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As escolhas de um Fidalgo – decisões matrimoniais e estratégias familiares na fidalguia


coimbrã (século XVIII)
Ana Isabel Ribeiro
DHEEAA-FLUC/CEIS20

O perfil social da fidalguia implantada na cidade e no seu território, no século XVIII, releva um
grupo relativamente coeso, unido por laços resultantes de escolhas matrimoniais decididamente
homogâmicas que, geração após geração, permitiram a constituição de uma densa rede de parentesco,
sobretudo entre as famílias fidalgas com uma implantação mais antiga e consolidada na cidade. Saliente-
se que, esta fidalguia não estabeleceu ligações matrimoniais, com a nobreza das Letras, bacharéis,
advogados, lentes da Universidade que se encontrava em plena ascensão nas instituições de poder. A
análise de redes de parentesco demonstra o distanciamento presente, pelos menos em termos de escolhas
matrimoniais, entre estas duas nobrezas da governança.
Os laços de parentesco de sangue e espiritual constituíram-se como instrumentos fundamentais
na apropriação e circulação de cargos (eclesiásticos, militares) e na manutenção do estatuto social e
económico das famílias, cuja lógica de relacionamento se estruturava no modelo reprodutivo vincular que
ditava destinos e comportamentos dos membros das casas nobiliárquicas, sendo por isso encarados com
extremo cuidado. Os desvios a este padrão são residuais – casamento homogâmicos e, em muitos casos,
endogâmicos, elevadas taxas de celibato entre os filhos segundos, vinculação do património familiar mais
relevante, pequena expressão dos bens patrimoniais livres e circulação geracional de cargos, sobretudo
eclesiásticos1.
No entanto, algumas histórias de vida acabam por relevar decisões assentes em interesses individuais
ou familiares que sobrepõem aos comportamentos expetáveis deste estrato da nobreza, sobretudo em
matéria matrimonial.
Vejamos o caso Filipe Saraiva de Sampaio e Melo (1695-1782)2, fidalgo da Casa Real3. Como um
membro relevante da elite local exerceu diversos mandatos como vereador da câmara de Coimbra até
1780, desempenhou os cargos de deputado dos marachões (1775), escrivão da Misericórdia de Coimbra

1Nuno Gonçalo Monteiro, O Crepúsculo dos Grandes (1750-1832), INCM, Lisboa, 1998. p. 340 e Enrique Soria Mesa, La
nobleza en la España moderna. Cambio e continuidad, Marcial Pons Historia, Madrid, 2007, pp. 119-122 e 157-158.
2Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC), Registos paroquiais de Coimbra, freguesia da Sé, batismos 1694-1713, fls. 13-
13v., assento de batismo de 23 de novembro de 1695 e AUC, Registos paroquiais de Coimbra, freguesia da Sé Nova,
obitos,1780-1802, fl. 37v., assento de óbito de 6 de julho de 1782.

3Alvará de Cavaleiro fidalgo com pensão em cevada e dinheiro, datado de 18 de março de 1719. Arquivo Nacional da Torre do
Tombo (ANTT), Registo Geral de Mercês (RGM), D. João V, liv. 10, fl. 390.
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(1744-1746; 1746-1747) e provedor da mesma instituição entre 1747-1748 e 1748-1749 e, apesar de


