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O regime fiscal

brasileiro é
comparado com os
regimes de outros
cinco países que,
assim como o Brasil,
produzem
hidrocarbonetos em
águas profundas:
Angola, Austrália,
Estados Unidos,
Noruega e Reino
Unido.

A seção sobre o
sistema angolano
fornece indicações
sobre o regime que
se pretende
implantar no Brasil
para as áreas do
pré-sal e
estratégicas.

A análise mostra
como as principais
ferramentas fiscais
funcionam,
interagem e
impactam tanto a
rentabilidade de um
projeto de petróleo
quanto as receitas
governamentais.
Arte da capa e contracapa: Daniel Gill Barbosa

Revisão ortográfica e gramatical: Pollyanna Pereira


i Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Índice

Capítulo Título Páginas

1 Introdução 1-2 - 1-3


2 Ciclo de vida de um campo de petróleo 2-4 - 2-10
3 Conceitos básicos 3-11 - 3-33
4 Nosso campo 4-34 - 4-42
5 A captura da renda econômica 5-43 - 5-48
6 Sistemas de licitação 6-49 - 6-54
7 Royalties 7-55 - 7-61
8 Imposto de renda 8-62 - 8-69
9 Tributação com base nos lucros 9-70 - 9-79
10 Partilha da produção 10-80 - 10-93
11 Participação do governo 11-94 - 11-97
12 O regime brasileiro de concessão 12-98 - 12-125
13 Análise comparativa dos sistemas fiscais 13-126 - 13-128
14 Reino Unido 14-129 - 14-132
15 Austrália 15-133 - 15-138
16 Estados Unidos 16-139 - 16-142
17 Noruega 17-143 - 17-148
18 Brasil 18-149 - 18-155
19 Angola 19-156 - 19-167
20 Como o Brasil se compara 20-168 - 20-174
21 Caveat lector 21-175
22 Pré-sal 22-176 - 22-178
Acrônimos 179 - 180
Bibliografia 181
1-1 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Tributação do petróleo no Brasil


e em outras jurisdições

"L’art de l'imposition consiste à plumer l'oie pour obtenir le plus possible de


plumes avant d'obtenir le moins possible de cris"1.

1
"A arte da tributação consiste em depenar o ganso de modo a se obter a maior quantidade possível
de penas com a menor quantidade possível de grasnidos." (Jean-Baptiste Colbert, ministro de Estado
e da economia do rei Luís XIV, França)
1-2 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Capítulo 1 - INTRODUÇÃO
Era para ter sido um livro sobre o regime fiscal brasileiro para o petróleo,
mas, na medida em que os assuntos foram se desdobrando, a comparação
com outros países tornou-se inevitável e o livro internacionalizou-se.

O regime fiscal brasileiro é comparado com os regimes de outros cinco


países que também produzem hidrocarbonetos em águas profundas: Angola,
Austrália, Estados Unidos, Noruega e Reino Unido.

As seções sobre os sistemas angolano e norueguês fornecem indicações


sobre o regime que se pretende implantar no Brasil para as áreas do pré-sal
e estratégicas. No primeiro caso, analisa-se o regime de partilha da
produção e, em ambos, a participação do Estado no empreendimento
petrolífero diretamente ou através de uma empresa sob controle estatal.

Visto que a indústria do petróleo é uma indústria que se construiu e


consolidou nos países de língua inglesa, alguns termos e acrônimos utilizados
foram emprestados daquele idioma. Tais expressões estão tão arraigadas na
indústria do petróleo que não faz sentido traduzi-las.

O ponto de partida é a compreensão das várias fases do ciclo de vida de um


campo de petróleo (Capítulo 2). O passo seguinte é a introdução dos
conceitos econômicos e financeiros necessários para se medir o resultado
de um projeto de petróleo (Capítulo 3). A técnica de avaliação financeira
usada é o fluxo de caixa descontado.

O enfoque é econômico e, desse ponto de vista, cada uma das exigibilidades


― pagamentos decorrentes dos contratos de petróleo e impostos ― é vista
simplesmente como uma saída da caixa da companhia de petróleo e uma
entrada correspondente na caixa do governo.

O Capítulo 4 introduz o campo de petróleo a ser analisado sob cada um dos


sistemas fiscais.

O Capítulo 5 trata da renda econômica do petróleo e os capítulos seguintes


(6 - 11) das formas utilizadas pelos governos para capturá-la. As expressões
'instrumento fiscal' ou 'ferramenta fiscal' foram aqui usadas no sentido
bem amplo. Elas tanto podem se referir a um royalty, quanto a um imposto,
ou mesmo a uma obrigação de adquirir no mercado local ou de treinar os
residentes do país hospedeiro.
1-3 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

O sistema brasileiro de concessão é discutido no Capítulo 12.

No Capítulo 13 o campo de petróleo introduzido no Capítulo 4 é analisado


sob cada um dos sistemas fiscais selecionados, inclusive o do Brasil. O
Capítulo 14 contém a síntese dos resultados.

O estudo procura mostrar como as principais ferramentas fiscais


funcionam, interagem e impactam tanto a rentabilidade de um projeto de
petróleo quanto as receitas governamentais.

Os conceitos básicos são bem simples e diretos. Primeiramente, os custos


são deduzidos das receitas, do que resulta o fluxo de caixa pré-tributação.
Esse seria o resultado auferido pelo investidor caso não houvesse governo.
Mas, como esse mundo ideal não existe, em segundo lugar determina-se a
parcela do fluxo de caixa que constitui a receita governamental. Tal receita
é então deduzida do fluxo de caixa pré-tributação, chegando-se assim ao
resultado líquido auferido pelo investidor.

Uma vez que os recursos minerais existentes no subsolo são dádivas da


natureza, a sua existência foge ao controle dos governos. Mas os governos
controlam os impostos que, por sua vez, influenciam as decisões de
investimento --- a criação de valor resultante do emprego do capital do
investidor.

Resumindo, num regime de concessão a seqüência é a seguinte: o investidor


vende a produção e aufere receitas, deduz os custos, paga as exigibilidades
ao governo e fica com o que sobrar, nessa ordem. Na partilha de produção a
companhia recebe do governo uma parte do petróleo produzido a título de
reembolso de custos e outra parte a título de remuneração pelos serviços.

Independentemente do tipo de regime, o investidor faz as contas antes de


investir, porque, se constatar que vai sobrar muito pouco ou que não
conseguirá um bom retorno para o seu capital, ele não investirá. Esta é a
lógica subjacente à contextualização de todo desenho de um regime fiscal.

Alguns cartuns foram inseridos para facilitar a digestão.

Bem vindo a bordo.

Decio Hamilton Barbosa Janeiro de 2010


2-4 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Capítulo 2 - CICLO DE VIDA DE UM CAMPO DE PETRÓLEO


2.1 Fases do projeto

O ciclo de vida de um campo de petróleo compreende seis fases:

• A obtenção do direito de explorar uma determinada área;

• O processo de pesquisa ou de exploração;

• A avaliação da descoberta para decidir se ela é comercial;

• A fase de desenvolvimento ou da preparação para produzir;

• A produção propriamente dita e seu escoamento;

• A desativação e o abandono das instalações.

Desenvol Aban-
Licença Exploração Avaliação Produção
-vimento dono

Figura 2-1 - Fases do projeto

2.1.1 Aquisição de uma licença ou concessão

Os governos oferecem às companhias petrolíferas o direito de prospectar


áreas de seus territórios através de licitações formais ou de negociações
caso a caso. Nos Estados Unidos as licitações de áreas exploratórias no
Golfo do México têm sido feitas com base num único elemento: o bônus de
assinatura. Há jurisdições, como o Reino Unido e a Noruega, em que as
licenças são concedidas de forma discricionária com base em programas de
trabalho, sem pagamento de bônus.

Figura 2-2 – Licitações e negociações


2-5 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

2.1.2 Exploração

Em Português 'exploração' significa 'pesquisa'. A


companhia estatal angolana que exerce tais atividades
relativas ao petróleo é conhecida como Sociedade
Nacional de Combustíveis de Angola para Pesquisa e
Produção (Sonangol P&P). No Brasil importamos do
Inglês o acrônimo E&P para designar 'Exploração e
Produção'; os angolanos preferem 'pesquisa' em lugar
de 'exploração'. É a mesma coisa. Figura 2-3

Na fase exploratória são realizados estudos de sísmica para identificar


possíveis acumulações de hidrocarbonetos no subsolo (prospectos). Uma vez
obtidos e analisados os dados técnicos, toma-se a decisão de seguir ou não
adiante com o projeto. Se a decisão for seguir adiante, o próximo passo é
perfurar um poço exploratório. Se o poço não for bem sucedido, o projeto
tem grandes chances de ser abandonado. Se, por outro lado, forem
encontrados hidrocarbonetos, a companhia tem outra decisão a tomar:
testar (ou não) se a acumulação de hidrocarbonetos é comercial.

A fase de exploração envolve alto risco. Mesmo usando modernas


tecnologias, há um elevado risco de o poço perfurado estar seco ― a média
mundial de um poço exploratório achar óleo é de uma para cada dez
perfurações e apenas uma em cada quatro descobertas tem-se mostrado
comercial. Para ser comercialmente viável, a acumulação deve produzir
volumes de óleo ou gás tais que justifiquem os custos envolvidos para
colocar a reserva em produção.

2.1.3 Avaliação

Havendo uma descoberta, há que se certificar acerca das características do


reservatório (tamanho, estrutura e qualidade), reduzindo destarte as
incertezas de natureza técnica. Se os poços exploratórios perfurados
identificarem a presença de razoáveis quantidades de óleo ou gás, são
perfurados poços de avaliação para definir o tamanho e a extensão do
campo. O elemento risco ainda está presente, embora as chances de sucesso
sejam maiores ― algo da ordem de seis a sete poços bem sucedidos para
cada dez perfurados. Mas pode não haver quantidade suficiente de óleo ou
2-6 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

gás que justifique a comercialização ou a tecnologia necessária à produção


pode ser muito onerosa.

Figura 2-4 – O fator risco

A partir de uma exploração bem sucedida ― confirmada pela avaliação ―,


seguem o desenvolvimento e a produção.

2.1.4 Desenvolvimento

Na etapa de desenvolvimento, decide-se qual será a tecnologia a ser


empregada na fase de produção do campo. Em muitos países, incluindo o
Brasil, um Plano de Desenvolvimento (PD) detalhado deve ser submetido e
aprovado pelo governo antes de se prosseguir com o projeto.

Figura 2-5 - Conceitos usados no desenvolvimento de campos marítimos


2-7 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

2.1.5 Produção

Uma vez perfurados os primeiros poços produtores, os mesmos são


conectados à unidade de produção e esta aos dutos de exportação da
produção. O campo é colocado a produzir. Na fase de produção, os poços
perfurados são de dois tipos: produtores e injetores. Através destes
últimos é feita a injeção de água que, juntamente com a pressão natural
existente no reservatório, força o óleo e o gás através dos poços
produtores até a unidade de produção localizada na superfície do mar.

Com o início da produção, o projeto passa a incorrer nos custos


operacionais1 e a auferir receitas. Os custos incorridos antes do início da
produção são considerados custos de capital2.

Figura 2-6 - Perfil típico de produção de um campo de petróleo

2.1.6 Abandono

Conforme mostra a Figura 2-6, os níveis de produção vão gradativamente


caindo à medida que as reservas vão sendo produzidas. Chega-se a um ponto
em que as receitas decorrentes da venda da produção não cobrem mais os

1
Operating expenditures (Opex).
2
Capital expenditures (Capex).
2-8 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

custos operacionais. Esse é o ponto de corte econômico. O abandono é a


fase final do ciclo de vida do campo, quando ele não é mais rentável e é
então desativado.

Os custos incorridos com a desativação de um


campo são chamados custos de abandono3. Esses
custos compreendem os custos associados ao
tamponamento dos poços, à remoção dos
equipamentos e instalações e à restauração do
meio ambiente. São as 'despesas funerárias'. Figura 2-7

2.2 Fluxos de caixa de um projeto

A Figura 2-8 é um modelo simplificado, construído com base nas seis etapas
acima mencionadas, dos fluxos de caixa antes da tributação de um campo de
petróleo. Esta visualização do empreendimento constitui o primeiro passo da
análise de como o regime fiscal interage com os aspectos econômicos de um
projeto de exploração e produção de petróleo.

Assinatura Plano de
do contrato Desenvolvimento

Receitas

Bônus Custos Custos Operacionais (OPEX) Custos de


Exploratórios Custos de Capital Abandono
(CAPEX)

Pré-licença Exploração Avaliação Desenvolvimento Produção Abandono

Figura 2-8 - Estrutura temporal das receitas e dos custos (sem escala)

3
Abandonment expenditures (Abex).
2-9 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

2.3 Implicações

Alguns aspectos importantes merecem destaque nesta seção. O primeiro


deles é que decisões precisam ser tomadas nas várias etapas da vida de um
campo petrolífero. A Figura 2-9 mostra como são tomadas as decisões na
fase exploratória. Alguns conceitos que constam da figura serão explicados
mais adiante. A apresentação desta árvore de decisões neste instante ajuda
a entender e a visualizar o processo de tomada de decisões na indústria.

O segundo aspecto é que os projetos de óleo e gás são, por sua natureza, de
longo prazo, de capital intensivo, em que a maior parte dos custos de
investimento é incorrida no início do empreendimento. Há um lapso de tempo
significativo, frequentemente de muitos anos, entre a descoberta de
petróleo e o início da produção. Assim, as companhias petrolíferas têm que
aguardar um longo período até obter um retorno para seus investimentos.
Esse período denomina-se ‘payout’.

O terceiro aspecto chama-se risco. Além dos prolongados períodos de


tempo envolvidos em cada uma das fases analisadas e do elevado nível de
capital demandado para o investimento, os insucessos nas tentativas de
descobrir óleo, ou melhor, de descobrir volumes que se mostrem
comercialmente viáveis, não são raros. Nesse particular há uma diferença
fundamental entre o sucesso técnico (descobrir uma acumulação de
hidrocarbonetos) e o sucesso comercial (descobrir uma acumulação de
hidrocarbonetos suficientemente grande para ser produzida). Em relação à
maioria das outras indústrias, a indústria petrolífera é caracterizada pelo
elevado risco. Os riscos podem ser políticos, exploratórios (probabilidade
de sucesso), técnicos (estimativas de reservas e de custos), econômicos
(preços do óleo e do gás) ou fiscais (surpresas com mudanças dos regimes
fiscais).

O quarto aspecto ― um corolário dos outros três ― é que a formulação de


um sistema fiscal adequado para essa indústria, que atenda os objetivos
concomitantes de assegurar uma 'justa remuneração' para o Estado
enquanto mantém bons incentivos que estimulem os investimentos, é uma
tarefa assaz complexa.
2-10 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Figura 2-9 - Tomadas de decisões na exploração


3-11 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Capítulo 3 - CONCEITOS BÁSICOS


3.1 Valor futuro e valor presente

A parte geológica da indústria do petróleo tem como pano de fundo o estudo


das rochas. Já os estudos econômicos e financeiros da indústria do petróleo
fundamentam-se no conceito do valor presente.

'Um real ― ou um dólar ou um peso ou qualquer outra moeda ― hoje vale


mais do que um real amanhã'. Um real (R$) pago ou recebido hoje não tem o
mesmo valor que um real que for pago ou recebido daqui a um ano. Essa
diferença é reconhecida e explicada pelo conceito do valor do dinheiro no
tempo.

Em geral as pessoas estão familiarizadas com o conceito de valor futuro.


Por exemplo, se R$100 forem depositados num banco rendendo juros de 8%
ao ano, esses R$100 irão valer R$108 no final de um ano. Assim, o valor
futuro de R$100 é R$108. É por causa do seu potencial para render juros
que o dinheiro possui um valor temporal. Usando agora o raciocínio inverso,
se uma pessoa pode investir dinheiro a 8% ao ano, então o valor presente
(hoje) de R$108 a serem recebidos daqui a um ano é R$100.

3.1.1 Valor futuro (VF)

A fórmula para o valor futuro (VF) conhecendo-se o valor presente (VP) é:

VF = VP x (1 + i)n

onde:
Figura 3-1

= valor futuro;
VF
VP = valor presente ou principal;
i = taxa de juros ou taxa de capitalização e desconto1;

1
A letra “i” da taxa de juros vem de interest (Inglês), interés (Espanhol), interesse (Italiano) e
intérêts financiers (Francês).
3-12 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

n = número de períodos de tempo entre a data de hoje e a futura.

A expressão (1 + i)n é denominada fator de capitalização.

Por exemplo, investindo R$1.000 a juros de 10% ao ano, o valor futuro ao


final do 4º ano será igual a:

VF = $1.000 x (1 + 10%)4 = $1.000 x (1,10)4 = $1.000 x 1,464 = R$1.464

O valor futuro de R$1.000 (VP) aplicados à taxa de 10% ao ano depois de 4


anos é R$1.464.
3.1.2 Valor Presente (VP)

A fórmula do valor presente é o inverso da fórmula para o valor futuro.

VP = VF / (1 + i)n = VF x [1 / (1 + i)n]

A expressão 1 / (1 + i)n é denominada fator de desconto.

Assim, para se saber o Valor Presente (VP) de um pagamento futuro (VF),


multiplica-se o valor do pagamento futuro (VF) pelo fator de desconto.

Figura 3-2 - Valor presente e valor futuro


3-13 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Suponhamos que um pagamento (VF) de R$1.000 será feito ao final de 4


anos. O valor presente (VP) deste pagamento, descontado à taxa de 10% ao
ano, será igual a:

VP = VF x [1 / (1 + i)n] = R$1.000 x [1 / (1 + 10%)4] = R$683

O VF mede qual seria o valor do 'dinheiro disponível hoje' numa data futura,
ao passo que o VP mede qual seria o valor de um dinheiro a ser
disponibilizado no futuro caso estivesse disponível hoje. Em ambas as
situações se aplicam taxas para fins de capitalização e de desconto.

A análise de uma série de pagamentos é feita descontando-se cada


pagamento futuro (VF) para a data de hoje (presente ou atual), surgindo daí
a expressão valor presente ou valor atual.

A análise financeira de um projeto de petróleo é feita calculando-se o valor


presente dos fluxos de caixa futuros esperados para o projeto.

Porquanto é mais fácil fazer-se estimativas com base em valores anuais,


admite-se, em geral, nas análises financeiras, que os valores estão
concentrados no meio do ano.

3.2 Fluxo de caixa

A avaliação econômica de projetos de petróleo utiliza a análise do fluxo de


caixa. O fluxo de caixa mede o movimento do dinheiro em períodos
discretos de tempo. A Figura 3-3 mostra, de forma esquemática, a
montagem dos fluxos de caixa de um projeto.

+ Receitas + Receitas + Receitas


- Custos - Custos - Custos
- Tributação . - Tributação . - Tributação .
= Fluxo caixa líquido = Fluxo caixa líquido = Fluxo caixa líquido

Ano 1º Ano 2º Ano 3º Ano etc

Figura 3-3 - Fluxos de caixa de um projeto


3-14 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

3.2.1 Inflação, tempo e incertezas

Na análise de fluxos de caixa não se pode simplesmente adicionar as


entradas e saídas de caixa por três razões: por causa da inflação, da
variação do valor do dinheiro no tempo e das incertezas.

Inflação

Uma vez que existe inflação, o poder de compra dos consumidores ficará
reduzido se houver demora em receber o dinheiro. Os valores expressos na
moeda do dia são valores correntes ou nominais. Os valores corrigidos para
a moeda de uma determinada data, para se eliminar os efeitos da inflação,
denominam-se valores reais.

Tabela 3-1 - Deflacionando valores correntes para reais

2010 2011 2012


Valor corrente 1.000 1.000 1.000
Valor real 2010 1.000 1.000/(1+0,03)=971 1.000/(1+0,03)2=943
Inflação esperada para 2011 e 2012 = 3% ao ano

Valor do dinheiro no tempo

Mesmo depois de se proceder ao ajuste devido à inflação, ainda não é


correto simplesmente adicionar as entradas e saídas de caixa do projeto. O
dinheiro recebido hoje vale mais do que o dinheiro que será recebido no
futuro. O dinheiro na mão hoje pode ir imediatamente para o consumo ou
ser investido e assim proporcionar rendimentos de juros. Ao se ter que
esperar, o consumo terá que ser adiado ou os rendimentos proporcionados
pelos juros serão perdidos.

Incertezas

Por último, alguma incerteza está sempre associada a cada investimento. Os


fluxos de caixa futuros não podem ser projetados com absoluta certeza na
época em que o investimento é realizado. Uma vez que o presente é mais
certo do que o futuro, há uma terceira razão para se preferir o dinheiro na
mão hoje a amanhã: os investidores têm aversão ao risco.

Possuindo aversão ao risco as companhias exigirão uma compensação para


assumi-lo ― elas cobram um prêmio pelo risco assumido. A maneira de o
investidor expressar isso é corrigindo para maior a taxa de desconto.

Taxa de desconto = taxa sem risco + prêmio de risco


3-15 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

3.2.2 Nominal ou real

Para serem descontados, os fluxos de caixa devem estar expressos em


valores nominais ou em valores reais? Tanto faz, desde que se siga a Regra
da Consistência. Se os fluxos de caixa estiverem em valores nominais, a
taxa usada para capitalização ou desconto estará em valor nominal; se os
fluxos de caixa estiverem em valores reais, a taxa usada para capitalização
ou desconto estará em valor real.

As seguintes abreviações são usadas nas fórmulas de conversão de valores


nominais para reais e vice versa.

inominal = taxa nominal;

ireal = taxa real;

inf = taxa de inflação;

n = número de períodos de tempo entre o ano do fluxo de


caixa e o ano da moeda de referência.

Para passar um fluxo de caixa (FC) expresso em valor real para nominal, ele
deve ser capitalizado em n períodos, usando-se a taxa de inflação (inf):

FCnominal = FCreal x (1 + inf)n

Para passar um fluxo de caixa (FC) expresso em valor nominal para real, ele
deve ser descontado em n períodos, usando-se a taxa de inflação (inf):

FCreal = FCnominal / (1 + inf)n

O Teorema de Fisher relaciona as taxas real e nominal da seguinte maneira:

(1 + inominal) = (1 + ireal) x (1 + inf)

3.2.3 Montagem do fluxo de caixa

A construção do fluxo de caixa de um projeto compreende três etapas: as


entradas de dados, a sequência de cálculos e a saída dos resultados.

As equações básicas para calcular cada fluxo de caixa são duas:

Receitas – Custos – Tributação = Fluxo de Caixa Não Descontado

Fluxo de Caixa Não Descontado x Fator de Desconto = Fluxo de Caixa


Descontado
3-16 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Num dado período t, a rentabilidade de um campo de petróleo é dada por


seu fluxo de caixa líquido (FCL) após a tributação, conforme segue:

FCLt = Rt – Ct - Tt

onde:
• FCLt é o fluxo de caixa líquido no período t;

• Rt é a receita bruta gerada no período t: Rt = Pt x Qt, onde Pt é o


preço do óleo e Qt é o volume produzido no período t;

• O custo total, Ct, compreende dois principais componentes: os


custos de capital e os custos operacionais;

• Tt é a tributação total paga no período t.

A tributação total varia de acordo com a estrutura tributária aplicada. No


regime brasileiro de concessão, a tributação total inclui como principais
elementos o royalty, a participação especial e o imposto de renda.

'Government take'

Na indústria do petróleo, a carga tributária total incidente sobre um


projeto é medida por um indicador conhecido como 'government take'.

O 'government take', ou simplesmente o 'take', mede a divisão de lucros


entre a companhia de petróleo e o governo, sendo definido como o
percentual do fluxo de caixa líquido do projeto pré-tributação que irá para
os cofres do governo. Ele não fornece uma indicação direta do desempenho
econômico de um campo. O 'government take' é usado como um indicador
geral da atratividade relativa dos termos fiscais de um país. O cálculo do
'government take' pode ser descontado ou não descontado. Dado o perfil
típico do fluxo de caixa dos projetos de petróleo, o 'take' descontado é
normalmente maior do que o não descontado.

3.3 Critérios econômicos de decisão


3.3.1 Valor presente líquido (VPL)

Cada fluxo de caixa líquido é calculado para um dado período de tempo,


usualmente de um ano. Para valorar seus projetos, as companhias de
petróleo realizam estimativas do valor presente pós-tributação do seu fluxo
de caixa líquido total. O fluxo é descontado em razão tanto do tempo (valor
do dinheiro no tempo + inflação) quanto do risco (+ prêmio de risco). Esse
3-17 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

método, denominado Fluxo de Caixa Descontado (FCD), está presente há


décadas na indústria da energia e é a maneira mais utilizada na avaliação de
projetos.

De acordo com esse método, a avaliação de investimentos é normalmente


feita em três etapas:

1. Primeiro, o analista estima os fluxos de caixa líquidos que


ocorrerão em cada período de tempo num determinado cenário.
Cada cenário procura refletir o ambiente esperado de preços,
inflação, custos, etc.

80 70

0 1 2
100

2. Depois, os fluxos de caixa são descontados usando uma


determinada taxa de desconto que incorpora um elemento
temporal sem risco e um prêmio de risco.

80 70

0 1 2
100

Taxa de desconto = 6%
-100 80/(1,06)1
75 70/(1,06)2
62

3. Finalmente, os fluxos de caixa descontados são somados para


formar o valor do projeto, denominado Valor Presente Líquido
(VPL).

-100 + 75 + 62 = +37

VPL = +37

Alguns cuidados devem ser tomados na montagem dos fluxos de caixa:

 Em geral, os custos são estimados em valores reais do ano em que o


projeto é concebido, ou seja, na 'moeda do Ano 1', pois é nesse ano
3-18 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

que os valores são apurados. Para se obter os valores nominais dos


custos nos anos seguintes, os custos na 'moeda do Ano 1' são
inflacionados.

 A inflação não é necessariamente a mesma para preços e para custos.

 Ao crescimento dos preços e dos custos dá-se o nome de


escalonamento. Usualmente o escalonamento usado para custos
reflete a inflação esperada, enquanto o escalonamento usado para os
preços pode ser maior, menor ou igual ao escalonamento dos custos.

 Quando o mesmo fator de escalonamento for usado para preços e


para custos, não haverá crescimento, em termos reais, de preços.

 Valor corrente ou nominal ou 'dinheiro do dia' são expressões


sinônimas e referem-se aos preços e custos expressos em termos do
valor do dinheiro no ano em consideração.

 A expressão 'moeda constante' ou 'valor real' refere-se aos preços e


custos ajustados para um determinado ano base, normalmente o ano
de início do projeto ('Ano 1').

 A preferência tem sido por realizar os cálculos em valores nominais,


uma vez que a depreciação é muito difícil de ser calculada em termos
reais. Além disso, o custo de capital médio ponderado (WACC), que é
comumente utilizado como a taxa de desconto, como se verá na
sequência, é nominal.

O VPL mede a rentabilidade ou a lucratividade de um investimento e é


calculado descontando-se a série de receitas geradas pelo investimento
(entradas de caixa) e a série dos gastos necessários à geração de tais
receitas (saídas de caixa)2. É essa apuração do valor presente das entradas
e saídas de caixa que determina o valor de um investimento.

Um VPL zero significa que os fluxos de caixa do projeto são suficientes, na


justa medida, para repagar o capital investido e prover a taxa de retorno

2
As saídas de caixa incluem também a tributação paga ao governo.
3-19 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

(utilizada para descontar os fluxos de caixa) exigida pelos investidores para


remunerar o capital. Se um projeto tem um VPL positivo, então ele não só
gera recursos suficientes para repagar o capital investido, como também
provê uma taxa de retorno maior do que a exigida pelos investidores. Se,
por outro lado, um projeto tiver um VPL negativo, ele não agregará valor à
companhia. Finalmente, no caso de dois projetos mutuamente exclusivos,
aquele projeto com maior VPL será usualmente selecionado.

Dessa forma, para se medir o desempenho de um investimento, a


lucratividade econômica, medida pelo VPL, é a variável mais importante a
considerar.

Destarte, o critério para decidir se um projeto é ou não economicamente


viável com base no valor presente líquido (VPL) diz o seguinte:

 Aceitar o projeto se VPL > 0;


 Rejeitar o projeto se VPL < 0;
 Se VPL = 0 é indiferente aceitar ou rejeitar o projeto.

120 140

0 1 2
200
Projeto A: VPL = +25

270 220

0 1 2
390
Projeto B: VPL = +37

300 350

0 1 2
600
Projeto C: VPL = -38

Figura 3-4 - Critérios econômicos de decisão: VPL


3-20 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

De acordo com o critério do VPL, deve-se: aceitar o projeto A, aceitar o


projeto B e rejeitar o projeto C.

3.3.2 Taxa mínima de atratividade

A taxa mínima de retorno exigida pelos investidores é chamada de taxa


mínima de atratividade 3 . Os investidores só irão aplicar seu dinheiro no
projeto se os estudos indicarem que o VPL do projeto, obtido descontando-
se os fluxos de caixa com a taxa mínima de atratividade, for maior ou igual
a zero. Em outros termos, os investidores só irão aplicar seu dinheiro no
projeto se os estudos indicarem que eles obterão uma taxa de retorno, no
mínimo, igual à taxa mínima de atratividade.

A taxa mínima de atratividade é, em geral, a taxa de retorno da 'melhor


alternativa' de uso do dinheiro. Assim, o valor presente líquido calculado, se
positivo, significa o acréscimo de valor obtido por se ter escolhido aquele
projeto em particular no lugar da 'melhor alternativa'.

A taxa mínima de atratividade deve refletir o custo do capital, que


incorpora tanto o valor do dinheiro no tempo quanto o ambiente de
incertezas (risco associado). Em geral, a taxa de desconto utilizada pelas
companhias é o seu custo de capital médio ponderado4.

O custo de capital médio ponderado ('WACC') reflete a média ponderada do


5
custo de remuneração dos acionistas e do custo dos empréstimos
6
contratados de uma companhia. Ele reflete, portanto, toda a extensa gama
de projetos que compõem a carteira da companhia, o que o torna um
substituto muito bom para a 'taxa mínima de atratividade' de um projeto
típico.

No sistema bancário, a taxa de juros de mercado é a taxa usada para


desconto dos fluxos financeiros.

3
Hurdle rate.
4
Weighted average cost of capital (WACC).
5
Equity cost.
6
Debt cost.
3-21 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

3.3.3 Taxa interna de retorno (TIR)

Conforme vimos, o valor presente líquido (VPL) de um projeto é calculado


somando-se os fluxos de caixa líquidos (FCLt) de cada período (t)
descontados a uma determinada taxa (i), conforme a seguinte fórmula:

A taxa interna de retorno (TIR) de um projeto é a taxa de desconto (i) que


anula o valor presente líquido desse projeto.

Um VPL zero significa que os fluxos de caixa do projeto são suficientes


para repagar o capital investido e prover uma taxa de retorno (TIR) para
remunerar o capital. Assim, a condição necessária para que o projeto seja
aprovado é que a taxa interna de retorno (TIR) seja igual ou maior do que a
taxa mínima de atratividade exigida pelos investidores.

O critério para decidir se um projeto é ou não econômico com base na taxa


interna de retorno (TIR) diz o seguinte:

 Aceitar o projeto se TIR > taxa mínima de atratividade;


 Rejeitar o projeto se TIR < taxa mínima de atratividade;
 Se TIR = taxa mínima de atratividade, é indiferente aceitar ou
rejeitar o projeto.

A TIR mede a atratividade relativa de um projeto. Projetos com alta TIR


são em geral selecionados, embora as companhias levem também em conta a
materialidade, isto é, o tamanho absoluto do VPL.

3.3.4 Taxas de desconto

As taxas de desconto usadas para decidir se um projeto é ou não


economicamente viável variam de indústria a indústria e de companhia a
companhia.

As taxas de desconto das companhias de petróleo são diferentes das taxas


usadas pelos governos. Muitos países em desenvolvimento têm uma
necessidade premente por recursos públicos e por isso as suas taxas de
desconto são altas. Por outro lado, alguns países ricos em recursos minerais,
3-22 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

como, por exemplo, a Noruega, usam taxas de desconto menores do que as


usadas pelas companhias.

A Tabela 3-2 mostra as taxas de desconto típicas para alguns tipos de


empreendimento. Os valores desta tabela devem ser examinados com
cautela, pois se referem ao período pré-crise financeira global de 2008. De
lá para cá muita coisa mudou. Mas, como é preciso esperar um tempo para
que a economia se estabilize e as estatísticas refaçam e atualizem os
números, estas são as indicações disponíveis no momento.

Tabela 3-2 - Taxas típicas de desconto

Atividade Taxas típicas de desconto


Exploração de hidrocarbonetos 15% - 20%
Produção de hidrocarbonetos 10% - 15%
Energia elétrica 8% - 12%
Indústria petroquímica 12% - 18%
Dutos 8% - 12%
Processamento de petróleo 12% - 18%

3.3.5 VPL e taxa de desconto

A Figura 3-5 mostra os fluxos de caixa de um determinado projeto.

120 140

0 1 2
200

Figura 3-5 - Critérios econômicos de decisão: TIR

O valor presente líquido (VPL) em função da taxa de desconto (i) é dado por:
3-23 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Tabela 3-3- Perfil do valor presente

Taxa de desconto Fluxo de caixa descontado Valor presente

0% 60

5% 41

10% 25

15% 10

18,9% 0

20% -3

25% -14

30% -25

Se calcularmos o VPL para diferentes valores de i, vamos obter um gráfico


representativo dos valores presente. A Tabela 3-3 mostra como são feitos
os cálculos para o projeto da Figura 3-5. Conforme se percebe, a taxa de
desconto que anula o VPL é 18,9% (Figura 3-6). Essa é a TIR do projeto.

VPL
70
60
50
TIR = 18,9%
40
30
20
10
-
-10 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35%
-20
-30

Figura 3-6 - Perfil gráfico do valor presente


3-24 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

3.3.6 'Payout'

O período de 'payout' ou de 'payback' é o tempo necessário para o projeto


gerar fluxos de caixa suficientes para recuperar os custos incorridos.

Figura 3-7 - Fluxo de caixa líquido acumulado de um projeto

Quanto menor for o 'payout', menos arriscado é o empreendimento e,


reciprocamente, quanto maior o 'payout', maior o risco envolvido. Neste
último caso, demora-se mais tempo para recuperar o capital investido,
aumentando-se o grau de exposição da companhia.

A Figura 3-7 ilustra o conceito de 'payout'. Ela mostra o fluxo de caixa


líquido acumulado de um projeto. O 'payout' ocorre no momento em que as
entradas de caixa acumuladas anulam as saídas de caixa acumuladas.

