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2016
Sumário
Elementos do Estado:
Sujeito de direito público interno capaz de adquirir direitos e contrair obrigações. Mesmo que atue
em relações de direito privado.
TERRITÓRIO: não possui autonomia política e não integra a federação. Para alguns seria autarquia
territorial.
PODERES E FUNÇÕES
Legislativo (funções):
- Normativa - típica (única que inova no ordenamento). Abstrata, direta (de ofício) e geral;
- Judiciária - julga crimes responsabilidade (Senado) - art. 52, I e II da CF. Função concreta e
indireta; e
- Administrativa - organização de seus serviços.
Judiciário (funções):
Função de Governo
É a função que regula a atuação superior do Estado (estudada pelo Direito Constitucional). A
função administrativa se preocupa com as questões rotineiras ou costumeiras. A função de
governo fica além das atividades meramente rotineiras. EXEMPLOS: declaração de estado de
defesa ou de estado de sítio, iniciativa de lei, sanção e veto do presidente, declaração de guerra,
celebração de paz.
FUNÇÃO ADMINISTRATIVA
É aquela exercida pelo Estado ou por seus delegados, subjacentemente à ordem constitucional e
legal, sob regime de direito público, com vistas a alcançar os fins colimados pela ordem jurídica.
Há funções exercidas pelo Judiciário que são materialmente administrativas, por exemplo.
- escola francesa acreditava que função administrativa era apenas quando se prestava serviços
públicos. Crítica: não somente isso faz o Direito Administrativo;
- critério do Poder Executivo - acreditava que a função administrativa era apenas exercida pelo
Executivo. Crítica: outros Poderes também a exercem atipicamente;
- critério das relações jurídicas - estabelece que a função administrativa é regulamentar as
relações entre o Estado e o particular. Critica: não somente com isso se preocupa, pois há relações
internas;
- critério teleológico - função administrativa era toda atividade que visava finalidade pública.
Crítica: não somente o Direito Administrativo preocupa-se com a finalidade pública; e
- critério residual - função administrativa é a que não é legislativa, jurisdicional ou política. Crítica:
não se pode conceituar algo pelo que ele não é.
- Critério da Administração pública - (HLM) - conjunto harmônico de regras e princípios que
orientam e organizam os órgãos, entidades e agentes da Administração Pública para a consecução
da finalidade pública, de forma concreta, direta e imediata.
ATUAÇÃO DO ESTADO
- serviços públicos: por meio dos quais o Estado oferece utilidades, comodidades e prestações
específicas aos administrados, visando a suprir suas necessidades;
- polícia administrativa: o Estado se dispõe a controlar as atividades individuais dos administrados;
- atividade de fomento: o Estado incentiva as atividades em que atuam as entidades do 3° setor,
através de recursos destinados ou incentivos fiscais; e
- intervenção no domínio econômico: diretamente (só excepcionalmente, em duas hipóteses:
imperativo da segurança nacional e interesse coletivo relevante); indiretamente (o Estado atua
como agente regulador da economia, fiscalizando as ações dos agentes econômicos); monopólio
(o Estado se reserva ao direito exclusivo de atuação em determinada área).
FEDERAÇÃO
Conjuga as vantagens da autonomia política (não é soberania do ente federado) com um poder
central.
Características:
Autonomia:
DIREITO ADMINISTRATIVO
Sistema jurídico de norma que somente veio a lume com a criação do Estado de Direito e limitação
do poder monárquico.
Duas relações jurídicas recebem enfoque: uma interna (entre seus órgãos e agentes) e outra
externa (com a coletividade e serviços).
Conjunto de normas e princípios que, visando sempre ao interesse público, regem as relações
jurídicas entre as pessoas e órgãos do Estado e entre estes e as coletividades a que devem servir.
Ramo do direito público.
FONTES:
Art. 37 da CF: A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
Art. 2º da Lei 9.784/99: A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
São os postulados fundamentais que inspiram todo o modo de agir da Administração Pública.
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
Diretriz básica da conduta dos agentes.
PRINCÍPIO DA RESERVA DE LEI – determinada matéria somente poderá ser estabelecida por meio
de uma espécie normativa. EXEMPLO: a matéria “X” depende de lei ordinária, está-se reservando a
lei ordinária.
PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE
A atividade administrativa não pode ser imputada a pessoas, mas somente à pessoa jurídica que o
cometeu (José Afonso da Silva). Tem como decorrência a dupla garantia.
Art. 37, § 1º, CF: A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos
públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo
constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou
servidores públicos.
Súmula 683 do STF: O limite de idade para a inscrição em concurso público só se legitima em face
do art. 7º, XXX, da CF, quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser
preenchido.
Ainda segundo o STF, é legítimo o edital de um concurso com apenas 2 vagas que NÃO reserve
vagas para deficiente. Entendeu a Corte Suprema que reservar uma vaga, ou seja, cinquenta por
cento das vagas existentes, implicaria majoração indevida dos percentuais legalmente
estabelecidos. (MS 26310/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 20.09.2007)
EMENTA Publicidade de atos governamentais. Princípio da impessoalidade. Art. 37, parágrafo 1º,
da Constituição Federal. 1. O caput e o parágrafo 1º do artigo 37 da Constituição Federal impedem
que haja qualquer tipo de identificação entre a publicidade e os titulares dos cargos alcançando
os partidos políticos a que pertençam. (RE 191668)
PRINCÍPIO DA MORALIDADE
Aplica-se não somente servidores públicos, mas todos agentes que se relacionam com as
atividades administrativas ou dela recebem benefícios.
Se for IMORAL será ILEGAL, porque fere a LEGALIDADE AMPLA, ou seja, desrespeita a CF.
A ação popular e ação civil pública são exemplos de instrumentos para tutelar a moralidade
administrativa.
NEPOTISMO
Há Resolução do CNJ (nº 7, de 18.10.051) proibindo a prática de nepotismo. Vedação que atinge,
inclusive, a contratação temporária.
Exceções: cargos políticos, admitidos antes de 1988, pessoa que casou com magistrado após a
nomeação, parentes de juízes aposentados ou falecidos.
Para o STF, o cargo de conselheiro de contas é político. É de natureza administrativa. (Rcl 6702)
1
http://www.cnj.jus.br/busca-atos-adm?documento=2716
É inconstitucional lei estadual (Lei 13.145/97 de GO) que permita que sejam nomeados para cargos
em comissão ou FC até dois parentes de autoridades estaduais ou cônjuge do governador. (STF
2013)
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
Os atos administrativos merecem a mais ampla divulgação e mecanismo de controle das condutas.
Atenção: mesmo não havendo unanimidade sobre quais sejam os elementos (ou requisitos) dos
atos administrativos, regra geral se entende que são os extraídos do art. 2º da Lei 4.717/65 (Lei da
ação popular), dentre os quais NÃO se inclui a publicidade. Transcrevo o dispositivo:
Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos
casos de:
a) incompetência;
b) vício de forma;
c) ilegalidade do objeto;
d) inexistência dos motivos;
e) desvio de finalidade.
Alguns atos podem ser publicados de forma resumida. Atos normativos não.
O exercício dessas garantias independe do pagamento de taxas (art. 5º, inciso XXXIV, da CF), salvo
cobrança ressarcitória para pagar o material.
Cuidado:
- ofensa ao direito de certidão é atacada por via de MS: no caso, o interessado obteve o acsso à
informação, mas foi-lhe negado a documentação que a comprova. Não cabe habeas data,
instrumento adequado quando se nega o próprio acesso à informação, cujo teor o interessado não
conhece; e
- o Superior Tribunal de Justiça, recentemente, decidiu que o mandado de segurança é o meio
hábil para buscar extrair cópia integral de autos de processo administrativo.
A Lei 12.527/11 aplica-se à administração direta, indireta, entidades controladas, bem como às
entidades privadas sem fins lucrativos que recebam recursos públicos.
Duas formas de publicidade:
- ativa - transmitidas de ofício; e
- passiva - requeridas pelos interessados.
Art. 5º da CF:
- inciso XXXIII: todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de
responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do
Estado;
- LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade
ou o interesse social o exigirem;
Art. 93, inciso IX, da CF: todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em
determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais
a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à
informação;
Divulgação dos vencimentos dos servidores: foi prevista pelo decreto que regulamentou a LAI,
aplicando-se apenas ao Executivo, sendo que não poderá ser dada publicidade às parcelas de
cunho pessoal.
Caso em que a situação específica dos servidores públicos é regida pela 1ª parte do inciso XXXIII do
art. 5º da Constituição. Sua remuneração bruta, cargos e funções por eles titularizados, órgãos de
sua formal lotação, tudo é constitutivo de informação de interesse coletivo ou geral. Expondo-se,
portanto, a divulgação oficial. Sem que a intimidade deles, vida privada e segurança pessoal e
familiar se encaixem nas exceções de que trata a parte derradeira do mesmo dispositivo
constitucional (inciso XXXIII do art. 5º), pois o fato é que não estão em jogo nem a segurança do
Estado nem do conjunto da sociedade. (SS 3902 – STF).
PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA
Gasto com pessoal: seu limite foi limitado pela LC 101/00 (Lei de responsabilidade fiscal).
PRINCÍPIOS RECONHECIDOS
Princípio essencial que, conjugado com o princípio da indisponibilidade do interesse público, forma
a base do regime jurídico administrativo.
Justifica:
- as prerrogativas contratuais do Estado (cláusulas exorbitantes);
- o instituto da desapropriação;
- os atributos dos aos atos administrativos; e
- o poder de polícia do Estado.
Vem sendo contestado. Daniel Sarmento possui um artigo2 a respeito. Principais críticas:
- é cada vez mais difícil distinguir a linha entre o público e o privado;
- a CF afirmou a primazia da pessoa humana e das minorias sobre qualquer forma de ingerência
executiva; e
- os direitos fundamentais necessitam de lei para serem restringidos, obedecido o seu núcleo
essencial.
2
SARMENTO, Daniel (org.). Interesses públicos versus Interesses privados: desconstruindo o princípio da
supremacia do interesse público. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.
Não poderiam dispor de um bem que não lhes pertence.
Interesse público secundário, por sua vez, corresponde ao conjunto de interesses que a
Administração possui na sua condição de pessoa jurídica, a exemplo de uma empresa ou de uma
associação civil. São os recursos materiais e humanos que a ela pertencem.
PRINCÍPIO DA AUTOTUTELA
Poder-dever de rever seus atos e restaurar a situação de regularidade, com isso observando a
legalidade.
Atenção: a revogação NÃO se submete ao prazo decadencial (art. 54 da Lei 9.874/99). Tal prazo é
reservado à anulação.
Súmula 346 do STF: A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos.
Súmula 473 do STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que
os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de
conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos,
a apreciação judicial.
Muito cuidado: há jurisprudência (que parece ser dominante) no sentido de que, sendo as razões
para a anulação do ato administrativo exclusivamente de direito, NÃO PRECISA haver processo
administrativo com contraditório, mesmo que diga respeito a direito individual do administrado.
Transcrevo trecho de precedente:
PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE
Ligado aos serviços públicos, mas alcança toda e qualquer atividade administrativa.
Greve dos servidores - não há lei ordinária específica ainda. Os setores essenciais devem manter
percentual mínimo (30%). Utilizam a lei do setor privado.
Os dias parados são remunerados, mas devem propor a compensação. Do contrário, terão de
ressarcir o erário. Poderá haver corte do ponto. (STJ e CNJ 2015)
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob
qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados,
eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.
Dá suporte à regra da limitação ao particular opor exceção do contrato não cumprido e paralisar
as obras.
3
Art. 45. Em caso de risco iminente, a Administração Pública poderá motivadamente adotar providências
acauteladoras sem a prévia manifestação do interessado.
Lei 8.666;
Os serviços remunerados por tarifa (água e luz), ainda que essenciais, podem ser suspensos ante o
inadimplemento da tarifa e para realização de manutenção dos serviços, desde que seja dado
aviso prévio e não sejam suprimidos em serviços essenciais: escolas, hospitais, órgãos de
segurança, etc.
Lei 8.987/95
Art. 6º, § 3o: Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação
de emergência ou após prévio aviso, quando:
I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e,
II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade.
Evitar que situações jurídicas permaneçam por todo o tempo em nível de instabilidade.
A jurisprudência tem abonado a teoria do fato consumado - situações ilegítimas que melhor se
acomodam sendo convalidadas.
Para JSCF, o art. 54 da Lei 9.784/99 positivou o princípio ao limitar em 5 anos o prazo para
anulação.
A modulação dos efeitos prevista nas Leis 9.868/99 e 9.882/99 permite a realização de tal
princípio.
Doutrina moderna destaca que a tutela da confiança abrange também o poder normativo da
Administração. Não poderia haver a ruptura inesperada da disciplina e deveria estar presente a
imprevisibilidade das modificações. Deveria a Administração excluir o administrado do novo
regime jurídico ou criar regras transitórias ou indenização compensatória.
PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO
Pode haver a inversão do ônus da prova, de modo que o interessado deve demonstrar que seu
empreendimento não acarreta danos à coletividade.
PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE
Razoabilidade é aquilo que se situa dentro de limites aceitáveis (homem médio). Se estiver fora,
outro princípio inevitavelmente estará violado (legalidade e finalidade).
A liberdade do administrador é liberdade dentro da lei. A conduta desarrazoada é ilegal, pois não
respeita seus limites.
O princípio abranda o excesso de poder. Não se aplica apenas à função administrativa, mas a
todas as funções, inclusive legislativa.
EMBORA NÃO CAIBA AO PODER JUDICIÁRIO APRECIAR O MÉRITO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS, O
EXAME DE SUA DISCRICIONARIEDADE É POSSÍVEL PARA A VERIFICAÇÃO DE SUA REGULARIDADE
EM RELAÇÃO ÀS CAUSAS, AOS MOTIVOS E À FINALIDADE QUE OS ENSEJAM. (RE-AgR 365368)
PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE
Também tem como utilidade o combate ao excesso de poder. Visa à contenção dos atos que
ultrapassem limites adequados.
Elementos:
- adequação - meio compatível com o fim almejado;
- necessidade - conduta necessária; não havendo outro meio; e
- proporcionalidade em sentido estrito - vantagens superam as desvantagens.
PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO
A grande maioria afirma que a motivação é obrigatória, em todos os casos (STF), apesar da
existência de uma segunda corrente que defende que em alguns casos não é obrigatória.
É necessária para que os administrados possam se insurgir contra os atos que lhes afetem (CABM).
Ato de remoção de servidor público por interesse da administração deve ser motivado. Caso
contrário, haverá nulidade. (STJ 2013)
Poderá haver motivação em manifestação posterior ao ato, momento no qual será corrigido o
vício. (Ex: prestação de informações no MS)
Art. 50, § 1º, da Lei 9.784/99: A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo
consistir em declaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações,
decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato.
PRINCÍPIO DA FINALIDADE
Para HLM, o princípio foi substituído pelo princípio da IMPESSOALIDADE, quando conceitua,
defende que os dois são sinônimos: se o administrador não pode buscar o interesse pessoal, ele
estará perseguindo o interesse público, então está buscando o princípio maior da Administração
que é a finalidade pública.
“O fim legal é sem dúvida um limite ao poder discricionário”. Há desvio de poder tanto nos casos
em que a atuação administrativa é estranha a qualquer finalidade pública, quanto naqueles em
que o fim perseguido não é o fim preciso que a lei assinala para o ato. (CABM)
A exigência de um processo formal regular para que sejam atingidas a liberdade e a propriedade
de quem quer que seja e a necessidade de que a Administração Pública, antes de tomar decisões
gravosas a um dado sujeito, ofereça-lhe a oportunidade de contraditório e de defesa ampla, no
que se inclui o direito a recorrer das decisões tomadas.” (CABM)
SV 5 STF - A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não
ofende a Constituição.
PRINCÍPIO DA SINDICABILIDADE
Cuidado: já foi objeto de cobrança na prova objetiva do TRF 2 (juiz federal – questão 73 do ano de
2013).
MUITA ATENÇÃO: O EXAMINADOR DANILO PEREIRA JÚNIOR possui artigo intitulado Reforma do
Estado e gerencialidade da administração pública: um panorama da mutação estrutural,
disponível em:
http://www.revistadoutrina.trf4.jus.br/index.htm?http://www.revistadoutrina.trf4.jus.br/artigos/
edicao031/danilo_pereira.html
Em suma, afirma-se que a Administração Pública deve ser permeável à maior participação dos
agentes privados e/ou das organizações da sociedade civil e deslocar a ênfase dos procedimentos
(meios) para os resultados (fins).
Entidades de apoio
** Lei 11.107/05:
Art. 6º O consórcio público adquirirá personalidade jurídica:
I – de direito público, no caso de constituir associação pública, mediante a vigência das leis de
ratificação do protocolo de intenções;
II – de direito privado, mediante o atendimento dos requisitos da legislação civil.
§ 1º O consórcio público com personalidade jurídica de direito público integra a administração
indireta de todos os entes da Federação consorciados.
§ 2º No caso de se revestir de personalidade jurídica de direito privado, o consórcio público
observará as normas de direito público no que concerne à realização de licitação, celebração de
contratos, prestação de contas e admissão de pessoal, que será regido pela Consolidação das Leis
do Trabalho - CLT.
Importante: os consórcios públicos com personalidade jurídica de direito privado NÃO integram a
Administração Pública.
MSZP sobre o terceiro setor: é a mesma atividade, desempenhada com a mesma estrutura, com
os mesmos recursos públicos só que, agora, sem que a entidade que a exerce integre a
Administração Pública. Se sujeita a controles muito menos rígidos. Trata-se de
inconstitucionalidade.
Dirley da Cunha Júnior (Juiz Federal) sobre o quarto setor: é tema mais ligado à Economia, ainda
que com reflexos no Direito. Compreende toda atividade desempenhada no âmbito da chamada
“economia informal”. Engloba as atividades de agentes públicos com fins particulares (entre elas, a
corrupção, por exemplo) e de particulares com fins particulares, porém ilícitos (pirataria, caixa
dois, etc.)
Observação: o quinto setor, para os que o admitem, é composto dos excluídos da economia em
decorrência da miséria absoluta.
Publicização dos serviços não exclusivos do Estado é o conjunto de medidas com o escopo de
propiciar o crescimento e incentivo do terceiro setor.
Deu-se por meio de um Plano Diretor de desburocratização. A meta seria tornar a Administração
Pública mais moderna e eficiente (Administração Pública gerencial).
** foram editadas algumas leis, como a Lei 9.637/98, a Lei 9.790/99 e a Lei 13.019/14.
ORGANIZAÇÕES SOCIAIS (OS) (integram o terceiro setor) (Fonte: Dizer o Direito – adaptado)
Dica: o Dizer o Direito possui apostila sobre o tema:
http://www.dizerodireito.com.br/2015/05/organizacoes-sociais-apostila.html
Conceito: são pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, prestadoras de atividades de
interesse público e que, por terem preenchido determinados requisitos previstos na Lei 9.637/98,
recebem a qualificação (título, selo) de “organização social”.
Tais “atividades de interesse público” são serviços públicos não-exclusivos do Estado (serviços de
“natureza social”), taxativamente (doutrina majoritária) enumerados no art. o da Lei 9.637/98:
Art. 1º O Poder Executivo poderá qualificar como organizações sociais pessoas jurídicas de direito
privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao
desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde,
atendidos aos requisitos previstos nesta Lei.
ATENÇÃO: a lei de regência das OS (Lei 9.637/98) não é nacional, mas sim federal. Assim sendo,
apenas se aplica para serviços públicos da União. (Ricardo Alexandre – edição de 2015)
Deverão ser constituídas sob a forma jurídica de (Ricardo Alexandre – edição de 2015):
- associação civil sem fins lucrativos; ou
- fundação privada.
Objetivo primordial: absorção de atividades até então exercidas pelo Estado. Art. 20 da Lei
9.637/98:
Art. 20. Será criado, mediante decreto do Poder Executivo, o Programa Nacional de Publicização -
PNP, com o objetivo de estabelecer diretrizes e critérios para a qualificação de organizações
sociais, a fim de assegurar a absorção de atividades desenvolvidas por entidades ou órgãos
públicos da União, que atuem nas atividades referidas no art. 1o, por organizações sociais,
qualificadas na forma desta Lei, observadas as seguintes diretrizes:
I - ênfase no atendimento do cidadão-cliente;
II - ênfase nos resultados, qualitativos e quantitativos nos prazos pactuados;
III - controle social das ações de forma transparente.
Ex.: se essa pessoa jurídica desempenha funções na área de educação, quem concederá será o
Ministro da Educação em conjunto com o Ministro do Planejamento.
A qualificação é ato discricionário cujos requisitos estão elencados no art. 2º da Lei 9.637/98. Em
resumo:
a) finalidade não-lucrativa, com a obrigatoriedade de investimento de seus excedentes financeiros
no desenvolvimento das próprias atividades;
b) ter, como órgãos de deliberação superior e de direção, um conselho de administração e uma
diretoria; (Obs.: o conselho fiscal somente é obrigatório para OSCIP - art. 4º, inc. III, Lei 9.790/99)
c) participação, no seu órgão colegiado de deliberação superior, de representantes do Poder
Público e de membros da comunidade, de notória capacidade profissional e idoneidade moral;
d) obrigatoriedade de publicação anual, no Diário Oficial da União, dos relatórios financeiros e do
relatório de execução do contrato de gestão;
e) proibição de distribuição de bens ou de parcela do patrimônio líquido em qualquer hipótese,
inclusive em razão de desligamento, retirada ou falecimento de associado ou membro da
entidade;
f) previsão de incorporação integral do patrimônio, dos legados ou das doações que lhe foram
destinados, bem como dos excedentes financeiros decorrentes de suas atividades, em caso de
extinção ou desqualificação, ao patrimônio de outra organização social qualificada no âmbito da
União, da mesma área de atuação, ou ao patrimônio da União, dos Estados, do Distrito Federal ou
dos Municípios, na proporção dos recursos e bens por estes alocados.
Contrato de gestão
É o instrumento firmado entre o Poder Público e a entidade qualificada como organização social,
com o objetivo de que, a partir daí, seja formada uma parceria entre eles para fomento e execução
das atividades que uma OS faz (ensino, pesquisa científica, etc.)
Ex.: se a OS desenvolve atividades de saúde, quem aprovará o contrato será o Ministro da Saúde.
Obs.1: apesar de a lei dizer que esse ajuste é um “contrato”, a doutrina critica a nomenclatura e
afirma que, na verdade, o melhor seria chamá-lo de convênio, de termo de colaboração ou termo
de fomento.
São estes:
a) Recursos orçamentários (“dinheiro público”);
b) Cessão de bens públicos, mediante permissão de uso, dispensada licitação;
c) Cessão especial de servidor, com ônus para o órgão de origem do servidor cedido;
d) Contratadas sem licitação para prestarem serviço a órgãos e entidades da Administração
Pública. Previsão de dispensa no art. 24, XXIV, da Lei n. 8.666/93:
Art. 24. É dispensável a licitação:
XXIV - para a celebração de contratos de prestação de serviços com as organizações sociais,
qualificadas no âmbito das respectivas esferas de governo, para atividades contempladas no
contrato de gestão. (Incluído pela Lei nº 9.648/98)
a) é constitucional a extinção da prestação dos serviços pelo Poder Público e sua respectiva
absorção pelas OS:
2. Os setores de saúde (CF, art. 199, caput), educação (CF, art. 209, caput), cultura (CF, art. 215),
desporto e lazer (CF, art. 217), ciência e tecnologia (CF, art. 218) e meio ambiente (CF, art. 225)
configuram serviços públicos sociais, em relação aos quais a Constituição, ao mencionar que “são
deveres do Estado e da Sociedade” e que são “livres à iniciativa privada”, permite a atuação, por direito
próprio, dos particulares, sem que para tanto seja necessária a delegação pelo poder público, de forma
que não incide, in casu, o art. 175, caput, da Constituição.
10. A atribuição de título jurídico de legitimação da entidade através da qualificação configura hipótese
de credenciamento, no qual não incide a licitação pela própria natureza jurídica do ato, que não é
contrato, e pela inexistência de qualquer competição, já que todos os interessados podem alcançar o
mesmo objetivo, de modo includente, e não excludente.
e) o indeferimento da qualificação como OS deve ser pautado por critérios objetivos que
impeçam arbitrariedades:
11. A previsão de competência discricionária no art. 2º, II, da Lei nº 9.637/98 no que pertine à
qualificação tem de ser interpretada sob o influxo da principiologia constitucional, em especial dos
princípios da impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (CF, art. 37, caput). É de se ter por
vedada, assim, qualquer forma de arbitrariedade, de modo que o indeferimento do requerimento de
qualificação, além de pautado pela publicidade, transparência e motivação, deve observar critérios
objetivos fixados em ato regulamentar expedido em obediência ao art. 20 da Lei nº 9.637/98,
concretizando de forma homogênea as diretrizes contidas nos inc. I a III do dispositivo.
13. Diante, porém, de um cenário de escassez de bens, recursos e servidores públicos, no qual o
contrato de gestão firmado com uma entidade privada termina por excluir, por consequência, a mesma
pretensão veiculada pelos demais particulares em idêntica situação, todos almejando a posição subjetiva
de parceiro privado, impõe-se que o Poder Público conduza a celebração do contrato de gestão por um
procedimento público impessoal e pautado por critérios objetivos, por força da incidência direta dos
princípios constitucionais da impessoalidade, da publicidade e da eficiência na Administração Pública
(CF, art. 37, caput).
14. As dispensas de licitação instituídas no art. 24, XXIV, da Lei nº 8.666/93 [contratação de prestação de
serviço pela OS ao Poder Público] e no art. 12, § 3º, da Lei nº 9.637/98 [permissão de uso de bem
público] têm a finalidade que a doutrina contemporânea denomina de função regulatória da licitação,
através da qual a licitação passa a ser também vista como mecanismo de indução de determinadas
práticas sociais benéficas, fomentando a atuação de organizações sociais que já ostentem, à época da
contratação, o título de qualificação, e que por isso sejam reconhecidamente colaboradoras do Poder
Público no desempenho dos deveres constitucionais no campo dos serviços sociais. O afastamento do
certame licitatório não exime, porém, o administrador público da observância dos princípios
constitucionais, de modo que a contratação direta deve observar critérios objetivos e impessoais, com
publicidade de forma a permitir o acesso a todos os interessados.
i) as OS (1) integram o terceiro setor, (2) não fazem parte da Administração Pública e (3) não
precisam licitar quando contratam terceiros:
15. as organizações sociais, por integrarem o Terceiro Setor, não fazem parte do conceito constitucional
de Administração Pública, razão pela qual não se submetem, em suas contratações com terceiros, ao
dever de licitar, o que consistiria em quebra da lógica de flexibilidade do setor privado, finalidade por
detrás de todo o marco regulatório instituído pela Lei.
j) recebem recursos públicos, logo, seu regime jurídico privado é condicionado pelos princípios
da Administração Pública:
[item 15 da ementa] Por receberem recursos públicos, bens públicos e servidores públicos, porém, seu
regime jurídico tem de ser minimamente informado pela incidência do núcleo essencial dos princípios da
Administração Pública (CF, art. 37, caput), dentre os quais se destaca o princípio da impessoalidade, de
modo que suas contratações devem observar o disposto em regulamento próprio (Lei nº 9.637/98, art.
4º, VIII), fixando regras objetivas e impessoais para o dispêndio de recursos públicos.
k) os empregados das OS (1) são privados (não são empregados públicos), consequentemente,
(2) não precisam ser contratados mediante prévio concurso público (3) nem ter o salário fixado
por lei:
16. Os empregados das Organizações Sociais não são servidores públicos, mas sim empregados
privados, por isso que sua remuneração não deve ter base em lei (CF, art. 37, X), mas nos contratos de
trabalho firmados consensualmente. Por identidade de razões, também não se aplica às Organizações
Sociais a exigência de concurso público (CF, art. 37, II), mas a seleção de pessoal, da mesma forma
como a contratação de obras e serviços, deve ser posta em prática através de um procedimento objetivo
e impessoal.
17. Inexiste violação aos direitos dos servidores públicos cedidos às organizações sociais, na medida em
que preservado o paradigma com o cargo de origem, sendo desnecessária a previsão em lei para que
verbas de natureza privada sejam pagas pelas organizações sociais, sob pena de afronta à própria lógica
de eficiência e de flexibilidade que inspiraram a criação do novo modelo.
m) o controle interno da OS previsto na Lei 9.637/98 soma-se aos já existentes (não os exclui):
18. O âmbito constitucionalmente definido para o controle a ser exercido pelo Tribunal de Contas da
União (CF, arts. 70, 71 e 74) e pelo Ministério Público (CF, arts. 127 e seguintes) não é de qualquer forma
restringido pelo art. 4º, caput, da Lei nº 9.637/98, porquanto dirigido à estruturação interna da
organização social, e pelo art. 10 do mesmo diploma, na medida em que trata apenas do dever de
representação dos responsáveis pela fiscalização, sem mitigar a atuação de ofício dos órgãos
constitucionais.
n) a obrigatoriedade de representantes do Poder Público na gestão da OS é constitucional:
20. Ação direta de inconstitucionalidade cujo pedido é julgado parcialmente procedente, para conferir
interpretação conforme à Constituição à Lei nº 9.637/98 e ao art. 24, XXIV, da Lei nº 8666/93, incluído
pela Lei nº 9.648/98, para que:
(i) o procedimento de qualificação seja conduzido de forma pública, objetiva e impessoal, com
observância dos princípios do caput do art. 37 da CF, e de acordo com parâmetros fixados em abstrato
segundo o que prega o art. 20 da Lei nº 9.637/98;
(ii) a celebração do contrato de gestão seja conduzida de forma pública, objetiva e impessoal, com
observância dos princípios do caput do art. 37 da CF;
(iii) as hipóteses de dispensa de licitação para contratações (Lei nº 8.666/93, art. 24, XXIV) e outorga de
permissão de uso de bem público (Lei nº 9.637/98, art. 12, § 3º) sejam conduzidas de forma pública,
objetiva e impessoal, com observância dos princípios do caput do art. 37 da CF;
(iv) os contratos a serem celebrados pela Organização Social com terceiros, com recursos públicos,
sejam conduzidos de forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios do caput do
art. 37 da CF, e nos termos do regulamento próprio a ser editado por cada entidade;
(v) a seleção de pessoal pelas Organizações Sociais seja conduzida de forma pública, objetiva e
impessoal, com observância dos princípios do caput do art. 37 da CF, e nos termos do regulamento
próprio a ser editado por cada entidade; e
(vi) para afastar qualquer interpretação que restrinja o controle, pelo Ministério Público e pelo TCU, da
aplicação de verbas públicas.
ATENÇÃO: a lei de regência das OSCIP (Lei 9.790/99) não é nacional, mas sim federal. Assim sendo,
apenas se aplica à União. (Ricardo Alexandre – edição de 2015)
Tal como OS, OSCIP é apenas uma qualificação jurídica. Não é nova categoria de pessoa jurídica.
Art. 1º Podem qualificar-se como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público as pessoas
jurídicas de direito privado sem fins lucrativos que tenham sido constituídas e se encontrem em
funcionamento regular há, no mínimo, 3 (três) anos, desde que os respectivos objetivos sociais e
normas estatutárias atendam aos requisitos instituídos por esta Lei. (Redação dada pela Lei nº
13.019, de 2014)
§ 1o Para os efeitos desta Lei, considera-se sem fins lucrativos a pessoa jurídica de direito privado
que não distribui, entre os seus sócios ou associados, conselheiros, diretores, empregados ou
doadores, eventuais excedentes operacionais, brutos ou líquidos, dividendos, bonificações,
participações ou parcelas do seu patrimônio, auferidos mediante o exercício de suas atividades, e
que os aplica integralmente na consecução do respectivo objeto social.
§ 2o A outorga da qualificação prevista neste artigo é ato vinculado ao cumprimento dos requisitos
instituídos por esta Lei.
MSZP - OSCIP NÃO PRESTA SERVIÇO PÚBLICO: “A grande diferença está em que a OS recebe ou
pode receber delegação para a gestão de serviço público, enquanto a OSCIP exerce atividade de
natureza privada, com a ajuda do Estado. No caso da OSCIP, o objetivo é semelhante ao que já
inspirou anteriormente a outorga do título de utilidade pública”.
Matheus Carvalho (edição de 2016) - OSCIP PRESTA SERVIÇO PÚBLICO: “Assim como as
organizações sociais, as organizações da sociedade civil de interesse público são particulares, sem
finalidade lucrativa, criadas para prestação de serviços públicos não exclusivos [...]”.
Art. 3º A qualificação instituída por esta Lei, observado em qualquer caso, o princípio da
universalização dos serviços, no respectivo âmbito de atuação das Organizações, somente será
conferida às pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujos objetivos sociais
tenham pelo menos uma das seguintes finalidades:
I - promoção da assistência social;
II - promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;
III - promoção gratuita da educação, observando-se a forma complementar de participação das
organizações de que trata esta Lei;
IV - promoção gratuita da saúde, observando-se a forma complementar de participação das
organizações de que trata esta Lei;
V - promoção da segurança alimentar e nutricional;
VI - defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento
sustentável;
VII - promoção do voluntariado;
VIII - promoção do desenvolvimento econômico e social e combate à pobreza;
IX - experimentação, não lucrativa, de novos modelos sócio-produtivos e de sistemas alternativos
de produção, comércio, emprego e crédito;
X - promoção de direitos estabelecidos, construção de novos direitos e assessoria jurídica gratuita
de interesse suplementar;
XI - promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e de outros
valores universais;
XII - estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas, produção e divulgação de
informações e conhecimentos técnicos e científicos que digam respeito às atividades
mencionadas neste artigo.
Parágrafo único. Para os fins deste artigo, a dedicação às atividades nele previstas configura-se
mediante a execução direta de projetos, programas, planos de ações correlatas, por meio da
doação de recursos físicos, humanos e financeiros, ou ainda pela prestação de serviços
intermediários de apoio a outras organizações sem fins lucrativos e a órgãos do setor público
que atuem em áreas afins.
REQUISITOS NEGATIVOS
Art. 2o Não são passíveis de qualificação como Organizações da Sociedade Civil de Interesse
Público, ainda que se dediquem de qualquer forma às atividades descritas no art. 3 o desta Lei:
I - as sociedades comerciais;
II - os sindicatos, as associações de classe ou de representação de categoria profissional;
III - as instituições religiosas ou voltadas para a disseminação de credos, cultos, práticas e visões
devocionais e confessionais;
IV - as organizações partidárias e assemelhadas, inclusive suas fundações;
V - as entidades de benefício mútuo destinadas a proporcionar bens ou serviços a um círculo
restrito de associados ou sócios;
VI - as entidades e empresas que comercializam planos de saúde e assemelhados;
VII - as instituições hospitalares privadas não gratuitas e suas mantenedoras;
VIII - as escolas privadas dedicadas ao ensino formal não gratuito e suas mantenedoras;
IX - as organizações sociais;
X - as cooperativas;
XI - as fundações públicas;
XII - as fundações, sociedades civis ou associações de direito privado criadas por órgão público ou
por fundações públicas;
XIII - as organizações creditícias que tenham quaisquer tipo de vinculação com o sistema
financeiro nacional a que se refere o art. 192 da Constituição Federal.
TERMO DE PARCERIA
Art. 9º Fica instituído o Termo de Parceria, assim considerado o instrumento passível de ser
firmado entre o Poder Público e as entidades qualificadas como Organizações da Sociedade Civil
de Interesse Público destinado à formação de vínculo de cooperação entre as partes, para o
fomento e a execução das atividades de interesse público previstas no art. 3º desta Lei.
A escolha da OSCIP para celebração do termo de parceria (assim como o contrato de gestão da OS)
tem natureza jurídica de convênio e, consequentemente, não precisa ser precedido de licitação.
Havendo mais de um interessado, o procedimento isonômico destinado a escolhê-lo é o concurso
de projetos (art. 23 do Decreto 3.100/1999).
O termo de parceria (assim como o contrato de gestão da OS) permite a destinação de valores
públicos mediante dotação orçamentária.
Obs.: diferentemente do que ocorre para a OS, não há previsão legal de cessão de servidores para
a OSCIP.
CONSELHO FISCAL
Deve possuir conselho fiscal (art. 4º, inc. III, Lei 9.790/99). O conselho de administração somente é
obrigatório para OS (art. 2º, inc. I, alínea “c” da Lei 9.637/99).
AQUISIÇÃO DE IMÓVEL
Art. 15 da Lei 9.790/99: Caso a organização adquira bem imóvel com recursos provenientes da
celebração do Termo de Parceria, este será gravado com cláusula de inalienabilidade.
Não há dispensa de licitação expressa em lei, logo, há necessidade de licitar para as contratações
celebradas com terceiros para execução de suas atividades.
2) objeto
Ensino, pesquisa científica, desenvolvimento Abrange, além de todo o campo de atuação das OS,
tecnológico, proteção e preservação do meio diversas outras áreas previstas no art. 3.º da Lei
ambiente, cultura e saúde. 9.790/1999.
3) qualificação ato discricionário ato vinculado
4) vínculo contrato de gestão termo de parceria
5) atuação tende a absorver a atividade pública realmente cooperando com o Estado
duas correntes:
serviço público
6) natureza da atividade - serviço público (Matheus Carvalho)
(de natureza social)
- atividade privada diferente de serviço público (MSZP)
7) cessão de servidores é possível não há previsão
8) órgão qualificador MPOG e Ministério da área de autação Ministério da Justiça
9) dupla qualificação não pode ser ao mesmo tempo OSCIP não pode ser ao mesmo tempo OS
conselho de administração conselho fiscal
10) estrutura interna
(não se exige conselho fiscal) (não se exige conselho de administração)
11) licitação dispensável para a contratação de prestação
Não há previsão legal de dispensa
(prestação de serviço de serviços no âmbito do contrato de gestão
para o Poder Público) (Lei 8.666/1993, art. 24, XXIV)
Obs.: texto elaborado com base no livro do professor Matheus Carvalho (2016, págs. 719 a 723 – com adaptações)
A Lei 13.019/14 regulamenta duas novas espécies de parcerias que podem ser firmadas entre o
poder público e entidades privadas sem fins lucrativos, quais sejam:
- o termo de colaboração; e
- o termo de fomento.
Tais entidades foram denominadas de organizações da sociedade civil (OSC), devendo ser,
necessariamente, uma pessoa juridica de direito privado sem fins lucrativos.
Obs.: ao contrário do que ocorre com as OS e as OSCIP, a Lei 13.019/14 tem natureza nacional,
aplicando-se a todas as esferas federativas. (Fonte: Mazza – edição de 2016. No mesmo sentido:
Ricardo Alexandre – edição de 2015)
No início de cada ano civil, a Administração Pública deve publicar, nos meios oficiais de divulgação,
os valores aprovados na lei orçamentária anual vigente para execução de programas e ações do
plano plurianual em vigor, que poderão ser executados por meio de parcerias previstas na lei
13.019/14.
A Administração pública deverá manter, em seu site oficial, a relação das parcerias celebradas, em
ordem alfabética pelo prazo não inferior a 5 (cinco) anos, contado da apreciação da prestação de
contas final da parceria, sendo exigido também à organização da sociedade civil que conste em seu
site as parcerias firmadas com o ente estatal.
Termo de colaboração: deve ser adotado pela Administração Pública em caso de transferências
voluntárias de recursos para consecução de planos de trabalho propostos pela Administração
Pública, em regime de mútua cooperação com organizações da sociedade civil.
Plano de trabalho
Instrumento através do qual as OSCs (bem como movimentos sociais e quaisquer cidadãos)
poderão apresentar propostas ao poder público para que este avalie a possibilidade de realização
de um chamamento público visando à celebração de parceria.
A Administração deverá tornar a manifestação de interesse social pública no site oficial do órgão,
realizando-se (se pertinente) audiência pública.
Chamamento público
A Organização Social só poderá celebrar a parceria com o ente público se for vencedora no aludido
procedimento de chamamento público (a ser realizado posteriormente, do qual poderão
participar quaisquer entes sem fins lucrativos que cumpram os requisitos legais pertinentes).
Etapas
Dispensa
Há um rol exaustivo:
Requisitos da OSC
Depende de emissão:
a) de parecer jurídico do órgão de assessoria ou consultoria jurídica; e
b) de parecer de órgão técnico da Administração Pública, de caráter conclusivo e não vinculante.
Deverá apresentar, como anexo, o (1) plano de trabalho e o (2) regulamento de compras e
contratações adotado, devidamente aprovado pela Administração Pública parceira, de modo que a
ausência desses requisitos enseja vicio de forma do termo celebrado.
Objeto
É vedada a celebração de termo de colaboração ou termo de fomento que tenham por objeto,
envolvam ou incluam, direta ou indiretamente delegação das funções (1) de regulação, (2) de
fiscalização, (3) do exercício do poder de polícia ou (4) de outras atividades exclusivas do Estado.
Pesquisa de satisfação
Quando a parceria tiver vigência superior a 1 ano, a Administração Pública realizará, sempre que
possível, pesquisa de satisfação com os beneficiários do plano de trabalho.
Quando a OSC contratar terceiros com recursos transferidos pela administração pública, deverá
observar todos os princípios aplicáveis à atuação estatal, bem como o regulamento de compras e
contratações aprovado para a consecução do objeto da parceria.
ATENÇÃO: não há contratação direta, mas seleção mediante processo seletivo eletrônico.
Há 3 hipóteses de retenção:
a) quando houver fundados indícios de não ter ocorrido boa e regular aplicação da parcela
anteriormente recebida;
b) for verificado desvio de finalidade na aplicação dos recursos, atrasos não justificados, práticas
atentatórias aos princípios fundamentais da Administração Pública nas contratações ou o
inadimplemento de cláusulas básicas;
c) deixar de adotar as medidas saneadoras apontadas pela Administração Pública ou pelos órgãos
de controle interno ou externo.
Pagamento de pessoal
Havendo aprovação no plano de trabalho, admite-se que despesas com remuneração de pessoal
admitido regularmente sejam pagas com valores transferidos pela entidade pública.
ATENÇÃO: o fato de se pagar os encargos trabalhistas com recursos transferidos pelo poder
público não enseja vinculo trabalhista direto deste com os empregados da OCS.
Penalidades
Pessoas de cooperação governamental são vinculadas ao Estado por uma atividade (paraestatal).
Exs.: SESI, SESC, SENAI, SENAC, SEBRAE, SENAR, SENAT, SESCOOP, APEX- Brasil.
NATUREZA JURÍDICA
CRIAÇÃO
Sua personalidade jurídica se inicia com o registro civil e seus estatutos são delineados/aprovados
por decretos do Executivo.
OBJETO
Os serviços sociais autônomos precisam realizar concurso público para contratar seu
pessoal?
NÃO. Os serviços sociais autônomos, por possuírem natureza jurídica de direito privado e
não integrarem a Administração Pública, mesmo que desempenhem atividade de interesse
público em cooperação com o ente estatal, NÃO estão sujeitos à observância da regra de
concurso público (art. 37. 11, da CF/88) para contratação de seu pessoal.
(STF. Plenário. RE 789874/DF, Rei. Min. Teori Zavascki, julgado em 17.09.2014 - repercussão
geral - lnfo 759)
Obs.: vale ressaltar, no entanto, que o fato de as entidades do Sistema "S" não estarem
submetidas aos ditames constitucionais do art. 37 daCF/88, não as exime de manterem um padrão
de objetividade e eficiência na contratação e nos gastos com seu pessoal.
Os recursos geridos pelos serviços sociais autônomos são considerados recursos públicos?
NÃO. Segundo entende o STF, os serviços sociais autônomos do denominado sistema "S",
embora compreendidos na expressão de entidade paraestatal, são pessoas jurídicas de
direito privado, definidos como entes de colaboração, mas não integrantes da
Administração Pública.
Assim, quando o produto das contribuições ingressa nos cofres dos Serviços Sociais
Autônomos, perde o caráter de recurso público.
(STF. Plenário. ACO 1953 AgR, Rei. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 18.12.2013)
CONTRIBUIÇÕES
CONTROLE
Submetem-se à supervisão do Ministério da área de competência. Ex.: SESI, SENAI, SENAC E SESC
submetem-se ao Ministério do Trabalho.
JSCF critica a recomendação direcionada pelo TCU a elas para que seus dirigentes possuam
limitação remuneratória.
Outro posicionamento do TCU criticada por JSCF é a inclusão dos membros dos Conselhos das
entidades na relação de prestação de contas. Tais órgãos tem apenas caráter normativo, não
tendo atividade de gestão de recursos.
SIM. O art. 150, VI, "c", da CF/88 prevê que as instituições de educação e de assistência
social, sem fins lucrativos, gozam de imunidade tributária quanto aos impostos, desde que
atendidos os requisitos previstos na lei.
As entidades do chamado "Sistema S", tais como SESI, SENAI, SENAC e SEBRAE, também
gozam de imunidade porque promovem cursos para a inserção de profissionais no mercado
de trabalho, sendo consideradas instituições de educação e assistência social.
Súmula 516 do STF: O Serviço Social da Indústria (SESI) está sujeito à jurisdição da justiça estadual.
NÃO. As entidades paraestatais não gozam dos privilégios processuais concedidos à Fazenda
Pública.
(STF. AI 841548 RG, julgado em 09.06.2011)
ENTIDADES DE APOIO
Críticas:
Têm todos os benefícios do direito privado (sem concurso, sem licitação) e do direito público.
Faz o que o próprio poder público deveria fazer, mas gasta de forma livre (sem controle).
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Sentido objetivo: própria atividade exercida pelo Estado e seus agentes (função administrativa).
Usa-se o termo “administração pública” (grafado com iniciais minúsculas). Chamado também de
material por Matheus Carvalho.
Engloba:
Não deve ser confundida com o Poder Executivo, pois todos os Poderes podem compor a
Administração Pública. Argumento importante: a própria CF fez essa diferenciação ao dispor de
forma separada sobre a Administração Pública e os Poderes.
Sistema de jurisdição única (inglês) - Apenas o Poder Judiciário tem poder jurisdicional. Adotado
no Brasil. As decisões administrativas não fazem coisa julgada.
FEDERAÇÃO E AUTONOMINA
Federação é a forma de Estado que, ao lado do poder político central e soberano, contemplam
entidades políticas internas componentes do sistema, às quais são conferidas competências
específicas pela Constituição.
Características da Federação:
Descentralização política;
Poder de autoconstituição, autogoverno, autolegislação e autoadministração dos entes; e
Participação dos entes na vontade nacional.
Centralização é a execução das tarefas diretamente pelo Estado ou por órgãos e agentes de sua
estrutura funcional. (administração direta)
DL 200/67
Território é considerado PJ de direito público interno pelo art. 41 do CC. Porém, não possui
autonomia (art. 18 CF).
B) Funcional (por serviços): o Poder Público cria uma pessoa jurídica e a ela atribui a titularidade e
a execução de determinado serviço público. Tal criação apenas pode ser feita por lei;
C) Por colaboração: é a que se verifica quando, por meio de contrato ou ato administrativo
unilateral, transfere-se a execução de determinado serviço público a pessoa jurídica de direito
privado, conservando o poder público a titularidade do serviço.
Não tem personalidade jurídica, tampouco responsabilidade civil (ainda que tenham CNPJ).
Teoria tem aplicação nas hipóteses de exercício de função de fato por pessoas estranhas à
administração. Basta a aparência de investidura.
CRIAÇÃO E EXTINÇÃO
Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, não exigida esta
para o especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de competência da União,
especialmente sobre:
Art. 61 da CF.
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
II - disponham sobre:
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o disposto no
art. 84, VI;
Art. 96 da CF.
II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça propor ao
Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no art. 169:
c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores;
d) a alteração da organização e da divisão judiciárias;
Poder Legislativo não dependem de lei, mas sim de atos administrativos (decreto legislativo).
Teoria subjetiva - órgãos públicos são os próprios agentes públicos. Crítica: morrendo o agente,
desapareceria o órgão?
Teoria objetiva - órgãos seriam unidades funcionais da organização administrativa. Crítica: repudia
o agente que é o verdadeiro instrumento.
Teoria eclética - não rechaça nenhum dos vieses. Tanto a competência quanto os agentes são
complementares entre si.
Visão moderna afirma que tanto o círculo de atribuições e o agente compõem o órgão, mas não
formam uma unidade.
Apesar de não possuírem personalidade jurídica, possuem personalidade judiciária para defesas
de suas prerrogativas institucionais. Ex.: MP, DP, TJs, AL, Procon, nascituro, massa falida,
comunidade indígena.
STJ não reconheceu interesse em Câmara Municipal em ação contra União para liberação de
repasse do FPM (interesse patrimonial dos municípios) – 2014.
Súmula 525-STJ: A Câmara de vereadores não possui personalidade jurídica, apenas
personalidade judiciária, somente podendo demandar em juízo para defender os seus direitos
institucionais. STJ. 1ª Seção. Aprovada em 22/04/2015.
STF não reconheceu ações contra CNJ e CNMP, indicando a União como parte legítima.
Capacidade apenas nos casos de impetração de writs:
A ideia de capacidade processual evoluiu e foi concedida a alguns órgãos apenas para defesa de
suas competências, violada por outro órgão. Assim já se posicionou o STJ:
Art. 82 - Para os fins do Art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, Direta ou Indireta, ainda que sem
personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos
por este Código
CLASSIFICAÇÃO
a) independentes (art. 2º, CF/88) – são os órgãos que gozam de independência, ou seja, são os
órgãos que não têm qualquer relação de subordinação ou hierarquia, são os órgãos que estão no
topo do poder. EXEMPLOS: chefias de cada um dos poderes políticos (PR, GOVERNADOR,
PREFEITOS, SENADO, CONGRESSO, JUÍZES E TRIBUNAIS).
Apesar de não haver relação de hierarquia entre os órgãos, há uma relação de independência (mas
devem trabalhar harmonicamente), existindo controle.
Além dos órgãos que integram os Três Poderes, há de se incluir o Ministério Público e os Tribunais
de Contas nessa categoria.
b) autônomos – são os órgãos que não têm independência, mas têm autonomia, ou seja, estão
subordinados aos órgãos independentes. EXEMPLOS: ministérios e secretarias.
c) superiores – são os órgãos que não têm independência e não têm autonomia, mas ainda têm
poder de decisão. EXEMPLOS: gabinetes e procuradorias.
d) subalternos – são os órgãos que não têm poder de decisão, somente executam. EXEMPLO:
seção de zeladoria, seção de almoxarifado, órgão de recursos pessoais.
Coletivos:
5. Quanto à estrutura
a) simples (unitário) – são os órgãos que não têm outros órgãos agregados à sua estrutura.
ATENÇÃO: são órgãos e não pessoas. São constituídos por um só centro de competência.
EXEMPLO: gabinetes.
b) compostos – são os órgãos que têm outros órgãos agregados à sua estrutura. EXEMPLOS:
delegacia de ensino e as escolas ligadas a ela; hospital e postos de saúde a eles ligados.
6. Quanto ao objeto
a) ativos – são os órgãos que efetivamente prestam um serviço. EXEMPLOS: escola, hospital.
AGENTES PÚBLICOS
São as pessoas físicas que, a qualquer título, executam uma função pública como prepostos do
Estado.
Administração direta é o conjunto de órgãos que integram as pessoas federativas que possuem
competência para as atividades administrativas estatais.
Há funções que, por sua relevância, devem permanecer centralizadas no Estado, como é o caso da
Segurança Pública.
Administração Direta do Estado abrange todos os órgãos dos Poderes políticos das pessoas
federativas que exercem atividade administrativa.
Art. 37, § 8º, CF: A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos e entidades da
administração direta e indireta poderá ser ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus
administradores e o poder público, que tenha por objeto a fixação de metas de desempenho para
o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de
1998)
Lei 9.649/98
Art. 51. O Poder Executivo poderá qualificar como Agência Executiva a autarquia ou fundação que
tenha cumprido os seguintes requisitos:
I - ter um plano estratégico de reestruturação e de desenvolvimento institucional em andamento;
II - ter celebrado Contrato de Gestão com o respectivo Ministério supervisor.
JSCF afirma que Ministério não poderia contratar, uma vez que não possui personalidade jurídica.
Para ele as Autarquias já são da administração indireta e não precisariam celebrar contratos para
exercer as mesmas atividades de sempre com outro órgão a qual já são vinculadas.
Trata-se do fenômeno da delegação por outorga, realizado por intermédio de lei. Ao contrário da
concessão, realizada por contrato.
Segunda a CF, poderia ser admitida a administração descentralizada nos demais poderes.
DL 200/67
Art. 241 da CF/88: A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disciplinarão por meio de
lei os consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes federados, autorizando a
gestão associada de serviços públicos, bem como a transferência total ou parcial de encargos,
serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
I - consórcio público: pessoa jurídica formada exclusivamente por entes da Federação, na forma da
Lei nº 11.107, de 2005, para estabelecer relações de cooperação federativa, inclusive a realização
de objetivos de interesse comum, constituída como associação pública, com personalidade
jurídica de direito público e natureza autárquica, ou como pessoa jurídica de direito privado sem
fins econômicos;
Lei 11.107/05 regula a contratação de consórcios, constituindo uma associação pública ou pessoa
jurídica de direito privado:
Art. 1o Esta Lei dispõe sobre normas gerais para a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios contratarem consórcios públicos para a realização de objetivos de interesse comum e
dá outras providências.
§ 1o O consórcio público constituirá associação pública ou pessoa jurídica de direito privado.
Administração fundacional
Entidades Paraestatais
XIX – somente por lei específica poderá ser criada autarquia (obs.: inclusive as fundações públicas
de direito PÚBLICO) e autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de economia
mista e de fundação (obs.: refere-se às fundações públicas de direito PRIVADO), cabendo à lei
complementar, neste último caso, definir as áreas de sua atuação
Cabe ressaltar que a criação das subsidiárias não necessita de lei autorizadora específica. A
própria lei que instituiu a entidade (EP ou SEM) pode prever a instituição de futuras subsidiárias.
É constitucional o art. 24 da Lei Orgânica do Distrito Federal (“A direção superior das empresas
públicas, autarquias, fundações e sociedades de economia mista terá representantes dos
servidores, escolhidos do quadro funcional, para exercer funções definidas, na forma da lei”). O
Tribunal esclareceu que a norma em questão, por ser oriunda do poder constituinte originário
decorrente, não sofreria vício de reserva de iniciativa legislativa do chefe do Poder Executivo.
Frisou, ainda, não haver violação da competência privativa da União para legislar sobre direito
comercial. Além disso, a norma observaria a diretriz constitucional voltada à realização da ideia de
gestão democrática. (ADI 1167/2014)
PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE
Atividade deve ser especificamente consignada na lei, não cabendo a criação de finalidade
genérica.
Uma vez definida a finalidade da pessoa jurídica da administração indireta, essa finalidade não
poderá ser modificada por ato administrativo, já que definida por lei, somente poderá ser
modificada por lei (princípio do paralelismo de formas).
PRINCÍPIO DO CONTROLE
Conjunto de meios através dos quais pode ser exercida a função fiscalizatória sobre determinado
órgão ou pessoa administrativa.
Controle político: dirigentes das entidades da Administração Indireta são escolhidos e nomeados
pela autoridade competente (Administração Direta);
Controle institucional: controle dos fins para os quais foi criada;
Controle administrativo: fiscalização dos agentes e rotinas; e
Controle financeiro: fiscalização das finanças.
DL 200/67:
Art. 19. Todo e qualquer órgão da Administração Federal, direta ou indireta, está sujeito à
supervisão do Ministro de Estado competente, excetuados unicamente os órgãos mencionados
no art. 32, que estão submetidos à supervisão direta do Presidente da República.
Art. 20. O Ministro de Estado é responsável, perante o Presidente da República, pela supervisão
dos órgãos da Administração Federal enquadrados em sua área de competência.
Parágrafo único. A supervisão ministerial exercer-se-á através da orientação, coordenação e
controle das atividades dos órgãos subordinados ou vinculados ao Ministério, nos termos desta lei.
2.7 Autarquias
Pessoa jurídica administrativa com relativa capacidade de gestão de interesses a seu cargo.
Pessoa jurídica de direito público, integrante da Administração Indireta, criada por lei para
desempenhar funções que, despidas de caráter econômico, sejam próprias e típicas do Estado.
DL 200/67:
Pelo princípio da simetria das formas sua extinção deve dar-se por lei também nos demais entes.
OBJETO
Praticam atos e contratos administrativos, com todas suas características, como os demais entes
públicos.
CLASSIFICAÇÃO
Quanto ao objeto:
AUTARQUIAS DE REGIME ESPECIAL: são autarquias “regidas por disciplina específica, cuja
característica seria a de atribuir prerrogativas especiais e diferenciadas”. (CARVALHO F.) a Lei
5.540/68, ao dispor sobre a organização do ensino superior, qualificou as Universidades oficiais
como autarquias de regime especial ou em fundações de direito público.
Essa ideia surgiu com as universidades públicas, para garantia de maior autonomia. Em regra,
quem escolhe o dirigente é o Poder Executivo, mas, nas universidades isso sempre foi diferente, já
que o seu dirigente era escolhido por ela mesma - autonomia universitária – com a necessidade de
um regime específico: escolha de dirigentes e liberdade pedagógica. Atualmente, esse termo é
utilizado também para as famosas AGÊNCIAS REGULADORAS, que também são autarquias em
regime especial, tais como as universidades públicas.
EMENTA: (1) Ação Direta de Inconstitucionalidade. (2) Art. 1º, II, da Lei nº 11.073, de 30.12.1997,
que acrescentou os §§ 7º e 8º ao art. 6º da Lei nº 8.109, de 1985, do Estado do Rio Grande do Sul;
Art. 1º, VI, da Lei nº 11.073, de 1997, que inseriu o inciso IX na Tabela de Incidência da Lei nº
8.109, de 1985; Decreto estadual nº 39.228, de 29.12.1998, que regulamentou a incidência da taxa
impugnada. (3) Alegada violação aos arts. 145, II e 145, § 2º, da Constituição. (4) Taxa de
Fiscalização e Controle de Serviços Públicos Delegados, instituída em favor da Agência Estadual
de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul - AGERGS, autarquia
estadual. (5) O faturamento, no caso, é apenas critério para incidência da taxa, não havendo
incidência sobre o faturamento. Precedente (RE 177.835, Rel. Min. Carlos Velloso) (6)
Improcedência da ação direta quanto aos dispositivos legais e não conhecimento quanto ao
Decreto nº 39.228, de 1988.
(ADI 1948, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 04/09/2002, DJ 07-02-
2003 PP-00020 EMENT VOL-02097-02 PP-00394)
Para JSCF a CF não permitiu a criação de tais autarquias em regime especial. O fato de gozarem de
determinadas características nada mais é que a particularização legal do regime jurídico.
PATRIMÔNIO
Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito
público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem.
PESSOAL
CONTROLE JUDICIAL
Tanto os atos de direito privado quanto os atos administrativos são controlados pelo Judiciário
pelas vias comuns.
Vale ressaltar que o mérito administrativo, praticado dentro da razoabilidade, está insuscetível de
apreciação judicial.
RESPONSABILIDADE CIVIL
Objetiva na prestação de serviços públicos (art. 37, § 6º CF) e subjetivo por comportamento
omissivo.
CF
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas
na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de
trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
ATENÇÃO: OAB não é autarquia, mas “serviço público independente”, mas também tem foro na
Justiça Federal:
2. Ostentando a OAB - Seccional de Santa Catarina a qualidade de litigar na Justiça Federal, cabe a
esse juízo a prerrogativa de reconhecer, ou não, a legitimidade de [a OAB] integrar a lide.
(CC 45.410/SC, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, Rel. p/ Acórdão Ministro JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 28/09/2005, DJ 12/12/2005, p. 251)
Nas causas em que litigam consumidores e concessionárias, intervindo agência reguladora, o feito
é deslocado para a Justiça Federal.
No mesmo sentido, acaso trate de ato de autoridade federal que viola direito líquido e certo, cabe
MS na JF.
SV STF 27 - Compete à Justiça estadual julgar causas entre consumidor e concessionária de serviço
público de telefonia, quando a ANATEL não seja litisconsorte passiva necessária, assistente, nem
opoente.
Caso a autarquia postule na Justiça Estadual a preferência de crédito, tal fato não desloca para a
Justiça Federal.
STJ 270 - O protesto pela preferência de crédito, apresentado por ente federal em execução que
tramita na Justiça Estadual, não desloca a competência para a Justiça Federal.
ATENÇÃO: A Justiça do Trabalho pode ser competente para julgar litígio trabalhista surgido antes
da imposição do regime jurídico único.
Art. 150 CF
VI - instituir impostos sobre:
a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;
§ 2º - A vedação do inciso VI, "a", é extensiva às autarquias e às fundações instituídas e mantidas
pelo Poder Público, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas
finalidades essenciais ou às delas decorrentes.
Impenhorabilidade de seus bens e de suas rendas - O pagamento deverá, em regra, ser realizado
pelo sistema de precatórios.
Imprescritibilidade de seus bens - Não podem ser adquiridos por usucapião (prescrição aquisitiva).
Não só imóveis, mas qualquer bem público.
STF 340 - Desde a vigência do Código Civil (obs.: de CC de 1916), os bens dominicais, como os
demais bens públicos, não podem ser adquiridos por usucapião.
Prescrição quinquenal
Decreto 20.910/32:
Art. 1º As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo e qualquer
direito ou ação contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for a sua natureza,
prescrevem em cinco anos contados da data do ato ou fato do qual se originarem.
Decreto 4.597/42:
Art. 2º O Decreto nº 20.910, de 6 de janeiro de 1932, que regula a prescrição quinquenal, abrange
as dívidas passivas das autarquias, ou entidades e órgãos paraestatais, criados por lei e mantidos
mediante impostos, taxas ou quaisquer contribuições, exigidas em virtude de lei federal, estadual
ou municipal, bem como a todo e qualquer direito e ação contra os mesmos.
Prerrogativas processuais:
Segundo o STF, os Conselhos Profissionais (exs.: CREA, CRM, COREN, CRO) possuem
natureza jurídica de autarquias federais, com exceção da OAB, que é um serviço público
independente, categoria ímpar no elenco das personalidades jurídicas existentes no direito
brasileiro.
Decorrências de sua natureza autárquica, bem como suas exceções, são encontradas por
meio da ferramenta “pesquisa pronta” disponível no site do STJ:
2. As Execuções contra a Fazenda Pública são submetidas às regras dos artigos 730 do CPC e
100 da Constituição Federal, que preveem a expedição de ofício requisitório ou precatório.
O mesmo rito é aplicado aos Conselhos.
(AgInt no REsp 1574059/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado
em 16/06/2016, DJe 05/09/2016)
I - No dizer do em. Ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, "os Conselhos e as
Ordens profissionais constituem pessoas dotadas de capacidade meramente
administrativa. Submetem-se, por isso mesmo, à tutela administrativa do Ministro de
Estado a cujo poder de controle estão juridicamente sujeitos e destinam-se, em sua
precípua função institucional, ao controle das atividades profissionais" (ADI 641 MC,
Tribunal Pleno, Rel. Min. Néri da Silveira, Rel. p/ Acórdão: Min. Marco Aurélio, DJ de
12/3/1993).
(CC 137.781/DF, Rel. Ministro FELIX FISCHER, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/04/2015, DJe
30/04/2015)
ATENÇÃO: “Ressalte-se mais uma vez que se deve ter atenção com esse tema nos próximos
concursos de Juiz Federal”. (Frase do Dizer o Direito)
Anuidades
Os Conselhos podem cobrar um valor todos os anos dos profissionais que integram a sua
categoria. A isso se dá o nome de anuidade (art. 4º, II, da Lei nº 12.514/2011). Veja o que diz
também a Lei nº 11.000/2004:
Fato gerador
O fato gerador das anuidades é a existência de inscrição no conselho, ainda que por tempo
limitado, ao longo do exercício (art. 5º da Lei nº 12.514/2011).
Execução fiscal
Competência
A execução fiscal, nesse caso, é de competência da Justiça Federal, tendo em vista que os
Conselhos são autarquias federais (Súmula 66 do STJ).
O legislador editou a Lei nº 12.514/2011, trazendo uma restrição de valor para que o
Conselho possa ajuizar a execução fiscal cobrando as anuidades em atraso. Veja:
Na prática, o Conselho precisa aguardar que o profissional fique inadimplente 4 anos para
propor a execução fiscal.
Note-se que a dispensa de ajuizamento de execuções fiscais cujo valor seja abaixo de R$
10.000,00 não se aplica aos conselhos de fiscalização profissional:
Mesmo não podendo ajuizar a execução para os valores abaixo de 4 (quatro) vezes o valor
cobrado anualmente, os Conselhos poderão tomar outras medidas contra o inadimplente,
como, por exemplo, suspender seu exercício profissional. Veja:
Art. 8º (...) Parágrafo único. O disposto no caput não limitará a realização de medidas
administrativas de cobrança, a aplicação de sanções por violação da ética ou a suspensão do
exercício profissional.
Essa limitação, como vimos, foi imposta apenas em 2011. A pergunta que surge diante disso
é a seguinte:
O que fazer com as execuções fiscais propostas antes da Lei nº 12.514/2011, que ainda estão
em tramitação e cuja quantia cobrada é inferior ao valor de quatro anuidades?
O STJ agora entende que as execuções ajuizadas antes da Lei 12.514/2011 devem continuar
tramitando mesmo que sejam inferiores a 4x o valor da anuidade. Em suma, não deverão ser
extintas.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.404.796-SP. Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
26/3/2014 (recurso repetitivo).
Para o Tribunal, o art. 8° da Lei 12.514/2011, não pode ser aplicado às execuções fiscais
propostas antes da sua vigência.
O art. 8º é uma norma de caráter processual e tem aplicação imediata aos processos em
curso (art. 1.046 do CPC/15).
Contudo, segundo a “Teoria dos Atos Processuais Isolados” cada ato processual deve ser
considerado separadamente dos demais para o fim de se determinar qual a lei que o rege.
Assim, a lei que disciplina o ato processual é aquela em vigor no momento em que ele é
praticado, ou seja, a publicação e a entrada em vigor de nova lei só atingem os atos ainda
por serem praticados. A regra do art. 8º impõe restrições para o momento em que a
execução é proposta. A Lei 12.514/2011 não traz nenhuma regra para execuções em curso.
Dessa feita, no caso de execuções propostas antes da Lei 12.514/2011, o ato de ajuizar já foi
praticado (e quando isso foi feito não havia nenhuma restrição legal). Logo, se houvesse a
extinção das execuções em curso, estaria sendo aplicada a Lei 12.514/2011 não de forma
imediata, mas sim de modo retroativo para alcançar atos que já foram praticados
(execuções já ajuizadas).
O argumento era o de que o art. 8º da Lei Para o STJ, o art. 8° da Lei 12.514/2011, não pode ser aplicado às
12.514/2011 seria uma norma de caráter execuções fiscais propostas antes da sua vigência.
processual e, como tal, teria aplicação
imediata aos processos em curso. Realmente, o art. 8º é uma norma de caráter processual e tem
aplicação imediata aos processos em curso (art. 1.046 do
Nesse sentido: CPC/15).
STJ. 2ª Turma. REsp 1.374.202-RS, Rel. Contudo, segundo a “Teoria dos Atos Processuais Isolados” cada
Min. Humberto Martins, julgado em ato processual deve ser considerado separadamente dos demais
7/5/2013 (Info 524) para o fim de se determinar qual a lei que o rege. Assim, a lei que
disciplina o ato processual é aquela em vigor no momento em
que ele é praticado, ou seja, a publicação e a entrada em vigor de
nova lei só atingem os atos ainda por serem praticados. A regra
do art. 8º impõe restrições para o momento em que a execução é
proposta. A Lei 12.514/2011 não traz nenhuma regra para
execuções em curso.
Lei 9.649/98: estabeleceu que teriam caráter privado, sem vínculo funcional com Administração
Pública e com foro na justiça federal. Porém, nesse aspecto, foi declarada inconstitucional, uma
vez que o exercício do poder de polícia é atividade privativa do Estado. Vejamos o dispositivo:
ADI 1717 declarou o caput e todos os §§ inconstitucionais, com exceção do 3º (que restou
prejudicado – EC 19) e do 9º do art. 58 que excluiu a OAB de tais dispositivos. Tratando-se o
exercício do poder de polícia de típica atividade estatal, não poderia ser delegado a um ente
privado:
Conselhos de fiscalização profissional – não podem propor ADI, mas podem ajuizar ACP
2. O art. 5º da Lei 7.347/85 (obs.: refere-se às ações civis públicas) elencou o rol dos
legitimados concorrentes para a defesa daqueles direitos, nos quais se incluem as
autarquias, em cuja categoria estão os Conselhos profissionais, uma vez que ostentam
natureza autárquica, conforme decidido pelo Supremo Tribunal Federal na ADI 1.717/DF.
Contudo, devem ter correlação entre a parte que detém legitimidade e o objeto da ação.
(REsp 1388792/SE, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
06/05/2014, DJe 18/06/2014)
STJ, 66: compete à Justiça Federal processar e julgar execução fiscal promovida por
conselho de fiscalização profissional.
STJ, 79: Os bancos comerciais não estão sujeitos a registro nos Conselhos Regionais de Economia.
STJ, 120: O oficial de farmácia, inscrito no Conselho Regional de Farmácia, pode ser Responsável
técnico por drogaria.
STJ, 275: O auxiliar de farmácia não pode ser responsável técnico por farmácia ou drogaria.
STJ, 413: O farmacêutico pode acumular a responsabilidade técnica por uma farmácia e uma
drogaria ou por duas drogarias.
STJ, 561: Os conselhos regionais de Farmácia possuem atribuição para fiscalizar e autuar as
farmácias e drogarias quanto ao cumprimento da exigência de manter profissional legalmente
habilitado (farmacêutico) durante todo o período de funcionamento dos respectivos
estabelecimentos.
Não é obrigatória a inscrição, nos Conselhos de Educação Física, dos professores e mestres
de dança, ioga e artes marciais (karatê, judô, tae-kwon-do, kickboxing, jiu-jitsu, capoeira e
outros) para o exercício de suas atividades profissionais.
(STJ. 2ª Turma. REsp 1.450.564-SE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 16.12.2014 - lnfo
554)
Termo inicial do prazo prescricional para punição de profissional liberal por infração
disciplinar
Qual é o prazo prescricional que o Conselho profissional possui para punir o profissional
liberal a ele vinculado e a partir de quando é contado?
5 anos. Esse prazo começa a ser contado, não da data em que a infração disciplinar ocorrer,
mas sim do dia em que o Conselho Profissional tiver conhecimento do respectivo fato (art.1°
da Lei 6.838/80).
(STJ. 1ª Turma. REsp 1.263.157-PE, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 05.03.2015 -
lnfo 557).
Sempre se entendeu que as causas que envolviam a OAB eram de competência da Justiça
Federal. Isso porque a OAB, por ser um conselho profissional, era classificada pela doutrina
como sendo uma autarquia federal. Logo, a competência seria da Justiça Federal com base
no art. 109, I, da CF/88:
Ocorre que o STF, ao julgar a ADI 3026/DF (08/06/2006), afirmou que a OAB não é uma
entidade da Administração Indireta da União (não é uma autarquia federal). Para o
Supremo, a OAB é um “serviço público independente”, categoria ímpar no elenco das
personalidades jurídicas existentes no direito brasileiro.
Com base nessa decisão do STF, surgiram respeitáveis opiniões defendendo que a
competência para julgar as causas envolvendo a OAB não deveria mais ser da Justiça
Federal, já que a Ordem não seria órgão, autarquia ou fundação federal. Desse modo, não se
enquadraria no art. 109, I, da CF/88.
