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FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO E TERRORISMO POLÍTICO

JOSÉ ROBERTO BONOME


Índice
Resumo, 02

Introdução, 04
Capítulo I - Terrorismo e Fundamentalismo: tipologia, conceito e história, 17

Capítulo II - Relação entre Terrorismos e Fundamentalismos, 34

Capítulo III - A Tríplice Fronteira, os Estados Unidos e a Globalização, 44

Capítulo IV – Espelhos Estadunidenses na Tríplice Fronteira, 55

Bibliografia, 60

Gráficos, 68

Anexos, 69

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Metodologia
Terrorismo é o uso da violência ilegal como meio para se atingir um fim
específico. Existem diversos tipos de terrorismo, aqui trabalharei com um tipo ideal do
terrorismo, qual seja, aquele utilizado com fins políticos, onde se pratica o suicídio e
também onde se busca justificativa no fundamentalismo religioso islâmico. O que
distingue o tipo de terrorismo que estarei utilizando é, por um lado, a escolha das
vítimas, e, por outro lado, o suicídio daquele que pratica o atentado. O que significa
dizer que este tipo de terror praticado em alguns atentados precisa ser justificado através
de um determinado tipo de discurso. O discurso utilizado tem como pressuposto idéias e
dogmas religiosos a partir da hermenêutica fundamentalista. Dessa forma, procurarei
mostrar como o terrorismo de características políticas (nem sempre partidária) utiliza o
discurso fundamentalista para ser compreensível e daí ser justificado. Esse tipo de
atitude mostra, num primeiro momento, a desesperança e falta de perspectiva que levam
ao desespero muitas pessoas que terminam por explodir o próprio corpo como
alternativa política. Como motivação espiritual e justificação secular, o discurso
religioso fundamentalista produz uma nova esperança com outras expectativas de
sucesso para seu praticante. O terrorista escolhe suas vítimas a partir de determinadas
representações simbólicas e religiosas. Que tipo de representação? A representação do
mal, do diabólico, do inimigo que precisa ser destruído para garantia da paz e da
sobrevivência dos familiares e da sociedade como um todo.
Por que alguns terroristas resolvem colocar a bomba em alguns lugares e depois
detonam longe do local? Por que algumas pessoas resolvem ser as transportadoras dessas
bombas conscientes de que não sobreviverão à ação de detoná-las? O que diferencia um
do outro? Para a cultura do fundamentalismo religioso (islâmico), os que dão a vida em
favor de uma determinada causa é herói. Muitas vezes o herói é beatificado (catolicismo)
e depois visto como um santo que ressuscitado está intercedendo pelas pessoas junto a
Deus. No fundamentalismo islâmico o crente que dá a sua vida pelo islã é herói e terá
um paraíso diferenciado com prazeres indizíveis.
Pretendo trabalhar especialmente com a relação existente entre o terrorista
suicida e o fundamentalismo religioso. Comparo o discurso (mentalidade) estadunidense
(WASP), com a mentalidade fundamentalista islâmica (em particular o xiismo), e como
essas mentalidades estão presentes numa região neutra como a Tríplice Fronteira.
Se de um lado os Estados Unidos desenvolvem planos antiterroristas cujo
objetivo é o extermínio do inimigo, por outro lado a região da Tríplice Fronteira aparece
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(para os Estados Unidos) como financiadora e sustentadora, ajudando financeiramente,
inclusive e principalmente incentivando o tipo de terrorismo suicida. Isso foi dito, em 9
de março de 2006, pelo subsecretário do Tesouro dos Estados Unidos para a Luta contra
o Financiamento do Terrorismo, Patrick O'Brien, numa entrevista coletiva concedida na
Argentina (www.ult34u149608.jhtm.htm). O'Brien participou na ocasião da Cúpula
Regional sobre Prevenção do Financiamento do Terrorismo organizada pelo Banco
Central da República Argentina. Ele acredita que desde 2004 as organizações
internacionais operam na região da Tríplice Fronteira e que isso preocupa o governo dos
Estados Unidos.
Assim, estudo em alguns atentados a figura da vítima, se tem ou não um perfil
específico. Estudo alguns atentados e suas tipificações (se bomba, químico, gás, etc.;
onde aconteceu, quanto foi o número e tipo das vítimas). Segundo Yoram Schweitzer, na
Conferência Internacional sobre Terrorismo Suicida, realizada na sede do ICT (The
International Policy Institute for Counter-Terrorism - instituto criado em 1996, em
Herzliya), em 21 de abril de 2000, o número de vítimas por atentados era entre nove a
treze em média (http://www.atosdeterrorismo.htm). Qual tipo de mensagem deixada
pelos terroristas. Quais as conseqüências para os familiares do terrorista suicida. Existe
nos atentados justificativa fundamentalista?
A Tríplice Fronteira é acusada de incentivar através do envio de zaqat (ofertas)
para os familiares dos terroristas suicidas. As ofertas são feitas via cabo (wire transfers)
e estão entre os casos coletados pelo Grupo De Egmont (Organismo internacional
informal composto por 69 unidades de inteligência financeira (FIU), dentre elas o
COAF, com o objetivo de encontrar soluções aos programas nacionais de combate à
lavagem de dinheiro) e pelo GAFI/FATF (Grupo de Ação Financeira sobre Lavagem de
Dinheiro, estabelecido pelo G7 para examinar medidas de combate à lavagem de
dinheiro, composto por 31 países membros, dentre os quais o Brasil). A zaqat é o
segundo dos cinco pilares do islã, obrigação de todo adepto é ofertá-la. A zaqat é
direcionada aos menos favorecidos ou para aqueles que de alguma forma passam
necessidades, entre elas estariam os familiares de terroristas suicidas. Esse tipo de
terrorista é visto pelas pessoas (que professam a religião islâmica) como heróis. Em
contrapartida, o terrorista que detona uma bomba sem qualquer conseqüência para si é
tido como apenas um terrorista e não merecedor de ajuda ou de complacência.
O tipo ideal de terrorismo que trabalho compõe-se de dois subtipos conforme o
envolvimento racional do perpetrante. Segui aqui o exemplo de Max Weber quando
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trabalha os limites entre ação com sentido e comportamento reativo. Se o terrorismo
combate um inimigo declarado ou assim reconhecido pela sociedade, então o terrorismo
é racional, ou pelo menos a ação é compreendida dessa forma; já quando o terrorista
combate por mera vingança, então será visto como promovido por fatores irracionais.
Dessa forma, conforme Weber tem-se a compreensão do sentido de uma ação,
tanto a compreensão explicativa, que é a apreensão da conexão de sentido; quanto a
compreensão pelos motivos. Por isso, ao ser constatada a ação efetivamente
condicionada, tem-se a irracionalidade pelos motivos.
Para Weber (1999, p. 6) “Todas estas são conexões de sentido compreensíveis,
cuja compreensão consideramos uma explicação do curso efetivo da ação”
Pretendo, portanto, explicar os motivos pelos quais os terroristas oferecem as
próprias vidas por uma causa, mas especialmente, como é feita a utilização do discurso
religioso fundamentalista para justificar o feito. Explicação significa, para uma ciência
ocupada com o sentido da ação, algo como: apreensão da conexão de sentido. Já a
compreensão significa em todos estes casos: apreensão interpretativa do sentido ou da
conexão de sentido. Desse modo, o objeto a ser investigado é precisamente a conexão de
sentido das ações. Conexões existentes entre terrorismo e fundamentalismo.

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Terrorismo Político e Justificação Religiosa Fundamentalista: comparação entre
Estados Unidos da América do Norte e os países da Tríplice Fronteira (Argentina,
Brasil e Paraguai).

José Roberto Bonome

Tratando-se de política internacional, os homens não


têm moral, nem conhecem justiça. O coração
desaparece; restam livres e desencadeados os apetites
vis, e terríveis, porque são impessoais. Ninguém se sente
obrigado a combate-los e, por vezes, nem mesmo
pretendem mascará-los. E tudo leva a crer que a
América do Sul será sacrificada a esses interesses vis, a
esses egoísmos coletivos; não duvidemos de que ela será
investida. (Bomfim, 2005, p. 313)

Introdução

Os diversos atentados terroristas têm trazido muitas preocupações em quase


todas as sociedades do mundo; estão presentes nas Américas, na Europa, na Ásia, na
África e Oceania. Preocupações que estão nas Américas, especialmente nos Estados
Unidos, conforme mostra a pesquisa da Transatlantic Trends, feita na Europa e nos
Estados Unidos, simultaneamente em 2005. A Transatlantic Trends (estadunidense),
com apoio das organizações The German Marshall Fund of the United States
(estadunidense), a Compagnia di San Paolo (italiana), a Fundação Luso-Americana e
Fundación BBVA (espanhola), fizeram pesquisa em onze países da Europa e os Estados
Unidos durante os dias 30 de maio a 17 de junho de 2005, e chegaram a conclusão de
que “Americans feel significantly more likely to be personally, affected by terrorism
(71% vs. 53% of Europeans), by the spread of nuclear weapons (67% vs. 55% of
Europeans), and by Islamic fundamentalism (50% vs. 40% Europeans), (gráfico 1 e
Anexos 1, 2 e 3)”.
O medo tem aumentado a partir da destruição do World Trade Center, em Nova
Iorque, e depois parte do Pentágono, ocorrido no dia 11 de setembro de 2001. Conforme
mostra os números da pesquisa, os efeitos pessoais do terrorismo afetam 71% dos
estadunidenses, depois, com 67%, vem a preocupação com a proliferação de armas
nucleares e logo em seguida com 50% os fundamentalistas islâmicos. Os resultados
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acima mostram a importância de se estudar as questões de terrorismo, pois é comum
associá-lo com o fundamentalismo, especialmente depois de divulgada a notícia de que
os terroristas do World Trade Center eram fundamentalistas islâmicos. A relação entre
fundamentalismo e terrorismo neste trabalho parte do pressuposto da afirmação de
pensadores como Habermas para quem “a relação entre o fundamentalismo e o
terrorismo é mediada pela violência” (Borradori, 2004, p. 31). Mesmo não sabendo se
as notícias são verídicas, a relação entre terrorismo e fundamentalismo se cristalizou no
imaginário de muitas pessoas, por isso aparece na pesquisa acima como terceiro
elemento de preocupação para a Europa e os Estados Unidos.
Além de um ato terrorista, o simbolismo da ação trouxe a certeza de que os
Estados Unidos não têm a segurança interna sob controle, demonstrando assim a sua
fragilidade de tal forma que, até hoje, os estadunidenses buscam encontrar sentido para
tal ato, ou pelo menos entender o Sujeito e as suas motivações. O simbolismo da ação,
como descrito por Habermas sugere que (in: Borradori, 2004, p. 40):
A novidade foi a força simbólica dos alvos atingidos. Os agressores não
fizeram apenas fisicamente implodir os edifícios mais altos de Manhattan; eles
destruíram também um ícone da imagem familiar da nação norte-americana. Só
no surto de patriotismo que se seguiu começamos a conhecer a importância
central que as torres desempenhavam na imaginação popular...

Como a dificuldade dos WASP (branco, anglo-saxão e protestante) de entender as


motivações terroristas é imensa, a figura associada imediatamente é a do demônio, neste
caso, o demônio seria encarnado nos terroristas, nos estrangeiros, no diferente, e isso
cria constrangimentos de xenofobia e, por outro lado, de hegemonia quase que sagrada
(Ayerbe, 2002, p. 22). Nesse caso, os latino-americanos da Tríplice Fronteira não são
WASP, são os outros, os diferentes, os que potencialmente podem financiar o terrorismo
transnacional.
Naqueles prédios destruídos pelos choques de dois aviões, um em cada torre,
trabalhavam pessoas de vários continentes (cerca de cinqüenta nações). Essa
convergência de culturas em torno de um ideal econômico, o sentimento de ter chegado
ao “topo do mundo”, a satisfação de pertencer à elite financeira ou pelo menos trabalhar
diretamente para ela, fazem parte da realização de um “sonho americano” tão divulgado
na propaganda Hollywoodyana. Sonho esse que carrega no imaginário o sentido da
salvação religiosa presente nos puritanos ingleses colonizadores e estratificado na
cultura estadunidense. Para os estadunidenses, como dizia Tocqueville (Tocqueville,
2000, p. 23-32), sua realidade é demonstração de eleição divina de um povo. Eleição que
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permite dominar sobre o outro não-eleito, reafirmando as teses de Calvino (Touraine,
1999, p.67). João Calvino (1509-1564), em “As Institutas ou Tratado da Religião
Cristã”, enfatiza que os fiéis serão recompensados e os infiéis serão destruídos:
“Ademais, enquanto o Senhor promete a benção da presente vida aos filhos obedientes,
ao mesmo tempo acena com mui certa maldição defronta a todos os filhos contumazes e
desobedientes” (Calvino, 1985, p. 165 v. 2). Essa bipolarização entre bem e mal que
aparece na sociedade estadunidense, foi descrita por Max Weber (1864-1920) como “a
forma mais insuportável de controle eclesiástico do indivíduo” (1987, p. 20). O mesmo
calvinismo que, segundo Weber (1987, p. 98) “parece estar proximamente relacionado
com o rijo legalismo e com a ativa empresa dos empreendedores capitalistas burgueses”.
Por isso mesmo, é natural que os eleitos (wasp) sejam prósperos e os não eleitos (os
outros) sejam decadentes (Weber, 1987, p. 127): “a desigual distribuição da riqueza
deste mundo era obra especial da Divina Providência, que, com essas diferenças, e com
a graça particular, perseguia seus fins secretos, desconhecidos dos homens”. Ou seja, os
eleitos poderiam se enriquecer, enquanto os não eleitos precisariam experimentar a
miséria para se voltarem a Deus.
Para a outra América e seus habitantes na região da Tríplice Fronteira (Argentina,
Brasil e Paraguai), o sonho e as justificativas religiosas são outras. Na Tríplice Fronteira
“salvação” é sobreviver à opressão política e econômica, tem o significado de libertação.
Leonardo Boff escreve no Igreja Carisma e Poder: ensaios de eclesiologia militante
(1981, p. 37): “A fé possui, inegavelmente, uma dimensão política, e hoje ela é urgente,
é exigência do Espírito à sua Igreja, ...dentro do processo de libertação integral...”. O
sonho é a transcendência da pobreza econômica e a obtenção da liberdade política
(Segundo, 1985). As questões políticas desse lado, especialmente a partir dos golpes
militares incentivados pelos Estados Unidos, oprimiram a população e tiraram o poder
de compra de produtos e alimentos, o que levou parte dessa população a buscar produtos
de menor preço, sem impostos, importados via Paraguai. Produtos em grande parte
frutos do contrabando. Junto com o contrabando acontecem muitas outras formas de
ilegalidades como a formação de quadrilhas, tráfico de drogas, de armas e até de
pessoas. Em entrevista para o jornal O Globo (20 de junho de 2005), o secretário-geral
da Interpol, Ronald Noble, que esteve no Brasil para o Congresso Internacional de
Combate à Pirataria, falou da Operação Júpiter, desenvolvida na região da Tríplice
Fronteira e relacionou o comércio ilegal ao possível financiamento do terrorismo
internacional: “De 2002 a 2005, nossa base de dados cresceu de 2 mil para 8 mil nomes
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de suspeitos de terrorismo. Nessa lista há pessoas investigadas por terrorismo, lavagem
de dinheiro e crime organizado”. Tal situação, segundo os Estados Unidos, produz o
financiamento ao terrorismo. Mas não é o caso para o Brasil, pois o próprio governo
brasileiro, na reunião do Comitê Interamericano Contra o Terrorismo (CICTE), reunido
em Washington nos dias 28 e 29 de janeiro de 2002, através do Chefe de sua Delegação,
Dr. Alberto Mendes Cardoso, expressou-se da seguinte forma:
Com respeito ao financiamento do terrorismo, o Brasil está comprometido a
combater essa nova modalidade criminosa. Desde 1991, com a incorporação, ao
direito interno, da Convenção de Viena contra o Tráfico de Drogas de 1988, a
lavagem de dinheiro é criminalizada no País. A Lei 9613, de 1998, tipifica esse
ilícito, estabelece uma lista de delitos antecedentes, dentre os quais o terrorismo,
e detalha as normas processuais aplicáveis. Mais recentemente, a Lei
Complementar n.º 105, de 2001, prevê a possibilidade de quebra de sigilo das
operações de instituições financeiras para a apuração de ocorrência de ilícitos,
inclusive do terrorismo. O Brasil é o único membro pleno do Grupo de Ação
Financeira Internacional contra a Lavagem de Dinheiro (GAFI), na região das
Américas, a haver cumprido, integralmente, todas as 28 Recomendações desse
organismo que exigem ações específicas. Importa notar, ainda, que, das oito
Recomendações Especiais contra o financiamento do terrorismo, editadas pelo
GAFI em outubro de 2001, o Brasil já cumpriu sete.
O Executivo brasileiro assinou, em 10 de novembro passado, a Convenção para a
Supressão do Financiamento do Terrorismo e baixou Decretos que disciplinam o
cumprimento das Resoluções 1333 (2001) e 1373 (2001) do Conselho de
Segurança das Nações Unidas. O ato de fornecer recursos financeiros para
entidades terroristas pode ser enquadrado em outros tipos penais ou modalidades
delituosas já existentes na legislação interna (formação de quadrilha, evasão de
divisas, etc.).
Nesse contexto, importa salientar que, até o momento, o País não identificou, em
seu território, quaisquer atividades de organizações ligadas ao financiamento do
terrorismo e, portanto, não congelou qualquer conta bancária, nem confiscou
recursos ligados àquela atividade.

Também a Polícia Federal afirma, segundo documento do Ministério da


Fazenda - Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), intitulado
Sumário Público do Relatório da Segunda Avaliação Mútua da República Federativa do
Brasil no âmbito do Grupo de Ação Financeira contra a Lavagem de Dinheiro
(GAFI/FATF) – de Junho de 2004, não haver “nenhum indício de qualquer atividade
ligada ao financiamento do terrorismo naquela região”. Na região da Tríplice
Fronteira, segundo essa mesma Polícia Federal, existe extensivo
contrabando de moeda “Com relação a tipologias de financiamento do
terrorismo” (GAFI/FATF – Anexos 4, 4b e 5). O documento, portanto,
afirma haver contrabando de moeda com tipologias de financiamento ao

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terrorismo, mesmo assim, diz o documento, não havendo indício de
terrorismo na Tríplice Fronteira. Embora não se acredite haver terrorismo
na região, foram presas pessoas acusadas de terrorismo internacional ao enviarem
dinheiro para membros do Hezbollah e do Hamas, como no caso do libanês Barakat
radicado em Foz do Iguaçu. O que faz com que a região esteja envolvida como área de
atenção nas estratégias de combate ao terrorismo internacional. Recentemente houve um
atentado à Embaixada de Israel na Argentina e, posteriormente, à Asociación Mutual
Israelita Argentina (AMIA), mas não foram considerados atos de terrorismo
internacional.
Disso se depreende que a visão-de-mundo estadunidense, feita do individualismo
pragmático e de comunidades contratuais, é estranha à América luso-hispânica na região
da Tríplice Fronteira, onde o universalismo católico e a tradição ibérica de hierarquias
paternalistas e autoritárias influenciam esta visão-de-mundo. Desse modo é que os
Estados Unidos é o outro para a região da Tríplice Fronteira e vise-versa. Isso faz com
que o outro sempre seja uma ameaça que precisa ser enfrentada de maneira contratual ou
bélica. Notícias como a veiculada no jornal folha de São Paulo de 04 de setembro de
2003, do jornalista Léo Gerchmann, escrita em Puerto Iguazú, sobre o terrorismo, afirma
que “para especialistas reunidos em seminário, a região, suspeita de ajudar extremistas
islâmicos, tem de ser monitorada” e continua citando o diretor do Center for the Study of
Terrorism and Political Violence (centro para o estudo do terrorismo e a violência
política), Magnus Ranstorp: "Há necessidade fundamental de monitorar grupos e
indivíduos na América Latina para evitar suas ações”. Sobre as supostas organizações
terroristas na região da Tríplice Fronteira diz: “São organizações fortes, que buscam
recursos em diversos locais, a qualquer momento. Trata-se de um inimigo que se pode
comparar a fantasmas, que aparecem e desaparecem. A fonte de recursos é um item
fundamental".
Wainberg (2005, p. 7) escreve que “as notícias sobre os conflitos em geral e
sobre o terrorismo em particular têm um certo e relevante impacto no imaginário das
pessoas”. Lembro da máxima latina verum ipsum factum (a verdade e o inventado são o
mesmo), isso vale para muitas notícias inventadas na mídia em geral e que teve certo
impacto sobre o imaginário das pessoas. Os atentados terroristas de 2001, grandemente
alardeados pela imprensa mundial, e espetacularmente televisado instantaneamente,
acarretam a reação estadunidense do governo Bush e os “falcões” reacionários como os
atuais vice-presidente Dick Cheney, o chefe de Departamento Lewis Libby, o secretário
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de Defesa Donald Rumsfeld, o assessor Paul Wolfowitz e o irmão do presidente Jeb
Bush. A idéia passada para a população através do documento Rebilding American´s
Defences (Reconstrução da Defesa Americana) é de Pax Americana. Documento
elaborado pela New American Century (PNAC – Projeto para o Novo Século
Americano) um ano antes dos atentados de 11 de setembro de 2001. No projeto está a
ocupação do Golfo para controle energético e estratégico. Ao mesmo tempo em que
acusa algumas regiões, que não estão afinadas com as políticas estadunidenses, de eixos
do mal, como no caso da Tríplice Fronteira. A frase do presidente norte-americano
“quem não estiver conosco está contra nós e será combatido” indica que o tema do
terrorismo estaria no centro das questões das relações internacionais como catalisador de
critério de distinção entre amigos e inimigos.
Com os atentados ao World Trade Center, o presidente Bush aproveitou a
oportunidade para colocar o projeto político-militar de seu governo em ação, sem aceitar
as resoluções da ONU ou qualquer outro conselho no sentido contrário. Este tem sido
assunto de discursos na reunião da ONU (setembro de 2003). O unilateralismo dos
Estados Unidos sofre críticas e pressão dos outros países (França, Alemanha e Brasil
entre outros) para que a ação violenta, em nome de combater o terror, seja multilateral e
através da ONU. As críticas são para que o terror não seja espalhado com violência
bélica e nem com a aparência de normalidade e necessidade preventiva, provocando o
Terror de Estado em nome da paz mundial.
Na Tríplice Fronteira o terror aparece na sociedade na forma de violência por
parte dos Estados Sul-americanos. Golpes militares incentivados e financiados pela
política estadunidense aconteceram quase que ao mesmo tempo na América Latina,
todos eles em nome da luta contra a ideologia socialista e comunista durante o período
da Guerra Fria. Esses países sofreram as conseqüências da Guerra Fria iniciada nos anos
de 1947, época em que governavam alguns presidentes populistas como Getúlio Vargas
(1950-1954) no Brasil e Juan Domingos Peron (1946-1955) na Argentina, e do governo
autoritário do general Alfredo Stroessner (1954-1989) no Paraguai. Portanto, a definição
do termo “terrorismo” precisa ser contextualizada não só no tempo, mas também na
geografia mundial. O termo não tem o mesmo significado nos Estados Unidos e na
Tríplice Fronteira. Nessa região, a melhor definição de terrorismo que encontrei, e que
estarei usando é a de Héctor Luis Saint Pierre, para quem a definição de terrorismo passa
pelo critério com que o terrorista seleciona a sua vítima (Saint Pierre, 2002).

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Segundo o que apurei sobre a acusação de financiamento ao terrorismo,
especialmente por parte de comerciantes da Ciudad Del Este, o envio de dinheiro para o
Hezbollah é para que o partido legalmente constituído no Líbano supra as necessidades
das vítimas do conflito com Israel. A questão das remessas é muito delicada de se apurar,
mas tem justificativa tanto no Corão quanto na Bíblia. Estamos diante da hermenêutica
religiosa que fundamenta a ajuda ao próximo (Feuerbach, 1989, p. 294). Forma-se aqui
um tripé de conceitos éticos, o Corão de um lado, a ética calvinista dos Estados Unidos
do outro lado e a ética católica ibérica na tradição dos países da Tríplice Fronteira. Os
arcabouços religiosos protestantes procuram justificar a supremacia norte-americana de
“povo eleito”, a teologia tradicional católica, desde a época da colonização tem
acomodado, através da “opção preferencial pelos pobres”, as dificuldades encontradas na
sociedade dos países da Tríplice Fronteira, enquanto que os migrantes islâmicos
interpretam o Corão como fundamento para a construção da Jihad com objetivos de
libertação de todo tipo de opressão.

Evidente é a não redução dos problemas sociais, econômicos, políticos ou de


qualquer outra esfera, ao fenômeno religioso ou metafísico. A própria religião está
inserida num amplo contexto social. Ela é algo da coletividade (Durkheim, 1989, p. 79).
A religião é um produto da sociedade (Feuerbach, 1989, p. 159). A religiosidade na
modernidade é a projeção do humano, como diz Feuerbach “somente é objeto da
religião, da adoração, aquilo que é objeto dos desejos humanos” (Feuerbach, 1989, p.
251). Hannah Arendt escreveu (Arendt, 2002, p. 64) que “Na guerra religiosa a religião
sempre correu o grave perigo de transformar-se em uma ideologia no sentido de Marx,
isto é, em um mero pretexto para a violência”. O componente religioso não está
dissociado do contexto, da história, das mentalidades circundantes, do processo de
produção e consumo, das políticas privadas ou públicas desses países. Dessa forma, a
construção da representação simbólica é vista atrelada a uma mecânica natural. Tal
natureza pressupõe um conjunto de relações sociais e individuais, internas e externas
(Elias, 1994, p. 77). Nesse sentido, toda “produção de subjetividade constitui matéria-
prima de toda e qualquer produção” (Guattari & Rolnik, 1996, p. 66).
As ações terroristas abalam os sonhos do Estado norte-americano, sonhos de
superioridade, de progresso, de nação abençoada por Deus, influências da cultura
calvinista e depois do pietismo. Lúcia Lippi Oliveira mostra a importância da “religião
civil” na cultura estadunidense (Oliveira, 2000, p.13):

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Foram elas que organizaram as comunidades – as chamadas benevolents
societies – sustentaram escolas... No campo intelectual norte-americano, foi
intensa a conexão entre pastores, intelectuais e políticos. ...A religião ocupou um
espaço social, cultural e político de extrema relevância, racionalizando a vida
social mesmo com a separação oficial entre as duas esferas.

