Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Orientador:
Prof. Dr. Clodomiro Alves Júnior
Co-Orientador:
Prof. Dr. Roberto Silva de Sousa
Março de 2006
Natal-RN
Rômulo Ribeiro Magalhães de Sousa
Dissertação de Mestrado
apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciência e
Engenharia de Materiais, da
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, como requisito para a obtenção
do título de mestre.
NATAL – RN
Março, 2006
DEDICATÓRIA
A minha esposa Lílian e aos meus filhos Rômulo Jr. e Liliane pelo carinho,
apoio e incentivo.
AGRADECIMENTOS
O processo de nitretação iônica apresenta uma série de limitações relacionadas com o controle
da espessura da camada e de sua uniformidade. Essas limitações são produzidas devido a
efeitos de bordas e de cátodo oco que ocorrem durante o processo, principalmente em peças
com geometria complexa e em pressões do processo superiores a 2 mbar. Assim uma nova
técnica, denominada ASPN (Active screen plasma nitriding) está sendo usada como
alternativa, por oferecer muitas vantagens em relação ao plasma dc convencional. O sistema
desenvolvido apresenta uma configuração em que as amostras a serem tratadas permanecem
envolvidas por uma tela que atua como cátodo com tensão dc variando entre 0 e 1200V e
correntes de até 1 A. A amostra pode permanecer em potencial flutuante ou ser polarizada por
uma fonte auxiliar. Como o plasma não é formado diretamente na superfície das amostras e
sim na tela, os efeitos citados são eliminados. Este mecanismo permite investigar a
transferência de nitrogênio para o substrato por microscopia óptica e microscopia eletrônica
de varredura para exames da morfologia e da estrutura, difração de raios-X para identificação
de fases e os ensaios de microdureza permitem avaliar a eficiência deste processo em relação
à nitretação dc convencional.
Palavras-chave: gaiola catódica; nitretação a plasma; efeito de borda.
ABSTRACT_____________________________________________
The ionic nitriding process presents some limitations related with the control of the thickness
of the layer and its uniformity. Those limitations that happen during the process, are produced
due to edge effects, damage caused by arcing arc and hollow cathode, mainly in pieces with
complex geometry and under pressures in excess of 1 mbar. A new technique, denominated
ASPN (active screen shapes nitriding) it has been used as alternative, for offering many
advantages with respect to dc plasma conventional. The developed system presents a
configuration in that the samples treated are surrounded by a large metal screen at high
voltage cathodic potencials, (varying between 0 and 1200V) and currents up to 1 A. The
sample is placed in floting potential or polarized at relatively lower bias voltages by an
auxiliary source. As the plasma is not formed directly in the sample surface but in the metal
screen, the mentioned effects are eliminated. This mechanism allows investigate ion of the
transfer of nitrogen to the substrate. Optical and electronic microscopy are used to exam
morphology and structure at the layer. X-ray difration for phase identification and
microhardness to evaluate the efficiency of this process with respect to dc conventional
nitriding.
___________________________________________________________________________
Keywords: cathodic cage; plasma nitriding; edge effect.
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO 14
2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 17
2.1 – Descrição do plasma 18
2.1.1 – Bainha Catódica 20
2.1.1.1 – Influência da forma e dimensões da peça na estrutura da bainha 21
2.2 – Interação íon - superfície. 25
2.2.1 – Sputtering da superfície 26
2.3 – Mecanismo de nitretação por plasma 28
2.4 – O sistema Fe – N 30
2.5 – O sistema Fe – C – N 31
2.6 – Nitretação por plasma de aço carbono 35
2.7 – Nitretação a plasma Tela Ativa (Active Screen) 42
2.7.1 – Mecanismo de transferência de nitrogênio na nitretação 44
2.7.2 – Transferência de nitrogênio da superfície da amostra para substrato 47
3 – MATERIAIS E MÉTODOS 51
3.1 – Preparação das amostras 52
3.2 – Equipamento de tratamento DCPN 52
3.2.1 – Montagem da câmara de tratamento DCPN 54
3.2.2 – Sistema a vácuo 54
3.2.3 – Fonte de tensão 54
3.2.4 – Sistema de alimentação de gases 54
3.3 – Equipamento de tratamento ASPN 55
3.4 – Tratamento das amostras 56
3.4.1 – Condições de tratamento 56
3.5 – Microscopia óptica 57
3.5.1 – Preparação das amostras para metalografia 57
3.5.2 – Análise metalográfica 57
3.6 – Medida de microdureza 57
3.7 – Difratometria de raios-X 57
4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO 59
4.1 – Introdução 60
4.2 – Formação do Plasma 60
4.3 – Aspecto microestrutural das amostras nitretadas 61
4.4 – Análise da microdureza 65
4.5 – Análise de raios-X 67
5 – CONCLUSÕES 72
REFERÊNCIAS 74
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 - Curva característica de voltagem X corrente entre dois eletrodos, numa
18
descarga elétrica em gases.
Figura 2.2 - (a) Perfil visual do plasma durante a descarga luminescente anômala; (b)
intensidade luminosa; (c) Perfil potencial; (d) Perfil do campo elétrico longitudinal; (e) 19
Perfil da densidade de carga espacial; (f) Densidade de corrente de íons Ii e elétrons Ie.
Figura 2.3 - Espectro de energia de íons incidentes, gás N2 em 37 Pa e 500 V. 21
Figura 2.4 - Configuração esquemática do fluxo de íons sobre uma superfície
23
irregular.
Figura 2.5 - Descrição esquemática dos efeitos causados na superfície pelo
26
bombardeamento de partículas energéticas.
Figura 2.6 - Modelo para Mecanismo da nitretação de aços por plasma. 29
Figura 2.7 - Diagrama de fases Fe-N. 30
Figura 2.8 - Diagrama ternário de fases do sistema Fe-C-N publicado por Nauman e
32
Langerscheid em 1965.
Figura 2.9 - Diagrama de Fases Fe-C-N proposto por Slycke. 33
Figura 2.10 - Secção isotérmica a 500º C do sistema Fe-C-N. 34
Figura 2.11 - Secção isotérmica a 600º C do sistema Fe-C-N. 35
Figura 2.12 - Micrografia mostrando a zona de compostos e a zona de difusão. 37
Figura 2.13 - Microestrutura da superfície nitretada. 38
Figura 2.14 - Características gerais da microestrutura formada como resultado da
39
transformação α’’→ γ’.
Figura 2.15 - Precipitação em situ do nitreto Ȗ’ - Fe4N a partir de α’’- Fe16N2 na
40
microestrutura de um aço carbono.
Figura 2.16 - Difratograma mostrando picos correspondentes aos nitretos ε+γ’, ε , γ’. 40
Figura 2.17 - Diagrama Fe-N. 42
Figura 2.18 - Diagrama esquemático mostrando um sistema (a) DCPN e (b) ASPN
43
(LI, C. X. et al, 2002).
