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Investigaciones Geográficas, Boletín del Instituto de Geografía, UNAM

No. 52, 2003, pp. 83-98

Geografias e topografias médicas: os primeiros


estudos ambientais da cidade concreta
A n g e l a Lúcia de A r a ú j o F e r r e i r a * Recibido: 21 de enero de 2003
Anna Rachel Baracho Eduardo** Aceptado en versión final: 17 de julio de 2003
Ana Caroline de Carvalho Lopes Dantas***

Resumo. O meio natural e os condicionantes geográficos fundamentaram o pensamento higienista e orientaram


médicos, do século XVIII ao início do século XX, no estudo e diagnóstico do espaço urbano. Tais idéias foram
sistematizadas em tratados conhecidos como Geografias e Topografias Médicas, que, difundidos pelo mundo,
culminaram em descrições precisas do território das cidades, espacializando as doenças e identificando sua
natureza, sua evolução e seu tratamento. Este trabalho, além de retomar a origem desses tratados, considerando-os
como um dos primeiros estudos "geográficos" do espaço urbano, busca inserir o Brasil e, mais especificamente, a
cidade de Natal (região nordeste do Brasil) no contexto dessas análises, destacando a Topographia de Natal e sua
Geographia Médica elaborada pelo médico Januário Cicco em 1920.

Palavras-chave: Geografia médica, topografia médica, higienismo, natal, Brasil.

Resumen. El medio natural y los condicionantes geográficos fundamentaron el pensamiento higienista y dirigieron
médicos, del siglo XVIII al inicio del siglo XX, en el estudio y diagnóstico del espacio regional y urbano. Tales ideas
fueron sistematizadas en tratados conocidos como Geografías y Topografías Médicas, que, difundidos por el mundo,
culminaron en descripciones precisas del territorio de las ciudades, espacializando las enfermedades y identificando
su naturaleza, evolución y tratamiento. Este trabajo, además de recuperar el origen de esos tratados y apuntarlos
como uno de los primeros estudios "geográficos" del espacio urbano, busca insertar a Brasil y, de forma específica,
a la ciudad de Natal (región nordeste de Brasil) en el contexto de esos análisis destacando a Topographia de Natal e
sua Geographia Médica, elaborada por el médico Januário Cicco en 1920.

Palabras clave: Geografía médica, topografía médica, higienismo, Natal, Brasil.

Medical Geography and Topography Works: the first


environmental studies in a specific city
Abstract. The natural environment and the geographical circumstances set the basis for the development of an
hygiene-oriented thinking and led physicians to investigate and diagnose the regional and urban space between the
eighteenth and twentieth centuries. These ideas were systematically compiled in works known as Medical Geography
and Topography Works which, when known throughout the world, ended up becoming precise descriptions of the
cities' territory, providing a spatial account of diseases and identifying their nature, evolution and treatment. Besides
recovering the origin of these treaties and stressing their importance as amongst the first "geographical" investigations
of urban space, this work aims to include Brazil, and specifically the city of Natal (in northeast Brazil) within the context
of these analyses, with special emphasis on the work entitled Topography of Natal and its Medical Geography
authored by doctor Januário Cicco in 1920.

Key words: Medical Geography, Medical Topography, hygienism, Natal, Brazil.

é cada vez mais corrente nos estudos e


INTRODUÇÃO
investigações médicas atuais, em distintas
O reconhecimento das condições ambien- regiões do Brasil e do mundo. Algumas
tais, urbanas, bem como, socioeconômicas pesquisas evidenciam, de forma setorizada,
de um dado lugar como fatores determi- a ocorrência ou agravamento de certas
nantes ou disseminadores de enfermidades doenças, como também, a qualidade de vi-

*Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo - UFRN. Natal-RN, Brasil. Fax: 55-84-215-3776.


E-mail: angela@ct.ufrn.br
**Programa de Pós-Graduação em Arquitetura - EESC/USP, São Carlos-SP, Brasil. E-mail: annarbe@yahoo.com.br
***Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo - UFRN. Natal-RN, Brasil. E-mail: anacaroline.
dantas@bol.com.br
Angela Lúcia de Araújo Ferreira, Anna Rachel Baracho Eduardo e Ana Caroline de Carvalho Lopes Dantas

da da população, usando como recurso Sis- crático, para Glacken (1996:106) constitui-se
temas de Informações Geográficas (SIG) como "el primer tratado sistemático sobre Ias
que possibilitam a visualização sócio- influencias del médio en Ia cultura humana",
ambiental de um determinado espaço geo- apontando relevantes contribuições para
gráfico, permitindo a sua descrição, análise a história da medicina, da geografia e da
e distribuição espacial da enfermidade antropologia.1
(Chiesa et al., 2002). A relação cidade-
saúde coletiva, ambientalismo e, sobretudo, A correta orientação dos prédios e das ruas
medicina e geografia, no entanto, não tem a fim de controlar a insolação de verão e
origem na contemporaneidade; transcende permitir a penetração dos ventos, assim
séculos. como a procura por fontes de água pura e a
eliminação de ambientes pantanosos e insa-
Estudos como os de Carlos Lacaz (1972), lubres, foram alguns dos preceitos ampla-
Mumford (1982), Luis Urteaga (1980), mente adotados e difundidos a partir da teo-
Clarence Glacken (1996), Maria Costa ria de Hipócrates. A saúde da população e
(1997) e Anthony Dzik (2002) mostram que os próprios problemas sanitários do lugar
a origem do ideário higienista, da preocupa- eram avaliados a partir das condições
ção com os condicionantes ambientais e de de vida da população (o trabalho, o tipo de
sua vinculação com a qualidade de vida nas alimentação, as condições de moradia, entre
cidades têm suas raízes nas teorias desen- outros), da análise do meio natural e do
volvidas por Hipócrates no século V a.C, ambiente construído -situando o paciente no
sobretudo a partir de sua mais citada obra lugar em que ele vivia. Atribui-se também à
Dos ares, das águas e dos lugares. O teoria de Hipócrates a compreensão da
médico inglês Thomas Syndenham é apon- importância do consumo da água pura, tanto
tado como o sistematizador dos preceitos para a ingestão quanto para os banhos. A
hipocráticos para a Era Moderna, suscitando influência dessas idéias tornou-se evidente
a existência, no século XVII, de uma relação com o surgimento dos sistemas de abasteci-
entre o meio natural e certas patologias mento d'água das cidades, dos aquedutos e
(Urteaga, 1980:9). O higienismo -"... una dos balneários especializados em todos os
corriente de pensamiento desarrollada desde tipos de banhos.2
finales del siglo XVIII, animada principal-
mente por médicos" (Urteaga, 1980:5)-, os Dentre os estudos elaborados com o
tratados médicos e a conseqüente análise intuito de diagnosticar e "curar" as cidades
do ambiente construído como propagador de destacam-se as Geografias e Topografias
doenças firmam-se, desse modo, como para- Médicas, surgidas ainda no século XVIII, que
digmas das intervenções de (re)estruturação se consolidaram como importantes instru-
das cidades nos séculos ulteriores. mentos de análise e observação do espaço
urbano e regional. Assim, o presente tra-
Ao relacionar as questões ambientais à balho é uma tentativa de sistematizar a
saúde das comunidades, as idéias de Hipó- trajetória destes tratados médicos que deram
crates representam a base dos princípios origem às primeiras análises "geográficas"
do mundo moderno em relação ao meio do meio urbano, e, principalmente, de intro-
ambiente. Foram esses princípios que orien- duzir a cidade de Natal/ Brasil no conjunto
taram os higienistas do século XVIII ao início desses estudos, a partir da investigação de
do século XX e que justificaram as mudan- sua topografia e geografia médica, realizada
ças, tanto na estrutura física dos espaços da pelo médico Januário Cicco em 1920. A pes-
cidade como nas habitações e nos costumes quisa visa, ainda, contribuir para a ampliação
dos indivíduos. Esse célebre tratado hipo- da discussão sobre a origem dos estudos

