declaratória de usucapião de imóvel rural sem matrícula seja registrada no
Cartório de Registro de Imóveis, É NECESSÁRIO O PRÉVIO REGISTRO DA RESERVA LEGAL NO CADASTRO AMBIENTAL
RURAL (CAR).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.356.207-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 28/4/2015 (Info 561).
Assim, por uma construção jurisprudencial, respaldada em precedentes do STJ, firmou-se o entendimento de
que a averbação da reserva legal seria condição para o registro de qualquer ato de transmissão,
desmembramento ou retificação de área de imóvel rural.
Nessa linha de raciocínio, deve-se impor a averbação da Reserva Legal como condição para o registro da
sentença de usucapião.

ÁREA DE RESERVA LEGAL


Em que consiste?
- Reserva legal é uma área (uma porção de terra)
- localizada no interior de um imóvel rural
- e dentro da qual o proprietário ou possuidor fica,
- por força de lei (Lei n.12.651/2012),
- obrigado a manter a cobertura de vegetação nativa
- com a função de:
a) assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural,
b) auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos,
c) promover a conservação da biodiversidade e
d) assegurar abrigo e proteção da fauna silvestre e da flora nativa

Natureza
A Área de Reserva Legal consiste em uma limitação ao direito de propriedade (limitação administrativa
existente em função do princípio da função sócio-ambiental da propriedade).
Trata-se de obrigação “propter rem”, ou seja, é uma obrigação que acompanha a coisa e vincula todo e
qualquer proprietário ou possuidor de imóvel rural, já que adere ao título de propriedade ou à posse.

Quem tem o dever de preservar a área de reserva legal? Só o proprietário?


NÃO. A Reserva Legal deve ser conservada com cobertura de vegetação nativa não apenas pelo proprietário,
COMO TAMBÉM PELO POSSUIDOR OU POR QUALQUER OUTRA PESSOA QUE OCUPE, A QUALQUER TÍTULO, A ÁREA, SEJA ELE UMA
PESSOA FÍSICA OU JURÍDICA, DE DIREITO PÚBLICO OU PRIVADO (ART. 17, CAPUT).

Admite-se algum tipo de atividade econômica na área de reserva legal?


SIM. Admite-se a exploração econômica da Reserva Legal MEDIANTE MANEJO SUSTENTÁVEL, previamente
aprovado pelo órgão competente do Sisnama (art. 17, § 1º).

Qual é o tamanho da área de reserva legal?


Será um percentual do imóvel baseado na região do país onde ele está situado e na natureza da vegetação. A
Lei n. 12.651/2012 (Código Florestal) prevê os percentuais de cada imóvel rural que deverão ser separados
e protegidos como área de reserva legal. Veja:
Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo da
aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente, observados os seguintes percentuais mínimos em relação à
área do imóvel, excetuados os casos previstos no art. 68 desta Lei:
I - localizado na Amazônia Legal:
a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas;
b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado;
c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais;
II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento).

Onde fica a área de reserva legal dentro do imóvel rural? Em outras palavras, em um sítio, por exemplo,
como a pessoa sabe onde está a área de reserva legal? É o proprietário/possuidor que define isso?
NÃO. A localização da área de Reserva Legal dentro da propriedade ou posse rural deverá ser aprovada
pelo órgão estadual integrante do SISNAMA ou instituição por ele habilitada, conforme os critérios previstos
no art. 14 do Código Florestal.

Existem imóveis rurais que não precisam constituir área de reserva legal?
SIM. Segundo prevê os §§ 6º a 8º do art. 12, não será exigida Reserva Legal para:
a) empreendimentos de abastecimento público de água e tratamento de esgoto;
b) áreas adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessão, permissão ou autorização para exploração de potencial
de energia hidráulica, nas quais funcionem empreendimentos de geração de energia elétrica, subestações ou sejam
instaladas linhas de transmissão e de distribuição de energia elétrica;
c) áreas adquiridas ou desapropriadas com o objetivo de implantação e ampliação de capacidade de rodovias e
ferrovias.

Depois da Lei n.12.651/2012 (novo Código Florestal), a Área de Reserva Legal ainda precisa ser inscrita
no registro de imóveis?
NÃO. O registro da Reserva Legal no CAR desobriga a averbação no cartório de Registro de Imóveis. Desse
modo, desde a vigência do novo Código Florestal, a Área de Reserva Legal não é mais averbada no cartório
de Registro de Imóveis.

A inscrição da Reserva Legal no CAR possui natureza constitutiva ou declaratória? Se a Área de Reserva
Legal não estiver registrada, o possuidor/proprietário estará desobrigado de respeitá-la?
NÃO. A inscrição da Reserva Legal possui natureza declaratória. O dever de respeitar as limitações
impostas pela Área de Reserva Legal decorre da lei (e não do registro). A inscrição no CAR tem por objetivo
dar publicidade a esse fato.

DIREITO CIVIL
PRESCRIÇÃO

PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO DE COBRANÇA, ENTRE ADVOGADOS, DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Prescreve em 10 ANOS( NÃO EXISTE PRAZO ESPECÍFICO, APLICA-SE A REGRA GERAL; NÃO APLICA O

ESTATUTO DA OAB) o prazo para que um ADVOGADO AUTÔNOMO POSSA COBRAR DE OUTRO ADVOGADO O VALOR
CORRESPONDENTE À DIVISÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS CONTRATUAIS e de SUCUMBÊNCIA referentes a ação judicial
na qual ambos trabalharam em parceria. STJ. 3ª Turma. REsp 1.504.969-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 10/3/2015 (Info 557).

TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO DE COBRANÇA DE HONORÁRIOS AD EXITUM


Imagine que o advogado celebrou contrato de prestação de serviços advocatícios com seu cliente, tendo sido
acertado que os honorários contratuais seriam pagos pelo cliente somente ao final da causa, se esta fosse
exitosa. A isso chamamos cláusula ad exitum ou quota litis.
O advogado elaborou e protocolizou a petição inicial da ação. Ocorre que durante a tramitação do processo, o
cliente e o advogado se desentenderam e o cliente revogou o mandato outorgado (“revogou a procuração”) e
constituiu outro causídico para acompanhar a causa.
Alguns anos depois, a ação foi julgada procedente (o cliente ganhou a causa).
O prazo prescricional para a cobrança de honorários advocatícios é de 5 anos (art. 25 da Lei 8.906/94). A
dúvida que surgiu foi a seguinte: qual é o termo inicial deste prazo? Ele deve ser contado do dia em que a
procuração foi revogada ou da data em que a ação foi julgada?
A contagem do prazo prescricional começou na data do êxito da demanda, ou seja, no dia em que
houve a sentença favorável ao cliente.
No caso de contrato advocatício com cláusula de remuneração quota litis, a obrigação é de resultado (e não de
meio), ou seja, o direito à remuneração do profissional dependerá de um julgamento favorável ao seu cliente
na demanda judicial.
No caso em análise, no momento da revogação do mandato, o advogado destituído ainda não tinha o direito
de exigir o pagamento da verba honorária, uma vez que, naquela altura, o processo não havia sido julgado e
o cliente não era vencedor da demanda.
Segundo o princípio da actio nata, o PRAZO PRESCRICIONAL SOMENTE SE INICIA QUANDO O DIREITO
FOR VIOLADO. Desse modo, se no momento da revogação da procuração, o advogado ainda não tinha direito
aos honorários, não se pode dizer que ele foi inerte porque simplesmente não tinha como ingressar com ação
cobrando os honorários.
Aplica-se aqui o brocardo latino “contra non valentem agere non currit praescriptio”, que significa “a
prescrição não corre contra quem não pode agir”.
STJ. 4ª Turma. REsp 805.151-SP, Rel. Min. Raul Araújo, Rel. para acórdão Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado
em 12/8/2014 (Info 560).
PROPRIEDADE DE SUBSOLO
PROPRIETÁRIO SOMENTE PODE SE OPOR QUE TERCEIROS FAÇAM ATIVIDADES NO SEU SUBSOLO SE DEMONSTRAR INTERESSE
LEGÍTIMO
No caso em que o subsolo de imóvel tenha sido invadido por tirantes (pinos de concreto) provenientes de obra
de sustentação do imóvel vizinho, O PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL INVADIDO NÃO TERÁ LEGÍTIMO INTERESSE para
requerer, com base no art. 1.229 do CC, a remoção dos tirantes nem indenização por perdas e danos, desde
que fique constatado que a INVASÃO NÃO ACARRETOU PREJUÍZOS comprovados a ele, TAMPOUCO
IMPOSSIBILITOU O PERFEITO USO, GOZO E FRUIÇÃO DO SEU IMÓVEL. STJ. 3ª Turma. REsp 1.256.825-SP, Rel. Min. João
Otávio de Noronha, julgado em 5/3/2015 (Info 557).

AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE


CITAÇÃO POR EDITAL E DESPESAS COM A PUBLICAÇÃO EM JORNAL LOCAL
O art. 232, § 2º do CPC 1973 prevê que a publicação do edital será feita apenas no órgão oficial quando a parte
for beneficiária da Assistência Judiciária. Em uma ação de investigação de paternidade proposta pelo MP como
substituto processual em favor de uma criança pobre, caso o réu não seja localizado, é possível aplicar esse
dispositivo?
NÃO. Se o Ministério Público Estadual propuser ação de investigação de paternidade como substituto
processual de criança, a CITAÇÃO EDITALÍCIA DO RÉU NÃO PODERÁ SER REALIZADA APENAS EM ÓRGÃO OFICIAL. Isso
porque A PARTE DESTA AÇÃO NÃO É A CRIANÇA, MAS SIM O MINISTÉRIO PÚBLICO (ele está litigando em nome próprio,
defendendo o direito do menor). Perceba, portanto, essa sutileza que muda tudo: a parte não é a pobre
criança, mas sim o MP. Logo, NÃO SE APLICA O ART. 232, § 2º, DO CPC.
Obs.: o novo CPC desburocratizou o tema e exigiu que o edital seja publicado, em regra, apenas na internet
(art. 257, II, do CPC 2015). Assim, se já fosse sob a égide do novo CPC não seria necessária, em regra, a
publicação pelo jornal local.
O Ministério Público terá que ADIANTAR O CUSTO DA PUBLICAÇÃO DO EDITAL NO JORNAL?
NÃO. O Ministério Público Estadual, ao propor ação de investigação de paternidade como substituto
processual de criança, NÃO É OBRIGADO A ADIANTAR AS DESPESAS DECORRENTES DA CITAÇÃO EDITALÍCIA DO RÉU EM
JORNAL LOCAL, devendo O ADIANTAMENTO DOS GASTOS DA REFERIDA DILIGÊNCIA SER REALIZADO PELA FAZENDA
PÚBLICA ESTADUAl. STJ. 3ª Turma. REsp 1.377.675-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/3/2015
(Info 557).
Obs: A Fazenda deve adiantar os custos por aplicação analógica da SÚMULA 232/STJ: “A FAZENDA PÚBLICA,
QUANDO PARTE NO PROCESSO, FICA SUJEITA À EXIGÊNCIA DO DEPÓSITO PRÉVIO DOS HONORÁRIOS DO PERITO”.

INAPLICABILIDADE DO PRAZO DECADENCIAL DO ART. 1.614 DO CC PARA A AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE


A ação de investigação de paternidade é imprescritível. O prazo decadencial de 4 anos estabelecido no art.
1.614 do CC/2002 aplica-se apenas aos casos em que se pretende, exclusivamente, DESCONSTITUIR O
RECONHECIMENTO DE FILIAÇÃO (registro), NÃO TENDO INCIDÊNCIA NAS INVESTIGAÇÕES DE PATERNIDADE, nas
quais a anulação do registro civil constitui mera consequência lógica da procedência do pedido.
Desse modo, o art. 1.614 somente incide nas hipóteses em que o filho não concordou com o ato voluntário de
seu pai registral que o reconheceu como sendo seu filho e, por isso, ajuíza uma ação questionando apenas isso
(reconhecimento), sem pedir investigação de paternidade.
 AÇÃO PEDINDO APENAS A DESCONSTITUIÇÃO DO RECONHECIMENTO DE FILIAÇÃO: PRAZO DE 4 ANOS.
 AÇÃO PEDINDO A INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE E A CONSEQUENTE DESCONSTITUIÇÃO DO
RECONHECIMENTO DE FILIAÇÃO: IMPRESCRITÍVEL.
STJ. 4ª Turma. AgRg no REsp 1.259.703-MS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 24/2/2015 (Info 556).
UNIÃO ESTÁVEL
DEFINIÇÃO DE PROPÓSITO DE CONSTITUIR FAMÍLIA PARA EFEITO DE RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL

O FATO DE NAMORADOS PROJETAREM CONSTITUIR FAMÍLIA NO FUTURO NÃO CARACTERIZA UNIÃO


ESTÁVEL, AINDA QUE HAJA COABITAÇÃO.
Com base nisso, o STJ decidiu que um casal de namorados que morou juntos e que depois resolveu se casar,
não vivia em união estável se o objetivo deles era apenas o de constituir uma família no futuro.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.454.643-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 3/3/2015 (Info 557).

A união estável é uma entidade familiar,


caracterizada pela união entre duas pessoas, do
CONCEITO mesmo sexo ou de sexos diferentes, que
possuem convivência pública, contínua e
duradoura, com o objetivo de constituição de
família.
Apesar da CF-88 e do CC-2002 falarem em união de homem e mulher, o STF, ao julgar a ADI 4.277-DF
em conjunto com a ADPF 132-RJ, entendeu que é possível a existência de uniões estáveis
homoafetivas, ou seja, entre pessoas do mesmo sexo. (ADI 4277, Rel. Min. Ayres Britto, Tribunal
Pleno, julgado em 05/05/2011).
 A união deve ser PÚBLICA (não pode ser oculta,
clandestina);
 A união deve ser DURADOURA, ou seja, estável,
apesar de não se exigir um tempo mínimo;
 A união deve ser CONTÍNUA (sem que haja
interrupções constantes);
REQUISITOS PARA A CARACTERIZAÇÃO DA  A união deve ser estabelecida com o OBJETIVO DE
CONSTITUIR UMA FAMÍLIA;
UNIÃO ESTÁVEL
 As duas pessoas NÃO PODEM TER IMPEDIMENTOS
PARA CASAR;
 A união entre essas duas pessoas deve ser
EXCLUSIVA (é impossível a existência de uniões
estáveis concomitantes e a existência de união
estável se um dos componentes é casado e não
separado de fato).

Não exige que os companheiros residam sob o


A COABITAÇÃO É UM REQUISITO DA UNIÃO ESTÁVEL? mesmo teto; Súmula 382-STF: A vida em
comum sob o mesmo teto "more uxorio", não é
indispensável à caracterização do concubinato.
NAMORO QUALIFICADO X UNIÃO ESTÁVEL
A doutrina aponta a seguinte diferença entre o namoro qualificado e a união estável:
“(...) o namoro qualificado apresenta a maioria dos requisitos também presentes na união estável.
Trata- se, na prática, da relação amorosa e sexual madura, entre pessoas maiores e capazes, que,
apesar de apreciarem a companhia uma da outra, e por vezes até pernoitarem com seus namorados,
não têm o objetivo de constituir família. Por esse motivo é tão difícil, na prática, encontrar as
diferenças entre a união estável e o namoro qualificado. Muito embora as semelhanças existentes
ente AMBOS, O QUE OS DIFERENCIA É O OBJETIVO PRECÍPUO DE CONSTITUIR FAMÍLIA - PRESENTE NA UNIÃO
ESTÁVEL E AUSENTE NO NAMORO QUALIFICADO. (...)
Assim, para a constituição da união estável, o casal deve manifestar a sua vontade de constituir
família, vivendo nesse sentido como se casado fosse. Isso significa dizer que deve haver assistência
moral e material recíproca irrestrita, esforço conjunto para concretizar sonhos em comum,
participação real nos problemas e desejos do outro etc.
NO NAMORO QUALIFICADO, por outro lado, embora possa existir um objetivo futuro de
constituir família, NÃO HÁ AINDA ESSA COMUNHÃO DE VIDA. Apesar de se estabelecer uma
convivência amorosa pública, contínua e duradoura, um dos namorados, ou os dois, ainda preserva
sua vida pessoal e sua liberdade. Os seus interesses particulares não se confundem no presente, e a
assistência moral e material recíproca não é totalmente irrestrita.” (MALUF, Carlos Alberto Dabus;
MALUF, Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus. Curso de Direito de Família. São Paulo: Saraiva, 2013,
p. 371-374).
No NAMORO QUALIFICADO, as PARTES FAZEM PLANOS DE UMA FAMÍLIA PARA O FUTURO. Na UNIÃO
ESTÁVEL, as partes JÁ ESTÃO VIVENDO UMA FAMÍLIA.
Vale ressaltar que as partes, embora pudessem, NÃO QUISERAM FAZER O INSTITUTO DA CONVERSÃO DA
UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO, previsto no art. 1.726 do Código Civil. Isso É A CLARA MANIFESTAÇÃO DE
VONTADE DAS PARTES DE QUE NÃO TINHAM UMA UNIÃO ESTÁVEL e de que, a partir do casamento (e não
antes), é que desejavam constituir a sua própria família.

INAPLICABILIDADE DA LEI 9.278/96 A SITUAÇÕES OCORRIDAS ANTES DE SUA VIGÊNCIA


ANTES DA LEI 9.278/96, quando CHEGAVA AO FIM UMA UNIÃO ESTÁVEL, CADA COMPANHEIRO SOMENTE TERIA
DIREITO AOS BENS QUE CONTRIBUIU PARA A FORMAÇÃO DO PATRIMÔNIO COMUM. NÃO HAVIA PRESUNÇÃO LEGAL DE
ESFORÇO COMUM PARA A PARTILHA DE BENS. Ao término do relacionamento, os bens amealhados no período eram
divididos proporcionalmente ao esforço comprovado, direto ou indireto, de cada convivente. Ainda vigorava,
em parte, o raciocínio da SÚMULA 380 DO STF quanto à necessidade de provar o esforço comum.
DEPOIS DA LEI 9.278/96, foi criada UMA PRESUNÇÃO LEGAL DE COMUNHÃO DOS BENS ADQUIRIDOS A TÍTULO
ONEROSO DURANTE A UNIÃO ESTÁVEL. Quando há a dissolução da união estável, para que o(a) companheiro(a)
tenha direito aos bens adquiridos durante a relação, ele(a) não precisará provar que contribuiu para a
aquisição. Com a edição desta, os bens a partir de então adquiridos por pessoas em união estável passaram a
pertencer a ambos em meação, salvo se houver estipulação em sentido contrário ou se a aquisição patrimonial
decorrer do produto de bens anteriores ao início da união. FICOU SUPERADA A SÚMULA 380
DO STF.
Imagine que uma união estável tenha começado em 1990 e terminado em 2000. Somente o homem
trabalhava. Em 1995, ele comprou dois apartamentos. Em 1999, adquiriu uma casa e um sítio. Em 2000,
chegou ao fim a união. As regras da Lei 9.278/96 poderão ser aplicadas para todos os bens adquiridos durante
a união (dois apartamentos, uma casa e um sítio)? Presume-se que a mulher tenha direito aos dois
apartamentos, à casa e ao sítio?
NÃO. OS BENS ADQUIRIDOS ANTERIORMENTE À LEI 9.278⁄96 TÊM A PROPRIEDADE - E,
CONSEQUENTEMENTE, A PARTILHA AO FIM DA UNIÃO - DISCIPLINADA PELO ORDENAMENTO JURÍDICO
VIGENTE QUANDO RESPECTIVA AQUISIÇÃO. Assim, tem-se o seguinte:

 QUANTO AOS BENS ADQUIRIDOS ANTES DA LEI 9.278/96 (DOIS APARTAMENTOS): APLICA-SE O REGIME DA PROVA
DO ESFORÇO COMUM (SÚMULA 380 DO STF).

 QUANTO AOS BENS ADQUIRIDOS APÓS A LEI 9.278/96 (CASA E SÍTIO): aplica-se a PRESUNÇÃO LEGAL DE QUE A
MULHER TEM DIREITO À MEAÇÃO DOS BENS, INDEPENDENTEMENTE DE PROVA DO ESFORÇO COMUM. STJ. 2ª Seção. REsp
1.124.859-MG, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão Min.
Maria Isabel Gallotti, julgado em 26/11/2014 (Info 556).
ANTES DA CF/88 DEPOIS DA CF/88, ANTES DA CF/88
A “união estável” não tinha Abandonou-se o termo Continua sendo usado o termo
esse nome e era chamada de concubinato e passou-se a “união estável”.
concubinato. utilizar a nomenclatura “união A Lei n.9.278/96 estabeleceu
O concubinato não gozava da estável”. uma presunção legal relativa de
mesma proteção porque a A CF/88 afirmou que a união comunhão dos bens adquiridos
visão que o Direito tinha era a estável deve ser reconhecida a título oneroso durante a
de que só existia família no como entidade familiar, ou união estável.
casamento (entre homem e seja, o Direito passou a tratar a Assim, em regra, para todos os
mulher). união estável como família. bens adquiridos durante a
Assim, as pessoas que viviam Quanto aos bens, cada união estável, presume-se que
em concubinato não formavam companheiro da união estável foram adquiridos pelo esforço
uma entidade familiar, mas sim somente continuava tendo comum do casal (ambos terão
uma “sociedade de fato” direito aos bens que contribuiu direitos iguais sobre eles).
(equiparada a uma empresa para a formação do patrimônio Como exceção, não haverá esta
informal). Quando ocorria a comum. No entanto, a presunção se a aquisição se der
dissolução da sociedade de interpretação do que fosse com o produto de bens
fato, o concubino só ficava com “contribuição para a formação adquiridos anteriormente ao
os bens que ele tinha do patrimônio comum” início da união.
contribuído (com dinheiro ou tornou- se mais abrangente, Quando há a dissolução da
trabalho) para adquirir. Logo, incluindo também a união estável, para que o(a)
se apenas o homem tivesse solidariedade e o apoio companheiro(a) tenha direito
comprado o bem, somente ele recíprocos no âmbito familiar. aos bens adquiridos durante a
ficaria com a coisa quando Não havia presunção legal de relação, ele(a) não precisará
ocorresse a dissolução. Isso esforço comum para a partilha provar que contribuiu para a
estava previsto na súmula 380 de bens. aquisição.
do STF. Ao final do relacionamento, os Com a edição da Lei 9.278⁄96,
bens amealhados no período os bens a partir de então
eram proporcionalmente ao adquiridos por pessoas em
esforço comprovado, direto ou união estável passaram a
indireto, de cada convivente. pertencer a ambos em
Ainda vigorava, em parte, o meação, salvo se houver
raciocínio da súmula 380 do estipulação em sentido
STF quanto à necessidade de contrário ou se a aquisição
provar o esforço comum (o patrimonial decorrer do
enunciado havia sido superado produto de bens anteriores ao
quanto ao caráter da união início da união.
estável, que deixou de ser Com a Lei n. 9.278/96 fica
concubinato e passou a superada a súmula 380 do STF.
entidade familiar).

Se uma união estável foi dissolvida antes da Lei n.9.278/96, mas a partilha dos bens somente foi julgada

após essa Lei, ela poderá ser aplicada ao caso? NÃO . As regras relativas ao patrimônio dos companheiros
estabelecidas pela Lei n. 9.278/96 não se aplicam às uniões estáveis dissolvidas antes de sua vigência, devendo
a partilha de bens submeter-se à prova do esforço comum.
Por que a Lei n.9.278/96 não pode ser aplicada para os bens adquiridos antes de sua vigência? Porque SENÃO
HAVERIA A RETROAÇÃO DA LEI PARA ATINGIR ATO JURÍDICO PERFEITO E DIREITO ADQUIRIDO. Segundo decidiu o STJ, com
base nas lições de Francisco José Cahali, a titularidade dos bens se consuma no momento da respectiva
aquisição, tornando-se um ato jurídico perfeito. A pessoa que adquiriu o bem tornou-se titular de um direito
adquirido. Logo, essa aquisição, esse negócio jurídico, estará imune à nova legislação, que não poderá retroagir
para interferir nesse patrimônio.

Irretroatividade dos efeitos de contrato de união estável

Não é lícito aos conviventes atribuírem efeitos retroativos ao contrato de união estável, a fim de eleger o
regime de bens aplicável ao período de convivência anterior à sua assinatura.
Ex: em 2010, Christian, rico empresário, começa a namorar Anastasia. O relacionamento fica sério e se
transforma em uma união pública, duradoura e contínua. Eles, inclusive, falam em constituir uma família. Em
2015, orientado por seus advogados, Christian decide celebrar com Anastasia um “contrato de união estável”
(contrato de convivência). No instrumento é estipulado que o regime de bens do casal é o da separação total.
Consta uma cláusula no contrato prevendo que esse regime de bens retroage ao ano de 2010, quando
começou o relacionamento entre o casal. O STJ ENTENDE QUE ESSA CLÁUSULA DE RETROAÇÃO É INVÁLIDA.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.383.624-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 2/6/2015 (Info 563).
Fundamento:
O regime de bens entre os companheiros começa a vigorar na data da assinatura do contrato, assim como o
regime de bens entre os cônjuges começa a produzir efeitos na data do casamento (§ 1º do art. 1.639 do CC).
Assim, em nosso exemplo, Anastasia será proprietária de metade do que Christian adquiriu onerosamente
desde que começou a união estável até a data da assinatura do contrato quando passa a vigorar o regime da
separação total. O contrato de união estável é válido, mas somente gera efeitos para o futuro, ou seja, o STJ
não admitiu a atribuição de efeitos pretéritos. Em suma, só a cláusula da retroação é que era ilícita.

ALIENAÇÃO DE BEM IMÓVEL SEM CONSENTIMENTO DO COMPANHEIRO


O art. 1.647, I, do CC prevê que, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, EXCETO NO REGIME DA
SEPARAÇÃO ABSOLUTA, alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis.
Se duas pessoas vivem em união estável, é como se elas fossem casadas sob o regime da comunhão
parcial de bens (art. 1.725 do CC).
Para a 3ª TURMA DO STJ, a regra do art. 1.647, I, do CC PODE SER APLICADA À UNIÃO ESTÁVEL, DESDE QUE
TENHA SIDO DADA PUBLICIDADE AOS EVENTUAIS ADQUIRENTES A RESPEITO DA EXISTÊNCIA DESSA UNIÃO ESTÁVEL.
Se um imóvel foi alienado pelo companheiro sem a anuência de sua companheira, a anulação dessa
alienação SOMENTE SERÁ POSSÍVEL SE NO REGISTRO DE IMÓVEIS ONDE ESTÁ INSCRITO O BEM, HOUVESSE A AVERBAÇÃO
(UMA ESPÉCIE DE ANOTAÇÃO/OBSERVAÇÃO FEITA NO REGISTRO) DE QUE O PROPRIETÁRIO DAQUELE IMÓVEL VIVE EM UNIÃO
ESTÁVEL.
Se NÃO HOUVER ESSA AVERBAÇÃO NO REGISTRO IMOBILIÁRIO e se NÃO EXISTIR NENHUMA OUTRA PROVA DE QUE O
ADQUIRENTE DO APARTAMENTO ESTAVA DE MÁ-FÉ, deve-se PRESUMIR QUE O COMPRADOR ESTAVA DE BOA-FÉ,
preservando, assim, a alienação realizada, em nome da segurança jurídica e da proteção ao terceiro de
boa-fé.
Em suma: a invalidação da alienação de imóvel comum, fundada na falta de consentimento do companheiro,
dependerá da publicidade conferida à união estável, mediante:
 A AVERBAÇÃO de CONTRATO DE CONVIVÊNCIA ou da DECISÃO DECLARATÓRIA DA EXISTÊNCIA DE UNIÃO ESTÁVEL NO
OFÍCIO DO REGISTRO DE IMÓVEIS EM QUE CADASTRADOS OS BENS COMUNS,
 DEMONSTRAÇÃO DE MÁ-FÉ DO ADQUIRENTE.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.424.275-MT, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 4/12/2014 (Info 554).

A) MAS E A EX-COMPANHEIRA, FICARÁ NO PREJUÍZO?


NÃO. A companheira que foi prejudicada pela alienação do bem que integrava o patrimônio comum do
casal TERÁ DIREITO DE COBRAR DO ALIENANTE O VALOR REFERENTE À SUA PARTE NO NEGÓCIO
JURÍDICO, situação que pode ser inclusive discutida na própria ação de dissolução da união estável. O QUE ELA
NÃO TERÁ DIREITO É DE DESFAZER (ANULAR) A VENDA.
B) PRECEDENTE DA 4ª TURMA ENVOLVENDO FIANÇA:
Em 2014, a 4ª Turma do STJ analisou a incidência do inciso III do art. 1.647 do CC (fiança) às uniões
estáveis. Veja o que foi decidido:
A outorga uxória/marital é necessária também no caso de união estável? Uma pessoa que viva em
união estável com outra, se quiser prestar fiança, precisará da autorização de seu(sua) companheiro(a)?
NÃO. NA UNIÃO ESTÁVEL NÃO SE EXIGE O CONSENTIMENTO DO COMPANHEIRO PARA A PRÁTICA DOS ATOS PREVISTOS
NO ART. 1.647 DO CC. Assim, uma pessoa que viva em união estável com outra pode prestar fiança sem
a necessidade de autorização de seu(sua) companheiro(a). Logo, NÃO é nula nem anulável a fiança prestada
por fiador convivente em união estável sem a autorização de sua companheira.
A SÚMULA 332 DO STJ NÃO SE APLICA NO CASO DE UNIÃO ESTÁVEL. Esse foi o entendimento adotado
pela 4ª Turma do STJ no Resp 1299894/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 25/02/2014 (Info 535).
Qual é o fundamento para essa conclusão? A 4ª Turma do STJ considerou que a fiança prestada sem a
autorização do companheiro é válida porque É IMPOSSÍVEL AO CREDOR SABER SE O FIADOR VIVE OU NÃO EM UNIÃO
ESTÁVEL COM ALGUÉM. Como, para a caracterização da união estável, não se exige um ato formal, solene e
público, como no casamento, fica difícil ao credor se proteger de eventuais prejuízos porque ele nunca terá
plena certeza se o fiador possui ou não um companheiro.
Segundo o Min. Luis Felipe Salomão, É CERTO QUE NÃO EXISTE SUPERIORIDADE DO
CASAMENTO SOBRE A UNIÃO ESTÁVEl, sendo ambas equiparadas constitucionalmente.
Isso não significa, contudo, que os dois institutos sejam inexoravelmente
coincidentes, ou seja, eles não são idênticos.
Vale ressaltar que o FATO DE O FIADOR TER CELEBRADO UMA ESCRITURA PÚBLICA COM SUA COMPANHEIRA,
DISCIPLINANDO ESSA UNIÃO ESTÁVEL, NÃO FAZ COM QUE ISSO ALTERE A CONCLUSÃO DO JULGADO. Isso porque,
para tomar conhecimento da existência dessa escritura, o credor teria que percorrer todos os
cartórios de notas do Brasil, o que se mostra inviável e inexigível.
Dessa forma, o STJ considerou que NÃO É NULA NEM ANULÁVEL A FIANÇA PRESTADA POR
FIADOR CONVIVENTE EM UNIÃO ESTÁVEL, sem a outorga uxória, MESMO QUE TENHA
HAVIDO A CELEBRAÇÃO DE ESCRITURA PÚBLICA ENTRE OS CONSORTES.

ALIMENTOS
VALOR DA PRESTAÇÃO ALIMENTAR EM FACE DE CONSTITUIÇÃO DE NOVA UNIDADE FAMILIAR PELO ALIMENTANTE
A CONSTITUIÇÃO DE NOVA FAMÍLIA pelo DEVEDOR DE ALIMENTOS NÃO ACARRETA, por si só, REVISÃO DA QUANTIA
ESTABELECIDA A TÍTULO DE ALIMENTOS EM FAVOR DOS FILHOS ADVINDOS DE ANTERIOR UNIDADE FAMILIAR formada pelo
alimentante, sobretudo SE NÃO HOUVER PROVA DA DIMINUIÇÃO DA CAPACIDADE FINANCEIRA DO DEVEDOR EM
DECORRÊNCIA DA FORMAÇÃO DO NOVO NÚCLEO FAMILIAR.
Ex: João, rico empresário, paga R$ 4 mil de pensão alimentícia para seu filho, que teve com sua ex-esposa.
Determinado dia, João se casa e dessa união nasce uma filha. Com base unicamente nesta nova circunstância,
João ajuíza ação revisional de alimentos pedindo que o valor pago de pensão a seu filho seja reduzido. Para que
o devedor consiga reduzir a prestação paga, além de alegar que suas despesas aumentaram por conta da nova
família, ele deverá provar também que o valor fixado anteriormente está acima das suas possibilidades, ou
seja, que ele não tem mais condições de pagar aquela quantia.STJ. 3ª Turma. REsp 1.496.948-SP, Rel. Ministro
Moura Ribeiro, julgado em 3/3/2015 (Info 557).

PENSÃO ALIMENTÍCIA DEVIDA A EX-CÔNJUGE E FIXAÇÃO DE TERMO FINAL


ALIMENTOS TRANSITÓRIOS são aqueles FIXADOS POR UM PRAZO DETERMINADO, após o qual cessa a obrigação de
alimentar mesmo que ainda exista necessidade do alimentando e possibilidade do alimentante.
Os ALIMENTOS FIXADOS PARA O EX-CÔNJUGE DEVEM SER TRANSITÓRIOS?
REGRA GERAL: SIM. Em regra, a pensão alimentícia devida a ex-cônjuge deve ser fixada por tempo
determinado.
EXCEÇÃO: será CABÍVEL A PENSÃO POR PRAZO INDETERMINADO somente quando o alimentado (ex- cônjuge credor)
se encontrar em circunstâncias excepcionais, como de INCAPACIDADE LABORAL PERMANENTE, SAÚDE FRAGILIZADA OU
IMPOSSIBILIDADE PRÁTICA DE INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO. STJ. 3ª Turma. REsp 1.496.948-SP, Rel. Ministro
Moura Ribeiro, julgado em 3/3/2015 (Info 557).
Observação: Dessa forma, dizemos que, em regra, os alimentos são fixados sob a cláusula do rebus sic
stantibus, isto é, “enquanto as coisas estiverem assim, não devem ser alteradas”.
A jurisprudência do STJ firmou a orientação de que a pensão entre ex-cônjuges não está limitada somente à
prova da alteração do binômio necessidade-possibilidade, porque devem ser consideradas outras
circunstâncias, como a CAPACIDADE POTENCIAL do alimentando para o trabalho, ou seja, sua possibilidade de se
sustentar sozinho.

DIREITO A ALIMENTOS PELO ROMPIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO
É JURIDICAMENTE POSSÍVEL o pedido de ALIMENTOS decorrente do ROMPIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL
HOMOAFETIVA. STJ. 4ª Turma. REsp 1.302.467-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 3/3/2015 (Info
558).

OBRIGAÇÃO ALIMENTAR E ESPÓLIO


João viveu em união estável com Maria. No acordo de dissolução da união estável, João se comprometeu a
pagar, todos os meses, R$ 2 mil a Maria sem previsão de término. Após a morte de João, essa obrigação
persiste? O espólio deverá continuar pagando a pensão fixada?
NÃO. Extingue-se, com o óbito do alimentante, a obrigação de prestar alimentos a sua ex- companheira
decorrente de acordo celebrado em razão do encerramento da união estável, transmitindo-se ao espólio
apenas a responsabilidade pelo pagamento dos débitos alimentares que PORVENTURA NÃO TENHAM SIDO
QUITADOS PELO DEVEDOR EM VIDA (art. 1.700 do CC).
Observado que os alimentos pagos pelo de cujus à sua ex-companheira decorrem de ACORDO
CELEBRADO NO MOMENTO DO ENCERRAMENTO DA UNIÃO ESTÁVEL, a referida obrigação, de NATUREZA
PERSONALÍSSIMA, extingue-se com o óbito do alimentante, cabendo ao espólio pagar tão somente
eventuais débitos não quitados pelo devedor quando em vida.
OBSERVAÇÃO: SITUAÇÃO DISTINTA: CREDOR DE ALIMENTOS É HERDEIRO DO FALECIDO (EXEMPLO MAIS COMUM:
FILHO/FILHA). João, pai de Igor, faleceu. Em vida, João havia feito um acordo com Igor segundo o qual o pai
pagaria todos os meses R$ 2 mil a seu filho até que ele completasse 18 anos. Após a morte de João, essa
obrigação persiste? O espólio deverá continuar pagando a pensão fixada? SIM. O espólio terá obrigação de pagar os
alimentos desde que preenchidas as seguintes condições:
 A obrigação alimentar já deve estar fixada antes da morte (por acordo ou decisão judicial);
 O credor deve ser herdeiro do falecido (deve figurar no rol dos herdeiros necessários);
 O valor dos alimentos será pago até os limites das forças da herança (se os recursos deixados pelo falecido como
herança acabarem, extingue-se a obrigação);
 A pensão somente será paga enquanto perdurar o inventário (depois do inventário, fica extinto o direito de
perceber alimentos).

INFORMATIVO 552, STJ - RENÚNCIA AOS ALIMENTOS FEITA DURANTE A VIGÊNCIA DA UNIÃO ESTÁVEL NÃO PERDURA SE
HOUVE FATO SUPERVENIENTE QUE REDUZIU A CAPACIDADE DE TRABALHO DE UM DOS CONVIVENTES.

Importante!!! Um homem e uma mulher, na época em que conviviam juntos em união estável, fizeram uma
declaração, por escritura pública, afirmando que, em caso de dissolução da união, nenhum dos dois iria
pleitear pensão alimentícia. Em outras palavras, ambos renunciaram ao direito aos alimentos. O STJ decidiu
que, mesmo com essa renúncia, seria possível que a ex-convivente pedisse e tivesse direito aos alimentos na
hipótese em que, após essa renúncia, ela tenha sido acometida de uma moléstia grave, que reduziu sua
capacidade laboral, comprometendo sua situação financeira. São irrenunciáveis os alimentos devidos na
constância do vínculo familiar (art. 1.707 do CC). É VÁLIDA E EFICAZ A RENÚNCIA MANIFESTADA NO
MOMENTO DO ACORDO DE SEPARAÇÃO JUDICIAL OU DE DIVÓRCIO.
No entanto, por outro lado,
NÃO PODE SER ADMITIDA A RENÚNCIA FEITA DURANTE A VIGÊNCIA DA UNIÃO
ESTÁVEL. STJ. 4ª Turma. REsp 1.178.233-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 18/11/2014 (Info 553).

INFORMATIVO 552, STJ - VERBAS EVENTUAIS RECEBIDAS PELO DEVEDOR E REFLEXO NO VALOR DA PENSÃO ALIMENTÍCIA
Tema polêmico! ALIMENTOS FIXADOS EM PERCENTUAL SOBRE A REMUNERAÇÃO E VERBAS EVENTUAIS
RECEBIDAS PELO DEVEDOR. AS PARCELAS PERCEBIDAS A TÍTULO DE PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS
INTEGRAM A BASE DE CÁLCULO DA PENSÃO ALIMENTÍCIA QUANDO ESTA É FIXADA EM PERCENTUAL SOBRE OS RENDIMENTOS,
salvo se houve disposição transacional ou judicial em sentido contrário. Assim, SE A PENSÃO ALIMENTÍCIA FOI
FIXADA EM PERCENTUAL (EX.: 30% SOBRE OS RENDIMENTOS), NO MÊS QUE O DEVEDOR RECEBER PARTICIPAÇÃO NOS
LUCROS DA EMPRESA, o percentual incidirá sobre tal valor.

ALIMENTOS ARBITRADOS EM VALOR FIXO NÃO VARIAM SE HOUVER RECEBIMENTO DE VERBAS EVENTUAIS
PELO DEVEDOR. O 13º salário, a participação nos lucros e outras gratificações extras (eventuais) não
compõem a base de cálculo da pensão alimentícia quando esta é estabelecida em valor fixo, salvo se houver
disposição transacional ou judicial em sentido contrário.
AVISO PRÉVIO. O aviso prévio não integra a base de cálculo da pensão alimentícia, salvo se houve disposição
transacional ou judicial em sentido contrário. Assim, não importa que a pensão tenha sido fixada em valor fixo
ou percentual variável, o aviso prévio não interfere no valor a ser pago como pensão alimentícia. STJ. 4ª
Turma. REsp 1.332.808-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/12/2014 (Info 553)

RESPONSABILIDADE CIVIL

Incide Imposto de Renda sobre a indenização recebida a título de LUCROS CESSANTES?


Danos morais e danos emergentes: NÃO incide IR.
Lucros cessantes: INCIDE IR.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.464.786-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 25/8/2015 (Info 568).

RESPONSABILIDADE POR OFENSAS PROFERIDAS POR INTERNAUTA E VEICULADAS EM PORTAL DE NOTÍCIAS


A sociedade empresária gestora de portal de notícias que disponibilize campo destinado a comentários de
internautas terá RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA por comentários postados nesse campo que, mesmo relacionados à
matéria jornalística veiculada, sejam ofensivos a terceiro e que tenham ocorrido antes da entrada em vigor do
Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014). STJ. 3ª Turma. REsp 1.352.053-AL, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 24/3/2015 (Info 558).

OFENSAS PUBLICADAS EM BLOG E NECESSIDADE DE INDICAÇÃO DOS ENDEREÇOS ELETRÔNICOS PELO OFENDIDO
Na hipótese em que tenham sido publicadas, em um blog, ofensas à honra de alguém, incumbe ao ofendido
que pleiteia judicialmente a identificação e rastreamento dos autores das referidas ofensas (e não ao provedor
de hospedagem do blog) a indicação específica dos URLs das páginas onde se encontram as mensagens. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.274.971-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 19/3/2015 (Info 558).

TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO NAS AÇÕES DE INDENIZAÇÃO DO SEGURO DPVAT


O PRAZO PRESCRICIONAL no caso de AÇÃO DE INDENIZAÇÃO DO DPVAT É DE 3 ANOS (Súmula 405-STJ). O
TERMO INICIAL do prazo prescricional é a DATA EM QUE O SEGURADO TEVE CIÊNCIA INEQUÍVOCA DO
CARÁTER PERMANENTE DA INVALIDEZ.
Em regra, a pessoa somente tem CIÊNCIA INEQUÍVOCA DA INVALIDEZ PERMANENTE COM O LAUDO MÉDICO que atesta
essa situação. Assim, em regra, o termo inicial do prazo é a data do laudo. Exceções: o PRAZO PRESCRICIONAL SE
INICIA MESMO SEM TER SIDO FEITO LAUDO MÉDICO SE:
 A INVALIDEZ PERMANENTE FOR NOTÓRIA (ex: acidente no qual a vítima teve amputada suas duas pernas); ou
 SE O CONHECIMENTO ANTERIOR RESULTAR COMPROVADO NA FASE DE INSTRUÇÃO.
STJ. 2ª Seção. EDcl no REsp 1.388.030-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, julgado em
27/8/2014 (Info 555).
A) O STJ AFIRMA QUE A NATUREZA JURÍDICA DO DPVAT: é a de um CONTRATO LEGAL, de CUNHO SOCIAL.
Como a pessoa obtém a indenização do DPVAT? A pessoa deverá procurar uma das empresas seguradoras que
seja consorciada ao DPVAT e apresentar a documentação necessária. Para requerer o seguro DPVAT não é
necessário advogado, despachante ou qualquer outra ajuda de terceiros.
Essa lista prevista no anexo da Lei nº 6.194/74 é exaustiva ou exemplificativa? EXEMPLIFICATIVA. Segundo
afirmou, com acerto, o Min. Paulo de Tarso Sanseverino, NÃO É POSSÍVEL PREVER, POR MEIO DE UMA LISTAGEM DE
SITUAÇÕES, TODAS AS HIPÓTESES DE INVALIDEZ PERMANENTE, TOTAL OU PARCIAL, de forma que, em última análise,
incumbe ao intérprete a definição do conteúdo daquele conceito jurídico indeterminado.

INFORMATIVO 552, STJ - DANOS SOCIAIS

Importante!!! O dano social é uma NOVA ESPÉCIE DE DANO REPARÁVEL, que NÃO SE CONFUNDE COM OS DANOS
MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS, e que DECORRE DE COMPORTAMENTOS SOCIALMENTE REPROVÁVEIS, QUE
DIMINUEM O NÍVEL SOCIAL DE TRANQUILIDADE. Em uma ação individual, o juiz condenou o réu ao
pagamento de danos morais e, de ofício, determinou que pagasse também danos sociais em favor de uma


instituição de caridade. O STJ ENTENDEU QUE ESSA DECISÃO É NULA, por ser EXTRA PETITA”. Para que
haja condenação por dano social, é indispensável que haja pedido expresso. Vale ressaltar, no entanto, que,
no caso concreto, mesmo que houvesse pedido de condenação em danos sociais na demanda em exame, o
pleito não poderia ter sido julgado procedente, pois esbarraria na ausência de legitimidade para postulá-lo.
Isso porque, na visão do STJ, a CONDENAÇÃO POR DANOS SOCIAIS SOMENTE PODE OCORRER
EM DEMANDAS COLETIVAS e, portanto, APENAS OS LEGITIMADOS PARA A PROPOSITURA DE
AÇÕES COLETIVAS PODERIAM PLEITEAR DANOS SOCIAIS. Em suma, NÃO É POSSÍVEL
DISCUTIR DANOS SOCIAIS EM AÇÃO INDIVIDUAL. STJ. 2ª Seção. Rcl 12.062-GO, Rel.
Ministro Raul Araújo, julgado em 12/11/2014 (recurso repetitivo) (Info 552).

- Danos sociais, segundo Antônio Junqueira de Azevedo, “SÃO LESÕES À SOCIEDADE, NO SEU NÍVEL DE VIDA,
TANTO POR REBAIXAMENTO DE SEU PATRIMÔNIO MORAL – PRINCIPALMENTE A RESPEITO DA SEGURANÇA
– QUANTO POR DIMINUIÇÃO NA QUALIDADE DE VIDA. Os danos sociais são causa, pois, de indenização
punitiva por dolo ou culpa grave, especialmente, repetimos, se atos que reduzem as condições coletivas de
segurança, e de indenização dissuasória, se atos em geral da pessoa jurídica, que trazem uma diminuição do
índice de qualidade de vida da população.”

Alguns exemplos dados por Junqueira de Azevedo: O PEDESTRE QUE JOGA PAPEL NO CHÃO, o passageiro
que atende ao celular no avião, o pai que solta balão com seu filho. Tais condutas socialmente reprováveis
podem gerar danos como o entupimento de bueiros em dias de chuva, problemas de comunicação do avião
causando um acidente aéreo, o incêndio de casas ou de florestas por conta da queda do balão etc.
Diante da prática dessas condutas socialmente reprováveis, o juiz deverá condenar o agente a pagar uma
indenização de caráter punitivo, dissuasório ou didático, a título de dano social.

Conforme explica Flávio Tartuce, OS DANOS SOCIAIS SÃO DIFUSOS E A SUA INDENIZAÇÃO DEVE SER
DESTINADA NÃO PARA A VÍTIMA, MAS SIM PARA UM FUNDO DE PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR, AO MEIO
AMBIENTE ETC., ou mesmo para uma instituição de caridade, a critério do juiz (Manual de Direito do
Consumidor. São Paulo: Método, 2013, p. 58).
Os danos sociais representam a aplicação da função social da responsabilidade civil (PEREIRA, Ricardo Diego
Nunes).
Ricardo Pereira cita alguns casos práticos:
Um deles é a decisão do TRT-2ª Região (processo 2007-2288), que condenou o Sindicato dos Metroviários de
São Paulo e a Cia do Metrô a pagarem 450 cestas básicas a entidades beneficentes por terem realizado uma
greve abusiva que causou prejuízo à coletividade.
Outro exemplo foi o caso de uma fraude ocorrida em um sistema de loterias, no Rio Grande do Sul, chamado
de “Toto Bola”. Ficou constatado que a loteria seria fraudulenta, retirando do consumidor as chances de
vencer. Nesse episódio, o TJ/RS, no Recurso Cível 71001281054, DJ 18/07/2007, determinou, de ofício,
indenização a título de dano social para o Fundo de Proteção aos Consumidores. (TJRS – Recurso Cível
71001281054 – Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais – Rel. Des. Ricardo Torres Hermann – j.
12.07.2007).
Na V Jornada de Direito Civil do CJF/STJ foi aprovado um enunciado reconhecendo a existência dos danos
sociais: Enunciado 455: A expressão “dano” no art. 944 abrange não só os danos individuais, materiais ou
imateriais, mas também os danos sociais, difusos, coletivos e individuais homogêneos a serem reclamados
pelos legitimados para propor ações coletivas.
- Imagine agora a seguinte situação adaptada: João passou várias horas na fila do banco para ser atendido.
Inconformado, ingressou, no Juizado Especial, com ação pedindo unicamente indenização por danos morais.
O juiz julgou procedente, determinando que o réu pagasse R$ 3 mil a João pelos danos morais sofridos. Além
disso, de ofício, condenou o banco a pagar R$ 15 mil a título de danos sociais, valor a ser revertido em favor
de uma instituição de caridade.
O banco interpôs recurso inominado (art. 41 da Lei n. 9.099/95) alegando que a decisão violou o princípio da
adstrição/congruência, considerando que o condenou ao pagamento de algo que não foi pedido. A Turma
Recursal, contudo, manteve a sentença.
Quais os recursos cabíveis contra as decisões proferidas pela Turma Recursal? Embargos de declaração e
recurso extraordinário. No caso concreto, não cabe recurso extraordinário porque a matéria não envolve
questão constitucional, restringindo-se apenas a aspectos processuais (de lei federal).
É cabível a interposição de Recurso Especial? NÃO. Súmula 203-STJ: Não cabe recurso especial contra decisão
proferida por órgão de segundo grau dos Juizados Especiais.
O QUE O BANCO FEZ NO PRESENTE CASO? A INSTITUIÇÃO FINANCEIRA AJUIZOU RECLAMAÇÃO NO STJ CONTRA A DECISÃO
DA TURMA RECURSAL.

É CABÍVEL RECLAMAÇÃO CONTRA ACÓRDÃO DA TURMA RECURSAL? SIM. O STJ entende possível utilizar
reclamação contra decisão de Turma Recursal quando a decisão proferida:
 afrontar jurisprudência do STJ pacificada em recurso repetitivo (art. 543-C do CPC);
 violar súmula do STJ;
 for teratológica.
O que o STJ decidiu ao julgar a reclamação? O STJ entendeu que a decisão da Turma Recursal era teratológica
e nula por ser “extra petita”. PARA QUE HAJA CONDENAÇÃO POR DANO SOCIAL, É INDISPENSÁVEL QUE HAJA
PEDIDO EXPRESSO, SOB PENA DE VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA DEMANDA, DA INÉRCIA E,
FUNDAMENTALMENTE, DA ADSTRIÇÃO/CONGRUÊNCIA, O QUAL EXIGE A CORRELAÇÃO ENTRE O PEDIDO E O PROVIMENTO
JUDICIAL A SER EXARADO PELO PODER JUDICIÁRIO.

No caso concreto, em uma ação individual houve condenação do réu ao pagamento de indenização por danos
sociais em favor de terceiro estranho à lide, sem que houvesse pedido nesse sentido ou sem que essa questão
fosse levada a juízo por qualquer das partes. Nessa medida, a decisão condenatória extrapolou os limites
objetivos e subjetivos da demanda, uma vez que conferiu provimento jurisdicional diverso daquele requerido
na petição inicial, beneficiando terceiro alheio à relação jurídica processual posta em juízo.
E se o autor tivesse pedido a condenação por danos sociais, seria possível seu deferimento? NÃO. Mesmo que
houvesse pedido de condenação em danos sociais na demanda em exame, o pleito não poderia ter sido
julgado procedente, pois esbarraria na ausência de legitimidade para postulá-lo. Isso porque, NA VISÃO DO STJ,
A CONDENAÇÃO POR DANOS SOCIAIS SOMENTE PODE OCORRER EM DEMANDAS COLETIVAS E, PORTANTO, APENAS OS
LEGITIMADOS PARA A PROPOSITURA DE AÇÕES COLETIVAS PODERIAM PLEITEAR DANOS SOCIAIS. EM SUMA, NÃO É POSSÍVEL
DISCUTIR DANOS SOCIAIS EM AÇÃO INDIVIDUAL.

POSSIBILIDADE DE ABSOLUTAMENTE INCAPAZ SOFRER DANO MORAL


Determinado indivíduo é portador de doença mental grave (demência total e irreversível). Certo dia, a filha
desse indivíduo notou que houve saques indevidos (fraudulentos) que foram feitos de sua conta bancária por
um terceiro. FOI PROPOSTA AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS CONTRA O BANCO. O absolutamente
incapaz, mesmo sem entender seus atos e os de terceiros, pode sofrer dano moral? SIM
. O absolutamente
incapaz, ainda quando impassível de detrimento anímico, pode sofrer dano moral. O DANO MORAL
CARACTERIZA-SE POR UMA OFENSA A DIREITOS OU INTERESSES JURIDICAMENTE PROTEGIDOS (DIREITOS DA
PERSONALIDADE). A DOR, O VEXAME, O SOFRIMENTO E A HUMILHAÇÃO PODEM SER CONSEQUÊNCIAS DO DANO MORAL,
mas NÃO A SUA CAUSA.
Dano moral: é a ofensa a determinados direitos ou interesses. Basta isso para caracterizá-lo. Dor, sofrimento,
humilhação: são as consequências do dano moral (não precisam necessariamente ocorrer para que haja a
reparação).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.245.550-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 17/3/2015 (Info 559).

Prazo prescricional da ação de indenização proposta contra pessoa jurídica de direito privado prestadora de
serviço público

É de 5 anos o prazo prescricional para que a vítima de um acidente de trânsito proponha ação de
indenização contra concessionária de serviço público de transporte coletivo (empresa de ônibus). O
fundamento legal para esse prazo está no art. 1º-C da Lei 9.494/97 e também no art. 14 c/c art. 27, do CDC.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.277.724-PR, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 26/5/2015 (Info 563).

LOCAÇÃO DE IMÓVEL URBANO

LEGITIMIDADE PARA COBRANÇA DE ALUGUÉIS VENCIDOS EM DATA ANTERIOR À DA ALIENAÇÃO DO IMÓVEL


O proprietário de um imóvel alugado vende este bem para outra pessoa. Se houver alugueis atrasados, quem
tem legitimidade para cobrá-los: o antigo ou o novo proprietário?
Em regra, o antigo. O ANTIGO PROPRIETÁRIO (ALIENANTE) TEM LEGITIMIDADE PARA COBRAR OS ALUGUÉIS QUE TENHAM
VENCIDO EM DATA ANTERIOR À ALIENAÇÃO DO IMÓVEL.
O NOVO PROPRIETÁRIO (ADQUIRENTE) SÓ TERÁ DIREITO SOBRE TAIS PARCELAS CASO TENHA FICADO PREVISTO NO
CONTRATO de compra e venda do imóvel essa cessão do crédito.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.228.266-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 10/3/2015 (Info 558).

DIVÓRCIO

DESNECESSIDADE DE AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU RATIFICAÇÃO NA AÇÃO DE DIVÓRCIO DIRETO CONSENSUAL


O art. 1.122 do CPC 1973 c/c o art. 40, § 2º da Lei 6.515/77 previam a necessidade de ser realizada audiência
de conciliação ou ratificação antes de o juiz decretar o divórcio consensual.
Esse dispositivo deve sofrer uma releitura por força da EC 66/2010.
A EC 66/2010 (conhecida como “Emenda do Divórcio”) alterou a redação do art. 226, § 6º da CF/88,
eliminando os prazos para a concessão do divórcio e afastando a necessidade de que seja discutida culpa,
dispensando que sejam debatidas as causas que geraram o fim da união. Atualmente, se as partes querem se
divorciar, não cabe ao juiz convencê-las do contrário. Passa a ter vez no Direito de Família a figura da
intervenção mínima do Estado. O divórcio passou a ser agora efetivamente DIRETO.
Por força da alteração constitucional, A LEITURA QUE DEVE SER FEITA AGORA DO ART. 1.122 DO CPC É A SEGUINTE: NÃO
SERÁ NECESSÁRIA AUDIÊNCIA COM OS AUTORES DO PEDIDO DE DIVÓRCIO CONSENSUAL QUANDO O MAGISTRADO TIVER
CONDIÇÕES DE AFERIR A FIRME DISPOSIÇÃO DOS CÔNJUGES EM SE DIVORCIAREM, BEM COMO DE ATESTAR QUE AS DEMAIS
FORMALIDADES FORAM ATENDIDAS.
Dito de outro modo, SÓ SERÁ DESIGNADA A AUDIÊNCIA DE QUE TRATA O ART. 1.122 DO CPC 1973 EM CASO DE
DÚVIDA SOBRE A REAL INTENÇÃO DAS PARTES DE SE DIVORCIAREM. Não havendo dúvidas, não tem sentido a
realização do ato. A audiência de conciliação ou ratificação passou a ter apenas cunho eminentemente formal,
sem nada produzir, não havendo nenhuma questão relevante de direito a se decidir.
Obs.: seguindo a linha de raciocínio acima exposta, o CPC 2015 não exige a realização de audiência antes da
decretação do divórcio consensual. O tema é tratado nos arts. 731 a 733. STJ. 3ª Turma. REsp 1.483.841-RS,
Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 17/3/2015 (Info 558).

ADOÇÃO DE MAIORES

A ADOÇÃO DE PESSOA MAIOR DE IDADE NÃO PRECISA DO CONSENTIMENTO DE SEU PAI BIOLÓGICO
Imagine que André foi abandonado, ainda criança, pelo seu pai biológico (João), tendo sido criado por Bento,
quem considera seu verdadeiro pai.
Quando André atinge a maioridade, Bento ajuíza ação para adotar o rapaz.
João (pai biológico) apresenta contestação, não concordando com a adoção, e invocando o caput do art. 45 do
ECA: “A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do adotando.”
O simples fato de o pai biológico não concordar com a adoção de seu filho maior de 18 anos é motivo
suficiente para impedir que ela aconteça? Aplica-se ao caso o caput do art. 45 do ECA? NÃO. ESTABELECIDA
UMA RELAÇÃO JURÍDICA PATERNO-FILIAL (VÍNCULO AFETIVO) ENTRE O ADOTANTE E O ADOTANDO, A ADOÇÃO DE PESSOA
MAIOR NÃO PODE SER REFUTADA PELO PAI BIOLÓGICO QUE ABANDONOU O FILHO, A MENOS QUE ELE APRESENTE UMA
JUSTA CAUSA.

A ADOÇÃO DE PESSOAS MAIORES DE 18 ANOS É REGIDA PELO ECA. No entanto, no caso, NÃO SE APLICA
A EXIGÊNCIA DO CAPUT DO ART. 45 DO ECA PORQUE O § 1º DO MESMO ARTIGO AFIRMA QUE ESSE CONSENTIME

NTO DO PAI É DISPENSADO CASO ELE TENHA SIDO DESTITUÍDO DO PODER FAMILIAR. O poder familiar
termina quando o filho atinge a maioridade. Logo, sendo André maior que 18 anos, João não mais tem poder
familiar sobre ele, não sendo necessário seu consentimento para a adoção. STJ. 3ª Turma. REsp 1.444.747-DF,
Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 17/3/2015 (Info 558).
Assim, sendo possível ao filho maior buscar suas origens biológicas, partindo-se de uma interpretação
teleológica desse dispositivo, é possível reconhecer também o direito de afastá-las por definitivo, por meio de
adoção quando ele atingir a maioridade.

BEM DE FAMÍLIA

POSSIBILIDADE DE PENHORA DE BEM DE FAMÍLIA POR MÁ-FÉ DO DEVEDOR


A renúncia ao bem de família é válida? O DEVEDOR PODE OFERECER SEU BEM DE FAMÍLIA PARA SER PENHORADO? EM
REGRA, NÃO. O STJ possui diversos julgados afirmando que a proteção conferida ao instituto de bem de
família pela Lei 8.009/90 é uma norma cogente, uma questão de ordem pública. Logo, NÃO SE ADMITE QUE O
TITULAR DESSE BENEFÍCIO RENUNCIE À SUA PROTEÇÃO.
Exceção: não se deve desconstituir a penhora de imóvel sob o argumento de se tratar de bem de família na
hipótese em que, mediante acordo homologado judicialmente, o executado tenha pactuado com o exequente
a prorrogação do prazo para pagamento e a redução do valor de dívida que contraíra em benefício da família,
oferecendo o imóvel em garantia e renunciando expressamente ao oferecimento de qualquer defesa, de
modo que, descumprido o acordo, a execução prosseguiria com a avaliação e praça do imóvel. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.461.301-MT, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 5/3/2015 (Info 558).
Fundamento: Na hipótese acima narrada, o STJ entendeu que a situação em exame apresenta certas
peculiaridades que tornam válida a renúncia.
Com efeito, no caso em análise, o EXECUTADO AGIU EM DESCOMPASSO COM O PRINCÍPIO NEMO VENIRE CONTRA
FACTUM PROPRIUM, adotando comportamento contraditório, num momento ofertando o bem à penhora e, no
instante seguinte, arguindo a impenhorabilidade do mesmo bem, o que evidencia a ausência de boa-fé. Essa
conduta antiética deve ser coibida, sob pena de desprestígio do próprio Poder Judiciário, que validou o acordo
celebrado. Dessa forma, não se pode permitir, em razão da boa-fé que deve reger as relações jurídicas, a
desconstituição da penhora, sob pena de desprestígio do próprio Poder Judiciário.

INFORMATIVO 552, STJ - POSSIBILIDADE DE PENHORA DO BEM DE FAMÍLIA DO FIADOR


Importante!!! É POSSÍVEL PENHORAR A CASA DO FIADOR POR DÍVIDAS DECORRENTES DO CONTRATO DE LOCAÇÃO?

SIM. É legítima a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação. Isso porque o
art. 3º, VII, da Lei 8.009/90 afirma que a impenhorabilidade do bem de família não se aplica no caso de dívidas
do fiador decorrentes do contrato de locação. O STF DECIDIU QUE ESSE DISPOSITIVO É
CONSTITUCIONAL E NÃO VIOLA O DIREITO À MORADIA. STJ. 2ª Seção. REsp 1.363.368-MS, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/11/2014 (recurso repetitivo) (Info 552).

CONTRATOS

AÇÃO REVISIONAL POR CONTA DA DESVALORIZAÇÃO DO REAL FRENTE AO DÓLAR EM CONTRATO CELEBRADO EM MOEDA
ESTRANGEIRA
Determinado médico importou um equipamento para utilizar em sua atividade profissional. A aquisição foi
feita por meio de um financiamento celebrado em moeda estrangeira (dólar). Na época, o valor do dólar e do
real eram muito próximos, sendo a conversão próxima de 1 real para cada 1 dólar. Ocorre que, em janeiro
1999, ocorreu na economia brasileira uma grande desvalorização do real e o dólar passou a valer cerca de 2
reais.
NO CASO CONCRETO, O MÉDICO PODE SER CONSIDERADO CONSUMIDOR?
NÃO. Não há relação de consumo entre o fornecedor de equipamento médico-hospitatar e o médico que
firmam contrato de compra e venda de equipamento de ultrassom com cláusula de reserva de domínio e de
indexação ao dólar americano, na hipótese em que o profissional de saúde tenha adquirido o objeto do
contrato para o desempenho de sua atividade econômica.
Fundamento: Com efeito, consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza, como destinatário final, produto ou
serviço oriundo de um fornecedor. Assim, segundo a teoria subjetiva ou finalista, adotada pelo STJ, destinatário final é aquele que
ultima a atividade econômica, ou seja, que retira de circulação do mercado o bem ou o serviço para consumi-lo, suprindo uma
necessidade ou satisfação própria. Por isso, fala-se em destinatário final econômico (e não apenas fático) do bem ou serviço, haja vista
que não basta ao consumidor ser adquirente ou usuário, mas deve haver o rompimento da cadeia econômica com o uso pessoal a
impedir, portanto, a reutilização dele no processo produtivo, seja na revenda, no uso profissional, na transformação por meio de
beneficiamento ou montagem ou em outra forma indireta. Desse modo, a relação de consumo (consumidor final) não pode ser
confundida com relação de insumo (consumidor intermediário).
Na hipótese em foco, não se pode entender que a aquisição do equipamento de ultrassom, utilizado na atividade profissional do
médico, tenha ocorrido sob o amparo do CDC.
Obs: imagino que muitos de vocês devem estar pensando: não seria o caso de aplicar a teoria finalista mitigada? Penso que sim,
contudo, nenhum dos votos sequer aventou essa possibilidade. Assim, nas provas de concurso, caso seja cobrada uma situação
semelhante à narrada acima, responda exatamente o que foi decidido, ou seja, que não há relação de consumo porque o equipamento
foi adquirido pelo médico para o desempenho de sua atividade econômica.
É POSSÍVEL A APLICAÇÃO DA TEORIA DA BASE OBJETIVA NA PRESENTE SITUAÇÃO?
NÃO. A teoria da base objetiva ou da base do negócio jurídico TEM SUA APLICAÇÃO RESTRITA ÀS RELAÇÕES JURÍDICAS
DE CONSUMO, NÃO SENDO APLICÁVEL ÀS CONTRATUAIS PURAMENTE CIVIS.
É POSSÍVEL ACOLHER O PEDIDO DO MÉDICO PARA A REVISÃO DO CONTRATO COM BASE NA TEORIA DA IMPREVISÃO E DA
ONEROSIDADE EXCESSIVA?

NÃO. Tratando-se de relação contratual paritária – a qual não é regida pelas normas consumeristas -, a
MAXIDESVALORIZAÇÃO DO REAL EM FACE DO DÓLAR AMERICANO OCORRIDA A PARTIR DE JANEIRO DE 1999 NÃO AUTORIZA A
APLICAÇÃO DA TEORIA DA IMPREVISÃO OU DA TEORIA DA ONEROSIDADE EXCESSIVA, com intuito de promover a revisão
de cláusula de indexação ao dólar americano.
O histórico econômico do Brasil já indicava que seria possível que ocorresse uma desvalorização do real frente
ao dólar, não sendo possível, portanto, falar que isso era um fato imprevisível ou extraordinário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.321.614-SP, Rel. originário Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 16/12/2014 (Info 556).
O que é a teoria da base objetiva?
O CDC, ao contrário do CC-2002, não adotou a teoria da imprevisão, mas sim uma outra teoria chamada de
teoria do rompimento da base objetiva do negócio jurídico, inspirada na doutrina alemã, muito bem
desenvolvida por Karl Larenz.
Pela teoria da base objetiva, haverá revisão do contrato se um fato superveniente alterou as bases objetivas
do ajuste, ou seja, o ambiente econômico inicialmente presente. Não interessa se este fato era previsível ou
imprevisível.
Conforme lição do Professor Leonardo Garcia, podemos fazer as seguintes comparações entre as duas teorias
(Direito do Consumidor. Código Comentado e Jurisprudência. 3ª ed., Niterói: Impetus, 2007, p. 39):
TEORIA DA IMPREVISÃO TEORIA DA BASE OBJETIVA DO NEGÓCIO JURÍDICO
SURGIDA NA FRANÇA, no pós 1ª Guerra. SURGIDA NA ALEMANHA, também no pós 1ª
Guerra.
É uma TEORIA SUBJETIVA. É uma TEORIA OBJETIVA.
Prevista nos ARTS. 317 E 478 DO CC. Prevista no art. 6º, V do CDC.
Exige a IMPREVISIBILIDADE e a DISPENSA A IMPREVISIBILIDADE e o
EXTRAORDINARIEDADE DO FATO SUPERVENIENTE. caráter extraordinário dos fatos supervenientes.
SOMENTE EXIGE UM FATO SUPERVENIENTE QUE
ROMPA A BASE OBJETIVA.
Exige a EXTREMA VANTAGEM PARA O CREDOR. NÃO EXIGE ESTA CONDIÇÃO.

