Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
1. Barca D’Alva
1
“Não sou do ortodoxo nem do heterodoxo: cada um deles só exprime metade da vida. Sou do
paradoxo que a contém no total”, Agostinho da Silva, Filósofo de Barca d’Alva
O comboio durou cem anos. E apenas um século bastou para
definir e moldar a personalidade dos seus habitantes. Sem
guerras, sem muralhas e sem mosteiros. Apenas serra e água – e
caminho de ferro! A prosperidade da Barca era a prosperidade de
Figueira, de Freixo – uma vez mais, a Barca une e não separa. Por
isso mereceu uma ponte, porque era ela própria uma ponte, há
muitos e muitos anos. E depois mereceu outra ponte, agora
Portugal e Espanha unidos. Porque se a natureza dividia, haveria
um túnel ou uma ponte. E depois estradas. Mas a realidade é uma
só: se há pontes e estradas e caminhos e barcos, é porque se quer
ir a Barca d’Alva. E sempre se quis ir. O próprio Jacinto 2 se
admirou com a beleza da pequenina estação de Barca d’Alva, ele
que tinha visto Paris! O que diria se a visse agora, sem comboio,
tão despida de si?
2
Protagonista da “Cidade e as Serras”, de Eça de Queirós
2. “Honra” de Escalhão
E vemos uma rua larga, moderna – rua digna de dois nomes: Rua
Bordalo Velho, antiga Rua do Touro. E para dois nomes duas
histórias: a antiga rua do Touro tinha, num dos seus recantos, um
curral que albergava um famoso touro de cobrição, a quem muitos
lavradores do concelho confiavam as suas vacas para uma
cobrição fértil, na esperança de obter valentes vitelos – a sabedoria
popular aplicada à selecção da espécie. E tão conhecido era o
Touro, que ganhou uma rua em sua homenagem. Perdeu-a anos
mais tarde – mas só nas placas, porque se perguntarem aos
escalhonenses como se chama a rua, é a Rua do Touro, claro. O
outro nome vem de mais perto: Bordalo Velho, um benemérito da
terra, dotou a velhinha rua do Touro de calçada e, pasme-se!,
sargetas, coisa muito moderna e inédita no concelho. É com
vaidade que em Escalhão se fala destas sargetas, que fizeram ver
aos de Figueira – a partir daqui, todos foram os segundos!
3
Lindley Cintra refere, no estudo da Linguagem dos Foros de Castelo Rodrigo, a diferença linguística
entre estes, nos quais se “nota neles ao primeiro contato, uma extraordinária mistura de traços galego-
portugueses com leoneses sem que seja possível indicar facilmente quais os que predominam.”, e os
foros de outras vilas de Riba Côa, como os de Alfaiates, Castelo Melhor e Castelo Bom, os quais são
fundamentalmente redigidos em leonês, coincidente com a pertença deste território ao reino Leonês.
Entramos em Almofala, onde as árvores denunciam assassinos,
onde os olmos falam.
Ali à frente, o vale das loiras; onde, se conta, ainda hoje estão as
formas das moedas da cidade de Combadão – no tempo dos
mouros, dos visigodos, que à luz dos anos e das memórias são
quase a mesma coisa… vale das loiras, que deu de beber à
armada de Vasco da Gama, licoroso das arribas do Águeda.