Os políticos do governo Bush, por essa influência fundamentalista protestante,


crêem que são os detentores da verdade, do certo e errado e da condução dos destinos do
mundo – uso aqui a perspectiva de Max Weber ao escrever que influenciados por uma
ética protestante calvinista, fazem “como que para Deus” (Weber, 1987, p. 84). A
religião é encarada com tal seriedade que o senso de justiça faz com que sintam estar
sempre certos, e isso é ideologia (Ricoeur, 1991, p. 70). Enquanto isso a América Latina
observa e reage a seu modo na “marginalidade”. É assim que a região da Tríplice
Fronteira é vista pelos Estados Unidos. Os latinos são ideologicamente discriminados
pelos Estados Unidos, criando de um lado a ideologia de supremacia e do outro o desejo
utópico de transcender a marginalidade destruindo o ideólogo. A dualidade entre
ideologia e utopia pode ser encontrada nas sociedades e nos Estados. Se os Estados
trabalham com ideologias e os povos com utopias, os discursos dos Estados visam às
utopias e as escutas dos povos se tornam ideológicas. Como diz Paul Ricoeur, “as
utopias são assumidas pelos seus autores, ao passo que as ideologias são negadas pelos
seus” (Ricoeur, 1991, p. 68), resultando que os Estados Unidos transformem utopias
americanas em ideologia capitalista norte-americana. Isso está impregnado na
mentalidade liberal e muito mais no neoliberalismo como sistema, diz Gianni Vattimo
(Martins & Silva, 1999, p. 67): “A idéia da mão invisível, atrelada ao custo da
infelicidade de muitos que, por pouco ou longo tempo, perderam o trabalho, é uma típica
noção metafísica da qual a filosofia do século XX tenta libertar-se”. Dessa forma “o
ideológico nunca é a sua própria posição; é sempre a atitude de outras pessoas, é sempre
a ideologia dos outros” (Ricoeur, 1991, p. 68).
A utopia estadunidense criada por longos e difíceis anos foi abalada por atos
terroristas. Qual a ideologia da desconstrução? No que essa ideologia se fundamenta?
Que tipo de relação ideológica pode haver num ato terrorista de desconstrução? A
América Latina, em especial a região da Tríplice Fronteira, como outras regiões
periféricas, têm sido vítimas de terrorismos (de violências) capitalistas? Seria o
terrorismo uma tentativa de libertação da grande rede – Network, dos sistemas
econômicos, políticos, sociais? É terrorismo fazer acordar do sonho utópico para a
realidade objetiva e não apenas subjetiva? O que importa é a realidade virtual? Ou o que
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importa não é interpretar o mundo e sim transformá-lo? (Marx, 1987, p. 14). É possível
alguma transformação sem violência?
Nos países da Tríplice Fronteira os acontecimentos apresentam visões de mundo
diferentes da estadunidense. As opiniões divergem não só entre os especialistas, mas
também entre a população desses países. Nesse primeiro momento parece que a cultura
de cada país projeta um tipo específico de pensamento e sentimento. Algo que sobressai
de imediato é a influência religiosa. A ambigüidade religiosa se faz sentir em dois
caminhos: o primeiro é o caminho da passividade, da alienação, justificando assim as
críticas sociológicas e psicológicas da religião. Críticas que apresentam a religião como
justificadora do poder. O segundo caminho é aquele em que a religião desenvolve seu
discurso profético, contestador, de engajamento político e que se não impulsiona para a
destruição, talvez a justifique como libertação da opressão (Dussel, 2000, p. 534).
Nesse contexto americano, o que não faltam são histórias de libertação, desde as
contadas nas tradições orais das tribos indígenas, até as registradas secularmente no
Oriente e que aqui se fazem presentes através da religião judaico-cristã e islâmica.
Exemplo disso é o terror que Iahvéh (Deus hebreu) impusera aos Egípcios para que os
povos escravizados fossem libertos. Mito esse que talvez possa indicar a necessidade de
alguma espécie de terrorismo para a libertação dos oprimidos (Girard, 1990). No caso, o
terror é justificado pela ação divina da libertação. Pode estar no episódio primordial
tanto judaico quanto cristão e islâmico, os arquétipos da mentalidade terrorista, mas
também o lugar na memória em que se busque a justificativa fundamentalista (Jung,
1985). Para a compreensão do fenômeno terrorismo e do significado da vítima
(Hinkelammert, 1995), as teses de Feuerbach e Karl Marx, afirmam que a religião
justifica a opressão dos favorecidos de um lado e domestica o sofrimento dos
desfavorecidos de outro lado; e a tese de Durkheim de que a religião, como fato social
(Durkheim, 1989), embora não única, é necessária para a compreensão da problemática
dos terrorismos.
No contexto da pesquisa observamos que os terrorismos do capital, das idéias de
superioridade racial, do povo escolhido por Deus para dominar e ditar as regras do certo
e errado, estão presentes nas Américas de modo diferente. Nos Estados Unidos aparece
como justificativa de dominação, mas na Tríplice Fronteira como tentativas de libertação
através de movimentos sociais. Movimentos que são impulsionados pela utopia de um
mundo melhor e pela ideologia que estruturará com mais justiça essa sociedade que
habitará um novo mundo. Se num primeiro momento é a opressão, a desigualdade, a
13
necessidade, e tantas formas de exploração, que provocam o descontentamento e o
sentimento de carência de liberdade, num momento contínuo, é a religião que serve
como referencial para a criação e sustentação de utopias e ideologias. O sentimento
religioso pode construir alternativas as mais variadas, tanto as que constroem e
sustentam sistemas, utopias e ideologias, quanto as que trabalham na sua desconstrução
(Derrida acredita na linguagem como o primeiro passo para a desconstrução).
Os Estados Unidos criam dependências na América Latina empobrecida,
inclusive com os países da Tríplice Fronteira crescendo menos que outros países. Como
exemplo, o Gerente do Club Económico, Price waterhouse Coopers Paraguai, Aberlardo
De Paula Gomes Júnior (www.pricewaterhouse.com), no ano de 2004, diz que a pobreza
é fator agravante para o desenvolvimento dos negócios: “cerca de 48% da população do
país está submersa na pobreza. O fato de essa parcela da população não possuir poder
aquisitivo restringe fortemente sua capacidade de consumo...”
Esta, por sua vez, está repleta de governantes corruptos, de sistemas corruptos
que muitas vezes foram, num passado recente, financiados pelos Estados Unidos (Elias,
1994, p. 170), mas que agora estão cristalizados em muitos políticos de diversos
partidos. Os discursos religiosos, nos países latino-americanos e Estados Unidos,
construíram uma mentalidade subserviente por parte da América Latina e dominador por
parte dos Estados Unidos. Como dizia Manoel Bomfim (2005, p 315):
tais nações consideram a América meridional como um reino encantado de
riquezas, e ao mesmo tempo consideram as populações que por aqui vivem como
absolutamente incapazes de fazer valer estas riquezas, e de as defender
eficazmente contra um invasor forte

Essas são idéias, segundo Bomfim, que fazem com que os latinoamericanos
sejam tidos como inferiores.
As utopias e ideologias são muitas vezes instrumentos para afirmar ou negar tal
inferioridade, por outro lado são fundamentais para a compreensão dos direcionamentos
sociais, econômicos e políticos, são ferramentas de construção e desconstrução nas
Américas. É importante conhecer os produtos dessas subjetividades para entender as
ações e reações que produzem a identidade desse continente americano. Sendo assim, o
que proponho como objeto de estudo é o terrorismo e a sua justificação fundamentalista.
Não é o fundamentalismo que gera o terrorismo, mas é o terrorismo que precisa
justificar-se através do discurso fundamentalista. Alejandra Pascual estudando o período
de 1976 a 1983 na Argentina escreve (Pascual, 2004, p. 54):

14
A defesa de Deus e dos altos valores morais e cristãos foi uma das motivações
mais utilizadas pelos repressores, durante o regime militar, para justificar a
perseguição e o castigo de pessoas das mais diversas expressões políticas,
religiosas, econômicas e culturais.

Tanto no mundo islâmico quanto no mundo cristão ou judeu, o fundamentalismo


é a rejeição de valores modernos e a aceitação de valores tradicionais, não é mais que
rejeição de mundo ou ascetismo religioso (Weber, 1982, p. 371). Portanto, partimos do
princípio que o terrorismo produz discursos fundamentalistas e não que o
fundamentalismo resulta em terrorismo. É o que pretendemos demonstrar no estudo
comparativo entre dois tipos de visões-de-mundo americanas. A visão estadunidense e a
visão da Tríplice Fronteira.
Inicialmente, relaciono vinte e oito grupos designados, em 5 de outubro de 2001,
como Organizações Terroristas Estrangeiras (Foregin Terrorist Organizacion) e as siglas
conhecidas internacinalmente. A seguir relacionamos outros grupos terroristas ativos em
2000, segundo o Relatório Anual “Padrões de Terrorismo Global” 2000; Relatório
Bianual “Organizações Terroristas Estrangeiras” (FTOs) 2001 e do Escritório do
Coordenador de Contra-terrorismo do Departamento de Estado dos Estados Unidos:
I. Organizações Terroristas Estrangeiras (FTOs)
1 – Organização Abu Nidal (ANO)
2 – Grupo Abu Sayyaf (ASG)
3 – Grupo Islâmico Armado (GIA)
4 – Aum Shinrikyo (AUM)
5 – Pátria e Liberdade Basca (ETA)
6 – Al-Gama´a al-Isslamiyya (IG)
7 – Movimento de Resistência Islâmica (HAMAS)
8 – Harakat ul-Mujahidin (HUM)
9 – Festa de Deus (HEZBOLLAH)
10 – Movimento Islâmico do Uzbequistão (IMU)
11 – Jihad Islâmica Egípcia (AL-JIHAD)
12 – Kahane Chai (KACH)
13 – Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK)
14 – Tigres da Libertação Tamil Eelam (LTTE)
15 – Organização Mujahedin-e Khalq (MEK)
16 – Exército de Libertação Nacional (ELN) – Colômbia
17 – Jihad Islâmica da Palestina (PIJ)
18 – Frente de Libertação da Palestina (PLF)
19 – Frente Popular para a Libertação da Palestina (PFLP)
20 – Comando Geral - PFLP (PFLP – GC)
21 – Al Qaeda (AL QAEDA)
22 – IRA Real (RIRA)
23 – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC)
24 – Núcleos Revolucionários (ELA)

15
25 – Organização Revolucionária 17 de Novembro (17 de NOVEMBRO)
26 – Exército Revolucionário de Libertação Popular (DHKP/C)
27 – Sendero Luminoso (SL)
28 – Forças/Grupo Unido de Autodefesa da Colômbia (AUC)

II. Outros Grupos Terroristas


1 – Brigada Alex Boncayao (ABB)
2 – Exército de Libertação de Ruanda (ALIR)
3 – Exército Republicano Irlandês de Continuidade (CIRA)
4 – Grupo de Resistência Anti-Facista Primeiro de Outubro (GRAPO)
5 – Exército Republicano Irlandês (IRA)
6 – Jaih-e-Maomé (JEM)
7 – Lashkar-e-Tayyiba (LT)
8 – Força Voluntária Legalista (LVF)
9 – Novo Exercito do Povo (NPA)
10 – Voluntários Laranja (OV)
11 – Pessoas Contra os Gângsters e Drogas (PAGAD)
12 – Defensores de Mãos Vermelhas (RHD)
13 – Frente Revolucionária Unida (RUF)

Quando os Estados Unidos definiu essas organizações como FTOs, na Lei de


Imigração e Nacionalidades em sua seção 219 ª, e inclusive emendando a Lei de Anti-
terrorismo e Pena de Morte de 1996, trouxe, automaticamente, as seguintes
conseqüências legais: Primeiro, é ilegal fornecer fundos ou outro apoio material a uma
FTO; segundo, podem ser negados vistos aos representantes e certos sócios de uma FTO
ou até podem ser expulsos dos Estados Unidos; terceiro, instituições financeiras norte-
americanas devem bloquear os fundos de FTOs e seus agentes, devendo informar o
bloqueio ao Departamento do Tesouro dos Estados Unidos.
Como não se tem notícias de nenhuma dessas FTOs na Tríplice Fronteira, os
Estados Unidos acusam a Ciudad Del Este, no Paraguai, de financiadora do terrorismo
internacional, especialmente do Hamas e Hezbollah, no Líbano. A Ciudad Del Este foi
tida em 1995 como região com o terceiro maior movimento comercial do mundo, depois
de Miami e Hong Kong (Rabossi, 2004). Declarações de funcionários paraguaios
estimam que o montante das negociações realizadas em Ciudad del Este alcançava cerca
de US$ 15 bilhões por ano, segundo Fernando Rabossi. A cifra calculada para o mesmo
ano, pela Receita Federal brasileira, é de US$ 5 bilhões. A outra cifra que aparece
recorrente em todos os artigos e trabalhos sobre aquela região é de US$ 12 bilhões sendo
citada como fonte a revista Forbes de 1994 (Rabossi, 2004). As estimativas de Reinaldo
Penner, economista do Banco Central de Paraguai, baseados em dados produzidos pelo
próprio banco e pelo cruzamento de dados declarados pelo Paraguai e pelos países

16
importadores, esse movimento foi entre US$ 4,375 e 4,038 bilhões em 1995 e entre US$
2,408 e 2,033 em 1998 (Penner, 1998, p.17-24)
Acusação de financiamento ao terrorismo internacional feita pelos Estados
Unidos à região da Tríplice Fronteira, especialmente ao comércio de Ciudad Del Este,
pode trazer graves conseqüências para os países sul americanos, como, por exemplo, a
fixação de base militar estadunidense na região (como a base estadunidense no
Paraguai), colocando em risco a soberania das nações que compõem a Tríplice Fronteira,
as usinas hidrelétricas como a Itaipu, reservas de minérios, de gás, de petróleo e, acima
de tudo, colocando em risco o Aqüífero Guarani, uma área de 1,2 milhões de
quilômetros quadrados. Dessa área, 71% está em território brasileiro, 19% na Argentina,
6% no Paraguai e apenas 4% no Uruguai. O Aqüífero Guarani é também conhecido
como Aqüífero Gigante do Mercosul, porque compreende o Aqüífero Triásico
(formações Pirambóia-Rosário do Sul, no Brasil, e Buena Vista, no Uruguai) e o
Aqüífero Jurássico (formação Botucatu, no Brasil; formação Misiones, no Paraguai, e
formação Tacuarembó, no Uruguai e na Argentina) (anexo mapa 1).
Os Estados Unidos, por seu turno, relacionou, nos seus cinco pontos na defesa
contra o terrorismo, a questão do direito de vigiar as regiões de fronteira: Primeiro, fazer
cumprir a lei, preservar a paz e proteger a vida e a propriedade; segundo, proteger suas
lideranças nacionais, a estabilidade e as funções do governo e seu corpo diplomático
residente, incluindo o dos Estados Unidos; terceiro, controlar suas fronteiras
internacionais; quarto, proteger sua infra-estrutura fundamental; e cinco, administrar
crises que tenham implicações nacionais. Michael Klare, diretor do Centro de Estudos
sobre a Paz e a Segurança Mundiais do Hampshire College, em Amherst, Massachusetts,
defende a tese de que o motivo da guerra dos EUA contra o Iraque é o petróleo. Para ele,
a iminente invasão do Iraque se encaixa perfeitamente num modelo de conflito que tende
a proliferar pelo mundo afora nas próximas décadas.
Seguindo o pressuposto de Klare, os Estados Unidos podem utilizar, depois do
Iraque, de discursos fundamentalistas e de interferência na soberania de outros países, na
sua política externa, para justificar internamente as invasões militares na região da
Tríplice Fronteira. A velocidade e o modo da “invasão” estadunidense na região
dependem da conscientização dos povos desses países e de aplicação de uma política
externa autônoma e corajosa. Não como a política externa Argentina, cujo trabalho
histórico de Paradiso relaciona as críticas dirigidas a ela: “Não acreditamos que haja na
terra algum povo civilizado que cuide menos do que o nosso da sua representação
17
diplomática” (Hugo Satãs in: Paradiso, 2005, p.11). Ou seja, segundo a tradição
argentina referida por José Paradiso, a região da Tríplice Fronteira está vulnerável.
Primeiro pela atitude do Paraguai de permitir – até por questões históricas, o
contrabando e se beneficiar da política antiterrorista dos Estados Unidos, depois pela
tradição argentina de fragilidade na diplomacia, e, por fim, o Brasil, pela situação interna
de denúncias de corrupção. Mesmo assim, o Brasil parece ter melhores condições de
superar sua crise e promover a cidadania consciente de sua população.

18
Capítulo I - Terrorismo e Fundamentalismo: tipologia, conceito e história.

Embora não se tenha consenso aceito internacionalmente sobre o significado do


termo terrorismo, utilizo a definição de Norberto Bobbio (1986): “terrorismo é o recurso
sistemático à violência como forma de intimidação da comunidade no seu todo”. Se no
passado foi usada até para a afirmação de convicções religiosas, hoje a religião é
utilizada para justificar os diversos atos de violência. Os Estados, muitas vezes na
América Latina, têm usado da violência para cumprir o projeto ideológico-partidário, e
também busca justificativas na moralidade cristã. Exemplo disso são as ações
repressivas praticadas na América Latina, durante as décadas de 1960-1980, por regimes
golpistas, contra os que se opunham ao governo ditatorial imposto. A implantação desses
regimes se deu com o apoio estratégico dos Estados Unidos, que agora sofre outro tipo
de violência - o terrorismo. Parto da premissa que as violências na América Latina são
diferentes quando comparadas com o terrorismo nos Estados Unidos. Especialmente a
violência existente na Tríplice Fronteira (Argentina, Brasil e Paraguai), local escolhido
para o estudo comparativo. Se não há registro recente de golpes de Estado nos Estados
Unidos, os registros de golpes de Estado na Tríplice Fronteira ainda estão vivos na
memória desses países (Argentina, Brasil e Paraguai). Alejandra Pascual escreve que no
período da ditadura Argentina (Pascual, 2004: p. 61):
O regime usou da violência direta para seqüestrar, torturar, manter prisioneiros e
aniquilar possíveis adversários. Recorreu a todos os meios repressivos, até
mesmo à criação de estruturas clandestinas em suas Forças Armadas e de
Segurança, tais como os grupos de tarefas, os grupos parapoliciais e
paramilitares, os esquadrões da morte e, também, incentivando qualquer grupo de
extrema direita que desejasse participar de sua tentativa de impor o terror.

O brasilianista Thomas Skidmore chega a dizer que nem mesmo com o fim da
guerrilha o governo golpista no Brasil deixou de praticar atos de terrorismo (Skidmore,
1988: p. 249): “A tortura praticada pelo governo não acabou com a derrota das
guerrilhas, nem era para surpreender, uma vez que os torturadores não esperaram a
ocorrência de uma ameaça armada. As autoridades voltaram a usá-la e a intensificá-la
em 1968, antes também de qualquer significativa operação revolucionária”. O mesmo
escreve Eric Hobsbawm sobre a luta que as Forças Armadas travaram contra as

19
guerrilhas que lutavam contra o golpe (Hobsbawm, 1995: p. 424): “...foi detida de chofre
por golpes militares seguidos de terror, como no Brasil após 1964 ...”.
Em todas as definições descarto a idéia de que o terrorismo só acontece através
de ações violentas contra civis e militares quando não se está em guerra. Nas situações
de guerra declarada o terrorismo também está presente na forma de violência ilegal. A
guerra travada dentro das convenções internacionais, portanto legal do ponto de vista
jurídico, não usa de terrorismo, mas usa de violência discriminada. Mesmo assim, não é
a esse tipo de terrorismo que queremos pesquisar, mas sim ao terrorismo político
praticado pelo suicida. O autor desse tipo de terrorismo, apesar das motivações políticas
e até econômicas, usa do discurso fundamentalista para justificar suas ações. E a tese que
pretendemos defender é que o terrorismo busca justificar-se através do discurso religioso
fundamentalista, mas não é o fundamentalismo religioso o produtor do terrorismo.
Se a justificativa de acabar com terroristas destruindo cidades e matando civis
fosse válida, então muitos países provavelmente seriam alvos de ataques justificados
pela mesma ideologia. Logo, como definir melhor o Terrorismo? As definições
subseqüentes de terrorismo estão em ordem cronológica, opções que acredito ser mais
adequada para a definição do tema trabalhado, embora já deixasse evidenciado o tipo
ideal de terrorismo que é o objeto desta tese.
O Suplemento do Dicionário da Academia Francesa, em 1798, refere-se ao
regime de violência em que a França havia mergulhado nos anos de 1793 e 1794 como
terrorismo. Portanto, à época, o termo terrorismo era adequado às ações individuais de
espalhar boatos assustadores, prognosticadores de catástrofes e pessimistas em geral.
Terrorismo aparece no quinto volume da Polis-Enciclopédia Verbo do Direito e
do Estado, como:
prática do terror como instrumento de acção política, procurando alcançar pelo
uso da violência objectivos que poderiam ou deveriam cometer-se ao exercício
legal da vontade política. O terrorismo caracteriza-se, antes de mais, pela
indiscriminação das vítimas a atingir, pela generalização da violência, visando,
em última análise, a liquidação, desactivação ou retracção da vontade de
combater do inimigo predeterminado, ao mesmo tempo que procura paralisar
também a disponibilidade de reacção da população.

Norberto Bobbio, Nicola Matteuci e Gianfranco Pasquino, no Dizionario di


Política, página 1186, definem o terrorismo político como “pratica politica di chi ricorre
sistematicamente alla violenza contro le persone o le cose provocando terrore”.

20
Hoffman & Claridge (1998) sugerem que o terrorismo é mais bem definido pela
natureza do que pela identidade ou pela demografia social dos terroristas.
A noção de terrorismo tornou-se complexa à medida em que as sociedades
modernas agem e interagem no sistema mundial. O conteúdo do vocábulo tornou-se
mais difícil de se precisar. Mas em todas as definições encontradas a conotação com a
política está presente, ou seja, o fenômeno do terrorismo é mais político e ideológico que
econômico ou religioso. Por outro lado, o terrorismo, regra geral busca suas
justificativas na popularização do discurso religioso e nele procura sentido para as ações
destruidoras, ou seja, para o terrorista sua ação de construção de algo melhor e
desconstrução do estabelecido – o pior. Onde o terrorismo teve origem no Estado, como
em alguns países da América Latina, exemplos: no caso da Nicarágua de Somoza em
1928; da República Dominicana de Trujillo em 1929; do Paraguai de Stroessner em
1953; do Haiti de Duvalier em 1957; do Brasil em seus vários governos militares a partir
de 1964; ainda o Uruguai em 1972, a Bolívia em 1973 ou a Argentina em 1976, suas
populações sofreram medo e terror, mas nem por isso foram tais repúblicas chamadas de
terroristas pelos Estados Unidos ou pela Organização das Nações Unidas. Pelo contrário,
os que se opunham aos governos terroristas desses países eram apelidados de
subversivos.
Nesse período histórico, o terror estava associado, pelos regimes autoritários de
orientação capitalista, ao comunismo e sua ideologia anticapitalista (socialista). Os
golpes de Estado promovidos pelas repúblicas mencionadas (Argentina, Brasil e
Paraguai) eram orquestrados e financiados com subsídios estadunidenses, como
exemplifica o discurso de Robert Mac Namara, em 1963, no Congresso dos Estados
Unidos: “...o maior rendimento de nossos investimentos de ajuda militar provém do
adestramento de oficiais treinados em nossas escolas militares e Centros de
Treinamento...” e destaca a importância de treinar oficiais para reproduzirem a ideologia
estadunidense. (Comissión, 1986, Apud Pascual, 2004: p. 41).
Chomsky (2005a.) escreve: “Nos manuais militares norte-americanos,
define-se como terror a utilização calculada, para fins políticos ou religiosos, da
violência, da ameaça de violência, da intimidação, da coerção ou do medo.”
A Constituição Brasileira tem por princípio nas suas relações internacionais o
repudio ao terrorismo (Artigo 4o. VIII) e determina que a lei considerará tal crime
inafiançável e insuscetível de graça ou anistia (Artigo 5 o. XLIII). Repúdio fundamentado
na violência sofrida em situações históricas em que viveram os países da Tríplice
21
Fronteira durante regimes de ditadura militar. Porém, não há punibilidade para crime de
terrorismo no Brasil, na Argentina ou Paraguai. O que poderia ser considerado crime de
terrorismo nos Estados Unidos é, no Brasil, tipificado na Lei de Segurança Nacional de
1983, depois na Lei de Crimes Hediondos, de 1990. Agora em 2006 a Lei de Crimes
Hediondos foi superada e não tem mais aplicabilidade. Assim como no Brasil, nenhum
país da América do Sul tem leis que penalizem atos terroristas, mesmo porque, não há
previsão para isso no Código Penal desses países.
A finalidade do terrorismo é “imobilizar o seu alvo” (Schmid 1983:111) para
produzir certa desorientação ou algum tipo de conformidade a fim de intimidação dessa
população.
Intimidação de grupos ou populações através do terror é algo comum ética e
legalmente quando a partida é o poder de Estado, mas é execrável quando parte de
pessoas ou organizações que viram esgotar todas as possibilidades de negociação, de
libertação, de sobrevivência. Assim, o Estado pode ser o agente do terror ou o agente
financiador do terrorismo. Conseguiram desestruturar governos atos das Brigadas
Vermelhas na Itália e o Baader Meinhof na Alemanha. Governos conseguiram
desestruturar internamente sistemas democráticos – nesse sentido o governo argentino
criou a Aliança Anticomunista e o governo brasileiro criou os Esquadrões da Morte.
Também acontece que grupos utilizam de atos terroristas para afirmarem convicções
religiosas (como no caso de grupos fundamentalistas judeus, cristãos ou islâmicos), e até
para buscarem identidade étnica (como no caso do ETA na Espanha). Na Argélia, a
Frente Islâmica de Salvação (FIS), o Exército Islâmico de Salvação (EIS) e o Grupo
Islâmico Armado (GIA), são responsabilizados por atentados que causaram a morte de
oitenta mil pessoas. Mas também grupos cristãos como o IRA (na Irlanda) e a Ku-Klux-
Klan (KKK), nos Estados Unidos da América do Norte. A Ku-Klux-Klan surgiu depois
da Guerra Civil Americana (1861-1865), quando a Confederação Sulista foi derrotada –
o objetivo dessa organização terrorista são os negros dos Estados Unidos. Em 1994, a
Ku-Klux-Klan era uma entre as dezessete mil organizações racistas nos Estados Unidos;
a ela foi atribuído naquele ano de 1994, 18 assassinatos, 146 agressõe, 228 atos de
vandalismo e 12 incêndios. A Klu-Klux-Klan é formada por terroristas estadunidenses.
A América Latina vivenciou vários tipos de violência que levaram o terror a
muitas pessoas. Na Argentina formou-se a Aliança Anticomunista da Argentina (AAA-
Alianza Anticomunista Argentina – Anos 1970 – Apoiado pelo então general Jorge
Rafael Videla), no Brasil o Esquadrão da Morte (apoiado pelos políticos de direita e por
22
militares golpistas – década de 1960 e 1970), no Uruguai os Tupamaros, no Peru o
Túpac Amaru – MRTA e o Sendero Luminoso, na Colômbia as Forças Armadas
Revolucionárias, na Guatemala a Frente de Libertação Nacional, na Nicarágua a Frente
Sandinista. Os golpes de Estado praticados na América do Sul são, muitas vezes
carregados de violência, como no caso do Brasil em 1964, entre outros.
A partir desses conceitos propomos três tipos específicos de terrorismo, os três
com objetivos políticos têm o discurso da justificação religiosa apelando para valores
religiosos para a população. Um é o terrorismo seletivo que tem motivações e alvos
específicos – como os ataques às torres do World Trade Center nos Estados Unidos que
foi atribuído aos grupos radicais islâmicos; o segundo é o terrorismo indiscriminado,
praticado por quem pretende espalhar o terror na população e dessa forma desestabilizar
o Estado e suas instituições – como no caso dos ataques atribuídos ao PCC (Primeiro
Comando da Capital) no Brasil; e, por último, o terrorismo de Estado, geralmente
associado às ditaduras militares latino-americanas. Especificamente neste trabalho a
minha atenção estará voltada para o primeiro caso e sobre ele é feita a pesquisa.
Para o especialista em terrorismo internacional Ely Karmon, o terrorismo seletivo
radical islâmico foi provocado por dois eventos, primeiro a Revolução Iraniana de 1979
e depois a vitória do Afeganistão sobre a União Soviética, vitória financiada pelos
Estados Unidos da América do Norte (Sutti & Ricardo, 2003:77). Não há consenso sobre
isso, a italiana Giuliana Sgrena, num simpósio europeu sobre terrorismo afirmou que a
estratégia terrorista mudou em 1989 com a queda do Muro de Berlim e em 1991 com a
primeira Guerra do Golfo. No Japão o Exército Vermelho, na Itália as Brigadas
Vermelhas, no Oriente Médio o Al Fatah, são regiões afetadas por outros grupos
terroristas cujos objetivos são diversos, embora as suas ações visem provocar o terror
para chamar a atenção pública, política e internacional, mas é só na década de 1990 que
surgiu o terrorismo contra um maior número de pessoas. Esse terrorismo de massa busca
justificar na religião suas atitudes, embora nem sempre a religião justifique, pois se trata
de atitudes fanáticas. Nesse período, o fanatismo escatológico, inserido em diversos
discursos de líderes religiosos messiânicos, cresce e dá sentido aos atos terroristas.
Se os estadunidenses, como “povo escolhido por Deus”, acreditam na eleição
segundo Calvino, então é dificil pensar que entre eles possa haver terrorista. Em 1995, a
morte de 168 pessoas foi provocada pela explosão em frente a um prédio público em
Oklahoma, o terrorista era Timothy McVeigh, depois executado pelo governo dos

