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RABATEL, A. Le point de vue, une catégorie transversale.

Le Français aujourd'hui,
2005/4 n° 151, p. 57-68. DOI: 10.3917/lfa.151.0057

O PONTO DE VISTA, UMA CATEGORIA TRANSVERSAL


Por Alain RABATEL

O que é então um ponto de vista? O que há em comum entre uma opinião e um centro
de perspectiva narrativa batizada de focalizações narrativas por Genette, rebatizada
ponto de vista (doravante PDV) em uma ótica lingüística? Nos dois casos, todo objeto
de discurso é representado por uma fonte enunciativa conforme suas intenções
pragmáticas. Mas, essa resposta, apesar de sua clareza, apenas sublinha a imensidade
dos problemas conexos que levanta da problemática do PDV, por exemplo, a relação
entre percepção, discurso indireto ou asserção. Sobre um plano didático, as dificuldades
não são menores, primeiramente, em razão da multiplicidade e complexidade dos
saberes relacionados, em seguida, pelo fato das representações errôneas que perturbam a
reflexão, notavelmente a tentação de estabelecer uma equivalência entre a origem do
PDV (uma subjetividade ou um tema) e sua expressão (subjetivamente): ora, o eu nem
implica um PDV pessoal nem expressão subjetivante – nem tão pouco os PDV em ele
não devem ser objectivantes ou dóxicos.

No entanto, essas dificuldades não devem desencorajar os estudantes, pelo contrário, a


problemática cruza de forma estratégica, numerosas atividades nas aulas de francês,
como mostra os textos oficiais. O PDV é de fato uma categoria transversal, sob o plano
da práxis, para o ensino/aprendizagem tanto de língua como de literatura. O domínio
dos principais motivos, mecanismos e ferramentas do PDV são indispensáveis para a
leitura dos textos literários como para os textos documentários, freqüentemente
solicitados pelas atividades de escrita (prolongação, transposição, imitação de um
texto), tanto no plano do léxico, da sintaxe e da organização textual, sob sua versão
macro sintática (planos de enunciação, coesão temporal, construção de canais
referenciais11) ou sob sua versão retórica/pragmática, especificamente a organização do
texto2. Certamente, esses dados gramaticais são complexos, no entanto, mais que serem
submissos a uma atomização sem objeto, eles ganham ao serem contextualizados, o que
permite a problemática do PDV, sendo, também sempre que possível, restituído com
intenções e efeitos. Esta dimensão cognitiva e pragmática do PDV é fundamental, é o
suporte que dar sentido e fornece uma alavanca pela apropriação das ferramentas
lingüísticas.

Quanto a essa aqui, ela é adaptada conforme a idade dos alunos: por exemplo, desde o
primeiro ciclo, os alunos devem ser sensibilizados ao dito e a maneira de dizer, noção

1. Entre as competências do terceiro ciclo, é esperado que os alunos saibam


“encontrar [...] as rupturas das escolhas enunciativas”, “operar todas as
transformações necessárias para um bom uso dos substitutos do nome, dar mais
coesão ao [seu] texto”, empregar “conscientemente” a alternância passado
simples-imperfeito. (Ministério da Educação nacional, 2002f, p. 174).
2. “Expor uma opinião, refutar eventuais objeções”, “defender uma opinião, um
ponto de vista, pelo argumento, das narrativas ou descrições” são competências
a ensinar no final do colégio, assim como as escolhas gramaticais em função da
situação ou dos objetivos visados. (Ministério da Educação nacional, 2002c, p.
74-75).
que “se constrói, mais do que é ensinada”, em todas essas ocasiões da vida em sala de
aula (Ministério da Educação nacional, 2002 a, p. 71). No terceiro ciclo, “levar em
conta o ponto de vista dos outros”, “formular uma interpretação e confrontá-la com
outrem”, são competências que não servem apenas para regulação das interações
(Ministério da Educação nacional, 2002b, p. 171), elas são igualmente consideradas
como contribuição para a interpretação de textos literários (ibid., p.173), em ligação
com a observação refletida da língua (ibid., p.198), primeiramente na oral, onde convém
convidar os alunos a “participar da observação coletiva de um texto ou de um fragmento
do texto para melhor compreender a maneira cuja língua francesa aí funciona, justificar
seu ponto de vista” (ibid., p.173).