CONTRATO DE CORRETAGEM

RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO DA COMISSÃO DE CORRETAGEM


Contrato de corretagem é o ajuste por meio do qual o corretor obriga-se a obter para uma pessoa que o
contrata (“cliente” ou “comitente”) um ou mais negócios, conforme as instruções recebidas (art. 722 do CC). O
contrato de corretagem é informal, não precisando ser escrito (pode ser verbal).
De quem é a responsabilidade pelo pagamento da comissão de corretagem: do vendedor ou do comprador?
Regra: a obrigação de pagar a comissão de corretagem é daquele que efetivamente contrata o corretor (não
importa se é o comprador ou o vendedor).
Exceção: o contrato firmado entre as partes e o corretor poderá dispor em sentido contrário, ou seja, poderá
prever que comprador e vendedor irão dividir o pagamento, que só o vendedor irá pagar etc.
A remuneração do corretor, se não foi fixada no contrato nem na lei, será arbitrada segundo a natureza do
negócio e os usos locais. No dia-a-dia imobiliário, não havendo previsão contratual, deverá ser pago ao corretor
6% sobre o valor do imóvel urbano vendido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.288.450-AM, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 24/2/2015 (Info 556).

DIREITOS REAIS

Direito exclusivo do pesquisador à exploração da jazida


Determinada mineradora obteve da União outorga para realizar pesquisas de viabilidade de lavra de minérios
em determinado sítio. Ocorre que um terceiro retirou do local, sem autorização da mineradora, grande
quantidade de minérios. Ao descobrir esse fato, a mineradora ajuizou ação de indenização por danos materiais
contra esse terceiro pedindo que ele fosse condenado a pagar o valor dos minérios extraídos.
EM SUA DEFESA, O TERCEIRO ALEGOU QUE A MINERADORA NÃO TERIA DIREITO À INDENIZAÇÃO, CONSIDERANDO QUE OS
RECURSOS MINERAIS PRESENTES NO SUBSOLO SÃO DE PROPRIEDADE DA UNIÃO (ARTS. 20, IX E 176 DA CF/88). LOGO, SE
ALGUÉM SOFREU PREJUÍZO, NÃO FOI A MINERADORA, MAS SIM A UNIÃO. ESSE RACIOCÍNIO ESTÁ CORRETO?

NÃO. O STJ entendeu que o terceiro que explorou clandestinamente área objeto de outorga para pesquisa
de viabilidade de lavra de minérios deve sim indenizar o particular que possuía o direito de pesquisa e de lavra.
Ainda que a União seja a proprietária exclusiva das reservas minerais existentes no solo e subsolo, ao
concessionário particular (mineradora) é garantida a propriedade do produto de sua exploração, fazendo
emergir da nossa ordem constitucional o princípio do livre acesso aos recursos minerais. A fim de ordenar o
livre acesso aos recursos minerais, o Código de Mineração utiliza-se do direito de prioridade, e, por
consequência, assegura ao pesquisador, de forma exclusiva, a futura exploração da reserva pesquisada, bem
como a possibilidade de eventual negociação desse direito. Terceiro que explora, clandestina e ilicitamente, a
reserva pesquisada, atenta contra o direito de prioridade e causa dano direto ao legítimo pesquisador,
devendo, pois, ressarcir-lhe integralmente o prejuízo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.471.571-RO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/2/2015 (Info 556).

EFICÁCIA SUBJETIVA DA COISA JULGADA DE AÇÃO REINTEGRATÓRIA PROFERIDA EM PROCESSO NO QUAL O POSSUIDOR DE BOA-FÉ
NÃO PARTICIPOU

Fernando vendeu um imóvel para Pedro. Este, por sua vez, alienou o bem para João.
Ocorre que Pedro não pagou Fernando, razão pela qual este propôs ação de rescisão contratual cumulada com
reintegração de posse unicamente contra Pedro.
A sentença foi procedente, determinado a rescisão da venda feita para Pedro e determinado que ele
devolvesse a posse do imóvel para Fernando.
Sucede que Pedro não mais reside no imóvel. Quem está na posse do imóvel é João, que assumiu o local antes
de a ação de reintegração ser proposta.
Os efeitos da sentença de reintegração de posse estendem-se a João (terceiro de boa-fé)?
NÃO. Não está sujeito aos efeitos de decisão reintegratória de posse proferida em processo do qual não
participou o terceiro de boa-fé que, antes da citação, adquirira do réu o imóvel objeto do litígio.
Em regra, A SENTENÇA FAZ COISA JULGADA SOMENTE PARA AS PARTES DO PROCESSO, não beneficiando
nem prejudicando terceiros (art. 472 do CPC 1973; art. 506 do CPC 2015). Também não é caso de aplicar o art.
42, § 3º do CPC 1973 (art. 109, § 3º do CPC 2015) porque João (terceiro) adquiriu o imóvel ANTES da ação
proposta pelo autor. No momento em que ele comprou a coisa, esta ainda não era litigiosa, ou se seja, ainda
não havia nenhuma demanda judicial disputando este bem. O BEM OU DIREITO SOMENTE SE TORNA LITIGIOSO COM
A LITISPENDÊNCIA, OU SEJA, COM A LIDE PENDENTE. A lide é considerada pendente, para o autor, com a propositura
da ação, enquanto que, para o réu, com a citação válida (art. 219 do CPC 1973) (art. 240 do CPC 2015). Se o
bem é adquirido por terceiro de boa-fé antes de configurada a litigiosidade, não há
falar em extensão dos efeitos da coisa julgada ao adquirente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.458.741-GO, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 14/4/2015 (Info 560).

NOME DA PESSOA NATURAL

EXCLUSÃO DOS SOBRENOMES PATERNOS EM RAZÃO DO ABANDONO PELO GENITOR


Imagine que determinado indivíduo foi abandonado pelo pai quando era ainda criança, tendo sido criado
apenas pela mãe. Quando completou 18 anos, esse rapaz decidiu que desejava que fosse excluído o nome de
seu pai de seu assento de nascimento e que o patronímico de seu pai fosse retirado de seu nome, incluindo-
se o outro sobrenome da mãe.
O STJ decidiu que esse PEDIDO PODE SER DEFERIDO e que PODE SER EXCLUÍDO COMPLETAMENTE DO NOME
CIVIL DO INTERESSADO OS SOBRENOMES DE SEU PAI, que o abandonou em tenra idade.
A jurisprudência tem adotado posicionamento mais flexível acerca da imutabilidade ou definitividade do
nome civil.
O princípio da imutabilidade do nome NÃO É ABSOLUTO NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO. Além
disso, a referida flexibilização se justifica pelo próprio papel que o nome desempenha na formação e
consolidação da personalidade de uma pessoa.
Desse modo, O DIREITO DA PESSOA DE PORTAR UM NOME QUE NÃO LHE REMETA ÀS ANGÚSTIAS DECORRENTES DO
ABANDONO PATERNO E, ESPECIALMENTE, CORRESPONDA À SUA REALIDADE FAMILIAR, SOBREPÕE-SE AO
INTERESSE PÚBLICO DE IMUTABILIDADE DO NOME, já excepcionado pela própria Lei de Registros
Públicos.
Sendo assim, nos moldes preconizados pelo STJ, considerando que o nome é elemento da
personalidade, identificador e individualizador da pessoa na sociedade e no âmbito familiar, conclui-se que
O ABANDONO PELO GENITOR CARACTERIZA O JUSTO MOTIVO DE O INTERESSADO REQUERER A ALTERAÇÃO DE SEU NOME CIVIL,
COM A RESPECTIVA EXCLUSÃO COMPLETA DOS SOBRENOMES PATERNOS.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.304.718-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/12/2014 (Info
555).
A) NATUREZA JURÍDICA (TEORIAS SOBRE O NOME):
Existem quatro principais teorias que explicam a natureza jurídica do nome:
 TEORIA DA PROPRIEDADE: segundo esta concepção, O NOME INTEGRA O PATRIMÔNIO da pessoa. Essa teoria É
APLICADA NO CASO DOS NOMES EMPRESARIAIS. No que tange à pessoa natural, o nome é mais do que o mero
aspecto patrimonial, consistindo, na verdade, em direito da personalidade.
 TEORIA NEGATIVISTA: afirma que o nome NÃO É UM DIREITO, mas apenas uma forma de designação das pessoas. A
doutrina relata que era a POSIÇÃO ADOTADA POR CLÓVIS BEVILÁQUA.
 TEORIA DO ESTADO: sustenta que o nome é um ELEMENTO DO ESTADO DA PESSOA NATURAL.
 TEORIA DO DIREITO DA PERSONALIDADE: o nome é um DIREITO DA PERSONALIDADE. É a teoria adotada pelo
CC (art. 16): “toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome”.
B) PROTEÇÃO DO NOME
O direito ao nome é protegido, dentre outros, pelos seguintes diplomas:
 CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (ART. 18).
 CONVENÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA (ART. 7º).
 CÓDIGO CIVIL (ART. 16).
C) PRINCÍPIO DA IMUTABILIDADE RELATIVA DO NOME
Em regra, o nome é imutável. É o chamado princípio da imutabilidade relativa do nome civil.
A regra da inalterabilidade relativa do nome civil preconiza que o nome (prenome e sobrenome), estabelecido
por ocasião do nascimento, reveste-se de definitividade, admitindo-se sua modificação, excepcionalmente,
nas hipóteses expressamente previstas em lei ou reconhecidas como excepcionais por decisão judicial (art.
57, Lei 6.015/75), exigindo-se, para tanto, JUSTO MOTIVO e AUSÊNCIA DE PREJUÍZO A TERCEIROS (REsp 1138103/PR,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 06/ /2011).
Veja abaixo as exceções em que a alteração do nome é permitida
1) NO PRIMEIRO ANO APÓS ATINGIR A MAIORIDADE CIVIL: Prevista no art. 56 da Lei de Registros Públicos (Lei
n.6.015/73):
Art. 56. O interessado, no primeiro ano após ter atingido a maioridade civil, poderá, pessoalmente ou por
procurador bastante, alterar o nome, desde que não prejudique os apelidos de família, averbando-se a
alteração que será publicada pela imprensa.
Observações:
 É feita mediante processo administrativo.
 Deverá haver um requerimento, de forma pessoal ou por procuração, por parte do interessado.
 Não é necessário que tal formulação seja feita por meio de advogado.
 Não precisa ser declarado nenhum motivo (trata-se de possibilidade de troca imotivada);
 Não pode prejudicar os apelidos de família (patronímicos). É isso que está previsto na lei, mas veja abaixo interessante
precedente do STJ.
 Será averbada a alteração no registro de nascimento e publicada pela imprensa.
2) RETIFICAÇÃO DE ERROS QUE NÃO EXIJAM QUALQUER INDAGAÇÃO PARA SUA CONSTATAÇÃO IMEDIATA: Prevista no art. 110
da LRP:
Observações:
 É feita mediante processo administrativo;
 Os erros a serem corrigidos são aqueles facilmente perceptíveis, ou seja, que não exigem qualquer indagação para a sua constatação
imediata. Tais erros poderão ser corrigidos de ofício pelo Oficial no próprio cartório, mediante petição assinada pelo interessado,
representante legal ou procurador;
 O interessado não precisa de advogado;
 O interessado não paga selos ou taxas;
 É indispensável a prévia manifestação do MP (prazo: 5 dias);
 O Oficial pode certificar informações a fim de produzir a prova necessária à retificação;
 Se o MP entender que o pedido exige maior indagação, requererá ao juiz a distribuição dos autos, situação em que o processo
administrativo será transformado em judicial (com a necessária assistência de advogado). O rito é o sumaríssimo;
 Exemplo dessa retificação: o nome do rapaz consta como Renata, ao invés de Renato.
3) ACRÉSCIMO OU SUBSTITUIÇÃO POR APELIDOS PÚBLICOS NOTÓRIOS: Prevista no art. 58 da LRP:
Art. 58. O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos notórios.
OBS: DEVE SER FEITO POR MEIO DE AÇÃO JUDICIAL.
4) AVERBAÇÃO DO NOME ABREVIADO, USADO COMO FIRMA COMERCIAL OU EM ATIVIDADE PROFISSIONAL: Prevista no § 1º do
art. 57 da LRP:
Art. 57 (...) § 1º Poderá, também, ser averbado, nos mesmos termos, o nome abreviado, usado como firma comercial
registrada ou em qualquer atividade profissional.
5) ENTEADO PODE ADOTAR O SOBRENOME DO PADRASTO: Previsto no § 8º do art. 57 da LRP:
Art. 57 (...) § 8º O enteado ou a enteada, havendo motivo ponderável e na forma dos §§ 2º e 7º deste artigo, poderá
requerer ao juiz competente que, no registro de nascimento, seja averbado o nome de família de seu padrasto ou de sua
madrasta, desde que haja expressa concordância destes, sem prejuízo de seus apelidos de família.
Observações:
 Deve haver motivo ponderável;
 O requerimento é feito ao juiz;
 Será averbado o nome de família do padrasto ou madrasta;
 É indispensável que haja a concordância expressa do padrasto ou madrasta;
 Não pode haver prejuízo aos apelidos de família do enteado.
6) PESSOAS INCLUÍDAS NO PROGRAMA DE PROTEÇÃO A VÍTIMAS E TESTEMUNHAS: Previsto no § 7º do art. 57 da LRP e no
art. 9º da Lei n. 9.807/99:
Art. 57 (...) § 7º Quando a alteração de nome for concedida em razão de fundada coação ou ameaça decorrente de
colaboração com a apuração de crime, o juiz competente determinará que haja a averbação no registro de origem de menção da
existência de sentença concessiva da alteração, sem a averbação do nome alterado, que somente poderá ser procedida mediante
determinação posterior, que levará em consideração a cessação da coação ou ameaça que deu causa à alteração.
7) POR VIA JUDICIAL, COM MOTIVO DECLARADO, POR SENTENÇA, APÓS OITIVA DO MP: Previsto no caput do art. 57 da LRP:
Art. 57. A alteração posterior de nome, somente por exceção e motivadamente, após audiência do Ministério Público, será
permitida por sentença do juiz a que estiver sujeito o registro, arquivando-se o mandado e publicando-se a alteração pela
imprensa, ressalvada a hipótese do art. 110 desta Lei.
OBSERVAÇÕES:
 Processo judicial de jurisdição voluntária;
 Obrigatória a oitiva do MP;
 Decidido pelo juiz por sentença;
 Será competente o juiz a que estiver sujeito o registro;
 Arquiva-se o mandado no Registro Civil de Pessoas Naturais;
 Publica-se a alteração pela imprensa;
EXEMPLOS DE ALTERAÇÃO DO NOME COM BASE NESSE ART. 57:
 Alterar o prenome caso exponha seu portador ao ridículo;
 Retificar o patronímico constante do registro para obter a nacionalidade de outro país (o STJ já reconheceu o direito de suprimir
incorreções na grafia do patronímico para que a pessoa pudesse obter a cidadania italiana. REsp 1138103/PR)
 Alterar o nome em virtude de cirurgia de retificação de sexo.
8) CASAMENTO: Segundo o CC-2002, o cônjuge pode acrescentar sobrenome do outro. Tanto a mulher pode acrescentar o
do marido, como o marido o da mulher
Art. 1.565 (...) § 1º Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome do outro.
Em regra, o sobrenome do marido/esposa é acrescido no momento do matrimônio, sendo essa providência
requerida já no processo de habilitação do casamento.
IMAGINE AGORA A SEGUINTE SITUAÇÃO: MARIDO E MULHER SE CASARAM E, NO MOMENTO DA HABILITAÇÃO DO CASAMENTO,
NÃO REQUERERAM A ALTERAÇÃO DO NOME. É POSSÍVEL QUE, POSTERIORMENTE, UM POSSA ACRESCENTAR O SOBRENOME DO
OUTRO?

SIM. Aos cônjuges é permitido incluir ao seu nome o sobrenome do outro, ainda que após a data da
celebração do casamento. Vale ressaltar, no entanto, que esse acréscimo terá que ser feito por INTERMÉDIO
DA AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE REGISTROS PÚBLICOS, nos termos dos arts. 57 e 109 da Lei de Registros
Públicos (Lei n. 6.015/1973). Assim, NÃO SERÁ POSSÍVEL A ALTERAÇÃO PELA VIA ADMINISTRATIVA, mas somente em
juízo.
STJ. 4ª Turma. REsp 910.094-SC, Rel. Raul Araújo, julgado em 4/9/2012.
9) UNIÃO ESTÁVEL
SE DUAS PESSOAS VIVEM EM UNIÃO ESTÁVEL, É POSSÍVEL INCLUIR O PATRONÍMICO DE UM DELES NO NOME DO OUTRO? EX: CARLOS
ANDRADE VIVE EM UNIÃO ESTÁVEL COM JULIANA BARBOSA. É PERMITIDO QUE JULIANA ACRESCENTE O PATRONÍMICO DE SEU
COMPANHEIRO E PASSE A SE CHAMAR “JULIANA BARBOSA ANDRADE”? SIM, também é possível, conforme entendeu o
STJ. Foi aplicado, por analogia, o art. 1.565, § 1º do CC, visto acima, que trata sobre o casamento.
Como a união estável e o casamento são institutos semelhantes, é possível aplicar a regra de um para o outro,
pois “onde impera a mesma razão, deve prevalecer a mesma decisão” (ubi eadem legis ratio ibi eadem
dispositio). STJ. 4ª Turma. REsp 1.206.656–GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/10/2012.
Observação: Exigências para o acréscimo do patronímico do companheiro: Segundo decidiu o STJ, são feitas
duas exigências para que a pessoa possa adotar o patronímico de seu companheiro:
 Deverá existir prova documental da relação feita por instrumento público;
 Deverá haver a anuência do companheiro cujo nome será adotado.
10) SEPARAÇÃO/DIVÓRCIO
REGRA: NA SEPARAÇÃO E NO DIVÓRCIO O NOME É MANTIDO, salvo se a pessoa que acrescentou o sobrenome de
seu cônjuge desejar retirá-lo.
Exceção: somente haverá A PERDA DO SOBRENOME CONTRA A VONTADE DA PESSOA que acrescentou se
preenchidos os seguintes requisitos:
 Houver PEDIDO EXPRESSO DO CÔNJUGE QUE “FORNECEU” O SOBRENOME;
 A perda NÃO PODE CAUSAR PREJUÍZO À IDENTIFICAÇÃO DO CÔNJUGE. Ex: Marta Suplicy;
 A perda NÃO PODE CAUSAR PREJUÍZO À IDENTIFICAÇÃO DOS FILHOS;
 Estar provada CULPA GRAVE POR PARTE DO CÔNJUGE.

DIREITO DE A PESSOA RETIFICAR SEU PATRONÍMICO NO REGISTRO DE NASCIMENTO DE SEU FILHO APÓS DIVÓRCIO
Se a genitora, ao se divorciar, volta a usar seu nome de solteira, É POSSÍVEL QUE O REGISTRO DE NASCIMENTO DOS
FILHOS SEJA RETIFICADO PARA CONSTAR NA FILIAÇÃO O NOME ATUAL DA MÃE.
É DIREITO SUBJETIVO DA PESSOA RETIFICAR SEU PATRONÍMICO NO REGISTRO DE NASCIMENTO DE SEUS FILHOS APÓS
DIVÓRCIO.
A averbação do patronímico no registro de nascimento do filho em decorrência do casamento atrai, à luz do
princípio da simetria, a aplicação da mesma norma à hipótese inversa, qual seja, em decorrência do divórcio,
um dos genitores deixa de utilizar o nome de casado (art. 3º, parágrafo único, da Lei nº 8.560/1992).
Em razão do princípio da segurança jurídica e da necessidade de preservação dos atos jurídicos até então
praticados, o nome de casada não deve ser suprimido dos assentamentos, procedendo-se, tão somente, a
averbação da alteração requerida após o divórcio. STJ. 3ª Turma. REsp 1.279.952-MG, Rel. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, julgado em 3/2/2015 (Info 555).
PATERNIDADE

DESCONSTITUIÇÃO DA PATERNIDADE REGISTRAL


Se o marido ou companheiro descobre que foi induzido em erro no momento de registrar a criança e
que NÃO É PAI BIOLÓGICO DO SEU FILHO REGISTRAL, ele PODERÁ CONTESTAR A PATERNIDADE, PEDINDO A RETIFICAÇÃO
DO REGISTRO (arts. 1.601 e 1.604 do CC). Não se pode obrigar o pai registral, induzido a erro substancial, a
manter uma relação de afeto, igualmente calcada no vício de consentimento originário, impondo-lhe os
deveres daí advindos, sem que, voluntária e conscientemente, o queira.
Vale ressaltar, no entanto, que, PARA QUE O PAI REGISTRAL ENGANADO CONSIGA DESCONSTITUIR A PATERNIDADE É
INDISPENSÁVEL QUE TÃO LOGO ELE TENHA SABIDO DA VERDADE (DA TRAIÇÃO), ELE TENHA SE AFASTADO DO SUPOSTO FILHO,
ROMPENDO IMEDIATAMENTE O VÍNCULO AFETIVO.
Se o pai registral enganado, MESMO QUANDO DESCOBRIU A VERDADE, ainda MANTEVE VÍNCULOS AFETIVOS COM O FILHO
REGISTRAL, neste caso ele NÃO MAIS PODERÁ DESCONSTITUIR A PATERNIDADE.
A) “ADOÇÃO À BRASILEIRA”
A situação acima descrita é diferente da chamada “adoção à brasileira”, que ocorre quando o homem e/ou
a mulher declara, para fins de registro civil, o menor como sendo seu filho biológico sem que isso seja
verdade. NO CASO DE ADOÇÃO À BRASILEIRA, O PAI SABE QUE NÃO É GENITOR BIOLÓGICO (ELE NÃO FOI
ENGANADO).
B) CASO O PAI REGISTRAL SE ARREPENDA DA “ADOÇÃO À BRASILEIRA” REALIZADA, ELE PODERÁ PLEITEAR A SUA ANULAÇÃO?

NÃO. O pai que questiona a paternidade de seu filho registral (não biológico), que ele próprio
registrou conscientemente, está VIOLANDO A BOA-FÉ OBJETIVA, MAIS ESPECIFICAMENTE A REGRA DA
VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM (PROIBIÇÃO DE COMPORTAMENTO CONTRADITÓRIO).
Para que seja possível a anulação do registro é indispensável que fique provado que o pai registrou o
filho enganado (induzido em erro), ou seja, É IMPRESCINDÍVEL QUE TENHA HAVIDO VÍCIO DE
CONSENTIMENTO.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.330.404-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 5/2/2015 (Info 555).
C) O QUE É A CHAMADA “ADOÇÃO À BRASILEIRA”?
“ADOÇÃO À BRASILEIRA” OU “ADOÇÃO À MODA BRASILEIRA”: ocorre quando o homem e/ou a mulher declara, para
fins de registro civil, o menor como sendo seu filho biológico sem que isso seja verdade.
D) POR QUE RECEBE ESSE NOME?
Essa prática é chamada pejorativamente de “adoção à brasileira” porque é como se fosse uma “adoção” feita
sem observar as exigências legais, ou seja, uma adoção feita segundo o “jeitinho brasileiro”. TECNICAMENTE,
CONTUDO, NÃO SE TRATA DE ADOÇÃO, porque NÃO SEGUE O PROCEDIMENTO LEGAL. Consiste, em verdade, em UMA
PERFILHAÇÃO SIMULADA.
D) A “ADOÇÃO À BRASILEIRA” É PERMITIDA?

NÃO. Formalmente, esta CONDUTA É ATÉ MESMO PREVISTA COMO CRIME PELO CÓDIGO PENAL.
Artigo. 242

SITUAÇÃO 2: FILHO DESEJA QUE SEJA RECONHECIDO SEU PAI BIOLÓGICO.


A) A AÇÃO TERÁ ÊXITO SEGUNDO O ENTENDIMENTO DO STJ?
SIM. É possível o reconhecimento da paternidade biológica e a anulação do registro de nascimento na hipótese em que
pleiteados pelo filho adotado conforme prática conhecida como “adoção à brasileira”. O direito da pessoa ao
reconhecimento de sua ancestralidade e origem genética insere-se nos atributos da própria personalidade. Caracteriza
violação ao princípio da dignidade da pessoa humana cercear o direito de conhecimento da origem genética, respeitando-
se, por conseguinte, a necessidade psicológica de se conhecer a verdade biológica (STJ. REsp 833.712/RS).
B) A AÇÃO SERÁ JULGADA PROCEDENTE E O REGISTRO SERÁ ANULADO MESMO QUE TENHA SE ESTABELECIDO UMA RELAÇÃO
SOCIOAFETIVA ENTRE VÍTOR E ANDRÉ?

SIM. O STJ entende que, mesmo que o filho tenha sido acolhido e tenha usufruído de uma relação socioafetiva, nada lhe
retira o direito, em havendo sua insurgência ao tomar conhecimento de sua real história, de ter acesso à sua verdade
biológica que lhe foi usurpada, desde o nascimento até a idade madura. Presente o dissenso, portanto, prevalecerá o
direito ao reconhecimento do vínculo biológico (REsp 833.712/RS).
Dessa forma, A FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA DESENVOLVIDA COM O PAI REGISTRAL NÃO AFASTA O DIREITO DO FILHO DE VER
RECONHECIDA A SUA FILIAÇÃO BIOLÓGICA.

PAI REGISTRAL AJUÍZA AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE E FILHO AJUÍZA AÇÃO INVESTIGATÓRIA DE PATERNIDADE E
NULIDADE DE REGISTRO NULIDADE DE REGISTRO
PARA QUE SEJA JULGADA PROCEDENTE É NECESSÁRIO QUE: A AÇÃO PODERÁ SER JULGADA PROCEDENTE, MESMO QUE
A) ELE TENHA SIDO ENGANADO (INDUZIDO A ERRO) TENHA SIDO CONSTRUÍDA UMA RELAÇÃO SOCIOAFETIVA ENTRE
B) NÃO TENHA SIDO CONSTRUÍDA UMA RELAÇÃO SOCIOAFETIVA ELE E O PAI REGISTRAL
ENTRE ELE E O FILHO APÓS DESCOBRIR QUE NÃO ERA PAI
BIOLÓGICO
FUNDAMENTOS: PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DO MENOR FUNDAMENTOS: DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E
E BOA-FÉ OBJETIVA (VEDAÇÃO AO VENIRE CONTRA FACTUM RECONHECIMENTO DA ANCESTRALIDADE BIOLÓGICA COMO
PROPRIUM) DIREITO DA PERSONALIDADE

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

REQUISITOS PARA A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NO CÓDIGO CÍVIL


O ENCERRAMENTO das atividades ou DISSOLUÇÃO da sociedade, AINDA QUE IRREGULARES,
NÃO É CAUSA, POR SI SÓ, PARA A DESCONSIDERAÇÃO da personalidade jurídica prevista no CÓDIGO CIVIL.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.306.553-SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 10/12/2014 (Info 554).
A) PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PATRIMONIAL
As pessoas jurídicas são sujeitos de direitos. Isso significa que possuem personalidade jurídica distinta de
seus instituidores. Assim, por exemplo, não é porque o sócio morreu que, obrigatoriamente, a pessoa
jurídica será extinta.
B) POR QUE FOI IDEALIZADA ESSA TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA?
Alguns indivíduos começaram a abusar da autonomia patrimonial da pessoa jurídica, utilizando-a como um
meio de praticar fraudes. A pessoa jurídica, após adquirir diversas dívidas, transferia todo o lucro e
patrimônio para o nome dos sócios e, com isso, não tinha como pagar os compromissos assumidos, não
sobrando bens da sociedade que pudessem ser executados pelos credores.
C) HISTÓRICO DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NO BRASIL
 CC-1916: não previa a possibilidade de desconsideração da personalidade jurídica.
 Na década de 60, Rubens Requião foi um dos primeiros doutrinadores brasileiros a defender a aplicação da
teoria no Brasil, mesmo sem previsão legal.
 CDC em 1990: primeira lei a prever a possibilidade de desconsideração da personalidade jurídica no Brasil
(art. 28).
 Lei nº 8.884/94 (antiga Lei Antitruste): previu a desconsideração.
 Lei nº 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais): também disciplinou a desconsideração.
 Código Civil de 2002: trouxe previsão expressa no art. 50.
 Lei n. 12.529⁄2011: desconsideração em caso de infrações da ordem econômica (art. 34).
D) ABUSO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
Somente poderá ocorrer a desconsideração da personalidade jurídica nas relações jurídicas regidas pelo
Código Civil se ficar caracterizado que houve abuso da personalidade jurídica.
O abuso da personalidade jurídica pode ocorrer em duas situações:
 DESVIO DE FINALIDADE: é o ATO INTENCIONAL DOS SÓCIOS EM FRAUDAR TERCEIROS utilizando a autonomia da
pessoa jurídica como um escudo;
 CONFUSÃO PATRIMONIAL: ocorre quando, na PRÁTICA, NÃO HÁ SEPARAÇÃO ENTRE O QUE SEJA PATRIMÔNIO
DA PESSOA JURÍDICA E DOS SÓCIOS. Ex: todas as despesas pessoais dos sócios são pagas com o cartão de crédito
da empresa, os veículos utilizados são da empresa, os funcionários fazem serviços pessoais para os sócios
etc.

TEORIA MAIOR TEORIA MENOR


O D C
IREITO IVIL brasileiro adotou a No Direito do Consumidor e no Direito
chamada teoria maior da desconsideração. Ambiental, adotou-se a teoria menor da
Isso porque o art. 50 exige, além da desconsideração. Isso porque, para que haja a
insolvência, que se prove o DESVIO DE desconsideração da personalidade jurídica nas
FINALIDADE (teoria maior subjetiva) ou a relações jurídicas envolvendo consumo ou
CONFUSÃO PATRIMONIAL (teoria maior objetiva). responsabilidade civil ambiental, BASTA
INSOLVENCIA + DESVIO OU PROVAR A INSOLVÊNCIA DA PESSOA
JURÍDICA.
CONFUSÃO.

E) QUADRO-RESUMO: O encerramento irregular das atividades da empresa devedora autoriza, por si só, que se
busque os bens dos sócios para pagar a dívida?
CÓDIGO CIVIL: NÃO
CDC: SIM
LEI AMBIENTAL: SIM
CTN: SIM

DIREITO AUTORAL

INAPLICABILIDADE DE PROTEÇÃO DO DIREITO AUTORAL A MODELO FOTOGRAFADO


Imagine que determinada modelo é fotografada para uma revista.

O titular dos DIREITOS AUTORAIS sobre essas fotos será o FOTÓGRAFO (e não a modelo).
Em se tratando de fotografia, para efeitos de proteção do direito autoral, o autor – e, portanto, o titular do
direito autoral – é o fotógrafo (e não o fotografado). O fotógrafo, detentor da técnica e da inspiração, é quem
coordena os demais elementos complementares ao retrato do objeto – como iluminação – e capta a
oportunidade do momento e o transforma em criação intelectual, digna, portanto, de tutela como
manifestação de cunho artístico.
A PESSOA FOTOGRAFADA terá PROTEÇÃO JURÍDICA, MAS COM BASE NO DIREITO DE IMAGEM (e
não no direito autoral). Desse modo, a PROTEÇÃO DO FOTOGRAFADO É FEITA COM FUNDAMENTO NO ART. 20 DO
CÓDIGO CIVIL (e não com base na Lei 9.610/98).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.322.704-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 23/10/2014 (Info 554).

VÍCIO REDIBITÓRIO
O PRAZO DECADENCIAL PARA O EXERCÍCIO DA PRETENSÃO REDIBITÓRIA OU DE ABATIMENTO DO PREÇO DE BEM MÓVEL É DE
30 DIAS (ART. 445 DO CC).
No caso de VÍCIO OCULTO EM COISA MÓVEL, o adquirente tem o PRAZO MÁXIMO DE 180 DIAS PARA PERCEBER O
VÍCIO (§ 1º do art. 445) e, se o notar neste período, TEM O PRAZO DE DECADÊNCIA DE 30 DIAS (A PARTIR DA
VERIFICAÇÃO DO VÍCIO) PARA AJUIZAR A AÇÃO REDIBITÓRIA.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.095.882-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 9/12/2014 (Info 554).

SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO

A análise acerca da legalidade da utilização da Tabela Price - mesmo que em abstrato - passa,
necessariamente, pela constatação da eventual capitalização de juros (ou incidência de juros compostos,
juros sobre juros ou anatocismo), que é questão de fato e não de direito, motivo pelo qual não cabe ao STJ
tal apreciação (Súmulas 5 e 7 do STJ).
É exatamente por isso que, em contratos cuja capitalização de juros seja vedada, é necessária a interpretação
de cláusulas contratuais e a produção de prova técnica para aferir a existência da cobrança de juros não
lineares, incompatíveis, portanto, com financiamentos celebrados no âmbito do Sistema Financeiro da
Habitação antes da vigência da Lei 11.977⁄2009, que acrescentou o art. 15-A à Lei n. 4.380⁄1964.
EM SE VERIFICANDO QUE MATÉRIAS DE FATO OU EMINENTEMENTE TÉCNICAS FORAM TRATADAS COMO EXCLUSIVAMENTE DE DIREITO,
RECONHECE-SE O CERCEAMENTO, PARA QUE SEJA REALIZADA A PROVA PERICIAL. STJ. Corte Especial. REsp 1.124.552-RS,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Corte Especial, julgado em 3/12/2014 (recurso repetitivo) (Info 554).

INFORMATIVO 552, STJ - MP TEM LEGITIMIDADE PARA AJUIZAR ACP EM DEFESA DE MUTUÁRIOS DO SFH.
O Ministério Público tem legitimidade ad causam para propor ação civil pública com a finalidade de defender
interesses coletivos e individuais homogêneos dos mutuários do Sistema Financeiro da Habitação. O STJ
entende que os temas relacionados com SFH possuem uma expressão para a coletividade e o interesse em
discussão é socialmente relevante. STJ. 3ª Turma. REsp 1.114.035-PR, Rel. originário Min. Sidnei Beneti, Rel.
para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 7/10/2014 (Info 552).

INFORMATIVO 552, STJ - A UTILIZAÇÃO DO SISTEMA DE AMORTIZAÇÃO EM SÉRIE GRADIENTE EM CONTRATOS DO SISTEMA
FINANCEIRO DA HABITAÇÃO (SFH) NÃO É INCOMPATÍVEL COM O PLANO DE EQUIVALÊNCIA SALARIAL (PES).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.114.035-PR, Rel. originário Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão Min. João Otávio de
Noronha, julgado em 7/10/2014 (Info 552).
- O Sistema de Amortização em Série Gradiente (“Tabela Gradiente”) é uma forma utilizada para calcular as
amortizações dos pagamentos efetuados pelos mutuários nos saldos devedores.
-Plano de Equivalência Salarial (PES) é uma forma de reajuste do encargo mensal dos contratos de
financiamento do SFH, estando disciplinado pela Lei n. 8.692/93. Com o PES, a prestação e os acessórios são
reajustados em função da data base da categoria profissional do mutuário.

Incidência da Lei 10.931/2004 nas ações judiciais que envolvam o SFH

Aplicam-se aos contratos de financiamento imobiliário do Sistema de Financiamento de Habitação (SFH) as


disposições da Lei 10.931/2004, mormente as referentes aos requisitos da petição inicial de ação de revisão
de cláusulas contratuais (art. 50).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.163.283-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 7/4/2015 (Info 561).
CONDOMÍNIO EDILÍCIO

ALTERAÇÃO DE CLÁUSULA IRREVOGÁVEL E IRRETRATÁVEL DA CONVENÇÃO DE CONDOMÍNIO


Os condôminos, pelo voto de 2/3, poderão alterar cláusula da convenção original de condomínio, mesmo
sendo ela prevista como irrevogável e irretratável.
No caso concreto, a convenção original determinou que a divisão das despesas do condomínio seria feita em
partes iguais. PELO VOTO DE 2/3, ALTEROU-SE A FORMA DE RATEIO PARA QUE AS EXPENSAS SEJAM SUPORTADAS NA
PROPORÇÃO DAS FRAÇÕES IDEAIS.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.447.223-RS, Rel. originário Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 16/12/2014 (Info 554).

LEGITIMIDADE PASSIVA EM AÇÃO DE COBRANÇA DE DÍVIDAS CONDOMINIAIS

A responsabilidade pelo pagamento das despesas condominiais é sempre do proprietário?


NÃO. As despesas condominiais constituem-se em obrigações “propter rem” e são de
responsabilidade não apenas daquele que detém a qualidade de proprietário da unidade imobiliária. As cotas
condominiais podem ser de responsabilidade da pessoa que, mesmo ser proprietária, é titular de um
dos aspectos da propriedade, tais como a posse, o gozo ou a fruição, desde que esta tenha
estabelecido relação jurídica direta com o condomínio. É o caso, por exemplo, do promitente comprador
que já está morando no imóvel e que já fez todos os cadastros no condomínio como sendo o novo morador da
unidade.
Em caso de compromisso de compra e venda, a legitimidade passiva para ação de cobrança será do
promitente-comprador ou do promitente vendedor?
Depende. Em caso de promessa de compra e venda, a responsabilidade pelas despesas de condomínio pode
recair tanto sobre o promitente vendedor quanto sobre o promissário comprador, dependendo das
circunstâncias de cada caso concreto:
• A responsabilidade será do PROMITENTE COMPRADOR se ficar comprovado que:
1. O promissário comprador se imitiu na posse (ele já está na posse direta do bem);
2. O condomínio teve ciência inequívoca da transação (o condomínio sabe que houve a
“venda”).
Nesta hipótese, o condomínio não poderá ajuizar ação contra o promitente vendedor pelas cotas condominiais
relativas ao período em que a posse foi exercida pelo promissário comprador.
O fato de o compromisso de compra e venda estar ou não registrado irá interferir?
NÃO. Não há nenhuma relevância, para o efeito de definir a responsabilidade pelas despesas condominiais,
O que importa realmente é a
se o contrato de promessa de compra e venda foi ou não registrado.
relação jurídica material com o imóvel, representada pela imissão na posse pelo
promissário comprador e pela ciência inequívoca do condomínio acerca da transação.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.345.331-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 8/4/2015 9 (recurso repetitivo)
(Info 560).

DE QUEM SERÁ A RESPONSABILIDADE PELAS DESPESAS CONDOMINIAIS?


Promitente-COMPRADOR Promitente-VENDEDOR
1) A responsabilidade será do PROMITENTE 1) A responsabilidade será do PROMITENTE
COMPRADOR se ficar comprovado que: VENDEDOR se:
a) o promissário comprador se imitiu na posse a) o promissário comprador ainda não está na
(ele já está na posse direta do bem); e posse do imóvel (não houve imissão de posse);
b) o condomínio teve ciência inequívoca da ou
transação (o condomínio sabe que houve a b) se o condomínio não teve ciência de que
“venda”). ocorreu esse contrato de compromisso de
Obs1: os dois requisitos devem estar compra e venda.
preenchidos. Obs2: neste caso, o condomínio
não poderá ajuizar ação contra o promitente
vendedor pelas cotas condominiais relativas ao
período em que a posse foi exercida pelo
promissário comprador.

Teses firmadas para fins de recurso repetitivo:


O presente julgado foi apreciado sob a sistemática do recurso repetitivo, na qual o STJ define teses que
serão aplicadas para casos semelhantes. Confira as teses que foram aprovadas:
a) O que define a responsabilidade pelo pagamento das obrigações condominiais não é o registro do
compromisso de compra e venda, mas A RELAÇÃO JURÍDICA MATERIAL COM O IMÓVEL, REPRESENTADA PELA
IMISSÃO NA POSSE PELO PROMISSÁRIO COMPRADOR e PELA CIÊNCIA INEQUÍVOCA DO CONDOMÍNIO ACERCA DA
TRANSAÇÃO.
b) Havendo compromisso de compra e venda não levado a registro, a responsabilidade pelas despesas de
condomínio pode recair tanto sobre o promitente vendedor quanto sobre o promissário comprador,
dependendo das circunstâncias de cada caso concreto.
c) Se ficar comprovado: (i) que o promissário comprador se imitira na posse; e (ii) o condomínio teve
ciência inequívoca da transação, afasta-se a legitimidade passiva do promitente vendedor para responder
por despesas condominiais relativas a período em que a posse foi exercida pelo promissário comprador.

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA

INFORMATIVO 552, STJ - POSSIBILIDADE DE PURGAÇÃO DA MORA MESMO APÓS A CONSOLIDAÇÃO DA PROPRIEDADE EM NOME
DO CREDOR FIDUCIÁRIO.

Na alienação fiduciária de bem imóvel, é possível que ocorra a purgação da mora mesmo após já ter
havido a consolidação da propriedade em nome do credor? Até que momento é possível a purgação? SIM.
MESMO QUE JÁ CONSOLIDADA A PROPRIEDADE DO IMÓVEL DADO EM GARANTIA EM NOME DO CREDOR FIDUCIÁRIO, É

POSSÍVEL A PURGAÇÃO DA MORA. Em verdade, A PURGAÇÃO É ADMITIDA ATÉ A ASSINATURA DO


AUTO DE ARREMATAÇÃO.

Nos contratos de alienação fiduciária de bem imóvel (regido pela Lei 9.514/97) aplica, subsidiariamente, o
Decreto-Lei 70/1966, que prevê o seguinte que “é lícito ao devedor, a qualquer momento, até a assinatura do
auto de arrematação, purgar o débito”.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.462.210-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 18/11/2014 (Info 552).
- O STJ decidiu que é NULA A NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL REALIZADA COM O FIM DE CONSTITUIR EM MORA O
DEVEDOR FIDUCIANTE DE IMÓVEL, quando NA REFERIDA COMUNICAÇÃO CONSTAR NOME DIVERSO DO REAL CREDOR
FIDUCIÁRIO. A notificação em questão produz severas consequências para o devedor, de forma que qualquer
vício em seu conteúdo É HÁBIL A TORNAR NULOS SEUS EFEITOS, PRINCIPALMENTE QUANDO SE TRATA DE ERRO CRASSO,
COMO O QUE HÁ NA TROCA DA PESSOA NOTIFICANTE. STJ. 4ª Turma. REsp 1.172.025-PR, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 7/10/2014 (Info 550).
- Decorrido o prazo de 15 dias sem a purgação da mora, o oficial do Registro de Imóveis certificará esse fato e
promoverá a averbação, na matrícula do imóvel, da consolidação da propriedade em nome do fiduciário
(credor) (§ 7º do art. 26). Em outras palavras, o credor passa a ser o proprietário pleno do imóvel.
- Após ser consolidada a propriedade em nome do fiduciário (credor), este terá o prazo de 30 dias, contados
da data do registro, para promover leilão público para a alienação do imóvel (art. 27, caput). Depois de o bem
ter sido alienado, é lavrado um auto de arrematação.

CONTRATO DE SEGURO

INFORMATIVO 553, STJ - VIA ADEQUADA PARA COBRANÇA DE INDENIZAÇÃO FUNDADA EM CONTRATO DE SEGURO DE
AUTOMÓVEL.

A via adequada para cobrar A INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA FUNDADA EM CONTRATO DE SEGURO DE AUTOMÓVEL É A
AÇÃO DE CONHECIMENTO SOB O RITO SUMÁRIO (e NÃO A AÇÃO EXECUTIVA). Não é possível propor diretamente a
execução nesse caso PORQUE O CONTRATO DE SEGURO DE AUTOMÓVEL NÃO SE ENQUADRA COMO TÍTULO EXECUTIVO
EXTRAJUDICIAL (art. 585 do CPC). Por outro lado, os CONTRATOS DE SEGURO DE VIDA, por serem
dotados de liquidez, certeza e exigibilidade, são TÍTULOS EXECUTIVOS EXTRAJUDICIAIS (art. 585, III), podendo
ser COBRADOS POR MEIO DE AÇÃO DE EXECUÇÃO. STJ. 3ª Turma. REsp 1.416.786-PR, Rel. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, julgado em 2/12/2014 (Info 553).
-Obs.: Os contratos de seguro de VIDA, por serem dotados de liquidez, certeza e exigibilidade, são títulos
executivos extrajudiciais (art. 585, II, CPC).

Cláusulas RCF-V e APP


No momento em que a pessoa celebra um contrato de seguro de veículos, é importante verificar o tipo de
cobertura contratada:
• Se houver apenas a cláusula RCF-V (“Responsabilidade Civil Facultativa de Veículos”): isso significa
que o seguro está se obrigando a cobrir apenas as despesas que o segurado tiver com danos corporais
que forem causados a terceiros, não servindo para danos corporais sofridos pelo próprio condutor do
veículo ou seus passageiros. Em outras palavras, a cláusula “RCF-V” determina que a seguradora
reembolse, até o limite previsto na apólice, as indenizações que o segurado seja obrigado a pagar,
judicial ou extrajudicialmente, por ter provocado prejuízos pessoais ou materiais a outras pessoas de
fora do carro (terceiros).
• Para que o contrato abranja também danos causados ao motorista e demais passageiros do veículo, é
necessário que preveja a cláusula APP (“Acidentes Pessoais de Passageiros”). Por força da cláusula
APP, a seguradora é obrigada a pagar a indenização ao segurado ou aos seus beneficiários na
ocorrência de acidentes pessoais que causem a morte ou a invalidez permanente total ou parcial dos
passageiros do veículo segurado, respeitados os critérios quanto à lotação oficial do veículo e o limite
máximo de indenização por passageiro estipulado na apólice.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.311.407-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 5/3/2015 (Info 560).
Reajuste do valor do prêmio nos contratos de seguro de vida

A cláusula de contrato de seguro de vida que estabelece o aumento do prêmio do seguro de acordo com a
faixa etária mostra-se abusiva quando imposta ao segurado maior de 60 anos de idade e que conte com mais
de 10 anos de vínculo contratual.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.376.550-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 28/4/2015 (Info 561).

Suicídio premeditado

No seguro de vida, se o segurado se suicidar, a seguradora continua tendo obrigação de pagar a indenização?
 Se o suicídio ocorreu ANTES dos dois primeiros anos do contrato: NÃO.
 O beneficiário não terá direito ao capital estipulado quando o segurado se suicida nos primeiros dois
anos de vigência inicial do contrato ou nos dois primeiros anos depois de o contrato ter sido
reiniciado (recondução) depois de um tempo suspenso (art. 798 do CC). Obs: o beneficiário não terá
direito à indenização, mas receberá o valor da reserva técnica já formada, ou seja, terá direito à
quantia que o segurado pagou a título de prêmio para a seguradora. A seguradora será obrigada a
devolver ao beneficiário o montante da reserva técnica já formada mesmo que fique provado que o
segurado premeditou o suicídio.
Se o suicídio ocorreu DEPOIS dos dois primeiros anos do contrato: SIM.
 Se o suicídio ocorrer depois dos dois primeiros anos do contrato, será devida a indenização ainda que
exista cláusula expressa em contrário.
 Obs: é nula a cláusula contratual que exclua a indenização da seguradora em caso de suicídio
ocorrido depois dos dois primeiros anos do contrato (art. 798, parágrafo único). Assim, se o suicídio
ocorre depois dos dois primeiros anos, é devida a indenização ainda que exista cláusula expressa
dizendo que a seguradora não deve indenizar.
Atenção: estão SUPERADAS a Súmula 105 do STF, a Súmula 61 do STJ e o Enunciado 187 da
Jornada de Direito Civil.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.334.005-GO, Rel. originário Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min.
Maria Isabel Gallotti, julgado em 8/4/2015 (Info 564).

LEGITIMIDADE EM AÇÕES ENVOLVENDO CONTRATO DE SEGURO

Terceiro prejudicado não pode ajuizar a ação de indenização apenas contra a seguradora do causador do
dano

Súmula 529-STJ: No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo
terceiro prejudicado direta e exclusivamente em face da seguradora do apontado causador do dano.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 13/05/2015, DJe 18/05/2015.

Quais os principais argumentos utilizados pelo STJ para chegar à conclusão exposta na súmula:
 A obrigação da seguradora de ressarcir os danos sofridos por terceiros pressupõe a responsabilidade
civil do segurado. Em outras palavras, a seguradora só paga o terceiro prejudicado se o segurado teve
“culpa” pelo acidente. Como regra, não se pode reconhecer a responsabilidade civil do segurado
em um processo judicial sem que ele tenha participado, sob pena de ofensa ao devido processo
legal e à ampla defesa.
 A obrigação da seguradora está sujeita a condição suspensiva, que não se implementa pelo
simples fato de ter ocorrido o sinistro, mas somente pela verificação da eventual obrigação civil do
segurado.
 O seguro de responsabilidade civil facultativo não é espécie de estipulação a favor de terceiro alheio
ao negócio. O indivíduo que faz o seguro de veículos não contrata a seguradora para pagar uma
indenização em favor de terceiros. O segurado contrata a seguradora para que esta cubra os prejuízos
que ele, segurado, for obrigado a pagar. Assim, diz-se que quem sofre o prejuízo é o causador do dano
e este prejuízo é “garantido” (pago) pela seguradora.
 O ajuizamento direto e exclusivamente contra a seguradora ofende os princípios do contraditório e da
ampla defesa, pois a ré (seguradora) não teria como defender-se dos fatos expostos na inicial,
especialmente no que tange à descrição e aos detalhes do sinistro (acidente).
 O ajuizamento direto e exclusivamente contra a seguradora inviabiliza, também, que a seguradora
possa discutir no processo eventuais fatos extintivos da cobertura securitária, pois, a depender das
circunstâncias em que o segurado se envolveu no sinistro, poderia a seguradora eximir-se da
obrigação contratualmente assumida. É o caso, por exemplo, do contrato de seguro que diz que se o
segurado estava embriagado a seguradora se isenta da obrigação contratual. Se o segurado não está
na lide, tais discussões não poderão ser suscitadas pela seguradora.

Essa é a explicação da súmula. Se você queria entendê-la, até aqui está bom. No entanto, abaixo vou
aprofundar um pouco mais o tema com dois tópicos importantes.

ASTREINTES

Exequibilidade de multa cominatória de valor superior ao da obrigação principal

A depender do caso concreto, o valor de multa cominatória pode ser exigido em montante superior ao da
obrigação principal.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.352.426-GO, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 5/5/2015 (Info 562).

Principais características da multa cominatória (astreinte)


 Essa multa coercitiva tornou-se conhecida no Brasil pelo nome de “astreinte” em virtude de ser
semelhante (mas não idêntica) a um instituto processual previsto no direito francês e que lá assim é
chamado.
 A finalidade dessa multa é coercitiva, isto é, pressionar o devedor a realizar a prestação. Trata-se de
UMA TÉCNICA JUDICIAL DE COERÇÃO INDIRETA.
 Apresenta um caráter híbrido, possuindo traços de direito material e também de direito processual.
 Não tem finalidade ressarcitória, tanto é que pode ser cumulada com perdas e danos.
 Pode ser imposta pelo juiz de ofício ou a requerimento, na fase de conhecimento ou de execução.
 Apesar de no dia-a-dia ser comum ouvirmos a expressão “multa diária”, essa multa pode ser
estipulada também em meses, anos ou até em horas. O CPC 2015, corrigindo essa questão, não fala
mais em “multa diária”, utilizando simplesmente a palavra “multa”.
 O valor da multa deve ser revertido em favor do credor, ou seja, o destinatário das astreintes é o
autor da demanda (STJ REsp 949.509-RS / art. 537, § 2º do CPC 2015).
A parte beneficiada com a imposição das astreintes somente continuará tendo direito ao valor da multa se
sagrar-se vencedora. Se no final do processo essa parte sucumbir, não terá direito ao valor da multa ou, se já
tiver recebido, deverá proceder à sua devolução.

Em suma, deve-se ter em conta o valor da multa diária inicialmente fixada e não o montante total alcançado
em razão da demora no cumprimento da decisão. Portanto, a fim de desestimular a conduta recalcitrante do
devedor em cumprir decisão judicial, é possível se exigir valor de multa cominatória superior ao montante da
obrigação principal.

JULGAMENTO PARCIAL

(Im) Possibilidade de julgamento parcial de mérito

É válido o julgamento parcial de mérito?


 CPC 1973: NÃO. Não é permitido o julgamento parcial de mérito. Adotou-se a teoria da unidade
estrutural da sentença, segundo a qual não é possível existir mais de uma sentença no mesmo
processo ou na mesma fase processual de conhecimento ou de liquidação.
 CPC 2015: SIM. É permitido o julgamento parcial de mérito. O novo CPC introduziu no sistema
processual civil brasileiro a permissão para que o juiz profira julgamento parcial de mérito (art. 356).

Ex: João ajuizou ação de indenização contra determinada empresa pedindo a condenação da ré ao pagamento
de R$ 100 mil a título de danos emergentes e R$ 200 mil por lucros cessantes.
A empresa apresentou contestação e pediu a realização de perícia para aferir se realmente houve lucros
cessantes e qual seria o seu valor exato. Não foi pedida a realização de instrução probatória no que tange aos
danos emergentes. Sendo permitida sentença parcial de mérito, o juiz poderá cindir o feito e julgar desde logo
o pedido dos danos emergentes, determinando o prosseguimento do feito quanto ao pedido de lucros
cessantes.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.281.978-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 5/5/2015 (Info 562).

Obs1: vários doutrinadores de peso defendem que, mesmo no CPC 1973, a decisão parcial de mérito já seria
admitida com base no art. 273, § 6º. Eles sustentem que o § 6º do art. 273 do CPC não é, propriamente, tutela
antecipada, mas sim uma hipótese de julgamento antecipado parcial da lide. Nesse sentido: Fredie Didier
Júnior, Cássio Scarpinella Bueno, Daniel Mitidiero, Leonardo José Carneiro da Cunha e Joel Dias Figueira
Júnior. Essa corrente, contudo, não foi adotada pelo STJ. Para a Corte, a decisão a que se refere o § 6º do art.
273 do CPC, apesar de ser concedida mediante técnica de cognição exauriente, continua sendo, por opção
legislativa, uma hipótese de tutela antecipada. Sobre o tema, confira o REsp 1.234.887-RJ, Rel. Min. Ricardo
Villas Bôas Cueva, julgado em 19/9/2013, explicado no Info 532. Desse modo, a mudança do CPC possui sim
importantes reflexos práticos.

Obs2: se o juiz proferiu julgamento parcial de mérito na vigência do CPC 1973, tal decisão é equivocada e
deverá ser anulada, ainda que analisada após a entrada em vigor do CPC 2015. A entrada em vigor do novo
CPC não convalida a decisão parcial de mérito eventualmente prolatada no sistema anterior. Isso porque
incide o princípio do tempus regit actum.
DPVAT
Prazo prescricional para cobrança ou complementação de valor do seguro DPVAT (obs: nem todos os
concursos cobram esse tema; verifique seu edital para não estudar matérias desnecessárias)
Qual é o prazo que o beneficiário possui para ajuizar ação cobrando da seguradora a indenização do DPVAT
que não lhe foi paga? Qual é o termo inicial? A ação de cobrança do seguro obrigatório DPVAT prescreve em 3
anos (Súmula 405-STJ e art. 206, § 3º, IX, do CC). O termo inicial do prazo prescricional é a data em que o
segurado teve ciência inequívoca do caráter permanente da invalidez ou da morte.
E se o beneficiário recebeu apenas uma parte do seguro, mas não concorda com o valor e quer o pagamento
do restante? Ex: sofreu invalidez permanente, recebeu R$ 10 mil, mas acha que tem direito a R$ 13.500,00.
Qual é o prazo neste caso? O prazo de prescrição para o recebimento da complementação do seguro DPVAT
também é trienal. Não há motivo para que o prazo da ação pedindo o complemento seja diferente daquele
previsto para que se pleiteie o todo. O prazo prescricional começa no dia que foi realizado o pagamento
administrativo que o beneficiário considera que tenha sido menor que o devido. Em suma, a pretensão de
cobrança e a pretensão a diferenças de valores do seguro DPVAT prescrevem em três anos, sendo o termo
inicial, no último caso, o pagamento administrativo considerado a menor. STJ. 2ª Seção. REsp 1.418.347-MG,
Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 8/4/2015 (recurso
Cessão de crédito relativo ao seguro DPVAT

É possível a cessão de crédito relativo à indenização do seguro DPVAT decorrente de morte.


STJ. 3ª Turma. REsp 1.275.391-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 19/5/2015 (Info 562).

Termo inicial da atualização monetária das indenizações relativas ao seguro DPVAT

A incidência de atualização monetária nas indenizações por morte ou invalidez do seguro DPVAT, prevista no
§ 7º do art. 5º da Lei 6194/74, redação dada pela Lei 11.482/2007, opera- se desde a data do evento danoso.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.483.620-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 27/5/2015 (Info 563).

Foro competente para ação discutindo o DPVAT


Súmula 540-STJ: Na ação de cobrança do seguro DPVAT, constitui faculdade do autor escolher entre os foros
do seu domicílio, do local do acidente ou ainda do domicílio do réu.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 10/06/2015, Dje 15/06/2015.

Ilegitimidade do espólio para pleitear indenização do DPVAT no caso de morte da vítima

João faleceu em um acidente de trânsito, deixando esposa e filhos. Foi aberto inventário, tendo sido nomeado
seu irmão como inventariante. O espólio de João ajuizou ação cobrando o pagamento da indenização do
DVPAT. Agiu corretamente o espólio de João? O espólio do morto poderá cobrar a indenização do DPVAT?
NÃO. O espólio, ainda que representado pelo inventariante, não possui legitimidade ativa para ajuizar ação de
cobrança do seguro obrigatório (DPVAT) em caso de morte da vítima no acidente de trânsito.
Segundo a Lei do DPVAT, o valor indenizatório deve ser pago metade ao cônjuge não separado judicialmente
e o restante aos herdeiros da vítima, segundo a ordem de vocação hereditária (art. 4º da Lei 6.194/1974).
Desse modo, depreende-se que o valor oriundo do DPVAT não integra o patrimônio da vítima de acidente de
trânsito. Em outras palavras, o valor da indenização não é um crédito da vítima falecida. Não integra o
patrimônio deixado pelo morto.
O valor da indenização do DPVAT, em caso de morte, passa diretamente para os beneficiários (cônjuge
supérstite e demais herdeiros).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.419.814-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 23/6/2015 (Info 565).

FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA

INFORMATIVO 552, STJ - NECESSIDADE DE INSTRUÇÃO PROBATÓRIA PARA COMPROVAR A FILIAÇÃO SOCIOATIVA
Maria e Francisca eram um casal homoafetivo. Maria registrou Carla como sua filha, sendo a criança criada
por Maria e Francisca durante vários anos, como uma família. Na época em que Carla nasceu, a união
homoafetiva não era protegida pelo Direito brasileiro, razão pela qual em seu registro de nascimento
constava apenas o nome de Maria como sendo sua mãe, não havendo qualquer referência a Francisca. Apesar
disso, para Carla, ela sempre teve duas mães, Maria e Francisca, que exerciam na prática esse papel. Passados
mais alguns anos, Maria e Francisca romperam a união que mantinham e Francisca casou-se com Ricardo.
Quando Francisca faleceu, Carla ingressou com ação judicial pedindo que fosse reconhecido que a falecida foi
sua mãe socioafetiva, de forma que constasse em seu registro civil duas mães: Maria e Francisca. O juiz
afirmou que não havia necessidade de produzir prova em audiência e, portanto, fez o julgamento antecipado
da lide, nos termos do art. 330, I, do CPC. Na sentença, o magistrado julgou improcedente o pedido da autora
alegando que não ficou demonstrado nos autos que a suposta mãe socioafetiva teve, efetivamente, a
pretensão de “adotar” a requerente em conjunto com a mãe registral. PARA O STJ, O MAGISTRADO COMETEU
UM ERRO PROCESSUAL, POIS NÃO ERA POSSÍVEL, NO CASO CONCRETO, JULGAR IMPROCEDENTE O PEDIDO DE
RECONHECIMENTO POST MORTEM DA MATERNIDADE SOCIOAFETIVA SEM QUE HOUVESSE SIDO PERMITIDA A REALIZAÇÃO
DE INSTRUÇÃO PROBATÓRIA. Em outras palavras, NÃO ERA HIPÓTESE DE JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE
(ART. 330, I, DO CPC). O magistrado, ao não permitir que a autora demonstrasse os fatos alegados,
promoveu cerceamento de defesa. Vale ressaltar que o pleito da autora para ter “dupla maternidade” é um
pedido juridicamente possível. STJ. 3ª Turma. REsp 1.328.380-MS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado
em 21/10/2014 (Info 552).
- Para que seja reconhecida a filiação socioafetiva, é necessário que fiquem demonstradas duas circunstâncias
bem definidas:
A) VONTADE CLARA E INEQUÍVOCA DO APONTADO PAI OU MÃE SOCIOAFETIVO DE SER RECONHECIDO(A), VOLUNTÁRIA E
JURIDICAMENTE COMO TAL (DEMONSTRAÇÃO DE CARINHO, AFETO, AMOR); E

B) CONFIGURAÇÃO DA DENOMINADA “POSSE DE ESTADO DE FILHO”, COMPREENDIDO PELA DOUTRINA COMO A PRESENÇA (NÃO
CONCOMITANTE) DE TRACTATUS (TRATAMENTO, DE PARTE À PARTE, COMO PAI/MÃE E FILHO); NOMEN (A PESSOA TRAZ
CONSIGO O NOME DO APONTADO PAI/MÃE); E FAMA (RECONHECIMENTO PELA FAMÍLIA E PELA COMUNIDADE DE RELAÇÃO DE
FILIAÇÃO), QUE NATURALMENTE DEVE APRESENTAR-SE DE FORMA SÓLIDA E DURADOURA.

Assim, tais requisitos precisam ser provados nos autos, o que pode ser feito por qualquer meio idôneo e
NÃO SE PODE SUBTRAIR DA PARTE A OPORTUNIDADE DE COMPROVAR
legítimo de prova.
SUAS ALEGAÇÕES.

INTERDIÇÃO

INFORMATIVO 553, STJ - DESNECESSIDADE DE NOMEAÇÃO DE CURADOR ESPECIAL SE A INTERDIÇÃO NÃO FOI PROPOSTA PELO
MP.
Importante!!! A curatela é um encargo (múnus) imposto a um indivíduo (chamado de “curador”) por meio do
qual ele assume o compromisso judicial de cuidar de uma pessoa (“curatelado”) que, apesar de ser maior de
idade, possui uma incapacidade prevista no art. 1.767 do CC. Para que a curatela seja instituída, é necessária a
instauração de um processo judicial por meio de uma ação de interdição.
É necessário que o juiz nomeie curador especial ao interditando?

• SE A AÇÃO DE INTERDIÇÃO FOR PROPOSTA PELO MP: SIM. O juiz deverá nomear curador à lide (curador
especial), nos termos do art. 1.179 do CPC.

• SE A AÇÃO DE INTERDIÇÃO FOR PROPOSTA POR OUTRO LEGITIMADO: NÃO é necessária


a nomeação de curador à lide porque o próprio MP já irá fazer a defesa dos interesses do interditando (art.
1.770 do CC).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.099.458-PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 2/12/2014 (Info 553)

- Obs.: NÃO CONFUNDIR O CURADOR DO INTERDITANDO, que é nomeado ao final, caso a ação seja julgada
procedente (art. 1.183, parágrafo único do CPC), com O CURADOR À LIDE (curador especial), que é
designado logo no início da ação (art. 1.179). Apesar do nome ser parecido, são figuras completamente
diferentes. O CURADOR À LIDE É UM INSTITUTO PROCESSUAL, que SÓ EXISTE ENQUANTO PERDURAR O
PROCESSO. O CURADOR DO INTERDITANDO É UMA FIGURA DE DIREITO MATERIAL, que VAI SURGIR CASO A
AÇÃO DE INTERDIÇÃO SEJA JULGADA PROCEDENTE.

CONTRATO DE FIANÇA

ILEGITIMIDADE ATIVA DO FIADOR PARA PLEITEAR EM JUÍZO A REVISÃO DO CONTRATO PRINCIPAL

Pedro faz um contrato de mútuo bancário, ou seja, toma dinheiro emprestado de um banco. João aceita figurar
no contrato como fiador. Depois de algum tempo, João vê que os juros bancários são muito altos e,
preocupado com eventual inadimplência, resolve ingressar, em nome próprio, com uma ação contra o Banco
pedindo a revisão do contrato sob a alegação de que os juros são abusivos e, por isso, merecem ser
reduzidos. João tem legitimidade para propor essa demanda?
NÃO. O fiador de mútuo bancário NÃO tem legitimidade para, exclusivamente e em nome próprio, pleitear
em juízo a revisão e o afastamento de cláusulas e encargos abusivos constantes do contrato principal.
O FIADOR ATÉ POSSUI INTERESSE DE AGIR, mas falta-lhe LEGITIMAÇÃO , já que ele NÃO É TITULAR DO DIREITO
MATERIAL QUE SE PRETENDE TUTELAR EM JUÍZO (não foi ele quem assinou o contrato de mútuo).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.178.616-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 14/4/2015 (Info 560).

Cláusula que prevê prorrogação da fiança em caso de prorrogação do contrato principal

É válida a cláusula que prevê a prorrogação automática da fiança em caso de prorrogação do contrato
principal?
SIM. É lícita (e, portanto, válida) cláusula em contrato de mútuo bancário que preveja expressamente que a
fiança prestada prorroga-se automaticamente com a prorrogação do contrato principal.
Em regra, a fiança não se estende além do período de tempo previsto no contrato. Justamente por isso, para
que a fiança seja prorrogada, é preciso a concordância expressa do fiador. Sobre o tema, o STJ editou,
inclusive, um enunciado: Súmula 214-STJ: O fiador na locação não responde por obrigações resultantes de
aditamento ao qual não anuiu.
No entanto, o STJ decidiu que é válido que o contrato preveja uma cláusula dizendo que, em caso de
prorrogação do contrato principal, a fiança (pacto acessório) também será prorrogada. Havendo expressa e
clara previsão contratual da manutenção da fiança, em caso de
prorrogação do contrato principal, o pacto acessório também é prorrogado automaticamente,
seguindo a sorte do principal.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.253.411-CE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/6/2015 (Info 565). STJ. 3ª
Turma. AgRg no AREsp 731.315/RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 03/09/2015.
Observação Final:
Ressalte-se que, no caso concreto acima explicado, a avença principal não envolvia relação contratual
de consumo, pois cuidava-se de mútuo mediante o qual se obteve capital de giro para o exercício de
atividade empresarial. Existe, contudo, um precedente da 4ª Turma aplicando o mesmo
entendimento para os casos de contrato de consumo sob o argumento de que não se trata de cláusula
abusiva (art. 51 do CDC) (STJ. 4ª Turma. REsp 1.374.836-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
3/10/2013. Info 534).

USUCAPIÃO
IMPOSSIBILIDADE DE DECLARAÇÃO DE OFÍCIO DA USUCAPIÃO

Alguns autores afirmam que a USUCAPIÃO também pode ser chamada de prescrição aquisitiva. Assim,
existiriam em nosso ordenamento jurídico, duas formas de prescrição:
• Prescrição extintiva (prescrição propriamente dita).
• Prescrição aquisitiva (usucapião).
O § 5º do art. 219 do CPC 1973 prevê que “o juiz pronunciará, de ofício, a prescrição”.
Essa regra do art. 219, § 5º do CPC 1973 aplica-se apenas para a prescrição extintiva ou também para a
prescrição aquisitiva (usucapião)? O juiz pode reconhecer, de ofício, a usucapião? Ex: Pedro, mesmo sem
ser proprietário, está morando em um imóvel há mais de 20 anos sem ser incomodado por ninguém;
determinado dia, João (que figura no registro de imóveis como proprietário do bem) ajuíza ação de
reintegração de posse; o juiz, mesmo sem que Pedro alegue, poderá declarar que houve usucapião (prescrição
aquisitiva)?
NÃO. O § 5º do art. 219 do CPC 1973 não autoriza a declaração, de ofício, da usucapião. Em outras palavras,
o juiz não pode reconhecer a usucapião a não ser que haja requerimento da parte. Não se aplica o § 5º do art.
219 do CPC 1973 à usucapião.
O disposto no § 5º do art. 219 está intimamente ligado às causas extintivas, conforme expressamente dispõe o
art. 220.
Além disso, a prescrição extintiva e a usucapião são institutos diferentes, sendo inadequada a aplicação da
disciplina de um deles frente ao outro, uma vez que a expressão “prescrição aquisitiva” como sinônima de
usucapião, tem razões mais ligadas a motivos fáticos/históricos.
Essa conclusão acima exposta persiste com o CPC 2015? SIM. Mesmo com o novo CPC, o juiz
continuará sem poder declarar de ofício a usucapião.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.106.809-RS, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão Min. Marco Buzzi,
julgado em 3/3/2015 (Info 560).