23
Estados Unidos após ser legalmente condenado, não como terrorista, mas como
criminoso.
Quanto ao questionamento que se faz na área jurídica, correspondem as
indagações na política e na prática dos Estados modernos. O terrorismo, neste contexto
jurídico do Estado moderno, expõe a arena política global a perigos iminentes e a
desafios futuros (Borradori, 2004:10). Nessa perspectiva o terrorismo implica em atos
violentos contra a liberdade e tranqüilidade das pessoas, a propriedade privada ou
pública e contra os poderes constituídos.
Nas ações terroristas os homens que mais derramam sangue são os que têm o
mais forte desejo de fazer seus semelhantes usufruírem a idade de ouro que haviam
sonhado e que têm mais simpatias pelas misérias humanas. Otimistas, idealistas e
sensíveis, mostram-se tanto mais inexoráveis quanto maior sua sede de felicidade
universal. Nas ações terroristas do Estado os que mais derramaram sangue são os que
têm o mais forte desejo de dominar outros povos submetendo-os ao seu poderio bélico,
econômico e depois político.
No mundo contemporâneo o terrorismo foi inaugurado em 1881, quando do
assassinato do Czar Alexandre II, cuja responsabilidade foi atribuída à sociedade secreta
“Narodnya Volya”, e depois, em 1914, quando da morte do arquiduque herdeiro do
Império Austro-Húngaro Francisco Ferdinando, em Sarajevo – foi o estopim da Primeira
Guerra Mundial. O termo já se encontrava em “Das Mord”, livro escrito pelo alemão
Karl Heinzen (1809-1880). Karl Heinzen influenciou os anarquistas Mikhail Bakunin e
Piotr Kropotkin, entre outros. Portanto, o terrorismo, historicamente, esteve relacionado
com atitudes ideológicas e políticas, nestes casos, para a desestabilização política do
Estado. Terrorismo também foi praticado por Estados sob a ideologia facista (Benito
Mussolini- Itália), nazista (Adolfo Hitler – Alemanha), comunista ou capitalista (Durante
o período da Guerra Fria entre os Estados Unidos da América do Norte e a então União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Muitos Estados também buscam, através da
decretação de Guerra, legalizar e justificar atos terroristas – como no lançamento das
bombas atômicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em 1945, que
mataram mais de 120.000 (cento e vinte mil) civis; ou mesmo o Japão que utilizava os
Kamikazes – soldados suicidas cuja ordem era para não morrerem sozinhos.
Depois das I e II Guerras Mundiais, terroristas judeus inauguram a nova onda de
ataques a civis ao explodirem o hotel King David, localizado na cidade de Jerusalém.
Mas em foi 1972 o auge das táticas terroristas de seqüestro e assassinato dos onze
24
israelitas na Olimpíada de Munique, onde também morreram os cinco seqüestradores.
No ano seguinte, na Espanha, o grupo separatista ETA, querendo a independência Basca,
faz voar o carro do primeiro ministro espanhol Carrero Blanco.
Nas décadas de 1970 e 1980 a ação terrorista (de organizações) estava restrita ao
seu próprio país de origem. Exceção à regra eram os palestinos. Em 1985 os separatistas
Sikhs explodem o avião da Air Índia, matando 329 pessoas. Em 1998 o Al Qaeda
explode dois carros-bomba nas embaixadas dos Estados Unidos no Quênia e na
Tanzânia, matando duzentas e quarenta e uma pessoas.
Depois dessas ações, o terrorismo adquiriu características de ação
internacionalizada, isto é, organizações começaram a agir fora de seu país de origem.
Talvez inspirados nos macedônios hostis à Turquia que, em 1912, colocavam bombas
nos trens internacionais. Em 1920, Leon Trotski ensinava ao mundo ocidental que a
intimidação era o mais poderoso meio de ação política.
Os países não haviam sido atacados por organizações estrangeiras, nem nos
Estados Unidos da América do Norte e nem nos países que compõem a Tríplice
Fronteira – Brasil, Argentina e Paraguai. Na América Latina, as FARC-EP (Fuerzas
Armadas Revolucionarias de Colômbia-Ejército del Pueblo, principal guerrilha
colombiana), criada em 1964, atuou como guerrilha-revolucinonária do Partido
Comunista Colombiano; ou o Sendero Luminoso no Peru dos anos 1990, e
especialmente na Argentina os Montoneros, no Brasil e Paraguai os grupos já referidos
anteriormente, não ameaçaram outros países. Em julho de 1994, um carro-bomba faz
explodir uma sinagoga na Argentina matando 98 pessoas. De janeiro a julho de 1995
quatro organizações se responsabilizaram pelos 592 seqüestros na Colômbia. Na própria
Colômbia, 600 dos 1024 municípios, haviam registrado atentados terroristas.
Em abril de 2001, o departamento de Estado dos Estados Unidos (U.S.
Departament of State), em seu “depoimento”, publica o “Padrões de Terrorismo Global
– 2000 – Divulgado pelo escritório do coordenador de contraterrorismo”, onde define
terrorismo como “violência premeditada, com motivação política, cometida contra alvos
não-combatentes por grupos subnacionais ou agentes clandestinos, geralmente com o
objetivo de influenciar um público”. No mesmo documento terrorismo internacional
“significa terrorismo envolvendo cidadãos ou o território de mais de um país”; ainda
define o termo “grupo terrorista” como “qualquer grupo que pratique terrorismo
internacional. Já o FBI assim define: “Terrorism is the unlawful use of force or violence

25
against persons or property to intimidate or coerce a government, the civilian population,
or any segment thereof, in furtherance of political or social objetctives”
Naquele atentado terrorista em 11 de setembro de 2001, o planejamento
estratégico e a ação fora do país de origem dos terroristas ficou consolidada. Agora
muito mais espetacular artisticamente falando, mas também muito mais técnica e
calculista. Não foi um atentado sem racionalidade como estampado na imprensa, pois a
racionalidade se fez presente através da estratégia e do cálculo (Carvalho, 2001).
Cálculos, matemática, estratégia, logística, dimensão de espaço e tempo, ação e reação,
química, física, enfim, todos os elementos que podem ser descritos como racionais
segundo a tradição iluminista (aufklärung). Tanto nos Estados Unidos quanto nos países
da tríplice fronteira, a ação terrorista busca justificativas nos mais diversos tipos de
fundamentalismos, sendo mais comum o fundamentalismo religioso. O fundamentalismo
é uma explicação do mundo. Explicação cujas implicações são as ações afirmativas na
sociedade e de outro modo são ações de negação ou rejeição desse mundo. Portanto,
fundamentalismo implica ora na afirmação ora na negação do mundo. É antes
hermenêutica que ideologia. Pois trata de ser visão-de-mundo específica. É ideologia
antes de ser dogmática, embora se firme através de ensinos ditos verdadeiros. É o modo
pelo qual essa dogmática se expressa nas ações no cotidiano. O fundamentalismo é a
tentativa de superar a dualidade entre sagrado e profano; agindo de tal modo que o
profano seja invadido pelo sagrado. Fundamentalismo representa a atitude daquele que
acredita no absolutismo de suas convicções. É crença que se faz ação, reação, em alguns
casos revolução e contra revolução.
O fundamentalismo ora é confundido com tradição ou com conservadorismo.
Tradição é repetição de mitos e ritos por algum tempo, é a continuação de modos de vida
dos ascendentes, da reprodução da cultura, etc. Conservadora é a atitude de resistência a
mudanças.
No protestantismo, particularmente o estadunidense, o fundamentalismo
significou na sua origem o alicerce da fé cristã, os valores de uma ética evangélica já
desvanecida num mundo cujo absoluto é a relatividade das certezas e a ineficiência
política na aplicação dos resultados científicos. O termo Fundamentalismo tem origem a
partir dos conflitos denominacionalistas (denominações protestantes – denominação é
um agrupamento de igrejas que segue determinado rito e declaração de fé), do final do
século XIX e início do século XX, e foi cunhado pelos idos de 1920 nos Estados Unidos
da América do Norte (Russell, 1976: 13). Portanto, fundamentalismo está
26
intrinsecamente relacionado ao protestantismo estadunidense – especificamente para a
teologia made in Princeton.
Na sua origem, o fundamentalismo era tido como a preservação da moral
pessoal, da moralidade social vista como decadente; confrontava o modernismo
disseminador das idéias teológicas liberais. O resgate dos valores humanos se daria com
a volta física de Jesus (o Cristo) para restaurar seu reino milenar. A visão
fundamentalista era de inescapável decadência da sociedade, cuja degradação era
evidente. Assim, quanto pior a sociedade melhor se evidencia a proximidade do
estabelecimento do Reino de Cristo.
A sociedade é vista como erodida de valores cristãos. A tentativa fundamentalista
é não permitir a erosão da cultura protestante infiltrada e solidificada na mentalidade
estadunidense. Os liberais não acreditavam nos milagres sobrenaturais como os
fundamentalistas, então era preciso dar respostas fundamentais a tal situação. Pensava-se
que, se os liberais não crêem no sobrenatural, a moral dessas pessoas decairia, pois esta é
a conseqüência e aquela a causa. Resumindo, a questão era que os liberais acreditavam
em respostas naturais para as questões pessoais e sociais, enquanto que os
fundamentalistas acreditavam que a resposta para os questionamentos humanos seria
sobrenatural.
Se num primeiro momento os fundamentalistas tinham como pilares da fé quatro
pontos doutrinários, logo os pilares passariam a ser cinco. Com esses cinco pontos é que
os fundamentalistas foram disseminando suas idéias mundo afora. Por isso optei pelo
ano de 1920 como a origem do termo tal qual o conhecemos hoje. No entanto, quando a
principal conferencia Niagara Conference (depois chamada de Niagara-ont-the-Lake)
em Ontário, foi realizada, nos anos de 1875 a 1901, apareceram os primeiros escritos
cuja preocupação era a situação moral da sociedade, vista como decadente. E justamente
aí dois grupos (os fundamentalistas e os conservadores) debatiam as questões comuns –
mas “A diferença principal entre eles era provavelmente mais humor de espírito que
doutrinas teológicas básicas (Russell, 1976: 17). Os fundamentalistas eram tidos como
mais agressivos, mais intransigentes, afirmavam estar certos de terem a verdade,
enquanto que seus oponentes não tinham a verdade consigo e por isso não eram tão
enfáticos.
O credo fundamentalista adotado em 1878 e oficializado em 1890, refletiu uma
expressão calvinística conservadora, inclusive uma convicção pessoal e premilenista da
volta de Cristo. A literatura do movimento fundamentalista veio incluir a Bíblia de
27
Referência Scofield e, começando em 1910, a publicação amplamente disseminada do
The Fundamentals: A Testimony to the Truth (Os Fundamentos: Um Testemunho para a
Verdade – coleção de 12 livretos).
Mas foi o controverso pastor Batista do Sul dos Estados Unidos, o texano J.
Frank Norris (1877 1952), quem moldou o fundamentalismo protestante estadunidense
tal qual é conhecido. Norris era ferrenho defensor das idéias do The Fundamentals, e
como ele dizia (Russell, 1976:22): “A self-appointed foe of alleged social evils,
theological Liberalism, Roman Catholicism, and political communism” (Um inimigo
autodesignado dos alegados males sociais, Liberalismo teológico, Catolicismo romano, e
comunismo político). Ao mesmo tempo, o desinteresse das questões políticas era tanto
que a maior preocupação era preparar a Igreja para a volta de Cristo, como se prepara
uma noiva para seu esposo. Essa figura do casamento da Igreja com Cristo foi
amplamente difundida e aceita entre os fundamentalistas posteriores. Preparar a Igreja,
no entanto, era limpá-la dos citados males sociais – o que não deixa de ser uma crítica
política.
Resumindo, o fundamentalismo protestante na sua origem foi a busca pela
moralização da sociedade vista como decadente por eles, da regeneração do ser humano
visto como degenerado pelo pecado, e da atuação na sociedade através da pregação
literal da Bíblia – vista como originalmente inerrante e inspirada por Deus. Daí, toda e
qualquer ação do crente precisa ter como parâmetro a Palavra de Deus (a Bíblia é vista
como sendo e não apenas contendo a Palavra de Deus).
O Catolicismo Romano também buscou respostas para combater o libertalismo
presente nas sociedades contemporâneas. Entre essas respostas está o movimento de
Restauração e Integrismo. Isso significa que todas as questões da sociedade
contemporânea precisariam ser interpretadas e tratadas sob a autoridade espiritual do
Papa, representada através da hierarquia da Igreja (a Igreja aqui no sentido de a única
verdadeira). Questões políticas são questões espirituais e devem se submeter a
autoridade eclesiástica, daí o termo Restauração. Recentemente, no ano de 2000, o então
cardeal Joseph Ratzinger (hoje papa Bento XVI) emitiu a encíclica Dominus Jesus, cujos
ensinamentos reafirmam a unicidade eclesiástica do catolicismo, em detrimento das
demais igrejas - tidas como não portadoras da verdade e nem do poder de salvar os
pecadores. A salvação só é possível dentro da Igreja Católica Apostólica Romana,diz a
Dominus Jesus. Documento fundamentalista atemporal. Nesta semana, o papa Bento
XVI fez um pronunciamento dizendo que o islamismo é uma religião que se estabeleceu
28
através da violência, o que causou alvoroço nos fundamentalistas islâmicos e certo
desconforto para os ecumênicos de modo geral. Igreja Católica que no seu primeiro
Concílio do Vaticano, em 1870, era denominada de regime clerical-fascista. Durante os
períodos de Guerras Mundiais a Igreja Católica estava ligada aos reacionários e aos
facistas nos quesitos “ódio comum pelo Iluminismo do século XVIII, pela Revolução
Francesa e por tudo o que na sua opinião dela derivava: democracia, liberalismo e, claro,
mais marcadamente, o comunismo ateu” (Hobbsbawm, 1995:118). O que levaria a Igreja
Católica a aliar-se com os regimes totalitários contra a democracia e o liberalismo. Essa
identificação se deu pela aproximação entre alguns pressupostos: - os fascistas eram a
favor da mulher ficar em casa e ter muitos filhos, desconfiavam da cultura moderna.
Inventavam um tipo de passado para que pudessem almejar sua volta, “suas tradições
fabricadas”.
O catolicismo, na América Latina em geral, contribuiu para a produção do
sentimento antiimperialista, antiamericano, a tal ponto que, durante a Segunda Guerra,
os países latinos simpatizaram-se com a política do eixo e não se inclinava a olhar para
os Estados Unidos (Hobbsbawm, 1995: 137). O fundamentalismo católico não permitiu
que, em 1948, o Estado do Vaticano assinasse a Declaração Universal dos Direitos
Humanos da ONU, simplesmente por que lá não aparecia o nome de Deus. O mesmo
catolicismo que sabotou os cartões natalinos da UNICEF e suspendeu sua contribuição
para a Obra de Ajuda à Infância da UNESCO (Boff, 2002: 20).
Nas décadas de 1970 e 1980, o arcebispo católico fundamentalista da Suíça
Marcel Lefebvre, influenciou muitos católicos no Brasil, como o bispo Sigaud de
Diamantina e o bispo Castro Mayer, de Campos. A reação desses bispos veio após o
Concilio do Vaticano II, pois não aceitavam suas conclusões e nem suas diretrizes.
O fundamentalismo católico está hoje em evidência quando se ouve discursos e
sermões que alertam para a fidelidade da fé através do não uso de contraceptivos,
fecundação artificial, masturbação, interrupção da gravidez e outros temas relacionados
à moral sexual principalmente, mas não exclusivamente como se vê em temas como a
eutanásia, diagnóstico pré-natal, divórcio, entre outros. Exemplo desse tipo de
fundamentalismo é a Pró-Vida de Anápolis, em Goiás, cujas polêmicas em torno de
processos jurídicos é bastante conhecida. A Pró-Vida de Anápolis é acusada de esconder
adolescentes vítimas de estupros cujo aborto tenha sido autorizado pela justiça. Atitude
reacionária de grande eficácia para o que se propõe.

29
O fundamentalismo Islâmico tem muitas coisas em comum com o
fundamentalismo protestante e católico, assim como o fundamentalismo judaico. O
Alcorão é o livro sagrado cujas verdades nele contidas são a Palavra de Alá. O Alcorão,
assim como qualquer livro tido como sagrado por determinada comunidade, sofre
diversas interpretações onde se evidenciam interesses múltiplos de grupos distintos. A
posição fundamentalista quer, de certa forma, retornar à "primitiva pureza" do Islã, tendo
como pressuposto exclusivo o livro sagrado do Alcorão e nos hadiths (ditos
tradicionais), interpretados de maneira literal e limitada. Desejam, do mesmo modo,
descartar todos os desdobramentos culturais, filosóficos e artísticos que acompanharam a
história da civilização islâmica e seus contatos com vários povos e culturas do mundo
(Azevedo, 2001). O que tem estigmatizado o fundamentalismo islâmico são
extremistas que pervertem os versículos corânicos, tratando a jihad (esforço, luta) como
guerra contra opositores das interpretações dos mulás (sacerdotes). Nisso, por exemplo,
deveria excluir-se a luta por uma causa mundana. Se o objetivo do crente muçulmano é a
obtenção de riquezas, a glória pessoal ou o ódio contra outro povo, então não está
praticando a jihad, criticam os muçulmanos não fundamentalistas (entrevistei vários
deles). A Revolução Islâmica de 1979, no Irã, foi um marco de reafirmação da
independência, da identidade e dos valores islâmicos, e como a rejeição de governos
autoritários e da influência estrangeira excessiva (Farah, 2001). O termo
Fundamentalismo aparece pela primeira vez em 1878 na Conferência de Niágara, nos
Estados Unidos. É justamente nessa época que as missões investem no envio de
missionários para a América Latina, Ásia e África, com objetivo de espalhar a verdade
da fé protestante. Missionários influenciados pelo “Os Fundamentais”, contra o
crescente liberalismo no início do século XX. Ações que repercutirão no crescimento
estatístico dos grupos protestantes na América Latina, bem como na sua fragmentação
dogmática. Na América Latina existem duas vertentes do protestantismo: a dos Estados
Unidos e a Européia. Sendo que a primeira, mesmo posterior, mais influenciou a cultura
não católica, especialmente na postura diante da realidade dos acontecimentos.
Os fundamentalismos estão diretamente relacionados ao desenvolvimento da
modernidade. Não no sentido de produzí-la, mas discordando das conseqüências que ela
traz para a sociedade e seus indivíduos. Quanto mais a modernidade se alastra nas
sociedades, mais a instabilidade se espalha através das incertezas. A ciência ocupa o
lugar da religião nas suas afirmações, na dogmática em geral, mas a ciência passa a
duvidar das suas conclusões e tudo volta a ser possibilidades. Enfatizaram-se temas
30
como a inspiração verbal da Bíblia, a necessidade da interpretação literal dessa Escritura
Sagrada, dogmas como o nascimento virginal de Jesus, o sacrifício de Jesus para a
expiação dos pecados do ser humano, da ressurreição física, da segunda vinda desse
mesmo Jesus que reinará no último milênio da história para fazer a transição entre o que
é chamado de história para a eternidade (ausência de história).
O fundamentalismo protestante, cuja premissa da inspiração verbal da Bíblia pelo
Espírito Santo é o ponto central da fé e da mensagem evangélica, não admite como
verdade qualquer discurso, mesmo que científico, pois a verdade já está dada por
revelação antes de qualquer confirmação de veracidade. Enquanto no fundamentalismo
do catolicismo ibérico o pressuposto é o ensino da tradição através das encíclicas dos
papas. Nesse sentido, com tal tipo de crença, o fundamentalismo está em confronto com
a modernidade, a ciência moderna, a hermenêutica liberal do mundo, a política secular e
o liberalismo econômico; todos refletidos na teologia liberal. A única certeza da
ortodoxia é a do registro bíblico (no caso protestante) ou a tradição da Igreja (no caso do
catolicismo romano) e ele está em oposição à secularização religiosa da modernidade.
Modernidade é caracterizada pelo relativismo das afirmações, o historicismo
tomando lugar da história sagrada, enfim, a banalidade do cotidiano no lugar da verdade
absoluta e eterna no imaginário do povo. Não se dá que o fundamentalismo pretenda
com a critica da modernidade transformar-se em religião moderna ou desenvolvida, pelo
lado oposto, o fundamentalismo tem como objetivo a espiritualização dos assuntos
modernos. Daí que a política, a economia, a comunicação, as ciências sociais de um
modo geral se revestem de uma aura de sacralidade, e mesmo as ciências “duras” são
vistas como revelação do Deus criador da matéria.
O fundamentalismo religioso no Brasil está presente através da tradição
protestante e depois na tradição católica como reação. Assim, o catolicismo volta às
premissas e afirmações anteriores ao Concílio do Vaticano II. A tentativa, nesse caso, é
contornar a esfera (campo) profana com as linhas primordiais da sacralidade. Voltar aos
princípios anteriores ao Vaticano II implica sufocar, politicamente, a Teologia da
Libertação. A TL foi um novo modelo de cristandade que deixava para traz alguns
princípios fundamentalistas e colocava em xeque a hierarquia da Igreja (como no caso
de Leonardo Boff no seu livro Igreja Carisma e Poder). Se na hermenêutica
fundamentalista a Bíblia é lida como infalível e inerrante, para a TL a Bíblia só pode ter
significado a partir da práxis política e econômica do leitor. Isso faz com que não seja a
Bíblia a dar sentido à história, mas a história a dar sentido à Bíblia. Justamente essa
31
imersão na história e inversão da hermenêutica ensinava que o neoliberalismo, a
banalização da vida, péssimas remunerações aos trabalhadores e outras situações
limítrofes, são ações diabólicas que devem ser combatidas na coletividade dos
indivíduos, ou seja, Deus está mais preocupado em falar ao grupo que ao indivíduo, às
pessoas oprimidas que aos opressores, ao pobre que ao rico.
Porém, não se pode atribuir atitudes terroristas aos fundamentalismos religiosos,
o fundamentalismo não é o fundamento das violências, nem mesmo de invasões ou
guerras. O fundamentalismo é a utopia invertida, e como qualquer utopia não se luta
para alcança-la senão no desejo e na imagem, ambos na subjetividade. Isso significa que
as ações de violência ou terror não têm cunho fundamentalista na acepção do termo
religioso, no entanto, se o conceito for re-trabalhado e re-significado, então é possível
pensar numa co-relação entre fundamentalismo e terrorismo. Exemplo, se o terrorismo
for de Estado, então é possível estudar as ações políticas que objetivem a continuidade e
quiçá a perpetuação desse mesmo Estado. Nesse sentido, o fundamentalismo é
recorrência como pano de fundo da ideologia dos estrategistas representantes de seus
países. Isso faz com que Noam Chomsky (2005.b: p. 48, 49) acentue suas críticas aos
Estados Unidos taxando-os de Estado Terrorista: “os EUA são o único país que já foi
condenado por terrorismo internacional pela Corte Mundial e que vetou uma resolução
do Conselho de Segurança que exigia que eles respeitassem as leis internacionais” e
“...meio milhão de crianças é o preço que o Secretário de Estado diz que nós estamos
dispostos a pagar.”
Estas observações permitem a conclusão que governos são paradoxais nas
conduções das relações internacionais, especialmente na comparação Brasil e Estados
Unidos. Paradoxais por combaterem a violência com mais violência que a violência
sofrida, com mais destruição no outro que a destruição sofrida, com preparação bélica
destrutiva com o objetivo da construção, com o término das liberdades individuais em
nome da liberdade democrática, etc.
Após as duas Guerras Mundiais o contexto estava preparado para a antiga
bipolarização do mundo entre bem e mal, certo e errado, verdade e falsidade. Os Estados
Unidos espalharam seu modelo de vida para outros países periféricos, tanto os modelos
políticos, econômicos e sociais quanto o seu modo de ver o mundo (American Way of
Life), de interpretá-lo e de se posicionar diante dos fatos. Isso acontece até mesmo nas
questões internacionais onde a hermenêutica estadunidense, embasada na preservação
dos próprios interesses, prevalece sobre decisões de outros países. Exemplo disso é a
32
afirmação do administrador da Agencia de Repressão a Entorpecentes dos EUA (DEA –
Drug Enforcement Administration), Asa Hutchinson, feita em 24 de abril de 2002, no
Comitê de Relações Internacionais da Câmara dos EUA (Anexo IV) realçando a
facilidade com que as organizações terroristas podem se infiltrar e se incorporar em
outros países. No caso da tríplice fronteira o tráfico de drogas e de armas, o contrabando,
a falsificação e a lavagem de dinheiro estariam financiando o terrorismo internacional.
Caso recente na mídia é a preocupação do governo brasileiro com relação ao caso
do libanês naturalizado paraguaio, Assaad Ahmad Barakat, que pedia refúgio ao Brasil
depois de ser acusado de terrorismo e perseguido pela polícia antiterrorista paraguaia.
Barakat tem três filhos brasileiros e mora em Foz do Iguaçu, por ser paraguaio
naturalizado a polícia daquele país pede a sua extradição. A acusação é que Barakat
lidera o Hezbollah. No Brasil, como já observado anteriormente, não há crime de
terrorismo, apenas repúdio constitucional ao terrorismo. Para o Brasil é preciso
qualificar e definir o que seja terrorismo. O ministro da justiça Márcio Tomaz Bastos
trabalha no intuito de definir se Barakat pode ser considerado terrorista ou apenas lidera
um partido político no Líbano. A tese de que Barakat é líder político foi defendida pelo
primeiro ministro do Líbano Rafik Hariri. Extraditar Barakat implicaria em
comprometer a autonomia do governo brasileiro em questões internacionais.
Pelo exposto percebe-se a presença de terroristas tanto nos Estados Unidos da
América do Norte quanto na região da Tríplice Fronteira. Apesar das práticas serem
diferentes o conteúdo ideológico se aproxima. O fundamentalismo é utilizado para
justificar as ações dos grupos envolvidos em atentados.
Embora não se possa generalizar, a visão de mundo fundamentalista gera, em
níveis diferentes, atitudes de exclusão, xenofobia, rejeição, violência e terror. O
fundamentalista é aquele que através de leitura literal de escritos tidos como sagrados,
por um lado, interpreta a vontade soberana e inquestionável da divindade, e por outro
lado, essa literalidade das escrituras recebe reforço da experiência mística do grupo. O
uso da leitura literal, de qualquer documento reconhecido como sagrado por um grupo
de pessoas, é usado, dependendo da situação, para justificar determinados interesses de
grupos sociais. Ali (2002, 11), afirma que a “tragédia é condicionada (pelo cenário local
e global). Temos de entender o desprezo, mas também a exaltação letal que leva pessoas
a sacrificarem a própria vida”. É aqui que entra o discurso fundamentalista utilizado
pelos líderes a quem interessa a ação terrorista-suicida.

