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O diário de estágio:

da reflexão pela escrita para a


aprendizagem sobre ser professor

Diary of apprenticeship:
from the reflection through writing
to the learning about being a teacher

Maria do Carmo Galiazzi1


Renata Hemandez Lindemann2

RESUMO

Neste trabalho discutimos as aprendizagens sobre ser professor, favorecidas pelo


diário de estágio, ao ser instrumento de reflexão sobre a atividade docente e a sala de
aula. Apresentamos os resultados da análise de um diário de estágio, em que estagiária
e professores da Universidade e da escola fizeram registros das aulas, das observações,
das situações vivenciadas dentro e fora da sala de aula, responderam, questionaram e
refletiram sobre as ações desenvolvidas durante o estágio. O diário em análise se carac-
terizou por: ser ambiente de expressão e questionamento das teorias curriculares pesso-
ais; possibilitar construir e avaliar a proposta de estágio enquanto processo em curso;
favorecer a discussão e explicitação de teorias, atitudes, normas, valores e sentimentos.
Os resultados permitem propor o diário de estágio como meio de intensificar o diálogo
entre os formadores e alunos; de ampliar o conhecimento sobre a escola; de tomar essa
vivência um movimento de explicitação e enriquecimento das teorias curriculares
construídas ao longo da graduação.

Palavras-chave: formação de professores, diário de estágio, reflexão

1
Professora do Departamento de Química, Fundação Universidade Federal do
Rio Grande, Rio Grande - RS. Orientadora do trabalho desenvolvido em sala de
aula, Doutora em Educação.
2
Licenciada em Química, professora em situação de estágio curricular quando
da realização do trabalho descrito no artigo.
Olhar de professor, Ponta Grossa, 6(1): 135-150, 2003. 135
ABSTRACT

In this paper, learning about being a teacher is discussed, having an apprenticeship


journal as a tool to reflect upon a teacher’s world and lessons. The journal’s importance
is based on Zabalza (1994), Porlán & Martin (1997), Machado (1998), André & Darsie
Pontin (1998) and Silva & Duarte (2001). The apprenticeship journal written by a
teacher-in-preparation along with college professors and schoolteachers was analyzed
and the results are presented. In the journal, they wrote about lessons, class observations,
events that happened both inside and outside the classroom, besides answering,
questioning and reflecting upon the actions carried out throughout the apprenticeship.
The journal had the following characteristics: it was a way to express and question
personal curriculum theories; it allowed that an apprenticeship proposal could be built
during the process; it led to discussion and clarification of theories, attitudes, rules,
values and feelings. The results enable the apprenticeship journal to become a way to
develop dialogue among teacher educators and student-in-preparation as well as learn
more about the school and make this experience become a movement of clarification and
enrichment of curriculum theories built throughout the graduation course.