A questão chegou até o STJ em um caso no qual foi impetrado mandado de segurança
contra o Presidente da subseção da OAB/AP. De quem é a competência para julgar esse
writ?
O Min. Rel. Humberto Martins considerou que, de fato, a OAB não pode ser classificada
como autarquia federal por conta da decisão do STF. No entanto, as funções
desempenhadas pela OAB possuem natureza federal uma vez que foram delegadas pela
União, por meio da Lei, para serem exercidas pela Ordem.
Art. 44. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), serviço público, dotada de personalidade
jurídica e forma federativa, tem por finalidade:
I - defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado democrático de direito, os direitos
humanos, a justiça social, e pugnar pela boa aplicação das leis, pela rápida administração da
justiça e pelo aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas;
II - promover, com exclusividade, a representação, a defesa, a seleção e a disciplina dos
advogados em toda a República Federativa do Brasil.
“Ambas as funções desempenhadas pela OAB possuem natureza federal. Não há como
conceber que a defesa do Estado Democrático de Direito, dos Direitos Fundamentais, etc. e
a regulação profissional dos advogados constituam atribuições delegadas pelos Estados
Membros.
Portanto, o presidente da seccional da OAB exerce função delegada federal, motivo pelo
qual, a competência para o julgamento do mandado de segurança contra ele impetrado é da
Justiça Federal.”
Desse modo, pelo menos no que tange ao mandado de segurança impetrado contra
Presidente de seccional da OAB, a 2ª Turma do STJ firmou posição no sentido de que se trata
de competência da Justiça Federal.
Como decorrência da natureza jurídica ímpar a OAB (“serviço público independente”) consagrada
pelo STF, ela:
a) não integra a administração indireta;
b) não está vinculada a qualquer órgão administrativo superior;
c) não há supervisão ministerial;
d) não se sujeita às normas de direito financeiro;
e) não precisa contratar por licitação;
f) não se sujeita à fiscalização do TCU;
g) não precisa realizar concurso público para contratação de pessoal;
h) seu pessoal é regido pela CLT;
i) as contribuições (anuidades) devidas pelos advogados não possuem natureza tributária; e
j) as contribuições (anuidades) devidas pelos advogados não se sujeitam à execução fiscal.
Obs.: para JSCF deveriam adotar regime estatutário, haja vista o retorno do regime jurídico único,
tal como ocorre com os conselhos de fiscalização profissional. Não obstante, o STF adotou
posicionamento diverso:
1. A Lei n. 8.906, artigo 79, § 1º, possibilitou aos "servidores" da OAB, cujo regime outrora era
estatutário, a opção pelo regime celetista. Compensação pela escolha: indenização a ser paga à
época da aposentadoria.
2. Não procede a alegação de que a OAB sujeita-se aos ditames impostos à Administração Pública
Direta e Indireta.
3. A OAB não é uma entidade da Administração Indireta da União. A Ordem é um serviço público
independente, categoria ímpar no elenco das personalidades jurídicas existentes no direito
brasileiro.
4. A OAB não está incluída na categoria na qual se inserem essas que se tem referido como
"autarquias especiais" para pretender-se afirmar equivocada independência das hoje chamadas
"agências".
5. Por não consubstanciar uma entidade da Administração Indireta, a OAB não está sujeita a
controle da Administração, nem a qualquer das suas partes está vinculada. Essa não-vinculação é
formal e materialmente necessária.
6. A OAB ocupa-se de atividades atinentes aos advogados, que exercem função
constitucionalmente privilegiada, na medida em que são indispensáveis à administração da Justiça
[artigo 133 da CB/88]. É entidade cuja finalidade é afeita a atribuições, interesses e seleção de
advogados. Não há ordem de relação ou dependência entre a OAB e qualquer órgão público.
7. A Ordem dos Advogados do Brasil, cujas características são autonomia e independência, não
pode ser tida como congênere dos demais órgãos de fiscalização profissional. A OAB não está
voltada exclusivamente a finalidades corporativas. Possui finalidade institucional.
8. Embora decorra de determinação legal, o regime estatutário imposto aos empregados da OAB
não é compatível com a entidade, que é autônoma e independente.
9. Improcede o pedido do requerente no sentido de que se dê interpretação conforme o artigo 37,
inciso II, da Constituição do Brasil ao caput do artigo 79 da Lei n. 8.906, que determina a aplicação
do regime trabalhista aos servidores da OAB.
10. Incabível a exigência de concurso público para admissão dos contratados sob o regime
trabalhista pela OAB.
11. Princípio da moralidade. Ética da legalidade e moralidade. Confinamento do princípio da
moralidade ao âmbito da ética da legalidade, que não pode ser ultrapassada, sob pena de
dissolução do próprio sistema. Desvio de poder ou de finalidade.
(ADI 3026, Relator: Min. Eros Grau, Tribunal Pleno, julgado em 08.06.2006)
Agências reguladoras
Conceito:
-São entidades administrativas; (integrantes da Administração Indireta)
- com alto grau de especialização técnica;
- integrantes da estrutura formal da administração pública;
- instituídas com autarquias sob regime especial;
- com a função de regular um setor específico de atividade econômica em sentido amplo ou um
determinado serviço público;
- ou de intervir em certas relações jurídicas decorrentes dessas atividades;
- que devem atuar com a maior autonomia possível relativamente ao Poder Executivo (leia-se:
sem interferências políticas);
- e com imparcialidade perante as partes interessadas (Estado, setores regulados e sociedade).
- Regulam a prestação de serviços públicos: ANEEL, Antaq, ANA, ANATEL, ANTT e Anac.
- Regulamentam serviços de utilidade pública: ANS e ANVISA.
- Controlam a exploração de atividades econômicas: ANP.
- Fiscalizam atividades de fomento: Ancine.
Licitação
Súmula vinculante 27 do STF: Compete à Justiça estadual julgar causas entre consumidor e
concessionária de serviço público de telefonia, quando a ANATEL não seja litisconsorte passiva
necessária, assistente, nem opoente.
Súmula 25 do STF: A nomeação a termo não impede a livre demissão, pelo Presidente da
República, de ocupante de cargo dirigente de autarquia.
É CONSTITUCIONAL lei estadual que prevê que os dirigentes de determinada agência reguladora
somente poderão ser nomeados após previamente aprovados pela Assembleia Legislativa.
Por outro lado, é INCONSTITUCIONAL a lei estadual que estabelece que os dirigentes de agência
reguladora somente poderão ser destituídos de seus cargos por decisão exclusiva da Assembleia
Legislativa, sem qualquer participação do Governador do Estado. Essa previsão viola o princípio da
separação dos poderes (art. 2° da CF/88).
(STF. Plenário. ADI 1949/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17.09.2014 - lnfo 759)
Agências executivas
Conceito
Trata-se, simplesmente, de uma qualificação que poderá ser conferida pelo poder publico às
autarquias em geral (e também as fundações publicas) que com ele celebrem o contrato de gestão
referido no § 8º do art. 37 da Constituição, e atendam aos demais requisitos fixadas pela Lei
9.649/1998.
Exemplo: INMETRO.
Qualificação
Art. 51 da Lei 9.649/98: O Poder Executivo poderá qualificar como Agência Executiva a autarquia
ou fundação que tenha cumprido os seguintes requisitos:
I - ter um plano estratégico de reestruturação e de desenvolvimento institucional em andamento;
II - ter celebrado Contrato de Gestão (obs.: prazo mínimo de 1 ano – § 1 2º do art. 52) com o
respectivo Ministério supervisor.
§ 1º A qualificação como Agência Executiva será feita em ato do Presidente da República.
§ 2º O Poder Executivo editará medidas de organização administrativa específicas para as Agências
Executivas, visando assegurar a sua autonomia de gestão, bem como a disponibilidade de recursos
orçamentários e financeiros para o cumprimento dos objetivos e metas definidos nos Contratos de
Gestão.
Desqualificação
Licitação
Regramento constitucional
Art. 37 da CF/88:
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público
de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou
emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado
em lei de livre nomeação e exoneração; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
XVII - a proibição de acumular estende-se a empregos e funções e abrange autarquias, fundações,
empresas públicas, sociedades de economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas,
direta ou indiretamente, pelo poder público;
XIX – somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de empresa
pública, de sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste
último caso, definir as áreas de sua atuação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de
1998
XX - depende de autorização legislativa, em cada caso, a criação de subsidiárias das entidades
mencionadas no inciso anterior, assim como a participação de qualquer delas em empresa privada;
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações
serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a
todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as
condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de
qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.
§ 9º O disposto no inciso XI (obs.: teto remuneratório) aplica-se às empresas públicas e às
sociedades de economia mista, e suas subsidiárias, que receberem recursos da União, dos Estados,
do Distrito Federal ou dos Municípios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em
geral. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
Art. 173 da CF/88: Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de
atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da
segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.
§ 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e
de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens
ou de prestação de serviços, dispondo sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de
1998)
I - sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela sociedade; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)
II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e
obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19,
de 1998)
III - licitação e contratação de obras, serviços, compras e alienações, observados os princípios da
administração pública; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
IV - a constituição e o funcionamento dos conselhos de administração e fiscal, com a participação
de acionistas minoritários; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
V - os mandatos, a avaliação de desempenho e a responsabilidade dos administradores. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
§ 2º As empresas públicas e as sociedades de economia mista não poderão gozar de privilégios
fiscais não extensivos às do setor privado.
§ 3º A lei regulamentará as relações da empresa pública com o Estado e a sociedade.
Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou
permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.
Parágrafo único. A lei disporá sobre:
I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter
especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização
e rescisão da concessão ou permissão;
II - os direitos dos usuários;
III - política tarifária;
IV - a obrigação de manter serviço adequado.
CONCEITOS: arts. 3º e 4º
ATENÇÃO - continua válida a regra de que a empresa pública pode admitir variadas formas
societárias:
4
Link: https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/lei-das-estatais-13303/, acessado em 17.09.16.
II - Empresa Pública – [...] podendo revestir-se de qualquer das formas admitidas em direito.
(Redação dada pelo Decreto-Lei nº 900, de 1969)
EMPRESAS ESTATAIS
Empresa pública Sociedade de economia mista
Não é restrita a determinada forma societária. Sempre é sociedade anônima.
Obs.: JSCF alerta que há formas incompatíveis, a (Artigos 5º da Lei 13.303/16; 5º, III, do DL nº
cooperativa, por exemplo. 200/67; 235 da lei nº 6.404/76 (Lei das Sociedades
por Ações) e art. 22, I, da Constituição da Federal
de 88)
O capital social é integralmente pertencente à Admite a participação de particulares no capital
Administração Pública, sendo que a maioria do capital social, mas a maioria das ações com direito a voto
votante pertence a uma pessoa política (leia-se pertencem a algum ente da Administração Pública
Administração Direta: União, Estado, DF ou Município). (Direta ou Indireta).
ATENÇÃO: mesmo que capital social seja integralmente ATENÇÃO: a participação em pequena escala do
pertencente à Administração Pública, caso a maioria do Poder Público (para fins de fomento, por exemplo)
capital votante não pertença a uma pessoa política em entidades privadas, por si só, não a qualifica
(Administração Direta), não poderá haver participação de com SEM, pois há necessidade de lei autorizando a
ente da Administração Indireta no capital da empresa criação e que a maioria das ações com direito a
pública. voto pertençam à Administração Pública.
Exemplos de empresas públicas: Exemplos de sociedades de economia mista:
CEF, EBCT, CEF, FINEP, Casa da Moeda, BNDES e SERPRO. Banco do Brasil, Banco da Amazônia, PETROBRÁS.
Também não houve alteração quanto à forma societária da empresa pública. No ponto continua
em vigor o art. 5º, inciso II, do Decreto-Lei 200/67, o dispositivo que prevê a liberdade de forma
societária, pois a Lei 13.303/16 foi omissa sobre o tema. A União pode, inclusive, criar nova forma
na lei autorizadora da EP. Já os Estados e Municípios devem observar as formas já existentes, haja
vista a competência da União para legislar sobre direito civil e empresarial.
(Obs.: JSCF alerta que há formas incompatíveis - sociedades em nome coletivo, cooperativa e
EIRELI, por exemplo -, ponto em que não foi alterado pelo novel estatuto das Estatais.)
Dada a liberdade de formas, é possível até mesmo a criação de uma empresa pública unipessoal,
ou seja, com somente uma pessoa jurídica participando. É o caso, por exemplo, da Caixa
Econômica Federal (CEF).
Não obstante, o Estatuto das Estatais promoveu adequações. Uma delas é esta: o art. 5º, inciso II,
do Decreto-Lei 200/67 estava revogado em parte pela CF/88, pois esta prevê que a criação da
empresa pública é autorizada por lei (art. 37, inciso XIX) enquanto aquele prescrevia que a
empresa pública era criada diretamente pela lei. A Lei 13.303/16, em seu art. 3º, expressamente
afirma que a criação é autorizada por lei.
Há, também, uma segunda modificação sofrida pelo art. 5º, inciso I, do Decreto-Lei 200/67. Nele
somente havia a previsão de exploração de atividade econômica pelas empresas públicas, ou seja,
não previa a prestação de serviços públicos. O atual Estatuto das Estatais prevê, ao lado da
exploração de atividade econômica, também de prestação de serviços públicos (art. 1º), seguindo
a leitura que se faz atualmente da Constituição.
ABRANGÊNCIA: art. 1º
Duas correntes doutrinárias divergiam quanto à lei que deveria regulamentar o § 1º do art. 173 da
CF/88. Uma corrente defendia que se tratava de matéria pertinente ao direito Administrativo e,
consequentemente, cada ente estatal deveria editar sua própria lei. A outra corrente sustentava
que deveria haver uma lei nacional – única para todos os entes – editada pela União, em razão de
ser dela a competência privativa para legislar sobre Direito Civil e Empresarial (art. 22, inciso I, da
CF/88). No que tange ao posicionamento do STF, há precedente prestigiando a necessidade de lei
nacional:
EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. COMERCIAL. SOCIETÁRIO. NORMAS LOCAIS QUE
ESTABELECEM A PARTICIPAÇÃO OBRIGATÓRIA DE EMPREGADOS DE EMPRESAS PÚBLICAS,
SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA E FUNDAÇÕES NOS RESPECTIVOS ÓRGÃOS DE GESTÃO
(CONSELHOS DE ADMINISTRAÇÃO E FISCAL) E DIRETORIA. ARTS. 42 E 218 (NOVA REDAÇÃO) DA
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. VIOLAÇÃO DO ART. 173, § 1º DA CONSTITUIÇÃO.
RESERVA DE LEI FEDERAL PARA DISPOR SOBRE DIREITO COMERCIAL.
Viola a reserva de lei para dispor sobre norma de direito comercial voltada à organização e
estruturação das empresas públicas e das sociedades de economia mista norma constitucional
estadual que estabelece número de vagas, nos órgãos de administração das pessoas jurídicas, para
ser preenchidas por representantes dos empregados. Ação direta de inconstitucionalidade julgada
parcialmente procedente.
(ADI 238, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em 24/02/2010, DJe-062
DIVULG 08-04-2010 PUBLIC 09-04-2010 EMENT VOL-02396-01 PP-00001 RT v. 99, n. 897, 2010, p.
131-139)
A União legislou adotando a segunda corrente (competência privativa da União com fulcro no art.
22, inciso I, da CF/88). Por conseguinte, produziu a Lei das Estatais nos moldes de uma lei nacional,
ou seja, destinou-a tanto à ela mesma (União) quanto aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios.
Suas normas se aplicam a toda e qualquer empresa pública e sociedade de economia mista, de
qualquer ente da Federação, que “explore atividade econômica de produção ou comercialização
de bens ou de prestação de serviços, ainda que a atividade econômica esteja sujeita ao regime de
monopólio da União ou seja de prestação de serviços públicos” (art. 1º da Lei 13.303/16).
A Lei 13.303/16, portanto, não faz distinção em relação a estatais exploradoras de atividade
econômica (ex.: Petrobras e Banco do Brasil) e prestadoras de serviços públicos (ex.: Infraero e
Correios): todas, indistintamente, devem observar os ditames da lei.
Também estão sujeitas à Lei das Estatais as empresas públicas e as sociedades de economia mista
que participem de consórcio, bem como a sociedade, inclusive a de propósito específico (SPE), que
seja controlada por empresa pública ou sociedade de economia mista.
Por outro lado, determinadas regras de governança previstas na Lei das Estatais (como práticas de
gestão de risco e controles internos, regras para indicação de administradores, dentre outras), em
princípio, não se aplicam às empresas públicas e sociedades de economia mista, incluindo
subsidiárias, com receita operacional bruta inferior a R$ 90 milhões no exercício anterior.
Digo “a princípio” porque a Lei estabelece um prazo de 180 dias para que o Poder Executivo de
cada ente estabeleça regras de governança próprias destinadas a suas estatais com receita inferior
ao limite. Se o Poder Executivo não editar essas regras no prazo estabelecido, suas estatais ficarão
submetidas às diretrizes da Lei 13.303/16.
REQUISITOS PARA ESCOLHA DOS ADMINISTRADORES (art. 17)
Súmula 8 do STF: Diretor de sociedade de economia mista pode ser destituído no curso do
mandato.
A escolha dos administradores das estatais deve recair sobre cidadãos de reputação ilibada e
notório conhecimento que preencham, cumulativamente, os seguintes requisitos:
Tempo mínimo de experiência profissional, conforme alguma das alternativas
apresentadas a seguir;
Formação acadêmica compatível;
Não ser inelegível.
A Lei das Estatais dispõe, ainda, que os requisitos de tempo de experiência profissional podem ser
dispensados no caso de indicação de empregado que preencha os seguintes requisitos:
tenha ingressado na EP ou SEM por meio de concurso público;
tenha mais de 10 anos de trabalho efetivo na EP ou SEM;
tenha ocupado cargo na gestão superior da EP ou SEM, comprovando sua capacidade para
assumir as responsabilidades dos cargos.
A Lei 13.303/16, ademais, veda a indicação para o Conselho de Administração e para a diretoria:
de representante do órgão regulador ao qual a estatal está sujeita, de Ministro de Estado,
de Secretário de Estado, de Secretário Municipal, de titular de cargo, sem vínculo
permanente com o serviço público, de natureza especial ou de DAS na Administração,
ainda que licenciados do cargo;
de dirigente estatutário de partido político e de titular de mandato no Poder Legislativo
de qualquer ente da federação, ainda que licenciados do cargo;
de pessoa que atuou, nos últimos 36 meses, como participante de estrutura decisória de
partido político ou em trabalho vinculado a organização, estruturação e realização de
campanha eleitoral;
de pessoa que exerça cargo em organização sindical;
de pessoa que tenha firmado contrato ou parceria, como fornecedor ou comprador,
demandante ou ofertante, de bens ou serviços de qualquer natureza, com a pessoa
político-administrativa controladora da estatal ou com a própria empresa ou sociedade
em período inferior a 3 anos antes da data de nomeação;
de pessoa que tenha ou possa ter qualquer forma de conflito de interesse com a pessoa
político-administrativa controladora da estatal ou com a própria empresa ou sociedade.
Importante ressaltar que a vedação prevista nos dois primeiros itens acima (autoridades do
Governo, dirigente de partido político e membro do Legislativo) estende-se também aos parentes
consanguíneos ou afins até o terceiro grau das pessoas nele mencionadas.
A Lei das Estatais passou a disciplinar a realização de licitações e contratos no âmbito das
empresas públicas e sociedades de economia mista, independentemente da natureza da
atividade desempenhada (prestadora de serviço ou exploradora de atividade econômica).
Consequentemente, a Lei 8.666/93 deixou de ser aplicada a essas entidades, salvo nos casos
expressamente descritos na própria Lei 13.303/16 (normas penais e parte dos critérios de
desempate).
Por outro lado, o pregão, conforme disciplinado na Lei 10.520/2002, será adotado
preferencialmente, nas empresas públicas e sociedades de economia mista, para aquisição de
bens e serviços comuns.
Portanto, agora, as estatais não vão mais utilizar as modalidades de licitação previstas na Lei
8.666/93 (convite, concorrência, tomada de preços, concurso e leilão), mas sim os procedimentos
previstos na Lei 13.303/16, sendo que, para a aquisição de bens e serviços comuns, elas devem
adotar preferencialmente o pregão.
Outros aspectos importantes sobre licitações e contratos previstos na Lei 13.303/16 são:
Hipóteses específicas de licitação dispensada (art. 28, § 3º), dispensável (art. 29) e
inexigível (art. 30);
Princípios a serem observados (art. 31);
Orçamento com estimativa de preços em regra deve ser sigiloso, somente podendo ser
divulgado mediante justificativa ou quando o julgamento for por maior desconto (art. 34);
Prazos para divulgação do edital conforme o critério de julgamento empregado (art. 39);
Inversão das fases de julgamento e habilitação (art. 51);
Modos de disputa aberto, com possibilidade de apresentação de lances, ou fechado, sem
lances (art. 52);
Critérios de julgamento: menor preço, maior desconto, melhor combinação de técnica e
preço, melhor técnica, melhor conteúdo artístico, maior oferta de preço, maior retorno
econômico e melhor destinação de bens alienados (art. 54);
Negociação com o primeiro colocado para obtenção de condições mais vantajosas,
podendo ser extensível aos demais licitantes quando o preço do primeiro colocado, mesmo
após a negociação, permanecer acima do orçamento estimado (art. 57);
Fase recursal única, como regra (art. 59);
Duração dos contratos, como regra, de cinco anos, admitidas determinadas exceções (art.
71);
Alteração dos contratos apenas por acordo entre as partes, ou seja, não pode haver
alteração unilateral pela estatal (art. 72);
O contratado pode (não é obrigado) aceitar alterações dos quantitativos, como regra, até
25% para acréscimos ou supressões (art. 81);
Regimes de contratação integrada ou semi-integrada (art. 42).
Interessante notar que a Lei 13.303/16 incorporou muitos procedimentos do Regime Diferenciado
de Contratações (RDC).
Ademais, vale destacar que, como hipótese de licitação dispensável, a Lei 13.303/16 estabelece
limites de R$ 100 mil para obras e serviços de engenharia e de R$ 50 mil para as demais compras e
serviços.
Por óbvio, também não precisarão licitar para comercializarem seus produtos e serviços:
A Lei ainda permite que esses limites de dispensa sejam alterados, para refletir a variação de
custos, por deliberação do Conselho de Administração da empresa pública ou sociedade de
economia mista, admitindo-se valores diferenciados para cada sociedade (art. 29, § 3º). E não há
limites definidos para essa alteração. Ou seja, é possível que o Conselho de Administração da
Petrobras, por exemplo, estabeleça que a entidade possa firmar contratos por dispensa de valores
até R$ 1 milhão, desde que tal limite reflita a sua variação de custos.
Lembrando que as estatais possuem um prazo de 24 meses para se adequarem às novas regras
estatuídas pela Lei 13.303/16, de modo que os procedimentos licitatórios e os contratos iniciados
ou celebrados nesses 24 meses permanecem regidos pela Lei 8.666/93 (art. 91).
Somente as empresas públicas federais são julgadas perante a Justiça Federal. As sociedades de
economia mista, inclusive as federais, são julgadas pela Justiça Estadual.
As empresas públicas estaduais, distritais e municipais devem ser processadas e julgadas perante a
Justiça Estadual.
Súmula 42 do STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é
parte sociedade de economia mista [...].
Súmula 556 do STF: É competente a Justiça Comum (obs.: estadual) para julgar as causas em que é
parte sociedade de economia mista.
Súmula 517 do STF: As sociedades de economia mista só têm foro na justiça federal, quando a
União intervém como assistente ou opoente.
STJ 365 - A intervenção da União como sucessora da Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA) desloca
a competência para a Justiça Federal ainda que a sentença tenha sido proferida por Juízo estadual.
ATENÇÃO: causas envolvendo essas relações de trabalho devem ser processadas e julgadas
perante a Justiça do Trabalho (CF/88, art. 114), pois seus funcionários são celetistas.
Custas judiciais
Não há isenção de custas judiciais, salvo para a CEF nas causas que versarem sobre FGTS. Não
obstante, sendo a CEF sucumbente, deve restituir as custas adiantadas pela parte vencedora.
Art. 24-A da Lei 9.028/95: A União, suas autarquias e fundações, são isentas de custas e
emolumentos e demais taxas judiciárias, bem como de depósito prévio e multa em ação rescisória,
em quaisquer foros e instâncias. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.180-35, de 2001)
Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo a todos os processos administrativos e judiciais
em que for parte o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS, seja no polo ativo ou passivo,
extensiva a isenção à pessoa jurídica que o representar em Juízo ou fora dele. (Incluído pela
Medida Provisória nº 2.180-35, de 2001)
Súmula 462 do STJ. Nas ações em que representa o FGTS, a CEF, quando sucumbente, não está
isenta de reembolsar as custas antecipadas pela parte vencedora.
Criação e extinção
ATENÇÃO: não são criadas diretamente por lei. A lei apenas autoriza a sua criação. Tal lei
deve ser prévia e específica.
A iniciativa dessa lei é do Chefe do Executivo (CF/88, art. 37, XIX c/c art. 61, par. 1º, II, "e").
Em atenção à teoria da simetria das formas, a extinção das empresas governamentais também
deve ser precedida de autorização legislativa.
Objeto
Trata-se de aplicação do princípio da subsidiariedade, pelo qual o Estado apenas deve atuar como
agente econômico quando o interesse público em questão não puder ser satisfatoriamente
atendido pela iniciativa privada, revelando-se necessária sua atuação, que, ressalte-se, não pode
excluir a atuação dos particulares em igualdade de condições (CRFB, art. 173, par. 1º).
Os serviços públicos prestados pelas EP e SEM são serviços que também poderiam ser prestados
também pela iniciativa privada. Excluem-se os serviços próprios do Estado (exs.: segurança pública,
prestação jurisdicional e defesa nacional).
Pode-se dizer, portanto, que o âmbito de atuação das empresas estatais está relacionado às
atividades econômicas lato sensu, que abrangem (1) os serviços públicos, (2) as atividades
econômicas stricto sensu monopolizadas pelo Estado e as (3) atividades econômicas stricto sensu
exploradas pelo Estado em regime de concorrência com os particulares.
Assim, costuma-se distinguir as empresas estatais que prestam serviço público daquelas que
exploram atividade econômica.
5
ADI 1642, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 03/04/2008, DJe-177 DIVULG 18-09-2008
PUBLIC 19-09-2008 EMENT VOL-02333-01 PP-00001 RTJ VOL-00207-01 PP-00194.
Pessoal
Seus funcionários possuem vínculo de natureza contratual (artigo 173, § 1º, II, da CF/88), regidos
pela CLT (são celetistas). Seus litígios são solucionados pela Justiça do Trabalho (art. 114 da CF/88).
A admissão de pessoal submete-se a concurso público (art. 37, II, CF/88). A regra vale, destaca-se,
tanto para as empresas estatais exploradoras de atividade econômica como para aquelas
prestadoras de serviços públicos. Esse é o entendimento do Supremo Tribunal Federal6 e também
do Tribunal de Contas da União7, que inclusive cristalizou a matéria no enunciado nº 231. (Obs.:
CABM defende que seria dispensável concurso público nas empresas que exploram atividade
econômica, mas é uma posição minoritária.)
Não podem cumular empregos, cargos ou funções, salvo as exceções previstas na própria CF/88
(art. 37, inciso XVII).
São equiparados a funcionário público para fins penais (art. 327, CP).
6
Por todos e na mesma direção, vale conferir o seguinte julgado: MS 21322, Relator(a): Min. PAULO
BROSSARD, Tribunal Pleno, julgado em 03/12/1992, DJ 23-04-1993 PP-06921 EMENT VOL-01700-04 PP-00593
RTJ VOL-00146-01 PP-00139.
7
"A exigência de concurso público para admissão de pessoal se estende a toda a Administração Indireta, nela
compreendidas as Autarquias, as Fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, as Sociedades de
Economia Mista, as Empresas Públicas e, ainda, as demais entidades controladas direta ou indiretamente pela
União, mesmo que visem a objetivos estritamente econômicos, em regime de competitividade com a iniciativa
privada". Vide, ainda: TC-006.658/1989-0, Relator: Homero Santos, D.O.U. 01/06/1992.
I - Os empregados públicos não fazem jus à estabilidade prevista no art. 41 da CF, salvo aqueles
admitidos em período anterior ao advento da EC nº 19/1998. Precedentes.
II - Em atenção, no entanto, aos princípios da impessoalidade e isonomia, que regem a admissão
por concurso publico, a dispensa do empregado de empresas públicas e sociedades de economia
mista que prestam serviços públicos deve ser motivada, assegurando-se, assim, que tais princípios,
observados no momento daquela admissão, sejam também respeitados por ocasião da dispensa.
III – A motivação do ato de dispensa, assim, visa a resguardar o empregado de uma possível
quebra do postulado da impessoalidade por parte do agente estatal investido do poder de
demitir.
IV - Recurso extraordinário parcialmente provido para afastar a aplicação, ao caso, do art. 41 da
CF, exigindo-se, entretanto, a motivação para legitimar a rescisão unilateral do contrato de
trabalho.
(RE 589998, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 20/03/2013,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-179 DIVULG 11-09-2013 PUBLIC 12-
09-2013)
Subsidiárias
Seu controle e gestão incumbem à empresa pública ou à sociedade de economia mista matriz.
Art. 37, inciso XX, da CF/88: depende de autorização legislativa, em cada caso, a criação de
subsidiárias das entidades mencionadas no inciso anterior, assim como a participação de qualquer
delas em empresa privada;
Art. 2º, § 2º, da Lei 13.303/16: Depende de autorização legislativa a criação de subsidiárias de
empresa pública e de sociedade de economia mista, assim como a participação de qualquer delas
em empresa privada, cujo objeto social deve estar relacionado ao da investidora, nos termos do
inciso XX do art. 37 da Constituição Federal.
Sua criação não necessita de autorização específica. Pode ser realizada na própria lei de criação da
matriz.
Nada impede que a entidade primária constitua uma subsidiária integral, ou seja, aquela que
possui um único acionista.
Art. 251 da Lei 6.404/76: A companhia pode ser constituída, mediante escritura pública, tendo
como único acionista sociedade brasileira.
§ 1º A sociedade que subscrever em bens o capital de subsidiária integral deverá aprovar o laudo
de avaliação de que trata o artigo 8º, respondendo nos termos do § 6º do artigo 8º e do artigo 10 e
seu parágrafo único.
§ 2º A companhia pode ser convertida em subsidiária integral mediante aquisição, por sociedade
brasileira, de todas as suas ações, ou nos termos do artigo 252.
Art. 37, inciso XX, da CF/88: depende de autorização legislativa, em cada caso, a criação de
subsidiárias das entidades mencionadas no inciso anterior, assim como a participação de qualquer
delas em empresa privada;
Art. 2º, § 2º, da Lei 13.303/16: Depende de autorização legislativa a criação de subsidiárias de
empresa pública e de sociedade de economia mista, assim como a participação de qualquer delas
em empresa privada, cujo objeto social deve estar relacionado ao da investidora, nos termos do
inciso XX do art. 37 da Constituição Federal.
ATENÇÃO: a mera participação do Estado em entidades privadas não tem o condão de transformá-
las em sociedade de economia mista, sobretudo pela ausência, nesta hipótese, da necessária
autorização legislativa exigida para a criação das sociedades de economia mista.
Regime jurídico
Como regra, praticam atos de direito privado. Todavia, em determinadas situações, como a
licitação, praticam atos de império, controlados pelas vias do MS e ação popular.
Súmula 333 do STJ: Cabe mandado de segurança contra ato praticado em licitação promovida por
sociedade de economia mista ou empresa pública.
Seu regime jurídico é híbrido (normas de direito privado com derrogações por normas de ordem
pública.
Em caso de exercício de atividade econômica, não há incidência do art. 37, § 6º, da CF/88.
Prevalece na doutrina que a pessoa federativa à qual estão vinculadas as EP e SEM responde
subsidiariamente.
Art. 1º-C da Lei 94.94/97: Prescreverá em cinco anos o direito de obter indenização dos danos
causados por agentes de pessoas jurídicas de direito público e de pessoas jurídicas de direito
privado prestadoras de serviços públicos. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)
Súmula 39 do STJ: Prescreve em vinte anos (obs.: atualmente são 3 anos) a ação para haver
indenização, por responsabilidade civil, de sociedade de economia mista.
- Está superada.
II – Bens pertencentes a sociedade de economia mista podem ser adquiridos por usucapião.
Precedentes.
(REsp 647.357/MG, Rel. Ministro CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/09/2006, DJ
23/10/2006, p. 300)
No que tange à falência, não foi feita na Lei 11.101/05 distinção entre prestadoras de serviço
público ou voltadas à atividade econômica, tendo simplesmente consignado não ser possível para
EP e SEM.
Apesar da exclusão expressa da Lei, a questão sobre a possibilidade ou não das EP e SEM
sujeitarem-se à falência não é pacífica na doutrina.
ATENÇÃO: não possuem as prerrogativas processuais da Fazenda Pública (exceto quanto aos bens
afetados à prestação de serviço público).
A regra é a penhorabilidade dos bens da sociedade de economia mista, ainda que seja a mesma
prestadora de serviço público, excetuando-se a hipótese de os bens constritos estarem
diretamente afetados a essa finalidade, quando passam a ostentar a prerrogativa da
impenhorabilidade, submetendo-se ao mesmo regime jurídico dos bens pertencentes à Fazenda
Pública. (TRF2, AG 200302010056618, DJU 04/03/2009)
Regime tributário
Regra geral, não podem gozar de privilégios fiscais não extensivos ao setor privado (art. 173, § 2º,
CF/88).
Para alguns autores (Maria Sylvia e CABM) o nivelamento apenas seria aplicável nos casos de
entidades que exploram atividade econômica, podendo haver privilégios para as que executem
serviços públicos. JSCF e Hely divergem, afirmam que nenhuma delas deveria gozar de privilégios.
Exceção 2: EP ou SEM que, apesar de exercerem atividade econômica, não possuem finalidade
lucrativa:
Nesse tipo de entidade, não se pode abstrair a figura daquele que faz a dotação.
Características básicas:
Figura do instituidor
Fim social da entidade
Ausência de fins lucrativos
Nas fundações públicas, basicamente, o que é modificado é a natureza do instituidor que passa a
ser o Estado.
Várias denominações já foram atribuídas nas legislações: fundações instituídas pelo Poder Público,
fundações controladas pelo PP, fundações sob controle estatal, etc.
Ainda que privadas, sofrem controle do Tribunal de Contas.
Segunda corrente – defende a tese de que, mesmo instituídas pelo Poder Público, as fundações
públicas têm sempre personalidade jurídica de direito privado. Essa era a opinião clássica de Hely
Lopes. Com o advento da CF/88, passou a aceitar a existência da personalidade de direito público.
JSCF sempre defendeu tal corrente, afirmando ser incoerente uma entidade (fundação) ser espécie
da outra (autarquia).
Quatro fatores trazidos pelo STF para distinguir a natureza jurídica das fundações (direito público
ou privado):
Para JSCF o único fator de distinção válido é a origem dos recursos. Fundações governamentais
dependem diretamente do orçamento público. As privadas sobrevivem da renda de seus serviços
ou doações.
Art. 5º, IV, do Decreto-Lei 200/67: Fundação Pública - a entidade dotada de personalidade jurídica
de direito privado, sem fins lucrativos, criada em virtude de autorização legislativa, para o
desenvolvimento de atividades que não exijam execução por órgãos ou entidades de direito
público, com autonomia administrativa, patrimônio próprio gerido pelos respectivos órgãos de
direção, e funcionamento custeado por recursos da União e de outras fontes.
§ 3º As entidades de que trata o inciso IV deste artigo adquirem personalidade jurídica com a
inscrição da escritura pública de sua constituição no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, não se lhes
aplicando as demais disposições do Código Civil concernentes às fundações.
Característica fundamental
Não pode comportar o intuito de obtenção de lucros. Seu superavit deve ser utilizado em sua
própria estrutura.
Objeto
Caso instituída como de direito privado, deve sujeitar-se aos objetos do CC. Por outro lado, tendo
natureza de direito público, poderá indicar objeto diverso.
Criação e extinção
Fundação pública de direito privado: a lei apenas autoriza a criação, uma vez que a personalidade
destas apenas é adquirida com a inscrição da escritura pública.
Art. 37, XIX, CF/88: Somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a
instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação (obs.: trata-se de
fundação pública de direito privado), cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as
áreas de sua atuação;
Fundação pública de direito público é criada diretamente por lei, momento em que adquire
personalidade jurídica, nos mesmos moldes das autarquias.
A extinção será autorizada por lei ou ela mesma extinguirá, a depender da natureza privada ou
pública da fundação.
Regime jurídico
As fundações públicas de direito público sujeitam-se ao mesmo regime das autarquias, com as
mesmas prerrogativas processuais.
Art. 5º, § 3º, Decreto-Lei 200/67: As entidades de que trata o inciso IV deste artigo adquirem
personalidade jurídica com a inscrição da escritura pública de sua constituição no Registro Civil de
Imunidade recíproca
Art. 150, § 2º, da CF: - A vedação do inciso VI, "a", é extensiva às autarquias e às fundações
instituídas e mantidas pelo Poder Público, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços,
vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes.
Patrimônio
Apenas as fundações públicas de direito público possuem bens caracterizados como bens públicos.
Pessoal
Fundações públicas de direito público adotam o mesmo regime das autarquias: regime jurídico
único (estatutários). O pessoal das fundações públicas de direito privado são celetistas.
Controle
Controle institucional
Art. 66 do CC. Velará pelas fundações o Ministério Público do Estado onde situadas.
Controle finalístico
Nos casos das fundações governamentais é dispensável, independente da natureza, pois o
controle já é exercido pela Administração Direta. (JSCF e Maria Sylvia)
Controle Judicial
Ambas podem praticar atos de direito privado ou atos administrativos. Assim, o controle pode se
dar pelas vias ordinárias ou especiais nos casos de atos administrativos.
Competência judicial
Fundações com personalidade de direito público federal serão julgadas na Justiça Federal
competente, inclusive demandas envolvendo a relação estatutária com seus servidores.
RESPONSABILIADE CIVIL
Tanto as fundações públicas de direito privado, quanto as de direito público, que prestarem
serviços públicos respondem objetivamente na forma do art. 37, § 6º, da CF/88.
Art. 37, § 6º, da CF: As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de
serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
Art. 1o Esta Lei dispõe sobre normas gerais para a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios contratarem consórcios públicos para a realização de objetivos de interesse
comum e dá outras providências.
União somente participará se o (s) Estado (s) integrante do território também participar.
(não participa apenas em conjunto com Municípios)
III – ser contratado pela administração direta ou indireta dos entes da Federação
consorciados, dispensada a licitação.
4º Registro no RPEM
Contratos de rateio
Prazo de vigência não podem superar prazo da dotação. Salvo: programas incluídos no
plurianual ou gestão de serviços custeadas por tarifas.
Todos são partes legítimas para exigir cumprimento do contrato e devem fornecer
informações para contabilidade das despesas nos termos da LC 101/00
Se não consignar dotações suficientes pode ser excluído, após prévia suspensão.
Responsabilidade do consórcio
Entes consorciados respondem subsidiariamente (não, solidaria)
Bens destinados pelo retirante apenas serão revertidos em caso de expressa previsão no
contrato ou transferência.
Bens, encargos e obrigações de serviços custeados por tarifas serão atribuídos aos titulares.
Até que haja disciplina, todos serão solidários pelos serviços, podendo interpor ação de
regresso dos demais entes.
Contratos de programa.
As obrigações que um ente da Federação constituir para com outro ente da Federação ou
para com consórcio público no âmbito de gestão associada - para validade.
Mediante previsão contrato de consórcio - contrato de programa pode ser celebrado por
entes de D. pub/priv. da adm. ind. (nesse caso será extinto caso contratado não mais integre
administração ente consorciado.
Art. 19. O disposto nesta Lei não se aplica aos convênios de cooperação, contratos de
programa para gestão associada de serviços públicos ou instrumentos congêneres, que
tenham sido celebrados anteriormente a sua vigência.
Di Pietro defende que é possível a criação ou não do consórcio.
Legislação: arts. 21, XI e, XII, 37, § 8º, e 177, §2º, III, da CF; arts. 5º, 6º e 9º da Lei
9.986/2000; arts. 51 e 52 da Lei 9.649/98; art. 24 da Lei 8.666/93; Lei 8.958/94, Lei 9.427/96
(ANEEL), Lei nº 9.472/97 (ANATEL), Lei nº 9.478/97 (ANP), Lei nº 9.961/00 (ANS), Lei nº
9.984/00 (ANA), Lei nº 9.782/99 (ANVISA, Lei nº 10.233/01 (ANTT e ANTAQ), MP nº 2.228-
1/2001 (ANCINE), Lei nº 11.182/05 (ANAC), Decreto nº 2.487/98; Decreto nº 2.488/98.
Exemplos de autarquias que têm indevidamente nome de agência: ADA; ADENE; AEB
(Agência Espacial Brasileira).
Há órgão da administração direta que ganhou o nome de Agência: ABIN (Agência Brasileira
de Inteligência).
Há uma autarquia de regime especial que não ganhou o nome de agência: CVM (Comissão
de Valores Mobiliário - Lei 10.411/02).
Não é nova espécie de pessoa jurídica, mas uma qualificação que visa aumentar a eficiência
da Administração por meio da flexibilização de exigências legais. Exemplo: INMETRO
(Mazza).
Exemplos: INMETRO, ADENE.
Há na doutrina uma divergência, há quem diga que não existem atualmente, no Brasil
(Marinela).
A previsão inicial dessa categoria de autarquias ocorreu com o advento da Lei 9.649/98, que
dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos Ministérios na Administração
Pública Federal. Conforme o disposto no art. 51 do referido diploma, ato do Presidente da
República poderá qualificar como agência executiva autarquias e fundações, desde que:
Características:
a) são autarquias, fundações e órgãos que recebem a qualificação por decreto do Presidente
da República ou portaria expedida por Ministro de Estado;
Importante: nos termos do art. 24, parágrafo único, da Lei n. 8.666/93, as agências
executivas têm o dobro do limite para contratação direta por dispensa de licitação. Assim,
obras e serviços de engenharia de até R$ 30.000,00 (trinta mil reais) e demais objetos de até
R$ 16.000,00 (dezesseis mil reais) podem ser contratados pelas agências executivas sem
licitação.
Fiscalizam e controlam as ações dos investidores privados que passaram a exercer as tarefas
antes realizadas pelo próprio Estado.
b) mandatos fixos: prazo determinado pela Lei de criação da agência. A duração dos
mandatos varia nas diversas agências reguladoras (3 anos no caso da Anvisa e da ANS; 4
anos para a Aneel, ANP, ANA, ANTT, ANTAQ e ANCINE; 5 anos para a ANATEL).
Polêmica: questão da não coincidência dos mandatos de dirigentes das agências com o do
Presidente da República que os indicou. Isso faz com que o novo Presidente da República
seja obrigado a aceitar a permanência de diretores de agências indicados pelo governo
anterior. É apontado como fator do declínio destas agências no Brasil.
As agências reguladoras são autarquias com regime jurídico especial, dotadas de autonomia
reforçada em relação ao ente central, tendo em vista 2 fundamentos principais:
i) despolitização (ou “desgovernamentalização”), conferindo tratamento técnico e maior
segurança jurídica ao setor regulado; e
ii) necessidade de celeridade na regulação de determinadas atividades técnicas.
Características: a concessão do rótulo “agência reguladora” é efetivada pela LEI que cria a
autarquia em regime especial.
O regime especial da agência reguladora decorre das seguintes características:
vii) INDEPENDÊNCIA: para Maria Sylvia, a independência deve ser entendida em termos
compatíveis com o regime constitucional brasileiro.
Portanto, temos:
- Atividade meio: obras ou serviços de engenharia seguem a lei 8.666/93;
demais atividades-meio: consulta ou pregão.
- Atividade fim: agência não precisa seguir a lei 8.666/93, regendo-se exclusivamente por
sua lei.
Obs.: o pregão foi regulamentado para todos os entes da Federação e a consulta é a
modalidade específica de licitação das agências. A consulta ainda não foi regulamentada e
serve à aquisição de bens e serviços não comuns, excetuadas as obras e serviços de
engenharia civil.
Obs.: Busca e apreensão de equipamentos realizada pela ANATEL: ANATEL não tem poder
para fazer cessar as atividades da rádio e apreender seus equipamentos, conforme
entendimento atual do STJ. O STF, no julgamento da ADI 1668-5, suspendeu a eficácia do
art. 19, XV, da Lei 9.472/1997, que concedia à ANATEL a competência para,
administrativamente, proceder à apreensão de equipamentos utilizados indevidamente pela
rádio comunitária, necessitando a agência, para imediata cessação de funcionamento da
radiodifusão, recorrer ao Judiciário.
Fontes constitucionais das agências reguladoras no Brasil (só a ANATEL e a ANP têm
previsão constitucional):
a) Art. 21, XI, da CF (EC 08/95): órgão regulador para o setor de telecomunicações.
b) Art. 174 da CF: o Estado é agente normativo e regulador da atividade econômica; e
c) Art. 177, § 2º, III, da CF (EC 09/95): órgão regulador do setor do petróleo e gás natural.
(b) Agências reguladoras que fiscalizam o serviço público prestado por particular e público:
ANS (Agência Nacional da Saúde - Lei 9961/00) - normatizar, controlar e fiscalizar as
atividades que garantam a assistência suplementar à saúde; ANVISA (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária - Lei 9782/99) - promover a proteção da saúde da população, por
intermédio do controle sanitário, da produção e da comercialização de produtos e serviços
submetidos à vigilância sanitária, especialmente das indústrias de medicamentos e
cosméticos, inclusive dos ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a eles
relacionados, bem como o controle de portos, aeroportos e de fronteiras; ANAC (Agência
Nacional de Aviação Civil - Lei 11.182/02) - regular e fiscalizar as atividades de aviação civil e
infraestrutura aeronáutica e aeroportuária.
(c) Agências que cuidam do monopólio do petróleo: ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás
Natural e Biocombustíveis - Lei 9478/97) - promover a regulação, a contratação e a
fiscalização das atividades econômicas integrantes da indústria do petróleo.
(d) Agências que cuidam do patrimônio público: ANA (Agência Nacional de Águas - Lei
9984/00) - implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos
(e) Agências que fomentam a atividade privada: ANCINE (Agência Nacional de Cinema - MP
2228-1/01 e Lei 10.454/02) - fomentar, regular e fiscalizar a indústria cinematográfica e
videofonográfica.
Algumas impropriedades: nem sempre quando uma entidade receber o nome de Agência
necessariamente será uma agência reguladora. Ex.: SUDAM (substituiu a ADA); SUDENE
(substituiu a ADENE).
- CVM (Comissão de Valores Mobiliário): a lei estabeleceu que se trata de uma autarquia em
regime especial. Para Mazza é agência reguladora.
Lei 6.385/76, Art. 5º. É instituída a Comissão de Valores Mobiliários, entidade autárquica em
regime especial, vinculada ao Ministério da Fazenda, com personalidade jurídica e
patrimônio próprios, dotada de autoridade administrativa independente, ausência de
subordinação hierárquica, mandato fixo e estabilidade de seus dirigentes, e autonomia
financeira e orçamentária.
1ª corrente: para os críticos do poder normativo das agências, em qualquer hipótese a lei
prevalecerá sobre os atos das agências.
2ª corrente: para os defensores do poder normativo ampliado das agências o ato normativo
que respeita os parâmetros fixados pela lei deslegalizadora prevalece sobre a legislação
anterior.
Não significa que o ato administrativo tenha primazia sobre a lei, pois a lei deslegalizadora,
ao efetivar o rebaixamento hierárquico da matéria, por opção do próprio legislador ela
deixou de ser regulada por lei e passou para a seara do ato administrativo normativo. A
revogação da legislação anterior não é operada diretamente pelo ato administrativo
normativo regulatório, mas sim pela própria lei deslegalizadora que utiliza o ato da agência
para revogar, de forma diferida no tempo, a lei anterior.
O STF utilizou a tese da deslegalização e da revogação diferida para resolver conflito entre
leis e atos infralegais tributários: o prazo para recolhimento do IPI era previsto no DL 326/67
e depois a Portaria 266/88 do Ministro da Fazenda, com fundamento no art. 66 da Lei
7450/86, previu outro prazo. Para o STF, a Portaria prevalecia, pois a Lei 7450/86 teria
revogado o DL 326/67 em razão da deslegalização.
Diretorias colegiadas: a Lei n. 9.986/2000 (sobre gestão de recursos humanos das agências
federais) determina a sua obrigatoriedade. As Diretorias Colegiadas são compostas por
cinco, quatro ou três diretores (conforme a entidade) nomeados pelo Presidente da
República com aprovação do Senado Federal (investidura é um ato administrativo
complexo).
3ª corrente (Marcos Juruena Villela Souto): cabimento do recurso impróprio por ilegalidade
(anulação da decisão ilegal da agência – art. 84, II, da CF) e não cabimento do recurso por
conveniência e oportunidade (impossibilidade de revogação da decisão regulatória).
Parecer AGU 04/2006: abordou diversos temas relativos à supervisão ministerial sobre as
atividades das agências reguladoras federais, especialmente para o fim de admitir a
avocação, pelo Presidente da República, de competências regulatórias das agências. Ou seja,
no âmbito de sua competência regulatória não são vinculadas ou subordinadas ao Ministério
supervisor, mas se ultrapassarem esse âmbito, poderão sofrer controle por meio de recurso
hierárquico impróprio ou mesmo de ofício.
1ª corrente (JSCF): são tributos (art. 145, II, da CF), pois são instituídas por lei (princípio da
legalidade tributária) em razão do exercício do poder de polícia (fato gerador das taxas) e
possuem caráter compulsório.
Classificação
• Quanto à titularidade federativa (origem): (a) Agências reguladoras federais (ex.: ANEEL,
ANATEL, ANP); (b) Agências reguladoras estaduais (ex.: Agência Reguladora de Energia e
Saneamento Básico do Estado do RJ - AGENERSA); (c) Agências reguladoras distritais (ex.:
Agência Reguladora de Águas e Saneamento do DF – ADASA); e (d) Agências reguladoras
municipais (ex.: Agência de Regulação dos Serviços Públicos Delegados de Campo Grande –
AGEREG).
Regime de pessoal: A Lei nº 9.986/00 definiu o regime como celetista e todo o quadro de
pessoal constituído por contrato temporário. Na ADI 2310, o STF suspendeu (em cautelar)
este regime, pois as exigências de alta contratação e especialização (qualificação)
demandam a atribuição de maiores garantias, o que ocorre no regime estatutário (cargo
público), além de que envolve necessidades permanentes (e não excepcionais – CF, art. 37,
XI) e a contratação temporária geraria instabilidade.
Após a decisão em cautelar do STF, a MP 155/03 alterou a Lei nº 9.986, criando cargos
públicos. Como cargo público precisar ser criado mediante LEI e mais de 4 mil cargos foram
criados pela referida MP, ela foi convertida na Lei 10.871 e os contratados temporários
permaneceriam até o término dos contratos e, depois, os cargos seriam ocupados por meio
de concurso público (conforme STF).
A ADI 2310 perdeu o objeto e foi extinta sem julgamento do mérito. O Presidente da
República, contudo, editou várias MP’s, todas convertidas em leis, prorrogando esses
contratos temporários inconstitucionais. A ADI 3678 questionou essas prorrogações, mas
está pendente de julgamento.
Atualmente, o regime deve ser o estatutário (conforme a lei), embora haja cargos
temporários inconstitucionais prorrogados.
ANTT (Lei 10.233/01) e DNIT: o art. 102-A da Lei 10.233/2002 vinculou a extinção do DNER à
instalação das seguintes Autarquias: ANTT, ANTAQ e DNIT. Referidas autarquias foram
instaladas em 13/02/2002, por meio dos Decretos 4.130 (ANTT), 4.122 (ANTAQ) e 4.129
(DNIT).
DNIT tem competência para aplicar multas por excesso de velocidade: Em julgamento de
REsp, a 2ª Turma do STJ decidiu que o DNIT possui competência para fiscalizar o trânsito e
aplicar multas por excesso de velocidade nas rodovias federais. A decisão reformou acórdão
do TRF4 que entendeu ser atribuição da Polícia Rodoviária Federal (PRF) promover
autuações e aplicar sanções por inobservância do limite de velocidade nas rodovias e
estradas federais. O relator do recurso, ministro Herman Benjamin, reconheceu que o
Código de Trânsito Brasileiro (CTB) estabelece, em seu artigo 20, III, ser competência da PRF
aplicar e arrecadar multas impostas por infrações de trânsito, mas ressaltou que essa
atribuição não é exclusiva. O ministro destacou que, de acordo com o artigo 21 do CTB, os
órgãos e entidades executivos rodoviários da União, dos estados, do Distrito Federal e dos
municípios também são competentes para fiscalizar, autuar e aplicar sanções. Herman
Benjamin também citou a Lei 10.233/01, que ampliou as funções exercidas pelo DNIT. A
norma, de forma expressa, em seu artigo 82, disciplina ser atribuição do DNIT, em sua esfera
de atuação, exercer, diretamente ou mediante convênio, as competências expressas no
artigo 21 do CTB (Lei 9.503/97), observado o disposto no inciso XVII do artigo 24. “Não é
permitido ao intérprete da lei restringir a competência do DNIT, quando a norma jurídica
quis ampliá-la. No caso sub judice, a mera interpretação gramatical é apta a trazer o sentido
da norma para o mundo dos fatos. Depreende-se, portanto, que o órgão administrativo
possui competência para fiscalizar o trânsito e aplicar multas por excesso de velocidade nas
rodovias federais”, concluiu o relator. Assim, foram mantidos os efeitos dos autos de
infração aplicados pelo DNIT, questionados nos autos (Resp 1.581.392 - STJ Notícias em
15/06/2016).
Obs.: após a decisão do STJ, o TRF4 alterou a sua posição, alinhando-se ao referido
entendimento (neste sentido: TRF4, AC 5067953-59.2015.404.7100, QUARTA TURMA,
Relator para Acórdão LUÍS ALBERTO D'AZEVEDO AURVALLE, juntado aos autos em
19/08/2016).
• Concessão especial (Parceira Público-Privada / PPP), que são subdivididas em: (a) PPP
patrocinada e (b) PPP administrativa, que pode ser: b.1. de serviços públicos; ou b.2. de
serviços administrativos.
Há concessões que não são contratos administrativos nem visam à prestação de serviços
públicos. Ex: concessões de lavra e de atividades de radiofusão sonora e de sons e imagens
(arts. 176,§1º, e 223, da CF)
Lesgislação: arts. 21, XI e XII, da CF; 25, § 2º (competência do Estado), 30, V (competência do
Município) e 175 da CF; Lei 8987/95 (regra geral, mas não regula os de radiodifusão sonora e
de sons e imagens - art. 41), Lei 9074/95 (concessão de energia elétrica e da reestruturação
dos serviços) e Lei 11.079/04 (concessão especial - PPPs).
Conceito: Lei nº 8.987/95, art. 2º. Para os fins do disposto nesta Lei, considera-se: II -
concessão de serviço público: a delegação de sua prestação, feita pelo poder concedente,
mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de
empresas que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por
prazo determinado
Natureza jurídica: diversas teorias: (a) teorias unilaterais (a concessão é ato unilateral); (b)
teorias bilaterais (possui natureza contratual, havendo conjugação de vontades.
Para alguns, é contrato de direito privado, para outros, é de direito público e privado e, para
a visão majoritária, é contrato de direito público, com regime jurídico derrogatório das
regras do direito privado); (c) teoria mista (complexo de relações jurídicas distintas e
heterogêneas – CABM). CF e Lei 8987/95: contrato administrativo bilateral.
Objeto: (a) mediato – vontade administrativa de gerir o serviço público; (b) imediato –
execução da própria atividade.
Formas de extinção: (a) termo contratual; (b) encampação ou resgate (retomada do serviço
público mediante lei autorizadora e prévia indenização por razões de interesse público); (c)
caducidade (inexecução ou descumprimento pela concessionária); (d) rescisão por culpa do
poder concedente (por ação judicial e com indenização ao concessionário); (e) anulação
(ilegalidade ou defeito no contrato, em princípio, sem indenização, salvo quando já
cumprido); e (f) falência ou extinção da empresa.
Natureza jurídica: prevalece que se trata de contrato administrativo (JSCF, Hely e MSZP)
Lei 8.987/95, art. 4º. A concessão de serviço público, precedida ou não da execução de obra
pública, será formalizada mediante contrato, que deverá observar os termos desta Lei, das
normas pertinentes e do edital de licitação.
Três aspectos:
(a) o objeto contratual é complementado por atos unilaterais posteriores à celebração do
ajuste;
(b) a autoexecutoriedade das pretensões da Administração;
(c) o respeito ao princípio do equilíbrio econômico-financeiro fixado no início.
Apenas serviços públicos. Atividades meramente econômicas não são idôneas para figurar
como objeto. É o caso da Lei nº 9.478/97, reguladora da política nacional de atividades
petrolíferas, que denomina de contrato de concessão o ajuste celebrado entre a ANP -
Agência Nacional do petróleo e empresas privadas.
A Lei nº 11.668/2008, que, disciplinando o contrato de franquia postal, que tem como
contratante a ECT, indicou sua regência complementar pelo Código Civil.
Não são concessões. São contratos privados.
São contratos bilaterais, comutativos, intuitu personae e formais.
Concessionário não poderá ser pessoa física (na permissão e autorização é possível).
Tem sido permitido a algumas agências reguladoras figurarem como concedentes. É o caso
da ANATEL (Lei 9.472/97, art. 19). A ANEEL tinha o mesmo poder, mas a Lei 10.848/04 o
suprimiu.
Para JSCF não haverá distorção se a estatal for de ente federativo diverso. Todavia, será
contrato empresarial e não concessão.
Características
1ª corrente (Marçal Justen Filho e JSCF): necessidade de prévia lei autorizativa (art. 175 da
CF), tendo em vista a presença de interesses relevantes que devem ser ponderados pelo
Legislativo. Lei 9.074/97, art. 2º.
A lei autorizativa é dispensada se houver previsão da delegação do serviço no ordenamento
jurídico básico das entidades federativas. Qualquer novo serviço, todavia, que tais entidades
pretendam delegar por meio de concessão ou permissão, dependerá da prévia manifestação
de vontade do legislador.
A remuneração do concessionário, que explora o serviço público por sua conta e risco, é
uma característica essencial do contrato de concessão. Em regra, é efetivada pela cobrança
da tarifa dos usuários do serviço público concedido (preço público). A tarifa deve ser módica
e suficiente para manter serviço adequado.
A política tarifária será fixada pelo preço da proposta vencedora da licitação. Só
poderá ser alterada pelo ente concedente.
Toda a política tarifária deve ser estabelecida e controlada pela Administração Pública.
A tarifa deverá ser atualizada e revista durante a execução do contrato, como forma de
preservação do equilíbrio econômico-financeiro do ajuste (arts. 9º e 10 da Lei 8987/95).
Embora a regra geral seja a da unicidade da tarifa, a política tarifária admite a
diferenciação quando distintos os segmentos de usuários em função das características
técnicas do serviço prestado e dos custos específicos necessários ao atendimento dos
diversos setores de usuários (art. 13).
STJ, Súmula 407- É legítima a cobrança da tarifa de água fixada de acordo com as
categorias de usuários e as faixas de consumo.
O STJ admite, em alguns casos, a cobrança de “tarifa básica” do usuário para cobrir
custos de disponibilização do serviço, mesmo que o particular dele não se utilize
efetivamente.
STJ, Súmula 356 - É legítima a cobrança da tarifa básica pelo uso dos serviços de
telefonia fixa.
A entrega das faturas na residência faz parte do contrato. O STJ não permite a
subcontratação com outra empresa, pois violaria, por via transversa, monopólio dos correios
(conferir apêndice)
EXCEÇÃO CONFERIDA PELO DEC. Nº 83.858/79 - NÃO LHES OUTORGOU A POSSIBILIDADE DE
CONTRATAÇÃO DE EMPRESAS PARTICULARES PARA O SERVIÇO DE DISTRIBUIÇÃO DE
CONTAS DE CONSUMO.
Licitação: sempre exigida para as concessões e permissões de serviços públicos (art. 37, XXI,
e 175 da CF). Aplicam-se principalmente os arts. 14 a 22 da Lei 8987/95 e a Lei 8666/93. Não
pode haver cláusulas de prorrogação automática (conferir julgado no apêndice).
Modalidades: Lei 8.987/95, art. 14. Toda concessão de serviço público, precedida ou não da
execução de obra pública, será objeto de prévia licitação, nos termos da legislação própria e
com observância dos princípios da legalidade, moralidade, publicidade, igualdade, do
julgamento por critérios objetivos e da vinculação ao instrumento convocatório.
Em regra, aplica-se a concorrência (art. 2º, II, III e IV c.c. art. 40 da Lei 8987/95). Obrigatória
e extensível a todos os entes. Devem adequar suas legislações. Admitem-se outras
modalidades quando autorizadas por lei específica (ex. leilão – art. 27, I, da Lei 9074/95, art.
24 da Lei 9427/96 e art. 4º, § 3º, da Lei 9491/97/Programa Nacional de Desestatização). É
possível também a inversão da ordem de fases de habilitação e julgamento, sendo que o
Poder Público apenas verificará os documentos de habilitação do licitante vencedor (art. 18-
A da Lei 8987/95).
Edital: art.18 e 18-A regulamentam e arrolam todos os elementos. Como anexo deverá
constar a minuta do contrato (de adesão).
Tipos de licitação: art. 15 da Lei 8987/95 dispões sobre tipos especiais de licitação para
concessão de serviços públicos. Em regra, seria menor tarifa ou maior oferta, quando pago
pelo concessionário a outorga. Foi acrescentado critério de técnica, inclusive a combinação
entre ela e preços. As propostas não poderão ser manifestamente inexequíveis.
(a) declarar a utilidade pública dos bens necessários à execução do serviço ou obra pública,
promovendo as desapropriações, diretamente ou mediante outorga de poderes à
concessionário, caso em que será desta a responsabilidade pelas indenizações cabíveis (art.
29, VIII, da Lei 8987/95); e
Direitos e obrigações dos usuários (arts. 7º e 7º-A da Lei 8987/95 e CDC): receber serviço
adequado, obter informações para defesa de interesses, obter e utilizar o serviço, ter à
disposição no mínimo seis datas opcionais para vencimento, receber quitação anual de
débitos.(não se aplica aos serviços universais), levar ao conhecimento do poder público e
concessionária as irregularidades, comunicar autoridades sobre atos ilícitos e contribuir para
boas condições dos bens públicos.
Ações serão ajuizadas na Justiça Estadual, salvo quando agência figurar como litisconsórcio
necessário, assistente ou opoente.
Equilíbrio do contrato: art. 37, XXI, da CF (“mantidas as condições efetivas da proposta”)
tornou obrigatória a criação de um sistema legal de preservação da margem de lucro do
contratado, denominado equilíbrio econômico-financeiro. Disciplina legislativa: Lei 8.666/93
(arts. 57, § 1º, e 65, II, “d”), Lei 8.987/95 (art. 9º, § 2º) e Lei 9.074/95 (art. 35).
Art. 9º. A tarifa do serviço público concedido será fixada pelo preço da proposta vencedora
da licitação e preservada pelas regras de revisão previstas nesta Lei, no edital e no contrato.
§ 2º Os contratos poderão prever mecanismos de revisão das tarifas, a fim de manter-se o
equilíbrio econômico-financeiro.
2ª corrente: é possível a interrupção, pois o art. 6º, § 3º, II, da Lei 8987/95 admite a
interrupção após prévio aviso, quando houver inadimplemento do usuário, considerado o
interesse da coletividade; necessidade de manutenção do equilíbrio econômico-financeiro
do contrato de concessão, que seria abalado se a concessionaria fosse obrigada a prestar o
serviço ao consumidor inadimplente; continuidade do serviço público facultativo pressupõe
o cumprimento de deveres por parte do usuário, notadamente o pagamento da tarifa.
Prevalece (doutrina e jurisprudência) a admissão da suspensão do serviço a partir do critério
da especialidade (a Lei 8987/95 é especial frente ao CDC - Resp 363.943/MG).
Em casos excepcionais a interrupção pode ser afastada, garantindo a continuidade do
atendimento de direitos fundamentais. Ex.: Poder Público inadimplente que presta serviços
essenciais à coletividade; impossibilidade de interrupção do serviço de energia para
hospitais públicos ou escolas públicas; admite-se o corte nas unidades estatais que não
prestam serviços essenciais (ex. piscina municipal - Resp 460.271/SP); impossibilidade de
interrupção do serviço ao usuário internado em seu domicílio e que sobrevive com ajuda de
aparelhos elétricos.
Responsabilidade do concessionário: CF, art. 37, § 6º. As pessoas jurídicas de direito público
e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa.
Pode prever arbitragem. Indisponibilidade do bem público não se confunde com a gestão
deste. Alcança a patrimonialidade dos bens.
Para concessão de serviço público precedida da execução de obra pública, outras duas
cláusulas serão classificadas também como essenciais: (1) a que define os cronogramas
físico-financeiros da execução das obras pertinentes à concessão do serviço; e (2) a que
impõe ao concessionário o oferecimento de garantia do fiel cumprimento das obrigações
relativas às obras que precedem a prestação do serviço.
Prazo: deve ter prazo determinado (art. 2º, II e III, 18, I, e 23, I, da Lei 8987/95 e art. 57, § 3º,
da Lei 8666/93). Prazo indeterminado burlaria a exigência de licitação. Não há previsão de
prazo máximo, que pode ser estabelecido por lei específica ou em cada contrato. É
inaplicável o prazo quinquenal dos contratos prevista no art. 57 da Lei 8666/93 (anual, pois a
vigência dos contratos está adstrita à respectiva vigência dos créditos orçamentários). A
regra do prazo anual dirige-se aos contratos em que a remuneração do contratado advenha
dos cofres públicos (recursos orçamentários), o que não ocorre na concessão de serviço
comum, cuja remuneração é efetivada pela tarifa (em regra).
Parte da doutrina (Maria Sylvia e Rafael Oliveira) entende que, apesar do silêncio da lei,
deve ser realizada licitação para a efetivação da transferência da concessão, pois i) a
transferência representa delegação de serviço público e o art. 175 da CF exige licitação para
tanto e ii) a subconcessão, ainda que parcial, pressupõe licitação, com maior razão a
transferência total da concessão para novo concessionário também deve se dar por
licitação.
A exigência de licitação não se aplica a transferência do controle acionário, pois neste caso
não muda a concessionária, apenas seu controle.
Intervenção na concessão: Lei 8.987/95, art. 32. O poder concedente poderá intervir na
concessão, com o fim de assegurar a adequação na prestação do serviço, bem como o fiel
cumprimento das normas contratuais, regulamentares e legais. Será por meio de decreto do
poder concedente, que conterá a designação do interventor, o prazo da intervenção e os
objetivos e limites da medida.
Lei nº 12.767/2012 (art. 5º): procedimento próprio para a intervenção nas concessões de
serviço público de energia elétrica. Será promovida pela ANEEL. Suspende mandato dos
administradores e membros do Conselho Fiscal. Os administradores respondem
solidariamente pelas obrigações durante sua gestão. A ANEEL defere ou não o plano de
recuperação, sendo inaplicável a Lei 11.101/05 às concessionárias de energia elétrica. A
concessionária pode receber recursos da União durante a intervenção para manter os
serviços.
(a) termo contratual: extinção natural - vencimento do prazo estabelecido; ocorre de pleno
direito, sem necessidade de notificação ou aviso prévio; pode ter indenização; efeitos “ex
nunc”.
(b) encampação ou resgate: retomada do serviço público pelo concedente por razões de
interesse público, mediante lei específica e prévio pagamento da indenização. Para alguns, a
exigência de lei específica é inconstitucional porque viola a separação de poderes. Não há
inadimplemento do concessionário.
(c) caducidade ou decadência (inexecução total ou parcial do contrato): feita por decreto;
corresponde à rescisão unilateral por má execução ou descumprimento de cláusula. É
precedida de processo administrativo, assegurada ampla defesa, e oportunidade para
correção. Motivos: serviços inadequados ou deficientes, descumprimento da lei ou de
cláusulas contratuais, paralisação do serviço, perda das condições econômicas, técnicas ou
operacionais, descumprimento de penalidades impostas, não atendimento de intimação do
poder concedente para regularizar o serviço ou para apresentar documentação de
regularidade fiscal.
Não pressupõe indenização prévia, salvo valores devidos pelo concedente em virtude
dos bens reversíveis e abatido valor de multas e danos. A reversibilidade relaciona-se aos
bens da concessionária necessários à prestação do serviço público, que serão transferidos ao
patrimônio do poder concedente mediante indenização, uma vez que não se admite o
confisco (arts. 18, X e XI, 23, 35 e 36 da Lei 8987/95). O concedente assume
temporariamente os serviços concedidos, podendo recrutar pessoas pelo rito de
contratação temporária (8.745/93). Concedente não terá responsabilidade em relação aos
encargos, ônus, obrigações ou compromissos com terceiros ou com empregados da
concessionária. Lei 12.767/12: normas específicas para declaração de caducidade no âmbito
das concessionárias de energia elétrica.
(d) rescisão (Lei 8.987/95, art. 39): iniciativa da concessionária no caso de descumprimento
das normas contratuais pelo poder concedente, mediante ação judicial. Os serviços não
poderão ser interrompidos ou paralisados até a decisão judicial transitada em julgado. Deve
ser interpretado com proporcionalidade a ponto de não deixar o concessionário cair na
ruína. Se não houver acordo administrativo, a rescisão deverá ser declarada por sentença. O
concessionário não poderá arguir a exceção do contrato não cumprido tendo em vista o
princípio da continuidade do serviço público (art. 39 da Lei 8987/95). Parte da doutrina
entende que a se manutenção da prestação significar risco à existência da concessionária é
possível a suspensão dos serviços por decisão judicial liminar.
(e) anulação: por ilegalidade na licitação ou no contrato de concessão. Pode ser declarada
administrativamente (Súmulas 346 e 473 do STF) ou judicialmente, sempre assegurados
ampla defesa e contraditório. Caso o concessionário não tenha contribuído para o vício e
esteja de boa-fé, deverá ser indenizado (art. 59 da Lei 8666/93). Efeitos “ex tunc”.
(g) distrato: ato bilateral e consensual, desaparecimento do objeto e força maior. São
hipóteses de extinção não previstas no art. 35 da Lei 8987/95. Para JSCF não há vedação aos
distrato.
Conceito: Lei 8.987/95, Art. 2º, IV - permissão de serviço público: a delegação, a título
precário, mediante licitação, da prestação de serviços públicos, feita pelo poder concedente
à pessoa física ou jurídica que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e
risco.
Concessão x permissão
Tradicionalmente, a concessão e a permissão representavam 2 hipóteses distintas de
delegação negocial de serviços públicos. A permissão era classificada como “ato
administrativo discricionário e precário pelo qual a Administração consente que o particular
execute serviço de utilidade pública ou utilize privativamente de bem público” (JSCF). Daí
sua subdivisão em permissão de serviço e permissão de uso.