33
Na re-significação do termo fundamentalista em sua relação com o terrorismo, a
inadequação da interpretação literal produz a idéia de que a vontade divina é soberana e
inquestionável; cabendo ao líder a explicação de intermediação entre a divindade e o ser
humano. Divino é um Ser transcendente ou até mesmo um Estado imanente. Sagrada
pode ser a Bíblia, o Alcorão ou a Constituição de um país qualquer, terrorista pode ser
qualquer pessoa. Geralmente o terrorista é visto como alguém de fora, que não possui a
identidade do grupo. Quando a identificação existe o terrorista é tido por herói da
libertação, e só assim é buscada justificativa religiosa-fundamentalista.
A menos que se cumpram as escrituras sagradas, todos são vistos com
desconfiança e prováveis adversários do crente fiel, tanto judeu, cristão ou islâmico, mas
não apenas desses senão também adversários do cidadão honesto e pacífico.
É nesse sentido que as escrituras ensinam (tanto a Torah, quanto a Bíblia, o
Corão ou a Constituição) que o adversário deve ser destruído através, se necessário, da
destruição do corpo próprio (a Bíblia ensina a crucificação do corpo, esmurrar o corpo,
escravizar o corpo) ou ainda da destruição do corpo inimigo (a Bíblia também ensina
que há pecado para morte, algumas Constituições chegam a legitimar a pena de morte).
Logo, os EUA não têm objeções aos fundamentalismos, pelo contrário, têm investido na
América Latina, nas duas últimas décadas, para desestruturar a Teologia da Libertação –
cuja opção preferencial é para os pobres. A teologia da libertação, adotada especialmente
pela Igreja Católica, afirma que a salvação é para os pobres e não para os ricos, o que
contradiz o espírito neoliberal voltado à salvação do mercado. No mercado os ritos de
consumo são incentivados quase ao ponto do sacrifício absoluto da vítima – o
consumidor.
Regra geral o fundamentalismo ensina como ler as escrituras sagradas, como
entender a vontade divina nela expressa, como se comportar diante dos ensinamentos,
como viver em comunidade separada, ou seja, santa. Daí que todo fundamentalista age
dentro de espaços separados, isto é, consagrados, santificados, dedicados ao aprendizado
e ao ensino das escrituras. É justamente na geografia sagrada que o sagrado se manifesta
e comunica sua soberana e inquestionável vontade (insisto nisso por acreditar que o
cumprimento dessas ordens divinas se dá mesmo quando a pessoa não entende os
motivos do mando divino, é nesse momento que se inferioriza o duvidoso, o racionalista,
o que quer entender a lógica divina; igualmente, o que obedece cegamente a vontade
divina é herói, santo e admirado como exemplo a ser seguido – mesmo quando se
explode no meio dos inimigos), afinal, o corpo pecaminoso desaparece, é passageiro,
34
mas a alma é eterna. A alma é que gozará a presença divina na eternidade, ou a ausência
divina se não tiver fé. A racionalidade é redirecionada para a obediência daquilo que se
diz ser a vontade divina.
Embora Mikhail Bakúnin (anarquista – 1848) visse o terrorista como alma
perdida, sem interesses, pertences ou laços familiares e de amizade, sem nome, essa não
é a constatação de hoje, pelo contrário, os terroristas são mais religiosos, amam suas
famílias e possuem forte vínculo de amizade com seu grupo identitário. É justamente
porque afirmam a identidade cultural grupal que agem como agem. A ação é uma
tentativa desesperadora de organizar o mundo dentro dos elevados padrões das
escrituras sagradas. O terrorista, como todo fundamentalista, é um construtor de um
mundo melhor, não este que jaz no maligno, mas um mundo onde as pessoas poderão ser
livres de qualquer inimigo, onde todos pensarão e poderão servir a divindade sem
qualquer receio ou interferência. Não haverá quem seja contra, não haverá quem os
desvie para maus caminhos ou sendas tortuosas. Na língua árabe terror é Al-Irhab, uma
palavra derivada do verbo Arhaba, e significa aterrorizar, assustar, sobressaltar. No
Corão está que Allah (Deus) teria dito: “Para ameaçar o inimigo de Allah e também os
vossos inimigos” (Al-Anfal: 60). Portanto, para a literatura sagrada é preciso aterrorizar
o inimigo de Deus.
O terrorista é antes de tudo um crente fanatizado por seus próprios ideais de
divindade, de humanidade, de espiritualidade, de amor ao próximo. Quer estabelecer o
reino divino em sua história. O terrorista não quer a destruição do próximo, ele está
destruindo o inimigo, seu objetivo não é a destruição de inocentes. Dessa forma, para
conseguir escapar dos paradoxos, a mentalidade terrorista necessita criar e sustentar o
inimigo através do discurso religioso. Discurso embasado na literalidade dos escritos
sagrados. Assim é com o discurso político do Estado quando cria propositalmente e
fortalece a imagem dantesca e demoníaca do inimigo de fora. O mal sempre é o outro,
mas pouco se percebe que cada um de nós é o outro do outro. Ivo Pedro Oro descreve o
fenômeno da demonização do outro da seguinte forma (Oro, 1996: p.127):
Os fundamentalistas colocam-se em oposição aos outros, mesmo cristãos, por
não viverem radicalmente, ou melhor, literalmente os axiomas da fé, e em
oposição às maiorias sociais. Têm consciência de ser um povo fiel, uma minoria
eleita. Têm bem nítidos os limites que os dividem dos outros. Os outros, a grande
maioria, são apóstatas, moralmente pervertidos, arrastados pelo mundo.
Enquanto o nós (fundamentalistas) constitui o resto fiel aos princípios
fundamentais e imutáveis.

35
Partimos do pressuposto que não há diferença entre o uso do terror quer por
nacionalistas, ideólogos radicais de esquerda ou de direita, vindo quer do Estado ou em
nome de alguma divindade. Toda ideologia política, econômica, religiosa ou de qualquer
outra espécie, luta para fazer prevalecer seus interesses, sua visão-de-mundo, seu modo
de viver, e, para prevalecer seu ideal, utiliza toda ação possível, inclusive o terror. Esta é
a aproximação entre os diversos tipos de terrorismos, no entanto, o terrorismo necessita
de justificar-se perante a sociedade. Como a sociedade está estruturada a partir de
princípios religiosos, desde a época do Ius Divinum, quando os deuses outorgavam as
leis aos humanos, a influencia religiosa na formação da identidade de uma sociedade é
bastante grande, por isso mesmo, o instrumento mais utilizado para a justificação
terrorista é o discurso religioso fundamentalista.

36
Capítulo II - Relação entre terrorismos e fundamentalismos

Na antropologia da religião a violência é uma forma de poder. Mesmo as


religiões constantemente se transformando, preservam aspectos primitivos de oralidade,
período anterior à escrita. Nas sociedades ágrafas a tradição oral é fundamental para a
manutenção da sociedade e seu desenvolvimento. Não há sociedade ágrafa sem a
tradição oral. As tradições geralmente falam dos mitos teogônicos e cosmogônicos,
ainda, dos mitos de passagem e de iniciação. Seguindo-se o pensamento de René Girard
em La Violence et le Sacré (Girard, 1990), segundo o qual o ato fundamental da
sociedade primitiva, perpetuada nas sociedades complexas modernas, é escolher uma
vítima e atribuir-lhe culpa pelas situações presentes, pelos malefícios e dificuldades
pelas quais passam as populações das sociedades – especialmente as sociedades com
péssimo Índice de Desenvolvimento Econômico (IDE), mas não exclusivamente. Desse
modo as tensões coletivas são amenizadas. A paz pode reinar – mesmo que
momentaneamente, entre as pessoas, os indivíduos unidos pelo laço de parentesco ou até
mesmo estrangeiros. A vítima, por ser culpável, diz Girard, apaga a violência (O Estado
de São Paulo de 31 de outubro de 1999, aparece a reprodução da entrevista que Girard
concedeu a Christian Makarian, do L´Express). A tese de Girard é que o comportamento
mimético estaria na origem da violência. Comportamento mimético (adaptação ao meio)
seria resultado do desejo mimético que nasce no estágio individual (não no coletivo,
embora nele se manifeste). É na individualidade que se projetam sonhos, utopias,
motivos religiosos e suas personagens – como pensava Feuerbach (1989:159). A
explicação do mundo se dá então através dos mitos e é pedagogicamente retransmitida
para as gerações seguintes através dos ritos. Mircea Eliade (1989: 23) refere-se ao mito
dizendo que
1o. Constitui a História dos actos dos Seres Sobrenaturais; 2 o. que essa História é
considerada absolutamente verdadeira (porque se refere a realidades) e sagrada
(porque é obra dos Seres Sobrenaturais); 3o. que o mito se refere sempre a uma
“criação”, conta como algo começou a existir, ou como um comportamento, uma
instituição ou um modo de trabalhar foram fundados; é por isso que os mitos
constituem os paradigmas de todo acto humano significativo; 4o. que conhecendo
o mito, conhece-se a “origem” das coisas e, desse modo, é possível dominá-las e
manipulá-las à vontade; não se trata de um conhecimento exterior, abstrato, mas

37
de um conhecimento que é vivido ritualmente, quer narrado cerimonialmente o
mito, quer efectuando o ritual ao qual ele serve de justificação; 5 o. que de uma
maneira ou de outra, “vive-se” o mito no sentido em que se fica imbuído da força
sagrada e exaltante dos acontecimentos evocados reactualizados.

Nos mitos já se encontra presente o terror. Não só infundindo medo nos ouvintes
e participantes da comunidade, mas principalmente para ensinar as pessoas determinadas
regras e comportamentos com suas conseqüências. Talvez aí possa estar algo que
explique a arqueologia do imaginário do terrorista, pois a destruição tem origem na
vontade de um Ser Supremo de por fim à humanidade. O que causaria tal desejo de
destruição é a aniquilação dos pecadores e transgressores das ordens divinas. O
desencantamento com o caos da realidade (que não é tão real assim) e a afirmação das
utopias provocam o conflito entre o deixar as coisas acontecerem e intervir para abreviar
os planos divinos. É a indissolubilidade da conjunção entre as sociedades arcaicas e o
fenômeno da guerra.
Pierre Clastres em “The Archeology of violence” (1994) afirma que as
sociedades primitivas são sociedades violentas. Ou seja, eram inicialmente sociedades
formadas em função da guerra acima de tudo, pois pretenderiam se proteger contra
agressores externos. Homens caçadores que agora viam os outros como perigosos em
potencial. E se a meta da caça era a aquisição de alimentos para a própria sobrevivência,
essa técnica em torno da aquisição de alimentos seria técnica da violência, e sendo
violenta a técnica é comportamento agressivo já impresso nos primórdios da
humanidade. Essa guerra diária é tipo de agressividade. A idéia de separar vida
primitiva, agressiva, de vida cujo ideal seria a felicidade é algo que só aparecerá no
século XIX com o iluminismo. Portanto, o pressuposto de que viver bem, ter padrão de
vida moderna, desenvolver-se como ser humano, buscar a paz universal como selo da
conquista de melhoria das pessoas é um ideal que ainda não se realizou na história da
raça humana. A não realização deste ideal provoca inseguranças e temores.
Os grandes temores da modernidade até hoje têm sido o aumento constante de
outros tipos de violência e do terror. Nas sociedades primitivas, a violência de algum
modo equilibra as situações internas, através de lutas intertribais e intratribal, onde um
dos elementos de equilíbrio é a troca de esposas. Esses temas são mais que suficientes
para mostrar como questões arcaicas, em sociedades antigas, ainda permanecem nas
sociedades modernas. Mas como revolver a questão hoje? Elas não são tão simples como
no passado, pelo contrário, agora vivemos a época das complexidades, da

38
transnacionalização, globalização, e tantas outras formas de abrangência onde a morte
sacrificial contém força simbólica maior que a morte de corpos, talvez aí esteja o espírito
do terrorismo. Pois é no sacrifício que se tem o acontecimento primevo que ultrapassa a
violência dos sistemas sendo o único ato transcendente à própria morte física. Mais que
a própria morte, o terrorista busca satisfazer seu desejo de uma sociedade sem violência,
sem a exploração costumeira do capitalismo representado pelos Estados Unidos e outras
grandes potências. Um mundo fictício que existe na imaginação e no desejo, mas que
leva os aspirantes de um mundo melhor à morte violenta. Morre-se violentamente para
se viver pacificamente sem as divisões violentas e muitas vezes deprimentes causadas
pelo capitalismo moderno.
Morrer significa sair da marginalidade produzida pelo capitalismo, significa
resgatar a dignidade própria tirada pelo outro. Um ato terrorista pode significar a quebra
da barreira, do último muro da separação entre o sagrado e o profano ou entre os que
possuem e os despossuídos, entre os que têm acesso aos bens de produção, capital,
qualidade de vida, e os que não têm acesso às benesses do capitalismo. Explodir, nestes
casos significa a ausência definitiva das separações, dos guetos, da miséria e
marginalidade em que se encontram, mas também significa a esperança de um mundo
melhor.
Um modo pelo qual poderia se dar o amenizar da violência em geral e da
violência terrorista em particular é desenvolvendo um sistema de trocas moderno. As
trocas são maneiras pelas quais as sociedades fortalecem seus vínculos e compartilham
as necessidades. A partir da leitura de Marcel Mauss minha atenção despertou para o fato
de que a troca está presente não apenas naquelas sociedades longínquas e arcaicas, mas
perpassou pela história e chegou à modernidade (ou pós-modernidade). Para Mauss, a
troca está fundamentada nas três operações, quais sejam: dar, receber e retribuir. Faço
algumas reflexões em torno deste assunto clássico na antropologia – a troca, e esta a
partir da amizade, da vizinhança, das relações mais corriqueiras e banais da vida, nem
por isso indispensáveis e descartáveis, pois é no cotidiano que as pessoas desenvolvem
as pequenas relações que compõem o todo social. Esse todo social, com ações
particulares, dotado de sentido. Esse fato social total implica na não aceitação, por parte
de Marcel Mauss, da existência de fatos sociológicos independentes da referência à
sociedade global em questão. Através do fortalecimento das relações sociais pela troca –
dar, receber, retribuir.

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Durante o período do Estruturalismo, Marcel Mauss ficou um tanto esquecido,
mas a partir da década de 1980, com a crise daquela escola, Mauss vem sendo lido e re-
estudado (Maurice Godelier, Louis Dumont, Karl Polanyi, Jacques T. Godbout, entre
outros). A partir dessa perspectiva tecerei algumas considerações sobre a rede social, a
amizade e a solidariedade entre outros.
Antes de tudo, separemos o que seja troca de barganha. Barganha é uma forma de
comercializar coisas com coisas, onde cada um dos lados envolvidos pretende o objeto
do outro visando sua utilidade. É uma forma de comercio onde não entra a moeda como
valor de troca, mas entra um outro bem que lhe substitui. A barganha é algo interesseiro,
mas a troca não deixa de ter algum interesse, quer intrínseco ou extrínseco. Daí a
dificuldade de, num primeiro momento, distinguir quando um ato qualquer é troca ou
barganha. Porém, o que nos interessa aqui é a troca. As atitudes observadas serão
entendidas como troca, pois não se trata de pessoas estranhas, mas que possuem um
determinado vínculo social, de amizade, de comunidade, de pertencimento e não de
isolamento nem de solidão. Quando a indiferença entre as pessoas de uma cidade, de um
bairro, ou mesmo entre pessoas de uma determinada rua ou comunidade, é sentida – e
muitas vezes sentida como resultado da divisão social do trabalho ou da heterogeneidade
cultural, opção religiosa ou de costumes, etc, a solidão se torna mais aguda e se propaga
na multidão, esta, por sua vez, compõe a sociedade.
Não se barganha na solidão para conseguir delimitar um determinado espaço a
fim de firmar relacionamento pessoal ou social, mas é possível que, através da troca,
esses laços se fortaleçam, laços que podem ser de parentesco ou de amizade. Tais laços
constituirão a rede social de articulações para transformar o pequeno território da
periferia um espaço de solidariedade, de fortalecimento das amizades. Através da troca
é possível diminuir a exclusão e incluir os que se sentem marginalizados pelo mercado.
As comunidades da periferia (especialmente a comunidade religiosa que estudei –
evangélica) são espaços de inclusão e de trocas, as pessoas doam, recebem doações e
retribuem. O ciclo da dádiva se completa. As relações se fortalecem e nesses micro-
territórios se estabelece harmonia.
Troca-se, por exemplo, trabalho comunitário. As pessoas se reúnem num
determinado fim de semana – sábado e domingo, para trabalhar numa construção de um
dos membros da comunidade. As pessoas fazem sem esperar nada em troca, apenas
fazem uma dádiva. O que estava construindo sozinho passa a receber o trabalho de
outros como oferta voluntária de tempo e esforço pessoal. Atitudes que reforçam os
40
laços sociais da comunidade, desaparece o sentimento de solidão e de individualidade,
aumenta o sentimento de solidariedade e de família. Fortalece os vínculos de amizade e
se estabelece uma dependência mútua, afinal, o vizinho, o amigo, o “irmão” da igreja
cumpre o papel que o Estado e suas instituições ou programas não conseguem executar.
Emile Durkheim chamou esse tipo de solidariedade de mecânica, onde as pessoas se
identificam pela família, religião e afinidades outras.
Se num mutirão as pessoas sentem recompensadas ao servirem, elas também se
sentem credoras intimamente e sabem que num determinado momento poderão ser
retribuídas de alguma maneira (algumas se sentem retribuídas interiormente,
moralmente, espiritualmente). Menos importante que o sentimento de retribuição é o
sentimento de que o outro está sendo ajudado e, portanto, a comunidade se fortalece, a
sociedade é recriada com valores cristãos (no caso) e mais fraternidade entre seus
componentes. A revalorização do ser humano passa pela dádiva. Valorização que pode
contribuir com a diminuição da violência e com a extinção do terror. Ao dar tempo e
esforço ao próximo se tem o sentimento de retribuição. E além do sentimento de
retribuição a certeza de que poderá contar com o outro e que o outro poderá contar com
ele.
O que se está criando ao fortalecer vínculos na vizinhança é a comunicação entre
as pessoas, criando símbolos reais ou imaginários, mas que referenciam a vida desses
indivíduos. A vida passa a ter sentido numa sociedade sem sentido. A vida passa a ser
comunitária numa sociedade individualista. É por isso que ao dar tempo e trabalho se
está dando algo de si mesmo, e ao receber esforço e trabalho não apenas recebe tal
empenho, mas recebe algo mais do outro. Ao se colocar no lugar do outro, ao ter empatia
ou simpatia pelo outro, a dádiva se fundamenta como aglutinadora dos desejos sociais de
um determinado grupo de pessoas. As pessoas dão algo de si, mas recebem, em
contrapartida, algo do outro.
Quando alguém se oferece a ajudar o outro num mutirão para a construção de sua
casa na periferia de São Paulo, não o faz tão desinteressadamente quanto parece. Não
existe aqui uma doação desinteressada. É uma espécie de contrato individual que se
firma. Afinal, é através da ajuda mútua que o grupo se fortalece, se impõe na diversidade
através da igualdade entre os que se ajudaram. O interesse pode estar aí na identidade do
grupo, no esforço de construir não apenas a casa e sim um lar/ambiente para os que
professam a mesma fé. Não parece existir outra alternativa para a fundamentação e o
desenvolvimento deste tipo de sociedade a não ser através da troca, da ajuda ao outro
41
necessitado, ao amigo, ao irmão. Essa é a alienabilidade de bens espirituais circulados
entre uma determinada comunidade e que a torna uma espécie de família.
Na sociedade de solidariedade orgânica, segundo o conceito de Emile Durkheim,
onde as pessoas não têm tempo suficiente para si e nem estão dispostas a despender
esforços para outras, atitudes como as acima descritas – as do mutirão, extrapolam os
limites do mercado e por isso não são bem aceitas. Quando as pessoas do bairro viam a
unidade e o desprendimento dos “irmãos”, a ajuda mútua, e o resultado de terem
melhores casas no bairro, mais bem acabadas e construídas, eram possuídas de um
sentimento de não pertencimento e do desejo de se identificarem com o grupo. Muitos
aderiam à comunidade na expectativa de que pudessem receber o mesmo tratamento. De
receberem as mesmas dádivas (interesse, carinho, atenção, ajuda, unidade, fraternidade,
segurança do pertencimento), poderem participar e retribuir. Onde uns se sentem
responsáveis pelos outros e cada um sentindo-se protegidos pelos demais.
A superação do sistema capitalista faz sentido quando a economia não é o
principal nas relações, sendo mais importante a própria pessoa nas relações entre si
(Godbout, 2003:72). Uma espécie de volta aos tempos ideais pré-capitalistas. Não o
sonho da volta a uma sociedade passada, mas um sonho de se fundamentar alguns
critérios de valor humano para o estabelecimento da sociedade moderna. De uma
sociedade onde as pessoas devam agir para transformar sua história.
Justamente aqui entra a ação terrorista que, no dizer de Ali (2002:2116) “a única
reação ao terrorismo de Estado é o terrorismo individual”. Portanto, a ação terrorista está
inserida num contexto social de fundamentalismos. Por fundamentalismo entendo a
visão de mundo específica que, através de ação mecânica de um lado e fatalista de outro,
atua propiciando a concretização de um determinado reino tido como sagrado por seus
adeptos. Não apenas o fundamentalismo religioso, mas também o fundamentalismo
político, econômico, ideológico, e outros, utilizam dessa mesma hermenêutica mecânica.
Os Estados Unidos, de tradição religiosa protestante puritana 1, trazem em si a idéia de
que o mal está presente no mundo, precisa ser materializado para ser identificado e
combatido, ou então precisa ser percebido e exorcizado da sociedade. Na mentalidade
católica dos países da Tríplice fronteira o etnocentrismo dos dogmas também enfatizam
a necessidade de mudança das atitudes e da visão de mundo da sociedade (Catão &
Vilela, 1994). As religiões não descem prontas do céu, como criações do espírito
1
- O Puritanismo é o movimento dentro do Protestantismo inglês do século XVI, visava
purificar a igreja Anglicana do catolicismo romano. Também eram conhecidos como
separatistas.
42
humano busca valorar a sociedade compreendida cada vez mais como desumanizada e
desestruturadora dos laços de amizade. Para o catolicismo ibérico, as pessoas precisam
lutar contra as representações do mal e não dar lugar ao diabo, esta é uma aproximação
dos discursos católico e protestante presente nas Américas. O catolicismo na Tríplice
Fronteira e o protestantismo nos Estados Unidos.
Contexto fundamentalista implica em ações radicais, idéias conservadoras e
extremas que buscam a realização de um projeto qualquer, seja econômico, político, ou
religioso, onde se inserem grupos que agem de maneira violenta. Escreve Tariq Ali
(2002: p. 109):
os fanáticos têm seus sonhos, escreveu John Keats, dentro dos quais tecem um
paraíso para uma seita. O poeta romântico inglês estava se referindo às seitas
religiosas puritanas que surgiram antes, durante e depois da revolução inglesa do
século XVII, mas as palavras podiam se aplicar igualmente ao pregador do
deserto (Ibn Wahhab) que fez o caminho de volta para construir seu movimento
na área que conhecia melhor.

As ações radicais dos grupos fundamentalistas, mesmo que fanáticos, não são
contra as pessoas, visto que em todas as religiões o ser humano é respeitado, como
acontece com o judaísmo, cristianismo e islamismo onde o homem é a imagem de Deus.
No entanto, as ideologias que pretendem se estabelecer através da força e da violência,
buscam justificativas religiosas para suas ações. No caso dos terroristas suicidas é assim,
querem desestruturar o inimigo político, se explodem junto com o inimigo ou com os
amigos do inimigo e, para se justificarem, deixam mensagens de esperança escatológica.
Os inimigos políticos são, de um lado, o Estado com suas leis legitimadoras da
injustiça e mantenedoras do “estabelecido”, e de outro, grupos que se organizam em
nome da libertação dessa opressão estigmatizada como diabólica. É justamente aí que a
imagem do inimigo vai sendo materializada e desenhada na mente dos terroristas – tanto
dos que assim são rotulados quanto daqueles que os rotulam.
Definindo o inimigo fica mais fácil o combate, pelo menos é possível estabelecer
trajetórias de ataque, plano de ação. Tais ações são reflexivas, como sugere Giddens
(1991:43), o que implica em ações planejadas visando outras ações decorrentes da
primeira. Não se trata de ação praticada com finalidade última, mas como ação
preparadora de outra ação mais sublime e importante. Estratégias, como o atentado
suicida, são importantes para a reflexividade terrorista, pois:
- produz sentimento de pertencimento e de identidade;

43
- desvia a pressão da função de utilidade do ser humano, do mercado profano ao
sagrado.
- fundamenta as ações num certo padrão de valores e certezas dados pela tradição
religiosa.
Tal reflexividade terrorista precisa ser vista como transitória. Mesmo que seja
desencadeando outras ações de contra-ação-terrorista. A transitoriedade é histórica, não
linear e nem cíclica, mas contínua de descontinuidade – ao exemplo dos fios de uma
corda que não são contínuos, mas no jogo da torção prendem-se uns aos outros criando
forte resistência.
O Terrorismo político, para ser planejado e executado, fundamenta seus ideais em
discursos religiosos fundamentalistas. Os discursos religiosos fundamentalistas são mais
propícios à obediência daqueles que acreditam em Deus. O terrorismo político praticado
pelo suicida busca, desesperadamente, alianças com o poder recorrendo aos meios de
violência e de intolerância (De Boni, 1995: p. 7), justificando suas ações pelo discurso
religioso fundamentalista. Daí afirmar que o fundamentalismo pretende manter a
imutabilidade primeira, incentivando a manutenção da tradição em nome da pureza ou
da santidade. Portanto, qualquer iniciativa terrorista pode se dar ao luxo de recorrer aos
ideais que sustentam determinada cultura. Portanto, se o fundamentalismo pode utilizar
de algum tipo de violência para fazer valer suas idéias e destruir o inimigo real ou
imaginário, o terrorismo de maneira muito mais veemente utiliza-se do discurso
religioso fundamentalista para justificar suas ações.
O fundamentalismo protestante na região da Tríplice fronteira procurou
interpretar a Bíblia através do método dispensacionalista. Tal hermenêutica propunha
que Deus trataria o ser humano diferentemente em períodos indeterminados de tempo. A
isso chamou de dispensação. Em cada início há um acontecimento em que as promessas
divinas são outorgadas para os humanos, mas a cada fim de período acontece uma
tragédia que marca o fato. Frases apareceram na mídia em geral reproduzindo o dizer de
Geroge Walter Bush: nossa nação viu o mal. Esse mal que praticaram contra os
estadunidenses transcende o simples fato, fala a partir do imaginário dualista do bem e
do mal. Porém, o mal produzido pelos E.U.A. não é visível, mas o mal sofrido por eles
foi catastroficamente visível. A mídia reproduz o que é visível, mas não se dá conta da
obrigação da reflexão necessária. Os E.U.A. não podem parecer mais apenas como
vítimas, não há inocentes nesses episódios, mesmo os que morreram. Não se fala das