no ano de 1749, a Coroa ter mandado extinguir a mesa a que presidia, voltou a presidir a Misericórdia por
mais dois mandatos – em 1754-1755 e 1755-17564.
Em 1719, contava então 24 anos, casou com a sua prima D. Inês Luísa de Castro Ayala (1690-
1756)5 . D. Inês era filha de Joana de Sousa e Melo (irmã de António Saraiva de Sampaio, pai de Filipe
Saraiva de Sampaio e Melo) e de Domingos Duarte Ribeiro, desembargador da Relação do Porto e
conservador da Universidade, senhor do prazo de Vila Verde. Tratou-se, pois, do casamento de uma
herdeira, cujo noivo foi escolhido dentro da família, que, desta forma, manteve um importante património6
na varonia dos Saraivas Sampaios7. Da união resultaram cinco filhos – António Saraiva de Sampaio (n.
1720), D. Joana Bárbara Joaquina de Melo (n. 1725), João Saraiva de Sampaio (n. 1727), Luís Pereira de
Melo (n. 1729) e José Saraiva de Sampaio (n. 1731).
Durante a vigência do seu matrimónio, Filipe Saraiva de Sampaio e Melo manteve uma relação com
Ana Vicência Joaquina identificada por algumas fontes como uma serviçal, uma engomadeira da sua casa,
filha de José Simões da Silva, sapateiro e de Antónia de S. Bento, moradores no Quebra-Costas8, rua
vizinha de Sub-Ripas, onde Filipe Saraiva de Sampaio e Melo residia. Desta ligação nasceu António,
batizado em 9 de Março de 1756, na igreja de S. Pedro, para onde tinha sido levado pela parteira Angélica
Maria. A criança foi dada como filho de pais desconhecidos:

Aos nove dias do mês de Março de mil setecentos sincoenta e seis anos bautizou o padre Joam
Henriques de Carvalho cura nesta minha Igreja de São Pedro de Coimbra a Antonio filho de pais
incógnitos, o qual trouxe a bautizar Angelica Maria parteira moradora a Santo Antonio da Pedreira

Revista
4 Maria Antónia Lopes, “Provedores e escrivães da Misericórdia de Coimbra de 1700 a 1900. Elites de fontes de poder”,

Portuguesa de História, tomo 36, vol. II, Coimbra, 2002-2003, p. 215. Filipe Saraiva de Sampaio e Melo contraíra inúmeros
empréstimos à Misericórdia de Coimbra. O capital e juros em dívida obrigaram a que, em 16 de maio de 1753, consignasse o
rendimento do prazo de Vila Verde, património de sua mulher, como forma de pagamento da referida dívida. O contínuo acumular
de dívidas que, em 1762, já perfaziam 6 contos de réis, levaram a que nesse mesmo ano o domínio útil do referido prazo (o
senhorio directo era Mitra de Coimbra) transitasse definitivamente para a Misericórdia como forma de liquidação da avultada
dívida. Cf. Luís Filipe da Cruz Quaresma Elias, Misericórdia de Coimbra. Os irmãos, as suas práticas e a intervenção régia (1749-
1784), dissertação de Mestrado, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), Coimbra, 2006, pp. 32-34 e 92-
93).

5 AUC, Registos paroquiais de Coimbra, freguesia da Sé, casamentos, 1677-1731, fl. 149.

6 Do qual se destaca o referido prazo de Vila Verde que, em 1753, tinha um rendimento anual avaliado em 514.000 réis, Arquivo

da Misericórdia de Coimbra, (AMC), Registos notariais, livro de notas nº18, escritura de 16 de maio de 1753, fls. 1-4. Temos
notícia de outros filhos de Domingos Ribeiro e de Joana de Sousa Melo, contudo, ou não sobreviveram ou haviam ingressado
na vida religiosa, deixando D. Inês de Castro na posição de herdeira da Casa de seu pai.

7 As alianças consanguíneas eram comuns, tanto na aristocracia da Corte como na fidalguia provincial, acentuando-se quando
a administração de uma casa recaía no elemento feminino (Cf. Nuno Gonçalo Monteiro, O crepúsculo dos Grandes, cit., p. 120
e José Damião Rodrigues, São Miguel no século XVIII: casa, elites e poder, Instituto Cultural de Ponta Delgada, Ponta Delgada,
2003, vol. II, p. 611).

8 AUC, Registos paroquiais de Coimbra, Freguesia da Sé, batismos, 1737-1760, fl. 239v., 1761-1781, fls. 249v.-250.
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desta freguesia, foi padrinho Feliciano Marques Perdigão(?) morador em casa do R. Dr. Antonio Dinis
de Araujo desta freguesia de que fiz este assento que assignei dia mês e era ut supra.

O Prior Dr. José Rodrigues Mendes (assinatura)9

Em Novembro desse mesmo ano falecia D. Inês Luísa de Castro10.