Usucapião
Usucapião é...
• um instituto jurídico por meio do qual a pessoa que fica na posse de um bem (móvel ou imóvel)
• por determinados anos
• agindo como se fosse dono
• adquire a propriedade deste bem ou outros direitos reais a ele relacionados (exs: usufruto, servidão)
• desde que cumpridos os requisitos legais.

Relação entre a usucapião e a prescrição


Alguns autores, especialmente mais antigos, afirmam que a usucapião também pode ser chamada de
prescrição aquisitiva.
Assim, existiriam em nosso ordenamento jurídico duas formas de prescrição: a extintiva e a aquisitiva.
o Prescrição extintiva (prescrição propriamente dita): faz com que a pessoa perca a pretensão de defender um
direito em virtude de ter sido negligente e não ter exercido essa pretensão no prazo previsto na lei. Ex: o
indivíduo é credor de alguém, porém demora mais que 5 anos para exigir o pagamento da dívida.
o Prescrição aquisitiva: faz com que a pessoa adquira um determinado direito em virtude de ter ficado na posse
daquele bem como se fosse o dono durante alguns anos, período no qual o proprietário original manteve-se
inerte e não questionou essa posse. A prescrição aquisitiva é a chamada de usucapião.

Fundamento:
O § 5º do art. 219 do CPC 1973 não estabeleceu qualquer distinção em relação à espécie de prescrição. Sendo
assim, num primeiro momento, até se poderia cogitar ser possível ao juiz declarar de ofício a aquisição
mediante usucapião de propriedade. Entretanto, em uma análise mais calma, percebe-se que não se pode
chegar a essa conclusão.
Primeiro, porque o disposto no § 5º do art. 219 está intimamente ligado às causas extintivas, conforme
expressamente dispõe o art. 220.
Segundo, porque a prescrição extintiva e a usucapião são institutos diferentes, sendo inadequada a aplicação
da disciplina de um deles frente ao outro, uma vez que a expressão “prescrição aquisitiva” como sinônima de
usucapião, tem razões mais ligadas a motivos fáticos/históricos do que a contornos meramente temporais.
Essa diferenciação é imprescindível, sob pena de ocasionar insegurança jurídica, além de violação aos
princípios do contraditório e ampla defesa, pois, no processo de usucapião, o direito de defesa assegurado ao
confinante é impostergável, eis que lhe propicia oportunidade de questionar os limites oferecidos ao imóvel
usucapiendo.
Como simples exemplo, se assim fosse, nas ações possessórias o demandante poderia obter um julgamento de
mérito, pela procedência, antes mesmo da citação da outra parte, afinal, o magistrado haveria de reconhecer a
prescrição (na hipótese, a aquisitiva-usucapião) já com a petição inicial, no primeiro momento.
Consequentemente, a outra parte teria eliminada qualquer possibilidade de defesa do seu direito de
propriedade constitucionalmente assegurado, sequer para alegar uma eventual suspensão ou interrupção
daquele lapso prescricional.
Ademais, conforme a doutrina, o juiz, ao sentenciar, não pode fundamentar o decidido em causa não
articulada pelo demandante, ainda que por ela seja possível acolher o pedido do autor. Trata-se de decorrência
do dever de o juiz decidir a lide “nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões, não
suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte” (art. 128 do CPC). Ainda de acordo com a doutrina,
essa vedação, em razão do princípio da igualdade das partes no processo, aplica-se não só ao demandado,
mas, também, ao réu, de sorte que o juiz não poderia reconhecer ex officio de uma exceção material em prol
do réu, como por exemplo, a exceção de usucapião.

COMPRA E VENDA

PREVALÊNCIA DO VALOR ATRIBUÍDO PELO FISCO PARA APLICAÇÃO DO ART. 108 DO CC

Importante!!!

A compra e venda de bens IMÓVEIS pode ser feita por meio de contrato particular ou é necessário escritura
pública?
Em regra: é necessário escritura pública (art. 108 do CC).
Exceção: a compra e venda pode ser feita por contrato particular (ou seja, sem escritura pública) se o valor do
bem imóvel alienado for inferior a 30 salários-mínimos.
Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que
visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a
trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.
Para fins do art. 108, deve-se adotar o preço dado pelas partes ou o valor calculado pelo Fisco? O valor
calculado pelo Fisco. O art. 108 do CC fala em valor do imóvel (e não em preço do negócio). Assim, havendo
disparidade entre ambos, é o valor do imóvel calculado pelo Fisco que deve ser levado em conta para verificar
se será necessária ou não a elaboração da escritura pública. A avaliação feita pela Fazenda Pública para fins de
apuração do valor venal do imóvel é baseada em critérios objetivos, previstos em lei, os quais admitem aos
interessados o conhecimento das circunstâncias consideradas na formação do quantum atribuído ao bem.
Logo, trata-se de um critério objetivo e público que evita a ocorrência de fraudes.
Obs: está superado o Enunciado 289 das Jornadas de Direito Civil do CJF.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.099.480-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 2/12/2014 (Info 562).

CONDOMÍNIO DE FATO

COBRANÇA DE TAXA DE MANUTENÇÃO EM CONDOMÍNIO DE FATO


Importante!!!

As taxas de manutenção criadas por associações de moradores não obrigam os não associados ou que a elas
não anuíram.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.280.871-SP e REsp 1.439.163-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão
Min. Marco Buzzi, julgados em 11/3/2015 (recurso repetitivo) (Info 562)

Condomínio de fato
O custo e a lista de exigências necessárias para se constituir um condomínio edilício é muito grande,
especialmente em se tratando de condomínio de casas, devendo ser observados os ditames da Lei
n. 4.591/64. Em virtude dessa imensa burocracia, se formos pensar em 20 anos atrás, iremos recordar que
havia pouquíssimos condomínios edilícios de casas (na linguagem popular: “condomínios fechados” de casas).
Ou a pessoa morava em um bairro residencial (aberto, sem condomínio) ou, então, em condomínios edilícios
de prédios (chamados de condomínio edilício horizontal).
Ocorre que a violência no país cresceu bastante, o que fez com que as incorporadoras e imobiliárias
passassem a oferecer aos consumidores cada vez mais opções de condomínios edilícios de casas
(condomínios “fechados” de casas), com guarita, vigilantes armados, área de lazer etc. Tais condomínios, no
entanto, são em geral muito caros e inacessíveis a boa parte da população.
A fim de se proteger da violência, os moradores de alguns bairros residenciais começaram a se reunir e a
constituir associações de bairros, recolhendo contribuições dos habitantes daquele conjunto e, com o
dinheiro arrecadado, fizeram cancelas nas ruas, contrataram seguranças particulares e aquilo que era um
bairro residencial, com acesso livre para qualquer pessoa, transformou-se em um “condomínio fechado” de
casas, com acesso restrito por meio de controle de cancela e portaria.
A ideia parece excelente. O problema é que essa “transformação” é feita sem a observância da Lei do
parcelamento do solo urbano (Lei n. 6.766/79), do Estatuto das Cidades (Lei n. 10.257/2001) e do plano
diretor do Município, já que as exigências burocráticas são imensas e praticamente impossíveis de serem
atendidas por um simples grupo de moradores.
Além do que, no condomínio edilício de casas, o incorporador compra um terreno e as ruas ali existentes são
privadas (particulares), enquanto que no “fechamento” de um bairro residencial, as casas são privadas, mas
as ruas são públicas (bens de uso comum do povo), o que torna ainda mais questionável a regularidade desse
“fechamento”.
Tais bairros que se transformam em “condomínios fechados”, por não atenderem a legislação, não existem
juridicamente, sendo por essa razão chamados de “condomínios de fato”.
Diversos Municípios têm combatido essa prática e inúmeras ações civis públicas ajuizadas pelo Ministério
Público têm sido propostas com o objetivo de acabar com esses “condomínios de fato”, retirando as cancelas
e reabrindo o livre acesso às ruas.

CONDOMÍNIO

Direito de preferência na alienação de imóvel em estado de indivisão


O condômino que desejar alienar a fração ideal de bem imóvel divisível em estado de indivisão deverá dar
preferência na aquisição ao comunheiro.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.207.129-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/6/2015 (Info 564).
No entanto, quando o dispositivo menciona coisa indivisível, o que ele quer dizer é que o bem deve estar em
"estado de indivisão". Assim, pouco importa se o bem é naturalmente divisível (ex: uma fazenda) ou
indivisível (ex: um boi vivo). O que interessa é se esse bem encontra-se em "estado de indivisão".
Desse modo, não se deve interpretar o art. 504 do CC de forma literal (gramatical). É necessária uma
interpretação teleológica. Ao conceder o direito de preferência aos demais condôminos, o legislador
pretendeu conciliar os objetivos particulares do vendedor com os interesses dos demais coproprietários, já
que é sempre um inconveniente fazer com que um estranho passe a ser também proprietário do bem. O
melhor caminho é que a propriedade se consolide nas mãos de uma só ou de poucas pessoas.

Portanto, se o imóvel encontra-se em "ESTADO DE INDIVISÃO" (o que acontece nos casos de


condomínio), apesar de ser ele divisível, deve-se reconhecer o direito de preferência do condômino que
pretenda adquirir o quinhão do comunheiro, desde que preenchidos os demais requisitos legais.

TAXA DE JUROS NOS CONTRATOS BANCÁRIOS

Impossibilidade de se comprovar a taxa de juros efetivamente contratada e adoção


da taxa média de mercado

Súmula 530-STJ: Nos contratos bancários, na impossibilidade de comprovar a taxa de juros efetivamente
contratada - por ausência de pactuação ou pela falta de juntada do instrumento aos autos -, aplica-se a taxa
média de mercado, divulgada pelo Bacen, praticada nas operações da mesma espécie, salvo se a taxa
cobrada for mais vantajosa para o devedor.

JUROS
Capitalização de juros e instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional

Súmula 539-STJ: É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual em contratos
celebrados com instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir de 31/3/2000 (MP 1.963-
17/00, reeditada como MP 2.170-36/01), desde que expressamente pactuada.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 10/06/2015, Dje 15/06/2015.

Taxa de juros de contrato bancário

Súmula 541-STJ: A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da
mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada. STJ. 2ª Seção. Aprovada em
10/06/2015, Dje 15/06/2015.

SUCESSÃO DO CÔNJUGE

Cônjuge supérstite casado em regime de separação convencional e sucessão "causa mortis"


O cônjuge, qualquer que seja o regime de bens adotado pelo casal, é herdeiro necessário (art. 1.845 do CC).
No regime de separação convencional de bens, o cônjuge sobrevivente concorre com os descendentes do
falecido. A lei afasta a concorrência apenas quanto ao regime da separação legal de bens previsto no art.
1.641 do CC.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.382.170-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha,
julgado em 22/4/2015 (Info 562).

Se a pessoa morrer e for casada, o cônjuge terá direito à herança? O cônjuge é herdeiro?
SIM. O cônjuge é herdeiro necessário (art. 1.845 do CC).

O cônjuge será considerado herdeiro necessário mesmo que ele e o falecido fossem casados sob o regime
da separação de bens?
SIM. O cônjuge, qualquer que seja o regime de bens adotado pelo casal, é herdeiro necessário (art. 1.845).

Exceção:
O cônjuge não será herdeiro se, quando houve a morte, o casal estava separado, nos termos do art. 1.830 do
CC:
Art. 1.830. Somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge sobrevivente se, ao tempo da morte do outro, não estavam
separados judicialmente, nem separados de fato há mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se
tornara impossível sem culpa do sobrevivente.

Esqueça a exceção. Voltemos à regra (o casal não estava separado, ou seja, continua junto). O cônjuge irá
herdar se o falecido deixou descendentes?
Depende. Aí termos que analisar o regime de bens. A regra está no art. 1.829, I, do CC: Art. 1.829. A sucessão
legítima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido
no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo
único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens
particulares;

Esse inciso é muito confuso e mal redigido, o que gera bastante polêmica na doutrina e jurisprudência. O que
se pode extrair dele é o seguinte: o cônjuge é herdeiro necessário, mas há situações em que a lei deu primazia
(preferência) para os descendentes do morto. Assim, foram previstos alguns casos em que o herdeiro, a
depender do regime de bens, não irá ter direito à herança, ficando esta toda com os descendentes. Vejamos:

I – Situações em que o cônjuge herda em II – Situações em que o cônjuge não herda em


concorrência com os descendentes concorrência com os descendentes
Regime da comunhão parcial de bens, Regime da comunhão parcial de bens,
se existirem bens particulares do falecido. se não havia bens particulares do falecido.
Regime da separação convencional de bens (é aquela Regime da separação legal (obrigatória) de bens (é
que decorre de pacto antenupcial). aquela prevista no art. 1.641 do CC).
Regime da comunhão universal de bens.

Observação importante para fins de concurso: o fato de o cônjuge não ter direito à herança, se existirem
descendentes do falecido e dependendo do tipo de regime de bens, não faz com que ele (cônjuge) perca sua
qualidade de herdeiro necessário. Ele continua sendo chamado de “herdeiro necessário” mesmo que,
eventualmente, no caso concreto, não venha a ter direito à herança. Chamo atenção para isso porque é o
entendimento do STJ e pode ser cobrado na prova. Veja o que disse o Min. João Otávio de Noronha:
“E a norma contida no art. 1.829, I, do mesmo codex não altera essa realidade. O que ali está definido são as
situações em que o herdeiro necessário cônjuge concorre com o herdeiro necessário descendente. Aí, sim, a
lei estabelece que, a depender do regime de bens adotado, tais herdeiros necessários concorrem ou não
entre si aos bens da herança. E percebam: a lei não afasta a condição de herdeiro necessário do cônjuge nos
casos em que não admite a concorrência; simplesmente atribui ao descendente a primazia na ordem da
vocação hereditária. (...)”. (REsp 1.382.170-SP).

Qual é a justificativa do legislador para que o herdeiro não concorra com os descendentes nas situações do
quadro II?
Segundo aponta a doutrina, o objetivo foi evitar que o cônjuge tivesse direito à meação e também à
herança a mesmo tempo, fazendo com que ele ficasse em uma situação de muita vantagem em relação aos
descendentes. Em outras palavras, havendo descendentes, o legislador não quis que o cônjuge supérstite
(sobrevivente) fosse, ao mesmo tempo, meeiro e herdeiro.
Veja abaixo a razão em relação a cada um dos regimes:

Comunhão universal
Se o casal é casado no regime da comunhão universal, isso significa que, quando a pessoa morre, seu cônjuge
tem direito à meação, ou seja, metade dos bens do falecido já pertencem obrigatoriamente ao cônjuge
supérstite. A outra metade é que será a herança.
Ora, o legislador pensou o seguinte: “se o cônjuge já vai ter direito à metade dos bens pelo fato de ser
meeiro, não é justo que ele também tenha parte da outra metade em prejuízo dos descendentes; vamos
excluir o cônjuge da herança para que ela fique toda para os descendentes.”

Comunhão parcial
Assim, se ele era casado no regime da comunhão parcial de bens, em regra, o cônjuge não terá direito à
herança porque o cônjuge já terá direito à meação (metade dos bens). O cônjuge só terá direito à herança
quanto aos bens que o falecido deixar e que eram suas coisas particulares. Isso porque os bens particulares
do falecido não integram o conceito de “meação”. Logo, tais bens particulares serão herdados tanto pelo
cônjuge como pelos descendentes (eles dividirão/concorrerão).

Separação legal (obrigatória)


O regime da separação legal (obrigatória) é aquele no qual a lei impõe a sua adoção pelo fato de as pessoas
estarem casando em determinadas situações em que o legislador considerou “arriscadas” ao patrimônio de
um dos nubentes. Tais hipóteses estão previstas no art. 1.641 do CC. Por isso, a lei impõe que os patrimônios
fiquem separados.
Pensando nisso, o legislador entendeu que, se tais patrimônios deverão ficar separados quando em vida, é
natural que eles também fiquem separados quando houver a morte do(a) marido/mulher e existirem
descendentes.

E o regime da participação final nos aquestos?


Houve uma falha do legislador, que não previu como fica a sucessão do cônjuge em caso do regime da
participação final nos aquestos. Diante disso, a doutrina majoritária afirma que deverá ser aplicada, por
analogia, a mesma regra da comunhão parcial de bens. Assim, em regra, o cônjuge não herdará (porque ele já
irá receber a meação), salvo se houver bens particulares. Existindo bens particulares, ele terá direito de
participar da herança desses bens particulares. Existe um enunciado do CJF nesse sentido:

E se o falecido morrer e não tiver descendentes?


Aí teremos que analisar os demais incisos do art. 1.829. Resumindo:
 Se o falecido tiver deixado descendentes: o cônjuge supérstite poderá ou não concorrer com eles na
divisão da herança (teremos que analisar o regime de bens).
 Se o falecido não tiver deixado descendentes, mas houver ascendentes: o cônjuge supérstite irá
concorrer com eles (não importa mais o regime de bens).
 Se o falecido não tiver deixado nem descendentes nem ascendentes: o cônjuge supérstite irá ficar
com toda a herança para si (não importa mais o regime de bens).
 Se o falecido não tiver deixado nem descendentes nem ascendentes nem cônjuge: a herança ficará
com os colaterais até 4º grau.
 Se o falecido não tiver deixado nem descendentes nem ascendentes nem cônjuge nem colaterais até
o 4º grau: a herança será declarada vacante (vaga) e passará ao patrimônio do Município (ou DF).

Sucessão do cônjuge em concorrência com os descendentes e regime da comunhão parcial

O cônjuge irá herdar se o falecido deixou descendentes?


Depende. Para responder a isso deveremos analisar o regime de bens (art. 1.829, I, do CC).

Se o cônjuge era casado sob o regime da comunhão parcial de bens e o falecido deixou
descendentes, o cônjuge terá direito à herança?
Se o falecido NÃO deixou bens particulares: o cônjuge sobrevivente não terá direito à herança. Vale
ressaltar, no entanto, que ele, como cônjuge, já tem direito à metade desses bens por ser meeiro.
Ex: João morreu e deixou quatro casas de igual valor; João não deixou bens particulares; Maria (esposa de
João) terá direito a duas casas por ser meeira; os filhos de João herdarão as outras duas casas; Maria não terá
direito à herança.

Se o falecido deixou bens particulares: tais bens particulares serão herdados tanto pelo cônjuge como pelos
descendentes (eles dividirão/concorrerão).
Ex: João morreu e deixou quatro casas de igual valor; duas dessas casas eram bens comuns do casal (casas “A”
e “B”); as duas outras eram bens particulares de João (casas “C” e “D”, que ele possuía em seu nome mesmo
antes de se casar); Maria (esposa de João) terá direito a uma casa (ex: “A”) por ser meeira (a meeira tem
direito a metade dos bens comuns); os filhos de João herdarão sozinhos (sem a participação de Maria) a casa
”B”; os filhos de João, em concorrência com Maria, herdarão também as casas “C” e “D” (bens particulares de
João).

O entendimento do STJ está em harmonia com o enunciado da Jornada de Direito Civil:


Enunciado 270-CJF: O art. 1.829, inciso I, só assegura ao cônjuge sobrevivente o direito de
concorrência com os descendentes do autor da herança quando casados no regime da
separação convencional de bens ou, se casados nos regimes da comunhão parcial ou
participação final nos aquestos, o falecido possuísse bens particulares, hipóteses em que a
concorrência restringe-se a tais bens, devendo os bens comuns (meação) ser partilhados
exclusivamente entre os descendentes.
Resumindo: o cônjuge sobrevivente, casado sob o regime de comunhão parcial de bens, somente concorrerá
com os descendentes do cônjuge falecido com relação aos bens particulares eventualmente constantes do
acervo hereditário.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.368.123-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão Min. Raul Araújo, julgado em
22/4/2015 (Info 563).

SUCESSÃO CAUSA MORTIS

Responsabilidade dos herdeiros pelo pagamento de dívida divisível do autor da herança

Em execução de dívida divisível do autor da herança ajuizada após a partilha, cada herdeiro beneficiado pela
sucessão responde na proporção da parte que lhes coube na herança.
Ex: João faleceu e deixou como únicos herdeiros seus cinco filhos. O patrimônio deixado por João foi
equivalente a R$ 1 milhão, tendo cada filho herdado a quota parte de 20% desse valor. Depois de ter sido
feito o inventário e a partilha dos bens, apareceu Mário cobrando uma dívida de R$ 500 mil da qual João era
devedor. Mário terá que ingressar com a execução contra os cinco herdeiros e cada um responderia por 20%
da dívida (proporcional à parte que coube a cada um). Logo, como a dívida total é R$ 500 mil, cada herdeiro
somente poderia ser condenado a pagar, no máximo, R$ 100 mil.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.367.942-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/5/2015 (Info 563).

COLAÇÃO DE BENS
Direito de o herdeiro exigir a colação mesmo que ainda não concebido no momento da doação

Importante!!!

O filho do morto tem o direito de exigir de seus irmãos a colação dos bens que estes receberam via doação
a título de adiantamento da legítima, ainda que sequer tenha sido concebido ao tempo da liberalidade.
Para efeito de cumprimento do dever de colação, É IRRELEVANTE SE O HERDEIRO NASCEU ANTES OU APÓS A
DOAÇÃO, NÃO HAVENDO TAMBÉM DIFERENÇA ENTRE OS DESCENDENTES, se são eles irmãos germanos ou unilaterais
ou se supervenientes à eventual separação ou divórcio do doador.
Ex: em 2007, João doou todo o seu patrimônio (casas, apartamentos, carros etc.) para seus três filhos (Hugo,
Tiago e Luis). Em 2010, João teve um novo filho (João Jr.), fruto de um relacionamento com sua secretária. Em
2012, João faleceu. Foi aberto inventário de João e, João Jr., o caçula temporão, representado por sua mãe,
habilitou-se nos autos e ingressou com incidente de colação, distribuído por dependência nos autos do
inventário, requerendo que todos os bens recebidos em doação por Hugo, Tiago e Luis fossem colacionados
(devolvidos) para serem partilhados. Os donatários (Hugo, Tiago e Luis) contestaram o pedido afirmando que
João Jr. ainda não havia nascido e sequer tinha sido concebido ao tempo das doações, o que afastaria o seu
interesse em formular pedido de colação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.298.864-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/5/2015 (Info 563).

Conceito de colação
Colação
é...
- o dever imposto pelo Código
Civil
- aos herdeiros necessários do
falecido
- no sentido de que, se eles receberam alguma doação do falecido quando este ainda era
vivo,
- serão obrigados a trazer de volta para o monte esses
bens
- a fim de que, reunido todo o patrimônio que pertencia ao
morto,
- ele seja partilhado entre os herdeiros na forma prevista na
lei.

PESSOAS JURÍDICAS
Dissolução de sociedade de advogados

Na avaliação e na partilha de bens em processo de dissolução de sociedade de advogados, não podem ser
levados em consideração elementos típicos de sociedade empresária, tais quais bens incorpóreos, como a
clientela e a sua expressão econômica e a "estrutura do escritório".
STJ. 4ª Turma. REsp 1.227.240-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/5/2015 (Info 564).

CONSÓRCIO
Taxa de administração de administradoras de consórcio
Súmula 538-STJ: As administradoras de consórcio têm liberdade para estabelecer a respectiva taxa de
administração, ainda que fixada em percentual superior a dez por cento.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 10/06/2015, Dje 15/06/2015.

CONTRATOS AGRÁRIOS
Nulidade de cláusula de renúncia à indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis nos contratos agrários

No contrato de parceria agrícola, é possível a previsão de uma cláusula por meio da qual o outorgado (que irá
trabalhar a terra) renuncia ao direito às benfeitorias que realizar?
NÃO. Nos contratos agrários, é NULA a cláusula de renúncia à indenização pelas benfeitorias necessárias e
úteis.
Os contratos de direito agrário são regidos tanto por elementos de direito privado, como por normas de
caráter público e social, de observância obrigatória e, por isso, irrenunciáveis, tendo como finalidade principal
a proteção daqueles que, pelo seu trabalho, tornam a terra produtiva e dela extraem riquezas, conferindo
efetividade à função social da propriedade.
Apesar de sua natureza privada e de ser regulado pelos princípios gerais que regem o direito comum, o
contrato agrário sofre repercussões de direito público em razão de sua importância para o Estado, do
protecionismo que se quer emprestar ao homem do campo, à função social da propriedade e ao meio
ambiente, fazendo com que a máxima do "pacta sunt servanda" não se opere em absoluto nestes casos.
A legislação dos contratos de parceria agrícola preconiza o direito à indenização pelas benfeitorias como
sendo uma cláusula obrigatória. Logo, não pode o contrato de parceria agrícola prever a renúncia à
indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis, sendo nula qualquer disposição nesse sentido.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.182.967-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 9/6/2015 (Info 564).

DIREITO DO CONSUMIDOR

COBRANÇA DE ÁGUA

ILEGALIDADE DA COBRANÇA DE TARIFA DE ÁGUA REALIZADA POR ESTIMATIVA DE CONSUMO


Imagine que em determinada residência a companhia de água não instalou hidrômetro (aparelho com que se
mede a quantidade de água consumida). Nesse caso, como será a cobrança da tarifa? SERÁ POSSÍVEL COBRAR UM
VALOR COM BASE NA ESTIMATIVA? NÃO. NA FALTA DE HIDRÔMETRO ou defeito no seu funcionamento, a cobrança
pelo fornecimento de água deve ser realizada pela TARIFA MÍNIMA, sendo vedada a cobrança por estimativa.
Isso porque a tarifa deve ser calculada com base no consumo efetivamente medido no hidrômetro. STJ. 2ª
Turma. REsp 1.513.218-RJ, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 10/3/2015 (Info 557).

ASSISTÊNCIA TÉCNICA

INEXISTÊNCIA DE DEVER DO COMERCIANTE DE RECEBER E ENVIAR OS APARELHOS VICIADOS PARA A ASSISTÊNCIA TÉCNICA
O comerciante tem o dever de receber do consumidor o aparelho que esteja viciado (“defeituoso”) com o
objetivo de encaminhá-lo à assistência técnica para conserto? NÃO. O COMERCIANTE NÃO TEM O DEVER DE
RECEBER E DE ENCAMINHAR PRODUTO VICIADO À ASSISTÊNCIA TÉCNICA, a NÃO SER QUE ESTA NÃO ESTEJA LOCALIZADA NO
MESMO MUNICÍPIO DO ESTABELECIMENTO COMERCIAL.
EXISTINDO ASSISTÊNCIA TÉCNICA ESPECIALIZADA E DISPONÍVEL NA LOCALIDADE DE ESTABELECIMENTO do comerciante (leia-se,
no mesmo Município), NÃO SE PODE IMPOR AO COMERCIANTE A OBRIGAÇÃO DE INTERMEDIAR O RELACIONAMENTO ENTRE
SEU CLIENTE E O SERVIÇO DISPONIBILIZADO, visto que essa exigência apenas dilataria o prazo para efetiva solução e
acrescentaria custos ao consumidor, sem agregar-lhe qualquer benefício. STJ. 3ª Turma. REsp 1.411.136-RS,
Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 24/2/2015 (Info 557).

RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO

CONCEITO DE FATO DO PRODUTO


O aparecimento de grave vício em revestimento (pisos e azulejos), quando já se encontrava devidamente
instalado na residência do consumidor, configura FATO DO PRODUTO, sendo, portanto, de 5 anos o prazo
prescricional da pretensão reparatória (art. 27 do CDC).
O art. 12, § 1º do CDC afirma que defeito diz respeito A CIRCUNSTÂNCIAS QUE GEREM A INSEGURANÇA DO PRODUTO
OU SERVIÇO. Está relacionado, portanto, com O ACIDENTE DE CONSUMO.
No entanto, a DOUTRINA E O STJ ENTENDEM QUE O CONCEITO DE “FATO DO PRODUTO” DEVE SER LIDO DE FORMA MAIS
AMPLA, abrangendo TODO E QUALQUER VÍCIO QUE SEJA GRAVE A PONTO DE OCASIONAR
DANO (MATERIAL OU MORAL) INDENIZÁVEL AO PATRIMÔNIO MATERIAL OU MORAL DO
CONSUMIDOR.
Desse modo, mesmo o produto/serviço não sendo “inseguro”, isso poderá configurar “fato do
produto/serviço” se o vício for muito grave a ponto de ocasionar dano material ou moral ao consumidor. Foi
nesse sentido que o STJ enquadrou o caso acima (do piso de cerâmica).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.176.323-SP, Rel. Min. Villas Bôas Cueva, julgado em 3/3/2015 (Info 557).

VÍCIO (VÍCIO DO PRODUTO) DEFEITO (FATO DO PRODUTO)


Vício é a INADEQUAÇÃO DO PRODUTO OU O art. 12, § 1º do CDC afirma que DEFEITO DIZ
SERVIÇO PARA OS FINS A QUE SE DESTINA. É RESPEITO A CIRCUNSTÂNCIAS QUE GEREM A
uma falha ou deficiência que compromete o INSEGURANÇA DO PRODUTO OU SERVIÇO. Está
produto em aspectos como a quantidade, a relacionado, portanto, com o ACIDENTE DE
qualidade, a eficiência etc. CONSUMO.
Restringe-se ao próprio produto e não aos danos Ex: Paulo compra um Playstation®, ele liga o
que ele pode gerar para o consumidor aparelho, começa a jogar e, de repente, o
Ex: Paulo compra um Playstation® e ele não videogame esquenta muito e explode, ferindo-o.
“roda” todos os jogos. No entanto, a doutrina e o STJ entendem que o
conceito de “FATO DO PRODUTO” PREVISTO NO § 1º
DO ART. 12 PODE SER LIDO DE FORMA MAIS AMPLA,
ABRANGENDO TODO E QUALQUER VÍCIO QUE SEJA
GRAVE A PONTO DE OCASIONAR DANO INDENIZÁVEL
AO PATRIMÔNIO MATERIAL OU MORAL DO
CONSUMIDOR.
Desse modo, mesmo o produto/serviço não
sendo “inseguro”, isso poderá configurar “fato
do produto/serviço” se o vício for muito grave a
ponto de ocasionar dano material ou moral ao
consumidor. Foi nesse sentido que o STJ
enquadrou o caso acima (do piso de cerâmica)
como sendo hipótese de fato do produto.
Prazo para reclamar sobre os vícios é O PRAZO PARA AÇÕES DE REPARAÇÃO POR DANOS
DECADENCIAL: causados por fato do produto ou do serviço
• 30 DIAS PARA SERVIÇOS E PRODUTOS NÃO DURÁVEIS; prescreve em 5 ANOS.
• 90 DIAS PARA SERVIÇOS E PRODUTOS DURÁVEIS.

INFORMATIVO 552, STJ - INOCORRÊNCIA DE DANO MORAL PELA SIMPLES PRESENÇA DE CORPO ESTRANHO EM REFRIGERANTE.
Atualize o Info 537-STJ: A simples aquisição de refrigerante contendo inseto no interior da embalagem, sem
que haja a ingestão do produto, NÃO É CIRCUNSTÂNCIA APTA, POR SI SÓ, A PROVOCAR DANO MORAL
INDENIZÁVEL. Obs.: existe precedente em sentido contrário, mas o que prevalece é que não há dano moral.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.395.647-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 18/11/2014 (Info 553).

RESPONSABILIDADE DA ECT POR ROUBO OCORRIDO NO INTERIOR DE BANCO POSTAL


Importante!!! A ECT É RESPONSÁVEL PELOS DANOS SOFRIDOS POR CONSUMIDOR QUE FOI ASSALTADO NO INTERIOR DE
AGÊNCIA DOS CORREIOS NA QUAL É FORNECIDO O SERVIÇO DE BANCO POSTAL. STJ. 4ª Turma. REsp 1.183.121-SC, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/2/2015 (Info 559).

- Realmente, os Correios estão certos quando dizem que NÃO É POSSÍVEL EXIGIR DE UM BANCO POSTAL
TODAS AS EXIGÊNCIAS DE SEGURANÇA PREVISTAS NA LEI N. 7.102/83, tais como: equipamentos de
filmagem, vigilância ostensiva, artefatos que retardem a ação de criminosos, cabina blindada, dentre outros.
Até mesmo porque acabaria inviabilizando a instalação e o funcionamento dos bancos postais em diversas
localidades do país.
No entanto, mesmo sem ter que cumprir todas as exigências da Lei, ainda assim a ECT possui
responsabilidade civil no caso concreto com base no Código de Defesa do Consumidor. As pessoas que vão
até a agência dos Correios, seja para utilizar os serviços postais propriamente dito, seja para os serviços do
banco postal, são consideradas consumidoras, desde que sejam “destinatárias finais” do produto ou serviço.
PORTANTO, OS CORREIOS, ENQUANTO EMPRESA PÚBLICA PRESTADORA DE SERVIÇOS PÚBLICOS, SUBMETE-SE À
RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA, SEJA POR FORÇA DO ART. 37, § 6º DA CF/88, SEJA EM RAZÃO DO ART. 14 DO CDC,
DEVENDO INDENIZAR O CONSUMIDOR.

- O serviço prestado pelos Correios foi inadequado e ineficiente, porque descumpriu o dever de segurança
legitimamente esperado pelo consumidor, NÃO HAVENDO FALAR EM CASO FORTUITO (EXTERNO) para fins
de exclusão da responsabilidade com rompimento da relação de causalidade, mas SIM FORTUITO INTERNO,
PORQUANTO INCIDE NA PROTEÇÃO DOS RISCOS ESPERADOS DA ATIVIDADE EMPRESARIAL DESENVOLVIDA.

FORTUITO INTERNO FORTUITO EXTERNO


ESTÁ RELACIONADO COM A ORGANIZAÇÃO DA NÃO ESTÁ RELACIONADO COM A ORGANIZAÇÃO DA
EMPRESA. É UM FATO LIGADO AOS RISCOS DA EMPRESA. É UM FATO QUE NÃO GUARDA NENHUMA
ATIVIDADE DESENVOLVIDA PELO FORNECEDOR. RELAÇÃO DE CAUSALIDADE COM A ATIVIDADE
DESENVOLVIDA PELO FORNECEDOR. É UMA SITUAÇÃO
EX1: O ESTOURO DE UM PNEU DO ÔNIBUS DA
ABSOLUTAMENTE ESTRANHA AO PRODUTO OU AO
EMPRESA DE TRANSPORTE COLETIVO;
SERVIÇO FORNECIDO.
EX2: CRACKER INVADE O SISTEMA DO BANCO E
EX1: ASSALTO À MÃO ARMADA NO INTERIOR DE
CONSEGUE TRANSFERIR DINHEIRO DA CONTA DE UM
ÔNIBUS COLETIVO (NÃO É PARTE DA ORGANIZAÇÃO DA
CLIENTE.
EMPRESA DE ÔNIBUS GARANTIR A SEGURANÇA DOS
EX3: DURANTE O TRANSPORTE DA MATRIZ PARA UMA PASSAGEIROS CONTRA ASSALTOS);
DAS AGÊNCIAS OCORRE UM ROUBO E SÃO SUBTRAÍDOS
EX2: UM TERREMOTO FAZ COM QUE O TELHADO DO
DIVERSOS TALÕES DE CHEQUE (TRATA-SE DE UM FATO
BANCO CAIA, CAUSANDO DANOS AOS CLIENTES QUE LÁ
QUE SE LIGA À ORGANIZAÇÃO DA EMPRESA E AOS
ESTAVAM.
RISCOS DA PRÓPRIA ATIVIDADE DESENVOLVIDA).
PARA O STJ, O FORTUITO EXTERNO É UMA CAUSA
PARA O STJ, O FORTUITO INTERNO NÃO EXCLUI A
EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE.
OBRIGAÇÃO DO FORNECEDOR DE INDENIZAR O
CONSUMIDOR.

VÍCIO NA CONSTRUÇÃO DE IMÓVEIS

DEVOLUÇÃO DOS VALORES PAGOS EM VIRTUDE DE DEFEITOS NA CONSTRUÇÃO DE IMÓVEL


Havendo VÍCIOS DE CONSTRUÇÃO QUE TORNEM PRECÁRIAS AS CONDIÇÕES DE HABITABILIDADE DE IMÓVEL incluído no
Programa de Arrendamento Residencial (PAR), NÃO CONFIGURA ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA a CONDENAÇÃO DA
CEF A DEVOLVER AOS ARRENDATÁRIOS QUE OPTARAM PELA RESOLUÇÃO DO CONTRATO o valor pago a título de taxa de
arrendamento. STJ. 3ª Turma. REsp 1.352.227-RN, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/2/2015
(Info 556).

RESPONSABILIDADE CIVIL

RESPONSABILIDADE CIVIL DOS CORREIOS POR EXTRAVIO DE CARTA REGISTRADA


Se a ECT NÃO COMPROVAR A EFETIVA ENTREGA DE CARTA REGISTRADA POSTADA POR CONSUMIDOR NEM DEMONSTRAR CAUSA
EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE, HÁ DE SE RECONHECER O DIREITO A REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS IN RE IPSA, DESDE
QUE O CONSUMIDOR COMPROVE MINIMAMENTE A CELEBRAÇÃO DO CONTRATO DE ENTREGA DA CARTA REGISTRADA. O extravio
de correspondência registrada acarreta dano moral in re ipsa (sem necessidade de comprovação do prejuízo),
devendo os Correios indenizar o consumidor. A responsabilidade civil dos Correios é objetiva (art. 37, § 6º da
CF/88 e arts. 14 e 22 do CDC). STJ. 2ª Seção. EREsp 1.097.266-PB, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado
em 10/12/2014 (Info 556).

RESPONSABILIDADE POR VÍCIO DO PRODUTO

Responsabilidade do fabricante que garante na publicidade a qualidade dos produtos ofertados

Responde solidariamente por vício de qualidade do automóvel adquirido o fabricante de veículos


automotores que participa de propaganda publicitária garantindo com sua marca a excelência dos produtos
ofertados por revendedor de veículos usados.
Ex: a concessionária “XXX” revende veículos seminovos da fabricante GM. A concessionária lançou uma
propaganda na qual anunciava diversos veículos para venda e, ao final do comercial, era divulgada a seguinte
informação: “os únicos seminovos com o aval da GM”.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.365.609-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/4/2015 (Info 562).
Princípio da vinculação contratual da oferta
Aplica-se ao presente caso o princípio da vinculação contratual da oferta segundo a qual a oferta (publicidade)
integra o contrato e deve ser cumprida pelo ofertante. Veja o que diz o CDC:

Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou
meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o
fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado

Assim, a oferta possui caráter vinculativo, integrando o contrato, de modo que o fornecedor de produtos ou
serviços se responsabiliza também pelas expectativas que a publicidade venha a despertar no consumidor,
especialmente quando veicula informação de produto ou serviço com a chancela de determinada marca.

A fabricante participou da oferta (publicidade) garantindo, com a sua marca, a qualidade do produto
oferecido. Logo, ela também se vinculou solidariamente àquilo que foi anunciado.

Princípio da boa-fé objetiva


O princípio da vinculação contratual da oferta é considerado como a materialização do princípio da boa-fé
objetiva, exigindo do anunciante os deveres anexos de lealdade, confiança, cooperação, proteção e
informação, sob pena de responsabilidade. Trata-se, inclusive, de responsabilização objetiva.

RESPONSABILIDADE POR VÍCIO DO SERVIÇO

Responsabilidade civil de transportadora de passageiros e culpa exclusiva do consumidor

A sociedade empresária de transporte coletivo interestadual não deve ser responsabilizada pela partida do
veículo, após parada obrigatória, sem a presença do viajante que, por sua culpa exclusiva, não compareceu
para reembarque mesmo após a chamada dos passageiros, sobretudo quando houve o embarque tempestivo
dos demais.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.354.369-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 5/5/2015 (Info 562).

PRÁTICAS ABUSIVAS

INEXISTÊNCIA DE ABUSIVIDADE NA COBRANÇA DE CUSTO EXTRA EM CASO DE PAGAMENTO POR BOLETO BANCÁRIO
DETERMINADA EMPRESA QUE OFERECE ASSINATURA DE REVISTAS PERMITE QUE OS CLIENTES PAGUEM DE TRÊS FORMAS: POR
BOLETO BANCÁRIO, DÉBITO EM CONTA CORRENTE E CARTÃO DE CRÉDITO. SE O CLIENTE OPTAR PELO BOLETO BANCÁRIO,
ELE É INFORMADO QUE TERÁ QUE PAGAR MAIS UM R$ 1 REFERENTE AO CUSTO QUE O BANCO EXIGE PARA EMITIR E RECEBER
O BOLETO. ESSA PRÁTICA É ABUSIVA?

NÃO. O STJ entendeu que, no caso concreto, a cobrança feita pela empresa NÃO ERA ABUSIVA
considerando que:
 O consumidor tinha outras opções de pagamento;
 A quantia exigida pela utilização dessa forma de pagamento NÃO FOI EXCESSIVAMENTE ONEROSA;
 Houve INFORMAÇÃO PRÉVIA DE SUA COBRANÇA; e
 O valor pleiteado correspondeu exatamente ao que o fornecedor recolheu à instituição financeira
responsável pela emissão do boleto bancário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.339.097-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 3/2/2015 (Info 555).

INFORMATIVO 552, STJ - Prática de venda casada por operadora de telefonia celular gera dano moral coletivo in
re ipsa.
Importante!!! Configura dano moral coletivo in re ipsa a realização de venda casada por operadora de
telefonia. A prática de venda casada por parte de operadora de telefonia é capaz de romper com os limites da
tolerância. No momento em que oferece ao consumidor produto com significativas vantagens - no caso, o
comércio de linha telefônica com valores mais interessantes do que a de seus concorrentes - e de outro,
impõe-lhe a obrigação de aquisição de um aparelho telefônico por ela comercializado, realiza prática
comercial apta a causar sensação de repulsa coletiva a ato intolerável, tanto que encontra proibição expressa
em lei. Afastar, da espécie, o DANO MORAL DIFUSO, é fazer tábula rasa da proibição elencada no art. 39, I, do
CDC e, por via reflexa, legitimar práticas comerciais que afrontem os mais basilares direitos do consumidor.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.397.870-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 2/12/2014 (Info 553).

Envio de cartão de crédito sem prévia e expressa solicitação do consumidor

Súmula 532-STJ: Constitui prática comercial abusiva o envio de cartão de crédito sem prévia e expressa
solicitação do consumidor, configurando-se ato ilícito indenizável e sujeito à aplicação de multa
administrativa.
STJ. Corte Especial. Aprovada em 03/06/2015.

E se o consumidor, mesmo não tendo solicitado o cartão, optar por ficar com ele?
Flávio Tartuce defende que, no caso de envio de cartão de crédito sem solicitação, se o consumidor quiser
com ele permanecer, a instituição não poderá cobrar anuidade, devendo esse serviço ser considerado como
amostra grátis, com base no art. 39, parágrafo único, do CDC (Manual de Direito do Consumidor. São Paulo:
Método, 2014, p. 377)

PROTEÇÃO CONTRATUAL

RESCISÃO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL VINCULADO A CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE AUTOMÓVEL QUE


APRESENTOU VÍCIO REDIBITÓRIO
Consumidor adquire veículo novo e, para pagar o carro, contrata leasing oferecido pelo banco da própria
montadora. O automóvel apresenta vício redibitório que o torna imprestável ao uso. O banco que
realizou o financiamento será também responsável? O contrato de leasing também será rescindido?
SIM. A INSTITUIÇÃO FINANCEIRA VINCULADA À CONCESSIONÁRIA DO VEÍCULO (“BANCO DA MONTADORA”) POSSUI
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA POR VÍCIO DO PRODUTO (VEÍCULO NOVO DEFEITUOSO), UMA VEZ QUE ELA FOI PARTE
INTEGRANTE DA CADEIA DE CONSUMO.
Todos aqueles que participam da introdução do produto ou serviço no mercado devem responder
solidariamente por eventual defeito ou vício.
O contrato de arrendamento mercantil não foi feito de forma independente. Ao contrário, está atrelado ao
contrato de compra e venda, de forma que É POSSÍVEL VISLUMBRAR A EXISTÊNCIA DE UMA “OPERAÇÃO
CASADA”. STJ. 3ª Turma. REsp 1.379.839-SP, Rel. originária Min. Nancy Andrighi, Rel. para Acórdão Min.
Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/11/2014 (Info 554).

NECESSIDADE DE INFORMAR QUE O CÔMPUTO DA ÁREA TOTAL DO IMÓVEL RESIDENCIAL VENDIDO ESTÁ CONSIDERANDO
TAMBÉM O TAMANHO DA GARAGEM.

Na compra e venda de imóvel, a vaga de garagem, ainda que individualizada e de uso exclusivo do
proprietário da unidade residencial, NÃO PODE SER CONSIDERADA NO CÔMPUTO DA ÁREA TOTAL DO IMÓVEL
vendido ao consumidor CASO ESSE FATO NÃO TENHA SIDO EXPOSTO DE FORMA CLARA NA PUBLICIDADE e no contrato.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.139.285-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 18/11/2014 (Info 552).
Cobertura de home care por plano de saúde
João é cliente de um plano de saúde. Após ficar doente, ele foi internado no hospital, onde permaneceu por
algumas semanas. Até então, o plano de saúde estava pagando todas as despesas. O médico que
acompanhava seu estado de saúde viu que seu quadro clínico melhorou e recomendou que ele fosse para
casa, mas lá ficasse realizando tratamento domiciliar (home care) até que tivesse alta completa. Ocorre que o
plano de saúde não aceitou, afirmando que o serviço de home care não está no rol de cobertura previsto no
contrato firmado com João. Segundo a operadora, apenas o tratamento hospitalar está incluído.
O plano de saúde pode ser obrigado a custear o tratamento domiciliar (home care) mesmo que isso não
conste expressamente do rol de serviços previsto no contrato?

SIM. No caso em que o serviço de home care (tratamento domiciliar) não conste expressamente do rol de
coberturas previsto no contrato de plano de saúde, a operadora ainda assim será obrigada a custeá-lo em
substituição à internação hospitalar contratualmente prevista, desde que respeitados os seguintes requisitos:
 tenha havido indicação desse tratamento pelo médico assistente;
 o paciente concorde com o tratamento domiciliar;
 não ocorra uma afetação do equilíbrio contratual em prejuízo do plano de saúde (exemplo em
que haveria um desequilíbrio: nos casos em que o custo do atendimento domiciliar por dia
supera a despesa diária em hospital).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.378.707-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/5/2015 (Info 564).

BANCOS DE DADOS E CADASTROS DE CONSUMIDORES

PRÉVIA NOTIFICAÇÃO E REGISTROS ORIUNDOS DO CARTÓRIO DE PROTESTO


REGRA: para que o órgão de proteção de crédito inclua o nome de um consumidor no cadastro de
inadimplentes, é necessário que, antes, ele seja notificado (Súmula 359-STJ). A AUSÊNCIA DE PRÉVIA COMUNICAÇÃO
ENSEJA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.

EXCEÇÕES: Existem duas exceções em que NÃO HAVERÁ INDENIZAÇÃO por danos morais mesmo
não tendo havido a prévia comunicação do devedor:
1) Se o DEVEDOR JÁ POSSUÍA INSCRIÇÃO NEGATIVA no banco de dados e foi realizada uma nova inscrição
sem a sua notificação. Súmula 385-STJ: Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe
indenização por dano moral quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.
2) Se o órgão de restrição ao crédito estiver APENAS REPRODUZINDO INFORMAÇÃO NEGATIVA QUE CONSTE DE
REGISTRO PÚBLICO (ex.: anotações de protestos que constem do Tabelionato de Protesto, anotações de
execução fiscal que sejam divulgadas no Diário Oficial).
- SE NÃO HOUVE COMUNICAÇÃO PRÉVIA, a indenização é devida mesmo que depois fique provado que o débito
realmente existe?

SIM. Para que se caracterize o dever da SERASA/SPC de indenizar, É SUFICIENTE A AUSÊNCIA DE


PRÉVIA COMUNICAÇÃO, mesmo QUANDO EXISTENTE A DÍVIDA QUE GEROU A INSCRIÇÃO.
Exige-se prova de que o consumidor tenha efetivamente recebido a notificação?
NÃO. Basta que seja PROVADO QUE FOI ENVIADA UMA CORRESPONDÊNCIA AO ENDEREÇO DO
CONSUMIDOR notificando-o quanto à inscrição de seu nome no respectivo cadastro, sendo
DESNECESSÁRIO AVISO DE RECEBIMENTO (AR).
SÚMULA 404-STJ: É DISPENSÁVEL O AVISO DE RECEBIMENTO (AR) NA CARTA DE COMUNICAÇÃO AO CONSUMIDOR
SOBRE A NEGATIVAÇÃO DE SEU NOME EM BANCOS DE DADOS E CADASTROS.
- SE O CONSUMIDOR, APÓS SER REGULARMENTE COMUNICADO SOBRE A FUTURA INSCRIÇÃO NO CADASTRO, AJUÍZA UMA
AÇÃO PARA IMPEDIR OU RETIRAR SEU NOME DO CADASTRO NEGATIVO ALEGANDO QUE O DÉBITO NÃO EXISTE, O JUIZ
PODERÁ CONCEDER TUTELA ANTECIPADA OU CAUTELAR DEFERINDO ESSE PEDIDO? QUAIS OS REQUISITOS PARA TANTO?
Segundo o STJ, a abstenção da inscrição/manutenção em cadastro de inadimplentes, requerida em
antecipação de tutela e/ou medida cautelar, somente será deferida se, cumulativamente:
• A AÇÃO FOR FUNDADA EM QUESTIONAMENTO INTEGRAL OU PARCIAL DO DÉBITO;
• Houver demonstração de que a COBRANÇA INDEVIDA SE FUNDA NA APARÊNCIA DO BOM DIREITO e em
JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA DO STF OU STJ;
• Houver DEPÓSITO DA PARCELA INCONTROVERSA ou for PRESTADA A CAUÇÃO FIXADA CONFORME O PRUDENTE ARBÍTRIO
DO JUIZ.
A SIMPLES DISCUSSÃO JUDICIAL DA DÍVIDA NÃO É SUFICIENTE PARA OBSTAR A NEGATIVAÇÃO DO NOME DO DEVEDOR NOS
CADASTROS DE INADIMPLENTES.
- QUAL É O PRAZO QUE TEM O CREDOR PARA RETIRAR (DAR BAIXA) DO NOME DO DEVEDOR NO CADASTRO NEGATIVO?
O prazo é de 5 (cinco) dias úteis.
- O simples ERRO NO VALOR INSCRITO DA DÍVIDA NÃO GERA DANO MORAL (ex.: a dívida era de R$ 10 mil e
foi inscrita como sendo de R$ 15 mil)?

INFORMATIVO 552, STJ - REQUISITOS PARA A PROPOSITURA DE AÇÃO DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS RELATIVOS AO
CREDISCORE.
Para existir interesse de agir em ação cautelar de exibição de documentos ajuizada por consumidor com o
objetivo de obter extrato contendo sua pontuação no sistema Crediscore, é necessário que o requerente
comprove:
A) QUE A RECUSA DO CRÉDITO SE DEU EM RAZÃO DA PONTUAÇÃO QUE LHE FOI ATRIBUÍDA PELA DITA FERRAMENTA DE SCORING;
E

B) QUE TENHA HAVIDO RESISTÊNCIA DA INSTITUIÇÃO RESPONSÁVEL PELO SISTEMA NA DISPONIBILIZAÇÃO DAS INFORMAÇÕES
REQUERIDAS PELO CONSUMIDOR EM PRAZO RAZOÁVEL (EXIGIR QUE O CONSUMIDOR FAÇA O PEDIDO PESSOALMENTE NÃO
CARACTERIZA RECUSA).

STJ. 4ª Turma. REsp 1.268.478-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/12/2014 (Info 553).
- No “credit scoring”, a pessoa que está pedindo o crédito é avaliada por meio de fórmulas matemáticas, nas
quais são consideradas diversas variáveis como a idade, a profissão, a finalidade da obtenção do crédito etc.
Tais variáveis são utilizadas nas fórmulas matemáticas e, por meio de ferramentas da estatística, atribui-se
uma espécie de pontuação (nota) para a pessoa que está pedindo o crédito. Quanto maior a nota, menor
seria o risco de se conceder o crédito para aquele consumidor e, consequentemente, mais fácil para ele
conseguir a liberação.
- O STJ ENTENDEU QUE ESSA PRÁTICA COMERCIAL É LÍCITA, estando autorizada pelo art. 5º, IV e pelo art. 7º, I, da
Lei n. 12.414/2011 (Lei do Cadastro Positivo), que, ao tratar sobre os direitos do cadastrado nos bancos de
dados, menciona indiretamente a possibilidade de existir a análise de risco de crédito. Vale ressaltar, no
entanto, que para o “credit scoring” ser lícito, é necessário que respeite os limites estabelecidos pelo sistema
de proteção do consumidor no sentido da tutela da privacidade e da máxima transparência nas relações
negociais, conforme previsão do CDC e da Lei n. 12.414/2011.
- O CONSUMIDOR TERÁ DIREITO DE SABER A SUA PONTUAÇÃO E AS INFORMAÇÕES PESSOAIS UTILIZADAS. No entanto,
NEM O CONSUMIDOR NEM NINGUÉM TERÁ DIREITO DE SABER A METODOLOGIA DE CÁLCULO, ou seja, qual foi a fórmula
matemática e os dados estatísticos utilizados no “credit scoring”. ISSO PORQUE ESSA FÓRMULA É FRUTO DE ESTUDOS
E INVESTIMENTOS, CONSTITUINDO SEGREDO DA ATIVIDADE EMPRESARIAL (art. 5º, IV, da Lei n. 12.414⁄2011:
..."resguardado o segredo empresarial”).

DIREITOS BÁSICOS DOS CONSUMIDORES


DEVER DE UTILIZAÇÃO DO SISTEMA BRAILLE POR INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS
Importante!!! AS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS DEVEM CONFECCIONAR EM BRAILLE OS CONTRATOS DE ADESÃO QUE SÃO
ASSINADOS PARA CONTRATAÇÃO DE SEUS SERVIÇOS A FIM DE QUE OS CLIENTES COM DEFICIÊNCIA VISUAL POSSAM TER
CONHECIMENTO, POR MEIO PRÓPRIO, DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS ALI CONTIDAS. Os BANCOS DEVEM
TAMBÉM ENVIAR OS EXTRATOS MENSAIS IMPRESSOS EM LINGUAGEM BRAILLE PARA OS
CLIENTES COM DEFICIÊNCIA VISUAL. Além disso, tais instituições devem desenvolver cartilha para seus
empregados com normas de conduta para atendimentos ao deficiente visual. A relutância da instituição
financeira em utilizar o método Braille nos contratos bancários de adesão firmados com pessoas portadoras
de deficiência visual representa tratamento manifestamente discriminatório E TEM O CONDÃO DE
AFRONTAR A DIGNIDADE DESTE GRUPO DE PESSOAS GERANDO DANOS MORAIS
COLETIVOS. STJ. 3ª Turma. REsp 1.315.822-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 24/3/2015 (Info
559).
- Fundamentos legais:
1) Lei 4.169/62 - O art. 1º da Lei n. 4.169/1962 oficializa as convenções Braille para uso na escrita e leitura dos
cegos.
2) Lei 10.048/2000 - A Lei n. 10.048/2000 determina que as pessoas portadoras de deficiência devem ter
prioridade de atendimento, inclusive em instituições financeiras. A referida Lei, ao estabelecer normas gerais
e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com
mobilidade reduzida, explicitou a necessidade de que sejam suprimidas todas as barreiras e obstáculos
existentes para pessoas com deficiência, em especial, nos meios de comunicação.
3) Decreto 6.949/2009 - O Decreto 6.949/2009 promulgou a Convenção Internacional sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, cujo texto possui valor equivalente ao de uma emenda
constitucional, e, por veicular direitos e garantias fundamentais do indivíduo, tem aplicação concreta e
imediata (art. 5º, §§ 1º e 3º, da CF/88). A convenção impôs aos Estados signatários a obrigação de assegurar
às pessoas portadoras de deficiência o exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades
fundamentais, conferindo-lhes tratamento materialmente igualitário (diferenciado na proporção de sua
desigualdade), acessibilidade física, de comunicação e informação, além de inclusão social, autonomia e
independência. Especificamente sobre a barreira da comunicação, a Convenção faz menção em diversos
dispositivos ao método Braille, determinando que ele seja incentivado como forma de propiciar aos
deficientes visuais o efetivo acesso às informações. Nesses termos, valendo-se das definições trazidas pelo
Tratado, pode-se afirmar que a não utilização do método Braille durante as negociações e assinatura do
contrato configuram, a um só tempo, intolerável discriminação por deficiência e inobservância da almejada
“adaptação razoável”.
4) CDC - A utilização do método Braille nos contratos bancários com pessoas portadoras de deficiência visual
encontra fundamento, ainda, na legislação consumerista, que preconiza ser direito básico do consumidor o
fornecimento de informação suficientemente adequada e clara do produto ou serviço oferecido, encargo a
ser observado não apenas por ocasião da celebração do contrato, mas também durante todas as fases,
inclusive pré-contratual. No caso do consumidor deficiente visual, a consecução deste direito somente é
alcançada por meio da utilização do método Braille, que viabiliza a integral compreensão das cláusulas
contratuais submetidas à sua apreciação, especialmente aquelas que impliquem limitações de direito, assim
como dos extratos mensais, dando conta dos serviços prestados, taxas cobradas etc.
- Ressalte-se que, diante da magnitude do direito em exame, que tem fundamento na convenção
internacional (Decreto 6.949/2009), na CF/88 e na lei (Lei 4.169/62, Lei 10.048/2000), MOSTRA-SE SEM
QUALQUER RELEVÂNCIA O FATO DE A RESOLUÇÃO 2.878/2001 DO BACEN NÃO EXIGIR O MÉTODO BRAILLE,
CONTENTANDO-SE COM A MERA LEITURA EM VOZ ALTA DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS. Este singelo procedimento é
insuficiente à proteção dos interesses dos deficientes visuais, além de violar sua intimidade, já que outras
pessoas (terceiros) terão acesso às suas informações bancárias, que serão lidas perante testemunhas.
PLANO DE SAÚDE

Legitimidade ativa de usuário de plano de saúde coletivo


A Unimed fez convênio com a Caixa de Assistência dos Advogados por meio do qual disponibilizou um plano
de saúde coletivo de adesão. Assim, o advogado que quisesse poderia aderir ao plano de saúde oferecido com
a interveniência da Caixa de Assistência e que tinha condições mais vantajosas do que se ele fizesse um plano
de saúde individual. Centenas de advogados aderiram ao plano, dentre eles João. Ocorre que passados alguns
anos, houve um grande reajuste no valor da mensalidade do plano de saúde. Inconformado, João ação de
revisão de cláusula contratual contra a Unimed alegando que o reajuste foi abusivo e requerendo a
manutenção dos valores originais.
O autor tem legitimidade para, sozinho, discutir a validade desse aumento mesmo se tratando de plano de
saúde coletivo?
SIM. O STJ decidiu que o usuário de plano de saúde coletivo tem legitimidade ativa para ajuizar
individualmente ação contra a operadora pretendendo discutir a validade de cláusulas contratuais, não sendo
empecilho o fato de a contratação ter sido intermediada por caixa de assistência da categoria profissional.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.510.697-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/6/2015 (Info 564).
Relação jurídica de direito material
A legitimidade exigida para o exercício do direito de ação depende, em regra, da relação jurídica de direito
material havida entre as partes. Em outras palavras, em regra, tem legitimidade aquele que é titular de um
direito ou interesse juridicamente protegido.
Vamos tentar identificar a relação de direito material que existe no caso concreto:
No plano de saúde coletivo, o vínculo jurídico formado entre a operadora (no caso, a Unimed) e o grupo de
usuários (advogados) caracteriza-se como uma estipulação em favor de terceiro. A Caixa de Assistência
(estipulante) fez, com o plano de saúde, uma estipulação em favor de terceiros (advogados).
A relação havida entre a operadora (Unimed) e a estipulante (Caixa de Assistência) é similar a de u contrato
por conta de terceiro.
Por fim, para os usuários (advogados), a estipulante (Caixa de Assistência) é apenas uma intermediária, uma
mandatária, não representando a operadora de plano de saúde.

DIREITO EMPRESARIAL

RECUPERAÇÃO JUDICIAL

DESPESAS FEITAS APÓS O DEFERIMENTO DO PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL SÃO CRÉDITOS


EXTRACONCURSAIS
CRÉDITOS EXTRACONCURSAIS consistem em DÍVIDAS CONTRAÍDAS PELA MASSA FALIDA, OU SEJA, APÓS TER OCORRIDO A
QUEBRA. Os créditos EXTRACONCURSAIS são PAGOS ANTES DOS CONCURSAIS porque SÃO DÍVIDAS QUE SURGEM DEPOIS DE
TER SIDO DECRETADA A FALÊNCIA E EM DECORRÊNCIA DELA.
Em regra, são débitos que nascem para que o processo de
falência possa ser realizado. Caso fossem pagos após os demais créditos, a massa falida teria muita dificuldade
de conseguir levar em frente o procedimento da falência, já que ninguém iria querer prestar serviços para uma
sociedade empresária que está quase falindo com a promessa de receber somente após todos os demais
credores.
O STJ tem decidido que, em caso de decretação de falência, serão considerados extraconcursais os créditos
decorrentes de obrigações contraídas pelo devedor entre a data em que se defere o processamento da
recuperação judicial e a data da decretação da falência, inclusive aqueles relativos a despesas com
fornecedores de bens ou serviços e contratos de mútuo. Assim, SÃO EXTRACONCURSAIS OS CRÉDITOS ORIGINÁRIOS
DE NEGÓCIOS JURÍDICOS REALIZADOS APÓS A DATA EM QUE FOI DEFERIDO O PEDIDO DE PROCESSAMENTO DE
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. STJ. 4ª Turma. REsp 1.399.853-SC, Rel. originária Min. Maria Isabel Gallotti, Rel. para
acórdão Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 10/2/2015 (Info 557).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.398.092-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 6/5/2014 (Info 543).

- RECUPERAÇÃO JUDICIAL: A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga “concordata” e tem por objetivo
viabilizar a superação da situação de crise do devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se
mantenha e, com isso, sejam preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores. A
recuperação judicial consiste, portanto, em um processo judicial, no qual será construído e executado um
plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de efetivamente ir à falência.
FASES DA RECUPERAÇÃO
De forma resumida, a recuperação judicial possui 3 fases:
 POSTULAÇÃO: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até o despacho de processamento;
 PROCESSAMENTO: vai do despacho de processamento até a decisão concessiva;
 EXECUÇÃO: da decisão concessiva até o encerramento da recuperação judicial.

CRÉDITOS CONCURSAIS CRÉDITOS EXTRACONCURSAIS


Previstos no art. 83 Previstos no art. 84
Consistem em dívidas contraídas pelo falido Consistem em dívidas contraídas pela massa
antes da quebra. falida, ou seja, após ter ocorrido a quebra. São
débitos que surgem para que o processo de
falência possa ser conduzido.
São credores do falido. São credores da massa falida.
São pagos depois dos créditos extraconcursais. São pagos antes dos créditos concursais.

INAPLICABILIDADE DO PRAZO EM DOBRO PARA RECORRER AOS CREDORES NA RECUPERAÇÃO JUDICIAL


O CPC prevê que, quando houver litisconsórcio, seja ele ativo (dois ou mais autores) ou passivo (dois ou mais
réus), caso os litisconsortes tenham advogados diferentes, os seus prazos serão contados em dobro (art. 191
do CPC 1973 / art. 229 do CPC 2015).
NA RECUPERAÇÃO JUDICIAL EXISTE A POSSIBILIDADE DE LITISCONSÓRCIO ATIVO. Ex: três
sociedades empresárias, integrantes do mesmo grupo econômico, estão em situação de extrema dificuldade
econômica e decidem pedir a recuperação judicial. Em caso de litisconsórcio ativo, é possível aplicar o art. 191
do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015).
Por outro lado, NA RECUPERAÇÃO JUDICIAL NÃO EXISTE A POSSIBILIDADE DE LITISCONSÓRCIO PASSIVO. O motivo é
muito simples: NO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL NÃO EXISTEM RÉUS. OS CREDORES NÃO SÃO RÉUS. OCUPAM A
POSIÇÃO DE INTERESSADOS. Portanto, não havendo réus, não se pode falar que exista litisconsórcio passivo entre
os credores da recuperanda.
Assim, se no PROCESSO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL UMA DECISÃO DESAGRADAR AOS CREDORES E ELES DECIDIREM
RECORRER, NÃO TERÃO PRAZO EM DOBRO, MESMO QUE POSSUAM ADVOGADOS DIFERENTES. Em outras
palavras, É INAPLICÁVEL AOS CREDORES DA SOCIEDADE RECUPERANDA O PRAZO EM DOBRO PARA RECORRER PREVISTO NO
ART. 191 DO CPC 1973 (ART. 229 DO CPC 2015).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.324.671-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 3/3/2015 (Info 557).
Observação: Conforme jurisprudência do STJ, O PRAZO EM DOBRO PARA RECORRER, previsto no art. 191 do CPC (art.
229 do CPC 2015), NÃO SE APLICA A TERCEIROS INTERESSADOS.

Deferimento da recuperação judicial e cadastros de restrição e tabelionatos de protestos


Tendo sido decretada a recuperação judicial, as ações e execuções que tramitavam contra a empresa em
recuperação serão suspensas. A dúvida que surge é a seguinte: além da suspensão das ações e execuções, o
deferimento da recuperação judicial acarreta também a retirada do nome da empresa do SPC, SERASA e
demais cadastros negativos? A empresa em recuperação judicial tem direito tirar seu nome dos serviços de
restrição de crédito e tabelionatos de protesto?

NÃO. O DEFERIMENTO DO PROCESSAMENTO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL, POR SI SÓ, NÃO ENSEJA A SUSPENSÃO OU O
CANCELAMENTO DA NEGATIVAÇÃO DO NOME DO DEVEDOR NOS CADASTROS DE RESTRIÇÃO AO CRÉDITO E NOS TABELIONATOS
DE PROTESTOS.

O deferimento do processamento de recuperação judicial suspende o curso das ações e execuções propostas
em face do devedor. Como vimos acima, isso está expressamente previsto no art. 6º, caput e § 4º, da Lei nº
11.101/2005. Contudo, essa providência (suspensão das ações e execuções) não significa que o direito dos
credores (direito creditório propriamente dito) tenha sido extinto. A dívida continua existindo.
Assim, se a dívida continua existindo (e apenas a execução é que está suspensa), não se pode aceitar a
retirada do nome da empresa em recuperação dos serviços de proteção ao crédito e tabelionato de
protesto.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.374.259-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/6/2015 (Info 564).
E haverá algum momento a partir do qual será possível retirar o nome da empresa dos cadastros
restritivos?

SIM. Quando o plano de recuperação judicial for aprovado será possível providenciar a baixa dos protestos
e a retirada do nome da empresa dos cadastros de inadimplentes em relação às dívidas que estiverem
sujeitas ao referido plano. Isso porque havendo a aprovação do plano ocorre a novação dos débitos, ou seja,
as dívidas anteriores serão substituídas pelas novas condições firmadas no plano. Ressalte-se, no entanto, que
essa baixa dos protestos e retirada do nome dos cadastros ficará sob condição resolutiva devendo a empresa
cumprir todas as obrigações previstas no acordo de recuperação judicial uma vez que, se desatendê-las, será
possível reinclui-la nos referidos cadastros.
(STJ. 3ª Turma. REsp 1.260.301/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/08/2012. Info 502).

Extinção das execuções individuais propostas contra devedor em recuperação judicial


Após a aprovação do plano de recuperação judicial pela assembleia de credores e a posterior homologação
pelo juízo competente, DEVERÃO SER EXTINTAS - e não apenas suspensas - as execuções individuais
até então propostas contra a recuperanda nas quais se busca a cobrança de créditos constantes do plano.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.272.697-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/6/2015 (Info 564).