Key words: teacher education, diary of class, reflection

Se, de um lado, escrever exige pensar,


de outro, escrever é um veículo para pensar.
Machado, 1998, p. 46

O presente texto discute as possi- Quando outros professores foram vi-


bilidades de aprendizagem sobre ser sitar a estagiária também fizeram re-
professor a partir dos registros em um gistros no mesmo diário sobre o ob-
diário, compartilhado entre estagiária, servado.
supervisora pedagógica, professora Concordamos com Porlán e Martín
da escola e orientadores de conteúdo (1997) quando enfatizam que a utiliza-
específico, a partir de uma experiên- ção do diário permite refletir sobre os
cia de estágio realizado ao final da Li- processos mais significativos da di-
cenciatura em Química. A estagiária nâmica em que o autor está inserido.
anotava, após cada aula, suas impres- Ao mesmo tempo em que produzir um
sões, sentimentos e avaliações e en- diário não é simplesmente expressar
tregava para a orientadora de conteú- o que se pensa, mas uma forma de
do específico, que reagia às anota- perceber os próprios pensamentos, e
ções da aluna e a ela devolvia o diário mais que isto, uma forma de elaborar
para os registros da próxima aula. esses pensamentos (MACHADO,
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1998). Sustentadas nesses princípios, de análise do pensamento do profes-
argumentamos em favor do diário sor, Zabalza (1994) descreve o traba-
como instrumento para o enriqueci- lho realizado por Yinger e Clark (1985)
mento do conhecimento profissional em que professores faziam anotações
de professores em formação inicial e sobre tudo aquilo que pudessem, ou
formadores. o que tinham pensado enquanto rea-
lizavam o planejamento de suas au-
las. O autor reforça a importância da
2. O DIÁRIO: diálogo teórico escrita como forma de pensar, porque
o processo de escrever envolve a
O diário foi muito utilizado num integração de um conjunto de repre-
período em que as mulheres eram proi- sentações expresso em símbolos. Es-
bidas de estudar e as moças, então, crever também produz uma retroali-
faziam anotações periódicas em seus mentação sobre o que se queria dizer
cadernos, lidos e corrigidos por suas e o que realmente ficou registrado. Es-
mães e/ou acompanhantes. Inicialmen- crever requer também uma estrutura-
te utilizado como forma de aprender a ção semântica e uma sintaxe que pos-
escrever, com o tempo passou a ser sibilite expressar significados. Escre-
desestimulado pela igreja, que o per- ver pressupõe uma implicação pes-
cebia como porta aberta a todos os soal.
descaminhos (MACHADO, 1998, p. Zabalza (1994) assume que o pro-
43). Essa corrente foi ganhando força fessor, ao escrever sobre sua prática,
também no ensino laico e o diário foi aprende e reconstrói, pela reflexão,
condenado tanto por questões de or- sua atividade profissional, e analisa
dem moral como de ordem psicopa- diários de professores para compre-
tológica. Segundo a autora, a partir ender como funciona esse instrumen-
do séc. XIX o gênero se impôs em to e que tipo de seleção de aconteci-
decorrência de fatos históricos e so- mentos fazem os professores que par-
ciais que propagavam princípios so- ticipam na experiência; qual o as-
ciais como a liberdade e a igualdade, pecto da dinâmica de suas aulas e
mas que não se cumpriam na da sua própria experiência profissi-
concretude da vida do indivíduo. O onal que destacam como mais rele-
diário passou assim a ser usado como vante (idem, p. 104). De sua análise,
forma de construir a própria história. distinguem-se três tipos de diários: o
Na investigação científica, a mai- diário como organizador estrutural
or parte dos estudiosos situa a cor- de uma aula, o diário como descri-
rente metodológica centrada na utili- ção das tarefas e o diário como ex-
zação dos documentos pessoais a pressão das características dos alu-
partir do trabalho de Thomas e nos e dos próprios professores. Es-
Znaniecki (1919). Como instrumento ses tipos de diários não são excluden-
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tes e o mais comum são diários mis- dos próprios pensamentos, como ins-
tos. E a confluência do descritivo e trumento de pesquisa interna (idem,
do referencial com a expressão e aná- p. 30). A utilização do diário ainda
lise do professor sobre a dinâmica da pode ser útil para auxiliar os alunos
sala de aula que potencializa o desen- no sentido de avaliação da interven-
volvimento profissional do autor: ção didática:
Tanto o diário centrado nas ta- (...) mas que efetuo análise dos
refas corno o diário centrado nos diários produzidos, não como um
sujeitos podem dar azo a impor- fim em si mesmas, mas como um
tantes processos de reflexão e de meio de colocar luz sobre eles,
desenvolvimento profissional dos de forma a poder avaliar e expli-
professores. E, quando se pode car os problemas encontrados na
contar com um diário misto, essa ação didática levada a cabo e de
tarefa fica enormemente facilita- forma a buscar resolução para
da e é então que o diário, como esses problemas para uma possí-
instrumento de acesso ao pensa- vel otimização do uso do diário
mento e à ação do professor. ad- em intervenções didáticas ou
quire toda a sua força (idem, p. formativas futuras. (idem, p.
111). XXXII).
Machado (1998) analisa o diário Um outro modo de uso do diário é
de suas alunas em uma subcategoria o que fazem Porlán e Martín (1997),
que é o diário de leituras enquanto que o utilizam como curso para inves-
em aula como professora. Em aula, a tigação em sala de aula e complexi-
autora selecionou dez textos e, sema- ficação do que eles chamam de mode-
nalmente, um texto foi lido. As alu- lo didático dos professores. Para os
nas, a partir da leitura dos textos pro- autores, a utilização do diário
postos, registraram opiniões e/ou (...) permite refletir o ponto de
dúvidas a partir da leitura. Periodica- vista do autor sobre os processos
mente, a professora fez anotações no mais significativos da dinâmica
diário de cada aluna, referentes ao tra- em que está inserido. (...) Favo-
balho desenvolvido. A autora salien- rece também o estabelecimento
ta duas abordagens em sua pesquisa: de conexões significativas entre
considerando-a não só como instru- o conhecimento prático e o co-
mento de pesquisa, mas também nhecimento disciplinar, o que
como instrumento de ensino e apren- permite tomada de decisão mais
dizagem (idem, p. 23). A autora fundamentada. Propicia também
enfatiza a pesquisa, mas destaca a o desenvolvimento de níveis des-
produção do diário não simplesmen- critivos, analítico-explicativos e
te como a expressão do que se pensa, valorativos do processo de inves-
mas como uma forma de descoberta tigação e reflexão do professor

