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vi ERESPONDEREMOS Dezembro: Fim e Recomeco “Quando Jesus se tornou Deus” por R. Rubenstein A Igreja contraria ao progresso e a civilizacao? A Infalibilidade da Igreja Podera salvar-se? O Imperador Constantino e a Igreja A Doagao de Constantino Judeus contra a Cristianofobia O siléncio: Quanto vale? A tradicional Ordem Martinista Sera que o mal existe? indice de 2006 aro EV IN PERGUNTE E RESPONDEREMOS Publicagado Mensal DEZEMBRO 2006 N° 534 ———S—S— ——————— Diretor _Responsdvel Eslévdo Bettencourt OSB ‘Autor e Redator de toda a matéria publicada neste periddico Administragdo e Distribulgdo: Edigdes Lumen Christi Mosteiro de Sao Bento do Rio de Janeiro Rua Dom Gerardo, 40 - 5° andar - sala 501 Tel: (OXX21) 2206-8283 & (0XX21) 2206-8327 Fax (OXX21) 2263-4420 Enderego para Correspondéncia: Ed. Lumen Christi Rua Dom Gerardo, 40 - sala 501 Centro CEP 20090-0380 = Rio de Janeiro - RJ Site: www.lumenchristi.com.br e-mail: lumen.christi @osb.org.br SUMARIO Dezembro: Fim e Recomego.. Interpretando a histéria: “Quando Jesus se tornou Deus” por R. Rubenstein... 1 8: O Silabo da Pio IX: A Igreja contrérla ao progres: & civillzagao? 529 Como entender? A Infalibilidade da Igreja . Poder salvar-se? . Ainda °O Cédigo Da Vinci" © Imperador Constantino e a Igreja Documento falso: A Doagao de Constantino .. Poucos conhecem: Judeus contra a Cristianofobia ... Meramente negativo? O siléncio: Quanto vale A tradicional Ordem Martinista Serd que o mal existe? indice 2006. COM APROVACAO ECLESIASTICA NO PROXIMO NUMERO: “Distorceram as palavras de Jesus?” (revista Galileu). - Os ditos primitivos de Jesus. - “E razodvel crer?”. - “Ao mesmo tempo justo e pecador’. - Tradicionalistas voltam ao seio da Igreja. — Faz sentido ajoelhar-se. - As 33 promessas dos nove primeiros saba- dos. - "Abortista": Palavra condenada? — Aborto permitido pelo Cédigo Penal? — Ainda os funerais de Jodo Paulo II. - Bioética. - Como citar e ler textos biblicos. ee EERE TEEEEEES PARA RENOVACAO OU NOVA ASSINATURA (12 NUMEROS) ..... RS 50,00. NUMERO AVULSO .......... RS 5,00. © pagamento poderd ser & sua escolha: . Cardo de Crédito: VISA, MASTERCARD, AMERICAN EXPRESS e DINERS CLUB (favor Informar n*, validade do cartéio cédigo de seguranga). Boleto Bancérlo (favor entrar em contato mencionando a opgéo). Obs.: Correspondéncia para: Edigses Lumen Christi Rua Dom Gerardo, 40 — sala 501 » ro CEP 20090-030 - Rio de Janeiro - RU e-mail: lumen.christi@osb.org.br DEZEMBRO: FIM E RECOMEGO O més de dezembro representa um fim,... mas um fim que anuncia um fecomego ou um novo ano. Essa sucessdo de anos, que vo sendo contados em ordem crescen- le, faz pensar: um aumento numérico (2005, 2006, 2007...) sem aumento qualitative pode gerar monstruosidade; exige qualidade correspondente a quantidade que cresce. O fim do ano nos aproxima do fim de nossa caminha- da na terra, mas nos aproxima também do comeco de nossa vida definitiva. Se 0 corpo envelhece, a alma no envelhece; é dotada de juventude perene; se na velhice do corpo ela nao se manifesta, isto se deve a deterioragao do corpo, @ néo a insuficiéncia da alma humana, que tem o corpo como seu instrumento, Nesse contexto pode-se crer que trés sentimentos movem o cristo peregrino na terra: 1) Gratidéio ao Senhor pelo dom da vida. O tempoéa primeira dadiva de Deus ao homem; é tempo redimido pelo sangue de Cristo, tempo de santificagao ou kairds. Junto com a gratidao vai um ato de arrependimento pelo possivel descaso do tempo que foi confiado a cada um. Arrepender-se nao humilha; 6 atitude nobre, que supde a coragem de reconhecer a verdade confessa-la a Deus e a quem compete ouvi-la. 2) Mais maturidade... A vida é uma escola, em que vamos aprenden- do a escalonar sempre melhor os nossos valores, de modo a viver sempre mais acertadamente na demanda do Absoluto e Definitivo. O comego de novo ano é um convite a mais seriedade e profundidade. Sao Paulo fala muito do crescer em maturidade: “Nao sejamos criangas, joguetes das on- das, sacudidos por qualquer vento de doutrina; ao contrario, com a sincerida- de do amor, crescamos até alcangar inteiramente aquele que é a Cabega, Cristo” (Ef 4, 14s). 3) Alegria... Se, de um lado, 0 corpo vai-se fragilizando com o tempoe obrigando a renunciar a muitos valores legitimos, de outro lado, o cristao se regozija porque vai chegando ao fim da sua peregrinagao e, como um barco que navega, € mais e mais penetrado pela luz da vida definitiva emitida pelo porto ao qual tende. A vida do cristo nao pode deixar de ser marcada por uma viva alegria interior, pois deve ser um progresso que, deixando Para tras infantilismo e imaturidade, vai sendo invadida pelos valores etemos que Ihe serao cada vez mais préximos. Sé ha um mal que possa perturbar essa alegria intima: o pecado ou a fuga diante do Absoluto e Eterno. E com estas Pondera¢des que PR deseja a todos os seus leitores e amigos um santo fim de ano e abencoado 2007, que seja um passo largo em demanda da Eternidade! E.B. 529 PERGUNTE E RESPONDEREMOS Ano XLVII — N? 534 Dezembro de 2006 Interpretando a historia: “QUANDO JESUS SE TORNOU DEUS” por Richard Rubenstein Em sintese: O autor, erudito historiador racionalista, afirma que Jesus s6 foi reconhecido como Deus (a segunda Pessoa da SS. Trindade, igual ao Pai) a partir do Concilio de Nicéia ! (325), Concilio que nao foi aceito por todos os cristéos, mas desencadeou calorosos litigios teolégi- cos até que no Concilio de Constantinopla | (381) fosse definitivamente prociamado e aceito como Deus. Assim escrevendo, o autor parece ignorar os varios textos do Novo Testamento que afirmam a Divindade de Jesus; cf. Jo 1,1; Mt 28, 18-20, Fl 2, 6-11. Parece esquecer também os textos dos Padres da Igreja que professavam a Divindade do Senhor, mas procuravam a formula de con- ciliago da Divindade de Jesus com o monotefsmo. Tal formula, apés diversos ensaios rejeitados pela Igreja, foi finalmente encontrada pelo Coneilio de Nicéia | (325) e confirmada pelo de Constantinopia | (381): ha uma s6 natureza divina, que subsiste em trés subsisténcias (hypostaseis em grego, pessoas em portugués); Pai, Filno e Espirito Santo. Muito importante 6 a distingao entre natureza e pessoa. Dize- mos, por analogia, que existe uma sé natureza humana espalhada pelo mundo, a qual subsiste em seis bilhdes e mais de subsisténcias ou pes- soas (modos de ser); a diferenga esté em que as pessoas retalham a humanidade, ao passo que em Deus as trés Pessoas nao dividem a Di- vindade nem constituem trés deuses. Tem-se divulgado a tese segundo a qual Jesus s6 foi reconhecido como Deus a partir do século IV. Por obra dos Imperadores Romanos, tera sido proclamado Deus, dando entao origem ao Cristianismo. 530 “QUANDO JESUS SE TORNOU DEUS" 3 Examinemos atentamente tal sentenga. 1. A tese do autor Richard E. Rubenstein 6 um judeu norte-americano, professor de Resolugao de Contlitos e Negdécios Publicos da Universidade George Mason, onde se especializou em analisar conflitos sociais e religiosos violentos. Vive em Fair Fax (Virginia). O livro “Quando Jesus se tornou Deus (A luta épica sobre a Divindade de Cristo nos tltimos dias de Roma’)' estuda os debates ocorridos entre os tedlogos do século IV para chegar finalmente a afirmagao de que Jesus é “Deus de Deus, Luz de Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, nao feito, consubstancial ao Pai" nes Concilios de Nicéia | (325) e Constantinopla | (381). Rubenstein des- ce a pormenores interessantes, narra minuciosamente os fatos ocorridos, mas parece ignorar os textos do Novo Testamento e da Tradigdo patristica que professam a Divindade de Jesus: o que os tedlogos procuraram até o século IV foi a formulagao exata do mistério da SSma. Trindade ou como conciliar 0 monoteismo com a trindade de Pessoas Divinas. Isto se deu finalmente nos Concilios de Nicéia | (325) e Constantinopla | (381), como se dira mais adiante (pp. 535s), Examinemos, pois, os escritos do Novo Testamento. 2. Os escritos do Novo Testamento Dentro do estilo biblico, é clara a afirmagao da Divindade de Jesus. Vejam-se os seguintes textos: Jo 1, 1: “No principio era o Logos e o Logos estava voltado para Deus e o Logos era Deus”. — Este texto afirma nao so a Divindade do Logos (do Filho); mas também insinua a dualidade de Pessoas na Unica Divindade; com efeito, “o Logos era Deus e era Deus voltado para Deus, quase como vis-a-vis de Deus. luo 5, 20: “este (Jesus Cristo) 6 o Deus verdadeiro e a vida eterna”. Tt 2, 13: *... 0 grande Deus e Salvador Jesus Cristo”. Em Jo 20, 28 Tomé reconhece: “Meu Senhor e meu Deus!” Rm 9, 5: “Cristo, que 6 acima de tudo Deus bendito pelos séculos” (texto controvertido quanto a autenticidade literdria). Ver também Hb 1, 8s; 2Pd 1, 1s; 2Ts 1, 12s; Jo 1, 18; Fl 1, 6s; Cl 2, 9. O titulo assim aplicado significa identidade de natureza’ do Filho e do Pai. Com efeito, se o Pai é a finalidade do plano de salvagao dos ho- mens, 0 Filho o é igualmente: Rm 11, 36; Hb 2, 2; 1Cor 8, 6; Cl 1,16. ' Editora FISUS, Rio de Janeiro (RJ) 2006, 296 pp. ® Por “natureza” entende-se, no caso, 0 que faz algo ser o que ele 6; no homem 6 ser vivente racional. “Pessoa” é 0 que faz subsistir a natureza humana. 531 4 PERGUNTE & RESPONDEREMOS 534/2006 Se 0 Pai julga, o Filho também julga: Rm 2, 2; 2Cor 5, 10; Am 2, 16; 1Gor 4, 6. O Filho é uma das trés Pessoas associadas nas formulas trinitarias: Mt 28, 19; 2Cor 13, 13. Jesus Cristo é Deus (comunga com a natureza Divina), mas é Deus Filho vis-a-vis de Deus Pai. Ele é uma afirmagao da Divindade frente a outra afirmagao da Divindade como um filho esta frente a seu pai. Gl 4, 4: “Na plenitude dos tempos Deus enviou seu Filho nascido de mulher @ nascido sob a Lei” ~ Ver Rm 8, 15. Em Mt 16, 16 Sao Pedro prociama: “Tu és 0 Cristo, o Filho do Deus vivo!". Ao que Jesus responde que foi o Pai celeste quem revelou o mis- tério de Jesus a Pedro. O Filho feito homem viveu em tudo a condigao humana, morreu @ ressuscitou ao terceiro dia, vencendo a morte. A ressurreigao confere a Jesus (como homem) a plena vitéria sobre a morte e o pecado, tornando- © principio de uma nova humanidade. “Eu sou o Primeiro e o Ultimo, o Vivente; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da Morte e da regido dos mortos” (Ap 1, 17s). Amesma realidade transcendental de Jesus 6 expressa pelo termo grego Kyrios (Senhor). Com efeito, no Antigo Testamento o senhorio ou‘o dominio de Deus era expresso pelo vocabulo Adon; cf. Is 1, 24; 6, 1-8. Quando, por respeito, os judeus deixaram de pronunciar o nome Javé nas leituras da Liturgia, substitufram Javé por Adonay (meu Senhor). Por isto a tradugdo grega dos LXX verteu Javé por Kyrios (Senhor). Ora o Novo Testamento transferiu para Jesus Cristo 0 titulo Kyrios. Essa transferéncia exprime precisamente a fé crista na transcendéncia e na Divindade de Jesus; cf. Jo 20, 28: “Meu Senhor e meu Deus!”. Ele 60 Senhor de todos (At 19, 36; Rm 10, 9; 2Cor 13, 13; Cl 2, 6). A primitiva invocagdo aramaica persistiu no uso das comunidades gregas: Maranatha, Nosso Senhor, vem!; cf. 1Cor 16, 22; Ap 22, 20. Para Jesus ressuscitado os cristaos transferiram os gestos de reco- nhecimento que eram atribuidos somente a Javé;, cf. At 2, 20s (a invoca- g&o do nome); At’7, 39 (a oracdo e a entrega confiantes); Fl 2, 10 (a ado- rag&o; cf. Is 5, 23, Jo 9, 38); 0 cego curado prostrou-se diante de Jesus); Ap 15, 4: “S6 Tu és santo!”. Importante também é o uso do S! 110, 1 emMt 22, 43, como se pode ver: “Davi nao subiu ao céu, mas diz: ‘Disse o Senhor ao meu Senhor: Senta-te 4 minha direita, até que faga de teus inimigos 0 supedaneo de teus pés”. 532 “QUANDO JESUS SE TORNOU DEUS” 5 Deste breve percurso dos textos do Novo Testamento se percebe que os primeiros cristaos tinham consciéncia da Divindade de Jesus, tao verdadeira quanto a Divindade do Pai. As geragées posteriores nao puse- ram isto em ddvida, mas procuraram explicar como se concilia tal dado revelado com o estrito e impreterivel monoteismo da fé judaica. 3. Nos trés primeiros séculos No tocante a Cristo os escritores dos primeiros séculos tiveram que enfrentar algumas tentativas erréneas de conceber o mistério da Encarnagéo. A nogéio de Deus feito homem era tao surpreendente para os antigos que em suas propostas de formulagao tendiama negar ouaplena humanidade de Jesus ou a sua Divindade. A dificuldade era aumentada pelo fato de que um certo dualismo, herdado do pensamento grego, repu- diava a matéria como algo de mau em si mesmo. Dai a pergunta: como pode ter Deus assumido a carne humana, com tudo o que ela tem de humilde (sofrimentos, fome, sede, morte...)? Na base destas premissas havia quem propusesse. - 0 docetismo: Deus Filho teria assumido uma humanidade apa- rente apenas (dokéo = parecer em grego). Nao tera sido verdadeiro ho- mem. Assim julgavam muitos evitar 0 “escandalo” da Encarnagéo. Nos escritos do Novo Testamento ja se percebe a impugnagao do docetismo tal como era proposto por Cerinto; cf. 1Jo 4, 2s; 2Jo 7; Cl 2, 9... —0 ebionismo... Situa-se no polo oposto. Esta corrente 6 de ori- gem judaica e queria a todo prego ressalvar 0 monoteismo. Por isto afir- mava que Jesus foi mero homem, sobre o qual desceu a forga de Deus Por ocasiao do Batismo. Tera sido um profeta reformador da Lei de Moisés, para reconduzi-la a sua pureza original. A sua missdo tera consistido ape- nas em ensinar. Os ebionitas eram radicalmente antitrinitarios, como fo- ram muitos os que rejeitaram o mistério da Encarnagao. Consideremos em particular S. Inacio de Antioquia (+ 107 aproximadamente) Este autor, muito proximo dos tempos dos Apéstolos, enfatiza a Di- vindade de Jesus Cristo, apresentando binémios que conjugam o Divino eo humano: “Aguarda Aquele que paira acima dos eventos mesquinhos, 0 Atemporal, o Invisivel que por nossa causa se fez visivel, o impalpavel, o impassivel, que por nds se fez passivel” (A Sao Policarpo 3, 2). Qu ainda: “Um 6 0 médico na carne e no espirito, 533 6 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 534/2006 gerado e nao criado, aparecendo na carne como Deus; na morte vida verdadeira tanto de Maria como de Deus; antes passivel, agoa impassivel, Jesus Cristo Senhor nosso” (Aos Efésios 7, 2) Como se vé, S. Inacio, ja nos primeiros decénios da era crista, pro- fessa a Divindade de Jesus (“aparecendo na carne como Deus’); profes- sa assim aquela fé que aos poucos, entre contradigdes heréticas, foi-se desenvolvendo na mente dos cristéos. Com outras palavras: a Divindade no foi uma prerrogativa acrescentada ao homem Jesus no século IV. No século I! temos ainda S. Ireneu (+ 202 aproximadamente), que foi discipulo de S. Policarpo, 0 qual foi discipulo de SAo Joao Evangelista. Oriundo da Asia Menor, passou para a Gélia, tornando-se Bispo em Liao. Tem como caracteristica doutrindria a doutrina paulina da recapitulagao de todas as coisas em Cristo (cf. Ef 1, 10). Este conceito implica “reunir todas as criaturas sob um so Chefe e uma so Cabega (caput, capitis) Cristo”. Veja-se 0 seguinte texto: “Ele recapitulou também o homem em si mesmo, tornando-se visi- vel, Ele que é invisivel; compreensivel, Ele que 6 o Verbo” (Contra as Heresias II! 16, 6). “O Verbo de Deus se fez homem para que o homem receba a filiagao divina. Pois como poderiamos participar da eternidade e imortalidade, se antes nao se tivesse feito como nés o Eterno e Imortal, de modo que nossa corruptibilidade fosse absorvida por sua incorruptibilidade e nossa mortali- dade por sua imortalidade” (Contra as Heresias Ill 19, 1, py Assim Ireneu retoma os binémios professados por S. Inacio de Antioquia: 0 Verbo é imortal € eterno. No século III Origenes (+ 254) é mestre em famosa Escola de Alexandria, onde proclama com a tradigao a divindade de Jesus. “Aquele que veio até os homens, possuia a condigao de Deus e, por amor aos homens, se aniquilou (FI 2, 6s) a fim de poder ser compreendi- do pelos homens” (Contra Celso 4, 15). “Deus Verbo imortal assumiu um corpo mortal” (ibid.). Verifica-se que Origenes continua a profissdo de fé dos preceden- tes autores que admitiam a Divindade de Jesus. O problema era, como dito, achar a formula que conciliasse a unidade de Deus e as trés Pessoas Divinas. 