Mudança de domicílio da sociedade em recuperação judicial e prova da má-fé


A mudança de domicílio da sociedade em recuperação judicial, devidamente informada em juízo, ainda que
sem comunicação aos credores e sem data estabelecida para a instalação do novo estabelecimento
empresarial, não é causa, por si só, para a decretação de ofício da falência.
Ex: a sociedade empresária "XXX" encontrava-se em recuperação judicial. O administrador decidiu mudar a
sede da empresa do bairro "A" para o bairro "B". Assim, a empresa deixou de funcionar no bairro "A", mas
ainda não se mudou fisicamente para o bairro "B" uma vez que as obras no local ainda não ficaram prontas.
Vale ressaltar que essa mudança foi comunicada ao juízo falimentar, mas não foi informada aos credores.
Determinado dia, um dos credores procurou a empresa devedora no bairro "A" e não a encontrou, razão pela
qual pediu a decretação de sua falência, nos termos do art. 94, III, "f", da Lei nº 11.101/2005. Esse pedido
deverá ser indeferido porque a mudança do domicílio comercial desacompanhada de comunicação aos
credores não é suficiente, por si só, para caracterização do abandono. É necessário provar que a mudança foi
furtiva e realizada com o objetivo de fraudar os interesses dos credores. É preciso, portanto, demonstrar a
má-fé do devedor.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.366.845-MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 18/6/2015 (Info 564).

Crédito de honorários advocatícios sucumbenciais constituído após o pedido de recuperação judicial


Os créditos que surgiram após o pedido de recuperação judicial não estão sujeitas ao plano de recuperação
judicial aprovado, independentemente da natureza do crédito. Em outras palavras, o plano de recuperação
abrange apenas as dívidas da empresa que foram contraídas antes do pedido de recuperação. As dívidas
posteriores estão fora do plano.
Assim, se, após a empresa ter feito um pedido de recuperação judicial, surgiu contra si um novo débito de
honorários advocatícios sucumbenciais, o advogado que for credor dessa dívida, para receber a quantia, não
precisará habilitar esse crédito no juízo universal da recuperação judicial. O credor poderá executar esses
honorários no juízo comum, não ficando a execução suspensa por força da recuperação judicial.
No entanto, apesar disso, o juízo universal da recuperação judicial deverá exercer o controle sobre os atos de
constrição ou expropriação patrimonial do devedor. O juízo universal da recuperação pode decidir, por
exemplo, que determinado bem da empresa não deverá ser penhorado porque é essencial à atividade
empresarial e, se fosse expropriado, isso prejudicaria a sobrevivência da sociedade empresária que está em
recuperação. Ex: no juízo comum o credor pediu a penhora da principal máquina da indústria que está em
recuperação judicial; o juízo universal da recuperação pode obstar que essa coisa seja penhorada porque se
trata de bem de capital essencial à atividade empresarial.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.298.670-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 21/5/2015 (Info 564).

A RECUPERAÇÃO JUDICIAL DO DEVEDOR PRINCIPAL NÃO IMPEDE O PROSSEGUIMENTO DAS EXECUÇÕES


A RECUPERAÇÃO JUDICIAL DO DEVEDOR PRINCIPAL NÃO IMPEDE O PROSSEGUIMENTO DAS EXECUÇÕES NEM INDUZ
SUSPENSÃO OU EXTINÇÃO DE AÇÕES AJUIZADAS CONTRA TERCEIROS DEVEDORES SOLIDÁRIOS OU COOBRIGADOS EM
GERAL, POR GARANTIA CAMBIAL, REAL OU FIDEJUSSÓRIA, pois não se lhes aplicam a suspensão prevista nos
arts. 6º, caput, e 52, inciso III, ou a novação a que se refere o art. 59, caput, por força do que dispõe o art.
49, § 1º, todos da Lei 11.101/2005.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.333.349-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/11/2014 (recurso
repetitivo) (Info 554).
A) EXEMPLO: A sociedade GW Ltda. emitiu uma nota promissória em favor da empresa X. Gabriel (sócio da GW) figurou
como avalista na nota promissória, ou seja, ele ofereceu uma garantia pessoal de pagamento da dívida. Ocorre que a
sociedade GW Ltda. requereu recuperação judicial e o plano foi aprovado. A empresa X ajuizou, então, execução de
título extrajudicial cobrando de Gabriel o valor da nota promissória vencida. Gabriel defendeu-se alegando que, como
foi aprovado o plano de recuperação judicial, houve novação e a execução deveria ser extinta.
O STJ não concordou com a tese. Para a Corte, a homologação do plano de recuperação judicial da devedora
principal não implica a extinção de execução de título extrajudicial ajuizada em face de sócio coobrigado.
Conforme já explicado, muito embora o plano de recuperação judicial opere novação das dívidas anteriores, as
garantias (reais ou fidejussórias), como regra, são preservadas. Logo, o aval (garantia) prestado por Gabriel não foi
extinto com a aprovação do plano.
Diante disso, o credor poderá exercer seus direitos contra Gabriel (terceiro garantidor), devendo, portanto, ser
mantida a execução proposta contra ele.
B) A FALÊNCIA E A RECUPERAÇÃO JUDICIAL SÃO SEMPRE PROCESSADAS E JULGADAS NA JUSTIÇA ESTADUAL.
C) PLANO DE RECUPERAÇÃO
Em até 60 dias após o despacho de processamento da recuperação judicial, o devedor deverá apresentar em
juízo um plano de recuperação da empresa, sob pena de convolação (conversão) do processo de
recuperação em falência.
O prazo para os credores apresentarem objeções é de 30 dias.
D) SE NÃO HOUVER OBJEÇÃO DOS CREDORES
Caso nenhum credor apresente objeção ao plano no prazo fixado, considera-se que houve aprovação
tácita.
Nessa hipótese, não será necessária a convocação de assembleia-geral de credores para deliberar sobre o
plano.
E) SE HOUVER OBJEÇÃO POR PARTE DOS CREDORES
Havendo objeção de algum credor, o juiz deverá convocar a assembleia-geral de credores para que ela
decida sobre o plano de recuperação apresentado.
 Se O PLANO NÃO FOR APROVADO: o JUIZ DECRETA A FALÊNCIA (salvo na hipótese do art. 58, § 1º).
 Se o PLANO FOR APROVADO: o JUIZ HOMOLOGA A APROVAÇÃO E CONCEDE A RECUPERAÇÃO JUDICIAL, iniciando-se a
fase de execução. Atenção: no regime atual, o plano de recuperação é aprovado pelos credores e apenas
homologado pelo juiz.
F) A HOMOLOGAÇÃO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL AUTORIZA A RETIRADA DO NOME DA EMPRESA RECUPERANDA E DOS
SEUS RESPECTIVOS SÓCIOS DOS CADASTROS DE INADIMPLENTES, BEM COMO A BAIXA DE EVENTUAIS PROTESTOS EXISTENTES
EM NOME DESTES?

SIM. Diferentemente do regime existente sob a vigência da antiga Lei de Falência e Concordata,
PORQUE GERA NOVAÇÃO.
Art. 59. O plano de recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e obriga o devedor e
todos os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias, observado o disposto no § 1º do art. 50 desta Lei.
Como a NOVAÇÃO INDUZ A EXTINÇÃO DA RELAÇÃO JURÍDICA ANTERIOR, substituída por uma nova, NÃO SERÁ MAIS
POSSÍVEL FALAR EM INADIMPLÊNCIA DO DEVEDOR COM BASE NA DÍVIDA EXTINTA (Min. Nancy Andrighi).
G) A NOVAÇÃO DECORRENTE DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL IMPLICA A EXTINÇÃO DE GARANTIAS QUE HAVIAM SIDO PRESTADAS
AOS CREDORES? NÃO.
NOVAÇÃO DO CC EM REGRA, EXTINGUE AS GARANTIAS PRESTADAS.
NOVAÇÃO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL
EM REGRA, NÃO extingue as garantias
prestadas.

ENUNCIADO 43: A SUSPENSÃO DAS AÇÕES E EXECUÇÕES PREVISTAS NO ART. 6º DA LEI N. 11.101⁄2005 NÃO SE
ESTENDE AOS COOBRIGADOS DO DEVEDOR.

SOCIEDADE LIMITADA

CRITÉRIOS PARA A APURAÇÃO DE HAVERES DO SÓCIO RETIRANTE DE SOCIEDADE POR QUOTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA
Ocorre a dissolução parcial da sociedade limitada quando um ou alguns dos sócios saem da sociedade, mas ela
é preservada e continua suas atividades.
Uma das hipóteses de dissolução parcial de sociedade é o direito de retirada (direito de recesso, direito de
denúncia), ou seja, é a saída do sócio por iniciativa própria. Ele simplesmente não quer mais fazer parte
daquela sociedade.
Nesse caso, o sócio que deixar a sociedade receberá a parte que lhe cabe no patrimônio social, continuando a
sociedade em relação aos demais sócios.
O cálculo do valor devido ao sócio que deixa a sociedade é feito por meio de um procedimento denominado de
APURAÇÃO DE HAVERES.
Qual é o critério adotado para se fazer a apuração de haveres do sócio retirante?
SEGUNDO O ENTENDIMENTO DO STJ:
 O contrato social pode prever o critério para a apuração dos haveres do sócio retirante no caso de dissolução
parcial de sociedade limitada;
 No entanto, o critério previsto no contrato social somente prevalecerá se houver consenso entre as partes
quanto ao resultado alcançado;
 Caso não haja concordância entre as partes, deve-se aplicar o “balanço de determinação”, que é o critério que
melhor reflete o valor patrimonial da empresa;
 O fluxo de caixa descontado, por representar a metodologia que melhor revela a situação econômica e a
capacidade de geração de riqueza de uma empresa, pode ser aplicado juntamente com o balanço de
determinação na apuração de haveres do sócio dissidente.
SEGUNDO O CPC 2015:
A primeira opção no caso de apuração dos haveres é adotar o critério previsto no contrato social (art. 604, II).
Somente se o contrato social for omisso, ou seja, apenas se ele não previr um critério de apuração de haveres,
é que será adotado o “balanço de determinação” (art. 606).
Enquanto o novo CPC não entra em vigor, fique com o entendimento do STJ. Após março de 2016, o mais
seguro é assinalar nos concursos a redação literal do art. 606, que irá ser bastante cobrado nas provas.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.335.619-SP, Rel. originária e voto vencedor Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min.
João Otávio de Noronha, julgado em 3/3/2015 (Info 558).

SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO

Como ocorre a dissolução da sociedade em conta de participação? Qual é o fundamento legal? Não existe
regra específica para disciplinar a dissolução da sociedade em conta de participação. Diante disso, O STJ
DECIDIU QUE DEVERÁ SER APLICADA, SUBSIDIARIAMENTE, A REGRA DO ART. 1.034 DO CC, QUE DEFINE, DE FORMA TAXATIVA,
AS HIPÓTESES PELAS QUAIS SE ADMITE A DISSOLUÇÃO JUDICIAL DAS SOCIEDADES.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.230.981-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 16/12/2014 (Info 554).
CARACTERÍSTICAS
Sociedade em conta de participação é um tipo de sociedade empresária que se destaca por duas
características peculiares:
 É uma sociedade oculta, considerando que terceiros (pessoas que não sejam os sócios) não sabem que ela
existe. Por essa razão, é chamada também de “sociedade secreta” ou “empresa virtual”.
 NÃO POSSUI PERSONALIDADE JURÍDICA.

Art. 991. Na sociedade em conta de participação, a atividade constitutiva do objeto social é exercida unicamente pelo sócio
ostensivo, em seu nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade, participando os demais dos resultados
correspondentes.
Parágrafo único. Obriga-se perante terceiro tão-somente o sócio ostensivo; e, exclusivamente perante este, o sócio participante,
nos termos do contrato social.
EXEMPLO
A sociedade em conta de participação não é tão simples de entender, mas com um exemplo ficará mais fácil. Imagine que uma
construtora (XXX Sociedade LTDA) deseja fazer um pequeno edifício.
A construtora procura João (que é muito rico) e propõe que eles construam juntos.
João fala: “nem pensar, não quero ter que lidar com clientes, com fornecedores, com operários; estou fora.”
A construtora, então, faz a seguinte proposta: vamos fazer uma sociedade em conta de participação; eu (construtora)
serei o sócio ostensivo e você (João) será o sócio participante; nós celebramos um contrato entre si, no qual você se
obriga a fornecer 2 milhões de reais para o projeto e eu me comprometo a construir e vender os apartamentos; o
lucro será dividido.
A sociedade em conta de participação é como se fosse um contrato de investimento no qual o investidor é o
sócio participante (oculto) e o financiado é o sócio ostensivo. É como se fosse um contrato de investimento
que a lei resolveu dar o tratamento de uma sociedade empresária, sendo, no entanto, uma sociedade oculta
para terceiros e que não tem personalidade jurídica.
QUAL VAI SER, ENTÃO, A DIFERENÇA ENTRE A SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO E UM CONTRATO DE INVESTIMENTO?
Alguns autores afirmam que seria a mesma coisa, mas é possível sim enxergar uma diferença:
 No contrato de investimento, O INVESTIDOR NÃO SE ENVOLVE NA FINALIDADE DA EMPRESA, ou seja, O SEU
CRÉDITO ESTÁ DESVINCULADO DO RESULTADO DO NEGÓCIO EMPRESARIAL. Em simples palavras, o investidor não
receberá mais ou menos se o projeto der certo ou errado. Para ele, isso tanto faz. ELE EMPRESTOU O
DINHEIRO E DAQUI A DETERMINADO TEMPO, DEVERÁ RECEBER DE VOLTA, ACRESCIDO DE JUROS.
 Na SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO, O SÓCIO PARTICIPANTE, MESMO QUE EM UM GRAU BEM MENOR, ASSUME O
RISCO EMPRESARIAL JUNTAMENTE COM O SÓCIO OSTENSIVO. Em nosso exemplo, João irá receber metade do lucro.
Logo, se o empreendimento for um fracasso, ele terá prejuízo.

SOCIEDADE ANÔNIMA
Legitimidade ativa para ação social
Acionistas e companhia podem litigar em litisconsórcio facultativo ativo em ação de responsabilidade civil
contra o administrador pelos prejuízos causados ao patrimônio da sociedade anônima (art. 159 da Lei
6.404/1976), quando não proposta a ação pela companhia no prazo de três meses após a deliberação da
assembleia-geral (§ 3º).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.515.710-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 12/5/2015 (Info 563).

FALÊNCIA

CAPACIDADE PROCESSUAL DO FALIDO PARA A PROPOSITURA DE AÇÃO RESCISÓRIA

O FALIDO PODERÁ PROPOR AÇÃO RESCISÓRIA PARA DESCONSTITUIR A SENTENÇA QUE DECRETOU A FALÊNCIA? SIM. O
falido tem capacidade para propor ação rescisória para desconstituir a sentença transitada em julgado que
decretou a sua falência.
DEPOIS QUE É DECRETADA A FALÊNCIA, A SOCIEDADE EMPRESÁRIA FALIDA NÃO MAIS POSSUI PERSONALIDADE JURÍDICA E
NÃO PODERÁ POSTULAR, EM NOME PRÓPRIO, DIREITOS DA MASSA FALIDA, NEM MESMO EM CARÁTER EXTRAORDINÁRIO.
Diz-se que ela sofre uma CAPITIS DIMINUTIO (DIMINUIÇÃO DE SUA CAPACIDADE) referente aos direitos
patrimoniais envolvidos na falência, sendo afastada da administração dos seus bens. Sendo assim, num
processo em que se discuta, por exemplo, a venda desses bens, o falido apenas poderia acompanhá-lo como
assistente. Ele não poderia, portanto, tomar a iniciativa das ações com relação a bens da massa.
No entanto, no caso em que se pretenda rescindir decisão que decreta falência, a situação é diferente. Nesse
caso, nem a massa nem os credores têm interesse na desconstituição da decretação de falência. Realmente, o
falido é o único interessado. Por isso, se a legitimidade deste para propor a rescisão do decreto falimentar
fosse retirada, ele ficaria eternamente falido, ainda que injustamente, ainda que contrariamente à ordem legal.
Desse modo, o STJ ENTENDE QUE O FALIDO MANTÉM A LEGITIMIDADE PARA A PROPOSITURA DE AÇÕES PESSOAIS,
PODENDO, INCLUSIVE, AJUIZAR AÇÃO RESCISÓRIA PARA TENTAR REVERTER O DECRETO FALIMENTAR. STJ. 3ª Turma. REsp
1.126.521-MT, Rel. originário Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha,
julgado em 17/3/2015 (Info 558).

ALIENAÇÃO EXTRAORDINÁRIA DE ATIVO DA FALÊNCIA E DESNECESSIDADE DE PRÉVIA PUBLICAÇÃO DE EDITAL


Depois que os bens da massa falida forem arrecadados, ou seja, listados e organizados formalmente, eles serão
vendidos a fim de arrecadar dinheiro para pagar os credores.
Essa venda é chamada pela lei de “realização do ativo”.
No art. 142 da Lei estão previstas as modalidades ordinárias de realização do ativo (leilão, propostas fechadas e
pregão). No caso da alienação ordinária, a Lei exige que haja prévia publicação de um anúncio em jornal de
ampla circulação (§ 1º do art. 142).
Além das modalidades ordinárias de alienação, a Lei prevê formas extraordinárias de venda, que estão
disciplinadas nos arts. 144 e 145 para casos em que se exige uma maior celeridade e informalidade.
O STJ decidiu que, EM CASO DE ALIENAÇÃO EXTRAORDINÁRIA, NÃO É NECESSÁRIA A PRÉVIA PUBLICAÇÃO DO
ANÚNCIO EM JORNAL DE GRANDE CIRCULAÇÃO DE QUE TRATA O § 1º DO ART. 142. STJ. 3ª Turma. REsp
1.356.809-GO, Rel. Min. Paulo De Tarso Sanseverino, julgado em 10/2/2015 (Info 555).

CHEQUE

PROTESTO DO CHEQUE APÓS O PRAZO DE APRESENTAÇÃO


O PROTESTO DO CHEQUE EFETUADO CONTRA OS COOBRIGADOS para o exercício do direito de regresso deve ocorrer
ANTES DE EXPIRADO O PRAZO DE APRESENTAÇÃO (art. 48 da Lei 7.357/85). Trata-se do chamado PROTESTO
NECESSÁRIO.
O protesto de cheque efetuado CONTRA O EMITENTE pode ocorrer MESMO DEPOIS DO PRAZO DE APRESENTAÇÃO,
desde que NÃO ESCOADO O PRAZO PRESCRICIONAL. Esse é o PROTESTO FACULTATIVO.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.297.797-MG, Rel. João Otávio de Noronha, julgado em 24/2/2015 (Info 556).

Ação monitória fundada em cheque prescrito e dispensabilidade da menção ao negócio jurídico subjacente
à emissão da cártula

Súmula 531-STJ: Em ação monitória fundada em cheque prescrito ajuizada contra o emitente, é dispensável a
menção ao negócio jurídico subjacente à emissão da cártula.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 13/05/2015, DJe 18/05/2015.

Ausência de responsabilidade do banco por cheque cancelado que não é pago


Durante assalto ocorrido em um banco, os ladrões roubaram 50 talonários de cheques. Tais talonários
estavam impressos com nomes de clientes e seriam ainda entregues aos correntistas para que iniciassem seu
uso. Diante desse fato, o banco efetuou o cancelamento dos referidos cheques. Cerca de um mês depois do
assalto, um dos ladrões foi até o supermercado e comprou diversos produtos. A conta foi paga com o
cheque roubado.
funcionário do banco foi tentar descontar o cheque, mas ele foi devolvido, tendo a bancária informado que
aquele cheque não poderia ser pago porque havia sido cancelado pela instituição financeira, com base no
motivo 25 da Resolução 1.631/1989, do Banco Central.
O banco deverá responder pelo prejuízo do supermercado?
NÃO. A instituição financeira não deve responder pelos prejuízos suportados por sociedade empresária que,
no exercício de sua atividade empresarial, recebera como pagamento cheque que havia sido roubado durante
o envio ao correntista e que não pode ser descontado em razão do prévio cancelamento do talonário (motivo
25 da Resolução 1.631/1989 do Bacen).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.324.125-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 21/5/2015 (Info 564).

CONTRATOS DE TRESPASSE
Nos contratos de trespasse (alienação do estabelecimento comercial) existe, de forma implícita, por força de lei,
uma cláusula de não concorrência (cláusula de não restabelecimento). Isso significa que, em regra, o alienante não
pode fazer concorrência ao adquirente.
Segundo o art. 1.147, o prazo da cláusula de não concorrência é de 5 anos.
As partes NÃO PODEM PREVER QUE A CLÁUSULA DE “NÃO RESTABELECIMENTO” SERÁ
POR PRAZO INDETERMINADO. O ordenamento jurídico pátrio, salvo expressas exceções, não aceita
que cláusulas que limitem ou vedem direitos sejam estabelecidas por prazo indeterminado. Logo, a cláusula
de não restabelecimento fixada por prazo indeterminado É CONSIDERADA ABUSIVA .
STJ. 4ª Turma. REsp 680.815-PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 20/3/2014 (Info 554).

Validade da cláusula de não concorrência, desde que limitada espacial e temporalmente

É válida a cláusula contratual de não concorrência, desde que limitada espacial e temporalmente. Isso porque
esse tipo de cláusula protege a concorrência e os efeitos danosos decorrentes de potencial desvio de
clientela, sendo esses valores jurídicos reconhecidos constitucionalmente.
Assim, quando a relação estabelecida entre as partes for eminentemente comercial, a cláusula que estabeleça
dever de abstenção de contratação com sociedade empresária concorrente pode sim irradiar efeitos após a
extinção do contrato, desde que por um prazo certo e em determinado lugar específico (limitada temporária
e espacialmente).
Ex: João resolveu montar um quiosque no shopping para vender celulares, cartões pré-pagos etc. Para isso,
ele fez um contrato com a operadora de celular “XXX” por meio da qual ele somente iria vender os produtos e
serviços dessa operadora e, em troca, ela ofereceria a ele preços diferenciados, consultoria e treinamento
para abrir a loja. No contrato assinado com a operadora, havia uma cláusula dizendo que João estava
proibido, por 6 meses após a extinção do contrato, de contratar com qualquer empresa concorrente naquela
cidade. Essa cláusula de não concorrência é válida.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.203.109-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 6/5/2015 (Info 561).

PROCESSO CIVIL

LITISCONSÓRCIO

O PRAZO EM DOBRO DOS LITISCONSORTES COM PROCURADORES DIFERENTES APLICA-SE AOS PROCESSOS JUDICIAIS ELETRÔNICOS?

Importante!!!

Quando houver litisconsórcio, seja ele ativo (dois ou mais autores) ou passivo (dois ou mais réus), caso os
litisconsortes tenham advogados diferentes, os seus prazos serão contados em dobro. É o que determina o art.
191 do CPC 1973.
O art. 229 do CPC 2015 também traz regra semelhante, exigindo, contudo, que, além de serem procuradores
(advogados) diferentes, os causídicos também sejam de escritórios de advocacia diferentes: “Os litisconsortes
que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, terão prazos contados em dobro
para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal, independentemente de requerimento.”
O benefício do prazo em dobro para os litisconsortes vale para processos eletrônicos?

NO CPC 1973: SIM. O objetivo do prazo em dobro é facilitar o acesso aos autos, já que, havendo
advogados diferentes, eles não poderiam tirar os autos do cartório. Com base nisso, o STJ entende que não
haveria justificativa para o prazo em dobro nos processos eletrônicos, contudo, como o art. 191 do CPC 1973
não faz qualquer distinção entre processos físicos e eletrônicos, o STJ afirma que não se pode excluir o prazo
em dobro mesmo nos processos eletrônicos, sob pena de haver uma afronta ao princípio da legalidade.
NO CPC 2015: NÃO. O § 2º do art. 229 do CPC 2015 “corrige” essa falha da lei e determina
expressamente que não se aplica o prazo em dobro para litisconsortes diferentes se o processo for em autos
eletrônicos.
Desse modo, quando o CPC 2015 entrar em vigor, os litisconsortes não terão prazo em dobro no processo
eletrônico mesmo que possuam procuradores diferentes. Até lá, contudo, continua sendo aplicado o prazo em
dobro tanto para processos físicos como eletrônicos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.488.590-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 14/4/2015 (Info 560).

COMPETÊNCIA

INAPLICABILIDADE DA CLÁUSULA DE ELEIÇÃO DE FORO PREVISTA EM CONTRATO SEM ASSINATURA DAS PARTES
Nos casos em que A PARTE QUESTIONA A PRÓPRIA VALIDADE DO CONTRATO, ela NÃO PRECISARÁ RESPEITAR O FORO DE
ELEIÇÃO REFERENTE A ESSE AJUSTE.
Ex: duas empresas fizeram um contrato e elegeram como foro de eleição a comarca de Florianópolis; ocorre
que o contrato, apesar de aprovado, não chegou a ser assinado. Uma das empresas ajuizou ação questionando
a validade desse ajuste pelo fato de ele não ter sido assinado. Neste caso, em que a própria validade do
contrato está sendo objeto de apreciação judicial pelo fato de que não houve instrumento de formalização
assinado pelas partes, a cláusula de eleição de foro não deve prevalecer, ainda que ela já tenha sido prevista
em contratos semelhantes anteriormente celebrados entre as mesmas partes. STJ. 3ª Turma. REsp 1.491.040-
RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 3/3/2015 (Info 557).
- FORO DE ELEIÇÃO: Foro de eleição é um ajuste (normalmente uma cláusula do pacto) feito entre os
contratantes por meio da qual fica combinado que, se houver necessidade de uma disputa judicial envolvendo
aquele contrato, esta ação deverá ser proposta em determinado foro (comarca) escolhido previamente pelas
partes.
O CPC prevê as regras sobre a competência territorial (ex: a ação deverá ser proposta no foro do domicílio do
réu) e o foro de eleição é uma forma de afastar essas regras processuais com as partes decidindo em que lugar
(comarca) querem litigar se isso for necessário.
- ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE O FORO DE ELEIÇÃO:
 As partes só podem eleger o foro (comarca), mas não podem escolher a vara, o juiz etc. Assim, não seria válida
a cláusula que dissesse: “fica eleita a 4ª vara cível da comarca de São Luís como foro de eleição”).
 A cláusula de eleição deverá ser obrigatoriamente escrita (não pode ser oral).
 Deve se referir a um contrato específico. Em outras palavras, para cada contrato deverá haver a previsão de
uma cláusula de eleição específica.
 A cláusula de eleição obriga também os herdeiros e sucessores das partes (é transmissível).
- NOVIDADES DO CPC2015:
Art. 63:
§ 3º Antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode ser reputada ineficaz de ofício pelo juiz,
que determinará a remessa dos autos ao juízo do foro de domicílio do réu.
§ 4º Citado, incumbe ao réu alegar a abusividade da cláusula de eleição de foro na contestação, sob pena de
preclusão.
Essa parte em cinza é novidade do CPC 2015 e, por isso, deve ser destacada com as seguintes observações:
 Se a cláusula de eleição de foro for abusiva, o juiz poderá, de ofício, declará-la ineficaz. Repare que a lei não fala em
nulidade, mas sim em ineficácia, o que será explorado em provas objetivas. O CPC 1973 tratava o tema como “nulidade”.
 O juiz pode, de ofício, declarar a ineficácia da cláusula abusiva. No entanto, antes de tomar essa decisão, ele deverá
obrigatoriamente ouvir o autor sobre a suposta abusividade para que ele participe do contraditório. Nesse sentido é o
importante art. 10 do novo CPC: “O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a
respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual
deva decidir de ofício.” (DIDIER, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 1, p. 229).
 No CPC 1973, a cláusula de foro de eleição somente poderia ser declarada abusiva se fosse referente a um contrato de
adesão. No CPC 2015, a cláusula de foro de eleição pode ser declarada ineficaz, em tese, em qualquer espécie de contrato,
não se exigindo que seja contrato de adesão.

INFORMATIVO 552, STJ - COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR AÇÃO DE DIVÓRCIO QUANDO O MARIDO FOR INCAPAZ.
Importante!!! COMPETE AO FORO DO DOMICÍLIO DO REPRESENTANTE DO MARIDO INTERDITADO POR DEFICIÊNCIA
MENTAL – e NÃO AO FORO DA RESIDÊNCIA DE SUA ESPOSA CAPAZ E PRODUTIVA – processar e julgar ação de divórcio
direto litigioso, independentemente da posição que o incapaz ocupe na relação processual (autor ou réu). No
confronto entre o art. 100, I, do CPC (que prevê o foro do domicílio da mulher) e o art. 98 (que preconiza o
foro do domicílio do representante do incapaz), deverá prevalecer este último em virtude de o incapaz
apresentar maior fragilidade, necessitando, portanto, de uma maior proteção. STJ. 4ª Turma. REsp 875.612-
MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 4/9/2014 (Info 552).

CONEXÃO POR PREJUDICIALIDADE


Importante!!! A conexão entre duas causas ocorre quando elas, apesar de não serem idênticas, possuem um
VÍNCULO DE IDENTIDADE ENTRE SI QUANTO A ALGUM DOS SEUS ELEMENTOS CARACTERIZADORES. São
duas (ou mais) ações diferentes, mas que mantêm um vínculo entre si. Segundo o texto do CPC, existe
conexão quando duas ou mais ações tiverem O MESMO PEDIDO (OBJETO) OU CAUSA DE PEDIR.
Quando o juiz verificar que há conexão entre duas causas, ele poderá ordenar, de ofício ou a requerimento, A
REUNIÃO DELAS PARA JULGAMENTO EM CONJUNTO. Essa é a regra geral, NÃO SENDO APLICÁVEL,
CONTUDO, QUANDO A REUNIÃO IMPLICAR EM MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA
ABSOLUTA. O conceito de conexão previsto na lei é conhecido como CONCEPÇÃO TRADICIONAL (TEORIA
TRADICIONAL) DA CONEXÃO.

Existem autores [Fredie Didier na aula da LFG, por exemplo], contudo, que defendem que é possível que
exista conexão entre duas ou mais ações mesmo que o pedido e a causa de pedir sejam diferentes. Em outras
palavras, pode haver conexão em situações que não se encaixem perfeitamente no conceito legal de conexão.

Tais autores defendem a chamada TEORIA MATERIALISTA DA CONEXÃO, que sustenta que,
em determinadas situações, é possível identificar a conexão entre duas ações não com base no pedido ou na
causa de pedir, mas sim em outros fatos que liguem uma demanda à outra. Eles sustentam, portanto, que a
definição tradicional de conexão é insuficiente. Essa teoria é chamada de materialista porque defende que,
para se verificar se há ou não conexão, o ideal não é analisar apenas o objeto e a causa de pedir , MAS SIM A
RELAÇÃO JURÍDICA DE DIREITO MATERIAL QUE É DISCUTIDA EM CADA AÇÃO. EXISTIRÁ CONEXÃO SE A RELAÇÃO JURÍDICA
VEICULADA NAS AÇÕES FOR A MESMA OU SE, MESMO NÃO SENDO IDÊNTICA, EXISTIR ENTRE ELAS UMA VINCULAÇÃO. Essa

concepção materialista é que fundamenta a chamada “CONEXÃO POR PREJUDICIALIDADE”.


Podemos resumi-la em uma frase: QUANDO A DECISÃO DE UMA CAUSA INTERFERIR NA
SOLUÇÃO DA OUTRA, HÁ CONEXÃO.
- “A conexão, neste caso, decorrerá do vínculo que se estabelece entre as relações jurídicas litigiosas. Haverá
conexão se a mesma relação jurídica estiver sendo examinada em ambos os processos, ou se diversas
relações jurídicas, mas entre elas houver um vínculo de prejudicialidade ou preliminaridade.” (DIDIER, Fredie.
Curso de Direito Processual Civil. Salvador: Juspodivm, 2015, p 233).
- No caso concreto, havia duas ações: em uma delas o autor (empresa 1) executava uma dívida da devedora
(empresa 2). A executada, por sua vez, ajuizou ação declaratória de inexistência da relação afirmando que
nada deve para a empresa 1. Nesta situação, O STJ RECONHECEU QUE HAVIA CONEXÃO POR
PREJUDICIALIDADE e decidiu o seguinte: “PODE SER RECONHECIDA A CONEXÃO E DETERMINADA A REUNIÃO PARA
JULGAMENTO CONJUNTO DE UM PROCESSO EXECUTIVO COM UM PROCESSO DE CONHECIMENTO NO QUAL SE PRETENDA A
DECLARAÇÃO DA INEXISTÊNCIA DA RELAÇÃO JURÍDICA QUE FUNDAMENTA A EXECUÇÃO, DESDE QUE NÃO IMPLIQUE MODIFICAÇÃO
DE COMPETÊNCIA ABSOLUTA.”

Importante: o CPC 2015 manteve, no caput do art. 55, a definição tradicional de conexão. No entanto, dando
razão às criticas da doutrina, o novo CPC adota, em seu § 3º, a teoria materialista ao prever a conexão por
prejudicialidade: § 3º Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar risco de
prolação de decisões conflitantes ou contraditórias caso decididos separadamente, mesmo sem conexão
entre eles. STJ. 4ª Turma. REsp 1.221.941-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/2/2015 (Info 559).
- Obs.: Uma coisa é a conexão (fato); outra é o efeito (reunião de processos). Em alguns casos, o juiz pode
reconhecer que há a conexão (“realmente as duas ações possuem uma semelhança entre si”), mas, mesmo
assim, não ser possível/recomendável a reunião (“mesmo sendo conexas, serão julgadas em separado”).
NESSES CASOS, EM VEZ DE REUNIR, UM DOS PROCESSOS FICARÁ SUSPENSO AGUARDANDO O JULGAMENTO DO OUTRO,
NOS TERMOS DO ART. 265, IV, “A”, DO CPC 1973 (ART. 313, V, “A,”, DO CPC 2015).

SUSPENSÃO DO PROCESSO

PRAZO MÁXIMO PARA SUSPENSÃO DO PROCESSO CÍVEL NOS CASOS DO ART. 110 DO CPC 1973
O art. 110 do CPC 1973 prevê que, se o resultado do processo (conhecimento da lide) depender
necessariamente da verificação da existência de fato delituoso, o juiz do processo cível pode mandar sobrestar o
andamento do processo até que o juízo criminal decida se houve ou não o crime.
O STJ decidiu que a suspensão do processo determinada com base no art. 110 do CPC 1973 NÃO PODE
SUPERAR 1 ANO, de modo que, ULTRAPASSADO ESSE PRAZO, PODE O MAGISTRADO APRECIAR A
QUESTÃO PREJUDICIAL (pode o juízo cível decidir se houve ou não crime), que, no entanto, não fará coisa
julgada material.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.198.068-MS, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 2/12/2014 (Info 555).

Prejudicialidade externa entre ação reivindicatória e ação de nulidade de negócio jurídico

Deve ser suspensa a ação reivindicatória de bem imóvel, pelo prazo máximo de um ano (art. 265, IV, "a", do
CPC 1973 / art. 313, V, “a”, do CPC 2015), enquanto se discute, em outra ação, a nulidade do próprio negócio
jurídico que ensejou a transferência do domínio aos autores da reivindicatória.
STJ. 1ª Turma. EREsp 1.409.256-PR, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 6/5/2015 (Info 563)
No caso concreto, está configurada a chamada “prejudicialidade externa” entre as ações. Isso porque a
existência da ação de nulidade é uma questão prejudicial (externa), cuja solução irá interferir no resultado da
ação reivindicatória. Se a ação anulatória for procedente, faltará legitimidade ativa ad causam ao autor da
ação reivindicatória, justificando-se, portanto, a suspensão da ação reivindicatória pelo prazo máximo de 1
ano.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

A EXECUÇÃO DE CONTRATO DE HONORÁRIOS NÃO PODE SER PROPOSTA CONTRA PESSOA JURÍDICA QUE NÃO TENHA
ASSINADO O PACTO, MESMO QUE INTEGRANTE DO MESMO GRUPO ECONÔMICO.
Determinado advogado assinou contrato de prestação de serviços advocatícios com a empresa “A” que,
depois de alguns meses, mostrou-se inadimplente.
O advogado ajuíza, então, execução de título extrajudicial contra a empresa “A” e também contra duas
outras pessoas jurídicas “B” e “C”, que têm personalidades jurídicas distintas, mas que integram o mesmo
grupo econômico da empresa “A”.
Ele poderia ter feito isso? As empresas “B” e “C” podem figurar no polo passivo dessa execução em virtude de
fazerem parte do mesmo grupo econômico?

NÃO. NÃO ESTÃO LEGITIMADAS A INTEGRAR O POLO PASSIVO DE AÇÃO DE EXECUÇÃO DE HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS AS SOCIEDADES EMPRESÁRIAS QUE NÃO FIGURAREM NO TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL, AINDA
QUE SEJAM INTEGRANTES DO MESMO GRUPO ECONÔMICO da sociedade empresária que firmou o contrato de
prestação de serviços advocatícios.
O fato de sociedades empresárias pertencerem a um mesmo grupo econômico, por si só, não as torna
automaticamente solidárias nas respectivas obrigações.
Cada pessoa jurídica tem personalidade e patrimônio próprios, distintos, justamente para assegurar a
autonomia das relações e atividades de cada sociedade empresária, ainda que integrantes de um mesmo
grupo econômico. Somente em casos excepcionais essas distinções podem ser superadas, motivadamente
(art. 50 do CC).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.404.366-RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 23/10/2014 (Info 555).

JUSTIÇA GRATUITA

EFICÁCIA DA CONCESSÃO DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA


Qual é o momento em que deverá ser formulado o pedido de justiça gratuita?
Normalmente o pedido de justiça gratuita é feito na própria petição inicial (no caso do autor) ou na
contestação (no caso do réu). No entanto, A ORIENTAÇÃO PACÍFICA DA JURISPRUDÊNCIA É DE QUE A
ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA PODE SER PLEITEADA A QUALQUER TEMPO.
Imagine que o juiz conceda o benefício da justiça gratuita logo no início do processo de conhecimento (ex: na
petição inicial ou na contestação). É NECESSÁRIO QUE A PARTE REFAÇA ESSE PEDIDO QUANDO SE INICIAREM AS OUTRAS
FASES DO PROCESSO (EX: NA FASE DE RECURSO, NA FASE DE EXECUÇÃO ETC.) OU CASO TENHA INCIDENTES PROCESSUAIS?

NÃO. Quando a assistência judiciária gratuita for deferida, a eficácia da concessão do benefício prevalecerá,
independentemente de renovação de seu pedido, em todas as instâncias e para todos os atos do processo –
alcançando, inclusive, as ações incidentais ao processo de conhecimento, os recursos, AS RESCISÓRIAS,
assim como o subsequente processo de execução e eventuais embargos à execução.
Assim, depois de a justiça gratuita ter sido concedida, ELA IRÁ PERDURAR AUTOMATICAMENTE ATÉ O FINAL DO
PROCESSO, E SÓ PERDERÁ SUA EFICÁCIA SE O JUIZ OU O TRIBUNAL EXPRESSAMENTE REVOGAREM CASO TENHA
COMPROVADAMENTE MELHORADO A CONDIÇÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA DO BENEFICIÁRIO.
Exemplo: João ajuizou ação de indenização contra Pedro e pediu o benefício da justiça gratuita, o que foi
deferido pelo magistrado logo na decisão inicial. O juiz julgou o pedido improcedente. João interpôs apelação.
O autor não precisará recolher as custas porque já lhe foi deferida justiça gratuita (e isso ainda está valendo).
No recurso proposto, João não necessita pedir novamente o benefício. Imaginemos que o Tribunal condene
Pedro a pagar a indenização. No momento do cumprimento de sentença (fase de execução), João continuará
tendo direito à justiça gratuita mesmo que não faça novo pedido nesse sentido.
STJ. Corte Especial. AgRg nos EAREsp 86.915-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 26/2/2015 (Info 557).
- Garantia de assistência jurídica integral e gratuita
A CF/88 prevê a garantia da assistência jurídica integral e gratuita em seu art. 5º, LXXIV: “o Estado prestará
assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”.
Esse dispositivo constitucional consagra duas garantias:
II – Gratuidade da justiça
I – Assistência jurídica integral e gratuita
(Assistência Judiciária Gratuita – AJG).
Fornecimento pelo Estado de orientação e defesa Isenção das despesas que forem necessárias para
jurídica, de forma integral e gratuita, a ser que a pessoa necessitada possa defender seus
prestada pela Defensoria Pública, em todos os interesses em um processo judicial.
graus, aos necessitados (art. 134 da CF). Era regulada pela Lei nº 1.060/50, mas o CPC 2015
Regulada pela Lei Complementar 80/94. passou a tratar sobre o tema, revogando quase
toda essa lei.

a) Quem tem direito à gratuidade da justiça?


Tem direito à gratuidade da justiça a pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de
recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios (art. 98 do CPC-2015).
b) Quem está abrangido por ela?
 PESSOAS FÍSICAS (BRASILEIRAS OU ESTRANGEIRAS);
 PESSOAS JURÍDICAS (BRASILEIRAS OU ESTRANGEIRAS).
A pessoa beneficiada pela justiça gratuita está dispensada do pagamento de quais verbas?
Segundo o § 1º do art. 98 do CPC-2015, a gratuidade da justiça compreende:
I - AS TAXAS OU AS CUSTAS JUDICIAIS;
II - OS SELOS POSTAIS;
III - AS DESPESAS COM PUBLICAÇÃO NA IMPRENSA OFICIAL, DISPENSANDO-SE A PUBLICAÇÃO EM OUTROS MEIOS;
IV - a indenização devida à testemunha que, quando empregada, receberá do empregador salário integral,
como se em serviço estivesse;
V - AS DESPESAS COM A REALIZAÇÃO DE EXAME DE CÓDIGO GENÉTICO - DNA E DE OUTROS EXAMES CONSIDERADOS ESSENCIAIS;
VI - os HONORÁRIOS DO ADVOGADO E DO PERITO E A REMUNERAÇÃO DO INTÉRPRETE ou do tradutor nomeado para
apresentação de versão em português de documento redigido em língua estrangeira;
VII - o CUSTO COM A ELABORAÇÃO DE MEMÓRIA DE CÁLCULO, quando exigida para instauração da execução;
VIII - os DEPÓSITOS PREVISTOS EM LEI PARA INTERPOSIÇÃO DE RECURSO, para propositura de ação e para a prática de
outros atos processuais inerentes ao exercício da ampla defesa e do contraditório;
IX - os EMOLUMENTOS DEVIDOS A NOTÁRIOS OU REGISTRADORES EM DECORRÊNCIA DA PRÁTICA DE REGISTRO, averbação ou
qualquer outro ato notarial necessário à efetivação de decisão judicial ou à continuidade de processo judicial
no qual o benefício tenha sido concedido.
c) Dispensa parcial
A gratuidade da justiça PODERÁ SER CONCEDIDA EM RELAÇÃO A ALGUM OU A TODOS OS ATOS PROCESSUAIS, ou PODE
CONSISTIR APENAS NA REDUÇÃO PERCENTUAL DAS DESPESAS PROCESSUAIS QUE O BENEFICIÁRIO TIVER DE ADIANTAR NO CURSO
DO PROCEDIMENTO (§ 5º do art. 98 do CPC-2015).
d) Parcelamento
A depender do caso concreto, o JUIZ PODERÁ CONCEDER AO REQUERENTE O DIREITO DE PARCELAR AS DESPESAS
PROCESSUAIS QUE TIVER DE ADIANTAR NO CURSO DO PROCEDIMENTO (§ 6º do art. 98 do CPC-2015).
e) Despesas processuais e honorários advocatícios de sucumbência
Mesmo sendo beneficiária da justiça gratuita, a pessoa terá que pagar as despesas processuais e os
honorários advocatícios decorrentes de sua sucumbência (§ 2º do art. 98 do CPC-2015).
No entanto, as obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e
somente poderão ser executadas se, nos 5 anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as
certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a
concessão de gratuidade. EM OUTRAS PALAVRAS, EM ATÉ 5 ANOS, O CREDOR DEVERÁ DEMONSTRAR QUE O DEVEDOR
PASSOU A TER CONDIÇÕES DE CUSTEAR TAIS DESPESAS.
Passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário são consideradas extintas (§ 3º do art. 98 do CPC-2015).
f) Multas processuais
MESMO SENDO BENEFICIÁRIA DA JUSTIÇA GRATUITA, a pessoa terá o dever de pagar, ao final, AS MULTAS PROCESSUAIS
QUE LHE FORAM IMPOSTAS (§ 4º do art. 98 do CPC-2015). Ex: multa por litigância de má-fé.
g) O juiz poderá conceder de ofício o benefício da assistência judiciária gratuita?
NÃO. É VEDADA A CONCESSÃO “EX OFFICIO” DO BENEFÍCIO DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA PELO MAGISTRADO. Assim,
é indispensável que haja pedido expresso da parte (AgRg nos EDcl no AREsp 167.623/SP, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, Quarta Turma, julgado em 05/02/2013).

Dispensabilidade do prévio preparo do recurso contra a decisão que indeferiu a justiça gratuita

A pessoa que pediu justiça gratuita e esta foi negada, para que possa recorrer terá que pagar as custas do
recurso e comprovar o pagamento no momento da interposição?

O CPC 2015 afirma que NÃO . O recorrente não precisará fazer o recolhimento das custas até que haja
uma decisão do relator sobre a questão, antes do julgamento do recurso (art. 101, § 1º). Exemplo: João
interpõe o agravo de instrumento e não precisará ainda, neste momento, pagar as custas do recurso. O
Desembargador que for sorteado como relator, ao receber o recurso, irá proferir uma decisão monocrática
que pode ser:
 deferindo o benefício da justiça gratuita até que se julgue o mérito do recurso pelo Tribunal.
 negando o benefício da justiça gratuita até que o Tribunal examine o recurso. Neste caso, o relator
determinará ao recorrente o recolhimento das custas processuais no prazo de 5 dias, sob pena de não
conhecimento do recurso.
Essa decisão do Relator é monocrática (tomada sozinho) e provisória (isso porque o tema ainda será
apreciado pelo colegiado do Tribunal).

E antes do novo CPC, como a jurisprudência do STJ encarava o tema? A pessoa que pedia justiça gratuita e
esta era negada, no momento em que ia recorrer contra a decisão estava DISPENSADA de pagar as custas
do recurso?
 1ª corrente: SIM. STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 600.215-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
julgado em 2/6/2015 (Info 564).
 2ª corrente: NÃO. Posição majoritária nas demais Turmas do STJ. Quando o novo CPC entrar em
vigor esta 2ª corrente estará superada.
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 600.215-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 2/6/2015 (Info
564).

RECURSOS

(IM)POSSIBILIDADE DE PRORROGAÇÃO DO TERMO INICIAL DO PRAZO RECURSAL DIANTE DO ENCERRAMENTO PREMATURO DO


EXPEDIENTE FORENSE
Se o DIA DO VENCIMENTO DO PRAZO do recurso cair em uMA DATA NA QUAL O EXPEDIENTE FORENSE FOI ENCERRADO
MAIS CEDO que o normal, haverá prorrogação para o dia subsequente?
CPC-1973: SIM
CPC-2015: SIM
Se o DIA DO INÍCIO DO PRAZO do recurso cair em uma data na qual O EXPEDIENTE FORENSE FOI ENCERRADO MAIS
CEDO que o normal, haverá prorrogação do início para o dia subsequente?
CPC-1973: NÃO
CPC-2015: SIM
Para o CPC-1973, a prorrogação em razão do encerramento prematuro do expediente forense aplica-se tão
somente em relação ao dies ad quem (dia do vencimento) do prazo recursal, não se aplicando para o dies a
quo (dia de início).
STJ. Corte Especial. EAREsp 185.695-PB, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 4/2/2015 (Info 557).

Insuficiência do preparo e intimação do recorrente para suprir o pagamento

O preparo consiste no pagamento das custas e do porte de remessa e de retorno dos autos.
A parte que interpõe recurso contra uma decisão precisa comprovar, no momento da interposição, o preparo.
Se a parte, no ato da interposição do recurso, recolhe apenas uma das verbas indispensáveis ao seu
processamento (paga só as custas ou paga só as despesas com o porte de remessa e retorno), ela deverá ser
intimada para suprir o preparo no prazo de 5 dias. Caso não faça isso no prazo, será decretada a sua deserção.
STJ. Corte Especial. REsp 844.440-MS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 6/5/2015 (Info 563).

RECURSO ESPECIAL

CABIMENTO DE RESP EM CASO DE APLICAÇÃO DE LEI NOVA A SITUAÇÃO JURÍDICA JÁ CONSTITUÍDA ANTES DE SUA EDIÇÃO
Cabe recurso especial – e não recurso extraordinário – para examinar se ofende o art. 6º da Lei de Introdução
às normas do Direito Brasileiro (LINDB) a interpretação feita pelo acórdão recorrido dos conceitos legais de
direito adquirido e de ato jurídico perfeito a qual ensejou a aplicação de lei nova a situação jurídica já
constituída quando de sua edição. STJ. 2ª Seção. REsp 1.124.859-MG, Rel. originário Min. Luis Felipe Salomão,
Rel. para acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 26/11/2014 (Info 556).
A jurisprudência do STF orienta-se no sentido de que não cabe recurso extraordinário por ofensa aos princípios
constitucionais da legalidade, do devido processo legal, da coisa julgada, do direito adquirido, entre outros, se,
para apreciá-la, for necessária a interpretação de legislação ordinária (AgRg no AG 135.632-RS, Primeira Turma,
DJ 3/9/1999).
Duas situações são possíveis de serem imaginadas:
 Se a lei ordinária possui uma previsão dizendo que ela é retroativa e que se aplica a fatos pretéritos: essa lei,
em tese, viola diretamente o art. 5º, XXXVI, da CF/88, sendo cabível recurso extraordinário.
 Se a lei ordinária não diz que é retroativa e cabe ao intérprete decidir se a lei nova se aplica ou não a
determinada relação jurídica existente quando de sua edição: a questão será infraconstitucional porque irá
depender da análise dos conceitos de ato jurídico perfeito e coisa julgada, definições que são fornecidas pelo
art. 6º da LINDB. Logo, caberá recurso especial.

NÃO CABE RESP POR VIOLAÇÃO DE SÚMULA

SÚMULA 518-STJ: PARA FINS DO ART. 105, III, A, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, NÃO É CABÍVEL RECURSO
ESPECIAL FUNDADO EM ALEGADA VIOLAÇÃO DE ENUNCIADO DE SÚMULA.
STJ. CORTE ESPECIAL. APROVADA EM 26/02/2015 (INFO 556).

A) PARA OS FINS DO ART. 105, III, “A”, O QUE SE ENTENDE POR “LEI FEDERAL”?
A expressão “lei federal” é interpretada em sentido amplo e abrange:
 Lei complementar federal/nacional;
 Lei ordinária federal/nacional;
 Lei delegada federal/nacional;
 Decreto-lei federal/nacional;
 Medida provisória federal/nacional;
 Decreto autônomo federal/nacional.
Quando a pessoa interpõe recurso especial e fundamenta no art. 105, III, “a”, da CF/88, ela deverá indicar, de
forma individualizada, o dispositivo da “lei federal” que foi violado. Se não o fizer, o REsp não será conhecido.
“A ausência de indicação de dispositivo de lei federal que teria sido violado pelo acórdão recorrido ou
interpretado de forma divergente pelos tribunais, torna o recurso especial interposto com base nas alíneas ‘a’ e
‘c’ do permissivo constitucional deficiente em sua fundamentação. Incidência, por analogia, da Súmula
284/STF.” (STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 635.592/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
24/02/2015).
Conforme EXPLICAM FREDIE DIDIER E LEONARDO DA CUNHA (p. 329), os demais atos, diplomas ou instrumentos
normativos, uma vez desatendidos, não são objeto de análise em recurso especial. Assim, NÃO CABE
RECURSO ESPECIAL POR OFENSA a:
 PORTARIA;
 INSTRUÇÃO NORMATIVA;
 RESOLUÇÃO;
 DECRETO-LEGISLATIVO;
 PARECER NORMATIVO.
“(...) o recurso especial não constitui via adequada para análise de interpretação de resoluções, portarias ou
instruções normativas, por não estarem tais atos normativos compreendidos na expressão ‘lei federal’,
constante da alínea ‘a’ do inciso III do art. 105 da Constituição Federal.” (STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp
1494995/RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 12/02/2015).
Também NÃO CABE RECURSO ESPECIAL SE A NORMA VIOLADA FOR ESTADUAL OU
MUNICIPAL.
B) CABE RECURSO ESPECIAL POR VIOLAÇÃO A REGIMENTO INTERNO DE TRIBUNAL?

NÃO. Não cabe recurso especial por violação de lei federal, quando a ofensa alegada for a regimento de
tribunal. Esse tema foi pacificado há muitos anos com a edição da Súmula 399 do STF (época em que ainda
nem havia STJ nem recurso especial).
Assim, é “inviável a análise, em recurso especial, do preceito regimental, pois não se enquadra no conceito de
lei federal, por aplicação analógica da Súmula 399/STF” (STJ. REsp 1316889/RS, julgado em 19/09/2013).
C) FUNDAMENTO DA SÚMULA:

.
O motivo é muito singelo: SÚMULA NÃO É LEI Súmula é enunciado que expressa o entendimento
consolidado do Tribunal sobre determinado tema. Não pode ser considerada como um “ato normativo”. Em
resumo, o conceito de súmula não se enquadra na definição de lei federal, não podendo a ela ser equiparada.
D) ATÉ AQUI, TUDO BEM, VOCÊ JÁ ENTENDEU A SÚMULA 518. VAMOS AGORA AVANÇAR E APROFUNDAR EM UM ASPECTO DE
ORDEM PRÁTICA. O QUE A PARTE PREJUDICADA DEVERÁ FAZER SE O ACÓRDÃO DO TJ OU TRF CONTRARIAR O ENTENDIMENTO
EXPOSTO EM UMA SÚMULA DO STJ?
Uma súmula do STJ nada mais é do que a intepretação que este Tribunal deu para determinada lei federal.
Logo, se o acórdão do TJ ou TRF afronta entendimento exposto em súmula do STJ, isso significa que, em última
análise, essa decisão viola a intepretação que o STJ deu para aquele tema.
Assim, neste caso, a parte prejudicada deverá interpor recurso especial alegando que o acórdão do TJ ou TRF,
ao decidir daquele modo, contrariou não a súmula (porque aí não caberá REsp), mas sim que a decisão violou o
art. XX da Lei Federal XX (cuja intepretação deu origem àquela súmula).
Exemplo: no acórdão, o TJ afirmou que as regras do CDC não se aplicam para os contratos de plano de saúde. O
STJ possui um enunciado que diz o contrário (Súmula 469: Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos
contratos de plano de saúde). Se a parte prejudicada interpuser recurso especial alegando que o acórdão
violou a súmula 469, ele nem será conhecido. Dessa forma, a parte deverá interpor o REsp aduzindo que o TJ
contrariou o art. 3º da Lei federal n. 8.078/90. Isso porque o STJ editou a Súmula 469 com base na
interpretação dada a esse dispositivo legal.
FREDIE DIDIER E LEONARDO DA CUNHA EXPLICAM O TEMA COM MAIS TÉCNICA E ELEGÂNCIA:
“O que se permite é que, no recurso especial, se demonstre que o dispositivo foi interpretado pelo tribunal de
origem diferentemente do STJ. Em outras palavras, a jurisprudência do STJ não foi seguida, exatamente porque
determinado dispositivo foi interpretado diferentemente da orientação por ele ministrada. Logo, deve o
recurso especial apontar violação ao respectivo dispositivo legal, e não à jurisprudência ou ao enunciado da
súmula do STJ.” (p. 330).

RECURSO ESPECIAL REPETITIVO

Limites do julgamento submetido ao rito do art. 543-C do CPC

Em julgamentos submetidos ao rito do art. 543-C do CPC 1973 (art. 1.036 do CPC 2015), cabe ao STJ traçar as
linhas gerais acerca da tese aprovada, descabendo a inserção de soluções episódicas ou exceções que
porventura possam surgir em outros indetermináveis casos, sob pena de se ter de redigir verdadeiros
tratados sobre todos os temas conexos ao objeto do recurso.
STJ. Corte Especial. EDcl no REsp 1.124.552-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 6/5/2015 (Info 562).

RECURSO ADESIVO

IMPOSSIBILIDADE DE DESISTÊNCIA DO RECURSO PRINCIPAL SE FOI CONCEDIDA TUTELA ANTECIPADA NO RECURSO ADESIVO
Em regra, se a parte que interpôs o recurso principal pede a sua desistência, o recurso adesivo seguirá a
mesma sorte, e não será mais conhecido (art. 500, III, do CPC).
Vale ressaltar, ainda, que o recorrente poderá, a qualquer tempo, desistir do recurso, mesmo que sem a
anuência do recorrido (art. 501).
No entanto, segundo decidiu o STJ, SE JÁ FOI CONCEDIDA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA NO

RECURSO ADESIVO, NÃO SE ADMITE A DESISTÊNCIA DO RECURSO PRINCIPAL DE


APELAÇÃO.
A apresentação da petição de desistência logo após a concessão dos efeitos da tutela recursal teve a nítida
intenção de esvaziar o cumprimento da determinação judicial, no momento em que o réu anteviu que o
julgamento final da apelação lhe seria desfavorável, sendo a pretensão, portanto, incompatível com o
princípio da boa-fé processual.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.285.405-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 16/12/2014 (Info 554).

Recurso adesivo para majorar quantia indenizatória decorrente de dano moral

João propõe ação de indenização por danos morais contra Pedro pedindo o pagamento de R$ 30 mil. O juiz
julga o pedido procedente, condenando o réu a pagar a indenização por danos morais, mas fixando o valor
em R$ 10 mil. João pensou consigo mesmo: “eu queria mais, no entanto, prefiro acabar logo com esse
processo e receber imediatamente esses R$ 10 mil do que ficar tentando R$ 30 mil por mais alguns anos; não
vou recorrer”. Ocorre que, no último dia do prazo, Pedro interpôs apelação.
João foi, então, intimado para apresentar contrarrazões à apelação. Neste momento, ele pensou: “ah, já que
ele recorreu, então agora eu também quero recorrer para aumentar o valor da indenização; já que vou
esperar mesmo, então quero tentar uma quantia maior”.
Diante disso, o advogado de João interpõe recurso adesivo pedindo a majoração do valor da indenização por
danos morais.
Pedro apresenta contrarrazões alegando que o recurso interposto por João é incabível, considerando que o
recurso adesivo só cabe se existir sucumbência recíproca e, no caso, não houve, conforme preconiza a súmula
326 do STJ: “Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na
inicial não implica sucumbência recíproca.”
A tese de Pedro está correta?
NÃO. O recurso adesivo pode sim ser interposto pelo autor da ação de indenização julgada procedente,
quando arbitrado, a título de danos morais, valor inferior ao que era almejado. Isso porque, neste caso, estará
configurado o interesse recursal do demandante em ver majorada a condenação, hipótese caracterizadora de
sucumbência material.
Realmente, só cabe recurso adesivo se houver sucumbência recíproca, ou seja, se tanto o autor como o réu
perderem na sentença.
Se o autor pediu a condenação do réu em R$ 30 mil a título de danos morais e conseguiu a condenação em R$
10 mil, ele ganhou a demanda sob o ponto de vista formal (processual). Não se pode dizer que houve
sucumbência formal, já que a providência processual requerida foi atendida (o réu foi obrigado a pagar). No
entanto, sob o ponto de vista material, o autor teve sim uma sucumbência parcial (derrota parcial). Isso
porque ele não obteve exatamente o bem da vida que pretendia (queria 30 e só teve 10). Logo, neste caso, o
autor terá interesse em ver majorada a condenação, hipótese caracterizadora, portanto, da sucumbência
material viabilizadora da irresignação recursal.
Não se aplica a Súmula 326 do STJ porque esse enunciado é baseado na definição da responsabilidade pelo
pagamento de despesas processuais e honorários advocatícios. Ele não está relacionado com interesse
recursal. A correta leitura da súmula 326 é a seguinte:
Para fins de definição de quem irá pagar as despesas processuais e os honorários advocatícios, “na ação de
indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica
sucumbência recíproca”.
Logo, se o autor pediu uma quantia a título de danos morais e obteve valor inferior ao desejado, podemos
concluir que:
 Sob o ponto de vista formal, ele foi o vencedor da demanda e não terá que pagar as despesas
processuais e os honorários advocatícios do réu (Súmula 326-STJ);
 Sob o ponto de vista material, ele foi sucumbente e terá direito de interpor recurso (principal ou
adesivo), já que não obteve o exato bem da vida pretendido.
STJ. Corte Especial. REsp 1.102.479-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, Corte Especial, julgado em 4/3/2015 (recurso
repetitivo) (Info 562).

Sucumbência formal e material


A doutrina faz uma distinção entre sucumbência formal e material (NEVES, Daniel Amorim Assumpção.
Manual de Direito Processual Civil. Vol. Único, 2ª ed., São Paulo: Ed. Método, 2011, p. 620-622):

 Sucumbência FORMAL: ocorre quando a parte não consegue aquilo que poderia ter processualmente
obtido em virtude do pedido formulado ao órgão jurisdicional.

 Sucumbência MATERIAL: diz respeito aos aspectos materiais do processo. A análise aqui não é
processual, mas sim sobre o bem ou os bens da vida que a parte poderia obter em virtude do
processo judicial e que não obteve em razão da decisão judicial. Essa discrepância entre o desejado
no mundo prático e o praticamente obtido no processo gera a sucumbência material da parte.

Todas as vezes que houver sucumbência formal, haverá também a material. Se a parte não conseguiu a
providência processual requerida, isso significa que, no mundo real, também não obteve o bem da vida
pretendido. Por outro lado, pode haver a sucumbência material sem que exista a sucumbência formal, ou
seja, a parte obteve a providência processual, mas não conseguiu exatamente o bem da vida desejado.

AGRAVO DE INSTRUMENTO

POSSIBILIDADE DE CONHECER AG INSTRUMENTO INTERPOSTO PELA FAZENDA NACIONAL COM CÓPIA DO TERMO DE
ABERTURA DE VISTA E REMESSA DOS AUTOS

No agravo de instrumento, em regra, SE O AGRAVANTE NÃO JUNTOU A CÓPIA DE CERTIDÃO DE INTIMAÇÃO DA


DECISÃO AGRAVADA, SEU RECURSO NÃO SERÁ CONHECIDO (art. 525, I, do CPC). A Lei exige esse
documento para que o Tribunal possa saber quando a parte foi intimada e, assim, ter certeza que o
recurso foi interposto tempestivamente.
Exceção: É POSSÍVEL DISPENSAR A CERTIDÃO DE INTIMAÇÃO SE EXISTIREM OUTROS MEIOS PARA SE
AFERIR A TEMPESTIVIDADE DO RECURSO.
Nos casos envolvendo agravo de instrumento interposto pela Fazenda Nacional, o termo de abertura de
vista e remessa dos autos à Fazenda Nacional substitui, para efeito de demonstração da tempestividade do
agravo de instrumento (art. 522 do CPC) a apresentação de certidão de intimação da decisão agravada (art.
525, I, do CPC).
STJ. Corte Especial. REsp 1.37

COISA JULGADA

CONFLITO DE SENTENÇAS TRANSITADAS EM JULGADO


Caso haja duas sentenças transitadas em julgado envolvendo as mesmas partes, mesma causa de pedir e
mesmo pedido, qual delas deverá prevalecer?

A PRIMEIRA. A SEGUNDA SENTENÇA É INEXISTENTE, porque FOI PROFERIDA NUMA


DEMANDA EM QUE O AUTOR ERA CARENTE DE AÇÃO (por falta de interesse jurídico). Além disso, a SEGUNDA
SENTENÇA FOI PROFERIDA EM AFRONTA A UM PRESSUPOSTO PROCESSUAL NEGATIVO (OU EXTRÍNSECO), QUE É A COISA
JULGADA.
Qual é o instrumento cabível para alegar o vício que macula essa segunda sentença? A partir do momento em
que se entende que a segunda sentença é inexistente, não há necessidade de ação rescisória, PODENDO-SE
OBTER A DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA PERANTE O PRÓPRIO JUÍZO DE ORIGEM, POR MEIO DE AÇÃO OU OBJEÇÃO, ESTEJA
OU NÃO TRANSCORRIDO O PRAZO DECADENCIAL DA RESCISÓRIA. Vale ressaltar, no entanto, que o lesado poderá
perfeitamente alegar o vício por meio de rescisória.
No caso concreto, O STJ ADMITIU QUE ESSE VÍCIO FOSSE ARGUIDO POR MEIO DE EXCEÇÃO DE
PRÉ- EXECUTIVIDADE. STJ. 3ª Turma. REsp 1.354.225-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
24/2/2015 (Info 557).
Divergência Doutrinária:
Deverá prevalecer a 1ª coisa julgada Deverá prevalecer a 2ª coisa julgada
Arruda Alvim, Nelson Nery Jr. e Rosa Nery, Pontes de Miranda, Vicente Greco Filho, Barbosa
Araken de Assis, Teresa Wambier, Sérgio Gabriel Moreira, Cândido Rangel Dinamarco.
Porto, Sálvio de Figueiredo Teixeira.
Os que sustentam essa posição defendem que a
segunda sentença deverá prevalecer até que
seja desconstituída por meio de ação rescisória.
Passado o prazo, não há mais jeito.
Fundamentos para desnecessidade de Ação rescisória para desconstituir a segunda coisa julgada:
1ª) essa SEGUNDA SENTENÇA É INEXISTENTE (é um NADA NO MUNDO JURÍDICO). Logo, não é necessária uma ação
rescisória para reconhecer a inexistência.
2º) ainda que se considere que essa segunda sentença tem existência jurídica, mesmo assim não seria preciso
ação rescisória porque o DEFEITO QUE RECAI SOBRE ELA (VIOLAÇÃO DA COISA JULGADA) é
considerado UM VÍCIO TRANSRESCISÓRIO. Vício transrescisório é aquele que, por ser tão grave, permite a
sua invalidação mesmo após o prazo bienal da ação rescisória. Logo, o vício transrescisório não tem um prazo
máximo para ser alegado. Ex: é o caso de um processo que foi julgado sem a participação de litisconsorte
necessário (STJ. REsp 445.664/AC, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 24/08/2010). A violação da coisa julgada
é reputada como vício transrecisório por trazer em si as máculas da inconstitucionalidade e da ausência de
boa-fé.

Conflito de sentenças transitadas em julgado

Caso haja duas sentenças transitadas em julgado envolvendo as mesmas partes, mesma causa de pedir e
mesmo pedido, qual delas deverá prevalecer?
Existem duas correntes na doutrina e no STJ:
 1ª) Prevalece a 1ª coisa julgada.
Posição da 3ª Turma do STJ.
Na doutrina: Arruda Alvim, Nelson Nery Jr. e Rosa Nery, Araken de Assis, Teresa Wambier,
Sérgio Gabriel Porto, Sálvio de Figueiredo Teixeira.
A segunda sentença seria inexistente, porque foi proferida numa demanda em que o autor era
carente de ação (por falta de interesse jurídico). A coisa julgada também é um pressuposto processual
negativo (ou extrínseco), de forma que a segunda ação foi proposta em afronta a esse pressuposto, o
que também conduz à inexistência da segunda sentença.
Para essa corrente, a partir do momento em que se entende que a segunda sentença é inexistente,
não há necessidade de ação rescisória, podendo-se obter a declaração de inexistência perante o
próprio juízo de origem, por meio de ação ou objeção, esteja ou não transcorrido o prazo decadencial
da rescisória. Vale ressaltar, no entanto, que o lesado poderá perfeitamente alegar o vício por meio
de rescisória.
 2ª) Prevalece a 2ª coisa julgada, a não ser que ela seja desconstituída por ação rescisória.
Posição da 2ª Turma do STJ.
Na doutrina: Pontes de Miranda, Vicente Greco Filho, Barbosa Moreira, Cândido Rangel
Dinamarco, Humberto Theodoro Jr.
Havendo conflito entre duas coisas julgadas, prevalecerá a que se formou por último, enquanto não
desconstituída mediante ação rescisória. Assim, em regra, prevalece a segunda sentença transitada
em julgado, a não ser que ela seja desconstituída por meio de ação rescisória. Enquanto não for, ela é
que vale. Se passar o prazo de 2 anos da rescisória, a segunda valerá para sempre.
Havendo conflito entre duas coisas julgadas, prevalecerá a que se formou por último, enquanto não
se der sua rescisão para restabelecer a primeira. A exceção de pré- executividade não serve no caso
para substituir a ação rescisória.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.354.225-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/2/2015 (Info 557). STJ.
2ª Turma. REsp 1.524.123-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 26/5/2015 (Info 565).

RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA

INAPLICABILIDADE DA TEORIA DA RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA INCONSTITUCIONAL PARA ERRO NA FIXAÇÃO DOS
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

A MERA ALEGAÇÃO DE QUE HOUVE UM ERRO DE JULGAMENTO NÃO É APTA A JUSTIFICAR A APLICAÇÃO DA
TEORIA DA RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA com vistas a desconstituir DECISÃO QUE FIXOU
EQUIVOCADAMENTE OS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS com base no § 3º do art. 20 do CPC, quando deveria ter utilizado
o § 4º do referido dispositivo, ainda que o valor dos honorários seja excessivo e possa prejudicar os demais
credores. STJ. 4ª Turma. REsp 1.163.649-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 16/9/2014 (Info 556).
TEORIA DA RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA
A jurisprudência do STJ até admite, em alguns casos, a aplicação da teoria da relativização da coisa julgada,
contudo SOMENTE A ACEITA EM SITUAÇÕES EXCEPCIONAIS, nas quais A SEGURANÇA JURÍDICA, que é O SEU PRINCÍPIO
INFORMADOR, TIVER QUE CEDER ESPAÇO EM FAVOR DE OUTROS PRINCÍPIOS OU VALORES MAIS IMPORTANTES.
É o caso, por exemplo, da relativização da coisa julgada feita com o objetivo de se proteger:
 A BUSCA DA VERDADE REAL (ex: ações tratando sobre filiação nas quais a decisão transitada em julgado conflite
com resultados de exames de DNA posteriores);
 A FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO e a MÁXIMA EFICÁCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS (ex: nas execuções de
títulos judiciais fundados em norma declarada inconstitucional pelo STF); e
 A JUSTA INDENIZAÇÃO (ex: ações de desapropriação que estabelecem indenizações excessivas ou incompatíveis
com a realidade dos fatos).
Assim, o erro decorrente da aplicação equivocada do § 3° do art. 20 do CPC, em vez do § 4° do referido
dispositivo, mesmo gerando um crédito excessivamente elevado, não tem o condão de afastar a imutabilidade
da coisa julgada, ainda que o pagamento do referido valor possa prejudicar os demais credores concursais.
Caso contrário, abrir-se-ia a possibilidade de que em todos os processos concursais (falência, recuperação
judicial, liquidação extrajudicial, concurso de credores, etc.) os créditos representados por títulos judiciais
transitados em julgado fossem casuisticamente revistos, em prejuízo, frise-se mais uma vez, da segurança
jurídica que a coisa julgada visa garantir e preservar.

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA DE PEDIDO DECLARATÓRIO


No caso em que, em AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE NOTAS PROMISSÓRIAS, a sentença, AO RECONHECER
SUBSISTENTE A OBRIGAÇÃO CAMBIAL ENTRE AS PARTES, atestando a existência de obrigação líquida, certa e exigível,
DEFINA A IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO, O RÉU PODERÁ PLEITEAR O CUMPRIMENTO DESSA SENTENÇA, INDEPENDENTEMENTE DE
TER SIDO FORMALIZADO PEDIDO DE SATISFAÇÃO DO CRÉDITO NA CONTESTAÇÃO. STJ. 3ª Turma. REsp 1.481.117-PR, Rel.
Min. João Otávio de Noronha, julgado em 3/3/2015 (Info 557).

Fundamento:
Art. 475-N, I, do CPC 1973 (art. 515, I, do CPC 2015):
Art. 475-N. São títulos executivos judiciais: I – a sentença proferida no processo civil que
reconheça a existência de obrigação de fazer,
não fazer, entregar coisa ou pagar quantia;
Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo I - as decisões proferidas no processo civil que
cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos reconheçam a exigibilidade de obrigação de
previstos neste Título: pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de
entregar coisa;
ASSIM, AS SENTENÇAS QUE, MESMO NÃO QUALIFICADAS COMO CONDENATÓRIAS, AO DECLARAREM UM DIREITO, ATESTEM DE
FORMA EXAURIENTE A EXISTÊNCIA DE OBRIGAÇÃO CERTA, LÍQUIDA E EXIGÍVEL, SERÃO DOTADAS DE FORÇA EXECUTIVA.

CABIMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SE NÃO HOUVE PAGAMENTO VOLUNTÁRIO

SÚMULA 517-STJ: SÃO DEVIDOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS NO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA, HAJA OU


NÃO IMPUGNAÇÃO, DEPOIS DE ESCOADO O PRAZO PARA PAGAMENTO VOLUNTÁRIO, QUE SE INICIA APÓS A
INTIMAÇÃO DO ADVOGADO DA PARTE EXECUTADA.
STJ. CORTE ESPECIAL. APROVADA EM 26/02/2015 (INFO 556).
A) CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
O procedimento para execução de quantia pode ser realizado de duas formas:
 Execução de quantia fundada em título executivo extrajudicial;
 Execução de quantia fundada em título executivo judicial (cumprimento de sentença).
B) IMAGINE A SEGUINTE SITUAÇÃO HIPOTÉTICA:
“A” ajuíza uma ação de cobrança contra “B”.
O juiz julga a sentença procedente, condenando “B” a pagar 1 milhão de reais a “A”. “B” perdeu o prazo para a
apelação, de modo que ocorreu o trânsito em julgado.
C) O QUE ACONTECE AGORA?
“A” terá que ingressar com uma petição em juízo requerendo o cumprimento da sentença.
D) O INÍCIO DA FASE DE CUMPRIMENTO DA SENTENÇA PODE SER FEITO DE OFÍCIO PELO JUIZ?
Não. O cumprimento da sentença não se efetiva de forma automática, ou seja, logo após o trânsito em julgado
da decisão.
Cabe ao credor o exercício de atos para o regular cumprimento da decisão condenatória, especialmente
requerer ao juízo que dê ciência ao devedor sobre o montante apurado, consoante memória de cálculo
discriminada e atualizada (STJ REsp 940.274/MS).
Em outras palavras, O INÍCIO DA FASE DE CUMPRIMENTO DA SENTENÇA EXIGE UM REQUERIMENTO DO CREDOR.
E) A PARTIR DO REQUERIMENTO DO CREDOR, O QUE FAZ O JUIZ?
O juiz determina a intimação do devedor para pagar a quantia em um prazo máximo de 15 dias, sob pena do
valor da condenação ser acrescido de multa de 10%, conforme o art. 475-J do CPC.
F) ESSE PRAZO DE 15 DIAS, PREVISTO NO ART. 475-J, É CONTADO A PARTIR DE QUANDO?
A multa de 10% prevista no artigo 475-J depende de intimação prévia do devedor, ainda que na pessoa de seu
patrono.
Não basta que o devedor já tenha sido intimado anteriormente da sentença que o condenou. Para começar o
prazo de 15 dias para pagamento, É NECESSÁRIA NOVA INTIMAÇÃO.
G) A INTIMAÇÃO PARA QUE O DEVEDOR PAGUE, NOS TERMOS DO ART. 475-J, PRECISA SER PESSOAL (OU SEJA, PARA O PRÓPRIO
DEVEDOR) OU PODE SER FEITA NO NOME DE SEU ADVOGADO POR MEIO DE PUBLICAÇÃO NA IMPRENSA OFICIAL?

Não precisa haver intimação pessoal. A INTIMAÇÃO PODE SER REALIZADA NA PESSOA DO ADVOGADO do
devedor, POR MEIO DE PUBLICAÇÃO NA IMPRENSA OFICIAL.
H) ESSA MULTA PODE SER APLICADA EM CASO DE EXECUÇÃO PROVISÓRIA OU SOMENTE SE HOUVER TRÂNSITO EM JULGADO?
Essa multa É PRÓPRIA DA EXECUÇÃO DEFINITIVA, de modo que deve ter havido o trânsito em julgado da
sentença. A execução provisória de sentença não comporta a cominação da multa prevista no art. 475-J do CPC
(STJ AgRg nos EDcl no REsp 1229705/PR).
I) SE O DEVEDOR CONDENADO É INTIMADO PARA PAGAR E NÃO EFETUA O PAGAMENTO NO PRAZO DE 15 DIAS, O QUE ACONTECERÁ
EM SEGUIDA?
 O montante da condenação será automaticamente acrescido de multa de 10%;
 O credor deverá formular petição ao juiz apresentando o demonstrativo do débito atualizado e requerendo a
expedição de mandado para que sejam penhorados e avaliados os bens do devedor para satisfação do crédito.
Neste momento, inicia-se a execução forçada do título, diante do não cumprimento espontâneo.
J) NA FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA EXISTE ALGUMA FORMA DE “DEFESA” DO DEVEDOR?
Sim. A defesa típica do devedor executado no cumprimento de sentença é a chamada impugnação.
K) HÁ CONDENAÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS NA FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA? EM OUTRAS PALAVRAS, O
DEVEDOR PODE SER CONDENADO A PAGAR NOVOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA?
SIM. É CABÍVEL O ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS NA FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.
Os honorários advocatícios fixados na sentença remuneram o trabalho desenvolvido pelo advogado na fase de
conhecimento.
Como é necessário que o credor faça um requerimento, por meio de advogado, para que seja dado início à fase
de cumprimento de sentença, além de acompanhar toda a tramitação, o STJ entendeu que caberá a
condenação do devedor ao pagamento de novos honorários advocatícios de sucumbência, salvo se ele decidir
cumprir voluntariamente a obrigação.
L) PARA QUE HAJA CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS, É NECESSÁRIO QUE O DEVEDOR TENHA APRESENTADO IMPUGNAÇÃO?
NÃO. São devidos honorários advocatícios no cumprimento de sentença, haja ou não impugnação. Passou
o prazo de 15 dias e o devedor não pagou, já incidirão os honorários e mais a multa de 10%.
M) RESUMINDO:
 Se o credor inicia o cumprimento de sentença, o devedor é intimado e paga dentro do prazo de 15 dias, isso é considerado
pelo STJ como sendo pagamento espontâneo do devedor.
 Em outras palavras, há pagamento espontâneo do devedor que, intimado a fazê-lo, cumpre a determinação dentro do
prazo de 15 dias previsto no art. 475-J do CPC.
 “Na fase de cumprimento de sentença, o devedor deverá ser intimado, na pessoa de seu advogado, mediante publicação
na imprensa oficial, para efetuar o pagamento no prazo de 15 (quinze) dias, a partir de quando, caso não o efetue, passará
a incidir a multa de 10% (dez por cento) sobre o montante da condenação (art. 475-J do CPC).” (STJ. Corte Especial. REsp
1.262.933⁄RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19⁄6⁄2013).
 Não há que se falar em cobrança de honorários advocatícios quando há cumprimento espontâneo da obrigação. Assim,
havendo o adimplemento espontâneo do devedor no prazo fixado no art. 475-J do CPC, não são devidos honorários
advocatícios, uma vez que foi desnecessária a prática de quaisquer atos para obrigar o devedor a pagar (STJ. 4ª Turma.
REsp 1.264.272/RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/5/2012).
 Por outro lado, se o devedor foi intimado e passou o prazo de 15 dias sem que ele pagasse, a partir daí já são cabíveis
honorários advocatícios, haja ou não impugnação.

NÃO CABIMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS NA IMPUGNAÇÃO

SÚMULA 519-STJ: NA HIPÓTESE DE REJEIÇÃO DA IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA, NÃO SÃO


CABÍVEIS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
STJ. CORTE ESPECIAL. APROVADA EM 26/02/2015 (INFO 556).

IMPUGNAÇÃO
A) NA FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA EXISTE ALGUMA FORMA DE “DEFESA” DO DEVEDOR?

SIM. A defesa típica do devedor executado no cumprimento de sentença é a chamada IMPUGNAÇÃO.


B) QUAL É A NATUREZA JURÍDICA DA IMPUGNAÇÃO? POSSUI NATUREZA JURÍDICA DE AÇÃO?

NÃO. Para o STJ, trata-se de MERO INCIDENTE PROCESSUAL (REsp 1134186/RS). Obs:
EXISTEM POSIÇÕES DIFERENTES NA DOUTRINA.
C) PARA QUE O DEVEDOR APRESENTE IMPUGNAÇÃO É INDISPENSÁVEL A GARANTIA DO JUÍZO, OU SEJA, É NECESSÁRIO QUE HAJA
PENHORA, DEPÓSITO OU CAUÇÃO?

SIM. A GARANTIA DO JUÍZO CONSTITUI CONDIÇÃO PARA A PRÓPRIA APRESENTAÇÃO DE IMPUGNAÇÃO ao cumprimento
de sentença, e NÃO APENAS PARA SUA APRECIAÇÃO.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.265.894-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/6/2013 (Info 526).

D) A TESE DO CREDOR É ACEITA PELO STJ? SE A IMPUGNAÇÃO OFERECIDA PELO DEVEDOR É JULGADA IMPROCEDENTE, O DEVEDOR
TERÁ QUE PAGAR, POR CAUSA DISSO, NOVOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS (ALÉM DOS QUE JÁ DEVERÁ PAGAR POR FORÇA DO
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA TER SE INICIADO)?

NÃO. Na hipótese de rejeição da impugnação ao cumprimento de sentença, não são cabíveis novos
honorários advocatícios. Dito de outro modo: o devedor não terá que pagar novos honorários advocatícios
pelo fato de ter perdido a impugnação (obs: esse devedor continuará tendo que pagar honorários advocatícios
por não ter pago voluntariamente a obrigação, ou seja, terá que pagar honorários advocatícios por causa do
cumprimento de sentença).
E) E SE A IMPUGNAÇÃO OFERECIDA PELO DEVEDOR FOR JULGADA PROCEDENTE, HAVERÁ CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS? SIM. SE
A IMPUGNAÇÃO FOR JULGADA PROCEDENTE O CREDOR SERÁ CONDENADO A PAGAR HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS EM FAVOR DO
DEVEDOR.
Em suma:

Se a IMPUGNAÇÃO É REJEITADA: NÃO cabem NOVOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.


Se a IMPUGNAÇÃO É ACOLHIDA (AINDA QUE PARCIALMENTE): serão ARBITRADOS HONORÁRIOS EM BENEFÍCIO DO
EXECUTADO, com base no art. 20, § 4º, do CPC.
F) RELAÇÃO ENTRE AS SÚMULAS 517 E 519
Não se pode confundir o raciocínio das Súmulas 517 e 519. Elas não são contraditórias. Ao contrário,
completam-se:
A SITUAÇÃO GERA HONORÁRIOS?
SITUAÇÃO FUNDAMENTO
No cumprimento de sentença,
devedor é intimado e não faz o Súmula 517-STJ
pagamento voluntário no prazo SIM O devedor deu causa ao início
de 15 dias. Não interessa se da execução forçada.
houve ou não impugnação.
Súmula 519-STJ
NÃO O devedor, ao apresentar
Devedor apresenta impugnação e impugnação iniciou um mero
esta é rejeitada. incidente no processo, sendo isso
insuficiente para gerar novos
honorários. Ele continua tendo
que pagar honorários por causa
do cumprimento de sentença
Devedor apresenta
SIM, em favor do devedor. STJ. REsp 1.134.186/RS (recurso
impugnação e esta é
repetitivo).
acolhida (ainda que
parcialmente).

REQUISITOS PARA A IMPOSIÇÃO DA MULTA PREVISTA NO ART. 475-J DO CPC NO CASO DE SENTENÇA ILÍQUIDA

O art. 475-J do CPC 1973 (art. 523, § 1º do CPC 2015) prevê que o devedor será intimado para pagar a quantia
na qual ele foi condenado no prazo de 15 dias. Caso não pague, o valor da condenação será acrescido de multa
de 10%.
A liquidez da obrigação é pressuposto para o pedido de cumprimento de sentença . Assim, essa multa
do art. 475-J do CPC 1973 (art. 523, § 1º do CPC 2015) só será imposta se a obrigação já estiver líquida, ou seja,
se houver o valor certo que o devedor deverá pagar.
Se a sentença foi ilíquida, antes de intimar o devedor para pagar sob pena da multa do art. 475-J do CPC 1973
(art. 523, § 1º do CPC 2015), será necessário fazer a sua liquidação.
Desse modo, para fins de recurso especial repetitivo, o STJ fixou a seguinte tese:
No caso de sentença ilíquida, para a imposição da multa prevista no art. 475-J do CPC, revela-se indispensável
(i) a prévia liquidação da obrigação; e, após, o acertamento, (ii) a intimação do devedor, NA FIGURA DO SEU
ADVOGADO, para pagar o quantum ao final definido no prazo de 15 dias. Em outras palavras, somente após
ter certeza do valor devido (liquidação) é que se poderá
intimar o devedor para pagar. Se ele, mesmo depois de intimado, não quitar a dívida no prazo
de 15 dias, aí sim haverá a imposição da multa de 10% do art. 475-J do CPC 1973 (art. 523, § 1º do CPC 2015).
STJ. 2ª Seção. REsp 1.147.191-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 4/3/2015 (recurso
repetitivo) (Info 560).
EXECUÇÃO

É IMPENHORÁVEL A QUANTIA ORIUNDA DO RECEBIMENTO, PELO DEVEDOR, DE VERBA RESCISÓRIA TRABALHISTA


POSTERIORMENTE POUPADA EM MAIS DE UM FUNDO DE INVESTIMENTO, DESDE QUE A SOMA DOS VALORES NÃO SEJA
SUPERIOR A 40 SALÁRIOS MÍNIMOS.

O art. 649, X, do CPC afirma que “são absolutamente impenhoráveis até o limite de 40 (quarenta) salários
mínimos, a quantia depositada em CADERNETA DE POUPANÇA.”
O STJ confere interpretação extensiva ao inciso X do art. 649 do CPC, permitindo que essa
impenhorabilidade abranja outras aplicações financeiras, além da poupança, como é o caso do fundo de
investimento.
Assim, É IMPENHORÁVEL a quantia oriunda do recebimento, pelo devedor, de VERBA RESCISÓRIA
TRABALHISTA POSTERIORMENTE POUPADA EM MAIS DE UM FUNDO DE INVESTIMENTO, desde que a SOMA DOS
VALORES NÃO SEJA SUPERIOR A 40 SALÁRIOS MÍNIMOS.
Admite-se, PARA ALCANÇAR O PATAMAR DE 40 SALÁRIOS MÍNIMOS, QUE O VALOR INCIDA EM MAIS DE UMA
APLICAÇÃO FINANCEIRA, desde que respeitado tal limite. Em outras palavras, caso o devedor possua mais de
um fundo de investimento, todas as respectivas contas devem ser consideradas impenhoráveis, até o limite
global de 40 salários mínimos (soma-se todos os fundos de investimento e o máximo protegido é 40 salários
mínimos).
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.330.567-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/12/2014 (Info 554).

A) SE A PESSOA RECEBE SEU SALÁRIO NA CONTA BANCÁRIA, MAS NÃO O UTILIZA NO MÊS E LÁ O DEIXA DEPOSITADO, TAL QUANTIA
CONTINUARÁ SENDO IMPENHORÁVEL?

NÃO.
Para o STJ, na hipótese de qualquer quantia salarial se mostrar, ao final do período (isto é, até o recebimento
de novo provento de igual natureza), superior ao custo necessário ao sustento do titular e de seus familiares,
essa sobra perde o caráter alimentício e passa a ser uma reserva ou economia, tornando- se, em princípio,
penhorável.
MUDANÇA DE ENTENDIMENTO
O julgado noticiado neste Info 554 (EREsp 1.330.567-RS) adota em quase tudo as conclusões já expostas no
Info 547 (REsp 1.230.060-PR). Houve, no entanto, mudança de entendimento em um ponto, que deve ser
destacado:
 NO RESP 1.230.060-PR (INFO 547), O STJ AFIRMOU QUE OS 40 SALÁRIOS MÍNIMOS DEVERIAM ESTAR DEPOSITADOS EM UMA SÓ CONTA DE
INVESTIMENTO (NÃO PODERIA HAVER MAIS DE UMA);
 NO ERESP 1.330.567-RS (INFO 554), O STJ DECIDIU QUE SERÁ CONSIDERADA IMPENHORÁVEL A QUANTIA DE 40
SALÁRIOS MÍNIMOS MESMO QUE ESTEJA DEPOSITADA EM MAIS DE UM FUNDO DE INVESTIMENTO.
Outro ponto a ser destacado é que neste julgado (EREsp 1.330.567-RS), o STJ afirmou que a remuneração do
EXECUTADO SÓ SERÁ CONSIDERADA IMPENHORÁVEL SE ELA NÃO SUPERAR O VALOR DO
TETO CONSTITUCIONAL REFERENTE À REMUNERAÇÃO DE MINISTRO DO STF. Emoutras
palavras, o “salário” da pessoa só será impenhorável se ela receber até o valor que o Ministro do STF
ganha. O QUE ULTRAPASSAR ESSA QUANTIA, MESMO ESTANDO NO MÊS DO RECEBIMENTO, PODERÁ SER PENHORADO.

INFORMATIVO 552, STJ - PENHORA DIRETAMENTE SOBRE BENS DO ESPÓLIO.


Em ação de execução de dívida contraída pessoalmente pelo autor da herança, a penhora pode ocorrer
diretamente sobre os bens do espólio, em vez de no rosto dos autos do inventário. STJ. 3ª Turma. REsp
1.318.506-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 18/11/2014 (Info 552).
- Segundo o art. 597 do CPC e o art. 1.997 do CC, o espólio responde pelas dívidas do falecido. Logo, como
ainda não houve a partilha dos bens deixados pelo falecido, o juiz da execução poderá determinar a penhora
desse patrimônio. Se já tivesse havido a partilha, nesse caso a execução teria que ser proposta contra os
herdeiros que iriam ser chamados a responder dentro das forças do seu quinhão. Assim, EM SE TRATANDO
DE DÍVIDA QUE FOI CONTRAÍDA PESSOALMENTE PELO AUTOR DA HERANÇA, PODE A PENHORA OCORRER
DIRETAMENTE SOBRE OS BENS DO ESPÓLIO.

- E se o devedor (executado) fosse um dos herdeiros? O JUIZ DA EXECUÇÃO PODERIA PENHORAR


DIRETAMENTE OS BENS DEIXADOS PELO FALECIDO E QUE, EM TESE, SERIAM TRANSFERIDOS AO
HERDEIRO? NÃO. Se um dos herdeiros estivesse sendo executado, nesse caso o juiz da execução deveria
pedir ao juiz do inventário a penhora nos autos deste processo. Isso porque enquanto não for feita a partilha,
o bem não é do herdeiro. Logo, essa penhora no rosto dos autos do inventário seria apenas para garantir o
direito do credor (exequente) na futura partilha e em eventuais bens que coubessem ao herdeiro devedor.

RESPONSABILIDADE DO ADJUDICANTE POR DÍVIDAS CONDOMINIAIS PRETÉRITAS


Situação 1. O EDITAL DE HASTA PÚBLICA NÃO MENCIONA QUE O IMÓVEL QUE ESTÁ SENDO OFERECIDO POSSUI VÁRIOS
MESES DE TAXA DE CONDOMÍNIO ATRASADOS. Se uma pessoa resolver arrematar (adquirir) esse apartamento, ele
ficará responsável pelo pagamento dessas cotas condominiais que venceram antes da arrematação?

NÃO. As dívidas condominiais anteriores à alienação judicial e que não estavam previstas no edital não
serão de responsabilidade do arrematante, devendo ser quitadas com o valor obtido com a alienação judicial
do imóvel, podendo o arrematante pedir a reserva de parte desse valor para o pagamento das referidas
dívidas (STJ. 3ª Turma. REsp 1092605/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/06/2011).
Situação 2. Houve uma tentativa de alienação judicial do bem, mas não apareceram interessados. Diante
disso, o exequente decidiu adjudicar o apartamento. O exequente ficará responsável pelo pagamento dessas
cotas condominiais que venceram antes da adjudicação? SIM. O exequente que adjudicou o imóvel deve
arcar com as despesas condominiais anteriores à aquisição, AINDA QUE TAIS DÍVIDAS TENHAM SIDO
OMITIDAS NO EDITAL DA HASTA PÚBLICA.
A adjudicação e a arrematação possuem características diversas e, portanto, merecem tratamento distinto no
que diz respeito à vinculação ao edital. A adjudicação consiste na aquisição espontânea pelo exequente do
bem penhorado por preço não inferior ao da avaliação, não havendo sua subordinação ao edital de praça,
haja vista que essa forma de aquisição da propriedade não se insere no conceito de hasta pública. Logo, não
podem ser aplicados à adjudicação os mesmos dispositivos que tratam sobre a arrematação.

Execução de título extrajudicial que contenha cláusula compromissória

Imagine que um contrato preveja uma confissão de dívida (líquida, certa e exigível). Neste mesmo contrato, há
uma cláusula compromissória dizendo que eventuais divergências sobre o ajuste deverão ser dirimidas via
arbitragem.
Se a parte que se obrigou a pagar o valor confessado mostrar-se inadimplente, a parte credora poderá
executar o contrato na via judicial ou terá que instaurar o procedimento arbitral? Poderá propor
diretamente a execução na via judicial. Ainda que possua cláusula compromissória, o contrato assinado
pelo devedor e por duas testemunhas pode ser levado a execução judicial relativamente à cláusula de
confissão de dívida líquida, certa e exigível. Isso porque o juízo arbitral não possui poderes coercitivos
(executivos). Ele não pode penhorar bens do executado, por exemplo, nem levá-los à hasta pública. Em outras
palavras, O ÁRBITRO ATÉ DECIDE A CAUSA, mas se a parte perdedora não cumprir voluntariamente o que
lhe foi imposto, a parte vencedora terá que executar esse título no Poder Judiciário. Logo, não há
sentido instaurar a arbitragem para exigir o valor que já está líquido, certo e exigível por força uma confissão
de dívida.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.373.710-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 7/4/2015 (Info 560).
Agiu corretamente o juiz?
NÃO. Ainda que possua cláusula compromissória, o contrato assinado pelo devedor e por duas testemunhas
pode ser levado a execução judicial relativamente à cláusula de confissão de dívida líquida, certa e exigível.
O documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas tem força executiva, de modo que,
havendo uma cláusula reconhecendo dívida (obrigação) líquida, certa e exigível, é possível a propositura de
execução na via judicial (art. 585, II, CPC 1973; art. 784, III, do CPC 2015).
Mas e a cláusula compromissória?
Realmente, a cláusula compromissória, como é uma convenção de arbitragem, a princípio, afasta a jurisdição
estatal, tendo em vista que cabe ao árbitro decidir as questões sobre a validade da própria convenção e do
contrato que contenha cláusula compromissória, segundo o disposto no art. 8º, parágrafo único, da Lei nº
9.307/96. Por conseguinte, se a parte que celebrou a cláusula compromissória optar por ingressar com ação
judicial em vez de instaurar o procedimento arbitral, a solução correta a ser adotada pelo juiz é realmente a
extinção do processo judicial sem resolução de mérito, com base no art. 267, VII, do CPC 1973 (art. 485, VII, do
CPC 2015).
Todavia, caso se trate de um contrato que possua cláusula compromissória, mas ao mesmo tempo tenha uma
confissão de dívida, nesta hipótese será possível desde logo a execução na via judicial da confissão de dívida,
que se constitui em título executivo extrajudicial (líquido, certo e exigível). Isso porque o juízo arbitral não
possui poderes coercitivos (executivos). Ele não pode penhorar bens do executado, por exemplo nem levá-los à
hasta pública. Em outras palavras, o árbitro até decide a causa, mas se a parte perdedora não cumprir
voluntariamente o que lhe foi imposto, a parte vencedora terá que executar esse título no Poder Judiciário.
Logo, não há sentido instaurar a arbitragem para exigir o valor que já está líquido, certo e exigível por força
uma confissão de dívida. Nesse sentido:
(...) não é razoável exigir que o credor seja obrigado a iniciar uma arbitragem para obter juízo de certeza sobre
uma confissão de dívida que, no seu entender, já consta do título executivo. Além disso, é certo que o árbitro
não tem poder coercitivo direto, não podendo impor, contra a vontade do devedor, restrições a seu
patrimônio, como a penhora, e nem excussão forçada de seus bens. (...)
(STJ. 3ª Turma. REsp 944.917/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/9/2008).
Trata-se também da opinião de Cândido Rangel Dinamarco:
“(...) A convenção de arbitragem, que impede a tutela jurisdicional cognitiva por via judicial (art. 267, inc. VII,
do CPC (...), não é impeditiva da execução forçada, porque os árbitros jamais podem ser investidos do poder de
executar; existindo um título executivo extrajudicial, é lícito instaurar o processo executivo perante a Justiça
estadual apesar da existência da convenção de arbitragem, porque do contrário a eficácia do título seria
reduzida a nada.” (Instituições de Direito Processual Civil. Vol. IV. 2ª ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 83).

Cancelamento da distribuição da impugnação ou dos embargos à execução por falta de recolhimento das
custas

Sobre o tema, cancelamento da distribuição da impugnação ou dos embargos à execução por falta de
recolhimento das custas, é possível apontar as seguintes conclusões:
No CPC 1973:
1. Cancela-se a distribuição da impugnação ao cumprimento de sentença ou dos embargos à execução
na hipótese de não recolhimento das custas no prazo de 30 dias, independentemente de prévia
intimação da parte.
2. Não se determina o cancelamento da distribuição se o recolhimento das custas, embora
intempestivo, estiver comprovado nos autos.

No CPC 2015:
1. Cancela-se a distribuição da impugnação ao cumprimento de sentença ou dos embargos à execução
na hipótese de não recolhimento das custas no prazo de 15 dias, que só começam a ser contados
depois que a parte for intimada na pessoa de seu advogado (art. 290).
2. Não se determina o cancelamento da distribuição se o recolhimento das custas, embora
intempestivo, estiver comprovado nos autos.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.361.811-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Primeira Seção, julgado em 4/3/2015
(Info 561).

Arrematação de bem por oficial de justiça aposentado

Os juízes, servidores do Judiciário, arbitradores, peritos e outros serventuários ou auxiliares da justiça não
podem adquirir bens que estejam sendo leiloados pelo tribunal ou juízo do lugar onde atuarem (art. 497, III,
do CC).
Essa vedação estende-se também para oficiais de justiça aposentados? Eles também estão proibidos de
arrematar?
NÃO. A vedação contida no art. 497, III, do CC não impede o oficial de justiça aposentado de arrematar
bem em hasta pública. A proibição tem como razão de ser o exercício efetivo da função, a fim de evitar
influências ou favorecimentos.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.399.916-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 28/4/2015 (Info 561).

Impenhorabilidade de valores do Fundo Partidário

Os recursos do Fundo Partidário são absolutamente impenhoráveis, inclusive na hipótese em que a origem do
débito esteja relacionada às atividades previstas no art. 44 da Lei n.9.096/95. Fundamento legal: art. 649, XI,
do CPC 1973; art. 833, XI, do CPC 2015.
Ex: a empresa de publicidade “XXX” ajuizou ação de cobrança contra o Partido “ZZZ” em virtude do não
pagamento pela prestação de serviços de marketing eleitoral realizados na campanha. A sentença foi julgada
procedente, determinando o pagamento de R$ 100 mil reais.
Como não houve pagamento voluntário após a condenação, iniciou-se a fase de cumprimento de sentença. O
juiz determinou a penhora “on line” e a quantia devida foi penhorada em uma conta bancária em nome do
partido político. Após a penhora, o partido apresentou impugnação alegando que a conta bancária onde os
valores foram penhorados é utilizada exclusivamente para o recebimento de repasse oriundo do Fundo
Partidário e, portanto, trata- se de verba impenhorável. A alegação do partido política está correta. O CPC
estabelece um rol de bens que não podem ser objeto de penhora. Dentre esses, encontram-se previstos os
“recursos do fundo partidário”.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.474.605-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 7/4/2015 (Info 562).

EXECUÇÃO FISCAL
INFORMATIVO 552, STJ - REQUISITOS PARA A INDISPONIBILIDADE DE BENS E DIREITOS NA EXECUÇÃO FISCAL.
Importante!!! O art. 185-A do CTN prevê a possibilidade de ser decretada a indisponibilidade dos bens e
direitos do devedor tributário na execução fiscal. Vale ressaltar, no entanto, que a indisponibilidade de que
trata o art. 185-A do CTN só pode ser decretada se forem preenchidos três requisitos:
1) deve ter havido prévia citação do devedor;
2) o executado deve não ter pago a dívida nem apresentado bens à penhora no prazo legal;
3) não terem sido localizados bens penhoráveis do executado mesmo após a Fazenda Pública esgotar as
diligências nesse sentido.
Obs.: para que a Fazenda Pública prove que esgotou todas as diligências na tentativa de achar bens do
devedor, basta que ela tenha adotado duas providências:
a) pedido de acionamento do Bacen Jud (penhora “on line”) e consequente determinação pelo magistrado;
b) expedição de ofícios aos registros públicos do domicílio do executado e ao Departamento Nacional ou
Estadual de Trânsito - DENATRAN ou DETRAN.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.377.507-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/11/2014 (recurso repetitivo) (Info
552).

INFORMATIVO 553, STJ - DISPENSABILIDADE DA INDICAÇÃO DO RG, CPF OU CNPJ DO DEVEDOR.


O juiz não pode indeferir a petição inicial em ação de execução fiscal com o argumento de que não houve
indicação do RG, CPF ou CNPJ da parte executada. Isso porque tais informações não são exigidas pelo art. 6º
da Lei nº 6.830/80 (LEF). O art. 15 da Lei 11.419/2006 (Lei do Processo eletrônico) exige que a parte autora
informe o CPF ou CNJP da ré, mas tal Lei não prevalece sobre a LEF, por ser esta norma específica e aquela
norma geral.
Assim, em ações de execução fiscal, descabe indeferir a petição inicial sob o argumento da falta de indicação
do RG, CPF ou CNJP da parte executada (pessoa física ou jurídica), visto tratar-se de requisito não previsto no
art. 6º da Lei 6.830/80 (LEF), cujo diploma, por sua especialidade, ostenta primazia sobre a legislação de
cunho geral, como ocorre frente à exigência contida no art. 15 da Lei 11.419/06. STJ. 1ª Seção. REsp
1.450.819-AM e 1.455.091-AM, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgados em 12/11/2014 (recurso repetitivo) (Info
553).

OFERECIMENTO DE SEGURO GARANTIA EM EXECUÇÃO FISCAL


Importante!!! A Lei 13.043/2014 alterou o inciso II do art. 7º da Lei 6.830/80 (LEF) e previu expressamente
mais uma forma de garantia do juízo: o SEGURO GARANTIA. A mudança foi importante porque o STJ possuía
entendimento pacífico de que o seguro garantia não servia como garantia da execução fiscal em virtude da
ausência de previsão na LEF. A Lei 13.043/2014 entrou em vigor em 14/11/2014; é possível aceitar seguro
garantia para uma execução fiscal que tenha se iniciado antes desta data e que ainda esteja tramitando? Em
outras palavras, a alteração promovida pela Lei 13.043/2014 no que tange ao seguro garantia aplica-se às
execuções fiscais que foram instauradas antes de sua vigência e que ainda estejam em curso? SIM. O inciso II
do art. 9° da Lei 6.830/80 (LEF), alterado pela Lei 13.043/2014, que faculta expressamente ao executado a
possibilidade de oferecer fiança bancária ou seguro garantia nas execuções fiscais, possui aplicabilidade
imediata aos processos em curso. A norma que permite a garantia do juízo por meio de seguro garantia é de
cunho processual, de modo que possui aplicabilidade imediata aos processos em curso. STJ. 2ª Turma. REsp
1.508.171-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 17/3/2015 (Info 559).

Redirecionamento da execução contra sócio que não era gerente no momento do fato gerador

Em 2012, a sociedade empresária "ABC" deixou de pagar determinado imposto, tornando-se inadimplente
com o Fisco. Em 2013, João tornou-se sócio-gerente da sociedade empresária "ABC". Em 2014, a sociedade
empresária "ABC" fechou suas portas sem observar as formalidades legais, ou seja, foi dissolvida de forma
irregular. Em 2015, o Fisco ajuizou execução fiscal contra a referida sociedade empresária, não tendo,
contudo, encontrado ninguém no endereço onde ela funcionava. A dissolução irregular da sociedade autoriza
o redirecionamento da execução para o sócio-gerente (súmula 435-STJ). A pergunta que surge, no entanto, é
a seguinte:
É possível redirecionar a execução fiscal contra João mesmo sabendo que ele não exercia a gerência no
momento do fato gerador do tributo cobrado? É permitido o redirecionamento da execução fiscal contra o
sócio-gerente que, no momento da dissolução, exercia a gerência, mas que não era o gerente no momento
do fato gerador do tributo?

1ª corrente:NÃO . É a posição tradicional do STJ, ainda adotada pela 1ª Turma. AgRg no AREsp 729.285/SC,
Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 06/08/2015.
2ª corrente: SIM. É a nova posição da 2ª Turma do STJ. REsp 1.520.257-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em
16/6/2015 (Info 564).
STJ. 2ª Turma. REsp 1.520.257-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 16/6/2015 (Info 564).

EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA

Descabimento de fixação de honorários advocatícios em execução invertida

Importante!!!

Nas execuções contra a Fazenda Pública são devidos honorários advocatícios?


Sistemática dos PRECATÓRIOS:
 Se a Fazenda Pública apresentou embargos à execução: SIM.
 Se a Fazenda Pública não apresentou embargos à execução: NÃO. Aplica-se aqui a regra do art. 1º-D da
Lei 9.494/97.

Sistemática da RPV:
 Regra: SIM. Em regra, é cabível a fixação de verba honorária nas execuções contra a Fazenda Pública,
ainda que não embargadas, cujo pagamento da obrigação é feito mediante RPV.
 Exceção: a Fazenda Pública não terá que pagar honorários advocatícios caso tenha sido adotada a
chamada “execução invertida”.
No caso de RVP, não se aplica o art. 1º-D da Lei 9.494/97.
A execução invertida consiste no seguinte: havendo uma decisão transitada em julgado condenando a
Fazenda Pública ao pagamento de uma quantia considerada como de “pequeno valor”, o próprio Poder
Público (devedor) prepara uma planilha de cálculos com o valor que é devido e apresenta isso ao credor. Caso
este concorde, haverá o pagamento voluntário da obrigação. Desse modo, a Fazenda Pública, em vez de
aguardar que o credor proponha a execução, ela já se antecipa e apresenta os cálculos da quantia devida. O
Poder Público, sem necessidade de processo de execução, cumpre voluntariamente a condenação.
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 630.235-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 19/5/2015 (Info 563).

FRAUDE À EXECUÇÃO

INFORMATIVO 552, STJ - REQUISITOS PARA O RECONHECIMENTO DA FRAUDE À EXECUÇÃO.


Importante!!! O STJ, apreciando o tema sob o regime do recurso repetitivo, definiu as seguintes teses sobre
fraude à execução:

1) Em regra, para que haja fraude à execução, é indispensável que tenha havido a CITAÇÃO VÁLIDA DO
DEVEDOR.
2) Mesmo sem citação válida, haverá fraude à execução se, quando o devedor alienou ou onerou o bem, o
credor já havia realizado a AVERBAÇÃO DA EXECUÇÃO NOS REGISTROS PÚBLICOS (art. 615-A do CPC).
Presume-se em fraude de execução a alienação ou oneração de bens realizada após essa averbação (§ 3º do
art. 615-A do CPC).
3) Persiste válida a Súmula 375 do STJ, segundo a qual o reconhecimento da fraude de execução depende do
REGISTRO DA PENHORA DO BEM ALIENADO ou da PROVA DE MÁ-FÉ DO TERCEIRO ADQUIRENTE.
4) A PRESUNÇÃO DE BOA-FÉ É PRINCÍPIO GERAL DE DIREITO UNIVERSALMENTE ACEITO, devendo ser respeitado a parêmia
(ditado) milenar que diz o seguinte: “a boa-fé se presume, a má-fé se prova”.
5) Assim, NÃO HAVENDO REGISTRO DA PENHORA NA MATRÍCULA DO IMÓVEL, É DO CREDOR O ÔNUS DE PROVAR QUE O
TERCEIRO ADQUIRENTE TINHA CONHECIMENTO DE DEMANDA CAPAZ DE LEVAR O ALIENANTE À INSOLVÊNCIA (art. 659, §
4º, do CPC). STJ. Corte Especial. REsp 956.943-PR, Rel. originária Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min.
João Otávio de Noronha, julgado em 20/8/2014 (recurso repetitivo) (Info 552).
- Se o credor perceber que o devedor, mesmo após ter sido proposta a execução, procedeu à alienação ou
oneração de bens, precisará ajuizar uma ação para provar que houve a fraude à execução? NÃO. BASTA QUE
O CREDOR LESADO APRESENTE UMA PETIÇÃO AO JUÍZO ONDE TRAMITA A EXECUÇÃO PEDINDO QUE SEJA RECONHECIDA A FRAUDE
À EXECUÇÃO e DECLARADA A INEFICÁCIA DO ATO DE DISPOSIÇÃO (ALIENAÇÃO OU ONERAÇÃO).

- Como fica a situação da pessoa que adquiriu o bem alienado (chamado de “terceiro”)? Esse terceiro perderá
o bem? Como protegê-lo? Ao mesmo tempo que se deve evitar a fraude à execução, é também necessário
que se proteja o terceiro de boa-fé. Pensando nisso, o STJ firmou o entendimento de que somente será
possível reconhecer a fraude à execução se:
 FICAR PROVADO A MÁ-FÉ DO TERCEIRO ADQUIRENTE; ou
 Se no momento da alienação, O BEM VENDIDO JÁ ESTAVA PENHORADO NA EXECUÇÃO E ESSA PENHORA ESTAVA
REGISTRADA NO CARTÓRIO DE IMÓVEIS (§ 4º do art. 659).
A fim de que não houvesse mais polêmica, essa posição foi sumulada pelo STJ. Veja: Súmula 375-STJ: O
reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-
fé do terceiro adquirente.
Deve-se alertar para o fato de que alguns doutrinadores criticam esse enunciado porque ele confunde o
instituto da “fraude à execução” com a “alienação de bem penhorado”. Para a doutrina, quando o executado
vende um bem seu que está penhorado, ele não comete “fraude à execução”, mas sim um ato fraudulento
ainda mais grave e atentatório à jurisdição, chamado de “alienação de bem penhorado”.

Indeferimento de pedido de penhora com fundamento na potencial iliquidez do bem


Na ação de execução fiscal, frustradas as diligências para localização de outros bens em nome do devedor e
obedecida a ordem legal de nomeação de bens à penhora, não cabe ao magistrado recusar a constrição de
bens nomeados pelo credor fundamentando a decisão apenas na assertiva de que a potencial iliquidez deles
poderia conduzir à inutilidade da penhora. Isso porque, nos termos do art. 612 do CPC 1973 (art. 797 do CPC
2015), a execução é realizada no interesse do credor que adquire, pela penhora, o direito de preferência
sobre os bens indicados. Ademais, conforme preceitua o art. 591 do CPC 1973 (art. 789 do CPC 2015), todo o
patrimônio presente e futuro do devedor pode ser utilizado para pagamento de débitos.
Ex: a União ajuizou execução fiscal contra João cobrando uma dívida de R$ 20 mil. Foi tentada a penhora “on
line” (via sistema “Bacen Jud”), não tendo sido localizadas contas bancárias em nome do devedor. Buscou-se
também a localização de outros bens penhoráveis, mas sem sucesso. Diante disso, a União requereu a
penhora de um veículo do executado, qual seja, um Volkswagen SANTANA CD (fabricado em 1985). O juiz
indeferiu a constrição do veículo, sob o argumento de que o bem era muito antigo, o que ensejaria a
inutilidade da penhora. Em uma situação parecida com esta, o STJ deu provimento ao recurso e determinou
que a penhora fosse realizada.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.523.794-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 19/5/2015 (Info 563).
Termo inicial do prazo para o oferecimento de embargos à execução fiscal quando afastada a necessidade
de garantia prévia

No caso em que a garantia à execução fiscal tenha sido totalmente dispensada de forma expressa pelo juízo
competente - inexistindo, ainda que parcialmente, a prestação de qualquer garantia (penhora, fiança,
depósito, seguro-garantia) -, o prazo para oferecer embargos à execução deverá ter início na data da
intimação da decisão que dispensou a apresentação de garantia, não havendo a necessidade, na intimação
dessa dispensa, de se informar expressamente o prazo para embargar.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.440.639-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 2/6/2015 (Info 563).

AÇÃO MONITÓRIA

INEXIGIBILIDADE DE RECOLHIMENTO DE CUSTAS EM EMBARGOS À MONITÓRIA

Ação monitória é um procedimento especial, previsto no CPC, por meio do qual o credor exige do devedor o
pagamento de soma em dinheiro, a entrega de coisa fungível ou a entrega de determinado bem móvel com
base em prova escrita que não tem eficácia de título executivo. Obs: com o CPC de 2015, a ação monitória
poderá ser utilizada para exigir a entrega de coisas infungíveis e também para exigir a entrega de bens imóveis,
situações que não eram abarcadas pelo antigo Código. Além disso, o CPC 2015 prevê que a ação monitória
serve também para exigir que o réu cumpra obrigação de fazer ou não fazer sobre a qual ele está inadimplente.
O réu citado poderá defender-se das alegações do autor. A defesa na ação monitória é denominada de
“embargos à ação monitória”. Os embargos à ação monitória são classificados como uma forma de defesa,
sendo semelhante à contestação.
Para que o réu apresente embargos monitórios, ele precisa pagar previamente as custas?

NÃO. NÃO SE EXIGE O RECOLHIMENTO DE CUSTAS INICIAIS PARA OFERECER EMBARGOS À AÇÃO
MONITÓRIA. ISSO PORQUE OS EMBARGOS À MONITÓRIA TÊM NATUREZA JURÍDICA DE DEFESA. Vimos acima que é
como se fosse uma contestação e o réu não precisa recolher custas para apresentar contestação. Isso vale
tanto para o CPC 1973 como para o novo CPC.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.265.509-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 19/3/2015 (Info 558).

AÇÃO MONITÓRIA
Ação monitória é um procedimento especial, previsto no CPC, por meio do qual o credor exige do devedor o
pagamento de soma em dinheiro ou a entrega de coisa com base em prova escrita que não tenha eficácia de
título executivo.
Ex1: ação monitória para cobrança de cheque prescrito.
Ex2: ação monitória para cobrança de valores baseados em contrato bancário de abertura de conta- corrente.
Opção 1: Se o credor tem título executivo, pode ingressar desde logo com a execução.
Opção 2: Se o credor não tem nenhuma prova documental, só lhe resta a ação de cobrança.
Opção 3: Se o credor tem prova escrita que não goza de eficácia de título executivo: cabe ação monitória.
Novidades do CPC 2015
CPC 1973 CPC 2015
A ação monitória poderia ser utilizada para que A ação monitória poderá ser utilizada para que
o autor exigisse do devedor (art. 1.102-A): o autor exija do devedor (art. 700):
 O pagamento de SOMA EM DINHEIRO;  O pagamento de QUANTIA EM DINHEIRO;
 A entrega de COISA FUNGÍVEL; ou  a entrega DE COISA FUNGÍVEL ou INFUNGÍVEL ou de
 A entrega de DETERMINADO BEM MÓVEL. BEM MÓVEL ou IMÓVEL;
 o adimplemento de OBRIGAÇÃO DE FAZER ou de
NÃO FAZER.

OBS: NO INFORMATIVO TEM PROCEDIMENTO DO CPC 2015

DEMONSTRATIVO DE DÉBITO ATUALIZADO COMO REQUISITO DA PETIÇÃO INICIAL


O CPC 1973 não traz os requisitos da petição inicial da ação monitória. Apesar disso, a jurisprudência exige
que a petição inicial da ação monitória na qual o autor cobra do réu soma em dinheiro deve ser instruída com
demonstrativo de débito atualizado até a data do ajuizamento. O STJ entende que esse documento é
indispensável para que o devedor possa ter o conhecimento detalhado da quantia que lhe está sendo
cobrada, inclusive com a indicação dos critérios, índices e taxas utilizados, a fim de que o devedor possa
validamente impugná-los nos embargos. O CPC 2015 já traz em seu texto os requisitos para a petição inicial
da ação monitória. Um deles é justamente a memória de cálculo da dívida que esteja sendo cobrada. Desse
modo, o entendimento do STJ acima explicado foi incorporado pelo novo CPC (art. 700, § 2º, I). O que
acontece se o autor ajuizar a ação e não juntar esse demonstrativo (ou se o demonstrativo estiver
incompleto)? O juiz deverá intimá-lo para que corrija esse vício e traga aos autos o demonstrativo atualizado.
Qual é o prazo que o autor possui para emendar a petição inicial? 10 dias no CPC 1973 (art. 284); 15 dias no
CPC 2015 (art. 321). Outra novidade do CPC 2015 é que o juiz, ao determinar que o autor emende ou
complete a petição inicial, deverá indicar, com precisão, o que deve ser corrigido ou completado. STJ. 2ª
Seção. REsp 1.154.730-PE, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 8/4/2015 (recurso repetitivo) (Info
559).

AÇÃO DE EXIGIR CONTAS

NÃO CABIMENTO EM CASO DE CONTRATOS DE MÚTUO E FINANCIAMENTO

Nos CONTRATOS DE MÚTUO E FINANCIAMENTO, O DEVEDOR NÃO POSSUI INTERESSE DE AGIR PARA A AÇÃO
DE PRESTAÇÃO DE CONTAS.
O entendimento acima exposto continua válido com o CPC 2015, mas devem ser feitas duas observações:
O nome da ação passou a ser “ação de exigir contas”;
O CPC 2015 não mais fala em “condição da ação”. Essa categoria foi abolida. O interesse de agir, que era uma
condição da ação, continua sendo examinado, mas agora tem NATUREZA JURÍDICA DE REQUISITO DE
ADMISSIBILIDADE DO PROCESSO. Trata-se de um PRESSUPOSTO DE VALIDADE OBJETIVO EXTRÍNSECO.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.293.558-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/3/2015
RECURSO REPETITIVO:
A questão foi julgada segundo a sistemática do recurso repetitivo, tendo sido firmada a seguinte tese: “NOS
CONTRATOS DE MÚTUO E FINANCIAMENTO, O DEVEDOR NÃO POSSUI INTERESSE DE AGIR PARA A AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE
CONTAS.”
NOVO CPC
O entendimento acima exposto continua válido com o CPC 2015, mas devem ser feitas duas observações:
 O nome da ação passou a ser “ação de exigir contas”;
 O CPC 2015 não mais fala em “condição da ação”. Essa categoria foi abolida. O interesse de agir, que era uma
condição da ação, continua sendo examinado, mas agora tem natureza jurídica de requisito de admissibilidade
do processo. Trata-se de um pressuposto de validade objetivo extrínseco.
AÇÃO RESCISÓRIA

VALOR DA CAUSA NA AÇÃO RESCISÓRIA

É NECESSÁRIO que o autor da ação rescisória ATRIBUA UM VALOR À CAUSA?

SIM. A AÇÃO RESCISÓRIA É UMA AÇÃO e, portanto, o autor, na petição inicial, deverá indicar o
valor da causa.
Qual é o critério para se atribuir o valor da causa na ação rescisória?
EM REGRA, o valor da causa na ação rescisória deverá ser O MESMO QUE FOI ATRIBUÍDO PARA A AÇÃO PRINCIPAL
(ORIGINÁRIA), DEVIDAMENTE ATUALIZADO MONETARIAMENTE (valor da causa da ação originária + correção
monetária).
EXCEÇÃO: É POSSÍVEL QUE, MESMO O AUTOR TENDO INDICADO O MESMO VALOR DA AÇÃO PRINCIPAL, A PARTE RÉ IMPUGNE O
VALOR DA CAUSA DEMONSTRANDO QUE O BENEFÍCIO ECONÔMICO PRETENDIDO NA RESCISÓRIA ESTÁ EM DESCOMPASSO COM
ESSA FIXAÇÃO (ex: provando que HOUVE UMA EXCEPCIONAL VALORIZAÇÃO DO BEM pretendido na ação rescisória). O
impugnante deverá demonstrar, com precisão, o valor correto que entende devido para a ação rescisória,
instruindo a inicial da impugnação com os documentos necessários à comprovação do alegado.
STJ. 2ª Seção. PET 9.892-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/2/2015 (Info 556).4

INFORMATIVO 553, STJ - PRORROGAÇÃO DO TERMO FINAL DO PRAZO PARA AJUIZAMENTO DA AÇÃO RESCISÓRIA
Importante!!! Que dia ocorre o trânsito em julgado? O trânsito em julgado ocorre no dia imediatamente
subsequente ao último dia do prazo para o recurso em tese cabível.
Qual é o termo inicial do prazo de 2 anos da ação rescisória? O prazo de 2 anos começa a ser contado do
exato dia em que ocorre o trânsito em julgado. O termo "a quo" para o ajuizamento da ação rescisória
coincide com a data do trânsito em julgado da decisão rescindenda. Dito de outro modo, o prazo decadencial
para a propositura de ação rescisória começa a correr da data do trânsito em julgado da sentença
rescindenda, INCLUINDO-SE-LHE NO CÔMPUTO O DIA DO COMEÇO.
SE O ÚLTIMO DIA DO PRAZO DA RESCISÓRIA FOR SÁBADO, DOMINGO OU FERIADO, HAVERÁ PRORROGAÇÃO PARA O PRIMEIRO

DIA ÚTIL SUBSEQUENTE? SIM. O TERMO FINAL DO PRAZO PARA O AJUIZAMENTO DA AÇÃO RESCISÓRIA, EMBORA
DECADENCIAL, PRORROGA-SE PARA O PRIMEIRO DIA ÚTIL SUBSEQUENTE SE RECAIR EM DIA DE NÃO FUNCIONAMENTO DA
SECRETARIA DO JUÍZO COMPETENTE.

STJ. Corte Especial. REsp 1.112.864-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, Corte Especial, julgado em 19/11/2014 (recurso
repetitivo) (Info 553).

AÇÃO DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS

É CABÍVEL a cominação de multa diária – ASTREINTES – EM AÇÃO DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS


MOVIDA POR USUÁRIO DE SERVIÇO DE TELEFONIA CELULAR PARA OBTENÇÃO DE INFORMAÇÕES ACERCA DO
ENDEREÇO DE IP (Internet Protocol) de onde teriam sido enviadas, para o seu celular, diversas mensagens
anônimas agressivas, por meio do serviço de SMS disponibilizado no sítio eletrônico da empresa de
telefonia.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.359.976-PB, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 25/11/2014 (Info
554).
OBS- SÚMULA 372-STJ: NA AÇÃO DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS, NÃO CABE A APLICAÇÃO DE MULTA COMINATÓRIA.
A) O JUIZ AGIU CORRETAMENTE? É POSSÍVEL A FIXAÇÃO DE MULTA DIÁRIA NESSE CASO?
SIM. A razão de ser da súmula está no fato de que não é cabível a multa porque existem outros
instrumentos e sanções processuais que podem ser utilizados para suprir o descumprimento da ordem
judicial. O juiz pode, por exemplo, presumir que as informações que estão supostamente presentes no
documento são verdadeiras (art. 359 do CPC). Outra alternativa que o magistrado possui é a
determinação de busca e apreensão.
apesar de a ação manejada pela autora ter recebido esse nome, não se trata de uma “ação de exibição de
documentos” propriamente dita.
O que se pretende na ação é que se exiba o endereço de IP de alguém, não o nome de uma determinada
pessoa ou algum documento que já preexista e que traga nele o nome ou endereço eletrônico desta
determinada pessoa, mas sim uma informação que deverá ser buscada no sistema informatizado da
empresa. Assim, a multa é a única forma de compelir a ré a cumprir a decisão.

NULIDADE

INEXISTÊNCIA DE NULIDADE PELO SIMPLES FATO DE A DEFESA DA UNIÃO, EM CAUSA NÃO FISCAL, TER SIDO FEITA PELA
PROCURADORIA DA FAZENDA NACIONAL

Qual é o órgão responsável pela representação jurídica da União?


• Em CAUSAS DE NATUREZA FISCAL: a PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONAL (PGFN);
• Em CAUSAS DE OUTRA NATUREZA: a PROCURADORIA-GERAL DA UNIÃO (PGU).
Foi proposta demanda contra a União relacionada com matéria que não tinha natureza fiscal. O mandado de
citação da União, em vez de ser encaminhado a uma unidade da PGU, foi remetido para a PGFN, que
apresentou contestação refutando o pedido e acompanhou todo o processo até a sentença, que foi
procedente.
Em recurso, a União, agora representada pela PGU, suscitou a nulidade do processo alegando que houve
falha na citação da União, considerando que esta ocorreu na pessoa do representante da Procuradoria da
Fazenda Nacional.
O STJ NÃO CONCORDOU COM O PEDIDO E DECIDIU QUE O FATO DE A PGFN TER ATUADO EM DEFESA DA UNIÃO EM
CAUSA NÃO FISCAL DE ATRIBUIÇÃO DA PGU NÃO JUSTIFICA, POR SI SÓ, A INVALIDAÇÃO DE TODOS OS ATOS DE PROCESSO no
qual não se evidenciou – e sequer se alegou – qualquer prejuízo ao ente federado, que exercitou plenamente
o seu direito ao contraditório e à ampla defesa, mediante oportuna apresentação de diversas teses jurídicas
eloquentes e bem articuladas, desde a 1ª instância e em todos os momentos processuais apropriados.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.037.563-SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 25/11/2014 (Info 554).

EMBARGOS DE TERCEIRO

INFORMATIVO 553, STJ - EMBARGOS DE TERCEIRO NÃO SERVEM PARA IMPUGNAR DECISÃO SE O FUNDAMENTO INVOCADO
PELO AUTOR NÃO É A POSSE, MAS SIM, UNICAMENTE, A PROPRIEDADE.

O PROPRIETÁRIO SEM POSSE A QUALQUER TÍTULO NÃO TEM LEGITIMIDADE PARA AJUIZAR, com
FUNDAMENTO NO DIREITO DE PROPRIEDADE, EMBARGOS DE TERCEIRO CONTRA DECISÃO TRANSITADA EM
JULGADO PROFERIDA EM AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE, DA QUAL NÃO PARTICIPOU, E NA QUAL
NEM SEQUER FOI AVENTADA DISCUSSÃO EM TORNO DA TITULARIDADE DO DOMÍNIO. STJ. 3ª Turma. REsp
1.417.620-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 2/12/2014 (Info 553)
- O que são os embargos de terceiro?
 UMA AÇÃO DE CONHECIMENTO
 Com RITO ESPECIAL SUMÁRIO,
 Por meio da qual uma PESSOA OBJETIVA LIVRAR UM BEM DO QUAL TENHA POSSE (como senhor/proprietário ou
possuidor),
 Bem este que ESTÁ SOFRENDO OU NA IMINÊNCIA DE SOFRER
 UMA CONSTRIÇÃO JUDICIAL (exs: penhora, arresto, sequestro etc.)
- No caso, o embargante, na via estreita dos embargos de terceiro, não buscou apenas discutir se o bem
deveria ou não ser objeto de constrição/apreensão. Seu objetivo foi tornar mais complexa a discussão
material inicialmente travada, alegando que o domínio e, consequentemente, a posse do imóvel, não seria
nem do autor nem do réu, mas sua, por força do direito de propriedade. Ora, na demanda originária nem
sequer foi aventada discussão em torno da titularidade do domínio. Ademais, o propósito dos embargos é a
liberação do bem que foi objeto de equivocada constrição judicial, e não impugnar ato judicial que
determinou, com base em decisão transitada em julgado, a reintegração do bem objeto da discussão à parte
vitoriosa na demanda, sem nem sequer poder ser afirmada a existência de melhor posse em relação à parte
vencedora. OS EMBARGOS DE TERCEIRO TÊM COGNIÇÃO LIMITADA E DISCUTEM APENAS SE O EMBARGANTE TEM MELHOR
POSSE OU, AINDA, NAS HIPÓTESES DO ART. 1.047, QUE NÃO SE ENQUADRAM NA PRESENTE SITUAÇÃO.

- ELE DEVERIA AJUIZAR AÇÃO PETITÓRIA (ex: ação reinvidicatória) CONTRA O VENCEDOR DA AÇÃO DE
REINTEGRAÇÃO DE POSSE (no caso, Pedro). Nesta demanda, aí sim, poderia ser discutido o seu direito de
propriedade.

INTERDIÇÃO
INFORMATIVO 553, STJ - Desnecessidade de nomeação de curador especial se a interdição não foi proposta pelo
MP
Importante!!! A curatela é um encargo (múnus) imposto a um indivíduo (chamado de “curador”) por meio do
qual ele assume o compromisso judicial de cuidar de uma pessoa (“curatelado”) que, apesar de ser maior de
idade, possui uma incapacidade prevista no art. 1.767 do CC. Para que a curatela seja instituída é necessária a
instauração de um processo judicial por meio de uma ação de interdição. É necessário que o juiz nomeie
curador especial ao interditando?
• Se a ação de interdição for proposta pelo MP: SIM. O juiz deverá nomear curador à lide (curador especial), nos
termos do art. 1.179 do CPC.
• Se a ação de interdição for proposta por outro legitimado: NÃO é necessária a nomeação de curador à lide
porque o próprio MP já irá fazer a defesa dos interesses do interditando (art. 1.770 do CC).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.099.458-PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 2/12/2014 (Info 553).

INTIMAÇÃO
INFORMATIVO 553, STJ - Publicação de intimação com erro na grafia do sobrenome do advogado
Importante!!! NÃO há nulidade na publicação de ato processual em razão do acréscimo de uma letra ao
sobrenome do advogado no caso em que o seu prenome, o nome das partes e o número do processo foram
cadastrados corretamente, sobretudo se, mesmo com a existência de erro idêntico nas intimações anteriores,
houve observância aos prazos processuais passados, de modo a demonstrar que o erro gráfico não impediu a
exata identificação do processo. O entendimento do STJ é no sentido de que o erro insignificante na grafia do
nome do advogado, aliado à possibilidade de se identificar o processo por outros elementos, como o seu
número e o nome da parte, não enseja a nulidade da publicação do ato processual. STJ. Corte Especial. EREsp
1.356.168-RS, Rel. originário Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão Min. Jorge Mussi, julgado em 13/3/2014
(Info 553).
JUIZADOS ESPECIAIS
Requisitos para admissibilidade de reclamação e de pedido de uniformização de jurisprudência
Importante!!! Não é cabível reclamação, tampouco pedido de uniformização de jurisprudência ao STJ contra
acórdão de Turma Recursal do Juizado Especial da Fazenda Pública sob a alegação de que a decisão
impugnada diverge de orientação fixada em precedentes do STJ. STJ. 1ª Seção. Rcl 22.033-SC, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, julgado em 8/4/2015 (Info 559).
- O que acontece, então, se a decisão da Turma Recursal disser respeito à interpretação de lei federal e
contrariar entendimento consolidado ou mesmo sumulado do STJ? Já que não cabe recurso especial, como a
parte poderá questionar essa decisão? A resposta aqui irá variar conforme o microssistema do Juizado. Veja:
1) Juizados Especiais Cíveis e Criminais estaduais - A Lei n. 9.099/95 não previu solução para esse impasse.
Diante disso, o STJ idealizou a tese de que, enquanto a Lei não for alterada para criar um incidente de
uniformização, será possível que a parte ingresse com reclamação no STJ contra o acórdão da Turma Recursal
do Juizado Especial Estadual que contrariar entendimento da Corte. Existe até uma Resolução nº 12/2009 do
STJ tratando sobre “o processamento, no Superior Tribunal de Justiça, das reclamações destinadas a dirimir
divergência entre acórdão prolatado por turma recursal estadual e a jurisprudência desta Corte”. O STJ
entende que a parte pode ajuizar reclamação contra decisão de Turma Recursal estadual quando a decisão
proferida: a) afrontar jurisprudência do STJ pacificada em recurso repetitivo (art. 543-C do CPC); b) violar
súmula do STJ; c) for teratológica.
2) Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal - Não será necessária reclamação
porque a Lei do JEF, como é posterior à Lei n. 9.099/95, já corrigiu essa falha e previu mecanismos para fazer
com que o entendimento do STJ prevaleça. A Lei do JEF (Lei nº 10.259/2001) trouxe, em seu art. 14, a
previsão de que a parte pode formular pedido de uniformização de jurisprudência para a Turma Regional de
Uniformização (TRU) ou para a Turma Nacional de Uniformização (TNU), a depender do caso. Se a orientação
acolhida pela Turma de Uniformização contrariar súmula ou jurisprudência dominante no STJ, a parte
interessada poderá provocar a manifestação deste, que dirimirá a divergência (§ 4º). Os detalhes sobre isso
você não precisa saber, devendo apenas ler o art. 14 da Lei nº 10.259/2001 se estiver fazendo concursos
federais. Em suma, no que se refere aos Juizados Especiais Federais, a parte poderá formular junto ao STJ
pedido de uniformização de jurisprudência quando a orientação da Turma Nacional de Uniformização
contrariar: a) jurisprudência dominante do STJ; ou b) súmula do STJ.
Em virtude de existir essa possibilidade na própria Lei, o STJ não admite reclamação contra acórdãos da
Turma Recursal dos Juizados Especiais federais.
3) Juizados Especiais da Fazenda Pública - A Lei nº 12.153/2009 (Lei dos Juizados da Fazenda Pública), assim
como a Lei do JEF, trouxe a previsão de pedido de uniformização em seu art. 18: Art. 18. Caberá pedido de
uniformização de interpretação de lei quando houver divergência entre decisões proferidas por Turmas
Recursais sobre questões de direito material. (...) § 3º Quando as Turmas de diferentes Estados derem a lei
federal interpretações divergentes, ou quando a decisão proferida estiver em contrariedade com súmula do
Superior Tribunal de Justiça, o pedido será por este julgado. Art. 19. Quando a orientação acolhida pelas
Turmas de Uniformização de que trata o § 1º do art. 18 contrariar súmula do Superior Tribunal de Justiça, a
parte interessada poderá provocar a manifestação deste, que dirimirá a divergência. Desse modo, quanto ao
microssistema dos Juizados Especiais da Fazenda Pública, é cabível o pedido de uniformização de
jurisprudência quando: a) as Turmas de diferentes Estados derem à lei federal interpretações divergentes; ou
b) a decisão proferida estiver em contrariedade com súmula do STJ.
Em virtude de existir essa possibilidade na própria Lei, o STJ também não admite reclamação contra acórdãos
da Turma Recursal dos Juizados Especiais da Fazenda Pública.
- Logo, não é cabível nem pedido de uniformização nem reclamação ao STJ contra acórdão de Turma Recursal
do Juizado da Fazenda Pública que contrarie orientação fixada em precedentes do STJ. O STJ entendeu que
não cabia reclamação neste caso em razão não se verificarem as hipóteses nas quais ela é permitida: a)
usurpação de competência do STJ ou; b) necessidade de garantir a autoridade das decisões do STJ.
PENHORA
INFORMATIVO 553, STJ - POSSIBILIDADE EXCEPCIONAL DE PENHORA SOBRE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
Importante!!! Os honorários advocatícios (contratuais ou sucumbenciais) são a remuneração do advogado e,
portanto, possuem caráter alimentar. Logo, são, em princípio, impenhoráveis, com base no art. 649, IV, do
CPC. No entanto, o STJ entende que o art. 649, IV, do CPC não pode ser interpretado de forma literal ou
absoluta. Em determinadas circunstâncias é possível a sua relativização. Assim, SE OS HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS RECEBIDOS SÃO EXORBITANTES E ULTRAPASSAM VALORES QUE SERIAM RAZOÁVEIS PARA SUSTENTO
PRÓPRIO E DE SUA FAMÍLIA, A VERBA PERDE A SUA NATUREZA ALIMENTAR (FINALIDADE DE SUSTENTO) E PASSA A SER
POSSÍVEL A SUA PENHORA, LIBERANDO-SE APENAS UMA PARTE DESSE VALOR PARA O ADVOGADO. STJ. 2ª Turma. REsp
1.264.358-SC, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 25/11/2014 (Info 553).