O PDV é igualmente uma categoria transversal no que ela toca, verdadeiramente


dizendo, a imensa maioria das disciplinas, bem além do exemplo sempre alegado da
educação cívica (Ministério da Educação nacional, 2002b, p. 48), com exceção, talvez,
das disciplinas cientificas fundadas sobre a demonstração (Ministério da Educação
nacional, 2002c, p. 45)321. Mas essa articulação fica quase sempre implícita nos textos
oficiais, o que é muito prejudicial: a dimensão cognitiva do PDV ganharia se fosse
desenvolvida bem cedo nos alunos, em ligação com a objetivação das relações entre
PDV e um certo número de parâmetros (lugar de observação, centro de interesse, etc.4),
todas as coisas entrando conscientemente o não nas representações, na construção das
hipóteses de pesquisas ou análises. Por esse olhar, sem dúvida os itinerários da
descoberta, no colégio, são ocasiões privilegiadas onde a problemática do PDV pode se
desdobrar profundamente (ibid. p. 47-51), como os Trabalhos pessoais enquadrados
(TPE) no quinto ciclo.

Assim, longe de ser um saco de viagem, o PDV é uma categoria transversal, suscetível
de ser um formidável operador de leitura (não somente de narrativas), de escrita ou de
produções orais (não somente argumentativas)... Com a condição de delimitar os
contornos ou os mecanismos. É por isso que ele é importante, sobre o plano teórico e
prático, avaliar textos e exemplos com esse suporte. Poderemos nos apoiar sobre os
textos literários, mas tendo em conta a nossa tese sobre a transversalidade do PDV,
tendo em conta igualmente nossos numerosos trabalhos anteriores sobre esse corpus,
nós privilegiaremos aqui exemplos não literários, para mostrar que são os mesmos
funcionamentos que são trabalhados, independentemente dos tipos de textos e de
gêneros do discurso.

Um PDV corresponde a um conteúdo proposicional6 remetendo a um enunciador ao


qual o locutor “se assimila” ou ao contrário, se distancia:

Chamo “enunciadores” esses seres que são destinados a se exprimir através da enunciação,
sem que para isso lhe atribuíssemos palavras precisas; se eles “falam”, é somente no sentido
que a enunciação é vista como exprimindo seu ponto de vista, sua posição, sua atitude, mas
não mais no sentido material do termo, suas falas. (Ducrot, 1984, p. 204)

3. Isso ainda é discutido.


4. Aqui também esses parâmetros são modelados conforme a idade dos aprendizes.
5. Poderíamos continuar as referências aos textos oficias para o ensino médio, mas isso
não modificaria em nada o quadro. Ele modificaria, sem dúvida, os programas dos
cursos universitários no curso de Letra e Ciência da Linguagem, mas este exame excede
o quadro desse artigo.
Ducrot não diz nada sobre o conteúdo do ponto de vista como tal, ele insiste sobre o
fato que a expressão de um PDV não passa necessariamente pelas “palavras precisas”.
Sua abordagem não é semântica (no sentido referencial do termo), ela é enunciativa:
Ducrot distingue locutor e enunciador, rompendo com Benveniste, que não fala nunca
em enunciador, mas do locutor na origem dos atos de enunciação7. Na nossa abordagem
ducroniana do PDV, o locutor (L) é a instância que profere um enunciado, segundo uma
retomada dêitica ou anafórica, enquanto que o enunciador (E), próxima do sujeito modal
de Bally, supõe o enunciado83.

A referenciação

Retomar um enunciador em um discurso implica procurar sua presença através da


referenciação dos objetos do discurso (inclusive a ausência das marcas do eu-aqui-
agora), depois de especificar se o enunciador é aquele que está em sincretismo com o
locutor (=E primário, ou principal), ou se ele se trata de enunciador intratextual. A
referenciação nunca é neutra, mesmo quando os enunciadores avaliam, modalizam, ou
comentam os meios possíveis. Esta abordagem dá conta de todos os tipos de PDV,
inclusive de PDV implícito como em (1):