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(idem, p. 37). dora de reflexões, tomada de consci-
Também utilizam o diário do pro- ência e reelaboração dos conheci-
fessor como instrumento para a inves- mentos e aprendizagens, os quais fa-
tigação, com o objetivo de transfor- vorecem a construção de novos co-
mar o modelo didático de seus alu- nhecimentos (idem, p.461).
nos, e que ao mesmo tempo implica Outro exemplo de uso do diário é
no desenvolvimento profissional do discutida por Pacca e Villani (1996),
professor formador: no qual alunos escrevem um diário de
(...) podemos afirmar que ato de bordo para os colegas e formadores.
levar um diário de nossa experi- Esses, pelos apontamentos no diário,
ência docente implica pôr em procuram localizar as teorias dos alu-
prática um método de desenvol- nos e, a partir delas, introduzir ques-
vimento profissional permanen- tões que possam vir a favorecer sua
te e como tal, um processo onde superação. As reflexões dos alunos a
podemos ressaltar momentos e partir desse procedimento também
fases relativamente diferentes. apontam para o diário como instru-
(idem, p.46) mento mediador de reflexões e apren-
André e Darsie Pontin (1998) utili- dizagens sobre ser professor.
zaram o diário como instrumento Semelhantemente, Silva e Duarte
mobilizador de reflexões para a reor- (2001) desenvolveram seu trabalho
ganização da aprendizagem do aluno com diários de professores em forma-
e como fornecedor de informações ção inicial em situação de estágio pe-
sobre seu ensino, enquanto desen- dagógico. As autoras apresentam
volviam com professoras de séries dados que reforçam a importância do
iniciais uma metodologia de leitura diário do professor na construção de
critica de suas práticas profissionais um profissional reflexivo e comprome-
a partir de entendimentos sobre ava- tido com sua prática docente. Essa
liação. Essa pesquisa apontou para o pesquisa teve como um dos princi-
diário como um instrumento apropri- pais objetivos investigar a influência
ado para a formação continuada do dos modelos de formação utilizados
professor, especialmente para o de- durante o estágio pedagógico por
senvolvimento do profissional refle- meio das características do discurso
xivo, pois permite a tomada de cons- dos estagiários na análise da prática.
ciência das próprias aprendizagens, Esse objetivo levou à análise dos re-
das conquistas obtidas e das dificul- gistros dos diários de aula elabora-
dades encontradas, levando a mu- dos pelos estagiários e pelo discurso
danças conscientes no trabalho do- expresso nas reuniões realizadas pe-
cente. (idem, p.46O). Essas autoras las pesquisadoras com o objetivo de
consideram a escrita reflexiva propor- discutir as aulas desenvolvidas du-
cionada pelo diário como mobiliza- rante o estágio.
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Percebemos em todos os autores trabalho em sala de aula (GALIAZZI,
que o uso do diário teve sempre uma 2000), que, em síntese, baseia-se na
componente dialógica que mediou a pesquisa como procedimento cotidi-
reflexão, aspecto em todos os auto- ano de alunos e professores, no diá-
res ressaltado como fundamental para logo permanente em sala de aula, na
favorecer a aprendizagem. Essa com- leitura e na produção escrita.
ponente dialógica ocorreu em encon- Durante a realização do estágio,
tros de discussão com os autores ou as autoras deste trabalho, professora
por registros escritos dos formado- orientadora do conteúdo específico e
res. estagiária, estavam implicadas com o
A partir do exposto, reforçamos estágio de diferentes formas, o que
que nosso empenho na utilização do cabe salientar, porque entendemos
diário em situação do estágio se sus- que toda pesquisa se faz a partir da
tenta na conexão entre escrita, refle- tessitura de intenções, teorias, cren-
xão e aprendizagem. Pelo registro, ças, valores pessoais dos pesquisa-
podemos perceber as teorias pesso- dores. No nosso caso, participáva-
ais que, também pelo registro, podem mos de um grupo de estudo como
ser transformadas. Ao mesmo tempo, coordenadora e aluna bolsista. Nes-
a escrita é um diálogo entre diferen- se grupo, a partir de um referencial
tes interlocutores, e, no caso aqui dis- compartilhado sobre o educar pela
cutido, um diálogo intenso entre a pesquisa (DEMO, 1997) que insere a
estagiária e os formadores, mais in- pesquisa, o diálogo, a leitura, a escri-
tensamente, a orientadora de conteú- ta como princípios básicos na cons-
do especifico. trução de argumentos validados na
sala de aula, foram construídas dife-
rentes unidades didáticas. Desse
3. O contexto do estágio e da pesquisa modo, a unidade elaborada foi aplica-
da durante o estágio e, portanto, es-
O estágio em questão foi desen- távamos imersas nesse contexto. Para
volvido em uma turma de 8a série do melhor registrar o desenvolvimento
ensino fundamental, na disciplina de do trabalho para posterior análise da
Ciências, em uma escola situada em unidade didática, uma de nós - a for-
um bairro afastado do centro da cida- madora, sugeriu o diário como forma
de. A proposta foi aplicar uma unida- de registro, o que foi aceito pela pro-
de didática planejada em um grupo de fessora em formação. O convite para
estudos (www.ceamecim.furg/mirar). escrever no diário foi feito aos demais
Essa unidade trata da problemática professores que participaram do es-
sobre o uso indevido dos agrotóxicos tágio, mas nesse caso, se restringiu
nas comunidades rurais e está sus- ás observações feitas em aula.
tentada no educar pela pesquisa como A análise dos registros seguiu os