PENHORA DE QUOTAS SOCIAIS NA PARTE RELATIVA À MEAÇÃO


João foi casado com Cristina, com quem teve um filho (Arthur). O pai paga pensão alimentícia em favor do
filho. Atualmente, João vive em união estável com Beatriz. Beatriz é sócia, juntamente com uma amiga, de
uma sociedade empresária limitada (empresa XXX). Vale ressaltar que ela se tornou sócia desta sociedade
depois que já vivia em união estável com João. João deixou de pagar a pensão alimentícia, razão pela qual
Arthur ingressou com execução de alimentos. Ocorre que não foram localizados bens penhoráveis em nome
de João. Diante disso, o exequente pediu que fossem penhoradas 50% das cotas sociais de Beatriz
(companheira do executado) na sociedade empresária “XXX”. A tese do exequente foi a seguinte: como
Beatriz vive em união estável com João, metade do patrimônio dela pertence a João (direito dele à meação).
Logo, ele possui metade das cotas dela na empresa. Sendo esse patrimônio dele, pode ser penhorado para
pagar suas dívidas.

A tese construída pelo exequente é correta? SIM . Se duas pessoas vivem em união estável, é como se elas
fossem casadas sob o regime da comunhão parcial de bens (art. 1.725 do CC). POR ISSO, O COMPANHEIRO (NO
CASO, JOÃO) POSSUI DIREITO À METADE DOS BENS DA COMPANHEIRA (BEATRIZ), INCLUINDO METADE DAS QUOTAS SOCIAIS
PORQUE ESTAS FORAM ADQUIRIDAS ONEROSAMENTE DURANTE À UNIÃO ESTÁVEL, DE FORMA QUE SE COMUNICAM AO
COMPANHEIRO.

A) A LEGISLAÇÃO PERMITE A PENHORA DE QUOTAS SOCIAIS?


SIM. Isso está previsto no art. 655, VI, do CPC 1973 (art. 835, IX, do CPC 2015): No caso concreto, era
possível que o juiz já determinasse, como primeira providência, a penhora da metade das quotas de Beatriz
(companheira do devedor)? NÃO.
O STJ entende que a penhora sobre as quotas sociais não deve ser a primeira opção porque esta medida
poderá acarretar o fim da pessoa jurídica e nosso Direito consagra os princípios da conservação da empresa e
da menor onerosidade da execução. O art. 1.026 do CC estabelece uma ordem de prioridade, devendo,
sempre que possível, ser feita a opção pela retenção dos lucros correspondentes à quota social do devedor.
“O dispositivo torna as quotas sociais eventualmente penhoráveis: ou seja, só podem ser penhoradas na
ausência de outros bens do devedor (...)” (DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da; BRAGA,
Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Execução. Salvador: Juspodivm, 2009, vol. 5, p. 570-572). Assim, não se pode
autorizar desde logo a penhora sobre as quotas sociais. CABIA AO EXEQUENTE REQUERER, ANTES DISSO, A PENHORA
DOS LUCROS RELATIVOS ÀS QUOTAS SOCIAIS CORRESPONDENTES À MEAÇÃO DO DEVEDOR, NÃO PODENDO SER
DEFERIDA, DE IMEDIATO, A PENHORA DAS COTAS SOCIAIS DE SOCIEDADE EMPRESÁRIA QUE
SE ENCONTRA EM PLENA ATIVIDADE, O QUE PODERIA CAUSAR PREJUÍZO A TERCEIROS, COMO FUNCIONÁRIOS, FORNECEDORES
ETC. Somente se não houvesse lucros é que poderia ser feita a penhora das quotas com a liquidação da
sociedade (art. 1.026 do CC). STJ. 4ª Turma. REsp 1.284.988-RS, Rel Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
19/3/2015 (Info 559).

PROCESSO CAUTELAR
INFORMATIVO 553, STJ - AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS BANCÁRIOS.
A propositura de ação cautelar de exibição de documentos bancários (cópias e segunda via de documentos) é
cabível como medida preparatória a fim de instruir a ação principal, bastando a demonstração da existência
de relação jurídica entre as partes, a comprovação de prévio pedido à instituição financeira não atendido em
prazo razoável, e o pagamento do custo do serviço conforme previsão contratual e normatização da
autoridade monetária. STJ. 2ª Seção. REsp 1.349.453-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção,
julgado em 10/12/2014 (recurso repetitivo) (Info 553).

TÍTULOS EXECUTIVOS EXTRAJUDICIAIS

INFORMATIVO 553, STJ - CONTRATO DE SEGURO DE AUTOMÓVEIS NÃO É TITULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL.
A via adequada para cobrar a indenização securitária fundada em contrato de seguro de automóvel é a ação
de conhecimento sob o rito sumário (e não a ação executiva). Não é possível propor diretamente a execução
nesse caso porque o contrato de seguro de automóvel não se enquadra como título executivo extrajudicial
(art. 585 do CPC). Por outro lado, os contratos de seguro de vida, por serem dotados de liquidez, certeza e
exigibilidade, são títulos executivos extrajudiciais (art. 585, III), podendo ser cobrados por meio de ação de
execução. STJ. 3ª Turma. REsp 1.416.786-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 2/12/2014 (Info
553).

DENUNCIAÇÃO DA LIDE
Denunciação da lide da seguradora e condenação ao pagamento da indenização
Súmula 537-STJ: Em ação de reparação de danos, a seguradora denunciada, se aceitar a denunciação ou
contestar o pedido do autor, pode ser condenada, direta e solidariamente junto com o segurado, ao
pagamento da indenização devida à vítima, nos limites contratados na apólice.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 10/06/2015, Dje 15/06/2015.
Nesta situação acima relatada, o juiz irá condenar José e a “Seguradora X”, de modo que Pedro poderá
executar tanto o denunciante (José) como a denunciada (Seguradora).
Isso é bom porque a vítima não será obrigada a perseguir seu direito somente contra o autor do dano (José), o
qual poderia não ter condições de arcar com a condenação.
Principais fundamentos do entendimento do STJ:
 pacificação social;
 efetividade da tutela judicial prestada;
 garantia da duração razoável do processo;
 indenizabilidade plena do dano sofrido.
Ressalte-se que a seguradora denunciada terá direito ao contraditório e à ampla defesa, com todos os meios
e recursos disponíveis.
Obs: a seguradora pode recusar a denunciação da lide, desde que tenha uma razão jurídica para isso (ex: o
contrato com o segurado já havia expirado). Neste caso, ela não poderá ser condenada junto com o segurado,
ao pagamento da indenização.

AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO


Não incidência do prazo do art. 892 do CPC 1973 (art. 541 do CPC 2015) para os depósitos judiciais de
tributos

O prazo de cinco dias previsto no art. 892 do CPC 1973 (art. 541 do CPC 2015) NÃO se aplica para depósitos
judiciais relacionados com créditos tributários.
O crédito tributário é exigível a partir do dia de seu vencimento. Se ele não é pago nesta data, deverá ser
cobrado acrescido de juros, multa e correção monetária. Isso ocorre por força de lei.
Para que o depósito judicial possa acarretar a suspensão da exigibilidade do crédito tributário, ele deve ser
feito dentro do prazo de vencimento da obrigação.
Se a tese acima exposta fosse aceita, o contribuinte que ingressasse com ação de consignação em pagamento
passaria a ser agraciado com cinco dias extras para pagar o tributo pelo simples fato de ter proposto essa
ação. Por outro lado, o contribuinte que não tivesse proposto a ação continuaria tendo que pagar na data do
vencimento. Perceba, portanto, que haveria uma violação ao princípio da isonomia tributária (art. 150, I, da
CF/88), além de estar-se criando uma espécie de moratória tributária, de caráter geral, sem previsão legal.
Desse modo, o Fisco poderá sim cobrar multa e juros caso o depósito não seja realizado dentro do prazo para
o pagamento do tributo.
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.365.761-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 9/6/2015 (Info 564).

Litigância de má-fé e desnecessidade de prova de prejuízo

A indenização prevista no art. 18, caput e § 2º, do CPC 1973 (art. 81, caput e § 3º do CPC 2015) tem caráter
reparatório (ou indenizatório), decorrendo de um ato ilícito processual.
Apesar disso, é desnecessária a comprovação do prejuízo para que haja condenação ao pagamento da
indenização prevista nesse dispositivo.
Em outras palavras, é desnecessária a comprovação de prejuízo para que haja condenação ao pagamento de
indenização por litigância de má-fé (art. 18, caput e § 2º, do CPC 1973 / art. 81, caput e § 3º do CPC 2015).
STJ. Corte Especial. EREsp 1.133.262-ES, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 3/6/2015 (Info 565

DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

PROCESSO COLETIVO

APLICABILIDADE DO ART. 18 DA LACP PARA AÇÃO CIVIL PÚBLICA MOVIDA POR SINDICATO

O art. 18 da Lei 7.347/85 prevê que o autor da ACP, antes de ajuizar a ação, não terá que adiantar custas,
emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem será condenado em honorários
advocatícios, custas e despesas processuais, salvo comprovada má-fé. O STJ DECIDIU QUE ESSE ART. 18 DA LEI
7.347/85 É APLICÁVEL TAMBÉM PARA A AÇÃO CIVIL PÚBLICA MOVIDA POR SINDICATO NA DEFESA DE DIREITOS
INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS DA CATEGORIA QUE REPRESENTA.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.322.166-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 4/3/2015 (Info 558).

ALCANCE DA REGRA DE ISENÇÃO DE CUSTAS PROCESSUAIS DA LACP E DO CDC

O art. 18 da LACP e o art. 87 do CDC preveem que, nas ações de que tratam estas leis, não haverá
adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da
associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e despesas processuais.
O STJ decidiu que ESSAS REGRAS DE ISENÇÃO SÓ SE APLICAM PARA AS CUSTAS JUDICIAIS em:
 AÇÕES CIVIS PÚBLICAS (QUALQUER QUE SEJA A MATÉRIA);
 AÇÕES COLETIVAS QUE TENHAM POR OBJETO RELAÇÃO DE CONSUMO; e
 Na AÇÃO CAUTELAR PREVISTA NO ART. 4º DA LACP (QUALQUER QUE SEJA A MATÉRIA).
NÃO É POSSÍVEL ESTENDEr, por analogia ou interpretação extensiva, essa isenção para OUTROS TIPOS DE AÇÃO
(COMO A RESCISÓRIA) ou para INCIDENTES PROCESSUAIS (como a IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA), mesmo que
tratem sobre direito do consumidor.
STJ. 2ª Seção. PET 9.892-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/2/2015 (Info 556).

RETENÇÃO DE HONORÁRIOS CONTRATUAIS EM EXECUÇÃO DE DEMANDA COLETIVA

Na execução de título judicial oriundo de ação coletiva promovida por sindicato na condição de
substituto processual, não é possível destacar os honorários contratuais do montante da condenação sem
que haja autorização expressa dos substituídos ou procuração outorgada por eles aos advogados.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.464.567-PB, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 3/2/2015 (Info 555).
A) IMAGINE A SEGUINTE SITUAÇÃO HIPOTÉTICA:
O sindicato, na condição de substituto processual (defendendo em nome próprio direito alheio), ajuizou
ação coletiva contra a União.
A ação foi julgada procedente e a ré foi condenada a pagar 1 milhão de reais em favor da categoria que o
sindicato representa.
A sentença transitou em julgado.
Como não houve pagamento espontâneo, o sindicato, por meio de advogado, ingressou com ação de
execução de título judicial.
No pedido de execução, o referido advogado alegou que tinha um contrato assinado entre ele e o sindicato
por meio do qual a entidade sindical se obrigou a lhe pagar R$ 100 mil a título de honorários contratuais.
Por conta disso, o causídico juntou o aludido contrato e pediu que houvesse o destaque desses
honorários do precatório, ou seja, que esse valor fosse descontado daquilo que os substituídos iriam
receber da União. Em palavras mais simples, o advogado pediu que a União, ao pagar o débito, pagasse
a ele R$ 100 mil por RPV e para os substituídos os R$ 900 mil restantes por meio de precatório.
O magistrado indeferiu o pedido alegando que não havia autorização expressa dos substituídos ou
procuração outorgada por eles ao advogado.
O § 4º do art. 22 da Lei n. 8.906/94 (Estatuto da OAB) traz a seguinte regra:
§ 4º Se o advogado fizer juntar aos autos o seu contrato de honorários antes de expedir-se o mandado de
levantamento ou precatório, o juiz deve determinar que lhe sejam pagos diretamente, por dedução da
quantia a ser recebida pelo constituinte, salvo se este provar que já os pagou.
ASSIM, NOS TERMOS DO CITADO ARTIGO, PARA QUE HAJA A RETENÇÃO, É IMPRESCINDÍVEL PREVISÃO
CONTRATUAL.

INFORMATIVO 552, STJ - MP TEM LEGITIMIDADE PARA AJUIZAR ACP EM DEFESA DE MUTUÁRIOS DO SFH.
O MINISTÉRIO PÚBLICO TEM LEGITIMIDADE AD CAUSAM PARA PROPOR AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM A FINALIDADE DE
DEFENDER INTERESSES COLETIVOS E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS dos mutuários do Sistema Financeiro da Habitação.
O STJ entende que os temas relacionados com SFH possuem expressão para a coletividade e que o interesse
em discussão é socialmente relevante. STJ. 3ª Turma. REsp 1.114.035-PR, Rel. originário Min. Sidnei Beneti,
Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 7/10/2014 (Info 552).

INFORMATIVO 552, STJ - EFICÁCIA SUBJETIVA DA ACP E ART. 16 DA LEI 7.347/85.


Tema polêmico! O art. 16 da LACP (Lei 7.347/1985), que restringe o alcance subjetivo de sentença civil aos
limites da competência territorial do órgão prolator, TEM APLICABILIDADE NAS AÇÕES CIVIS
PÚBLICAS QUE ENVOLVAM DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. Ressalte-se, no
entanto, que se trata de tema ainda polêmico, havendo decisões em sentido contrário. Imagine agora que o
juiz decidiu uma ACP envolvendo direitos individuais homogêneos e este processo chegou até o STJ, por meio

de recurso especial. Após o STJ decidir o recurso, os efeitos dessa decisão serão nacionais? NÃO. O
SIMPLES FATO DE A CAUSA TER SIDO SUBMETIDA À APRECIAÇÃO DO STJ, POR MEIO DE RECURSO
ESPECIAL, NÃO FAZ COM QUE OS EFEITOS DA SENTENÇA PROLATADA NA ACP PASSEM A TER ALCANCE
NACIONAL. Assim, OS EFEITOS DA ACP CONTINUARIAM RESTRITOS AOS LIMITES DA
COMPETÊNCIA TERRITORIAL DO JUIZ PROLATOR DA SENTENÇA. Ex.: se a sentença foi proferida
por um juiz de direito de Limeira (SP), os efeitos da decisão somente valerão para os titulares dos direitos
individuais homogêneos de Limeira (SP), mesmo tendo o STJ confirmado a sentença. STJ. 3ª Turma. REsp
1.114.035-PR, Rel. originário Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em
7/10/2014 (Info 552).
- Resumo das principais críticas ao dispositivo (DIDIER, Fredie; ZANETI, Hermes):
 Gera PREJUÍZO À ECONOMIA PROCESSUAL E PODE OCASIONAR DECISÕES CONTRADITÓRIAS ENTRE JULGADOS PROFERIDOS EM
MUNICÍPIOS OU ESTADOS DIFERENTES;
 Viola o PRINCÍPIO DA IGUALDADE POR TRATAR DE FORMA DIVERSA OS BRASILEIROS (PARA UNS IRÁ VALER A DECISÃO, PARA
OUTROS NÃO);
 Os DIREITOS COLETIVOS “LATO SENSU” SÃO INDIVISÍVEIS, DE FORMA QUE NÃO HÁ SENTIDO QUE A DECISÃO QUE OS DEFINE SEJA
SEPARADA POR TERRITÓRIO;
 A redação do dispositivo MISTURA “COMPETÊNCIA” COM “EFICÁCIA DA DECISÃO”, QUE SÃO CONCEITOS DIFERENTES. O
LEGISLADOR CONFUNDIU “COISA JULGADA” E “EFICÁCIA DA SENTENÇA”;
 O art. 93 do CDC, que se aplica também à LACP, traz regra diversa, já que prevê que, em caso de danos
nacional ou regional, a competência para a ação será do foro da Capital do Estado ou do Distrito Federal, o
que indica que essa decisão valeria, no mínimo, para todo o Estado/DF.

- Para oSTJ , o ART. 16 DA LACP É VÁLIDO? Trata-se de tema polêmico. Podemos encontrar no STJ
julgados defendendo dois entendimentos diferentes:

 1ª corrente: O ART. 16 DA LACP NÃO É VÁLIDO. Assim, os efeitos e a eficácia da sentença prolatada em
ação civil coletiva NÃO ESTÃO CIRCUNSCRITOS A LINDES GEOGRÁFICOS, mas AOS LIMITES OBJETIVOS E
SUBJETIVOS DO QUE FOI DECIDIDO (STJ. Corte Especial. REsp 1.243.887⁄PR, Min. Luis Felipe Salomão, julgado
em 19/10/2011) (STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 1326477/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
06/09/2012). (STJ. 2ª Turma. REsp 1.377.400-SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 18/2/2014. Info 536).
 2º corrente: O ART. 16 DA LACP É VÁLIDO, PORÉM, SÓ SE APLICA A AÇÕES CIVIS PÚBLICAS QUE
ENVOLVAM DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. LOGO, ESSE ART. 16 NÃO VALE PARA ACPS QUE
TRATEM SOBRE DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS “STRICTO SENSU” (STJ. 3ª Turma. REsp 1.114.035-PR, Rel.
originário Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão Min. João Otávio de Noronha, julgado em 7/10/2014). Para
essa segunda corrente, o art. 16 da LACP somente se aplica aos direitos individuais homogêneos porque estes
podem ser divididos, ou seja, o tratamento pode ser diferente para cada um dos titulares. Por outro lado, os
direitos difusos e coletivos “stricto sensu” são indivisíveis, de forma que não há lógica em alguém dizer que
uma decisão envolvendo o meio ambiente, por exemplo (direito difuso), irá valer apenas para determinados
limites territoriais.
É interessante destacar duas observações feitas pelo Min. João Otávio de Noronha para defender seu
entendimento:
I) O STF NEGOU A MEDIDA CAUTELAR PARA DECLARAR O ART. 16 INCONSTITUCIONAL (ADI 1576 MC);

ii) ao contrário do que se comumente afirma, a invalidade do art. 16 da LACP ainda não foi assentada pela
Corte Especial, considerando que no julgamento do REsp 1.243.887⁄PR, a conclusão de que esse dispositivo
não poderia ser aplicado foi mero obiter dictum feito pelo Min. Luis Felipe Salomão, não tendo integrado a
decisão.

INFORMATIVO 552, STJ - EFICÁCIA SUBJETIVA EM CASO DE ACP PROPOSTA PELO MP NO DISTRITO FEDERAL COM A
PARTICIPAÇÃO DE ENTIDADES DE ÂMBITO NACIONAL.

TEM ABRANGÊNCIA NACIONAL A EFICÁCIA DA COISA JULGADA DECORRENTE DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA AJUIZADA PELO
MINISTÉRIO PÚBLICO, COM ASSISTÊNCIA DE ENTIDADES DE CLASSE DE ÂMBITO NACIONAL, PERANTE A SEÇÃO JUDICIÁRIA
DO DISTRITO FEDERAL, e SE NDO O ÓRGÃO PROLATOR DA DECISÃO FINAL DE
PROCEDÊNCIA O STJ. É o que se extrai da inteligência dos arts. 16 da LACP, 93, II, e 103, III, do CDC.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.319.232-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 4/12/2014 (Info 552).
- O MPF ajuizou, na seção judiciária do Distrito Federal, ação civil pública contra a União, o Banco Central e o
Banco do Brasil. Na ação, intervieram, como assistentes do autor, algumas entidades de classe de âmbito
nacional. A lide proposta pelo MPF versava sobre direitos individuais homogêneos. O juiz julgou procedente o
pedido e, após passar pelo TRF, a questão chegou, por meio de recurso especial, até o STJ.

-ESTE JULGADO (RESP 1.319.232-DF) CONTRARIOU O PRECEDENTE ESTUDADO


ANTERIORMENTE (RESP 1.114.035-PR)?
Em tese, NÃO. Neste julgado (REsp 1.319.232-DF), o Min. Paulo de Tarso Sanseverino concorda e menciona
expressamente a decisão proferida no julgado anterior (REsp 1.114.035-PR), no entanto, DIANTE DAS
PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO (ter sido a ação proposta contra a União, no Distrito Federal e
contendo a participação de entidades de caráter nacional), A EFICÁCIA DA COISA JULGADA DEVERÁ
TER ABRANGÊNCIA NACIONAL.

AÇÃO POPULAR

IMPOSSIBILIDADE DE CONDENAÇÃO DE RESSARCIMENTO AO ERÁRIO FUNDADA EM LESÃO PRESUMIDA

Determinado contrato administrativo foi celebrado, tendo havido, no entanto, irregularidades formais no
procedimento de licitação. A empresa contratada cumpriu exatamente os serviços previstos no contrato e
recebeu por isso.
Neste caso, o STJ entendeu que até seria possível a declaração de nulidade de contrato administrativo, mas
NÃO SE PODERIA CONDENAR A EMPRESA A RESSARCIR O ERÁRIO se NÃO HOUVE COMPROVAÇÃO REAL DE LESÃO AOS
COFRES PÚBLICOS.
Para o STJ, eventual violação à boa-fé e aos valores éticos esperados nas práticas administrativas não
configura, por si só, elemento suficiente para ensejar a presunção de lesão ao patrimônio público, uma vez que
a responsabilidade dos agentes em face de conduta praticada em detrimento do patrimônio público exige a
comprovação e a quantificação do dano. Adotar entendimento em sentido contrário acarretaria evidente
enriquecimento sem causa do ente público, que usufruiu dos serviços prestados em razão do contrato firmado
durante o período de sua vigência.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.447.237-MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 16/12/2014 (Info 557).

DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA A HONRA

POSSIBILIDADE DA PRÁTICA DE CALÚNIA, DIFAMAÇÃO E INJÚRIA POR MEIO DA DIVULGAÇÃO DE UMA ÚNICA CARTA

É possível que se impute, de forma concomitante, a prática dos crimes de calúnia, de difamação e de injúria ao
agente que divulga, em uma única carta, dizeres aptos a configurar os referidos delitos, sobretudo no caso em
que os trechos utilizados para caracterizar o crime de calúnia forem diversos dos empregados para demonstrar
a prática do crime de difamação.
Ex: João, síndico do prédio, brigou com Pedro em virtude de desavenças quanto à prestação de contas. Pedro
escreveu, então, uma carta, distribuída a todos os demais condôminos, na qual dizia que João, no mês de
09/2014, desviou R$ 10 mil da conta do condomínio em proveito próprio (calúnia); que, no dia da assembleia
ocorrida em 22/10/2014, estava tão bêbado que não conseguia parar em pé (difamação) e que ele era um
gordo, feioso e burro (injúria).STJ. 5ª Turma. RHC 41.527-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 3/3/2015 (Info
557).

CRIME CONTINUADO

AUMENTO DE PENA NO MÁXIMO PELA CONTINUIDADE DELITIVA EM CRIME SEXUAL

No caso de crime continuado, o art. 71 do CP prevê que o juiz deverá aplicar a pena de um só dos crimes, se
idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de 1/6 a 2/3.
O STJ entende que, EM REGRA, a escolha da quantidade de aumento de pena deve LEVAR EM
CONSIDERAÇÃO O NÚMERO DE INFRAÇÕES PRATICADAS pelo agente.
Porém, nem sempre será fácil trazer para os autos o número exato de crimes que foram praticados,
especialmente quando se trata de delitos sexuais. É o caso, por exemplo, de um padrasto que mora há
meses ou anos com a sua enteada e contra ela pratica constantemente estupro de vulnerável. NESSAS
HIPÓTESES, MESMO NÃO HAVENDO A INFORMAÇÃO DO NÚMERO EXATO DE CRIMES QUE FORAM
COMETIDOS, O JUIZ PODERÁ AUMENTAR A PENA ACIMA DE 1/6 E, DEPENDENDO DO PERÍODO DE TEMPO,
ATÉ CHEGAR AO PATAMAR MÁXIMO.
Assim, constatando-se a ocorrência de DIVERSOS CRIMES SEXUAIS DURANTE LONGO PERÍODO DE
TEMPO, É POSSÍVEL O AUMENTO DA PENA PELA CONTINUIDADE DELITIVA NO PATAMAR MÁXIMO DE 2/3 (ART. 71
DO CP), AINDA QUE SEM A QUANTIFICAÇÃO EXATA DO NÚMERO DE EVENTOS CRIMINOSOS. STJ. 5ª Turma. HC
311.146-SP, Rel. Min. Newton Trisotto (Desembargador convocado do TJ-SC), julgado em 17/3/2015
(Info 559).
O art. 71, caput, do CP prevê que o aumento na continuidade delitiva varia de 1/6 a 2/3. Qual é o critério que o
juiz deve adotar no momento da dosimetria da pena?
O critério para o aumento no crime continuado é o número de crimes praticados:
2 CRIMES AUMENTA 1/6
3 CRIMES AUMENTA 1/5
4 CRIMES AUMENTA 1/4
5 CRIMES AUMENTA 1/3
6 CRIMES AUMENTA 1/2
7 OU MAIS AUMENTA 2/3

CRIMES CONTRA A DIGIDADE SEXUAL

1. O QUE É CONSIDERADO ATO LIBIDINOSO DIVERSO DA CONJUNÇÃO CARNAL?


O agente levou a vítima (menina de 12 anos de idade) para o quarto, despiu-se e, enquanto retirava as
roupas da adolescente, passou as mãos em seu corpo. Ato contínuo, deitou-se na cama, momento em que
a garota vestiu-se rapidamente e fugiu do local.

O CRIME SE CONSUMOU. Assim, se o réu praticou esse fato antes da Lei 12.015/2009,
responderá por atentado violento ao pudor com violência presumida (art. 214 c/c art. 224, “a” do CP) ou, se
depois da Lei, por estupro de vulnerável (art. 217-A), AMBOS NA MODALIDADE CONSUMADO.
Para que o crime seja considerado consumado, não é indispensável que o ato libidinoso praticado seja
invasivo (introdução do membro viril nas cavidades da vítima). Logo, TOQUES ÍNTIMOS PODEM
SERVIR PARA CONSUMAR O DELITO.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.309.394-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 3/2/2015 (Info 555).
CONSIDERAR CONSUMADO ATOS LIBIDINOSOS DIVERSOS DA CONJUNÇÃO CARNAL SOMENTE QUANDO INVASIVOS, OU SEJA,
NAS HIPÓTESES EM QUE HÁ INTRODUÇÃO DO MEMBRO VIRIL NAS CAVIDADES ORAL, VAGINAL OU ANAL DA VÍTIMA, NÃO
CORRESPONDE AO ENTENDIMENTO DO LEGISLADOR, TAMPOUCO AO DA DOUTRINA E DA JURISPRUDÊNCIA ACERCA DO TEMA.
A) OUTRO PRECEDENTE DO STJ:
SOBRE ESSE TEMA, O STJ JÁ HAVIA DECIDIDO EM SENTIDO SEMELHANTE EM 2013:
A consumação do delito de estupro de vulnerável (art. 217-A do Código Penal) dá-se não apenas quando há
conjunção carnal, mas sim todas as vezes em que houver a prática de qualquer ato libidinoso com menor
de 14 anos.
No caso, o agente deitou-se por cima da vítima com o membro viril à mostra, após retirar-lhe as calças, o que,
de per si, configura ato libidinoso para a consumação do delito de estupro de vulnerável.
O STJ entende que é INADMISSÍVEL QUE O JULGADOR, DE FORMA MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA À LEI E UTILIZANDO-SE
DOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE, RECONHEÇA A FORMA TENTADA DO DELITO, EM RAZÃO DA
ALEGADA MENOR GRAVIDADE DA CONDUTA.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.353.575-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 5/12/2013 (Info 533).

2. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR MEDIANTE VIOLÊNCIA PRESUMIDA (ANTES DA LEI 12.015/2009)


Praticar conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso contra menor de 14 anos é crime. Antes da Lei
12.015/2009, tais condutas poderiam se enquadrar nos crimes previstos no art. 213 c/c art. 224, “a” (estupro
com violência presumida por ser menor de 14 anos) ou art. 214 c/c art. 224, “a” (atentado violento ao pudor com
violência presumida por ser menor de 14 anos).
Depois da Lei 12.015/2009, essa conduta é criminalizada como estupro de vulnerável (art. 217-A do CP).
Se o agente PRATICA CONJUNÇÃO CARNAL OU ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR COM UM ADOLESCENTE
DE 13 ANOS, EXISTE CRIME MESMO QUE A VÍTIMA CONSINTA COM O ATO SEXUAL?

SIM. ANTES OU DEPOIS DA LEI 12.015/2009, quem manteve ou mantiver relação


sexual com menor de 14 anos comete crime e não importa se a vítima consentiu ou se já tinha tido
outros atos sexuais pretéritos.
A) NA SENTENÇA, DURANTE A DOSIMETRIA, O JUIZ PODE REDUZIR A PENA-BASE DO RÉU ALEGANDO QUE A VÍTIMA (MENOR
DE 14 ANOS) JÁ TINHA EXPERIÊNCIA SEXUAL ANTERIOR OU ARGUMENTANDO QUE A VÍTIMA ERA HOMOSSEXUAL?

NÃO. Em se tratando de crime sexual praticado contra menor de 14 anos, A EXPERIÊNCIA SEXUAL ANTERIOR
e A EVENTUAL HOMOSSEXUALIDADE DO OFENDIDO NÃO SERVEM PARA JUSTIFICAR A DIMINUIÇÃO DA
PENA-BASE A TÍTULO DE COMPORTAMENTO DA VÍTIMA. A experiência sexual anterior e a eventual
homossexualidade do ofendido, assim como não desnaturam (descaracterizam) o crime sexual
praticado contra menor de 14 anos, não servem também para justificar a diminuição da pena- base,
à título de comportamento da vítima.
STJ. 6ª Turma. REsp 897.734-PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 3/2/2015 (Info 555).

INFORMATIVO 553, STJ - AÇÃO PENAL NO CASO DE CRIME PRATICADO CONTRA VÍTIMA QUE ESTAVA
TEMPORARIAMENTE VULNERÁVEL

O art. 225 do CP prevê que, nos crimes sexuais, em regra, a ação penal é condicionada à representação.
Existem duas exceções previstas no parágrafo único:
1) SE A VÍTIMA É MENOR DE 18 ANOS: INCONDICIONADA.
2) SE A VÍTIMA É PESSOA VULNERÁVEL: INCONDICIONADA.
A interpretação que deve ser dada a esse parágrafo único é a de que, em relação à vítima possuidora de
incapacidade permanente de oferecer resistência à prática dos atos libidinosos, a ação penal seria sempre
incondicionada. Mas, EM SE TRATANDO DE PESSOA INCAPAZ DE OFERECER RESISTÊNCIA APENAS NA
OCASIÃO DA OCORRÊNCIA DOS ATOS LIBIDINOSOS, A AÇÃO PENAL PERMANECE CONDICIONADA À
REPRESENTAÇÃO DA VÍTIMA. Assim, procede-se mediante ação penal condicionada à representação no crime
de estupro praticado contra vítima que, por estar desacordada em razão de ter sido anteriormente agredida,
era incapaz de oferecer resistência apenas na ocasião da ocorrência dos atos libidinosos. STJ. 6ª Turma. HC
276.510-RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/11/2014 (Info 553).
- O estupro de vulnerável (art. 217-A) é sempre crime de ação penal pública incondicionada por causa do
parágrafo único do art. 225 do CP?
A EXPRESSÃO “PESSOA VULNERÁVEL” EMPREGADA PELO PARÁGRAFO ÚNICO É O MESMO CONCEITO DE “VULNERÁVEL” DO ART.
217-A DO CP?

NÃO. Para a 6ª Turma do STJ, a “pessoa vulnerável” de que trata o parágrafo único é somente aquela
que possui uma incapacidade permanente de oferecer resistência à prática dos atos libidinosos. Se a pessoa é
incapaz de oferecer resistência apenas na ocasião da ocorrência dos atos libidinosos, ela não pode ser
considerada vulnerável para os fins do parágrafo único do art. 225 do CP, de forma que a ação penal
permanece sendo condicionada à representação da vítima.
1) Se a vítima é pessoa 2) Se a vítima está apenas
PERMANENTEMENTE VULNERÁVEL. TEMPORARIAMENTE VULNERÁVEL.
Ex: vulnerável em razão de doença mental. Ex: encontra-se desmaiada.
- Enquadra-se no conceito de vulnerável do - Enquadra-se no conceito de vulnerável do
art. 217-A do CP. art. 217-A do CP.
- Amolda-se na definição do parágrafo único - NÃO SE AMOLDA NA DEFINIÇÃO DO
do art. 225 do CP.
PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 225 DO CP.
- O crime será de ação pública
incondicionada. - O crime será de AÇÃO PÚBLICA
CONDICIONADA.

HOMICÍCIO

A MORTE INSTANTÂNEA DA VÍTIMA NEM SEMPRE IRÁ AFASTAR A CAUSA DE AUMENTO DE PENA DO § 4º DO ART. 121 DO
CP

No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima,
não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante (§ 4º do art. 121 do
CP).
Se a vítima tiver morte instantânea, tal circunstância, por si só, é suficiente para afastar a causa de

aumento de pena prevista no § 4º do art. 121? NÃO. NO HOMICÍDIO CULPOSO, A MORTE INSTANTÂNEA DA
VÍTIMA NÃO AFASTA A CAUSA DE AUMENTO DE PENA PREVISTA NO ART. 121, § 4º, DO CP, A NÃO SER QUE O
ÓBITO SEJA EVIDENTE, ISTO É, PERCEPTÍVEL POR QUALQUER PESSOA. STJ. 5ª Turma.
HC 269.038-RS, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 2/12/2014 (Info 554).

ESTELIONATO

Hipótese de inaplicabilidade do princípio da consunção com o furto/roubo

O delito de estelionato não será absorvido pelo de roubo na hipótese em que o agente, dias após roubar um
veículo e os objetos pessoais dos seus ocupantes, entre eles um talonário de cheques, visando obter
vantagem ilícita, preenche uma de suas folhas e, diretamente na agência bancária, tenta sacar a quantia
nela lançada.
A falsificação da cártula não é mero exaurimento do crime antecedente. Isso porque há diversidade de
desígnios e de bens jurídicos lesados. Dessa forma, inaplicável o princípio da consunção.
STJ. 5ª Turma. HC 309.939-SP, Rel. Min. Newton Trisotto (Desembargador convocado do TJ-SC), julgado em
28/4/2015 (Info 562).

ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO

ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO E DEVOLUÇÃO DA VANTAGEM INDEVIDA ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA

O art. 9º da Lei 10.684/2003 prevê que o pagamento integral do débito fiscal realizado pelo réu é causa de
extinção de sua punibilidade.
Imagine que determinado indivíduo tenha praticado estelionato contra o INSS, conhecido como estelionato
previdenciário (art. 171, § 3º do CP). Antes do recebimento da denúncia, o agente paga integralmente o
prejuízo sofrido pela autarquia. Isso poderá extinguir sua punibilidade, com base no art. 9º da Lei
10.684/2003?
NÃO. NÃO EXTINGUE A PUNIBILIDADE DO CRIME DE ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO (ART. 171, § 3º,
DO CP) A DEVOLUÇÃO À PREVIDÊNCIA SOCIAL, ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA, DA
VANTAGEM PERCEBIDA ILICITAMENTE.

O art. 9º da Lei 10.684/2003 menciona os crimes aos quais são aplicadas suas regras:
A) ARTS. 1º E 2º DA LEI Nº 8.137/90;
B) ART. 168-A DO CP (APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA);
C) ART. 337-A DO CP (SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA).

Repare, portanto, que o estelionato previdenciário (art. 171, § 3º do CP) não está listado nessa lei.
Mesmo sem o estelionato previdenciário estar previsto, não é possível aplicar essas regras por analogia em
favor do réu?
NÃO. O ART. 9º DA LEI 10.684/2003 SOMENTE ABRANGE CRIMES TRIBUTÁRIOS
MATERIAIS, delitos que são ontologicamente distintos do estelionato previdenciário e que protegem
bens jurídicos diferentes. Dessa forma, não há lacuna involuntária na lei penal a demandar analogia.
O fato de o agente ter pago integralmente o prejuízo trará algum benefício penal?
SIM. O AGENTE PODERÁ TER DIREITO DE RECEBER O BENEFÍCIO DO ARREPENDIMENTO POSTERIOR, tendo sua pena
reduzida de 1/3 a 2/3 (art. 18 do CP).
STJ. 6ª Turma. REsp 1.380.672-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 24/3/2015 (Info 559).

A) IMAGINE A SEGUINTE SITUAÇÃO HIPOTÉTICA:


João recebia uma aposentadoria do INSS, sendo o valor depositado em uma conta bancária.
Como João tinha dificuldades de locomoção em razão da avançada idade, Carla, sua sobrinha e única
parente, ficava com o cartão do banco e com a senha, sendo ela a responsável por efetuar os saques do
benefício e pagar as contas da casa.
João faleceu e Carla não comunicou ao INSS a morte do tio. Ao contrário, de forma ardilosa, continuou
sacando o valor da aposentadoria que era depositado na conta bancária.
Carla recebeu os valores durante 10 meses, tendo o INSS finalmente descoberto sobre o óbito do segurado e
cessado os pagamentos.
B) QUAL DELITO, EM TESE, FOI PRATICADO POR CARLA?
ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO (ART. 171, § 3º, DO CP).
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo
alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.
§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito
público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência.
C) O FATO DE ELA TER SACADO DURANTE 10 MESES POSSUI ALGUMA RELEVÂNCIA PENAL?
SIM. Há, neste caso, CRIME CONTINUADO (art. 71 do CP). Nesse sentido: STJ. 6ª Turma. REsp
1.282.118-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 26/2/2013 (Info 516).

ART. 273 DO CP

INCONSTITUCIONALIDADE DO PRECEITO SECUNDÁRIO DO ART. 273, § 1º -B, V, DO CP

§ 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica as ações previstas no § 1º em relação a produtos em
qualquer das seguintes condições:
I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária competente;
II - em desacordo com a fórmula constante do registro previsto no inciso anterior;
III - sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua comercialização;
IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade;
V - de procedência ignorada;
VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente.
Lei 9.677/98
O § 1º-B foi inserido no art. 273 do CP por força da Lei n. 9.677/98.
O objetivo do legislador foi o de punir pessoas que vendem determinados “produtos destinados a fins
terapêuticos ou medicinais” e que, embora não se possa dizer que sejam falsificados, estão em determinadas
condições que fazem com que seu uso seja potencialmente perigoso para a população.
Em simples palavras, o legislador disse o seguinte: se o produto for vendido nas condições listadas nos incisos
do § 1º-B, a pessoa que vendeu será punida como se ele fosse falsificado. Foi feita uma presunção de que
comercializar produtos terapêuticos ou medicinais nas condições do § 1º-B é tão perigoso como vender
produtos falsificados.
Em que consiste o delito do § 1º-B:
No § 1º-B a lei pune o agente que:
I. - vende (formal ou informalmente)
II. - expõe à venda (quando a polícia chega no local, o agente não está vendendo, mas o produto está na
prateleira, p. ex.)
III. - tem em depósito para vender (quando os fiscais da ANVISA chegam, encontram vários produtos no estoque,
p. ex.)
IV. - distribui (repassa para outras pessoas)
V. - ou entrega a consumo (fornece, ainda que gratuitamente, para alguém usar/consumir)
VI. - produto terapêutico ou medicinal que se enquadre em um dos incisos do § 1º-B.

A) Inciso I: produto sem registro no órgão de vigilância sanitária competente


Existem determinados produtos terapêuticos ou medicinais que só podem ser comercializados se forem
previamente registrados e aprovados pelos órgãos de vigilância sanitária.
Esse registro é feito na ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que é uma autarquia federal, sob
regime especial, vinculada ao Ministério da Saúde.
Para a configuração do crime previsto no art. 273, §§ 1º e 1º B, I, não se exige perícia, bastando a ausência de
registro na ANVISA, obrigatório na hipótese de insumos destinados a fins terapêuticos ou medicinais.
STJ. 5ª Turma. HC 177.972-BA, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 28/8/2012.
B) Inciso II: produto em desacordo com a fórmula constante do registro no órgão de vigilância sanitária
Ocorre quando o sujeito vende, expõe à venda etc. produto que foi registrado na ANVISA, mas a fórmula dele
está diferente daquela que foi registrada.

C) Inciso III: produto sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua comercialização
A ANVISA possui resoluções nas quais impõe as características de identidade e qualidade que os produtos
terapêuticos ou medicinais precisam possuir para serem comercializados.
Caso o sujeito venda, exponha à venda etc. produto que não atenda a essas normas técnicas da ANVISA, ele
responderá por este crime.
D) Inciso IV: produto com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade
Em palavras simples, valor terapêutico de um medicamento é o seu grau de eficácia para aliviar ou curar a
doença apresentada pelo paciente.
Aqui também terão que ser considerados aspectos técnicos disciplinados pela ANVISA.
E) Inciso V: produto de procedência ignorada
Pune-se o agente que vende produto terapêutico ou medicinal cuja origem se desconhece.
Ex: sujeito que vende um medicamento importado, mas no rótulo não se informa em qual país foi produzido.
F) Inciso VI: produto adquirido de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente
Os estabelecimentos que produzem produtos terapêuticos ou medicinais precisam também de registro na
ANVISA. Assim, se uma empresa produz medicamentos fitoterápicos industrializados, por exemplo, ela precisa
estar registrada na ANVISA. Imagine que esta empresa não esteja e que João compre os produtos e os
revenda em sua drogaria. João responderá pelo inciso VI, e os responsáveis pela empresa pelo inciso I.
G) INCONSTITUCIONALIDADE DA PENA PREVISTA PARA O § 1º-B DO CP
Como vimos, o § 1º-B foi acrescentado ao art. 273 pela Lei n. 9.677/98.
O legislador determinou que a conduta do § 1º-B fosse sancionada com a mesma pena do caput do art. 273.
Assim, para o legislador, a conduta de quem comercializa um produto não necessariamente falsificado, mas
nas condições irregulares do § 1º-B, deve ser punida com uma pena de 10 a 15 anos de reclusão.
Ocorre que essa pena é muito alta e, por conta disso, começou a surgir entre os advogados que militam na
área a constante alegação de que essa pena seria inconstitucional por violar o princípio da proporcionalidade.

H) A tese foi acolhida pelo STJ? A pena prevista para o crime do § 1º-B do art. 273 do CP é inconstitucional?
SIM. A CORTE ESPECIAL DO STJ, AO APRECIAR UM HABEAS CORPUS, DECIDIU QUE O PRECEITO SECUNDÁRIO DO ART. 273, § 1º-B,
INCISO V, DO CP É INCONSTITUCIONAL POR OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE.
Inicialmente, o STJ relembrou que é possível que o Poder Judiciário realize o controle de constitucionalidade de
leis penais, inclusive daquelas que estabeleçam penas. Nesse sentido já decidiu o STF:
“(...) mandatos constitucionais de criminalização [...] impõem ao legislador [...] o dever de observância do
princípio da proporcionalidade como proibição de excesso e como proibição de proteção insuficiente. A ideia
é a de que a intervenção estatal por meio do Direito Penal, como ultima ratio, deve ser sempre guiada pelo
princípio da proporcionalidade [...] Abre-se, com isso, a possibilidade do controle da constitucionalidade da
atividade legislativa em matéria penal”.
(STF. 2ª Turma. HC 104410, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 06/03/2012)
I) RESUMO DOS PRINCIPAIS ARGUMENTOS PELOS QUAIS A PENA DO ART. 273, § 1º, B, INCISO V, VIOLA OS PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE:
1º) Se for comparado com o crime de tráfico de drogas (notoriamente mais grave e cujo bem jurídico também é a
saúde pública), percebe-se a total falta de razoabilidade do preceito secundário do art. 273, § 1º-B, do CP. O
delito de tráfico de drogas (art. 33 da Lei 11.343/2006) possui pena de 5 a 15 anos de reclusão, sendo
importante lembrar que existe a possibilidade de aplicação do § 4º do mesmo artigo, que trata da figura do
traficante privilegiado, com a redução da pena em 1/6 a 2/3. Com isso, em inúmeros casos, o pequeno
traficante pode receber a pena de 1 ano e 8 meses, que pode ser convertida em pena restritiva de direitos. O
condenado pelo art. 273, § 1º-B, por sua vez, ainda que receba a pena mínima, seria condenado a 10 anos de
reclusão em regime fechado.
2º) Comparado com o homicídio, a pena mínima do art. 273, § 1º-B é maior que três vezes a pena máxima do
homicídio culposo e corresponde a quase o dobro da pena mínima do homicídio doloso simples.
3º) Além disso, a pena do art. 273, § 1º-B é cinco vezes maior que a pena mínima da lesão corporal de natureza
grave, sendo também maior que a reprimenda do estupro, do estupro de vulnerável, da extorsão mediante
sequestro. Tais comparações revelam gritante desproporcionalidade no sistema penal.
4º) O delito do art. 273, § 1º-B é crime de perigo abstrato, ou seja, para a sua consumação NÃO É NECESSÁRIO
PROVAR A OCORRÊNCIA DE EFETIVO Risco. É DISPENSÁVEL QUE TENHA OCORRIDO DANO CONCRETO À SAÚDE DO PRETENSO
USUÁRIO DO PRODUTO. Logo, trata-se de UMA REPRIMENDA MUITO ALTA PARA UM CRIME DE PERIGO ABSTRATO.
5º) Uma outra demonstração de que o legislador penal exagerou no momento da FIXAÇÃO DA PENA ESTÁ NO FATO DE
QUE A CONDUTA DE IMPORTAR MEDICAMENTO NÃO REGISTRADO NA ANVISA, CONSIDERADA CRIMINOSA E HEDIONDA PELO
ART. 273, § 1º-B, DO CP ACARRETA, NO ÂMBITO ADMINISTRATIVO, UMA MERA PUNIÇÃO DE ADVERTÊNCIA (arts. 2º, 4º, 8º,
IV e 10, IV, Lei 6.437/77). Em outras palavras, no âmbito administrativo a pena recebida é mínima e no âmbito
penal (que deveria ser a ultima ratio), a reprimenda é altíssima.

J) Ok, tudo bem. A pena prevista pelo legislador para o art. 273, § 1º-B foi declarada inconstitucional. Então,
neste caso, qual pena deverá ser aplicada em substituição?
O STJ ENTENDEU QUE DEVERÁ SER APLICADA A PENA ABSTRATAMENTE PREVISTA PARA O TRÁFICO
DE DROGAS (art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006), qual seja, “RECLUSÃO DE 5 (CINCO) A 15 (QUINZE) ANOS E
PAGAMENTO DE 500 (QUINHENTOS) A 1.500 (MIL E QUINHENTOS) DIAS-MULTA”.
Além disso, o STJ entendeu que SERÁ POSSÍVEL APLICAR PARA O RÉU QUE PRATICOU O ART. 273, § 1º-B DO CP A CAUSA
DE DIMINUIÇÃO PREVISTA NO § 4º DO ART. 33 DA LEI N. 11.343/2006.

Trata-se de ANALOGIA IN BONAM PARTEM (em benefício do réu).


K) Em suma:
O STJ decidiu que é inconstitucional a pena (preceito secundário) do art. 273, § 1º-B, V, do CP (“reclusão, de
10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa”). Em substituição a ela, deve-se aplicar ao condenado a pena prevista
no caput do art. 33 da Lei n. 11.343/2006 (Lei de Drogas), com possibilidade de incidência da causa de
diminuição de pena do respectivo § 4º.
STJ. Corte especial. AI no HC 239.363-PR, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 26/2/2015 (Info 559).
L) Essa decisão vale apenas para o inciso V do § 1º-B do art. 273 ou também para os demais incisos?
O caso concreto apreciado pelo STJ envolvia um habeas corpus impetrado em favor de réu condenado pelo
inciso V. Assim, no dispositivo do acórdão, menciona-se apenas este inciso. No entanto, pela leitura dos votos
dos Ministros, percebe-se que ELES TRATARAM DO TEMA DE FORMA GENÉRICA, abrangendo todo o § 1º-B. Logo,
MINHA OPINIÃO PESSOAL É NO SENTIDO DE QUE ESSA DECISÃO VALE PARA TODOS OS INCISOS DO § 1º-B E QUE O STJ IRÁ ASSIM
ENTENDER QUANDO CHEGAREM OUTROS CASOS SEMELHANTES.
M) O que o STF entende a respeito?
O PLENÁRIO DO STF AINDA NÃO SE MANIFESTOU SOBRE O TEMA. No entanto, EXISTEM PRECEDENTES DO STF EM SENTIDO
CONTRÁRIO AO QUE DECIDIU O STJ, OU SEJA, ACÓRDÃOS SUSTENTANDO QUE O § 1º-B DO ART. 273 É CONSTITUCIONAL.
Confira:
(...) 1. A violação reflexa e oblíqua da Constituição Federal decorrente da necessidade de análise de malferimento de dispositivo
infraconstitucional torna inadmissível o recurso extraordinário.
2. O Poder Judiciário não detém competência para interferir nas opções feitas pelo Poder Legislativo a respeito da apenação mais
severa daqueles que praticam determinados crimes, sob pena de afronta ao princípio da separação dos poderes.
3. In casu, o acórdão extraordinariamente recorrido assentou: "PENAL. PROCESSO PENAL. ARTIGO 273, § 1º e § 1º-B, INCISOS V e VI DO
CÓDIGO PENAL. TRANSNACIONALIDADE. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. INCONSTITUCIONALIDADE AFASTADA. AUTORIA E
MATERIALIDADE COMPROVADAS. DOLO DEMONSTRADO. RECONHECIDO CONCURSO FORMAL."
4. Agravo regimental DESPROVIDO.
STF. 1ª Turma. RE 829226 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 10/02/2015.
(...) Alegação de inconstitucionalidade do art. 273, § 1º-B do Código Penal. Constitucionalidade da imputação. Lesão ao bem jurídico
saúde pública. Precedentes. 3. Ausência de argumentos capazes de infirmar a decisão agravada. 4. Agravo regimental a que se nega
provimento.
STF. 2ª Turma. RE 844152 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 02/12/2014.
Obs: RESSALTE-SE QUE ESSES PRECEDENTES NÃO EXAMINARAM COM PROFUNDIDADE O TEMA, sendo possível que a
discussão seja reaberta no Plenário do STF quando as primeiras decisões do STJ forem lá questionadas. Vamos
aguardar.
Para fins de concurso, você deve estar atento para o modo como a pergunta será formulada. SE INDAGAREM A
POSIÇÃO DO STJ, É PELA INCONSTITUCIONALIDADE. SE PERGUNTAREM SOBRE O STF, ESTE POSSUI PRECEDENTES SUSTENTANDO
QUE O ART. 273, § 1º-B, DO CP É CONSTITUCIONAL. Caso o enunciado não diga qual dos dois entendimentos está
sendo exigido, assinale a posição STJ porque esta foi divulgada em Informativo e é mais conhecida.

CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO


O CRIME DE ENTREGA DE DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR A PESSOA NÃO HABILITADA É DE PERIGO ABSTRATO

O CTB prevê o seguinte delito:


Art. 310. Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa não habilitada, com habilitação
cassada ou com o direito de dirigir suspenso, ou, ainda, a quem, por seu estado de saúde, física ou mental, ou
por embriaguez, não esteja em condições de conduzi-lo com segurança.
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
Para a configuração desse crime NÃO É EXIGIDA A DEMONSTRAÇÃO DE PERIGO CONCRETO DE DANO.
Isso porque, no referido artigo, NÃO HÁ PREVISÃO, QUANTO AO RESULTADO, DE QUALQUER DANO NO MUNDO
CONCRETO, bastando a mera entrega do veículo a pessoa que se sabe inabilitada, para a consumação do tipo
penal. Trata-se, portanto, de crime de perigo abstrato.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.468.099-MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/3/2015 (Info 559).

INFORMATIVO 553, STJ - DENÚNCIA NO CASO DE HOMICÍDIO CULPOSO DEVE APONTAR QUAL FOI A CONDUTA NEGLIGENTE,
IMPRUDENTE OU IMPERITA QUE OCASIONOU A MORTE DA VÍTIMA

É INEPTA A DENÚNCIA QUE IMPUTA A PRÁTICA DE HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR (art. 302
da Lei n. 9.503/1997) sem descrever, DE FORMA CLARA E PRECISA, a conduta negligente, imperita ou
imprudente que teria gerado o resultado morte, SENDO INSUFICIENTE A SIMPLES MENÇÃO DE QUE O
SUPOSTO AUTOR ESTAVA NA DIREÇÃO DO VEÍCULO NO MOMENTO DO ACIDENTE. STJ. 6ª Turma. HC
305.194-PB, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 11/11/2014 (Info 553).

DOSIMETRIA DA PENA

A REINCIDÊNCIA E A CONFISSÃO ESPONTÂNEA SE COMPENSAM OU PREPONDERA A REINCIDÊNCIA?

Caso o réu tenha confessado a prática do crime (o que é uma atenuante), mas seja reincidente (o que
configura uma agravante), qual dessas circunstâncias irá prevalecer?
1ª) POSIÇÃO DO STJ: em regra, REINCIDÊNCIA E CONFISSÃO SE COMPENSAM. Exceção: SE O RÉU
FOR MULTIRREINCIDENTE, PREVALECE A REINCIDÊNCIA.

2ª POSIÇÃO DO STF: a AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA PREVALECE. (MP)


STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.424.247-DF, Rel. Min. Nefi Cordeiro , julgado em 3/2/2015 (Info 555).

Aumento da pena-base de homicídio culposo praticado na direção de veículo automotor


O réu foi denunciado por homicídio culposo na direção de veículo automotor (art. 302 do CTB). Ficou provado
que ele estava em alta velocidade e que dirigia o carro imprudentemente porque estava com pressa
para levar drogas a uma festa.

O juiz pode aumentar a pena-base com fundamento na excessiva velocidade? NÃO . Na primeira fase da
dosimetria da pena, o excesso de velocidade não deve ser considerado na aferição da culpabilidade (art. 59
do CP) do agente que pratica delito de homicídio e de lesões corporais culposos na direção de veículo
automotor. O excesso de velocidade não constitui fundamento apto a justificar o aumento da pena-base pela
culpabilidade, por ser inerente aos delitos de homicídio culposo e de lesões corporais culposas praticados na
direção de veículo automotor, caracterizando a imprudência, modalidade de violação do dever de cuidado
objetivo, necessária à configuração dos delitos culposos.
O juiz pode aumentar a pena-base com fundamento no fato de que o réu estava transportando droga no
carro para levá-la a uma festa?

SIM. O juiz, na análise dos motivos do crime (art. 59 do CP), pode fixar a pena-base acima do mínimo
legal em razão de o autor ter praticado delito de homicídio e de lesões corporais culposos na direção de
veículo automotor, conduzindo-o com imprudência a fim de levar droga a uma festa. Isso porque o fim de
levar droga a uma festa representa finalidade que desborda das razoavelmente utilizadas para esses crimes,
configurando justificativa válida para o desvalor.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 153.549-DF, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 2/6/2015 (Info 563).

MAUS ANTECEDENTES (DOSIMETRIA DA PENA)

INFORMATIVO 772, STF - INQUÉRITOS POLICIAIS E AÇÕES PENAIS SEM TRÂNSITO EM JULGADO.
Importante!!! A existência de INQUÉRITOS POLICIAIS OU DE AÇÕES PENAIS SEM TRÂNSITO EM JULGADO NÃO PODEM
SER CONSIDERADOS COMO MAUS ANTECEDENTES PARA FINS DE DOSIMETRIA DA PENA. STF. Plenário. RE 591054/SC,
Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/12/2014 (Info 772).
- NÃO PODEM SER UTILIZADAS COMO MAUS ANTECEDENTES (Plenário do STF):
• PROPOSTAS DE TRANSAÇÃO PENAL ACEITAS (art. 76, § 6º da Lei 9.099/1995);
• REMISSÃO EM PROCEDIMENTO JUDICIAL DO ECA, COM APLICAÇÃO DE MEDIDA DE CARÁTER REEDUCACIONAL;
• SENTENÇAS DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE, excetuados os resultantes em indulto individual, coletivo ou comutação
de pena.
Obs: A CONDENAÇÃO DE PESSOAS BENEFICIADAS COM INDULTO OU COMUTAÇÃO DE PENA PODEM CONTINUAR SENDO
UTILIZADAS COMO MAUS ANTECEDENTES.

- As CONDENAÇÕES POR FATOS POSTERIORES AO CRIME QUE ESTÁ SENDO JULGADO, AINDA QUE TENHAM
TRANSITADO EM JULGADO, TAMBÉM NÃO SÃO APTAS A DESABONAR, NA PRIMEIRA FASE DA DOSIMETRIA,
OS ANTECEDENTES PARA EFEITO DE EXACERBAÇÃO DA PENA-BASE.

DESCAMINHO

PAGAMENTO INTEGRAL DA DÍVIDA TRIBUTÁRIA

Se o denunciado pelo crime de DESCAMINHO fizer o pagamento integral da dívida tributária,


haverá extinção da punibilidade?

NÃO. Segundo a posição atual do STJ, o pagamento do tributo devido NÃO EXTINGUE A
PUNIBILIDADE DO CRIME DE DESCAMINHO.
STJ. 5ª Turma. RHC 43.558-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 5/2/2015 (Info 555).
A) LEI N. 12.382/2011
Em 2011, foi editada a Lei n. 12.382, que alterou o art. 83 da Lei n. 9.430/96 e passou a dispor sobre os
efeitos do parcelamento e do pagamento dos créditos tributários no processo penal. Veja o que diz a Lei:
§ 4º Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos no caput quando a pessoa física ou a pessoa jurídica relacionada com o agente
efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos, inclusive acessórios, que tiverem sido objeto de concessão de
parcelamento. (Incluído pela Lei 12.382/2011).
B) DESCAMINHO NÃO ESTÁ PREVISTO NAS LEIS N. 9.430/96 E 10.684/2003:
O art. 9º da Lei n. 10.684/2003 e o art. 83 da Lei n. 10.684/2003 mencionam os crimes aos quais são
aplicadas suas regras:
o ARTS. 1º E 2º DA LEI Nº 8.137/90;
o ART. 168-A DO CP (APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA);
o ART. 337-A DO CP (SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA).

Apesar disso, a JURISPRUDÊNCIA MAJORITÁRIA ENTENDIA que as disposições dessas leis deveriam ser
aplicadas, por analogia, ao descaminho. Isso porque, segundo SUSTENTAVAM OS JULGADOS, O DESCAMINHO, ASSIM
COMO ESSES QUATRO ACIMA LISTADOS, TAMBÉM SERIA UM CRIME TRIBUTÁRIO MATERIAL, motivo pelo qual não
haveria razão de receber tratamento diferenciado. Logo, se o réu efetuasse o pagamento integral da dívida
tributária, havia a extinção da punibilidade. O
DESCAMINHO É CRIME FORMAL.
Desse modo, o STJ PASSOU A ENTENDER QUE O DESCAMINHO NÃO PODE SER EQUIPARADO AOS CRIMES MATERIAIS
CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA, o que revela a impossibiidade de que o agente acusado da prática do crime de
descaminho tenha a sua punibilidade extinta pelo pagamento do tributo.
Na ocasião, afirmou-se que o bem jurídico tutelado pelo art. 334 do CP não é apenas o valor do imposto
sonegado, pois, além de lesar o Fisco, o CRIME ATINGE A ESTABILIDADE DAS ATIVIDADES COMERCIAIS
dentro do país, DÁ ENSEJO ao COMÉRCIO ILEGAL e à CONCORRÊNCIA DESLEAL, gerando uma série de
prejuízos para a atividade empresarial brasileira.

INFORMATIVO 552, STJ - DECISÃO ADMINISTRATIVA OU JUDICIAL FAVORÁVEL AO CONTRIBUINTE CARACTERIZA QUESTÃO
PREJUDICIAL EXTERNA FACULTATIVA.

Ainda que o descaminho seja delito de natureza formal, a existência de decisão administrativa ou judicial
favorável ao contribuinte – anulando o auto de infração, o relatório de perdimento e o processo
administrativo fiscal – caracteriza questão prejudicial externa facultativa, que autoriza a suspensão do
processo penal (art. 93 do CPP). STJ. 6ª Turma. REsp 1.413.829/CE, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
julgado em 11/11/2014 (Info 552).

- TANTO O STJ COMO O STF ENTENDEM QUE O DESCAMINHO É CRIME TRIBUTÁRIO FORMAL. Logo,
para que seja proposta ação penal por descaminho, não é necessária a prévia constituição definitiva do
crédito tributário. NÃO SE APLICA A SÚMULA VINCULANTE 24 DO STF. O crime se consuma com
a simples conduta de iludir o Estado quanto ao pagamento dos tributos devidos quando da importação ou
exportação de mercadorias.

PENA DE MULTA

EXECUÇÃO DA PENA DE MULTA NÃO PAGA

SÚMULA 521-STJ: A LEGITIMIDADE PARA A EXECUÇÃO FISCAL DE MULTA PENDENTE DE PAGAMENTO IMPOSTA EM SENTENÇA
CONDENATÓRIA É EXCLUSIVA DA PROCURADORIA DA FAZENDA PÚBLICA.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 25/03/2015, DJe 6/4/2015.

SANÇÃO PENAL
Sanção penal é a resposta dada pelo Estado à pessoa que praticou uma infração penal. EXISTEM DUAS ESPÉCIES DE
SANÇÃO PENAL:
1º) Pena.
2º) Medida de segurança.

CONCEITO: Multa é uma espécie de pena, por meio da qual o condenado fica obrigado a pagar uma
quantia em dinheiro que será revertida em favor do Fundo Penitenciário.
O QUE ACONTECE CASO O CONDENADO NÃO PAGUE NEM PARCELE A MULTA NO PRAZO DE 10 DIAS?
 Antes da Lei n.9.268/96: se o condenado, deliberadamente, deixasse de pagar a pena de multa, ela deveria ser
convertida em pena de detenção. Em outras palavras, a multa era transformada em pena privativa de
liberdade.
 Atualmente: a Lei n.9.268/96 alterou o art. 51 do CP e previu que, se a multa não for paga, ela será considerada
dívida de valor e deverá ser cobrada do condenado pela Fazenda Pública por meio de execução fiscal.
Quem executa a pena de multa?
A pena de multa é executada pela Fazenda Pública por meio de execução fiscal que tramita na vara de
execuções fiscais. O rito a ser aplicado é o da Lei n.6.830/80.
Obs: A Lei n.9.268⁄96, ao alterar a redação do art. 51 do CP, AFASTOU A TITULARIDADE DO MINISTÉRIO
PÚBLICO PARA COBRAR A PENA DE MULTA.

LEGITIMIDADE DO MP PARA PROMOVER MEDIDA QUE GARANTA O PAGAMENTO DE MULTA PENAL

O MINISTÉRIO PÚBLICO TEM LEGITIMIDADE PARA PROMOVER MEDIDA ASSECURATÓRIA QUE VISE À GARANTIA DO PAGAMENTO
DE MULTA IMPOSTA POR SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA.
É certo que, com a edição da Lei 9.268/1996, que deu nova redação ao art. 51 do CP, a legitimidade para a
cobrança da pena de multa passou a ser da Fazenda Pública. No entanto, a pena de multa continua tendo
natureza jurídica de sanção penal e, no caso em tela, não se está discutindo a legitimidade do MP para
cobrança de pena de multa, mas sim para promover medida assecuratória, providência que está assegurada
pelo art. 142 do CPP e pela própria CF/88, quando esta prevê que o MP é titular da ação penal.
Enquanto não há trânsito em julgado da condenação, a Fazenda Pública não pode tomar qualquer providência
relacionada com a cobrança da pena de multa. Assim, se não fosse permitido que o MP atuasse nesse caso,
ninguém mais teria legitimidade para essas medidas acautelatórias, já que a atuação da Fazenda Pública na
execução da multa penal só ocorre muito mais tarde, após o trânsito em julgado.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.275.834-PR, Rel. Min. Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ-SP), julgado
em 17/3/2015 (Info 558)

FALSA IDENTIDADE (ART. 307 DO CP)

ATRIBUIR-SE FALSA IDENTIDADE PARA ESCAPAR DE BLITZ É CRIME

SÚMULA 522-STJ: A CONDUTA DE ATRIBUIR-SE FALSA IDENTIDADE PERANTE AUTORIDADE POLICIAL É TÍPICA, AINDA QUE EM
SITUAÇÃO DE ALEGADA AUTODEFESA.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 25/03/2015, DJe 6/4/2015.

No processo penal a ampla defesa abrange:


 Defesa técnica: exercida por advogado ou defensor público;
 Autodefesa: exercida pelo próprio réu. Por conta da autodefesa, o réu não é obrigado a se autoincriminar.

O Pacto de San José da Costa Rica, que vige em nosso ordenamento jurídico com caráter supralegal, estabelece
em seu art. 8º, inciso II, alínea “g”, que “TODA PESSOA TEM DIREITO DE NÃO SER OBRIGADA A DEPOR
CONTRA SI MESMA, NEM A DECLARAR-SE CULPADA”.
Por fim, o Código de Processo Penal também preconiza:
Art. 186. Depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor da acusação, o acusado será
informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer calado e de não responder
perguntas que lhe forem formuladas.
Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão, não poderá ser interpretado em prejuízo da
defesa.
Por força desses dispositivos, a doutrina e a jurisprudência entendem que, no interrogatório, tanto na fase
policial, como em juízo, o réu poderá:
 Ficar em silêncio, recusando-se a responder as perguntas sobre os fatos pelos quais ele está sendo acusado;
Obs.1: PREVALECE QUE O RÉU NÃO PODE NEGAR-SE A RESPONDER AS PERGUNTAS RELATIVAS À SUA QUALIFICAÇÃO, sendo
o DIREITO AO SILÊNCIO RELATIVO APENAS À SEGUNDA PARTE DO INTERROGATÓRIO.
Obs.2: o SILÊNCIO DO INTERROGADO NÃO PODE SER INTERPRETADO COMO CONFISSÃO FICTA, devendo ser encarado pelo
magistrado como mera ausência de resposta.
Obs.3: o direito ao silêncio também é conhecido como nemo tenetur se detegere.(Divergência Doutrinária)
 Mentir ou faltar com a verdade quanto às perguntas relativas aos fatos;
Obs.1: diferentemente das testemunhas, o réu não tem o dever de dizer a verdade porque tem o direito
constitucional de não se autoincriminar. Logo, O RÉU, AO SER INTERROGADO E MENTIR, NÃO RESPONDE POR FALSO
TESTEMUNHO (ART. 342 DO CP).
Obs.2: o DIREITO DE MENTIR NÃO PERMITE QUE IMPUTE FALSAMENTE O CRIME A TERCEIRA PESSOA INOCENTE. Caso isso
ocorra, RESPONDERÁ POR DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA (ART. 399, CP).
Obs.3: em alguns países, como nos EUA, é crime mentir durante o interrogatório. Ressalte-se que, no direito
norte-americano, também se garante ao acusado o direito ao silêncio e à não autoincriminação (privilegie
against self-incrimination), no entanto, na hipótese de o réu decidir responder as perguntas, não poderá faltar
com a verdade. Trata-se do chamado crime de perjúrio.

LIMITES DA AUTODEFESA
A AUTODEFESA É UM DIREITO ILIMITADO?

NÃO. A AUTODEFESA NÃO É UM DIREITO ABSOLUTO. Exemplo disso, já consagrado há muito tempo, é o fato de
que se o réu, em seu interrogatório, imputar falsamente o crime a pessoa inocente, responderá por
denunciação caluniosa (art. 399, CP).

Autodefesa e uso de documento falso (art. 304 do CP)


Como expressão do direito à autodefesa, o réu pode apresentar um documento falso para não se prejudicar
criminalmente? Ex.: João é parado em uma blitz da PM e, sabendo que havia um mandado de prisão contra si
expedido, apresenta a cédula de identidade de seu irmão com sua foto no lugar. Isso é permitido?
Não. Na hipótese retratada, JOÃO PODERIA SER CONDENADO POR USO DE DOCUMENTO FALSO. ESSE É O
ENTENDIMENTO DO STF E STJ:
O fato de o paciente ter apresentado à polícia identidade com sua foto e assinatura, porém com impressão
digital de outrem, configura o crime do art. 304 do Código Penal. Havendo adequação entre a conduta e a
figura típica concernente ao uso de documento falso, não cabe cogitar de que a atribuição de identidade falsa
para esconder antecedentes criminais consubstancia autodefesa.
STF. 2ª Turma. HC 92763, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 12/02/2008.

