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Flor da paixão

“Passion Flower”
ou
Atrás do arco-íris

Diana Palmer

Série “Cowboy and the Lady” – Vol. 03

Cowboy and the Lady


1. Cowboy and the Lady (1982)
2. Heather's Song (1982)
3. Passion Flower (1984)
Capítulo 1

Jennifer King se aparou o cabelo ao sair do elevador no segundo andar


do hotel, e avançou pelo corredor até chegar ao quarto duzentos e três. Lançou
um olhar à porta fechada e respirou fundo antes de chamar. Passou um bom
momento antes de que se ouvissem passos dentro e o rancheiro, alto e loiro,
abrisse a porta.
—A senhorita King, da empresa de trabalho temporário, suponho —lhe
disse com um sorriso, lhe tendendo a mão—. Robert Culhane.
—Encantada —respondeu, lhe devolvendo o sorriso e lhe estreitando a
mão. Era mais jovem do que tinha esperado—. Me disseram que necessitava os
serviços de uma datilógrafa.
—Bom, em realidade se trata só de escrever umas cartas —respondeu o
homem—. vim aqui para resolver uma série de papeladas que...
—Poderia deixar isto em algum sítio? —interrompeu-o Jennifer
incômoda, assinalando a maleta com a máquina de escrever elétrica que pendia
de sua mão—. É que... pesa um pouco.
O homem se fez a um lado para deixá-la entrar.
—OH, sim, é obvio, desculpe, não me tinha dado conta —disse fechando a
porta enquanto ela depositava a maleta no chão—. Se encontra bem? Parece um
pouco pálida. Ande, sinta—a insistiu tomando-a pelo braço e levando-a até um
silloncito.
—Obrigado, estou bem, não é nada —respondeu Jennifer sobressaltada
—. É que estive várias semanas em cama com pneumonia e ainda estou um pouco
fraco.
O homem tomou assento frente a ela.
—Imagino. Lembrança que Everett teve pneumonia faz um par de
invernos e o deixou enfraquecido. Fuma muito —murmurou.
—Seu irmão? —inquiriu Jennifer enquanto tirava de sua bolsa sua
caderneta de notas e uma caneta. A senhora James, a proprietária da empresa
de trabalho temporário lhe tinha comentado que se dedicava ao gado junto com
seu irmão.
Robert Culhane assentiu.
—Sim, meu irmão maior, que manda..., você já me entende —lhe
respondeu.
Ao Jennifer pareceu advertir uma nota de ciúmes em sua voz. Levantou a
cabeça para olhá-lo. Devia rondar os vinte e cinco anos, poucos mais que ela,
que tinha vinte e três. Imediatamente sentiu uma certa afinidade com ele.
Seus pais, que haviam falecido em um desgraçado acidente três anos atrás, não
lhe tinham deixado decidir por si mesmo o que queria fazer com sua vida, e
tinha a sensação de que ao jovem que tinha frente a sim lhe tinha ocorrido o
mesmo com seu irmão.
Abriu a caderneta, pondo-a sobre seu regaço com a caneta a ponto, e
cruzou as magras pernas. Em realidade toda ela era magra. O estresse de seu
anterior trabalho em Nova Iorque tinha acabado por minar sua saúde, e a
enfermidade tinha feito dela uma sombra do que tinha sido. Seu cabelo loiro
tinha agora um aspecto apagado, sem vida, e seus olhos verdes claros tinham
perdido o brilho.
—Estou lista —lhe disse—. Podemos começar quando queira.
Robert Culhane ficou de pé e foi a por uns papéis que tinha deixado
sobre uma mesita junto à parede.
—Bem... a primeira carta vai dirigida ao Everett Culhane, rancho Circle C,
Big Spur, Texas.
—Texas? —repetiu Jennifer. de repente seu olhar se iluminou—. Vivem
ali?
Robert Culhane arqueou as sobrancelhas e sorriu.
—Sim, o nome da cidade, Big Spur, vem-lhe de um rancho enorme que há
perto. Leva ali quase um século, e foi passando de pais a filhos. O nosso é muito
pequeno comparado com esse monstro, mas meu irmão tem muitas esperanças
postas em nossas terras.
—Sempre quis ver um rancho —lhe confessou Jennifer—. Meu avô
trabalhou como peão em vários quando era jovem, e de menina sempre estava
me contando histórias. Dos lugares nos que tinha estado, do gado, dos cavalos...
Perdão —murmurou erguendo-se no assento e pigarreando—. Não quero lhe
fazer perder tempo. Suponho que terá muitas coisas que fazer.
—Tranqüila, não passa nada. Mas é curioso, por seu aspecto nunca tivesse
imaginado que gostasse do campo —comentou Robert Culhane, recostando-se
na poltrona com os fólios na mão.
—eu adoro o campo —murmurou ela—. Vivi em um povo até os dez anos.
Tivemos que mudar a Atlanta porque a meu pai saiu ali um trabalho, e me
adaptei bem, mas sempre senti falta do campo. A verdade é que ainda o sinto
falta de —admitiu.
—E não pensou em voltar?
Jennifer meneou a cabeça.
—Já não fica ali nenhum familiar. Meus pais morreram faz três anos, e
tenho algum parente na costa oeste, mas são todos parentes longínquos aos que
logo que conheço.
—Meu irmão e eu temos uma situação parecida —disse Robert Culhane—.
Nos criaram nossos tios. Bom, mas bem me criaram . Everett não teve tanta
sorte. Nosso pai não deixou que... —de repente ficou calado, com o rosto
contraído, como se estivesse revivendo uma má lembrança—. Enfim, voltemos
com a carta...
Começou a lhe ditar, e Jennifer o seguiu sem problemas. perguntou-se
por que escreveria a seu irmão em vez de chamá-lo por telefone, mas não fez
nenhuma pergunta a respeito. Ao fim e ao cabo não era assunto dele. A carta
eram várias páginas com descrições de touros, raças, pedigrees... Depois lhe
ditou uma segunda carta, dirigida a um executivo de um banco do Big Spur,
detalhando o método que os irmãos tinham desenhado para devolver um
considerável empréstimo, e uma terceira a um criador de gado do Carrollton,
no que lhe davam os detalhes do transporte de um touro que o homem lhes
tinha comprado.
—É um de nossos melhores touros —lhe explicou Robert Culhane—. O
vendemos para poder pagar outro touro reprodutor. Meu irmão quer um
Hereford purasangre, mas como não tínhamos suficiente dinheiro, estamos
tendo que recorrer a vender um dos nossos. O que estou tentando é conseguir
um comprador que aceite nosso preço.
—Já vejo —murmurou Jennifer—. Mas... não seria mais rápido ficar em
contato com eles por telefone? —sugeriu educadamente.
—OH, sim, é claro que sim, e meu irmão me arrancaria a cabeça. lhe
dizendo que me tem feito vir aqui em ônibus em vez de em avião... Estamos
hipotecados até o pescoço, e diz que terá que economizar até o último
centavo... ouviu falar da mesquinharia da gente de Escócia? —perguntou-lhe,
olhando-a divertido—. Nossos antepassados eram dali.
Jennifer sorriu.
—Bom, é verdade que as chamadas entre um Estado e outro são muito
caras —disse.
—Sim, é verdade, e sobre tudo quando se trata de lhe dar toda essa
informação —disse ele lhe assinalando com a cabeça a caderneta—. Se o envio a
carta a meu irmão hoje, chegará-lhe em um dia ou dois, e então, quando tiver
considerado as condições do vendedor, pode me fazer uma chamada e me dizer
simplesmente sim ou não. E, enquanto isso, eu me ocupo de outros assuntos que
temos que atender aqui.
—É um bom sistema —admitiu Jennifer.
—O direi de sua parte quando o vir —riu ele—. Bom, vamos com as duas
últimas. A seguinte vai dirigida A...
Deu-lhe um nome e uma direção da Georgia, e procedeu a lhe ditar a
carta. Escrevia a um criador ao que lhe perguntava se podia lhe chamar ao
hotel na sexta-feira sobre a uma da tarde. A seguir lhe ditou a última, a outro
criador, também da Georgia, lhe fazendo a mesma petição, mas para as duas da
tarde. riu ao ver que nos lábios do Jennifer se desenhou uma sonrisilla.
—Para fazer-se rico terá que controlar os gastos —lhe disse—. Embora
não consigo compreender por que meu irmão está empenhado em fazer isto do
modo mais difícil. Um amigo geólogo nos assegurou que há petróleo no confine
oeste de nossas terras, mas meu irmão se nega em redondo a explorá-lo. Pode
acreditar-lhe Agora mesmo poderíamos ser milionários, e aqui me tem lhe
ditando cartas para lhe pedir às pessoas que me chame para economizar
dinheiro.
—E por que não quer explorar os poços? —inquiriu Jennifer curiosa.
—Porque é um condenado purista —grunhiu ele—. Diz que não quer
danificar a paisagem. Prefere matar-se tentando rentabilizar o rancho com a
cria de gado, mas tal e como vão as coisas acabará comendo-se essas vacas com
batatas.
Jennifer não pôde evitar tornar-se a rir ante aquela expressão.
—Sinto-o —murmurou sobressaltada—, não pretendia...
—Não, se tiver sua graça... —admitiu ele encolhendo-se de ombros—,
sempre e quando não se estiver economizando até o último centavo, como nós —
acrescentou—. Bom, deixarei-a para que as passe a máquina. vou baixar à
cafeteria. Esta manhã não tomei o café da manhã. Quer que lhe suba uns
sándwiches?
—Não, obrigado, comi algo antes de vir —respondeu ela com um sorriso.
—Bem. Bom, pois estarei de volta em meia hora ou assim.
ficou de pé e deixou os papéis outra vez na mesita junto à parede. ficou
a jaqueta, impregnou-se o chapéu vaqueiro, e saiu, fechando com suavidade
detrás de si.
Jennifer datilografou as cartas com rapidez e eficiência. Era uma sorte
que tivesse feito aquele curso de mecanografia quando estava estudando
desenho de interiores em Nova Iorque.
Sentia um pouco de lástima por aquele rancheiro, e simpatia por seu
irmão, quem parecia preferir acontecer penúrias antes que sacrificar seus
princípios. Um suspiro escapou de seus lábios. Texas... perguntou-se como seria
o rancho Circle C, e enquanto acabava de passar as cartas, deixou-se levar por
sua mente, imaginando-se a si mesmo cavalgando pelas planícies. «Segue
sonhando, Jenny», disse-se suspirando de novo enquanto empilhava os fólios
datilografados. Provavelmente nunca chegaria a ver Texas.
Justo quando estava levantando do escritório onde tinha colocado a
máquina de escrever, abriu-se a porta, e reapareceu o jovem rancheiro.
—vai tomar se um descanso? —inquiriu com um sorriso, tirando o chapéu
e deixando-o sobre a mesa.
—Não, já terminei —respondeu Jennifer, surpreendendo-o.
—Já? —disse tomando as cartas e as repassando uma por uma—. Vá, sim
que é você rápida... Viria-nos como um anjo cansado do céu no rancho —
murmurou—. A meu irmão leva uma hora escrever um só fólio. Cada vez que tem
que passar algo a máquina começa a jogar cobras pela boca. E a verdade é que
há bastante que datilografar: os registros de produção, os registros dos
impostos, as folhas de pagamento dos peões... Não lhe interessará um trabalho,
por acaso?
Jennifer conteve o fôlego.
—No Texas?
—Tal e como o diz parece que lhe esteja oferecendo a lua —lhe disse ele
renda-se.
—Não pode imaginar-se como detesto a cidade —respondeu ela,
apartando uma mecha de cabelo de seu rosto—. Como ainda não estou reposta
de tudo não faço mais que tossir com a fumaça dos carros, e o apartamento no
que vivo é uma lata de sardinhas.
Robert Culhane inclinou a cabeça, esfregando-a nuca, como se de
repente estivesse tendo dúvidas.
—Bom, a verdade é que não seria fácil... ter que trabalhar para meu
irmão, quero dizer —murmurou—. Tem um caráter bastante forte, sabe? E
teria que comentar-lhe primeiro, e o salário não seria muito... E conhecendo
meu irmão acabaria você fazendo de garota para tudo. É que não temos uma
empregada do lar... —acrescentou a modo de explicação.
—OH, não me importaria ter que cozinhar ou limpar. Eu gosto das
tarefas da casa. Em realidade sou uma pessoa muito caseira.
—Bom, nesse caso... —murmurou ele—. Tem você telefone?
Ela franziu os lábios e meneou a cabeça.
—Parece que estamos no mesmo navio, né? —disse-lhe ele com um
sorriso compassivo.
—Mas poderia me deixar uma mensagem na empresa de trabalho
temporário —ocorreu ao Jennifer de repente.
—De acordo. vou estar na cidade uns dias mais, assim quando falar com o
Everett chamarei a sua empresa antes de voltar para o Texas, parece-lhe?
—Obrigado. Seria estupendo —respondeu ela—. Mas, não lhe causarei
problemas com seu irmão?
—Tranqüila, estou acostumado a lutar com ele. São muitos anos juntos —
lhe disse lhe piscando os olhos um olho—. E obrigado pelo magnífico trabalho
que tem feito com as cartas. Enviarei-lhe um cheque a sua empresa, de acordo?
—De acordo.
Quando saiu do hotel, Jennifer se sentia como se fora flutuando, mas ao
chegar à empresa de trabalho temporário, a senhora James foi tão
desagradável como sempre.
—Chega tarde. tive que rechaçar a um cliente.
—Sinto muito, é que eram várias cartas e o ônibus demorou muito em
chegar. Além disso, havia muito tráfico...
—Está bem, deixa de desculpas —a cortou com brutalidade a mulher—.
Tenho outro encargo para ti. Um político. Necessita que lhe datilografem o
discurso que vai dar, e logo terá que fazer várias cópias para a imprensa. Aqui
está a direção.
Jennifer tomou o papel que lhe tendia e suspirou. Não estava
precisamente a duas maçãs dali.
—Não tem que levar máquina, assim deixa-a aí. E pode ir a casa quando
acabar. E amanhã te quero ver aqui a primeira hora.
Jennifer deixou a maleta no chão e voltou a sair à rua.
Aquela velha bruxa não estava lhe fazendo nenhum favor ao permitir ir-
se casa ao acabar o encargo. Provavelmente entre a ida, e o tempo que
estivesse ali, terminaria bastante tarde. Oxalá lhe saísse o desse trabalho no
Texas!
O político resultou ser um vereador, e não só parecia havê-lo pilhado de
bom humor, mas também além se mostrou generoso e lhe deu uma boa gorjeta,
assim Jennifer se deu uma pequena comemoração tomando um bom jantar em
um restaurante da zona antes de voltar para apartamento onde vivia de aluguel.
A caseira não era a simpatia personificada, mas ao menos o preço era barato e
o lugar estava em boas condições.
ficou dormida assim que se deitou, mas despertou de madrugada, e não
pôde evitar começar a lhe dar voltas às coisas, e a pensar no pesadelo da que
logo que tinha saído, no estresse da vida que tinha levado em Nova Iorque. Ao
princípio tinha parecido um sonho que a tivesse contratado uma das agências de
decoração mais importantes da cidade, mas logo a fantasia se tornou em uma
feroz competição pelos encargos mais suculentos, intermináveis festas às que
tinha que ir para conseguir clientes, data batente que cumprir... Aquilo foi
muito para seus nervos, e seu corpo acabou lhe acontecendo fatura.
O pior era que nem sequer tinha sido sua eleição o ir a Nova Iorque. Em
Atlanta tinha sido feliz, mas seus pais tinham insistido em que as melhores
escola de desenho de interiores estavam em Nova Iorque, e se tinha deixado
convencer. Dois anos depois de sua graduação, morriam em um acidente de
carro, quando se dirigiam a ver uns amigos em Natal. Para então, ela tinha já um
posto em uma exclusiva assinatura de decoração, e, possivelmente para afogar
a dor da solidão e a perda, derrubou-se no trabalho até extremos
insuspeitados. E assim tinha sido como tinha acabado com pneumonia em um
hospital no que tinha permanecido vários dias do mês de março. ficou-se
literalmente sem forças, e nesse mundinho no que não lhe concedia uma pausa a
ninguém, tinha sido substituída em seguida por um jovem prometedor recém-
chegado da Philadelphia, e se tinha encontrado sem emprego.
Não teve mais remedeio que deixar o luxuoso apartamento cujo aluguel
de todos os modos já não podia pagar, vender suas peles e roupa de desenho, as
jóias... E ir-se ao sul. Entretanto, não havia forma de encontrar trabalho em
seu campo, e finalmente tinha acabado infiltrando na empresa de trabalho
temporário da senhora James, aproveitando seus conhecimentos de
mecanografia.
Não era muito religiosa, mas rezou com ardor nesse momento por que lhe
saísse aquele trabalho no Texas. E, na sexta-feira pela tarde, ocorreu o
milagre. Estava precisamente no escritório da empresa de trabalho temporário
quando a senhora James lhe disse que havia uma chamada para ela.
—Senhorita King —lhe disse Robert Culhane ao outro lado da linha—,
ainda segue querendo ir ao Texas?
—OH, sim! —exclamou ela aferrando entre seus dedos o cabo do
telefone—. Sim, claro que quero!
—Pois então na segunda-feira vinte, dentro de duas semanas, tenha a
mala preparada e saia cedo para o Texas. Tem um papel e uma caneta? Darei-
lhe a direção e lhe direi como chegar.
Jennifer estava tão emocionada que logo que sim podia escrever.
—Não lhe defraudarei, o prometo —lhe disse.
—Estou seguro disso, senhorita King —respondeu ele—. Bom, vemo-nos o
vinte.
—Sim, até o vinte —respondeu ela, pendurando o telefone, com o rosto
resplandecente de felicidade. Não era um sonho, ia ao Texas!
—E bem...? —perguntou-lhe a senhora James, suspicaz—. O que queria
esse homem?
«E a você o que lhe importa?», sentiu desejos de lhe espetar Jennifer.
Mas era muito educada para lhe dar uma resposta assim.
—Não vou seguir trabalhando para você, senhora James —disse muito
tranqüila—. A partir de manhã, não virei mais.
A mulher estava furiosa.
—O que? Não pode partir assim, sem mais! —gritou-lhe.
—Sim que posso —replicou Jennifer sem perder a calma, mas
recuperando seu orgulho—. Não assino com você mais que contratos por obra, e
não há nada que me retenha aqui. E não lhe devo nada. É mais, fiz um montão de
horas extra que você não me pagou —acrescentou olhando-a fixamente aos
olhos.
—É uma ingrata —resmungou a senhora James, ficando rígida como um
pau—, uma ingrata, isso é o que é.
—Não, não o sou —respondeu Jennifer, disposta a mostrar mais classe
que —.lhe estou agradecida, mas mesmo assim vou. Que vá bem.
E, com uma ligeira inclinação de cabeça, girou-se sobre os talões e saiu
dali.
E saiu do escritório com passo firme e sem olhar atrás.

Capítulo 2

Embora era primavera, fazia um calor insofrível quando Jennifer se


desceu do táxi naquele poeirento caminho vicinal do Big Spur, Texas. Deveria
lhe haver pedido ao taxista que a levasse até a porta da casa do rancho, mas
não lhe tinha parecido que a distância da estrada principal fora tão larga, e
além lhe tinham entrado vontades de caminhar, com o céu tão azul, e todo esse
montão de flores silvestres por toda parte. Entretanto, era evidente que
deveria haver-se deixado levar por seu sentido comum e não por seu
entusiasmo.
Elevou a vista para a casa na lonjura. Tinha duas alturas e a pintura
branca que a recubría estava descascando-se por vários sítios. Muito altos
carvalhos a protegiam do sol, os carvalhos maiores que Jennifer tinha visto em
sua vida.
A ambos os lados do caminho havia cercas de madeira, cinzas pela ação
do sol e da chuva, reforçadas com arame de espinheiro oxidado, e ao outro lado
pastavam vacas de cor avermelhada. Jennifer ficou observando o amplo
horizonte. Sempre tinha acreditado que Georgia era grande, mas Texas era
imensa. Era... simplesmente irreal.
Jennifer separou de seu rosto uma mecha de seu apagado cabelo loiro
que tinha escapado do recolhido que se feito. Devia ser uma visão singular em
um lugar assim com o vestido branco e as sandálias de salto a jogo que levava,
mas queria causar uma boa impressão. E vá uma impressão que ia dar...! O desço
do vestido se pôs perdido com o pó avermelhado do caminho, igual a suas
preciosas sandálias... o único par de vestir que ficava... Sentia desejos de
chorar. E, para cúmulo, estava suarenta, e lhe tinha feito uma carreira nas
médias. Não teria podido ter pior aspecto embora o tivesse proposto.
Além disso, estava algo nervosa ante o fato de conhecer o Everett
Culhane, porque a imagem mental que se formou dele era a de um rancheiro
seco e de mau caráter. «Enfim», disse-se, «não se tem escrito nada dos
covardes». E, voltando a tomar sua mala, percorreu a distância que a separava
da casa. Suas pegadas ressonaram no alpendre quando subiu gastos degraus.
deteve-se frente à porta de tecido metálico, deixou a mala no chão, sacudiu-se
um pouco o pó do vestido com as mãos, e golpeou o marco com os nódulos.
Não houve resposta, só se ouvia o ruído de um ventilador. A porta de
madeira estava aberta, e se podia ver o interior em penumbra através da
mosquiteira.
—Olá? Há alguém? —chamou.
Com sorte possivelmente saísse a recebê-la o agradável homem ao que
tinha conhecido em Atlanta e que lhe tinha devotado o trabalho, o irmão mais
jovem. Só esperava ser bem-vinda.
O som de uns passos firmes e apressados a sobressaltou. Bom, ao menos
havia alguém em casa... O certo era que estava desejando sentar-se. Estava um
pouco enjoada pelo calor e a caminhada.
—Quem demônios é você? —exigiu saber uma áspera voz masculina, ao
outro lado da porta de tecido metálico.
Jennifer elevou a vista e se encontrou com o rosto mais sério e os olhos
mais frios que tinha visto em sua vida. Não podia articular palavra. Sentiu
desejos de sair correndo, mas tinha percorrido muitos quilômetros, e estava
muito cansada.
—Sou Jennifer King —lhe disse em um tom o mais profissional possível—.
Está Robert Culhane em casa, por favor?
de repente as facções do homem se esticaram, e seus olhos escuros
pareceram flamejar, como se fossem carvões acesos.
—A que diabos está jogando? —resmungou.
Jennifer ficou olhando-o confundida.
—Mas... não é este o rancho Circle C? —inquiriu.
—Sim esse é seu nome.
Não a estava ajudando muito. Seria possivelmente um dos peões do
rancho?
—E não vive aqui Robert Culhane? —insistiu.
—Morreu faz duas semanas —lhe respondeu o homem com brutalidade—.
O ônibus no que ia foi enrolado por um caminhão.
Jennifer sentiu que os joelhos lhe fraquejavam. O comprido viaje até ali,
pesada-a mala e o fato de que ainda não estava recuperada de sua recente
enfermidade a tinham deixado exausta, e aquelas palavras supuseram um golpe
tremendo para ela. Com um gemido lastimero se derrubou sobre o chão do
alpendre, com a cabeça lhe dando voltas.
A porta de tecido metálico se abriu de improviso e um par de fortes
braços se estenderam para ela. Jennifer sentiu como a levantavam do chão em
volandas sem dificuldade alguma, e a levavam dentro da casa. O homem a soltou
sem muita delicadeza em um velho sofá, e ouviu as pisadas de suas botas
afastando-se para outra habitação. Escutou-o resmungar algo, um ruído como
de objetos de cristal chocando entre si, e ao cabo de um momento os passos
voltaram, e se encontrou com um copo cheio de um líquido âmbar escuro frente
a seu rosto, sustentado pela curtida mão do homem. Ela tomou e o levou aos
lábios. Provou um sorvo e, ao comprovar que era chá gelado, bebeu com a
mesma ânsia que se levasse vários dias no deserto, até apurá-lo.
Quando apartou o copo de seus lábios, ainda estava tratando de
assimilar a situação. despediu-se para sempre da senhora James, tinha
percorrida centenas de quilômetros... e agora o homem que lhe tinha devotado
o trabalho que acreditava ia trocar sua vida, estava morto. Morto... Aquela era
a pior parte, imaginar morto a aquele homem tão amável; e era tão jovem...,
disse-se estremecendo-se.
Elevou o rosto para o estranho, que se tinha ficado de pé junto a ela, e
estudou seu rosto. Era muito moreno e tinha uns rasgos muito definidos, do
nariz, ligeiramente aquilina, até os lábios, que pareciam esculpidos com maça e
cinzel. A frente era larga e algo proeminente, e sob umas sobrancelhas negras
como o azeviche, igual ao desalinhado e fosco cabelo, olhavam-na sem piscar
uns olhos castanhos afundados. Ia vestido com o que devia ser sua roupa de
trabalho: jeans gastos que marcavam os músculos de suas largas pernas, e uma
camisa também vaqueira com o pescoço aberto, deixando ao descoberto um
tórax igualmente bronzeado e talher de espesso pêlo encaracolado.
Pela expressão impaciente em seu rosto, parecia estar lhe dizendo que
estava lhe fazendo perder tempo, e de repente Jennifer compreendeu que não
se tratava de um simples peão, como tinha pensado em um princípio.
—Você é... Everett Culhane —murmurou vacilante.
A dureza nas facções do homem não se dissipou nem um ápice.
—Desde onde veio caminhando? —perguntou-lhe.
—Só de onde acaba a estrada —respondeu ela, baixando a vista a suas
danificadas sandálias—. Ao princípio não me pareceu que a casa estivesse tão
longe.
—E não pensou em que podia lhe dar uma insolação?
—A verdade é que não me ocorreu —admitiu ela—. Sinto muito o de seu
irmão, senhor Culhane —lhe disse brandamente—. Apenas o conheci, mas
parecia um bom homem —ficou em pé com dignidade apesar de que as pernas
ainda lhe tremiam um pouco—. Desculpe-me; não lhe tirarei mais tempo.
—Não me há dito por que veio até aqui.
Jennifer sacudiu a cabeça.
—Já não importa, não importa absolutamente —lhe disse.
deu-se a volta e se dirigiu ao alpendre, onde se tinha ficado sua mala.
Não sabia se agüentaria o caminho de volta à pequena cidade do Big Spur a pé,
mas não ficava outro remédio. Só ficava dinheiro para o bilhete do ônibus de
volta a Atlanta, e pouco mais. Agora que se esfumou o emprego que esperava, o
tomar um táxi se converteu em um luxo que não podia permitir-se.
—Onde se acredita que vai? —perguntou-lhe Everett Culhane, indo atrás
dela. O tom de sua voz foi como o estalo de um látego.
—Volto para a cidade —respondeu ela sem voltar-se—. Adeus, senhor
Culhane.
—E como pensa chegar ali?, andando? —espetou-lhe ele—. Com este
calor?, e sem um chapéu?
—Bom, cheguei até aqui, não? —replicou ela enquanto baixava os degraus
do alpendre.
—Não o obterá. Espere um momento, levarei-a em minha caminhonete.
—Não é necessário, obrigado —respondeu ela, deixando-se levar pelo
orgulho, e olhando-o por cima do ombro—. me Posso arrumar isso muito bem
sozinha, senhor Culhane, não me faz falta sua ajuda.
—Pois lhe fará falta um médico se insistir em ir até ali andando —
grunhiu ele, voltando a entrar na casa.
Jennifer pensou que com aquilo o assunto tinha ficado resolvido, mas ao
cabo de um momento, quando tinha percorrido uns dez metros, ouviu o ruído de
um motor, e de repente uma caminhonete vermelha se deteve seu lado, e o
condutor, que não era outro que Everett Culhane, abriu-lhe a porta do co-
piloto.
—Subida —lhe ordenou, em um tom que exigia obediência imediata.
—Mas se lhe hei dito que... —protestou ela irritada.
—Hei dito que subida —repetiu ele, entreabrindo os olhos—. E como não
o faça sou capaz de me baixar, subir a eu e atá-la ao assento até que
cheguemos à cidade.
Jennifer contraiu o rosto desgostada, mas pôs a mala na parte de atrás,
e subiu ao veículo. ficaram em marcha imediatamente. O rancheiro tinha aceso
um cigarro, e não articulava palavra. Os guichês estavam subidos porque estava
posto o ar condicionado, e Jennifer começou a tossir. Ainda tinha os pulmões
sensíveis depois de sua enfermidade.
Everett Culhane lhe lançou um olhar penetrante de reojo, apagou o
cigarro no cinzeiro do veículo, e abriu um pouco seu guichê.
—Essa tosse não soa muito bem —lhe disse.
—É que ainda estou me repondo de uma pneumonia —murmurou ela,
observando o horizonte—. Deus, Texas é imenso.
—Sim que o é —assentiu ele, girando o rosto para olhar a de que parte
do Estado é?
—De nenhuma.
A caminhonete deu um inclinação brusca quando o rancheiro pisou de
repente o pedal do freio.
—O que há dito?
—Que não sou do Texas —respondeu ela—, sou de Atlanta.
—De Atlanta, Georgia?
—Acaso há outra Atlanta?
Everett Culhane soprou.
—E que diabos pretendia vindo desde tão longe para ver um homem a
quem quase não conhecia? —espetou-lhe—. Porque suponho que não seria amor
a primeira vista...
—Amor A...? —repetiu ela piscando—. Por Deus, não; somente lhe
datilografei umas cartas a seu irmão.
Everett apagou o motor.
—Comece outra vez; comece desde o começo. Está-me dando dor de
cabeça. Como acabou aqui?
—Seu irmão me ofereceu um emprego —respondeu ela quedamente—,
como datilógrafa. Bom, disse-me que também teria que fazer outras coisas,
como cozinhar e limpar, e que o salário seria mas bem modesto —acrescentou
com um leve sorriso.
—Bom, ao menos foi honrado com você —grunhiu ele—. Mas com essas
perspectivas, por que lhe disse que sim?
—E por que ia dizer lhe que não? —inquiriu ela vacilante.
Everett Culhane se esfregou o rosto com uma mão.
—Siga explicando-se —balbuciou.
Verdadeiramente era um homem estranho, pensou Jennifer.
—Bom, eu... tinha perdido meu trabalho, porque caí doente, e me sentia
muito fraco para poder seguir com meu ritmo habitual, e consegui um emprego
temporário como datilógrafa em Atlanta. Faço um bom médio de pulsações por
minuto, e não era um trabalho tão estressante como o que tinha antes, assim...
O caso é que seu irmão chamou à empresa de trabalho temporário com a que eu
estava, e fui a seu hotel a lhe datilografar umas cartas. Começamos a falar —
disse sonriendo ao recordar quão amável tinha sido—, e quando me inteirei de
que era do Texas e que vivia em um rancho... não sei, a verdade é que me
emocionei. Passei-me toda minha infância escutando as histórias de meu avô
sobre sua juventude aqui no Texas, e quando me ofereceu o emprego me disse
que preferia ganhar pouco e estar em um lugar onde o ar é respirável, que na
cidade, lotada de carros e de gente. Disse-me que ele se encarregaria de falar
com você, e quando me chamou me assegurou que estava tudo solucionado, e
que viesse nesta data —seus olhos se encheram de lágrimas—. De verdade que
sinto muitíssimo sua morte. Perder este emprego não foi nem a metade de
espantoso que me inteirar de que havia... de que tinha morrido. Tratou-me com
tanta amabilidade...
Everett estava irritado, tamborilando os dedos no volante.
—Um emprego... —balbuciou deixando escapar uma risada amarga e
suspirando a seguir—. Bom, suponho que não teve uma idéia tão descabelada ao
oferecer-lhe Vou muito atrasado com os registros de produção e dos impostos,
a cozinha me dá fatal, e faz um mês que não se varre a casa... —de repente lhe
lançou um olhar suspicaz—. Não estará grávida, verdade?
Os pálidos olhos verdes do Jennifer o olharam com indignação.
—Asseguro-lhe que se assim fora, seria um caso de estudo para a
ciência.
Everett Culhane arqueou uma sobrancelha e escrutinou seu rosto antes
de esboçar um sorriso malicioso.
—Hmm... Uma dama do sul, pura e inocente.
—Pois sim, mas como se atrevo a me chamar Escarlate, porei-lhe o olho
arroxeado, vaqueiro —lhe espetou ela com altivez. Entretanto, justo então teve
que lhe entrar um ataque de tosse.
—Está bem, está bem..., deixarei de lhe cravá-la disse ele lhe tendendo
um lenço—. Bom, então, ainda quer esse trabalho? Meu irmão Robert lhe disse
a verdade sobre o salário. Terá uma cama, café da manhã, almoço e jantar, mas
isto não lhe parecerá precisamente Abundância. Interessa-lhe?
—Se isso significar que posso ficar no Texas, sim, interessa-me.
Ele sorriu.
—De acordo então. Que idade tem, menina?
—Já não sou uma menina, senhor Culhane, tenho vinte e três anos —lhe
respondeu Jennifer olhando-o molesta—. E você, que idade tem?
—diga-me isso você, garota da Georgia.
—Trinta? —aventurou Jennifer.
Everett Culhane riu divertido. Era a primeira vez que Jennifer ouvia
esse som de seus lábios, e a surpreendeu. Não parecia um homem com muito
senso de humor.
—Prova de novo.
Jennifer advertiu então algumas linhas levemente marcadas em seu
rosto moreno, umas pinceladas chapeadas nas têmporas e também no pêlo que
aparecia pelo pescoço aberto de sua camisa. Não, não devia ser tão jovem como
lhe tinha parecido em um princípio.
—Trinta e quatro?
—lhe acrescente um mais e já está.
Jennifer sorriu.
—Pobre, que velho... —burlou-se fazendo morritos.
Everett riu de novo.
—Essa não é forma de lhe falar com seu novo chefe —lhe advertiu
sonriendo.
—Prometo-lhe que não voltarei a fazê-lo —respondeu ela—. Tem a mais
gente trabalhando para você?
—Só tenho dois ajudantes, Eddie e Bib.
—Vivem com você na casa?
—Não, os dois estão casados.
Jennifer tragou saliva, olhando-o com olhos apreensivos.
—E você?, não está casado?
Ele a observou divertido.
—Não, sou solteiro, e sim, estaremos sozinhos na casa, se for o que está
pensando.
—Não o perguntava por isso —balbuciou Jennifer sobressaltada—, é
que...
—A porta da habitação onde dormirá tem ferrolho —a tranqüilizou ele—;
a casa é enorme, assim não nos chocaremos precisamente cada dois passos; e
me passo fora quase todo o dia, com o gado, e não volto até o anoitecer —a
olhou aos olhos—. E além disso, para sua informação, não vão as garotas de
cidade.
Aquilo soou como se tivesse alguma razão para que não gostasse, mas
Jennifer não quis entremeter-se.
—Asseguro-lhe que não terá queixa de mim, senhor Culhane.
—Everett, me chame Everett. Ou Rett, como prefere. Bem, então te
encarregará de me datilografar toda a papelada, fará as comidas, penetrada-a,
e o resto das tarefas do lar. E, como te disse Robert, o salário não será grande
coisa, porque tem que compreender que a situação aqui não é muito flutuante.
Com o que lhe tiro o rancho me dá para pagar as faturas e pouco mais.
—Compreendo-o... Everett —lhe resultava estranho chamá-lo pelo nome
de pilha—. Sabia quais eram as condições antes de vir. Não vim enganada.
Ele não disse nada. Simplesmente escrutinou seu rosto um instante e
assentiu com a cabeça. Depois, pôs o veículo em marcha e deu meia volta, de
retorno ao rancho Circle C.