44
vítimas e sim das políticas do Estado contra-terrorista. E justamente aqui a imagem da
Tríplice fronteira aparece como perigo iminente, como eixo do mal e outros adjetivos.
As Forças Armadas do Brasil não acreditam na possibilidade de terrorismo na
Tríplice Fronteira, como explicito no depoimento do General Jorge Armando Felix, do
Gabinete de Segurança Institucional, feito para a Comissão de Relações Exteriores e de
Defesa Nacional da Câmara dos Deputados no dia 04 de junho de 2003. Segundo o
general, toda espécie de crime já foi detectada na Tríplice Fronteira, mas não foi
detectado o terrorismo. Afirmação corroborada pelo ministro do interior do Paraguai
Osvaldo Rúben Benitez. Essa forma de encarar as denúncias de que existe terrorismo na
Tríplice Fronteira, faz do Brasil um Estado que se coloca na defensiva diante dos
acontecimentos. No caso do libanês Assaad Ahmad Barakat, preso em Foz do Iguaçu –
Brasil, depois de um pedido formal de extradição feito pelo Paraguai, o Estado brasileiro
procedeu no sentido de não despertar qualquer desconfiança mantendo a amizade
costumeira com seu vizinho. O pedido de extradição paraguaio firmou-se num relatório
confidencial da Justiça Argentina. No relatório Barakat aparece como integrante do
Hezbolah. A suspeita sobre Barakat foi despertada após os atentados de 11 de setembro,
quando não voltou para a Ciudad Del Este, permanecendo em Foz do Iguaçu. Temendo a
polícia antiterrorista paraguaia, Barakat passou dezoito dias foragido em Curitiba. Ao
retornar para Foz do Iguaçu foi preso pela Polícia Federal do Brasil. Embora, como já
dito anteriormente, não há crime de terrorismo no Paraguai e nem no Brasil.
Destaco, neste caso, a relação entre fundamentalismo e terrorismo. O
fundamentalismo, já suficientemente definido anteriormente, tem como pressuposto o
respeito às Escrituras Sagradas. No Judaísmo é a Torah, no Cristianismo a Bíblia e no
Islamismo é o Corão. Respeitando tais Escrituras Sagradas, os adeptos procuram
obedece-la nos quesitos que são do seu conhecimento. Os grupos xiitas, mais
fundamentalistas que as outras seitas islâmicas, têm como pressuposto a ajuda mútua.
Comerciantes, empresários, banqueiros, e os que têm alguma posse, costumam enviar de
diversas partes do mundo verbas (ofertas) de auxílio aos mais necessitados do seu país.
O mesmo acontece com organizações e grupos judaicos ao redor do mundo.
Organizações cristãs enviam donativos e adotam crianças à distância enviando-lhes
depósitos em dinheiro. No caso islâmico, muitas crianças ficaram órfãs pelos pais
suicidas. A quantidade de ofertas enviadas ao exterior fica a critério de cada indivíduo
segundo suas possibilidades e vontade. Dessa forma Barakat teria enviado verbas ao
exterior. Não é só na Tríplice Fronteira que remessas de dinheiro são enviadas ao
45
exterior a título de oferta de caridade, em muitas regiões do mundo as religiões ensinam
que se deve ajudar ao próximo. Esta é uma distinção difícil de ser feita, até onde é oferta
e até onde as remessas são para financiar ações terroristas? No mundo islâmico os que
ofertam mais de dez milhões de dólares são diplomados com pergaminhos vermelhos,
como aqueles exibidos em muitas lojas da Ciudad Del Este. O pergaminho produz
respeito e status na comunidade muçulmana.
Barakat, preso na penitenciaria da Papuda em Brasília, afirma que tudo é
armação sem fundamento nos fatos. A polícia paraguaia, no entanto, apresenta contas
mostrando que foram enviados ao Hezbollah no Líbano (Lourival Sant´Anna in: O
Estado de São Paulo, 22 de junho de 2003), US$ 1,3 milhão para sustentar 592 famílias
de mártires; US$ 395 mil em roupas e presentes; US$ 1,2 milhão na educação de 1.215
órfãos, até o curso superior; US$ 82 mil em saúde e US$ 540 mil em reparos de
moradias. A afirmação de Barakat está de acordo com a afirmação de outros
comerciantes em Ciudad Del Este, ou seja, a remessa de dinheiro nunca foi para
terroristas e sim para as necessidades daquela população. Mas o que pode ser percebido
é que os comerciantes muçulmanos da região de Ciudad Del Este distinguem entre um
terrorista e um mártir. Para eles, conforme constatado, o terrorista não coloca em risco
sua vida, apenas coloca bomba em lugares para causar algum tipo de destruição, já o
mártir não, ele explode o seu corpo pela causa que julga justa, não tira proveito da
situação senão entrega-se à causa.
A fronteira entre fundamentalismo e terrorismo é muito tênue em alguns casos,
embora já tenhamos definido que o terrorismo utiliza-se do fundamentalismo para
justificar suas ações. Assim, o fundamentalismo caracteriza-se pela educação religiosa
enquanto o terrorismo é impulsionado pelo extremismo religioso. As pessoas não dão
sua vida senão em troca de algo melhor, e esse melhor é a esperança da vida depois da
morte. Mas em muitos casos a figura do mártir está justificada religiosamente pela
resistência política, tida como legítima.

46
Capítulo III - A Tríplice Fronteira e os Estados Unidos na Globalização

Como já observado nos capítulos anteriores, o tema “terrorismo” tem aparecido


na mídia nas últimas três décadas de maneira cada vez mais intensiva, chegando a ponto
de, ultimamente, até mesmo a Tríplice Fronteira (Argentina, Brasil e Paraguai) entrar no
rol das regiões críticas. O fenômeno do terrorismo se faz dependente tanto do contexto
histórico regional (situações políticas, sociais e econômicas), quanto do contexto
nacional e, ultimamente, da geografia e política mundial. No contexto histórico regional
a visão-de-mundo é fator fundamental para que indivíduos, organizações e instituições
civis ou do Estado – além de outras entidades presentes nas sociedades, assumam
determinado comportamento que caracterizará a cultura do grupo. Em termos mundiais o
conflito é mais complexo e transcende a cultura local, sendo que, em cada região, as
especificidades são tantas e distintas, exigindo ações diferenciadas por parte do contra-
terrorismo. Entre as estratégias para combater o terrorismo estão, as diplomacias, e em
alguns casos, planos econômicos, de informação e de inteligência, além das políticas de
segurança pública e, segundo alguns acreditam, até mesmo o uso das forças armadas. Na
região da Tríplice Fronteira americana, a estratégia dos Estados Unidos é de negar aos
terroristas qualquer tipo de financiamento e até mesmo de guarida
(www.defesa.ufjf.br/fts/MRTF.pdf). Também as insatisfações no campo das relações
internacionais são visíveis pelas manifestações públicas e, principalmente, através de
atentados terroristas. O conflito político, econômico, pelos recursos naturais e
estratégicos como energia, é uma alternativa para estruturar ou destruir a hegemonia de
um povo que tem sua identidade ora na religião, ora no Estado.
A diferença entre a Tríplice Fronteira e os Estados Unidos, na concepção de
“terrorismo” e sua orientação política, estabelecerá estratégias anti-terrroristas,
objetivando responder à imprevisibilidade e dinâmica deste fenômeno. É necessário
estudar as diferenças dessas duas regiões, norte-sul, para a formulação de políticas anti-
terroristas adequadas às especificações regionais, e assim, serem aplicadas tanto na
Tríplice Fronteira quanto nos Estados Unidos, respeitando-se as peculiaridades de cada
sociedade. Entre essas peculiaridades está o fato de emigrarem para os Estados Unidos

47
milhares de latino-americanos oriundos dos países que compõem a Tríplice Fronteira, e
que para a Tríplice Fronteira emigram milhares de libaneses, sírios, e de outras
nacionalidades árabes, além de grande fluxo de turistas. A Embratur calculava que a
cidade de Foz do Iguaçu estava no sexto destino do turismo internacional dentro de
Brasil (Embratur, 2004 apud Rabossi, 2005).
A complexidade das sociedades contemporâneas permite a convivência de
pessoas oriundas das mais diversas regiões e culturas. O imigrante é alguém que tenta
melhorar sua condição econômica, quer realizar seu projeto de vida, mas também é
alguém de fora, da outra cultura, de outro idioma, com outra visão de mundo, enfim, é
aquele que sonha, mas sonha assustado por não estar no seu país. Se os números de
informações sobre atentados terroristas são mais constantes a cada dia, essas notícias
tornam essas sociedades complexas mais assustadas; no dizer de Vizentini (2004:32) são
sociedades temerosas “pela incerteza, pelo desemprego, pela solidão e pela volta ou
aparição das pestes que flagelam a humanidade em todos os fins dos tempos (Aids,
cólera, vírus Ebola)”.
Os Estados buscam estabelecer políticas públicas para amenizar as desigualdades
sociais, muitas delas, originadas também com movimentos migratórios. Estratégias
comuns, que respeitem os direitos humanos, que não seja uma imposição unilateral,
permitirão estabelecer, fazer cumprir e aprimorar continuamente planos político-
militares unificados, promovendo suporte nacional e internacional consistente para o
combate ao crescente terrorismo internacional. Por isso, a política estadunidense contra-
terrorismo está firmada em quatro passos importantes para nosso estudo: Primeiro, não
fazer concessão a terroristas e não promover acordos; Segundo, levar os terroristas à
justiça pelos seus crimes; Terceiro, isolar e pressionar os países que patrocinam o
terrorismo para forçá-los a mudar de comportamento e; Quarto, ampliar a capacidade
contra-terrorista dos países que trabalham com os Estados Unidos e necessitam de ajuda.
Para o estabelecimento e desenvolvimento de qualquer ação política, é
importante, inclusive para se ter um pano de fundo histórico, relatar alguns antecedentes
promotores da atual situação na Tríplice Fronteira. A Argentina, em 1936, está em guerra
contra o Paraguai. O governo Argentino restringe o acesso ao mercado interno aos
interesses norte-americanos e desdobra uma ação diplomática destinada a defender as
posições britâncias na América Latina contra a crescente ingerência dos Estados Unidos
(Conferencia Interamericana de 1936). Somente a partir dos anos de 1940 o predomínio
comercial britânico perde força para os tratados comerciais estadunidenses. Em 04 de
48
junho de 1943 acontece, no Paraguai, um golpe militar de inspiração nazi-facista
(Casanova, 1988). Alcalá (2005: p. 83) escreve que “na ideologia comunitária do
fascismo, a corrente populista que se apresentava como defensora do povo contra a
exploração do grande capital e dos grupos financeiros internacionais teve especial
importância”. Ou seja, o Paraguai sofreu historicamente a influência do fascismo
europeu, especialmente na questão da gemeinschaft (comunidade de sentimentos), o que
significa dizer que o país estava unido mais como comunidade do que como sociedade, e
isso equivale a cumplicidade da população quanto a aceitação do governo populista que
ali se instauraria. Gilberto Freyre, ao visitar o Paraguai chamou os heróis paraguaios de
fantasmas (Freyre, 2003: p. 67). O Brasil, de 1917 até 1920 registra o auge das lutas
operárias sob a orientação anarquista (Casanova, 1988). O Paraguai, país central na
questão da Tríplice Fronteira, merece destaque especial e por isso inicio com a Guerra da
Tríplice Aliança (1865-1870). Em 1862 morreu Carlos Antonio Lopez e o sucedeu seu
filho Francisco Solano Lopez, nomeado por seu pai, em 1855, chefe do exército. Na
época, os reacionários do Brasil e a burguesia comercial de Buenos Aires começaram a
forjar planos para destruir o pujante Estado do Paraguai. Sergio Buarque de Holanda diz
que durante a guerra “A fama do poder militar paraguaio, com seus 80.000 homens de
armas” superava em dobro o contingente dos três outros países, e continua “... O Brasil
só poderia contrapor de início 27.107 homens, inclusive voluntários e Guarda
Nacional..., a Confederação Argentina com cerca de 11.000, e o Estado Oriental com
1.600. Ao todo 40.000 homens aproximadamente, cerca de metade dos efetivos
inimigos...” (Holanda, 2005: p. 54).
Na Guerra da Tríplice Aliança mais de um milhão de paraguaios são mortos, e
quem assume o poder até 1932 são as oligarquias que se revezam. De 1932 até 1935 a
Guerra do Chaco, contra a Bolívia, exauriu as parcas forças do Paraguai. Depois disso os
militares assumem o poder na seguinte ordem: 1936-1937, Rafael Franco; 1939-1940,
José Felix Estigarribia. De 1940 até 1954 vários golpes militares culminam com a
eleição do general Alfredo Stroessner, comandante chefe das forças armadas. Stroessner
liderou o golpe depondo o presidente Chavez (em 1953). Stroessner elegeu-se presidente
em 1958, 1963, 1968, 1973, 1979, 1983 e 1989, quando é deposto por Andrés
Rodriguez, militar que obriga Stroessner ao exílio no Brasil. Em 1993 saiu vencedor o
empresário Juan Carlos Wasmosy. Em 1998 é eleito Raul Cubas.
A região da Tríplice Fronteira é importante para a cultura dos três países que a
compõem. No Brasil, por exemplo, os produtos “made in Paraguai” são trazidos por
49
sacoleiros (ou muambeiros) e consumidos por grande parte da população; inclusive foi
alvo de comentários na mídia brasileira quando o presidente Lula assistiu um filme
“pirata” no seu avião presidencial. Ciudad del Este é a capital do estado de Alto Paraná,
fundada em 1957, está localizada no extremo oeste do Paraguai, separada da cidade de
Foz do Iguaçu, Brasil, pelo rio Paraná. Diante dela e do outro lado do rio Iguaçu está
localizada a cidade de Puerto Iguazú, Argentina. Na confluência desses dois rios
encontram-se os limites internacionais entre os três países. As pontes que unem os países
são a Ponte da Amizade (Ciudad del Este – Foz do Iguaçu) e a ponte Tancredo Neves
(Foz do Iguaçu – Puerto Iguazú). A Ciudad del Este tem população estimada em 222.274
habitantes em 2002, mas pode chegar a 386.354 habitantes se forem computadas as
cidades do entorno - Hernandarias (63.248), Minga Guazú (48.006) e Presidente Franco
(52.826), (fonte DGEEC, 2002).
Se a Ciudad Del Este é bastante significativa para o Paraguai (a segunda em
importância econômica e demografica), a vizinha Foz do Iguaçu é menos importante
para a economia brasileira. Foz do Iguaçu é uma cidade do Estado do Paraná, no Brasil,
com 258.543 habitantes, no ano 2000. Na Província de Misiones, Puerto Iguazú é uma
cidade com 31.515 habitantes em 2001. Pelo exposto, a Ciudad Del Este é a que maior
importância tem para o cenário apresentado. A região tem o estigma de não zelar pela
originalidade dos produtos vendidos, sendo que a maioria deles é de procedência
duvidosa, como contrabando, falsificação, pirataria, e outras formas de burlar o controle
e a fiscalização. Neste caso, o Paraguai assumiria a liderança de país do contrabando,
onde carros roubados no Brasil seriam regularizados pelo governo paraguaio, entre
outras formas de regularizar o produto de ações criminosas.
Em uma região bastante profícua na comercialização de produtos de qualidade
duvidosa e de procedência incerta, são 55 bancos e casas de câmbio que fazem as
transações sem a fiscalização necessária, o que permite que mais de seis bilhões de
dólares sejam lavados anualmente. O fluxo de pessoas que atravessam a Ponte
Internacional da Amizade (Brasil - Paraguai) segundo a Receita Federal de milhares de
pessoas, conforme registrado na Folha de São Paulo (1994): “Nos dias de pico de
movimento na ponte, às quartas e sábados, mais de 50 mil brasileiros cruzam a fronteira
– contra uma média de 20 mil em dias comuns”. O DNER (Departamento Nacional de
Estradas e Rodagens, Brasil), estimava que em 2001, em média, atravessavam a fronteira
diariamente cerca de 18.500 veículos e 20.000 pedestres em ambos os sentidos (In:
Rabossi, 2005).
50
O Comércio da Ciudad Del Este é o terceiro do mundo, depois de Miami e Hong
Kong. Em 1995 o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) informa que o
número de empregados diretos no comércio central é de 23.950. O Banco Central do
Paraguai em 1998 apresenta um percentual de 24% dos comerciantes como de origem
árabe (Penner, 1998; Rabossi, 2005). Em 2001 havia perto de 1750 comércios, bem
menos que os anos dourados de 1994 e 1995 com cerca de 7000. Rabossi (2005) registra
que o montante das operações na Cidade Del Este chega a cerca de US$ 15 bilhões por
ano, enquanto que a Receita Federal brasileira faz a estimativa de US$ 5 bilhões, e a
revista Forbes (1994), apresenta um valor de US$ 12 bilhões. As estimativas de Reinaldo
Penner, economista do Banco Central do Paraguai, baseados em dados produzidos pelo
próprio banco e pelo cruzamento de dados declarados pelo Paraguai e pelos países
importadores, esse movimento foi entre US$ 4,375 e 4,038 bilhões em 1995 e entre US$
2,408 e 2,033 em 1998 (Penner, 1998, p.17-24; Apud Rabossi, 2005). Tais operações
correspondem a 50% do PIB paraguaio.
Como os Estados Unidos aliam o terrorismo ao fundamentalismo islâmico,
querendo atribuir ao fundamentalismo a ação terrorista, a região da Tríplice Fronteira
(com cerca de 30% de comerciantes árabes) é tida como provável ameaça, isto porque a
presença árabe na região é de mais de vinte mil pessoas. Desses imigrantes muçulmanos
a maioria é fundamentalista xiita e outra parte é sunita, ingredientes interessantes para os
argumentos do governo Bush acusá-los de se relacionarem com o Hezbollah, Hamas, Al
Qaeda e o Jihad egípcio. A tese estadunidense é que o incentivo ao terrorismo pode vir
de ofertas religiosas que comerciantes da Ciudad Del Este, no Paraguai, fazem para
integrantes do partido político libanês denominado Hezbollah. Resultado dessa
perspectiva é que pessoas são acusadas de envolvimento com o terrorismo na Tríplice
Fronteira, como Mahammed Aly Abou Elezz El Mahdy Fis Ibrahim Soliman (do Al
Gamaa Al Islamiya - Grupo Islâmico), em Foz do Iguaçu, seu colega de El Said Hassan
Ali Mohamed Mokhles, que foi acusado de participar do atentado em Luxor – Egito,
resultando em 62 mortes (Contra Mokhles há um processo na Polícia Federal – IPL 199,
que está em segredo de justiça). Para os acusadores estadunidenses, estes seriam
membros da logística terrorista. Ainda, o marroquino, Gueddan Abdel Fatah, tentou
assaltar um taxista com uma arma de brinquedo e acabou preso e sentenciado a cinco
anos e quatro meses (hoje é informante da PF). Foi Gueddan Fatah quem teria acusado
os egípcios acima e outro Amin Mir, este morador em Nova Iorque, de serem mentores
de atentados terroristas em diversas partes do mundo. Dessas informações surgem as
51
seguintes perguntas: Se a polícia federal e órgãos do governo responsáveis pela
fiscalização de remessas para o exterior controlar tais operações será possível rastrear o
dinheiro e garantir a finalidade alegada por aqueles que enviam o dinheiro? Políticas
públicas que diminuam a situação de pobreza de um país contribui para a redução de
apoio ao terrorismo? Controle de entradas e saídas de mercadorias na fronteira diminui
fluxo de passageiros na região?
Com os ingredientes necessários e o cenário montado os Estados Unidos rotulam
a região como perigosa para a segurança das Américas. A declaração de um dos países
da Tríplice Fronteira, a Argentina, contribuiu para a desconfiança estadunidense quando
atribuiu, por exemplo, aos integrantes do Hezbollah, a explosão de um carro-bomba
diante da embaixada de Israel em Buenos Aires, ocorrida aos dezessete de março de
1992. A Argentina acusa o Hezbollah de ter jogado outro carro-bomba sobre a
Comunidade Judaica (AMIA) também em Buenos Aires aos dezoito de julho de 1994.
Ambas as explosões foram atribuídas a Imad Mugniyah, da comunidade islâmica da
região.
O modo de fazer as coisas do jeito terrorista, tanto no Cone Sul quanto no
Oriente Médio, são muito similares. Explosão de carro-bomba como retaliação a uma
determinada decisão política contrária a ideologia ou interesse desses grupos. Isso não é
exclusividade dessas regiões, os Estados Unidos sofreram ataques a prédios como no
caso do Oklahoma e nem por isso a região foi taxada de eixo do mal ou adjetivos
semelhantes. Neste caso, o discurso estadunidense visa estigmatizar o outro como o
demônio, o inimigo a ser destruído para o bem da humanidade.
A região da Tríplice Fronteira é tida como lugar de encontro, de reuniões de
dirigentes e líderes que compõem a cúpula dos grupos terroristas. Esse tipo de situação
na região levou os Estados Unidos a pactuar com Argentina, Brasil e Paraguai, planos e
estratégias para detectar e eliminar possíveis células terroristas. Na Tríplice Fronteira as
células terroristas seriam financiadoras do terrorismo internacional. Para os críticos dos
Estados Unidos, eles estariam construindo a figura do mal na região para, em nome de
combater esse mal, desenvolver planos e estratégias de ocupação militar naquele local,
como no caso de base militar a ser instalada no Paraguai nas imediações da hidrelétrica
de Itaipú. Os Estados Unidos mandaram com seus aviões, em 1 de julho de 2005,
quinhentos soldados armados para uma suposta base estadunidense em Mariscal
Estigarribia, Paraguai, que fica a 200 quilômetros da fronteira com a Bolívia, podendo
ser utilizada a qualquer momento. Como observado até aqui, os Estados Unidos têm
52
preocupação com a região do Cone Sul, especialmente quando alegam haver ameaças
terroristas na região da Tríplice Fronteira (onde o Paraguai, a Argentina e o Brasil se
encontram), o que pode levar-nos a pressupor que tal ameaça – de terrorismo, pode ser
pretexto para que os Estados Unidos estabeleça outra de suas bases militares na região.
Em 1980 foi construída a base de Estigarribia, na época o ditador paraguaio
Alfredo Stroessner foi quem autorizou. A base foi superdimensionada para a força aérea
paraguaia. A base possui um enorme sistema de radar, hangares gigantescos e uma torre
de controle de tráfego aéreo. A pista de pouso é maior que a do aeroporto internacional
de Assunção, capital paraguaia. Próximo à base há um campo militar que recentemente
aumentou de tamanho. No entanto, a Ministra do Exterior paraguaia, Leila Rachid,
desmente que haja algum acordo para o funcionamento da Base estadunidense naquela
região.
Em 26 de maio de 2005, o Senado paraguaio garantiu aos soldados dos Estados
Unidos total imunidade da jurisdição nacional e da Corte Internacional Criminal até
dezembro de 2006. (Benjamin Dangl, "O Que o Exército dos EUA está fazendo no
Paraguai?"). Desde dezembro de 2004, os EUA vêm pressionando o Paraguai para que
garanta imunidade aos militares dos EUA na região. O governo estadunidense infligiria
sansões econômicas e militares caso recusassem a assinar um acordo de imunidade.
Ao acusar a região da Tríplice Fronteira de área de risco para o terrorismo
internacional, os Estados Unidos poderiam estar planejando controlar o aqüífero
Guarani, as reservas de gás da Bolívia e até mesmo o controle da Itaipu binacional
(Brasil – Paraguai), a hidroelétrica de maior produção de energia do mundo. Para
subsidiar a tese de que a Tríplice Fronteira é financiadora do terrorismo, esteve na região
William Pope, coordenador de contraterrorismo, para quem pelo menos um dos
terroristas do World Trade Center esteve ali durante algum tempo no ano de 1995.
Segundo Pope, o referido terrorista esteve ali com a intenção de arrecadar ofertas para a
missão que levaria a cabo posteriormente.
Nos países que fazem parte da Tríplice Fronteira, as ações do contraterrorismo
não levam em conta os direitos humanos, como no Brasil, por exemplo, muitas pessoas
ligadas ao islamismo tiveram problemas, o mesmo aconteceu com a colônia árabe na
Argentina e no Paraguai. A pesquisa visa detectar o grau de impacto que tais atitudes
radicais provocariam na vida das pessoas que na Tríplice Fronteira estavam relacionadas
com o islamismo. Ao realizar a pesquisa constatei que existem no Estado de São Paulo
27 instituições islâmicas; no Paraná, 10; Minas Gerais, 1; Rio de Janeiro, 2; Mato
53
Grosso, 1; Mato Grosso do Sul, 2; Santa Catarina, 4; Brasília, 2; Bahia, 1; Goiânia, 3;
Rio Grande do Sul, 3; Amazonas, 1 e Pernambuco, 1. Algumas dessas associações são
compostas por vários pólos desde centros culturais e de beneficência até mesquitas. A
revista Isto É (Isto É, 29/04/1998, p. 67) afirmava que mais de quinhentos mil fiéis
freqüentavam as cinqüenta mesquitas espalhadas pelo Brasil. O jornal Folha de S. Paulo
(Folha de São Paulo, 14/10/01) dizia que o número de islâmicos eram mais de 1,5
milhão em todo o país. Portanto, qualquer notícia deturpada ou viciada por qualquer
poder hegemônico, provocaria mais prejuízos à população muçulmana na região, que
como visto nos números anteriores, no Brasil, é bastante considerável.
A pergunta é: existe algum tipo de financiamento ao terrorismo internacional na
região da Tríplice Fronteira? Se sim, então como se dá esse financiamento?
A resposta passa pelo Zaqat, a oferta que as comunidades religiosas fazem para
as pessoas da mesma “família”. Como é corriqueiro nas comunidades de fundamentação
religiosa, a oferta (Zaqat – é obrigação religiosa), a ajuda ao próximo, a união dos
integrantes para socorrer o mais necessitado entre eles, acontece sempre e com
sentimento de caridade e de amor ao próximo, mas pode estar aí a justificação
fundamentalista para o envio de verbas para outros países, especialmente para os países
vitimados ou pelos Estados Unidos ou pelo seu parceiro Israel. Nesse sentido, todos os
países envolvidos nessa comparação têm a oferta como elemento importante dentro dos
movimentos fundamentalistas. Se fundamentalista é ajudar o próximo, nesse discurso
está inserido também os necessitados, algo muito comum para os povos desses países. O
apoio financeiro pode também representar recrutamento para a causa, especialmente
quando se obtém a proteção de uma região distante do conflito como é o caso da Tríplice
Fronteira. A distância do epicentro violento permite pensar melhor as estratégias de
atuação. É por isso inclusive que muitas ideologias e interesses se apóiam na religião,
pois é desse modo que adquire respeitabilidade e reconhecimento da comunidade.
A questão que se apresenta em nome do fundamentalismo é o enfrentamento do
caos social em que vivem multidões de pessoas; o enfrentamento do abandono
governamental, a ineficácia do sistema de seguridade entre outros, faz com que as
pessoas voltem a pensar num lugar melhor e com maior segurança, e isso é que remete à
justificativa fundamentalista do mundo.
Justificativa que forma o paradoxo de Donald Rumsfeld: "Só porque você não
tem evidências de que algo realmente existe não quer dizer que você tem evidências de
que isso não existe" (Jim Shultz), referindo-se a presença de armas de destruição em
54
massa. Se na região da Tríplice Fronteira não existe o terrorismo, segundo o paradoxo,
não quer dizer que exista evidências de que não existe. Disso resultou que em 2005
dobrou o orçamento do Programa de Parceria para o Contra Terrorismo (CTFP).
Em 1998 a Argentina tem a iniciativa de reunir os países que compõem a região
para formar o Comitê Interamericano de Combate ao Terrorismo. Como a região é de
fronteira, o objetivo do CICT foi vigiar a fronteira através de trabalho de inteligência,
conforme recomendações da ONU.
A criação de organizações paralelas ao Estado constituído democraticamente
poderia contribuir para maior participação entre os integrantes da Tríplice Fronteira, no
entanto, o que se percebe em termos de ação concreta é a ausência trocas de informação
mútua, de dialogo entre si, e de colaboração das partes. Talvez isso se explique pelos
conflitos históricos ocorridos entre os países na região, como por exemplo as questões
relacionadas à Guerra da Tríplice Aliança (acordo assinado na Argentina no ano de 1865,
pela Argentina, Brasil e Uruguai, para guerrear contra o Paraguai).
Enquanto os Estados Unidos têm a preocupação com possíveis ameaças à sua
hegemonia, através de atentados terroristas que podem vir até de Estados falidos, os
países da Tríplice Fronteira estão preocupados em administrar o resultado da exploração
das instituições financeiras de um lado e da ineficiência administrativa dos governos
que, durante muito tempo, sentiram-se marionetes dos próprios Estados Unidos. Por isso
diz Robert Kagan (2003: p. 33): “O problema são Estados falidos e não Estados
delinqüentes”. Dessa forma a região da Tríplice Fronteira aparece como possível ameaça
aos Estados Unidos, mão não por ser constituída de Estados delinqüentes.
A dificuldade de conter possíveis financiamentos ao terrorismo internacional,
seria derivado de acordos multilaterais e formação de Área de Livre Comércio,
especialmente o Mercosul. Com restrições mínimas à circulação de mercadorias e
transferência de valores, a liberdade de ir e vir aumenta, crescendo também a
possibilidade de deslocamento dos agentes financiadores ou mesmo de terroristas. Os
acordos firmados no Mercosul podem estar facilitando a permanência ou
estabelecimento de estrangeiros nos territórios de abrangência do tratado.
A crença de que a região é possível espaço de financiamento do terrorismo
islâmico é contra-atacada com insinuações de que os Estados Unidos estão usando a
mesma desculpa que teria usado antes no Iraque e em outras regiões, qual seja, a de que
os países estavam financiando o terrorismo internacional. Dessa crença surgem decisões
de combater o terrorismo na raiz. Intervir na região da Tríplice Fronteira abalaria o
55
financiamento aos terroristas. O controle fiscal seria importante para determinar tanto a
origem quanto o destino do dinheiro que circula na região, evitando-se assim a lavagem
de dinheiro e rastreando a remessa para o exterior.
Os países da região estão descapitalizados para intervir convenientemente nessa
área criando, dessa forma, espaço para ação de financiamento do terrorismo de um lado
e a intromissão de forças internacionais de controle de outro. De qualquer modo, a
soberania desses países está comprometida, pois até mesmo as forças armadas estão
proibidas constitucionalmente de intervir em questões de segurança interna.
A descapitalização e leis internas que rechaçam a ação das forças armadas em
questões de segurança interna comprometem a soberania dos países da Tríplice
Fronteira. A descapitalização se deu pela aceleração da globalização econômica que
manteve o alto nível de integração social das sociedades desenvolvidas, mas não nas
sociedades sub-desenvolvidas (de renda baixa) ou em desenvolvimento (de renda
média). Nas sociedades de renda média (como Brasil e várias outras da América Latina),
o processo acelerado da globalização (ou mundialização) não só manteve como
aumentou a marginalidade/exclusão de grandes setores da população. Enquanto que a
descapitalização na maior parte dos países de renda baixa, promoveu não só a
desigualdade social e o aumento do sofrimento humano, como também provocou a
exclusão de grande parte da população da globalização econômica.
Em muitos países, incluindo os países da América Latina e especialmente os
países da Tríplice Fronteira, a aceleração da globalização provocou “significativa erosão
da governabilidade” (Viola & Leis, 2001), resultando de sua exposição aos crimes já
descritos anteriormente. A erosão da governabilidade gera violência e por sua vez pode
de alguma maneira promover o terrorismo. Segundo Viola & Leis (2001: p. 3), a erosão
da governabilidade se deu por sete fenômenos interligados:
1) O fracasso ou colapso do estado nacional em vastas regiões...2) A considerável
erosão do estado nacional em áreas que sofreram significativo retrocesso
econômico e social de suas populações;...3) A expansão das redes criminais
globais dedicadas ao tráfego de drogas, armas, migrantes, animais silvestres,
prostituição e órgãos humanos. Essas redes criminais criaram meios efetivos de
lavagem do dinheiro (vindo de suas atividades ilícitas) dentro da economia legal,
seja através dos paraísos fiscais, seja no próprio coração da economia dos países
desenvolvidos e emergentes. As redes criminais globais promoveram a expansão
do crime entre as populações marginalizadas dos países de renda média e baixa,
criando problemas gravíssimos de segurança pública nestes países. 4) O
desenvolvimento de um novo tipo de estado totalitário que objetiva manter a
legitimidade frente a suas populações e seu lugar no mundo com o
desenvolvimento de armas de destruição em massa... 5) O crescimento de um
56
sentimento antiamericano em vastos setores da população mundial, derivado do
papel central dos EUA no sistema mundial... 6) A rápida expansão do
fundamentalismo islâmico como principal movimento antiocidental. Ainda
quando continue sendo uma minoria no conjunto dos mais de um bilhão de
adeptos da religião islâmica, o fundamentalismo islâmico tem crescido no último
quarto do século 20 devido a seis fatores: 1- expansão do capitalismo e da
democracia no mundo (o setor do islamismo mais conectado com as origens
medievais se sente extremamente ameaçado pela modernidade ocidental, em
geral, e o liberalismo, em particular); 2- apoio de potências ocidentais a regimes
economicamente conservadores e corruptos no mundo árabe; 3- apoio
incondicional de EUA a Israel; 4- revolução islâmica radical no Irã em 1979; 5-
presença ostensiva de vasto contingente de forças armadas americanas na região
do Golfo Pérsico desde 1990; e 6- regime de sanções econômicas contra Iraque
(desde 1991), que tem contribuído muito para agravar o sofrimento do povo
iraquiano e servido pouco para combater o regime de Saddam Hussein. Deve ser
observado que, no momento do 11 de setembro, o fundamentalismo islâmico era
muito poderoso em vários países: Afeganistão, Paquistão, Sudão, Egito, Argélia,
Palestina, Irã, Líbano, Síria, Yemen, Arábia Saudita. Em alguns destes países,
como Egito e Arábia Saudita, regimes autoritários pró-americanos encontram-se
ameaçados de ser derrubados pelo fundamentalismo islâmico. De outro lado,
como uma mostra de que não existe incompatibilidade entre islamismo e
democracia, a Turquia é um país islâmico que tem hoje um regime democrático
relativamente estável, e Indonésia, Bangladesh, Albânia e Senegal são países
islâmicos com regimes democráticos incipientes. 7) Por último, intimamente
vinculado ao fator anterior, se registra o nascimento e desenvolvimento de redes
terroristas globais predominantemente ligadas ao fundamentalismo islâmico e
objetivando combater as democracias ocidentais (principalmente Israel e EUA).
A principal rede terrorista global ainda é a Al Qaeda de Bin Laden, que tinha
como principal base territorial o Afeganistão do regime Talibã (um dos mais
totalitários e repressivos do século 20), irradia-se por vários países islâmicos
tolerantes com o fundamentalismo e chega a atingir vários países ocidentais (no
total está presente em aproximadamente 30 países).