2.19 - Diagrama dos mecanismos de nitretação dos processos (a) DCPN e (b) ASPN
44
(LI,C. X. et al, 2003).
Figura 2.20 - Morfologias de (a) DCPN e (b) ASPN da superfície das amostras
46
nitretadas.
Figura 2.21 - Difratrogramas comparativos dos processos DCPN e ASPN (LI, C. X. e
48
Bell, 2003).
Figura 2.22 - Concentração de Nitrogênio no processo ASPN, até 6 µm de
49
profundidade (LI, C. X. e Bell, 2003).
Figura 2.23 - Perfil comparativo de dureza das técnicas DCPN e ASPN. 50
Figura 3.1 - Desenho esquemático do equipamento de nitretação por plasma. 53
Figura 3.2 - Fotografia do equipamento de nitretação por plasma do LabPlasma. 53
Figura 3.3 - Vista em corte do reator de tratamento e detalhe da gaiola catódica,
55
mostrando a disposição espacial das amostras.
Figura 3.4 - Disposição da amostra 400E5 (temperatura de 400oC, amostra exterior,
56
5mm de altura).
Figura 4.1 - Aspecto visual da formação do plasma no processo (a) ASPN e (b)
61
DCPN.
Figura 4.2 - Defeito de bordas (a) em DCPN e a eliminação do efeito de bordas (b) em
62
ASPN.
Figura 4.3 - Micrografias de amostras tratadas em ASPN nas condições (A) 20 % N2 e 63
(B) 50 % N2 e (C) 80 % N2..
Figura 4.4 - Micrografias (500X) de amostras tratadas em (A) DCPN e (B) ASPN. 64
Figura 4.5 – Dureza superficial em aço 1020 nitretados pelos processos ASPN e
67
DCPN respectivamente.
Figura 4.6 - Difratogramas de raios-X das amostras nitretadas a 673 K / 360 Pa. 68
Figura 4.7- Difratogramas de raios-X das amostras nitretadas a 773 K / 360 Pa. 69
Figura 4.8 - Difratogramas das amostras nitretadas a 843 K / 360 Pa. 70
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 - Estrutura e parâmetros de rede das principais fases existentes no sistema 31
Fe-N.
Tabela 3.1 - Composição química. 52
Tabela 4.1 – Espessura das camadas nitretadas pelos processos DCPN e ASPN 65
Lista de abreviaturas e símbolos
e- - Elétron livre
o
G - Gás no estado padrão
+
G - Gás iônico
Vb - Tensão de Ruptura
p - Pressão
L - Largura da bainha
jd - Densidade de corrente
e - Carga eletrônica
σ - Constante de Boltzmann
α - Ângulo interno da borda
Es - Campo elétrico na superfície
r - Distância da ponta da peça
dr - Distância de recuperação
m1 - Massa do íon
m2 - Massa do material do substrato
εs - Emissividade da superfície
cp - Calor específico do material do substrato
∆T - Razão de aquecimento do substrato.
/ ∆t
Sy - Taxa de “sputtering”
ϕ - Constante de proporcionalidade
Eb - Energia do bombardeamento
UO - Energia de ligação dos átomos da superfície
Y - Espessura da camada nitretada
a - Espessura da zona de compostos
Pi - Potência por unidade de área
Vd - Potêncial de Descarga.
A/V - Razão área superficial para volume
Tp - Temperatura superficial local
Y - Sputtering produzido
R - Razão de erosão
Ma - Peso atômico do substrato
ρ - Densidade do substrato
K - Constante que depende da posição da fonte.
D - Coeficiente de difusão
DCPN - Nitretação a plasma corrente contínua
ASPN - Nitretação a plasma em tela ativa
DRX - Difração de Raios-X
rf - Rádio Freqüência
MEV - Microscopia Eletrônica de Varredura
Capítulo 1
Introdução
Introdução 15
1 – INTRODUÇÃO
Na nitretação por plasma, uma descarga elétrica em um gás contendo nitrogênio à baixa
pressão é usada para promover o bombardeio de íons e de espécies neutras sobre uma
superfície metálica. Devido a este bombardeio os átomos que são arrancados da superfície da
amostra, reagem com as espécies ativas do plasma e os produtos da reação voltam à superfície
por redeposição. Os nitretos redepositados e recombinados dão origem a duas camadas:
camada de compostos e zona de difusão. A relação entre as espessuras destas zonas, bem
como as suas composições químicas definem as propriedades mecânicas da camada nitretada.
A nitretação a plasma (DCPN) é um processo bem aceito industrialmente, sendo
utilizado na melhoria de várias propriedades físicas de superfícies metálicas, como dureza,
resistência ao desgaste e à corrosão, o que resulta em um aumento da vida útil das peças
tratadas. Além de ser um processo que apresenta vantagens em relação aos processos de
nitretação convencionais a gás ou em banho de sais, como a não emissão de poluentes, a
economia de energia (toda potência térmica é utilizada para aquecer as peças e não a parede
do reator, como acontece em um forno elétrico convencional), tempos de tratamento mais
curtos, é também um processo versátil, pois permite, com a mudança dos diversos parâmetros,
a obtenção de propriedades e espessuras diferentes da camada nitretada.
No entanto, o processo de nitretação DCPN apresenta alguns problemas,
especialmente quando são tratadas peças de geometria complexa. Neste processo, os
componentes a serem tratados estão sujeitos a um alto potencial catódico para que o plasma se
forme diretamente na sua superfície. Devido a distorções do campo elétrico em torno de
cantos vivos ou bordas, conhecido como efeito de borda, as amostras apresentam anéis de
erosão caracterizados por uma redução de dureza nessas regiões. Esse defeito aparece
principalmente em tratamentos com elevadas pressões de trabalho, como por exemplo,
5 mbar, e em materiais com elementos formadores de nitretos.
Neste trabalho a finalidade é utilizar o processo inovador de nitretação a plasma em
tela ativa (ASPN), desenvolvido no LabPlasma, para eliminar o efeito de bordas e comparar a
morfologia, composição e propriedades do aço AISI 1020 nitretado pelos processos DCPN e
ASPN. Nesta técnica, as amostras a serem nitretadas são envolvidas por uma tela ou gaiola
metálica na qual é aplicado o potencial catódico, recebendo por isso a denominação tela ativa
(LI, C. X. et al., 2002). As amostras são colocadas sobre uma superfície isolante (disco de
alumina), permanecendo em potencial flutuante ou sujeitas a uma baixa tensão de polarização
(-100 a -200V). As amostras são tratadas num regime de pós-descarga (GEORGES, 2001).
Entretanto, é na tela ativa e não na superfície dos componentes, que o plasma é formado. O
calor gerado por radiação da tela leva as amostras à temperatura de trabalho, levando a
temperatura a uma uniformidade.
2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
gás.
Devido a essa produção de cargas, é gerada uma corrente elétrica que varia com a
diferença de potencial entre os eletrodos, dada pela curva da figura 2.1.
Figura 2.1 – Curva característica de voltagem X corrente entre dois eletrodos, numa descarga
elétrica em gases (ALVES JR, 2001).