A doutrina e jurisprudência apontavam as seguintes distinções:
CONCESSÃO PERMISSÃO
Forma da delegação contrato administrativo ato administrativo
bilateral unilateral, discricionário e
precário
Beneficiários Pessoas jurídicas Pessoas físicas ou jurídicas
Prazo e indenização Prazo determinado e a sua Não possuía em regra prazo
extinção antes do termo final determinado e a sua
e sem culpa do revogação não gerava
concessionário geraria direito indenização (catáter
à indenização do particular. precário)
Forma de outorga Lei específica Autorização legislativa
Vulto dos investimentos Serviços públicos que exigiam Para investimentos não
necessários à significativo investimento vultuosos pelo
exploração do serviço pelo concessionário (maior concessionário (menor
aporte de capital). investimento).
Licitação concorrência Qualquer modalidade
Porém, para parte da doutrina a distinção entre as duas modalidades atualmente não
subsiste, especialmente pela contratualização da permissão. De acordo com o art. 175 da
CF/88, a permissão de serviço público não pode ser considerada um ato administrativo, pois
deve ser precedida de licitação e formalizada mediante contrato. O caráter contratual da
permissão também é extraído do art. 40 da Lei 8987/95 que a define como “contrato de
adesão”.
Pelo art. 2º, II e IV, da Lei 8987/95, a concessão e a permissão possuem as seguintes
diferenças:
a) concessão tem caráter mais estável; a permissão, mais precário. JSCF: não há, na prática,
qualquer distinção, pois a rescisão desmotivada pode ensejar indenização ao
permissionário. Ambas ensejam encampação (retomada por interesse administrativo)
b) concessão exige autorização legislativa (tema polêmico) e a permissão não.
c) na concessão, o concessionário deve ser pessoa jurídica ou consórcio de empresas, e na
permissão, o permissionário é pessoa física ou jurídica.
d) licitação na modalidade concorrência para a concessão e qualquer modalidade para a
permissão, desde que seja compatível com a delegação de serviços. Exceção ao pregão, pois
a Lei 10.520/02 restringe a utilização desta modalidade à contratação de bens e serviços
comuns.
JSCF: concessão e permissão são formalizadas por contratos de adesão, pois a minuta do
contrato deve constar no edital.
STF, na ADI 1.91/DF, entendeu não haver diferença conceitual entre ambas.
Para parte da doutrina, como Rafael Oliveira, essas diferenças formais não são suficientes
para distinguir os institutos. Para outros, embora a permissão tenha se transmudado para
contrato, não perdeu sua essência de precariedade e revogabilidade. A precariedade é a
possibilidade de desfazimento a qualquer tempo sem direito à indenização. CABM diz que
deve a permissão continuar ato unilateral e questiona a sua constitucionalidade.
3.4. Autorização
JSCF: é ato administrativo discricionário e precário pelo qual a Administração consente que o
indivíduo desempenhe atividade de seu exclusivo ou predominante interesse, não se
caracterizando a atividade como serviço público.
A contratação dos serviços de transporte público coletivo será precedida de licitação (art.
10).
Art. 11. Os serviços de transporte privado coletivo, prestados entre pessoas físicas ou
jurídicas, deverão ser autorizados, disciplinados e fiscalizados pelo poder público
competente, com base nos princípios e diretrizes desta Lei.
Art. 12. Os serviços de utilidade pública de transporte individual de passageiros deverão ser
organizados, disciplinados e fiscalizados pelo poder público municipal, com base nos
requisitos mínimos de segurança, de conforto, de higiene, de qualidade dos serviços e de
fixação prévia dos valores máximos das tarifas a serem cobradas.
Art. 12-A. O direito à exploração de serviços de táxi poderá ser outorgado a qualquer
interessado que satisfaça os requisitos exigidos pelo poder público local.
§ 1º É permitida a transferência da outorga a terceiros que atendam aos requisitos exigidos
em legislação municipal.
§ 2º Em caso de falecimento do outorgado, o direito à exploração do serviço será transferido
a seus sucessores legítimos, nos termos dos arts. 1.829 e seguintes do Título II do Livro V da
Parte Especial da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil). (Incluído pela Lei nº
12.865, de 2013)
§ 3º As transferências de que tratam os §§ 1o e 2o dar-se-ão pelo prazo da outorga e são
condicionadas à prévia anuência do poder público municipal e ao atendimento dos requisitos
fixados para a outorga. (Incluído pela Lei nº 12.865, de 2013)
Art. 13. Na prestação de serviços de transporte público coletivo, o poder público delegante
deverá realizar atividades de fiscalização e controle dos serviços delegados,
preferencialmente em parceria com os demais entes federativos.
Maria Sylvia: o vocábulo “autorização” foi utilizado indevidamente pela lei 9.472, deveria ter
empregado o termo “licença”. Segundo a autora, essa confusão terminológica se deu
porque, como a CF falou em autorização, permissão e concessão, era necessário manter
essa terminologia, ainda que de autorização não se trate, para dar uma aparência de
constitucionalidade ao tratamento dado à matéria de serviço de telecomunicações.
Outra impropriedade na utilização do instituto se deu quando a CF determinou que o
serviço de telecomunicações é de competência da União (art. 21, XI), devendo ser prestado
diretamente pela União ou indiretamente, por autorização, concessão ou permissão, mas a
lei classificou esses serviços como públicos (prestados através de concessão ou permissão)
ou privados (mediante autorização), quanto ao regime jurídico de sua prestação.
Ou seja, a lei inverteu o sentido da norma do art. 21, XI da CF, que não prevê essa
distinção entre dois tipos de serviços de telecomunicações. Esse serviço, cuja titularidade foi
atribuída em sua totalidade à União, que pode delegar a execução ao particular, passou a
ser considerado atividade privada, só podendo ser executado pela União por motivo de
segurança nacional ou interesse coletivo relevante, conforme definido em lei (o que a lei
não fez).
Origem, fontes normativas e fundamentos: Mazza: criadas pela Lei 11.079/2004 para
incentivar o investimento privado no setor público por meio da repartição objetiva dos
riscos entre o Estado (parceiro público) e o investidor particular (parceiro privado) mediante
contrato administrativo de concessão (especial).
A Lei 11.079 se aplica aos órgãos da administração pública direta dos Poderes
Executivo e Legislativo, aos fundos especiais, às autarquias, às fundações públicas, às
empresas públicas, às sociedades de economia mista e às demais entidades controladas
direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Não há previsão
de aplicação ao Judiciário. A propósito, essa lei segue o posicionamento recente do CNJ
sobre essa impossibilidade de o Judiciário se utilizar da PPP.
JSCF: há impropriedade, uma vez que fundo não tem personalidade jurídica. A PPP é o
acordo firmado entre a Administração Pública e pessoa do setor privado com o objetivo de
implantação ou gestão de serviços públicos, com eventual execução de obras ou
fornecimento de bens, mediante financiamento do contratado, contraprestação pecuniária
do Poder Público e compartilhamento dos riscos e dos ganhos entre os pactuantes.
PPP possui 02 sentidos: (a) sentido amplo: é todo e qualquer ajuste firmado entre o
Estado e o particular para consecução do interesse público (ex.: concessões, permissões,
convênios, terceirizações, contratos de gestão, termos de parceria e etc.); e (b) sentido
restrito: é exclusivamente a parceira público-privada prevista na Lei 11.079/2004, sob a
modalidade patrocinada ou administrativa.
Costuma-se afirmar que as PPPs foram inspiradas na “Private Finance Iniciative” (PFI)
inglesa, uma forma especial de concessão em que a remuneração do parceiro privado, ao
invés de ser necessariamente proveniente dos usuários (tarifa), advém do próprio Poder
Público.
As PPPs representam uma 4ª fase na evolução histórica das formas de prestação de
serviços públicos:
1ª fase: ausência do Estado na prestação; até início do século XX, sob o Estado Liberal
ou Estado-Polícia, o Poder Público não prestava serviços públicos.
2ª fase: prestação direta. Advento das Constituições Sociais, especialmente a
mexicana de 1917 e a alemã de 1919 e surgimento do Estado Social ou Estado Providência,
encarregado da prestaçao direta de inúmeros serviços públicos.
3ª fase: prestação indireta via concessão e permissão. Metade do século XX ocorreu a
crise do Estado Social decorrente da má qualidade dos serviços prestados (dentre outras
razões). Especialmente após a 2ª guerra a prestação dos serviços passou a ser delegada a
empresas privadas por meio de concessões e permissões.
4ª fase: prestação com distribuição de riscos. Alto custo da prestação e risco elevado
do concessionário aliados ao capitalismo financeiro e à escassex de recursos púbilcos
forçaram o Estado moderno a criar novas fórmulas para tornar mais atrativa a prestação de
serviços públicos para o investidor privado. Nesse contexto nasceram as PPPs.
As PPPs foram introduzidas no Brasil em razão dos seguintes fatores: (a) limitação ou
esgotamento da capacidade de endividamento público; (b) necessidade de prestação de
serviços públicos não autossustentáveis; e (c) princípio da subsidiariedade e necessidade de
eficiência do serviço.
Características: (a) financiamento do setor privado; (b) compartilhamento dos riscos e (c)
pluralidade compensatória (várias formas de remunerar).
Legislação: artigo 22, XXVII, CR/88: competência da União para legislar sobre normas gerais
aplicáveis a todos os entes da Federação, mas todos os entes podem legislar normas
específicas. A Lei 11.079/04 estabeleceu as normas gerais. Parte dos demais entes federados
já fixaram suas normas específicas sobre o tema.
Lei nº 11.079/04: arts. 1º a 13 são aplicáveis a todos os entes públicos e os arts. 14 a 22 são
aplicáveis somente à União.
Art. 28. A União não poderá conceder garantia ou realizar transferência voluntária aos
Estados, Distrito Federal e Municípios se a soma das despesas de caráter continuado
derivadas do conjunto das parcerias já contratadas por esses entes tiver excedido, no ano
anterior, a 5% (cinco por cento) da receita corrente líquida do exercício ou se as despesas
anuais dos contratos vigentes nos 10 (dez) anos subsequentes excederem a 5% (cinco por
cento) da receita corrente líquida projetada para os respectivos exercícios.
Remuneração:
(a) PPP patrocinada: tarifa + contraprestação do Poder Público (orçamento e formas do art.
6º). Se o ente for responsável por mais de 70% da remuneração, há necessidade de lei
autorizativa (art. 10 § 3º).
(b) PPP administrativa: remuneração é integralmente paga pelo Estado (orçamento ou
formas do art. 6º). A lei não exige lei autorizativa, mas parte da doutrina entende que
também é necessária, assim como na PPP patrocinada.
(a) remuneração do concessionário: na comum a remuneração é feita pela tarifa paga pelo
usuário pela utilização do serviço público, com a possibilidade de instituição de receitas
alternativas e, eventualmente, o repasse de verbas orçamentárias. Na especial a
remuneração pressupõe a contraprestação pecuniária (orçamento) por parte do parceiro
público, podendo ser feita integralmente com dinheiro público (concessão administrativa)
ou apenas parcialmente com recursos orçamentários e tarifa do usuário (concessão
patrocinada).
Obs.: parte da doutrina entende possível uma hipótese de PPP sem a contraprestação
pecuniária do Poder Público: a PPP administrativa de serviços administrativos (Carlos Ari
Sundfeld e Rafael Oliveira). Isso porque o art. 2º, § 3º, da Lei ao exigir a remuneração com
recursos orçamentários, refere-se apenas às concessões que envolvam a prestação de
serviços públicos, tradicionalmente previstas na Lei 8987/95, não se aplicando às PPPs
Administrativas de serviços administrativos.
(c) valor mínimo do contrato: a especial exige que o valor da PPP não seja inferior a R$
20.000.000,00 (art. 2º, § 4º, I, da Lei 11.079/2004). Parte da doutrina entende que este valor
representa o montante mínimo a ser investido pelo parceiro privado, e não o montante que
deve ser pago pelo Poder Público ao concessionário (Carlos Ari Sundfeld). Outros entendem
que o valor mínimo corresponde ao montante a ser pago para o parceiro privado ao longo
da PPP (Diógenes Gasparini).
(d) prazo contratual: prazo mínimo é de 5 anos e o prazo máximo é de 35 anos. A Lei
8987/95 não definiu prazo máximo para a concessão comum. Na PPP o prazo mínimo é de 5
anos e o prazo máximo é de 35 anos.
(e) objeto complexo: os contratos de PPPs não podem ter “como objeto único o
fornecimento de mão de obra, o fornecimento e instalação de equipamentos ou a execução
de obra pública”. Caso a intenção seja apenas a contratação de serviços (mão de obra), o
Poder Público deverá se valer da tradicional terceirização regulada na Lei 8666/93.
Regras especiais:
(a) minutas do edital e do contrato de PPP submetem-se à consulta pública prévia (art. 10,
VI, da Lei 11.079/04). O art. 39 da Lei 8666/93 já estabelecia a exigência de participação
popular por meio de audiências públicas, para as contratações de grande vulto.
(b) autorização legislativa prévia para licitação e contratação da PPP patrocinada quando
mais de 70% da remuneração do parceiro privado for pago pela Administração Pública (art.
10, § 3º, da Lei 11.079/04). A lei nada diz sobre as PPPs administrativas e parte da doutrina
entende que também é necessária lei autorizativa para elas, já que são remuneradas
integralmente pelo Estado.
(c) fase interna deve observar outras exigências (art. 10 da Lei):
c.1) Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) ou Manifestação de Interesse da
Iniciativa Privada (MIP): apresentação de propostas, estudos ou levantamentos de PPPs.
c.2) possibilidade de participação, direta ou indireta, dos responsáveis pelos projetos,
básicos ou executivos, nas licitações e execução das obras ou serviços (art. 3º da Lei
11079/04 e art. 31 da Lei 9074/95), sendo inaplicável a vedação contida no art. 9º, I e II, da
Lei 8666/93.
c.3) autorização administrativa do concedente e apresentação das razões que justifiquem a
utilização da PPP em detrimento da concessão comum, mormente pelo fato de que a
parceria envolve contribuições por parte do Poder Público (art.10, I Lei 11.079/04);
c.3) respeito às disposições da LC 101/00.
c.4) admitidas empresas em consórcio.
c.5) elaboração de estimativa do impacto orçamentário-financeiro nos exercícios em que
deva vigorar o contrato de PPP;
c.6) previsão do objeto no PPA em vigor, além de observância da LDO e da LOA;
c.7) estimativa do fluxo de recursos públicos suficientes para o cumprimento durante a
vigência do contrato e por exercício financeiro das obrigações contraídas pela Administração
Pública;
c.8) exigência de licença ambiental prévia ou expedição das diretrizes para o licenciamento
ambiental do empreendimento, na forma do regulamento, sempre que o objeto do contrato
exigir.
c.9) estudos de engenharia para a definição do valor do investimento da PPP calculado com
base em valores de mercado considerando o custo global de obras semelhantes no Brasil ou
no exterior ou com base em sistemas de custos que utilizem como insumo valores de
mercado do setor específico do projeto, aferidos, em qualquer caso, mediante orçamento
sintético, elaborado por meio de metodologia expedita ou paramétrica (art. 10, §4º). Poderá
haver previsão de ressarcimento ao vencedor dos custos do projeto.
c.10) recusa a propostas manifestamente inexequíveis ou financeiramente descompassadas
em relação aos fins da licitação e preferência à proposta oferecida por empresa brasileira no
caso de haver igualdade de condições;
c.11) facultada a arbitragem. Alguns autores entendem que a permissão para instituição de
arbitragem como meio de solução dos conflitos decorrentes do contrato das PPPs fere o
princípio da inafastabilidade da jurisdição.
Tipos de licitação: além dos previstos no art. 15 da Lei 8987/95, há 2 outros tipos (art. 12, II,
da Lei 11079/04): (i) menor proposta da contraprestação a ser paga pela Administração e (ii)
melhor proposta em razão da combinação do menor valor com a de melhor técnica, de
acordo com os pesos estabelecidos no edital.
Admite-se o saneamento de falhas de documentação no curso do procedimento nos prazos
fixados no edital (art. 12, IV, da Lei 11079/04). A correção pode ocorrer em relação a
qualquer ato praticado no certame, mas deve ser feita com parcimônia, em observância aos
princípios administrativos.
Procedimento: art. 12 da Lei 11.079/04. Pode haver avaliação prévia da qualidade técnica.
Os critérios de julgamento são os mesmos previstos para as concessões comuns.
Cláusulas essenciais: se não estiverem previstas/escritas, o contrato não será válido. Estão
no art. 23 da lei 8.987/95 e no art. 5º da Lei 11.079 (cláusulas essenciais especiais).
(a) os limites da garantia são os previstos no artigo 56 da lei 8666 até 5%, exceto nos
contratos de risco e de grande vulto e complexidade o valor vai até 10%;
b) formas de garantia (artigo 8º da 11.079): é possível a vinculação de receita como garantia
do contrato, seguro garantia, garantia prestada por organismo internacional, fundo especial,
fundos ou empresas garantidoras, além de outras previstas na lei.
Hipóteses originárias da lei 12.462/11: (a) Copa do Mundo de 2014, (b) Copa das
Confederações de 2013, (c) Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016 e (d) construção e
melhoria de aeroportos distantes ate 350 km2 das cidades-sede dos eventos acima.
Questionamento da constitucionalidade do RDC (ADI 4655, uma proposta pelo PGR, e ADI
4645, proposta pelo DEM/PSDB/PPS) com base nas seguintes alegações:
i) a lei possui inconstitucionalidade formal, pois a inclusão de matéria estranha à tratada na
MP afronta o devido processo legislativo e o princípio da separação dos poderes. Isso
porque a Medida Provisória nº 527 (que cuidava da ANAC), no momento da sua conversão
em lei, sofreu a inserção do procedimento do pregão. A inserção de uma matéria estranha
ao objeto da MP (não relacionada com o conteúdo originário) é chamado de contrabando
legislativo ou jabuti e não é admitido pelo STF. Resolução do Congresso também proíbe esse
comportamento;
ii) possibilita o comprometimento do patrimônio público (ex.: jogos do Pan, em que a
previsão de gastos era na ordem de 300 milhões, mas o custo final foi de 3 bilhões);
iii) não fixa parâmetros mínimos para identificar as obras, os serviços e as compras que
deverão ser realizadas por meio do RDC, o que outorga desproporcional poder de decisão ao
Executivo;
iv) questiona os dispositivos que conferem à Administração o dever de adoção preferencial
do regime de “contratação integrada” e “empreitada integral” de obras e serviços de
engenharia, o que implica uma única licitação para projeto básico, projeto executivo e
execução de obras e serviços. Nessa modalidade de contratação, não é preciso definir
previamente o objeto das obras e serviços;
v) questiona o fato de que a definição das características e do valor das obras contratadas
somente serão aferíveis após assinado o contrato e realizado o projeto básico pela
contratada;
vi) questiona a possibilidade que se concentrem em um mesmo contratante o projeto básico
e a execução da obra ou do serviço, afirmando que isso afronta a finalidade do
procedimento licitatório, que é a ampla competitividade.
vii) o modelo de pré-qualificação implica inúmeras irregularidades, como direcionamento de
certames, conluio entre os participantes e sobrepreços;
viii) adoção de medidas mitigadoras e compensatórias para obras ou atividades
potencialmente causadoras de danos ambientais ou culturais não pode ser interpretada no
sentido de que sejam dispensadas exigências estabelecidas nas normas que regulam o
licenciamento ambiental, especialmente a avaliação sobre a possibilidade de realização da
obra ou da atividade.
Objetivos: são 04 (art. 1º, § 1º): I - ampliar eficiência nas contratações e competitividade
entre licitantes; II - promover a troca de experiências e tecnologias em busca da melhor
relação entre custos e benefícios; III - incentivar a inovação tecnológica; e IV - assegurar
tratamento isonômico entre os licitantes e a seleção da proposta mais vantajosa.
Principais características
(a) Multiadjudicação (art. 11): torna possível que a Administração contrate mais de uma
empresa/instituição para executar o mesmo serviço. Requisitos: (a.1) não implique perda de
economia de escala; e (a.2) o objeto da contratação puder ser executado de forma
concorrente e simultânea por mais de um contratado ou a múltipla execução for
conveniente para atender à administração pública;
(b) inversão das fases naturais da licitação (art. 12 e parágrafo único): como no pregão (lei
10.520/02), o julgamento das propostas precederá a habilitação. Procura racionalizar o
procedimento. Em algumas situações, a inversão – que é a regra no RDC - pode ser deixada
de lado, seguindo-se o procedimento da lei 8.666/93;
(c) preferência pelo RDC eletrônico (art. 13);
(d) oferecimento das propostas pelo sistema de disputa aberto ou pelo modo de disputa
fechado (art. 17): (a) sistema de disputa aberto: licitantes apresentam os seus lances de
forma oral e sucessiva; (b) modo de disputa fechado: propostas são entregues em envelope
ou por comunicação eletrônica e serão sigilosas até a data e hora combinadas para a sua
divulgação;
(e) sigilo dos orçamentos até o fim da licitação (art. 6º): esta previsão é a mais polêmica.
Não será divulgado o valor que o poder público pretende gastar com aquela contratação. É
sigilo apenas para os licitantes (relativo), pois os órgãos de controle poderão ter acesso aos
orçamentos. Alguns consideram inconstitucional, por violação ao princípio da publicidade.
Há casos nos quais o orçamento não poderá ser mantido em sigilo durante o procedimento
licitatório (ex.: quando o critério de julgamento for o de maior desconto, a estimativa do
orçamento constará do instrumento convocatório - § 1º);
(f) permite a transferência do dever de confecção do projeto básico para o licitante (na Lei
8.666 é a Administração que o realiza). O projeto básico é um documento que traz
informações básicas a respeito daquilo que vai ser o objeto do contrato (art. 2º).
Questão ambiental (art. 4º, § 1º): As contratações realizadas com base no RDC devem
respeitar, especialmente, as normas relativas à:
I - disposição final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos gerados pelas obras
contratadas;
II - mitigação por condicionantes e compensação ambiental, que serão definidas no
procedimento de licenciamento ambiental;
III - utilização de produtos, equipamentos e serviços que, comprovadamente, reduzam o
consumo de energia e recursos naturais;
IV - avaliação de impactos de vizinhança, na forma da legislação urbanística;
V - proteção do patrimônio cultural, histórico, arqueológico e imaterial, inclusive por meio da
avaliação do impacto direto ou indireto causado pelas obras contratadas; e
VI - acessibilidade para o uso por pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida.
Contratação integrada (arts. 8º, V, e 9º, § 1º): o licitante fica incumbido de confeccionar o
projeto básico (diferente do que ocorre na Lei 8.666, art. 40).
Art. 9º. Nas licitações de obras e serviços de engenharia, no âmbito do RDC, poderá ser
utilizada a contratação integrada, desde que técnica e economicamente justificada e cujo
objeto envolva, pelo menos, uma das seguintes condições:
I - inovação tecnológica ou técnica;
II - possibilidade de execução com diferentes metodologias;
III - possibilidade de execução com tecnologias de domínio restrito no mercado.
§ 1º A contratação integrada compreende a elaboração e o desenvolvimento dos projetos
básico e executivo, a execução de obras e serviços de engenharia, a montagem, a realização
de testes, a pré-operação e todas as demais operações necessárias e suficientes para a
entrega final do objeto.
§ 2º No caso de contratação integrada:
I - o instrumento convocatório deverá conter anteprojeto de engenharia que contemple os
documentos técnicos destinados a possibilitar a caracterização da obra ou serviço, incluindo:
a) a demonstração e a justificativa do programa de necessidades, a visão global dos
investimentos e as definições quanto ao nível de serviço desejado;
b) as condições de solidez, segurança, durabilidade e prazo de entrega, observado o disposto
no caput e no § 1o do art. 6o desta Lei;
c) a estética do projeto arquitetônico; e
d) os parâmetros de adequação ao interesse público, à economia na utilização, à facilidade
na execução, aos impactos ambientais e à acessibilidade;
II - o valor estimado da contratação será calculado com base nos valores praticados pelo
mercado, nos valores pagos pela administração pública em serviços e obras similares ou na
avaliação do custo global da obra, aferida mediante orçamento sintético ou metodologia
expedita ou paramétrica.
§ 3º Caso seja permitida no anteprojeto de engenharia a apresentação de projetos com
metodologias diferenciadas de execução, o instrumento convocatório estabelecerá critérios
objetivos para avaliação e julgamento das propostas.
§ 4º Nas hipóteses em que for adotada a contratação integrada, é vedada a celebração de
termos aditivos aos contratos firmados, exceto nos seguintes casos:
I - para recomposição do equilíbrio econômico-financeiro decorrente de caso fortuito ou
força maior; e
II - por necessidade de alteração do projeto ou das especificações para melhor adequação
técnica aos objetivos da contratação, a pedido da administração pública, desde que não
decorrentes de erros ou omissões por parte do contratado, observados os limites previstos
no § 1o do art. 65 da Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993.
§ 5º Se o anteprojeto contemplar matriz de alocação de riscos entre a administração pública
e o contratado, o valor estimado da contratação poderá considerar taxa de risco compatível
com o objeto da licitação e as contingências atribuídas ao contratado, de acordo com
metodologia predefinida pela entidade contratante. (Incluído pela Lei nº 13.190, de 2015).
A obrigatoriedade do critério técnica e preço foi revogada em 2014, não havendo mais
esta exigência. Pode ser estabelecida remuneração variável vinculada ao desempenho.
Contrato de Eficiência (art. 23): outro aspecto bastante polêmico. Trata-se de contrato
acessório que terá por objeto a prestação de serviços, incluindo a realização de obras e o
fornecimento de bens, com o objetivo de proporcionar economia ao contratante, na forma
de redução de despesas correntes, sendo contratado remunerado com base no percentual
da economia gerada.
Aquisição de bens:
Art. 7º No caso de licitação para aquisição de bens, a administração pública poderá:
I - indicar marca ou modelo, desde que formalmente justificado, nas seguintes hipóteses:
a) em decorrência da necessidade de padronização do objeto;
b) quando determinada marca ou modelo comercializado por mais de um fornecedor for a
única capaz de atender às necessidades da entidade contratante; ou
c) quando a descrição do objeto a ser licitado puder ser melhor compreendida pela
identificação de determinada marca ou modelo aptos a servir como referência, situação em
que será obrigatório o acréscimo da expressão “ou similar ou de melhor qualidade”;
II - exigir amostra do bem no procedimento de pré-qualificação, na fase de julgamento das
propostas ou de lances, desde que justificada a necessidade da sua apresentação;
III - solicitar a certificação da qualidade do produto ou do processo de fabricação, inclusive
sob o aspecto ambiental, por qualquer instituição oficial competente ou por entidade
credenciada; e
IV - solicitar, motivadamente, carta de solidariedade emitida pelo fabricante, que assegure a
execução do contrato, no caso de licitante revendedor ou distribuidor.
Edital pode ser impugnado: no prazo mínimo de até 2 dias úteis antes da abertura
propostas para aquisição ou alienação de bens ou de até 5 dias úteis antes em caso de
licitação para contratação de obras e serviços (art. 45).
Critérios de julgamento (art. 18): I - menor preço ou maior desconto (o orçamento deve ser
publicado neste caso); II - técnica e preço; III - melhor técnica ou conteúdo artístico; IV -
maior oferta de preço; ou V - maior retorno econômico (novidade; obrigação de reduzir
despesas).
Critérios de desempate (nesta ordem - art. 25): I - disputa final, com apresentação de nova
proposta fechada; II - avaliação do desempenho contratual prévio; III – produtos nacionais
(art. 3º da Lei no 8.248/91 e art. 3º, § 2º, da Lei nº 8.666/93); e IV - sorteio. Estas regras de
desempate não prejudicam a aplicação do favorecimento das ME´s e EPP’s (art. 44 da LC
123/06). Definido o resultado do julgamento, a administração pública poderá negociar
condições mais vantajosas com o primeiro colocado (art. 26).
Fase recursal única: após a habilitação do vencedor, salvo no caso de inversão de fases (art.
27).
Recursos: prazo de 5 dias úteis contados da data da intimação ou da lavratura da ata (art.
45).
Representações: no prazo de 5 dias úteis contados da data da intimação relativamente a
atos de que não caiba recurso hierárquico (art. 45).
Exauridos os recursos administrativos, o procedimento licitatório será encerrado e
encaminhado à autoridade superior, que poderá (art. 28):
I - determinar o retorno dos autos para saneamento de irregularidades;
II - anular o procedimento por vício insanável;
III - revoga, por motivo de conveniência e oportunidade; ou
IV - adjudicar o objeto e homologar a licitação.
Crítica ao art. 65: para alguns, ele vulgarizou a aplicação do RDC em detrimento da Lei nº
8.666/90, pois promeveu ampliação do âmbito de aplicação do RDC, ainda que não haja
definição da carteira de projetos olímpicos. No entanto, não há vedação constitucional e as
alterações promovidas na Lei já vulgarizaram a sua aplicação.
ASPECTOS PRÁTICOS:
**hipóteses raras em que os mecanismos estatais de intervenção na propriedade alcançam o próprio patrimônio
público. É própria quando a propriedade objeto de intervenção pertente à mesma pessoa estatal interveniente; e
imprópria a que se dá em bem de pessoa diversa.
4.1 Limitações administrativas
São “medidas de caráter geral, previstas em lei com fundamento no poder de polícia do
Estado, gerando para os proprietários obrigações positivas ou negativas, com o fim de
condicionar o exercício do direito de propriedade ao bem-estar social” (Di Pietro)
- São impostas pela administração e possuem caráter geral, abstrato, gratuito e unilateral.
Restringe o caráter absoluto da propriedade. Uma vez que se aplica indistintamente a
todos os que estão na mesma situação descrita na lei, não há que se falar em
indenização.
- Possui, portanto, natureza jurídica de direito pessoal, uma vez que o poder de polícia
manifesta-se, como regra, por meio de obrigações de não fazer impostas ao proprietário,
e não sobre o bem em si mesmo considerado.
Pode ser obrigação de fazer ou não fazer. Controle judicial: só quanto à legalidade, mérito
administrativo não.
4.2.1.PRINCÍPIOS
4.2.2.FORMAS DE CONSTITUIÇÃO
OBS: Salvo na hipótese de servidão administrativa instituída por lei, a constituição de servidão administrativa não é medida autoexecutória do
Poder Público, dependendo sempre de prévio acordo ou de decisão judicial.
4.2.3: REGISTRO DE IMÓVEIS: a servidão deve ser inscrita no RI, a fim de ganhar oponibilidade
‘erga omnes’. Veja que se a servidão for instituída através de previsão legal, não é necessário o
registro, eis que a lei já dá a publicidade necessária.
Imposta em face de interesse público genérico. Imposta em face de determinado bem afetado a fim de
utilidade pública
Alcançam toda uma categoria de bens ou todos que se Atingem bens concretos e especificamente determinados
encontrem em uma situação abstratamente determinada
Impõe obrigação de fazer ou não fazer Impõe obrigação de suportar
Decorrem de lei Podem derivar de lei ou ato concreto da Administração
Não há um ônus real Ônus real
Atinge o caráter ABSOLUTO da propriedade (restrições) Atinge o caráter EXCLUSIVO da propriedade
Em regra, não obrigam o Poder Público a indenizar os Indenizáveis quando implicarem real declínio do valor do
proprietários dos bens afetados bem ou lhe retirarem uma utilidade fruída por seu titular
OBS: A área 'non aedificandi' situada as margens das rodovias públicas não é indenizável
porquanto decorre de limitação administrativa ao direito de propriedade, estabelecida por lei ou
regulamento administrativo.
OBS: poder público constitui uma servidão, passando pelo imóvel fios de alta tensão. Exemplo:
torres com aquelas placas: “não construir, não plantar, etc. etc. etc.”. Há o dever de indenizar?
SIM. O poder público ‘finge’ servidão, entretanto há uma desapropriação indireta. Se não
podemos mais usar não é servidão, servidão é uso conjunto. Se da forma que o estado usa, o
indivíduo é privado totalmente da propriedade, há desapropriação. Jurisprudência reconhece que
fios de alta tensão, torres alta tensão, são hipóteses que configuram desapropriação, devendo o
estado fazer a devida indenização
4.3.Tombamento
4.3.5.OBJETO: Pode recair sobre bens móveis ou imóveis; materiais ou imateriais; públicos ou
privados.
4.3.6.CLASSIFICAÇÃO:
Quanto aos destinatários: GERAL (ruas inteiras) ou INDIVIDUAL (JSCF: tombamento SEMPRE será
individual).
4.3.8.COMPETÊNCIA MATERIAL:
art. 23, III, CF – competência comum, definida pelo interesse local, regional ou nacional.
O mesmo bem pode ser tombado nas três ordens jurídicas. Se o patrimônio for tombado pelos 03
entes políticos, há preferência da União, depois Estados e dos Municípios. O tombamento é da
competência do Poder Executivo. Excepcionalmente é possível que o tombamento se origine da
própria Constituição.
OBS: Embora JSCF entenda que apenas os entes públicos de maior hierarquia podem tombar
bens públicos de entes de menor hierarquia, o STJ siderou VÁLIDO o tombamento realizado pelo
Município de Niterói/RJ sobre imóvel pertencente ao Estado do RJ e que, inclusive, já era objeto de
tombamento por parte desse ente federado. Isto porque como o tombamento não implica em
transferência da propriedade, inexiste a limitação constante no art. 1º, § 2º, do DL 3.365/1941, que
proíbe o Município de desapropriar bem do Estado.
4.3.10.1.Tombamento iniciado pelo Poder Público: 1) manifestação do órgão técnico (na esfera
federal, é o IPHAN); 2) notificação do proprietário para anuir dentro de 15 dias; 3) caso haja
anuência do proprietário à notificação ou ele não impugne, tem-se o tombamento voluntário,
com a inscrição no Livro do Tombo; 4) havendo impugnação, caberá ao órgão sustentar suas
razões em 15 dias; 5) o IPHAN terá 60 dias para decidir a respeito; 6) se a decisão for contrária ao
proprietário, será determinada a inscrição no Livro do Tombo; se for favorável, o processo será
arquivado; 7) a decisão do Conselho Consultivo terá que ser apreciada pelo Ministro da Cultura,
que examinará o procedimento, anulando-o se houver ilegalidade ou revogando a decisão do
órgão técnico, se contrária ao interesse público, ou, finalmente, homologando.
4.3.13.OBRIGAÇÕES DO TOMBAMENTO:
Conservação do patrimônio, que deve ser acompanhada pelo poder público. Assim, qualquer
conserto deve ser comunicado ao poder público, para obtenção de uma autorização (artigo 17,
OBRIGAÇÕES DL 25/37). Dar preferência ao ente político que tombou o bem no caso de alienação. Somente
POSITIVAS depois de oferecido ao ente público o bem pode ser alienado (art. 22, DL 25). Se feita a
alienação sem a autorização, será o negócio considerado NULO (§ 2o.) 7) O tombamento do bem
NÃO IMPEDE o proprietário de gravá-lo por meio de penhor, hipoteca ou anticrese. O bem
tombado não pode sair do país, salvo por curto período. O bem tombado não pode ser
exportado
Não danificar e não mutilar ou destruir a coisa (artigo 17, DL 25). Danificar o patrimônio é crime
previsto no artigo 165, CP. Não retirar a coisa do país, exceto por curto espaço de tempo, sem
OBRIGAÇÕES transferência de domínio ou propriedade (art. 14). Em caso de roubo ou furto, o proprietário
NEGATIVAS deve comunicar ao poder público em 05 dias, sob pena de multa. Não alienar o bem público
tombado, ressalvada a possibilidade de transferência entre os entes federados.
OBRIGAÇÃO DE O proprietário tem que suportar a fiscalização do poder público (artigo 20, DL 25/37).
SUPORTAR
OBS1: quando o proprietário não tiver condições de arcar com a conservação ou reparação, o
poder público deve arcar com os custos ou promover a desapropriação, mediante solicitação do
proprietário. Se não o faz, o particular pode requerer o cancelamento do tombamento.
OBS2: Não é possível impor ao proprietário atual que recrie prédio histórico destruído ou
totalmente descaracterizado por obras feitas por terceiro décadas antes da aquisição, dando
origem a novo prédio com características distintas. (REsp 1047082/MG, DJe 15/09/2008)
OBS3: Se antes do tombamento é feito uma obra e ao tombar o Poder Público ordena o
desfazimento, o ônus econômico de tal obrigação deve ser suportado pelo Poder Público.
4.4. Requisição
Utilização coativa de bens ou serviços particulares pelo Poder Público, por ato de
execução imediata e direta da autoridade requisitante (autoexecutório) e indenização
ulterior SE HOUVER DANO, para atendimento das necessidades coletivas URGENTES e
TRANSITÓRIAS (pressuposto: perigo público iminente).
Possui fundamento constitucional no art. 5º, XXV, CF/88. Incide sobre bens imóveis,
móveis e serviços particulares (É possível a requisição sobre bens e serviços públicos) e
durará enquanto perdurar o perigo.
4.4.3.ESPÉCIES: a) Militar: guerra (quando houver perigo à segurança nacional – estado de sítio –
art. 139 CF/88); b) civil (art. 1.228, § 3º, do CC/02): coletividade.
4.4.4.CONTROLE JUDICIAL: Possível apenas quanto ao aspecto da legalidade. Há certa
discricionariedade na avaliação do administrador sobre a configuração da situação de perigo.
REQUISIÇÃO SERVIDÃO
Determinado. Determinado.
Temporária. Perpétua (em regra).
Iminente perigo. Não precisa de perigo.
4.5.Ocupação temporária
Forma de instituição: alguns entendem que, por ser medida autoexecutória, não
requer maiores formalidades; outros enxergam a necessidade da edição de ato
administrativo formal.
4.5.1.Características: 1) Recai apenas sobre bens imóveis (no que se distingue da requisição); 2)
Transitória; 3) Pressuposto é a necessidade de realização de OBRAS e SERVIÇOS públicos normais
(ao contrário da requisição, que exige situação de perigo público) e 4) Indenização a depender da
modalidade: se instituto complementar à desapropriação, há dever indenizatório (v. art. 36, DL
3365/41); nas demais hipóteses, só há direito à indenização se houver prejuízos para o
proprietário (CFilho).
OCUPAÇÃO SERVIDÃO
Atinge o caráter exclusivo. Atinge o caráter exclusivo.
Temporária. Perpétua
(Di Pietro): a ocupação prevista na lei 8666 e 8987/95 é ocupação temporária (MINORITÁRIA). É
aquele exemplo que o poder público retoma o serviço devido a inadimplência do acordado no
contrato administrativo (CADUCIDADE) e, não tendo bens necessários para continuidade do
serviço, “ocupa provisoriamente” os bens do contratado. A administração resolve retomar o
serviço e não tem bens suficientes para manutenção do serviço, ela poderá ocupar
provisoriamente os bens da contratada (atendendo ao princípio da continuidade). Acontece
enquanto estiver em andamento o processo administrativo para rescisão de contrato.
Caso ao fim do processo administrativo para a rescisão do contrato a administração fique
definitivamente com os bens da concessionária ocorre o instituto chamado de REVERSÃO (ver
concessão/permissão)
4.6 Desapropriação
4.6.3. OBJETO: Bem móvel ou imóvel, corpóreo ou incorpóreo, público ou privado (direitos
de crédito, ações e cotas de PJ), subsolo, espaço aéreo, inclusive bens públicos).
4.6.3. HIERARQUIA: Os entes de maior hierarquia podem desapropriar bens públicos dos
entes de menor hierarquia, desde que com autorização do Poder Legislativo do ente
expropriante. Os Municípios, sendo os de menor hierarquia dentre os entes federados,
jamais poderão desapropriar bens públicos, mesmo que estes pertençam a outros
Municípios. Se o minicípio desapropria bem da União haverá vício de objeto e não de
competência.
4.6.5.COMPETÊNCIA LEGISLATIVA - É privativa da União (art. 22, II), mas os Estados podem
ser autorizados por meio de lei complementar para legislar sobre questões específicas da
matéria (parágrafo único do art. 22).
Regra: Concorrente da União, Estados, União, Estados, Municípios, Distrito Federal Competência
DF, Municípios e Territórios. incondicionada), autarquias, fundações, empresas públicas,
Exceções:
1) União no caso de desapropriação para fins de sociedades de economia mista e concessionárias,
reforma agrária; permissionárias, autorizatários, delegatários e arrendatários
2) DNER para a abertura de estradas e outras de serviços públicos.
atividades do gênero – DL 512/69
3) ANEEL para instalações de concessionários ou OBS: A autorização para executar a desapropriação pela
permissionários de energia elétrica – Lei 9.648/98. administração indireta e concessionárias ou permissionárias
4) DNIT: implantação do Sistema Nacional de Viação, pode ser feita por meio de lei ou de contrato. (DL
art. 82, IX, da Lei nº 10.233/2001. 3.365/41, art. 3º e Lei 8.987/95 Art. 31 ). Competência
5) condicionada.
4.6.7.PRESSUPOSTOS
4.6.6.ESPÉCIES DE DESAPROPRIAÇÃO
Em uma segunda hipótese, temos uma preservação total, que a área deve ser totalmente
preservada, sendo privado seu uso, esta que se denomina DESAPROPRIAÇÃO FLORÍSTICA. O
fundamento dessa desapropriação é a utilidade pública.
Os bens objeto desse tipo de desapropriação (ORDINÁRIA) podem ser transferidos para suprir o
interesse que a motivou, a administração deve atender uma finalidade. Essas destinações são
divididas em:
4.6.6.4.EXTRAORDINÁRIA AGRÁRIA (art. 184, CR): É forma de intervenção estatal que visa a
compatibilizar o uso da propriedade rural com o interesse social. Decorre do não
cumprimento da função social.
4.6.6.4.1.Prevista nos arts. 184 a 186 da CF, regulada em seus aspectos substantivos pela
Lei 8.629/93 e, no tocante ao seu processo judicial, pela LC 76/93 (alterada pela LC 88/96).
4.6.6.4.2.COMPETÊNCIA: Embora apenas a União possa realizar desapropriação por
interesse social para fins de reforma agrária (sancionatória), qualquer ente da Federação
possui competência para efetuar desapropriação de imóvel rural para fins de interesse
social, com vistas à implantação de colônias ou cooperativas de povoamento e trabalho
agrícola, mediante o pagamento de prévia e justa indenização em dinheiro, nos termos do
art. 5º, XXIV, da Constituição Federal c/c o art. 2º, III, da Lei n. 4.132/1962 (será
desapropriação ordinária, segundo STJ e STF). (: STF SS 2217; STJ RMS 16.627; RMS 13.959)
4.6.6.4.4. INDENIZAÇÃO: Será feito em TÍTULOS da dívida agrária (TAD), com cláusula de
preservação do valor real, resgatáveis em até 20 anos, a partir do 2º ano de sua emissão. O
art. 14 da LC 76/93 determina que o depósito do valor da indenização fixada na sentença
seja feito em dinheiro para as benfeitorias úteis e necessárias e em Títulos da Dívida Agrária,
para a terra nua. No entanto, o STF, na ADI 1187, já entendeu que o dispositivo é
inconstitucional porque ofende o artigo 100 da CF.
4.6.6.5.DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA:
É o esbulho possessório praticado pelo Estado, quando invade área privada sem
contraditório ou pagamento de indenização. Espécie de desapropriação de fato.
Também há desapropriação indireta quando a Administração não se apossa
diretamente do bem, mas lhe impõe restrições que impedem totalmente o proprietário de
exercer os poderes inerentes ao domínio. Ao proprietário prejudicado pela medida resta a
propositura de ação judicial de indenização por desapropriação indireta. Para parte da
doutrina, “até o momento da consumação da desapropriação indireta, paralelamente à
pretensão indenizatória haverá a pretensão possessória do particular.
Após a consumação, resta apenas a via indenizatória ao proprietário turbado ou
esbulhado. Portanto:
-Poder público ameaça: interdito proibitório; Poder público turba: manutenção de posse;
Poder público apossa ou esbulha: reintegração de posse.
Cuidado: somente se não tiver afetado o bem ainda. Caso o bem já tenha sido incorporado
a uma finalidade pública, não cabe mais a proteção possessória, caberá aqui a “ação de
desapropriação indireta”, ou seja, indenização. Essa ação de indenização pode ser
promovida a partir do esbulho até o momento em que restar prescrito o direito.”
Pode a desapropriação indireta originar-se de condutas estatais LÍCITAS. São os casos onde
o Poder Público impõe (licitamente) restrições tão extensas ao bem particular (servidão,
tombamento) que resulta inteiramente esvaziado o conteúdo econômico da propriedade.
Nessa hipótese, entende-se haver também desapropriação indireta, possibilitando ao
particular a pretensão indenizatória (REsp 141.192; 52.905 e 123.080).
Obs: STF: ação de desapropriação é de natureza real. STJ (inf. 523) decidiu que, após a
entrada em vigor do CC/02, é de dez anos o prazo de prescrição aplicável nas ações de
desapropriação indireta. A Turma entendeu que incide nessas hipóteses o mesmo prazo
previsto para a usucapião extraordinário por posse-trabalho, previsto no parágrafo único
do artigo 1.238 do Código, observadas as regras de transição prevista no artigo 2.028 da
Lei.
Em outras palavras, como não há um prazo específico previsto na legislação, o STJ
entendeu que deveria ser aplicado, por analogia, o prazo da usucapião extraordinária.
Assim, enquanto não tiver passado o prazo para que o Estado adquira o imóvel por força
de usucapião, o particular poderá buscar a indenização decorrente do ato ilícito de
apossamento administrativo.
Prazo da USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA no CC-2002: 15 anos (art. 1.238). No
entanto, este prazo passa a ser de 10 anos se o possuidor tiver realizado obras ou serviços
de caráter produtivo no local (parágrafo único do art. 1.238). Como na desapropriação
indireta pressupõe-se que o Poder Público tenha realizado obras no local ou tenha dado ao
imóvel uma utilidade pública ou de interesse social, entende-se que a situação se
enquadraria no parágrafo único do art. 1.238 do CC, de sorte que o prazo para a usucapião
seria de 10 anos.
O decreto de expropriação interrompe a prescrição.
4.6.6.7.DESAPROPRIAÇÃO CONFISCATÓRIA
É aquela que tem por objetivo expropriar, sem qualquer indenização (confisco), as
propriedades rurais e urbanas (todo e qualquer bem de valor econômico) de qualquer região do
País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho
escravo (pune o cometimento de crime), destinando essas áreas à reforma agrária e a programas
de habitação popular (art. 243 da CF). Procedimento na Lei 8.257/91.
Deverá abranger TODA a propriedade e não apenas a área efetivamente cultivada e só a
União pode fazê-la. (Informativo 540 STF).
4.6.6.8.DESAPROPRIAÇÃO JUDICIAL PRIVADA POR POSSE-TRABALHO (Maffini:
Na realidade, essa “desapropriação” é hipótese de adjudicação compulsória. Não pode ser
concebida como desapropriação, pois não é realizada pelo Poder Público, mas sim pelos
particulares, sendo regida, pois, pelo Direito Privado)
Prevista no art. 1.228, §4º do CCB. Além de não encontrarem correspondentes na
codificação anterior, também não estão previstos em qualquer outra codificação do Direito
Comparado. Consiste em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé OBJETIVA, por mais de 5
anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou
separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante.
O juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário.
OBS: Não é espécie de usucapião, porque HÁ INDENIZAÇÃO, que deverá ser paga pelos
próprios possuidores, ou, no caso de serem de baixa renda, pelo Poder Público.
OBS2: Segundo o enunciado n. 240 da III JDC, essa justa indenização “não tem como critério
valorativo, necessariamente, a avaliação técnica lastreada no mercado imobiliário, sendo
indevidos os juros compensatórios.”
O registro da sentença em ação reivindicatória, que opera a transferência da propriedade
para o nome dos possuidores é CONDICIONADO ao pagamento da respectiva indenização, cujo
prazo será fixado pelo juiz.
OBS3: Não se aplica aos bens públicos, que são imprescritíveis. Porém, para corrente
MINORITÁRIA é aplicável aos bens públicos dominicais, sob o argumento de que o bem público,
pelo simples fato de ser público, não necessariamente cumpre a função social, já que a titularidade
pelo Estado não se confunde com a função social.
É possível ser arguida em ação autônoma ou como matéria de defesa, tanto em juízo petitório
quanto no possessório.
Pode ser DECRETO do Executivo ou LEI de efeitos concretos pelo Poder Legislativo, nos
termos do art. 8º do DL 3.365, e deverá conter: 1) sujeito ativo de expropriação; 2) a
descrição do bem; 3) o fundamento legal da expropriação; 4) a fonte orçamentária; 5) a
finalidade da expropriação; 6) a destinação a ser dada ao bem.
OBS1: A declaração de desapropriação ficará sem efeito, caso não sejam respeitados os
prazos de caducidade (5 anos, renováveis, para utilidade ou necessidade pública e 2 anos
não renováveis para interesse social). Somente depois do decurso de 01 ANO é que poderá
ser feita nova decretação de desapropriação por utilidade ou necessidade pública.
4.6.6.9.2.FASE EXECUTIVA
Pode dividir-se em outras duas fases: O ato expropriatório não é autoexecutório, é
necessário o ajuizamento da ação de desapropriação quando não houver anuência do
desapropriado ou se esse for desconhecido.
i) petição inicial: Pedido de produção de prova pericial e de imissão provisória na posse. O juiz, de
plano, quando recebe a inicial, já determina a realização da prova pericial para conhecer o local, a
situação e todo o mais. A imissão provisória na posse pode ser pedida logo de início, porque o
Poder Público tem um interesse público latente de ingressar imediatamente na posse do bem.
ii) contestação: somente pode versar sobre dois assuntos: a) valor da indenização e b) vícios da
ação de desapropriação. NÃO são cabíveis alegações de vícios de procedimento administrativo ou
o próprio mérito da desapropriação, que devem ser questionados por ações próprias. ( OBS: No
procedimento da desapropriação para fins de reforma agrária (LC 76) é permitido ao expropriado,
em sua defesa, suscitar também o direito de extensão, para que a desapropriação seja ampliada
para todo o imóvel (art. 37 DL 3365/41), quando a área remanescente a) for inferior à pequena
propriedade rural ou b) ficar prejudicada em suas condições de exploração econômica, sendo o
seu valor inferior ao da parte desapropriada. Tal instituto visa impedir o abuso de direito por parte
do expropriante.)
iii) Imissão provisória na posse: decisão interlocutória proferida initio litis que transfere
judicialmente a posse ao Poder Público expropriante.
4.6.6.9.2.1.Imissão provisória na posse
É a possibilidade de uma decisão interlocutória proferida initio litis transferir judicialmente a
posse ao Poder Público expropriante, desde que haja o preenchimento de dois requisitos:
Art. 26 DL3.365/41 determina que o valor da indenização será calculado com base no preço do imóvel no momento
da perícia. STJ diz ser a perícia judicial.
REGRA GERAL: ART. 15, §1º, DL 3.365 DESAPROPRIAÇÃO POR UTILIDADE PÚBLICA DE IMÓVEIS
RESIDENCIAIS URBANOS
(DL 1.075/70)
Art. 15, § 1º A imissão provisória poderá ser - Após a efetivação do depósito prévio e antes de autorizar a imissão
feita, independente da citação do réu, provisória na posse, o juiz intima o proprietário para aceitar ou não o
mediante o depósito: valor oferecido. Caso não aceite, o juiz nomeará um perito para fazer
avaliação provisória, depois da qual arbitrará o valor provisório do
a) do preço oferecido, se este for superior a
bem, determinando ao Poder Público, se for o caso, a
20 (vinte) vezes o valor locativo, caso o complementação do depósito.
imóvel esteja sujeito ao imposto predial;
b) da quantia correspondente a 20 (vinte)
vezes o valor locativo, estando o imóvel
sujeito ao imposto predial e sendo menor o - Se o valor arbitrado for superior - Se o valor arbitrado for igual ou
preço oferecido; ao dobro do valor oferecido pelo inferior ao dobro do valor
poder público, o juiz determinará oferecido pelo poder público, o
c) do valor cadastral do imóvel, para fins de a complementação até a metade réu terá a opção do que for mais
lançamento do imposto territorial, urbano do valor arbitrado, desde que a vantajoso: Levantar 80% do valor
ou rural, caso o referido valor tenha sido complementação não seja oferecido ou metade do valor
atualizado no ano fiscal imediatamente superior a 2.300 salários arbitrado.
anterior; mínimos.
d) não tendo havido a atualização a que se Feita a complementação, nesses
refere o inciso c, o juiz fixará independente termos, o réu poderá levantar
de avaliação, a importância do depósito, todo o valor e mesmo assim
continuar discutindo na ação,
tendo em vista a época em que houver sido
porque não terá atingido o limite
fixado originalmente o valor cadastral e a
da avaliação provisória;
valorização ou desvalorização posterior do
imóvel.
- Na ação de desapropriação por utilidade pública, a citação do proprietário do imóvel
desapropriado dispensa a do respectivo cônjuge.
4.6.6.9.2.3.INDENIZAÇÃO
“A desapropriação, ensina Marco Aurélio Greco, deve configurar “uma OPERAÇÃO BRANCA,
sem enriquecer nem empobrecer o proprietário. A justa indenização deve manter íntegro o
patrimônio do expropriado, cobrindo o prejuízo causado pelo desapossamento dos bens. De
outra forma, estar-se-ia gravando um só cidadão, para beneficiar a coletividade, o que não
seria conforme ao princípio da solidariedade social”.
A regra é que a indenização deve ser prévia, justa e em dinheiro (art. 5.º, XXIV, CF)
(exceto sancionatória e agrária).
Será prévia, por ser antes da transferência da propriedade ao expropriante.
Será justa para recompor integralmente o patrimônio do expropriado. Por isso,
devem ser incluídos: o valor do bem expropriado e das benfeitorias existentes; os lucros
cessantes e danos emergentes; os juros compensatórios em caso de imissão provisória na
posse; os juros moratórios; os honorários advocatícios; as custas e despesas judiciais; a
correção monetária; despesa com desmonte e transporte de mecanismos instalados e em
funcionamento.
Para apuração da indenização que reflita o preço atual de mercado do imóvel em sua
totalidade, aí incluídas as terras e acessões naturais, matas e florestas e as benfeitorias
indenizáveis, deverão ser observados os seguintes aspectos: I - localização do imóvel; II -
aptidão agrícola; III - dimensão do imóvel; IV - área ocupada e ancianidade das posses; V -
funcionalidade, tempo de uso e estado de conservação das benfeitorias.
OBS1: não é mais possível a cumulação dos juros compensatórios e moratórios, pois os
primeiros apenas incidem até a data da expedição do precatório e os segundos somente
depois de esgotado o prazo constitucional para seu pagamento. Não há cumulação, pois se
tratam de encargos que incidem em períodos diferentes. Restam prejudicadas, assim, as
Súmulas nºs 12 e 102 do STJ.
OBS2: Não confundir com o fato de que os juros moratórios podem incidir sobre os juros
compensatórios passados.
O STJ firmou a orientação de que a cobertura vegetal A correção monetária passará a incidir a partir do laudo
nativa somente será objeto de indenização em separado definitivo de avaliação ante a revogação do dispositivo do DL
caso comprovado que vinha sendo explorada pela parte 3665 que determinava só incidir correção monetária quando
expropriada anteriormente ao processo expropriatório, decorrido prazo superior a um ano da avaliação.
devidamente autorizada pelos órgãos ambientais
competentes.
Os honorários advocatícios serão calculados sobre a O imóvel rural de domínio público ou particular objeto de
diferença entre a oferta inicial e a indenização, acrescida
dos juros moratórios e compensatórios. Na ADI 2332, o esbulho possessório ou invasão motivada por conflito agrário
STF SUSPENDEU os efeitos da norma do DL 3665 que, com ou fundiário de caráter coletivo não será vistoriado, avaliado
a redação dada pela MP 2183 instituía um valor máximo ou desapropriado nos dois anos seguintes à sua
para esses honorários advocatícios. OBS: Não foi desocupação, ou no dobro desse prazo, em caso de
suspensa, contudo, a norma que limitou o percentual dos reincidência; e deverá ser apurada a responsabilidade civil e
honorários (0,5 a 5%). Para a fixação do percentual, o juiz
deverá levar em conta os mesmos fatores de avaliação administrativa de quem concorra com qualquer ato omissivo
previstos no CPC. ou comissivo que propicie o descumprimento dessas
vedações. (art. 2º lei 8.629/93.
O fundo de comércio deve ser incluído na indenização se S. 354 STJ - “A invasão do imóvel é causa de suspensão do
o expropriado for o seu proprietário. Se for terceiro, deve processo expropriatório para fins de reforma agrária”. Porém,
ser pleiteada a indenização em ação autônoma. segundo o STF, “SÓ HAVERÁ SUSPENSÃO SE A INVASÃO
OCORRER EM MOMENTO ANTERIOR À VISTORIA DO INCRA. SE
A INVASÃO OCORRER POSTERIORMENTE, NÃO HAVERÁ
SUSPENSÃO (MS 24924, Tribunal Pleno, DJe 7/11/11).
4.6.6.9.2.5.DESISTÊNCIA DA DESAPROPRIAÇÃO
Desaparecidos os motivos que provocaram a iniciativa do processo expropriatório,
tem o expropriante o poder jurídico de desistir da desapropriação, inclusive no curso da
ação judicial, desde que não tenha consumado pelo pagamento da indenização. Será
impossível, no entanto, que o expropriante desista da ação se a ocupação do bem a ser
desapropriado provocou alterações substanciais, sendo inviável a devolução nas condições
anteriores, conforme entendeu o STJ.
São quatro os requisitos para a desistência: 1º) seja a desistência definida pelo
expropriante antes de ultimada a desapropriação; 2º) ressarcimento pelo expropriante de
todos os danos que causou ao expropriado; 3º) ressarcimento das despesas processuais; e
4º) devolução do mesmo bem.
4.6.6.9.2.6.DESTINAÇÃO DOS BENS DESAPROPRIADOS
Passam a integrar o patrimônio das pessoas jurídicas políticas que fizeram a
desapropriação ou das pessoas jurídicas públicas ou privadas que desempenhem serviços
públicos por delegação do Poder Público.
Serão transferidos a terceiros nas hipóteses de desapropriação: a)por zona; b) para
fins de urbanização; c) para fins de formação de distritos industriais; d) por interesse
social, e) para assegurar o abastecimento da população e f) na desapropriação-confisco
(serão destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular).
OBS: Não existe o direito quando se dá ao bem uma destinação PÚBLICA diversa daquela
mencionada no ato expropriatório (o que se denomina de tredestinação lícita,pois a
finalidade imediata foi cumprida: interesse público).
a) direito real O expropriado pode exigir o bem de volta. (entendimento do STF antes do CC/02)
b) direito pessoal O expropriado pode pedir apenas perdas e danos. (art. 519 do CC)
c) direito misto O expropriado pode ajuizar a ação de preempção ou preferência (de natureza real) ou, caso
prefira, perdas e danos. (atual entendimento do STJ REsp 868.120/SP, 21/02/2008)
Prazo para a retrocessão: Di Pietro é de 10 anos. Para Carvalho Filho, seria de 5 anos
(Decreto nº 20.910/32).
Algumas leis preveem prazo para que se dê ao bem expropriado a destinação pública.
Nesses casos, quando findo esse prazo, tem início o prazo prescricional para a retrocessão.
Desapropriação por necessidade ou utilidade públicas DL( art. 10) - 05 anos contados da
data da expedição do respectivo decreto e findos os quais este caducará. Ocorrendo a
caducidade, somente depois de 01 ano poderá o mesmo bem ser objeto de nova
declaração expropriatória (art. 10).
Desapropriação por interesse social geral da Lei 4132 ( art. 3º) - 2 anos a contar do
decreto
Expropriatório.
Desapropriação para Reforma agraria (interesse social especial) LC76/93, art. 3º - 3 anos
da data do registro do título translativo do domínio
Desapropriação do Estatuto da Cidade - 5 anos, a contar da incorporação ao patrimônio
público
Súmulas sobre desapropriação (excluídas as totalmente superadas)
STJ
S. 56 Na desapropriação para instituir servidão S. 67- Na desapropriação, cabe a atualização monetária,
administrativa são devidos os juros compensatórios ainda que por mais de uma vez, independente do decurso de
pela limitação de uso da propriedade. prazo superior a um ano entre o calculo e o efetivo
pagamento da indenização. (Vide: Art. 26, § 2°, DL 3365/41)
S. 131 Nas ações de desapropriação incluem-se no S. 354 A invasão do imóvel é causa de suspensão do
cálculo da verba advocatícia as parcelas relativas processo expropriatório para fins de reforma agrária.
aos juros compensatórios e moratórios, (lembrar: STF Interpretação conforme. Somente se a invasão
devidamente corrigidas (Vide: Súmula 378, STF). inviabilizar a vistoria (fiscalização da produtividade) ocorrerá
a interrupção do processo se a invasão é posterior à vistoria
do INCRA, não haverá suspensão do processo
expropriatório)
S. 408 Nas ações de desapropriação, os juros S. 408 Nas ações de desapropriação, os juros
compensatórios incidentes após a Medida compensatórios incidentes após a Medida Provisória n.
Provisória n. 1.577, de 11/06/1997, devem ser 1.577, de 11/06/1997, devem ser fixados em 6% ao ano até
fixados em 6% ao ano até 13/09/2001 e, a partir de 13/09/2001 e, a partir de então, em 12% ao ano, na forma
então, em 12% ao ano, na forma da Súmula n. 618 da Súmula n. 618 do STF.
do STF.
SÚMULAS STF
SÚMULA Nº 23: Verificados os pressupostos legais Súmula 111 - É legítima a incidência do imposto de
para o licenciamento da obra, não o impede a transmissão "inter vivos" sobre a restituição, ao antigo
declaração de utilidade pública para desapropriação proprietário, de imóvel que deixou de servir a finalidade da
do imóvel, mas o valor da obra não se incluirá na sua desapropriação. OBS: Na expropriação não incide ITBI.
indenização, quando a desapropriação for
efetivada.
SÚMULA Nº 157: É necessária prévia autorização do SÚMULA Nº 164: No processo de desapropriação, são
presidente da república para desapropriação, pelos devidos juros compensatórios desde a antecipada imissão de
estados, de empresa de energia elétrica. posse, ordenada pelo juiz, por motivo de urgência.
SÚMULA Nº 218: É competente o juízo da Fazenda SÚMULA Nº 345: Na chamada desapropriação indireta, os
Nacional da capital do estado, e não o da situação juros compensatórios são devidos a partir da perícia, desde
da coisa, para a desapropriação promovida por que tenha atribuído valor atual ao imóvel. Diógenes
empresa de energia elétrica, se a união federal Gasparini entende não mais vigorar tal enunciado
intervém como assistente.
SÚMULA Nº 378: Na indenização por SÚMULA Nº 416: Pela demora no pagamento do preço da
desapropriação incluem-se honorários do advogado desapropriação não cabe indenização complementar além
do expropriado. dos juros.
SÚMULA Nº 476: Desapropriadas as ações de uma SÚMULA Nº 479: As margens dos rios navegáveis são de
sociedade, o poder desapropriante, imitido na domínio público, insuscetíveis de expropriação e, por isso
posse, pode exercer, desde logo, todos os direitos mesmo, excluídas de indenização.
inerentes aos respectivos títulos.
SÚMULA Nº 561: Em desapropriação, é devida a SÚMULA Nº 617: A base de cálculo dos honorários de
correção monetária até a data do efetivo advogado em desapropriação é a diferença entre a oferta e a
pagamento da indenização, devendo proceder-se à indenização, corrigidas ambas monetariamente.
atualização do cálculo, ainda que por mais de uma
vez
SÚMULA Nº 618: Na desapropriação, direta ou Súmula 652 - Não contraria a Constituição o art. 15, § 1º, do
indireta, a taxa dos juros compensatórios é de 12% D.L. 3.365/41 (Lei da Desapropriação por utilidade pública).
(doze por cento) ao ano.
4.7.DECISÕES IMPORTANTES
Hoje, no Brasil e no mundo, o Estado é sujeito responsável, mas nem sempre foi assim.
A responsabilidade civil do Estado tem princípios mais rigorosos que a responsabilidade do
direito privado. Isso ocorre, pois a atividade estatal é feita de forma impositiva, onde o
administrado é considerado o lado hipossuficiente da relação.
A responsabilidade civil fundamenta-se nos princípios da legalidade (quando da
atuação ilícita estatal) e da isonomia (a responsabilidade também decorre de condutas
lícitas, mas que provocam danos a um particular. Nesse caso, para que o prejudicado seja
tratado de forma igual a todos os outros que forem beneficiados pela conduta lícita, deverá
ser indenizado. Ex.: construção de viaduto ao lado da casa). Assim, a responsabilidade civil
do Estado por CONDUTA ILÍCITA tem fundamento no princípio da legalidade e, por
CONDUTA LÍCITA, no princípio da isonomia.
(b) TEORIA DA RESPONSABILIDADE COM CULPA (subjetiva para atos de gestão e objetiva
quanto aos atos de império): o Estado passou a ser sujeito responsável. Inicialmente,
somente em situações pontuais, ou seja, quanto aos atos de gestão, caso em que o Estado
respondia como se fosse um particular, de modo que a vítima deveria comprovar a culpa do
agente causador do dano. Quanto aos atos de império, o Estado responderia objetivamente.
Baseada em duas ideias: (a) RISCO (que a atividade pública gera para os administrados); e
(b) SOLIDARIEDADE SOCIAL (possibilidade de gerar dano a certos membros da
coletividade/sociedade, impondo-lhes um ônus não suportado pelos demais - repartição do
dano entre todos, de modo que irão concorrer, em igualdade de condições, para sua
reparação, através do erário.
Basta a existência de NEXO CAUSAL entre a CONDUTA DO ESTADO, através de seus agentes
públicos, e UM DANO ESPECÍFICO para alguns cidadãos para se ensejar a Excludentes:
ausência de conduta ou de nexo causal. Ex.: culpa exclusiva da vítima, caso fortuito, fato de
terceiro, força maior.
OBS.: culpa concorrente não exclui a responsabilidade, podendo apenas atenuar a
indenização devida na medida da culpa da vítima. Se não for possível verificar a culpa de
cada um, divide-se a indenização.
(d.2) Teoria do risco integral: é a teoria do risco administrativo com um incremento, qual
seja, não admissão de excludentes de responsabilidade (culpa da vítima, culpa de terceiro
ou força maior). O Estado responde de qualquer forma. Ex.: se o sujeito se atira em um
tanque de substância nuclear pretendendo o suicídio, o Estado responde, mesmo que haja
culpa exclusiva da vítima. Só existe excepcionalmente no Brasil.
Hipóteses previstas: (a) acidedntes de trabalho, (b) DPVAT (Lei 6.194/74), (c) atentados
terroristas a aeronaves (Leis 10.309/01 e 10.744/03), (d) dano ambiental (art. 225, § 2º e §
3º, da CF), (e) dano nuclear (art. 177, V, da CF)
→ JSCF: a teoria do risco administrativo não se confunde com a teoria do risco integral. No
RISCO ADMINISTRATIVO não há responsabilidade civil genérica e indiscriminada: se houver
participação total do lesado, o Estado não será responsável e, se houver participaçao parcial,
haverá atenuação da obrigação de indenizar – ou seja, há limites. No RISCO INTEGRAL a
responsabilidade independe de nexo causal e ocorre mesmo quando a culpa é da própria
vítima.
Com a Constituição de 1946, o Brasil assumiu uma postura mais publicista com relação à
responsabilidade do Estado, desenvolvendo-se a “teoria do risco administrativo”, exigindo-
se apenas a constatação do nexo de causalidade entre o dano e a ação administrativa para
responsabilização do Poder Público.
A Constituição de 1967 manteve a regra em seu art. 105, acrescentando que a ação de
regresso seria cabível em caso de dolo ou culpa. Idêntica redação foi adotada pela EC
1/1969, no art. 107.
Em 1988, com o advento da nova Constituição, a responsabilidade civil, tanto do Estado
quanto da pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviço público passou a ser
objetiva em relação a terceiros. A força maior e culpa exclusiva da vítima podem figurar
como excludentes de responsabilidade do Estado, quando nexo causal entre a atividade
administrativa e o dano não ficar evidenciado.
O art. 37, § 6º da CF não serve como fundamento para TODO o dever de indenizar do
Estado. Esse artigo se refere apenas à responsabilidade EXTRACONTRATUAL. Existem outras
formas de indenização (desapropriação, por exemplo) que são regidas por regras
específicas. Ex.: caso exista contrato, o fundamento da responsabilidade estará na Lei
8.666/93; desapropriação (sacrifício de direito).
CF, art. 37, § 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras
de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
(b) as PJ´s de direito público responderão pelos danos que seus agentes causarem a
terceiros: CF não condiciona a responsabilidade objetiva ao tipo de atividade exercida
porque ela decorre da personalidade pública e independe da atividade desempenhada
(serviço público, poder de polícia, intervenção no domínio econômico, atividade normativa
ou qualquer outra).
(c) PJ´s de direito privado prestadoras de serviço público responderão pelos danos que
seus agentes causarem a terceiros: empresas públicas, sociedades de economia mista e
concessionárias são PJ´s de direito privado e não estão inerentemente vinculadas à
responsabildiade objetiva do Estado como ocorre com as PJ´s de direito público.
As PJ´s de direito privado respondem objetivamente quando prestam serviços públicos
como decorrência do regime jurídico do serviço público (garantia do usuário independente
de quem realiza o serviço). Se, por ex., desempenhar atividade econômica a empresa
pública e a sociedade de economia mista estão sujeitas à responsabilidade subjetiva.
(d) assegurado o direito de regresso cotnra o responsável nos casos de dolo ou culpa: a
responsabilidade do agente é subjetiva porque pressupõe culpa ou dolo.
Assim:
* PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO: responsabilidade que decorre da QUALIDADE
DA PARTE.
* PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO PRESTADORAS DE SERVIÇOS PÚBLICOS:
responsabilidade civil que decorre da NATUREZA DA ATIVIDADE DESEMPENHADA. Integram
essa categoria:
(i) PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO INTEGRANTES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
QUE PRESTAM SERVIÇO PÚBLICO. EP ou SEM que desempenhe SERVIÇO PÚBLICO também.
Mas se desempenhar ATIVIDADE ECONÔMICA responde conforme o direito privado
(responsabilidade subjetiva ou objetiva, de acordo com a legislação do direito privado. Caso
venham responder objetivamente não é possível utilizar o art. 37, § 6°, CF como
fundamento).
(ii) CONCESSIONÁRIAS E PERMISSIONÁRIAS: na ausência de patrimônio (responsabilidade
primária), o Estado é chamado a responder de forma subsidiária (responde em segundo
plano e não solidariamente).
Ex.: vítima atropelada por carro de autarquia. Ação ajuizada contra a autarquia. Se a
autarquia for condenada a pagar (por ato de agente seu), essa responsabilidade é chamada
responsabilidade primária. Em não tendo dinheiro para pagar a conta, o Estado responde
subsidiariamente: é a chamada responsabilidade subsidiária, que ocorre sempre que Estado
deve responder por ato de agente de outra pessoa jurídica.
CABM: para a produção dos efeitos supostos na regra é irrelevante a qualidade da vítima
(usuário ou não usuário). Basta que o dano seja produzido pelo SUJEITO NA QUALIDADE DE
PRESTADOR DO SERVIÇO PÚBLICO, pois o texto constitucional não faz distinção.
5.3. Responsabilidade por ação e por omissão. Elementos
RESPONSABILIDADE RESPONSABILIDADE
OBJETIVA SUBJETIVA
-DANO;
-DANO; -CONDUTA;
-CONDUTA; -DOLO OU CULPA;
-NEXO DE CAUSALIDADE. -NEXO DE
CAUSALIDADE.
→ AGENTE PÚBLICO: todo aquele que exerce uma função estatal (em sentido amplo).
Abrange o particular em colaboração com a Administração (STJ, REsp 648.818, 2005).
