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Biologia celular

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autorização, por escrito, do autor. Todos os direitos reservados desta Paulo Bento da Silva
edição 2013 para a editora. Solange Marly Oshima
Formação de Professores em Ciências biológicas - EAD

Veronica Elisa Pimenta Vicentini


João Alencar Pamphile
(Organizadores)

Biologia Celular

2
Maringá
2010
Formação de Professores em Ciências Biológicas - EAD

Apoio técnico: Rosane Gomes Carpanese


Luciana de Araújo Nascimento Guaraldo
Normalização e catalogação: Ivani Baptista CRB - 9/331
Revisão Gramatical: Prof. Dr. Osvaldo Ferrarese Filho
Edição, Produção Editorial e Capa: Carlos Alexandre Venancio
Eliane Arruda

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Biologia celular / Veronica Elisa Pimenta Vicentini, João Alencar Pamphile,


B615 organizadores. -- Maringá: Eduem, 2010.
222p. : il. 21cm. (Coleção formação de professores em Ciências Biológicas, n. 2)

ISBN 978-85-7628-228-0

1. Biologia celular. 2. Biologia celular e molecular. 3. Células. 4. Membrana


celular. I. Vicentini, Veronica Elisa Pimenta, org. II. Pamphile, João Alencar, org.

CDD 21.ed. 571.6

Copyright © 2010 para o autor


1a Reimpressão 2013 - Revisada
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo
mecânico, eletrônico, reprográfico etc., sem a autorização, por escrito, do autor. Todos os direitos
reservados desta edição 2010 para Eduem.

Endereço para correspondência:

Eduem - Editora da Universidade Estadual de Maringá


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S umário

Sobre os autores > 9


Apresentação da coleção > 11
Apresentação do livro > 13

Capítulo 1
Células e organismos: Procariotos
Veronica Elisa Pimenta Vicentini
> 15

Capítulo 2
Células e organismos: Eucariotos
Veronica Elisa Pimenta Vicentini > 23

Capítulo 3
Métodos de estudo das células
Hélio Conte
> 29

Capítulo 4
Composição molecular das células – 1
Ana Luiza de Brito Portela Castro
> 39

Capítulo 5
Composição molecular das células – 2
Ana Luiza de Brito Portela Castro
> 49

Capítulo 6
Membrana celular: estrutura
Veronica Elisa Pimenta Vicentini
> 59

5
Biologia Capítulo 7
celular
Membrana celular: transporte
Veronica Elisa Pimenta Vicentini
> 65

Capítulo 8
Membrana celular: junções
Ana Luiza de Brito Portela Castro
> 71

Capítulo 9
Citoesqueleto
Veronica Elisa Pimenta Vicentini
> 79

Capítulo 10
Retículo endoplasmático
Veronica Elisa Pimenta Vicentini > 85

Capítulo 11
Complexo de Golgi
Veronica Elisa Pimenta Vicentini
> 93

Capítulo 12
Lisossomo
Veronica Elisa Pimenta Vicentini
> 97

Capítulo 13
Peroxissomo
Ana Luiza de Brito Portela Castro
> 103

Capítulo 14
Mitocôndria
Ana Luiza de Brito Portela Castro > 107

Capítulo 15
Cloroplasto
Claudete Aparecida Mangolin > 115

Capítulo 16
Núcleo interfásico
Ana Luiza de Brito Portela Castro
> 131

6
Capítulo 17 Sumário

Cromatina e Cromossomo metafásico


Veronica Elisa Pimenta Vicentini
> 139

Capítulo 18
Cromossomos politênicos e plumosos
Hélio Conte
> 145

Capítulo 19
Núcleo interfásico: replicação do DNA
João Alencar Pamphile
> 151

Capítulo 20
Núcleo interfásico: transcrição do DNA
João Alencar Pamphile > 159

Capítulo 21
Síntese proteica: tradução do RNA
João Alencar Pamphile
> 165

Capítulo 22
Ciclo celular: Mitose
Veronica Elisa Pimenta Vicentini
> 173

Capítulo 23
Meiose
Ana Luiza de Brito Portela Castro
> 179

Capítulo 24
Matriz extracelular
Hélio Conte > 187

Capítulo 25
Parede celular
Maria de Fátima Pires da Silva Machado > 191

Capítulo 26
Práticas de Biologia Celular
Veronica Elisa Pimenta Vicentini
> 201

Referências > 219


7
S obre os autores
ANA LUIZA DE BRITO PORTELA CASTRO
Professora do Departamento de Biologia Celular e Genética (DBC) da Universidade Estadual de

Maringá (UEM). Graduada em Ciências–Licenciatura Plena em Biologia (Universidade Federal

de Viçosa). Mestre em Genética (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto–USP). Doutor em

Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais (UEM).

CLAUDETE APARECIDA MANGOLIN


Professora do Departamento de Biologia Celular e Genética (DBC) da Universidade Estadual

de Maringá (UEM). Graduada em Ciências Biológicas (UEM). Mestre em Biologia Celular (UEM).

Doutora em Genética e Biologia Molecular (UNICAMP).

HÉLIO CONTE
Professor do Departamento de Biologia Celular e Genética (DBC) da Universidade Estadual de

Maringá (UEM). Graduado em Ciências Biológicas (UEL). Mestre em Zoologia de Invertebrados

(UNESP–Rio Claro). Doutor em Biologia Celular e Molecular (UNESP–Rio Claro).

JOÃO ALENCAR PAMPHILE


Professor do Departamento de Biologia Celular e Genética (DBC) da Universidade Estadual de

Maringá (UEM). Graduado em Ciências - Licenciatura Plena em Biologia (Universidade Federal

Rural do Rio de Janeiro). Mestre em Genética e Melhoramento de Plantas (Escola Superior de

Agricultura Luiz de Queiroz–USP). Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas (Escola Supe-

rior de Agricultura Luiz de Queiroz–USP).

MARIA DE FÁTIMA PIRES DA SILVA MACHADO


Professora do Departamento de Biologia Celular e Genética (DBC) da Universidade Estadual

de Maringá (UEM). Graduada em Ciências Biológicas (Faculdade de Filosofia Ciências e Letras

de Ribeirão Preto–USP). Mestre em Genética (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto–USP).

Doutor em Genética (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto–USP).

VERONICA ELISA PIMENTA VICENTINI


Professora do Departamento de Biologia Celular e Genética (DBC) da Universidade Estadual

de Maringá (UEM). Graduada em Ciências Biológicas (Faculdade de Filosofia Ciências e Letras

de Ribeirão Preto–USP). Mestre em Genética (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto–USP).

Doutora em Genética (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto–USP).

9
A presentação da Coleção
Este livro integra a coleção Formação de Professores de Ciências Biológicas – EAD,
como parte do material didático produzido para o Curso de Licenciatura em Ciências
Biológicas, na Modalidade de Educação a Distância, vinculado ao Departamento de
Biologia (DBI), do Centro de Ciências Biológicas (CCB) da Universidade Estadual de
Maringá (UEM), ofertado no âmbito da Universidade Aberta do Brasil (UAB).
Esta é uma coleção de livros para a formação de professores que traz a marca da
tradição e da força. A tradição vem da experiência no ensino e na pesquisa dos autores,
vinculados aos departamentos da Universidade Estadual de Maringá. A força, por sua
vez, está relacionada ao conteúdo diversificado e atualizado, bem como à metodologia
baseada na comunicação, em linguagem acessível e objetiva, e nas atividades e leituras
complementares propostas.
Numa coleção destinada à formação de professores de Ciências Biológicas, acredi-
tamos que a melhor opção é a adoção de uma sequência de conteúdos que permite o
contato com os níveis crescentes de complexidade, nos quais o mundo vivo se orga-
niza. Essa organização, desde o nível molecular até os princípios da hereditariedade
e evolução das espécies, culmina com as relações dos seres vivos entre si e com o
ambiente.
Além disso, o ensino atualizado não pode ficar indiferente às conquistas de uma
ciência dinâmica, que se renova a cada geração, na busca de respostas para as inúme-
ras indagações existentes e para aquelas que surgirão, proporcionando o aumento
notável dos conhecimentos adquiridos. Portanto, serão abordados, em todos os vo-
lumes, conhecimentos recentes, que focalizem temas de repercussão na atualidade
vinculados às pesquisas relacionadas às áreas da Biologia, como a ecologia, a genética,
a biotecnologia e a saúde, entre outras. Nessa perspectiva, cada livro da coleção foi
pensado e elaborado para uma disciplina específica do curso, buscando a leitura, a re-
flexão e o aprofundamento do conteúdo fundamental para a formação de professores
nessa área de conhecimento.
A conclusão dos trabalhos deverá ocorrer somente no ano de 2013. Deve-se con-
siderar que o financiamento para a edição dos volumes da coleção será liberado gra-
dativamente, de acordo com o cronograma estabelecido pela Diretoria de Educação a
Distância (DED) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior
(CAPES), responsável pelo programa Universidade Aberta do Brasil (UAB).

11
Biologia Agradecemos aos professores da Universidade Estadual de Maringá que organiza-
celular
ram os livros ou escreveram capítulos para os diversos volumes dessa coleção. Tam-
bém ressaltamos o apoio do Departamento de Biologia, do Centro de Ciências Bioló-
gicas, da reitoria e diversos órgãos da Universidade Estadual de Maringá, em especial
do Núcleo de Educação a Distância. Esperamos que a coleção tenha novas edições,
destinadas a novos alunos da UEM e de outras instituições públicas de ensino superior
vinculadas ao sistema UAB.

Celso João Rubin Filho


Organizador da Coleção

12
A presentação do livro
Este livro enfoca a relação entre ensino e aprendizado dos tópicos atualizados de
Biologia Celular, com novos conceitos e abordagens. O ensino no mundo contempo-
râneo, frente às novas exigências de interdisciplinaridade dos conhecimentos, tem
sido um desafio para o docente/pesquisador, que tem importante papel na formação
de um profissional atuante e com engajamento político e social.
O docente/pesquisador necessita atualizar continuamente seus conhecimentos
teórico-práticos e, consequentemente, procurar estratégias para ministrá-los de forma
adequada. Para isso, ele deve usar ferramentas disponíveis, além de comprometimento
didático-pedagógico de qualidade.
Os objetivos dos professores da disciplina Biologia Celular são:
• Estabelecer completa correlação entre ensino/aprendizagem.
• Ministrar conhecimentos atualizados.
• Usar novas abordagens com enfoque na interdisciplinaridade dos conhecimentos.
• Inovar a forma de ministrar os conhecimentos com a aplicação de novos recur-
sos didáticos.
• Ministrar os conteúdos programáticos, voltados aos interesses básicos do pró-
prio curso de graduação.
• Propiciar o aprendizado dos conhecimentos programáticos teórico-práticos.
• Incentivar o aluno a se tornar um transmissor de conhecimentos e a desenvol-
ver projetos de pesquisa, ensino e/ou extensão.
• Ministrar ensino de qualidade utilizando recursos audiovisuais com avanço tec-
nológico.

Os objetivos dos acadêmicos de Biologia Celular são:


• Entender a homeostasia celular.
• Conhecer a composição molecular dos compostos celulares.
• Conhecer a estrutura e a função dos componentes celulares.
• Identificar e entender as estruturas celulares no microscópio de luz/óptico e em
eletromicrografias.
• Preparar laminas para identificação de compostos químicos e componentes ce-
lulares.

13
1 Células e Organismos:
Procariotos
Veronica Elisa Pimenta Vicentini

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Você deverá entender:
• o que caracteriza um organismo unicelular, um pluricelular e um procarioto;
• a estrutura e a função geral dos constituintes da célula procariótica;
• a estrutura e a função geral dos vírus.

CLASSIFICAÇÃO DOS REINOS1


Inicialmente, estudaremos as definições gerais sobre as células e os organismos.

CLASSIFICAÇÃO DOS SERES VIVOS


Célula: unidade da vida. É a unidade que constitui os seres vivos.

1 Classificação dos seres vivos em seus reinos de acordo com Whittaker (1969).

15
Biologia Unicelulares
celular
Organismos com uma célula, ou seja, ela é o próprio organismo. Esta célula única
é capaz de desenvolver todas as atividades relacionadas ao seu metabolismo, à sua
sobrevivência e à sua reprodução. Ex. protozoários e bactérias.

Pluricelulares
Organismos formados por várias células. Estas células se especializam em determi-
nadas funções e necessitam de outras células especializadas para o funcionamento do
organismo, que ajusta o metabolismo à sua sobrevivência e reprodução. Ex. animais e
vegetais. O número e a forma das células estão relacionados com a função exercida.
Nestes organismos, as células se especializam e se agrupam para formar determina-
dos tecidos. Por sua vez, estes se especializam e se agrupam para formar determinados
órgãos. Estes se especializam e se juntam para formar os sistemas, que juntos formam
o organismo. Ex. célula prismática simples, tecido epitelial de revestimento, órgão
– estômago, sistema – digestório, organismo – homem.

O corpo humano é formado por cerca de 75 trilhões de células.


Ex. células. Células epiteliais têm a função de revestir o corpo; células musculares
estão associadas com os movimentos do corpo; células nervosas fazem parte do sis-
tema nervoso; algumas células sanguíneas transportam o oxigênio e células ósseas se
relacionam com a sustentação do corpo.
Ex. tecidos. Os tecidos fundamentais nos animais são: epitelial, muscular, nervoso
e conjuntivo.

16
CLASSIFICAÇÃO DOS ORGANISMOS Células e Organismos:
Procariotos
Procariotos
Pro = primeiro, primitivo; Cario = núcleo.
Procariotos são organismos que não possuem um sistema de endomembranas. O
material genético fica mergulhado no citoplasma. Não possuem um núcleo verdadei-
ro. Ex. Escherichia coli, cianofíceas, riquétsias, clamídias e micoplasma.
A seguir, estudaremos o exemplo clássico de um organismo procarioto: a bactéria.

Bactéria
Escherichia coli é a bactéria mais estudada. Ela tem a forma de bastão com cerca
de 2µm de comprimento e 0,8µm de largura.

Citoplasma – gel proteico e local onde ocorrem os processos metabólicos.


Membrana plasmática – envolve o citoplasma, é lipoproteica e tem a mesma es-
trutura e função da membrana das células eucariontes.
Mesossomos – invaginações na membrana plasmática onde se concentram as en-
zimas respiratórias.
Parede celular – envoltório extracelular rígido, com cerca de 20nm de espessu-
ra, constituído por proteínas, polissacarídeos e lipídeos. Responsável pela forma da
bactéria. Não possui celulose. Protege a célula contra agressões físicas e químicas do
ambiente.
Cápsula – camada de consistência mucosa ou viscosa formada por polissacarí-
deos, e que reveste a parede celular em algumas bactérias. Tem função antigênica e de
adesão ao substrato. Ocorre, principalmente, nas bactérias patogênicas (que causam
doenças), protegendo-as contra a fagocitose (processo que causa a sua destruição).
Nucleoide – é a região onde se concentra o cromossomo bacteriano. É constituído
por uma molécula circular de DNA em dupla hélice, que contém a informação genéti-
ca. Não possui envoltório.

17
Biologia A bactéria pode conter pequenas moléculas adicionais de DNA circular, chamadas
celular
plasmídios ou epissomas, que contêm informações genéticas independentes do nu-
cleoide e podem conferir resistência aos antibióticos.
Polirribossomos – RNAm + ribossomos, para realizar a síntese proteica.
Flagelos - apêndices filiformes longos e em geral, únicos. Usados na locomoção e
na movimentação do líquido circundante.
Fímbrias - apêndices filamentares, de natureza proteica, mais finos e curtos que
os flagelos e em maior número. Usados para adesão ao substrato. Nas bactérias que
sofrem conjugação, as fímbrias funcionam como pontes citoplasmáticas para a transfe-
rência do material genético.

Inclusões ou grânulos – acúmulo de alimentos, material de reserva.

Estudaremos outro exemplo de organismo procarioto: as cianofíceas.

Cianofícea: também chamada de cianobactéria ou alga azul. Apresenta estrutura


celular semelhante à das bactérias. É envolta por uma cápsula mucilaginosa localiza-
da acima da parede celular. A membrana plasmática é lipoproteica. Ela envolve o

18
citoplasma onde estão presentes os ribossomos, os pequenos vacúolos que arma- Células e Organismos:
Procariotos
zenam substâncias nutritivas e os grânulos de reserva. Apresenta nucleoide com-
posto de DNA mergulhado no citoplasma. As cianofíceas realizam a fotossíntese, são
autótrofas, possuem o pigmento clorofila tipo a, e estão localizadas em membranas
concêntricas denominadas membranas fotossintetizantes ou lamelas. Podem possuir
outros pigmentos.
A seguir, conheceremos seres desprovidos de células e estudaremos as suas carac-
terísticas. Eles são os vírus.

VÍRUS
Seres não constituídos por células (acelular). São parasitas intracelulares obriga-
tórios. Causam alterações patológicas (doenças) nas células. Não são capazes de se
multiplicar sozinhos, porque não têm todas as enzimas e estruturas necessárias para a
formação dos novos vírus. Eles se reproduzem somente quando parasitam as células,
usam a sua maquinaria enzimática e as destroem pelo processo de lise.

Capsídio – ou capsômero. É um envoltório formado por proteínas. Protege o áci-


do nucleico. Combina-se quimicamente com substâncias presentes na superfície das
células, permitindo ao vírus reconhecer e atacar o tipo de célula adequado para sua
hospedagem.

19
Biologia
celular

Material genético – Pode ser DNA ou RNA, onde estão inscritas as informações
para a produção de novos vírus. Há vírus de DNA e de RNA.

*Vírion – A partícula viral, quando fora da célula hospedeira, leva esta denomina-
ção. Cada espécie de vírus apresenta vírions de formatos característicos.

20
Células e Organismos:
Procariotos

Anotações

21
Biologia
celular

Anotações

22
2 Células e Organismos:
Eucariotos

Veronica Elisa Pimenta Vicentini

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Você deverá entender:
• a estrutura e a função geral dos constituintes da célula eucariótica animal;
• a estrutura e a função geral dos constituintes da célula eucariótica vegetal;
• as diferenças entre as estruturas de uma célula eucariótica animal e de uma
vegetal.

EUCARIOTOS
Célula Animal
Eucarioto: eu = verdadeiro; cario = núcleo.
Eucariotos são organismos que possuem um sistema de endomembranas. Possuem
um núcleo verdadeiro, bem delimitado e individualizado pelo envoltório nuclear.
Inicialmente, estudaremos as características e estruturas das células eucarióticas:
animal e vegetal.
Membrana plasmática (MP) – formada por uma bicamada lipídica com proteínas
mergulhadas e adsorvidas sobre ela (Modelo do Mosaico Fluido).
Função: proteger o conteúdo celular, dar o formato à célula, regular a passagem e
a troca de substâncias entre a célula e o meio em que ela se encontra.
Citoplasma – gel proteico que preenche todo o interior da célula.
Função: local onde ocorre o metabolismo celular.
Núcleo – local onde se encontra o material genético. Normalmente um núcleo por
célula, com localização central.
Função: comanda o metabolismo celular.
Nucleoplasma – gel proteico que preenche o interior do núcleo.
Membrana nuclear – formada pelo retículo endoplasmático rugoso, e envolve o
material genético.
Poro nuclear – localizado na membrana nuclear. Permite a troca entre núcleo e
citoplasma.
23
Biologia Nucléolo – mergulhado no nucleoplasma. É formado por RNA e é o local de forma-
celular
ção dos ribossomos (ribonucleoproteína).
Cromatina – mergulhada no nucleoplasma. É formada por DNA e proteínas.
Retículo endoplasmático (RE) – local de síntese e transporte de substâncias.
RE liso – túbulos cilíndricos que se anastomosam (juntam).
Função: síntese de lipídeos e hormônios esteróides, armazenamento e detoxificação.
RE rugoso – túbulos achatados com ribossomos acoplados (aderidos) à superfície
externa da membrana.
Função: síntese de proteínas.
Complexo de Golgi (CG) – vesículas membranosas (± 5), achatadas, empilhadas
e denominadas dictiossomos.
Função: local de armazenamento de substâncias produzidas no retículo endoplas-
mático, processamento (glicolipídeo, glicoproteína), empacotamento e secreção (di-
recionamento, endereçamento) de substâncias contidas em vesículas (vesículas secre-
toras, proteínas de exportação e da membrana, e lisossomos).
Lisossomos – vesículas de diferentes tamanhos e formas que contêm enzimas
hidrolíticas.
Função: local de digestão intracelular por autofagia e heterofagia (fagocitose e
pinocitose).
Mitocôndria – organela de formato esférico ou ovalado, formada por duas mem-
branas lipoproteicas. A membrana externa é lisa e a interna possui dobramentos
chamados de cristas mitocondriais. É local de síntese, sendo preenchida pela matriz
mitocondrial.
Função: realiza a respiração aeróbica celular (dependente de oxigênio) e produz
energia para o metabolismo celular – síntese de ATP (adenosina trifosfato).
Peroxissomo – pequenas vesículas, com matriz granulosa envolta por membrana,
que contêm enzimas oxidativas como peroxidases e catalase.
Função: decomposição de peróxido de hidrogênio (H2O2), um subproduto de rea-
ções bioquímicas com alta toxicidade para a célula, em substâncias inócuas como H2O
e O2.
Citoesqueleto – rede altamente dinâmica composta de três filamentos principais:
filamentos de actina, microtúbulos e filamentos intermediários, que estão conectados
entre si.
Função: estabelece, modifica e mantém a forma celular. Estrutura que se reorganiza
continuamente sempre que a célula altera a sua forma, divide-se ou responde às alte-
rações do ambiente. Responsável pelos movimentos celulares (contração, formação
de pseudópodos, deslocamento intracelular de organelas, cromossomos, vesículas e
grânulos).
24
A seguir, identificaremos, no esquema abaixo, as estruturas de um organismo eu- Células e Organismos:
Eucariotos
carioto: a célula animal.

Célula Vegetal
Constituída de membrana plasmática, citoplasma, núcleo, retículo endoplasmático
liso e rugoso, complexo de Golgi e mitocôndria. Apresenta as mesmas características
da célula animal.
Parede celular – estrutura resistente formada por celulose, lignina e outros
componentes.
Função: protege a célula, estabelece seu formato, regula a passagem e a troca de
substâncias entre uma célula e outra através dos plasmodesmos.
Cloroplasto – formado por duas membranas lipoproteicas. A externa é lisa e a in-
terna possui dobramentos denominados lamelas. É local de síntese, sendo preenchido
pelo estroma. Possui pigmentos, como as clorofilas, que capturam a luz solar.
Função: realiza a fotossíntese. Este é um fenômeno biológico pelo qual a energia
luminosa é transformada em energia química, contida em compostos altamente ener-
géticos como a sacarose.
Vacúolo – vacúolos de suco alimentar ou vacúolos vegetais, bem desenvolvidos,
delimitados por uma membrana lipoproteica denominada tonoplasto.

25
Biologia Função: preenchimento de espaço (aumento de tamanho da célula) e armazena-
celular
mento (água, íons como o Na+, carboidratos, aminoácidos e proteínas).
Glioxissomo - tipo de peroxissomo presente nos vegetais.
Função: oxidação de ácido graxo no ciclo do glioxilato.
A seguir, identificaremos, no esquema abaixo, as estruturas de um organismo eu-
carioto: a célula vegetal.

Façamos uma comparação entre as estruturas das duas células.

26
Células e Organismos:
Eucariotos

Proposta de Atividades

1) Descreva a estrutura e a função dos constituintes da célula eucariótica animal.


2) Descreva a estrutura e a função dos constituintes da célula eucariótica vegetal.
3) Monte uma tabela e cite as diferenças entre uma célula eucariótica animal e uma vegetal.
4) Monte uma tabela e cite as diferenças entre uma célula/organismo procarioto e uma célula
eucariótica.

Anotações

27
Biologia
celular

Anotações

28
3 Métodos de estudo
das células

Hélio Conte

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Você deverá entender:
• os diferentes métodos de estudo das células.

MÉTODO DE MICROSCOPIA
Inicialmente, conheceremos os principais equipamentos utilizados em microscopia.
A palavra microscopia tem sua origem etimológica no grego microu = pequeno e
scopein = examinar. Portanto, significa o exame de objetos pequenos impossíveis de
serem observados com a nossa visão normal.

1. Microscópio estereoscópico
Microscópio estereoscópico (lupa binocular). Fornece uma imagem ampliada do
objeto 40-60X, detalhando algumas características morfológicas, tanto externas como
internas. Podem ser equipados com acessórios como zoom e iluminação incidentes.

2. Microscópio de luz
Microscópio óptico (MO), atualmente chamado de microscópio de luz (ML, light
microscope), permite observar objetos de pequenas dimensões ou invisíveis a olho
nu. Fornece imagem aumentada, real, invertida (de cima para baixo) e rebatida (da
esquerda para a direita). É constituído de partes mecânicas e ópticas, com aumentos
de 40, 100, 400 e 1.200 vezes, de acordo com as oculares e objetivas.

29
Biologia
celular

3. Microscópio de contraste de fase


Muito usado para exame de material a fresco, células vivas (in vivo) não coradas,
esfregaços de líquidos naturais, extratos ou homogeneizados teciduais e tecidos vege-
tais. As diversas estruturas celulares têm quantidades diferentes de matéria que cau-
sam atrasos diferenciados na luz que as atravessam (quanto maior a densidade do
material, menor a velocidade da luz no corpo e maior o índice de refração). Isto gera
diferenças de fase na luz emergente para os quais o olho humano não é sensível. É
dotado de um sistema óptico especial que converte as diferenças de fase em diferen-
ças de amplitude de onda e resultam, para o observador, em diferença de intensidade
luminosa. Daí, o contraste maior ocasionando visualização de estruturas comuns que
não podem ser vistas.

4. Microscópio de polarização (ou de luz polarizada)


Este microscópio permite interpretações das propriedades físico-químicas e carac-
terísticas funcionais das estruturas que estão sendo objeto de estudo (tecido ósseo,
dentes, cutícula, cascas de sementes). Também pode ser usado na citoquímica e histo-
química proporcionando informações indispensáveis para a determinação de substân-
cias ou grupos de substâncias (gotículas de lipídeos, grãos de amido).
A luz que atravessa certas substâncias ou tecidos sofre uma divisão de tal ordem
que, de um único raio luminoso na entrada, resultam dois raios polarizados. Isto ocor-
re por causa de as substâncias possuírem um arranjo interno e periódico dos seus
átomos. Seja ou não aparente este arranjo, diz-se que tais corpos possuem um estado
cristalino. Ao contrário, as substâncias que não pertencem a esse grupo são chamadas
de amorfas.
A velocidade com que a luz se propaga nos corpos amorfos, também chamados de
isótropos ou monorrefringentes, é sempre igual, independente da direção que se-
gue dentro deles. Portanto, eles apresentam um único índice de refração. No caso dos
corpos cristalinos, também chamados de anisótropos ou birrefringentes, a velocida-
de da luz varia com a direção da propagação, resultando o fenômeno conhecido como

30
dupla refração. Neste fenômeno, um raio luminoso resulta em dois raios refratados, Métodos de estudo
das células
com diferentes direções e estados de polarização, permitindo que se conheça o arran-
jo interno das substâncias e sua orientação em escala submicroscópica.
O microscópio deve ser munido de dois elementos: polarizador (montado debai-
xo do condensador ele envia luz polarizada em um determinado plano ao objeto)
e analisador (colocado em cima das lentes da objetiva e, conforme a rotação desses
elementos, eles interceptam ou não a luz polarizada). Daí, um objeto birrefringente
emitir pontos de brilhos, máximo ou mínimo, conforme a posição desses filtros que se
chamam nicols ou polaroides (são prismas de nicol de calcita).

5. Microscópio fluorescente (ou de fluorescência)


Quando excitadas em determinados comprimentos de onda, algumas substâncias
absorvem energia e emitem luz de maior comprimento de onda. Essas substâncias são
denominadas fluorescentes, e o fenômeno chama-se fluorescência. Neste tipo de
microscópio, usa-se luz ultravioleta (UV ) de comprimento de onda próximo do espec-
tro visível. A fluorescência (espécie de luz intensamente colorida) que aparece, é tanto
natural (autofluorescência das estruturas biológicas, tecidos, células) como induzida
por corantes fluorescentes chamados fluorocromos.
Alguns compostos fluorescentes são constituintes normais das células, como a vi-
tamina A, as porfirinas e a riboflavina (vitamina B2). A identificação e localização dos
ácidos nucleicos são obtidas utilizando-se o corante fluorescente alaranjado de acridi-
na. Este corante, quando associado ao DNA, emite fluorescência verde amarela e, no
caso de RNA, emite fluorescência vermelho-amarelada. Ele tem sido empregado no
diagnóstico precoce do câncer, por meio das células, uma vez que as cancerosas são
muito ricas em RNA e, portanto, absorvem maior quantidade do alaranjado de acridina
do que as normais. Além de uma fonte de UV são necessários um ou mais filtros que
impeçam a incidência de radiação sobre a lamina, capaz de atingir e lesar o olho do
observador.

6. Microscópio eletrônico de varredura (MEV)


O aspecto essencial deste tipo de microscópio é que um feixe de elétrons, extre-
mamente estreito, é usado para “varrer” o espécime. É movido para frente e para trás,
fazendo com que o espécime emita elétrons, chamados elétrons secundários. São es-
ses elétrons os responsáveis pela formação da imagem que é construída em sequência,
no tempo, à medida que o material é varrido. Para que este material emita elétrons,
é necessário vaporizar sobre ele uma fina camada de metal pesado, como o pó de
ouro, que aumenta a sua capacidade de reflexão de elétrons. As imagens formadas são

31
Biologia tridimensionais, dando conhecimento das topografias, das superfícies ou dos orgânu-
celular
los celulares. O MEV tem sido valioso no estudo do pólen, dos esporos de fungos, das
superfícies de folhas, das antenas de insetos, etc.

7. Microscópio eletrônico de transmissão (MET)


Usa um feixe de elétrons ao invés de luz. O objeto precisa estar no vácuo para per-
mitir que os elétrons formem um feixe e não sofram espalhamento, sendo impossível
o exame do material vivo. A espessura do objeto tem que ser da ordem de nanômetros
ou ângstrons (0,10μm) para que possa ser atravessada pelos elétrons. Os elétrons
precisam ser acelerados; é necessário aumentar a sua energia, o que pode levar à des-
truição de elementos frágeis como moléculas orgânicas. Para aumentar o seu desvio,
as estruturas devem ser impregnadas com metais pesados como ósmio, chumbo e
urânio, e esta técnica é chamada de contrastação.
No ML, as lentes são de vidro e ele usa a luz branca; no MET, as lentes são magnéti-
cas e ele usa um filamento de tungstênio que aquecido emite elétrons. O MET trabalha
sob vácuo; tem um sistema de refrigeração, as imagens são em branco e preto com
todas as tonalidades intermediárias e não se formam no olho humano (não estimu-
lada por elétrons), mas sobre uma placa fotográfica (que a registra), ou um anteparo
fluorescente (que permite a observação imediata do espécime). A resolução do MET
permite visualizar até moléculas orgânicas (DNA, RNA, proteínas), e o estudo da ul-
traestrutura celular, formando imagens planas (o que é diferente do MEV ).

32
Métodos de estudo
das células

8. Microscópio confocal
O microscópio confocal de varredura fornece uma forma mais rápida e de qualida-
de. Ele tem sido utilizado para análises de estruturas tridimensionais (rede de fibras
no citoesqueleto, organização de cromossomos e genes no núcleo). O arranjo usado
envolve a iluminação provida por uma fonte de laser. Como esta luz fornece um ponto
de iluminação muito pequeno, este deve ser varrido sobre o espécime para permitir
a observação de uma área maior. O componente do espécime deve ser marcado com
uma molécula fluorescente. A luz usada para formar uma imagem é aquela refletida
pelo espécime; a luz refletida é capturada por um detector, onde o sinal é amplificado
eletronicamente para ser visto em um monitor. Somente um plano focal muito delga-
do é focalizado de cada vez, sendo possível reuni-los e reconstruí-los em um objeto
tridimensional. É dependente das inovações na área da computação.

MÉTODOS APLICADOS AO ESTUDO DE CÉLULAS


A maior parte dos estudos citológicos depende de métodos relacionados
com a microscopia. De fato, o desenvolvimento da citologia sempre dependeu do

33
Biologia aperfeiçoamento de técnicas nos campos da Física e da Química. Os métodos utili-
celular
zados variam de acordo com a natureza das células a serem observadas e podem ser
aplicados em células in vivo ou em células mortas, buscando-se o mais conveniente
para o fim a que se destina.
Até aqui, conhecemos os diferentes tipos de microscópios. Agora, conheceremos
os diferentes métodos para estudar as células.

1. Estudo de células vivas – in vivo


Neste caso, observamos diretamente o próprio organismo ou indiretamente re-
tirando suas células e colocando-as em uma solução fisiológica, como é o caso da
solução de Ringer (NaCl a 0,6%). Para melhor observar as estruturas que compõem
uma célula empregamos corantes, em doses fracas, evitando danos ou até morte celu-
lar. Estes corantes são denominados vitais, como o vermelho-neutro, o verde-janus, o
violeta de metila e o azul de metileno.

2. Método de cultura de células e tecidos


As células podem ser mantidas vivas e estudadas fora do corpo, método muito útil
para estudos que visam conhecer o efeito isolado de moléculas sobre um tipo de célu-
la ou tecido. A cultura de células permite também a análise direta do comportamento
de células vivas por meio de um microscópio. Além disso, várias experiências que não
podem ser executadas em um animal vivo podem ser feitas in vitro.
Para esse tipo de método, células e tecidos são cultivados em soluções de compo-
sição conhecida (sais, aminoácidos, vitaminas), às quais são adicionados componentes
do soro. Para o preparo de culturas de um tecido ou órgão, as células devem ser
inicialmente separadas mecanicamente ou por meio de tratamento enzimático. Uma
vez isoladas, elas podem ser cultivadas em suspensão ou colocadas sobre uma placa
de Petri (de vidro ou plástico) ou uma lamínula de vidro, superfícies sobre as quais
costumam aderir e crescer numa única camada de células.
Culturas feitas dessa maneira são denominadas primárias. A maioria das células
obtidas de tecidos normais tem duração de vida finita, programada geneticamente.
Para permitir a imortalidade de células normais in vitro, precisamos submetê-las a um
processo de transformação. Todos estes procedimentos com células e tecidos vivos de-
vem ser executados em uma área estéril, usando-se equipamentos e soluções também
esterilizados.

34
Métodos de estudo
das células

Em (1), notamos o esquema representando células em cultura iniciando o crescimento; em (2) e (3),
as células em cultura já estão em um estágio mais avançado de crescimento.

3. Método de fracionamento celular


Componentes celulares como as organelas podem ser purificados e isolados por
meio da técnica de fracionamento celular. É um processo físico no qual é usada uma
força centrífuga para separar organelas e outros componentes celulares em decor-
rência de seus coeficientes de sedimentação. O coeficiente de sedimentação de uma
partícula depende do seu tamanho e da sua forma, bem como da densidade e vis-
cosidade do meio em que está suspensa. A composição química e as funções das
organelas e moléculas podem, neste caso, ser estudadas in vitro. As frações obtidas
por esta técnica podem ser analisadas ao microscópio eletrônico para verificar a sua
pureza. Durante nossos estudos, observaremos como são isolados alguns componen-
tes celulares.

