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FAIXA DA TRANSAMAZONICA
(Volume 1)
(Convênio IBGE/INCRA)
SECRETARIA DE PLANEJAMENTO DA PRESID~NCIA DA REPúBLICA
FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATfSTICA
Ministério da Agricultura
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
A ORGANIZAÇÃO DO .ESPAÇO NA
FAIXA DA TRANSAMAZÔNICA
Volume 1: Introdução
Sudoeste amazônico
Rondônia e regiões vizinhas
Rio de Janeiro
1979
IBGE.
A organiza cão do espa ço na filixa da Transamazônica I Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística . -Rio de Janeiro : IBGE,
1979 - 260 p.
v. : il.
Convênio I NCRA/1 BGE.
Conteúdo . - v. 1. Introdução, Sudoeste amazônico, Rond ônia e
regiões vizinhas . -
1. Amazônia - Colonização. 2. Espaço na economia. 3. Amazô-
nia - Condições econômicas. I. INCRA. 11. Título.
INTRODUÇAO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
PARTE I
PARTE II
1
De acordo com a concepção de integração inter-regional, a Transa-
mazônica se articula com a rede rodoviária do Nordeste. Na verdade
tem como pontos iniciais Recife e João Pessoa, de onde partem as ro-
dovias federais que confluem na cidade de Picos, no Piauí, prosseguindo
para Carolina, onde conexa com a Belém-Brasília e por ela segue atra-
vés de pequeno trecho comum até Estreito. Aí, onde cruza o rio To-
cantins, começa efetivamente a Transamazônica, cuja construção che-
gou a ter certos aspectos de epopéia.
Como é natural, intensa publicidade acompanhou as iniciativas do
governo, através da imprensa, do rádio e da televisão. Em breve, porém,
começaram a surgir críticas. Umas se mantiveram no plano ecológico,
a saber:
1) o cultivo da terra pelo sistema de roças iria desencadear prC1-
cessos de erosão e lixiviação acelerada;
2) a devastação, em larga escala, iria causar alteração do próprio
clima regional (uma desertificação, afirmavam os exagerados) ;
3) sendo a floresta amazônica a maior reserva vegetal do planeta,
ela representaria, pela função clorofiliana, uma espécie de _"usina de
oxigênio', de modo que a sua devastação iria também eliminar o mais
importante "pulmão do mundo".
Outras críticas foram feitas no plano estritamente econômico. Por
exemplo:
4) os colossais investimentos federais para a construção das ro-
dovias e a colonização em pequenas propriedades não proporcionariam
rendas em contrapartida, de maneira que essas iniciativas iriam pro-
vocar uma inflação descontrolada. Esse foi o principal argumento le-
vantado por economistas da escola clássica, encabeçados por Eugenio
Gudin e Roberto Campos;
5) as grandes distâncias aos maiores mercados brasileiros e aos
portos exportadores não permitiriam que os produtos agrícolas oriundos
da Transamazônica ali chegassem a preços competitivos com os de
outras áreas mais próximas;
6) o mesmo fator distância tornaria igualmente antieconômica
a exportação de matérias-primas minerais para o mercado nacional ou
mundial, exceção feita para alguns produtos de alto valor unitário, como
ouro, diamantes, cassiterita. . . Para esses, porém -.,.... alegavam os aposi-
tores - seria totalmente desnecessária a implantação de tão onerosa
infra-estrutura, visto que lhes bastaria a construção de alguns campos
de pouso, pois suportam os fretes do transporte aéreo;
7) apenas este último meio de transporte custa mais caro que o
rodoviário. Nestas circunstâncias, deveria ser construída uma ferrovia,
e não uma estrada de rodagem.
As críticas formuladas no campo das ciências sociais têm necessa-
riamente implicações de natureza econômica. Surgiram mais tarde, por-
que decorreram do noticiário de imprensa, a partir de reportagens e
notícias publicadas em jornais e revistas, quando os trabalhos de colo-
nização a cargo do INCRA já se achavam em pleno desenvolvimento. As
principais objeções, argüidas nesse terreno, foram as seguintes:
8) a transamazônica não se teria revelado capaz de fixar os mi-
grantes, particularmente os procedentes do Sul, que, sendo melhores
colonos, por isso mesmo são mais exigentes;
2
9) faltaria, ao longo da Transamazônica, especialmente no sul do
Pará (entre Marabá e Itaituba), uma infra-estrutura urbana, cujos ser-
viços dessem suficiente apoio às populações instaladas no meio rural das
proximidades;
10) os gastos com a remoção das famílias de parceleiros, do Nor-
deste até o sul do Pará, e sua instalação nos lotes, sairiam a preços
absurdos. Efetivamente, na pressa de assentá-los antes da mudança de
governo, foram transferidas famílias de colonos, vindas de João Pessoa
e Recife para Altamira, até por avião, segundo noticiaram vários jornais
da época.
Cada um desses itens será discutido neste e nos demais volumes
do presente relatório, juntamente com a síntese da matéria, constante
do volume final, que enfeixa as Conclusões e as Recomendações.
Em 1974, com a sucessão presidencial, modificaram-se radicalmente
os planos do governo. A crise mundial, acentuada pela brusca elevação
dos preços do petróleo, comprometia seriamente a viabilidade econômica
dos transportes rodoviários a longas distâncias. Mais do que tudo, entre-
tanto, pesou na mudança da política do Governo Federal, relativamente
à Amazônia, a ênfase que passou a ser dada à exportação, para com-
pensar os elevadíssimos gastos com a importação de petróleo.
"Exportar é o que importa" foi um slogan criado em 1977; porém,
muito antes, já mudara a distribuição das verbas às iniciativas gover-
namentais.
Com o intuito de criar uma faixa pastoril na periferia meridional
e oriental da hiléia, capaz de produzir excedentes de carne para expor-
tação, a SUDAM se aplicou no financiamento a "projetos agropecuá-
rios" , cujos resultados apenas agora começam a ser avaliados pela pró-
pria SUDAM, com o apoio técnico-científico do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE), de São José dos Campos, subordinado ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Por outro lado, incentivaram-se as pesquisas de jazidas minerais.
O Projeto RADAM, cuja contribuição para a descoberta de numerosas
ocorrências na Amazônia é indiscutível, teve seu campo de atuação am-
pliado para o País inteiro. Com a denominação de Projeto RADAMBRA-
SIL, seus levantamentos radarométricos se estenderam, a partir de
1976, para todo o território nacional.
A colonização na faixa da Transamazônica prosseguiu, no entanto,
embora em ritmo arrefecido. Existem mesmo personalidades do governo
cuja opinião é de que a colonização em pequenas propriedades de tipo
familiar, na Amazônia, deveria cessar. Há quem sugira proibir-se a
penetração de colonos em Rondônia e no sul do Pará.
A diversidade de atitudes, dentro aliás do próprio Governo da Re-
pública, decorre da escassez de informações fidedignas, desapaixonadas
e atualizadas, para que se possa responder abalizadamente às seguintes
perguntas: Que tem sido feito na Transamazônica? Como está se proces-
sando a ocupação da faixa da rodovia?
É claro que não compete ao IBGE determinar a política a seguir
na ocupação regional, ou sequer nas proximidades da citada rodovia.
Isto é prerrogativa dos políticos e de órgãos específicos de planejamento
e coordenação das atividades governamentais. Mas, afinal, um amplo
movimento pioneiro foi deflagrado. Em conseqüência do intenso afluxo
de povoadores, o espaço se organiza; a paisagem natural cede lugar,
rapidamente, à paisagem cultural. A esse fato os pesquisadores do IBGE
não podiam permanecer alheios; e foram cada vez mais solicitados a
3
informar e a opinar, a partir de 1972, por cientistas, jornalistas, organis-
mos públicos e particulares.
Cabe ao IBGE, como órgão científico consultivo do Governo, anali-
sar os resultados, positivos ou negativos, da ocupação como tem sido
feita, sugerir medidas que corrijam os defeitos, dando ciência aos go-
vernantes e ao povo, .a través de relatório, das conclusões a que chegou
em suas pesquisas.
A repercussão da recente marcha do povoamento brasileiro sobre a
Amazônia não se limitou às fronteiras nacionais. Excluído o noticiário
de revistas e jornais, apareceram obras científicas sobre a matéria, na
Alemanha Ocidental, na França, na Holanda ...
A nosso ver, o único órgão nacional que publicou resultados de
pesquisas sérias de campo na Transamazônica foi o IPEAN- Instituto
de Pesquisas e Experimentação Agropecuárias do Norte 1, que efetuou
levantamentos de solos, a nível de reconhecimento, na faixa compreen-
dida entre Marabá e Rio Branco. O relatório do segmento Marabá-Itai-
tuba já foi publicado 2 .
Isso não significa que outras pesquisas de campo não tenham sido
realizadas na faixa servida pela Transamazônica. Os levantamentos flo-
restais efetuados pela FAO, a pedido da SPVEA (atual SUDAM), sob
a chefia do engenheiro florestal Dammis Heinsdijk, atingiram, nos tre-
chos vizinhos ao rio Xingu, a área servida pela referida estrada. São,
porém, anteriores à sua construção.
Da mesma forma, os levantamentos de recursos naturais levados
a efeito pelo Projeto RADAM (hoje RADAMBRASIL) interessam, em
mais de um trecho, à Transamazônica. O volume 2 abrange a faixa dessa
rodovia desde Picos até o meridiano 48° WGr, no norte de Goiás; o
volume 4 analisa o trecho compreendido entre o citado meridiano e o
de 540 WGr, limitado ao norte pelo paralelo 40 S. A parte situada em
latitudes mais baixas que a desse paralelo, localizada perto de Alta-
mira, é estudada no vol. 5. A secção da Transamazônica limitada entre
os meridianos de 540 e 600 WGr é descrita nos vols. 7 (do paralelo 40
para o sul) e 10 (ao norte do mencionado paralelo). Por fim, dentre os
relatórios do RADAM, publicados até 1. 0 de janeiro de 1978, resta o do
vol. 12, que representa a maior parte do Acre e áreas vizinhas, situadas
entre os meridianos de 680 e 72° WGr, e ao sul do paralelo de ao S.
Embora esses levantamentos sejam indiscutivelmente muito valiosos,
forçoso é reconhecer que não estão diretamente vinculados ao estudo
da Transamazônica, mas antes ao da Amazônia inteira.
É restrita a bibliografia brasileira referente à Transamazônica ou
partes dela, que merece menção. Sem se pretender, de modo algum,
ser completo, seguem abaixo as principais referências:
1 - ANDREAZZA, Má rio. Transamazônica. s.l., s.d. 119701 48p., 1 mapa.
4
4 - RESENDE, Eliseu. O papel da rodovia no desenvolvimento da Amazônia . Rio
de Janeiro, DNER, 1969. 11p., 1 mapa .
•
5 - RODRIGUES, Tarcísio et al. Solos da rodovia PA - 70; trecho Belérn-Bra-
sília-Marabá. Belém, Ministério da Agricultura, IPEAN, 1974. 192p., il.
(Boletim Técnico, 60) .
6 - TAMER, A. Transamazônica; solução para 2001 . Rio de Janeiro, APEC, 1970.
274p.
7 - VELHO, Otávio Guilherme. Frentes de expansão e estrutura agrária. Rio
de Janeiro, Zahar, 1972. 178p., 2 mapas.
5
Outro livro, lançado simultaneamente na Holanda, Inglaterra e Es-
tados Unidos, que despertou vivo interesse no Brasil, onde foi também
editado, é o de:
GOODLAND, R.J.A . & IRWIN, H.S. Amazon jungle ; green hell t o r ed desert ?
Amsterdam, Elsevier, 1975. (Developments in Iandscape management and
urban planning, 1) .
6
-
MAPA l
"
PROGRAMA DE POLOS
AGROPECUARIOS E AGROMINERAIS
DA AMAZÔNIA
POLAMAZÔNJA
XV- MARAJÓ
VI- PRÉ-AMAZÔN IA
MARANHENSE
VIl- RONDÔNIA
XIV- ARIPUANÃ - - - - - - '
ÇOES-
POLOS RODOVIAS
XIII - JURUENA Pavimentada
@ Agrominerois -- -- - - Em pavimentação
Implantada
_8 Agropecuários - - - Em implantação
Fonte: SEPLAN Escala 1: ·l a 000 000
7 0• .... o- 4 • 4 • 3 •
..
A H I tI
i SALVADOR
GROSSO
CUIABÁQ
,..
I
ç
p O L O s \
1- ACRE~
2- RONDONIA
D
3- TAPAJÓS
POLOS AGROPECUÁRIOS OU AGROMINERAIS 4- ALTAMIRA MAPA 2
5- CARAJÁS
6- ARAGUAIA-
TOCANTINS
7- PRÉ-AMAZÔNIA ESCALA
FAIXA DE DESAPROPRIAçÃO DA MARANHENSE
100 o 100 200 3CX) -4 00 500 km
TRANSAMAZÔNICA ( IOOkm)
Multiplicando-se aquela enorme extensão da rodovia por 200 km
( 100 para cada lado da estrada) , eis a área que se iria estudar inicial-
mente: 905.000 km 2 • Adicionemos, agora, as superfícies aproximadas
das áreas prioritárias enumeradas acima, que desbordam da faixa de
200 km de largura, adjacentes à Transamazônica (quadro 1) .
Quadro 1
SUPERF[CIE
(km 2 )
AREA PRIORITÁRI A
9
da Transamazônica, entre Picos e Altamira, foi pesquisada de junho a
agosto de 1975, num período de 42 dias de campo; o trecho ocidental,
desde as vizinhanças de Cruzeiro do Sul, incluindo Rondônia até Marabá,
foi observado em 59 dias de excursão, nos mesmos meses do ano se-
guinte.
Antes de iniciadas as viagens de pesquisa, parte dos técnicos parti-
cipantes do trabalho fez breve estágio no INPE, em São José dos Cam-
pos, e no Projeto RADAM, em Belém, a fim de se familiarizar com as
técnicas de interpretação de imagens de sensores remotos. Esses mo-
dernos instrumentos técnicos de pesquisa foram amplamente utilizados,
pela primeira vez, no IBGE em trabalhos geográficos para fins de pla-
nejamento, e permitiram extrapolar com precisão os fatos observados
durante as investigações de campo.
A equipe de campo do IBGE que viajou em 1975 à região foi com- .
pletada com dois técnicos do Departamento de Recursos Naturais da
SUDAM. Já em 1976, além de dois outros técnicos do mesmo órgão, a
equipe do IBGE foi reforçada com a colaboração de duas geógrafas do
INCRA, em decorrência do convênio firmado entre as duas últimas
instituições citadas. Além da colaboração valiosa, prestada por essas
duas pesquisadoras nos trabalhos de campo e de gabinete, o acesso à
vasta documentação existente no INCRA foi um passo decisivo para o
êxito dos trabalhos.