A relação de Filipe Saraiva e Ana Vicência continuou durante a viuvez deste e, em 1763, foram alvo
de doze denúncias de testemunhas na visitação efetuada à paróquia da Sé de Coimbra, onde ambos
residiam. Condenados por amancebamento, em primeiro lapso, Ana Vicência foi punida com multa de 400
réis. Já Flipe Saraiva de Sampaio viu a sua punição ser remetida para as justiças das Ordens Militares, visto
ser cavaleiro da Ordem de Cristo11
Em 1766, nasce um novo filho desta relação - Joaquim – batizado também na igreja de S. Pedro, em
20 de Outubro, como filho de pais desconhecidos.

Aos vinte dias do mês de Outubro de mil setecentos sessenta e dois baptizou de minha licença o
Padre João Henriques Carvalho tesoureiro nesta Igreja a Joaquim filho de pais incógnitos a quem veio
trazer aqui a Angélica solteira parteira moradora à Pedreira desta freguesia forão padrinhos o Frei
Manoel da Cruz econimo nesta Igreja de S. Pedro, Madrinha a Senhora do Socorro por quem tocou
o mesmo baptizante de que fiz este acento que assignei. Dia mês e hera ut supra.

O Prior Thesoureiro Joze de Moraes Lopes (assinatura)12

Até aqui caracterizámos uma típica relação assimétrica entre o homem de estatuto social elevado, um
fidalgo, com uma rapariga do povo13. Mas esta situação conheceu uma profunda alteração - em 1777,
Filipe Saraiva de Sampaio e Melo decidiu casar com Ana Vicência Joaquina e legitimar os filhos nascidos
dessa relação. Num requerimento solicitando as devidas autorizações para as suas intenções podia ler-

9 AUC, Registos paroquiais de Coimbra, freguesia da Sé, batismos, 1737-1760, fl. 192v. Segundo o depoimento de uma das
testemunhas da Visitação de 1763, este menino era tratado como filho legitimo, como fidalgo, ensinado a andar a cavalo pelos
criados de seu pai que também levavam todo o sustento necessário a casa de sua mãe. AUC, Cabido e Mitra, Visitações. Livro
da devassa das freguesias da cidade de Coimbra de 1763, fl. 9. Vide a este respeito Guilhermina Mota, “Os ministros da Ordem
Terceira de S. Francisco de Coimbra no século XVIII: perfil social, famílias, redes de poder”, Biblos , nº 1, 3.ª série, 2015,
pp. 311-343.

10D. Inês Luísa de Castro faleceu em 10 de novembro de 1756:


Aos dez de Novembro de mil setencentos e sicoenta e seis fallleceo com todos os sacramentos, D. Ignes Luiza de Castro,
casada com Fillepe de Saraiva de S. Paio, morador nesta freguesia e esta sepultada na igreja do collégio de S. José dos
Marianos. Disserão que fez testamento. E por verdade fiz r fiz este assento dia, mes e anno ut supra. O cura Joseph de
Campos. AUC, Registos paroquiais de Coimbra, freguesia da Sé, óbitos, 1746-1774, fl. 52v.

