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:) Panmstsme DE CUNHA seems

]. lntrerluçãe

Em 1333, a beim de nerfazer cinquenta anes, .Iese Maria da Cunha Seir-ras


(l 3364 395), num ensaiet que eenstitui uma das mais elaras sínteses de seu
pensamente filest'rfíee e de sistema espiritualista que ideara e vinha espende, há
duas dêeadas, em livres e artiges de indele espeeuIativa e literária., netava, num
tem emargurade que, un entante, nãe eseluia a een fiança ne valer da sua ebra:
“e pessivel que e pais nae de impertãneia aes meus eserites e a este sistema;
entra geraçãe vira a dar atenção a um trabalhe eelessal, que nae pede dermir ne
pó das livrarias"I.
Ae eumprir—se um séeuie sehre a merte prematura de infeliz e selitárie
filesefe beirae, e-nes dade veriãear que as suas espeetativas nae eram despre-
vidas de fundamente, |:u-eis1r desde que, em mendes da decada de 4D, Jese Mari-
nl'le1 e Delfim Santes-“ª ehamaram a ateneâe para e interesse e valer da ehra de
eriader de sistema pantiteista e que, alguns anes mais tarde, Álvare Ribeire, e
seu pri meire interprete, nae hesiteu em atribuir-lhe um lugar equivalente ae de
Sampaie Brune e de Leenarde Ceimhra ne quadra da fiiesefia pertuguesa ",
tem side ereseente a atençae que, em Pertugal e ae Brasil, vem sende atribuída

' IJ Fantasia-me na Arte Lisbes, IRES, preleget p. XXXII.


* t? pen.-rememe _filesejee de Leermrde Ceirabra, Perte, lil—lí
“ Úpsnsnmenrejii'esejlee em Penagei. Lisbee, IME, reeelhide, minute, ne vel. idas
"Duras Eempietas". Lisbea, "ITI,. pp. 43? e segs.
" Caeira Setres e :: jilesefrn pertugaese. na “Revista Brasileira de Filesefia“. n.“' 34. Eae
Pauie, liii'iEL reselhide, aetualmente, ne velnme de disperses sis per-tes de eealreer'meare. Lisheai

Revista Palmªres:: ele Filesejía. 5] [1993434151]


423 Revista PoWagner:: de Ffio-septo

a obra especulativa de Cunha Seisasª, havendo alguns dos seus livros e ensaios
mais signifieativos sido, finalmente, objeeto de reeente reedição.
Na verdade, as investigações levadas a eabo, durante o ultimo meio
séeulo, sobre a filosofia portuguesa de oitoeentos, permitem-nos eon—
eluir que, eom Silvestre Pinheiro Ferreira, Amorim irªiana, Antero de
Quental e Sampaio Bruno, Cunha Seisas eonstitui uma das figuras de
mais alto signifieado espeeulativo eom que eonta o nosso pensamento
do séeulo XIX e o filósofo em euja obra, nesse período, o espiritualismo
eneontrou mais aeabada, sistematiea e eoerente expressao.
Este earaeter de pensador sistematieo, que o singulariaa no quadro da
filosofia portuguesa eontemporânea, no qual eom ele apenas empareeiram Sil-
vestre Pinheiro Ferreira e Leononardo Coimbra, e tanto mais notável quanto, ao
eontrario do que oeorre eom o filósofo de Ú Criaefonfsmo, eujo pensamento,
de índole esseneialmente dinâmioa, solieu uma evolução amplifieante, Cunha
Seixas, logo nas suas primeiras obras espeeulativas'ª, apresenta o seu sistema
filosofieo perfeito e aeabado, eomo um todo unitário e eoerente, que ao longo
dos anos irá esplieitando e desenvolvendo, a partir do núeleo de teses entao
enunciadas.
No plano formal, porem, a obra espeeulativa de Cunha Seisas, inieiada
por um livro inspirado, que, pelo reeurso frequente ao elemento imagetieo e
simbólieo, lembra, por vezes, embora num nível mais pobre, o Leonardo Coimbra
de A Alegrar, e Dor e o Grupo, segue, logo em seguida, dois eaminhos diver-
gentes: arrastado, por um lado, pelo pendor exeessivamente logieista da sua
fonnaeãojurídiea e do pensamento alemão, eorn que assiduamente eontaetou, e
duvidando, talvez, da legitimidade filosofiea do reourso a expressão de tipo
poétieo e oratório, o eriador do sistema pantiteísta, eomo, depois dele, Antonio

IQET, pp, 213 e segs. Neste ensaio, que, inieiairnente, terá sido redigido para eonstituiro prefácio
a uma antologia de testes do filósofo pantiteista, eneomendada por Antonio Ferro, para a eoleeeao
“ldearium'ª, na qual Álvaro Itlheiro publiearaja um volume antológico de Sampaio Bruno [194%
esereveu o Autor de A razão animado: “Ho "pantiteismo' de t'."unha Seixas. no “messianismo” de
Sarnpaio Bruno, no “uiaeionismo” de Leonardo Coimbra eneontram-se os elementos que permi-
tem habilitar a filosofia portuguesa a esereer a missão que porventura lhe esteja destinada“.
* Eminem-se, entre outros. os estudos que lhe dediearant, em Portugal, além doja aludido
Álvaro Ribeiro, Jose Marinho, Antonio Quadros, Finharanda Gomes. Eduardo Abranehes de
Soveral, José Esteves Pereira e 1. lvl. Crua Fontes e. no Brasil. Rodolfo Wenieo Fistinga, autor
de uma tese de doutoramento. apresentada, em 1933, a Universidade Gama Filho, do Rio de
Janeiro, sobre si doutrina pontffefsfrt segundo Jose Maria da Cunha Seixas. ate hoje. o trabalho
mais eompleto e desenvolvido sobre a vida. a obra e o pensamento do ineompreendirlo e longamente
esqueeido filosofo português.
'ª' :=! FÉH'ÍI ou a imortalidade do afeto humano, Lisboa, IET'Ú, Prfnefpfos Gerais de Fffosofeo
da Historia, Lisboa, Iii—73, Euforia de Ciências Contemporâneos, Porto, 1319.
Bros Teixeira —— D Pernoiterisoto de Caeiro Seitas 42?

Sérgio ou Vieira de Almeida, preferirã reservar para os tentãmes literários da


ficção em prosa, retardadamente ultra-romãntica, das F artrose-ss de Amor (l 38 I)
ou do verso declamatorio, artiticial e de mau gosto de [J Pootr'ter'smo no Arte
(1333) o uso da imagetica e da simbolica e passar a expor a sua filosofia atraves
de uma pouco cuidada e descolorida prosa quase forense, deselegante e fria,
asceticamente lógica, de um discursivismo por vezes de suspeito rigor, em cuja
aridez raramente viceja a flor de uma imagem ou surge s clara lua de uma
metáfora, em geral de gosto literário mais do que duvidoso.

2. D Pantitehmo

Ú pontiteismo de Cunha Seixas, cuja designação pretende vincar, em


oposição quer as diversas formas de panteísmo, quer ao panenteismo de Krause,
que a sua matris ou ponto de partida se encontra na intuição primordial de que
Deus está em tudo, como centro de todas as coisas e nelas manifestado“, apre-
senta-se como uma rcnov ada espressão do espiritualismo, herdeiro de uma Ii-
nha de pensamento antigo e moderno, que vem de Platão e Aristóteles a Des-
cartes, Malebranche, Leibniz e ao idealismo alemão, atento às conquistas cientifi-
cas do seu telnpo mas adverso as suas abusivas projecções ou pretensões
metafisicas.ª
O sistema pantiteista situa-se, tirndamentalrnente, por um lado, na conti-
unidade da tradição krausista coimhrã - de que, até certo ponto, e um original e
pessoal prolongamento ou desenvolvimento — e, por outro, em oposição ao
positivismo eomteano e à versão monista e materialista que, entre nos, lhe deu
Teofilo Braga, se bem que a crítica espiritualista de Cunha Seisas não tenha
também deisado de incidir, mais de uma vez, sobre a espressão portuguesa de
outras formas de pensamento suas contemporâneas, de sinal contrãrio ao seu
próprio, como o evolucionismo, o materialismo ou o atomismoª'.

? t'J Fontiteismo na Arte, prologo, p, it'll, Estudos de Ltteromro e Filosofia, Lisboa, 1324,
p. 31] e Principios Gerais de F filosofia. Lisboa, 1593. E 331.
* Liceubropães Históricos, Lisboa, IBES, pp. 39-41]. Cf Galeria de Ciências Contemporâ-
neos, ['.-I?? e Principios Gerais de Fífosofro, «H 33" e seguintes.
“ Ú primeiro e criticado, juntamente com o positivismo, logo nos Principios Gems de
F iiosojic do Htsrdrtc. pp, 31 e seguintes, e na Galeria e, mais tarde, a propósito da Fiiosojio do
Existência. de Domingos Tarroso, nos Ensaios de Crítico Filosofia:-o, Lisboa, 1333, pp, 135 e
seguintes- Contra o atomismo se manifestará o pensador, não so na aludida critica e Domingos
Tarroso, como na apreciação do pensamento espresso por Fonte Horta (Estudos da LÍIEramra .E.-
Fitosofm, pp. 13? e seguintes].
43!) Revista Faungrrcsn da Fi inscji::

Diucrsamcntc, pct-cm, dc quc accntcccu ccm c scu cclcga c campanhcis


rn dc algumas lidcs litcrárias c lutas académicas Antcrc dc Qucntal '", quc tcvc
a seu pri mcirc cc ntactn cum a prchlcniaiica filosófica apcnas nc ann lcctivn dc
I85 3-59, quandc frcqucntcu c primcirc anc da Faculdadc dc Dircitc dc Ccimhra
c, na cadcira dc Filcsclla dc Dircitc, fci aluna dc Jcaquim Maria Rcdrigucs dc
Brita ( 1322- [ 833L c mais mctaiiísicn dns nnssns krausistas' ª, cuja pcnsamcntn
iria influenciar, dccisivamcntc, n pcrcursn cspccnlaliun dc jnvcm cscclar açori-
anc'ª, Cunha Scisas. quandc, nc anc scguintc, trcccu as Facaldadcs dc clcgia
c dc Filcscfia (cm qua ingrcssara um ann antas) pclcs cstudcsjurídiccs c ausiu
as lições da mesmo Rndrigucs dc Brita, cantavaja 23 anca c vinha munida dn
ari-lido cnsinn filosófica c tcnlúgicn própria dc qucrn sc dcstinava à carreira cclc—
Elástica c rcccbcra crdcns mcncrcs alguna anos antes”.
Sc parccc, hnjc, incgiivcl quc tantu c ruma cspcculatiuc dc Antcrn cnmn
c dc Cunha Scisas fcram prcfundamcntc mamadas pclc magistéric dc Rcdriguca

“* Sc hcm quc, cm carta cscritacm vila da Enade, na sarau dc IEEE. a Ana dc Qucntal, Aatcrc
ac rcilra a Cunha Scisas cam um ccrtc impacicntc distanciamcntc [“Ecccbi ccm cfcitc cs liarcs da
dita Cunha Ecisas c uma carta dclc, a qual nan rcspcndi ainda par aan:- tcr pedida ler as livrcs, a quc
farci Inga quc passa, c cniau lhc cscrcucrci. Emi-cicuta, vista quc asta tac dcsasscsacgadcc c Jaci
nuc- lhc diga ista da minha parlc, cm farma dc dcsculpa, acrcsccntandc quc dcsrlc já agradcca a
fincaa da cima.. c quc sc a man calada da minha cabcca ncstcs últimas tcmpns mc icm impcclidu
da ca lcr, tantc mais quantc dcscjc lc-Ics cam tada a aicncac"), durantc c tcmpc rlc Ccimhra
parccc lcr havida alguma inlimidadc cntrc amb-cs. paia nan sa Amara cciaharc-u nas lnis númcrcs
publicadas dc Úácndc'micn. currcspcnrlcntcs a Marca, Abril c Main dc IEG'IL acmanariu fundada
c dirigida par lÉ:.u'lila Sair-ias, cama. a partir da 4.” ana da Faculdade [cm qua Ancara rcprns'cu na
ana lcctivc dc 136 [4:32], passaram a scr ccncliscípalas, tcncla cs dais ccncluirlc u cursa dc Dircita
cm 1354. ccmc, ainda, Cunha Scisas fui um das subscrircrca na Mnnvcsrc das ssiadcnics da
Unfaarsidadc da Camara a cpmmc ria.-arruda dc País. redigida par Antcrc. nc ana lcctiarc dc
IEEE-El cm quc frcqucntasram ambas c 4." ana dc Dircitc, Ú afastamcntc cia auta-r das [lidas
Mudam-nas rclarivamcntc au iilcscfc pantitclsta pcclcra dcucr-sc, pcwcntura, a critica pcr cal'c
fcita aa ihcrismn na cnsaic final da livrc Esircíns Caimbra, 1364, c a pauca simpatia quc. camc
liberal, manifcatuu pela ancialiamc dc Prundhnn. na Guiar-in de Ciências Ccnrcmparáncus.
" A primcira parta da Filas-aja a'c Dir-aria dc L Mr Rndrigucs ric Brita ['Cclmhra, IEE? c
1371] cm ccnstituida pcr uma lcnga "lntraduçãc", qua ccrrcspcnclia. aprcsimacamcmc, a mctadc
dc sclumc, c cndc cram ahcrdarlas anca-cs Fundamcntais dc carrcpm'agic jilcsájcc (as rclaciics
cnirc a alma c c curpci as faculdadcs da alma, as principics da fazia, c scntimcntc, a vantadc, a
lib-cn:"ladc, a imcrtalidadc da alma], dc anca [dctcrrninacac da principia suprcma das acções huma-
nas, i'crmas gcrais dc dcvcr) c rlc rccdicam (c mal", a csistência dc Dcus].
“ Cfr. A. Bram Tciscira, Raica: bcasísrns dc pairar-mania dc Anrcrc. nas “Actas da Enn-
grcsac Antcrianc lntcmacicnal“. Punta Dclgada [aas c acata rcvista, lama HLVII, fasc. 2, ID?].
“" Cfr. Fcrrcira Dcusdadc, “ªl—Icticia Magnifica dc aulcr“, ncs Frfacnucs Garcas da Friascjicr
dc Cunha Suissa. ppc JCJ-[Il c scgs. c Rcdalfa Dcmcnica Piscinga. A danifica pnnrílcíalc da Jaca
Maria da Cunha Scirus. pp. [5 c scgs.
Bras Terrear-a - Ú .ªs-aaa isme da Cunha Sarh'as as:

de Brite'ª, não pode, perém, ignerar-se a influência que a significativa diferenca


de idades era que tentaram centacte cem e pensamente de mestre [transista e
as muite diversas circunstancias biegraflcas de um e de entre des futures filese-
fes vieram ater nes seus destines especulativas
Na verdade, se, ne jevem açeriane reeém-saide da adelescência e da
pacatea previnciana da sua ilha atlântica, a efervescência intelectual de neve
ambiente ceimbrãe preveceu uma “especie de revelueãe intelectual e meral“,
que fez ruir as frágeis bases sentimentais da crença tradicienal em que fera
educade e lançar e seu espírite, “naturalmente religiese", num “estade de dt't-
vida e incerteaaªª”, ne ja adulte e amadurecida escelar beirãe, a tre-ca des estu—
dea teelegices pela ciênciajurídica parece ter ficade a dever-se mais a metivea
de erdem sentimental que, perventura, lhe revelaram a sua falta de vecação
para e sacerdecie de que, prepriamentei a perda da fé católica”, a qual se terá
ecerride bastantes anes mais tarde, frete de desenvelvimente da sua rede:-iae,

" Deis pentes impertantes cabe rceerdar aqui. Rct'ere-se e primeire e diferente atitude da:
deis pensaderes relativamente ae mestre eemum. pela. enquante Antere nenhuma vez a ele se
referira na sua ebra eu na cerrespendência ate heje eenheeida. e eriader de sistema pantiteista
prceeupar-se-à em esclarecer que a mntaaiidaa'e de .rar-vices que, segunda Redrigucs de Brita,
censtituia e principia eu a fórmula de direita nae & a de Freudhen, pais e prefesser eenimbricense
era espiritualista na mais aite grau, pele que, segunda e seu pensamente filesefiee-jurldiee, a
mutuaiidade de services precederia da natureza secial de hemem e seria reclamada pele direite
(Galeria de Ciaaeias Cemsemeraneas. pt It'll). Per sua vez, e segunde aspecte a salientar dia
respeite a circunstância de es primeiras escrites especulativee de Antere e de Cunha Seixas
versarent ambas e prehlema da imertalidade da alma humana, se qual deram selecae identica
apeiades em maumentes semelhantes aes que usara Redrigues de Brite. Cfr. Redrigues de Brita,
Fifasajia de Direita. 2.' ed. Ceimbra, lETl ,, ãe: Zºlª-Eªi ] * Antere, Ú seara-nente da imerl'at'r'd'ade,
IBGE e Cunha Seir-Las, .a Féatr eu a intermediada da alma humana.
" Carta a 1li'i'ilhelnt Steck. de H de ]'vlaie de ISEL em Cartas. vel. ll. erganizaeae de Ana
Maria Almeida Martins. Liebe-a 1939, pp 333 e segs Cfc A. Em: Tel:-reira, al ideia de Dear em
Amara de Cinema!, nesta revista. teme L, fases. 1-3, I?ll-lt
"' He seu pri meire livre,, Estreias-. publicade em Ceimbra, em 1864, ne ane em que eencluiu
e curse de Direita, e e qual reúne testes pectices e breves ensaies iilesdiices, escrites entre IBH
e aquela data. revelawee ainda uma elite de fielmente crista (aceita-eae eapressa da ideia de Criaáe,
de encaraaeae de Verba redenter. da divindade de Jesus, quaiii'ieacae de cristianisme cerne "divi-
na religiae“ que eentribuiu, decisivamente, para a revelacae da verdadeira natureza e fim de
hemem e para impar es supremes vaIeres da liberdade, da igualdade e da fraternidadet, que, ne
entante. nae hesita em criticar alguns cempertamentes históricas da Igreja1 per menes cenf'ermes
ae espirita e a verdade essencial da mensagem. de II'Zriste. ae mesme tcmpe que, tente nes peemas
Resignacae [ ] sse] e Na paz da tamara asset, de acentuade reeerte ultra-remantice, cerne nas
presas peéticas de mesma cariz, reunidas seb a significativa epígrafe de Lamentações [IEE-cid),
em especial nas intituladas Saudade e a última entre de vida, se exprime a preferida e sentida
magna per uma paiaae nae cerrespendida pela mulher amada. Ha Ferris. puhiicada seis anes
dep-eis,, nae se encentra, também. qualquer critica ae cristianisme, que, pela centrarie. e valeriaade
pele pensader eeme impertante elemente da sua argumentacae a fever da imertalidade da alma
humana
432 Roi-isto Portuguesa da Fifosojo

como o documcnta a scrcna critica filosófica do cristianismo a quo proccdcu


por 1rolta dos SD anos"r c a qual ucio a coincidir, cm boa parto, com a quo, duas
décadas autos., amorim Viana [13224 90I) Ic'rara a cabo na sua obra capital".
Por outro lado, a ruptura dc Cunha Scisas com a religião cristã parccc
hascr—sc proccssado scm dramatismo, nao pondo nunca cm causa a csistcncia
do Deus, a solucao tci sta ou o rcconhocimcnto do supcrior 1ralor otico do cris-
tianismo_
Sendo incga'rcl nao so o rcspcito quc Cunha Scisas nutria por Viccntc '
Fcrrcr Neto Paiva c por Rodrigucs dc Brito"i como a csistência dc grandc con—
scrgência cntrc o pantitcismo c a vcrsao dada ao krausismo por aquclcs
juristilosofos conimbricenscs, cm aspectos csscnciais, como a oricntacao on-
tognoscologica gcral, a concepção do Absoluto, o pro-ocaso triadico do movi-
mcnto do scr c do pcnsar, o problema do mal ou da imortalidadc da alma ou o
conccito dc dircito c o scu iiindamcntojusnaturalista, não pode ignorar-sc, no
cutanto, quc o nosso filosofo dirigiu discrsas críticas ao sistcma dc Krausc.
A primcira dcssas criticas visa o como da doutrina krausista, o
pousntcr'srno ou a concepção do quc ““tudo é Deus“, do uma Deus não é scnão
o todo das coisas, a soma ou o produto do todos os scrcs do mundot pclo quc o
próprio Dcus é o mundo o nada mais há csccpto Dcus, sc hcm quc os scrcs scjam
csscncialmc ntc distintos dc Dcus, pois o scr divino, scndo a unidadc puta c sim-
pics da caistência, não consistc cm coisa alguma do linito, cmbora tudo o quc &
finito scja contido na unidadc divina c o uno soja também tudo cm si o por si.
A csta conccpçâo contrapunha Cunha Scisas o scu FEHIÍIEÉSMD, filoso-
lia cspiritualista c dualista quc, do mcsmc passo quc rccusa'ra quc tudo sc con-
têm na unidadc divina, afirma quc “Dcus csta cm tudo", pois é o ccntro do tudo
quanto csistc c sc manifesta cm todos os scrcs, o quc implica, cntao, admitir a
distinção csscncial cntrc cspirito c matéria c cntcndcr quo tudo subsistc por
Deus como sua causa sobcrana.
Dcsta primcira crítica ao pancntcísmo dc Krausc decorria, dircctamcntc,
a segunda, quc tinha por alvo o modo como o fiiosoiio alcmão cntcndia as lcis
primordiais dc dcscns'oivimcnto do universo c da razão o so consubstauciariarn
na tri adc anidrido, vor-iodado a harmonia. Dra, scgundo Cunha Seixas, cm-
bora Krausc nao afitmc caprcssamcntc a saricdadc do Deus, a circunstância
dc scr o mundo cm Deus o não distinto dclc, implicaria que a varicdadc tivcssc
de estar uclc, o quc sc ihc aiigurava incouciliávcl com a idcia dc unidadc divina.
Assim sc, segundo a doutrina pantitcista, Dcus ou o Absoluto, uno c distinto da

“' Lumar-ação.:- Históricas. pp. I :: scgs.


" Dsjêso do racionalismo oa auditar aaja Fono. ião-E+
"' Guiar-io da Ciências Contemporâneos. p, 291+
Bree Teher're - Ú Pemireisme de Caribe Seixas 433

natureza, nela se manifesta, nõe há variedade,]á que esta é própria de eentigente,


pele que sustentava que & tríade krausista deveria substituir-se uma eutra, de
mais eeerente e universal sentide entelõgiee e teedieeiee: ser, meeifesteçde e
hermenieª“.
Mais pretiunda e reiterada era a epesieõe eritiea de iilõsefe pantiteista ae
pesitivisme, que severamente eensiderard “false nas bases, eentraditerie eent
es seus prõpries prineipies, degmatiee na fenna e erreuee na essêneiaªª.
Esplieitande as razões de tõe radieal eendenaçãe da deutri na que,
ereseentemente, deminava e munde eultural e eientiiiee pertuguõs e imperava
ne nesse ensine universitarie e ne Curse Superier de Letras, Cunha Seir-ias neta
que um sistema que apenas admite faetes e leis e se apeia unieamente na es-
periõneia, deisande na semhra as primeiras e fundamentais questões memiisieas
e preeura espliear e superier pele inferier nõe pede deixar de ser alge de gres-
seire, peis esqueee eu i gnera que nãe se a experiêneia, sende variável, eentin-
gente e frag-i [, nõe pede, se per si, fundar a eiõneia, eeme tede e eenheei mente
de munde esterier depende de ideias da rasãe humana, eeme as de eausal idade,
de erdem e de harmenia, sem as quais a esperiõneia nãe seria, sequer, pessivel.
Ú eriader de sistema pantiteista eentestava, ainda, a falsa psiee Iegia em
que se fundava a deutrina pesitivista, a qual, partinde de dades meramente iisi-
eldgiees e pende inteiramente de Iade as indicações da eenseiõneia, aeabava
per eent'undir eu identitiear a alma eem e eerebre, que dela e mere instrumente,
vinde, desse mede, a eenstituir um verdadeire materialisme, eentradisende, as-
sim, de faete, a eselusõe da metafisiea que prepugnava eeme um des seus
aspeetes timdamentais.
Também a lei des tres estades, que denemina “e temarie de Cemte",
mereee a Cunha Seixas dura refutaçâe eritiea, peis, alem de a eensiderar
degtnátiea, per tetalmente eareeida de preva, se lhe atigurava desmentida eu
eentrariada pela própria Histeria. Cern efeite, segunde e filõsefe pantiteista,
desde que existiu pensamente, existiram a eesmegenia e a teegenia religiesa, ae
[ade da metafisiea e da esperieneia, em eenstante eee'sistêneia. Per entre Iade,
a pretensa lei des três estades, alem de imp] iear uma petieõe de prineipie, peis
parte da erença, indemenstrada e indemenstrável, de que teda a tee-Iegia e tecle
a metafisiea e errõnea e se e pesitive, a suposta realidade uniea des faetes e
verdadeira, eenstitui uma insutieiente filesefia da história, ae referir-se apenas
ae eenheeintente, deisande de fera tedas as eutras manifestações da aetividade
humana ne seu inee ssante desenvelvimente. Aeresee que a esta lei está

ª" Emies de Critic-e Fi'iesdji'ee, pp. 265 e segs. e 21:19. Cfr. Galerie de Ciencias Centempm
reineee, pp, 233 e segs.
" Galerie de Ciências Centeniperdnees, p, 52.
434 Revista Portuguesa de F r'lorojin

subjaoente uma eoneepeão reoti linea e inteiramente determinista do progresso,


que eontraria, frontalmente, a esistênoia de leis morais e juridieas absolutas e
permanentes e de leis logioas finas e perfeitas, invariaveis e igualmente absolu-
tas, bem como a esistEneia da virtude na eonsoieneia e na intenção moral huma-
na, dependente da liberdade e da vontade“.
Como espressão portuguesa do positivismo, a obra e o pensamento de
Teófilo Braga [l 8434 924) serao? apos o insuoesso no eoneurso para professor
do Curso Superior de Letras”, em que foi preterido por Consiglieri Pedroso
[l 85 14910), esoritor mais jovem e disoipulo do autor dos Troços gerais de
Filosofia Positivo ( ! BTT), o alvo preferido de uma oritiea repetida, eonstante,
obsessiva, em diversos trabalhos posteriores do filósofo pantiteista. Assim, para
além de haver dedioado uma das suas obras mais significativas e bem infonna—
das a análise erítioa da organiza,ção e do ensino do Eurso Superior de Le-
trasªª, que Teofilo então claramente dominava, desde o afastamento temporário
de Jaime Monizí lEH—TB) e do inesperado faleeimento de Augusto Soromenho
(l 873), Cunha Seisas, apesar de aii rmar ter antigo afeoto ao autor da Historia
do Romantismo ent Porrngnlºªe de manifestar algum protoeolar apreço pelas
obras do infatiga'vel investigador mieaelenseªª, nao so não deisara de advertir
que na missão de análise não eonheee senão a verdade“, eomo notará, mais de
uma vez, que Teofilo & monista material ista e não verdadeiramente positivista,
eomo se proclamava,r e que ajunçâo do positivismo oom o monisnto — que é um