AUTODEFESA E FALSA IDENTIDADE (ART. 307 DO CP)


Inicialmente, cumpre estabelecer a distinção entre falsa identidade e uso de documento falso.
Art. 307 — Falsa identidade Art. 304 — Uso de documento falso
Consiste na simples atribuição de falsa Aqui, há obrigatoriamente o uso de documento
identidade, sem a utilização de documento falso. falso.
Ex.: ao ser parado em uma blitz, o agente Ex.: ao ser parado em uma blitz, o agente,
afirma que seu nome é Pedro Silva, quando, na João Lima, afirma que seu nome é Pedro
verdade, ele é João Lima. Silva e apresenta o RG falsificado com este
nome.

Assim como no caso do uso de documento falso, também na hipótese de falsa identidade, O STF ENTENDE QUE
HÁ CRIME QUANDO O AGENTE, PARA NÃO SE INCRIMINAR, ATRIBUI A SI UMA IDENTIDADE QUE NÃO É SUA. Essa questão
já foi, inclusive, analisada pelo Pleno do STF em regime de repercussão geral:
O princípio constitucional da autodefesa (art. 5º, inciso LXIII, da CF/88) não alcança aquele que atribui falsa
identidade perante autoridade policial com o intento de ocultar maus antecedentes, sendo, portanto, típica a
conduta praticada pelo agente (art. 307 do CP). O tema possui densidade constitucional e extrapola os limites
subjetivos das partes.
STF. Plenário. RE 640139 RG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 22/09/2011.

(...) O Plenário Virtual, ao analisar o RE 640.139/DF, reconheceu a repercussão geral do tema versado nestes
autos e, na ocasião, reafirmou a jurisprudência, já consolidada no sentido de que comete o delito tipificado no
art. 307 do Código Penal aquele que, conduzido perante a autoridade policial, atribui a si falsa identidade com
o intuito de ocultar seus antecedentes. (...)
STF. 2ª Turma. RE 648223 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 18/10/2011

Trata-se também da posição do STJ:


É típica a conduta do acusado que, no momento da prisão em flagrante, atribui para si falsa identidade (art.
307 do CP), ainda que em alegada situação de autodefesa. Isso porque a referida conduta não constitui
extensão da garantia à ampla defesa, visto tratar-se de conduta típica, por ofensa à fé pública e aos interesses
de disciplina social, prejudicial, inclusive, a eventual terceiro cujo nome seja utilizado no falso.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.362.524-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/10/2013 (recurso repetitivo).
Em suma, TANTO O STF COMO O STJ ENTENDEM QUE A ALEGAÇÃO DE AUTODEFESA NÃO SERVE PARA
DESCARACTERIZAR A PRÁTICA DOS DELITOS DO ART. 304 OU DO ART. 307 DO CP.

INFORMATIVO 553, STJ - DESNECESSIDADE DE PROVA PERICIAL PARA CONDENAÇÃO POR USO DE DOCUMENTO FALSO
Importante!!! É possível a condenação pelo crime de uso de documento falso (art. 304 do CP) com
fundamento em documentos e testemunhos constantes do processo, acompanhados da confissão do
acusado, SENDO DESNECESSÁRIA A PROVA PERICIAL PARA A COMPROVAÇÃO DA MATERIALIDADE DO CRIME,
especialmente se a defesa não requereu, no momento oportuno, a realização do referido exame. O crime de
uso de documento falso se consuma com a simples utilização de documento comprovadamente falso, dada a
sua natureza de delito formal. STJ. 5ª Turma. HC 307.586-SE, Rel. Min. Walter de Almeida Guilherme
(Desembargador convocado do TJ/SP), julgado em 25/11/2014 (Info 553).

FURTO

POSSIBILIDADE DE APLICAR A MAJORANTE DO REPOUSO NOTURNO AO FURTO QUALIFICADO


O 1º do art. 155 do CP prevê que a pena do crime de furto será aumentada de um terço, se o crime é
praticado durante o repouso noturno.
A causa de aumento de pena prevista no § 1° PODE SER APLICADA tanto para os casos de

FURTO SIMPLES (caput) como para as hipóteses de FURTO QUALIFICADO (§ 4°).


Não existe nenhuma incompatibilidade entre a majorante prevista no § 1° e as qualificadoras do § 4º. São
circunstâncias diversas, que incidem em momentos diferentes da aplicação da pena.
Assim, é possível que o agente seja condenado por furto qualificado (§ 4º) e, na terceira fase da dosimetria, o
juiz aumente a pena em 1/3 se a subtração ocorreu durante o repouso noturno. STJ. 6ª Turma. HC 306.450-SP,
Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 4/12/2014 (Info 554).
VALE RESSALTAR QUE A POSIÇÃO ACIMA EXPOSTA REPRESENTA MUDANÇA DE ENTENDIMENTO NA JURISPRUDÊNCIA
DO STJ, CONSIDERANDO QUE OS JULGADOS ANTERIORES SUSTENTAVAM POSIÇÃO NO SENTIDO DA INCOMPATIBILIDADE
DO § 1º COM O § 4º (HC 131.391/MA, DJE 06/09/2010).
Faça uma observação sobre o presente julgado em seus livros de Direito Penal porque certamente todos
eles explicam posição em sentido contrário ao que foi decidido.

PARA QUE CONFIGURE A QUALIFICADORA DA DESTREZA , É NECESSÁRIO QUE O AGENTE TENHA SUBTRAÍDO O BEM COM
EXCEPCIONAL HABILIDADE SEM SER DESCOBERTO

No crime de furto, deve ser reconhecida a qualificadora da “destreza” (art. 155, § 4º, II, do CP) caso inexista
comprovação de que o agente tenha se VALIDO DE EXCEPCIONAL – INCOMUM – HABILIDADE para subtrair
a coisa que se encontrava na posse da vítima SEM DESPERTAR-LHE A ATENÇÃO.
Destreza, para fins de furto qualificado, é a especial habilidade física ou manual que permite ao agente
subtrair bens em poder direto da vítima sem que ela perceba o furto. É o chamado “punguista”. STJ. 5ª
Turma. REsp 1.478.648-PR, Rel. para acórdão Min. Newton Trisotto (desembargador convocado do TJ/SC),
julgado em 16/12/2014 (Info 554).
A) PRISÃO EM FLAGRANTE AFASTA A FIGURA DA DESTREZA
Se o AGENTE QUE TENTAVA REALIZAR O FURTO É PRESO EM FLAGRANTE PRÓPRIO, significa QUE NÃO PODERÁ
INCIDIR A QUALIFICADORA DA DESTREZA, devendo responder por tentativa de furto simples. Isso
porque se ele foi descoberto tentando subtrair o bem da vítima, CONCLUI-SE QUE ELE NÃO TEM HABILIDADE
EXCEPCIONAL PARA FURTAR. Logo, NÃO HÁ DESTREZA.

A existência de sistema de segurança ou de vigilância eletrônica não torna impossível, por si só, o crime de
furto cometido no interior de estabelecimento comercial.
Ex: João ingressa em um supermercado e, na seção de eletrônicos, subtrai para si um celular que estava na
prateleira. Ele não percebeu, contudo, que bem em cima deste setor havia uma câmera por meio da qual o
segurança do estabelecimento monitorava os consumidores, tendo este percebido a conduta de João.
Quando estava na saída do supermercado com o celular no bolso, João foi parado pelo segurança do
estabelecimento, que lhe deu voz de prisão e chamou a PM, que o levou até a Delegacia de Polícia.
No caso em tela, não se pode falar em absoluta impropriedade do meio. Trata-se de inidoneidade RELATIVA
do meio. Em outras palavras, o meio escolhido pelo agente é relativamente ineficaz, visto que existe sim uma
possibilidade (ainda que pequena) de o delito se consumar. Sendo assim, se a ineficácia do meio deu-se
apenas de forma relativa, não é possível o reconhecimento do instituto do crime impossível previsto no art.
17 do CP.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.385.621-MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 27/5/2015 (recurso repetitivo)
(Info 563).

ROUBO
GRAVE AMEAÇA/VIOLÊNCIA CONTRA MAIS DE UMA PESSOA, MAS SUBTRAÇÃO DE UM SÓ PATRIMÔNIO

No delito de roubo, SE A INTENÇÃO DO AGENTE É DIRECIONADA À SUBTRAÇÃO DE UM ÚNICO PATRIMÔNIO, estará


CONFIGURADO APENAS UM CRIME, ainda que, NO MODUS OPERANDI (MODO DE EXECUÇÃO), SEJA UTILIZADA VIOLÊNCIA OU
GRAVE AMEAÇA CONTRA MAIS DE UMA PESSOA PARA A OBTENÇÃO DO RESULTADO PRETENDIDO. Ex: Maria estava saindo do
banco, acompanhada de seu segurança. João, de arma em punho, deu uma coronhada no segurança, causando
lesão leve, e subtraiu a mala que pertencia a Maria. O agente praticou um único roubo majorado pelo emprego
de arma de fogo (art. 157, § 2º, I do CP), considerando que somente um patrimônio foi atingido.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.490.894-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 10/2/2015 (Info 556).
A) FUNDAMENTO:
O roubo é um crime contra o patrimônio. Logo, para o STJ, se a intenção do agente foi direcionada à subtração
de um único patrimônio, estará configurado apenas um crime, ainda que, para a sua execução, seja utilizada
violência ou grave ameaça contra mais de uma pessoa.
B) E A LESÃO LEVE PRATICADA CONTRA O SEGURANÇA?
Fica absorvida pelo crime mais grave (roubo). Aplica-se o princípio da consunção. Vale ressaltar, no entanto,
que esse fato poderá ser considerado como circunstância judicial negativa na 1ª fase da dosimetria da pena.

APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA (ART. 168-A DO CP)

EFEITOS DA SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DE CRÉDITO TRIBUTÁRIO NA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA

A PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA DO CRIME DE APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA (ART. 168- A DO CP)
PERMANECE SUSPENSA ENQUANTO A EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO ESTIVER SUSPENSA EM RAZÃO DE DECISÃO DE
ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA NO JUÍZO CÍVEL. Isso porque a decisão cível acerca da exigibilidade do crédito
tributário repercute diretamente no reconhecimento da própria existência do tipo penal, visto ser o crime de
apropriação indébita previdenciária um delito de natureza material, que pressupõe, para sua consumação, a
realização do lançamento tributário definitivo.
STJ. 5ª Turma. RHC 51.596-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 3/2/2015 (Info 556).

A) A APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA É UM CRIME TRIBUTÁRIO MATERIAL? PARA QUE HAJA A CONSUMAÇÃO DO DELITO É
NECESSÁRIA A CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO? APLICA-SE A SV 24-STF?

SIM. A apropriação indébita previdenciária (art. 168-A do CP) é CRIME OMISSIVO MATERIAL (e não
formal), de modo que, por FORÇA DO PRINCÍPIO DA ISONOMIA, APLICA-SE A ELE TAMBÉM A SV 24 (STJ. 6ª
Turma. HC 270.027/RS, julgado em 05/08/2014). Assim, para a sua consumação, é indispensável o prévio
exaurimento da via administrativa em que se discute a exigibilidade do tributo. Em outras palavras, é
necessário que, no âmbito administrativo-fiscal, a questão já tenha sido definitivamente julgada e haja uma
certeza de que o tributo é realmente devido.

ESTELIONATO JUDICIAL

SE NÃO FOR POSSÍVEL AO MAGISTRADO, DURANTE O PROCESSO, TER ACESSO ÀS INFORMAÇÕES QUE CARACTERIZAM A
FRAUDE, SERÁ POSSÍVEL A CONFIGURAÇÃO DO ESTELIONATO

O estelionato judiciário é crime?


A) Posição TRADICIONAL DO STJ: NÃO (nunca). Não se admite a prática do delito de estelionato por meio do
ajuizamento de ações judiciais.
B) ÚLTIMOS JULGADOS DO STJ: DEPENDE.
 Quando é possível ao magistrado, durante o curso do processo, constatar a fraude (ex: por meio de perícia,
por prova testemunhal, documental etc.): NÃO haverá crime.
 Quando não é possível ao magistrado, durante o curso do processo, ter acesso às informações que
caracterizam a fraude: SIM, será possível a configuração do estelionato.
No caso concreto, o STJ entendeu que NÃO SE ADEQUA AO TIPO PENAL DE ESTELIONATO (art. 171, § 3º, do
CP) a conduta do advogado que, UTILIZANDO-SE DE PROCURAÇÃO COM ASSINATURA FALSA e
COMPROVANTE DE RESIDÊNCIA ADULTERADO, propôs AÇÃO INDENIZATÓRIA EM NOME DE
TERCEIROS com objetivo de obter PARA SI VANTAGEM INDEVIDA, tendo as IRREGULARIDADES SIDO
CONSTADAS POR MEIO DE PERÍCIA DETERMINADA NA PRÓPRIA DEMANDA INDENIZATÓRIA.
STJ. 5ª Turma. RHC 53.471-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 4/12/2014 (Info 554).
A) JÁ QUE NÃO PODERIA SER CONDENADO POR ESTELIONATO, RUY PODERIA RESPONDER POR OUTRO DELITO?

SIM. O agente utilizou procuração e comprovante de residência falsos para ingressar com a ação,
tendo praticado, em tese, o delito previsto no ART. 304 DO CP (USO DE DOCUMENTO FALSO).

MOEDA FALSA

INAPLICABILIDADE DO ARREPENDIMENTO POSTERIOR AO CRIME DE MOEDA FALSA

Imagine que o réu tenha utilizado uma nota de R$ 100 falsificada para pagar uma dívida. Após alguns dias,
descobriu-se que a cédula era falsa e, antes que houvesse denúncia, o agente ressarciu o credor por
seus prejuízos. O réu praticou o crime de moeda falsa. É POSSÍVEL APLICAR A ELE O BENEFÍCIO DO ARREPENDIMENTO
POSTERIOR (ART. 16 DO CP)?

NÃO. NÃO SE APLICA O INSTITUTO DO ARREPENDIMENTO POSTERIOR AO


CRIME DE MOEDA FALSA. No crime de moeda falsa – cuja consumação se dá com a
falsificação da moeda, sendo IRRELEVANTE EVENTUAL DANO PATRIMONIAL IMPOSTO A
TERCEIROS –, a VÍTIMA É A COLETIVIDADE como um todo, e o BEM JURÍDICO TUTELADO É A FÉ
PÚBLICA, que não é passível de reparação. Desse modo, os crimes contra a fé pública, semelhantes aos
demais crimes não patrimoniais em geral, são incompatíveis com o instituto do arrependimento posterior,
dada a impossibilidade material de haver reparação do dano causado ou a restituição da coisa subtraída.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.242.294-PR, Rel. originário Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão Min. Rogerio
Schietti Cruz, julgado em 18/11/2014 (Info 554).

CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA

EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELO PAGAMENTO INTEGRAL DE DÉBITO


MUITO IMPORTANTE GALERA!!! MUDANÇA DE ENTENDIMENTO!!!!
Nos CRIMES TRIBUTÁRIOS MATERIAIS (ex: apropriação indébita previdenciária), o pagamento integral do débito
tributário feito após a condenação, mas antes do trânsito em julgado, interfere na condenação?
SIM. O PAGAMENTO INTEGRAL DO DÉBITO TRIBUTÁRIO FEITO APÓS A CONDENAÇÃO, mas ANTES DO TRÂNSITO EM
JULGADO, acarreta a EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE com base no art. 9º, § 2º da Lei 10.684/2003.
E se o pagamento integral ocorrer após o trânsito em julgado, mesmo assim haveria a extinção da
punibilidade?

NÃO. Nos crimes tributários materiais, o pagamento do débito previdenciário APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO
DA SENTENÇA CONDENATÓRIA NÃO ACARRETA A EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE.
FUNDAMENTO:
O art. 9º da Lei 10.684/2003 trata da extinção da punibilidade pelo pagamento da dívida antes do trânsito em
julgado da condenação, uma vez que faz menção expressa à pretensão punitiva do Estado. Após o trânsito em
julgado da condenação, o Estado já exerceu o seu direito de punir (fixar sanção). Começa, a partir daí, o seu
poder de executar a punição, o que é um instituto diferente.
STJ. 6ª Turma. HC 302.059-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 5/2/2015 (Info 556).
Após o trânsito em julgado da condenação, o Estado já exerceu o seu direito de punir (fixar sanção). Começa, a
partir daí, o seu poder de executar a punição, o que é um instituto diferente.
Repito: o art. 9º da Lei n. 10.684/2003 fala em extinção da PUNIBILIDADE. Esse artigo somente poderia ser
aplicado após o trânsito em julgado se ele falasse em extinção da punibilidade e da EXECUTORIEDADE.
ESTATUTO DO DESARMAMENTO

POLICIAIS CIVIS APOSENTADOS NÃO TÊM PORTE DE ARMA

O porte de arma de fogo a que têm direito os policiais civis NÃO SE ESTENDE AOS POLICIAIS APOSENTADOS.
Isso porque, de acordo com o art. 33 do Decreto 5.123/2004, que regulamentou o art. 6º da Lei 10.826/2003,
O PORTE DE ARMA DE FOGO ESTÁ CONDICIONADO AO EFETIVO EXERCÍCIO DAS FUNÇÕES INSTITUCIONAIS POR PARTE DOS
POLICIAIS, MOTIVO PELO QUAL NÃO SE ESTENDE AOS APOSENTADOS. STJ. 5ª Turma. HC 267.058-SP, Rel. Min. Jorge
Mussi, julgado em 4/12/2014 (Info 554).
O raciocínio é o seguinte: se não fizer nada, não tomar nenhuma providência, o policial, quando se
aposenta, perde direito ao porte de arma que tinha quando era da ativa. Isso porque o porte como policial da
ativa está condicionado ao efetivo exercício das funções institucionais. Logo, a se aposentar ele perde,
automaticamente, o porte e terá que devolver a arma da corporação.
No entanto, o art. 37 do Decreto 5.123/2004 permite que o policial aposentado conserve a autorização de
porte de porte de arma de fogo de sua propriedade (arma de fogo particular) (a funcional deve ser
devolvida), desde que seja feito um requerimento formal nesse sentido e cumpridos alguns requisitos,
como os testes de avaliação da aptidão psicológica, realizados de 3 em 3 anos.
CONCURSO PUBLICO
Em concursos públicos, você deve adotar a redação literal do que decidiu o STJ:
“DE ACORDO COM O ARTIGO 33 DO DECRETO FEDERAL 5.123/2004, QUE REGULAMENTOU O ARTIGO 6º DA LEI
10.826/2003, O PORTE DE ARMA DE FOGO ESTÁ CONDICIONADO AO EFETIVO EXERCÍCIO DAS FUNÇÕES INSTITUCIONAIS POR
PARTE DOS POLICIAIS, MOTIVO PELO QUAL NÃO SE ESTENDE AOS APOSENTADOS.”
Em uma prova discursiva, prática ou oral, contudo, você pode explicar a existência dessa autorização de
porte de arma de fogo particular constante do art. 37 do Decreto 5.123/2004.

INFORMATIVO 775, STF - O PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DEVE SER ABSORVIDO PELO CRIME DE HOMICÍDIO?
Importante!!! Se o agente, utilizando arma de fogo, atira e mata alguém, haverá homicídio e porte de arma de
fogo ou apenas homicídio? Se uma pessoa pratica homicídio com arma de fogo, a acusação por porte deverá
ser absorvida? Aplica-se o princípio da consunção?
Depende da situação:
• Situação 1: NÃO. O CRIME DE PORTE NÃO SERÁ ABSORVIDO SE FICAR PROVADO NOS AUTOS QUE O AGENTE PORTAVA
ILEGALMENTE A ARMA DE FOGO EM OUTRAS OPORTUNIDADES ANTES OU DEPOIS DO HOMICÍDIO E QUE ELE NÃO SE
UTILIZOU DA ARMA TÃO SOMENTE PARA PRATICAR O ASSASSINATO. Ex: a instrução demonstrou que João adquiriu a
arma de fogo três meses antes de matar Pedro e não a comprou com a exclusiva finalidade de ceifar a vida da
vítima.
• Situação 2: SIM. SE NÃO HOUVER PROVAS DE QUE O RÉU JÁ PORTAVA A ARMA ANTES DO HOMICÍDIO OU SE FICAR
PROVADO QUE ELE A UTILIZOU SOMENTE PARA MATAR A VÍTIMA. Ex: o agente compra a arma de fogo e, em
seguida, dirige-se até a casa da vítima, e contra ela desfere dois tiros, matando-a.
No caso concreto julgado pelo STF, ficou provado que o réu havia comprado a arma 3 meses antes da morte
da vítima. Além disso, também se demonstrou pelas testemunhas que o acusado, várias vezes antes do crime,
passou na frente da casa da vítima, mostrando ostensivamente o revólver utilizado no crime. Desse modo,
RESTOU PROVADO QUE OS TIPOS PENAIS CONSUMARAM-SE EM MOMENTOS DISTINTOS E QUE TINHAM

DESÍGNIOS AUTÔNOMOS, RAZÃO PELA QUAL NÃO SE PODE RECONHECER O PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO ENTRE O
HOMICÍDIO E O PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO.STF. 1ª Turma. HC 120678/PR, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o
acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em 24/2/2015 (Info 775).

ESTATUTO DO TORCEDOR

HAVERÁ CRIME DE CAMBISMO MESMO QUE, NO MOMENTO EM QUE O CAMBISTA ATUA AINDA EXISTAM INGRESSOS
DISPONÍVEIS NA BILHETERIA.

CAMBISTA É A PESSOA QUE VENDE INGRESSOS COM ÁGIO, FORA DAS BILHETERIAS DOS TEATROS, ESTÁDIOS ETC. O
cambista comete o delito previsto no art. 41-F da Lei 10.671/2003 (Estatuto do Torcedor): “Vender
ingressos de evento esportivo, por preço superior ao estampado no bilhete”.
Para a CONFIGURAÇÃO DO CRIME de cambismo, NÃO É NECESSÁRIO PROVAR QUE, NO MOMENTO DA OFERTA,
NÃO HAVIA INGRESSOS DISPONÍVEIS NA BILHETERIA.
O tipo penal não exige essa circunstância e o simples fato de oferecer o ingresso com preço superior ao
da face já é conduta que ofende o bem jurídico protegido.
O cambismo é comportamento dotado de reprovabilidade penal pela simples razão de envolver a
exploração, artificiosa, de um bem finito: a quantidade de lugares nos estádios.

APLICAÇÃO DA PENA
INFORMATIVO 552, STJ - Aumento da pena-base pelo fato de a corrupção passiva ter sido praticada por
Promotor de Justiça (circunstância judicial desfavorável).
O fato de o crime de corrupção passiva ter sido praticado por Promotor de Justiça no exercício de suas
atribuições institucionais pode configurar circunstância judicial desfavorável na dosimetria da pena. Isso
porque esse fato revela maior grau de reprovabilidade da conduta, a justificar o reconhecimento da
acentuada culpabilidade, dadas as específicas atribuições do promotor de justiça, as quais são distintas e
incomuns se equiparadas aos demais servidores públicos “latu sensu”. STJ. 5ª Turma. REsp 1.251.621-AM, Rel.
Min. Laurita Vaz, julgado em 16/10/2014 (Info 552).

EFEITOS DA CONDENAÇÃO E PERDA DO CARGO

INFORMATIVO 552, STJ - INAPLICABILIDADE DO ART. 92, I, DO CP A SERVIDOR PÚBLICO APOSENTADO ANTES DA
CONDENAÇÃO CRIMINAL.

Importante!!! Réu, servidor público, foi denunciado pela prática de crime contra a Administração Pública.
Durante o curso do processo criminal, ele se aposenta. O juiz profere sentença, condenando-o à pena de 5
anos de reclusão. É possível que o juiz o condene também à perda da aposentadoria com base no art. 92, I, do
CP? NÃO. AINDA QUE CONDENADO POR CRIME PRATICADO DURANTE O PERÍODO DE ATIVIDADE, O
SERVIDOR PÚBLICO NÃO PODE TER A SUA APOSENTADORIA CASSADA COM FUNDAMENTO NO ART. 92, I,
DO CP, MESMO QUE A SUA APOSENTADORIA TENHA OCORRIDO NO CURSO DA AÇÃO PENAL. O ROL DO ART. 92
DO CP É TAXATIVO E NELE NÃO ESTÁ PREVISTA A PERDA DA APOSENTADORIA. STJ. 5ª Turma.
REsp 1.416.477-SP, Rel. Min. Walter de Almeida Guilherme (Desembargador convocado do TJ/SP), julgado em
18/11/2014 (Info 552).

INFORMATIVO 552, STJ - PROMOTOR DE JUSTIÇA CONDENADO E REGRAS ESPECIAIS SOBRE A PERDA DO CARGO.
Importante!!! Em ação penal decorrente da prática de corrupção passiva praticada por membro vitalício do
Ministério Público Estadual, não é possível determinar a perda do cargo com fundamento no art. 92, I, a, do
CP. AS REGRAS SOBRE A PERDA DO CARGO DE MEMBRO DO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL ESTÃO
PREVISTAS NA LEI 8.625/93, QUE, POR SER NORMA ESPECIAL, PREVALECE SOBRE O CÓDIGO PENAL
(NORMA GERAL). STJ. 5ª Turma. REsp 1.251.621-AM, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 16/10/2014 (Info
552).

CRIME DO ART. 10 DA LEI 7.347/85

PARA QUE SE CONFIGURE O DELITO, É INDISPENSÁVEL QUE AS INFORMAÇÕES REQUISITADAS SEJAM INDISPENSÁVEIS À
PROPOSITURA DE ACP

Importante!!!

Atenção! Ministério Público

A Lei de Ação Civil Pública (Lei 7.347/85) prevê como crime a seguinte conduta:
Art. 10. Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais multa de 10 (dez) a 1.000
(mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, a recusa, o retardamento ou a omissão de dados
técnicos indispensáveis à propositura da ação civil, quando requisitados pelo Ministério Público.
O crime CONSISTE NA CONDUTA DA PESSOA QUE RECEBEU UMA REQUISIÇÃO DO MP QUE EXIGIA DETERMINADO
DOCUMENTO E/OU INFORMAÇÃO E O DESTINATÁRIO, em vez de cumpri-la, recusa, retarda ou se omite.
O STJ entende que se as informações requisitadas pelo MP não forem INDISPENSÁVEIS à propositura da ACP,
não haverá crime. Ex: o MP instaurou IC e requisitou determinadas informações do Secretário de Saúde. Este
prestou as informações fora do prazo assinalado, de forma que houve retardamento. Em tese, o agente público
teria praticado o crime do art. 10. Ocorre que, após receber as informações, o MP decidiu arquivar o IC por
entender que não houve qualquer violação a direitos transindividuais. Por via de consequência, não existiu o
crime do art. 10, já que as informações retardadas não eram indispensáveis à propositura de ACP.
STJ. 5ª Turma. HC 303.856-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 7/4/2015 (Info 560).

A Lei de Ação Civil Pública (Lei n.7.347/85) prevê como crime a seguinte conduta:

Art. 10. Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais multa de 10 (dez) a 1.000
(mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, a recusa, o retardamento ou a omissão de dados
técnicos indispensáveis à propositura da ação civil, quando requisitados pelo Ministério Público.

Em que consiste o delito:


Se o Ministério Público toma conhecimento de fatos que estejam causando ou ameaçando causar lesão a
direitos transindividuais (ex: violação a direitos dos consumidores, do meio ambiente, dos idosos etc.), ele
tem duas opções:
 Se já houver elementos de prova suficientes sobre o fato: o MP poderá ajuizar, desde logo, uma ação civil
pública contra os responsáveis.
 Se o MP considerar que ainda é necessária a colheita de outros elementos de prova: ele deverá instaurar um
inquérito civil ou um procedimento preparatório de inquérito civil. Obs: o procedimento preparatório é mais
simples que o IC e é normalmente utilizado para situações menos complexas ou quando o MP está na dúvida
se deve ou não instaurar o IC.

Depois de instaurado o IC ou o procedimento preparatório, o MP poderá colher provas, inclusive


testemunhais. Na prática, contudo, a prova mais comum é a documental. Para isso, o MP tem o poder de
expedir requisições determinando que a pessoa forneça informações ou documentos que sejam necessários
para instruir o processo administrativo instaurado.
Esse poder de requisição está previsto no art. 129, VI, da CF/88 e também no art. 8º, § 1º da LACP:
§ 1º O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer
organismo público ou particular, certidões, informações, exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual
não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis.
O crime do art. 10 consiste justamente na conduta da pessoa que, recebendo uma requisição do MP, em vez
de cumpri-la, recusa-se, retarda-a ou se omite.
 Recusa: ocorre quando o destinatário da requisição responde expressamente ao MP que não irá cumpri-la.
 Retardamento: ocorre quando a requisição é cumprida, mas depois do prazo estipulado pelo MP.
 Omissão: ocorre quando o destinatário não cumpre a requisição.

Sujeito passivo: trata-se de crime comum. Pode ser praticado por qualquer pessoa física que receba a
requisição do MP e, em vez de cumpri-la tempestivamente, adota uma das três condutas previstas no tipo
penal.
Elemento subjetivo: o crime somente é punido a título de dolo.

Tentativa: não é possível.


PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE:
Em provas, cuidado para que o examinador não confunda você com tipos penais semelhantes.
• Ação popular: ficará sujeita à pena de desobediência, salvo motivo justo devidamente comprovado, a
autoridade, o administrador ou o dirigente que deixar de fornecer informações e certidão ou fotocópia de
documento necessários à instrução da causa (art. 8º da Lei n. 4.717/65).
• ACP relacionada com direitos difusos e coletivos de pessoas PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA: constitui crime
punível com reclusão de 1 a 4 anos, e multa recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis à
propositura da ação civil, quando requisitados pelo Ministério Público (art. 8º, VI, da Lei n. 7.853/89).
• ECA: impedir ou embaraçar a ação de autoridade judiciária, membro do Conselho Tutelar ou representante do
Ministério Público. Pena de detenção de 6 meses a 2 anos (art. 236).
• Idoso: impedir ou embaraçar ato do representante do Ministério Público ou de qualquer outro agente
fiscalizador. Pena de reclusão de 6 meses a 1 ano e multa (art. 109).
• Mandado de segurança coletivo: constitui crime de desobediência o não cumprimento das decisões
proferidas em mandado de segurança (art. 26).

Informações requisitadas devem ser indispensáveis à propositura de ACP:


O STJ entende que se as informações requisitadas pelo MP não forem indispensáveis
à propositura da ACP não haverá crime. Ex: o MP instaurou IC e requisitou determinadas
informações do Secretário de Saúde. Este prestou as informações fora do prazo assinalado, de forma que
houve retardamento. Em tese, o agente público teria praticado o crime do art. 10. Ocorre que, após receber
as informações, o MP decidiu arquivar o IC por entender que não houve qualquer violação a direitos
transindividuais. Por via de consequência, não existiu o crime do art. 10, já que as informações retardadas não
eram indispensáveis à propositura de ACP. Foi como decidiu o STJ:
• (...) O paciente foi denunciado pela suposta prática do crime previsto no art. 10, da Lei n. 7.347/85, por não
ter cumprido requisição ministerial de fornecer cópias dos documentos alusivos às aquisições de
medicamentos e materiais médicos ao longo do ano de 2009, bem como da movimentação de estoque
destes, na condição de titular da Secretaria de Saúde do Município de Campos dos Goytacazes/RJ.
• Com efeito, verifico do caso que, não obstante tenha ocorrido o retardamento na remessa dos dados
requeridos, observa-se que, após envio, o parquet concluiu pela licitude das aquisições feitas pela Secretaria
Municipal de Saúde e arquivou o inquérito civil, caracterizando, assim, a prescindibilidade das informações.
• Nesse sentido, forçoso reconhecer a ausência da elementar dados técnicos indispensáveis à propositura da
ação civil, face à verificação da legalidade dos atos praticados pelo recorrente (...) (STJ. 5ª Turma. HC
303.856/RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 07/04/2015).

CRIME DO ART. 7º, IX DA LEI 8.137/90

Necessidade de perícia para demonstrar a configuração do delito

O art. 7º, IX, da Lei nº 8.137/90 prevê o seguinte delito: Art. 7º Constitui crime contra as relações de consumo:
IX — vender, ter em depósito para vender ou expor à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou
mercadoria, em condições impróprias ao consumo;
Pena — detenção, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou multa.
Para caracterizar o delito previsto no art. 7º, IX, da Lei 8.137/1990 (crime contra relação de consumo), é
IMPRESCINDÍVEL A REALIZAÇÃO DE PERÍCIA A FIM DE ATESTAR SE AS MERCADORIAS APREENDIDAS ESTÃO
EM CONDIÇÕES IMPRÓPRIAS PARA O CONSUMO, não sendo suficiente, para a comprovação da
materialidade delitiva, auto de infração informando a inexistência de registro do Serviço de Inspeção
Estadual (SIE).
STJ. 5ª Turma. RHC 49.752-SC, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 14/4/2015 (Info 560).

CRIME DO ART. 183 DA LEI 9.472/97

Prestação de serviço de internet por meio de radiofrequência sem autorização da ANATEL

A conduta de prestar, sem autorização da ANATEL, serviço de provedor de acesso à internet a terceiros por
meio de instalação e funcionamento de equipamentos de radiofrequência configura o crime previsto no art.
183 da Lei 9.472/97:
Art. 183. Desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicação:
Pena - detenção de dois a quatro anos, aumentada da metade se houver dano a terceiro, e multa de R$
10.000,00 (dez mil reais). Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, direta ou indiretamente, concorrer
para o crime.

Vale ressaltar que, segundo a jurisprudência do STJ, é inaplicável o princípio da insignificância ao delito
previsto no art. 183 da Lei 9.472⁄97, pois o desenvolvimento clandestino de
atividades de telecomunicação é crime formal, de perigo abstrato, que tem como bem jurídico
tutelado a segurança dos meios de comunicação. A exploração clandestina de sinal de internet, sem
autorização do órgão regulador (ANATEL), já é suficiente a comprometer a regularidade do sistema de
telecomunicações, razão pela qual o princípio da insignificância deve ser afastado. Sendo assim, ainda
que constatada a baixa potência do equipamento operacionalizado, tal conduta não pode ser
considerada, de per si, um irrelevante penal.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.304.262-PB, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 16/4/2015 (Info 560). STJ. 6ª
Turma. AgRg no AREsp 599.005-PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 14/4/2015 (Info 560).

De quem é a competência para julgar o delito do art. 183?


Justiça Federal (art. 109, IV, da CF/88) porque afeta diretamente serviço regulado pela União.
REGIME PRISIONAL

Vedação da fixação de regime prisional mais severo do que aquele abstratamente imposto

Se a pena privativa de liberdade foi fixada no mínimo legal, é possível a fixação de regime inicial mais severo
do que o previsto pela quantidade de pena? Ex.: Paulo, réu primário, foi condenado a uma pena de seis anos
de reclusão. As circunstâncias judiciais foram favoráveis. Pode o juiz fixar o regime inicial fechado?
NÃO. A posição que prevalece no STJ é a de que, fixada a pena-base no mínimo legal e sendo o acusado
primário e sem antecedentes criminais não se justifica a fixação do regime prisional mais gravoso (STJ. 5ª
Turma. AgRg no HC 303.275/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 03/02/2015). Assim, por exemplo, no crime
de roubo, o emprego de arma de fogo não autoriza, por si só, a imposição do regime inicial fechado se,
primário o réu, a pena-base foi fixada no mínimo legal.
STJ. 5ª Turma. HC 309.939-SP, Rel. Min. Newton Trisotto (Desembargador convocado do TJ-SC), julgado em
28/4/2015 (Info 562)

MEDIDAS DE SEGURANÇA

Tempo de duração da medida de segurança

Súmula 527-STJ: O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena
abstratamente cominada ao delito praticado.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 13/05/2015, DJe 18/05/2015.

Conceito e natureza jurídica


Sanção penal é a resposta dada pelo Estado à pessoa que praticou uma infração penal. Existem duas espécies
de sanção penal:
 pena;
 medida de segurança.

“Medida de segurança é a modalidade de sanção penal com finalidade exclusivamente preventiva, e de


caráter terapêutico, destinada a tratar inimputáveis e semi-imputáveis portadores de periculosidade, com o
escopo de evitar a prática de futuras infrações penais.” (MASSON, Cleber. Direito Penal esquematizado. São
Paulo: Método, 2012, p. 815)

A pergunta que surge, então, é a seguinte: qual é o prazo máximo de duração das medidas de segurança?

Posição do STF: 30 anos Posição do STJ: máximo da pena abstratamente


cominada ao delito praticado
O STF possui julgados afirmando que a medida de Súmula 527-STJ: O tempo de duração da medida de
segurança deverá obedecer a um prazo máximo de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da
30 anos, fazendo uma analogia ao art. 75 do CP, e pena abstratamente cominada ao delito praticado.
considerando que a CF/88 veda as penas de caráter
perpétuo. Ex: João, inimputável, pratica fato previsto como
furto simples (art. 155, caput, do CP); o juiz aplica a
Art. 75. O tempo de cumprimento das penas ele medida de segurança de internação; após 4 anos
privativas de liberdade não pode ser superior a 30 cumprindo medida de segurança, o magistrado
(trinta) anos. deverá determinar a desinternação de João,
considerando que foi atingido o máximo da pena
(...) Esta Corte já firmou entendimento no sentido de abstratamente cominada para o furto (“reclusão, de
que o prazo máximo de duração da medida de um a quatro anos, e multa”).
segurança é o previsto no art. 75 do CP, ou seja,
trinta anos. (...) (STF. 1ª Turma. HC 107432, Rel. Min. A conclusão do STJ é baseada nos princípios da
Ricardo Lewandowski, julgado em 24/05/2011) isonomia e proporcionalidade (proibição de excesso).
Não se pode tratar de forma mais gravosa o infrator
inimputável quando comparado ao imputável. Ora, se
o imputável somente poderia ficar cumprindo a pena
até o máximo previsto na lei para aquele tipo penal, é
justo que essa mesma regra seja aplicada àquele que
recebeu medida de segurança.

Imagine que determinado agente está cumprindo medida de segurança e se atingiu o máximo do tempo
permitido para cumprimento (30 anos, para o STF; máximo da pena, para o STJ). A perícia médica, contudo,
indica que o agente continua com alto grau de periculosidade. O juiz, mesmo assim, terá que desinterná-lo.
Existe alguma medida que poderá ser proposta pelo Ministério Público no caso?

SIM. Neste caso, O MINISTÉRIO PÚBLICO OU OS PRÓPRIOS FAMILIARES DO AGENTE PODERÃO PROPOR AÇÃO CIVIL
DE INTERDIÇÃO EM FACE DESSE AGENTE, CUMULADA COM PEDIDO DE INTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA COMPULSÓRIA.
Em outras palavras, o MP pedirá ao Poder Judiciário que decrete a interdição civil do agente em virtude de ele
sofrer de doença mental grave (art. 1.767 c/c art. 1.769, I, do CC). Nesta ação, o Parquet, além de pedir a
interdição, postulará também que o doente fique internado compulsoriamente, com base no art. 6º da Lei nº
10.216/2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais.

LESÃO CORPORAL

Lesão corporal qualificado pela deformidade permanente e posterior cirurgia plástica reparadora

Importante!!!

Alguns livros defendem o contrário!

A qualificadora “deformidade permanente” do crime de lesão corporal (art. 129, § 2º, IV, do CP) não é
afastada por posterior cirurgia estética reparadora que elimine ou minimize a deformidade na vítima. Isso
porque, o fato criminoso é valorado no momento de sua consumação, não o afetando providências
posteriores, notadamente quando não usuais (pelo risco ou pelo custo, como cirurgia plástica ou de
tratamentos prolongados, dolorosos ou geradores do risco de vida) e promovidas a critério exclusivo da
vítima.
STJ. 6ª Turma. HC 306.677-RJ, Rel. Min. Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ-SP), Rel. para
acórdão Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/5/2015 (Info 562).

ESTUPRO DE VULNERÁVEL

Meios de comprovação da menoridade da vítima nos crimes sexuais

Nos crimes sexuais contra vulnerável, quando inexiste certidão de nascimento atestando ser a vítima menor
de 14 anos na data do fato criminoso, o STJ tem admitido a verificação etária a partir de outros elementos de
prova presentes nos autos.
Em suma, a certidão de nascimento não é o único meio idôneo para se comprovar a idade da vítima,
podendo o juiz valer-se de outros elementos.
No caso concreto, mesmo não havendo certidão de nascimento da vítima, o STJ considerou que esta poderia
ser provada por meio das informações presentes no laudo pericial, das declarações das testemunhas, da
compleição física da vítima e das declarações do próprio acusado.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 12.700-AC, voto vencedor Rel. Min. Walter de Almeida Guilherme
(Desembargador convocado do TJ/SP), Rel. para acórdão Min. Gurgel de Faria, julgado em 10/3/2015 (Info
563).
O STJ interpreta esse parágrafo único da seguinte forma:
 Em regra, o estado civil das pessoas no processo penal deverá ser provado por meio das certidões de
nascimento/identidade.
 Na falta desses documentos, são admitidos outros meios de prova.

CONCUSSÃO
Momento da consumação e flagrante delito

No crime de concussão, a situação de flagrante delito configura-se no momento da exigência da vantagem


indevida (e não no instante da entrega). Isso porque a concussão é crime FORMAL, que se
consuma com a exigência da vantagem indevida. Assim, a entrega da vantagem indevida representa mero
exaurimento do crime que já se consumou anteriormente.
Ex: funcionário público exige, em razão de sua função, vantagem indevida da vítima; dois dias depois, quando
a vítima entrega a quantia exigida, não há mais situação de flagrância considerando que o crime se consumou
no momento da exigência, ou seja, dois dias antes.
STJ. 5ª Turma. HC 266.460-ES, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 11/6/2015 (Info 564).
Imagine agora a seguinte situação adaptada:
João é Defensor Público em uma cidade no interior e, no exercício de suas funções, ingressou com ação
judicial contra o Prefeito.
Depois da citação, João foi até o gabinete do Prefeito e exigiu o pagamento de R$ 50 mil para que desistisse
da demanda proposta. Ficou combinado que a quantia seria entregue em dois dias.
Na data e horário marcados, o Prefeito deu o dinheiro a João que, em seguida, foi preso em flagrante pela
Polícia Militar que havia sido avisada sobre o crime.
A prisão em flagrante foi correta? João estava em flagrante delito?
NÃO. O agente não mais se encontrava em flagrante delito. No crime de concussão, a situação de flagrante
delito configura-se no momento da exigência da vantagem indevida (e não no instante da entrega). Isso porque
a concussão é crime FORMAL, que se consuma com a exigência da vantagem indevida.
Assim, a entrega da vantagem indevida representa mero exaurimento do crime que já se consumou
anteriormente.
Pode-se dizer que houve flagrante preparado (Súmula 145 do STF) e que, por isso, deve-se reconhecer a
ocorrência de crime impossível, o que geraria à absolvição do agente?
NÃO. Não houve flagrante preparado nem crime impossível. Isso porque no momento em que os policiais
agiram, o crime já havia se consumado. Assim, apesar de a prisão ter sido ilegal (porque não havia mais situação
de flagrância), tal circunstância não anula o crime de concussão que já havia se materializado.

Para espancar quaisquer dúvidas que ainda restem, confira os ensinamentos de Cleber Masson:
 Consumação: Firmou-se em sede jurisprudencial o entendimento no sentido de tratar-se de
crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado: consuma-se com a exigência –
que deve chegar ao conhecimento da vítima – pelo funcionário público, para si ou para outrem,
da vantagem indevida, prescindindo-se do seu recebimento. A reparação do dano ou a restituição da
coisa ao ofendido não exclui o delito, ensejando, no máximo, a diminuição da pena pelo
arrependimento posterior (art. 16 do CP).
 Concussão e prisão em flagrante: Em se tratando de crime formal, somente será cabível a prisão
em flagrante no momento da exigência da vantagem indevida, ou logo após sua realização (art. 302, I
e II, do CPP), sendo ilegal se efetuada por ocasião do recebimento da vantagem indevida, muito
tempo após sua exigência, hipótese em que ocorrerá o exaurimento do delito. O relaxamento da
prisão em flagrante não leva à caracterização do crime impossível, pois o delito já estava
consumado. A ilegalidade repousa unicamente na lavratura do auto de prisão em flagrante, mas
jamais na configuração da concussão." (Código Penal comentado. São Paulo: Método, 2013, p. 1128).

LEI MARIA DA PENHA

Inaplicabilidade da suspensão condicional do processo e da transação penal

Súmula 536-STJ: A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos
sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 10/06/2015, Dje 15/06/2015.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

INQUÉRITO POLICIAL

OBS: JULGADO EM SENTIDO CONTRÁRIO MAIS RECENTE PELO STF


Se o INQUÉRITO POLICIAL FOI ARQUIVADO POR TER SIDO RECONHECIDO QUE O INVESTIGADO AGIU EM LEGÍTIMA DEFESA, essa
decisão de arquivamento FAZ COISA JULGADA MATERIAL. Assim, não é possível a rediscussão do caso
penal (desarquivamento), mesmo que, em tese, surjam novas provas.
A permissão legal contida no art. 18 do CPP, E PERTINENTE SÚMULA 524/STF, de desarquivamento do
inquérito pelo surgimento de provas novas, SOMENTE TEM INCIDÊNCIA QUANDO O FUNDAMENTO
DAQUELE ARQUIVAMENTO FOI A INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA.
A decisão que faz juízo de mérito do caso penal, reconhecendo atipia, extinção da punibilidade (por morte do
agente, prescrição etc.) ou excludentes da ilicitude, exige certeza jurídica que, por tal, possui efeitos de coisa
julgada material.
Assim, promovido o arquivamento do inquérito policial pelo reconhecimento de legítima defesa, a coisa
julgada material impede rediscussão do caso penal em qualquer novo feito criminal, descabendo perquirir a
existência de novas provas.
STJ. 6ª Turma. REsp 791.471-RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 25/11/2014 (Info 554).

É POSSÍVEL
MOTIVO DO ARQUIVAMENTO DESARQUIVAR?
1) AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTO PROCESSUAL OU DE SIM
CONDIÇÃO DA AÇÃO PENAL
2) FALTA DE JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL (NÃO
HÁ INDÍCIOS DE AUTORIA OU PROVA DA
SIM
MATERIALIDADE)
3) ATIPICIDADE (FATO NARRADO NÃO É CRIME) NÃO
4) EXISTÊNCIA MANIFESTA DE CAUSA EXCLUDENTE DE NÃO
ILICITUDE (MAJORITÁRIA)
5) EXISTÊNCIA MANIFESTA DE CAUSA EXCLUDENTE DE NÃO
CULPABILIDADE
6) EXISTÊNCIA MANIFESTA DE CAUSA EXTINTIVA DA NÃO
PUNIBILIDADE EXCEÇÃO: CERTIDÃO DE ÓBITO FALSA

INDICIAMENTO
INFORMATIVO 552, STJ - Indiciamento é atribuição exclusiva da autoridade policial, não podendo ser determinada
por magistrado.
O magistrado não pode requisitar o indiciamento em investigação criminal. Isso porque o indiciamento constitui
atribuição exclusiva da autoridade policial. É por meio do indiciamento que a autoridade policial aponta
determinada pessoa como a autora do ilícito em apuração. Por se tratar de medida ínsita à fase investigatória,
por meio da qual o delegado de polícia externa o seu convencimento sobre a autoria dos fatos apurados, não se
admite que seja requerida ou determinada pelo magistrado, já que tal procedimento obrigaria o presidente do
inquérito à conclusão de que determinado indivíduo seria o responsável pela prática criminosa, em nítida
violação ao sistema acusatório adotado pelo ordenamento jurídico pátrio. Nesse mesmo sentido é a inteligência
do art. 2º, § 6º, da Lei 12.830/2013, que afirma que o indiciamento é ato inserto na esfera de atribuições da
polícia judiciária. STJ. 5ª Turma. RHC 47.984-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 4/11/2014 (Info 552).

PRISÃO E LIBERDADE
MANUTENÇÃO DA PRISÃO CAUTELAR MESMO O RÉU TENDO SIDO CONDENADO A REGIME SEMIABERTO OU ABERTO

Réu respondeu o processo recolhido ao cárcere porque havia motivos para a prisão preventiva. Na sentença, foi
condenado a uma pena privativa de liberdade em regime semiaberto ou aberto. Pelo fato de ter sido imposto
regime mais brando que o fechado, ele terá direito de recorrer em liberdade mesmo que ainda estejam presentes
os requisitos da prisão cautelar?
 1ª corrente: NÃO. Não há incompatibilidade no fato de o juiz, na sentença, ter condenado o réu ao regime
inicial semiaberto e, ao mesmo tempo, ter mantido sua prisão cautelar. Se ainda persistem os motivos que
ensejaram a prisão cautelar, o réu deverá ser mantido preso mesmo que já tenha sido condenado ao regime
inicial semiaberto. Deve ser adotada, no entanto, a seguinte providência: o condenado permanecerá preso,
porém, ficará recolhido e seguirá as regras do regime prisional imposto na sentença. STJ. 5ª Turma. HC
289.636-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 20/5/2014 (Info 540); STF. 1ª Turma. HC 123267, Rel. Min.
Rosa Weber, julgado em 02/12/2014.
 2ª corrente: SIM. Caso o réu seja condenado a pena que deva ser cumprida em regime inicial diverso do fechado
(aberto ou semiaberto), não será admissível a decretação ou manutenção de prisão preventiva na sentença
condenatória, notadamente quando não há recurso da acusação quanto a este ponto. Se fosse permitido que o
réu aguardasse o julgamento preso (regime fechado), mesmo tendo sido condenado a regime aberto ou
semiaberto, seria mais benéfico para ele renunciar ao direito de recorrer e iniciar imediatamente o cumprimento da
pena no regime estipulado do que exercer seu direito de impugnar a decisão perante o segundo grau. Isso soa
absurdo e viola o princípio da proporcionalidade. A solução dada pela 1ª corrente (aplicar as regras do
regime semiaberto ou aberto) significa aceitar a existência de execução provisória da pena, o que não é admitido pela
CF/88. STJb. 5ª Turma. RHC 52.407-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 10/12/2014 (Info 554).
O que fazer nos concursos públicos?
Em provas práticas (alegações finais, recurso, habeas corpus etc.) deve-se adotar a tese favorável à defesa (no
caso da Defensoria Pública) ou à acusação (em concursos do MP).
Se a prova for objetiva ou discursiva, deve-se ficar atento para os elementos fornecidos pelo enunciado da
questão porque provavelmente estará sendo utilizado o caso concreto.
Na dúvida, o entendimento que prevalece é o exposto no HC 289.636-SP (Info 540), ou seja, é possível
manter a prisão preventiva do réu mesmo que ele tenha sido condenado a regime semiaberto e tenha
recorrido contra a sentença. O réu, contudo, deverá ser colocado no regime para o qual foi condenado. Esta
parece ser a posição majoritária.

Prisão cautelar e réu condenado a regime semiaberto ou aberto

Réu respondeu o processo recolhido ao cárcere porque havia motivos para a prisão preventiva. Na sentença, foi
condenado a uma pena privativa de liberdade em regime semiaberto ou aberto. Pelo fato de ter sido imposto
regime mais brando que o fechado, ele terá direito de recorrer em liberdade mesmo que ainda estejam presentes
os requisitos da prisão cautelar?
• 1ª corrente: NÃO. Não há incompatibilidade no fato de o juiz, na sentença, ter condenado o réu ao regime inicial
semiaberto e, ao mesmo tempo, ter mantido sua prisão cautelar. Se ainda persistem os motivos que ensejaram a
prisão cautelar, o réu deverá ser mantido preso mesmo que já tenha sido condenado ao regime inicial
semiaberto. Deve ser adotada, no entanto, a seguinte providência: o condenado permanecerá preso, porém,
ficará recolhido e seguirá as regras do regime prisional imposto na sentença.Nesse sentido: STJ. 5ª Turma. HC
289.636-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 20/5/2014 (Info 540); STJ. 5ª Turma. RHC 53.828-ES, Rel. Min.
Jorge Mussi, julgado em 14/4/2015 (Info 560); STF. 1ª Turma. HC 123267, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em
02/12/2014.
• 2ª corrente: SIM. Caso o réu seja condenado a pena que deva ser cumprida em regime inicial diverso do fechado
(aberto ou semiaberto), não será admissível a decretação ou manutenção de prisão preventiva na sentença
condenatória, notadamente quando não há recurso da acusação quanto a este ponto. Se fosse permitido que o
réu aguardasse o julgamento preso (regime fechado), mesmo tendo sido condenado a regime aberto ou
semiaberto, seria mais benéfico para ele renunciar ao direito de recorrer e iniciar imediatamente o cumprimento
da pena no regime estipulado do que exercer seu direito de impugnar a decisão perante o segundo grau. Isso soa
absurdo e viola o princípio da proporcionalidade. A solução dada pela 1ª corrente (aplicar as regras do regime
semiaberto ou aberto) significa aceitar a existência de execução provisória da pena, o que não é admitido pela
CF/88. Nesse sentido: STJ. 5ª Turma. RHC 52.407-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 10/12/2014 (Info 554). STJ.
5ª Turma. RHC 53.828-ES, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 14/4/2015 (Info 560).

AÇÃO PENAL

Princípio da indivisibilidade da ação penal privada

O princípio da indivisibilidade significa que a ação penal deve ser proposta contra todos os autores e partícipes
do delito.
Segundo a posição da jurisprudência, o princípio da indivisibilidade só se aplica para a ação pena privada (art. 48
do CPP).
O que acontece se a ação penal privada não for proposta contra todos? O que ocorre se um dos autores ou
partícipes, podendo ser processado pelo querelante, ficar de fora? Qual é a consequência do desrespeito ao
princípio da indivisibilidade?
 Se a omissão foi VOLUNTÁRIA (DELIBERADA): se o querelante deixou, deliberadamente, de oferecer queixa
contra um dos autores ou partícipes, o juiz deverá rejeitar a queixa e declarar a extinção da punibilidade
para todos (arts. 104 e 109, V, do CP). Todos ficarão livres do processo.
 Se a omissão foi INVOLUNTÁRIA: o MP deverá requerer a intimação do querelante para que ele faça o
aditamento da queixa-crime e inclua os demais coautores ou partícipes que ficaram de fora (Obs: o
querelante só poderá incluir o outro autor/partícipe se ainda estiver dentro do prazo decadencial de 6
meses.)
Assim, conclui-se que a NÃO INCLUSÃO DE EVENTUAIS SUSPEITOS NA QUEIXA-CRIME NÃO CONFIGURA, POR SI SÓ,
RENÚNCIA TÁCITA AO DIREITO DE QUEIXA. Para o reconhecimento da renúncia tácita ao direito de queixa, exige-se a
demonstração de que a não inclusão de determinados autores ou partícipes na queixa-crime se deu de forma
deliberada pelo querelante.
STJ. 5ª Turma. RHC 55.142-MG, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 12/5/2015 (Info 562).

MOTIVAÇÃO

LIMITES À FUNDAMENTAÇÃO PER RELATIONEM

É NULO o ACÓRDÃO QUE SE LIMITA A RATIFICAR A SENTENÇA E A ADOTAR O PARECER MINISTERIAL, SEM SEQUER TRANSCREVÊ-LOS,
DEIXANDO DE AFASTAR AS TESES DEFENSIVAS OU DE APRESENTAR FUNDAMENTO PRÓPRIO. Isso porque, nessa hipótese, está
caracterizada a nulidade absoluta do acórdão por falta de fundamentação.
A jurisprudência admite a chamada fundamentação per relationem, MAS DESDE QUE O JULGADO FAÇA
REFERÊNCIA CONCRETA ÀS PEÇAS QUE PRETENDE ENCAMPAR, TRANSCREVENDO DELAS PARTES QUE JULGAR
INTERESSANTES PARA LEGITIMAR O RACIOCÍNIO LÓGICO que embasa a conclusão a que se quer chegar.
STJ. 6ª Turma. HC 214.049-SP, Rel. originário Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Maria Thereza de Assis
Moura, julgado em 5/2/2015 (Info 557).

MOTIVAÇÃO PER RELATIONEM


A motivação por meio da qual SE FAZ REMISSÃO OU REFERÊNCIA ÀS ALEGAÇÕES DE UMA DAS PARTES, A PRECEDENTE OU A
DECISÃO ANTERIOR NOS AUTOS DO MESMO PROCESSO é chamada pela doutrina e jurisprudência de motivação ou
fundamentação per relationem ou aliunde. Também é denominada de motivação referenciada, por referência ou
por remissão.

COMPETÊNCIA

VALIDADE DE ATOS PROCESSUAIS PRATICADOS ANTES DE CAUSA SUPERVENIENTE DE MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA

No caso em que, APÓS INICIADA A AÇÃO PENAL PERANTE DETERMINADO JUÍZO, ocorra modificação da competência em
razão da investidura do réu em cargo que atraia foro por prerrogativa de função, SERÃO VÁLIDOS OS ATOS
PROCESSUAIS – INCLUSIVE O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA – REALIZADOS ANTES DA CAUSA SUPERVENIENTE DE MODIFICAÇÃO
DA COMPETÊNCIA, sendo DESNECESSÁRIA, no âmbito do novo juízo, QUALQUER RATIFICAÇÃO DESSES ATOS, que,
CASO OCORRA, NÃO PRECISARÁ SEGUIR AS REGRAS QUE DEVERIAM SER OBSERVADAS PARA A PRÁTICA, EM
AÇÃO ORIGINÁRIA, DE ATOS EQUIVALENTES AOS ATOS RATIFICADOS.
Ex: o réu foi denunciado pelo Promotor, tendo a denúncia sido recebida pelo juízo de 1ª instância. O processo prosseguia normalmente,
quando o acusado foi eleito Prefeito. Diante disso, foi declinada a competência para que o TJ julgasse a causa. No Tribunal, o processo teve
prosseguimento e o réu foi condenado. Nesse caso, quando o processo chegou ao TJ, não se fazia necessária a ratificação da denúncia e dos
atos praticados pelo juízo. Isso porque não se tratam de atos nulos, mas sim válidos à época em que praticados, cabendo ao Tribunal
apenas prosseguir no julgamento do feito a partir daquele instante. STJ. 6ª Turma. HC 238.129-TO, Rel. originária Min. Maria
Thereza de Assis Moura, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 16/9/2014 (Info 556).
STJ. 5ª Turma. HC 202.701-AM, Rel. Ministro Jorge Mussi, julgado em 14/5/2013 (Info 522).
Devem ser mantidos íntegros todos os atos processuais até então praticados EM ATENÇÃO AO
PRINCÍPIO DO TEMPUS REGIT ACTUM, uma vez que, no momento em que os atos foram praticados,
o juiz era competente para tanto.
OBSERVAÇÃO: SITUAÇÃO DIVERSA OCORRE SE A DENÚNCIA NÃO TIVER SIDO RECEBIDA AINDA: Assim, se o Ministério
Público estadual oferece uma denúncia na Justiça estadual contra o réu e esta é posteriormente encaminhada ao
STJ, TAL DENÚNCIA SOMENTE PODERÁ SER PROCESSADA E JULGADA SE FOR RATIFICADA PELO PROCURADOR-GERAL DA
REPÚBLICA OU POR UM DOS SUBPROCURADORES-GERAIS.
A partir do momento em que houve modificação de competência para o processo e julgamento do feito, a
denúncia oferecida pelo parquet estadual somente poderá ser examinada pelo STJ se for ratificada pelo MPF,
órgão que tem legitimidade para atuar nas ações penais de competência originária do Tribunal da Cidadania.
STJ. Corte Especial. APn 689-BA, Rel. Min. Eliana Calmon, julgada em 17/12/2012 (Info 511).

COMPETE À JUSTIÇA FEDERAL (E NÃO À JUSTIÇA ESTADUAL) PROCESSAR E JULGAR O CRIME CARACTERIZADO PELA OMISSÃO DE
ANOTAÇÃO DE VÍNCULO EMPREGATÍCIO NA CTPS (ART. 297, § 4º, DO CP).

No delito tipificado no art. 297, § 4º, do CP (Falsificação de documento público), o sujeito passivo é o Estado
(Previdência Social), uma vez que a ausência de anotação de informações relativas ao vínculo empregatício na
CTPS afeta diretamente a arrecadação das contribuições previdenciárias (espécie de tributo), já que estas são
calculadas com base no valor do salário pago ao empregado.
ASSIM, QUANDO O PATRÃO OMITE OS DADOS DE QUE TRATA O § 4º, ELE ESTÁ LESANDO, EM PRIMEIRO LUGAR, A ARRECADAÇÃO DA
PREVIDÊNCIA SOCIAL, ADMINISTRADA PELO INSS, QUE É UMA AUTARQUIA FEDERAL. O EMPREGADO É PREJUDICADO DE FORMA
APENAS INDIRETA, REFLEXA.
STJ. 3ª Seção. CC 135.200-SP, Rel. originário Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 22/10/2014 (Info 554).
MUDANÇA DE ENTENDIMENTO
Vale ressaltar que houve uma mudança na jurisprudência do STJ que, anteriormente, decidia de forma diversa,
ATÉ BEM POUCO TEMPO, QUE A COMPETÊNCIA ERA DA JUSTIÇA ESTADUAL. Nesse sentido: STJ. 3ª Seção. AgRg
no CC 107.283/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 13/08/2014.
Atualize, portanto, seu material de estudos.
A COMPETÊNCIA PARA JULGAR O DELITO DO ART. 297, § 4º DO CP É AGORA DA JUSTIÇA FEDERAL.

LATROCÍNIO COMETIDO CONTRA POLICIAIS RODOVIÁRIOS FEDERAIS QUE REPRIMIRAM ASSALTO A BANCO

Uma quadrilha roubou um banco privado e, quando os ladrões saíam da instituição, cruzaram com uma viatura
da Polícia Rodoviária Federal que passava casualmente pelo local. Os policiais perceberam que os homens
estavam armados e, por isso, ordenaram que eles parassem. Houve troca de tiros. O MP denunciou os réus por
latrocínio.
De quem é a competência para julgar o delito?

JUSTIÇA FEDERAL. COMPETE À JUSTIÇA FEDERAL PROCESSAR E JULGAR CRIME DE LATROCÍNIO NO QUAL
TENHA HAVIDO TROCA DE TIROS COM POLICIAIS RODOVIÁRIOS FEDERAIS QUE, EMBORA NÃO ESTIVESSEM EM SERVIÇO DE
PATRULHAMENTO OSTENSIVO, AGIAM PARA REPRIMIR ASSALTO A INSTITUIÇÃO BANCÁRIA PRIVADA. O crime foi praticado
contra policiais rodoviários federais que, diante da ocorrência de um flagrante, tinham o dever de agir. Assim,
o delito foi cometido contra servidores públicos federais no exercício da função (Súmula 147 do STJ).
STJ. 5ª Turma. HC 309.914-RS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 7/4/2015 (Info 559).

COMPETÊNCIA PARA JULGAR CRIME ENVOLVENDO VERBA PÚBLICA REPASSADA PELO BNDES AO ESTADO-MEMBRO

Determinado Estado-membro conseguiu um financiamento do BNDES para a realização de um empreendimento.


Ocorre que houve fraude à licitação e superfaturamento da obra.
O FATO DE O BNDES (QUE É UMA EMPRESA PÚBLICA FEDERAL) TER EMPRESTADO O DINHEIRO ATRAI A COMPETÊNCIA PARA A
JUSTIÇA FEDERAL?

NÃO. O fato de LICITAÇÃO ESTADUAL ENVOLVER RECURSOS REPASSADOS AO ESTADO-MEMBRO PELO BNDES POR
MEIO DE EMPRÉSTIMO BANCÁRIO (MÚTUO FENERATÍCIO) NÃO ATRAI A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL PARA PROCESSAR
E JULGAR CRIMES RELACIONADOS A SUPOSTO SUPERFATURAMENTO NA LICITAÇÃO.
Mesmo havendo superfaturamento na licitação estadual, o prejuízo recairá sobre o erário estadual (e não o
federal), uma vez que, não obstante a fraude, o contrato de mútuo feneratício entre o Estado-Membro e o BNDES
permanecerá válido, fazendo com que a empresa pública federal receba de volta, em qualquer circunstância, o
valor emprestado ao ente federativo.

Logo, A COMPETÊNCIA É DA JUSTIÇA ESTADUAL.


STJ. 5ª Turma. RHC 42.595-MT, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 16/12/2014 (Info 555).

RECEBIMENTO DE DENÚNCIA POR JUÍZO INCOMPETENTE E EFEITOS QUANTO À PRESCRIÇÃO

O recebimento da denúncia é previsto como causa de interrupção do prazo prescricional (art. 117, I, do CP).

SITUAÇÃO1: se a DENÚNCIA FOI RECEBIDA POR JUÍZO ABSOLUTAMENTE INCOMPETENTE, pode-se dizer
que houve interrupção do prazo de prescrição?
NÃO. DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA SÃO UNIFORMES NO SENTIDO DE QUE O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA POR
MAGISTRADO ABSOLUTAMENTE INCOMPETENTE NÃO INTERROMPE O CURSO DO PRAZO PRESCRICIONAL. Assim, mesmo que,
posteriormente, a denúncia seja recebida pelo juízo competente, aquele primeiro recebimento feito pelo
magistrado absolutamente incompetente não servirá como marco interruptivo da prescrição. Ex: se um juiz de 1ª
instância recebe denúncia formulada contra réu que detém foro por prerrogativa de função no Tribunal (STJ.
Corte Especial. APn 295-RR, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 17/12/2014).

SITUAÇÃO 2: se o vício FOSSE DE INCOMPETÊNCIA RELATIVA, haveria interrupção da prescrição? A


DENÚNCIA RECEBIDA POR JUÍZO RELATIVAMENTE INCOMPETENTE INTERROMPE A PRESCRIÇÃO SE DEPOIS FOR RATIFICADA
PELO JUÍZO COMPETENTE?

SIM. Pelo PRINCÍPIO DA CONVALIDAÇÃO, O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA POR PARTE DE JUÍZO TERRITORIALMENTE
INCOMPETENTE TEM O CONDÃO DE INTERROMPER O PRAZO PRESCRICIONAL.
Se a denúncia foi recebida pelo juízo relativamente incompetente em 2010 e depois foi ratificada em 2011,
considera-se que houve interrupção em 2010. A CONVALIDAÇÃO POSTERIOR POSSUI NATUREZA
DECLARATÓRIA, SERVINDO APENAS PARA CONFIRMAR A VALIDADE DAQUELA PRIMEIRA DECISÃO.
Repetindo: o recebimento da denúncia por parte de Juízo territorialmente incompetente tem o condão de
interromper o prazo prescricional (STJ. 5ª Turma. RHC 40.514/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 08/05/2014).
STJ. Corte Especial. APn 295-RR, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 17/12/2014 (Info 555).

DESTRUIÇÃO DE TÍTULO DE ELEITOR DE TERCEIRO SEM FINALIDADE ELEITORAL

Compete à JUSTIÇA FEDERAL (e não à Justiça Eleitoral) processar e julgar o crime caracterizado pela
DESTRUIÇÃO DE TÍTULO ELEITORAL DE TERCEIRO, quando NÃO HOUVER QUALQUER VINCULAÇÃO
COM PLEITOS ELEITORAIS e o intuito for, tão somente, impedir a identificação pessoal.
A SIMPLES EXISTÊNCIA, NO CÓDIGO ELEITORAL, DE DESCRIÇÃO FORMAL DE CONDUTA TÍPICA NÃO SE TRADUZ,
INCONTINENTI, EM CRIME ELEITORAL, SENDO NECESSÁRIO, TAMBÉM, QUE SE CONFIGURE O CONTEÚDO MATERIAL DE TAL
CRIME.
Sob o aspecto material, deve a conduta atentar contra a liberdade de exercício dos direitos políticos,
vulnerando a regularidade do processo eleitoral e a legitimidade da vontade popular. Ou seja, a par da
existência do tipo penal eleitoral específico, faz-se necessária, para sua configuração, a existência de violação
do bem jurídico que a norma visa tutelar, intrinsecamente ligado aos valores referentes à liberdade do
exercício do voto, à regularidade do processo eleitoral e à preservação do modelo democrático.
A destruição de título eleitoral da vítima, despida de qualquer vinculação com pleitos eleitorais e com o
intuito, tão somente, de impedir a identificação pessoal, não atrai a competência da Justiça Eleitoral.
STJ. 3ª Seção. CC 127.101-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 11/2/2015 (Info 555).