11 AUC, Cabido e Mitra, Visitações. Livro da devassa das freguesias da cidade de Coimbra de 1763, fl. 54v.

12 AUC, Registos paroquiais de Coimbra, freguesia da Sé, batismos, 1761-1781, fl. 42.

13Cf. Joaquim Ramos de Carvalho Comportamentos Morais e Estruturas Sociais numa Paróquia de Antigo Regime (Soure, 1680-
1720). Reconstituições, Interpretações e Metodologias, Tese de doutoramento, Coimbra, 1997, pp. 170-171.
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se:
“Diz Felipe Saraiva de S. Payo e Mello desta cidade que ele se acha gravemente doente, e porque
teme se aumente a sua moléstia de sorte que não possa fazer o que lhe dita a sua consciência, que
ha de receber por sua legitima mulher a Ana Vicencia, natural desta cidade, e por que para haver de
se fazer necessário consentimento de V. Ex. e que dê Comissão para o sacerdote o receber, que só
assim ficara descansada a sua consciência e V. Excelencia como Bom Pastor deve acodir com a sua
Benção e semelhantes necessidades (...) Diz Felipe Saraiva de S. Payo e Mello Fidalgo da Casa de
S. Magestade que no tempo em que era viúvo teve a Antonio Saraiva S. Payo e Mello e a Joaquim
Saraiva de S. Payo e Mello filhos naturais de Ana Vicencia14, filha de Jose Simoes da Silva e de Antonia
de S. Bento todos da freguesia da Se, aos quais se lhe fez assento de baptismo por filhos de pais
incógnitos, porem como agora se acha casado com a sobredita sua mulher como consta em
despacho e certidão junta sirvasse mandar que o reverendo da freguesia de S. Pedro declare nos
assentos dos baptismos serem filhos do suplicante em beneficio do dito Matrimonio para por ele se
haverem por legítimos filhos.”15

O que levou Filipe Saraiva de Sampaio a alterar a natureza da sua relação? Uma das razões explicita-
se no requerimento acima transcrito – no momento dessa decisão (e do casamento)16 estava gravemente
doente e acreditando estar a morrer e, por isso, queria legitimar a prole nascida desta relação17. Contudo,
existia outra relação relevante – os seus filhos varões legítimos haviam falecido ou ingressado na vida
religiosa, por isso, sem a legitimação de António e Joaquim ficaria sem herdeiros para a sua Casa.

14Filipe Saraiva de Sampaio não é verdadeiro nesta afirmação, pois como demonstrámos, António nasceu ainda na vigência do
seu matrimónio com D. Inês de Castro e Ayala.

15AUC, Registos Paroquiais de Coimbra, freguesia de S. Pedro, batismos, 1761-1781, fl. 210v.-211v. Ver transcrição completa
no apêndice documental.

16O casamento de Filipe Saraiva de Sampaio e Melo com Ana Vicência Joaquina ocorreu, a 27 de Dezembro de 1777, no quarto
de sua casa, visto se encontrar acamado, tendo como testemunhas os cónegos Nuno Pereira Coutinho e Manoel Coutinho
Pereira Forjaz, seus primos. AUC, Registos paroquiais de Coimbra, freguesia de S. Cristóvão de Coimbra, Casamentos, 1773-
1860, fls. 7v.

17 Após o casamento os registos de batismo de António e Joaquim foram retificados:


Por despacho do Muito Reverendo Senhor Dr Provizor deste Bispado que se acha a fl. 210 do livro seguinte. Abri este
assento de que se faz menção a fl. 292v. que Antonio foy baptizado aos nove dias do mês de Março de mil setecentos
sincoenta e seis pello Reverendo João Henriques de Carvalho Cura desta Igreja posto por filho de pais incógnitos, e aqui,
em virtude do Despacho mencionado foi declarado filho legitimo em consequência do Matrimonio de Felipe Sarayva S. Payo
e Mello Fidalgo da Casa de S. Magestade e de D. Vicencia Joaquina, aquele assistente na Rua de Sob Ripas e aquela da
Rua do Quebra Costas desta Cidade. Neto paterno de Antonio Sarayva de S. Payo e Mello, natural de Montemor-o-Velho,
e de D. Felipa Luisa Coutinho, natural de Villa Nova de Anços, e Materno de Joze Simois da Silva e de Antonia de S. Bento
da Rua do Quebra Costas desta cidade, de que fiz este assento. Aos vinte e sete de Dezembro de 1777. O Prior Lourenço
Joze de Moraes Lopes (assinatura). AUC, Registos Paroquiais de Coimbra, freguesia de S. Pedro, batismos, 1761-1781,
fl. 239v.