Desse modo, é perceptível que na política da globalização, sempre apareçam


juntas a ordem e a desordem. Ordem do discurso e desordem ativa. E, justamente porque
as atitudes são desordenadas, a criação do discurso visa ordenar e dar sentido para ações
criadoras do caos social.
A região da Tríplice Fronteira, diferentemente dos Estados Unidos, sofre as ações
da globalização, o impacto do capital internacional que tornam esses países reféns dos
que detém o poder econômico e poderes derivados (político, bélico, informação,
comunicação, etc.). Como diz Paulo Vizentini (Vizentini, 2004: 45),
O fim da Guerra Fria deixou os Estados Unidos numa posição de vantagem, sem
um adversário à altura, ...o presidente Bush proclamou a emergência de uma
Nova Ordem Mundial de paz, democracia, prosperidade, marcada pelo
paradigma do fim da história, de Fukuyama. ...nesse contexto, regiões

57
vulneráveis como a maior parte do Terceiro Mundo sofreram conseqüências
fortemente adversas.
A Argentina tem falta de competitividade na sua economia, são constantes
situações de inflação, fragilidade institucional e estrutura política que dá plenos poderes
aos governantes regionais. O Brasil sofre com o sistema carcerário e disso derivam os
problemas do crescimento do crime organizado, denúncias constantes de corrupção, e
insegurança político-econômica. O Paraguai é dos países que compõem a Tríplice
Fronteira o mais pobre, distanciado da modernidade capitalista, sem perspectivas de
crescimento econômico, é tido como um Estado fracassado na região. No próximo
capítulo esses três países serão estudados comparativamente aos Estados Unidos.

58
Capítulo IV – Espelhos Estadunidenses na Tríplice Fronteira

Nas zonas de fronteiras existem problemas dos mais diversos, entre eles está a
luta contra as atividades ilícitas. Em 1995 os países da Tríplice Fronteira firmaram um
acordo chamado “Comando Tripartite”, permitindo compartilhar informações para
combater atitudes ilícitas e atividades que poderiam estar relacionadas ao financiamento
ao terrorismo.
Nesse sentido, os países que compõem a Tríplice Fronteira predispuseram-se,
diante das pressões estadunidenses, a colaborar com os planos de contraterrorismo
daquele país. O Paraguai, afirmou, através de sua Mision Permanente que pretende
“identificar, detener, expulsar, procesar o extraditar, según el caso, a todos aquellos
individuos vinculados de una u otra manera a grupos terroristas” (www.oas.org). Mas
não ficou só na pretensão, pois chegou a prender mais de vinte pessoas de origem árabe,
inclusive o caso já descrito aqui anteriormente, do libanês Assaad Ahmad Barakat, preso
no Brasil e com pedido paraguaio de extradição. Também desenvolveu no Banco
Central, segundo a Missão Permanente da República do Paraguai, uma Unidad de
Prencióon de Lavado de Dinero, para investigar contas bancárias suspeitas de
financiamento terrorista. O poder executivo paraguaio, através do decreto 15.125, criou
a Comisión Interinstitucional para cumprir a resolução 1.373 da ONU, fazendo com que
vários ministérios (interior, fazenda, defesa, justiça, trabalho) e o Banco Central sejam
articulados para cooperar com o plano nacional de combate ao terrorismo.
Enquanto o Paraguai pressiona algumas pessoas, mais para dar satisfação aos
Estados Unidos e justificar a base aérea estadunidense naquela região, no norte da
América, especialmente nos Estados Unidos, mais de 1.100 pessoas foram presas apenas
nos primeiros dias de investigação sobre os atentados de 11 de setembro de 2001. O
professor Peter Raven-Hansen da Faculdade de Direito de George Washington afirmou-
nos que as detenções foram feitas pela Agencia Federal de Investigação. Mesmo
havendo tais abusos, segundo ele, nos Estados Unidos, não existe lei que defende a
prisão injustificada. Mesmo assim, as prisões injustificadas aconteceram em ambos
países, apesar do Paraguai abolir a violência e a tortura já na Constituição de 1870. A
Constituição paraguaia foi aprovada pelo Congresso pela primeira vez em 1813, e
segundo Alcalá (2005:32) “não reconhecia direitos, nem estabelecia uma verdadeira
59
separação de poderes, já que os cônsules cumpriam funções executivas, legislativas e
judiciais”. Já, nos Estados Unidos, as leis são criadas a partir das necessidades do
momento, para adequar-se às estratégias políticas e bélicas, embora precise do apoio
popular. Esse apoio popular é conseguido através da mídia que utiliza do discurso
fundamentalista para justificar criação ou modificação de leis. Se as leis a serem criadas
soam como doutrinas religiosas, sua aprovação e aplicação, se torna muito mais eficaz.
Mas é importante não esquecer do que escreveu Aléxis de Tocqueville (1805-1859) em
A Democracia na América: “Quando os governos parecem tão fortes e as leis tão
estáveis, os homens não percebem o perigo que pode correr a religião unindo-se ao
poder” (Tocqueville, 2001: 350). Isso serve para a união do fundamentalismo protestante
com o poder nos Estados Unidos, da mesma forma que serve para o fundamentalismo
islâmico e o poder político em alguns países.
Os Estados Unidos, através de experiências jurídicas testam a possibilidade de
criar leis contra-terroristas, eis alguns protótipos em ordem alfabética (a partir do
inglês):
AIRCRAFT & MOTOR VEHICLE SAFETY, Title 18, Part I, Chapter 2 - outlaws
destructive uses of vehicles (Segurança de Avião e de Veículo Motorizado – destruição
ilegal de veículos)
BIOLOGICAL WEAPONS, Title 18, Part I, Chapter 10 - bans the possession of any
biological weapons (Armas Biológicas - proibe a posse algumas armas biológicas)
CHEMICAL WEAPONS, Title 18, Part I, Chapter 11B - bans the possession of any
chemical weapons (Armas Químicas – proíbe a posse de algumas armas químicas)
CIVIL DISORDERS, Title 18, Part I, Chapter 12 - outlaws violent civil disorders or
riots (Desordem Civil – proíbe desordens violentas e motins)
DISASTER RELIEF, Title 42, Chapter 68 - sets up interstate assistance compacts in
case of emergency (Desastre Relevante – determina meios de auxílio em caso da
emergência)
EMERGENCY POWERS, Title 50, Chapter 34 - allows declaration of national
emergency (Poder de Emergência - permite a declaração da emergência nacional)
FOREIGN INTELLIGENCE SURVEILLANCE, Title 50, Chapter 36 - allows wiretaps
on suspected terrorists (Supervisão da Inteligência Estrangeira – permite grampear
telefones de suspeitos de terrorismo)
IMMIGRATION, Title 8, Chapter 12, Section 1182 - allows deportation of conspirators
to terrorism (Imigração – permite a deportação de conspiradores terroristas)
60
INTERNATIONAL TERRORISM, Title 18, Part I, Chapter 133B, Section 2331 --
outlaws political violence (Terrorismo Internacional – violência política criminosa)
QUARANTINE & INSPECTION, Title 42, Chapter 6A, Subchapter II, Part G - allows
border shutdowns (Quarentena e Inspeção – permite isolar pessoas com o objetivo
investigativo)
REWARDS FOR ESPIONAGE, Title 18, Part II, Chapter 204 - rewards citizens who
snitch on enemies of state (Recompensas para Espionagem – recompensa para quem
oferece informações sobre inimigos do Estado)
SABOTAGE, Title 18, Part I, Chapter 105 - makes anything impeding a war effort
illegal (Sabotagem – ação ilegal para impedir a guerra)
SEDITION, Title 18, Chapter 115 - outlaws conspiring to overthrow the government
(Sedição – crime de conspiração contra o governo)
WAR POWERS, Title 50, Chapter 33 - allows President & Congress to jointly declare
war (Poder de Guerra – permite que o presidente e o congresso declarem guerra)
WEAPONS OF MASS DESTRUCTION, Title 50, Chapter 40 - bans possession of any
such weapons (Armas de destruição em massa – proíbe a sua posse)
Esses protótipos de leis serviram para a reflexão jurídica que, possivelmente,
estará criando projetos de leis para a sua implementação nos Estados Unidos e, por
tabela, servirá como espelho para a região da Tríplice Fronteira. O Paraguai, “tem vivido
de idéias européias, adaptando-as e imitando-as” (Alcalá, 2005:18), e isso também é
aplicado diante do modelo estadunidense. Foi a partir de Higino Morínigo, derrotando o
movimento popular, que o Paraguai se submete aos caprichos estadunidenses, “semi-
analfabeto, Morínigo recebeu o título de doutor honoris causa de uma universidade
norte-americana e, também apoio econômico dos Estados Unidos, que decidiram aceita-
lo como um mal menor, apesar de suas idéias fascistas” (Alcalá, 2005:99). O que
significa dizer que o Paraguai, depois de todos os acontecimentos desastrosos
desencadeados na sua história pelos interesses econômicos colonialistas da Inglaterra –
como, por exemplo, a Guerra do Paraguai (1864-1870), tem na sua população a simpatia
por governos populistas que enfatizam a comunidade de irmãos e a identidade
paraguaia; utilizando esses governos da literatura de Juan E. O´Leary (1879-1965).
Disso conclui Alcalá (2005: 102): “no Paraguai não se distingue corretamente entre
literatura sentimental e ideologia política”. O que se percebe pelas ruas de Cidad Del
Este é uma certa nostalgia entorpecente. Apesar da literatura paraguaia carregar a idéia
de um “despertar” (Erwachen, em alemão, termo muito utilizado por Hitler – o que
61
significa transformar a história em mito) da consciência aos moldes fascistas. O
paraguaio não aceita a idéia bastante comum na América Latina de que a identidade
regional e seus produtos são atrasados (barbárie), enquanto que o importado representa a
civilização (o moderno). Talvez aí esteja um importante componente paradoxo do
imaginário paraguaio no comércio de Ciudad Del Este.
Se no Paraguai a identidade se dá através das expressões literárias acima
descritas, nos Estados Unidos essa identidade se deu através da religião (Tocqueville:
1998). Embora a religião tenha também influenciado a cultura paraguaia e permitido que
a população apoiasse seus governos autoritários, Alcalá (2005:113) assim se refere a
isso:
Como conseqüência da conquista e da evangelização, foi-se desenvolvendo no
Paraguai uma mentalidade antiindividualista, antiliberal e propensa ao
socialismo de Estado. Considerando estes traços essenciais da alma nacional, o
doutor Francia e os López estabeleceram governos autoritários que satisfaziam
as expectativas locais, além de manter o Paraguai a salvo da anarquia e da
exploração imperialista que se assenhoreava da América Latina. Mas tão feliz
experiência não pôde durar: o capitalismo inglês decidiu acabar com o que
considerava um mau exemplo para seus interesses imperialistas e, assim, armou
o Brasil e a Argentina, que se aliaram ao Uruguai, para destruir o Paraguai na
guerra da Tríplice Aliança (1864-1870). Conseqüência da vitória aliada foi a
constituição de 1870, uma carta liberal que obrigava o Paraguai a abandonar a
forma de governo natural à sua essência: a ditadura.

Dessas considerações concluo que a idéia nostálgica paraguaia de sacrifício


humano e heróico pela pátria, também é compartilhada por outros países como a
Argentina e o Brasil (ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil) deste lado, e dos
Estados Unidos da América do Norte, do outro lado. A cultura paraguaia foi bastante
identificada com a brasileira, tanto na culinária quanto no narcisismo, segundo o
sentimento de Gilberto Freyre, porém ele temia que o Paraguai deixasse sua identidade
para imitar outras cidades mais desenvolvidas:
Ainda assim, eu temo sua americanização no sentido mau de rotarização; ou sua
argentinização, no sentido estreitamente portenho, contra o qual a própria
Argentina de hoje começa a reagir pela voz de suas províncias mais enérgicas.
Ou que acabe sucumbindo ao desejo de se tornar uma nova Piratininga, seguindo
o exemplo da cidade luso-guarani que se vai rapidamente transformando, contra
a vontade de sua gente melhor e mais antiga, em metrópole incaracterísticamente
cosmopolita, embora esplendidamente progressita (2003: p. 64).

62
Para Gilberto Freyre, a consciência da inferioridade técnica do Paraguai nas
primeiras décadas do século XX, levava os paraguaios a buscar outra imagem de si
mesmo:
A consciência dessa inferioridade é que leva o paraguaio mais sentimentalmente
patriótico a procurar nas águas do seu rio e das suas lagoas a imagem de um
Paraguai maior e melhor que o de hoje. Maior e melhor que todos os Paraguais
possíveis (2003: p. 75).

Nessa luta constante para superar as contingencialidades precárias, carregando o


pesado fardo do passado histórico e sem perspectivas de futuro, o Paraguai se permitiu
oportunizar a instalação do comércio de importados na Ciudad Del Este. Pela sua
história política de apoio popular a governos autoritários, é possível que o Paraguai
aceite com mais facilidade em seu território, a implantação da base militar
estadunidense. Esse é o tipo de terror que pode haver no Paraguai. Não o financiamento
ao terrorismo, mas a facilidade com que o país se abre aos Estados Unidos gerando
insegurança para os países da região do Cone Sul e em toda América do Sul. Por outro
lado, os Estados Unidos buscam legitimar suas ações no exterior fundamentando-se e
justificando-as pelos próprios princípios, “É por isso que sempre foi tão fácil para tantos
americanos acreditar, como muitos ainda crêem hoje, que, ao promover seus próprios
interesses, promovem os interesses da humanidade” (Kagan, 2003: p. 89)
Quanto a Argentina, os estudos sobre sua política externa surgiram na metade dos
anos 1960, até então parece ter havido um certo isolacionismo por parte de seus
intelectuais da diplomacia (Paradiso: 2005). Isso é derivado de visão política de
personalismos, aos moldes do Paraguai. Dizia um crítico político nos idos de 1914
(Paradiso: 2005, p. 12):
Enquanto os Estados Unidos aumentaram seu território em mais de 7 milhões de
Km2 , e ganharam 15 milhões de habitantes em negociações diplomáticas;
enquanto o Brasil ampliou seu território em cerca de 900 mil km2 em um século e
ganhou vários milhões de habitantes sem disparar um só tiro, no mesmo lapso de
tempo a República Argentina perdeu 64 mil léguas férteis de territórios e 8
milhões de habitantes... Não sabemos negociar, não sabemos praticar a
diplomacia, e nos extorquiram territórios e habitantes com tratados pusilânimes...

Essa mesma diplomacia, nos anos 1940, dependende do comércio com a Grã-
Bretanha, compradora de 76% da carne argentina, precisaria estar afinada com o Eixo,
pois, como diz o embaixador argentino Miguel Angel Cárcano (In: Paradiso: 2005, p.
126):

63
O rompimento das relações com os países do Eixo pode signifcar o rompimento
de relações com a Europa, com quem negociamos e estamos vinculados
culturalmente desde antes da nossa independência, em uma medida e proporção
que nenhum outro país americano possui”.

Junto com o apoio aos países do Eixo, a Argentina sonhava com a união dos
países da América Latina, como pode ser visto no livro de Pedro Henríquez Ureña,
intitulado La Utopia de América. Para Ureña, os povos latino-ameircanos estariam
naturalmente destinados a unidade que ultrapassaria as relações comerciais. Esses
pensamentos vieram depois da assinatura do tratado de paz entre Paraguai e Bolívia em
julho de 1935 na Buenos Aires. Paraguai e Bolívia haviam lutado na Guerra do Chaco,
episódio já descrito no primeiro capítulo deste trabalho. Outros tratados também haviam
sido assinados na área comercial. Argentina e Chile haviam firmado acordo comercial no
ano de 1932. Em 1933 foi a vez do Brasil com a Argentina firmarem tratado comercial e
depois em 1935 de navegação, derivado desses acordos a construção da ponte
internacional sobre o rio Uruguai. Esse período que antecedeu a II Guerra Mundial a
Argentina resumiu sua política externa em dois pólos distintos, o primeiro foi a intenção
de se ver neutra no conflito mundial, mas no segundo pólo estavam projetos de
industrialização – o que dependia estar ao lado do vitorioso na II Guerra Mundial.
Entre a tradição de olhar para a Europa como modelo a ser seguido e a novidade
de espelhar-se nos Estados Unidos, a segunda opção se consolida no governo argentino.
Depois de afastado do Ministério da Fazenda, Frederico Pinedo, num discurso em Nova
York, no ano de 1941, afirmava (Paradiso: 2005: p. 132):
Nós, os argentinos, estamos entre aqueles que, com mais freqüência, temos
cometido o sério erro de olhar para a Europa como modelo principal e quase
exclusivo, sem fixar os olhos senão de forma esporádica nesta imensa
nação...Somos obrigados a reparar logo que possível, e tão completamente
quanto sejamos capazes, as conseqüências do relativo isolamento em que temos
vivido com respeito a este país, e precisamos fazê-lo não só em obediência ao
ideal pan-americano, mas pelos interesses positivos e permanentes dos nossos
países.

Foi apenas depois de 1944, quando já havia terminado a II Guerra, que o então
coroneu Juan Domingos Perón (depois presidente a partir de 1946), através de
pronunciamentos públicos, afirmava o desejo da Argentina de fomentar industrias
nacionais e até incrementar seu parque industrial. No entanto, o discurso não passou de
palavras jogadas ao vento e o parque industrial não recebeu maiores incentivos. A
Argentina possou a reproduzir os antigos discursos favoráveis à aproximação com a Grã-
64
Bretanha, escreve Paradiso (2005: p. 148) que “o país passava por um momento
psicológico único para adquirir maciçamente produtos ingleses”. Quando assume a
presidencia da Argentina, Perón disse que (Paradiso, 2005: p. 165): “o país não é um
ponto suspenso no espaço, como nossos nacionalistas dão a impressão de acreditar, mas
parte integral de um mundo que passa por transformações políticas”. Seria, portanto, a
justificativa necessária para a aproximação comercial entre a Argentina e outros países,
epecialmente com os Estados Unidos que na época era responsável por 30% das
exportações mundiais. Paradiso (2005: p. 158) diz que entre 1946 e 1948, “os valores de
toda a América Latina foram aproximadamente de 13%, para depois declinar para 6,8%
em 1960 e 5,4% em 1968”.
A iniciativa de aumentar as relações bilaterais entre Argentina e Estados Unidos,
foi confirmada com a visita do Secretário de Estado Adjunto dos Estados Unidos,
Edward Miller, em 1950 à Argentina. Em contrapartida, o Eximbank concederia um
empréstimo de 125 milhoes de dólares à Argentina para ser “cimento de uma nova era de
colaboração econômica entre as duas nações” (Peterson, 1970: p. 540). Em 1953 a
Argentina assina o Tratado de União Econômica com o Paraguai, e só depois revisa
alguns convênios comerciais com o Brasil. Nesse período as simpatias eram mútuas
entre o presidente Perón e o presidente brasileiro Getúlio Vargas (Paradiso, 2005: p.
183). Dessas premissas concluo que o peronismo não foi um governo isolacionista, pois
procurou manter relações com países da Europa, mas especialmente do continente
americano, mesmo assim, o governo de Perón buscou precaver-se nos acordos
comerciais que constantemente afirmava com os países “amigos”.
A Argentina, durante as duas décadas seguintes, foi governada por Arturo
Frondizi (1958) e Arturo Illia, ambos constitucionais, e também por três outros governos
de origem militar, o que implica na instabilidade das instituições argentinas no período.
Mesmo assim, as relações entre Argentina e Brasil estreitaram-se a ponto de tomarem a
mesma decisão na ONU em diversas questões que poderiam ser de interesse comum
(Paradiso, 2005: p. 207). O que não deixava satisfeito muitos políticos argentinos era o
fato de que o Brasil crescia num ritmo mais acelerado que a Argentina, podendo ter um
peso maior nas decisões, desiquilibrando o poder regional. O que muitos temiam na
Argentina era a possibilidade de se tornarem dependentes economicamente do Brasil.
Disso tudo resulta que na década de 1970 um grupo interpartidário composto de
peronistas, cristãos e socialistas entre outros, divulga o documento Hora del Pueblo, que
pretende, através da revolução libertar-se do colonialismo histórico, do imperialismo
65
estadunidense e até de possíveis dependencias a outros países como o Brasil. O papel da
Argentina no cenário mundial já estava descrito no livro de Mariano Grondona (2005: p.
223): “A missão da Argentina é, assim, reinserir-se no mundo através da América
Latina”.
Mas não era possível a reinserção através de atitudes autoritárias, como a tomada
em 1978, quando os militares queriam anular o laudo arbitral do Canal de Beagle, que
havia sido, no ano anterior, contrário à Argentina e favorável ao Chile; ou ainda o
episódio da Guerra das Malvinas, em meados de 1983, quando enfrentou a Inglaterra.
Resultado, a política argentina, no final de 1983, divulgava sua dívida externa que estava
na casa dos 41 bilhões de dólares; não bastasse isso, o produto per capita havia declinado
13% em relação ao ano de 1974 (Paradiso, 2005: p. 265). A Argentina, como os outros
países da América Latina, parecia crescer aquem de sua capacidade. A preocupação dos
Estados Unidos, à época, com Jimmy Carter e depois com Ronald Reagan, é que a
Argentina exportava para a União Soviética 23,4% dos seus produtos (chegando a 28%
se somados outros países do bloco socialista); a Europa Ocidental comprava 27% e a
América Latina, a Ásia e a África outros 35%; no entanto, os Estados Unidos
compravam apenas 10% das exportações Argentinas (Paradiso, 2005: p. 266).
De tudo isso concluo que os países da Tríplice Fronteira ficaram durante muitos
anos – conforme destaquei alguns episódios, a mercê de governos ora ingênuos, ora
autoritários, ora timidos quanto às negociações internacionais, daí resultar situações
opressivas às sociedades desses países. Questões tratadas no encontro entre so
presidentes José Sarney e Raúl Alfonsín, em 1985 na cidade de Iguaçu. Acordaram com
o fato de que as dificuldades atravessadas pela Argentina e pelo Brasil são resultados de:
problemas complexos decorrentes da dívida externa, o aumento das práticas
protecionistas no comércio internacional, a deterioração permanente dos termos
de intercâmcio e a drenagem de divisas sofridas pelas economias em
desenvolvimento. (Paradiso, 2005: p. 279).