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procedimentos da análise qualitativa nhecimentos atitudinais; os desaba-
de textos proposta por Moraes (2000). fos em situações desestabilizadoras;
Inicialmente fizemos leituras intensas a aprendizagem sobre a importância
das anotações feitas,e, a partir dessa de um trabalho conjunto com a pro-
leitura dos registros, procedemos á fessora da escola. Apresentamos a
unitarização e sua posterior categori- seguir a descrição e análise mais de-
zação. A grande parte dos registros talhada das categorias emergentes da
foram descrições das diferentes situ- análise desses registros.
ações da sala de aula ou mesmo da
escola. Outros se referiram á avalia- 4.1 Ambiente de expressão e ques-
ção das atividades, dos alunos e do tionamento das teorias pessoais
professor em formação. Fizemos um
recorte das informações e analisamos Entendemos que a explicitação do
apenas os registros que sinalizavam conhecimento inicial do aluno em si-
para a reflexão sobre a prática docen- tuação de aprendizagem é vital para
te, o que está em acordo com o pro- que a aprendizagem seja significativa
posto por Silva e Duarte (2001). Não (GALIAZZI, 2000). Embora na pro-
utilizamos, no entanto, as categorias posta de estágio a aluna manifeste a
por elas utilizadas e retiradas de intenção de explorar o conhecimento
Zeichner e Liston (1985), porque nos do aluno, podemos perceber em al-
interessava perceber as possibilida- guns momentos sua surpresa com
des do diário como instrumento esse conhecimento inicial:
dialógico reflexivo. Primeiramente, esperava que eles
Dessa forma, algumas descrições soubessem mais sobre as pragas,
de fatos, informações, avaliações e porém ao perceber isso comecei
sugestões foram analisadas em razão a me convencer que não há a
dos diálogos originados a partir da- contextualização do ensino, pois
quele registro. estes animais (pragas) de um
modo geral foram trabalhados na
6ª série. Com certeza sem fazer
4. O DIÁRIO: diálogo prático muitas relações com o que eles
observavam ou vivenciavam em
Neste item discutimos as possibi- seu dia-a- dia.
lidades do diário como instrumento A justificativa para a falta de co-
de aprendizagem. Os registros com nhecimento dos alunos sobre um as-
um caráter reflexivo abarcaram os se- sunto de seu contexto, uma vez que o
guintes aspectos: a expressão das te- estágio estava se realizando em uma
orias pessoais dos envolvidos; a comunidade supostamente rural, leva
construção da proposta em proces- a estagiária a criticar o currículo des-
so; o questionamento sobre os co- contextualizado como responsável
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pelo pouco conhecimento dos alunos. complexo em que as soluções não são
Sem desconsiderar a perspectiva simples: Tem outros aspectos muito
apontada pela estagiária, em razão do interessantes e que se merece pensar
argumento que estamos procurando sobre eles, tais como: a resistência em
construir neste texto, entendemos que falar; a resistência em trabalhar em
a expectativa frustrada da estagiária grupo; as desavenças em sala de aula,
sinaliza para uma teoria curricular ain- os rejeitados, excluídos.
da frágil sobre a importância da Ainda abordando a questão da
explicitação do conhecimento inicial. explicitação do conhecimento dos alu-
Em outras palavras, a surpresa da alu- nos, um outro registro, em que a esta-
na evidencia que, apesar de manifes- giária relata a queixa de uma aluna
tar seu entendimento sobre a impor- sobre as aulas de Ciências, possibili-
tância do conhecimento inicial, ao ta à orientadora abordar questões
confrontar-se com a situação prática, sobre as teorias pessoais dos alunos,
explícita uma teoria conflitante, em que foram construindo idéias sobre o
que os alunos deveriam já ter aquele que é ciência, muito provavelmente
conhecimento. Entendemos que o pelas representações de seus profes-
conhecimento do aluno precisa ser sores, também imersos em um discur-
considerado, não como ponto de re- so pouco questionado, manifestadas
ferência sobre o que não sabe, mas em seu ensino: Esta resistência, pelo
sim, sinalizando para o que ele sabe. que uma aluna identifica, está rela-
Em outro momento do diário, a cionada com o conceito que eles têm
orientadora percebe a mesma teoria de “Ciências”, mas não só isso.
quando a estagiária registra surpresa A sala de aula é, como afirma
pela dificuldade dos alunos em se Zabalza (1994), um espaço dinâmico,
manifestarem em aula. A formadora complexo e de aprendizagens perma-
aproveita para dialogar sobre esse nentes. Na leitura do diário percebe-
aspecto, procurando salientar que mos não só a surpresa da estagiária,
essa dificuldade é um conhecimento mas também da orientadora em rela-
inicial a ser considerado: ção a acontecimentos da sala de aula,
Do que tu me disseste sobre o que o que, de certa forma, evidencia a pos-
eles responderam fiquei pensan- sibilidade de o diário ser um instru-
do sobre a surpresa que tiveste e mento de registro das teorias cur-
que é muito positiva: os alunos riculares do professor formador. O
não sabem falar sobre a estrutu- fato em questão é a presença em aula
ra da matéria e esse é realmente de uma aluna aprovada na disciplina,
o ponto central e que precisa ser mas não na série. Registra a ori-
abordado e discutido. entadora de conteúdo especifico: A
A orientadora continua sua análi- aluna lê uma revista. Não queria fa-
se da sala de aula como um sistema zer a tarefa. Que situação é essa em