Aos vinte dias do mês de Outubro de mil e setecentos sessenta e dois baptizou de minha licença o Padre João Henriques
de Carvalho tesoureiro nesta Igreja a Joaquim filho de Felipe Sarayva de S. Payo e Mello Fidalgo da Casa Real morador na
Rua de Sob Ripas desta Cidade e de sua segunda mulher D. Ana Vicencia Joaquina Sarayva da Rua do Quebra Costas desta
mesma cidade, nepto paterno de Antonio Sarayva de S. Payo e Mello Fidalgo da Casa Real, natural de Montemor-o-Velho
e de sua mulher D. Felipa Luisa Coutinho natural de Villa Nova de Anços e Materno de Jose Simois da Silva e de Antonia de
S. Bento da mesma Rua do Quebra Costas: forão padrinhos o Padre Manoel da Cruz e Nossa Senhora do Socorro desta
Igreja por quem tocou o mesmo baptizante de que fiz este assento que assinei Dia mês e hera ut supra. O Prior Lourenço
José de Moraes Lopes. AUC, Registos Paroquiais de Coimbra, freguesia de S. Pedro, batismos, 1761-1781, fls. 249v.-250.
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Mas Filipe Saraiva de Sampaio e Melo não faleceu, superou a doença e viveu até 178218, tendo que
testemunhar as consequências das suas decisões - Ana Vicência foi nobilitada, passando a ser referenciada
nas fontes como Dona Ana Vicência19. Por sua vez, os seus filhos legitimados conheceram um novo
estatuto – o de herdeiros de uma casa fidalga. António Saraiva de Sampaio e Melo, apesar de ser o filho
mais velho, não herdou a casa de seu pai, visto ter sido concebido num momento em que seu pai ainda
era casado com a sua primeira mulher. O herdeiro e futuro administrador dos morgados dos Saraivas
Sampaios, em Coimbra e Freches (Trancoso), foi Joaquim Saraiva de Sampaio e Melo, o filho mais novo de
Filipe Saraiva de Sampaio e Melo e de Ana Vicência, nascido após o pai ter enviuvado da primeira esposa20.
Quando Joaquim Saraiva de Sampaio faleceu, António Saraiva de Sampaio e Melo assumiu, então, a
administração da Casa de seu pai21.
O acesso de António Saraiva de Sampaio à administração do morgadio da família parece não ter sido
pacífica. Por volta de 1798, um parente seu, Sebastião de Saraiva de Sampaio Coutinho da Costa, senhor
da Quinta do Ferro, em Trancoso, disputou essa administração. Igualmente, segundo um requerimento
enviado ao Desembargo do Paço, em 1800, uma senhora, de nome D. Matilde Saraiva de Sampaio e Melo,
reivindicou direitos sobre os mesmos vínculos, nomeadamente sobre a Quinta das Sete Fontes, nos
arrabaldes de Coimbra, alegando ser neta de D. Inês de Castro Ayala, primeira mulher de Filipe Saraiva de
Sampaio e Melo. Nesse mesmo requerimento pede que António Saraiva de Sampaio, vereador da Câmara
de Coimbra, fosse citado para prestar esclarecimentos sobre a posse, que ela considerava indevida, do
referido morgadio22 Segundo podemos apurar, de facto D. Matilde era filha de José Saraiva de Sampaio e

18 Em o anno de 1782, aos 6 dias do mez de Julho em a Rua de Sobripas desta freguesia faleceo com todos os sacramentos
o Illustrissimo Filipe de Saraiva de Mello, casado que foi com D. Anna Vicencia. Fez testamento e foi sepultado na igreja do
collégio de S. José extramuros desta cidade. E pera constar fiz este assento que assignei dia mes e anno ut supra. O cura José
de Moura. AUC, Registos paroquiais de Coimbra, freguesia da Sé Nova, óbitos, 1780-1802, fl. 37v.