→ art. 37, § 6º, CF - “(...) nessa qualidade (...)”: vinculação da conduta com a QUALIDADE DE
AGENTE PÚBLICO. Não exige que ele tenha agido no exercício das funções, mas na qualidade
de agente público. Ex.: policial fora de serviço agindo na qualidade de agente público (STF,
RE 160.401 -1999).
Lembrar:
→ RESPONSABILIDADE OBJETIVA irrelevante análise do elemento subjetivo (dolo ou
culpa).
→ RESPONSABILIDADE SUBJETIVA POR FALTA DO SERVIÇO elemento subjetivo é
relevante, mas é presumido. Estado pode se eximir da responsabilidade provando
inexistência de dolo ou culpa.
A CF/88 trouxe a idéia de responsabilidade objetiva do Estado quanto aos atos comissivos
(lícitos ou ilícitos). Havendo omissão, a responsabilidade é subjetiva (descumprimento de
dever legal) e a conduta (omissiva) passível de responsabilização sempre será ilícita (ilicitude
consiste no descumprimento de um dever legal).
Ex: o Estado tem o dever de prestar segurança e responderá se o serviço não foi prestado
dentro de um padrão normal.
Mazza: Dano por omissão: Estado deixa e de agir e, devido a tal inação, não consegue
impedir um resultado lesivo. Submetem-se à teoria subjetiva, confore STF e doutrina
majoritária. Estado só pode ser condenado a indenixar quando legislação considerar
obrigatória a prática da conduta omitida. A omissão pode ser dolosa ou culposa. A vítima
tem o ônus de provar a omissão, a culpa ou dolo, o dano e o nexo causal. Entretanto, a
partir da hopossuficiência decorrente da inferioridade da vítima diante do Estado admite-se
a inversão do ônus da prova.
Só existirá a responsabilização do Estado se ele tinha como evitar o dano. O padrão normal
está submetido ao princípio da reserva do possível (o serviço deve ser prestado dentro do
que é possível ao Estado prestar). Não se pode deixar de prestar o mínimo existencial (esse
deve ser garantido).
Padrão normal aquele que está de acordo com a reserva do possível, desde que assegurado
o mínimo existencial ao cidadão.
Reserva do possível: STF admite a utilização excepcional da tese desde que haja um justo
motivo objetivamente comprovável, cabendo ao Estado demonstrar que não teve como
concretizar a pretensão solicitada (impossibilidade real de atuação do Estado em razão das
limitações orçamentárias).
Para se falar em responsabilidade por omissão também deve existir um dano evitável. Vale
dizer: mesmo que haja omissão de um dever legal por serviço prestado fora do padrão
normal, se o dano era inevitável não haverá omissão passível de responsabilização. Era o
exemplo do presidiário que se suicidava com o lençol da cela. Contudo, agora prevalece que
o suicídio de preso é responsabilidade objetiva do Estado:
Em caso de inobservância de seu dever específico de proteção previsto no art. 5º, inciso
XLIX, da CF/88, o Estado é responsável pela morte de detento. STF. Plenário. RE 841526/RS,
Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 30/3/2016 (repercussão geral, Info 819).
Ex.1: Estado responde quando um carro que é roubado? O Estado tem dever legal de
segurança e, em tese, este foi descumprido. Mas isso basta para a responsabilidade estatal?
Configura uma hipótese de má prestação de serviço (ou falta do serviço)? Para haver
responsabilização estatal por falta de serviço deve-se comprovar que o serviço não foi
prestado dentro de um padrão normal. Se o Estado estiver prestando o padrão normal não
há responsabilidade. Não há como exigir que o Estado esteja em todos os lugares ao mesmo
tempo, pois isso é fatidicamente e economicamente impossível. Invoca-se como tese de não
responsabilização a teoria da reserva do possível.
Ex.2: colisão por defeito semafórico. A Responsabilidade é objetiva baseada na teoria do
risco administrativo, pois se trata da ação de construir um cruzamento perigoso que, por si
só, constitui a criação de um risco. Ou seja, o Estado assumiu o risco (conforme
jurisprudência). Há julgado do STJ que entendeu pela culpa concorrente dos motoristas no
caso de colisão em que ambos estavam em velocidade acima da permitido, MESMO com o
defeito no semáforo.
Ex.3: preso foge de presídio, invade casa ao lado e mata a família. O Estado responde -
responsabilidade objetiva, pois o Estado colocou o presídio no meio da cidade, assumindo
um risco (atividade de risco). Por outro lado, se preso foge e mata um sujeito a 100 km de
distância a responsabilidade passa a ser subjetiva, pois quebra o nexo de causalidade criado
pela situação de risco.
Obs.: o NCC traz essa hipótese como responsabilidade objetiva, não em relação da conduta
ser omissiva ou comissiva, mas em decorrência do art. 932, IV, NCC
Art. 932. São também responsáveis pela REPARAÇÃO CIVIL:
IV - os DONOS DE HOTÉIS, HOSPEDARIAS, CASAS OU ESTABELECIMENTOS ONDE SE
ALBERGUE POR DINHEIRO, MESMO PARA FINS DE EDUCAÇÃO, PELOS SEUS HÓSPEDES,
MORADORES e EDUCANDOS;
JSCF: não parece correto afirmar que nas condutas omissivas “incide a responsabilidade
subjetiva”. Apenas se trata de uma responsabilização comum, ou seja, aquela fundada na
culpa, não se admitindo então a responsabilização sem culpa, eis que a responsabilidade
objetiva é um plus em relação à subjetiva e não deixa de subsistir em razão desta; além do
que todos se sujeitam normalmente à responsabilidade subjetiva, porque essa é a regra do
ordenamento.
(5.3.2) DANO: não basta que exista um prejuízo econômico. Para o dano ser indenizável,
precisa ser:
(a) JURÍDICO: o dano deve causar lesão a um DIREITO da vítima (protegido pelo
ordenamento jurídico), ou seja, deve gerar a restrição ou supressão de algum outro direito
individual ou coletivo.
(b) CERTO: DETERMINADO ou pelo menos DETERMINÁVEL. Engloba o que se perdeu (DANO
EMERGENTE) e o que se deixou de ganhar (LUCROS CESSANTES). Exceção à teoria da perda
de uma chance, que mitiga a certeza do dano.
DANO EVENTUAL e DANO IMPOSSÍVEL não são indenizáveis.
(d) ESPECIAL: atingir especificamente a vítima, e não a toda a sociedade. DANO ESPECIAL
como antônimo de DANO GENÉRICO. A vítima deve ser particularizada, determinada (dano
específico).
→ art. 37, § 6º, CF: “(...) causarem a terceiros”. Discussão quanto à interpretação do
vocábulo “terceiro”:
→ STF - RE 580252 (reconhecida repercussão geral) – discute se o preso que sofre com a
superlotação tem direito à indenização, por ofensa à sua dignidade. Vale lembrar que o
entendimento que vem prevalecendo na jurisprudência é de que o preso não tem direito à
indenização (tema 365). Aguarda julgamento.
→ Precedentes no sentido de cabimento de dano moral na hipótese de excesso de prazo
em prisão cautelar (Precedente: REsp 815004, DJ 16.10.2006 - Primeira Turma).
(c) FORÇA MAIOR: acontecimento exterior, evento natural irresistível e estranho à vontade
das partes, que também exclui responsabilidade.
8
Art. 7º Compõem o Sistema Nacional de Trânsito os seguintes órgãos e entidades: I - o Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN,
coordenador do Sistema e órgão máximo normativo e consultivo; II - os Conselhos Estaduais de Trânsito - CETRAN e o Conselho de Trânsito
do Distrito Federal - CONTRANDIFE, órgãos normativos, consultivos e coordenadores; III - os órgãos e entidades executivos de trânsito da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; IV - os órgãos e entidades executivos rodoviários da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios; V - a Polícia Rodoviária Federal; VI - as Polícias Militares dos Estados e do Distrito Federal; e VII - as
Juntas Administrativas de Recursos de Infrações - JARI.
Portanto, pedidos de indenização devido a acidentes ou fatalidades causadas por
fenômenos da natureza podem ser enquadrados na tese de caso fortuito ou de força
maior”.
Tanto na força maior como no ato de terceiro se ficar comprovado que o Estado poderia
ter evitado os danos poderá responder, mas o entendimento majoritário é que será por
culpa do serviço.
Atenção: a matéria sobre responsabilidade civil não é técnica, as decisões geralmente
variam conforme peculiaridades do caso concreto.
Pela via judicial, conforme STJ, a vítima pode ajuizar a ação em face do Estado (teoria
objetiva, em regra) ou em face do agente (teoria subjetiva). JSCF concorda.
CABM: é possível a propositura de demanda em face do agente e do Estado, em
litisconsórcio facultativo.
Sendo condenado a indenizar, o Estado poderá ajuizar ação de regresso contra o agente. No
entanto, este só será condenado se tiver causado o dano culposamente (responsabilidade
subjetiva).
A vítima poderá propor ação diretamente contra o servidor causador do dano (e não contra
o Estado)? (Dizer o Direito)
Como se nota, a 4ª Turma do STJ decidiu de forma contrária ao que vinha sendo apontado
como a posição do STF sobre o tema. Como a doutrina majoritária prestigia o entendimento
manifestado pela 2ª corrente, existe a possibilidade de a tese da dupla garantia ser
superada. É preciso aguardar. A posição mais segura continua sendo aquela que impede a
vítima de acionar diretamente o agente causador do dano.
Ex.: art. 37, X, CF: remuneração dos servidores públicos – “assegurada a revisão geral anual,
sempre na mesma data e sem distinção de índice” (inclusão pela EC 19). A União não
promoveu essa revisão em 1999 e 2000. Foram propostas ADIs por omissão para que o STF
reconhecesse a omissão e que estabelecesse o índice. O STF reconheceu a omissão, mas não
foi determinado o índice, sob pena de atuação do STF como legislador positivo. No voto de
um dos ministros é feita referência à possibilidade de ação de indenização pelo que se
deixou de pagar. Posicionamento dos tribunais sobre essas ações de indenização: TRF4 –
reconhece esse direito; demais TRFs – não reconhecem esse direito.
JSCF: a regra geral, no caso de atos legislativos, deve sempre ser a de não ser atribuída
responsabilidade civil ao Estado, sobretudo porque a edição de leis, por si só, não tem
normalmente o condão de acarretar danos indenizáveis aos membros da coletividade.
Contudo, a MODERNA DOUTRINA admite a responsabilidade nos casos de LEI DE EFEITO
CONCRETO, nas hipóteses de OMISSÃO LEGISLATIVA e nos casos de LEIS DECLARADAS
INCONSTITUCIONAIS em controle concentrado.
FUNDAMENTOS:
(2) DENUNCIAÇÃO É FACULTATIVA (MSZP, STJ, Resp 313.886): será cabível a denunciação se
a AÇÃO PROPOSTA EM FACE DO ESTADO JÁ INDIVIDUALIZE O SERVIDOR e SE BASEIE NA
CULPA DESTE. Caso contrário, a denunciação seria impossível, pelos mesmos motivos
utilizados pela primeira corrente. Se o particular, já na inicial, discute dolo/culpa do agente,
9 LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença.
10 Art. 143. Responderá, civil e regressivamente, por perdas e danos o juiz, quando: I - no exercício de suas funções, proceder com dolo ou
fraude; II - recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que deva ordenar de ofício, ou a requerimento da parte.
11 Art. 630. O tribunal, se o interessado o requerer, poderá reconhecer o direito a uma justa indenização pelos prejuízos sofridos.
§ 1o Por essa indenização, que será liquidada no juízo cível, responderá a União, se a condenação tiver sido proferida pela justiça do
Distrito Federal ou de Território, ou o Estado, se o tiver sido pela respectiva justiça.
§ 2o A indenização não será devida:
a) se o erro ou a injustiça da condenação proceder de ato ou falta imputável ao próprio impetrante, como a confissão ou a ocultação de
prova em seu poder;
b) se a acusação houver sido meramente privada.
é possível que o Estado denuncie o agente, pois nesse caso não haveria ampliação da
instrução.
Essa parece ter sido a posição adotada pela Lei 8.112/90, segundo a qual, ocorrendo dano
causado a terceiros, o servidor deverá responder perante a Fazenda Pública em ação
regressiva (art.122, §2º.). Conquanto não seja o dispositivo de extrema clareza, é de supor-
se que considerou tal ação como autônoma, diversa, portanto, daquela em que o lesado
tenha demandado a Fazenda. (J.S)
Para a doutrina majoritária não é possível, pois a inclusão do debate sobre culpa ou dolo na
ação indenizatória representa um retrocesso histórico à fase da responsabilidade objetiva
do Estado.
A jurisprudência, contudo, tem admitido a denunciação como uma faculdade em favor do
Estado, o qual poderia decidir sobre a conveniência ou não de antecipar a discussão a
respeito da responsabilidade de seu agente, evitando a propositura de ação regressiva.
Aqueles que a defendem invocam a economia processual, a eficiência administrtiva e a
maior celeridade no ressarcimento dos prejuízos causados aos cofres públicos.
O fato de denunciar ou não denunciar não vai comprometer o direito de regresso.
→PRAZO PRESCRICIONAL
(a) EM FACE DA FAZENDA PÚBLICA: o art. 1º do DL 20.910/32 prevê o prazo de CINCO ANOS
para exigir a reparação em face das pessoas jurídicas de direito público e pessoas jurídicas
de direito privado prestadoras de serviço público (administração indireta) (Lei 9.494/97).
Lei 9.494/97, Art. 1º-C. Prescreverá em CINCO ANOS o direito de obter indenização dos
danos causados por agentes de pessoas jurídicas de direito público e de pessoas jurídicas de
direito privado prestadoras de serviços públicos.
→ Até 2012 prevalecia que o prazo seria de 03 ANOS, conforme art. 206 do CC. O prazo
quinquenal, no entanto, é mais benéfico à Fazenda Pública, o que foi o objetivo da Lei
Especial, editada quando o prazo geral do CC/16 era de 20 anos (STJ REsp. 698.195/DF -
JSCF, Carlos Roberto Gonçalves). Além disso, o art. 10 do DL faz menção à manutenção de
outros prazos mais benéficos à Fazenda Pública.
→ Outro caso em que há a comunicabilidade: art. 132, I, L. 8.112/90, que comina a pena de
demissão para a prática de crime contra a Administração (não são todos do capítulo, só os
funcionais). Deve haver a condenação penal para que seja aplicada a pena administrativa.
A incomunicabilidade das esferas administrativa e penal não se confunde com os efeitos da
condenação da sentença penal. Esta poderá trazer como efeito a perda do cargo, função
pública ou mandato eletivo (art. 92, I, CP). Não é efeito automático, devendo constar
expressamente da sentença. Exceção: art. 1o da Lei de Tortura, que prevê como efeito
automático a perda do cargo.
5.7. Jurisprudência
Info 773/STF
É inconstitucional lei estadual (distrital) que preveja o pagamento de pensão especial a ser
concedida pelo Governo do Estado (Distrito Federal) em benefício dos cônjuges de pessoas
vítimas de crimes hediondos, independentemente de o autor do crime ser ou não agente do
Estado. Tal lei amplia, de modo desmesurado (irrazoável), a responsabilidade civil do Estado
prevista no art. 37, § 6º, da CF/88. STF. Plenário. ADI 1358/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 4/2/2015 (Info 773)
Info 556/STJ
Determinada pessoa foi presa e torturada por policiais. Foi instaurado inquérito policial para
apurar o ocorrido.
Qual será o termo de início da prescrição da ação de indenização por danos morais?
• Se tiver sido ajuizada ação penal contra os autores do crime: o termo inicial da prescrição
será o trânsito em julgado da sentença penal.
• Se o inquérito policial tiver sido arquivado (não foi ajuizada ação penal): o termo inicial da
prescrição da ação de indenização é a data do arquivamento do IP.
Info. 532/STJ
Na hipótese de dano causado a particular por agente público no exercício de sua função, a
vítima tem a possibilidade de ajuizar a ação de indenização diretamente contra o agente,
contra o Estado ou contra ambos.
Obs.: STF possui julgado em sentido contrário.
Info 523/STJ
Deve ser extinto o processo, sem resolução do mérito, na hipótese de ação em que se
pretenda obter do Estado, antes de declarada a nulidade do registro imobiliário, indenização
por dano decorrente de alegada fraude ocorrida em Cartório de Registro de Imóveis. Nessa
situação, falta interesse de agir, pois, antes de reconhecida a nulidade do registro, não é
possível atribuir ao Estado a responsabilidade civil pela fraude alegada. Isso porque,
segundo o art. 252 da Lei 6.015/73, o registro, enquanto não cancelado, produz todos os
efeitos legais, ainda que, por outra maneira, prove-se que o título está desfeito, anulado,
extinto ou rescindido.
Info 819/STF
Em caso de inobservância de seu dever específico de proteção previsto no art. 5º, inciso
XLIX, da CF/88, o Estado é responsável pela morte de detento. STF. Plenário. RE 841526/RS,
Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 30/3/2016 (repercussão geral) (Info 819).
Em suma:
• Em regra: o Estado é objetivamente responsável pela morte de detento. Isso porque
houve inobservância de seu dever específico de proteção previsto no art. 5º, inciso XLIX, da
CF/88.
• Exceção: o Estado poderá ser dispensado de indenizar se ele conseguir provar que a morte
do detento não podia ser evitada. Neste caso, rompe-se o nexo de causalidade entre o
resultado morte e a omissão estatal.
Os servidores públicos são uma espécie dentro do gênero ‘agentes públicos’. (...) Esta
expressão – agentes públicos – é a mais ampla que se pode conceber(...). Quem quer que
desempenhe funções estatais, enquanto as exercita, é um agente público. (CABM)
Dois são os requisitos para a caracterização do agente público: um, de ordem
objetiva, isto é, a natureza estatal da atividade desempenhada; outro, de ordem subjetiva: a
investidura nela. (CABM)
Funcionário de fato é aquele cuja investidura foi irregular, mas cuja situação tem
aparência de legalidade. Em nome do princípio da aparência, da boa-fé dos administrados,
da segurança jurídica e do princípio da presunção de legalidade dos atos administrativos
reputam-se válidos os atos por ele praticados, se por outra razão não forem viciados.
(CABM)
Podem ser agrupados em duas categorias:
• os agentes necessários: são aqueles que praticam atos e executam atividades em
situações excepcionais em colaboração com o Poder Público e como se fossem agentes de
direito; Ex: emergência.
• os agentes putativos: são que desempenham uma atividade pública na presunção de
que há legitimidade, embora não tenha havido investidura dentro do procedimento
legalmente exigido.
Note-se, porém, que o agente de fato jamais poderá usurpar a competência
funcional dos agentes públicos em geral, já que este tipo de usurpação da função pública
constitui crime previsto no art. 328 do Código Penal. (J.S)
Os agentes públicos podem ser divididos em três grandes grupos, dentro nos quais
são reconhecíveis ulteriores subdivisões. A saber:
a) agentes políticos; “Agentes políticos são aqueles aos quais incumbe a execução das
diretrizes traçadas pelo Poder Público. São estes agentes que desenham os destinos
fundamentais do Estado e que criam as estratégias políticas por eles consideradas
necessárias e convenientes para que o Estado atinja os seus fins. – Carvalho Filho”
OBS.: Celso Antônio não inclui magistrados, membros do Ministério Público e dos Tribunais
de Contas na categoria dos agentes políticos; também não o faz José dos Santos Carvalho
Filho, que os chama de servidores especiais; R.F. já os integra.
“Apesar das divergências doutrinárias, entendo acertado o posicionamento de Hely, para
quem os agentes políticos são os componentes do governo nos seus primeiros escalões, no
exercício de atribuições constitucionais. Em tal categoria se enquadram os Chefes do
Executivo e seus auxiliares diretos, os membros do Legislativo, do Judiciário, do Ministério
Público e dos Tribunais de Contas, bem como os representantes diplomáticos. Celso Antônio
e Maria Sylvia adotam uma posição mais restrita, incluindo como agentes políticos apenas
os Chefes do Executivo e seus auxiliares diretos, além dos membros do Legislativo” -
extraído do roteiro de estudo n. 8, de autoria do Des. Luiz Alberto Gurgel de Faria.
Em sentido contrário, o Supremo no RE 228.977/SP referiu-se aos magistrados como
“agentes políticos investidos para o exercício de atribuições constitucionais, sendo dotados
de plena liberdade funcional no desempenho de suas funções, com prerrogativas próprias e
de legislação específica”.
A designação ‘servidor público’, para alguns autores, tem alcance mais restrito do
que dantes. Para CABM, o termo só engloba os integrantes de cargo ou emprego nas
pessoas jurídicas de Direito Público. (CABM). MSZP, por sua vezes, considera servidores
públicos (i) os servidores estatutários (ii) empregados públicos (iii) servidores temporários.
Segundo clássica classificação de Hely Lopes Meirelles, os agentes públicos (“são todas as
pessoas físicas incumbidas, definitiva ou transitoriamente do exercício de alguma função
estatal”) são classificados em:
a) Agentes poli ́ticos: “são os componentes do Governo nos seus primeiros escalõ es,
investidos em cargos, funções, mandatos ou comissões, por nomeação, eleição, designação
ou delegação para o exerci ́cio de atribuiçõ es constitucionais. Esses agentes atuam com
plena liberdade funcional, desempenhando suas atribuições com prerrogativas e
responsabilidades próprias, estabelecidas na Constituição e em leis especiais. Tem normas
especi ́ficas para sua escolha, investidura, conduta e processo por crimes funcionais e de
responsabilidade, que lhes são privativos”.
c) Agentes Honori ́ficos: “são cidadãos convocados, designados ou nomeados para prestar,
transitoriamente, determinados serviços ao Estado, em razão de sua condição cívica, de sua
honorabilidade ou de sua notória capacidade profissional, mas sem qualquer vínculo
empregati ́cio ou estatutário e, normalmente, sem remuneração.” Ex: jurados, mesários etc.
37, IV. A CF não veda a realização de um novo concurso enquanto ainda válido o
anterior, assegurando prioridade de nomeação aos aprovados no certame mais antigo. A Lei
8112/90, no art. 12, §2º, contem norma em sentido inverso. Destaca-se a S. 15 do STF:
“DENTRO DO PRAZO DE VALIDADE DO CONCURSO, O CANDIDATO APROVADO TEM O
DIREITO À NOMEAÇÃO, QUANDO O CARGO FOR PREENCHIDO SEM OBSERVÂNCIA DA
CLASSIFICAÇÃO”.
37, IX. A contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária
de excepcional interesse público estabelece vínculo jurídico-administrativo com a
administração (nem são celetistas nem estatutários). Eles exercem função pública
remunerada temporária.
Segundo o STF, as lides que envolvam esses contratados temporários e a
administração é da competência da Justiça Comum e não da Justiça do Trabalho (RE
573.202/AM).
Ainda de acordo com o STF, o art. 37, IX deve ser interpretada restritivamente, eis que
estabelece exceção à regra do concurso público, corolário do principio republicano (ADI
1500/ES). Exige a configuração de 4 requisitos para considerar legitima a contratação: a)
casos excepcionais devem estar previstos em lei; b) o prazo de contratação deve ser
predeterminado; c) a necessidade deve ser temporária; d) o interesse público deve ser
excepcional (ADI 2229/ES). Não cabe, por exemplo, para serviços meramente burocráticos
(ADI 2897/SC).
Prevalece no entendimento no STF de que também não cabe para funções permanentes e
ordinárias do órgão ou entidade. Tanto a função quanto a necessidade devem ser
temporárias (RE 573.202/AM). Há decisão isolada em sentido contrario (ADI 3068/DF).
Na esfera federal é regulada pela Lei 8.745/93, estabelecendo as situações que
podem ser consideradas como necessidade temporária de excepcional interesse público
(não deixa a cargo do administrador). Ex.: calamidade pública, emergências em saúde
pública, emergências ambientais e recenseamento e pesquisas pelo IBGE.
A criação, transformação e extinção de cargos, empregos e funções é da
competência do Congresso Nacional, por meio de lei, dependente de sanção do PR (art. 48,
X). Quando se tratar da administração direta e autárquica federal, a iniciativa dessa lei é
privativa do PR (art. 61, §1º). Se o cargo ou função estiver vago, a extinção pode se dar por
“decreto autônomo” do PR (art. 84, VI, b).
A criação e extinção de ministérios e órgãos da administração federal é da
competência do CN, por meio de lei de iniciativa do PR (art. 48, XI). A “estruturação” do
ministério ou órgão foi excluído desse dispositivo pelo EC 32/01.
É da competência privativa do PR dispor sobre a organização e funcionamento da
administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção
de órgãos públicos, por meio de decreto (art. 84, VI, a).
• Associação sindical
37, VI. O servidor público tem direito a livre associação sindical, nos mesmos moldes
assegurado aos trabalhadores em geral pelo art. 8º da CF. Trata-se de norma autoaplicável.
Aos militares, por sua vez, é vedada a sindicalização e a greve, sem qualquer exceção
(art. 142, VI). Essa norma abrange os policiais civis, segundo a jurisprudência do Supremo.
A Lei 8112/90 previa o direito à negociação coletiva e a possibilidade de ajuizamento
de ações coletivas perante a Justiça do Trabalho (art. 240, d e e). As normas foram
declaradas inconstitucionais pelo STF (ADI 492). As lides entre servidores e a administração
pública federal são de competência da Justiça Federal. Considerou, ainda, que a negociação
coletiva é incompatível com o regime estatutário, dando origem à S. 679: “a fixação de
vencimentos dos servidores públicos não pode ser objeto de convenção coletiva”.
• Direito de greve
37. VII. A norma que concede o direito de greve aos servidores públicos é de eficácia
limitada, exigindo lei ordinária que estabeleça os termos e limites do exercício (o texto
originário previa LC, mas essa exigência não remanesce). Considerando a inércia do
legislador, o STF a atribuiu eficácia concretista geral ao julgamento de três Mandados de
Injunção, determinando a aplicação temporária, ao setor público, da lei de greve vigente no
setor privado, no que couber. Trata-se da Lei 7783/89.
Decidiu o STF que a administração pode descontar a remuneração referente aos dias
não trabalhados pelos servidores grevistas (adaptação da suspensão do contrato de trabalho
prevista na lei de greve).
O STF também fixou regras temporárias de competência para apreciação de dissídios
de greve entre servidores de poder publico: a) paralisação de âmbito nacional ou que
abranger mais de uma região da JF ou que compreender mais de um Estado → STJ; b)
paralisação restrita a uma região da JF → TRF; c) paralisação restrita a um Estado → TJ; d)
greves de âmbito local ou municipal → TJ (servidores estaduais e municipais) ou TRF
(servidores federais).
O art. 37, VII não se aplica aos empregados públicos, aos quais são regidos pelas
normas gerais aplicáveis aos trabalhadores em geral.O direito de greve também é vedado
aos militares, sem nenhuma exceção (142, IV).
• Remuneração dos agentes públicos
37, X. A fixação ou alteração da remuneração (em sentido amplo) depende de lei
ordinária específica (somente deve tratar desse assunto).
A iniciativa desta lei segue a seguinte regra:
• cargos da estrutura do Poder Executivo Federal (61, §1º, II, a) → PR;
• cargos da estrutura da CD (51, IV) → CD;
• cargos da estrutura do SF (52, XIII) → SF;
• cargos integrantes do Poder Judiciário (96, II, b) → cada tribunal;
• Ministros do STF → STF;
• Deputados federais, senadores, PR e vice e Ministros → CN, não sujeito a sanção ou
veto do PR (diferentemente dos itens anteriores que se sujeitam a sanção).
37, X. Segundo o STF, a revisão geral anual deve ser efetivada por meio de lei de
iniciativa privativa do Chefe do PE, pois se enquadra no disposto no art. 61, §1º. Atenção
para o fato de que revisão (recompõe o poder aquisitivo; trata-se de aumento nominal ou
impróprio) é diferente de aumento da remuneração, caso em que aplicaríamos a regra de
iniciativa vista no tópico anterior. ADI 3599.
Até 2002 a regra da revisão geral anual foi descumprida pelo PE federal, o que gerou
a propositura de ADI por omissão, na qual o STF declarou a mora legislativa, de
responsabilidade do PR, já que a matéria é de sua iniciativa. Desde então o PR vem
apresentando os projetos de revisão, pelo menos formalmente.
Como o dispositivo fala em “servidores públicos”, entende-se que não inclui os
“militares”.
Após a EC19/98, o sistema remuneratório dos agentes públicos passou a ser
composto de três categorias:
37, XI. O teto remuneratório foi alterado pela EC 19/98 (estabeleceu como limite
único o subsídio dos Ministros do STF) e pela EC 41/03 (deu o conteúdo hoje em vigor). A EC
47/05 acrescentou os parágrafos 11 e 12.
Teto geral → subsídio de Ministro do STF. A lei é de iniciativa do STF e se sujeita a sanção do
PR. Não pode ser ultrapassado por nenhum poder em nenhuma esfera.
Limites específicos:
Municípios → subsídio do Prefeito;
Estados e DF: PE → subsídio do Governador; PL → subsídio dos deputados estaduais e
distritais; PJ → desembargadores do TJ (também aplicável aos membros do MP,
Procuradores de todas as carreiras e Defensores Públicos).
OBS.:
1. Na esfera federal só há um limite (subsídio de Ministro do STF).
2. Todos os procuradores, ainda que vinculados ao PE ou a autarquias, se submetem ao
subteto de Desembargadores do TJ, conforme decidiu o STF. RE 558.258.
3. O STF julgou inconstitucional o estabelecimento de limites diferentes de remuneração
para os magistrados estaduais e federais, já que se sujeitam a um só estatuto de âmbito
nacional (LC 75/79), o que violava a isonomia. Assim, excluiu os magistrados estaduais do
subteto de remuneração, dando interpretação conforme ao 37, XI e §12 (não houve
supressão de nenhuma parte dos dispositivos.
§12. os Estados e DF, por meio de emendas às CE e LO, de iniciativa do Governador, tem
como faculdade estabelecer como limite único o subsidio de desembargador do TJ. Tal limite
único não pode ultrapassar 90,25% do subsídio de Ministro do STF e não se aplicará para
deputados estaduais, federais nem vereadores.
O limite se aplica a qualquer forma de acumulação (ex.: remuneração + subsídio;
remuneração ou subsídio + aposentadoria, pensão etc.). Pelo pesquisado, o TRF1 adota o
entendimento do Supremo no sentido da inexistência de direito adquirido em razão da EC
41/2003:
ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL. SUBPROCURADOR REGIONAL DO TRABALHO
APOSENTADO. PROVENTOS PERCEBIDOS COM PARCELA DE QUINTOS INCORPORADOS.
PRETENSÃO DE PERCEPÇÃO CUMULATIVA DA VANTAGEM PREVISTA NO PARÁGRAFO ÚNICO
DO ART. 232 DA LC 75/93. POSSIBILIDADE. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DA LEI Nº 8.112/90.
DIREITO ADQUIRIDO. ATO JURÍDICO PERFEITO. TETO REMUNERATÓRIO. ART. 37, XI, DA
CF/88. EC N 19/98 E 41/2003. INCLUSÃO DE VANTAGENS FUNCIONAIS.
1. Aos membros do Ministério Público da União, apesar de regidos por estatuto próprio,
qual seja, a LC 75/93, aplicam-se, subsidiariamente, as regras da Lei nº 8.112/90,
relativamente às vantagens gerais concedidas aos servidores públicos. Incidência do art.
287, caput, e seu parágrafo primeiro, da LC 75/93. (...)3. O sistema original da Constituição
Federal de 1988, vigente antes da EC nº 41/2003, excluía do limite do teto remuneratório as
vantagens de caráter pessoal, bem assim as relativas ao local e natureza do trabalho. A
partir de 05/04/2004, com a fixação do valor do subsídio de Ministro do STF, em Sessão
Administrativa daquela Corte, todas as vantagens de qualquer natureza, incluídas as
pessoais, passaram a ser computadas no teto remuneratório. Precedentes do Supremo
Tribunal Federal. 4. Precedentes da Corte (...) [TRF1, AC 0022795-20.2000.4.01.3400/DF, Rel.
Dês. Federal José Amilcar Machado, e-DJF1 24/03/2010]
§9. Quanto às empresas públicas e sociedades de economia mista, e suas
subsidiárias, o teto só se aplica para as que recebem recursos públicos para pagamento de
despesas de pessoal ou de custeio em geral.
37, XII. Os vencimentos pagos para cargos pelo PL e PJ não podem ser superiores aos
pagos pelo PE. Tem papel moralizador, já que o PE é o principal responsável pela obtenção
de receitas que integrarão o orçamento público. Ainda que a Constituição não o haja dito
expressamente, a mesma regra haverá de valer no que concerne a funções e empregos.
(CABM). A EC 19/98 suprimiu o texto do §1º que assegurava isonomia de vencimentos aos
servidores que exercessem cargos de atribuições iguais ou assemelhadas nos três Poderes.
37. XIII. Não é permitida a vinculação ou equiparação entre as remunerações (em sentido
amplo) pagas no serviço público. É norma de eficácia plena.
Vide s. 681 do STF convertida na Súmula vinculante 42-STF: É inconstitucional a vinculação
do reajuste de vencimentos de servidores estaduais ou municipais a índices federais de
correção monetária.
A vedação se dirige ao legislador ordinário. A própria CRF estabelece: a) equiparação
dos subsídios dos Ministros do TCU aos dos STJ (73, §3º); b) vinculação entre os subsídios
dos Ministros do STF, dos Tribunais Superiores e dos demais membros da Magistratura (93,
V).
37, XIV. Acréscimos percebidos por servidor não serão computados nem acumulados
para fins de concessão de acréscimos ulteriores. Antes da EC 19/08 o dispositivo continha,
ao final, a expressão “sob o mesmo título ou idêntico fundamento”. A redação atual é mais
abrangente: gratificações e adicionais só podem incidir sobre o vencimento básico.
• Administração Tributária
37. XVIII. Ainda fruto poder constituinte originário. A administração fazendária e seus
servidores tem precedência sobre os demais setores administrativos, dentro de suas áreas
de atuação, na forma da lei. Trata-se de lei de eficácia limitada. Nenhum setor da
administração pode dificultar ou obstar a atuação dos servidores fiscais.
E, ainda:
Enunciado 390-TST: ESTABILIDADE. ART. 41 DA CF/1988. CELETISTA. ADMINISTRAÇÃO
DIRETA, AUTÁRQUICA OU FUNDACIONAL. APLICABILIDADE. EMPREGADO DE EMPRESA
PÚBLICA E SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. INAPLICÁVEL
I - O servidor público celetista da administração direta, autárquica ou fundacional é
beneficiário da estabilidade prevista no art. 41 da CF/1988.
II - Ao empregado de empresa pública ou de sociedade de economia mista, ainda que
admitido mediante aprovação em concurso público, não é garantida a estabilidade prevista
no art. 41 da CF/1988. (ex-OJ nº 229 da ]SBDI-1 - inserida em 20.06.2001)
Porém, tal entendimento encontra-se mitigado, principalmente porque os
empregados públicos também se submetem ao ingresso por concurso público, não podendo
ser, simplesmente, dispensados sem maiores formalidades. Assim:
INFORMATIVO Nº 699 ECT: despedida de empregado e motivação. PROCESSO RE-559937.
Servidores de empresas públicas e sociedades de economia mista, admitidos por concurso
público, não gozam da estabilidade preconizada no art. 41 da CF, mas sua demissão deve ser
sempre motivada. (...) Na espécie, o TST reputara inválida a despedida de empregado da
recorrente, ao fundamento de que “a validade do ato de despedida do empregado da ECT
está condicionada à motivação, visto que a empresa goza das garantias atribuídas à Fazenda
Pública” — v. Informativo 576. RE 589998/PI, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 20.3.2013. (RE-
589998)
A lei exclui da observância de tais exigências a extinção dos contratos de servidores
firmados com base na regra da autonomia da gestão, de que trata o art. 37, §8º. CF. Significa
dizer que é mais frágil o vínculo trabalhista nesta hipótese e que, em relação a tais
contratações, será viável o exercício do direito à resilição unilateral do contrato pela União,
ainda quando o motivo tenha fundamento em razões de natureza discricionária. (J.S.C.F).
6.4. Direitos e garantias dos servidores em geral aplicáveis aos servidores públicos
• salário-mínimo;
• garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebam
remuneração variável;
• décimo terceiro;
• remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
• salário-família;
• duração do trabalho normal não superior a 8 horas diárias e 44 semanais;
• repouso semanal remunerado;
• remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em 50% à do
normal;
• férias anuais remuneradas com, pelo menos, 1/3 a mais do que a
remuneração normal;
• licença à gestante;
• licença-paternidade;
• proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos
específicos, nos termos da lei;
• redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde,
higiene e segurança;
• proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de
admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil.
Quanto ao “salário-mínimo”, o STF já decidiu que há de se observar a remuneração
(vencimento básico + vantagens permanentes) do servidor, não o seu vencimento básico.
Esse entendimento encontra-se na SV 16: “Os artigos 7º, IV, e 39, § 3º (redação da EC
19/98), da Constituição, referem-se ao total da remuneração percebida pelo servidor
público”.
A Lei 8.112/90 previa que o vencimento básico não poderia ser inferior ao SM (art.
40, parágrafo único), mas o dispositivo foi revogado pela Lei 11.784/08, a qual acrescentou o
§5º, estabelecendo que nenhum servidor recebera remuneração inferior ao SM.
De acordo com o art. 8º da Lei 8.212/90, as formas de provimento de cargo público são:
b) derivadas – é preenchido por alguém que já tinha vínculo anterior com outro cargo,
sujeito ao mesmo regime jurídico. São as demais formas de provimento. Pode ser vertical
(servidor passa ocupar cargo mais elevado - promoção), horizontal (no mesmo nível –
readaptação) e por reingresso (o servidor retorna ao serviço – reversão, aproveitamento,
reintegração e recondução).
Com a extinção legal da transferência, o único provimento derivado
horizontal é a readaptação (a qual, aliás, não é senão uma modalidade de transferência).
(CABM.)
De acordo com a S. 685 do STF convertida em súmula vinculante 43:
“É INCONSTITUCIONAL TODA MODALIDADE DE PROVIMENTO QUE PROPICIE AO SERVIDOR
INVESTIR-SE, SEM PRÉVIA APROVAÇÃO EM CONCURSO PÚBLICO DESTINADO AO SEU
PROVIMENTO, EM CARGO QUE NÃO INTEGRA A CARREIRA NA QUAL ANTERIORMENTE
INVESTIDO.”
Com base nesse entendimento, as formas de provimento transferência (era a
passagem de um Servidor de um quadro para outro dentro de um mesmo poder, também
era uma forma de vacância e de provimento) e ascensão funcional (o servidor migrava de
carreira) foram consideradas inconstitucionais pelo STF e posteriormente revogadas da Lei
8112/90.
Entende a doutrina que as três formas de provimento derivados previstas na CRF –
reintegração, aproveitamento e recondução (41, §§2º e 3º) –, bem como as que não
impliquem ingresso de servidor em cargo diverso daquele no qual foi originalmente
nomeado por concurso publico, são legítimas e constitucionais. As demais, a exemplo da
readaptação, até que sejam revogadas, integram o ordenamento jurídico, ostentando
presunção de legalidade.
• Posse
De acordo com o art. 7º, a investidura no cargo público ocorre com a posse. Posse é
o ato bilateral, por meio do qual o servidor é investido nas atribuições e responsabilidades
inerentes ao seu cargo.
Somente há posse no caso de nomeação. Antes da posse o nomeado ainda não é servidor
público. O vinculo só é formado por meio da posse.
O ato de posse enquadra-se naquilo que Léon Duguit chama de “ato-condição”, ou
seja, a manifestação do agente é necessária unicamente para que ele se insira em um
regime jurídico preestabelecido, não passível de modificação por sua vontade.
O candidato que teve postergada a assunção em cargo por conta de ato ilegal da
Administração tem direito a receber a remuneração retroativa? Em Regra, não. Não cabe
indenização a servidor empossado por decisão judicial sob o argumento de que houve
demora na nomeação. Exceção: será devida indenização se ficar demonstrado, no caso
concreto, que o servidor não foi nomeado logo por conta de uma situação de arbitrariedade
flagrante. (STF. Plenário. RE 724347/DF, Info 775).
• Exercício
É o efetivo desempenho das atribuições do cargo público ou função de confiança.
No caso de cargo efetivo, o prazo é de 15 dias, improrrogáveis, a contar do ato da
posse. Para função de confiança, o exercício deve coincidir com a data da publicação do ato
de designação.
É a partir da data em que o servidor entra em exercício que são estabelecidas as
relações entre ele e a administração, que tenham por base o tempo de efetivo desempenho
das atribuições: férias, cálculo de gratificações, 13º, estabilidade etc.
Como passa a ser servidor no ato da posse, se não entrar em exercício no prazo de 15
dias, ocorrera sua exoneração, ou seja, será desfeito o vínculo entre ele e a administração.
• Estágio Probatório
De acordo com o art. 20: “Ao entrar em exercício, o servidor nomeado para cargo de
provimento efetivo ficará sujeito a estágio probatório por período de 24 (vinte e quatro)
meses, durante o qual a sua aptidão e capacidade serão objeto de avaliação para o
desempenho do cargo, observados os seguinte fatores: assiduidade; disciplina; capacidade
de iniciativa; produtividade; e responsabilidade.”
Não deve ser confundido com estabilidade. O estágio probatório serve para avaliar a
aptidão para o exercício de determinado cargo. A estabilidade é adquirida uma única vez
pelo servidor de um mesmo ente federado. Após a EC 19/98 o prazo da estabilidade passou
a ser de 3 anos, não mais coincidindo com o prazo do estágio probatório, 24 meses.
Na seara federal, a questão foi resolvida por parecer da AGU, aprovado pelo PR,
adotando o entendimento de que o estágio probatório tem duração de 3 anos, pois seria o
único compatível com o prazo para aquisição da estabilidade. Posteriormente, o STF (SS
3957/DF) e o STJ (MS 12523/DF) adotaram o mesmo entendimento, agora aplicável a todos
os entes federados.
Assim, embora a Lei n. 8.112 ainda mantenha em seu art. 20 a previsão de 24 meses,
entende-se pacificamente que o prazo de estágio probatório é de 36 meses, se
compatibilizando com o prazo de estabilidade da CF.
Embora a exoneração por não ter sido aprovado em estágio probatório não tenha
caráter de sanção, o STF entende que deve ser assegurado o contraditório e a ampla defesa.
Neste sentido, Súmula 21: “Funcionário em estágio probatório não pode ser exonerado nem
demitido sem inquérito ou sem as formalidades legais de apuração de sua capacidade”.
De acordo com o STF, a inassiduidade decorrente de greve, não pode implicar
exoneração de servidor em estágio probatório, nem sanção disciplinar. RE 226.966/RS e ADI
3235/AL, respectivamente.
Também decidiu o STF que o estágio probatório não protege o servidor em caso de
extinção do cargo. Neste caso, o não estável será exonerado.
a) Exoneração: dispensa do servidor público por pedido deste ou pela Administração. Não
assume caráter disciplinar.
Exoneração de Ofício:
- cargos em comissão: a administração não precisa motivar o ato, pois o mesmo é
discricionário. Servidor demissível “ad nutum”. Se houver indicação dos motivos, a
administração ficará vinculada a esses motivos – é a aplicação da Teoria dos Motivos
Determinantes – e terá que comprová-los.
- Não aprovação no estágio probatório: característica de ato vinculado, pois necessita
obedecer ao procedimento estabelecido na lei e apontar os motivos em que se
fundamenta.
- Quando o servidor que já tomou posse no cargo público, não entra em exercício no prazo
estabelecido na lei;
- quando for extinto cargo ocupado por servidor não estável;
- o servidor não estável está ocupando cargo que deva ser provido mediante reintegração de
outro servidor anteriormente demitido ilegalmente;
- por insuficiência de desempenho (41, § 1º, III, da CF/88);
- por excesso de despesa com pessoal (169, § 4º, da CF/88).
c) Promoção;
c) Falecimento;
d) Aposentadoria;
e) Readaptação;
j) Para atender limite de despesas com pessoal ativo e inativo (art. 169, § 4º, da CF/88).
Ocorrem simultaneamente vacância e provimento nos casos de promoção, readaptação e posse
em outro cargo inacumulável.
No art. 40, a CRF trata do regime de previdência social aplicável aos titulares de cargos
efetivos da União, Estados, DF e Municípios, incluídas suas autarquias e fundações. O STF já
decidiu que essa regra é obrigatória, declarando inconstitucional lei que incluía servidores não
efetivos no regime disciplinado pelo art. 40.
Trata-se do Regime Próprio de Previdência Social (RPPS), o qual não se aplica para os
ocupantes exclusivamente de cargos em comissão, função temporária e emprego público (§13).
O RPPS foi profundamente alterado pelas reformas realizada por meio da EC 20/98 e 41/03,
que se propuseram a assegurar um relativo equilíbrio financeiro ao sistema. A EC 47/05 atenuou
algumas perdas de direitos previdenciários que os servidores tiveram com a EC 41/03.
De acordo com o regramento constitucional, deve-se destacar algumas
características/regras:
O regime tem caráter contributivo: não importa apenas o tempo de serviço do servidor,
mas o tempo de efetiva contribuição, sendo vedado ao legislador o estabelecimento de algum
tempo de contribuição fictício.
O regime tem caráter solidário. A referência textual à solidariedade (introduzida pela EC
41/03) teve como intuito reforçar a legitimidade da exigência de contribuição aos aposentados e
pensionistas.
Devem contribuir para o sistema o ente público, os servidores ativos, inativos e
pensionistas (caput), devendo observar critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial
do sistema.
A contribuição da União foi regulamentada na Lei 10.887/04, estabelecendo que será o
dobro da contribuição do servidor ativo, cuja arrecadação será contabilizada em conta específica.
A União deverá cobrir, ainda, eventuais insuficiências financeiras para pagamento dos benefícios
(art. 8º).
O §18 detalha a regra da contribuição dos aposentados e pensionistas: a partir da EC 41/03
passa a incidir contribuição previdenciária sobre aposentadorias e pensões, concedidas pelo RPPS,
que superem o limite máximo para os benefícios do RGPS, com percentual igual ao estabelecido
para os servidores ativos (11%).
O STF declarou constitucional a contribuição dos inativos e pensionistas, mesmo dos que já
o eram ao tempo da entrada em vigor da EC 41/03, ou que já tivessem conquistado direito
adquirido ao benefício (4º, EC 41/03). ADI 3128/DF.
O art. 4º da EC 41/03 estabelecia uma contribuição maior para os que já fossem
aposentados ou pensionistas, ou tivessem direito adquirido ao benefício, ao tempo de sua
publicação: a contribuição incidiria sobre o que ultrapassasse 50% do teto do RGPS para
beneficiários dos Estados, DF e Municípios e 60%, para os da União. O STF considerou a
diferenciação inconstitucional, firmando que a contribuição deve ser idêntica, em qualquer caso, e
incidir sobre o que ultrapassar o teto do RGPS. Informativo 357.
As alíquotas cobradas pelos Estados, DF e Municípios, tanto de seus servidores quanto de
seus aposentados e pensionistas não poderão ser inferiores à cobrada pela União (149, §1º, com
redação dada pela EC 41/03).
A contribuição incidirá apenas sobre as parcelas de aposentadorias em pensões que
superem o dobro do teto do RGPS quando o beneficiário for portador de doença incapacitante, na
forma da lei (§21 incluído pela EC 47/05).
O servidor que completar os requisitos para aposentadoria voluntária não proporcional
(§1º, III, a), mas que decidir continuar em atividade, fará jus a um abono de permanência, que
equivale à dispensa de pagamento da contribuição previdenciária (§18).
A EC 41/03 também confere direito ao abono de permanência aos servidores que: a)
ingressaram no serviço público antes da EC 20/98 e que, podendo requerer aposentadoria
voluntária, nos termos da regra de transição prevista no art. 2º da EC 41, não o façam;
b) tinham direito adquirido à aposentadoria na data da publicação da EC 41 e permaneçam na
ativa. V. 2º, §5º e 3º, §1º da EC 41/03.
“O regime de aposentadoria especial para deficientes previsto nesta LC 142/2013 pode ser
aplicado aos servidores públicos?" Em princípio não. Isso porque a LC 142/13 regulamenta a
aposentadoria da pessoa com deficiência segurada do Regime Geral de Previdência Social – RGPS
(trabalhadores em geral, filiados ao regime administrado pelo INSS). No entanto, a CF/88 prevê
que os servidores públicos que sejam portadores de deficiência também têm direito à
aposentadoria com requisitos e critérios diferenciados, nos termos do que for definido em lei
complementar (art. 40, § 4º, I).
Dessa forma, a CF/88 exige a edição de uma Lei Complementar definindo os critérios para a
concessão da aposentadoria especial aos servidores públicos portadores de deficiência. Mandado
de injunção — Natureza. Conforme disposto no inciso LXXI do artigo 5º da Constituição Federal,
concederse-á mandado de injunção quando necessário ao exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. Há ação
mandamental e não simplesmente declaratória de omissão. A carga de declaração não é objeto da
impetração, mas premissa da ordem a ser formalizada. Mandado de injunção — Decisão — Balizas.
Tratando-se de processo subjetivo, a decisão possui eficácia considerada a relação jurídica nele
revelada. Aposentadoria — Trabalho em condições especiais — Prejuízo à saúde do servidor —
Inexistência de lei complementar — Artigo 40, § 4º, da Constituição Federal. Inexistente a
disciplina específica da aposentadoria especial do servidor, impõe-se a adoção, via
pronunciamento judicial, daquela própria aos trabalhadores em geral — artigo 57, § 1º, da Lei n.
8.213/91." (MI 721, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 30-08-07, DJ de 30-11-07)
Essa Lei Complementar ainda não foi editada. Por essa razão, é bem provável que o STF, se
for provocado por meio de mandado de injunção, reconheça que o Presidente da República está
em “mora legislativa” por ainda não ter enviado ao Congresso Nacional o projeto de lei para
regulamentar o art. 40, § 4º, I, da CF/88. Diante disso, o STF, ao julgar este eventual mandado de
injunção irá certamente determinar que sejam aplicadas aos servidores públicos portadores de
deficiência os critérios e condições previstos nesta LC 142/2013.
Afirma-se isso porque o STF, ao julgar o MI 721/DF (e vários outros que foram ajuizados
depois), determinou que fossem aplicadas aos agentes públicos as regras próprias dos
trabalhadores em geral, previstas no art. 57 da Lei n.° 8.213/91, de modo a viabilizar que a
Administração Pública analise o requerimento de aposentadoria especial formulado por servidor
público que exerce suas atividades em condições insalubres. Logo, esta mesma conclusão
certamente será adotada para o caso dos servidores deficientes
O que não ocorre, ainda segundo o Supremo, com relação aos que ingressaram após a
CRFB/88. Com relação a esses o STF entendeu que não se extrai da norma contida no art. 40, § 4º,
III, da Constituição Federal (Art. 40,§ 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados
para a concessão de aposentadoria aos abrangidos pelo regime de que trata este artigo,
ressalvados, nos termos definidos em leis complementares, os casos de servidores: III - cujas
atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade
física) a existência de dever constitucional de legislar acerca do reconhecimento à contagem
diferenciada e da averbação de tempo de serviço prestado por servidores públicos em condições
prejudiciais à saúde e à integridade física. No caso, destacou-se que a jurisprudência da Corte
limitar-se-ia à pronúncia do direito à aposentadoria especial dos servidores públicos (informativo
697).
Cálculo dos Benefícios: Os proventos serão calculados tendo como base as contribuições
dos servidores (§3º). Essa alteração feita pela EC 41/03 representa o fim da integralidade, ou seja,
do direito de se aposentar com base na totalidade da última remuneração. Atualmente, mesmo os
que fizerem jus a aposentadoria com “proventos integrais”, o seu valor corresponderá a uma
média calculada com base nas remunerações
sobre as quais o servidor contribuiu ao longo de sua via profissional (80% maiores contribuições),
nos termos da lei. A Lei em questão é a 10.887/04.
A expressão ‘proventos proporcionais’, que a Constituição usa, logicamente parece
contrapor-se a ‘proventos integrais’, que a Constituição não mais usa. Continuaremos nos servindo
desta terminologia tradicional, mas cumpre esclarecer que, a partir da Emenda 41, de 19.12.03,
‘proventos integrais’ não mais significa, como anteriormente, que os proventos corresponderão
necessariamente ao que o servidor percebia na ativa. (CABM)
Todos os valores de remuneração, considerados para o cálculo dos proventos, serão
devidamente atualizados na forma da lei (§17).
Os proventos e pensões não podem exceder a remuneração do servidor, no cargo em que
se deu a aposentadoria ou serviu de referência para concessão da pensão.
Assegura-se o reajustamento dos benefícios, de modo a preservar o valor real, na forma da
lei (§8º). A redação original desse parágrafo, previa a regra da paridade, segundo a qual sempre
que se modificassem as remunerações dos servidores em atividade, os proventos seriam
reajustados pelos mesmos índices e na mesma data, além de se entenderem aos aposentados e
pensionistas benefícios e vantagens concedidos aos pensionistas.
A EC 41/03 acabou com a regra da paridade para os que ingressaram no serviço público
após a sua publicação. Todavia, o STF tem decisões que atenuam a regra da paridade para os que
ainda fazem jus a ela: entende que só devem ser estendidos aos aposentados as vantagens de
natureza geral, que não dependam do atendimento de condição escrita em lei (ex.: gratificações
vinculadas ao desempenho).
Assim, se a administração começar a pagar indistintamente, sem qualquer critério de
aferição do desempenho ou relacionada com o exercício material da função, considera-se mantido
o caráter geral e, portanto, extensível a todos que fazem jus à regra da paridade.
Segundo a S. 680 do STF: “O DIREITO AO AUXÍLIO-ALIMENTAÇÃO NÃO SE ESTENDE AOS
SERVIDORES INATIVOS”. Considera o STF que o auxílio-alimentação é verba de natureza
indenizatória, que visa a cobrir dispêndios dos servidores ativos, não incorporáveis e não
extensíveis. Ressalte-se que o STJ entende que, durante o gozo de férias, o servidor tem direito ao
auxílio-alimentação.
Após a EC 41/03, a pensão por morte será igual: a) se o servidor for aposentado quando de
seu óbito, totalidade dos proventos que percebia, até o limite máximo do RGPS, acrescido de 70%
da parcela que exceda a esse limite; b) se o servidor estivesse na ativa quando do falecimento,
totalidade da remuneração no cargo efetivo que ocupava, até o limite máximo do RGPS, acrescido
de 70% da parcela que exceda a esse limite.
Antes da EC 41/03 não havia esse redutor de 30% sobre o que excedesse o teto do RGPS. A
norma a ser aplicada vai depender da data do óbito. Aplica-se a norma em vigor neste momento
(STJ, AR 3.299, em 28/03/2012).
O valor total recebido pelo aposentado, mesmo que decorrentes do acúmulo de cargos ou
empregos, resultado da soma da remuneração com proventos ou soma de proventos deve
respeitar o teto do art. 37, XI.
2ª novidade: a EC
88/2015 autorizou
que fosse editada
Lei Complementar
aumentando para
75 anos a idade da
aposentadoria
compulsória para os
demais servidores
públicos.
Regulando a
segunda hipótese,
foi editada a LC
152/2015.
A aposentadoria
compulsória aos 75
anos vale para:
I - os servidores
titulares de cargos
efetivos da União,
dos Estados, do
Distrito Federal e
dos Municípios,
incluídas suas
autarquias e
fundações;
II - os membros do
Poder Judiciário;
III - os membros do
Ministério Público;
IV - os membros das
Defensorias
Públicas;
V - os membros dos
Tribunais e dos
Conselhos de
Contas.
Proventos Integrais
OBS: o professor que
comprove exclusivo
tempo de efetivo
Homem – 60 anos e
10 anos de efetivo exercício das funções de
35 de contribuição;
exercício no serviço magistério na educação
Mulher – 55 anos e
público; 5 anos no infantil e no ensino
Voluntária 30 de contribuição
cargo efetivo em que fundamental e médio,
se dará a terão o tempo de
aposentadoria contribuição e a idade
reduzidas em 5 anos.
Proventos proporcionais
Homem – 65 anos;
OBS: não se exige tempo
Mulher – 60 anos
de contribuição mínimo
Como visto, todas as aposentadorias, para quem ingressou após a EC 41/03, serão:
a) quanto à base de cálculo: calculada com base na média das 80% maiores contribuições
(acabou com regra dos proventos iguais à remuneração do último cargo efetivo);
b) quanto ao critério de reajuste (para aposentadorias e pensões): calculada com base na
inflação, a fim de preservar o valor real (acabou com a regra da paridade = os inativos
recebiam o mesmo reajuste dos ativos, nos mesmos índices e na mesma data).
A EC 70/12 criou uma exceção a essa regra, exclusivamente para a aposentadoria por
invalidez. Quem tiver ingressado até a data da publicação da EC 41, em 19/12/03, e que já
tenha se aposentado ou venha a se aposentar por invalidez permanente, fará jus a
proventos calculados com base na remuneração do cargo efetivo em que se der a
aposentadoria e reajuste dos inativos, igual ao dos ativos (paridade).
Atenção: continua sendo proporcional, apenas não será calculada com base na média das
contribuições!
PLS 274/2015: Com o objetivo de regulamentar essa parte final do inciso II do § 1º do art.
40 da CF/88 (acima transcrito), foi proposto o propôs projeto de lei complementar (PLS
274/2015) ampliando para 75 anos a aposentadoria compulsória de todos os servidores
públicos.
O projeto foi votado e aprovado pelo Congresso Nacional, tendo sido encaminhado
para sanção da Presidente da República.
Ocorre que a Presidente da República VETOU o PLS 274/2015 aprovado, conforme
mensagem publicada no Diário Oficial da União de 23/10/2015.
As razões invocadas para o veto foram jurídicas, tendo a Presidente afirmado que o
projeto aprovado seria inconstitucional porque a iniciativa para tratar sobre o tema seria
exclusiva do chefe do Poder Executivo, nos termos do art. 61, § 1º, II, da CF/88.
Como vimos acima, o projeto que deu origem à LC 152/2015 foi vetado pela Presidente da
República em 23/10/2015, tendo o veto sido rejeitado e a LC 152/2015 publicada em
04/12/2015. Diante disso, indaga-se: os servidores que foram obrigados a se aposentar
compulsoriamente aos 70 anos depois do veto (23/10/2015) e antes da LC (04/12/2015)
poderão pedir para retornar ao serviço público sob o argumento de que o veto foi
derrubado?
NÃO. A aposentadoria compulsória se perfaz no momento do implemento da idade e o ato
administrativo que formaliza a concessão é meramente declaratório. Em outras palavras, a
pessoa se aposenta compulsoriamente no dia em que completa a idade-limite.
Some-se a isso o fato de que a rejeição de um veto não produz efeitos retroativos. A
rejeição de um veto obriga que o projeto aprovado seja promulgado, transformando-se em
lei. No entanto, essa lei somente passa a vigorar quando publicada. Assim, a LC 152/2015
somente entrou em vigor no dia 04/12/2015, data de sua publicação. Apenas neste dia foi
instituída a aposentadoria compulsória aos 75 anos para os servidores públicos em geral.
A LC 152/2015 é uma lei editada pelo Congresso Nacional. Ela poderia ter tratado sobre a
aposentadoria de servidores dos Estados, do DF e dos Municípios?
SIM. A Lei Complementar mencionada pelo art. 40, § 1º, II, da CF/88 (com redação dada pela
EC 88/2015) deveria ser realmente, como o foi, uma lei complementar nacional, ou seja,
editada pelo Congresso Nacional.
O STF possui entendimento consolidado no sentido de que, embora a competência para
legislar sobre a previdência dos servidores públicos (RPPS) seja concorrente, a União tem a
competência para editar a lei complementar que funcionará como norma de caráter
nacional para regulamentar a matéria.
(STF. Plenário. MI 1898 AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 16/05/2012).
Vamos agora ao tema mais polêmico: a LC 152/2015 foi iniciada por um parlamentar e,
apesar disso, trata sobre a aposentadoria compulsória de servidores públicos do Poder
Executivo e de membros do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria. Diante
disso, pode-se dizer que ela violou a reserva de iniciativa privativa do Presidente da
República, do Supremo Tribunal Federal e dos demais titulares dos outros órgãos
autônomos (MP e Defensoria)?
Diz-se isso aplicando, por analogia, o mesmo raciocínio que o STF utiliza para dizer que as
leis de que tratam o art. 40, § 4º da CF/88 são de iniciativa privativa do Presidente da
República:
Por outro lado, no caso da aposentadoria compulsória dos magistrados, o projeto de lei que
tratasse do tema deveria ser iniciado pelo Supremo Tribunal Federal , nos termos do art. 93,
VI, da CF/88:
Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o
Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:
(...) VI - a aposentadoria dos magistrados e a pensão de seus dependentes observarão o
disposto no art. 40;
Tão logo o PLS 274/2015 foi aprovado pelo Congresso Nacional e antes de ter sido
vetado, a imprensa noticiou que esse tema foi discutido pelos Ministros do STF em uma
sessão administrativa da Corte, tendo eles chegado à conclusão de que não existiria
iniciativa privativa para essa lei complementar.
Desse modo, por mais que, particularmente, entenda que há vício de iniciativa a
fulminar de inconstitucionalidade a LC 152/2015, penso que talvez não seja essa a conclusão
do STF baseando-me unicamente nas notícias acima divulgadas.
No mesmo dia em que foi publicada, a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB),
em conjunto com a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra),
ingressaram com uma ADI no STF contra a LC 152/2015. O ponto questionado pelas
entidades refere-se à aposentadoria compulsória dos membros do Poder Judiciário.
(Fonte: Dizer o Direito - Comentários à Lei Complementar 152/2015 - aposentadoria
compulsória aos 75 anos).
• As regras de transição
As principais regras de transição são:
a) art. 2º da EC 41 → diminuição da idade mínima (sem aposentadoria com base na última
remuneração e sem paridade);
b) art. 6º da EC 41 → aposentadoria com base na última remuneração + paridade;
c) art. 3º da EC 47 → diminuição da idade mínima + aposentadoria com base na última
remuneração + paridade;
d) EC 70 c/c art. 6º-A da EC 41, já explicada acima.
Ressalvada a opção pela Regra Geral do art. 40 da CF, ou pela Regra de Art. 2º da EC. 41.
FÓRMULA 85/95
IMPORTANTE!!
SÚMULAS APLICÁVEIS
SÚMULAS VINCULANTES
• Súmula 137: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar ação de servidor
público municipal, pleiteando direitos relativos ao vínculo estatutário.
• Súmula 147: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra
funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função.
• Súmula 170: Compete ao juízo onde for intentada a ação de acumulação de pedidos,
trabalhista e estatutário, decidi-la nos limites da sua jurisdição, sem prejuízo do
ajuizamento de nova causa, com o pedido remanescente, no juízo próprio.
• Súmula 173: Compete à Justiça Federal processar e julgar o pedido de reintegração
em cargo público federal, ainda que o servidor tenha sido dispensado antes da
instituição do regime jurídico único.
• Súmula 218: Compete à Justiça dos Estados processar e julgar ação de servidor
estadual decorrente de direitos e vantagens estatutárias no exercício de cargo em
comissão.
• Súmula 266: O diploma de habilitação legal para o exercício do cargo deve ser
exigido na posse, e não na inscrição para o concurso público.
• Súmula 340: A lei aplicável à concessão de pensão previdenciária por morte é aquela
vigente
• na data do óbito do segurado.
• Súmula 377: O portador de visão monocular tem direito de concorrer, em concurso
público, às vagas reservadas aos deficientes.
• Súmula 378: Reconhecido o desvio de função, o servidor faz jus às diferenças
salariais decorrentes.
• Súmula 386: São isentas de imposto de renda as indenizações de férias proporcionais
e o respectivo adicional.
• Súmula 463: Incide imposto de renda sobre os valores percebidos a título de
indenização por horas extraordinárias trabalhadas, ainda que decorrentes de acordo
coletivo.
• Súmula 552: O portador de surdez unilateral não se qualifica como pessoa com
deficiência para o fim de disputar as vagas reservadas em concursos públicos.
6.7. Regime e processo disciplinar.
a) Instauração: Ocorre com a publicação do ato que constitui a comissão que vai julgar o
indigitado servidor. É de suma importância que a peça de início determine de forma clara e
precisa o objeto da lide de forma a possibilitar a justificação plena do apontado;
Instrução: Na instrução são apurados de forma precisa os fatos que deram origem ao
Processo Administrativo Disciplinar. O servidor poderá acompanhar o processo
pessoalmente ou por meio de procurador (156, caput), não sendo obrigatório o
acompanhamento do processo por advogado. Vide SV. 5: “A falta de defesa técnica por
advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a constituição.”
Concluídos todos os atos instrutórios (oitiva de testemunhas, do servidor, acareações
etc.), de posse dos elementos de prova, a administração vai decidir pelo arquivamento do
PAD ou pelo indiciamento do servidor, se entender que há tipificação de infração disciplinar.
Da indiciação constarão os fatos imputados ao servidor e as provas produzidas,
devendo ser seguida pela citação do servidor, para que apresente a sua defesa escrita.
Atenção: no PAD, a instrução precede a citação e a apresentação de defesa escrita!!
O indiciado é citado para apresentação de defesa escrita em 10 dias, contados da
ciência da citação. Se houver mais de um indiciado, o prazo será comum, de 20 dias, a contar
da citação do último citado. O prazo pode ser duplicado, pelo presidente da comissão. Pode
haver publicação por edital quando, então, o prazo será de 15 dias, a contar da data da
última publicação.
A citação é o último ato da instrução.
Defesa: caso o indiciado não apresente defesa, será decretada sua revelia, mas os efeitos
são completamente diversos dos do processo civil, em decorrência do princípio da verdade
material. No PAD, a revelia não gera presunção legal alguma contra o servidor (não possui
efeito de confissão), vale dizer, o ônus probatório continua sendo da administração. Ao revel
será nomeado defensor dativo, que deverá ser de ocupante de cargo efetivo superior ou do
mesmo nível do indiciado, ou ter grau de escolaridade superior ou igual.
Sempre haverá uma defesa escrita no PAD. Após sua analise, passa-se à última fase do
inquérito administrativo: a elaboração do relatório.
Relatório: deve constar um resumo das peças principais dos autos e as provas em que a
comissão se baseou para formar seu convencimento. Sempre deverá ser conclusivo,
devendo a comissão manifestar sua opinião sobre a inocência ou responsabilidade do
servidor. Neste último caso, deverá indicar os dispositivos transgredidos, bem como as
atenuantes e agravantes. Terminado o relatório, encerra-se o trabalho da comissão, sendo o
processo encaminhado para a autoridade que determinou a sua abertura, para julgamento.
6.7.3.Rito sumário
a) instauração: com a publicação do ato que constituir a comissão, a ser composta por dois
servidores estáveis, devendo simultaneamente indicar a autoria e a materialidade da
transgressão objeto da apuração;
b) instrução sumária: compreende indiciação, defesa e relatório;
c) julgamento.
Configurada a acumulação ilegal e provada a má-fé, aplicar-se-á pela de demissão,
cassação de aposentadoria ou de disponibilidade em relação aos cargos, empregos ou
funções.
No caso de abandono de cargo, a materialidade consiste na indicação precisa do
período de ausência intencional do servidor ao serviço superior a 30 dias. No caso de
inassiduidade habitual, a materialidade é configurada com a indicação dos dias de falta ao
serviço sem causa justificada, por período igual ou superior a 60 dias, interpoladamente,
durante o período de 12 meses.
Está regulada nos arts. 174 a 182 da Lei 8.112/90. Como visto, o PAD federal ocorre
em instância única, não existe garantia de duplo grau (a demissão, por exemplo, é julgada
pelo PR, não cabendo recurso hierárquico impróprio). A revisão não é uma segunda
instância do PAD. A rigor, é um novo PAD que se processa em apenso ao anterior, que já
deve ter sido concluído.
Somente cabe quando se apresentarem fatos novos ou circunstancias suscetíveis de
justificar a inocência do punido ou a inadequação da penalidade aplicada (174), desde que
não apreciados no processo originário (176). A simples alegação de injustiça não constitui
fundamento para a revisão.
Pode ocorrer de ofício ou a pedido do servidor; ou a pedido da família ou curador,
em caso de ausência/falecimento/desaparecimento ou incapacidade mental,
respectivamente.
Pode ocorrer a qualquer tempo. Não é alcançada pela prescrição. Se julgada
procedente, torna sem efeito a penalidade aplicada, restabelecendo-se os direitos do
servidor, salvo em relação à destituição do cargo em comissão, que será revertida em
exoneração.
7.2 Conceito
Celso Antônio Bandeira de Mello: "declaração do Estado (ou de quem lhe faça as vezes
- como, por exemplo, um concessionário de serviço público) no exercício de PRERROGATIVAS
PÚBLICAS, manifestada mediante providências jurídicas COMPLEMENTARES da lei a título de
lhe dar cumprimento, e sujeitas a controle de legitimidade por órgão jurisdicional".
Não se pode esquecer que embora os atos administrativos sejam típicos do Poder
Executivo, no exercício de suas funções próprias, os Poderes Judiciário e Legislativo também
editam atos administrativos (função atípica), sobretudo relacionados ao exercício de suas
atividades de gestão interna (ex.: atos relativos à vida funcional dos servidores, licitações
efetuadas nestas esferas etc.).
Segundo classificação do direito privado, fatos jurídicos em sentido amplo são todos os
eventos, naturais ou humanos, a que o direito confere significação, atribuindo-lhe
consequência jurídica.
-fato jurídico em sentido estrito (eventos da natureza dos quais resultam consequências
jurídicas)
-ato jurídico (qualquer manifestação humana voluntária que a tenha a finalidade direta de
produzir alteração no mundo jurídico)
Para MARCELO ALEXANDRINO e VICENTE PAULO os fatos administrativos: “(a) não têm
como finalidade da produção de efeitos jurídicos (embora possam deles eventualmente
decorrer efeitos jurídicos; (b) não há manifestação ou declaração de vontade, com conteúdo
jurídico, da administração pública; (c) não faz sentido falar em ‘presunção de legitimidade’
de fatos administrativos; (d) não se pode cogitar revogação ou anulação de fatos
administrativos; (e) não faz sentido falar em fatos administrativos discricionários ou
vinculados”.
Com base na lei da ação popular (Lei 4.717/65, art. 2º), a doutrina costuma apontar
cinco requisitos do ato administrativo: competência, finalidade, forma, motivo e objeto.
São requisitos de validade, haja vista que a prática em desacordo com o estabelecido
em lei leva à sua nulidade (exceção: em caso de vício nos elementos competência ou forma,
poder-se-á ter atos apenas anuláveis, ou seja, potencialmente aptos à convalidação).
Fontes da Competência:
Fonte primária – é quem define no primeiro plano a competência, ou seja, a lei em sentido
amplo (englobando o texto constitucional)
Fonte secundária – é quem define no plano interno do órgão, ou seja, para apontar
exatamente quem é o sujeito, que será previsto em ato administrativo.
Obs.: o que pode ser delegado é o exercício da competência (e não sua titularidade); além
disso, quando o agente transfere a competência para subordinado não deixa de ser
competente surgindo a COMPETÊNCIA CUMULATIVA (tanto quem transferiu quanto quem
recebeu são competentes);
a) Por incompetência: ocorre por excesso de poder, usurpação de função ou função de fato.
Ocorre excesso de poder quando o agente atua fora ou além de sua esfera de
competências, estabelecida em lei.
