Sie sind auf Seite 1von 40

RBGP - Nov 2011

Revista Brasileira de
Gerenciamento de Projetos
Volume 9 - Número 2
Nov 2011

Sumário

5 Percepção de valores de liderança dos gerentes de projetos de


empresas no Porto Digital

12 Gerenciamento de riscos em projetos de inovação tecnológica


financiados por agências de fomento

20 Integração entre o gerenciamento de riscos e de comunicação


para projetos de alta complexidade socioambiental

28 Sistema Adra - Aprender, Dividir, Registrar e Aplicar: o uso da


gestão do conhecimento

33 Lições aprendidas de um projeto mal sucedido


RBGP
Editorial
Esta edição da Revista Brasileira de Gerenciamento de Projetos é especial. Ela
Revista Brasileira de Gerenciamento
traz artigos que foram selecionados pelo Prêmio Visconde de Mauá em Ge-
de Projetos
ISSN 1679-902X
renciamento de Projetos e apresentados durante o 6º Congresso Brasileiro de
PM21 Soluções em Projetos Gerenciamento de Projetos, que aconteceu em Fortaleza (CE), em novembro
de 2011. O objetivo do Prêmio, que está na terceira edição, é destacar o desen-
Diretoria volvimento científico em gerenciamento de projetos. A avaliação dos trabalhos
Sérgio Marangoni Alves foi feita pela comissão de julgamento formada por especialistas designados pelo
Carlos Eduardo Yamasaki Sato
PMI-CE e por um comitê composto por docentes de instituições brasileiras,
Conselho Editorial responsável pela análise final. Para a avaliação, foram levados em consideração
Sérgio Marangoni Alves a originalidade do trabalho; a importância para os participantes do VI CBGP; a
Carlos Eduardo Yamasaki Sato importância e contribuição do trabalho para a área de Gerenciamento de Proje-
José Barbosa de Souza Filho tos; e a objetividade, clareza, sintaxe, ortografia e correção dos textos e gráficos.
Marcos Santos Abreu
Douglas Balduino Guedes da Nóbrega
Lysio Sellos Costa Filho Entre os cinco melhores trabalhos está o artigo Percepção de valores de lide-
rança dos gerentes de projetos de empresas no Porto Digital, de Hector Oli-
Revisores veira, Guilherme Carvalho, Antônio Valença, César Delmas, Hermano Perrelli.
Rafael Domingos Ledesma de Nadai Eles falam sobre os valores de liderança predominante entre os gerentes de
Luciane Bertoletti Barros
projetos de empresas no Porto Digital e, a partir disso, propõem recomendações
Jornalista Responsável de melhoria da liderança apoiados no uso do método Symlog.
Aline Gonçalves
MTB 8424 / PR Gerenciamento de riscos em projetos de inovação tecnológica financiados por
agências de fomento foi o tema trabalhado por Stanley Primo Ferreira, Michelle
Editoração Queiroz da Silva, em outro artigo premiado. Eles avaliam que, devido ao seu
Midia Arte teor, os projetos de inovação tecnológica envolvem um grande grau de risco e
(41) 3029-0931
descrevem algumas formas de se gerenciar esses riscos inerentes. Thiago Garcia
Gráfica e André Bittencourt do Valle escreveram sobre a implantação de empreendi-
Idealgraf Gráfica Editora Ltda mentos hidrelétricos no Brasil, o trabalho tem como título Integração entre o
Fone: (41) 3024-2144 gerenciamento de riscos e de comunicação para projetos de alta complexida-
Periodicidade de socioambiental. Para eles, parte da complexidade desses projetos se deve
Semestral à ampla participação social garantida pela legislação vigente para o processo e,
nesse contexto, eles propõem e apresentam uma metodologia de identificação e
Tiragem gerenciamento de partes interessadas para empreendimentos hidrelétricos.
3000 exemplares
O penúltimo artigo, de Shirlei Querubina Costa, apresenta uma forma de
Assinaturas / Exemplares atrasados utilizar o conhecimento de forma estratégica na gestão de projetos, usando
assinerbgp@pm21.com.br ou como ferramenta o Sistema Adra (Aprender, Dividir, Registrar e Aplicar). Para
Tel.: (41) 3016-2101
Preço do exemplar: R$15,00 fechar a edição, um texto que fala de Lições aprendidas de um projeto mal
Assinatura de 1 ano (2 exemplares): R$27,50 sucedido, trabalho elaborado por Helio Aisenberg Ferenhof e Fernando Antonio
Assinatura de 2 anos (4 exemplares): R$50,00 Forcellini, com foco de análise a gestão do conhecimento. Eles analisaram nove
Não é permitido fazer a reprodução total dos
artigos publicados em revistas e journals científicos para melhor compreender
artigos sem autorização prévia do Conselho as atividades envolvidas; identificar a causa raiz de sucessos e fracassos, ajudan-
Editorial. do a melhoria do processo; e ter o aumento sistemático das competências dos
A reprodução parcial é permitida desde que a envolvidos.
fonte seja identificada.
Boa leitura!
Os artigos são de responsabilidade exclusiva
dos autores.

www.pm21.com.br
pm21@pm21.com.br ERRATA
Rua Iapó, 118 cj - C . Alphaville Graciosa
CEP 83327-075 . Pinhais . PR A edição do mês de novembro de 2010 foi publicada como Volume 9 - Número
Tel.: (41) 3016-2101 1, mas deveria ter sido Volume 8 - Número 2. A edição Volume 9 - Número 1 é
Fax: (41) 3016-2102
a de maio de 2011.

Equipe editorial

4
RBGP - Nov 2011

Percepção de valores de liderança dos


gerentes de projetos de empresas no
Porto Digital
Hector Oliveira, Guilherme Carvalho, Antônio Valença, César Delmas, Hermano Perrelli

Resumo 1. introdução
O perfil técnico, comum entre os profissionais que atuam na
área de gerenciamento de projetos, tem criado “líderes” com
um excelente conhecimento técnico, porém sem diversas
outras qualidades necessárias à eficácia profissional. Além de
competências técnicas, as competências pessoais têm se tor-
nado cada vez mais imprescindíveis. A própria literatura da
Ciência Social oferece muitos modelos relacionados à forma
D entro dos papéis definidos para uma equipe de
projeto, o gerente é um dos principais responsáveis
pelo seu sucesso. Para o PMI2, o gerente de projetos
é aquele que possui maior autoridade e responsabilidade
pelo alcance dos objetivos do projeto.
como as pessoas se comportam, mudam seu comportamento,
se mudam, e que valores subjacentes acompanham esses Como posições de gerenciamento de projetos se tornam
comportamentos (1). Este artigo apresenta um estudo sobre cada vez mais proeminentes, a tarefa de alocar pessoas no
a percepção dos valores de liderança predominante entre
os gerentes de projetos de empresas no Porto Digital e, a papel de gerente de projetos que realmente tenham os co-
partir deste, propõe recomendações de melhoria da liderança nhecimentos, competências e comportamentos para serem
apoiados no uso do método Symlog. bem sucedidos tem se tornado cada vez mais crítica.
Palavras-chave: Liderança; Gerente de Projetos; Valores de Algumas iniciativas adotadas pelas empresas e, em especial
Liderança; Symlog. as de TI, têm sido a busca e a qualificação de profissionais
com certificações como o Project Management Professional
(PMP®), emitida pelo PMI (Project Management Insti-
tute) e já reconhecida na área. Hoje, 58% das empresas,
Abstract apesar de não exigirem formalmente, veem a certificação
como um diferencial para o cargo3. Porém, esse caminho
The technical profile, common among professionals working
in the project management area, has created “leaders” with tem criado “líderes” com ótimo conhecimento técnico, en-
an excellent technical knowledge, but without many other tretanto, sem diversas outras qualidades necessárias, para
qualities that are necessary to the professional effectiveness. uma devida consideração de competência, como gerentes
Besides technical competencies, personal competencies de projetos. Embora a gestão de projetos aponte para o
have become increasingly essential. The literature of Social uso de várias habilidades de gerenciamento, tais como
Science offers many models related to the way how the
people behave, change their behavior, change themselves, solução de problemas, planejamento, alocação de recursos
and what values underlie these behaviors (1). This article e controle de tarefas, estas habilidades, por si só, não são
presents a study about the perception of leadership values suficientes para controlar todos os elementos complexos as-
prevalent among Porto Digital’s companies project mana- sociados à gestão do projeto. Para Lewis5, se as pessoas não
gers in order to offer recommendations for improvement of
leadership based on the Symlog method. forem levadas a usar suas habilidades de forma adequada,
então de pouco serve para o projeto. Além de competências
Keywords: Leadership; Project Management; Leadership técnicas, as competências pessoais, por se tratarem de uma
Values; Symlog. função de relacionamento com pessoas, têm se tornado
cada vez mais imprescindíveis. Dentre essas competências,
a Liderança está entre as habilidades mais valorizadas pelas
organizações no gerenciamento de projetos, com 47,9% das
avaliações3.
Vendo por essa ótica, torna-se essencial o uso de instru-
mentos que auxiliem as empresas a avaliar características

5
Percepção de valores de liderança dos gerentes de projetos de empresas no Porto Digital.

como essas e a entender melhor como o gerente de projetos O conjunto de itens descritivos usados pelo método
interage e se comporta com sua equipe de forma a ser mais Symlog pretende cobrir não apenas comportamentos so-
eficaz no desempenho do seu papel. cialmente desejáveis, mas também todo o largo espectro
de atitudes que podem ocorrer no local de trabalho. Dessa
Para Cowen1, a partir da identificação dos valores-chave das
maneira, os itens incluem tanto os comportamentos que
pessoas, é possível desenvolver técnicas ou ainda propor
prejudicam como os que melhoram a produtividade e
recomendações que visem melhorar a eficácia das equipes de
satisfação do trabalho em equipe.
trabalho. Neste sentido, considerações práticas têm motiva-
do as organizações a focarem o sentido dos valores, a forma O método Symlog é complementado pelo uso do “Ques-
como eles ajudam a dar forma ao comportamento, e a forma tionário de Valores Individuais e Organizacionais”, com o
como as pessoas podem trabalhar mais eficazmente juntas. qual é possível identificar a tendência de comportamento
de um indivíduo. A Tabela 1 explora sucintamente os
O método SYMLOG (um acrônimo para Systems for the
traços, atos e sinais não verbais que definem as caracterís-
Multiple Level Observation of Groups), por sua vez, é um
ticas típicas de cada perfil de liderança.
modelo teórico e um método de avaliação da melhoria quan-
to à liderança, trabalho em equipe e eficácia organizacional
(6). Desenvolvido por Robert Freed Bales, Professor Emérito
da Universidade de Harvard, esse modelo, baseado num Categoria Traços
perfil de líder mais eficaz, por mais de 4 milhões de entrevis-
1U Dominante, ativo, comunicativo
tados, define 26 tipos de perfis de liderança que conseguem
preencher a maioria dos perfis das pessoas identificadas em 2 UP Expansivo, sociável, extrovertido
uma equipe de projeto. Alguns deles, porém, são indicados
3 UPF
como mais prováveis de serem bem-sucedidos liderando Persuasivo, convincente, orientado para a liderança
projetos, do que outros, por possuírem uma combinação de 4 UF Empreendedor, decidido, impessoal
qualidades gerenciais, técnicas e pessoais.
5 UNF Rigoroso, exigente, controlador
Segundo o modelo Symlog, os valores, comportamentos e
outros fatores da psicologia social podem ser representados 6 UN Determinado, competitivo, agressivo
em três dimensões: Valores de Dominância x Submissão 7 UNB Rebelde, insubordinado, egocêntrico
(Dimensão do Poder), Valores de Comportamento Ami-
gável x Não Amigável (Dimensão do Relacionamento) e 8 UB Brincalhão, espirituoso, divertido
Valores de Aceitação x Não Aceitação de Orientação da
9 UPB Protetor, simpático, educado
Tarefa (Dimensão de Orientação para a Tarefa vinda de
uma Autoridade Estabelecida)7. 10 P Amável, democrático, participativo
O conceito básico que emerge na teoria do método Symlog 11 PF Cooperativo, racional, construtivo
é de que toda interação social pode ser visualizada como
12 F Sério, sensato, objetivo
acontecendo em um campo tridimensional, análogo ao
espaço físico. Os valores sobre relacionamentos com pes- 13 NF Apegado a regras, insistente, inflexível
soas, aceitos por alguns indivíduos e rejeitados por outros,
podem assim ser ilustrados como localizados nesse espaço. 14 N Auto-protetor, não-amigável, negativista
15 NB Não-cooperativo, pessimista, cético
16 B Espontâneo, aberto às próprias emoções
17 PB Agradável, afetuoso, jovial
18 DP Confiável, receptivo, sensível
19 DPF Modesto, respeitador, dedicado
20 DF Cauteloso, disciplinado, obediente
21 DNF Retraído, conformado, angustiado
22 DN Reprimido, insociável, ressentido
23 DNB Não-cumpridor de tarefas, ausente, alienado
24 DB Indeciso, ansioso, irresoluto
25 DPB Satisfeito, tranquilo, despreocupado
26 D Calado, passivo, omisso

Figura 1 – Diagrama de Cubo Symlog Tabela 1 – Categoria de traços, atos e sinais não
Fonte: Adaptado de BALES, R. F (1983) verbais dos perfis de liderança Symlog

6
RBGP - Nov 2011

Com a coleta dos dados concluída, os resultados puderam


2. ProcEdimEntoS mEtodológicoS ser gerados. Uma vez com estes resultados, seguiu-se para
a análise das variáveis, ou seja, dos valores de liderança do
Este estudo utilizou o método hipotético-dedutivo com Método Symlog. Primeiramente foi realizada uma análise
objetivo descritivo e exploratório a partir de um levanta- sobre a visão média das avaliações feitas pelo grupo e, em
mento em um estudo de campo. Para tanto, foi realizada seguida, uma visão do grau de dispersão das avaliações
uma pesquisa de campo (survey), de natureza quantitati- realizadas. Essas avaliações serviram de base para a análise
va, cuja finalidade era responder as seguintes perguntas: dos valores de liderança predominantes, bem como a sua
a) Existem valores de liderança com maior tendência relação com os valores considerados ideais e indicados
de ocorrência entre os gerentes de projetos das para a população pesquisada, numa proposta de recomen-
empresas do Porto Digital? dações de melhoria quanto à liderança.
b) Os valores de liderança desejados para o gerente de
projetos das empresas do Porto Digital coincidem
com os valores de liderança predominantes entre
os gerentes de projetos das empresas do Porto
Digital?
3. rESultadoS E diScuSSõES
c) Os valores de liderança predominantes entre os ge- No que diz respeito à caracterização da população, no
rentes de projetos das empresas do Porto Digital e total foram 39 gerentes de projetos entrevistados distri-
os desejados se aproximam das normas de pesquisa buídos por 19 empresas do Porto Digital. No geral, são
internacionais do Symlog Consulting Group para o pessoas do sexo masculino (74%), entre 25 e 30 anos de
conjunto de valores da liderança eficaz? idade (44%), concentradas no nível de Especialização/
Dessa maneira, o estudo envolveu 39 profissionais, dis- Mestrado. Em relação à caracterização das empresas parti-
tribuídos por 19 empresas situadas no Porto Digital, em cipantes, no que se refere ao seu porte, 44% são conside-
Recife, Pernambuco, entre os meses de fevereiro e março radas médias empresas e 31% são consideradas empresas
de 2010. de pequeno porte. Quanto ao projeto do qual os gerentes
entrevistados estão participando no momento da pesqui-
Para a coleta de dados, foram utilizados dois questio- sa, a maioria apresenta entre 6 e 10 pessoas trabalhando
nários. O primeiro, de elaboração própria, desenhado em um mesmo ambiente físico, ou seja, numa mesma sala.
especificamente para esta pesquisa, com o objetivo de Com relação aos custos, há uma distribuição muito próxi-
identificação do respondente e caracterização geral do ma para projetos entre R$ 150.000,00 e R$ 1.000.000,00 e
projeto no qual o entrevistado estava envolvido. O segun- projetos entre R$1.000.000,00 e R$3.000.000,00. No que
do, o questionário de Avaliação dos Valores Individuais e diz respeito à duração total dos projetos, a maioria tem
Organizacionais, do método Symlog, com o objetivo de entre 6 meses e 1 ano de duração.
examinar percepção de valores de liderança dos gerentes
de projetos entrevistados. Para o questionário de Valores Individuais e Organiza-
cionais do método Symlog, as imagens obtidas para as
Sobre o questionário de Valores Individuais e Organizacio-
avaliações dos valores de liderança predominantes entre
nais do método Symlog, a questão avaliativa proposta para
os gerentes de projetos das empresas do Porto Digital
que os respondentes julgassem os 26 itens descritivos
(MPM) e os desejados para estes gerentes (PPM) apre-
referente aos valores de liderança foram:
sentaram resultados muito próximos.
a) Em geral, que tipo de valores o gerente de projetos
mais eficaz que você conhece exibe em seu com- Na Tabela 2, constam os valores obtidos como média das
portamento? avaliações recebidas para cada uma das imagens pesqui-
b) Em geral, que tipo de valores o gerente de proje- sadas. A Figura 2 representa o diagrama de campo que
tos menos eficaz que você conhece exibe em seu demonstra a localização média para cada conceito.
comportamento?
c) Em geral, que tipo de valores o Porto Digital preci-
Imagens Código Localização da imagem final
sa promover quando estiver treinando gerentes de
projetos?
PPM 1.5 U 10.5 P 8.3 F
A pergunta(a), do tipo MAIS EFICAZ, busca avaliar a
percepção dos valores correntes de maior eficácia entre
MPM 1.0 U 8.6 P 9.5 F
os gerentes de projetos das empresas do Porto Digital. A
pergunta (b), do tipo MENOS EFICAZ, busca avaliar a
LPM 0.7 U 5.1 N 1.3 B
percepção dos valores correntes de menor eficácia entre
os gerentes de projetos das empresas do Porto Digital.
Esta pergunta foi incluída nas avaliações como teste de Tabela 2 – Média dos valores obtidos das avaliações
consistência das perguntas (a) e (c). A pergunta (c), do
tipo DESEJO, por sua vez, busca avaliar a percepção dos
valores desejados, ou ideais, para um gerente de projetos
de empresas do Porto Digital.