ª Prinoipios Gerais da Filosojia da Historia, pp 34 e segs. e 53 e segs“ Galeria de Ciências


Contemporâneos. pp. 45 e segs" Ensaios de Critic-n F ilosdjien. pp, 32 e segs- e 59 e segs", Estudos
de Literatura e Fiiosojin. pp. I I I e segs. e Principios Ger-ms da Fdesafia. ª 314 e segs
“' Cunha Seixas eoneorreu a professor de |[:urso Superior de Letras. em 1373, oom a disser-
tação Princípios Gerais de Filosojin dn História.
“ Galeria de Cirene-“ins Contemporâneos.
“ Ensaios de Cri! ion Fi Enso-Fen. pt II.
ª à obra de Teot'llo Braga dedieou o pensador quatro longas eritieas reunidas, depois. nos
Ensaios (“Historia do Romantismo em Portugal". ppr I | e seguintes e “Questoes de Arte e
Literatura", pp. 29 a seguintee nos Estados (“Miragens seculares", pp 72 e seguintes] e nas
Leonor-ações Históricos, (“Historia universalªr pp. rs e seguinteslr
Ao eonelnir a primeira eserevera que a obra que aeabara de analisar “salvos os desmandos"
que assinalara, "fas honra ao seu autor e e muito digna de leitura e de estudo. e por isso a o sr. T.
E. ore-dor do respeito público pela ter escrito“ (p. 23). De igual modo. no final da segunda eritienr
deeIaraªque o livro do Sr. Teofilo revela vastos eonheeimentos. nao de filosofia., mas de literatura
e e muito digno de ler-se“ [p TD). Já quanto as duas restantes o seujuiao final e mais severo, pois
oonoluira a eritiea as Miragens sender-ea “dizendo ao Sr. Teoiilo Braga que podia ser um dos
nossos primeiros escritores mas devia sempre eserever hem". [p. Eli] e terminará a minueiosa
analise da Hora:—ra Universal. aiinnando “que o Sr. Teofilo Braga não naseeu para historiadorr e
que os seus dotes inteleetuais, alias poderosos. nao sao idóneas para tais estudos“. (pr Ho].
" Ensaios. p. Il
Bree Teil-eira — Ú Paraisosismo de Cunha Safras #35

sistema metaiisico - constitui uma gritante contradição, que ofende a lógica, a


razão e o senso cmumªª. Ú criador do pantiteismo nao se limitará, porem, a
procurar por em relevo a incoerência filosófica de Teofilo, resultante de uma
adesão sincretica e um tanto apressada a um sistema alheio, de índole mais
materialista do que positivista, p-ois alongar-se-a', ainda, com ressentido
comprazimento, numa análise minuciosa dos livros do professor do Curso Supe-
rior de Letras, a qual não silenciará um lapso gramatical, um erro de rima ou
uma real ou aparente contradição, nem perdoara uma inessctidão historica ou
cientí fica, por insignificante que seja, nem uma simples troca de datas.
Tambem o evolucionismo não será poupado pela crítica pantiteista, que
admitindo, embora, ser ele verdadeiro na sua face geral, o reputa errôneo quan-
do, indevidamente, pretende ser a unica lei, já que a noção de evolução não e
suticientemente ampla para, ao por si, esplicar todo o universo, o que só a
metafísica pode fazer. Assim, se é inegável, segundo Cunha Seisas, que a evo-
lucao se acha inscrita não so nos espaços celestes, como em toda a natureza e
na vida intelectual do homem, não pode ignorar-se, igualmente, a realidade, eliec-
tiva e irrefragavcl, de elementos anteriores a evolução, eternos c imutaveis, que
a limitam, bem como a existencia de leis mais vastas e universais, com que deve
ser concatenada, pois a evolução e apenas um modo de ser das coisas e não seu
fundamento e razão de ser, uma vez que sd um princípio de unidade, de natureza
metafísica, pode esplicar o universo.
Acresce, ainda, que o principio de continuidade, de que parte a evolução,
não corresponde à realidade, porquanto, resolvendo-se aquela numa série de
novos estados, implica sempre saltos, formações distintas e, consequentemente,
essencial descontinuidade.
Por outro lado, cumpriria tambem não esquecer que o evolucionismo, alem
de assentar num metodo meramente experimental, desconhecendo as leis
ontológicas, se apresenta como uma forma do materialismo e assenta, em gran-
de parte, em meras hipóteses não comprovadas nem comprováveisºº

3. Filosofia e Ciência

De acordo com a doutrina pantiteista, a tilosotia deveria ser entendida


como “ciência geral, unitaria e harmónica, dos princípios, causas e leis que

" idem, pp. 36-31.


ª Princípios Gero-tr de F tiosojio do Hiatorio. pp. 39 e segs., Galeria de Era.rtcítrs Contempo-
râneos. pp. 259 e segs e Ensaios- de Crítica F ttosojico, pp, DE e segs.
did Revista Portuguesa de Fi iosoji::

dominavam a ordem universal" ou eomo “sistema das primeiras realidades do


universo na sua generalidade” ou, ainda, como “eiênoia do universal no seu
conjunto”, pelo que a organização de qualquer sistema filosófico implicaria,
então, neoessariamente, a prévia eonsideração de todas as oiênoias, para reeo—
Iher as suas prineipais leis e, em seguida, a eonoepção de uma ampla eonoatena—
ção orgâniea dessas leis, de modo a integra-las num ntieleo eomum, total e
universal”.
Não se infi ra daqui, porem, que, no pensamento espiritual ista de Cunha
Seixas, filosofia e eieneia revestem a mesma natureza, distinguindo-se a primei-
ra da segunda apenas pela maior amplitude, generalidade ou universalidade dos
seus prineipios e leis, pois a oonoepção pantiteista estabelece eesenoiai distin-
ção entre estas duas ordens do saber e uma elara prioridade da especulação
iilosdiiea relativamente ao eonheeimento eientifreo.
Com efeito, enquanto a eidneia e o mundo da pluralidade, da extensão e
do meeanismo, mundo visível, eujas leis são verdadeiras apenas no eampo da
fenomenologia ou daquilo que apareçe ou se manifesta, a filosofia e o reino
superior da unidade na variedade e na multiplieidade, de um todo uno que se
eneontra submetido à mesma lei da ordem e da harmonia,
Por outro lado, nem a sensação nem a experieneia eonstituem o verda-
deiro ponto de partida da eiênoia. Na verdade, nao so na sempre algo primordial
e insubordinávei a sensação, sem o qual ela seria impossível, eomo esta, ainda
que certa, real e primitiva, não pode ser ponto de partida do eonheeimento ou da
oiêneia, porquanto tal ponto de partida terá sempre de ser um acto inteleotual,
isto e, uma ideia, ainda que proveniente da experiêneia, por via da sensação,
Ora, se e de uma ideia que se deve partir, nao sendo a sensação um faeto
inteleetual nem um meio para faetos inteleetuais, nao pode ser ela o ponto de
partida do oonheoimento oientiiioo. De igual modo o não pode ser a experiência,
que e so matéria do eonheeimento, pois quem pensa e o espirito. Efeetivamente,
os axiomas da razão, em que se baseiam as diversas oiênoias, não são eriados
pela experieneiajá que, se o fossem, o pensamento seria impossível, porquanto
todo e qualquerjuizo impliea sempre uma lei do espirito. Mas se o espirito reoe-
besse as suas leis da experieneia, nunea seria possivel a primeira experiêneia e,
não sendo possivel esta, nenhumas outras o poderiam ser. Daqui se in fere, en-
tao, que o espirito tem as suas leis próprias, que são insitas e naturais e nao
naseem da experiêneia, que apenas da eonta de faetos partieulares, pelo que e
o eonheoimento dos faetos experimentais que está dependente das leis do pro-
prio espírito, que, sendo universais, são superiores e anteriores s experiêneia.

” Ensaios, pp. tid, EEI e l“:-"L


Braz Teiseira — Ú Fantiieisnio ele Canna Seixas #3?

Deste modo, se o ponto de partida do conhecimento não pode ser a sen-


sação nem a experiência, devendo antes ser uma verdade inconcussa, evidente
por si e inabalável, se poderá encontrar-se nas leis da razão, que são, simultane-
amente, leis das coisas, ou seja, deve ser um ponto de partida ontológico e não
empírico
Se esta primeira conclusão marca a clara superioridade e anterioridade
da filosofia sobre a ciência, por seu turno a dependência da experiência relati-
vamente ã razão revela, igualmente, que a construção cla ciência queda sempre
dependente da colaboração entre ambas, pois, se a esperiencia lbe fornece os
factos, e múltiplo e as pluraiidades, a razão reduz uns e outras a leis, integrando-
-as na superior unidade do universo.
Duas iinais conclusoes retira daqui o filósofo pantiteísta: a de que o me—
todo geral da ciência e o que resulta da intima colaboração entre razão e espe-
riencia, preannnciando on antevendo, assim, a fecunda noção de razão esperi-
meniai, que Leonardo Coimbra ira desenvolver e teorizar quatro décadas mais
tarde“, e a de que a esperiãncia não pode emancipar—se da metafísica, sob pena
de cometer o grave erro de tomar, abusivamente, da filosofia algumas noções
arbitrárias, revestindo-as, em seguida, com os dados esperimentais, sem que, no
entanto, a esperiencia, so por si, seja capaz de efectuar a articu [ação ou a
conjugação desses diversos dados e noções, mas arvcrando em teses lilosofi-
cas meras hipoteses cientí ficas ou desgarrados ou contraditórios dados
experimentais”.
Sc, enquanto filosofia espiritualista e nas soluções que propunha em materia
de teodiceia e de ontognoseologia, o pantiteismo se encontra nos antipodas do
positivismo e do evolucionismo, objectos reiteradas da sua rcflcsão crítica, não
deixa, contudo, de acusar as marcas do ambiente espiritual que aqueles domina-
vam, pela cedência ao preconceito cientista, pelo esforço estéril e malogrado de
fazer da ti Iosoiia uma ciência, pela excessiva atenção dada ao problema da
classificação das cienciasªª e ã teoria de cada ciência, em termos que o aprosi-
mam da Fiiasojia aªa Existência, do jovem Domingos Tarroso 0860-1933), de
que foi o mais profundo e atento critico“.

“' Leonardo Coimbra, A razão ezperirneniai, Porto, 1923.


“ Ensaios, pp, 191 e segs e Estados. pp. 119 e segs.
ª A classificaçao das ciências proposta por Cunha Scisas assenta nas tree leis fundamentais
que, segundo a doutrina pantitelsta, governam o universo e, consequentemente, presidem também
acioncia: a ici rio indeterminação. a iei das determinações e a lei da harmonia- Assim, no âmbito
da primeira lei entrariam. a asmaiogia, a anioiogia e a irigica. enquanto no da segundo se incluiriam
as matemáticas, a go.-bina, ariska, a mecanica. a astro.-tomas, a gioooiogia. a zooiogia, a antropo-
iogia. a aioiogia gerai. &psicogenia e a soeioiogia, e no da terceira figurariam aidgica, a antaiogia
gerai e especial e a historia comparada dos sistemas. Ensaios, pp. lã? e segs, em especial |:. ITE.
ª' Ensaios, pp, "il-I?? e Estados, pp. 11-34.
#33 Revista Portuguesa de F r'losojio

A este earaeter mais dotado de eertos aspeetos do pensamento de


Cunha Seixas — que ele tinha, preeisamente, por mais aotuais e signilieativos e
que, a distânoia de mais de um séeulo, nos surgem, hoje, eorno eadueos, meno-
res e irremedisvelmente ultrapassados -— nao eseapa, também, o proprio eon-
eeito pantiteista de filosofia
Com efeito, não so, oomo aoahamos de ver, eonsiderava pressuposto es-
senoial de qualquer novo sistema tilosdfioo s atenta oonsideraçâo de todo o
eonheeimento eientifieo e das suas prineipais leis, as quais deveriam, depois, ser
objeeto de uma vasta e englobante eoneatenação orgâniea, que as integrasse
num núele-o eomum, total e universal, eomo sustentava que na filosofia, primi-
tiva mãe de todas as eiêneias, foi paulatinamente despedindo as filhas, ate fiear
sendo, de oieneia oonjunta da espeeial idade, apenas eiêneia da unidade geral”,
quase ooineidindo, assim, eom a tese positivista da filosolia eorno saber residual.
(] filosofo pantiteista nao deisa, todavia, de advertir que, se e verdade
que a filosotia & eonstruida eom base em elementos forneoidos por todas as
eiêneias, não é menos verdade que, por um lado, dispõe de elementos proprios —
as leis da razão humana — por meio dos quais se opera a unidade harmonioa do
saber e, por outro, abrange, no domínio espeelfioo da filosofia oanseendente, o
problema metodológieo e a epistemologia, pressupostos neeessários de toda a
séria eiênoia, de que sempre dependerá o seu progressoº'ª.
Se o pensamento e a subjeetiv idade são o ponto de partida de todo o saber e
toda a oiêneia, a matrix da filosofia será, naturalmente, a gnoseologia, do mesmo
modo que o seu núeleo esseneial vem a residir na userojísriea, enquanto eiêneia das
leis universais do ser (etnologia) e eieneia do ser supremo ou de Deus (reunir.-ein).
Ao lado da ontologia e da rsodíesía, que, na sistematização proposta por Cunha
Seixas, eonstituem a meroftsr'en pura, a Filosofia oompreendia a mstqfísieo sniff-
eodn, na qual se ineluiriam a psicoloqía racional, a filosofia de natureza, a
moral, o direito, a estérr'eo e a jiusofo do hísto'rio“.