Obs.: 1. abuso de poder é o gênero, do qual são espécies o excesso de poder (vício de
competência) e o desvio de poder (vício no elemento finalidade dos atos administrativos).
2. Tanto o excesso como o desvio de poder podem configurar crime de abuso de autoridade
(Lei 4.898/65), hipótese em que ficará sujeito à responsabilidade administrativa e à penal,
podendo ainda responder civilmente, se de seu ato resultarem danos patrimoniais e morais.
O vício de competência (excesso de poder) admite convalidação, salvo se se tratar de
competência em razão da matéria ou de competência exclusiva (ou seja, é possível
convalidar se o ato for delegável). Nestes dois últimos casos, o excesso de poder gera um
ato nulo.
A usurpação da função é crime (art. 328 do CP) cometido por alguém que não foi por
nenhuma forma investido no cargo, emprego ou função pública. O agente não tem
nenhuma espécie de vinculo funcional com a administração (DI PIETRO). Neste caso, a
maioria da doutrina considera o ato inexistente.
Ocorre a função de fato quando a pessoa foi investida no cargo, emprego ou função
pública, mas há alguma ilegalidade em sua investidura ou impedimento para a prática do
ato. Em função da teoria da aparência (para os administrados, a situação tem total
aparência de legalidade, de regularidade), o ato é considerado válido, ou pelo menos o são
os efeitos dele decorrentes.
b) Por incapacidade: A Lei 9.784/99 prevê, em seu art. 18, os casos de impedimento, e no
art. 20, os casos de suspeição de autoridade ou servidor público, praticamente nos mesmos
moldes do CPC. Cumpre salientar, porém que, no Direito Administrativo, ambas as hipóteses
se enquadram como atos anuláveis, passíveis de convalidação por autoridade que não esteja
na mesma situação de impedimento ou suspeição.
FINALIDADE
FORMA
A forma é o modo de exteriorização da vontade. A validade do ato administrativo está
condicionada à sua forma. A forma é o revestimento material do ato, portanto é o modo
pelo qual o ato revela a sua existência. Se não há exteriorização, para CELSO ANTONIO, não
há vontade, pois esta é pressuposto de existência do ato administrativo.
Vale ressaltar, que para Celso Antônio, não se deve confundir forma com formalização.
A formalização é um modo especifico de apresentação da forma, vale dizer, uma solenização
requerida para o ato.
Alguns autores consideram que a forma pode ser elemento discricionário ou
vinculado, o que é corroborado pelo art. 22, caput da Lei n. 9784/99, segundo o qual “os
atos do processo administrativo não dependem de forma determinada senão quando a lei
expressamente a exigir”.
Segundo MARCELO ALEXANDRINO e VICENTE PAULO “quando a lei não exigir forma
determinada para os atos administrativos, cabe à administração adotar aquela que
considere mais adequada, conforme seus critérios de conveniência e oportunidade
administrativas; a liberdade da administração é, entretanto, estreita, porque a forma
adotada deve proporcionar segurança jurídica e, se se tratar de atos restritos de direitos ou
sancionatórios, deve possibilitar que os administrados exerçam plenamente o contraditório
e ampla defesa. Diferentemente, sempre que a lei expressamente exigir determinada
forma para a validade do ato, a inobservância acarretará sua nulidade”.
Em regra, os atos administrativos devem ser escritos, a fim de proporcionar o exame
de sua legalidade pela própria Administração e pelo Poder Judiciário; apenas,
excepcionalmente, será admitido ato administrativo não escrito, desde que a lei autorize
(ex: verbais ou até gesticulados).
Obs.: o art. 60, parágrafo único da Lei n. 8.666/93 estabelece que “é nulo e de nenhum
efeito o contrato verbal com a Administração, salvo o de pequenas compras de pronto
pagamento (...) feita em regime de adiantamento”, quando não ultrapasse o valor de R$
4.000,00.
Vício de forma
Em regra é passível de convalidação, ou seja, é defeito sanável que pode ser corrigido.
Porém, a convalidação não será possível quando a lei estabelece determinada forma como
essencial à validade do ato, caso em que será nulo se não a observar.
Importa destacar que a motivação (declaração escrita dos motivos da pratica do ato),
quando obrigatória, integra a forma do ato administrativo: a forma ato com motivação
expressa é essencial à validade do ato. Sua ausência acarreta a nulidade do ato por vício de
forma.
Silêncio administrativo
Tema divergente. Para o Direito Administrativo, o silêncio é um nada jurídico, salvo se a lei
estabelecer algum efeito.
O Poder Judiciário, no silêncio do administrador, pode exercer controle sobre essa
ausência de ato (omissão), entretanto, não pode substituir a vontade do administrador, ou
seja, não pode dar a resposta no lugar do administrador. EXEMPLO: não pode dar a
autorização para construir. O poder Judiciário deve fixar um prazo para cumprimento e
estabelecer multa.
CELSO ANTONIO: se o ato for vinculado a vontade é da lei, assim, o juiz pode suprir a
manifestação do administrador, porque NÃO há juízo de valor, não há juízo de conveniência
e de oportunidade.
12
A partir deste pontos, as anotações feitas sobre o tema do silêncio administrativo foram extraídas do artigo
“Silêncio administrativo: uma análise de seus efeitos – de Ana Carolina Araújo de Souza”.
Na linha da conceituação de CELSO ANTONIO BANDEIRA DE MELLO não se pode
identificar qualquer declaração no silêncio da Administração Pública. O que se verifica é a
inércia do Estado. Todavia, por se tratar de evento relevante ao Direito, conforma um fato
jurídico administrativo.
- Inconstitucionalidade do silêncio administrativo:
A Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso XXXIV, inscreve, no rol dos direitos
fundamentais do cidadão, o direito de petição, consubstanciado na faculdade de se dirigir
aos Poderes Públicos – dentre os quais se encontra a Administração – petição para a defesa
de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder.
OBS2 – Lei de acesso à informação: prazo de 20 dias (prorrogável por mais 10,
justificadamente), se a informação não estiver acessível de forma livre e imediata (art. 11,
§1º).
MOTIVO
O motivo ou causa é a situação de direito e de fato que determina ou autoriza a
realização do ato administrativo. É o pressuposto de fato e de direito (ou normativo) que
serve de fundamento ao ato administrativo. O motivo pode ser previsto em lei ou não.
Quando previsto em lei, o elemento é vinculado. Dessa forma, o agente só pode praticar o
ato descrito na norma. Entretanto quando não previsto em lei, o elemento é discricionário,
tendo o agente liberdade de escolha da situação em vista da qual editará o ato.
Para CABM, o motivo é pressuposto de fato que autoriza ou exige a prática do ato,
tratando-se da causa, enquanto pressuposto lógico de validade.
Quando o ato é vinculado, a lei determina que à vista daquele fato seja
obrigatoriamente praticado aquele ato administrativo com aquele conteúdo (ex.: licença-
paternidade). Quando o ato é discricionário, a lei autoriza a pratica do ato, à vista de
determinado fato; neste caso, a lei pode facultar a escolha dentre diversos objetos (ex.: a
licença não remunerada para tratar de interesses pessoais).
a) motivo inexistente: melhor seria dizer “fato inexistente”. Neste caso, a lei diz que diante
de determinado fato, deve ser praticado determinado ato. Se que o fato não existe, diz-se
que o ato é viciado por inexistência material do motivo. Ex.: servidor é reprovado no estágio
probatório por inassiduidade, não sendo demonstrado que o servidor faltava ao serviço;
b) motivo ilegítimo (ou juridicamente inadequado): a administração realiza um
enquadramento inadequado do fato à norma. Neste caso, a lei diz que diante de
determinado fato, deve ser praticado determinado ato. Ocorre que o fato existente não se
enquadra corretamente na norma que determina ou autoriza a prática do ato. Ex.: servidor
é reprovado em estágio probatório por “apresentação pessoal imprópria”, mas a lei não
prevê esse fato como motivo para tanto.
d) motivo ilegal.
Distinções importantes:
Motivo do ato e motivo legal: o primeiro é a situação material que serviu de suporte real e
objetivo para a prática do ato. Já o segundo é a previsão abstrata de uma situação fática,
empírica. Há que registrar que o ato será viciado toda vez que o motivo de fato for
descoincidente com o motivo legal.
Motivo e móvel: motivo é a situação objetiva, real, empírica. Já o móvel é a intenção, vale
dizer, o propósito do agente que pratica o ato. O Motivo é a realidade externa ao agente,
sendo o móvel a representação psicológica, interna do agente. Assim, o móvel é a vontade,
é o que está na cabeça do administrador; a vontade do administrador, em regra, é
importante que seja válida. A vontade, móvel do agente, só é relevante nos atos
administrativos praticados sob a competência discricionária, sendo absolutamente
irrelevante quando o ato for completamente vinculado.
Obrigatoriedade da motivação
Para a maioria da doutrina a motivação é obrigatória. A Lei nº 9.784/99 estabeleceu
que a motivação é um princípio: tantos o atos vinculados como os discricionários devem ser
motivados. Para CABM e EROS ROBERTO GRAU, se o ato vinculado deve ser motivado, muito
mais deve ser o ato discricionário, a fim de demonstrar que a finalidade pública está sendo
atendida. Apresentam como fundamentos constitucionais: o artigo 1o. II (cidadania) e
parágrafo único (poder que emana do povo); o artigo 5o., XXXV (para garantir o controle
jurisdicional dos atos administrativos, porque para controlar é preciso saber quais são os
motivos); o artigo 5o. (direito à informação); artigo 93, IX (aplicação por analogia); o artigo
50, da Lei 9.784/99 (é muito amplo, abrangendo todos os atos administrativos).
OBJETO
Pode-se dizer que o objeto do ato administrativo é a própria alteração no mundo
jurídico que o ato provoca, é o efeito jurídico imediato que o ato produz (MARCELO
ALEXANDRINO e VICENTE PAULO). Ex.: o objeto do ato de concessão de uma licença é a
própria licença.
No ato vinculado o motivo e objeto são vinculados. A um motivo corresponde um
único objeto, sendo a prática do ato obrigatória. Já no ato discricionário, motivo e objeto
são discricionários. Há liberdade de valoração do motivo e, consequentemente, da escolha
do objeto, dentre os autorizados por lei.
São os elementos motivos e objeto que permitem verificar se o ato é discricionário ou
vinculado. O binômio motivo-objeto determina o mérito administrativo.
Requisitos do objeto:
a) É o resultado prático do ato administrativo, também chamado de efeito imediato. Para
ser lícito, o objeto deve estar previsto na LEI, não basta a não vedação.
b) O objeto do ato administrativo precisa ser possível, do ponto de vista fático.
c) O objeto deve ser determinado, ou seja, bem definido.
Vício de objeto:
É insanável, sempre levará à nulidade do ato.
Objeto impossível e objeto proibido pela lei são dois tradicionais vícios do objeto no seara
privada, mas que são aplicáveis ao ato administrativo.
b) ato praticado com objeto diferente daquele que a lei prevê para aquela situação: ex.: a
lei prevê que para a instalação de banca de jornal na calçada deve ser concedida uma
“permissão”, mas a administração concede uma “autorização”.
O mérito administrativo consiste, segundo HELY LOPES MEIRELLES, "na valoração dos
motivos e na escolha do objeto do ato, feitas pela Administração incumbida de sua prática,
quando autorizada a decidir sobre a conveniência, oportunidade e justiça do ato a realizar.
Daí a exata afirmativa de Seabra Fagundes de que 'o merecimento é aspecto pertinente
apenas aos atos administrativos praticados no exercício de competência discricionária".
O tema tem pertinência em relação aos atos discricionários. A conveniência e a
oportunidade configuram o mérito administrativo que está situado no MOTIVO e no
OBJETO do ato administrativo. Como se viu, se o ato é discricionário, os elementos objeto
e motivo também o serão, diferentemente do que ocorre com os atos vinculados, em que
os cinco elementos também são vinculados.
A conveniência e a oportunidade somente podem ser revistas pelo Judiciário se
ferirem o princípio da razoabilidade e proporcionalidade, no controle legalidade (STJ) em
sentido amplo ou de juridicidade. Isso porque, no caso dos atos discricionários, o legislador
entende que o administrador é quem tem melhores condições de avaliar os aspectos
envolvidos na situação concreta e decidir pela atuação mais satisfatória ao interesse público.
Não pode o juiz substituir a ótica do administrador pela sua, sob pena de afrontar a decisão
realizada pelo administrador e violar a separação dos poderes.
O Poder Judiciário nunca revoga atos administrativos (próprio do controle de mérito),
apenas anula, no exercício da função jurisdicional. Um ato considerado desproporcional ou
desarrazoado pelo Poder Judiciário é um ato nulo.
13
É justamente a compatibilidade entre o ato e o resultado.
7.4 Atributos do Ato Administrativo
14
Podem, entretanto, os efeitos ser suspensos por medidas apropriadas, quer sejam recursos internos da
Administração, quer sejam via mandado de segurança.
15
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e
na forma.
§ 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou
transmitem;
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.
§ 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado.
Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério
Público, quando lhe couber intervir.
Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos
seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes.
DI PIETRO desmembra esse atributo em duas facetas:
a) presunção de legitimidade: a interpretação e a aplicação da norma jurídica pela
administração foram corretas;
b) presunção de veracidade: os fatos alegados pela administração existem, ocorreram e são
verdadeiros.
Quando se fala de ATO MANIFESTAMENTE ILEGAL há uma mitigação do atributo. A Lei
8.112/90 afirma que se a ordem dada pelo superior for manifestamente ilegal, o inferior não
precisará obedecer, sem que isso configure qualquer infração administrativa.
IMPERATIVIDADE
Traduz a possibilidade de a administração pública, unilateralmente, criar obrigações
para os administrados ou impor-lhes restrições. Decorre do chamado poder extroverso do
Estado (prerrogativa de praticar atos que invadem a esfera jurídica alheia, alterando-a
independentemente de anuência previa de qualquer pessoa).
A imperatividade impõe a coercibilidade para o cumprimento do ato e podem ser
imediatamente impostos ao administrado, em decorrência da presunção de legitimidade.
Esta força do Poder Público obriga o particular ao atendimento fiel sob pena de
sujeitar-se à execução forçada pela Administração Pública (no caso dos atos
autoexecutórios) ou pelo Judiciário (atos não executórios). A imperatividade também já
nasce com o ato, que deve ser observado até que seja extirpado mundo jurídico ou tenha
seus efeitos suspensos.
AUTOEXECUTORIEDADE
A autoexecutoriedade consiste na possibilidade que certos atos administrativos têm
de provocar a imediata execução pela própria Administração, independentemente de ordem
ou autorização judicial (Exceção: execução das multas administrativas), inclusive mediante o
uso da força, se necessária. Ex.: retirada forçada de moradores de um prédio que ameaça
ruir, dissolução de passeata. Jamais afasta a apreciação judicial do ato, apenas dispensa a
necessidade de autorização prévia para poder praticá-lo.
Não é atributo presente em todos os atos administrativos. Genericamente, é atributo
próprio dos atos inerentes ao exercício de atividades típicas da administração, quando ela
está atuando na qualidade de poder público. Ex.: poder de policia.
Os autores afirmam que a autoexecutoriedade existe em duas situações: a) a lei
expressamente prevê: não que o ato é autoexecutório, mas que pode ser adotado em uma
determinada situação (ex.: retenção de caução em matéria de contratos administrativos;
apreensão de mercadorias); b) em situações de urgência: pode adotar um ato não
expressamente previsto, em prol da segurança coletiva, evitando maior lesão ao interesse
público (ex.: demolição de prédio que ameaça ruir).
TIPICIDADE
A tipicidade significa dizer que todo ato administrativo deve corresponder a figuras
previamente definidas pela lei como aptas a produzir determinados resultados. Decorre do
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE de forma que o ato deve estar previamente definido na lei, com
a previsão, inclusive, de sua finalidade. Esse atributo teria o condão de afastar a
possibilidade de adoção de atos inominados. Para DI PIETRO, a tipicidade só existe em
relação aos atos unilaterais, eis que nos bilaterais não existe imposição de vontade por parte
da administração (nada impede a celebração de contrato inominado, desde que atenda ao
interesse público).
A autora cita como consequências desse atributo: a) garantia para o administrado:
impede a pratica de ato unilateral e coercitivo, sem prévia previsão legal; b) afasta a
possibilidade de prática de ato totalmente discricionário: ao prever o ato, a lei define
limites em que a discricionariedade pode ser exercida.
ATOS NORMATIVOS
Instruções normativas: são expedidas pelos Ministros de Estado para a execução das leis,
decretos e regulamentos.
Regimentos: são atos administrativos de atuação interna, destinam a reger o
funcionamento dos órgãos colegiados e de corporações legislativas.
Resoluções: são expedidas pelas altas autoridades do Executivo, com exceção do Chefe
deste Poder que expede decretos, ou pelos presidentes dos Tribunais, órgãos legislativos,
para disciplinar matéria de sua competência especifica.
ATOS ORDINATÓRIOS
São aqueles que visam disciplinar o funcionamento da Administração e a conduta
funcional de seus agentes. Podem-se destacar entre essa categoria as instruções, as
circulares, os avisos, as portarias, as ordens de serviço, os ofícios e os despachos.
Têm fundamento no poder hierárquico e somente vinculam os servidores
subordinados à autoridade que o expediu. Não atingem os administrados. São
hierarquicamente inferiores aos atos normativos, de maneira que lhes devem obediência.
ATOS NEGOCIAIS
São aqueles que contêm declaração de vontade do Poder Público coincidente com a
pretensão do particular, visando à concretização de negócios jurídicos públicos ou a
atribuição de certos direitos ou vantagens ao interessado. Têm-se como exemplos: licença
(vinculado), autorização (discricionário e precário), permissão (discricionário e precário),
aprovação (vinculada ou discricionária, a depender do caso), admissão (vinculado), visto (em
regra vinculado, mas em alguns casos é discricionário), homologação, dispensa
(normalmente discricionário), renúncia e protocolo administrativo.
São editados quando o ordenamento exige que o particular obtenha anuência da
administração para a prática de atividade ou exercício de direito. Sempre deverá ter como
finalidade a satisfação do interesse público, ainda que possa coincidir com o interesse do
particular que solicitou o ato.
Tais atos não são contratos, mas declarações unilaterais que coincidem com a
pretensão do particular, produzindo efeitos concretos e individuais para o administrado.
Tais atos podem ser:
A. Vinculados: reconhecem um direito subjetivo ao particular, uma vez atendidos
todos os requisitos da lei. O ato tem que ser praticado, consoante determina a lei, não há
escolha para a administração E definitivos: não comportam revogação, pois praticados
diante de direito subjetivo do administrado (ato vinculado). Como qualquer ato
administrativo, pode ser anulado, cabendo direito à indenização, em regra (salvo se
decorrente de ato do particular). Pode ocorrer também a cassação do ato, na hipótese de as
condições deixarem de ser cumpridas pelo administrado.
B. Discricionários: caso tenha atendido às exigências da lei, exista mero interesse do
administrado. A prática do ato depende de juízo de conveniência e oportunidade por parte
da administração E precários: não geram direitos adquiridos, podendo ser revogados a
qualquer tempo, em regra, sem direito a indenização.
ATOS ENUNCIATIVOS
ATOS PUNITIVOS
São aqueles que contêm uma sanção imposta a quem violar disposições legais,
regulamentares ou ordinatórias dos bens ou serviços públicos. Por meio deles se impõem
sanções diretamente aos servidores ou aos administrados em geral.
Podem ter fundamento no poder disciplinar (alcançando servidores públicos ou
particulares ligados à administração por algum vínculo específico) ou no poder de polícia
(alcançando particulares em geral, não ligados à administração por vinculo jurídico
específico).
7.6 Classificação dos Atos Administrativos
a) Atos internos: Destinam-se à produção de efeitos dentro das repartições, de tal modo
que incidem, em regra, sobre os órgãos e agentes da Administração que os expediu. Não
geram direitos para os administrados e, portanto, não precisam ser publicados. Pela mesma
razão, podem ser revogados a qualquer tempo.
b) Atos externos ou de efeitos externos: São os que alcançam os administrados, os
contratantes e, em certas hipóteses, até os próprios servidores, provendo sobre seus
direitos, negócios, obrigações ou condutas perante o Poder Público. A publicação é
imprescindível para que produza efeitos, caso gere direitos ou obrigações para os
administrados ou onere o patrimônio público (salvo se não precisar ser conhecido do
publico em geral).
Obs: Essa classificação mostrava-se mais relevante quando prevalecia: (i) teoria da dupla
personalidade do Estado: seria pessoa jurídica de direito público quando praticava atos de
império e de direito privado quando praticava atos de gestão; (ii) apenas atos de gestão
poderiam acarretar responsabilidade civil do Estado, porque os atos de império traduziriam
expressão da própria soberania. Essas distinções estão em desuso desde o século passado,
pois perdeu sua função primordial, que era excluir a responsabilidade do Estado.
c) Atos de expediente: São os que se destinam a dar andamento aos processos e papéis que
tramitam pelas repartições públicas, preparando-os para a decisão de mérito a ser proferida
pela autoridade competente. Caracterizam-se pela ausência de conteúdo decisório.
a) Atos vinculados ou regrados: São aqueles para os quais a lei estabelece os requisitos e
condições de sua realização. Nessa categoria de atos, as imposições legais absorvem, quase
que por completo, a liberdade do administrador, uma vez que sua ação fica adstrita aos
pressupostos estabelecidos pela norma legal, para a validade da atividade administrativa.
b) Atos discricionários: São os que a Administração pode praticar com liberdade de escolha
de seu conteúdo, de seu destinatário, de sua conveniência, de sua oportunidade e do modo
de sua realização, segundo expressamente permitido pela lei. A Administração verifica a
oportunidade e conveniência do ato.
Ao lado dessa definição mais tradicional de ato discricionário (a lei permite
expressamente atuação dentro de certos limites; ex.: “é facultado”, “a seu critério” etc), a
doutrina moderna também identifica a existência de discricionariedade quando a lei usa
conceitos jurídicos indeterminados na descrição do motivo (ex.: “boa-fé”, “moralidade
pública”), escapando o caso concreto as áreas de certeza positiva e negativa do termo
aberto.
Para BANDEIRA DE MELLO "nenhum ato é TOTALMENTE discricionário, dado que
conforme afirma a doutrina prevalente será sempre vinculado com relação ao fim e à
competência, pelo menos”.
Não de deve confundir discricionariedade com arbitrariedade. A primeira é a ação do
administrador dentro dos limites legais, ao passo que a segunda consiste em atitude
contrária ou excedente à previsão legal.
a) Simples: é aquele que só tem uma manifestação de vontade, mesmo que praticado por
órgão unipessoal (ato simples singular) ou colegiado (ato simples colegiado). Dessa forma, o
ato simples pode ser simples singular e simples colegial. No primeiro caso a vontade provém
de uma única pessoa, já no segundo do concurso de várias vontades.
Hely Lopes: Ato composto: é o que resulta da vontade única de um órgão, mas depende da
verificação por parte de outro, para se tornar exequível. O ato composto distingue-se do
ato complexo porque este só se forma com a conjugação de vontades de órgãos diversos,
ao passo que aquele é formado pela vontade única de um órgão, sendo apenas ratificado
por outra autoridade.
Atos da Administração Ativa: visam criar, produzir, uma utilidade pública, constituindo
situações jurídicas (Ex: autorizações, licenças, nomeações)
Atos constitutivos: fazem nascer uma situação jurídica, seja extinguindo ou modificando a
situação anterior.
Atos declaratórios: afirmam a preexistência de uma situação jurídica.
ATO PERFEITO é aquele que esgotou todas as fases necessárias a sua produção, vale dizer,
quando completa o ciclo de sua formação, e, se não concluiu ele ainda não existe, sendo
considerado um ATO IMPERFEITO.
ATO VÁLIDO: é aquele que foi expedido em absoluta conformidade com o sistema
normativo, vale dizer, que cumpre todas as exigências legais, se não cumpre ele é
INVÁLIDO, ILEGAL. Portanto quando se encontra adequado aos requisitos estabelecidos pela
ordem jurídica.
ATO EFICAZ: é aquele que está disponível para a produção dos efeitos jurídicos, vale dizer,
quando os efeitos não se encontram suspenso por qualquer motivo. Caso seja um ato
perfeito, mas submetido a condição, termo ou necessidade de aprovação ou homologação
de outro órgão, estamos diante de um ATO PENDENTE. .
EFEITOS PRÓPRIOS (ou típicos): são efeitos correspondentes à função jurídica do ato. É a
consequência natural ou efeito natural do ato administrativo.
Atos sujeitos a controle por outro órgão, sendo o efeito atípico preliminar do ato controlado
acarretar para o órgão controlador o dever-poder de emitir o ato de controle).
b) Efeitos em face de terceiros (ou reflexo) – são aqueles que influenciam outra relação
jurídica, atingindo terceiros não objetivados pelo ato (Ex: Desapropriação de imóvel atinge o
contrato de locação).
Diversa são as causas que determinam a extinção dos atos administrativos, entretanto
as mais comuns e importantes são a anulação e revogação.
a) revogação (abaixo)
b) invalidação (abaixo)
c) cassação – é a retirada do ato em razão do descumprimento de condições inicialmente
impostas.
d) caducidade – retirada em razão da SUPERVENIÊNCIA de NORMA JURÍDICA que tornou
inadmissível a situação anterior.
e) contraposição – atos de competências diversas, mas, com efeitos contrapostos. Ex.
exoneração de um funcionário que aniquila os efeitos do ato de nomeação.
IV) renúncia: extinção dos efeitos porque o beneficiário abre mão. Ex.: renuncia a um cargo
de Secretário.
Um ato ineficaz extingue-se: (i) retirada: alguns chamam de mera retirada. CABM prefere
englobar o conceito genérico de revogação e invalidação, respectivamente, por razões de
mérito e ilegitimidade; (ii) recusa: pela inutilização do ato ante a recusa do beneficiário.
Obs: quando afetar interesses ou direitos de terceiros, deve ser precedida de contraditório.
O prazo para a anulação é de 05 anos, quando os efeitos do ato forem favoráveis ao
administrado, segundo art. 54 da Lei n. 9784/99. A Lei 9784/99 (Processo Administrativo)
afirma que se trata de prazo DECADENCIAL. Desta forma, se a administração não anular o
ato no prazo de 05 anos não poderá mais fazê-lo. Nos termos da lei, esse prazo decadencial
só existe em caso de BOA-FÉ do administrado.
REVOGAÇAO é a retirada do mundo jurídico de um ato válido, mas que se tornou
inoportuno ou inconveniente, segundo critério discricionário da administração. É também
conhecida como “controle de mérito”.
Tem fundamento no poder discricionário e só se aplica aos atos discricionários.
Somente produz efeitos prospectivos (ex nunc), devendo ser respeitados os direitos
adquiridos. Quanto à competência para revogar, só a detém aquele que o praticou ou
tenha poderes para dele conhecer de ofício ou por via de recurso (lembre-se dos casos de
competência hierárquica imprópria sobre a administração indireta, principalmente
fundação).
Segundo HELY, ato inexistente é o que apenas tem aparência de manifestação regular
da Administração, mas não chega a se aperfeiçoar como ato administrativo. Ex.: "ato"
praticado por um usurpador de função pública. Equiparam-se aos atos nulos, sendo, assim,
irrelevante e sem interesse prático a distinção entre nulidade e inexistência, porque ambas
conduzem ao mesmo resultado - a invalidade.
Para BANDEIRA DE MELLO são inexistentes os atos que assistem no campo do
impossível jurídico, como tal entendida a esfera abrangente dos comportamentos que o
Direito radicalmente inadmite, isto é, dos crimes (ex.: autorização para que alguém explore
trabalho escravo). O ato inexistente corresponde a condutas criminosas ofensivas a direitos
fundamentais da pessoa humana, ligados à sua personalidade ou dignidade e, como tais,
resguardados por princípios gerais de Direito que informam o ordenamento jurídico. É
impossível juridicamente e apresenta as seguintes características:
a) são imprescritíveis;
b) jamais podem ser convalidados ou objeto de conversão;
c) é cabível o direito de resistência, inclusive manu militari;
d) uma vez proclamado o vício em que incorreram, em nenhuma hipótese são ressalvados
efeitos pretéritos que hajam produzido.
Critério diferenciador: atos nulos e inexistentes não podem ser convalidados, mas os
anuláveis sim. A diferença quanto à intensidade da repulsa que o Direito estabelece perante
os atos inválidos é que determina um discrímen entre atos nulos e anuláveis, ou outras
distinções que mencionam atos simplesmente irregulares ou ainda inexistentes.
Quanto ao caráter discricionário ou vinculado da anulação para a Administração, DI
PIETRO, com base em outros autores, afirma que a Administração tem, em regra, o dever de
anular os atos ilegais, sob pena de cair por terra o princípio da legalidade. No entanto,
poderá deixar de fazê-lo em circunstâncias determinadas, quando o prejuízo resultante da
anulação puder ser maior do que o decorrente da manutenção do ato ilegal; nesse caso, é o
interesse público que norteará a decisão.
Não se aplica a mesma teoria das nulidades do direito civil. Além das diferenças
acima (autotutela e manutenção do ato ilegal), há modalidades peculiares de vícios, como o
excesso e o abuso de poder, a usurpação de função e o exercício de fato.
CONVERSÃO CONVALIDAÇÃO
Transformação de um ato em outro, para Correção feita no ato que continua a ser o
aproveitar o que for válido. mesmo ato.
7.10 Convalidação
A doutrina tradicional filiava-se à teoria monista: só existe uma espécie de ato
inválido: o ato nulo. Assim, ou o ato seria válido ou seria nulo.
A corrente hoje majoritária entende que existem atos (teoria dualista):
a) nulos: os atos que não podem ser convalidados, pois possuem defeitos insanáveis: (a)
porque a lei assim declarou; (b) por ser materialmente impossível a convalidação, já que o
vício se repetiria, como nos que incidem sobre objeto, finalidade e motivo.
b) anuláveis: são os que possuem defeitos sanáveis, porque a lei assim declare e os que
podem ser re-praticados sem vício (sujeito incompetente, vício de vontade ou defeito de
formalidade).
Segundo MARIA SILVIA DI PETRO, quando o vício for sanável ou convalidável,
caracteriza-se hipótese de nulidade relativa, embora, ao contrário do Direito Civil, essa
nulidade deve ser sanada ‘de ofício’ pela Administração, que não pode ficar à mercê de
pedido do interessado para agir, em face de seu poder de autotutela.
Convalidar, então, é o ato de corrigir um ato eivado de defeito sanável desde a origem
(ex tunc), de maneira que: os efeitos já produzidos passem a ser considerados válidos e este
ato permaneça apto a produzir efeitos regulares.
Quanto aos vícios de legalidade, são considerados defeitos sanáveis e, portanto, passíveis
de convalidação:
Vicio relativo à competência quanto à pessoa (não quanto à matéria), desde que não se
trate de competência exclusiva.
Vicio de forma, desde que a lei não considere a forma elemento essencial à validade do
ato.
Condições cumulativas para que o ato possa ser convalidado (lei 9.784/99, art. 55):
Defeito sanável;
Ato não acarretar lesão ao interesse público;
Ato não acarretar prejuízo a terceiros;
Decisão discricionária da administração acerca da conveniência e oportunidade de
convalidar o ato (em vez de anulá-lo).
Exige-se para a convalidação (HELY): a) que o ato convalidável não esteja sendo objeto de
impugnação em nível administrativo, e; b) que não esteja sendo objeto de impugnação
judicial (Exceção: convalidação do ato vinculado pela motivação tardia.) A razão é a de que a
Administração não teria como convalidar algo que sequer produziu efeitos (pois está sob
discussão).
Observações:
Conceito
Processo x Procedimento
Objetivo
1. Quanto ao sujeito:
a) de iniciativa do próprio interessado, como um pedido de permissão de uso de bem
público;
b) de iniciativa da administração, como uma licitação para aquisição de bens, obras e
serviços.
Obs: se esse processo, ainda que com viés administrativo, referir-se a execução penal, será
indispensável a defesa técnica. No REsp 1.378.557, em sede de recurso repetitivo, o STJ
firmou a tese de que “Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar, no âmbito da
execução penal, é imprescindível a instauração de procedimento administrativo pelo
diretor do estabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado por
advogado constituído ou defensor público nomeado16.”
10) Princípio da gratuidade – segundo a art 2º, parágrafo único, inc XI, lei 9784/99, fica
consagrada “a proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas as previstas em
lei”. Celso Antônio entende que a gratuidade só é obrigatória nos procedimentos restritivos
16
Súmula 533-STJ: Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar no âmbito da execução penal, é
imprescindível a instauração de procedimento administrativo pelo diretor do estabelecimento prisional,
assegurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado constituído ou defensor público nomeado.
(já que não é possível fazer qualquer restrição ao direto de ampla defesa) – nos
procedimentos ampliativos, bastar-se-ia garantir a modicidade das taxas e emolumentos.
SUMULA VINCULANTE N. 21: “É INCONSTITUCIONAL A EXIGÊNCIA DE
DEPÓSITO OU ARROLAMENTO PRÉVIOS DE DINHEIRO OU BENS PARA
A ADMISSIBILIDADE DE RECURSO ADMINISTRATIVO”.
STJ, súmula 373: “É ilegítima a exigência de deposito prévio para a
admissibilidade de recurso administrativo”.
A lei 9784/99 faz menção, em seu art. 2º, a princípios a que a Administração deve
obedecer. São eles: legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade,
moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Esses princípios, em sua maioria, não são específicos do processo administrativo, dizendo
respeito à Administração Pública como um todo.
Também devem ser observados ainda pela Administração os seguintes (art. 2º):
atuação conforme a lei e o Direito (inc.I); atendimento a fins de interesse geral, vedada a
renúncia total ou parcial de poderes ou competência, salvo autorização em lei (inc.II);
objetividade no atendimento do interesse público, vedada a promoção pessoal de agentes
ou autoridades (inc.III); adequação entre os meios e fins, vedada a imposição de obrigações,
restrições e sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento
do interesse público (inc. VI); interpretação da norma administrativa da forma que melhor
garanta o atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova
interpretação.
7.12 Fases
3) Relatório - o órgão de instrução que não for competente para emitir a decisão final
(comissão processante), elaborará um relatório indicando tudo o que ficou apurado e
formulará uma proposta de decisão (conclusão), objetivamente justificada, encaminhando o
processo à autoridade competente (art.47, lei 9784/99).
O relatório é peça informativo-opinativa. Salvo previsão legal, não é vinculado para a
Administração ou para os demais interessados no processo, podendo a autoridade
competente divergir de suas conclusões. O artigo 168 da Lei 8112/90, que regula o processo
administrativo disciplinar, determina que “o julgamento acatará o relatório da comissão,
salvo quando contrário às provas dos autos”.
O recurso não tem efeito suspensivo, a menos que a lei o preveja. Todavia, havendo
receio de prejuízo de difícil ou incerta reparação, a autoridade recorrida ou a imediatamente
superior poderá, de ofício ou a pedido, dar- lhe tal efeito (art. 61).
O recurso não será conhecido quando interposto: 1)fora do prazo; 2)perante órgão
incompetente (hipótese em que será indicada ao recorrente a autoridade competente,
sendo-lhe devolvido o prazo para recurso); 3)por quem não seja legitimado (segundo a art.
58, têm legitimidade: os titulares de direitos e interesses que forem parte no processo;
aqueles cujos direitos e interesses forem indiretamente afetados pela decisão recorrida; as
organizações e associações representativas, no tocante a direitos e interesses coletivos; os
cidadãos ou associações, quanto a direitos difusos); 4)ou após exaurida a esfera
administrativa. Importante ressaltar que o não conhecimento do recurso não impede a
Administração de rever de ofício o ato ilegal, desde que não ocorrida a preclusão
administrativa (art.63 e §§s).
A autoridade competente para decidir poderá confirmar, modificar, anular ou revogar,
total ou parcialmente, a decisão recorrida. Se de qualquer desses atos puder resultar
gravame à situação do recorrente, este deverá ser cientificado para que formule suas
alegações antes da decisão (art. 64 e parágrafo único). Neste aspecto, Celso Antônio
entende que há uma incongruência recursal. É que, com a apresentação do recurso o
recorrente já terá feito suas alegações recursais. “Deste parágrafo único resulta, de um lado,
que haverá, em tal caso, uma duplicidade de alegações e, de outro, que a autoridade terá de
antecipar um juízo gravoso para o recorrente”.
O art. 65 prevê o instituto da revisão. Os processos administrativos de que resultem
sanções poderão ser revistos, a qualquer tempo, a pedido ou de ofício, diante de fatos
novos ou circunstâncias relevantes que justifiquem a inadequação da sanção aplicada. Nesse
caso, da revisão do processo não poderá resultar agravamento da sanção (art. 65 e p. único).
As sanções terão natureza pecuniária ou consistirão em obrigação de fazer ou de não
fazer, assegurado sempre o direito de defesa (art.68).
Caráter Subsidiário da lei 9784/99 – esse diploma legal se aplica tão somente
subsidiariamente aos processos administrativos específicos, regidos por leis próprias, como,
por exemplo, o processo de licitação e o disciplinar (art.69). A quaisquer outros processos
administrativos, aplica-se integralmente.
Prazos - Os prazos correm a partir da cientificação oficial, excluindo-se o dia do começo e
incluindo-se o do vencimento (art.66 e §1º). Contam-se em dias corridos, de modo contínuo,
se expressos em dia; se expressos em meses ou anos, contar-se-ão de data a data, e se no
mês do vencimento não houver o dia equivalente ao do início do prazo tem-se como termo
o último dia do mês (diferente do direito civil, quando se tem como termo o dia seguinte
imediato) – art.66, §§ 2º e 3º. Salvo motivo de força maior devidamente comprovado, os
prazos não se suspendem (art. 67). São eles:
g) Prazo para reconsideração: 5 dias, findo os quais, não reconsiderando, elevará o processo
à autoridade superior (art.56, §1º).
h) Prazo para alegações no recurso: os demais interessados têm o prazo de 5 dias úteis para
apresentarem alegações no recurso (art.62).
i) Prazo para decisão no recurso: prazo máximo de 30 dias, quando a lei não fixar prazo
diferente, podendo ser prorrogado por igual período ante justificativa explícita (art. 59, §§
1º e 2º).
j) Prazo para a Administração anular ato: o direito da Administração de anular ato de que
decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em 5 anos, contados da data em
que foram praticados, salvo comprovada má fé. No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o
prazo conta-se da percepção do primeiro pagamento (art.54 e §1º).
Regime de Tramitação Prioritária – Em 2009 foi acrescentado o art. 69-A à Lei n. 9784/99,
conferindo tratamento diferenciado a determinados administrados que se encontrem em
situações especiais:
Art. 69-A. Terão prioridade na tramitação, em qualquer órgão ou
instância, os procedimentos administrativos em que figure como
parte ou interessado: (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009).
I - pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos; (Incluído
pela Lei nº 12.008, de 2009).
II - pessoa portadora de deficiência, física ou mental; (Incluído pela
Lei nº 12.008, de 2009).
III – (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009).
IV - pessoa portadora de tuberculose ativa, esclerose múltipla,
neoplasia maligna, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante,
cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose
anquilosante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados
avançados da doença de Paget (osteíte deformante), contaminação
por radiação, síndrome de imunodeficiência adquirida, ou outra
doença grave, com base em conclusão da medicina especializada,
mesmo que a doença tenha sido contraída após o início do processo.
(Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009).
Violação a Súmula Vinculante – Em 2006, a Lei n. 9784/99 foi alterada, para incluir
disposições acerca da violação de SV por parte da decisão administrativa. Os dispositivos
previstos no art. 56, §3 e 64-A e B determinam que se o recorrente alega que a decisão
afronta SV, a autoridade que proferiu a decisão deverá explicitar as razões pelas quais
entende que a SV não é aplicável ou não foi violada, antes de encaminhar o recurso para a
autoridade superior, caso não reconsidere a sua decisão. Da mesma forma, diante da
alegação do recorrente, a autoridade com competência para julgar o recurso deverá
justificar porque entende ser a SV inaplicável.
Não se afasta a possibilidade de propositura de Reclamação por parte do recorrente,
hipótese em que será de se aplicar o disposto no art. 64-B, segundo o qual: “Acolhida pelo
Supremo Tribunal Federal a reclamação fundada em violação de enunciado da súmula
vinculante, dar-se-á ciência à autoridade prolatora e ao órgão competente para o
julgamento do recurso, que deverão adequar as futuras decisões administrativas em casos
semelhantes, sob pena de responsabilização pessoal nas esferas cível, administrativa e
penal”.
7.13 Modalidades de processo administrativo
A sindicância é meio mais célere para apurar irregularidades praticadas pelos servidores. Da
sua conclusão pode resultar uma das seguintes hipóteses (149):
a) arquivamento do processo;
b) aplicação das penalidades de advertência ou de suspensão por até 30 dias;
c) instauração de PAD, se o caso ensejar penalidade mais grave. Neste caso, os autos da
sindicância integrarão o processo disciplinar, como peça informática da instrução (154).
Enquanto a sindicância tiver caráter meramente investigativo (inquisitório), sem que
exista acusação formal a um servidor, ou alguma imputação que possa ser contraditada, não
se exige o respeito ao contraditório e à ampla defesa. Sempre que a administração
pretender aplicar uma penalidade, mediante procedimento de sindicância, deverá
assegurar, obrigatoriamente, contraditório e ampla defesa.
Ressalta-se que a sindicância não é uma etapa do PAD, nem é obrigatório que o
preceda. Mas se os fatos apurados na sindicância ensejarem punição mais grave que a
possível em sua seara, os autos da sindicância os autos da sindicância integrarão o PAD
como peca informativa da instrução.
Introdução
É a vigilância que um órgão exerce sobre outro órgão por atribuição legal e
constitucional. Pode ser um autocontrole (mesmo órgão) ou heterocontrole (órgãos
distintos). Se envolver poderes distintos e se não houver previsão constitucional está
invadindo funções.
A Administração Pública, no exercício de suas funções, sujeita-se ao controle por parte
dos poderes Legislativo e Judiciário, além de exercer, ela mesma, o controle sobre os
próprios atos. (Maria Sylvia). Pelo princípio da autotutela, a administração tem o
poder/dever de controlar seus próprios atos (STF, súmula 473).
Esse controle não só abrange os órgãos do Poder Executivo, mas também os demais
poderes, quando exerçam função tipicamente administrativa; em outras palavras, abrange a
Administração Pública17 considerada em sentido amplo.
A finalidade do controle é assegurar que a Administração atue em consonância com os
princípios que lhe são impostos pelo ordenamento jurídico (legalidade, moralidade,
finalidade pública, publicidade, motivação, impessoalidade), abrangendo em determinadas
circunstâncias o controle do mérito que diz respeito aos aspectos de discricionariedade
(oportunidade/conveniência) da atuação administrativa.
Embora o controle seja atribuição estatal, o administrado desempenha importante
papel à medida que pode provocar o controle seja em defesa de interesse próprio, seja no
interesse da coletividade. “É esse, provavelmente, o mais eficaz meio de controle da
Administração Pública: controle popular.” (Maria Sylvia)
17
“... à Administração não é sinônimo de estrutura funcional do Poder Executivo exclusivamente, mas é noção
mais ampla: existe Administração, (...), nos poderes Legislativo e Judiciário, e em órgãos como Tribunais de
Contas e Ministério Público, cujas atividades estão sujeitas aos mesmos tipos de controle, com suas
peculiaridades.” (Edmir Netto)
Ressalta-se que em decorrência da Emenda Constitucional 19/98, foi inserido o §3º no
art. 37, da CF/88, in verbis:
“§3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na
administração pública direta e indireta, regulando especialmente:
I – as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos em
geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento ao
usuário e a avaliação periódica, externa e interna, na qualidade dos
serviços;
II – o acesso dos usuários a registros administrativos e a informações
sobre atos do governo, observado o disposto no art. 5º, X e XXXIII;
III – a disciplina da representação contra o exercício negligente ou
abuso do cargo, emprego ou função na administração pública.”
Fundamentos
Natureza jurídica
Quanto a extensão:
a) interno: exercido por órgãos de um Poder sobre condutas administrativas (sobre seus
próprios atos e agente) produzidas dentro de sua esfera. Tem por fundamento os arts. 70 e
74, da CF/88. “É o chamado controle administrativo ou executivo.” (Edmir Netto)
b) externo: “exercido por um dos Poderes sobre o outro, como também o controle da
Administração Direta sobre a Indireta.” (Maria Sylvia) “heterocontrole”.
18
O Controle de legalidade pode ser interno ou externo. “O judiciário, por exemplo, examina a legalidade de
atos administrativos em mandado de segurança (art. 5º, LXIX, CF). O legislativo, pelo seu Tribunal de Contas,
aprecia a legalidade dos atos de admissão de pessoal (art. 71, III, CF). E a Administração, em qualquer esfera,
controla a legalidade de seus próprios atos.” (Carvalho Filho)
19
“O controle de legalidade é o que se preordena a verificar a conformação, ou não, da atuação administrativa
com a ordem jurídica para confirmá-la ou desfazê-la.” (Gasparini)
20
Não se submete a sindicabilidade do Poder Judiciário (Hely Lopes). “Ao Judiciário somente é cabível o
controle de legalidade, vez que constitui sua função decidir sobre os confrontos de legalidade entre as condutas
administrativas e as normas jurídicas.” (Carvalho Filho)
21
“Revogação é o meio de que se socorre a Administração para desfazer situações administrativas anteriores,
tendo em vista critérios de cunho exclusivamente administrativos.” (Carvalho Filho)
direitos adquiridos e somente
pode produzir efeitos
prospectivos (ex nunc).
OBS.: Apenas em casos excepcionais o Poder Legislativo poderá realizar controle de mérito
sobre atos administrativos dos outros Poderes. Trata-se de um controle, sobretudo, político.
Nestes casos o Legislativo atua com discricionariedade. Ex.: apreciação prévia pela Senado
dos escolhidos pelo PR para presidente e diretores do BC.
Espécies de controle
Controle popular: (i) direito de petição – faculdade que dispõem os indivíduos de formular
qualquer tipo de postulação aos órgãos públicos. Fundamento: art. 5º, XXIV, CF; (ii) recursos
administrativos. Exemplos: art. 31, §3º; art. 5º, LVIII; art. 74, §2º; art. 37, §3º, todos da
CRFB.
Controle Administrativo
Fundamentos
Decorre do poder de AUTOTUTELA que permite à Administração Pública rever os
próprios atos quando ilegais, inoportunos ou inconvenientes (hierarquia).
Administração Indireta – tutela (controle externo-interno) que só pode ser exercida
nos limites estabelecidos em lei, sob pena de ofender a autonomia que lhes é assegurada
pela lei que as instituiu.
Meios de controle
Lúcia Valle: Homologação, aprovação, invalidação e revogação.
Hely Lopes: fiscalização hierárquica e recursos administrativos.
c) provocação pelo interessado, com base no direito de petição (5º, XXXIV): representação,
reclamação, pedido de reconsideração e recursos hierárquicos
Conceito: todos os meios que podem ser utilizados pelos administrados para provocar o
reexame dos atos pela administração pública.
Fundamento constitucional: art. 5º, XXXIV e LV, CF
Fundamento:
sistema de hierarquia orgânica
direito de petição
direito de ampla defesa e contraditório
Modalidades:
A) Representação: Denúncia solene de irregularidades ou abuso de poder ocorrentes no
âmbito da Administração Pública. Para uns não obriga a administração a adotar qualquer
atitude. Para outros se bem fundamentada a Administração deve apurar os fatos sob pena
de condescendência criminosa (art. 320 CP). Não é necessário que o representante tenha
sido atingido diretamente pela conduta representada.
B) Reclamação administrativa: tem uma acepção ampla que engloba diversas modalidades
de recursos que discuta direito ou ação contra a fazenda pública. É ato pelo qual o
administrado, particular ou servidor, deduz uma pretensão perante a administração pública,
visando obter o reconhecimento de um direito ou a correção de um ato, que lhe cause lesão
ou ameaça de lesão. Há o interesse direto do recorrente na correção do ato.
Prazo: se outro não for estipulado será de um ano. Prazo é fatal? Para alguns pode ocorrer o
conhecimento da reclamação quando proposta intempestivamente nos seguintes casos: não
atinja ou modifique direito de outrem; não tenha ocorrido a prescrição quinquenal a favor
da fazenda pública ou a prescrição da ação judicial cabível.
Fundamento: autotutela e economia processual
Início da contagem do prazo: dia após a cientificação
Prazo: se outro prazo não for estipulado, por analogia se estabelece um ano. Não suspende
nem interrompe o prazo prescricional – Súmula 430 STF, art 56, parágrafo 1º Lei 9784/99.
Prazo para decisão: 30 dias
Não pode ser renovado sem novas razões
D) Recurso Hierárquico
Recurso Próprio: tramita internamente dentro do órgão. Não necessita de previsão expressa
porque deriva do controle hierárquico e permite ampla revisão, diante da autotutela da
Administração. Normalmente dirigido a autoridade superior.
Recurso impróprio: dirigido a órgão ou autoridade estranha àquele de onde se originou o ato
impugnado. Não há relação de subordinação entre o órgão controlado e o órgão
controlador, mas sim uma relação de vinculação.
Efeitos:
Devolutivo: motivo: presunção de legitimidade das decisões.
Suspensivo: expressamente determinado (art. 109, I, parágrafo 2º, lei 8.666/93) ou em razão
de justo receio de prejuízo – autotutela (art. 61, lei 9784/99). Quem confere efeito
suspensivo ao recurso?
Exigência de garantia: Algumas leis exigem o depósito prévio para que o recurso seja
apreciado.
Há divergência doutrinária quanto a constitucionalidade dessa exigência. Uns entendem que
viola o direito de defesa. O STF pacificou o tema: SÚMULA VINCULANTE Nº 21: É
inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para
admissibilidade de recurso administrativo.
E) Revisão: recurso que se utiliza o servidor público, punido pela Administração, para
reexame da decisão, em caso de surgirem fatos novos suscetíveis de demonstrar sua
inocência. Somente cabível nos processos que resultam sanção.
Previsão legal: 174 a 182, Lei 8.112/90
Legitimidade: interessado, seu procurador ou por terceiro.
A revisão não autoriza a agravação da pena (art. 65, parágrafo único Lei 9.784/99).
Discute-se questão de mérito e não vício de legalidade.
Coisa Julgada Administrativa: significa que a decisão se tornou irretratável pela própria
administração. A coisa julgada administrativa é relativa, pois a decisão administrativa poderá
ser modificada ou desfeita pelo Poder Judiciário.
Prescrição Administrativa
Sob esse título, costumam ser enquadradas as seguintes situações: preclusão
administrativa, prescrição, propriamente dita e decadência. Em todos os casos, o prazo
extintivo visa a assegurar a estabilidade das relações jurídicas, em atenção ao princípio da
segurança jurídica.
No caso de revogação, esta pode se dar a qualquer tempo, desde que se trate de um
ato discricionário ou não esteja presente alguma causa impeditiva da revogação: não pode
haver gerado direito adquirido para os eu destinatário, não pode ser um ato exaurido, não
pode ser um ato integrante de um procedimento administrativo.
c) prazos para a administração pública aplicar sanções administrativas:
Se houver lei especifica estabelecendo prazo para a imposição de determinada sanção,
este deverá ser o observado pela administração pública. Nas situações em que não exista lei
especifica estabelecendo um prazo para aplicação de determinada penalidade
administrativa, em qualquer dos entes federados, utiliza-se o prazo de 5 anos previsto no
Decreto 20.910/1932, seja qual for a infração praticada, a menos que o fato esteja tipificado
também como crime, caso em que se aplicam os prazos de prescrição estabelecidos em lei
penal.
Estes prazos são sempre fatais e intransponíveis, eis que representam uma garantia
para o servidor ou administrado. Ex.: art. 142 da Lei 8.112/90.
Cumpre destacar que a Lei 9873/99 fixa em 5 anos o prazo prescricional das ações
punitivas decorrentes de poder de policia, exceto se o fato também configurar crime, caso
em se aplica os prazos da lei penal, na seara administrativa.
Reformatio in pejus
Alguns entendem não aplicável a proibição de reformatio in pejus no âmbito do
processo administrativo, pois “um dos fundamentos do direito administrativo é o princípio
da legalidade, pelo qual é inafastável a observância da lei, devendo esta prevalecer sobre
qualquer interesse privado.” (Diógenes Gasparini)
Entende Carvalho Filho que é aplicável [a reformatio in pejus] quando a decisão
reapreciada pela autoridade superior seja eivada de ilegalidade. E não aplicável quando for
necessária nova avaliação subjetiva por parte da autoridade superior. Razões: 1- princípio do
direito penal não se aplica ao direito administrativo; 2- o direito administrativo busca a
legalidade.
No âmbito federal, a Lei 9.784/99 admite que a autoridade possa modificar, total ou
parcialmente, a decisão recorrida, desde que com a possibilidade de manifestação prévia
do recorrente. Admite-se assim a reformatio in pejus atenuando-a.
OBS: Mas existe também, na Lei 9.784/99, proibição expressa de reformatio in pejus para
fins de agravamento de SANÇÃO em sede de REVISAO, apenas (Art. 65. Os processos
administrativos de que resultem sanções poderão ser revistos, a qualquer tempo, a pedido
ou de ofício, quando surgirem fatos novos ou circunstâncias relevantes suscetíveis de
justificar a inadequação da sanção aplicada. Parágrafo único. Da revisão do processo não
poderá resultar agravamento da sanção).
Exercido pelo Poder Legislativo de qualquer das três órbitas federativas, sobre a atuação da
Administração Pública, examinando os atos sob o aspecto geral da legalidade e
conveniência do interesse público.
Fundamentos: Insere-se entre os mecanismos constitucionais de pesos e contrapesos pelos
quais cada Poder Orgânico do Estado recebe competência para interferir na ação dos
demais.
Limites: O controle que o Poder Legislativo exerce sobre a Administração Pública tem que se
limitar às hipóteses previstas na CF, uma vez que implica interferência de um Poder nas
atribuições dos outros Poderes, sob pena de ofensa ao princípio da separação de poderes.
Dificuldades:
geradas pelo tecnicismo do controle da Administração;
massa de atos administrativos a fiscalizar, exigindo atuação de extensa máquina
burocrática de controle;
inexistência de interesse político na realização concreta e eficaz da vigilância para não
desagradar o Executivo que detém a hegemonia dos três poderes e domina a máquina
governamental;
ineficácia por ser uma via desprovida de qualquer sanção.
O controle legislativo pode se dar por meio de controle parlamentar direto (CN, Senado ou
Comissões) ou por meio da atuação do Tribunal de Contas.
Convém ressaltar que os TC são vinculados ao PL, mas não existe entre eles
subordinação. Pelo contrário, a CRFB outorgou ao TC autonomia, que lhe assegura
autogoverno, além de prever prerrogativas próprias aos seus membros (ADIMC 4190/RJ).
Além disso, os TCs não praticam atos de natureza legislativa (mas apenas de fiscalização e
controle), nem jurisdicional (suas decisões não fazem coisa julgada), mas apenas
administrativos.
As atribuições do TC estão previstas no art. 71 da CRFB.
Sobre essas atribuições, algumas observações são importantes:
O controle que exerce sobre atos e contratos da administração é posterior (salvo
inspeções e auditorias que podem fazer a qualquer tempo, que são controles
concomitantes). O STF já decidiu pela inconstitucionalidade de lei estadual que determinava
que todos os contratos celebrados entre o Estado e particulares dependeriam de registro
prévio no TC, pois afronta o art. 71 c/c 75.
O TC apenas aprecia as contas do PR (através de parecer prévio, que deve ser
elaborado no prazo de 60 dias a contar do seu recebimento), as quais serão julgadas pelo CN
(art. 71, I c/c 49, IX). A rejeição de contas gera inelegibilidade, por 05 anos, sendo irrecorrível
a decisão do PL. Quanto aos demais administradores públicos, realizará o próprio
julgamento (art. 71, II).
Esse modelo é de observância obrigatória para Estados e Municípios. O STF decidiu
que não pode a Constituição do Estado outorgar à assembleia legislativa atribuição para
julgar suas próprias contas, tampouco as contas dos administradores do Judiciário local, pois
configuraria usurpação da competência do TCE. ADI 1179/PE.
O STF decidiu pela inconstitucionalidade de norma da Constituição do Estado que
subordinava o julgamento de contas realizados pelo TC a recurso para o plenário da
Assembleia Legislativa. Pelo 71, II, a decisão do TC não fica subordinada a crivo do PL. ADIMC
3715.
Sobre o julgamento das contas da própria corte de contas, a despeito de inexistir
previsão pelo CRFB, o STF decidiu que é válida norma da CE que outorgue competência à
respectiva Assembleia Legislativa para o julgamento. Trata-se de entendimento extensivo
aos Municípios, que podem prever norma na LO no mesmo sentido. ADI 2597/PA.
No caso de irregularidade em ato administrativo, o próprio TCU pode sustar sua
execução, dando ciência à CD e ao SF. No caso de contratos administrativos, apenas se o CN
ou o PE não tomar as medidas cabíveis para sustação, é que o TCU adquirirá competência
para decidir a respeito (art. 71, §§1º e 2º).
As decisões do TCU de que resulte imputação de débito ou multa terão eficácia de
título executivo (art. 71, § 3º da CF). Não é preciso inscrever tais decisões em dívida ativa,
porque a própria Constituição já confere eficácia executiva às decisões do TCU. As execuções
desses títulos são promovidas pela AGU e seguem o rito do CPC (ao invés do rito da
execução fiscal). O executado é aquele que foi condenado pelo acórdão do TCU.
As contribuições SINDICAIS compulsórias possuem natureza tributária e constituem
receita pública, estando os responsáveis sujeitos à competência fiscalizadora do TCU, cujo
controle sobre a atuação das entidades sindicais não representa violação à respectiva
autonomia assegurada na Constituição.
CUIDADO:
“Segundo o entendimento do STJ, a legitimidade irá variar caso o
acórdão do Tribunal de Contas tenha determinado o ressarcimento
ao erário ou, então, apenas uma multa. Já para o STF, somente o
ente da Administração Pública prejudicado com a atuação do gestor
possui legitimidade para executar o acórdão do Tribunal de Contas,
seja ele de imputação de débito ou de multa”. (CAVALCANTE, Márcio
André Lopes. Principais julgados do STF e do STJ comentados 2013.
Manaus: Dizer o Direito, 2014. p. 119-120)
Quanto à tomada de contas especial (art. 71, II, parte final), após alteração de
entendimento, o STF passou a entender cabível aplicação a todas as sociedades de
economia mista, não importando se prestadoras de serviço publico ou exploradoras de
atividades econômicas em sentido estrito. É irrelevante que não sejam bens públicos, basta
que haja recursos públicos envolvidos. Assim, todas as entidades da AI, sem exceção,
sujeitam-se ao art. 71, II, inclusive sua parte final. MS 25092/DF.
Os TCs podem realizar controle de constitucionalidade das leis, no desempenho de
suas funções, deixando de aplicá-las. Deve fazê-lo por maioria absoluta dos seus membros,
em atenção à cláusula de reserva de plenário.
O TCU dispõe de legitimidade para expedição de medidas cautelares, para garantir a
efetividade de suas decisões e prevenir danos ao erário ou a direito alheio. Pode conceder,
inclusive, inaudita altera pars, já que o contraditório e a ampla defesa ocorrerão em fase
processual posterior. Segundo o STF, tal possibilidade decorre de outorga de poderes
implícitos (meios necessários à integral e eficiente realização de suas atribuições).
O TC não dispõe de competência para determinar quebra de sigilo bancário.
Não podem alterar determinações constantes de decisões judiciais transitadas em
julgado, pois a coisa julgada não pode ser contrastada por decisão administrativa.
Segundo o STF não pode ser previsto que os TCs funcionem como instância recursal
em processos administrativos tributários.
As normas relativas ao TCU aplicam-se, no que couberem aos TCEs (art. 75). Quanto
aos Municípios, ha disposições especificas no art. 31.
Assim, tem-se:
a) admissão de pessoal: ainda que nestes processos só sejam partes o TCU e a
administração pública (controle externo), deve ser assegurado o contraditório e ampla
defesa ao administrado, quando a decisão acarrete ou possa acarretar consequência que
não lhe seja favorável.
Ocorre que o STF abrandou o rigor da SV e firmou o entendimento de que o TCU tem o
prazo de 5 anos para realizar essa apreciação de legalidade, para fins de registro do ato
inicial de concessão de aposentadoria, reforma e pensão, sem conceder ao interessado
direito a contraditório e ampla defesa. O prazo conta-se do recebimento dos autos pelo
TCU.
Após esse prazo de 5 anos do recebimento dos autos, com vistas a verificar a
legalidade para fins de registro, o TCU ainda pode reconhecer a ilegalidade do ato e recusar
o registro (ou seja, não significou a sujeição à decadência prevista no art. 54 da Lei 9784/99),
mas deverá conceder o direito ao contraditório e à ampla defesa.
Dessa forma, somente se a análise da concessão da aposentadoria for feita após 05
(cinco) anos contados da chegada dos autos no TCU, é que é necessária a observância do
contraditório e da ampla defesa.” (Trecho retirado do Comentários da Sentença Cível do
Curso Emagis – Rodada 26.2013)
Esse prazo de 5 anos foi estipulado pelo STF aplicando-se interpretação sistemática,
considerando outras normas cujo fundamento direto ou indireto é a segurança jurídica (ex.:
arts. 183 e 191 da CRFB; art. 173 do CTN; art. 21 da LAP; art. 54 da Lei 9784/99).
ATENÇAO: antes do registro, não há prazo para a verificação da (i)legalidade do ato. O que
vai variar é a necessidade de conceder o direito ao contraditório e à ampla defesa.
Agora, após o registro pelo TCU, caso pretenda a corte de contas anular a sua própria
decisão, estará sujeita ao prazo decadencial do art. 54 da Lei 9784/99. MS 25963.
Obs: Nos processos que tramitam no TCU não é necessária a intimação pessoal da data em
que será realizada a sessão de julgamento, bastando que essa informação seja publicada
em veículo de comunicação oficial (imprensa oficial).
Parecer técnico elaborado pelo Tribunal de Contas tem natureza meramente opinativa,
competindo exclusivamente à Câmara de Vereadores o julgamento das contas anuais do
chefe do Poder Executivo local, sendo incabível o julgamento ficto das contas por decurso
de prazo.
STF. Plenário. RE 729744/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/8/2016 (repercussão
geral) (Info 834). Fonte –dizer o direito
7.14 Controle Jurisdicional da Administração Pública
Introdução:
“O controle externo pelo Poder Judiciário, nesta Constituição de
1988, foi aumentado e fortalecido. Dizemos aumentado porque,
agora, não se limita o exame do Judiciário às lesões de direito. A
mera ameaça já fundamenta a revisão ou correção judicial.” (Lúcia
Valle Figueiredo)
Conceito: poder de fiscalização e correção que os órgãos do Poder Judiciário exercem sobre
os atos administrativos do Executivo, do Legislativo e do Próprio Judiciário
22
Tal restrição vigora no Brasil desde 1894, conforme art. 13, §9º, da Lei 221/1894.
Fala-se que o controle jurisdicional da atividade administrativa limita-se a questão da
legalidade. Ou seja, o controle não alcançaria questões de mérito. Lembrar que atos
praticados com violação de princípios é ato arbitrário, passível de controle pelo Judiciário.
A regra é a incidência do controle jurisdicional da legalidade, mas esse princípio sofre
certas limitações:
ATOS DISCRICIONÁRIOS
São apreciados pelo Judiciário desde que não invada os aspectos reservados à
apreciação subjetiva da Administração Pública: mérito (oportunidade e conveniência).
Respeitam-se, assim, os limites da discricionariedade (espaço de livre decisão) assegurada
pela lei à Administração. O Judiciário pode apreciar aspectos da legalidade, ou seja, se a
Administração Pública não ultrapassou o espaço livre deixado pela lei. Cabendo ao judiciário
examinar, em todos os seus aspectos, a conformidade do ato com a lei.
Não há invasão do mérito quando o Judiciário aprecia os motivos (fatos que
precedem e justificam a existência do ato), a ausência dos mesmos ou a falsidade do motivo
(caracteriza ilegalidade), suscetível de invalidação.
Existem teorias no sentido de fixar os limites ao exercício do poder discricionário, de
modo a ampliar a possibilidade de sua apreciação pelo Judiciário:
a) Desvio de poder – ocorre quando a autoridade usa o poder discricionário para atingir fim
diferente daquele que a lei fixou.
c) Noções imprecisas – tais noções são advindas de formas que o legislador utiliza com
frequência para designar o motivo e a finalidade do ato (interesse público, conveniência
administrativa, moralidade, ordem pública). Não haverá discricionariedade se houver
elementos objetivos, extraídos da experiência, que permitam a sua delimitação, chegando-
se a uma única solução válida diante do direito. Há, nesse caso, apenas interpretação do
sentido da norma, inconfundível com a discricionariedade. No entanto, havendo
necessidade de apreciação subjetiva, segundo conceitos de valor, chegando-se a mais de
uma solução válida diante do direito, haverá discricionariedade.
ATOS NORMATIVOS
Não podem ser invalidados pelo Judiciário, a não ser por via de ADIN (controle
concentrado), cujo julgamento é de competência do STF se se tratar de lei ou ato normativo
federal ou estadual que contrarie a Constituição Federal (art. 102, I, a /CF-88). Julgamento é
de competência TJ quando se tratar de lei ou ato normativo estadual ou municipal que
contrarie a Constituição Estadual (art. 125, § 2º, da CF/88)
Nos casos concretos (controle difuso) o Judiciário poderá apreciar a legalidade ou a
constitucionalidade dos atos normativos do Executivo (produz efeitos somente inter partes),
observado o art. 97, da CF/88.
ATOS POLÍTICOS
Atos políticos são os atos de condução dos negócios públicos, que decorrem da
própria Constituição, comportando maior carga de discricionariedade. Na vigência da
Constituição de 1937 se negava ao Poder Judiciário a apreciação dos atos políticos e foi
assim por muito tempo (o art. 94 concebia o ato político como aquele que diz respeito aos
interesses superiores da nação, não afetando os direitos individuais).
Hoje, a doutrina dominante entende que é possível o controle jurisdicional dos atos
políticos que causem lesão a direitos individuais ou coletivos. Fundamento para o controle
art. 5°, XXXV CF. O conceito de ato de governo se encontra em franca retirada do direito
público europeu.
OBS 1: Mandado de Segurança - controle (Material) jurisdicional de proposta de
emenda constitucional; ato de simples processamento de emenda constitucional que viole o
art. 60, § 4º, da CF/88, precedentes: RTJ, 99:1031; RDA 193:266; RDA 191:200. Admite-se o
controle (Formal) prévio via MS também quanto as formalidades de elaboração de Leis, EC,
procedimento constitucionais ou regimentais.
2: Mandado de Segurança: pode ser autoridade coatora o Presidente da República,
Mesas da Câmara ou Senado, Tribunal de Contas, Procurador Geral da República e STF, art.
102, I, d, da CF/88. (em decorrência da afronta ao Regimento Interno).
Sistemas de controle
Sistema de administração-juiz:
As funções de julgar e administrar encontram-se integradas no mesmo órgão ou atividade.
23
Citado por Edmir Netto
Sistema de jurisdição única (unidade de jurisdição):
Sistema inglês
As funções de julgar e administrar são desempenhadas por órgãos distintos (Poderes
diversos).
Através do Judiciário resolvem-se todos os litígios, sejam quais forem as partes envolvidas.
“O Poder Judiciário é, assim, o único órgão competente para dizer do direito aplicável em
uma situação com o caráter de coisa imodificável, definitiva, em suma coisa julgada.”
(Gasparini)24
Sistema adotado no Brasil (art. 5º, XXXV, da CF/88)25, em que o Poder Judiciário tem o
monopólio da função jurisdicional - poder de apreciar, com força de coisa julgada
(definitividade), a lesão ou ameaça de lesão a direitos.
24
“A definitividade das suas decisões [Poder Judiciário] e a possibilidade de utilizar toda a força institucional
do Estado tipificam o exercício da função primordial do Poder Judiciário: a jurisdição.” (Michel Temer)
25
Conforme menciona Gasparini, a CF/88 excepciona essa regra ao atribuir, privativamente ao Senado Federal a
competência para processar e julgar o Presidente da República, o Vice-Presidente, nos crimes políticos, os
Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica, nos crimes da mesma natureza
conexos com aqueles (art. 52, I) e processar e julgar os Ministros do STF, Procurador –Geral da República e o
Advogado-Geral da União, nos crimes de responsabilidade (art. 52, II)
26
Hely Lopes e Edmir Netto
controle jurisdicional, que se trata dos meios ordinários ou processos ordinários, em
oposição a meios especiais, no campo do direito processual.
Controle jurisdicional especial: Não se realiza ordinariamente pelo Poder Judiciário, pelos
meios normais, “seja porque não se faz pela estrutura regular do Poder Judiciário [exemplo
impeachment] seja por utilização de procedimentos especiais, como as representações
interventivas e ações de inconstitucionalidade.” (Edmir Netto) Ex.: ADI, ADC, Ação
interventiva, Arguição de descumprimento de preceito fundamental.
27
A revogação só pode ser efetivada pela Administração (desfazimento por razões de oportunidade e
conveniência, com efeitos ex nunc). É ato discricionário. O ato revogado foi válido e produziu efeitos até o
momento da revogação.
Vai se firmando o entendimento de que a anulação do ato administrativo, quando
afete interesses ou direitos de terceiros, deve ser precedida de contraditório, por força do
art. 5º, LV, da CF.28
Quanto ao caráter discricionário ou vinculado da anulação para a Administração,
MARIA SILVIA, com base em outros autores, afirma que ‘a Administração tem, em regra, o
dever de anular os atos ilegais, sob pena de cair por terra o princípio da legalidade. No
entanto, poderá deixar de fazê-lo em circunstâncias determinadas, quando o prejuízo
resultante da anulação puder ser maior do que o decorrente da manutenção do ato ilegal;
nesse caso, é o interesse público que norteará a decisão.
28
Exemplo: Súmula 473/STF: “A Administração pode anular seus próprios, quando eivados de vícios que os
tornem ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.”
referentes governamental Arts. 102, I,d; 105, I,b:
ao ou de caráter 108,I,c; 109, VII; 121, §
interessado público que tenha 4º, V./CF-88.
. registro de dados Efeitos da decisão: inter
sobre a pessoa. partis
Mandado de Exercício dos Omissão de Sujeito Ativo: o Não se confunde com a
Injunção direitos e norma próprio titular do ADIN por Omissão (Art.
liberdades regulamentadora direito. 103, § 2º/CF-88)
constitucionai que torne inviável Sujeito passivo: Ver: Art. 5º, LXXI/CF-88.
s e das o exercício dos autoridades, A norma
prerrogativas direitos e órgãos regulamentadora pode
inerentes à liberdades colegiados, ser de natureza
nacionalidade constitucionais e órgãos do regulamentar ou legal e
, à soberania e das prerrogativas judiciário, ser de competência de
à cidadania inerentes à entidades da qualquer das
nacionalidade, à Administração autoridades, órgãos e
soberania e à Pública indireta, pessoas jurídicas que
cidadania. entidades compõem os três
Só é cabível indicados no Art. poderes, inclusive a
quando a omissão 102,I,q e Art. Administração Pública
tornar inviável o 105,I,h/CF-88. indireta., é o que deduz
exercício dos dos Arts. 102,I,q e 105, I,
direitos e h/CF-88.
liberdades Efeitos da decisão: inter
constitucionais partis dar ciência ao
consagrados no órgão quanto a
Título II ou em omissão)
outros Capítulos
da CF-88. Ou
cabível nas
prerrogativas
referentes a
nacionalidade,
soberania e
cidadania.