534 “QUANDO JESUS SE TORNOU DEUS” ? Tal formula foi descoberta no século IV, como passamos a expor. 4. No século IV O século IV foi muito agitado no plano teolégico. Em 313 0 impera- dor Constantino |, pelo edito de Mildo, concedeu a paz a Igreja. Isto possi- bilitou um trabatho mais intenso de aprofundamento das verdades da fé por parte de Bispos e tedlogos. Dai a controvérsia ariana e a macedoniana, que suscitaram respectivamente os Concilios de Nicéia | (325) e Cons- tantinopla | (381). Acontrovérsia ariana deve-se a Ario, presbitero de Alexandria, que ensinava a subordinagaio do Verbo ao Pai. “Deus nem sempre foi Pai, houve um tempo em que era somente Deus... O Verbo de Deus foi feito a partir do nada, houve um tempo em que ele nao existia” (Fragmenta ex Thalia, Enchiridion Patristicum 648). O Verbo é a primeira e mais digna criatura do Pai: Criou o Espirito Santo como primeira criatura sua. Embora condenado por um Sinodo de Alexandria em 318, Ario en- controu acolhida em Bispos e tedlogos orientais. JA que a divisao religio- sa da populagéo ameagava a unidade politica do Império, o Imperador Constantino resolveu intervir; julgava-se tutor da Igreja e queria contribuir para a solug&o do problema convocando um Sinodo de todos os Bispos da Igreja para a cidade de Nicéia nas proximidades de Constantinopla. A assembiéia assim convocada teve lugar sob a presidéncia de Osio de Cér- doba, bispo espanhol e conselheiro do Imperador e coma presenga de 318 Bispos, entre os quais dois delegados papais (os presbiteros Vito e Viven- te, representando o Papa S. Silvestre ja idoso e enfermo). Os Padres con- ciliares promulgaram a seguinte férmula, que rejeita o arianismo: “Creio em um sé Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus Unigénito nas- cido do Pai, isto 6, da substancia do Pal, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, nao criado, da mesma substancia (homoousios) que o Pai. Por Ele foram feitas todas as coisas, as do céue as da terra”. Esta formula de fé foi assinada por todos os Bispos presentes ao Concilio, com excegao de dois, que foram depostos das suas sedes. O importante nessa profissao de fé é a palavra grega homoousios, que significa que o Verbo ndo foi criado, mas nasceu do Pai e possui a natureza divina do Pai; 6 Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, sem que isto implique anterioridade ou posterioridade. Eis, porém, que o Concilio de Nicéia | nao conseguiu pdr termo aos debates. O arianismo ainda teve adeptos, que se dividiram em correntes 535 8 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 534/2006 paralelas, mediante uma dialética sutil, que enganava muitos fiéis, pois professava a heresia em termos camuflados, cujo veneno era quase im- perceptivel. Na segunda metade do século IV a atengo dos tedlogos voltou-se mais detidamente para o Espirito Santo. Macedénio, Bispo de Constantinopla, afirmava: Ele 6 uma criatura do Verbo. Contra esta sen- tenga pronunciou-se 0 Concilio geral de Constantinopla | (381) professan- do a Divindade do Espirito Santo, de modo que o Credo niceno foi acres- cido da formula: “O Espirito Santo falou pelos Profetas e com o Pai 6 0 Filho 6 adorado e glorificado”. — Estava assim encerrado 0 litigio trinitario. Foi abonada pelos conciliares a formula: “Existe em Deus uma 86 Divin- dade (natureza divina) e trés Pessoas ou subsisténcias dessa natureza divina; ela subsiste ou como Pai ou como Filho ou como Espirito Santo. Essas Pessoas nao retalham a Unica natureza divina, a diferenga do que fazem as pessoas humanas, que retalham em seis e mais bilhdes de individuos a nica natureza humana. Estas ponderagées sirvam de resposta afirmagao de Rubenstein no Prefacio da sua obra: “Devo dizer que nao venero Jesus... mas acredi- to que ele tenha sido um homem e no o Filho de Deus” (p. 14). Deve-se afirmar que a Divindade de Jesus é proclamada desde os escritos do Novo Testamento, mas até o século IV os mestres procuraram a maneira exala de conciliar esta crenga com o monoteismo. O que esta- va em causa era questao, que teve respostas, por vezes, erréneas, res- postas porém que nunca apagaram a fé oficial da Igreja na Divindade de Jesus Cristo. Tarefa conjugal. Comunidade de Vida e Amor, por Dewet Virmond Taques Junior. — Ed. Loyola, Sao Paulo 2006, 175 pp. Dewet Virmond é 0 fundador da Comunidade de Alianga Agua Viva e do PINEP (Processo Integral de Evangelizagao Paroquial). Considera fuzes e sombras na familia de hoje ameagada por correntes de pensamen- to ndo cristas e, como subsidios para reafirmar o valor da familia, prope as grandes linhas que a constroem: mutua compreensao, amor ‘conjugal e castidade, a sexualidade como realidade humana, o matrimonio da Re- dencao (Cristo e sua Igreja), os deveres da familia crista... O fivro é valio- sa cartilha de aprendizado da vida conjugal. 536 O Silabo de Pio Ix: AIGREJA CONTRARIA AO PROGRESSO E A CIVILIZAGAO? Em sintese: Aos 8/12/1864 0 Papa Pio IX Promuigou o Silabo ou uma coleténea de erros filosdlico-religiosos modernos condenados pela 16 catdlica. Entre eles havia, como erro rejeitado, a afirmagao de que o Papa se deve reconciliar com a civillzagdo e 0 progresso. Este gesto condenatério se explica pelo contexto do século XIX e nao se repetiria em nossos dias. E 0 que as paginas subsequentes procuram demonstrar. Aos 8 de dezembro de 1864 o Papa Pio IX Promulgou o Silabo (su- mario) ou uma coletanea de 80 Proposigées que refletem o pensamento da época em materia filosdfico-religiosa, condenando tais sentengas. Chama especialmente a atengao a tiltima Proposigao, que assim reza: “O Pontifice Romano pode e deve reconciliar-se e transigir com o Progresso, 0 liberalismo e a civilizagaéo moderna” (80° Proposi¢ao). Aconciliagao da Igreja com o mundo moderno estaria peremptoria- mente condenada. — O estudo do documento evidencia o cardter momen- taneo de tal gesto, que por certo nao equivale a uma afirmagéo ou conde- nagao definitiva, como se vera através das paginas subseqilentes. 1. 0 contexto histérico O quadro histérico no qual se insere o Silabo, comega a se delinear com a Revolugao Francesa de 1789. Esta, frente ao absolutismo dos reis, proclamou a liberdade em todas as suas modalidades, aspirando a liber- dade, a igualdade e a fraternidade. Inspirava-se, porém, no Racionalismo da chamada “Enciclopédia” (Voltaire, Diderot, d’A-Lembert...) e propugnava uma religiosidade natural, filosdfica, incompativel com a fé crista. Em con- seqiéncia era hostil a Igreja e condenou muitos clérigos e leigos & pena capital. Ansiava por um Estado leigo. Tal programa ocasionou a Enciclica Mirari vos do Papa Gregério XVI em 1832, que foi a precursora do Silabo. O que a Revolugdo France- sa tinha de justo e correto era ofuscado pela sua témpera anticrista, de modo que a renovacao social nao podia ser compreendida como um be- neficio. 537 10 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 534/2006 O Papa Pio IX (1848-1876) tomou consciéncia da necessidade de um pronunciamento mais enfatico sobre tal problematica. Era instigado a tanto (como também dissuadido) por figuras importantes que o cercavam. O de- senrolar de acontecimentos significativos na Franga e na italia estimulou o desejo de tomada de posigao clara frente a erros contemporaneos. Ei-los: Aos 24 de junho de 1863 foi publicada a Vie de Jésus (Vida de Jesus) de Ernest Renan. Tal obra obteve grande sucesso, penetrando nas diversas camadas da sociedade nao somente na Franga, mas também em outros paises. Com aparente aparelhagem critica, Renan apresenta- va Jesus como personagem encantador, dotado de elevado ideal ético, no porém como Deus. Os intelectuais franceses se deixaram penetrar por tais concepgdes ou, ao menos, pelas premissas racionalistas & libe- rais que as inspiravam. Em agosto de 1863 realizou-se em Malines (Bélgica) um Congtes- so de Catélicos Belgas desejosos de “consolidara santa alianga dos filhos da Igreja”. Foi entao convidado o conde de Montalembert, francés, para tomar a palavra. Este, em seus discursos de 20 e 21 de agosto, rejeitou a alianga do trono e do altar (do Estado e da Igreja), defendendo a separa- go das duas instancias; proclamou a liberdade de consciéncia e a liber- dade dos cultos religiosos. Rejeitava a tese de que todas as religides sAo equivalentes entre si, mas censurava com veeméncia a inquisigao. Propu- nha assim o liberalismo, que naquela época era novidade. Montalembert recebeu os agradecimentos do Cardeal Sterckx de Malines e foi felicitado pelo rei Leopoldo. Publicou seus dois discursos sob a forma de um livro intitulado L’Eglise libre dans |’Etat libre (Algreja livre no Estado livre). Eis, porém, que 0 Nuncio Apostélico na Bélgica enviou a Pio IX um telatério destavoravel a Montalembert. O bispo de Poitiers (Franga) Mons. Pio sugeriu ao Papa que interviesse oficialmente. Em Roma foi muito apreciada a posigao do Conde du Val de Beaulieu que denunciava 0 liberalismo com 0 titulo: L’Erreur libre dans |’Etat libre (O Erro livre no Estado livre). Todavia o Bispo de Orleaes Mons. Dupanioup interveio insistente- mente junto ao Secretario de Estado o Cardeal Antonelli para que 0 livro de Montalembert ndo fosse posto no Index dos Livros Proibidos e Pio IX se contentasse com uma admoestagAo secreta a Montalembert. Em setembro de 1863 um Congresso de tedlogos reunidos em Munique (Alemanha) aumentou o descontentamento do Papa. Varios in- telectuais alemaes, chefiados por Inacio Doellinger, exprimiram desconfi- anga em relago a Teologia Escolastica (que era a Teologia apoiada pelo 638 A IGREJA CONTRARIA AO PROGRESSO E A CIVILIZAGAO? W Magistério da Igreja), dando preferéncia a uma Teologia fundamentada sobre a historia e a filosofia moderna. Reivindicava a liberdade de pesqui- ‘sa sempre que no estivesse em jogo alguma verdade de fé. O Papa assim se via impelido a um pronunciamento solene, Contu- do era intimado pelos Governos da Franga e da Bélgica, que receavama publicagao de uma enciclica que condenasse as bases das Constituigses modernas. A hesitagaéo do Papa foi superada pela instancia dos Bispos ultramontanos (fiéis a Roma) da Franca, que pediam a condenacao do liberalismo; além do qué, alguns Cardeais e o Santo Oficio estimulavam Pio IX a se manifestar com grande firmeza. Dai resultou o Silabo, cuja elaboragdo conheceu varias etapas. 2. Alenta confecgao do Silabo Apreparacao do Silabo, sujeila a oscilagdes diversas, durou quinze anos, O primeiro a propor a redag&o de um catalogo de erros contempo- raneos foi Mons. Joaquim Pecci (futuro Papa Ledo XIII), que em 1849 levou o Concilio regional de Espoleto a pedir a elaboragao de tal docu- mento. Era entao Arcebispo de Perusia. Em 1852 a revista jesuita La Civilta Cattolica propds ao Papa que anexasse a Bula destinada a definir o dogma da Imaculada Conceig&o de Maria essa coletanea de erros condenados, visto que Maria sempre foi tida como aquela que esmaga todas as heresias. Tendo acelto a Proposta, Pio IX pediu ao Cardeal Fornari que consultasse Bispos e leigos capacita- dos a respeito de erros que merecessem condena¢ao. Eis, porém, que dentre estes uma eminente figura Propés ao Papa que promulgasse uma Bula especial sobre a Imaculada Conceigao, dei- xando os anatemas para outro documento. Aessa altura dos acontecimentos, Mons. Gerbet, Bispo de Perpignan (Franga), aos 23 de julho de 1860 publicou um catdlogo de 85 proposigées erréneas. Ao recebé-lo, Pio IX resolveu manda-lo como texto-base para a Comissao encarregada do Silabo, Esta condensou o documento de Dom Gerbert em 70 Proposi¢des, anexando a cada uma a razdo porque deveria ser condenada. O catalogo assim oriundo foi, sob segredo, apresentado aos 323 Bispos que em junho de 1862 foram a Roma para Participar da canonizacao dos méartires japoneses. Ocorreu, porém, a violagao do segre- do de modo que o hebdomadario de Turim I! Mediatore em outubro de 1862 0 publicou, provocando o sarcasmo de certo ptiblico e ataques violen- tos contra a pretensa intransigéncia da Santa Sé. Pio IX entao renunciou a levar adiante tal projeto. Os Bispos france- ses 0 desestimulavam, alegando que o futuro documento da Santa Sé 539 12 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 534/2006 poderia parecer obra de um Bispo francés. Também era contrario ao pro- jeto o Cardeal Antonelli, Secretario de Estado. Apés tantas peripécias, o Papa resolveu vencer os entraves, aten- dendo ao Cardeal Bilio. Este propunha ao Papa que levasse a termo o projeto iniciado nao mais procurando a colaboragao de sabios distantes, mas recolhendo nos documentos do préprio Papa (alocugées, enciclicas, Cartas Apostolicas) as Proposigdes ja condenadas a fim de formarem o Silabo. — O proprio Bilio se encarregou de facilitar o trabalho, de modo. que este chegou a termo na forma em que ele hoje se acha, acompanha- do da indicagao de fontes e recomendado por uma carta do Cardeal Antonelli (0 préprio Papa Pio IX nao assinou pessoalmente 0 Silabo). 3. O texto como tal O Silabo foi publicado como Anexo a Enciclica Quanta Cura na data de 8 dezembro de 1864, ou seja, dez anos apés a definicao do dogma da Imaculada Conceigao. A enciclica comega denunciando o naturalismo, segundo o qual a sociedade humana deveria ser governada sem se levar em conta a reli- giao; além disto, condena a total liberdade de consciéncia, a liberdade da imprensa, a laicizagdo das instituig6es, a supressao das Ordens Religiosas Monasticas, 0 monopélio do ensino publico, a total submissao da familia ao Estado; 0 Unico objetivo da sociedade seria produzir riqueza. O Papa con- dena também o galicanismo, que subordina a igreja ao Estado e exige a confirmagao do poder civil para que tenham vigéncia as leis da Igreja. Re- jeita 0 racionalismo, que nega a Divindade de Jesus Cristo. Quanto ao Sflabo, consta de Proposigées tidas como inaceitaveis e reunidas em oito capitulos, que trazem a indicagao das fontes respecti- vas. Eis algumas das mais significativas: |. Panteismo, Naturalismo e Racionalismo absoluto (1-7) 1. Nao existe Ser divino, supremo, perfeito em sua sabedoria e sua providéncia, que seja distinto da totalidade das coisas, por conseguinte Deus é sujeito a mudangas. Ele se faz no homem e no mundo. Todos os seres Sao Deus. Deus é uma sé e mesma coisa com 0 mundo, o espirito com a matéria, a necessidade com a liberdade, o verdadeiro como falso, 0 bem como mal, o justo com o injusto. 2. Deve-se negar toda agaio de Deus sobre os homens e sobre o mundo. 3, Arazao humana, considerada sem referéncia a Deus, é 0 unico Arbitro do verdadeiro e do falso, do bem e do mal. Ela é a sua propria lei, ela basta, por suas forgas naturais, para promover o bem dos homens e dos povos. 540 AIGREJA CONTRARIA AO PROGRESSO E A CIVILIZAGAO? 13 Il, Racionalismo moderado (8-14) Sao sete ProposigGes que reivindicam, para a Filosofia e a Teolo- gia, total independéncia em relagao ao magistério da Igreja. 8. Visto que a razéo humana é igual a prépria religido, as ciéncias teolégicas devem ser tratadas como as ciéncias filoséficas. 11. Nao somente a Igreja nao deve, em hipdtese alguma, insurgir- se contra a Filosofia, mas deve tolerar os erros da Filosofia e deixar que esta corrija a si mesma. Ill, Indiferentismo. Latitudinarismo (15-18) Latitudinarismo é a aceitag&o de normas morais laxistas ou poucos fundamentadas. 15. Todas as religi6es sao equivalentes entre si e toca ao homem escolher a que mais lhe agrade. 