35
Biologia 4. Métodos histoquímicos e citoquímicos
celular
São métodos que identificam e localizam substâncias em células cultivadas ou em
cortes histológicos. Há vários procedimentos para obtermos estas informações, sendo
a maioria baseada em reações químicas específicas ou em interações de alta afinida-
de entre as moléculas. Nestes métodos, observamos substâncias insolúveis coloridas
ou elétron-densas, as quais permitem a localização de átomos ou moléculas quando
usadas microscopias de luz ou eletrônica. O DNA pode ser identificado e quantificado
nos núcleos das células por meio da reação de Feulgen e ambos, DNA e RNA, podem
ser evidenciados com corantes básicos, em cortes de tecidos. Procedimentos histo-
químicos são usados em casos de biópsias de tecidos de pacientes para diagnosticar
determinadas doenças.

5. Método de marcadores moleculares

Em (1), injetamos aminoácidos radioativos; em (2), aguardamos alguns minutos e sacrificamos o


animal extraindo as proteínas; as proteínas sintetizadas nos últimos três minutos são radioativas; (3)
em seguida, utilizamos uma película radiográfica onde ficarão impressas as radiações emitidas (4).

Em uma célula ou mesmo em um corte de tecido, a presença de uma molécula de


interesse pode ser percebida por meio de compostos que interagem especificamente e
se ligam com a mesma. Os compostos de reconhecimento devem ser previamente aco-
plados a um marcador, para que o conjunto molécula-composto-marcador possa ser
visto por meio de um microscópio de luz ou eletrônico. Os marcadores mais usados
são: substâncias fluorescentes (visualizadas em microscópio de fluorescência ou laser);
átomos radioativos (para detecção em radioautografia); moléculas de enzimas como
a peroxidase (detectada pela demonstração da enzima com peróxido de hidrogênio e
diaminobenzidina - DAB) e metais (em geral partículas de ouro). Estes métodos são
utilizados principalmente, para detectarem carboidratos, proteínas e ácidos nucleicos.

6. Método de imunocitoquímica
Este método permite identificar moléculas, em cortes ou camadas celulares, por
meio de anticorpos. Em uma reação imunocitoquímica, células em cultura ou um corte

36
de tecido que se supõe conter determinada proteína são incubados em uma solução Métodos de estudo
das células
que contém um anticorpo que reconhece essa proteína. O anticorpo se liga especifica-
mente à proteína e sua localização pode ser então evidenciada por microscopia de luz
ou eletrônica, dependendo do marcador que foi acoplado ao anticorpo. Na separação
de proteínas, podemos utilizar: ultracentrifugação, cromatografia e eletroforese em gel.

7. Método de separação de proteínas por eletroforese em gel


Neste método, misturas de proteínas são obtidas de células e tecidos homogenei-
zados. Estas misturas são frequentemente tratadas com um detergente (dodecil sulfato
de sódio, SDS-PAGE) e com mercaptoetanol, para desenovelar e separar as cadeias e
subunidades de proteínas. As amostras são, então, colocadas na porção superior de
uma placa de gel de poliacrilamida, que é submetida a uma corrente elétrica contínua.
As proteínas migram ao longo do gel de acordo com seu tamanho e forma. Uma mistu-
ra de proteínas conhecidas é colocada no gel para servir como padrão. A identificação
pode ser feita por coloração, radioautografia ou immunoblotting.

8. Método ou técnicas de hibridização


A biologia celular moderna procura entender o funcionamento das células em seus
detalhes moleculares. Esse tipo de pesquisa requer técnicas que permitem a análise
das moléculas envolvidas nos processos de fluxo de informação do DNA para proteína
e no controle deste fluxo. Muitas técnicas são baseadas em hibridização ou hibridação.
Isto significa ligação entre duas moléculas de cadeia única de ácidos nucleicos (DNA
com DNA; RNA com RNA; RNA com DNA), que se reconhecem se as suas sequências
forem complementares e formarem moléculas de cadeia dupla. A hibridização permite
a identificação de sequências específicas de DNA ou RNA. Nesta técnica, são muito

37
Biologia utilizadas sequências chamadas de sondas. Estas podem ser obtidas por meio de PCR
celular
(polymerase chain reaction) ou por síntese se a sequência desejada for curta. Uma
sonda precisa estar ligada a um marcador, um isótopo radioativo (que pode ser loca-
lizado por radioautografia) ou a um nucleotídeo modificado (digoxigenina) que pode
ser identificado por imunocitoquímica.
Ao longo do curso aprenderemos muitas técnicas modernas utilizadas no estudo
das células, especialmente na Histologia.

Proposta de Atividades
Atividade

1) Para melhor entender o mundo dos equipamentos, acesse os sites abaixo e faça um resumo
(máximo de 25 linhas) do conteúdo.
• <http://ciencia.hsw.uol.com.br/microscopios-de-luz5.htm>.
• <http://www.uq.edu.au/nanoworld/nanohome.html>.

2) Revisão bibliográfica: Após realizar as atividades acima, visite uma biblioteca e procure
alguns livros básicos sobre o tema.
JUNQUEIRA & CARNEIRO – Histologia Básica. 10ª ed. Ed. Guanabara Koogan, 2004. Leia
somente o capítulo I – Métodos de Estudos.

3) Sites na Internet a serem visitados.


• <http:// www.cnpdia.embrapa.br/publicacoes/CT03_96.pdf>.
• <http://www.ioc.fiocruz.br/menu/produtos/comciencia_01.pdf>.

4) Procure informações na Internet sobre Nanotecnologia e faça um resumo explicativo (má-


ximo de 15 linhas).

5) Após conhecer os diferentes métodos para estudar células, cite os mais usados.

Anotações

38
4 Composição molecular
das células – 1

Ana Luiza de Brito Portela Castro

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Você deverá:
• identificar cada componente químico com base na sua composição e estrutura;
• relacionar a composição molecular com a estrutura celular;
• compreender a importância biológica dos componentes químicos;
• compreender a importância dos componentes químicos para as diferentes fun-
ções celulares.

COMPOSIÇÃO MOLECULAR DAS CÉLULAS


Neste, e no próximo capítulo, conheceremos as moléculas da vida, ou seja, aquelas
que são os principais constituintes das células. Durante a evolução das células, alguns
átomos como o oxigênio, hidrogênio, carbono e nitrogênio foram selecionados para
constituir as biomoléculas. As moléculas de carbono constituem a base química de
todo ser vivo.
Os organismos são constituídos de diferentes tipos de moléculas. Elas variam de
tamanho, desde pequenas como a água até moléculas maiores conhecidas como ma-
cromoléculas e, assim, definidas por apresentarem uma elevada massa molecular.
As macromoléculas, também conhecidas como polímeros e que constituem os se-
res vivos, são ainda chamadas de biopolímeros e estes, por sua vez, são constituídos
de unidades menores que se repetem – os monômeros. Os principais biopolímeros
dos seres vivos são as proteínas, os carboidratos e os ácidos nucleicos. Eles são
diferenciados em homopolímeros, quando os monômeros são semelhantes, e he-
teropolímeros, quando os monômeros são diferentes. Exemplos destas duas classes
de biopolímeros, respectivamente, são as moléculas de glicogênio, cujo monômero
básico é a glicose, e os ácidos nucleicos porque diferem nos nucleotídeos.
Moléculas menores, e não menos importantes, são também constituintes das célu-
las e possuem relevante papel na estrutura e funcionamento destas, como os lipídeos,
a água, os sais minerais e as vitaminas. Estudaremos, neste capítulo, a composição

39
Biologia química, a morfologia e a importância biológica dos principais constituintes molecula-
celular
res das células, ou seja, a água, os sais minerais, os carboidratos e os lipídeos.

ÁGUA
A água é um dos elementos mais abundantes nos seres vivos e a origem das cé-
lulas está associada a ela. A água está presente em grande quantidade nas células,
assim como no meio extracelular. Portanto, abordaremos esta molécula a partir da sua
composição química e configuração, e a influência dos seus átomos nas propriedades
biológicas das macromoléculas.
A molécula da água é dita morfológica e eletricamente assimétrica, porque os dois
átomos de hidrogênio formam um ângulo juntamente com o oxigênio, estimado em
104,9º. Além disso, a distância entre os átomos de oxigênio e hidrogênio é de 0,1nm.
Isso mostra que esta molécula não é um bastão reto. Ainda, como o oxigênio, ela tem
forte atração pelos elétrons e estes não são distribuídos igualmente. Assim, o oxigênio
fica com a maior parte da carga negativa disponível, e é por isso que a água é conside-
rada um dipolo. No lado do oxigênio, há uma carga parcial negativa, enquanto que
nos lados dos hidrogênios existe uma carga parcial positiva.

Por causa da sua natureza dipolar, a água é um dos maiores solventes e a sua impor-
tância para as células está relacionada a esta propriedade. Biopolímeros que possuem
grupamentos químicos com afinidade pela água são denominados de grupamentos
polares como os grupos carboxila, hidroxila, aldeído, sulfato e fosfato. Os compostos
polares, solúveis em água, são denominados de hidrofílicos (hidro = água; filos =
amigo). Por outro lado, biopolímeros que não apresentam afinidade pela água pos-
suem grupamentos apolares, portanto, são hidrofóbicos (hidro = água; fobos =
aversão). Os lipídeos, a parafina e os óleos são exemplos de moléculas que repelem a
molécula de água.

40
Existem moléculas, geralmente longas, que apresentam uma porção hidrofílica e Composição molecular
das células – 1
outra hidrofóbica e, por isso, são denominadas anfipáticas. Neste caso, estas molécu-
las podem se associar à água e aos compostos hidrofílicos por uma das extremidades
e aos compostos hidrofóbicos pela outra extremidade.

SAIS MINERAIS
Outras moléculas inorgânicas e íons fazem parte dos seres vivos e são chamadas, de
um modo geral, de sais minerais. Os sais podem ser encontrados tanto na forma ioni-
zada (Na+, K+, Mg2+ e Ca2+) como não ionizada (cálcio, fosfato, ferro). A concentração
de íons no interior das células e no meio extracelular é diferente e importante para a
manutenção do equilíbrio osmótico. Por exemplo, a concentração de íons como K+ e
Mg2+ dentro da célula é maior enquanto que o Na+ e o Cl- se localizam principalmente
no meio extracelular. Os íons Ca2+ são importantes na transmissão de sinais pelas cé-
lulas, os íons Mg2+ atuam como cofatores enzimáticos, os ânions bicarbonato e fosfato
como tamponantes no sangue, além do fosfato ser um dos constituintes de moléculas
como ATP, DNA e RNA ou ainda associados com lipídeos (fosfolipídeos) e proteínas
(fosfoproteínas).
Os sais minerais possuem função estrutural como o cálcio, que faz parte dos ossos
e dentes nos vertebrados. Importantes moléculas dos seres vivos estão associadas com
íons, como a hemoglobina (ferro), pigmentos como clorofila (magnésio), citocromos
que contêm ferro e enxofre e participam da cadeia respiratória nas mitocôndrias.
Outros elementos químicos são importantes para a atividade celular normal, po-
rém em pequenas quantidades, como manganês, cobalto, cobre, iodo, selênio, níquel,
molibdênio e zinco. O iodo tem função na glândula tireoide e quase todos esses ele-
mentos citados são importantes para o funcionamento de enzimas.
Estas e outras funções dos sais minerais serão estudadas em outros capítulos que
abordarão cada organela celular, facilitando a compreensão do importante papel des-
tes elementos químicos nos organismos.

CARBOIDRATOS
Os carboidratos são compostos constituídos de átomos de C, H e O e são a prin-
cipal fonte de energia para a célula. Além disso, são constituintes de membranas ce-
lulares e da matriz extracelular. Geralmente, são classificados quanto ao número de
monômeros e se dividem da seguinte forma:
Monossacarídeos. São os carboidratos mais simples, com fórmula geral: Cn(H2O)n.
Os seguintes compostos, trioses (3C), tetroses (4C), pentoses (5C) e hexoses (6C) que
se diferenciam conforme o número de átomos de carbono são monossacarídeos encon-
trados nas células.

41
Biologia
celular

Como exemplos de monossacarídeos importantes para as células, temos: o ácido


pirúvico (triose), ribose, desoxirribose e xilose (pentoses), e glicose (hexose), que é
importante fonte de energia. Outras hexoses como galactose, manose, frutose, fucose
e ácido glicurônico podem se associar formando oligossacarídeos ou polissacarídeos.
Dissacarídeos. São açúcares formados pela união de dois monômeros de hexoses
com perda de uma molécula de água, e cuja fórmula é C12H22O11. Exemplo deste grupo
é a lactose que é formada pela associação da glicose e galactose.
Oligossacarídeos. São moléculas formadas por várias combinações de monossaca-
rídeos, com cadeias muitas vezes ramificadas. Nos organismos, encontram-se ligados
às proteínas e aos lipídeos formando glicoproteínas e glicolipídeos, respectivamente.
Os oligossacarídeos correspondentes às glicoproteínas conectam-se com a cadeia
proteica por meio do grupo –OH de uma serina ou treonina sendo a ligação deno-
minada O-glicosídica (ou ligação O) ou por meio do grupo amida numa ligação de-
nominada N-glicosídica (ou ligação N). Na ligação O-glicosídica ocorre a participação
de uma N-acetilgalactosamina e na ligação N-glicosídica ocorre a participação de uma
N-acetilglicosamina.
Polissacarídeos. São macromoléculas que resultam da combinação de muitos mo-
nômeros de hexoses, com a perda de água. A fórmula geral é (C6H10O5)n. Apresentam
função de reserva nutritiva e também estrutural. Exemplos clássicos deste grupo: gli-
cogênio, amido e celulose, todos constituídos de glicose, mas diferindo pelos tipos de
ligações entre seus monômeros.

42
Composição molecular
das células – 1

O glicogênio atua como depósito para suprir a energia química em muitos animais
e o amido constitui uma reserva energética para as plantas. A celulose é um polissaca-
rídeo estrutural constituinte da parede celular das células vegetais.
Polissacarídeos complexos são as glicosaminoglicanos (GAG) e proteoglicanos,
que são componentes não fibrosos da matriz extracelular. Os glicosaminoglicanos são
compostos por sucessões de uma mesma unidade dissacarídica em que um dos mo-
nômeros é sempre um ácido glucurônico, um ácido irudônico ou uma galactose, e o
outro possui um grupo amino, podendo ser uma N-acetilglicosamina ou N-acetilgalac-
tosamina. Proteoglicanos são moléculas formadas pela associação de glicosaminoglica-
nos (GAC) às proteínas.

LIPÍDEOS
Os lipídeos são normalmente caracterizados pela sua insolubilidade em compostos
polares como a água. Isso porque possuem cadeia de hidrocarbonetos alifáticos ou os
anéis benzênicos, que são estruturas não polares ou hidrofóbicas. Eles são solúveis em
compostos não polares como éter, clorofórmio e benzeno.
Os lipídeos não possuem um grupamento químico comum a todos eles e não
formam polímeros. Algumas semelhanças estruturais, entretanto, permitem separar
aqueles que possuem ácidos graxos como as ceras, os triglicerídeos, os fosfolipídeos,
os esfingolipídeos, os esteróides e os terpenoides.
43
Biologia Considerando suas funções nas células, podemos dividir os lipídeos em duas cate-
celular
gorias: de reserva nutritiva e os estruturais.
Lipídeos de reserva nutritiva. Este grupo corresponde à classe mais abundante
de lipídeos, as gorduras neutras, que são normalmente fonte de energia utilizada pe-
los animais. Quimicamente, as gorduras neutras são formadas pela ligação éster do
glicerol com três ácidos graxos (iguais ou não) e denominadas triacilgliceróis, triglice-
rídeos, triglicérides ou glicerídeos.
Define-se ácido graxo como um ácido carboxílico com quatro ou mais átomos de
carbono. Os ácidos graxos mais frequentes nas gorduras neutras contêm de 16-18 áto-
mos de carbonos (ácidos palmítico, esteárico e oleico, respectivamente). Estas cadeias
contêm número par de carbonos e podem ser saturadas (somente ligação simples) ou
insaturadas (com ligações duplas).
Lipídeos estruturais. São importantes componentes estruturais das membranas
celulares, como membrana plasmática e as membranas de todas as organelas celulares.
Os lipídeos com função estrutural são fosfolipídeos, glicolipídeos e colesterol. Nas cé-
lulas, existem duas classes de fosfolipídeos, os glicerofosfolipídeos e esfingolipídeos.
Estes são moléculas anfipáticas, isto é, possuem uma extremidade polar (hidrofílica) e
outra extremidade apolar (hidrofóbica).

Glicerofosfolipídeos
Estes possuem dois ácidos graxos associados com glicerol e o terceiro grupo hi-
droxila deste álcool forma uma ligação éster com o fosfato. O ácido fosfatídico é um
exemplo deste grupo de fosfolipídeos. No entanto, o fosfato ainda pode se ligar a um
álcool (etanolamina, serina, colina ou inositol), sendo denominados de acordo com o
álcool como fosfatidiletanolamina, fosfatidilserina, fosfatidilcolina e fosfatidilinositol,
respectivamente.
Na membrana interna das mitocôndrias, encontra-se ainda um tipo especial de
glicerofosfolipídeo denominado cardiolipina ou difosfatidilglicerol.

44
Composição molecular
das células – 1

Esfingolipídeos
Lipídeos que não apresentam o glicerol e são formados pela ligação de um ácido
graxo com o grupo amina da molécula de esfingosina (uma cadeia com 18C e uma
dupla ligação). A esfingosina é formada pela união de uma serina com um ácido graxo.
A esfingomielina é um tipo de esfingolipídeo presente nas membranas das células ner-
vosas, mas são encontradas também em outros tecidos, como nos rins de mamíferos e
de outros vertebrados.

Glicolipideos
Os glicolipídeos contêm carboidratos na sua composição e são classificados em ce-
rebrosídeos e gangliosídeos Os cerebrosídeos são formados pela união de uma glicose
ou galactose com a ceramida que é constituída de um ácido graxo ligado à molécula de
esfingosina. Ocorrem nas camadas externas de algumas biomembranas.
Os gangliosídeos são similares aos cerebrosídeos, pois contêm a ceramida associa-
da com oligassacarídeos, cujos monômeros possuem de um a três ácidos siálicos.

Esteróides
São lipídeos derivados de um composto chamado ciclopentanoperidrofenantreno,
sendo o mais comum o colesterol, como mostrado na figura ao lado.

45
Biologia
celular

O colesterol é um importante lipídeo presente nas membranas celulares e em ou-


tras partes das células. Outros tipos de esteróides com funções diferentes de acordo
com os grupos químicos ligados à sua estrutura básica são os hormônios sexuais (es-
trógeno, progesterona, testosterona), das suprarrenais (cortisol, aldosterona), a vita-
mina D e os ácidos biliares.
O dolicol é um tipo de lipídeo presente na membrana do retículo endoplasmático
e é um composto poli-isoprênico, ou seja, contém 17-21 unidades isoprênicas, com
85 a 105 átomos de carbono. Dolicol-fosfato é um lipídeo que desempenha papel im-
portante na incorporação de oligossacarídeos às cadeias proteicas durante a formação
das glicoproteínas.

Proposta de Atividades

1) Explique a importância biológica da água.


2) Relacione os principais sais minerais quanto à função nas células.
3) Explique a diferença entre carboidratos com função energética e com função estrutural. Dê
exemplos.
4) Conceitue lipídeo e comente sobre a estrutura e a função dos lipídeos estruturais.
5) Justifique a afirmativa: o colesterol é uma molécula com caráter anfipático.

46
Composição molecular
das células – 1

Anotações

47
Biologia
celular

Anotações

48
5 Composição molecular
das células – 2

Ana Luiza de Brito Portela Castro

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Você deverá:
• identificar cada componente químico com base na sua composição e estrutura;
• relacionar a composição molecular com a estrutura celular;
• compreender a importância biológica dos componentes químicos;
• compreender a importância dos componentes químicos para as diferentes fun-
ções celulares.

COMPOSIÇÃO MOLECULAR DAS CÉLULAS


Neste capítulo, estudaremos a composição química, a morfologia e a importância
biológica dos principais constituintes moleculares das células, ou seja, as proteínas, as
enzimas e os ácidos nucleicos.

PROTEÍNAS
Proteínas são macromoléculas constituídas por inúmeros tipos de L-aminoácidos
unidos por ligações peptídicas.
Na fórmula, vemos que o carbono α (central) está ligado ao grupo carboxila
(–COOH), a um grupo amina (–NH2) e ao radical (R), que diferencia os aminoácidos.
Os grupos carboxila e amina são ionizáveis e conferem às proteínas, propriedades
básicas ou ácidas.

49
Biologia A junção de dois aminoácidos constitui um dipeptídeo, de três, um tripeptídeo e,
celular
quando há alguns peptídeos, denominamos oligopeptídeo.

As cadeias polipeptídicas são formadas por centenas ou até 1.000 aminoácidos,


mas, ao atingirem certa dimensão, são designadas proteínas, que incluem centenas
a milhares de aminoácidos. Geralmente, as cadeias polipeptídicas são consideradas
proteínas quando possuem, no mínimo, um peso molecular de 6.000 daltons.
Em que pese a existência, na natureza, de mais de 150 tipos de aminoácidos,
somente 20 são encontrados nas proteínas. De acordo com a estrutura química, os
aminoácidos podem ser classificados em neutros polares (serina, treonina, tirosina,
triptofano, asparagina, glutamina e cisteína), neutros não polares (glicina, alanina,
valina, leucina, isoleucina, fenilalanina, prolina e metionina), ácidos (ácido aspártico
e ácido glutâmico) e básicos (lisina, arginina e histidina).
As proteínas podem ser classificadas em simples, quando formadas somente por
aminoácidos, e conjugadas, quando estão associadas a moléculas não proteicas. Esta
parte não proteica é chamada de grupo prostético. Exemplos de proteínas conjugadas:
nucleoproteínas (gupo prostético: ácidos nucleicos), fosfoproteínas (fósforo), glico-
proteínas (polissacarídeos) e lipoproteínas (lipídeos).

Estrutura das proteínas


A estrutura das proteínas é mantida por diferentes tipos de ligações químicas, as
quais mantêm a estabilização destas e sua estrutura tridimensional. Além das ligações
peptídicas que resultam de ligações covalentes, ocorrem outras ligações ou, ainda,
interações entre os átomos dos aminoácidos das moléculas proteicas. Assim, podem
ocorrer: a) interações hidrofóbicas que, por definição, se dão entre moléculas apo-
lares que se comprimem umas as outras por causa da repulsão e, por isso, não são
consideradas ligações e sim interações; b) pontes de hidrogênio, que corresponde ao
uso comum do átomo de H por radicais diferentes e são importantes forças de coesão
entre os aminoácidos e c) ligações dissulfeto (S—S) entre os aminoácidos que contêm
enxofre na sua composição como, por exemplo, a cisteína.
50
A sequência de aminoácidos nas proteínas influencia a forma tridimensional e, con- Composição molecular
das células – 2
sequentemente, o seu papel biológico. Existem quatro níveis estruturais na organiza-
ção das proteínas:
Estrutura primária. Corresponde à sequência de aminoácidos que forma a pro-
teína e é mantida pelas ligações peptídicas.

Estrutura secundária. As moléculas proteicas se dobram e se enrolam de um


modo complexo e esta configuração aproxima os aminoácidos por causa das pontes
de hidrogênios entre eles. Uma estrutura secundária muito frequente nas células é a
α-hélice (símbolo α por ser a primeira estrutura descoberta), onde a cadeia polipep-
tídica tem forma cilíndrica e se apresenta como uma hélice. Outra estrutura secundária
observada entre as proteínas é chamada de β pregueada (ou folha dobrada β), a
qual resulta também de pontes de hidrogênios laterais.

Estrutura terciária. A cadeia polipeptídica contendo a estrutura secundária se do-


bra novamente sobre si mesma, formando estruturas globulares ou fibrosas. Grande
parte das proteínas da membrana plasmática é do tipo globular. Colágeno e queratina
são exemplos de proteínas fibrosas.

51
Biologia
celular

Estrutura quaternária. As proteínas são constituídas por duas ou mais cadeias


polipeptídicas (iguais ou diferentes). Um exemplo é a hemoglobina, constituída de
quatro cadeias polipeptídicas.
No ambiente intracelular, muitas moléculas estão se formando simultaneamente e
isso dificulta a estruturação de complexos proteicos. Moléculas proteicas, denomina-
das chaperonas têm a função de se unirem às cadeias polipeptídicas nascentes, orien-
tando-as até que se liguem a outras cadeias polipeptídicas para formarem, correta-
mente, os complexos ativos. Além disso, as chaperonas desfazem também agregações
defeituosas e eliminam, por hidrólise, as moléculas proteicas incorretamente forma-
das. Proteínas sintetizadas no citoplasma que se destinam às mitocôndrias devem ser
mantidas distendidas pelas chaperonas para que o mecanismo de transferência delas
para a organela seja correto. Nas cisternas do RE, existe uma chaperona que auxilia o
dobramento das moléculas proteicas para que estas assumam sua configuração tridi-
mensional correta.

ENZIMAS
As enzimas são moléculas proteicas capazes de acelerar intensamente determina-
das reações químicas, tanto na síntese como na degradação das moléculas e, portanto,
são definidas como catalisadores eficientes. As enzimas são as principais responsáveis
pela eficiência da maquinaria celular, pois além de acelerarem a velocidade das rea-
ções, apresentam alto rendimento, pois geram apenas o produto desejado.
As enzimas, assim como toda proteína, são produzidas sob o controle do DNA.
Uma exceção existe para um tipo de RNA com atividade enzimática, as ribozimas.
A enzima (E) se liga a um substrato (S, um dos reagentes), formando o complexo
enzima–substrato (ES). O substrato (S) é convertido em produto (P) que, subsequen-
temente, se dissocia da enzima (E):

E + S ↔ ES ↔ E + P

52
A ligação do substrato à enzima ocorre em um local específico da enzima: o “sítio Composição molecular
das células – 2
ativo”, similar a uma fenda contendo aminoácidos, cujas cadeias laterais criam uma
superfície complementar que se liga ao substrato.
No esquema ao lado, vemos a ligação de uma enzima com o substrato (maltose) em
seu sítio ativo e os produtos da reação, as duas moléculas de glicose.

Uma característica importante da atividade enzimática é a sua especificidade. Isto


significa dizer que cada tipo de enzima atua somente sobre um determinado substra-
to. A forma tridimensional da enzima é importante para a sua atividade, pois o centro
ativo é complementar à molécula do substrato (estereocomplementaridade).

Por que as enzimas aceleram as reações químicas?


As enzimas diminuem a energia de ativação (a energia necessária para iniciar uma
reação química) através das ligações que ocorrem entre a enzima e o substrato. Assim,
elas aceleram a velocidade das reações que são termodinamicamente viáveis.
Muitas enzimas necessitam de outras moléculas ou íons para exercerem suas ativi-
dades. Estes elementos são chamados de cofatores. Quando o cofator é uma molécula,
recebe o nome de coenzima.

Nomenclatura das enzimas


Em geral, as enzimas recebem o nome do substrato da reação acrescido do sufixo
“ase”. Exemplos: ribonuclease (o substrato é o ácido ribonucleico), urease (substrato:
uréia) e glicoquinase (substrato: glicose). Em outros casos, as enzimas são denomina-
das de acordo a ação realizada como desidrogenação, polimerização, transferência,
etc. Exemplos: lactato desidrogenase e DNA polimerase.
A Comissão de Enzimas da União Internacional de Bioquímica adotou uma classifi-
cação das enzimas com seis categorias:
Oxirredutases: atuam em reações de oxidação e redução.
Transferases: catalisam reações de transferência de grupamentos químicos de uma
molécula para outra.

53
Biologia Hidrolases: atuam nas reações de hidrólise (transferência de grupos funcionais
celular
para a H2O).
Liases: catalisam quebra de ligações originando ligações duplas ou ao contrário,
desfazendo estas ligações.
Isomerases: catalisam rearranjos intramoleculares, modificando a estrutura tridi-
mensional do substrato, com formação de isômeros.
Ligases: atuam na ligação de duas moléculas mediante hidrólise de compostos
ricos em energia (ATP, por exemplo).
Outras enzimas, entretanto, são conhecidas por nomes consagrados que não obe-
decem à regra do sufixo “ase”, como é o caso da tripsina e pepsina que catalisam
reações de hidrólise das proteínas.

Fatores que afetam a atividade enzimática


As enzimas são sensíveis a diversos agentes químicos e físicos e podem ser inibidas
de várias maneiras. Dentre os fatores físicos e químicos podemos citar a temperatura,
a concentração do substrato, o pH, etc. Temperaturas muito baixas diminuem a ativida-
de enzimática e retardam os processos de lise celular e deterioração de tecidos. Neste
sentido, a baixa temperatura tem grande importância do ponto de vista prático, pois
permite a conservação de tecidos, órgãos, etc. Além desses fatores, a concentração
dos substratos e a presença de ativadores e inibidores também alteram a atividade das
enzimas.

Complexos multienzimáticos
Nas células, existem enzimas que trabalham de forma cooperativa constituindo
complexos multienzimáticos. Dessa forma, as enzimas funcionam em uma sequên-
cia de reações, onde o produto resultante da ação de uma enzima é o substrato para
a enzima seguinte. Exemplos: complexo piruvato desidrogenase e enzimas da cadeia
respiratória presentes na membrana interna das mitocôndrias.

ÁCIDOS NUCLEICOS
Os ácidos nucleicos, presentes em todos os seres vivos, são macromoléculas de
grande importância biológica. Nestas moléculas está depositada toda a informação
genética. Existem dois tipos: DNA, ácido desoxirribonucleico e RNA, ácido ribonuclei-
co. Os ácidos nucleicos são constituídos pela polimerização de unidades chamadas de
nucleotídeos.

54
Estrutura química dos nucleotídeos Composição molecular
das células – 2
Os nucleotídeos contêm resíduos de ácido fosfórico, uma pentose (ribose no RNA
e desoxirribose no DNA) e uma base nitrogenada. As bases nitrogenadas pertencem
a dois grupos de compostos: bases púricas ou purinas: adenina (A) e guanina (G);
bases pirimídicas ou pirimidinas: citosina (C), timina (T) e uracila (U).

No DNA, encontram-se as bases A, G, C e T, enquanto que no RNA a timina (T) é


substituída pela uracila (U).
Em alguns tipos de DNA e no RNA de transferência podem existir bases incomuns
ou minoritárias. Ex: 5-metilcitidina (DNA de animais e plantas superiores), N-metilade-
nosina (DNA bacteriano), inosina, 7-metilguanosina, pseudo-uridina (RNAt).

A molécula de DNA
O DNA consiste em duas cadeias de nucleotídeos dispostas em hélice (dupla héli-
ce) em torno de um eixo com um giro para a direita (embora existam outras configu-
rações que não serão abordadas neste momento). As duas cadeias são antiparalelas,
isto é, a direção da ligação 5´→3´ fosfodiéster em uma cadeia e a outra 3´→5´ (veja
figura). Em função disso, uma cadeia termina em 5’ e a outra em 3’.
As bases púricas e pirimídicas situam-se no interior da dupla hélice paralela entre
si e perpendiculares em relação ao eixo da hélice.

55
Biologia
celular

Cada base nitrogenada estabelece um pareamento com a sua base complementar


por causa das dimensões das moléculas. Portanto, o pareamento ocorre entre uma
base púrica e uma pirimídica e, assim, adenina se pareia com timina (A–T) e a guanina
com a citosina (G–C). Na hélice, as bases se unem por meio de pontes de hidrogênio
resultando em maior estabilidade para a molécula. Adenina se une à timina por meio
de duas pontes de hidrogênio e a guanina à citosina por três.
O diâmetro da dupla hélice é de 2nm, a distância entre as bases é de 0,34nm e
cada volta completa da hélice contém dez nucleotídeos. A hélice de DNA apresenta
dois sulcos, um maior e outro menor. As moléculas que compõem o DNA têm caráter
hidrofóbico e hidrofílico e a disposição destas permite o encontro com a água intrace-
lular. Portanto, a desoxirribose e o fosfato são hidrofílicos e se localizam na periferia
da hélice, enquanto que as bases são hidrofóbicas e se encontram no interior dela. O
caráter hidrofóbico das bases nitrogenadas, juntamente com as pontes de hidrogênio
que as une, contribui para maior estabilidade da hélice de DNA.

A molécula de RNA
A estrutura do RNA é semelhante a do DNA, pois os nucleotídeos estão unidos
entre si por meio das ligações fosfodiéster 5´→3´, exceto por algumas diferenças na
composição química, já citadas. Outra diferença é que o RNA contém apenas uma ca-
deia de nucleotídeos, porém, nem sempre ele se apresenta como uma cadeia simples.
Algumas bases podem estabelecer pontes de hidrogênio por causa da complementari-
dade (A–U e C–G) formando regiões de fita dupla.
Existem três tipos de RNA: RNA mensageiro (RNAm), RNA transportador (RNAt)
e RNA ribossômico (RNAr), como mostrado na figura abaixo:

56
Composição molecular
das células – 2

Os três tipos de RNA são produzidos a partir do DNA pelo processo de transcrição
e participam na síntese proteica. O RNAm carrega a informação genética (códons) e
estabelece a sequência de aminoácidos da proteína, e o RNAt identifica e transporta os
aminoácidos para o ribossomo. Este é formado pela associação de moléculas de RNAr
e proteínas e por meio dele ocorre a síntese proteica.

Proposta de Atividades

1) Em que consiste a ligação peptídica?


2) Quais são as estruturas das proteínas? Comente a importância destas.
3) Diferencie DNA e RNA.
4) Por que se diz que a molécula de DNA é antiparalela?
5) Quais as diferenças entre os três tipos de RNA?

Anotações

57
Biologia
celular

Anotações

58
6 Membrana celular:
estrutura
Veronica Elisa Pimenta Vicentini

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Você deverá entender:
• as características da estrutura/modelo e a função da membrana celular;
• as características da estrutura e a função de cada constituinte da membrana
celular.

ESTRUTURA DA MEMBRANA CELULAR


Inicialmente, estudaremos as características principais, as funções e o modelo es-
trutural das membranas celulares.
A membrana celular está presente nas células eucarióticas (procarióticas – só en-
voltório celular). Ela envolve o conteúdo celular, define o limite da célula, e separa o
meio intracelular do extracelular. É uma estrutura altamente dinâmica que se reorga-
niza continuamente sempre que a célula altera a sua forma, divide-se ou responde à
ação do ambiente. É visualizada em microscópio eletrônico.

FUNÇÔES DA MEMBRANA PLASMÁTICA


1) Regula a passagem e a troca de substâncias entre a célula e o meio em que ela se
encontra. É semipermeável.
2) Protege a célula.
3) Permite a variabilidade de formas, pois estabelece, modifica e mantém a forma
das células.
4) Permite a execução de movimentos coordenados e direcionados, como na con-
tração muscular, na formação de pseudópodos e na divisão celular.

Modelo do Mosaico Fluido

59
Biologia A membrana plasmática é constituída por duas camadas lipídicas fluidas e contí-
celular
nuas onde estão inseridas moléculas proteicas e receptores específicos. Ela não é uma
estrutura estática, pois os lipídeos se movem proporcionando fluidez à membrana.
Essa fluidez depende da temperatura e da quantidade de colesterol.
A seguir, estudaremos os componentes das estruturas das membranas.

Lipídeos
As moléculas lipídicas constituem 50% da massa da maioria das membranas de
células animais; o restante é constituído de proteínas. As moléculas lipídicas são anfi-
páticas, pois possuem uma extremidade hidrofílica ou polar (solúvel em meio aquoso)
e uma extremidade hidrofóbica ou não polar (insolúvel em água).
Os três principais grupos de lipídeos da membrana são:
Fosfolipídeos: possuem uma cabeça polar e duas caudas hidrofóbicas de hidro-
carboneto. As caudas são, normalmente, ácidos graxos com diferentes comprimentos.
Uma das caudas contém uma dupla ligação (insaturado), o que implica na fluidez da
membrana.