7
Percepção de valores de liderança dos gerentes de projetos de empresas no Porto Digital.

aversão exagerada para alguns valores, por vezes necessá-


rios, porque estes valores não se adequam aos seus ideais8.
Na comparação com as normas da pesquisa de liderança
mais eficaz do método Symlog, a Figura 3, a seguir, indica,
para cada imagem MPM os valores onde a média está
próxima ao perfil normativo e onde há valores superenfati-
zados e subenfatizados.

Figura 2 – Diagrama de campo com a


localização de cada imagem da pesquisa.
Fonte: Symlog Consulting Group. Relatório da pesquisa
Porto Digital Project Management Profile (2010).

Entretanto, apesar de algumas variações nos valores ob- Figura 3 – Sinopse do gráfico de barras para MPM e comparação
tidos para os eixos de poder, relacionamento e orientação com o perfil normativo. Fonte: Symlog Consulting Group. Relatório
para a tarefa, de acordo com a média recebida por todos os da pesquisa Porto Digital Project Management Profile (2010).
avaliadores, os valores mais característicos para as imagens
MPM e PPM foram: Idealismo responsável, colaboração no
A sinopse do gráfico de barras para MPM mostra que as
trabalho.
avaliações registraram que:
Estes valores fazem referência à localização do tipo PF. Os • Dos valores considerados essenciais e contributi-
membros vistos nesta localização apresentam em geral as vos para o trabalho em equipe, 10 dos 13 valores
seguintes características: estão dentro do perfil normativo, havendo apenas
a) Um equilíbrio particular de valores que é estratégi- 3 abaixo: (a) Divertimento, alívio de tensão, rela-
co na promoção do trabalho em equipe; xamento dos controles; (b) Proteção dos mem-
bros menos capacitados, oferecimento de ajuda
b) Disposição para cooperação no ambiente de
quando necessário; (c) Confiança na bondade dos
trabalho, sem qualquer preocupação com status;
outros;
• Dos valores necessários, mas às vezes perigosos,
altruísta e otimista em relação ao resultado de suas
tarefas, chegando a ser idealista.
3 estão dentro do perfil normativo, 1 está abaixo
c) Tendência a não mostrar excesso de domínio ou
(Intransigência, assertividade auto-orientada) e 1
submissão;
acima do perfil normativo (Contenção dos desejos
d) Geralmente são pessoas que defendem fortemente individuais em favor das metas organizacionais);
• Dos valores que interferem no trabalho em equi-
seus valores e tendem a concordar com os outros,
em alguns casos de valores diferentes, simplesmen-
pe, todos os 8 estão dentro do perfil normativo.
te para manter a harmonia do grupo;
Em que pesem os resultados da percepção dos valores cor-
Numa análise comparativa desse tipo de liderança em
rentes (MPM) e valores ideais (PPM) apresentarem va-
relação aos demais e sua relação com os valores para o tra-
lores característicos que fazem referência à localização do
balho eficaz em equipe, este tipo de pessoa apresenta um
mesmo tipo, no caso, PF, deve-se considerar a percepção
equilíbrio de valores associados com os dos líderes mais
de expectativa de mudança com os seguintes movimentos
eficazes e, neste sentido, apresenta-se como um modelo
nas escalas dos eixos deste método tridimensional:
excelente para promover a liderança e gerar uma equipe
mais eficaz8. Entretanto, apresenta uma deficiência na do- a) expectativa de mudança na escala de 9,5 para 8,3,
minância e, desta maneira, é pouco provável exercer uma ou seja, uma diminuição 12,63% no eixo da orienta-
liderança muito ativa8. Além disso, pode demonstrar uma ção para a tarefa;

8
RBGP - Nov 2011

b) expectativa de mudança na escala 8,6 para 10,5, ou • Os valores de liderança predominantes entre os ge-
seja, um aumento 18,10% no eixo dos relaciona- rentes de projetos das empresas do Porto Digital e
mentos afetivos favoráveis ou positivos; os desejados se aproximam das normas de pesquisa
c) uma percepção de mudança na escala de 1 para 1,5, internacionais do Symlog Consulting Group para o
ou seja, aumento de 50% no eixo da dominância. conjunto de valores da liderança eficaz.
Em relação às perguntas de pesquisas geradas por meio do A Figura 2, por sua vez, representa o diagrama de campo
método hipotético-dedutivo, é possível avaliar que: que demonstra a localização média para cada conceito.
• Existem valores de liderança com maior tendência de
Uma inspeção simples do diagrama de campo da Figura 2
nos permite perceber que as imagens para MPM e PPM
ocorrência entre os gerentes de projetos das empre- estão um pouco afastadas, na linha PF, da norma para o
sas do Porto Digital, através da análise na Figura 4. conjunto de valores da liderança eficaz do Symlog. Segun-
do Koenigs8, isso acontece pelo fato de que as imagens
avaliadas são imagens idealizadas assim, muitas vezes,
estas se mostram como um tipo mais desequilibrado que
o mep (most effective profile). Em geral, o fato de as duas ima-
gens estarem localizadas no círculo interno que represen-
ta o núcleo do trabalho mais eficaz, onde está localizado o
mep, nos permite concluir que elas estão próximas do mep
indicando que a norma do Método Symlog seria um bom
alvo para o desenvolvimento de gerentes de projeto.
O fato de as imagens para os valores de liderança predo-
minantes entre os gerentes de projetos das empresas do
Porto Digital e o desejado para o gerente de projetos das
empresas do Porto Digital estarem próximas das normas
do método Symlog para os valores da liderança eficaz
abre espaço para que possamos utilizar as recomendações
propostas pelo método Symlog como recomendações de
melhoria de liderança para os gerentes de projetos das
empresas do Porto Digital.
Evidentemente que as recomendações de melhoria da li-
derança propostas aqui estão baseadas na sua relação com
os valores normativos da liderança eficaz indicado pelo
método Symlog. Nesse sentido, os ajustes partem por
Figura 4 – Diagrama de Campo do Diagrama de Dispersão MPM. indicar como as imagens obtidas poderiam ser desenvol-
Fonte: Symlog Consulting Group. Relatório da pesquisa vidas a ponto de se deslocarem para o mep. Neste sentido,
Porto Digital Project Management Profile (2010). estas recomendações partem de analisar os pontos de
superênfase e subênfase, que chamaremos aqui de pontos
de alertas, para então sugerir como tratar cada um destes
Uma inspeção simples do diagrama de dispersão permite
pontos.
concluir que existem tendências na amostra para determi-
nados tipos ou valores de liderança. Isso é particularmente No total, foram geradas 14 recomendações normativas
visível através da maior concentração de imagens numa para a melhoria da liderança. Neste artigo apresentamos,
região que em outra. Por exemplo, 22% ficaram localizadas de forma ilustrativa, 2 das 14, como forma de exemplificar
no núcleo do trabalho mais eficaz em equipe (região 1), como foram geradas as recomendações a partir da análise
40% no lado liberal do trabalho em equipe (região 2) e 31% dos pontos de alerta10.
no lado conservador do trabalho em equipe (região 3).
• Os valores de liderança desejados para o gerente de 13 NF Contenção dos desejos individuais em
projetos das empresas do Porto Digital coincidem favor das metas organizacionais (acima do perfil
com os valores de liderança predominantes entre os
gerentes de projetos das empresas do Porto Digital. normativo)
Apesar de algumas variações nos valores obtidos para os • Uma ênfase para contenção dos desejos indivi-
eixos de poder, relacionamento e orientação para a tarefa, duais em favor das metas organizacionais é uma
reação normal à emergência.
• Comportamento típico de gerentes que tra-
percebidas na Tabela 2 e no Diagrama de Campo da Figura
2, de acordo com a média recebida por todos os avaliado-
res, os valores mais característicos para as imagens MPM balham em projetos com foco na resolução de
e PPM foram: Idealismo responsável, colaboração no trabalho. problemas críticos e ainda sob a pressão contínua
Esses valores fazem referência à localização do tipo PF. dos stakeholders.

9
Percepção de valores de liderança dos gerentes de projetos de empresas no Porto Digital.

• Se continuar por muito tempo, a motivação será


e modelos, segundo Rokeach & Ball-Rokeach9, há pouco
consenso quanto à forma de conceituar e medir valores, e
destruída e outros problemas começarão a apare- especialmente como fazer isso de uma maneira que seja
cer como reações à pressão: a fadiga, a alienação conceitualmente significante. Além disso, as preocupa-
do grupo e da tarefa, e, por fim, o ressentimento ções dos cientistas comportamentais informam o estudo
em relação à autoridade. da relação entre comportamentos e valores, mas poucos
pesquisadores abordam a aplicação de instrumentos psico-
Recomendação 06: Procure ser mais atento à at- métricos para o entendimento de valores para o contexto
mosfera da equipe, levando em consideração os da liderança na ideia de propor recomendações.
limites de sacrifício de cada membro e a ênfase
que você dá às metas organizacionais. Este artigo apresentou um estudo sobre o perfil de
liderança predominante entre os gerentes de projetos do
Porto Digital para, a partir deste estudo, propor recomen-
8 UB Divertimento, alívio de tensão, relaxamento dações de melhoria contínua da liderança apoiadas no uso
dos controles (abaixo do perfil normativo) do método Symlog.
• apresentar traços de ansiedade pelo desempenho A partir deste estudo foi possível avaliar a predominân-
adequado, especialmente se forem esperadas cia de ocorrência de determinados tipos de valores de
ameaças vindas de uma situação externa e a re- liderança em detrimento de outros, e a comparação destes
provação da autoridade. Exemplos poderiam ser: com as normas internacionais do Symlog para os valores
pressão por prazos para lançamento de um deter- de liderança eficaz, demonstrando que esses valores se
minado produto vinda da direção da empresa ou aproximam. Os resultados desse trabalho proporcionam
atrasos no pagamento devido à não aprovação da ainda um conjunto de recomendações de melhoria da
entrega por parte do cliente. liderança aos gerentes de projetos das empresas do Porto
• tende a se tornar obsessivo e a necessidade de per- Digital. Por fim, acredita-se que esse trabalho trata apenas
feição tende a aumentar a probabilidade de erros, o de um esforço inicial em aplicar a psicometria ao gerencia-
que pode tornar difícil o relaxamento do controle. mento de projetos na intenção de promover/propor reco-
• a percepção por parte dos outros membros da
mendações de melhoria de suas competências essenciais.
A iniciativa, neste momento, foi aplicada ao estudo da
equipe de que há uma deficiência na habilidade liderança no contexto do gerenciamento de projetos.
de se divertir, de relaxar a tensão ou o controle.

Recomendação 01: Procure achar as fontes de


ansiedade e fazer o que for possível para reduzir
esta ansiedade.
5. rEfErênciaS BiBliográficaS
[1] Cowen MA. A relação entre declarações de comportamentos e valo-
res do líder/dos administradores, de acordo com seus colegas de trabalho
Recomendação 02: Procure prestar mais aten- nas organizações. Doctoral dissertation, United States International
ção aos sinais que está despertando nos demais University, 1998
membros da equipe. [2] PMI (Project Management Institute). Um guia do conhecimento
em gerenciamento de projetos (Guia PMBOK) Quarta
Edição. Project Management Institute, 2008. PMI
[3] __________. Estudo de Benchmarking em Gerenciamento de Proje-
4. concluSão tos Brasil Project Management Institute – Chapters Brasileiros, 2010.
[4] Ghering R D. Applying traits theory of leadership to project
management. March 2007 Project Management Journal. by the Project
Não é de hoje que grande parte do sucesso dos projetos Management Institute, 2007
está associada às competências presentes na figura de
quem o lidera. Para o PMI, o gerente de projetos é quem [5] Lewis J. Project planning, scheduling and control, 3rd ed. New York:
McGraw-Hill, 2001.
possui maior autoridade e responsabilidade pelo alcance
dos objetivos do projeto2. Em estudo recente de bench- [6] Valença A C, Koenings R, Hare P. Método Symlog e aprendizagem
marking em gerenciamento de projetos no Brasil, dentre organizacional. Qualitymark: Rio de janeiro, 2004.
as habilidades mais valorizadas pelas Organizações, além [7] Bales R F. The SYMLOG key to Individual and Organizational
do conhecimento em gerência de projetos, estão lideran- Values. SYMLOG Consulting Group, 18580 Polvera Dr., San Diego, CA
92128, 1983.
ça, comunicação e negociação3.
[8] Symlog Consulting Group. Relatório da Pesquisa, 2010.
Vários modelos têm sido criados e desenvolvidos tanto
para definir que competências são essenciais à função [9] Rokeach M, Ball-Rokeach S J. Stability and Change in American
Value Priorities, American Psychologist, 44 (May), 775-784, 1989.
de gerente de projetos, quanto para entender melhor
como o gerente de projetos interage e se comporta com [10] Oliveira H P L. et al. Um Estudo sobre percepção de valores de
liderança dos gerentes de projetos de empresas no Porto Digital. Disser-
sua equipe de forma a ser mais eficaz no desempenho do tação de Mestrado, Centro de Informática da Universidade Federal de
seu papel. Entretanto, apesar da proliferação de teorias Pernambuco, Recife, 2010.

10
RBGP - Nov 2011

SoBrE oS autorES
Hector Paulo (autor) Guilherme Carvalho (co-autor)
Sócio da Holon Systemic Solutions e consultor associado Sócio da Holon Systemic Solutions e consultor associado
da Valença & Associados – Aprendizagem Organizacio- da Valença & Associados – Aprendizagem Organizacio-
nal. Mestre em Ciências da Computação pelo Centro de nal. Mestre em Ciências da Computação pelo Centro de
Informática (CIn) da Universidade Federal de Pernam- Informática (CIn) da Universidade Federal de Pernambu-
buco (UFPE) na área de Valores de liderança aplicado ao co (UFPE) na área de Pensamento Sistêmico aplicado ao
gerenciamento de projetos. Pesquisador do CNPq e do Gerenciamento de Projetos. Autor de artigos, capítulos e
Grupo de Pesquisa em Gerenciamento de Projetos (GP2) livros sobre Aprendizagem Organizacional e Pensamento
do CIn-UFPE. Autor de artigos, capítulos e livros sobre Sistêmico. Possui experiência com pesquisa pela Facepe e
valores de liderança, competências no gerenciamento de CNPq e docência pela Universidade Federal de Pernam-
projetos, pensamento sistêmico e aprendizagem organiza- buco (UFPE), tendo participado de conferências interna-
cional. Possui experiência com pesquisa pelo CNPq e do- cionais. (E-mail: guilherme@portalholon.com)
cência pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
(E-mail: hector@portalholon.com).