16. Os homens podem encontrar o caminho da salvag4o eterna e obté-la seguindo qualquer religido. IV. A Igreja e seus direitos (19-55) 20. O poder eclesidstico nao deve exercer sua autoridade sem a permiss&o e o consentimento do governo civil. 26. A Igreja nao tem direito proprio, nativo e legi possuir. 0 de adquirir e 28. N&o é permitido aos Bispos publicar Cartas Apostdlicas sem o beneplatico do governo. 30. A imunidade da Igreja e dos eclesidsticos tem sua origem no direito civil. 33. N&o compete, unicamente por direito proprio e inato, & jurisdi- go eclesidstica dirigir o ensinamento das verdades teoldégicas. 39. O Estado, como origem e fonte de todos os direitos, goza de um direito que nao é circunscrito por limite algum. 40. A doutrina da Igreja Catdlica é oposta ao bem e aos interesses da sociedade humana. 41. Em caso de contlito juridico entre os dois poderes, o direito civil prevalece. 48. Mesmo nos Semindrios dos clérigos, 0 método a seguir nos estudos esta submetido a autoridade civil. 541 14 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 534/2006 49. Aautoridade leiga pode impedir os Bispos e os fiéis de se comu- nicar livremente com o Pontifice Romano. 54. Os reis e os principes nao somente estado isentos da jurisdigao da Igreja, mas sao superiores a ela quando se trata de dirimir questées de jurisdigao. V. Moral natural e Moral crista (56-64) 61, Uma injustiga coroada de sucesso nao prejudica em absoluto a santidade do direito. VI. Casamento cristao (65-74) 65. Nao ha prova alguma de que Jesus Cristo tenha elevado o ma- triménio a dignidade de sacramento. 74. As causas matrimoniais e os noivados, por sua propria indole, estdo sujeitos unicamente a jurisdigao civil. VIL. Principado civil do Pontifice Romano (75-76) 75. Os filhos da Igreja cristé e catélica debatem entre sia compati- bilidade temporal com o poder espiritual. 76. A exting&o da soberania civil de que goza a Santa Sé, muito serviria a liberdade e lelicidade da Igreja. Vil. Liberalismo maderno (77-80) 77. Em nossa época, j ndo convém que a Igreja Catélica seja con- siderada a unica religido do Estado, com exclusao de todos os outros cultos. 78. Por isto, a justo titulo, em alguns paises catdlicos a lei permite que os estrangeiros ai de passagem ou residentes gozem do exercicio publico do respectivo culto religioso. 79. E falso que a liberdade civil de todos os cultos e que a plena liberdade para todos manifestarem aberta e publicamente todos os seus modos de pensar e opinar atiram mais facilmente os povos na corrup¢ao dos costumes e propaguem a peste do indiferentismo. 80. O Pontifice Romano pode e deve reconciliar-se com o progres- so, 0 liberalismo e a civilizagao moderna. 4, Comentando... O Silabo provocou debates; houve quem o apoiasse como também houve quem o conteslasse. Na verdade, o Silabo néo é um documento infalivel. Condena auténticos erros como também proposigdes que, com © tempo, se tornaram aceitaveis. Na época de Pio IX o progresso e a 542 A IGREJA CONTRARIA AO PROGRESSO E A CIVILIZACA0? 15 civilizagéo eram acompanhados por uma filosofia anticrista, que nao é necessariamente ligada ao progresso. A fé crist& aceita tranqiilamente a evolugao tecnolégica desde que nao seja aplicada a deturpar ou destruir os valores do Evangelho. Aceita, e até prociama, a liberdade religiosa, que nao significa a aprovacdo do indiferentismo ou do ateismo, mas quer dizer que todo homem tem a obrigagSo de examinar a questao religiosa (existe ou nao existe Deus? Se existe, onde pode ser encontrado?) sem ser constrangido a abragar um determinado Credo ou a professar a des- renga: 6 a dignidade humana que 0 postula. Isto ndo relativiza a verdade; existe uma Unica Religido revelada por Deus mediante Jesus Cristo, que vive na Igreja que Ele fundou e entregou a Pedro e seus sucessores. Averdade 6 uma sé e sempre a mesma. Pode acontecer, porém, que cada época a encare sob diverso Angulo, de acordo com os parametros culturais do momento. Leve-se em conta, por exemplo, 0 vocabulo “de- mocracia” — governo do povo pelo povo. Quando no século XIX se come- gou a falar de democracia, 0 vocabulo soou mal, pois foi identificado com “revolucaio sanguinolenta”. Atualmente, porém, democracia representa a forma de governo ideal, em que cada cidadao guarda sua liberdade de expressao e de colaborar para o bem comum como Pprefere. Por conseguinte nao se deve evocar 0 Silabo de Pio IX para contes- tar declaragdes do Concilio do Vaticano II. Eutanasia. A dignidade em questao, por Pascal Hintermeyer. Tra- dugao do francés por Maria Stela Goncalves. - Ed. Loyola; S40 Paulo 2006, 134 pp. Oautor ditige o Instituto de Sociologia da Universidade Mare-Bloch de Estrasburgo (Franga). Escreve sobre eutandsia, estudando as circuns- lancias em que ela possa ser a garantia de morte digna, sem se referir aos principios da Moral catélica. Eis uma de suas passagens mais significati- vas: “A Corte Européia dos Direitos do Homem rejeitou em 2002 o pedido de Diane Preity, que solicitava que o marido fosse autorizado a dar-ihe a morte e afirmava que os cuidados para manté-la em vida constitulam um tratamento desumano e degradante. Com efeito, seria um novo paradoxo pretender fundar os direitos do homem no principio de que pode ser desu- mano viver?” (pp. 83s). Oautor nao vaialém da interrogacao. A Moral catdlica professa que, quando a paraferndlia do CT! nao produz resultados proporcionais ou cor- respondentes aos meios aplicados, 6 licito desligd-la, Proporcionando as- sim a ortotandsia, que é 0 meio-termo entre a eutandsia (occisao direta) e a distandsia (dolorosa obstinagao terapéutica). Ver PR 420 1997, pp. 210 543 Como entender? AINFALIBILIDADE DA IGREJA Em sintese: A /greja como tal é infalivel quando ensina em matéria de {6 e de Moral; 6 neste contexto que sé coloca a intalibilidade papal. Ela participa da infalibilidade da Igreja. O proprio Evangelho fundamenta essa prerrogativa petrina em Mt 16, 16-19; Le 22, 31; Jo 21, 15-17. Em Mt 28, 48-20 Jesus promete sua assisténcia infalivel a toda a Igreja. A infalibilida- de papal foi-se manifestando em sucessivos episddios da histéria da Igre- ja. Todavia no fim da Idade Média foi contestada por uma corrente dita “Concillarista”, que proclamava a superioridade de um Concilio Geral so- bre a autoridade do Papa; o conciliarismo medieval foi restaurado nos s6- culos XVII e XVIII pela tendéncia a criar igrejas nacionais na Franga ena Austria, mas nao prevaleceu. A infalibilidade papal em matéria de fé e de Moral foi objeto de definigao do Concilio do Vaticano | (1870) frenie a tendéncias racionalistas e relativistas da época. Foi reatirmada pelo Con- cilio do Vaticano I! (1962-1965). A intalibilidade em matéria de fé e de Moral é prerrogativa do ma- gistério da Igreja. Esta nao pode ensinar proposigées erréneas que detur- pem o Evangelho apregoado por Jesus Cristo; deve-se conservar pura € integra a doutrina que Este entregou a sua Igreja e que tem por prego 0 sangue do Filho de Deus feito homem. E dentro da infalibilidade da Igreja que se coloca a infalibilidade do Papa outorgada por Jesus a Pedro e seus sucessores, como se vera adi- ante. O magistério da Igreja pode ser = ordinario, o qual ocorre quando todos os Bispos em comunhao com 0 Papa ensinam alguma doutrina tida como artigo de fé ou de Moral; ~ extraordinario: no caso de uma prociamagao da verdade em carater definitério por um Concilio Geral ou pelo Sumo Pontifice falando ex cathedra. Nao se julgue que todas as verdades de {6 devam ser definidas por um Coneilio ou por uma declaragao papal. Basta o magistério ordinario para fundamentar a fé em tal ou tal proposigao doutrinaria. Nas paginas seguintes sera focalizada a infalibilidade papal no seu fundamento biblico e na histéria da Igreja. 544 A INFALIBILIDADE DA IGREJA 17 1, Fundamento biblico Como dito, a infalibilidade pontificia é uma expresso da infalibili- dade da Igreja. E o que se depreende de uma declarag¢ao do Concilio do Vaticano |: “O dom da infalibilidade nos foi revelado como prerrogativa perpé- tua da Igreja de Cristo... Este dom foi. conterido a fim de que a Palavra de Deus, em sua forma escrita como também em sua transmissao oral, seja brotegida e conservada em toda a Igreja de maneira intata e isenta de qualquer trago de inovagdo ou de mudanga” (esquema de 21/01/ 1870). A infalibilidade da Igreja em questées de {é e de Moral é atestada pelos escritos do Novo Testamento, Com efeito, Cristo é a verdade (Jo 14, 6) e enviou o Espirito da Verdade aos seus discipulos (Jo 14, 17); 0 Espirito Ihes devia ensinar toda a Verdade (Jo 14, 13), para que a levassem até os confins do mundo (At 1, 18). Os discipulos apregoavam a Boa-Nova sob 0 impulso do Espi- Fito (At 4, 8). E digna de nota a formula como é procilamada a liberdade dos pagaos convertidos frente a lei de Moisés: “O Espirito Santo e nés julgamos conveniente...) (At 15, 28). Pedro e seus sucessores. compartilham essa infalibilidade, como consta de Mt 16, 16-19; Le 22, 31; Jo 21, 15-17. Pedro deve confirmar seus irméos na {6, gozando da assisténcia infalivel de Cristo Prometida a toda a Igreja: “Estarei convosco até a consumagao dos séculos” (Mt 28, 20). 2. No decorrer da histéria O magistério dos Papas (Bispos de Roma) foi mais e mais reconhe- cido, especialmente por ocasiao de debates teolégicos nos quais o Papa era chamado a intervir ou tomava a iniciativa de intervir, usando da sua autoridade em favor da ortodoxia. A Igreja de Roma era tida como baluar- te da reta fé, que ninguém podia ignorar; é 0 que atesta Santo Ireneu (t 202): “Com essa Igreja romana é necessario que todas as igrejas se po- nham de acordo por causa da sua eminente autoridade e porque, por ela, @ tradigao que vem dos Apéstolos, sempre foi conservada” (Contra as Heresias tf!, 24). S. lreneu professa ainda que “a verdade sé pode ser encontrada na Igreja, que 6 sempre a mesma e que goza do carisma da verdade apoia- da no testemunho dos Profetas, dos Apostolos e de todos os discipulos, pois onde esta a Igreja, ai estao Espirito de Deus, e onde esta o Espirito de Deus, af esta a Igreja, fonte de toda gra¢ga; em suma ai esta 0 Espirito da Igreja, a propria verdade” (Contra as Heresias II! 24), 545 18 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 534/2006 Decénios mais tarde escrevia Sao Cipriano de Cartago (t 258): “A Igreja, que cré no Cristo, permanece atenta aquilo que Ela outro- ra aprendeu e jamais se separa dessa doutrina” (epistola 59, 7). Aseguir, registra-se no decorrer da histéria a intervengao do Bispo de Roma como arbitro em debates teoldgicos. Assim: em 260 aproximadamente o Papa Sao Dionisio se pronuncia con- denando a heresia trinitéria dos sabelianos (0 Filho seria uma modalidade do Pai); em 269 aproximadamente o Papa Sao Félix condenou os erros de Paulo de Samésata sobre a Encamagao do Verbo em carta dirigida a Maximo, Bispo de Alexandria; solicitado pelos concilios de Cartago (416) e Milevo (417), Inocéncio 1 rejeita o pelagianismo, que negava a necessidade da graga de Deus para a salvagao do homem, em 430 0 Bispo de Roma Celéstio! condenou os erros de Nestorio, solicitado por Sao Cirilo de Alexandria, erros referentes a Cristo (que teria dois eu, 0 divino e o humano). Por ocasiao da contenda monifisita 0 Patriarca de Constantinopla, Flaviano escreveu ao Bispo de Roma Sao Ledio Magno, expondo-Ihe os erros debatidos. Ao que respondeu Leao Magno mediante o Tomus Flaviani (tomo de Flaviano) datado de 449, obra em que expunha em termos precisos 0 mistério da Encarnagao. Este documento, lido aos sinodais no Concilio de Calced6nia (451), provocou a exclamagio de to- dos: “Essa 6 a fé catdlical”. Muito significativos sao também os dois seguintes episédios: Em meados do século VI 0 Imperador Justiniano (que se fazia de tedlogo) queria condenar como hereges os nomes de Teodoro de Mopsuéstia (t 428), Teodoreto de Ciro (+ 458) e bas de Edessa (t 457).0 Papa Vigilio se opunha a essa decisao; pelo que o Imperador mandou busca-lo em Roma para que em Constantinopla assinasse a formula de condenagao, tal era a importancia da aquiescéncia do Bispo de Roma para que fosse valida alguma declaragao teolégica. Em 649 o Papa Martinho | (649-855) recusou aceitar o simbolo de fé patrocinado pelo Imperador Constante II (641-668). Em represalia 0 monarca mandou prender o Papa em Roma e deporté-lo para Constanti- nopla a fim de que subscrevesse 0 Credo imperial. J4 que Martinho | recusou peremptoriamente fazé-lo, foi exilado na Criméia, onde heroica- mente faleceu. 546 A INFALIBILIDADE DA IGREJA 19 A propésito da controvérsia iconoclasta, que agitava 0 Oriente, o Bispo Hormisdas, de Roma, interveio com uma carta que explanava o auténtico sentido das imagens na lgreja. No decorrer da Idade Média foram diversos os pronunciamento pa- pais visando a dirimir duvidas teolégicas. Sejam citadas a Constituigao Benedictus Deus (1336), do Papa Bento Xila respeito da visdo beatifica Concedida aos justos antes mesmo do fim dos tempos e n&o, como erro- neamente afirmavam alguns, somente apés 0 juizo final. Citamos tam- bém a Constituigao Licet iuxta doctrinam, de Joao XXII, condenando os erros de Marsilio de Padua sobre a estrutura da Igreja. No fim da Idade Média, deu-se o Grande Cisma do Ocidente, por ocasiao do qual, além do Papa legitimo em Roma, houve dois antipapas. Para resolver 0 impasse assim criado, muitos tedlogos apelaram para o Conciliarismo, que colocava @ autoridade de um concilio geral acima da autoridade Papal, contrariando um axioma muito repetido outrora: “Prima sedes a nemine iudicatur, — A Primeira sé por ninguém é julgada”. Assim Pierre PAilly (+ 1420) escrevia: “O Concilio geral Pode em varios casos julgar e condenar o Papa; em vari- 0s casos é licito apelar do Papa Para um Concilio, ou seja, nos casos em que a Igreja é ameagada de destruic¢éo" (Tractatus de Ecclesiae, Concilii generalis, Romani Pontificis et Cardinalium auctoritate). O conciliarismo encontrou seus Contraditores, entre os quais Joao de Turrecremata (+ 1468), que escreveu um Tratado da Igreja onde se lé: “A sentenca da Sé Apostolica nao pode errar nas coisas pertinentes a fée necessdrias a salvagao" (Summa de Ecclesia 1, Il, cap. CIX). O conciliarismo foi declinando na Segunda metade do século XV, mas voltou a baila nos séculos XVII e XVIII, inspirado pela teoria das igrejas Nacionais (Galicanismo, Febronianismo...). Com efeito, o rei Luis XIV, da Franga, aspirava a ter uma Igreja Nacional regida pelo seguinte artigo da assembicia do clero de 1682: “Embora ao Sumo Pontitice toque a parte principal em questées de Fé e seus decretos digam respeito a todas as Igrejas e a cada uma delas, suas sentencas nao s&o irreformaveis a menos que estejam apoiadas pelo consentimento da Igreja inteira” (artigo 4). Também a onda nacionalista, que passou pela Austria e outras regi- 6es, foi-se retirando de cena: deixava, porém, na Igreja Catdlica a consci- éncia da necessidade de esclarecer a questao do primado do Papa. Isto foi feito em 1870 no Concilio do Vaticano I. 3. O Concilio do Vaticano | O século XIX foi agitado para a Igreja. Além de correntes anticristas de épocas passadas, nele encontrou voga a mentalidade liberal ou relativista, Que solapava a primazia do magistério de Pedro. Em vista disto, 0 Papa Pio 547 20 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 534/2006 \X, aos 6/12/1864 confiou a alguns Cardeais a sua inteng&o de reunir um Concilio para tratar do assunto. A Franga, impregnada de resquicios da mentalidade galicana, opunha-se a definigao da infalibilidade do Papa. Os paises de lingua alema ‘eram-lhe ainda mais avessos; temiam que 0 Papado se tornasse uma monarquia autoritaria. todavia, uma vez reunido o Conci- lio, a maioria dos conciliares se mostrou favoravel & definig&o, tendo em vista afastar todo resquicio de