Mandado de Provocar o Ato de autoridade. Sujeito Ativo: Efeitos da sentença:
Segurança controle Ilegalidade ou Pessoa Física ou inter partis, dos titulares
Individual jurisdicional abuso de poder. jurídica (Pub. ou dos direitos
quando Lesão ou ameaça Priv.), órgão devidamente
houver de lesão público ou representados
lesão ou Direito líquido e universalidade Ver: Art. 5º, LXIX/CF-88,
ameaça de certo não patrimonial, e Lei 12.016/2009.
lesão de amparado por titular de direito É contra a autoridade
direito Habeas Data ou líquido e certo, responsável pelo ato –
líquido e Habeas Corpus. lesado ou chamada autoridade
certo, não ameaçado de coatora que se impetra
amparado lesão. o MS e não contra a
por Habeas Sujeito Passivo: pessoa jurídica.
Corpus ou Pessoa jurídica A autoridade coatora é
Habeas (Pub. ou Priv. que notificada (e não citada)
Data, em esteja no para prestar
decorrência exercício de informações (e não
de ato de atribuições do contestação).
autoridade, poder público) A legitimidade para
praticado OBS: o art. 1º, § recorrer é da pessoa
com 1º, da Lei jurídica e não da
ilegalidade 12.016/2009 autoridade coatora.
ou abuso de (nova lei do MS) A sentença é
poder. manteve, como mandamental, pois
Tem por possíveis contém uma ordem
autoridades
Objeto dirigida à autoridade
coatoras, os
anular o ato coatora para imediata
"administradores
ilegal de entidades execução.
ofensivo de autárquicas" e os Coator. Ver art. 102, I,
direito "dirigentes de d; art. 105, I, d; art. 107,
com entidade de
ilegalidade classe ou
associação
ou abuso de
legalmente
poder.
constituída e em
Tem por
funcionamento
Objeto
há, pelo menos, 1
anular o ato
(um) ano, em
ilegal
defesa de direitos
ofensivo de
líquidos e certos
direito da totalidade, ou
líquido e de parte, dos
certo, ou a seus membros ou
prática de associados, na
Sujeito Passivo:
Pessoa jurídica
(Pub. ou Priv. que
esteja no
exercício de
atribuições do
poder público)
Ação Popular Anular ato Qualidade de Sujeito Ativo: Há um Litisconsórcio
lesivo ao cidadão do sujeito Cidadão podendo passivo necessário, pois
patrimônio ativo. ser possível o várias pessoas deverão
público, à Ilegalidade ou Litisconsórcio ser citadas.
moralidade imoralidade ativo29. Ver: Art. 5º, LXXIII/CF-88
administrat praticada pelo Sujeito Passivo: e Lei 4.717/65.
iva, ao meio poder público ou As pessoas autor fica isento de
ambiente e entidade de que jurídicas (Pu/Pr) custas processuais e
ao ele participe. de que emanou o ônus de sucumbência,
patrimônio Lesão ao ato. salvo má fé (Art. 5º,
histórico e patrimônio Autoridades, LXXIII/CF-88).
cultural. público, à funcionários e Não se faz necessária a
29
Súmula 365/STF “Pessoa jurídica não tem legitimidade de propor ação popular.”
Condenaçã moralidade administradores existência de lesão
o dos administrativa, ao que houverem podendo ser proposta a
responsávei meio ambiente e autorizado, ação popular
s ao ao patrimônio aprovado ou preventiva .
pagamento histórico e ratificado ou Efeitos da decisão: Erga
de perdas e cultural. praticado o ato omnes, salvo se julgada
danos ou a impugnado ou ação improcedente por
restituição por omissão insuficiência de provas ,
de bens e tiverem dado hipótese em qualquer
valores oportunidade à interessado poderá
(Art. 14, § lesão. intentar nova ação com
4º da Lei Os beneficiários idêntico fundamento
4.717/65) diretos do (Art.18 da Lei 4717/65).
Portanto a mesmo, se
ação tem houver.
dupla Obs.: Quanto a
natureza: Pessoa Jurídica:
constitutiva pode adotar três
e atitudes:
condenatór contestar a ação
ia. / abster de
contestar / atuar
ao lado do autor
(Art. 6º,§ 3º da
Lei 4.717/65)
Ação Civil Proteção Dano ou ameaça Sujeito Ativo: Não se confunde com a
Pública dos de dano a MP/U/E/M/DF/A ação popular. E muito
interesses interesse difuso utarquias/Fundaç menos com o mandado
difusos ou ou coletivo ões/Emp. de segurança coletivo.
coletivos . (interesse público Públicas/Soc Ver: Art. 129, III/CF-88,
de grupos Econ. Lei 7.347/85.
indeterminados de Mista/Associaçõe Efeitos da decisão: Erga
pessoas/meio s constituídas há omnes , salvo se julgada
ambiente / defesa um ano nos ação improcedente por
do consumidor / termos da lei civil insuficiência de provas ,
patrimônio e incluam entre hipótese em qualquer
histórico, artístico suas finalidades a interessado poderá
nacional) proteção ao meio intentar nova ação com
ambiente, ao idêntico fundamento..
consumidor, ao
patrimônio
histórico,
artístico, estético,
paisagístico ou
interesses difusos
e gerais.
Sujeito Passivo:
Qualquer pessoa
física ou jurídica,
pública ou
privada,
responsável pelo
dano ou ameaça
de dano a
interesse difuso
ou geral
OBS.: parte da doutrina entende que o mandado de segurança coletivo também serve para
resguardar direitos difusos (Teori Zavascki, Bruno Scarpinella Bueno, Luis Manoel Gomes
Júnior, Aluisio Gonçalves de Castro Mendes e Leonardo Carneiro da Cunha). Argumento: a
CF não estabelece nenhuma limitação ao MS coletivo; efetividade do acesso à justiça.
Contra a possibilidade de MS coletivo em direitos difusos, com o importante
argumento de que a Lei 12.016 não menciona os direitos difusos: Gilmar Mendes, Arnoldo
Wald, Humberto Theodoro Jr., José Miguel Garcia Medina. Argumentam que nessas
situações deve-se lançar mão da ação civil pública.
Habeas Data Direito a Informação
Previsão legal Art. 5º, LXXII Art. Art. 5º, XXXIII/CF-88
Arts. 102, I,d; 105, I,b: 108,I,c; 109,
VII; 121, § 4º, V./CF-88.
É gratuito. .(Art. 5º, LXXVII/CF-88).
Objeto Conhecimento de Direito à informação de
informações/retificação de dados interesse particular, coletivo
referentes ao interessado ou geral.
Requerimento Requerido por via judicial Requerido por via
30
Art. 81, Parágrafo único, I, do CDC: “Interesses difusos, assim entendidos, para efeito deste Código, os transindividuais, de natureza
indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas pela mesma circunstância de fato.”
31
Art. 81, Parágrafo único, CDC: “Interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais de
natureza indivisível, de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação
jurídica base.”
administrativa.
Conteúdo Restringe-se as informações É mais amplo, de caráter
referentes ao interessado geral, concernentes às
atividades múltiplas dos
órgãos governamentais
podendo referir-se a
conteúdos variados.
Hipótese se Se negado, faz coisa julgada. Se negado pode recorrer às
negado vias judiciais por meio de
mandado de segurança ou
Habeas Data.
Exercício Exercido de forma RESTRITA Exercido de forma AMPLA
quanto ao CONTEÚDO quanto ao CONTEÚDO
(informações/retificação de (interesse particular, coletivo
dados referentes ao ou geral de variados
INTERESSADO), no entanto, conteúdos), no entanto
exercido de forma AMPLA no que possuindo RESTRIÇÃO DE
tange às MATÉRIAS, não MATÉRIAS “cujo sigilo seja
possuindo a restrição contida no imprescindível à segurança
direito de informação, que não da sociedade do Estado”
admite segredo em relação a ele.
Sujeito Passivo Entidade governamental ou de Entidade Governamental
caráter público que tenha registro (Órgãos Públicos)
de dados sobre a pessoa.
Probidade e Moralidade
Artigo 15, V
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos
casos de:
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.
Artigo 85, V
Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem
contra a Constituição Federal e, especialmente, contra:
V - a probidade na administração;
Competência Legislativa
O Constituinte não disse quem era competente para legislar. A doutrina fez uma
correlação entre as medidas aplicáveis e a competência para legislar.
Assim, é competente para legislar aquele ente político capaz legislar sobre as medidas
cabíveis.
Por esse entendimento, a UNIÃO é ente político para legislar, com base no artigo 22, I.
Portanto, entende-se que o art. 37, §4º da CRF é norma de eficácia limitada, estando
hoje regulamentada pela Lei 8.429/99 e, por conseguinte, a lei de improbidade
administrativa é uma lei mista, de caráter nacional (arts. 1º a 12) e federal (art. 13, somente
aplicável a esfera federal).
a) Ilícito penal: Por muito tempo pensou-se que se tratava de um ilícito penal, como
caracterizada a improbidade praticada pelo Presidente da República. Mas pelo
entendimento da lei NÃO se trata de um ilícito penal, porque as suas sanções são
totalmente distintas das penas criminais. A própria CF demonstra que não se trata de crime,
em decorrência do dispositivo abaixo:
§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a
perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma
e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
Ou seja, quando a CF na parte final ressalva a aplicação da ação penal cabível, está
demonstrando que somente será crime quando for tipificado como crime. O simples fato de
estar na lista da Lei 8429 não dá a natureza jurídica de infração penal.
Todo crime funcional é ato de improbidade.
Toda improbidade é crime contra a administração? NÃO, somente o será se houver
previsão legal.
Também não são tipos penais, porque a descrição dos atos de improbidade é muito
aberta, colidindo com uma das facetas do princípio da legalidade da lei penal, que deve ser
certa e taxativa.
No caput, do artigo 12 da Lei 8429 tem-se: Independentemente das sanções penais,
civis e administrativas, previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de
improbidade sujeito às seguintes cominações.
c) Ilícito civil: Essa é natureza jurídica dos atos de improbidade administrativa, ou seja, são
atos que equivalem a ILÍCITOS CIVIS.
Mas há doutrinadores que admitem que a natureza jurídica será de ilícito político,
quando haja aplicação da pena de suspensão dos direitos políticos.
Maria Silvia Di Pietro: a improbidade administrativa caracteriza um ilícito de natureza
civil e política, porque pode implicar a suspensão dos direitos políticos, a indisponibilidade
dos bens e o ressarcimento dos danos causados ao erário.
d) Ilícito de ato de improbidade: Há quem afirme que diante do caput do artigo 12, há uma
natureza autônoma de ilícito de ato de improbidade do qual decorre uma
RESPONSABILIDADE POLÍTICO-ADMINISTRATIVA. Será apurada por meio de um processo
civil, não tem natureza criminal.
Há acórdão publicado em 01/07/05 (RMS 24699, Rel. Min. EROS GRAU), no qual
tratava-se do seguinte caso: servidor que foi processado administrativamente (demissão)
por ter cometido um ato de improbidade. O entendimento unânime do STF foi no sentido de
que o reconhecimento de ato de improbidade depende de reserva de jurisdição, não
podendo ser reconhecido pela Administração Pública sem apreciação do Judiciário.
ABSOLVIÇÃO PENAL: se o agente foi absolvido no processo penal, por negativa de autoria
ou inexistência do fato, será também absolvido no cível e no administrativo, na forma do
artigo 66, CPP. O mesmo não ocorrera se a absolvição se der por falta de provas, tendo em
vista a independência de instâncias.
a) Sujeito Passivo: é aquele que sofre os efeitos do ato de improbidade, ou seja, contra
quem se pratica o ato de improbidade. É uma das entidades mencionadas no art. 1 o da LIA.
Não se restringe às entendidas da AP Direta e Indireta.
- PESSOA JURIDICA DE DIREITO PUBLICO: toda qualquer pessoa jurídica de direito público,
consistentes nas seguintes pessoas: os entes da administração direta: União, Estados,
Municípios e Distrito Federal; autarquias (incluindo as autarquias territoriais: Territórios,
para não haver dúvidas); fundações públicas de direito público.
pessoas que o poder público com MENOS DE 50%: submetem-se somente às previsões
referentes a DANOS PATRIMONIAIS; somente haverá a responsabilidade por ato de
improbidade até o limite do patrimônio que for público, o que ultrapassar a pessoa jurídica
irá discutir por via própria; somente se aplica o artigo 10 (DANO AO ERÁRIO);
EXEMPLO 01: os incentivos fiscais concedidos a toda e qualquer pessoa jurídica que queira
se instalar no local, por serem gerais, não são objeto de improbidade administrativa.
EXEMPLO 02: o sindicato é pessoa jurídica de direito privado e recebe contribuição sindical
(PARAFISCALIDADE: transferência da capacidade tributária), para se manter. A contribuição
é um benefício fiscal, então o sindicado está submetido à lei de improbidade administrativa.
EXEMPLO 03: OSCIP pode sofrer ato de improbidade? Como recebe dinheiro público em
decorrência de termo de parceria, está submetida à lei de improbidade.
EXEMPLO 04: SERVIÇO SOCIAL AUTÔNOMO também está incluído nessa lista, ou seja está
submetido à lei de improbidade.
EXEMPLO 05: AUTARQUIA PROFISSIONAL pode ser sujeito passivo de ato improbidade?
Pode porque se trata de uma autarquia.
EXEMPLO 06: PARTIDO POLÍTICO também pode ser sujeito passivo, porque existe o fundo
partidário, que é verba orçamentária que sai do orçamento para ser rateado para os
diversos partidos.
b) Sujeito Ativo: é aquele que pratica o ato de improbidade. Todo aquele que exerce uma
função pública de forma permanente ou temporária, com ou sem remuneração. Agente
público, depois da CF/88, é um conceito extremamente amplo.
A LIA considera como sujeito ativo o agente público (art. 2o) e o terceiro que induza ou
concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie de qualquer forma.
- SUJEITO ATIVO PRÓPRIO: agente público (artigo 2o.). Reputa-se agente público todo aquele
que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação,
designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato,
cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.
Servidor público é espécie de agente público, ou seja, agente público é um conceito
mais amplo do que o de servidor público. O artigo 327 do CP prevê o conceito de funcionário
público para fins penais. O STJ (Min. LUIZ FUX) afirma que o conceito de agente público é
mais amplo do que o de funcionário público do artigo 327, do CP.
A lei de improbidade somente se aplica aos agentes públicos? NÃO, porque há o
sujeito ativo impróprio. Os comportamentos ilícitos unilaterais são compatíveis com a
existência de sujeito ativo próprio. O sujeito ativo próprio sempre existe.
- SUJEITO ATIVO IMPRÓPRIO: terceiro (artigo 3o). Os comportamentos ilícitos bilaterais são
compatíveis com a existência de sujeito ativo próprio e de terceiro necessariamente. O
sujeito ativo impróprio pode ou não existir. Aquele que induza ou concorra para a prática do
ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta. (HÁ PENAS
QUE NÃO SÃO CABÍVEIS A TERCEIROS: PERDA EXERCÍCIO DA FUNÇÃO PÚBLICA OU
SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS PARA PESSOAS JURÍDICAS).
Importante observar que esse terceiro não pode praticar o ato de improbidade
isoladamente. O ato deve ser praticado por um agente público mediante induzimento,
concorrência ou beneficiamento do terceiro.
Funcionário de fato é aquele que pratica ato, mesmo com a nomeação ilegal ou
inconstitucional, enquanto exerce a função pública, irá responder por improbidade
administrativa. Alguns doutrinadores colocam uma exigência: exercício de função com a
anuência do poder público, ou seja, não adianta que o funcionário de fato esteja exercendo
função pública à revelia da administração pública. Se não for preenchido esse requisito, não
responderá por ato de improbidade administrativa. Há para os doutrinadores a distinção
entre:
Agente de fato necessário: aquele que participa em situação excepcional. Ex.: caso de
guerra e de calamidade pública.
Agente de fato putativo: aquele que é investido sem a prestação do concurso.
Nos dois casos acima, a administração anuiu e sendo assim responderão por atos de
improbidade.
O árbitro (justiça arbitral) pode praticar ato de improbidade? O árbitro não compõe o PJ. É
uma função pública, mas também não há vínculo com a administração, assim também não
será sujeito ativo do ato de improbidade.
Pessoa jurídica pode ser sujeito ativo de ato de improbidade? A lei fala no agente público
(que exerce uma função pública) ou aquele que se beneficiou com a prática do ato. Se a
pessoa jurídica se beneficia com a prática do ato de improbidade, responderá por ato de
improbidade? SIM. Pessoa jurídica pode ser sujeito ativo do ato de improbidade, na
hipótese do artigo 3o. EXEMPLO: fraude no procedimento licitatório. É cabível a aplicação
da teoria da despersonalização da pessoa jurídica.
Informativo n° 424 do STJ, 2ª Turma: “O tribunal de origem concluiu
que a ação de improbidade não deveria prosseguir, na medida em
que só figuravam como réus particulares e uma sociedade de
economia mista, no caso o banco. (...) os sujeitos ativos dos atos de
improbidade administrativa não são apenas os servidores públicos,
mas todos aqueles que estejam abarcados no conceito de agente
público (arts. 1º a 3º da Lei n. 8.429/1992). (...). REsp 1.138.523-DF,
Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 23/2/2010.”
Herdeiro responde por improbidade?
Art. 8° O sucessor daquele que causar lesão ao patrimônio público ou
se enriquecer ilicitamente está sujeito às cominações desta lei até o
limite do valor da herança.
Estagiários?
Ato Danoso
É o ato causador de enriquecimento ilícito para o sujeito ativo, prejuízo para o erário
ou atentado contra os princípios da AP.
Ato de improbidade NÃO precisa ser ato administrativo, qualquer conduta do agente,
seja omissiva ou comissiva, ato administrativo ou não.
O rol de atos que está na lei é exemplificativo (numerus apertus). A configuração do
ato independe de dano e de controle pelo tribunal de contas.
Assim não há necessidade de dano econômico. Se as contas forem aprovadas pelo TC
não é suficiente para afastar a configuração do AI, tendo em vista a independência das
instâncias. Independe da aprovação ou não das contas pelo TC, é claro que se forem
rejeitadas é mais fácil a comprovação da improbidade.
ATO DE IMPROBIDADE
ENRIQUECIMENTO ILÍCITO PREJUÍZO AO ERÁRIO VIOLAÇÃO DE PRINCÍPIO
Artigo 9o Artigo 10 Artigo 11
Penas do artigo 12, I Penas do artigo 12, II Penas do artigo 12, III
Se um ato violar os 03 dispositivos (9o., 10 e 11)? Podem ser aplicados dois artigos ao
mesmo tempo? O entendimento é o de que somente seja cabível a indicação em somente
um dos artigos, preferindo sempre a conduta mais grave (Princípio da Consunção).
Pode ser doloso ou culposo. ERÁRIO está relacionado aos cofres públicos.
A lei fala em dano econômico, mas muitos doutrinadores diferencia o ERÁRIO, relativo
ao dinheiro público, de cunho econômico, de PATRIMÔNIO PÚBLICO, que é mais amplo e
imaterial, abrangendo o patrimônio histórico, paisagístico, artístico, histórico.
Ao disposto no artigo 10 não se aplica a regra do artigo 21, já que é indispensável a
lesão ao patrimônio público, que é o núcleo da conduta.
Além disso, entendeu a 2ª Turma do STJ, no Resp 1.233.502, que para a configuração
dos atos de improbidade administrativa, previstos no art. 10 da Lei n. 8.429/1992, exige-se a
presença do efetivo dano ao erário (critério objetivo) e, ao menos, culpa grave (elemento
subjetivo)
Exemplos:
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer
ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta
lei, e notadamente:
Como é o único artigo que trata expressamente da forma culposa, há uma divergência
doutrinária sobre a necessidade nos outros artigos, o posicionamento tem sido esse:
Sanções
Ressarcimento/ Prescrição
RESSARCIMENTO ao erário tem uma regra estabelecida no artigo 37, § 5o, da CF.
Art. 37, § 5º - A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos
praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem
prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de
ressarcimento.
Inicialmente, há que se destacar o fato de que há questionamento sobre a natureza
jurídica do ressarcimento ao erário. Na verdade, não se trata de uma pena mas somente a
recuperação ao status quo ante.
A lei estabelece prazo de prescrição para o ajuizamento de ação de improbidade. O
que significa o texto RESSALVADAS AS RESPECTIVAS AÇÕES DE RESSARCIMENTO? Existe o
entendimento (AMPLAMENTE MAJORITÁRIO) de que o texto significa que as ações de
ressarcimento são imprescritíveis. Assim, para a buscar o ressarcimento, não há prazo
prescricional.
CRÍTICA (RDA 237 – ALMIR DO COUTO SILVA): a imprescritibilidade NÃO pode ser
presumida. O ressarcimento NÃO é imprescritível, mas estaria submetido à regra geral do CC
e não às estabelecidas especificamente pela lei prevista no § 5o, do artigo 37, CF (artigo 23,
da Lei 8924).
Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as sanções previstas nesta lei podem ser
propostas:
I - até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo em comissão ou de
função de confiança;
II - dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para faltas disciplinares puníveis
com demissão a bem do serviço público, nos casos de exercício de cargo efetivo ou emprego.
Contudo, o STF, no Informativo ,ao julgar AG. REG. NO AI 788.268-SP, se posicionou no
sentido de que as ações que visam ao ressarcimento do erário são imprescritíveis.
Entendimento que também foi adotado pela 1ª e 2ª Turmas do STJ, nos julgamentos
do REsp1.089.492-RO e REsp1304930/AM, respectivamente, nos seguintes termos: “É
plenamente cabível a ação civil pública por improbidade administrativa, para fins exclusivos
de ressarcimento ao erário, mesmo nos casos em que se reconhece a prescrição da ação
quanto às outras sanções previstas na Lei 8.429/1992”.
No Informativo 717 do STF: “RE-RG 669.069-MG. Rel. Min. Luiz Fux, o STF entendeu
que: “Apresenta repercussão geral o recurso extraordinário no qual se discute o alcance da
imprescritibilidade da pretensão de ressarcimento ao erário prevista no art. 37, §5°, da
CF.”.
Aspectos Processuais
Processo Judicial
Vem se firmando o entendimento de que a ação judicial cabível para apurar e punir os
atos de improbidade tem natureza de ação civil pública.
Como se trata de um ilícito civil, a ação judicial será uma ação civil.
Na situação em que já exista acórdão condenatório do TCU (que é título executivo
extrajudicial) e outras sanções já estejam prescritas, é correto entender que não existiria
interesse processual da União em ajuizar ação civil pública ou aderir ao pólo ativo (ACP
ajuizada pelo MPF ou pelo Município, por exemplo) com o único objetivo de buscar o
ressarcimento. Faleceria utilidade ao processo de conhecimento (que teria a finalidade de
formar um título executivo para permitir a execução, ao passo que já existiria título
executivo: acórdão do TCU).
O MP pode utilizar o INQUÉRITO CIVIL PÚBLICO, que será feito se for conveniente, é
uma decisão discricionária do MP. Porque visa à formação do conjunto probatório suficiente
para respaldar a ACP.
Informativo 518 do STJ, 2ª Turma: “Deve ser recebida a petição
inicial de ação de improbidade no caso em que existam indícios da
prática de ato ímprobo por prefeito. (...). Com efeito, de acordo com
a jurisprudência do STJ, existindo meros indícios de cometimento de
atos enquadráveis na Lei n. 8.429/1992, a petição inicial há de ser
recebida, fundamentadamente, pois, na fase inicial prevista no art.
17, §§ 7º, 8º e 9º, vale o princípio in dubio pro societate, a fim de
possibilitar o maior resguardo do interesse público. AgRg no REsp
1.317.127-ES, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
7/3/2013.
CAUTELARES: somente podem ser determinadas por ordem judicial, não se confundem com
as medidas administrativas. São as seguintes medidas cautelares por improbidade:
indisponibilidade de bens: serve para restringir quantos bens forem necessários para a
garantia do ressarcimento, servindo, outrossim, para assegurar o pagamento da multa civil
punitiva (STJ)
seqüestro: tem que ser arresto, porque não sabem quantos bens serão necessários. Mesmo
que o termo não seja adequado, devem ser os bens ligados diretamente à conduta.
afastamento do agente: ficar afastado por quanto tempo? Pelo prazo necessário, não há
previsão na lei, algumas decisões vêm dizendo que se for mandato eletivo deve-se ter
cuidado, porque o afastamento acaba impedindo o retorno, assim somente deve ser feito
em último caso. Durante o período de afastamento, o agente permanecerá recebendo.
Além disso, no Informativo 531, a 2ª Turma, do STJ, adotou o
entendimento de que: “em ação de improbidade administrativa, é
possível a concessão de liminar “inaudita altera parte” a fim de
obstar o recebimento pelo demandado de novas verbas do poder
público e de benefícios fiscais e creditícios. Isso porque, ressalvadas
as medidas de natureza exclusivamente sancionatória – por exemplo,
a multa civil, a perda da função pública e a suspensão dos direitos
políticos –, pode o magistrado, a qualquer tempo, com fundamento
no poder geral de cautela, adotar a tutela necessária para fazer
cessar ou extirpar a atividade nociva, a teor do que disciplinam os
arts. 461, § 5º, e 804 do CPC, 11 da Lei 7.347/1985 e 21 da mesma lei
combinado com os arts. 83 e 84 do CDC. Assim, embora o art. 17, §
7º, da LIA estabeleça como regra a prévia notificação do acusado
para se manifestar sobre a ação de improbidade, pode o magistrado,
excepcionalmente, conceder medida liminar sempre que verificar
que a observância daquele procedimento legal poderá tornar ineficaz
a tutela de urgência pretendida. REsp 1.385.582-RS, Rel. Herman
Benjamin, julgado em 1º/10/2013.”
Ainda dentro do Poder de Cutela do Juiz, entendeu a 1ª Turma do STJ, no Informativo 539,
que: “Os valores investidos em aplicações financeiras cuja origem remonte a verbas
trabalhistas não podem ser objeto de medida de indisponibilidade em sede de ação de
improbidade administrativa. Isso porque a aplicação financeira das verbas trabalhistas não
implica a perda da natureza salarial destas, uma vez que o seu uso pelo empregado ou
trabalhador é uma defesa contra a inflação e os infortúnios. (...).”
Os atos lesivos:
Art. 5o Constituem atos lesivos à administração pública, nacional ou estrangeira,
para os fins desta Lei, todos aqueles praticados pelas pessoas jurídicas
mencionadas no parágrafo único do art. 1o, que atentem contra o patrimônio
público nacional ou estrangeiro, contra princípios da administração pública ou
contra os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, assim definidos:
I - prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem indevida a
agente público, ou a terceira pessoa a ele relacionada;
II - comprovadamente, financiar, custear, patrocinar ou de qualquer modo
subvencionar a prática dos atos ilícitos previstos nesta Lei;
III - comprovadamente, utilizar-se de interposta pessoa física ou jurídica para
ocultar ou dissimular seus reais interesses ou a identidade dos beneficiários dos
atos praticados;
IV - no tocante a licitações e contratos:
a) frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro
expediente, o caráter competitivo de procedimento licitatório público;
b) impedir, perturbar ou fraudar a realização de qualquer ato de procedimento
licitatório público;
c) afastar ou procurar afastar licitante, por meio de fraude ou oferecimento de
vantagem de qualquer tipo;
d) fraudar licitação pública ou contrato dela decorrente;
e) criar, de modo fraudulento ou irregular, pessoa jurídica para participar de
licitação pública ou celebrar contrato administrativo;
f) obter vantagem ou benefício indevido, de modo fraudulento, de modificações
ou prorrogações de contratos celebrados com a administração pública, sem
autorização em lei, no ato convocatório da licitação pública ou nos respectivos
instrumentos contratuais; ou
g) manipular ou fraudar o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos
celebrados com a administração pública;
V - dificultar atividade de investigação ou fiscalização de órgãos, entidades ou
agentes públicos, ou intervir em sua atuação, inclusive no âmbito das agências
reguladoras e dos órgãos de fiscalização do sistema financeiro nacional.
OBS. Embora a responsabilidade seja objetiva resta evidente que a maioria dos atos
somente podem ser praticados quando presente o elemento subjetivo (dolo ou culpa), a
exemplo: afastar licitante por meio fraudulento (IV, c); fraudar o equilíbrio econômico-
financeiro de contrato (IV, g); utilizar de “laranjas” para dissimular os reais interesses (III);
dificultar investigação (V) etc.
“À primeira vista, três hipóteses podem ser formulada para explicar a ratio da
responsabilidade objetiva da pessoa jurídica, por práticas ilícitas no relacionamento com o
setor público.
A primeira delas tem a ver com facilidade de reparação do dano patrimonial. Como sugere o
senso comum, a pessoa jurídica que negocia com o poder público (seja em caráter individual,
seja reunida em consórcio, seja por meio de sociedade de propósito específico) costuma ter
patrimônio mais avantajado do que seus administradores (sobretudo se forem executivos
profissionais sem participação acionária). Portanto, a probabilidade do ressarcimento tende
a aumentar, se a condenação imposta puder ser cobrada diretamente da pessoa jurídica
envolvida em atos de corrupção.
A segunda hipótese explicativa segue a mesma lógica, porém, fazendo uso de outro
instrumento. Trata-se do pagamento de multa, de forma combinada ou independente da
reparação civil. Como a fixação da multa dispensa a quantificação do prejuízo, acaba
servindo indiretamente para compensar a administração pública por danos de natureza
difusa, que dificilmente seriam cobráveis a título de ressarcimento, com fundamento no
direito comum.
A terceira justificativa possível para punição da pessoa jurídica tem a ver com o seu caráter
preventivo. As múltiplas sanções previstas na Lei Anticorrupção cumprem uma função
dissuasória, na medida em que agravam o custo associado à conduta infracional (a exemplo
do que ocorre com algumas multas exacerbadas no campo tributário). Nesse caso, o
desincentivo à prática ilícita costuma ser mais efetivo, se as consequências também recaírem
sobre a pessoa jurídica (e não apenas sobre a pessoa física dos gestores sociais).
As três hipóteses explicativas têm um ponto em comum: a postura pragmática para prevenir
e corrigir os malefícios da corrupção.” (Mario Engler Pinto Junior. A responsabilidade da
pessoa jurídica por atos de corrupção e a lógica do acordo de leniência. Disponível em:
http://jota.uol.com.br/a-responsabilidade-da-pessoa-juridica-por-atos-de-corrupcao-e-a-
logica-do-acordo-de-leniencia).
Para aplicação da multa (e também dever de publicar a decisão condenatória), art. 6º, leva-
se em conta:
Art. 7o Serão levados em consideração na aplicação das sanções:
I - a gravidade da infração;
II - a vantagem auferida ou pretendida pelo infrator;
III - a consumação ou não da infração;
IV - o grau de lesão ou perigo de lesão;
V - o efeito negativo produzido pela infração;
VI - a situação econômica do infrator;
VII - a cooperação da pessoa jurídica para a apuração das infrações;
VIII - a existência de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e
incentivo à denúncia de irregularidades e a aplicação efetiva de códigos de ética e de
conduta no âmbito da pessoa jurídica; (compliance) e,
IX - o valor dos contratos mantidos pela pessoa jurídica com o órgão ou entidade
pública lesados.
OBS. § 5o A publicação extraordinária da decisão condenatória ocorrerá na forma de
extrato de sentença, a expensas da pessoa jurídica, em meios de comunicação de grande
circulação na área da prática da infração e de atuação da pessoa jurídica ou, na sua falta,
em publicação de circulação nacional, bem como por meio de afixação de edital, pelo prazo
mínimo de 30 (trinta) dias, no próprio estabelecimento ou no local de exercício da atividade,
de modo visível ao público, e no sítio eletrônico na rede mundial de computadores.
OBS Compliance — Usualmente definido como o conjunto de práticas que têm como
objetivo garantir a conformidade dos atos da organização às leis, às políticas, e às diretrizes,
o compliance tem sido defendido por Fonseca como instrumento de resgate da
responsabilidade social das pessoas jurídicas de direito privado
(http://www.mpf.mp.br/pgr/noticias-pgr/3a-camara-do-mpf-debate-compliance-a-luz-a-lei-
anticorrupcao-1).
ACORDO DE LENIÊNCIA
É um meio de se obter provas, semelhante a colaboração premiada (destinadas a
pessoas físicas).
A celebração do acordo de leniência isenta a pessoa jurídica da publicação
extraordinária e da sanção do inciso IV do art. 19, além de reduzir em até 2/3 (dois terços) o
valor da multa aplicável.
O acordo de leniência não exime a pessoa jurídica da obrigação de reparar
integralmente o dano causado.
A celebração do acordo de leniência interrompe o prazo prescricional dos atos
ilícitos previstos nesta Lei.
Processo: 5053276-81.2015.404.0000
RESPONSABILIZAÇÃO JUDICIAL
A responsabilidade da pessoa jurídica na seara administrativa não afasta sua
responsabilização na esfera judicial.
Sanções:
I - perdimento dos bens, direitos ou valores que representem vantagem ou
proveito direta ou indiretamente obtidos da infração, ressalvado o direito do
lesado ou de terceiro de boa-fé;
II - suspensão ou interdição parcial de suas atividades;
III - dissolução compulsória da pessoa jurídica;
IV - proibição de receber incentivos, subsídios, subvenções, doações ou
empréstimos de órgãos ou entidades públicas e de instituições financeiras
públicas ou controladas pelo poder público, pelo prazo mínimo de 1 (um) e
máximo de 5 (cinco) anos.
OBS final:
Art. 30. A aplicação das sanções previstas nesta Lei não afeta os processos de
responsabilização e aplicação de penalidades decorrentes de:
I - ato de improbidade administrativa nos termos da Lei no 8.429, de 2 de junho
de 1992; e
II - atos ilícitos alcançados pela Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, ou outras
normas de licitações e contratos da administração pública, inclusive no tocante
ao Regime Diferenciado de Contratações Públicas - RDC instituído pela Lei
no 12.462, de 4 de agosto de 2011.
8. Licitações. Fundamento constitucional. Conceito e modalidades. O
regime de licitações e alterações. Dispensa e inexigibilidade. Revogação
e anulação, hipóteses e efeitos. Pregão e consulta. O Registro de
preços. Contratos administrativos. Conceito e características.
Invalidação. Principais espécies de contratos administrativos.
Inexecução e rescisão dos contratos administrativos.
8.1. Antecedentes históricos
Não se confunde com a chamada pública que visa divulgação para efetivar credenciados e
divulgar atividades da AP.
8. 3. Natureza jurídica
PROCEDIMENTO / PROCESSO ADMINISTRATIVO: conjunto de atos administrativos lógica e
cronologicamente ordenados voltados à prática de um ato final.
JSCF afirma ser procedimento administrativo com fim seletivo e vinculado(por conter todo o
direcionamento pré-fixado).
8.5. Objetos
8.6. Objetivos
7. Licitação x contrato já foi defendido que contrato era parte do procedimento licitatório.
Hoje: pacífico que o contrato não faz parte do procedimento licitatório, já que um são
autônomos, embora vícios na licitação invalidem o contrato.
-> UNIÃO: normas gerais sobre licitação e contratação – veiculam princípios, regras
básicas, aspectos essenciais -, de reprodução obrigatória. NÃO evita regras distintas
de ente para ente. Lei 8.666/93.
Marçal Justen Filho enumera os seguintes temas gerais:
a) requisitos mínimos necessários e indispensáveis à validade da
contratação administrativa;
b) hipóteses de obrigatoriedade e de não-obrigatoriedade de licitação;
c) requisitos de participação em licitação;
d) modalidades de licitação;
e) tipos de licitação;
f) regime jurídico da contratação administrativa.
JSCF acrescenta:
g) prazos de publicidade;
h) recursos;
i) redução dos valores para cada modalidade.
Art.37 CF
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e
alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure
igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam
obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos
da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica
indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações
“Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de
concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços
públicos.”
8.1.4 – ART 173, §1º, III, CF/88: Prevê regime diferenciado de licitações de contratos para as
empresas públicas, sociedades de economia mista e suas subsidiárias.
8.2 Disciplina Legal
Polêmica: Modificação da EC 19/98 (2ª parte do inciso XXVII, do art. 22 E art. 173, § 1º, III):
Sociedades de economia mista e empresas públicas (empresas estatais): a
modificação da a 2ª parte do inciso XXVII do artigo 22 da CF c/c art. 173, § 1º, III da
CF dá a entender que existe o intuito de adotar procedimento simplificado para as
entidades que tenham natureza empresarial. (exerçam atividade de natureza
econômica)
Ou seja, antes da lei 13.303/16, o dever de licitar para as Estatais que prestam
serviço público é pleno. Já para as que atuam na atividade econômica, a doutrina e
jurisprudência relativizavam esse dever, de sorte a não inviabilizar a atuação delas no
mercado. Essa mitigação do “dever de licitar”, basicamente significa(va) a observância dos
princípios aplicáveis à Administração Pública e inerente ao regime licitatório tradicional, em
relação às atividades meio, dispensando quantos às atividades finalísticas das empresas.
(...), para responder ao consulente que, enquanto não for editado o estatuto a que se
refere o art. 173, § 1°, da Constituição Federal, as empresas públicas, as sociedades
de economia mista e suas subsidiárias que explorem atividade econômica de
produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços devem observar os
ditames da Lei n° 8.666/1993 e de seus regulamentos próprios, podendo prescindir
da licitação para a contratação de bens e serviços que constituam sua atividade-fim,
nas hipóteses em que o referido Diploma Legal constitua óbice intransponível à sua
atividade negocial, sem olvidarem, contudo, da observância dos princípios aplicáveis
à Administração Pública, bem como daqueles insertos no referido Estatuto
Licitatório;
O STF também compartilha da mesma ideia - evitar comprometimentos da atividade
econômica exercida por essas empresas estatais, em regime de livre competição (MS
25.888/DF).
Nesse contexto, a Lei 13.303/16, O art. 28, § 3o trouxe as hipóteses em que não é exigida
a licitação:
Nesse contexto, tem-se que o art. 22, XXVII, da CF, ao estabelecer a competência da
União em legislar sobre licitações, orienta a observância do art. 173, §1º, III, da CF quanto a
sociedades de economia mista e empresas públicas.
No entanto, o STF já decidiu que o art. 173, da CF, não se aplica às empresas estatais
prestadoras de serviço público. Confiram:
Ademais, cotejem o que diz o art. 173, §1º, da CF com o art. 1º, da Lei 13.303/16:
Art. 1o Esta Lei dispõe sobre o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de
economia mista e de suas subsidiárias, abrangendo toda e qualquer empresa pública
e sociedade de economia mista da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios que explore atividade econômica de produção ou comercialização de bens
ou de prestação de serviços, ainda que a atividade econômica esteja sujeita ao
regime de monopólio da União ou seja de prestação de serviços públicos.”
OBS. A lei 13.303/16 não estabelece parâmetros para a celebração de convênio, pelo que
penso aplicável o art. 116, da Lei 8.666/93.
Então, deve-se: Aprovar o plano de trabalho proposto pela organização interessada, o qual
deverá conter basicamente: Identificação do objeto a ser executado; metas a atingir; plano
de aplicação dos recursos financeiros; cronograma de desembolso; prestação de contas a
verificar a adequada aplicação dos recursos.
RE 441.280/RS Rel. Min. Dias Toffoli. Desde 30/08/2011 para julgamento pelo
Tribunal Pleno. Trata da submissão da Petrobras ao disposto no art. 1º, p.u. da Lei 8.666/93,
diante da ausência da lei prevista no art. 173 da CF.
STF – decisões monocráticas: vem deferindo diversas liminares suspendendo decisão
do TCU determinando que as licitações da Petrobras se submetessem à referida Lei. (MS
27.837, 25.986, 26.783, 27.232, 27.743, MS n. 29.326/DF).
9.3.2 Empresas que prestam serviço público: aplicação das normas gerais do art. 22, XVII,
já que elas atuam sob o regime de direito público, da mesma forma que as autarquias e
fundações.
somente para EP e SEM que explorem atividades econômicas é que poderia haver
normas específicas de licitações e contratos, em vista do caráter econômico e
concorrencial de suas atividades.
SEM e EP:
Obs.1.: Dispensa - art. 24, VIII e XVI da Lei 8666/93: “VIII - para a aquisição, por pessoa
jurídica de direito público interno, de bens produzidos ou serviços prestados por órgão ou
entidade que integre a Administração Pública e que tenha sido criado para esse fim
específico em data anterior à vigência desta Lei, desde que o preço contratado seja
compatível com o praticado no mercado;”
Obs.2: Dispensa – art. 24, XXIII da Lei 8666/93: “XXIII - na contratação realizada por
empresa pública ou sociedade de economia mista com suas subsidiárias e controladas,
para a aquisição ou alienação de bens, prestação ou obtenção de serviços, desde que o preço
contratado seja compatível com o praticado no mercado.”
Súmula 265/2011 TCU: “A contratação de subsidiárias e controladas com fulcro no
art. 24, inciso XXIII, da Lei nº 8.666/93 somente é admitida nas hipóteses em que houver,
simultaneamente, compatibilidade com os preços de mercado e pertinência entre o serviço a
ser prestado ou os bens a serem alienados ou adquiridos e o objeto social das mencionadas
entidades.” ATENÇÃO: requisitos simultâneos.
Obs.: Insta esclarecer que muitos autores, inclusive Celso Antonio, consideram tais
exceções inconstitucionais, uma vez que foi a própria constituição que determinou a
Administração Publica o procedimento licitatório para as aquisições e outros.
OSCIP E OS:
- Dispensa: Art. 24, XXIV: “para a celebração de contratos de prestação de serviços com as
organizações sociais, qualificadas no âmbito das respectivas esferas de governo, para
atividades contempladas no contrato de gestão.”
Também para OSCIP’s (termo de parceria).
- Divergência entre o art. 11 do Decreto 6.170/2007 e o art. 1º, §§ 1º e 5º do Decreto
5.504/05 (pregão):
O Decreto 5.504 exige licitação para que tais entidades contratem com recursos oriundos de
repasse da União; já o Decreto 6.170 determina que “a aquisição de produtos e a
contratação de serviços com recursos da União transferidos a entidades privadas sem fins
lucrativos deverão observar os princípios da impessoalidade, moralidade e economicidade,
sendo necessária, no mínimo, a realização de cotação prévia de preços no mercado antes
da celebração do contrato”. MSZP entende que, embora a licitação possa ser realizada com
base no primeiro Decreto, ela está dispensada pelo teor do art. 11 do novo Decreto.
10.1.1 isonomia
Princípio fundamental da licitação. Iguais oportunidades a todos e o mesmo tratamento.
Violação à competição (prejudicar ou beneficiar alguém) = nulidade do procedimento
licitatório.
Algumas exceções:
Art. 3º, § 2º, Lei 8666/93. Critério de desempate: preferência para os bens: (i)
produzidos no pais; (ii) produzidos ou prestados por empresas brasileiras; (iii)
produzidos ou prestados por empresas que invistam em pesquisa e no
desenvolvimento de tecnologia no País.
Art. 3º, § 5º, Lei 8666/93. Margem de preferência: na licitação pode ser estabelecida
margem de preferência para produtos manufaturados e serviços nacionais que
atendam a normas técnicas brasileiras. Será definida pelo Poder Executivo Federal,
limitada a até 25% acima do preço dos produtos manufaturados e serviços
estrangeiros, com base em estudos periódicos que não ultrapassem 5 anos e levem
em consideração: 1. geração de emprego e renda; 2. efeito na arrecadação de
tributos federais, estaduais e municipais; 3. desenvolvimento e inovação tecnológica
realizados no País. 4. custo adicional dos produtos e serviços; 5. em suas revisões,
análise retrospectiva de resultados.
(i) Comprovação de regularidade fiscal das ME e EPP somente será exigida para
efeito de assinatura do contrato. Devem apresentar documentos, mesmo com
restrição,tendo 2 dias úteis para buscar regularização, do momento em que for
declarado vencedor, sob pena de decadência.
(iii) Cédula de Crédito Microempresarial: caso não receba seus direitos creditórios
de empenhos liquidados por U, E/DF e M, após 30 dias contados da data de
liquidação, poderão emitir cédula de crédito microempresarial título de crédito
regido, subsidiariamente, pela legislação prevista para as cédulas de crédito
comercial, tendo como lastro o empenho do poder público, cabendo ao Poder
Executivo e por regulamento.
I - admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação, cláusulas ou condições que
comprometam, restrinjam ou frustrem o seu caráter competitivo, inclusive nos casos de
sociedades cooperativas, e estabeleçam preferências ou distinções em razão da
naturalidade, da sede ou domicílio dos licitantes ou de qualquer outra circunstância
impertinente ou irrelevante para o específico objeto do contrato, ressalvado o disposto
nos §§ 5o a 12 deste artigo e no art. 3o da Lei no 8.248, de 23 de outubro de 1991;
(Redação dada pela Lei nº 12.349, de 2010)
II - estabelecer tratamento diferenciado de natureza comercial, legal, trabalhista,
previdenciária ou qualquer outra, entre empresas brasileiras e estrangeiras, inclusive no
que se refere a moeda, modalidade e local de pagamentos, mesmo quando envolvidos
financiamentos de agências internacionais, ressalvado o disposto no parágrafo seguinte
e no art. 3o da Lei no 8.248, de 23 de outubro de 1991.
10.1.2 publicidade
Divulgação obrigatória dos atos pela Administração exigência do Estado de Direito. Sinônimo
de transparência pública.
Licitação = procedimento público. Edital é forma de divulgação (só não há edital na
modalidade convite: carta-convite).
Sigilo na licitação, apenas quanto ao conteúdo das propostas, até o momento da abertura.
STF – Norma que impede nepotismo no serviço público NÃO alcança servidores de
provimento efetivo (Info 786)
10.1.4 impessoalidade
Art. 4º da Lei 8.666/93 estabelece que todos quantos participem da licitação têm direito
público subjetivo à fiel observância do procedimento legal – sendo assim, o licitante que se
sinta prejudicado ou lesado pode impugnar judicialmente o procedimento.
Força do Princípio: (i) papel do cidadão (participação popular): a lei prevê diversas formas
de o cidadão controlar a legalidade; (ii) ampliação das formas de controle interno e externo;
(iii) definição de comportamentos como crime, que antes eram apenas infrações
administrativas, eram absorvidos por outro crime ou pela lei de improbidade (art. 89 a 99 da
Lei 8666).
Aplicação em alguns casos concretos pela jurisprudência do STF: (RTJ 105/162) ficou
implícito o reconhecimento da ampla defesa na licitação, por ser ela um procedimento
administrativo; TRF (RDA 166/117) hipótese em que houve desclassificação de empresa
licitante, por falta de idoneidade técnica, sem assegurar o direito à ampla defesa. Base legal:
art. 5º, LV da CF art. 87 da Lei 8666 (para sanções administrativas).
STF – O princípio proíbe a aplicação de sanções às administrações atuais por atos de gestão
praticados por administrações anteriores.
Está previsto no caput do art. 41 da Lei 8.666/93: “Art. 41. A Administração não pode
descumprir as normas e condições do edital, ao qual se acha estritamente vinculada.”.
A proposta na licitação será julgada conforme o critério pré-estabelecido no edital (art. 45,
caput e §1º da Lei nº 8.666/93).
“Art. 45. O julgamento das propostas será objetivo, devendo a Comissão de licitação ou o
responsável pelo convite realizá-lo em conformidade com os tipos de licitação, os critérios
previamente estabelecidos no ato convocatório e de acordo com os fatores exclusivamente
nele referidos, de maneira a possibilitar sua aferição pelos licitantes e pelos órgãos de
controle.”
10.2.3 princípio da competitividade e indistinção:
A lei exige que as propostas permaneçam lacradas (sigilo) até o momento do seu julgamento
pela Comissão. É corolário da moralidade e da isonomia.
O licitante não poderá ofertar outras vantagens não contidas na sua proposta (art. 44, §2º,
da Lei).
Pressuposto lógico: existência de uma pluralidade de objetos (o objeto não pode ser
singular) e pluralidade de ofertantes.
Pressuposto jurídico: no caso concreto, a licitação deve ser o meio apto, ao menos em tese,
para a Administração acudir ao interesse que deve prover. Caso isso não seja possível,
haverá a dispensa e a inexigibilidade.
Pressuposto fático: existência de interessados em disputar a licitação.
PRESSUPOSTO LÓGICO – PLURALIDADE DE OBJETOS / OFERTANTES
PRESSUPOSTO JURÍDICO – INTERESSE PÚBLICO NA REALIZAÇÃO
PRESSUPOSTO FÁTICO – EXISTÊNCIA DE INTERESSADOS EM DISPUTAR A LICITAÇÃO
(MERCADO)
8.9 Dispensa e inexigibilidade de licitação
Possuem mesmo resultado prático: não ocorrência da licitação. Haverá contratação direta,
atendendo à possibilidade de exceção legal à regra, contida no art. 37, XXI, CF.
Art. 26. As dispensas previstas nos §§ 2o e 4o do art. 17 e no inciso III e seguintes do art. 24,
as situações de inexigibilidade referidas no art. 25, necessariamente justificadas, e o
retardamento previsto no final do parágrafo único do art. 8º desta Lei deverão ser
comunicados(para execução da obra), dentro de 3 (três) dias, à autoridade superior, para
ratificação e publicação na imprensa oficial, no prazo de 5 (cinco) dias, como condição para
a eficácia dos atos.
Pode-se extrair do caput que não será necessária fundamentação detalhada quando se
tratar de dispensa por questão de valor reduzido. (inciso I e II do art. 24)
- rol taxativo
- outras leis também poderão estabelecer hipóteses de dispensa, seguindo ditames da CF.
- Na dispensa de licitação a disputa é possível, porem o legislador, em determinados casos
expressos em lei e visando o interesse público, optou por não realizá-la.
Trata-se de algumas hipóteses que, pela sua particularidade, não se compatibilizam com o
rito e a demora do processo licitatório.
Casos:
Inciso I: obras e serviços de engenharia de valor até 10% (dez por cento) do limite
previsto na alínea "a", do inciso I (15.000 REAIS) do artigo anterior, desde que não se
refiram a parcelas de uma mesma obra ou serviço ou ainda para obras e serviços da
mesma natureza e no mesmo local que possam ser realizadas conjunta e
concomitantemente;
Inciso II: outros serviços e compras de valor até 10% (dez por cento) do limite
previsto na alínea "a", do inciso II (8.000 REAIS) do artigo anterior e para alienações,
nos casos previstos nesta Lei, desde que não se refiram a parcelas de um mesmo
serviço, compra ou alienação de maior vulto que possa ser realizada de uma só vez;
§ 1o Os percentuais referidos nos incisos I e II do caput deste artigo serão 20% (vinte
por cento) para compras, obras e serviços contratados por consórcios públicos,
sociedade de economia mista, empresa pública e por autarquia ou fundação
qualificadas, na forma da lei, como Agências Executivas
B – Situação excepcional
Cuidado: O objeto deve ser adstrito àquela situação específica. Traduz aplicação do
P. da Razoabilidade.
Para JSCF aplica-se somente à União, pois é a única que pode regular o mercado.
Para JSCF poderia ser realizada dispensa com base na situação de urgência.
C – Peculiaridade do objeto
Para alguns, não se aplica se for destinado a uso de terceiro. Ex: para fins de moradia. Para
JSCF, a lei não criou tal distinção.
XIX - para as compras de material de uso pelas Forças Armadas, com exceção de
materiais de uso pessoal e administrativo, quando houver necessidade de manter a
padronização requerida pela estrutura de apoio logístico dos meios navais, aéreos e
terrestres, mediante parecer de comissão instituída por decreto.
Para JSCF não foi razoável a inclusão de pessoas com fins lucrativos, pois trata-se de
favorecimento desmesurado a certo setor.
XXXI - nas contratações visando ao cumprimento do disposto nos arts. 3º, 4º, 5º e 20
da Lei no 10.973, de 2 de dezembro de 2004, observados os princípios gerais de
contratação dela constantes (Lei de Incentivos à Inovação e à Pesquisa Tecnológica
no Ambiente Produtivo). (Novidade: Lei 12.188/10).
Não incide a restrição da necessidade de ter sido criado antes da Lei de licitações.
VIII - para a aquisição, por pessoa jurídica de direito público interno, de bens
produzidos ou serviços prestados por órgão ou entidade que integre a
Administração Pública e que tenha sido criado para esse fim específico em data
anterior à vigência desta Lei, desde que o preço contratado seja compatível com o
praticado no mercado.
MSZP observa que a inclusão da contratação de “mão de obra” de que trata este
dispositivo é incompatível com o sistema constitucional brasileiro que exige
contratação por meio de concurso público para entes da administração direta e
indireta, ressalvada a hipótese de contratação temporária (art. 37, II e IX da CF).
Cabe ressaltar que a dispensa foi prevista somente para os casos de contratação
com o ente ao qual a entidade está vinculada. Não se aplicando a outras esferas da
federação.
MARÇAL JUSTEN FILHO, que exemplifica com o caso de sindicatos contratados para
educação de adultos, ou de fundações de pesquisa contratadas para realizar
concursos públicos, hipóteses de evidente impertinência .
32
Obs.: O contrato de gestão e os serviços dele resultantes também podem ensejar dispensa de licitação. José dos
Santos Carvalho Filho ressalta que tanto para firmar o contrato de gestão (qualificando-se juridicamente para contratar com a
Administração), quanto para prestar os serviços resultantes do contrato de gestão, a licitação é dispensável.
Marçal Justen Filho considera que deve haver critério na pactuação do contrato de gestão, não podendo submeter-
se exclusivamente à subjetividade do administrador qual a organização social a ser escolhida. Uma vez firmado,
contudo, é dispensável a licitação para os serviços por ela prestados.
Mesmo entendimento foi manifestado pela 1ª Turma do STJ, no REsp 952.899/DF, da Relatoria do Min. José Delgado,
publicado em junho de 2008: “A Lei n. 8.666/93 dispensa licitação para celebração de contratos de prestação de serviços com
as organizações sociais qualificadas no âmbito das respectivas esferas do governo, para atividades contempladas no contrato
de gestão. Portanto, tal dispensa está amparada no referido artigo da mencionada lei.” * Mesmo raciocínio se aplica aos
Termos de Parceria firmado com as OSCIP’s. O STF indeferiu liminar em 2007, na ADI 1.923/DF que questiona a
constitucionalidade de tal dispensa.
XXVI – na celebração de contrato de programa com ente da Federação ou com
entidade de sua administração indireta, para a prestação de serviços públicos de
forma associada nos termos do autorizado em contrato de consórcio público ou em
convênio de cooperação.
Art. 1º-A da Lei 8.958/94: relações entre instituições federais de ensino superior e
de pesquisa científica e tecnológica E fundações de apoio. Prevê a possibilidade de a
FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), o CNPQ (Centro Nacional de Pesquisa e
Desenvolvimento Tecnológico) e as Agências Financeiras Oficiais de Fomento
celebrarem convênios e contratos, com dispensa de licitação fundada no art. 24, XIII
da Lei 8.666/93, por prazo determinado, com fundações de apoio, com a finalidade
de dar apoio às IFES (Institutos Federais de Ensino Superior) e ICTs (Instituições
Científicas e Tecnológicas), inclusive na gestão administrativa e financeira de projetos
de ensino, pesquisa, extensão e desenvolvimento institucional, científico e
tecnológico.
(É novidade trazida pela Lei 12.349/10 e que não consta na Lei 8.666).
O bem pode ser singular em sentido absoluto, em razão do evento externo ou por força da
sua natureza intima.
Já o serviço singular são os que se revestem de determinadas características, quais sejam,
cientificas, técnicas ou artísticas.
Nos casos de concessão florestal e de concessão de energia elétrica foi vedada a adoção de
inexigibilidade.
Parece correta a observação de que a escolha de determinada marca só pode dar-se em três
hipóteses:
Nas hipóteses de exclusividade relativa, pode a Administração optar por licitar. (JSCF)
Obs.1: Serviço de natureza singular é o serviço único, fora do comum, tendo em vista a sua
complexidade e/ou importância.
CABM: a singularidade é relevante e um serviço deve ser havido como singular quando nele
tem de interferir, como requisito de satisfatório atendimento da necessidade administrativa,
um componente criativo de seu autor, envolvendo o estilo, o traço, a engenhosidade, a
especial habilidade, a contribuição intelectual, artística, ou a argúcia de quem o executa,
atributos, estes, que são precisamente os que a Administração reputa convenientes e
necessita para a satisfação do interesse público em causa.
Deste modo, se há dois, ou mais, altamente capacitados, mas com qualidades peculiares,
lícito é, à Administração, exercer seu critério discricionário para realizar a escolha mais
compatível com seus objetivos.
Obs.2: Notória especialização, conforme o §1º deste art. 25, pressupõe não apenas a
especialização, mas também o reconhecimento no seu meio profissional da sua capacidade,
comprovada através de estudos, desempenho anterior, currículo etc33. A redação deste
artigo quis reduzir a discricionariedade administrativa em sua apreciação, ao exigir critérios
de essencialidade e indiscutibilidade do trabalho como sendo o mais adequado à plena
satisfação do objeto – para ser válida a inexigibilidade, o trabalho deve estar nesta zona de
certeza.
JSCF afirma que é possível que haja mais de um no mercado.
33
§ 1o Considera-se de notória especialização o profissional ou empresa cujo conceito no campo de sua especialidade,
decorrente de desempenho anterior, estudos, experiências, publicações, organização, aparelhamento, equipe técnica, ou de
outros requisitos relacionados com suas atividades, permita inferir que o seu trabalho é essencial e indiscutivelmente o mais
adequado à plena satisfação do objeto do contrato.
§ 2oNa hipótese deste artigo e em qualquer dos casos de dispensa, se comprovado superfaturamento, respondem
solidariamente pelo dano causado à Fazenda Pública o fornecedor ou o prestador de serviços e o agente público
responsável, sem prejuízo de outras sanções legais cabíveis.
Atividades advocatícias não são consideradas pela jurisprudência como ensejadoras de
inexigibilidade.
Obs.3: Não cabe a inexigibilidade, neste caso, para serviços de publicidade e divulgação.
Observação: licitação deserta: A licitação deserta ocorre quando não comparece nenhum
licitante ao certame.
Art. 23 Concorrência
Tomada de Convite
Preços
Obras e Valores acima Acima de R$ De 0,00 até R$ 150.000,00
serviços de R$ 150.000,00 até OBS.: Até 10% desse valor
de 1.500.000,00 R$ 1.500.000,00 (15.000,00) a licitação será
engenhari dispensável. Este limite será
a dobrado (20%) para autarquias
ou fundações qualificadas como
Agências Executivas, EP, SEM e
Consórcios Públicos da lei
11.107.
Outros Para serviços Acima de R$ De 0,00 até R$ 80.000,00
serviços com valor 80.000,00 até R$ OBS.: Até 10% (8.000,00) desse
acima de R$ 650.00,00 valor a licitação será dispensável.
650.000,00 Este limite será dobrado (20%)
para autarquias ou fundações
qualificadas como Agências
Executivas, EP, SEM e Consórcios
Públicos da lei 11.107.
Consórcios acima de 3 (três) entes da Federação triplica (art. 23, §8° da Lei 8.666/93).
OBS 1. A Lei das Estatais elege o Pregão como modalidade preferencial (art. 32, IV).
OBS 2. Lembrar que o Decreto 5450/05, que regula o pregão no âmbito federal,
estabelece a preferência eletrônica (sobre a presencial) no processamento do pregão –
inclusive para as estatais.
OBS 3. A lei 13.303/16 não especifica nenhuma modalidade de licitação, apenas o modo
de proceder.
13.1 Concorrência:
13. 1.1 Contratações de maior vulto ou valor (limites fixados por lei federal: acima de
R$1.500.000,00 e maior para Consórcios – vide tabela).
Art. 42. Nas concorrências de âmbito internacional, o edital deverá ajustar-se às diretrizes
da política monetária e do comércio exterior e atender às exigências dos órgãos
competentes.
§ 1o Quando for permitido ao licitante estrangeiro cotar preço em moeda estrangeira,
igualmente o poderá fazer o licitante brasileiro.
§ 2o O pagamento feito ao licitante brasileiro eventualmente contratado em virtude da
licitação de que trata o parágrafo anterior será efetuado em moeda brasileira, à taxa de
câmbio vigente no dia útil imediatamente anterior à data do efetivo pagamento.
§ 3o As garantias de pagamento ao licitante brasileiro serão equivalentes àquelas
oferecidas ao licitante estrangeiro.
§ 4o Para fins de julgamento da licitação, as propostas apresentadas por licitantes
estrangeiros serão acrescidas dos gravames conseqüentes dos mesmos tributos que oneram
exclusivamente os licitantes brasileiros quanto à operação final de venda.
§ 5o Para a realização de obras, prestação de serviços ou aquisição de bens com recursos
provenientes de financiamento ou doação oriundos de agência oficial de cooperação
estrangeira ou organismo financeiro multilateral de que o Brasil seja parte, poderão ser
admitidas, na respectiva licitação, as condições decorrentes de acordos, protocolos,
convenções ou tratados internacionais aprovados pelo Congresso Nacional, bem como as
normas e procedimentos daquelas entidades, inclusive quanto ao critério de seleção da
proposta mais vantajosa para a administração, o qual poderá contemplar, além do preço,
outros fatores de avaliação, desde que por elas exigidos para a obtenção do financiamento
ou da doação, e que também não conflitem com o princípio do julgamento objetivo e sejam
objeto de despacho motivado do órgão executor do contrato, despacho esse ratificado pela
autoridade imediatamente superior.
§ 6o As cotações de todos os licitantes serão para entrega no mesmo local de destino.
As empresas estrangeiras podem participar do certame licitatório desde que observadas
regras peculiares: (i) respeito ao princípio da isonomia; (ii) todas as propostas devem
consignar preços na mesma moeda; (iii) nas propostas deve constar o gravame tributário a
ser acrescido sempre que a carga tributária às empresas nacionais for superior; (iv) haja
observância às diretrizes do BACEN e do MF; (v) Sempre que o objeto do contrato incidir
sobre operações externas de interesse da União, Estados, DF, territórios ou Municípios, que
conste com autorização do Senado, ouvido o Presidente da República.
E quem não estiver cadastrado? Podem participar da tomada de preços aqueles que
preencherem os requisitos para o cadastramento até o 3º dia anterior. O licitante deve
provar para a Administração que preenche os requisitos através de um requerimento a ser
entregue. Assim, tem que entregar até o 3º dia, e se a Administração não decidir, pode
participar normalmente, até que a administração decida.
Art. 34. Para os fins desta Lei, os órgãos e entidades da Administração Pública que realizem
freqüentemente licitações manterão registros cadastrais para efeito de habilitação, na
forma regulamentar, válidos por, no máximo, um ano.
§ 1o O registro cadastral deverá ser amplamente divulgado e deverá estar
permanentemente aberto aos interessados, obrigando-se a unidade por ele responsável a
proceder, no mínimo anualmente, através da imprensa oficial e de jornal diário, a
chamamento público para a atualização dos registros existentes e para o ingresso de novos
interessados.
§ 2o É facultado às unidades administrativas utilizarem-se de registros cadastrais de outros
órgãos ou entidades da Administração Pública.
Art. 35. Ao requerer inscrição no cadastro, ou atualização deste, a qualquer tempo, o
interessado fornecerá os elementos necessários à satisfação das exigências do art. 27 desta
Lei.
Art. 36. Os inscritos serão classificados por categorias, tendo-se em vista sua especialização,
subdivididas em grupos, segundo a qualificação técnica e econômica avaliada pelos
elementos constantes da documentação relacionada nos arts. 30 e 31 desta Lei.
§ 1o Aos inscritos será fornecido certificado, renovável sempre que atualizarem o registro.
§ 2o A atuação do licitante no cumprimento de obrigações assumidas será anotada no
respectivo registro cadastral.
Art. 37. A qualquer tempo poderá ser alterado, suspenso ou cancelado o registro do inscrito
que deixar de satisfazer as exigências do art. 27 desta Lei, ou as estabelecidas para
classificação cadastral.
13.2.4 Intervalo mínimo: na tomada de preços (entre a publicação do edital e entrega dos
envelopes) – em dias corridos:
30 dias se for técnica ou técnica + preços
15 dias se for preço
13.3 Convite
Não há edital .
Para JSCF poderia realizar escolha com apenas um contratar diretamente, na hipótese de
apenas um interessado comparecer. (direito subjetivo dos que compareceram)
OBS.: De acordo com o TCU, para que a licitação prossiga é necessário que haja ao menos
três propostas válidas, entretanto, o entendimento doutrinário majoritário é no sentido de
que basta o convite a ao menos 03 interessados, não havendo exigência de 03 propostas
para o prosseguimento regular da licitação.
A exigência da modalidade legal convite não impede que o Administrador a substitua por
tomada de preços ou concorrência.
13.3.4 Intervalo mínimo no convite: 05 dias úteis. Aqui a lei, pela primeira vez, fala em dia
útil.
Enquanto houver mais de três interessados, não podem ser sempre os mesmos. É
obrigatório convocar interessado, ainda que não cadastrados.
É indiferente que se substitua ou apenas acrescente mais um aos anteriores. (JSCF)
13. 4 Concurso
O prêmio ou remuneração só podem ser pagos aos autores se estes cederem os direitos
autorais à Administração. Assim também, dados, documentos e informações tecnológicas
sobre a obra.
- pode ser formada por qualquer pessoa idônea e com conhecimento na área.
OBS.: Não confundir com concurso público, que tem a função de provimento de cargos,
enquanto o concurso da Lei 8666 tem como contrapartida um prêmio, e não um cargo.
OBS.2: Não tem procedimento previsto na Lei 8666/93, mas em regulamento próprio, de
forma que cada concurso terá seu regulamento.
13.4.1 Intervalo mínimo: 45 dias corridos (entre o edital até o recebimento das propostas).
13.5 Leilão
Obs. 1: O art. 19 trata dos bens imóveis da administração, cuja aquisição haja derivado de
procedimentos judiciais ou de dação em pagamento. Nestes casos, requisitos: (i) avaliação
dos bens alienáveis; (ii) comprovação da necessidade ou utilidade da alienação; (iii) adoção
do procedimento licitatório, sob a modalidade de concorrência ou leilão.
Exemplos: (i) objetos de crimes, (ii) bens confiscados pela Receita Federal, como os
provenientes de descaminho, (iii) bens penhorados, os quais são leiloados em hasta pública.
Só que o juiz, na prática, faz o leilão nos termos do CPC; e não da Lei 8.666. Daí que se
conclui que o legislador quis dizer bens empenhados, e não penhorados (pois estes já
tinham previsão no CPC).
OBS. 2: o art. 17, §6º da Lei 8666/93, prevê a possibilidade de alienação de outros bens
móveis até o limite de R$ 650.000,00, através de leilão.
OBS. 3: O leilão é feito por leiloeiro oficial, que poderá ser contratado por concurso desde
que seja criado o referido cargo, entretanto, como ainda não existe esse “cargo”, o que
ocorre na prática é sua designação por nomeação.
OBS. 4: O procedimento do leilão não está previsto na lei 8666/93, seguindo a praxe
administrativa.
13.6 Pregão
Modalidade de licitação instituída para as Agências Reguladoras pela Lei 9472/97; em 2000
foi introduzido para a União (MP 2026/00). Pela Lei 10.520/02 (conversão da MP 2182-01)
foi instituída para União, Estados, Distrito Federal e Municípios, nos termos do art. 37, inciso
XXI, da CF.
13.7 Consulta
Modalidade prevista apenas para agências reguladoras (Lei 9.472/97 Lei Geral das
Telecomunicações – criou Anatel; e Lei 9.986/2000 para demais agências reguladoras
federais )
A lei estabelece que é modalidade de licitação adequada à contratação de bens e
serviços não classificados como comuns e que não sejam obras de engenharia civil.
Art. 55 Lei 9.472/97: estabelece que a consulta e o pregão serão disciplinados pela
Agência, observadas as disposições da referida lei. Anatel disciplinou pela Resolução
05/98. Crítica quanto à constitucionalidade, pois entidade administrativa é que
disciplina modalidade de licitação (Marcelo Alexandrino, p. 608).
Art. 15, Resolução 05/98 Anatel: “Consulta é a modalidade de licitação em que ao
menos cinco pessoas, físicas ou jurídicas, de elevada qualificação, serão chamadas
a apresentar propostas para o fornecimento de bens e serviços não comuns.” Bens
e serviços não comuns: aqueles com diferenças de desempenho e qualidade
insuscetíveis de comparação direta, ou tenha características individualizadoras
relevantes ao objeto da contratação.”
Base legal: art. 15, II da Lei 8666/93 e Decreto 7.892/2013 (esfera federal)
Sistema de Registro de Preços é o meio apto a viabilizar diversas contratações de
compras, concomitantes ou sucessivas, sem a realização de um específico
procedimento licitatório previamente para cada uma delas, por um ou mais órgãos
da Administração.
- Usado para compras freqüentes de determinados bens ou serviços quando não é
conhecida a quantidade que será necessário comprar ou com previsão de entregas
parceladas, etc – isto torna mais ágeis as contratações e evita a formação de estoques,
além de proporcionar transparência quanto aos bens e serviços freqüentemente
contratados (qualquer cidadão tem legitimidade para impugnar preço constante na
tabela geral, se incompatíveis com o mercado – art. 15, § 6º)
- Definição no Decreto: SRP é o “conjunto de procedimentos para registro formal de
preços relativos á prestação de serviços e aquisição de bens, para contratações futuras
Procedimento: o órgão promove uma licitação para elaborar um cadastro de
potenciais fornecedores, no qual ficará especificado o bem, o preço e as quantidades que
cada fornecedor tem possibilidade de entregar quando solicitado, nas condições
estipuladas no edital de licitações.
- Tal licitação deve ser na modalidade “concorrência” (art. 15, § 3º, I), mas pode ser
também utilizado a modalidade “pregão” para bens e serviços comuns (art. 11, Lei
10.520).
- Decreto exige utilização do tipo “menor preço” e, excepcionalmente “técnica e preço”,
a critério do órgão gerenciador e mediante despacho fundamentado da sua autoridade
máxima. Para pregão, sempre “menor preço”. (art. 7°, caput c/c §1° do Decreto
7.892/13)
- Órgão gerenciador: se mais de uma unidade administrativa pretende comprar usando o
mesmo registro de preços, um determinado órgão é o encarregado de realizar a
licitação, formar o cadastro, gerir o sistema, etc. (órgão gerenciador).
Ao final, os potenciais fornecedores ficam indicados na denominada “Ata de Registro de
Preços”: “documento vinculativo, obrigacional, com característica de compromisso para
futuras contratações, onde se registram os preços, fornecedores, órgãos participantes e
condições a serem praticadas, conforme disposição contidas no instrumento
convocatório e propostas apresentadas”, definição do Decreto.
Contratação: dentro de determinado prazo (não superior a 12 meses) a
administração tem a faculdade de solicitar os préstimos dos fornecedores
registrados, na ordem de classificação e nas condições pré-fixadas no edital.
- Faculdade da Administração: mesmo os órgãos e entidades que participaram da
licitação desde o começo do certamente tem a faculdade de realizar nova licitação
específica para aquela compra (art. 15, § 4º). Entretanto, é assegurado ao fornecedor
que integre a mesma ata a preferência de fornecimento, em igualdade de condições. Ex.:
se o órgão “X” fez licitação específica e consegue o bem por R$ 100,00 e existe um
fornecedor em idênticas condições, preços, etc. na Ata de Registro de Preços, deve ser
dada preferência a ele (art. 7º do Decreto).