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que a aluna já está aprovada e assis- da sala de aula e na necessidade de
te à aula, mas não faz o que é solici- tomada de decisão, expressa uma te-
tado pelo professor, só se estiver oria arraigada na transmissão de con-
afim? teúdo. Ao refletir sobre uma anota-
Poderíamos questionar a escola ção feita pela supervisora pedagógi-
por não proporcionar à aluna um es- ca, que questiona a falta de manifes-
paço mais motivador de aprendiza- tação dos alunos naquela aula obser-
gem, porém nos interessa salientar a vada, pontua uma aprendizagem em
riqueza do diário como instrumento direção a uma aula mais participada e
de aprendizagem sobre a escola não dialogada. Essa reflexão certamente
só para o estagiário, mas também para enriqueceu suas teorias pessoais so-
o formador, que, por situação profis- bre ser professor.
sional, não está na escola de forma O diário também se mostrou um
permanente. O diário fornece, assim, rico instrumento de acompanhamen-
sinais de como é a escola e de que to continuado do estágio, fato nem
mecanismos são adotados pelo gru- sempre fácil, devido ao número ex-
po de professores na solução de al- pressivo de alunos sob responsabili-
gumas situações práticas, o que sem dade do supervisor pedagógico, ou
dúvida fornece subsídios para um tra- mesmo sob tutela do orientador de
balho, tanto individual, como com os conteúdo especifico, como podemos
professores em formação. observar no que segue. A estagiária
O diário mostrou-se também ser registra que não pretende mudar o
espaço de registro dos dilemas dos conhecimento do aluno com sua pro-
professores, que sinalizam suas teo- posta, ao que a orientadora indaga:
rias pessoais: Outra questão com relação ao que
Acredito que levei muitas infor- tu escreves: Por que não é nosso ob-
mações e que não os motivei o jetivo fornecer a mudança de enten-
suficiente. uma vez que estavam dimento sobre esse conceito? A es-
um tanto quanto inibidos com a tagiária em seu relato parece não dife-
presença da professora da uni- renciar entre a intenção de mudança
versidade. Refletindo sobre o que sempre presente no professor e a
a supervisora escreveu sobre transformação do conhecimento do
como agi quando percebi que fal- aluno que pode acontecer ou não.
tava pouco tempo para acabar a Caso não houvesse essa intencionali-
aula, hoje penso que se tivesse dade, não haveria razão para a escola.
tentado pelo menos fazer a dis- Nessa situação, mais uma vez o diário
cussão sobre o que escreveram, potencializou uma aprendizagem.
com toda a turma, seria mais pro- O mesmo aconteceu em outro
dutivo. momento do estágio, quando a ativi-
A estagiária, na instantaneidade dade proposta de adivinhar o que es-
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tava dentro de uma caixa fechada a se dar conta disso é um átimo
partir de suas características (sem começo. Em outros modelos di-
abri-la) tinha por objetivo problemati- dáticos se usa o tempo a favor do
zar a idéia de realidade dada e mostrar domínio do professor, que contro-
aos alunos o que significava cons- la pela falta de tempo que é dado,
truir modelos. Nessa atividade está ou melhor retirado do aluno. As-
implícita a idéia de que modelos são sim ele não pensa.
teorizações sobre a realidade, ou me- Ainda em relação á insegurança
lhor ainda, que a realidade é cons- da estagiária, a orientadora usou o
truída a partir das teorias de cada um diário como espaço de incentivo á
e por isso a idéia é que as caixas per- estagiária, ao salientar progressos que
maneçam fechadas após a atividade. estavam sendo alcançados pela esta-
A estagiária, por insistência dos alu- giária: Penso que estamos conseguin-
nos, abriu as caixas e a orientadora do fazer o aluno pensar sobre o ex-
registra: Eu particularmente penso perimento e isso mostrou que fizeram.
que não é interessante abrir a caixa Foi um progresso legal, para não
se queremos que o aluno trabalhe a dizer BÁRBARO!
idéia de modelo. Eles têm que apren- Da mesma forma, a decisão da es-
der a conviver com a incerteza das tagiária em abrir espaço para discutir
teorias. a avaliação permitiu que a orientadora
Em outro momento do diário, a desse sustentação à ação da estagiá-
estagiária reflete sobre sua ação du- ria: Penso que a discussão sobre a
rante a aula, em que conclui que rapi- prova foi muito válida e vem refor-
damente apresentou seu posiciona- çar que a escola em geral não faz
mento, sem deixar tempo para o aluno isso. Escola entenda-se sempre a uni-
expressar-se: Acho que fiz isso muito versidade incluída. Acho que identi-
rapidamente, como é de hábito meu, ficaste a resistência, mas fico admi-
pois quando percebi já estava tra- rada da tua abertura e capacidade
balhando com os questionamentos. de dialogar com eles.
A orientadora, por sua vez, concorda Em outro momento, a estagiária
com a análise da estagiária, mas fun- relata o contentamento dos alunos por
ciona como um amparo para a insegu- uma manifestação de afeto da estagi-
rança, muito freqüente nas primeiras ária para com eles. A orientadora apro-
experiências de sala de aula, e escre- veita o registro para assinalar que
ve: conhecimento não é só conteúdo e
Com relação ao tempo. acho que escreve: Nunca esqueça o “valeu a
esse é um exercício ao qual todos mensagem, professora!” Isto é de
os professores precisam sempre muito mais valia do que saber as ca-
estar atentos. Quando a gente vê, madas eletrônicas do átomo.
atropela o tempo dos alunos, mas E, por fim, esse diário possibilitou