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ambientais fundamentando, assim, o embate ainda como um ramo da Geografia humana


atual sobre a cidade. ao estudar o homem em suas relações com
o meio, utilizando-se, para tanto, de alguns
Constituíram-se fontes primárias para este conceitos e descobertas de outras discipli-
estudo, jornais oficiais e não-oficiais, Mensa- nas correlatas como a Antropologia, a Etno-
gens de Governo, Relatórios de Repartições grafia, a Estatisica, a Demografia, a Arqueo-
de Higiene e tratados médicos, dentre os logia e a História. Para Luis Urteaga
quais, mais especificadamente, Geografias e (1980:24), a geografia médica consiste na
Topografias médicas elaboradas no Brasil. "... ciência que estudia Ias relaciones exis-
Como fontes secundárias, foram utilizados tentes entre el médio físico y social y el
periódicos médicos, teses de doutoramento estado de salud de Ia población", conside-
da Faculdade de Medicina da Bahia, livros e rando as enfermedades fortemente determi-
trabalhos de autoria do médico Januário nadas pelo clima e pelo meio local. Já
Cicco, bem como trabalhos anteriores de- Anthony Dzik (2002:250) a define como "um
senvolvidos pelo grupo de pesquisa. Várias sub-campo da geografia que lida princi-
foram as instituições brasileiras (arquivos, palmente com os padrões espaciais das
bibliotecas e faculdades) consultadas no le- epidemias", ressaltando a estreita relação
vantamento de dados: Faculdade de Higiene com a epidemiologia.
e Saúde Pública, Faculdade de Medicina,
Escola Paulista de Medicina e Arquivo do Apesar dos autores divergirem em relação
Estado, em São Paulo; Biblioteca Nacional à origem e ao primeiro uso do termo, são
e Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro; unânimes em aceitar a influência das teorias
Faculdade de Medicina, na Bahia; e Arquivo hipocráticas como base "paradigmática" ou
do Estado e Instituto Histórico e Geográfico, referência fundamental para elaboração
no Rio Grande do Norte. desses trabalhos. Lacaz (1972) cita como
importantes obras que marcaram o período
O trabalho inicialmente discorre sobre a pré-pausteriano as publicações "Essai de
origem, a conceituação, as influências teóri- GéographieMédicale" de Bourdin, em 1843
cas e o desenvolvimento das Geografias e e, principalmente, "Handbook of Geogra-
Topografias Médicas em algumas regiões do phical and Historical Pathology do professor
mundo; em um segundo momento, aborda a de medicina, em Berlim, Augusto Hirsch, pu-
trajetória desses estudos no Brasil, seguida blicada em inglês no ano de 1883. Todavia,
de uma análise da topografia e geografia atribui ao médico alemão Leonhard Ludwig
médica datada de 1920 para a cidade de Finke a publicação do primeiro tratado cientí-
Natal. Por fim, aponta algumas conside- fico de Geografia Médica "Versuch einer
rações acerca da importância e atualidade allgemeinem medicinish-praktischen
desses estudos que muito contribuem para a Geographie/ Attempt at a General Medical-
análise do espaço urbano. Pratical Geography", ainda no século XVIII,
entre 1792 e 1795 -afirmação defendida,
Geografias e Topografias médicas: aliás, a partir dos estudos de Hirsch. Dzik
algumas considerações (2002:250) reafirma essa hipótese destacan-
do um trecho da obra de Finke: "... quando
A Geografia médica, para Carlos Lacaz se lida com um país atrás do outro ...
(1972:1) "é a disciplina que estuda a geo- posição ... solo..., peculiaridades do ar, da
grafia das doenças, isto é, a patologia à luz água... modos de vida... desde que tenham
dos conhecimentos geográficos". Também qualquer coisa a ver com saúde e doença ...
chamada de Patologia geográfica, Geopato- um trabalho dessa natureza merece ser
logia ou Medicina geográfica, é considerada chamado geografia médica".

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No entanto, o recente trabalho de Frank enfermedades que en ellos se desarrollan ó