Agradecer a todos aqueles que deram apoio para que a tarefa che-
gasse a bom termo é missão espinhosa, porque sujeita a graves omis-
sões. Com desculpas aos que, por falta exclusiva do coordenador deste
trabalho, tenham sido porventura esquecidos, não podemos deixar de
manifestar, de público, o nosso reconhecimento às entidades e persona-
lidades abaixo discriminadas:
- à Amazônia Mineração S.A., pela visita que nos proporcionou à
serra dos Carajás;
- ao 7.o BEC, sediado em Cruzeiro do Sul, e particularmente ao
seu antigo comandante, Cel. Ivino Schwartz Ribeiro, bem como ao Te-
nente Israel Félix de Campos, pela colaboração efetiva e apoio logístico
prestados naquele rincão longínquo de nossa pátria;
- à SUDAM, especialmente à Dra. Clara Martins Pandolfo, pela
participação dada por seus auxiliares, sempre eficiente e amistosa, em
nossos árduos trabalhos de campo;
- ao Projeto RADAMBRASIL, sobretudo ao seu Secretário-Executi-
vo, Dr. Antonio Luiz Sampaio de Almeida, pelo inestimável apoio técnico
e documentação, que gentilmente nos concedeu;
- à Companhia Maranhense de Colonização (COMARCO) pelo
apoio que nos proporcionou, nas duas vezes que visitamos o Núcleo
Colonial de Buriticupu;
- à empresa TOBASA, especialmente ao Dr. Salim Aziz Baruqui,
um de seus diretores, pela cordial e generosa hospitalidade com que
acolheu os membros das excursões em Tocantinópolis, e pelas valiosas
informações prestadas sobre o problema da industrialização do babaçu;
-ao INPE, pelo seu suporte técnico, sempre eficiente;
-aos modestos guias que em certos lugares, nos orientaram e que
talvez nunca venham a saber o quanto lhes somos gratos. Um exemplo
desses personagens obscuros, porém grandiosos, que nos levam a crer,
sem dúvida, no futuro do povo brasileiro, é o do Sr. Sabino Marques
10
Braga, antigo seringueiro de Humaitá, que nos conduziu, e esclareceu em
muitas questões, através das matas e campinaranas próximas àquela
cidade.
Ao INCRA não cabe propriamente exprimir nossa gratidão, visto
que técnicos de seus quadros são co-autores deste relatório. Mas seria
injusto omitir o nome do eng.o agrônomo Helio Palma de Arruda, prin-
cipal artífice do convênio INCRA-IBGE.
Apesar dos debates, às vezes apaixonados, que a abertura da Tran-
samazônica e a colonização efetuada ao longo de seu eixo e seus ramais
suscitaram, a bibliografia científica, baseada sobretudo na observação
direta, ainda é escassa. A área imensa por ela abrangida, o desconheci-
mento quase completo de suas regiões naturais e geoeconômicas, de aces-
so difícil, são obstáculos muito ponderáveis. As observações de campo
mantiveram-se, por isso, em nível de reconhecimento. Nem poderiam
ser de outra maneira, segundo se pode concluir pelo quadro 2.
Quadro 2
TEMPO DESPENDIDO E DISTANCIAS PERCORRIDAS NAS PESQUI-
SAS DE CAMPO, NA TRANSAMAZONICA E RAMAIS
11
Parte I - A MESORREGIÃO DO SUDOESTE AMAZôNICO
ORLANDO VALVERDE
13
Capítulo 1 - UNIDADE GEOECONôMlCA
15
Capítulo 2 - CLIMA, FATOR UNIFORMIZANTE
2 .1 - TIPOS DE TEMPO
16
•
apenas dois meses: julho e agosto. Convém frisar, entretanto, que essa
estação corresponde ao inverno do hemisfério austral, onde está situado
todo o sudoeste amazônico.
Nessa época, em geral, a temperatura pela manhã está próxima
dos 2ooc ou pouco mais; reina a calmaria ou sopram ventos fracos; o
céu se apresenta límpido ou com baixos stratus. Por volta do meio-dia,
a temperatura se eleva até cerca de 350 ou um pouco acima; a convec-
ção se acentua, gerando uma cobertura de nuvens até 40 % , do tipo
cumulus ou stratus-cumulus. Eventualmente, durante a tarde podem
ocorrer curtas -chuvas de convecção, localizadas, oriundas de pequenas
formações de Cb. Essas precipitações não registram geralmente alturas
significativas no pluviômetro. Ao anoitecer, a temperatura desce a uns
310; a nebulosidade baixa a zero ou a coberturas reduzidas de stratus-
cumulus, e os ventos retornam a fracos ou mesmo à calmaria.
Esse tipo de tempo, em tudo semelhante ao do Planalto Central,
revela que, nesse período, predomina no sudoeste da Amazônia a massa
de ar instalada naquela região, que outra não é senão a massa Tropical
Atlântica, modificada no interior do Brasil, após ter perdido parte de
sua umidade, ao transpor as escarpas do Sudeste e Nordeste do País. Os
dias são então luminosos, e as noites agradáveis. O mínimo de nebulo-
sidade costuma registrar-se no mês de agosto.
No período de maio até outubro, inclusive, podem ocorrer anomalias,
designadas pelo povo com o nome de friagem. Apesar da magnífica
análise desse fenômeno, feita por Adalberto Serra e Leandro Ratisbon-
na 5 os habitantes da região ainda o explicam como o ar frio, formado
sobre as geleiras dos Andes, que desceria para as terras baixas vizinhas.
Tal explicação não resiste à crítica científica porque, ao descer tanto,
o ar frio se a,queceria, por compressão adiabática, e teria reduzido o
seu teor de umidade. No entanto, o ar da friagem é relativamente
frio e muito úmido.
Durante a excursão, foram observadas duas ocorrências fracas de
friagem: a primeira chegou a Porto Velho na madrugada de 28 para
29-6-76; seu sistema de nuvens se dissipou na manhã do dia 30 subse-
qüente. A segunda massa fria nos surpreendeu em Rio Branco (AC) ,
onde, na manhã do dia 10-7-76, às 7 horas, observamos uma temperatura
de 190, nebulosidade total, com stratus e cirrus-stratus, e ventos mo-
derados do sul, com rajadas frescas. ·
Pela manhã, voando de Rio Branco para Cruzeiro do Sul, em avião
de linha, pudemos observar, por cima, a cunha da massa fria invadindo
o Acre central (fig. 1). Cobrindo-a, um manto contínuo de stratus
(St), a talvez 500 metros de altitude ou pouco mais, marcava a in-
versão de temperatura. Em contato com o ar quente superior, uma ca-
mada de nevoeiro revestia os St. Acima de nós, amplo horizonte de
altos stratus indicava a tranqüilidade atmosférica a alguns milhares de
metros de altitude. Em Cruzeiro do Sul, ao meio-dia da mesma data,
a friagem não havia chegado; a temperatura estava a 31°,5, e a forte
convecção frontal formava uma cobertura de 95 % de cumulus e cumu-
lus-nimbus, que gerou curto aguaceiro. Nesta cidade, a influência da
massa fria só veio a se dissipar no dia 14 de julho seguinte.
De acordo com Serra & Ratisbonna, a interpretação de cartas si-
nóticas, transcritas no citado artigo, comprova que a friagem resulta
17
lTOS STRATUS
18
(portanto sobre um solo resfriado) elimina o efeito moderador do ocea-
no, que favorece o Rio de Janeiro.
O fenômeno meteorológico notável, que é a friagem, não afeta de
maneira sensível as médias com que são calculadas as chamadas nor-
mais climatológicas, porque ocorre em pequeno número e é de breve
duração. Realmente, no Sudoeste Amazônico, como na macrorregião
em geral, as estações apresentam temperaturas médias anuais compre-
endidas entre 240 e 26o; em Cruzeiro do Sul é de 240,2; em Humaitá,
250,7. Faz exceção a localidade de Vilhena, porque está situada a mais
de 600 metros de altitude. De acordo com Serra & Ratisbonna, anos
existem em que não ocorrem friagens; mas em Sena Madureira são mais
comuns as incidências de duas até, no máximo, cinco por ano. Relati-
vamente à época do ano, são elas mais freqüentes no trimestre de
maio a julho, em Sena Madureira; mas podem sobrevir até no mês
de outubro.
Em resumo, a estiagem reproduz no Sudoeste da Amazônia o tipo
de tempo do Planalto Central, se bem que por um período mais curto.
A nebulosidade, mesmo em Humaitá, situada a somente uns 7° e meio
de latitude sul, desce no trimestre junho-agosto a menos de 40 % , en-
quanto a média anual é de 58 % . A Uil}idade relativa desse local, que
se aproxima dos 90 % nos meses mais ú'midos (média anua] = 83,6 % ),
baixa a menos de 80 % de julho a setembro. Tal diversidade já não se
observa a oeste, onde, em Cruzeiro do Sul, o clima é mais uniforme e
mais úmido. A umidade relativa média é aí de 88,3 % para o ano todo,
mas no mês mais seco, que é agosto, reduz-se somente a 84,4 %. A nebu-
losidade média anual é de 74 % ; porém no bimestre julho-agosto fica
abaixo dos 60 % .
O tipo de tempo mais representativo da mesorregião, como da Ama-
zônia no seu conjunto, é o longo inverno, quer dizer, a estação chuvosa.
Vai de setembro até maio-junho do ano seguinte. Não há mês, nesse
período, que receba menos de 100 milímetros de precipitações. Daí re-
sultam elevados totais de pluviosidade; todos os postos meteorológicos
registram mais de 2. 000 mm anuais de chuvas. Até Vilhena, situada a
SW de Rondônia, no limiar da zona de cerrados da chapada dos Pa-
recis, recebe 2. 047 mm de precipitações por ano.
Embora nessa faixa de tempo esteja incluído o verão do hemisfério
sul, não é essa a época mais quente do ano, porque a nebulosidade é
maior: alcança 80 % ou mais, de novembro até abril, em Cruzeiro do
Sul; 70 % ou mais, de dezembro a abril, em Humaitá; acima de 60 %,
de jàneiro a março, em Vilhena. Em conseqüência, as médias mensais
de temperaturas mais. altas se situam no final da estação seca ou no
início da chuvosa. Não há, contudo, nenhum mecanismo de massas de
ar, em toda a Amazônia, que permita assimilar esse fenômeno ao de
uma monção. Aí, como no sudoeste amazônico, prevalece, durante o pe-
ríodo chuvoso, o ar quente e convectivamente instável da faixa equato-
rial (doldrums) , com nuvens do tipo stratus-cumulus, geralmente pela
manhã e ao anoitecer; cumulus e cumulus-nimbus durante o dia. Estes
dois últimos tipos de nuvens se desenvolvem verticalmente até baixas
altitudes; são tangidos pelos ventos e produzem aguaceiros, que se des-
locam na região, muitas vezes fazendo-se acompanhar de trovões e des-
cargas elétricas. Em certas ocasiões, as chuvas se prolongam de um dia
para o outro, alternando pancadas dágua com estiadas. Sem embargo,
em Humaitá, um dos locais mais chuvosos da área em estudo (2. 315
mm/ ano), podem-se passar, num inverno, até 10 dias sem chover. Em
compensação, no rigor desse período, podem cair, em 15 minutos, 30 mm
19
de precipitações 7 • Eis alguns exemplos de pesadas chuvaradas, regis-
tradas no pluviógrafo de Humaitá: na madrugada do dia 7 de maio
de 1973, entre 1: 12 até as 2:00 horas, ou seja, em 48 minutos, caíram
303 mm de chuvas; pouco depois, entre 5:22 e 8:50 horas, isto é, em
3h28min., caíram mais 373 milímetros. Na madrugada de 19 para
20-5-1973 houve outro aguaceiro, das 22:35 horas aos 40 minutos do
dia 21 (2h.5min., no total), com 381 mm de precipitação. Foram dois
verdadeiros dilúvios, num curto espaço de tempo. Evidentemente, 1973
foi um ano muito úmido na região.
A umidade relativa se mantém sempre acima dos 80 %, no inverno.
Em Cruzeiro do Sul sua média chega a 90 % no mês mais úmido (mar-
ço) ; em Humaitá, ela não vai além dos 88,2 % (em fevereiro) .
Os calores não são, no entanto, excessivos, conforme supõem os pre-
conceitos relativos à região amazônica. As máximas absolutas regis-
tradas em 30 anos de observação (de 1931 a 1960) acusam 36°,4 em
Cruzeiro do Sul e 390,9 em Humaitá, isto é, sensivelmente mais mode-
radas que no Rio de Janeiro. Ao contrário, no verão astronômico podem,
de manhã cedo, ocorrer nevoeiros e sentir-se algum frio, em virtude do
alto teor de umidade do ar. Mas a amplitude térmica diurna, seja na
estação chuvosa, e muito mais ainda na estiagem, é bem maior que a
anual, isto é, a diferença entre a temperatura média do mês mais
quente e a do mês mais frio. Esta amplitude térmica anual em poucos
lugares ultrapassa o valor de 2oc, em todo o Sudoeste Amazônico, como
aliás é típico das regiões de baixas latitudes do mundo inteiro.
20
portes fluviais. A recente revolução no sistema regional de transportes,
fazendo-os depender sobretudo das estradas de rodagem, modificou com-
pletamente o quadro; hoje em dia, no auge da estação chuvosa a ati-
vidade comercial arrefece, visto que as relações são feitas sobretudo
com o Sudeste, em particular com São Paulo.
No próprio extrativismo vegetal, hoje decadente, o regime de chu-
vas provoca uma pulsação sazonal. No auge das águas cessa o corte da
seringa em toda a mesorregião; em contrapartida, ativa-se a coleta da
castanha, da bacia do Purus para leste, e no alto Juruá, oeste, pro-
cessa-se a extração qo caucho, em escala bem mais modesta.
21
Capítulo 3 - CLASSIFICAÇõES CLIMATICAS
22
I
NORMAIS CLIMATOLOGICAS
DE 3 ESTAÇÕES
DO SUDOESTE AMAZÔNICO
CON V ENÇO E S
I :. •Mriximos absolutas
l l - Me' dio d<u m Óll:im a s
11 1- Me 'd io geral
IV - Me'dia dos mc'n i mas
V- MÍnim a s absolu t as
Amwi
F IG. 2
F11n t e: IBGE - GRAN DE REGIÃ O NORTE - 19 59 Gr~f icl' l
lot. <S l 12 •43'
VILHENA -[ long. (W.Gr. ) 60•03'
PERÍODO: 1931-42
TERMO XEROOU IMÊNICO ATENUADO I
340
320
SUDOESTE· AMAZONICO
300
GRÁFICO 2
160
140
120
100
80
60
40
20
J ASONO M AMJ
cs
lat. l s•45'
PORTO VELHO -[ long.(W Gr.) 63 • 55 ,
'-{lot. (Sl 7"31' PERIODO : 1928-4_?