César Delmas (co-autor)


Hermano Perrelli de Moura (co-autor) Sócio da Holon Systemic Solutions e consultor associado
da Valença & Associados – Aprendizagem Organizacio-
Professor Adjunto do Centro de Informática da Uni- nal. Mestre em Ciências da Computação pelo Centro de
versidade Federal de Pernambuco. Pós-Doutorado pela Informática (CIn) da Universidade Federal de Pernam-
University of Maryland at College Park e PhD em Ciência buco (UFPE) na área de Educação Reflexiva aplicada ao
da Computação pela Universidade de Glasgow. Possui Gerenciamento de Projetos. Autor de artigos, capítulos e
certificação PMP (Project Management Professional) pelo livros sobre Aprendizagem Organizacional e Pensamento
PMI. Como pesquisador atua na área de Computação, Sistêmico. Possui experiência com pesquisa pela CAPES
com ênfase em Engenharia de Software e Sistemas de e CNPq e docência pela Universidade Federal de Per-
Informação, desenvolvendo pesquisas e projetos, princi- nambuco (UFPE) e Universidade Brasileira de Tecnologia
palmente, nas seguintes linhas: processo de desenvolvi- (Unibratec). (E-mail: cesar@portalholon.com)
mento de software, gestão de projetos, gestão de projetos
de software, gestão da TI e empreendedorismo em
informática (E-mail: hermano@cin.ufpe.br)

Antônio Carlos Valença (co-autor)


Diretor Técnico de Valença & Associados - Aprendizagem
Organizacional e da Holon Systemic Solutions. Doutor
em Comportamento Organizacional pela Case Western
Reserve University - EEUU. Consultor internacional
certificado pelo Symlog Consulting Group e consultor
internacional de Appreciative Inquiry com especializações
em Harvard. Como consultor tem experiência de mais de
30 anos com clientes diversos. Autor de mais de dez livros
publicados sobre Teoria de Ação e Aprendizagem Organi-
zacional. (E-mail: valenca@portalholon.com )

11
Gerenciamento de riscos em projetos
de inovação tecnológica financiados por
agências de fomento
Stanley Primo Ferreira, Michelle Queiroz da Silva

Resumo 1. introdução
A Inovação Tecnológica é uma realidade presente em empre-
sas de todos os setores, inclusive em instituições de ensino.
A inovação é um diferencial na subsistência e sucesso dessas
empresas e instituições. Corroborando essa afirmativa, cada
vez mais novos projetos de inovação tecnológica são desen-
S egundo o PMBOK (PMI, 2008), um projeto é um
esforço temporário, destinado a criar um produto,
serviço ou resultado único. Sendo assim, as atividades
são elaboradas e controladas de modo a possibilitarem a
maior eficiência e eficácia do projeto. Por outro lado, na
volvidos por meio do financiamento de agências de fomento
como a FINEP1, possibilitando o crescimento econômico e visão das agências de fomento2, projeto é o conjunto de
financeiro dessas empresas e instituições. Projetos de inova- informações que definem a alocação de recursos para uma
ção tecnológica envolvem um grande grau de riscos devido atividade ou empreendimento que permitam a avaliação
ao seu teor.
da conveniência da participação financeira nessas ativida-
Este artigo descreve algumas formas de gerenciar os riscos des (BNDES, 2011). Dentro dessa visão, os projetos são
inerentes aos projetos de inovação tecnológica, facilitando formulados por quem solicita recursos às agências de fo-
esse gerenciamento. A metodologia desenvolvida aborda as mento, pleiteando o financiamento dos mesmos. Um bom
técnicas mais eficientes de gerenciamento de riscos, base-
adas em literaturas de referência no segmento de gerencia- projeto deve conter um texto plausível, sanando todos os
mento de projetos. tópicos requeridos pela agência de fomento no edital.
Palavras-chave: Projeto; Inovação; Riscos. Em aplicações práticas, um projeto de inovação trata da
implantação e desenvolvimento de um produto ou processo
com características de desempenho aprimoradas. Quando
falamos em inovação tecnológica, temos foco nas atividades
Abstract de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I). Dentro
deste contexto, espera-se que um projeto de inovação tec-
Technological innovation is a reality in enterprises of all nológica apresente inúmeros fatores de risco, tanto quanto
sectors, including educational institutions. Innovation is a
difference in the survival and success of these companies as incertezas envolvidas em produtos ou processos inovado-
and institutions. Corroborating this claim, more and more res. Essas incertezas vão desde a concepção do produto ou
new technological innovation projects are developed throu- processo até sua inserção no mercado.
gh funding agencies as the FINEP, enabling the economic
and financial growth of these companies and institutions. É importante garantir a utilização racional dos recursos
Technological innovation projects involve a high degree of financeiros dentro do planejado, bem como do tempo para
risk due to its content.
desenvolvimento do projeto. Porém, o risco maior nesse
This article describes some ways of managing the risks tipo de projeto está na própria tecnologia desenvolvida, já
inherent in technological innovation, facilitating the mana- que, no decorrer do desenvolvimento do projeto, por se
gement of risks in these types of projects. The methodology tratar de algo inovador, pode não apresentar o desempenho
addresses the most effective techniques of risk management
based on literature reference in the segment of project planejado, dificultando ou impossibilitando a inserção do
management. produto no mercado. A realização de uma eficiente análise
de viabilidade técnica econômica e financeira reduz os
Keywords: Design; Innovation; Risks. riscos de fracasso de um projeto de inovação tecnológica.
Como as agências de fomento financiam investimentos
em PD&I mediante a apresentação de propostas de

12
RBGP - Nov 2011

projetos de inovação, esses projetos deverão ser elabora- 3. Análise Priorização dos riscos Avaliação de probabilidade
dos com o planejamento, os investimentos e a análise de qualitativa de para análise ou ação e impacto de riscos; matriz
riscos bastante detalhados, de forma a garantir a aceitação riscos adicional subsequente de probabilidade e impacto;
do investimento das agências nos projetos de inovação através de avaliação avaliação da qualidade
e combinação de sua dos dados sobre riscos;
tecnológica. Grande parte do sucesso e do financiamento probabilidade de ocor- categorização de riscos;
desses projetos é determinada nas etapas de planejamen- rência e impacto. avaliação da urgência do
to e formulação dos projetos. risco.
4. Análise Análise numérica do Técnicas de representa-
As empresas e organizações dependem cada vez mais de quantitativa de efeito dos riscos iden- ção e coleta de dados:
investimentos em inovação tecnológica. Como a tecnolo- riscos tificados nos objetivos entrevistas, distribuições
gia é fator determinante no que se refere à competitivida- gerais do projeto. de probabilidade, opinião
de (nem sempre as empresas podem custear a aquisição especializada; análise
quantitativa de riscos e
de novas tecnologias e o custo com desenvolvimento tec- técnicas de modelagem:
nológico é cada vez maior), o financiamento com inovação análise de sensibilidade,
tecnológica possibilita também o crescimento econômico análise do valor monetário
e financeiro dessas organizações. esperado, análise da árvore
de decisão, modelagem e
Este trabalho se propõe a orientar a formulação de proje- simulação.
tos de inovação, focando no ponto crítico desses projetos, 5. Planejamento Desenvolvimento de Estratégias para riscos
a análise dos riscos existentes no desenvolvimento de das respostas a opções e ações para negativos ou ameaças:
produtos e processos inovadores, baseando-se nas orienta- riscos aumentar as oportu- prevenir, transferir, mitigar;
nidades e reduzir as estratégias para riscos
ções de boas práticas disseminadas no PMBOK. ameaças aos objetivos positivos ou oportunida-
do projeto. des: explorar, compartilhar,
melhorar; estratégias para
ameaças e oportunidades:
aceitação, estratégia para
2. análiSE dE riScoS 6. Monitoração Acompanhamento
respostas contingenciadas.
Reavaliação de riscos;
de controle de dos riscos identifica- auditorias de riscos;
Um ponto principal e fator decisivo para sucesso de um riscos dos, monitoramento análise das tendências e da
projeto é a análise e gerenciamento de riscos. Esse ge- dos riscos residuais, variação; medição do de-
renciamento envolve as etapas de planejamento, identi- identificação dos novos sempenho técnico; análise
ficação, análise de respostas, monitoramento e controle riscos, execução de das reservas; reuniões de
de riscos em um projeto (PMI, 2008). O gerenciamento planos de respostas a andamento.
riscos e avaliação da
de risco existe para aumentar a probabilidade e o im- sua eficácia durante
pacto dos eventos positivos e diminuir a probabilidade todo o ciclo de vida do
e o impacto dos eventos adversos ao projeto, daí sua projeto.
importância. Na tabela 1, são indicadas as etapas de um Tabela 1: Modelo de Gerenciamento de Risco
bom gerenciamento de riscos e a descrição detalhada das Fonte: PMBOK (PMI, 2008).
atividades envolvidas.

Segundo o PMBOK (PMI, 2008), risco é um evento


ETAPA DESCRIÇÃO FERRAMENTAS ou uma condição incerta que, se ocorrer, irá afetar pelo
1. Planejamento Como abordar, planejar Análises e reuniões de menos uma das áreas do projeto. Como o gerenciamento
do gerencia- e executar as atividades planejamento. de risco é o meio pelo qual as incertezas que poderão
mento de riscos de gerenciamento de afetar o projeto são sistematicamente gerenciadas para
riscos de um projeto.
garantir que todos objetivos do projeto sejam alcançados,
quando tratamos de projetos de inovação tecnológica, esse
2. Identificação Determinação dos ris- Revisões da documenta-
de riscos cos que podem afetar o ção; técnicas de coleta
gerenciamento deve ser bastante eficiente, dado o grau
projeto e documentação de informações: Brains- de incerteza existente nesses tipos de projeto.
de suas características. torming, técnica Delphi,
entrevistas, identificação
da causa-raiz, análise dos 2.1. Análise de riscos em projetos de
pontos fortes e fracos,
oportunidades e ameaças inovação tecnológica
(SWOT); análise da lista
de verificação, análise das Qualquer projeto está associado a diversos riscos e incer-
premissas; técnicas com tezas que devem ser tratados. Esses riscos e incertezas
diagramas: causa e efeito; irão diferenciar os projetos quanto a sua atratividade, ou
sistema ou fluxogramas;
influência.
seja, poderão definir a lucratividade dos mesmos. Em
projetos de desenvolvimento e inovação tecnológica, esses
riscos e incertezas são ainda maiores e devem ser traba-
lhados de forma intensa e eficiente.

13
Gerenciamento de riscos em projetos de inovação tecnológica financiados por agências de fomento

Em projetos de inovação tecnológica, além da existência dos As duas primeiras técnicas, por serem mais simples,
riscos comuns a projetos de investimento industrial (risco normalmente são utilizadas em projetos de menor com-
de inviabilidade econômica, risco de mercado, risco político, plexidade. Já as duas últimas técnicas, por serem mais
entre outros), ainda estão sujeitos a riscos e incertezas vincu- complexas, são utilizadas em projetos maiores. Todas
lados à própria tecnologia a ser desenvolvida. Abaixo seguem essas abordagens são mais técnicas e se aplicam a proje-
alguns exemplos de riscos e incertezas inerentes à tecnologia tos de maior vulto. A partir dessas abordagens técnicas
desenvolvida (WEISZ, 2009, p. 80 e 81): complexas, podemos conseguir abordagens mais simplifi-
• A tecnologia desenvolvida pode se tornar inviável
cadas de análise de risco. Nesse caso, a análise de riscos e
incertezas poderá ser feita em três etapas (WEISZ, 2009,
à sua execução.
• O trabalho de desenvolvimento da tecnologia
p. 84 e 85):
pode seguir rumos diferentes do planejado, sendo • Análise de Sensibilidade: permite o estudo do im-
necessária a adoção de soluções técnicas diferen- pacto das variações específicas nos parâmetros do
tes das idealizadas no projeto. projeto sobre o seu potencial econômico ou sobre
• O tempo de desenvolvimento da tecnologia pode
os resultados econômicos e financeiros, apontan-
do as variáveis que mais afetam os resultados do
ser muito extenso, inviabilizando a inserção da
projeto.
• Análise de Limites Críticos: permite determi-
mesma no mercado.
• A possibilidade de não encontrar investidores que
nar o valor que deve ser assumido por uma dada
se arrisquem com investimentos em tecnologias
variável independente, de tal forma a assegurar o
ainda não testadas e produzidas.
• A tecnologia pode se mostrar viável na teoria, mas
retorno mínimo aceitável para o investimento.
• Análise de Risco: avalia de modo mais completo o
inviável na prática.
efeito das incertezas do projeto sobre os indicado-
Os projetos de inovação tecnológica, devido a sua natu- res de fluxo de caixa e fluxo de caixa descontado.
reza de pesquisa e desenvolvimento, são projetos que
Conforme já comentado, os projetos de inovação tecno-
demandam um intervalo maior de tempo para seu de-
lógica, pelo seu teor, são elaborados e desenvolvidos em
senvolvimento, teste e validação. Devido a esse fato, são
diversas condições de riscos e incertezas. Nos itens acima
projetos que apresentam grandes riscos, principalmente
citados, as análises de sensibilidade e de limites críticos
no que se refere a investimento e retorno financeiro. À
possibilitam ao gerente do projeto determinar os impactos
medida que as atividades de pesquisa e desenvolvimento
na possibilidade de o projeto seguir um caminho diferente
são realizadas, os riscos vão diminuindo e com isso podem
do planejado. A análise de risco deve ser feita de modo a
ser avaliados de forma mais crítica, impactando na realiza-
identificar e tratar as incertezas em relação aos parâmetros
ção da etapa seguinte.
do projeto. Weisz (2009, p. 97) afirma que a combinação
Segundo Weisz (2009, p. 82), existem diversas técnicas dos riscos associados aos parâmetros do projeto determinará
para ajuste de riscos em projetos de inovação tecnológica, os riscos dos indicadores de decisão a serem calculados.
dentre elas destacamos:
• Abordagem subjetiva: nessa abordagem, são 2.2. Diagrama de SWOT3
calculados os indicadores de desempenho
definidos para medição da viabilidade do pro- Os projetos de inovação tecnológica normalmente surgem
jeto. Dependendo da resposta dos indicadores, devido à influência do meio externo. Segundo Abraham
o projeto poderá ter continuidade ou não. Um (2010, p. 41), só é possível desenvolver uma ideia de
desses indicadores pode ser o VAL (Razão do inovação à medida que ela é gerada; e só é possível conceber
valor atual líquido), que é medido dividindo-se o a ideia criativa se existe um problema, ou seja, a influência
investimento inicial do projeto pelo investimento do ambiente. Segundo o Manual de Oslo (FINEP, 1997,
ajustado no tempo.
• Equivalente à certeza: os parâmetros de cálculo
p. 26), competição, demanda e mercado são os principais
itens que determinarão o sucesso de um projeto de PD&I
do projeto são ajustados pelas probabilidades a voltado para inovação tecnológica. Além disso, a qualidade
eles atribuídas. da inovação também é um fator determinante para o sucesso
• Aplicação de taxas de descontos ajustadas aos ris- dos projetos de inovação tecnológica.
cos: diferente do item acima, os ajustes são feitos No que se refere aos riscos e incertezas em um projeto
ao final, ou seja, na taxa de desconto.
• Árvore de Decisões: normalmente é utilizada
de inovação tecnológica, além dos riscos referentes aos
itens financeiros e econômicos, é de extrema importância
quando a escolha entre diferentes alternativas que seja realizada uma análise do cenário (ou ambiente),
está em jogo.
• Simulação: nesse caso, os valores de entrada e
levando em consideração os fatores internos e externos
que possam interferir no andamento, conclusão e sucesso
saída de caixa são tratados como distribuições de um processo de inovação. Essa avaliação é feita através
probabilísticas, resultando em indicadores de da análise de SWOT.
desempenho financeiros.

14
RBGP - Nov 2011

Nos projetos de inovação tecnológica desenvolvidos por FATORES PONTOS FORTES FRAQUEZAS
empresas ou instituições de ensino, os quais irão dar EXTERNOS
origem a produtos ou processos inovadores, é necessário
que exista um mercado para absorver esses produtos ou
processos. Esse mercado está composto pelo ambiente FATORES
onde a empresa e produtos se localizam, pelos concorren- INTERNOS
tes, fornecedores e pelo perfil do consumidor. Segundo OPORTUNIDADES Gerar estratégias Gerar estratégias que
Clemente (2004, p. 15), a primeira avaliação a ser feita é que usem os pontos tomam vantagens das
fortes para tomar oportunidades para
do ambiente externo, conhecida como análise PEST4, que vantagens nas opor- vencer as fraquezas.
pode ser dividida em: tunidades.
a) Ambiente político/legal: a política governamental AMEAÇAS Gerar estratégias Gerar estratégias que
e a legislação vigente são parte do conjunto de que usem os pontos minimizem as fraquezas e
influências a que a empresa está sujeita, e cabe ao fortes para evitar as evitem as ameaças.
ameaças.
empreendedor ficar atento quanto às mudanças
no cenário e nas regulamentações que variam de Tabela 2: Diagrama SWOT
Fonte: Yonezawa(2003)
acordo com a localidade.
b) Ambiente econômico: os diversos fatores macroe-
conômicos certamente influenciarão na atuação dos
agentes econômicos ligados à empresa, devendo-se
então atentar para os ciclos de recessão e cresci- 3. EStudo dE caSo – ProjEto dE
mento e para as políticas monetária e fiscal.
c) Ambiente sociocultural: o sucesso do produto
inovação tEcnológica Plataforma dE
ou serviço que será comercializado depende em tEStES automatizada do EquiPamEnto
grande parte do ambiente sociocultural em que o
mesmo está inserido, portanto deve-se conhecer tSW900EtH
esse ambiente para compreender os interesses,
necessidades e tendências desse público. O projeto de inovação tecnológica aqui analisado tem
d) Ambiente tecnológico: um negócio possui o como objetivo principal o desenvolvimento de uma plata-
crescimento ou declínio muitas vezes afetado pelo forma de testes automatizada acoplada ao equipamento
surgimento de novas soluções e/ou inovações tec- TSW900ETH. A Plataforma possibilitará a interligação
nológicas por parte dele ou de seus concorrentes, do instrumento de teste para redes Metro Ethernetao PC
logo, deve-se refletir essa realidade investindo-se (através de um sistema de comunicação) ou a qualquer
constantemente em pesquisas e desenvolvimento. ponto de uma rede Metro Ethernet, possibilitando a reali-
zação de testes e certificação em redes de forma remota e
O posicionamento da empresa junto ao mercado deve ser o armazenamento dos dados resultantes desses testes em
analisado na próxima etapa, mapeando o grau de rivali- um servidor para posterior análise e geração de relatórios.
dade e barreiras de entrada do investimento. Devem-se
verificar ainda as oportunidades e ameaças geradas respec- Esse projeto participou do Edital SESI SENAI5 de Inova-
tivamente por produtos complementares e concorrentes e ção Tecnológica 2010(SENAI, 2010), pelo qual recebeu
o poder de barganha da empresa junto a seus fornecedores R$ 300.000,00 de fomento para desenvolvimento da nova
e ao seu mercado consumidor. tecnologia. A ideia de desenvolvimento desta nova tecno-
logia surgiu devido à necessidade de diminuição do tempo
Na próxima análise, busca-se a adequação entre as capa- de reparo dos circuitos de comunicação de dados das
cidades da empresa e as possibilidades do mercado antes operadoras de telecomunicações. A plataforma de testes
avaliadas. Uma ferramenta bastante difundida por Porter automatizada, acoplada ao instrumento de teste de redes
(1986) é a análise de SWOT, que é tradicionalmente já utilizado pelos técnicos de campo responsáveis pelas
representada em forma de matriz. Depois de corretamen- manutenções (TSW900ETH), possibilita o acesso remoto
te preenchido, este diagrama permite identificar modi- a todos os pontos da rede, realizando testes e diagnósticos
ficações a serem implementadas, diminuindo os pontos de forma remota, diminuindo recursos e tempo de deslo-
fracos e realçando os pontos fortes da empresa. Também camento dos técnicos nas manutenções.
permite aproveitar da melhor forma possível as oportuni-
dades que o mercado oferece e preparar para as ameaças Por se tratar de uma inovação tecnológica, que irá gerar um
provenientes do mesmo. novo produto, este é um projeto com muitos riscos envolvi-
dos. Esses riscos foram tratados desde o momento da con-
cepção da ideia e deverão ser gerenciados de forma contínua
em seu desenvolvimento e inserção do produto no mercado.