Crimes cometidos a bordo de navio

O art. 109, IX, da CF/88 afirma que compete à Justiça Federal julgar os crimes praticados a bordo de navios ou
aeronaves, com exceção daqueles que forem da Justiça Militar.

Navio = embarcação de grande porte. Para que o crime seja de competência da Justiça Federal, é necessário
que o navio seja uma “embarcação de grande porte”. Assim, se o delito for cometido a bordo de um pequeno
barco, lancha, veleiro etc., a competência será da Justiça Estadual.
Aeronave voando ou parada: a competência será da Justiça Federal mesmo que o crime seja cometido a bordo
de uma aeronave pousada. Não é necessário que a aeronave esteja em movimento para a competência ser da
Justiça Federal.
Navio em situação de deslocamento internacional ou em situação de potencial deslocamento: para que
o crime cometido a bordo de navio seja de competência da Justiça Federal, é necessário que o navio esteja em
deslocamento internacional ou em situação de potencial deslocamento (ex: está parado provisoriamente no
porto, mas já seguirá rumo a outro país).
Se o navio estiver atracado e não se encontrar em potencial situação de deslocamento, a competência será
da Justiça Estadual.
STJ. 3ª Seção. CC 118.503-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 22/4/2015 (Info 560).

Navio ancorado X Avião pousado


Como você viu acima, a jurisprudência confere tratamento diferente se a hipótese for de navio ou de avião.
Crime ocorrido em...
 NAVIO ancorado: competência da Justiça ESTADUAL (como regra);
 AVIÃO pousado: competência da Justiça FEDERAL.

Por que esta diferença de tratamento entre avião pousado e navio atracado?
Não há muita razão lógica. Foi uma distinção feita pela jurisprudência e que acabou se consolidando.

Competência no caso de tráfico transnacional de drogas pelo correio

Súmula 528-STJ: Compete ao juiz federal do local da apreensão da droga remetida do exterior pela via postal
processar e julgar o crime de tráfico internacional.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 13/05/2015, DJe 18/05/2015.

PROCEDIMENTO

NECESSIDADE DE APRECIAÇÃO DAS TESES SUSCITADAS NA DEFESA PRELIMINAR

A decisão que acolher ou não as teses defensivas declinadas na resposta à acusação (“defesa preliminar”)
estabelecida no art. 396-A do CPP deve ser fundamentada?

SIM. O JUIZ DEVERÁ FUNDAMENTAR, AINDA QUE SUCINTAMENTE, A DECISÃO QUE ACOLHER OU NÃO AS TESES DEFENSIVAS
DECLINADAS NA DEFESA PRELIMINAR estabelecida no art. 396-A do CPP, SOB PENA DE CONFIGURAR A
NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL (STJ. 5ª Turma. HC 183.355-MG, julgado em 3/5/2012.
Info 496).
SE O JUIZ DECIDIR NEGAR A ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA E DETERMINAR O PROSSEGUIMENTO DO PROCESSO, ELE PRECISARÁ REFUTAR AS
TESES TRAZIDAS PELA DEFESA NA RESPOSTA ESCRITA?

SIM. O magistrado, ao PROFERIR DECISÃO QUE DETERMINA O PROSSEGUIMENTO DO PROCESSO, DEVERÁ AO MENOS
ALUDIR ÀQUILO QUE FORA TRAZIDO NA DEFESA PRELIMINAR, não se eximindo também da incumbência de enfrentar
questões processuais relevantes e urgentes.
STJ. 6ª Turma. RHC 46.127-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 12/2/2015 (Info 556).
CASO CONCRETO
Na situação julgada pelo STJ, o juiz, após receber a resposta à acusação oferecida pela defesa, negou a absolvição sumária
com uma decisão de apenas duas linhas, que dizia apenas o seguinte:
“As matérias alegadas se tratam de defesa de mérito e nele serão analisadas.
Diante do exposto, designo audiência de instrução e julgamento para o dia XX⁄XX⁄XX, às XX horas.”
O STJ entendeu que a DECISÃO ACIMA FOI DEFICIENTE e ANULOU O PROCESSO A PARTIR DELA, determinando que seja proferida
outra decisão, apreciando-se, desta vez, os termos da resposta preliminar.

PROVAS

VALIDADE DO DEPOIMENTO SEM DANO NOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES

O DEPOIMENTO SEM DANO consiste na OITIVA JUDICIAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES QUE FORAM
SUPOSTAMENTE VÍTIMAS DE CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL por MEIO DE UM PROCEDIMENTO ESPECIAL,
que consiste no seguinte: A CRIANÇA OU O ADOLESCENTE FICA EM UMA SALA RESERVADA, SENDO O DEPOIMENTO COLHIDO POR
UM TÉCNICO (PSICÓLOGO OU ASSISTENTE SOCIAL), QUE FAZ AS PERGUNTAS DE FORMA INDIRETA, POR MEIO DE UMA CONVERSA EM
TOM MAIS INFORMAL E GRADUAL, À MEDIDA QUE VAI SE ESTABELECENDO UMA RELAÇÃO DE CONFIANÇA ENTRE ELE E A VÍTIMA. O
juiz, o Ministério Público, o réu e o Advogado/Defensor Público acompanham, em tempo real, o depoimento em
outra sala por meio de um sistema audiovisual que está gravando a conversa do técnico com a vítima.
Atualmente, a legislação não prevê expressamente essa prática.
Apesar disso, O STJ ENTENDE QUE É VÁLIDA NOS CRIMES SEXUAIS CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTE, a
inquirição da vítima na modalidade do “depoimento sem dano”, em respeito à sua condição especial de pessoa
em desenvolvimento, INCLUSIVE ANTES DA DEFLAGRAÇÃO DA PERSECUÇÃO PENAL, MEDIANTE PROVA
ANTECIPADA. Assim, NÃO CONFIGURA NULIDADE POR CERCEAMENTO DE DEFESA O FATO DE O DEFENSOR E O ACUSADO
DE CRIME SEXUAL PRATICADO CONTRA CRIANÇA OU ADOLESCENTE NÃO ESTAREM PRESENTES NA OITIVA DA VÍTIMA devido à
utilização do método de inquirição denominado “depoimento sem dano”.
STJ. 5ª Turma. RHC 45.589-MT, Rel. Min.Gurgel de Faria, julgado em 24/2/2015 (Info 556).

ESSA PRÁTICA É PREVISTA NA LEGISLAÇÃO?


NÃO. Atualmente, a legislação não prevê expressamente essa sistemática. Existe um PROJETO DE LEI (PL
7.524/2006), de autoria da Dep. Maria do Rosário (PT/RS), disciplinando o “Depoimento sem Dano”.
Além disso, é importante mencionar que o CNJ EDITOU UMA RECOMENDAÇÃO 33/2010 AFIRMANDO QUE OS
TRIBUNAIS DEVERÃO IMPLANTAR O SISTEMA DO DEPOIMENTO ESPECIAL PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES, em sala
separada, com a presença do técnico, sendo registrada por meio audiovisual.

INFORMATIVO 553, STJ - Compartilhamento de provas em razão de acordo internacional de cooperação


Atenção! Concursos federais. Não há ilegalidade na utilização, em processo penal em curso no Brasil, de
informações compartilhadas por força de acordo internacional de cooperação em matéria penal e oriundas de
quebra de sigilo bancário determinada por autoridade estrangeira, com respaldo no ordenamento jurídico de
seu país, para a apuração de outros fatos criminosos lá ocorridos, ainda que não haja prévia decisão da justiça
brasileira autorizando a quebra do sigilo. Em outras palavras, o STJ julgou válida a utilização, em processo penal
no Brasil, de informações bancárias sigilosas obtidas pela Justiça dos EUA e trazidas para o processo aqui por
força do Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal (MLAT). STJ. 5ª Turma. HC 231.633-PR, Rel. Min.
Jorge Mussi, julgado em 25/11/2014 (Info 553).

BUSCA E APREENSÃO
ENCONTRO FORTUITO DE PROVAS NO CUMPRIMENTO DE MANDADO DE BUSCA E APREENSÃO EM ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA

É LÍCITA A APREENSÃO, em escritório de advocacia, de drogas e de arma de fogo, em tese pertencentes a advogado,
NA HIPÓTESE EM QUE OUTRO ADVOGADO TENHA PRESENCIADO O CUMPRIMENTO DA DILIGÊNCIA POR SOLICITAÇÃO DOS POLICIAIS,
ainda que o mandado de busca e apreensão tenha sido expedido para apreender arma de fogo supostamente
pertencente a estagiário do escritório – e não ao advogado – e mesmo que no referido mandado não haja
expressa indicação de representante da OAB local para o acompanhamento da diligência.
STJ. 5ª Turma. RHC 39.412-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 3/3/2015 (Info 557).
Fundamento: Apesar de o mandado de busca e apreensão ter sido expedido para apuração de crime
praticado pelo estagiário do escritório, verificou-se, coincidentemente, no cumprimento da medida, a ocorrência
flagrancial de dois outros crimes que possuem natureza permanente, ou seja, sua consumação se protrai no
tempo.

SENTENÇA

RÉU DENUNCIADO POR DELITO NA FORMA CONSUMADA E POSTERIORMENTE CONDENADO NA FORMA TENTADA; RÉU DENUNCIADO
POR CRIME DOLOSO E POSTERIORMENTE CONDENADO POR DELITO CULPOSO

SITUAÇÃO 1:
O réu foi denunciado por estupro consumado, tendo o MP reafirmado essa tipificação nos memoriais (“alegações
finais”). O juiz poderá condenar o acusado por estupro tentado mesmo que não haja aditamento da denúncia na
forma do art. 384 do CPP?
O RÉU DENUNCIADO POR CRIME NA FORMA CONSUMADA PODE SER CONDENADO EM SUA FORMA TENTADA, MESMO QUE
NÃO TENHA HAVIDO ADITAMENTO À DENÚNCIA. A TENTATIVA NÃO É UMA FIGURA AUTÔNOMA, pois a vontade contrária
ao direito existente na tentativa é igual à do delito consumado. O DELITO PLENO (CONSUMADO) E A TENTATIVA NÃO SÃO
DUAS DIFERENTES MODALIDADES DE CRIME, MAS SOMENTE UMA DIFERENTE MANIFESTAÇÃO DE UM ÚNICO DELITO.
STJ. 6ª Turma. HC 297.551-MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 5/3/2015 (Info 557).
SITUAÇÃO 2:
O réu foi denunciado pelo crime “X”, na forma dolosa, tendo o MP reafirmado essa tipificação nos memoriais
(“alegações finais”). Vale ressaltar que nem na denúncia nem em qualquer outra peça processual, o MP falou em
negligência, imprudência ou imperícia. O juiz poderá condenar o acusado pelo crime “X”, na forma culposa,
mesmo que não haja aditamento da denúncia na forma do art. 384 do CPP?
QUANDO NA DENÚNCIA NÃO HOUVER DESCRIÇÃO SEQUER IMPLÍCITA DE CIRCUNSTÂNCIA ELEMENTAR DA MODALIDADE
CULPOSA DO TIPO PENAL, o magistrado, ao proferir a sentença, NÃO PODE DESCLASSIFICAR A CONDUTA DOLOSA
DO AGENTE (ASSIM DESCRITA NA DENÚNCIA) PARA A FORMA CULPOSA DO CRIME, SEM A OBSERVÂNCIA DO
REGRAMENTO PREVISTO NO ART. 384, CAPUT, DO CPP.(MUTATIO LIBELI)
A prova a ser produzida pela defesa, no decorrer da instrução criminal, para comprovar a ausência do elemento
subjetivo do injusto culposo ou doloso, é diversa. Em outras palavras, a prova que o réu tem que produzir para
provar que não agiu com negligência, imprudência ou imperícia é diferente da prova que deverá produzir para
demonstrar que não agiu com dolo (vontade livre e consciente). Assim, SE A DENÚNCIA NÃO DESCREVE SEQUER
IMPLICITAMENTE O TIPO CULPOSO, A DESCLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA DOLOSA PARA A CULPOSA, AINDA QUE REPRESENTE APARENTE
BENEFÍCIO À DEFESA, EM RAZÃO DE IMPOSIÇÃO DE PENA MAIS BRANDA, DEVE OBSERVAR A REGRA INSERTA NO ART. 384, CAPUT, DO
CPP A FIM DE POSSIBILITAR A AMPLA DEFESA. STJ. 6ª Turma. REsp 1.388.440-ES, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em
5/3/2015 (Info 557).

Doutrina: Afronta ao princípio da correlação: Na verdade, o que faz com que uma imputação por ato doloso
dê origem a uma sentença por delito culposo é a descoberta de novos fatos que indicam que o agente não teve
consciência e vontade do resultado, mas, sim, que sua maneira de agir representou uma violação do dever de
cuidado a todos imposto.
Assim, não se pode admitir alteração do elemento subjetivo do delito sem que ocorra uma alteração da
imputação, com a possibilidade de reação defensiva. Embora o elemento subjetivo, em si, não integre o fato
processual, somente a alteração dos fatos lançados no processo é que permitirá concluir pela alteração do
elemento subjetivo.” (BADARÓ, Gustavo. Correlação entre acusação e sentença. 3. ed. São Paulo: RT, 2013, p.
225).

NULIDADES

Hipótese em que a ausência de intimação pessoal do defensor dativo não gera reconhecimento de nulidade

Importante!!!

Obrigatoriedade de intimação pessoal do Defensor Público e do defensor dativo:


Em regra, é obrigatória a intimação pessoal do defensor dativo, inclusive a respeito do dia em que será julgado
o recurso (art. 370, § 4º do CPP). Se for feita a sua intimação apenas pela imprensa oficial, isso é causa de
nulidade.
Exceção: não haverá nulidade se o próprio defensor dativo pediu para ser intimado dos atos processuais pelo
diário oficial.
Exemplo: o réu foi acusado de um crime. Na localidade, não havia Defensoria Pública, razão pela qual o juiz
nomeou um defensor dativo para fazer a assistência jurídica do acusado. O réu foi condenado em 1ª instância.
Irresignada, a defesa interpôs recurso de apelação. Na petição do recurso, o defensor dativo afirmou que preferia
ser intimado pela imprensa oficial, declinando da prerrogativa de ser pessoalmente cientificado dos atos
processuais. Por meio do Diário da Justiça, o defensor dativo foi intimado da data de julgamento da apelação. No
julgamento do recurso, o TJ manteve a sentença condenatória. A partir daí, a Defensoria Pública foi estruturada
no Estado e o Defensor Público que assumiu a assistência jurídica de João impetrou habeas corpus sustentando
que houve nulidade do julgamento da apelação, já que o defensor dativo não foi pessoalmente intimado. O STJ
negou o pedido afirmando que a intimação do defensor dativo apenas pela impressa oficial não implica
reconhecimento de nulidade caso este tenha optado expressamente por esta modalidade de comunicação dos
atos processuais, declinando da prerrogativa de ser intimado pessoalmente.
STJ. 5ª Turma. HC 311.676-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 16/4/2015 (Info 560).

Repetindo: a falta de intimação pessoal do advogado nomeado (constituído) pelo próprio réu acerca da
data do julgamento do recurso não consubstancia nulidade processual. Somente se exige intimação pessoal
para o Defensor Público ou defensor dativo (STJ. 5ª Turma. HC 187.757-SP, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado
em 22/5/2012).

RECURSOS

PRAZO PARA OPOSIÇÃO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO CONTRA ACÓRDÃO QUE ANALISA ASTREINTES IMPOSTAS POR JUÍZO
CRIMINAL
É de 5 dias (art. 536 do CPC /1973) – e não de 2 dias (art. 619 do CPP) – o prazo para a

por quem não seja parte na relação processual penal, de embargos de declaração
oposição,
(E.D) contra acórdão que julgou agravo de instrumento (A.I) manejado em face de decisão,
juízo criminal, que determinara, com base no art. 3º do CPP, o pagamento de
proferida por
multa diária prevista no CPC/1973 em razão de atraso no cumprimento de ordem judicial de
fornecimento de informações decorrentes de quebra de sigilo no âmbito de inquérito policial.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.455.000-PR, Rel. originária Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. para acórdão Min.
Rogerio Schietti Cruz, julgado em 19/3/2015 (Info 559).
A) IMAGINE A SEGUINTE SITUAÇÃO HIPOTÉTICA:
Durante um inquérito policial instaurado para apurar crimes relacionados com pedofilia na internet, o juiz da
vara criminal determinou que o Facebook® apresentasse os dados do usuário no prazo por ele fixado, sob pena
de multa diária de R$ 50 mil.
B) O CPP PREVÊ A IMPOSIÇÃO DE ASTREINTES (MULTA COMINATÓRIA)? COMO O MAGISTRADO FUNDAMENTOU SUA DECISÃO?
O CPP não tem um dispositivo que trate sobre o tema. Assim, os juízes criminais, quando precisam impor
obrigação de fazer com ameaça de multa cominatória, devem se valer do Código de Processo Civil, que é
aplicável analogicamente aos processos criminais em caso de lacuna, nos termos do art. 3º do CPP:
Art. 3º A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento
dos princípios gerais de direito.
C) AGRAVO DE INSTRUMENTO
Contra essa decisão, o Facebook® interpôs agravo de instrumento afirmando que não tinha como fornecer as
informações no prazo exigido.
O Tribunal negou provimento ao agravo de instrumento.
Agora o Facebook® deseja opor embargos de declaração contra a decisão no agravo de instrumento.
D) DIANTE DISSO, SURGIU A SEGUINTE DÚVIDA: QUAL É O PRAZO PARA OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NESTE CASO? APLICA-SE
O PRAZO DE 2 DIAS PREVISTO NO ART. 619 DO CPP OU INCIDE O PRAZO DE 5 DIAS TRAZIDO PELO ART. 536 DO CPC 1973?

5 DIAS.
FUNDAMENTOS:
 1º porque o responsável pelo cumprimento da ordem judicial não é parte na relação processual penal, mas
apenas terceiro interessado.
 2º pois a decisão judicial foi tomada com apoio no CPC/1973, tanto assim que foi objeto de agravo de
instrumento; usou, por analogia, o art. 3º do CPP, mas o fundamento da medida foi a questão das
astreintes – ou seja, a cominação de multa diária por atraso no cumprimento de ordem judicial –, tema
tipicamente cível.
 3º porquanto houve interposição de agravo de instrumento, meio de impugnação também previsto apenas na
legislação processual civil.
Se o próprio CPP, como também o CPC/1973, permite a aceitação de um recurso por outro, como expressão do
princípio da fungibilidade recursal – quando, por uma questão de interpretação, a parte interpõe um
recurso por outro, ausente a má-fé –, deve-se considerar um ônus muito grande não permitir que a
questão principal venha a ser analisada, por uma interpretação de que o prazo dos embargos de declaração
opostos à decisão colegiada seria de dois dias e não de cinco, apenas porque a matéria teria surgido no bojo
de um inquérito policial.

1. INFORMATIVO 553, STJ - MANUTENÇÃO DO REGIME INICIAL FIXADO, MAS COM FUNDAMENTAÇÃO DIVERSA
O Tribunal, na análise de apelação exclusiva da defesa, NÃO ESTÁ IMPEDIDO DE MANTER A SENTENÇA
CONDENATÓRIA RECORRIDA COM BASE EM FUNDAMENTAÇÃO DISTINTA DA UTILIZADA EM PRIMEIRA
INSTÂNCIA, desde que respeitados a imputação deduzida pelo órgão de acusação, a extensão cognitiva da
sentença impugnada e os limites da pena imposta no juízo de origem. ISSO NÃO VIOLA O PRINCÍPIO DO NON
REFORMATIO IN PEJUS. STJ. 6ª Turma. HC 302.488-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 20/11/2014 (Info
553).
- O princípio da “non reformatio in pejus” não proíbe que, em recurso contra sentença condenatória, possa o
órgão de jurisdição superior, no exercício de sua competência funcional, agregar fundamentos à sentença
recorrida, quer para aclarar-lhe a compreensão, quer para conferir-lhe melhor justificação. Assim, NÃO HÁ
IMPEDIMENTO DE QUE, SEM AGRAVAMENTO DA SITUAÇÃO PENAL DO RÉU, O TRIBUNAL, A QUEM SE DEVOLVEU O
CONHECIMENTO DA CAUSA POR FORÇA DE RECURSO EXCLUSIVO DA DEFESA, POSSA EMITIR SUA PRÓPRIA E MAIS APURADA
FUNDAMENTAÇÃO SOBRE AS QUESTÕES JURÍDICAS AMPLA E DIALETICAMENTE DEBATIDAS NO JUÍZO A QUO, OBJETO DA SENTENÇA
IMPUGNADA.

HABEAS CORPUS

INTERVENÇÃO DE TERCEIROS EM HABEAS CORPUS

Admite-se a INTERVENÇÃO DE TERCEIROS NO PROCESSO DE HABEAS CORPUS?


Regra: NÃO.
Exceção: em HABEAS CORPUS ORIUNDO DE AÇÃO PENAL PRIVADA, admite-se a INTERVENÇÃO DO QUERELANTE no
julgamento do HC, uma vez que ele tem interesse jurídico na decisão.
STJ. 5ª Turma. RHC 41.527-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 3/3/2015 (Info 557).

POSSIBILIDADE DE HABEAS CORPUS MESMO QUE O PACIENTE TENHA ACEITADO SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO

O fato de O DENUNCIADO TER ACEITADO A PROPOSTA DE SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO formulada pelo

Ministério Público (art. 89 da Lei 9.099/1995) NÃO CONSTITUI EMPECILHO PARA QUE SEJA PROPOSTO E JULGADO
HABEAS CORPUS EM SEU FAVOR, no qual se pede o trancamento da ação penal. Isso porque o réu que está
cumprindo suspensão condicional do processo fica em liberdade, mas ao mesmo tempo terá que cumprir
determinadas condições impostas pela lei e pelo juiz e, se desrespeitá-las, o curso do processo penal retomará.
Logo, ELE TEM LEGITIMIDADE E INTERESSE DE VER O HC SER JULGADO PARA EXTINGUIR DE VEZ O PROCESSO.
STJ. 5ª Turma. RHC 41.527-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 3/3/2015 (Info 557).

Essa é a opinião também da doutrina majoritária:


“Habeas corpus e suspensão condicional do processo: inexiste qualquer incompatibilidade para o ingresso de
habeas corpus contra processo suspenso em razão do benefício previsto no art. 89 desta Lei. O denunciado pode
aceitar a suspensão condicional do processo por reputar mais favorável naquele momento, mas resolver discutir
fatores relevantes, como a materialidade do delito, em habeas corpus. Se este for concedido, tranca-se a ação,
finalizando, de imediato, a suspensão condicional do processo, que não deixa de ser um gravame ao benefíciário,
pois há regras a respeitar.” (NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Comentadas. 5ª ed. São Paulo:
RT, 2008, p. 819).

Cabimento de HC para análise de afastamento de cargo de prefeito

É cabível impetração de habeas corpus para que seja analisada a legalidade de decisão que determina o
afastamento de prefeito do cargo, quando a medida for imposta conjuntamente com a prisão.
STJ. 5ª Turma. HC 312.016-SC, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 16/4/2015 (Info 561).

ARQUIVAMENTO DE PROCEDIMENTO INVESTIGATIVO

INAPLICABILIDADE DO ART. 28 DO CPP NOS PROCEDIMENTOS INVESTIGATIVOS QUE TRAMITEM ORIGINARIAMENTE NO STJ
Imagine que um Subprocurador-Geral da República, após autorização do STJ, instaurou procedimento de
investigação contra um Governador do Estado (art. 105, I, “a”, da CF/88). Ao final das diligências, o membro do
MPF concluiu que não havia elementos para oferecer a denúncia e requereu ao STJ o arquivamento do
procedimento. O STJ PODERÁ DISCORDAR DO PEDIDO?

NÃO. Se o membro do MPF que atua no STJ requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer
peças de informação que tramitem originariamente perante o STJ, este, MESMO QUE NÃO CONCORDE COM AS RAZÕES
INVOCADAS PELO MP, DEVERÁ DETERMINAR O ARQUIVAMENTO SOLICITADO.
Como o pedido foi feito por um Subprocurador-Geral da República, se o STJ discordar, ele não poderá remeter os
autos para análise do Procurador-Geral da República, aplicando, por analogia, o art. 28 do CPP?
NÃO. NÃO EXISTE ESTA POSSIBILIDADE DE REMESSA PARA O PGR. Não se aplica o art. 28 do CPP
neste caso. ISSO PORQUE OS MEMBROS DO MPF QUE FUNCIONAM NO STJ ATUAM POR DELEGAÇÃO DO PROCURADOR-
GERAL DA REPÚBLICA. Assim, em decorrência do sistema acusatório, nos casos em que o titular da ação penal se
manifesta pelo arquivamento de inquérito policial ou de peças de informação, não há alternativa, senão acolher o
pedido e determinar o arquivamento. Em suma, NÃO HÁ QUE SE FALAR EM APLICAÇÃO DO ART. 28 DO CPP NOS
PROCEDIMENTOS DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO STJ. O MPF PEDIU O ARQUIVAMENTO, ESTE TERÁ QUE SER
HOMOLOGADO PELA CORTE.
STJ. Corte Especial. Inq 967-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 18/3/2015 (Info 558).

REVISÃO CRIMINAL

DESCONSTITUIÇÃO DE ACÓRDÃO DE REVISÃO CRIMINAL QUE FOI PUBLICADO COM FRAUDE

O réu foi condenado, sentença que transitou em julgado. Um tempo depois, foi ajuizada revisão criminal
pedindo a desconstituição da condenação. O Tribunal de Justiça votou no sentido de NEGAR o pedido do réu.
Apesar disso, por uma FRAUDE, o resultado do julgamento foi alterado e a proclamação saiu como se o pedido
do réu houvesse sido aceito e ele tivesse sido absolvido na revisão criminal. O acórdão “fraudulento” foi
publicado, tendo o Ministério Público sido intimado e não apresentado recurso, razão pela qual houve o
trânsito em julgado da revisão criminal. Cerca de um ano e meio mais tarde, após uma reportagem de jornal, o
TJ descobriu a fraude que havia sido perpetrada. Diante disso, o Tribunal, de ofício, convocou nova sessão na
qual os Desembargadores retificaram o julgamento e publicaram novo acórdão, agora proclamando o
resultado correto, ou seja, indeferindo a revisão criminal.
O autor da revisão criminal interpôs recurso contra esse segundo acórdão publicado. Alegou que houve
violação da coisa julgada e ofensa ao princípio da segurança jurídica, ao argumento de que, após a publicação do
acórdão absolutório, sem que houvesse a interposição de recurso, não poderia o Tribunal, de ofício, modificar
sua decisão, especialmente quando decorridos mais de um ano e meio desde o trânsito em julgado.
O STJ CONCORDOU COM A PROVIDÊNCIA ADOTADA PELO TJ?
SIM. O STJ DECIDIU QUE O TRIBUNAL PODE, A QUALQUER MOMENTO E DE OFÍCIO, DESCONSTITUIR ACÓRDÃO DE REVISÃO
CRIMINAL QUE, DE MANEIRA FRAUDULENTA, TENHA ABSOLVIDO O RÉU, QUANDO, NA VERDADE, O POSICIONAMENTO QUE
PREVALECEU NA SESSÃO DE JULGAMENTO FOI PELO INDEFERIMENTO DO PLEITO REVISIONAL.
A PUBLICAÇÃO INTENCIONAL DE ACÓRDÃO IDEOLOGICAMENTE FALSO – QUE NÃO RETRATA, EM NENHUM ASPECTO, O
JULGAMENTO REALIZADO - com o objetivo de beneficiar uma das partes, mesmo após o trânsito em julgado, não
pode reclamar a proteção de nenhum instituto do sistema processual (coisa julgada, segurança jurídica etc.).
STJ. 6ª Turma. REsp 1.324.760-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti
Cruz, julgado em 16/12/2014 (Info 555).

EXECUÇÃO PENAL
SAÍDA TEMPORÁRIA

SÚMULA 520-STJ: O BENEFÍCIO DE SAÍDA TEMPORÁRIA NO ÂMBITO DA EXECUÇÃO PENAL É ATO JURISDICIONAL INSUSCETÍVEL DE
DELEGAÇÃO À AUTORIDADE ADMINISTRATIVA DO ESTABELECIMENTO PRISIONAL.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 25/03/2015, DJe 6/4/2015.

SAÍDA TEMPORÁRIA AUTOMATIZADA:


Pela literalidade da Lei de Execução Penal, a cada saída temporária deve ser formulado um pedido ao juiz que,
então, ouve o MP e a administração penitenciária, e, após, decide.
Em algumas partes do Brasil, no entanto, os juízes da execução penal adotaram um procedimento para simplificar
a concessão dessas saídas temporárias.
Quando o condenado formula o primeiro pedido de saída temporária, o juiz ouve o MP e o diretor do Presídio, e,
se estiverem preenchidos os requisitos, concede o benefício (segue, portanto, todo o rito previsto na LEP). Após o
juiz conceder a saída temporária para o apenado nesta primeira vez, as novas saídas temporárias deste mesmo
reeducando não mais precisarão ser analisadas pelo juiz e pelo MP, SENDO CONCEDIDAS AUTOMATICAMENTE PELA
DIREÇÃO DO PRESÍDIO, DESDE QUE A SITUAÇÃO DISCIPLINAR DO CONDENADO PERMANEÇA A MESMA, OU SEJA, QUE ELE
TENHA MANTIDO O COMPORTAMENTO ADEQUADO NO CUMPRIMENTO DA PENA. Se cometer falta grave, por exemplo, é
revogado o benefício.
A ESSE PROCEDIMENTO SIMPLIFICADO DEU-SE O NOME DE SAÍDA TEMPORÁRIA AUTOMATIZADA.
Alguns Ministérios Públicos pelo país têm se insurgido contra este procedimento e interposto recursos que
chegam aos Tribunais Superiores. Segundo argumenta o Parquet, ao adotar essa saída temporária automatizada,
o juiz da execução penal está transferindo (delegando) para a autoridade administrativa do estabelecimento
prisional a decisão de conceder ou não a saída temporária, o que viola frontalmente o art. 123 da LEP (“Art. 123.
A autorização será concedida por ato motivado do Juiz da execução...”).

SE FICAR CONSTATADO QUE O APENADO PRATICOU A FALTA GRAVE, É DEVER DO MAGISTRADO DECRETAR A PERDA DOS DIAS
REMIDOS. O JUIZ TERÁ, NO ENTANTO, DISCRICIONARIEDADE PARA ESCOLHER A FRAÇÃO DA PERDA, QUE TERÁ COMO LIMITE MÁXIMO
1/3 DOS DIAS REMIDOS.

Uma das punições impostas em caso de falta grave é a perda de parte dos dias remidos, conforme previsto no art.
127 da LEP:
Art. 127. Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 (um terço) do tempo remido, observado o disposto no art. 57,
recomeçando a contagem a partir da data da infração disciplinar.
QUANDO O ART. 127 FALA QUE O JUIZ PODERÁ REVOGAR ATÉ 1/3 DO TEMPO REMIDO, ISSO SIGNIFICA QUE O MAGISTRADO TEM A
POSSIBILIDADE DE, MESMO TENDO SIDO PRATICADA UMA FALTA GRAVE, DEIXAR DE REVOGAR O TEMPO REMIDO?

NÃO. A prática de falta grave IMPÕE A DECRETAÇÃO DA PERDA DE ATÉ 1/3 DOS DIAS REMIDOS, devendo a expressão
“poderá”, contida no art. 127 da LEP, ser INTERPRETADA COMO VERDADEIRO PODER-DEVER do magistrado, ficando
NO JUÍZO DE DISCRICIONARIEDADE DO JULGADOR APENAS A FRAÇÃO DA PERDA, que terá como limite máximo 1/3 dos dias
remidos.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.430.097-PR, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 19/3/2015 (Info 559).
INEXISTÊNCIA DE CASA DE ALBERGADO E CUMPRIMENTO DA PENA EM LOCAL COMPATÍVEL

Imagine que não existe Casa do Albergado na localidade. Por conta disso, os presos que estão no regime
aberto cumprem pena no presídio, mas em um local destinado apenas para eles, separado dos presos do
regime fechado. Essa situação é ilegal? O preso deverá receber prisão domiciliar neste caso?

NÃO. A INEXISTÊNCIA DE CASA DE ALBERGADO NA LOCALIDADE DA EXECUÇÃO DA PENA NÃO GERA O RECONHECIMENTO DE
DIREITO AO BENEFÍCIO DA PRISÃO DOMICILIAR QUANDO O PACIENTE ESTIVER CUMPRINDO A REPRIMENDA EM
LOCAL COMPATÍVEL COM AS REGRAS DO REGIME ABERTO.
Quando não há Casa do Albergado na localidade, o STJ tem admitido, excepcionalmente, a concessão da
prisão domiciliar. Todavia, na hipótese em que o réu, em face da inexistência de casa de albergado, esteja
cumprindo pena em local compatível com as regras do regime aberto – tendo o juízo da execução
providenciado a infraestrutura necessária, atento ao princípio da razoabilidade e da proporcionalidade –, NÃO
SE VISLUMBRA O NECESSÁRIO ENQUADRAMENTO NAS HIPÓTESES EXCEPCIONAIS DE CONCESSÃO DO REGIME PRISIONAL
DOMICILIAR.
STJ. 5ª Turma. HC 299.315-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 18/12/2014 (Info 554).

PROGRESSÃO DE REGIME PARA CONDENADOS POR TRÁFICO DE DROGAS

A progressão de regime para os condenados por tráfico de entorpecentes e drogas afins dar- se-á, se o
sentenciado for reincidente, após o cumprimento de 3/5 da pena, AINDA QUE A REINCIDÊNCIA NÃO SEJA ESPECÍFICA EM
CRIME HEDIONDO OU EQUIPARADO.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.491.421-RS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 4/12/2014 (Info 554).

Remição de pena em razão de atividade laborativa extramuros

Importante!!!

Remição é o direito que possui o condenado ou a pessoa presa cautelarmente de reduzir o tempo de
cumprimento da pena mediante o abatimento de 1 dia de pena a cada 12 horas de estudo ou de 1 dia de pena a
cada 3 dias de trabalho.
A remição pelo trabalho abrange apenas o trabalho interno ou também o externo? Se o preso que está no
regime fechado ou semiaberto é autorizado a realizar trabalho externo, ele terá direito à remição?
SIM. É possível a remição de parte do tempo de execução da pena quando o condenado, em regime fechado
ou semiaberto, desempenha atividade laborativa extramuros (trabalho externo).
A LEP, ao tratar sobre a remição pelo trabalho, não restringiu esse benefício apenas para o trabalho interno
(intramuros). Desse modo, mostra-se indiferente o fato de o trabalho ser exercido dentro ou fora do ambiente
carcerário. Na verdade, a lei exige apenas que o condenado esteja cumprindo a pena em regime fechado ou
semiaberto para que ele tenha direito à remição pelo trabalho.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.381.315-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 13/5/2015 (recurso
repetitivo) (Info 562).

É possível a remição para condenados que cumprem pena em regime aberto?


 Remição pelo trabalho: NÃO.
 Remição pelo estudo: SIM.
Remição da pena pela leitura
A atividade de leitura pode ser considerada para fins de remição de parte do tempo de execução da
pena. STJ. 6ª Turma. HC 312.486-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 9/6/2015 (Info 564).
Outras regras importantes sobre a remição:
 As atividades de estudo poderão ser desenvolvidas de forma presencial ou por metodologia de ensino à
distância e deverão ser certificadas pelas autoridades educacionais competentes dos cursos
frequentados (§ 2º do art. 126). Ex: cursos pela internet.
 É possível que o condenado cumule a remição pelo trabalho e pelo estudo, desde que as horas diárias de
trabalho e de estudo sejam compatíveis (§ 3º do art. 126).
 O preso impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos estudos, continuará a beneficiar-
se com a remição (§ 4º do art. 126).
 O tempo a remir em função das horas de estudo será acrescido de 1/3 (um terço) caso o condenado
consiga concluir o ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento da pena (§ 5º do art.
126).
 A remição pode ser aplicada para a pessoa presa cautelarmente (§ 7º do art. 126). Assim, se o
indivíduo está preso preventivamente e decide trabalhar, esse tempo será abatido de sua pena caso
venha a ser condenado no futuro.
 A remição será declarada pelo juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a defesa (§ 8º do art. 126).
É possível computar a remição pelo simples fato de o apenado ficar lendo livros (sem fazer um curso formal)?
SIM
Instauração de procedimento administrativo para reconhecimento de falta disciplinar

Súmula 533-STJ: Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar no âmbito da execução penal, É
IMPRESCINDÍVEL A INSTAURAÇÃO DE PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO pelo diretor do estabelecimento prisional,
assegurado o direito de defesa, a SER REALIZADO POR ADVOGADO CONSTITUÍDO OU DEFENSOR PÚBLICO
NOMEADO.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 10/06/2015, Dje 15/06/2015.

Falta grave e interrupção do prazo para a progressão de regime

Súmula 534-STJ: A prática de falta grave interrompe a contagem do prazo para a progressão de regime de
cumprimento de pena, o qual se reinicia a partir do cometimento dessa infração. STJ. 3ª Seção. Aprovada em
10/06/2015, Dje 15/06/2015.

Falta grave e comutação de pena ou indulto

Súmula 535-STJ: A prática de falta grave não interrompe o prazo para fim de comutação de pena ou indulto.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 10/06/2015, Dje 15/06/2015.

UTILIZAÇÃO POR ÓRGÃO PÚBLICO DE BEM APREENDIDO

APLICAÇÃO ANALÓGICA DOS ARTS. 61 E 62 DA LEI DE DROGAS PARA CRIMES REGIDOS PELO CPP

Os arts. 61 e 62 da Lei 11.343/2006 permitem que, após autorização judicial, veículos, embarcações, aeronaves e
quaisquer outros meios de transporte sejam utilizados pela autoridade de polícia judiciária, comprovado o
interesse público.
O juiz poderá AUTORIZAR QUE A AERONAVE SEJA UTILIZADA PELO ÓRGÃO MESMO O RÉU NÃO ESTANDO RESPONDENDO POR
TRÁFICO DE DROGAS?

SIM. É POSSÍVEL A APLICAÇÃO ANALÓGICA DOS ARTS. 61 E 62 DA LEI 11.343/2006 para admitir a utilização pelos
órgãos públicos de aeronave apreendida no curso da persecução penal de crime não previsto na Lei de Drogas,
sobretudo se presente o interesse público de evitar a deterioração do bem. O art. 3º do CPP afirma que a lei
processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios
gerais de direito. Assim, É POSSÍVEL A APLICAÇÃO DA LEI DE DROGAS PARA CRIMES REGIDOS PELO CPP COM BASE NO USO
DA ANALOGIA.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.420.960-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 24/2/2015 (Info 556).

RESTITUIÇÃO DE COISA APREENDIDA


INFORMATIVO 552, STJ - IMPOSSIBILIDADE DE RECURSO DE TERCEIRO PREJUDICADO POR QUEM TEVE O MESMO PEDIDO NEGADO
EM EMBARGOS DE TERCEIRO TRANSITADO EM JULGADO.

Se, em decisão transitada em julgado, DECIDE-SE PELA IMPROCEDÊNCIA DE EMBARGOS DE TERCEIRO OPOSTOS CONTRA
APREENSÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR – em razão de não ter sido comprovada a propriedade, a posse ou a origem
lícita dos recursos utilizados na aquisição do automóvel – O AUTOR DOS REFERIDOS EMBARGOS, NA CONDIÇÃO DE
TERCEIRO PREJUDICADO, NÃO TEM INTERESSE DE RECORRER CONTRA PARTE DA SENTENÇA CONDENATÓRIA QUE, AO FINAL
DA AÇÃO PENAL, DECRETOU O PERDIMENTO DO BEM EM FAVOR DA UNIÃO. ISSO PORQUE HÁ IDENTIDADE DE DEMANDAS
ENTRE OS EMBARGOS DE TERCEIRO QUE SE DIRIGIRAM CONTRA A APREENSÃO DO VEÍCULO E A APELAÇÃO INTERPOSTA CONTRA A
DECRETAÇÃO DE PERDIMENTO DO AUTOMÓVEL EM FAVOR DA UNIÃO. Isto é, há identidade de partes e de pedidos
(devolução do bem), bem como em relação à causa de pedir (a suposta propriedade do automóvel). STJ. 6ª
Turma. REsp 1.247.629-RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 6/11/2014 (Info 552).

REMIÇÃO DA PENA

REMIÇÃO DA PENA PELO ESTUDO EM DIAS NÃO ÚTEIS

Remição é o direito que possui o condenado ou a pessoa presa cautelarmente de reduzir o tempo de
cumprimento da pena mediante o abatimento de 1 dia de pena a cada 12 horas de estudo ou de 1 dia de pena a
cada 3 dias de trabalho.
É POSSÍVEL COMPUTAR A REMIÇÃO PELO ESTUDO AINDA QUE AS AULAS OCORRAM DURANTE FINAIS DE SEMANA E DIAS NÃO-
ÚTEIS?

SIM. A remição da pena pelo estudo deve ocorrer independentemente de a atividade estudantil ser
desenvolvida em dia não útil. O art. 126 da Lei 7.210/84 dispõe que a contagem de tempo para remição da pena
pelo estudo deve ocorrer à razão de 1 dia de pena para cada 12 horas de frequência escolar, NÃO HAVENDO
QUALQUER RESSALVA SOBRE A CONSIDERAÇÃO APENAS DOS DIAS ÚTEIS PARA REALIZAÇÃO DA REFERIDA CONTAGEM, sendo,
inclusive, expressamente mencionada a possibilidade de ensino à distância.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.487.218-DF, Rel. Min. Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ/SP),
julgado em 5/2/2015 (Info 556).

Remição pelo TRABALHO Remição pelo ESTUDO


A cada 3 dias de trabalho, A cada 12 horas de estudo,
diminui 1 dia de pena. diminui 1 dia de pena.
Obs.: somente poderão ser considerados, para Obs.: as 12 horas de estudo deverão ser divididas
fins de remição, os dias em que o condenado em, no mínimo, 3 dias.
cumprir a jornada normal de trabalho, que não
pode ser inferior a 6h nem superior a 8h (art. 33).
Somente é aplicada se o condenado cumpre Pode ser aplicada ao condenado que cumpra
pena em regime fechado ou semiaberto. pena
em regime fechado, semiaberto, aberto ou,
Obs.: não se aplica se o condenado estiver ainda, que esteja em livramento condicional.
cumprindo pena no regime aberto ou se estiver
em livramento condicional. Atenção: perceba a diferença em relação à
remição pelo trabalho.
É possível a REMIÇÃO PARA CONDENADOS QUE CUMPREM PENA EM REGIME ABERTO?
REMIÇÃO PELO TRABALHO: NÃO.
REMIÇÃO PELO ESTUDO: SIM.
Outras regras importantes sobre a remição:
 As atividades de estudo poderão ser desenvolvidas de forma presencial ou por metodologia de ensino à
distância e deverão ser certificadas pelas autoridades educacionais competentes dos cursos frequentados
(§ 2º do art. 126). Ex: cursos pela internet.
 É possível que o condenado cumule a remição pelo trabalho e pelo estudo, desde que as horas diárias de
trabalho e de estudo sejam compatíveis (§ 3º do art. 126).
 O preso impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos estudos, continuará a beneficiar-
se com a remição (§ 4º do art. 126).
 O tempo a remir em função das horas de estudo será acrescido de 1/3 (um terço) caso o condenado
consiga concluir o ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento da pena (§ 5º do art.
126).
 A remição pode ser aplicada para a pessoa presa cautelarmente (§ 7º do art. 126). Assim, se o indivíduo
está preso preventivamente e decide trabalhar, esse tempo será abatido de sua pena caso venha a ser
condenado no futuro.
 A remição será declarada pelo juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a defesa (§ 8º do art. 126).

ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO

Impossibilidade de seguradora intervir como assistente da acusação em processo que apure homicídio do
segurado

Segundo o art. 268 do CPP, poderá intervir, como assistente do Ministério Público, o ofendido (pessoalmente ou
por meio de seu representante legal, caso seja incapaz).
Caso a vítima tenha morrido, poderá intervir como assistente: a) o cônjuge; b) o companheiro;
c) o ascendente; d) o descendente; ou e) o irmão do ofendido.
Imagine que Maria fez um seguro de vida no qual foi previsto o pagamento de indenização de R$ 500 mil a seu
marido (João) caso ela morresse. Alguns meses depois, Maria apareceu morta, envenenada. O inquérito policial
concluiu que havia suspeitas de que João foi o autor do crime, razão pela qual ele foi denunciado por homicídio
doloso. Uma das cláusulas do contrato prevê que, se o beneficiário foi quem causou a morte da segurada, ele não
terá direito à indenização. A seguradora poderá intervir no processo criminal como assistente da acusação para
provar que João foi o autor do crime? NÃO . A seguradora não tem direito líquido e certo de figurar como
assistente do Ministério Público em ação penal na qual o beneficiário do seguro de vida é acusado de ter
praticado o homicídio do segurado. O art. 268 prevê quem poderá intervir como assistente de acusação e neste
rol não se inclui a seguradora.
O sujeito passivo do crime de homicídio é o ser humano e o bem jurídico é a vida, de forma que, por mais que se
reconheça que a seguradora possui interesse patrimonial no resultado da causa, isso não a torna vítima do
homicídio.
Vale ressaltar que, em alguns casos, a legislação autoriza que certas pessoas ou entidades, mesmo não sendo
vítimas do crime, intervenham como assistentes de acusação.
STJ. 6ª Turma. RMS 47.575-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 14/4/2015 (Info 560).

Observação:
Não cabe assistente da acusação no IP.
Não cabe assistente da acusação no processo de execução penal.

Poderes do assistente
Ao assistente será permitido:
a) propor meios de prova;
b) formular quesitos para a perícia e indicar assistente técnico;
c) formular perguntas às testemunhas (sempre depois do MP);
d) aditar os articulados, ou seja, complementar as peças escritas apresentadas pelo MP;
e) participar do debate oral;
f) arrazoar os recursos interpostos pelo MP
g) interpor e arrazoar seus próprios recursos;
h) requerer a decretação da prisão preventiva e de outras medidas cautelares;
i) requerer o desaforamento no rito do júri.

Obs1: segundo entendimento do STJ, O CPP PREVÊ TAXATIVAMENTE O ROL DOS ATOS QUE O ASSISTENTE DE
ACUSAÇÃO PODE PRATICAR.
Obs2: O ASSISTENTE DA ACUSAÇÃO NÃO PODERÁ ADITAR A DENÚNCIA FORMULADA PELO MP.

Quais os recursos que podem ser interpostos pelo assistente da acusação?


Segundo o entendimento majoritário, o assistente da acusação somente pode interpor:
• Apelação;
• RESE contra a decisão que extingue a punibilidade.

Obs1: o assistente da acusação somente poderá recorrer se o MP não tiver recorrido.


Obs2: o assistente de acusação não pode recorrer contra ato privativo do MP.
O assistente da acusação possui interesse em recorrer para aumentar a pena imposta ao réu na sentença?
SIM, DESDE QUE O MP NÃO O TENHA FEITO. O motivo da existência do assistente da acusação não é apenas
obter a condenação do réu e, com isso, formar um título executivo judicial para obter a indenização dos danos
sofridos. Em verdade, o assistente da acusação busca uma condenação justa. Logo, se está
inconformado com a pena imposta e o MP não se insurgiu contra isso, tem legitimidade para buscar o exame
dessa questão na instância recursal. Nesse sentido é o entendimento do STJ e do STF:
A legitimidade do assistente de acusação para apelar, QUANDO INEXISTENTE RECURSO DO MINISTÉRIO
PÚBLICO, é ampla, podendo impugnar tanto a sentença absolutória quanto a condenatória, visando ao aumento
da pena imposta, já que a sua atuação justifica-se pelo desejo legítimo de buscar justiça, e não apenas eventual
reparação cível. Doutrina. Precedentes do STJ e do STF. (...)
(HC 137.339/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, julgado em 09/11/2010)
Recurso pode ser interposto pelo ofendido (ou sucessores) mesmo que ele não estivesse habilitado nos autos
como assistente
O recurso pode ser interposto tanto pelo ofendido (ou sucessores) que já está habilitado nos autos na qualidade
de assistente da acusação, como também nos casos em que a vítima ainda não era assistente, mas decide intervir
no processo apenas no final, quando observa que a sentença não foi justa (em sua opinião) e que mesmo assim o
MP não recorreu. Nesse caso, o ofendido (ou seus sucessores) apresenta o recurso e nesta mesma peça já pede
para ingressar no feito.
Qual é o prazo para o ofendido (ou sucessores) apelar contra a sentença?
• Se já estava HABILITADO como assistente: 5 dias (art. 593 do CPP);
• Se ainda NÃO estava habilitado: 15 dias (art. 598, parágrafo único, do CPP). Obs: o prazo só tem início
depois que o prazo do MP se encerra.
Súmula n.448-STF: O prazo para o assistente recorrer supletivamente começa a correr imediatamente após o
transcurso do prazo do MP.
O prazo para o assistente de acusação habilitado nos autos apelar é de 5 (cinco) dias após a sua intimação da
sentença e terminado o prazo para o Ministério Público apelar. Incidência do enunciado da Súmula n.º 448 do STF
(STJ. 5ª Turma. HC 237574/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 13/11/2012).

Pedido de absolvição pelo MP e recurso do assistente de acusação

Durante os debates no Plenário do Tribunal do Júri, o Promotor de Justiça pediu a absolvição do réu, tendo ele
sido absolvido pelos jurados. O assistente de acusação, que intervinha no processo, tem legitimidade para
recorrer contra essa decisão?

SIM. O assistente de acusação possui legitimidade para interpor recurso de apelação, em caráter supletivo,
nos termos do art. 598 do CPP, ainda que o Ministério Público tenha requerido a
absolvição do réu.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.451.720-SP, Rel. originário Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão Min. Nefi
Cordeiro, julgado em 28/4/2015 (Info 564).

EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO

PROCURAÇÃO COM PODERES ESPECIAIS PARA OPOSIÇÃO DE EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO

Para que o Defensor Público represente o assistido no processo penal, é necessário que este outorgue uma
procuração?
Regra: NÃO. O Defensor Público não precisa de mandato (procuração).
Exceção: será necessária a procuração se o Defensor Público for praticar algum dos atos para os quais a lei exige
poderes especiais.
O art. 98 do CPP prevê que, para ser proposta exceção de suspeição do juiz, o defensor precisa de procuração
com poderes especiais.
O Defensor Público que faz a defesa do réu precisará de procuração com poderes especiais para arguir a
suspeição do juiz?
SIM. É EXIGÍVEL PROCURAÇÃO COM PODERES ESPECIAIS PARA QUE seja oposta exceção de suspeição por réu
representado pela Defensoria Pública, MESMO QUE O ACUSADO ESTEJA AUSENTE DO DISTRITO DA CULPA.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.431.043-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 16/4/2015 (Info 560).

Na prática, o Defensor Público simplesmente não irá apresentar a exceção de suspeição. Isso porque se ele não
tem nem como falar com o réu, não terá condições, obviamente, de coletar sua procuração
Outra opção é o réu assinar a peça juntamente com o defensor.

Razão para exigência de poderes especiais na procuração:


A razão para essa exigência é simples: na exceção de suspeição, o excipiente argumentará que aquele magistrado
possui algum fato que o impede de julgar a causa com isenção. Tais alegações, dependendo de como forem
escritas, podem extrapolar o exercício regular de um direito e acabar ofendendo a honra do magistrado, o que
ensejaria uma ação penal proposta pelo juiz contra o defensor do réu. A fim de evitar isso, o defensor deverá
explicar todas as consequências ao seu cliente/assistido e decidir, em conjunto, a melhor forma de fazer essa
exceção a fim de evitar os excessos ou imputações temerárias. O cliente/assistido, concordando, deverá outorgar
ao defensor procuração com poderes especiais na qual autoriza expressamente a propositura da exceção,
evitando, assim, a responsabilização criminal do defensor em caso de crimes contra a honra do magistrado.

TRIBUNAL DO JÚRI

ANULAÇÃO DA PRONÚNCIA POR EXCESSO DE LINGUAGEM

A sentença de pronúncia deve ser fundamentada. No entanto, é necessário que o juiz utilize as palavras com
moderação, ou seja, valendo-se de termos sóbrios e comedidos, a fim de se evitar que fique demonstrado na
decisão que ele acredita firmemente que o réu é culpado pelo crime. Se o magistrado exagera nas palavras
utilizadas na sentença de pronúncia, dizemos que houve um “excesso de linguagem”, também chamado de
“eloquência acusatória”.
O excesso de linguagem é proibido porque o CPP afirma que os jurados irão receber uma cópia da sentença de
pronúncia e das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação e do relatório do processo (art. 472,
parágrafo único). Assim, se o juiz se excede nos argumentos empregados na sentença de pronúncia, o jurado irá
ler essa decisão e certamente será influenciado pela opinião do magistrado.
Havendo excesso de linguagem, o que o Tribunal deve fazer?
Deverá ANULAR a sentença de pronúncia e os consecutivos atos processuais, determinando-se que outra seja
prolatada.
Em vez de anular, o Tribunal pode apenas determinar que a sentença seja desentranhada (retirada do processo)
ou seja envelopada (isolada)? Isso já não seria suficiente, com base no princípio da economia processual?
NÃO. Não basta o desentranhamento e envelopamento. É necessário anular a sentença e determinar que outra
seja prolatada. Isso porque, como já dito acima, a lei determina que a sentença de pronúncia seja distribuída aos
jurados. Logo, não há como desentranhar a decisão, já que uma cópia dela deverá ser entregue aos jurados. Se
essa cópia não for entregue, estará sendo descumprido o art. 472, parágrafo único, do CPP.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.442.002-AL, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 28/4/2015 (Info 561).

Anulação da decisão absolutória do júri em razão da contrariedade com as provas dos autos

Ainda que a defesa alegue que a absolvição se deu por clemência do Júri, admite-se, mas DESDE QUE POR
UMA ÚNICA VEZ, o PROVIMENTO DE APELAÇÃO FUNDAMENTADA NA ALEGAÇÃO DE QUE A DECISÃO DOS
JURADOS CONTRARIOU MANIFESTAMENTE À PROVA DOS AUTOS (art. 593, III, "d", do CPP). STJ. 6ª Turma.
REsp 1.451.720-SP, Rel. originário Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão Min. Nefi Cordeiro, julgado em
28/4/2015 (Info 564).

LIVRAMENTO CONDICIONAL

INFLUÊNCIA DA REINCIDÊNCIA NO CÁLCULO DO LIVRAMENTO CONDICIONAL


João praticou o crime de furto e foi condenado a 2 anos (delito 1).
Antes da condenação pelo furto transitar em julgado, ele praticou um estelionato (delito 2). Logo, quando ele
cometeu o delito 2 ele ainda não era reincidente.
Depois de transitar em julgado as condenações pelos delitos 1 e 2, João praticou um roubo (delito 3).
Desse modo, na condenação do delito 3, o juiz já reconheceu o réu como reincidente.
O juiz das execuções penais unificou as três condenações impostas contra João e ele iniciou o cumprimento da
pena.
A dúvida que surge agora é a seguinte: no momento da concessão do livramento condicional, o juiz das
execuções penais, quando for calcular o requisito objetivo, deverá separar cada um dos crimes (ex: exigir 1/3
do cumprimento da pena para os delitos 1 e 2, por ser ele primário na época) e depois exigir o cumprimento
de 1/2 da pena para o delito 3 (quando ele era reincidente)?
NÃO. O juiz das execuções penais deverá somar todas as penas e exigir o cumprimento de 1/2 do somatório
(livramento condicional qualificado) por ser o réu reincidente.
Segundo decidiu o STJ, na definição do requisito objetivo para a concessão de livramento condicional, a condição
de reincidente em crime doloso DEVE INCIDIR SOBRE A SOMATÓRIA DAS PENAS IMPOSTAS AO
CONDENADO, AINDA QUE A AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA NÃO TENHA SIDO RECONHECIDA PELO JUÍZO SENTENCIANTE
EM ALGUMAS DAS CONDENAÇÕES. Isso porquea reincidência é circunstância pessoal que interfere na
execução como um todo, e não somente nas penas em que ela foi reconhecida .
A condição de reincidente, uma vez adquirida pelo sentenciado, estende-se sobre a totalidade das penas
somadas, não se justificando a consideração isolada de cada condenação e tampouco a aplicação de percentuais
diferentes para cada uma das reprimendas.
STJ. 5ª Turma. HC 307.180-RS, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 16/4/2015 (Info 561).
O que é livramento condicional?
Livramento condicional é...
- um benefício da execução penal
- concedido ao condenado preso,
- consistindo no direito de ele ficar em liberdade,
- mesmo antes de ter terminado a sua pena,
- assumindo o compromisso de cumprir algumas condições,
- desde que preencha os requisitos previstos na lei.
O indivíduo que está no gozo do livramento condicional desfruta de uma liberdade antecipada,
condicional e precária. Entenda:
 antecipada: porque o condenado é solto antes de ter cumprido integralmente a pena.
 condicional: uma vez que, durante o período restante da pena (chamado de período de prova), ele
terá que cumprir certas condições fixadas na decisão que conceder o benefício.
 precária: tendo em vista que o benefício poderá ser revogado (e ele retornar à prisão) caso descumpra
as condições impostas.
(MASSON, Cleber. Direito Penal esquematizado. 8. ed., São Paulo: Saraiva, 2014, p. 808).
Previsão legal
As regras sobre o livramento condicional estão elencadas nos arts. 83 a 90 do CP e arts. 131 a 146 da LEP.
O condenado deve ter:
1) sido sentenciado a uma pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 anos;
2) reparado o dano causado com o crime, salvo se for impossível fazê-lo;
3) cumprido parte da pena, quantidade que irá variar conforme ele seja reincidente ou não:
 condenado não reincidente em crime doloso e com bons antecedentes: basta cumprir
Requisitos mais de 1/3 (um terço) da pena. É chamado de livramento condicional SIMPLES;
OBJETIVOS  condenado reincidente em crime doloso: deve cumprir mais de 1/2 (metade) da
pena para ter direito ao benefício. É o livramento condicional QUALIFICADO;
 condenado por crime hediondo ou equiparado, se não for reincidente específico
em crimes dessa natureza: deve cumprir mais de 2/3 (dois terços) da pena. É o
livramento condicional ESPECÍFICO;
 condenado por crime hediondo ou equiparado, se for reincidente específico em
crimes dessa natureza: não terá direito a livramento condicional.
O condenado deve ter:
1) bom comportamento carcerário, a ser comprovado pelo diretor da unidade prisional;
Requisitos 2) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído;
SUBJETIVOS 3) aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto;
4) para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave
ameaça à pessoa, a concessão do livramento ficará também subordinada à
constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará
a delinquir.
PROGRESSÃO DE REGIME
Progressão de regime do reincidente condenado por crime hediondo
O condenado por crime hediondo está sujeito a requisitos objetivos mais rigorosos que os condenados por
crimes “comuns”. Para que ocorra a progressão de regime, o condenado por crime hediondo deverá ter
cumprido:
 2/5 da pena, se for primário; e
 3/5 (três quintos), se for reincidente.
Isso está previsto no art. 2º, § 2º da Lei 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos).
Quando a Lei acima fala que o condenado por crime hediondo, se for reincidente, terá que cumprir 3/5 para
progredir, essa reincidência é específica para crimes hediondos? Para ser submetido a esse requisito de 3/5 o
condenado deverá ter praticado dois crimes hediondos?

NÃO. A progressão de regime para os condenados por crime hediondo ocorre após o cumprimento de 3/5 da
pena, ainda que a reincidência não seja específica em crime hediondo ou equiparado.
A Lei dos Crimes Hediondos não faz distinção entre a reincidência comum e a específica. Desse modo, havendo
reincidência, ao condenado deverá ser aplicada a fração de 3/5 da pena cumprida para fins de progressão do
regime.
Ex: João foi sentenciado, com trânsito em julgado, por furto simples (crime não hediondo) e depois foi
condenado por homicídio doloso (crime hediondo). As penas foram unificadas e ele está no regime fechado.
Para que progrida para o regime semiaberto precisará cumprir 3/5 da pena mesmo não sendo reincidente
específico em crime hediondo.
STJ. 6ª Turma. HC 301.481-SP, Rel. Min. Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ-SP), julgado em
2/6/2015 (Info 563).
COISA JULGADA

Duas condenações transitadas em julgado, sendo uma proferida por juízo incompetente

Constatado o trânsito em julgado de duas decisões condenando o agente pela prática de um único crime – a
primeira proferida por juízo estadual absolutamente incompetente e a segunda proferida pelo juízo federal
constitucionalmente competente –, a primeira condenação deve ser anulada caso se verifique que nela fora
imposta pena maior do que a fixada posteriormente.
Ex: João praticou um roubo, com arma de fogo, contra uma agência própria dos Correios. Logo, a competência
seria da Justiça Federal (art. 109, IV, da CF/88). Ocorre que, por equívoco, foram iniciados dois processos sobre
este mesmo crime: um na Justiça Estadual e outra na Justiça Federal. Assim, João foi condenado a 8 anos pelo
crime na Justiça Estadual. Esta sentença transitou em julgado. Dois meses depois, João foi novamente
condenado, pelo mesmo delito, na Justiça Federal, recebendo uma pena de 6 anos de reclusão. Essa decisão
também transitou em julgado.
STJ. 5ª Turma. HC 297.482-CE, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 12/5/2015 (Info 562).
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
INFORMATIVO 553, STJ - POSSIBILIDADE DE CUMPRIMENTO IMEDIATO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA IMPOSTA NA
SENTENÇA.

Tema polêmico! Em regra, a apelação contra a sentença que aplica medida socioeducativa de internação
deverá ser recebida no efeito meramente devolutivo ou no duplo efeito?
1ª corrente: apenas no efeito devolutivo, impondo-se ao adolescente infrator o cumprimento imediato da
medida socioeducativa (STJ. 6ª Turma. HC 301.135/SP).
2ª corrente: com a revogação do art. 198, VI, do ECA, as apelações interpostas contra sentenças menoristas
devem ser recebidas, em regra, no duplo efeito, com exceção da hipótese prevista no art. 520, VII, do CPC, o
qual dispõe que os apelos interpostos contra sentenças que confirmam a antecipação dos efeitos da tutela são
recebidos apenas no efeito devolutivo (STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 292.200/PA). STJ. 6ª Turma. HC 301.135-SP,
Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 21/10/2014 (Info 553). STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 292.200/PA, Rel.
Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/08/2014.

1ª CORRENTE 2ª CORRENTE
Nos processos decorrentes da prática Existem inúmeras decisões em sentido contrário,
de atos infracionais, em regra, a ou seja, afirmando que, DEPOIS DA LEI N.
APELAÇÃO INTERPOSTA CONTRA A 12.010/2009 TER REVOGADO O INCISO VI DO ART.
SENTENÇA QUE APLICOU INTERNAÇÃO 198 DO ECA, A REGRA AGORA É QUE OS RECURSOS
SEJAM RECEBIDOS NOS EFEITOS DEVOLUTIVO E
DEVERÁ SER RECEBIDA APENAS NO
SUSPENSIVO.
EFEITO DEVOLUTIVO, impondo-se ao
adolescente infrator o cumprimento (...) Com a revogação do art. 198, VI, do Estatuto da
imediato da medida socioeducativa. Criança e do Adolescente, as apelações interpostas
contra sentenças menoristas devem ser recebidas
Apesar de a Lei n. 12.010/2009 ter no duplo efeito, com exceção da hipótese prevista
revogado o inciso VI do art. 198 do ECA, no art. 520, VII, do Código de Processo Civil, o qual
que conferia apenas o efeito devolutivo dispõe que os apelos interpostos contra sentenças
ao recebimento dos recursos, continua que confirmam a antecipação dos efeitos da tutela
a viger o disposto no art. 215 do ECA, são recebidos apenas no efeito devolutivo. (...)
que determina o seguinte:
(STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 292.200/PA, Rel. Min.
Art. 215. O juiz poderá conferir efeito Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/08/2014)
Suspensivo aos recursos, para evitar
dano irreparável à parte. (...) A Lei n.º 12.010/2009 revogou o art. 198 do
Estatuto da Criança e do Adolescente, que previa a
regra geral segundo a qual a interposição da
apelação geraria apenas o efeito devolutivo. Com o
advento da Lei n.º 12.010/2009, adotou-se a regra
do art. 520 do Código de Processo Civil, pelo qual o
recurso de apelação detém tanto o efeito
devolutivo quanto o suspensivo.
3. Em regra, não se admite mais a execução
provisória de decisão menorista impugnada por
intermédio de apelação. Dentre os casos que
comportam exceção à referida regra, verifica-se a
hipótese de superveniência da interposição de
recurso apelatório em face de sentença que aplicou
medida socioeducativa de internação, após o
deferimento de medida cautelar consistente em
internação provisória, nos termos do art. 520, do
Código de Processo Civil. (...) (STJ. 5ª Turma. RHC
41.359/MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
12/11/2013).

EXECUÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

Atos infracionais cometidos antes do início do cumprimento e medida de internação

O adolescente que cumpria medida de internação e foi transferido para medida menos rigorosa não pode ser
novamente internado por ato infracional praticado antes do início da execução, AINDA QUE COMETIDO EM
MOMENTO POSTERIOR AOS ATOS PELOS QUAIS ELE JÁ CUMPRE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA.
STJ. 5ª Turma. HC 274.565-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 12/5/2015 (Info 562).

Art. 45. Se, no transcurso da execução, sobrevier sentença de aplicação de nova medida, a autoridade judiciária
procederá à unificação, ouvidos, previamente, o Ministério Público e o defensor, no prazo de 3 (três) dias sucessivos,
decidindo-se em igual prazo.
§ 1º É vedado à autoridade judiciária determinar reinício de cumprimento de medida socioeducativa, ou deixar de
considerar os prazos máximos, e de liberação compulsória previstos na Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990
(Estatuto da Criança e do Adolescente), excetuada a hipótese de medida aplicada por ato infracional praticado
durante a execução.
§ 2º É vedado à autoridade judiciária aplicar nova medida de internação, por atos infracionais praticados
anteriormente, a adolescente que já tenha concluído cumprimento de medida socioeducativa dessa natureza, ou
que tenha sido transferido para cumprimento de medida menos rigorosa, sendo tais atos absorvidos por aqueles aos
quais se impôs a medida socioeducativa extrema.

No art. 45, caput e parágrafos foram traçadas as regras a serem seguidas no caso de superveniência
de nova medida socioeducativa em duas situações distintas, quais sejam:
 por ato infracional praticado DURANTE a execução da medida (regra do §
1º);
 por ato infracional cometido ANTES do início do cumprimento da medida (hipótese do §
2º).
O raciocínio do legislador foi o seguinte: se o adolescente já esteve na internação e ganhou o direito de ir
para um regime mais brando, isso significa que já passou por um processo de ressocialização e retornar
para a internação seria um retrocesso.
Quando falamos em adolescente em conflito com a lei, devemos lembrar que o objetivo da medida não é
punitivo (não existe pretensão punitiva), mas sim educativo, considerando que o adolescente está em
condição peculiar como pessoa em desenvolvimento (art. 6º do ECA), sujeito à proteção integral (art. 1º).
Ademais, deve-se recordar que a aplicação da medida socioeducativa de internação rege-se pelos princípios
da excepcionalidade e do respeito à condição peculiar do jovem em desenvolvimento (art. 121 do ECA),
segundo os quais aquela somente deverá ser aplicada como ultima ratio, ou seja, quando outras não forem
suficientes à sua recuperação.

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