4. Dntognoseologia
O ponto de partida do oonheeimento humano e, soh o ponto de vista sub-
jeotivo, o pensamento, ohjeetivarnente, a ideia de ser.
Na verdade, se o oonheeimento ou a oienoia & sempre um aoto do espirito
que pensa, urn aoto subjeetivo, o seu ponto de partida devera basear-se, natu-

ªª Cfr. Gole-rio. pp, I?? e segs., Ú Fanlireismo na Arte, 1). iii, Ensaios, p. IT? e Princípios
Gerais ois F deseja, ªii I—ll.
'" Euler-rh, ]:l, It'll.
Broa Tetrer'ro - t'J' Frarn'ter'smo de Canaa Setter 439

ralmente, não no sentimento ou na vontade, mems eaeitantes ou motores do


eonheeimento, mas no proprio pensamento.
|Dra, o conheeimento deve partir de algo imediato, possivel, eerto e intui—
tivamente evidente que lhe se um minimo de garantia, Tal earaeter depara-ae
ao espírito uniearnente nas ideias e leis da razão e nos aaiomas delas deeorren-
tes, pelo que a na erença no proprio espírito que todo o eonheeimento se funda.
|Como, por outro lado, todo o pensamento e todo ojuiao impl ieam a ideia
de ser - pois o afirmar ou negar algo sempre ao ser se reporta e sempre o
preasupõe «tal ideia a, do mesmo passo, o neeesaario ponto de partida objeetivo
do eonheeimento humano“.
Press aposte e eondiçao primeira do saber possível ao homem são, pois,
as ideias, nas quais o pensador oonsidera tres espeeies distintas: experimen-
tais, referirmos e roeioam's. Nas primeiras ineluem-se nao sõ as eaistentes no
próprio eu, relativas ao seu mesmo ser, eomo ainda as que reeelse do mundo
exterior, através das sensações, Cabe advertir, no entanto, que, segundo Cunha
Seixas, as sensações, apesar de serem eondiçõo neeessária do eonheeimento
do não-eu pelo espírito, não são sua fonte imediata.. Entre o impropriamente
ehamado mundo esterior e o eu, entre o oõj eeto e o espirito, não ehega a haver
nunea verdadeiro eontaeto, D eonheeimento opera—se, neste nível, atraves da per-
eepçõo, faeto puramente inteleetivo, intuitivo e imediato, de modo que os objeetos,
em sua mais intima essõneia, nos quedam alheios, sõ chegando verdadeiramente ao
nosso eonheeimento as relações atraves das quais se manifestamª.
Sendo um faeto eogn itivo ou inteleetivo, a pereepção, assim eomo reeebe
da sensação a sua matéria, pressupõe ainda eomo elemento esseneial as ideias
raeionais ou eategorias ontológieo-metatisieas, pelas quais o eonheeimento se
possibilita e toma forma.
Deste modo, em oposição às teses de Locke e Condillae, de que se fizera
eeo, entre nos, Silvestre Pinheiro Ferreira, Cunha Se-isas, neste eomo noutros
pontos pensador de aseendõneia Ieihniaiana, vem afirmar a anterioridade do
intelecto no conhecimento e reduzir o papel da sensação ao de fenomeno in-
terior ocasionado por objeetos externos em virtude da aetividade da alma. .As-_
sim, não so o eonheeimento tem a sua fonte no proprio espírito e não na sensa-
ção, como esta é um “faeto da alma", algo que ela eria aetivamente e não
mero registo passivo dos dados do mundo eaterior reeebidos pela impressao
fisiea no orgão dos sentidos, pois que estes, sendo eondiçao da sensação, não
são sua eausaªº. -
” Ú Pantrreísam, pp, it". e segs. e Far-iae. Ger. Fii., &; 25 e as.
ª A Ferrer. p, 30, Frete. Ger, F al. Hist., pp. 1344 e Prine. Ger, F at, «521
ª “D eorpo e o instrumento da sensaçao e do eonheeimento dos ohjeetos Hsieos; mas a
sensaçao e o eonheeimento sao sõ propriedade da alma“. “Ds orgaos materiais sao i...) as eondi—
ções do pensamento, mas nao a sua eausa“. A Fanta, p. IGI-3 [ . Cfr. Bateria, pp. 12-16.
440 Revista Portuguesa de Fi losojía

Como se proeessa, porém, o eonheeimento'? Como e sequer possivel,


eom visos de veraeidade, se entre o espírito e o restante universo nao ha direeto
eontaeto'?
à primeira intetTogação responderá o pantiteismo, deelarando que todo o
eonheeimento se traduz numjuizo, na afirmação, espressa ou implieita, de uma
relação. Todo ojul zo e formado segando três leis (da substância, da manifes-
tação e da harmonia) e desenvolve-se em três momentos: o primeiro
eorresponde a atinnaçao espontânea e intuitiva de um ohjeeto, apreendido eon-
eretamente na sua existêneia; no segundo, atraves da análise e reflesâo sobre
a noção intuitivamente recebida, inquire-se da sua natureza, dissoeiam-se,
elassitieam—se e distinguem-se os vários elementos que eompoem o objeeto,
enquanto, no tereeiro, se realiza a síntese harmoniea dos resultados da abstração
anterior e se integra eada ser no lugar que lhe eah-e na ordem hierarquiea do
real“,
Assim, no primeiro momento eneontramo-nos no domínio das ideias es-
perimentais, euja origem se situa nos sentidos, ideias partieulares e eontingen-
tes, referidas a um objeeto da natureza e dependentes das sensações, variáveis
de sujeito para sujeito e radieadas na erença intuitiva e espontânea na existên-
eia de algo alheio ao proprio espírito
O segundo grau dojuizo proeessa-se no plano das ideias reflexivas, de
índole geral e abstraeta, formadas a partir da análise e cla reflesao sobre os
dados experimentais e intuitivos .
Finalmente, a sintese harmoniea realiza-se no plano das tds-tos racionais
ou ontologieos, inatas ao proprio espirito, universais, absolutas, neeessarias e
invat'iáveisª" ,
É, preeisamente, a dupla natureza desta tereeira ordem de ideias — o
serem, simultaneamente, raeionais e ontologieas, leis do espirito e elementos
dos seres, e haver eorrespondeneia entre as eategorias da razão e as do ser —
que possibilita e garante o eonheeimentoªº, do mesmo paso, que faz da ontologia
eiêneia do ser nas suas mais gerais determinações e eiêneia das ideias-elemen-
tos na sua maior estensao e pureza, eom inteira abstraeçâo de qualquer ente
eonereto ou individual.
A primeira dessas ideias e, naturalmente, a propria ideia de ser, na sua
mtu-tima indeterminação, eomo prineipio de identidade, de nao eontradieao e do

*ª tºrta.-:, Ciel-. Fil. Hart.. pp. 13 e segs., Galeria. 11. ENE e Prtae. Ger. Fri,, 55 34 e segs.
e 345 e 345.
'" Pride. Ger. F H., 455- E? e segs,
ªlii“l-lil eorrespondeneia entre as leis da alma e os objeetos materiais; mas nas esiste eonesao
neoessttris", a Fears, p, 3 l . Cfr. Galería, pp. 94-95,
Braz Tettetrn — Ú Fenrireísma de Canna Seixas 441

tereeira eselnida, eam a flmdamentede tedes as prineípies entaldgien-metafisiens,


pais que tudu ajuíza a envelve eeme possibilidade, unidade, identidade, eaistên-
eia e tetalidade, eriterie de 1'.ferdatle e termo enmum de tndn ajuíza.
A primeira ennereçan nu determinação da ideia de ser da-se na sua een-
sideraçae eume sujeita e base de qualidades, enme substância.
A eensideraçãn de eu, ser e substância, enme eentrn de aetividade, enn-
dua, naturalmente, a ideia de causa, a qual leva, pnr sua vez, à de relação.
Esta, eensiderada era em termas de sueessau au simultaneidade, era eema
eentiguidade eu eeesistêneia, abre via as ideias de tampa e de espaço, de mes-
mn mndn que aponta ainda entre tipo de relação, a de grandesn.
Per entre lada, eada ser surge-nes datada de eertaji'nal'fdade esp-eeifiea,
deenrrente da sua própria natureza, finalidade que se eaerdena eam as das
restantes seres, dentre da ardem geral que preside aa manda e em euja realiza-
çãn ennsiste e bem eu harmonia,
Mas assim enmn estas ideias sae, simultaneamente, elementes de pensa-
mente e da natureza, as leis que presidem aa ennheeimenta são, de igual mede,
as que enmandam [: dnminin de ser. Assim, e também através de um pre-nessa
triadiee de ser, mnãssraeda e har-mania que a ardem antaldgiea se desen-
salve e eeneretiza, e a finalidade própria de eada ser se eeerdena dinamiea-
mente eam a das restantes, eeneerrende para a realizaean das mais altas desti-
nns da universe.
Cada ente eenfigura—se, entaa, eumu alga de individualizada e datada de
finalidade espeeífiea, eame um infinita relativa, que, na seu mesimenta pró-
pria, se manifesta relaeinnande-ae enm todas as autres de seu génere e, através
deles, eam a ardem mais geral de ser.
A neçae de ardem, par um lada, e a ideia das seres eeme infinitas relati-
ves, por nutre, eenduzem e espirita & nuçãe de um ser perfeita e absulutu que
tenha em si e seu própria fim e que, na sua unidade e simplieidade, seja eausa e
erdenadnr das restantes seres.
“Cama :: finite não pode esistir sem a sua eausa geradara, e eeme a
infinita e a eternidade e a imensidade, segue-se que Deus está em rada, eeden-
dn a todas as infinitas relativas a sua realidade e suhsistêneia, fieandn sempre
perfeitamente distinta, perqne e eterna e imensa nae se pode eenfundir nem a
tranaitdrin e enm e limitada. Marema—ans, snr-rins e uhf-emas em Deus, partiei-
panda da sua realidade sem enniiusãe algumas“.
Deste moda, a vertiee da eseala des seres e eeupade pela infinite absu-
lute, eriadur e erdenader da mundu; abaixe dele eneantram-se as ideias—
-e|ementes, infinitas relatives, prineipies eenstitntiues detude e ser, e cuja sede

*ª Prf-mn. Ger. FIL, & lDE,


aaa Revti-to Portuguesa de FHomilia

e o proprio absoluto, ideias que geram tudo o que esiste, o qual se agrupa,
descendentemente, nas classes e subclasses que o mundo fenomenal da nature—
za nos patenteia,
No seu pluralismo monadologico e correlativo ordinalismo teleologico, a
ontocosmologia pantiteista vem, assim, a postular uma teo-diceia que a garante e
de que, em certa medida, aquela é como que a projecção ou encarnação.