Há duas formas de se medir o período de 'payout': a primeira utiliza os


fluxos de caixa não descontados e a segunda utiliza os fluxos de caixa
descontados. A Tabela 3-4 apresenta um exemplo de cálculo.

Comparado com o VPL e a TIR, o período de 'payout', em geral, é uma


medida secundária e complementar, porém bem mais fácil de calcular. Ele é
usado em pequenas operações e onde os investimentos são geralmente
semelhantes. O 'payout' assume certa relevância, por exemplo, quando se
percebe que os riscos políticos podem aumentar com o tempo.
3-25 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Tabela 3-4 - Exemplo de calculo do 'payout'

FC Acumulado
Ano Fluxo de Caixa FC Acumulado descontado
(10%)
1 (50) (50) (45,5)
2 (100) (150) (128,1)
3 10 (140) (120,6)
4 20 (120) (106,9)
5 80 (40) (57,3)
6 50 10 (29,0)
7 40 50 (8,5)
8 30 80 5,5
9 20 100 14,0
10 10 110 17,8
'Payout' (anos) 5,75 7,4

3.3.7 Índice de Lucratividade7

Outro parâmetro indicador de rentabilidade é o Índice de Lucratividade,


também conhecido como razão benefício/custo. Esse indicador compara o
VPL do fluxo de caixa total do projeto pós-tributação com o VPL do capital
investido. Ambos os fluxos de caixa são descontados. Ele é calculado pela
seguinte equação:

Pode ser ainda expresso da seguinte forma:

onde:

FCLt é o fluxo de caixa líquido do projeto no período t;

7
Também denominado Profitability Index (PI) ou NPV Index.
3-26 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

i é a taxa usada para descontar os fluxos de caixa;

CAPEXt é o capital investido no período t.

Tabela 3-5 - Relação Vpl / Capex

Investimento A Investimento B
0 (500) -  Data Zero
Ano 1  1 200 (15)
2 200 (20)
3 200 (5)
4 200 25
5 200 20
6 200 15
7 - 10
8 - 5
9 - 4
10 - 2
VP Capex 500 34
VPL Total 371 14
VPL Total/VP Capex 74% 42%

O Índice de Lucratividade é uma boa ferramenta para comparar e


classificar projetos, uma vez que permite identificar claramente a
quantidade de valor criado por unidade de investimento. Como capital,
equipamentos, mão de obra especializada e outros insumos são escassos, o
investidor irá escolher primeiro aqueles projetos que criam valor de forma
mais eficiente. A Tabela 3-5 apresenta dois exemplos.

3.4 Valor monetário esperado (VME)

Vistos os conceitos básicos de matemática financeira e os critérios


econômicos de decisão que tomam por base tais conceitos, o passo seguinte,
para concluir esta seção, consiste em inserir na foto o elemento risco.

Em algumas situações, como nas fases de exploração e de avaliação de um


prospecto de petróleo, é criada uma distribuição de probabilidades para os
diferentes cenários. Nessas situações, o Valor Monetário Esperado (VME) é
usado como uma medida da rentabilidade global do projeto. Visualizaremos
esse conceito através de um exemplo.
3-27 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

A Tabela 3-6, a Figura 3-8 e a Figura 3-9 se referem a um projeto de um


campo de petróleo. A tributação da jurisdição onde se localiza o campo
compreende unicamente um imposto de renda de 50%.

Tabela 3-6 - Receitas, custos e tributação do projeto (cenário 1)

Ano Poço Poços de Investimento Custo Receita Tributação Fluxo Caixa


Exploratório Avaliação Operacional Descontado
0 -150 -300 -450
1 -2.000 -1.818
2 -500 2.400 0 1.570
3 -500 4.000 -1.475 1.521
4 -500 3.200 -1.350 922
5 -500 2.400 -950 590
Totais -150 -300 -2.000 -2.000 12.000 -3.775 2.335

5.000

4.000

3.000 Receita

2.000 Custo
Tributação
1.000
Investimento
0 Poços de Avaliação
0 1 2 3 4 5 Poço Exploratório
-1.000

-2.000

-3.000

Figura 3-8 - Fluxo de caixa do projeto

De acordo com a árvore de decisão da Figura 3-9, a primeira decisão que o


investidor deve tomar é se deve perfurar o poço exploratório, que lhe
custará 150 unidades monetárias, ou então ir pescar.

Uma vez tomada a decisão de perfurar o poço exploratório, dois eventos


podem ocorrer ― achar ou não óleo ―, sendo cada um deles quantificado
3-28 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

com seus respectivos bônus e ônus. A cada evento é associada uma


probabilidade de ocorrência (probabilidade de sucesso geológico). Se
decidir pela perfuração do poço exploratório, as chances do investidor
descobrir petróleo são de 20%. Se o poço for seco, terá perdido $150.

O sucesso do poço exploratório não significa necessariamente que a


acumulação descoberta será comercial. Para se constatar o tamanho da
reserva, há necessidade de se perfurar mais dois poços que custarão $300
($150 cada). As chances de que a reserva seja viável de comercializar são
de 65%. Se a reserva não for comercial, o investidor terá perdido, no total,
$450 ($150 do poço exploratório mais $300 dos dois poços de avaliação).

Se a reserva avaliada for considerada comercial, o VPL descontado a 10% de


todo o projeto ― incluindo os custos de exploração e avaliação (custos de
E&A) ― será de $2.335.

Partindo da direita para a esquerda na Figura 3-9, o VPL é calculado para


cada um dos eventos. Em seguida, cada VPL é multiplicado por sua
probabilidade associada e os resultados são somados ― obtém-se, dessa
forma, o Valor Monetário Esperado (VME) no ponto de decisão.

O VME no ponto em que se decide pela perfuração dos dois poços de


avaliação é expresso da seguinte forma:

VME = ps x VPL – (1 – ps) x Custos E&A

onde:

• ps é a probabilidade de sucesso da reserva ser comercial = 65%;

• Custos E&A são os custos de exploração e de avaliação = 450;

• VPL é o valor da recompensa caso a reserva seja comercial = 2.335.

VME = 65% x 2.335 – (1 – 65%) x 450 = + 1.361


3-29 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Figura 3-9 - Árvore de decisão do projeto


3-30 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

O VME no ponto em que se decide pela perfuração do poço exploratório é


expresso pela seguinte equação:

VME = ps x VPL – (1 – ps) x Custos E

onde:

• ps é a probabilidade de descobrir petróleo = 20%;

• Custos E são os custos de exploração = 150;

• VPL é o valor da recompensa em caso de descoberta = + 1.361.

VME = 20% x 1.361 – (1 – 20%) x 150 = + 152

Como o Valor Monetário Esperado é positivo, o investidor é encorajado a


seguir adiante com o projeto.
2.335
2500
1.361
2000

-450
1500
V P L ou V M E

1000 152
500

0
0 20 40 60 80 100 80 60 40 20 0
-500
Probabilidade de sucesso exploratório Probabilidade de sucesso da avaliação
-150

Figura 3-10 - Valor monetário esperado e o regime fiscal

Suponhamos agora um novo cenário em que os preços do petróleo caíram


vertiginosamente, conforme mostra a Tabela 3-7.

Tabela 3-7 - Receitas, custos e tributação do projeto (cenário 2)

Fluxo
Ano Poço Poços de Investimento Custo Receita Tributação Caixa
Exploratório Avaliação Operacional Descontado
0 -150 -300 -450
1 -2.000 -1.818
2 -500 1.650 0 950
3 -500 2.750 -475 1.334
4 -500 2.200 -850 581
5 -500 1.650 -575 357
Totais -150 -300 -2.000 -2.000 8.250 -1.900 953
3-31 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Nessa situação, o VME no ponto imediatamente antes da perfuração dos


dois poços de avaliação será:

VME = 65% x 953 – (1 – 65%) x 450 = + 462

E o VME no ponto imediatamente antes da perfuração do poço exploratório


será:

VME = 20% x 462 – (1 – 20%) x 150 = - 28

Como o Valor Monetário Esperado é negativo, o investidor é desencorajado


a seguir adiante com o projeto.

Vamos admitir agora uma terceira situação, na qual a companhia de petróleo


exerça outras atividades econômicas no país em consideração e que, por
ocasião dos gastos de exploração e avaliação, essas outras atividades
coloquem a companhia numa posição fiscal pagadora de imposto de renda.
Vamos admitir ainda que, tal como ocorre no Brasil, a legislação do país em
questão permita à companhia consolidar todos os seus gastos na apuração do
imposto de renda.

Em assim sendo, a companhia poderá recuperar parte dos custos de


exploração e avaliação, já que eles são dedutíveis do imposto de renda e ela
encontra-se numa posição pagadora de imposto. Nesse caso, como a alíquota
do imposto de renda é 50%, os custos de exploração e avaliação a serem
considerados na análise são, respectivamente:

Custos de exploração: 150 x (1 – 50%) = 75

Custos de avaliação: 300 x (1 – 50%) = 150

Nessa situação, o VME no ponto imediatamente antes da perfuração dos


dois poços de avaliação será:

VME = 65% x 953 – (1 – 65%) x 225 = + 541

E o VME no ponto imediatamente antes da perfuração do poço exploratório


será:

VME = 20% x 541 – (1 – 20%) x 75 = + 48


3-32 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Como o Valor Monetário Esperado é positivo, o investidor volta a ser


encorajado a seguir adiante com o projeto. Como se verifica, o regime fiscal
vigente influencia as decisões tomadas na fase exploratória de um projeto.

3.5 Sumário e conclusão

Vários indicadores econômicos são usados para medir o desempenho de um


projeto: o valor presente líquido do fluxo de caixa (VPL), a taxa interna de
retorno (TIR), o período de 'payout', o índice de lucratividade (IL), o
'government take' e o valor monetário esperado (VME).

Figura 3-11

O VPL é o valor presente do fluxo de caixa futuro esperado para o projeto.


Ele fornece uma avaliação do valor do projeto para o investidor em termos
absolutos. Cada companhia usa, para descontar seus fluxos de caixa, uma
taxa mínima de atratividade que representa o menor retorno que ela está
disposta a aceitar para investir.

A TIR é a taxa de desconto para a qual o VPL de uma dada série de fluxos
de caixa é zero. O investidor está preocupado, em primeiro lugar, com o
retorno que obterá para o seu investimento. Assim, ele não relutará em
investir numa jurisdição com um elevado 'government take', desde que
obtenha uma TIR satisfatória para o seu capital.

O conceito do valor monetário esperado (VME) é uma maneira de combinar


os valores presentes líquidos (VPLs) com as estimativas de risco (através de
probabilidades numéricas) para se obter uma expectativa de valor ajustado
para o risco. VME = chance de sucesso x recompensa – chance de insucesso
x capital de risco.

Quando os projetos estão ainda no nível exploratório, onde o risco para o


investidor é maior, o foco da análise é a tributação, visto que ela exerce
forte influência nas tomadas de decisão, conforme ficou demonstrado na
conceituação do valor monetário esperado (VME). Por outro lado, ocorrido o
sucesso na fase de exploração e avaliação, o foco passa a ser a taxa interna
de retorno (TIR). Nesse caso, onde o risco é menor, o regime fiscal deve
permitir um justo retorno para o investimento.
3-33 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

É alguém
Qual é o maior
resolver calcular
risco no seu
a sua taxa de
projeto?
retorno.

Figura 3-12
4-34 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Capítulo 4 - 'NOSSO CAMPO'


Chegou a hora de apresentarmos o principal personagem deste livro: o
campo de petróleo com o qual faremos nossas experiências tributárias. Ele
será a nossa cobaia. Ele será submetido a regimes fiscais de diversas
jurisdições e devidamente analisado caso a caso.

Para tanto, escolhemos um campo bem grande, com 850 milhões de barris de
petróleo recuperáveis. Esse tamanho foi escolhido porque algumas figuras
fiscais só se aplicam a grandes campos ― a participação especial existente
no Brasil é uma delas.

Os campos geralmente produzem petróleo e gás natural, sendo que o fluido


dominante determina a classificação do campo, se de petróleo, se de gás.
Em geral, os campos que produzem petróleo pesado produzem muito pouco
gás. Há também campos exclusivamente gaseíferos, ditos campos de gás não
associado. Os campos de gás geralmente produzem um petróleo muito leve
denominado condensado. A Figura 4-1 mostra duas curvas de produção. O
gráfico da esquerda mostra a curva de produção típica de um campo de
petróleo e o da direita mostra a curva de produção típica de um campo de
gás natural.

Figura 4-1 - Perfis de produção: petróleo e gás natural

No campo de petróleo, além da pressão natural existente no reservatório, a


produção é induzida pela injeção de fluidos (água e gás) no reservatório. Em
cada ano do pico de produção (platô), são produzidos de 10 a 15 por cento da
reserva. Campos de gás são diferentes. No campo de gás, apenas a pressão
natural existente no reservatório atua para promover a elevação do gás à
4-35 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

superfície. No nível máximo de produção, são produzidos apenas de 3 a 4


por cento da reserva em cada ano.

Como o objetivo aqui é o estudo da tributação, para simplificar foi


selecionado um campo produzindo apenas petróleo. Mas, antes de
descrevermos tal campo, precisamos primeiro batizá-lo. Chamaremos nosso
campo de 'Nosso Campo'. 'Le voici':

'Nosso Campo'
Reserva recuperável 850 MMBbls1
Período de exploração 4 anos
Período de desenvolvimento 9 anos
Vida produtiva 20 anos

Figura 4-2 - 'Nosso Campo' antes do desenvolvimento

A Tabela 4-1 mostra os custos incorridos nas diferentes fases do ciclo de


vida desse campo (exploração/avaliação, desenvolvimento, produção e
abandono) em milhões de dólares (US$ MM ou $MM) por ano, bem como a
curva de produção em milhões de barris (MMBbl ou MMB) por ano. Foi
utilizada a terminologia da indústria, onde CAPEX são os custos de capital e
OPEX os custos operacionais. FPSO 2 é a unidade flutuante de produção,
armazenagem e transbordo de petróleo.

1
MMBbls = milhões de barris (M = mil unidades, MM = um milhão de unidades, Bbls = barrels = barris).
2
Floating Production Storage Offloading.
4-36 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Tabela 4-1- Perfis dos custos e da produção do campo de 850 MMBbls

Todos os custos estão em $MM do ano 1


CAPEX
Poços
Poços de Produção
Ano Geologia e Exploratórios Itens Gestão do Opex Abandono
Desenvolvi- FPSO MMbbl
Geofísica e de Submarinos Projeto
mento
Avaliação
1 20
2 50
3 200
4 200
5 50 100 100 100
6 200 400 300 100
7 370 400 300 100
8 370 400 300 100 200 32
9 370 200 44
10 370 200 55
11 370 200 66
12 370 200 75
13 130 200 73
14 200 65
15 200 59
16 200 53
17 200 48
18 190 43
19 181 39
20 171 35
21 163 31
22 155 28
23 147 25
24 140 23
25 133 21
26 126 18
27 120 500 17
Total 70 400 2600 1300 1000 400 3526 500 850

Os custos da Tabela 4-1 foram baseados nas seguintes premissas:

 Número de poços produtores: 20


 Número de poços injetores (água e gás): 10
 Capacidade da unidade de produção do tipo 'FPSO': 200.000 barris
por dia de óleo
4-37 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

 Injeção de gás
 Injeção d’água
 Custo diário de perfuração: $500.000 por dia
 Vazão inicial de cada poço produtor: 15.000 barris por dia
 Taxa de declínio: 10% por ano
 Custo aproximado de cada poço: $100 MM

Na fase de exploração, foram realizados estudos sísmicos nos anos 1 e 2,


tendo sido despendidos $20 MM e $50 MM, respectivamente. Ainda nessa
fase, foram perfurados dois poços exploratórios, ambos no ano 3. Na fase
de avaliação foram perfurados mais dois poços no ano 4. Cada poço custou
$100 MM. Os custos de desenvolvimento somaram $5.300 MM e os custos
de abandono foram estimados em $500 MM. Tudo em moeda do ano 1.

Com base nas informações acima, vamos construir o fluxo de caixa antes da
tributação para o 'Nosso Campo'.

Inflação

Vamos considerar os valores da Tabela 4-1 como tendo sido obtidos no ano 1
do projeto, ou seja, os custos ali indicados estão em valores (milhões de
dólares) constantes do ano 1. Para trabalhar com dólares do dia, ou dólares
correntes, utilizaremos uma taxa média de inflação a ser aplicada aos
custos do ano 1.

O valor do custo em dólares correntes3 é obtido com a seguinte fórmula:

Ccorrente = Cconstante x (1 + inf)t

onde:
Ccorrente é o custo em moeda corrente do ano em consideração;
Cconstante é o custo em moeda constante do ano de referência (ano 1);
inf é a taxa média anual de inflação (3% ao ano);
t é a diferença de tempo em anos entre o ano da moeda constante
(ano 1) e o ano da moeda corrente (ano em consideração).

3
A expressão 'current dollar' é usada nos Estados Unidos, enquanto no Reino Unido usa-se 'money of
the day'. Ambas se referem ao valor nominal ou corrente da moeda. Quando a moeda é referenciada a
uma determinada data, trata-se do valor real na moeda do ano de referência ('constant dollar'). Em
geral, esse ano de referência é o primeiro ano do projeto, quando as estimativas de custos são feitas.
4-38 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

A Tabela 4-2 mostra como foi feita a conversão dos custos de moeda
constante do ano 1 para a moeda corrente de cada ano. Para tanto, foi
utilizada a fórmula apresentada, considerando uma inflação média estimada
de 3% ao ano.

Tabela 4-2 - Inflacionando os custos estimados na moeda do ano 1

Moeda constante Moeda corrente


Ano t (dólar do ano 1) Inflação acumulada (dólar do dia)
Capex Abex Opex Inflação anual Capex Abex Opex
1 0 20 3% 1,0000 20
2 1 50 3% 1,0300 52
3 2 200 3% 1,0609 212
4 3 200 3% 1,0927 219
5 4 350 3% 1,1255 395
6 5 1000 3% 1,1593 1.160
7 6 1170 3% 1,1941 1.397
8 7 1170 200 3% 1,2299 1.439 246
9 8 370 200 3% 1,2668 469 253
10 9 370 200 3% 1,3048 483 261
11 10 370 200 3% 1,3439 497 269
12 11 370 200 3% 1,3842 512 277
13 12 130 200 3% 1,4258 185 285
14 13 200 3% 1,4685 294
15 14 200 3% 1,5126 303
16 15 200 3% 1,5580 312
17 16 200 3% 1,6047 321
18 17 190 3% 1,6528 314
19 18 181 3% 1,7024 308
20 19 171 3% 1,7535 300
21 20 163 3% 1,8061 294
22 21 155 3% 1,8603 288
23 22 147 3% 1,9161 282
24 23 140 3% 1,9736 276
25 24 133 3% 2,0328 270
26 25 126 3% 2,0938 264
27 26 500 120 3% 2,1566 1.078 259
Total 5.770 500 3.526 7.040 1.078 5.676
4-39 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Dessa maneira, foi construída a Tabela 4-3 ― enquanto a Tabela 4-1 mostra
os custos do 'Nosso Campo' em valores constantes do ano 1, a Tabela 4-3
apresenta os custos do 'Nosso Campo' em valores correntes ou nominais de
cada ano.

Tabela 4-3 - Perfis dos custos e da produção - campo de 850 MMBbls

Todos os custos estão em $MM correntes


CAPEX
Poços
Poços de Produção
Ano Geologia e Exploratórios Itens Gestão do Opex Abandono
Desenvolvi- FPSO MMbbl
Geofísica e de Submarinos Projeto
mento
Avaliação
1 20
2 52
3 212
4 219
5 56 113 113 113
6 232 464 348 116
7 442 478 358 119
8 455 492 369 123 246 32
9 469 253 44
10 483 261 55
11 497 269 66
12 512 277 75
13 185 285 73
14 294 65
15 303 59
16 312 53
17 321 48
18 314 43
19 308 39
20 300 35
21 294 31
22 288 28
23 282 25
24 276 23
25 270 21
26 264 18
27 259 1078 17
Total 72 431 3.331 1547 1.188 471 5.676 1.078 850
4-40 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Cenário de Preços

Assumiremos um preço de US$75/b para o petróleo no ano 1. Para que esse


preço ($75/b) seja considerado em valores correntes, ele deverá ser
corrigido anualmente com base na inflação anual média estimada de 3%. Com
isso, não haverá valoração do preço do petróleo em termos reais.

Assim, o preço corrente do petróleo no ano t será dado pela seguinte


fórmula:

Pt = 75 x (1 + 3%)(t-1)
onde:
Pt é o preço corrente do petróleo no ano t;
75 é o preço do petróleo no ano 1 (ano base);
3% é a taxa média anual de inflação.
Figura 4-3

As informações agora já são suficientes para a montagem do fluxo de caixa


antes da tributação do 'Nosso Campo'. A Tabela 4-4 exibe esse fluxo de
caixa em valores correntes ou nominais. A última coluna da Tabela 4-4
mostra os valores que a companhia auferiria em cada ano caso não tivesse
que pagar nada ao governo.

A receita bruta é obtida multiplicando-se a produção de cada ano pelo preço


correspondente. O fluxo de caixa anual é obtido subtraindo-se da receita
bruta os custos operacionais, de capital e de abandono.

Em valores correntes não descontados, a receita bruta total do projeto


(99.394) é a soma dos custos necessários para obtê-la (5.676 + 7.040 +
1.078 = 13.794) com o resultado obtido pelo empreendimento (85.600).

Mas uma componente muito importante do fluxo de caixa no mundo real


ficou faltando nessa abordagem: a tributação ou o 'government take'. Ela
não foi esquecida e será vista mais adiante, afinal é o tema deste livro.
4-41 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Tabela 4-4 - Fluxo de caixa em valores correntes

Produção Preço do Receita Custo Custos de Custos de Fluxo de Caixa


Ano Petróleo Petróleo Bruta Operacional Capital Abandono Total do Campo
MMb/ano $/b $MM $MM $MM $MM $MM
1 - 75 - - 20 - -20
2 - 77 - - 52 - -52
3 - 80 - - 212 - -212
4 - 82 - - 219 - -219
5 - 84 - - 395 - -395
6 - 87 - - 1.160 - -1.160
7 - 90 - - 1.397 - -1.397
8 32 92 2.944 246 1.439 - 1.259
9 44 95 4.180 253 469 - 3.458
10 55 98 5.390 261 483 - 4.646
11 66 101 6.666 269 497 - 5.900
12 75 104 7.800 277 512 - 7.011
13 73 107 7.811 285 185 - 7.341
14 65 110 7.150 294 - - 6.856
15 59 113 6.667 303 - - 6.364
16 53 117 6.201 312 - - 5.889
17 48 120 5.760 321 - - 5.439
18 43 124 5.332 314 - - 5.018
19 39 128 4.992 308 - - 4.684
20 35 132 4.620 300 - - 4.320
21 31 135 4.185 294 - - 3.891
22 28 140 3.920 288 - - 3.632
23 25 144 3.600 282 - - 3.318
24 23 148 3.404 276 - - 3.128
25 21 152 3.192 270 - - 2.922
26 18 157 2.826 264 - - 2.562
27 17 162 2.754 259 - 1.078 1.417
Totais: 850 99.394 5.676 7.040 1.078 85.600

Por ora, vamos calcular a taxa interna de retorno (TIR) do fluxo de caixa da
Tabela 4-4. Trata-se da TIR antes da tributação. Para tanto, calcularemos o
VPL do projeto para uma série de taxas de desconto e construiremos um
gráfico com os pares de valores obtidos. A data de referência para o
desconto dos fluxos de caixa será 1° de janeiro do ano 1. A taxa de
desconto que anular o VPL será a TIR do projeto pré-tributação.
4-42 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Taxa VPL, $MM VPL, $MM


0% 85.600 1.000
5% 39.344
10% 19.441 800
15% 10.145
20% 5.503 600 T I R = 54%
25% 3.056
30% 1.710 400
35% 944
40% 499 200
45% 235
50% 77 0
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%
55% -17
60% -73 -200
65% -105

Figura 4-4 - VPL versus taxa de desconto

A TIR do fluxo de caixa do 'Nosso Campo' antes da tributação é 54%.

Figura 4-5 - 'Nosso Campo' depois do desenvolvimento


5-43 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Capítulo 5 - A CAPTURA DA RENDA ECONÔMICA

5.1. Renda econômica


Na sequência dos conceitos tributários básicos não se pode passar ao largo
da 'renda econômica', termo com o qual muitos não se sentem confortáveis.
O conceito de renda econômica é importante na análise de qualquer projeto
de recursos naturais. Ela é gerada sempre que um recurso natural escasso e
não renovável é extraído.

O conceito surgiu com David Ricardo, um influente economista, homem de


negócios, financista e especulador de sua época (1772 - 1823), quando
estudava as propriedades agrícolas. David então se referia à recompensa
que o proprietário da terra recebia pelo simples fato de ser . . . proprietário
da terra. Vamos ver como funciona a renda econômica ricardiana.

Imaginemos dois proprietários de terra: o proprietário 'A', com a terra


muito fértil, e o proprietário 'B', com a terra menos fértil que a de 'A'.
Ambos vendem sua produção pelo mesmo preço, ou seja, pelo preço que o
mercado se dispõe a pagar. Porém, dada a diferença de fertilidade, o custo
de produção do proprietário 'A' é menor do que o custo de produção do
proprietário 'B'. Enquanto 'B' obtém lucro, 'A' obtém algo bem maior ―
renda econômica. A recompensa obtida por 'A', renda econômica, decorre
das qualidades peculiares de sua terra, que resultam não de sua
engenhosidade ou do seu trabalho árduo, mas de uma dádiva generosa da
natureza.

Os estudos de David envolviam grãos, proprietários de terra e


trabalhadores rurais, mas eles podem ser transplantados para o petróleo,
governos hospedeiros e companhias petrolíferas. Vejamos como.

Consideremos o gráfico da Figura 5-1, onde CM representa a curva de custo


marginal da produção de um conjunto de campos de petróleo. Cada campo
tem um diferente custo de extração. A curva de custo marginal possui uma
inclinação ascendente refletindo o fato de os campos mais rentáveis serem
os primeiros a ser colocados a produzir. Em microeconomia, a curva de custo
marginal de longo prazo é a curva de oferta da indústria.

Nesse gráfico, a renda econômica é definida como a diferença entre o valor


da produção no mercado, representado pelo preço que o mercado se dispõe
5-44 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

a pagar pelo produto (P), e os custos (CM) para obtê-la, os quais


compreendem os custos de exploração, os custos de desenvolvimento, os
custos de operação e, uma quarta parcela muito importante, a remuneração
do capital aplicado pelo investidor.

Custo

CM

P R S T

Q N
M

X Y Z

CAMPOS DESENVOLVIDOS

Figura 5-1- Preço de venda (P) versus custo marginal de produção (CM)

Sendo assim, a renda econômica do campo X é definida pelo segmento de


reta RM; a do campo Y, pelo segmento de reta SN; a do campo Z, pelo... Êpa!
O campo Z não possui renda econômica! O campo Z é um campo marginal, ou
seja, ele opera no limite da economicidade ― qualquer oscilação econômica,
seja por queda de receita ou por aumento de custos, faz o empreendimento
naufragar.

A renda econômica representa a parcela da receita do investidor que fica


com o governo sob a forma de tributação e que não afeta necessariamente a
decisão econômica do investidor em permanecer na indústria ou em
desenvolver projetos marginais.
5-45 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Sendo um valor excedente, tal receita extra não é necessária para


persuadir o investidor a continuar com seu investimento, pelo que a renda
econômica, se tributada, não introduzirá distorções nas decisões
econômicas. Mesmo pagando imposto sobre a renda econômica, a companhia
ainda continuará obtendo um retorno aceitável para seu investimento.

Voltando ao gráfico acima, o ‘triângulo’ PTQ representa a renda econômica


disponível para o conjunto de campos de petróleo. Portanto, PTQ é o valor
total que o governo poderia tributar sem afetar a eficiência na alocação de
recursos. Entretanto, para ser bem sucedido nisso, o governo teria que
aplicar diferentes impostos a diferentes campos na proporção da renda
econômica gerada por cada um deles. Campos marginais, como Z, não
pagariam imposto algum.

A renda econômica
está por cima e
acima do lucro
normal
Renda
Econômica

Retorno
do Capital
Receita
Custo de
Bruta
Produção

Custo de
Desenvol-
vimento

Custo de
Exploração

Figura 5-2 - A 'Renda Econômica' na divisão da receita


5-46 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

5.2. Tipos de sistemas de coleta da renda econômica

Os sistemas usados para coletar a renda econômica do petróleo podem ser


divididos em duas grandes famílias: os sistemas licitatórios e os sistemas
formados por vários tipos de exações (tributos e outras exigibilidades). Há
uma diferença fundamental entre eles. Enquanto os sistemas licitatórios
envolvem pagamentos voluntários por parte dos investidores, o segundo
grupo é formado por imposições unilaterais por parte dos governos (ius
imperii).

Na prática são empregados sistemas híbridos. É o caso dos contratos de


partilha da produção. Com frequência a divisão do petróleo lucro entre o
investidor e o governo é objeto de licitação, seguida de negociações entre o
investidor e o governo hospedeiro visando modificar a divisão original.

Em alguns países, programas de trabalho são objeto de licitação.


Frequentemente tais programas também são alterados em negociações
entre o investidor e representantes do governo.

5.3. O papel do governo

Em muitos países ― as exceções são os Estados Unidos e o Canadá ― os


governos são, ao mesmo tempo, (i) autoridades que criam e administram
tributos e (ii) detentores dos direitos sobre os recursos minerais, cuja
propriedade é compartilhada por todos os habitantes do país.

Como autoridade fiscal, os governos tributam as atividades econômicas,


dentre as quais as atividades petrolíferas, cientes (ou não) de que alguns
mecanismos usados não estão especificamente direcionados à renda
econômica.

Como donos da terra, os governos buscam maximizar a coleta da renda


econômica do petróleo, usando essa receita para fazer face aos gastos e
investimentos públicos. A maneira como o governo faz isso pode ser
ilustrada usando a teoria do Agente-Principal que trata dos conflitos de
interesse entre os agentes (companhias) e o principal (governo).
5-47 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Teoria do Agente-Principal

Se o leitor (o principal) contrata um jardineiro (seu agente) para aparar a


grama de seu jardim enquanto faz uma viagem, tudo o que pode constatar,
por ocasião de seu retorno, é como estará o aspecto da grama. O jardineiro
tanto pode ter aparado a grama toda semana, conforme combinado, como
pode ter esperado até dois dias antes do retorno do principal para fazê-lo
uma única vez. Caso tivesse pedido a um vizinho que monitorasse o
comportamento do jardineiro, o principal saberia o que o agente na
realidade fez.

A divisão ótima do trabalho implica na participação de companhias privadas


na extração do petróleo. O governo age como um principal em nome dos
residentes e, (i) através de um sistema de licenciamento, concede às
companhias particulares (agentes) o direito de extração, em troca do qual
elas pagam tributos ao governo, ou (ii) contrata as companhias (agentes)
para realizar os serviços de explotação do petróleo, pagando-lhes pelos
serviços com parte da produção ou em dinheiro.

Um sistema ideal de licenciamento e tributação deveria, em tese, capturar a


renda econômica do petróleo, atrair as companhias mais eficientes e induzi-
las a desenvolver todos os campos rentáveis da melhor forma.

Na prática, como se verá em seguida, nem sempre as ferramentas fiscais


empregadas contribuem para a consecução de tais objetivos. Vez por outra
elas produzem distorções econômicas.
5-48 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

5.4. Arsenal fiscal

Os governos utilizam diferentes formas de captura da renda econômica:

1. Bônus de assinatura (exemplos: Angola, Brasil e Estados Unidos);


2. Royalties e impostos sobre a produção (exemplos: Angola, Brasil e
Estados Unidos)1;
3. Impostos especiais baseados nos lucros (exemplos: Austrália, Brasil e
Noruega);
4. Esquemas de partilha da produção (exemplo: Angola)2;
5. Imposto sobre a renda das corporações (exemplos: Angola, Austrália,
Brasil, Estados Unidos, Noruega e Reino Unido);
6. Participação do governo (exemplos: Angola e Noruega).

Quando esses instrumentos são agrupados em um pacote fiscal para ser


aplicado numa dada jurisdição, formam um sistema ou regime fiscal.

Figura 5-3 - Conceitos básicos

1
Na Austrália, os projetos de gás da plataforma noroeste estão sujeitos a royalties federais e os
projetos no continente a royalties estaduais.
2
As áreas de desenvolvimento conjunto entre a Austrália e o Timor Leste utilizam o regime de
partilha da produção.
6-49 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

6 - SISTEMAS DE LICITAÇÃO

6.1 Formas de licitação

São várias as formas assumidas pelos sistemas de licitação, sendo o


pagamento de uma importância em dinheiro ― o bônus de assinatura ― a
mais comum.

Outras formas possíveis incluem as licitações de royalty, da partilha do


lucro líquido e dos programas de trabalho.

6.2 Bônus de assinatura

Os defensores do sistema competitivo de licitação por bônus justificam sua


preferência pelo fato de ele não produzir distorções. Desde que haja um
elevado grau de competição pelos direitos de exploração do petróleo, os
valores dos bônus ofertados devem refletir a renda econômica esperada.
Afinal, ninguém melhor do que o mercado para dizer quanto vale a renda
econômica.

É fato que os investidores interessados irão modelar os fluxos de caixa


para o prospecto em oferta, descontarão os custos e as receitas previstos
para o projeto usando suas próprias taxas de desconto, farão suas
estimativas de probabilidade de sucesso na fase de exploração e, por
último, estimarão o Valor Monetário Esperado (VME). As ofertas, então,
irão refletir as percepções dos investidores acerca dos prospectos usando
suas próprias taxas de desconto e não as percepções de terceiros, como os
governos. Os pagamentos realizados por ocasião das licitações são
totalmente voluntários, pelo que nenhum desincentivo ocorre.

Do ponto de vista dos governos, o valor presente da renda econômica


esperada é recebido antes do início dos trabalhos exploratórios e os custos
administrativos para operar tal sistema são bem menores do que aqueles
incorridos com um sistema discricionário de licenciamento.

6.2.1 Risco de conluio

Apesar de tais atrativos, há problemas associados à aplicação indiscriminada


do sistema de licitação por bônus. Há de haver um alto grau de competição
entre os proponentes, caso contrário o conluio entre investidores pode
6-50 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

atrapalhar a operação eficaz do sistema. Os riscos de conluio são menores


quanto maior for o número de proponentes, porém em algumas jurisdições o
número de investidores interessados em áreas exploratórias pode ser muito
pequeno.