Capítulo 3

DUAS horas depois, Jennifer estava já instalada, ante o evidente


assombro dos ajudantes do Everett, Eddie e Bib. Os dois foram o
suficientemente preparados como para não fazer nenhum comentário a seu
patrão quando chegou com ela, mas saltava à vista que sua presença ali os
deixava perplexos.
Tal e como lhe tinha prometido seu chefe, Jennifer teve sua própria
habitação. O papel das paredes estava separado por vários sítios, as cortinas
descoloridas pelo sol, e dava a impressão de que a colcha que havia na cama
tivesse conhecido várias gerações. Em realidade toda a casa estava igual. Teria
dado o que fora por estar em forma para poder redecorarla, porque no fundo
ali havia potencial para fazer do lugar uma moradia acolhedora.
À manhã seguinte, quando despertou, o sol entrava já por sua janela, e
teve uma curiosa sensação, como se pertencesse a aquele sítio..., como se fora
seu lar. Não tinha experiente nada semelhante desde que se foram do
pueblecito onde tinha nascido. Era estranho que sentisse isso em um lugar ao
que acabava de chegar... Não podia ser por seu chefe, certamente. Everett
tinha sido correto com ela, mas nada mais. De fato, parecia um homem mas bem
frio. Claro que fazia pouco que tinha perdido a seu irmão, recordou-se. Sim,
essa devia ser a razão pela que se mostrava tão distante e taciturno.
Quando baixou as escadas já tinha saído. preparou-se uma taça de café
e um par de torradas, e foi a salita que usava como despacho. Como lhe havia
dito no dia anterior, tinha-lhe deixado um taco de fólios onde tinha rabiscado
cifras de produção e uma série de informação de presupostos. Inclusive lhe
tinha posto uma máquina de escrever elétrica com fólios brancos, e uma nota
ao lado: Não se sinta obrigada a te matar o primeiro dia. Debaixo estava sua
assinatura, Everett, com pulso firme e linhas angulosas.
Jennifer ficou mãos à obra, e duas horas depois tinha tirado bastante
trabalho. Justo estava começando uma nova folha quando escutou as pisadas do
Everett aproximando-se. A porta da salita se abriu e apareceu a cabeça.
—É que não pensa comer? —perguntou-lhe arqueando as sobrancelhas.
Pergunta-a mas bem era «é que não vai me dar de comer?», disse-se
Jennifer, reprimindo com muita dificuldade um sorriso.
—O que tem tanta graça?
—OH, nada, nada... —murmurou ela levantando-se.
Sem dúvida pensava que se esqueceu de que tinha que fazer a comida,
mas lhe tinha uma surpresa preparada. Levou-o a cozinha, onde tinha posto dois
serviços, e quando ele se sentou, pôs em cima da mesa uma bandeja alargada de
vime com fatias de pão, e tirou do frigorífico o bote da maionese, um prato
com fatias de presunto que tinha talhado, e uma salada que tinha preparado
com alface, cebola, e tomate.
—Queria ter feito algo mais elaborado —se desculpou—, mas como é meu
primeiro dia não tive tempo para me organizar melhor. Gosta de café? —
perguntou-lhe voltando-se e tomando a cafeteira.
Everett assentiu, e lhe aproximou sua taça, para a seguir começar a
preparar um sanduíche.
—Como sabia que queria café, e não chá? —perguntou-lhe olhando-a com
os olhos entreabridos quando Jennifer se sentou frente a ele.
—Porque o bote do café está quase vazio, e o do chá quase cheio —
respondeu ela com um sorriso.
Everett riu brandamente, e tomou um sorvo de sua taça.
—Não está mal —murmurou olhando-a.
—Sinto não me haver levantado a tempo para te preparar o café da
manhã —lhe disse Jennifer—. Normalmente levantou às sete, mas suponho que
esta manhã estava muito cansada e me fiquei dormida.
—Não passa nada —respondeu ele—, estou acostumado a me fazer isso
eu.
—Que tomadas? —perguntou-lhe ela com ideia de tomar nota
mentalmente para o dia seguinte.
—Café.
—Só café? —repetiu ela aniquilada.
Everett se encolheu de ombros.
—Não tenho vontades de me preparar nada tão cedo.
«O típico caso no que, por não incomodar-se, não come», pensou Jennifer
pondo os olhos em branco.
—Amanhã me levantarei cedo e te prepararei algo mais consistente.
—Não é necessário. Não quero que te esforce muito —lhe disse Everett
olhando-a com o cenho ligeiramente franzido—. Não sei como estará de
restabelecida, mas eu te vejo muito débil.
—A maioria da gente parece débil a seu lado —replicou ela.
—Sempre estiveste tão magra? —inquiriu ele.
—Não, perdi muito peso quando caí doente. Bom, e em realidade foi algo
gradual, pelo estresse, mas suponho que a pneumonia fez que fora custa abaixo.
—Como leva o que te deixei para que o passasse a máquina?
—OH, bem, bem. Tem uma letra muito clara. Não como outras que vi. as
de alguns médicos quase necessita tradução.
Everett riu antes de lhe fincar os dentes ao sanduíche que se preparou.
Quando o terminou se fez outro, mas Jennifer advertiu que não havia meio
doido a salada.
—Não quer um pouco? —disse-lhe lhe assinalando o bol.
—Não sou um coelho.
—Mas se a salada é muito sã...
—Também o é o fígado, conforme dizem, mas me dão arcadas só vendo-o
—replicou ele dando outro bocado a seu sanduíche e servindo-se mais café.
—Mas, então... para que tem alface e tomate na geladeira?
Everett elevou o olhar para ela.
—Porque me eu gosto de pôr isso nos sanduíches.
Jennifer se levou uma mão à boca. Bom momento tinha esperado para
dizer-lhe quando os tinha usado para fazer a salada.
—Sinto muito.
—Não passa nada —replicou ele—, mas para que saiba, tampouco eu gosto
do brócolis, nem os ovos esquentados —acrescentou—. Sou mas bem um homem
de carne e batatas.
—Procurarei lhe recordá-lo assegurou Jennifer—. E usarei batatas para
o bolo de maçã.
Everett lhe lançou um olhar furioso.
—Muito graciosa. por que não coloca a cômica?
—Porque sem mim morreria de fome, e não sei se minha consciência
poderia lhe suportá-lo disse ela.
—Ja-ja. Bom, volto para trabalho. E faz o favor de não te cansar muito
—lhe pediu quando chegou à porta da cozinha—. Não quero que por minha culpa
acabe prostrada em uma cama.
—E ficar a mercê do que você cozinhasse? —espetou-lhe ela, com um
olhar malicioso—. Tranqüilo, já me cuidarei eu de que isso não ocorra.
Everett balbuciou algo entre dentes e partiu.
Jennifer acabou o que tinha que datilografar, varreu, limpou o pó, e
preparou o jantar: um guisado de carne, repolho e mingau, mas quando a teve na
mesa se sentou a esperar e a esperar, e Everett não aparecia. Então recordou
o que lhe havia dito no dia anterior de que quase nunca voltava antes do
anoitecer, mas ao menos podia haver o recordado à hora do almoço, não?
Finalmente acabou por esquentar-se um pouco para ela, o comeu, guardou o
resto na geladeira, e foi se dormir.
Tinha posto o despertado às sete menos quarto, e às sete, depois de
assear-se e vestir-se, estava já na cozinha preparando um bom café da manhã:
salsichas, ovos mexidos, bolachas caseiras e café.
Quando já o tinha tudo preparado apareceu Everett... em cueca. Eram de
tipo traje de banho, e Jennifer tinha visto montões de homens em traje de
banho as vezes que tinha ido à praia, mas não pôde evitar ficar olhando-o
embevecida. Não havia nem um centímetro de graxa naquele atlético corpo, e
parecia um galã de cinema.
Everett arqueou uma sobrancelha divertido ao comprovar a fascinação
que parecia despertar nela.
—Ainda não me acostumei a que tenho companhia, e quando despertei e
ouvi ruído na cozinha não me lembrei de ti. Tem sorte de que me ocorresse me
pôr as cueca antes de baixar.
E se deu a volta, saindo da cozinha e deixando-a ali plantada,
boquiaberta.
Ao cabo de um momento estava de volta, ainda descalço e com o torso
nu, embora tinha tido a deferência de ficar uns jeans.
—Acreditava que te havia dito que não era necessário que te levantasse
me fazer o café da manhã —balbuciou sentando-se frente a ela.
—Preocupava-me que te deprimisse por aí pela fome e não pudesse
sequer te montar no cavalo para que te trouxesse de volta, como nos filmes de
jeans. De verdade fazem isso os cavalos?
Everett não respondeu. Estava muito ocupado saboreando uma bolacha.
—Mmm... está boa —murmurou com a boca enche—. Minha tia também
fazia bolachas caseiras. É uma boa cozinheira, Jenny. Ontem à noite ao chegar
provei o guisado que deixou na geladeira... e as mingau.
Um amplo sorriso se desenhou nos lábios dela. Fazia muito que ninguém a
chamava por seu diminutivo.
—Me alegro que você gostasse. Aprendi a cozinhar de minha mãe. Era
uma cozinheira estupenda.
—Vivem ainda seus pais?
Jennifer sacudiu a cabeça, sentindo uma pontada de nostalgia.
—Não, morreram faz já três anos, em um acidente de carro.
—Vá, sinto muito. Estava muito unida a eles?
—Muito —assentiu ela—. E seus pais, vivem ainda?
As facções do Everett se esticaram.
—Não —respondeu em um tom que não convidava a fazer mais perguntas.
Jennifer baixou a vista, mas foi um engano, porque se encontrou com seu
peito nu, e se apressou a baixar a vista ao prato. Everett deveu dar-se conta
de seu sobressalto, porque se levantou e saiu da cozinha, voltando ao cabo de
um momento já vestido de tudo.
—Obrigado pelo café da manhã —lhe disse—. E agora, que tal se por uma
vez me faz caso e toma as coisas com tranqüilidade? Acaba de chegar, não tem
por que fazê-lo tudo em dois dias.
—Deixa de preocupar-se; não farei nada que não possa fazer —lhe
prometeu Jennifer.
Everett meneou a cabeça, mas desistiu de seguir tentando fazê-la
entrar em razão.
—A partir de hoje —lhe disse detrás apurar o café que ficava na taça—,
baixarei vestido embora sejam as cinco da manhã.
Jennifer elevou a vista e riu, cruzando-se de braços.
—É muito considerado por sua parte, Everett, mas não sou uma
dissimulada, sério. Bom, pode que me sinta um pouco coibida —confessou—, mas
não vou deprimir me nem nada disso.
Os olhos castanhos do rancheiro escrutinaram seu rosto, e um sorriso
malicioso se desenhou em seus lábios.
—Como? Não é você uma dessas garotas liberadas, senhorita King? —
inquiriu zombador.
Jenny inclinou a cabeça.
—Não —admitiu com franqueza—; suponho que estou chapada à antiga.
—Me alegro, porque eu também.
impregnou-se o chapéu vaqueiro e saiu da casa pela porta traseira
assobiando, e deixando ao Jennifer perplexa. Nunca sabia muito bem como
tomar o que lhe dizia.
E mais confundida ainda se sentiu à medida que passavam os dias. de vez
em quando o pilhava olhando-a, mas não de uma maneira lasciva, mas sim mas
bem como se lhe parecesse um animalillo curioso, e inclusive de um modo
protetor. De fato, tinha a sensação de que não a via absolutamente como a uma
mulher, embora aquilo tampouco a surpreendia, porque cada vez que se olhava
ao espelho se dava conta do magra e apagada que estava ainda pela
enfermidade.
Eddie era o major dos dois ajudantes do Everett, e ao Jenny caiu bem do
primeiro momento. Tinha um queixo proeminente, as costeletas grisalhas, e a
cabeça meio calva, mas era um homem muito correto. parecia-se muito ao
Everett no sentido de que logo que sorria, trabalhava como dois homens, e
quase nunca estava quieto, mas ela conseguiu convencê-lo para que passasse a
tomar um copo de chá gelado por volta de finais de semana, quando lhe levou
uns ovos que tinha recolhido do galinheiro para ela.
—Obrigado, senhorita. A verdade é que me estava morrendo de sede
com este calor —lhe disse detrás apurar a bebida em um par de goles—. O
chefe me teve reparando o cerca, e não há coisa que deteste mais —resmungou
sacudindo a cabeça.
Jennifer reprimiu uma sonrisilla.
—Obrigado pelos ovos, Eddie —lhe disse—. Estava costurando os baixos
das cortinas e me tinha esquecido totalmente de ir recolhê-los.
—Não é nada —murmurou ele, encolhendo-se de ombros. ficou olhando-a
com o cenho ligeiramente franzido, como se não se atrevesse a lhe dizer algo—.
Sabe? —lançou-se ao fim—, não é a classe de mulher que tivesse imaginado que
o chefe contrataria para ocupar-se de sua casa.
Jenny arqueou as sobrancelhas e sorriu.
—E que classe de mulher esperava que contratasse?
Eddie se esclareceu garganta.
—Bom, sendo como é o chefe... suponho que uma mulher maior com mau
gênio —se removeu incômodo na cadeira da cozinha em que estava sentado—. É
que faz falta ter caráter para tratar com ele... sei bem porque levo fazendo-o
quase vinte anos —acrescentou renda-se.
—Tanto tempo leva a frente do rancho? —inquiriu ela surpreendida.
—Não, então tinha só quinze anos —replicou ele—. Queria dizer que o
conheço desde que tinha essa idade. Por aquela época comecei eu a trabalhar
aqui, mas era seu tio Ben quem levava o rancho. Foram ele e sua esposa quem se
ocupou de seu irmão e dele, sabe? Sua mãe partiu com um forasteiro quando
ele só tinha dez anos, e seu pai... bom, baste dizer que a bebida o levou a
tumba.
O horror que sentiu ante essas revelações se refletiu nos olhos do
Jennifer.
—Céus... então seu irmão devia ser só um bebê quando sua mãe os deixou
—balbuciou.
—Era-o. O velho Ben e a senhora Emma o recolheram, mas o chefe não
teve tanta sorte. Durante anos teve que ficar com seu pai. Esse maldito
bêbado não o deixava ir.
Jenny ficou calada, observando ao Eddie, e voltou a lhe servir chá.
—por que não gostam ao Everett as mulheres de cidade? —inquiriu.
—Esteve saindo um tempo com uma mulher de Houston, uma arrivista —
lhe respondeu o homem com aspereza—. Qualquer se teria dado conta de que
não encaixaria jamais aqui... qualquer menos Everett. Acabava de herdar o
rancho, e tinha grandes sonhos de fazer uma fortuna com o gado. A muito
iludida se acreditou seus ensoñaciones, mas só até que pôs um pé aqui —
explicou soltando uma risada amarga—. Aos cinco minutos estava lhe
devolvendo ao Everett seu anel de compromisso e lhe dizendo o que pensava de
seus planos. O chefe se embebedou aquela noite... e em sua vida tinha bebido
nada mais forte que uma cerveja. Essa foi a última vez que trouxe uma mulher
a esta casa..., até agora, claro.
Jennifer se jogou o cabelo para trás, sobressaltada.
—Bom, a verdade é que não acredito que ele me veja como a uma mulher
—disse, servindo-se um pouco de chá ela também.
—Pois não sei como a verá, mas imagino que se alegrará de havê-la
contratado —disse assinalando o chão brilhante, as cortinas lavadas,
costuradas e engomadas, e a comida que estava fazendo-se no fogo—. Para não
estar ainda em forma saca fora uma boa quantidade de trabalho.
Jenny sorriu.
—Obrigado.
—É a verdade —murmurou Eddie encolhendo-se de ombros—. Bom, será
melhor que volte para trabalho —disse ficando de pé—. Ao chefe não gosta que
andemos por aí perdendo o tempo, e Bib me está esperando para que lhe ajude
a transportar umas cabeças de gado.
—Obrigado outra vez pelos ovos.
Eddie fez um gesto de despedida e partiu.
Jenny ficou sentada, com as mãos em torno do copo de chá gelado e o
olhar perdido, pensando. O que lhe tinha contado Eddie explicava muitas coisas
do Everett Culhane. de repente sentiu que começava a compreender por que
era como era, e inclusive por que de vez em quando se mostrava áspero ou
silencioso. Não, não devia ter tido uma vida fácil.
Já tinha anoitecido quando Everett voltou para a casa, e assim que Jenny
ouviu chegar a caminhonete pôs a esquentar o pão de milho no forno. Embora
lhe havia dito que não tinha que esperá-lo para jantar, dava-lhe lástima lhe
deixar o jantar no frigorífico para que tivesse que esquentar-lhe e comer
sozinho depois de uma larga jornada de trabalho.
Momentos depois entrava Everett na cozinha. Parecia mais cansado que
de costume, estava tudo sujo, e necessitava um bom barbeado.
Jennifer, que havia se tornado para ele com uma espátula de madeira na
mão, assinalou a panela de chili que tinha no fogo.
—Olá —o saudou sorridente—. Gosta de um pouco de chili com pão de
milho?
—Tenho tanta fome que comeria inclusive uma de suas saladas —
respondeu ele.
—Pois se se sinta, servirei-te.
—Preciso me dar uma ducha antes —replicou ele, assinalando sua roupa.
Ainda levava postas as chaparreras, que estavam cobertas por uma capa de pó,
igual ao resto de sua roupa, os braços e a cara.
—Pode te lavar as mãos na pia. Aí em cima tem uma toalha e uma pastilha
de sabão. Como vai agora mesmo à ducha é capaz de ficar dormido debaixo
dela.
Everett arqueou uma sobrancelha.
—Imagina que tivesse que me tirar? —insistiu ele malicioso, tirando-as
chaparreras, e as deixando cair ao chão.
Jenny se voltou para a cozinha para remover um pouco o chili com a
espátula.
—Chamaria o Eddie ou ao Bib.
—E se não pudesse encontrá-los? —inquiriu ele enquanto se lavava as
mãos.
—Nesse caso, temo-me que te afogaria —respondeu ela com muita ironia.
—Jovencita descarada... —balbuciou ele divertido.
secou-se as mãos e se aproximou dela por detrás, agarrando-a de
repente pela cintura e inclinando-se sobre seu ombro para cheirar o chili.
Ao Jennifer lhe cortou a respiração e notou que o pulso lhe acelerava.
Estava quase pego a ela, e podia sentir a calidez de seu corpo e a força de suas
mãos. Invadiu-a um desejo de voltar-se e beijar seus lábios, mas se conteve. O
que teria pensado dela se o tivesse feito?
—O que lhe jogaste?
—Leva carne picada de vitela e de porco, frijoles, tomate e um punhado
de pimenta-malaguetas.
As mãos do Everett se contraíram em torno de sua cintura, fazendo-a
dar um coice.
—Um punhado de pimenta-malaguetas? Essa quantidade de picante
poderia lhe arrancar a ferrugem a minha caminhonete.
—Eu acredito que até derreteria os pneumáticos —disse ela lhe seguindo
a brincadeira para tratar de lhe ocultar seu nervosismo—, mas é que Bib me
disse que aqui no Texas vocês gostam do chili muito picante.
—É certo —assentiu ele, soltando-a e indo sentar se.
Jennifer quase suspirou de alívio, e o ritmo dos batimentos do coração
de seu coração foi acalmando-se pouco a pouco.
—Quer leite? —perguntou-lhe, pondo os dois pratos com chili na mesa, e
também o pão de milho.
—Não tem feito café?
—Sim, mas estava pensando que se por acaso o chili picava muito...
—Por quem me tomaste, por um brando? —espetou-lhe ele com um
sorriso altivo—. Sou texano, estou acostumado ao picante.
—OH, seguro que te crie muito homem por isso... —burlou-se ela—. Pois
saiba, senhor rancheiro, que na Georgia há quem come serpentes de cascavel
quando ainda estão movendo-se. E minha tia faz umas costelas picantes à
brasa, que fariam que seu chili parecesse doce em comparação.
—Não me diga? Bom, vamos ver como sabe isto... —murmurou Everett
tomando um pouco com o garfo e levando-lhe à boca. Quando se teve tragado
aquele bocado, olhou-a—. A isto o chama picante?
Jennifer franziu o cenho, tomou um pouco de seu chili para prová-lo, e
começou a tossir de tal maneira que lhe saltavam as lágrimas. Enquanto se
abanicaba a boca com a mão e fazia dramalhões com a outra, Everett soltou um
cômico suspiro, levantou-se, tirou o leite do frigorífico e lhe encheu o copo.
Enquanto Jenny o bebia se desesperada, ele se dirigiu a um dos
armaritos da cozinha, e retornou à mesa com uma garrafa de molho tabasco,
jogando grandes quantidades em seu chili.
—Assim está melhor —murmurou detrás sentar-se e voltar a prová-lo-a
próxima vez, Jenny, não estaria de mais que lhe jogasse outro punhado de
pimenta-malaguetas.
Jennifer emitiu um gemido entre surpreso e indignado.
—Bom, e o que estava me dizendo dessa tia tua que faz umas costelas
picantes à brasa que fazem que nosso chili pareça doce em comparação? —
inquiriu Everett zombador.
—Poderia me passar o pão de milho? —pediu-lhe Jenny picada,
ignorando-o.
—Não vais tomar te o resto do chili? —inquiriu ele, em um tom inocente.
—Comerei- isso logo —balbuciou ela.
Everett reprimiu um sorriso enquanto voltava a afundar o garfo no chili.