5. Teodiceia e Filosofia da Religião

De acordo com o pensamento pantiteista de Cunha Seiaas, a teodiceia


tem como principal objecto o estudo das provas da existência de Deus, caben-
do-lhe, igualmente, tratar dos grandes problemas ontológicos sobre os atributos
divinos e sobre a possibilidade e realidade metafísica dos altos objectos de que
se ocupa. Adverte, no entanto, desde logo, o pensador que a historia da filosofia
revela que as chamadas provas da esistãncia do ser divino melhor seriam desig-
nadas como meditações sobre a esistência do ente supremo, ja que não consti-
tuem uma verdadeira demonstração, visto que a esistEncia de Deus, como pri n-
cípio, sendo de si evidente, se impõe, não admitindo qualquer demonstração, -
Dai que considere vão e destituído de sentido o problema que a teo-diccia tradi-
cional tinha por nuclear“.
Sendo abscondito na sua natureza e, nessa medida, inacessível a toda a
explicação, Deus não so se manifesta no universo como se pantenteia intuitiva-
mente ã razão, como inteligência suprema, força infinita, lugare fonte de verda-
de e de vida e sede do infinito e do absoluto.
Com efeito, porque, como vimos, as leis da razão, que estão em nos e se
manifestam na vida e na ordem do universo, têm a sua origem no espirito divino,
Deus revela-se constantemente ao homem, Deste medo, porque as leis univer-
sais saem da essência divina, são o proprio refleso de Deus, pelo que este,
embora abscãndito na sua natureza, não e inteiramente incognoscivelªª,
Se a ideia de Deus não e, pois, uma criação do espírito humano, mas
csi gência necessária da própria realidade, em que o Absoluto se manifesta,
limitado é, porém, o conhecimento que o homem tem da natureza divina e dos
seus atributos infinitos, aos quais chega apenas usando precários meios lógicos
e partindo da manifestação do infinito na realidade fisica,

*" Enferm. pp. EEI-314 e 316, Elementos de Moral, l' cd,, 1336, & 45 e Frfnc. Ger. Ff!"
& IDE,
"“ Friso, Gar. Fit. Hist.. p. 55, Eater-ts. pp, 121 e 215, Estados de Literatura e Fitoscjic,
p. 30 e Hemeruos de Moret, ed. cit., && «til.
Eras Telessiru — Ú Funti'tetísme de Cunha Saurus #3

Assim, da natureza de Deus, que sempre nes queda eeulta, sabemes tau
semente ser ele abselute, emnipetente e perfeite, imutável e une. Se eensiderarmes
a sua manifestaeae na realidade e nas leis de universe, aleanearemes saber que
seu atribute fundamental e e ser infinite, de qual deduaimes a eternidade e a
imensidade, a ernniseiEneia e a emnipresença, a liberdade e a prevideneia. Per
últime, se atentarmes em que nele esta a jente de harmonia, que a eenserva-
çãe de universe e a sua erdem espiritual nes ternam patentes, pederemes saber
que es seus atributes superues sao a verdade, a bendade e a beleza“.
Aqui eneeutra e seu fundamente a seluçâe dada pela deutrina pantiteísta
ae prehlema de mal, que vem a eeineidir, ne essencial, nae sd eum a de Amerim
Viana, eeme sem as pesiçdes assumidas per Silvestre Pinheire Peneira e, em
eerta medida ainda, per Antere. Cerne qualquer deles, em especial as deis pri-
meires, e fildsefe pantiteísta, que viveneialmente eem tanta fi'equêneia esperi-
menteu es efeites da maldade humana, afi rmará, eerajesamente, que “e bem e
a suprema realidade; e mal e a negaçãe'iª".
A relaçãe entre Deus e e mande, e prehlema da eriaçae, antelha-se a
Eunha Seixas eeme irreseltivel, pois Deus pennaneee eeulte na sua natureaa e
as eeisas nes sae inaeessiveis em sua esseneia, eenheeende nes aq uele apenas
na sua manifestaçae e estas nas suas relações. Deste mede, ae fildse t'e eantiteísta
nada mais e permitide afirmar senae que, seude a exigêneia de unidade imp-esta
per teda a ideia de sistema, a mude de um Deus sem qualquer ligaçae sem e
mundu eareeeria de sentida-. Ne entante, nem a eeneepçãe erista de um Deus
eriader, separade de mande, nem e sebstaneialisme pauteista de Espiuesa se lhe
afiguram eapaaes de reselver eenvenientemente a questae.
Deus e eausa primeira de tude e que esiste, e embera nae nes seja dade
saber eeme se manifesteu, eedemes pustular uma identidade entre ele e e mun—-
de eriade, representada pela eaistêneia eu ser, através de qual se estah-eleee
uma ligaeae indeterminada entre e Abselute e e universe, relação que a passa-
gem des seres da simples pessibilidade a real idade da eaistêneia deta da marti-
ma detenninaçãeª'ª.
D munde, euquante Deus manifestade, eu resultade da manifestação di-
vina, & eeme que a sua senthra, na qual se prejeetam as ideias-elementes, matri-
zes de toda a eriaçae”. D ser supreme, une na sua natureza, revela—se múltiple

"" Galería. p, 226 e PríneGer. Fri,, & 143. Cfr, Finharanda Gumes, Teedíeete pertuguesa
eentempertinee, Lisbea, tº“, |:, til] e segs,
'" sl' Fase. u. [DIF. ver A. Era: Teixeira, Deus. e mais a saudade. Lisbea, IEDI, pp. til e segs,
'“ Ú Funtírefaam na Arte, |:. HIV-IHU! : Fria Ger F H,, 5ª HIS-l 31
“ "se temes emprestada realidade: Em Deus e nd. a essêneia, e eentre" (Fenrir. ue Arte,
|). 259, peeaia Deus abserirtdi'tu e manifestada].
da'-ti Revista Portuguesa de Fi farejar

na sua manifestação e, permanecendo uno e transcendente, esta em todo o


universo que nele esiste e se desenvolve dinamicamente, se bem que com ele se
não identifique nunca.
Imaoencia e transcendência conciliam-se, assim, sem se confundiram
nem se absorveram mutuamente, antes coordenando-se por via ascendente no
seio de uma unidade superior, fonte de todo o ser, todo o movimento e toda a
hannonia.
A realidade e, entao, radicalmente dual: de um lado, embora intimamente
unificada pela sua origem divina, manifesta-senos uma substância desconheci-
da, sob a multiplicidade varia do teuomenismo sensível a a pluralidade de for-
mas coesistentes no espaço; do outro, surge-nos a unidade incindivel do espiri-
to, o reino imaterial do pensamento, da moral e da religiãoªª.
Na concepção pantiteista, a teodiceia envolve uma parte prática, a Fiio—
sofa ou Ciência do Reiigido, a qual discute os sistemas opostos & possibilida-
de da religião e se ocupa das aplicações da teodiceia e da permanência dos
elementos e dos sentimentos religiosos em nos e nas suas relaçoes com a moral
pratica, a vida humana no mundo e com as esperanças e realidades de alem-
-ti1mulo. O filósofo distingue entre a Fiiosojio ou Ciência do Reiigitªio e a
Ciência dos Reiigioes ou Antologia Comparado, sendo esta uma ciência his-
tórica e criitica que tem por objecto a comparação dos factos produzidos no
mundo religioso, para assim formular as leis gerais do nosso desenvolvimento
religioso e as afirmações das grandes verdades que, soh formas simbólicas di-
versas, surgem nos vários povos, através dos tempos“.
Esclarecendo o seu pensamento, Cunha Seisas notava que o conceito de
reli giao compreendia nao so um corpo de doutrinas estabelecidas ou definidas
por uma certa autoridade, como, ainda, o corpo de doutrinas filosóficas proce-
dentes de elementos permanentes da natureza humana e que conduzem a adora-
ção de um ente supremo.
Por outro lado, entendia que não esiste nenhum povo sem religião, pois o
sentimento religioso e universal, clado haver no homem a faculdade de crer e de
se transportar ao infinito e ao absoluto. Historicamente, tal faculdade manifes-
tou-se nas cosmogonias e nas mitologias e, posteriormente, na criação das reli-
gioes e na crença na revelação e numa autoridade superior que influi nos
homens para orientar os seus destinos e mostrar-lhes as primicias de uma vida

ª" Estados. prologo e pp. EDF-2 ] D,


'" Guiar-ia, pp. EET-123 e 3 lo-Ii I ?. l.'.'Junha Seir-tas entendia que a sua teoria das ideiasera uma
verdadeira filosofia da religião e o seu sistema se apresentava como essencialmente religioso e
hannonico, pois. admitir que as ideias são em Deus e estão em nos, conduzia a que o homem tinha
realidade e avistava outra realidade suprem a.
Braz Tcírcirtr — Ú Fantitcisnrc de Cunha Seitas #5

supericr à terrena, na qual se patenteia a imcrtalidadc, ccmc premic da vir-


tude”, Entendia c criadcr de sistema pantitei sta que a unidade religicsa da hu-
manidade nae deveria cunsistir na adcpcãc de uma crença única e num cultc
universal e unifcrme, mas sim na admissac da esistência de Deus, na crença
ncs seus atributps, na imortalidade da alma, na necessidade de um cultu c na
prcfissac da mcral pratica. Eira ccmc, segundc c seu mcdc de ver, em tcdas as
' religiões há alguns destes elementcs essenciais, sem cs quais é impossível e
sentimentc religicsc, e ha uma certa mcral prática, impcr-se-ia uma atitude de
tclerancia perante tcdas elas, pcis cs pcvcs que as prefessam ccnccrrem para a
vida da humanidade, nc seu tcdc : na sua harrncniaªª.
Esta atitude geral de tclerância perante as diversas religiões cu crenças
religicsas nac impediria, pcrem, segundc c pensamentc du filóscfu português, a
ccnsideracãc critica dcs dcgmas religicscs, ncmeadamente dc cristianismc, a
que, na senda de Amcrim Viana, se dediccu num dcs seus livrcs. Assim, segun—
dc Cunha Seisas, nãcn só e cristianismo seria apenas um factc históricc, despre-
vidc de qualquer clemente cu caracter schrenatural, ccmc nae seria dadc a
lilcsciia atingir três pesscas em Deus, pur a sua alçada ser apenas a da razac.
Cem efeitc, embcra Deus, sendc unc, se manifeste trinc, vistc ser principia dcs
principics e estes se classi ficarem em tríade, a sua natureza, ccmc vimcs, sem—
pre permancce cculta, inacessível e impenetrável, pele que nenhum apcic en—
cc ntra a tilcscfia para afirmar que há em Deus tres pesscas distintas. Se a fé &
dadc crer e que quiser, e as espiritcs fracas pedem seguir tradicces remctas, a
filcsciia, que se na razãc se funda, tem de rejeitar “tac escêntricc dcgmaªªªª'.
Hc planc da filcscfia da religiac, c pantiteismc vai ainda mais lcnge, Para
além de recusar ccnteridc schrenatural ac cristian ismc e negar a divindade de
Jesus — reecnhecendc, pcrem, c alte vaicr e si gn ificadc da fi Icscfia cristã —, de
ccnsiderar infundamentadc c dcgma da trindade, e falsas e figuradas as ideias
de queda e de pecadc criginal, Cunha Seixas ati rmara a inferic ridade da fé e da
crença face ac pensamentc tilcsciicc, ac mesmc tempc que, tal ccmc antes
dele q fisera Amcrim viana, repele a ncçãc de milagre, em ncrne da fisides e
permanência da crdem universal e da imutabilidade das suas leis, nas quais se
manifesta a intinita sabedcria de seu divine anterª-".

“ Galeria, 13. 311


“ Idem, pp. 3l3-3l9.
" Lembrar-'ªs, pp. ªlº-ªll :: Galeria. |:. 226.
“ Lacacracdcs, 11, lt] : Ú Panriscísmc na Arte, 13. 267. É curicsc nctar que, partindu de
praasupcstca cntc-cusmcldglcus idênticas aus de Cunha Seisas e Amcrim Viana, Silvestre Pinhei—
rc Ferreira. neste pr.-nte mais tielmcnlc Ieibnizianc de que eles, ccnsiderava pcssivel que Deus,
assim carne «& criadcr e crdenadcr dc mundc, pcr al:-ra da sua vuntade, determinasse que, em
circunstâncias escepcicnais, cs fenúmcncs da naturªis:-ta se nfastassem du caminha que, de inicia,
lhes tracara, Essa! sar ia Fnehciagic, Faris. IEEE, nuta 25, pp. 224 e segs.
ddd Racism Portuguesa de Filosofia

e. Cosmologia

No plano cosmológico, a reflesão de Cunha Seisas incidiu, essencial—-


mente, sobre a questão do atomismo e a noção de matéria,
Quanto à primeira, pensava o filósofo pantiteista, que o problema funda-
mental que suscitara seria o de esclarecer se e a unidade ou o mecanismo que
domina, Assim, no primeiro caso, os átomos apresentar-se—iam como meros
centros de forças, vindo o atomismo a resolver-se, então, num verdadeiro dina-
mismo, enquanto, no segundo, teria que defrontar graves aporias, como a de
saber como poderia a ciência esplicar tudo sem a noção de eatensão, reduzindo
a matéria a forças e movimentos sucessivos, a circunstância dc o cálculo matc-
mãtico não depender do mecanismo ou, ainda, o facto de a mecânica apenas
carecer de pontos de apoio, ou seja, de um dado que constitua o seu ponto de
partida“.
As insuficiências ou dificuldades insuperáveis que se lhe afiguraua afec-
tarem a solução atomista procurou o filósofo supera-las atraves da noção de
matéria, que, em seu entender, era uma noção metaiisica e não cientiiics, dado
ultrapassar o domínio da experiência,
De acordo com o pensamento de Cunha Seixas, a materia deveria ser
concebida como uma substância desconhecida que, sempre de modo relativo,
se manifesta no espaço, pela pluralidade, em filllçãú, pennanenternente, de for-
cas e de sucessivos movimentos, soh um principio de unidade,
Procurando tornar mais clara e explicita a noção assim formulada, o [:|—cu-
sador notava que a materia constituía uma substância, por uma dupla racao:
porque tudo o que se manifesta e revela qualidades e, metafisicamente, uma
substância e porque a existência da materia seria, a um tempo, intuitiva e real,
Por outro lado, enquanto substância, a materia seria desconhecida, já que a
essência das substâncias não e acessível ao limitado conhecimento humano,
Ú considerar que a substância material aparece sempre relativamente
decorre do radical dualismo ontológico que vimos definir o pantiteismo, Assim,
enquanto nos factos espirituais aparece constantemente o absoluto, nas noções
de ser, substãncia, causa, tempo, espaço, eternidade ou imcnsidade, a natureza
manifesta—se por seres relativos e contingentes, Daí que a matéria aparece
setnpre como coisa dependente e obscura, que só e possível conhecer por com-
paração. De igual modo, a materia manifesta—se no espaço, dado que unica-
mente nele ncs e dado conhecer os corpos, embora se desconhece se aquele
constitui uma realidade indcpcndcntc ou é uma simpics relação de coexistência.

ª Estados, |:r|:l, ist-tes,


Em: Tetrcíra — Ú Pnntíteísmo de Cunha SEI-IHS vv ?