HUMAITA long.( W Gr.) 63°00 1 TERMOXEROQUIMENICO ATENUADO
PER(oDo : 1931- 60 (3 MES ES SECOS)
SUBTERMAXÉRICO TEMP. MES MAIS FRIO > 20•c
( + 2 MESES SECOS l PREC IPITAÇÃO ME.DIA ANUAL : 2 232 mm
TEMP. MES MA IS FRIO> 20• C p
400
PRECIPITAÇÃO MÉDIA ANUAL: 2 315 .7mm
p 3 80
340 34 0
300
260 260
220
200 200
18 0 18 0
16 0
140
1_00
100
80 40 80
30 60
60
40
20 lO 20
lO
A S O OJFMAM J ASONDJ F MA MJ
FIG 3
dro da vegetação, o que nunca será possível por classificação geral
alguma, visto que o revestimento vegetal depende de muitos outros fa-
tores, tais como: relevo, altitude, drenagem superficial e subterrânea,
exposição às massas de ar, capacidade de retenção de água dos solos,
paleoclimas etc. Vilhena, por exemplo, já está na área de campos e, não
obstante, figura na mesma classe que Porto Velho.
Em síntese, a melhor maneira de se exprimir o clima de uma região
ainda parece ser a de descrever os seus tipos de tempo (inclusive as
chamadas ocorrências anormais), explicá-los através da dinâmica atmos-
férica e, por fim, indicar suas conseqüências na natureza e na orga-
nização econômico-social da área. O melhor rótulo parece-nos sempre
um que seja suficientemente descritivo.
De acordo com essas normas, o clima do Sudoeste amazônico de-
veria ser denominado subequatorial úmido, com curta estação seca.
25
Parte 11 - RONDôNIA E REGIÕES VIZINHAS
AD~LIA MARIA SALVIANO JAPIASSU
ORLANDO VALVERDE
NEY ALVES FERREIRA
27
Capítulo 1 - AREAS DE DOMINANCIA CRISTALINA
29
Flg. 4 - Trecho do médio vale do Machadinho (atravessando de cima a baixo a imagem de
radar), afluente da margem esquerda do Ji-Paran ã ou Machado. A esquerda da figura o
Igarapé Preto ou do Repartimento, afluente do primeiro, disseca finamente o escudo cristalino,
contrastando com as ãreas vizinhas, ao norte e a o sul.
Notar, na vertente direita do Ma chadinho, a estrutura a nular, denunciada pelo relevo e pela
drenagem.
(Fonte : Mosaico SC-20-X-C, do Proj eto RADAM, 1972)
30
puanã com seu afluente Roosevelt, o Sucunduri. Pela outra margem,
a estrutura da bacia terciária favorece a bacia do Purus, típico rio de
baixada, que drena uma superfície muito maior, deslocando o divortium
aquarum para perto do rio Madeira.
A explicação destes fatos é dada por H. Grabert n. De acordo com
este autor, a drenagem da parte ocidental do escudo sul-amazônico,
antes do soerguimento dos Andes, corria na direção geral NW, desa-
guando no golfo hoje ocupado pela vasta bacia terciária da Amazônia
ocidental. A orogenia andina, que se desenvolveu sobretudo no terciário
e se prolonga atenuada até os dias atuais, fechou o referido golfo e
inverteu o sentido geral da drenagem amazônica. De início, todo o norte
boliviano teria formado um imenso lago, que não vasou para a bacia
do Paraguai porque no sul da Bolívia se ergue uma barreira cristalina
(serra do Mutum), até mais de 800 metros. Os sedimentos terciários de
Abunã seriam, segundo o autor citado, de origem flúvio-lacustre. So-
mente no quaternário teria o Madeira capturado a bacia desse lago,
correspondendo assim a inflexão de Abunã a um cotovelo de captura.
Sobre o escudo cristalino notam-se, de vez em quando, nas imagens
de radar, as chamadas estruturas anulares, que representam anticlinais
vasados (boutonnieres ou outcrops), resultantes do afloramento de ba-
tólitos graníticos, em virtude da remoção do material superior pela ero-
são (Fig. 5). Uma dessas estruturas é bem visível, nas citadas imagens,
no vale do igarapé Boa Vista, pouco ao sul do PIC (Projeto Integrado de
Colonização) Ouro Preto, a uns 35 km para oeste de Vila Rondônia, em
linha reta. Numerosas outras estruturas semelhantes se podem observar
no vale do Candeias, no do Machadinha e do Roosevelt (perto de Igarapé
Preto).
Fig. 5 - Estrutura anula r ao sul do PIC Ouro Preto, cujas estradas e parcelas se podem observar
no alto, à direita.
(Fonte: Mosaico SC-20- Z·A, do Projeto RADAM, 1972)
31
É fato sabido que tais intrusões graníticas provocaram fenômenos
de metamorfismo, particularmente de mineralização, rias rochas envol-
ventes. Na Rondônia, tais estruturas estão vinculadas freqüentemente à
ocorrência de cassiterita; por isso, têm especial interesse para os geó-
logos.
Outra característica importante do relevo gnáissico de Rondônia é
a rede de fraturas e falhas, que orientam cristas e vales. Entre Arique-
mes e Vila Rondônia, sobretudo ao sul da BR-364, nota-se nas imagens
de radar que as duas direções de alinhamentos se entrecruzam: o de
NE-SW, infletindo-se aí para NNE-SSW, e o de NW-SE, que se torna
conspícuo no sul desta área (fig. 6). Extensas cristas paralelas, alinha-
das no rumo NNE-SSW, são também visíveis a leste do rio Machado, a
partir de uns 70 km para jusante de Vila Rondônia.
Essa orientação das falhas e fraturas do escudo pré-cambriano não
é apanágio de Rondônia, mas afeta praticamente todos os afloramentos
do escudo cristalino do continente sul-americano, desde a serra de Cór-
doba, no centro da Argentina, mais as Serras do Mar, Mantiqueira e o
Maciço Nordestino, no Brasil. Além disso, observando-se as imagens de
radar do Território em estudo, pode-se ver que o mesmo tectonismo
orienta a dissecção das camadas do arenito Parecis, na serra dos Pacaás
Novos, a leste de Guajará-Mirim. Ele é mesmo responsável pelos nu-
merosos cotovelos que orientam a drenagem do Território, tanto sobre
o embasamento cristalino como sobre as chapadas sedimentares, cuja
idade é atribuída ao Cretáceo.
Ora, se esse tectonismo é tão generalizado, tão violento e, ao mesmo
tempo, tão moderno que atingiu as próprias formações cretáceas, só
pode ser atribuído a reflexos da orogenia andina. Segundo H. O'Reilly
Sternberg, seria ele também o responsável pela orientação geral da dre-
nagem dos afluentes do Amazonas na própria bacia terciária 10 •
Excluídas essas e outras áreas cristalinas severamente fraturadas
e dissecadas (aí compreendidos terrenos derivados de rochas metamór-
ficas e eruptivas), a maior parte do Território tem relevo suave, mame-
lonar, com formas em me~a-laranja ou casco de tartaruga, emergindo
de fundos de vales planos, semelhantes ao da Zona da Mata de Minas
Gerais, ou do médio Paraíba, no Estado do Rio, conforme previra A'Sá-
ber 11 • O conhecimento das condições topográficas tem considerável im-
portância prática para os programas de colonização. Mais do que a
fertilidade do solo, a energia do relevo é um fator restritivo. As áreas
da BR-421 e do PIC Paulo de Assis Ribeiro (Fig. 7) deveriam ser, por
isso, em grande parte, evitadas. Quando assim não fosse possível, pelo
menos não deveria ser adotado o padrão fundiário em retângulos N-S
e E-W (Hufen), como o das terras planas do Middle-West norte-ame-
ricano ou da Europa Central. Este problema voltará a ser discutido,
mais adiante.
Ao longo do curso do rio Madeira, no trecho entre Abunã e Porto
Velho, foram mapeadas as seguintes formações geológicas:
-formação Mutum-Paraná, situada na margem esquerda do rio,
no extremo noroeste do Território, com afloramentos de quartzitos asso-
ciados a filitos, pertencentes ao pré-cambriano mais recente;
32
w
w
F!g. 6 - Relevo orientado para NW-SE, na parte Inferior da Imagem (sul), cruzando-se com falhas c fraturas, assim como linhas de cristas, orientadas
para NE-SW. Estas se · infletem, ao norte, para NNE-SSW. No canto superior direito aparece pequeno trecho da BR-364, em Nova Vida.
(Fonte: Mosaicos SC-20-Z-A e SC-20-Y-B, do Projeto RADAM, 1972)
- formação Palmeiral, na margem direita do rio Madeira, entre
Mutum-Paraná e a Cachoeira do Inferno, ao longo do rio, e a leste até
o rio Candeias. Esta formação do pré-cambriano superior é caracterizada
por sedimentos formados por arcósios e conglomerados;
- formação Barreiras, constituída de sedimentos argila-arenoso-
limosos terciários.
Flg. 7 - .Estrada carroçável, de Vilhena a Vila Colorado, sobr e terra roxa e relevo acidentado,
a 15 km antes da chegada à sede do PIC Paulo de Assis Ribeiro.
Fot o Orlando Valverde - 5.7. 76
34
de caducidade fica muito acentuado quando a mata é fortemente de-
gradada. Nas capoeiras, observa-se grande regeneração de parapar4,
Jacaranda sp.; morototó, Didymopanax morototoni, Aybl. e canafístula,
Cassia spp., além das palmeiras babaçu, Orbignya martiana, B. Rodr.
(Fig. 8) e tucum, Astrocaryum tucuman mart. O tipo de solo dominante
nessa faixa é o latossolo vermelho-amarelo arenoso.
Flg. 8 - Sub-bosque da mata semidecídua, rico em palmeiras e bananeira brava. Cipós e tronco
de castanheira são visíveis. Foto tomada na picada que liga Vila Murtinho à rodovia de Abunã
a Guajará-Mirim (BR-425).
Foto Gilson Costa - 6. 8 .968
35
Flg. 9 - Roça de mandioca, com muda de bananeira, invadida pelo sapê, no Núcleo Colonial
de lata. No fundo, Embaúbas.
Foto Gllson Costa - 6.8.968
12 FALES!, ítalo C., Solos da Estação Experimental de Porto Velho, T.F . Ron-
dônia. Belém, IPEAN, 1967. 99p . (Solos da Amazônia, 1).
36
beira da estrada prejudique a identificação precisa do fenômeno. Em
áreas onde a ocupação é menos intensa, ela é caracterizada pelo sub-bos-
que fechado, árvores emergentes e rica em castanheira e babaçu.
Castanhais nativos podem ser encontrados nas vertentes orientais
dos vales do Preto, do Crespo e do Branco ou São João, bem como no
alto vale do Machadinha, a leste de Ariquemes, mais ou menos a meia
distância entre essa cidade e o leito do Ji-Paraná, sempre relacionados
a um relevo granítico suavemente ondulado. A textura rugosa apresen-
tada pela floresta nas imagens de radar permitiu localizar os castanhais,
graças ao desnível entre as copas emergentes das castanheiras e a super-
fície superior do dossel. Correlação igual, entre ocorrência de castanhais
densos e relevo suave, foi observada no campo e em imagens de radar por
Paixão, Valverde e Coutinho, nos vales do Teles Pires, Juruena e Ari-
puanã 13 •
É claro que a exploração dos supracitados castanhais de· Rondônia,
assim como de outros, não é fácil, porque em regra eles estão afastados
das rodovias; mas o prolongamento de ramais, já construídos para dar
acesso a lavras de cassiterita, como o da Oriente Novo, poderia tornar
economicamente viáveis algumas explorações de castanha no Território.
Numerosos afloramentos graníticos intercalam-se em rochas gnáis-
sicas, sempre com espessa cobertura de solo, próximo à cidade de Ari-
quemes. A partir daí, em direção a Vilhena, a estrada passa a cortar
áreas de cristas paralelas, orientadas mais ou menos no sentido nor-
deste-sudoeste, constituídas por gnáisses, charnockitos e migmatitos. A
altura de Ariquemes ocorre, portanto, o contato entre o granito e essas
rochas, o que parece refletir-se na cobertura vegetal, alterando um
pouco a composição e estrutura da floresta. É também aí que a BR-364
deixa o vale do Jamari e transpõe o interflúvio que o separa do Ji-Paraná
ou Machado, cujo leito é atingido em Vila Rondônia.
Em conseqüência a floresta, embora também degradada pela in-
tensa atividade humana, é densa, com grau um pouco maior de deci-
duidade, caracterizada por árvores de troncos finos, dossel mais ou me-
nos uniforme (cerca de 20m de altura), raras emergentes, dentre elas
relevando o angelim (Hymenolobium sp.). As castanheiras e as pal-
meiras (babaçu) tornam-se raras.
Segundo informações verbais do representante do Instituto Brasi-
leiro de Desenvolvimento Florestal em Porto Velho, a floresta desta área
é mais rica em espécies madeireiras de valor econômico do que aquela
encontrada entre Porto Velho e Ariquemes. Tais espécies são: mogno,
Swietenia macrophyla, King; cerejeira ou imburana Torresia sp., roxi-
nho, Peltogyne sp.; maracatiara, Astronium lecointei, Ducke; freijó, Cor-
dia goeldina, Hub., morototó, Didymopanax morototoni (Aubl.) D. e P.
O comportamento semidecidual desta mata ficou bem patente em
vôo realizado por alguns dos autores deste relatório, no vale do Can-
deias, em meados de agosto de 1968 (Fig. 10). Nesse mesmo vôo se pôde
observar que nos afloramentos graníticos essa mesma floresta se torna
37
Flg. 10 - Vista aérea da mata semidecídua, com ipês amarelos em flor, a oeste do rio Candeias.
(T.F. Rondônia ).
Foto Gilson Costa - 19 .8 .968
Flg. 11 - Manchas de mata decídua sobre o relevo granítico. Ao fundo, escarpa sedimentar da
Serra dos Pacaás Novos, Vista do braço direito do alto Ca ndeias, para o sul.
Foto O. Valverde - 19 . 8.68
francamente decídua, porque sobre eles o solo fica excessivamente raso
(Fig. 11).
Inventários florestais efetuados pela SENSORA 14 na floresta ao
longo da BR-421, estrada que ligará Ariquemes a Guajará-Mirim, e no
seu ramal para a Mineração Taboca, forneceram os seguintes resultados:
39
Capítulo 2 - AREAS DE DOMINANCIA SEDIMENTAR
40
SECÇÃO VILHENA COLORADO
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300 -- /'J I I
- I I\......_ I ,
250 / I ....,I ~ I
200
km.O 25 50 75 88,3
VI LHE NA 1 I< m = 2 ··. m m COLORADO
F I G. 12
O vale do Guaporé constitui uma vasta região plana que se de-
senvolve rio acima, desde o sopé dos Parecis-Pacaás Novos, e se prolonga,
na outra margem, além do território brasileiro, até os contrafortes dos
Andes. Na planície aluvial, o Guaporé e seus afluentes da margem di-
reita formam meandros divagantes, emoldurados de matas ciliares, que
atravessam campos de várzeas, mal drenados. Nos terrenos não alagá-
veis, a vegetação é de cerrado. Esses campos naturais acompanham o
vale do Guaporé no Território de Rondônia, desde o vale do Cautarinho
até o igarapé Santa Cruz.
Ao norte da serra do Uopiane, sobre terrenos de relevo muito suave,
encontram-se clareiras naturais de cerrados, atravessadas por pequenos
rios e igarapés franjados de matas de galerias, os quais vertem para
os rios Branco do Cautário e João Câmara, afluente da margem direita
do Cautário.