Barret (2002), ressaltando a contribuição producen otras que les son peculiares: tales
francesa no desenvolvimento das geografias Ia fiebre amarilla, el coto, el carate, que solo
médicas, vem contestar essa afirmação tão se encuentran en regiones determinadas, y
amplamente divulgada pela historiografia. Ia fiebre tifoidea o Ia neumonía, por ejemplo,
Atribui ao físico francês Dehorne o primeiro cuya evolución no es igual en un clima tórri-
uso do termo em artigo publicado no Journal do ó en un clima frío (Márquez, 1916:4).
de médicine militaire no ano de 1782: "seria
um dia reunido (s) para formar geografia Por meio da correlação de fatores naturais
médica para toda a França que seria da com a saúde da população, esses estudos
maior utilidade para o tratamento de doen- médicos englobavam aspectos amplamente
ças" (Dehorne apud Barret, 2002:s/p). Men- estudados pela geografia física como as
ciona outras referências francesas como a elevações e as depressões da superfície da
do médico Jean-Noel Hallé na Encyclopédie terra, a hidrologia, a atmosfera e os movi-
Méthodique (1787,1792) e a de Julien Virey mentos da população (índices de nasci-
no ano de 1817 no Dictionnarie des Scien- mento, mortalidade, migração, etc; Urteaga,
ces Médicales, anteriores, portanto, aos es- 1980:24). Eram registrados desde dados de
critos do alemão. Maria Clelia L. Costa temperatura, pluviometria e direção dos ven-
(1997:154) indica o médico francês Vicq tos, aos hábitos e costumes de seus habitan-
d'Azur como o idealizador dessas topogra- tes (Costa, 1997), acabando por perfazer
fias "onde se destacam as descrições vol- não apenas aspectos físicos da estrutura
tadas para a área urbana". Ao discorrer urbana, como também, sociais, ao estudar
sobre a tradição geográfica na medicina a qualidade de vida na cidade, no local de
espanhola, Urteaga (1980:14) destaca a moradia, de trabalho e destacando temas
Topografia médica de Alcira y de los Riberos como prostituição, alcoolismo, pauperismo,
del Xucar, elaborada por F. Llansol em entre outros.
1797, identificando os estudos realizados na
Espanha como herdeiros de trabalhos Lacaz (1972) acrescenta que, ao se estudar
anteriormente desenvolvidos na Inglaterra e uma doença à luz da Geografia médica
na França. devem ser considerados além dos já citados
fatores geográficos, físicos, humanos ou so-
Em todas as codificações ou denominações, ciais (como distribuição e densidade de po-
é clara a interligação dos conhecimentos pulação, padrão de vida, costumes religiosos
geográficos e médicos, bem como a impor- e superstições, meios de comunicação), os
tância do meio geográfico no aparecimento e fatores biológicos (vidas vegetal e animal,
distribuição de determinadas doenças. Por parasitismo humano e animal, doenças pre-
meio de descrições precisas do território das dominantes, grupo sanguíneo da popula-
cidades, buscou-se espacializar as doenças ção, entre outros). Assim, tais fatores con-
identificando sua natureza, evolução e trata- tribuiriam para a formação de quadros ca-
mento. A noção de clima também se fazia racterísticos de regiões, como também sub-
muito presente nestes estudos, pois se acre- sidiariam na escala urbana, uma descrição
ditava na influência quanto à alteração da cidade concreta.3
da feição genérica da patologia, dando-a
características regionais e distintas, como Algumas "doutrinas científicas", elaboradas
pode ser visto nos dizeres do médico Luis por médicos, constituíram-se como a base
Cuervo Márquez quando da elaboração da teórica das topografias, dentre as quais se
Geografia Médica y Patologia de Colômbia destacam a teoria dos meios4 e a teoria
(Figura 1). Tan variados climas modifican Ias miasmática5.

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urbano como regional6.

Na Espanha, segundo Urteaga (1980:18), a


realização desses estudos pautou-se, desde
a metade do século XVIII, na emergência de
uma "política da saúde", impulsionada pelos
Estados absolutistas e instrumentalizada por
meio de Sociedades científicas, como a Aca-
demia de Medicina, e novas demandas so-
ciais que evidenciavam o impacto e as con-
seqüências de enfermidades epidêmicas.
Aponta ainda que a elaboração das topo-
grafias médicas foi, em grande medida, uma
tarefa institucional, apoiada e promovida por
diversas corporações médicas. Tais institui-
ções passaram a organizar e publicar "pro-
gramas" e "planos" para redação das topo-
grafias. Tratava-se de um esquema geral
-que poderia ser complementado mediante
observações de campo realizadas por cada
médico na localidade considerada para o
estudo- que contemplava os seguintes
itens:

1. Introdução histórica do local; 2. Estudo da


geografia física da área (relevo, clima,
vegetação); 3. Descrição econômico-social
Figura 1. Capa de Geografia Médica y Patologia (produção agrária, situação econômica,
de Colombia, de Luis Cuervo Márquez comércio, profissões, festas, vestimentas) e
(Fonte: Márquez, 1915).
descrição do meio urbano com seção dedi-
cada à higiene urbana (situação das mora-
Por outro lado, as precárias condições de dias, abastecimento d'água, descrição de
vida da população pós-Revolução Industrial, edifícios anti-higiênicos, elaboração de plan-
a pobreza, o excesso de trabalho e a falta tas da cidade); 4. demografia (estatísticas da
de salubridade das cidades originaram uma natalidade, mortalidade e nupcialidade) e,
outra corrente de pensamento que coexistiu, por fim, 5. situação patológica (enfermidades
no meio médico, com a teoria miasmática. O mais comuns e as possíveis medidas tera-
médico J. P. Frank publicou, em 1790, um pêuticas; Urteaga, 1980).
folheto -La miseria del pueblo, madre de
enfermedades- no qual identificava a
A teoria miasmática só passou a ser con-
doença como um fenômeno social, dando
testada a partir da teoria microbiana de
origem assim, ao que Urteaga (1980)
Pasteur, para a qual a propagação das
denominou de teoria social de Ia enferme-
doenças se dava por via invisível e as suas
dad. Essas teorias, além de apontarem -por
causas tornavam-se mais precisas e identi-
meio das geografias e topografias médicas-
ficáveis a partir do micróbio -independente
uma série de focos infecciosos e algumas
do odor e observável através de instru-
"disfunções urbanas" que justificaram as
mentos apropriados (Franco, 1997:78).
intervenções nas cidades, contribuíram para
a compreensão do espaço não somente

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A partir de então, imprime-se um novo con- 1820 quando:


ceito às pesquisas médicas, comprovando a
falta de "credibilidade científica" da teoria percorreram as províncias de São
miasmática; no entanto, o ideário higienista e Paulo e Minas, chegando até os limi-
o saber médico -ancorados na relação meio tes de Goiás, visitando a Bahia, parte
ambiente-saúde da população-, renovados da província de Pernambuco, Piauí e
pelas então recentes descobertas, continua- Maranhão, subindo, por fim, o Amazo-
ram a influenciar as inúmeras intervenções nas. Estudando a flora e a fauna do
na cidade, muitas vezes concretizadas por Brasil, os famosos pesquisadores de
outros profissionais, durante o final do século Munique realizaram entre nós notável
XIX e primeiras décadas do século XX. trabalho etnomédico. Preocuparam-se
também com o estudo das doenças de
Apesar do papel do meio físico no deter- nossos indígenas (Lacaz, 1972:10).
minismo das doenças ficar relegado a um
plano secundário a partir da nova medicina Destacam-se ainda as importantes atuações
do final do século XIX, continuou a se de Carlos Chagas7 -grande estudioso da
verificar ainda no início do século XX a Tropicologia médica e descobridor da tri-
realização de Geografias e Topografias mé- panossomíase americana -e do médico
dicas em várias partes do mundo, inclusive Roquette-Pinto- professor de antropologia
no Brasil. A influência do meio e sua relação no Museu Nacional e célebre estudioso dos
com a saúde coletiva, como dito anterior- indígenas na América, sendo sua principal
mente, revive hoje em dia em estudos que publicação "Rondônia", de 1916, considera-
podem ser considerados uma (re) leitura da por Lacaz (1972:13) como uma "verda-
dos antigos tratados médicos. Segundo deira obra de Geografia Médica" e como "um
Lacaz (1972:2) aborda-se nesses estudos dos mais sólidos monumentos da cultura
"as peculiaridades regionais de numerosas brasileira". Vale salientar que o pensamento
doenças, sua distribuição e prevalência na higienista, apesar de pouco influente, já vigo-
superfície da Terra e as modificações que rava no país no século XVIII embasado pela
nelas possam advir por influência dos mais já mencionada teoria miasmática. Os médi-
variados fatores geográficos e humanos". A cos, nesse momento, apontavam as possí-
seguir, tem-se uma primeira sistematização veis causas para a insalubridade da colônia,
da ocorrência desses tratados em território principalmente na cidade do Rio de Janeiro:
brasileiro, dando-se ênfase ao caso específi-
co da cidade de Natal. a ação prejudicial dos pântanos, que
produziam miasmas; das montanhas
Uma breve trajetória de estudos médicos que circundavam a cidade que impe
sobre o Brasil diam a ação purificadora dos ventos;
da proximidade do lençol d'água, que
No Brasil, a obra do médico francês José dificultava a drenagem das águas plu-
Francisco Xavier Sigaud Du climat et dês viais e tornava o solo sempre úmido,
Maladies du Brésil ou Statistique Médicale da imundice das vias públicas, que
de cet Empire de 1844, é considerada por infeccionava o ar. (...) a direção errada
Lacaz (1972) como o primeiro tratado bra- das ruas, a superpopulação das habi-
sileiro de Geografia Médica. Nomes como tações, o costume de enterrar os mor-
o do zoólogo Johann Spix e do médico tos nas igrejas, a dieta inadequada,
naturalista Carl Friedrick Martius também a ausência de exercícios físicos (...), a
são citados pelo autor em função de seus prostituição, etc. (Abreu, 1997:40-41).
estudos realizados entre os anos de 1817 a