Esta curva possui três regiões distintas: na primeira a corrente é baixa porque é
proporcional a velocidade com que os íons podem mover-se para os eletrodos. Nestas
condições o gás comporta-se como mal condutor. A medida que a voltagem aumenta, também
aumentará a velocidade dos íons e elétrons, que serão neutralizados nos eletrodos. Isto
aumenta o coeficiente de recombinação e, decresce a taxa de aumento da corrente com a
voltagem. Se o ritmo de produção de íons e elétrons permanece constante ao se aumentar a
(a)
(b)
(c)
(d)
(e)
Figura 2.2 - (a) Perfil visual do plasma durante a descarga luminescente anômala; (b)
intensidade luminosa; (c) Perfil potencial; (d) Perfil do campo elétrico longitudinal; (e) Perfil
da densidade de carga espacial; (f) densidade de corrente de íons Ii e elétrons Ie.
Figura 2.3. Espectro de energia de íons incidentes, gás N2 em 37 Pa e 500 V. (Fonte: BERG
et al., 2000).
Em estado padrão, este balanço térmico pode ser expresso como a soma dos três termos
independentes, tal como:
Figura 2.4. Configuração esquemática do fluxo de íons sobre uma superfície irregular.(Fonte:
MALIK et al., 1995).
Sabe-se que a energia dos íons ao entrar na bainha é influenciada pela voltagem e,
modificada pela pressão do gás em um plasma CC. Agora se pode também acrescentar o
efeito da geometria do cátodo. Muitos modelos analíticos e numéricos que tratam dos efeitos
geométricos do cátodo na estrutura do potencial e na dinâmica dos íons em bainhas não
colisionais foram publicadas a partir do início dos anos 90 (WATTERSON, 1989). A
compreensão desses modelos pode ser usada, qualitativamente, para entender o
comportamento da bainha catódica, no caso da nitretação, ao redor de superfícies curvadas.
Baseado na solução da equação de Poisson em 2-D (WATTERSON, 1989) foi quem
primeiro construiu um modelo numérico da bainha de Child-Languimir em cátodos contendo
bordas quadradas e pontas finas. Ele encontrou que o ângulo de incidência é oblíquo e, o
fluxo de íons sobre a superfície tem um valor máximo próximo, mas não exatamente, na
borda. Para a parte plana do cátodo, longe da borda, o fluxo é uniforme e o ângulo de impacto
é perpendicular à superfície. Segundo (SHERIDAN, 1996) isso se dá pela competição entre
dois efeitos. O primeiro é devido à convergência das linhas de campo elétrico em pontas
agudas, ou seja, se a trajetória dos íons seguisse as linhas de campo (trajetórias de partículas
sem massa) a maior incidência de íons se concentraria na ponta. O segundo é que, devido à
inércia, os íons não conseguem acompanhar as linhas definidas pelo campo elétrico, e o
impacto se dá a uma distância finita da borda. Ainda segundo o modelo, o local sobre a
superfície do cátodo onde o fluxo de íons é máximo está a uma pequena distância da borda,
aproximadamente L 10 , onde L é a largura da bainha.
Nesse ponto, seria oportuno falar de como o campo elétrico se comporta sobre
superfícies condutoras contendo pontas, ou seja, qual seria a trajetória de uma partícula sem
massa dentro da bainha? A previsão analítica desse efeito já está bem estabelecida (JCKSON,
1975). O campo elétrico na superfície, próxima a uma ponta, é dominado pelo termo dado
pela equação:
E s = kr −(π −α ) /( 2π −α ) (2.4)
O tamanho da peça (cátodo) influencia o fluxo, a energia e a trajetória dos íons que
incidem na superfície. No trabalho publicado por (SHERIDAN, 1997) é dito que quanto
maior o cátodo menor será a densidade do plasma sobre a sua superfície, a largura da bainha
aumenta para essa situação. Quando a largura da bainha aumenta, o ângulo de ataque torna-se
mais oblíquo em relação à superfície do cátodo, indicando que a trajetória dos íons torna-se
cada vez mais radial. Para bainhas significativamente maiores que o cátodo é mostrado que o
fluxo de íons incidentes é maior no centro do cátodo e, diminui em direção a borda. Quando a
bainha é menor ou, pelo menos comparável ao tamanho do cátodo, o fluxo de íons é máximo,
próximo, mas não exatamente na borda da peça (SHERIDAN, 1997).
Então, pelo que foi dito, em peças com formas irregulares (multifaces) a bainha afasta-
se do lado correspondente à face com maior área relativa. Conseqüentemente, a outra face
estará sujeita a uma maior taxa de ionização devido a uma maior convergência das linhas de
campo elétrico provocada pela contração da bainha (MALIK et al., 1995). Essa afirmação é
importante, pois a forma da bainha provoca mudanças significativas no ângulo efetivo de
incidência das partículas energéticas na superfície. (NAYAL et al., 1999) nitretaram brocas de
aço rápido e verificaram diferenças significativas na profundidade da camada e perfil de N em
diferentes partes da broca. Esses resultados sugerem que maiores densidades de corrente,
localmente, levam a maiores temperaturas em partes agudas de peças, permitindo uma maior
incorporação de nitrogênio pela superfície.
Foi visto que a posição da extremidade da bainha e sua forma geométrica é um
parâmetro que pode influenciar decisivamente nas características metalúrgicas da camada
nitretada (morfologia, uniformidade, composição e dureza). Segundo (MALIK et al., 1997) a
forma da bainha está relacionada com a geometria da peça e com os parâmetros da descarga
que afetam a densidade do plasma, principalmente, pressão e voltagem.
Figura 2.5 – Descrição esquemática dos efeitos causados na superfície pelo bombardeamento
de partículas energéticas (RICKERBY e MATTHEWS, 1991).
3φ 4m1 m2 Eb
Sy =
4π 2 m1 + m2 U o (2.5)
Onde ij é uma constante de proporcionalidade que aumenta com m1/m2 (m1 e m2 são as
massas das partículas alvo e incidente). Eb é a energia de bombardeamento e Uo é a energia de
ligação dos átomos da superfície.Observa-se que a taxa de sputtering aumenta linearmente
com a energia do íon incidente. Depende também das massas do íon e do átomo alvo e da
energia de ligação entre os átomos do alvo.
Na nitretação a plasma a energia de bombardeamento é baixa, menor do que 1 kV, a
taxa do sputtering máxima é obtida quando a massa atômica das partículas do alvo é
aproximadamente igual a das partículas que a bombardeiam. As colisões primárias tornam-se
mais importantes com a diminuição da energia, pois a profundidade média desta interação
diminui, e uma fração média maior de energia primária é transferida para o átomo alvo
(OECHSMER, 1975).