15
Gerenciamento de riscos em projetos de inovação tecnológica financiados por agências de fomento

Para a obtenção dos recursos de fomento foi feita uma aná- • Redução de riscos de falha do projeto, pois já
lise prévia dos possíveis riscos que afetariam o bom anda- existe um mercado atendido com redes Metro
mento do projeto. Para isso, foi utilizada como ferramenta a Ethernet e que absorverá o produto.
Análise de SWOT.Através do uso dessa ferramenta foi feita
uma análise do ambiente interno, onde foram levantadas 3.1.2 Fraquezas
as forças e as fraquezas inerentes ao desenvolvimento do
projeto, bem como uma análise do ambiente externo com As fraquezas são basicamente itens referentes à empresa
o mapeamento das oportunidades e ameaças inerentes ao parceira. Segue abaixo o mapeamento desses pontos.
• A empresa parceira atua a princípio apenas no
desenvolvimento do projeto de inovação. Para essa análise
foram considerados dois ambientes, o SENAI e a empresa
mercado brasileiro.
• A empresa parceira foi fundada em 1998, tendo
parceira. Com isso foi possível a formulação de estratégias,
diagnósticos e redução de riscos e incertezas.
pouco tempo de atuação no mercado em relação
aos seus concorrentes.
• A matriz da empresa parceira é localizada em
3.1 Análise de SWOT do Projeto de Inovação
Tecnológica Porto Alegre, distante do SENAI - Departamento
Referente à análise de viabilidade técnica e financeira do Regional do Ceará.
desenvolvimento da Plataforma de Testes Automatizada,
realizamos a análise de SWOT abaixo descrita, compro- 3.1.3 Oportunidades
vando a necessidade de desenvolvimento da mesma,
Trata-se das oportunidades de mercado e comercialização.
• Crescimento contínuo e comprovado de redes
bem como o sucesso em sua futura comercialização. Essa
análise foi desenvolvida como forma de análise de riscos
do projeto de inovação tecnológica. Metro Ethernet não só no Brasil, mas no mundo.
• Necessidade das operadoras de telecomunicações
3.1.1 Forças de automatizar o processo de testes em redes
Metro Ethernet.
São itens referentes à agregação de valor por parte da • Mercado motivado para aquisição de produtos
empresa parceira e do SENAI no desenvolvimento da que somem preço e qualidade, foco da empresa
plataforma. Seguem abaixo as forças diagnosticadas: parceira.
• A empresa parceira é uma das maiores empresas • Necessidade do mercado de Tecnologia da In-
brasileiras especialistas em tecnologias de Redes formação e Telecomunicações em automatizar o
e de Telecomunicações. processo de testes em redes ethernet.
• A empresa também é especialista no desenvol- • Necessidade do mercado de Tecnologia da Infor-
vimento, produção e venda de equipamentos e mação e Telecomunicações em reduzir tempo e
instrumentos de testes (englobando telecomunica- recursos nos processos de testes em redes ether-
ções e TI), agregando experiência e conhecimento. net.
• A empresa é fornecedora de equipamentos e ins-
trumentos de testes para as maiores operadoras 3.1.4 Ameaças
de telecomunicações do Brasil.
• O produto apresentará vantagem competitiva em Trata-se das ameaças do ambiente externo:
preço. • Falta de matéria prima local.
• A empresa disponibilizará uma equipe de especialis- • Não aceitação do produto pelo mercado.
tas em Telecomunicações e TI que atuará no projeto. • Atuação agressiva da concorrência no mercado
• Disponibilização por parte do SENAI de pro- brasileiro e internacional.
fissionais com grande experiência nas áreas de
telecomunicações e TI para atuação no projeto. Essa análise prévia de riscos foi item de pontuação no
• Existência de plano de marketing e divulgação,
edital de inovação e fator determinante para aprovação
do mesmo e liberação dos recursos. Os projetos avaliados
disponibilizando aos clientes uma equipe de teriam no máximo 1000 pontos, onde a análise de risco
suporte técnico especializado que atenderá em valeria, no máximo, 250 pontos. O projeto apresentado
horário comercial.
• Programa de fidelização de clientes já existente
neste trabalho recebeu a pontuação de 250 pontos em sua
análise prévia de riscos utilizando a Matriz de SWOT.
na empresa.
• A empresa que irá produzir o instrumento de tes-
te com o sistema de acesso remoto desenvolvido
no projeto possui certificação ISO 9001:2000, o
que garante a qualidade na produção.

16
RBGP - Nov 2011

3.2 Gerenciamento de riscos do projeto de Esses riscos secundários foram tratados no decorrer do
desenvolvimento do projeto através de reuniões perió-
inovação tecnológica dicas, sempre buscando maximizar os pontos positivos e
As análises apresentadas anteriormente foram levantadas minimizar as consequências dos eventos negativos.
no momento da concepção do projeto como forma de ob- Para gerenciamento dos riscos acima citados foi elaborado
tenção dos recursos do edital de inovação financiador do um Plano de Gerenciamento de Risco, incluindo ações
projeto. Após a aprovação no edital e durante todo o seu especificas de respostas aos riscos, conforme orientações
desenvolvimento foi necessário um intenso gerenciamen- do PMBOK(PMI, 2008). Esses riscos foram identificados
to de riscos, garantindo a conclusão do projeto dentro do através de um processo investigativo que utilizou como
planejado (escopo, financeiro, prazo de conclusão, etc.). ferramenta a Análise de SWOT (acima apresentada),
Um dos fatores de risco que impossibilitaria o desenvolvi- tendo sempre como foco os objetivos do projeto, ou seja,
mento da nova tecnologia foi referente ao desenvolvimen- o desenvolvimento da Plataforma de Testes Automatizada
to do software para comunicação do equipamento de teste do Equipamento TSW900ETH.
com o PC. O equipamento de teste possui uma arquite- Segundo Dinsmore (2005, p. 205), a efetividade do
tura fechada e embora seja produzido e comercializado gerenciamento de riscos depende da escolha de uma
pela empresa parceira, o mesmo foi desenvolvido por uma estratégia adequada e do subsequente desenvolvimento
terceira empresa. Como não tínhamos acesso à arquite- das ações especificas para lidar com os fatores de maior
tura do equipamento, não seria possível termos acesso impacto sobre o projeto.
às informações necessárias para o desenvolvimento do
software, impossibilitando o desenvolvimento do projeto. Referente aos riscos negativos (ou ameaças) foram toma-
Para solução do problema, terceirizamos o desenvolvimen- das as seguintes estratégias de resposta a esses riscos:
• Equipamento com arquitetura fechada impossi-
to do software contratando a empresaWISE Teleinformá-
tica, detentora da patente do Equipamento TSW900ETH
e conhecedora de sua arquitetura,para essa atividade. bilitando o desenvolvimento do software por em-
presas terceirizadas: a estratégia aqui utilizada foi
Outro fator de risco que não afetaria o desenvolvimento do Prevenir, pois firmamos parceria com a empresa
projeto, mas a sua comercialização é a questão do custo final WISE Teleinformática, detentora da patente do
para desenvolvimento da tecnologia. Como forma de redução equipamento, para desenvolvimento do softwa-
do valor final do produto foram firmados diversos convênios re e de todo o hardware necessário. Segundo
de parceria com empresas e instituições que colaboraram nas Dinsmore (2005, p. 205), alguns eventos de riscos
etapas de desenvolvimento do projeto de inovação, contri- podem ser evitados mudando-se os planos para
buindo com recursos humanos e equipamentos. eliminar a condição que origina a sua possível
ocorrência, ou protegendo do seu impacto os ob-
Conforme o Manual de Oslo (FINEP, 1997, p. 57), para jetivos do projeto, por ele ameaçados. A estratégia
ser considerada inovação tecnológica referente a produto, aqui definida é prevenir e foi adotada para esse
o mesmo deverá ser inserido no mercado e comercializa- caso.
do. Essa comercialização pode ser considerada um fator de • Custo final do produto inviável: a Estratégia uti-
risco por se tratar de um novo produto, onde o mercado lizada para trabalhar esse risco foi mitigar. Todas
para absorção do mesmo ainda precisa ser conquistado. as formas que buscam reduzir a probabilidade de
Referente a este projeto, em paralelo ao desenvolvimento e/ou as consequências do risco, caso ele ocorra,
da plataforma de testes automatizada, foi elaborado um são consideradas estratégia para mitigar os riscos
eficiente plano de marketing em cima da análise de viabi- (DINSMORE, 2005, p. 205). Como foram firma-
lidade do produto, reduzindo os riscos da comercialização dos diversos convênios de parceria com empresas
do mesmo e garantindo a sua aceitação pelo mercado local e instituições que colaboraram nas etapas de
e internacional. Além disso, um dos convênios de parce- desenvolvimento do projeto de inovação, contri-
rias firmados, contava com a participação da Operadora de buindo com recursos humanos e equipamentos,
Telecomunicações, no caso a OI, que ao final do projeto na tentativa de se reduzir o custo final do produ-
irá adquirir o novo produto para utilização em seus proces- to, essa foi a estratégia utilizada para o risco acima
sos de manutenções de redes, garantindo dessa forma a citado.
• Orçamento disponibilizado insuficiente: a estra-
inserção do produto no mercado.
Esses fatores de riscos foram os mais impactantes e tégia utilizada nesse risco foi Transferir. Disnmo-
poderiam afetar de forma direta a conclusão do projeto. re(2005, p. 205)afirma que transferir um risco
Porém alguns riscos secundários também foram tratados significa transferir a responsabilidade gerencial
para conseguir êxito na conclusão do projeto de inovação. sobre o risco para outra parte. Neste caso, o
Dentre eles podemos citar: o orçamento disponibilizado SENAI – Departamento Regional do Ceará ficou
pela agência de fomento ser insuficiente para o desenvol- responsável pela complementação do orçamento,
vimento da nova tecnologia, o tempo para desenvolvimen- caso necessário.
to do projeto ser extenso e a possibilidade da tecnologia
desenvolvida já estar obsoleta após a conclusão do projeto.

17
Gerenciamento de riscos em projetos de inovação tecnológica financiados por agências de fomento

• Tecnologia desenvolvida obsoleta devido ao tem- disso, possibilitaram o desenvolvimento da nova tec-
po para desenvolvimento: a estratégia utilizada nologia, dentro do planejado (escopo, tempo, recursos,
foi Mitigar, pois foram feitos diversos estudos e etc.), alcançando todos os seus objetivos e o principal, a
análises objetivando a comprovação da viabilidade inserção do produto no mercado gerando rentabilidade e
técnica, econômica e financeira do novo produto. crescimento para a Datacom e o SENAI.
• Não aceitação do novo produto pelo mercado: a
estratégia utilizada foi Prevenir, foi elaborado um
eficiente plano de marketing e comercialização,
visando à divulgação do produto no mercado. 4. concluSão
Além disso, foram firmados contratos de parcerias
com grandes operadoras de telecomunicações, as Conforme abordado neste artigo, cada vez mais empresas
mesmas irão utilizar o novo equipamento em seus e instituições estão investindo e trabalhando com ino-
processos de testes de redes MetroEthernet. vação tecnológica. As agências de fomento por sua vez,
• Falta de matéria prima no comércio local para de- reconhecem a inovação como um poderoso aliado para
senvolvimento do produto: a estratégia utilizada elevar a competividade das empresas brasileiras. As em-
foi Prevenir, para isso foram firmados contratos presas e instituições buscam esses recursos de fomento a
de parcerias com fornecedores locais. inovação tecnológica para o desenvolvimento de projetos
• Atuação da concorrência no mercado brasileiro e de inovação que muitas vezes são fatores de destaque e
internacional: a estratégia utilizada foi Prevenir, sobrevivência dos mesmos.
pois com as parcerias firmadas e participação da Os projetos de inovação tecnológica necessitam de eleva-
empresa Teracom Telemática (Datacom), será pos- do investimento em pesquisa e desenvolvimento para que
sível garantir uma política atrativa de preços. Além se consiga alcançar os objetivos propostos. Normalmente
disso, serão utilizadas ferramentas como o e-com- esse tipo de projeto requer grandes recursos financei-
merce para comercialização do produto inovador. ros, um tempo maior de desenvolvimento e ao seu final
Enfim, a utilização dessas estratégias de respostas aos deverá existir a incorporação do seu resultado (produto ou
riscos, garantiu o desenvolvimento e conclusão do projeto processo) no mercado, garantindo a viabilidade técnica,
inovador dentro do planejado, alcançando todos os seus econômica e financeira do mesmo.
objetivos e metas.
O desenvolvimento de projetos baseados em práticas
de trabalho reconhecidas pela comunidade acadêmica e
3.3 Resultados Alcançados econômica favorecem a aprovação de financiamentos e a
aquisição de parcerias. As práticas abordadas pelo PM-
Como resultados alcançados ao final do desenvolvimento BOK (PMI, 2008) e pelo Manual de Oslo (FINEP, 1997),
do projeto de inovação apresentado neste trabalho tivemos: quando utilizadas no projeto, favoreceram sua aprovação
• Produção de um software mais inteligente para dentro do edital de inovação e estão facilitando o desen-
testes. volvimento das atividades dentro de riscos controlados.
• Implementação da facilidade de testes de forma
remota, bem como o acesso remoto ao teste set
TSW900ETH.
• Inserção do produto inovador no mercado. 5. rEfErênciaS BiBliográficaS
• Redução de custos, implantação de melhorias e ABRAHAM, M. B. R. Explosão da inovação - aprenda e inove de forma
facilidades em serviços de manutenção e certifi- explosiva. 1ª. ed. São Paulo: Epse, 2010.
cação de redes MetroEthernet.
• Criação de um produto inovador, submetido ao
BCB, B. C. do B. Agências de fomento. Site do Banco Central, 2011.
Disponivel em: <http://www.bcb.gov.br/pre/composicao/af.asp>. Acesso
em: 2 agosto 2011.
processo de patente junto ao INPI.
BNDES, B. N. de D. Site do BNDES. BNDES - Banco Nacional do
Esses resultados demonstram a importância de um Desenvolvimento, 2011. Disponivel em: <http://www.bndes.gov.br>.
eficiente gerenciamento de riscos. No que se refere a pro- Acesso em: 12 Julho 2011.
jetos de inovação tecnológica, diversos são os riscos que CLEMENTE, A. et al. Planejamento do negócio - como trasformar
permeiam o seu desenvolvimento. Para garantir o sucesso ideias em realizações. 2ª. ed. Brasília: Lucerna, 2004.
desses tipos de projetos, o uso de ferramentas e técnicas DINSMORE, P. C. Como se tornar um profissional em gerenciamento
para gestão de riscos é fator impactante e essencial para de projetos - livro Base de preparação para a certificação PMP. Rio de
sucesso de seu desenvolvimento, bem como para a viabili- Janeiro: Quallymark, 2005.
dade de sua comercialização. FINEP. Manual de Oslo - proposta e diretrizes para coleta e interpreta-
ção de dados sobre inovação tecnológica. Brasília: [s.n.], 1997.
As técnicas de gerenciamento de riscos apresentadas
neste trabalho, permitiram que o projeto de inovação FINEP. A Empresa. Página da FINEP, 2011. Disponivel em: <http://www.
finep.gov.br/o_que_e_a_finep/a_empresa.asp>. Acesso em: 1 Agosto 2011.
tecnológica fosse aprovado em um edital de fomento,
conseguindo recursos para seu desenvolvimento. Além

18
RBGP - Nov 2011

PMI. Guia PMBOK - um guia do conjunto de conhecimentos em geren-


ciamento de projetos. 4ª. ed. Coraopolis: PMI, 2008.
PORTER, M. Estratégia competitiva - técnicas para análise de indús-
trias e da concorrência. 7ª. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1986.
SENAI. Technix - sistema de gerenciamento de projetos. Technix, 2010.
Disponivel em: <www.senai.br/technix>. Acesso em: 7 Agosto 2011.
WEISZ, J. Projetos de inovação tecnológica - planejamento, formulação,
avaliação, tomada de decisões. 1ª. ed. Brasília: IEL, 2009.
YONEZAWA, W. M. Comércio eletrônico: estratégias e implementação.
Universidade Estadual Paulista, 2003. Disponivel em: <http://wwwp.
fc.unesp.br/~yonezawa/ec-estrategia.pdf>. Acesso em: 11 julho 2011.

6. notaS
1. A FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos é uma empresa pública
vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Foi criada em
24 de julho de 1967, para institucionalizar o Fundo de Financiamento de
Estudos de Projetos e Programas, criado em 1965 (FINEP, 2011).
2. As agências de fomento têm como objeto social a concessão de finan-
ciamento de capital fixo e de giro associado a projetos na Unidade da
Federação onde tenham sede (BCB, 2011).
3. A Análise SWOT é uma ferramenta administrativa utilizada para fazer
análise de cenário (interno e externo), sendo usada como base para
gestão e planejamento estratégico de uma instituição. A sigla SWOT é
oriunda do idioma inglês, representando Forças (Strengths), Fraquezas
(Weaknesses), Oportunidades (Opportunities) e Ameaças (Threats).
4. A análise PEST é uma ferramenta administrativa que permite o estudo
qualitativo de um determinado cenário com base em fatores políticos (P),
econômicos (E), sociais (S) e tecnológicos (T) relevantes no mesmo.
5. O Serviço Social da Indústria (SESI) e Serviço Nacional de Aprendiza-
gem Industrial (SENAI)são instituiçõesprivadasbrasileiras, vinculadas a
Confederação Nacional das Indústrias, sem fins lucrativos e de atuação em
âmbito nacional, criadas com a finalidade de promover a formação profisio-
nal (SENAI), obem-estar social, o desenvolvimento cultural e a melhoria
da qualidade de vida do trabalhador (SESI) que atua nas indústrias, de sua
família e da comunidade na qual as indústrias estão inseridas.