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o registro de uma característica impor- gerido para eles procurarem no
tante, mas pouco freqüente em situa- dicionário o significado de:
ção de estágio, que é a presença ativa pesticida, agrotóxico, defensivo
da professora da escola na proposta: agrícola, fitossanitário, herbici-
Ao final da aula a professora fez uma da e praguicida.
intervenção, que não havia me lem- O mesmo faz o professor orienta-
brado de fazer, que eles entrevistas- dor quando assinala sobre a impor-
sem pessoas diferentes, relata a esta- tância do debate em sala de aula e
giária, e a orientadora complementa: escreve: Sugestão: dividir a turma
Outro aspecto muito positivo é a im- (um grupo defende, outro ataca).
portância da professora em sala de Além de ambiente de construção
aula e o conhecimento que ela tem a partir de sugestão de atividades, o
da comunidade. diário também foi rico como instru-
Neste item, pudemos perceber que mento de delineamento da própria pro-
o diário possibilitou a expressão de posta:
teorias pessoais dos envolvidos, que Outro aspecto que estivemos dis-
puderam ser enriquecidas por meio da cutindo é o seguimento do mode-
reflexão ao escrever sobre elas, e tam- lo de átomo e aí é que eu penso
bém pelo diálogo que se estabeleceu que temos que tomar uma deci-
entre a estagiária, supervisora, são mais radical: abordar ape-
orientadores e professora da escola. nas levemente a questão de dife-
rentes modelos de átomos. A ên-
4.2 Construção da proposta de está- fase acho que poderia ser dada
gio em processo nos elementos, tabela periódica
e partirmos para a composição
O diário, como proposto nessa da Terra em termos de elementos
situação de estágio, foi um instrumen- e sua conservação. sempre base-
to muito rico para a construção da ados em textos, por exemplo.
proposta de trabalho em processo. Em Esse relato sugere que a orienta-
um dos registros a orientadora suge- do-ra questionou-se sobre o modo
re à estagiária um exercício para pro- como a disciplina Ciências vem sen-
porcionar a explicitação do conheci- do trabalhada na escola, e que não
mento do aluno: estão sendo muito alterado no está-
Penso que se poderia dar um exer- gio, o que permitiu o delineamento e
cício para eles classificarem ou alteração da proposta durante sua
darem exemplos de agrotóxicos execução. Assim, os objetivos foram
e de defensivos agrícolas, para se constituindo e sendo expressos de
ver se eles percebem que estão forma mais sistematizada:
falando dos mesmos produtos. Em síntese, dessa aula penso que
Outro exercício poderia ser su- temos mais claros alguns objetivos:
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- Conceitual: agrotóxico x defen- A dificuldade dos alunos constru-
sivo e agrícola írem a idéia de modelo fica também
- Procedimental: leitura assinalada em outro momento do diá-
- Atitudinal: conscientização rio: Quanto à aluna falar na água cons-
quanto ao lixo, ampliação da cons- tituída de partes menores de água
ciência sobre a problemática ambi- pode-se depreender um modelo e isto
ental do agrotóxico e participação. acho que não surpreende. Como falar
A reflexão sobre a importância de de algo para o qual não se tem pala-
discutir com os alunos em aulas de vras (embora elas existam)? Lembran-
Ciências aspectos ambientais em de- do que a dificuldade de aprendizagem
trimento de conteúdos tradicionais de modelos assinalada pela supervi-
mostra a possibilidade do diário como sora foi justificada pela forma como
enriquecedor do entendimento de têm sido conduzidas as atividades em
currículo, tanto para a orientadora que sala de aula, ressaltamos que, sem
reflete. quanto para a estagiária: dúvida, a supervisora está correta em
Penso que o mais relevante ao se sua reflexão, no entanto a orientadora
falar sobre agrotóxicos e/ou de- agrega a esse aspecto a dificuldade
fensivos agrícolas, é fazê-los per- inerente dos alunos para construir
ceber o quanto não nos questio- modelos explicativos para fenômenos
namos sobre a necessidade de naturais, em razão da fragilidade de
usá-los ou não. A questão de eles suas teorias pessoais.
falarem que defensivos e agro- O acompanhamento do desenvol-
tóxicos são coisas distintas me fez vimento do estágio pôde ser feito sem
refletir sobre o que realmente é a presença da orientadora em algu-
importante nesta proposta. Acre- mas aulas a partir da leitura dos regis-
dito que é a questão do perigo tros da estagiária. Assim, a orienta-
desse(s) produto(s), o quanto dora questiona os procedimentos
podem prejudicar o homem, os registrados: Fico pensando, em que
animais e o ambiente. momento combinamos trabalhar com
O mesmo acontece quando a a informação do rótulo sobre dilui-
supervisora visita a estagiária e es- ção, dispersão, etc... para chegar no
creve no diário que é muito difícil en- modelo que explica isso. Falamos
tender (construir) conceitos mesmo isso?; reflete sobre uma atividade re-
quando esses são experimentados, alizada: acho que é interessante a es-
examinados, tocados, discutidos. Do tória do café, mas depois tentando
relato da supervisora pontua-se a ne- trazer para os agrotóxicos. Esse mes-
cessidade de, em aula de Ciências, tra- mo exemplo (do café) poderia ser fei-
balhar com os alunos a idéia de que to com a calda de bordalesa (prepa-
as teorias são modelos explicativos ração com CaO + CuSO4), filtração,
de uma realidade objetiva. etc.

