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TEXTO 1
Introdução
O presente texto objetiva trazer à reflexão a questão da educação enquanto
experiência formativa, destacando a memória como elemento fundamental na
reconstrução e na ressignificação do processo formativo destinado à emancipação.
Considera, para tanto, que são práticas necessárias da formação a narração e a escritura
da própria experiência pela construção de memórias.
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Sobre as diferentes concepções sobre memória e seu sentido pedagógico, recomendamos o texto de
BENINCÁ e equipe de pesquisa, 2002, especialmente o capítulo “A memória como elemento educativo”,
p. 125-161.
desenvolvimento, possam ser avaliadas criticamente pelo exercício da compreensão, da
interpretação e da reinterpretação.
A pergunta que cabe fazer é acerca da razão que leva os indivíduos atuais a
perderem a capacidade de realizar experiências formativas. O próprio Adorno (2006)
fornece importantes aportes para o entendimento de tal fenômeno ao constatar a
incapacidade crescente dos indivíduos para a reflexão, considerando que a experiência
formativa decorre de um processo auto-reflexivo, em que a relação com o objeto torna-
se a mediação pela qual se forma o sujeito em sua objetividade.
Não, está claro que as ações da experiência estão em baixa, e isso numa geração que
entre 1914 e 1918 viveu uma das mais terríveis experiências da história universal.
Talvez isso não seja tão estranho como parece. Na época, já se podia notar que os
combatentes tinham voltado silenciosos do campo de batalha. Mais pobres em
experiências comunicáveis, e não mais ricos. Os livros de guerra que inundaram o
mercado literário dez anos depois continham tudo menos experiências transmissíveis
de boca em boca (2012, p. 123-124).
A segunda, denominada Erlebnis, que tem como raiz a palavra Leben (vida), e
conjuga a fugacidade do ato de vida e a memória que o conserva e transmite. É a
vivência do indivíduo isolado em sua história pessoal cotidiana e ordinária, a impressão
forte que precisa ser assimilada às pessoas e que produz efeitos imediatos. Erlebnis
significa uma vida do imediatismo, sem laços com o passado, atropelada pelo excesso
de apelos da sociedade de consumo. Esta é a noção que melhor traduz a vida na
modernidade capitalista2.
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Cabe ressaltar que o uso destes dois conceitos na literatura e mesmo nas obras científicas e filosóficas é
bastante confuso. Por vezes são usados como sinônimos, às vezes como complementares, às vezes como
antônimos (Cf. LARROSA, 2002 e BÁRCENA, 2012). Em Benjamin e Adorno os dois conceitos são
utilizados para distinguir a experiência como realização cultural pública da narrativa coletiva, da
experiência privada e particular que predomina na sociedade contemporânea. Consideramos esta as duas
concepções são importantes para o entendimento do sentido da formação em desenvolvimento na atual
sociedade.
empobrecimento. Nesta circunstância, o indivíduo desenvolve uma consciência
coisificada que o torna não apto à experiência formativa.
Esse estado de ser é fatal para o campo educacional. Por isso, o restabelecimento
da experiência, seja ela como “rememoração do passado coletivo” (BENJAMIN, 1987)
ou como “elaboração do passado” (ADORNO, 2006), são desafios que os educadores
precisarão enfrentar. É preciso desenvolver uma formação que torne cada sujeito capaz
de desenvolver experiências formativas.
Mas quem será este sujeito da experiência formativa ? Para responder esta
questão, vamos apontar duas perspectivas: a perspectiva de quem tal sujeito é na
perspectiva da experiência negada ou empobrecida e a perspectiva do sujeito da
experiência formativa crítica. O sujeito da experiência negada ou empobrecida é o
sujeito da barbárie, do conhecimento dogmático e cabal, da ciência positivista e
instrumentalizada, o sujeito prenhe de informação, de opiniões, do trabalho alienado, do
ativismo e do tempo totalmente programado. É o sujeito do julgamento autoritário, do
poder burocrático ou da ordem sistêmica.