(1) A dialética é a arte e a maneira que você tem para sempre se sair de uma
situação difícil!
“Você” era nós: os dirigentes. Mas eu pensava « eles », quando pensava nisso.
(Semprun, 1998, Adieu vive clarté, Paris, Gallimard,p. 85)

O primeiro enunciado, endereçado pelo militante comunista Fernand Barizon (motorista


do administrador do PCF), em Semprun, conhecido por Gérard, dirigente comunista do
PCE na clandestinidade, sob a ditadura franquista, possui uma asserção sobre o que é a
dialética para os dirigentes comunistas (CP/PDV 19: “a dialética, é a arte e a maneira
que você tem para sempre se sair de uma situação difícil”). Ele compreender igualmente
os PDV implícitos (mas, no entanto, bem reais, diante da reação do interlocutor),
retomando um corte entre “direção” e “base”, doxa reproduzida sem discussão, fazendo,
dessa forma, entender que a parte comunista é como os outros (CP/PDV 2: “você”10
versus “nós”) e que Semprun é ele mesmo um dirigente como os outros (CP/PDV 3:
“você”= versus “vocês todos, inclusive você”)11. A reação do interlocutor, privilegiando
entre este empilhamento do PDV a aquele que é menos explicito, aponta para a questão
pessoal dolorosa, pois Gérard se situava na exterioridade em relação a uma direção que
ele combate, mas ao qual Barizon acabou de lembrar brutalmente que ele pertence, seu
status de opositor não apaga o corte entre base e dirigentes. Medimos que em (1), apesar
da raridade das indicações cognitivas, axiológicas, apaixonantes, explicitas, a
referenciação do dito indica um PDV (dominante) e dá sua dimensão argumentativa ao
discurso, se fosse indiretamente.

6. A definição de um PDV como combinação de um modus ou de um dictum ((Nølke,


2004, p. 31-32) não é sólido sobre o plano cientifico, pois não é possível distinguir do
modus subjetivo um dictum que seria objetivo. Mas, sobre o plano prático, é útil
considerar que o dictum se apresenta como objetivo.
7. CHARAUDEAU P. e MAINGUENEAUD. (2002), Ibid. p. 220-224, p. 226.
8. Existe um interesse em distinguir teoricamente essas duas atualizações, mesmo se
eles vão freqüentemente em pares : cf. Rabatel, 2003a, p. 57-59.
Da multiplicidade dos conteúdos proposicionais à hierarquização dos PDV
conforme as fontes enunciativas e a estruturação argumentativa

O empilhamento dialógico do PDV contextualizado, em (1), - análogo em seu principio,


aquele que podemos observar em um enunciado fabricado tal como “esse muro não é
branco” (Nølke e alii (2004), p. 26-27) –, remete a questão da hierarquização dos PDV,
crucial para aperfeiçoar a compreensão das mensagens e a reação de seus destinatários.
A variabilidade da saturação semântica dos enunciadores conforme seu grau de
atualização e seu papel na ação ou no canal de argumentos, eleva a necessidade da
hierarquização das instâncias. Esta hierarquização dos enunciadores depende em última
instância das ligações que o locutor/enunciador primário amarra com os enunciadores
do PDV, segue que esse último se responsabiliza por tal PDV, ou que ele se contenta
em reportar/afirmar outro PDV sem assumir o conteúdo nem, sobretudo, as implicações:

(1) Se eu fosse americano, e seria mais democrata. No seu tempo, eu apreciei a


segunda esquerda de Michel Rocard. Mas, no sistema bipolar francês, eu sou de
direita. (Jacques Barrot, Antigo membro da UDF, presidente do grupo UMP na
assembléia nacional, Le Monde, 1 de novembro de 2002).

Em um contexto autodialógico, como em (24), o locutor/ enunciador primário, que se


afirma de direita, apresenta o PDV de enunciadores correspondentes a imagens do
locutor contrafactuais (um Americano) ou passados (a época da segunda esquerda
rocardiana), sem afirmá-los (já que não estamos mais na América e que a segunda
esquerda não é mais da atualidade) fixando assim sua abertura de espírito, para não mais
prejudicar seu posicionamento de direita.