SoBrE oS autorES
Stanley Primo Ferreira
Especialista em gerenciamento de projetos, engenheiro
de produção mecânica, técnico em mecânica, coordenador
de pesquisa e extensão do IFCE – Campus Crateús, pro-
fessor de informática e gestão da produção do Instituto
Federal do Ceará (IFCE) – Campus Crateús.

Michelle Queiroz da Silva


Mestranda em computação aplicada, especialista em
telemática, licenciada em física, técnica em telecomuni-
cações, coordenadora do curso de telemática – SENAI,
Professora de telemática do IFCE – Campus Tauá.
(Email: mqsilva78@gmail.com)

19
Integração entre o gerenciamento de riscos
e de comunicação para projetos de alta
complexidade socioambiental
Thiago Garcia

Resumo 1. introdução
A implantação de empreendimentos hidrelétricos no Brasil
tem encontrado grandes desafios na dimensão socioambien-
tal. O licenciamento ambiental deste tipo de projeto no
Brasil é percebido como um grande obstáculo, resultando
em atrasos no desenvolvimento dos empreendimentos e
I nvestimentos em infraestrutura de energia no Brasil vêm
enfrentando sérios desafios com relação ao cumprimento
da legislação ambiental vigente, o que tem acarretado
significativos desvios nos objetivos dos projetos, principal-
mente prazo e custo. O licenciamento ambiental é um dos
aumento de custos. Parte dessa complexidade se deve à
ampla participação social garantida pela legislação vigente instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente, Lei
para o processo. Federal nº 6.938 de 1981, e tende a ser interpretado como
O objetivo deste artigo é apresentar uma metodologia de
o principal instrumento de gestão garantidor da qualidade
identificação e gerenciamento de partes interessadas para do Meio Ambiente.
empreendimentos hidrelétricos que considere a natureza
dupla das partes interessadas, hora se comportando como Vários fatores contribuem para o alto grau de complexidade
parte interessada propriamente dita, hora se comportando nas questões ambientais: grande número de intervenientes
como risco. com interesses diversos e alto grau de subjetividade da
Palavras-chave: projetos, financiamento, energia elétrica. legislação, como pode ser verificado no caso brasileiro.
Questões como unidades de conservação, reservas indíge-
nas, autorização para uso de recursos hídricos, realocação
de populações, ações judiciais e participação popular em
Abstract diversas fases são exemplos de possíveis fontes de risco
The implementation of hydropower projects in Brazil has para esse tipo de projeto.
encountered great challenges in the environmental dimen-
sion. The environmental licensing of this type of enterprise O conhecimento em gerenciamento de projetos pode
in Brazil is perceived as a major obstacle, resulting in delays ajudar a gerenciar os riscos associados a esses tipos de
in the implementation of projects and increased costs. Part projetos desenvolvidos em ambientes complexos, como
of this complexity is due to broad social participation gua-
ranteed by law for the process. nos países em desenvolvimento. As áreas de conhecimen-
to relacionadas a gerenciamento de risco e comunicação
The aim of this paper is to present a methodology for identi- oferecem processos que ajudam a melhorar o desempenho
fying and managing stakeholders to hydropower projects de um projeto na questão ambiental, mas o alto nível de
considering the dual nature of stakeholders, sometimes complexidade de um projeto de grande escala de infraes-
behaving like related party, sometimes behaving like risk. It
should drive to an optimum cost-effectiveness in the actions trutura de energia exige uma inter-relação maior entre as
taken to manage stakeholders, taking into account commu- áreas de conhecimento.
nication management and risk management knowledge are-
as as described by the Project Management Institute – PMI. O gerenciamento de projetos baseado simplesmente na
tripla restrição pode ser limitante da compreensão, por parte
Keywords: Stakeholder, risks, communication management do gerente de projetos, de o que é um projeto bem sucedido,
sendo que esse conceito carece de clarificação e profundi-
dade (BARATTA apud RAHSCHULTE, 2010). Sugere-se,
portanto, uma inclusão de fatores de sucesso que ultrapas-
sam o cumprimento de prazo, custo e qualidade.

20
RBGP - Nov 2011

O PMBOK 4ª edição explicita, em seu item 2.3 (p. 23-


24), a advertência do impacto negativo nos objetivos do 3. idEntificação dE PartES
projeto que algumas partes interessadas podem trazer e o intErESSadaS
quanto é importante o esforço de identificá-las. Ainda, o
mesmo item apresenta grupos ambientais (environmen- O processo de identificar as partes interessadas passou a
tal groups) como exemplo de partes interessadas com integrar o grupo de processos de iniciação na quarta edi-
influência negativa (negative stakeholder), significando ção do PMBOK. Grande destaque foi dado a isso, pois os
que os interesses desses grupos podem trazer dificuldade processos de iniciação são realizados para definir um novo
ao progresso do projeto. projeto ou uma nova fase de um já existente (PMBOK,
Portanto, a questão que se busca responder é como a 2008). Subentende-se que a melhor gestão das partes
separação do tratamento de partes interessadas entre interessadas deve ocorrer desde o início do projeto, e esta
as áreas de conhecimento de risco e comunicação pode está intimamente relacionada com o sucesso do projeto.
ajudar a gerenciar e reduzir as incertezas socioambientais As entradas para o processo são o termo de abertura do
associadas à implantação de empreendimentos de rele- projeto, documentos de aquisição e fatores ambientais da
vante impacto ambiental. empresa. Portanto, apenas com uma sucinta descrição do
Box afirma em seu trabalho Robustness is The Strategy of projeto, parte-se para a identificação das partes interessadas.
Scientific model building que “todos os modelos estão er- A primeira ferramenta apresentada para o processo é a
rados, mas alguns são úteis” (BOX apud RAHSCHULTE, análise das partes interessadas, que se divide em duas
2010). Com isso, este estudo visa ao desenvolvimento de etapas: identificar todas as partes interessadas e Identifi-
uma metodologia que seja útil mas, a priori, não definitiva, car o impacto ou o apoio que cada uma pode oferecer aos
para a aplicação integrada das áreas de conhecimento em objetivos do projeto.
gerenciamento de risco e gerenciamento de comunicações
para projetos hidrelétricos com o objetivo de melhorar os O método sugerido para identificação das partes interes-
resultados na dimensão socioambiental do empreendimen- sadas se foca nas partes internas e mais próximas à orga-
to, inter-relacionando riscos e stakeholders. nização, como pode ser visto na citação abaixo retirada do
PMBOK 2008:
Identificar todas as partes interessadas potenciais do pro-
jeto e as informações relevantes, como papéis, departa-
2. PartES intErESSadaS mentos, interesses, níveis de conhecimento, expectativas
e níveis de influência. As principais partes interessadas em
O PMBOK 2008 define partes interessadas como sendo geral são fáceis de identificar. Incluem todas as pessoas
pessoas ou organizações ativamente envolvidas no projeto com papel gerencial ou de tomada de decisões que são
afetadas pelo resultado do projeto, como patrocinador, o
ou cujos interesses podem ser positiva ou negativamente
gerente de projetos e o principal cliente.
afetados pela execução ou término do projeto. É papel do
gerente de projeto regular a influência das várias partes A identificação de outras partes interessadas geralmente
interessadas em relação aos requisitos do projeto para é feita entrevistando as partes interessadas identificadas e
garantir um bom resultado. expandindo a lista até que todas as partes sejam incluídas.
PMBOK, 4ª edição, p. 248
Existem partes interessadas com interesse positivo e ne-
gativo no projeto. Algumas partes interessadas negativas Para as partes interessadas externas ao ambiente do
teriam seus interesses melhor atendidos se o projeto não projeto, foco deste trabalho, o PMBOK 2008 apresenta
prosseguisse. Negligenciar a existência ou a possibilidade o último parágrafo da citação anterior. Percebe-se que o
de impacto destas partes no projeto pode aumentar a que é proposto não é suficiente para lidar com as ques-
possibilidade de falha. (PMBOK, 4ª edição, p. 24) tões socioambientais que envolvem um empreendimento
hidrelétrico.
As partes interessadas estão em constante mutação, assu-
mindo novas configurações, novos posicionamentos; seu ge- A terceira etapa desta ferramenta apresenta o fio condutor
renciamento é um processo contínuo e vital para o projeto. desta proposta de metodologia: “avaliar como as principais
partes interessadas provavelmente vão reagir ou respon-
Mais que simples público, partes interessadas devem ser der em várias situações, a fim de planejar como influenciá-
tratadas como fonte de importantes restrições (critical las para aumentar seu apoio e mitigar os impactos negati-
constraints) e métricas de sucesso, como define Rahs- vos em potencial.” (PMBOK, p. 248) Nota-se que existe
chulte em seu artigo Beyond The Triple Contraints apre- uma fusão entre apoio e impacto, ou comunicação e risco.
sentado no PMI Global Congress 2010, quando explicita o
que é eficiência de projeto. Outra ferramenta apresentada é a opinião especializada,
muito valorizada no PMBOK em geral, e aqui com a função
de auxiliar na ampla identificação das partes interessadas.
Um conceito muito importante sobre a influência das

21
Integração entre o gerenciamento de riscos e de comunicação para projetos de alta complexidade socioambiental

partes interessadas e seu custo ao longo do projeto é mento, de comportamento e de organização e técnica.
apresentado logo no primeiro capítulo do PMBOK, o qual
mostra que a influência, o risco e a incerteza destas partes A barreira de conhecimento diz respeito à falta de preparo
são altas no início do projeto, mas, em compensação, os nos processos oral e escrito da comunicação. Já a de com-
custos das alterações no escopo são baixos e esta relação portamento trata das atitudes das pessoas que podem ser
se inverte ao longo do tempo do projeto. resistentes a um determinado procedimento de comuni-
cação, preconceituosas, desatentas, dentre outras. Quan-
Para as questões ligadas ao meio ambiente ou à participa- do se trata de barreira organizacional e técnica, atinge-se
ção social no processo de licenciamento ambiental de um o fato de a empresa ser um tanto quanto ortodoxa ou
empreendimento de alta complexidade socioambiental, o burocrática, além de ter processos rudimentares no trato
nível de influência das partes interessadas pode não possuir da informação e consequente comunicação.
a trajetória definida pelo PMBOK. Esta, então, passaria a
ser determinada pelo grau de participação social preconiza- Outro fator intrínseco das ações de comunicação, que
do pela legislação ambiental para aquela etapa do processo acrescenta complexidade ao processo, é o fato de que
de licenciamento ambiental que, por princípio, garante e todas essas ações são baseadas em premissas, as quais pos-
incentiva a ampla participação e interferência no proces- sibilitam a comunicação. Porém, se assumidas de maneira
so decisório. Esse novo gráfico da variação da influência equivocada, podem ser desastrosas aos objetivos da ação
social no processo, entendendo social como sendo todos de comunicação e, consequentemente, aos do projeto
os grupos externos ao projeto que possuem algum grau de (KINSER, 2010).
influência, possuiria picos de influência, risco e incerteza,
Essas premissas de comunicação possuem quatro origens:
associados às três fases do licenciamento ambiental.
cultural, biológica, intelectual e idiossincrática (KIES
Por fim, o processo de identificar partes interessadas apud KINSER, 2010).
possui duas saídas: o registro das partes interessadas e a
Nota-se que os processos de comunicação trazem as
estratégia para gerenciamento das partes interessadas. O
partes interessadas para próximo da execução do projeto,
registro é composto de duas informações básicas: infor-
mantendo-as informadas e satisfeitas em seus requisitos.
mações de identificação e informações de avaliação. A
É um processo de internalização destas partes e que pos-
estratégia para gerenciamento das partes interessadas
sui riscos associados a premissas.
define a abordagem para as partes interessadas durante
todo o ciclo de vida do projeto. O plano de gerenciamento das comunicações é uma impor-
tante entrada para o processo de Planejamento do geren-
ciamento dos riscos, mas, quando se trata de definir quais
partes interessadas serão tratadas como risco ou como alvo
4. PlanEjamEnto daS comunicaçõES de ações de comunicação, o PMBOK não detalha.

O processo de planejar as comunicações de um projeto é


responsável por determinar as necessidades de informação
das partes interessadas e definir a abordagem de comuni-
cação, respondendo a perguntas como quem necessita de
5. gErEnciamEnto dE riSco
qual informação, quando ocorrerão os eventos de comuni- Segundo o PMBOK 2008, risco é um evento ou condição
cação, como serão realizadas as comunicações e como será futura e incerta que, caso ocorra, terá um efeito em pelo
avaliada sua efetividade. menos um objetivo do projeto. Esses objetivos podem
O registro e a estratégia para gerenciamento das partes incluir escopo, prazo, custo ou qualidade.
interessadas, que foram as saídas do processo de identi- Ao risco, estão associadas três variáveis: o evento em si
ficá-las, agora são as principais entradas do processo de (no qual pode ser identificada a causa raiz ou o efeito do
planejar as comunicações. A partir da definição das partes risco), uma probabilidade associada e um impacto (SAL-
interessadas e de suas necessidades, o plano de comuni- LES et. al., 2006). Um risco pode ter uma ou mais causas
cação planeja eventos que serão responsáveis por suprir a e, se ocorrer, pode ter um ou mais impactos. A causa pode
necessidade de informação destas. ser um requisito, uma premissa uma restrição ou uma
As ferramentas utilizadas para planejar as comunicações condição que cria a possibilidade de resultados negativos
são análise dos requisitos da comunicação, tecnologia das ou positivos.
comunicações, modelos e métodos de comunicação. A probabilidade está associada diretamente à causa,
Todos esses esforços de gerenciamento da comunicação têm enquanto o impacto ao efeito. Na análise de riscos, a cada
o objetivo de ultrapassar as barreiras existentes durante o evento é associada uma probabilidade de que ele venha a
processo de comunicação, que é composto pelo emissor da acontecer e um impacto que ele causará. Nesse caso, por
mensagem, o canal no qual a mensagem trafega e o receptor, meio desses graus, pode-se classificá-los em ordem de im-
que é quem ou o que recebe a mensagem. Tais barreiras, de portância relativa e assim partir para a tomada de decisão.
acordo com Chaves at. al. (2006), são barreiras de conheci- Cabe colocar o exemplo citado pelo PMI no PMBOK,

22
RBGP - Nov 2011

quarta edição, p. 226: “Por exemplo, as causas (do risco)


podem incluir o requisito de uma autorização ambiental 6. licEnciamEnto amBiEntal
para o trabalho. O evento de risco é que a agência am-
biental responsável pela autorização pode demorar mais A Resolução nº 237/97 do Conselho Nacional do Meio
do que o planejado para conceder a autorização”. Ambiente define licenciamento ambiental como:
Procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental
Riscos são inerentes a qualquer atividade e têm origem competente licencia a localização, instalação, ampliação e
na incerteza. Como coloca Marquis de Laplace, em Um a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras
Ensaio Filosófico Sobre Probabilidades: de recursos ambientais, consideradas efetiva ou poten-
cialmente poluidoras; ou aquelas que, sob qualquer forma,
Devemos então considerar o estado presente do universo possam causar degradação ambiental, considerando as
como um efeito do seu estado anterior e como a causa do disposições legais e regulamentares e as normas técnicas
seu estado subsequente. Se por um instante uma inteligên- aplicáveis ao caso.
cia conseguisse compreender todas as forças pelas quais a
natureza é animada e a respectiva situação dos seres que Ou seja, o licenciamento ambiental é uma obrigação legal
a compõem – uma inteligência suficientemente vasta para prévia à instalação de qualquer empreendimento ou ati-
submeter estas informações a análise – ela entenderia na
mesma formulação os movimentos dos grandes corpos do
vidade potencialmente poluidora ou degradadora do meio
universo e os dos mais leves átomos; para ela nada seria ambiente. Além do aspecto legal, possui como uma de
incerto e o futuro, assim como o passado, seria presente suas mais expressivas características a participação social
aos seus olhos. (LAPLACE, 1996, p.27) na tomada de decisão.

