Racional do Treino de Relaxamento Muscular Progressivo
(Pinto Gouveia, J.; Galhardo, A.; Castilho, P.)
A ansiedade corresponde a um estado emocional complexo que surge
habitualmente quando avaliamos uma situação como contendo algum grau de ameaça ou perigo. Neste sentido, quando nos deparamos com uma situação realmente perigosa, a ansiedade funciona como uma resposta adaptativa, protectora da nossa sobrevivência, pelo que podemos constatar que a ansiedade não é necessariamente negativa. Parece-nos importante referir que a ansiedade é comum a todos os indivíduos e assume um papel fundamental na predisposição para acção, quando a sua intensidade se encontra dentro de limites adaptativos, ou seja, quando oferece a activação necessária para o desenvolvimento de tarefas que o sujeito tenha a seu cargo, sem interferir negativamente com o desempenho das mesmas. A resposta emocional de ansiedade é composta por 4 componentes que interagem entre si: sintomas fisiológicos, cognitivos, comportamentais e afectivos ou emocionais. Relativamente aos sintomas fisiológicos ou vegetativos, a ansiedade traduz-se por um conjunto de modificações resultantes da activação do sistema nervoso autónomo, tais como taquicardia, aumento do ritmo respiratório, tensão muscular, sudação, tremor, etc. Os sintomas cognitivos dizem respeito sobretudo aos pensamentos automáticos que surgem da avaliação da situação: pensamentos como, “não consigo enfrentar isto”, “vão pensar que sou inseguro”, “vou corar”, “não vou dizer nada de jeito”, relacionados com uma avaliação negativa da situação ou com a interpretação das sensações corporais. A componente comportamental refere-se a aspectos mais observáveis relacionados com o comportamento motor. Exemplos destes sintomas são: inquietação motora, evitamento das situações, manuseamentos, fugas das situações percepcionadas como ameaçadoras, etc. Finalmente, os sintomas afectivos ou emocionais manifestam-se por nervosismo, sensação de apreensão, mal-estar, que por vezes estão também associados a sentimentos de irritabilidade, tristeza ou desespero.
A intensidade de cada uma destas componentes varia de pessoa para pessoa,
mas uma das formas de que dispomos para lidar com os sintomas vegetativos da 1 ansiedade tem a ver com a aprendizagem do controlo da reacção fisiológica. Como a ansiedade pode aumentar muito rapidamente e ocorrer numa grande variedade de situações, pode revelar-se eficaz aprender a lidar com esta mediante o recurso a técnicas de relaxamento. O relaxamento é uma das melhores maneiras de diminuir, quer a ansiedade, quer os sintomas fisiológicos ou vegetativos da mesma no nosso dia-a-dia. Das respostas antagónicas da ansiedade, esta é aquela que mais facilmente podemos utilizar em qualquer situação visto que é impossível estarmos ansiosos e relaxados ao mesmo tempo. Iremos centrar-nos no Treino de Relaxamento Muscular Progressivo. Este treino consiste em fazer com que sejamos capazes de identificar o estado de tensão de cada uma das partes do nosso corpo através de exercícios de contracção- descontracção, ou seja, contrair e distender alternadamente diferentes grupos musculares. Com este treino procura-se que sejamos capazes de distinguir os sinais físicos associados a estados de tensão e relaxamento no sentido de aprender a relaxar no momento certo para o efeito. De salientar também que este treino deverá ser encarado como permitindo o desenvolvimento de uma aptidão física de autocontrolo.
Antes de iniciar o treino e durante a sua implementação existem alguns
procedimentos que devem ser tidos em conta:
a) Reconhecimento dos sinais de ansiedade
É importante que aprenda a identificar os sinais vegetativos da resposta ansiosa através da utilização de um registo de auto-monitorização. No referido registo deve assinalar as situações que lhe despoletam ansiedade, quais os sintomas e o respectivo grau de intensidade.
b) Local e tempo apropriados
Para que o treino decorra com sucesso deverá escolher um local calmo e tranquilo, com pouca luz, por forma a diminuir a probabilidade de ser perturbado na sua aprendizagem e concentração do relaxamento. Deve procurar que este seja um espaço para si e esquecer-se de tudo aquilo que o preocupa.
c) Informação sobre a respiração
A respiração é um aspecto importante neste treino de relaxamento. 2 Normalmente a ansiedade está associada a uma respiração rápida, superficial e torácica, enquanto que no estado de relaxamento a respiração é lenta, profunda e abdominal. Vamos, por isso, pedir-lhe que respire lenta, profundamente e de forma a que os movimentos respiratórios sejam ao nível do abdómen. Antes de iniciar o treino propriamente dito, vamos exercitar um pouco a sua respiração abdominal, para encontramos o seu ritmo sem esforço, dado que irá utilizá-la durante todo o processo de treino.
d) Possíveis distractores durante o treino
Durante os exercícios de relaxamento poderão surgir pensamentos ou imagens perturbadores que lhe poderão dificultar a concentração. Não lhes deverá atribuir importância, dirigindo a sua atenção exclusivamente para a as suas sensações corporais.
Durante a aprendizagem do relaxamento não deve esperar progressos
imediatos, mas sim avançar gradualmente, por forma a melhorar as suas competências para lidar com a sintomatologia vegetativa da ansiedade. Só a prática repetida é que pode tornar o relaxamento mais eficaz.