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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

CURSO GEOGRAFIA/FAENG
GEOGRAFIA DO MATO GROSSO DO SUL

ACADÊMICO: MARCELO BRITO DOS SANTOS

ALGUNS APECTOS DA QUESTÃO INDÍGENA NO BRASIL

A história dos Povos Indígenas no Brasil é uma história marcada por graves
violações de direitos humanos, impetradas pelo próprio Estado Brasileiro ou sob a
conivência deste. Profundos prejuízos materiais e imateriais, como a perda de seus
territórios ancestrais, a dizimação da cultura e outras diferentes formas de violência
e violação de seus direitos humanos são o resultado de uma política de desamparo,
abandono institucional e também de ações que se deram, através dos agentes
públicos, contrárias às normas garantidoras dos seus direitos.

Os relatórios sobre violência contra os Povos Indígenas no Brasil, publicados pelo


Conselho Indigenista Missionário (CIMI) desde 2003, trazem visibilidade às
denúncias de violações cometidas contra os Povos Indígenas no país pois
demonstram, através de dados oficiais e fatos concretos, a gravidade da omissão
do poder público na condução da política indigenista, e a intensificação, nos últimos
anos, da violência cometida contra estes povos no Brasil1. De acordo com o CIMI
“O descaso para com estes povos não se restringe apenas aos direitos territoriais.
Manifesta-se também no criminoso desleixo no atendimento à saúde das
populações indígenas que resultou, de acordo com dados do próprio Ministério da
Saúde, na morte de 693 crianças em 2013. A constatação de que de cada 100
indígenas que morrem no Brasil 40 são crianças torna inegável o fato de que está
em curso uma política indigenista genocida.” (CIMI, 2014).

1 Os dados apresentados nos relatórios publicados anualmente pelo CIMI são coletados,
sistematizados e compilados a partir de diferentes fontes como informações do Ministério
Público, sentenças, pareceres, relatórios e boletins policiais; denúncias e relatos dos povos,
lideranças e organizações indígenas; dados publicados pela imprensa escrita e virtual de todas
as regiões do país; fichas preenchidas pelos missionários do CIMI que atuam junto aos povos e
comunidades indígenas, observando o cotidiano das aldeias.
As violações impetradas pelo Poder Executivo, pelo Poder Legislativo e pelo Poder
Judiciário estão, em sua essência, atreladas ao descumprimento do artigo 67 do Ato
das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), que determinou que “A União
concluirá a demarcação das terras indígenas no prazo de cinco anos a partir da
promulgação da Constituição”, ou seja, em 1993. No entanto, após quase 27 anos
da promulgação da Constituição, poucos avanços foram observados e, pode-se
inclusive afirmar que as demarcações dos territórios indígenas estão cada vez mais
ameaçadas.

Entidades indigenistas alegam que a paralisação na demarcação das terras


indígenas nos últimos anos tem intensificado a violência cometida contra os Povos
Indígenas no Brasil e que, esta paralisação, juntamente com os grandes projetos
econômicos apoiados e financiados pelo Estado Brasileiro, podem ser citados como
fatores que vêm gerando as demais violações enfrentadas pelas populações
indígenas no país.

Essas violações possuem uma intrincada relação com a adoção de um modelo de


desenvolvimento fundado na realização de grandes projetos, na exploração e
exportação de matérias primas, especialmente commodities agrícolas e minerais e na
exploração do meio ambiente, com uso indevido e irracional dos recursos naturais, a
destruição da biodiversidade, o uso intensivo de agrotóxicos.