Para quem vem de Porto Velho, ao longo da BR-364, observam-se
as primeiras ilhas de cerrados em meio à floresta, a uns 6 km a sudeste
de Pimenta Bueno. O contato geológico entre o escudo cristalino e as
formações sedimentares se reflete na cobertura vegetal, originando o
contato entre as formações florestais amazônicas e os cerrados (área
ecótono) do Planalto Central.
Este fato ressalta que, entre outros fatores, as variações litológicas
influem de maneira preponderante na composição do revestimento ve-
getal. Nesta área de contato, a vegetação se torna complexa, por causa
da alternância entre a floresta semidecídua e o cerrado. Aonde o relevo
se torna tabular, o cerrado é caracterizado pela fisionomia aberta, de
campo cerrado, com dominância da lixeira (Curatella americana, L.),
enquanto na floresta se divisam belos exemplares de ipê amarelo (Ta-
bebuia sp.).
'~!?;_..,~
Flg. 13 - Cont:tto entl'e ,, solo arenoso e a terra roxa, no igarapé, da divisa a 1 km ao sul
de Vilhena.
Foto O. Va!verde - 1976
42
Flg. 14 - Contato entre o cerradão (à direita) e a mata semidecídua, na estrada para o PIC
Paulo de Assis Ribeiro, a 51 km a sudoeste d e Vilhena.
Foto Irene Garrido Filha - 5. 7. 76
43
. Sobre o tabuleiro situado entre os rios Madeira e Purus, notam-se,
nas imagens de radar e em fotografias aéreas, mesmo sob o revesti-
mento da mata, curvas concêntricas iguais à sucessão de meandros
abandonados e os respectivos diques marginais e praias fluviais. Ora,
essas curvas estão situadas a uns 15 a 25 metros acima do nível das
maiores enchentes do Madeira e do Purus. Correspondem, assim, a uma
antiga drenagem, anterior ao encaixamento do Amazonas e seus aflu-
entes.
Seguindo o raciocínio de Ab'Sáber 1 7 os movimentos eustáticos ne-
gativos que acompanharam as glaciações quaternárias, em virtude da
retenção de grandes massas de gelos oceânicos nas calotas polares, são
insuficientes para explicar o encaixamento do Amazonas e seus afluen-
tes no tabuleiro terciário. Efetivamente, conforme explica esse autor,
como o talvegue do Amazonas alcança 70-80 m de profundidade e o
nível de Santarém se desenvolve a 30-40 m acima de suas margens, .o
nível de base geral do rio Amazonas teria chegado a mais de 100-120 m
abaixo da superfície atual do mar, para que o gradiente permitisse
tamanho encaixamento. Sabe-se, entretanto, que a glaciação Würm, o
mais rigoroso dos períodos glaciais quaternários, fez descer o nível geral
dos oceanos a somente 40 a 60 m negativos.
Será então necessário admitir-se um movimento epirogenético de
conjunto, simultâneo à referida glaciação, para se explicar tão vigorosa
regressão marinha.
A transgressão que se seguiu, e que deve datar de 9 a 10 mil anos
atrás, não fez retornar a lâmina d'água do Amazonas e seus principais
tributários da bacia terciária aos níveis anteriores. Contudo, a redução
do gradiente diminuiu a velocidade da corrente; os volumosos rios pre-
cipitaram suas cargas e divagam formando meandros na planície alu-
vial, dentro de seus vales calibrados.
O revestimento vegetal predominante nesta região é o de selva
equatorial; monótona quando se sobrevoa, porém extremamente va~
riada quando nela se penetra. Na região estudada, a floresta se sub-
divide em dois domínios principais: a mata de várzea, perenifólia, mais
baixa, mais uniforme, isto é, com menor número de árvores emergentes;
e a mata de terra firme, semidecídua, mais alta e mais irregular no
porte das árvores do dossel. Essa diferença na fisionomia acarreta dife-
renças na textura das respectivas imagens, tanto em espectros de radar
como em fotografias aéreas convencionais.
A 14 km de Humaitá, em direção a Porto Velho, numa penetração
feita em uma cunha da mata do tabuleiro (no chamado pontal do
Cruz), observou-se que a floresta é ainda semidecídua e conserva as
velhas estradas onde outrora se cortou muita seringa. Era no final de
julho de 1976; muitas seringueiras estavam sem folhas. As bandeiras
(incisões de sangria) subiam pelos t roncos das madeiras até uns 5 a
6 metros acima do solo. Para colher o látex era necessário subir na
árvore ou colocar-lhe junto um pé-de-burro 18 • Ao longo da estrada fo-
ram encontrados espécimes de jatobá, Hymenaea courbaril, L.; pau-mar-
fim, Agonandra brasiliensis; cajuaçu, Anacardium giganteum (Hanc.)
11 A.N. Ab 'Sáber, op. cit. (referência 9).
18 Espécie de escora tosca, com pequenas incisões à guisa de degraus, a fim
de facilitar a subida do seringueiro.
44
Engl.; mururé-da-mata, Nucleopsis sp.; sucuuba, Plumiera sp., entre
outras.
Nas vizinhanças de Porto Velho, o Beiradão do Madeira é densa-
mente ocupado nas duas margens por culturas de vazante, isto é, la-
vouras de ciclo curto: milho, arroz, feijão e outras. Fora da várzea, já
no tabuleiro da margem esquerda, o povoamento é recente (posterior à
abertura da rodovia). Observam-se aí roças alternadas com capoeiras e
capoeirões, além de alguns jiraus contendo hortas, com tomate, coentro
e cebolinha, destinados ao mercado de Porto Velho. As casas são todas
novas, de palha, cobertas de cavacos. Sem embargo, nota-se que o sapê
e as samambaias invadem as capoeiras, comprovando um rápido esgota-
mento e aumento da acidez do solo.
A medida que aumenta a distância de Porto Velho, ao longo da
BR-319, mesmo ao norte de Humaitá, nota-se que o espaço econômico
ainda está em organização. Nas terras florestais observam-se derrubadas
e queimadas (Fig. 15), em diversos lugares; mas não parece justo fa-
lar-se de uma zona pioneira. Há muito pouca gente; a ocupação está
sendo feita por incipientes fazendas de criação extensiva, em que as roças
são meras precursoras da formação de pastagens. A cultura mais comum
nesses roçados é a da mandioca, planta aí designada, ela própria, pelo
nome de roça.
O efetivo de gado ainda é quase nenhum. O pouco pasto que se vê
é sobretudo de capim elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) e, em
menor escala, capim jaraguá, Hyparrhenia rufa (Nees) Stapf.
O INCRA está titulando terras nesta faixa, onde se localiza o Pro-
jeto Fundiário Humaitá.
45
As formações florestais não estão ainda muito distantes da rodovia
asfaltada. A mata é baixa; tem talvez uns 20 a 25 metros de altura, rica
em palmeiras, especialmente o babaçu. Em quantidade muito menor
ocorrem o patauá e a buritirana. No sub-bosque prolifera a bananeira
brava ou pariri (Ravenalla guianensis) .
2 .1 - FORMAÇõES INTERCALARES
46
reta típica do cerrado, tendo geralmente 1 a 2 metros de porte. Outra
fisionomia é aquela totalmente plana e sem árvores, uma verdadeira
estepe úmida, sem murundus (fig. 16).
A vegetação rasteira é constituída de barba-de-bode (Aristida sp.)
e pé-de-galinha (Paspalum sp.).
O relevo desses campos, conforme se vê na figura 16, é de autêntica
planície, com altitudes variando entre 140 e 145 metros. Nas discretas
depressões, com terrenos mais úmidos, touceiras de buritiranas formam
verdadeiras miniaturas de buritizais. As próprias valetas da BR-319 são
ocupadas por touceiras de ciperáceas, cujas hastes se elevam até cerca
de um metro.
Em certas partes dos campos encontra-se grande número de cupin-
zeiros. São, na maioria, pretos ou de cor cinzenta-escura; vários estão
corroídos pelas águas, que ficam estagnadas na estação chuvosa, assu-
mindo formas semelhantes a cogumelos . .Mesmo assim, muitos deles
ainda estavam habitados por térmitas (Fig. 17).
Nas imagens de radar podem ser observados três tipos de campos,
pelas variações dos padrões de tom e morfologia:
i) aquelas que ocupam maior área têm tonalidade cinza-escuro e
são cortados por drenagem densa, com florestas-de-galeria, estas em
tom cinza claro;
ii) o tipo caracterizado por estrutura de estrias concêntricas, sem
variações sensíveis no tom de cinza médio, localizado próximo ao rio
Madeira, provavelmente moldado por este rio sob processo gradativo de
deposição aluvial, refletindo a forma de antigos meandros;
iii) o de estrutura complexa, próximo ao rio Curuquetê, apresen-
tando variações mais sensíveis de textura que de tom, este na gama do
cinza médio.
Segundo estudos geológicos, esses campos apresentam litologia dife-
rente dos demais, constituindo campos arenosos de depressão de um sin-
clinal da Formação Parecis.
Na área dos campos de Puciari-Humaitá foram identificados sedi-
mentos argila-arenosos da Formação Barreiras, sendo o material super-
ficial da formação do tipo argiloso, capeado por uma superfície lateri-
zada, provavelmente de ortstein, mal definida, que se estende por sob os
campos.
Nas barrancas do rio Madeira, nas proximidades de Humaitá, obser-
va-se uma camada de argila mosqueada sobre um arenito ferruginoso,
grosseiro, hematítico, indicando este mosqueamento a laterização que
ocorre no topo da Formação Barreiras.
Admite-se a idade pliocênica para estes sedimentos incluídos na For-
mação Barreiras. Com estudos cada vez mais pormenorizados desta for-
mação, e levando em conta a imensa área que a mesma ocupa, é pro-
vável que ela venha a ser subdividida, atribuindo-se idade diferente para
uma parte dos sedimentos Barreiras.
Para melhor estudo dos campos, são necessários conhecimentos das
características do solo, clima, relevo, drenagem e vegetação. Os princi-
pais fatores que atuam na formação do solo são, em geral, o material
originário (rocha-matriz) e o clima, seguidos dos fatores: relevo, dre-
nagem e vegetação.
47
Flg. 16 - Superfície horizontal dos campos da Puciari-Humaitá, com revestimento de estepe
úmida.
Foto H . Chagas - 26. 7. 76
._ , ,
Fig. 17 - Cupinzeiros nos campos d e Puciari-Humaitá. Notar que seus destroços dão origem a
monticulos - os murundus.
Foto H . Chagas - 27.7 . 76
48
O material formador do solo dos campos de Humaitá se constitui
de argilas siltosas da Formação Barreiras. O clima da área é caracteri-
zado por dois períodos bem marcados, um extremamente quente e úmido
com precipitação total de mais ou menos 2. 400 mm e com temperatura
média de 25,5°C; outro relativamente seco, no trimestre junho-agosto,
com 140 mm e um pouco mais quente, 26,5°C (Fig. 18). O primeiro,
mais longo, durando cerca de nove meses, provoca efeitos mais mar-
cantes que o segundo. A alternância desses dois períodos extremos pro-
duz freqüentes flutuações no lençol freático, ocasionando reflexos na
pedogênese e no aspecto fitofisionômico dos campos.
NORMAIS '
CLIMATOLOGICAS
DE HUMAITÁ (1931 /1960j
Chuvas Tenip.°C
( mrn)
400
/
--
300
200
100
o o
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FIG .I8
O relevo dos campos constitui mais ou menos o tipo chamado tabu-
leiro, com desnível muito pequeno. Esses campos, ocupando os inter-
flúvios, possuem as bordas ligeiramente abauladas, onde se instala, em
regra, a floresta (Fig. 19).
Em virtude dessas condições topográficas, a drenagem se faz lenta-
mente, sendo a infiltração bastante reduzida, em virtude da impermea-
bilidade do solo. Assim, durante o período chuvoso, os campos ficam
muito encharcados, com inundação temporária das partes baixas, for-
mando o que regionalmente são chamadas lagoas, que secam durante
o período desfavorável.
49
Flg. 19 - Conta to e n t r e a m ata do Pontal do Cruz e o s campos do Pucia ri-Humaltã.
Foto H . Chagas - 27 . 7 . 76
50
purpureum, Schum.) e jaraguá (Hyparrhenia rufa Nees), Stapf. O espa-
ço, entretanto, ainda se organiza. Há derrubadas, matas brocadas e, além
das fazendas, ranchos novos, embora não se possa falar de uma zona
pioneira, porque a população é ainda rarefeita.
Próximo a Humaitá, no trecho da rodovia que está sendo aberta
para ligá-la com Lábrea, foi observada na área dos campos uma forma··
ção vegetal complexa, localmente chamada capinarana. Estudos realiza-
dos por uma equipe técnica do INPA (Acta Amazônica, 1975), sobre a
vegetação das campinas e campinaranas amazônicas, confirmaram ser
esse tipo de vegetação comum na bacia do rio Negro e em outras áreas
situadas ao norte do rio Amazonas, porém bastante raras na região ao
sul deste rio. Os termos campina e campinarana têm causado certa con-
fusão, no que diz respeito à conceituação das suas fisionomias vegetais,
havendo alguns autores que denominam de campina as formações de
cerrado da Amazônia.
De acordo com os estudos do INPA realizados nas campinas e
campinaranas situadas ao longo da BR-174 (Manaus-Caracaraí), a
vegetação dessas formações se desenvolve em solos arenosos, bem dre-
nados, ácidos e pobres em nutrientes. Na campinarana, a drenagem do
solo é sensivelmente mais lenta que a da campina, o que parece refle-
tir-se na estrutura da vegetação desses ecossistemas: a campinarana,
tem vegetação de porte e cobertura florestais, isto é, dossel mais ou me-
nos contínuo, com algumas árvores ultrapassando 10m de altura; a cam-
pina é caracterizada por vegetação descontínua, com árvores em pe-
quenas reboleiras que nunca chegam a atingir 10 m de altura, e sobre
o solo arenoso, grandes quantidades de líquens (por exemplo, Cladonia
sp.) desempenham papel decisivo na preparação do solo para o estabe-
lecimento inicial das espécies lenhosas.
A chamada campinarana existente próximo à estrada Humaitá-Lá-
brea apresenta aspecto fitofisionômico bastante diferente das campina-
ranas estudadas na bacia do rio Negro. Apresenta-se como uma forma-
ção florestal baixa, com árvores emergentes atingindo mais ou menos
15 m de altura e dossel quase totalmente uniforme (Fig. 20).
O solo apresenta uma camada arenosa superficial e, segundo in-
formação verbal de colonos da área, fica encharcado durante a estação
chuvosa. O sub-bosque é relativamente denso, com regeneração de latifo-
liadas, banana-sororoca (Ravenalla sp.) e palmeiras paxiúba (lriartes
ventricosa, Mart.), marajá (Bactria marajá-açu, B. Rodr.), etc.