A afirmação de Laplace remete a uma visão determi- As principais diretrizes para a execução do licenciamento
nística da realidade, na qual a compreensão de todos os ambiental estão expressas na Lei 6.938/81 e nas Reso-
eventos se faz possível a partir do conhecimento de todas luções CONAMA nº 001/86 e nº 237/97. Além dessas,
as causas, visão esta muito comum na época da primeira o Ministério do Meio Ambiente emitiu recentemente o
edição do livro. Parecer nº 312, que discorre sobre a competência estadual
e federal para o licenciamento, tendo como fundamento a
Com o desenvolvimento da compreensão sobre a mecâ- abrangência do impacto.
nica quântica e aceitação científica em vários campos do
princípio da incerteza de Heisenberg, cerca de trinta anos O relatório denominado “Licenciamento Ambiental de
após o livro de Laplace, a compreensão determinística Empreendimentos Hidrelétricos no Brasil – Uma Contri-
cedeu espaço a uma realidade menos determinável. buição para o Debate” foi lançado pelo Banco Mundial em
março de 2008 e descreve o processo de licenciamento
Entretanto, para efeitos da metodologia aqui proposta, ambiental no Brasil e o que pode significar em termos de
assume-se que existe uma relação direta entre esforço atrasos e entraves para a instalação de empreendimentos
empregado na avaliação das partes interessadas e redução hidrelétrico no país.
do risco do projeto. Essa relação, no limite, pode ser ex-
plicitada em esforço infinito leva a nenhum risco, uma vez O estudo afirma que a maioria dos atrasos nos processos
que se entenderiam todos os fatores que motivam a ação de licenciamento ambiental no Brasil acontece na fase de
das partes interessadas em questão. obtenção da licença prévia, sendo esta a primeira licen-
ça do processo de regularização e a que dispõe sobre a
A sequência de processos de gerenciamento de riscos viabilidade ambiental do empreendimento. Além disso, as
proposta pelo PMI consiste em planejar o gerenciamento regras do licenciamento ambiental mantêm-se inalteradas
dos riscos, identificar os riscos, realizar análise qualitativa desde o fim dos anos 80.
e quantitativa, planejar as respostas e monitorar e contro-
lar os riscos. Todos os temas e questões ambientais envolvem atores
que, a partir da Constituição Federal de 1988, foram
O processo “identificar os riscos” é apresentado como integrados ao processo de concessão dessas licenças, e o
tendo, em uma de suas entradas, o plano de gerenciamen- correto gerenciamento dessas partes é fator determinante
to das comunicações, mas apenas descreve a interação para o sucesso do projeto, seja ele a instalação de uma
como uma via de compartilhamento de informações sobre usina hidrelétrica ou de qualquer outra obra de infraestru-
riscos (PMBOK, 4ª edição, p.278) e não como uma via de tura que cause significativo impacto social e ambiental.
mão dupla, na qual riscos podem ser mitigados com ações
de comunicação as quais podem ser simplificadas se, sim- Acresenta-se a isso: “a ausência de contínua atualiza-
plestante, tratadas como risco. ção das normas do licenciamento ambiental permitiu a
absorção de encargos e conflitos de natureza política e
social, que tornam a implantação de empreendimentos de
infraestrutura cada vez mais complexa.”(BANCO MUN-
DIAL, 2009, pg. 36)
O estudo descreve o processo de licenciamento ambiental
do setor hidrelétrico e as dificuldades e aspectos regula-

23
Integração entre o gerenciamento de riscos e de comunicação para projetos de alta complexidade socioambiental

tórios que os investidores em geração no país enfrentam, ambiental, os processos “Planejar as comunicações”, “Geren-
sendo que as questões socioambientais chegam a represen- ciar as expectativas das partes interessadas” e “Identificar
tar cerca de 20% do total dos investimentos e importantes riscos”, que já se encontram fora da área de conhecimento de
atrasos. Esse é um montante que não pode ser ignorado gerenciamento das comunicações.
desde o início do planejamento.
O processo “Planejar as comunicações” leva em considera-
ção a lista de partes interessadas fornecida e, a partir dela,
especifica quais instrumentos, quais meios e qual a fre-
qüência de comunicação são os mais adequados para aten-
7. ProcEdimEntoS mEtodológicoS der a necessidade de cada parte. Por essas ações, a gerência
de uma parte interessada consiste de um processo mais
As ferramentas já existentes para gerenciamento da comu- dispendioso que a gerência de um risco, uma vez que riscos
nicação e gerenciamento de risco possuem sua eficiência são listados e controlados, mas a lista fornecida também
comprovada, pois já foram aplicadas em diversas realidades alimenta o processo “Identificar riscos”.
e discutidas por diversos membros do PMI, chegando a
compor o guia de melhores práticas em gerenciamento de Parte Interesse Impacto nos Interno ou
projetos. O que se buscará será a apresentação de uma pro- Interessada no projeto Objetivos Externo
posta de integração das metodologias.
A partir da criação do Termo de Abertura do Projeto, O Figura 2 – Matriz de análise das partes interessadas
PMI sugere que se passe pelo processo de identificação das Fonte: PMBOK, 4ª edição. Adaptada pelos autores.
partes interessadas, que ganhou importância na reedição
de 2008 do Corpo de Conhecimento em Gerenciamento de
A dificuldade com a aplicação desse fluxo para o processo de
Projeto. Tal esforço já acontecia na versão de 2004, mas con-
licenciamento ambiental decorre do fato de que a influência
tido dentro do processo “Planejamento das Comunicações”.
das partes interessadas está sempre associada a um grau de
O processo “Identificar as Partes Interessadas” passou a
incerteza. Existe ainda outro fato que aumenta a comple-
ser o primeiro passo para gerenciamento das comunicações,
xidade desse planejamento: a tomada de ações de comu-
acontecendo logo após o início formal do projeto.
nicação com certas partes interessadas tende a aumentar a
probabilidade e, às vezes, o nível de influência que a parte
pode ter sobre o processo de licenciamento. A questão que
se coloca é a seguinte: como determinar se, dentro de um
universo de possíveis intervenientes, um “stakeholder” será
tratado como risco ou como parte interessada?
A Figura 2 já inclui a coluna que identifica se a parte inte-
ressada está localizada no ambiente interno ou externo do
projeto, distinção esta apresentada por Cleland e Ireland,
em 2002. Nessa visão, partes interessadas localizadas no
ambiente externo do projeto não possuem feições tão bem
definidas como as localizadas no ambiente interno. Mas
essas generalizações, quando tratamos de intervenientes
da questão ambiental, podem se mostrar insuficientes para
gerar um plano de comunicação que consiga efetivamente
suprir as necessidades das partes interessadas.
Uma alternativa a essa dificuldade é a realização de um es-
forço de identificação conjunta de riscos e partes interessa-
das durante a fase de planejamento da viabilidade ambien-
Figura 1 – Diagrama de fluxo de dados do processo
“Identificar as Partes Interessadas” tal, tendo em mente a via de mão dupla entre essas duas
Fonte: PMBOK, 4ª edição, p. 247 matrizes e estabelecendo um critério claro para diferenciar
as duas categorias.

A ferramenta mais usual de identificação das partes interessa- Descrição Probabilidade Impacto Estratégia Custo da
das é o preenchimento de uma matriz, que, além de identi- do risco nos de Ação
ficar a parte interessada, especifica seu interesse e seu grau Objetivos Resposta
de influência (envolvimento ativo e poder) no projeto. Outra
informação importante é se a parte pertence ao ambiente
interno (operacional) ou externo (geral, e aqui se incluem os Figura 3 – Matriz de análise de reações aos riscos
intervenientes do processo de licenciamento ambiental). Na
Figura 1, o item Stakeholder register representa essa saída,
que vai alimentar, para as questões relativas ao licenciamento

24
RBGP - Nov 2011

A decisão racional de tomar alguma ação em resposta a um


risco envolve a análise do custo da resposta em contraposição
ao benefício gerado pela mesma. Diferentemente, para partes
interessadas em geral, o que baseia a tomada de ação é uma
combinação do poder (que pode ser entendido em várias di-
mensões) e o interesse, como ilustrado abaixo pela Figura 4.

Figura 5 – Representação da inserção da dimensão


susceptibilidade na grade apresentada pelo PMI

O espaço, como pode ser observado na figura 5, passa de


quatro divisões para oito divisões, que são detalhadas na
figura 6. O cinza mais claro representa partes interessadas
que receberão ações ligadas à área de gerência de risco, e o
Figura 4 – Exemplo de grade de poder/interesse com a cinza mais escuro representa partes interessadas que rece-
localização das partes interessadas berão ações ligadas à área de gerência de comunicações.
Fonte: PMBOK, 4ª edição, p. 249

Em analogia ao que define se uma ação será tomada em Interesse Poder Susceptibilidade Estratégia Área de
de Conhecimento
resposta a um risco, o que deve direcionar uma ação de Resposta
comunicação é a sua efetividade, em termos de transformar
Baixo Baixo Baixa Monitorar Risco
bloqueadores em aliados e desaceleradores em membros da
rede (CHAVES, 2006). Baixo Baixo Alta Monitorar Risco
Baixo Alto Baixa Satisfazer Comunicação
O que se sugere é que seja inserida uma dimensão à grade monito-
apresentada na Figura 4, denominada “Exemplo de grade rando
de poder/interesse com a localização das partes interessa- Baixo Alto Alta Satisfazer Comunicação
das” para efetivamente determinar a linha de corte com a criando
qual atores serão abrangidos por ações de comunicação e na conexões
qual atores deverão ser tratados como risco. A parte deve Alto Baixo Baixa Manter Comunicação
responder positivamente ao esforço, para ser considerada informado
susceptível. Para efeito prático, essa dimensão será denomi- defensiva-
nada “Susceptibilidade”. mente
Alto Baixo Alta Manter Comunicação
A inserção dessa dimensão cria um espaço tridimensional informado
de atuação em que as ações podem ser mais bem orienta- colaborati-
das, dado a localização da parte interessada em seu interior. vamente
As que possuem baixa susceptibilidade às ações possuem Alto Alto Baixa Gerenciar Risco
um tratamento relacionado à gerência de riscos, e as que próximo
defensiva-
possuem alta susceptibilidade possuem um tratamento mente
relacionado à gerência de comunicação.
Alto Alto Alta Gerenciar Comunicação
próximo
colaborati-
vamente

Figura 6 – Descrição de cada região da figura 5

25
Integração entre o gerenciamento de riscos e de comunicação para projetos de alta complexidade socioambiental

PMI (PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE). Um Guia do Conheci-


8. concluSão mentos em Gerenciamento de Projetos (Guia PMBOK®). Quarta edição.
USA: Project Management Institute, 2008.
A metodologia aqui proposta de separar as partes interessa- ______. Um Guia do Corpo de Conhecimentos em Gerenciamento de
das em “risco” e “comunicação” se aplica prioritariamente Projetos (Guia PMBOK®) – Terceira edição. USA: Project Management
à fase de elaboração do EIA/Rima, mas pode ser utilizada Institute, 2004.
isoladamente durante a fase de instalação do empreendi- ______. 2010. Disponível em: <http://www.pmi.org/en/About-Us/About-
mento, estruturando a relação com as partes interessadas Us-What-is-PMI.aspx> Acessado em 17/11/2010.
reforçada pela execução dos programas ambientais. Acredi- RAHSCHULTE, T. MILHOUSER, K. Beyond The Triple Constraints:
ta-se, por fim, que a aplicação conjunta das duas áreas de Nine Elements Defining Project Success Today. Washington: 2010 PMI
conhecimento gere resultados otimizados em termos de Global Congress Proceedings, 2010.
esforço empregado em comunicação e relacionamento com SALLES JR, Carlos Alberto Correa; SOLER, Alonso Mazini; VALLE, José
as diversas partes interessadas. Angelo Santos do; RABECHINI JR, Roque. Gerenciamento de Riscos em
Projetos. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.
O tratamento das partes interessadas unicamente como
alvos de ações de comunicação traria resultados extraordi-
nários em termos da sustentabilidade social do projeto, mas
geraria custos controversos com relação à sua efetividade,
internalizando atores que não possuem talvez a aptidão para SoBrE oS autorES
serem internalizados.
Thiago Garcia*
Por outro lado, o tratamento indiscriminado dos atores como
fonte de risco confere um aspecto de externalidades negati- Engenheiro Ambiental formado pela Universidade FU-
vas a estes, perdendo o projeto em qualidade, se pensarmos MEC, MBA em Gerenciamento de Projetos pela Fundação
em um aspecto amplo, quando o projeto deve atender às Getúlio Vargas, Project Management Professional (PMP)
necessidades das partes. certificado desde 2009. Atualmente preside a Câmara Téc-
nica de Instrumentos e Gestão do Conselho Estadual de
Os benefícios do correto gerenciamento das partes interes- Recursos Hídricos do Estado de Minas Gerais e coordena o
sadas são amplamente defendidos pela bibliografia estudada, Núcleo de Projetos da Gerência de Licenciamento e Gestão
mas se acredita que, para a questão socioambiental, o corpo Ambiental da Geração e Transmissão da Cemig GT S.A. (E-
de conhecimento em gerenciamento de projetos deve ser mail: thiago.garcia@cemig.com.br)
adaptado, sendo esta uma área de desenvolvimento dinâmico.
Faz-se, portanto, importante ter claro que o sucesso de um * Thiago Garcia foi orientado por André Bittencourt do
projeto pode ser um alvo móvel e que a satisfação das partes Valle para escrever este artigo.
interessadas é um elemento determinante desse sucesso.
Um possível desdobramento do presente seria a aplicação
da metodologia ex-post à implantação de um empreendi-
mento visando dois objetivos: a avaliação da efetividade
(cost-effectiveness) dos custos socioambientais incorridos
e a inferição de em que medida a presente metodologia
melhoraria esta relação.

9. rEfErênciaS BiBliográficaS
BANCO MUNDIAL. Licenciamento Ambiental de Empreendimentos
Hidrelétricos no Brasil – Uma Contribuição Para o Debate – Volume II:
Relatório Principal. 2008. Disponível em:http://siteresources.worldbank.
org/EXTWAT/Resources/4602122-1214578930250/Relatorio_PRINCIPAL.
pdf Acessado em 31/05/2010.
CHAVES, L. E., SILVEIRA NETO, F. H., PECH, G., CARNEIRO, F. S. C.
Gerenciamento da comunicação em projetos. Rio de Janeiro: Editora FGV,
2006.
DE PIANTE, J. The Soft Part is The Hard Part. Washington: 2010 PMI
Global Congress Proceedings, 2010.
KINSER, J. Don´t Make Na Ass Out of You and Me – Using Assumptions
Effectively. Washington: 2010 PMI Global Congress Proceedings, 2010.
LAPLACE, P.S. A Philosophical Essay on Probabilities. Dover Publications.
Nova York. 1996.

26
Sistema Adra - Aprender, Dividir, Registrar e
Aplicar: o uso da gestão do conhecimento
Shirlei Querubina Costa

Resumo 1. introdução
Este artigo tem por objetivo apresentar ao leitor como
utilizar o conhecimento de forma estratégica na gestão de
projetos, usando como ferramenta o Sistema Adra – Apren-
der, Dividir, Registrar e Aplicar.
Palavras-chave: Gestão do Conhecimento; Gerenciamento
I magine o que sentiu o ferreiro de uma família tradicional
e bem sucedida nessa atividade, quando ficou saben-
do que o cavalo para quem fazia ferraduras se tornaria
obsoleto, em função da mudança do meio de transporte de
tração animal para mecânica? Esse ferreiro provavelmente
de Projeto; Estratégia, Informação. aprendeu a profissão com seu pai, e a ensinou aos seus
filhos; estes, provavelmente, aplicaram o conhecimento de
moldar peças, na construção de veículos. Provavelmente
até participaram dos estudos de tempos e movimentos de
Abstract Taylor, ou participaram do ensaio do trabalho remunerado
por produção de Ford. Mesmo ocorrendo a aplicação da
This paper intends to present the reader how to use know- informação e, assim, gerando o conhecimento em todos os
ledge estrategically in project management, using the sys-
tem as a tool LSRA- Learning, Sharing, Register and Apply casos acima citados, nessa época, pouco se sabia o quanto
estrategicamente o conhecimento estaria atrelado à inova-
Keywords: Knowledge Management, Project Management, ção, capacidade de permanência no mercado, dentre outras
Strategy, Information. possibilidades, que ficaram mais visíveis e necessárias a
partir do atual século, pois as organizações passaram a ficar
mais focadas em ideias e conhecimento, do que simples-
mente em máquinas.
Adam Smith, considerado um dos teóricos mais influen-
tes da economia moderna, desenvolveu teorias em que
afirmava serem os pilares da produção a terra, o capital e
o trabalho. Após a revolução industrial, algumas guerras e
com a chegada da revolução tecnológica do século XXI, se
ele escrevesse hoje suas teorias, seus pilares seriam prova-
velmente: informação, conhecimento e inovação.

2. Economia E conHEcimEnto
No século XXI, uma nova revolução está acontecendo. São
bits em evidência ao invés dos átomos, são os ativos intan-
gíveis sendo mais valorizados do que os ativos tangíveis. Na
verdade, a nova ordem ditada pelos gurus é de que a Ges-
tão do Conhecimento não é mais uma moda de eficiência
operacional, como a Reengenharia, na verdade ela faz parte
da estratégia empresarial.