O que ocorre hoje no Brasil é que, apesar de alguns avanços na adoção de


estratégias e ações que fortalecem um modelo de produção de alimentos de base
agroecológica – resultado das lutas e conquistas de movimentos e entidades que
defendem a realização da soberania alimentar no país – a opção política de
privilegiar o modelo de produção de alimentos baseado na monocultura, no
agronegócio, no uso de agrotóxicos e na liberação de transgênicos fica clara quando
se compara a extrema desigualdade que há entre estes dois modelos de
desenvolvimento: a produção agroecológica e familiar, apesar de ser a que mais
contribui com a produção de alimentos e a que mais emprega trabalhadores no
campo, é a que possui menos incentivos fiscais, menos acesso a créditos, e é a que
ocupa menos terras agriculturáveis no país.
O orçamento destinado a ações ligadas ao agronegócio e o orçamento destinado a
projetos que apoiam a agricultura familiar de base agroecológica servem como
exemplo da escolha do Estado Brasileiro em favorecer um modelo de produção que
gera graves violações aos direitos humanos da população brasileira como um todo.
Em 2009, ao realizar missão sobre o direito à alimentação no Brasil, o então Relator
das Nações Unidas para o Direito à Alimentação, Olivier de Schutter, havia
destacado a importância da agricultura familiar para a segurança alimentar e
nutricional e a discrepância entre o financiamento do agronegócio e da agricultura
familiar:

“A agricultura familiar desempenha papel vital para a segurança


alimentar e para a economia do Brasil, como comprovado pelo último
Censo Agrícola, onde representa R$ 54 bilhões em produção agrícola.
A agricultura familiar ultrapassa as plantações de grande escala em
medidas de produtividade da terra (750 R$/hectare/ano, contra 358
R$/hectare/ano nas plantações de grande escala).
(...)
Segundo o Censo Agrário de 2006, os grandes proprietários de terra
que representam apenas 1% dos estabelecimentos rurais captam mais
de 43% de todo o crédito agrícola, enquanto fazendeiros com menos
de 100ha, 88% do total de estabelecimentos, captam apenas 30%. O
censo não dá indicações claras de quanto crédito financiado com
dinheiro público e programas auxiliares são captados por produtores
pequenos e grandes. Entretanto, é bem estabelecido que o alto nível
de inadimplência dos grandes fazendeiros – independentemente de
condições climáticas ou variações no preço dos produtos – resultou no
repetido reescalonamento de sua dívida, com parte do custo e risco da
inadimplência sendo transferida para o governo, que de fato subsidia o
agribusiness, uma parte do qual é claramente ineficiente.” (Schutter,
2009).

Em 2014 o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA)


publicou documento sobre análise de indicadores de segurança alimentar e
nutricional. Neste documento, consta texto de Antônio Texeira L. Júnior,
pesquisador do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), no qual se
afirma que:
A maior parte dos recursos públicos destinados à agricultura brasileira
permanece concentrada em algumas regiões, beneficiando grupos
econômicos específicos. A política de crédito rural segue destinando
parcela crescente dos recursos aos produtores de maior porte,
financiando culturas valorizadas no mercado internacional. Apenas
2,13% dos contratos de crédito rural firmados em 2012 consumiram
50,55% de todo o valor destinado ao financiamento do agronegócio. A
soja consumiu 34,5% de todo o custeio destinado às lavouras,
enquanto arroz e feijão receberam, respectivamente, 4,3% e 0,9% na
mesma modalidade de crédito. Cruzando-se essas informações com
os dados da Pesquisa de Produção Agrícola Municipal do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) conclui-se que a soja teve
aproximadamente 49% da área plantada financiada em 2012, ante
7,6% da área plantada de feijão.
(...)
Por meio da política de crédito rural, o Estado vem transferindo
elevados recursos ao setor patronal, tanto via subsídios quanto via
rolamento de suas dívidas. Entre 2002 e 2005 foram gastos R$ 9
bilhões com as renegociações das dívidas dos agricultores brasileiros,
montante que ilustra o elevado custo público que essa política
representa. Estima-se que mais de 90% das dívidas dos agricultores
foram contraídas por meio de contratos acima de R$ 200 mil o que
implica dizer que são os grandes proprietários os principais
responsáveis pelo endividamento.” (L. Júnior, 2014).