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Geografias e topografias médicas: os primeiros estudos ambientais da cidade concreta

A influência do meio sobre a saúde da tudo e inclusive no Estado.


população passou, no entanto, a ter maior
sustentabilidade no Brasil a partir do século A medicina se afirmou, então, como apoio
XIX, com a transferência da corte portugue- científico necessário ao exercício do poder
sa para o Rio de Janeiro, em 1808. O do Estado. Necessária era também a criação
médico Manoel Vieira da Silva, então ffsico- de instituições de ensino médico que difun-
mor do Reino, atento às ordens do Príncipe dissem esse saber no Brasil e que, restau-
Regente que queria descobrir as causas rando a saúde da população, contribuiriam,
das freqüentes doenças, elaborou um sobremaneira, para a própria "prosperidade"
estudo para a cidade do Rio de Janeiro do país e para superação da imagem con-
(Abreu, 1997:41). As soluções apontadas siderada arcaica e pouco atrativa ao capital
para melhorar as condições "climáticas" da estrangeiro. Nessa perspectiva, foram cria-
cidade -consideradas as verdadeiras cau- das as primeiras instituições no ano de 1808:
sas das enfermidades- abrangiam, além da a "Escola Cirúrgica" da Bahia, no mês
condenação dos enterramentos nos templos de fevereiro, e a "Escola Cirúrgica" do Rio de
e o aterro dos pântanos (medidas já indica- Janeiro, em março. Em 1813, tais escolas
das no século anterior), "... a fundação de foram reorganizadas, originando a Academia
um lazareto destinado à quarentena dos médico-cirúrgica do Rio de Janeiro e, no ano
escravos recém-chegados da África..." e de 1815, a Academia médico-cirúrgica da
uma maior fiscalização sobre os gêneros Bahia. No ano de 1832, consolidaram-se as
alimentícios colocados à venda (Abreu, Faculdades de Medicina nas duas já mencio-
1997:41). nadas cidades (Machado, 1978). Em 1850,
foi instituída a Junta Central de Higiene que,
A Abolição da Escravatura em 1888 e, prin- visando combater as epidemias, passava a
cipalmente, a Proclamação da República em intervir nas cidades adotando normas de
1889, configuraram, no Brasil, os primeiros higiene pública que se estendiam ao controle
indícios de mudança ou, como se dizia à e disciplinamento da população, combatendo
época, de superação de sua estrutura colo- hábitos e 'vícios' considerados antihigiênicos
nial. Embora ainda contestadas por parte da (Abreu, 1997). Cabe destacar que nas insti-
historiografia corrente, quer seja no campo tuições médicas, principalmente no início do
político, cultural ou social, por representarem século XX, a questão racial apresentava-se,
meras codificações ou "reinvenções" de anti- também e muito freqüentemente, como cer-
gos processos e arraigadas relações, no ne da discussão acerca da origem de deter-
campo da medicina, as mudanças ocorridas minadas doenças e de disfunções morais
no século XIX instauraram um processo de (tão comuns no Brasil) que opunham ao
"medicalização da sociedade" que consoli- projeto de "engrandecimento da nação".
dou o meio urbano e seus habitantes como
alvos de estudo e intervenção, como afirma A história dos estabelecimentos de ensino
Roberto Machado (1978:156 -157): médico no Brasil, brevemente traçada por
Lilia Schwarcz (2001), evidencia que a dis-
[...] Tendo a saúde como fio condutor cussão sobre a higiene pública mobilizava
da análise da sociedade, a medicina boa parte das atenções até os anos 1880. Já
que se impôs desde o século XIX
-esquadrinhando o espaço urbano, in- Nos anos 1890 será a vez da medicina
ventariando o positivo e o negativo, as legal, com a nova figura do perito -que
potencialidades e os recursos e pro- ao lado da polícia explica a crimi-
pondo um programa normalizador do nalidade e determina a loucura-, para
indivíduo e da população- penetra em nos anos 1930 ceder lugar ao 'euge-

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nista', que passa a separar a popu- saneamento do meio urbano e suburbano,