Em processos a plasma em alta pressão (acima de 133 Pa), o fluxo de espécies que
bombardeiam o cátodo é composto principalmente por espécies energéticas criadas por
mecanismos de transferência de carga na bainha. A essas pressões, os átomos arrancados do
cátodo são termalizados por colisões das espécies do gás, podendo sofrer retrodifusão e se
redepositarem sobre a superfície do cátodo ou serem perdidos na descarga (MASON e
PICHILINGI, 1994). De um modo geral, estima-se que 60 a 70% do material que deixa o
cátodo por sputtering, volta ao cátodo e é redepositado (BORGAERTS, 1998).
Como na nitreção por plasma a difusão e o sputtering ocorrem concomitantemente, o
crescimento da camada é sempre acompanhado por uma taxa linear de remoção de átomos da
superfície. (ROLINSKI e SHARP, 2001) propuseram que a espessura da camada de
compostos, y, em nitretação por plasma, pode ser escrita por uma equação polinomial dada
por:
Y = a + Sy t + c t1/2 (2.6)
Entender o que realmente acontece na superfície durante a nitretação por plasma não é
fácil. Entre as possibilidades de interação, identificam-se quatro processos como sendo
relevantes para a nitretação (CZERWIEC et al., 1998).
a) Implantação iônica e danos por radiação
O mecanismo físico de interação entre espécies ativas e o substrato é determinado,
principalmente, pela energia cinética dessas espécies e pela sua reatividade com o substrato.
No caso da nitretação a implantação de íons é desprezível, visto que para um íon ser
implantado no sólido seria necessário possuir energia superior a 1 keV, valor bem acima do
usado em nitretação por plasma. O limite de energia para a criação de defeitos tipo Frenkel
em um substrato de ferro é 23,59 e V para o íon N2+ e 32,8 e V para o N+, o que torna a
nitretação um processo muito efetivo para a geração do par Frenkel na sub-superfície
(WALKOWWICK, 2003). Nesse nível de energia, íons N2+ e N+ só podem penetrar até 0,9
nm e 1,8 nm em um substrato de ferro, respectivamente. Desse modo, podendo gerar danos
superficiais e sub-superficiais.
b) Adsorção de espécies de nitrogênio
Um grande número de caminhos de reações de adsorção de nitrogênio têm sido
propostas para explicar os processos de nitretação por plasma. A adsorção física e química de
moléculas e átomos de nitrogênio sobre a superfície metálica assistida pelo bombardeio de
íons de baixa energia é tida como muito eficiente quando se trata de metais de transição
(WALKOWWICK, 2003). A adsorção física difere da química pelo nível de energia
envolvido. A energia para adsorção física é tipicamente 0,1 e V, enquanto na adsorção
química este valor fica em torno e 1 e V.
Figura 2.6. Modelo para Mecanismo da nitretação de aços por plasma (Fonte: WALKOWWICK,
2003).
2.4 – O SISTEMA Fe – N
apresenta faixa de composição para o nitrogênio variando de 19,4 a 20,6% (em átomos),
possui estrutura cúbica de faces centradas, onde os átomos de nitrogênio ocupam o centro da
rede. O nitreto de Ferro ε tem uma estrutura hexagonal, onde o nitrogênio tem solubilidade
entre 15 e 33% (em átomos). Um aumento da concentração de 33 para 33,2% conduz a uma
distorção anisotrópica da rede do nitreto ε e a fase ortorrômbica ξ - Fe2N é formada. Para
aplicações práticas o nitreto ε é importante devido a sua alta dureza e elevada resistência à
corrosão; é indicado para condições de baixas cargas e grandes áreas de contato. Já a fase γ’-
Fe4N possui boa resistência ao desgaste e alta dureza, suportando maiores cargas do que o
nitreto ε (REMBERGS e BUSTER, 1991). Na tabela 2.1 temos um resumo do que foi exposto
acima.
Tabela 2.1 Estrutura e parâmetros de rede das principais fases existentes no sistema Fe-N
(Jack, 1973).
2.5 – O SISTEMA Fe - C - N
Figura 2.8 – Diagrama ternário de fases do sistema Fe-C-N publicado por Nauman e
Langerscheid em 1965 (BELL, 1991).
Figura 2.9 – Diagrama de Fases Fe-C-N proposto por Slycke (BELL, 1991)
núcleo para a superfície é impedida, pois a difusividade do carbono dentro das fases ε e γ’ é
consideravelmente menor do que no ferro alfa.
Quando a concentração de carbono é aumentada, ocorre a formação de uma
quantidade significante do carbonitreto ε - Fe2-3 (N, C) juntamente com a fase γ’. Este
carbonitreto é importante nos aços, pois confere à superfície boa resistência à corrosão e,
caracteristicamente, um baixo coeficiente de atrito (STAINE, 1990).
Figura 2.10. Secção isotérmica a 500º C do sistema Fe-C-N (Fonte: HONG e MATS, 1991).
Figura 2.11. Secção isotérmica a 600º C do sistema Fe-C-N (Fonte: HONG e MATS, 1991).
A nitretação por plasma de aços tem grande interesse industrial devido aos importantes
benefícios nas propriedades superficiais. Em relação aos outros processos de nitretação (a gás
e em banhos de sais) é o mais econômico, possibilita maior velocidade de difusão de
nitrogênio, para temperaturas mais baixas e tempos mais curtos de tratamento. A cinética é
muito maior do que na nitretação a gás porque se forma um gradiente de concentração muito
rápido. O processo tem sido aplicado com sucesso em aços de baixo teor de liga, aços
ferramentas e aços inoxidáveis.
Várias investigações foram feitas para elucidar o mecanismo de nitretação iônica
(METIN e INAL, 1987). O bombardeamento iônico introduz lacunas e com isso aumenta a
difusão de nitrogênio. Os átomos de ferro são arrancados da superfície do cátodo e formam
nitretos (FeN e Fe2N) próximo ao cátodo. Como esses nitretos são instáveis à temperatura de
nitretação, são condensados na superfície do cátodo e estabilizados posteriormente para
nitretos mais estáveis Fe2-3N e Fe4N. O nitrogênio que é liberado neste processo pode difundir
para o interior da amostra, formando a zona de difusão. O nitrogênio atômico se difunde
através dos interstícios da ferrita devido ao seu tamanho suficientemente pequeno (INOKUTI
et al., 1969). Observa-se que a camada de compostos é formada antes da zona de difusão,
contrariamente à nitretação convencional em que a camada de compostos, denominada
camada branca, surge depois, após a saturação da matriz.
O surgimento da camada de compostos no início do tratamento de nitretação
observada por (RIE, 1989) e (INAL et al., 1989), sugere uma formação dinâmica onde os
compostos são formados ao mesmo tempo em que outros são dissociados pelo
bombardeamento iônico.
O crescimento da camada nitretada é determinado pelo tempo, temperatura e potencial
de nitretação. Com a modificação destas variáveis é possível obter-se diferentes estruturas de
camadas nitretadas. Assim tanto a relação entre as espessuras da camada de compostos e da
zona de difusão, como a relação entre fases presentes na camada de compostos, ε- Fe2-3N/γ’-
Fe4N podem ser largamente modificadas para melhorar as propriedades metalúrgicas das
camadas (SUN e BELL, 1990).