galicanismo assim como a mentalidade subjetivista e relativista da época. A oposigao n&o pretendia negar o fato mesmo da infalibilidade, mas temia que se cavasse um fosso ainda mais profundo entre o Papado e a sociedade civil. Prevaleceu, porém, 0 parecer favoravel da maioria, de modo que, antes da definigaéo do dogma, se retira- ram de Roma os sinodais oponentes, em grande maioria orientais temerosos de que a Igreja viesse a sofrer uma latinizagao indevida. Aos 16/7/1870 rea- lizou-se a votagao da infalibilidade pontificia, havendo 553 vozes favoraveis e 2 contrarias. Eis o teor da definigao: “Nos, segundo a Tradigéo fielmente recebida desde os primérdios da 16, para a gldria de Deus nosso Salvador, para a exaltagao dos povos catélicos e salvacdo dos povos cristaos, com a aprovacao do sagrado coneflio, ensinamos e definimos que 6 dogma revelado por Deus: Que o Romano Pontitice, quando fala ex-cathedra, isto 6, quando, cumprindo sua fungdo de Pastor e Doutor de todos os cristéos, define, em razao de sua suprema autoridade apostdlica, que uma doutrina de Fé ou de Moral deve ser guardada por toda a Igreja, goza, em virtude da assisténcia divi- na que the foi prometida na pessoa do Bem-aventurado Pedro, daquela infalibilidade com que o Divino Redentor quis que fosse dotada a sua igre- ja ao definir uma doutrina de Fé ou de Moral, e que ‘portanto tais definigdes ‘do Romano Pontifice sao irretormaveis por simesmas enaoem virtude do consenso da Igreja" (Fé Catdlica n. 7189). Esmiugando esta definigao, verificamos que ela consta de quatro elementos indispensaveis para que haja uma senten¢ga intalivel: 1) E preciso que o Papa empenhe sua suprema autoridade, como Pastor de toda a Igreja; 2) Enecessario que 0 assunto em pauta seja uma questo de fé ou de Moral; 3) Requer-se que oS destinatarios sejam os fidis da Igreja inteira; 4) E preciso ainda que a redagao da sentenga manifeste a inteng&o de definir. Esta inteng&o deve ser expiicitada. O que acaba de ser exposto, nao significa que os pronunciamentos do Papa em seu magistério ordinario (nao solene, ex-cathedra) possam ser livremente debatidos como os de qualquer tedlogo. O Papa nao fala 548 A INFALIBILIDADE DA IGREJA 21 sem ter estudado ou sem ter mandado estudar a teméatica; além do. qué é de crer que goze de peculiar assisténcia do Espirito Santo para que nun- ca indique algo de dubio ou menos santo aos fiéis. Tal 6 a posigao Catdlica no tocante & infalibilidade do magistério da Igreja e do Sumo Pontitice, E exigente, mas torna-se Ppenhor da unidade da Igreja e da Conserva¢ao do patriménio trazido Por Cristo a terra. - Os irm&os separados, tejeitando o magistério papal, apelam para outras ins- tancias, como se dird a seguir: 4. Fora do Catolicismo 1, O protestantismo afirma a infalibilidade da Palavra de Deus. Esta sentenga; alias muito sabia, 6 prejudicada pelo fato de que cada crente tem direito ao livre exame dessa Palavra ou da Biblia: donde pode ai prevalecer, deturpando o Sentido da Palavra de Deus, como acon- tece nas mais recentes denominagées derivadas do protestantismo (Mormons, Testemunhas de Jeova, Ciéncia Crista...), Assim se esfacelao Cristianismo. 2. O anglicanismo, em suas origens, professava a infalibilidade da Igreja. Todavia toi penetrado Por reformadores do continente europeu, que fizeram da infalibilidade da Igreja o objeto de uma Opinio teoldgica, e néo 3. Os orientais ortodoxes constam de Igrejas autocéfalas, ligadas ao Patriarcado de Constantinopla por deferéncia honrosa, sem conotagao juridica. Admitem a infalibilidade da Igreja como Corpo ou Sociedade, nao a reconhecem aos Bispos nem ao clero nem a algum membro em Particu- lar, mas somente ao canjunto como “Igreja”. 4. Os Velhos Catélicos saoa ala que se separou da Sé Apostolica em 1871 por nao reconhecer a definigao da infalibilidade do Papa. No inicio da sua histéria admitiam a infalibilidade da Igreja como o Catolicismo, do qualse Separaram. Por influéncia do protestantismo, passaram a negar essa prerro- gativa da Igreja nos termos abaixo, devidos €0 tedlogo Michaud: “E claro que, sé a Igreja fosse divina, ela seria sem mancha. Eis, porém, que ela tem manchas; cego 6 aquele que no as vé. Por conse- guinte a Igreja nao é divina. Pode-se dizer que ela é infalivel na medida em que ela ensina o que Cristo ensinou... 0 Cristo como Verbo encarnado era 549 22 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 534/2006 infalivel. Por conseguinte s6 se pode dizer que a Igreja é infalivel quando ela se restringe a esse elemento divino e infalivel. O resto ela nao tem a missdo nem de o ensinar nem de o transmitir nem de o definir” (Revue Internationale de Theologie 1907, pp. 289-291). A proposito convém observar que a Santa Mae Igreja tem filhos pecadores, mas Ela mesma 6 a Esposa de Cristo sem mancha nem ruga. (Ef 5, 25-27). Com outras palavras: distingamos a Pessoa da Igreja (Cris- to, que nela vive e Ihe garante a indefectibilidade) e o pessoal da Igreja (0s fiéis que oscilam em sua conduta de vida, nao se conformando aos ensinamentos da Santa Mae Igreja). PODERA SALVAR-SE? A Redagao de PR recebeu a seguinte pergunta: "Gostaria de saber se se pode salvar uma pessoa que recebeu 0 Batismo catélico em idade adulta, mas deixou de freqiientar a igreja, le- vando porém uma vida correta até a morte. Pergunto isto porque conhego uma pessoa nao catélica maravilho- sa, de coragao bondoso, que mais valor tem do que 0 coragao de muitos crentes assiduos a Missa e a Igreja. Acho que a pratica inconsciente dos mandamentos de Deus vale muito mais do que ser cristao da boca para fora. - Agradego a resposia”. RESPONDENDO Sejam propostas trés etapas. 1) Apostatar da fé catdlica 6 abandonar a verdade em favor do erro; 6 uma falta grave quando considerada em si ou como tal. Todavia, para avaliar corretamente a apostasia, deverdo ser levadas em conta as ra- zdes subjetivas que motivaram este gesto. As razdes subjetivas podem ser: - culpaveis, como comodismo, recusa das normas da Moral cato- lica, amor proprio ferido... Entao a apostasia é culpa grave. ~ nao culpaveis: a pessoa, sem culpa propria, nao entende sufici- entemente algum ponto da doutrina catélica, como o purgatério, a virgin- dade perpétua de Maria SSma., a real presenga de Jesus na Eucaristia... Nestes e em casos semelhantes a pessoa abandona a Igreja sem culpa propria, na busca sincera da Verdade (que ela nao encontraré tao bela e (Continua na p. 561) 550 Ainda “O Cédigo Da Vinci": OIMPERADOR CONSTANTINO EAIGREJA Em sintese: Constantino foi Imperador Romano de 306 a 337, A partir de 313 beneticiou a Igreja de varios Modos, a ponto de dizerem al- Estes dois aspectos da figura de Constantino serio examinados has paginas subsequentes, a fim de dissipar mal-entendidos e Preconcei- tos. 1. Constantino e os Cristaos Pergunta-se: em que consistiu a teligiosidade de Constantino? Em resposta, deve-se dizer que nunca foi um “catdélico praticante’, Recebeu o Batismo em seu leito de morte, apds um teor de vida nem Sempre correspondente a Moral crista. Do Ponto de vista doutrinario, pa- rece ter sido herdeiro de uma tendéncia da religio paga do século Ill a evoluir na diregdo de certo monoteismo, Em consequéncia era cultor do Sol Invictus. Em 312 Julgou ver nos céus um sinal de Cristo que the prometia a vitéria da Ponte Milvia contra seu adversario Maxénclo, Este momento foi de grande importancia para o Imperador. Em 313 promulgou a Paz de Milo, que beneficiava altamente os cristdos, com os trés se- guintes iten: a) Aos cristéios, como a todos os demais cidadéos, 6 facultado se- guir tranqdilamente a sua religiao; b) So revogadas todas as leis que perseguem os cristaos; ¢) Os edificios de culto sagrado confiscados pelo Estado sejam res- titufdos aos cristéos sem que os cristéos devam pagar algum resgate. Se, 551 24 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 534/2006 depois de confiscados, tais imdveis passaram para as maos de proprieta- tios particulares, estes poderao pedir indenizagao ao Fisco. O Imperador promulgou outras leis em favor dos cristaos, tals como ~ isengao do tributum e€ da annona, ou seja, de certas taxas devi- das ao Estado; = reconhecimento do domingo como dia festivo; — as igrejas foram declaradas capazes de receber doagées testa- mentérias; ~ nado se podera apelar da sentenga de um Bispo para a Justiga civil. Além disto, Constantino fez amplas doagées a Igreja, colaborando na construgao de templos sagrados nao somente em Roma, mas tam- bém em Constantinopla, Jerusalém, Belém... Tais medidas eram ~de um lado, inspiradas por real estima aos representantes da \greaj; esta devia parecer ao Imperador veraz e digna de crédito; ~ de outro lado, parecem ter sido inspiradas também por interes- ses politicos. Gom efeito, os adversarios politicos de Constantino eram pagaos, de modo que combater o paganismo (ao menos indiretamente) era combater seus rivais. Mais ainda: n&o Ihe convinha provocar a re- presalia dos suditos mediante medidas drasticas antipagas; por isto con- tinuaram a figurar nas moedas € em outros objetos do Imperador sim- bolos pagaos. Em sintese, pode-se crer que a evolugao religiosa de Constantino seguiu 0 trajeto: 1) culto sineretista, em que prevalecia a imagem do Sol Invictus; 2) monoteismo filoséfico ou racional; 3) Cristianismo mal estruturado e supersticioso, que Ihe permitia guardar 0 titulo pagao de Pontifex Maximus. Deve-se ainda notar que as atitudes teligiosas de Constantino nos so relatadas por historiadores cristaos (Lactancio e Eusébio de Cesaréia), que tendiam a embelezar e engrandecer tais atitudes como se equivales- sem a introdugdo do Reino de Deus na terra, com 0 fulgor e a projegao que tocam a este. Constantino era tide como 0 “43° apostolo” ou o “episkopos (vigilante) que acompanhava a Igreja no seu aspecto extern”. Seria preconceituoso e falso afirmar que o apoio dado por Constantino paganizou o Cristianismo; tera surgido entao o Catolicismo. Em réplica podem-se apontar os seguintes dados: 552 O IMPERADOR CONSTANTINO E A IGREJA 25 — © titulo “Igreja Catdlica” data das origens mesmas do Cristianis- mo. Tenha-se em vista o texto de S. Indcio de Antioquia (+ 107 aproxima- damente) numa carta dirigida aos figis de Esmirna: “Onde quer que se apresente o Bispo, ali esteja também a comuni- dade, assim como a presenga de Cristo Jesus nos assegura a presenga da Igreja Catdlica” (Aos Esmirnenses 8, 2). ~ Assim como antes de Constantino os Bispos resistiram ao poder imperial perseguidor, assim sob Constantino © depois dele os Bispos re- sistiram ao Imperador nao porque hostilizasse 98 cristéos como tais, mas Porque defendia heresias, inclusive a ariana. E o que se depreende do subtitulo abaixo. 2. A resisténcia dos Bispos ao Imperador hostil 2.1, SHo Basilio (t 379) Feito Bispo de Cesaréia (Capadécia na Turquia de hoje), em breve Basilio conquistou a amizade do seu Povo, pois construiu hospitais e al- bergues, que constitujam como que uma nova cidade. Mostrou-se tam- bém avesso ao arianismo, que gozava do apoio do Imperador Valente. Este entéio mandou-Ihe o prefeito Modesto para intimida-lo com ameagas de confiscagao dos bens e exilio, caso nao emitisse uma declaragao de ades&o a causa ariana. Ao que Basilio respondeu: “A contiscagao dos bens nao afeta um homem que nada possui, a me- nos que queiras esses miseros tapos que vés e alguns poucos livros, pois estas sao todas as minhas riquezas. Quanto ao exilio, nao sofrerei, porque n&o estou preso a nenhum lugar; no é minha a terra onde estou atualmente © nao serd minha qualquer terra aonde possa ser fevado, ou, melhor ainda: toda a terra é de Deus, da qual somos héspedes de passagem. As torturas? Que efeito podem ter quando nao hd corpo? A menos que tu queiras falar do primeiro golpe, o unico do qual és senhor, Em suma, a morte seré, para mim, uma benteitora, pois me enviaré mais rapidamente aquele Deus para o qual vivo € por quem sou governado, para 0 qual jé morri em grande parte e ao qual j@ ha muito tempo desejo ter acesso”. Respondeu o prefeito Modesto: “Ninguém até hoje me apresentou semethante linguagem e me falou com tanta liberdade”. Replicou Basilio: “Estds surpreso porque nunca entrentaste um Bispo... Quando es- 10 em jogo Deus e os interesses dele, o resto néo tem valor; 86 conside- ramos a Ele, O fogo, o ferro, os animais ferozes, as unhas que dilaceram a carne vém a ser as nossas delicias e nao o nosso pavor. Dito isto, podes 553 26 PERGUNTE & RESPONDEREMOS 534/2006 injuriar, ameagar, fazer tudo o que quiseres; usa do teu poder e dé asaber ao Imperador que nem com a violencia nem com tentativas de persuasao nos fara aderir a impiedade, mesmo se tuas ameagas Se tornarem mais violentas ainda” (Migne grego 36,5608; trata-se de um relate feito por S. Gregério de Nazianzo em suas Oragdes 43, 49). Estas declaragées calaram fundo no animo do Imperador, que re- vogou 0 decreto de sangées contra Basilio. 2.2. Santo Hilario de Poitiers (t 367) Hilario foi a Constantinopla pedir ao Imperador que the autorizasse um debate publico com 0 ariano Saturnino, que se achava na capital e fora causa da sua injusta condenagao ao exilio. Acrescentava a solicita- gao de que o Imperador nao aceitasse a nova formula de fé redigida em Rimini, pois !esava a ortodoxia. — Estes pedidos sao ditos “Livro 2° a Consténcio’, porque existe um Livro 1°, sobre cuja autenticidade pairam sérias dividas. O pedido de Hilario no foi aceito no tocante ao debate publico, pois o Imperador patrocinava o arianismo. - Em réplica, Hilario escreveu “Contra Constancio", obra em que ele contesta o Imperador e o poe no rol dos perseguidores juntamente com Nero, Décio, Maximino; julga-o mesmo plor do que seus antecessores, porque veladamente inimigo, com apa- réncia de amigo, para cativar os incautos. 2.3. Santo Ambrésio de Milaa (t 397) Desde 0 inicio da sua missdo pastoral, Ambrésio mostrou-se arauto da ortodoxia em oposigéo ao arianismo. Frente autoridade imperial manteve-se intrépido. Isto transparece em alguns episédios mais salien- tes da sua atividade: Assim a estatua da deusa Vitéria fora retirada da sala das sessées do senado em 384 por ordem do Imperador Graciano. Eis, porém, que a maioria dos senadores, sendo paga, chefiada pelo retor Simaco, pleitea- va a recondugéo da imagem ao seu lugar de honra; Ambrésio se opés veementemente a tal gesto, obtendo a vitoria do bom senso cristao. Em 390 deu-se uma revolta do povo contra 0 Imperador Teoddsio } em Tessalénica (Grécia) por motivos desconhecidos; 0 monarca entao mandou massacrar 7.000 homens. Em conseqiéncia o Bispo escreveu uma carta ao Imperador mostrando-lhe a hediondez do seu crime e a necessidade de fazer peniténcia publica para poder entrar de novo na igreja e participar do culto sagrado. Teodésio rendeu-se a intimagao do Bispo, cumpriu a peniténcia, foi absolvido por ocasido do Natal de 390. Ambrésio, amigo e conselheiro de trés Imperadores, foi o primeiro Bispo solicitado por soberanos para sustentar o seu trono vacilante. 