lação enferma da sã (Schwarcz, salientando, principalmente, a acção que o
2001:190). poder publico deve exercitar no sentido de
combater, com efficacia, as moléstias infec-
Conectada à noção de higiene, ainda na tuosas" (Matta, 1916:10). O médico, em res-
metade do século XIX, aparecia a idéia de posta ao pedido oficial, alegou que abordaria
saneamento evidenciando uma outra forma outros temas "indispensáveis para melhor
de atuação no espaço, pelo menos do ponto êxito e cunho scientifico do trabalho", dis-
de vista teórico e acadêmico, como pode correndo: "De facto, como estudar as doen-
ser visto a seguir: ças de Manáos, sem conhecer o meio, e de
que modo a este precisar sem intervir nas
caberia aos médicos sanitaristas a suas condições metereologicas e topografia
implementação de grandes planos de local? Como estabelecer as relações de
atuação nos espaços públicos e pri- mortalidade, por exemplo, desconhecendo o
vados da nação, enquanto os higie- movimento de sua população?" (Matta,
nistas seriam os responsáveis pelas 1916:11).
pesquisas e pela atuação cotidiana
no combate às epidemias e às doen- Encontra-se dividida em uma pequena intro-
ças que mais afligiam as populações. dução denominada "Razão da obra"; Capí-
No entanto, essa divisão entre sani- tulo I. "Noções summarias de Geogra-
taristas -responsáveis pelos grandes phia" (situação e descrição da cidade, natu-
projetos públicos -e hygienistas- reza do solo, topografia, sistema de águas,
vinculados diretamente às pesquisas fauna e flora; Capítulo II. "Noções de clima-
e à atuação médica mais individua- tologia" (temperatura, chuvas, pressão
lizada- funcionou, muitas vezes, de atmosférica, higrometria, ventos, luminosida-
maneira apenas teórica. Na prática, de, trovoadas, atmosfera, reparos à climato-
as duas formas de atuação apare- logia de Manaus); Capítulo III. "Demographia
ceram de modo indiscriminado em geral" (Censo e Demo-grafia sanitária da
(Scwarchz, 2001:206). cidade); Capítulo IV. "Notas para o serviço
de Prophylaxia do Paludismo, da Lepra e da
Pode-se, dessa forma, considerar as Geo- Tuberculose"; e, finalizando, vários anexos
grafias e Topografias médicas como notá- contendo planta da cidade, planta da rede
veis exemplos dessa junção de práticas uma de esgotos, planta de igarapés, quadros
vez que apresentavam propostas concretas de observações pluvio-métricas, quadro de
de modificação do espaço construído em observações termo-métricas, gráficos apon-
função de pesquisas e levantamentos rea- tando índices de mortalidade em decorrência
lizados pelos próprios médicos. A "Geo- de algumas doenças entre outros. Datado de
graphia e Topographia medica de Manaós"8 1916 e, por-tanto, posterior às descobertas
(Figura 2), de 1916, pode ser vista como pasteurianas, evidencia que o meio conti-
umas das mais completas obras de Geo- nuava, pelo menos no Brasil, a desem-
grafia Médica realizadas no Brasil. Tal obra penhar papel relevante no que concerne ao
foi requisitada ao então médico chefe da surgimento e desenvolvimento de doenças,
municipalidade Alfredo da Matta, pelo Super- embasando pesquisas científicas. Outro fator
intende Municipal de Manaus, com o objetivo importante a ser destacado nesse trabalho é
de apontar "a evolução das moléstias que a influência que determinadas moléstias, ou
mais commumente caracterisam a patho- apenas a ameaça de seu surgimento, de-
logia local". Esse trabalho deveria ainda sempenhavam na mudança ou disciplina-
mostrar quais as "medidas indispensáveis ao mento de hábitos locais:

90 Investigaciones Geográficas, Boletín 52, 2003


Geografias e topografias médicas: os primeiros estudos ambientais da cidade concreta

com gêneros alimentícios. Mudanças tam-


bém foram impressas no "corpo" da cidade
e difundidas ao longo da Geografia Médica,
como a drenagem e retificação de peque-
nos rios, proteção das margens com
muralhas até o nível da rua e plantio de
árvores para absorção da umidade. No
âmbito das habitações era prevista a colo-
cação de telas milimétricas nas aberturas
para impedir a passagem de mosquitos,
bem como a adoção de portas denomina-
das de "duplo tambor" do sistema Oswaldo
Cruz (Matta, 1916).

Ao final de suas considerações, o médico


estimulou a prática da educação física e
incentiva a vida ao ar livre, reivindicando
para as cidades brasileiras a construção de
grandes jardins e parques para exercícios e
jogos. A exemplo da Inglaterra, Alemanha
e Estados Unidos defendia a "construcção
das GARDEN CITIES" (Matta, 1916:91).

"Topographia Médica de Natal e sua


Geographia Médica": a cidade de Natal
sob a ótica médica de Januário Cicco
Figura 2. Capa de livro Geographia e
Topographia Medica de Manáos, de Alfredo da O médico Januário Cicco, de descendência
Matta (Fonte: Matta, 1916). italiana, nasceu na cidade de São José de
Mipibu/RN, em 1881, formando-se, em
Bom é relembrar que os carapanans 1906, na mencionada Faculdade de Medi-
prego (mosquitos anophelinas) ata- cina da Bahia. Sua contribuição científica
cam de preferência o homem no inclui a tese de doutoramento "Ligeiras
crepúsculo, muito longo aliás para os considerações sobre o destino dos cada-
habitantes do Amazonas, pois que o veres perante a Higiene e a Medicina
crepúsculo anophelino não correspon- Legal" -que defendia a cremação como
de ao nosso crepúsculo por se pro- meio de higiene e profilaxia dos cemitérios-,
longar até as 19 e 21 horas. Os pa- entre outras publicações nas décadas de
sseios e trabalhos nessas occasiões 1920 e 1930, como "Notas de um médico de
se tornarão mais perigosos ainda, província", "Puericultura no ano 1999",
muito particularmente nos subúrbios "Abrigo Padre João Maria" e os romances
de Manáos (Matta, 1916:73). "Eutanásia" e "Herança Mórbida. Absorveu a
emergência de um saber médico no país
que pregava a medicina como "Tutora da
Aos leprosos eram impostas as mais seve- sociedade, saneadora da nacionalidade,
ras ordens e proibições como a interdição senhora absoluta dos destinos e do
do casamento, separação dos filhos de pais porvir" (Schwarcz, 2001).
leprosos e proibição no desempenho de
qualquer profissão que requisitasse contato

Investigaciones Geográficas, Boletín 52, 2003 91


Angela Lúcia de Araújo Ferreira, Anna Rachel Baracho Eduardo e Ana Caroline de Carvalho Lopes Dantas

A sua formação na consagrada e tradicional seu ideário, apesar de se fundamentar e