Colesterol: torna a bicamada lipídica menos sujeita a deformações e diminui a


permeabilidade da membrana. O colesterol se insere na membrana com seu grupo
hidroxil polar perto do grupo polar dos fosfolipídeos.

60
As membranas das células vegetais e da maioria das bactérias não possuem coles- Membrana celular:
estrutura
terol.
Glicolipídeos: auxiliam na proteção da membrana plasmática em condições ad-
versas, como pH baixo. Sua presença altera o campo elétrico através da membrana e
das concentrações dos íons na superfície da membrana. Participam dos processos de
reconhecimento celular.

Proteínas
As proteínas desempenham a maioria das funções específicas das membranas.
Elas conferem as propriedades funcionais características de cada tipo de membrana.
As proteínas de membrana estão, geralmente, associadas aos carboidratos, que são
encontrados como cadeias de oligossacarídeos ligadas covalentemente às proteínas
(glicoproteínas) e aos lipídeos (glicolipídeos), formando o glicocálix na superfície da
membrana.
Proteína integral transmembrana: atravessa completamente a bicamada lipídica.
É anfipática e pode ser:
Proteína transmembrana de passagem única: em forma de hélice. Atravessa a
membrana uma única vez.

61
Biologia Proteína transmembrana de multipassagem: em forma de hélice. Atravessa a
celular
membrana várias vezes.
Proteína em barril: se restringe, principalmente, às membranas externas das bacté-
rias, das mitocôndrias e dos cloroplastos. Pode transportar íons e atuar como receptor
ou enzima.
Proteína integral não transmembrana: não atravessa a bicamada lipídica, se en-
caixando em parte dela.

Proteína periférica: se prende às superfícies interna e externa da membrana plas-


mática por meio de vários mecanismos:
a) ancorada por uma α-hélice;
b) ligada aos lipídeos da membrana;
c) ligada às proteínas da membrana;
d) ligada aos oligossacarídeos.

62
GLICOCÁLIX (ou Glicocálice) Membrana celular:
estrutura
Se situa externamente e aderido a membrana plasmática das células animais. É
formado por uma camada de carboidratos ligados às proteínas integrais e periféricas
(glicoproteínas) e aos lipídeos (glicolipídeos) da membrana plasmática.

Função
- Protege a superfície das células.
- Dá um microambiente: carga elétrica, pH, concentração de íons.
- Funciona como filtro (capilares sanguineos).
- Confere viscosidade às superfícies celulares, permitindo o deslizamento de célu-
las em movimento (células sanguíneas).
- Apresenta propriedades antigênicas, promove a resposta imunitária com forma-
ção de anticorpos.
- Intervém nos fenômenos de reconhecimento celular, atua na histocompatibilida-
de, auto reconhecimento e rejeição.
- Atua no processo de inibição do crescimento celular por contato.
- Atua nos processos de adesão entre óvulo e espermatozóide.

MODELO DA ESTRUTURA DA MEMBRANA CELULAR

63
Biologia
celular

Proposta de Atividades

1) Descreva o modelo da membrana celular.


2) Monte uma tabela, cite as funções e o que caracteriza cada componente da membrana
celular.

Anotações

64
7 Membrana celular:
transporte

Veronica Elisa Pimenta Vicentini

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Você deverá entender:
• os tipos de transporte que ocorrem através da membrana celular e porque são
caracterizados como transporte de moléculas de baixa massa molecular;
• os tipos de transporte que ocorrem através da membrana celular e porque são
caracterizados como transporte de moléculas de alta massa molecular;
• os tipos de transporte que ocorrem pelas proteínas.

TRANSPORTE ATRAVÉS DA MEMBRANA CELULAR


Inicialmente, estudaremos as características do Transporte de Moléculas de Bai-
xa Massa Molecular através das membranas.

65
Biologia Transporte Passivo
celular
É um processo de difusão de substâncias através da membrana. O soluto atravessa
a membrana sempre a favor do gradiente de concentração, isto é, do mais concentra-
do para o menos concentrado. Este transporte pode ocorrer por difusão simples ou
facilitada.

Difusão simples
É um processo físico. As moléculas se deslocam conforme o gradiente de concen-
tração no meio, ou seja, de maior concentração para menor. É a passagem de peque-
nas moléculas a favor do gradiente. Pode ocorrer através da bicamada lipídica ou de
canais proteicos.

Difusão simples através da bicamada lipídica


Neste processo, são transportadas pequenas moléculas não carregadas como mo-
léculas lipídicas (hormônios esteróides), anestésicos (éter), fármacos lipossolúveis;
substâncias apolares (O2 e N2 atmosférico) e algumas moléculas polares de pequeno
tamanho (H2O, CO2, etanol e glicerol).

Neste tipo de difusão, grandes moléculas carregadas como glicose, alguns aminoá-
cidos (alanina), H+, Na+, Ca2+ e Cl- não são transportadas. No caso do movimento de
água entre células, o mecanismo de osmose envolve a passagem de moléculas de água
através da camada dupla da membrana e fluxo de massa através de pequenos poros
seletivos, de proteínas integrais, denominados aquaporinas.

66
Difusão simples através de canais proteicos Membrana celular:
transporte
Ocorre pelas proteínas de canal. Estas são proteínas com um orifício ou canal inter-
no, cuja abertura está regulada, e que se unem a uma determinada região, o receptor
da proteína de canal, o qual sofre uma transformação estrutural capaz de induzir a
abertura do canal (como ocorre com neurotransmissores ou hormônios). Neste pro-
cesso são transportados íons como Na+, K+, Ca2+ e Cl-.

Difusão facilitada
Permite o transporte de pequenas moléculas polares, que não conseguem atraves-
sar a bicamada lipídica. Requerem proteínas transmembranas para facilitar a passagem
(de aminoácidos, monossacarídeos, etc). Estas proteínas recebem o nome de proteí-
nas transportadoras ou permeases que, ao unirem-se à molécula que irão transportar,
sofrem uma modificação em sua estrutura que conduz a molécula ao interior da célula.

67
Biologia Transporte Ativo
celular
Neste processo, também atuam proteínas de membrana, porém estas requerem
energia (ATP) para transportarem as moléculas ao outro lado da membrana, contra o
gradiente. São exemplos de transporte ativo a bomba de Na+/K+ e a bomba de Ca2+.
A bomba de Na+/K+ requer uma proteína transmembrana. Por este mecanismo de
bomba, são transportados 3 Na+ até o exterior e 2 K+ para o interior da célula, com
a hidrólise de ATP. Esta proteína atua contra o gradiente graças à sua atividade como
ATPase, pois quebra o ATP para obter a energia necessária para o transporte.

Todas as células animais gastam mais de 30% do ATP que produzem, e as células
nervosas mais de 70%, para bombearem esses íons.

TIPOS DE TRANSPORTE PELAS PROTEÍNAS


Uniporte. As proteínas que transportam somente um tipo de soluto. Outras pro-
teínas dependem do transporte de outro soluto junto, e atuam como carreadores ou
transportes acoplados.
Simporte. Transferência do segundo soluto na mesma direção.
Antiporte. Transferência do segundo soluto na direção oposta.

68
A seguir, estudaremos as características do Transporte de Moléculas de Alta Mas- Membrana celular:
transporte
sa Molecular através das membranas.

Relação entre os processos de endocitose, exocitose, heterofagia e


autofagia.
Endocitose
É o processo pelo qual a célula capta partículas do meio externo mediante uma
invaginação da membrana que engloba a partícula a ser ingerida. Ocorre o estrangula-
mento da invaginação, originando uma vesícula que contém o material ingerido.
Segundo a natureza das partículas englobadas, distinguem-se tipos de endocitose:
fagocitose e pinocitose. É mediada por um receptor. É um mecanismo pelo qual so-
mente entra a substância para a qual existe o receptor correspondente na membrana.
Fagocitose. Elementos de dimensões macromoleculares (microrganismos e restos
celulares) são envolvidos por expansões das membranas, que as englobam.
Pinocitose. Partículas de dimensões moleculares são capturadas por invaginações
da membrana plasmática que formam um túbulo que envolve as moléculas.
Exocitose
É o mecanismo pelo qual as macromoléculas contidas em vesículas citoplasmáticas
são transportadas desde o interior da célula até a membrana plasmática, para serem
vertidas ao meio extracelular, por meio da fusão das duas membranas. Em todas as
células existe um equilíbrio entre a exocitose e a endocitose para a manutenção da
membrana plasmática e do volume celular.
Heterofagia. Digestão de material estranho à célula.
Autofagia. A célula destrói e reconstrói seus próprios constituintes.

69
Biologia CICLO DO PROCESSO DE TRANSPORTE E DIGESTÃO DE MOLÉCULAS
celular

Proposta de Atividade

1) Monte uma tabela e cite as funções e o que caracteriza cada tipo de transporte que ocorre
através da membrana celular.

Anotações

70
8 Membrana Celular:
Junções
Ana Luiza de Brito Portela Castro

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Você deverá:
• conceituar a matriz celular e seus componentes;
• compreender os tipos de interação entre a célula e a matriz extracelular;
• identificar os tipos de junções célula-célula;
• compreender a importância biológica das junções celulares.

JUNÇÕES CELULARES
Durante o desenvolvimento embrionário, as células apresentam a capacidade de se
reconhecerem e se unirem para formarem os tecidos. A integridade e a manutenção
dos tecidos dependem destas propriedades e isso acontece desde os animais mais
primitivos até a espécie humana. As células de um tecido podem estar interligadas
não somente com outras células, mas também com a matriz extracelular por meio
de estruturas especializadas da membrana plasmática, chamadas de junções celulares
e junções células-matriz.
Para melhor compreendermos estas associações, definiremos primeiramente ma-
triz extracelular. Entre as células dos tecidos animais e vegetais existe um espaço,
que é preenchido por um complexo de componentes fibrosos, denominado matriz
extracelular.
A matriz extracelular é constituída por um complexo de várias proteínas e polissa-
carídeos que são classificados em componentes não fibrosos (ou fluidos) e fibrosos.
Os componentes não fibrosos são representados principalmente por glicosaminogli-
canos e proteoglicanos (estudados anteriormente), enquanto que os componentes
fibrosos compreendem as proteínas estruturais, como o colágeno, e as proteínas ade-
sivas, como a fibronectina e a laminina.
A regulação fisiológica das junções é um evento fundamental em muitos proces-
sos celulares como adesão, comunicação intercelular, migração, diferenciação, etc. A
quantidade de matriz nos animais varia conforme o tipo de tecido, e é abundante em
tecidos conjuntivos como cartilagem, osso, derme, porém escassa em tecidos como o
epitelial e o nervoso.
71
Biologia Os tecidos vegetais também apresentam matriz extracelular como, por exemplo, a
celular
parede celular que será estudada em outro capítulo. Uma vez definida a matriz extra-
celular, conheceremos agora as junções entre células e a matriz extracelular.
As células interagem com a matriz extracelular por meio de junções do tipo con-
tatos focais e hemidesmossomos. Em alguns tecidos conjuntivos, as células podem
estabelecer contatos com a matriz por meio de estruturas denominadas contatos fo-
cais, as quais envolvem proteínas da membrana denominadas integrinas. Essas pro-
teínas transmembranas estabelecem contatos com a matriz em seu domínio externo
mediante a ligação com fibronectina e esta, por sua vez, liga-se ao colágeno da matriz
extracelular.
Na face interna da membrana, a integrina (mediante o seu domínio interno) se
liga por meio de proteínas ligadoras aos filamentos de actina, constituindo o que se
chama de fibras de tensão. Esses tipos de uniões ocorrem durante a migração celular
e, além disso, as integrinas têm também um papel importante na transdução de sinais
da matriz para o interior da célula.
O hemidesmossomo, cujo nome deriva da sua semelhança estrutural com o des-
mossomo, faz conexão da célula com a matriz, ancorando filamentos intermediários
do citoesqueleto com a matriz, o que confere resistência aos tecidos diante de forças
de estresse mecânico. Sua distribuição é mais limitada e ocorre principalmente, nas
células basais dos epitélios. Estas células se ligam a uma parte especializada da matriz
extracelular, a lamina basal. No lado citoplasmático, o hemidesmossomo é visto ao
microscópio eletrônico como uma placa de onde partem os filamentos intermediários
do tipo queratina, e se conecta com a matriz por intermédio da integrina, e no meio
extracelular estabelece conexões com fibras do colágeno. Outras proteínas têm sido
identificadas na estrutura dos hemidesmossomos revelando uma composição química
distinta dos desmossomos.

72
Além dessas estruturas de adesão, as células realizam uniões transitórias para reco- Membrana Celular:
Junções
nhecimento e adesão durante fenômenos biológicos como respostas imunes, reparo
de feridas e interrupção de hemorragias. As células de defesa do sangue (neutrófilos,
linfócitos, etc), que atravessam as células endoteliais dos capilares sanguíneos para
os tecidos durante uma resposta imune, possuem glicolipídeos e glicoproteínas na
superfície de suas membranas, que são capazes de interagir com moléculas de adesão
denominadas selectinas. Estas moléculas são glicoproteínas complementares presen-
tes nas membranas plasmáticas das células endoteliais.
Em tecidos onde as células iguais, ou não, se associam estabelecendo uniões está-
veis existem glicoproteínas transmembranas com função de reconhecimento e ade-
são celular. Estas glicoproteínas das membranas, responsáveis pela aderência entre as
células, são denominadas de CAMs que significa “cell adhesion molecules”. As CAMs
são glicoproteínas integrais transmembranas, ou seja, atravessam a bicamada lipídica e
expõem suas extremidades em ambas as faces das membranas.
As CAMs são receptores de superfície das células com finalidade de reconhecer
outras células e a elas se aderirem para constituir tecidos e órgãos. Várias CAMs foram
identificadas e receberam seus nomes conforme o tipo celular onde são encontradas:
N-CAMs (neurônios), Ng-CAMs (neurônios, células gliais), L-CAM ou caderina E (hepa-
tócitos, células epiteliais), caderina P (placenta), caderina N (neurônios). As caderinas
são um tipo de CAMs dependentes de cálcio.
As uniões estáveis entre as células, ou seja, uniões célula-célula, são denominadas
junções celulares. Estas envolvem especializações das membranas plasmáticas que
interconectam células vizinhas em um tecido. Elas podem ser classificadas em quatro
componentes: junção de oclusão (zonula ocludens ou tight junction), junção ade-
rente (zonula adherens), desmossomo (maculae adherens) e junção comunicante
(nexus ou gap junction). Entre parêntesis, estão os diferentes nomes atribuídos a cada
tipo de junção.
A figura abaixo representa os tipos de junções que ocorrem em uma hipotética
célula epitelial cilíndrica intestinal. Devemos ressaltar aqui um tipo de especialização
das membranas celulares, as microvilosidades. Elas correspondem a uma expansão,
em forma de dedos, da membrana plasmática e são abundantes em células envolvidas
com absorção como, por exemplo, as células epiteliais do intestino. O interior dos
microvilos é preenchido por filamentos de actina, responsáveis pela manutenção da
forma destes.

73
Biologia
celular

As células do epitélio colunar simples do intestino delgado são um bom exemplo


para demonstração das junções celulares. Nestas células, alguns autores denominam de
complexo juncional que compreende as junções oclusivas, de adesão e desmossomos.
Para melhor compreendermos cada tipo de junção, vamos caracterizá-las indivi-
dualmente, e ilustrá-las.

Desmossomo
O desmossomo constitui uma estrutura de adesão entre membranas de células vi-
zinhas. Eles são muito frequentes em células submetidas às trações como a epiderme,
revestimento da língua e esôfago, e em células do músculo cardíaco. Formam-se com
facilidade nas células em cultura, mas desaparecem nas células que sofrem transforma-
ção maligna (células cancerosas).

74
Membrana Celular:
Junções

Ao microscópio eletrônico os desmossomos são vistos como estruturas em forma


de “botões”, frequentemente localizados abaixo da junção de adesão no epitélio. Eles
são encontrados em tecidos epiteliais e não epiteliais. Entre as membranas nos locais
dos desmossomos há um espaço de 15-20nm e na face citoplasmática aparece uma pla-
ca amorfa, elétron-densa, que é chamada de placa do desmossomo. Proteínas diver-
sas fazem parte desta placa como desmoplaquinas I e II (glicoproteínas). Nesta placa,
inserem filamentos intermediários que se prendem às desmoplaquinas I e II, por meio
das desmocalminas e queratocalmina (outras proteínas da placa), e se estendem para
o interior das células. Diferentes tipos de proteínas constituem os filamentos interme-
diários da placa do desmossomo, como, por exemplo, queratina em células epiteliais
e vimentina em desmossomos de células musculares.

Junção de oclusão
Este tipo de junção forma um cinturão ao redor da célula epitelial na região apical,
com o qual as membranas laterais das células vizinhas estão em íntimo contato. Neste
local, ocorre vedação, total ou parcial, do trânsito de íons e moléculas por entre as
células. O impedimento de passagem de substâncias na região das junções de oclusão
propicia a existência de potenciais elétricos diferentes, por causa da diferença de con-
centração iônica entre as duas faces da camada epitelial.

75
Biologia
celular

Do ponto de vista molecular, nas junções de oclusão, as bicamadas lipídicas con-


têm proteínas integrais chamadas ocludinas, que se dispõem em fileira, unindo firme-
mente as membranas vizinhas.

Junção aderente
É um tipo de junção que, em muitos epitélios de revestimento, circunda a parte
apical das células e que promove a adesão entre as células. Localiza-se logo abaixo da
junção de oclusão. São formadas por glicoproteínas transmembranosas classificadas
como caderinas, as quais unem as membranas das células vizinhas por meio dos seus
domínios externos, e, no lado citoplasmático de cada célula nesta junção, encontram-
se filamentos de actina, como pode ser visto na figura. Estas junções são sensíveis à
concentração de Ca2+ e se desorganizam quando este íon se encontra em níveis muito
baixos, levando à separação das células.

76
Junção comunicante Membrana Celular:
Junções
Este tipo de junção ocorre em muitos epitélios como os de revestimentos, glandu-
lares, musculares lisos, musculares cardíacos e nervosos. É uma estrutura que permite
comunicação entre membranas de células vizinhas e fornece às células um funciona-
mento harmonioso. Nas junções comunicantes, as membranas estão separadas por
apenas 2nm e cada junção apresenta forma circular constituída por um conjunto de
tubos proteicos paralelos que atravessam as membranas das células vizinhas, forman-
do verdadeiros canais de comunicação entre elas. Cada canal é composto por um par
de conexons.

A parede dos conexons é formada por seis proteínas transmembranosas idênticas


(conexinas) que estabelecem um ducto central com diâmetro de aproximadamente
1,5nm. Este ducto ou canal central permite a passagem livre de alguns solutos como
íons, monossacarídeos, nucleotídeos, aminoácidos, etc. Estes canais centrais dos cone-
xons se encontram normalmente abertos e se fecham quando a concentração de cálcio
aumenta no citoplasma.

77
Biologia
celular

Proposta de Atividades

1) Comente sobre os componentes da matriz extracelular.


2) Diferencie hemidesmossomo e desmossomo.
3) Diferencie junção de adesão e desmossomo.
4) O que são moléculas de adesão celular?
5) Qual é a importância biológica das junções de oclusão e comunicante?

Anotações

78
9 Citoesqueleto

Veronica Elisa Pimenta Vicentini

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Você deverá entender:
• a estrutura e função do citoesqueleto e a sua importância para o metabolismo
celular;
• a estrutura, função e localização do microfilamento de actina;
• a estrutura, função e localização do microtúbulo;
• a estrutura, função e localização do filamento intermediário.

CITOESQUELETO
Inicialmente, estudaremos as características do citoesqueleto celular.
Presente nas células eucarióticas. Estrutura altamente dinâmica que se reorganiza
continuamente sempre que a célula altera a sua forma, divide-se ou responde à ação
do ambiente. Visualizado em microscópio eletrônico.

79
Biologia FUNÇÕES DO CITOESQUELETO
celular
1) Permite a variedade de formas, pois, estabelece, modifica e mantém a forma das
células.
2) Permite a execução de movimentos coordenados e direcionados, como na con-
tração muscular e na formação de pseudópodos.
3) Permite o deslocamento intracelular de organelas, vesículas e grânulos.
4) Permite a segregação dos cromossomos nos eventos de mitose.

O citoesqueleto é uma rede composta de três filamentos principais, formados a


partir de uma subunidade proteica diferente, que estão conectados entre si, e com
funções coordenadas: filamentos de actina – proteína actina, microtúbulos – proteína
tubulina e filamentos intermediários – proteínas fibrosas, como a vimentina.
Proteínas acessórias. Ligam os filamentos entre si ou a outros componentes celula-
res como a membrana plasmática. Regulam a velocidade e a extensão da polimerização
dos filamentos de actina e dos microtúbulos (tubulina) controlando, assim, onde e
quando eles devem ser montados na célula.
Proteínas motoras. Hidrolisam ATP para produzir força e movimento direcionado
ao longo do filamento.

Filamentos de Actina

7nm

Presentes no citoplasma das células, na forma de redes ou feixes. Filamentos finos


com cerca de 8nm de diâmetro. Formados por duas cadeias em espiral, de monômeros
globosos da proteína actina G, que se polimerizam, em hélice, e formam uma estrutu-
ra quaternária fibrosa denominada actina F. Distribuem-se logo abaixo da membrana
plasmática, constituindo 5 a 30% das proteínas totais do citoplasma.

Funções
1) Atuam juntamente com as moléculas de miosina no controle dos movimentos
da superfície celular.
2) As proteínas juntas, actina, miosina, troponina e tropomiosina, mais íons Ca2+
e ATP geram os movimentos de contração e relaxamento no tecido muscular.
3) Preenchem o interior das microvilosidades, dão a forma e permitem o movimento.

80
Microtúbulos Citoesqueleto

Presentes no citoplasma. Cilindros delgados e longos, com 24nm de diâmetro. Cada


microtúbulo é formado pela associação de dímeros proteicos (peso de ±110.000 dal-
tons) que se arranjam em hélice.
Os dímeros são constituídos por duas cadeias polipeptídicas de estruturas seme-
lhantes, chamadas tubulinas α e β. Em corte transversal, mostra-se constituído por
um anel com 13 dímeros. As fileiras dos dímeros na seção longitudinal são chamadas
de protofilamentos.
Apresentam uma das extremidades ancorada a um único centro organizador de
microtúbulos chamado centrossomo, uma estrutura geralmente localizada ao lado
do núcleo, próximo do centro da célula, e a outra extremidade livre no citoplasma.
Funções
1) Participam na movimentação de cílios e flagelos.
2) Participam no deslocamento dos cromossomos na mitose.
3) Participam no estabelecimento e na manutenção da forma das células.
4) Participam no transporte intracelular de partículas.

81
Biologia Proteínas motoras – dineína e cinesina* – movem-se de uma direção à outra ao
celular
longo dos microtúbulos, utilizando-os como “trilhos” para deslizarem, e organizarem
o transporte a fim de carregarem cargas e organelas específicas para os locais pré-de-
terminados dentro da célula.
* A dineína caminha para a extremidade “menos/negativa” (desmonta) e a cinesina
caminha no sentido “mais/positiva” (monta, formadora) do microtúbulo.

Centríolos
Medem 150nm de diâmetro X 300-500nm de comprimento. Direcionam a divisão
celular, onde se localizam as fibras do áster e do fuso. Cada célula possui um par, em
ângulo reto, localizado próximo ao núcleo e ao complexo de Golgi, na região chamada
centrossoma o centro celular. Formado por 27 microtúbulos, dispostos em nove feixes
com três microtúbulos paralelos presos entre si, em um material amorfo.

Corpúsculos basais
Local onde se inserem os cílios e os flagelos. Têm estrutura igual à dos centríolos.
Composto de nove conjuntos de trincas de microtúbulos, e cada uma contém um mi-
crotúbulo completo (túbulo A) fundido com dois microtúbulos incompletos (túbulos
B e C).
Há outras proteínas que formam a ligação que mantém o arranjo cilíndrico dos
microtúbulos juntos.

82
Cílios e Flagelos Citoesqueleto

Compostos de nove duplas de microtúbulos, um completo (túbulo A) fundido com


um incompleto (túbulo B), exteriores e um par completo central.
As duplas externas se associam por pontes de proteínas nexinas e se ligam ao par
central de microtúbulos por pedúnculos ou pontes radiais.
Cada dupla de microtúbulo externo está associada, interna e externamente, por
braços da proteína dineína.

Atuam na movimentação e locomoção celular, adesão e movimentam o meio cir-


cundante para captação de alimento.

Filamentos Intermediários

Localizados no citoplasma da maioria das células animais. Cada filamento é forma-


do por três cadeias polipeptídicas enroladas em hélice. Possui o formato de um cordão
com diâmetro de 8-10nm, de tamanho intermediário entre os filamentos de actina e
os microtúbulos.
Os filamentos são formados por um grupo de proteínas heterogêneas, fibrosas e
alongadas. Constituem fibras proteicas duras e resistentes, e mais estáveis. Possuem
uma cabeça aminoterminal, uma cauda carboxiterminal e um domínio bastão.
Proteínas fibrosas localizadas no:
1) Citoplasma – queratina nas células epiteliais, vimentina nos fibroblastos, pro-
teína ácida fibrilar da glia (GFAP) nos astrócitos e células de Schwann, desmina nas
células musculares, e proteína dos neurofilamentos nas células nervosas.
2) Núcleo – namina que forma a lamina nuclear localizada sob o envoltório nuclear.

83
Biologia Funções dos filamentos intermediários
celular
1) Elementos estruturais.
2) Elementos importantes no citoplasma de células sujeitas ao estresse mecânico,
que sofrem atrito. Estão presentes em grande número nos epitélios e ligam as células
entre si, por junções especializadas denominadas desmossomos.
3) Presentes nos axônios, prolongamentos das células nervosas ou nos neurônios.
4) Presentes nas células musculares.
5) Formam a trama da lamina nuclear, logo abaixo da membrana nuclear interna.
6) Podem se ligar aos microtúbulos, microfilamentos, mitocôndrias, grupo de ri-
bossomos, envoltório nuclear e membrana plasmática, por pontes proteicas delgadas.

Proposta de Atividade

1) Monte uma tabela e cite as diferentes estruturas originadas a partir dos componentes do
citoesqueleto, a sua composição estrutural e a sua função.

Anotações

84
10 Retículo
endoplasmático

Veronica Elisa Pimenta Vicentini

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Você deverá entender:
• a estrutura e função do retículo endoplasmático e a sua importância para o
metabolismo celular;
• a estrutura e a função do retículo endoplasmático rugoso;
• a estrutura e a função do retículo endoplasmático liso;
• a estrutura, a função, a localização e a constituição dos ribossomos.

RETÍCULO ENDOPLASMÁTICO
Presente em todas as células eucarióticas. É uma rede de vesículas achatadas, esféri-
cas e túbulos que se comunicam. Estes elementos possuem uma “parede” formada por
uma unidade de membrana que delimita cavidades, chamadas de cisternas do retículo
endoplasmático.

85
Biologia O retículo endoplasmático (RE) se estende a partir do envoltório nuclear e percor-
celular
re grande parte do citoplasma. A sua membrana constitui cerca de metade das mem-
branas em uma célula animal. Forma um labirinto de tubos (10% do volume celular).
Emite vesículas para transporte de substâncias.
Há duas formas: retículo endoplasmático liso (REL) e rugoso (ou granular, RER).
Os dois tipos estão interligados e a transição entre eles é gradual.

FUNÇÕES DO RETÍCULO ENDOPLASMÁTICO


1) Atua como transportador de substâncias.
2) A sua membrana é o sítio de síntese de todas as proteínas transmembrana e
lipídeos da maioria das organelas celulares.
3) Captura proteínas que estão sendo sintetizadas no citoplasma – transmembrana
e solúveis.
4) Local de síntese de proteínas para a própria célula e de exportação.

A seguir, estudaremos as características, a estrutura e a função dos dois retículos


endoplasmáticos: o rugoso e o liso.

RETÍCULO ENDOPLASMÁTICO RUGOSO


Túbulos achatados com ribossomos (partículas muito densas aos elétrons, ricos em
ribonucleoproteínas) aderidos à superfície externa da membrana do retículo.

86
Funções Retículo endoplasmático

1) Local de síntese proteica.


2) Proteínas de exportação: são direcionadas para o interior da cavidade do retículo
antes que sua síntese seja terminada nos ribossomos, por meio de um peptídeo sinal.
Normalmente, possuem, em sua região aminoterminal, uma sequência sinalizado-
ra ou peptídeo sinal (sequência de aminoácidos, que é o sinal para a introdução das
proteínas nas cisternas do retículo). Uma ribonucleoproteína, denominada partícula
reconhecedora de sinal (PRS), liga-se ao ribossomo que contém a proteína nascente
com o peptídeo sinal, e leva este complexo até a membrana do retículo endoplas-
mático, onde existem receptores para PRS. Dentro da cavidade do retículo ocorre a
proteólise do peptídeo sinal, que é removido por uma enzima específica, a peptidase
do sinal, localizada na superfície interna da membrana do retículo.
3) As proteínas sintetizadas no retículo endoplasmático rugoso sofrem transfor-
mações pós-traducionais, no próprio retículo e no complexo de Golgi.
Nas cisternas do retículo endoplasmático rugoso, as cadeias polipeptídicas sinte-
tizadas nos polirribossomos interagem e geram as estruturas secundárias e terciárias
das proteínas. Além das modificações que influem na sua forma tridimencional, as
moléculas proteicas podem passar por processos de proteólise limitada, gerando
fragmentos biologicamente ativos.
4) Montagem de moléculas proteicas com múltiplas cadeias polipeptídicas. Glicosi-
lação inicial (glicídios + proteína → glicoproteínas). Ocorre hidroxilação (adição de
grupos hidroxila), sulfatação (adição de grupamentos sulfato) e fosforilação (adição
de fosfato) das proteínas.

RETÍCULO ENDOPLASMÁTICO LISO


Túbulos cilíndricos sem ribossomos. Apresentam-se, principalmente, como túbu-
los que se anastomosam (juntam).

87
Biologia Funções
celular
1) Facilita o intercâmbio de substâncias entre a célula e o meio externo.
2) Aumenta a superfície interna da célula, o que amplia o campo de atividade en-
zimática e facilita a ocorrência de reações químicas necessárias ao metabolismo
celular.
3) Auxilia a circulação intracelular, pois permite um maior deslocamento de partí-
culas de uma região para outra do citoplasma.
4) Armazena, no interior de certas cavidades, substâncias diversas retiradas do ci-
toplasma.
5) É abundante em algumas células especializadas que possuem funções adicionais
relacionadas ao metabolismo de lipídeos.
6) Local de síntese de lipídeos nas células sexuais e das glândulas suprarrenais, que
secretam hormônios esteróides (testosterona, estrógeno). Síntese de fosfolipí-
deos de membrana, colesterol e lecitina.
7) Desintoxicação do organismo nas células hepáticas do fígado. Nestas células, o
REL absorve substâncias tóxicas, modificando-as ou destruindo-as, de modo a
não causarem danos ao organismo. É a atuação do retículo das células hepáticas
que permite eliminar parte do álcool, medicamentos e outras substâncias inge-
ridas, potencialmente nocivas ao organismo.
8) Armazena glicogênio no fígado.
9) Controla a concentração de cálcio nas células musculares e o libera durante o
movimento.

RIBOSSOMOS
Encontrados nas células sob duas formas: livres e associados ao retículo endoplas-
mático rugoso. Distribuídos em vários locais dentro da célula, mas esta localização
depende da função celular. São formados por proteínas associadas ao RNAr. Formados
por duas subunidades (uma maior e uma menor).

88
Função Retículo endoplasmático

Síntese proteica → polirribossomos ou polissomos.

Ribossomos livres
Encontrados no citoplasma. Podem ocorrer como um único ribossomo ou em gru-
pos conhecidos como polirribossomos. Ocorrem em maior número que os ribosso-
mos associados ao retículo endoplasmático. Ocorrem em maior número em células
que armazenam a maioria das proteínas sintetizadas (proteínas armazenadas).

Os ribossomos livres no citoplasma produzem proteínas utilizadas pelo núcleo,


mitocôndrias, cloroplastos e peroxissomos.

Ribossomos associados
Encontrados de modo associado à membrana externa do retículo endoplasmático
constituindo o RER. Ocorrem em maior número em células que secretam suas proteí-
nas sintetizadas.

89
Biologia Os ribossomos associados ao retículo produzem proteínas usadas pelo próprio
celular
retículo, que formam membranas, que são empacotadas e estocadas em vesículas no
citoplasma, e que são exportadas, secretadas para o exterior da célula (proteínas de
exportação).
Ribossomos também estão localizados na mitocôndria e cloroplasto de eucariotos.
São sempre menores que os ribossomos citoplasmáticos e comparáveis aos ribosso-
mos dos procariotos em tamanho e sensibilidade a antibióticos.

CONSTITUIÇÃO DOS RIBOSSOMOS

Os valores de sedimentação (S = unidade Svedberg – uma medida da taxa de


sedimentação de um componente em uma centrífuga, relacionando peso molecular
e a forma tridimensional do componente) dos ribossomos variam em diferentes filos.

Proposta de Atividades

1) Monte uma tabela e cite as diversas funções do retículo endoplasmático rugoso e liso.
2) Descreva a função dos ribossomos livres e dos associados.

90
Retículo endoplasmático

Anotações

91
Biologia
celular

Anotações

92
11 Complexo
de Golgi

Veronica Elisa Pimenta Vicentini

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Você deverá entender:
• a estrutura e função do complexo de Golgi e a sua importância para o meta-
bolismo celular.
Neste capítulo, estudaremos a estrutura e função do complexo de Golgi.

COMPLEXO DE GOLGI
Presente nas células eucarióticas. Visualizado em microscópio eletrônico, situado
entre o retículo endoplasmático e a membrana plasmática ou, ainda, próximo ao nú-
cleo. siste em um sistema de membranas lisas que formam vesículas achatadas, dispos-
tas paralelamente, empilhadas e interligadas, com as porções laterais dilatadas (maio-
ria em forma de “cuia”).

Cada unidade do complexo de Golgi (CG) é chamada de dictiossomo e cada pilha


apresenta quatro a seis sáculos membranosos empilhados.
O complexo de Golgi possui duas faces distintas: face cis (convexa – face de entra-
da de vesículas ou formadora) e face trans (côncava – face de saída ou secretora de

93
Biologia vesículas). Estas faces estão intimamente associadas por compartimentos especiais de
celular
uma rede interconectada de túbulos e cisternas. As vesículas que chegam à face cis vêm
do retículo endoplasmático. As vesículas formadas na face trans, soltam-se, e saem
para o transporte das substâncias ao seu destino final.

Exocitose
Corresponde à fusão de vesículas, que transportam substâncias (proteínas, hormô-
nios, enzimas digestivas, neurotransmissores) secretadas para o espaço extracelular ou
para a membrana plasmática. As vesículas secretoras se formam a partir da rede trans
do complexo de Golgi, e sua formação e liberação é regulada por sinais extracelulares.

FUNÇÕES DO COMPLEXO DE GOLGI


O complexo de Golgi é uma central de:
1) Armazenamento de proteínas que chegam do retículo endoplasmático.
2) Transformação – completa as modificações pós-tradução e acrescenta ou retira
algumas moléculas de açúcar e outras substâncias das proteínas.
3) Secreção de polissacarídeos, glicoproteínas gelatinosas e enzimas.
4) Empacotamento e exportação – insere um “endereço” nas moléculas da célu-
la, como os grânulos de secreção e os lisossomos.
5) Atua na formação do acrossomo do espermatozoide – união de várias vesí-
culas do complexo de Golgi, formando o acrossomo, contendo ácido hialurôni-
co, e glicídios por ele sintetizados. Estas enzimas irão perfurar a membrana do
óvulo e permitir a fecundação.