CAP 4
FAZIA anos que Jennifer não montava a cavalo, mas Everett tinha
insistido em levá-la a dar um passeio com ele depois do almoço, e quando se
empenhava em algo não servia de nada discutir com ele.
—Seguro que me caio —balbuciou observando com nervosismo o cavalo
branco que Everett tinha selado para ela—. Além disso, tenho muitas coisas que
fazer...
—Como o que? —espetou-lhe o rancheiro, olhando-a com os braços em
jarras—. lavaste e engomou cada cortina que há na casa. esfregaste os chãos e
até te puseste já ao dia com toda a papelada.
—O jantar —disse ela, sentindo-se vitoriosa por ter encontrado uma
desculpa—, ainda não preparei o jantar.
—Pois nos fazemos uns sanduíches e já está —o solucionou ele
rapidamente—. E agora, subida.
lhe lançando um olhar furioso, Jenny deixou que a ajudasse a
encarapitar-se na cadeira. Ainda se notava débil, mas seu cabelo estava
começando a recuperar um pouco de brilho e se sentia mais viva.
—Sempre foste tão dominante, ou é que te está treinando? —perguntou-
lhe com ironia.
—Em realidade é uma necessidade —respondeu ele renda-se—. Quando
está à frente de um rancho, tem que ser capaz de levar as rédeas, porque, se
não, acaba na ruína.
Os olhos castanhos do Everett se fixaram nos gastos jeans do Jenny.
—Não te viria mal comprar um pouco de roupa —lhe disse franzindo o
cenho ligeiramente.
—Antes tinha um armário cheio —respondeu ela com um suspiro—, mas
quando perdi meu anterior trabalho tive que aprender a me arrumar com
menos. Além disso, aqui tampouco tenho que ir feita um pincel, não? Ao menos
em meu contrato não diz nada disso.
—Não, mas ao menos poderia comprar uns jeans novos —replicou ele,
passando a mão brandamente pela coxa do Jennifer, onde o tecido estava mais
gasto.
Aquela inesperada carícia fez que ao Jenny lhe subisse o coração à
garganta.
—Pois os que leva você não estão muito melhor —lhe disse.
—A mim as calças não duram nada, mas é por meu trabalho —repôs ele.
Jenny sabia bem, porque quando lavava a roupa antes tinha que lhe
raspar aos jeans do Everett uma capa de quase um dedo de barro.
—Pois por isso, eu não tenho que reparar cercas, nem me ocupar do gado,
assim que estas calças me durarão ainda um tempo.
Everett franziu os lábios ante seu cabezonería. Sua mão seguia ainda
sobre a perna do Jenny.
—Bom, pode que não repare cercas, nem te ocupe do gado, mas
certamente ganha o salário. Se por acaso não me tivesse dado conta já de quão
bem fiz ao te contratar, Eddie e Bib me dizem isso ao menos duas vezes ao dia.
—São boa gente, os dois —murmurou Jenny, um pouco sobressaltada.
—O mesmo dizem eles de ti —respondeu Everett com um sorriso—.
Ilumina este lugar. Desde que chegou, parece outro.
Jennifer se sentiu adulada, mas em seu peito sentiu uma pequena
pontada de dor, porque sabia muito bem que seguia sem vê-la como a uma
mulher. Tratava-a como a uma menina, e aquilo a incomodava, sobre tudo porque
ela sim o via como um homem. De fato, seu sensual físico estava voltando-a
louca. pilhava-se a si mesmo um montão de vezes ao dia observando-o
embevecida, e o pior era o que lhe custava apartar a vista.
—Parece que te pôs o cabelo mais claro —lhe comentou Everett de
repente, apartando-se, e montando-se em seu cavalo.
Uma sensação de felicidade invadiu ao Jenny. Se se tinha dado conta,
talvez não o fora tão indiferente.
—É que agora está mais são —respondeu—. Aqui no campo me sinto muito
melhor —acrescentou suspirando, enquanto olhava em redor com olhos
sonhadores—. Isto é tão bonito... e tão tranqüilo... A gente de cidade não sabe
o que se perde.
Everett agitou brandamente as rédeas de seu cavalo para que começasse
a andar, e lhe fez um gesto com a cabeça ao Jenny para que o seguisse.
—Vamos, vou levar te a vega. Ali é onde estão as cabeças de gado que
comprei a semana passada.
—E confia nas ter aí?, não se alaga quando chove? —inquiriu ela
franzindo o cenho. Estava-lhe custando um pouco fazer-se ao ritmo do cavalo,
mas pouco a pouco ia sentindo-se mais segura.
—Sim, é claro que sim que sim —balbuciou ele com uma careta de
desagrado—, mas os pastos nessa zona são os melhores. Meu tio Ben perdeu
trinta cabeças quando eu era um menino. Foi algo grotesco, ver como a
enchente se levava às cabeças de gado. É incrível a força que tem a água
quando se desata.
—Lembrança que alguma vez tínhamos enchentes na Georgia, onde eu
vivia de menina.
—Duvido que fossem como as daqui —murmurou Everett—. Espera a ver
uma tormenta do Texas e saberá ao que me refiro.
—Cresci lendo os livros do Zane Grei —lhe informou ela molesta por que
a tivesse por uma ignorante—. Sei tudo sobre as tormentas secas, as
enchentes, e as correrias de búfalos.
—Zane Grei? —repetiu ele, olhando a de marco em marco—. Vá!, isso sim
que não me esperava isso...
—Já te disse que eu adorava Texas —disse ela com um sorriso. Fechou
os olhos e deixou que o cavalo a levasse—. Mmmm... o ar aqui cheira
maravilhosamente. Sabe, Rett?, se o engarrafasse e o vendesse, faria-te rico
da noite para o dia.
—Se quisesse, poderia me fazer rico vendendo os direitos de exploração
do petróleo que há no confine oeste de meu rancho —resmungou ele em um tom
áspero.
Jenny teve a impressão de que o tinha ofendido.
—Sinto-o —murmurou—. Hei dito algo que não devia, verdade?
Everett meneou a cabeça.
—Não é isso, é que Robert sempre estava me dando a lata explorando
esse petróleo.
—Mas alguma vez conseguiu te convencer —disse ela, esboçando um leve
sorriso—, não é assim?
Ele se encolheu de ombros.
—Expu-me isso em um par de ocasiões, quando as coisas se hão posto
difíceis, mas para mim seria uma traição a meus princípios. Quero fazer que
este lugar seja rentável com a cria de gado, não pelo petróleo. Não quero que
estas terras acabem sendo afeadas por uma plataforma petroleira, com
bombas para extrair o petróleo —lhe explicou—. Não muito longe daqui havia
antigamente povoados índios apaches; as tropas da Santa Ana cruzaram por
esta mesma propriedade de caminho ao Álamo; e durante a Guerra Civil os
confederados também passavam por aqui para dirigir-se ao México. Há tanta
história nestas terras, que me parece uma pena as danificar só para me
enriquecer da maneira mais fácil e rápida.
Jennifer tinha estado observando-o enquanto falava, e sem querer seus
olhos se viram atraídos pelos sensuais lábios.
—Compreendo-o —disse quedamente.
Everett girou o rosto para ela e sorriu.
—Como era o lugar onde cresceu você? —inquiriu curioso.
—Era um pequeno povo do sul da Georgia, Edison. Havia grandes
extensões de campo aberto e montões de pinheiros, e quase toda a região era
agrícola. Havia umas granjas enormes, embora a que tinha meu avô era mas bem
pequena. Cultivava algodão, mas agora plantam amendoins e soja.
—Quanto tempo esteve vivendo ali?
—Até os dez anos —respondeu Jenny—. A meu pai saiu um trabalho em
Atlanta, e nos mudamos ali. Vivíamos com mais comodidades, mas eu nunca
cheguei a senti-lo como meu lar.
—A que se dedicava seu pai?
—Era arquiteto —disse ela sonriendo—, e um arquiteto muito bom, além
disso. Seu pai...
—Não quero falar dele —a cortou Everett.
—Sinto-o —balbuciou Jennifer—, não pretendia te incomodar. Não tem
por que me falar dele se não querer. Eu só...
—Meu pai era um alcoólico, Jenny.
Ela já sabia, é obvio, mas não ia delatar ao Eddie.
—Deveu ser difícil, para seu irmão e para ti —murmurou.
—Robert teve mais sorte que eu. Criaram-no nosso tio Ben e nossa tia
Emma. Foi deles de quem herdo o rancho. Eram muito boas pessoas. O tio Ben
se passou toda sua vida lutando para manter a propriedade, e quando meu pai
morreu e eu me devi viver com eles, ensinou-me tudo o que sei sobre cavalos e
gado.
—Suponho que eu tive muita sorte com meus pais —murmurou Jenny—.
Se queriam o um ao outro, e a mim, e vivíamos desahogadamente. Quando era
uma menina não o apreciava, mas foi um duro golpe para mim quando os perdi —
acrescentou—. E sua mãe?
—Era uma mulher imatura, incapaz de assumir responsabilidades —
respondeu ele quedamente—. Um dia simplesmente nos abandonou. Deixou a
nosso pai e a nós por um assegurador de Boston. Robert não era mais que um
bebê. Saiu pela porta e não olhou atrás.
—Parece impossível imaginar a uma mulher insensível com seus próprios
filhos —comentou Jennifer—. tornaste ou seja algo dela? Vive ainda?
—Não sei, e não me importa —respondeu Everett com aspereza. Seus
olhos castanhos se encontraram com os dela, e Jenny se disse que jamais tinha
visto neles uma expressão tão doída e tão triste—. Não sinto muita simpatia
pelas mulheres.
E não era só pelo que lhes tinha feito sua mãe, disse-se Jennifer,
recordando o que Eddie lhe tinha contado a respeito daquela mulher de cidade
que o tinha rechaçado porque era pobre. Entretanto, compreendeu que não
seria uma boa idéia tratar de se aprofundar no tema.
—Entendo-o —se limitou a dizer.
—Esquece-o —respondeu ele—. Desfrutemos de do passeio.
Seguiram em silêncio um bom momento, com ele diante dela, e Jenny ia
comentar lhe algo sobre o paisagem para destensar o ambiente quando lhe
pareceu escutar um ruído estranho perto dela, como de um chocalho. Olhou em
redor, mas antes de que pudesse averiguar o que era, seu cavalo se encabritou
de repente e saiu rapidamente tendido pelo plano.
Jennifer atirou desesperadamente das rédeas, tentando fazer que se
detivera, mas o cavalo nem sequer diminuiu a velocidade.
—Sooo!, sooo! —gritava-lhe frenética—, para lhe!, para!
aferrou-se com todas suas forças às rédeas e às crinas do animal, e
fechou os olhos, rezando sem parar. de repente lhe pareceu que o cavalo
estava indo mais devagar, e acreditou que o céu tinha escutado suas preces,
mas ao abrir os olhos viu que o que ocorria era que estavam aproximando-se de
uma cerca. O animal se parou em seco a um escasso meio metro, mas ela saiu
disparada ao outro lado, caindo sobre as costas. O golpe lhe roubou
literalmente o fôlego por uns segundos, e ficou ali imóvel, com o olhar fixo no
céu azul.
Nesse momento escutou o ruído dos cascos de um cavalo aproximando-
se, como alguém desmontava, e imediatamente lhe chegou a voz inconfundível
do Everett, amaldiçoando entre dentes enquanto corria a saltar a cerca e
ajoelhar-se a seu lado.
—Está bem, Jenny? —perguntou-lhe atropeladamente. Estava pálido, mas
seus olhos flamejavam.
—S... sim. Não... foi... culpa minha —disse ela com voz débil.
—Sei —grunhiu ele—. foi minha culpa. Não vi essa serpente de cascavel.
Não estava atento, e para cúmulo não levava em cima meu revólver.
—Não te haverá... mordido? —perguntou-lhe ela, com o medo escrito em
seus olhos, abertos como pratos.
Everett riu brandamente e lhe acariciou a bochecha.
—Não, não me mordeu. É única, Jenny. Acaba de ter uma queda que teria
podido te matar, e está preocupando-se por mim —lhe disse—. Te dói em algum
sítio?
—Dói-me... tudo —respondeu ela—, e quase não posso... respirar.
—Não sente saudades. Esse condenado cavalo... Deveria fazer chili com
ele —murmurou Everett com um leve sorriso—. vamos assegurar nos de que não
te tenha quebrado nada.
Suas mãos tocaram com cuidado os braços e pernas do Jenny,
procurando alguma fratura.
—Como te nota as costas? —inquiriu sem deter sua exploração.
—Não me a... sinto.
—Hum... pois me temo que logo a sentirá —lhe assegurou ele franzindo os
lábios—. Crie que poderia tratar de te incorporar um pouco?
—Se me der a mão, tentarei-o —respondeu ela com voz rouca.
Everett a ajudou, e Jennifer se deu conta nesse momento de que com a
queda lhe tinham saltado um par de botões, e precisamente esse, de todos os
dias, não se tinha posto prendedor. levou-se as mãos ao peito, tampando-se
pudica.
—Não seja parva —a repreendeu ele—, é minha empregada. Eu nunca te
olharia dessa maneira, e menos em uma situação assim. Anda, ajudarei-te a te
pôr de pé.
Aquilo terminou de afundar o orgulho da pobre Jennifer. Nem sequer
médio em couros a via como a uma mulher. Sentiu desejos de voltar a tombar-
se e espernear na erva e gritar de pura frustração, mas permitiu que a
ajudasse a levantar-se. Cambaleando-se um pouco, voltou-se para o outro lado
da cerca, onde estava pastando apaciblemente o cavalo branco.
—Quando retornarmos —assegurou ao Everett com os olhos
entreabridos—, primeiro cavarei uma grande sarjeta perto do estábulo; logo,
encherei-a de serpentes... e depois jogarei nela a esse estúpido cavalo!
Ele riu.
—Como te encontra? —perguntou-lhe lhe apartando uma mecha do rosto.
—Bem, só estou um pouco tremente pelo susto —murmurou ela.
Everett a surpreendeu, tomando-a em braços, e caminhou com ela em
volandas, dirigindo-se a uma porta no cerca a uns metros de onde estavam.
Jenny se tinha ficado sem fala. Um de seus seios roçava o tórax masculino, e
embora tinham a roupa de por meio, uma quebra de onda de prazer a percorreu
por dentro ante a excitante sensação. De fato, teve que apertar os dentes
para reprimir o impulso de esfregar-se contra ele.
—Devo te pesar muito... —protestou sem muito entusiasmo.
—Pois a verdade é que não —replicou ele—; é ligeira como uma pluma.
—Suponho que a maioria das mulheres lhe parecerão —murmurou isso
ela, baixando a vista a sua camisa.
Tinha os primeiros botões desabotoados, e podia ver sua pele bronzeada
e o pêlo encaracolado que cobria seu peito. Cheirava a couro, a feno e a tabaco,
e Jennifer sentiu um terrível desejo de tomar seu rosto entre suas mãos e
beijar esses lábios que...
—Abre o fechamento da grade —lhe disse Everett, tirando-a
bruscamente de seus ensoñaciones.
Jenny alargou a mão, abriu o fechamento, e empurrou a porta. Everett
passou ao outro lado com ela ainda em braços, e Jennifer voltou a pôr o seguro
da porta. Quando teve acabado de fazê-lo, viu que ele estava olhando para
baixo, e ao baixar ela também a vista para ele se precaveu sobressaltada de
que ao estender o braço lhe tinha aberto a camisa por completo, deixando ao
descoberto um de seus brancos seios.
Aturdida, apressou-se a tampá-lo.
—Sinto-o —murmurou Everett—, não era minha intenção ficar olhando.
Não tem por que te envergonhar, Jenny.
Ela ocultou o rosto no oco de seu pescoço, e Everett ficou tenso antes
de atrai-la mais para si, apertando-a contra seu peito.
Ele não disse nada enquanto se dirigia para o lugar onde estavam os
cavalos, mas Jennifer podia escutar os fortes batimentos do coração de seu
coração e sua respiração entrecortada. Naqueles breves instantes Jennifer
experimentou deliciosas sensações que nunca antes tinha conhecido. adorava a
calidez que emanava de seu corpo, os calafrios que a percorriam ao esfregar-se
seu peito com o dele com cada passo que dava. Queria que aquilo não acabasse
jamais.
Mas acabou; tinham chegado junto aos cavalos. Everett a baixou,
fazendo-a deslizar-se de maneira que se esfregasse contra seu corpo até que
seus pés tocaram a terra, sentindo cada centímetro dele. Jennifer reprimiu um
gemido de prazer, mas não pôde conter o suspiro que escapou de seus lábios
quando a reteve, abraçando-a com delicadeza, com o vento soprando em torno
deles.
Ao cabo de um momento a soltou, e Jenny teria jurado que havia um
ligeiro tremor em suas mãos, mas se disse que devia havê-lo imaginado.
—Seguro que está bem? Crie que pode voltar a montar? —perguntou-lhe
Everett brandamente.
Ela assentiu com a cabeça, incapaz de articular palavra. Aquele abraço
tinha sido tão íntimo... tão íntimo como poderia havê-lo sido um beijo, e de
repente tinha causado um giro inesperado em sua relação.
—Será melhor que voltemos —disse Everett—. Tenho trabalho que
fazer.
—Eu também —murmurou ela, montando de novo o cavalo branco, com
certa apreensão—. Está bem, amiguito —lhe disse—: volta a me atirar, e farei
latas de comida para cães contigo.
O cavalo soprou e sacudiu a cabeça, fazendo-a rir.
—Viu, Rett?, acredito que me entendeu!
Mas ele não estava olhando-a. Já se tinha montado em seu cavalo, e
estava observando absorto o horizonte enquanto fumava um cigarro. Não disse
uma palavra durante o caminho de volta.
Quando chegaram à casa e se desembarcou do cavalo, e entregue as
rédeas ao Everett para que o levasse a estábulo com o seu, Jenny, querendo
romper o silêncio, tirou um tema ao que tinha estado lhe dando voltas toda a
manhã.
—Rett, poderia me deixar um bote de pintura branca?
Ele ficou olhando-a.
—O que?
—Um só, com um me bastaria. É que quero pintar a cozinha.
—Ouça, ouça, ouça... Contratei-te para que passasse a máquina meus
papéis, para que fizesse as tarefas da casa e para que guisasse —balbuciou
arqueando os olhos perigosamente—. Eu gosto de minha casa tal e como está.
—OH, vamos, Rett, só um...
—Não.
Jenny o olhou irritada, mas não o abrandou.
—Se quiser que gaste meu dinheiro —lhe disse Everett—, comprarei-te
outro par de jeans, mas não vou desperdiçar o em decoração —concluiu,
fazendo que a palavra soasse depreciativa.
—A decoração é uma arte —lhe espetou ela ofendida.
Estava a ponto de lhe dizer que se dedicou a isso durante anos, e que era
uma profissão muito digna, mas, antes de que pudesse seguir falando, interveio
ele.
—Não é mais que um engañabobos —lhe disse—. Embora tivesse o
dinheiro não deixaria a um desses idiotas soltos em minha casa, a um...
decorador —apostilou, quase cuspindo a palavra—. Imagine, pagar dinheiro por
que um desses estelionatários que se acreditam que têm melhor gosto que você
ponha sua casa feita um despropósito e te cobre uma fortuna! —inclinou a
cabeça para diante, e olhando-a aos olhos repetiu—: Não-há-pintura. Entendeu-
me, senhorita King?
—Teria sorte de que um decorador que se aprecie se atrevesse a
decorar sua casa —lhe espetou Jenny furiosa—. Com apenas entrar por essa
porta lhe daria algo ao ver a mescla de tapetes orientais com esses horrorosos
cinzeiros feitos de pele de serpente que parecem tirados de uma loja de
souvenirs!
Everett entreabriu os olhos.
—É minha casa, assim, se você não gostar de meus cinzeiros, fecha os
olhos e não os olhe! —quase rugiu—. Ou faz a mala e volta para Atlanta; e deixa
de me olhar por cima do ombro.
—Eu não estou te olhando por cima do ombro! —protestou ela irritada—.
Só quero um bote de pintura!
—Terá-o quando neve no inferno!
impregnou-se o chapéu e agitou as rédeas de seu cavalo, afastando-se
furioso, e deixando ao Jenny jogando pestes no alpendre da casa.

Capítulo 5

JENNIFER se passou o resto da tarde limpando freneticamente os


azulejos e as paredes da cozinha com água e sabão. Com que os decoradores
não eram mais que estelionatários, né? E não deixaria a um solto em sua casa,
não havia dito isso? Estava tão furiosa que acabou aquele trabalho titânico em
um tempo recorde. Por sorte as paredes estavam pintadas com pintura plástica,
assim conseguiu lhes arrancar a graxa e a sujeira sem levar-lhe
Quando teve terminado, deu um passo atrás, exausta e suarenta, para
admirar sua obra. As paredes e os azulejos pareciam novos. Tinha merecido a
pena o esforço. Estava desejando ver a cara do bruto do Everett Donald
Culhane. riu, imaginando surpreso o que ficaria se usasse seu nome completo.
Tinha sido Bib quem o havia dito, mas lhe tinha avisado que não o usasse,
porque ao Everett não gostava.
Chamá-lo Donald teria sido uma vingança muito fácil. Recordando que lhe
havia dito que detestava ambos os pratos, preparou ovos esquentados e
brócolis para jantar, e fez a propósito café aguado. E depois, com um sorriso
malévolo de satisfação, sentou-se a cortar maçãs para fazer um bolo.
Já estava obscurecendo quando Everett entrou pela porta traseira.
Estava tudo cheio de barro, parecia cansado e em sua mão levava um pequeno
buquê de flores silvestres algo murchas.
—Tenha —balbuciou incômodo, as jogando sobre a mesa da cozinha, junto
ao chá gelado que Jenny estava tomando-se enquanto cerzia uns meias três-
quartos—. E terá esse maldito bote de pintura.
Saiu da cozinha sem olhar atrás, e Jenny o ouviu subir as escadas
enquanto tomava com mãos trementes e lágrimas nos olhos o inesperado e
comovedor presente.
secou-se os olhos, pôs as flores em água, e se apressou a atirar pela pia
o café aguado e preparar outra cafeteira bem forte. A seguir guardou o
brócolis e os ovos esquentados na geladeira, e quando Everett retornou,
asseado e trocado, encontrou-a fritando lombos de vitela e batatas.
—Pensei que esta noite me poria fígado para jantar por como me levei
contigo.
Jennifer teve que girar-se para que não visse o rubor em suas
bochechas.
—Que bobagem —murmurou—. Isso teria sido uma criancice por minha
parte —tomou a cafeteira e serve uma taça para ele e outra para ela—.
Obrigado pelas flores —disse sem olhá-lo.
—De nada, mas não lhe tome como um triunfo —respondeu ele com certa
brutalidade—. Só porque tenha dado meu braço a torcer com o da pintura não
significa que a partir de agora vá deixar que me manipule.
Jenny franziu os lábios irritada.
—Eu não trato de te manipular —replicou, lhe pondo diante um prato com
um formoso lombo e abundantes batatas fritas, douradas e rangentes.
Everett elevou a vista para olhá-la, e de repente entreabriu os olhos.
—compraste esse cubo de pintura por sua conta? —inquiriu em um tom
ligeiramente ameaçador, assinalando a parede.
—Não —respondeu ela sucintamente—, esfreguei os azulejos e as
paredes.
O rancheiro piscou perplexo.
—Que os esfregaste?! —repetiu franzindo o cenho—. Com este calor?
Um sorriso de revanche se desenhou nos lábios dela.
—Verdade que ficaram bem? Como vê já, não necessito a pintura, mas
obrigado de todos os modos.
Everett emitiu um grunhido e balbuciou algo entre dentes.
—E se pode saber a que vinha tanto empenho por pintar estas paredes?
—perguntou-lhe—. A casa tem já muitos anos, e precisaria me gastar milhares
de dólares que não tenho em arrumá-la. Além disso, agora que limpaste estas,
as paredes do resto da casa se verão muito pior em comparação. Antes ao
menos estavam todas do mesmo tom.
Jennifer enrugou o nariz.
—OH, sim, do tom «branco sujo» —murmurou com sarcasmo, tomando um
sorvo de café—. Não sei, suponho que não me acostumo a ver isto descuidado, e
não fazer nada por arrumá-lo um pouco. Se me deixasse, eu poderia...
Nesse momento se deu conta de que ele não estava escutando-a. Parecia
preocupado. Tinha o olhar perdido, com os olhos fixos na janela, e fora só se
via a escuridão da noite.
—Everett, ocorre-te algo? —inquiriu brandamente.
O som de seu nome o devolveu à realidade. Deixou escapar um suspiro,
tirou-se um sobre dobrado do bolso da calça e o pôs sobre a mesa.
—Isto é o que passa —lhe respondeu—. O encontrei na mesita do
vestíbulo entre o correio de hoje quando subi a me trocar.
Jennifer franziu o cenho.
—O que é?
—Um aviso do vencimento do primeiro prazo do empréstimo que me
deram no banco para comprar aquele touro —respondeu soltando uma risada
amarga—. E não tenho com o que pagá-lo. Como me danificou o trator faz um
par de semanas, com os custos da reparação me gastei o dinheiro que estava
economizando. E, ao ter tido que atrasar a semeia, demorarei mais em colher, e
sem forragem não poderei alimentar às cabeças de gado, assim que o único
remédio que fica é vender o touro. É irônico, não? Pedir um empréstimo para
comprá-lo e agora ter que vendê-lo para poder devolver o empréstimo...
Ao Jennifer lhe encolheu o coração para ouvi-lo. Enquanto tinha sérios
problemas econômicos, ela se tinha zangado com ele porque não queria lhe dar
um estúpido bote de pintura. sentia-se horrível.
—Deveria me dar a mim mesma de tabefes —murmurou—. Sinto me
haver zangado pelo da pintura, Rett.
Ele riu brandamente, mas não era uma risada alegre.
—Não seja tola, não podia sabê-lo. Mas, sim, por desgraça assim é como
estão as coisas. Bom, já te disse que minha situação não é precisamente
flutuante.
—Quanto necessita... se posso perguntá-lo? —inquiriu em tom fico.
Everett suspirou.
—Seiscentos dólares —respondeu meneando a cabeça.
—Bom, eu tenho o salário da semana passada íntegro —lhe ofereceu ela
—. Isso poderia te ajudar um pouco, e se não me pagasse ainda o desta...
Everett a olhou aos olhos e sorriu.
—É maravilhosa, Jenny, mas não posso aceitá-lo.
—Mas é que quero te ajudar —insistiu ela.
—Sei, e o aprecio, mas é melhor que guarde esse dinheiro e o gaste no
que você necessite. Além disso, embora me desse seu salário de duas semanas
não me daria para pagar nem a metade do prazo. Arrumarei-me isso, você
tranqüila. Obrigado pelo jantar.
levantou-se da mesa e saiu da cozinha. Jennifer o seguiu preocupada com
o olhar até que desapareceu pelo corredor. Bom, depois de tudo possivelmente
sim pudesse lhe ajudar. Seguro que em Houston, a cidade mais próxima, haveria
várias empresas de decoração. Podia ir a algumas delas, e lhes oferecer seus
serviços. Com sorte, possivelmente houvesse algum pequeno encargo que
pudesse fazer, e com isso ganharia mais que suficiente para que Everett não
tivesse que vender seu prezado touro.
Quis a sorte que à manhã seguinte, Eddie lhe mencionasse que sua
esposa Libby ia Houston para comprar um vestido de festa para sua filha, de
modo que, quando Everett teve saído da casa, Jennifer lhe pediu que a levasse
com ela.
Libby era uma mulher loira e vivaz com um grande senso de humor, assim
Jenny conectou imediatamente com ela, e a viagem em carro lhe fez muito
agradável.
Enquanto a esposa do Eddie visitava as lojas de roupas do centro,
Jennifer tirou a lista de empresas que tinha tirado das páginas amarelas antes
de sair, e escolheu dois que estavam perto de onde se encontrava.
Na primeira teve que esperar quase quinze minutos para poder falar com
o diretor. O homem a escutou educadamente mas com pouca paciência enquanto
lhe detalhava sua experiência trabalhista. Quando acabou de falar, disse-lhe
que tinha um curriculum impressionante, e que lhe agradecia que se passou por
ali, mas que tinham coberta a palmilha. «Podia ter começado por aí em vez de
me deixar falar e falar e me fazer perder o tempo», disse-se Jenny com
chateio.
Desanimada, saiu do edifício e tomou o ônibus para dirigir-se ao lugar
onde estava a outra agência de decoração. E, como está acostumado a ocorrer
com as coisas nas que menos fé temos, saiu-lhe bem. Em realidade não se
tratava de uma agência como tal, mas sim de uma desenhista que se
estabeleceu como empresa. De nomeie Sally Ward, era uma moça, baixa, moréia
e muito amável.
—Vem-me como queda do céu —lhe disse com um amplo sorriso detrás
escutá-la atentamente—. Justo agora tenho um encargo que não quereria
deixar passar, mas tenho tal volume de trabalho que não posso atendê-lo.
—Quer dizer que poderia me dar trabalho? —exclamou Jenny
entusiasmada.
—Bom, só seria este encargo, mas possivelmente se eu gostar como
trabalha...
—OH, não —se apressou a replicar Jennifer—, não me importa que seja
só algo temporal. De fato é precisamente o que necessito, porque já tenho um
trabalho e quero seguir com ele, mas necessito uns ganhos extra para algo
pontual.
—Bom, então perfeito —lhe disse a mulher—. Este encargo só te levará
uns dias, porque é uma habitação nada mais. Darei-te a direção e assim poderá
ir e falar você mesma com a clienta. Onde te aloja?
—Ao norte de Vitória —respondeu Jennifer—. No Big Spur.
—Ah, pois então te virá ainda melhor, porque o encargo é precisamente
em Vitória. Conduz ou tem algum meio de transporte para chegar ali?
Jennifer pensou no Libby.
—Bom, tenho a alguém que poderia me levar e me trazer. Qual seria
minha comissão pelo encargo?
Quando a senhorita Ward o disse, Jennifer quase saltou de alegria.
Seria suficiente para ajudar ao Everett.
—A clienta, a senhora Whitehall, é uma dessas mulheres enriquecidas às
que nada lhe parece caro se o trabalho for de qualidade —lhe explicou.
Dado que necessitaria a alguém que a levasse até Vitória e de retorno ao
Big Spur, Jenny confiou seus planos ao Libby, e à mulher, que adorava os
segredos, mostrou-se entusiasmada de poder ajudá-la, principalmente quando
era para uma boa causa. ofereceu-se inclusive a ajudá-la com as tarefas da
casa durante esses dias, para que Everett não se desse conta de nada.
E, assim, logo Jenny esteve colocada totalmente no encargo da senhora
Whitehall. Esta resultou ser uma viúva riquíssima, que vivia em uma pequena
mansão chamada Casa Verde. Estava a ponto de ser avó, e queria transformar
uma das habitações de convidados em um quarto para meninos, para quando seu
filho e sua nora fossem visitar a.
—Meu filho Jason e sua mulher Amanda são pais primerizos, sabe? —
explicou-lhe o dia que Jenny lhe ensinou os desenhos que tinha desenhado para
a habitação—. Ele quer que seja menino, e ela menina, mas por quão grande está
Amanda, tenho uma intuição de que serão gêmeos —lhe disse renda-se.
—Já vejo —respondeu Jennifer com um sorriso amável—. O que lhe
parecem os desenhos?
—OH, maravilhosos, simplesmente ma-ra-vi-llo-sos. A senhorita Ward
não mentia quando me disse que era você todo um achado; é justo o que queria
—disse a mulher assentindo satisfeita com a cabeça enquanto olhava os
desenhos—. Pode começar hoje mesmo, querida. Procure os materiais, os
móveis... e não repare em gastos. Quero o melhor.
Desta maneira, durante o resto da semana, Jennifer se passou as
manhãs no rancho, e as tardes em Casa Verde, dirigindo o trabalho dos
escayolistas, pintores, empapeladores, moquetistas, eletricistas e carpinteiros,
e, surpreendentemente, Everett nunca a pilhou. na sexta-feira tinha
terminado.
—Não tenho palavras para lhe dizer quão satisfeita estou com seu
trabalho, querida —a elogiou a senhora Whitehall quando entraram na
habitação redecorada—. Verdadeiramente me impressionou.
—Obrigado. desfrutei de muito lhe fazendo-o confessou Jenny—. Me
alegra que goste de como ficou.
—me gostar de? Querida, estou me expondo lhe pedir que me...
Mas Jennifer não se inteirou do que queria lhe pedir, porque justo nesse
momento soou o telefone e a senhora Whitehall saiu ao corredor a respondê-lo,
e ela ficou admirando sua obra com um sorriso satisfeito.
—Diga? —ouviu-a responder—. Sim, Jason, sou eu. Como? Já o teve?!
OH, céu santo! —Jenny a escutou rir, e nesse momento a mulher apareceu a
cabeça pela porta da habitação com o auricular abafado com a mão—. É um
menino! —vaiou ao Jennifer com olhos brilhantes. Apartou a mão—. E como o
ides chamar? ... Ah, sim, eu gosto muitíssimo: Joshua Brand Whitehall; sonha
muito bem. E como está Amanda, filho? ... Estupendo, isso é o mais importante.
OH, é maravilhoso. Estarei ali em trinta minutos, carinho. Sim, agora nos
vemos. Quero-te. Dá um beijo a Amanda. Adeus.
Pendurou e voltou para a habitação.
—Não é uma notícia maravilhosa? —disse sonriendo ao Jenny.
—Sim que o é, felicidades —respondeu ela, abraçando à mulher.
—Céu santo, meu primeiro neto... E parece que foi ontem quando lhe
trocava eu os fraldas a meu Jason... —murmurou a senhora Whitehall, que de
pura felicidade parecia estar totalmente deslocada—. Bom, devo me apressar.
Quer que de caminho te deixe em algum sítio, querida?
—OH, não, tem você pressa e não quero entretê-la —replicou Jenny.
—Bobagens. Vamos, levo-te, não há mais que falar.
Jenny não pôde recusar, e subiu inquieta ao carro da senhora Whitehall,
perguntando-se como o explicaria ao Everett se a via chegar em sua Mercedes
e com chofer.
Milagrosamente, entretanto, Everett não estava à vista quando o veículo
se deteve frente à casa, e detrás dar as graças à senhora Whitehall, Jenny
correu dentro. Por fortuna parecia que Everett ainda estava no campo,
trabalhando. Suspirou aliviada fechando a porta detrás de si.
depois de lavá-las mãos e refrescar-se um pouco a cara, saiu a recolher
as cartas da rolha, e se levou a grata surpresa de que lhe tinha chegado de
Houston, um sobre com o logotipo da agência da Sally Ward. Ao abri-lo
encontrou um cheque pela quantidade que tinham acordado, e uma carta de
agradecimento pelo trabalho realizado, e o oferecimento de novas
colaborações no futuro se estava disposta. Um amplo sorriso se desenhou nos
lábios do Jennifer. Com aquele dinheiro, Everett já não teria que vender o
touro. Endossou o cheque e, ainda sonriendo, foi preparar o jantar.