Por nutre lado, e matéria, que se manifesta pela pluralidade atómica, e


uma substâncía activa, uma virtualidade e uma força, pelo que a sua manifesta-
ção e sempre moção de forças e sucessivos movimentos, que espl icam os
feutímenos físicos e fazem do mundo algo em constante e inintemtpta elaboração.
Sendo a materia uma substância que se manifesta, dinamicamente, pela
pluralidade, está, no entanto, dominada ou regida por um principio de unidade,
por uma força insíta e oculta, que s a fonte da harmonia que, segundo a doutrina
pantitcista, preside ao universo, pois este e uma unidade assente na multiplicidade
e sob a mais ampla variedade, uno na lei que o ordens e múltiplo na sua compo-
siçao, uma realidade compleitíssima, cujo começo e cujo termo quedam fora do
limitado alcance da ciência e de conhecimento do homem.
Adverte, igualmente, o filósofo, que a matéria e sempre uma e a mesma
substância, quaisquer que sejam os seus estados e manifestações, pelo que são
destituídas de sentido as distinções entre materia inerte e não inerte, ponderdvel
e não ponderavcl, real ou não real.
Cabe notar, por outro lado, que, de acordo com a cosmologia de Cunha
Seixas, a pluralidade das manifestações da materia compreende diversos graus.
Assim, enquanto os corpos são a forma da matéria no espaço, a molécula e
um grupo de átomos, que gravitam em tomo de um cit-to e de um centro e se
encontra sujeito a dissociação. Por seu turno, o átomo e um iníínitésimo mais
pequeno, sujeito às mesmas leis da mecânica molecular, sendo, por isso, como a
molécula, activo, nao inerte e ponderável, ignorando-se, porém, se constitui ape-
nas um sistema de forças ou se e dotado de extensão, razão pela qual o pensa-
dor considera não haver fundamento para afirmar que entre as propriedades da
matéria se deve incluir a extensão.
Se bem que o átomo se apresente quimicamente indivisível, & realmente
divisível em múltiplos sab—átomos, os quais, por sua vez, nas suas minimas
milionesimas, são o que se chama éter e censtitui o mundo des infinitamente
pequenos, sujeitos às mesmas leis de penderahilidade, ainda que inacessível aee
meios de conhecimento de que, no seu tempo, a ciência dispunha. Constituindo,
pois, um sistema de sub-atomos, o átomo está, como a molécula, de que faz
parte, sujeito a dissociação-“.

?. Antropologia
0 dualismo radical que caracteriaa a ontologia pantíteista projecta-se,
naturalmente, no próprio ser do homem, que Cunha Seir-tas concebe como um

ª ldem, pp. sus-stc, cfr. Ensaios, pp, soc—soc,


448 Revista Fornlguesu de Fdeseje

eomposto misterioso e admirável de duas substãneias distintas: uma, múltipla e


divisível, em perpetua transfonnaeão, demi nio da extensão e da quantidade; a
outra, simples e una, imaterial e identiea a si própria, sede do sentimento, da
reflexão e da razão.
É, precisamente, a força da intel igênela e do pensamento, que, transeen-
dende as seduçães do mundo sensível e mutavel e permitindo ao homem elevar-
-se ao domínio do abstraeto e do refleetido e aleançar a ideia raeional de Deus,
lhe eonfere o primeiro lugar na ordem dos seres, Coneedendo ao homem a
ioteligãneia, revelando-se—lhe no seu pensamento, no seu eoração e nas normas
dadas a vontade, a Divindade pôs no homem o desejo de desenvolver inteira-
mente as virtualidades do seu ser, pelo que a vida humana se apresentava ao
eriador do sistema pantiteista sujeita a uma lei de progressão, que a domina
constantemente e a define, ineitando o homem a proeurar o maior e mais eom-
piete desenvolvimento do seu ser e mais luz na inteligêneia, mais pureza e ener-
gia nos sentimentos e maior eonformidade eom os prineipios do bem na
vontade.
Cum efeito, na eoneepção teleeldgiea própria do pantiteismo, a natureza
de seda ser eooontra-se ordenada em função do seu fim espeeifieo no seio do
universo, eonsistindo o destino partieular de eada ente na realização da sua
essêneia. '
Assim, o destino do homem, ser livre e dotado de vontade autdnoma, e
eontribuir para a realização da harmonia universal, a qual resultará do desenvol-
vimento integral e harmonieo das virtualidades de eada ser.
Realizando o seu destino e desenvolvendo, harmonieamente, as suas
poteneialidades, o homem aleança o seu bem, eontribuindo, dinamieamente, para
a ordem universal. Ú hem terna-se, então, a lei moral do homem, de eujd fiel
aeatamento vem a depender a realização do fim próprio do ser humano, a ponto
de poder dizer—se que este e o próprio bem.
Este fim, que deeorre da esseneia do homem, realiza-o a humanidade :
aleanea—o eada um dos seus membros no seu viver e no seu agir, numa
multiplieidade de sentidos e de planos hanndnioos e eomplementares.Na aetivi-
dade humana deparam-se-nos três zonas eapitais, referente, a primeiro, ao indi-
viduo enquanto tal, a sua eonservaeão, à satisfação das suas neeessidades e a
realização dos seus desejos (utilitária e estetiea), respeitante, a segunda, a eoe-
sistêneia soeial (juridiea e moral] e relativa a última a síntese hanndniea da
individualidade eom a soeiedade, no plano dos mais altos fins da religião e do
saber”.

“ Estreias, pp. “li e segs. e Pride. Ger. Fil. Hist.. pp. 43 e segs,
Braz Teivsiro — Ú Fontit'eismo de Cunha Seixas #9

A antropologia filosófica de Cunha Seixas, desde o inicio, alinna—se deci-


didamente personalista, ao considerar o pensador, logo no seu primeiro livro,
que, como ser racional, dotado de consciência e de liberdade, de ser fim para si,
o homem e pessoa, a qual, no seu pensamento, se define por diversos clemen-
tos: e pensamento, que reflectindo a luz divina, eleva o homem aos mais nobres
destinos, a autonomia ou principio da individual idade, a consciência e a fina-
lidade”.
Esta concepção personalista do homem projecta-se e desenvolve-se, de-
pois, não so na noção antropológica de “bordado, na teoria do amor humano, no
conceito de razão e na doutrina da imortalidade da alma, como, ainda, como
veremos mais adiante, no plano da filosofia do direito e na concepção
jusnaturalista do pensador portugues.
De acordo com a filosofia pantiteista, a liberdade humana, sendo um dom
divino, e racionalidade ou realização dos princípios da razão objectiva e, nessa
medida, e ordem, harmonia, ventura, beleza e moral idade, é o actuar das nossas
faculdades sob os d itãmes da razão e isentos de qualo uer tipo de coacção. Para
o filósofo português a liberdade e faculdade característica da vontade, cujo
ideal e a perfeição“,
Quanto a teoria do amor, Cunha Seixas opõe-sc, com energia, tanto as
concepções materialistas, que fazem do amor uma realidade meramente física,
como ao idealismo platônico, que vc no bem em geral seu único objecto, afir-
mando que constitui um mistério, que transcende a capacidade explicativa da
inteligência humana.
Para o filósofo, o homem e a mulher nasceram um para o outro, são duas
metades de um ser superior, harmonioso e completo, pelo que se encontram,
incessantemente, tendendo um para o outro, para, unidos, se identificarem num
único ser. Deste modo, o amor apresentava-se ao pensador como um impulso
generoso para fundirmos o nosso ser noutro ser concreto e individualizado, que,
partindo da atracção ou encanto fisico, do sentimento estético, se eleva a união
das vontades, libertando o homem do seu egoísmo e abrindo a sua alma a supc-
rior realidade do bem. Daqui retirava Cunha Seiaas a conclusão de que o fim do
amor, como do matrimônio, forma social que aquele deve revestir, não era a
procriação, mas sim a satisfação do sentimento inato do belo.
iguais em merito, se bem que diferentes nas suas qualidades e missões
proprias, o homem e a mulher são seres complementares, cuja união harmonica

“ Estreias, p. 75.
“" idem. pp. Eli—o? e Eien-tentos de Heroi, ed, cit,, & 1.
dj li Revista Fermgttesa de Ft'let-fujirt

através de amer fisiee e espiritual garante “a dignidade da familia e a santidade


de matrimóniu”, que e filesefe eensiderava dever ser indisseltivelª' .
lvlas nae sd ne plane de sentimente :: persenalisme antrepeldgiee de pen-
sader pantiteista se afirma. Para ele, também a razae, faeuldade superier de
hemem, peia qual este pude arregar-se legitimamente e sublime titule de lilhu de
Deus, impesseal e divina, per datada de verdades eternas, e igualmente pessual,
nae sd perque em nds esiste eame ainda parque unieamente pele esereieie da
reflesae se nas patenteiam es dades que nela se eneentramf'ª,
É, todavia, ne tratamente de preblema da imertalidade da alma, a que
dedieeu tude um liv re, que e persenalisme de pensader eneentra mais signifiea-
tiva espressau.
Sendu a alma imaterial, simples e una, a sua vida naepede eessar sem a
morte de earpe, A atestar a sua imurtalidade estar:: varias ardens de raades,
desde a insufieiêneia das sanções terrenas da lei mural, que esigem, pur isse,
uma eutra vida, eu a aspiraçan de hemem a Deus e e seu anseie de infinte (“D
hemem & grande; nae naseeu para a terra, anseia eutres mundus em que se
eamplete'*)ªª, até à neçae de eriaçãu, que sem ela seria palavra desprevida de
sentida, eu au testemunha histórico, que nas revela, em teclas us peves e em
todas as tempes e lugares, a erença na imurtalidade, erença a que e eristianistna
e a marte de Sócrates vieram dar a mais sublime farma e garantia.
Mas a alma, que habiteu um eerpe e eem ele fennuu um ser individuali-
zade e distinta, nae deisa este munde despida da sua indeie humana, nae aseen—
de ao seia da divindade eeme meru espirita abstraete, desligada de toda a sua
herança terrena: & a própria pesada que eam ela se eleva as ignetas regiões
etéreas, transpertande eensige toda a sua história terrestre, a respensabil idade
e a memória de passada, para selier eu gelar us efeitus de vieiu eu da virtude“.

& Mural

A deutrina da imertalidade da alma humana eenstitui tamMm,juntamente


eam a ideia da esisteneia de um se Deus, e fundamentu primeira de pensamentu
etiee de Cunha Seisas, euje sistema filesdfiee se earaeteriaa e define eeme uma
teleelegia de bem.
Ceneehende a mera] eemu a eiEneia eu parte da metafisiea aplieada que
se ueupa das regras raeienais per que a ventade humana deve ser dirigida, a

'“ Estrelas, |L 43 a saga. e Fantasias de Amar. pp. III?-149. lãl'lSZ, ISE-[El e |94.
ªº Fria-*:. GE:-, FIL. & 31.
ªªª A Fe'rrt'Jr, ]::+ 34,
" Idem. pp. Elie Tªl-T5, Cir, Estac.—ius, pp. IEE-IH e Elements-s de Meriti, ed. eit., & 24.
Eru: Teieelre — [] Fentitelsme ele Ceni.-e Setses e.“

pensader eensiderava que as ideias da meralidade, que sae as que deminam as


relações entre a mesma ventade e aquelas regras raeienais, se reeendueiam a
três: e bem que e hemem deve preeurar real iaar, e dever que lhe eahe eumprir
e a virtude que deve pratiear.
Assim, a meral teria per ebjeete material es aetes da ventade humana e
per ebjeete fermal as relações destes eem as leis que eenstituem a nenna a que
aquela deve eeedeeer e per finalidade a erientaçãe des aetes humanes de har—
menia eem as leis da metal eu eem e bem“.
Seade a mais alta das eieneias filesefieas, dade eneaminhar a ventade
para e bem e para a virtude, a meral dividir-se—ia em tedrt'ett. espeettitrtive eu
gera! e prátiee, epiteede eu especial, perteneende à erimeire eensiderar as
leis da ventade e liberdade e es prineipies da meralidade des aetes humanes,
eneuante a segunda tinha por funçae deduair daqueles prineipies as regras eu
nermas que e hemem deve seguir na pratiea de bem, Per sua vee, na mera]
geral, haveria ainda lugar a distinguir entre es prineipies relatives ae sujeite
[metal geral subjeetiva), que se deduzent direetamente da razãe humana, een'te
dela imanentes e se eensubstaneiant ne sentimente merel', na eeneepettª'e de
bem e na eettseteneie menti, e es prineípies reeienais e ebjeetives, imanentee
& razãe, que, segunde e pensamente étiee de Cunha Seisas, seriam es de er-
e'ettt. bem merei, tet e dever, assim eeme pelas eensequêneias que deles deri-
vam para e agenteªª.
Ú sentimente mera! era entendide pele filesdfiee pantiteista eeme uma
ferça íntima e imanente, eeme uma inelinaçãe eenstante para e bem, que se
manifesta, em cada um de nes, aeempanhande e eenheeimente que temes de
dever e da eh-ediêneia que nes esige uma lei sup-erier, a ferª meref. A esisteneia
de uma lei meral em nós, per um Iade, na medida em que afeeta a sensibilidade,
preveeande satisfaeâe eu remerse, da erigem ae seettmente meritir eu de dever
e, per entre, eensiderada tante seb este espe-ete eeme seb e aspeete intelectual,
vem a eenstituir a eensetênet'e sterez'ªi.
Se, eeme vimes, e universe, sende unidade na variedade, é um eenjunte
de seres eentingentes, dependentes de ser infinite, euja finalidade e a realização
hanneniea de bem universal para a qual eeneerre eada ser eumprinde e seu
destine eu bem individual, a primeira lei etiea raeienal e ebjeetiva e a ideia de
ardem. Per seu turne, dela resulta que e bem mera] e a realizaçãe de destine de
hemem em tude e que depende da sua ventade livre e de aeerde eem a harme-
nia universal, de mesme mede que a lei meral devera ser eeneehida eeme aquele

“ Eiementes de Meriti, ed. eh., 55 4-5.