De um ponto de vista cognitivo, a multiplicação de CP (e, portanto, dos enunciadores) é


difícil de gerar, sobretudo, se integrarmos a problemática do implícito, como os
pressupostos e os subentendidos, ainda mais com o dialogismo da “palavra com duas

9. A anotação CP/PDV, acompanhada de um número, classifica os conteúdos


proposicionais do PDV explicito aos PDV mais implícitos. Veremos infra que nós
propusemos reservar os números arábicos a numeração das (grandes quantidades de)
PDV se referindo a mesma origem enunciativa e a mesma Lina argumentativa. Em (1),
CP/PDV1 é o PDV dos dirigentes sobre a dialética, segundo Barizon, ao qual se acentua
sua distância com os dirigentes nos CP/PDV 2 e 3.
10. Se o PDV1 pressupõe a existência de uma definição geral da dialética como arte de
« sair de uma situação difícil », a reiteração do “você”, “vós” deixa entender que a
dialética contribui para justificar os interesses « particulares » da direção, cuja antítese
in absentia entre “você” e “nós”.
11. O contexto confirma a distância: Barizon, que dividiu com Gérard a fraternidade dos
campos de Buchenwald (cf. Que lindo domingo!), parece estar disposto a não
reconhecê-lo, significando assim que esse último é doravante passado do outro lado, do
lado dos chefes.
vozes” (Bakhtin), quando o PDV de um emerge na voz de outro, sem emprestar
necessariamente a forma do discurso estruturado e identificável, cf. (1)...

É por isso que propomos reagrupar os CP, conforme o conteúdo referencial (todos os
CP tratando do mesmo referente), conforme a fonte enunciativa (todos os CP tendo a
mesma origem enunciativa) e conforme a orientação argumentativa (todos os CP co-
orientados, aos quais se acrescentam CP anti-orientados integrados na linha
argumentativa do enunciador principal). Seria desejável poder modelar essas variáveis
(cuja lista não é exaustiva), mas estamos longe disso: nem sempre eles querem pares, a
liberdade discursiva do locutor confundi qualquer predição. Assim, mesmo se os
diferentes CP de (3) pertençam a referentes diferentes, eles são (“empacotados”) atrás
do PDV do pai, precisamente porque eles têm a mesma fonte enunciativa e a mesma
orientação argumentativa contrária, como indica a reiteração desses “demonstrativos
venenosos”...

(2) Ele se esvai em tristeza e em impessoais conjecturas, realçado por


demonstrativos venenosos. Sua casa se tornou esta casa, onde reina essa
desordem, onde essas crianças “de origem simples” professando o desprezo do
papel impresso, encorajados, aliás, por esta mulher. (Colette, 1990, La Maison
de Claudine, Paris, Le Livre de Poche, p. 16)

Hierarquização e “empacotamento” são, às vezes, complicados por fenômenos de


apagamento enunciativo (anonimidade, objetivação do PDV dóxico, etc.) ou por uma
má gestão da diversidade das vozes, que não facilita a emergência da própria “voz” do
locutor, dito de outra maneira, de seu PDV, como em (4):

(4) “Os filmes pornôs prejudicam gravemente os garotos”


Alguns partidários da interdição do X na televisão ousam com audaciosas
amálgamas: a delinqüência sexual dos garotos – em particular os roubos
coletivos, as “filmagens” – seria devido à exibição frenética de filmes pornôs
pelos adolescentes, que oprimem seus companheiros no porão para fazer como na
televisão. “a ligação entre a exibição de uma imagem pornográfica e a passagem
ao ato não é mostrada, observa Michel Fize, pesquisador da CNRS, mas
supomos que a imagem pode influenciar os sujeitos mais frágeis socialmente,
escolarmente, e os mais isolados familiarmente.” Hoje, nenhum estudo sobre os
efeitos das imagens pornográficas nos jovens não estão disponíveis.
Pesquisadores, professores e médicos, que reclamam de meios para levar isso a
frente, devem se contentar com observações empíricas no segredo de suas salas ou
sobre seu campo de estudo. “a pornografia favorece uma forte pulsão ao
machismo agressivo nos jovens garotos de hoje, que encontram aí uma forma de
forjar uma identidade”, observa a sociológica Monique Dagnaud. (Télérama n°
2756, 6 de novembro2002)