Capítulo 6

COMO de costume, Everett retornou quando já tinha anoitecido, mas


não entrou na casa. Para ouvir chegar a caminhonete e seus passos ao subir os
degraus do alpendre, mas não abri-la porta, Jennifer, que tinha preparado um
jantar ligeiro com uns filetes da Sajonia defumados, salada de batata, e uma
salada de frutas de frutas para que não houvesse nada que reaquecer, saiu
fora para buscá-lo.
Encontrou-o apoiado no corrimão, muito sério, com o olhar perdido nas
estrelas e um cigarro na mão. Jennifer se aproximou dele em silêncio. Tinha
decidido que o primeiro que faria à manhã seguinte seria ir cobrar o cheque
para lhe dar o dinheiro, mas nesse momento se perguntou se não seria melhor
descobrir já a surpresa para animá-lo um pouco. Parecia tão deprimido...
—Rett —o chamou brandamente. Deu um passo adiante, e a suave brisa
do anoitecer fez ondear o desço de seu vestido camiseiro de algodão azul
estampado.
Ele girou o rosto só um instante para ela para olhá-la.
—Não estará me esperando outra vez para jantar?
—Não, preparei uma comida fria —respondeu, aproximando-se e
colocando-se a seu lado. Permaneceram um momento sem dizer nada, até que
ela se decidiu a falar—. Rett... supón que te ofereço um dinheiro que tenho
economizado.
—Já o falamos, Jenny. Não posso me endividar mais, por muito que
queira esse touro. Devolverei o empréstimo e me esquecerei de meus sonhos de
grandeza. Agradeço-lhe isso, de verdade, mas não posso aceitar seu dinheiro.
—Não te há dito ninguém que o orgulho não te leva a nenhum sítio? —
disse-lhe ela exasperada.
Everett se voltou para ela e a olhou aos olhos.
—Olhe quem vai falar de orgulho... —balbuciou—. Necessita que te
recorde que o dia que chegou pretendia voltar para Vitória a pé porque não
queria que te levasse em minha caminhonete? —disse esboçando um leve
sorriso. Mas imediatamente ficou sério outra vez. Deu uma última imersão ao
cigarro, e o jogou no chão do alpendre para apagá-lo com a ponta da bota—. Um
de meus vizinhos me tem feito uma oferta para comprar o touro. vai vir amanhã
pela tarde para que o falemos.
Bom, disse-se Jenny, isso lhe daria tempo para cobrar o cheque antes de
que Everett tomasse uma decisão.
—E esse vestido? —perguntou-lhe de repente ele, olhando-a suspicaz—.
Não estará tentando que me fixe em ti, verdade?
—Quem, eu? —inquiriu ela renda-se—. Como me disse o outro dia, sei que
você jamais me olharia dessa maneira.
—Ah, sim... «o outro dia»... O outro dia me deu a impressão de que não te
incomodou muito que te visse com a camisa aberta... e sem sustento.
Jennifer sentiu que se ruborizava até a raiz do cabelo.
—Será melhor que vá pôr a... OH!
Everett a tinha agarrado pela cintura antes de que pudesse dar um
passo, atraindo-a para si.
—Tranqüila —lhe disse com voz rouca—. Não tenho intenção de te
seduzir. Sou muito consciente de que é virgem.
Ao Jennifer lhe tinha talhado o fôlego e se notou os joelhos trementes
quando viu que os olhos do Everett se entrecerraban, olhando a de uma maneira
que nunca a tinha cuidadoso. Tinha sonhado mil vezes com aquele momento, mas
agora que ia ocorrer tinha medo.
ficou quieta, com as mãos apoiadas no peitilho de sua camisa, tratando
de acalmar-se; coisa que resultava bastante difícil quando lhe faltava o fôlego
e o coração parecia querer sair-se o do peito.
Everett, em troca, respirava espaciadamente, mas com tanta força que
Jenny podia ouvir cada inspiração. Apartando uma mão de sua cintura, tirou-a
do queixo com o polegar e o índice para que o olhasse.
—Deixou que te olhasse —recordou em um sussurro—, e todas estas
noites me tornei louco recordando-o, e não posso deixar de me perguntar
quantos homens mais terão visto o que eu vi.
—Nenhum outro —ofegou Jennifer, embriagada pela intensidade de seus
olhos negros. Poderia sentir seu fôlego, com um aroma de tabaco, e o calor de
seu corpo, tão próximo ao seu—. Só... só você.
O tórax do Everett se inchou.
—Só eu?
—De adolescente era muito tímida, e quando meus pais morreram
encerrei no trabalho —balbuciou ela—. Além disso, não me sentia preparada
para uma relação, assim...
Enquanto falava, Everett a tirou das mãos e fez que as deslizasse pelo
frontal de sua camisa. Jennifer conteve o fôlego, extasiada pela estranha
sensação dos fortes músculos do tórax do rancheiro sob seus dedos, e notou
que a respiração dele se voltava entrecortada.
Uma das mãos do Everett subiu até sua boca, e começou a lhe acariciar o
lábio inferior com o polegar de um modo delicioso, até que Jennifer fechou os
olhos e ficou muito quieta, lhe deixando fazer. de repente, seus lábios
ocuparam o lugar de seus dedos em uma pressão suave mas firme.
A mão que tinha abandonado sua boca desabotoou a provas os três
primeiros botões do vestido do Jenny, para logo posar-se na garganta,
descender para a clavícula, depois até o ombro por debaixo do tecido... Seus
lábios aumentaram a pressão justo quando abriu a mão sobre a suave turgidez
de um dos pequenos seios, e com a outra em sua cintura a arqueou para ele.
Um gemido afogado escapou da garganta do Jennifer, e instintivamente
lhe agarrou a boneca da mão sobre seu peito, mas Everett separou seus lábios
dos dela, olhou-a aos olhos, e sacudiu lentamente a cabeça.
—Não vou fazer te nenhum dano —lhe sussurrou, acariciando com os
dedos o encaixe do sustento—. Te prometo que te tocarei com tanta
delicadeza como se fosse um vaso chinês, e que desfrutará com o que vou fazer
te. Fecha os olhos, carinho.
Voltou a tomar os trementes lábios do Jenny, esta vez com ternura de
uma vez que com paixão, e se formou um silêncio impregnado de desejo mútuo.
As mãos do Jennifer se aferraram ao frontal de sua camisa, e tratou de
apartar-se, porque aquelas sensações novas para ela a estavam assustando, mas
os dedos do Everett se deslizaram lentamente por debaixo do sustento, e
ofegou extasiada ao sentir como tocavam sua pele nua.
—Rett...! —gemeu lhe cravando as unhas no peito. notava-se ardendo por
dentro, e queria que seguisse acariciando-a e beijando-a, mas a sobressaltava a
maneira descarada em que lhe respondia seu corpo.
—Shhh... está bem, não te envergonhe, Jen —murmurou Everett—; não
tem nada de mau que exteriorize sua excitação. É tão doce..., como um centavo
reluzente, novo, sem as marcas de outros dedos que as minhas —a beijou nas
pálpebras, na frente, e seus dedos atiraram brandamente do tirante mamilo,
fazendo-a estremecer—. Sim, você gosta, não é verdade? —sussurrou-lhe,
roçando seus lábios com os dela—. Jenny, coloca suas mãos dentro de minha
camisa.
Havia um tom doce em sua voz, e ela o obedeceu sem pigarrear, ansiando
tocá-lo e senti-lo. Desabotoou um par de botões, e deslizou seus brancas e
finas mãos por debaixo do tecido. Seus dedos acariciaram quentes e tensos
músculos, e se enredaram no cabelo encaracolado que os recubría.
Era a primeira vez que Jenny fazia aquilo, mas de algum modo era como
se soubesse instintivamente o que gostava. Seus lábios o beijaram em certo
ponto ao azar, timidamente, e Everett ofegou. Cheirava a colônia e a tabaco, e
gostava de como se contraíam seus músculos quando os tocava.
Everett tomou o rosto entre as mãos, e fez que subisse a cabeça para
beijá-la de novo. Fez-o com tal ferocidade que se o tivesse feito desse modo
minutos antes a teria assustado, mas Jennifer estava tão abandonada às
maravilhosas sensações que estava experimentando, que lhe rodeou o pescoço
com os braços lhe respondendo, e abrindo a boca para incitá-lo a uma
intimidade ainda maior. Everett aceitou o convite, e ela se estremeceu quando
notou que sua língua invadia a escura e úmida calidez de sua boca.
Quando finalmente Everett a soltou, ele também estava tremendo. Seus
olhos despediam brilhos de frustração pelo desejo insatisfeito, e as mãos que
ainda emolduravam seu rosto estavam ardendo, e a agarravam com tal força
que parecia que temesse que se fora a desvanecer.
—Temos que parar isto —ofegou—, agora.
Jennifer assentiu com a cabeça, lutando ainda por recuperar o fôlego.
Everett apartou as mãos de seu rosto, e se afastou para a porta da casa,
acendendo outro cigarro, não sem certa estupidez.
Jenny se notava a cabeça enjoada, como se tivesse estado bebendo
champanha. Estava aturdida pela força das sensações que a tinham alagado, e
pelo que lhe tinha deixado fazer. Seguiu-o dentro, sentindo-se tímida de
repente sob a luz do abajur do teto do vestíbulo, e incapaz de olhá-lo aos olhos.
—Irei... a pôr a mesa —murmurou.
Everett nem sequer respondeu. Seguiu-a à cozinha, e se sentou,
observando-a com olhar turvo enquanto ia daqui para lá tirando os pratos, os
copos, os talheres... Quando Jenny pôs a jarra de água sobre a toalha, ele se
deu conta de que lhe tremia a mão, e fechou seus dedos sobre os dela, olhando-
a muito sério.
—Não quero que lhe cohíbas comigo, Jennifer —lhe disse quedamente—.
Sei que nunca antes tinha deixado que um homem te tocasse e te beijasse
como eu o tenho feito, e me sinto muito honrado de que me tenha permitido
isso.
Jenny ficou vermelha como uma papoula. Aquilo era quão último tinha
esperado que lhe dissesse.
—depois de jantar —prosseguiu Everett, lhe apertando a mão
brandamente, e sem deixar de olhá-la aos olhos—, vou levar te a salão, a te
tender no sofá e a te fazer o amor. E, quando acabar, estremecerá-te ante a
só idéia de que qualquer outro homem possa te tocar.
Os lábios do Jenny se entreabriram, e seus olhos verdes refletiram as
chamas do fogo que ardia nos dele, mas a voz da razão tratou de impor-se em
sua cabeça.
—Mas Rett... —balbuciou com a boca seca e apartando o rosto—. Eu não
posso... já sabe...
—Não chegaremos tão longe —lhe sussurrou Everett com voz rouca, lhe
acariciando a mão—. De fato, não sei você, mas por mim a comida pode
esperar...
O coração do Jennifer estava pulsando como um louco. Olhou ao
rancheiro, e aquilo a sentenciou, porque de repente sentiu que seria incapaz de
lhe negar nada.
—Por mim também... —murmurou—. me Faça o amor, Rett, me faça o
amor... —suplicou-lhe estendendo os braços para ele.
Everett a levantou da cadeira e começou a beijá-la afanosamente.
Quando não teve mais remedeio que separar seus lábios dos dela para tomar
ar, um intenso gemido de prazer abandonou sua garganta.
—Deus... necessito-te tanto... —ofegou.
E, voltando a beijá-la de novo, elevou-a em seus braços e a levou a salão,
depositando-a com delicadeza no gasto sofá.
—Desejo-te tanto que sinto como se fora a explorar —murmurou.
sentou-se a seu lado e se desfez da camisa. Continuando, inclinou-se para
ir desabotoando, um a um, os botões da parte de acima do vestido, e a fez
incorporar um instante para lhe tirar as mangas e lhe tirar o sustento. Depois,
voltou a tombá-la, e ficou admirando extasiado os perfeitos montículos que
tinha deixado ao descoberto.
Estendeu a mão e acariciou um deles, dedicando especial atenção à
cúpula, até que Jennifer gemeu. Um sorriso lobuna se desenhou lentamente nos
finos lábios do rancheiro, e repetiu aquela carícia uma vez mais. Ela se arqueou
para ele, e os olhos do Everett refulgiram.
—Jenny...! —ofegou.
Depois, inclinou a cabeça para tomar em sua boca uma daquelas rosadas
circunferências. Jennifer não tinha esperado aquilo, e proferiu um profundo e
comprido gemido ao sentir como seu seio era envolto pela cálida umidade da
boca masculina. Afundou os dedos em seu cabelo escuro, e atraiu sua cabeça
para seu peito, choramingando como se a estivessem torturando.
Everett se incorporou e a olhou aos olhos.
—Não, Jenny, assim não, é sua primeira vez, carinho; por isso o faço com
suavidade.
—Mas, Rett... —protestou ela, lhe suplicando com os olhos.
—Sei, sei o que quer. Espera, será melhor assim... —sussurrou-lhe,
voltando a inclinar-se sobre ela.
Mas essa vez tomou seus lábios, e foram suas mãos as que engoliram
seus seios, acariciando-os, massageando-os, e Jenny se deixou fazer tremente,
aferrando-se a seus fortes braços, e sentindo-se como se uma febre estivesse
apoderando-se dela. Necessitava algo mais que aquilo, precisava estar mais
perto dele, em um contato mais íntimo...
Posou as mãos no largo tórax do Rett, e começou a deslizar as Palmas por
ele.
—Espera, carinho, fica aquieta agora —lhe sussurrou Everett, fazendo-a
recostar-se nas almofadas—. vou ensinar te... como se beijam dois corpos...
Jennifer conteve o fôlego, observando como Everett se tendia em cima
dela, sentindo sua masculinidade, seu calor, as cócegas que lhe produzia o pêlo
desse musculoso tórax contra seus brandos seios, seu peso..., e se olhou em
seus olhos famintos.
—OH, Rett... —suspirou maravilhada.
—Meu doce Jenny —murmurou ele, tomando o rosto entre as mãos—.
Deus, é maravilhoso —disse esfregando-se acima e abaixo—, parece de veludo...
Peso-te muito?
—Não... eu gosto de —repôs ela quedamente, passando as mãos por
detrás dele para lhe acariciar as costas.
Ele começou a beijá-la com doçura, e baixou as mãos até seus quadris.
Separou seus lábios dela, olhou-a aos olhos, e justo nesse momento contraiu os
dedos e atraiu seus quadris para as suas, para que pudesse sentir sua
excitação. Aquele contato era tão íntimo, que Jenny fechou os olhos e deixou
escapar um gemido, jogando a cabeça para trás com as bochechas tintas de
rubor.
Everett se estremeceu, e Jennifer afundou o rosto no oco de seu
pescoço, abandonando-se a aquele agradar enloquecedor.
—Jenny... —ofegou ele, atraindo-a mais para si, até que lhe doeram as
mãos pela tensão—. OH, Jenny, Jenny... se não fosse virgem te faria minha
agora mesmo... aqui, agora, faria-te minha em todos os sentidos...
Ela logo que podia ouvi-lo, tremendo como estava, como uma folha
pendendo de um ramo em meio de um vendaval. E então, de repente, Everett se
levantou de em cima dela, tombou-se a seu lado, e a abraçou de uma maneira
extrañamente protetora. Deslizou as mãos uma e outra vez por suas costas,
como se queria aplacar o desejo que tinha despertado nela, e cobriu todo seu
rosto de pequenos beijos.
—Nunca acreditei... o que estava acostumado a dizer minha mãe da
paixão... —sussurrou-lhe Jenny ao ouvido, tremendo ainda—. OH, Rett, é tão
delicioso... É algo explosivo, e de uma vez doce, e também perigoso.
—Não tinha sentido desejo até agora por um homem? —inquiriu ele com
voz rouca.
—Não.
—Confessarei-te algo, Jenny: eu até agora não tinha desejado a nenhuma
mulher desta maneira. Em minha vida —lhe assegurou lhe mordiscando o lóbulo
da orelha—. E quero que saiba que se alguma vez, embora fora acidentalmente,
chegasse a tomar, jamais quereria esquecê-lo. Possuiria-te com tanta doçura,
tão brandamente, que nem sequer conheceria a dor que experimentam as
vírgenes a primeira vez.
Jenny sorriu, e seus braços o abraçaram com mais força.
—Estou segura —murmurou—. De fato, poderia haver tomado, faz um
momento, a pesar incluso de meus firmes princípios —acrescentou um pouco
zangada consigo mesma por essa debilidade—. Não tinha nem idéia de que o
desejo pudesse fazer mandar a passeio o sentido comum com tanta facilidade.
—É muito apaixonada —murmurou ele levantando a cabeça e olhando-a
aos olhos—. Nunca o tivesse imaginado.
—Bom, você tampouco me parecia isso —lhe confessou ela renda-se
brandamente. Seus olhos escrutinaram o rosto masculino—. OH, Rett,
desejava-te tanto que sentei medo.
Ele inspirou profundamente.
—Pois será melhor que nos levantemos e nos vistamos, porque eu também
te desejo, e não estou seguro de quanto podem me durar as boas intenções que
me têm feito parar faz um momento.
Quando Jenny se estava acabando de grampear o vestido, ele se
aproximou dela e lhe acariciou brandamente o contorno dos lábios, inchados
por seus beijos.
—Nota-lhe isso doloridos? —perguntou-lhe.
Ela meneou a cabeça.
—Não, noto-me isso deliciosamente sensíveis. Sabe muito a respeito de
beijar para ser um rancheiro —lhe disse com um olhar picasse.
Everett riu.
—E você aprende muito rápido para ser virgem —respondeu.
—Tenho um bom professor —disse ela deslizando a mão por entre os
botões de sua camisa e lhe acariciando o peito—. O vê?
Everett tirou a pequena mão do Jenny de sua camisa com um sorriso.
—Sim, já o vejo —murmurou—. vou ter que vigiá-la, senhorita, ou acabará
você me forçando em uma noite escura.
—Não tem por que lhe preocupar-se disse Jennifer em um sussurro,
beijando-o na bochecha—. Não te deixarei incomodado —acrescentou com uma
piscada, e um sorriso malicioso.
Everett se pôs-se a rir.
—Anda, vamos à cozinha antes de que percamos a cabeça —lhe disse
tomando a da mão e arrastando-a detrás de si.
—Desmancha-prazeres —protestou ela com uma careta de chateio—.
Justo quando as coisas começavam a ficar interessantes...
—Sim, um minuto mais e se teriam posto «realmente» interessantes.
Deus, não havia meio doido a uma garota virgem desde... bom, desde que eu
mesmo era virgem. É curioso como hoje em dia a gente despreza a virgindade.
Antes os meninos de boa família não queriam que lhes visse com garotas que
tivessem reputação de fáceis, e agora em troca é com as vírgenes com quem se
mete, as chamando dissimuladas —tinham entrado na cozinha, e se voltou,
olhando-a muito sério aos olhos—. Encantou ver essas reações inocentes em
seu rosto: como te ruborizava, como me olhava com os olhos muito abertos... A
inocência é algo precioso. Ao diabo com a amoralidade moderna, Jenny, alegra-
me que seja tão antiquada como eu.
—Pois sempre me tinha resultado difícil manter minhas convicções, mas
agora eu também me alegro de ser antiquada, de não me haver entregue ainda a
nenhum homem. Rett, acredito que lhe...
ia dizer lhe que o amava, mas justo nesse momento um papel no estou
acostumado a captou a atenção do Everett, que se agachou para recolhê-lo.
—O que é isto?
O coração do Jennifer deu um tombo. Era o sobre com o cheque pelo
trabalho que tinha feito em casa da senhora Whitehall. Tinha-o metido em um
dos bolsos do vestido, mas devia haver-se cansado dali quando ele a elevou em
seus braços para levá-la ao salão.
Observou apreensiva como Everett o abria, tirava o cheque, desdobrava-
o e o lia.
—De onde tiraste todo este dinheiro, e como? —exigiu saber.
—Eu... era uma surpresa. estive trabalhando pelas tardes esta semana
para uma agência de decoração de Houston —balbuciou—. Era um encargo
pontual, para decorar uma habitação em casa de uma mulher maior. É para ti,
Rett, para que não tenha que vender seu touro —lhe anunciou com um sorriso.
Everett, entretanto, não parecia muito contente. De fato, havia uma
expressão estranha em seu rosto. Parecia como se estivesse tentando digerir
uma maçã que se tragou inteira. Baixou a vista ao cheque, ficou olhando-o, e se
deu a volta, indo até a janela e olhando fora, à escuridão da noite.
—E como conseguiu esse trabalho? O que sabe você de decoração?
—Fui a uma escola de desenho de interiores em Nova Iorque quando
acabei no instituto —lhe explicou Jenny—, e logo consegui um emprego como
decoradora em uma das empresas mais importantes da cidade. Tive muita
sorte. Estive trabalhando com eles dois anos. Por isso me zanguei tanto o outro
dia quando te pôs a jogar peste sobre os decoradores —acrescentou.
—Trabalhava em Nova Iorque? —repetiu ele, sem voltar-se.
—Sim, é o melhor lugar para abrir-se caminho nesse campo.
—Mas caiu doente...
—De pneumonia, sim, e tive que deixar meu trabalho —assentiu Jennifer,
franzindo o cenho pelo estranho tom na voz do Everett—. E graças a ti, que me
deu uma oportunidade, recuperei-me e recuperei minha auto-estima. Mas todo
isso não tem importância agora, Rett. Como te hei dito, a razão pela que tenho
feito esse trabalho foi para que não tenha que...
—Não posso aceitar este dinheiro —a interrompeu ele bruscamente.
E deixando o cheque e o sobre em cima da mesa, girou-se sobre os talões
e saiu da cozinha.
—Mas, Everett, espera... o jantar... —balbuciou ela, seguindo-o ao
corredor.
—Não tenho fome —a cortou ele com aspereza.
E ao momento saía da casa, dando uma portada.
Jennifer retornou à cozinha e se sentou à mesa, olhando o cheque até
que as cifras começaram a voltar-se imprecisas pelas lágrimas que afloraram a
seus olhos. Estava apaixonada por ele. apaixonou-se pelo Everett Culhane e em
uma noite, suas boas intenções tinham dado ao traste com a aproximação que
se estava produzindo entre eles. Estava segura de que ia despedir a. Nesse
momento recordou o que lhe havia dito de que detestava às mulheres de
cidade... muito tarde. Se tivesse podido lhe explicar que tinham sido seus pais
quem a tinha mandado à escola de desenho, e que uma vez no mundinho não lhe
tinha gostado da pressão que havia, a competitividade... Haveria alguma
maneira de fazer que a escutasse, de convencer o de que não tinha querido lhe
ocultar a verdade, e de que o que queria era ficar ali para sempre com ele?
Exalou um pesado suspiro e apoiou a cabeça sobre a mesa. Esperou e esperou,
mas deram as duas da madrugada e Everett ainda não havia tornado, assim,
levantando-se, subiu a sua habitação, trocou-se e se meteu na cama, lhe dando
voltas a todo o ocorrido, até que, de puro cansaço, ficou dormida.