554 O IMPERADOR CONSTANTINO E A IGREJA 27 Nos sinodos de Aquiléia (381) e Roma (382) 0 Bispo de Mildo se empenhou decididamente por fazer recuar 0 arianismo. Muito importante 60 fato de que 0 Bispo ariano Auxéncio de Durostorum, tendo ido a Milao, Por ocasiado da Pascoa de 386, pediu ao Imperador uma igreja de Milao para realizar o culto ariano. Ambrésio entao ocupou a basilica Porciana com uma multidao de fiéis, que ld permaneceram em canto liturgico dirigi- do por Ambrésio; desta forma teve origem o canto ambrosiano, 3. Constantino e o Concilio de Nicéia | (325)' Desde 0 inicio do seu govemo, Constantino mostrou-se cioso da uni- dade da Igreja; o povo coeso, sem divisées e rixas, seria mais préspero, Dai a dupla intervencao do Imperador na controvérisa donatista. —em 313, solicitado para intervir,entregou ao Papa Milciades a ar- bitragem entre as partes conflitantes; — em 314 reuniu em Arles (Galia) os Bispos da regiao com a mesma finalidade. Muito mais importante foi a interven¢ao na questo ariana, que pas- samos a descrever. No comeg¢o do século IV o presbitero Ario de Alexandria afirmava que 0 Logos (Filho) de Deus era uma criatura excelente, & qual por exten- so se poderia aplicar 0 titulo de “Deus”. Esta sentenga, contraria a fé da Igreja, provocou candente celeuma; um Concilio regional de Alexandria condenou Ario, mas nao conseguiu extinguir a propagagao da heresia. Interveio entao Constantino, pouco instruido na doutrina crista, escreven- do uma carta a Ario e outra ao Bispo Alexandre de Alexandria, cartas nas quais convidava ambos a guardar siléncio sobre tal questao controverti- da. Frustrado em sua expectativa, Constantino resolveu convocar o pri- meiro Concilio universal da histéria para a cidade de Nicéia (Asia Menor ou alual Turquia); punha a disposigao dos Bispos os meios de transporte do Estado. O numero de Bispos que compareceram varia de acordo com 0s cronistas: 259, 278, 300 ou mesmo 318 (fazendo eco a Gn 13, 18, onde 840 mencionados 318 homens que seguiram Abraao). A maioria dos Bis- pos era oriental; dentre os ocidentais destacavam-se os legados do Papa Silvestre jd idoso e impossibilitado de comparecer, mas Tepresentado pelos presbiteros Vito e Vicente; além destes, salientava-se o Bispo Osio de Cérdoba, conselheiro teolégico de Constantino. O Concilio se abriu aos 20 de maio de 325 no grande salao do Pa- lacio Imperial de Nicéia sob dupla presdiéncia: a de honra cedida a Constantino sentado sobre um trono recoberto de ouro e interessado em ' Este subtitulo volta ao tema do nosso primeiro artigo, tendo em vista mais precisa- mente as afirmagdes de Dan Brown em *O Cédigo Da Vinci". 555 28 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 534/2008 recomendar a concérdia. A presidéncia efetiva tocou aos legados roma- nos ea Osio. Constantino inaugurou os trabalhos proferindo breve discurso em latim. Os debates terminaram com a redagao de um Simbolo de fé assi- nado por Osio, pelos legados papais e pelos demais Bispos (com exce- ao de dois apenas). Eis 0 texto da definigao de fé: Cremos em um s6 Deus, Pai Todo-Poderoso, Criador de todas as coisas, visiveis e invisiveis, e em um sé Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigénito de Deus, nascido do Pai, isto é, da substAncia do Pai. Deus de Deus, Luz de Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, nao cria- do, consubstancial ao Pai, por Quem foram feitas todas as coisas, as que estao no céu @ as que estao na terra; que por nds, homens, e para nossa salvagdo desceu dos céus e Se encamou e Se fez homem, padeceu e ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus, @ ha de vir para julgaros vivos e os mortos. [Cremos] no Espirito Santo. Mas aos que dizem “houve um tempo em que [Ele] nao existia’, e “que antes de nascer nao existia’, e “que foi feito do nada ou que é de outra hipdstase ou substéncia ou que 0 Filho de Deus é [criado ou] sujetio @ mudanga e alteragao — a estes os anatematiza a igreja Catdlica. Este texto nao equivale a promogao de um “profeta” Jesus a digni- dade de Deus, pois Jesus jé era considerado Deus desde os tempos apos- tolicos; seja, entre outras, citada a passagem de Mt 28, 19: “Batizai em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo”. Seja citado S. Inacio de Antioquia {t 107 aproximadamente), que, apre- sentando Jesus como homem, ndo deixa de acentuar também a Divindade de Jesus, apresentando binémios que conjugam o divine e o humano: “Aguarda Aquele que paira acima dos eventos mesquinhos, o Atemporal, © Invisivel, que por nossa causa se fez visivel, olmpalpavel, o Impassivel, que por nés se fez passivel” (A S. Policarpo 3, 2) Ou ainda: “um 6 0 médico na came e no espirito gerado (gennetés) e nao criado (agénetos) aparecendo na carne como Deus na morte vida verdadeira tanto de Maria como de Deus antes passivel agora impassivel Jesus Cristo Senhor nosso” (Aos Efésios 7, 2) 586 0 IMPERADOR CONSTANTINO E A IGREJA 2s Como se vé, S. Inacio professa tanto o fato da Encamagdo verda- deira (“aparecendo na carne como Deus”) quanto a obra salvifica de Je- Sus, que morreu para nos dar a vida: “na morte vida verdadeira”, “primei- ramente capaz de sofrer, depois impassivel”. - Com muita nitidez, portan- to, j4 nos primeiros decénios do Cristianismo o mistério de Cristo “Deus e homem” e Salvador é professado, Os autores subseqiientes o desenvol- veram ulteriormente. O que a definigdo de Nicéia implica 6 a descoberta da formula como se poderia afirmar a Divindade de Jesus sem o identificar com o Pai, problema este que ocupava os mestres cristéos desde os primeiros tem- pos da lgrej Filho é6 da substancia ou da natureza do Pai, porque gerado, nao criado; se é da natureza do Pai, é Deus. Note-se entre parén- teses: “natureza” (ousia no texto grego de Nicéia) é a esséncia ou aquilo que faz alguma coisa sero que ela 6. Como se vé, Constantino nao se pronunciou sobre a tematica dis- Cutida ou sobre a Teologia em Pauta, mas apenas se interessou pela boa ordem dos debates e pela concérdia dos debatedores entre si. Quanto a definiga&o do catalogo biblico por Constantino instigando o Concilio de Nicéia |, observe-se o seguinte: Segundo Dan Brown, havia no comego do século IV mais de 80 evangelhos, dos quais somente quatro (Mi, Mc, Le, Jo) foram escolhidos; esses quatro, sim, porque omitiam certos aspectos libertinos da humani- dade de Jesus e enfatizavam sua Divindade, “Constantino mandou fazer uma Biblia novinha em folha” (“O Cédigo Da Vinci”, p. 251). - Tais afirma- 96e8 sao totalmente gratuitas, carecem de documentagdo que as com- Prove. Ademais se foram langados ao fogo os 76 evangelhos nao aceitos, como 6 que Dan Brown péde saber qual era o seu conteudo? Fica assim, mais uma vez, evidente que Dan Brown escreveu um romance de ficgao, tratando levianamente valores de enorme peso, Candidatos ao altar, por José Luis Lira. Edig6es ABRHAGI, Forta- leza 2006, 216 pp. O autor é 0 Presidente da Academia Brasileira de Hagiologia. Apre- senta ao publico um retrato sumario de 46 pessoas (homens e mulheres) que no Brasil se destacaram por sua fé e sua caridade e poderiam chegar 4 Ser canoniadas. Termina reproduzindo o texto da Constituigéo Apostéli- ca de Jodo Paulo II sobre anova legisiagao reltiva as Causas dos Santos, que comega com as palavras Divinus Pertectionis Magister, de modo que 0 leitor se ponha a par do procedimento que antecede a Beatificagao @ a Canoniza¢ao, procedimento meticuloso, no qual figura “um advogado do diabo”. ~ O livro é muito ilustrativo da historia da Igreja no Brasil e merece a gratidéo dos leitores ao autor. 557 Documento faiso: A DOAGAO DE CONSTANTINO (Donatio Constantini) Em sintese: A Doagao de Constantino é um documento segundo o qual o imperador Constantino terd doado ao Papa Sao Silvestre terras e prédios na Itélia e fora da itdlia. Tal documento foi tide como auténtico durante séculos e foi muitas vezes citado para explicar o poder temporal dos Papas. Todavia jé no fim da Idade Média havia vozes que negavam a autenticidade da “Doagao”, de tal modo que sé foi reconhecendo o carater espurio do documento, Supée-se que tenha tido origem no século Vil, ‘quando o primado do Papa mais e mais se tornava notorio. O autor é desconhecido. A “Doagio de Constantino” é, per vezes, citada como testemunho da desonestidade dos Papas que desejaram fundamentar seu poder tem- poral sobre uma falsa base juridica, pois esta comprovado que tal docu- mento é espurio e nao corresponde a realidade histérica. Passamos a analisar mais detidamente 0 caso assim criado. 1. A “Doagao de Constantino”: que é? Chama-se “Doagao de Constantino” um documento pretensamente redigido pelo Imperador Constantino (306-337) e dirigido ao Papa Sao Silvestre (314-335) durante o quarto consulado de Constantino (315), do- cumento de estilo solene latino, que consta de duas partes. A primeira Parte, dita “Confessio” (Confissao) contém a profissdo de {6 do Imperador Constantino fiel as verdades de fé que o Papa Ihe tera transmitido. Narra também como o Imperador foi curado de lepfa por in- tercessao do Pontifice antes da conversao do monarca,' ‘ Mais precisamento 6 esta a astéria al narrada: © Imperador Constantino, tendo contrafdo a lepra, foi induzido pelos sacerdotes pagos a banhar-se numa vasilha cheia do sangue de criangas inocentes. Constantino, imaginando quanto isto seria doloroso para as respectivas maes, recusou @ suges- to. Na noite sequinte, apareceram-iho os Apdstolos Pedro e Paulo, que the garan- tiram a cura, caso pedisse o Batismo ao Papa Sao Silvesue. Este apresentou 20 tmperador um quadro no qual o enfermo reconheceu a imagem dos Apéstolos que ele avistara na noite anterior, e pediu o Batismo, que o Papa sem demora the minis- trou; seguiu-se a cura da moléstia, como predito pelos Apdstolos. (Continua a0 pé da p. 559) 558 A DOAGAO DE CONSTANTINO 31 Na segunda Parte, que € a “Donatio” propriamente dita, Constantino, em linguagem desordenada, doa ao Papa o primado sobre as comunida- des cristas do Oriente (Antioquia, Jerusalém, Alexandria e Constantino- pla); entrega-Ihe outrossim as igrejas do Latrao, de Sdo Pedro e de Sao Paulo fora dos muros em Roma assim como terras situadas em diversos Pontos do Império (Judéia, Grécia, Tracia, Asia Menor, Italia, Africa, Ithas); Cede iguaimente ao Pontitice o Palacio do Latrao em Roma e concede aos clérigos assessores do Pontifice a faculdade de usarem insignias im- Periais. Mais: tocaria ao Papa a faculdade de elevar senadores do Império O documento assim concebido era ignorado até o século IX. Em Roma mesma ninguém fez referéncia a tal documento antes de 979, quan- do foi explicitamente citado num Pronunciamento papal. Em 1053 0 Car- deal Humberto da Silva Candida utilizou-o para firmar 0 primado do Papa De entao por diante a “Donatio” foi incorporada as colegdes de canones ou leis da Igreja como também ao Decreto de Graciano (1140). Apartir de meados do século IX 0 documento é citado na Galia dos monarcas carolingios. Foi incluido na colegao de leis dita “Decretalia” do Pseudo-isidoro. Em 869 0 Bispo de Paris declarava, em tom exagerado, que 0 texto da “doagdo” era conhecido em quase todas as dioceses da Franga. Estes dados revelam que a credibilidade da Doagao se firmava cada vez mais, de modo que ninguém ousaria duvidar da mesma nos Primeiros séculos da Idade Média 2. Comecgam a Suspeitar A “Donatio” recebeu um golpe que abriu o caminho Para que os criticos comegassem a duvidar da sua autenticidade em geral. Com efei- to, em 1001 0 Imperador germéanico Oto III rejeitouo texto, dando ocasiao @ que se comegasse a dizer na Alemanha que a “Donatio Constantini” era uma pega documentaria falsa forjada no reino dos carolingios francos. Para tanto valiam-se do fato de que os monarcas carolingios atribuiam a si 0 titulo de “novo Constantino”; verdade 6 que o Papa Ledo | designou o Imperador Carlos Magno; torna-se entao ampla a ut ee (Continuagao da nota da, ‘Pp. 558) Como sinal de sua gratidlto, terd Constantino doado ao Papa a jurisdigao civil sobre a lidlia @. pode-se dizer, sobre 0 Ocidente europeu, ficando Constantino plenarrents Satisteito com a soberania no Oriente, como vai enunciado na segunda Parle da Dox, pao, Tal narrativa pode ser Cofocada sob suspeita de n&o autenticidade pelo fato de que consia realmente ter sido Constantino batizado tio Somente em seu igito de morte em 335. 559 32 PERGUNTE & RESPONDEREMOS 5834/2006, do documento em escritos de autores francos. Com mais razao, porém, juiga-se que a “Donatio" é obra de um escritor romano, cujo nome é igno- rado, escritor que procurou dar sustentaculo juridico sdlido aexpansao do primado papal no século Vill; é 0 que insinuam 0 estilo latino, o vocabula- rio e o pano de fundo do documento. Apesar das duvidas assim levantadas, a Doagao de Constantino continuava a ser citada como auténtico documento em manifestos de reis até o Imperador Sigismundo em 1433. Entrementes as criticas da autenticidade se avolumavam, princi- palmente por ‘ocasiao dos debates medievais sobre 0 primado do Papa. Basta lembrar os lit igios do Papa Bonifacio Vill com o rei Filipe IV o Belo da Franga e as teorias conciliaristas dos séculos XIV & XV, que punham em xeque o primado papal. Quem quisesse defender esta prerrogativa servindo-se da “Donatio” era contraditado por seus adversarios, que ne- gavam o valor de tal documento. Aids, j4 no século XI Arnaldo de Brescia via na “Donatio” um docu- mento do Anticristo (juizo este que Lutero no século XVI repetiu). No sé- culo XIV Marsilio de Padua atacou a “Donatio” em nome do conciliarismo ou visando a submeter o Papa a um Concilio geral. Guilherme Ockkam fez o mesmo. Tais criticas se ressentiam, em grande parte, de interesses politicos, inspiradas como eram remotamente pelo anseio de proclamar a independéncia dos reis frente ao Papado. A mesma intengao polémica politica se revestiu de maior argucia quando no século XV os humanistas comegaram a atacar O documento do ponto de vista filoldgico. Assim Nicolau de Cues em 1433 criticou a forma literaria mais do que 0 contetido mesmo da “Donatio”. Em 1440 Lorenzo Valla ataca-a por sua vez. Com a invengao da imprensa por Gutenberg, tais escritos contestatarios tomaram mais amplo vulto; espe- cialmente a partir de 1511 e 1519, por ‘obra de um editor chamado Ulrich von Hatten. No século XVI ainda se pode registrar a critica de Baronius, mais linguistica do que doutrinaria, De entao por diante foi-se implantado © descrédito da “Doagéo", de modo que no século XIX ja ninguém Ihe dava o valor de genuino documento. 3. Refletindo... Ninguém entre os criticos respeitaveis atribui a algum Papa a auto- ria da “Donatio” como se esta fosse uma tentativa de legitimar o ilegal ou a ambigao desonesta. Ao contrario, a “Donatio” 6 hoje enquadrada na ca- tegoria de escritos que o Direito Romano (antes de Cristo) designava como falsa e que assim eram definidos (no singular): “Falsum est veritatis immutatio”. “A falsidade 6 a alteragdo da verdade”. Pode-se crer que em 560 A DOAGAO DE CONSTANTINO 33 dos gnésticos, disseminando falsos Evangelhos e cartas. Assim fez o género literario foi cultivado, produzindo esptirios atos do Papado: depo- sigdo de clérigos, excomunhdes, encarceramentos,... Na falta de agudo Senso critico, esses documentos encontravam boa aceitagaio. Tal tera sido © caso da “Donatio Constantini”, (Continuagao da p, 550) profundamente exposta como na \greja Catdlica). Os que neste esquema Se enquadram, sé Deus sabe. 2) Existe portanto salvagao fora da Igreja visivel. Na verdade nao ha salvagdo que nao Passe por Cristo e pela Igreja, mas a salvagdo atin- ge também os que nao pertencem visivelmente & Igreja e professam sin- ceramente um Credo ou uma filosofia ndo catdlica. Podem salvar-se nao Por causa do erro que professam, mas Por causa da boa fé ou candura com que 0 professam; nao duvidam de que tal erro é verdade e a ele ade- dizer até que ponto existe sinceridade em cada caso. A teoria, porém, é Proposta pelo Concilio do Vaticano Il como se lé a seguir: 4, Aqueles, portanto, que, sem culpa, ignoram o Evangelho de Cris- to e sua Igreja, mas, com coragao sincero, buscam a Deus e se esforgam, 0b 0 influxo da graga, por cumprir com obras a Sua vontade, conhecida pela voz da consciéncia, também esses podem alcangar a salvacao eter- na. Nem a Divina Providéncia nega os meios necessdrios para a Salvagaéo aqueles que, sem culpa, ainda ndo chegaram ao conhecimento explicito de Deus, mas procuram, coma graga divina, viver retamente. (Const. Lumen Gentium n° 16) 3) HA muitos nao catélicos que vive mais retamente do que certos catdlicos... O fato 6 inegavel, Pois em toda coletividade humana ha sem- Pre os que nado preenchem totalmente o seu ideal. Isto, porém, nao relativiza a verdade. O Catolicismo (é com santa ufania que o dizemos) contém todo © depésito da Palavra revelada por Deus e todos os meios de santificagao instituidos por Jesus Cristo, ao passo que fora do Caitolicis- MO ou nao existem tais recursos ou sé existem parceladamente. Os ho- mens nem sempre conseguem traduzir Por sua conduta de vida a elo- qgiléncia do Credo que Professam; isto, porém, nao invalida a autenticida- de singular do Credo catdlico e dos sacramentos que o acompanham. 