Para condições fixas de processo (material, tempo e temperatura) existe um potencial
de nitretação (razão N2/H2), chamado potencial crítico, abaixo do qual a zona de compostos
não será formada (SUN e BELL, 1990). Em plasmas livres de carbono, a bifase (γ’+ε)
geralmente é produzida na superfície do aço.
A camada nitretada é constituída de uma camada de compostos e uma zona de difusão.
A espessura da camada nitretada é em torno de 300 ȝm , enquanto a camada de compostos
possui espessura de 2 a 5 ȝm (BERG et al., 2000). Observa-se o surgimento de duas faixas
distintas na zona de difusão: a primeira, sem precipitação de nitretos, com uma espessura de
aproximadamente 30 ȝm e a segunda que é caracterizada pelo aparecimento de Fe4N, com
uma espessura de em torno de 270 ȝm, conforme mostrado na figura 2.12 . Ainda na segunda
faixa, observa-se, próximo à interface com a região não nitretada, a presença de precipitados
de Fe16N2 (LIMA, 2003).
nitreto α’’- Fe16N2 tetragonal de faces centradas. Este nitreto é formado no plano (001) da
matriz ferrítica.
Os precipitados do nitreto α’’- Fe16N2 apresentam morfologia de placas, enquanto a
fase Ȗ’ precipitados como agulhas. A precipitação de α’’- Fe16N2 ocorre na faixa de
temperatura de 100- 220 oC, com energia de ativação de 115 kJ/mol. Em torno de 220 oC
α’’- Fe16N2 torna-se instável e ocorre a decomposição para Ȗ’ com energia de ativação de 196
kJ/mol (OLIVEIRA et al., 2002).
A zona de difusão é formada por duas diferentes regiões, como mostrado na figura
2.13.
γ’
α’’
Figura 2.15 – Precipitação em situ do nitreto Ȗ’ - Fe4N a partir de α’’- Fe16N2 na microestrutura
de um aço carbono (OLIVEIRA et al., 2002)
Figura 2.16 – Difratograma mostrando picos correspondentes aos nitretos ε + γ’, ε , γ’ (LIMA,
2003).
Foi constatado que a camada de compostos possui duas fases. No entanto, não é
conhecido se essas fases encontram-se misturadas ou separadas em duas camadas. Quando
estas fases estão misturadas, a resistência ao desgaste da camada diminui devido ao
desenvolvimento de tensões internas nos contornos das mesmas (BELL et al., 2000). Se
separadas, considerando que na interface plasma/superfície existe maior concentração de
nitrogênio, a camada composta por ε - Fe2-3 N está acima da camada formada por Ȗ’ - Fe4 N.
A fase ε - Fe2-3 N é precursora da fase Ȗ’- Fe4 N. Este fato comprova que o processo de
formação da camada de compostos continua durante o resfriamento com a transformação da
fase ε - Fe2-3 N para a fase Ȗ’ - Fe4 N e a liberação dos átomos de nitrogênio resultante dessa
reação que se difunde em direção ao substrato (EDENHOFER, 1974).
As mudanças na composição das fases na zona de difusão podem ser atribuídas a
diferentes taxas de resfriamento em função da profundidade ocorrida durante o resfriamento.
Observa-se que a taxa de resfriamento diminui com a profundidade da amostra. As diferenças
entre as taxas de resfriamento em função da profundidade são mais acentuadas nos primeiros
três minutos de resfriamento. Com base nessa observação é sugerido que é durante os três
primeiros minutos que ocorre a formação das diferentes estruturas com a profundidade da
camada nitretada (LIMA, 2003).
Na figura 2.17 são mostrados os possíveis campos, no diagrama Fe-N, em que a
camada nitretada foi formada. O campo A é constituído por uma solução sólida de nitrogênio
no ferro alfa enquanto que o campo B é formado pelo nitreto Ȗ’ - Fe4N e o ferro alfa. A partir
destes campos, dependendo da taxa de resfriamento, podem ser formadas diferentes
composições de fases. Observa-se que as amostras tratadas no campo B resultam em um
composto de fases onde Ȗ’ sempre estará presente.
Partindo de uma solução sólida de nitrogênio no ferro alfa, são obtidas, dependendo da
taxa de resfriamento, diversas composições de fases. Essas combinações de fases são
mostradas na figura 2.17. Na zona de difusão 1, o resfriamento foi rápido, o suficiente para
manter o nitrogênio em solução sólida no ferro alfa. Já na zona de difusão 2, ocorre a
precipitação de nitretos separadamente, primeiro Ȗ’ - Fe4N e depois α’’- Fe16N2 (GONTIJO,
2002).
Figura 2.17 - Diagrama de fases Fe-N e possíveis fases obtidas com o resfriamento (LIMA,
2003).
sujeitos a um alto potencial catódico, para que o plasma se forme em torno da superfície dos
componentes. Esse processo é eficiente no tratamento de peças com formas simples ou
pequena quantidade de peças, mas devida à dificuldade de manter uma temperatura uniforme
na câmara, particularmente com grande quantidade de amostras ou componentes de
dimensões variadas, podem ocorrer danos como abertura de arco, o efeito de bordas e o efeito
cátodo oco (LI e BELL, 2002).
Vários esforços foram feitos no sentido de evitar estes problemas. Um grande avanço
dado neste sentido foi à invenção da tecnologia de nitretação por plasma em tela ativa
(ASPN). Neste novo processo as amostras são envolvidas por uma tela, na qual um alto
potencial catódico é aplicado, como mostrado na figura 2.18. Desta forma o plasma atua na
tela e não na superfície das amostras (LI et al., 2002). Os componentes a serem tratados estão
em um potencial flutuante ou sujeitos a uma baixa tensão de polarização (por exemplo -100 a
-200V).
Entrada de gás
Parede do Reator (Anodo)
Tela Metálica
(Cátodo)
Peças
Peças Fonte de Fonte de
(flutuante)
(Cátodo) Tensão Tensão
DC DC
Figura 2.18 – Diagrama esquemático mostrando um sistema (a) DCPN e (b) ASPN (LI, C. X.
et al., 2002).
Figura 2.19 – Diagrama esquemático do mecanismo de nitretação dos processos (a) DCPN
e (b) ASPN (adaptado de LI, C.X. et al., 2003).
processo DCPN como no ASPN, indica que o hidrogênio, e por sua vez NH+ e NH2+, não são
fundamentais para a nitretação a plasma.