Capítulo 7

SE Jennifer tinha albergado a esperança de que à manhã seguinte as


coisas tivessem trocado, não foi assim. Depois de assear-se, pentear-se e
vestir-se, baixou a preparar o café da manhã, mas Everett saiu pela porta
principal sem sequer aparecer a cabeça pela cozinha. Parecia disposto a morrer
de fome antes que comer o que ela cozinhasse.
De fato, essa manhã estabeleceu o patrão para os dois dias seguintes.
Jennifer seguiu preparando o café da manhã, a comida e o jantar, mas em cada
ocasião teve que acabar comendo sozinha e guardando as sobras no frigorífico.
Everett saía da casa a primeira hora da manhã, e retornava quando ela já se
deitou.
E tinha vendido o touro. Foi Eddie quem o disse ao Jenny. Ele também
parecia de bastante mau humor.
—Roguei-lhe que esperasse um pouco, para ver se as coisas se
solucionavam —lhe disse na manhã do segundo dia, quando foi levar lhe os ovos
que tinha recolhido para ela do curral—, mas quando esse vizinho seu lhe disse
que finalmente tinha decidido que não queria o touro, Everett o carregou no
caminhão e foi vender se o a outro postor, embora lhe tinha devotado menos
dinheiro. Tem mau aspecto e apenas se tiver cruzado duas palavras com o Bib
ou comigo há um par de dias. Não saberá você o que lhe passa, verdade,
senhorita Jenny?
Jennifer fugiu o olhar do homem.
—Está preocupado porque está passando por uma má rajada, acredito —
respondeu—. Eu lhe ofereci o dinheiro que tinha, mas ficou furioso e saiu como
um torvelinho. E após não me fala.
—Vá, isso sonha muito pouco próprio do chefe.
—Eu tampouco pensei que fora a reagir assim —respondeu ela
encolhendo-se de ombros—. E sei que quer que vá, Eddie. Não me há isso dito à
cara, claro, mas só lhe falta abandonar o rancho.
—Tolices. Como há dito, está passando por uma má rajada. Não tem nada
que ver com você —lhe assegurou Eddie—. Não o deixe sozinho. Agora a
necessita mais que nunca; necessita-nos mais que nunca.
—Suponho que tem razão —suspirou ela—, mas oxalá tivesse aceito o
dinheiro que lhe ofereci.
—Isso teria sido um milagre, senhorita Jenny, vê-lo aceitando dinheiro
de uma mulher, se souber a que me refiro.
Jennifer sabia. Muito bem, por desgraça. Para o almoço, deixou feita
uma salada de massa, preparou um prato de embutidos variados, e partiu a ver
o Libby. Talvez se ela não estava, Everett se decidiria a comer.
Libby, apesar de que estava inteirada por seu marido de que Everett
estava estranho, teve a discrição de não lhe fazer perguntas a respeito, e se
alegrou de sua visita já que seus filhos estavam no colégio e assim tinha a
alguém que lhe fizesse companhia e com quem conversar um momento.
Às cinco da tarde, Jenny retornou à casa, perguntando-se se Everett se
teria comido o que lhe tinha deixado, e a surpreendeu encontrá-lo
precisamente na cozinha, andando acima e abaixo, com expressão furiosa, e
fumando um cigarro.
—Ah, aí está! —exclamou ao vê-la, lhe lançando um olhar furioso—. Onde
diabos te tinha metido? Nenhuma nota! Não sabia se lhe tinham seqüestrado,
se te tinha cansado em uma sarjeta...
—Acaso te teria importado? —espetou-lhe Jenny irritada—. Com sua
atitude me deixaste muito claro que não queria nem lombriga.
—E como esperava que reagisse? —rugiu ele—. Me mentiu!
—Não, eu não te menti —se defendeu Jenny.
—Que não...? Acreditei que foi uma pobre datilógrafa sem um lugar onde
cair morta! Virtualmente te contratei por lástima —resmungou—. E, com o que
me encontro? Com que vivia em Nova Iorque e tinha um emprego com o que
ganhava mais em uma semana que eu em dois meses!
De modo que era isso... Tinha ferido seu orgulho, porque ele era pobre e
ela não, e isso era algo que não podia aceitar.
—Caí doente, perdi meu emprego —começou a lhe explicar—, tive que ir
ao sul porque não encontrava trabalho...
—E por que demônios não me disse nada disso de um princípio? —exigiu
saber ele, apagando o cigarro irritado.
—O que tinha que te dizer? —respondeu-lhe ela se desesperada—.
Everett, o que é o que trocou pelo fato de que agora saiba que no passado fui
decoradora? Sigo sendo quão mesma quando cheguei.
—Não, isso não é de tudo certo —repôs ele, entreabrindo os olhos—.
Quando chegou aqui parecia um gato abandonado; e agora... —seus olhos
percorreram sua figura de um modo insolente—. Durante um tempo estive
saindo com uma garota de cidade —disse de repente em um tom ausente. Seus
olhos se fixaram nos dela—. Quando descobriu que tinha mais sonhos que
dinheiro deu meia volta e saiu correndo. Estávamos comprometidos —
acrescentou com uma risada amarga—. Está visto que tenho um olho clínico com
as mulheres...
Jennifer se rodeou o peito com os braços.
—O que é o que trocou? —insistiu—. Só fiz esse encarrego para te
ajudar, Rett —lhe repetiu, dando um passo para ele—. Queria te devolver de
algum modo o favor que me tinha feito ao me dar um trabalho quando o
necessitava. Não estava em uma situação precisamente flutuante, mas apesar
de todo me contratou, e te estou muito agradecida —seus olhos verdes
escrutinaram o rosto do rancheiro—. Queria fazer algo por ti; queria que
pudesse ficar com esse touro.
As facções do Everett se endureceram, e se deu a volta, como se não
pudesse suportar o tê-la diante.
—Quero que te parta —disse.
—Imaginava —respondeu ela com um suspiro—. Quando?
—A finais desta semana.
Tão logo?, disse-se Jenny afligida. Os olhos lhe encheram de lágrimas
enquanto olhava as costas tensa do rancheiro, que parecia verdadeiramente
uma exteriorização de sua teimosia.
—Acaso me odeia? —perguntou-lhe com voz lastimera.
Everett se girou para ela lentamente, lançou-lhe um olhar que cortava
como um afiado cristal, e se aproximou dela.
—Poderia lhe odiar —lhe disse com aspereza, tomando-a pela cintura—,
se não te desejasse tanto.
E antes de que ela pudesse dizer nada, apoderou-se de seus lábios.
Jennifer se esticou imediatamente, porque não havia ternura naquele beijo.
Estava sendo deliberadamente brusco, mas, mesmo assim, amava-o. Se aquilo
era quão único podia lhe dar, para ela seria suficiente. Rodeou-lhe o pescoço
com os braços, e abriu a boca para lhe permitir o acesso. Queria lhe responder,
mas ele não o permitia. Estava beijando a de um modo agressivo, tomando o que
queria sem preocupar-se de dar a sua vez.
Suas mãos subiram aos seios do Jenny, massageando-os sem a menor
sensualidade, e baixaram depois para tomar posse de seus quadris, as atraindo
para as seu com um ritmo descarado, lhe fazendo sentir o que ela já sabia, que
a desejava.
—me diga, também era uma mentira? —perguntou-lhe separando seus
lábios dos dela—, é virgem de verdade?
—Sim, sou-o —respondeu tremente.
Tinha-a arranca-rabo firmemente pelos quadris, e quando tentou
apartar-se dele, só a atraiu mais para si.
—Vamos, não te faça agora a recatada —lhe disse Everett com um
sorriso cruel—. O outro dia não te comportou assim no sofá. me diga, não te dá
uma sensação de poder saber que me volta louco, garota de cidade?
Jennifer o empurrou pelo peito com as mãos, mas resultou inútil, porque
ele era muito mais forte que ela.
—Everett, por favor, não me faça sentir como se fora uma qualquer... —
suplicou-lhe.
—Como poderia obter isso, com o curriculum tão impressionante que
deve ter? —espetou-lhe ele com uma risada gélida.
Contraiu os dedos em torno de seus quadris, arrancando um gemido de
dor dos lábios do Jenny, e inclinou a cabeça para voltar a beijá-la, esta vez de
um modo tentador, lhe roçando apenas a boca com a sua, em uns movimentos
suaves, acariciadores, que atuaram sobre ela como um narcótico, debilitando-a,
como se a estivesse hipnotizando.
Jennifer tentou seguir os lábios do rancheiro, tratando de apanhá-los
em um intento por satisfazer o anseia que estava despertando nela.
—Quer ficar comigo, Jenny? —perguntou-lhe Everett em um sussurro.
—Sim —ofegou ela, com o coração na mão, aferrando-se ao peitilho de
sua camisa com dedos trementes—, sim, Everett, quero ficar contigo...
Sentiu o fôlego entrecortado dele contra seus lábios.
—Então sobe comigo a minha habitação e te deixarei que fique.
Jennifer se tinha ficado tão aturdida, que lhe levou um momento digerir
o que acabava de dizer. Com as bochechas ardendo, lutou com ele, tentando
soltar-se, mas ele a agarrou pelas bonecas.
—O que acontece?, acaso não está interessada? —burlou-se ele—. Faz
um minuto o estava, e também a outra noite, no sofá, quando deixou que te
despisse.
Jenny apertou os dentes, tratando de aferrar-se a sua dignidade e seu
orgulho.
—me solte —lhe ordenou com uma voz que não era a sua.
—Poderia satisfazer seu desejo, garota de cidade —lhe disse Everett,
percorrendo lascivamente seu corpo com o olhar—. Antes ou depois acabará te
entregando a um homem, assim, por que não a mim? Ou é que tenho que me
fazer rico para que me deixe entrar em sua cama?
Os olhos do Jennifer se encheram de lágrimas. Estava-lhe fazendo mal
nas bonecas, mas mais no coração. Fechou os olhos para não ver a expressão
desumana no rosto do Everett. Amava-o tanto... Como podia tratar a daquela
maneira?, como podia ser tão cruel com ela depois do que tinham
compartilhado?
—Não vais dizer nada? —inquiriu ele. Soltou-lhe as mãos e acendeu um
cigarro—. Bom, não podia deixar que fosse tentá-lo. A outra noite parecia mais
que disposta, e pensei que possivelmente queria ter alguma lembrança que te
levar contigo.
Tinha tido vários, várias lembranças maravilhosas antes de que ele o
danificasse tudo, disse-se Jenny com amargura.
—Tenho algumas cartas em meu escritório para que as passes a máquina
quando tiver acabado com as tarefas do lar —lhe disse ele dirigindo-se à porta.
Quando chegou à soleira se deteve, e se voltou a olhá-la com um sorriso
desagradável nos lábios—. Assim me compensará pelo tempo que perdeu
decorando a casa dessa mulher.
Jennifer não disse nada, e não se moveu. Era como se o mundo estivesse
afundando-se sob seus pés. Amava-o, e a tratava assim, como se fora uma
prostituta a que tivesse recolhido na rua!
Everett soprou irritado.
—Muito bem, não fale se não querer —lhe disse com aspereza—. Me
importa um nada, como se não quer voltar a abrir a boca até que vá. Nunca me
importaste nada. Desejava-te, isso é tudo. Além disso, se tivesse dinheiro,
poderia ter a uma dúzia de mulheres como você.
Jennifer elevou o rosto com o pouco orgulho que ficava, e por um
momento lhe pareceu que a expressão do Everett se suavizava, como se se
arrependesse do que estava lhe fazendo, mas logo que podia distinguir bem
suas facções em meio das lágrimas que lhe queimavam os olhos, e se disse que
deviam ter sido imaginações delas.
—Dava algo, maldita seja! —rugiu o rancheiro, fora de si.
Mas ela só levantou mais o queixo, olhando-o com desprezo, acusando-o,
e nenhuma só palavra cruzou por seus lábios. Podia lançá-la contra a parede se
queria, não lhe daria a satisfação de pronunciar uma sílaba!
Everett inspirou furioso, girou-se sobre os talões, e segundos depois
saía da casa dando uma portada.
Jennifer subiu as escadas como uma zombi, e entrou em seu dormitório.
Tirou os cheques do pagamento das duas últimas semanas, que ainda não tinha
cobrado no banco, e os pôs sobre o penteadeira. Fez a mala, e olhou em seu
moedeiro. iria a Houston. Talvez Sally Ward pudesse lhe dar algum outro
encargo e com o que fora ganhando iria arrumando-lhe Tinha suficiente
dinheiro para pagar um táxi e o ônibus que a levasse do Big Spur a Houston, e
cobraria o cheque da agência de decoração quando chegasse à cidade. Chamou à
companhia de táxis, e baixou a esperar a que chegassem a recolhê-la.
Por sorte, Everett não estava por ali quando chegou o táxi, nem
tampouco Eddie, nem Bib. Baixou os degraus da entrada, com os olhos
avermelhados mas já secos, e uma expressão resolvida no rosto, e entrou no
táxi.
—me leve a estação de ônibus, por favor.
O taxista pôs o veículo em marcha, e Jenny olhou a casa por última vez.
Depois girou a cabeça para diante e fechou os olhos. Não olhou atrás, nenhuma
só vez.

A sorte esteve de sua parte. Sally Ward tinha ficado tão impressionada
com seu trabalho que virtualmente criou um posto para ela em sua agência.
Jennifer se sentia muito afortunada. Sally era um encanto de chefa, e o
trabalho adorava, mas passaram várias semanas antes de que pudesse sequer
pensar no Everett sem tornar-se a chorar.

A taça de café sobre o escritório do Jenny estava esfriando-se. Franziu


ligeiramente o cenho enquanto examinava o desenho que estava fazendo para a
cozinha de um cliente.
—Quer que te traga outra taça? —perguntou-lhe Sally, aparecendo a
cabeça pela porta de seu pequeno despacho—. Vou a por uma à máquina.
—Agradeceria-lhe isso muito —riu Jennifer.
—Vá, é a primeira vez que te vejo feliz desde que chegou —murmurou
sua chefa, inclinando a cabeça—. Já começa a conseguir te esquecer dele?
—De quem? —inquiriu Jenny surpreendida.
—Desse homem, quem quer que fosse, esse pelo que te passou chorosa a
primeira semana e meia. Não quis me entremeter —lhe confessou—, mas todo
este tempo estive esperando que te chegasse uma carta, ou que chamassem
perguntando por ti. Não sei, pensei que tinha que lhe importar um pouco quando
estava tão mal.
O rosto do Jennifer se escureceu.
—Ele queria uma amante —respondeu—, e eu um marido. Suponho que
nossas prioridades chocavam —acrescentou com um sorriso triste—. Mas, sim,
sinto-me imensamente melhor. Tenho um trabalho estupendo, uma chefa
maravilhosa, e inclusive um meio noivo, se é que pode chamar-se assim ao Drew.
—OH, é um bom moço. Inquieto como o rabo de uma lagartixa, mas um
bom moço.
—E um bom arquiteto —apontou Jenny com um sorriso pícaro—. Suponho
que agora te alegrará de havê-lo contratado embora ao princípio não estava
muito convencida. Fez um trabalho excelente com esse projeto do mês passado.
—E você também —disse Sally apoiando-se no marco da porta—. Formam
uma grande equipe.
—Bom, no profissional sim —admitiu Jennifer—, mas como casal... Não
sei, não acabo de vê-lo claro. A verdade é que no momento ao menos não quero
nada sério com ele, embora me parece que para o Drew é impossível tomar-se
nada a sério —concluiu tornando-se a rir.
—Pois me parece uma filosofia de vida estupenda —lhe disse Sally—.
Deveria tomar exemplo dele. Não é bom ruminar muito as coisas.
—Não o faço —protestou Jennifer—. É só que... bom, que agora que
estou começando a recompor meu coração quebrado não quero voltar a me
arriscar. Possivelmente me leve um tempo voltar a confiar em um homem, ou
possivelmente não o consiga nunca.
—Vamos, não todos são uns idiotas integrais.
—Já, e se for assim... você por que segue solteira? —inquiriu Jenny
cruzando-se de braços com um sorriso malicioso.
—Porque sou muito exigente —respondeu Sally com bom humor—, muito,
muito exigente. Meu lema é: ou Rhett Buttler, ou ninguém.
—Pois o leva mal —riu Jenny—. Além de ser um personagem do celulóide,
era de outro século e de outro Estado.
—Sim, sim, sei... —assentiu Sally com um dramático suspiro—. Anda, me
dê sua taça e deixemos de fantasias.
—Ah, estupendo, café! —exclamou um jovem alto e ruivo, aparecendo
nesse momento pela porta de entrada do escritório—. Eu também tomarei um,
sozinho, com um par de torradas, uns ovos mexidos...
—Sinto muito, senhor Peterson, o bufê acaba de fechar —lhe disse Sally
divertida.
—Diabos —grunhiu o jovem, deixando no chão a maleta que levava e
alvoroçando o cabelo com uma mão—, a este passo acabarei morrendo de
inanição. Não sabem como sinto falta das comidas de minha mãe... E meu
caseira é horrível. Não sabe nem como fritar um ovo.
—Parte-me o coração, Drew —se burlou Sally.
—Se quiser te dou a metade de meu donut —lhe ofereceu Jennifer
sonriendo, e tirando de um pires sobre sua mesa meio donut de chocolate.
—Não, deixa-o —suspirou Drew comicamente—. É meu a não ser passar
por grandes penalidades. Acabarei me consumindo, fraco como um velho
pangaré.
—Fraco já está —murmurou Sally—. Não é mais que osso e pele.
—Ouça, ouça, que esta semana pus dois quilogramas —protestou ele,
ofendido.
—Onde? —espetou-lhe sarcástica sua chefa, olhando-o de cima abaixo—,
no dedo gordo do pé?
—Ja, ja —balbuciou ele enquanto Sally se afastava para a máquina de
café. voltou-se para o Jennifer, e lhe perguntou, inclinando-se sobre sua mesa
—: Quer me acompanhar a lhe jogar uma olhada a esse escritório da que
querem que lhes façamos um orçamento de remodelação?
—Não posso, tenho que acabar isto —respondeu ela, assinalando uns
desenhos sobre seu escritório—. O que lhe parecem?
Drew inclinou a cabeça para olhá-los.
—Mmm... estão bem, mas te lembre de que esta zona vai ser de muito
trânsito —lhe disse lhe indicando um ponto de um dos desenhos—. É melhor que
fique mais diáfana, e deveria ter mais glamour.
—OH, sim, poderia pôr aí um largo tapete vermelho —o picou ela—, como
nas estréias de Hollywood.
—Já te darei eu a ti tapete vermelho... —riu Drew, e de repente ficou
olhando-a, como se estivesse vendo-a pela primeira vez.
—O que? —inquiriu Jenny franzindo o sobrecenho.
—Nada. É que... bom, está tão... trocada. Quando cheguei, faz dois
meses, parecia um perrillo abandonado, e agora em troca... bom, acredito que é
uma das garotas mais bonitas que conheço.
Jenny sorriu adulada. Era certo que não só seu ânimo tinha melhorado,
mas também também tinha começado a preocupar-se um pouco mais por seu
aspecto. Esse dia tinha posto um traje bege de jaqueta e saia, com uma blusa
rosa pau, lenço a jogo e sapatos de salto. Mas não era só a roupa. Seu cabelo
tinha adquirido um tom quase platino, e com o penteado que lhe tinham feito na
barbearia lhe caía em suaves ondas sobre os ombros; sua pele voltava a ter boa
cor, e tinha começado a maquiar-se de novo. Nada recarregado, só uns toques
aqui e lá, o justo para realçar seus olhos verdes, seus altos maçãs do rosto, e
seus delicados lábios.
—Obrigado, Drew. Durante bastante tempo tive o ego pelos chãos.
—Pois se fica a meu lado, eu me encarregarei de subir o até que toque o
teto —lhe prometeu lhe piscando os olhos o olho, e esboçando um sorriso
lobuna.
—Sally, Drew está tratando de me seduzir! —chamou Jennifer divertida
a sua chefa.
—Não poderá te salvar —brincou ele—, foi a responder o telefone.
—soou o telefone? —inquiriu Jenny—. Não o ouvi.
Justo nesse momento saiu Sally de seu escritório com o rosto
resplandecente.
—Não lhe vais acreditar isso, Jen —lhe disse indo onde estavam os dois
—. Acredito que acabo de encontrar ao Rhett Buttler.
—O que? —disse Jennifer, tornando-se a rir.
—Acaba de chamar um possível cliente, e se o resto dele é tão sexy
como sua voz...
—Segue sonhando —a picou Jenny.
—Há-me dito que se passará por aqui amanhã. Quer redecorar toda a
casa! —exclamou sua chefa.
—Vá, pois deve ter bastante pasta —interveio Drew.
Sally assentiu com a cabeça.
—Por certo, sua boa reputação como decoradora está estendendo—disse
ao Jennifer com um sorriso—, porque me pediu expressamente se poderia
fazer você este trabalho. Isto nos vem como cansado do céu, meninos. Ao fim
nossa pequena empresa começa a sair a flutuação! Vamos, convido-lhes a comer.
Isto terá que celebrá-lo!
Saíram os três à rua rendo e conversando tão animadamente que nenhum
dos três se precaveu de que havia um homem no assento traseiro de um luxuoso
carro ao outro lado da rua, observando-os atrás de seus óculos de sol, enquanto
fechava a tampa de seu telefone móvel.

Capítulo 8

DREW ia sair de taças com uns amigos essa noite e convidou ao Jennifer,
mas ela declinou o convite. Já não lhe interessava a vida noturna. Ia a algumas
festas com a Sally para atrair a novos clientes e discutir projetos, mas isso era
tudo.
Gostava de seu novo trabalho, e embora Houston era uma cidade grande,
não o era tanto como Nova Iorque, e embora havia competitividade, não era tão
agressiva, e o estresse era menor. Deveria estar contente, mas uma parte dela
ainda sentia falta da o Everett.
levantou-se do sofá e foi olhar pela janela. A cidade de noite era
espetacular com suas luzes multicoloridos, mas não podia evitar suspirar ao
recordar o céu estrelado no rancho, o canto dos grilos e o horizonte longínquo.
perguntou-se se Everett pensaria alguma vez nela, se se arrependeria do
que tinha ocorrido. Não, certamente não. Era como se um muro de pedra o
rodeasse, e não deixasse que ninguém se aproximasse dele.
Com um último olhar à silhueta de arranha-céu iluminados, deu-se a volta,
apagou as luzes e se foi à cama. antes de que o sonho se apoderasse dela,
perguntou-se quem seria aquele novo cliente, e sorriu divertida ao recordar o
que Sally havia dito a respeito de sua voz.
À manhã seguinte despertou sobressaltada. O despertador não tinha
divulgado, ou possivelmente sim, mas devia havê-lo apagado meio dormida e
teria se tornado a dormir. vestiu-se a toda pressa com um vestido violeta e
uma blusa de lã, e gemeu se desesperada quando tentou recolher o cabelo e viu
que algumas mechas não faziam mais que escapar das forquilhas. deu-se um
pouco de ruge, ficou brilho nos lábios, calçou uns sapatos de salto e saiu
correndo do bloco de pisos onde vivia de aluguel, para tomar o primeiro táxi
que passou.
—Estraga, ao fim chega, senhorita King... —disse Drew pondo voz de
chefe resmungão quando a viu entrar pela porta do escritório—. Não me deixa
outro remédio que informar deste atraso a nossa diretora.
Jennifer se apoiou no marco da porta com uma mão no peito. Estava sem
fôlego, tinha as bochechas rosadas, os olhos brilhantes e o cabelo
despenteado, mas muito sexy.
—Faz-o-o desafiou ela sonriendo—, e eu lhe direi o dessa clienta a que
perdemos... porque tentou ligar com ela e fugiu espavorida.
—Chantagista! —acusou-a Drew lhe fazendo cócegas.
—Para!, para, Drew! —suplicou-lhe Jenny entre risadas.
—Jennifer!, Andrew! —repreendeu-os Sally com uma risada nervosa,
aparecendo de repente—. Deixem de fazer o palhaço. Temos negócios dos que
tratar, e estão dando uma má primeira impressão a nosso novo cliente.
Drew se apartou imediatamente do Jenny, ficando sério. Ela ia aparar se
o cabelo com a mão, mas ao levantar a vista e ver o homem que havia ao lado da
Sally, ficou paralisada. Foi como se a alegria e o brilho interior que tinham
emanado dela momentos antes, dissipassem-se como fumaça no ar.
—Como vai? Sou Andrew Peterson —saudou Drew ao homem, lhe
tendendo a mão—. E ela é...
—Sei como se chama —disse Everett Culhane com uma risada zombadora
—. Já nos conhecemos.
Jenny advertiu que em seus olhos negros não havia precisamente uma
oferta de paz, nem sequer de trégua. Não, o que havia neles era ira e frieza.
Drew olhou ao Jenny e logo outra vez ao Everett com o cenho franzido,
sem entender nada. Sally, em troca, tinha compreendido o que estava
ocorrendo ali com apenas ver a palidez no rosto do Jennifer.
—Em... o senhor Culhane é o novo cliente do que lhes fale ontem —disse
ao Drew e ao Jenny, olhando vacilante a esta última. Parecia que de um
momento a outro fora a deprimir-se.
—Não mencionou seu nome —respondeu Jennifer com uma voz estranha
—. Desculpem, tenho que fazer uma chamada.
ia girar se para ir a seu escritório quando o rancheiro a agarrou pelo
braço.
—Não tão rápido, antes vamos falar.
Jenny o olhou fixamente, desafiante, mas por dentro estava tremendo
pela raiva contida.
—Não tenho nada que falar com você, senhor Culhane —disse soltando-se
bruscamente—. E duvido que você tenha nada que dizer que possa me
interessar.
—Jennifer... —balbuciou Sally nervosa.
—me despeça se tiver que lhe fazê-lo disse Jenny a sua chefa—, mas não
penso trabalhar para ele.
girou-se sobre os talões e se foi a seu escritório, fechando detrás de si.
ficou de pé frente ao escritório, de costas à porta, tremendo como um pudim,
com lágrimas amontoando-se em seus olhos verdes.
Estava tão angustiada que nem sequer ouviu o suave clique da porta ao
abrir-se. Depois, entretanto, fechou-se com um golpe seco, e quando voltou o
rosto se encontrou com que era Everett quem tinha entrado.
Só então se precaveu de que ia vestido com um traje de executivo, e um
traje caro a julgar pela feitura e pelo tecido. Girou de novo a cabeça para o
escritório e a parede.
—Parte, por favor —lhe disse com a maior firmeza que pôde, que nesses
momentos não era muita.
Everett a escrutinou comprido momento com o olhar antes de tomar
assento em uma poltrona estofada frente ao escritório, ao lado dela.
—Acabo de chegar e faz três meses que não nos vemos. Não te parece
descortês não querer conversar comigo sequer? —disse estalando a língua e
meneando a cabeça em um gesto desaprobador.
—Já te hei dito que não tenho nada que falar contigo. E se o que quer é
que redecoren sua casa, há muitas outras empresas que podem lhe fazê-lo
espetou, voltando-se para ele, apesar de que lhe fraquejavam os joelhos.
Everett o advertiu. Seus olhos se entreabriram e sua mandíbula se
contraiu.
—Acaso me tem medo? —perguntou-lhe quedamente.
Jennifer apartou uma mecha de seu rosto e cruzou os braços sobre o
peito em atitude defensiva.
—O que é o quer agora? A que vieste em realidade? A me ensinar o bem
que vão as coisas? Já me tenho feito uma idéia pelo corte de seu traje e pelo
fato de que possa te costear a redecoración de toda a casa. Felicidades —lhe
disse com um sorriso forçado—, que desfrutes de sua repentina riqueza.
—Não vais perguntar me como o consegui? —perguntou-lhe Everett
cruzando as pernas e reclinando-se na poltrona.
—Não, não me importa absolutamente.
As comissuras dos lábios do rancheiro se crisparam.
—vendi os direitos de exploração dos poços a uma companhia petrolífera.
«Muito lhe duraram seus princípios...», quis lhe dizer Jenny, mas não
teve valor. Rodeou o escritório e se sentou em sua cadeira sem olhá-lo.
—Não vais dizer nada? —insistiu-a Everett.
Jennifer sentiu uma pontada, recordando súbitamente a última vez que
ele tinha pronunciado essas palavras. Ele também pareceu recordá-lo, porque
sua mandíbula se contraiu e soprou.
—Quero redecorar a casa para adaptá-la a meu novo status social —
disse—, e quero que o você faça. Nenhuma outra pessoa. E quero que te venha
ao rancho durante o tempo que tarde em fazer-se.
—Quando neve no inferno —resmungou Jennifer.
Everett a observou em silêncio um instante.
—me corrija se me equivocar, mas me parece que as coisas não vão
precisamente vento em popa, a toda vela —balbuciou passeando o olhar de um
modo insolente por seu escritório—, e os ganhos por este projeto seriam
bastante suculentos.
—Não pode comprar ! —quase lhe gritou Jenny—. Preferiria me atirar do
alto de um escarpado antes que voltar a estar sob o mesmo teto que você!
Everett fechou os olhos, como exasperado, e quando voltou a abri-los,
ficaram fixos em suas mãos entrelaçadas.
—É por esse bufão ruivo daí fora? —perguntou-lhe de repente, elevando
o olhar para ela.
—Isso não é teu assunto —balbuciou Jenny apartando o rosto.
Ele não tinha separado seus olhos dela, e se Jennifer o tivesse
cuidadoso, teria se dado conta de que estava observando-a não com ódio, mas
sim de um modo peculiar.
—Quando te vi brincando com ele, estava radiante, cheia de vida, feliz, e
de repente, quando me viu foi como se se apagasse a luz que lhe fazia brilhar
dessa maneira.
—E o que esperava, por amor de Deus? —explorou ela—. Me disse coisas
horríveis e me jogou só porque tentei te ajudar!
Everett exalou um profundo suspiro.
—Sei.
—E então por que vieste? —perguntou-lhe Jenny cansada—. É que não me
tem feito já bastante danifico?
Everett baixou de novo a vista a suas mãos entrelaçadas.
—Já lhe hei isso dito. Quero que redecores minha casa —respondeu—.
Agora posso me permitir o melhor e isso é o que quero: a ti —acrescentou
levantando o rosto e olhando-a aos olhos.
Pronunciou de um modo estranho essas duas últimas palavras, mas Jenny
estava muito agitada para notá-lo. Fechou os olhos com força um instante,
como tratando de recuperar o controle sobre si mesmo.
—Pois te coloque na cabeça que não vou fazê-lo. Não me importa perder
o emprego.
Everett ficou de pé e ficou olhando-a fixamente com as mãos nos bolsos.
—Tenho formas menos agradáveis de lhe convencer —lhe disse—.
Poderia lhe pôr as coisas muito difíceis a sua chefa agora que sou um homem
com influências nas altas esferas —lhe disse em um tom desafiante—, e te
aconselho que não me ponha a prova. me diga, seria capaz de ir da cidade com
isso sobre sua consciência?
Não, não poderia fazê-lo, e ele sabia. Sempre tinha que sair-se com a
sua, e agora estava lhe dando a escolher entre lhe deixar pisotear seu orgulho
e fazer mal a seu amiga. Nunca tinha imaginado que seria capaz de tal ruindade.
—O que crie que vais conseguir me obrigando a voltar? —espetou-lhe—.
Porque não vou deitar me contigo, assim, que esperas conseguir?
—Que redecores minha casa, é obvio —respondeu ele com indiferença—.
O desejo que sentia por ti se esfriou. Já sabe o que dizem: olhos que não vêem,
coração que não sente —disse olhando-a longamente—. Além disso, um corpo
não se diferencia em nada de outro na escuridão —acrescentou tomando seu
chapéu—. E bem, o que vais fazer? Voltará comigo para o Big Spur, ou devo lhe
dar a sua chefa a triste noticia de que a deixa na estacada?
Os olhos verdes do Jenny relampejaram. Acaso lhe deixava opção?
Pagaria por aquilo, de algum modo o faria pagar.
—Irei —disse cuspindo a palavra.
Everett esboçou um breve sorriso de triunfo e saiu de seu escritório.
Minutos depois entrava Sally, com aspecto preocupado e compungido.
—Sinto-o tanto, Jenny... Não tinha nem idéia de quem era, juro-lhe isso
—se desculpou.
—Pois agora já sabe —balbuciou Jennifer deixando escapar uma risada
tremente.
—Não tem por que fazê-lo. Não pode te obrigar.
—Temo-me que sim. Everett não faz ameaças em vão —murmurou
levantando—. Te levaste muito bem comigo, Sally, e não posso permitir que te
cause problemas por minha culpa. me deseje sorte. A vou necessitar.
—Se as coisas ficarem muito difíceis me chame —lhe disse sua chefa—.
Farei o esteira e irei contigo, diga o que diga esse bruto.
—Obrigado, é uma boa amiga —respondeu Jenny com um sorriso.
Jennifer tinha intenção de ir por seus próprios meios ao Big Spur, mas
quando terminou a jornada, Everett estava esperando-a na porta do bloco onde
estava o escritório e a acompanhou a seu apartamento.
Esperou-a no saloncito enquanto fazia a bagagem, e quando Jenny saiu de
seu dormitório com a mala, encontrou-o esquadrinhando com o olhar cada
rincão.
—Dá-lhe seu aprovado a minha humilde morada, senhor Culhane?
—Certamente é um lenço, embora suponha que o aluguel não deve te sair
barato nesta zona da cidade.
—Pois não, nada barato, mas não me custa nada pagá-lo, porque ganho
«montooones» de dinheiro com meu trabalho, recorda? —respondeu-lhe
sarcástica.
—Disse-te coisas muito cruéis, verdade, Jenny? —inquiriu ele
quedamente, procurando seus olhos—. Ainda estão abertas as feridas que lhe
fizeram minhas palavras?
Jennifer apartou o rosto.
—Podemos partir já? quanto antes cheguemos, antes poderei acabar o
trabalho e voltar para casa.
—Alguma vez pensou no rancho como seu lar? —perguntou Everett—.
Pensava que aquilo você gostava.
—As coisas eram distintas então —respondeu ela vagamente.
Everett tomou sua mala, e quando seus dedos se roçaram foi como se
uma descarga elétrica percorresse as costas do Jennifer.
—Eddie e Bib estiveram impossíveis comigo desde que se inteiraram de
que te tinha ido —disse enquanto abria a porta do apartamento e a sustentava
para que Jenny passasse.
—Suponho que você em troca estaria muita ocupada festejando sua
decisão de me despedir para te dar conta de que me tinha partido —respondeu
ela com aspereza.
Everett deixou escapar uma risada seca.
—Festejando? Pequena idiota, eu...! —exalou um pesado suspiro e apertou
a boca—. Deixa-o. Ao menos podia me haver deixado uma nota desagradável...
ou algo.
—Para que, para que soubesse onde tinha ido? —espetou-lhe ela enquanto
fechava a porta com chave.
—Não me fez falta. Perguntei ao Libby o nome da agência que te deu
esse encarrego em Vitória; supus que seria o primeiro lugar onde procuraria
trabalho.
Jennifer foi até o elevador e apertou o botão para chamá-lo.
—depois de três meses esperava que te tivesse esquecido de mim —
balbuciou.
—Como ia esquecer me? Temos assuntos pendentes...
Pouco depois chegava o elevador.