561 Poucos conhecem: JUDEUS CONTRA A CRISTIANOFOBIA (Jewa Against Anti-christian Defamation) Em sintese: Aos 14/4/2005 foi fundado nos Estados Unidos o Movi- mento Jew Against Anti-Christian Defamation (Judeus contra @ Cristianofobia), cujo Manifesto vai, a seguir, reproduzido. Tal Movimento apoia principalmente a Etica Crista como ultimo obstaculo 4 desintegra- do moral da América. Existe nos Estados Unidos um Movimento dito JEWS AGAINST ANTI-CHRISTIAN DEFAMATION (Judeus contra a Cristianofobia), funda- do a 14 de abril de 2005. O seu Presidente, guardado no anonimato, @x- poe os porqués de tal Movimento em texto que vai, a seguir, transmitido em tradugao portuguesa & partir do francés publicado por LHOMME NOUVEAU n° 1373 de 8/7/06. JUDEUS CONTRA A CRISTIANOFOBIA “Nosso Conselho conta com rabinos, universitarios, escritores, ci- entistas, jornalistas, militantes, responsaveis sionistas e — Unico na sua categoria — um ator de comédia fantasiosa. Cobrimos um leque de ju- deus que vai dos ortodoxos aos Nao praticantes, mas estamos todos decididos a responder aos ataques que fazem sofrer nossos: concidadaos cristéos. Por que se reunem os judeus para defender os cristaos? E verdade que, dentre os cristZos, os protestantes sAo os melhores amigos de Israel fora da Comunidade; $40 mesmo sustentaculos mais resolutos do que muitos membros da comunidade. E certo que aprecia- mos 0 comprometimento dos cristdos sionistas, mas nao @ isto que nos move agora. A Liberdade Religiosa ameagada Sem duvida, como cidadaos americanos, estamos profundamente abalados pela injustiga infligida aos cristaos neste pais fundado sobre os dogmas do Cristianismo por cristaos fervorosos. Com razao ja houve quem observasse que, para a elite, a animosidade anticrista era @ ultima mani- festagdo aceitavel do preconceito. Diariamente assistimos a novos ataques contra os cristaos... 562 JUDEUS CONTRA A CRISTIANOFOBIA 35 Os opositores cristaos ao casamento homossexual sAo geralmenie equiparados aos nazistas. Nas Universidades as associagées cristas sio sistematicamente censuradas porque recusam estar sob a chefia de estudantes nao cris- tos cujo estilo de vida contradiz as crengas cristas fundamentais. Em conseqléncia dao apenas uma alternativa aos universitarios oristaos: abandonem a sua fé ou percam todo amparo da Universidade. Ha um ano, estavamos em cheio num debate caloroso sobre “ Paixdo de Cristo” de Mel Gibson. De um modo ou de outro, consideravam que um crist&o, realizando um filme para a gloria de suas. crengas, proce- dia como agressor e era potencialmente Perigoso. Mas os dirigentes de Hollywood nao fizeram objegao ao filme “A Ultima Tentagao de Cristo” em 1980, filme que atribuia a Jesus uma imaginaria vida sexual, Que os cristaos, praticantes ou nao, se sintam ofendidos pelo blas- femo romance “O Cédigo Da Vinci’; isto parece interessar a Pouca gente fora da comunidade crista. Campanhas téxicas Durante a campanha presidencial de 2000, quando George W. Bush declarou, ao responder a um repérter, que o seu filésofo preferido era Jesus, esta confissao foi Por jornalistas considerada como equivalente a dizer: “Estabelecemos uma teocracia’... A Corte de Alegagao do Novo Circuito tentou fazer suprimir “one Nation under God” (uma Nagao sob o olhar de Deus) no Juramento de Lealdade. A Corte Suprema tera que decidir se os americanos estao auto- rizados ou n&o a expor os Dez Mandamentos em locais publicos. Os comentarios sobre a eleigao de Bento XVI eram previsiveis a mais de um titulo, Pudemos ler que o novo Papa era “um tedlogo alemao intransi- gente”. Escreveram que “ele se situava além da teologia conservadora de Joao Paulo II” e que professava conceitos tidos como muito duros. Fizeram diseretas alusées a algo como seria “um totalitarismo clerical’. Na verdade, porém, 0 265° Pontifice professava a fé naquilo que a Igreja Catélica ensina... Ha também quem declare que, se vocé 6 um catdlico, um protes- fante ou um judeu ortodoxo, que leva a sério a sua religiao, vocé esta automaticamente desqualificado para toda fungao judiciaria. Mas por que tais individuos nao deveriam, eles também, ser excluidos do Parlamento assim como de todo cargo eletivo? Na verdade, nao deveriam ser priva- dos de todos os direitos de cidadao, inclusive do direito de votar? Parece que seria esta a conclusdo légica do teste decisivo imaginado pela es- querda abortista. 563 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 534/2006 96 Aversao a Moral Crista Estas ponderagées nos levam ao cerne da problematica abordada. Por que a esquerda laicista odeia os cristaos conservadores? & questo de Moral e nao propriamente de Teologia. Eu ficaria muito sur- preso se um dos dirigentes de People for American Way (Gente para o Modo de Viver Americano) fosse incomodado por catélicos por causa da doutrina da transubstanciacao. Se so alvo da ma vontade dos estabelecimentos oficiais, isto se da porque os catdlicos piedosos — assim como os protestantes — se opdem ao aborto, a eulanasia, ao casamento gay e a todo o aparato de medidas sociais adotadas pelo Partido Democratico, os ambientes universitarios, 0s juizes e a midia em geral. “Jews Against Anti-Christian Defamation” foi criado porque verifica- mos que os cristéos vérn a sero Ultimo obstaculo a desintegracao moral da América, jA que os ataques contra os cristéos tém por motivo o édio aos valores cristaos. Mas a Moral do Cristianismo é também a Moral do Judaismo; don- de a expressao “Moral judeo-crista”. Permanecendo fiéis aos valores eter- nos revelados no monte Sinai, os cristéos tornaram-se parias aos olhos da sociedade oficial, mas so herdis aos nossos olhos. Enfim nés compreendemos que, se OS cristéos titubeassem, a Amé- rica inteira decairia, o que teria conseqiiéncias desastrosas tanto para os judeus como para os cristaos”. COMENTANDO E louvavel a atitude dos judeus que tomam a defesa de cristaos injustigados. Seja Deus touvado por este gesto! Aparte final do artigo transcrito é de grande importancia, pois tenta destacar as razées da perseguigao aos cristéos, especialmente aos caté- licos: é a fidelidade lei de Deus, que fala tanto pela consciéncia ética existente em cada ser humano quanto pela Revelagao biblica. Aborto, eutandsia, casamento gay... so praticas que nao se conciliam com a lei do Senhor, mas vém tomando vulto na sociedade contemporanea. Rejeita- las publicamente 6 correr 0 risco da aversao dos homens, mas é servigo esses mesmos homens, pois atesta algo de raro @ precioso: o amor a verdade, a fidelidade a Deus em termos incondicionais. Uma tal radicalidade 6 um discurso que fala alto a quem sabe ouvir. CO texto reconhece este servigo ao afirmar que “os cristaos vem a ger 0 ultimo obstaculo & desintegragao moral da América”. Sao dizeres sAbios e reconfortantes para quem deseja ser Util ao préximo. 964 Meramente negativo? O SILENCIO: QUANTO VALE? Em sintese: O siléncio pode ser tio significative quanto a palavra. Na Biblia o siléncio de Deus pode angustiar os homens antes de se thes tomar eloqiiente; salmistas e profetas se queixam ao Senhor de nao rece- berem dele a palavra que esperam. Por outro lado, o siléncio 6 recomen- dado aos homens para que possam ouvir Deus que fala. A resposta do homem a Deus pode ser o siléncio que adora o Indizivel sem palavras, Porque Ele néo cabe dentro do discurso humano, Como a palavra, o siléncio é um fendmeno humano, por vezes tao significativo quanto um discurso. Penetraremos, a seguir, na densidade do tema, considerando a polivaléncia do siléncio na vida profana e na Sagrada Escritura. 1, Na vida profana Distinguiremos trés aspectos. 1.1, O individuo frente aos eventos da vida a) Espanto Um dos primeiros sentimentos que o siléncio Pode suscitarem quem © experimenta, é 0 do medo ou espanto, como atesta o fildsofo Blaise Pascal (t 1662): “O eterno siléncio desses espagos infinitos me espanta” (Pensées 206 Br.). Pode também exprimir a perplexidade dos homens diante de um acontecimento fatal: um incéndio, uma enchente, uma tempestade... b) Concentragéo Para falar sabiamente o individuo necessita de se preparar—o que ‘80 pode ser feito proveitosamente num clima de siléncio. ¢) Repouso O repouso requer néo somente a auséncia de movimentagao fisica, mas também um certo vazio interior; deixe a imaginagao de trabalhar. d) Apatia O individuo pode-se fechar no siléncio também por preguiga e indife- renga ao que vai acontecendo. A pessoa entdo se rebaixa convardemente. 565 38 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 534/2006 1.2. O Individuo e seu relacionamento com o préximo Existem modalidades de siléncio construtivas e outras deletérias. Hao siléncio de quem ouve respeitosamente, numa atitude de hu- mildade e de busca. JA Cicero o mencionava, usando a expresso: “tacentes loqui videbantur - Calados, pareciam falar’ (Pro Sestio 40). Registra-se também o siléncio que aprava: “Quem se cala, consen- te”, diz a linguagem popular. Pode sero siléncio de quem reconhece nao ter como replicar ao interlocutor, que convenceu 0 parceiro. E ha também o siléncio de quem se omite, deixando de chamar a atengdo para uma falha que precisa de ser corrigida, permitindo assim que © mal se propague. 4.3 Quando as criaturas ameagam calar-se... Em Ecl 12, 1-8 encontra-se belo poema inspirado pelo declinio dos anos de alguém que ignora haver uma vida lucida apés a vida presente. O autor se serve de imagens para exprimir o siléncio das criaturas que cer- cam 0 anciao: Lembra-te do teu Criador nos dias da mocidade, antes que venham os dias da desgraga e cheguem os anos dos quais dirés: “Nao tenho mais prazer’”. Antes que se escuregam o sole a luz, a lua e as estrelas, e que voltem as nuvens depois da chuva; no dia em que os guardas da casa tremem e os homens fortes se curvam, em que as mulheres, uma a uma, param de moer, e cai a escuriddo sobre as que olham pelas janelas; quando se fecha a porta da rua 0 barulho do moinho diminui, quando se acorda com 0 canto do passaro @ todas as cangGes emudecem; quando se teme a altura e se levam sustos pelo caminho, quando a amendoeira esta em flor e o gafanhoto se torna pesado e 0 tempero perde o sabor, 6 porque o homem ja esté a caminho de sua morada eterna, @ 0S que choram sua morte comegam a rondar pela rua. Antes que o fio de prata se rompa e@ 0 copo de ouro se parta, antes que 0 jarro se quebre na fonie 566 © SILENCIO: QUANTO VALE? 39 @ a roldana rebente no pogo, antes que 0 po volte a terra de onde veio @ o sopro volte a Deus que o concedeu. Vaidade das vaidades - diz Coélet — tudo 6 vaidade. 2. Folheando a Biblia NaS. Escritura encontram-se paginas referentes ao siléncio de Deus € outras relativas ao siléncio do homem. 2.1. O siléncio de Deus Os salmistas e os Profetas se queixam, por vezes, do siléncio de Deus, que os deixa perplexos, pois Ihes parece estarem desamparados. Assim $183, 2: “O Deus, nao fiques calado, nao fiques mudo e inerte, 6 Deus!”, $128, 1: “ATi, Senhor, eu clamo, Rocha minha, nao me sejas surdo. Que eu n&o seja, frente ao teu siléncio, como os que descem a cova”, $139, 13: “Ouve a minha prece, Senhor, dé ouvidos aos meus gri- tos. Nao fiques surdo ao meu pranto!”. Ver ainda SI 50,3 e 109, 1. Hab 1, 13: “Teus olhos sao puros demais Para ver o mal; tu nao podes contemplar a opressao. Por que contemplas os traidores, silencias quando um impio devora alguém mais justo do que ele?”. Seja mencionado ainda 0 siléncio do Pai Por ocasiao da agonia do Senhor Jesus. Na verdade, Deus, por definigéo, nao pode ser omisso; Ele 6a Suma Perfeigao, que o homem, limitado como 6, nao entende, cedendo desne- cessariamente a perplexidade. Jesus foi atendido pelo Pai de maneira muito mais generosa do que pela isengao do cdlice de sua Paixdo: atra- vessando @ morte e ressuscitando, tornou-se o Senhor dos vivos e dos mortos; cf. Ap 1, 18. Ha comentadores segundo os quais 0 siléncio de Deus nao ésenado a falsa verso da surdez do homem. Ele fala, mas parece mudo, porque a criatura nao O sabe ouvir, 2.2, O siléncio do homem Distinguem-se o siléncio de escuta, o de prudéncia e o de Cristo. 2.2.1, Siléncio de escuta E espontaneo ao homem calar-se para poder ouvir e refletir. Isto aparece em certas passagens biblicas como: 567 40 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 534/2006 Gn 24, 21: Arespeito do servo de Abraao encarregado de procurar uma esposa para Isaque na Mesopotamia, é dito 0 seguinte: “Ele a (Rebeca) observava em siléncio, perguntando a si mesmo se 0 Senhor linha ou nao levado a bom termo a sua missao”. 1Sm 3, 10: Samuel menino € por trés vezes despertado pelo Se- nhor e responde: “Fala, Senhor, 0 teu servo escuta”. 4Rs 19, 11s: Elias percebe a Deus nao no forte ruido de um fura- 40, mas no suave murmirio de uma brisa leve. Lm 3, 26: “E bom esperar em siléncio a salvagao do Senhor’. No Novo Testamento Maria aparece sentada junto do Senhor, “es- cutando a sua palavra” (Le 10, 38). E de notar que a traducao latina do SI 65, 2reza “Tibi silentium laus. ~ Para Tio siléncio 6 louvor’, em lugar da verso mais correta que seri “A ti convém o louvor’. A versao latina se propagou nos livros de piedade; tem seu fundamento teoldgico, pois Deus 6 0 Indizivel. 2.2.2, Siléncio de prudéncia So freqiientes as adverténcias ao leitor para que nao empreque palavras inuteis. Pr 10, 19: “Nas muitas palavras nao falta ofensa; quem refreia os labios é prudente”. Pr 11, 12: “O homem sem juizo despreza o seu proximo; o homem inteligente se cala”. Eel 3, 7: “Ha um tempo para calar e um tempo para falar’. Eclo 20, 7: “O homem sabio se calara até o momento oportuno. O foquaz e o insensato desprezam o momento oportuno”. JG 40, 4: Jo confessa: “Falei levianamente; que poderei responder- te? Porei minha mao sobre a boca”. 2.2.3. Siléncio de Cristo Apés trinta anos de vida oculta em Nazaré, Jesus iniciou sua mis- sao de anunciar o Reino de Deus, missdo que terminou com a Paixéo, durante a qual Ele manteve um nobre siléncio humilde e, ao mesmo tem- po, superior as cavilagdes dos homens; cumpriu o papel do Servo de Javé predito por Isaias: Is 53, 7: “Foi mattratado, mas livremente humilhou-se e nao abriu a boca, como um cordeiro conduzido ao matadouro, como uma ovelha que permanece muda na presenga dos seus tosquiadores, ele nao abriu a boca’. 568 © SILENCIO: QUANTO VALE? 4 Mt 26, 62s: “Levantando-se, 0 Sumo Sacerdote disse-the: ‘Nada respondes?’... Jesus, porém, ficou calado”. Mt 27, 14: “Jesus nao respondeu a Pilatos uma palavra sequer, de tal sorte que o governador ficou muito impressionado”. Cf. Jo 19,9. Como seu siléncio Jesus assumiu mais plenamente o seu plano de se entregar por amor & humanidade. Em conclusao verifica-se que nao faltam no Novo Testamento reco- mendacées do siléncio como valor construtivo. Passemos a alguns expoentes da Tradigao posterior. 