A teoria de implantação propõe que a nitretação é obtida pela penetração dos átomos
de nitrogênio de alta energia, ou pela implantação de íons de nitrogênio (N+). Entretanto é
conhecido que com íon implantação, a energia de íons pode ser alta como 100 keV, já a
profundidade de penetração de íons, por exemplo, N+ é limitada apenas ao topo da camada
mais superficial dentro da faixa de 0,1 - 0,2 µm. Em nitretação a plasma DCPN, a energia dos
íons de nitrogênio é normalmente menor do que 0,5 keV com um potencial de
aproximadamente 500V entre o cátodo e o ânodo. Enquanto na nitretação ASPN, as amostras
estão em um potencial flutuante, e os átomos ou íons de nitrogênio fora da tela ativa catódica
poderão ter menor energia do que esses, em íon implantação ou DCPN. Por isso, penetração
de átomos de alta energia ou implantação de íons não poderá ter um maior papel em
transporte de nitrogênio em ASPN.
É também duvidoso que a adsorção de nitrogênio na superfície das amostras poderá
ser um maior fator na transferência em massa de nitrogênio. Isto porque em nitretação com
nitrogênio puro, as amostras são imersas no plasma o qual pode conter íons de nitrogênio N+,
N2+ e nitrogênio neutro N, N2, entretanto o efeito nitretante é mínimo para ambos os processos
ASPN e DCPN. O experimento de Hudis com plasma “rf” provou que uma amostra imersa
em plasma “rf” de diferentes composições de gases N2-H2-Ar poderia não ser nitretada se não
existir corrente entre o cátodo e o ânodo.
A discussão acima levou (LI et al., 2002) a considerar que o sputtering e o modelo de
recondensação, como estabelecido em DCPN, também poderá ser o mecanismo mais provável
para transferência de massa de nitrogênio em ASPN. O modelo original requer sputtering de
átomos de Fe dos componentes do cátodo na região de queda do potencial catódico onde FeN
é formado, o qual é retroespalhado e depositado no cátodo, e por sua vez decompõe-se para
levar nitrogênio na rede do Fe-Į para formar a camada. Foi estabelecido que o sputtering e a
deposição em ASPN, não são apenas significantes, mas também intimamente relacionado
com o efeito nitretante. A prova mais visível de sputtering e de deposição foi quando o cobre
foi usado para confeccionar a tampa da tela ativa (LI et al., 2002) Neste caso, uma camada de
cobre foi formada na superfície das amostras de aço, que pode ser visualmente observada e
detectada por análise de DRX. Quando a placa de titânio foi usada para confeccionar a tampa
da tela, um produto de deposição foi estabelecido para cobrir a superfície das amostras (LI et
al., 2002). Infelizmente a deposição dos produtos de titânio e de cobre não traz muito
nitrogênio para a superfície das amostras e não há perceptível endurecimento da camada.
O fenômeno da deposição não foi então distinto quando a placa de aço ou a malha de
aço foi usada como tela. Entretanto sobre alta resolução MEV, a morfologia da deposição
pode realmente ser revelada. Figura 2.20 mostra imagens de superfícies de amostras nitretadas
por DCPN e ASPN. Pode ser visto que as amostras nitretadas por DCPN consistem de
distribuição e tamanho irregular, provavelmente, por sputtering contínuo da superfície das
amostras durante a nitretação. Em contraste a superfície nitretada por ASPN, consiste de
partículas com contornos bem definidos. O tamanho das partículas está em escala
submicrométricas, e a maioria possuem forma hexagonal. As medições realizadas em DRX
nas superfícies das amostras verificaram que elas são nitretos de ferro consistindo
principalmente da fase İ.
Figura 2.20 - Morfologias de (a) DCPN e (b) ASPN da superfície das amostras nitretadas (LI,
C.X. et al., 2003).
θ - 2θ
Intensidade
θ - 2θ
Figura 2.21 – Difratogramas comparativos dos processos DCPN e ASPN (adaptado de LI, C.
X. e BELL, 2003).
Profundidade (µm)
A microdureza das amostras nitretadas pelos dois processos não varia, e as amostras
nitretadas em atmosfera de 100% N2 não apresentaram aumento considerável na microdureza,
conforme mostrado na figura 2.23
Microdureza
HV0.1
Profundidade (µm)
Figura 2.23 - Perfil comparativo de dureza das técnicas DCPN e ASPN (adaptado de LI, C. X.
e BELL, 2003).
3- MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 – PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS
Todos os tratamentos foram realizados com amostras de aço carbono AISI 1020 que
possui estrutura ferrítica e baixa concentração de elemento de liga. As amostras foram
usinadas em forma de cilindros de 8mm de diâmetro e 1, 3, 5, 8 e 10mm de alturas. Após
usinadas foram recozidas, lixadas com lixas de 200, 320, 400, 600 e 1200 e polidas em disco
de feltro com alumina de 1 e 0,3 µm. A composição química nominal das amostras é mostrada
na tabela 3.1.
Tabela 3.1 Composição química
A pressão de trabalho é obtida por uma bomba mecânica rotativa Edwards (modelo
E2M5), com capacidade de vácuo até 1 Pa. O monitoramento da pressão de trabalho é feito
por um sensor de pressão de membrana capacitiva Edwards, modelo barocel W600 3281. O
acompanhamento da pressão é feito por um leitor multicanal Active Gauge Controller RS 232
da marca Edwards.
na câmara individualmente por meio de fluxímetros 1179A. Os gases são misturados na linha
de fluxo. O fluxo total foi fixado em 10 sccm (Standard Centimeter Cubic per Minute), onde
um sccm equivale a 45 Torr.litro/hora.
Figura 3.3 – Vista em corte do reator de tratamento e detalhe da gaiola catódica, mostrando a
disposição espacial das amostras.
As amostras de aço AISI 1020 foram nitretadas em ambas as técnicas, DCPN e ASPN
por 3 horas a uma pressão de 360 Pa, em diferentes temperaturas de 673, 773 e 843 K. A
mistura de gases utilizada foi N2 + H2, com um fluxo total de 10sccm.
Antes de serem inseridas no reator as amostras passaram por uma limpeza com
acetona em ultrassom. Todas as amostras foram pré-nitretadas a uma presão de 250 Pa a 623
K com 10 sccm de H2.
Devido à disposição radial das amostras, o sistema de identificação elaborado para
controle dos processos é composto por três dígitos, que indicam respectivamente, a
temperatura de tratamento, seguido de uma letra E (amostra exterior) ou I(amostra interna) e
mais um ou dois dígitos para identificar a altura da amostra, conforme exemplo apresentado
na Figura 3.4.
400E5
4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 – INTRODUÇÃO
plasma é formado sobre a superfície da tela. Dessa forma, o aquecimento das amostras se dá
essencialmente pela radiação térmica proveniente da tela, o que devido à sua simetria
geométrica, proporciona uma distribuição uniforme do calor.
(A)
(B)
Figura 4.1 - Aspecto visual da formação do plasma no processo (a) ASPN e (b) DCPN.
O exame visual das amostras nitretadas revela que a nitretação a plasma convencional
DCPN produz uma superfície não uniforme, principalmente para as amostras de altura maior
ou igual a 3 mm e pressões elevadas, como 360 Pa. A coloração superficial varia do centro
para a periferia das amostras nitretadas (ALVES JR. et al., 2001). Este fenômeno é conhecido
como efeito de bordas, que é um problema comum associado ao processo DCPN, provocado
pela competição existente entre sputtering e deposição durante o processo, devido a alterações
no campo elétrico em cantos e arestas, como mostrado na Figura 4.2 (a).