94
6) Atua na formação da lamela média em células vegetais – a mitose centrífu- Complexo de Golgi

ga, de dentro para fora, caracteriza a célula vegetal (“tabicamento”). As vesículas


do complexo de Golgi se alinham na região de divisão entre as duas células,
chamada de fragmoplasto, e o seu conteúdo de carboidratos como a pectina,
formará a lamela média e a parede celular, e a sua membrana formará a mem-
brana plasmática. Na parede estão inseridos os plasmodesmos, que são pontes
citoplasmáticas que permitem a troca de substâncias entre as células vizinhas.
* A citocinese centrípeta caracteriza a célula animal (“estrangulamento”).

7) Proteínas da membrana plasmática – são sintetizadas no retículo endoplas-


mático rugoso (RER) e, geralmente, são transportadas por vesículas que passam
pelo complexo de Golgi. Assim, as proteínas chegam à membrana plasmática, e
a extremidade da molécula proteica, que estava dentro da vesícula, passa para
a superfície da célula.
8) Proteínas de exportação – as vesículas, contendo as proteínas no seu interior,
são liberadas do retículo endoplasmático rugoso, passam pelo complexo de
Golgi, e têm como destino final os lisossomos, a membrana celular ou o meio
extracelular.

95
Biologia Na figura anterior, RER – retículo endoplasmático rugoso; CG – complexo de Golgi
celular
(Face C - cis, T - trans); MP – membrana plasmática; 1 – proteína da MP; 2 – proteína
de secreção e 3 – proteína interna/lisossomo.
9) Secreção celular. Um dos principais papéis dessa estrutura citoplasmática é a
eliminação de substâncias que atuam fora da célula. Muitas das substâncias que pas-
sam pelo complexo de Golgi são eliminadas da célula, e atuam em diferentes partes do
organismo. É o que ocorre, por exemplo, com as enzimas digestivas produzidas e eli-
minadas pelas células de diversos órgãos, como o estômago, intestino, pâncreas, etc.
Outras substâncias, como o muco que lubrifica as superfícies internas do corpo
humano, também são processadas e eliminadas pelo complexo de Golgi.
As enzimas digestivas do pâncreas, para exemplificar, são produzidas no retículo
endoplasmático rugoso e levadas até o complexo de Golgi, onde são empacotadas em
pequenas vesículas, que se desprendem dos dictiossomos e se acumulam em um dos
polos da célula pancreática. Quando chega o sinal de que há alimento para ser digeri-
do, as vesículas cheias de enzimas se deslocam até a membrana plasmática, fundem-se
com ela e eliminam seu conteúdo para o meio exterior.

Proposta de Atividade

1) Monte uma tabela e cite as diversas funções do complexo de Golgi e a sua composição
estrutural.

Anotações

96
12 Lisossomo

Veronica Elisa Pimenta Vicentini

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Você deverá entender:
• a estrutura e a função dos lisossomos e a sua importância para o metabolismo
celular;
• o ciclo de ação dos lisossomos na célula.

A seguir, estudaremos a estrutura e a função celular dos lisossomos.

LISOSSOMOS
São organelas citoplasmáticas encontradas nas células animais, nos fungos e nos
protozoários. Visualizado em microscópio eletrônico, são estáveis nas células vivas.
São corpúsculos envolvidos por uma unidade de membrana, geralmente esféricos, de
estrutura e dimensões muito variáveis. Têm um conteúdo elevado de fosfatases ácidas
e outras enzimas hidrolíticas.

O processo de digestão ocorre dentro da organela e a maioria das enzimas atua


em meio ácido (pH 5). São conhecidas em torno de 50 hidrolases ácidas lisossômicas,

97
Biologia capazes de digerir a maioria das substâncias biológicas. Uma célula animal típica pode
celular
ter centenas de lisossomos.

FUNÇÔES DOS LISOSSOMOS


Os lisossomos realizam a degradação e a reciclagem dos metabólitos celulares por
meio da digestão intracelular, controlada por enzimas digestivas. As enzimas são sinte-
tizadas nos ribossomos. Distribuídas pelo retículo endoplasmático, algumas vesículas
migram até o complexo de Golgi, penetram pelo lado cis, onde ficam armazenadas. Do
complexo de Golgi, do lado trans, desprendem-se vesículas cheias de conteúdo, como
as enzimas digestivas. Estas vesículas são denominadas lisossomos.
O lisossomo primário ou grânulo de reserva é um corpúsculo cujo conteúdo é
somente enzimático. Os lisossomos secundários ou vacúolos digestivos são vesículas
originadas pela fusão de lisossomos primários com as substâncias presentes, que são
digeridas pelas enzimas lisossômicas.
Os lisossomos contêm enzimas que degradam os polímeros nas suas subunidades
monoméricas: nucleases degradam o RNA e o DNA em mononucleotídeos; proteases
degradam uma variedade de proteínas em peptídeos; lipases degradam os lipídeos
em ácidos graxos e grupos menores, e fosfatases removem grupos fosfato de mono-
nucleotídeos, fosfolipídios e outros compostos. Outras enzimas degradam polissacarí-
deos complexos e glicolipídeos em unidades menores.
Dois tipos de proteínas de transporte, presentes na membrana lisossomal, atuam
em conjunto com a bomba de íons H e Cl (HCl) do citosol, por meio da membrana,
acidificando o lúmen. Enzimas lisossômicas são pouco ativas no pH neutro das células
e da maioria dos fluidos extracelulares. Se um lisossomo libera suas enzimas no cito-
plasma, onde o pH varia de 7,0 a 7,3, elas causam pouca degradação dos componentes
citoplasmáticos.
Geralmente, proteínas citoplasmáticas e nucleares não são degradadas nos lisosso-
mos, mas em proteossomos, que são grandes complexos multiproteicos presentes no
citoplasma.

CICLO DE AÇÃO DOS LISOSSOMOS


Os lisossomos participam da digestão intracelular, pelos mecanismos de heterofa-
gia e/ou autofagia. O produto da digestão pode ser absorvido/aproveitado ou então
excretado/liberado pela célula.

98
Lisossomo

Heterofagia
Neste processo, as vesículas de fagocitose ou de pinocitose, que contêm partículas
capturadas do meio externo (endocitose), fundem-se com os lisossomos primários,
dando origem a vesículas maiores, lisossomos secundários (heterofagossomo ou va-
cúolo heterofágico), onde ocorrerá a digestão.

Autofagia
Este processo ocorre quando as organelas velhas são substituídas por outras mais
novas, o que ocorre com frequência nas células. As organelas velhas são digeridas pe-
los lisossomos (autofagossomo ou vacúolo autofágico). Eventuais restos do processo
digestivo, constituídos por material não digerido, permanecem dentro do vacúolo,
que passa a ser chamado de vacúolo ou corpo residual.

Clasmocitose ou defecação celular


Corresponde à eliminação do conteúdo do vacúolo residual para o meio externo
(exocitose).

Autólise (tipo de apoptose)


Corresponde à remoção de células inteiras e material extracelular.
Exemplo: a membrana interdigital no embrião humano é digerida durante o seu
desenvolvimento. A cauda das rãs (girino) é digerida durante o seu desenvolvimento/
metamorfose.

99
Biologia Apoptose (morte celular programada)
celular
Estudos revelam que as células de organismos multicelulares carregam instruções
para autodestruir-se no momento em que deixam de ser úteis ao organismo. Assim,
como é preciso gerar células para manter os processos vitais, é imprescindível eliminar
as defeituosas, as doentes e as sem função.

Doenças lisossômicas
As doenças relacionadas aos lisossomos apresentam efeitos cumulativos e resultam
em degeneração dos tecidos, podendo levar ao óbito. Há doenças de caráter genético,
mas há também aquelas adquiridas ou associadas à invasão parasitária.
Estudos sobre doenças genéticas ligadas ao armazenamento lisossômico reve-
laram componentes-chave dos processos de seleção lisossômica, causados pela ausên-
cia de uma ou mais enzimas lisossômicas. Como consequência, os glicolipídeos não
digeridos e os componentes extracelulares que seriam degradados normalmente por
enzimas lisossômicas acumulam como grandes inclusões nos lisossomos.
Alguns exemplos de patologias congênitas nas quais a principal alteração com-
preende o acúmulo intracelular de substâncias: aspartilglicosaminúria, doença do
armazenamento do ácido siálico, doença do armazenamento de colesterol éster, cisti-
nose, doenças por armazenamento dos lisossomos do sistema nervoso, doenças por
deficiência de manosidase, mucopolissacaridoses, doença de Fabry, etc.

Doença de Gaucher
É um erro inato do metabolismo. É autossômica recessiva, sendo a mais frequente
deste grupo de doenças. A doença é resultante da deficiência da β-glicosidase ácida
ou β-glicocerebrosidase, que leva ao acúmulo de glicolipídeos (glicocerobrosídeo)
nos macrófagos, principalmente, no baço, no fígado, na medula óssea e no pulmão. As
suas manifestações clínicas e fenotípicas dependem do grau de deficiência da enzima.

Doença de Tay-Sachs
É causada por um defeito em uma enzima que catalisa uma etapa na degradação
lisossômica de gangliosídeos. Resulta no acúmulo desses glicolipídeos, especialmente
em células nervosas, tendo consequências devastadoras. Os sintomas desta doença
hereditária são, geralmente, evidentes antes da idade de um ano. As crianças afetadas,
em geral, se tornam dementes e cegas aos dois anos e morrem antes do seu terceiro
aniversário. As suas células nervosas são muito alargadas, com lisossomos inchados e
cheios de lipídeos.

100
Outros defeitos que causam doenças lisossômicas Lisossomo

1) Síntese de uma proteína cataliticamente inativa que sofre reação imune cruzada
com a enzima normal. Assim, por imunoensaio, os níveis parecem normais.
2) Defeitos no processamento pós-traducional da enzima. Nesta categoria, inclui a
falência de ligação do “marcador” manose-6-fosfato, uma ausência capaz de evi-
tar que a enzima siga o caminho correto até o lisossomo. Ao contrário, a enzima
é secretada no meio extracelular.
3) Falta de um ativador enzimático ou proteína protetora.
4) Falta de uma proteína ativadora de substrato. Em alguns casos, proteínas que
reagem com o substrato para facilitar a sua hidrólise podem estar ausentes ou
defeituosas.
5) Ausência de uma proteína transportadora necessária para o egresso do mate-
rial digerido para fora dos lisossomos.

Proposta de Atividades

1) Monte uma tabela, cite e explique as diversas funções dos lisossomos.


2) Cite alguns exemplos de anormalidades/doenças causadas pelos lisossomos.
3) Explique o que é silicose (doença dos mineiros) e artrite reumatoide (doença degenerativa).

Anotações

101
Biologia
celular

Anotações

102
13 Peroxissomo

Ana Luiza de Brito Portela Castro

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Você deverá:
• conceituar peroxissomos;
• identificar as principais enzimas dos peroxissomos;
• compreender a ação da catalase e sua importância na célula;
• compreender as diferentes funções dos peroxissomos.

PEROXISSOMOS
Os peroxissomos são organelas presentes em todas as células eucariontes. Apresen-
tam forma ovoide, com diâmetro médio de 0,6µm e são revestidos por uma membrana
lipoproteica única. Seu número varia de 70 a 100 por célula, podendo ser maior em
células hepáticas e renais.

CONTEÚDO E FUNÇÕES DOS PEROXISSOMOS


Os peroxissomos contêm em seu interior (matriz) cerca de 40 tipos de enzimas
oxidativas, responsáveis por diferentes funções. Receberam este nome porque inter-
vêm na formação e decomposição do peróxido de hidrogênio (H2O2).
Os peroxissomos diferem entre si pelo tipo ou conjunto de enzimas que contêm
em seu interior. Dentre as enzimas presentes nos peroxissomos destaca-se a catalase
que converte peróxido de hidrogênio, que é muito tóxico para a célula, em água e
oxigênio conforme a reação abaixo:

2H2O2 → 2H2O + O2

Outras enzimas como a D-aminoácido oxidase, urato oxidase e as responsáveis


pela β-oxidação dos ácidos graxos são encontradas nos peroxissomos. Estas enzimas
oxidam seus respectivos substratos representados por ácidos graxos, aminoácidos, pu-
rinas (adenina, guanina), uratos, ácido úrico, etc.

103
Biologia Os peroxissomos que contêm a enzima urato oxidase possuem uma pequena es-
celular
trutura cristalina como mostrada na figura acima. Células humanas como hepatócitos
não apresentam este arranjo cristaloide por não possuírem a enzima urato oxidase.

OUTRAS FUNÇÕES DOS PEROXISSOMOS


Produtos resultantes de processos metabólicos em outros pontos das células po-
dem ser degradados por enzimas dos peroxissomos. A catalase pode degradar o pe-
róxido de hidrogênio que é produzido fora dos peroxissomos. Por exemplo, reações
químicas como as oxidações que ocorrem em mitocôndrias, retículo endoplasmático e
no citoplasma podem resultar em pequenas quantidades de ânions superóxidos (O2-),
que são conhecidos como radicais livres. Como esses radicais livres são muito reativos,
as enzimas superóxido dismutase e a catalase podem eliminá-los por meio das seguin-
tes reações:
superóxido dismutase
2O2- + 2H+ H2O2 + O2

catalase
H2O2 + O2 H2O + O2

Acredita-se que os ânions superóxidos (O2-) possam causar danos às células como
perdas de grupos sulfidrilas das proteínas, alterações na dupla camada lipídica das
membranas, além de mutações gênicas, o que pode acelerar o envelhecimento orgâni-
co e facilitar o surgimento de câncer.

104
Função de desintoxicação dos peroxissomos Peroxissomo

Produtos tóxicos podem ser neutralizados pela ação da catalase dos peroxissomos.
Neste caso, a enzima utiliza o peróxido de hidrogênio (H2O2) para oxidá-los e neutra-
lizá-los da seguinte forma:

H2O2 + TH2 → 2H2O + T

onde TH2 representa a substância tóxica e T a substância após a sua oxidação. Subs-
tâncias tóxicas como fenóis, formaldeído, ácido fórmico e etanol são eliminadas por
este mecanismo. Parte do etanol ingerido por meio da bebida alcóolica é neutralizada
pela catalase dos peroxissomos. Nas células hepáticas e renais, a catalase atua com
enzima desintoxicante.

PEROXISSOMOS EM CÉULAS VEGETAIS


Os peroxissomos são também importantes nas plantas. A degradação de lipídeos
acumulados no endosperma durante a germinação de sementes é necessária. Neste
caso, os peroxissomos vegetais, conhecidos como glioxissomos, apresentam enzimas
que transformam os ácidos graxos das sementes em carboidratos por meio do ciclo
do glioxilato. Neste ciclo, duas moléculas de acetil-CoA produzidas pela quebras dos
ácidos graxos são usadas para produzir succinato, os quais deixam os glioxissomos e
são convertidos em glicose.
Os glioxissomos estão relacionados também com um processo denominado fotor-
respiração – que usa O2 para liberar CO2 e conta com a participação de três organelas:
peroxissomos, cloroplastos e mitocôndrias. Nas células das folhas verdes, o glioxis-
somo utiliza uma oxidase específica que catalisa a oxidação de uma molécula de dois
carbonos, o glicolato. Este é sintetizado nos cloroplastos nos dias secos de sol intenso.
Esta oxidação consome O2 e produz H2O2 e glioxilato. O H2O2 é decomposto em H2O e
O2 pela catalase dos glioxissomos, e ainda nesta organela ocorre a conversão do glioxi-
lato em glicina o qual é metabolizado na mitocôndria.

COMO SE REPRODUZEM OS PEROXISSOMOS?


Os peroxissomos possuem curta duração, em média, cinco a seis dias e após esse
período são eliminados por autofagossomos. A sua reposição se dá por fissão binária,
semelhante ao que ocorre com as mitocôndrias. Peroxissomos “jovens” se duplicam
e isto se dá antes do processo de mitose, no qual ocorre duplicação de todos os com-
ponentes celulares.

105
Biologia A bicamada lipídica dos peroxissomos cresce pela agregação de fosfolipídeos
celular
oriundos do retículo endoplasmático, os quais são transferidos por proteínas trans-
portadoras.
Os peroxissomos não possuem material genético, diferentemente das mitocôndrias
e cloroplastos que apresentam material genético capaz de codificar parte de suas res-
pectivas proteínas. Dessa forma, as proteínas que se incorporam à matriz dos pero-
xissomos são sintetizadas nos polirribosomos livres do citoplasma. Essas proteínas
contêm em sua extremidade carboxílica um peptídeo sinalizador específico (peptídeo
sinal) composto por três aminoácidos (serina, lisina e leucina). Um receptor específico
presente no citoplasma reconhece este peptídeo sinal da proteína destinada ao pero-
xissomo e, ao mesmo tempo, interage com uma proteína específica da membrana da
organela e, assim, são conduzidas ao interior dos peroxissomos.

Curiosidades
Aproximadamente, 17 doenças humanas estão relacionadas às disfunções dos pe-
roxissomos e a maioria envolve problemas neurológicos. A Síndrome de Zellweger,
uma das mais conhecidas, caracteriza-se pela mutação em um gene que codifica a
síntese de uma proteína pertencente à membrana dos peroxissomos e envolvida na
incorporação das enzimas à matriz. Como consequência, formam-se peroxissomos
“vazios” e os pacientes que apresentam esta doença morrem no primeiro ano de vida.

Proposta de Atividades

1) Defina os peroxissomos. Por que recebem este nome?


2) As enzimas presentes nos peroxissomos catalisam reações químicas, mas não produzem
energia, diferentemente do que ocorre nas mitocôndrias e cloroplastos. Explique.
3) Qual é a diferença entre peroxissomos animais e vegetais?
4) Pesquise sobre doenças relacionadas aos peroxissomos.

Anotações

106
14 Mitocôndria

Ana Luiza de Brito Portela Castro

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Você deverá:
• compreender a ultraestrutura e o genoma mitocondrial;
• identificar as etapas do processo de produção de energia a partir da degradação
dos alimentos nas células;
• relacionar as principais vias metabólicas da produção de energia com as estru-
turas das mitocôndrias;
• conhecer as demais funções das mitocôndrias.

MITOCÔNDRIA
Compostos orgânicos como proteínas, lipídeos e carboidratos são ricos em energia
e esta é utilizada pelas células eucariontes mediante a ruptura das ligações químicas
dessas moléculas. Nas células vegetais, os compostos orgânicos produzidos pelo pro-
cesso de fotossíntese, como glicose e outras hexoses, são fontes de energia para as
células eucariontes, e fontes de carbono para a síntese de várias macromoléculas.
No entanto, as células não utilizam diretamente a energia liberada de moléculas
como carboidratos, proteínas e lipídeos, mas usam um composto intermediário deno-
minado ATP (adenosina trifosfato), que é produzido pela degradação das moléculas
ricas em energia, principalmente, carboidratos e lipídeos.

107
Biologia As “máquinas” geradoras de ATP são as mitocôndrias. O ATP se difunde por toda
celular
a célula para ser utilizado em diferentes processos como síntese e degradação de mo-
léculas, transporte de substâncias, movimentos celulares, divisão celular e transmissão
de sinais.

Curiosidade
Um adulto tem energia acumulada na forma de glicogênio para um dia e na forma
de lipídeos para um mês, aproximadamente. Em um organismo em repouso, as células
utilizam mais glicose resultante do metabolismo do glicogênio, mas durante o exercí-
cio físico ocorre utilização dos ácidos graxos para produção de energia.
A partir de agora, conheceremos a estrutura das mitocôndrias para compreender-
mos sua principal função que está relacionada ao processo da respiração celular. As
mitocôndrias são organelas encontradas em todos os tipos celulares de organismos eu-
cariontes. Elas foram primeiramente observadas em 1840 nas células do rim e fígado,
e se apresentavam como estruturas alongadas e arredondadas. Esta forma deu origem
ao seu nome (do grego: mito significa alongado e chondrion quer dizer grânulo). Em
células vivas, por meio da utilização do corante verde-janus, é possível observá-las em
microscopia de luz. Detalhes da sua estrutura, entretanto, somente podem ser visuali-
zados em microscopia eletrônica.
As mitocôndrias possuem 0,2 - 1,0μm de diâmetro e 2 - 8μm de comprimento. A
posição nas células é variável. Elas se movem constantemente e seus movimentos estão
relacionados aos filamentos do citoesqueleto, como os microtúbulos e suas proteínas
motoras associadas. Elas não se movimentam nos espermatozoides e nas células mus-
culares estriadas.
O número de mitocôndrias por célula é variável, conforme a demanda energética
celular. Em ovócitos, apresentam 300.000/célula; em células hepáticas, encontram-se
1.000 a 2.000 mitocôndrias; nas células renais, cerca de 300 e, na ameba gigante, chega
a 10.000 mitocôndrias.

ULTRAESTRUTURA DAS MITOCÔNDRIAS


As mitocôndrias possuem duas membranas e dois compartimentos que a delimi-
tam: espaço intermembranoso e a matriz mitocondrial.

108
Mitocôndria

As membranas, externa e interna, são estrutural e funcionalmente diferentes. A


externa é constituída de 50% de lipídeos e 50% de proteínas. Apresenta-se com uma
superfície lisa e é muito permeável a diversos solutos do citoplasma e com peso mo-
lecular abaixo de 5 KDa (quilodaltons). Isto se deve à presença de moléculas denomi-
nadas porinas, proteínas transmembranas de passagem múltipla que formam canais
aquosos por onde passam íons e moléculas pequenas.
O espaço intermembranoso apresenta conteúdo semelhante ao do citoplasma,
com alguns elementos próprios e alta concentração de H+.
A membrana interna é constituída de 80% de proteínas e 20% de lipídeos. Desta-
ca-se dentre os lipídeos, a cardiolipina (ou fosfatidilglicerol), um tipo de fosfolipí-
deo que impede a passagem de muitos solutos em qualquer direção. Ela possui dobras
voltadas para a matriz, denominadas cristas mitocondriais, que aumentam a superfí-
cie da membrana. O seu número e a sua forma variam nos diferentes tipos de células
Entre as diversas proteínas que constituem a membrana interna, destacam-se as
moléculas que compõem a cadeia transportadora de elétrons (ou cadeia respi-
ratória). Cada conjunto de moléculas é composto de quatro complexos proteicos,
NADH desidrogenase, succinato desidrogenase, complexo b-c1, e citocromo oxidase,
e outros transportadores menores, ubiquinona e citocromo c. Além desses, encon-
tra-se a enzima ATP sintase que é um complexo proteico com duas unidades: porção
transmembrana (F0) e porção voltada para a matriz (F1), localizadas próximas à cadeia
transportadora de elétrons.
A matriz mitocondrial corresponde a um complexo concentrado de inúmeras
moléculas, dentre elas as enzimas do ciclo do ácido cítrico, β-oxidação dos ácidos
graxos, replicação, transcrição e tradução do DNA mitocondrial. Abaixo, destacamos
as principais:
1) Complexo piruvato desidrogenase (descarboxilação oxidativa), enzimas envol-
vidas na β-oxidação dos ácidos graxos, enzimas do ciclo de Krebs, coenzima A
(CoA), coenzima NAD, ADP, fosfato, O2, etc.

109
Biologia 2) Grânulos de diferentes tamanhos, principalmente Ca2+.
celular
3) Várias cópias de um DNA circular e os três tipos de RNA, sendo 13 tipos de
RNAm, 2 tipos de RNAr e 22 tipos de RNAt, correspondentes a 20 aminoácidos.

Genoma mitocondrial
As mitocôndrias apresentam genoma próprio, apesar de incompleto. O DNA mi-
tocondrial apresenta algumas características diferentes do DNA nuclear. O DNA da
mitocôndria é pequeno, circular, desprovido de histonas e possui um ponto de origem
para se replicar. Esse DNA se apresenta em várias cópias. Possui poucas sequências que
não codificam RNA e, diferentemente do DNA nuclear, transcreve 22 tipos de RNAr (o
DNA nuclear transcreve 31 tipos) e os dois tipos de RNAr apresentam coeficientes de
sedimentação diferentes do RNAr do núcleo, ou seja, são classificados como 12S e 16S.
Estes RNAr se associam com proteínas formando ribossomos, os quais são menores em
relação aos ribossomos citoplasmáticos e de procariontes.
As duas cadeias do DNA mitocondrial são transcritas diferentemente do DNA nu-
clear, onde somente uma das cadeias é transcrita. Uma peculiaridade deste DNA é a sua
origem exclusivamente materna, pois, durante a fecundação, todas as mitocôndrias da
célula-ovo (zigoto) são provenientes do ovócito.
Com um genoma relativamente pequeno, o DNA mitocondrial codifica poucas pro-
teínas (13 nas células humanas), a maioria pertencente à cadeia respiratória como
NADH desidrogenase, citocromo b, citocromo oxidase e algumas subunidades da ATP
sintase. As proteínas destinadas às mitocôndrias são sintetizadas em polirribossomos
livres no citoplasma e, posteriormente, são transferidas por um mecanismo de sinali-
zação e endereçamento a esta organela.

Reprodução das mitocôndrias


As mitocôndrias se reproduzem pela fissão de mitocôndrias preexistentes que du-
plicam previamente de tamanho e, após o crescimento, se dividem. Esta reprodução
ocorre durante todo o ciclo celular.

FISIOLOGIA DAS MITOCÔNDRIAS


Para compreendermos a degradação dos alimentos que resultará em energia aces-
sível para o nosso organismo é necessário relembrar alguns conceitos básicos da Quí-
mica. A energia contida nas moléculas orgânicas é extraída mediante reações químicas
do tipo oxidações. É importante destacar que a oxidação é um tipo de reação química
na qual uma molécula ganha oxigênio ou perde hidrogênio. Se considerarmos que o
átomo de hidrogênio (H) se dissocia em elétrons (e-) e prótons (H+), toda oxidação

110
de um átomo/molécula está ligada à redução de outro átomo/molécula, que então Mitocôndria

recebe hidrogênio (ou elétron) ou perde oxigênio.


Durante a degradação dos alimentos, duas moléculas intermediárias importantes
participam das reações e são definidas como coenzimas: NAD (nicotinamida adenina
dinucleotídeo) e FAD (flavina adenina dinucleotídeo). Estas duas moléculas podem
estar nas formas oxidadas NAD+ e FAD+ ou nas formas reduzidas NADH e FADH2. Uma
vez compreendida estas definições descreveremos, a seguir, os principais passos na
degradação dos alimentos nos eucariotos.
Os alimentos são digeridos no tubo digestivo a partir de enzimas que transformam
os carboidratos, os lipídeos e as proteínas em moléculas menores (monossacarídeos,
especialmente glicose, ácidos graxos e aminoácidos, respectivamente). Após o trajeto
desses alimentos no tubo digestivo, essas moléculas são absorvidas pelo epitélio intes-
tinal e passam para o sangue onde são distribuídas para as células.
No citoplasma, parte das moléculas é reservada para abastecimento de energia. As-
sim, a glicose se acumula em grânulos de glicogênio e os ácidos graxos em moléculas
de triacilgliceróis. As células utilizam dois mecanismos para retirar energia dos alimen-
tos: a glicólise anaeróbia, que ocorre no citoplasma, e a fosforilação oxidativa, que
ocorre nas mitocôndrias.

Glicólise
A glicólise anaeróbia é um processo mediante o qual ocorre uma sequência de
reações químicas. Nela, uma molécula de glicose (seis carbonos) é degradada, em uma
série de dez reações enzimáticas, para liberar duas moléculas de piruvato (com três
carbonos cada), resultando ainda em duas moléculas de ATP e duas de NADH. O ATP
se forma a partir do ADP e fosfato inorgânico como mostrado nas equações abaixo:

1) 2ADP + 2Pi + energia da glicose → 2 ATP

10 enzimas
2) glicose (6C) → → → → → → → → → 2 piruvato (3C) + 2 ATP

As moléculas de piruvato deixam o citoplasma e entram nas mitocôndrias.

Interior das mitocôndrias


Os processos que ocorrem nas mitocôndrias são: descarboxilação oxidativa, ci-
clo de Krebs e fosforilação oxidativa. Cada piruvato formado durante a glicólise é
convertido em acetila (molécula com 2C) por meio de um complexo multienzimático

111
Biologia denominado piruvato desidrogenase. Um dos carbonos do piruvato é retirado jun-
celular
tamente com dois oxigênios e produz CO2. O piruvato cede também um hidrogênio
(H-), o qual provoca a redução de um NAD+ a NADH. Cada acetila se liga a uma coen-
zima A (CoA) formando, então, acetil-CoA. Esta etapa corresponde ao processo de
descarboxilação oxidativa:

piruvato desidrogenase
piruvato (3C) → → → → → → → acetila (2C) + CoA → acetil-CoA + CO2,
com redução do NAD+ a NADH.

Ainda, na mitocôndria, a molécula de acetil-CoA se liga ao oxalacetato formando


citrato, um tricarboxílato, dando início a uma série de reações químicas que regenera
o oxaloacetato. Este conjunto de reações constitui o ciclo de Krebs (ou ciclo do ácido
cítrico ou do ácido tricarboxílico).
No ciclo de Krebs ocorre uma sequência de nove reações enzimáticas e, pela ação
de enzimas desidrogenases, hidrogênios são liberados para reduzir o NAD+, resul-
tando em NADH + H+, e reduzir o FAD resultando em FADH2. Além disso, descarbo-
xilases geram CO2. Outro produto deste ciclo é o ATP produzido a partir do ADP e
Pi, utilizando energia de hidrólise do GTP. Seu rendimento energético, entretanto, é
baixo. Além desses produtos, o ciclo de Krebs fornece metabólitos que são usados para
síntese de moléculas como aminoácidos e carboidratos.
Após processar as duas moléculas de acetil-CoA, as voltas no ciclo geram 2 ATP, 6
NADH e 2 FADH2. Estas duas últimas serão oxidadas em outros locais das mitocôndrias
envolvendo uma série de complexos moleculares agrupados e que recebem o nome
de cadeia transportadora de elétrons (ou cadeia respiratória). Por causa da série
de reações de oxidações e fosforilações ocorridas nessa etapa, esta recebe o nome de
fosforilação oxidativa.

Fosforilação oxidativa
As reações de transferência de elétrons envolvem enzimas e compostos não enzi-
máticos presentes na membrana interna das mitocôndrias, cuja função é transportar
elétrons. As moléculas NADH e FADH2 são os transportadores de elétrons gerados no
ciclo de Krebs para os complexos da cadeia transportadora de elétrons da membrana
interna das mitocôndrias. Os átomos de hidrogênio liberados pelo NADH e FADH2 se
dissociam em elétrons (e-) e prótons (H+).
Para os elétrons cedidos pelo NADH, a porta de entrada é a NADH-desidrogena-
se (complexo I) e daí passam pela ubiquinona e demais complexos até o último da

112
cadeia, o complexo V (veja figura). Os elétrons cedidos pelo FADH2 têm como porta de Mitocôndria

entrada a ubiquinona e seguem conforme o passo anterior. Em cada etapa, os elétrons


passam a um nível de menor energia.
A energia cedida pela transferência dos elétrons é utilizada para transportar os H+
da matriz mitocondrial para o espaço intermembranoso (processo ativo, bombas de
H+), gerando um gradiente de concentração de H+ (gradiente de pH) entre os dois
lados da membrana mitocondrial interna. Este gradiente é acompanhado por um gra-
diente de voltagem ou potencial elétrico, pois a face da membrana interna voltada
para o espaço intermembranoso se torna mais positiva. O gradiente eletroquímico
resultante da soma de ambas as forças impulsiona o regresso dos H+ para a matriz mi-
tocondrial pela ação da ATP sintase. A porção F0 forma um tipo de “túnel” que permite
o regresso dos H+ à matriz, e a porção F1 catalisa a síntese de ATP a partir de ADP e Pi.
Após perda substancial de parte da sua energia, os elétrons abandonam a cadeia
respiratória, regressam à matriz mitocondrial e se combinam com os H+ vindo do
espaço intermembranoso e com o O2 da atmosfera, representado pela equação: 2e- +
2H+ + ½O2 → H2O. Na presença de O2 cada molécula de glicose gera 30 ou 32 ATP.
A figura abaixo representa uma mitocôndria e, no seu interior, os processos de
produção de energia a partir da entrada do piruvato. As etapas de descarboxilação
oxidativa, ciclo de Krebs e a fosforilação oxidativa estão indicadas pelas letras (A), (B)
e (C), respectivamente. Os complexos proteicos da cadeia respiratória representados
na membrana interna, e designados por números em algarismos romanos, são: NADH
desidrogenase (I), ubiquinona (II), complexo b-c1 (III), citocromo c (IV ) e citocromo
oxidase ( V ).

113
Biologia OUTRAS FUNÇÕES DAS MITOCÔNDRIAS
celular
Além da produção de energia, as mitocôndrias possuem outras funções:
Remoção de Ca2+ do citosol: as mitocôndrias retiram íons cálcio do citosol, quan-
do seu nível é alto e perigoso para a célula.
Síntese de aminoácidos: em hepatócitos, a partir de moléculas intermediá-
rias do ciclo de Krebs, ocorrem algumas etapas metabólicas que levam à síntese de
aminoácidos.
Síntese de esteróides: em células do córtex das suprarrenais, ovários e dos testí-
culos, a mitocôndria participa da síntese de diversos esteróides e tem como precursor
o colesterol.
Morte celular: a mitocôndria tem participação na morte celular programada
(apoptose).

Proposta de Atividades

1) Descreva a ultraestrutura de uma mitocôndria.


2) O que são e onde se localizam os complexos ATP sintase e qual sua função?
3) Em que consiste a glicólise?
4) Caracterize resumidamente as etapas de descarboxilação oxidativa, ciclo de Krebs e a ca-
deia transportadora de elétrons.
5) Relacione outras funções das mitocôndrias.
6) Como é o genoma mitocondrial?

Anotações

114
15 Cloroplasto

Claudete Aparecida Mangolin

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Você deverá entender:
• a estrutura e a função do cloroplasto e a sua importância para o metabolismo
celular;
• o processo da fotossíntese.

CLOROPLASTO
Todos os animais e a maioria dos microrganismos necessitam de grande quantidade
de compostos orgânicos retirados de seu ambiente. Estes compostos são responsáveis
tanto pelo fornecimento do esqueleto carbônico para a biossíntese de suas molécu-
las, como também pela energia metabólica que dirige os processos celulares. Toda a
matéria orgânica requerida pelas células é produzida pelos organismos fotossintéti-
cos, incluindo as bactérias fotossintéticas. Dentro deste grupo, a mais evoluída é a
cianobactéria.
Nas algas e plantas, a fotossíntese ocorre em uma organela intracelular especiali-
zada que é o cloroplasto. Sob a luz do dia, os cloroplastos realizam a fotossíntese e
produzem NADPH e ATP – primeiros produtos desta via metabólica – além de outras
moléculas orgânicas. Na planta, os produtos incluem um carboidrato de baixo peso
molecular – a sacarose – que as células fotossintéticas exportam para suprir as neces-
sidades metabólicas de muitas células não fotossintéticas.