28
RBGP - Nov 2011

Desde a abertura da economia brasileira promovida na dé- cola de Sagres1, Portugal, foi possível criar rotas comerciais
cada de noventa, a indústria brasileira foi submetida a um marítimas. Durante muitos anos, o país virou o centro
duro choque de realidade, ao se deparar com altos critérios onde as ideias mais avançadas de navegação eram discuti-
de qualidade, custos baixos e tecnologias avançadas de das e difundidas, o que para nós poderia ser considerando
produção que era praticada pelos mercados internacionais. um ensaio para a Gestão do Conhecimento.
Depois da imersão do Brasil na globalização e o controle da
inflação com o Plano Real, ficou difícil maquiar as incompe- As Grandes Navegações, expansionismo marítimo euro-
tências e os lucros fáceis. Estava declarado o fim da inércia peu motivado pela conquista de novas terras, novas rotas
e o início da guerra pelo consumidor e, como consequência, para comércio e busca por metais preciosos, são tidas
a popularização do Gerenciamento de Projetos. como a primeira ação para a globalização, donde se conclui
que a junção de estratégia e conhecimento permeia há
O Estudo de Benchmarking realizado pelo PMI - Capítulos séculos a nossa história.
Brasileiros em empresas de segmentos diversos da economia,
inclusive engenharia, aponta vários benefícios que o geren- 1. Escola de Navegação de Portugal que obteve grande relevância na
época das Grandes Navegações.
ciamento de projeto é capaz de prover nas empresas. Abaixo,
os benefícios diretamente ligados à Gestão do Conhecimen-
to. Os dados foram obtidos nos estudos dos três últimos
anos, período em que é possível observar que dos cinco
benefícios, quatro passaram a incorporar o estudo em 2010. 4. o SiStEma adra – aPrEndEr,
Benefício 2008 2009 2010
dividir, rEgiStrar E aPlicar
Disponibilidade de informação para Aprender, dividir, registrar e aplicar é uma maneira dinâ-
52% 74% NA
tomada de decisão mica de apresentar o processo de Lições Aprendidas. Para
Maior confiabilidade nas informações
NA NA 33,40%
Chaves (2007), a melhor definição para Lições Aprendi-
apresentadas das é dada pelo escritor Secchi (1999) e é usada por diver-
Maior disponibilidade de informação de sos setores, como a agência espacial americana:
NA NA 27,90%
qualidade para a tomada de decisão
(...) uma lição aprendida é o conhecimento obtido por
Maior disponibilidade de informações
sobre lições aprendidas em experiên- NA NA 13,30%
experiência. A experiência pode ser positiva, como um
cias anteriores teste ou missão de sucesso, ou negativa, como uma
falha ou percalço ou infortúnio. Sucessos são também
Transferência efetiva de conhecimento NA NA 15% considerados fontes de lições aprendidas. Uma lição pre-
cisa ser significante e ter um impacto real ou assumido
Tabela 1 - Benefícios obtidos com gerenciamento de projetos nas operações, deve ser válida e tecnicamente correta e
Fonte:Project Management Institute – Chapters Brasileiros aplicável em determinado e específico processo, desenho
(www.pmi.org.br) NP: Não pesquisado nos anos anteriores ou decisão que reduzirá ou eliminará erros ou infortú-
nios potenciais ou irá aumentar um resultado positivo.
(SECCHI, 1999)
3. a gEStão do conHEcimEnto Cabe ressaltar que, no caso de o processo dividir o gerente
A globalização trouxe para o ambiente das empresas um de projeto, a equipe quando aplicável, a organização pre-
menor ciclo de vida para o produto e a necessidade de cisa ter a sensibilidade em compreender que o sentido é
mão de obra mais qualificada e arraigada na cultura de se de compartilhamento da informação e do conhecimento, e
viver em uma aldeia global vivenciando uma inteligência não de ruptura e individualidade. e
coletiva que ao mesmo tempo se pensa no todo e no deta-
Voltando à Escola de Sagres, o elemento fundamental
lhe. Já o avanço tecnológico trouxe velocidade e facilidade
para o sucesso da mesma foi o fato de como o conheci-
de acessibilidade à informação, transformando as pessoas
mento foi absorvido e transmitido a cada geração, assim
em amplificadores do conhecimento.
como no caso do ferreiro.
O enfoque nas pessoas, que são as produtoras do conhe-
Então, respondendo a pergunta inicial, sobre como criar
cimento, introduziu nas organizações um novo conceito:
um diferencial competitivo, a resposta é: saber coletar o
capital intelectual, que por si só explica porque é elemento
que aconteceu, registrar como se resolveu, dividir como o
fundamental para a nova era vivenciada pelas organizações.
conhecimento pode ser utilizado para experiências futu-
Ao longo de toda a história da humanidade, sabe-se que ras, e aplicá-lo para gerar mais conhecimento, inclusive de
aqueles que primaram em usar o conhecimento como forma criativa para promover a inovação. Este é o Sistema
ferramenta estratégica sobressaíram-se em relação aos de- de Aprender, Dividir, Registrar e Aplicar o conhecimento.
mais. Graças à Guerra de Cem Anos, conflito entre França
Diversas são as fontes que podem ser utilizadas para
e Inglaterra entre os séculos XIV e XV, que inviabilizou as
alimentar o aprendizado do projeto: atas de reuniões,
vias terrestres de comércio, somada ao fato do desenvolvi-
relatórios de progresso, relatórios/registros de reivindi-
mento das técnicas de navegação e instrumentação na Es-
cações, solicitações de mudança, relatório e reuniões de

29
Sistema Adra - Aprender, Dividir, Registrar e Aplicar: o uso da gestão do conhecimento

conclusão de marco, conversas com pessoas que já fizeram


projetos semelhantes, cronogramas (base e todas as suas 6. concluSão
demais versões), gestão à vista2 de outros projetos, plano
de projeto Os gerentes estavam acostumamos a uma cultura orga-
nizacional imediatista, pela qual não era possível que
Os caminhos acima são bem dinâmicos e em cada organi- fizessem planejamento das suas atividades, antes de
zação o acesso a essas informações é dado de uma forma. executá-las. Hoje já é possível verificar que essa realidade
Mas o Gerente na deve considerar isso como um impe- está ficando distante e os gerentes estão aprendendo a
ditivo para seguir em frente, pois tais consultas podem, balancear planejamento e execução.
dentre outros ganhos, representar menos retrabalhos, um
inventário de riscos mais maduro, uma melhor programa- Entretanto, quando o foco é planejamento, é muito recor-
ção de tempo e alocação de recursos. rente entre os gerentes apenas olhar para frente, tendo
como foco o resultado a ser alcançado. Errado? Não. Mas
2. Processo em que se coloca em um quadro acessível a todos, informa- essa experiência pode ser imensamente mais rica e pro-
ções sobre andamento, avaliação e resultados obtidos de um projeto, por dutiva se, ao pensar no que é necessário ser executado, os
exemplo. gerentes aprenderem a consultar o passado organizacional e
projetos em execução para tirar deles lições importantes.
Considerando a relevância do conhecimento, torna-se
evidente que a sobrevivência de uma empresa começa a
5. como criar o SiStEma dE colEta E depender da sua capacidade de coletar as informações,
transformá-las em aprendizado organizacional, bem como
diSSEminação no SiStEma adra divulgá-las rapidamente para toda a empresa, gerando
assim um ciclo virtuoso que leva as empresas desde a
O importante é criar um mecanismo simples, mas que não cometer os mesmos erros até a mensurar com mais
promova o conhecimento com a meta de melhoria con- segurança a sua eficiência, tomar decisões acertadas com
tínua nos processos da empresa. Não se pode deixar de relação à melhor estratégia a ser adotada em relação aos
levar em conta quais níveis estratégicos deverão acessar seus clientes, concorrentes, canais de distribuição e ciclos
tais registros, pois, como dito desde o início, hoje, conhe- de vida de produtos e serviços, para, por fim, promover a
cimento é diferencial competitivo. inovação.
O primeiro passo é visitar os documentos já sugeridos nes- “Somos o que repetidamente fazemos. A excelência,
se artigo, fazer as reuniões com aqueles que já passaram portanto, não é um feito, mas um hábito”.
por projetos similares ao que está sendo desenvolvido e,
em uma planilha, como abaixo, fazer o registro do que foi Aristóteles
coletado (ver anexo I).
Uma vez visitado o histórico organizacional, o segundo
passo é fazer o registro da aprendizagem do projeto que
você está gerenciando. A proposta é de que seja feita a 7. rEfErênciaS BiBliográficaS
coleta na realização das reuniões de fechamento de fase
Gestão do Conhecimento/Havard Business Review, tradução Afonso
do projeto e encerramento deste, sendo que a responsabi- Celso da Cunha Serra – Rio de Janeiro: Campus, 2000
lidade por esses registros é do gerente de projetos.
CARVALHO, G. M. R.; TAVARES, M. S. Informação & conhecimento:
No processo de compartilhamento do que foi registra- uma abordagem organizacional. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001. 127p
do como aprendizado no projeto, para as organizações é CAVALCANTI, Marcos. Gestão de empresas na sociedade do conheci-
gerado um enorme potencial de inovação. Retomando mento : um roteiro para a ação. Rio de Janeiro : Campus, 2001. 170 p.
o exemplo, imagine quantas inovações no processo das COSTA, Shirlei Querubina. Lições Aprendidas como Diferencial Estratégi-
navegações portuguesas não foram promovidas, quando do co – Artigo de conclusão de pós graduação IETEC – Belo Horizonte, 2007.
compartilhamento e aplicação do conhecimento. CHAVES, Lúcio E..; SILVEIRA NETO, Fernando H.; PECH, Gerson;
CARNEIRO, Margareth F. S. Gerenciamento da comunicação em proje-
A disseminação das informações se dá de formas diversas tos. Rio de Janeiro: FGV, 2006. 160p.
e é neste ato do compartilhamento que é possível promo-
DAVENPORT, Thomas H.; PRUSAK, Laurence. Conhecimento empre-
ver ganhos relativos à redução de retrabalhos, custos, me- sarial: como as organizações gerenciam o seu capital intelectual. 10. ed.
nor prazo, maior assertividade em relação ao atendimento Rio de Janeiro: Campus, 2003. 237p.
ao escopo, amadurecimento no processo de identificação GATTONI, Roberto Luís Capuruço. Gestão do conhecimento aplicada
de risco, dentre outros. à prática da gerência de projetos. Belo Horizonte: FUMEC, FACE, C/
Arte, 2004. 177p
PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE (PMI). (2008) A guide
to the project management body of knowledge (PMBOK®) (Fourth
Edition). Newtown Square, PA, US: PMI.

30
RBGP - Nov 2011

PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE (PMI). (2007) Construc- Havard Business Review. Gestão do Conhecimento. Rio de Janeiro:
tion Extension to The PMBOK(R) Guide Third Edition. Newtown Elsevier, 2000.
Square, PA, US: PMI.
ZABOT, João Batista M; SILVA, L. C. Mello da. Gestão do conhecimen-
Relatório do Estudo de Benchmarking em Gerenciamento de Projetos to: aprendizagem e tecnologia construindo a inteligência coletiva. São
Brasil 2008 – PMI Brasil. Paulo : Atlas, 2002.144p
Relatório do Estudo de Benchmarking em Gerenciamento de Projetos
Brasil 2009 – PMI Brasil.
Relatório do Estudo de Benchmarking em Gerenciamento de Projetos
Brasil 2010 – PMI Brasil.
SoBrE a autora
SVEIBY, Karl Erik. A nova riqueza das organizações : gerenciando e ava- Shirlei Querubina Costa
liando patrimônios de conhecimento. Rio de Janeiro: Campus, 1998. 260p
Formada em Administração de Empresas, pela PUC Mi-
STEWART, Thomas A. Capital intelectual: a nova vantagem competiti- nas, e MBA em Gerenciamento de Projetos pela Fundação
va das empresas. Rio de Janeiro: Campus, 2003. 237p
Getúlio Vargas. Gerente de Projetos atuante no mercado
TAKEUCHI, Hirotaka; NONAKA, Ikujiro. Gestão do conhecimento. de geração de energia elétrica. Filiada ao PMI-MG.
Porto Alegre: Bookman, 2008. 319 p (E-mail: shirlei@sinergia.eng.br)
FIGUEIREDO Saulo Porfírio. Gestão do Conhecimento: Estratégias
competitivas para a criação e mobilização do conhecimento na empresa.
Rio de Janeiro: Qualitymark, 2005.260p

anExo i
A disseminação das informações se dá de formas diversas e
Todas as áreas de conhecimento aplicáveis ao projeto é neste ato do compartilhamento que é possível promover
deverão ser consideradas e a segmentação por área tem o ganhos relativos a redução de retrabalhos, custos, menor
objetivo de facilitar a busca do aprendizado. prazo, maior assertividade em relação ao atendimento ao
No processo de compartilhamento do que foi registrado escopo, amadurecimento no processo de identificação de
como aprendizado no projeto que para as organizações risco, dentre outros.
é gerado um enorme potencial de inovação. Retomando
o exemplo, imagine quantas inovações no processo das
navegações portuguesas não foram promovidas, quando do Abaixo, exemplo de como a planilha é elaborada:
compartilhamento e aplicação do conhecimento.

31
Sistema Adra - Aprender, Dividir, Registrar e Aplicar: o uso da gestão do conhecimento

32
RBGP - Nov 2011

Lições aprendidas de um projeto


mal sucedido
Helio Aisenberg Ferenhof, Fernando Antonio Forcellini

Resumo 1. introdução
O presente estudo visa abordar questões relacionadas ao
processo de lições aprendidas em projetos, tendo como foco
de análise a gestão do conhecimento. O ponto de partida
constituiu-se da seguinte questão: por que alguns projetos
fracassam e outros atingem o sucesso? A partir disso, ini-
ciou-se a busca científica para responder esta indagação, por
E m projetos, espera-se sempre alcançar sucesso, afinal,
quem tem a intenção de investir tempo, recursos
humanos e financeiros em esforços para criação de bens
e serviços que não obtenham resultados positivos? Entre-
tanto, nem sempre os resultados destes esforços são bem
intermédio da busca sistemática de literatura e um estudo sucedidos - projetos mal sucedidos também ocorrem por
de caso. Assim, este estudo considerou 9 artigos publicados diversos fatores. Mas o que pode ser feito para que o suces-
em revistas e journals científicos, que apresentam estudos
empíricos em gestão de projetos, gestão do conhecimento, so se repita e o fracasso não? Aprender com o que ocorreu
lições aprendidas e fracasso, encontrados nas bases de dados é um caminho para responder essa indagação, o que deve
Scopus. Este estudo aponta: a necessidade de comprome- ser feito ao longo de todo o ciclo de vida do projeto. Esse
timento dos stakeholders com o projeto e de se estabelecer aprendizado se dá pelo processo de gerar lições aprendidas
um processo de lições aprendidas. Através deste, pode-se
adquirir uma melhor compreensão das atividades envolvidas; que visa coletar dados e disseminá-los pela organização com
identificar a causa raiz de sucessos e fracassos, ajudando a intuito de contribuir para melhorar o planejamento, execu-
melhoria do processo; e ter o aumento sistemático das com- ção, monitoramento e controle dos projetos.
petências dos envolvidos.
O presente artigo aborda questões relacionadas com o
Palavras-chave: Processo de Lições Aprendidas; Gestão do processo de lições aprendidas em projetos, tendo como
Conhecimento; Gerenciamento de Projeto.
foco de análise a gestão do conhecimento, utilizando
como base um estudo de caso de um projeto mal sucedi-
do. O ponto de partida constituiu-se da seguinte ques-
tão: por que alguns projetos fracassam e outros atingem
Abstract o sucesso? A partir disso, iniciou-se a busca científica
The present study aims to address issues related to the para responder essa interrogação, utilizando-se da busca
process of lessons learned in projects, by having the focus sistemática de literatura, culminando na apresentação da
analysis of knowledge management. The starting point was importância do comprometimento dos stakeholders com
the question: Why do some projects fail while others achieve
success? From this, began the scientific quest to answer this o projeto e de estabelecer um processo de gerar lições
question through the systematic search in literature and, a aprendidas ao longo de todo o projeto, criando uma base
case study. Thus, this study found 9 articles published in de conhecimento.
scientific journals that present empirical studies in project
management, knowledge management, lessons learned and
failure, tha was found in the database Scopus. This study
points: the need for commitment from the stakeholders to
the project, and to establish a process of lessons learned.
Through this, the reader can gain a better understanding
2. ProcEdimEntoS mEtodológicoS
of the activities involved, identify the root cause of failures
and successes, helping to improve the process and to have a Partido da pergunta norteadora “Por que alguns projetos
systematic increase of the skills involved. fracassam e outros atingem o sucesso?”, foi considerado
oportuno adotar como estratégia de pesquisa o estudo de
Keywords: Lessons Learned Process, Knowledge Manage-
ment, Project Management caso qualitativo, o qual é indicado em investigações que
buscam responder a este tipo de questão (Yin, 2009) bem
como uma busca sistemática de literatura para dar suporte
ao estudo de casos.