3. A Tradigao Entre os mestres de espiritualidade sobressai S. Agostinho (t 430), do qual v4o transcritas algumas reflexdes mais significativas. Deus fala ao homem no siléncio do seu coragao: “Nao vos caleis diante de mim; quero escutar-Vos’. Deus fala em segredo, fala ao coragéo de muitos. Ha um grande clamor no grande siléncio do coragao, quando Ele diz com voz forte: ‘Eu sou a tua salvagao’. Nunca se cale esta voz pela qual Deus me diz: ‘Eu sou a tua salvagao, nao vos caleis, Senhor, para comigo” (Comentario ao $I 38). Em ConfissGes |X 10, 25 Agostinho refere a intuig&o mistica com que foi agraciado em companhia de sua mae Santa Ménica em Ostia Tiberina; foi uma ascens&o mistica que impés siléncio sucessivamente a came, a terra, aos céus e a propria alma para escutar o Verbo de Deus: “Cale-se o tumulto da carne, calem-se as imagens da terra, das dguas @ dos ares, calem-se os préprios céus e cale-se a alma mesma... para que ougamos o Verbo nao pela linguagem da carne nem pela voz de um anjo... mas Aquele mesmo que amamos através dessas realidades, ougamo-Lo sem essas realidades”. So Gregério Magno (+ 604), Papa, observa: “Todas as vezes que, por palavras fiteis, a alma rompe a disciplina do seu siléncio, ela escorre para fora de si mesma, como Por filetes de agua. Disto se segue a incapacidade de voltar a conhecer devidamente, pois, esparramada pela tagarelice, ela se exclui do coléquio secreto da meditagao” (Regula Pastoralis Ili, 4). Dentre os monges do deserto sejam citados O monge Arsénio, que dizia: “Varias vezes arrependi-me de ter fa- lado; nunca porém, de me ter calado”. 569 42 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 534/2006 O monge Pambo confessava: “Pela graga de Deus, jamais tive que me arrepender de alguma palavra que eu tenha dito”. Poimém lembrava a necessidade de cultivar o siléncio interior além do exterior: “Ha quem parega calar-se, tendo, porém, um coragdéo que condena o préximo; tal homem na verdade esta a falar continuamente. Mas também existe aquele que cala da manhé até a noite, guardando o siléncio porque nada diz que nao tenha utilidade espiritual’, isaque de Ninive, monge do fim do século VII, escrevia: “Ama 0 siléncio mais do que todas as outras coisas: ele te produzira um fruto que a lingua 6 incapaz de descrever. Do nosso siléncio nasce algo que nos atrai mais ainda ao siléncio. Que Deus te conceda perceber o que nasce do siléncio!” (De perfectione religiosa 65). No século XI Guiges |! 0 Cartuxo, escreve: “Quem nao observa 0 siléncio nao pode ouvir Aquele que fala... Que a terra de minha alma se cale na tua presenga, Senhor, a fim de que eu ouga o que diz em mim o Senhor meu Deus, pois as palavras que Vés murmurais nao podem ser ouvidas se nao num profundo siléncio” (Meditagao 1). No século XIV diz 0 autor da “Imitagao de Cristo”: "E mais facil ca- lar-se por completo do que falar sem se exceder... Ninguém fala com seguranga a nao ser aquele que espontaneamente se cala” (1 20, 2). 4. Conclusao Em conclusao pode-se dizer que 0 siléncio é a primeira atitude que o hhomem possa assut liante de Deus, o Inefavel (cf. 2Cor 12, 4). Esse silén- cio 6 prenhe de significado, podendo mesmo tomar-se louvor ao Eterno. A palavra brota a partir do siléncio para comunicar aos homens a tiqueza do Deus entrevisto na contemplacao. Essa comunicagao se faz nao somente quando o cristao fala de Deus, mas também quando trata de assuntos “profanos”, pois nada é propriamente profano para 0 cristao; em tudo que ele faz ou diz, constréi 9 reino de Deus. Aquem encontre dificulda- de para entender a linguagem teoldgica responde S. Agostinho: “Falamos de Deus. Que hé de surpreendente se nao compreendes? Em verdade, se compreendesses, nao seria Deus. Seja a humilde confis- $40 da ignorancia mais forte do que a temerdria profissao do saber" (In Ps. 117, 3, 5). NOVOS OPUSCULOS DA ESCOLA “MATER ECCLESIAE”: “CREMAGAO DE CADAVERES: SIM OU NAO?2”, “HOMEOPATIA E ESPI- RITISMO, FLORAIS DE BACH E NOVA ERA”, “YOGA: SIM OU NAO”. PEDIDOS PELO TELEFAX (21) 2242-4552 OU PELO ENDERECO ELETRONICO: PEDIDOS@MATERECCLESIAE.COM.BR $70 Que 6? A TRADICIONAL ORDEM MARTINISTA Em sintese: A Tradicional Ordem Martinista foi fundada por Louis- Claude de Saint-Martin (1743-1803). Pretende propor um programa de restauragao do género humano no estado de amizade com Deus, que ele perdeu pelo pecado. Os martinistas estudam a histéria da humanidade desde a sua pretensa emanacdo da imensidade divina até sua presente condigao. Estéo ligados 4 Ordem Rosa-Cruz, que 6 panteista e reencatnacionista. Nao 6 claro o pensamento maitinista, que, apesar de se distanciar da linha crist4 propriamente dita, professa constituir uma Ordem inicidtica e uma escola de cavalheirismo moral com base na misti- ca crista. Entre as correntes “misticas” de nossos dias esta a Tradicional Or- dem Martinista, ligada 4a AMORC ou & Ordem de Rosa-Cruz. Pergunta-se: Qual a mensagem martinista para o homem de nossos dias? A esta inter- togagao vai, a seguir, apresentada uma resposta extraida de escritos martinistas. 1. O Fundador Louis-Claude de Saint-Martin nasceu em Amboise (Franga) de fa- milia nobre aos 18 de janeiro de 1743 e faleceu em 1803 com sessenta anos de idade, Desde cedo manifestou interesse por assuntos religiosos. Estudou Direito e tornou-se advogado. Mas nao se deu satisfatoriamente nessa Profissao. Entrou para a carreira militar, que Ihe deixava certo tempo livre para efetuar estudos esotéricos. Tomou conhecimento da Ordem dos Sa- cerdotes Eleitos de Martines de Pasqually, na qual ingressou; todavia tam- bém nao permaneceu ai, pois nao aceitava a teurgia' praticada pelos di- tos Sacerdotes. Em 1771 Saint-Martin deixou 0 exército a fim de se dedicar inteira- mente a filosofia religiosa, seguindo sua linha propria de pensamento, sem depender de alguma chefia. Viajou pela Inglaterra, a Alemanha e a * Teurgia vem de Théos (Deus) e ergon (obra). Procura ulilizar os poderes da divin- dade mediante certas ritos que devem levar 0 homem ao éxtase ou a um estado pretensamente mistico. S71 44 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 534/2006 Italia para estudar o ser humano; descobriu entao as obras de Jacob Boehme (1575-1624), mistico famoso na época. Finalmente Saint-Martin compreendeu que nao ha necessidade de rituais e ceriménias complexas para se iniciar no conhecimento do ser humano; a iniciagao se faz, segun- do 0 filésofo, por “via cardiaca” ou no coragao do homem. Os ultimos decénios do século XVIII, na Franga, foram muito agita- dos pela famosa revolucao de 1789. Saint-Martin nao foi impedido de exer- cer suas atividades; foi mesmo convocado para lecionar na Escola Normal de Paris, que tinha em mira formar professores para a Nova Franga. Publicou varias obras, entre as quais “O Livro do Homem”, que para Saint-Martin é 0 livro essencial; julga o autor que o ser humano é 0 unico livro escrito pela mao de Deus. E no homem que esto escritas todas as leis do universo e todas as verdades importantes. E, antes do mais, emsi mesmo que o homem deve buscar. De acordo com este modo de pensar, Saint-Martin exprimia a sua missdo nos seguintes termos: “Minha missdo neste mundo foi a de guiar o espirito humano por uma senda natural para as coisas sobrenaturais que ihe parecem de direi- to, mas de que ele perdeu toda nogao, seja pela degradagao, seja pela falsa instrugdo de seus instrutores”. 2. A Mensagem Os escritos de Saint-Martirf tem em vista explicar a natureza medi- ante o conhecimento do homem. 0 espirito humano deve tornar-se 0 cen- tro de todos os nossos conhecimentos. Segundo Saint-Martin, é preciso abandonar “o velho homem’” para tornar-se “o Homem de Desejo” e fazer nascer no coragao de cada um “o novo Homem’. Quando chegar a esse estado, 0 estudioso passaré por um segundo nascimento e voliara a ser “go Homem-Espirito” que era na origem d historia ou quando foi criado. Realizara assim o “Ministerio” que o Invisivel Ihe confiou na origem do mundo; assim podera trabalhar para a reintegragao de todas as criaturas na Unidade. Ao estudioso sdo propostos os Ensinamentos Martinianos como alimento pelo qual cresce 0 gérmen recebido na iniciagdo. Tal é a lista desses Ensinamentos encontrados nos escritos de Saint-Martin e propos- tos a reflexdo do estudioso: Os simbolos misticos. A natureza triplice do homem. O estudo esotérico do Génesis. O livre-arbitrio e o destino. A lei quaternaria. Reconciliagdo e reintegragao. $72 ATRADICIONAL ORDEM MARTINISTA, 45 Os mundos visivel e invisivel, Os sonhos ea iniciagao. Aciéncia dos numeros. Aprece. Os ciclos da humanidade. Acivilizagao e o Estado ideal. Arte, musica e linguagem. A regeneragao mistica, O mundo elementar. O mundo dos Orbes. O mundo do Empireo, Angelologia. ACabala. Meditagées sobre as sefirot. Saint-Martin se associou a Ordem Rosa-Cruz, que também propée © desenvolvimento da mente até chegar aos cumes do misticismo; a Rosa- Cruz, porém, adota a concepgao panteista (o homem seria uma centelha da Divindade) ea reencarnacionista, Nao parece que estes dois pontos doutrinarios tenham Passado para o martinismo, pois Saint-Martin fala da Criagao — © que supde Deus distinto do homem. O que interessa numa e Noutra sociedade é o desenvolvimento da mente. Quem segue uma das duas vias (a Rosa-Cruz ou a martiniana) esta no bom caminho e pode alingir avangado estagio de evolugao mistica. Mas quem combina os dois toteiros (0 rosacruciano e o martinista) pode ganhar mais eficécia no pro- cesso mistico. S&o palavras de Saint-Martin, que teforcam a interiorizagao do co- nhecimento: “A porta pela qual Deus emerge de Si mesmo, é a porta pela qual Ele entra na alma humana’. 3. Que dizer? Uma retlexao sobre quanto acaba de ser exposto, sugere os trés seguintes pontos: 1) O Martinismo é mais uma das sociedades que pretendem res- ponder aos anseios, do homem, de conhecer doutrinas secretas, que con- ferem grandes poderes a quem tem o privilégio de as conhecer. Associa- se & Rosa-Cruz neste intento. Essas doutrinas secretas sao Ppropostas sem sdlida fundamentagao, de modo que nao tém forga de persuasdo; aceita-as quem abstrai de espirito critico. Alias se dizia entre os antigos fomanos: “Vulgus vult decipi. - O Povo quer ser enganado’; a ilusdo de um sonho é mais agradével do que a dura tealidade de cada dia; daf uma 573 46 PERGUNTE E RESPONDEREMOS: 34/2006 propensao, muitas vezes inconsciente, a crer no maravilhoso sem exer: cer senso critico ou sem pedir credenciais. 2) A filosofia de Saint-Martin parece guardar um fundo cristéo. O fildsofo fala da Biblia, pondo em relevo a tese de que o homem foi criado a imagem de Deus. Parece guardar o esquema biblico segundo o qual o género humano, nas suas origens, decaiu de um estado de harmonia e honestidade para chegar a desordem de costumes hoje existente. Saint- Martin julga ser, de certo modo, o Messias ou 0 Revelador das praticas que podem levar o ser humano de volta ao seu estado inicial. Os escritos de Saint-Martin pretendem mostrar ao homem 0 lugar central que ele ocupa no conjunto das oriaturas; fazer que ele compreenda as relagdes exis- tentes entre Deus, o homem e 0 universo. Saint-Martin era movido pelo anseio de que os homens tomassem consciéncia da posigao especial que Deus lhes tinha assinalado no seu estado originario; ponderassem a rea- fidade em que cairam com o passar do tempoea maneira de reconquis- tar aquele glorioso status primitivo. Aqueles que eram dignos, 0 filsofo revelava a existéncia de doutrinas elevadas, as quais todos podem ter acesso. Para 0 conseguir, devem “transformar-se”; essa “transformagao” tem por base a iniciagao martiniana. Tal conhecimento foi logo designado como Martinismo. Saint-Martin foi muito elogiado em seu tempo. O escritor francés Joseph de Maistre 0 tinha na conta de “o mais sabio, o mais instruido eo mais elegante filésofo moderno”. Seus discipulos julgam ser ele “um grande mistico cristo e um grande iluminista”. Na verdade, porém, Saint-Martin se desvia da classica mensagem crista, pois silencia a obra redentora de Jesus Cristo e a pratica dos sa- cramentos que comunicam ao ser humano as gragas necessérias asua “transformagao” ou conversao. ‘Ademais a pregacao cristé nada tem de esotérico ou secreto. 8) Seria para desejar mais clareza sobre 0 estado inicial do género humano, estado inicial que também é a meta a que os homens devern retornar mediante a iniciagao e o estudo martinianos. Estévao Bettencourt 0.S.B. PROBLEMAS DE FE E MORAL UTAL EO TITULO DO NOVO CURSO POR CORRESPONDENCIA RECEM-LANGADO PELA ECOLA “MATER ECCLESIAE”. ABORDA OS QUESTIONAMENTOS DO MUNDO DE HOJE DIRIGIDOS AOS FIEIS CA- TOLICOS. LINGUAGEM SIMPLES E CLARA. PEDIDOS A ESCOLA, CUJO ENDEREGO E: CAIXA POSTAL 1362, CEP 20001-970 OU PEDIDOS@MATERECCLESIAE.COM.BR. NAO GUARDE DUVIDAS QUE DIFICULTAM SUA CAMINHADA NESTE MUNDO. 574 SERA QUE O MAL EXISTE? (Anénimo) Um professor universitario desatiou seus alunos com esta per- gunta: ~ Deus criou tudo 0 que existe? Um aluno respondeu valentemente: ~ Sim, Ele fez! — Deus criou tudo? — Perguntou novamente o Professor. - Sim senhor — Respondeu o jovem. O professor respondeu: ~ Se Deus criou tudo, entdo Deus fez o mal, pois o mal existe, e, Partindo do principio de que nossas obras sao um reflexo de nds mes- mos, entéo Deus é mau. O jovem ficou calado diante de tal resposta e o professor, feliz, re- gozijava-se de ter provado mais uma vez que a fé era um mito. Outro estudante levantou a mao e disse: — Posso fazer uma pergunta, professor? ~ Légico — Foi a resposta do professor. — Professor, o frio existe? — Que pergunta é essa? Légico que existe, ou por acaso vocé nun- ca sentiu trio? O rapaz respondeu: ~ De fato, senhor, 0 frio nao existe. Segundo as leis da Fisica, o que consideramos frio, na realidade 6 a auséncia de calor, Todo corpo ou ob- jeto 6 suscetivel de estudo quando Possui ou transmite energia: 0 calor é © que faz que este corpo tenha ou transmita energia. O zero absoluto 6 a auséncia total e absoluta de calor, todos os Corpos ficam inertes, incapa- zes de reagir, mas 0 frio nao existe. Nés criamos essa definigaéo para descrever como nos sentimos se n3o temos calor. $75 48 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 534/2006 —E existe a escurid&o? — Perguntou novamente 0 aluno. ~ Existe - Respondeu o professor. Oestudante respondeu: — Novamente comete um erro, senhor, a escuridao também nao existe. A escuridao na realidade 6 a auséncia de luz. A luz pode-se estu- dar, a escurid&o nao; até existe o prisma de Nichols para decompor a luz branca nas varias cores de que esta composta, com suas: diferentes lon- gitudes de ondas. A escuridao nao. Um simples raio de luz atravessa as trevas e ilumina a superficie onde termina 0 raio de luz. Como pode saber quao escuro esta um espago determinado? Com base na quantidade de luz presente nesse espago, nao é assim? Escuriddo é uma definigaéo que co homem desenvolveu para descrever 0 que acontece quando nao hé luz presente. Finalmente, 0 jovem perguntou a0 professor: — Senhor, o mal existe? O professor respondeu: — Claro que sim, légico que existe, como disse desde o comego; vemos estupros, crimes e violéncia no mundo todo, essas coisas sao do mal. Ao que 0 estudante respondeu: ~O mal nao existe, senhor, pelo menos nao existe por simesmo. ° mal é simplesmente a auséncia de Deus, 6 0 mesmo dos casos anterio- res, o mal 6 uma definig&o que o homem criou para descrever essa au- séncia de Deus. Deus ndo criou o mal. Nao é como a fé ou como 0 amor, que existem como existem o calor e a luz. O mal é 0 resultado da huma- nidade nao ter Deus presente em seus coragées. E como acontece como frio quando nao ha calor, ou a escuriddo quando nao hé luz. Entdo 0 professor, depois de balangar a cabega, ficou calado... Nota da Redagao: O mal existe como lacuna, existem lacunas nas coisas boas. O mal nao existe como algo que por sua propria esséncia seja mau. Tudo o que existe 6 bom; muitas vezes, porém, carece da reta finalidade ao agir. Assim 0 bombeiro e 0 ladrao sAo inteligentes, corajo- 808, enérgicos, mas aplicam seus talentos a finalidades diversas: 0 pri- meiro, a salvar vidas; 0 segundo, a destruir os bens alheios. 