Cloroplasto é um membro da família dos plastídios


O cloroplasto é o mais importante e mais estudado dos plastídios. Estes estão pre-
sentes em todas as células vegetais, e variam de tamanho, forma, conteúdo e função.
Cada tipo de célula tem o seu plastídio característico, associado com a especialização
celular. Todos contêm múltiplas cópias do seu pequeno genoma e são cercados por
um conjunto de duas membranas que é o envoltório do cloroplasto.
Os plastídios são originados de um proplastídio, que é uma pequena organela pre-
sente na célula do meristema. Os proplastídios comumente apresentam uma extensão
entre 0,2 a 10µm e frequentemente, são esféricos ou ovoides. O sistema interno de
membranas nos proplastídios é pobremente desenvolvido, e contém somente poucas

115
Biologia invaginações da membrana interna. Eles se desenvolvem por causa da necessidade
celular
de cada célula diferenciada, e o tipo de plastídio formado é determinado pelo geno-
ma nuclear. Quando a partir do proplastídio é formado um cloroplasto, a membrana
interna desta organela se invagina, forma vesículas e dá origem a um compartimento
especializado que é o tilacoide.
Além dos cloroplastos, existem outros plastídios com pigmentos – os cromoplastos
– que são classificados com base no tipo de pigmento contido. Nas pétalas, nos frutos
e em algumas raízes, estão presentes cromoplastos amarelos ou alaranjados. Estes têm
menor quantidade de clorofila e, portanto, não realizam fotossíntese. No tomate, que
é vermelho, está presente o carotenoide licopeno. Nas algas vermelhas, estão presen-
tes cromoplastos que, além de clorofila e carotenoides, possuem também pigmentos
vermelhos e azuis, a ficoeritrina e a ficocianina, respectivamente.
Os leucoplastos são plastídios sem cor que estão envolvidos na síntese de monoter-
penos, compostos voláteis contidos em óleos essenciais. Muitos destes compostos são
explorados como flavorizantes ou como agentes farmacológicos. Os produtos desta
organela são secretados por células de glândulas secretórias especializadas associadas
com folhas, com tricomas do caule ou com a cavidade secretória da casca de citros.
Leucoplastos são muitas vezes descritos como sinônimos de amiloplastos. Os leuco-
plastos que produzem monoterpenos, entretanto, constituem-se em um tipo único de
plastídio. Leucoplastos são constantemente rodeados por uma extensa rede de túbu-
los do retículo endoplasmático liso que também atua na síntese de lipídeos.
Outra forma de plastídio é o amiloplasto, presente em células de tecidos responsá-
veis por armazenamento. Este plastídio acumula grãos de amido, que é um polímero
de glicose. Muitas vezes ocupam todo o estroma, como é o caso dos amiloplastos do
tubérculo da batata.

Estrutura e compartimentos do cloroplasto


Os cloroplastos geralmente apresentam forma de disco e medem entre 5 e 8µm
de diâmetro. Uma única célula do mesofilo foliar (região localizada entre a epiderme
das duas faces da folha) pode conter de 40 a 50 cloroplastos; um milímetro quadra-
do da folha contém cerca de 500.000 cloroplastos (Figura 1). Esta organela é muito
maior que a mitocôndria, mas sua organização segue os mesmos princípios daquela.
Ela apresenta uma membrana externa altamente permeável, constituída de proteínas
que formam poros que permitem a passagem livre de água, íons e metabólitos de até
10 KDa. Além disso, ela possui uma membrana interna, menos permeável, mas que
permite a livre passagem de pequenas moléculas sem carga, como o O2 e NH3. O trans-
porte da maioria dos metabólitos nesta membrana, entretanto, é feito por proteínas
transportadoras específicas.
116
Entre as duas membranas do cloroplasto, é encontrado o espaço intermembranas. Cloroplasto

A membrana interna circunda um grande espaço interno chamado estroma (Figura


1), que é análogo à matriz mitocondrial, e que contém muitas enzimas. Neste espaço,
o cloroplasto mantém o seu genoma e todo o sistema genético. O estroma também
contém um conjunto especial de ribossomos e de RNAs.
A cadeia transportadora de elétrons, os fotossistemas captadores de luz e a ATP
sintase estão organizadas em um terceiro conjunto de membranas, presentes no clo-
roplasto, que são as membranas dos tilacoides. Estas membranas formam um con-
junto de discos achatados denominados tilacoides (Figura 1). Os lumens deles estão
conectados entre si formando o espaço tilacoidal; este é separado do estroma pela
membrana tilacoidal. Os tilacoides estão empilhados e cada pilha recebe o nome de
granum (plural grana).

O cloroplasto captura a energia luminosa e a usa para


fixar carbono
As reações que ocorrem durante a fotossíntese podem ser agrupadas em duas
categorias:
1) As reações que ocorrem na cadeia transportadora de elétrons, que são também
chamadas de reações luminosas. Neste processo, a energia derivada da luz é transfe-
rida para um elétron do pigmento orgânico verde denominado clorofila. Esse elétron
é capaz de se mover ao longo de uma cadeia transportadora de elétrons presente na
membrana do tilacoide. A clorofila recebe os seus elétrons que são provenientes da
quebra da molécula de H2O. Neste processo é produzido O2.
Durante o transporte de elétrons, H+ é bombeado através da membrana do tila-
coide para o espaço tilacoidal. Este evento resulta em um gradiente eletroquímico de
prótons (diferença de cargas elétricas e de pH) que é utilizado para a síntese de ATP no
estroma. Como passo final nesta série de reações, elétrons de alta energia juntamente
com H+ chegam até o NADP+, que é reduzido a NADPH. Estas reações acontecem na
membrana do tilacoide, e a reação geral é:

Luz
N
H2O ATP + NADPH + NO2

2) Nas reações de fixação do carbono, também chamadas de reações escuras, o


ATP e o NADPH, produzidos nas reações fotossintéticas da cadeia transportadora de
elétrons, servem como fonte de energia e força redutora, respectivamente, para con-
verter o CO2 em carboidratos. As reações de fixação do carbono têm início no estroma
e continuam no citosol, produzindo sacarose e muitas outras moléculas orgânicas nas
folhas. A sacarose é exportada para outros tecidos que a utilizam, tanto como fonte de

117
Biologia moléculas orgânicas como energia para o crescimento. A reação geral nesta fase pode
celular
ser apresentada da seguinte forma:

N
ATP + NNADPH + NCO2 N
(CH2O).

Assim, a formação de ATP, NADPH e O2 (que requer energia da luz), e a conversão


de CO2 em carboidratos (que indiretamente requer energia da luz) são processos sepa-
rados e que ocorrem em diferentes compartimentos da organela (Figura 2).

Figura 1 - Corte transversal de uma folha e a distribuição de cloroplastos no mesofilo foliar. O


cloroplasto contém três diferentes membranas – externa, interna e tilacoidal – definindo três diferentes
compartimentos: espaço intermembranas, estroma e espaço tilacoidal.

118
Cloroplasto

Figura 2 - Na reação de fotossíntese, a água é oxidada e o oxigênio molecular é liberado a partir das
reações de transferência de elétrons. Durante as reações de fixação de carbono, o dióxido de carbono é
assimilado para produzir carboidratos e diferentes moléculas.

A fotossíntese depende das moléculas de clorofila


Para que a energia luminosa possa ser utilizada pelos sistemas vivos, é necessário
que ela seja primeiramente absorvida. A substância que absorve a luz é denominada
pigmento. A maioria dos pigmentos absorve somente um comprimento de onda e
transmite ou reflete os demais que não são absorvidos. A clorofila é o pigmento que
torna as folhas verdes, ela absorve a luz principalmente nos comprimentos de onda
azul, violeta e vermelho; como reflete a luz verde, sua aparência é de cor verde.
Há diversos tipos de clorofila, e estes diferem quanto à sua estrutura molecular
e às suas propriedades específicas de absorção. A clorofila a (Figura 3) está presente
em todos os eucariontes fotossintetizantes e nas cianobactérias; as plantas, algas ver-
des e euglenas contêm também a clorofila b. A clorofila c substitui a clorofila b em
alguns grupos de algas, principalmente nas pardas e nas diatomáceas. A luz solar, que
é absorvida pelas moléculas de clorofila, fornece a energia requerida para o processo
fotossintético.

119
Biologia
celular

Figura 3 - Estrutura da molécula de clorofila a com seu átomo de Mg2+ mantido em um anel
porfirínico. Durante a excitação luminosa ocorre movimentação dos elétrons ao longo das duplas
ligações ao redor do anel porfirínico. O fitol constitui uma cauda hidrofóbica da molécula de clorofila.

O processo de conversão de energia começa quando um quantum de luz (um fó-


ton) excita a molécula de clorofila. Esta excitação promove a mudança de um elétron
da clorofila de um orbital de menor energia para um orbital de maior energia. Esta
molécula excitada é instável e retorna rapidamente ao seu estado de energia original.
O retorno pode ocorrer pela transferência de energia, mas não de elétrons, di-
retamente para uma molécula de clorofila vizinha. Este processo é denominado de
transferência de energia por ressonância. O retorno para o estado original de energia
também pode ocorrer pela transferência de elétrons de alta energia, e carregados ne-
gativamente, para outras moléculas vizinhas. Essas moléculas que recebem os elétrons
são chamadas de aceptoras de elétrons. A clorofila que foi oxidada retorna ao seu
estado eletrônico original quando recebe elétron de baixa energia de outra molécula
doadora de elétrons; neste caso, a molécula doadora é a água.

O fotossistema é formado pelo complexo antena e o centro de reação


O fotossistema é um grande complexo multiproteico que catalisa a conversão da
energia capturada da luz para formas úteis de energia. Ele está embebido na bicamada
lipídica da membrana do tilacoide (Figura 4). O fotossistema é formado por dois gran-
des complexos; o primeiro é o complexo antena que consiste de proteínas e de um

120
grande conjunto de moléculas de pigmentos. Este complexo captura a energia lumi- Cloroplasto

nosa e a transfere para o centro de reação. O segundo complexo é o centro de reação


fotoquímica, formado por um complexo proteico e moléculas de clorofilas especiais
que convertem a energia luminosa em energia química.

Figura 4 - O complexo antena do fotossistema coleta energia luminosa


e a transfere para um par de clorofilas especiais do centro de reação.

O complexo antena é formado por vários complexos proteicos; estas proteínas se


ligam com centenas de moléculas de clorofila e orientam a organização destes pigmen-
tos na membrana do tilacoide. O complexo antena contém também pigmentos aces-
sórios, os carotenoides. Quando a luz excita uma molécula de clorofila do complexo
antena, esta energia é rapidamente transferida por ressonância, e sequencialmente,
para outras moléculas de clorofila até alcançar um par de clorofila especial presente
no centro de reação fotoquímica (Figura 4).
O centro de reação fotoquímica é um complexo situado na membrana do tilacoide
e é formado por proteínas e pigmentos. O par de clorofilas especial, presente neste
complexo, é excitado pela luz. O elétron excitado é transferido para uma proteína
aceptora de elétron, que faz parte de uma cadeia transportadora de elétrons situada
na membrana do tilacoide (Figura 5). Nesta membrana, estão localizados dois tipos de
fotossistemas, denominados I e II.

121
Biologia
celular

Figura 5 - Fluxo de elétrons que ocorre na membrana do tilacoide durante a fotossíntese. Os


carreadores de elétrons que apresentam mobilidade na membrana do tilacoide são a plastoquinona,
a plastocianina e a ferrodoxina. O complexo citocromo b6-f recebe elétrons da plastoquinona e
bombeia H+ para o espaço tilacoidal, através da membrana do tilacoide, gerando um gradiente
eletroquímico de prótons.

Fotofosforilação e a produção de ATP e NADPH


Durante a fotossíntese, as plantas e as cianobactérias produzem tanto ATP e NADPH
por um processo chamado fotofosforilação não cíclica. Neste processo, os dois fotos-
sistemas (I e II) atuam em série para transferirem um elétron da água para o NADPH.
Parte da energia presente neste elétron é usada para a síntese de ATP. O primeiro dos
dois fotossistemas (denominado fotossistema II, por questão histórica) tem a habilida-
de de clivar enzimaticamente a molécula de água e retirar seus elétrons.
Os elétrons removidos da água ocupam o lugar dos elétrons que foram transferi-
dos da clorofila do centro de reação para a cadeia transportadora de elétrons. Assim
que quatro elétrons são removidos de duas moléculas de água, o O2 é liberado. O
centro de reação é um forte doador de elétrons que reduz moléculas de quinonas
(plastoquinona) embebidas na membrana do tilacoide. Os elétrons, após reduzirem a
plastoquinona, são recebidos pelo complexo citocromo b6-f. Este complexo, no estado
reduzido, bombeia H+ por meio da membrana do tilacoide em direção do espaço tila-
coidal criando, assim, um gradiente eletroquímico de prótons (Figura 5), que dirige a
ação da ATP sintase na síntese de ATP (Figura 6).

122
Cloroplasto

Figura 6 - ATP sintase conduz H+ do espaço tilacoidal de volta para o


estroma, baixando o gradiente eletroquímico de prótons por meio da membrana tilacoidal,
e dirigindo uma reação desfavorável entre ADP e Pi que sintetiza ATP.

O aceptor final dos elétrons, doados pelo par de clorofilas do centro de reações
do fotossistema II, é o fotossistema I. Este recebe os elétrons que agora ocuparão a
vacância deixada pela saída dos elétrons do centro de reação deste fotossistema, quan-
do excitado pela luz. Os elétrons que deixam o fotossistema I passam para um centro
ferro-enxofre (ferrodoxina), e daí para o NADP+, gerando NADPH (Figura 5).
O uso de dois fotossistemas em série, utilizando dois quanta de luz, permite a
produção tanto de NADPH como de ATP e move elétrons da água para NADP+. Este
processo é conhecido como fotofosforilação acíclica (Figura 7).

Figura 7 - O fluxo unidirecional de elétrons da água para o


NADP+ é chamado de fotofosforilação acíclica e produz NADPH e ATP.

Para a fixação do carbono há a necessidade de 1,5 moléculas de ATP para cada


molécula de NADPH utilizada. Para produzir ATP extra, o cloroplasto pode utilizar

123
Biologia somente o fotossistema I em um modo cíclico que não produz NADPH. Este processo
celular
é chamado de fotofosforilação cíclica. Nele, o elétron de alta energia é transferido do
fotossistema I para o citocromo b6-f, sem passar pelo NADP+, e os elétrons são trans-
feridos de volta para o fotossistema I. O complexo citocromo b6-f bombeia H+ para o
espaço tilacoidal, criando um gradiente eletroquímico de prótons que é utilizado pela
ATP sintase para sintetizar ATP (Figura 8). A fotofosforilação cíclica envolve somente
o fotossistema I sem a formação de NADPH e sem a liberação de O2 (Figura 8). O ba-
lanço entre a fotofosforilação acíclica e cíclica é regulado pela célula, para determinar
quanto da energia luminosa será convertida em força redutora (NADPH) ou em fosfato
de alta energia (ATP).

Figura 8 - Esquema da fotofosforilação cíclica.

A fixação do carbono para a produção de moléculas orgânicas


A fixação do carbono é um evento no qual o CO2 combinado com H2O forma car-
boidratos, um processo acoplado com gasto de energia. Na fixação do carbono, um
átomo de carbono inorgânico é convertido em carbono orgânico. O CO2 atmosféri-
co se combina com um composto de cinco carbonos (ribulose-1,5-bifosfato) e com a
água, produzindo duas moléculas de um composto com três carbonos (gliceraldeído-
3-fosfato), como mostra a Figura 9. Esta reação ocorre no estroma e é catalisada pela
enzima ribulose bifosfato carboxilase (Rubisco).

124
Cloroplasto

Figura 9 - Reação inicial de fixação do carbono, catalisada


pela ribulose bifosfato carboxilase, que ocorre no estroma do cloroplasto.

Consumo energético para a fixação do CO2


O ciclo de fixação do CO2, também chamado ciclo de Calvin, tem início com a
fixação de três moléculas de CO2 pela enzima ribulose bifosfato carboxilase, e produz
seis moléculas de gliceraldeído-3-fosfato (Figura 10). Os 18 carbonos sofrem um ciclo
de reações que produz três moléculas de ribulose-1,5-bifosfato e uma molécula de
gliceraldeído-3-fosfato.
Cada molécula de CO2 convertida em carboidrato consome três moléculas de ATP
e duas moléculas de NADPH. A equação geral da reação é:

3CO2 + 9ATP + 6NADPH + 3H2O gliceraldeido-3-fosfato + 8Pi + 9ADP + 6NADP+

A formação de moléculas orgânicas a partir de CO2 e H2O requer ligações fosfato de


alta energia (ATP) e uma força redutora (NADPH).
Grande parte do gliceraldeído-3-fosfato é exportada para o citosol, onde é converti-
da em frutose e glicose-1-fosfato. A glicose-1-fosfato é convertida em UDP-glicose, que
se combina com frutose-6-fosfato e forma a sacarose fosfato, precursor imediato da
sacarose. A sacarose é a principal forma de açúcar transportado pelo sistema vascular,
sendo a fonte de carboidrato requerida por todas as partes da planta (Figura 10).
A maior parte do gliceraldeído-3-fosfato que permanece no cloroplasto é convertida
em amido, no estroma. A produção de amido ocorre a partir da conversão de gliceral-
deído-3-fosfato para glicose-1-fosfato, que é convertida em ADP-glicose, o precursor do
amido. À noite, a planta quebra o amido para manter as suas necessidades metabólicas.
Além da fotossíntese, os cloroplastos realizam outras reações biossintéticas. Algu-
mas enzimas do estroma participam da síntese de ácidos graxos e de alguns aminoáci-
dos. A força redutora dos elétrons ativados pela luz dirige, no cloroplasto, a redução
de nitrito (NO2-) em amônia (NH3). Esta supre a planta com o nitrogênio necessário
para a síntese de aminoácidos e nucleotídeos. Desta maneira, a importância do cloro-
plasto para as plantas e algas vai além do seu papel fotossintético.

125
Biologia O sistema genético dos plastídios
celular
Esta organela possui seu próprio genoma, bem como a maquinaria para sintetizar
RNA e proteínas. Cada organela é originada a partir de outra preexistente que cresce
e se divide. Para isso, cada organela deve duplicar a sua massa em cada geração celu-
lar, dividir-se e, então, ser distribuída, em número aproximadamente igual, para cada
célula-filha. As células que não estão em processo divisório também devem repor as
organelas que são degradadas.

Figura 10 - Ciclo de fixação do carbono e produção


de moléculas orgânicas a partir de CO2 e H2O.

O crescimento e a proliferação desta organela é um processo complexo, porque as


proteínas requeridas para este evento são codificadas em parte pelo genoma nuclear
e em parte pelo genoma da organela. Assim, o desenvolvimento e o funcionamento
desta organela requerem a atividade integrada tanto do genoma do cloroplasto como

126
do genoma nuclear. Os genes nucleares codificam a maior parte das proteínas reque- Cloroplasto

ridas por ela. Após as proteínas terem sido sintetizadas no citosol, elas são importadas
para o cloroplasto. As demais proteínas da organela são codificadas pelo seu genoma
e sintetizadas pelos ribossomos dela (Figura 11). Um exemplo desta integração é o
funcionamento da enzima Rubisco, importante na fotossíntese. A subunidade menor
desta enzima é codificada pelo genoma nuclear e traduzida pelos ribossomos citoplas-
máticos. A subunidade maior é codificada pelo DNA do cloroplasto e traduzida pelos
ribossomos da organela.

Figura 11 - As proteínas do cloroplasto são produzidas por


dois sistemas genéticos separados: genoma nuclear e genoma organelar.

O processo de transcrição do DNA, a síntese de proteínas e a replicação do DNA


ocorrem no estroma do cloroplasto. Todas as proteínas que atuam nestes processos
são codificadas pelo genoma nuclear e importadas do citosol.
Mais de 20 genomas de cloroplastos já foram sequenciados. Os de cloroplastos de
espécies de plantas que são distantemente relacionadas (por exemplo, tabaco e mus-
gos) são altamente similares. Os genes dos cloroplastos estão associados com quatro
tipos de processos: transcrição, tradução, fotossíntese e com a biossíntese de peque-
nas moléculas como aminoácidos, ácidos graxos e pigmentos. Genes de cloroplasto de
plantas codificam pelo menos 40 proteínas com funções ainda desconhecidas. Todas
as proteínas conhecidas e codificadas pelo genoma do cloroplasto fazem parte dos
grandes complexos proteicos que também contém uma ou mais subunidades codifi-
cadas pelo núcleo.

127
Biologia O transporte de proteínas para o cloroplasto é realizado pós-traducionalmente e,
celular
para isso, são utilizados complexos de translocação situados nas membranas exter-
na e interna. Para que uma proteína possa ser transportada, há um requerimento de
energia proveniente da hidrólise de ATP e GTP. O reconhecimento de proteínas que
devem ser endereçadas ao cloroplasto é feito pela presença de uma sequência sinal.
Esta é formada por aminoácidos polares e apolares que conferem caráter anfipático.
Após a translocação da proteína para o interior da organela, estas sequências sinais são
removidas.

Proposta de Atividades

1) Como são classificados os plastídios?


2) Quais as etapas do processo de fotossíntese? Localize cada etapa no cloroplasto.
3) Quais os requerimentos e os produtos das fases, clara e escura, da fotossíntese?
4) Sobre a cadeia transportadora de elétrons:
a. Qual molécula é doadora de elétrons?
b. Qual molécula é aceptora de elétrons?
c. O que é fotossistema e complexo antena?
d. Qual a importância da luz e das moléculas de clorofila?
e. As proteínas que compõem a cadeia transportadora de elétrons são especiais. Discuta
esta afirmativa.
5) Se os organismos fotossintetizantes produzem ATP, não há necessidade de eles possuírem
mitocôndrias? Para que serve o ATP produzido durante a fotossíntese?
6) Como o dióxido de carbono é convertido em carboidrato no cloroplasto?
7) Por que o crescimento e a proliferação dos plastídios é um processo complexo?
8) Por que dizemos que o cloroplasto é uma organela semiautônoma? Mediante esta condição
como o cloroplasto funciona?

128
Cloroplasto

Anotações

129
Biologia
celular

Anotações

130
16 Núcleo interfásico

Ana Luiza de Brito Portela Castro

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Você deverá:
• identificar e caracterizar os principais componentes do núcleo interfásico;
• conhecer as estruturas do envoltório nuclear, complexos de poros e a dinâmica
do transporte entre núcleo e citoplasma;
• identificar a composição e estrutura da cromatina e sua diferenciação em eucro-
matina e heterocromatina;
• conhecer a estrutura e função do nucléolo.

NÚCLEO INTERFÁSICO
O núcleo celular foi uma das primeiras organelas descritas dentre os componentes
celulares. Esta organela foi observada inicialmente por Franz Bauer (1802) e, poste-
riormente, em maior detalhe por Robert Brown (em torno de 1831). A principal carac-
terística que distingue as células procariontes e eucariontes é a presença do núcleo.

Quais são os componentes de um núcleo interfásico?


O núcleo é delimitado por um envoltório composto por duas membranas concên-
tricas, uma externa e outra interna, as quais constituem barreiras para reter o trânsito
de íons, solutos e macromoléculas entre o núcleo e o citoplasma.

131
Biologia O envoltório nuclear é conhecido também como carioteca, invólucro, envelope
celular
nuclear e membrana nuclear. A membrana externa é interrompida por perfurações
denominadas poros. Abaixo da membrana interna, encontra-se a lamina nuclear.
No interior do núcleo interfásico, encontram-se a cromatina (cromossomos), o
nucléolo, a matriz nuclear e o nucleoplasma.
O núcleo é um compartimento organizado, pois os filamentos de cromatina (ou
cromossomos) possuem locais específicos e não aleatórios, denominados territórios
cromossômicos (não mostrados na figura acima).
Descreveremos, a seguir, cada componente do núcleo quanto à sua composição
química e estrutura.

ENVOLTÓRIO NUCLEAR
Conforme já definimos, o envoltório nuclear é composto de duas membranas con-
cêntricas. Estas apresentam natureza lipoproteica, sendo constituídas de 30% de li-
pídeos e 70% de proteínas, aproximadamente, e estão separadas por um espaço de
10-50nm, denominado espaço perinuclear. Dentre os lipídeos do envoltório nuclear,
90% são do tipo fosfolipídeo e 10% de colesterol e triglicerídeos.
A membrana externa é geralmente contínua à membrana do retículo endoplasmá-
tico, onde se vê também ribossomos associados. A membrana interna possui proteínas
específicas com sítios de ligação para a cromatina e com a lamina nuclear. Dentre elas
se destacam as proteínas intrínsecas como a emerina, LBR (receptor para filamentos
da lamina), LAP I,II (lamina-associated polypeptides). Como já dissemos, na superfí-
cie interna desta membrana, encontra-se a lamina nuclear, que corresponde a uma
malha proteica, com espessura variável, geralmente de 10nm.
A lamina nuclear é composta, principalmente, de um tipo de filamento interme-
diário denominado lamina (tipos A, B e C). A lamina nuclear se dispõe ao longo da
membrana interna, porém é interrompida somente na região dos poros. Uma das fun-
ções da lamina nuclear é oferecer resistência ao envoltório nuclear, contribuindo para
manutenção da forma nuclear.

POROS NUCLEARES
Os poros nucleares não são simplesmente aberturas no envoltório nuclear, mas es-
truturas complexas e altamente organizadas denominadas complexos de poros. Eles
estabelecem canais de comunicação bidirecional para o tráfego de macromoléculas
entre o citoplasma e o núcleo.
Cada complexo de poro é constituído de mais de 50 tipos de proteínas e cons-
titui uma parede cilíndrica integrada por oito colunas proteicas, ao redor das quais

132
as membranas, externa e interna, se fundem; proteínas de ancoragem interligam as Núcleo interfásico

colunas proteicas ao envoltório.


Diversas proteínas radiais que nascem das colunas e se projetam para o interior dos
poros e fibrilas proteicas surgem dos anéis externos e internos dos poros. Ao longo
destas fibrilas estão dispostas várias proteínas denominadas nucleoporinas, envolvidas
na passagem de substâncias através dos poros.

O diâmetro do complexo de poro é de 100nm e apresenta 30nm de altura, mas as


proteínas radiais reduzem seu diâmetro para 9nm podendo atingir até 25nm. Através
dos poros passam vários tipos de moléculas, pequenas e grandes e íons em ambas as
direções. Moléculas pequenas e íons podem atravessar de modo passivo, enquanto
que as macromoléculas induzem a uma dilatação dos poros para que possam passar.

Trocas entre o citoplasma e o núcleo através dos complexos de poros


Consideremos a seguinte situação: se a célula está sintetizando DNA, ela necessita
importar um grande número de proteínas histonas (106 histonas a cada 3 minutos)
para se unirem às novas moléculas de DNA. Sabendo que uma célula típica de mamí-
fero contém cerca de 300 – 4.000 poros, cada um deles deveria importar pelo menos
100 proteínas histonas por minuto. Os poros, entretanto, não são simplesmente canais
abertos e a passagem de substâncias ocorre por meio de um mecanismo, cujas molécu-
las a serem transportadas apresentam sinal de localização nuclear.
As proteínas destinadas ao núcleo são sintetizadas em ribossomos livres no ci-
toplasma e contêm um peptídeo sinal (NSL - nuclear sinal locatization) que atua
como o endereçamento delas ao núcleo. Este sinal deve ser reconhecido por proteínas
denominadas importinas, existentes no citoplasma. Como os sinais são variáveis, para
cada um existe uma importina específica.
A importina é uma molécula constituída de duas subunidades (α-β heterodímero)
que agem sucessivamente: α-importina se liga ao peptídeo sinal e a β-importina se

133
Biologia une à subunidade α e força a translocação da proteína através do poro. Este transporte
celular
requer GTP, cuja hidrólise é feita por uma GTPase chamada Ran.
A proteína transportada é acomodada pela importina no centro do poro, o que
causa a ampliação do seu diâmetro de 9nm para 25nm. A abertura do diafragma do
poro ocorre pela ação da β-importina. Acredita-se que ao longo das fibrilas dos poros
existam proteínas, as nucleoporinas, que orientam o transporte da molécula. As duas
subunidades da importina entram juntas no núcleo, mas ao término da translocação
retornam dissociadas ao citoplasma.
As proteínas que deixam o núcleo também dependem de sinais específicos (NES –
nuclear export signal) para atravessar os poros. Assim, como as NSL, as NES interagem
com as nucleoporinas.

CROMATINA
Como as moléculas de DNA se organizam dentro das células eucarióticas?
Nas células eucarióticas, o DNA está dividido em um conjunto de diferentes cro-
mossomos. Se considerarmos o genoma humano como exemplo, cada célula so-
mática contém 46 cromossomos, ou seja, 46 moléculas de DNA distribuídas em 22
pares de cromossomos de autossomos e mais um par de cromossomos sexuais. O
genoma humano contém, em conjunto, cerca de 6 x 109 nucleotídeos e se o DNA de
um cromossomo humano fosse distendido, ele mediria aproximadamente 4cm. A
célula resolveu esta dificuldade espacial fazendo com que o DNA se enrole sobre si.
A associação do DNA com proteínas histonas e não histona constitui os filamen-
tos de cromatina. Em um núcleo interfásico, a cromatina se encontra mais dis-
tendida, pois é neste momento do ciclo celular que ocorre intensa síntese de RNA
e duplicação do DNA para as células que se dividirão. Diferentes graus de enro-
lamento da cromatina podem ocorrer no núcleo interfásico. Durante a mitose, a
cromatina atinge o seu nível máximo de enrolamento e, assim, podemos visualizar
os cromossomos.
O nível de compactação (ou enrolamento) da cromatina permite distinguir dois
tipos, eucromatina e heterocromatina. Esta última é um estágio de maior conden-
sação da cromatina, enquanto que a eucromatina se apresenta menos compactada.
A atividade transcricional do DNA (DNA que sintetiza RNA) está relacionada ao
nível de compactação da cromatina. Portanto, a eucromatina é considerada ativa do
ponto vista funcional do DNA e representa cerca de 10% do genoma. Por outro lado,
a heterocromatina é considerada inativa por causa do seu alto nível de condensação,
porém a sua transcrição foi descrita em algumas plantas. Em uma típica célula de
mamífero, cerca de 10% do genoma se encontra na forma de heterocromatina.

134
A heterocromatina pode ser detectada em regiões específicas dos cromossomos Núcleo interfásico

como centrômeros e telômeros. Ela pode ser ainda subdividida em heterocromati-


na constitutiva e facultativa. Entendemos por heterocromatina constitutiva aquela
altamente condensada em todos os tipos celulares. A heterocromatina facultativa,
que pode estar condensada em um tipo celular e em outro, comporta-se como eu-
cromatina. Frequentemente, a heterocromatina facultativa é associada aos cromos-
somos sexuais. Um exemplo clássico disso é um dos cromossomos X das fêmeas
de mamíferos. A condensação de um dos cromossomos X, a cromatina sexual ou
corpúsculo de Barr, ocorre aleatoriamente, ou seja, em algumas células o cromos-
somo X compacto é o de origem paterna e em outras é o de origem materna.

NUCLÉOLO
O nucléolo é uma estrutura esférica que se encontra no interior do núcleo, não en-
volvida por membrana e facilmente visível, ao microscópio de luz, em células animais
e vegetais. O seu tamanho varia de 1 a 7µm conforme o tipo e a função da célula. Por
exemplo, células com intensa síntese de proteínas apresentam nucléolos relativamen-
te grandes. Por outro lado, células como linfócitos e monócitos do sangue, possuem
nucléolos pequenos e anelados.
O número de nucléolos por célula é também variável. Podem ser observados dois
ou mais, porém, um único nucléolo é a situação mais comum.

Composição química e estrutura dos nucléolos


Os nucléolos são constituídos principalmente de proteínas e RNA ribossômico.
Apresentam uma pequena quantidade de DNA que corresponde à cromatina que con-
tém os genes codificadores dos RNAr, denominado de DNAr, isto é, DNA ribossômico.

135
Biologia Ao microscópio eletrônico, os nucléolos apresentam duas regiões:
celular
Região fibrilar: presente no centro do nucléolo e tem aspecto fibrilar. Correspon-
de ao local do DNAr que transcreve o RNA 45S1, as moléculas de RNA polimerase I,
DNA-topoisomerase I e os fatores de transcrição do RNAr.
Região granular: localiza-se na periferia do nucléolo e se apresenta como grânulos
de 15nm de diâmetro. Nesta região, encontram-se as subunidades ribossômicas em
diferentes estágios de processamentos.
As regiões fibrilares e granulares dos nucléolos estão representadas na figura ante-
rior. Os nucléolos se encontram associados a sítios cromossômicos, que carregam os
genes codificadores dos RNAr denominados de RON (ou NOR, do inglês) – Regiões
Organizadoras de Nucléolos.

MATRIZ NUCLEAR
Além dos componentes citados acima e que são morfologicamente distintos como
envoltório nuclear, lamina nuclear, cromatina e nucléolo, o núcleo apresenta uma
rede fibrilar proteica denominada matriz nuclear. A utilização de técnicas de extra-
ção, fracionamento e microscopia eletrônica demonstraram a existência dessa matriz.
Após a digestão dos filamentos de DNA com DNase, a estrutura que permanece possui
a mesma forma e tamanho do núcleo original. A matriz nuclear é equivalente ao ci-
toesqueleto existente no citoplasma e várias proteínas têm sido descritas para a matriz
como matrinas, laminas (mais estáveis do que as da lamina nuclear), metaloproteínas,
actina e um tipo especial de miosina I.
A matriz nuclear atua na ancoragem da maquinaria de transcrição e processamento
do RNA e replicação. Sabe-se, atualmente, que o núcleo é um compartimento orga-
nizado e que os cromossomos no núcleo interfásico apresentam domínios próprios
e microambientes. São regulados por proteínas da matriz nuclear que constituem os
territórios cromossômicos.

1 Este número se refere ao coeficiente de sedimentação do RNA, ou seja, à velocidade com a qual a
molécula sedimenta-se ao ser ultracentifugada.

136
Núcleo interfásico

Proposta de Atividades

1) Descreva os componentes que formam o envoltório nuclear.


2) O que são complexos de poros?
3) Explique o mecanismo de trocas entre núcleo e citoplasma através dos complexos de
poros.
4) Relacione os termos cromatina, cromossomo, eucromatina e heterocromatina com base na
estrutura de cada um.
5) Qual é a composição química, estrutura e função dos nucléolos?
6) O que significa matriz nuclear?

Anotações

137
Biologia
celular

Anotações

138
17 Cromatina e
Cromossomo metafásico
Veronica Elisa Pimenta Vicentini

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Você deverá entender:
• a estrutura/componentes e os diferentes níveis de compactação da cromatina
até cromossomo metafásico;
• a estrutura, o número, o tamanho e a forma dos cromossomos metafásicos.

CROMATINA
A cromatina é formada por DNA associado com proteínas. Durante o processo de
divisão celular, quando o núcleo se divide, a cromatina se condensa em várias estrutu-
ras distintas chamadas de cromossomos. Cada vez que a célula se divide, a informação
hereditária carregada nos cromossomos é transferida às novas células formadas.
Inicialmente, estudaremos os componentes e a estrutura da cromatina, e, na se-
quência, o processo de compactação até cromossomo metafásico.

Compactação da cromatina para cromossomo metafásico


Nucleofilamento: fibra de 10nm, que tem de cinco a sete vezes o grau de compac-
tação do DNA livre (2nm), e representa o primeiro nível de organização da cromatina.
As histonas, proteínas globulares que se associam aos pares, 2(H2A, H2B, H3 e H4),
formam grupos de oito proteínas, octâmero proteico, chamado de core histônico.

139
Biologia O DNA, em dupla hélice (146pb = pares de bases), dá duas voltas ao redor de cada
celular
core histônico, formando uma estrutura denominada nucleossomo.
Dois nucleossomos subsequentes se aproximam e são ligados por histonas não nu-
cleossômicas, histona H1, que fica no DNA Linker (60pb), região internucleossômica,
formando a fibra de 10nm. A unidade se repete a cada 200pb.

