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Direito Civil
Parte Geral
Tema 1
Sistema de Normas no Direito
Brasileiro
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Introdução
As normas jurídicas, por sua vez, são caracterizadas, no que tange à sua
incidência, pela determinação e obrigatoriedade de seus comandos. Para
Ritinha A. S. Georgakilas “em outras palavras, se considerarmos a norma do
direito positivo como um signo discursivo,veremos que existe algo de muito
peculiar na situação comunicativa que se instaura, a partir do momento em que
a norma está apta a incidir, podendo produzir os seus efeitos típicos,
vinculativos. Este “algo” peculiar, que distingue a situação comunicativa
normativa das demais espécies de comunicação humana, vem a ser,
justamente, a imperatividade da norma, ou seja, a obrigatoriedade da
obediência aos seus comandos pelas pessoas a quem eles se dirigem”1.
1FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Constituição de 1988: legitimidade, vigência e eficácia, supremacia /
Tercio Sampaio Ferraz Júnior, Maria Helena Diniz, Ritinha Alzira Stevenson Georgakilas. – São Paulo:
Atlas, 1989, p. 98.
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Daí podermos afirmar que Direito é o conjunto de
normas jurídicas e se destina a promover o
controle da sociedade, permitindo que haja
adequada inserção do indivíduo no corpo social.
O Direito permite a pacificação social, a medida que traça regras que delimitam
a esfera individual de cada um, em respeito ao seu próximo, impondo sanções
em caso de descumprimento. O Direito organiza o ente social ao proporcionar:
estabilidade nas relações jurídicas, direção para objetivos de alcance social e
atendimento das necessidades humanas.
Nos lembra Kelsen que “norma é o sentido de um ato através do qual uma
conduta é prescrita, permitida ou, especialmente, facultada, no sentido de
adjudicada à competência de alguém3”.
2 FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Introdução do estudo do direito – técnica, decisão, dominação. São
Paulo: Altas, 1988, p. 83.
3 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. São Paulo: Martins Fontes, 1987, p.5.
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Ainda, conforme as lições de Tércio Sampaio Ferraz Júnior4 “todo ato de
legislação, realizado pelo poder competente e obedecidos os requisitos do
ordenamento, é lei. (...) Leis materiais são caracterizadas por sua natureza
(produção solene e institucionalizada de normas gerais) e leis formais ou
caracterizadas pela forma (conteúdos que adquirem o caráter de lei porque
obedecem à sua forma de produção)”.
4 FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Introdução do estudo do direito – técnica, decisão, dominação. São
Paulo: Altas, 1988, p. 211.
5 REALE, Miguel. Lições Prelimianres de Direito. – 17 ed rev e atual – São Paulo: Saraiva, 1990, p.163.
6 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1989, p.45.
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Início da Obrigatoriedade Legal
Vigência
É a aptidão para a lei incidir, para dar significação jurídica aos fatos.
Se a Lei é vigente, ocorrem os fatos e efeitos nela previstos. A lei é apta para
incidir sobre a sociedade. Se a lei é vigente sua observância é obrigatória.
Para Hans Kelsen “a norma pode valer (ser vigente) quando o ato de vontade
de que ela constitui o sentido já não mais existe”7.
Tercio Sampaio Ferraz Júnior, Maria Helena Diniz, Ritinha Alzira Stevenson Georgakilas. – São Paulo:
Atlas, 1989, p.68.
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Elaboração da Lei
A lei para poder incidir deve ser submetida a processo de elaboração. A Lei
Complementar 95/1998 determina as regras para estruturação legal:
Prazo
Se nada estiver estipulado a lei começa a viger 45 dias após sua publicação.
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Vacatio Legis
LINDB, Art. 1O, § 3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova
publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e
dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.
§ 4o As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.
Acerca da eficácia da norma, deve ser enfatizado que esta qualidade “diz
respeito às condições fáticas, axiológicas e técnicas da atuação da norma
jurídica. A eficácia vem a ser a qualidade do preceito normativo vigente de
produzir efeitos jurídicos concretos, supondo, não só a questão de sua
condição técnica de aplicação, observância ou não, pelas pessoas a quem se
dirige, mas também de sua adequação em face da realidade social, por ele
disciplinada, e aos valores vigentes nesta sociedade10” (como Maria Helena
Diniz bem detalha).