576 Pergunte Responderemos Indice Geral de 2006 52 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 534/2005 iNDICE (Os numeros & direltaindicam, respectivamnte, faseiculo, ano de edig&o e pagina) A “A CELEBRAGAO DA EUCARISTIA E AGAO SIMBOLICA’ “A FAMILIA DE JESUS CRISTO" (Fantastico) *A INQUISIGAO": Simpésio Internacional “A NOVA RELIGIOSIDADE" (JORNAL PALAVRA| “A PROIBICAO DE FABRICAR IDOLOS" por Cleodon Amaral de Lima “A VERDADE NAO E RELATIVA" por Mark Baker... ABORTO: BEBES ESTRACALHADOS E VENDIOOS CAUSA COM DUPLO EFEIT RELATORIO KISSINGER E PAISES EM DESENVOLVIMENTO QUEM E O ANENCEFAI 529/2008, p. 333 27/2006, p. 194 23/2006, p. 34 26/2006, p. 169 33/2006, p. 521 527/2006, p. 212 “ACENDO VELAS E JOGO AGUA BENTA" ALEM? QUE HA NO... ALMA HUMANA = MATERIA QUE TOMOU CONSCIENCIA DE $1?532/2006, p. 453 ANENCEFALO QUEM E? Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz .. 526/2006, p. 186 ANTICRISTO: QUEM SERA? .. 524/2006, p. 60 APOGRIFOS DE ORIGEM CRISTA E DE ORIGEM GNOSTICA.. 6533/2006, p. 490 ARIAS JUAN, “MADALENA, O ULTIMO TABU DO CRISTIANISMO” 32/2006, p. 434 525/2006, p. 136 51/2006, p. 386 ATEISMO: SIGMUND FREUD. AUSCHWITZ: “ONDE ESTAVA B BAKER, MAKER: “A verdade néo é relativa” eee BEBES ESTRAGALHADOS E VENDIDOS .. . 457 BEBIDAS ALCOOLICAS E FESTAS DE IGREJ. 429 BENTO XVI:"DEUS E AMOR’... 27/2006, p. 206 _ “ONDE ESTAVA DEUS? BIBLIA, MENTIRAS NA... NA LINGUAGEM DE HOJE Nova edi¢ao Pe. Ney Brasil Pereira (recensao)... BIOETICA, CELULAS-TRONCO: ... EMBRIONARIAS OU ADULTAS? 531/2006, p. 386 531/2006, p. 418 ». 828 : “Deus na Histéria” ‘Reencamagao ov surreigdo: uma decisao de fe”. 580 INDICE GERAL 53 BLESSMANN, JOAQUIM. Vida em outros planetas? BOAS MANEIRAS NA IGREJA ... BRASILEIROS, DEGRESCIMO NA REPRODUGAO . BRANDES, ORLANDO: BEBIDAS ALCOOLICAS E FESTAS DE IGREJ, BRUXARIA E “A INQUISIGAO” (Simpésio Internacional) .. 532/2006, p. 443 . 130 196 . 429 34 c CANONIZAGAO DOS SANTOS E INFALIBILIDADE CANTALAMESSA, RANIERO: “Continuam a trair Jest CASCIOLI, LUIGI: Existéncia de Jesus contestada CATASTROFES E DIA 06/06/06: Fatidico’ CATOLICISMO: QUANDO SURGIU ..... CATOLICO: 27 RAZOES PARA NAO SER IRMAO ROGERIO DE TAIZE? CELIBATO: CARDEAL ORIENTAL RECOMENT CELULAS-TRONCO: ... EMBRIONARIAS OU ADULTAS' CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL: “Erética - os Sentidos da Arte” 533/208, p. 508 530/2006, p. 338 5272006, p. 197 31/2006, p. 432 525/2006, p. 109 523/2006, p. 43 524/2006, p. 91 24/2006, p. 95 526/2006, p. 180 530/2006, p. 370 524/2006, p. 65 30/2006, p. 347 CLAUDEL: Quando tudo falta. “CODIGO DA VINCI" (Fala o Arcebisp: Peru) “GRANDE NEGOCIO, GRANDE FRAUDE": Mons. Femando Sebastian Aguilar .. “COMO E QUANDO SURGIU © CATOLIGISMO": Pastor Joe! Santana "COMO JESUS SE TORNOU DEUS" (Revista Galileu) CONFLITO DINAMARCA X MUGULMANOS . CONFLITOS INTERNACIONAIS: MEDIAGAO DA SANTA SE CONGELAMENTO DE CORPOS. CONSCIENCIA, OBJEGAO DE 527/206, p. 224 CONSTANTINO, ERA DE 525/2006, p. 116 DOAGA\ . 534/2006, p. 558 CORPO E ALMA: MONISMO, DUALISMO OU . 5832/2006, p. 453 CRENDICE OU FE?.... . §28/2006, p. 143 CRESCIMENTO DA POPULACAO MUNDIAL; Relatério Kissinger .. 526/2006, p. 174 CRISTO OU A NOIVA? Dilema existencial . 27/2006, p. 240 OU O NAMORADO? . . 5383/2006, p. 492 CRUZ, PE. LUIZ CARLOS LOD! DA: . 26/2006, p. 185 CRUZADAS: LUZES E SOMBAAS .. . 30/2008, p. 354 CURAS MILAGROSAS: COMO ENTENDER . 531/206, p. 410 531/2006, p. 425 . 109 . 101 . 239 . 500 5831/2006, p. 400 D DEMONIC: SIM OU NAO? .... DENOMINAGOES PROTESTANTES .. 581 54 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 534/2008 DEUS: Gomo coneeber Deus’ * BE AMOR": BENTO XVI: *___NAHISTORIA" por Renold Blan! DEVOGAO AO MENINO JESUS DE PRAGA DIA 06/06/06 E CATASTAOFES Fatidico’ “DICTATUS PAPAE” DE GREGORIO VII DISCOS VOADORES E FE CATOLICA (Revista UFO) DIVINDADE DE JESUS “QUANDO JESUS SE TORNO! DEUS" por Richard Rubenstein .. “DIVINUM ILLUD MUNUS": Enciclica do Papa Ledo Xill DIZIMOS, ESPORTULAS, CONTRIBUIGOES 00S FIEL DOAGAO DE CONSTANTINO ("Donatio Constantin’ DOENGAS E INTERESSES ECONOMICOS. DOIS MEDICOS, DOIS SANTOS: G. Beretta Molla e J. DROSNIN, MICHAEL: “O cédigo da Biblia” DUALISMO, DUALIDADE E MONISMO . 2 527/2006, p. 206 526/2006, p. 149 531/208, p. 432 533/2006, p. 502 528/206, p. 242 532/2006, p. 475 530/2006, p. 376 5534/2006, p. 558 532/206, p. 465 . 623, 27 . 454 8.000 ESQUELETOS DE RECEM-NASCIDOS (Pantleto protestante) “E TUDO FICGAO” (Revista Galileu)"O Cédigo da Vinci ECUMENISMO: METODISTAS ADEREM A DECLARACAO CATOLICA-LUTERANA .. ... 29/2008, p. 326 30/2006, p. 350 52/2006, p. 441 531/206, p. 416 525/2006, p. 116 530/2008, p. 370 5832/2008, p. 475 523/2006, p. 26 529/2006, p. 333 529/2006, p. 335 530/2006, p. 338 531/2006, p. 390 533/2008, p. 488 533/2006, p. 493 §30/2006, p. 341 . 187 EFEITO “PLACEBO” ERA DE CONSTANTI “EROTICA — OS SENTIDOS DA ARTE’ ESPIRITO SANTO, REDESCOBERTA DO ESTIGMAS, CILICIO E DISCIPLINA EUCARISTIA E SIMBOLISMO ... EUCARISTIA E MINISTERIO DE M EVANGELHODE JUDAS DE FELIPE (Apécrifo) .. DE MARIA (Apécrifo) EVANGELHOS APOCRIFOS, MARIA MADALENA NOS. HISTORICIDADE .. “EXISTIU JESUS? PROVE-O” .. . 197 F FATIMA: 0 TERCEIRO SEGREDO 24/2006, p. 50 FE € POLITIC; 27 FE OU CREND! . 143 FILHO, O: A vida é uma pardbol . 140 582 INDICE GERAL FRATERNIDADE SAO PIO X. Lefebvristas voltarao & comunhao com a Igreja? FREUD E RELIGIAO . FUTEBOL E CIDADE-SEXO 32/2008, p. G “GELADO, MAS RICO" (VEJA).... 531/2006, p. GENOMA HUMANO E GENOMA DO CHIMPANZE 523/2006, p. GIGANTES NA BIBLIA, OS Conceito complex... 526/2006, p. GLOBALIZAGAO "O ANTICRISTO” por Rubin de Ruiter 524/2006, p. GNOSTICISMO: QUE E?...... 530/2006, p. “GRANDE NEGOCIO, GRANDE FRAUDE” (‘O CODIGO . DA VINCI’) ........ 531/2008, p. GREGORIO Vil E OS “DICTATUS PAPAE” (Sentengas do Papa) 533/2006, p. HISTORICIDADE DOS EVANGELHOS .. HOMEM E MACACO .. HURTADO, MANUEL SANCHEZ: OPUS DE! SE DEFENDE IMAGENS E IDOLOS. IGREJAA SERVIGO DO HOMEM (JORNAL PALAVRA) .. BOAS MANEIRAS NA . CATOLICA, ACUSAGOES CONTRA E AICA?...... CONTRARIA AO PROGRESSO E A CIVILIZAGAO? E BIBLIA (Documento falsificado) E IMPERADOR CONSTANTINO: INFALIBILIDADE Como entender? O POVO CRE NA..... POR QUE IR A IGREJA? IMPERADOR CONSTANTINO E IGREYA .. INFALIBILIDADE DA IGREJA: Como entender? E CANONIZACAO DOS SANTOS PAPAL E OS VETERO-CATOLICOS INSEMINAGAO ARTIFICIAL: PROBLEMAS (VEJA) IRMAO ROGERIO DE TAIZE CATOLICO? ... 583 . 5383/2006, p. . 5932/2006, p. 25/2006, p. 25/2006, p. ... 526/206, p. 1523/2006, p. 530/206, p. 533/206, p. 526/206, p. . 525/2006, p. 29/2006, p. 532/206, p. 24/2006, p. 34/2006, p. 34/2006, p. 25/2006, p. . 168 . 551 . 54d . 508 . 235 . 524/2006, p. 55 100 136 449 ». 400 16 . 159 . 952 425 502 157 22 348 S27 169 130 326 479 537 513 550 544 123 467 91 56 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 534/2006 J JESUS: DEVOGAO AO MENINO JESUS DE PRAGA .. ... 526/206, p. 149 “JESUS ERA UM ASTRONAUTA” 526/206, p. 146 JOAO XXII; PAPA FEITICEIRO 526/206, p. 164 “JOAO PAULO II” Uma biografia por Bermardo Lecomte 525/2006, p. 98 JUDEUS CONTRA A CRISTIANOFOBIA . 534/206, p. 562 JULGAMENTO (Pardbola) 530/2006, p. 340 JUSTIFICAGAO: Acordo C: luterano-metodista .. 32/2006, p. 442 K KISSINGER, HENRY: RELATORIO ..... . §26/2006, p. 174 L LAKS, ALEKSANDER: “O SOBREVIVENTE” . 33/2006, p. 495 LEAO XIII: Enciclica “DIVINUM ILLUD MUNUS” e Renovagao Carismatica Catdiica . §32/2006, p. 475 LECOMTE, BERNARDO: “Jodo Paulo Ii" Uma biogralia .. 525/2006, p. 98 LEFEBVRISTAS VOLTARAO A COMUNHAO PLENA COM AIGREJA? .524/2006, p. 90 LELOUP, JEAN-YVES “O Evangelho de Felipe’ ... §33/2006, p. 488 LEME, LUIS EUGENIO GARCEZ: A profanagao da verdade ....... 24/2006, p. 73 LIBANIO, JOAO BATISTA: Alma humana ...... . 532/2006, p. 453 LIBERDADE RELIGIOSA; Judeus contra a Cristianofobia . 534/2006, p. 562 LIMA, CLEODON AMARAL DE: “A proibigao de fabricar idolos” .. 33/2006, p. 521 LIMITAGAO DA NATALIDADE: Relatério Kissinger . . 26/2006, p. 174 LITURGIA, SIMBOLISMO NA . 5265/2006, p. 124 LUTERO EM PLENA LUZ, Cinema e Historia . 527/208, p. 216 M MACACO E HOMEM - 529/2008, p. 22 “MADALENA, O ULTIMO TABU DO GAISTIANISMO™ por . Juan Arias . 5832/2008, p. 434 MAGISTERIO DA IGREJA: INFALIBILIDADE . §34/2008, p, 544 MAOME: caricaturas na Dinamarca.... .527/2008, p. 239 MARIA MADALENA NOS EVANGELHOS APOCRIFOS . 530/2008, p. 341 O EVANGELHO DE FELIPE... .. 33/2008, p. 488 O EVANGELHO DE MARIA. . 53/2006, p. 493 MARTINISTAS: TRADICIONAL ORDEM ...... 34/2008, p. 571 MARTIRIO: SECULO XX, SECULO DOS MARTIRES ~ 533/2008, p. 482 584 INDICE GERAL 57 MENINO JESUS DE PRAGA: DEVOGAO . 149 MENTIR E PECADO? ... . 418 METODISTAS ADEREM A DECLARACAO CATOLICA-LUTERANA 44d MILAGRE: critérios para reconhecer 31/2006, p. 410 EFEITO “PLACEBO”. 31/2006, p. 416 MILPACHER, PIO: A Igreja Caldlica é rica? .. 32/2006, p. 479 MOBILIDADE RELIGIOSA NO BRASIL .. 25/2008, p. 121 MOLINOS, MIGUEL DE: Quietismo .... 530/2008, p. 380 MONTEIRO, PE. EYMARD: “Trés sonhos” 24/2006, p. 96 N NEYERERE, JULIUS: Na Tanzania: um Politico Santo: .. . 29/2006, p. 327 NOGUEIRA, PAULO: “Como Jesus se tornou Deus’ (Revista Galileu) .......... - 525/2006, p. 101 ° “O ANTICRISTO” por Rubin de Ruiter .... Pp. 55 “O CODIGODA BIBLIA” por Miche! Drosnin 529/2006, p. 27 DA VINCI" “E tudo ficeao" (Revista Galileu) . §30/2006, p. 347 “O DOCE VENENO DO ESCORPIAO” por Bruna Surf 525/206, p. 132 © QUE VOCE POssuI? . 531/2006, p. 409 "O SOBREVIVENTE” por Aleksander Laks . §33/2006, p. 495 OBJEGAO DE CONSCIENCIA: QUE & 527/2006, p. 224 OFICINAS DE DESMANCHE HUMANO 32/2006, p. 457 “ONDE ESTAVA DEUS?" O Papa em Auschwitz - 531/2006, p. 386 OPUS DEI: QUE E? .. 825/2006, p. 135 SE DEFENDE 530/2006, p. 364 ORACAO, EFICACIA DA . 530/2006, p. 368 ORDEM DO TEMPLO & TEMPLARIOS §30/2006, p. 367 “OS MISTERIOS QUE VEM DO SECULO |” 526/2006, p. 152 P PADRE”, “O PERFIL DO Fico x realidade . 321 Pedra, A... 6 PENSAMENTOS 533/2006, p. 496 PEREIRA, PE. NEY BRASIL: Biblia Sagrada na Linguagem de Hoje (recensao)....... 529/206, p. 328 PESSOAS RELIGIOSAS TEM VIDA MAIS LONGA 5390/2006, p. 368 PIERCING E TATUAGEM . 533/2006, p. 812 PIO IX: O SILABO. . 537 58 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 534/2006 POLITICA E FE... §23/2006, p. POPULISMO EVANGELICO (O Globo) . 523/206, P. POR QUE IR A IGREJA? : . 526/206, p. PORCO E CAVALO, O.. 32/2006, p. PROFANAGAO DA VERI §24/2006, P. PROFECIAS SINISTRAS: Ainda o 3° segredo . 524/208, p. PROMESSAS A SANTA BRIGIOA..... . 527/208, p. PROSTITUIGAO: "0 DOCE VENENO DO ESCORPIAO” por Bruna Surfistinha ......525/2006. p. “UMA VISAO DO INFERNO” (Testemunho de uma prostituta)....... 633/206, p. PROTESTANTES, DENOMINAGOES 524/206, p. Qa 50° ANO.... .. 526/206, p. "QUANDO JESUS SE TORNOU DI 34/2006, p. QUANDO TUDO FALTA... Claudel .. “QUANTA CURA’ Enciclica de PiO IX QUIETISMO: EM QUE CONSISTE' QUINTO MANDAMENTO DA IGREJA “27 RAZOES PARA NAO SER CATOLICO” por um anénimo .......523/2006, p. “REENCARNACAO OU RESSURREIGAO: UMA DECISAO DE FE" por Renold Blank RELATIVISMO: “A VERDADE NAO E RELATIVA" QUE E?.. 524/2006, p. 527/206, p. = 531/2006, p. RELATORIO KISSINGER € PAISES EM DESENVOLVIMENTO .. 526/2006, p. RELIGIAO: BRASILEIROS MUDAM DE 526/206, p. __E FREUD. a 525/2006, p. RENOVAGAO CARISM “A E PROTESTANTISMO . 532/2006, p. RUBENSTEIN, RICHARD: “Quando Jesus se tornou Deus” RUITER, RUBIN DE: “O anticristo” .. SAINT-MARTIN, LOUIS CLAUDE DE: A Tradicional Ordem Martinista .. SALVAGAQ ETERNA: PODERA SALVAR-SE’ SANTABRIGIDA, AS PROMESSAS A... SANTA SE, DECLARAGOES DA: Lefebvristas voliarao & comunhao com a Igreja? .. MEDIADORA EM CONFLITOS INTERNACIONAIS . 534/2006, p. 534/208, p. 527/2006, p. 24/2006, p. 33/2006, p. 586 27 27 168 A774 73 50 228 132 . 517 88 144 530 65 $40 380 375 43 66 212 394 174 121 100 475 530 . 55 S71 550 228 390 500 INDICE GERAL 59 SANTANA, PASTOR JOEL: “Como e quando surgiu 0 Catolicismo" . SAO JOSE MOSCATI E GIANNA BERETTA MOLLA. Dois Médicos, dois Santos . SATANISMO: “O ANTICRISTO” por Rubin de Ruiter .. SCHUTZ, ROGER: quem toi? .. SECULO XX: SECULO DOS MARTIRES.. SFEIR, CARDEAL NASRALLAH RECOMENDA CELIBATO.. SILABO DE PIO IX E CONCILIO VATICANO II SILENCIO: QUANTO VALE? ... NA BIBLIA E NA TRADICAO SIMBOLISMO E EUCARISTIA NA LITU SUPERSTIGOES: DIA 06/06/06 E CATASTROAFES 533/2006, p. 523 24/2006, p. 55 524/2006, p. 91 533/2006, p. 482 524/2006, p. 95 334/206, p. 537 34/2006, p. 565 34/2006, p. 565 25/2006, p. 124 31/2006, p. 432 SURFISTINHA, BRUNA: “O doce veneno do escorpido” . 132 . 232 T TAIZE: que é?.. 91 TANZANIA: UM POLITICO SANTO: Julius Neyerere 327 TEMPLARIOS E ORDEM DO TEMPLO.. TRADICIONAL ORDEM MARTINISTA “TRES SONHOS" pelo Pe. Eymard Monteiro 530/2006, p. 367 §34/2006, p. 571 . 24/2006, p. 96 U “UMA VISAO DO INFERNO” (Testemunho de uma prostituta) ..... §33/2006, p. 517 v VERDADE, A PROFANAGAO DA por Luis Eugénio Garcez Leme .524/2006, p. 73 VERDADE NAO E RELATIVA - 527/2006, p. 212 VERGERIO, PE. PIER PAOLO AIGREJAE A BIBLIA (Documento falsificado) . VETERO-CATOLICOS: QUEM SAO, OS... VIDA EM OUTROS PLANETAS? Prof. Joaqui VIDA MAIS LONGA E RELIGIAO . . 533/2006, p. 513 . 527/2006, p. 235 532/2006, p. 443 530/2006, p. 368 EDITORIAIS A PARABOLA DA COPA DO MUNDO... “COM AMOR ETERNO TE AMEI” (Jr 31, 2) DEZEMBRO: FIM E RECOMEGO 529/2006, p. 289 528/2006, p. 241 534/2006, p. 529 587 60 PERGUNTE E RESPONDEREMOS 534/2006 .524/2006, p. 49 23/2006, p. 1 “ELE PRIMEIRO NOS AMOU” (1Jo 4, 19) JANEIRO: UM CONVITE ..... "MUITOS NAO PUDERAM QUANDO DEVIAM PODER, PORQUE NAO QUISERAM QUANDO: PODIAM" (Andnimo} O NOVO ADAO .. “O TEU MAIS BELO CANTO DE LOUVOR' “OS MAUS NAO SAO BONS PORQUE OS BONS NAO SAO MELHORES” 532/2006, p. 433 “POR ESTE SINAL VENCERAS’ ... SER PARA MARIA UM OUTRO JESUS “VIVER PARA SEMPRE”.. LIVROS APRECIADOS AQUINO, PROF. FELIPE: 0 Purgatério .. BAKER, MARK: Jesus, o maior psicélogo que ja existiu: BASURCO, XABIER: O Canto cristéo na Tradi¢ao primitiva .. BATTISTINI, FRE! E COMUNIDADE MANA: Adoragao Eucaristica 526/2006, p. 179 BIELA, SLAWOMIR: Estou & porta e chamo. .... 526/2006, p. 158 BRANGO, FRANCISCO DE SALES MOURAO: Um instante de louvor a Jesus na Eucaristia 26/2006, p. 151 CLEMENT, OLIVIER: Em Busca do Sentido da Vida CONGAR, YVES: Creio no Espirito Santo... DUBOIS, ALLISON: Nao ¢ preciso dizer adeus ESCOLA MATER ECCLESIAE “Optsculos” 30/2006, p. 369 GALVAO, ANTONIO MESQUITA: Curso Basico de Teologia .. GOUIER, HENRI: Blaise Pascal, Conversao e Apologética HINTERMEYER, PASCAL: Eutandsia. A dignidade em questéo534/2006, p. 543 LENZENWEGER, JOSEF & EQUIPE: Historia da Igreja.. .-.- 531/2006, p. 424 LIMA, PADRE CLEODON AMARAL DE: A proibigao de fabricar idolos . 29/2006, p. 325 34/2006, p. 857 533/2006, p. 516 24/2006, p. 72 25/2006, p. 108 LIMA, JOSE LUIS: Candidatos ao altar LUBICH, CHIARA: A Arte de Amar MARTINEZ, JULIO LUIS: Células-tronco humanas McGRATH: Um vislumbre da face de Deus .... MORAES JUNIOR, OMAYR JOSE DE (TRAD.) Comentario de Santo Tomas de Aquino a Ave Maria. PIEROTTI, GRAGA: Milagres e Testemunhos Eucaristicos . 31/2006, p. 417 4530/2006, p. 379 RIOS, JOSE CARLOS DE CASTRO: Operagao Triatium .........523/2006, p. 41 RODRIGUES, DOM FERNANDO IORIO: Pequenas historias, grandes ligées .. .. 531/2006, p. 428 SANTO TOMAS DE AQUINO: Comentario & Ave Maria TAQUES JUNIOR, DEWET VIRMOND: Tarefa Conjugal. Comunidade de Vida e Amor ... VEIGA, MISSIONARIO SIDINEHWOSTER: Testemunhos de Vida e Missao .... .... 29/2006, p. 299 ZANON, FRE! DARLEI: Nossa Senhora de todos os homens .530/2006, p. 374 ZUCAL, SILVANO: Cristo na Filosofia contemporanea .. . 529/2006, p. 332 . 532/2006, p. . 54/2006, p. 536 588. Um belo presente de Natal D. Mateus Rocha, OSB O Mosteiro de Sao Bento do Rio de Janeiro 1590-1990 Preco de promogao: R$ 60,00 subsidoe Mla sug comunidade - qulas = AS va . contabilidade, secretaria, recursos humanos, ia, captacao de recursos. dias para catequistas, Titurgist wentes de pastorais. 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