As diversas fontes enunciativas de (4) são facilmente identificáveis. Entretanto, é difícil


saber o que pensa L1/E1, o locutor jornalista12, na medida em que, se, enquanto centro
polifônico, ele gera corretamente (de um ponto de vista técnico) as fontes enunciativas e
seus PDV condizentes, ele não os hierarquiza nitidamente para produzir uma linha
argumentativa coerente a qual podemos objetar ou aderir:
– l1: o autor anônimo do titulo exprime a tese da influência nefasta dos filmes
pornográficos nos adolescentes;
– l2: os “partidários” da interdição do X na televisão, onde L1/E1 se distancia
reformulando seus PDV, desqualificando suas proposições pelo valor desvalorizante do
adjetivo (“audacioso”), pelo conteúdo intrínseco do termo “amálgama” e pelo
condicional;
– l3: Michel Fize, “pesquisador da CNRS” enfraquece a tese de 12… sem tanto quanto
invalidar a tese de influência para alguns perfis de indivíduos:
– l4: “a socióloga Monique Dagnaud” confirma e amplia a tese de 13, já que de agora
em diante são “os jovens garotos de hoje” sem restrição, que são tocados por um
machismo alimentado pela banalização da pornografia;
– L1/E1: é apenas a fonte de duas afirmações “Hoje, nenhum estudo sobre os efeitos das
imagens pornográficas nos jovens estão disponíveis. Pesquisadores, professores e
médicos, que reclamam de meios para levar isso a frente, devem se contentar com
observações empíricas no segredo de suas salas ou sobre seu campo de estudo”.

L1/E1, responsável pelo conjunto dessa apresentação, se responsabiliza apenas pelas


duas afirmações precedentes, indicando que é impossível ter uma idéia cientifica
aprovada. Certamente, L1/E1 invalidou as amálgamas... Se apoiando sobre o PDV de
dois pesquisadores (e, talvez, lhes fazendo dizer o que eles não dizem13). Mas, o todo
continua confuso tendo em conta as afirmações precedentes que relativizam a entrada
cientifica do PDV dos pesquisadores. É provável que L1/E1 se sirva da tese de 12 como
repulsa para invalidar a proposição da interdição do X na televisão14, pelo motivo que a
ligação direta não é provada, sem ter até agora negado uma influência pelos contornos
mal definidos. Podemos nos perguntar se 12 não foi forjado inteiramente por L1/E1
pelo conforto de uma fácil polêmica, sem tomar partido sobre a questão de fundo de
influência do pornô, invocando uma ausência de estudo já que ele acabou de alegar
várias fontes cientificas! Tanto mais ele se serve de saberes para desvalorizar uma tese
que ele reprova, tanto mais ele deprecia seu ponto de vista para não ir até o objetivo da
questão, por exemplo, sobre as manifestações do “machismo agressivo” de jovens
garotos e sobre os meios de evitar um arsenal de medidas por todos os lados, inclusive,
eventualmente, se tratando da mídia.

Resumidamente, existe aí uma multiplicidade de PDV, mas, quanto, a saber, qual é o


PDV dominante de L1/E1, é uma questão sem resposta. Então, o que o locutor pode
pensar de tal cena enunciativa? O mais provável é que o jornalista, carregado por sua
(cômoda) deontologia, dar a ver/pensar fragmentos de PDV contraditórios, reflexo do
estado de opinião, ótimo para satisfazer a diversidade de leitores, sem resolver com
ajuda dos argumentos e dos fatos suscetíveis de elevar o debate alimentando seriamente
a reflexão senão por suas oposições muito cômodas contra as quais Pascal se revoltou a
muito tempo atrás. O dossiê multiplica as citações sobre os efeitos negativos do X,
contra balanceadas pela ausência de fatalidade, a importância do dialogo e a capacidade
de distanciação dos adolescentes, deixa que o locutor conclua, depois dele ter feito
compreender que a questão, complexa, requeria vigilância pessoal, mas também
prudência política. Avaliamos, através deste exemplo, que a reflexão sobre o PDV não
se armazena nos limites da técnica, e que ela abre sobre as apostas interpretativas de
primeira importância155: pois, não é sem significação o fato que a reflexão trate desse

13. Esta observação se refere a problemática da sob- ou sobre enunciação: cf.


Rabatel, 2004b.
14. A hipótese é validade pela cenografia do dossiê: intitulado “Signos do tempo: o
pornô na televisão. É preciso fazer uma cruz sobre o X?”, o dossiê é precedido de um
problema de sociedade valorizando concretamente a dimensão moral/educativa e
invalidando qualquer perspectiva política.