6.2.2 O dinheiro deixado sobre a mesa


As licitações usando o bônus de assinatura são feitas com base na
percepção ex ante da renda econômica. Na prática, isso significa que quanto
melhor conhecida a prospectividade geológica e menores as incertezas
acerca dos preços do petróleo e dos custos de explotação, maior será a
probabilidade de as licitações refletirem as rendas econômicas que serão
obtidas do petróleo.

Na década de 1950, com o desenvolvimento tecnológico permitindo a


perfuração de poços no mar, as companhias de petróleo da América do
Norte voltaram seus olhos para o Golfo do México. Foi dada a largada e as
companhias começaram a participar das licitações pelos direitos de
exploração e lavra. Quem oferecesse o maior bônus de assinatura para uma
dada área obtinha os direitos exploratórios.

Um interessante aspecto do processo licitatório é a medida da dispersão


das diferentes ofertas para uma mesma área. Tal dispersão é refletida no
'dinheiro deixado sobre a mesa' 1 , isto é, na diferença em percentagem
entre a maior oferta e a segunda maior oferta para uma dada área
exploratória.

A Tabela 6-1 mostra como se comportaram tais diferenças nas licitações no


Golfo do México no período 1998 a 2002.

Tabela 6-1 - Licitações nos EUA – Golfo do México: 1998 - 2002

Número de propostas por área 1 2 2-4 5-9 10-18 Média


B1, US$ milhões em $ de 1982 0,27 0,58 1,28 3,74 9,02
'Money left on the table': (B1-B2)/B1 - 48% 49% 40% 33% 43%

Na Tabela 6-1, B1 é a maior oferta para a área e B2 é a segunda maior


oferta para a mesma área.

1
Money left on the table.
6-51 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Em média, nesse período 1998-2002, a segunda maior oferta foi 57% da


maior oferta, uma vez que 43% da oferta vencedora foram deixados sobre a
mesa.

Mesmo em áreas que receberam dez ou mais


propostas, 33% da proposta vencedora foram
deixados sobre a mesa.

Quanto maior o dinheiro deixado sobre a mesa,


mais embaraçados ficavam os executivos para
explicar tal fato para os acionistas.
Figura 6-1

Além deste, havia outro problema associado ao processo de licitação,


decorrente da assimetria e das incertezas na informação disponível para as
companhias: ‘a maldição do vencedor’.2

6.2.3 A maldição do vencedor

Suponhamos que três companhias de petróleo, A, B e C, estivessem


interessadas numa mesma área marítima.

Naquela época (anos 1950), os métodos disponíveis para se determinar os


volumes das acumulações em águas razoavelmente rasas eram primitivos.
Isso levava a uma grande variação do VPL estimado e, consequentemente,
dos bônus ofertados nas licitações.

Suponhamos que a reserva real existente na área em questão valesse $10


milhões.

A Companhia A poderia determinar certo potencial de reservas que, após a


dedução de todos os custos e tributos, resultasse em um VPL descontado à
taxa por ela utilizada de $10 milhões.

Já a Companhia B poderia determinar reservas bem menores, cujo VPL


correspondente fosse de apenas $5 milhões.

2
‘Winner's curse’.
6-52 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

A Companhia C, por sua vez, poderia valorar a acumulação em $20 milhões


por ter estimado volumes bem maiores para as acumulações de
hidrocarbonetos.

Chega a hora da licitação e cada companhia faz sua oferta. Ofertando $10
milhões de bônus, a Companhia A cai fora da competição. A Companhia B não
tem chance com seus $5 milhões. A Companhia C comemora por ter pagado
$13 milhões por uma área que acredita valer $20 milhões.

Mas, como as acumulações no subsolo valem


$10 milhões, a Companhia C está no
vermelho em $3 milhões. Ela padece da
maldição do vencedor. Num leilão, o prêmio
vai para quem tem a visão mais otimista do
valor do objeto que está sendo leiloado. Em
muitos casos, isso também significa que o
Figura 6-2 vencedor é a pessoa que mais superestima.

6.3 Licitações sem pagamento de bônus

Na Austrália, na Noruega e no Reino Unido, a competição por áreas


exploratórias é baseada num programa de trabalho e não no pagamento de
bônus.

Com base nas propostas recebidas, os governos concedem as licenças de


forma discricionária, considerando, além do programa de trabalho proposto,
a expertise de cada companhia ou grupo de companhias, seu conhecimento
da geologia, sua capacidade financeira e experiência.

Na Noruega, por exemplo, existem os


chamados 'casamentos forçados'.

Lá, se várias companhias apresentarem


propostas individualmente para uma
determinada área, elas podem receber
participações na mesma licença
relativa àquela área, porém agrupadas
num consórcio com uma delas indicada Figura 6-3
para operadora.
6-53 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Na competição com base em programas de trabalho, se uma determinada


área podia ser adequadamente testada com, digamos, dois poços, um
proponente poderia se sentir compelido a ofertar um terceiro poço para
ganhar a licitação.

Além disso, os resultados de um esforço inicial de exploração podem ser tão


desapontadores que não se justifica prosseguir com as atividades de sísmica
ou de perfuração, mas as obrigações já assumidas podem exigir gastos
adicionais. Ademais, alguns governos podem entender que a exploração de
uma província geológica é tão importante que os custos extraordinários
valem a pena.

Conforme se percebe, as licitações baseadas em programas de trabalho


podem conduzir a distorções, em particular a exploração pode não estar
sendo otimizada.

A parcela do programa de trabalho excedente ao programa considerado


adequado para testar o potencial da área tem as mesmas características e
pode produzir os mesmos efeitos encontrados nas licitações com base em
bônus de assinatura ('dinheiro deixado sobre a mesa' e 'maldição do
vencedor').

6.4 Conclusões
Não se deve esperar que um sistema licitatório por bônus possa extrair a
renda econômica de forma precisa. Em muitas circunstâncias, a renda
econômica ex post divergirá da renda estimada antes dos trabalhos
exploratórios e de avaliação. Tais diferenças podem decorrer de resultados
inesperados dos trabalhos de exploração, sem falar da imprevisibilidade da
movimentação dos preços de petróleo.

Há casos em que áreas exploratórias são ofertadas onde o conhecimento


geológico disponível aos investidores é extremamente limitado. Nessas
circunstâncias, dada a dificuldade da percepção ex ante da renda
econômica, os investidores muito provavelmente irão inserir um prêmio de
risco nas propostas que apresentarão ― quanto maior a incerteza, maior
será a taxa de retorno exigida pelo investidor.
6-54 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Figura 6-4 - Incertezas na estimativa de reservas

Com relação ao sistema discricionário de licenciamento por programas de


trabalho, de um modo geral, não se pode dizer que ele conduza a um volume
ótimo de esforço exploratório.

Nesse particular, os sistemas licitatórios por bônus são mais neutros, muito
embora possam ocorrer casos da proposta vencedora ter o menor custo
exploratório, mas seu sucesso decorrer não da eficiência, mas do fato do
vencedor ter sido mais otimista com relação à probabilidade de encontrar
reservas ou ao cenário vislumbrado para os preços do petróleo.
7-55 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Capítulo 7
RYT

7.1 Conceito
A forma mais tradicional de tributação do petróleo é o royalty. Ele constitui
a recompensa do senhor da terra por permitir a explotação de um recurso
sobre o qual exerce a propriedade.

7.2 Tipos de royalties


O royalty pode ser cobrado como um imposto por unidade de produção, que
é um valor uniforme e fixo por nível específico de produção (R$/barril), ou
como um imposto 'ad-valorem', que é um percentual incidente sobre o valor
da produção. Esta última forma tem sido a mais usada.

Em alguns regimes, certos custos são dedutíveis no cálculo do royalty e


noutros as alíquotas podem variar com a produção, com a profundidade do
mar onde ocorre a lavra e de outras formas que tentam reproduzir a
rentabilidade. Algumas jurisdições utilizam uma escala progressiva para o
royalty, aplicando diferentes alíquotas dependendo do nível de produção ou
dos preços do petróleo. Tais formas de aplicar o royalty buscam reduzir as
distorções causadas pela sua imposição, que serão comentadas a seguir.

7.3 Vantagens para os governos


O royalty é uma forma muito simples e direta de tributação, uma vez que
incide sobre a quantidade ou o valor da produção. Os custos de controle e
administração dos royalties são menores do que aqueles de outros
instrumentos fiscais ― para os impostos com base no lucro, por exemplo, o
nível de informação requerido é bem maior e a estimativa de arrecadação é
muito mais difícil.

O royalty garante que algum valor do recurso fluirá para os cofres do


governo concomitantemente à sua extração. Receitas antecipadas são um
atrativo para todos os governos e a possibilidade de sua continuidade ao
longo da vida do campo exerce lá o seu fascínio sobre os governantes. O
royalty assegura uma parcela da receita para o governo assim que a
produção começa. Constitui, portanto, um contraponto aos impostos com
7-56 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

base no lucro, onde o governo só obtém sua primeira parcela de receita


quando a base tributável se torna positiva. Com o royalty, o governo corre
menos risco porque os custos de exploração e produção não afetam a sua
base de cálculo.

7.4 Desvantagens dos royalties


Instrumentos fiscais convencionais como o royalty podem produzir vários
tipos de distorções.

Como o royalty é cobrado sobre a receita bruta (ou sobre a quantidade


produzida), ele passa ao largo dos custos e dos lucros associados ao projeto.
Em assim sendo, o royalty nada tem a ver com a renda econômica, podendo
mesmo ocorrer situações extremas, num cenário de baixos preços, por
exemplo, em que o royalty açambarque todo o valor do projeto, deixando o
investidor operando no prejuízo. O royalty é o exemplo clássico de
tributação não-neutra, que pode afetar o comportamento do investidor.

7.4.1 Inviabilização de campos marginais


A incidência do royalty independe do tamanho do campo e equivale a um
aumento no custo de extração do recurso, que, por sua vez, afeta a decisão
de recuperação da reserva por parte do investidor. Esse aumento de
encargos pode tornar o lucro operacional negativo mesmo que as receitas
brutas superem os custos de extração. Numa situação típica, onde o
investidor não tem controle sobre o preço de mercado de seu produto, os
royalties podem tornar campos marginais em sub-marginais e podem também
levar os campos a serem abandonados prematuramente. Como os royalties
não guardam qualquer relação com os lucros, o perigo de tais distorções
está presente.

7.4.2 Abandono prematuro


Os investidores geralmente interrompem a produção de um campo quando o
lucro líquido se torna negativo ― a existência de uma tributação baseada na
produção pode antecipar a data dessa decisão. Quando a produção diminui,
os custos operacionais acabam por exceder as receitas; o campo é
abandonado quando o custo marginal excede a receita marginal. A
tributação com base na produção forma uma cunha entre a receita bruta e
os custos de operação. A exigibilidade de um pagamento adicional baseado
nas receitas implica que o custo marginal excede o preço de venda num nível
7-57 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

maior de produção. O campo será abandonado mais cedo do que o desejado e


volumes consideráveis de petróleo, cuja produção é de interesse nacional,
permanecerão no subsolo.

Figura 7-1 - Royalties e o abandono prematuro

7.4.3 Regressividade
A característica regressiva do royalty pode fazer com que projetos tidos
como lucrativos antes de sua aplicação não mais o sejam após sua incidência.
Tal característica faz com que o royalty seja potencialmente danoso aos
campos de menor porte.

Figura 7-2 – Os royalties arrecadam mais dos campos menos lucrativos


7-58 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

7.5 Alguns exemplos

7.5.1 Reino Unido


Até o royalty ser abolido, a partir de 01/01/2003, a alíquota era 12,5% e o
royalty era cobrado em períodos de meio ano (1° de janeiro a 30 de junho e
1° de julho a 31 de dezembro). O royalty do Reino Unido era cobrado por
área licenciada e não por campo, como acontece no Brasil. Em muitos casos
não há diferença entre um campo e uma licença, mas, em alguns casos, uma
licença cobre mais de um campo ou um campo se estende por uma área
coberta por mais de uma licença. A administração do royalty cabia ao
Departamento de Indústria e Comércio (DTI1).

Em comparação com o royalty brasileiro de 10%, à primeira vista o royalty


do Reino Unido (12,5%) aparenta ser 25% maior. Na realidade, essa
diferença é bem menor. A alíquota de 12,5% incidia sobre a receita bruta,
com deduções para os custos de transferência e de tratamento dos
hidrocarbonetos. Esses custos incluíam o custo para levar o petróleo da
cabeça do poço até o ponto de venda, compreendendo:

• 70% dos custos de capital da plataforma depreciados com base no


método da linha reta em oito anos ou durante a vida do campo, o que
fosse menor;

• aproximadamente 60% do total dos custos operacionais da


plataforma; e

• 100% dos custos de transporte.

Durante a sua vigência, o royalty era um custo dedutível tanto do imposto


especial sobre o petróleo, Petroleum Revenue Tax (PRT), quando aplicável,
quanto do imposto de renda.

7.5.2 Estados Unidos


O royalty é o principal mecanismo utilizado pelo governo dos Estados Unidos
para extrair a renda econômica.

Na região do Golfo do México há uma legislação específica segundo a qual as


alíquotas do royalty variam de acordo com a profundidade da água. A
alíquota do royalty, tanto para águas rasas quanto para águas profundas, no

1
Department of Trade and Industry (DTI).
7-59 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Golfo do México está fixada em 18,75% desde março de 2008. Três em


cada dezesseis barris produzidos são do governo.

Figura 7-3 – Alíquota dos royalties no Golfo do México

Os Estados Unidos aplicam também um instrumento fiscal conhecido pela


sigla DWRR2 (alívio do royalty para águas profundas), através do qual os
pagamentos iniciais do royalty de um campo ficam suspensos até ser
atingida a produção acumulada de determinado volume (RSV)3 .

O volume isento de royalty, em milhões de barris de óleo equivalente


(MMBoe), depende da profundidade média da água onde se localiza o campo,
conforme mostra a Tabela 7-1.

Tabela 7-1 - Volumes com suspensão de royalty - Golfo do México


(MMBoe)

Abr/1996- Mar/2001- Mar/2002- Ago/2005


Profundidade
Mar/2001 Mar/2002 Ago/2005 em diante
200 – 400 m 17,5 - - -
400 – 800 m 52,5 - 5
800 – 1600 m 9
1600 – 2000 m 87,5 12
12
> 2000 m 16

2
Deep Water Royalty Relief.
3
Royalty Suspension Volume.
7-60 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

A concessão do programa de alívio no pagamento do royalty ('royalty


relief') é um ato discricionário da parte do governo, podendo ser suspensa
nos períodos em que o preço do petróleo cotado na Bolsa de Nova York 4
exceda determinados limites.

7.5.3 Noruega
Na Noruega, até 1972 o royalty foi aplicado à alíquota fixa de 10%. Após
1972, passou-se a utilizar uma escala progressiva, na faixa de 8% a 16%,
dependendo da produção. A partir de 1° de janeiro de 1986, o royalty foi
abolido para todos os novos campos licenciados.

7.5.4 Angola
Dois diferentes regimes fiscais se aplicam à produção angolana. O contrato
de partilha da produção vem sendo aplicado à produção na plataforma
continental, ao passo que um regime de concessão tem sido aplicado à
produção na Província de Cabinda.

O regime de concessão angolano aplicável na Província de Cabinda


compreende três diferentes impostos: o Imposto sobre o Rendimento de
Petróleo (IRP), o Imposto de Transacção de Petróleo (ITP) e o Imposto
sobre a Produção de Petróleo (IPP), sendo que este último tem todas as
características de um royalty.

O Imposto sobre a Produção do Petróleo (IPP) incide à alíquota de 20%


sobre a receita bruta da produção. A alíquota anterior relativa aos
primeiros contratos era de 16,67%. Essa alíquota pode ser reduzida até
10%, a critério do governo, em casos de acumulações marginais, áreas
marítimas com mais de 750 metros de profundidade e áreas terrestres de
difícil acesso. O pagamento pode ser feito em dinheiro ou em petróleo, de
acordo com a opção do governo.

4
NYMEX price.
7-61 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

7.5.5 Austrália
Na Austrália são cobrados royalties pelos estados na lavra terrestre e em
águas costeiras, enquanto que o royalty federal se aplica à lavra marítima
correspondente ao projeto da Plataforma Noroeste.

As alíquotas variam de 10% a 12,5% e se aplicam sobre o valor do petróleo


produzido na cabeça do poço. Além do royalty e paralelamente a ele, incide
também um imposto sobre o petróleo ― crude oil excise ―, cuja alíquota
depende do volume de produção anual, da data da descoberta do campo e da
data de início da produção. Tal imposto tem características muito próximas
das de um royalty.

Nas áreas marítimas que não as águas costeiras e o projeto da Plataforma


Noroeste, não há incidência nem de royalty nem do imposto sobre o petróleo
(crude oil excise). Nessas áreas, o instrumento usado para tributar o
petróleo é o imposto sobre a renda econômica do petróleo (Petroleum
Resource Rent Tax – PRRT), que será discutido mais adiante.

7.6 Conclusão
O royalty é um contraponto aos impostos com fulcro nos lucros em vários
sentidos, sendo um deles no que diz respeito à antecipação de receitas.

Os royalties de alíquota fixa devem ser usados com moderação. Eles são
instrumentos fiscais primitivos e insensíveis às mudanças que ocorrem na
renda econômica decorrentes dos movimentos de preços ou das variações de
custos, pelo que não são eficientes para coletar a renda econômica.

As razões alinhavadas no item 7.4 explicam porque, em algumas jurisdições,


como no Reino Unido e na Noruega, o royalty foi abolido.

Por outro lado, nos Estados Unidos o royalty constitui a principal


ferramenta fiscal e sua alíquota foi recentemente majorada no Golfo do
México (18 ¾%). Mas é preciso ter presente que eles também reconhecem
os efeitos colaterais do royalty, tanto é que utilizam um antídoto para
mitigá-los ― o programa de alívio ‘DWRR’.
8-62 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Capítulo 8 - IMPOSTO DE RENDA


8.1 Impacto no projeto

O imposto de renda é a forma universal de tributação da renda dos


indivíduos e das corporações. Ele se aplica indistintamente a todas as
companhias independentemente do tipo de atividade econômica.

Os efeitos do imposto de renda convencional sobre um projeto de petróleo


dependem de vários fatores:

1) Alíquota (nominal) do imposto;


2) Prazo e método de depreciação dos itens ativados (capitalizados);
3) Data de início da depreciação;
4) Possibilidade de consolidação das receitas e dos custos das
diferentes atividades econômicas da companhia;
5) Compensação dos prejuízos fiscais;
6) Deduções que são permitidas.

Vejamos cada um deles.

8.2 Alíquota

A alíquota nominal do imposto é importante, mas não é tudo. No Brasil, a


alíquota combinada do imposto de renda com a da contribuição social sobre
o lucro líquido1 é 34%. Nos Estados Unidos, a alíquota do imposto de renda
federal é 35%; na Noruega, 28%; no Reino Unido, 50% (incluindo o imposto
complementar); na Austrália, 30%; e em Angola, é 65,75% para os contratos
de concessão e 50% para os contratos de partilha da produção.

8.3 Depreciação

O conceito da depreciação está ligado ao reconhecimento da 'perda de valor


de um ativo' decorrente do desgaste pelo uso. Conforme as circunstâncias,

1
A contribuição social sobre o lucro líquido incide sobre a mesma base de cálculo do imposto de
renda.
8-63 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

essa 'perda de valor do ativo' recebe também o nome de amortização2 ou de


exaustão3.

A indústria do petróleo usa agrupar os custos sujeitos à amortização


(serviços), depreciação (materiais) e exaustão (custos incorridos na
descoberta da reserva) e submetê-los a um único método para fins de
reconhecer os respectivos efeitos de perda de valor. O acrônimo utilizado
para denominar esse agrupamento e respectivo tratamento de
4
desvalorização é DE&A , ou seja, depreciação, exaustão e amortização.

Figura 8-1 - Depreciação

Neste livro utilizaremos a expressão 'depreciação' para designar


indistintamente a amortização, a exaustão ou ela própria, a depreciação.
Não está tecnicamente correto; trata-se de uma licença poética.

De acordo com a teoria básica da contabilidade, gastos necessários à


operação de longo prazo da companhia devem ser tratados como ativos e
registrados do lado esquerdo do balanço patrimonial. Diz-se então que eles
foram ativados ou capitalizados.

Por outro lado, gastos cujo efeito ocorre no curto prazo são deduzidos das
receitas geradas no mesmo período em que são incorridos. Eles são
lançados, juntamente com as receitas, em contas de resultado do período
contábil. O resultado líquido (lucro ou prejuízo) de cada período é então
2
A amortização se refere à perda de valor de ativos intangíveis, em contraponto à depreciação, que
se aplica aos ativos tangíveis.
3
A exaustão indica a redução de valor de uma reserva à medida que os recursos naturais são
produzidos e vendidos.
4
Em inglês o acrônimo utilizado é DD&A = Depreciation, depletion and amortization
8-64 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

transferido para o patrimônio líquido, que fica do lado direito no balanço


patrimonial.

Assim, os gastos de capital (capex) são ativados e depreciados ao longo dos


anos e os gastos operacionais (opex) são levados a resultado (deduzidos da
receita) no mesmo ano em que são incorridos5.

A fórmula básica simplificada de cálculo do imposto de renda é a seguinte:

Imposto = Alíquota x (Receita – Depreciação do Capex – Opex)

Pelo exame da fórmula acima, percebemos que, dado um item de custo, caso
seja possível acelerar (aumentar) a sua depreciação, estar-se-á reduzindo a
base de cálculo e, consequentemente, o valor do imposto.

O tempo de recuperação dos custos do investimento (capex) afeta a carga


efetiva do imposto porque o valor presente da exigibilidade é reduzido pela
despesa de depreciação. O valor presente dessa economia de imposto é
tanto maior quanto mais rápida for a velocidade permitida para a
depreciação. Tanto o período total de tempo com que os custos do
investimento são depreciados quanto o método de depreciação utilizado são
relevantes na determinação do valor da economia de imposto para o
investidor (Tabela 8-1).

Assim, a carga efetiva do imposto de renda depende da alíquota nominal do


imposto e da velocidade com que ocorre a depreciação. Uma depreciação
acelerada ajuda todos os investidores, particularmente aqueles que
adquiriram ativos de longa vida, como são os ativos dos projetos de
petróleo. Para tais ativos o valor presente da economia de imposto é
significativamente maior do que para os ativos de curta duração.

8.4 Início da depreciação

Nos sistemas convencionais de imposto de renda, a data de início das


deduções dos gastos do investimento desempenha um papel significativo na
determinação de seu impacto. Em alguns países, como a Austrália, o Reino
Unido e a Noruega, a dedução começa tão logo o gasto é incorrido, enquanto
em outros, como é o caso do Brasil, é preciso esperar até que o ativo seja
posto em serviço, o que de fato significa a primeira produção do campo ao

5
Em Inglês usa-se a expressão 'capitalize' para indicar a 'ativação' de um gasto e a expressão
'expensed' para descrever o tratamento dado aos gastos operacionais.
8-65 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

qual o gasto se refere. Claro é que o valor presente da carga tributária é


maior neste último esquema. Tal impacto tributário assume relevância nos
projetos em águas profundas e ultra-profundas, onde a diferença temporal
entre o gasto do investimento e a produção é, em geral, muito grande.

8.5 Consolidação versus ‘ring fence’

Em muitos países, como o Brasil, o imposto de renda incide sobre todas as


atividades da empresa indistintamente. O imposto de renda é cobrado sobre
o lucro total da companhia, que consolida todos os seus negócios. Vejamos
como isso funciona através de um exemplo.

A Figura 8-2 representa os resultados líquidos de cada um dos cinco


negócios de uma companhia hipotética operando no Brasil. Os dois blocos de
exploração, por sua natureza, apresentam prejuízos e os outros três
negócios (dois campos produtores de petróleo e uma refinaria) apresentam
lucros. A tributação da companhia pelo imposto de renda incide sobre a
soma algébrica dos resultados (lucros - prejuízos).

Companhia

Bloco de
Bloco de
exploração A Campo de
exploração B Campo de Refinaria E
($100) petróleo C
($200) petróleo D +300
+250
+350

Figura 8-2 – Consolidação

Base de cálculo do imposto de renda = - 100 – 200 + 250 + 350 + 300 = +600

Imposto de renda = 34% x +600 = +204


8-66 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Em sendo possível tal consolidação, e principalmente quando a legislação


permite que as deduções sejam utilizadas tão logo os gastos forem
incorridos, o investidor obtém um substancial incentivo.

O contraponto à consolidação de receitas e despesas chama-se ‘ring


fencing’. O ‘ring fencing’ é um termo usado para descrever situações em que
os governos não permitem que as companhias ‘consolidem’ suas operações de
uma área de contrato com as operações de outra área de contrato ou de
uma atividade econômica com outra atividade econômica. Significa que cada
área de contrato de petróleo é tratada como um centro de custo em
separado para fins de recuperação de custo e de cálculo de imposto. Isso
impede deduções dos custos de atividades exploratórias incorridos fora da
área inicial da descoberta.

O conceito do 'ring fence' se aplica às atividades extrativas do petróleo de


uma companhia no Reino Unido. Tais atividades de E&P são tratadas como
um negócio em separado das demais atividades da companhia.

Uma companhia petrolífera operando no Reino Unido se sujeita ao mesmo


imposto de renda aplicado a todo tipo de empresa, porém ela estará sujeita
às regras do ‘ring fence’. O 'ring fence' das atividades de E&P funciona
somente numa direção. Os custos incorridos dentro do 'ring fence' podem
ser deduzidos das receitas auferidas fora do 'ring fence', mas não o
contrário. Assim, o aspecto fundamental é que os prejuízos fora do 'ring
fence' não podem ser compensados com os lucros obtidos dentro do 'ring
fence'.
8-67 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Figura 8-3 - 'Ring fence'

Em algumas jurisdições a regra do ‘ring-fence’ é bem mais rígida. Nelas, as


apurações do imposto de renda são feitas campo a campo ou com base na
área do contrato. Tais situações são comuns em jurisdições que utilizam os
contratos de partilha da produção. A Indonésia é um desses casos ― lá se
exige a constituição de uma companhia específica para cada área de
contrato e não se permite transferência de custos entre diferentes áreas
de contrato. Isso aumenta o custo líquido do empreendimento de uma nova
exploração ou de um novo desenvolvimento.

O ‘ring fencing’ protege o governo ao limitar os custos que podem ser


recuperados ou deduzidos das receitas geradas pela descoberta, mas é um
desincentivo para as atividades exploratórias.

Isso porque a facilidade para se compensar os custos de uma nova


exploração e de um novo desenvolvimento com outras receitas existentes,
com a consequente postergação do pagamento de impostos, reduz o custo
efetivo do desenvolvimento de novos campos.

A legislação relativa à recuperação de custos reflete a disposição do


governo em compartilhar os riscos do investimento. Quando os gastos
relativos à exploração e ao desenvolvimento podem ser deduzidos de outras
8-68 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

receitas tão logo sejam incorridos, o governo está compartilhando


consideravelmente os riscos dos investimentos. Se o novo gasto não gera
lucro tributável, o governo perde receita em termos absolutos; se o novo
gasto for bem sucedido, o governo arcará com uma postergação de receita.

8.6 Compensação de prejuízos fiscais

Os primeiros anos de um projeto de petróleo são caracterizados por


elevados investimentos e nenhuma receita. São anos de prejuízo fiscal. Tais
prejuízos vão se acumulando para serem compensados com as receitas
geradas a partir do início da produção do campo. Em algumas jurisdições,
como o Brasil, não há limite de tempo para a compensação desses prejuízos.
Mas o Brasil impõe um limite de valor: em cada período contábil, a
compensação de prejuízos fiscais não pode exceder a 30% da base
tributável.

No Reino Unido, as companhias que ainda não têm base tributável para dela
deduzir seus custos exploratórios, de avaliação e de desenvolvimento podem
transferir tais prejuízos, de um período contábil a outro, acrescidos de uma
taxa de juros de 6% (seis por cento) ao ano, por um período máximo de seis
anos. Essa medida está em vigor desde 1° de janeiro de 2006.

Já na Noruega, a companhia que registrar prejuízo num dado período de


apuração pode transferir tal prejuízo acrescido de juros para os períodos
seguintes, até que seja possível a compensação com resultados positivos
futuros. A taxa de juros é fixada ano a ano pelo Ministério da Fazenda.

8.7 Recuperação dos custos de abandono

De uma maneira geral, os custos de abandono são dedutíveis somente no ano


em que são incorridos. Um aspecto interessante na legislação do Reino Unido
é a recuperação dos custos de abandono. Quando a produção termina, e caso
a companhia não esteja numa posição pagadora de imposto, os prejuízos
fiscais decorrentes dos custos de abandono são recuperados retroagindo
tais prejuízos para compensação com lucros de exercícios anteriores até
que todas as perdas sejam zeradas.
8-69 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Tabela 8-1 - Métodos de depreciação de alguns custos de capital para fins de imposto de renda

Países
Tipo de custo
Brasil Estados Unidos Reino Unido Austrália Noruega
Bônus de assinatura Amortizar pelo método N/A N/A N/A
das unidades produzidas
Geologia e geofísica Amortizar ao longo da vida
do campo pelo método da
Poços exploratórios Amortizar 100% Amortizar 100%
linha reta ou das unidades Amortizar 100% no 1°ano
secos no 1° ano no 1° ano
produzidas
Poços exploratórios Amortizar 20% do custo
bem sucedidos em 7 anos (MACRS); 24%
Amortizar /
Poços de Amortizar pelo método em 5 anos (linha reta); e
depreciar
desenvolvimento das unidades produzidas7 56% no 1° ano6 Amortizar /
100% no 1°ano Amortizar /
Depreciar em 10 anos depreciar em 15
Instalações de Depreciar em 7 anos pelo depreciar em 6
(fixas) ou 20 anos anos pelo
produção método MACRS anos pelo método
(flutuantes) pelo método método da linha
(plataformas) (Sistema Modificado de da linha reta
da linha reta reta (6,67% ao
Recuperação Acelerada (16,67% ao ano)
Instalações Depreciar em 10 anos pelo ano)
de Custos)
submarinas método da linha reta

6
Alternativamente o método das unidades produzidas pode também ser usado.
7
Alternativamente pode-se usar o método da linha reta ao longo da vida do campo.
9-70 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Capítulo 9 - TRIBUTAÇÃO COM BASE NOS LUCROS

9.1 Impostos especiais relacionados com os lucros

Por causa das imperfeições dos instrumentos fiscais tradicionais, como o


royalty, os impostos sobre a produção e o imposto de renda, alguns governos
criaram impostos especiais relacionados com o lucro, que não são impostos
de renda no sentido convencional.

Em geral, esses impostos incidem campo a campo ou projeto a projeto e


alguns deles incluem uma dedução extraordinária (‘uplift’) para os gastos de
capital.

O objetivo desse tipo de imposto é conseguir um mecanismo sem distorções


através do qual uma elevada parcela da renda econômica possa ser coletada,
mantendo os incentivos ao investimento.

Dentre eles, os dois instrumentos que encontraram a melhor acolhida entre


os economistas foram o imposto denominado "Brown Tax" e o imposto sobre
a renda econômica do recurso natural (the resource rent tax).

9.2 A ideia de Mr. Brown


Foi com base nos estudos de David Ricardo que Cary Brown (1948) idealizou
um imposto muito interessante, que levou o seu nome ('Brown Tax' ou BT)1.
O 'Brown Tax' se baseia no fluxo de caixa líquido da companhia. Ele incidiria
numa proporção fixa sobre o fluxo de caixa líquido de um projeto em cada
período de apuração. Quando o fluxo de caixa líquido fosse positivo, as
empresas teriam que pagar o imposto; mas, quando o fluxo de caixa líquido
fosse negativo, as empresas receberiam um reembolso.

Em outros termos, o BT implica no pagamento, por parte do governo, de um


subsídio ou de um crédito proporcional ao déficit de caixa anual da empresa
e, por parte da empresa, de um imposto equivalente sobre os lucros de caixa
anuais. Por exemplo, se a alíquota do BT fosse 50%, o governo supriria
metade das saídas líquidas de caixa do projeto e obteria metade de todas
as entradas líquidas de caixa. Nesse caso, o governo se tornaria sócio do
projeto. Consequentemente, o BT é um imposto sobre o fluxo de caixa

1
E. Cary Brown, professor de economia do Massachusetts Institute of Technology, publicou em 1948
um documento sobre um imposto sobre o fluxo de caixa.
9-71 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

líquido ― com total aporte de recursos por parte do governo quando o fluxo
de caixa líquido for negativo.

Transpondo a idéia para o mundo do petróleo, todos os custos de


exploração, desenvolvimento e operacionais seriam 100% recuperáveis no
primeiro ano. Não haveria regras de ‘ring-fence’ e, portanto, todos os gastos
em novas atividades poderiam ser imediatamente deduzidos das receitas
existentes. O governo subsidiaria as atividades de exploração e de
desenvolvimento (decorrentes de fluxos de caixa negativos) à mesma
alíquota (fixa) que seria subsequentemente aplicada aos fluxos de caixa
positivos da explotação do petróleo. Quando o investidor não dispusesse de
renda para dela deduzir os gastos incorridos, o governo pagaria
efetivamente uma parcela dos custos correspondente à alíquota do imposto.

Figura 9-1 - Imposto sobre o fluxo de caixa

Esse imposto, conceitualmente muito simples, é neutro no sentido de que um


projeto de investimento que for rentável antes da tributação também será
rentável após a tributação. Nenhum imposto é pago se não houver
descoberta comercial ou se a explotação não for rentável, porém o aporte
da parte dos custos que cabe ao governo pode se mostrar difícil. Como o
esquema compartilha os riscos do projeto com o governo em larga escala, o
imposto não pareceu ser uma boa ideia para muitos ministros de fazenda.

Mas nem por isso a idéia do senhor Brown passou despercebida e deixou de
ser utilizada. Um regime fiscal que se aproxima bastante da tributação do
fluxo de caixa é o regime norueguês.

Em geral, esse imposto tem muitas atrações, não somente pela sua
neutralidade, mas também dada a comparativa facilidade de se obter um
mecanismo sem distorções e automaticamente adaptável às mudanças
9-72 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

circunstanciais no ambiente operacional. O esquema tributa apenas a renda


econômica e não é exigido pelos legisladores nenhum procedimento
complicado para determinar ou definir renda econômica. Tampouco é
necessário conhecer a taxa de desconto do investidor.