A cromatina se encontra na célula em interfase como uma fibra de 20 – 30nm, re-


sultante do enrolamento da fibra de 10nm (compactação de ± 40 vezes) na forma de
solenoide, que representa o segundo nível de organização da cromatina. Há seis nu-
cleossomos por volta, com H1 no centro, ligada ao DNA Linker. H1 estabelece pontes
entre nucleossomos próximos. A fibra é compactada mais 100 vezes. Vai se enovelando
para 300nm, que se dobra a 700nm e dobra-se em torno de um eixo proteico, em seu
grau máximo de compactação e espiralização, de 1.400nm, formando o cromossomo
metafásico.

Cromossomo METAFÁSICO
Estrutura
Cromossomo: representa porções da cromatina condensada, com morfologia e
número bem definido para cada espécie, e contém a informação genética.
Cromátide: duas estruturas simétricas (cromátides-irmãs), cada uma contendo
uma molécula de DNA idêntica e que vão compor o cromossomo.
Centrômero: região mais estrangulada do cromossomo que o divide em duas

140
partes, sendo o ponto de ligação entre as duas cromátides-irmãs (constrição primária). Cromatina e
Cromossomo
Cinetócoro: disco proteico que se liga ao centrômero e local onde os microtúbu- metafásico

los do fuso mitótico se ligam.


Telômero: pontas dos cromossomos e das extremidades da longa molécula de
DNA cromatídico.

Constrição secundária: estreitamento que aparece sempre no mesmo local de


determinados cromossomos, apresentando uma zona da cromatina chamada região
organizadora de nucléolo (RON ou NOR).
Banda: região mais corada e compactada da cromatina, heterocromatina constitu-
tiva*, mais corada.
*Heterocromatina facultativa: cromatina sexual, inativação de um dos cromosso-
mos X do sexo feminino nos mamíferos.
Interbanda: região menos corada e mais “frouxa” da cromatina, eucromatina, me-
nos corada.

141
Biologia
celular

Tipos de cromossomos
Metacêntrico: possui braços aproximadamente do mesmo tamanho.
Submetacêntrico: possui um dos braços menor que o outro.
Acrocêntrico: possui um dos braços muito pequeno em relação ao outro.
Telocêntrico: possui apenas um braço, pois o centrômero se localiza na extremi-
dade do cromossomo.

142
Cromossomos metafásicos. Fotos em microscópio de luz (1.000X). A – humano (2n Cromatina e
cromossomavo
= 46) (M, SM, A); B – rato Wistar (2n = 42) (M, SM, A); C – Allium cepa L. (M, SM) metafásico

(2n = 16).

Definições relacionadas aos cromossomos


n = número básico de cromossomos, portanto, a célula é haploide.
2n = dois exemplares idênticos de cada cromossomo (de mesma homologia, em
tamanho, forma e posição do centrômero). A célula é diploide, existindo, no núcleo,
pares de cromossomos homólogos (homem: 2n = 46).
Poliploide: núcleo contendo muitos pares de cromossomos.
Cromossomos sexuais: par de cromossomos cujos componentes são morfologi-
camente diferentes em um dos sexos, e que variam de acordo com a espécie estudada
(mamíferos: cromossomos X e Y ).
Sexo heterogamético: tem dois cromossomos diferentes e produz gametas alter-
nativos (mamíferos: macho XY; insetos: macho XO ou XY; aves: fêmea ZW; répteis:
ambos os tipos de determinação sexual).
Sexo homogamético: produz gametas com o mesmo tipo de cromossomo sexual
(mamíferos: fêmea XX).
Cromossomos autossômicos: os outros pares de cromossomos além dos sexuais
(homem: 22 pares de cromossomos autossômicos e um par sexual).
Cariótipo: conjunto de cromossomos característicos de uma espécie biológica, se-
gundo o seu número, tamanho e forma.

Cariótipo humano haploide: cromossomos separados em ordem de tamanho,


mostrando o bandamento cromossômico (n = 23, XY ).

143
Biologia
celular

Cariótipo humano diploide (2n = 46, XY ).

Proposta de Atividades

1) Descreva a estrutura e a compactação da cromatina até cromossomo metafásico.


2) Descreva as formas dos cromossomos metafásicos.
3) Cite alguns exemplos de anormalidades cromossômicas.

Anotações

144
18 Cromossomos
politênicos e plumosos
Hélio Conte

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Você deverá entender:
• a estrutura e a função dos cromossomos politênicos e a sua importância para o
metabolismo celular;
• o processo de politenia e de formação dos puffs;
• a estrutura e a função dos cromossomos plumosos e a sua importância para o
metabolismo celular.

CROMOSSOMO POLITÊNICO
Em alguns organismos, encontram-se cromossomos gigantes, ou seja, de tamanho
bem maior em relação aos cromossomos mitóticos comuns. São os chamados cromos-
somos politênicos que podem ser encontrados nas células das glândulas salivares,
no intestino médio, nos tubos de Malpighi de certos dípteros (Drosófilas, Sciarideos,
Chironomus e outros). Estes cromossomos foram descobertos por Balbiani (1881)
quando estudava díptero do gênero Chironomus.

Por que eles são tão grandes e qual a origem do nome politênico?
Os cromossomos politênicos são formados pelo pareamento dos homólogos. Em
seguida, os cromonemas começam a se multiplicar várias vezes, sem ocorrer a separa-
ção em cromátides. O conjunto vai se tornando cada vez mais espesso, mais grosso. Ao
mesmo tempo, o espiralamento dos cromonemas vai se distendendo fazendo com que
o cromossomo, além de se tornar grosso, também fique mais comprido.

145
Biologia Os cromossomos politênicos representam a melhor evidência de que a atividade
celular
gênica em eucariontes é regulada em termos da síntese de RNA. Eles representam ma-
terial específico para estudar a regulação gênica, pois a transcrição de seus genes pode
ser observada diretamente no microscópio de luz.
Algumas células de larvas de moscas e mosquitos são bem grandes, e possuem alto
teor de DNA. Quando os cromossomos dessas células se tornam politênicos, o DNA
replica-se por endomitose e as duas cromátides-filhas resultantes não se separam, mas
permanecem alinhadas lado a lado. Um cromossomo gigante de glândula salivar de
Drosophila contém, aproximadamente, 1.000 filamentos de DNA e forma-se a partir
de 10 replicações de DNA (ou seja, 210 = 1.024).

As células politênicas são incapazes de entrar em mitose e estão predestinadas a


morrer. Nem todas as células de uma larva de díptero possuem cromossomos politêni-
cos. Aquelas destinadas a produzir as estruturas adultas após a metamorfose (chama-
das de discos imaginais) permanecem 2n (diplóides).
Dá-se o nome de politenia à multiplicação dos cromonemas sem que ocorra a di-
visão do cromossomo em cromátides e, consequentemente, em novos cromossomos.
Este é o processo que leva à formação dos cromossomos politênicos, cujo significado
vem do grego, poli = muitos e thenos = faixa ou fita.
Os cromossomos politênicos são bem visíveis durante a interfase e apresentam
morfologia característica, onde uma série de bandas escuras intercala-se com zonas
claras chamadas interbandas.
As bandas representam regiões onde o DNA está mais espiralizado, coram-se por
corantes da cromatina, são Feulgen (+) e absorvem luz ultravioleta. Nas interbandas,
os filamentos de DNA se espiralizam mais frouxamente e não se coram por corantes
básicos, são Feulgen (-) e não absorvem luz ultravioleta.
As bandas constituem a parte geneticamente ativa e, segundo vários autores, re-
sultam do agrupamento lateral de cromômeros. A localização, o tamanho e a forma
das faixas ou bandas são constantes para um mesmo cromossomo, na mesma espécie,

146
permitindo, assim, sua fácil identificação e a construção de mapas cromossômicos Cromossomos
politênicos e plumosos
detalhados.

Estes cromossomos revelam também regiões intumescidas, parecidas com inchaço


e chamadas de puffs ou “pufes”. Eles correspondem a pontos de desenrolamento dos
cromômeros nos cromonemas, o que indica que ali estão genes trabalhando intensa-
mente. Nesses pontos, a atividade do DNA na produção de RNA é maior.
Os puffs, portanto, são considerados sítios de intensa síntese de RNA, a sua forma-
ção é um fenômeno cíclico e reversível e, logo, eles podem aparecer, crescer e desa-
parecer. Esta informação pode ser verificada experimentalmente, utilizando-se fatores
que induzem sua formação. Dentre estes fatores, destacamos o hormônio esteroide
ecdisona, que induz a metamorfose em insetos. Outra forma de indução de puffs é o
choque térmico, ou seja, quando larvas de Drosophila cultivadas a 25ºC são expostas
a temperaturas de 37ºC. Após o choque térmico, podem ser vistos diversos novos puffs
nos cromossomos gigantes das glândulas salivares.
Com a introdução das técnicas de hibridização do DNA, foi possível mapear seg-
mentos específicos do DNA mediante a hibridização in situ. Eles são adequados aos
experimentos de hibridização in situ, pois suas 1.000 moléculas de DNA estão alinha-
das lado a lado, aumentando a possibilidade de detecção de um único gene.

CROMOSSOMO PLUMOSO
Os cromossomos plumosos foram descobertos em 1881 por Fleming, que obser-
vou ovócitos do anfíbio Siredon. Eles se formam na prófase da meiose, mais propria-
mente no diplóteno e estão presentes nos ovócitos de todas as espécies animais. Eles
são mais bem visualizados em organismos como os répteis (salamandras), anfíbios
(sapos), peixes e aves, por possuírem uma grande quantidade de DNA e serem cro-
mossomos grandes. São chamados de plumosos, pois apresentam muitas alças laterais

147
Biologia de DNA, responsáveis pelo seu aspecto característico que lembra as escovas de tubos
celular
de vidro (lampbrush).

Visto que são encontrados na prófase meiótica, eles se apresentam como bivalen-
tes, nos quais os cromossomos, materno e paterno, estão ligados por quiasmas nos
locais onde ocorreu o crossing-over. Cada bivalente tem quatro cromátides, duas de
cada homólogo. O eixo desse cromossomo apresenta uma fileira de grânulos ou cro-
mômeros, regiões onde o DNA se encontra altamente espiralizado e não apresenta
transcrição. Cada cromômero possui duas alças laterais (uma para cada cromátide),
nas quais o DNA se apresenta estendido como resultado da intensa síntese de RNA.
Em cada alça, observa-se um eixo formado por uma única molécula de DNA, re-
coberta por uma matriz de RNA em formação, com proteínas a ele ligadas. A matriz é
assimétrica e mais espessa em uma das extremidades da alça. A síntese do RNA se inicia
na porção mais fina, progredindo em direção a mais espessa, o que pode ser visto em
preparados submetidos à microscopia eletrônica.
Os cromossomos plumosos constituem excelente material para a hibridização de
segmentos de DNA, clonado com o RNA, presente nas alças laterais. Isto só é possível
porque as inúmeras moléculas de RNA em formação, alinhadas ao longo da alça, am-
plificam consideravelmente o sinal.
O diplóteno da prófase meiótica em ovócito de salamandra dura aproximadamen-
te 200 dias. Este período é de grande atividade de síntese, durante o qual um único
núcleo produz todo o RNA necessário para a formação de uma célula-ovo de mais de
1mm de diâmetro.

148
Cromossomos
politênicos e plumosos

Existem evidências de que alguns dos RNAm sintetizados nesses cromossomos são
armazenados no citoplasma durante a ovogênese e, posteriormente, utilizados no de-
correr do desenvolvimento embrionário.

Proposta de Atividades

1) Prática com microscópio – preparo de cromossomo politênico de Drosophila sp.


Executemos, agora, um experimento para conhecer melhor os cromossomos politênicos.
Use o seguinte material: dois estiletes finos, lamina, lamínula, solução fisiológica, corante
orceína-acética 50%, ácido lático 50%, papel filtro e tubos ou garrafas contendo larvas de
Drosophila.

149
Biologia Procedimento
celular
• T ransfira uma larva para a lamina de vidro que contenha solução fisiológica. Disseque a
larva com a ajuda dos dois estiletes e retire a glândula salivar intacta. Elimine a gordura
que fica ao redor da glândula salivar. Transfira para uma lamina limpa contendo uma
gota de orceína lacto-acética e deixe agir por 5 minutos. Em seguida, deposite a lamí-
nula e efetue o esmagamento. Vede com esmalte incolor.
• Leve ao microscópio e observe com diferentes objetivas.
• Desenhe o observado e destaque bandas e interbandas, puffs e nucléolos, se houver.
Com auxílio de uma câmara digital, você pode fotografar o material.

Conheça mais detalhes da morfologia interna de uma larva de Drosophila.

2) Questões
Ao terminar a parte prática, procure conceituar:
a) Bandas
b) Interbandas
c) Puffs
d) Cromômeros.

Agora que você conhece os cromossomos gigantes, então:

3) Cite quais são os cromossomos classificados como gigantes.

4) Monte um desenho esquemático e destaque as principais diferenças entre cromossomos


politênicos e plumosos.

5) Qual o corante que você utilizou quando preparou a lamina de cromossomo politênico
que continha a glândula salivar da Drosophila?

150
19 Núcleo interfásico:
replicação do dna

João Alencar Pamphile

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Você deverá:
• entender o mecanismo de replicação do DNA;
• conhecer as principais enzimas que participam do processo de replicação do
DNA.

INTRODUÇÃO
No capítulo 5, tivemos a oportunidade de estudar alguns aspectos estruturais do
DNA. O modelo apresentado foi o proposto por Watson e Crick, no qual o DNA B é
constituído por duas cadeias polinucleotídicas, dispostas como uma hélice com giro
para a direita. Na dupla hélice, os filamentos são antiparalelos e complementares. Em
um dos filamentos, a cadeia se inicia por um nucleotídeo com um grupamento fosfato
livre, ou extremidade 5’ (lê-se “5 linha”), enquanto a outra extremidade possui um
nucleotídeo com um grupamento hidroxila livre, denominada extremidade 3’ (lê-se “3
linha”). Logo, a orientação da cadeia é 5’→3’. A cadeia complementar irá possuir uma
orientação inversa, ou seja, 3’→5’.
Neste capítulo, veremos que o modelo de duplicação proposto por Watson e Crick,
o modelo semiconservativo, mostra de que forma uma molécula de DNA origina duas
outras idênticas à primeira. Cada filamento da molécula original serve de molde para
uma nova molécula de DNA.

ASPECTOS GERAIS DA REPLICAÇÃO: OS REPLICONS


A integridade da estrutura do DNA é de vital importância para a célula e deve ocor-
rer com alta fidelidade e dentro de um período determinado no ciclo celular. Dois
princípios gerais podem ser empregados com o objetivo de se comparar o estado de
replicação em relação ao ciclo celular: Primeiro, o início da replicação é fator determi-
nante para uma futura divisão celular; a replicação iniciada terá continuidade até que
todo o genoma da célula seja duplicado. Segundo, uma vez que a replicação tenha

151
Biologia prosseguimento, a divisão celular somente ocorrerá após finalização da primeira. Os
celular
genomas duplicados são segregados para as células-filhas.
As unidades individuais de replicação são denominadas replicons e cada unidade
possui uma origem de replicação. Nas bactérias, os cromossomos possuem uma única
origem de replicação, enquanto nos eucariotos existem várias origens de replicação.
Os replicons podem então ser delimitados pela origem, onde a replicação é iniciada,
e pela terminação, onde é finalizada. As origens de replicação são regiões ricas em
nucleotídeos Adenina–Timina. Nas células eucarióticas, a replicação do DNA ocorre
na fase S do ciclo celular (Figura 1).

Figura 1 - Ciclo celular com destaque para a fase de síntese e replicação do DNA.

O mecanismo geral de replicação do DNA é equivalente tanto em procariotos,


quanto em eucariotos. Ele difere, entretanto, no que tange a algumas enzimas partici-
pantes do processo e no tipo de replicons, se são circulares (procariotos) ou lineares
(eucariotos). Na figura 2, podemos observar a formação de duas cadeias novas de DNA
a partir dos filamentos moldes. Na figura 3, estão representados exemplos de replicon
de DNA circular (procariotos) e DNA linear (eucariotos).

152
CONCEITOS IMPORTANTES Núcleo interfásico:
replicação do dna
1) Um olho de replicação corresponde a uma região replicada no interior de um
DNA não replicado.
2) A região do DNA desespiralizada (onde as fitas são separadas, desenoveladas)
resulta na formação de um olho de replicação.
3) Uma forquilha de replicação é o local onde ocorre uma replicação, inicia-se na
origem e move-se sequencialmente ao longo do DNA.
4) Dependendo do número de forquilhas na origem de replicação, esta pode ser
unidirecional (uma forquilha na origem) ou bidirecional (duas forquilhas de
replicação são formadas na origem e se movimentam em direções opostas).

Figura 2 - Síntese de duas moléculas novas de DNA a partir de uma molécula molde.
Observe que os filamentos recém-sintetizados são complementares aos filamentos moldes.

153
Biologia
celular

Figura 3 - Esquemas de replicons de DNA circular (bactéria) e DNA linear (eucariotos).

A síntese de DNA requer um molde, que consiste de DNA unifilamentar (ou seja,
um dos filamentos de uma dupla hélice após ser desespiralizada), trifosfatos de de-
soxirribonucleotídeos (dNTPs: dATP, dGTP, dCTP e dTTP), enzimas e proteínas. Na
síntese de DNA, cada nucleotídeo novo é adicionado à cadeia nascente em sua extre-
midade 3’.
As enzimas responsáveis pela polimerização do DNA, as DNA polimerases, somente
adicionam nucleotídeos à extremidade 3’ de um filamento crescente e não à ponta 5’.
Os novos filamentos de DNA crescem e alongam-se em um mesmo sentido, da extre-
midade 5’ para a 3’. A ligação entre nucleotídeos, como já foi dito no capítulo sobre
a estrutura de DNA, é do tipo fosfodiéster e é resultante de uma reação entre dNTPs
ricos em energia, com a liberação de pirofosfato inorgânico (P2O6-3) e água.
A replicação do DNA ocorre simultaneamente, mas em sentidos opostos nos dois
filamentos moldes de DNA (Figura 4). Como os dois filamentos possuem orientação

154
inversa, à medida que o DNA se deselicoidiza, o filamento molde que apresenta dire- Núcleo interfásico:
replicação do dna
ção 3’→5’, resultará na síntese de um filamento novo, cujo sentido 5’→3’ é a favor
da direção de síntese da DNA polimerase, na direção da forquilha de replicação. Este
filamento constitui o filamento leading, ou de replicação contínua ou, ainda, fila-
mento líder, em que os nucleotídeos de DNA são adicionados continuamente até o
término da replicação.
No entanto, quando o DNA deselicoidizado expõe o filamento molde na direção
5’→3’, o filamento novo apresentará um sentido 3’→5’, contra a direção de síntese
da DNA polimerase, resultando em uma replicação descontínua com formação do
chamado filamento lagging (tardio). Nesse caso, a maquinaria de replicação reinicia
a síntese de DNA a cada deselicoidização do DNA, produzindo fragmentos curtos de
DNA, os fragmentos de Okazaki.

CONCEITO IMPORTANTE
Os fragmentos de Okazaki, curtos trechos de DNA formados durante a replica-
ção descontínua, foram originalmente descobertos por Reiji Okazaki. Nas bactérias,
esses fragmentos variam de 1.000 a 2.000 nucleotídeos de tamanho, enquanto nas
células dos eucariotos de 100 a 200 nucleotídeos.

Figura 4 - Replicação do DNA, formação da forquilha de replicação com a deselicoidização do DNA


pela DNA helicase, indicando direções inversas dos filamentos contínuos e descontínuos.

O REPLICON BACTERIANO
Nesta etapa, enfocaremos a replicação do DNA bacteriano, cujo processo está bem
esclarecido. A replicação pode ser dividida em quatro estágios: iniciação, deselicoidi-
zação, alongamento e término.

155
Biologia 1) Iniciação. A bactéria Escherichia coli possui um cromossomo circular. O DNA
celular
genômico desse procarioto possui somente uma origem de replicação, a região oriC
com 245 pb. Existem proteínas iniciadoras que se ligam à região oriC e fazem com que
uma pequena região do DNA se desenrole.
2) Deselicoidização. Para que ocorra a duplicação, é necessário que as fitas sepa-
rem-se formando moldes unifilamentares. Nesse processo atuam as enzimas helicases
de DNA. A separação das fitas, contudo, cria um estresse topológico na estrutura heli-
coidal do DNA, que é aliviado pelas topoisomerases (DNA girases). As fitas separadas
são estabilizadas pelas proteínas de ligação ao DNA (SSB), que impedem que elas
se religuem.
As DNA polimerases necessitam de um nucleotídeo com um grupo 3’-OH livre para
realizarem a ligação com outro nucleotídeo (ligação fosfodiéster). Os primers (inicia-
dores) fornecem esse grupo 3’-OH. Portanto, eles devem estar presentes antes que a
DNA polimerase possa sintetizar DNA. Esses iniciadores são fragmentos curtos de RNA
(10 a 12 nucleotídeos) sintetizados pela primase.
No filamento líder de replicação contínua será necessária a síntese de somente um
primer na ponta 5’ do filamento recém-sintetizado, enquanto no filamento descontí-
nuo serão gerados novos primers no início de cada fragmento de Okasaki.

TIPOS DE DNA POLIMERASE BACTERIANA


• DNA polimerase I: remove e substitui os primers.
• DNA polimerase II: atua no reparo do DNA. Reinicia a replicação após o DNA
danificado resultar na interrupção da síntese.
• DNA polimerase III: principal enzima da duplicação. Ela adiciona nucleotídeos,
ou seja, participa da fase de alongamento da replicação.
• DNA polimerase IV e V: atuam nos processos de reparo do DNA.
3) Alongamento. Consiste de duas operações: síntese da fita líder (contínua) e
síntese da fita tardia (descontínua).
Síntese do filamento líder (leading). Após a síntese de um iniciador curto de RNA
ou primer na origem de replicação, os desoxirribonucleotídeos são adicionados a este
iniciador pela DNA polimerase III e, então, a síntese prossegue continuamente.
Síntese do filamento de replicação descontínua/tardia. Ela é realizada em frag-
mentos curtos (Okazaki), sintetizados na direção oposta ao movimento da forquilha.
Isso envolve várias enzimas além da DNA polimerase III. Cada fragmento deve ter o seu
RNA iniciador próprio, sintetizado pela primase, e o posicionamento dos iniciadores
deve ser controlado e coordenado com o movimento de forquilha. Os iniciadores de
RNA são removidos e substituídos por DNA, pela DNA polimerase I e os cortes são
ligados pela DNA ligase.

156
4) Terminação. Ocorre quando as duas forquilhas de replicação se encontram em Núcleo interfásico:
replicação do dna
uma determinada região.

MODELO DE DUPLICAÇÃO DESCONTÍNUA


Modelo proposto para a síntese concomitante das fitas leading e lagging durante a
replicação do DNA (Figura 5), com a participação das várias enzimas e complexos pro-
teicos (polimerases, exonucleases, helicases e complexos acessórios) que constituem
o replissomo. Neste modelo, há a formação de uma alça no filamento descontínuo, o
que permite que os dois filamentos de polaridades inversas do DNA possam ser repli-
cados simultaneamente.

Figura 5 - O replicon bacteriano.

157
Biologia
celular

Proposta de Atividades

1) O que é primer e qual o seu papel no processo de replicação do DNA?


2) Por que em um dos filamentos do DNA a replicação é descontínua?
3) Descreva resumidamente o processo de replicação descontínua.

Anotações

158
20 Núcleo interfásico:
transcrição do dna

João Alencar Pamphile

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Você deverá entender:
• O mecanismo de transcrição do DNA.

INTRODUÇÃO
No capítulo anterior, estudamos o processo de replicação do DNA, isto é, como
uma molécula de DNA dá origem a duas outras, onde cada filamento da molécula
original serve de molde para a síntese de um filamento novo. Aprendemos que em
função dos dois filamentos de uma molécula de DNA possuírem direções inversas, em
um filamento nascente teremos uma replicação contínua e no outro, uma replicação
descontínua. Neste capítulo, veremos de que forma uma molécula de DNA pode ser
transcrita em uma molécula de RNA. E, ainda, que somente um filamento de DNA, em
uma dada região, serve de molde para a síntese de um RNA.

ASPECTOS GERAIS DA TRANSCRIÇÃO


A transcrição é similar ao processo de duplicação. Ela é assimétrica; somente uma
das fitas de DNA serve como molde (Figura 1).

Figura 1 - Os filamentos opostos de DNA podem servir como


molde para a síntese de RNA de genes diferentes.

Filamento sense X filamento antissense (Figura 2).


Por convenção, quando se escreve uma sequência de nucleotídeos correspondente
a um gene, sempre é representado o filamento codificador. Também, por convenção,

159
Biologia a sequência é sempre escrita no sentido 5’→3’. Em alguns sistemas o filamento molde
celular
é identificado como filamento menos (-) e o codificador como filamento mais (+).

Sentido da transcrição

Figura 2 - Representação esquemática dos filamentos e antissense.

A enzima responsável pela síntese de RNA é a RNA polimerase. Nos procariotos, esta
enzima é composta por cinco subunidades: ααββ´σ. No cerne da enzima, existem
duas cópias de subunidade α, uma cópia de β e uma única de β´. A enzima catalisa o
alongamento da molécula de RNA pela adição de nucleotídeos de RNA. A subunidade
σ, ou fator sigma, controla a ligação da RNA polimerase ao promotor.
A subunidade σ da RNA polimerase possui papel fundamental no reconhecimento
do gene a ser transcrito. Sem ela, a transcrição ocorreria aleatoriamente em qualquer
ponto do DNA.
Após ligação da holoenzima (ααββ´σ) de forma estável à região do promotor do
gene, dá-se início à transcrição. Após a adição de alguns nucleotídeos de RNA, o fator
sigma separa-se do cerne da enzima. O fator sigma participa somente desta fase inicial
da transcrição.

A UNIDADE DE TRANSCRIÇÃO

Figura 3 - Unidade de transcrição.

160
A unidade de transcrição (Figura 3), ou seja, a região do DNA que será transcrita, Núcleo interfásico:
transcrição do dna
corresponde a um gene. Na região anterior ao gene (região upstream, região antece-
dente ou região montante do gene) temos a região do promotor ou simplesmente,
promotor. Essa é a região onde a RNA polimerase se liga para o início da transcrição.
No final da unidade transcrição, temos o finalizador, local de término da síntese de
RNA (transcrição).

TRANSCRIÇÃO
Didaticamente, a transcrição pode ser dividida em três fases: iniciação, alongamen-
to e término da transcrição.
Iniciação (Figura 4). Nesta fase ocorre:
1) Ligação da holoenzima ao DNA na região do promotor (complexo fechado).
2) Desespiralização do DNA (bolha), produzindo um molde unifilamentar (com-
plexo aberto);
3) O complexo de iniciação é formado com a síntese de poucos ribonucleotídeos,
sem a necessidade de um primer na ponta 5´ da molécula de RNA.

Figura 4 - Etapas principais da fase de iniciação. As regiões -35 e -10 são regiões do promotor,
importantes para a fase de ligação da RNA polimerase à região promotora. A numeração (-35 e -10)
possui o sinal negativo, pois representa a posição das bases na região antecedente do gene, isto é,
posição dos nucleotídeos antes do primeiro nucleotídeo (+1).

Alongamento (Figura 5)
Após a iniciação da transcrição, a RNA polimerase se move downstream ao longo
do molde, ou seja, na região após o ponto de início da síntese. Deselicoidiza progres-
sivamente o DNA na margem da bolha de transcrição, adiciona ribonucleotídeos à
molécula de RNA, complementares àqueles presentes na sequência molde e reenrola
o DNA na margem antecedente (upstream) da bolha de transcrição.
O processo de alongamento só termina quando a RNA polimerase encontra um
sinal de terminação, que é também, uma sequência específica de nucleotídeos na mo-
lécula de DNA.

161
Biologia Término da transcrição (Figura 5)
celular
Após a síntese dos finalizadores, a transcrição termina. Esses finalizadores ocorrem,
em geral, antes do ponto de término da transcrição. Nesse caso, a RNA polimerase
interrompe a síntese de RNA, e a molécula de RNA é liberada da RNA polimerase com a
separação total do RNA da molécula de DNA. A RNA polimerase separa-se do filamento
molde de DNA. Os sinais de terminação são variados e o processo de terminação de-
pende da formação de estruturas secundárias, em forma de grampo, na molécula de
RNA nascente e/ou da participação de proteínas auxiliares. Há dois tipos de finalizado-
res em Escherichia coli: rô-dependente e rô-independente.

Figura 5 - Fases de alongamento e término da transcrição.

Quadro comparativo dos tipos de terminação da síntese de RNA.


Terminação rô-independente Terminação rô-dependente
Neste caso, a terminação da cadeia cabe to- Neste caso, a terminação da cadeia de-
talmente à RNA polimerase, e não depende pende de proteínas auxiliares (proteínas
de proteínas auxiliares. rô).
Existem sequências repetidas invertidas ri- As sequências são ricas em C e pobres
cas em GC, na molécula de DNA. Formando em G. Essa é uma região de baixa com-
sequências repetidas invertidas (autocomple- plementariedade. Em geral, não são for-
mentares). mados grampos ou esses são “fracos”.
Existe uma série de seis ou mais As no fila- Não existe uma série de seis ou mais As
mento molde, após a região rica em GC. Es- no filamento molde, após a região rica em
sas serão transcritas em Us no terminal 3' do GC. Não existe, portanto, a fileira de uni-
filamento de RNA. dades U na ponta 3´ do RNA.
A presença de sequências repetidas inverti- A pausa da RNA polimerase após a for-
das (autocomplementares) permite a forma- mação do grampo fraco permite que a
ção de estruturas em grampo ou haste-alça proteína rô alcance a enzima, aprisione-a
(hairpin, stem-loop) via emparelhamento dos e desenovele o híbrido DNA/RNA.
segmentos complementares, para a síntese
do RNA, e gera a liberação do RNA da po-
limerase e da enzima polimerase do molde.

162
Como ocorre a transcrição em células eucarióticas? Núcleo interfásico:
transcrição do dna
No caso dos eucariotos, para o início da transcrição, há a necessidade da montagem
de muitas proteínas em um promotor antes que a RNA polimerase inicie a síntese do
RNA. Essas proteínas são chamadas de fatores gerais de transcrição (GTF). O alonga-
mento ocorre dentro da bolha de transcrição, como nos procariotos. Após o término
do RNA, que é denominado transcrito primário, ele sofre várias modificações, ou seja,
processamento pós-transcricional. Essas alterações do RNA de eucariotos serão discu-
tidas no conteúdo de Genética Geral e Humana.

As RNAs polimerases de eucariotos


Os eucariotos possuem três tipos de RNA polimerase, e cada uma transcreve um
tipo diferente de RNA.
RNA polimerase I, que transcreve o rRNA (RNA ribossomal).
RNA polimerase II, que transcreve pré-mRNAs (RNAs pré- mensageiro), snoRNA
(RNA pequeno nucleolar) e alguns snRNAs (RNAs pequenos nucleares).
RNA polimerase III, que transcreve pequenas moléculas de RNA: tRNAs (RNAs
transportador), pequeno rRNA e alguns snRNA.

Proposta de Atividades

1) Qual o papel do fator sigma na transcrição?


2) Qual é a estrutura da RNA polimerase bacteriana?
3) Descreva as fases da transcrição em procariotos.
4) Qual a diferença do início da transcrição em procariotos e em eucariotos?

Anotações

163
Biologia
celular

Anotações

164
21 Síntese proteica:
tradução do rna

João Alencar Pamphile

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Você deverá entender:
• O mecanismo de tradução do mRNA.

INTRODUÇÃO
No capítulo anterior, estudamos o processo de transcrição do DNA em uma mo-
lécula unifilamentar de mRNA (RNA mensageiro) e o papel da RNA polimerase na
síntese de RNA. Neste capítulo, veremos de que forma a informação genética contida
no mRNA é traduzida em um polipeptídeo.

ASPECTOS GERAIS DA TRADUÇÃO


A tradução é o processo no qual a sequência nucleotídica do mRNA é usada como
molde para ligar os aminoácidos em uma cadeia polipeptídica. A ligação entre os
aminoácidos é denominada ligação peptídica. A cadeia dos peptídeos (aminoácidos)
constitui um polipeptídeo (Figura 1). Um polipeptídeo pode ser uma proteína ou a
subunidade de uma proteína mais complexa. A informação contida no mRNA está
codificada em um código formado por quatro letras, por quatro nucleotídeos (A, T,
G, C). Uma trinca de nucleotídeos (ou códon) do mRNA codifica um aminoácido na
cadeia polipeptídica. Um polipeptídeo pode ser formado por até 20 aminoácidos di-
ferentes. O tRNA é o adaptador molecular da tradução. Esta molécula, em forma de
trevo, leva o aminoácido ao local de síntese. O tRNA possui o anticódon, uma trinca de
nucleotídeos, complementar ao códon do mRNA.

165
Biologia
celular

Figura 1 - Formação de um polipeptídeo. Ligação peptídica entre aminoácidos.

O local da tradução do mRNA são os ribossomos (Figura 2, Tabela 1). Estes são
constituídos por duas subunidades: uma maior e outra menor. As subunidades são
formadas por RNA e proteínas.

Figura 2 - Subunidades do ribossomo e sítios de ligação.

Existem sítios-chave de interação nos ribossomos (Figura 2). O sítio de interação ao


mRNA se encontra completamente dentro da subunidade menor do ribossomo. Con-
siderando-se a ligação do tRNA ao ribossomo, existem três sítios de ligação: os sítios
E (de saída, exit), P (peptidil) e A (aminoacil). O sítio A liga um aminoacil-tRNA que

166
possui um anticódon complementar ao códon presente no mRNA na subunidade me- Síntese proteica:
tradução do rna
nor do ribossomo. O sítio P é o local de entrada do tRNA iniciador e dos demais tRNAs,
após passarem pelo sítio A. O sítio E é o local do tRNA sem aminoácido (desacilado)
que será liberado do ribossomo. Na subunidade maior do ribossomo, encontra-se o
centro peptidil transferase, onde a formação peptídica é catalisada.

Tabela 1 - As subunidades ribossômicas. Proteína e moléculas


de RNA que compõem as duas subunidades de um ribossomo.

Célula procariótica (ribossomo 70S) Célula eucariótica (ribossomo 80S)

Subunidades ribossômicas Subunidades ribossômicas


50S + 30S 60S + 40S

23S rRNA + 5S rRNA + 31 proteínas = 50S 28S rRNA + 5,8S rRNA + 5S rRNA + 49
proteínas = 60S

16S rRNA + 21 proteínas = 30S 18S rRNA + 33 proteínas = 40S

ETAPAS DA TRADUÇÃO
1. Iniciação
Em Escherichia coli, o sítio de iniciação da síntese proteica, na molécula de mRNA,
é identificado pela interação do terminal 3´ do rRNA 16S, da subunidade pequena,
com o terminal 5´ da molécula de mRNA a ser traduzida. Uma sequência de nucleotí-
deos na extremidade 5´ do mRNA, que precede o códon de início da tradução (AUG),
denominada de sequência Shine-Dalgarno (a dupla de pesquisadores que a identifi-
cou), é parcialmente complementar a uma sequência presente na extremidade 3´ do
rRNA 16S (Figura 3A). Nas células eucarióticas, a ligação da subunidade menor se dá
com proteínas do cap da extremidade 5´ do mRNA. O tRNA iniciador, em uma célula
procariótica, carrega uma metionina modificada, formilada (fMet–tRNA). Nas células
eucarióticas, a primeira metionina não é formilada (Figura 3).
A ligação da subunidade menor do ribossomo ao mRNA, a ligação do tRNA inicia-
dor (Figura 3B), mais diferentes proteínas, forma o complexo de iniciação 30S (em
bactérias) ou 40S (em eucariotos). A etapa seguinte da iniciação é a ligação da subu-
nidade maior do ribossomo ao complexo de iniciação 30S, formando o complexo de
iniciação 70S (em bactérias) ou 80S (em eucariotos) (Figura 4).
Em Escherichia coli, ocorre a participação dos chamados fatores de iniciação. O
fator de iniciação 3 (IF-3) se liga à subunidade menor do ribossomo, impedindo a liga-
ção da subunidade maior do ribossomo. O fator de iniciação 2 (IF-2) forma um com-
plexo com GTP e o tRNA carregado com uma N-formilmetionina, ligando este tRNA à
subunidade menor do ribossomo, posicionando no sítio P. O fator de iniciação 1 (IF-1)

167
Biologia aumenta a dissociação das subunidades, maior e menor, do ribossomo. Quando esses
celular
fatores de iniciação são liberados, a subunidade maior do ribossomo se liga para criar
o complexo de iniciação 70S.