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A avaliação do trabalho também 4.3 Atitudes, normas, valores e sen-
foi tema de registro no diário: timentos
Com relação ao trabalho de pes-
quisa. concluímos o óbvio: não Geralmente a abordagem de ques-
foi motivante. Pensamos agora tões atitudinais é minimizada na es-
em fazer uma pesquisa mais sim- cola, embora sejam as atitudes dos
ples, no horário de aula (expe- alunos que mais incomodam os pro-
riência da professora da escola), fessores. Acreditamos na importân-
que eles têm maior motivação e cia da exploração desses conhecimen-
experiência em fazer. A já lia de tos e, nesse sentido, percebemos a
motivação no nosso entender é importância da escola e do professor,
uma “resistência” que aponta enquanto responsáveis na promoção
para a pouca aprendizagem dos de situações em que os estudantes
alunos nesta atividade. possam questionar a realidade, inves-
E, ao avaliar, a orientadora teve tigar, debater e, logo, transformar es-
condições de assinalar alguns pon- ses conhecimentos tácitos.
tos que podem ter contribuído para a Nisso também o diário se mostrou
falta de motivação dos alunos: a au- um poderoso instrumento de reflexão
sência na escola de atividades que sobre como abordar os conteúdos
exijam do aluno um grau de autono- atitudinais. Nesse sentido, a orienta-
mia maior que copiar, ouvir, respon- dora questiona a validade de ques-
der o que o professor quer saber, o tões na prova sobre atitudes, uma vez
que de certa forma sintetiza aprendi- que o aluno pode escrever o que su-
zagens da orientadora. põe seja a resposta exigida pela pro-
Em síntese, o diário construído fessora: Como será que ela (a alu-
nessa proposta, como uni conjunto na) lida com o lixo? Separa? Ela
de registros dos envolvidos no seu escreve que é importante reciclar o
desenvolvimento, mostrou a possibi- lixo, mas como será que ela age?. E a
lidade de construir a proposta em pro- orientadora ainda chama a atenção
cesso; delinear, também em proces- para as aprendizagens de conhecimen-
so, seus objetivos; acompanhar o tra- tos atitudinais, que são aprendiza-
balho desenvolvido; assinalar desvi- gens em longo prazo e, por isso, as
os, aproximar a discussão pedagógi- mudanças são difíceis de serem per-
ca entre os profissionais em serviço e cebidas durante o período de estágio:
avaliar a proposta em desenvolvimen- Penso que é um conteúdo atitu-
to. Tudo isso enriqueceu, sem som- dinal importante de ser conside-
bra de dúvida, o conhecimento pro- rado, embora no tempo que tu
fissional da estagiária e de sua tenhas isso não vá ser muito mu-
orientadora. dado. Acho que a questão do co-

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nhecimento atitudinal fica preju- entendam o que, como e por que deve
dicada e difícil de avaliar por- ser feita tal atividade. Sinto-me como
que eles escrevem um ‘chavão’ um papagaio repetindo várias vezes
mas não sei como poderia ser fei- as mesmas coisas; o planejamento que
to. Acho que seriam ações muito não funciona a contento: Sorte é que
mais demoradas de se perceber o havia levado alguns’ materiais que
efeito. consegui na Festa do Mar, outra alu-
A angústia da estagiária com a falta na levou uma parte do jornal e uma
de participação dos alunos faz a cartilha sobre pomares. Havia tam-
orientadora apontar para as atitudes bém levado os rótulos; o relato sobre
como uma construção e negociação conversas fora da aula: Porém ao che-
em longo prazo, que precisa ser de- gar na escola, alguns alunos já dizi-
senvolvida de forma coletiva e que am não terem feito a tarifa. Comecei
não pode ser de responsabilidade ex- a ficar (interiormente) deprimida. Ao
clusiva do professor. Não há como chegarmos (eu e a professora) em au-
determinar a participação em uma pro- la, novamente alguns (maioria) di-
posta de ensino: ziam não ter feito a tarefa. No regis-
Outra questão é que a participa- tro que segue a estagiária desabafa:
ção também é um objetivo a al- Fico agora pensando sobre al-
cançar (atitude). Então pode ser gumas “coisas” que falavas há
acompanhado. E claro que às ve- alguns anos atrás, a respeito da
zes a gente consegue maior ou lagarta e borboleta, ou referente
menor envolvimento dos presen- àquela mensagem que a lagarta
tes, mas não é só responsabilida- para se transformar em borbole-
de apenas do professor. Penso ta tem que se libertar do casulo
que ter isso como objetivo no teu com suas próprias forças. Parei e
estágio seria muito bom. Se al- realmente a primeira idéia que
guma melhora fosse percebida em tive era voltar a ser lagarta, tudo
algumas dessas atitudes já seria seria mais simples, mais fácil, mas
extremamente positivo mais para no fundo sei que não quero. Te-
ti como professora ou talvez até nho que refletir mais a respeito
para eles. desse primeiro desafio.
O diário também possibilitou o de- Nesse item assinalamos que o di-
sabafo frente a situações desestabi- ário potencializou questionamentos
lizadoras. Em diferentes momentos do sobre os conhecimentos atitudinais,
diário transparecem as angústias so- pouco presentes nas ações dos pro-
bre a tomada de consciência sobre ser fessores em geral. O diário poten-
professor. A falta de entendimento cializou também a possibilidade de
dos alunos sobre as tarefas solicita- desabafo e amparo em situações
das: Ah! Como é difícil fazer com que desestabilizadoras.