" Ident. & e
" tem, e e
#52 Revisto Portuguesa de Filosafsu

que rege os actos humanos dependentes da vontade e o dever se apresentará


como a necessidade moral de cumprir a lei moral.
Daqui decorreria, entao, que a virtude deveria ser entendida como a que.
lidade intencional de cumprir o dever e de con formar os actos humanos com a
lei moral,_sendo, por isso, sempre a sua forma a intenção do bem.
Ao mesmo tempo que admitia serem virtudes fundamentais a prudência ,
a temperanca, a fortaleza e ajustiça, não se afastando, portanto, das orienta-
ções tradicionais, Cunha Seiaas distinguia, no plano dos deveres, os relativos
aos seres animados, vegetais e minerais — que radicavam no primado do bem
em que assentava o seu pensamento ético, aqui muito próximo de uma visão ou
uma atitude franciscana perante todos os seres da criação — os deveres para
consigo proprio, nos quais avultava o de conservar a base corpórea da pessoa e
a consequente condenação do suicídio, e os relativos a sensibilidade, s inteligên-
cia e s vontade, e, finalmente, os deveres relativos aos outros, em que, em seu
entender, ocupavam o primeiro lugar os de caridade e dejustieaªª.
Quanto s sanção da lei moral, o filósofo, do mesmo passo que pensava
ser ela constituída pela v idade que, como uma excelência moral, engrandece o
ser do homem e lhe garante a felicidade, entendia que as diversas sanções que
aquela recebia neste mundo, fossem elas físicas, naturais ou legais ou provies-
sem da opinião ou da consciência, eram sempre insuficientes, desiguais e incer-
tas, pois nem sempre puniam o vício e premiavam a virtude, pelo que so uma
vida futura, de imortalidade pessoal da alma humana, poderia servir de adequa-
da e segura garantia a sanção da lei moral, dando a cada um o premio ou o
castigo segundo umajustica cuja naturesa, por divina e transcendente, nos e
desconhecidaªªª.
No que diz respeito ao critério que permita aferir da moralidade dos actos
humanos, o filósofo recusava, por subjectivas, particulares, variáveis com as
circunstâncias e as pessoas e dependentes da opinião, as soluções propostas
por Adam Smith, por Bentham : pelos positivistas, sustentando que, neste domi-
nio, o único critério válido em o que se fundasse nas leis racionais do bem,
absolutas, eternas, invariaveis e [nsitas em nos”.

9. Filosofia do Direito

Jurista de formação e de profissão, Cunha Seisas nao deiaou de reflectir,


filosoficamente, sobre o direito, havendo a sua meditacao incidindo sobre três

'" Idem, & 19 e segs.


"' Idem. && 12-23 e A Fénix, pp. 49 e segs.
“' Efementos de Hora!, ed. cit., && 25-23
Bras Teixeira - Ú Pantitefsnso da Carris: Seixas 4.53

questoes essenciais: e conceito de direito, as suas relações com a moral e o


problema do Direito Natural.
De acordo com o sistema pantiteista, o direito resulta directamente de
natareza humana, existindo, por isso, por causa própria e não por facto da sim-
ples vontade dos individ uos ou dos governos, pelo que o principio do direito e
algo insito ao homem como pessoa, que o domina em todas as manifestações
exteriores da sua existência,
Para Cunha Seixas, o direito deveria considerar-se objectiva e sebjecti-
vamente, diversa sendo a sua realidade num caso e noutro, Elo pente de vista
objectivo, seria a ciência dos princípios relativos às condições, manifestadas
exteriormente, dependentes da liberdade e necessárias para o nosso fim, o qual,
como vimos acima, é o de contribuir para a real isacâo da harmonia universal de
que resultará o desenvolvimento integral e equilibrado das virtudes de cada um,
a realização da sua essência. Considerado subjectivamente, o direito seria a
faculdade ou poder de praticar ou deixar de praticar os actos da vida mora] e
social, o poder de cada um dispor da sua vida moral e de exigir o respeito dos
outros pela liberdade, dentro dos limites da sua esfera de actividades. Deste
modo, o direito seria, a um tempo, o garante da liberdade individual e o regulador
das liberdades sociais, contendo cada um dentro da sua esfera de acção, para
que a sua liberdade subsista com as dos outros e com as de todos".
Na sua dupla face, a ideia de direito adoptada pelo filósofo pantiteista
vem a recolher o essencial da lição do pensamento individualista e liberal de
António Luís de Seabra, Vicente Ferrer Neto Paiva e Dias Peneira sobre o
assunto, ao admitir que aquele se refere, simultaneamente, a principies e a
condições e ao torna-Io instrumento e regulador da liberdade individual e meio
de harmonizar a liberdade de cada um com a liberdade dos outros, assim asse-
gurando a paz social e a real iaacao do fim de cada um“.
Cabe notar, no entanto, que, diferentemente de todos eles, Cunha Seixas
recusava que a coacção fosse da essência do direito“,
No que respeitava its relacões entre direito e moral, entendia Cunha Seixas
que ambos se fundavam na lei moral, dependendo, por isso, da vontade humana,
não na sua essência, mas no seu modo de ser ou na sua execução, o que, toda-
via, não levaria a con fu são ou identificacao de ambos, pois era diversa a ampli-
tude de cada uma destas ordens normativas.

"" Estreias. p. 63, Elementos de Hora!. & H e Principios cie-mentores de Direito Givi!
Português. Lisboa, IEEE. 1). I I ,
” Cfr. Cahra] de Moncada, ..5'nbsírfiospara uma História da F[losojin do Direito em Portuga!
HIFI-iii.!U. Coimbra, 1933, e A. Era: Teixeira, Ú pensamento jiiosdjiec-jaridrce português,
Lisboa, 1933 e Caminhos efiguras do F iiosojia do Direito Laso-Brrrsiieiro. Lisboa, 1991,
” Galerie, p. IT |.
did Revista Pertugnesrr de F desafie

Cem efeite, enquante e direite se refere unieamente aes aetes esternes e


internas que se manifestam esteriermente i.e., aes aetes seeiais, a mural apre-
senta mais traste ambite, ja que engleba ne seu fere nae se es aetes esternes
eeme também es faetes inteneienais da eenseiéneia, nae se Iimitande, per isse,
aes aetes seeiais, antes abrangende, igualmente, eeme vimes, es aetes de he-
mem para eensige, es relatives aes eutres hemens e es respeitantes aes matan-
tes seres da natureaa”.
Ú direite pesitive, segunde Cunha Seixas, deveria ter sempre per funda-
mente e Direite Natural, baseada na eenseiêneia mera! da natureza humana.
Assim, desta neçae de Direite Natural e de prineipie de direite eeneebide eeme
lnsite ae hemem eeme pessea deeerreria, entae, que e hemem teria tantes direi-
tes naturais quantas as qualidades esseneiais da sua natureza pesseal, eenside-
rada nas suas relações seeiais. Na risãe de pensader e j urista, a persenalidade
humana, quande eensiderada dessa perspeetiva, manifesta-se pela liberdade,
pela igualdade e pela faternidade, que se eenvertem, assim, neutres tantes direi-
tes naturais.
Deste mede, enquante a liberdade visa t'ermar e indisidue, eem a sua
esfera] uridiea própria, independente e distinta da des entres hemens, a iguai-
dede tem per missae eensiderar e hemem eeme fiihe de mesme pai eemum
(Deus) e membre da mesma familia (a humanidade), termade des mesmes ele-
mentes gerais e eemuns aes restantes seres humanes e afurernidade eu as-
seeiaeriie eabe vineular Iivreme nte as individual idades, Estes três direites natu-
rais implieam—se reeipreeamente, pele que nae pede haver autêntiea liberdade
sem igualdade, nem uma e entra sem maier asseeiaçae eu fraternidade, de'-fen-
de, per issu, a sua realizaçãe ser simultânea e interdependente, perquante se
trata de ideias intimamente adunadasiª. .
Se, ne que eeneeme ae eeneeite de direita, a fileset'ra pantiteista eeme
que faz a síntese entre e pensamente de Ferrer Nate Paiva e e de Dias Ferreira
e se, ne respeitante às relações entre direite e metal, adepta uma selueãe preai-
ma da de primeire daqueles auteres, na impertâneia que atribui a ideia de asse-
eiaeãe, que identifiea eem e direite natura] de fraternidade, 1sem a integrar-se na
linha de pensamente de seu mestre Redrigues de Brite, que, neste pente, eneen—
treu e seu representante mais signitieative em Antenie da Cesta Lube e na sua
ebra Ú Estude e e liberdade de esseeieedu ([ 364)“.

'"" lda.-n. pp. ITQ-231] e 291299 e Ele.-nantes de Mural, ed. cit.. H+ IS e 22.
" Eirreirts, pp, 75 e segs, e Print-. Dir. Cir.-“l', pp. [ªl-l'?
“' Cfr. as duas primeiras e-hraa referidas na neta ?? e A. Braz Teixeira. Ú pensamente
rra'seer'ueienism e eerpere'rrre em Pertrrgu! ne séc. XIX, nas "Actas" de | Cel—equip Haeienal de
Trabalhe, da Úrganizaeie |IEIerperatit!-*a e da Segurança Sueial. vel. lil, List:-ea. I'Jbl.
Bras Tatraíra - Ú Pantfrsisnve de Canna Saares 455

10, Estétiea

Também a refleaãe estetiea eeupeu lugar de algum releve ne pensamen-


te de Cunha Seixas, e que bem se eempreende nãe sd pele earaeter deeidida—
mente sistemátiee da sua atitude espeeulativa, eeme peias diversas tentativas,
embera literariamente mal legradaa, que empreendeu ne deminie da eriaçae
poetiea (Estreias, Ú Pantítetsme na Arte) e fieeienal (Fantasias de Amar],
eerne, ainda, pele deeisive papel que atrieuia ae sentimente estetiee na génese e
na finalidade de amer humane.
A estétiea, sende a eiEneia de bele, s e eenjunte das leis gerais de tedas
as artes, a eeneatenaeãe das variedades aeb uma só unidade real, peis aquelas
têm per fim e bele. Daqui deeerria, entãe, segunde e sistema pantiteísta, que a
estétiea deveria atender, neeessariamente, a deis elementes: e supra-esperi-
mental, que dá a unidade, e e esperimental, que as a variedade, fundinde—se, ne
entante, estes deis elementes numa unidade eenjunta, que eenstitui e plane pri-
merdial da ehra estetiea, e qual se desen velve, depeis, em diversas d ireeeões,
umas eenservaderas, entras evelutivas, eem suberdinaeãe e eengruêneia de te-
das as partes se fim de artista, para se aleanear a hannenia. Assim, a estetiea
pantiteísta terna eeme pente de partida es elementes eenjuntes, reais, sensível e
supra-sensivel, deseende a história, as eireunstâneias seeiais e aes elementes
de eveluçãe para e desenvelvimente da ehra de arte e aseendende a uma unida-
de harmeniea que a a ideia geral da mesma ebra“,
Ú adequade entendimente de eeneeite pantite—«sta de estétiea e das suas
leis assim expressas Flea, pert-Em, dependente, per um Iade, da unção de bele e,
per entre, da ideia de arte e de eriaçãe artistiea.
Quante a neeãe de bele, eemeea e ti Idsefe per reeusar as teses que pre-
euram identified-le eem e agradável, eem a perfeieae eu e bem, eu eem a imita—
çãe da natureza, pois, de aeerde eem es pressupestes gerais de seu sistema
ti lestifiee, aquele lhe apareee eeme um retiese da essêneia divina, reveiade ne
munde e individ ualiaade na ebra de arte e, nesta medida, eeme alge detade de
um earaeter superier de universalidade e de impessealidade, que, per isse, trans-
eende a mera subjeetividade e preveea admiraeãe em tedes es tempes e luga-
res e em tedas as pesseas.
Mas se e bele a divine na sua essêneia, & terrene na sua ferma, quedande
sempre dependente desta, perquante, nãe sende uma abstraeeãe nem uma ideia
simples, mas uma individuaçâe, assume multiplieidade de fermas, variaveis ne
tampe e ne espaee, em funçãe de earáeter des p—eves, da individualidade de
artista e das ideias deminantes na sua épeea e ne seu meie.

" Gaara, pp. use e na, Ensetes. e, as e Emirates, p. it:-tm.