Figura 3 - Iniciação da tradução. A. Ligação em bactérias na sequência de Shine-Dalgarno.


B. Ligação da subunidade menor do ribossomo ao mRNA e ligação do tRNA
iniciador, formando o complexo de iniciação.

Figura 4 - Iniciação da tradução. Ligação da subunidade maior do ribossomo ao complexo


de iniciação (30S - bactérias ou 40S - eucariotos), formando o complexo de
iniciação 70S (bactérias) ou 80S (eucariotos).

168
Ligação dos aminoácidos aos RNAs transportadores (tRNA): Aminoacilação Síntese proteica:
tradução do rna
A aminoacilação é uma reação muito importante, pois estabelece fiel correspondên-
cia entre um aminoácido e seu tRNA (anticódon), garantindo a entrada correta desse
aminoácido na cadeia polipeptídica em relação ao códon da cadeia de mRNA. Essa rea-
ção possui dois estágios e é catalisada pela aminoacil tRNA sintase. Uma célula possui
uma aminoacil tRNA sintase para cada aminoácido. Por isso, são 20 enzimas diferentes.
A enzima para determinado aminoácido reconhece todos os tRNAs que reconhecem os
códons para esse aminoácido. A enzima ativa o grupo carboxil do aminoácido para a
ligação covalente com o tRNA (ligação à adenina da trinca CCA da extremidade 3´do
tRNA). No primeiro estágio, o aminoácido reage com o ATP produzindo aminoacil–AMP
e PPi (pirofosfato). A enzima sintase permanece associada ao aminoacil–AMP até o apa-
recimento do tRNA correspondente. No segundo estágio, a sintase catalisa a transferên-
cia do aminoácido ativado para o tRNA com a liberação de AMP.

2. Alongamento
A fase de alongamento da tradução (Figura 5) consiste na adição dos aminoácidos
na cadeia polipeptídica, ou seja, ocorre o crescimento gradual da cadeia polipeptídica.
No início do alongamento, o sítio P (peptidil) está preenchido com o tRNA iniciador.
A seguir, ocorre a entrada de um aminoacil-tRNA no sítio A (aminoacil), pareando com
o códon exposto no sítio A (primeira etapa do alongamento). Na sequência, ocorre a
ligação peptídica do aminoácido presente no sítio P, com o aminoácido presente no
sítio A (segunda etapa do alongamento). Como resultado dessa ligação peptídica, o
aminoácido do sítio P é liberado e permanece ligado ao aminoácido do sítio A. Essa
reação é catalisada pela enzima peptidil transferase. A terceira etapa do alongamento,
de um ciclo que se repete, é constituída pela translocação do ribossomo, ou seja, o
deslocamento do ribossomo ao longo do mRNA no sentido 5’→3’. Esta etapa posicio-
na o ribossomo no códon seguinte. O tRNA que estava posicionado no sítio P, passa a
ocupar o sítio E, enquanto que o tRNA que ocupava o sítio A, passa a ocupar o sítio P,
deixando o sítio A livre para a entrada do próximo tRNA carregado com aminoácido
(aminoacil–tRNA). O tRNA que entra no sítio, move-se para o citoplasma onde pode
ser recarregado com outro aminoácido.
A fase de alongamento da tradução também tem a participação de diferentes proteí-
nas, os chamados fatores de alongamento. Em Escherichia coli, são três: Tu (EF-Tu),
Ts (EF-Ts) e G (EF-G). Em resumo, temos:
1º. O EF-Tu se liga ao GTP e então se liga a um tRNA carregado com aminoácido.
O EF-Tu-GTP insere o aminoacil tRNA no sítio A do ribossomo e é liberado como EF-
Tu-GDP.

169
Biologia 2º. O EF-Ts é requerido para mediar a regeneração do EF-Tu-GDP por EF-Tu-GTP.
celular
3º. O EF-G está envolvido no processo de translocação. Na etapa da translocação,
temos a hidrólise de GTP em GDP.

Figura 5 - Alongamento da tradução.

3. Terminação
A última etapa da síntese proteica (Figura 6) ocorre quando o ribossomo se desloca
ao longo do mRNA, alcançando um códon de término da síntese proteica (UAA, UAG
ou UGA). Neste caso, não há a entrada de um tRNA carregado, mas sim uma proteína
(fator de liberação) que promove a liberação da proteína do ribossomo e a conse-
quente dissociação do ribossomo. Também requer sinais moleculares específicos que
determinam o fim do complexo mRNA-ribossomo tRNA-peptidil.

170
Duas classes de proteínas (Fatores de liberação) atuam neste processo: RF1 e RF2, Síntese proteica:
tradução do rna
que apresentam similaridade em tamanho e forma a um tRNA e atuam via ligação ao
sítio A do ribossomo reconhecendo diretamente um códon de terminação.
RF1 reconhece os códons UAA e UAG.
RF2 reconhece os códons UGA e UAA.
RF3 é uma proteína de ligação ao GTP que, em associação à RF1 e RF2, promove a
clivagem do peptidil-tRNA, liberando a proteína.

Figura 6 - Terminação da tradução.

171
Biologia
celular

Proposta de Atividades

1) Descreva o início da tradução.


2) Descreva a fase de alongamento da tradução.
3) Descreva o final da tradução.

Anotações

172
22 Ciclo celular:
Mitose

Veronica Elisa Pimenta Vicentini

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Você deverá entender:
• as etapas pré-divisão e divisão, bem como a estrutura dos constituintes celula-
res durante a mitose;
• as diferenças entre a citocinese de uma célula animal e de uma vegetal durante
o processo de mitose.

MITOSE
Neste capítulo, estudaremos as características funcionais e estruturais do processo
de divisão celular: a mitose.

CICLO CELULAR
Constitui o processo básico da gênese de novas células, pelo qual as células se
dividem, produzindo cada uma, duas células idênticas.
Este processo tem a finalidade de repor as células mortas no organismo ou aumen-
tar o seu número no crescimento.

173
Biologia A interfase e a divisão celular correspondem a duas grandes etapas do ciclo, e po-
celular
dem ser definidas de acordo com seus principais eventos: a duplicação do conteúdo
celular e o número de células.

INTERFASE
Esta etapa se divide em três fases:
Período G1: duração mais variável. Período em que permanecem as células que
cessam, temporariamente ou definitivamente, de proliferar. Há intensa síntese de RNA
e de proteínas, e refaz-se o citoplasma das células-filhas recém-formadas. É o intervalo
pós-divisão e pré-sintético.
Período G0: tempo considerado quando a célula se diferenciou, não mais se divi-
dirá, porém continuará executando normalmente seu metabolismo.

Período S: ocorre a duplicação do DNA.


Período G2: ocorrem os preparativos para a próxima divisão. Há discreta síntese
de RNA e de proteínas. É o período pós-sintético e pré-divisão.

MITOSE
Divisão equacional do material nuclear e citocinese. Não há duplicação do DNA.
Ocorre baixa atividade bioquímica e depressão da síntese de macromoléculas.

PRÓFASE

174
Condensação da cromatina interfásica até estruturas filamentosas, enoveladas. Os Ciclo celular:
Mitose
cromossomos aparecem divididos longitudinalmente (cromátides-irmãs). Formam-se
os ásteres ao redor do par de centríolos, já duplicados durante a fase S da interfase. De-
pois, ocorre a migração de um par de centríolos para cada polo da célula e a formação
de um feixe de microtúbulos que os une e forma o fuso mitótico. Há desorganização
total do nucléolo e fragmentação do envoltório nuclear.

METÁFASE

Os cromossomos estão no seu grau máximo de condensação, individualizados, e


formados por duas cromátides. Ocorre a conexão do cinetócoro, da região centromé-
rica, com as fibras do fuso, constituindo o aparelho mitótico. Por causa da atividade
dos sistemas microtubulares, os cromossomos se dispõem em uma placa equatorial
(placa metafásica).

ANÁFASE

Cromossomos-filhos

As cromátides-irmãs separam-se com a divisão do centrômero e com a migração


dos cromossomos-filhos para os polos opostos, por causa da interação de seu centrô-
mero com os microtúbulos que nele se inserem.

175
Biologia TELÓFASE
celular
Os dois grupos de cromossomos-filhos sofrem regressão para um estado interfásico
mais estendido. Há união das massas cromatínicas, circundadas por cisternas do retí-
culo endoplasmático rugoso, que se fundem para formar a nova membrana nuclear.
Volta a formar-se o nucléolo, pela interação das regiões organizadoras do nucléolo de
certos cromossomos. O sistema microtubular mitótico se desmonta. Reinicia a síntese
de RNA e de proteína. Ocorre a citocinese ou divisão citoplasmática.

CÉLULA ANIMAL
Forma-se uma constrição ao nível da região equatorial entre as células-filhas. Esta
constrição progride até o estrangulamento do citoplasma com distribuição aproxima-
damente igual de todos os seus componentes.

CÉLULA VEGETAL
Há formação de um tabique ao longo do equador entre as células, resultante da
fusão de vesículas provenientes do complexo de Golgi, constituindo o fragmoplasto,
responsável pela formação da placa celular.
A membrana das vesículas formará a nova membrana plasmática dessa região. O
conteúdo do complexo de Golgi formará a nova membrana esquelética, ou parede

176
celular, com acúmulo de material celulósico. Permanecem finas trabéculas/pontes de Ciclo celular:
mitose
citoplasma entre as células-filhas, constituindo os plasmodesmos.

Nas células dos vegetais superiores, sem centríolos, os aspectos morfológicos na


ocasião da mitose são um pouco diferentes. É a divisão anastral (sem ásteres).

Células de Allium cepa em processo de mitose. Fotos em microscópio de luz


(400X). A: Interfase. B: Prófase. C: Metáfase. D: Anáfase. E: Telófase.

Proposta de Atividades

1) Monte uma tabela e cite as principais características que identificam cada fase pré-divisão e
divisão mitótica.
2) Descreva as diferenças entre a citocinese de uma célula animal e de uma vegetal durante o
processo de mitose.

Anotações

177
Biologia
celular

Anotações

178
23 Meiose

Ana Luiza de Brito Portela Castro

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Você deverá:
• caracterizar cada fase da meiose;
• compreender as transformações das células durante as fases da meiose;
• conhecer o comportamento dos cromossomos durante a meiose e suas impli-
cações genéticas;
• compreender a origem das doenças cromossômicas com base no conhecimento
da meiose.

MEIOSE
Em organismos que se reproduzem sexuadamente, as células germinativas que ori-
ginam os ovócitos e espermatozoides surgem a partir de um tipo especial de divisão
celular denominada meiose. Este processo ocorre em duas etapas: meiose I e meiose
II, resultando em células denominadas germinativas (ou gametas) e que são haplóides
(n) por causa da redução à metade do número de cromossomos da célula-mãe.
Lembramos que na divisão celular comum, ou seja, por meio do processo de mi-
tose, uma célula-mãe realiza a duplicação do seu DNA durante a interfase. Após a
mitose, são formadas duas células-filhas com o mesmo número de cromossomos da
célula inicial e são, portanto, denominadas diplóides (2n). Para produzir as células
germinativas, entretanto, a célula-mãe realiza a duplicação do DNA, uma única vez,
durante a interfase, porém ela sofre duas divisões e as células resultantes, os ovócitos e
espermatozoides, contêm apenas uma cópia de cada cromossomo. O número cromos-
sômico diploide da espécie é restaurado com a fecundação dos gametas masculinos e
femininos, os quais se fundem para formar a célula-ovo (zigoto).
Assim como na mitose, a meiose é um processo contínuo (embora o tempo de
duração entre as fases seja variável nos diferentes organismos) e, ao conjunto de trans-
formações ocorridas na célula durante esta divisão, convencionou-se designá-las da
seguinte forma: prófase I, metáfase I, anáfase I e telófase I para meiose I, e prófase II,
metáfase II, anáfase II e telófase II para a meiose II.

179
Biologia As fases da meiose
celular
Prófase I
A prófase I é uma fase longa e complexa e, por causa das mudanças ocorridas com
os cromossomos, suas etapas recebem nomes específicos:
Leptóteno. Nesta etapa, os cromossomos já duplicados (com duas cromátides)
iniciam a condensação, mas aparecem como filamentos longos. Algumas granulações
podem ser visualizadas ao longo das cromátides, o que representa condensações da
cromatina nestes pontos, e são denominadas cromômeros. Ainda nesta fase, os cro-
mossomos se encontram associados ao envoltório nuclear por meio de suas extremi-
dades, os telômeros. Esta associação facilita a aproximação dos cromossomos homó-
logos por causa da fluidez da membrana.
Zigóteno. A condensação dos cromossomos continua e dá início à associação entre
os homólogos, o que é chamado de sinapse. Esta aproximação ocorre ponto a ponto
e os cromossomos homólogos se dispõem paralelamente, mas não se fundem. Existe
entre eles uma distância de aproximadamente 150 - 200nm. Por meio da microscopia
eletrônica (ME), foi demonstrado que as sinapses ocorrem por causa da formação de
uma estrutura de natureza basicamente proteica denominada complexo sinaptonê-
mico (CS). Este complexo apresenta três elementos elétron-densos: dois laterais inti-
mamente ligados aos cromossomos homólogos e um central, constituído por fibrilas
transversais com cerca de 2nm de espessura. Uma vez encerrado o processo de for-
mação do complexo sinaptonêmico, todos os cromossomos homólogos permanecem
totalmente unidos.
Paquíteno. Os cromossomos permanecem totalmente unidos em decorrência da
presença do complexo sinaptonêmico e, assim, são denominados bivalentes ou té-
trades. Esta denominação é dada porque os cromossomos homólogos unidos apre-
sentam quatro cromátides. Os cromossomos já se encontram mais condensados e um
dos eventos mais importantes da meiose ocorre nesta fase que é o crossing-over, isto
é, ocorre uma permuta entre segmentos equivalentes de cromátides homólogas, o
que resulta em nova combinação de genes dos cromossomos parentais. Este processo,
em âmbito molecular, conta com um complexo enzimático, que pode ser visto ao ME
como grânulos de cerca de 90nm, e é denominado nódulo de recombinação. Estes
nódulos estão, provavelmente, relacionados com a recombinação genética e sua fun-
ção seria fornecer a maquinaria estrutural enzimática para a realização do processo de
permuta.
Diplóteno. Caracteriza-se pelo início da separação dos cromossomos homólogos
e desintegração do complexo sinaptonêmico. Como resultado da separação dos cro-
mossomos, observa-se em alguns locais os quiasmas, os quais representam pontos de

180
ligação entre os cromossomos que sofreram permutas durante o paquíteno. Apesar Meiose

dessa relação não ser absoluta, costuma-se considerar que os quiasmas correspondem
à evidência citológica de crossing-over.
Diacinese. Esta é a última etapa da prófase I e se caracteriza pela continuidade da
repulsão entre os cromossomos homólogos. É denominada a etapa de terminaliza-
ção dos quiasmas, fenômeno que representa o deslocamento dos quiasmas para as
extremidades dos cromossomos à medida que os homólogos se separam. Com o final
da diacinese, termina a prófase I.

Metáfase I
Nesta fase, os cromossomos atingem o grau máximo de condensação, mas ainda
permanecem unidos em suas extremidades pelos quiasmas. O envoltório nuclear e o
nucléolo já desapareceram e os cromossomos migram para a região central da célula,
presos pelas fibras do fuso mitótico que partem dos polos, onde se localizam os cen-
trossomos. Cada par de cromossomos homólogos, contendo cada um duas cromáti-
des-irmãs, possui apenas um cinetócoro por causa da fusão dos cinetócoros-irmãos.
Lembremos que na mitose, durante a metáfase, os cromossomos se dispõem indivi-
dualmente na região equatorial e apresentam dois cinetócoros voltados para lados
opostos.

Anáfase I
Inicia-se a separação dos cromossomos homólogos que migram para polos opostos
o que acarreta redução de metade dos cromossomos. Devemos ressaltar, todavia, que
cada cromossomo contém as duas cromátides-irmãs.

Telófase I
Esta etapa se caracteriza pela chegada dos cromossomos homólogos aos polos.
Com isso, ocorre descondensação dos cromossomos, reaparecimento do envoltório
nuclear e, finalmente, a citocinese. Ao final da telófase, formam-se duas células com
um valor n de cromossomos que são, portanto, haplóides. Lembremos, ainda, que
cada cromossomo possui duas cromátides.
Ao final da primeira divisão meiótica, ocorre um período curto denominado inter-
cinese. Nessa fase, não existe nova síntese de DNA, e as duas células formadas apre-
sentam um conteúdo de 2C de DNA e um valor n de cromossomos. Portanto, dizemos
que a primeira divisão meiótica é reducional.
A seguir, inicia-se a segunda divisão meiótica, que é muito semelhante a uma
mitose normal. Nesta fase, ocorre uma distribuição igual de cromossomos para as

181
Biologia células-filhas e, diferentemente da anáfase I, ocorre divisão dos centrômeros, separan-
celular
do as cromátides-irmãs de cada cromossomo. Os principais eventos para cada etapa da
segunda divisão são:

Prófase II
Este é uma breve etapa em que os cromossomos reiniciam a condensação, as fibras
do fuso (microtúbulos) reaparecem e o envoltório nuclear é desestruturado.

Metáfase II
Os cromossomos se dispõem na placa equatorial onde permanecem ligados às fi-
bras do fuso por meio dos seus cinetócoros- irmãos que ficam voltados cada um para
um polo.

Anáfase II
O evento característico desta etapa é a separação das cromátides-irmãs e a migração
destas para polos opostos. Este movimento se deve à tração das fibras do fuso sobre
os cinetócoros.

Telófase II
Ao atingirem os polos, os cromossomos se descondensam. Reorganiza-se um novo
envoltório nuclear em torno de cada conjunto de cromossomos (constituídos de uma
cromátide cada) e, posteriormente, ocorre a partição do citoplasma e, portanto, a
citocinese.
A figura abaixoz representa as fases da meiose (1ª e 2ª divisão):

182
Meiose

Figura 1 - Representação esquemática das fase da meiose.

A meiose na espécie humana


A gametogênese na espécie humana, ovogênese na mulher e espermatogênese no
homem, possui longa duração. As células germinativas surgem no embrião 20 dias
após a fecundação e migram da membrana vitelina, de onde se originaram, para as
gônadas (testículos e ovários).
Na mulher, as células germinativas se dividem por várias vezes, e dão origem a uma
população de células, as ovogônias. Ao final do 3º mês de desenvolvimento e, após
o crescimento e armazenamento de substâncias no citoplasma, as ovogônias passam
a ser chamadas de ovócitos primários, e o processo termina até o final do 7º mês.
Estes ovócitos iniciam a meiose e permanecem na prófase I (mais especificamente na
fase de diplóteno) até a puberdade, geralmente entre 12 e 15 anos, fase da maturidade
sexual que dura até 45-50 anos. Durante cada ciclo ovariano (média de 28 dias), vários
ovócitos completam a meiose I, chegam à metáfase II e formam os ovócitos secundá-
rios. Se ocorrer a fecundação, o ovócito secundário encerra o processo meiótico. Caso
contrário, ele se degenera e é eliminado juntamente com a menstruação. Ao final das
meioses I e II, a repartição do citoplasma é desigual, forma duas células de tamanhos

183
Biologia diferentes, denominadas ovócito I e primeiro corpúsculo polar. No final da meiose II,
celular
ocorre o mesmo, pois forma-se o ovócito II e o segundo corpúsculo polar. Em ambos
os casos, os corpúsculos polares são pequenos e desaparecem. Ao final da meiose,
somente uma célula (óvulo) é viável.
No homem, a espermatogênese é muito mais lenta na prófase I do que a prófase
da mitose. As espermatogônias também se dividem por mitoses na infância e na pu-
berdade (ao redor de 12 anos de idade). Em 24 dias, estes espermatócitos realizam a
meiose I, e ocupam 13-14 dias somente com a prófase I. Ao final da meiose, formam-se
quatro células (espermátides) que por meio de um processo de diferenciação celular
originarão os espermatozoides.
A figura abaixo representa um esquema do processo de gametogênese na espécie
humana.

Consequências importantes da meiose


A redução do número de cromossomos à metade é uma consequência importante
do processo de meiose para que os gametas (haplóides) possam se fundir mediante
a reprodução e formarem o zigoto diploide.
Dentre os diferentes eventos que ocorrem durante a meiose, alguns são essenciais
para gerar grande variabilidade genética. Um desses eventos, o crossing-over que
ocorre no paquíteno (profase I), leva a produção de gametas contendo cromossomos
com pedaços trocados entre cromátides homólogas, alternando, assim, segmentos
paternos e maternos.

184
Outro fato relevante para a variabilidade genética é a segregação aleatória dos cro- Meiose

mossomos paternos e maternos durante as anáfases I e II. Para melhor entendermos


este fato, consideremos a espécie humana que possui 23 pares de cromossomos ho-
mólogos nas células progenitoras dos gametas. Pensando nas diferentes combinações
de segregação dos cromossomos homólogos, paternos e maternos, a diversidade de
gametas seria grande, ou seja, matematicamente teríamos 223, o que corresponderia a
8.388.608 combinações. Além disso, se considerarmos a possibilidade de recombina-
ções, esta variabilidade seria ainda maior.
Devemos considerar ainda que a meiose normal é o processo que ocorre frequen-
temente nos organismos de reprodução sexuada. Entretanto, na espécie humana,
uma falha durante a divisão pode gerar consequências graves aos indivíduos. Estamos
nos referindo ao momento da segregação dos cromossomos homólogos na anáfase
I ou das cromátides-irmãs durante a anáfase II. Isto pode ocorrer com qualquer par
de cromossomos e esta falha é denominada não disjunção. Embora as demais fases
ocorram normalmente, ao final do processo teremos gametas com um cromossomo a
mais e outro com um cromossomo a menos. Este tipo de erro é denominado de aber-
ração cromossômica numérica e corresponde a causa das síndromes cromossômicas
ocorridas na espécie humana, como as síndromes de Down, Klinefelter e de Turner,
dentre outras. A síndrome de Down é uma das mais conhecidas, com seus portadores
apresentando um cromossomo a mais do par 21 (trissomia). Esta aberração acarreta,
para o portador, retardo mental, desenvolvimento anormal da face, do coração e de
outras partes do corpo.

Proposta de Atividades

1) Monte um quadro comparativo entre mitose e meiose.


2) Por que é importante o pareamento dos cromossomos homólogos durante a prófase I
meiótica?
3) Caracterize o complexo sinaptonêmico e o crossing-over.
4) Conceitue os termos haploide e diploide e explique porque durante a meiose ocorrem
dois ciclos sequenciais de divisão celular e apenas uma duplicação do DNA.
5) Quais são as principais consequências da meiose?

185
Biologia
celular

Anotações

186
24 Matriz extracelular
Hélio Conte

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Você deverá entender:
• As estruturas e função da matriz extracelular.

MATRIZ EXTRACELULAR
Já aprendemos que nos animais e vegetais as células são constituintes básicos e
que, após a associação destas células, encontramos algo mais especializado denomi-
nado tecido. Quando observamos um conjunto de células em microscópio, percebe-
mos que elas apresentam um espaço extracelular preenchido por um complexo de
componentes fibrosos, denominado matriz extracelular. Esta região tem importância
fundamental para as funções dos tecidos, e o estudo das interações entre a matriz
extracelular e as células é recente. Este estudo, porém, está evoluindo muito rapida-
mente por causa dos processos de isolamento das macromoléculas que constituem
a matriz, a sua localização por métodos imunohistoquímicos, e a caracterização dos
receptores celulares para os componentes da matriz, técnicas associadas à cultura de
células em laboratório.
Hoje em dia, existem no comércio, misturas de elementos da matriz que permitem
cultivar tipos celulares que não cresciam in vitro e também, a constatação de que
células cultivadas na presença de matriz mantêm com mais facilidade as características
fisiológicas e bioquímicas presentes in vivo nos órgãos de origem.
A matriz extracelular é constituída por um complexo de proteínas e polissacarí-
deos, em quantidades variáveis, os quais se organizam formando uma rede, em parte
responsável pela diversidade morfológica, funcional e patológica dos diversos tecidos.
Os múltiplos componentes da matriz são secretados principalmente por células do
tecido conjuntivo e dividem-se em dois tipos:
Colágeno: constituído por moléculas proteicas alongadas que se juntam forman-
do estruturas fibrilares ou fibrosas. O colágeno apresenta heterogeneidade, ou seja,
existem diferentes tipos de colágeno para diferentes tecidos e são denominados de
colágeno I, II, III, IV e V.

187
Biologia Elastina: constituída por moléculas que se juntam, mas não formam fibrilas ou
celular
fibras. Encontramos dois subtipos de elastina:
Glicoproteínas. Moléculas de proteínas associadas com cadeias pequenas e ramifi-
cadas de oligossacarídeos. Caracterizam-se por serem alongadas, e cuja função princi-
pal é realizar a adesão entre a matriz e as células. Neste grupo, temos as fibronectinas
e a laminina que contêm em suas moléculas sítios que as prendem a células e aos
componentes da matriz.
Glicosaminoglicanos e proteoglicanos. Formam um gel hidrófilo (hidratado), se-
mifluido, no qual se encontram imersos os outros componentes da matriz. Admite-se
que esse gel seja importante nos processos de desenvolvimento embrionário, rege-
neração dos tecidos, cicatrização e interação com o colágeno. Quando um grande
número de cadeias de glicosaminoglicanos se prende ao longo de um eixo proteico,
elas constituem as proteoglicanas.

188
A matriz extracelular é muito importante em patologia, pois sua viscosidade retarda Matriz extracelular

ou impede a penetração de microrganismos nos tecidos. Bactérias que produzem en-


zimas capazes de digerir macromoléculas da matriz se infiltram com maior facilidade
nos tecidos. É o caso dos estafilococos que secretam hialuronidase e dos clostrídios
que secretam colagenase.
Moléculas do citoesqueleto se prendem a proteínas da membrana, que são recep-
tores para macromoléculas da matriz extracelular, estabelecendo assim uma ligação ou
conexão entre o citoesqueleto e a matriz extracelular. Existe, ainda, um componente
importante na matriz, a lamina basal, disposta entre os tecidos epiteliais, células mus-
culares, capilares sanguíneos e linfócitos e o tecido conjuntivo. Esta estrutura só é visí-
vel ao microscópio eletrônico, aparecendo como uma camada elétron-densa formada
por uma rede de delgadas fibrilas, na verdade uma treliça de moléculas de colágeno
tipo IV embebida em laminina e proteoglicana, além de outras proteínas.
Com relação às células vegetais, a parede celular é um tipo de matriz extracelular
rígida, rica em polissacarídeos, que distingue as células vegetais das células animais.
Ela impede a mobilidade das células, participa da aderência, da aglutinação celular, da
interação com células vizinhas e influi no crescimento, na nutrição, na reprodução e
na defesa. As plantas possuem dois tipos de parede celular: a primária e a secundária.
A parede celular primária se forma durante a citocinese, pela fusão de vesículas origi-
nadas nos dictiossomos e pela posterior deposição de camadas dessa parede.

Formação das paredes celulares. Visão ultraestrutural da célula vegetal.

189
Biologia
celular

Proposta de Atividades

1) Faça um desenho esquemático colocando de um lado a representação de uma matriz ex-


tracelular em células animais e do outro lado uma matriz extracelular em células vegetais.
2) Explique a diferença entre glicosaminoglicanos e glicoproteínas.
3) Qual a importância do estudo da matriz celular para mantermos uma cultura de células em
laboratório?

Anotações

190
25 Parede celular

Maria de Fátima Pires da Silva Machado

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Você deverá entender:
• Os fatores determinantes da organização das estruturas moleculares que for-
mam a parede celular vegetal.

PAREDE CELULAR
A parede celular é uma das estruturas moleculares mais complexas e diversificadas
das células de organismos eucariotos. Nas células vegetais, ela deve ser uma estru-
tura firme e resistente para proteger a célula, isto é, conferir resistência mecânica à
compressão e promover a sustentação de grupos de células. Por outro lado, ela deve
ser flexível a ponto de garantir o crescimento e a extensão das células em diferentes
direções, ou em direções determinadas, o que confere a diversidade de morfologias
para as diferentes partes das plantas.
Esta funcionalidade contrastante (resistência e flexibilidade) da parede celular é
garantida por um grupo de moléculas especiais que a formam e que são especialmente
organizadas. As moléculas de hexoses e pentoses, organizadas como polissacarídeos,
associadas com glicoproteínas com atividade enzimática (hidrolases, peroxidases, fos-
fatases, celulases, pectinases e extensinas), com tipos especiais de lipídeos (cutina,
suberina e ceras) e substâncias aromáticas, são encontradas em diferentes proporções
conferindo as características particulares das células de cada tecido.
A parede celular contém, ainda, moléculas sinalizadoras responsáveis pela comu-
nicação entre núcleo e parede celular, e entre duas ou mais células; fragmentos de
parede celular podem estimular, por exemplo, a secreção de moléculas de defesa (en-
zimas e/ou lignina) pelas células expostas a um fragmento de parede de agentes pato-
gênicos (fungos e/ou bactérias). Durante a vida das células, a parede celular pode ser
considerada como uma estrutura altamente dinâmica, que aumenta a sua superfície
de área em cerca de 100 vezes em alguns tipos de células. A composição molecular e a
organização de polímeros moleculares que formam a parede celular são diferentes nas
espécies, nos tecidos ou em regiões em torno de uma mesma célula.

191
Biologia Os polissacarídeos, formados por polímeros de glicose (hexose = C6H12O6), são
celular
os constituintes moleculares mais abundantes na parede celular. Na sua formação as
moléculas de β-glicose se encontram firmemente ligadas pelo oxigênio compartilhado
pelos C1 e C4 (C1→C4) entre as moléculas de glicose adjacentes (Figura 1), formando
uma longa estrutura linear (não ramificada). A ligação das várias moléculas de glicose,
neste longo polímero linear, resulta na formação de moléculas de celulose resistentes
às enzimas que hidrolisam os demais polissacarídeos. Na parede celular, centenas de
longas moléculas de celulose são organizadas em paralelo, ligadas por pontes de hi-
drogênio que se estabelecem entre grupos –OH das moléculas de celulose adjacentes,
para formar as microfibrilas de celulose. Estas são estruturas rígidas que ficam imersas
em uma matriz que contém outros tipos de polissacarídeos complexos e ramificados,
denominados pectinas e hemiceluloses.

Figura 1 - Microfibrila de celulose.

As pectinas são formadas por polímeros de hexose, do tipo ácido α-galacturônico,


um derivado da glicose. Este polímero ligado pelo oxigênio compartilhado pelos C1 e
C4 (C1→C4) entre as suas moléculas adjacentes, é denominado ácido péctico. O po-
límero de ácido α-galacturônico pode formar ligações ramificadas, ligações cruzadas
com íons Ca2+, e conterem várias unidades de arabinoses e de galactoses. Constitui-se,

192
portanto, em uma mistura ramificada e heterogênea de hexoses e pentoses, que de- Parede celular

termina a porosidade e a polaridade (concentração de íons) da superfície da parede


celular.
A concentração de pectinas na parede celular regula a adesão entre as células, o
pH do meio extracelular, o tamanho dos poros e, consequentemente, a difusão das
moléculas. Além disso, as pectinas servem como moléculas que reconhecem a presen-
ça de organismos simbiontes ou patogênicos, e alertam as células da presença destes
invasores.
As hemiceluloses são formadas basicamente por polímeros ramificados de β-gli-
cose e por uma pentose (C5H10O5) denominada xilose. A ligação entre as moléculas
de β-glicose e de xilose formam os xiloglicanos, que têm função estrutural muito im-
portante na estabilização da parede celular, pois formam pontes de hidrogênio com
as microfibrilas de celulose. Em determinadas espécies de plantas, algumas unidades
de xiloses são substituídas por unidades de α-L-arabinose ou por β-D-galactose e,
algumas vezes, a galactose é substituída por α-L-fucose, de modo que a estrutura da
hemicelulose pode variar consideravelmente com respeito ao grau de substituição e a
posição das ligações.
A diversidade da organização molecular na construção da parede celular se deve
ao fato de que tanto as hexoses quanto as pentoses são capazes de formar ligações em
múltiplas posições. Uma molécula de glicose, por exemplo, pode estabelecer ligações
com outras moléculas de glicose, formando em torno de 15.000 estruturas diferentes,
além de polissacarídeos ramificados com múltiplas ligações em posições diferentes. Na
formação da celulose, as moléculas de β-glicose se encontram firmemente ligadas pelo
oxigênio compartilhado pelos C1 e C4 (C1→C4) entre as moléculas de glicose adjacen-
tes. Todavia, a ligação de glicose estabelecida entre o C1 e C3 (C1→C3) forma a calose.
A calose é produzida por alguns tipos de células em estágios específicos do desen-
volvimento da parede celular, como na formação de tubos polínicos e na placa celular
de células em processo de divisão. A calose também é produzida em resposta aos feri-
mentos dos tecidos vegetais ou em resposta à infecção por patógenos invasores (hifas
de fungos, por exemplo) de tecidos. Dessa forma, as mesmas unidades de moléculas
(β-glicose) organizadas diferentemente (C1→C4 ou C1→C3) conferem propriedades e
funções distintas ao polímero formado.

Formação e organização das moléculas na parede celular


Nas plantas, a parede celular se origina no final da divisão das células, mais espe-
cificamente durante a divisão do citoplasma, etapa conhecida como citocinese (Figura
2). Durante a citocinese são formadas, na face trans do complexo de Golgi, inúmeras

193
Biologia vesículas, que contêm glicoproteínas estruturais e enzimas, e polímeros de hexoses e
celular
pentoses diferentes da celulose (pectina, polímeros ramificados de β-glicose e xilose,
α-L-arabinose e/ou β-D-galactose, α-L-fucose, manose). Essas vesículas são direciona-
das por proteínas do citoesqueleto (microtúbulos) para a região de formação da placa
equatorial na célula (região equidistante dos centros organizadores dos microtúbu-
los). Nesta região, as vesículas se fundem de modo que suas membranas formam a
nova membrana celular e os seus conteúdos passam a se constituir na parede primária
das células recém-formadas. Dessa forma, os polissacarídeos diferentes da celulose e
as glicoproteínas que formam a matriz da parede celular são sintetizados no complexo
de Golgi. Somente a celulose e a calose são sintetizadas em nível da membrana cito-
plasmática das células.

Figura 2 - Formação da parede celular durante a citocinese.