CAP 9

AGORA tinha um Mercedes, um desses com assentos enfrentados na


parte traseira. E não só isso, mas também também um chofer. Everett
entregou a mala do Jenny, e se acomodaram os duas na parte traseira, o um
fronte ao outro.
—Vá!, está subindo como a espuma, quanto luxo! —balbuciou ela com
sarcasmo.
—Você não gosta do carro? —respondeu ele zombador, reclinando-se no
assento e acendendo um cigarro—. Pensava que as mulheres não podiam resistir
ao dinheiro e a ostentação.
—Algumas som assim —admitiu Jennifer olhando pelo guichê—. E dessas
suponho que agora poderá conseguir a todas as que queira.
Everett fechou o guichê do biombo que os separava da cabine do
condutor, e deu uma larga imersão ao cigarro.
—Suponho que sim —admitiu soltando a fumaça.
O chofer havia tornado a entrar no veículo, e segundos depois ficavam
em marcha.
—Então, é verdade? Havia petróleo em seus terrenos? —inquiriu Jenny
girando o rosto.
—Barris e barris —respondeu ele, olhando-a por cima de seu cigarro—.
Agora todo o maldito horizonte está afeado com o perfil desses trambolhos de
ferro e as máquinas para extrair o petróleo —suspirou—, mas parece que às
cabeças de gado não incomodam. Simplesmente seguem pastando tão
tranqüilas.
Jennifer não disse nada, e voltou o rosto para o guichê.
Permaneceram um bom momento em silêncio, quando de repente Everett
disse:
—Sei que já é tarde para tentar arrumar as coisas, mas não era minha
intenção te fazer danifico. Se não te tivesse partido, quando me tivesse
passado um pouco o aborrecimento, me teria desculpado.
—Suas desculpas não teriam significado muito depois das coisas que me
disse —lhe espetou Jennifer sem olhá-lo.
Everett baixou a vista a seu cigarro, e durante um bom momento
voltaram a ficar em silêncio os dois.
—Tem quase vinte e quatro anos —disse ele finalmente—; se ninguém te
havia dito costure assim antes, é que viveste em uma borbulha todo este
tempo.
—Não esperava ouvir as de ti —replicou ela, olhando-o irritada—. E muito
menos que me tratasse como a uma qualquer.
—Se não te tivesse ido, de um modo ou outro teríamos acabado na cama
e sabe —grunhiu ele franzindo o cenho—. Aquela noite estivemos a ponto de
fazê-lo no sofá.
—Sim, mas essa noite foi distinto. Embora tivéssemos chegado ao final,
não me teria feito me sentir como uma rameira troca!
Everett apagou irritado o cigarro no cinzeiro do veículo enquanto jogava
pelo nariz a fumaça da última imersão.
—Feriu-me em meu orgulho —respondeu.
Jenny não tinha esperado que fora a admiti-lo jamais, e sua resposta a
deixou aturdida.
—O que?
—Feriu-me em meu orgulho —repetiu ele—. Acreditava que tínhamos sido
completamente honestos o um com o outro desde o começo, e confiei em ti.
Abri-te meu coração como jamais o tinha feito com nenhuma outra mulher. E
então, de repente, golpeou-me por todos os flancos: inteirei-me de que foi uma
mulher de carreira, uma mulher que tinha desfrutado de um alto status social...
pior ainda, inteirei-me de que foi uma mulher de cidade, acostumada à vida na
cidade e a seus refinamentos. Não pode imaginar o que senti quando me deu
esse cheque e pensei no salário ridículo que tinha estado te pagando. Senti-me
como um idiota, como se tivesse estado lhe dando esmola a um magnata. De
repente me dava conta de que eu não tinha nada, e em troca ali estava você, me
demonstrando graficamente que podia me superar em todos os âmbitos.
—Eu só queria te ajudar —respondeu ela com aspereza—, porque sabia o
muito que significava para ti esse condenado touro. Mas me desculpe, agora já
sei que fui uma estúpida. Se pudesse voltar atrás no tempo, não te ofereceria
nem um centavo.
—Não faz falta que o jure —suspirou ele—. Quem é o ruivo?
—Drew? É um arquiteto recém saído da faculdade que colabora com a
Sally e comigo em alguns projetos.
—Pois neste não —lhe disse Everett em um tom ameaçador—. Em minha
casa não entrará.
Jennifer suspirou enfastiada.
—Isso dependerá das reformas que terei que fazer.
—Em minha casa não entrará —repetiu ele.
—por que?
—Eu não gosto do modo em que lhe olhe —resmungou ele—, e muito
menos as liberdades que se toma contigo.
—Tenho vinte e três anos —lhe recordou Jenny—, e eu gosto de Drew e
a maneira em que me olhe! É pormenorizado Y...
—E isso é precisamente o que eu não sou —a interrompeu ele—, assim se
voltar a lhe tocar lhe romperei os dedos.
—Everett Donald Culhane! —exclamou ela.
O rancheiro arqueou as sobrancelhas muito surpreso.
—Quem te há dito meu segundo nome?
Jennifer se ruborizou e apartou a vista.
—E isso que mais dá? —balbuciou.
Everett estendeu a mão e lhe acariciou o cabelo.
—Deus, seu cabelo se há posto precioso —murmurou—. Não tinha este
aspecto quando estava no rancho.
Jennifer se esforçou por controlar os batimentos do coração de seu
coração, que se tinham disparado ante o contato de seus dedos.
—Então ainda não estava recuperada —balbuciou.
—E agora não há dúvida de que o está —disse ele, lhe dirigindo um olhar
apreciativo—. Já não está tão magro e tem melhor cor. Inclusive seus seios...
—Everett, para, por favor! —suplicou-lhe ela vermelha como um tomate.
Ele apartou a mão de seu cabelo a contra gosto, mas seus olhos não se
separaram dela.
—Antes ou depois te farei minha, Jenny —lhe sussurrou em um tom tão
sensual como a noite que quase fizeram o amor no sofá.
—Primeiro teria que me pegar um tiro em uma perna —resmungou ela.
—Nem pensar —murmurou Everett com uma meia sorriso—. Te quero sã
e inteira, para que possa seguir meu ritmo.
Jennifer sentiu que voltavam a lhe arder as bochechas. Lhe teria pego
um joelhada em certo sítio se não fora porque estavam sentados.
—Não penso me deitar contigo!
Everett meneou a cabeça e estalou a língua.
—É claro que sim que o fará. Tenho todo um plano de perseguição e
demolição desenhada, senhorita King —lhe disse com soma arrogância—. Está
sob assédio, só que ainda não te deste conta.
—Não me converterei em seu amante —respondeu ela com firmeza—, não
vou ceder a suas chantagens. Se tiver acessado a vir contigo foi só para não
criar problemas a Sally, mas para mim isto é um trabalho nada mais. Assim vete
fazendo à idéia de que não vou deitar me contigo.
Os olhos negros do Everett escrutinaram o rosto do Jennifer.
—por que não?
Jennifer fechou os olhos um instante e apertou os dentes, tratando de
controlar sua irritação.
—Porque não concebo fazer algo tão íntimo sem amor —respondeu.
—O amor não sempre é possível —disse Everett—. E antes tem que haver
outras coisas, como o respeito mútuo, entrega-a...
Jennifer soprou.
—Poderíamos deixar este tema, por favor? Agora tem dinheiro, e pode
ter a todas as mulheres que queira. Não foi você quem me disse que um corpo
não se diferenciava de outro na escuridão?
Everett inclinou a cabeça.
—Seria feliz com um homem ao que tivesse que comprar? —perguntou-
lhe muito sério.
Jennifer entreabriu os lábios.
—Que se seria...? —repetiu olhando-o aos olhos—. Bom, não, mas...
—Eu não seria feliz com uma mulher a que tivesse que comprar —disse
ele com sinceridade—. Sou muito orgulhoso. Sei que te disse algumas costure
muito duras, e compreendo que esteja zangada e doída por isso. Algum dia
tentarei te explicar por que me comportei assim, mas agora eu gostaria de
tentar recuperar ao menos a sombra da amizade que tivemos. Nada mais.
Jamais tentaria te seduzir.
—Não é precisamente esse o motivo de que esteja me levando a rancho
contigo? —espetou-lhe ela furiosa.
—Não.
Estava voltando-a louca. A que diabos estava jogando?
—Mas se antes há dito que tinha uma campanha planejada de... —
balbuciou.
—Sei o que hei dito —a cortou ele—. Te desejo, Jenny, não é nenhum
secreto... Deus, não sabe até que ponto te desejo!, mas seria incapaz de tomar
sendo como é virgem —lhe confessou, olhando-a aos olhos—. Uma vez acreditei
que não poderia me conter..., aquela noite, no sofá. Você estava tão disposta... e
eu quase perdi a cabeça —baixou a vista ao acendedor que tinha entre suas
mãos—. Me teria odiado se não tivesse parado?
Jennifer girou o rosto para o guichê. Já fazia momento que tinham saído
de Houston, e estavam na auto-estrada.
—Não tem sentido falar disso agora —lhe disse em um tom
deliberadamente acalmado—. Pertence ao passado.
—E um corno pertence ao passado! —espetou-lhe ele—. Cada vez que lhe
Miro sinto que morro por te beijar, por te acariciar, por te possuir...
As bochechas do Jennifer estavam avermelhadas, mas seu lábio inferior
tremia quando lhe espetou voltando-se para ele:
—Pois deixa de me olhar! Ou date duchas frite! coloque-lhe isso nessa
cabezota que tem: só vim para trabalhar.
E girou de novo o rosto para o guichê. Houve um tenso silêncio antes de
que Everett voltasse a falar.
—Sinto seriamente o que te disse esse último dia, Jenny —murmurou—.
Se te tivesse ficado, teria tentado arrumar as coisas.
Jennifer soltou uma gargalhada seca.
—Como? —espetou-lhe sem olhá-lo—, me levando a sua cama? Pode que
seja uma garota de cidade, mas tenho minha dignidade.
Fechou os olhos e apoiou a têmpora contra o frio cristal do veículo.
—Preferiria me alojar em um motel se não te importar —lhe disse.
—Nem pensar —respondeu ele com brutalidade—. Se não confiar em
mim, sempre pode jogar o fecho de seu dormitório pelas noites. Além disso,
ficar no rancho enquanto realiza o trabalho era uma de minhas condições, e a
aceitou antes de sair de Houston.
Jennifer abriu os olhos, soprou e se voltou para ele.
—O que teria feito se me tivesse entregue a ti? —perguntou-lhe—, se
me tivesse deixado grávida?
Os olhos do Everett brilharam de um modo estranho.
—Me teria posto de joelhos e lhe teria dada graças a Deus —respondeu
com voz rouca—. O que você crie que teria feito?
Jennifer entreabriu os lábios.
—Não... não o tinha pensado —balbuciou, contrariada por sua resposta.
—Eu gostaria de ter filhos; ao menos três ou quatro.
Jennifer estava cada vez mais surpreendida.
—Libby me disse que você adorava o rancho —comentou de repente
Everett.
—Isso era quando me sentia bem-vinda.
—Ainda é bem-vinda.
—Não me diga? —resmungou ela inclinando a cabeça—. Sou uma mulher
de carreira, recorda?, uma mulher de cidade.
As comissuras dos lábios do Everett se arquearam para cima.
—Em realidade não há nada que me pareça tão sexy como uma garota de
cidade —murmurou baixando a vista às coxas do Jenny—. Não sabia que tinha
umas pernas tão bonitas. Sempre as ocultava atrás dessas calças jeans
desgastadas e saias largas.
—Porque não queria que me olhasse da maneira lasciva em que me está
olhando agora.
—Ja! —riu ele—. E tampouco o dia que te caiu do cavalo e lhe saltaram os
botões da blusa? —disse desafiando-a com o olhar a lhe rebater—. Eu diria que
estava encantada de que te olhasse. Até esse momento não me dava conta de
que foi uma mulher e não uma menina. Ao princípio me pareceu uma pobre
garota necessitada que senti desejos de proteger —lhe confessou com um
sorriso zombador—, mas quando te abriu a blusa e vi seu peito... Deus!, depois
daquilo as coisas ficaram impossíveis.
—Igual a você.
—É certo —admitiu ele—. Meu cérebro me dizia que me separasse de ti,
mas meu corpo se negava a escutar. E você não ajudou muito aquela noite no
sofá, te arqueando para minha boca e ofegando dessa maneira...
—E o que queria?, sou humano! —explorou ela furiosa—. Foi você quem
começou, me beijando na cozinha e me levando a sofá.
—Você tampouco resistiu.
Jennifer se voltou para o guichê.
—Poderíamos deixar já este tema, por favor?
—Justo quando está ficando interessante? —disse ele zombador—. por
que?, acaso você não gosta de recordá-lo?
—Não, eu não gosto!
—me diga, deixaste-lhe te tocar como eu o fiz? —inquiriu Everett
bruscamente, agarrando-a pelo braço e fazendo-a girar-se para ele—. deixaste
que esse bufão ruivo te beije do modo que eu te beijei?
—Não! —exclamou ela, surpreendendo-se pelo desagrado que tinha posto
nesse «não».
As aletas do nariz do Everett se incharam, e seus olhos negros baixaram
até o corpo do vestido do Jenny, seus quadris, suas largas pernas... e
finalmente, voltaram para seu rosto.
—por que não? —exigiu saber.
—Talvez porque depois de como me tratou você, aterram-me os homens
—resmungou Jennifer.
—Talvez só te aterre compartilhar com outros homens o que
compartilhou comigo —murmurou ele—. Foi tão delicioso... Lembrança como te
apertei contra meu corpo, e senti seus seios inchados —sussurrou acariciando
um deles com os nódulos dos dedos.
Jennifer ficou tensa e se tornou para trás no assento.
—me deixe!
Everett, em lugar de lhe fazer caso, tomou sua branca mão, levando-lhe
aos lábios, e começou a beijá-la enquanto a olhava aos olhos.
—As demais mulheres nem sequer conseguem me excitar —disse
quedamente entre beijo e beijo—. aconteceram três meses e ainda me custa
conciliar o sonho pensando no tato de sua pele...
—Não —resmungou Jenny—, não conseguirá fazer que me sinta culpado.
—Não é isso o que quero de ti, culpabilidade não.
Jennifer elevou os olhos para ele.
—Não, você só quer sexo, não é certo? E só me deseja porque não estive
com nenhum outro homem!
Everett tomou de repente seu rosto entre as mãos.
—Algum dia te direi o que quero de verdade... —murmurou—, quando
tiver esquecido e perdoado o que te disse. Até então, terei que seguir como
até agora —acrescentou com uma meia sorriso—, me dando duchas frite e
trabalhando até o esgotamento.
Jenny não queria deixar-se vencer por sua debilidade, mas resultava
difícil ignorar a calidez das mãos do Everett em suas bochechas, e seu fôlego
sobre seus lábios.
Ele inclinou um pouco mais a cabeça, torturando-a. Entreabriu os olhos, e
a ponta de seu nariz tocou a dela. Jennifer tinha a sensação de que o coração
fosse sair se o do peito, e sabia que de nada podia lhe servir contra ele sua
força de vontade.
—Jenny... —murmurou Everett contra seus lábios.
—Não é... não é justo —murmurou ela com voz trêmula.
—Sei —disse ele. Suas mãos tremeram enquanto lhe acariciavam o rosto
como se fosse o mais prezado tesouro, e também seus lábios quando roçaram
levemente os dela—. Deus, morrerei se não te beijo...! —suspirou desesperado.
—Everett, não...
Mas era pouco mais que um sussurro, e ele o sossegou posando sua boca
na dela. Jennifer jamais tinha imaginado que pudesse haver beijos tão doces,
tão tenros. Everett estimulou sensualmente seus lábios até obter que os
abrisse, e quando suas línguas começaram a entrelaçar-se, Jenny se
estremeceu e sua respiração se tornou entrecortada.
—Desejo-te tanto... —murmurou ele quando liberou sua boca—. Quero
jazer contigo, e te tocar, e deixar que me você toque , e te fazer o amor, e
fazer o amor contigo, Y...
—Everett, tem que parar isto... o chofer... —protestou ela.
—Está pendente da estrada —replicou ele, beijando-a de novo.
Logo Jennifer não queria pensar, nem preocupar-se, mas uma vocecilla
insistente em algum rincão de sua mente lhe recordou que tinha dignidade, e
que não podia cair rendida em seus braços como se não tivesse passado nada.
Lentamente, desenganchou as mãos do Everett de sua cintura,
perguntando-se quando tinham chegado ali, e separou seus lábios dos dele.
—Não posso fazer isto —lhe disse brandamente, mas com firmeza—. Não
quero fazê-lo. E a menos que me prometa que não voltará a tentar nada,
pedirei-lhe ao chofer que pare no próximo povo, e me voltarei para Houston.
Everett escrutinou seu rosto durante um minuto que pareceu eterno.
—Está bem, prometo-lhe isso.
E girou o rosto para o guichê, com uma expressão impenetrável. Não
voltou a pronunciar palavra durante o resto da viagem.

A habitação onde a pôs era quão mesma tinha ocupado durante o tempo
que tinha estado trabalhando ali, mas não foi isso o que surpreendeu ao Jenny,
mas sim não tivesse trocado a roupa da cama, que a porta do armário seguisse
entreabierta, como ela a tinha deixado, em sua pressa por partir, e que os
cheques continuassem em cima do penteadeira.
ficou olhando ao Everett enquanto este deixava sua mala no chão.
—Os cheques... por que não os tem quebrado? —inquiriu.
Ele se ergueu.
—São teus —respondeu.
—Pois pode rompê-los, não os quero —replicou ela zangada.
—Claro que não os quer. Agora tem um trabalho muito bem pago, não é
assim?
—Sim, assim é —respondeu Jennifer elevando o queixo desafiante.
Everett se tirou o chapéu, jogando-o sobre a cama, e se aproximou dela.
—Everett... prometeu-o! —recordou-lhe ela.
—É verdade, fiz-o —murmurou ele lhe rodeando a cintura com os braços
e atraindo-a bruscamente para si—, mas talvez menti. Possivelmente pretendia
te jogar sobre essa cama, te arrancar a roupa e te fazer o amor até o
amanhecer...
Estava pondo-a a prova. De modo que assim era como queria jogar...
Jennifer o olhou sem medo.
—lhe atreva —o desafiou.
—Como?, não vais pôr te histérica?, a chiar pedindo auxílio?
—Adiante, me viole se quiser.
As facções do Everett se escureceram.
—Não seria uma violação, Jenny; não entre você eu.
—Se eu não o quiser, sim o seria.
—Mas, carinho, você o quereria; é claro que sim que o quereria...
desesperadamente.
E tinha razão, porque nesse preciso momento o queria. O aroma de
colônia de seu corpo, a sensação de estar pega a ele, seu intenso olhar... Todo
aquilo e cem detalhes mais estavam fazendo que queria ceder, renunciar ao
controle, mas tinha medo das conseqüências. Ele a desejava, mas não havia nada
mais, e, se não a amava, não havia nada do que estivesse disposto a lhe
oferecer que lhe pudesse interessar.
—Prometeu-o —repetiu.
Everett suspirou.
—Está bem, está bem..., prometi-o —admitiu, soltando a ao fim e indo
recolher seu chapéu da cama—. Às vezes me odeio por ser tão cavalheiresco —
balbuciou meneando a cabeça enquanto se dirigia à porta—. Bom, baixa quando
tiver descansado e pedirei ao Consuelo que te prepare algo de jantar.
—Consuelo?
—Minha nova empregada do lar —respondeu Everett detendo-se junto à
porta, e observando divertido o cenho que se formou em seu rosto—, que tem
quarenta e oito anos, e está felizmente casada com um de meus novos
ajudantes —acrescentou—. Está tranqüila agora?
—E por que teria que estar intranqüila? —espetou-lhe ela, irritada por
sua presunção—. Acaso esperava que estivesse ciumenta?
O peito do Everett se inchou e se desinchou rapidamente.
—A verdade é que tenho umas quantas esperanças respeito a ti. Quer
ouvir algumas delas?
—Não, obrigado, não me interessam absolutamente.
—Isso me temia —murmurou ele.
E saiu fechando a porta detrás de si com uma risada estranha.

Capítulo 10
Consuelo resultou ser um encanto de mulher. Era baixa, moréia,
gordinha, e ao Jennifer caiu bem em seguida.
—Alegra-me que tenha vindo, senhorita —lhe disse a mulher enquanto
punha uma fonte de lasaña sobre a nova e elegante mesa do comilão à hora do
almoço o dia seguinte—. Agora possivelmente o senhor Culhane deixe de
grunhir e rugir todo o tempo.
Jenny riu, e começou a colocar os talheres que tinha na mão, também
novos, igual à baixela. tornou-se muita refinação. Não só já não comia na
cozinha, mas também parecia que estivessem em um restaurante francês.
—Sim, bom, eu não estaria tão segura disso. Agora mesmo está jurando
em aramaico. Ouça-o? —disse-lhe com uma meia sorriso, assinalando a janela
com um movimento de cabeça.
Era impossível não ouvi-lo. Estava lhe gritando a alguém a pleno pulmão
por ter deixado uma porta aberta, e só ouvindo-o, Consuelo se sentiu
afortunada de não ser ela a interpelada.
—É um homem muito estranho... —balbuciou sacudindo a cabeça—. A
habitação que lhe deu... sabe o que? Em todo este tempo não me deixou entrar
nela, nem sequer para limpar o pó ou trocar a roupa da cama.
—E alguma vez lhe há dito por que? —inquiriu Jenny em um tom
deliberadamente despreocupado.
—Não, mas às vezes pelas noites... —a mulher vacilou.
—Sim?
Consuelo se encolheu de ombros.
—Bom, às vezes, algumas noites, o senhor Culhane se levantava e ia ali, a
sentar-se na cama. E ficava assim muito momento, sem fazer nada,
simplesmente ali sentado. sentia saudades essa atitude, claro, mas quando o
mencionei, certa manhã, disse-me que me metesse em meus assuntos.
Que revelador era aquilo! Parecia como se a tivesse sentido falta de,
disse-se Jenny. Mas não, era impossível, porque se a tivesse sentido falta disso
significaria que lhe importava, e não era assim. Só a queria em sua cama.
Minutos depois entrava Everett, com as roupas poeirentas, e aspecto
cansado e mal-humorado. sentou-se à mesa sem tirar o chapéu nem as
chaparreras, e sem lavá-las mãos. Consuelo lhe lançou um olhar desaprobadora,
a que ele respondeu com outra desafiante.
—Algum problema? —grunhiu.
—Não, senhor —lhe respondeu a mulher muito tranqüila—, por mim como
se quer você comer com uma gabardina posta e tudo empapado... Se me
precisam estarei na cozinha.
Jennifer teve que tampá-la boca com a mão para sufocar a risada, e
Everett lhe lançou um olhar furioso.
—Céus, verdadeiramente está de um humor de cães —murmurou Jenny,
lhe servindo uma porção de lasaña, e pondo outra em seu prato. Entretanto, ao
levantar a vista viu que estava muito sério. Devia ter acontecido algo—. O que
é, Everett, o que ocorreu?
—O touro morreu.
—morreu um de seus touros?
—Não, não é qualquer touro —lhe esclareceu ele, olhando-a—. morreu o
Hereford que comprei, que logo tive que vender, e que voltei a comprar quando
vendi os direitos de exploração dos poços. O veterinário vai vir esta tarde a
lhe fazer uma autópsia. Quero saber do que morreu, porque parecia
perfeitamente são.
—Sinto-o —murmurou ela—. Imagino como deve te sentir com tudo o que
passaste com ele.
Everett se tirou o chapéu e se passou uma mão pelo cabelo.
—Enfim —suspirou—, talvez uma das vitelas com as que o cruzei me dê
um touro que seja ao menos a metade de bom.
ficou de pé, tirou-se as chaparreras e se lavou a cara e as mãos na pia,
lhe recordando ao Jenny um dia que tinha feito o mesmo, tempo atrás, antes
de que sua boa relação se fora ao traste.
Enquanto almoçavam mantiveram um bate-papo insustancial, e em um
momento dado, Jennifer se lembrou de algo que queria lhe haver mencionado
antes.
—Suponho que agora não estará de humor..., mas eu gostaria que lhe
jogasse uma olhada aos esboços que tenho feito para a redecoración do salão e
a cozinha —lhe disse.
—Você é a que entende disso. O que te tenha ocorrido estará bem —
respondeu ele enquanto terminava sua segunda ração de lasaña.
Jennifer o olhou irritada.
—É sua casa. Deveria tomar ao menos a moléstia de aprovar minhas
sugestões.
Everett suspirou.
—Está bem, traz-os.
Jennifer subiu a seu dormitório e retornou com um caderno de desenho.
—É este o aspecto final que terá? —inquiriu ele enquanto examinava
atentamente o esboço para o salão.
—Se você gostar assim, sim —respondeu ela, de pé junto a sua cadeira.
—Sim, não está mal —disse ele vagamente, embora no fundo estava
impressionado—. Eu gosto de —murmurou com um sorriso lobuna, passando o
dedo pelo sofá desenhado, que se parecia sospechosamente ao que tinha, e no
que quase tinham feito o amor.
Jennifer, que se deu conta do que estava pensando, esclareceu-se
garganta ruidosamente.
—O... o esboço da cozinha está na página seguinte.
—Foi um lapsus freudiano..., desenhar este sofá em particular? —inquiriu
ele, jogando a cabeça para trás para olhá-la.
O rosto do Jennifer se acendeu.
—Sou humano! —balbuciou, defendendo-se molesta.
—Bom, bom, não ponha assim... —murmurou Everett, olhando-a aos olhos
—. Era só uma pergunta. Eu também desfrutei com aquilo; não pretendia atirar
pedras contra ti —voltou a página e franziu os lábios—. Eu não gosto desta
ilhota para a cozinha.
Provavelmente porque requereria dos serviços de certo arquiteto,
pensou Jenny.
—por que não? —inquiriu mesmo assim, fingindo interesse.
Everett sorriu zombador.
—Porque, como já te hei dito, esse bufão ruivo não vai entrar em minha
casa.
Jennifer sacudiu a cabeça e suspirou enfastiada.
—Como quer. Concederá-me uns minutos esta noite quando voltar para
que discutamos os detalhes?, ou ainda está tentando morrer jovem?
—Importaria-te se assim fora?
—Sim, porque então não me pagaria —respondeu ela com malevolência.
Everett riu brandamente.
—Tem o coração de pedra. Sim, concederei-te uns minutos, mas agora
tenho que voltar para trabalho —murmurou apurando seu café e ficando de pé.
—Sinto o de seu touro —lhe disse Jenny de novo, fechando seu caderno
de esboços.
Everett tomou pelo queixo.
—Tranqüila, tudo se arrumará —respondeu ele, e Jennifer teve a
impressão de que não falava do touro.
Acariciou-lhe lentamente os lábios com o polegar, lhe provocando uma
sensação eletrizante, e de repente começou a inclinar-se para ela...
—Senhor —irrompeu Consuelo, justo então, rompendo a magia do
momento—, vão querer sobremesa?
Everett se tinha afastado do Jenny bruscamente.
—O teria tido se não tivesse sido por ti, mulher —grunhiu.
E saiu feito uma fúria, ouvindo uma portada no segundos vestíbulo
depois.