Publicidade: o preço e os fornecedores constantes da ata são publicados na
imprensa oficial da administração federal. O SRP ficará disponível tanto para os
órgãos que participaram do certame quanto para qualquer outro órgão (mesmo
não tenha participado do certame), que poderá utilizá-lo mediante prévia
consulta ao órgão gerenciador daquele SRP, desde que devidamente comprovada
a vantagem (art. 8º do Decreto).
Exigências de Fornecimento: ao preço do primeiro colocado poderão ser
registrados tantos fornecedores quantos necessários para, em função das
propostas apresentadas, atingir a quantidade total estimada para um item ou
lote. O preço registrado será publicado na imprensa oficial, durante a vigência da
ata de registro de preços e, quando das contratações, deverá ser respeitada a
ordem de classificação constante da ata. (art. 6º do Decreto).
Acréscimos: É vedado efetuar acréscimos nos quantitativos fixados pela ata de
registro de preços, inclusive o acréscimo de que trata o § 1º do art. 65 da Lei
nº 8.666, de 1993. (art. 12, §1° do Decreto 7.892/13).
Fase Externa:
Publicação (edital)
Habilitação
Classificação (julgamento)
Homologação
Adjudicação
14.1 Detalhamentos:
14.1.1 Obrigatoriedade de Audiência Pública Prévia à publicação do edital (15 dias antes)
nas licitações de valores mais elevados (superiores a R$ 150.000.000,00); considerando tal
valor, só ocorrerá na modalidade concorrência. Este valor considera uma licitação OU o
conjunto de licitações sucessivas (objeto similar e o edital da segunda sejam publicado
antes de 120 dias após o término do contrato resultante da primeira licitação) ou
simultâneas (objeto similar e realização prevista para intervalos não superiores a 30 dias).
14.1.2 Edital:
Obs.1: A impugnação NÃO terá efeito suspensivo, já que não tem natureza de recurso.
Licitante não pode ser excluído do certame até julgamento da impugação.
Ainda que o prazo para impugnação tenha escoado, pode a Administração exercer a
autotutela e anular seu edital.
A Lei federal nº 8.666/93 autoriza o controle prévio quando houver solicitação do Tribunal
de Contas para a remessa de cópia do edital de licitação já publicado.
Obs.2: Caso o edital venha a sofrer qualquer modificação, deverá ser republicado
(aditamento – art. 21, § 4º), reabrindo-se o prazo inicialmente estabelecido para
apresentação das propostas.
Vícios no edital:
1°) Indicação defeituosa do objeto ou delimitação incorreta do universo das propostas; 2°)
Impropriedade na delimitação do universo dos proponentes; 3°) Caráter aleatório ou
discriminatório dos critérios de avaliação do preponentes e propostas; 4°)
Estabelecimentos de tramites processuais carecedores da liberdade de fiscalizar a lisura do
procedimento.
Se houver modificação superveniente do edital, a Administração tem duas obrigações:
1 . divulgar a modificação pela mesma forma em que se deu o texto original; e
2. reabrir o prazo estabelecido no início, salvo quando a alteração não afetar a formulação
da proposta.
14.1.3 Recebimento dos envelopes: para participar da licitação, o licitante não necessita
estar presente, não havendo ainda modo formal para entrega dos envelopes, bastando que
cheguem enquanto a Comissão ainda esteja recebendo os envelopes, ou seja, que a
licitação ainda esteja na fase de recebimento dos envelopes. Serão entregues 02 ou 03
envelopes, nunca apenas 01.
Art. 45. O julgamento das propostas será objetivo, devendo a Comissão de licitação ou o
responsável pelo convite realizá-lo em conformidade com os tipos de licitação, os critérios
previamente estabelecidos no ato convocatório e de acordo com os fatores exclusivamente
nele referidos, de maneira a possibilitar sua aferição pelos licitantes e pelos órgãos de
controle.
Após aplicação de tais critérios, deverá ser realizado o sorteio – Art. 45, §2º
Art. 45 § 2o No caso de empate entre duas ou mais propostas, e após obedecido o disposto
no § 2o do art. 3o desta Lei, a classificação se fará, obrigatoriamente, por sorteio, em ato
público, para o qual todos os licitantes serão convocados, vedado qualquer outro processo
Tipos de Classificação:
Para serem julgadas as propostas devem ser sérias, firmes (feita sem reservas) e
concretas (sem estabelecer remissões a oferta de terceiros), bem como ajustadas as
condições do edital.
O vencedor não adquire direito à contratação, mas apenas a não ser preterido. (art.
50) Direito subjetivo à preferência.
Após a homologação, JSCF defende que nasce o direito subjetivo ao contrato, pois se
a autoridade superior homologou o resultando (não invalidou, revogou ou deferiu
diligências) significa que há interesse na contratação.
-> Controvérsia sobre quando apenas um interessado comparece. Para uma corrente,
deveria haver mínimo dois participantes, haja vista caráter competitivo. Para JSCF há
direito subjetivo de ver o procedimento ser realizado por aquele que compareceu.
Vícios da classificação:
14.1.6 Homologação:
-> Não confundir com celebração de contrato: adjudicação é apenas garantia de que
quando a Administração for celebrar contrato relativo ao objeto da licitação, o faça com o
vencedor – não pode haver celebração de contrato com preterição do vencedor
(expectativa de direito à celebração do contrato).
-> Antes da Lei 8.666/93 acreditava-se que a adjudicação pertencia ao procedimento, uma
vez que era atribuída pela comissão. Atualmente, não integra o procedimento e é
posterior à homologação.
-> Para JSCF adjudicação é ato vinculado após a homologação. Caso homologado e não
adjudicado, para JSCF, nasce responsabilidade contratual da Administração.
8.11 Pregão
Art. 1º Para aquisição de bens e serviços comuns, poderá ser adotada a licitação na
modalidade de pregão, que será regida por esta Lei.
Parágrafo único. Consideram-se bens e serviços comuns, para os fins e efeitos deste
artigo, aqueles cujos padrões de desempenho e qualidade possam ser objetivamente
definidos pelo edital, por meio de especificações usuais no mercado.
Fase Externa:
Convocação: Publicação de aviso na imprensa oficial do ente. Não havendo, pode
ser em jornal de grande circulação local.
Há publicação de edital.
Prazo para apresentação das propostas escritas é, no mínimo, 8 dias úteis.
Prazo de validade da proposta é de até 60 dias, salvo previsão do edital.
Prazo para impugnação do edital é de até 2 dias úteis antes da data designada
para recebimento das propostas. Pregoeiro decide em 24h.
Sessão: Pública.
Conhecidas as propostas, a de menor valor e aquelas que excederem 10% farão lances
verbais até que seja proclamada a melhor proposta. Apenas após a proclamação do
vencedor, sempre pelo critério do menor preço, é que o leiloeiro abrirá o envelope os
documentos de habilitação do licitante, que deve atender às condições do edital.
Após a escolha, pode o pregoeiro negociar o preço para obter valor mais vantajoso ainda.
OBS: LC 123/06 previu que, ao final, deve-se permitir a ME/EPP a mais bem classificada (até
5% a mais do valor do vencedor) oferecer lance verbal em até 5 min. Sendo igual ou menor,
vence à ME/EPP.
Escolhida a melhor proposta, apenas a vencedora passará à fase de habilitação, sendo que
neste momento abre-se a oportunidade de recurso, que deverá ser feito imediatamente, e
suas razões poderão ser apresentadas no prazo de três dias.
- Art. 4º, XXII da Lei 10.520/02: “o adjudicatário será convocado para assinar o contrato no
prazo definido em edital” ; em vista desta redação, afirma-se que, no caso de pregão, existe
direito subjetivo do adjudicatário na celebração do contrato, o que não acontece no âmbito
da Lei 8666 (a celebração do contrato é discricionariedade da administração).
-
No pregão é vedada a exigência de: (i) garantia de proposta; (ii) aquisição de edital pelos
licitantes como condição de participação do certame; (iii) pagamento de taxas e
emolumentos, salvo cópia reprográfica do edital e custos de utilização de recursos de
tecnologia, quando for o caso.
-
A inversão da ordem nas fases de habilitação e julgamento está autorizada também para:
(i) contratos que precedam Parcerias Público Privadas; (ii) contratos que precedam
concessão se serviços públicos. Nestes dois casos, a inversão de fases é faculdade da
administração (decisão discricionária), devendo a decisão estar prevista no edital.
B) Adjudicação e homologação.
C) Vedações
D) Infrações
As sanções são diversas: impedimento de contratar com administração por até 5 anos,
descredenciamento do SICAF.
E) Desfazimento:
Tanto a anulação quanto à revogação foram previstas apenas no Decreto 3.555 (pregão
eletrônico federal). No entanto, ante a aplicação subsidiária da lei 8.666/93, incidem
àquelas as mesmas regras desta.
Anulação –caso de ilegalidade; efeitos ex tunc (não podem decorrer do ato efeitos válidos,
mantendo-se apenas os efeitos já produzidos perante terceiros de boa-fe que possam ser
prejudicados pela invalidação do ato);
Administração e PJ.
Ocorrendo ilegalidade na prática de algum ato do procedimento todo, este ato deve
ser anulado, implicando na nulidade de todas as etapas dependentes posteriores;
O despacho deve ser fundamentado e circunstanciado;
A autoridade competente pode anular de ofício ou por provocação de terceiros;
A anulação do procedimento licitatório por motivo de ilegalidade NÃO gera
obrigação de indenizar (art. 49, § 1º).(JSCF)
A anulação de contrato gera o dever de indenizar o contratado até a data em que
foi declarada e por outros prejuízos comprovados, contrato que a causa da nulidade
não seja imputável ao contratado, promovendo-se a responsabilidade de quem deu
causa à nulidade (art. 50, p. único).
HLM: “diversamente do que ocorre com a anulação, que pode ser total ou parcial, não é
possível a revogação de um simples ato do procedimento licitatório, como o julgamento,
por exemplo. Ocorrendo motivo de interesse público que desaconselhe a contratação do
objeto da licitação, é todo o procedimento que se revoga.”
Não se pode falar em revogação da licitação após a assinatura do contrato.
Diferentemente, a anulação da licitação pode ser feita mesmo depois do contrato
assinado, já que tal vício de ilegalidade implica nulidade do contrato decorrente.
Em qualquer hipótese de desfazimento de licitação (revogação ou anulação) é
assegurado o contraditório e a ampla defesa (art. 49, § 3º).
Ambos os casos (revogação e anulação) cabe recurso administrativo em cinco dias
úteis a contar da intimação do ato.
Recursos administrativos
OBS: Para que a Comissão possa decidir na mesma sessão sobre habilitação e julgamento,
necessário que os licitantes renunciem direito de recorrer, tendo em visto seu efeito
suspensivo ope legis.
A utilização do critério de desempate, segundo JSCF, dispensa previsão em edital, uma vez
que se trata de critério legal. Se o empate ocorrer entre duas ME/EPP, tal critério não
poderá ser utilizado.
As ME/EPP que apresentarem propostas iguais ou superiores em até 10% das demais (5% no
pregão) consideram-se presumidamente empatadas. Permite-se à ME/EPP oferecer
proposta igual ou inferior à empresa comum. Acaso assim proceda, considera-se vencedora.
Caso não ofereça nova proposta, podem as outras ME/EPP oferecer em seu lugar.
Sendo a vencedora ME/EPP já pode haver a contratação direta, pois as demais EPP/ME não
se considerarão empatadas presumidas;
A LC 123/2006 não indicou a forma como se daria as novas propostas. JSCF sustenta que
devem ser imeditas e orais.
No caso do pregão a lei 10.520 previu as novas propostas em 5 min de forma oral.
1 INTRODUÇÃO
No exercício da função administrativa, o Poder Público estabelece diversas relações
jurídicas com particulares, além de criar vínculos especiais de colaboração
intergovernamental. Sempre que tais conexões subjetivas tiverem natureza contratual e
forem submetidas aos princípios e normas do Direito Administrativo, estaremos diante de
contratos administrativos.
2 CONTRATOS DA ADMINISTRAÇÃO
2.1 Contratos Administrativos Atípicos ou Contratos de Direito Privado da Administração
Para a maioria dos doutrinadores, nem todo contrato celebrado pelo Poder Público tem
natureza de contrato administrativo, preferindo-se a terminologia contratos da
Administração. Essa expressão, em sentido amplo, visa alcançar todos os ajustes bilaterais
firmados pela Administração, correspondendo a um gênero. Entretanto, quando esses
contratos são regidos pelo direito privado, denominam-se “contratos da Administração” e,
quando regidos pelo direito público, recebem o nome de “contratos administrativos”.
Exemplo: contrato de locação celebrado pela Administração para a instalação de uma
repartição pública.
Em nosso direito compete a União estabelecer normas gerais sobre contratação, de acordo
com o art. 22, XXVII da CF.
É um ato jurídico bilateral, um vínculo jurídico que dará origem a uma prestação e a uma
contraprestação criando, modificando ou extinguindo direitos (comutativo), sujeito ao
regime público, tendo, necessariamente, participação da Administração direta ou indireta,
e um terceiro, ou só entes da Administração Pública, por imposição de lei, cláusulas
pactuadas, na qual o terceiro sujeita a imposições determinadas pela pessoa jurídica de
direito público, denominadas de cláusulas exorbitantes.
Contrato Administrativo
(sentido amplo)
Contratos administrativos
Acordos de vontade da Administração Contratos de direito privado
(sentido estrito)
a)consórcios públicos;
b) convênios públicos;
d) TAC
4. CLASSIFICAÇÃO
- Típicos: administração atua na qualidade de poder público – prevalece o interesse público
de forma direta e imediata, vigorando suas prerrogativas (cláusulas exorbitantes).
- Atípicos: regidos por normas de direito privado já que há concorrência entre o interesse
público e privado, ou mesmo este predomina sobre aquele. Atualmente, tendo em vista
que a Lei 8666/93 estendeu aos contratos atípicos a aplicação das prerrogativas da
Administração, a relevância da distinção foi mitigada.
5. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
Os contratos administrativos são negócios jurídicos que exigem a participação do Poder
Público, buscando a proteção de um interesse coletivo, o que justifica a aplicação do
regime jurídico e um tratamento diferenciado para a Administração. Além desses aspectos,
são características desses contratos:
IV. O crédito pelo qual correrá a despesa, com a indicação da classificação funcional
programática e a da categoria econômica;
34
“Art. 58. O regime jurídico dos contratos administrativos instituído por esta Lei confere à Administração, em relação a eles, a
prerrogativa de:
I - modificá-los, unilateralmente, para melhor adequação às finalidades de interesse público, respeitados os direitos do
contratado;
II - rescindi-los, unilateralmente, nos casos especificados no inciso I do art. 79 desta Lei;
São aquelas que extrapolam, excedem e ultrapassam o padrão comum dos contratos em
geral, a fim de consignar uma vantagem para a Administração Pública. Referem-se a certas
prerrogativas da Administração que a deixa em situação de superioridade em relação ao
particular contratado. Se estas cláusulas estivessem previstas em um contrato regido pelo
direito privado, seriam cláusulas abusivas, ilícitas e, portanto, não lidas. Legitima à
Administração a possibilidade de:
Alteração bilateral
Teoria da Imprevisão
2. reajuste (tem lugar quando sofrem variação os custos da produção dos bens ou da
prestação dos serviços):
É uma fôrmula concebida para preservar o conteúdo econômico financeiro do ajuste. No
reajuste, a alteração ocorre sobre o próprio custo da prestação continuada, aumentando-se
o valor de pagamento. Essa alteração é em decorrência da inflação – é alteração
programada;
3. revisão ou recomposição de preços: Ocorre quando o equilíbrio econômico-financeiro é
rompido por um fato superveniente à celebração do contrato, de natureza imprevisível, ou
previsível mas de conseqüências incalculáveis e visa seu restabelecimento. Dá-se através de
termo de aditamento de contrato, na exata proporção do desequilíbrio comprovado
documentalmente pela contratada. (art. 65, II, “d” da Lei 8.666/93). Feito por acordo das
partes. É a alteração que decorre da teoria da imprevisão.
Pressupostos necessários para revisão:
a) elevação dos encargos do particular;
b) ocorrência de evento posterior à formulação da proposta;
c) existência vínculo de causalidade entre o evento ocorrido e a majoração dos encargos do
contratado
d) inexistência de culpa do contratado pela majoração dos seus encargos (o que inclui a
previsibilidade da ocorrência do evento), deve ser garantida a recomposição do equilíbrio
econômico-financeiro do contrato administrativo.
A Revisão não se constitui em mera faculdade da Administração, porque inexiste
discricionariedade. Trata-se de um dever do Poder Público.
Muitos fatores podem justificar a aplicação da recomposição dos preços, entre eles:
modificação unilateral do projeto ou suas especificações (art. 65, I, a da LL), bem como
modificações por acordo das partes (bilateral) e outras como a teoria da imprevisão, fato do
príncipe e sujeições imprevistas.
1. Inadimplemento com culpa (incisos I a VIII e XVIII, art. 78): abrangendo hipóteses como
o não cumprimento ou cumprimento irregular das cláusulas contratuais, lentidão, atraso
injustificado, paralisação, subcontratação total ou parcial, cessão, transferência (salvo as
permitidas no edital/contrato), desatendimento de determinações regulares da autoridade
que acompanha e fiscaliza a execução, cometimento reiterado de faltas, descumprimento
do artigo 7º, XXXIII da CF (trabalho de menor*).
2. Inadimplemento sem culpa (incisos IX a XI, art. 78): situações que caracterizem
desaparecimento do sujeito, sua insolvência ou comprometimento da execução do
contrato – falência, concordata (recuperação judicial – a lei não foi alterada), instauração
de insolvência civil, dissolução da sociedade, falecimento do contratado, alteração social ou
modificação da finalidade ou estrutura da empresa que prejudique a execução do contrato;
em caso de concordata (recuperação), é permitido à Administração manter o contrato,
assumindo o controle de determinadas atividades necessárias à sua execução (art. 80, §
2º).
Nestas duas primeiras hipóteses a Administração nada deve ao contratado, já que a
rescisão se deu por atos a ele atribuídos – descumprimento contratual; o contratado é que
fica sujeito às conseqüências do inadimplemento; se ele for culposo, cabem ressarcimento
dos prejuízos, as sanções administrativas, assunção do objeto pela administração e perda
da garantia.
3. Razões de Interesse Público (inciso XII, art. 78)
Nestes dois últimos casos a Administração fica obrigada a ressarcir o contratado dos
prejuízos regularmente comprovados e, ainda, a devolver a garantia, pagas as prestações
devidas até a data da rescisão e o custo da desmobilização; excluídos os lucros cessantes.
*Crítica da Maria Sylvia di Pietro: o artigo 79, § 2º prevê ressarcimento dos prejuízos
em caso de “razões de interesse público” e “caso fortuito e força maior”
contrariando a teoria geral do direito em se tratando de caso fortuito ou força maior
– eventos ou fatos imprevisíveis e não imputáveis a nenhuma das partes – que não
obrigariam a Administração a indenizar; mas o artigo está em vigor e deve ser
aplicado.
Celso Antônio Bandeira de Melo defende que a aplicação das penalidades de suspensão e
declaração de idoneidade só podem ser aplicadas nos atos tipificados, na lei, como crime.
Direito de Defesa
- Regra Geral: 5 dias úteis.
- Declaração de Inidoneidade: 10 dias da abertura de vista.
Defesa Cabível
- Recurso: das penas de advertência, multa e suspensão temporária. Dirigido à
autoridade superior, por intermédio daquela que aplicou a penalidade que tem 5 dias úteis
para reconsiderar sua decisão ou encaminhar para o superior no mesmo prazo. Poderá a
autoridade administrativa conferir efeito suspensivo a este recurso;
- Pedido de Reconsideração: da pena de declaração de inidoneidade. Dirigido
àquele que aplicou a pena.
V. Anulação
Súmula 473 STF: “A ADMINISTRAÇÃO PODE ANULAR SEUS PRÓPRIOS ATOS, QUANDO
EIVADOS DE VÍCIOS QUE OS TORNAM ILEGAIS, PORQUE DELES NÃO SE ORIGINAM
DIREITOS; OU REVOGÁ-LOS, POR MOTIVO DE CONVENIÊNCIA OU OPORTUNIDADE,
RESPEITADOS OS DIREITOS ADQUIRIDOS, E RESSALVADA, EM TODOS OS CASOS, A
APRECIAÇÃO JUDICIAL.”
VII. Restrição ao uso da Cláusula “exceptio non adimpleti contractus” (art. 78, XV)
Alguns doutrinadores defendem a ideia de que nos contratos administrativos não
haja a aplicação da cláusula exceção do contrato não cumprido. Essa cláusula estabelece
que uma parte não poderá exigir o cumprimento da obrigação contratual da outra, se ela
estiver inadimplente, ou seja, se não cumpriu sua parte na obrigação contratual. A ausência
dessa cláusula representa, para essa corrente, uma cláusula exorbitante;
Entretanto, para a doutrina moderna, assim como nos contratos privados, aos
contratos administrativos também deve ser aplicada a cláusula da exceção do contrato não
cumprido, todavia sua aplicação ocorre de forma diferenciada.
Tal orientação decorre da aplicação do art. 78, XV, da Lei 8.666/93, que dispõe que
o atraso nos pagamentos devidos pela Administração, decorrentes de obras/serviços já
recebidos ou executados, salvo caso de calamidade pública, grave perturbação da ordem
interna ou guerra, o contratado tem direito de optar pela suspensão do cumprimento de
suas obrigações até que seja normalizada a situação. Sendo assim, durante o prazo de 90
dias, ainda que a Administração não pague, o contratado deve continuar prestando o
serviço, podendo suspendê-lo de forma automática após esse prazo, caso a Administração
continue inadimplente.
Observa-se que o art. 78 autoriza a suspensão dos serviços, se o contratado desejar
a rescisão contratual, deverá recorrer a via judicial.
Logo, a cláusula exceptio non adimpleti contractus não se aplica de imediato, mas sim a
partir de 90 dias – aplicação diferenciada.
Ou seja, o contratado apenas poderá opor a exceção do contrato não cumprido,
quando a Administração, injustificadamente, e por mais de 90 dias, deixar de efetuar o
pagamento de parcela a ele devida. Neste caso poderá optar:
(i) requerer a rescisão judicial ou amigável do contrato e a reparação dos
prejuízos comprovados que houver sofrido, tendo ainda direito à devolução da
garantia, dos pagamentos devidos pela execução do contrato até a data da rescisão e
ao pagamento do custo de desmobilização (art. 79, § 2º). O direito é pela indenização
dos danos emergentes; não há indenização a título de lucros cessantes.
(ii) suspender sua execução, após os 90 dias de atraso pela Administração.
* nos casos de contrato de concessão e permissão não é cabível a suspensão
do contrato pela concessionária ou permissionária seja qual for o motivo e a
duração do inadimplemento administrativo – nestes casos ensejará somente
a rescisão judicial, por iniciativa do particular, e os serviços não podem ser
interrompidos ou paralisados até a decisão judicial.
A regra não se aplica à Administração, que sempre poderá opor a exceção de
descumprimento de contrato.
Resumindo: Para quem defende que a cláusual exceptio non adimpleti contractus é
aplicada, entretanto, de forma diferenciada, nesse caso, não se trata de uma cláusula
exorbitante, mas sim uma cláusula comum, aplicada de forma mitigada aos contratos
administrativos. Ao contrário, Hely Lopes defendia se tratar de cláusula exorbitante por
entender que não se aplicava a exceptio nos contratos administrativos.
b.4 rescisão de pleno direito: acontece por circunstâncias estranhas à vontade das
partes, como por exemplo, o falecimento do contratado, dissolução da sociedade,
perecimento do objeto.
c) pela anulação:
O contrato deve ser extinto por anulação, quando se verificar a presença de uma
ilegalidade, como, por exemplo, o contrato sem o prévio procedimento licitatório. A
declaração de nulidade opera retroativamente – efeitos ex tunc - , impedindo os efeitos
jurídicos que o contrato deveria produzir, além de desconstruir os já produzidos.
Todavia, a anulação não exonera a Administração do dever de indenizar o
contratado pelo que ele houver executado até a data em que a nulidade for declarada e
por outros prejuízos regularmente comprovados, contando que na lhes sejam imputáveis,
promovendo-se a responsabilidade de quem lhe deu causa. Caso a anulação tenha ocorrido
antes da prestação da obrigação ou da constituição de despesas por parte do contratado,
este não terá direito à indenização, sob pena de configurar enriquecimento sem causa.
Entende ainda a jurisprudência pacífica do STJ que, ainda que o contrato realizado
com a Administração seja nulo, por ausência prévia de licitação, o ente público não poderá
deixar de efetuar o pagamento pelos serviços prestados ou pelos prejuízos decorrentes,
desde que comprovados, ressalvada a hipótese de má-fé ou de ter o contratado concorrido
para a ilegalidade (AgRg no REsp 1140386/SP, STJ, julgamento 03.08.2010).
Nesse caso, entende a doutrina, que quando o contrataro está de má-fé, não há
direito à indenização e, não sendo possível voltar ao status quo ante, o contratado terá
direito de receber pelas despesas constituídas.
Prorrogação do Contrato:
É vedado o contrato com prazo de vigência indeterminado, no entanto, a Lei prevê
hipóteses de prorrogação do contrato administrativo.
Os casos em que se admite prorrogação de prazo estão taxativamente previstos no
art. 57, § 1º, da Lei 8666/93.
Vigência: regra – 1 ano (este prazo não se aplica aos contratos de direito privado
celebrados pela Administração); concessão ou permissão de serviços públicos – 5 anos;
concessões de uso de bem público e nas PPP’s: até 35 anos; existem outros prazos
especiais previstos em leis específicas.
- contratos de concessão:
a) de uso de bem público;
b) concessão comum de serviço público, e concessão comum de serviço público
precedido de obra pública (Lei 8.987/95);
c) concessão especial – a PPP que pode ser: patrocinada ou administrativa (Lei
11.079/04);
Além desses contratos administrativos, dois outros novos foram criados pela Lei nº
11.107/05: o contrato que instituiu o próprio consórcio público e o contrato de programa.
b) tarefa
- Tem como objeto a mão de obra para pequenos trabalhos, para pagamento por preço
certo, sem fornecimento de material. Normalmente utilizado para trabalhos em que o
pequeno valor dispensa a licitação.
- Forma utilizada: “ordem de execução de serviço.
Demais Contratos
Segue apenas algumas ponderações acerca das demais espécies de contratos
administrativos, já que serão vistos em capítulos próprios:
1) órgão que elabora – regulamento em regra é feito pelo chefe do Poder Executivo;
em regra, quem faz a lei é o Poder Legislativo.
2) procedimento de elaboração – no regulamento, não há discussão pública; ao passo
que a lei possui várias etapas, com procedimento mais amplo e com representação geral.
Para Celso Antônio, “No Brasil, entre a lei e o regulamento não existe diferença
apenas quanto à origem. Não é tão-só o fato de uma provir do Legislativo e outro do
Executivo o que os aparta. Também não é apenas a posição de supremacia da lei sobre o
regulamento o que os discrimina. Esta característica faz com que o regulamento não possa
contrariar a lei e firma seu caráter subordinado em relação a ela, mas não basta para esgotar
a distinção entre ambos no Direito brasileiro.
Há outro ponto diferencial e que possui relevo máximo e consiste em que – conforme
averbação precisa do Prof. O. A. Bandeira de Mello – só a lei inova em caráter inicial na
ordem jurídica. A distinção deles segundo a matéria, diz o citado mestre, está em que a lei
inova originariamente na ordem jurídica, enquanto o regulamento não a altera (...). é fonte
primária do Direito, ao passo que o regulamento é fonte secundária, inferior (BANDEIRA DE
MELLO, Celso Antônio – Curso de Direito Administrativo. 27ª edição. Editora Malheiros. pg.
344)”.
Poder regulamentar:
Sentidos
CICLO DE POLÍCIA
Súmulas Pertinentes
Súmula 419 STF - OS MUNICÍPIOS TÊM COMPETÊNCIA PARA
REGULAR O HORÁRIO DO COMÉRCIO LOCAL, DESDE QUE NÃO
INFRINJAM LEIS ESTADUAIS OU FEDERAIS VÁLIDAS.
Súmula 645 do STF - É COMPETENTE O MUNICÍPIO PARA FIXAR O
HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO DE ESTABELECIMENTO COMERCIAL.
Súmula 646 do STF - OFENDE O PRINCÍPIO DA LIVRE CONCORRÊNCIA
LEI MUNICIPAL QUE IMPEDE A INSTALAÇÃO DE ESTABELECIMENTOS
COMERCIAIS DO MESMO RAMO EM DETERMINADA ÁREA.
Súmula vinculante 49 - OFENDE O PRINCÍPIO DA LIVRE
CONCORRÊNCIA LEI MUNICIPAL QUE IMPEDE A INSTALAÇÃO DE
ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS DO MESMO RAMO EM
DETERMINADA ÁREA.
Súmula 19 do STJ - A FIXAÇÃO DO HORARIO BANCARIO, PARA
ATENDIMENTO AO PUBLICO, E DA COMPETENCIA DA UNIÃO.
Súmula 312 do STJ - NO PROCESSO ADMINISTRATIVO PARA
IMPOSIÇÃO DE MULTA DE TRÂNSITO, SÃO NECESSÁRIAS AS
NOTIFICAÇÕES DA AUTUAÇÃO E DA APLICAÇÃO DA PENA
DECORRENTE DA INFRAÇÃO.
Súmula 434 do STJ - O PAGAMENTO DA MULTA POR INFRAÇÃO DE
TRÂNSITO NÃO INIBE A DISCUSSÃO JUDICIAL DO DÉBITO.
Súmula 467 do STJ: PRESCREVE EM CINCO ANOS, CONTADOS DO
TÉRMINO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO, A PRETENSÃO DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DE PROMOVER A EXECUÇÃO DA MULTA
POR INFRAÇÃO AMBIENTAL.
Súmula 510 do STJ: A LIBERAÇÃO DE VEÍCULO RETIDO APENAS POR
TRANSPORTE IRREGULAR DE PASSAGEIROS NÃO ESTÁ CONDICIONADA
AO PAGAMENTO DE MULTAS E DESPESAS.
Súmula 561 do STJ: OS CONSELHOS REGIONAIS DE FARMÁCIA
POSSUEM ATRIBUIÇÃO PARA FISCALIZAR E AUTUAR AS FARMÁCIAS E
DROGARIAS QUANTO AO CUMPRIMENTO DA EXIGÊNCIA DE MANTER
PROFISSIONAL LEGALMENTE HABILITADO (FARMACÊUTICO) DURANTE
TODO O PERÍODO DE FUNCIONAMENTO DOS RESPECTIVOS
ESTABELECIMENTOS.
Conceito
Segundo Hely Lopes Meirelles, em sentido amplo, domínio público é o poder de dominação ou de
regulamentação que o Estado exerce sobre (1) bens do seu patrimônio (bens públicos), ou sobre
(2) os bens do patrimônio privado (bens particulares de interesse público), ou sobre (3) as coisas
inapropriáveis individualmente, mas de fruição geral da coletividade (res nullius ou adéspotas).
ATENÇÃO: compete à UNIÃO legislar sobre bens públicos. É considerada matéria de Direito Civil
(Matheus Carvalho – edição de 2016). CF/88:
CC/02, art. 98: São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de
direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem.
O dispositivo é insuficiente: também são públicos os bens móveis ou imóveis, ainda que
pertencentes à iniciativa privada, que estejam afetados ao serviço público. Exemplo: ônibus usado
pelas concessionárias de transporte público coletivo.
Também os bens de pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público gozam de
prerrogativas de direito público (ex.: impenhorabilidade e não onerabilidade).
1) Quanto à TITULARIDADE:
a) Bens da União – art. 20, CF.
b) Bens estatais ou distritais – art. 26, CF
c) Bens municipais – não foram expressamente contemplados na Constituição, mas há vários
bens que lhes pertencem pela sua localização.
2) Quanto à DESTINAÇÃO:
a) De uso comum – Art. 99, I, CC. Destinados ao uso indistinto de todos, em virtude de sua
natureza ou por lei. Ex: praias (em razão da natureza) e praças (em razão da lei de
parcelamento do solo urbano).
b) De uso especial – Art. 99, II, CC. Destinam-se especialmente à execução do serviço
público. Ex: cemitério ou prédio da prefeitura.
c) Dominicais/dominiais – Art. 99, III, CC. São bens do Estado como objeto de direito real ou
pessoal, i.e., os que constituem o patrimônio DISPONÍVEL. Há a possibilidade sempre
presente de utilizá-los para qualquer fim.
STF: os bens e direitos das sociedades de economia mista não são bens públicos, mas bens
privados que não se confundem com os bens do Estado, de modo que não se aplica à espécie o
art. 72, II, da CF (...). (627-DF, Informativo259, março/2002).
PRINCÍPIO DA AFETAÇÃO OU DA CONSAGRAÇÃO
Afetação consiste em destinar o bem para alguma utilização ESPECÍFICA (desafetação é retirar a
utilização específica), uso comum ou uso especial, implicando na mudança de categoria do bem.
Competência para afetar: exclusiva da pessoa jurídica proprietária do bem, que também tem
competência exclusiva para dizer “se” e “quando” o bem poderá ser afetado ou desafetado.
A afetação ocorre, necessariamente, POR LEI ou POR ATO do chefe do executivo. Alguns autores
defendem que existem outros meios de afetação, exemplo: hospital que pega fogo e não tem mais
como ser utilizado, logo, um evento provocou a desafetação do bem de forma tácita. Note-se que,
se o prédio pertence ao Estado, ele pode servir para a ocupação com o serviço público,
independentemente de um ato específico de afetação. Assim, existem duas correntes
doutrinárias:
a) Mais RESTRITA: somente há afetação por meio de atos específicos;
b) Mais AMPLA: também existe a afetação tácita.
VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO (João Batista Moreira): o espaço de comunicação de massa deve ser
considerado bem de uso comum do povo.
CF/88:
Art. 37, inciso XXI: ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e
alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de
condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as
condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação
técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.
Art. 188. A destinação de terras públicas e devolutas será compatibilizada com a política agrícola e
com o plano nacional de reforma agrária.
§ 1º A alienação ou a concessão, a qualquer título, de terras públicas com área superior a dois mil
e quinhentos hectares a pessoa física ou jurídica, ainda que por interposta pessoa, dependerá de
prévia aprovação do Congresso Nacional.
a) DAÇÃO em pagamento;
b) DOAÇÃO, permitida exclusivamente para OUTRO ÓRGÃO ou entidade da administração pública,
de qualquer esfera de governo, ressalvado o disposto nas alíneas “f”, “h” e “i”; (Redação dada pela
Medida Provisória nº 458, de 2009)
c) PERMUTA, por outro imóvel que atenda aos requisitos constantes do inciso X do art. 24 desta
Lei;
d) INVESTIDURA;
e) VENDA a outro ÓRGÃO ou ENTIDADE da administração pública, de qualquer esfera de governo;
(Incluída pela Lei nº 8.883, de 1994)
f) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de direito real de uso, locação ou
permissão de uso de bens imóveis residenciais construídos, destinados ou efetivamente utilizados
no âmbito de PROGRAMAS HABITACIONAIS ou de REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA de interesse social
desenvolvidos por órgãos ou entidades da administração pública; (Redação dada pela Lei nº
11.481, de 2007)
g) procedimentos de REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA de que trata o art. 29 da Lei nº 6.383, de 7 de
dezembro de 1976; (Redação dada pela Medida Provisória nº 458, de 2009)
h) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de direito real de uso, locação ou
permissão de uso de bens imóveis de uso comercial de âmbito local com área de até 250 m²
(duzentos e cinquenta metros quadrados) e inseridos no âmbito de programas de
REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA DE INTERESSE SOCIAL desenvolvidos por órgãos ou entidades da
administração pública; (Incluído pela Lei nº 11.481, de 2007)
i) alienação e concessão de direito real de uso, gratuita ou onerosa, de terras públicas rurais da
União na Amazônia Legal onde incidam ocupações até o limite de quinze módulos fiscais ou mil e
quinhentos hectares, para fins de REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA, atendidos os requisitos legais;
(Incluído pela Medida Provisória nº 458, de 2009)
II - quando MÓVEIS, dependerá de avaliação prévia e de licitação, dispensada esta nos seguintes
casos:
a) DOAÇÃO, permitida exclusivamente para fins e uso de interesse social, após avaliação de sua
oportunidade e conveniência sócio-econômica, relativamente à escolha de outra forma de
alienação;
b) PERMUTA, permitida exclusivamente entre órgãos ou entidades da Administração Pública;
c) VENDA DE AÇÕES, que poderão ser negociadas em bolsa, observada a legislação específica;
d) VENDA DE TÍTULOS, na forma da legislação pertinente;
e) VENDA DE BENS PRODUZIDOS OU COMERCIALIZADOS por órgãos ou entidades da
Administração Pública, em virtude de suas finalidades;
f) VENDA DE MATERIAIS E EQUIPAMENTOS para outros órgãos ou entidades da Administração
Pública, sem utilização previsível por quem deles dispõe.
O CC dispõe serem inalienáveis apenas os bens públicos de uso comum do povo e de uso especial
(art. 100). Os dominicais perderam essa peculiaridade (art. 101). Mas de se observar que a perda
dessa inalienabilidade não vulnera os bens públicos à aquisição por usucapião (essa proibição foi
mantida no novo texto, art. 102, com fundamento em comando expresso da CF/88, art. 183, §3º).
IMPENHORABILIDADE – os bens públicos não podem ser objeto de penhora, pois as dívidas
judiciais do Estado serão pagas por meio de precatórios (art. 100, CF/88).
É possível reconhecer a usucapião do domínio útil de bem público sobre o qual tinha sido,
anteriormente, instituída enfiteuse, pois, nesta circunstância, existe apenas a substituição do
enfiteuta pelo usucapiente, não trazendo qualquer prejuízo ao Estado. (REsp 575.572)
STJ: não é possível posse de bem público, sua ocupação irregular (ausente de aquiescência do
titular do domínio) representa mera detenção (que possui natureza precária). Na ação
reivindicatória ajuizada pela Terracap (empresa pública), não há falar em direito de retenção de
benfeitorias (art. 516 do CC/1916 e art. 1.219 do CC/2002) porque para haver tal direito se
pressupõe a existência de posse (não sendo suficiente mera detenção).
NÃO ONERÁVEIS – não podem ser dados em garantia (ex.: penhor, hipoteca e anticrese). Com o
ajuizamento da ação judicial, as garantias transformam-se em penhora, assim, se os bens públicos
são impenhoráveis, não se justifica a constituição de um direito real de garantia.
Aquisição de bens públicos
CARVALHO FILHO divide a aquisição em dois grupos: a aquisição originária e a aquisição derivada.
Além dos instrumentos comuns do direito privado (venda, doação, permuta), existem formas de
alienação próprias de direito público, quais sejam:
- Concessão de Domínio: é o instrumento pelo qual uma entidade de direito público transfere a
outrem, gratuita ou remuneradamente, bem público de seu domínio.
Pode ser:
1) Uso normal: cumpre sempre a finalidade precípua do bem. Exemplo: usar rua para tráfego é uso
normal.
2) Uso anormal: utilização com finalidade diversa ou estranha à sua destinação geral. Exemplo:
usar rua para fazer uma festa.
A utilização anormal do bem demanda a interferência do Poder Público, que exercerá um controle
sobre a utilização do bem. Exemplo: direito de reunião da CF pode ser restringido em decorrência
da utilização do bem.
1) UTILIZAÇÃO COMUM: todos os indivíduos têm direito de utilizar o bem. Exemplos: escolas, ruas,
praias, praças.
Bens sujeitos ao uso comum: normalmente bens de uso comum, mas também os de uso especial.
Posição do administrado frente ao bem afetado ao uso comum: a) como membro da coletividade
tem interesse coletivo na preservação do bem; b) individualmente considerado tem direito
subjetivo ao uso comum do bem.
Segundo Maria Sylvia, o uso comum pode ser:
1.1) Uso comum ordinário: é aberto a todos indistintamente, sem exigência de instrumento
administrativo de outorga e sem retribuição de natureza pecuniária;
1.2) Uso comum extraordinário: está sujeito a maiores restrições impostas pelo poder de polícia do
Estado, ou porque limitado a determinada categoria de usuários, ou porque dependente de
outorga administrativa ou remuneração (ex: pedágio em estrada).
Hely Lopes Meireles, neste ponto seguido por José dos Santos Carvalho, entende que o uso
comum deve ser gratuito. Logo, o uso comum extraordinário na realidade seria uma espécie de
uso especial.
Bens de uso comum ou de uso especial: só admitem o uso privativo através de três institutos =
autorização, permissão e concessão de uso. Uso sujeito ao regime de direito público.
Bens dominicais: podem ser concedidos aos particulares através dos institutos supracitados, bem
como podem ser objeto de contratos regidos pelo Código Civil. Exs.: locação, comodato, enfiteuse,
arrendamento.
Concessão de uso
Permissão de uso
Lei 9.636/98
Art. 22. A utilização, a título precário, de áreas de domínio da União para a realização de eventos
de curta duração, de natureza recreativa, esportiva, cultural, religiosa ou educacional, poderá ser
autorizada, na forma do regulamento, sob o regime de permissão de uso, em ato do Secretário do
Patrimônio da União, publicado no Diário Oficial da União.
§ 1º A competência para autorizar a permissão de uso de que trata este artigo poderá ser delegada
aos titulares das Delegacias do Patrimônio da União nos Estados.
§ 2º Em áreas específicas, devidamente identificadas, a competência para autorizar a permissão de
uso poderá ser repassada aos Estados e Municípios, devendo, para tal fim, as áreas envolvidas lhes
serem cedidas sob o regime de cessão de uso, na forma do art. 18.
Pode ser com ou sem condições, por tempo certo ou indeterminado, conforme estabelecido no
termo próprio, mas sempre modificável e revogável unilateralmente pela Administração, quando o
interesse público exigir, dada sua natureza precária e o poder discricionário do permitente para
consentir ou fazer cessar o uso especial do bem público.
É ATO PRECÁRIO, ou seja, a administração tem o poder de revogá-lo a qualquer tempo, por razão
de conveniência ou oportunidade; não há prazo certo. Assim, não cabe indenização pela
revogação, exemplo: os quiosques da Praia de Itapuã.
A não desocupação do imóvel após extinto o prazo (da permissão de uso) caracteriza o esbulho
possessório que autoriza a reintegração definitiva da União na posse do bem imóvel.
Pode ou não ser precedida por licitação. Como ato unilateral, normalmente, não se licita. Ex:
mesinha na calçada só interessa ao dono do bar que esteja em frente à calçada. Caso haja
interesse de mais pessoas, é possível a licitação. Ex.: banca de revista em local concorrido.
Se não houver interesse para a comunidade, mas apenas para o particular, o uso especial não deve
ser permitido nem concedido, mas, simplesmente autorizado, em caráter precario.
É praticado intuitu personae, razão pela qual sua transferência a terceiros só se legitima se houver
consentimento expresso da entidade permitente. Exs.: lojinhas em mercado de artesanato, bancas
de revistas, mesinha na calçada de bar.
Segundo Maria Sylvia, a permissão qualificada é dotada da mesma estabilidade de que se reveste a
concessão de uso. A diferença entre os dois institutos estará apenas na formação do ato, pois a
permissão se constitui por ato unilateral e a concessão por contrato.
Autorização de uso
O consentimento dado pela autorização de uso não depende de lei nem exige licitação prévia.
Como regra, a autorização não deve ser concedida com prazo certo. Contudo, fixado prazo para
uso, a Administração terá instituído autolimitação e deverá obedecer à fixação, razão por que o
desfazimento antes do prazo atribui dever indenizatório à pessoa revogadora pelos prejuízos
causados, os quais, no entanto, devem ser comprovados.
Pode ser gratuita ou onerosa.
http://patrimoniodetodos.gov.br/programas-e-acoes-da-spu/instrumentos-de-regularizacao-fundiaria-em-areas-da-
uniao#9-autoriza-o-de
1) Transferência
Lei 4.504/64:
Art. 10. O Poder Público poderá explorar direta ou indiretamente, qualquer imóvel rural de sua
propriedade, unicamente para fins de pesquisa, experimentação, demonstração e fomento,
visando ao desenvolvimento da agricultura, a programas de colonização ou fins educativos de
assistência técnica e de readaptação.
§ 3º Os imóveis rurais pertencentes à União, cuja utilização não se enquadre nos termos deste
artigo, poderão ser transferidos ao Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, ou com ele
permutados por ato do Poder Executivo.
CF/88:
Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros
quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou
de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano
ou rural.
§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a
ambos, independentemente do estado civil.
§ 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.
§ 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.
CC/02:
Lei 11.481
Art. 13. A concessão de uso especial para fins de moradia, a concessão de direito real de uso e o
direito de superfície podem ser objeto de garantia real, assegurada sua aceitação pelos agentes
financeiros no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação - SFH.
Art. 25. A concessão de uso especial de que trata a Medida Provisória no 2.220, de 4 de setembro
de 2001, aplica-se também a imóvel PÚBLICO remanescente de desapropriação cuja propriedade
tenha sido transferida a empresa pública ou sociedade de economia mista.
Lei 9.636/98:
Art. 22-A. A concessão de uso especial para fins de moradia aplica-se às áreas de PROPRIEDADE
DA UNIÃO, inclusive aos terrenos de marinha e acrescidos, e será conferida aos possuidores ou
ocupantes que preencham os requisitos legais estabelecidos na Medida Provisória no 2.220, de 4
de setembro de 2001.
§ 1º O direito de que trata o caput deste artigo não se aplica a imóveis funcionais.
§ 2º Os imóveis sob administração do Ministério da Defesa ou dos Comandos da Marinha, do
Exército e da Aeronáutica são considerados de interesse da defesa nacional para efeito do
disposto no inciso III do caput do art. 5º da Medida Provisória no 2.220, de 4 de setembro de 2001,
sem prejuízo do estabelecido no § 1º deste artigo.”
Art. 3º Será garantida a opção de exercer os direitos de que tratam os arts. 1º e 2º também aos
ocupantes, regularmente inscritos, de imóveis públicos, com até duzentos e cinquenta metros
quadrados, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, que estejam situados em
área URBANA, na forma do regulamento.
Art. 4º No caso de a ocupação acarretar risco à vida ou à saúde dos ocupantes, o Poder Público
garantirá ao possuidor o exercício do direito de que tratam os arts. 1º e 2º em outro local.
Art. 5º É facultado ao Poder Público assegurar o exercício do direito de que tratam os arts. 1º e 2º
em outro local na hipótese de ocupação de imóvel:
I - de uso comum do povo;
II - destinado a projeto de urbanização;
III - de interesse da defesa nacional, da preservação ambiental e da proteção dos ecossistemas
naturais;
IV - reservado à construção de represas e obras congêneres; ou
V - situado em via de comunicação.
Art. 6º O título de concessão de uso especial para fins de moradia será obtido pela via
administrativa perante o órgão competente da Administração Pública ou, em caso de recusa ou
omissão deste, pela via judicial.
§ 1º A Administração Pública terá o prazo máximo de doze meses para decidir o pedido, contado
da data de seu protocolo.
§ 2º Na hipótese de bem imóvel da União ou dos Estados, o interessado deverá instruir o
requerimento de concessão de uso especial para fins de moradia com certidão expedida pelo
Poder Público municipal, que ateste a localização do imóvel em área urbana e a sua destinação
para moradia do ocupante ou de sua família.
§ 3º Em caso de ação judicial, a concessão de uso especial para fins de moradia será declarada pelo
juiz, mediante sentença.
§ 4º O título conferido por via administrativa ou por sentença judicial servirá para efeito de
registro no cartório de registro de imóveis.
Art. 7º O direito de concessão de uso especial para fins de moradia é transferível por ato inter
vivos ou causa mortis.
Art. 8º O direito à concessão de uso especial para fins de moradia extingue-se no caso de:
I - o concessionário dar ao imóvel destinação diversa da moradia para si ou para sua família; ou
II - o concessionário adquirir a propriedade ou a concessão de uso de outro imóvel urbano ou
rural.
Parágrafo único. A extinção de que trata este artigo será averbada no cartório de registro de
imóveis, por meio de declaração do Poder Público concedente.
Art. 1º Aquele que, até 30 de junho de 2001, possuiu como seu, por cinco anos, ininterruptamente
e sem oposição, até duzentos e cinquenta metros quadrados de imóvel PÚBLICO situado em área
URBANA, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, tem o direito à concessão de uso
especial para fins de moradia em relação ao bem objeto da posse, desde que não seja
proprietário ou concessionário, a qualquer título, de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1º A concessão de uso especial para fins de moradia será conferida de forma gratuita ao homem
ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
§ 2º O direito de que trata este artigo não será reconhecido ao mesmo concessionário mais de
uma vez.
§ 3º Para os efeitos deste artigo, o herdeiro legítimo continua, de pleno direito, na posse de seu
antecessor, desde que já resida no imóvel por ocasião da abertura da sucessão.
Art. 2º Nos imóveis de que trata o art. 1º, com mais de duzentos e cinquenta metros quadrados,
que, até 30 de junho de 2001, estavam ocupados por população DE BAIXA RENDA para sua
moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, onde não for possível identificar os
terrenos ocupados por possuidor, a concessão de uso especial para fins de moradia será conferida
de forma coletiva, desde que os possuidores não sejam proprietários ou concessionários, a
qualquer título, de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1º O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este artigo, acrescentar sua posse
à de seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas.
§ 2º Na concessão de uso especial de que trata este artigo, será atribuída igual fração ideal de
terreno a cada possuidor, independentemente da dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo
hipótese de acordo escrito entre os ocupantes, estabelecendo frações ideais diferenciadas.
§ 3º A fração ideal atribuída a cada possuidor não poderá ser superior a duzentos e cinquenta
metros quadrados.
Decreto-Lei 271/67:
§ 1º A concessão de uso poderá ser contratada, por instrumento público ou particular, ou por
simples termo administrativo, e será inscrita e cancelada em livro especial.
§ 4º A concessão de uso, salvo disposição contratual em contrário, transfere-se por ato inter
vivos, ou por sucessão legítima ou testamentária, como os demais direitos reais sobre coisas
alheias, registrando-se a transferência.
§ 5º Para efeito de aplicação do disposto no caput deste artigo, deverá ser observada a anuência
prévia: (Incluído pela Lei nº 11.481, de 2007)
Em que pese haver doutrina em sentido contrário, a ocupação do espaço aéreo sobre a superfície
de terrenos públicos é admitida expressamente pelo art. 8º do Decreto-lei 271/67:
Art. 8º É permitida a concessão de uso do espaço aéreo sobre a superfície de terrenos públicos
ou particulares, tomada em projeção vertical, nos termos e para os fins do artigo anterior e na
forma que for regulamentada.
Tal como ocorre com a concessão comum, depende de autorização legal e de concorrência prévia,
admitindo-se a dispensa desta quando o beneficiário for outro órgão ou entidade da
Administração Pública.
Art. 9º É facultado ao Poder Público competente dar autorização de uso àquele que, até 30 de
junho de 2001, possuiu como seu, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, até duzentos
e cinquenta metros quadrados de imóvel PÚBLICO situado em área URBANA, utilizando-o para
fins COMERCIAIS.
§ 1º A autorização de uso de que trata este artigo será conferida de forma gratuita.
§ 2º O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este artigo, acrescentar sua posse
à de seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas.
§ 3º Aplica-se à autorização de uso prevista no caput deste artigo, no que couber, o disposto nos
arts. 4º e 5º desta Medida Provisória (obs.: são normas gerais sobre as CUEM).
5. Enfiteuse ou aforamento
Instituto civil (direito real) que permite ao proprietário atribuir a outrem o DOMÍNIO ÚTIL (posse,
uso e gozo perpétuos) de imóvel, pagando a pessoa que o adquire (foreiro ou enfiteuta) ao
senhorio direto (Poder Público) uma pensão ou foro (anual, certo e invariável).
O domínio útil corresponderá a 83% do imóvel de sua propriedade e o domínio direto a 17%.
Esse domínio útil pode ser transferido a terceiro, desde que o senhorio direto renuncie ao seu
direito de preferência para reaver o imóvel. O enfiteuta terá que pagar ao senhorio o laudêmio,
calculado sobre o preço da alienação ( 5% do valor do imóvel).
O STF, a propósito da Lei nº 7.450/85, que fixara o foro em 0,6% do valor do respectivo domínio
pleno (alterando o art. 101 do Decreto-lei nº 9760/46), decidiu que, apesar de assegurado o direito
dos anteriores enfiteutas, por ser o contrato tido como ato jurídico perfeito, é admissível a
correção monetária de seu valor a fim de evitar enriquecimento sem causa do enfiteuta (RE
185.578).
Nesse sentido, também a 2ª Turma, do STJ: A norma legal que prevê a simples atualização anual
do foro é aplicável a todos os contratos de aforamento, inclusive aqueles anteriormente firmados.
(RESP 30.688)
Famílias com renda até 5 salários-mínimos são isentas do foro. A comprovação da situação de
baixa renda deve ocorrer a cada 4 anos.
Salienta CARVALHO FILHO, que há várias áreas federais cujo uso é conferido através de enfiteuse,
como é o caso dos terrenos de marinha e seus acrescidos, o que é previsto, inclusive, no art. 49, §
3º, do ADCT da CF.
A enfiteuse de terrenos de marinha, aliás, foi a única forma ressalvada pelo novo Código Civil (art.
2.038, § 2º), com a previsão de que seria regulada por lei especial.
Convém citar o enunciado da Súmula n. 496 do STJ, segundo a qual: “Os registros de propriedade
particular de imóveis situados em terrenos de marinha não são oponíveis à União”.
É a transferência gratuita da posse de um bem público de uma entidade ou órgão para outro, a fim
de que o cessionário o utilize segundo a sua normal destinação.
Quando a cessão é para outra entidade, necessária se torna a autorização legislativa para essa
transferência de posse, nas condições ajustadas entre as Administrações interessadas. Obs.: José
dos Santos Carvalho e Maria Sylvia entendem que ainda assim não se faz necessária a autorização
legislativa.
Em qualquer hipótese, a cessão de uso é ato de administração interna que não opera a
transferência da propriedade e, por isso, dispensa registros externos.
Alguns autores (1) limitam a cessão de uso às entidades públicas, como é o caso de Hely Lopes
Meirelles e Lúcia Valle Figueiredo. Outros (2) a admitem para entidades da Administração indireta
(Diógenes Gasparini). Por fim, há quem entenda que (3) o uso pode ser cedido também, em certos
casos especiais, a pessoas privadas, desde que desempenhem atividade não lucrativa que vise a
beneficiar, geral ou parcialmente, a coletividade (José dos Santos Carvalho Filho e Maria Sylvia),
como, por exemplo, a cessão de uso de sala, em prédio público, que o Estado faz a uma associação
de servidores.
Lei 9.636/98, art. 18. A critério do Poder Executivo poderão ser cedidos, gratuitamente ou em
condições especiais, sob qualquer dos regimes previstos no Decreto-Lei nº 9.760, de 1946, imóveis
da União a:
I - Estados, Municípios e entidades, sem fins lucrativos, de caráter educacional, cultural ou de
assistência social;
§ 3º A cessão será autorizada em ato do Presidente da República e se formalizará mediante termo
ou contrato, do qual constarão expressamente as condições estabelecidas, entre as quais a
finalidade da sua realização e o prazo para seu cumprimento, e tornar-se-á nula,
independentemente de ato especial, se ao imóvel, no todo ou em parte, vier a ser dada aplicação
diversa da prevista no ato autorizativo e consequente termo ou contrato.
Fonte: Manual de destinação do patrimônio público da Secretaria de Patrimônio da União - SPU
Art. 64. Os bens imóveis da União não utilizados em serviço público poderão, qualquer que seja a
sua natureza, ser alugados, aforados ou cedidos.
Art. 95. Os imóveis da União não aplicados em serviço público e que não forem utilizados nos fins
previstos nos itens I e II do art. 86, poderão ser alugados a quaisquer interessados.
Parágrafo único. A locação se fará, em concorrência pública e pelo maior preço oferecido, na base
mínima do valor locativo fixado.
Art. 97. Terão preferência para a locação de próprio nacional os Estados e Municípios, que,
porém, ficarão sujeitos ao pagamento da cota ou aluguel fixado e ao cumprimento das demais
obrigações estipuladas em contrato.
Art. 86. Os próprios nacionais não aplicados, total ou parcialmente, nos fins previstos no art. 76
deste Decreto-lei, poderão, a juízo do S.P.U., ser alugados:
Art. 87. A locação de imóveis da União se fará mediante contrato, não ficando sujeita a disposições
de outras leis concernentes à locação.
Art. 88. É proibida a sublocação do imóvel, no todo ou em parte, bem como a transferência de
locação.
Art. 89. O contrato de locação poderá ser rescindido:
III – quando o imóvel for necessário a serviço público, e desde que não tenha a locação sido feita
em condições especiais, aprovadas pelo Ministro da Fazenda;
§ 1º Nos casos previstos nos itens I e II, a rescisão dar-se-à de pleno direito, imitindo-se a União
sumariamente na posse da coisa locada.
§ 2º Na hipótese do item III, a rescisão poderá ser feita em qualquer tempo, por ato
administrativo da União, sem que esta fique por isso obrigada a pagar ao locatário indenização de
qualquer espécie, excetuada a que se refira a benfeitorias necessárias.
§ 3º A rescisão, no caso do parágrafo anterior, será feita por notificação, em que se consignará o
prazo para restituição do imóvel, que será:
Art. 90. As benfeitorias necessárias só serão indenizáveis pela União, quando o S.P.U. tiver sido
notificado da realização das mesmas dentro de 120 (cento e vinte) dias contados da sua execução.
II – mediante recolhimento à estação arrecadadora da Fazenda Nacional, nos casos previstos nos
itens II e III do mesmo art. 86.
§ 2º O pagamento dos aluguéis de que trata o item II deste artigo será garantido por depósito em
dinheiro, em importância correspondente a 3 (três) meses de aluguel.
Observação: José dos Santos Carvalho ressalta que há estudiosos que não aceitam o regime de
locação civil para bens públicos.
Comodato
É espécie de locação:
Art. 64, § 1º: A locação se fará quando houver conveniência em tornar o imóvel produtivo,
conservando, porém, a União, sua plena propriedade, considerada arrendamento mediante
condições especiais, quando objetivada a exploração de frutos ou prestação de serviços.
Art. 96. Em se tratando de exploração de frutos ou prestação de serviços, a locação se fará sob
forma de arrendamento, mediante condições especiais, aprovadas pelo Ministro da Fazenda.
Parágrafo único. Salvo em casos especiais, expressamente determinados em lei, não se fará
arrendamento por prazo superior a 20 (vinte) anos. (Redação dada pela Lei nº 11.314 de 2006)
Art. 98. Ao possuidor de benfeitorias, que estiver cultivando, por si e regularmente, terras
compreendidas entre as de que trata o art. 65, fica assegurada a preferência para o seu
arrendamento, se tal regime houver sido julgado aconselhável para a utilização das mesmas.
Parágrafo único. Não usando desse direito no prazo que for estipulada, será o possuidor das
benfeitorias indenizado do valor das mesmas, arbitrado pelo S. P. U.
Previsto do como modalidade de locação quando sua utilização objetiva a exploração de frutos ou
a prestação de serviços.
Seu prazo máximo é de 10 anos, sendo assegurada a preferência aos Estados e Municípios.
Direito de superfície
É aquele pelo qual o proprietário concede a outrem o direito de utilizar, no mínimo, a superfície de
seu imóvel na forma pactuada no respectivo contrato.
O art. 1.377 do CC admite expressamente que o referido direito seja constituído por pessoa
jurídica de direito público interno, desde que haja motivação.
Bens dos estados: estão elencados na CF/88 (ver abaixo detalhes sobre ilhas):
As terras devolutas são terras que não sofreram apossamento de ninguém. A lei 6.383/76 prevê a
ação discriminatória para separação e limitação das terras devolutas, quando não for possível
fazê-lo na via administrativa. Ressalte-se que as terras devolutas são, como regra geral,
pertencentes aos estados-membros – consoante art. 26, IV da CF – pertencendo
excepcionalmente à União as terras devolutas indispensáveis (1) à defesa das fronteiras, (2) das
fortificações e construções militares, (3) das vias federais de comunicação e (4) à preservação
ambiental.
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem
mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro
ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;
Sobre as águas, convém repetir os casos em que pertencem aos estados (art. 26, inciso I, CF/88),
bem como a exceção, hipótese em que pertencerão à União: Incluem-se entre os bens dos Estados
as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste
caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União;
Art. 4º do Decreto-Lei 9.760/46: São terrenos marginais os que banhados pelas correntes
navegáveis, fora do alcance das marés, vão até a distância de 15 (quinze) metros, medidos
horizontalmente para a parte da terra, contados desde a linha média das enchentes ordinárias.
Parágrafo único do art. 2º do Decreto-Lei 9.760/46: Para os efeitos deste artigo a influência das
marés é caracterizada pela oscilação periódica de 5 (cinco) centímetros pelo menos, do nível das
águas, que ocorra em qualquer época do ano.
IV - as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as
ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto
aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26,
II; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 2005)
O art. 25 do Código de Águas estabelece que as ilhas são bens dominicais, salvo quando lhes for
dada alguma destinação pública: “As ilhas ou ilhotas, quando de domínio público, consideram-se
coisas patrimoniais, salvo se estiverem destinadas ao uso comum”.
As ilhas OCEÂNICAS e COSTEIRAS que contenham sede de municípios lhes pertence, exceto em
situações especiais (áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal).
O conceito de sede do Município somente abarca o perímetro urbano. As áreas rurais, portanto,
não lhes pertence (regra geral).
As ÁREAS das ilhas OCEÂNICAS e COSTEIRAS sob domínio dos estados lhes pertencem, excluídas
aquelas sob domínio da União (afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal) ou
sejam sede de Municípios (art. 26, II, CF).
Em resumo: as ilhas OCEÂNICAS e COSTEIRAS serão da União quando (1) estejam registrada em
seu nome, (2) não sejam sede de município E não estejam registradas em nome de qualquer
pessoa, (3) estejam afetadas ao serviço público federal, ou (4) estejam afetadas a unidade
ambiental federal.
Atenção: mesmo nas ilhas costeiras que não pertençam à União, continuam pertencendo-lhe (à
União) as praias, o mar territorial, os terrenos de marinha e seus acrescidos.
As demais ilhas FLUVIAIS e LACUSTRES (ou seja, as FLUVIAIS e LACUSTRES que não sejam limítrofes
com outros países) pertencem aos estados (art. 26, III, da CF).
1) estejam registradas em seu nome; 1) estejam registradas em seu 1) estejam registradas em seu
nome. nome; ou
2) NÃO sejam sede de município E não
estejam registradas em nome de qualquer Exceto: 2) forem sua sede.
pessoa;
1) se estiverem afetadas ao Exceto:
3) estejam afetadas ao serviço público serviço público federal;
1) se estiverem afetadas ao
federal; ou
2) se estiverem afetadas a serviço público federal; ou
4) estejam afetadas a unidade ambiental unidade ambiental federal; ou
2) se estiverem afetadas a
federal.
3) se forem sede de município. unidade ambiental federal.
Art. 11 da Lei 8.617/93: A plataforma continental do Brasil compreende o leito e o subsolo das
áreas submarinas que se estendem além do seu mar territorial, em toda a extensão do
prolongamento natural de seu território terrestre, até o bordo exterior da margem continental, ou
até uma distância de duzentas milhas marítimas das linhas de base, a partir das quais se mede a
largura do mar territorial, nos casos em que o bordo exterior da margem continental não atinja
essa distância.
Parágrafo único. O limite exterior da plataforma continental será fixado de conformidade com os
critérios estabelecidos no art. 76 da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar,
celebrada em Montego Bay, em 10 de dezembro de 1982.
Art. 6º da Lei 8.617/93: A zona econômica exclusiva brasileira compreende uma faixa que se
estende das doze às duzentas milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem
para medir a largura do mar territorial.
VI - o mar territorial;
Art. 1º da Lei 8.617/93: O mar territorial brasileiro compreende uma faixa de doze milhas
marítimas de largura, medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continental e insular, tal
como indicada nas cartas náuticas de grande escala, reconhecidas oficialmente no Brasil.
Atenção: é possível a utilização desses bens por particulares por meio de enfiteuse firmada com o
ente público que transfere ao cidadão a qualidade de enfiteuta e o domínio útil sobre o bem.
Decreto-Lei 9.760/46:
Art. 2º São terrenos de marinha, em uma profundidade de 33 (trinta e três) metros, medidos
horizontalmente, para a parte da terra, da posição da linha do preamar-médio de 1831:
a) os situados no continente, na costa marítima e nas margens dos rios e lagoas, até onde se faça
sentir a influência das marés;
b) os que contornam as ilhas situadas em zona onde se faça sentir a influência das marés.
Parágrafo único. Para os efeitos deste artigo a influência das marés é caracterizada pela oscilação
periódica de 5 (cinco) centímetros pelo menos, do nível das águas, que ocorra em qualquer época
do ano.
Decreto-Lei 9.760/46:
Art. 3º São terrenos acrescidos de marinha os que se tiverem formado, natural ou artificialmente,
para o lado do mar ou dos rios e lagoas, em seguimento aos terrenos de marinha.
Ainda que estejam localizados em rios estaduais, pertencem à União os potenciais de energia
hidráulica. Nesse sentido, Marçal Justen Filho35 conceitua potenciais de energia hidráulica
estabelecendo que “a expressão potencial de energia hidráulica indica uma manifestação de
energia natural, produzida pelo deslocamento físico de massas de água, que comporta
transformação em energia elétrica mediante a utilização de equipamentos adequados”. O autor
completa definindo que “sob o prisma natural, o potencial de energia hidráulica é indissociável da
existência das águas. Para fins jurídicos, no entanto, o potencial de energia hidráulica não se
confunde com a massa de água propriamente dita”.
As minas e jazidas são bens pertencentes à União e não ao proprietário do solo. Com efeito, o art.
176 da CF estabelece que as jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais são propriedades
distintas da do solo para efeito de exploração ou aproveitamento.
Art. 20, § 1º, CF/88: É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios, bem como a órgãos da administração direta da União, participação no resultado da
exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia
elétrica e de outros recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar
territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração.
35
JUSTEN FILHO, Marçal – Curso de Direito Administrativo, Belo Horizonte, Ed.Forum, 7ª edição, 2011.
10.4. Regime jurídico dos recursos minerais
Características:
Referente à propriedade dos recursos minerais, o art. 176 da CF/88 institui que: As jazidas,
em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais de energia hidráulica
constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento,
e pertencem à União, garantida ao concessionário a propriedade do produto da lavra.
O mandamento constitucional deixa claro que os recursos minerais não pertencem aos
proprietários do solo, mas à União. O proprietário do solo tem garantido
constitucionalmente o direito de participação nos resultados da lavra, tida como uma
INDENIZAÇÃO, um ressarcimento, que deverá ser pago tanto na fase de pesquisa, quanto
para a lavra, podendo ser feito através de um acordo entre o pesquisador ou minerador
com o superficiário, ou, no Poder Judiciário, ocasião em que o DNPM fará uma avaliação
mediante procedimento simplificado, acompanhado pelas partes e apurará os valores a
serem pagos pelo titular do direito minerário.
As substâncias minerais só podem ser utilizadas legalmente através dos Regimes de
aproveitamento dos recursos minerais, de maneira que o parágrafo primeiro do art. 176
descreve os requisitos constitucionais para atividade, nos seguintes termos: § 1º A pesquisa
e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais (...) somente poderão ser
efetuados mediante autorização ou concessão da União, no interesse nacional, por
brasileiros ou empresa constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e
administração no País, na forma da lei, que estabelecerá as condições específicas quando
essas atividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indígenas.
Sendo os recursos minerais pertencentes à União, constituem MONOPÓLIO da União (art.
177, V, CF/88) a PESQUISA, LAVRA, ENRIQUECIMENTO, REPROCESSAMENTO,
INDUSTRIALIZAÇÃO e o COMÉRCIO de minérios. Em teoria econômica, sabe-se que
monopólio é a exploração de certo setor de atividade por alguém em caráter singular.
Prescreve o art. 225, § 2º, da Carta Política que os recursos minerais têm natureza jurídica
de bens ambientais, essenciais à qualidade de vida dos brasileiros e estrangeiros residentes
no País. Ler artigos 176 e 177, CF.
10.5. Terras devolutas
São conceituadas POR EXCLUSÃO, isto é, seu conceito é RESIDUAL. São terras vagas, abandonadas,
não utilizadas quer pelo Poder Público quer pelos particulares. Seu conceito é residual justamente
porque não se encontram destinadas a qualquer uso público, nem incorporadas ao domínio
privado.
DL 9.760/46, art. 5º: São devolutas, na faixa da fronteira, nos Territórios Federais e no Distrito
Federal, as terras que, não sendo próprias nem aplicadas a algum uso público federal, estadual ou
municipal, não se incorporaram ao domínio privado:
a) por força da Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850, Decreto nº 1.318, de 30 de janeiro de 1854,
e outras leis e decretos gerais, federais e estaduais;
b) em virtude de alienação, concessão ou reconhecimento por parte da União ou dos Estados;
c) em virtude de lei ou concessão emanada de governo estrangeiro e ratificada ou reconhecida,
expressa ou implicitamente, pelo Brasil, em tratado ou convenção de limites;
d) em virtude de sentença judicial com força de coisa julgada;
e) por se acharem em posse contínua e incontestada com justo título e boa-fé, por termo superior
a 20 (vinte) anos;
f) por se acharem em posse pacifica e ininterrupta, por 30 (trinta) anos, independentemente de
justo título de boa-fé;
g) por força de sentença declaratória nos termos do Art. 148 da Constituição Federal, de 10 de
novembro de 1937.
Parágrafo único. A posse a que a União condiciona a sua liberalidade não pode constituir latifúndio
e depende do efetivo aproveitamento e morada do possuidor ou do seu preposto, integralmente
satisfeitas por estes, no caso de posse de terras situadas na faixa da fronteira, as condições
especiais impostas na lei.
As SESMARIAS estão associadas à ideia de capitanias hereditárias, no Brasil Colônia; aqui surgiu a
presunção de que todas as terras pertenciam ao Poder Público, pois todas pertenciam a Portugal
(que era a Coroa).
Sesmaria era um pedaço de terra que o donatário da capitania outorgava ao interessado, que
tivesse interesse em ocupá-la, demarcá-la, fazer dela sua residência, cultivá-la. A outorga era feita
por meio de uma CARTA DE SESMARIA (eram os primórdios da enfiteuse, porque o sesmeiro não
tinha o domínio pleno, que permanecia à Coroa Portuguesa). Caso os deveres do sesmeiro não
fossem cumpridos, a sesmaria caía em comisso, ou seja, voltava para a coroa.
Se o Estado não discrimina as terras, elas poderão ser usucapidas e o ajuizamento da usucapião
impede a instauração do procedimento discriminatório.
As terras devolutas pertencem ou a União ou aos Estados, pela CF/88, artigo 20. São da União as
terras devolutas indispensáveis à:
1) Defesa das fronteiras (faixas de fronteira são as áreas consistentes na faixa de terra para dentro
do território nacional na distância de 150 km da fronteira com outros países) – as terras devolutas
que estejam dentro da faixa de fronteira (que é bem particular com limitações) serão de
titularidade da União e não dos Estados;
2) Defesa das fortificações e construções militares;
3) Defesa das vias federais de comunicação;
4) Preservação ambiental, definidas em lei.