Na formação da nova parede celular, em pontos onde não ocorre a fusão de vesí-
culas produzidas pelo complexo de Golgi, forma-se um canal estreito de continuidade
e contato entre o citoplasma das duas células adjacentes (Figura 3A). Estes canais são
frequentemente atravessados por túbulos de retículo endoplasmático, e foram deno-
minados plasmodesmos (Figura 3B). Os plasmodesmos constituem uma via importan-
te de transporte e comunicação direta entre as células vegetais delimitadas pela parede
celular, permitindo a difusão de íons e moléculas entre as células de um tecido, por
uma via independente dos transportes que ocorrem via parede celular e membrana
citoplasmática.

194
Parede celular

Figura 3 - Formação da nova parede celular.

Na membrana citoplasmática, as moléculas integrantes de celulose sintase são as


responsáveis pela polimerização de unidades de β-glicose para formar as microfibrilas
de celulose. Análises de microscopia eletrônica revelam que a celulose sintase forma
um complexo proteico que se dispõe de forma linear, nas algas, ou como uma estrutu-
ra hexamérica (forma uma “roseta”; Figura 4) nas angiospermas.

Figura 4 - Moléculas de celulose sintase em forma de “roseta” na membrana citoplasmática


polimerizando unidades de β-glicose para o meio extracelular.

A celulose sintase polimeriza as unidades de UDP-glicose, no lado da membrana


voltado para o citoplasma, e libera os polímeros de β-glicose, de forma orientada, no
meio extracelular. A orientação das microfibrilas de celulose pode ser casual, em dife-
rentes direções, em torno das células meristemáticas ou orientadas em paralelo e no

195
Biologia sentido perpendicular em relação à célula, nas regiões de expansão celular. As extre-
celular
midades distais das microfibrilas liberadas no meio extracelular se integram na parede
celular, enquanto a “roseta” de celulose sintase continua polimerizando unidades de
UDP-glicose para o crescimento das microfibrilas de celulose.
A orientação das microfibrilas de celulose na parede celular primária determina a
direção da expansão celular. Quando as microfibrilas estão orientadas aleatoriamente,
a célula se expande igualmente em todas as direções; quando as microfibrilas de celu-
lose estão orientadas em paralelo formando um ângulo reto em relação ao maior eixo
da célula (Figura 5), esta se expande longitudinalmente ao longo desse eixo.

Figura 5 - Orientação das microfibrilas de celulose na parede celular


primária determinando a direção da expansão celular.

Na parede celular, as microfibrilas de celulose, devidamente orientadas durante a


síntese destas, estão associadas por ligações de hidrogênio com as moléculas de hemi-
celulose. As microfibrilas de celulose e as hemiceluloses parecem estar mergulhadas
em uma rede de pectinas (Figura 6) e de glicoproteínas estruturais e enzimáticas.
As enzimas parecem atuar na dinâmica de extensão da parede celular. É o caso da
extensina, que relaxa as ligações cruzadas entre microfibrilas de celulose e as hemice-
luloses, para induzir a separação das microfibrilas e permitir a inserção de polímeros
recém-sintetizados.
Em alguns estágios do desenvolvimento celular são encontradas hidrolases que
aumentam a porosidade da matriz, o que limita a difusão das moléculas na parede
celular. A ação destas pode modificar as propriedades da matriz para permitir que as
células possam estender por dezenas, centenas, e até milhares de vezes, o seu compri-
mento original, mantendo constante a espessura da parede celular.

196
Parede celular

Figura 6 - Na parede celular as microfibrilas de celulose estão ligadas com as moléculas de


hemicelulose e mergulhadas em uma rede de pectinas e de glicoproteínas estruturais e enzimáticas.

Organização das moléculas na parede durante a diferen-


ciação celular
Após o crescimento das células, durante a diferenciação celular, a composição mo-
lecular da parede celular pode ser modificada, marcadamente, pela modificação e/
ou prevalência de moléculas específicas. Por exemplo, na parede celular de frutos
maduros a concentração de pectina pode ser superior a 50%. O processo de ama-
ciamento dos frutos de tomate é determinado pela concentração e atividade espe-
cífica alta de pectina metil esterase (PME) na parede das células. A modificação de
pectinas na parede celular, geralmente relacionada com a despolimerização dessas
moléculas, tem sido frequentemente associada com processos de amadurecimento
de frutos.
Além das modificações que podem ser observadas nos constituintes básicos da
parede celular primária, quando as células param de crescer, em muitos tipos de
células ocorre a formação de paredes secundárias. Nas paredes secundárias, ge-
ralmente são encontradas especializações elaboradas, tais como a lignina, cutina e
suberina. Nas células da epiderme, por exemplo, ocorre a deposição de cutina e su-
berina na parede celular para evitar a perda de água. A suberina é formada por uma
longa sequência de ácidos graxos com uma característica altamente hidrofóbica, que
previne o movimento da água. Na superfície de folhas e caules de algumas espécies,
ocorre a deposição de cutina associada com cera, que funciona como uma barreira
para a difusão de água.
197
Biologia A importância da parede celular
celular
De certa forma, a parede celular das plantas está diretamente relacionada com a
alimentação e com a qualidade de vida do homem e dos animais. A modificação de
vários constituintes da parede celular de algumas plantas tem sido um alvo para as in-
dústrias de alimentos, têxteis, agrícolas e de biotecnologia em geral. O sucesso desses
investimentos depende do entendimento das bases moleculares e das propriedades
dos componentes que formam as paredes celulares das plantas.
A indústria de alimentos usa as pectinas como goma e agentes gelificantes; as hi-
drolases da parede celular são usadas para ajustar a textura dos alimentos. A parede
celular de alguns tipos de vegetais é atualmente reconhecida como componente im-
portante da dieta porque protege o homem de doenças cardiovasculares, do diabetes e
do câncer, entre outras. Os β-glucanos encontrados nas paredes das células de cereais,
como aveia e soja, são apontados como agentes que ajudam a baixar o colesterol na
circulação sanguínea e reduzir a demanda da insulina em pessoas diabéticas. Algumas
pectinas apresentam atividade antitumor no sistema gástrico intestinal.
A indústria de biotecnologia tem investido na modificação dos constituintes da
parede celular de algumas plantas para aumentar determinadas características de valor
comercial como, por exemplo, diminuir a quantidade de ligninas em espécies arbó-
reas que são utilizadas para a extração de celulose na indústria de papel. A redução
de ligninas também tem sido considerada importante em espécies de plantas, como
cana-de-açúcar, cujo bagaço pode ser utilizado para a extração de celulose, usada em
reações de hidrólise para produzir glicose. A glicose produzida pode ser convertida em
etanol por meio de processos de fermentação.
A redução de ligninas, nesses casos, é importante para diminuir o custo das indús-
trias que tem um investimento de tempo e capital para obter a celulose purificada.
A redução de ligninas também é importante para o setor agropecuário porque, em
relação a outras moléculas, pode afetar as características organolépticas de plantas
forrageiras que alimentam os animais. A interação entre ligninas e polissacarídeos da
parede celular tem influência sobre a digestão das plantas forrageiras pelos animais,
de maneira que os tipos e a quantidade de ligninas são fatores críticos que devem ser
investigados. Vários investimentos têm sido feitos para se conhecer as enzimas envol-
vidas no aumento da produção e qualidade de fibras em linho, algodão, rami e sisal
pela indústria têxtil.
Os investimentos para modificar um ou outro constituinte da parede celular não
tem tido pleno sucesso por causa da complexidade de organização destes na formação
da parede. Por isso, é importante ampliar o conhecimento sobre a regulação do me-
tabolismo da parede celular, particularmente dos mecanismos que regulam a síntese

198
dos polímeros e do afrouxamento da parede celular. Decifrar o seu funcionamento Parede celular

nas plantas tem sido uma fronteira científica importante para o avanço da área bio-
tecnológica. Neste aspecto, um dos fatores limitantes é que os polissacarídeos não
são produtos primários de genes e tem sido difícil esclarecer com precisão a função
de cada unidade dos polissacarídeos para determinar as propriedades mecânicas e
funcionais da parede celular. As estimativas são de que produtos de aproximadamente
1.000 genes estão envolvidos com a síntese, endereçamento, organização, e mudanças
dos constituintes da parede celular, em resposta a estímulos do meio ambiente ou a
condições de estresse ambiental. As enzimas como a pectina metil esterase (PME) e
algumas hidrolases com seus respectivos genes tem sido o alvo das investigações para
entender e prever as propriedades mecânicas e funcionais da parede celular.

Proposta de Atividades

1) Relacione os polímeros e monômeros componentes da parede celular.


2) Relacione e comente as características e as funções dos principais componentes da parede
celular.
3) Explique por que os carboidratos são considerados os componentes celulares de maior
variabilidade estrutural.
4) Qual a função do complexo de Golgi e do citoesqueleto na formação da parede celular?
Explique o aparecimento dos plasmodesmos na parede.
5) Explique a relação entre a orientação das microfibrilas de celulose e a direção da expansão
celular.
6) Escreva a respeito das alterações na composição química da parede celular durante a dife-
renciação celular.

Anotações

199
Biologia
celular

Anotações

200
26 Práticas de
Biologia Celular

Veronica Elisa Pimenta Vicentini

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Você deverá ser capaz de:
• desenvolver práticas de laboratório de forma segura e adequada;
• conhecer e aplicar metodologias de preparo e coloração de material para a
identificação de compostos químicos e das estruturas celulares;
• conhecer e praticar a focalização de laminas no microscópio de luz/óptico;
• entender a estrutura microscópica das células;
• identificar as estruturas celulares em laminas e em eletromicrografias;
• relacionar as estruturas das células com as suas respectivas funções.

INSTRUÇÕES PARA O ALUNO DURANTE A AULA PRÁTICA


• Mantenha silêncio, organização e responsabilidade.
• Sente-se no local pré-determinado.
• Guarde, na gaveta do balcão, todo o material que não será usado durante a aula
prática.
• Vista o guarda-pó.
• Organize, sobre o balcão, o material a ser usado durante a aula prática.
• Leia com atenção o roteiro de aula.
• Siga, detalhadamente, todas as instruções (Material e Método). Caso o experi-
mento não dê certo, repita. “Ciência é repetição”.
• Monte um esquema detalhado das observações, com legendas.
• Anote com precisão.
• Lembre-se que o campo de visão e do desenho é redondo.
• Anote o aumento total ao lado de cada desenho.
Atenção: NUNCA use a objetiva de 100X (imersão) com lamina temporária
(não permanente) e sem óleo de imersão.
• Faça o relatório.
• Descarte o material necessário.

201
Biologia • Coloque a vidraria de molho nos locais adequados.
celular
• Guarde o equipamento.
• Deixe o local limpo e organizado.

MATERIAIS BÁSICOS NECESSÁRIOS


- Guarda-pó, jaleco ou avental (uso obrigatório nas aulas práticas).
- Caderno de desenho, lápis HB ou nº 2, borracha e régua.
- Lápis de cor e gilete com um lado coberto.
- Vidro com conta-gotas e lenço de papel ou papel higiênico fino.
- Pinça de relojoeiro de ponta fina.
- Estilete de ponta fina (feito com agulha de crochê com a ponta esmerilhada ou
uma agulha grossa colada em uma caneta esferográfica, sem carga).
- Uma caixa, ou bolsinha, para acondicionar todo o material.

PRÁTICA Nº 1: MICROSCOPIA DE LUZ/ÓPTICA

1. DEFINIÇÃO
O microscópio óptico (MO), atualmente denominado de microscópio de luz (ML),
é um instrumento que permite observar objetos de pequenas dimensões ou invisíveis
a olho nu. Ele fornece uma imagem consideravelmente aumentada, geralmente inver-
tida da esquerda para a direita, por causa da associação de lentes.

2. PARTES DO MICROSCÓPIO DE LUZ/ÓPTICO


Partes mecânicas
a) Base ou pé: sustenta todo o conjunto do microscópio, podendo ser triangular,
redondo, oval ou de outra forma desde que seja amplo, sólido e pesado, a fim
de prover essa sustentação.
b) Braço, coluna ou estativa: articula-se com o pé, sustentando o tubo do micros-
cópio onde se encontram as lentes.
c) Platina: é uma “mesa” em miniatura, perpendicular ao grande eixo do micros-
cópio, que sustenta os objetos (mais frequente uma lamina) que se quer visua-
lizar e tem um orifício no centro que dá passagem para a luz. O objeto pode
ser preso por meio de pinças e deslocado por um mecanismo de deslizamento
provido de botões que se movimentam, chamado charriot.
d) Canhão ou tubo: faz a comunicação entre as partes ópticas de resolução e am-
pliação, ou seja, entre a objetiva e a ocular.

202
e) Revólver: peça giratória do tubo que proporciona a fixação e troca de objetiva. Práticas de
Biologia
f ) Parafuso macrométrico: permite movimentos mais grosseiros da objetiva (4 e Celular

10X) em direção a platina ou vice-versa.


g) Parafuso micrométrico: permite movimentos menores e delicados da objetiva
(40 e 100X) em direção à platina ou vice-versa, para focalização complementar.
Localiza-se próximo ao parafuso macrométrico adaptado sobre ele. Em certos
microscópios, só existe um parafuso no lugar do macro e do micrométrico.
h) Parafuso condensador: também situa-se na porção inferior da coluna, destinan-
do-se a elevar e abaixar o condensador (concentra a luz).

Partes ópticas
A parte óptica é composta por um conjunto de meios transparentes que conduzem
o feixe luminoso usado na microscopia. As lentes são reunidas em dois sistemas. O
próximo ao olho do observador se chama ocular e o situado próximo ao objeto que se
observa é denominado objetiva.
a) Ocular: as oculares são formadas por sistemas de lentes cujas posições estão
sempre próximas ao olho do observador. A finalidade é recolher a imagem au-
mentada, vertical e direta. Como a imagem que a objetiva fornece é invertida, a
imagem final do microscópio é também invertida. As oculares são formadas por
duas lentes: a superior se chama lente ocular e a inferior se chama de campo
ou colética.
b) Objetiva: as objetivas, situadas sempre próximas do objeto que é observado,
constituem sistemas centrados de lentes convergentes que formam imagem
aumentada, real e invertida do objeto. Essa imagem é acompanhada pela ocu-
lar e tornada definitiva. Chamam-se objetivas a seco, quando são empregadas
usando-se ar entre a objetiva e o objeto examinado, e de imersão (100X),
quando se coloca um óleo transparente, de índice de refração o mais próximo
possível da lente, entre esta e o objeto. O óleo usado é o de cedro ou suce-
dâneo sintético. A finalidade é tornar mais claro o campo do microscópio, o
que não acontece quando o óleo homogeneíza o meio óptico entre esses dois
elementos.

Uso de óleo de imersão


O poder de resolução do aparelho depende essencialmente da objetiva, ou seja,
de sua abertura numérica (AN) e do comprimento de onda de luz utilizado. Quanto
maior a abertura numérica e menor o comprimento de onda de luz utilizado, maior é
o poder resolutivo da objetiva.

203
Biologia A abertura numérica depende do índice de refração do material colocado diante
celular
da objetiva.
AN = n. sen α

onde: AN é a abertura numérica; n é o índice de refração do material intercalado


entre a lamina e a objetiva (óleo de imersão, glicerina, água, etc.), e sen α é a abertura
angular da lente objetiva (valor fornecido pelo fabricante). Logo, quanto maior o valor
de n, maior o valor de AN. Isso indica que maior quantidade de luz penetrará na lente
objetiva, perdendo-se menos luz por refração e reflexão.
As objetivas de imersão são também utilizadas a menor distância do objeto, o que
contribui para capturarem maior quantidade de luz dele proveniente.
Observação: o óleo possui n = 1,52 e o ar, n = 1,00.

A parte óptica também compreende o sistema óptico de iluminação que consiste


de:
c) Fonte luminosa: pode ser distante, como a luz solar, ou próxima como a luz de
uma lâmpada. Os microscópios atuais possuem uma lâmpada embutida.
d) Diafragma-íris: quando conveniente, pode-se limitar parte dos raios periféricos
que chegam ao objeto. Para tanto, o microscópio dispõe de um diafragma-íris
que permite diminuir a abertura de entrada do feixe luminoso.
e) Condensador: é possível aumentar a quantidade de luz que atravessa o objeto,
tanto no caso de luz fraca, como naquele em que o aumento da objetiva exija
raios mais intensos. Neste caso, usa-se o dispositivo auxiliar – o condensador –
que concentra os raios luminosos.
f) Filtros: Os filtros são discos de vidro coloridos ou recobertos com gelatina co-
lorida que absorvem parte das radiações luminosas que atingem o objeto, per-
mitindo utilizar faixas estreitas de luz, de comprimento de onda selecionado.
Como o limite de resolução é proporcional, para uma dada objetiva, ao compri-
mento da onda da luz empregada, o uso dos filtros pode favorecer grandemente
a observação aumentando o poder de resolução. Além do mais, usando filtros
de cores complementares, é possível aumentar o contraste entre estruturas de
outras formas pouco diferenciáveis.

Atenção para as seguintes definições!


- Poder de resolução ou poder resolutivo de um sistema óptico se refere à sua
capacidade de formar imagens distintas (separadas) de dois pontos situados
muito próximos um do outro, no objeto observado.

204
- Limite de resolução se refere a menor distância que deve existir entre os dois Práticas de
Biologia
pontos mencionados, de modo que ainda apareçam individualizados na ima- Celular

gem formada pelo sistema óptico utilizado. O limite de resolução (LR) depende
do comprimento de onda de luz utilizada (λ) e da abertura numérica da objeti-
va (AN).

LR = K . λ/NA

K (uma constante) = 0,61, e λ = 0,55 para a luz branca.


Portanto, o limite de resolução é o inverso do poder resolutivo, de modo que,
quanto maior for o poder de resolução, menor será o seu limite.
- O olho humano desarmado tem um poder de resolução de aproximadamente
0,2mm e o microscópio de luz/óptico em torno de 0,2µm.
- O aumento total conferido pelo MO é o produto do aumento conferido pela
lente objetiva e pela ocular.

3. RELATÓRIO
1. Desenhe um microscópio de luz/óptico e escreva o nome das peças principais e
a função de cada uma delas.
2. O que pode ser feito (dê os passos) para observar uma lamina no aumento total
de 400X.
3. Coloque uma gota de água sobre uma lamina, utilizando um conta-gotas. Re-
corte uma letra pequena (assimétrica) de um jornal e coloque-a sobre a gota.
Cubra com uma lamínula e observe ao microscópio com objetiva de menor au-
mento. Observe, a olho nu, a posição da letra sobre a lamina. A seguir, observe
a posição dela na imagem formada pelo microscópio. Como você explica essa
diferença? Passando para as objetivas seguintes, o que você pode dizer quanto
ao tamanho da imagem e a textura do papel?
Importante: Observe sempre as laminas nas objetivas de 4X, 10X e 40X.
4. Desenhe a letra, a olho nu, e a imagem observada com cada uma das três obje-
tivas.
* Anote sempre o aumento total ao lado de cada desenho.

Atenção: NUNCA use a objetiva de 100X (imersão) com lamina temporária (não
permanente) e sem óleo de imersão.

205
Biologia
celular

PRÁTICA Nº 2: DIFERENÇAS ENTRE CÉLULA ANIMAL E VEGETAL

1. MATERIAL
Mucosa bucal

1.1. MÉTODO
Raspe a mucosa bucal com uma espátula de madeira e espalhe o material sobre
uma lamina de modo a obter um esfregaço fino. Core o material com uma gota de azul
de metileno ou orceína acética por cinco minutos. Cubra com lamínula.

2. MATERIAL
Epiderme de catáfilo de Allium cepa (cebola)

2.1. MÉTODO:
Destaque um pedaço de epiderme do catáfilo de cebola (parte interna), coloque
sobre uma lamina contendo uma gota de cloreto de zinco iodado, distenda o corte e
deixe o material corar por cinco minutos. Cubra com lamínula.

3. MATERIAL
Folíolo de Anacharis canadensis (Elodea)

3.1. MÉTODO
Destaque um folíolo de Elodea e coloque sobre uma lamina contendo uma gota de
água. Cubra com lamínula.

4. RELATÓRIO
• Desenhe (40X) e identifique as estruturas celulares observadas.
• Compare e diferencie as estruturas morfológicas de uma célula vegetal com as
de uma célula animal, vista ao microscópio de luz/óptico.
• Explique o que é uma célula viva e uma fixada, vista ao microscópio de luz/
óptico.

206
Práticas de
Biologia
Celular
PRÁTICA Nº 3: ESTUDO DE ORGANISMOS PROCARIOTOS E EUCARIOTOS

1. MATERIAL
Iogurte

1.1. MÉTODO
Pingue sobre uma lamina uma gota de iogurte dissolvido em água e faça um esfre-
gaço fino. Core com azul de metileno por cinco minutos. Cubra com lamínula.

2. MATERIAL
Epiderme de Capsicum annuum (pimentão).

2.1. MÉTODO
Destaque um pedaço fino da epiderme superficial superior do pimentão e outro da
face inferior. Coloque-os, separadamente, sobre uma lamina e distenda o corte. Core o
material com cloreto de zinco iodado por cinco minutos. Cubra com lamínula.

3. MATERIAL
Epiderme de Setcreasea purpurea

3.1. MÉTODO
Destaque um pedaço da epiderme inferior da folha de S. purpurea. Coloque-o
sobre uma lamina e distenda o corte. Core o material com cloreto de zinco iodato por
cinco minutos. Cubra com lamínula.

4. MATERIAL
Bulbo de Allium cepa (cebola)

4.1. MÉTODO
Destaque um pedaço da epiderme externa da cebola (casca coriácea e seca). Co-
loque-o sobre uma lamina contendo uma gota de glicerina e distenda o corte. Cubra
com lamínula.

5. RELATÓRIO
Desenhe (40X) e identifique as estruturas celulares observadas.

207
Biologia
celular

PRÁTICA Nº 4: IDENTIFICAÇÃO DE COMPONENTES QUÍMICOS CELULARES - 1

1. TESTE DE COLORAÇÃO DO AMIDO


O amido é um polissacarídeo, cuja unidade monossacarídica é a glicose. Apresen-
ta-se sob duas formas: amilose, que consiste de longas cadeias não ramificadas e que
na presença de iodo dão coloração roxo-azulada e amilopectina, que contém cadeias
altamente ramificadas e dão coloração marrom-avermelhada. Ambas estão presentes
em proporções variáveis nos tecidos vegetais de reserva.

1.1. MATERIAL
Tuberculus tuberosae (batata inglesa)

1.1.1. MÉTODO
Corte, com a gilete, um pedaço muito fino e pequeno do interior da polpa da
batata e coloque-o sobre uma lamina. Core o material com lugol por cinco minutos.
Cubra com lamínula.

1.2. MATERIAL
Euforbia splendens (coroa de Cristo)

1.2.1. MÉTODO
Pingue, sobre uma lamina, uma gota de látex da coroa de Cristo, dissolvido em
água e mais uma gota de lugol. Cubra com lamínula.

2. IDENTIFICAÇÃO DE LIPÍDEOS
Os lipídeos se classificam em simples e compostos. Entre os compostos podem ser
diferenciados os lipídeos figurados, que são visíveis em forma de gotas refringentes e
os mascarados, que são demonstrados por análises químicas.

2.1. MATERIAL
Citrus sp (laranja e limão)

2.1.1. MÉTODO
Faça um corte tangencial na casca da laranja ou do limão. A espessura do corte de-
verá ser bem fina, de tal maneira que possa passar a luz que nele irá incidir. Coloque o

208
material sobre um vidro de relógio e pingue algumas gotas de Sudan IV e deixe corar, Práticas de
Biologia
porém sem secar, por sete minutos. Retire o corte com um pincel e coloque-o sobre Celular

uma lamina, com a parte externa para cima. Cubra com lamínula.

3. RELATÓRIO:
• Desenhe (40X) e identifique as estruturas celulares observadas.
• Identifique os amiloplastos e a morfologia dos grãos de amido.
• Identifique as bolsas de óleo ou depósitos de lipídeos e verifique se a concen-
tração de lipídeos é a mesma em toda a extensão da casca.

PRÁTICA Nº 5: IDENTIFICAÇÃO DE COMPONENTES QUÍMICOS CELULARES - 2

1. REAÇÃO DE BIURETO
O sulfato de cobre (CuSO4) em meio alcalino, reage com compostos contendo
duas ou mais ligações peptídicas, resultando um complexo de coloração violeta. A
intensidade da cor é proporcional ao número de ligações peptídicas existentes.

1.1. MATERIAL
CuSO4 a 1%, hidróxido de sódio (NaOH) a 2,5N e grãos de arroz, feijão, soja,
amendoim, grão de bico e pó de gelatina.

1.1.2. MÉTODO
Com o auxílio de uma gilete, raspe o interior de cada grão e deposite separadamen-
te o material raspado e um pouco de gelatina no interior de uma placa de Petri. Pingue
sobre cada material uma gota de cada uma das duas soluções químicas acima citadas.
Em uma lamina, pingue uma gota de cada uma das duas soluções químicas, misture
e verifique se ocorre alteração da cor.

1.1.3. RESULTADO
Observe a ocorrência de alterações de cor em cada pó. Compare com o resultado
obtido na lamina e anote os resultados positivos para a reação de Biureto. Explique.

1.2. MATERIAL
CuSO4 a 1%, NaOH a 2,5N, soluções de clara de ovo e de gelatina diluídas em água,
leite e água.

209
Biologia 1.2.1. MÉTODO
celular
Pipete 0,5 ml de cada solução a ser testada em tubos de ensaio: 1º tubo – solução
de clara de ovo; 2º tubo – solução de gelatina; 3º tubo – leite e 4º tubo – água. Poste-
riormente, pingue em cada tubo cinco gotas de cada uma das duas soluções químicas
acima citadas. Misture.

1.2.2. RESULTADO
Observe a ocorrência de alterações de cor e temperatura. Explique.

2. REAÇÃO XANTOPROTEICA
Os anéis benzênicos dos aminoácidos triptofano, tirosina e fenilalanina, presentes
nas proteínas, reagem com o ácido nítrico (HNO3) formando nitro compostos, que
são fortemente coloridos de amarelo em meio alcalino.
Atenção: Evite respirar os odores desprendidos pelo HNO3 e manuseie com cui-
dado.

2.1. MATERIAL
HNO3 concentrado, NaOH a 20% e grãos de arroz, feijão, soja, amendoim, grão de
bico e pó de gelatina.

2.1.2. MÉTODO
Siga a metodologia do item anterior (1.1.2.).

2.1.3. RESULTADO
Observe a ocorrência de alterações de cor e anote os resultados positivos para a
reação xantoproteica. Explique.

2.2. MATERIAL
HNO3 concentrado, NAOH a 20% e soluções de clara de ovo e de gelatina diluídas
em água, leite e água.

2.2.1. MÉTODO
Siga a metodologia do item anterior (1.2.1.).

2.2.2. RESULTADO
Observe a ocorrência de alterações de cor e temperatura. Explique.

210
Práticas de
Biologia
Celular
PRÁTICA Nº 6: IDENTIFICAÇÃO DE NÚCLEO E NUCLÉOLO

1. MATERIAL
Fígado bovino

1.1. MÉTODO
Toque levemente com uma lamina a superfície de um pedaço de fígado fresco de
bovino e faça um imprint de suas células sobre a lamina. Deixe a lamina secar e core
o material com azul de metileno ou orceína acética por cinco minutos. Cubra com
lamínula.

2. MATERIAL
Sangue humano ou de rato

2.1. MÉTODO
Observe no microscópio uma lamina permanente de esfregaço de sangue humano,
obtida pela técnica de reação de Feulgen.

3. MATERIAL
Raiz de Allium cepa (cebola)

3.1. MÉTODO
Observe no microscópio uma lamina permanente de corte de raiz de cebola, obtida
pela técnica de impregnação com nitrato de prata.

4. RELATÓRIO
• Desenhe (40X) e identifique as estruturas celulares observadas.
• Verifique se há variação no número de núcleos entre as células de fígado bo-
vino.
• Há diferença entre o número de leucócitos polimorfonucleares e de hemácias
no esfregaço de sangue humano?
• Por que somente nos leucócitos é possível observar o núcleo?
• O nucléolo aparece em todas as células em interfase?
• O número de nucléolos que aparecem em uma célula pode variar?

211
Biologia
celular

PRÁTICA Nº 7: IDENTIFICAÇÃO DE CROMOSSOMOS METAFÁSICOS

1. MATERIAL
Raiz de Allium cepa (cebola) (2n = 16)

1.1. MÉTODO
Observe no microscópio uma lamina permanente com células meristemáticas de
raiz de cebola, as quais foram obtidas pela técnica de esmagamento e coradas pela
técnica de reação de Feulgen.

2. MATERIAL
Medula óssea de ratos Wistar (2n = 42)

2.1. MÉTODO
Observe no microscópio uma lamina permanente de células de medula óssea de
ratos Wistar, corada com Giemsa.

3. MATERIAL
Linfócitos de sangue humano (2n = 46)

3.1. MÉTODO
Observe no microscópio uma lamina permanente de linfócitos de sangue periféri-
co humano, obtida pela técnica de cultura temporária e corada com Giemsa.

4. RELATÓRIO
• Desenhe (40X - cebola e 100X - rato e humano) uma metáfase completa de
cada lamina e identifique os diferentes tipos de cromossomos.
Atenção: Use a objetiva de 100X, óleo de imersão.
• Tendo-se que determinar o número de cromossomos de uma espécie, que fase
da mitose seria escolhida? Por quê?
• O que é um cariótipo?
• Espécies diferentes com o mesmo número de cromossomos diferem em seus
cariótipos? Por quê?

212
Práticas de
Biologia
Celular
PRÁTICA Nº 8: IDENTIFICAÇÃO DE CROMOSSOMOS POLITÊNICOS

1. MATERIAL
Glândula salivar de Drosophila melanogaster (2n = 8)

1.1. MÉTODO
Observe no microscópio uma lamina permanente de glândula salivar de Drosophi-
la melanogaster, obtida pela técnica de esmagamento e corada com orceína acética.

2. RELATÓRIO
• Desenhe (40X) e identifique a morfologia dos cromossomos politênicos.
• Como são formados os cromossomos politênicos?
• Há diferença na quantidade de DNA entre as bandas e as interbandas? Por quê?
• Os puffs resultam de que processo?
• Que diferenças são esperadas quando se observa cromossomos politênicos de
larvas de diferentes idades?

PRÁTICA Nº 9: MITOSE EM CÉLULA VEGETAL

1. MATERIAL
Raiz de Allium cepa (cebola) (2n = 16)

1.1. MÉTODO
Observe no microscópio uma lamina permanente de células meristemáticas de raiz
de cebola, obtida pela técnica de reação de Feulgen e corada com o reativo de Schiff.

2. RELATÓRIO:
Desenhe (40X) e identifique todas as fases da mitose.
Quais as fases que aparecem com maior frequência na lamina examinada? Por quê?

213
Biologia
celular

PRÁTICA Nº 10: MEIOSE EM CÉLULA VEGETAL

1. MATERIAL
Antera de Zea mays (milho) (2n = 20)

1.1. MÉTODO
Observe no microscópio uma lamina permanente de células de antera de milho,
obtida pela técnica de esmagamento e corada com carmim acético.

2. RELATÓRIO
Desenhe (40X) e identifique todas as fases da meiose.

Anotações

214
INTERPRETAÇÃO DE ELETROMICROGRAFIAS Práticas de
Biologia
Celular

1. LISOSSOMO
Córtex da suprarrenal de hamster (25.000X).
Observe o número de lisossomos dentro do citoplasma, com forma irregular e
conteúdo heterogêneo. Por que há grande quantidade de lisossomos próximos ao
complexo de Golgi?

2. MITOCÔNDRIA
A: melanóforo de peixe (30.000X)
B: fígado de camundongo (45.000X)
C: rim de camundongo (84.000X)
D: rim de camundongo (69.000X)
E: coração de macaco (50.000X)
F: adrenal de macaco (40.000X)
G: adrenal de rato (29.000X)

Nomeie as estruturas que compõem estas organelas. Observe o número e os tipos


de cristas e a variação na densidade da matriz das mitocôndrias nos diversos tipos
celulares.

2.1. e 2.2. Mitocôndria de músculo cardíaco (microscopia de varredura)


Observe o esquema das estruturas que compõem esta organela. Observe os cortes
em diferentes profundidades, as cristas, a matriz e a membrana dupla das mitocôn-
drias.

3. RETÍCULO ENDOPLASMÁTICO LISO


Fígado de hamster (21.000X)
Baseado no fato de que esta célula pertence ao fígado de um animal que recebeu
injeções de 80 mg/Kg/dia de fenobarbital, o que podemos afirmar quanto ao seu REL?

4. RETÍCULO ENDOPLASMÁTICO RUGOSO


Fígado de hamster (58.000X)
Descreva a morfologia desta organela e discuta a presença dos ribossomos. Expli-
que a razão da presença de várias mitocôndrias próximas ao RER.

215
Biologia 5. COMPLEXO DE GOLGI
celular
A: testículo de sapo (45.000X)
B: plasmócito de cobra (57.000X)
C: intestino grosso de cobra (18.000X)
D: intestino grosso de cobra (58.000X)
E: plasmócito de macaco (40.000X)
F: testículo de sapo (45.000X)
Descreva a morfologia e o funcionamento desta organela em cada uma das figuras.

6. ORGANELAS
Fígado de rato (16.000X)
Discuta a organização das diferentes organelas no citoplasma desta célula e as suas
inter-relações.

7. PEROXISSOMO
Folha de tabaco
Descreva a morfologia desta organela e identifique a organela adjacente.

8. CLOROPLASTO
Folha de tabaco
Identifique as estruturas morfológicas desta organela

9. MEMBRANA PLASMÁTICA
A: intestino grosso de cobra (90.000X)
B: pele de peixe (41.000X)
C: pele de peixe (50.000X)
D: fígado de rato (50.000X)
E: pele de minhoca (22.500X)
F: pele de minhoca (65.400X)
Interprete e caracterize cada tipo de diferenciação da membrana plasmática de
cada figura. Qual a função delas e o que as setas indicam?

9.1. MEMBRANA PLASMÁTICA


Célula glial de anelídeo (260.000X)

9.2. DESMOSSOMO E HEMIDESMOSSOMO


Célula da epiderme de larva (64.000X)

216
9.3. MICROVILOSIDADES E GLICOCÁLIX Práticas de
Biologia
Epitélio intestinal de morcego (21.000X) Celular

Observe a estrutura e diferenciações da membrana nas figuras e resuma suas funções.

10. CÍLIO
A: Corte longitudinal do cílio de Paramecoum aurelia (110.000X)
B: e C: Corte transversal do cílio de Euplotes eurystomes (72.000X)

Descreva a estrutura e a configuração desta organela e observe os tipos de corte.


Qual é a sua função?

11. CENTRÍOLO E CÍLIO


A: Corte transversal do centríolo de embrião de galinha (150.000X)
B: Corte transversal de um cílio (150.000X)
Descreva a estrutura e a configuração do centríolo. Qual é a sua função?

12. NÚCLEO INTERFÁSICO


Descreva todas as estruturas que aparecem nesta figura.

12.1. Observe a estrutura da membrana nuclear e explique o que está ocorrendo


entre as figuras A e B.

13. CROMOSSOMO PLUMOSO


Descreva todas as estruturas que aparecem nas figuras.

14. ESTRUTURA DA CROMATINA


Descreva todas as estruturas que aparecem na figura.

Proposta de Atividades

1) Desenvolva as práticas conforme os roteiros e faça os relatórios no final.

217
Biologia
celular

Anotações

218
R eferências
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Biolog y of the cell. 5th ed. Garland, USA: Garland Science, 2008.

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ALBERTS, B.; BRAY, D.; LEWIS, J.; RAAF, M.; ROBERTS, K.; WATSON, J. D. Biologia
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Biologia
celular

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