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As teses de Benjamim sobre o conceito de história é uma referência importante para o entendimento da
função do pensamento crítico na sociedade moderna e contemporânea. Em seu artigo Sobre conceito de
história (2012), Benjamin conclui que a história ocidental não é uma caminhada para o progresso, mas
um andamento no interior de um tempo vazio e homogêneo que acaba sempre na barbárie e num
progresso material sem alma. Para um apropriado diagnóstico do nosso tempo, é necessário superar o
conceito dogmático da história, retomar o passado e encontrar nele as “centelhas da esperança”. A história
ocidental precisa ser lida como a história da servidão, da opressão. Benjamin recomenda a leitura da
nossa realidade a partir da opressão e dos oprimidos: “A tradição dos oprimidos nos ensina que o “estado
de exceção” (Ausnahmezustand) em que vivemos é a regra. Precisamos construir um conceito de história
que corresponda a esse ensinamento”(2012, p.245).
A experiência autêntica só pode ser realizada se for levada em consideração a
experiência danificada. O ponto de partida de reflexão deve ser a catástrofe ou o
fracasso que se apresenta cotidianamente nos diferentes contextos de ensino e
aprendizagem. Conforme bem lembra Zamora (2008), modelos de vida justa só se
podem estabelecer na condição de uma consciência sensível a sua própria precariedade
problematicidade e exige uma dupla referência: a humanidade realizada e a
autodeterminação do indivíduo (p. 265-266). Uma experiência se torna formativa
quando algo nos derruba e nos transforma. Fazer experiência não significa “fazer
acontecer”, mas antes, vivenciar e refletir intensamente sobre aquilo que nos acontece,
sobre a vida que se dá em cada momento e em cada circunstância.
Conclusão
Referências
Introdução
Entendida nessa perspectiva, a memória passa a nos fazer pensar sobre nós
mesmos, sobre nossos desafios e potencialidades cotidianas, sobre o processo
educacional em construção. Nesse sentido, ela colabora também na articulação dos
encontros de estudo, por meio de um processo mais amplo de formação (tanto inicial
quanto continuada). Ela também possibilita construir redes de formação, considerando o
contexto cultural dos sujeitos, suas histórias, suas experiências. (ESTEVES, 2002).
O trabalho com a memória, na perspectiva de Benincá et al. (1998), não pode ser
realizado de forma isolada. Ela se encontra no contexto da práxis pedagógica. Conforme
Benincá et al. (1998, p.136), há movimentos constituidores de uma metodologia da
práxis, quais sejam: a) a observação documentada da prática pedagógica; b) a leitura das
memórias pedagógicas, seguida do levantamento de indicativos e de sua análise; c) a
teorização da prática e o retorno a ela de maneira intencional e transformadora.
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Preservando o anonimato do sujeito, o nome apresentado é fictício.
superficialmente. A construção e ampliação da consciência crítica a partir da memória
possibilita reinterpretar e reconstruir realidades, no sentido de transformá-las. Esse
movimento contribui para a identificação da razão de ser de diversos desafios
educacionais e sociais. De uma prática espontânea, aos poucos, avançamos para uma
prática crítica, social e historicamente situada. Passar a pensar, tomando por base
elementos oriundos da própria prática e do próprio espaço de atuação, é um exercício
transformador e emancipante (FREIRE, 1987). Não é outro que pensa por mim, não é o
outro que faz por mim, mas nós, juntos, (re)fazemos as trilhas, tornando públicas
problemáticas que antes eram apenas do conhecimento de um único (ou de poucos)
sujeito(s). Com ética, com respeito ao outro, (re)fazemos a história, passamos a nos
incluir como homens e mulheres que agimos, refletimos, (re)escrevemos o mundo que
nos cerca, produzindo novas páginas na história da humanidade.
REFERÊNCIAS
Introdução
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Abreviação do termo entrevistas narrativas.
Não fazer perguntas do tipo “por quê?”
Ir de perguntas exmanentes para imanentes
5. Fala conclusiva Parar de gravar
São permitidas perguntas do tipo “por quê?”
Fazer analogias imediatamente depois da
entrevista
Considerações finais
Referências