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Os actuais regimes políticos europeus parecem achar-se em crise. Os sinais dos tempos
têm sido sublinhados: um credo individualista-abstrato parece estar a ser imposto, de cima
para baixo, como um horizonte social total – um horizonte de «dissociedade», de pós-
politicidade, de “desencantamento” e de dissolução das comunidades políticas concretas
na sua identidade e eticidade; os sistemas políticos afiguram-se crescentemente como
estruturas de tipo oligárquico-partidocrático e de poder político concentrado; as ordens
políticas não recebem verdadeiro fundamento nem conhecem verdadeiros limites. Cada
vez mais se vai falando em «ditadura do relativismo», «ditadura do politicamente
correcto», «democracia totalitária», «totalitarismo liberal» ou «deriva iliberal do
Liberalismo».
Não surpreende, pois, que as problemáticas clássicas do melhor regime em princípio e do
melhor regime possível no nosso contexto concreto sejam hoje de novo chamadas à
colação no espaço público das ideias. E daí também as buscas (de desigual valor e
profundidade) de potenciais vias de atenuação e/ou correcção da referida crise: atente-se,
por exemplo, em toda uma cresente literatura sobre a existência e o valor dos momentos
“não-liberais” nas ordens liberais-democráticas (Estado-Nação e seus imperativos
autónomos) ou numa linha teórico-política comunitarista de reinterpretação do sentido
das mesmas.
É contra este pano de fundo que convém meditar sobre o sentido e o valor actuais da
Monarquia.
As instituições reais, em si e por si, encarnam uma dimensão de representação
comunitária-tradicional e transcendente; nisso residindo a sua autoridade independente:
Referem-se à/simbolizam a comunidade política como um todo, um todo que é uma
concreta realidade histórico-cultural de tempo longo. A sucessão familiar-hereditária e
sua continuidade no tempo possibilitam a identificação e a directa “fusão de horizontes”
entre uma família e um corpo político (uno e vivo); a base familiar da instituição real
evocando ainda a sociedade como assente na realidade família ou num certo paradigma
do que deva ser a família (assim o notou Álvaro D’Ors).
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Uma primeira versão deste texto foi publicada no semanário O Diabo (14 de Novembro de 2017).
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