456 Revista Ferrugaese de Fffesejie

Este mede de eeneeber e bele vai permitir ae filesefe respender à ques—


tãe de saber se ele tem existência real e ebjeetiva eu se esiste apenas na mente
humana, ne estade meramente subjeetive De mede semelhante ae que adeptara
quante ae eeneeite de direite, Cunha Seisas dirá que e bele e, simultaneamente,
subjeetive e ebjeetive. É subjeetive, perque, sende a ideia que dele temes per-
manente, superier, universal e impesseal, nada na realidade representa plena-
mente essa ideia, que e apenas individualizada na naturesa e nas eriaçees hu-
manas. Per eutre Iade, e ebjeetive, peis a natureza e' bela ne seu fede e em
algumas individualidades e e bele tem uma erigem eterna. Assim, ae mesme
tempo que, perque Deus e a beleza, e bele tem ne infinite uma esistÉneia real e
ebjeetivs, tem, igualmente, uma esisteneia subjeetiva eeme ideia e tipe geral ne
espirite humane e, em espeeial, na rnsãe, na medida em que esta é e depósite de
tude quante & universal.
Esta eeneepçãe, vai permitir ae fi lesefe pertugues integrar, herme-
nieamente, na neeãe de bele as tres vise-es pareelares dele que eemeeara per
reeusar. Cem efeite, se e bele pmeede da individuaeâe de infinite ne finite,
prevem de ser infinite, que, sende a verdadeira e suma belesa, e, também, a
eri gem de bem e da verdade, pele que nae pedera deixar de refieetir e bem e e
verdadeire, i. e., a prepria perfeiçãe divine, Per eutre Iede, e bele &, igualmente,
imitaeãe da natureza ne sentide em que esta eentem seres beles, euja imitaeãe,
per isse, agrada. Daí, entâe, que e bele seja, a um tempe, a perfeiçãe, a imitaçãe
da naturesa e e que agrada".
Da estetiea pantiteísta, tal eeme Canha Seisas a penseu e desen velveu,
resulta, tambem, que a arte devera ser entendida eeme real izaeãe sensível de
bele e individuaçâe de uma eu mais ideias, eperada pele espírito humane, dentre
a variedade de fermas ne genere e nas infiuêneias eireunstantes para um een-
junte hermeniee. Deste mede, a ebra de arte apresentar—sea eeme uma unida-
de em que se integra aige de eteme e perfeite, e ser em si, a unidade imutável e
e variável e transiterie, que representa a epeea, e lugar, e ge ste de artista e as
demais eireunstâneias de seu ambiente natural, seeial e espiritual.
Per seu turne, perque e bele e, simultaneamente, subjeetive e ebjeetive, a
eeneep-çãe e a eriaçãe da ebre de arte nâe se eireunserevem ee deminie eseiu-
sive da sensibilidade, antes enveivem sempre a razãe, e sentimente de infinite e
a imaginaçãe. Na verdade, nãe há ebra de arte sem a ideia de bele, euja sede se
eneentra na rasãe, quer na dimensãe universal e impesseal daquela mesma ideia,
quer ae que tem de subjeetive, de partieu lar e de variável, per se eneentrar na
rs..-tee individual. Per sua vez, e sentimente de infinite intervém na eriaçãe artís-

1'“ Galeria, pp, lili-ISS.


Em: Teiseirs: - Ú Ponriteismo de Cunha Seitas 4.5?

tiea ao ser nela constantemente esoeado e tornando mais inrlefinirlo e


indeterminado o gozo de obra de arte em nos. Finalmente, a imaginação, en-
quanto forma de pensamento e poder do espírito que, através das ideias do
espaço e do tempo, retrata a natureza no eu, intervém na eriação artistica indi-
sirlualisando os ohjeetos,
O pensador não deisa de notar que estas três faeuldades que intervêm na
criação artística eorrespondem as três leis ontologieos-metafisieas, ja que ao
ser eorresponde, subjeetisamente, a razão, a manifestação, o sentimento, e a
harmonia, a imaginação que, apoderando-se dos dados das outras duas fa-
euldades, forma a eriação artistiea. ldEntiea eorrespondãneia esiste relativa-
mente a propria arte, em que o ser e a obra no seu todo, a manifestação e a
variedade dos seus eomponentes e a harmonia e a proporção, o número, o ritmo
e a ordem a que pertenee a obra de ane.
Por outro lado, porque esiste o infinito e o finito e a ideia eareee de se
tornar realidade, toda a arte e, sempre, ideal ista e realista, uma vez que todo o
artista tem uma ideia, que e o lado eterno da arte, e essa ideia tem de enearnar
e tomar forma num ohjeeto nalural, num deten'ninado momento do tempo.
Assim, na estetiea pantiteista, tal eomo Cunha Seisas a pensara, a arte
apresenta-se eomo “o santuário do infinito", revelado em esseneia pela ima-
gem e pela forma. Se não eabe s inteligêneia humana espliear o infinito, esiste
em nós o sentimento dele, eomo lua que nos ilumina e fogo que nos aqueeeiª',

l l . Filosofia da Historia

Enquanto, para o eriador do pantiteismo, o amor humano tinha no senti-


mento estetieo a sua origem e razão de ser, a doutrina da imortal idade da alma,
além de ser um dos dois fundamentos da moral, em a ehase da filosofia da
historia, porquanto so a erenea na imortalidade daria sentido a história humana
e ao saeriiieio das sueessisas gerações, garantindo acaoa indivíduo que a estinção
da sua sida e da sua nação não e para ele o tim de tudo, e que os seus serviços
serão premiados numa nova patria, imorrecloira, luminosa e eternaª",
O fim do homem, dissemo-loja, s a real isação do bem, em que consiste a
harmonia universal. Esta, porém, não se aleanea de umjaeto, antes impl iea um
movimento intermino, uma aeção eonstante e sem detença, no eaminho de um
aperfeiçoamento ilimitado, euja tiniea mira, inaleançásel embora, e o infinito.

" Idem. pp. ISI—ITIJ.


"' A Ferris. pp, l l ó e segs.
453 Revista Parnaguesa de Filesuja

De aeurcle eum a visae pantiteista, e mevimente histtirieu nae &, perem,


reetil inee e determinista, peis preeessa-se em séries eu eielus, atraves de diver-
sas civilizações sueessivas, que realizam aspeetes pareiais de ideal humane,
numa diaieetiea ineessante entre as elementes eenservadures e es evelulives,
nn sentida de uma ardem uu hat-mania, na livre, pregressivu e aseendente eami-
nhu de uma sulidariedade universal rad ieada na liberdade individual e de uma
mais eunseiente assuneae de espirita du humem e das seus fins.
A dinâmiea da história pede. então, sintetizar—se nesta fórmula: “Ú hu-
mem e a humanidade realizam, livremente e sub leis efeetivas, a sua finalidade,
eameçande na primeira idade histórica per urna viva intuiçãu em todas as ehjee-
tus da aetividade humana, dandu-se na segunda a antagunismn reilesivu e per
veses eseessive pela luta das elementus eenservadures eam es evalutivus e em
tadas as subdivisões de idade e nas series especiais da vida enmum e da vida
das povos a lei da harmunia, que quebra as eentradições e fas. eaminhar as
individualidades e e ser eeleetive para um perpetua ideal, alargande-se sueessi-
vamente as esferas da v ida e da eivi I izaçae eum a mira de infiniteªªª .

ll. Situaçãu de Cunha Seixas na lilusufla portuguesa uitueeutlsta

a analise da abra e da pensamente de |Cunha Seisas a que aeaha de


prueeder-se revelam-ne., a mais de um titule, eeme filesufu situada ne seu tem—
pu português, eume espeeulative radieacle na eireunstâneia histeriee-eultural
própria de ultima quartel da nesse seeulu XIX.
Tal earaeter deneta-se, desde lugu, na sua atitude de elara e reiterada
epesiçâu às duas eurrentes filusdfieas e ideulúgieas au tempo deminantes entre
nós — krausisme e pusitiv ismu - hem enmu nas demoradas erítieas a pensada-
res naeienais em que se repercutem teses evnlueiunistas eu atumistas, eume
Deminges Tarrusu eu Pente Hurtae
Per autre lada, Cunha Seisas fui, eum Sampaie Bruna, e espeeulative
pertuguEs de uitueentus que maiur atençae deu aes pensadures naeienais, nau
se seus euntemperanens enme de epeeas anteriures. Reeerdem-se, a este res-
peite, as suas referêneias a Franeiseu Sanehes ªº, Antónia Cerdeira, Manuel de
Aaevedu Fertes, Jaeeb de Castru Sarmentu, lnaeiu Menteiru, Vemev, Antónia

" Fríue. Ger. Fli. Hist. a viseu da história apresentada pur Cunha Seisas nesta al:-ra revela
algumas euriusas afinidades eum a que. na mesma ane. Úliveira lvlartins defendeu na lntruduçau a
D ieefenísnme :: t'r'viituee'ie cristã. Sabre a materia deste númere eir. Antónia Quadras, fntreduçde
:: Fílusnfra da História Lisbela IEFSZ. pp. 151 e segs,
ª" Prtne. Ger. Fil. Hist. |L E e Eusutes. pai!-El segs.
Era: Teixeira - Ú Fansiteismo de Ca.-ma Setras 459

ares Barbosa, Teodoro de Almeidaªª ou Silvestre Pinheiro Ferreira“, De


estranhar e, no entanto, a ausêneia, na sua obra, de qualquer alusão aos nomes
e ao pensamento de Amorim Viana e Antero, não se pela inegável importaneia
de ambos no pensamento português da segunda metade do século XIX, como
pela difusão obtida pela Defesa do Raer'oaalisero (3 edições em menos de 20
anos] e pela eoineideneia do pantiteismo eom pontos esseneiais do pensamento
daqueles dois filósofos seus eontemporâneos.
Lembre-se, quanto a Amorim Viana, a negação da trindade, da divindade
de Jesus, do peeado original e do milagre, a reeusa da realidade do mal ou as
afinidades no domínio do pensamento etieo, para nao falarja na eomum atitude
polémiea em relaçao ao Padre Ventura de Rauliea, euja obra é, eomo se sabe,
o alvo prineipal da eritiea do filosofo portuense.-
Quanto a Antero, reeordem-se, entre outros pontos de não menor relevo,
a erítiea & extensão abusiva da noção de evolução e ao positivismo, a defesa da
metafisiea, do espiritualismo e da ideia de final idade, o proeesso diale'etieo do
eonheeimento e do desenvolvimento do real, o fundo etieo e ontologieo do seu
pensamento ou a ideia de Absoluto.
Por outro lado ainda, note-se que Cunha Seiaas teve o entendimento ela-
ro de earaeter naeionel de ti Iosofia — atente—se, por eaemplo, na notável earae-
teriaaeao que fez da filosofia alemã a partir de Islam“ ou na eireunstâneia de,
quando se deteve a eonsiderar a historia da filosofia moderna, o ter feito, não
numa perepeetiva pretensamente universalista ou europeia, mas em siderando
de per si eada nação (ou eada lingua) eomo um ser próprio e autonomo, eoeren-
te, alias, eom o seu pluralismo ontologieoªª.
Por falta de adequada informaçao — não se esqueça que a investigação
do nosso passado filosofieo se inieiara poueo antes, com Lopes Praça - e im-
buído, talves, dos preeoneeitos do tempo quanto ao valor da eseolastiea, Cunha
Seixas não so nao ehegou a formulação do problema da filosofia portuguesa,
eomo pareee ignorar que as questões que aborda, se têm uma história em Fran-
ça, na Alemanha, na Inglaterra ou na Itália, possuem'na também, em Portugal,
eonvindo, por isso, atentar nela eom igual ou ainda mais euidada e detida re-
flexão“.
É neste earaeter situado do pensamento de Cunha Seir-tas (nos termos
em que e podia ser no último quartel do seeulo XIX) que radiea o seu aparente

'ª Lneallroeo'es. p. Iii—'El.


“ Galleria, p, SEI], Ensaios. 11. BI e Leonor-ações, p. latin?I
ª'" Galeria. pp. Iii? e segs.
" Pin-ina Ger. Fri, Hist.. eap, II,
"'" Efr, Alvaro Ribeiro, Canha Seitas e aji'fosoji'a porvugaesa. eit.
450 Revista Portuguesa de Ffilosofia

anaeronismo, o retardamento de que poderiam aeusa-io eertos homens da sua


geração, iludidos pelo fatal equio de pretender pautar a v ida e o pensamento
dos portugueses por um fantástieo tempo europeu que não era então o seu,
oomo não o fora antes nem o seria depois.
Assim, eomo Silvestre Pinheiro Ferreira havia reeusado os aHeraelitos
da Alemanha em nome do seu tempo português, também l.Eunha Seixas vai
repudiar o positivismo em filosofia, o realismo em literatura e o soeialismo em
politiea, em nome do pantiteismo filosofieo e de um liberalismo que se não de-
têm no indivíduo nem se lança no turbilhão anônimo e dissolvente de uma so-
eiologia sem superior garantia espeeulativa ou étiea, mas atento a esseneial
liberdade e a mais altajustiça, integra harmonieamente a pessoa humana numa
dinâmica mais ampla, a eseala eosmiea e universal.
O pantiteismo assume, assim, o papel de fase neoessaria e natural num
proeesso naseido no seio da erise reeentemente aberta no sere na sua razão e
que o ingenuo e esforçado pensador em vão pro-eurarti deter, tentando eoneiliar
imanênoia e transeeudêneia num pensamento de harmonia e Absoluto e reunir
em perene, feeundo e movente equilibrio elementos dispersos, tornados de sul:-i-
to ineoneiIiaveis e eontraditorios, eomo a explosão dramatiea do pensamento e
da vida de Antero em breve tomara patente“.

a amarro nas 3 raras.—'as

“ Cfr. lose Marinho, l-ierdada. condição e destino ao pensamento portugués mntemporâ-


neo. Porto, IÉTÉ. PP- 5? e segs,

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