Além do agronegócio e das grandes empresas multinacionais, este modelo de


desenvolvimento fortalece setores econômicos como as empreiteiras e as mineradoras
e, de acordo com movimentos sociais e entidades indigenistas:

“Como é de conhecimento público, estes setores são inimigos históricos


dos Povos Indígenas, sendo os principais responsáveis pelos massacres,
etnocídios e espoliações dos territórios destes povos. (...) Fortalecidos
pelo Estado e conhecedores das dependências resultantes do modelo de
desenvolvimento em curso, estes setores fazem pressão política e
econômica para que seus interesses sejam ainda mais privilegiados nas
decisões governamentais. Como anunciado publicamente pelos mesmos,
a não demarcação das terras indígenas é uma das quatro prioridades dos
ruralistas no atual momento histórico brasileiro.” (CIMI, 2014).
As denúncias por parte das entidades que defendem os direitos dos povos indígenas
reforçam que a lógica de exploração e lucro deste modelo de desenvolvimento, que
será explicado abaixo com mais detalhes, tem feito com que os Três Poderes, através
de ações ou omissões, provoquem uma série de violações aos direitos humanos dos
Povos Indígenas, levando, inclusive, ao risco de desconstrução das bases do seu direito
fundiário.

REFERÊNCIAS

BRAND, A. O impacto da perda da terra sobre a tradição kaiowá/guarani: os


difíceis caminhos da Palavra. Tese de doutorado, História da PUC/RS, 1997.

BRAND, A. Desenvolvimento local em comunidades indígenas no Mato Grosso


do Sul: a construção de alternativas. Interações Revista Internacional de
Desenvolvimento Local 2001; 2:59-68.

BRAND, A.; FERREIRA, E.M.L; ALMEIDA, F.A.A. Os Kaiowá e Guarani em


tempos da Cia Matte Larangeira: negociações e conflitos. In: SIMPÓSIO
NACIONAL DE HISTÓRIA, 23., 2005, Londrina. Anais do XXIII Simpósio Nacional
de História – História: guerra e paz. Londrina: ANPUH, 2005. Disponível em:
<http://www.ifch.unicamp.br/ihb/Textos/AntBrand.pdf>. Acesso: Junho de 2015.

CIMI. Conselho Indigenista Missionário. Relatório Violência contra os Povos


Indígenas - Dados de 2010. Brasília, 2011. Disponível em:
<http://www.cimi.org.br/pub/publicacoes/1309466437_Relatorio%20Violencia-
com%20capa%20-%20dados%202010%20%281%29.pdf>. Acesso: Junho de
2015.

CIMI. Conselho Indigenista Missionário. Relatório Violência contra os Povos


Indígenas - Dados de 2011. Brasília, 2012. Disponível em:
<http://www.cimi.org.br/pub/CNBB/Relat.pdf>. Acesso: Junho de 2015.

CIMI. Conselho Indigenista Missionário. Relatório Violência contra os Povos


Indígenas - Dados de 2012. Brasília, 2013. Disponível em:
<http://www.cimi.org.br/pub/viol/viol2012.pdf>. Acesso: Junho de 2015.

CIMI. Conselho Indigenista Missionário. Relatório Violência contra os Povos


Indígenas - Dados de 2013. Brasília, 2014. Disponível em:
<http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=publicacoes&cid=30>. Acesso: Junho de
2015.

CIMI. Conselho Indigenista Missionário. Relatório Violência contra os Povos


Indígenas - Dados de 2014. Brasília, 2015. Disponível em:
<http://cimi.org.br/pub/Arquivos/Relat.pdf> Acesso: Junho de 2015.

CIMI Regional Rondônia, 2014. Conselho Indigenista Missionário. Dia do Índio, um


dia institucional. Abril, 2014. Disponível em:
<http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&action=read&id=7456> Acesso:
Julho de 2015.

CAISAN. Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional. Balanço


das Ações do Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional –
PLANSAN 2012-2015. Brasília, DF: MDS, Secretaria-Executiva da CAISAN, 2013.

PLATAFORMA DHESCA. Violações de direitos humanos dos indígenas no


Estado do Mato Grosso do Sul. Relatoria do Direito Humano à Terra, Território e
Alimentação. Relatório da Missão ao Mato Grosso do Sul. Plataforma de Direitos
Humanos – DHESCA Brasil. Brasil, 2014. ISBN: 978-85-62884-14-6.

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