Didaticamente, ler/escrever o ponto de vista

Para ter juntado as duas extremidades do canal, é útil dar aos aprendizes uma definição
simplificada do PDV, permitindo manipulações lingüísticas e análise de seus efeitos de
sentido, sem até agora injuriar os fundamentos lingüísticos de sua teorização.
Chamaremos PDV todo o que, na referenciação dos objetos (do discurso) mostra, de um
ponto de vista cognitivo e axiológico, uma fonte enunciativa singular e indica,
explicitamente ou implicitamente, suas representações, e, eventualmente, seus
julgamentos sobre os referentes. Esta definição permite trabalhar na recepção e na
produção com o parentesco entre PDV e discurso segundo de uma parte e sobre as
outras possibilidades de exprimir um mesmo CP, emprestando a voz da afirmação por
outro lado, sem restringir o PDV as percepções, não mais ao texto narrativo.

As diversas modalidades do PDV na problemática geral do dialogismo

Discurso indireto (Rosier, 1999) e PDV são subconjuntos da problemática geral do


dialogismo. Numa perspectiva de produção, existe interesse em mostrar aos aprendizes
que, no plano sintático, o PDV pode tomar emprestado a relação direta, indireta,
indireto livre, direto livre, ou uma estrutura parataxia que, por ser interpretada
corretamente, necessita levar em conta as relações semânticas entre os enunciados166:

(5) Compte rendu direto (CRD) da fala: Pierre se aproximou da janela, olhou o cortejo e
disse “o público é grande”.
(6) CRD do pensamento: Pierre se aproximou da janela, olhou o cortejo e disse a si “o
público é grande”.

artigo de um jornalista cujo subtítulo é assim formulado: “ataque ao pornô: em nome da


proteção da infância, a cruzada foi lançada. Vetor incriminado: a televisão. A
pornografia seria responsável pela violência coletiva, histeria nos jovens cada vez mais
expostos... para ver mais claramente, retorno sobre alguns lugares comuns ou falsas
certezas”. Depois de um pequeno texto factual que situa o contexto da cruzada, o dossiê
aponta “cinco idéias” entre as quais “Os filmes pornôs prejudicam gravemente os
garotos”.
15. Esta critica repousa sobre certa concepção - pessoal, mas argumentada - do
jornalismo, que deve ser outra coisa além de um espelho de opinião. Com certeza, isso
não esvazia o problema, pois seria injusto pedir para os jornalistas serem mais
performáticos que todos os pesquisadores reunidos. Mas, entre o mais e o menos, há
uma grande margem...

16. E o que se passaria se (5) fizesse a elipse do verbo da percepção, o leitor devendo
inferir o movimento perceptivo de Pierre nas proposições do particípio passado, e
atribuir o comentário e a percepção no segundo plano a Pierre, apesar da falta de ligação
hipotética (que os dois pontos não foram totalmente substituídos); esta ausência seria
mais forte se os dois pontos fossem substituídos por um ponto. A lógica é idêntica em
(14)-(16). Para uma análise detalhada desses exemplos, cf. Rabatel, 2003c.
(7) CRD de percepção: Pierre se aproximou da janela, olhou o cortejo: o público era
grande.
(8) Compte rendu indireto (CRI) da fala: Pierre se aproximou da janela, olhou o cortejo
e disse que o público era grande.
(9) CRI de pensamento: Pierre se aproximou da janela, olhou o cortejo e disse a si que
o público era grande.
(10) CRI de percepção: Pierre se aproximou da janela, olhou o cortejo e observou que o
público era grande.
(11) Compte rendu indireto livre (CRIL) da fala: Pierre se aproximou da janela, olhou o
cortejo. Ele chamou a atenção de Jean. O público era grande!
(12) CRIL do pensamento: Pierre se aproximou da janela, olhou o cortejo.
A multidão era numerosa!
(13) CRIL de percepção: Pierre se aproximou da janela, olhou o cortejo. O público era
realmente grande!
(14) Compte rendu direto livre (CRDL) da fala: Pierre se aproximou da janela, olhou o
cortejo.
Como o público é grande! Esta observação foi acompanha de um sorriso.
(15) CRDL do pensamento: Pierre se aproximou da janela, olhou o cortejo.
o público é grande. Este pensamento fugaz o reconfortou.
(16) CRDL de percepção: Pierre se aproximou da janela e olhou o cortejo:
Público grande, em média duzentas pessoas/ Pierre se aproximou da janela e olhou o
cortejo. Espetáculo reconfortante um público grande, em média duzentas pessoas.
(17) Compte rendu narrativizado da fala (CRN) (= discurso narrativizado): Pierre
discutiu uma hora com Charles.
(18) CRN do pensamento (= psico-narrativa): Pierre imaginou as boas razões que
Charles alegaria.
(19) CRN de percepção (= PDV embrionário): Pierre se divertiu ao ver um Charles
hesitando antes de falar.