As árvores apresentam troncos finos, claros e retos, copas peque-
nas e folhas também pequenas, na maioria, notando-se as espécies: sorva
pequena, Coumautilis (Mart.) M. Arg.; umirizeiro, Humiria floribunda,
Mart.; amapazinho, Brosimum ovatifolium, Ducke; macucu, Licania
heteromorpha, Benth.; louro jasnün, Nectandra sp., ucuuba chorona ou
mira-sacaca, Osteophloeum plastispermum, Warb. Esta campinarana é
pobre em cipós.
A principal atividade econômica da área baseia-se no extrativismo
do látex da sorva e do amapazinho (Fig. 21). Como para Humaitá con-
verge a produção extrativa das áreas próximas, tanto da hiléia como
da campinarana, podem-se observar no seu porto pilhas de pelas de
borracha e formas de sorva esperando embarque (Fig. 22) .
2 .1 . 2 - Cerradões de Abunã
51
Flg. 20 - Camplnarana: formação florestal situada nos solos m a l drenados, na periferia dos
campos de Puciari-Humaitã. Notar os troncos finos e retos , bem como a altura regular do dossel.
Foto H . Chagas - 27 . 7 . 76
Flg. 21 - Tronco de sorveira, com marcas de sangria; no interior de uma campinarana, próxima
aos campos de Puciari-Humaitã.
Foto H. Chagas - 27 . 7. 76
52
Flg. 22 - Formas de sorva.
Foto H. Chagas 1976
53
aos primeiros, nas áreas em que estes se apresentam como campos lim-
pos, interrompidos apenas por matas ciliares.
A tonalidade cinzento-escura dos solos destes campos na imagem
de radar revela que os seus solos são planos e pouco permeáveis, enchar-
cados durante a estação chuvosa.
2 . 2 - ZONAS DE TRANSIÇÃO
54
e chuvosas para que o processo de oxidação conduza à formação de
crostas lateríticas. Além disso, a formação de horizontes de laterita piso-
lítica, de significativa espessura em certos lugares, presume a ocorrência
de fortes aguaceiros e uma drenagem difusa impossível de realizar-se sob
um manto florestal. Nos solos argilosos, o processo de laterização ficou
restrito à formação de nódulos e veios de óxidos de ferro.
No clima equatorial chuvoso que se veio caracterizando de uns 9.000
anos para cá, a selva amazônica se expandiu das terras ribeirinhas pelas
vertentes acima, até coalescer nos interflúvios. A erosão remontante, re-
novando os solos e trazendo o lençol freático para mais perto da super-
fície, abre caminho à ampliação da hiléia.
No estágio atual, ao contrário, são as áreas campestres que consti-
tuem relíquias do antigo revestimento vegetal, · abrigadas em redutos.
Estes se encontram em áreas planas, sobre solos de dois tipos: a) re-
gossolos muito arenosos, como no Curuquetê e outras áreas; b) solos
do tipo glei, como na maior parte dos campos de Puciari-Humaitá e do
Igarapé Preto.
Resta uma última questão, aparentemente paradoxal: como ex-
plicar a sobrevivência de espécies de cerrado nos campos mal drenados
do tipo b, citado acima? Pelo conhecimento a respeito dos cerrados do
Planalto Central, sabe-se que suas árvores têm justamente uma parte
subterrânea mais desenvolvida que a parte subaérea, ao contrário das
árvores florestais. Estão, portanto, mais aptas a sobreviver em solos com
lençol d'água profundo que nos de glei.
Na nossa opinião, as únicas formas vegetativas realmente aptas a
viver nestes solos mal drenados são gramíneas e ciperáceas. Sob as an-
tigas condições climáticas, em que os cerrados predominavam nas pla-
taformas baixas da Amazônia, espécimes típicos deles se instalaram até
sobre o microrrelevo resultante de cupinzeiros abandonados. As térmitas
constroem habitações impermeabilizadas de modo tal que a água do solo
não possa inundar as galerias que as abrigam e a suas larvas. Pouco
exigentes quanto à fertilidade do solo e suportando elevada acidez, ar-
varetas do cerrado encontraram aí um refúgio, hoje inacessível e insu-
portável para as árvores da mata. ·
55
Capítulo 3 - POVOAMENTO
56
Com a penetração de brasileiros, os seringais bolivianos foram re-
chaçados para a área fronteiriça do Brasil com a Bolívia.
57
1907, quatro anos após o tratado de Petrópolis, que obrigou o Brasil
a construí-la, em troca das terras que compõem o atual Estado do Acre.
Entre o final do século XIX e o início do XX, à proporção que se pro-
cessava o povoamento por nordestinos e o recuo dos seringueiros boli-
vianos, ocorreu uma série de fatos que provocou o retardamento da im-
plantação da via férrea. A Bolívia considerava-se prejudicada, e ambi-
cionava ligar a navegação do Beni e do Mamoré com a do Madeira.
Assim, os bolivianos se antecederam nas negociações com o exterior e,
de acordo com o engenheiro norte-americano, coronel George Ear
Church, foi projetada a canalização do trecho encachoeirado e a for-
mação de uma companhia de navegação, que se chamou National Bo-
livian Navigation.
Não conseguindo capitais que financiassem tal empreendimento,
Church transformou o contrato para construção de uma ferrovia que
contornasse o trecho não navegável. Como a ferrovia deveria correr em
terras brasileiras, tratou de obter a necessária autorização. Conseguiu
um empréstimo com os banqueiros ingleses Erlanger & Co., sob a con-
dição de que a firma construtora fosse a Public Works, na qual eles ti-
nham interesses. Os banqueiros lançaram na bolsa de Londres títulos
de 68 libras esterlinas, valendo 100, para financiar a organização da
Madeira-Mamoré Railway 23 • Church obteve do governo brasileiro a con-
cessão de sua exploração pelo prazo de 50 anos e outros privilégios, como
a concessão de uma faixa de terras de 1. 394 km 2 ao longo da futura
estrada.
Após levantamentos feitos pela firma construtora, a Public Works
rescindia o contrato, alegando que o trajeto da ferrovia era superior ao
previsto, isto é, maior do que 50 léguas. Tal atitude provocou o pânico
na Bolsa de Londres. Os títulos baixaram de 68 para 18 libras e foram
adquiridos por especuladores, que previam uma futura indenização, atra-
vés de processo judicial, o que de fato aconteceu.
A construção da ferrovia passou sucessivamente às empreiteiras
Dorsay & Caldwell, Reed Bross & Co. e P. L. T. Collins, tendo a última
pago as 100.000 libras esterlinas exigidas pela Public Works e depois
falido. A Bolívia desistiu do empréstimo, em face da quantia que teria
de pagar, sem ter sido construída a ferrovia.
A partir da empreitada Collins, o governo brasileiro resolveu in-
teressar-se mais pela construção da ferrovia. Assim, segundo o artigo
12 da Lei n.o 3 .141, de 30 de outubro de 1882, foram liberados . . .... ·.
Rs 150:000$000 para prosseguimento dos estudos necessários ao levan-
tamento da planta 24 • Antes dessa data, o Tratado de Amizade, Limites,
Navegação, Comércio e Extradição de 1867, entre o Brasil e a Bolívia,
estipulava a liberdade de trânsito e a isenção de impostos para pessoas
e mercadorias que procedessem ou se destinassem à Bolívia. Ao Brasil
interessava não só manter maior vínculo com o país vizinho, como tam-
bém tirar Vila Bela do isolamento em que se encontrava, devido à
guerra do Paraguai, que dificultou a circulação no rio desse nome. Pre-
via-se que através da navegação na bacia amazônica e no Atlântico se
'-!3 Nessas condições, venderam na Bolsa de Londres 1. 700 . 000 libras ester_-
linas, porém só conseguiram o pagamento de 1.156 . 000. Dessa quantia foram de-
duzidos a comissão dos banqueiros e o fundo de reserva, restando para a cons-
trução da ferrovia 700.000 libras; 600 .000 ficaram retidas para pagamento à
Public works, que as retiraria à medida que a estrada fosse sendo construída,
sacando de início 50.000. FERREIRA, Manoel Rodrigues - A ferrovia do diabo,
São Paulo, 1959.
2 4 FERREIRA, Manoel Rodrigues. A ferrovia do diabo; história de uma es-
trada de ferro na Amazônia. São Paulo, Melhoramentos, 1959.
58
vinculasse Vila Bela à corte. Menos de um ano após a lei citada, cons-
tituiu-se uma comissão, chefiada pelo engenheiro Carlos Alberto Morsing
e tendo como subchefe Julio Pinkas, para elaborar estudos e fazer a
planta da futura ferrovia. Os dois divergiram quanto ao traçado, à quilo-
metragem e aos custos (quadro 3).
Quadro 3
PROJETOS PARA A CONSTRUÇÃO DA E. F. MADEIRA-MAMORÉ
Morsing ... . . . .... .. .. Porto Velho Guajará-M irim 361,700 17.048 :780$000
Pinkas . . .. .. .... ..... . Santo Antônio Guajará-Mirim 329,600 8. 736 :716$312
O projeto mais curto e mais barato, proposto por Julio Pinkas, não
interessava ao Brasil, porque não acompanhava o alto curso do Madeira,
a não ser parcialmente. Partindo de Santo Antônio, o traçado con-
tornava o Madeira até Jirau, infletindo-se em seguida como uma grande
reta direcionada para sudoeste até a foz do rio Beni, prosseguindo daí
em diante até Guajará-Mirim, paralelo ao rio. O aprovado foi o de
Morsing, que se iniciava a 6 km a jusante da cachoeira de Santo An-
tônio e marginava o Madeira. Morsing deixou como legado a planta da
futura Madeira-Mamoré Railway, verificou se estavam corretas as partes
já levantadas pela Public Works Co. e a P . L . T . Collins, corresponden-
tes, respectivamente, aos trechos Jirau-Guajará Mirim e Santo Antônio-
Caldeirão do Inferno e levantou o trecho Santo Antônio-Caldeirão do
Inferno-Jirau (mapas 3 e 4).
Assim, ainda no início da década de 1880, a planta da estrada de
ferro já estava concluída, só sendo iniciada sua construção em 1907,
após a reformulação da Madeira-Mamoré Railway Co. Ltd., empresa nor-
te-americana, com o capital de onze milhões de dólares.
A empresa foi dirigida por Percival Faquhar, proprietário de indús-
tria siderúrgica e de equipamento ferroviário na cidade de Portland, o
que explica a utilização de pontes todas de aço, quando na região a
madeira era abundante. Faquhar era, também, dirigente da Port of
Pará, que detinha o monopólio das exportações e importaçõe& da Região
Norte, dispondo para isso de depósitos e armazéns nas cidades de Belém
e de Manaus. A Port of Pará era vinculada à Amazon River Steam Navi-
gation Company, que mantinha o monopólio da navegação nos rios da
bacia amazônica.
Nessa ocasião, a borracha estava em alta no mercado mundial,
oscilando por volta de 3 dólares a libra-peso.
Faquhar, conhecedor das hostilidades do meio, das dificuldades de
adaptação da mão-de-obra européia ou norte-americana, da falta de in-
teresse dos nordestinos que migravarri -para a coleta da borracha, pro-
curou atrair trabalhadores para a construção da estrada principalmente
na América Central, em Barbados.
Em 1910, do total de 366 km da estrada entre o ponto inicial, Por-
to Velho, e o terminal Guajará-Mirim, estavam construídos 152 km,
59
•
ESTRADA DE FERRO MADEIRA-MAMORE
PLANO PINKAS
Guojorá-M ir i m
MAPA 3
Fonte: F e rr e ir o , M.R . - "A Ferrovia do Diabo"
•
ESTRADA DE FERRO MADEIRA-MAMORE
PLANO MORSING
Guajaró- Mirim
MAPA 4
62
32. 591 habitantes, equivalente à diminuição de 3. 453, ou 9,6 %, relativa-
mente ao censo de 1920. A área que sofreu maior êxodo foi a corres-
pondente ao atual município de Humaitá, cuja população decresceu de
11 . 385 para 6. 807 habitantes. A população da área correspondente ao
atual Território de Rondônia aumentou de 1.125 pessoas, equivalendo
a 4,6 %.
3 . 2 - A OCUPAÇAO EFETIVA
63
tidade produzida entre 1950-60 variava em torno de 1. 400 e 1. 600 t ,
acima da oriunda dos Territórios do Amapá e de Roraima.
Apesar da estagnação ou mesmo decadência do extrativismo da bor-
racha, a região de Rondônia não se despovoou, como aconteceu após o
primeiro surto da borracha. Ao contrário, nova onda de povoadores
afluiu, proporcionando o aumento populacional para 85. 504 habitantes,
segundo o censo de 1960, equivalendo a um crescimento de 71,9 %
(35. 777 habitantes a mais) em relação ao censo demográfico de 1950.
Ainda segundo os dados censitários de 1960, a entrada de imigrantes
no período considerado foi de 23. 658. O maior contingente procedeu
da própria Amazônia, com 12.873 migrantes, entre os quais os originá-
rios do Amazonas (8 . 147). Outra corrente povoadora derivou do Nor-
deste, com 5 . 693 , dos quais 4 . 439 do Ceará.
A entrada d~ migrantes está ligada a transformações ocorridas na
economia regional, notadamente o surto da mineração da cassiterita,
a partir aproximadamente da segunda metade da década de 1950. É
justamente neste período que se observa o maior número de imigrantes
dirigidos ao município de Porto Velho, que somaram 10. 567 para o total
de 15 . 695. A migração para o município de Porto Velho se refletiu nos
distritos em que havia garimpagem da cassiterita, como no de Calama
e no de Porto Velho. No primeiro, a ocorrência do minério nos vales
dos rios Jacundá, Preto e Machadinha concorreu para que a população
rural quase duplicasse, passando de 3. 336 em 1950 para 6. 323 em 1960.
No último, a ocorrência de cassiterita nos vales do alto Candeias, do
Massangana e do Jamari fez com que a população rural se elevasse de
6. 481 para 11.801. Embora nesse distrito se tenha observado uma rela-
tiva expansão da atividade agrária com a criação de colônias agrícolas,
o maior contingente humano que migrava era atraído pelo trabalho
nos garimpos.
Entre as transformações ocorridas na economia regional, deve ser
considerado ainda certo desenvolvimento da agricultura, devido à cria-
ção de colônias agrícolas pelo Governo do Território, com os objetivos
de evitar o êxodo rural, conseqüente à queda do preço da borracha no
mercado mundial, e de concorrer para o abastecimento das cidades de
Porto Velho e Guajará-Mirim. Assim, além da citada colônia de !ata,
nesse distrito, foram criadas nas proximidades de Porto Velho: a de
Candeias, também em 1948; a Nipo-Brasileira e a Treze de Setembro, em
1954, e a Paulo Leal, em 1959. Entre a Capital do Território (Porto Ve-
lho) e a vila de Calam a surgiu espontaneamente a do Beiradão. Com
exceção, porém, da colônia de !ata, as demais, de modo geral, não evo-
luíram, em virtude da preferência dos migrantes para trabalhar nos
garimpos. A colônia de rata, afastada das áreas de extração de cassite-
rita, foi a mais procurada, concorrendo para o expressivo aumento (de
4.124 para 8. 347 habitantes) do quadro rural entre 1950 e 1960, no
distrito de Guajará-Mirim.