9.2.1 Noruega

Na Noruega a tributação do petróleo se baseia nas regras norueguesas para


o imposto de renda corporativo normal, que incide à alíquota de 28%. Porém,
dada a extraordinária rentabilidade associada à produção dos recursos
petrolíferos, além do imposto de renda normal (28%) é cobrado um imposto
especial sobre essas atividades à alíquota de 50%.

As companhias podem deduzir todas as despesas relevantes de exploração,


pesquisa e desenvolvimento, despesas financeiras líquidas das receitas
financeiras, operacionais, de abandono, etc.

Uma dedução extraordinária ― o


‘uplift’ ― é permitida na apuração da
base de cálculo do imposto especial.
Essa dedução corresponde a 30% do
investimento. As companhias que
apresentarem prejuízos fiscais podem
transferi-los, bem como o ‘uplift’, para
serem compensados com receitas de
Figura 9-2 exercícios subsequentes.

Além disso, os prejuízos também podem ser vendidos para companhias com
receitas na plataforma continental.

A consolidação entre campos é permitida.

Com relação aos custos de exploração, os prejuízos podem ser transferidos,


acrescidos de juros, para futura compensação com os resultados positivos
da atividade. Além disso, a partir de 2005, alternativamente à
transferência dos prejuízos acrescidos de juros, as companhias podem
solicitar um ressarcimento anual do valor fiscal dos custos exploratórios
diretos e indiretos sujeitos ao imposto de renda normal e ao imposto de
renda especial. Assim, as companhias recebem um ressarcimento
9-73 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

2
praticamente imediato de 78% dos custos exploratórios . Esse
ressarcimento não inclui os custos financeiros e é limitado ao prejuízo
líquido verificado no ano.

Dessa forma, o sistema fiscal norueguês se aproxima de um sistema linear.

O sistema fiscal para o petróleo desse país foi projetado para ser neutro,
de modo que um projeto de investimento que for rentável antes da
tributação também será rentável após a tributação. A neutralidade do
sistema norueguês reside no fato de que a fração de custos suportada pelo
governo é igual à fração das receitas que ele captura. Essa simetria implica
num sistema fiscal de fluxo de caixa que não distorce decisões econômicas
por parte das companhias de petróleo.

9.3 O imposto idealizado por Garnaut e Clunies Ross

Existe um imposto que incide sobre a renda econômica do recurso mineral.


Ele é mais conhecido pelo seu nome em inglês: Resource Rent Tax (RRT).
Garnaut e Ross3 se reuniram e criaram, em 1975, o RRT. Eles se inspiraram,
de certa forma, no Brown Tax. O RRT é uma versão 'upgrade' do BT onde,
em lugar de reembolsar a empresa com fluxo de caixa líquido negativo, o
governo permite que tais saldos negativos sejam transferidos para períodos
de apuração subsequentes para serem deduzidos quando forem obtidos
fluxos de caixa positivos. Assim, o governo não cobre prejuízos e só
arrecada quando há lucro. Bingo!

Na busca de aperfeiçoamento para seu imposto, a dupla foi um pouco mais


além. Ao ser transferido de um período de apuração a outro, o fluxo de
caixa negativo é capitalizado a uma taxa determinada. Com isso, garante-se
um retorno mínimo para o projeto. Uma vez capitalizado pela taxa mínima de
retorno, o fluxo de caixa líquido negativo transferido de período de
apuração anterior é então adicionado ao fluxo de caixa líquido do período em
questão. O processo de acumulação prossegue até ser gerado um fluxo de
caixa líquido positivo, que é finalmente tributado. Esse desenho faz com que
nenhum imposto seja pago até que a empresa tenha recuperado seus custos,

2
Petroleum Tax Act, Section 3 c (PTA S 3 c).
3
Ross Garnaut e Anthony Clunies Ross publicaram em 1975 um artigo no The Economic Journal que
abriu uma discussão global sobre a tributação da renda econômica dos recursos minerais. Em 1983,
ambos publicaram o livro The Taxation of Mineral Rent, Clarendon Press, Oxford.
9-74 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

incluindo a capitalização dos mesmos, ano a ano, a uma 'taxa mínima' de


retorno.

Comparado com o BT, o RRT implica na transferência dos prejuízos para


períodos futuros, enquanto o BT fornece um reembolso das perdas. Com o
RRT, o governo não realiza contribuição direta para custear o projeto. O
fato gerador só ocorre com o surgimento de fluxos de caixa positivos,
quando o investimento é recuperado e obtém-se uma taxa mínima de retorno
para o projeto. Genial!

Provavelmente por causa da exigência de os governos assumirem os riscos


do investimento na fase inicial, o ‘Brown Tax’ não conseguiu ser popular
entre os governantes. Por seu turno o imposto sobre a renda econômica do
recurso natural (RRT) encontrou maior aceitação.

9.3.1 Pontos fortes do RRT


Como qualquer imposto com foco nos lucros, a aplicação do RRT implica numa
tendência do governo em compartilhar os riscos do projeto com o
empreendedor. Se os custos crescerem ou os preços do petróleo caírem, o
lucro tributável também cai em harmonia. Como a empresa só paga imposto
quando há lucro, o período de 'payout' do investimento é encurtado.
Traduzindo: menor risco.

Muitos autores sustentam ser o RRT uma ferramenta fiscal apropriada para
coletar a renda econômica sem distorcer as decisões de investimento. E não
havendo distorção das decisões de investimento, para a felicidade dos
ministros de fazenda, altas alíquotas do RRT podem ser aplicadas.

9.3.2 Pontos fracos do RRT


Apesar desses aspectos positivos, o RRT tem lá seus pontos fracos. Afinal
ninguém é perfeito. São os seguintes: (i) dificuldade na definição da taxa a
ser usada; (ii) não geração antecipada de receitas; (iii) compartilhamento
limitado dos riscos; e (iv) ação inibidora da exploração.

Qual taxa usar?

Como o imposto tem por alvo a renda econômica, não é tarefa fácil
arrecadar grandes somas do imposto e, ao mesmo tempo, preservar a sua
neutralidade.
9-75 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

De fato, a determinação da taxa mínima a partir da qual o RRT deve ser


aplicado é problemática. A taxa mínima representa a taxa de retorno que os
investidores exigem para empreender um projeto. Em outras palavras, ela
representa o nível normal de lucro. Aqui ocorre um primeiro questionamento:
estarão as empresas realmente motivadas pela perspectiva de um lucro
normal, sabendo-se de antemão que elas usualmente buscam maximizar seus
lucros? 'Además de eso', como a 'taxa mínima' reflete a taxa de retorno
exigida pelo investidor, ela pode variar de um projeto a outro e de uma
companhia a outra.

Infelizmente, diferentes investidores podem empregar diferentes taxas e


qualquer investidor pode legitimamente empregar várias taxas, sendo que a
taxa escolhida vai depender dos riscos que ele perceber no projeto em
questão.

Além do mais, os investidores em geral não revelam suas taxas de desconto


aos governos. Os governos têm então que estimar as taxas de desconto. Se
estimarem taxas menores do que as empregadas pelos investidores, os
projetos serão desencorajados. Por outro lado, se os governos usarem taxas
maiores do que as empregadas pelos investidores, acabam obtendo uma
fatia menor da renda econômica do que a que seria obtida caso tivessem
pleno conhecimento das taxas usadas pelos investidores.

Geração tardia de receitas

A geração antecipada de receitas é outro problema para o RRT. Muito


provavelmente, o governo que o utiliza somente conseguirá alguma
arrecadação vários anos após o início da produção. Isso ocorre porque a
taxa mínima de retorno tem que ser obtida antes que o RRT se torne
exigível.

Compartilhamento de risco circunscrito ao projeto

É oportuno destacar que o imposto sobre a renda econômica do recurso


natural (RRT) incide com base no projeto e não com base no resultado
consolidado da empresa.

Do ponto de vista do investidor, o RRT tem a vantagem de fazer com que os


riscos de investimento do capital sejam compartilhados com o governo numa
extensão maior do que nos sistemas convencionais de imposto. Até ser
atingida a taxa mínima de retorno, não há pagamento de imposto, o que não
9-76 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

acontece com os impostos convencionais. Todavia, o compartilhamento de


risco é improvável de ser tão grande como com o "Brown Tax", uma vez que
o imposto sobre a renda econômica do recurso natural incide numa dada
área de contrato ou fica circunscrito a um projeto. Ele não açambarca todas
as operações da companhia. Assim, o investidor ainda tem que arcar com
todos os riscos iniciais de exploração e desenvolvimento que antecedem a
produção.

Inibição da exploração

Quando se leva em conta os riscos da exploração, fica claro que um imposto


sobre a renda econômica do recurso natural pode produzir efeitos nada
incentivadores no estágio de exploração das atividades petrolíferas. Os
investidores baseiam suas decisões de exploração nos cálculos do valor
monetário esperado, os quais levam em conta a probabilidade de serem
feitas descobertas. Um imposto sobre a renda econômica do recurso
natural, ainda que não inviabilize o desenvolvimento de campos descobertos,
viáveis antes da aplicação da tributação, pode, mesmo assim, inviabilizar a
exploração. Os valores monetários esperados podem ser positivos antes da
tributação e negativos após a tributação.

O perigo de isso acontecer aumenta à medida que a probabilidade de


sucesso cai, uma vez que o imposto não compartilha dos riscos de insucesso
na realização de descobertas comerciais. Como o esquema funciona na base
de um projeto ou de uma área de contrato, não há como deduzir os custos
de insucessos exploratórios. Somente se a base do imposto sobre a renda
econômica do recurso natural compreendesse todo o país, o
compartilhamento de risco seria total. O imposto teria então as
características de um ‘Brown Tax’ para todos os investimentos, exceto para
o primeiro investimento no país em questão.

É de se reconhecer, destarte, que um imposto sobre a renda econômica do


recurso natural pode reduzir a exploração. Por outro lado, é razoável
destacar que esse tipo de desincentivo está presente na maioria dos
esquemas de tributação circunscritos ao campo ou ao projeto.
9-77 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

9.3.3 O PRRT australiano

As idéias de Garnaut e Ross levaram o governo


australiano a criar o ‘Petroleum Resource Rent
Tax’ ou PRRT.

Trata-se de um típico imposto sobre a renda


econômica do recurso petrolífero.
Figura 9-3

O regime fiscal de concessão para o petróleo vigente na Austrália para os


campos marítimos sob jurisdição federal4 situados a mais de 3 milhas da
costa combina um imposto especial sobre a renda do recurso petrolífero
(PRRT) e o imposto de renda federal. O PRRT é dedutível da base de cálculo
do imposto de renda federal.

Período de apuração

Na Austrália o ano fiscal vai de 1° de julho de um ano a 30 de junho do ano


seguinte. Por exemplo, o período que vai de 01/07/2009 a 30/06/2010 é
grafado como 2009/2010. A apuração do PRRT é realizada trimestralmente
e os pagamentos são feitos em prestações trimestrais (21 de outubro, 21 de
janeiro, 21 de abril e 21 de julho).

'Ring fence'

A base de aplicação do PRRT é o projeto petrolífero, que pode ou não


coincidir com um campo. Considera-se projeto um investimento integrado
que inclui instalações no continente e as operações necessárias para
produzir e comercializar petróleo e gás natural.

Para fins do imposto de renda, os custos provenientes de quaisquer fontes


podem ser compensados com as receitas provenientes de quaisquer fontes.
Para fins do PRRT é diferente. Há dois 'ring fences' para o PRRT. O

4
As exceções a essa regra são os projetos de gás da plataforma noroeste, que estão sujeitos a
royalty e imposto de renda federal, os projetos no continente, que estão sujeitos aos royalties
estaduais, e as áreas de desenvolvimento conjunto com o Timor Leste, que estão submetidas ao
regime de partilha da produção.
9-78 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

primeiro ao redor das atividades marítimas para os gastos de exploração e o


segundo ao redor do projeto para os gastos de desenvolvimento e
operacionais.

Em outras palavras, o 'ring fence' do PRRT proíbe a transferência de custos


operacionais e de desenvolvimento entre projetos, mas não a transferência
de custos de exploração. Há, porém, uma exigência: o projeto que recebe os
custos de exploração deve possuir um PRRT a pagar.

Alíquota e base de cálculo

O PRRT é aplicado à alíquota de 40% sobre o fluxo de caixa líquido.

O PRRT somente se aplica quando o resultado líquido acumulado for positivo,


isto é, após a companhia ter recuperado todos os seus custos de exploração
e de desenvolvimento. São dedutíveis os gastos com as atividades de
exploração, desenvolvimento, operação e abandono, inclusive gastos
exploratórios transferidos de outros projetos também sujeitos ao PRRT.

Não são dedutíveis os custos financeiros, alguns custos administrativos


indiretos, o imposto de renda e os pagamentos realizados por ocasião das
licitações.

Capitalização de saldos não compensados

Os gastos de capital que não puderem ser deduzidos por insuficiência de


receita são capitalizados a uma determinada taxa e transferidos para
períodos de apuração subsequentes, a fim de serem compensados com as
receitas então geradas. Para os custos de exploração, a taxa de
5
capitalização é LTBR + 15%, enquanto que, para os custos de
desenvolvimento, ela é LTBR + 5%.

A ordem de dedutibilidade é a seguinte:

1. Custos de desenvolvimento e operacionais específicos do projeto;


2. Custos exploratórios específicos do projeto, isto é, aqueles
incorridos na área de exploração original;
3. Custos de abandono;
4. Custos de exploração incorridos fora da área do projeto, isto é,
aqueles custos exploratórios transferidos de outras áreas.

5
LTBR = Long Term Bond Rate = taxa de juros de longo prazo da Austrália.
9-79 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

A ordem de dedutibilidade dentro de cada item obedece ao princípio


contábil conhecido pela sigla PEPS: o primeiro a entrar é o primeiro a sair,
ou seja, os custos mais antigos são deduzidos primeiro.

O processo de capitalização e transferência é contínuo até ser gerado um


fluxo de caixa líquido positivo, quando ocorre a tributação pelo PRRT. Assim,
até que a companhia tenha recuperado todos os seus custos, incluindo a
capitalização acima mencionada, nenhum PRRT é pago, em que pese o
imposto de renda já possa estar sendo pago.

Custos de abandono

Os custos de abandono e de restauração ambiental são dedutíveis somente


no ano em que forem incorridos, porém tais gastos podem ser ressarcidos a
partir de pagamentos anteriores do PRRT, caso necessário.
10-80 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Capítulo 10 - PARTILHA DA PRODUÇÃO

10.1 Contratos de partilha da produção

Antes da introdução dos contratos de partilha da


produção, os regimes de concessão, em geral com
aplicação do royalty e do imposto de renda, eram os
únicos que existiam.
Figura 10-1
Os indonésios largaram na frente e abriram uma enorme vantagem em
relação aos demais países no que diz respeito à compreensão e ao desenho
de um regime fiscal. Em 1966, a Indonésia revolucionou o mundo dos
regimes fiscais ao introduzir os contratos de partilha da produção,
conhecidos pela sua sigla em inglês ‘PSC’ ou ‘PSA’ 1, com o objetivo de dar ao
governo maior controle sobre as atividades petrolíferas.

Os contratos de serviço representam o máximo de controle, mas poucos


países dispõem do capital necessário para contratar diretamente os
serviços. A maioria se vale dos regimes de concessão ou de partilha da
produção. A distribuição mundial é de aproximadamente 50% para cada um
dos dois regimes.

Os contratos de partilha da produção introduziram a expressão ‘contratada’


para deixar claro que as companhias exploratórias eram simplesmente
empreiteiras a serviço do governo.

Tais contratos dão às companhias os direitos de explorar e produzir


hidrocarbonetos numa determinada Área de Contrato ou Bloco, por um
determinado período de tempo. A companhia assume todos os riscos e
custos da exploração e recebe em contrapartida uma parte do petróleo e do
gás produzidos.

Da mesma forma que ocorre com o regime de concessão, se os esforços


exploratórios da companhia não resultarem em descoberta comercial, não há
reembolso por parte do governo. Porém, em caso de descoberta comercial, a
produção é dividida entre as partes de acordo com o convencionado no

1
Production Sharing Contract ou Production Sharing Agreement.
10-81 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

contrato. A forma de divisão pode ser (i) fixada previamente pela legislação,
(ii) negociada caso a caso ou (iii) objeto de licitação.

Os primeiros contratos de partilha da produção usados na Indonésia eram


relativamente simples. A companhia podia recuperar seus custos a partir da
produção, recuperação esta usualmente limitada a um percentual da receita
bruta. Após essa recuperação de custos, o saldo de petróleo (Petróleo
Lucro) era ‘partilhado’ entre o governo hospedeiro e a companhia
empreiteira. Os custos não recuperados podiam ser transferidos e
recuperados em períodos subsequentes, caso fosse possível tal acomodação.

Muitos países seguiram o modelo da Indonésia (Angola, Argélia, China, Egito,


Iêmen, Índia, Malásia, Mongólia, Nigéria, Síria, Trinidad y Tobago e as
repúblicas originadas da antiga União Soviética), mas modificaram seus
sistemas para incluir royalties e o imposto de renda. Assim, o regime de
partilha da produção original (autêntico) acabou se transformando.

Figura 10-2 - Regimes originais

Mais tarde a própria Indonésia também modificou seu sistema para incluir o
imposto de renda. Os regimes atuais são, na realidade, regimes híbridos.

10.2 Partilha da produção e o imposto de renda

Embora legalmente bem diferentes em termos conceituais, os esquemas de


partilha da produção têm algumas características econômicas comuns aos
sistemas de imposto sobre a renda. As provisões para a recuperação de
custos (tanto as relativas ao limite de recuperação de custos quanto as
relativas à velocidade permitida para tal recuperação) se assemelham às
deduções permitidas para os custos de exploração, desenvolvimento e
operacionais previstas na legislação do imposto de renda. Os efeitos das
diferentes taxas de recuperação são, na essência, os mesmos daqueles
discutidos para a depreciação no caso do imposto de renda.
10-82 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

O efeito global de um esquema de partilha da produção depende da parcela


do Petróleo Lucro capturada pelo governo, assim como das condições em que
ocorre a recuperação de custos. Por exemplo, uma ‘rápida’ recuperação de
custos pode compensar uma ‘elevada’ parcela de Petróleo Lucro que flui para
os cofres do governo. Para se conseguir equivalência entre os dois regimes,
a velocidade da recuperação de custos deve ser a mesma da depreciação
para fins do imposto de renda. Se o volume de petróleo permitido para a
recuperação de custos (Petróleo Custo) for muito baixo, o investidor pode
levar um bom tempo para recuperar todos seus custos durante o período de
vida do campo. No que diz respeito à antecipação de receitas para o
governo, o limite imposto para recuperação de custos se assemelha à
imposição de um limite para recuperação de prejuízos fiscais como o
existente no Brasil para o imposto de renda (30% da base tributável).

10.2.1 Petróleo Lucro


Enquanto, através do Petróleo Custo, a companhia recebe um reembolso dos
custos incorridos, a parcela de Petróleo Lucro da companhia é a sua
remuneração pelos serviços prestados.

O Petróleo Lucro do governo pode ser comparado com os pagamentos do


imposto de renda. Nos primeiros contratos, a divisão do Petróleo Lucro era
feita em base fixa. Depois, a divisão passou a ser feita em base progressiva
em favor do governo, de acordo com a produção periódica (exemplo na
Tabela 10-1).

Tabela 10-1 - Divisão do Petróleo Lucro com base na produção

Produção anual (milhões de barris) Estado (%) Companhia (%)


0 - 25 40 60
25 - 50 60 40
50 - 100 80 20
> 100 90 10

Os sistemas com base na produção não conseguem lidar bem com situações
de mudanças inesperadas na renda econômica decorrentes de alterações de
preços do petróleo. Por essa razão, nos contratos mais recentes a divisão do
Petróleo Lucro é função da taxa interna de retorno do projeto até o período
contábil imediatamente anterior (exemplo na Tabela 10-2).
10-83 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Tabela 10-2 - Divisão do Petróleo Lucro com base na TIR

TIR (%) Parcela do Governo Parcela da Companhia


≤ 15% 25% 75%
› 15% e ≤ 25% 40% 60%
› 25% e ≤ 30% 60% 40%
› 30% e ≤ 40% 80% 20%
› de 40% 90% 10%

Um esquema de partilha de produção incremental se assemelha a um


imposto de renda progressivo e, a menos que a parcela do governo se torne
excessivamente alta, tal esquema progressivo não deve desencorajar os
investidores.2
Chegou a hora de distribuir o
Petróleo Lucro entre o
governo e o empreiteiro.
Adivinhe qual que é qual?

Figura 10-3

10.2.2 Dificuldade de padronização de termos fiscais


Se um governo optar por adotar uma forma padrão de contrato de partilha
da produção em toda sua jurisdição, perceberá que uma dada estrutura pode
ser apropriada para uma área, mas não para outra. As condições de custos

2
Em determinadas circunstâncias, mesmo com a divisão do Petróleo Lucro sendo uma função da taxa
de retorno, não há garantias de progressividade. Kjell Løvås e Petter Osmundsen demonstraram isso
no estudo ‘Tendências e conflitos de escolha na tributação do petróleo’. Quando os aumentos da taxa
de retorno proporcionados pelos aumentos de preços são de pequena monta, eles não são suficientes
para que haja mudança de faixa na escala. Com isso, os percentuais da divisão do Petróleo Lucro
permanecem inalterados com as mudanças de preços e não se obtém a progressividade no sistema.
10-84 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

podem variar consideravelmente dentro de uma província produtora e um


dado pacote de condições para a recuperação de custos e divisão do
Petróleo Lucro pode efetivamente coletar a renda econômica sem causar
distorções em uma área, mas deixar de coletar parte considerável da renda
econômica ou causar desincentivos em outras áreas. Um único esquema
penalizaria grandes campos de altos custos ― em relação à rentabilidade
pré-tributação eles acabam submetidos a maior carga tributária ― em
comparação com campos médios e pequenos de baixos custos. Obviamente o
governo pode variar os termos de uma parte do país a outra, mas isso
aumenta a complexidade do pacote regulatório e provavelmente também
aumenta a incerteza do ambiente de investimento.

10.2.3 ‘Ring fencing’


Os contratos de partilha da produção são normalmente desenhados para
operar na base de um ‘ring-fence’, em que pese tal terminologia não ser
empregada. Tipicamente, os custos de exploração e de desenvolvimento
incorridos na Área de Contrato podem ser compensados apenas com as
receitas dessa mesma área. Assim, quando começa a exploração numa área,
o começo da recuperação de custos terá que esperar o início da produção
daquela área.

10.2.4 Síntese dos prós e contras


Em resumo, os contratos de partilha da produção, especialmente aqueles
que incorporam a progressividade na divisão do Petróleo Lucro, possuem
algumas vantagens sobre os esquemas tradicionais de royalty e imposto de
renda. Essa forma de contratação ― com a divisão do Petróleo Lucro sendo
função da taxa de retorno ― pode fazer com que mudanças na renda
econômica provocadas por alterações do preço do petróleo (tanto para mais
quanto para menos) sejam automaticamente refletidas em mudanças no
‘government take’. Todavia, um único modelo pode não ser apropriado para
campos com grandes diferenças de custos.
10-85 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Tabela 10-3 - Regimes fiscais

Contratos de
Concessão Partilha
Serviços
Todos os tipos, mas
Tipos de projetos Todos os tipos Todos os tipos usualmente não-
exploração
Proprietário das Companhia ou Governo (Cia Estatal Governo (Cia Estatal
instalações consórcio de Petróleo) de Petróleo)
Transferência de Na importação ou Na importação ou
Não há
titularidade das no início de no início de
transferência
instalações atividades atividades
Produção bruta Petróleo Custo +
Propriedade dos
menos Petróleo Lucro da Nenhuma
hidrocarbonetos
royalties companhia
Transferência de Ponto de entrega ou
titularidade dos Na cabeça do poço Ponto de medição Nenhuma
hidrocarbonetos fiscal
Direito da
Usualmente Nenhum
companhia sobre a Tipicamente ≈ 90%
de 50-60% (por definição)
produção
Participação do
Sim, não usual Sim, usual Sim, muito comum
governo
Controle do governo Muito pouco Maior controle Máximo controle

Fonte: Daniel Johnston, International petroleum fiscal systems.

10.3 Angola

Figura 10-4

As companhias locais ou estrangeiras somente podem exercer atividades de


exploração e produção em território angolano em associação com a Sonangol.

10.3.1 Modelos de contratos de partilha da produção


Não existem diferenças fundamentais entre o modelo de contrato para
águas rasas (<200m) e o modelo para águas profundas (> 200m) usados em
10-86 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Angola. No modelo de águas profundas, os termos fiscais e as obrigações do


programa mínimo de trabalho são mais brandos por causa dos maiores riscos
e dos maiores custos envolvidos nas operações. As principais variáveis
negociáveis do contrato são o bônus de assinatura, o bônus de produção, o
percentual do Petróleo para Recuperação de Custos, o percentual do ‘uplift’3
e o esquema da divisão do Petróleo Lucro 4 . O modelo de partilha da
produção se aplica também para a lavra no continente.

10.3.2 Participação do estado5


A Sonangol tem optado por deter uma participação de cerca de 20% nos
contratos mais recentes. A parcela dos custos de exploração da Sonangol é
tipicamente suportada pelo contratado. Tais custos de carregamento são
ressarcidos a partir da parcela da produção correspondente à Sonangol,
incluindo os juros a uma taxa negociada.

10.3.3 Bônus de assinatura e bônus de produção


Os bônus de assinatura e de produção são elementos negociáveis do
contrato. O bônus de assinatura não é um custo recuperável. Tampouco é
dedutível no cálculo do Imposto sobre o Rendimento de Petróleo (IRP).

10.3.4 Petróleo para Recuperação de Custos6


A recuperação máxima de custos tem sido fixada entre 40% e 65% da
receita, mas o percentual exato é negociável e varia de contrato a contrato.

Se, num dado período, os custos recuperáveis excederem o valor do


Petróleo para Recuperação de Custos, o excesso é transferido para
recuperação nos períodos subsequentes, até serem totalmente recuperados.
Nenhum juro se aplica aos saldos não recuperados.

Se os gastos de desenvolvimento não forem totalmente recuperados em


cinco anos contados do início da produção, ou em cinco anos a partir do ano
em que tais custos foram incorridos, o que ocorrer por último, o limite para
recuperação de custos aumenta para 65% da receita bruta a partir do sexto
ano para permitir essa recuperação. Assim, em qualquer situação o Petróleo
para Recuperação de Custos não pode exceder a 65% da receita.

3
Multiplicador ou prêmio de investimento.
4
Profit oil split.
5
State equity.
6
Cost oil.
10-87 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Com exceção dos custos de exploração, somente os custos incorridos dentro


da Área de Desenvolvimento podem ser recuperados. Cada descoberta
constitui-se numa área separada de desenvolvimento. Os custos de
exploração fora da Área de Desenvolvimento, porém dentro da Área original
do Contrato, podem ser recuperados de qualquer saldo de Petróleo para
Recuperação de Custos existente referente a campos produtores dentro da
Área do Contrato.

Os custos de capital majorados em certo percentual 7 (valor típico 50%)


podem ser recuperados como Petróleo para Recuperação de Custos e tal
recuperação ocorre em parcelas iguais durante quatro anos (25% ao ano
pelo método da linha reta), começando no ano em que a produção comercial
tiver início ou no ano em que o gasto for incorrido, o que ocorrer por último.
Os custos de exploração e os custos operacionais são recuperados
imediatamente.

Os custos recuperáveis e a ordem de recuperação são descritos em detalhe


em cada contrato. Em geral, são passíveis de recuperação, na seguinte
ordem, os custos de desenvolvimento (+ uplift), os custos operacionais e, por
último, os custos de exploração. Os principais itens não recuperáveis são as
despesas de juros, os bônus e o Imposto sobre o Rendimento do Petróleo
(IRP).

10.3.5 Petróleo Lucro8


Trimestralmente, o saldo da receita bruta, depois da dedução do Petróleo
para Recuperação de Custos, denominado Petróleo Lucro, é repartido entre
o governo e a companhia.

Nos primeiros contratos, a parcela do Petróleo Lucro que cabia a cada uma
das partes (governo e companhia) era determinada a partir de uma escala
progressiva baseada na produção acumulada. Os percentuais de divisão do
Petróleo Lucro para cada faixa da tabela eram negociáveis contrato a
contrato.

A Tabela 10-1 mostra uma divisão típica do Petróleo Lucro que foi utilizada
para campos a profundidades inferiores a 100 metros de coluna d’água.

7
Uplift = X%, significa que (100% + X%) dos custos de capital são recuperáveis.
8
Profit oil.
10-88 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Nos contratos mais recentes, a parcela do Petróleo Lucro passou a ser


determinada a partir de uma escala progressiva baseada na taxa interna de
retorno (TIR) do projeto medida até o trimestre anterior ao trimestre de
apuração, com os percentuais de divisão sendo negociáveis contrato a
contrato.

A Tabela 10-2 mostra uma divisão típica do Petróleo Lucro usada nos
contratos mais recentes. O modelo de contrato de partilha da produção
admite até cinco diferentes divisões do Petróleo Lucro. Os percentuais irão
variar, portanto, de contrato a contrato. Ao se candidatar para obter uma
licença em águas profundas, as companhias devem especificar os valores de
taxa de retorno e a repartição do Petróleo Lucro entre o governo e a
companhia para cada um dos cinco níveis.

O cálculo da taxa interna de retorno (TIR) se baseia no fluxo de caixa


acumulado da companhia após a tributação.

Para fins de cálculo desta TIR, que constitui a entrada na Tabela 10-2, o
fluxo de caixa líquido da companhia é definido como sendo formado pela
seguinte sequência: Petróleo para Recuperação de Custos da companhia mais
a parcela do Petróleo Lucro da companhia menos o Imposto sobre o
Rendimento do Petróleo (IRP) menos os gastos de desenvolvimento e os
custos operacionais.

Os gastos de exploração não são incluídos na computação do fluxo de caixa


líquido da companhia. Somente os gastos incorridos após a data da
descoberta comercial são considerados.

O fluxo de caixa da companhia é capitalizado para cada uma das TIRs


especificadas no contrato (Tabela 10-2) e a repartição do Petróleo Lucro a
ser aplicada referir-se-á à maior TIR que produza um resultado positivo.
Por definição, o fluxo de caixa assim capitalizado ficará positivo quando a
taxa de retorno for alcançada.

FCLt+1 = FCLt x (1 + Taxa)


10-89 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

10.3.6 Imposto sobre o Rendimento do Petróleo - IRP9


Nos contratos de partilha da produção o Imposto sobre o Rendimento do
Petróleo corresponde a 50% da parcela do Petróleo Lucro da companhia. O
imposto é pago trimestralmente.

10.3.7 Contribuição para formação dos quadros Angolanos


Os gastos com o treinamento dos locais é um item negociável do contrato e
recuperável através do Petróleo para Recuperação de Custos.

10.3.8 Excesso sobre o Limite de Preço10


Como uma ferramenta para coletar a renda econômica decorrente dos
aumentos de preço do petróleo, algumas jurisdições introduziram um tipo
especial de imposto baseado na diferença entre um preço base e o preço de
mercado. O mais famoso deles foi o ‘Windfall Profits Tax’ (WPT) dos
Estados Unidos, criado em decorrência dos dois choques de preços do
petróleo na década de 1970 e descontinuado com a queda de preços
verificada na década seguinte.

Na versão angolana do WPT a base de cálculo é a diferença entre um preço


base e o preço de mercado e a alíquota é 100%. Funciona da seguinte
maneira: se o preço de mercado do petróleo exceder o Limite de Preço
definido em contrato, a companhia paga ao governo tal diferença
multiplicada pelo volume de Petróleo Lucro (barris) adjudicado à companhia.
O cálculo é mensal, mas o pagamento é trimestral.

O Limite de Preço fixado em 2006 em US$45,00/barril é reajustado


anualmente com a inflação com base na seguinte fórmula:

Limite de Preço = US$ 45,00/barril x IPC / IPC2006

onde:

IPC = Índice de Preços ao Consumidor dos Estados Unidos da América para


todos os Consumidores Urbanos, publicado pelo Departamento de
11
Estatísticas do Trabalho , relativo ao trimestre anterior ao trimestre em
curso;

IPC2006 = Valor médio do IPC em 2006 = 201,6.


9
Imposto de renda das pessoas jurídicas ou das pessoas coletivas (como se diz em Angola).
10
Price cap.
11
US Department of Labor Statistics – Consumer Price Index – All Urban Consumers.
10-90 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Em dezembro de 2009, o limite de preço era de 45,00 x 215,95 / 201,6 =


US$48,20/barril.

A idéia básica por trás desse tipo de exigibilidade é que os aumentos de


preço do petróleo proporcionam ganhos extraordinários aos produtores e
pelo menos uma parte desses ganhos pode ser legitimamente extraída pelo
Estado. O fato gerador começa assim que o Limite de Preço de um campo em
produção é menor do que o preço de mercado.

Embora tal imposto tenha lá seu apelo inicial, uma análise completa revela
muitos problemas.

Numa província produtora os campos apresentam diferenças, às vezes bem


grandes, nos custos de explotação. Um único preço base pode deixar um
investidor num campo com retornos adequados, enquanto esse mesmo preço
pode tornar projetos de outros campos antieconômicos.

Com uma alíquota de imposto fixa, o sistema será sempre regressivo em


relação aos lucros ― haverá uma maior arrecadação, em termos percentuais,
dos campos de menor rentabilidade em comparação com aqueles de maior
rentabilidade. Assim, os desenvolvimentos de campos marginais serão
desencorajados, ao passo que a carga tributária sobre os projetos mais
rentáveis será comparativamente menor.

O esquema pode ser sofisticado na tentativa de lidar com estes problemas.


Por exemplo, a alíquota do imposto pode variar de acordo com o tamanho do
campo. Porém, um ajuste muito fino não é prático, uma vez que não há
necessariamente uma correlação entre o tamanho do campo e a
rentabilidade. A proliferação de diferentes preços base reduz o
aparecimento de distorções, mas complica muito o esquema e aumenta os
custos de sua operacionalização.

Em síntese, é improvável que um imposto sobre a diferença entre um preço


base e o preço de mercado possa extrair a renda econômica da explotação
do petróleo sem introduzir distorções. Um esquema simples, com apenas um
preço base, pode operar satisfatoriamente somente onde inexistam
diferenças expressivas em tamanhos de campo e custos. Para se relacionar
o esquema com mais precisão às diferentes rendas econômicas de uma
província produtora, há necessidade de aumentar a sua complexidade.
10-91 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

10.4 Ainda sobre os contratos de partilha da produção

10.4.1 ‘Gold-plating’
Os contratos de partilha da produção levam a companhia contratada a
assumir os riscos nas fases de exploração e de desenvolvimento. O governo
tem, entretanto, interesse em assegurar que esses custos sejam mantidos
baixos porque, quanto menores eles forem, mais petróleo estará disponível
para fins de partilha.