Essas manipulações objetivando o continuum cognitivo e lingüístico entre percepção,


pensamento e fala, e explicando, sobre o plano semiótico, a similitude de seus valores
textuais, da construção dos efeitos do real (mimeses), a contribuição da informação
(matesis) e a gestão da estruturação textual (semiosis), conforme Adam & Petitjean
(1989).

Certamente é útil dar um nome as formas diferentes: chamaremos

– PDV « representado » um compte rendu de percepção (eventualmente associado a


falas ou pensamentos) desenvolvidos em segundo plano, como nos itálicos em (5)
(Rabatel, 1998, p. 54);
– PDV “embrionário” ou “falado” (Rabatel, 2001) um PDV perceptivo limitado a traços
no primeiro plano, como em (19);
– PDV “afirmado” um PDV se exprimindo por falas ou pensamentos, como formas
convencionais do DR (Rabatel, 2003a, b, c).

Mas não devemos jamais perder de vista seu parentesco e trabalhar sobre os efeitos
esperados jogando sobre sua diversidade e seu complemento na expressão do
mimetismo e da refletividade, sem esquecer que o dialogismo do PDV transborda o
quadro do DR, já que toda asserção exprime, de uma maneira ou de outra, PDV de
enunciação principal ou de enunciadores intratextuais, como vimos em (4), quando
L1/E1 utilizava a expressão “audaciosas amálgamas” para enfraquecer a tese de
influência das mídias sobre os comportamentos. Os termos nem sempre revelam
abertamente que “amálgama” o PDV de L1/E1. Assim, ainda em (4), L1/E1 não disse
que as observações dos pesquisadores estavam sem fundamento, mas ele deixa entender
ao escrever que eles “devem se contentar com as observações empíricas”, o que lhe
permite negar qualquer entrada política a suas análises, relativamente a interdição de X:
aqui, o verbo “ se contentar” possui uma orientação negativa, relatado pelos próprios
pesquisadores, o que atenua a responsabilidade de L1/E1. Igualmente, invocar as
“observações empíricas” não é propriamente um falar negativo, mas se torna por
antítese in absentia com “teoria”, dirá com um “grande número de observações
concordantes” que faz imaginar as correlações (ou casualidades).

PDV e asserção

Um passo suplementar no apagamento do PDV é percorrido com as afirmações, que


exprimem, às vezes, com economia e discrição das opiniões ou julgamento de valor. De
uma maneira geral, a escolha de uma denominação, desde o quadro da predicação, tal
“multidão”, basta para orientar o enunciado em um sentido determinado (sabemos que
os manifestantes e a policia - ao menos na França - ou raramente possuem a mesma
apreciação do referente):

(20) A multidão era numerosa.


(21) Os manifestantes realmente eram numerosos.
(22) A ralé formigava sobre a calçada, sem nenhum constrangimento.