Entre as razões para a falência da colonização pelo Governo do ·Ter-
ritório destaca-se o tamanho reduzido do lote (25 ha) para o sistema
agrícola empregado: o de rotação de terras, em solos pouco férteis. Além
disso, os colonos não dispunham de condições financeiras para a aqui-
sição de sementes, da sacaria e de caminhão que lhes garantisse a liber-
dade de comercialização. Na colônia de !ata, no final da década de
1960, foram observadas áreas já transformadas em pastos de capim jara-
guá e elefante, e áreas apreciáveis em sapezais. De modo geral, os colo-
nos plantavam mandioca para a fabricação de farinha, arroz, milho e
feijão, observando-se ainda, na de !ata, a cana-de-açúcar para fabrico
da rapadura. A produção das colônias era adquirida por marreteiros
64
(donos de caminhão) , que forneciam a sacaria, e era vendida nas feiras
de Porto Velho e de Guajará-Mirim.
Dentre as colônias existentes até o final da década de 1960, além
das já citadas, havia ainda: a de Areia Branca, próxima à cidade de
Porto Velho; a de Periquitos, entre lata e Abunã, parte japonesa da
colônia Treze de Setembro, que se deve ressaltar por ser a única próspera.
Os colonos nipônicos receberam subvenções do seu consulado em Be-
lém; dedicavam-se à horticultura e avicultura, usavam mão-de-obra fa-
miliar para o plantio e colheita, e assalariados para o desmatamento.
Dispondo de transporte próprio, tinham liberdade de comercializar a
produção, vendendo-a na cidade de Porto Velho.
A colonização pelo Governo do Território não apresentou os resul-
tados esperados. Não obstante, a construção da atual BR-364, que já se
processava partindo de Cuiabá e de Porto Velho, atraía imigrantes que
penetravam pelo sudeste da região e se estabeleciam ao longo do per-
curso da futura rodovia, contribuindo para o aumento da população
rural do distrito de Rondônia, que de 1. 665 em 1950 passou para 4. 563
em 1960. A população rural se distribuía num tipo de habitat linear dis-
perso, ao longo dos eixos de circulação, adensando-se um pouco nas mar-
gens do Madeira ·e do Mamoré, nas vizinhanças das cidades de Porto
Velho e de Guajará-Mirim.
Os povoados ou aglomerados rurais 29 existentes em 1963 distri-
buíam--se predominantemente ao longo dos vales que orientaram o po-
voamento do Território, no do Madeira-Mamoré-Guaporé, sendo encon-
trados em maior número ao norte da cidade de Porto Velho. Dentre eles
notam-se os de Limoeiro, Nova Esperança e Três Casas, com, respectiva-
mente, 891, 461 e 398 casas de moradia. De modo geral, o número de
habitantes em cada um deles era superior a 300, dispondo comumente
de igreja, escola e casas de comércio. Entre Porto Velho e Guajará-Mirim,
ao longo da antiga estrada de ferro, notam-se os de Fortaleza do Abunã,
hoje simplesmente Abunã, com 1. 015 habitantes; Vila Murtinho, com
380, e a sede da Colônia Presidente Dutra, com 257. Na picada aberta
para a linha telegráfica instalada pelo Marechal Rondon, num percurso
aproximado de 894 km, já se distinguiam, entre outros, os de Vilhena,
Nova Vida e Seringal Setenta. O primeiro, situado no extremo sul do
Território, é passagem obrigatória para quem transita pela atual BR-
364; sua população em 1963 já era de 560 habitantes. Nova Vida e Se-
ringal Setenta eram aglomerados relativamente grandes, com popula-
ção superior a 400 habitantes. Os povoados dispostos ao longo da atual
rodovia originaram-se de antigos postos telegráficos, estabelecidos com
a abertura da picada, e sedes de antigos seringais (mapa 5).
65
REGIÃO DE PORTO VELHO
NÚCLEOS DE POPULACÃ0-1963
1 TRÊS CASAS 23 LIMOEIRO
2 HUMAITA' 24 PEOR AS NEGRAS
3 LIM OE IRO 25 VIL HEN A
4 GOIABAL 26 Pl MENTA BUENO
~ CALAMA 27 RIOZINHO
G N.ESPERANÇA 28 RONDÔN IA
7 BOA HORA 29 JARU
8 SOBRAL 30 SERINGA L SETENTA
9 UE~ORANGA 3 1 N O VA VIDA
10 S . CARLOS 3Z ARIQUEMES
11 CANDEIAS 33 TABAJARA
12 PORTO . VELHO 34 MARCO RONOON
13 S . PE O R O 35 CACHOEIRA DO SAMUEL
14 JACI-PARANÁ 36 MUQUI
15 MUTUM-PARANÁ
16 ABUN Ã
17 FORTALEZA OOABUNÃ
18 VILA MURTINHO
19 PR ES . DUTRA
20 GUAJARA' - MIRIM
21 PRINCIPE DA BEIRA
22 COS TA MAR QUES
8.000 "
1.500
@ POPULAÇÃO URBANA
MA PA 5
Fo nte : SUG AM ESCALA 1: 5 .000.000
POVOAMENTO DA REGIÃO DE RONDÔNIA
-ESTRADA DE RODAGEM
~ESTRADA DE"i.ERRO
Quadro 4
PROCEDÊNCIA DOS IMIGRANTES- 1961-70
RONDôNIA
1961-64 1965- 68 1969-70
REGIÕES
N.o absoluto
I % N.o absoluto I % N. o absoluto I %
Norte ... .... .. .. ... .... ....... . 4 764 70,0 7 078 63,1 4 249 33,3
Nordeste ...... . ......... .. ..... 1 359 20.0 1 222 10.9 2 152 16.9
Sudeste .. .. ........ . ...... .... . 149 2.2 622 5,5 1 980 15,5
Sul. .... .. .... .. ........ ....... 39 0.5 1 069 9,5 1 799 14,1
Centro -Oeste .. . .. ... . ......... .. 298 4.4 978 8.7 2 364 18,6
Outras (1) ............... ...... 199 2.9 253 2.3 201 1.6
TOTAL. .... • . ... ... ........ 6 808 100,0 11 222 100,0 12 745 100,0
68
•,
9 .000
'' '''
'' ',
-----..1 ' ' '
~ . 000
l.OOJ
FIG. 23
69
MIGRAÇÕES NO TERRITÓRIO DE RONDÔNIA
1960-1970
5 .000
FI G.2 4
No cômputo geral, os maiores contingentes migratórios no decênio
60/70 procedem do Amazonas, com 8. O17; do próprio Território (mi-
gração interna), com 3.457; de Mato Grosso, 3.117; Acre, 2.690, e do
Paraná, 2. 573. Os que chegaram do Acre e do Amazonas, de modo geral,
migraram diretamente do próprio Estado. Dentre os que se deslocaram
de um município para outro no interior do Território, a maioria é de
rondonianos e de amazonenses, sendo ainda expressiva a participação
de cearenses e matogrossenses. Esse deslocamento dentro do Território
se deve à procura de áreas de solos melhores e mais bem servidas . de
transportes, com preferência para as situadas ao longo da BR-364. Tra-
ta-se, portanto, de contingente que possivelmente migrou primeiro
para o município de Guajará-Mirim, deslocando-se depois para o de
Porto Velho.
Entre os migrantes procedentes de Mato Grosso e do Paraná, em-
bora prevaleçam os naturais dos respectivos Estados, destacam-se tam-
bém, em ambos, os mineiros e paulistas. Assim, entre os oriundos do Pa-
raná, os paranaenses somam 1.135 (44,1% de 2.573); os mineiros, 420; .
paulistas, 294, e nordestinos, 440. Esses migrantes, de modo geral, traba-
lhavam antes na lavoura cafeeira, da qual se. afastaram com o advento
do programa de erradicação e a ocorrência da geada, rumando então
para Rondônia. Quanto aos provenientes de Mato Grosso, excetuando-se
os naturais desse Estado, os mineiros constituem o maior número (345) ;·
notam-se ainda os paulistas, com 162, e os capixadas com 145, que ali
foram à procura de terras para a atividade agrícola, principalmente na
região de Dourados, cujas terras já estavam quase todas ocupadas.
Dos 30.775 migrantes, a grande maioria (87 ,6%) dirigiu-se para o
município de Porto Velho, procurando estabelecer-se ao longo da BR-364,
concorrendo para o aumento populacional do município, que foi de
74,1% (37. 807 pessoas) 31 • A população migrante era composta principal-
mente de agricultores, mas também se estabeleceram, ao longo da es-
trada companhias de terras pertencentes a paulistas e paranaenses. Nu-
merosas derrubadas para a formação de pastos foram observadas na re-
gião, · em 1968, nas proximidades de Vilhena, Pimenta Bueno e Rondô-
nia (fig. 25).
O contingente migratório para o município de Porto Velho se re-
fletiu na composição por sexo de idade adulta (20 a 59 anos), fazendo
o número de homens (19. 539) ultrapassar em 15,2% o de mulheres
(14.358). Em Guajará-Mirim a diferença é de 10% (6.182 homens para
5. 602 mulheres). Tal diferença para a região é bastante significativa,
pois, geralmente na Amazônia, migra toda a família.
A imigração provocou aumento substancial da população rural,
particularmente nos distritos de Rondônia e .d e Ariquemes, onde teve
acréscimos de 5. 375 e 2. 344 habitantes, respectivamente, subindo para
9. 938 e 4. 679 habitantes. No distrito de Porto Velho a população rural
aumentou de 6.217, atingindo 18.018 habitantes em 1970.
A atração pelas terras situadas ao longo da BR-364 contribuiu para
que se observassem deslocamentos de população no interior do próprio
município de Porto Velho. Para elas afluíram pessoas antes residentes
em distritos como Calama e Abunã, que acusaram perdas de população,
entre 1960-70, respectivamente de 1. 484 e 996 habitantes.
O fluxo migratório contribuiu ainda para o acréscimo surpreendente
da população urbana dos distritos de Rondônia e de Porto Velho, cujos
núcleos passaram respectivamente, de 1. 293 e de 19.387 para 4. 285 e
41. 635, segundo o censo demográfico de 1970. Quanto às populações de
71
Flg. 25 - ' Derrubada e formação de pasto na BR-364, perto de Marco Rondon ~53 k:OÍ a SW
de Pimenta Bueno)
Foto O. Va lverde - 28.7.68
outras sedes de distritos, o aumento foi de modo geral bem menor, obser-
vando-se mesmo diminuição nos de Pedras Negras, Príncipe da Beira;
Jaci-Paraná e Humaitá.
A maior concentração de imigrantes ocorreu nas áreas compreendi-
das por Vila Rondônia, Muqui, Pimenta Bueno e Marco Rondon. De iní-
cio, o proc~sso de ocupação se fez de forma linear, ao làngo da BR-364.
Posteriormente, a ocupação partindo de Vila Rondônia chegou até as
margens do rio Comemoração. Irradiando da estrada, . espraiou-se
ruino sudoeste, pelo alto vale do Apidiá ou Pimenta Bueno; dirigiu-se
também para leste, chegando às proximidades da atual localidade de
Espigão do Oeste, situada a leste de Pimenta Bueno. ·
A formação de novas frentes de povoamento, gerando uma ocupação
espontânea e desorganizada de terras da União, de particulares e de pre-
tensas companhias de .colonização - que sem qualquer a.mparo legal,
começaram a vender terras, Jludindo imigrantes menos esclarecidos -
geraram conflitos entre novos e antigos ocupantes. No fim da década
de -60, a situação fundiária de Rondônia apresentava-se caótica.
O Governo Federal interveio, através do INCRA, para elaborar um
cadastro das propriedades rurais e:r:p 1967-68, recactast:(ando-as em 1972.
Foram elaborados projetos de colonização, tendo sido implantádo em 1970
o primeiro deles, o chamado Ouro Preto, situado no distrito de Rondônia,
ao norte . da vila do mesmo nome. Em 1972 foi criado o de Ji-Paraná,
entre Vila Rondônia e Pimenta Bueno. Preocupado com o êxodo do mU-
nicípio de Guajará-Mirim e com o acúmulo de colonos em lata (que-
já extravasavam das terras da colônia), o INCRA lançou, também em
1972, o projeto Sidney Girão, ao norte da Colônia de lata, na altura de
Ribeirão (antiga estação ferroviária), área hoje servida pela BR-425,
que liga Guajará-Mirim a Aburiã, e faz entroncamento com a · BR-364.
Prosseguindo com essa política, o INCRA criou em 1973 o projeto .de
colonização Paulo de Assis Ribeiro, ao sul do Território, ocupando· parte
72
dos vales do Cabixis, Escondido e Corumbiara. Em 1974 e 1976 foram
lançados mais dois projetos: o Burareiro e o Marechal Dutra, ambos
em áreas servidas por estradas de rodagem; o primeiro perto de Arique-
mes, no vale do Jamari, e o último abrangendo terras desse vale -e do
Candeias, servido pela BR-421, já implantada no Território.
E~sa atitude do INCRA concorreu para intensificar ainda mais o
fluxo migratório na década de 70. A população do Território, em 1976,
elevava-se a 221.770 habitantes, segundo dados estimados. O fluxo
migratório foi o maior até então ocorrido, mobilizando cerca de 76.000
pessoas 32 •
A maioria dos migrantes procede do Paraná, municípios de Apuca-
rana, Londrina, Toledo, Cascavel e Umuarama. Muitos trabalharam nas
lavouras de café, cereais e feijão. Predominam entre eles os naturais do
Sudeste, notadamente mineiros e capixabas; seguem-se os nordestinos,
paranaenses e outros.
Os distritos que receberam maior afluxo demográfico foram os de
Rondônia, Porto Velho, Guajará-Mirim e Ariquemes acusando expressi-
vos aumentos populacionais entre 1970 e 1976 (quadro 5 e mapa 7).
Quadro 5
CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO NOS QUATRO DISTRITOS QUE
TIVERAM MAIOR AUMENTO - 1970-76
RONDôNIA
CRESCIMENTO
DISTRITO POPULAÇÃO
Relativo 1976
Absoluto
(%)
Rondônia ... . ...... .. . . ... .... ... .. .... ..... . , 54 352 382.1 68 575
Porto Velho ., . ... , . ..... .• .. .. . .. . . , ... .... .•. 39 867 66,8 99 520
Guajará·Mirim .....••.. ... . ... ..•.. . .. ..... .. • 1o 158 49,8 30 550
Ariquemes . . . . .... . .. ... . ... .... . .... .. . .. .. . . 2 528 44,8 8 170
FONTE : SUCAM.