10FERRAZ, Júnior. Tércio Sampaio. Constituição de 1988: legitimidade, vigência e eficácia, supremacia /
Tercio Sampaio Ferraz Júnior, Maria Helena Diniz, Ritinha Alzira Stevenson Georgakilas. – São Paulo:
Atlas, 1989, p. 68.
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Tempo da Obrigatoriedade Legal
Portanto, o tempo da lei rege sua vigência. Na lei temporária, finalizado seu
prazo de “validade”, ela também cessará. Ex. leis orçamentárias.
Há que se esclarecer que uma norma, mesmo que não esteja mais em vigor,
poderá continuar vinculando seus destinatários, uma vez que já teve seus
efeitos cumpridos no mundo concreto, em atendimento ao art. 6o. Da LINDB e
à Constituição Federal (art. 5o, XXXVI).
Revogação
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incompatibiliza o texto anterior com o posterior, prevalecendo o que a lei nova
modificou.
Repristinação
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Por exemplo, a lei que determina a possibilidade de utilização de equipamento
de vigilância indireta de condenado (tornozeleira eletrônica) – Lei 12.258/2010:
a eficácia do uso de equipamento de monitoração eletrônica está sempre
passando por aperfeiçoamentos para verificar se há condições, na realidade,
de abranger mais pessoas condenadas que devem ficar à parte do sistema
carcerário, mas com restrições à liberdade. O uso da tópica é relevante para
soluções. Havendo perguntas, que ficam sempre abertas, há condições de se
indicar mais premissas e, deste modo, ajustar às mudanças comportamentais
do grupo social em questão.
Em sentido técnico a eficácia de uma norma indica que ela teria possibilidade
de ser aplicada, de produzir efeitos jurídicos, porque foram cumpridas as
condições para isto requeridas (eficácia jurídica), sem que haja qualquer
relação de dependência de sua observância ou inobservância pelos seus
destinatários.
Lei
Neste contexto, pode ser definida como uma regra geral de direito, abstrata e
permanente, dotada de sanção, expressa pela vontade de uma autoridade
competente, de cunho obrigatório e forma escrita (VENOSA13).
13 VENOSA, Sílvio de Salvo.Direito Civil:parte geral – 2a ed. – São Paulo: Altas, 2002, p.37. – (Coleção
direito civil; V.1).
14 É o princípio da irrelevância do desconhecimento da lei, o qual afasta a “exceptio ignorantiae juris”.
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Integração de Lacunas
Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
Analogia
Exemplo: mesmo antes de haver o Código Civil (1916) era utilizado o Decreto
No. 2.681/1912 (das estradas de ferro) para casos em que se precisava aferir
indenizações decorrentes de responsabilidade civil e culpa (art. 20 do Decreto).
Portanto, como leciona Maria Helena Diniz16 “para integrar lacunas o juiz
recorre, preliminarmente, à analogia, que consiste em aplicar, a um caso não
regulado de modo direto ou específico por uma norma jurídica, uma prescrição
normativa prevista para uma hipótese distinta, mas semelhante ao caso não
contemplado, fundando-se na identidade do motivo da norma e não na
identidade do fato”.
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Costume
Podem ser secundum legem (aqueles previstos na lei); praeter legem (aquele
que não está previsto na lei, mas é admitido em caráter supletivo). Exemplo:
cheque pós-datado = o cheque é ordem de pagamento à vista, mas tornou-se
costume a sua emissão pós-datada; contra legem (aquele se forma em
sentido contrário à lei) - SHIKICIMA18.
Alf Ross20 enfatiza que os costumes deram origem às regras tradicionais que o
juízes se utilizavam para julgar, mas que aos poucos situações novas exigiram
que os julgadores fossem descobrindo o que era adequado e correto para ser
aplicado: “o costume é o ponto de partida natural da evolução jurídica (...). Uma
decisão norueguesa refere-se ao caso do proprietário de um sítio em Trysil que
apresentou uma demanda sustentando que, segundo o costume daquela
região, os pequenos proprietários tinham o direito de se apropriarem da
madeira caída que se encontrava em terra alheia. A existência desse costume
não foi aceita”. Conclui o doutrinador que este caso seria um típico exemplo de
costume jurídico, se tivesse sido acolhido. Não o foi porque o que regula a
propriedade é a lei.