Faculdade da Bahia (de forte influência incorporar a concepção científica com base
francesa) rendeu-lhe o convívio com pro- na microbiologia e na concepção infecto-
fissionais de várias partes do Brasil e do contagiosa da nova medicina, levava em
mundo,9 além do acesso a artigos e pes- consideração o meio urbano como agente
quisas com distintas abordagens temáticas favorecedor da propagação das doenças e
que eram publicadas na Gazeta Médica da epidemias. A água era entendida por ele
Bahia -primeiro periódico médico brasileiro, como o veículo de maior transmissibilidade
cuja circulação inicial data de 1866. Entre os das enfermidades. Assim, enfatizou o com-
temas centrais que compunham os artigos, bate à estagnação hídrica, quando apon-
no período de 1870 a 1930, registra-se a tava, em suas propostas, soluções para os
superioridade numérica dos ensaios de "hy- problemas causados pela insalubridade
giene publica" (36%)- apesar de não ser urbana.
tema central de pesquisas da faculdade
baiana -que compreendiam além da epi- Ao descrever Natal, o higienista destacou
demiologia, temas como saneamento, as especificidades de cada área da cidade,
higienização, demografia e meteorologia considerando sua climatologia e topografia.
(Schwarcz, 2001:204). Para tanto, não respeitava os limites oficiais
dos bairros instituídos pela Municipalidade e
Essa produção pode ter influenciado direta- dividia a cidade em áreas com base na
mente a carreira profissional de Januário contigüidade dos focos e nas zonas aten-
Cicco que em 1920, quando exercia o cargo didas pelos "serviços de prophylaxia".
de Inspetor da Saúde do Porto, publicou o Assim, discorria sobre a topografia e geo-
livro "Como se hygienizaria Natal", no qual grafia do lugar e os fatores que influencia-
faz uma primeira descrição concreta do vam o seu estado sanitário, diagnosticando
espaço urbano por meio da "Topographia suas enfermidades e propondo os "remé-
Médica de Natal e sua Geographia Médica". dios" adequados. Concretizava, dessa for-
Deu-se ênfase, nesse estudo, a uma des- ma, os objetivos das topografias médicas ao
crição detalhada das regiões habitadas (in- indicar "los lugares sanos y enfermos, Ias
cluindo número de edificações e seus usos, zonas en que es posible habitar y aquéllas
número de habitantes e características geo- que deben evitarse" (Urteaga, 1980:10).
gráficas do lugar), como também, à espacia-
lização das principais enfermidades e indica- A capital potiguar era, para Januário Cicco,
ção das possíveis causas e soluções -sendo a cidade mais saudável do Norte do Brasil
o meio ambiente, a própria insalubridade em virtude da sua proximidade com o
urbana e as precárias condições de habita- oceano, pela predominância e constância
bilidade, sobretudo das camadas populares, de ventos "puros", incidência solar e per-
os responsáveis pela origem das enfermida- meabilidade do solo. Reconhecia, no entan-
des. Essa análise da cidade concreta to, que tais fatores eram incapazes de
constituiu-se, portanto, como um dos primei- acabar com a insalubridade verificada em
ros estudos geográficos de Natal no século algumas localidades da cidade. Em 1920, a
XX. área urbana era, no seu estudo, dividida em
Cidade Alta (compreendendo-se os bairros
O Estado, segundo Januário Cicco, possuía de Cidade Alta, Alecrim e Passo da Pátria)
o dever de combater as questões sociais e e Cidade Baixa (Ribeira e Rocas).
ambientais que favoreciam o contágio e a
disseminação das doenças, enfatizando e A Ribeira, apesar de plana na sua maior
implantando programas de saúde coletiva. O parte, possuía um grande declive que

92 Investigaciones Geográficas, Boletín 52, 2003


Geografias e topografias médicas: os primeiros estudos ambientais da cidade concreta

gerava o acúmulo de água, especialmente O bairro da Cidade Alta, apesar de se


em épocas de inverno. Essa área, deno- constituir uma área abastada da cidade, é
minada de Lagoa do Jacob, mesmo consti- citado pelo médico como o foco inicial das
tuindo uma bacia de grandes dimensões, epidemias em Natal, devido à pequena
não comportava o volume de água vindo da distância em relação ao Matadouro Público,
Cidade Alta. A falta de escoamento ori- ao forno de incineração de lixo e ao
ginado pela inexistência de galerias fez da aglomerado de pobres denominado Passo
lagoa um foco de doenças até no período da Pátria. Portanto, a retirada desses equi-
de verão (de estiagem). Essa área ribeirinha pamentos do centro e a regulamentação da
merecia maiores cuidados também por se construção das habitações no povoado do
consolidar como a porta de entrada de Natal Passo da Pátria foram algumas das solu-
"à civilização e à morte". O porto, que ofere- ções presentes no estudo.
cia condições propícias para a dissemina-
ção das doenças vindas de outras locali- O bairro do Alecrim -o mais populoso na
dades do país e do exterior, deveria ser época- possuía disfunções muito similares
fiscalizado constantemente. às verificadas nas Rocas, como a inexis-
tência de um sistema de fossas apropriado
O fato de o bairro ter sido edificado "... de e o acúmulo e transbordamento de água em
Norte para Sul, em oposição às correntes algumas lagoas. As soluções, como não
dos ventos dominantes" e por possuir um poderiam deixar de ser, também seguiam
traçado urbano constituído por ruas estrei- os princípios adotados nas demais áreas de
tas e irregulares, favorecia, segundo o mé- problemas semelhantes.
dico, o seu estado de insalubridade (Cicco,
1920:24). Como soluções, foram apontadas A fonte de abastecimento d'água da capital
a terraplenagem da Lagoa do Jacob, a potiguar ficava em uma área intermediária
impermeabilização dos pisos das edifica- entre a Cidade Alta e o Alecrim. Essa zona,
ções, a retirada das vacarias, cocheiras e denominada Baldo ou Bica, encontrava-se
estábulos presentes no bairro e a cons- disposta em um terreno pantanoso em cujas
trução de fossas estanques, acabando, proximidades se situa-vam o matadouro e o
assim, com as escavações para depósito de forno de incineração de lixo -o que não
excrementos, a céu aberto, muitas vezes favorecia a salubridade de suas águas.
visíveis nas ruas e avenidas. 10
O médico sugere em seu estudo a criação
A descontinuidade das dunas presente na de uma galeria subterrânea para a
região das Rocas e as depressões por elas condução da água das nascentes vizinhas
formadas geravam um problema de acúmu- até o Oitizeiro- onde somente afloraria.
lo de água também nesse bairro operário. Assim, seriam oferecidas boas condições
As precárias condições das habitações (em para o consumo saudável da água, por
sua grande maioria de taipa) eram aponta- parte da população, como também se
das como propagadoras de doenças. Por- tornava possível o aterramento do Baldo,
tanto, algumas medidas foram indicadas por eliminando mais um foco de doenças.
Cicco para esses problemas: terraplenagem
dirigindo o escoamento das águas para a Os bairros de Petrópolis e Tirol, fruto de
planície e reconduzindo-as pela drenagem uma intervenção urbanística ocorrida em
ao Rio Potengi; a construção, em cada 1904, eram considerados, na Topografia, os
habitação de um tipo de fossa biológica e pontos mais saudáveis de Natal, não apre-
sistematização da impermeabilização dos sentando patologias consideráveis em suas
pisos. localidades (Figura 3). As avenidas largas, o

Investigaciones Geográficas, Boletín 52, 2003 93


Angela Lúcia de Araújo Ferreira, Anna Rachel Baracho Eduardo e Ana Caroline de Carvalho Lopes Dantas

solo arenoso e a disposição das ruas aos Obras", do Escritório Saturnino de Brito,
ventos dominantes, são alguns dos aspec- datado de 1935, que acabaram por intro-
tos que o médico julgou como responsáveis duzir as redes de água e de esgotos da
pelas boas condições de salubridade das cidade.
duas áreas, confirmando, assim, a dicoto-
mia entre a cidade "antiga" e a cidade pla-
nejada dentro dos princípios higienistas.
Apesar de indicadas algumas soluções
pontuais, Januário Cicco concluiu enfati-
zando, como imprescindível, a construção
de uma rede de esgoto, alegando que esse
serviço tornava-se indispensável para uma
região constituída por uma população maior
que dois mil habitantes, como pode ser visto
a seguir:

Outras medidas de maior alcance


sanitário e removíveis só pela rede de
esgotos da capital pedem a interven-
ção dos governos, reclamam o nosso
empenho, apelam para o nosso pa-
triotismo, exigem mesmo o nosso sa-
crificio, desafiam os nossos créditos
de gente civilizada, cuja cultura
se mede também pelas condições de
vida de que nos cercamos (Cicco,
1920:39).