33
Lições aprendidas de um projeto mal sucedido

Os descritores aplicados na busca sistemática foram


“Knowledge Management”, “Lessons Learned”, “Project 3. liçõES aPrEndidaS?
Management”, “Failure”. Ainda, para a coleta de dados,
seguiram-se os seguintes critérios de inclusão e exclusão: Lições aprendidas são um processo, um meio de explicitar
experiências, ou seja, conhecimento. Desenvolvê-las se dá
por intermédio do compartilhamento destas experiências
2.1. Artigos que trazem a relação entre no projeto e entre projetos. O intuito é aumentar, assim,
a satisfação com o trabalho, melhorando a inter-relação
gerenciamento de projetos, conhecimento entre os participantes do processo, contribuindo para o
e lições aprendidas aprendizado destes e para o aprendizado organizacional
(BAAZ et al, 2010).
O procedimento de localizar e selecionar os estudos po-
tenciais nas bases de dados Scopus foi: Ferenhof et al (2011) relatam que, do ponto de vista da
a) Seleção de artigos que contenham no título, ou no Gestão do Conhecimento (GC), toda e qualquer experi-
resumo, ou nas palavras-chave do artigo, os descri- ência é conhecimento. É necessário ser explicitado, com-
tores definidos. partilhado e disseminado para agregar valor às pessoas e
organizações. Para esses autores, o meio para agregar esse
b) Busca por tipo de documento article. valor é executar o processo de lições aprendidas.
c) Seleção de artigos disponíveis e que contenham
texto na íntegra. De acordo com Schindler e Eppler (2003), o processo
d) Realização de nova triagem, conforme os critérios de lições aprendidas deve se feito de forma sistemática
de inclusão. permitindo que a organização compare seus distintos pro-
jetos mais metodicamente, para assim documentar o seu
De acordo com a Colaboração Cochrane (CLARKE et al., mecanismo mais eficaz de resolução de problemas. Essa
2000), as etapas para fazer um revisão sistemática são de documentação sistemática de percalços, erros, falhas ou
planejamento, execução, análise e relatoria. Sendo assim, potenciais armadilhas ajuda a mitigar riscos do projeto e
o presente estudo respeitou todas essas etapas. projetos futuros. Os autores apontam, ainda, que as lições
aprendidas devem ser uma revisão periódica durante todo
É possível identificar, avaliar e interpretar por intermédio o ciclo de vida do projeto, o que leva a algumas vantagens:
da revisão sistemática o que fora pesquisado de antemão, os eventos de sucesso e falha são mais recentes, facilitan-
o que é relevante e o que está disponível nas bases de do o aprendizado dos envolvidos bem como o organizacio-
dados. Agrupa-se, assim, de forma organizada, resultados nal. Evita-se, assim, um possível esquecimento quando
de pesquisas prévias, auxiliando no esclarecimento de o processo é feito ao término do projeto; ao longo dele,
diferenças encontradas entre estudos primários que inves- é mais fácil reunir toda a equipe, em vez de fazer isso
tigam a mesma questão (KITCHENHAM, 2004). após o encerramento, quando muitas vezes os membros
são alocados em outros projetos ou tarefas operacionais e
A base Scopus foi escolhida por permitir “uma visão
sua agenda não está mais à disposição do projeto que tem
multidisciplinar e integrada de fontes relevantes para a
questões a serem aprendidas.
pesquisa bibliográfica sistemática” (FREIRE, 2010).
Corroborando, Decker et al. (2005) descreve algumas
A procura foi executada utilizando os descritores kno-
outras vantagens de ter um processo de lições aprendidas
wledge management, project management, lessons
formalmente estabelecido, sendo estas:
learned e failure por intermédio da query TITLE-ABS-
KEY (“knowledge management” AND “lessons lear- a) um consenso sobre um processo é construído;
ned” AND “project management” AND failure) AND b) problemas durante a execução de um processo são
DOCTYPE(ar), obtendo o retorno de nove documentos. resolvidos de forma colaborativa e capturados como
Os mesmos foram analisados para construção dos resul- lições aprendidas, para facilitar as execuções do
tados. Assim, a abordagem metodológica adotada carac- próximo processo;
teriza-se como um estudo exploratório e descritivo, feito
mediante a busca sistemática da literatura. c) modelos de processo são revistos para uma melhor
inteligibilidade e outros aspectos de qualidade.
Para fins de confiabilidade e repetição do método, os Huemann e Anbari (2007) reforçam o fato de as lições
autores do presente estudo informam que as buscas foram aprendidas serem uma investigação sistemática, levan-
efetuadas na data de 12 de abril de 2011. Novos docu- do em conta os processos e a gestão técnica, bem como
mentos podem aparecer nas futuras buscas, por serem critérios de desempenho de ambos. As lições aprendidas
inseridos na base após a data da busca. ajudam a identificar as causas raiz de sucesso ou fracasso
e, ainda, destacam melhorias e oportunidades.
Ao se estabelecer um processo formal de lições aprendi-
das, espera-se identificar, explicitar, compartilhar conheci-
mento, transformando as experiências pessoais em conhe-
cimento organizacional. Para isso, este estudo recomenda

34
RBGP - Nov 2011

a utilização do processo de conversão do conhecimento Observa-se que, nos três primeiros lugares para cada cate-
proposto por Nonaka e Takeuchi (1997), que o faz por goria, o envolvimento do usuário é listado como o primei-
intermédio da socialização, externalização, combinação ro ou o segundo em cada um.
e internalização do conhecimento. Anbari et al. (2008)
ressaltam que devem fazer parte do processo de lições
aprendidas as experiências boas, ruins e feias dos projetos.
Aprende-se tanto com o sucesso quanto com o fracasso. 5. EStudo dE caSo
Em uma empresa multinacional da indústria óptica (líder
em seu segmento), um projeto denominado Pedido
4. SucESSo E fracaSSo? Eletrônico foi criado pelo vice-presidente e diretor de
operações da empresa o qual tinha como objetivo rece-
O guia de melhores práticas em gerenciamento de proje- ber os pedidos de lentes e blocos através da internet. O
tos PMBOK®, guia este escrito, revisado e seguido por intuito do projeto era que, com a entrada dos pedidos via
diversos gerentes de projetos no mundo inteiro, define internet, haveria uma redução dos pedidos via telefone
sucesso em projetos como sendo o processo de outorgar e fax, reduzindo assim a digitação e por sua vez erros de
todos os entregáveis, conforme os planos de projetos, prin- digitação pelos operadores, bem como o de insumos para a
cipalmente em relação a tempo, custo, escopo e qualidade impressão de fax. Outro ponto considerado foi a diminui-
(PMBOK®, 2008). Na mesma linha de raciocínio, Kerzner ção do tempo de atendimento e entrada dos pedidos, uma
(2002, p.44) aponta que sucesso é mensurado em termos vez que os mesmos seriam enviados diretamente pelo
de fatores primários e secundários, sendo os primários no cliente, dispensando a utilização de um operador. Final-
prazo, dentro do orçamento, no nível desejado de qualida- mente, redução no número de operadores de telemarke-
de; e secundários aceitação pelo cliente, o cliente concorda ting de acordo com o aumento dos pedidos eletrônicos.
com a utilização de seu nome como referência.
Suas premissas baseavam-se na ideia de que os clientes
O fracasso é inversamente proporcional ao sucesso. Sendo passariam a utilizar cada vez mais o pedido eletrônico, em
assim, para que ocorra o fracasso em projetos, basta que vez de pedidos via fax ou telefone. Os gerentes comer-
um dos fatores não contemple o seu respectivo planeja- ciais e regionais da empresa utilizariam o sistema para
mento, seja em tempo, custo, escopo ou qualidade. aprovação do pedido. E o projeto possuía como restrição
que os clientes e gerentes comerciais necessitariam de
Para melhor demostrar os fatores que levam ao sucesso e
um computador conectado à internet.
fracasso em projetos, este estudo recorre ao relatório publi-
cado pelo The Standish Group (1994), chamado o relatório O Pedido Eletrônico tinha como escopo:
• Receber os pedidos em “grade” (Matriz de pedi-
do caos, que aponta três categorias de projetos: sucesso,
que foram completados no tempo e orçamento, com todas
dos: Produto, Base, Quantidade) via internet.
• A inclusão de desconto e prazo previamente
as características e funções, conforme especificado; contes-
tados, foram concluídos, mas excederam o custo, tempo,
e/ou falta de características e funções que foram original- negociado por cliente e por produto.
mente especificadas; e fracasso, característica de projetos • A aprovação do pedido por um gerente comercial.
• O gerente comercial poderia modificar o percen-
que foram abandonados ou cancelados em algum ponto
e tornaram-se assim perda total. O The Standish Group
tual de desconto na hora da aprovação.
• Uma segunda aprovação do pedido seria feita
(1994) ainda aponta os fatores mais encontrados em cada
uma das categorias. O quadro 1 aponta as cinco principais
características de cada uma das três categorias. por um gerente regional dependendo do valor do
desconto ou da compra.
Sucesso Contestados Fracassados • Ambas as aprovações seriam feitas na extranet da
empresa.
• A entrada efetiva do pedido no ERP da empresa.
1. Envolvimento do 1. A falta de participa- 1. Requisitos incom-
Usuário ção do usuário pletos
2. Apoio da Alta 2. Requisitos e especifi- 2. Falta de envolvi- Entende-se por extranet como sendo uma rede privada
Gestão cações incompletos mento do usuário
que se utiliza da internet para compartilhar de forma se-
3. Declaração de 3. Mudanças nos requi- 3. Falta de recursos gura informações ou operações de negócios com clientes,
Requisitos Claros sitos e especificações
fornecedores, parceiros, representantes ou outro grupo de
4. Planejamento 4. Falta de Apoio 4. Expectativas interesse (KORPER e ELLIS, 2001). Por ERP, entende-
Apropriado Executivo irrealistas se um sistema de informação computacional que integra
5. Expectativas 5. Incompetência 5. Falta de Apoio todos os dados e processos de uma empresa em um único
Realistas técnica Executivo sistema (LAUDON, 2004; PADOVEZE, 2004).
Quadro 1 – Principais características de Projetos com Sucesso,
Contestados e Fracassos
Fonte: Autores. Dados de pesquisa: Adaptado
de The Standish Group (1994).

35
Lições aprendidas de um projeto mal sucedido

tição dos mesmos erros, e repetir os acertos. Ter uma base


6. rESultadoS E diScuSSão de conhecimento organizacional é de extrema valia para
que o conhecimento seja armazenado e recuperado de
O projeto Pedido Eletrônico estava caminhando muito forma adequada, isto é, de uma maneira que seja de fácil
bem, dentro do custo, prazo, qualidade e com a equipe acesso, com identificação, compreensão, e recuperação do
de projeto motivada. Houve levantamento dos requisitos conhecimento necessário em relação a um fato ou situa-
do mesmo, análise e desenvolvimento de toda a parte ção, seja para resolver uma situação ou que contenha as
de entrada do pedido, mas quando se chegou na hora de experiências de sucesso a serem repetidas. Para facilitar a
definição de uma regra de negócios para o prazo, desconto disseminação destes conhecimentos, recomenda-se seguir
e a aprovação do pedido é que houve a grande surpresa. o processo de conversão do conhecimento proposto por
A diretoria comercial não tinha uma regra de negócio Nonaka e Takeuchi (1997).
definida, e não tinha o mínimo interesse em definir um
padrão, pois gerentes comerciais de mesmo nível tinham O comprometimento com o processo de lições aprendi-
condições de pagamento e desconto diferenciados uns das é essencial para que os conhecimentos fluam dentro
dos outros e um não poderia, de maneira alguma, tomar da organização. Sendo assim, deve-se considerar uma
conhecimento de que o seu colega tinha esse privilégio. abordagem middle-up-down, que engloba todos os níveis
Logo, como gerar uma regra de negócio que atenda a hierárquicos de uma empresa. Nonaka e Takeuchi (1997)
todos, sem o interesse da alta gerência comercial? Pela apontam esse modelo de gestão com a criação de conhe-
identificação dessa falta de interesse e comprometimento cimento que advém da liderança dos gerentes de nível
da área comercial em normatizar as regras de negócio, médio, por intermédio de um processo em espiral de
apontadas pelo gerente de projetos ao sponsor, o mesmo conversão que envolve tanto a alta gerência quanto o nível
resolveu cancelar o projeto, adiando a “briga” pela defini- operacional. Esse processo faz com que as ideias ou visão
ção dessa regra. Tendo como base o portfolio de projetos da alta gerência, suas estratégias, fluam com mais facilida-
que previa a migração do ERP utilizado pela empresa para de, pois a gerência de nível médio desenvolve conceitos
outro, devido a aquisição da empresa que desenvolveu o mais concretos e os traduz a uma linguagem que seja de
ERP instalado por outra fabricante de software maior. A mais fácil compreensão e implementação pelos níveis
aquisição do ERP ocorreu durante o desenvolvimento do operacionais. Sendo assim, a organização como um todo
projeto Pedido Eletrônico. deve estar comprometida com o processo, não apenas o
gerente de projetos e/ou sua equipe, quando fazem parte
Ao executar o processo de lições aprendidas do projeto de um projeto, mas sim em todas as tarefas diárias.
Pedido Eletrônico, foi identificado e registrado na base de
conhecimentos da empresa que a falta de comprometimen-
to dos stakeholders pode ser destrutiva ao projeto. Ao com-
parar e analisar os resultados obtidos pela busca sistemática
de literatura sobre o tema sucesso e fracasso em projetos 8. rEfErênciaS BiBliográficaS
com os obtidos no projeto Pedido Eletrônico, constata-se
ANBARI F. T., CARAYANNISB E. G., VOETSCH R. J. Post-project
que o envolvimento e o comprometimento dos stakehol- reviews as a key project management competence Technovation. V. 28,
ders é fator fundamental para o sucesso de projetos. n. 10, p. 633-643. doi:10.1016/j.technovation.2007.12.001, 2008.

Para evitar essa falha em projetos futuros, a devida identifi- BAAZ, A.; AB, E.; HOLMBERG, L.; SANDBERG, A. B.; AB, E. Lessons
learned Appreciating Lessons Learned. IEEE Software 27(4): 72-79.
cação e gestão dos stakeholders deve ser feita, fato ressal- 2010.
tado pelo PMBOK® (2008), que traz esses dois processos
como sendo fatores críticos de sucesso de projetos. Para BUSBY, J.S. An assessment of post-project reviews. Project Management
Journal 30 (3), 23–29, 1999.
ele, a identificação das partes interessadas, stakeholders,
deve ser feita desde o início do projeto, de forma a analisar CLARKE M, OXMAN AD, EDITORS. Cochrane Reviewers’ Handbook
4.1 [updated June 2000]. In: Review Manager (RevMan) [Computer
o nível de interesse, expectativas, importâncias e influên- program]. Version 4.1. Oxford, England: The Cochrane Collaboration,
cias destes no projeto. O mesmo ainda aponta que, após 2000.
a identificação, uma estratégia de como lidar com estes
CLELAND, D.I. A strategy for ongoing project evaluation. Project
interessados deve ser traçada, para que haja uma interação Management Journal XVI (3), 11–17, 1985.
com os stakeholders que atenda as suas necessidades e
Comité Européen de Normalisation (CEN). European Guide to good
solucione questões à medida que estas ocorrem. Practice in Knowledge Management CWA 14924. 2004. Disponível em:
ftp://cenftp1.cenorm.be/PUBLIC/CWAs/e-Europe/KM/CWA14924-04-
2004-Mar.pdf. Acessado em 30/09/2010.
DECKER B., RECH J., ALTHOFF K.D., KLOTZ A., LEOPOLD E,
7. concluSão VOSS A. Participative Process Learning––process-oriented experience
management and conflict solving. Data & Knowledge Engineering, v. 52,
n. 1, p. 5-31. doi: 10.1016/j.datak.2004.06.006, 2005.
Observou-se pelo estudo de caso que o comprometi-
mento dos stakeholders é fundamental para o sucesso FERENHOF, H. A. ; FORCELLINI, F. A. ; VARVAKIS, G. Lições
Aprendidas: Agregando Valor ao Gerenciamento de Projetos. Florianó-
em projetos e que é essencial divulgar experiências de polis. Anais da Conferência Internacional de Gerenciamento de Projetos
gerenciamento de projetos por intermédio de lições - PMI/SC, 2011.
aprendidas dentro de uma organização para evitar a repe-

36
RBGP - Nov 2011

FREIRE, P. S. Compartilhamento de conhecimento interorganizacional: PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE, PMI. Um Guia do Conjun-
causas essenciais dos problemas de integração em fusões e aquisições to de Conhecimentos em Gerenciamentos de Projetos: Guia PMBOK.
(F&A). 2010. 148f. Dissertação (Mestrado em Engenharia e Gestão do 4ed. Pennsylvania: Four Campus Boulevard, 2008.
Conhecimento) - Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão
do Conhecimento, Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. SCHINDLER M., EPPLER M. J. Harvesting project knowledge: a
Florianópolis, 2010. review of project learning methods and success factors. International
Journal of Project Management, v. 21, p. 219-228, 2003.
GRUBER, T.R. A translation approach to portable ontology specifica-
tions. Knowledge Acquisition 199–220, 1993. SCHREIBER G., AKKERMANS H., ANJEWIERDEN A., HOOG R.D.,
SHADBOLT N., VELDE W.V.D., WIELINGA B. Knowledge Enginee-
HUEMANN,M., ANBARI, F.T. Project auditing: a tool for compliance, ring and Management. The MIT Press: Cambridge, 2000.
governance, empowerment, and improvement. Journal of Academy of
Business and Economics (in press), 2007. THE STANDISH GROUP(1994). The chaos report. http://www.
standishgroup.com/sample_research/chaos_1994_1.php. visualizado em
KAMSUFOGUEM, B.; COUDERT, T.; BELER, C.; GENESTE, 16 de setembro de 2009.
L. Knowledge formalization in experience feedback processes: An
ontology-based approach. Computers in Industry, v. 59, n. 7, p. 694-710. WILLIAMS, T. How do organizations learn from projects? In: Procee-
doi: 10.1016/j.compind.2007.12.014, 2008. dings of PMI Research Conference [CD]. Montreal, Canada, Project
Management Institute, Newtown Square, PA, 2006.
KERZNER, Harold. Gestão de projetos: as melhores práticas. Porto
Alegre: Bookman, 2002. 519p. YIN, R. K. Case Study Research: Design and Methods. Sage Publica-
tions, Inc, 2009.
KITCHENHAM, B. Procedures for Performing Systematic Reviews.
Joint Technical Report Software Engineering Group, Department of
Computer Science Keele University, United King and Empirical Softwa-
re Engineering, National ICT Australia Ltd, Australia. 2004.
KORPER, S.; ELLIS, J. E-Commerce book: building the e-empire. 2.
ed. San Diego: Academic Press, 2001. 299p.
SoBrE oS autorES
LAUDON, Kenneth C. Sistemas de Informações gerenciais: administran- Helio Aisenberg Ferenhof
do a empresa digital. São Paulo: Prentice Hall, 2004
NONAKA, I.; TACKEUCHI, H. Criação do Conhecimento na Empresa: MSc, MBA, PMP; Prof. do SENAC/SC;
como as empresas japonesas geram a dinâmica da inovação. 19ª. Ed. Rio Pesquisador NGS/UFSC;
de Janeiro: Elsevier, 1997. (E-mail: helio@igci.com.br).
OECD. Manual de Oslo. 3ª Edição - 2005 - Tradução FINEP 2006.
Fernando Antonio Forcellini
PADOVOZE, Clóvis Luís. Sistemas de informações contábeis: funda-
mentos e análise. São Paulo: Atlas, 2004 Dr. Prof. do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e
PESZYNSKI, K., COOPER, V. and MOLLA, A. Developing a Knowledge Gestão do Conhecimento – PPGEGC/UFSC
Management Strategy: Reflections from an Action Research Project. RMIT (Email: forcellini@deps.ufsc.br)
University, GPO Box 2476V, Melbourne, VIC, 3001, Austrália, 2008.

37
Lições aprendidas de um projeto mal sucedido

38

Das könnte Ihnen auch gefallen