A responsabilidade das dificuldades encontradas nos países da região da Tríplice


Fronteira são transferidas para os Estados Unidos, FMI e outras instituições financeiras,
quase que isentando os países do Cone Sul de seu papel político e sua responsabilidade
econômica. É muito mais fácil acusar o outro, o de fora, o mais forte para que a opinião
pública não se volte contra os governos dessa região. Embora isso pareça ter poucas
implicações políticas entre os Estados, no entando reforça no imaginário desses povos da
região a imagem de que os Estados Unidos é o grande responsável pela situação precária

66
em que vivem. Enquanto isso os governos saem quase que ilesos do processo crítico e da
crítica política. A Argentina, em particular, assim como outros países da América Latina
em geral, passaram por muitos governos chamados de transição democrática. Este é o
caso da Argentina que desde 1958 tem passado por experiências de governos de
transição. Ora, um povo cujo sentimento é de insegurança interna, por tais tipos de
governos transitórios, cujo discurso é de hostilidade ao poder hegemônico internacional
e suas instituições financeiras, pode servir de base para apoio às ações terroristas.

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http://www.scielo.br/scielo.php/lng_en acessado em 04/05/2005

74
Montenegro, Silvia M. Discursos e Contradiscursos: o olhar da mídia sobre o islã no
Brasil http://www.revistamana@alternex.com.br - acesso em 10/05/2006
Peixoto, Renato Amado. A Religião nas Relações Internacionais Contemporâneas.
http://www.infolink.com.br/amado acesso em 07/12/2005
VIOLA, Eduardo & LEIS, Héctor Ricardo (2001), Os dilemas civilizatórios da
globalização frente ao terrorismo fundamentalista, Cena Internacional, Ano 2, Vol. 3
(Publicação digital do RELNET - Site Brasileiro de Referência em Relações
Internacionais, Departamento de Relações Internacionais da UnB e Fundação Alexandre
Gusmão do MRE, Brasília) http://www.relnet.com.br - Acesso em 15/09/2006

IV – Revistas

Delmo Moreira. Quando os impérios atacam. Época, 1 outubro de 2001 (páginas 44 –


49).
Eurípedes Alcântara. O mal é o terror. Veja, s/d (páginas amarelas).
José Eduardo Barella. Cerco ao Terror. Veja, 19 de março de 2004 (páginas 94 – 97).
José Eduardo Barella. O Massacre dos Inocentes. Veja, editora abril, 8 de setembro de
2004 (páginas 106 – 121).
José Eduardo Barella. O Terror vai continuar. Veja, 23 de junho de 2004 (páginas
amarelas)
Marcelo Musa Cavallari. Os Senhores da Guerra. Época, 19 de abril de 2004 (páginas
72 – 74).
Michael Isikoff, Mark Hosenball and Richard Wolffe. War on Terror. Newsweek,
november 8, 2004 (páginas 28 – 31).
Neuza Sanches e Marina Monzillo. O Dia em que o planeta parou. Isto É Gente, 17 de
setembro de 2001 (páginas 19 – 34)
Olavo de Carvalho. A lógica do terrorismo. Época, 6 de outubro de 2001.
Robert Rosenberg. O Negócio do Terror. Expresso. 30 de agosto de 1997 (páginas 48 –
55).
Vários autores. Este Mundo Nunca Mais Será o Mesmo. Veja (especial), 19 de setembro
de 2001 (toda a revista).
Vários autores. 11 de setembro: o mundo nunca mais foi o mesmo. Veja (especial), 11 de
setembro de 2002 (toda a revista).

V - Outros

SAINT-PIERRE, Héctor Luis. As novas alternativas no âmbito da Segurança


Internacional e os seus efeitos sobre as relações entre civis e militares no Brasil.
Brasília: Brazil Center for Hemispheric Defense Studies – Palestra apresentada em
agosto de 2002.

RABOSSI, Fernando. Temporalidades misturadas e deslocamentos na


fronteira (Ciudad del Este, Paraguai). No Simpósio realizado no
Museu Nacional dias 24 a 26 de agosto de 2005 no Museu Nacional
do Rio de Janeiro. Colóquio Quantificação e Temporalidade JUST FOR
INTERNAL USE. Sessão 1 – Transações, Consumo e Temporalidade NOT TO BE
QUOTED.

75
Resultado/Contagem de Freqüência - Transatlantic Trends, com apoio das organizações
The German Marshall Fund of the United States e a Compagnia di San Paolo, a
Fundação Luso-Americana e Fundación BBVA, fizeram pesquisa em onze países da
Europa e os Estados Unidos durante os dias 30 de maio a 17 de junho de 2005. Acesso
dia 10 de março de 2006.

76
ANEXOS

Mapa 1 – A região da Tríplice Fronteira na América do Sul, destaco em azul o Aqüífero


Guarani.

Gráfico 1 – Extraído do Transatlantic Trends, 2005.

77
Anexo 1 – Extraído do Transatlantic Trends, 2005.

Anexo 2 - Extraído do Transatlantic Trends, 2005.

78
Anexo 3 - Extraído do Transatlantic Trends, 2005.

79
Anexo IV – Extraído do Ministério da Fazenda

Ministério da Fazenda
Conselho de Controle de Atividades Financeiras
SAS Qd. 03 Bl. “O” Edifício Órgãos Regionais do MF, 7º Andar – CEP: 70070-100
Brasília – DF - Fone: (61) 412-4746 - Fax (61) 226-0641- e-mail: coaf@fazenda.gov.br
C
Sumário Público do Relatório da Segunda Avaliação Mútua da
República Federativa do Brasil no âmbito do Grupo de Ação
Financeira contra a Lavagem de Dinheiro
(GAFI/FATF) – Junho de 2004
Introdução
1. Este sumário sobre as 40 Recomendações para o Combate à Lavagem
de Dinheiro e sobre as 8 Recomendações Especiais para o Combate ao
Financiamento do Terrorismo foi preparado por representantes de países
membros do Grupo de Ação Financeira contra a Lavagem de Dinheiro
(GAFI/FATF) e do Grupo de Ação Financeira da América do Sul contra a
Lavagem de Dinheiro (GAFISUD) e por membros dos respectivos
Secretariados de GAFI/FATF e GAFISUD.
O relatório apresenta um sumário do grau de cumprimento das 40
Recomendações do GAFI/FATF, adotadas em 1996, e das 8
Recomendações Especiais do GAFI/FATF, adotadas em 2001, bem como
sugere recomendações para o fortalecimento do sistema brasileiro de
combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo. Os
pontos de vista expressados neste documento são aqueles da equipe de
avaliadores e que posteriormente foram adotados pela Plenária do
GAFI/FATF.
Informações e metodologia utilizadas na avaliação
2. Durante a elaboração da avaliação detalhada, os avaliadores
analisaram as leis e outros normativos relevantes de combate à lavagem
de dinheiro e ao financiamento do terrorismo, a capacidade e a
implementação dos sistemas de aplicação das leis penais, e os sistemas
de regulamentação e supervisão em vigor para os seguintes setores:
bancos, casas de câmbio, mercado de valores, mercado de seguros, e
empresas de remessa alternativa de valores a fim de impedir a lavagem
de dinheiro e o financiamento do terrorismo. No período de 3 a 7 de
novembro de 2003, a equipe de avaliadores visitou diversos órgãos da
administração pública brasileira, tendo tido reuniões com várias
autoridades dos Poder Executivo, Poder Judiciário e Ministério Público,
bem como visitas a instituições financeiras e entidades representativas
de alguns setores. Nesse sentido, houve reuniões com os seguintes
órgãos: Conselho de Controle de Atividades Financeiras (a unidade de
inteligência financeira brasileira), o Ministério da Justiça, o Superior
Tribunal de Justiça, o Banco Central do Brasil, o Departamento de Polícia
Federal, a Procuradoria Geral da República, a Secretaria da Receita
Federal, a Agência Brasileira de Inteligência, a Superintendência de
Seguros Privados e a Comissão de Valores Mobiliários.
Houve também reuniões com as seguintes instituições financeiras
públicas e privadas e entidades representativas de alguns setores: Caixa
80
Econômica Federal, Banco do Brasil, FEBRABAN, Banco Nossa Caixa,
UNIBANCO, e FENASEG.
Panorama do setor financeiro
3. As instituições financeiras brasileiras que operam no mercado
doméstico são, em geral, diversificadas, dinâmicas e competitivas. O
Brasil tem aproximadamente 168 bancos comerciais 2 e múltiplos com
ativos somando aproximadamente US$ 349 bilhões 1 e patrimônio líquido
de aproximadamente US$ 49 bilhões. Havia também 45 empresas de
crédito, 18 sociedades de crédito, 9 empresas hipotecárias, 40
sociedades de crédito imobiliário, 58 empresas de leasing, e 1.381
cooperativas de crédito. Em novembro de 2003, o Brasil tinha 149
corretoras de valores e 145 distribuidoras de valores. Até 2002, havia
140 sociedades seguradoras, 18 sociedades de capitalização, 77
entidades abertas de previdência complementar e 78.500 corretores de
seguros.
4. Operações de câmbio podem ser realizadas somente por bancos ou
entidades autorizadas pelo Banco Central, incluindo 43 empresas
corretoras de câmbio, 268 agências de viagem e 8 hotéis autorizados a
realizarem operações de câmbio. Remessas internacionais de dinheiro
podem somente ser realizadas por meio do sistema bancário, quer seja
diretamente por bancos autorizados, quer seja por meio de um cliente
de um banco, sempre regido por um contrato. Atualmente somente um
banco (Banco do Brasil) possui um contrato dessa natureza com a
empresa Western Union.
Situação Geral da Lavagem de Dinheiro e do Financiamento do
Terrorismo
5. As autoridades brasileiras informaram que as principais fontes de
recursos ilícitos são os crimes contra o sistema financeiro nacional, tais
como a fraude e o desfalque financeiro, tráfico de drogas e evasão fiscal.
A lavagem de dinheiro no Brasil foi considerada estar inicialmente
associada a um crime doméstico, que inclui o contrabando de bens e
corrupção, tráfico de drogas e crime organizado, crimes que geram
fundos que podem ser lavados através do sistema financeiro, de
investimento imobiliário ou do mercado de ativos financeiros. O dinheiro
ilegal geralmente deixa o país em busca de proteção em um centro
offshore e retorna disfarçado de investimento ou empréstimo. As técnicas
mais freqüentes consistem no envio de dinheiro para o exterior por meio
de mecanismos legais ou ilegais, uso de contas abertas em nome de
“laranjas” e o uso de bingos e loterias.
6. A situação geográfica do Brasil, com fronteiras com dez países e quase
8.000 Km de faixa costeira, representa um desafio a mais na luta contra
atividades criminais, especialmente a área da Tríplice Fronteira entre
Brasil, Argentina e Paraguai (Foz do Iguaçu). Nessas áreas específicas, a
Polícia Federal informou haver um extensivo contrabando de moeda
utilizando-se de veículos. Com relação a tipologias de financiamento do
terrorismo, a Polícia Federal, conjuntamente com autoridades de outros
países, tem monitorado a área da Tríplice Fronteira. No entanto, não há,
até o momento, nenhum indício de qualquer atividade ligada ao
financiamento do terrorismo naquela região.
Principais diagnósticos
7. O Brasil estabeleceu um sistema legal e regulatório compreensivo no
que tange ao combate à lavagem de dinheiro. A Lei 9.613/98 e os
81
normativos específicos para os setores econômicos incorporaram os
órgãos de supervisão financeira a esse regime, bem como parecem estar
assegurando amplamente o cumprimento das medidas por parte do setor
financeiro. O Brasil apresentou aperfeiçoamentos legislativos desde a sua
primeira avaliação mútua, especialmente flexibilizando as regras de sigilo
bancário, a fim de permitir ao COAF ter um 1 Em novembro de 2003 a taxa de
câmbio era de US$ 1 = R$ 3,49.
3 acesso mais amplo às informações financeiras. O Brasil ampliou
também o rol de crimes antecedentes da lavagem de dinheiro, incluindo
o financiamento do terrorismo e o suborno a agentes públicos
estrangeiros. O COAF desempenha um importante papel de coordenação
dessas medidas. Mais de 24.000 comunicações de operações suspeitas
foram recebidas até setembro de 2003 e a Polícia Federal tem realizado
um número crescente de investigações sobre lavagem de dinheiro.
Finalmente, o Brasil estabeleceu recentemente varas regionais
especializadas em julgar casos de lavagem de dinheiro e crimes
financeiros.
8. Entretanto, algumas deficiências permanecem. O sigilo bancário ainda
limita a capacidade da autoridade de supervisão do mercado de valores
de fiscalizar totalmente o setor e compartilhar todas as informações com
agências equivalentes estrangeiras. Apesar de as instituições financeiras
estarem obrigadas a identificar os titulares e controladores de contas de
pessoas jurídicas, foi recomendada uma obrigação mais direta de
identificação do beneficiário final de tais contas, bem como os
pagamentos de prêmios de seguros. Apesar de os mecanismos
estruturais brasileiros de provimento de assistência legal serem
compreensivos, o país deveria buscar formalizar acordos adicionais e
considerar o fortalecimento da base legal para assistência além do
tratado (“assistência direta”), a fim de expandir sua capacidade em
fornecer assistência legal. O Brasil precisa também adotar medidas mais
claras de combate ao financiamento do terrorismo, especialmente a
criminalização adequada do financiamento do terrorismo, a fim de estar
em total conformidade com as Resoluções do Conselho de Segurança das
Nações Unidas e aperfeiçoar as medidas de congelamento e seqüestro de
bens e ativos ligados ao financiamento do terrorismo. Finalmente, o Brasil
precisa demonstrar mais claramente, por meio das estatísticas de
processos, julgamentos e condenações, a efetividade de seu sistema de
combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo. O
recente estabelecimento das varas regionais especializadas para julgar
casos de lavagem de dinheiro e crimes financeiros é um resultado
positivo e, no momento em que estiverem totalmente em operação,
poderá auxiliar na demonstração da efetividade do sistema. 2
Medidas penais e cooperação internacional
(a) Criminalização da lavagem de dinheiro e do financiamento do
terrorismo
9. A Lei 9.613/98 (Lei brasileira antilavagem de dinheiro) tipificou a
lavagem de dinheiro como crime, sendo considerado suficientemente
ampla em termos de definição do crime, crimes antecedentes, intenção e
conhecimento requeridos para provar o crime, e as sanções aplicáveis. A
Lei cria oito categorias de crimes antecedentes graves para a lavagem de
dinheiro, incluindo terrorismo, corrupção, crimes cometidos por
organização criminosa, crimes contra o sistema financeiro nacional, tais

82
como fraude e desfalque. As Leis 10.467/02 e 10.701/03 respectivamente
incluíram o suborno a agentes públicos estrangeiros e o financiamento do
terrorismo como crimes antecedentes da lavagem de dinheiro. Tendo em
vista que não existe estatística nacional disponível sobre processos e
condenações pelo crime de lavagem de dinheiro, torna-se difícil avaliar a
efetividade do escopo dessas medidas legais. 2 Em dezembro de 2003, a
Estratégia Nacional de Combate à Lavagem de Dinheiro (ENCLA), que reúne todos os
Ministérios e agências envolvidos no tema, estabeleceu, dentre outras metas, a de
estabelecer um sistema de estatísticas nacionais sobre investigações, julgamentos e
condenações de lavagem de dinheiro, trabalho esse coordenado pelo Departamento de
Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça.
10. O Brasil ratificou a Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico
Ilícito de Drogas e Substâncias Psicotrópicas de 1988 (Convenção de
Viena). Também assinou a Convenção Internacional das Nações Unidas
para a Supressão do Financiamento do Terrorismo e a Convenção das
Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional; no entanto,
nenhuma delas havia sido ratificada à época da visita3. O Brasil editou
uma série de Decretos Presidenciais para implementar as Resoluções
mais relevantes do Conselho de Segurança das Nações Unidas,
incorporando o texto das Resoluções no regime jurídico doméstico.
11. O Brasil ainda não ratificou a Convenção para a Supressão do
Financiamento do Terrorismo, nem criminalizou o financiamento do
terrorismo de acordo com os requerimentos da Convenção, o que,
portanto, faz com que não tenha implementado totalmente as
disposições da Resolução 1373 do Conselho de Segurança das Nações
Unidas.
(b) Confisco de produtos do crime ou de propriedades usadas para
financiar o terrorismo 12. Medidas legais para o congelamento e o
confisco de bens e ativos ligados à lavagem de dinheiro são consideradas
suficientemente amplas. O Código Penal estabelece de maneira geral o
confisco de bens, direitos e valores resultantes de qualquer crime depois
da sentença de culpabilidade, o que incluiria produtos e instrumentos
utilizados ou que poderiam ser utilizados nas atividades de lavagem de
dinheiro e seus crimes antecedentes. A Lei 9.613/98 contém medidas
adicionais de confisco, bem como outras medidas legais compreensivas
incluindo mandados de prisão ex-parte.
13. As autoridades brasileiras não apresentaram estatísticas
compreensivas sobre o montante de ativos congelados, seqüestrados ou
confiscados. O montante confiscado em favor do Fundo Nacional
Antidrogas, de aproximadamente R$ 290.000, é considerado pequeno,
dado o tamanho do comércio de drogas conforme apresentado pelas
autoridades brasileiras. Assim, torna-se difícil determinar a real
efetividade das medidas legais.4
14. Com relação ao congelamento e seqüestro de fundos relativos às
Resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, não ficou claro
se os fundos podem ser congelados sem uma ordem judicial, fato que
seria insatisfatório para o caso da Resolução 1267 do Conselho de
Segurança. A capacidade dos bancos de congelar fundos relativos às
mesmas Resoluções deveria ser aperfeiçoada. Por outro lado, as
autoridades brasileiras reportaram que elas têm procurado fundos e
contas bancárias em todos os bancos de dados disponíveis que possam
estar ligados a pessoas e organizações terroristas constantes das listas

83
apresentadas pelos países, porém nenhum caso foi encontrado e nenhum
processo judicial foi iniciado nesse sentido.
(c) A unidade de inteligência financeira e o processo de recebimento,
análise, e disseminação de informação financeira ou inteligência
financeira nos níveis doméstico e internacional
15. A Lei 9613/98 criou o Conselho de Controle de Atividades Financeiras
(COAF) para funcionar como a unidade de inteligência financeira (FIU) do
Brasil. As principais atribuições do COAF são: regular e baixar instruções
para aqueles setores que não são fiscalizados por nenhum - 3 O Brasil
ratificou a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional em
29 de janeiro de 2004 e a promulgou por meio do Decreto 5.015 de 12 de março de
2004.
4 O Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do
Ministério da Justiça foi formalmente estabelecido pelo Decreto 4.991 de 18 de fevereiro
de 2004. Uma de suas metas é aperfeiçoar as estatísticas nessa área.
5 órgão de supervisão (incluindo bingos, imobiliárias, empresas de
factoring, administradoras de cartão de crédito, etc.), além de aplicar
sanções administrativas. O COAF também coordena e desenvolve
políticas de cooperação e intercâmbio de informações na luta contra a
lavagem de dinheiro. O COAF é membro do Grupo de Egmont desde
1999.
16. O COAF é vinculado ao Ministério da Fazenda e é composto por uma
Plenária (o Conselho) e por uma Secretaria Executiva. O Conselho é
formado pelo Presidente e 10 Conselheiros ou representantes de órgãos
governamentais que compartilham as responsabilidades de combate à
lavagem de dinheiro e se reúnem periodicamente. A Secretaria
Executiva, que atualmente é composta por 25 servidores, desempenha
as funções rotineiras do COAF.
17. O COAF funciona efetivamente e desempenha um papel de
coordenação das políticas de combate à lavagem de dinheiro no Brasil.
As entidades reguladas pelo COAF, bem como o setor de seguros,
encaminham as comunicações de operações suspeitas diretamente ao
COAF. O mercado de valores primeiramente envia suas comunicações ao
seu órgão regulador (CVM) que então as retransmite integralmente ao
COAF, onde são inseridas no banco de dados do COAF. A legislação após
a primeira avaliação mútua (Lei Complementar 105/01) permitiu ao COAF
ter acesso a todas as informações contidas nas comunicações de
operações suspeitas provenientes dos bancos e também ter acesso a
informações adicionais das entidades obrigadas a reportar.
Assim, o COAF tem acesso total e direto às comunicações de operações
suspeitas dos bancos no momento em que elas entram no sistema de
informações do Banco Central (SISBACEN). Como resultado, o COAF pode,
de forma mais completa, compartilhar aquelas informações com
unidades de inteligência financeira de outros países.
(d) Autoridades de persecução e aplicação da lei, seus poderes e
atribuições
18. O Brasil montou uma estrutura adequada de autoridades que possam
combater de forma efetiva a lavagem de dinheiro e o financiamento do
terrorismo. A Divisão de Repressão a Crimes Financeiros da Polícia
Federal (DFIN) investiga casos de lavagem de dinheiro, especialmente
aqueles ligados a crimes contra o sistema financeiro nacional. O DFIN
está trabalhando no sentido de criar seis unidades regionais, com o
intuito de atuar mais proximamente das varas regionais especializadas
84
em lavagem de dinheiro e crimes financeiros. Três unidades já foram
estabelecidas – em Brasília, em São Paulo e no Rio de Janeiro. A Polícia
Federal registrou um número crescente de investigações sobre casos de
lavagem de dinheiro nos últimos anos – 124 casos em 2000, 183 casos
em 2001, 363 em 2002, e 353 em 2003 (até novembro).
19. A Secretaria da Receita Federal, que inclui em sua pasta o controle
aduaneiro, investiga a lavagem de dinheiro relacionada a crimes sob sua
jurisdição tais como contrabando de diversos produtos ligados também
ao tráfico de drogas.
20. A Procuradoria Geral da República é responsável pela defesa da
ordem legal e do regime democrático. Os promotores, no nível estadual,
e os procuradores, no nível federal, estão encarregados de persecução de
todos os crimes. Não existe estatística precisa sobre o número de
processos e condenações por lavagem de dinheiro; no entanto, a
Secretaria da Receita Federal informou haver 9 casos de condenações,
em primeira instância, por crime de lavagem de dinheiro ligado a
atividades sob sua jurisdição.
6
21. Em maio de 2003, foram estabelecidas as varas regionais
especializadas em julgar crimes financeiros e lavagem de dinheiro. Um
juiz é o titular de cada uma dessas varas e supervisiona as sentenças e a
quebra de sigilo bancário. O Procurador Geral coordena o trabalho
investigativo da Polícia Federal e a assistência dos órgãos de supervisão
financeira. Até novembro de 2003, cinco varas especializadas estavam
totalmente em operação: Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, Rio de
Janeiro e Fortaleza. Essas recém estabelecidas varas intensificarão os
esforços ao direcionarem recursos e atenção ao combate à lavagem de
dinheiro e crimes conexos; elas auxiliarão também outras autoridades
brasileiras a identificarem casos e avaliarem o sistema de maneira mais
ampla e efetiva.
22. Considerou-se que as autoridades de aplicação da lei têm acesso
adequado a informações e técnicas investigativas para persecuções;
informações e registros bancários podem ser obtidos por meio de ordem
judicial.
(e) Cooperação Internacional
23. O Brasil pode prover assistência mútua legal (MLA) no contexto de
um tratado ou com base na reciprocidade; uma carta rogatória não será
aplicada em caso de medidas coercivas tais como a quebra de sigilo
bancário. O Brasil tem atualmente nove acordos em vigor e está
negociando vários outros. O Brasil pode também prover assistência
atendendo a pedidos de “assistência direta” por meio da qual as
autoridades brasileiras apresentam diretamente a juízes brasileiros
pedidos estrangeiros por informações que requerem autorização judicial,
tais como produção de registros e quebra de sigilo bancário. A corte
revisará o mérito do pedido e autorizará a quebra do sigilo se concluir
que o pedido está em conformidade com a legislação brasileira.
Entretanto, a base legal para esse tipo de assistência não é inteiramente
clara. O Brasil, portanto, deveria considerar o estabelecimento de uma
base legal mais clara e mais precisa para esse tipo de assistência. Além
disso, assinar mais acordos escritos contribuirá para assegurar uma
cooperação internacional efetiva.

85
24. A capacidade do Brasil em prover assistência legal para casos de
financiamento do terrorismo é em geral compreensiva, por meio de
tratados, acordos ou assistência direta. No
entanto, além da ausência de clareza com relação à estrutura legal para
a assistência direta, também não ficou claro como o Brasil seria capaz de
extraditar uma pessoa por crime de financiamento do terrorismo, dado
que a dualidade criminal é necessária para a extradição. 25. O Brasil
recebeu 40 pedidos de assistência mútua legal, 741 cartas rogatórias
entre janeiro de 1999 e maio de 2003; no entanto, as autoridades não
apresentaram informações adicionais sobre o número de respostas a
esses pedidos, ou o conteúdo e o prazo para essas respostas. Até
novembro de 2003, o Ministério da Justiça processou aproximadamente
15 pedidos de assistência direta.
26. A Lei 9.613/98 estabelece medidas legais adequadas para a partilha
de bens confiscados com autoridades estrangeiras, no entanto, não
existe estatística disponível sobre essa medida.
27. À época da visita, o Brasil estava finalizando a criação do
Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica
Internacional no âmbito do Ministério da Justiça. 5 Quando estiver
totalmente em operação em bem equipada em termos de recursos
humanos, essa unidade -5 Vide nota anterior.