Natal, segundo o Anuário Estatístico do Bra-


sil (Instituto, 1936:46), possuía, em 1920,
uma população de 30 696 habitantes, o que
justificava a eloqüência das palavras do mé-
dico, clamando por uma solução urgente e
extremamente necessária ao bem-estar e à
salubridade da cidade.

Essa descrição, apesar de se tratar de


um estudo médico, evidencia uma análise
geográfica e ambiental da cidade, em seu
contexto sócio-espacial, que apontava solu-
ções para a insalubridade de Natal.

As propostas de Januário Cicco foram


retomadas e efetivadas posteriormente, no
"Plano Geral de Obras de Saneamento de Figura 3. Mapa de Natal da década de 1920,
Natal", elaborado em 1924 pelo engenheiro com espacialização das epidemias (elaboração
Henrique de Novaes, e no "Plano Geral de com base em Cicco, 1920).

94 Investigaciones Geográficas, Boletín 52, 2003


Geografias e topografias médicas: os primeiros estudos ambientais da cidade concreta

"Corpo enfermo" e cidade saudável, dois Ao responder a uma preocupação dos


paradigmas para uma mesma questão: poderes públicos, tornaram-se, também,
considerações finais importantes para o estudo e história da geo-
grafia, pois acabaram por descrever o am-
A insalubridade urbana e as conseqüentes biente urbano, a partir das variáveis ambien-
epidemias determinaram, em fins do século tais e espaciais do meio, e apresentando
XIX e primeiras décadas do século XX, a dados sobre a população local. Os higie-
análise da cidade enquanto um "corpo nistas antecipam, dessa forma, estudos que
enfermo", onde os médicos tornaram-se os posteriormente viriam a ser desenvolvidos
responsáveis por sua cura. por ecólogos e geógrafos, como bem enfati-
za Urteaga (1980:38):
No entanto, os médicos europeus, sobretudo
a partir do século XVIII, já fixavam suas Desde Ia perspectiva de Ia ciencia
investigações na influência do meio ambien- geográfica, el paradigma de Ias topo-
te e do contexto social no processo patoló- grafias médicas representa una impor-
gico, tomando desde então, o espaço e o tante aportación de estudios empíricos
meio geográfico como objeto de estudo. de tipo regional, anterior a los impulsa-
Evidenciou-se, nesse momento, um novo dos por Ia comunidad de geógrafos y,
pensamento e novas atitudes da sociedade en el plano teórico, uno de los prime-
e das autoridades públicas e sanitárias ros intentos de análisis del complejo
frente ao fenômeno das enfermidades. de interrelaciones que median entre el
Registra-se uma preocupação, sob forte hombre y el ambiente ecológico en
influência do ideário positivista, quanto à que se desenvuelve.
preservação do "corpo social", onde a saúde
coletiva torna-se ponto central das políticas Com base nesse novo modelo, htensificaram-
públicas e das práticas médicas (Urteaga, se, no Brasil, principalmente em fins do
1980). Desenvolveram-se medidas de salu- século XIX, estudos médico-científicos e
bridade e controle, e principalmente, estu- políticas de higienização das cidades, das
dos visando à implantação de estratégias de habitações e dos próprios indivíduos. Com a
prevenção às epidemias. virada do século, às idéias de higiene foram
incorporadas teorias da nova medicina, e as
As geografias e topografias médicas, ao descobertas técnicas muito reafirmaram e se
descrever o espaço urbano, divulgaram in- dirigiram para uma prática sanitária mais
formações sobre os perigos que ameaçam enfática nas cidades brasileiras. Os parâme-
esse "corpo social". Representavam, assim, tros miasmáticos vão dar lugar a uma in-
a materialização de um tipo de reflexão terpretação mais sistemática e fundamenta-
médico-higienista que buscava identificar os da nos estudos da população e de suas con-
fatores responsáveis pela insalubridade das dições de habitabilidade.
cidades, associando a origem e a evolução
das enfermidades aos aspectos ambientais Essa nova visão foi, como dito, transportada
e sociais do lugar. Ao indicar espaços sãos para Natal no início do século XX e sinte-
e enfermos, onde se deveria morar ou evi- tizada pelo médico Januário Cicco, que a
tar, acreditava-se que as variáveis meteoro- partir da observância do ambiente cons-
lógicas e climáticas de uma área poderiam truído, ou seja, a partir da cidade real,
relacionar-se com "Ias 'fiebres1 del lugar, y propôs ações de modificação do meio
el 'temperamento' de sus habitantes, possi- urbano, ressaltando a introdução de servi-
bilitando así una acción terapéutica efi- ços, por parte do poder público. Destaca-se
caz" (Urteaga, 1980:10). ainda que esse estudo inovou pelo uso de

Investigaciones Geográficas, Boletín 52, 2003 95


Angela Lúcia de Araújo Ferreira, Anna Rachel Baracho Eduardo e Ana Caroline de Carvalho Lopes Dantas