Ocorre que a construção de sistemas progressivos é geralmente complexa e


corre-se o risco de eles introduzirem distorções econômicas, em particular
sob a forma de gastos e investimentos adjetivados de ‘gold-plating’.

‘Gold plating’ é um método químico ou eletroquímico de depositar uma fina


camada de ouro sobre a superfície de um metal. No caso em tela, o termo é
usado para descrever desperdícios de gastos ou investimentos em excesso,
supérfluos ou desnecessários. Vejamos um exemplo.

Suponhamos um regime de partilha da produção que permita um ‘uplift’ de


50% para recuperação dos custos. Assim, um custo incorrido de 100 será
majorado para 150 para fins de recuperação. Supondo que a divisão do
Petróleo Lucro seja 90%:10% em favor do governo (último nível da Tabela
10-2), com esse custo adicional de 100 a companhia terá uma redução na sua
parcela de Petróleo Lucro de 15 (= 10% x 150) e seu imposto de renda
(alíquota de 50%) será reduzido em 7,5 (= 50% x 15). Somando os custos (-)
e as receitas (+) da companhia, obtém-se:

- 100 + 150 - 15 + 7,5 = + 42,5

(- custo incorrido + recuperação com ‘uplift’ – redução do Petróleo Lucro +


redução do imposto de renda = ganho da companhia, se positivo).

No final das contas, a companhia ainda sairá ganhando (+42,5) ao incorrer no


custo adicional de 100.

10.4.2 ‘Tax in lieu’


Alguns contratos de partilha da produção contêm uma cláusula estipulando
que o imposto de renda de responsabilidade da companhia empreiteira será
pago ‘em nome e em benefício da companhia empreiteira’ pela companhia
estatal de petróleo que participa do contrato (por exemplo, a Sonangol), a
10-92 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

partir da parcela do Petróleo Lucro que cabe à companhia estatal de


petróleo.

‘Maravilha!’, dirão os investidores. ‘Um absurdo!’, retrucarão os inspetores


fiscais. Calma aí, pessoal, não há nenhum favor nisso não, a menos da
proteção que as companhias obtêm quanto a mudanças na tributação do
imposto de renda.

O esquema funciona da seguinte maneira. Consideremos a Tabela 10-4. As


três primeiras colunas mostram o esquema convencional para distribuição do
Petróleo Lucro entre o governo e a companhia. Sobre a parcela do Petróleo
Lucro que lhe cabe, a companhia ainda deve pagar ao governo 50% de
imposto de renda.

Com a introdução da cláusula ‘tax in lieu’ no contrato, a tabela para a divisão


do Petróleo Lucro assumiria o aspecto da primeira coluna combinada com as
duas últimas ― os percentuais da terceira coluna foram multiplicados por (1
– alíquota do imposto de renda) para formar os percentuais da última coluna
e os percentuais da penúltima coluna foram ajustados para que a soma das
duas últimas colunas resultasse em 100%.

Tabela 10-4 - Divisão do Petróleo Lucro com base na TIR

Convencional ‘Tax in lieu’


TIR (%) Parcela do Parcela da Parcela do Parcela da
Governo Companhia Governo Companhia
≤ 15% 25% 75% 62,5% 37,5%
› 15% e ≤ 25% 40% 60% 70% 30%
› 25% e ≤ 30% 60% 40% 80% 20%
› 30% e ≤ 40% 80% 20% 90% 10%
› de 40% 90% 10% 95% 5%

Para a companhia, o desembolso é o mesmo quer ela pague o imposto de


renda diretamente, usando o esquema convencional, quer a estatal pague em
seu lugar usando os percentuais relativos à cláusula ‘tax in lieu’.

Os seguintes países utilizam a cláusula ‘tax in lieu’ em seus contratos de


partilha da produção: Catar (ou Qatar), Egito, Filipinas, Omã, Síria e
Trinidad e Tobago.
10-93 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

10.4.3 Contabilização de reservas

Nas demonstrações financeiras disponibilizadas aos acionistas as


companhias informam as reservas de hidrocarbonetos que descobriram ou
adquiriram. Esses volumes de ‘barris’ influenciarão alguns indicadores
usados pelos analistas econômicos, tais como, o ‘custo de descoberta’ e o
quociente de ‘substituição de reservas’. Os volumes contabilizados de
reservas, portanto, influenciam o preço das ações das companhias nas bolsas
de valores.

O volume contabilizado de reservas por parte das companhias é menor nos


regimes de partilha da produção do que nos regimes de concessão (Tabela
10-3).

No regime de concessão, a companhia contabiliza toda a produção a que tem


direito deduzidos os royalties. No regime de partilha da produção, a
companhia contabiliza a soma do Petróleo Custo e a parcela do Petróleo
Lucro a que tem direito, o que produz um resultado bem menor.

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para o treinamento.
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Figura 10-5
11-94 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Capítulo 11 - PARTICIPAÇÃO DO GOVERNO

11.1 Formas de participação


O governo participa do empreendimento petrolífero diretamente, como
participante do consórcio (usualmente através de uma companhia estatal de
petróleo), ou indiretamente, como detentor de ações numa companhia
petrolífera que lhe proporcionarão dividendos.

11.2 Participação direta


Um governo ingressa no empreendimento geralmente na declaração de
comercialidade. A faixa de participação governamental tem variado de 10%
a 50%. Na participação direta, normalmente o governo suporta a parte que
lhe corresponde no rateio de custos a partir de sua parcela da produção ―
algumas vezes essa parcela está limitada a um determinado percentual da
produção adjudicada.

11.3 Opção de participar


A participação do governo é o resultado da sua opção de participar do
empreendimento em caso de uma descoberta comercial. Essa opção está
presente em metade dos países no mundo com razoável potencial de
hidrocarbonetos.

Uma vez exercida a opção, o governo paga a sua parcela dos custos de
desenvolvimento e operacionais da data da declaração de comercialidade em
diante como qualquer outro sócio. Dessa forma, o governo é 'carregado'
durante a fase de exploração e de avaliação.

Figura 11-1 – Carregamento do governo na exploração


11-95 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Os 'custos pretéritos' são aqueles incorridos pela companhia internacional


de petróleo após a 'data efetiva' do contrato até a data da 'declaração de
comercialidade', quando a companhia estatal ingressa no empreendimento1.
Cerca de metade das companhias estatais de petróleo reembolsam a sua
parte dos 'custos pretéritos' após exercerem a opção. Em geral, esse
reembolso é feito com os recursos originados da parcela da produção que
cabe à companhia estatal de petróleo.

O governo da Noruega é uma exceção: ele participa do empreendimento


desde o primeiro dia, ou seja, desde a 'data efetiva' do contrato2.

11.4 Consequências para as companhias


Que danos financeiros são causados à companhia de petróleo internacional
ou ao investidor pela participação do governo?

O prejuízo às companhias assume vários matizes. Em primeiro lugar, o valor


de uma descoberta para o explorador será reduzido do valor do custo de
'carregamento' e, em segundo, as companhias terão menos barris para
contabilizar.

11.5 Participação do governo versus imposto


Um imposto com base no lucro de 50% ou o exercício da opção de um
governo em participar com 50% do empreendimento garantem ao governo
50% dos lucros gerados.

Do ponto de vista do fluxo de caixa do projeto, as companhias certamente


irão preferir uma participação do governo de 50% a um imposto de 50%,
uma vez que, com a participação e após a companhia estatal ingressar no
empreendimento, ela pelo menos paga a sua parcela dos custos. 'De deux
maux il faut choisir le moindre'.

11.6 Conclusões
O grau de participação do governo no gerenciamento abrange uma ampla
faixa. O efeito financeiro de um sócio governo é semelhante àquele de
qualquer outro sócio, com poucas, embora significantes, exceções. Primeiro,
o governo é usualmente carregado durante a fase de exploração e pode ou
não reembolsar a companhia pelos custos de exploração pretéritos.

1
‘Back-in‘.
2
O termo utilizado quando isso ocorre é ‘heads up’ ou de cabeça erguida, em contraponto ao
carregamento.
11-96 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Segundo, a contribuição do governo para os custos de capital e operacionais


é frequentemente paga a partir da produção. Terceiro, é da índole do
governo palpitar.

Figura 11-2 - Comitê operacional com governo

É certo que os governos devem considerar a participação, pois é de seu


interesse aprender com os processos.

As companhias, por seu turno, preferem que não haja participação do


governo. Operações em parceria de quaisquer tipos, especialmente entre
diferentes culturas, podem ter um impacto negativo na eficiência
operacional.

Por outro lado, a participação direta de uma companhia nacional de petróleo


no empreendimento é bem vista no contexto do risco assumido pelo governo.
Em algumas circunstâncias, os investidores privados podem preferir ter uma
companhia estatal como sócia, não apenas por causa das vantagens normais
do compartilhamento de riscos, mas também por sentirem que terão uma
proteção adicional.

De fato mesmo, a participação de uma companhia estatal de petróleo é


difícil de ser justificada exclusivamente em termos fiscais. Ela pode ser
entendida como um meio de facilitar a transferência de tecnologia e a
criação de competência local na explotação do petróleo.
11-97 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

11.7 Três exemplos

Reino Unido

No Reino Unido, inicialmente havia a exigência de uma participação do


governo em cada projeto de 51%. Essa exigência foi descontinuada a partir
de 1993.

Noruega

A arrecadação do governo da Noruega provém de três fontes distintas:

 Tributação das atividades de petróleo e gás;


 Participação direta nos campos da plataforma continental norueguesa
através do SDFI3; e
 Dividendos da participação societária do governo na companhia
StatoilHydro.

Assim, o estado norueguês participa de duas maneiras do empreendimento:


diretamente, através do SDFI, e indiretamente, através de suas ações na
companhia StatoilHydro. No primeiro caso, a participação do governo no
projeto ocorre desde o primeiro dia. Não há carregamento.

Angola

As companhias locais ou estrangeiras somente podem exercer atividades de


exploração e produção em território angolano em associação com a Sonangol.

A Sonangol detém uma participação de 41% nos contratos de concessão e


tem optado por deter uma participação de cerca de 20% nos contratos de
partilha da produção mais recentes. A parcela dos custos de exploração e
de desenvolvimento da Sonangol é tipicamente suportada pelo contratado.
Tais custos são ressarcidos a partir da parcela da produção correspondente
à Sonangol, incluindo juros a uma taxa negociada.

3
State’s Direct Financial Interest (SDFI)
12-98 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Capítulo 12 - O REGIME BRASILEIRO de CONCESSÃO


12.1 Composição do regime

O regime fiscal brasileiro data de 1997, ano em que a Lei do Petróleo foi
promulgada, mas a aplicação ocorreu somente no ano seguinte. O Brasil
segue a maneira usual de tributação das companhias sob um regime de
concessão, usando uma combinação de imposto de renda, royalty e uma
tributação especial sobre o petróleo, denominada participação especial1. O
royalty e a participação especial são aplicados no nível do campo, ao passo
que o imposto de renda se aplica no nível da companhia.

12.2 Royalty

O royalty incide à alíquota de 10% sobre o valor bruto da produção de


petróleo e de gás natural de cada campo. Excepcionalmente essa alíquota
pode ser reduzida até um mínimo de 5% (campos marginais). Os preços
utilizados para valorar a produção ― Preços de Referência ― são discutidos
mais adiante. Certos volumes de gás, queimados por razões de comprovada
necessidade operacional ou de segurança, não estão sujeitos a royalty. O
royalty também não incide sobre o gás utilizado no processo de elevação
artificial do petróleo, conhecido como 'gas lift'.

12.3 Participação especial

A participação especial (PE) é uma tributação especial dos lucros do


petróleo. Como o royalty, a PE é apurada com base no campo. Assim, uma
companhia com prejuízo em um campo não pode compensá-lo com os lucros
gerados em outros campos. Isso decorre do fato dos campos serem
tratados separadamente uns dos outros na configuração denominada 'ring
fence' à qual já nos referimos.
A PE é calculada utilizando-se uma alíquota dependente da produção, que
varia de 0 a 40 por cento, aplicada sobre o valor líquido do petróleo e do gás
produzidos.

A base de cálculo da PE grosso modo é igual às receitas menos royalty e


menos os gastos incorridos para descobrir, desenvolver e operar o campo.

1
Além desses três componentes principais, o regime contempla ainda o pagamento do bônus de
assinatura e de uma taxa anual de aluguel de área.
12-99 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

A PE foi criada para capturar os lucros dos grandes campos e também dos
mais rentáveis. Campos menores foram blindados da incidência da PE
através da estrutura de alíquotas. O gatilho da PE é acionado quando os
campos passam a produzir mais de 10 mil barris por dia, se localizados em
terra; 21 mil barris por dia, se localizados em águas rasas (< 200m); ou 31
mil barris por dia, se localizados em águas profundas (> 200m)2.

A PE é apurada trimestralmete sob o regime contábil de competência e, da


mesma forma que o royalty, é administrada pela Agência Nacional do
Petróleo (ANP). O pagamento é devido até o último dia útil do mês seguinte
ao trimestre de competência.

12.3.1 Participação especial e o imposto de renda

A PE incide em paralelo ao imposto de renda geral que é cobrado das


empresas. Ela é tratada como um custo dedutível da base de cálculo do
imposto de renda.

12.3.2 Alíquotas da participação especial

As alíquotas da PE variam dependendo da localização do campo (terra, águas


rasas e águas profundas) e do ano de produção. Os volumes que limitam a
sua incidência decrescem em degraus nos primeiros quatro anos de produção
e não mudam mais do quarto ano em diante. Tal estrutura permite um alívio
da carga fiscal nos três primeiros anos do projeto.

Figura 12-1 - Estrutura de alíquotas da PE (águas profundas)

2
Esses limites são maiores e decrescentes nos três primeiros anos de produção.
12-100 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Além disso, as alíquotas são baseadas numa escala progressiva que é função
do nível de produção de cada trimestre do ano calendário. À medida que a
produção cresce, a alíquota da PE aumenta tendendo para um máximo de
40%. A alíquota também diminui com a produção, devendo-se observar que,
uma vez atingido o limite mínimo, não há mais incidência da PE.

A Lei n° 9478, de 1997,


introduziu a
participação especial
e definiu sua O Decreto n° 2705, de 1998,
base de cálculo. definiu as alíquotas
(Artigo 50) aplicáveis, além de outros
A Portaria ANP n° 10, de
conceitos usados no
1999, detalhou o
cálculo da participação
tratamento para cada tipo
especial.
de custo na apuração da
base de cálculo da
participação especial.

PE = Base de cálculo x Alíquota


Figura 12-2 - Alíquota e base de cálculo no marco legal

12.3.3 Cálculo da participação especial

Receita Líquida da Produção (RLP)

Conforme mostra a Figura 12-4, a Receita Líquida da Produção (RLP) é o que


sobra da Receita Bruta da Produção após todas as deduções terem sido
feitas. A RLP representa a base sobre a qual a alíquota da PE é aplicada.

Este é o momento apropriado para uma visualização do mecanismo de


funcionamento da tributação incidente sobre as vendas de hidrocarbonetos
(tributação direta) e sobre os custos de produção (tributação indireta).
12-101 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

PE = alíquota x base de cálculo

Base de cálculo = RLP

RLP = receita líquida da produção

RLP = receita bruta - deduções


Figura 12-3

A altura total da coluna mostrada na Figura 12-4 representa o faturamento


das vendas de petróleo e de gás natural produzidos no campo. As letras do
alfabeto em cada bloco da figura ajudam a explicar o funcionamento da
tributação.

Tributação sobre as vendas de hidrocarbonetos (A)

Os seguintes tributos incidem sobre as vendas de petróleo e gás natural:


ICMS, PIS e COFINS3.

Tributação indireta recuperável (B)

A tributação indireta é aquela incidente sobre os custos da companhia. O


tipo de tributação varia dependendo do custo se referir a um material
(tangível) ou a um serviço (intangível). Depende ainda se o material é
adquirido no mercado doméstico ou importado e, no que diz respeito ao
serviço, se é prestado por residente no Brasil ou por não residente.

Tabela 12-1 - Tributação indireta

1 Material produzido no Brasil COFINS, ICMS, IPI, PIS


2 Material importado COFINS, ICMS, IPI, PIS, II
3 Serviços prestados por residentes COFINS, ISS, PIS
4 Serviços prestados por não residentes CIDE, COFINS, IRRF, ISS, PIS

3
PIS e COFINS são contribuições sociais, mas a palavra tributo está sendo usada aqui abrangendo
todas as formas de exação.
12-102 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Saldo pago ao
Tributação sobre as Governo
vendas de (A-B)
hidrocarbonetos
(A) Tributação Indireta
Recuperável (B) Receita Bruta da Produção (C)

Tributação Indireta
Não Recuperável (D)

Custos Custos de
Efetivos Exploração,
(D + E) Desenvolvimento e
Operacionais
(E)

Royalty (F)

Superficiário (G)

Aluguel
de Área (H)

Bônus (I)

P&D (J)

Provisão de
Abandono (K)

Prejuízo de períodos
anteriores (L)

Receita
Líquida da
Produção
(Base da PE)
(M)

M = C – (D + E + F + G + H + I + J + K + L)

Figura 12-4 - Da Receita Bruta para a Líquida (sem escala)


12-103 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Alguns tributos indiretos, como COFINS, ICMS e PIS, são recuperáveis.


Eles são pagos nas aquisições de materiais e serviços e são deduzidos dos
mesmos tipos de tributos a pagar por ocasião das vendas de petróleo e de
gás natural.

Assim, a companhia recebe de seus clientes os tributos incidentes sobre


vendas (A), deduz aqueles pagos nas aquisições que são recuperáveis4 (B) e
paga a diferença (A – B) ao governo. É esse o mecanismo nas vendas
domésticas de petróleo e gás. Porém, se o hidrocarboneto for exportado,
não haverá tributação e, desta forma, não há tributo a pagar para permitir a
recuperação dos tributos pagos nas aquisições. Parte destes tributos, como
o ICMS, se torna irrecuperável (D), passando a integrar os custos5.

Receita bruta

A Receita Bruta da Produção é o ponto de partida para se chegar à base de


cálculo da PE. Um aspecto importante é o uso de Preços de Referência na
sua determinação.

Conforme mostra a Figura 12-4, a Receita Bruta da Produção (C), definida


no Decreto n° 2705, de 1998, não inclui a tributação incidente sobre vendas
(COFINS, ICMS e PIS) representada pela letra A. Isso decorre da
utilização do Preço de Referência para valorar a produção. De acordo com o
artigo 7°, § 1°, e com o artigo 8° do Decreto n° 2705, de 1998, o preço de
venda considerado para formar o Preço de Referência não deve incluir a
tributação incidente sobre vendas6.

Nessa mesma linha, o artigo 48 da Portaria ANP n° 10, de 1999, estabelece


que os seguintes tributos não podem ser deduzidos da Receita Bruta da
Produção na apuração da base cálculo da PE: imposto de renda, CSLL7,
ICMS, COFINS, PIS e PASEP. A dedução do ICMS, PIS e COFINS não é
permitida para evitar uma dupla dedução, porquanto tais tributos já foram
deduzidos na apuração extra-contábil da Receita Bruta da Produção, que
utiliza o Preço de Referência.

4
Não são recuperáveis: CIDE, II, IPI, IRRF e ISS.
5
PIS e COFINS podem ser compensados com outros tributos federais, como o imposto de renda.
6
Tributação sobre vendas domésticas de petróleo e gás natural compreende o ICMS, PIS e COFINS.
7
Tributação da renda das pessoas jurídicas (34%) = imposto de renda (25%) + CSLL (9%)
12-104 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Sempre que a ANP divulga a listagem mensal dos Preços de Referência, ela
diz expressamente que tais preços não incluem ICMS, PIS e COFINS.

Outro aspecto importante a frisar é que, uma vez que a PE tributa o lucro
do campo, aqueles volumes produzidos de hidrocarbonetos que não geram
lucro não devem ser considerados no cálculo da Receita Bruta de Produção.
É o caso dos volumes de gás queimado, qualquer que tenha sido a razão da
queima. Como o gás que é queimado não é vendido, ele não gera receita
alguma; tampouco lucro.

Os volumes de gás usados nas operações do campo também não são


computados no cálculo da PE, mas devem ser vistos sob uma perspectiva
diferente. Nesse caso, o que ocorre é o seguinte: em lugar de adquirir
energia de terceiros, a companhia compra o gás que ela mesma produz para
usar nas operações. Assim, tais volumes são adicionados à Receita Bruta da
Produção e deduzidos como custo de energia (custo operacional). Resultado:
zero a zero. Destarte, o gás usado nas operações não produz efeito algum
no cálculo da PE ― ele é neutro.

Adições à receita

Quaisquer receitas não-financeiras auferidas pela companhia, exceto as


referentes a vendas do ativo permanente, devem ser adicionadas à Receita
Bruta da Produção. A situação mais comum é a cobrança de tarifas por
serviços prestados (processamento, transporte, armazenagem, etc.).

Deduções

A regra geral para as deduções permite que sejam deduzidos os royalties,


os custos da exploração, os custos operacionais, os custos de capital
(através da depreciação) e os tributos vigentes.

Mecanismo de
Ativado depreciação

Dedutível

Despesa
Tipo de
Custo

Figura 12-5
Não dedutível
12-105 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Lei n° 9.478/97, Artigo 50, § 1º

A participação especial será aplicada sobre a receita bruta da produção,


deduzidos os royalties, os investimentos na exploração, os custos
operacionais, a depreciação e os tributos previstos na legislação em vigor.

Vamos pular os royalties e ir direto aos custos.

Os custos foram agrupados em três categorias principais: custos de


exploração, custos de desenvolvimento e custos operacionais. Para fins de
PE, os custos são primeiramente classificados como dedutíveis e não
dedutíveis. Alguns custos dedutíveis são imediatamente deduzidos da
receita, enquanto outros são ativados e deduzidos aos poucos ao longo de
certo número de anos. A depreciação tem início a partir da data em que o
ativo é colocado em uso. O tributo indireto não recuperável adere ao item
de custo sobre o qual incide e é tratado como despesa ou depreciado junto
com ele, conforme o caso.

Custos de exploração

A companhia pode optar por deduzir imediatamente os custos da exploração


ou ativá-los para serem subsequentemente amortizados. Assim, poços secos
e poços exploratórios não usados na fase de produção podem ser tratados
como despesa do período de apuração. Porém, se um poço exploratório for
completado para ser usado como produtor ou injetor, ele deve ser ativado e
amortizado.

A companhia tem também a opção de escolher o 'melhor momento' para


deduzir os custos exploratórios. Apesar de não haver nenhuma atualização
monetária para os custos incorridos, pode ser vantajoso aguardar até que o
campo atinja o pico de produção, quando as alíquotas da PE serão maiores,
para deduzir os custos exploratórios.

Chegamos agora a um ponto muito importante: a amortização de poços


petrolíferos. No que diz respeito à amortização e depreciação de ativos, a
Portaria ANP n° 10/99 pega carona na legislação do imposto de renda8,

8
Portaria ANP n° 10/99, artigos 31 a 34, § 1°.
12-106 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

determinando o uso dos mesmos critérios de amortização/depreciação


utilizados por esta legislação9.

O método usual de depreciação no Brasil é o método da linha reta. A


Instrução Normativa n° 162, de 31 de Dezembro de 1998, expedida pela
Secretaria da Receita Federal do Ministério da Fazenda, lista os
percentuais de depreciação e o prazo correspondente em anos para alguns
itens do Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias.

Quem se der ao trabalho de examinar tal listagem não vai encontrar o ativo
'poço' por lá. Uma razão óbvia explica isso: como são ativos fixos, os poços
não são objeto de comércio entre diferentes países e, consequentemente,
não foram listados pelo Sistema Harmonizado.

De uma leitura atenta do Decreto n° 3000/99 (Regulamento do Imposto de


Renda) depreende-se que ele faculta, na extração de jazidas, que a
depreciação tome como base o prazo do contrato de concessão ou a relação
produção/reserva10. Em bom português, na depreciação de poços de
desenvolvimento, pode-se usar tanto o método da linha reta quanto o
método das unidades produzidas, ambos abrangendo a vida do campo.

Tabela 12-2- Custos de exploração

Item de Custo Tratamento Método


Geologia e geofísica
Poços secos
Tratar como Se for amortizar, usar
Poços exploratórios (teste e despesa ou a linha reta ou
avaliação) não usados como amortizar (*) unidades produzidas
poços injetores ou produtores

Poços exploratórios usados Linha reta durante a


como poços injetores ou Amortizar vida do campo ou
produtores unidades produzidas
(*) A critério do concessionário.

9
Decreto 3000, de 26/03/1999.
10
Decreto 3000/99, art. 309, § 3°.
12-107 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Se um poço entrar em atividade após o início da produção, o método da linha


reta se aplica sobre a vida restante do campo e o método das unidades
produzidas toma como base a reserva remanescente do campo.

Todos os gastos com a exploração incorridos na área de concessão (isto é,


na área do campo e na área do bloco original) são dedutíveis.

Custos de desenvolvimento

Os custos de desenvolvimento são ativados e depreciados a partir do início


da produção. A depreciação segue o regulamento do imposto de renda.

Tabela 12-3 - Excertos da IN/SRF 162/98

Percentual Prazo
Item Exemplos
(%) (anos)

Botes, flutuadores, navios,


embarcações, boias de 5% 20
ancoragem

Sondas de perfuração 5% 20

Edifícios 4% 25

Instalações, plantas 10% 10

Maquinário e equipamentos 10% 10

Tubulações 10% 10

Veículos operados
10% 10
remotamente (robôs)
12-108 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Custos operacionais

Diferentemente dos custos de desenvolvimento, os custos operacionais são


imediatamente deduzidos. Em outras palavras, eles são 100% depreciados no
período de apuração em que são incorridos.

Um importante custo operacional é o pagamento de prestações de


equipamentos arrendados de terceiros (arrendamento mercantil). Devido a
diferenças de tributação, os concessionários são levados a arrendar em
lugar de ter a propriedade de determinados equipamentos.

Isso decorre do fato da importação normal de equipamento no Brasil ser


tributada em níveis muito elevados. Para mitigar essa pesada carga
tributária na importação, um regime aduaneiro especial foi criado, segundo o
qual o equipamento passa a ser propriedade de uma entidade estrangeira e
arrendado ao concessionário brasileiro. Dessa forma, um custo de capital
(equipamento) que seria usualmente depreciado se transforma, após um
processo burocrático e, de certa forma, oneroso, em um custo operacional
que é tratado como despesa (prestações do arrendamento mercantil).

Os custos financeiros não são dedutíveis para fins de PE. A dedutibilidade


dos custos financeiros não é permitida dada a dificuldade em se segregar a
destinação dos diferentes empréstimos contraídos por uma companhia
integrada, uma vez que o dinheiro não é carimbado. Mas o arrendamento
mercantil é singular ― sabe-se exatamente qual projeto aquele custo
financeiro está onerando. Assim, os juros embutidos nas prestações do
arrendamento mercantil são uma exceção à regra da não-dedutibilidade dos
custos financeiros; as prestações do arrendamento mercantil são
integralmente dedutíveis.

Outros ‘custos’

Alguns tipos de tributos pagos nas aquisições de materiais e serviços, como


CIDE, IPI, II, IRRF e ISS, não são recuperáveis, uma vez que eles não
incidem nas vendas de petróleo e gás de forma a possibilitar a compensação.
Eles se tornam parte dos custos (ver Figura 12-4, custo efetivo = D + E) e
são ativados/depreciados ou deduzidos imediatamente da receita,
dependendo do que acontece com o tipo de custo a que estão relacionados.
Aqui vale a seguinte regra: o acessório segue o principal.
12-109 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Outras deduções

Superficiário

O pagamento ao proprietário da terra, quando for o caso, é realizado


mensalmente e deduzido da receita no respectivo período de competência.

Aluguel de área

O aluguel de área é pago anualmente, no mês de janeiro do ano seguinte ao


ano de competência. O aluguel do ano t é pago em janeiro do ano t+1. De
acordo com o regime de competência, esse valor deve ser apropriado a cada
trimestre correspondente.

Bônus

A base de cálculo da PE está definida no Artigo 50, § 1°, da Lei do Petróleo


(Lei n° 9478, de 1997)11. Conforme se verifica, o bônus de assinatura não foi
relacionado entre as deduções previstas pela lei.

Gastos com P&D

Para os campos sujeitos ao pagamento da PE, o contrato de concessão exige


que o concessionário invista um por cento da receita bruta em programas e
projetos de pesquisa e desenvolvimento relacionados com a indústria do
petróleo. Essa importância é dedutível para fins de apuração da base de
cálculo da PE.

É interessante observar que tal dedução, além de não estar prevista na Lei
do Petróleo, representa uma exceção à regra do 'ring fence', pois os temas
objeto dos programas podem abranger toda a cadeia petrolífera do ‘poço ao
posto’, não estando restritos às atividades de exploração e produção, nem
tampouco ao projeto em consideração.

Provisão de abandono

Como não existe a figura da recuperação retroativa de prejuízos, para fins


de PE o ressarcimento dos custos de abandono é feito através de uma
provisão.

11
Lei 9478/97, art. 50, § 1º - ‘A participação especial será aplicada sobre a receita bruta da
produção, deduzidos os royalties, os investimentos na exploração, os custos operacionais, a
depreciação e os tributos previstos na legislação em vigor’.
12-110 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

A provisão de abandono é uma dedução, sem que haja saída de caixa,


baseada na estimativa dos custos futuros com o abandono e a restauração
ambiental. O valor total estimado no Plano de Desenvolvimento para custear
o abandono é dividido em igual número de parcelas trimestrais pela vida
estimada do campo.

Compensação de prejuízos

A base de cálculo da PE é a Receita Líquida da Produção (RLP) do campo em


cada período de apuração (trimestre). Quando a RLP é positiva, as
companhias pagam a PE, mas quando a RLP é negativa, ela é transferida para
o período de apuração subsequente e adicionada à RLP daquele período. O
processo de acumulação continua até ser gerada uma RLP positiva, quando
então ocorre a incidência da PE. Nenhuma PE é paga até que isso ocorra.

Esse mecanismo faz com que a PE somente seja exigível quando uma RLP
positiva for obtida.

Os valores são transferidos em termos nominais. Não há reajuste algum


quer com base em índice de inflação quer por acréscimo de juros.

12.4 Tributos

Os tributos a considerar são os


incidentes sobre as vendas e sobre os
custos da companhia, estes últimos
denominados tributos indiretos. Ambos
estão indicados na Figura 12-4 como
integrantes dos itens B (tributação
sobre as vendas) e D (tributação sobre
os custos).
Figura 12-6

12.4.1 Tributos sobre vendas

Já foi mencionado que as vendas domésticas de petróleo e gás natural estão


sujeitas ao ICMS, PIS e COFINS, conforme mostram as duas tabelas
seguintes.
12-111 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Tabela 12-4 - Incidências de COFINS, ICMS e PIS

Petróleo
PIS COFINS ICMS
Venda para mesmo estado Sim Sim Sim
Venda para outro estado Sim Sim Não
Exportação Não Não Não

Gás Natural
PIS COFINS ICMS
Venda para mesmo estado Sim Sim Sim
Venda para outro estado Sim Sim Sim
Exportação Não Não Não

Todas as vendas domésticas de gás natural estão sujeitas ao ICMS. No caso


do petróleo apenas as vendas domésticas para adquirente localizado no
mesmo estado estão sujeitas ao ICMS. Nesses casos, os créditos
decorrentes das aquisições de insumos sujeitos ao ICMS são aproveitados.

Nas vendas de petróleo não tributadas pelo ICMS (exportações e vendas


para outro estado), os créditos de ICMS transformam-se em custos.

Na venda de petróleo no mercado interno para adquirente localizado no


mesmo estado, o preço de venda é calculado de acordo com a seguinte
fórmula:

P = P0 x [1 / (1 – PIS% - COFINS% - ICMS%)]

onde:

P é o preço de venda do petróleo;

P0 é o preço de venda do petróleo sem tributação;

PIS% é a alíquota do PIS = 1,65%;

COFINS% é a alíquota da COFINS = 7,60%;

ICMS% é a alíquota do ICMS = 17%, 18% ou 19%, dependendo do


estado.
12-112 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

O adquirente, supostamente um refinador, irá aproveitar os créditos destes


três tributos (ICMS, PIS e COFINS) nas vendas que fizer dos produtos
refinados (combustíveis, lubrificantes, asfaltos, etc.).

12.4.2 Tributos sobre custos

Outros tributos a considerar no regime fiscal brasileiro são os incidentes


sobre os custos da companhia, denominados tributos indiretos, que não
sejam recuperáveis. Se forem recuperáveis, eles não causam impacto no
fluxo de caixa. Por outro lado, se não forem, eles se transformam em
custos. Por exemplo, o custo de um equipamento importado, cujo valor
aduaneiro é $100, sujeito a um imposto de importação (não recuperável) de
10%, passa a ser $110.

A tributação indireta é constituída pelos impostos e pelas contribuições


sociais e sobre o domínio econômico incidentes sobre os bens e serviços
adquiridos pela companhia de petróleo.

Tabela 12-5 - Tributação nas aquisições de material e equipamento

Tributação Local Importado


AFRMM - 25% s/ frete
COFINS 7,60% 7,60%
ICMS 17%, 18% ou 19% 16%, 17% ou 18%
12
II - 14%
13
IPI 6% 6%
PIS 1,65% 1,65%

AFRMM – Adicional de frete para renovação da marinha mercante


COFINS – Contribuição para financiamento da seguridade social
ICMS – Imposto sobre a circulação de mercadorias
II – Imposto de importação
IPI – Imposto sobre produtos industrializados
PIS – Contribuição para o programa de integração social do trabalhador

A Tabela 12-5 relaciona a tributação incidente sobre materiais e


equipamentos adquiridos no mercado doméstico e importados. Todos os
tributos são federais, com exceção do ICMS, que é estadual. Quando a
12
Valores indicativos.
13
Idem.
12-113 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

mercadoria é importada, além da tributação incidente sobre as mercadorias


produzidas localmente (ICMS, IPI, PIS e COFINS), incidem também o
adicional de frete para renovação da marinha mercante (AFRMM), à alíquota
de 25% sobre o frete marítimo, e o imposto de importação (II).

As alíquotas do ICMS variam de um estado a outro. As alíquotas do IPI e do


II variam de acordo com a classificação fiscal da mercadoria. Os valores
dessas alíquotas constantes da Tabela 12-5 são apenas indicativos.