Durante o resto do dia, Jenny foi de habitação em habitação, fazendo


esboços preliminares. Era como um sonho feito realidade, porque desde a
primeira vez que tinha pisado na casa do rancho Circle C, tinha-lhe parecido
que tinha potencial, e se tinha perguntado em infinidade de ocasiões quanto
partido lhe poderia tirar se a redecorara. Agora tinha a oportunidade e estava
entusiasmada.
De noite, depois de jantar, foram ao estudo, e Jenny se sentou no sofá
de couro enquanto ele colocava troncos para acender a chaminé. Estavam já a
princípios de outono, e as noites começavam a ser frite. Minutos depois um bom
fogo chispava frente a ela, iluminando a sala com uma cálida luz avermelhada, e
despedindo aroma de carvalho e a pinheiro.
—Que sensação tão maravilhosa —suspirou reclinando-se no assento e
fechando os olhos.
O calorcillo do fogo era tão agradável e estava tão cômoda no sofá, que
Jenny perdeu a noção do tempo durante um par de minutos. Quando voltou a
abrir os olhos, encontrou-se com o Everett de pé diante dela, observando-a
com um olhar reflexivo.
—Sinto-o —murmurou sobressaltada, erguendo-se—, estava-me ficando
dormida.
—Tranqüila, não passa nada.
Em vez de sentar-se na outra poltrona que havia à esquerda,
encarapitou-se no braço da poltrona no que estava Jennifer, incomodando-a
ainda mais com sua proximidade, e com o masculino aroma de colônia e loção de
barbear que desprendia.
—Bem, insígnia me esses esboços.
Jennifer foi revisando-os um a um com ele, lhe explicando com grande
profesionalidad as mudanças que queria fazer, mas quando chegou ao esboço do
dormitório se enrijeceu quando lhe assinalou a enorme cama de matrimônio que
tinha desenhado e a olhou.
—Bom... é que você é muito grande —balbuciou—, e na habitação há
suficiente sítio para uma cama dessas dimensões.
—Parece-me uma grande ideia —respondeu ele olhando-a—, sempre quis
ter uma cama ampla para me mover a gosto.
Foi a maneira em que o disse o que a fez ficar tinta.
—Bem —balbuciou pigarreando—, e pensei que iria bem um papel a raias
baunilha e chocolate, um carpete em nata, e cortinas também de cor chocolate.
—vou dormir na habitação ou a me comer isso
—Muito gracioso. E me ocorreu que aqui, nesta parte, poderíamos pôr um
escritório e uma cadeira...
Everett meneou a cabeça.
—Não, não, quando tenho que preencher os livros de contas ou fazer
minhas papeladas me venho aqui ao estudo. Prefiro uma livraria ou um divã.
—De acordo —assentiu ela, aliviada de poder passar ao fim a página.
O seguinte esboço era de uma das habitações de convidados.
—Bem, e neste quarto...
—Não.
Jennifer elevou o olhar.
—Não o que?
—Quero lhe dar outro uso a esse quarto. Com uma habitação de
convidados é o bastante. Aí quero que vá o quarto dos meninos —disse olhando-
a aos olhos.
Jennifer ficou de pedra.
—Dos... meninos? —repetiu perplexa.
—Bom, em algum sítio terão que dormir os meninos —argüiu ele
razoavelmente.
—E de onde... supõe-se que vão sair? —inquiriu Jenny, arqueando as
sobrancelhas.
Everett deixou escapar um exagerado suspiro, como se a pergunta o
exasperasse.
—Pois primeiro tem que haver um homem e uma mulher; dormem juntos
Y...
—Isso já sei, idiota! —cortou-o Jenny franzindo o cenho irritada.
—E então para que perguntas?
Jennifer soprou.
—Pois porque, se por acaso o esqueceste, até faz nada foi desses que
dizem que antes mortos que casados.
—É verdade —concedeu ele—, mas suponho que meu novo status social
me tem feito trocar de idéia. Eu gostaria de ter filhos que herdassem estas
terras e dessem continuidade a meu legado.
Parecia que falava a sério. Jennifer baixou a vista a seus desenhos,
olhando-os sem vê-los em realidade.
—OH, e já tem uma candidata a esposa? —inquiriu com uma risada
despreocupada que não pôde soar mais falsa.
—Não, ainda não, mas por aqui há muitas garotas disponíveis —murmurou
ele, observando a de reojo—. De fato, a semana passada recebi uma chamada
da mulher com a que estive comprometido faz anos. Conforme parece se casou
com um engenheiro e as coisas não lhes foram bem. divorciaram-se.
Jennifer sentiu uma pontada no peito, como se lhe tivessem parecido
uma afiada adaga.
—Seriamente? —murmurou, redibujando sem cessar uma linha no esboço
—. Miúda surpresa, não?
—A verdade é que não foi —respondeu ele com cinismo—. As mulheres
dessa classe são bastante predecibles. E não me vou conformar com um prato
que passou que emano em mão.
—Pois se tão interessado está, em Houston se celebra a semana que vem
um baile de apresentação em sociedade de garotas de alta linhagem.
—Não quero uma mucosa.
—Vá, somos um pouco exigentes, né? —disse ela, olhando-o.
Everett sorriu divertido.
—Pois sim, um pouco.
Jennifer se pôs-se a rir apesar de tudo, a pesar da dor de seu coração.
—Bom, desejo-te sorte. Bom, e então, esse quarto para os meninos... quê-
lo em azul?
—Não, também eu gostaria de ter meninas. Ponha em tons rosas e azuis,
ou, não sei, em uma cor unissex, um amarelo claro ou algo assim —se levantou,
estirando-se, e bocejou—. Deus, estou morto. Espero que não te importe se
seguimos olhando isso manhã. Necessito como o comer umas horas de sonho.
—Não, claro, vete a dormir. Por certo, importaria-te que começasse já
com as habitações das que falamos? —perguntou-lhe Jenny—. Poderia ir
encarregando os materiais para adiantar o trabalho. De fato, já chamei para
que devam tirar o papel do salão.
—Parece-me bem; faz o que cria conveniente —respondeu Everett—.
Quanto tempo crie que te levará, fazer a casa inteira?
—Não sei, duas ou três semanas.
Everett assentiu.
—boa noite, Jenny, que durma bem.
—boa noite.
Ele saiu do estudou e subiu a seu dormitório, enquanto que Jennifer
ficou sentada frente ao fogo até que este se consumiu, tratando de fazer-se à
idéia de que o homem ao que amava ia casar se com outra mulher e a ter filhos
com ela. Seria alguém como Libby, disse-se. Uma mulher de campo de bom
caráter, cuja única ambição fosse ser esposa e mãe. Ardentes lágrimas
rodaram por suas bochechas. por que?, por que não podia ser ela?

Finalmente tinha decidido que era ridículo ficar ali sentada a lamentar-
se, e tinha subido também a sua habitação. Havia-lhe flanco um pouco dormir,
mas finalmente o cansaço do dia a tinha vencido, e à manhã seguinte se
levantou cedo, para fiscalizar o trabalho dos homens que tinham ido tirar o
papel do salão. Por fortuna o engessado estava perfeito, assim não terá que
arrumá-lo. Além disso, a gente do carpete tinha chamado para lhe dizer que
tinham tido um cancelamento na agenda, e que se queria podiam ir essa mesma
manhã, assim à meia hora de que se partiram os trabalhadores encarregados do
papel, os do carpete tinham invadido a casa. Jenny sabia que eram gente de
confiança porque já tinham colaborado antes com a agência da Sally em alguns
projetos, assim que os deixou trabalhando e escapou um momento a tomar o ar.
Passeando, encontrou-se com que Eddie estava domando cavalos com alguns
peões, e se encarapitou nas travessas do redil a vê-los trabalhar.
Embelezada como estava com uma camisa de quadros e uns jeans, e com
o cabelo recolhido em um acréscimo, parecia parte da cena, como se estivesse
em um rodeio.
Com os peões animando ao Eddie não ouviu o Everett aproximar-se por
detrás a cavalo, e se deu um susto de morte quando um de seus fortes braços a
rodeou pela cintura e a levantou, sentando-a na cadeira diante dele.
—Sinto te roubar público, Eddie, mas a necessito! —gritou a seu
empregado, que nesse momento acabava de dominar ao potro, que estava
trotando já mansamente pela areia do redil.
Eddie lhe fez um sinal de assentimento com a mão, Everett atraiu para si
ao Jennifer, sujeitando-a firmemente pela cintura, e esporeou brandamente ao
cavalo para que ficassem em marcha.
—Para que me necessita? —inquiriu Jenny, girando a cabeça e olhando-o
por cima do ombro.
—Esta manhã cedo nasceu um bezerro, e pensei que você gostaria de vê-
lo.
Jennifer riu.
—Estou muito ocupada para ir ver bezerros.
—OH, sim, já o vejo, sentada na cerca do redil animando a meus
homens...
—Bom, é que é todo um espetáculo.
—Pois o bezerro você gostará ainda mais.
Jennifer suspirou, e se recostou contra ele, admirando a paisagem em
silêncio enquanto avançavam. A sensação de estar em seus braços era tão
agradável como a recordava. Deus, por que teriam que haver-se quebrado as
coisas entre eles?
Minutos depois chegavam a uma arvoredo perto do riacho, e Everett fez
que o cavalo se detivera ali. Detrás havia um pequeno redil de arame de
espinheiro e dentro uma vaca com um bezerro; os duas de raça Hereford, com
a pelagem avermelhada e manchas brancas.
Ele desmontou, e ajudou ao Jenny a baixar.
—Não tenha medo da vaca, é muito mansa —lhe disse quando entraram
no redil—. A criei eu mesmo porque sua mãe morreu por uma mordida de
serpente. Inclusive tive que alimentá-la com uma mamadeira, mas mereceu a
pena, porque esta já é sua sexta cria.
Jenny se aproximou dela muito devagar e se acuclilló a seu lado. Parecia
de peluche, e tinha as orelhas e o focinho rosados.
—É preciosa! —exclamou maravilhada, acariciando-a entre os olhos.
—Em realidade é macho —corrigiu ele—. Acredito que será um magnífico
boi.
—Alguma vez soube qual é a diferença entre um boi e um touro —
murmurou Jenny passando a mão pelo lombo do animal—. São espécies
distintas?
Everett sacudiu a cabeça.
—Não, são o mesmo, mas o boi se utiliza como animal de carga ou para
carne —explicou ele— e os touros em troca para rodeios ou para cria.
—Já, mas, no que se diferenciam? Os bois são mais tranqüilos, não?
—Sim, bom, isso é porque ao bezerro que quer usar-se como boi, quando
chega a certa idade se o... —vacilou, como se estivesse procurando a palavra
adequada—. Enfim, um touro sim pode fecundar a uma fêmea e um boi não, já
me entende.
Jennifer sorriu maliciosa.
—Dá-te vergonha falar disso? —picou-o.
Everett arqueou uma sobrancelha.
—A mim? É você a que se incomoda cada vez que falo sem rodeios —lhe
espetou.
Ela franziu os lábios e voltou o rosto para o bezerro, mas este parecia
haver-se cansado de sua companhia, e com um gracioso trotecillo foi junto a
sua mãe.
Jennifer se incorporou e ficou olhando enternecida a cena.
—Há uma festa amanhã de noite em Vitória... —disse-lhe o rancheiro de
repente. Jenny se girou e o olhou sentida saudades—. Celebra o tipo da
companhia que explora meus poços de petróleo, e me pediu que vá me
apresentar a seu sócio —explicou—. Me perguntava... bom, perguntava-me se te
importaria me acompanhar. Não sei muito de eventos sociais —lhe pediu
tomando a das mãos.
Jennifer se estremeceu por dentro e lhe acelerou o pulso, mas o tom de
sua voz a tinha abrandado já.
—Não tem nenhuma vontade de ir, verdade? —inquiriu com um sorriso,
sabendo que assim era.
Ele assentiu com a cabeça.
—Não, mas não tenho mais remedeio —respondeu encolhendo-se de
ombros—. É o preço que terá que pagar por ser rico: te relacionar com a gente.
—Acompanharei-te encantada —respondeu Jenny, adulada por que o
tivesse pedido.
—Estupendo —disse ele, esboçando um amplo sorriso—. E se não ter um
vestido para ir eu lhe comprarei isso... já que é um favor que me faz.
Jennifer baixou a vista.
—Não, obrigado. Eu... tenho um em meu apartamento que acredito que
poderá me valer —lhe disse—; amanhã agarrarei o ônibus que saia a primeira
hora Y...
—Não faz falta. Se me der as chaves, direi ao Ted, meu chofer que lhe
vá recolher isso
—Bom —murmurou Jennifer, pensando no rápido que se arrumavam as
coisas quando a gente tinha dinheiro e médios—, de acordo, obrigado.
—De que cor é?, branco talvez? —perguntou-lhe ele de repente.
Jennifer o olhou irritada.
—Não, é azul —resmungou—. Escuta, Everett Culhane, que seja virgem
não significa que...
Não pôde terminar a frase, porque Everett a silenciou lhe pondo o índice
nos lábios.
—Pois eu gostaria que te vestisse de branco —lhe disse lhe acariciando
as mãos distraídamente—: é uma das cores que melhor lhe sintam —
acrescentou com um sorriso lobuna.
—Já te esqueceste que essa mujercita que te vais procurar, e desses
meninos que brincarão de correr por sua casa? —recordou-lhe ela
sobressaltada. Se ao menos lhe soltasse as mãos...—. Deveríamos voltar já.
deixei sozinhos aos encarregados do carpete, e não sei se necessitarão algo.
—Você não gostaria de ter filhos, Jenny? —inquiriu ele, surpreendendo-a
de novo.
—Pois, não sei, sim, claro, suponho que sim.
—E crie que poderia os ter e seguir com sua carreira ao mesmo tempo?
—perguntou Everett com aparente indiferença.
—Muitas mulheres o fazem —respondeu ela, franzindo os lábios—. Já
não estão no século XVI.
—Certo, mas há homens aos que não gostam que sua esposa trabalhe.
—Pois não lhes vai ficar mais remedeio que evoluir.
Everett se pôs-se a rir.
—Suponho, embora uma mulher como você poria nervoso a um desses
homens chapados à antiga: é bonita, e algum outro homem poderia te seduzir
enquanto decora sua casa.
—Não tenho intenção de me casar —o informou ela.
Ele arqueou as sobrancelhas.
—Pensa ter a seus filhos fora do matrimônio?
—Eu não hei dito isso! —protestou ela franzindo o cenho.
—É claro que sim que o há dito.
—Não, não o hei dito! —replicou ela exaltada—. E me solte as mãos!
Tratou de desenganchar as das do rancheiro, mas este as levantou até
as pôr rodeando seu pescoço, e a atraiu para si pela cintura, fazendo que
ficasse pega a ele.
—Mmmm... assim está melhor —murmurou com um sorriso—. Então, o que
estava me dizendo de ter meninos?
—Que se... que se os quisesse, suponho que me casaria. Mas não deixaria
meu trabalho. Quero dizer que... Everett, não... —balbuciou quando ele deslizou
as mãos para seus quadris e começou às massagear em círculos.
—Estraga, assim... diz que não deixaria seu trabalho?
Suas mãos tinham subido e estavam lhe acariciando as costas de uma
maneira enloquecedora.
—Deixaria de trabalhar quando nascessem, e voltaria a fazê-lo quando
começassem o colégio. A isso referia... quer parar? —resmungou alargando as
mãos por detrás de suas costas para agarrar as dele.
Entretanto, Everett foi mais rápido. As agarrou a ela, fazendo-a
arquear-se, e baixou a vista, admirando a turgidez de seus seios contra o fino
tecido da camisa.
—Como?, não leva sustento? —inquiriu, e o sorriso pícaro em seus lábios
se fez ainda major—. Vá, vá... outro lapsus freudiano?
—Quer deixar de falar de sustentos e de lapsus e me soltar? —
resmungou ela com aspereza.
—Está segura de que quer que faça isso? Porque não me parece que seja
uma boa idéia.
—por que não? —perguntou ela arqueando uma sobrancelha e
entreabrindo os olhos.
—Porque se lhe solto as mãos, terei que pôr as meu em outro sítio, e só
me ocorre um sítio onde gosta de mais as pôr —murmurou olhando fixamente
seus seios.
O peito do Jenny subiu e baixou inquieto. A proximidade e o calor do
Everett, e o comprido período de abstinência estavam fazendo racho nela. E
então, de repente, os olhos de ambos se encontraram, e foi como se se
produzira uma chispada. As lembranças dos meses passados e o desejo pelo
outro voltaram em turba à mente dos dois.
—Lembra-te do dia em que te caiu do cavalo... —perguntou-lhe ele em um
tom fico—, quando sua blusa se abriu, eu baixei o olhar, e te arqueou para que
pudesse ver melhor seu peito?
Jennifer entreabriu os lábios, e sacudiu a cabeça nervosa.
—Eu não...
—Claro que o fez —sussurrou ele—. Te tinha pilhado me olhando muitas
vezes, observando meus lábios... e esse dia todo trocou entre nós. Olhei-te,
olhei-te pela primeira vez e me dava conta de que te desejava, de que te
desejava como jamais tinha desejado a nenhuma outra mulher. Quase não pude
recuperar o sentido a tempo, e antes de obtê-lo, não sei nem como passou,
encontrei-me te abraçando... e você me deixou fazê-lo.
Jennifer não o tinha esquecido. Como teria podido esquecê-lo? Tinha
sido maravilhoso, tinha sido como um sonho.
Everett lhe soltou as mãos e a rodeou pela cintura com seus fortes
braços, levantando-a um pouco do chão, e atraindo-a de uma vez para seu corpo
para que pudesse sentir a pressão de seu tórax contra seus seios. Era tão
sensual que Jennifer tinha a sensação de estar completamente nua.
Conteve o fôlego e ofegou. Everett esfregou sua bochecha com a dela, e
afundou o rosto no oco de seu pescoço. Estreitou-a com força entre seus
braços, e a embalou contra si enquanto o vento soprava a seu redor e o sol
esquentava seus corpos. E, de repente, foi como se o mundo desaparecesse
para ambos.
Ao Everett incluso tremiam as mãos.
—Isto não nos leva a nenhuma parte —murmurou Jenny.
—Sei —respondeu ele em um sussurro. Levantou a cabeça de seu
pescoço, e se separou dela muito devagar—, e tem razão, será melhor que me
controle ou acabaremos fazendo o amor sobre o cavalo. Além disso, dentro de
uma hora fiquei com um homem que quer me vender uma partida de gado.
Jennifer se tinha ficado com os olhos abertos como pratos.
—De verdade duas pessoas podem... bom, fazê-lo sobre um cavalo? —
inquiriu sobressaltada.
—Não sei —respondeu ele renda-se—, não o provei nunca..., mas sempre
há uma primeira vez —disse em um tom lhe sugiram.
—Nem te ocorra —lhe advertiu Jenny, quando a levantou à cadeira e se
montou ele a seguir—. As mãos quietas.
—Sinto muito, sinto muito... —balbuciou ele.
Alargou as mãos para tomar as rédeas, e ao fazê-lo, seu antebraço se
esfregou sem querer com os seios do Jennifer. Seus mamilos ficaram tensos
imediatamente, e Everett repetiu o movimento.
—OH, Jenny... —suspirou—, a próxima vez que devas monte comigo mais
vale que ponha um casaco...
Jennifer queria lhe dizer que parasse, mas o musculoso antebraço do
rancheiro estava lhe fazendo coisas incrivelmente excitantes. E logo, antes
inclusive de que soltasse as rédeas, sabia que ia ocorrer: as grandes mãos do
Everett engoliram seus seios, e ela o permitiu, voltando a cabeça para apoiar a
bochecha em seu peito com um pequeno gemido.
—Deus, esta é a tortura mais doce que jamais... —balbuciou com a voz
entrecortada pelo desejo. Suas mãos estavam acariciando e massageando seus
peitos com uma doçura inusitada, e, embora sem dúvida se dava conta de que
lhe teria deixado, não tentou sequer lhe abrir a camisa—. Jenny, não deveria
me permitir fazer isto —lhe disse beijando-a na frente uma e outra vez.
—Sei —suspirou ela. Pôs suas mãos sobre as dele para as apartar, mas
não pôde reprimir o desejo das apertar contra seus seios e esfregar a cabeça
contra seu largo peito.
—Você gostaria de te tender na erva comigo e me deixar te amar... só
uns minutos? —perguntou-lhe Everett quedamente—. Nos beijaríamos e nos
acariciaríamos o um ao outro; nada mais.
Jennifer não queria outra coisa nesse momento, mas era muito logo, e
não estava segura das intenções dele. Quão único sabia era que a desejava até
a loucura, e não queria ficar o além em bandeja.
Provavelmente para ele aquilo era só um jogo que o mantinha entretido
enquanto encontrava essa esposa que estava procurando. Ela o amava, mas se
ele não sentia o mesmo por ela, aquilo não tinha nenhum sentido.
—Não, Rett —lhe disse obrigando-se a dizer essa palavra. Apartou-lhe
brandamente as mãos de seus seios e as pôs em torno de sua cintura com
firmeza—. Não.
Ele inspirou profundamente.
—É uma sorte que um dos dois seja capaz de manter a cabeça fria —
murmurou.
Jennifer sorriu com tristeza.
—Por favor, não me faça isto, Everett. Eu também te desejo, mas não
posso ser o que você quer que seja. Deixa que decore sua casa e que me parta;
não me faça mais danifico do que já me tem feito.
Ele a abraçou e suspirou, tomando as rédeas com uma mão.
—vou ter que redesenhar minha estratégia —murmurou—, não está
funcionando.
Jenny elevou o rosto e o olhou confundida.
—O que quer dizer?
Everett esquadrinhou seus olhos e se inclinou para beijá-la na frente.
—Nada, não se preocupe. Vamos a casa.
Jennifer se acurrucó contra seu peito e fechou os olhos. Aquela era uma
lembrança que conservaria toda sua vida: ela em braços do Everett,
atravessando a pradaria a lombos de um cavalo em uma preciosa tarde de
princípios de outono. A mulher que se casasse com ele teria outras lembranças
que entesourar, mas aquele era dele, só dele.