fotografias que justificavam regiões caracte- cidades, promove a interpelação entre pro-
rísticas da cidade, bem como locais defi- gramas de saúde e desenvolvimento urbano.
cientes, anti-higiênicos e que mereciam Nesse contexto, o Estado é apontado como
intervenção.11 A cidade foi literalmente retra- promotor das ações devendo contar também
tada a partir da visão médica. Apesar dessas com a participação efetiva da sociedade civil
ações permanecerem apenas no ideário de (Westphal, 2000). Observam-se, também, re-
seu propositor ressalta-se a evidência da centes estudos e pesquisas desenvolvidos
relação da questão médica como diagnóstico em Instituições de ensino médico no Brasil
e proposta, e da questão técnica e política, que se utilizam de técnicas de geoprocessa-
como solução. Solução essa que, aliás, viria mento a fim de se promover a saúde
se concretizar apenas na década de 1930. da população. O instrumental metodológico
usado permite uma análise exploratória es-
Este estudo histórico ressalta, portanto, a pacial por meio da construção de mapas,
preocupação, naquele momento, de criação identificando áreas e condições de risco,
de uma outra cidade fundamentada em prevalência de determinadas doenças, e,
estudos médicos e intervenções sanitárias principalmente, auxiliando no planejamento,
do poder público que visavam melhorar a monitoramento e avaliação das ações em
salubridade da área urbana existente. Por saúde (Chiesa et al., 2002).
outro lado, o presente trabalho revela que os
médicos, por meio principalmente, das geo- Dessa maneira, o discurso higienista de fins
grafias e topografias médicas, foram os do século XIX e inicio do século XX, assim
primeiros a analisar a relação entre clima, como o discurso ambientalista ou ecologista
habitantes e ambiente construído, bem como atual e recentes pesquisas na área da
a estudar os espaços concretos da cidade. medicina, pregam um mesmo ideal: a impor-
Esses estudos e propostas, ao contemplar tância e a indispensabilidade das condições
características sócio-ambientais, foram dei- ambientais urbanas para a melhoria da quali-
xando de ser uma questão isolada de hi- dade de vida da população. .
giene e se tornaram paulatinamente uma
questão global de ambiência urbana AGRADECIMENTOS
(Ferreira et al., 2000).
As autoras gostariam de agradecer ao Grupo de
Vale salientar, no entanto, que continua alar- Pesquisa História da Cidade e do Urba-nismo do
Depto. de Arquitetura da UFRN e a concessão de
mante o percentual da população que apre- bolsas por parte do CNPq e da FAPESP.
senta problemas de saúde devido a um
consumo de água inadequada e à carência NOTAS
de saneamento. Em função desse quadro
1
têm surgido várias propostas visando melho- Cabe ressaltar que Glacken coloca em questão
rar a qualidade de vida nas cidades e as a autenticidade de algumas das obras que
condições de saúde da população. Muitos integram o "corpus" de Hipócrates, no entanto,
setores da sociedade civil se articulam frente afirma que "Las incertidumbres sobre fecha y
a esta questão. No que se refere aos médi- autenticidad no oscurecen el hecho de que, justa
cos e sanitaristas, o Movimento das Cidades o injustamente, Hipócrates haya sido visto em
Saudáveis, originado no Canadá nos anos todo tiempo como um médico muy real y autor
de Ia obra, y Aires, aguas, lugares, como uno de
1970 e incorporado pela Organização Mun- sus tratados más populares" (1996:107).
dial da Saúde, representa uma dessas pro-
postas que, por meio de uma nova visão e 2
A esse respeito, Mumford (1961: 57) afirma que
prática da medicina baseada em uma ação os banhos públicos, ao ar livre, além do fim
intersetorial e uma nova forma de gestão das terapêutico -de "purgação da epiderme"-
constituíam-se, na Idade Média, como uma

96 Investigaciones Geográficas, Boletín 52, 2003


Geografias e topografias médicas: os primeiros estudos ambientais da cidade concreta

prática social: "... lugar onde a gente trocava dunas. Era, portanto, um problema a ser solu-
mexericos e comia assim como, atendia à cionado de um modo geral.
tarefa mais séria de tratar de dores e condições
11
inflamatórias". Cristina Campos (2002) destaca, no Brasil, o
uso da fotografia retratando o espaço urbano
3
Segundo Abreu (1997), "não há notícia da a partir de trabalhos desenvolvidos pelo médico
realização de topografias médicas no Brasil colo- Geraldo Paula Souza, entre 1921 e 1922, quando
nial", mas indícios mostram que o pensamento diretor do Serviço Sanitário em São Paulo.
higienista foi introduzido no Brasil no século XVIII Segundo a autora, o médico envolveu-se com a
e se difundiu no século XIX, principalmente a fotografia no período que passou nos Estados
partir da instituição do ensino médico e da Unidos (1918 a 1920) cursando a Universidade
Sociedade de Medicina. Johns Hopkins. Os estudos de Cicco são, por-
tanto, anteriores aos de Paula Souza não se
4
Filiada à tradição do pensamento hipocrático. tendo, no entanto, informações quanto a outros
trabalhos no Brasil, nem como o médico potiguar
5
Para esta, tudo que estava parado ou teve acesso a tal técnica.
estagnado -o ar, a água, os dejetos, o lixo e
os próprios homens- era fator de doenças; e os REFERÊNCIAS
vapores emanados dos processos de putrefação
da matéria animal ou vegetal (os miasmas), os Abreu, M. de A. (1997), "Pensando a cidade no
causadores das epidemias. Brasil do passado", in. Silva, J. B. da, et al., A cidade
e o urbano, EUFC, Fortaleza, pp. 27-52.
6
Cabe aqui destacar que, segundo Luis Urteaga
(1980:24), as topografias e geografias médicas, Araújo, I. S. de (1985), Januário Cicco: um
apesar de analisarem o meio ambiente segundo homem além do seu tempo, Éd. Universitária, Natal.
os mesmos métodos, distinguem-se na escala
de abrangência do estudo. As topografias estu- Barret, F. A. (2002), "The role of French-language
contributors to the development of medical geogra-
dam lugares, comarcas ou regiões, enquanto
phy (1782-1933)", Social Science & Medicine, v. 55,
que as geografias atingem um nível suprare- jul., pp.155-165.
gional ou nacional.
7 Campos, C. de (2002), São Paulo pela lente da
Cientista brasileiro que, em 1909, concluiu as higiene: As propostas de Geraldo Horácio de Paulo
pesquisas sobre a tripanossomíase, posterior- Souza para a cidade (1925-1945), Rima, São Carlos.
mente conhecida como "doença de Chagas".
Campos, M. R., L. I. O. Valencia, B. de P. M. D.
8
A cidade de Manaus, capital d estado do Fortes et al. (2002), "Distribuição espacial da
Amazonas, situa-se na margem esquerda do Rio infecção por Ascaris lumbricoides", Revista Saúde
Negro. Possui clima tropical, quente e úmido, com Pública [online], fev., v. 36, no. 1 [citado 16
temperaturas médias anuais de 27° C e chuvas dezembro 2002], pp. 69-74. Disponível World Wide
abundantes. Sua paisagem caracteriza-se por Web: <http://www.scielo.br/scielo.php?
florestas, rios e vários igarapés. s c r i p t = s c i _a r t t e x t & pid = S 0 0 3 4 -
89102002000100011&lng=pt&nrm=iso>.
9
No ano de sua formação, 1906, concluíram o
Chiesa, A. M, M. F. Westphal e N. M. Kashiwagi
curso médicos de outros estados brasileiros,
(2002), "Geoprocessamento e a promoção da saúde:
além da Bahia como Alagoas, Pernambuco,
desigualdades sociais e ambientais em São Paulo",
Santa Catarina, Rio de Janeiro, Rio Grande do Revista Saúde Pública [online], out., v. 36, no. 5
Norte, Piauí, Ceará e Rio Grande do Sul. [citado 16 dezembro 2002], pp.559-567. Disponível
Registram-se também médicos naturais da Itália, na www:< h t t p : / / w w w . s c i e l o . b r / s c i e l o . p h p ?
de Portugal e da França. script=sci_arttext&pid=S003489102002000600004&l
ng=pt&nrm=iso>.
10
Essa prática era comum em toda a cidade e foi
maciçamente criticada pelo médico em virtude da Cicco, J. (1906), Ligeiras considerações sobre o
contaminação do lençol freático, uma vez que a destino dos cadáveres perante a Higiene e a
população se abastecia da água filtrada nas Medicina Legal, tese Doutoramento em Medicina,

Investigaciones Geográficas, Boletín 52, 2003 97


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