A Tabela 12-6 relaciona a tributação incidente sobre serviços prestados por


residentes no Brasil e serviços prestados por não residentes. Todos são os
tributos federais, com exceção do ISS, que é municipal.

Tabela 12-6 - Tributação nas aquisições de serviços

Tributação Local Importado


CIDE - 10%
COFINS 7,60% 7,60%
ISS 2% a 5% 2% a 5%
IRRF - 0%, 15% ou 25%
PIS 1,65% 1,65%

CIDE – Contribuição de intervenção no domínio econômico


COFINS – Contribuição para financiamento da seguridade social
ISS – Imposto sobre serviços (competência municipal)
IRRF – Imposto de renda retido na fonte sobre remessas ao exterior
PIS – Contribuição para o programa de integração social do trabalhador

No caso de serviços prestados por residentes, toda a tributação (COFINS,


ISS e PIS) é paga pelo prestador do serviço. No caso de serviços prestados
por não residentes, apenas parte da tributação (IRRF e ISS) é paga pelo
prestador do serviço, sendo o restante (CIDE, COFINS e PIS) pago pelo
tomador local dos serviços em nome do prestador.

A CIDE foi criada em 2001 e inicialmente incidia somente sobre pagamento


de serviços com transferência de tecnologia e royalties. A partir de 2002,
passou a ser cobrada sobre qualquer pagamento de serviços prestados por
não residentes.
12-114 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

O IRRF incide sobre remessas ao exterior. Nas remessas de dividendo a


alíquota é 0%. No caso de serviços, a alíquota típica é 15%, porém se o
prestador residir em um paraíso fiscal, a alíquota do IRRF é 25%.

Recuperação da tributação indireta

Parte da tributação indireta do capital é recuperável. A parte não


recuperável integra o custo.

A recuperação vai depender da posição fiscal da companhia de petróleo. Por


exemplo, o IPI é recuperável para os contribuintes do IPI, mas, como uma
companhia de petróleo não é contribuinte do IPI14, esse imposto é não
recuperável para ela.

O ICMS ora incide ora não incide sobre o petróleo. Se o petróleo é


produzido no Estado A e vendido para o B ou exportado, não há incidência
do ICMS na operação; porém, se a venda é para o Estado A onde ocorreu a
produção, há incidência do ICMS.

Quando o ICMS incide sobre a venda de petróleo, a companhia pode


compensar o ICMS que pagou sobre as compras de materiais e equipamentos
com o ICMS sobre vendas, que é cobrado do adquirente do petróleo. A
diferença é recolhida ao Estado A. Nesse caso, o ICMS é recuperável.

Por outro lado, quando o ICMS não incide sobre a venda de petróleo
(exportação ou venda para o Estado B), a companhia não tem como
recuperar o ICMS que pagou sobre as compras de materiais e equipamentos.
Esse ICMS não recuperável passa a ser um custo a mais a onerar a
companhia.

Tabela 12-7 - Recuperação da tributação indireta

Recuperável Não recuperável


COFINS AFRMM
PIS CIDE
ICMS ICMS
- IPI
- IRRF
- ISS

14
O petróleo e o gás natural estão fora do campo de incidência do IPI.
12-115 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

A Tabela 12-7 indica quais tributos são recuperáveis e quais não são.
Circunstancialmente, o ICMS ora é recuperável ora não é. O IPI e o ICMS
já foram comentados. Vamos aos demais.

As contribuições sociais COFINS e PIS incidem sobre as receitas das


empresas e há previsão legal para a recuperação dos valores dessas duas
contribuições atribuíveis aos insumos (aquisições de bens e serviços
necessários às atividades, incluindo energia elétrica, aluguéis e
arrendamentos mercantis de equipamentos, etc.). Mesmo quando a produção
de petróleo é exportada e não há tributação das vendas pela COFINS e pelo
PIS, a legislação prevê que a COFINS e o PIS pagos nas aquisições de bens
e serviços podem ser compensados com outros tributos federais, como o
imposto de renda. Assim, COFINS e PIS são, em geral, recuperáveis.

Com exceção da COFINS e do PIS, toda a tributação incidente sobre


serviços não é recuperável. A lógica é a seguinte: sobre as vendas de
petróleo e gás incidem COFINS, ICMS e PIS, logo não há como recuperar
AFRMM, CIDE, IPI, IRRF e ISS, pois falta a contraparte.

Repetro

Existe no Brasil um regime aduaneiro especial (Repetro) que suspende a


tributação federal (COFINS, II, IPI e PIS) sobre determinados materiais
e equipamentos importados utilizados pela indústria do petróleo. Essa
suspensão do pagamento da tributação na importação é condicionada a uma
estadia temporária15 do equipamento importado (importação temporária).

Esse regime recepcionou também os equipamentos produzidos localmente.


No caso da fabricação nacional, os bens devem ser exportados para que o
adquirente estrangeiro contrate com a companhia de petróleo ou com um
prestador de serviços a utilização do bem, através de um aluguel,
arrendamento mercantil ou afretamento. Essa 'exportação' ocorre sem a
saída física imediata do equipamento, porém com saída física diferida, nos
moldes da importação temporária dos equipamentos de origem estrangeira.

Como o regime só produz efeitos sobre a tributação federal, os estados


celebraram no final de 2007 o Convênio n° 130, fixando uma tributação do
ICMS de 7,5% (com direito a crédito recuperável em 48 meses com 24

15
Ainda que essa estadia seja muito longa e dure muitos anos ...
12-116 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

meses de carência) ou 3% (sem direito a crédito) sobre a importação de


bens através desse regime aduaneiro especial (Repetro). Para bens que irão
permanecer no Brasil por prazo inferior a 24 meses, o Convênio n° 130/2007
prevê a não cobrança do ICMS ou a incidência do ICMS aplicando-se a
alíquota de 1,5%, sem recuperação de crédito. Cabe a cada estado optar
pela cobrança ou não do ICMS, respeitados os parâmetros convencionados.

Materiais e equipamentos

As tabelas seguintes permitem visualizar as fórmulas de cálculo da


tributação indireta sobre materiais e equipamentos. Nas fórmulas o valor do
imposto ou contribuição está grafado com a sua sigla seguida de um $
(exemplo: ICM$, PI$) e a alíquota está grafada com a sigla seguida de um %
(exemplo: ICMS%, PIS%). P0 é o valor do item sem a incidência da
tributação. Nos exemplos, P0 = 100.

Tabela 12-8 - Tributação de material e equipamento doméstico

P0 = 100
Base de cálculo
P0 x (1+IPI%)/
ICMS 148,31
{1-[ICMS%x(1+IPI%)]-PIS%-COFINS%}
P0 /
IPI, PIS e COFINS 141,24
{1-[ICMS%x(1+IPI%)]-PIS%-COFINS%}
Impostos e contribuições sociais
ICMS 19% 19% x 148,31 = 28,18
IPI 5% 6% x 141,24 = 7,06
PIS 1,65% 1,65% x 141,24 = 2,33
COFINS 7,60% 7,60% x 141,24 = 10,73
Tributação total 48,31
12-117 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Tabela 12-9 - Tributação de material e equipamento importado

P0 = 100
Base de cálculo
II P0 100,00
IPI P0 + II 114,00
P0x{1+ICMS%x[II%+IPI%x(1+II%)]} /
PIS e COFINS 135,32
[(1-PIS%-COFINS%)x(1-ICMS%)]
(P0 + II$ + IPI$ + PI$ + COFIN$)/
ICMS 157,40
(1 - ICMS%)
Impostos e contribuições sociais
II 14% 14% x 100,00 = 14,00
IPI 5% 5% x 114,00 = 5,70
PIS 1,65% 1,65% x 135,32 = 2,23
COFINS 7,60% 7,60% x 135,32 = 10,28
ICMS 16% 16% x 141,24 = 25,18
Tributação total 57,40

Com poucas exceções, a base de cálculo de cada tributo inclui outros


tributos e até mesmo o próprio tributo. As fórmulas acima se aplicam nas
situações não cobertas pelo Repetro.

12.5 Imposto de renda

O imposto de renda é cobrado sobre o lucro total da companhia, que engloba


todos os seus negócios, não havendo, destarte, um 'ring fence' para o
imposto de renda. A alíquota do imposto de renda cobrado das pessoas
jurídicas no Brasil é a soma da alíquota do imposto de renda propriamente
dito (25%) com a alíquota da contribuição social sobre o lucro líquido (9%).

A participação especial e o imposto de renda diferem no que diz respeito ao


‘ring fence’, ao tratamento dos gastos de pré-produção e em alguns outros
aspectos destacados na Tabela 12-10.
12-118 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Tabela 12-10 – Participação especial versus imposto de renda

Item Imposto de Renda Participação Especial


'Ring fence' Não se aplica Campo petrolífero
Bônus Não dedutível
Geologia e geofísica (G&G) Tratar como despesa ou
Amortizar durante a vida
Poços secos amortizar durante a vida do
do campo (linha reta ou
Poços exploratórios (teste e campo (linha reta ou
unidades produzidas)
avaliação) não usados no unidades produzidas), a
desenvolvimento critério do concessionário
Amortizar durante a vida do campo
Poços de desenvolvimento
(linha reta ou unidades produzidas)
Depreciação dos custos de Listagem complementar ao Regulamento do Imposto de
capital Renda (Dec. n° 3000/99)
Depreciação pelo Dec. n°
Material e equipamentos locais Depreciação acelerada16
3000/99
Dedutibilidade de juros Sim Não (exceto arrendamento)
Dedutibilidade da base da PE Não
Dedutibilidade da base do IR Não Sim

Compensação de prejuízos Sim, até 30% da base Sim, sem teto

Ganhos cambiais Adicionar à receita Não aplicável


Perdas cambiais Deduzir da receita Não aplicável
Custos de 'overhead' Dedutíveis Não dedutível17
Custos operacionais Despesa

12.6 Valoração da produção

Esta seção cobre os preços usados para calcular os royalties, a PE e os


pagamentos feitos aos superficiários. Trata-se do sistema de Preço de
Referência.

12.6.1 Preço de referência do petróleo

Tanto o petróleo quanto o gás natural podem ser vendidos dentro e fora do
Brasil sem controle de preços. Porém, para fins de cálculo das participações
governamentais previstas na Lei do Petróleo (royalty e PE), os preços estão
sujeitos a certas normas.

16
Matéria pendente de regulação complementar.
17
Há exceções quando o custo é associado com o projeto do campo.
12-119 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Num dado mês, para cada campo o Preço de Referência do Petróleo é o


preço real médio de venda ou o Preço Mínimo fixado pela ANP, aplicando-se
o maior dos dois. Em decorrência, qualquer venda aquém de um dado Preço
Mínimo será, mesmo assim, tributada pelo Preço Mínimo, ou seja, haverá
tributação sobre uma receita não auferida. A produção mensal de petróleo
transferida para a refinaria do próprio produtor é valorada pelo Preço
Mínimo. Se não houver venda de petróleo no mês, o Preço Mínimo se aplica.

Dois pontos merecem destaque. Primeiro, deve-se excluir do preço de venda


os impostos que nele incidem (ICMS, PIS e COFINS). Segundo, o preço de
venda pode ser ajustado para menor deduzindo-se dele os custos incorridos
no transporte através de dutos de uso comum, mas não os custos de
movimentação do petróleo através das instalações da própria companhia
(dutos de transferência). Todavia, se tal ajuste reduzir o preço de venda
abaixo do Preço Mínimo, este último deve prevalecer. Dessa forma, tal
ajuste somente produzirá efeito na redução do Preço de Referência quando
o preço de venda ajustado superar o Preço Mínimo.

Há duas regras para se fixar o Preço Mínimo, sendo uma regra principal e a
outra suplementar.

A regra principal determina que o concessionário apresente à ANP uma


cesta de petróleos. Essa cesta de petróleos funciona como um substituto
para o petróleo local cujo Preço Mínimo se quer determinar.

Por exemplo: uma dada cesta


compreende 25% do petróleo A,
25% do petróleo B e 50% do
petróleo C. O Preço Mínimo será
então calculado como a média
ponderada dos preços dos
petróleos A, B e C, preços estes
regularmente cotados pelas
agências especializadas (Platt’s,
Argus, Bloomberg, etc.). Não há
ajuste de transporte desde a
origem até o Brasil para os
Figura 12-7
petróleos A, B e C.
12-120 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

É interessante observar que a regra suplementar, que passamos a comentar,


tem prevalecido sobre a regra principal (cesta de petróleos). A regra
suplementar se aplica na eventualidade de o concessionário não apresentar a
cesta de petróleos. Neste caso o Preço Mínimo é então fixado
unilateralmente pela ANP, conforme descrito na Portaria n° 206/2000. Um
exemplo numérico é a melhor forma para se entender os cálculos delineados
por essa portaria.

O exemplo de cálculo que segue se aplica à primeira produção do petróleo de


Tupi, em abril de 2009 (teste de poço) usando a Portaria n° 206/2000.

Tabela 12-11 - Dados do petróleo de Tupi

Densidade API: 28,5


Teor de Enxofre: 0,378%
Rendimentos (Curva Pontos de Ebulição Verdadeiros – PEV)
Destilados Leves Destilados Médios Destilados Pesados
≤ 270 °C 270 °C a 450 °C > 450 °C
32,14% 27,69% 40,17%

O Preço Mínimo é determinado em função das cotações do petróleo Brent


Datado, que será comentado a seguir, e de alguns derivados do petróleo no
mercado internacional. Os preços da Tabela 12-12, em US$/barril, obtidos
do Platt’s European Marketscan, foram usados para calcular o Preço Mínimo
do petróleo Tupi para abril de 2009. Nenhum ajuste é feito para os custos
de manuseio e de transporte para ou a partir do Brasil ou dentro do Brasil.
São usados os preços FOB retirados diretamente do Platt's.

Tabela 12-12 - Preços do petróleo Brent e de derivados

US$/barril, Abril 2009


Gasoline Diesel Gasoil Fuel Oil Fuel Oil Brent
18
10 ppm 10 ppm 0,1% 1% 3,5% Dated
59,60 61,87 58,98 44,10 41,86 50,33

A fórmula utilizada é a seguinte:


Petróleo Brent +/- diferencial

18
ppm = partes por milhão = 0,0001%
12-121 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

O diferencial indicado nessa fórmula é a diferença do valor obtido para os


rendimentos do petróleo Brent e do valor obtido para os rendimentos do
petróleo local, utilizando-se os preços da Tabela 12-12 na valoração. Para
valorar os rendimentos do petróleo Brent, são usados os preços da gasolina
de 10 ppm, do Diesel de 10 ppm e do óleo combustível de 1% de enxofre.

Os preços dos derivados de petróleo usados para calcular o valor dos


rendimentos do petróleo local dependem do teor de enxofre. Se o teor de
enxofre do petróleo local for maior do que o teor de enxofre do petróleo
Brent (0,35%), os preços da gasolina de 10 ppm, do gasóleo de 0,1% de
enxofre e do óleo combustível de 3,5% de enxofre são usados. Caso
contrário, os mesmos preços são usados para os rendimentos do petróleo
Brent e para os rendimentos do petróleo local, a saber, gasolina 10 ppm,
diesel 10 ppm e óleo combustível com 1,0% de enxofre.

Os cálculos das Tabelas 12-13 e 12-14 são auto-explicativos.

Diferencial de preço, em US$/Barril = 52,30 – 58,16 = - 5,86

Preço Mínimo de TUPI, em US$/Barril = Brent ± diferencial =


= 50,33 – 5,86 = 44,47

Preço Mínimo de TUPI, em R$/m3 = 44,47 × 2,21 × 6,29 = 616,91

2,21 é a taxa de câmbio em R$/US$ de abril de 2009 e 6,29 é o fator de


conversão de metro cúbico para barril (1 metro cúbico = 6,29 barril).

Dessa forma, o Preço Mínimo de TUPI calculado para abril de 2009 é


R$616,91 por metro cúbico.
12-122 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Tabela 12-13 - Valor dos rendimentos do Brent, US$/barril

A B C
Rendimentos, % Destilado Destilado Destilado
A+B+C=100%
Leve Médio Pesado
Brent Datado 39,20% 44,90% 15,90%

D E F
Óleo
Gasolina Diesel
Preços, $/b Combustível Platt’s
10 ppm 10 ppm
1%
59,60 61,87 44,10

Valor dos G=A D H=B E I=C F J=G+H+I


rendimentos, $/b 23,36 27,78 7,01 58,16

Tabela 12-14 - Valor dos rendimentos de Tupi, US$/barril

A B C
Rendimentos, % Destilado Destilado Destilado
A+B+C=100%
Leve Médio Pesado
Tupi 32,14% 27,69% 40,17%

D E F
Óleo
Gasolina Gasóleo
Preços, $/b Combustível Platt’s
10 ppm 0,1%
3,5%
59,60 58,98 41,86

Valor dos G=A D H=B E I=C F J=G+H+I


rendimentos, $/b 19,15 16,33 16,82 52,30
12-123 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Brent datado

Na década de 1970 o petróleo Árabe Leve era o referencial contra o qual


outros petróleos eram comparados para formar seus preços, sendo ainda
hoje usado dessa maneira pela Organização dos Países Exportadores de
Petróleo (OPEP). Atualmente, os principais referenciais de preço são o
West Texas Intermediate (WTI) nos Estados Unidos, o Fateh de Dubai na
área do Golfo Persa e o Brent do Reino Unido. Os preços desses petróleos
são usados como indicativos das condições de mercado.

O petróleo Brent é produzido no Mar do Norte e transferido, por meio de


oleodutos, para o terminal de Sullom Voe nas Ilhas Shetland, na Escócia, a
partir do qual é embarcado em grandes petroleiros. Para atender à grande
demanda, em meados de cada mês o operador do terminal programa as datas
de retirada para o mês seguinte. O comprador é notificado com 15 dias de
antecedência acerca da data programada para retirar o petróleo. Por razões
de flexibilidade operacional, ele dispõe de uma 'janela' de três dias em
torno dessa data para realizar a retirada. Surgiu daí a expressão 'Brent
datado'.

12.6.2 Preço de referência do gás natural

Ao contrário do petróleo, não há Preço Mínimo para o gás.

O preço de venda do gás, nos contratos em que as partes são independentes


e estão em pé de igualdade, firmados entre o concessionário produtor e os
compradores de gás natural, é considerado como Preço de Referência. Esse
preço não deve incluir os tributos (ICMS, PIS e COFINS).

Além disso, as tarifas pagas para transportar o gás até os pontos de


entrega aos compradores (estações 'city gate') são dedutíveis na formação
do Preço de Referência.
12-124 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Gasoduto de Transporte
Estação
City Gate
(*) Gasoduto de transferência
de uso exclusivo do concessionário

Estação
City Gate

Poço Trata- Processa-


de Gás mento mento
Estação
City Gate

Entrada do gás no gasoduto de transporte

Figura 12-8 - Ponto de valoração do gás natural para fins de PE

12.6.3 Transações entre empresas coligadas ou controladas

No Brasil, como em muitas outras jurisdições, as transações entre empresas


coligadas ou controladas estão no foco das autoridades tributárias. Duas
condições devem ser satisfeitas para que o preço de uma operação de
compra e venda possa ser utilizado na valoração da produção para fins de
royalty e de PE. São as chamadas condições 'arm's length'.

A primeira condição exige que as partes envolvidas na transação devem ser


independentes, isto é, não deve haver relacionamento algum entre elas. Uma
das partes não pode, por exemplo, controlar ou ser coligada da outra.

A segunda condição é que as partes devem estar em pé de igualdade.

Dois exemplos brasileiros ajudam a entender esse conceito.

1º. Exemplo: Suponhamos que a Petrobras participe, juntamente com outra


companhia, de um consórcio detentor da concessão de um dado campo
gaseífero marítimo. Pertence à Petrobras toda a infraestrutura de
escoamento da produção de gás natural desde o campo produtor marítimo
até o ponto de entrega às companhias distribuidoras de gás. Assim, a outra
companhia dispõe das seguintes opções para destinar a sua parcela de gás
produzido no campo: (i) reinjetar o gás no reservatório, (ii) queimar o gás ou
12-125 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

(iii) vender o gás para a Petrobras. Como o vendedor e o comprador do gás


não estão em pé de igualdade, a autoridade tributária deve desconsiderar
os preços desta venda para fins de tributação, uma vez que ela não atende à
condição 'arm's length'. Em outras palavras, esse preço de venda não pode
ser considerado para fins de royalty e de PE.

2º. Exemplo: Alguns campos de pequeno porte no Brasil são operados por
companhias não refinadoras, ditas independentes. Dado o pequeno volume de
óleo produzido, isto é, por falta de escala, essas companhias não conseguem
exportar sua produção, restando-lhes vender o óleo para a Petrobras,
detentora, por força de quase 50 anos de monopólio, de praticamente todas
as refinarias do país. Num regime de oligopsônio, o comprador impõe seu
preço ao vendedor. Assim, o preço de venda nessas condições também não
atende às exigências ‘arm’s lenght’ para ser utilizado para fins de royalty e
de PE.

O termo 'arm's length' é usado para indicar a necessidade


de certa distância, simbolizada pelo comprimento de, no
mínimo, um braço, entre o vendedor e o comprador.
Traduzindo: não pode haver intimidade entre as partes
que transacionam.
Figura 12-9

Se uma dada transação não atender às condições ‘arm’s lenghts’ acima


comentadas, o preço a ser utilizado como base de tributação deve atender
às regras do ‘Preço de Transferência’. A Portaria ANP n° 10/99 trata dessa
matéria no artigo 27, onde três condições básicas são exigidas para
configurar uma transação válida; condições estas semelhantes às exigidas
pelo fisco federal.
13-126 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Capítulo 13 - ANÁLISE COMPARATIVA dos SISTEMAS FISCAIS

13.1 Moldura analítica


Neste capítulo analisaremos o ‘Nosso Campo’, introduzido no capítulo quatro, em
seis ambientes fiscais diferentes, com a finalidade de comparar os seguintes
indicadores: taxa interna de retorno (TIR), valor presente líquido do fluxo de caixa
descontado a 10% ao ano (VPL @ 10%) e ‘government take’ descontado a 10% ao ano
(GT @ 10%).

Esses indicadores antes da tributação foram calculados no capítulo quatro como


sendo os seguintes:

Taxa interna de retorno TIR 54%


Valor presente líquido VPL @ 10% $19.441 milhões
‘Government take’ GT @ 10% 0%

Os regimes mais simples serão analisados primeiro. A cada novo regime um novo
elemento fiscal será introduzido. Começaremos com um único elemento fiscal e
terminaremos com cinco elementos fiscais.

Assim, iniciaremos com um regime bem simples, o do Reino Unido, com apenas um
elemento fiscal, o imposto de renda.

Em seguida complicaremos um pouco, analisando o regime da Austrália com dois


elementos fiscais: um imposto sobre a renda econômica e o imposto de renda.

Na terceira jurisdição analisada, os Estados Unidos (Golfo do México), o regime é


composto pelo bônus de assinatura, o royalty e o imposto de renda.

O quarto regime analisado, o da Noruega, contém também três elementos fiscais. A


Noruega tem apenas o imposto de renda em comum com os Estados Unidos. Os
outros dois elementos são um imposto especial sobre o petróleo e a participação do
governo no empreendimento.

O quinto regime é o brasileiro, com cinco elementos fiscais, a saber, o bônus de


assinatura, o royalty, a participação especial, o imposto de renda e a tributação
(indireta) do investimento.

Todos os cinco regimes mencionados até aqui são de concessão. O sexto e último
regime é um contrato de partilha da produção nos moldes empregados em Angola. O
13-127 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

regime analisado possui cinco elementos: a participação do Estado, o bônus de


assinatura, o limite para recuperação de custos, a partilha da produção
propriamente dita e o imposto de renda.

Há uma grande variedade de regimes de partilha de produção, ainda que


circunscritos a uma mesma jurisdição, e é difícil decidir acerca de um caso
representativo para se analisar. Os esquemas de partilha variam de um contrato a
outro. Assim, nossa análise não deve ser interpretada como uma análise detalhada
de um contrato específico, mas como a análise de um regime contendo os elementos
gerais inerentes a tais contratos.

Figura 13-1 - Pacote fiscal em fase de preparação

Para não complicar demais os sistemas analisados e facilitar o entendimento por


parte do leitor, algumas simplificações foram feitas na modelagem dos regimes.

Não foi considerada a tributação sobre a venda do petróleo. A venda do petróleo


no mercado doméstico é, em geral, tributada por impostos sobre o valor agregado,
de que são exemplos o ‘Goods and Service Tax’ - GST (Austrália), o ‘Value Added
13-128 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Tax’ - VAT (Reino Unido) e, nalgumas situações, o próprio ICMS (Brasil). Em geral,
na tributação das vendas de petróleo pelo imposto sobre o valor agregado, o fluxo
de caixa da companhia não é afetado.

Apenas os instrumentos fiscais mais relevantes foram considerados. Assim,


passamos ao largo de alguns deles, tais como: os valores cobrados a título de
ocupação e retenção de área, empregados na maioria dos países; o imposto sobre o
dióxido de carbono1 (Noruega); a contribuição para a formação de quadros
angolanos; o excedente sobre o preço do petróleo2 (Angola); e o imposto de renda
retido na fonte3 (Austrália).

Tanto os dois poços exploratórios quanto os dois poços de avaliação foram


completados para serem utilizados como poços de desenvolvimento. Assim, tais
custos foram depreciados juntamente com os demais poços de desenvolvimento.

A Tabela 13-1 resume os métodos e taxas de depreciação que foram utilizados na


construção dos modelos fiscais.

Tabela 13-1 - Métodos e taxas de depreciação

Tipo de Custo Angola Austrália Brasil EUA Noruega R.Unido


PSC IRP IR PE IR IR SPT IR IR
Bônus - - - 5% LR UP - - -
Exploração 100% 100% 100% 5% LR 100% 100% 100%
10% 10% 16,67% 16,67%
Desenvolvimento 25% LR* 6,67% LR UP 100%
LR** LR** LR*** LR

* inclui ‘uplift’ de 50%.

** exceto FPSO = 5% ao ano = 20 anos.

*** + ‘uplift’ de 30% depreciado a 25% ao ano.

100% = dedução integral no 1° ano de produção.

LR = linha reta.

UP = unidades produzidas.

1
CO2 Tax.
2
Price cap.
3
Withholding Tax.
14-129 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Capítulo 14 - REINO UNIDO

14.1 Termos fiscais

Antes da extinção do royalty para todos os


campos no Reino Unido, a partir de 01/01/2003, o
fluxo de caixa pós-tributação dos campos que
tiveram desenvolvimento aprovado antes de 1993
era expresso da seguinte forma:

Figura 14-1
FC = R – OPEX – CAPEX – RYT – PRT - IR

onde:

FC é o fluxo de caixa após a tributação;

R é a receita bruta de vendas;

OPEX são os custos operacionais;

CAPEX são os custos de capital;

RYT é o royalty;

PRT é o imposto especial sobre a receita do petróleo;

IR é o imposto de renda.

Atualmente, duas estruturas fiscais se aplicam às atividades de petróleo no Reino


Unido.

A primeira estrutura inclui, além do imposto de renda e do imposto complementar,


o PRT, que se aplica aos campos que tiveram desenvolvimento aprovado antes de
19934.

FC = R – OPEX – CAPEX – PRT - IR

A segunda estrutura, com apenas imposto de renda e imposto complementar, aplica-


se aos campos que tiveram desenvolvimento aprovado após 1993.

FC = R – OPEX – CAPEX – IR

4
O PRT (Petroleum Revenue Tax) foi abolido para os novos campos a partir de 16/03/1993.
14-130 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Nesse caso, IR é o imposto de renda que incorpora também o imposto


complementar criado em 2002.

14.2 Análise econômica

Analisamos o 'Nosso Campo' sob o regime do Reino Unido aplicável aos campos cujo
desenvolvimento foi aprovado após 1993, isto é, com a incidência apenas do imposto
de renda (normal e complementar) à alíquota combinada de 50%.

Para fins de imposto de renda, os ativos (Capex) são tratados da mesma forma que
os custos operacionais, isto é, são 100% depreciados no ano em que forem
incorridos5. Assim, os cálculos são bem mais simples e diretos.

A Tabela 14-1 mostra o fluxo de caixa da companhia após a tributação.

O sistema do Reino Unido é um regime neutro. O total do fluxo de caixa da


companhia é igual ao total do fluxo de caixa do governo, que se resume ao imposto
de renda. Isso ocorre porque a alíquota do imposto de renda é 50%. O total dos
dois fluxos de caixa é igual, porém há uma diferença temporal entre os valores
anuais dos dois fluxos de caixa: companhia e governo.

5
First Year Allowance (FYA) = 100%
14-131 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Tabela 14-1 - Fluxo de Caixa 'Nosso Campo' (Reino Unido)

$ Milhões
A Produção Preço Receita Custos Depreciação Imposto Custos Fluxo Caixa
n Petróleo Petróleo Bruta Operac. Renda Capital Líquido
o MMb/ano $/b A B C D E F
1 - 75 - - - - 20 -20
2 - 77 - - - - 52 -52
3 - 80 - - - - 212 -212
4 - 82 - - - - 219 -219
5 - 84 - - - - 395 -395
6 - 87 - - - - 1.160 -1.160
7 - 90 - - - - 1.397 -1.397
8 32 92 2.944 246 4.894 - 1.439 1.259
9 44 95 4.180 253 469 631 469 2.827
10 55 98 5.390 261 483 2.323 483 2.323
11 66 101 6.666 269 497 2.950 497 2.950
12 75 104 7.800 277 512 3.506 512 3.506
13 73 107 7.811 285 185 3.671 185 3.671
14 65 110 7.150 294 - 3.428 - 3.428
15 59 113 6.667 303 - 3.182 - 3.182
16 53 117 6.201 312 - 2.945 - 2.945
17 48 120 5.760 321 - 2.720 - 2.720
18 43 124 5.332 314 - 2.509 - 2.509
19 39 128 4.992 308 - 2.342 - 2.342
20 35 132 4.620 300 - 2.160 - 2.160
21 31 135 4.185 294 - 1.946 - 1.946
22 28 140 3.920 288 - 1.816 - 1.816
23 25 144 3.600 282 - 1.659 - 1.659
24 23 148 3.404 276 - 1.564 - 1.564
25 21 152 3.192 270 - 1.461 - 1.461
26 18 157 2.826 264 - 1.281 - 1.281
27 17 162 2.754 259 1.078 709 1.078 709

850 3.053 99.394 5.676 8.118 42.800 8.118 42.800

D = 50% x (A – B – C)

F = A – (B + D + E) = fluxo de caixa da companhia

D = fluxo de caixa do governo


14-132 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

A TIR pós-tributação, mostrada na Figura 14-2, é 42% ao ano. Era 54% ao ano
antes da tributação.

O VPL descontado a 10% no regime do Reino Unido é US$9.475 milhões, contra


US$19.441 milhões antes da tributação. O que aconteceu com a diferença?6

No Reino Unido, o 'government take'


descontado a 10% ao ano é US$9.966 milhões
(= 19.441 – 9.475) ou 51%.

O 'company take' é o complemento: 49%,


praticamente meio a meio, pois a alíquota do IR
é 50%.

VPL, $MM
Taxa VPL Pós VPL Pré
1.000
0% 42.800 85.600 TIR = 42%
5% 19.503 39.344 800
10% 9.475 19.441
15% 4.800 10.145 600 TIR = 54%
20% 2.478 5.503
25% 1.266 3.056 400
30% 611 1.710
200
35% 249 944
40% 46 499
0
45% -67 235 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%
50% -128 77 -200
55% -159 -17
60% -173 -73 -400
65% -176 -105 Pós-tributação Pré-Tributação

Figura 14-2 - Taxa interna de retorno

6
A resposta está com o Chancellor of the Exchequer.
15-133 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Capítulo 15 - AUSTRÁLIA

15.1 Termos fiscais


O regime fiscal de concessão para o
petróleo vigente na Austrália para os
campos marítimos sob jurisdição
1
federal combina um imposto especial
sobre a renda do recurso petrolífero
(PRRT2) e o imposto de renda federal. Figura 15-1

Não há bônus de assinatura no regime australiano. As licenças são concedidas de


forma discricionária com base em programas de trabalho. Tampouco há
participação do Estado. O royalty não se aplica às áreas definidas no escopo desta
seção. Ele se aplica a outras áreas do território australiano.

15.2 PRRT
O imposto sobre a renda do recurso petrolífero (PRRT) é o mecanismo de
tributação básico usado na Austrália para os projetos de petróleo e gás. Ele já foi
descrito no capítulo nove.

O PRRT é aplicado à alíquota de 40% sobre o fluxo de caixa líquido do projeto e é


dedutível do imposto de renda. Só para lembrar:

PRRT = 40% x (R – OPEX - CAPEX – E&A)

O CAPEX não deduzido por insuficiência de receita é capitalizado à taxa LTBR +


5% e os custos de E&A não deduzidos pela mesma razão são capitalizados à taxa
LTBR + 15%. Na análise, a LTBR foi fixada em 6% ao ano.

15.3 Imposto de renda


O imposto de renda federal é cobrado à alíquota de 30%. Essa alíquota do imposto
de renda é a mesma aplicável a todos os tipos de indústria operando na Austrália,

1
As exceções a essa regra são os projetos de gás da plataforma noroeste, que estão sujeitos a royalty e
imposto de renda federal, os projetos no continente, que estão sujeitos aos royalties estaduais, e as áreas de
desenvolvimento conjunto com o Timor Leste, que estão submetidas ao regime de partilha da produção.
2
Petroleum Resource Rent Tax (PRRT).
15-134 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

porém o regulamento contém regras específicas aplicáveis às companhias de


petróleo. Para fins de imposto de renda, o 'ring fence' é ao redor do país.

Base de cálculo

Os gastos que não sejam de capital, tais como as despesas operacionais, são
dedutíveis no período em que forem incorridos.

Os gastos exploratórios e de avaliação, incluindo direitos de exploração e de lavra,


são também deduzidos imediatamente, assim como os pagamentos do PRRT.

A despesa de depreciação é dedutível durante a vida efetiva do ativo, que, em


geral, coincide com a vida do campo.

Tabela 15-1 - Prazos de depreciação típicos

Item de custo Vida efetiva (anos) Prazo limite (anos) % anual


Gastos exploratórios - 1 100%
Gastos de capital (*) 15 20 6,67%
Sondas de perfuração 10 15 10%
Tubulações 30 15 6,67%

(*) Inclui poços, itens submarinos e plataformas.

No ano em que o abandono ocorre, se a base tributável for maior do que os custos
de abandono, a totalidade dos custos de abandono é deduzida. Caso contrário, o
governo concede um crédito tributário de 40% sobre o excesso dos custos de
abandono em relação à base tributável.