Entendeu o STF na ADI 255/RS (Informativo 619) que somente os aldeamentos indígenas extintos
antes da Constituição de 1891 teriam sido excluídas do domínio da União (pertenceriam aos
Estados) e os demais a ela pertenceriam, de modo que o Estado-membro não poderia legislar
sobre a matéria (por haverem perdido o caráter de bens destinados a uso especial, passaram à
categoria de terras devolutas).
São áreas federais pertencentes à União, que estão sob o cuidado da SPU (Secretaria do
Patrimônio da União).
São as áreas que alcançam as áreas para dentro do continente da preamar (maré alta) de 1831 por
33 metros (tiro de canhão). Essa proteção era em razão da segurança e extração de sal.
Para as áreas que não existiam nas cartas de marés, foi usada a sistemática da linha de JUNDU
(vegetação rasteira na areia da praia), o que foi aceito pelo STF.
Estão nos terrenos de marinha as áreas insulares e as águas doces que sofrem as influências das
marés, mesmo os manguezais que estejam aterrados. A influência é a modificação do volume das
águas pelo menos em 05 cm (DL 9.769/46, Art. 2º).
OCUPAÇÃO DAS ÁREAS DE MARINHA – é a posse precária sem a existência de contrato com a
União, que então cataloga o ocupante e cobra uma TAXA DE OCUPAÇÃO.
Súmula 496 STJ: "Os registros de propriedade particular de imóveis situados em terrenos de
marinha não são oponíveis à União".
O STJ entendeu que (...) compete ao Serviço do Patrimônio da União a atualização anual da taxa de
ocupação dos terrenos de marinha. (...); a classificação de certo imóvel como terreno de marinha
depende de prévio procedimento administrativo, com contraditório e ampla defesa, porque aí há,
em verdade, a imposição do dever. Ao contrário, a atualização das taxas de ocupação, que se dá
com a atualização do valor venal do imóvel, não se configura como imposição ou mesmo
agravamento de um dever, mas sim recomposição de patrimônio devida na forma da lei. (...) No
caso das taxas de ocupação dos terrenos de marinha, é despiciendo o procedimento
administrativo prévio com participação dos administrados interessados, bastando que a
Administração Pública siga as normas do Dec. 2.398/1987 no que tange à matéria. Após a
divulgação da nova planta de valores venais e da atualização dela advinda, aí sim os administrados
podem recorrer administrativa e judicialmente dos pontos que consideram ilegais ou abusivos.
(...).
TERRENOS MARGINAIS OU RESERVADOS: são aqueles que, banhados pelas correntes navegáveis,
fora do alcance das marés, se estendem até a distância de 15 metros para a parte da terra,
contados desde a linha média das enchentes originárias (DL 9.769/46, art. 4º).
José dos Santos Carvalho alerta que há grande controvérsia sobre o domínio dos terrenos
reservados, mas entende que pertencem aos Estados os localizados à margem de correntes ou
lagos navegáveis, isto se, por algum título, não estiverem no domínio federal, municipal ou
particular.
Em relação aos rios não navegáveis, dispõe o art. 12 do Código das Águas que, dentro de uma faixa
de 10 metros, fica estabelecida servidão de trânsito para os agentes da Administração, quando em
execução de serviço.
Mas existe súmula do STF regulando o assunto: STF, 479. As margens dos rios navegáveis são de
domínio público, insuscetíveis de expropriação e, por isso mesmo, excluídas de indenização.
Para MARIA SYLVIA: os terrenos reservados podem ser bens públicos ou bens particulares. A
presunção é a de que sejam bens públicos.
UNIÃO
Terrenos marginais dos rios navegáveis, em Terrenos marginais de rios e ilhas situadas nos
territórios federal, se por título legítimo não territórios, na faixa de fronteira e nas zonas
pertencerem a particulares. onde se faça sentir a influência das marés.
Os terrenos marginais são as faixas de terras particulares, marginais aos rios, lagos e canais
públicos na largura de 15 metros (TRF1). Essa é posição também de HELY LOPES MEIRELLES.
Disciplina constitucional
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e
tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à
União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
§ 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter
permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos
recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e
cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
§ 4º As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas,
imprescritíveis.
§ 5º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, "ad referendum" do
Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou
no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional, garantido, em
qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco.
§ 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a
ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a exploração das
riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante interesse
público da União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e a
extinção direito a indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às
benfeitorias derivadas da ocupação de boa fé.
§ 7º Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, § 3º e § 4º. (Obs.: tratam do
favorecimento da atividade garimpeira em cooperativas e respectivas prioridades na exploração
dos recursos minerais.)
Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em
juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos
do processo.
A CF/88 garante aos índios os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente
ocupam, terras essas que se destinam à sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto
exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.
Essas terras são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas são imprescritíveis.
Para que os índios possam exercer seus direitos compete à União fazer a demarcação dessas
terras.
Segundo o § 1º do art. 231 da CF/88 são terras tradicionalmente ocupadas pelos índios:
• as que eles habitam em caráter permanente;
• as utilizadas para suas atividades produtivas;
• as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar;
• e as necessárias a sua reprodução física e cultural (segundo seus usos, costumes e
tradições).
ATENÇÃO: se a terra já foi habitada pelos índios, porém quando foi editada a CF/88
(05.10.1988) o aldeamento já estava extinto, ela não será considerada terra indígena.
Confira:
Renitente esbulho
Exceção: se, na época da promulgação da CF/88, os índios não ocupavam a terra porque
dela haviam sido expulsos em virtude de conflito possessório, considera-se que eles foram
vítimas de esbulho e, assim, essa área será considerada terra indígena para os fins do art.
231.
Trata-se do chamado renitente esbulho, expressão cunhada pelo ex-Ministro Carlos Britto no
Pet 3388, julgado em 19.03.2009 (Caso “Raposa Serra do Sol”).
Nas palavras do Min. Teori Zavascki, “o renitente esbulho se caracteriza pelo efetivo conflito
possessório, iniciado no passado e persistente até o marco demarcatório temporal da data
da promulgação da Constituição de 1988, materializado por circunstâncias de fato ou por
controvérsia possessória judicializada”.
O STF, contudo, rechaçou esse argumento alegando que a posse dos fazendeiros era fruto
de esbulho, ou seja, eles teriam expulsado os índios daqueles locais, conforme demonstrado
no laudo e parecer antropológicos.
Importante chamar atenção para o fato de que, os estudos relevaram também que, antes de
serem expulsos, os índios lutaram e tentaram resistir. Na verdade, mesmo após serem
obrigados a sair do local, continuaram lutando pela terra, movimento que perdurou até
chegar ao fim o processo de demarcação.
Renitente esbulho não se confunde com ocupação passada ou com desocupação forçada
no passado
Vale ressaltar que, para que se caracterize o renitente esbulho, é necessário que, no
momento da promulgação da CF/88, os índios ainda estivessem disputando a posse da terra
ou tivessem sido delas expulsos há pouco tempo.
Se eles habitaram naquela localidade e optaram por sair ou se foram dela expulsos muitos
anos antes de entrar em vigor a CF/88 (e desistiram de lutar), não se configura o chamado
“renitente esbulho”.
Exemplo: no caso concreto apreciado pelo STF (ARE 803462 AgR/MS), a última ocupação
indígena na área ocorreu no ano de 1953, data em que os índios foram expulsos da região.
Nessa situação, o STF entendeu que não estava caracterizado o renitente esbulho, mas sim
“a desocupação forçada ocorrida no passado” já que, no momento da promulgação da
CF/88, já havia se passado muitos anos da saída dos índios do local e eles não mais estavam
em conflito possessório por aquelas terras.
Resumindo:
Como regra, se os índios não estavam na posse da área em 05.10.1988, ela não será
considerada terra indígena (art. 231 da CF/88).
Existe, contudo, uma exceção a essa regra. Trata-se do chamado renitente esbulho. Assim,
se, na época da promulgação da CF/88, os índios não ocupavam a terra porque dela
haviam sido expulsos em virtude de conflito possessório, considera-se que eles foram
vítimas de esbulho e, assim, essa área será considerada terra indígena para os fins do art.
231.
Vale ressaltar que, para que se caracterize o renitente esbulho, é necessário que, no
momento da promulgação da CF/88, os índios ainda estivessem disputando a posse da
terra ou tivessem sido delas expulsos há pouco tempo. Se eles foram dela expulsos muitos
anos antes de entrar em vigor a CF/88, não se configura o chamado “renitente esbulho”.
Exemplo: no caso concreto apreciado pelo STF, a última ocupação indígena na área
ocorreu no ano de 1953, data em que os índios foram expulsos da região. Nessa situação,
a Corte entendeu que não estava caracterizado o renitente esbulho, mas sim “a
desocupação forçada ocorrida no passado” já que, no momento da promulgação da CF/88,
já havia se passado muitos anos da saída dos índios do local e eles não mais estavam em
conflito possessório por aquelas terras.
STF. 2ª Turma. ARE 803462 AgR/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 9/12/2014 (Info
771).
Obs: tão logo cesse o risco que ensejou a remoção, os índios deverão retornar às suas terras.
Resumindo:
Atividades que só podem ser exercidas nas terras indígenas com autorização do CN
Existem duas atividades que somente podem ser exercidas em terras indígenas se houver
PRÉVIA autorização do Congresso Nacional por meio de DECRETO LEGISLATIVO (art. 49, XVI,
da CF/88), sendo antes ouvidas as comunidades afetadas:
• o aproveitamento dos recursos hídricos (incluídos os potenciais energéticos). Ex.:
hidrelétrica;
• a pesquisa e a lavra das riquezas minerais. Ex.: petróleo.
Se for autorizada a atividade, deverá ser assegurada aos índios uma participação nos
resultados da lavra, na forma da lei.
Os direitos dos índios decorrem da própria Constituição e existem mesmo que as terras
ainda não estejam demarcadas. No entanto, o legislador determinou que a União fizesse
essa demarcação a fim de facilitar a defesa desses direitos.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.551.033-PR, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 6/10/2015 (Info
571).
Obs.1: a demarcação se dá por meio de processo administrativo (não é judicial). Além disso,
importante ressaltar que o Congresso Nacional não participa da demarcação, ocorrendo ela
apenas no âmbito do Poder Executivo.
Obs.2: mesmo após o processo de demarcação, a propriedade dessas terras continua sendo da
União (art. 20, XI). Os índios detêm apenas o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e
dos lagos nelas existentes.
O que acontece se já havia pessoas morando nas terras demarcadas? E se essas pessoas
possuíam títulos de propriedade registrados em cartório?
Os não-índios não possuem o direito subjetivo de permanecer no local mesmo que (1)
provem que lá moravam de boa-fé ou (2) mesmo que apresentem documentos de
propriedade dos imóveis localizados na área (porque foram expedidos em contrariedade
com o art. 20, XI e art. 231 da CF/88).
A CF/88 determinou que são nulos os atos que reconheçam direitos de ocupação, domínio
(propriedade) ou a posse relacionados com imóveis localizados dentro de terras indígenas. Logo,
se um não-índio possuir uma escritura pública registrada no cartório de registro de imóveis
afirmando que ele é proprietário de um lote existente dentro de uma terra indígena, esse
registro é nulo e extinto, não produzindo efeitos jurídicos.
Os não-índios que forem retirados das terras demarcadas deverão ser indenizados?
NÃO, em regra.
Exceção: tais pessoas poderão ser indenizadas pelas benfeitorias que realizaram no local,
desde que fique provado que a ocupação era de boa-fé.
Se estiverem de má-fé, não terão direito nem mesmo à indenização pelas benfeitorias.
§ 6º — São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por
objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a
exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado
relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei complementar, não
gerando a nulidade e a extinção direito a indenização ou a ações contra a União, salvo, na
forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de boa fé.
STF. 2ª Turma. RMS 29087/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão, Min.
Gilmar Mendes, julgado em 16/9/2014 (Info 759)
Se uma terra indígena foi demarcada antes da CF/88, é possível que agora ela seja
“remarcada”, ampliando-se a área anteriormente já reconhecida?
STF:
A União poderá até ampliar a terra indígena, mas isso não deverá ser feito por meio de
demarcação (art. 231 da CF/88), salvo se ficar demonstrado que, no processo originário de
demarcação, houve algum vício de ilegalidade e, ainda assim, desde que respeitado o
prazo decadencial de 5 anos (art. 54 da Lei nº 9.754/99).
No caso concreto, essa remarcação não seria possível porque, ainda que tivesse havido
alguma ilegalidade, como afirma o Ministério da Justiça, já teria se passado o prazo
decadencial para rever esse ato.
STF. 2ª Turma. RMS 29542/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 30/9/2014 (Info 761).
STJ:
O STJ decidiu que a alegação de que a demarcação da terra indígena não observou os
parâmetros estabelecidos pela CF/1988 não justifica a remarcação ampliativa de áreas
originariamente demarcadas em período anterior à sua promulgação.
Desde o julgamento da Pet 3.388-RR (Caso Raposa Serra do Sol), a jurisprudência passou a
entender que é vedada a ampliação de terra indígena já demarcada, salvo em caso de vício
de ilegalidade do ato de demarcação e, ainda assim, desde que respeitado o prazo
decadencial.
É inegável que a CF/88 mudou o enfoque atribuído à questão indígena e trouxe novas
regras mais favoráveis a tais povos, permitindo a demarcação das terras com critérios
mais elásticos, a partir da evolução de uma perspectiva integracionista para a de
preservação cultural do grupamento étnico. Isso, contudo, não é motivo suficiente para se
promover a revisão administrativa das demarcações de terras indígenas já realizadas,
especialmente nos casos em que se passou o prazo decadencial.
STJ. 1ª Seção. MS 21.572-AL, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 10/6/2015 (Info 564).
O que é?
Raposa Serra do Sol é uma terra indígena, de 1.747.464 hectares, situada no Estado de Roraima,
nos municípios de Normandia, Pacaraima e Uiramutã. Uma parte da reserva faz fronteira com a
Venezuela.
A Raposa Serra do Sol foi demarcada pelo Ministério da Justiça através da Portaria n.º 820/98,
posteriormente modificada pela Portaria 534/2005.
Ações judiciais
Foi dado um prazo de 1 ano para que as pessoas que não fossem indígenas deixassem o local. No
entanto, logo em seguida, foram propostas diversas ações questionando a demarcação dessa
reserva indígena e a desocupação foi suspensa pelo STF.
Nas ações ajuizadas eram invocados os mais diversos argumentos, que incluíam vícios formais da
demarcação, críticas ao modelo de demarcação contínua (e não em ilhas), prejuízos econômicos
ao Estado de Roraima, riscos à segurança nacional, direitos das pessoas não-indígenas que viviam
na localidade, etc.
Na área onde é situada a reserva havia extensas propriedades de produtores de arroz, uma das
principais atividades econômicas do Estado.
Uma das ações propostas foi uma ação popular ajuizada por um Senador pelo Estado de Roraima e
que tramitou no STF.
Por que essa ação popular que, normalmente, tramita em 1ª instância, foi julgada originariamente
pelo STF?
A demarcação foi feita pela União (Portaria do Ministério da Justiça e Decreto do Presidente da
República). A ação popular questionava tais atos. O Estado de Roraima concordava com o autor
popular e também impugnava a demarcação.
Em tais casos, a competência originária para julgar é do STF, conforme previsto no art. 102, I, “f”,
da CF/88:
Rcl 2.833, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 14-4-2005, Plenário, DJ de 5-8-2005
Resultado do julgamento:
Condicionantes
No julgamento da PET 3.388, o STF, a partir do voto do falecido Min. Menezes Direito, estabeleceu
que a referida Terra Indígena deveria ser mantida, mas que, em compensação, deveriam ser
obedecidas certas condições que seriam pressupostos para o reconhecimento da demarcação
válida.
1) o usufruto das riquezas do solo, dos rios e dos lagos existentes nas terras indígenas (CF, art. 231,
§ 2º) pode ser relativizado sempre que houver, como dispõe o art. 231, § 6º, da CF, relevante
interesse público da União, na forma de lei complementar;
3) o usufruto dos índios não abrange a pesquisa e lavra das riquezas minerais, que dependerá
sempre de autorização do Congresso Nacional, assegurando-se-lhes a participação nos resultados
da lavra, na forma da lei;
4) o usufruto dos índios não abrange a garimpagem nem a faiscação, devendo, se for o caso, ser
obtida a permissão da lavra garimpeira;
5) o usufruto dos índios não se sobrepõe ao interesse da Política de Defesa Nacional; a instalação
de bases, unidades e postos militares e demais intervenções militares, a expansão estratégica da
malha viária, a exploração de alternativas energéticas de cunho estratégico e o resguardo das
riquezas de cunho estratégico, a critério dos órgãos competentes (Ministério da Defesa e Conselho
de Defesa Nacional), serão implementados independentemente de consulta às comunidades
indígenas envolvidas ou à FUNAI;
6) a atuação das Forças Armadas e da Polícia Federal na área indígena, no âmbito de suas
atribuições, fica assegurada e se dará independentemente de consulta às comunidades indígenas
envolvidas ou à FUNAI;
7) o usufruto dos índios não impede a instalação, pela União Federal, de equipamentos públicos,
redes de comunicação, estradas e vias de transporte, além das construções necessárias à
prestação de serviços públicos pela União, especialmente os de saúde e educação;
8) o usufruto dos índios na área afetada por unidades de conservação fica sob a responsabilidade
do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade;
10) o trânsito de visitantes e pesquisadores não-índios deve ser admitido na área afetada à
unidade de conservação nos horários e condições estipulados pelo Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade;
11) devem ser admitidos o ingresso, o trânsito e a permanência de não-índios no restante da área
da terra indígena, observadas as condições estabelecidas pela FUNAI;
12) o ingresso, o trânsito e a permanência de não-índios não podem ser objeto de cobrança de
quaisquer tarifas ou quantias de qualquer natureza por parte das comunidades indígenas;
13) a cobrança de tarifas ou quantias de qualquer natureza também não poderá incidir ou ser
exigida em troca da utilização das estradas, equipamentos públicos, linhas de transmissão de
energia ou de quaisquer outros equipamentos e instalações colocadas a serviço do público,
tenham sido excluídos expressamente da homologação ou não;
14) as terras indígenas não poderão ser objeto de arrendamento ou de qualquer ato ou negócio
jurídico que restrinja o pleno exercício do usufruto e da posse direta pela comunidade indígena ou
pelos índios;
15) é vedada, nas terras indígenas, a qualquer pessoa estranha aos grupos tribais ou comunidades
indígenas, a prática da caça, pesca ou coleta de frutas, assim como de atividade agropecuária
extrativa;
16) as terras sob ocupação e posse dos grupos e das comunidades indígenas, o usufruto exclusivo
das riquezas naturais e das utilidades existentes nas terras ocupadas, observado o disposto nos
artigos 49, XVI, e 231, § 3º, da Constituição da República, bem como a renda indígena, gozam de
plena imunidade tributária, não cabendo a cobrança de quaisquer impostos, taxas ou
contribuições sobre uns ou outros;
18) os direitos dos índios relacionados às suas terras são imprescritíveis e estas são inalienáveis e
indisponíveis;
Pessoas miscigenadas, ou que vivam maritalmente com índios, podem permanecer na área.
A CF/88 tem caráter pluralista e inclusivo, de maneira que o critério adotado pelo acórdão do STF
para ocupar a reserva não é genético, mas sociocultural.
Desse modo, podem permanecer na área demarcada e valer-se de seu usufruto todos que
integrem as comunidades indígenas locais. Importa, para esse fim, a comunhão com o modo de
vida tradicional dos índios da região.
Ressalvou-se, por outro lado, que não seria legítima a presença de indivíduos que tivessem como
propósito interferir sobre a religião dos índios.
Sublinhou-se, ainda, que a Constituição não teria por objetivo impedir os índios de fazer suas
próprias escolhas, como se devessem permanecer em isolamento incondicional.
Concluiu-se que, nos termos do acórdão, seria aplicável à questão religiosa a mesma lógica
aplicada quanto ao usufruto das riquezas do solo, que seria conciliável com a eventual presença de
não-índios, desde que tudo ocorresse sob a liderança institucional da União.
3) Escolas públicas
No tocante às escolas públicas, explicitou-se que o acórdão teria sido expresso ao dizer que as
entidades federadas deveriam continuar a prestar serviços públicos nas terras indígenas, desde
que sob a liderança da União (CF, art. 22, XIV).
Assim, seria necessária a presença de escolas públicas na área, desde que respeitadas as normas
federais sobre a educação dos índios, inclusive quanto ao currículo escolar e o conteúdo
programático.
No que se refere à passagem de não índios pelas rodovias citadas, lembrou-se que o acórdão
estabelecera esse direito de passagem, visto que os índios não exerceriam poder de polícia, sequer
poderiam obstar a passagem de outros pelas vias públicas que cruzassem a área demarcada.
5) Ações individuais
Quanto às ações individuais que questionam a boa-fé dos portadores de títulos de propriedade,
proveu-se o recurso para explicitar que ao STF não teriam sido submetidos outros processos a
respeito de questões individuais relacionadas à área.
Assentou-se que, uma vez transitada em julgado a sentença de mérito proferida em ação popular,
nos termos do art. 18 da Lei 4.717/65 (“Art. 18. A sentença terá eficácia de coisa julgada oponível
‘erga omnes’, exceto no caso de haver sido a ação julgada improcedente por deficiência de prova;
neste caso, qualquer cidadão poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de
nova prova”), todos os processos relacionados a essa terra indígena deveriam adotar as seguintes
premissas:
a) a validade da portaria do Ministério da Justiça e do decreto presidencial, observadas as
condições estabelecidas no acórdão; e
b) a caracterização da área como terra indígena, para os fins dos artigos 20, XI, e 231 da CF.
Frisou-se que o tema não foi objeto de decisão no acórdão, mas eventuais disputas do tipo
deveriam ser resolvidas pelas comunidades interessadas, com a participação da FUNAI e da União,
sem prejuízo da intervenção do Ministério Público e do Judiciário.
Para a PGR, não caberia ao STF traçar parâmetros abstratos de conduta, quando esses temas não
foram sequer objeto de discussão no processo e não permitiram direito ao contraditório. Para a
PGR, a Corte extrapolou os limites da causa.
O Ministro Relator iniciou afirmando que a incorporação das salvaguardas (condições) foi uma
decisão atípica e que o papel do STF não era o de traçar parâmetros abstratos de conduta, que
sequer tinham sido objeto de discussão na lide.
Entretanto, observou que, no caso concreto, o STF estipulou essas condições (salvaguardas)
porque seria impossível resolver o conflito fundiário apresentado sem enunciar os aspectos
básicos do regime jurídico aplicável à área demarcada, explicando o sistema constitucional
incidente na matéria.
Nesse sentido, as condições integram o objeto da decisão e fazem coisa julgada material. Portanto,
tais diretrizes não podem ser objeto de questionamento em outros processos.
Isso não significa transformação da coisa julgada em ato normativo geral e abstrato, vinculante em
sentido formal para outros processos que discutam matéria similar. Essas condições estipuladas
para a Raposa Serra do Sol não vinculam os juízes e tribunais quando forem julgar questões
envolvendo outras terras indígenas.
Garimpagem e faiscação
Em seu voto, o Min. Roberto Barroso disse que não se pode confundir mineração (exploração
econômica), com formas tradicionais de extrativismo, históricas, integrantes do modo de vida de
determinadas comunidades indígenas. Para o Ministro, deve ser permitida aos índios a forma
tradicional de extrativismo mineral, sem finalidade econômica, como para a produção de brincos e
colares.
Assim, os índios podem explorar os minérios desde que seja de forma artesanal, para preservar a
cultura. O extrativismo não se confunde com o garimpo, que precisa ser autorizado pela União.
O Ministro Relator explicou que, em regra, a utilização das terras indígenas pela União depende da
prévia edição de lei complementar (art. 231, § 6º, da CF/88). Essa reserva de lei complementar não
alcança, contudo, toda e qualquer atuação da União em terras indígenas. Em particular, o
patrulhamento de fronteiras, a defesa nacional e a conservação ambiental nas áreas demarcadas
não dependem da prévia promulgação da referida lei.
1) Pessoas miscigenadas, ou que vivam maritalmente com índios, podem permanecer na área.
3) Escolas públicas: as entidades federadas devem continuar a prestar serviços públicos nas
terras indígenas, desde que sob a liderança da União (CF, art. 22, XIV).
4) Passagem de não índios pelas rodovias: os índios não exercem poder de polícia e não podem
obstar a passagem de outras pessoas pelas vias públicas que cruzem a área demarcada.
5) Ações individuais: quanto às ações individuais que questionam a boa-fé dos portadores de
títulos de propriedade, proveu-se o recurso para explicitar que ao STF não foram submetidos
outros processos a respeito de questões individuais relacionadas à área, devendo eles ainda
serem julgados pelos juízes naturais.
6) Posse das fazendas desocupadas: eventuais disputas do tipo devem ser resolvidas pelas
comunidades interessadas, com a participação da FUNAI e da União, sem prejuízo da
intervenção do Ministério Público e do Judiciário.
STF. Plenário. Pet 3388 ED - Terceiros/RR, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 23/10/2013
Sistema Financeiro de Habitação (SFH) constituiu uma rede de gestão e concessão de recursos
financeiros criada pelo Governo Federal, através da Lei 4.380/64, com o objetivo de facilitar o
acesso da população de baixa renda à casa própria, mediante financiamento facilitado e de longo
prazo, além de fomentar a indústria da construção civil.
Por intermédio do SFH, um indivíduo, denominado mutuário, realiza com uma instituição
financeira um contrato de mútuo (empréstimo) de dinheiro, oriundo da poupança ou do FGTS,
para a aquisição de sua casa, se comprometendo a pagar prestações, por um determinado prazo,
para restituição deste valor. Em contra partida, o mutuário oferece o próprio imóvel como
hipoteca ou alienação fiduciária ao agente financeiro (Caixa Econômica Federal ou outra
instituição que aceite o SFH), ou seja, como garantia do pagamento das prestações. Este contrato é
celebrado por intermédio de instrumento particular e, por determinação da lei, tem força de
escritura pública.
Todo cidadão que recebia um empréstimo para a aquisição da moradia própria pelo SFH, deveria
devolver o valor do financiamento atualizado e acrescido de juros anuais (10 %), possibilitando que
outro cidadão pudesse, também, participar do sistema, assim como a sua continuidade e
operacionalidade.
Estes contratos eram de longa duração e se submetem aos efeitos dos “Planos Econômicos”. As
prestações, por outro lado, correspondem a um valor pago mensalmente pelo mutuário,
pactuadas na celebração do contrato, por meio de uma fórmula matemática do sistema de
amortização escolhido, correspondem basicamente em uma parcela destinada a amortização do
empréstimo e outra destinada ao pagamento dos juros remuneratórios, podendo ser
exemplificada:
1º). Assegurar a aquisição da casa própria ao cidadão brasileiro, em especial a população de baixa
renda. Desta forma, para obter o financiamento o adquirente (ou mutuário) não podia ser
proprietário de outro imóvel, além de ter que comprovar a renda familiar exigida pelo agente
financeiro (ou instituição financeira: Ex.: Caixa Econômica Federal - CEF), cuja comprovação
poderia compreender o rendimento do adquirente (comprador do imóvel), do cônjuge, dos
dependentes e de terceiros.
3º). conveniência política com aumento da oferta de habitações populares, objetivando suprir o
déficit habitacional no País e o combate ao desemprego.
11.2. Origem
Em 1964, na época da ditadura militar, o déficit habitacional no Rio de Janeiro era muito grande:
poucas entidades se prestavam fazer investimentos no ramo habitacional, pois havia grande
insegurança quanto a seu retorno, além do que, até esta época, não se falava no que hoje
conhecemos por correção monetária.
Em 21 de agosto de 1964, surgiu a Lei 4.380, que regulamentou o Sistema Financeiro de
Habitação, e criou:
a) o Banco Nacional de Habitação (BNH), atualmente já extinto: autarquia federal encarregada de
orientar, disciplinar e controlar o SFH.
b) a correção monetária: a partir daí as prestações mensais do SFH, os saldos devedores dos
financiamentos habitacionais e os saldos das cadernetas de poupança, passaram a ser corrigidos
monetariamente, ou seja, a correção monetária passou a refletir "adequadamente as variações do
poder aquisitivo da moeda nacional”.
c) o Sistema Brasileiro de Poupança (SBPE), criando a poupança como se conhece hoje, com a
incidência da correção monetária, cujos valores nela depositados poderiam vir a ser emprestados
aos interessados em adquirir seu imóvel.
Essa legislação definiu regras rígidas para esse Sistema, a fim de evitar a especulação imobiliária,
uma vez que o que se pretendia era diminuir o número de pessoas sem moradia própria e não
fomentar um acréscimo desmesurado de aquisição de propriedades imóveis para a habitação.
As duas fontes tradicionais de recursos são a Caderneta de Poupança e o Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço (FGTS).
A Caderneta é a principal: por lei, 70% da captação da caderneta de poupança deve ser destinada a
financiamentos habitacionais, sendo que, deste total, 80% devem ser aplicados em operações do
SFH, e o restante, em operações a taxas de mercado, conhecidas como Carteiras Hipotecárias.
O fim do BNH (Banco Nacional de Habitação), em 1986, fez com que a Caixa Econômica Federal
assumisse a gestão do SFH e herdasse um prejuízo de R$ 2,5 bilhões. O governo teve boa parte da
culpa pela crise do SFH, já que não soube administrar o sistema e ainda criou um monstro, o Fundo
de Compensação de Variações Salariais.
11.3. Legislação
Inicialmente a Lei 4.380/64 criou o Banco Nacional de Habitação – BNH e o Sistema Brasileiro
de Poupança – SBPE, com atualização monetária facultativa.
O Decreto 55.279/64 adaptou a Caixa Econômica Federal ao SFH.
A Lei 4.595/64, por sua vez, criou o Conselho Monetário Nacional e o Banco Central.
Com o Decreto-Lei 19/1966 (art. 1º), a atualização monetária passou a ser obrigatória, sendo
competência do BNH editar instruções sobre a correção monetária dos valores.
O Decreto-Lei 2.291/86 extinguiu o Banco Nacional de Habitação – BNH e todo seu passivo e
ativo foi incorporado pela Caixa Econômica Federal. Atribui ainda ao Conselho Monetário Nacional
e ao Banco Central as funções de orientar, disciplinar, controlar e fiscalizar as entidades do SFH.
As Leis 8.004/90 e 8.100/90 reservaram ao Banco Central do Brasil a competência para
expedir instruções necessárias à aplicação das normas do Sistema Financeiro de Habitação,
inclusive quanto a reajuste de prestações e do saldo devedor dos financiamentos, recepcionando
plenamente a legislação que instituiu o sistema de prévia atualização e posterior amortização das
prestações.
A Lei 8.177/91 passou a tratar da utilização do índice TR (Taxa de Referência) no âmbito do
SFH.
Posteriormente, a Lei 8.692/93 extinguiu o Sistema de Compensação de Valores Salariais –
SCVS, e criou alguns modelos de amortização e reajuste de prestações.
Assim, foi publicada a Lei 9.514/97, que dispõe sobre o Sistema Financeiro Imobiliário e
regulamenta a alienação fiduciária de coisa imóvel.
A Lei 10.188/01 criou o programa de arrendamento residencial, apesar de hoje ele ser um
programa que está sendo absorvido, em grande parte, pelo programa “Minha Casa Minha Vida”,
ainda possui bastante força no nosso cenário atual e, por fim, a Lei 10.931/04, que trata, em
alguns aspectos do Sistema Financeiro de Habitação.
11.4. Prestação
A prestação que deve ser paga pelo mutuário exerce duas finalidades: amortizar o saldo devedor,
ou seja, aquele valor que foi mutuado e, também a pagar uma parcela de juros que está embutida
na contratação do SFH: assim, P = A + J.
Naturalmente, para que isso ocorra, tanto a prestação a ser paga pelo mutuário, quanto o saldo
devedor deveriam ser reajustados na mesma periodicidade e também pelo mesmo índice, ou seja,
o índice que se aplica na prestação, deveria ser o mesmo índice aplicado ao saldo devedor,
crescendo os dois na mesma proporção. Desta forma, o sistema, ao final de um determinado
período, estaria zerado. Inexistiria o saldo devedor.
Ocorre que no Brasil, infelizmente, tivemos uma quebra dessas duas regras da matemática: a
prestação do SFH sofria um reajuste “X” em uma periodicidade específica, enquanto o salto
devedor acompanhava a inflação em uma periodicidade menor. Logo, se o saldo devedor crescia
de acordo com um índice e a prestação a ser paga pelo mutuário aumentava de acordo com outro
índice menor, qual seria o resultado final? Ao final do período contratado, teremos um saldo
devedor residual, que, atualmente, é uma das maiores preocupações dos mutuários do SFH.
O sistema de amortização é o artifício matemático que fixa por meio de sua fórmula
doutrinária (matemática) o regime de capitalização da taxa de juros e, em consequência, as
proporções das cotas mensais de Amortização (A) e dos Juros (J) remuneratórios, para cada
período do prazo de resgate do empréstimo.
As operações da matemática financeira de cômputo de juros, podem observar dois regimes:
regime de capitalização simples (cálculo linear) e regime de capitalização composta (cálculo
exponencial).
No regime de juros simples, o valor dos juros, apurado a cada período, sempre sobre o
mesmo capital, é pago em intervalos iguais (Ex.: mensal, bimestral, trimestral etc).
No regime de capitalização composta, o valor dos juros é incorporado ao capital
remanescente e o cômputo leva em consideração o capital inicial acrescido do valor dos juros de
cada período vencido, sendo o pagamento do principal e dos juros apenas ao final do prazo.
Os sistemas de amortização a juros simples são aqueles que, na sua fórmula matemática,
têm as variáveis prazo (n) e taxa (i) de juros são conjugadas linearmente, enquanto nos a juros
compostos são conjugadas exponencialmente.
c) Sistema Price
É um sistema de amortização francês, também é conhecido como tabela “price”, cujo nome
deve-se ao economista inglês Richard Price. A referida tabela prevê a utilização de juros
decrescentes, uma amortização crescente e a prestação se mantendo sempre igual.
Quando se fala em juros decrescentes e amortização crescente, o que significa isso?
Como a prestação comporta uma parcela de juros e uma parcela de amortização (P=A+J),
pode ser dado com exemplo um mutuário que tenha pactuado prestação no valor de R$1.000,00
(mil reais), que se manterá igual ao longo do prazo, assim:
I. no primeiro mês, do total de R$1000,00: R$700,00 serão destinados ao pagamento dos
juros (remuneração de capital) e R$300,00 para amortização do montante;
II. num segundo mês, como os juros são decrescentes e a amortização crescente, do total de
R$1.000,00: R$690,00 abaterão os juros e R$310,00 abaterão o saldo devedor... e assim
sucessivamente, com o juros decaindo e a amortização crescendo, abatendo a cada mês uma
parcela maior, até que seja mantida uma relação de reajuste ideal, sendo o saldo devedor, ao final,
zerado, porque se estaria pagando menos juros e mais amortização.
Se houvesse sido adotado o sistema da tabela “price”, teríamos, ao final do prazo pactuado,
saldo devedor igual a zero.
Esse modelo facilitou muito o acesso ao SFH, propiciando financiamentos imobiliários com
baixas prestações iniciais. Todavia, por se tratarem de contratos de longo prazo, associados à
inflação galopante no Brasil até a década de 80, a incidência da correção monetária acabou
aumentando muito o valor do saldo devedor, tornando a dívida impagável.
Note-se que todos os sistemas de amortização são artifícios matemáticos universais, que não
contemplam em sua fórmula doutrinária as variáveis “reajuste“ ou “correção” monetária, variáveis
estas determinadas, porém, pelos Planos de Reajustes do SFH.
Entre 1966 e 1969, havia os planos “A” e ”C”. A prestação do mutuário era reajustada
anualmente, de acordo com a variação do chamado ‘salário habitacional’ ou com a Unidade
Padrão de Capital (UPC). Posteriormente, houve o sistema de Plano de Equivalência Salarial (PES).
Nele, o reajuste da prestação deveria acompanhar o do salário. Atualmente, temos o PESPCR, em
que há a variação pelo comprometimento da renda (PCR).
No SFH, o saldo devedor passou a sofrer uma correção diferente do índice que era usado
para reajuste das prestações, o que fez como que sistema entrasse em descompasso. Ou seja,
enquanto a prestação foi reajustada por um índice, em periodicidade “a”; o agente tinha o saldo
devedor reajustado por outro índice, em uma periodicidade “b”.
A título de exemplo, que não traduz a realidade, apenas para melhor compreensão,
imaginemos que a prestação do mutuário era reajustada conforme o PES (Plano de Equivalência
Salarial), assim, os reajustes só eram realizados quando ocorria aumento salarial (geralmente uma
vez ao ano), supondo, desta forma, todo mês de janeiro, em uma porcentagem relativamente
baixa (ex.: 2% ao ano). Por outro lado, o saldo devedor (devido pelo mutuário), era corrigido
conforme índice mensal que acompanhava a inflação, por exemplo o INPC (ex.: 6% ao mês). Logo,
o saldo devedor aumentava em uma proporção (6%), enquanto a prestação do mutuário não
seguia o mesmo aumento (2%). A consequência foi a existência de um saldo residual mesmo nos
casos em que o mutuário honrou a integralidade de suas prestações.
Neste sentido, qual seria o índice mais adequado para a correção do saldo devedor?
Esta questão permeou os tribunais durante muito tempo, até mesmo porque este índice de
reajuste do saldo devedor precisava, necessariamente, estar previsto nos contratos de mútuo do
SFH.
Atualmente, utiliza- se da Taxa Referencial, tratada como “TR”.
a.2) INPC x TR
O inciso I, do art. 5º, Lei 4.380/64, criadora do SFH, dispunha que "o reajustamento será
baseado em índice geral de preços mensalmente apurado ou adotado pelo Conselho Nacional de
Economia que reflita adequadamente as variações no poder aquisitivo da moeda." Desde 1964, o
saldo já havia sido corrigido pela UPC, pela ORTN, pela OTN, pelo IPC.
No entanto, com o advento da Lei 8.177, de 1º de março de 1991, restou alterada a forma de
reajuste dos depósitos da poupança, que passou a ser vinculada à Taxa Referencial, por força do
disposto no art. 12 daquela Lei, e que agora está disciplinado pelo art. 7º da Lei 8.660/93 - com
isso também os saldos devedores do SFH passaram a ter tal reajustamento.
Isto gerou enorme controvérsia, já que havia corrente que entendia que a TR não é nem
nunca foi índice que reflita a correção monetária, já que sua metodologia de cálculo indica
somente as variações do mercado financeiro e não o custo da moeda junto ao cidadão comum.
Então não corresponderia ao que determina a Lei 4.380/64, não podendo, por isso, ser utilizada
junto ao SFH.
Foi ajuizada, no STF, a ADI 493-0/DF, em que o se reconheceu a constitucionalidade da
aplicação da TR para os contratos firmados após a Lei 8.177/90 (1º/03/1991), logo, a aplicação do
TR seria inconstitucional para os contratos firmados anteriormente a vigência desta Lei, assim,
decidiu que a substituição do índice neutro de inflação pela Taxa Referencial no reajuste dos
saldos devedores dos contratos firmados até 29.02.91 era inconstitucional, por ferir o ato jurídico
perfeito e o direito adquirido derivado do pactuado anteriormente àquela Lei.
E, de fato, logo depois surgiu a Súmula 295 do STJ:
"A taxa referencial (TR) é indexador válido para contratos posteriores à Lei 8.177/91, desde
que pactuada".
Todavia, alguns contratos traziam previsão diversa: estabeleciam de que o reajuste do saldo
devedor se daria pelo mesmo índice de reajuste das cadernetas de poupança, ou se a fonte de
recursos fosse o FGTS, o reajuste se daria pelo mesmo índice deste fundo (Lembrando que
atualmente ambos são corrigidos pelo TR). A diferença se dava nos juros remuneratórios, já que a
poupança aplica a taxa de 0,5% a.m. (6% a.a.), enquanto o FGTS, de 3% a.a..
Assim, a fim de evitar qualquer controvérsia sobre o tema, o STJ editou nova súmula, agora
de nº 454:
STJ, Súmula 454: “Pactuada a correção monetária nos contratos do SFH pelo mesmo índice
aplicável à caderneta de poupança, incide a taxa referencial (TR) a partir da vigência da Lei
8.177/1991”.
Desta forma, não restam dúvidas: o STF decidiu ser constitucional a aplicação da TR aos
saldos devedores desde que pactuada posteriormente a 1º de março de 1991, data em que a Lei
8.177, que estabeleceu a aplicação deste índice, entrou em vigor, sendo este entendimento
externado pelo STJ através das súmulas 295 e 454.
Art. 6° O disposto no artigo anterior [reajuste das parcelas e correção da dívida] somente se
aplicará aos contratos de venda, promessa de venda, cessão ou promessa de cessão, ou
empréstimo que satisfaçam às seguintes condições:
O trecho acima grifado “[...] antes do reajustamento, que incluam amortizações e juros” foi objeto
de discussão, uma vez que surgiram divergências interpretativas a seu respeito:
1ª Corrente: afirmava que tendo sido feito um empréstimo vinculado ao SFH, ao pagar a
prestação, esta prestação se destinaria primeiro a abater o saldo devedor, para depois, então,
corrigir (reajustar) este saldo devedor.
Ou seja, emprestado o dinheiro, a primeira parcela seria paga antes que o valor fosse corrigido, e
somente depois do pagamento da primeira parcela haveria correção do saldo devedor, e assim
sucessivamente em relação ao pagamento das demais parcelas e atualizações.
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. SFH. CONTRATO DE MÚTUO. [...] LIMITAÇÃO DOS JUROS.
ART. 6º, ALÍNEA C, DA LEI Nº 4.830/64. SISTEMA DE AMORTIZAÇÃO DO SALDO DEVEDOR. [...]
7. É considerado legal o critério de amortização do saldo devedor mediante a aplicação da
correção monetária e juros para só então efetuar o abatimento da prestação mensal do contrato
de mútuo para aquisição de imóvel pelo Sistema Financeiro de Habitação. Precedentes.
Importante destacar, mais uma vez, que a divergência interpretativa seria afastada se
considerássemos que, tecnicamente, a palavra “reajuste” se destina à atualização das prestações
(A+J), enquanto “correção” se refere à atualização do saldo devedor. Desta forma, a interpretação
da alínea “c”, do art. 6º, da Lei 4.380/64 jamais poderia ser no sentido de se permitir o pagamento
antes da correção do saldo devedor, uma vez que a palavra “reajuste” se refere à atualização da
prestação, como utilizado na ementa.
b) Anatocismo
Pelo estudado, nota-se que o SFH buscou, de um lado, proteger o mutuário dos efeitos da
inflação, criando a ele um sistema de proteção para o pagamento de suas prestações, reajustando-
as conforme o reajuste de seu salário (PES – Plano de Equivalência Salarial) e limitando-a a um
percentual fixo de desconto (30%, conforme PCR – Plano de Comprometimento de Renda).
Por outro lado, o Governo também buscou proteger o agente financeiro, garantindo a
reposição do valor do empréstimo concedido com correção do saldo devedor segundo os mesmos
coeficientes de atualização destinados aos fundos que deram lastro à operação (Poupança/FGTS).
O que não foi esperado era que o reajuste das parcelas por um índice e a correção do saldo
devedor por outro, geraria um descompasso no SFH, caracterizando o que se denominou de
“Amortizações Negativas”.
Assim, mesmo que o mutuário arcasse com todas as parcelas inicialmente acordadas para
pagamento de seu empréstimo, ao final, restaria um saldo que não seria quitado, e sobre este
saldo, incidiria novamente juros e correção, o que geraria um saldo maior, e novamente incidiria
juros e correção, fazendo do saldo remanescente uma verdadeira “bola de neve”, caracterizando o
anatocismo.
O FCVS é formado, além de contribuição da União, por intermédio de contribuição paga pelo
mutuário para composição de um fundo que garante, ao final do contrato, o pagamento ao agente
financeiro de eventual resíduo do saldo devedor. A cobrança era feita através de um percentual
incidente sobre o valor da prestação, controlada pelo BNH.
Assim, se o mutuário tiver aderido entre os anos de 1967 e 1993 ao FCVS (época em que o
FCVS existiu), e contribuído na forma acima explicitada, eventual saldo não amortizado pelas
prestações por ele pagas seria automaticamente coberto pelo FCVS.
Não podemos confundir saldo devedor residual com saldo devedor total, porque, por vezes,
o mutuário no desenvolvimento de seu programa habitacional não consegue sequer pagar as
prestações pactuadas no início do contrato e, por isso, pode se dirigir ao agente financeiro
solicitando a incorporação da prestação em atraso ao saldo devedor, renegociando sua dívida para
pagamento posterior.
É preciso entender que o saldo devedor residual é aquele valor remanescente que poderá
existir mesmo que o mutuário tenha arcado com todas as prestações inicialmente pactuadas,
cumprindo integralmente suas obrigações, estando, por isso, adimplente em suas prestações.
Desta forma, caso tenha aderido ao FCVS, este valor residual será assumido por este fundo.
Através do FCVS, a União passou a assumir os valores de saldos devedores residuais,
pagando-os por meio de emissão de títulos de dívida pública, ao agente financeiro, em parcelas
resgatáveis em um período de cinco, oito ou dez anos, de acordo o valor do contrato, conforme
normatização específica.
Como o FCVS era competência da União, a Caixa Econômica Federal, por força das Leis
10.150/00 e 8.004/90, atualmente é gestora deste fundo público, sendo responsável por eventual
pagamento.
Neste cenário, por muito tempo se questionou a legitimidade para integrar uma lide relativa
ao FCVS: de um lado, a CEF alegava que a legitimidade era da União, já que:
(I) ela é a “dona” do dinheiro e a CEF atuaria, nestes casos, como mera mandatária da União;
(II) poderia haver conflito de interesse entre a União e a CEF, já que esta ultima atua também
como agente financeiro.
STJ, Súmula 327: Nas ações referentes ao Sistema Financeiro da Habitação, a Caixa
Econômica Federal tem legitimidade como sucessora do Banco Nacional da Habitação.
O §1º do artigo 9º da Lei 4.380 vedava que as pessoas que já fossem proprietárias, promitentes
compradoras ou cessionários de imóvel residencial na mesma localidade adquirissem imóveis pelo
SFH. Nos seguintes termos:
Art. 9º Tôdas as aplicações do sistema, terão por objeto, fundamentalmente a aquisição de casa
para residência do adquirente, sua família e seus dependentes, vedadas quaisquer aplicações em
terrenos não construídos, salvo como parte de operação financeira destinada à construção da
mesma.
§ 1º As pessoas que já forem proprietários, promitentes compradoras ou cessionárias de imóvel
residencial na mesma localidade ... (Vetado) ... não poderão adquirir imóveis objeto de aplicação
pelo sistema financeiro da habitação.(Revogado pela Medida Provisória nº 2.197-43, de 2001)
Assim, a Lei 8.100/90, passou a dispor que “o Fundo de Compensação das Variações Salariais
(FCVS) quitará somente um saldo devedor remanescente por mutuário ao final do contrato,
inclusive os já firmados no âmbito do SFH” (art. 3º, Lei 8.100/90).
Com isto, a Lei 8.100/90 tornou inadmissível que o FCVS, como fundo público, gerido pela
CEF, quitasse os saldos residuais relativos a dois imóveis diferentes de uma mesma pessoa, pois o
programa havia sido desenvolvido para adquirir a casa própria, não para beneficiar especuladores
do meio imobiliário. Ocorre que a Lei 8.100 data de 5 de dezembro de 1990, quando passou a ser
vedada tal quitação. O que fazer com os contratos firmados anteriormente a vigência dela?
O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido de que, se na data do
contrato de mútuo vinculado ao SFH, ainda não vigorava a norma impeditiva da liquidação do
saldo devedor pelo FCVS (Lei 8.004/90 e 8.100/90), fazê-la incidir violaria o princípio da
irretroatividade da norma. Logo, a vedação estabelecida pela norma do art. 3º, da Lei 8100/90 só
se aplica aos contratos firmados posteriormente a 5 de dezembro de 1990:
Logo, decidiu-se que não importa se já há dois contratos regidos pelo SFH, se ambos forem
assinados antes de 5 de dezembro de 1990 ambos terão o saldo residual coberto pelo FCVS, pois
até então inexistia vedação neste sentido.
Outro tema que deve ser tratado, devido sua grande recorrência na justiça, é a cessão
particular de créditos, regulamentada pelas Leis 8.004/90 e 10.150/00, e também conhecida como
contrato de gaveta. O artigo 20, da Lei 10.150/00, dispõe que:
Art. 20. As transferências no âmbito do SFH, à exceção daquelas que envolvam contratos
enquadrados nos planos de reajustamento definidos pela Lei no 8.692, de 28 de julho de 1993, que
tenham sido celebradas entre o mutuário e o adquirente até 25 de outubro de 1996, sem a
interveniência da instituição financiadora, poderão ser regularizadas nos termos desta Lei.
SFH. REVISÃO DE CONTRATO DE MÚTUO. CONTRATO DE GAVETA. APÓS OUTUBRO DE 1996. LEI Nº
8.004 /1990. LEI Nº 10.150 /2000. ILEGITIMIDADE ATIVA.
1. A sentença recorrida extinguiu o processo sem resolução de mérito ao não reconhecer
legitimidade ativa à autora para pleitear a revisão do contrato de mútuo firmado com instituição
financeira, sob as normas do SFH. Na hipótese, o contrato foi firmado em 28/6/1988, em nome de
Alcione Ludgerio Marcelino e, em 30/9/1998, foi efetivada a cessão de direitos à apelante, Silvana
Maria Raimundo Oliveira.
2. O parágrafo único do artigo primeiro da Lei nº 8.004 /1990 dispôs que a "formalização de venda,
promessa de venda, cessão ou promessa de cessão relativas a imóvel financiado através do SFH
dar-se-á em ato concomitante à transferência do financiamento respectivo, com a interveniência
obrigatória da instituição financiadora." No entanto, a Lei nº 10.150 /2000, em seu artigo 20 ,
possibilitou a regularização dos contratos que tenham sido celebradas entre o mutuário e o
adquirente até 25 de outubro de 1996, sem a interveniência da instituição financiadora.
3. Assim, a jurisprudência consolidada do Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento de
que se tratando "de cessão de direitos sobre imóvel financiado no âmbito do Sistema Financeiro
da Habitação realizada após 25 de outubro de 1996, a anuência da instituição financeira mutuante
é indispensável para que o cessionário adquirida legitimidade ativa para requerer revisão das
condições ajustadas." (AgRg no Ag 922.684/DF, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Quarta
Turma, julgado em 03/04/2008, DJe 28/04/2008)
4. Deste modo, o presente caso não se enquadra na excepcionalidade da lei que reconhece a
legitimidade ativa do terceiro adquirente sem anuência do agente financeiro para discutir as
cláusulas do contrato de mútuo, firmado sob as normas do Sistema Financeiro de Habitação. (TRF-
1. Apelação Cível 8371/MG – 17/04/2009)
* Inicialmente o artigo 29, do Decreto-Lei 70/66 coloca à disposição do credor a escolha entre o
procedimento previsto no Código de Processo Civil (execução judicial de título extrajudicial,
seguida pelos credores em geral) e o procedimento administrativo executivo ali previsto, sendo
este escolhido para maioria dos casos relativos ao SFH, já que garante maior celeridade.
* Não paga a dívida, o agente financeiro gera um pedido ao agente fiduciário para promover a
execução extrajudicial
Obs.: Agente fiduciário é uma instituição financeira, diferente do agente financeiro, especificada
no próprio contrato vinculado ao SFH, destinada para promover a execução extrajudicial de
empréstimos hipotecários vinculados ao SFH (art. 39 e s., Dec-Lei 70/66)
* O agente fiduciário deverá: intimar o mutuário por duas vezes para purgar a mora. Não
localizado o devedor, será intimado por edital.
* Não purgada a mora, o agente fiduciário estará autorizado para publicar editais e efetuar, no
prazo de 15 dias, o primeiro leilão público do imóvel.
* O devedor deverá ser intimado de todos os leilões.
* Se no primeiro leilão o maior lance for inferior ao saldo devedor, acrescidos de todas as
despesas, será realizado o segundo leilão público, no prazo de 15 dias seguido, no qual será aceito
o maior lance apurado, ainda que inferior à soma das aludidas quantias.
* Se o valor obtido no segundo leilão for inferior ao valor total da dívida, o credor poderá cobrar o
devedor por via executiva, o valor remanescente de seu crédito, sem nenhum direito de retenção
sobre o imóvel alienado.
* Se o valor arrematado for superior ao total as dívidas, a diferença final apura será entregue ao
devedor.
* Quando arrematada, o adquirente do imóvel receberá “carta de arrematação”, que deverá ser
assinada pelo leiloeiro, pelo credor, pelo agente fiduciário e por cinco pessoas físicas idôneas,
absolutamente capazes, como testemunhas, este documento este que servirá como título para
registro no CRI.
* Uma vez transcrita no CRI, o adquirente poderá requerer ao juízo competente a imissão de posse
do imóvel, que lhe será concedida, liminarmente, em 48 horas.
* A morte do devedor pessoa física, ou a falência, concordata ou dissolução do devedor pessoa
jurídica, não impede a aplicação deste procedimento.
* Comprovado que não houve arrematante, o agente financeiro poderá adjudicar o bem para si
obtendo “carta de adjudicação” que servirá de registro no CRI.
Descumprida qualquer norma imposta para legalidade do procedimento, este será nulo.
Importante frisar que o acesso ao judiciário não foi vedado, podendo o mutuário a qualquer
momento recorrer ao judiciário para alegar suposta ilegalidade no procedimento de execução
extrajudicial, devendo tal procedimento respeitar o devido processo legal.
Há dois tipos de contratos habitacionais: aquele regulado pelas normas de direito civil e
aquele regulado pelas normas de direito público. Todos os contratos de habitação em que há
incidência da norma do FCVS são contratos administrativos. Logo o CDC não se aplica a estes
contratos. A CEF vai ser sempre legitimada passiva para atuar nestes contratos, ainda que o agente
financeiro não seja ela (pode ser, por exemplo, um banco privado). Mas se há a previsão de
cobertura pelo FCVS obrigatoriamente a Caixa Econômica tem que integrar o polo passivo, logo a
competência se desloca para a Justiça Federal por força do artigo 109, I, da CF.
Contudo, se o contrato habitacional não tiver previsão de cobertura do FCVS, é um contrato
imobiliário simples, regulado pelo direito civil. É possível a aplicação do CDC, somente vai competir
à Justiça Federal conhecer e julgar esses processos, se a Caixa Econômica for o agente financeiro.
Se a Caixa Econômica não for o agente financeiro, a competência é da Justiça Estadual, tão
somente com o agente que financiou (banco privado).
Muitos mutuários alegam que, como eventualmente o agente financeiro efetuou cobranças
relativas sem observância do PES, teria ele o direito à devolução em dobro do valor cobrado a
maior, com base no CDC (art. 42). A Lei 8.004/90 dispõe, contudo (art. 23).
Art 23. As importâncias eventualmente cobradas a mais dos mutuários deverão ser ressarcidas
devidamente corrigidas pelos índices de atualização dos depósitos de poupança, em espécie ou
através de redução nas prestações vincendas imediatamente subseqüentes
A jurisprudência hoje trata da seguinte forma: 1) as devoluções em dobro, previstas no CDC só têm
lugar em cobrança de má-fé, ou seja, mera interpretação do contrato, não gera a restituição em
dobro, e 2) o artigo 23 da Lei 8004 também demanda uma norma especial ao SFH, ou seja, ainda
que eu apure um valor eventualmente cobrado a maior nas prestações, eu tenho que abatê-lo das
prestações subseqüentes ou do saldo devedor, antes de restituir.
As normas do SFH exigem que todos os contratos a ele vinculados possuam seguro, a fim de
resguardar a garantia do mútuo, ou seja, visa resguardar o próprio imóvel dado em garantia
(hipoteca) do empréstimo.
A Lei 12.409/11 veio exatamente permitir que o FCVS ofereça cobertura aos contratos de
financiamento habitacional averbado na extinta apólice do SFH, (art. 1º, II). Determina, assim, que
o seguro cubra (I) o saldo devedor de financiamento habitacional, em caso de morte ou invalidez
permanente do mutuário e (II) as despesas relacionadas à cobertura de danos físicos ao imóvel e à
responsabilidade civil do construtor.
a) Venda Casada
Diante da imposição legal de contratação de seguro para o imóvel garantidor do SFH, muito
mutuários, ao celebrar o financiamento habitacional viam-se obrigados a contratar um seguro
“imposto” pelo próprio agente financeiro, que, na maioria dos casos, pertencia ao mesmo grupo
econômico deste. Desta forma, estaríamos diante de uma venda casada?
Conforme entendimento do STJ trata-se de evidente venda casada, vedada pelo art. 39, I, CDC,
pois embora a lei determine a obrigatoriedade de contratação de seguro, cabe ao mutuário
escolher aquele que melhor lhe aprouver, não necessariamente aquele seguro oferecido pelo
agente financeiro, tendo, portanto, liberdade para contratar seu próprio seguro. Neste sentido a
ementa do REsp 804.202/MG:
Importante ressaltar que o STJ também tem entendimento no sentido de que: em que pese
o mutuário não ser obrigado a contratar aquele seguro habitacional que a instituição financeira
indica; a instituição financeira também não é obrigada a aceitar uma entidade securitária inidônea,
por exemplo, de pouca expressão mercadológica, sob pena de perecer a garantia, que é o objeto e
finalidade da imposição do seguro.
STJ, Súmula 31 - A aquisição, pelo segurado, de mais de um imóvel financiado pelo Sistema
Financeiro da Habitação, situados na mesma localidade, não exime a seguradora da obrigação de
pagamento dos seguros.
Ocorre que o §1º do art. 9º, da Lei 4.380/64, já revogado em 2001, expressamente vedava as
pessoas que já fossem proprietárias de imóveis a adquirirem outro por intermédio do SFH, tendo
em vista que a finalidade da lei era garantir moradia aos menos favorecidos, e não gerar
especulação imobiliária. Tínhamos , assim:
Assim, o STJ seguiu no sentido da súmula 31, determinando que se há dois financiamentos,
de uma mesma pessoa, em uma mesma localidade, ambos devidamente assegurados, a cobertura
do seguro, por óbvio, deve se estender a ambos os financiamentos.
MP tem legitimidade ad causam para ajuizar ACP com finalidade de defender interesses
coletivos e individuais homogêneos dos mutuários do SFH (Info 552, STJ)
31. A aquisição, pelo segurado, de mais de um imóvel financiado pelo sistema financeiro da
habitação, situados na mesma localidade, não exime a seguradora da obrigação de pagamento dos
seguros.
422. O art. 6º, e, da Lei n. 4.380/1964 não estabelece limitação aos juros remuneratórios nos
contratos vinculados ao SFH
450. Nos contratos vinculados ao SFH, a atualização do saldo devedor antecede sua amortização
pelo pagamento da prestação.
454. Pactuada a correção monetária nos contratos do SFH pelo mesmo índice aplicável à
caderneta de poupança, incide a taxa referencial (TR) a partir da vigência da Lei n. 8.177/1991
473 . O mutuário do SFH não pode ser compelido a contratar o seguro habitacional obrigatório
com a instituição financeira mutuante ou com a seguradora por ela indicada.
12. Saúde: bem de conteúdo jurídico, individual e coletivo. Saúde:
Conceito, Fontes. Fundamento Filosófico e Jurídico do direito à saúde.
A saúde como direito ao desenvolvimento humano. A saúde no Sistema
Internacional de Direitos Humanos. A saúde na ordem constitucional
brasileira. A saúde no contexto da seguridade social. A Saúde e a Teoria
dos Direitos Sociais. Princípios constitucionais do direito à saúde. O
Sistema Único de Saúde: organização, atribuições e marco normativo. A
repartição constitucional de competências no direito à saúde. A
regulação administrativa da saúde privada. A saúde em juízo. A
judicialização das políticas públicas de saúde: controle jurisdicional das
políticas públicas e controle jurisdicional da execução das políticas
públicas de saúde. A judicialização na saúde privada. A problemática da
prova nas ações judiciais que envolvem o direito à saúde.
Responsabilização civil, administrativa e criminal no âmbito do direito à
saúde.
12.1 Direito à saúde
O direito à saúde está previsto no art. 196 da Constituição Federal como (1) “direito de
todos” e (2) “dever do Estado”, (3) garantido mediante “políticas sociais e econômicas (4)
que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos”, (5) regido pelo princípio do
“acesso universal e igualitário” (6) “às ações e serviços para a sua promoção, proteção e
recuperação”.
Conceito de Saúde:
A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições
indispensáveis ao seu pleno exercício” (art. 2º, lei 8.080/90).
Direitos Humanos
De acordo com a Constituição da OMS, a saúde é um estado de completo bem estar físico,
mental e social, e não apenas ausência de doenças, definição recepcionadas pelo
ordenamento jurídico brasileiro, através da lei n. 8.080/90 e CF.
Em 1948, a DUDH, art. 25, e o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais reconheceu a saúde como direito inalienável de toda pessoa desfrutar do mais
elevado nível possível de saúde física e mental.
Abordagens jusfilosóficas
Direito individual à saúde: direito público subjetivo que conduz o indivíduo e o Estado a
uma relação jurídica obrigacional. Efetiva-se mediante ações específicas, baseada em atos
concretos (dimensão individual).
Tutelar o direito à saúde é antes de tudo prevenção. A promoção coletiva não afasta,
porém, o dever estatal de prestar assistência individual a quem ela necessitar, bem como o
direito subjetivo do cidadão de receber essa atenção. O direito individual e o coletivo se
complementam, pois não há saúde com doenças, assim como não há combate a doenças
sem promoção da qualidade do ambiente circundante
Direito fundamental não absoluto: necessidade de compatibilização do que se
convencionou denominar “mínimo existencial” e “reserva do possível”, incidindo a
chamada proibição de excesso e de proteção insuficiente, demandando escolhas alocativas
– quem atender e o que e quanto disponibilizar (escolhas trágicas), pautadas pelo critério de
macrojustiça.
Norma programática: errado afirmar que o art. 196 consubstancia-se tão somente em
norma programática por depender de recursos econômicos, incapaz de produzir efeitos,
apenas indicando diretrizes a serem observadas pelo poder público, pois se assim fosse
significaria negar a força normativa da Constituição. Na verdade, tal direito fundamental
impõe um dever fundamental de agir ao Estado. Além da previsão da criação de fundos
públicos e do federalismo cooperativo como formas de combate aos desequilíbrios
regionais, a Carta Constitucional também destaca o planejamento, favorecendo-se a
execução de políticas públicas no longo prazo. É o que se depreende do parágrafo único do
art. 23, CF.
Responsabilidade: essa é uma atribuição comum dos entes da federação, consoante art. 23,
II, da Constituição, daí o caráter regionalizado do SUS - de responsabilidade linear e solidária
dos entes políticos. A CF adotou a sistemática preconizada pelo federalismo cooperativo, em
que o Estado, permeado pelos compromissos de bem-estar social, deve buscar a isonomia
material e atuação conjunta para erradicação das grandes desigualdades sociais e
econômicas. O art. 195 é o parâmetro constitucional de eficácia imediata. A complexidade
ou os custos com tratamento não é suficiente para afastar a responsabilidade de dado ente
estatal. Os casos de omissão e de falha de implementação do Sistema como um todo requer
um tipo de concertação entre os entes, em atenção ao princípio da lealdade federal ou à
federação na execução de tarefas comuns, adotado pela CF, e um modelo de cooperação e
coordenação de ações conjuntas por parte dos entes federativos.
O Sistema Único de Saúde: as ações e serviços públicos de saúde integram uma rede
regionalizada e hierarquizada, segundo critério de subsidiariedade, e constituem um Sistema
Único, organizado de forma descentralizada, com direção em cada esfera de governo,
voltado ao atendimento integral, com prioridade para atividades preventivas, sem prejuízo
dos serviços essenciais, assegurando-se a participação da comunidade (art. 198). No art. 200
da CF, são elencadas as atribuições do SUS. No plano infraconstitucional, o modelo está
disciplinado pelas Leis Federais n. 8.142/90 e 8.080/90. Pautado no modelo de federalismo
por cooperação, o SUS há de ser estruturado com caráter interestatal e pela criação de
mecanismos solidários para a solução de problemas comuns.
O campo de atuação do SUS abrange ações de assistência terapêutica integral e outras
visando preservar a saúde do trabalhador - através de vigilância epidemiológica e vigilância
sanitária - promove e protege a saúde dos trabalhadores, visando, também, à recuperação e
reabilitação dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de
trabalho.
Violação à separação dos Poderes: não justifica a inércia do Poder Executivo em cumprir
seu dever constitucional de garantia do direito à saúde. O administrador não age na
implementação dos serviços de saúde com plena discricionariedade, haja vista a existência
de políticas governamentais já estabelecidas que o vinculam. Nesse sentido, o Judiciário, ao
impor a satisfação do direito à saúde no caso concreto, em um número significativo de
hipóteses, não exerce senão o controle judicial dos atos e omissões administrativas, zelando
de um direito essencial à dignidade da pessoa humana e do primado do mínimo existencial.
Deve haver ponderação entre os princípios formais da competência decisória do legislador
democraticamente legitimado e o princípio da separação de poderes, além de princípios
materiais, que dizem respeito sobretudo à liberdade jurídica de terceiros, mas também a
outros direitos fundamentais sociais e a interesses coletivos.
Legitimidade da atuação do PJ: a revisão judicial deve ser efetivada de forma totalmente
compatível com outras instituições democráticas. Uma das principais fontes de legitimidade
democrática da Corte é a argumentação/fundamentação da decisão, devendo o PJ estar
disposto a ouvir todos os setores da sociedade. Isso porque a atuação do PJ é fundamental
para o exercício efetivo da cidadania e para a realização do direito social à saúde; e as
decisões judiciais traduzem um forte ponto de tensão com os elaboradores e executores de
políticas públicas. O grande volume de ações judiciais acerca do tema saúde levou o CNJ a
criar “Fórum Nacional do Judiciário para Assistência à Saúde”, instituído pela Resolução n.
107/2010, e editar as Recomendações n. 31, 35 e 36 relativas à atuação do PJ em demandas
relativas à saúde.
12.3 Parâmetros para solução judicial de casos concretos que envolvem o direito à saúde:
a STA 175
1.1. Caso prestação de saúde pleiteada não esteja entre as políticas do SUS, é preciso apurar
se a falta de prestação de saúde decorre de a) omissão legislativa ou administrativa; b)
decisão administrativa de não fornecê-la; ou c) vedação legal expressa à sua dispensação.
Nessas três hipóteses, deve ser verificado se a prestação de saúde está registrada ou não na
ANVISA, pois, regra geral, é vedado à Administração Pública fornecer fármaco que não
possua registro na ANVISA, conforme art. 12, 16, 18 da lei n. 6.360/76 – regra destinada à
garantia da eficácia, qualidade e segurança do medicamento e à proteção a saúde pública.
Havendo exigência, inclusive, de que o medicamento estrangeiro seja registrado em
seu país de origem. Apenas em casos excepcionais, cuja verificação ocorrerá em concreto, a
importação de medicamento não registrado poderá ser autorizada pela ANVISA, a exemplo
dos medicamentos adquiridos por intermédio de organismos multilaterais internacionais,
para uso de programas em saúde pública pelo Ministério da Saúde.
2. Examinar a motivação para o não fornecimento de determinada ação de saúde pelo SUS
Há casos em que o SUS decidiu não custear por entender que inexistem evidências
científicas suficientes para autorizar sua inclusão. Nessa hipótese, podem ocorrer duas
situações:
2.1. Quando o SUS fornece tratamento alternativo, mas não adequado a determinado
paciente.
2.2. SUS não tem nenhum tratamento específico para determinada patologia:
2.2.2. Quanto aos novos tratamentos (ainda não incorporados pelo SUS): O conhecimento
médico não é estanque, sua evolução é muito rápida e dificilmente suscetível de
acompanhamento pela burocracia administrativa. Se, por um lado, a elaboração dos
Protocolos Clínicos e das Diretrizes Terapêuticas privilegia a melhor distribuição de recursos
públicos e a segurança dos pacientes; por outro, a aprovação de novas indicações
terapêuticas pode ser muito lenta e, assim, acabar por excluir o acesso de pacientes do SUS
a tratamento há muito prestado pela iniciativa privada. Assim, a inexistência de Protocolo
Clínico no SUS não pode significar violação ao princípio da integralidade do sistema, nem
justificar a diferença entre as opções acessíveis aos usuários da rede pública e as disponíveis
aos usuários da rede privada. Nesses casos, a omissão administrativa no tratamento de
determinada patologia poderá ser objeto de impugnação judicial, tanto por ações
individuais como coletivas.
2.2.3. Em razão da reserva do possível, deverá ser denegado o tratamento público de saúde
no exterior, SALVO se inexistente o procedimento no Brasil, havendo comprovação científica
de eficácia clínica fora do país (STJ, Portaria 763/94/MS)
3. Imprescindível que haja instrução processual no caso de não haver protocolo específico,
com ampla produção de provas, a fim de conciliar a dimensão subjetiva (individual e
coletiva) com a dimensão objetiva do direito à saúde, considerando todos os elementos
normativos e fáticos da questão jurídica debatida. Isso é necessário para evitar o chamado
“precedente negativo ao Poder Público, com possibilidade de ensejar o denominado efeito
multiplicador.”
SÚMULA 101
Para o deferimento judicial de prestações de saúde não inseridas em um protocolo pré-
estabelecido, não basta a prescrição do médico assistente, fazendo-se necessária a
produção de provas atestando a adequação e a necessidade do pedido.
SÚMULA 100
Nas ações em que se busca o deferimento judicial de prestações de saúde sujeitas à ordem
de espera, somente se deferirá o pedido caso haja demonstração de que a urgência do caso
impõe a respectiva realização antes do prazo apontado pelo Poder Público,
administrativamente ou nos autos, para entrega administrativa da prestação.
SÚMULA 99
A dispensação de medicamento oncológico, judicialmente determinada, far-se-á
exclusivamente por estabelecimentos de saúde credenciados junto à Rede de Atenção
Oncológica - CACON ou UNACON.
SÚMULA 98
Ressalvadas as hipóteses excepcionais, o registro na ANVISA constitui condição necessária
ao fornecimento de medicamentos por decisão judicial.
Possibilidade da realização da denominada “diferença de classe”: STF (repercussão geral)
considerou inconstitucional a possibilidade de um paciente do SUS pagar para ter
acomodações superiores ou ser atendido por médico de sua preferência. Esse tipo de
pagamento contraria o artigo 196 da CF, que garante a todos os cidadãos acesso universal e
igualitário às ações e serviços de saúde. A decisão representa um REAJUSTE da
jurisprudência da Corte. Essa diferenciação subverteria a garantia constitucional de acesso
universal à saúde e os fundamentos do SUS, que se orienta sempre pela equidade do acesso
e do tratamento. A introdução de medidas diferenciadoras é inadmissível, A NÃO SER EM
CASOS EXTREMOS E DEVIDAMENTE JUSTIFICADOS. A diferença de classes, o atendimento
por médico privado e a dispensa da triagem prévia ao internamento não se enquadram
nessas exceções. Permiti-los seria aceitar a instituição de privilégios odiosos desprovidos de
respaldo constitucional.