O PDV não se limita a um modus subjetivo ao qual se oporia um dictum objetivo: é


imediatamente no nível do dictum, através claramente da seleção, a categorização ou
ainda da estruturação que operam as modalidades, como, em (22), a escolha de “ralé” e
o modo indicativo que apresenta o PDV como um fato “objetivo”, portanto, não sujeito
a discussão. Quanto a modalização, ela trata da distância do locutor ao inverso de seu
dizer, através dos desdobramentos enunciativos, os comentários reflexivos, etc.: cf.
“verdadeiramente”, “sem nenhum constrangimento”. Também cada um dos enunciados
precedentes podem compreender mais ou menos os subjetivemas, que dão uma volta
mais ou menos subjetivante do PDV, ou, ao contrário, objetivante, sobretudo nos
enunciados não encadeados marcados pelo apagamento enunciativo. Nesse quadro, o
dialogismo do PDV permite compreender que o PDV pode ser seja exibido, seja
escondido sob evidências dóxicas ou perceptuais objectivantes que não ficam atrás dos
PDV (Rabatel, 2005, aparece). Nesse sentido, ele parece didaticamente útil para
distinguir as estratégias de referenciação do dictum daqueles que intervêm na
construção do modus.

O PDV não se limita, semanticamente, as percepções ou as opiniões, muito menos ele


se acondiciona a um tipo de texto narrativo, descritivo ou argumentativo. Ele pode
aparecer também em um tipo de texto injutivo (o alocutário - “digas, caipiras, cale-se!”
– ou a atividade a cumprir –“é preciso limpar com a lavadora karcher a cidade de 4
000”), como em um texto informativo (cf. (4)) ou explicativo ((2)). Tais procedimentos
intervêm na (re) formulação de seu PDV ou daqueles interlocutores ou de terceiros, nos
debates em torno da denominação, quando dois locutores colocam um nome diferente
sobre o mesmo referente (“guerra” / “operação para manter a ordem”, etc.).

Ler/escrever o PDV
As análises dos elementos precedentes permitiram perceber todo o interesse (ao menos
esperamos) da abordagem comunicativa do PDV, para todos os tipos de texto e gêneros
do discurso. Tais atividades de descoberta lingüística e de interpretação ganham ao
serem articulados com atividades de escrita, em uma ótica deliberadamente pragmática.

Não tivemos muito espaço para desenvolver esta questão, indicamos algumas pistas de
escrita de imitação/invenção, a partir de um texto suporte, explorado em uma recente
obra (Rabatel, 2004a). É produtivo perguntar aos alunos, desde o final do terceiro ciclo
da escola elementar (qualquer que seja seu nível escolar, mas, adaptando os textos e as
instruções), depois de ter situado o maior número de marcas variadas dos PDV
representados, contados e afirmados, de lhe propor reescrever um texto mudando a
forma dos PDV; adotar o PDV referente a personagens diferentes; modificar as
características materiais da focalização; apresentar dois PDV distintos sobre um mesmo
objeto; jogar com os efeitos argumentativos da denominação, da designação (para o
enunciador ou os objetos focalizados); fazer sentir as evoluções do sujeito através das
evoluções da descrição do objeto percebido, eventualmente integrando a problemática
dos referentes evolutivos; juntar conforme sua pertinência enunciativa os conectores
lógicos ou os marcadores temporais indicando um PDV; reescrever cenas ou
argumentos em função do PDV do personagem (depois do narrador), com a base de
medidas objectivantes ou subjetivantes; articular ethos (preliminar, pré-discursivo) e
PDV representados; encenar um conflito de valores nos PDV afirmados jogando com o
dialogismo interlocutório; construir um diálogo levando em conta dois PDV dialógicos;
jogar com os estereótipos formais e lingüísticos, sobre o modo da dissonância, depois da
consonância, etc.

Esses exercícios não são somente pertinentes pela escrita ficcional, eles também servem
a construção de uma argumentação ou de uma explicação. Eles misturam as “belezas
gramaticais da língua” e os cálculos interpretativos do locutor e de seu co-enunciador,
referindo-se ao léxico do discurso (Paveau, 2000, p. 27-28), a sintaxe ou sobre a
organização geral dos discursos, em ligação com a dimensão pragmática da linguagem.
Desenvolver as competências em matéria de elaboração e de expressão do PDV permite
aos aprendizes adquirir habilidades de todo tipo, linguageiras, literárias, enciclopédias,
que são tanto instrumentos de compreensão, de problematização do real, e mesmo
tomadas efetivas sobre uma realidade complexa a se transformar.

Alain RABATEL

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