Crédito tributário =40% x (custos de abandono – base tributável)

Fórmula de cálculo

O imposto de renda (IR) é calculado de acordo com a seguinte fórmula:

IR = 30% x (R – E&A - OPEX – Depr CAPEX – PRRT - Prejuízos)

onde:

IR é o imposto de renda no período t;

30% é a alíquota do imposto de renda (IR);

R é a receita bruta no período t;


15-135 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

E&A são os custos de exploração e avaliação no período t;

OPEX são os custos operacionais no período t;

Depr CAPEX é a depreciação do Capex no período t;

PRRT é o imposto especial no período t;

Prejuízos são resultados negativos transferidos de períodos anteriores.

15.4 Análise econômica


O fluxo de caixa líquido pós-tributação é expresso pela seguinte equação:

FC = R – (OPEX + CAPEX + PRRT + IR)


onde:

FC é o fluxo de caixa líquido no período t;

R é a receita bruta no período t;

OPEX são os custos operacionais no período t;

CAPEX são os custos de capital no período t;

PRRT é o imposto especial pago no período t;

IR é o imposto de renda federal pago no período t.

A Tabela 15-2 contém o cálculo do PRRT. Já a Tabela 15-3 apresenta o fluxo de


caixa da companhia após a tributação pelo PRRT e pelo imposto de renda federal.

A Figura 15-2 mostra o cálculo da TIR do projeto submetido ao regime da Austrália


para campos marítimos sob jurisdição federal.
15-
Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições
136

Tabela 15-2 - Cálculo do PRRT ($ Milhões)


A Receita Capex Opex Carregto Custos + Custo Não Saldo Custos Carregto Custos + Custo Não Saldo PRRT
n Total LTBR+5% Carregto Deduzido Receita E&A LTBR+15% Carregto Deduzido Receita 40%
o A B C D E F G H I J K L M
1 - - - - - - 20 20 20 - -
2 - - - - - - - 52 24 76 76 - -
3 - 212 - - 212 212 - - 92 92 92 - -
4 - 219 - 235 454 454 - - 112 112 112 - -
5 - 395 - 504 899 899 - - 135 135 135 - -
6 - 1.160 - 998 2.158 2.158 - - 163 163 163 - -
7 - 1.397 - 2.396 3.793 3.793 - - 198 198 198 - -
8 2.944 1.439 246 4.210 5.895 2.951 - - 239 239 239 - -
9 4.180 469 253 3.275 3.997 - 183 - 289 289 107 - -
10 5.390 483 261 - 744 - 4.646 - 129 129 - 4.517 1.807
11 6.666 497 269 - 766 - 5.900 - - - - 5.900 2.360
12 7.800 512 277 - 789 - 7.011 - - - - 7.011 2.804
13 7.811 185 285 - 470 - 7.341 -D = B x- (1 + 11%) - - 7.341 2.936
t t-1
14 7.150 - 294 - 294 - 6.856 - - - - 6.856 2.742
E=B+C+D
15 6.667 - 303 - 303 - 6.364 - - - - 6.364 2.546
16 6.201 - 312 - 312 - 5.889 -F = E – A,- se > 0 - - 5.889 2.356
17 5.760 - 321 - 321 - 5.439 -G = A – E,- F = 0 - - 5.439 2.176
18 5.332 - 314 - 314 - 5.018 - - - - 5.018 2.007
I = Ht-1 x (1 + 21%)
19 4.992 - 308 - 308 - 4.684 - t - - - 4.684 1.874
20 4.620 - 300 - 300 - 4.320 -J = H + I - - - 4.320 1.728
21 4.185 - 294 - 294 - 3.891 -K = J – G,- se > 0 - - 3.891 1.556
22 3.920 - 288 - 288 - 3.632 - - - - 3.632 1.453
L = G – J, se K = 0
23 3.600 - 282 - 282 - 3.318 - - - - 3.318 1.327
24 3.404 - 276 - 276 - 3.128 -M = 40% -x L - - 3.128 1.251
25 3.192 - 270 - 270 - 2.922 - - - - 2.922 1.169
26 2.826 - 264 - 264 - 2.562 - - - - 2.562 1.025
27 2.754 1.078 259 - 1.337 - 1.417 - - - - 1.417 567
99.394 8.046 5.676 11.619 25.341 10.467 84.521 72 1.382 1.454 1.142 84.209 33.684
15-137 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Tabela 15-3 - Fluxo de Caixa ‘Nosso Campo’ (Austrália)

$ Milhões
Ano Receita Custos Custos Depreciação PRRT Imp. Renda Fluxo Caixa
Bruta Operacionais Capital 30% Líquido
A B C D E F G
1 - - 20 - - - -20
2 - - 52 - - - -52
3 - - 212 - - - -212
4 - - 219 - - - -219
5 - - 395 - - - -395
6 - - 1.160 - - - -1.160
7 - - 1.397 - - - -1.397
8 2.944 246 1.439 393 - 691 568
9 4.180 253 469 353 - 1.072 2.386
10 5.390 261 483 385 1.807 881 1.958
11 6.666 269 497 418 2.360 1.086 2.454
12 7.800 277 512 452 2.804 1.280 2.927
13 7.811 285 185 465 2.936 1.238 3.167
14 7.150 294 - 465 2.742 1.095 3.019
15 6.667 303 - 465 2.546 1.006 2.812
16 6.201 312 - 465 2.356 921 2.613
17 5.760 321 - 465 2.176 840 2.424
18 5.332 314 - 465 2.007 764 2.247
19 4.992 308 - 465 1.874 704 2.107
20 4.620 300 - 465 1.728 638 1.954
21 4.185 294 - 465 1.556 561 1.774
22 3.920 288 - 465 1.453 514 1.665
23 3.600 282 - 143 1.327 554 1.436
24 3.404 276 - 112 1.251 530 1.347
25 3.192 270 - 80 1.169 502 1.251
26 2.826 264 - 46 1.025 447 1.090
27 2.754 259 1.078 1.090 567 251 599

99.394 5.676 8.118 8.118 33.684 15.575 36.342

D = C depreciado em 15 anos pela linha reta (6,67% ao ano)

E = M da Tabela 15-2

F = 30% x [ A – ( B + D + E ) ]

G = A – (B + C + E + F) = fluxo de caixa da companhia

E + F = fluxo de caixa do governo


15-138 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

A TIR após a tributação é 36% ao ano, enquanto era 54% antes da


tributação. O VPL descontado à taxa de 10% ao ano é US$7.661 milhões.
Antes da tributação, o VPL a 10% era US$19.441 milhões.

No regime australiano, o 'government take'


descontado a 10% ao ano é US$11.780
milhões (= 19.441 – 7.661) ou 61%.

O 'company take' é 39%.

Taxa VPL Pós VPL Pré VPL, $MM


0% 36.342 85.600 1.000 TIR = 36%
5% 16.225 39.344
10% 7.661 19.441 800
15% 3.726 10.145
600
20% 1.808 5.503
TIR = 54%
25% 832 3.056 400
30% 320 1.710
35% 48 944 200
40% -96 499
45% -169 235 0
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%
50% -203 77
-200
55% -215 -17
60% -215 -73 -400
65% -208 -105 Pós-tributação Pré-Tributação

Figura 15-2 - Taxa interna de retorno


16-139 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Capítulo 16 - ESTADOS UNIDOS

16.1 Termos fiscais

O regime dos Estados Unidos, aplicado ao Golfo do México, é


um regime fiscal de concessão dos mais simples, com apenas
três elementos fiscais: bônus de assinatura, royalty e imposto
de renda federal.

Figura 16-1

16.2 Bônus
Foi considerado o pagamento de um bônus de assinatura de US$100 milhões, a ser
amortizado com base no método das unidades produzidas.

16.3 Royalty
A alíquota atual do royalty no Golfo do México, tanto para águas rasas quanto para
águas profundas, está fixada em 18,75% desde março de 2008. O volume isento de
royalty é função do volume acumulado de produção de petróleo e depende da
profundidade média da água onde se localiza o campo. Em nossa análise,
consideramos um volume isento de 16 milhões de barris. Assim, não há pagamento
de royalty para os primeiros 16 milhões de barris produzidos. A partir dessa
produção, o royalty incide à alíquota de 18,75%.

16.4 Imposto de renda federal


A alíquota do imposto de renda federal é 35%, sendo a mesma aplicada a qualquer
tipo de indústria nos Estados Unidos.

O imposto de renda estadual não se aplica às áreas federais, como é o caso da


plataforma continental do Golfo do México.

Tratamento dos custos para fins de IR

Os custos de exploração e avaliação foram integralmente deduzidos no primeiro


ano de produção. O método das unidades produzidas foi utilizado para amortizar o
bônus de assinatura e para depreciar os custos de capital. Alternativamente ao
método de depreciação das unidades produzidas, poderia ter sido usado, para
16-140 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

muitos ativos, o sistema MACRS1, que acelera a recuperação dos custos (Tabela
16-1).

Tabela 16-1 - Percentuais de depreciação

Anos MACRS
1 14,29%
2 24,49%
3 17,49%
4 12,49%
5 8,92%
6 8,92%
7 8,92%
8 4,46%
Total 100,00%

16.5 Análise econômica

A Tabela 16-2 apresenta o fluxo de caixa da companhia após a tributação pelo


bônus de assinatura, royalty e imposto de renda federal.

A Figura 16-2 mostra o cálculo da TIR do projeto do 'Nosso Campo' submetido ao


regime dos Estados Unidos para o Golfo do México.

1
Modified Accelerated Cost Recovery System.
16-141 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Tabela 16-2 - Fluxo de Caixa 'Nosso Campo' (Estados Unidos)

$ Milhões
Receita Bônus Custos Custos Depreciação Royalty Imp. Renda Fluxo Caixa
Ano Total Operacionais Capital 35% Líquido
A B C D E F G H
1 - 100 - 20 - - - -120
2 - - - 52 - - - -52
3 - - - 212 - - - -212
4 - - - 219 - - - -219
5 - - - 395 - - - -395
6 - - - 1.160 - - - -1.160
7 - - - 1.397 - - - -1.397
8 2.944 - 246 1.439 257 276 758 225
9 4.180 - 253 469 280 784 1.002 1.672
10 5.390 - 261 483 384 1.011 1.307 2.328
11 6.666 - 269 497 507 1.250 1.624 3.026
12 7.800 - 277 512 635 1.463 1.899 3.649
13 7.811 - 285 185 641 1.465 1.897 3.979
14 7.150 - 294 - 571 1.341 1.731 3.785
15 6.667 - 303 - 518 1.250 1.609 3.505
16 6.201 - 312 - 466 1.163 1.491 3.235
17 5.760 - 321 - 422 1.080 1.378 2.981
18 5.332 - 314 - 378 1.000 1.274 2.744
19 4.992 - 308 - 343 936 1.192 2.556
20 4.620 - 300 - 307 866 1.101 2.353
21 4.185 - 294 - 272 785 992 2.114
22 3.920 - 288 - 246 735 928 1.969
23 3.600 - 282 - 220 675 848 1.795
24 3.404 - 276 - 202 638 801 1.689
25 3.192 - 270 - 184 599 749 1.575
26 2.826 - 264 - 158 530 656 1.376
27 2.754 - 259 1.078 1.227 516 263 638

99.394 100 5.676 8.118 8.218 18.360 23.499 43.641

E = depreciação do bônus e custos de capital pelo método das unidades produzidas

F = 18,75% x A (a partir de 16 milhões de barris)


G = 35% x [ A – ( C + E + F ) ]
H = A – ( B + C + D + F + G ) = fluxo de caixa da companhia
B + F + G = fluxo de caixa do governo
16-142 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

A TIR após a tributação é 35%, enquanto era 54% antes da tributação. O VPL
descontado à taxa de 10% ao ano é US$9.030 milhões. Antes da tributação, o VPL
era US$19.441 milhões.

No regime dos Estados Unidos, o 'government


take' descontado a 10% ao ano é US$10.411
milhões
(= 19.441 – 9.030) ou 54%.

O 'company take' é 46%.

Taxa VPL Pós VPL Pré VPL, $MM


0% 43.641 85.600 1.000
TIR = 35%
5% 19.326 39.344
10% 9.030 19.441 800

15% 4.332 10.145


600
20% 2.058 5.503 TIR = 54%
25% 909 3.056 400
30% 312 1.710
35% -2 944 200
40% -167 499
45% -250 235 0
50% -288 77 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%
-200
55% -301 -17
60% -300 -73
-400
65% -292 -105 Pós-tributação Pré-Tributação

Figura 16-2 - Taxa interna de retorno


17-143 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Capítulo 17 - NORUEGA

17.1 Termos fiscais


Recapitulando. A arrecadação do governo da Noruega provém de três fontes
distintas:

 Tributação das atividades de petróleo;

 Participação direta nos campos da


plataforma continental norueguesa; e

 Dividendos de participação societária na


companhia StatoilHydro.
Figura 17-1

O regime fiscal norueguês é um regime discricionário de licenciamento, sem


pagamento de bônus, do tipo concessão, que combina um imposto especial
sobre o petróleo (SPT)1 com o imposto de renda. Funciona mais ou menos
como se o imposto de renda geral de 28%, quando aplicado às companhias
petrolíferas, tivesse sido turbinado para 78%.

17.2 Participação do Estado


O Estado norueguês participa de duas maneiras do empreendimento:
diretamente através do SDFI, e indiretamente, através de participação
societária na companhia StatoilHydro, presente na maioria dos projetos de
petróleo na Noruega. Na análise, foi considerada uma participação direta do
governo de 30% desde o primeiro dia do projeto, ou seja, sem
carregamento.

17.3 Imposto especial sobre o petróleo (SPT)


A tributação do petróleo se baseia nas regras norueguesas para o imposto
de renda corporativo normal. Porém, além do imposto de renda normal, é
cobrado um imposto especial de 50% sobre as atividades petrolíferas (SPT).

1
Special Petroleum Tax (SPT) ou Special Tax (ST) ou Hydrocarbon Tax (HCT).
17-144 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Ao contrário do PRT do Reino Unido e do PRRT da Austrália, o SPT não é


dedutível da base de cálculo do imposto de renda. Combinando os dois
impostos, a alíquota efetiva é 78%, compreendendo o imposto de renda a
28% e o imposto especial (SPT) a 50%.

'Ring fence'

O SPT incide sobre o lucro total da companhia relativo às atividades


petrolíferas, não se aplicando o 'ring fence' para campos individuais. O 'ring
fence' compreende todas as atividades petrolíferas marítimas.

Base de cálculo

As deduções da receita líquida são as mesmas utilizadas para o imposto de


renda normal, porém restritas às atividades petrolíferas. A diferença
básica com relação ao imposto de renda normal é que, no caso do imposto
especial (SPT), há uma dedução extra aplicada aos custos de
desenvolvimento, o 'uplift'.

Custos de exploração

Todos os custos de exploração são, em princípio, dedutíveis e podem ser


compensados com os resultados positivos da atividade.

Depreciação

Os custos de desenvolvimento são depreciados em 6 anos pelo método da


linha reta (16 2/3% ao ano), a partir da data de aquisição do ativo.

'Uplift'

Os investimentos de capital multiplicados por um percentual de 7,5%


('uplift') são deduzidos durante 4 anos a partir da data do investimento. Tal
medida proporciona uma dedução adicional total para fins de SPT de 30% do
valor do investimento.

Compensação de prejuízos

A companhia que registrar perda num dado período de apuração pode


transferir tal perda acrescida de juros para os períodos seguintes, até que
seja possível a compensação com resultados positivos futuros. A perda pode
incluir o 'uplift'. A taxa de juros é fixada ano a ano pelo Ministério da
Fazenda.
17-145 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Abandono

Os custos de abandono não são totalmente dedutíveis, mas existe uma


provisão legal de que o Estado pagará parte deles. O percentual dos custos
de abandono a ser pago pelo Estado depende da situação fiscal global de
cada companhia e é calculado separadamente para cada tipo de instalação.

Para fins de abandono, cada um dos seguintes itens constitui uma unidade
em separado: plataforma, instalações submarinas, plataforma utilizada como
alojamento e instalações para estocagem e manuseio de petróleo.

17.4 Imposto de renda


O imposto de renda de 28% incide sobre o lucro total da companhia, não se
limitando às atividades petrolíferas marítimas. Em outras palavras, para o
imposto de renda normal, o 'ring fence' é o país.

Base de cálculo

No que diz respeito às atividades petrolíferas, com exceção do 'uplift', que


não se aplica para o imposto de renda normal, todas as demais deduções
aplicáveis ao SPT se aplicam ao imposto de renda.

17.5 Análise econômica

O cálculo da tributação pode ser resumido da seguinte maneira:

(+) Receita de vendas


(-) Custos de exploração
(-) Custos operacionais
(-) Depreciação
(-) Custos financeiros
(-) Prejuízos (+ juros) transferidas de anos anteriores .
(=) Base de cálculo para o imposto de renda normal (28%)
(-)'Uplift'
(-)'Uplift' não utilizado transferido de anos anteriores (+ juros)
(=) Base de cálculo do imposto especial sobre o petróleo (50%)

O fluxo de caixa líquido pós-tributação no período t pode ser expresso pela


seguinte equação:

FC = R – (OPEX + CAPEX + SPT + IR)


17-146 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

onde:

SPT = 50% x {R – [OPEX + Depr (CAPEX + 'uplift') + prejuízos]};

IR = 28% x [R – (OPEX + Depr CAPEX + prejuízos)];

R é a receita bruta no período t;

OPEX são os custos operacionais no período t;

CAPEX são os custos de capital (inclusive de E&A) no período t;

SPT é o imposto especial sobre o petróleo no período t;

IR é o imposto de renda no período t;

Depr CAPEX é a depreciação dos custos de capital no período t;

50% é a alíquota do imposto especial sobre o petróleo (SPT);

'uplift' é o percentual do 'uplift' de 7,5% que é depreciado em 4 anos


(7,5% x 4 = 30%);

28% é a alíquota do imposto de renda;

prejuízos são os prejuízos transferidos do período t-1.

Na análise econômica, as transferências de prejuízos fiscais de um período


a outro não foram acrescidas de juros.
A Tabela 17-1 apresenta o fluxo de caixa da companhia após a tributação
pelo imposto especial sobre o petróleo (SPT) e pelo imposto de renda
federal e considera a participação do Estado de 30%.

A Figura 17-2 mostra o cálculo da TIR do projeto do 'Nosso Campo'


submetido ao regime da Noruega.
17-147 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Tabela 17-1- Fluxo de Caixa 'Nosso Campo' (Noruega)

$ Milhões
A Receita Custos Custos Depreciação I.Renda SPT Part. Gov. Flx Cx
n Bruta Oper. Capital I.Renda SPT 28% 50% 30% Cia
o A B C D E F G H I
1 - - 20 - - - - -6 -14
2 - - 52 - - - - -16 -36
3 - - 212 - - - - -64 -148
4 - - 219 - - - - -66 -153
5 - - 395 - - - - -119 -277
6 - - 1.160 - - - - -348 -812
7 - - 1.397 - - - - -419 -978
8 2.944 246 1.439 876 1.237 510 730 6 13
9 4.180 253 469 882 1.279 853 1.324 384 897
10 5.390 261 483 962 1.395 1.167 1.867 484 1.129
11 6.666 269 497 1.045 1.515 1.499 2.441 588 1.373
12 7.800 277 512 1.131 1.278 1.790 3.123 630 1.469
13 7.811 285 185 1.161 1.287 1.782 3.119 732 1.708
14 7.150 294 - 358 447 1.820 3.204 550 1.282
15 6.667 303 - 280 332 1.704 3.016 493 1.151
16 6.201 312 - 199 213 1.593 2.838 437 1.020
17 5.760 321 - 116 116 1.490 2.661 386 901
18 5.332 314 - 31 31 1.396 2.494 338 790
19 4.992 308 - - - 1.312 2.342 309 721
20 4.620 300 - - - 1.210 2.160 285 665
21 4.185 294 - - - 1.089 1.946 257 599
22 3.920 288 - - - 1.017 1.816 240 559
23 3.600 282 - - - 929 1.659 219 511
24 3.404 276 - - - 876 1.564 206 482
25 3.192 270 - - - 818 1.461 193 450
26 2.826 264 - - - 717 1.281 169 395
27 2.754 259 1.078 1.078 1.078 397 709 94 218

99.394 5.676 8.118 8.118 10.208 23.968 41.755 5.963 13.914


D = C depreciado em 6 anos pelo método da linha reta (16,67%)
E = D + ‘uplift’ de 7,5% depreciado em 4 anos (7,5% x 4 = 30%)
F = 28% x (A – B - D)
G = 50% x (A – B – E)
H = 30% x [A – (B + C + F + G)] = participação do governo
I = 70% x [A – (B + C + F + G)] = fluxo de caixa da companhia
F + G + H = fluxo de caixa do governo
17-148 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

A TIR após a tributação é 27% ao


ano, enquanto antes era 54%. O VPL
descontado à taxa de 10% ao ano é
US$2.720 milhões; antes da
tributação, o VPL era US$19.441
milhões. A diferença ficou com o
governo.

Assim, no regime norueguês, o


'government take' descontado a 10%
ao ano é US$16.721 milhões
( = 19.441 – 2.720) ou 86%2.

O 'company take' é 14%.

Taxa VPL Pós VPL Pré


VPL, $MM
0% 13.914 85.600
1.000
5% 6.085 39.344
10% 2.720 19.441 800
15% 1.178 10.145
600 TIR = 54%
20% 440 5.503
25% 80 3.056 400
30% -96 1.710 TIR=27%

35% -178 944 200


40% -211 499
0
45% -219 235
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%
50% -214 77 -200
55% -203 -17
60% -189 -73 -400
Pós-tributação Pré-Tributação
65% -175 -105

Figura 17-2 - Taxa interna de retorno

2
(*) Inclui a participação do governo de 30%.
18-149 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Capítulo 18 - BRASIL

Nesta seção analisaremos o 'Nosso Campo'


sob o regime brasileiro de concessão para
águas profundas, com a incidência de cinco
exações: bônus, royalty, tributação indireta,
participação especial e imposto de renda. Figura 18-1

18.1 Termos fiscais


A análise será realizada em três partes. Inicialmente será calculada a
participação especial (PE), em seguida calcularemos o imposto de renda e, por
último, o fluxo de caixa do campo.

Para facilitar a comparação com os demais regimes, assumiremos que a produção


será toda exportada. Com isso, não haverá tributação das vendas pelo ICMS, PIS
e COFINS e o preço será o mesmo para os seis países analisados.

18.2 Bônus
Foi considerado o pagamento de um bônus de assinatura de US$100 milhões,
dedutível para fins de imposto de renda, mas não dedutível para fins de PE.

18.3 Royalty

O royalty incide à alíquota fixa


de 10% sobre a produção.

Figura 18-2

18.4 Tributação indireta


Consideraremos apenas a incidência de uma tributação indireta não recuperável
uniforme de 10% sobre os custos dos poços e 3% sobre o custo da plataforma1.

1
No regime aduaneiro especial (REPETRO) a tributação federal é suspensa. Há incidência do ICMS (3%)
estadual sobre a plataforma.
18-150 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

O cálculo da tributação do capital é muito complexo para ser tratado aqui e daria
assunto para outro livro.

18.5 Participação especial


Apesar da PE ser apurada e paga trimestralmente, nesta modelagem ela será
tratada em base anual. No cálculo da PE, os custos (e respectivos tributos
indiretos não recuperáveis) serão tratados da seguinte maneira:

 Geologia e geofísica: 100% amortizados no 1° ano;


 Poços de desenvolvimento: amortizados pelo método das unidades
produzidas ao longo da vida do campo ― no caso, em 20 anos;
 Unidade estacionária de produção (FPSO): depreciada em 20 anos pelo
método da linha reta;
 Itens submarinos e gestão do projeto: depreciados/amortizados em 10
anos pelo método da linha reta (10% ao ano);
 Custos operacionais: considerados despesa do exercício.

Além dos custos acima e dos royalties, serão deduzidos da receita bruta o
investimento com pesquisa e desenvolvimento (1% da receita bruta) e a provisão
de abandono. A provisão de abandono será distribuída em igual número de
parcelas ao longo da vida do campo.

18.6 Imposto de renda


Na apuração do imposto de renda, as deduções são as mesmas que as utilizadas
para a PE, com as seguintes exceções:

 O bônus será amortizado ao longo da vida produtiva do campo (20 anos)


pelo método da linha reta;
 Os custos de geologia e geofísica também serão amortizados ao longo da
vida produtiva do campo (20anos) pelo método da linha reta;
 A provisão de abandono não é dedutível.

18.7 Análise econômica


A Tabela 18-1 mostra o cálculo da PE, ao passo que o imposto de renda é
calculado na Tabela 18-2. A Tabela 18-3 contém o fluxo de caixa.

A principal componente dos custos dos poços são serviços prestados por residentes e por não residentes.
Uma parcela significativa da tributação de serviços não é recuperável. O percentual usado de 10% é apenas
indicativo da ordem de grandeza da tributação não recuperável para poços de petróleo.
18-151 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Tabela 18-1 - Cálculo da Participação Especial (PE) - $ Milhões

Ano Receita Custos Deprec. Trib. Prov. Royalty P&D Base de Alíquota Participação
Oper. Indireta Aband. Cálculo Especial
A B C D E F G H I J
1 - - - - - - - - - -
2 - - - - - - - - - -
3 - - - - - - - - - -
4 - - - - - - - - - -
5 - - - - - - - - - -
6 - - - - - - - - - -
7 - - - - - - - - - -
8 2.944 246 448 8 54 294 - 1.894 - -
9 4.180 253 424 13 54 418 42 2.976 5,4% 161
10 5.390 261 486 19 54 539 54 3.977 13,7% 546
11 6.666 269 565 27 54 667 67 5.017 22,0% 1.103
12 7.800 277 658 36 54 780 78 5.917 24,1% 1.429
13 7.811 285 672 38 54 781 78 5.903 23,7% 1.400
14 7.150 294 633 34 54 715 72 5.348 21,7% 1.161
15 6.667 303 604 31 54 667 67 4.942 19,9% 981
16 6.201 312 574 28 54 620 62 4.550 17,9% 815
17 5.760 321 550 26 54 576 58 4.176 16,1% 674
18 5.332 314 324 23 54 533 53 4.031 14,2% 572
19 4.992 308 304 21 54 499 50 3.756 12,6% 473
20 4.620 300 285 19 54 462 46 3.454 10,6% 366
21 4.185 294 265 17 54 419 42 3.094 9,0% 280
22 3.920 288 250 16 54 392 39 2.881 7,9% 227
23 3.600 282 236 14 54 360 36 2.618 6,4% 168
24 3.404 276 226 13 54 340 34 2.460 5,2% 129
25 3.192 270 216 12 54 319 32 2.288 4,6% 105
26 2.826 264 201 11 54 283 28 1.985 3,7% 74
27 2.754 259 196 10 54 275 28 1.931 3,3% 65

99.394 5.676 8.118 419 1.078 9.939 965 73.199 10.728


F = 10% x A
G = 1% x A, se J > 0
H=[A–(B+C+D+E+F+G)]
J=HxI

A alíquota da PE é função do nível de produção. No primeiro ano de produção, o


volume produzido foi inferior ao limite de isenção e não houve incidência da PE.
18-152 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Tabela 18-2 - Cálculo do Imposto de Renda (IR) - $ Milhões

Ano Receita Custos Deprec. Trib. Bônus Royalty P&D PE Base de Imp.Renda
Oper. Indireta Cálculo 34%
A B C D E F G H I J
1 - - - - - - - - - -
2 - - - - - - - - - -
3 - - - - - - - - - -
4 - - - - - - - - - -
5 - - - - - - - - - -
6 - - - - - - - - - -
7 - - - - - - - - - -
8 2.944 246 326 8 5 294 - - 2.065 702
9 4.180 253 374 13 5 418 42 161 2.914 991
10 5.390 261 435 19 5 539 54 546 3.531 1.200
11 6.666 269 515 27 5 667 67 1.103 4.013 1.365
12 7.800 277 608 36 5 780 78 1.429 4.587 1.560
13 7.811 285 622 38 5 781 78 1.400 4.602 1.565
14 7.150 294 583 34 5 715 72 1.161 4.286 1.457
15 6.667 303 554 31 5 667 67 981 4.060 1.380
16 6.201 312 524 28 5 620 62 815 3.835 1.304
17 5.760 321 500 26 5 576 58 674 3.601 1.224
18 5.332 314 273 23 5 533 53 572 3.557 1.210
19 4.992 308 254 21 5 499 50 473 3.382 1.150
20 4.620 300 234 19 5 462 46 366 3.187 1.084
21 4.185 294 215 17 5 419 42 280 2.914 991
22 3.920 288 200 16 5 392 39 227 2.753 936
23 3.600 282 185 14 5 360 36 168 2.549 867
24 3.404 276 176 13 5 340 34 129 2.431 826
25 3.192 270 166 12 5 319 32 105 2.282 776
26 2.826 264 151 11 5 283 28 74 2.010 684
27 2.754 259 146 10 5 275 28 65 1.966 668

99.394 5.676 7.040 419 100 9.939 965 10.728 64.527 21.939

H = J da Tabela 18-1

I=[A–(B+C+D+E+F+G+H)]

J = 34% x I
18-153 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Tabela 18-3 - Fluxo de Caixa 'Nosso Campo' (Brasil)

$ Milhões

Ano Receita Custos Custos Trib. Bônus Royalty P & D Participação Imposto Fluxo
Oper. Capital Indireta Especial Renda Caixa
A B C D E F G H I J
1 - - 20 2 100 - - - - -122
2 - - 52 5 - - - - - -57
3 - - 212 21 - - - - - -233
4 - - 219 22 - - - - - -241
5 - - 395 9 - - - - - -404
6 - - 1.160 34 - - - - - -1.194
7 - - 1.397 55 - - - - - -1.452
8 2.944 246 1.439 57 - 294 - - 702 206
9 4.180 253 469 47 - 418 42 161 991 1.799
10 5.390 261 483 48 - 539 54 546 1.200 2.258
11 6.666 269 497 50 - 667 67 1.103 1.365 2.649
12 7.800 277 512 51 - 780 78 1.429 1.560 3.113
13 7.811 285 185 19 - 781 78 1.400 1.565 3.499
14 7.150 294 - - - 715 72 1.161 1.457 3.451
15 6.667 303 - - - 667 67 981 1.380 3.269
16 6.201 312 - - - 620 62 815 1.304 3.088
17 5.760 321 - - - 576 58 674 1.224 2.907
18 5.332 314 - - - 533 53 572 1.210 2.650
19 4.992 308 - - - 499 50 473 1.150 2.512
20 4.620 300 - - - 462 46 366 1.084 2.362
21 4.185 294 - - - 419 42 280 991 2.160
22 3.920 288 - - - 392 39 227 936 2.038
23 3.600 282 - - - 360 36 168 867 1.887
24 3.404 276 - - - 340 34 129 826 1.798
25 3.192 270 - - - 319 32 105 776 1.689
26 2.826 264 - - - 283 28 74 684 1.494
27 2.754 259 1.078 - - 275 28 65 668 381

99.394 5.676 8.118 419 100 9.939 965 10.728 21.939 41.510

J = A – ( B + C ) – ( D + E + F + G + H + I) = fluxo de caixa da companhia

D + E + F + G + H + I = fluxo de caixa do governo


18-154 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

A TIR após a tributação é 33% ao ano, enquanto era antes 54%. O VPL
descontado à taxa de 10% ao ano é US$8.306 milhões. Antes da tributação, o
VPL era US$19.441 milhões.

O 'government take' descontado


a 10% ao ano é US$11.135 milhões
(= 19.441 – 8.306) ou 57%
(11.135/19.441).

O 'company take' é 43%.

VPL, $MM
Taxa VPL Pós VPL Pré 1.000
0% 41.510 85.600
5% 18.102 39.344 800
10% 8.306 19.441
600 TIR = 54%
15% 3.888 10.145
20% 1.776 5.503 TIR=33%
400
25% 723 3.056
30% 185 1.710 200
35% -93 944
40% -234 499 0
45% -301 235 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%
50% -328 77 -200
55% -334 -17
-400
60% -328 -73
65% -316 -105 -600
Pós-tributação Pré-Tributação

Figura 18-3 - Taxa interna de retorno


18-155 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Figura 18-4 - Divisão da receita em valores unitários


19-156 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Capítulo 19 - ANGOLA

Figura 19-1

19.1 Termos fiscais


A Tabela 19-1 resume os dois regimes fiscais aplicáveis à produção angolana.

Tabela 19-1- Resumo dos regimes fiscais de Angola para o E&P

Regime Fiscal Concessão (Cabinda) Partilha de Produção


Negociável para prorrogar o Negociável
Bônus
contrato Não dedutível do IRP
Imposto sobre 20% da receita bruta da
Produção de produção -
Petróleo (IPP) (campos marginais: 10%)
70% da receita menos
Imposto de depreciação, custo operacional,
Transacção do prêmio de produção e prêmio de -
Petróleo (ITP) investimento
Depreciação 6 – 8 anos
65,75% da receita menos custo 50% do petróleo lucro da
Imposto sobre
operacional, depreciação companhia deduzido do excesso
Rendimentos do
(exploração, desenvolvimento), sobre o limite de preço, quando
Petróleo (IRP)
IPP, ITP e taxa de superfície houver
Participação
41% 20% (típica)
Sonangol
Petróleo para Negociável (40% - 65%)
Recuperação de - ‘Uplift’ (50% típico)
Custos Depreciação 4 anos / linha reta
Escala progressiva com base na
Petróleo Lucro - taxa interna de retorno do
projeto (negociável)
US$ 45/barril x (IPC/201,6) x
Excesso ao Limite
- volume de Petróleo Lucro da
de Preço1
companhia
Treinamento Negociável

1
Price Cap.
19-157 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

19.2 Participação do Estado


A legislação angolana confere os direitos sobre os hidrocarbonetos ao
Estado e faz da companhia estatal, Sonangol, a única detentora de tais
direitos. As companhias somente podem exercer atividades de exploração e
produção de petróleo em território angolano em associação com a Sonangol.

Assumiremos que a participação do governo no projeto, através da Sonangol,


seja de 20%, que é o valor típico, sendo tal participação carregada a juros
de 8% ao ano durante a fase de exploração e a etapa de desenvolvimento. A
Sonangol somente passa a contribuir com recursos para o projeto com a sua
parcela da produção.

Assim, o fluxo de caixa da companhia compreenderá 80% das receitas e


custos totais do projeto.