7
auxiliará mais efetivamente o país a responder aos pedidos de
assistência mútua legal e colaborará para manter estatísticas mais
compreensivas e assim mais facilmente avaliar a efetividade do sistema
brasileiro de combate à lavagem de dinheiro e financiamento do
terrorismo.
Medidas preventivas para as instituições financeiras
(a) Instituições financeiras
28. O Brasil designou as autoridades competentes para supervisionar as
instituições financeiras. O Conselho Monetário Nacional (CMN) é a maior
órgão decisório do sistema financeiro nacional, composto pelo Ministério
da Fazenda, o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e pelo
presidente do Banco Central (BACEN).
29. Banco Central licencia e supervisiona bancos e outras instituições,
como cooperativas de crédito, casas de câmbio e agências de viagens e
hotéis que fazem operações de câmbio. A unidade conta lavagem de
dinheiro do Banco Central (DECIF) supervisiona o cumprimento das
normas antilavagem. O DECIF possui 9 unidades regionais e 229
funcionários. A Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) regula e
supervisiona o mercado de seguros, capitalização e resseguros. A
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) supervisiona o mercado de bolsas
de valores e atividades afins. A Caixa Econômica Federal supervisiona as
loterias.
30. A lei complementar 105 sanou uma deficiência encontrada na
primeira avaliação ao permitir ao COAF acesso às informações no STR.
Contudo, sigilos como o bancário ainda impedem o acesso do COAF a
informações adicionais. O sigilo bancário também impede a CVM de
supervisionar plenamente o setor e cooperar com congêneres
estrangeiras.

86
31. A lei 9613/98 cria uma grande estrutura para a prevenção da
lavagem de dinheiro, obrigando um grande leque de instituições
financeiras. A lei determina a identificação do cliente, manutenção de
dados e comunicação de operações suspeitas, que devem ser
especificadas e supervisionadas pelas instituições reguladoras existentes.
32. As normas a serem seguidas pelos bancos estão na resolução 2025
do CMN a na circular 2852 do BACEN. As normas para os mercados de
valores estão na instrução normativa 301 da CVM e o setor de seguros
obedece a circular 200 da SUSEP.
33. As normas para a verificação da identidade do cliente são bastante
abrangentes.
Instituições financeiras também são obrigadas a verificas a identidade do
dono e controladores de pessoas jurídicas. Contudo, não existem normas
para verificar a identidade de um cliente que abriu uma conta por
procuração. Na questão dos seguros, só existem normas para identificar
terceiros que recebem indenizações acima de R$10mil ou fiadores.
Normas para identificar clientes cujas contas são abertas por
procuradores devem ser postas em prática, uma vez que esta é uma
prática comum para a lavagem de dinheiro no Brasil. O BACEN está
estudando mudanças neste sentido.
34. A legislação e as normas são boas quanto à diligência para comunicar
operações atípicas
ou suspeitas e operações efetuadas em circunscrições sensíveis à
lavagem de dinheiro. O Banco Central e o COAF emitiram várias
circulares para diminuir o risco de lavagem quando feitas operações com
países não cooperantes com o GAFI.
35. Provisões para a manutenção de dados são abrangentes.
36. Normas para comunicação de operações suspeitas são abrangentes e
eficientes. As leis que controlam as agências reguladoras contêm
medidas adequadas para evitar que o cliente saiba que está sendo
investigado. Possuem também determinações abrangentes para
comunicar operações suspeitas além de uma lista de indicadores de
operações suspeitas a serem informados.
Os setores de valores mobiliários e seguros têm uma regulamentação
menos abrangente, pois, apesar de exigir a comunicação de operações
com valores superiores a R$10mil ou transações que se enquadram em
determinados parâmetros, estes parâmetros não são suficientemente
específicos. Houve um aumento no número de comunicações de
operações suspeitas feitas pelo setor de seguros. Estatísticas do BACEN e
da COAF mostram o seguinte numero de operações de 1999 a setembro
de 2003: Setor Financeiro Total de operações suspeitas comunicadas
BACEN 14.898 SUSEP 767 CVM 30 Fundos de Pensão 11.
37. A Lei 10701/03incluiu o financiamento ao terrorismo com o crime
anterior para efeitos de lavagem de dinheiro. Isto obrigou as diferentes
instituições de comunicar transações suspeitas de estarem financiando o
terrorismo.
38. Instituições financeiras são obrigadas a terem programas de
prevenção à lavagem de dinheiro, incluindo o treinamento e setores de
compliance, apesar de não haver auditorias ou investigações sobre seus
funcionários. Também não existe regulamentação para a supervisão de
agências de bancos brasileiros no exterior. O BACEN está assinando

87
acordos para fazer valer as medidas brasileiras nestas agências além de
poder controla-las melhor.
39. Existem controles abrangentes para impedir que pessoas envolvidas
em certos crimes controlem instituições financeiras. A resolução
3041/2002 e a circular do BACEN 3172/2002
estabeleceu normas específicas para instituições financeiras contratarem
diretores e executivos. O candidato deve ter boa reputação e não ter sido
condenado por nenhum crime listado na resolução como crimes contra o
sistema financeiro ou que impeçam as pessoas de exercer função
pública. Uma norma para prevenir criminosos de possuírem contas
bancárias ainda não existe.
40. Autoridades reguladoras possuem ferramentas adequadas para a
sanção e supervisão de instituições, com a exceção da CVM que, devido
ao sigilo bancário não pode desempenhar suas funções adequadamente.
41. Existem problemas quanto à supervisão de instituições não bancárias
de câmbio, como agencias de viagens e hotéis, que não possuem
recursos ou vontade de comunicar tais operações. O BACEN está
elaborando normas para regular este setor levando em consideração seu
perfil.
9
42. A cooperação entre as agências reguladoras é boa, contudo, a CVM
não pode acessar certas informações resguardadas por sigilo, desta
forma ela não pode implementar controles
aceitos internacionalmente. O Brasil não pode assinar o IOSCO MOU
multilateral.
(b) Outros setores
43. A lei de lavagem de dinheiro brasileira (lei 9613/98) também tingiu
instituições financeiras não bancárias e empresas e procissões não
financeiras. As resoluções do COAF de 1 a 8 editadas em 1999 e a
resolução 10 editada em 2001, define as obrigações para os setores do
quadro abaixo (a resolução 9 modifica as resoluções 3 e 5). Cada
resolução especifica tipos de informação que devem ser registradas.
Cada resolução também contém procedimentos para comunicar
operações suspeitas, que devem ser encaminhadas diretamente ao
COAF.
44. A tabela abaixo indica o setor obrigado, a resolução do COAF
tipificando a operação suspeita e o número de comunicações desde
1999:
Resolução Setor Identificação do cliente e registro da operação
Número de comunicações suspeitas
45. A Lei 10701/03 modificou a Lei 9613/98 para incluir as pessoas físicas
e jurídicas que negociam com bens de luxo na lista das pessoas
obrigadas. O COAF está preparando novas resoluções para implementar
novas tipificações.
(c) Controles e monitoramento de dinheiro e transações transfronteiriças.
46. A carta circular do BACEN 3098 de 11/06/03 obriga instituições
financeiras a comunicar operações em dinheiro acima de R$100mil. O
BACEN informou haver recebido 17.842 comunicações desde 29 de
outubro de 2004. Este grande número de comunicações indica que existe
uma grande movimentação de dinheiro em espécie na economia, um fato
que deve ser mantido em mente para prevenir a lavagem de dinheiro.

88
1047. A lei 9069/95 requer que todos as movimentações de recursos, em
moeda local ou estrangeira, para dentro ou fora do país sejam efetuadas
pelo sistema bancário e que o remetente e o favorecido sejam
identificados. Esta lei e regulamentações subseqüentes requerem que
pessoas viajando ao exterior com dinheiro, cheque ou cheques de
viagem em quantia superior a R$10mil ou seu equivalente em moeda
estrangeira declare-o à Secretaria da Receita Federal SRF. A SRF analisa
estas comunicações e investiga possíveis ilícitos. Atualmente estas
informações não estão em meio eletrônico, mas um grupo de trabalho
composto pelo COAF, BACEN e SRF está estudando a informatização do
procedimento e a instalação de comparar uma lista de suspeitos com as
listas de passageiros das companhias de transporte internacional. As
estatísticas destas comunicações não estão prontamente disponíveis,
apesar de constarem da avaliação entregue ao GAFI.
Sumario do comparativo das recomendações e sua
implementação.
48. O Brasil cumpre total ou na maior parte todas as 40 recomendações
do GAFI. No entanto, o Brasil precisa adotar rapidamente mais medidas
conta o financiamento do terrorismo.
Tabela 1. Plano de ação recomendado para melhorar a estrutura legal e
institucional e para o fortalecimento da implementação de medidas
contra a lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo no setor e
bancário, de seguros e valores mobiliários.
Medidas legais e de cooperação internacional
Ação recomendada
I- Criminalização da lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo
O Brasil deve ratificar a Convenção de Financiamento ao Terrorismo.
Deve também tipificar o crime de financiamento ao terrorismo. Deve
também continuar a implementação de varas especializadas em lavagem
de dinheiro e crimes financeiros.
II- Confisco de bens provenientes de crimes ou usados para financiar
terrorismo. O Brasil deve ampliar as medidas legais para permitir que as
autoridades confisquem os bens de terroristas
III- A Unidade de Inteligência Financeira e procedimentos para o
recebimento, análise e disseminação de informações financeiras e outras
informações na esfera nacional e internacional. O Brasil deve alterar sua
regulamentação de sigilo bancário para permitia ao COAF obter estes
dados relacionados a comunicações suspeitas.
IV- Poderes e deveres de organizações policiais e Ministério Público. O
Brasil deve ampliar o numero de investigadores e promotores
especializados em lavagem de dinheiro. Deve também aparelhar os
órgãos de investigação e as varas especializadas.
V- Cooperação internacional O Brasil deve se certificar que esta
prestando assistência direta aos pedidos de informação e que este
processo seja eficiente. Deve considerar uma melhor
base legal para a cooperação internacional direta. Para isso deve firmar
mais acordos a esse respeito. O Brasil deve tornar o financiamento ao
terrorismo uma tipificação autônoma para possibilitar a extradição nesse
tipo de crime. O Brasil deve ratificar a Convenção de Financiamento ao
Terrorismo Estrutura legal e institucional para instituições financeiras
I- Estrutura geral O Brasil deve alterar a lei complementar

89
105 para permitir a CVM o acesso a informações de forma a ajudar na
fiscalização. Deve também reformular a lei de sigilo bancário para
autorizar os órgãos encarregados da lavagem de dinheiro a ter acesso a
estas informações.
II- Identificação do cliente O Brasil deve considerar medidas para
identificar melhor o titular das contas, em específico as pessoas jurídicas
e informar transações de seguros de qualquer valor. O BACEN deve
continuar a monitorar as contas CC5 usadas para lavar dinheiro e seus
titulares. As transferências eletrônicas devem identificar melhor as
partes.
III- Monitoramento de contas e operações Cumpre integralmente
IV- Manutenção de dados Cumpre integralmente
V- Comunicação de operações suspeitas Devem ser comunicadas todas
as operações sem limite mínimo de valor.
VI- Controles internos e auditorias Devem ser estabelecidos melhores
parâmetros para auditorias sobre lavagem de dinheiro. O Brasil deve
impor os mesmos controles em agências de bancos brasileiros no exterior
que os usados em agências nacionais.
VII- Parâmetros de integridade Normas devem ser implementadas para
evitar que criminosos possam ter investimentos substanciais em
instituições financeiras. Regras para garantir uma investigação de
clientes e diretores adequada poderiam ser implementadas.
VIII- Regulação e Sanções A CVM deveria receber acesso a mais
informações para supervisionar melhor seu setor de atuação. A
supervisão de hotéis e agências de viagens que operam com câmbio
também deve ser fortalecido.
IX- Cooperação entre órgãos reguladores e outras autoridades
competentes Os órgãos devem continuar a firmar convênios para a troca
de informações. A CVM deve ser autorizada a obter mais informações
para que possa assinar o IOSCO MOU e trocar informações mais
eficientemente.
Tabela 2. Outras ações recomendadas
Referência Ação Recomendada
Loterias e bingos Fiscalizar este setor para coibir a lavagem de dinheiro
Transações em espécie O Brasil deve continuar analisando estas
transações que pode ser útil no combate à
lavagem de dinheiro. Operações internacionais O Brasil deve informatizar
as comunicações de retirada de dinheiro por viajantes para analisar
melhor esta informação.

Anexo IV. B – Extraído do Ministério da Fazenda - Brasil

Reunião Plenária Conjunta sobre Tipologias do Grupo de Ação Financeira sobre


Lavagem de Dinheiro (GAFI) e do Grupo de Ação Financeira da América do Sul
contra a Lavagem de Dinheiro (GAFISUD)
Discurso de abertura proferido pelo Exmo. Sr. Secretário-Executivo do Ministério da
Fazenda, Murilo Portugal Filho
Rio de Janeiro, 28 de novembro de 2005.

90
É com enorme satisfação que compareço a este evento para, em nome do Governo
brasileiro, dar as boas vindas a todos os participantes desta Reunião Plenária
Internacional sobre Tipologias, em uma iniciativa conjunta do Grupo de Ação Financeira
sobre Lavagem de Dinheiro – GAFI e do Grupo de Ação Financeira da América do Sul
Contra a Lavagem de Dinheiro – GAFISUD.
Há mais de 20 anos percebeu-se a necessidade da adoção de um esforço internacional
conjunto para combater a lavagem de dinheiro, envolvendo não só os Governos dos
diversos países, mas também o setor privado, especialmente o sistema financeiro. Mais
recentemente, os atentados terroristas em diversas partes do mundo revigoraram a
necessidade desse esforço global com o objetivo de buscar a eliminação das fontes de
financiamento ao terrorismo.
Para o sucesso desse esforço, a coordenação e a cooperação entre os países é essencial,
tanto na esfera das entidades públicas quanto do setor privado. No plano internacional, o
GAFI e o GAFISUD, além de diversas outras entidades voltadas para o tratamento do
assunto, são bons exemplos nessa área. Quanto ao setor privado, merece destaque a
contribuição que vem sendo dada pelo sistema financeiro internacional.
2
O Brasil está engajado na luta contra a lavagem de dinheiro e o financiamento do
terrorismo, com a participação coordenada de diversas entidades. No setor público, além
do fundamental engajamento do Poder Judiciário e do Ministério Público nas ações que
vêm sendo desenvolvidas pelo Governo Federal, participam desse esforço concentrado
os diversos órgãos do Poder Executivo que compõem o Conselho de Controle de
Atividades Financeiras – COAF, que inclui representantes dos Ministérios da Justiça, das
Relações Exteriores e da Previdência Social, da Controladoria-Geral da União, do
Departamento de Polícia Federal, da Agência Brasileira de Inteligência, do Banco
Central do Brasil, da Comissão de Valores Mobiliários, da Superintendência de Seguros
Privados, da Receita Federal do Brasil e da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional,
além da Advocacia-Geral da União.
No campo da coordenação interna, também merece destaque a Estratégia Nacional de
Combate à Lavagem de Dinheiro – ENCLA, coordenada pelo Ministério da Justiça, que,
com a participação das entidades públicas e privadas diretamente ligadas ao assunto,
estabelece e acompanha metas para o aperfeiçoamento do arcabouço legal, institucional
e operacional brasileiro visando o combate ao crime organizado.
No setor privado, enormes avanços já foram obtidos com a participação ativa de diversos
segmentos. Merece destaque, nesse conjunto, a colaboração que tem sido prestada pelo
Sistema Financeiro. Ciente da importância atribuída pelo Governo à prevenção do uso
do sistema financeiro para atividades ilícitas, bem como dos riscos de imagem que
tomam relevância cada vez maior em suas operações, as instituições financeiras
brasileiras têm realizado vultosos investimentos em equipamentos, softwares e
treinamento de pessoal em seus setores de compliance para a detecção de operações
suspeitas. Além disso, o setor tem contribuído com diversas iniciativas do COAF e de
outras entidades para a divulgação e promoção das atividades de combate à lavagem de
dinheiro e ao financiamento ao terrorismo, inclusive mediante a realização deste evento,
que conta com a inestimável colaboração da Federação Brasileira de Bancos – Febraban
e de duas das mais importantes instituições financeiras brasileiras: o Banco do Brasil e a
Caixa Econômica Federal.
3
Como resultado de todo esse esforço, o Brasil vem aprimorando consideravelmente, nos
últimos anos, seu arcabouço legal e institucional para fazer face aos desafios que se
apresentam. A excelente avaliação recebida do GAFI em 2004 é um reconhecimento

91
do trabalho desenvolvido pelo Brasil, que ainda assim permanece empenhado em
aperfeiçoar-se cada vez mais.
Hoje já são 13 as Varas de Justiça Federal especializadas em Lavagem de Dinheiro e
Crimes Financeiros. A Polícia Federal já conta com delegacias ou núcleos especializados
na matéria em todos os Estados, o que vem permitindo à Corporação atuar, de forma
cada vez mais eficaz, no combate ao crime organizado pela via financeira. O Ministério
Público, tanto na esfera federal quanto na estadual, também tem demonstrado grande
interesse em relação ao tema, o que se comprova pela criação de diversos grupos de
trabalho e forças-tarefa para investigar e propor condenações relacionadas ao crime
organizado e suas vertentes financeiras. Neste particular, as parcerias com o Ministério
da Fazenda, em especial por intermédio da Unidade de Inteligência Financeira do Brasil,
o COAF, têm sido fundamentais, na medida em que informações de inteligência de
natureza financeira e patrimonial subsidiam as investigações.
Particularmente em relação ao COAF, organizador deste evento do GAFI e do
GAFISUD, a importância conferida pelo Governo brasileiro no tratamento da questão se
reflete nos números de comunicações recebidas dos chamados setores obrigados da
economia. De 7 mil comunicações de operações suspeitas recebidas somente do setor
financeiro em 2004, houve um salto para 11 mil no período de janeiro a outubro de
2005. As empresas de factoring, que enviaram menos de 30 comunicações no ano
passado, já enviaram mais de 10 mil somente nos três últimos meses, após a edição de
nova Resolução regulamentando o setor. Outras Resoluções estão em processo de
revisão e deverão ser editadas em 2006, o que certamente produzirá efeito significativo
na contribuição de outros segmentos do setor privado com o esforço governamental de
combate à lavagem de dinheiro. As novas resoluções do COAF deverão abranger, em
especial, as imobiliárias, transportadoras de valores, bolsas de mercadorias e empresas
ligadas ao comércio de jóias, antiguidades e objetos de arte.
4
Quanto às comunicações encaminhadas pelo COAF às autoridades responsáveis pela
investigação e persecução criminal, houve um acréscimo de 1.400 em 2004 para quase
1.500 nos 10 primeiros meses deste ano.
No que tange ao combate ao terrorismo e seu financiamento, vale destacar a aprovação
pelo Congresso Nacional, este ano, da Convenção Internacional para a Supressão do
Financiamento ao Terrorismo da ONU e da Convenção Interamericana para a Supressão
do Financiamento ao Terrorismo da OEA. A Polícia Federal tem tido sua estrutura
voltada à prevenção e combate ao terrorismo ampliada tanto em recursos humanos como
materiais nos últimos anos, e o COAF teve seu mandato ampliado pela redefinição do
conceito de Unidade de Inteligência Financeira pelo Grupo de Egmont, que incorporou o
tratamento do tema dentre as suas obrigações.
As reuniões de tipologias do GAFI e do GAFISUD constituem uma das mais
importantes contribuições daquelas entidades para o aperfeiçoamento dos sistemas
nacionais e internacionais de combate à lavagem de dinheiro e financiamento ao
terrorismo. O estudo e a sistematização do modus operandi das organizações
criminosas oferecem ferramenta fundamental aos órgãos de prevenção e de combate ao
crime, aumentando a sua eficiência.
É o que se tem verificado no Brasil mediante a identificação de tipologias relacionadas,
por exemplo, a operações com títulos públicos ligadas ao ingresso ilegal de moeda
estrangeira, a compras injustificadas de planos de previdência privada ligadas a recursos
provenientes de corrupção, a compras diretas de imóveis com dinheiro em espécie
oriundo do narcotráfico, e a exportações fictícias de bens ligadas à sonegação fiscal.

92
A atuação preventiva dos vários órgãos envolvidos tem-se revelado eficaz, o que se
comprova pela observância de mudanças no padrão de comportamento das organizações
criminosas, que se vêem forçadas a criar novas formas de lavagem de dinheiro, cada vez
mais complexas, com o passar do tempo. O estudo permanente para identificação de
novas tipologias é, portanto, fundamental para o combate ao crime organizado.
5
Para finalizar, ao agradecer o apoio recebido do Governo do Estado do Rio de Janeiro,
por intermédio das Secretarias de Segurança Pública e de Defesa Civil, do Governo do
Município do Rio de Janeiro, por meio da Empresa Municipal de Turismo – Riotur, bem
como das entidades patrocinadoras Febraban, Banco do Brasil e Caixa Econômica
Federal, além dos demais Órgãos que trabalharam intensamente durante os últimos
meses com o objetivo de assegurar a realização deste evento, desejo a todos pleno
sucesso no exercício de tipologias que se seguirá, esperando que, no fim dos trabalhos,
possam também conhecer e desfrutar pelo menos um pouco das atrações turísticas e
culturais da nossa Cidade Maravilhosa.
Para o Brasil é uma felicidade e uma honra recebê-los aqui. Tenham todos uma ótima
semana.

Anexo V – Extraído do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos.

IMIGRAÇÃO E FISCALIZAÇÃO ADUANEIRA DOS EUA


DEPARTAMENTO DE SEGURANÇA INTERNA DOS EUA
Washington, D.C.
PARA DIVULGAÇÃO IMEDIATA
Resposta ao Terrorismo - Escritório de Programas de Informação Internacional,
Departamento de Estado dos EUA.htm
13 de março de 2006
ICE Faz Parceria com Argentina, Brazil e Paraguai para Criar Unidades de
Transparência Comercial de Modo a Combater Lavagem de Dinheiro e Crimes
Comerciais
Crimes financeiros na Área da Tríplice Fronteira da América do Sul deverão ser o alvo
das novas unidades
WASHINGTON, D.C. – Julie L. Myers, secretária adjunta do Departamento de
Segurança Interna para Imigração e Fiscalização Aduaneira dos EUA (ICE), anunciou
hoje que a ICE está se associando aos governos argentino, brasileiro e paraguaio para
criar novas unidades de transparência comercial (TTUs) com o objetivo de combater a
lavagem de dinheiro ligada a comércio e outros crimes financeiros nesses países e na
Área da Tríplice Fronteira.
A criação das TTUs é parte de uma iniciativa atual dos EUA, levada a cabo pelos
Departamentos de Segurança Interna, de Estado e do Tesouro. No início de 2005, a ICE
uniu seus esforços aos do governo da Colômbia para estabelecer a primeira TTU naquele
país. No final de 2005 e início de 2006, a ICE recebeu US$ 750 mil do Departamento de
Estado e US$ 1,5 milhão do Departamento do Tesouro para estabelecer, equipar e
colocar em operação TTUs na Argentina, no Brasil e no Paraguai.
De acordo com essa iniciativa, a ICE e as agências argentinas, brasileiras e paraguaias
responsáveis pela execução da lei estão criando unidades dedicadas a esse programa e
banco de dados comuns para facilitar a troca de informações sobre exportação e
93
importação e atividades financeiras. A ICE já começou a trocar informações comerciais
com essas três nações. Mediante a análise conjunta dos dados compartilhados, essas
Unidades de Transparência Comercial poderão detectar e investigar anomalias no
comércio internacional indicativas de lavagem de dinheiro ou outras atividades
criminosas ligadas a comércio.
No passado, os esforços conjuntos da ICE e outros governos estrangeiros para combater
a lavagem de dinheiro ligada a comércio deram bons resultados. Em um caso, a ICE foi
capaz de comparar dados de importação dos EUA com dados de exportação fornecidos
por um país sul-americano e descobrir que a quantidade de ouro importada desse país
pelos Estados Unidos ultrapassava em muito a produção total de ouro dessa nação. Uma
investigação subseqüente da ICE descobriu um sistema de reciclagem em que grandes
quantidades de ouro dessa nação entravam nos Estados Unidos e de lá saíam como parte
de um forte esquema de lavagem de dinheiro de narcotráfico. A investigação também
revelou que esse governo sul-americano havia perdido cerca de US$ 20 milhões com o
pagamento de pedidos fraudulentos de subsídios à exportação de ouro, em conexão com
esse esquema. Um dos casos resultantes da ação da ICE levou à detenção de quase 20
joalheiros de Nova York por lavagem de dinheiro em 2004.
Da mesma forma, as novas Unidades de Transparência Comercial na Argentina, no
Brasil e no Paraguai investigarão crimes relacionados com a lavagem de dinheiro
mascarada em transações comerciais e processarão os responsáveis. Elas também terão
como alvo os sistemas alternativos de remessas de dinheiro, financiamento do
terrorismo, contrabando, evasão fiscal e outros crimes. As novas unidades não somente
ajudarão as autoridades desses países a combater os crimes financeiros domésticos, mas
também aumentarão a capacidade de os Estados Unidos atingirem as redes de lavagem
de dinheiro que operam tanto na América do Sul quanto nos Estados Unidos.
A Área da Tríplice Fronteira:
Um dos focos principais das TTUs na Argentina, no Brasil e no Paraguai serão os crimes
financeiros na Área da Tríplice Fronteira, que tem como limites Puerto Iguazu, na
Argentina; Foz do Iguaçu, no Brasil; e Ciudad del Este, no Paraguai.
Os Estados Unidos há muito acreditam que a Área da Tríplice Fronteira é uma fonte de
captação de recursos para grupos islâmicos radicais, inclusive o Hezbollah e o Hamas. O
governo dos EUA trabalha em cooperação com governos da região para interromper essa
atividade de captação de recursos. Acredita-se que a Área da Tríplice Fronteira seja o
mais ativo centro de tráfico e contrabando, onde são gerados bilhões de dólares por ano
provenientes de tráfico de armas, narcotráfico, pirataria, violações aos direitos de
propriedade intelectual e outros crimes.
“A lavagem de dinheiro mascarada em transações comerciais é um grande problema
entendido por poucas pessoas. Os governos argentino, brasileiro e paraguaio há muito
reconhecem essa ameaça e estão adotando medidas urgentes para tratar do problema. Em
continuidade aos esforços conjuntos com a Colômbia, a ICE tem o prazer de trabalhar
com essas nações para a criação de Unidades de Transparência Comercial e bancos de
dados conjuntos destinados especificamente ao combate do problema”, afirmou a
secretária adjunta Myers da ICE.
Banco de dados informatizados DARTT:
Para ajudar essas TTUs no exterior, a ICE utiliza um banco de dados especializado
chamado de sistema de Análise e Pesquisa de Dados sobre Transparência Comercial ou
“DARTT”, destinado a detectar e rastrear lavagem de dinheiro, contrabando e fraudes
comerciais. O DARTT é o cerne do conceito da Transparência Comercial, não somente
devido a seus excelentes recursos analíticos, mas também por sua capacidade de aceitar

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dados comerciais estrangeiros e compartilhar de modo seguro dados comerciais dos
EUA com parceiros externos.
O DARTT é um desdobramento do Sistema de Perfis Numericamente Integrados, que o
antigo Serviço Aduaneiro dos EUA desenvolveu e usou com sucesso durante muitos
anos para detectar lavagem de dinheiro e fraudes aduaneiras ligadas a comércio. O
programa DARTT fica hospedado na Unidade de Transparência Comercial do Escritório
de Investigações Financeiras e Comerciais na sede da ICE em Washington, D.C.
A funcionalidade do programa DARTT − aliada à autoridade da ICE para celebrar
Acordos Aduaneiros de Assistência Mútua com outros países − e a existência de mais de
50 escritórios de adidos da ICE em todo o mundo colocaram essa agência em posição
privilegiada para levar a cabo os esforços americanos contra a lavagem de dinheiro
ligada a comércio.
[A agência Imigração e Fiscalização Aduaneira dos EUA (ICE) foi criada em março de
2003 como o maior braço investigativo do Departamento de Segurança Interna. A ICE
compreende cinco divisões integradas que formam uma agência de execução da lei
compatível com o século 21 com amplas responsabilidades por várias prioridades de
segurança interna.]

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