19Numa lista de devedores presente no inventário orfanológico do cónego António de Campos Branco, realizado no ano de
1787, Ana Vicência Joaquina é referenciada como D. Ana Joaquina Vicência Saraiva (Cf. AUC, Inventários Orfanológicos, inventário
de António de Campos Branco (1786-1795), fl. 43 ou no seu assento de óbito, datado de 1791:
No anno de mil setecentos e noventa e hum, em os vinte dias do mes de Mayo na Rua do Quebra Costas desta freguesia da
Santa Sé faleceo com todos os sacramentos D. Anna Vicencia Joaquina Saraiva, viúva de Filipe Saraiva de Sampaio. Foi sepultada
na igreja do collégio de S. José extramuros desta cidade. E pera constar fiz este assento que assignei dia mes e anno ut supra.
O cura José de Moura. AUC, Registos paroquiais de Coimbra, freguesia da Sé Nova, óbitos, 1780-1802, fl. 96.

20Joaquim Saraiva de Sampaio e Melo do Amaral tornou-se fidalgo cavaleiro da Casa Real, por alvará régio de 30 de março de
1787. Em 1788, era cadete do regimento de cavalaria de Castelo Branco (Cf. ANTT, RGM, D. Maria I, liv. 24, fl. 94).

21Essa mudança é visível nas informações dos arrolamentos de 1796 e 1804. Em 1796, o seu património foi avaliado em 2
contos de réis e, em 1796 é referido que que tem bens no valor de 50.000 cruzados (Cf. ANTT, Desembargo do Paço, Repartição
da Beira, pautas, maços 1049 e 1058.

22Cf. Pedro Quadros Saldanha, Trancosanos: História e genealogia. Séculos XVI-XIX, ed. Prova da Casa, 2010, volume 1, pp.
337 e 608-609; ANTT, Desembargo do Paço, Repartição da Estremadura, Corte e Ilhas, Próprios, maço 708, doc. 104).
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Melo Ayala, filho de Filipe Saraiva de Sampaio e Melo e sua primeira mulher, D. Inês de Castro e Ayala.23.
Esta senhora havia casado, em 10 de Novembro de 1793, com Miguel Diogo da Gama Lobo e Almada,
tendo nascido desse casamento vários filhos, entre os quais António Lobo da Gama Saraiva de Almada,
em nome do qual surge, em 1817, um anúncio da Gazeta de Lisboa onde se podia ler:

“Arrenda-se o Morgado de Trancoso e Treiches (sic), pertencente a António Lobo da Gama Saraiva
de Almada: quem o pretender dirija-se ao Doutor João Henriques Ferreira no Rocio nº 60”.

Gazeta de Lisboa, nº 3, sexta-feira, 3 de Janeiro de 1817

Este anúncio pode indiciar que o herdeiro de D. Matilde conseguiu concretizar a sua pretensão ao
morgadio dos Saraivas Sampaios em Freches, por via da justiça, ou eventualmente, por herança, após o
falecimento de António Saraiva de Sampaio e Melo.
Apesar das circunstâncias do seu nascimento, António Saraiva de Sampaio e Melo conseguiu afirmar-
se no contexto da Câmara da cidade como vereador nos anos de 1797, 1800-1806, 1808-181024. Note-
se, contudo, que a sua entrada nos arrolamentos só ocorreu quando as opções aristocráticas da cidade
começaram a mostrar limitações, pois em anos anteriores, como o de 1783, num arrolamento
marcadamente fidalgo, e apesar de seu pai já ter falecido, não foi arrolado para vereador, o que pode
indicar que muitos dos fidalgos mais “tradicionais” o poderiam ver como uma segunda opção de
recrutamento dada a sua origem ilegítima.
Apesar da exceção destes trajetos pessoais e familiares, a própria história de vida dos atores (neste
caso o facto de António Saraiva de Sampaio e Melo não ter tido geração) acaba restituir o percurso da
família ao padrão inicial, isto é, à linha de sangue do primeiro casamento de Filipe Saraiva de Sampaio e
Melo, à geração que, aparentemente, cumpria o trajeto socialmente esperado desta família fidalga.

Arquivo distrital de Lisboa (ADL), Registos paroquiais de Lisboa, freguesia de S. Sebastião da Pedreira, casamentos 1792-
23 Cf.

1811, fl. 24).

24 Arquivo Histórico Municipal de Coimbra (AHMC), Atas da Câmara de Coimbra, 1800-1806; 1808-1810.

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