73
EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO
REGIÃO DE PORTO VELHO POR DISTRITOS
N
___.-mcrw
JACIPARANÁ
'\
~
: PORTO VELHO I
(
~
\
ARIQUEMES
I
)
L ___ _
RONDON IA
NÚmero de Habitantes
100.000
90.000
80.000
70.000
60.000
50.000
40.000 População
20.000 -1950
D t96o
10.000 -1970
D t976
50 o 50 lOOkm
1.000
MAPA 7
Pimenta Bueno e Vilhena constituem hoje núcleos urbanos com
população de perto de 6. 000 (5. 820 e 5. 905) habitantes. Tais núcleos,
- - ·-· que-·em 1963 contavam apenas com 281 e 560 moradores, tiveram cres-
cimento acelerado a partir do início da década de 1970, e já em 1973
possuíam cerca de 3. 000 e 4. 000 pessoas, respectivamente. O intensivo
crescimento desses núcleos, com população voltada para atividades ur-
banas (prestação de serviços) constitui um indicador fiel do dinamismo
dessa região, fato também demonstrado pelo que acontece em Cacoal,
núcleo surgido após 1973 e já em 1976 com população estimada pela
SUCAM em 10.455 habitantes.
Aumento populacional igualmente notável ocorreu nos distritos de
Porto Velho, Guajará-Mirim e Ariquemes. No primeiro, quase duplicou
a população em 1976, em relação a 1970. (mais 38 .365 habitantes, ou
um aumento da ordem de 92 %), o que elevou o quadro urbano para a
casa de 80.000. Este grande acréscimo decorre do surto migratório e
do conseqüente equipamento urbano para atender à prestação de servi-
ços ligados à economia e ao bem-estar da população.
O aumento populacional observado em Ariquemes foi menor, em-
bora neles existam os projetos Burareiro e Marechal Dutra, implantados
em 1974 e 1975. São projetos que exigem maior poder aquisitivo para os
migrantes que queiram tornar-se parceleiros, sendo o tamanho do lote
bem superior aos 100 ha do módulo vigorante nos projetos Ouro Preto,
Padre Adolpho Rohl e Ji-Paraná. O incremento da população rural, a
partir de 1973, foi de 31,9 %, isto é, 1.491 pessoas a mais, passando em
1976 ao montante de 6. 170. Quanto ao da urbana foi mais expressivo:
107,8 % (1.037); em 1976, a vila de Ariquemes se aproximava de 2.000
habitantes.
No distrito de Guajará-Mirim, a implantação do projeto Sidney Gi-
rão, em 1972, contribuiu para a entrada de imigrantes, predominando
cearenses e mineiros entre os parceleiros, com percentuais superiores a
20 %. O acréscimo da população rural foi de 44,3 % (4.204), atingindo
em 1976 o número de 13.695 pessoas. A cidade apresentou crescimento
de 54,6 % (5. 954), tendo 16.855 habitantes em 1976. Contribuiu
para esse crescimento da cidade de Guajará-Mirim o êxodo rural dos
distritos de Príncipe da Beira (de onde emigraram 2. 298 pessoas) e de
Peç:iras Negras, cuja população se reduziu, em 14.8 % (488 habitantes).
Guajará-Mirim, à semelhança de Porto Velho, porém com bem menor
intensidade passou a atrair população rural de áreas relativamente pró-
ximas, que se apresentavam decadentes (mapa 8).
Na distribuição da população rural continuou a dominar o tipo
de habitat linear disperso, seguindo os eixos de circulação rodoviária e
fluvial, com relativo adensamento entre os núcleos de Pimenta Bueno
e Rondônia, ao longo da BR-364, observando-se ligeira expansão no tre-
cho já implantado da BR-421, nas proximidades de ,Ariquemes e na parte
que margeia o Madeira, perto de Porto Velho e Humaitá. Nas proximi-
dades de Guajará-Mirim, junto à BR-425, que segue pelo vale do
Madeira-Mamoré ligando Abunã r Guajará-Mirim, aparece outro aden-
samento, mas de importância bem inferior.
Nos referidos trechos, a população rural se apresenta às vezes aglo-
merada, aparecendo povoados, vários deles posteriores a 1963. Assim,
entre Pimenta Bueno e pouco além de Rondônia, surgiram ao longo da
BR-364 os de Ouro Preto e Presidente Médici, com, respectivamente,
1.895 e 2. 790 moradores. O primeiro foi implantado pelo INCRA como
sede do projeto do mesmo nome; tem como finalidade dar apoio e assis-
tência aos parceleiros, para o que dispõe de escritórios para a adminis-
tração e orientação técnica ao agricultor, escola de 1.0 grau, hospital,
75
REGIÃO DE PORTO VELHO
DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO URBANA E RURAL
1976
POPULAÇÃO URBANA
POPULA~ÃO RURAL
• 100 hob.
MAPA 8
alojamento para visitantes, restaurantes e posto de gasolina. O último
surgiu espontaneamente, em local de trânsito de pessoas e mercadorias,
assumindo funções comerciais; nele existem máquinas de beneficiar
arroz, subposto de saúde, escola de 1.0 grau e posto de gasolina. A oeste
de Pimenta Bueno, num ramal da BR-364, surgiu o povoado de Espigão
do Oeste, com 265 pessoas.
Do final da década de 1950 até 1971 apareceram os povoados ligados
aos garimpos de cassiterita, no alto Candeias e em outras partes do
Território. Eram "currutelas" compostas por uma população instável
e miserável, de aventureiros acompanhados ou não das respectivas fa-
mílias. Esses núcleos estavam, em regra, isolados dos demais centros,
sem vias terrestres ou fluviais. Apenas um campo de pouso para teco-
tecos os ligava a Porto Velho e Ariquemes. Um escritório, geminado a ·
instalações precárias para concentração do minério, abrigava-se numa
construção um pouco melhor; ·junto a ela, o "barracão", onde as merca-
dorias trazidas de avião eram vendidas a preços extorsivos (de monopó-
lio); uma linha de casebres, à beira do campo de pouso; muitas outras
choupanas sórdidas, dispersas entre o núcleo embrionário e as "catas'';
nos aluviões. Eis o padrão de habitat e das habitações que se encontra- ·
vam em Campo Novo, Vietnã, S. Domingos e outros garimpos da região.
Com a proibição de funcionamento dos garimpos, determinada pelo
Governo Federal 'em 1971, surgiram verdadeiros povoados, mais está-
veis, vinculado~_ às lavras mecanizadas de cassiterita. Tais aglomerados
rurais não se situam à beira da BR-364, mas em ramais e ao longo do
trecho já construído da BR-421. Geralmente, sua população varia, apro-
ximadamente, entre 200 e 500 habitantes. Correspondendo a núcleos
administrativos e residenciais, são dotados de infra-estrutura necessária
aos trabalhos de mineração e de atendimento às necessidades imediatas
e mínimas da população que trabalha na lavra. Dispõem, normalmente,
de escritório, alojamentos para solteiros e para casados, restaurantes,
cantina, depósito de combustível, oficinas mecânicas para reparos nas
máquinas utilizadas na mineração e para consertos em veículos, bem
como posto de gasolina, para uso próprio. Assim, nos ramais da BR-364
entre Porto Velho e Ariquemes .encontram-se, até hoje, os de Santa Bár-
bara, Jacundá e Oriente Novo. Ao longo da BR-421, entre a última loca-
lidade e o alto Candeias, os de Taboca, Campo Novo e São Domingos
(mapa 9).
Pequenos núcleos situados nas proximidades da cidade de Porto
Velho, como os de São Pedro, Cachoeira do Samuel, Candeias, Ueporan-
ga, São Carlos, Boa Hora, Sobral e Nova Esperança já existiam em 1963,
mas pouco ou nada evoluíram. Em alguns foi observada sensível queda
de população, como ocorreu nos de Candeias e Nova Esperança, que
perderam, respectivamente, 83,8 % (310 pessoas) e 65,3 % (301) de sua
população, reduzida em 1976 para 60 e 160 habitantes. Tais povoados
. situam-se em áreas de domínio da pecuária extensiva e das colônias
antigas, criadas pelo Governo do Território.
Entre Calama e o extremo norte da região, no município de Hu-
maitá, surgiram vários aglomerados depois de 1963. Apresentam-se dis-
postos às margens do Madeira, em área fornecedora de legumes e fru-
tas para as cidades de Humaitá e de Porto Velho. Possuem estabeleci-
mentos de ensino de 1. 0 grau, igreja, casas de comércio. São pequenos
centros (todos com mais de 200 habitantes) compradores de produtos
da economia regional, para ali transportados em lanchas. Destacam-se
os de Carauapatuba e Muanense, ao norte de Humaitá, com, respectiva-
mente, 241 e 412 habitantes.
77
REGIÃO DE POR TO V EL HO
I -
NUCLEOS DE POPULAÇA0-1976
1 Vi lhena 26 Ped ra s Neg ra s
2 Piment a But"no 27 Fortaleza do Abu na
3 Esp igão do Oeste 28 Abu n ã
J Rio zi nho 29 Muturn-Pa ran á
s Cacaua l JO Jaci- Pa raná
Pasto Grand e
6 Muqu : 31
7 Pre s. MCdici 32 Mirari
8 Rond ón ia )3 Hu maitá
9 Ou ro Pr e to 3~ Mua nense
10 Ja ru 35 TrCs Ca sas
11 Ariqueme s 36 CarauJpa tuba
12 Nova Vida 37 Uru a piara
13 Cand ei as 38 Tabaja ra
14 Nova Esperança 39 São Dom ingos
15 Boa Hora 40 Campo Novo
16 Sã o Carlos 41 Calama
17 Ueporanga 42 Marco Rondon
18 São Pedro 43 Ori en te Novo
19 Guajará-Mirim 44 Sa nta Bárbara
20 Nú c leo lata 45 Ca c hoeirado Sà muel
21 Vi la Mu rtinho 46 Jacundá
22 Prlncipe da Beira 47 Sobral
23 Costa Marques 48 Seri nga l Setenta
24 Sidney Girão 49 Ta boca
25 Limoeiro 50 Porto Velho
I
I
POPULACl'iO URBANA
79
Capítulo 4 - OS PROJETOS DE COLONIZAÇÃO
80
região." Assim, as diretrizes contidas no Decreto n. 0 63.104/ 68 não só
levaram à implantação dos dois citados Projetos, como, até certo ponto,
condicionaram grande parte da atuação do INCRA no Território, le-
vando-a a se concentrar na área de influência da BR-364, indicada como
prioritária para ocupação desde 1968, quando a corrente migratória co-
meçava a se dirigir para Rondônia, facilitada pela abertura ao tráfego
da rodovia Cuiabá-Porto Velho, no início da década de 60.
Esse fato, somado ao fechamento dos garimpos, em 1971, e ao aban-
dono dos seringais, em virtude dos melhores horizontes de trabalho que
se abriam para os seringueiros, com a construção da BR-364 e a pos-
sibilidade de se tornarem proprietários de uma parcela nos Projetos de
Colonização do INCRA, provocou uma invasão desordenada de terras.
Esta população afluente se constituiu de:
a) um grande contingente de agricultores sem terra, oriundos ein
sua maior parte do centro-sul do País;
b) um pequeno grupo de capitalistas do Sul, interessados em ad-
quirir terras no Território de Rondônia;
c) um certo número de pessoas que se localizavam nos núcleos
populacionais existentes, com a finalidade de ~e dedicar a atividades
urbanas, sobretudo ao comércio.
Por isso, "muitos núcleos, onde se esperava uma redução popula-
cional com a entrega de lotes rurais pelo INCRA, mantiveram suas taxas
de crescimento aceleradas," 34 apesar da implantação de Projetos de Co-
lonização em áreas circunvizinhas.
Nem o extrativismo, nem a lavra mecanizada geraram riquezas para
o Território, uma vez que o produto dessas duas atividades sempre foi
exportado para ser industrializado em outras regiões.
A extração da cassiterita deu lugar à criação de alguns núcleos po-
pulacionais, que não exercem maior influência na região. Isso se deve,
de um lado, ao próprio caráter transitório da atividade mineradora e,
de outro ao fato de que a lavra não é fonte geradora de muitos empre-
gos, pois constitui um tipo de empreendimento que visa ao mais alto
rendimento, através de um máximo de racionalização e de mecanização
do trabalho, com o emprego de um mínimo de mão-de-obra.
Sendo o setor industrial quase inexistente no Território, tornou-se
a agricultura a alternativa mais viável para a abwrção da maior par-
cela do fluxo migratório. Tornava-se necessário, entretanto, a utilização
de um tipo de propriedade capaz de absorver a mão-de-obra disponível,
sem se valer de atividades econômicas baseadas em tecnologia cara,
altamente mecanizada. A implantação de projetos de colonização funda-
dos na propriedade familiar, preconizada pelo Estatuto da Terra, foi a
opção adotàda pelo então Instituto Brasileiro de Reforma Agrária
(IBRA), órgão, à época, executor também da política de colonização do
País.
A construção da BR-364 não foi precedida de nenhum estudo das
formas de ocupação do espaço já existentes no Território, como as áreas
de extrativismo e as de garimpagem da · cassiterita, nem tampouco do
que poderiam vir a ser as possíveis formas de ordenação territorial que
surgiriam em decorrência da abertura da rodovia. ·
Quando o IBRA começou a atuar, em 1968, o fluxo migratório ainda
não era muito intenso. No entanto, desde o início faltou ao sistema de
81
colonização oficial, estabelecido em Rondônia, uma programação cãpaz
de atender às situações de emergência que se criavam, como a que deu
origem~ implantação do Projeto Ouro Preto. Ao mesmo tempo, tal pro-
gramaçao nao soube acelerar ao máximo a discriminação de terras para
permitir, em tempo hábil, a criação de novos Projetos, em vista d~ che-
gada contínua de novos migrantes. Esse afluxo foi incrementado pelas
notícias de obtenção de "boas terras" no Território e, também, pela pro-
paganda governamental, decorrente da política de ocupação da Ama-
zônia, e~plicitada em diversos documentos oficiais do início da década
de 70, como o I PND e o Programa de Integração Nacional,s5 comple-
mentado pelo plano de abertura de rodovias amazônicas e pelo De-
creto n. 0 1.164/ 71. Determina este decreto que sejam considerados como
de segurança nacional os 100 km de cada lado do eixo de rodovias fede-
rais da Amazônia Legal, onde também se deveriam implantar projetos
de colonização.
A falta de um plano global estabelecendo metas de assentamento a
curto, médio e longo prazos, e que pusesse em ação conjugada os di-
versos órgãos do Poder Público, para intervir no processo de ocupação
de novas áreas daquela porção do espaço amazônico, se fez sentir desde
o início. Isto levou o IBRA (depois denominado INCRA) a agir sempre
no sentido de atender a situações de emergência, criadas pela intensifica-
ção do fluxo migratório. Este dificilmente poderia ser reduzido, posto que
persistiam naquela época, e ainda hoje, fatores que concorreram para
transformar certos municípios do Sudeste em áreas expulsaras de po-
pulação. Dentre tais fatores podem-se citar: a concentração na proprie-
dade rural, sobretudo nas duas últimas décadas, com a conseqüente ele-
vação do preço da terra; a expulsão, em massa, de trabalhadores rurais
das fazendas - assalariados, colonos e parceiros - após a aprovação do
Estatuto do Trabalhador Rural, os quais passaram à condição de bóias-
frias; a transformação de áreas com culturas intensivas de mão-de-obra,
como a rotação trigo-soja, de elevado índice de mecanização; a incapa-
cidade dos setores secundário e terciário de absorver a mão-de-obra
liberada pelo setor primário, quase toda oriunda da população de baixa
renda.