Em comparação a nitretação ASPN, produz uma coloração cinza escura, uniforme em
toda a extensão superficial das amostras, independente da temperatura, da altura das amostras
(1, 3, 5, 8 e 10 mm) e para pressão elevada (360 Pa). Como o plasma não é formado
diretamente na superfície das amostras, estas não sofrem sputtering ativo e com isso, os
defeitos causados pelo efeito de borda são eliminados, como observado na Figura 4.2 (b).
D
E
$,6, $,6,
Figura 4.2 – Defeito de bordas (a) em DCPN e a eliminação do efeito de bordas (b) em
ASPN.
No processo DCPN utilizou-se a composição 20%N2 + 80% H2. A técnica ASPN com
baixo percentual de N2 e dependendo da pressão de trabalho, só apresenta camada de
compostos para tempos longos, como 20 horas de tratamento; por isso foram utilizadas
misturas de gases com composições de 20% N2 + 80% H2, 50% N2 + 50% H2 e 80% N2 +
20% H2, sendo que com as duas primeiras misturas foram obtidas zonas de difusão, porém o
percentual de nitrogênio não foi suficiente para formação da camada de compostos. Assim, o
percentual de N2 foi aumentado para 80% a fim de obter-se camadas de compostos, com
tempo de tratamento equivalente ao do processo DCPN, isto é, 3 horas, conforme mostrado na
figura 4.3.
A técnica ASPN é mais versátil, permitindo obterem camadas nitretadas com ou sem
camada de compostos. Amostras sem camada de compostos apresentam maior resistência ao
desgaste, porque não existe a possibilidade da camada de compostos ser destacada.
=RQDGH'LIXVmR
γ¶
=RQDGH'LIXVmR
γ¶
(A) (B)
&DPDGDGHFRPSRVWRV
γ¶
=RQDGH'LIXVmR
(C)
Figura 4.3 - Micrografias de amostras tratadas em ASPN nas condições (A) 20 % N2 e (B)
50 % N2 e (C) 80 % N2.
DCPN, ao contrário, isto não ocorre, devido às diferenças de temperatura nas amostras de
alturas diferentes.
&DPDGDGHFRPSRVWRV
&DPDGDGHFRPSRVWRV
=RQDGH'LIXVmR =RQDGH'LIXVmR
1 mm - 843 K - 360 Pa
&DPDGDGHFRPSRVWRV
&DPDGDGHFRPSRVWRV
γ¶
=RQDGH'LIXVmR
=RQDGH'LIXVmR
8 mm - 843 K - 360 Pa
&DPDGDGHFRPSRVWRV
&DPDGDGHFRPSRVWRV
=RQDGH'LIXVmR =RQDGH'LIXVmR
Figura 4.4 - Micrografias (500X) de amostras tratadas em (A) DCPN e (B) ASPN.
espessura da zona de difusão obtida pela técnica ASPN, nestas condições de trabalho, é bem
maior.
Tabela 4.1 - Espessura das camadas nitretadas pelos processos DCPN e ASPN.
(gráficos à esquerda) apresentam uma região próxima à borda em que a dureza superficial da
camada nitretada cai sistematicamente. Essa característica deve-se ao sputtering não-uniforme
que ocorre devido ao efeito de bordas. É conhecido que em bordas imersas em plasma a
curvatura das linhas de campo elétrico define uma incidência oblíqua de partículas do plasma
em uma região ao longo da borda. Como o sputtering oblíquo é mais efetivo que o sputtering
com incidência normal, há nessa região um predomínio da taxa de sputtering comparada à
taxa de deposição superficial (SOUSA, 2005). Então, em peças contendo bordas imersas em
plasma a dureza da camada nitretada mostra-se não-uniforme. Os maiores valores de
microdurezas (picos) que aparecem na borda de cada amostra tratada em DCPN estão
relacionados aos efeitos térmicos (maior aquecimento) inerentes à técnica, levando a maiores
espessuras de camadas de compostos nesse tipo de aço. Contrariamente, as amostras tratadas
pela técnica ASPN (gráficos à direita) mostram uma completa uniformidade da dureza ao
longo da superfície da amostra. Ou seja, a técnica ASPN suprime os efeitos de bordas uma
vez que o sputtering ativo se dá na tela e não na amostra (LI e BELL, 2003).
No entanto, os resultados mostraram que, mesmo para diferentes temperaturas, a
dureza média foi equivalente para ambos os processos de tratamento, independente da altura
das amostras.
+9
Figura 4.5 – Dureza Superficial em aço 1020 nitretados pelos processos DCPN e ASPN,
respectivamente.
Condição
Condição673
673 K
K / /500
360 Pa/DCPN
Pa/DCPN Condição
Condição 673
673 KK / 360
/ 500 Pa/ASPN
Pa/ASPN
Fe + Cr
Fe
,
Altura da
γ +ε
γ +ε
amostra:
,
Fe
,
,
γ
10 mm 10 mm
ε
ε
Intensidade
Intensidade
8 mm 8 mm
5 mm 5 mm
3 mm 3 mm
1 mm 1 mm
35 40 45 50 35 40 45 50
2θ 2θ
Condição 673 K673
Condição / 360 Pa/ASPN-
K / 500 Rasante
Pa/ASPN/Rasante
γ +ε
Fe + Cr
,
,
ε
γ
Fe
10 mm
ε
Intensidade
8 mm
5 mm
3 mm
1 mm
35 40 45 50
2θ
Figura 4.6 - Difratogramas de raios-X das amostras nitretadas a 673 K / 360 Pa.
Nas amostras nitretadas em DCPN à medida que a altura das amostras aumenta, a fase
ε-Fe2-3N torna-se mais estável. Isso evidencia que há aumento na temperatura superficial para
amostras com maiores alturas. É também percebido que no processo DCPN à medida que a
altura da amostra aumenta a quantidade relativa entre Fe e N na superfície nitretada diminui,
mostrando o aumento da difusividade do N2.
Nas amostras tratadas por ASPN, conforme mostrado nas figuras 4.6, 4.7 e 4.8, não há
variação das intensidades relativas dos picos de ε, γ’ e ε + γ devido a maior uniformidade da
temperatura sobre as amostras. Os espectros de raios-X do processo ASPN mostra picos de Fe
associado ao Cr, a presença do elemento Cr deve-se ao fato de que a tela ativa foi
confeccionada em aço inoxidável.
γ +ε
Fe + Cr
,
,
,
γ
,
Fe
γ
Fe
ε
ε
10mm 10 mm
Intensidade
Intensidade
8mm 8 mm
5mm 5 mm
3mm 3 mm
1mm 1 mm
35 40 45 50 35 40 45 50
2θ 2θ
Fe + Cr
,
ε
,
,
γ
,
Fe
ε
10 mm
Fe
ε
10 mm
Intensidade
Intensidade
8 mm
8 mm
5 mm
5 mm
3 mm
3 mm
1 mm
1 mm
35 40 45 50
35 40 45 50
2θ
2θ
Figura 4.7- Difratogramas de raios-X das amostras nitretadas a 773 K / 360 Pa.