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Considerações finais professor. Entendemos também que
o uso do diário como instrumento re-
Pretendemos argumentar, a partir flexivo pode ser fortalecido se outros
das discussões e relatos apresenta- interlocutores, especialmente os teó-
dos, em favor do diário como um ins- ricos, forem chamados, favorecendo,
trumento para discussão e enriqueci- assim, a análise de alguns fatos ocor-
mento da prática docente, tanto do ridos.
estagiário como dos formadores. A
pesquisa de um diário de estágio apon-
tou para a possibilidade de constru- REFERÊNCIAS
ção de um professor reflexivo, que,
pelo diálogo consigo mesmo e com ANDRÉ, M. E. D A.; DARSIE PONTIN,
seus professores, construiu conheci- M. M. O diário reflexivo, avaliação e in-
mentos mais fundamentados. O diá- vestigação didática. Ensaio: política pú-
rio mostrou ser um espaço rico para blica educacional. Rio de Janeiro, v. 6.n.
21. p. 447-462, 1998.
analisar a sala de aula em seus aspec-
tos constitutivos, a proposta em cur- GALIAZZI, M. C. Educar pela pesqui-
so, seus limites e possibilidades. Tam- sa: espaço de transformação e avanço na
formação do professor de Ciências. Porto
bém evidenciamos que possibilitou
Alegre, PUCRS, 2000. Tese (Doutorado
estabelecer uma aproximação entre em Educação) - Faculdade de Educação -
estagiária e supervisores/orientado- Pontifícia Universidade Católica do Rio
res, favorecendo a explicitação e aná- Grande do Sul, 2000.
lise de situações da sala de aula. A
_____. Educar pela pesquisa. Revista de
reflexão dos envolvidos favoreceu a Educação Ambiental. Disponível em:
construção de conhecimento profis- http://www.sf.dfis.furg.br/mea/remea,
sional mais complexo, o que nos faz (2001).
propor sua utilização como forma de MACHADO, A. R. O diário de leitu-
intensificar o diálogo entre os forma- ras: a introdução de um novo instrumen-
dores e alunos; de ampliar o conheci- to na escola. São Paulo: Martins Fontes,
mento dos formadores sobre a esco- 1998.
la; de tomar a vivência do estágio um MORAES, R. Análise de conteúdo: limi-
movimento do estagiário e dos pro- tes e possibilidades. In: ENGERS, Maria
fessores de explicitar suas teorias Emilia. Paradigmas e metodologia de
curriculares e, pelo diálogo, enri- pesquisa em Educação. Porto Alegre:
quecê-las. EDPUC, 1994. p. 103-111.
Deste trabalho também podemos PACCA, J. L. A.; VILLANI, A. Un curso
apontar a importância do diário como de actualización y cambios conceptuales
um instrumento de diálogo entre o en profesores de Física. Enseñanza de
formador e o estagiário, pois isso las Ciencias, v. 14, n. 1, p. 25-33, 1996.
potencializa a aprendizagem sobre ser PORLÁN, R; MARTIN, J. El diario del

Olhar de professor, Ponta Grossa, 6(1): 135-150, 2003. 149


profesor: un recurso para la investigación
en el aula. 5. ed. Sevilha: Díada. 1997.
SILVA, M. H. S.; DUARTE, M. C. O
diário de aula na formação de professores
reflexivos: resultados de uma experiência
com professores estagiários de Biologia/
Geologia. Revista Brasileira de Pesqui-
sa em Educação em Ciências.
ABRAPEC, v. 1, n. 2, p.73-84, 2001.
ZABALZA, M. A. Diários de aula:
contributo para o estudo dos dilemas prá-
ticos dos professores. Porto: Porto Edi-
tora, 1994.
ZEICHNER, K; LISTON, D. Varieties of
discourse in supervisory conferences.
Teaching and Teacher Education, v. 1,
n. 2, p. 155-174, 1985.

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