19.3 Bônus
Assumiremos também que a companhia pagou um bônus de assinatura de
$100 milhões pelos direitos de lavra. O bônus de assinatura é integralmente
suportado pela companhia e não é recuperável como Petróleo Custo nem
dedutível no cálculo do imposto sobre os rendimentos do petróleo (IRP).

19.4 Petróleo Custo


O limite de recuperação de custos será 40% da receita. Como a companhia
tem direito a 80% da receita total do campo (20% é a participação da
Sonangol), para calcular o limite para recuperação de custos da companhia
aplicaremos o percentual de 32% sobre a receita total do campo (40% x
80% = 32%). A parte não recuperada dos custos que competiam a um dado
ano é transportada para os anos subsequentes.

Os custos de exploração são recuperados imediatamente a partir do início


da produção. Os custos de desenvolvimento são multiplicados por 1,5 para
serem recuperados.2 Eles são recuperados à taxa de 25% ao ano, isto é, em
4 anos, a partir do início da produção (ano 8). Os custos de abandono podem
ser recuperados através de uma provisão calculada de acordo com as regras
estabelecidas nos contratos. Os custos operacionais são integralmente
recuperados à medida que forem sendo incorridos.

2
‘Uplift’ ou prêmio de 50%.
19-158 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

19.5 Petróleo Lucro


Apesar da apuração da partilha de produção ser trimestral, neste exemplo
iremos trabalhar em base anual.

O petróleo lucro será distribuído entre a companhia e o governo de acordo


com a Tabela 19-2.

Tabela 19-2 - Divisão do Petróleo Lucro

TIR (%) Parcela do Governo Parcela da Companhia


≤ 15% 25% 75%

› 15% e ≤ 25% 40% 60%

› 25% e ≤ 30% 60% 40%

› 30% e ≤ 40% 80% 20%

› de 40% 90% 10%

19.6 Imposto de renda


Em Angola, o imposto de renda é denominado imposto sobre os rendimentos
do petróleo (IRP) e aplicado à alíquota de 50% sobre a seguinte base de
cálculo:

Petróleo Custo + Petróleo Lucro da companhia + receitas do carregamento –


custos operacionais – custos de capital – custo do carregamento – excesso
ao limite de preço (se houver)

19.7 Análise econômica


A Tabela 19-3 contém o cálculo do Petróleo para Recuperação de Custos
utilizando o limite de 40% da receita bruta.

O Petróleo Lucro é obtido deduzindo-se da receita bruta o Petróleo para


Recuperação de Custos, também chamado Petróleo Custo.
19-159 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Figura 19-2 - Recuperação de custos

A divisão do Petróleo Lucro entre o governo e a companhia é feita com base


na TIR (Tabela 19-2). Para o cálculo da TIR, utiliza-se o seguinte fluxo de
caixa líquido da companhia: Petróleo para Recuperação de Custos mais
Petróleo Lucro da Companhia menos Imposto sobre o Rendimento do
Petróleo (IRP) menos os custos de desenvolvimento e operacionais
suportados pela companhia. Os custos de exploração não integram o fluxo
de caixa. Os percentuais de rateio estão calculados na Tabela 19-4.

O cálculo do Petróleo Lucro e a sua divisão entre o governo e a companhia


constam da Tabela 19-5.

Os 20% dos custos de exploração e de desenvolvimento, cujo ônus cabe à


Sonangol, são suportados inicialmente pela companhia e reembolsados a
partir da produção a juros de 8% ao ano. A Tabela 19-6 contém os cálculos
referentes a esse carregamento.

A Tabela 19-7 contém o cálculo do imposto sobre os rendimentos do


petróleo (IRP).

Finalmente, a Tabela 19-8 mostra o fluxo de caixa da companhia.


19-160 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

19.8 ‘Gold-plating’
No 13° ano do projeto, a companhia investiu $148,0 milhões na perfuração
de poços. Nesse período, a divisão do petróleo lucro foi 80%:20% em favor
do governo. Ao incorrer nesse custo de $148,0, a companhia fez jus a uma
recuperação de custos de $222,0 devido ao ‘uplift’ (150% x $148,0). O
acréscimo de custos provocou uma redução do petróleo lucro da companhia
de $29,6 (= 20% x $148,0), mas, em contrapartida, o imposto sobre os
rendimentos do petróleo (IRP) foi reduzido em $14,8 (= 50% x $29,6).
Somando-se os custos (-) e as receitas (+) da companhia, obtém-se:

- 148,0 + 222,0 – 29,6 + 14,8 = + 59,2

(- custo incorrido + recuperação com ‘uplift’ – redução do petróleo lucro +


redução do IRP = ganho da companhia, se positivo).

No final das contas, a companhia sairá ganhando (+59,2) ao incorrer no


custo de capital de $148,0. Não parece uma boa ideia continuar perfurando
mais e mais poços? Essa é uma demonstração explícita de ‘gold-plating’
causado pela combinação do ‘uplift’ com a alta progressividade do petróleo
lucro em favor do governo.
19-161 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Tabela 19-3 - Cálculo do Petróleo para Recuperação de Custos

$ Milhões
A Receita Custos Prov. Deprec. C. Totais a Limite de Recuperação Encalhes
n Oper. Aband. C.Cap. Recuperar Recuper. de Custos
o A B C D E F G H
1 - - - - - - - -
2 - - - - - - - -
3 - - - - - - - -
4 - - - - - - - -
5 - - - - - - - -
6 - - - - - - - -
7 - - - - - - - -
8 2.355 197 - 1.504 1.701 942 942 759
9 3.344 202 - 1.587 1.790 1.338 1.338 1.211
10 4.312 209 - 1.732 1.941 1.725 1.725 1.427
11 5.333 215 - 1.881 2.097 2.133 2.133 1.391
12 6.240 222 - 588 810 2.496 2.201 -
13 6.249 228 - 503 731 2.500 731 -
14 5.720 235 - 358 593 2.288 593 -
15 5.334 242 - 209 452 2.133 452 -
16 4.961 250 - 56 305 1.984 305 -
17 4.608 257 - - 257 1.843 257 -
18 4.266 251 - - 251 1.706 251 -
19 3.994 246 - - 246 1.597 246 -
20 3.696 240 152 - 392 1.478 392 -
21 3.348 235 135 - 370 1.339 370 -
22 3.136 230 122 - 352 1.254 352 -
23 2.880 226 109 - 334 1.152 334 -
24 2.723 221 100 - 321 1.089 321 -
25 2.554 216 91 - 307 1.021 307 -
26 2.261 211 78 - 290 904 290 -
27 2.203 207 74 - 281 881 281 -

79.515 4.541 862 8.419 13.822 31.806 13.822 4.788


A = 80% da receita total do campo
B = 80% dos custos operacionais
C = 80% dos custos de abandono
D = C depreciado em 4 anos pela linha reta (inclui ‘uplift’ de 50%)
E= B+C+D
F = 40% x A
Gt = menor valor entre Et e (Ft + Ht-1)
Ht = (Et + Ht-1) - Ft, se > 0
19-162 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Tabela 19-4 - Cálculo do Percentual de Petróleo Lucro do Governo

$ Milhões
A B C 25% 40% 60% 80% 90% I
Ano Petróleo Noção de Fluxo
Lucro Imp. Renda Base 115% 125% 130% 140% 140%
25%
1 - - - - - - - - 25%
2 - - - - - - - - 25%
3 - - -170 -170 -170 -170 -170 -170 25%
4 - - -175 -370 -387 -396 -413 -413 25%
5 - - -316 -742 -800 -830 -894 -894 25%
6 - - -928 -1.781 -1.928 -2.007 -2.179 -2.179 25%
7 - - -1.118 -3.166 -3.528 -3.727 -4.168 -4.168 25%
8 1.413 530 124 -3.517 -4.286 -4.722 -5.712 -5.712 25%
9 2.006 752 1.512 -2.532 -3.844 -4.626 -6.484 -6.484 25%
10 2.587 970 2.100 -812 -2.706 -3.914 -6.978 -6.978 25%
11 3.200 1.200 2.720 1.787 -662 -2.367 -7.049 -7.049 40%
12 4.040 1.212 2.781 4.836 1.954 -296 -7.087 -7.087 60%
13 5.518 1.104 1.459 7.020 3.901 1.073 -8.464 -8.464 80%
14 5.127 513 871 8.944 5.747 2.266 -10.978 -10.978 80%
15 4.882 488 697 10.983 7.881 3.643 -14.673 -14.673 80%
16 4.656 466 521 13.151 10.372 5.257 -20.021 -20.021 80%
17 4.351 435 435 15.559 13.400 7.270 -27.594 -27.594 80%
18 4.014 401 401 18.294 17.151 9.852 -38.230 -38.230 80%
19 3.747 375 375 21.413 21.814 13.182 -53.147 -53.147 80%
20 3.304 330 483 25.108 27.750 17.620 -73.923 -73.923 80%
21 2.978 298 433 29.307 35.121 23.339 -103.059 -103.059 80%
22 2.784 278 400 34.103 44.301 30.741 -143.882 -143.882 80%
23 2.546 255 363 39.582 55.740 40.326 -201.072 -201.072 80%
24 2.402 240 340 45.859 70.015 52.764 -281.160 -281.160 80%
25 2.246 225 316 53.054 87.835 68.910 -393.308 -393.308 80%
26 1.971 197 276 61.288 110.069 89.858 -550.355 -550.355 80%
27 1.922 192 266 70.748 137.853 117.082 -770.231 -770.231 80%

65.693 10.461 14.168

I = Percentual do Petróleo Lucro do governo


A = Receita – Petróleo para Recuperação de Custos
Bt = 50% x ( At – At x It-1 )
Ct = Receitat – ( Capext + Opext ) – At x It-1 – Bt = fluxo base anual

Cada uma das 5 colunas seguintes à coluna do fluxo base (C) corresponde ao
fluxo base acumulado capitalizado às taxas de 15%, 25%, 30%, 40% e 40%,
respectivamente. Quando o fluxo base acumulado se torna positivo, a taxa
de desconto correspondente foi atingida e o gatilho da Tabela 19-2 é
acionado; a divisão do petróleo lucro sobe um degrau na Tabela 19-2.
19-163 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Tabela 19-5 - Distribuição do Petróleo Lucro

$ Milhões

Ano Petróleo lucroPetróleo lucroPetróleo lucro %


Total Governo Companhia Governo
A B C D
1 - - - 25%
2 - - - 25%
3 - - - 25%
4 - - - 25%
5 - - - 25%
6 - - - 25%
7 - - - 25%
8 1.413 353 1.060 25%
9 2.006 502 1.505 25%
10 2.587 647 1.940 25%
11 3.200 800 2.400 40%
12 4.040 1.616 2.424 60%
13 5.518 3.311 2.207 80%
14 5.127 4.101 1.025 80%
15 4.882 3.906 976 80%
16 4.656 3.725 931 80%
17 4.351 3.481 870 80%
18 4.014 3.212 803 80%
19 3.747 2.998 749 80%
20 3.304 2.643 661 80%
21 2.978 2.382 596 80%
22 2.784 2.227 557 80%
23 2.546 2.036 509 80%
24 2.402 1.922 480 80%
25 2.246 1.797 449 80%
26 1.971 1.577 394 80%
27 1.922 1.538 384 80%

65.693 44.771 20.921

Bt = At x Dt-1
Ct = At – Bt
19-164 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Tabela 19-6 - Carregamento do governo no E&D

$ Milhões

A B C D E F G H I
A Saldo Carregamento Receita Saldo Juros Pagto Saldo Carregto
n Inicial Exp. Des. Líquida Médio Carregto Final do Estado
o
1 - 4 - - 2 0 - 4 4
2 4 10 - - 9 1 - 15 10
3 15 - 42 - 37 3 - 61 42
4 61 - 44 - 83 7 - 111 44
5 111 - 79 - 151 12 - 202 79
6 202 - 232 - 318 25 - 460 232
7 460 - 279 - 599 48 - 787 279
8 787 - 288 407 727 58 407 726 -119
9 726 - 94 597 474 38 597 260 -504
10 260 - 97 783 49 4 361 - -264
11 - - 99 979 - - 99 - -
12 - - 102 1.202 - - 102 - -
13 - - 37 1.229 - - 37 - -
14 - - - 1.243 - - - - -
15 - - - 1.151 - - - - -
16 - - - 1.061 - - - - -
17 - - - 979 - - - - -
18 - - - 903 - - - - -
19 - - - 843 - - - - -
20 - - - 781 - - - - -
21 - - - 704 - - - - -
22 - - - 657 - - - - -
23 - - - 600 - - - - -
24 - - - 566 - - - - -
25 - - - 528 - - - - -
26 - - - 463 - - - - -
27 - - - 451 - - - - -

2.625 14 1.394 16.128 2.449 196 1.604 2.625 -196

Foram considerados juros de 8% sobre o saldo médio anual do


carregamento. A coluna I refere-se ao fluxo de caixa do carregamento. Os
valores em vermelho referem-se ao reembolso por parte do governo.
19-165 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Tabela 19-7 - Imposto sobre os Rendimentos do Petróleo (IRP)

$ Milhões

Ano Petróleo Petróleo Custo Deprec. Fluxo Caixa Base Base de Imp.Renda
Custo Lucro Oper. Total Carregto Primária Cálculo 50%
A B C D E F G H
1 - - - - 4 -4 - -
2 - - - - 10 -10 - -
3 - - - - 42 -42 - -
4 - - - - 44 -44 - -
5 - - - - 79 -79 - -
6 - - - - 232 -232 - -
7 - - - - 279 -279 - -
8 942 1.060 197 1.447 -119 478 - -
9 1.338 1.505 202 1.587 -504 1.556 1.339 670
10 1.725 1.940 209 1.732 -264 1.988 1.988 994
11 2.133 2.400 215 1.881 - 2.436 2.436 1.218
12 2.201 2.424 222 588 - 3.814 3.814 1.907
13 731 2.207 228 503 - 2.207 2.207 1.104
14 593 1.025 235 358 - 1.025 1.025 513
15 452 976 242 209 - 976 976 488
16 305 931 250 56 - 931 931 466
17 257 870 257 - - 870 870 435
18 251 803 251 - - 803 803 401
19 246 749 246 - - 749 749 375
20 392 661 240 - - 813 813 407
21 370 596 235 - - 731 731 365
22 352 557 230 - - 679 679 339
23 334 509 226 - - 618 618 309
24 321 480 221 - - 581 581 290
25 307 449 216 - - 541 541 270
26 290 394 211 - - 473 473 236
27 281 384 207 - - 458 458 229

13.822 20.921 4.541 8.362 -196 22.037 22.033 11.017


F=(A+B)–(C+D+E)

H = 50% x G
19‐166    Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições
 

Tabela 19-8 - Fluxo de Caixa ‘Nosso Campo’ (Angola)

$ Milhões

Petróleo Petróleo Custos Custos Bônus Imposto Fluxo Caixa Fluxo Caixa


Custo Lucro Operacionais Capital Renda Carregamento Líquido
A B C D E F G H
           ‐            ‐                     ‐          16      100           ‐                            4 ‐120 
           ‐            ‐                     ‐          42      ‐           ‐                         10 ‐52 
           ‐            ‐                     ‐        170      ‐           ‐                         42 ‐212 
           ‐            ‐                     ‐        175      ‐           ‐                         44 ‐219 
           ‐            ‐                     ‐        316      ‐           ‐                         79 ‐395 
           ‐            ‐                     ‐        928      ‐           ‐                       232 ‐1.160 
           ‐            ‐                     ‐    1.118      ‐           ‐                       279 ‐1.397 
          942       1.060                     197    1.151      ‐           ‐ ‐119                 773
      1.338       1.505                     202        375      ‐          670 ‐504              2.099
      1.725       1.940                     209        386      ‐          994 ‐264              2.340
      2.133       2.400                     215        398      ‐      1.218                        ‐             2.702
      2.201       2.424                     222        410      ‐      1.907                        ‐             2.086
          731       2.207                     228        148      ‐      1.104                        ‐             1.459
          593       1.025                     235        ‐      ‐          513                        ‐                871
          452           976                     242        ‐      ‐          488                        ‐                697
          305           931                     250        ‐      ‐          466                        ‐                521
          257           870                     257        ‐      ‐          435                        ‐                435
          251           803                     251        ‐      ‐          401                        ‐                401
          246           749                     246        ‐      ‐          375                        ‐                375
          392           661                     240        ‐      ‐          407                        ‐                407
          370           596                     235        ‐      ‐          365                        ‐                365
          352           557                     230        ‐      ‐          339                        ‐                339
          334           509                     226        ‐      ‐          309                        ‐                309
          321           480                     221        ‐      ‐          290                        ‐                290
          307           449                     216        ‐      ‐          270                        ‐                270
          290           394                     211        ‐      ‐          236                        ‐                236
          281           384                     207        862      ‐          229                        ‐ ‐               633

    13.822     20.921                 4.541    6.494      100    11.017 ‐196           12.788


H = A + B – C – D – E – F – G = fluxo de caixa da companhia
19‐167    Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições
 

A Figura 19-3 mostra o cálculo da TIR. A TIR após a tributação é 29% ao


ano, enquanto era 54% antes da tributação. O VPL descontado à taxa de
10% ao ano é US$3.199 milhões. Antes da tributação, o VPL era US$19.441
milhões.

O 'government take'
descontado a 10% ao ano é
US$16.242 milhões
(= 19.441 – 3.199) ou 84% 3
(16.242/19.441).

O 'company take' é 16%.

Taxa VPL Pós VPL Pré


VPL, $MM
1.000 
0% 12.788 85.600
5% 6.375 39.344
800 
10% 3.199 19.441
15% 1.555 10.145
600  TIR = 54%
20% 677 5.503
25% 199 3.056 400  TIR=29%
30% -61 1.710
35% -201 944 200 
40% -273 499
45% -306 235 0 
50% -316 77 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%
55% -314 -17 ‐200 
60% -305 -73
65% -292 -105 ‐400 
Pós‐tributação Pré‐Tributação

Figura 19-3 - Taxa interna de retorno

                                                            
3
Inclui 20% de participação do governo.
20-168 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Capítulo 20 - COMO O BRASIL SE COMPARA

A Tabela 20-1 resume os principais termos fiscais dos seis países analisados
e a Tabela 20-2 mostra os valores dos três principais indicadores
econômicos utilizados para medir o desempenho dos regimes fiscais de cada
país.

Tabela 20-1 - Termos fiscais

Reino
País Angola Austrália Brasil EUA Noruega
Unido
Partilha
Regime da Concessão Concessão Concessão Concessão Concessão
produção
Bônus e Programa Programa Programa
Licitação termos do de Bônus Bônus de de
contrato trabalho trabalho trabalho
Participação
20% - - - 30% -
do governo
Royalty - - 10% 18,75% - -
Imposto de
50% 30% 34% 35% 28% 50%
renda
Imposto
especial s/ - 40% 0% - 40% - 50% -
petróleo

Tabela 20-2 - Indicadores


75 Government Take @ 10% TIR (%) VPL @ 10% ($75/barril)
Angola 84% 29% 3.199
Austrália 61% 36% 7.661
Brasil 57% 33% 8.306
Estados Unidos 54% 35% 9.030
Noruega 86% 27% 2.720
Reino Unido 51% 42% 9.475

O cenário de preços utilizado nas análises começa com $75/b no ano 1 e, a


partir do ano seguinte, os preços vão sendo escalonados à razão de 3% ao
ano.
20-169 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Os três principais indicadores estão mostrados graficamente na Figura


20-1.

Valor Presente Líquido @ 10% ($75/barril)


120%

100%
Government Take @ 10%

80% Angola

Austrália
60% Brasil

Estados Unidos
40%
Noruega

Reino Unido
20%

0%
20% 25% 30% 35% 40% 45%

TIR (%)

Figura 20-1 - Indicadores econômicos

A área de cada circunferência da Figura 20-1 é proporcional ao valor


presente líquido (VPL) do projeto em consideração em cada país.
20-170 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

A Figura 20-2 mostra a distribuição da receita bruta da produção.

30.000

25.000

20.000

Partic. Gov
15.000 VPL Cia
Tributação
Custos Gov
10.000
Custos Cia

5.000

-
Angola Austrália Brasil EUA Noruega Reino
Unido

Figura 20-2 - Divisão da receita bruta da produção

Quando há participação do governo, parte dos custos é paga por ele.

A Tabela 20-3 mostra os fluxos de caixa do ‘Nosso Campo’, antes da


tributação e após a tributação, em cada uma das seis jurisdições.

Além da taxa interna de retorno (TIR), do valor presente líquido (VPL) e do


‘government take’ (GT), estes dois últimos descontados a 10% ao ano, foram
também calculados o Índice de Lucratividade (IL) e o período de ‘payout’ em
anos.

Do ponto de vista do investidor, a classificação dos regimes de acordo com


cada indicador é mostrada na Figura 20-3.
20-171 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Tabela 20-3 - Fluxos de caixa e indicadores

Ano Pré-tributação Austrália Angola Brasil EUA Noruega R. Unido


1 -20 -20 -120 -122 -120 -14 -20
2 -52 -52 -52 -57 -52 -36 -52
3 -212 -212 -212 -233 -212 -148 -212
4 -219 -219 -219 -241 -219 -153 -219
5 -395 -395 -395 -404 -395 -277 -395
6 -1.160 -1.160 -1.160 -1.194 -1.160 -812 -1.160
7 -1.397 -1.397 -1.397 -1.452 -1.397 -978 -1.397
8 1.259 568 773 206 225 13 1.259
9 3.458 2.386 2.099 1.799 1.672 897 2.827
10 4.646 1.958 2.340 2.258 2.328 1.129 2.323
11 5.900 2.454 2.702 2.649 3.026 1.373 2.950
12 7.011 2.927 2.086 3.113 3.649 1.469 3.506
13 7.341 3.167 1.459 3.499 3.979 1.708 3.671
14 6.856 3.019 871 3.451 3.785 1.282 3.428
15 6.364 2.812 697 3.269 3.505 1.151 3.182
16 5.889 2.613 521 3.088 3.235 1.020 2.945
17 5.439 2.424 435 2.907 2.981 901 2.720
18 5.018 2.247 401 2.650 2.744 790 2.509
19 4.684 2.107 375 2.512 2.556 721 2.342
20 4.320 1.954 407 2.362 2.353 665 2.160
21 3.891 1.774 365 2.160 2.114 599 1.946
22 3.632 1.665 339 2.038 1.969 559 1.816
23 3.318 1.436 309 1.887 1.795 511 1.659
24 3.128 1.347 290 1.798 1.689 482 1.564
25 2.922 1.251 270 1.689 1.575 450 1.461
26 2.562 1.090 236 1.494 1.376 395 1.281
27 1.417 599 -633 381 638 218 709
85.600 36.342 12.788 41.510 43.641 13.914 42.800

TIR 54% 36% 29% 33% 35% 27% 42%


VPL 19.441 7.661 3.199 8.306 9.030 2.720 9.475
IL 5,94 2,34 1,11 2,54 2,76 1,08 2,89
Payout 9,6 10,3 10,3 10,8 10,7 11,3 9,8
GT 0% 61% 84% 57% 54% 86% 51%
20-172 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

TIR VPL IL Payout GT

Figura 20-3 - Classificação dos sistemas fiscais segundo o investidor

Para o investidor, considerando o ‘Nosso Campo’ num cenário de preços de


$75/b (ano 1) escalonado a 3% ao ano, a sequência dos regimes mais
flexíveis para os mais severos com base na TIR seria a seguinte: Reino
Unido, Austrália, Estados Unidos, Brasil, Angola e Noruega.
20-173 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Figura 20-4 - 'Government take' (* inclui participação do governo)


20-174 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

De certa forma, os percentuais do ‘government take’ mostrados na página


anterior são inversamente proporcionais à prospectividade das províncias
petrolíferas a que se referem.

O regime do Reino Unido apresenta os melhores valores para todos os


indicadores, ao passo que os regimes de Angola e da Noruega são os mais
severos.

Os regimes da Austrália e dos Estados Unidos mostram-se mais favoráveis


aos investimentos do que o regime do Brasil, não obstante o regime
brasileiro apresentar uma carga fiscal menor do que o australiano.

Figura 20-5 – Ponto de vista do investidor


21-175 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Capítulo 21 - CAVEAT LECTOR


Não é correto comparar dois regimes fiscais apenas com base na tributação,
se um regime tem participação do governo e o outro não. Por outro lado,
simplesmente ignorar o elemento participação do governo também seria um
grande equívoco. Por essa razão a participação do governo foi considerada
parte integrante do ‘government take’.

Da mesma forma, pode não parecer correto comparar dois regimes fiscais
quando um tem bônus de assinatura e o outro não. Porém, simplesmente
ignorar o bônus também seria um grande equívoco. Por essa razão, nos
regimes que o utilizam (Brasil, Estados Unidos e Angola) o bônus foi
considerado. Foi adotado um mesmo valor para os três países. A ordem de
grandeza do bônus foi escolhida de forma a não interferir drasticamente
nos resultados.

O autor acredita que suas análises estão colocadas em termos razoáveis e


que elas lançam luz sobre o ferramental básico utilizado no desenho de
regimes fiscais para o petróleo.

Os resultados refletem uma comparação independente dos termos fiscais


dos países analisados, porém as análises são muito específicas para a
formação de qualquer conclusão precisa e geral. As conclusões são
criticamente dependentes de determinadas hipóteses, como os preços do
petróleo, os tamanhos dos campos e as estimativas de custos.

Um único tamanho de campo foi analisado, utilizando somente um cenário de


preços e de custos, pois a proposta foi apenas escrever um livro
introdutório sobre a tributação do petróleo --- não um tratado ou um
manual. Por isso não se estendeu mais sobre o assunto.

Destarte, além da análise de cada regime sob diferentes cenários de


preços, combinado com diferentes tamanhos de campos e estimativas de
custos, outro tema que também poderia ter sido mais elaborado é o do risco
exploratório (valor monetário esperado) para cada um dos regimes fiscais.

Fica aí um gancho, quem sabe, para um próximo livro.


22-176 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Capítulo 22 - PRÉ-SAL
Muita atenção está sendo dada nos dias de hoje ao novo sistema fiscal a ser
adotado pelo Brasil. Grandes descobertas verificadas nos últimos anos na
camada do pré-sal levaram o governo brasileiro a puxar o freio de
arrumação para repensar o assunto.

O Brasil interrompeu seus licenciamentos porquanto o governo pretendia ter


maior controle sobre as reservas e também não estava seguro se o atual
regime de concessão lhe garantiria a captura de uma parcela significativa da
renda econômica.

O novo modelo discutido pelo governo brasileiro é um esquema de partilha


da produção. Argumenta-se que tal sistema garante ao governo receitas a
partir do primeiro dia de produção (em lugar de esperar até que a
companhia de petróleo atinja o estágio de pagar impostos) e que a
progressividade inerente a tal regime assegura que as companhias de
petróleo não capturarão uma parcela desproporcional da renda econômica
em caso de altos preços do petróleo ou de descobertas de grandes
reservatórios.

Figura 22-1 - Congresso Nacional

A razão mais importante a explicar a preferência pela partilha por parte


dos países que a utilizam reside no fato de o governo não ter que suportar
os riscos exploratórios e as receitas serem antecipadas. Além disso,
conforme foi mostrado na análise do sistema angolano, o esquema de
partilha da produção com base na taxa de retorno lida muito bem com
grandes flutuações nos preços do petróleo.
22-177 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Quando este livro seguia para a impressão, o Congresso Nacional ainda


discutia a introdução do regime de partilha da produção para ser aplicado às
áreas do pré-sal e estratégicas.

Alguns setores da imprensa especializada e da não especializada criticavam


a mudança utilizando diversos argumentos. Duas pérolas. Uma revista
semanal de grande circulação condenou o regime de partilha por ser usado
por um país considerado antidemocrático. Um artigo publicado numa revista
especializada destacava que os países que utilizam o sistema de partilha da
produção são os que têm o maior índice de corrupção.

O esquema de partilha da produção é uma das ferramentas utilizadas pelos


governos para capturar a renda econômica. Nada mais que isso. O que os
governantes fazem com o dinheiro arrecadado não está no escopo dos
contratos de partilha. Se eles ‘partilham’ o dinheiro entre si são outros
quinhentos.

Instado a projetar um sistema fiscal ideal, Daniel Johnston, especialista em


sistemas fiscais citado neste livro como fonte e na bibliografia, propôs um
regime de partilha da produção1.

O atual modelo regulatório em muitos países ricos em recursos petrolíferos


está estruturado em elevados financiamentos às companhias nacionais de
petróleo. O Brasil parece seguir idêntico caminho. Essa é uma estratégia
vulnerável quando os preços caem.

Outro risco que o Brasil corre, desta feita ao incluir o regime de partilha da
produção no seu cardápio de sistemas fiscais, pode ser explicado por duas
leis, a de van Meurs2 e a de ‘van Peta’.

Segundo o Dr. Pedro van Meurs, a complexidade administrativa de um


sistema fiscal é inversamente proporcional à capacidade administrativa do
governo. De fato, há evidências nesse sentido. Os regimes do Reino Unido,
dos Estados Unidos, da Austrália e da Noruega são bem simples. O mesmo

1
O sistema ‘ideal’ proposto por Johnston compreendia um esquema de partilha da produção com base
na taxa de retorno, com 50% de limite para recuperação de custos, com bônus, sem royalty, sem
tributação do investimento, com ‘ring fencing’, com a aplicação do mecanismo ‘tax in lieu’ e uma
participação de 10% do governo, carregado até a confirmação da descoberta.
2
Pedro van Meurs, geólogo e economista holandês radicado no Canadá, especialista em regimes
fiscais.
22-178 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

não se pode dizer com relação a Angola, que possui um cardápio sortido:
concessão e partilha.

Além da simplicidade do regime, tanto na Austrália quanto na Noruega, o


imposto especial sobre o petróleo é administrado pelo órgão especializado
em fiscalização de tributos correspondente à Secretaria da Receita
Federal no Brasil3.

Passemos à segunda lei. Os constantes atrasos de salário levaram certa vez


o jogador Vampeta a admitir publicamente fingir jogar enquanto o clube
fingia que lhe pagava. A complexidade do sistema fiscal, combinada com uma
fiscalização não especializada, pode conduzir ao cenário e consequências
descritos nesta segunda lei.

Este livro começou com uma citação em francês e termina deixando no ar


uma dúvida em alemão. Wir werden sehen was daraus wird4.

Desatar os cintos. Junho 2010

Figura 22-2 - Sistemas fiscais brasileiros

3
Na Austrália a administração do imposto cabe ao Australian Taxation Office (ATO) e na Noruega a
apuração é feita pelo Oil Taxation Office (OTO), cabendo a revisão ao Oil Tax Board (OTB).
4
Vamos ver o que vem por aí.
179 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Acrônimo Descrição
ANP Agência Nacional do Petróleo
b/d Barril por dia
BTU British Termal Unit (unidade de energia térmica)
CAPEX Custo de Capital (Capital Expenditure)
cf Pé cúbico (cubic foot)
CIDE Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico
CIF Custo, Seguro e Frete (Cost, Insurance and Freight)
CNPJ Cadastro Nacional das Pessoas Jurídicas
COFINS Contribuição Social para o Financiamento da Seguridade Social
CONFAZ Conselho Nacional de Política Fazendária
CSLL Contribuição Social sobre o Lucro Líquido
E&A Exploração e Avaliação
E&P Exploração e Produção
FCD Fluxo de Caixa Descontado
FCL Fluxo de Caixa Líquido
FOB Livre a Bordo (Free On Board)
Unidade Flutuante de Produção, Estocagem e Transbordo
FPSO
(Floating Production Storage Offloading)
G&G Geologia e Geofísica
Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços
ICMS Interestaduais e Intermunicipais de Transporte e de
Comunicação
II Imposto de Importação
Instrução Normativa expedida pela Secretaria da Receita
IN-SRF
Federal
IPI Imposto sobre Produtos Industrializados
IR Imposto de Renda
IRRF Imposto de Renda Retido na Fonte
IRPJ Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas
IRP Imposto sobre os Rendimentos do Petróleo (Angola)
ISS Imposto sobre Serviços
M 1.000 (mil)
m3 Metro cúbico
180 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

Acrônimo Descrição
Mboepd 1.000 barris de óleo equivalente por dia
MF Ministério da Fazenda
MM 1.000.000 (milhão)
MMb Milhões de barris
NPV Net Present Value
OPEX Custo Operacional (Operating Expenditure)
PE Participação Especial
Contribuição Social para o Programa de Integração Social do
PIS
Trabalhador
P&D Pesquisa e Desenvolvimento
PRT Petroleum Revenue Tax (Reino Unido)
PRRT Petroleum Resource Rent Tax (Austrália)
REPETRO Regime Aduaneiro Especial para a Indústria do Petróleo
RYT Royalty ou Royalties
R&D Pesquisa e Desenvolvimento (Research and Development)
SPT Special Petroleum Tax (Noruega)
SRF Secretaria da Receita Federal
TIR Taxa Interna de Retorno
VPL Valor Presente Líquido

CONVERSÕES ÚTEIS

1 m3 = 6,29 barris
1 m3 = 35,3 cf

6000 cf de gás natural ≈ 1 barril de petróleo


3
1000 m de gás natural ≈ 1 m3 de petróleo

1 MM BTU de energia ≈ 26,8 m3 de gás natural


181 Tributação do petróleo no Brasil e em outras jurisdições

BIBLIOGRAFIA

Alexander G. Kemp - University of Aberdeen, Escócia

Petroleum Rent Collection Around the World

Carol Nackle

Petroleum Taxation. Sharing the Oil Wealth: a study of petroleum


taxation yesterday, today and tomorrow

Daniel Johnston - (http://www.danieljohnston.com)

International Petroleum Fiscal Systems and Production Sharing


Contracts

International Exploration Economics, Risks and Contracts Analysis

Kjell Løvås* e Petter Osmundsen**

*StatoilHydro ASA

**University of Stavanger / Norwegian School of Economics and Business


Administration

Trends and Trade-offs in Petroleum Taxation

Silvana Tordo - Banco Mundial

(http://siteresources.worldbank.org/INTOGMC/Resouces/fiscal_systems_
for_hydrocarbons.pdf)

Fiscal Systems for Hydrocarbons

Silvana Tordo com David Johnston e Daniel Johnston

Petroleum Exploration and Production Rights


Décio Hamilton
Barbosa é
especialista em
regulação e
tributação do
petróleo e do gás
natural.

Participou de
projetos na África
do Sul, em Angola,
nos Estados Unidos,
em Moçambique e na
Noruega.

Trabalhou na
Petrobras, na
Secretaria da
Receita Federal do
Ministério da
Fazenda e na
Agência Nacional do
Petróleo.

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