/ DCPN
Condição 843 K / 360 Pa/ASPN Condição 843 K / 360 Pa/DCPN
/ ASPN
γ +ε
γ ,+ ε
γ’ + ε
γ’ + ε
,
Fe + Cr
γ,
Fe
,
ε
γ
10 mm 10 mm
ε
Intensidade
Intensidade
8 mm 8 mm
5 mm 5 mm
3 mm 3 mm
1 mm 1 mm
35 40 45 50 35 40 45 50
2θ 2θ
γ +ε
Fe + Cr
,
,
γ
ε
Fe
Fe
10 mm
γ
ε
10 mm
Intensidade
Intensidade
8 mm
8 mm
ε
5 mm
5 mm
3 mm
3 mm
1 mm
1 mm
35 40 45 50 35 40 45 50
2θ 2θ
base e o topo das amostras, podendo esta variação chegar a 100 oC, nas amostras de 10mm de
altura (Sousa, 2005). Como há uma uniformidade de temperatura no processo ASPN, não
ocorre variação com a altura das amostras, das intensidades relativas dos picos dos nitretos
acima citados, como podemos confirmar através dos difratogramas de raios-X Bragg-Bretano
e também em ângulo rasante. A temperatura é uniforme porque as amostras estão em um
potencial flutuante e são aquecidas por radiação da tela ativa.
Para uma maior eficiência do processo ASPN, a distância das amostras para a
superfície lateral da tela deve ser no mínimo 28 mm (LI e BELL, 2003).
5 - CONCLUSÕES
A nitretação a plasma em tela ativa (ASPN) produz as mesmas propriedades em
relação a nitretação a plasma convencional (DCPN). No entanto, a técnica ASPN elimina os
problemas comuns associados com o processo DCPN, como por exemplo, o efeito de bordas.
Como no processo ASPN não ocorre sputtering ativo superficial das amostras,
favorece uma maior formação do nitreto ε-Fe2-3N em relação ao nitreto γ’- Fe4N, ao contrário
do que ocorre no processo DCPN.
No processo ASPN o teor superficial de nitrogênio é maior do que no processo DCPN,
porque o percentual, em peso, de nitrogênio do nitreto é superior ao do nitreto γ’- Fe4N.
Os difratogramas de raios-X revelam uma variação nas intensidades relativas dos
picos dos nitretos ε, γ’, ε+ γ’ das amostras com diferentes alturas nitretadas pelo processo
DCPN. Esta variação de intensidade dos picos se deve a uma variação de temperatura entre a
base e o topo das amostras. Como há uma uniformidade de temperatura no processo ASPN,
não ocorre variação, com a altura das amostras, das intensidades relativas dos picos dos
nitretos acima citados. A temperatura é uniforme porque as amostras estão em um potencial
flutuante e são aquecidas por radiação da tela ativa.
Além disso, este processo permite o controle, variando-se a composição gasosa, das
espessuras relativas das camadas de compostos na camada nitretada.
Finalmente, fenômenos indesejados, tais como abertura de arco e efeito cátodo oco,
em amostras com furos e arestas, ocorrerão na tela catódica ao invés da superfície das
amostras.
ALVES JR, C.; CASTELETTI, L. C..; RODRIGUES, J.A. Nitretação a plasma em duas
etapas do aço ABNT 316. In: INTERNATIONAL CONGRESS FOR SURFACE
FINISHING, 7, 1992, São Paulo. Anais. São Paulo: ABTS, 1992. v. 2, p. 779.
ALVES JR., C.; SILVA, E. F.; MARTINELLI, A. E. Effect of workpiece geometry on the
uniformity of nitrided layers, Surf. Technol. 139 (1) (2001) 1 – 5.
ATAÍDE,A. R. P. DE, et al. Effects during plasma nitriding of shaped materials of different
sizes, Surf. Technol., 167 (2003) 52 – 58.
ATAÍDE, A. R. P. Efeitos da nitretação iônica em peças de aço SAE 1020 com alta razão
aresta/superfície. Campina Grande, 2002. 77f. Tese (Mestrado). Centro de Ciências e
Tecnologia, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica, Universidade Federal da
Paraíba, Campina Grande.
BELL, T.; SUN, Y. Plasma surface enginnering of low alloy steel, Materials Sicence and
Enginnering, Netherlands, 1991, p. 419 – 434.
BELL, T.; SUN,Y. Envirnmetal and technical aspects of plasma nitrocarburising, Vacuum,
59 (200) 14 – 23.
BERG, M., et al. On plasma nitriding of steels, Surface and Coatings Technology, 124
920000 25 – 31.
BORGAERTS, A.; GIJBELS R. Spectrochemical ACTA part B 53, (1998) 437 – 462.
CHAPMAN, B. Glow discharge processes: sputtering and plasma etching. New York:
John & Sons, 1980.
GONTIJO, L. C. Estudo das camadas formadas sobre ferro e aços por nitretação iônica.
São Carlos, 2002. 171 f. Tese (doutorado). Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia,
Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais, Universidade Federal de
São Carlos, São Paulo.
GRIL, A. Cold plasma in materials fabrication. New York: IEEE Press, 1994.
S. JANOSI, J.; KOLOZSVARY, Z.; KISS, A. Controlled hollow cathode effect: new
possibilities for heating low-pressure furnaces, Metal Science and Heat Treatment, 46 (7-8)
(2004) 310 – 316.
LI, C.X.; BELL,T. Sliding wear properties of active screen plasma nitrided 316 austenitic
stainless steel, Wear 256 (2004) 1114 – 1152;
LI, C.X.; BELL,T.; DONG, H. A study of active screen plasmanitriding, Surf. Eng. 18 (3)
(2002) 174 – 181;
LI, C.X.; BELL,T. Principles, mechanisms and aplications of active screen plasma nitriding,
Heat treatments of metals, 1 (2003) 1 – 7;
MANDAL, S., et al. Nitrogen diffusivity in expanded austenitic, Surf. Technol., 174-175
(2003) 1191 – 1195.
NAYAL, G. et al. Surface and Coatings Technology 111 (1999) 148 – 157.
RIE,K.T. Current status of plasma diffucion treatment technique and trends in new application
In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON ION NITRIDING CARBURIZING, 2,Cicinnati,
1989. Proceedings. Materials Park, ASM. Internacional, (1989), 45 – 54.
SZABO, A.; WILHELMI, H.: Hart-Tech.Mitt., 1984, 39, 940, 148 – 154.
THELNING, K. E. IN Steel and its Heat treatment (Butterworths & Co, London,1985),
p.444.
WALCOWICK, J. Surface and Coatings Technology, 174 - 175 (2003), 1211 - 1219.