Roberto Senise Lisboa nos lembra que se resumem a: honestae vivere (viver
de modo honesto); neminem laedere (não prejudicar ou lesionar o próximo) e
suum cuique tribuere (dar a cada um o que é seu).
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Pablo Jimenez Serrano21 aponta outros cuja relevância os incorporou ao nosso
sistema legal: “A ignorância da lei não exime de seu cumprimento”; “ninguém
deve fazer justiça com as próprias mãos”; “liberdade é a faculdade natural de
agir livremente em tudo o que a lei não proíbe”. Podemos, ademais,
exemplificar a aplicabilidade de outros princípios gerais:
Interpretação
21 SERRANO, Pablo Jimenez. Interpretação jurídica – 1 ed – São Paulo: Desafio Cultural, 2002, p.66.
22 NERY JUNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria de Andrade. Novo código civil e legislação extravagante
anotados: atualizado - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. p. 1081.
23 SERRANO, Pablo Jimenez. Op. cit. p. 21.
24 Já mencionada: Maria Helena Diniz, Silvio Venosa, Ada Pellegrini Grinover.
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Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se
dirige e às exigências do bem comum.
Direito Intertemporal
Então, uma nova lei que entra em vigor gera seus efeitos a
todos (efeito geral) IMEDIATAMENTE, como regra.
Vejamos os exemplos...
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RE 205193 / RS - RIO GRANDE DO SUL
RECURSO EXTRAORDINÁRIO
Relator(a): Min. CELSO DE MELLO
Julgamento: 25/02/1997 Órgão Julgador: Primeira Turma
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As normas de ordem pública - que também se sujeitam à cláusula
inscrita no art. 5º, XXXVI, da Carta Política (RTJ 143/724) - não
podem frustrar a plena eficácia da ordem constitucional,
comprometendo-a em sua integridade e desrespeitando-a em sua
autoridade.
Indexação
CV1642, CORREÇÃO MONETÁRIA, ÍNDICE DE ATUALIZAÇÃO,
CADERNETA DE POUPANÇA, EFEITOS FUTUROS, LEI NOVA,
INAPLICAÇÃO, ATO JURÍDICO PERFEITO,
RECONHECIMENTO.
A LINDB vai tratar também, de regras que nosso país impõe à casos em que
pode haver mais de duas legislações regendo uma determinada situação
jurídica. O Brasil, por sua lei, vem dar limites ao ordenamento jurídico alheio. É
uma forma de equacionar as relações jurídicas - de interesse do país - no
cenário internacional.
É sabido que existem fatos jurídicos que suplantam limites territoriais dos
países. Portanto, nossa legislação vem suprir isso e regulamentar certos casos.
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São exemplos da eficácia da lei no espaço: herdeiro brasileiro possui bens
localizados em diversos países – pode ser aplicada nossa lei; empresas
nacionais que celebram contrato com empresas estrangeiras para cumprimento
de obrigações em certo país - pode ser aplicada nossa lei ou a do local em
que foi realizado o negócio, etc.
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Art. 8o Para qualificar os bens e regular as relações a eles
concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados.
§ 1o Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário,
quanto aos bens moveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte
para outros lugares.
§ 2o O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja
posse se encontre a coisa apenhada.
Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei
que nele vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não
admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desconheça.
Art. 14. Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir de quem
a invoca prova do texto e da vigência.
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Art. 15. Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro,
que reúna os seguintes requisitos:
a) haver sido proferida por juiz competente;
b) terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado à
revelia;
c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades
necessárias para a execução no lugar em que, foi proferida;
d) estar traduzida por intérprete autorizado;
e) ) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal (atualmente a
competência é do STJ).Parágrafo único. Revogado
Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer
declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem
a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.
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advogado conste da escritura pública. (Incluído pela Lei nº 12.874, de
2013). Vigência
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