Capítulo 11

POR décima vez aquela noite, Jennifer desejou não ter aceito
acompanhar ao Everett a aquela exclusiva festa em Vitória. Parecia como se
todas as mulheres bonitas e solteiras da cidade se congregaram ali para lhe
jogar o laço ao rancheiro, quem era o objeto constante de sorrisos e miraditas.
A verdade era que estava bonito, admitiu Jenny para si a contra gosto.
Não havia nenhum outro homem na festa que fosse tão atrativo como ele.
Estava muito elegante com o fraque, e tinha um ar misterioso e sofisticado, por
não dizer sexy. E o modo em que lhe sentavam a jaqueta e a calça, marcando
cada músculo... olhá-lo era um verdadeiro suplício. Era uma idiota. Ali estava ela
derretendo-se pelo Everett Culhane, que lhe tinha feito acreditar que estava
pouco menos que apavorado ante a idéia de ter que ir a essa festa, quando
estava flertando abertamente com uma exuberante moréia.
deu-se a volta para não vê-lo e apurou de um gole o conteúdo de sua taça,
lhe pedindo ao encarregado da barra que lhe desse outra. Não fazia mais que
repetir-se que ela tampouco estava mau, com o cabelo solto sobre os ombros e
o vestido azul com decote palavra de honra que se pôs, mas então, por que
Everett não a tinha tirado nenhuma só vez a dançar?
E não era que ela tivesse estado sentada, ou de pé em um rincão, mas
depois de ter dançado com uns quantos homens de negócios com um péssimo
sentido do ritmo e um advogado casado de média idade que lhe pegou um pisão
enquanto giravam pela sala, sentia desejos de gritar. E, para cúmulo, justo
quando se dirigia a um assento livre junto à parede, pilhou-a por banda uma
senhora pesadísima que começou a meter-se com o prefeito e sua política
social, lhe jogando uma perorata interminável.
—Sinto interrompê-la, mas tenho que levar a esta jovem a casa —
interveio Everett de repente, cortando à mulher.
Jennifer esteve a ponto de tornar-se o ao pescoço em sinal de gratidão.
Disse-lhe à estranha um pouco educado e completamente falso para despedir-
se, deu-lhe sua taça com um sorriso beatífica, e se pendurou do braço do
rancheiro, cambaleando-se ligeiramente.
—Tome cuidado, ou acabaremos os dois no chão —lhe disse ele, renda-se
brandamente—. Está bem?
—Nunca estive melhor —balbuciou ela, aferrando-se a seu braço com
ambas as mãos e apoiando nele a cabeça—, mas acredito que irei diretamente à
cama —disse prorrompendo em uma risita tola.
Everett franziu o cenho e a olhou de esguelha.
—Quantas taças bebeste?
—Não sei. Perdi a conta —respondeu Jenny sonriéndole e olhando-o com
os olhos nublados—. Deus, Rett, é tão sexy...
As bochechas do rancheiro se coloriram ligeiramente.
—Está bêbada —balbuciou—. Anda, vamos.
—Onde? Eu não quero ir, quero dançar! —protestou ela fazendo panelas.
—Dançaremos no carro.
Jennifer franziu o sobrecenho.
—Não podemos nos pôr de pé dentro do carro —argüiu com toda lógica.
Everett a agarrou pela mão e a arrastou através do enorme salão de
baile. De caminho para a porta se despediram de um casal que Jennifer
reconheceu vagamente como os anfitriões, e depois de recolher seus casacos
no guarda-roupa saíram.
—Brrr, que frio! —balbuciou Jenny, mas se voltou a pendurar do braço
do Everett, acurrucándose contra seu flanco e suspirou satisfeita—. Melhor.
—Melhor para quem? —resmungou ele—. Devia ter deixado que nos
trouxesse Ted.
—por que? —perguntou ela entre risitas—. Tem medo de estar a sós
comigo? Não tem por que preocupar-se, carinho —lhe disse lhe dando uma
cotovelada—, jamais tentaria te seduzir —e pôs-se a rir de novo.
Um casal de certa idade passou a seu lado enquanto baixavam a
escalinata da entrada, e a mulher lançou um olhar curioso ao Jennifer.
—Tem-me medo —lhe vaiou ela, assinalando ao Everett, como se lhe
estivesse confiando um segredo à mulher—. É que hoje lhe esqueceu tomar a
pílula, sabe?
—Jenny! —grunhiu o rancheiro lhe dando um puxão do braço para si.
—Aqui não, Rett! —exclamou ela—. Por Deus, olhe que pode ser
impaciente...!
Everett balbuciou algo entre dentes e a arrastou até o estacionamento.
—Que tímido é! —disse-lhe Jenny renda-se, enquanto ele a obrigava a
entrar no carro—. Te puseste avermelhado!
Everett a olhou um momento antes de pôr em marcha o veículo.
—Amanhã te odiará quando te recordar as coisas que estiveste dizendo.
E te assegurou que o farei —lhe prometeu muito sério—. Não sei como te
ocorreu te pôr a beber sem medida quando normalmente o mais que toma é uma
abacaxi penetrada...
—Está muito bonito quando te zanga... —murmurou ela, apoiando a cabeça
em seu ombro e esfregando-se mimosa—. Esta noite dormirei contigo se quiser
—lhe disse alegremente.
Everett ficou tenso e balbuciou algo em voz baixa.
—OH, vamos, Rett, todo este tempo estiveste tentando me colocar em
sua cama... —recordou-lhe ela com chateio—. E agora que te digo que sim, o que
faz? fica vermelho como um tomate, e começa a amaldiçoar. Todos os homens
são iguais. Quando conseguem a uma garota já estão perseguindo a outra...,
como essa morenita com a que estava dançando —acrescentou irritada,
elevando o rosto para olhá-lo—. Pois sabe o que? Que as coisas não são sempre
o que parecem: estava no asseio de senhoras quando fui, e leva cheio no
prendedor. Vi-o com meus próprios olhos!
Everett estava debatendo-se entre o aborrecimento e a risada, mas
finalmente foi esta a que ganhou. Prorrompeu em gargalhadas, e não podia
parar.
—Não te fará tanta graça quando sair com ela —seguiu Jenny, franzindo
o cenho—. Se até os tem mais pequenos que eu! —balbuciou—. E tem umas
pernas espantosas... levantou-se a saia do vestido para arrumá-las médias, e
eram dois palitos!
Aquilo provocou novas risadas no Everett, que até teve que secar-se com
o dorso da mão umas lagrimillas que lhe tinham saltado.
Jennifer soprou irritada e se sentou bem, recostando-se no assento.
—por que não quer me fazer o amor? —inquiriu exasperada.
—Porque se o fizesse, amanhã pela manhã me arrancaria a cabeça —
respondeu ele—. Agora fecha os olhos e descansa. Em seguida estaremos em
casa.
—Não estou cansada —protestou ela.
—Sei boa garota, Jenny, tenho que conduzir e me está distraindo. Anda,
apóia a cabeça em meu ombro e fecha os olhos —lhe repetiu muito sério.
Jennifer balbuciou algo ininteligível mas apoiou a cabeça em seu ombro
de novo.
—Dormirá comigo esta noite? —perguntou-lhe com voz sonolenta.
—Se for o que quer...
Jenny sorriu e fechou os olhos com um suspiro de satisfação.
—Seria maravilhoso —murmurou. E ao cabo de um momento ficou
dormida.

À manhã seguinte, quando Jennifer despertou, a luz do dia cegava seus


olhos, e o simples canto de um pássaro na árvore junto a sua janela parecia que
fora a fazer que lhe estalasse a cabeça.
—OH, parte ! —gemeu desesperada—. Estúpido plumífero...
Uma suave risada a seu lado a fez dar um coice, e abriu os olhos de
repente, dando-a volta na cama para encontrar-se com o rosto do Everett, que
estava olhando-a divertido. Jennifer tomou ar, surpreendida, e tratou de
incorporar-se, mas sentiu uma forte pontada de dor na têmpora e teve que
voltar a tombar-se.
—Dói-te a cabeça? Pobrecita... —burlou-se o rancheiro.
—dormiste aqui? —perguntou-lhe Jenny indignada.
Então se precaveu de que estava vestido ainda com a roupa da noite
anterior, exceto pela passarinha, a jaqueta e os sapatos, e de que estava
tendido sobre a colcha, enquanto que ela estava debaixo. Ao ver seus braços
nus teve um mau pressentimento, e levantou devagar a colcha para olhar. Suas
bochechas se tingiram de um intenso rubor: não levava postas mais que umas
braguitas.
—Rett! —exclamou horrorizada.
—Só te despi —se defendeu ele, incorporando-se um pouco e apoiando-se
no cotovelo para observar —.sei razoável, carinho, não podia dormir com esse
vestido de noite. E além disso —acrescentou com um sorriso pícaro—, não é
culpa minha que levasse tão pouca roupa debaixo. Não pode imaginar o surpreso
que fiquei eu...
Jennifer lhe lançou um olhar furioso.
—Está bem, admito que fiquei te olhando um momento... de acordo,
bastante momento —se corrigiu—. E, Deus, Jenny, é a coisa mais formosa que
vi em minha vida. Quase me deprimi ao verte.
—Deveria te dar vergonha —resmungou ela, tratando de mostrar-se
irritada, o qual era difícil com o comichão que sua adulação lhe tinha produzido
por todo o corpo.
—por que?, por apreciar algo belo quando o tenho diante? —inquiriu ele,
percorrendo o perfil de seu nariz com um dedo—. É você a que deveria te
envergonhar de estar me fazendo recriminações sem fundamento. Levei-me
como um perfeito cavalheiro. Nem sequer te toquei, exceto para te colocar sob
as mantas.
—OH —murmurou ela.
—Porque me disse que esperaria a que despertasse para fazê-lo... —
acrescentou ele com um sorriso lobuna.
Jennifer agarrou a parte superior da colcha e se tampou até o pescoço.
—Ah, não!, nem te ocorra!
Everett se aproximou dela, enredando os dedos em seu cabelo loiro
enquanto ficava de joelhos e se inclinava ameaçador sobre ela.
—Lembra-te do que me disse ontem à noite daquela morenita?
Jennifer piscou. Morenita? Recordava vagamente a uma moréia que tinha
estado dançando com ele a noite anterior... E então voltou para seu memore o
que havia dito. ficou vermelha como um tomate.
—O que foi... o que foi o que disse? —murmurou Everett, como se o
tivesse esquecido—. Ah, sim, algo de que tinha os peitos pequenos, parece-me...
Alargou uma mão e lhe acariciou o ombro esquerdo, descendendo para a
clavícula. Ela tinha os olhos fixos na colcha e não se atrevia a levantá-los. Se o
fazia estaria acabada. Entretanto, não pôde evitá-lo. O olhar de ambos se
encontrou, e foi como se o mundo a seu redor desaparecesse. Amava-o
tantísimo... Tão mau era que queria beijá-lo uma vez mais, sentir uma última vez
seus lábios sobre os seus?
Everett pareceu ler seus pensamentos, porque sua mandíbula se contraiu
e sua respiração se tornou entrecortada.
—Ao diabo com a paciência —balbuciou, estendendo o braço para agarrar
a roupa da cama—. Vêem aqui.
Arrancou-lhe a colcha, apartando-a a um lado, e atraiu ao Jenny para si,
rodando com ela de modo que ficou tombada em cima dele. Tinha a camisa
desabotoada, assim que o peito nu do Jenny jazia sobre seu largo tórax
coberto de pêlo.
Os olhos do Everett pareciam estar ardendo quando a olharam de novo, e
introduziu as mãos entre as mechas de seu cabelo dourado, lhe massageando o
couro cabeludo com uma suavidade que contrastava com a tensão que Jennifer
podia sentir em seu corpo.
—Não quer... me tocar? —sussurrou ela nervosa.
—Mais que nada neste momento —confessou ele—, mas não vou fazer o.
Vêem aqui e me beije.
—por que não? —inquiriu ela, inclinando-se para lhe entregar sua boca.
—Porque Consuelo está subindo as escadas neste momento com o café da
manhã, e nunca chama antes de entrar.
Jennifer aspirou para dentro e se incorporou de um salto.
—por que não me há isso dito antes?
Everett riu brandamente, devorando com os olhos o delicioso corpo do
Jennifer enquanto esta se tirava de em cima dele e se descia da cama,
procurando desesperada sua bata.
—Tenha —lhe disse ele, tirando de debaixo do travesseiro sua camisola.
Jennifer alargou a mão para tomá-lo e o pôs a toda pressa, voltando a
meter-se sob as mantas.
Everett, enquanto isso, grampeou-se a camisa, e se tinha ficado sentado
ao bordo da cama, como se acabasse de chegar fazia só um momento.
Justo nesse momento entrou Consuelo.
—bom dia —os saudou lhe entregando a bandeja que levava ao Everett—.
Esse copo é a infusão de ervas que me pediu para a senhorita —acrescentou,
dirigindo um olhar reprobadora ao Jennifer—. Deve ter mais cuidado com a
bebida, senhorita Jenny. Meu defunto pai, que em paz descanse, sempre dizia
que não se deve tomar nem a primeira taça quando a gente não conhece seus
limites.
Jennifer se ruborizou, mas a mulher lhe deu uns tapinhas na bochecha.
—Bom, bom —lhe disse com um sorriso—, tome-a infusão que lhe trouxe
e já verá como lhe acontece a ressaca.
E partiu, deixando-os a sós de novo. Everett, a quem lhe estava custando
conter a risada, pô-lhe a bandeja no regaço e se levantou, dirigindo-se à porta.
voltou-se para ela com a mão no trinco, e um sorriso arrogante e enigmático nos
lábios. Estava incrivelmente atrativo com a camisa por fora e o cabelo revolto.
—Essa morenita era Sandy, a filha do Jeb Doyle —lhe disse—, e está
procurando marido. Monta a cavalo como um homem, adora o gado e também os
meninos. Tem vinte e oito anos, e vive a uns dez quilômetros daqui. Pode que
tenha os seios pequenos, mas tem os quadris largos... perfeitas para ter filhos.
Enquanto ele falava, Jennifer sentiu que a ira estava apoderando-se
dela. O muito...! Estava fazendo-o para atormentá-la, seguro! Sem pensar-lhe
duas vezes, agarrou a taça e a lançou.
Everett se apartou a um lado justo segundos antes de que a taça
impactasse contra a porta e se fizesse pedacinhos, derramando-se seu
conteúdo sobre o carpete.
O rancheiro saiu antes de que pudesse lhe atirar nada mais, e Jennifer o
ouviu afastar-se pelo corredor, renda-se.

Durante a semana seguinte, em vingança, Jenny tratou ao Everett com a


maior frieza possível, mas não lhe serve de muito, já que quase nunca estava no
rancho. Ela não fazia mais que lembrar-se do que lhe havia dito daquela moréia,
e o pensar que pudesse estar com ela estava devorando-a por dentro. Sentia
desejos de matá-lo, mas não rápido, a não ser lentamente, torturando-o, em
uma churrasqueira, ou algo assim.
E as coisas ficaram ainda pior. Everett começou para jantar com ela
todas as noites, observando a de um modo enervante e fazendo comentários
sobre a tal Sandy.
—Sandy vai comprar um potro amanhã —mencionou uma noite, sonriendo
malicioso—, e vou acompanhar a. Quer que lhe dê minha opinião.
—O que acontece? Não pode decidir ela sozinha? —inquiriu Jenny em um
tom docemente venenoso.
—Quer a opinião de um perito —respondeu ele—. Eu me dedicava
exclusivamente à cria de cavalos faz anos, antes de que começasse a me
interessar o gado.
—Não me diga? —balbuciou ela, revolvendo sua salada.
—Pois sim. Bom, e como vai a redecoración?
—Bem —resmungou Jenny com aspereza—. Amanhã vou repassar os
detalhes de seu dormitório. E logo só ficarão os dois quartos de banho e o
asseio pequeno. Por certo, já que falamos disto, não me há dito o que te parece
como ficaram o salão e o estudo.
—Não estão mal —respondeu Everett, levando uma parte de pescado à
boca com o garfo.
Jennifer sentiu desejos de levantar-se e lhe cravar uma faca nas costas.
Que não estavam mau! E se tinha passado dias trabalhando nisso!
Ele elevou o olhar para o rosto enfurecido do Jenny.
—Não fui o suficientemente entusiasta? —inquiriu sarcástico, tomando
um sorvo de água—. Caray, Jen, é a melhor!, está deixando minha casa
irreconhecível! —disse-lhe com um grande sorriso artificial—. Não sente
saudades que a gente se pegue tabefes para que decore suas casas!
—A mim sim que eu gostaria de te dar um tabefe... —balbuciou Jenny,
ficando de pé. Arrojou o guardanapo sobre a mesa e saiu do comilão como um
torvelinho.
Everett a seguiu com o olhar, e um sorriso malévolo se desenhou em seus
lábios.

O dia seguinte, Jennifer se dedicou por inteiro ao dormitório do


Everett. Resultava-lhe difícil trabalhar ali e não pensar na pessoa que o
ocupava cada noite. Os olhos foram uma e outra vez para a cama, e se detinham
amorosos no travesseiro em que recostava a cabeça até o amanhecer. Sacudiu
a cabeça irritada. Ridículo, aquilo era ridículo. Ali estava ela, apaixonada como
uma parva, e ele acabaria casando-se com aquela moréia plaina como uma tabela
de engomar!
Decidindo que o trabalho era o melhor para afogar as penas, nem sequer
parou para almoçar, e ainda não tinha baixado para jantar quando apareceu
Everett suarento e com a roupa poeirenta.
—Está fazendo jejum? —perguntou-lhe.
—Como o adivinhaste? —balbuciou ela, sem levantar a vista do esboço
que estava revisando.
Everett arqueou uma sobrancelha.
—Quer que te suba algo?
—Não, obrigado —respondeu com aspereza, redibujando uma linha.
—Vá, estamos de mau humor, né?
—Queria algo?
—Pois sim, me deitar. Amanhã tenho que me levantar cedo. vou levar a
Sandy a pescar.
Jennifer lhe lançou um olhar depreciativo, como se não lhe importasse.
—Se não te incomodar, eu gostaria de acabar com isto —disse.
—Adiante, termina-o. Eu vou me dar uma ducha —respondeu ele, tirando-
a camisa.
Jennifer não pôde evitar ficar olhando-o embevecida. Nunca tinha visto
um tórax tão perfeito: esse bronzeado uniforme, o modo em que seus músculos
se esticaram quando se inclinou para tirá-los... calças!, estava tirando-os calças!
Jenny baixou a vista a seu caderno com a rapidez do raio, terrivelmente
sobressaltada.
—Everett, o que faz? —inquiriu com voz gritã.
—me tirar a roupa —respondeu ele muito acalmado—, não vou tomar
banho me vestido.
—Poderia haver me avisado isso para que saísse da habitação.
—Não sente curiosidade? —picou-a ele.
Jennifer apertou os dentes.
—É obvio que não —respondeu ruborizando-se ainda mais.
—Galinha...
Jenny inspirou profundamente, tratando de concentrar-se no esboço, e
não levantou a cabeça até que ouviu o ruído da água caindo na ducha.
Entretanto, isso não significava necessariamente que Everett estivesse dentro.
Não, estava ali de pé, abafado unicamente com uma toalha em torno dos
quadris.
Jennifer ficou de pé e fez gesto de dirigir-se à porta, mas ele se
interpôs em seu caminho antes de que pudesse dar um passo.
—Vai a alguma parte?
—Sim, fora daqui! —espetou-lhe irritada, rodeando-o.
Nunca saberia como passou, só que de repente se encontrou levantada
em volandas, e ao minuto seguinte estava tombada de costas na cama do
Everett, com ele em cima dela, esmagando-a contra o colchão.
O peito masculino subiu e baixou lentamente, e a olhou com o desejo
escrito no rosto. Sem separar seus olhos dos dela, tirou-se a toalha, e se
inclinou para tomar seus lábios.
Jennifer se estremeceu, e deixou que suas mãos percorressem o quente
corpo do Everett, sentindo os músculos de seus ombros, os braços, as costas,
os quadris... Estava beijando-a brandamente mas de uma maneira muito íntima,
abrasadora, e lhe pareceu despertar de um sonho quando ele levantou
finalmente a cabeça e a olhou aos olhos.
—por que não vem e toma banho comigo? —perguntou-lhe quedamente.
Lhe acariciou amorosamente os fortes braços.
—Porque faríamos muito mais que tomar banho, e você sabe —respondeu
ela com um suspiro—. Com apenas me tocar consegue me fazer perder a
cabeça. A única razão pela que ainda sou virgem é porque me respeitaste e não
insististe.
—E por que crie que o tenho feito? —inquiriu ele.
Jennifer se removeu debaixo dele.
—Não sei. Por sua consciência?
Everett se inclinou e a beijou brandamente nos lábios.
—vá comer algo enquanto me experiente e me espere no salão. Falaremos
sobre isso.
Jennifer tragou saliva.
—Acreditava que queria ir a dormir... para te levantar cedo e levar a
Sandy a pescar —murmurou ressentida.
—Expuseste-te alguma vez que poderia competir com ela se quisesse? —
perguntou-lhe, olhando-a aos olhos—. Ou é que não sabe o pouco que te custaria
me seduzir? —sussurrou-lhe lhe acariciando os lábios—. E uma vez que o
fizesse, provavelmente me sentiria obrigado a me casar contigo, porque, ao não
estar você tomando a pílula, poderia te deixar grávida.
Jennifer conteve o fôlego. Nunca sabia se estava lhe falando em
brincadeira ou a sério, e nesse momento a cabeça lhe dava voltas.
Everett se levantou, e uma vez mais, ela não pôde evitar ficar olhando-o
absolutamente fascinada.
—Vê-o? —disse-lhe ele com voz rouca—. Não resulta tão chocante ver
um homem nu, a que não?
Jennifer elevou os olhos para os seus.
—Tem... um corpo tão... —balbuciou, tentando encontrar as palavras.
Ele sorriu.
—Você também, carinho —respondeu—. Anda, vá comer algo.
E se foi ao quarto de banho, como se nem sequer notasse o faminto olhar
dela, seguindo-o até que desapareceu depois da porta.

Uma meia hora depois, Jennifer estava esperando-o nervosa no salão.


Era como se tivessem chegado a um ponto decisivo em sua relação, a uma
encruzilhada, e não estava segura de saber como confrontá-lo. Tinha o
pressentimento de que ia voltar a lhe pedir que se deitasse com ele, e ela seria
tão estúpida para lhe dizer que sim. Ela o amava desesperadamente, enquanto
que ele unicamente a desejava. Desesperadamente também, sim, mas ela queria
algo mais que umas quantas noites ardentes. Claro que essa Sandy ia detrás
dele, e ela não podia fazer-se à idéia de que ele se casasse com outra mulher.
Porque, a pesar da dor que lhe tinha causado, temia perdê-lo.
Nesse momento apareceu Everett, com umas calças bege e uma camisa
branca, o cabelo ainda molhado, desprendendo um embriagador aroma a colônia
e loção de barbear.
—Gosta de beber algo? —perguntou-lhe dirigindo-se ao móvel bar.
—Não, obrigado, não tenho sede —respondeu ela, apesar de que se
notava a boca seca—, e depois do outro dia não quero voltar a provar nem gota
de álcool.
Everett sorriu levemente, e ao cabo de um momento estava sentando-se
a seu lado, enquanto depositava na mesita a taça de conhaque que se serviu.
Jennifer lhe dirigiu um olhar tímido e pigarreou, erguendo-se no assento.
—Nervosa? —inquiriu ele com essa voz tão sensual que a voltava louca.
—Não, claro que não —balbuciou ela, ruborizando-se—, por que ia estar
o?
—Não sei —murmurou ele, apartando uma mecha de seu rosto. Ao lhe
fazê-lo acariciou a bochecha, e Jennifer tremeu como uma folha—. Talvez
deveria está-lo... Hoje é o dia livre do Consuelo, e estamos sozinhos...
—Everett, eu... —começou a explicar-se ela.
Mas se confundiu por completo quando ele a tirou da mão e ficou a
beijar-se a de uma maneira incrivelmente incitante.
—Não está bem que... quer dizer... quando eu... —balbuciou—. OH, Rett,
não me faça isto —lhe suplicou se desesperada—, eu estou perdidamente
apaixonada por ti e você só quer uma amante que...
Não pôde terminar a frase, porque ele estava beijando-a tão
apaixonadamente que logo que sim podia lhe responder. Sem saber como,
Jennifer se encontrou tombada no sofá com ele em cima, enquanto seus lábios
devoravam os dela. As mãos do Everett percorriam trementes mas com mestria
cada curva de seu corpo.
—Diga-o outra vez —lhe disse com voz rouca, levantando a cabeça o
justo para olhá-la aos olhos.
O corpo do Jenny se arqueou para ele.
—Quero-te —disse, fazendo migalhas seu orgulho—. Te quero, quero-
te...!
Everett inclinou a cabeça para o corpo do vestido camiseiro branco que
tinha posto, beijando seus seios através do tecido, e posando os dedos nas
costas para arqueá-la ainda mais para ele. Jenny alargou as mãos para
desabotoar a provas os botões do vestido. Estava disposta a lhe dar o que lhe
pedisse, o daria tudo... porque lhe pertencia.
A boca do Everett lhe descobriu sensações que jamais tinha imaginado
que pudesse experimentar. Custava-lhe trabalho respirar enquanto seus lábios
e seus dentes a exploravam com delicadeza, e lhe agarrou a cabeça com as
mãos para mantê-lo ali, enredando os dedos em seu escuro e curto cabelo.
Everett levantou finalmente a cabeça e a olhou aos olhos, sonriendo ao
ver a expressão encantada em seu rosto, suas bochechas avermelhadas e a
gloriosa massa de loiro cabelo esparramado sobre o sofá.
incorporou-se, ficando sentado a seu lado, e lhe disse com um sorriso
malicioso:
—Será melhor que te grampeie o vestido. Assim me volta completamente
louco.
—Acreditava que essa era a idéia —murmurou ela confundida.
—Era-o..., até que me declarou seu amor —respondeu ele—. ia fazer te o
amor no sofá, mas agora me parece que será melhor que façamos as coisas
bem.
Jennifer o olhou com o cenho franzido.
—Não te compreendo. É que já não me deseja? —inquiriu.
—Que se já não...?
Everett tomou pela cintura e a fez sentar-se escarranchado sobre ele,
apertando-a contra seus quadris.
—Pode sentir até que ponto te desejo?
O intenso rubor nas bochechas do Jenny foi uma resposta mais que
afirmativa, e o rancheiro a embalou meigamente.
—Mas, então, por que? —insistiu ela com voz lastimosa.
—Porque terá que ir por ordem, carinho —respondeu ele—. Primeiro nos
casaremos, logo faremos o amor e depois virão os meninos.
Jennifer ficou tensa.
—O que?
—O que acabo de te dizer —respondeu Everett, olhando-a muito sério
aos olhos.
—Mas Sandy... —balbuciou ela.
—Sandy é uma garota estupenda —disse ele—, com a que dancei naquela
festa, e que logo voltou com seu prometido. É um bom tipo, você gostará.
—Há dito... seu... prometido?
Everett a atraiu para si e a abraçou com força.
—Eu também te quero, Jenny —lhe sussurrou.
Ela ficou paralisada, aturdida, e logo se apartou brandamente para olhá-
lo aos olhos, e neles pôde ler essas mesmas palavras.
—Amo-te, Jennifer King, amo-te tanto que faria o que me pedisse, tanto
que me porei de joelhos se for necessário... algo com tal de que me perdoe as
coisas que te disse, o modo em que me levei contigo —se inclinou e a beijou
doce mas apaixonadamente—. Já sabia que te queria quando me entregou
aquele cheque e me disse a verdade, mas de repente senti como se o chão se
abrisse sob meus pés, porque a mulher a que amava estava longe de meu
alcance. Foi uma mulher de cidade, de carreira, a que eu não tinha nada que lhe
oferecer...
—Eu não queria nada exceto a ti —balbuciou ela, com os olhos cheios de
lágrimas—. OH, Rett!, por que não me disse isso?, eu te amava.
—Mas eu não sabia —murmurou ele. A voz lhe tremia ligeiramente e suas
mãos se contraíram em torno da cintura do Jenny—. Meu orgulho me fazia ser
tão retorcido que quando me deu aquele cheque acreditei que tinha estado
jogando comigo. Só quando te partiu compreendi que sim devia te importar para
fazer o que tinha feito por mim —subiu uma mão ao rosto dela e a apertou
contra sua bochecha—. Ainda não sabe por que vendi os direitos de exploração
dos poços? Porque pensei que se o fazia já não seria um homem pobre e poderia
estar a sua altura, que possivelmente assim teria uma oportunidade de te
recuperar.
Jennifer sacudiu a cabeça, e as lágrimas rodaram por suas bochechas.
—Além disso —continuou ele—, quando foi, dava-me conta de que as
terras, o gado, tudo isto... não significavam nada para mim, que não poderia
seguir vivendo se não tinha a ti a meu lado. Não permiti que Consuelo tocasse
sua habitação. Queria que a deixasse tal e como você a deixou. Durante a
primeira semana ainda podia cheirar seu perfume no travesseiro... e acreditei
que era tarde... que te tinha perdido... —sua voz se quebrou, e ela procurou
cegamente seus lábios, reconfortando-o.
Jennifer acariciou seu rosto amorosamente com as pontas dos dedos.
Empurrou-o brandamente, fazendo que se tombasse no sofá, e sua boca e suas
mãos lhe disseram secretos que nem sequer as palavras podiam lhe haver
revelado, disseram-lhe da maneira mais doce que jamais estaria sozinho
enquanto ela vivesse.
—Não... não podemos fazê-lo... —suspirou ele, tremente.
—por que não? —ofegou Jenny.
—Porque quero que um sacerdote honre nossa união em uma igreja, Jen,
e que você vá de branco —murmurou ele abraçando-a—, quero que tudo seja
como deve ser. Quero escutar seus votos matrimoniais e te olhar aos olhos
quando os pronunciar, e quero poder lhe dizer a todo mundo que é minha
esposa, e que não sacrificou seus princípios por satisfazer meu desejo. E então
—lhe sussurrou ao ouvido—, então faremos o amor da maneira mais tenra, mais
completa, e nos converteremos em um. Por isso não vamos fazer o aqui, no sofá,
porque os votos do matrimônio são muito formosos, muito sagrados para nos
adiantar a eles pela impaciência.
Jennifer elevou a cabeça e o beijou brandamente.
—Obrigado, Rett.
—Não é um sacrifício para mim —replicou ele—. Te amo, e quero
esperar..., mas será melhor que te grampeie o vestido e deixe de me induzir a
uma vida de pecado —brincou arqueando uma sobrancelha.
Jenny riu.
—Mas que cara tem! Mas se tiver começado você!
—Ah, mas você te desabotoou o vestido —lhe recordou ele.
—E você o que? te olhe —murmurou ela divertida, assinalando seu peito
nu e o cinturão da calça desabotoada.
—Isso também o tem feito você!
Jennifer se pôs-se a rir enquanto se grampeava o vestido.
—Está bem, admito-o, senhoria, fui eu. Quem me haveria isso dito?
tentei te seduzir...! Com todas as vezes que acusei a ti de tentá-lo comigo!
—Bom, que eu saiba não me queixei —murmurou ele com um sorriso
lobuna—. De fato me encantou.
Jennifer riu e suspirou de puro contente, tombando-se a seu lado de
novo e abraçando-se a ele.
—E quando nos casaremos? —inquiriu.
—Umm... que tal esta sexta-feira?
—Tão tarde? —gemeu ela—. Ainda faltam três dias...
—Bom, há muitos preparativos que fazer, mas sempre pode provar a te
dar duchas frite —respondeu Everett divertido—. E tem que acabar de
redecorar a casa, porque quando nos casarmos estarão muito ocupada para isso.
—Ah, sim? —murmurou ela—. E o que se supõe que me manterá tão
ocupada?
—Esperava que o perguntasse —respondeu ele com um sorriso. Inclinou a
cabeça, e introduzindo uma mão por detrás de suas costas, arqueou ao
Jennifer para si—. Isto é o que estará fazendo.
E a beijou com tal ternura que novas lágrimas de sorte rodaram por suas
bochechas. Parecia uma ocupação tão maravilhosa que nem sequer protestou.
depois de tudo, teria tempo mais que de sobra para decorar casas quando seus
filhos começassem a escola. Enquanto isso, Everett prometia ser um trabalho
de jornada completa.

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