Os Projetos foram sendo implantados sem que houvesse uma esti-
mativa, a curto e médio prazos, dos recursos mínimos necessários (finan-
ceiros, humanos e técnicos) para fazer face à intensidade do fluxo, que
se foi avolumando a partir do início da década de 70. Como órgão res-
ponsável pela execução da política de colonização sintetizada no Estatuto
da Terra, o INCRA assumiu a direção do programa de colonização, uma
vez que, no início dos anos 70, o Governo do Território não dispunha d.e
meios para coordenar essa atividade, em colaboração com aquele órgão.
32
TERRITÓRIO FEDERAL ·oE RONDONIA
-
PROJETOS FUNDIÁRIOS E GLEBAS EM DISCRIMINAÇAO -
A M A z o N A s
z o s
A M A N A
..
M A T o
1o•
G R o s s o
11•
(f)
(f)
o
..
,
o
<
FAIXA DE FRONTEIRAS
~ f'F A LTO MADEIRA
P.F. JARU-OURO PRETO ..
,
~ P. F.CORUMBIARA
FAI XA DE 66 km
E S C A L A
llllllllllllilllillllllllllllll
FAIXA DE 150 km
P. F. GUAJÂRJ't- MIRIM
lO o lO 20 30 40 50 60 70 eo 90 100 km
MAPA 10
83
Quadro 6
SITUAÇÃO JURíDICO-FUNDIARIA DO TERRITóRIO DE
RONDôNIA - 1978
ÁREAS (h a)
Definitivos l Provisórios
Aforamentos
Concedidos
Com
Registros
Irregulares
l Total (1)
Arrecadação PBio S.P.U.
U ni~o
I INCRA Amazonas (2) 1Mato Grosso(2) Mato Grosso(2)
I -
Alto Madeira .. . .... . ... ... 5.570.000,0000 2.100.112,0431 154.000,0000 604.176.0410 57.600,0000 601.732,2386 99.402,5300 519.821,4441 32.665,3261 845 862.9765 5.015.372.5994
Corumbiara ........ .. ....... 5.990.500,0000 3.686.786,0257 . 773.347,3097 1.014.960,1655 258.500,0000 7.365,0000 22.500,0000 96 041.4991 5.859.500,0000
Jaru-Ouro Preto ..... 5.698.900,0000 1.630.865 ,7409 1.608.429, 6762 79.362,6437 185.000,0000 268.150,0000 265.455.0057 297.959,9075 406.700,0000 55.161,7500 95.442,5766 4.972.527,3006
GuajarH1irim(3) .... 7.045.000,0000 2.527.729,3560 60 000,0000 623 .233,9424 542.600,0000 1.799.500,0000 13.100,0000 133.432.0000 190.939,0000 3.700,0000 124.199,0000 6.085.226,2984
TOTAL. . .. ............. 24:304.400,0000 9.945.493,1657 2.675.776,9859 1.306. 772.6271 1.800.160.1655 2.326.150,0000 880.287,2443 538.159,4375 1.139.960,4441 187.568,5752 1.065.504,5531 21.932 626,19 84
Quadro 7
ARRECADAÇÃO DE TERRAS PELOS PROJETOS
FUNDIARIOS - 1977
RONDôNIA
ÁREA
PROJETO FUNDIÁRIO E GLEBA
(h a)
ALTO MADEIRA . . ... •..•. .. . ..• . . ... •... ...•... ... •. . .. . •.. . .. .•..... 1 083 100
Jacundá ....... . : ....... .. ..... .. : .. .. ....... .. .. .. ...... .. ..... .. 667 000
Gonçalves Dias . .. ... . .... ........ ....... . .. ........ .. . . ........ .. 280 000
Euclides ~a Cunha ..... .. •.. ..• •. ....• •.. . ..•.. .. .• . .. .. .• .• .. .. •. 60 500
Abunã ............. ...... ..... ....... .. ..... . ....... , .......... .. . 75 600
JARU-OURO PRETO .... .. . .. .. ...... ... .. ... ..... . .. .... ... . ........ .. 681 700
··Novo ' Des:i.1o ................ .. ...... .. .. .. ............ .. .'.... . .. . 383 700
Sar.ll Rosa .................... ... ........... ....... ... ... .. . . ... . 15~ OJO
Vida Nova ................. .. ........... ... .... .... ............. . . 138 000
GUAJARÁ-MIRIM. : ......................... ....... .... . ..... .. . ... .. 1 99~ 900
..,Samaúma ..... . .... .. .............. .. .. ... . ..... .. .. .... . ... .. . ... . 1 93~ 900
Sidney GirãJ ..... _. .. .... , ... .. .. ,. . ............ .. ... . .... ...... .. . . 60 000
· CORUMBIARA .....•.... : ... . •............•.... .• ..... .. .... ••.. ... •. • 1 871 000
Guaporé . ................. , .. . ..·... . .................. . .... .... .. . 1 389 000
Castro Alves ................ .. . .. .. . ... .. .. .... . ..... ... ......... . 394 000
. lquê .. . .. .................. . .... . ... .. . .. . ... .... .... .. ... .. .. ... . 88 000
TOTAL. : .. • .'... .. . . . .. ..... . .. . .....•.... .. .. .. · •····· · •···· ••···· 5 630 700
85
da faixa de fronteiras, segundo hoje estabelece a Constituição Federal.
Como a lei não retrdage, essa situação continuará existindo.
O INCRA procura resolver os casos de superposição de área, como,
por exemplo, o da Reserva de Pedras Negras, onde há vários imóveis
com situação indefinida e que só poderá ser solucionada a partir do
momento em que a área for demarcada. Nessa oportunidade, o Poder
Público poderá propor aos detentores desses títulos definitivos a per-
muta dos respectivos terrenos por outros em áreas equivalentes, fora
daquela onde ocorre a superposição, ou então desapropriar, quando for
o caso. A citada Reserva teve seu perímetro descrito no decreto que a
criou, mas a demarcação não foi ainda efetuada, no que deverá ser rea-
lizado pelo IBDF, mediante entendimentos com o INCRA.
86
A
A M A z o N A s
A M A z o N A s
9
M A T o
P/RIO BRANCO- AC
..
,
G R o s s o
Pl IG . LOURDES
I
PIC Jl - PARANÁ
f SETOR JI - PARANÁ
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...
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PRESENÇA IND(GENA
..
,
FAIXA DE FRONTEIRAS
FAIXA DE 66 km
E S C A L A MAPA ll
FAIXA DE 150 km 10 O lO 20 30 40 ~ 60 70 80 90 100 km
Fonte:- I.N . G. R.A. ... 65• ... ••• ••• .,. •••
de uma década, em uma fronteira agrícola, pois o Território representa
hoje a única importante faixa produtora de alimentos da Amazônia Oci-
dental. Tal processo decorre da ação orientadora e discriminadora do
INCRA, através dos Projetos de Colonização, os quais constituem, até o
momento, a alternativa mais viável para a criação de novos empregos
e fixação do homem à terra.
Nesses Projetos, implantados quase todos há menos de sete anos e
com uma população de baixa renda, considerada por mu'tos sem um mí-
nimo de capacidade empresarial, criou-se a maior área produtora de
alimentos do Território (quadro 8).
O volume do crédito concedido pelo Banco do Brasil, principal fonte
de financiamento do Território, para as lavouras temporárias de milho
e arroz, durante o ano agrícola 1976/ 77, em áreas de colonização oficial,
pode ser verificado através do quadro 9. Observa-se que as áreas objeto
de financiamento, no PAD Marechal Dutra, são de apenas 5 ha para
arroz e 3 ha para milho, em uma parcela. Tal situação se explica porque
o Projeto começou a ser implantado a partir de 1975, e o quadro 9 se
refere ao ano agrícola de 1976/ 77, quando os cultivos e o programa de
crédito não estavam organizados. Também o PIC Paulo de Assis Ribeiro,
à época, de recente implantação, não figura nesse quadro uma vez que
não havia, então, financiamentos agrícolas previstos para aquela área.
Quanto ao PAD Burareiro, as atividades creditícias não são orien-
tadas pelo INCRA, devido ao nível de renda dos beneficiários ser mais
elevado que o dos demais Projetos. Assim sendo, eles operam diretamente
com o Banco do Brasil, através da CEPLAC. Por essa razão, o volume de
crédito destinado ao Projeto não figura no quadro 9.
Atualmente, a faixa da BR-364, onde se localizam seis dos sete Pro-
jetos de Colonização do INCRA (mapa 11) e concentra cerca de 56 % da
população do Território. Esta é a área que apresenta maior dinamismo
econômico. O mesmo mapa assinala também as áreas indígenas, as des-
tinadas a reservas florestas, sob a jurisdição do Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento Florestal (IBDF) e aquelas destinadas à licitação no
Território.
87
Quadro 8
INFRA-ESTRUTU.RA ECONÚMICA
Mandioca l A!roz
I
Feijão
I
Milho Café
I
Banana
I Cacau
I Seringa Café
(Sacas)
I
Mandioca
(t)
I
Arroz
(Sacas)
I
Feijão
(Sacas)
I
Milho
(Sa cas)
I
Bonana
(Cachos)
I
Cacau
!knl
Ouro Preto ..•. .. .. •.•..•.•..• 6 500 26 000 5 200 11 600 3 341 15 000 1 134 150 108 333 91 o 000 72 800 371 200 5 000 000 8 000 26 353 291
Sidney Girão . . .. ......... oo oo 836 3 442 1 856 1 854 300 43 20 43 10 266 110 154 25 984 59 329 36 000 7 510 710
Ji-Paraná . .. ... .. ........ ... .. 487 19 453 3 000 6 950 3 891 1 500 76 5 527 81 166 622 000 42 000 222 400 510 000 9 307 008
Pdulo A. Ribeiro ......... 00 00 12 588 500 400 221 15 200 49 900 7 000 12 800 18 000
Pe. Adolpho Rohl .. .. ... oo . . . 3 228 15 510 1 560 3 400 989 1 890 397 53 800 486 320 217 140 108 800 3 780 000 5 173 712
TOTAL. .. ...•......• •• . •• 11 063 64 993 12 116 26 010 8 742 18 448 2 177 193 5 527 253 765 2 178 374 364 924 832 310 9 344 000 8 000 48 344 721
CULTURAS
TOTAL
PROJETO Arroz Mi lho
Sidney Girão ... .. . .. . ••. . .. . ... 1 089 3 618 070 7 866 3 625 936 108
PAD Ma l. Outra. ..... •.. . ... •. . 5 6 390 2 592 8 982
P. e Adolpho Ro hl . .. . .•. .. . • . . . 2 898 3 703 644 698 603 072 4 306 716 451
Duro Preto . ..... . .. .. .. .. ... . . . 3 957 5 057 046 ' 497 429 408 5 486 454 462
Ji-Paraná..... ... . .. .. .. ... . ... 4 748 6 067 944 501 432 854 6 500 798 463
TOTAL.. ... . •... . .. . ..... • • 12 69 7 18 453 094 1 708 1 475 792 19 928 886 1 485
4 . 6 - A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO
89
A política esboçada pelo Decreto n.o 63.104/ 68 fazia alusão clara a
outras formas de ocupação do espaço, diferentes das até então conheci-
das na Amazônia e que tinham no seringal sua expressão máxima.
4. 6 .1 - A formação de núcleos urbanos
As novas alternativas de ordenação territorial surgiram com as pro-
priedades familiares nos Projetos de Colonização; as médias e grandes
empresas rurais, nas áreas licitadas pelo INCRA; os núcleos urbanos
criados para sede e suporte dos projetos, como a Vila Colorado do Oeste
no PIC Paulo de Assis Ribeiro; Ouro Preto, no Projeto do mesmo nome;
Jaru no PIC Padre Adolpho Rohl; e Cacaual, originada de uma fazenda
próxima ao Ji-Paraná, onde migrantes se localizavam provisoriamente,
a partir de 1972, enquanto esperavam a liberação de parcelas naquele
e nos demais Projetos ao longo da BR-364.
Além desses núcleos, criados com a intervenção do órgão, há tam-
bém aqueles que já existiam desde a época da implantação da linha
telegráfica pelo Marechal Rondon, alguns dos quais saíram do isola-
mento inicial com a abertura da BR-364, e ganharam novo dinamismo
a partir da intervenção do INCRA na região. Nesse caso encontram-se:
Vilhena, que serve de suporte ao PIC Paulo de Assis Ribeiro e criou novo
impulso desde que este foi implantado; Presidente Médici, próximo ao
setor Leitão, do Projeto Ouro Preto; Pimenta Bueno, que conheceu um
surto de progresso a começar de 1960, com a intensificação da corrente
migratória; Nova Ariquemes, criada para substituir a "Velha Arique-
mes", cujo sítio foi considerado pouco favorável à expansão urbana,
ante as novas perspectivas de desenvolvimento que se apresentam para
a região, a partir do início da construção da BR-421, da R0-01 e da im-
plantação, em 1976, dos Projetos Marechal Dutra e Burareiro; Vila Ron-
dônia, cujo crescimento apresenta ritmo acelerado, embora também
desordenado, desde a implantação do Projeto Ouro Preto, em 1970, si-
tuado 40 km ao sul.
Em 1972, Vila Rondônia tinha 5. 000 habitantes e 13. 000 em 1973;
hoje se estima que haja cerca de 30 . 000 habitantes somente na área
urbana, a qual se estende pelas margens da BR-364 e do rio Ji-
Paraná (Carpintero, A.C.C. op. cit., ref. 32). Dado o desenvolvimento
de toda a área de influência de Vila Rondônia, foi enviado um projeto
de lei ao Congresso Nacional propondo a criação do município de Ji-Pa-
raná, cuja sede seria aquele núcleo, e tendo Ouro Preto como distrito.
Esse projeto tornou-se realidade em 11 de outubro de 1977, quando, atra-
vés da Lei n.o 6. 448, foi criado o município de Ji-Paraná, assim como
os de Ariquemes, Cacoal, Pimenta Bueno e Vilhena.
A Construção da R0-02, que deve ligar a região de Vila Rondônia
a Costa Marques, no vale do Guaporé, trará novas perspectivas de desen-
volvimento, não apenas para aquela área do Território, até então iso-
lada, mas também para toda a zona de influência de Vila Rondônia. A
conclusão da rodovia estava prevista para 1978. Ao longo de seu tra-
çado, por solicitação da SUDECO, a Fundação João Pinheiro efetuou
um estudo de solos que facilitará o estabelecimento de diretrizes para a
ocupação daquela faixa.
A criação dos novos municípios traz para Rondônia uma nova estru-
tura político-administrativa que, em grande parte, decorre do dinamis-
mo sócio-econômico que se intensificou na faixa da BR-364, a partir,
sobretudo, da atuação do INCRA em suas diferentes formas. Esse mesmo
dinamismo cria para o INCRA e os demais órgãos do poder público
chamados a atuar no Território novas exigências e, muitas vezes, a ne-
cessidade de revisar ou reformular certas formas de atuação.
90
Ao INCRA, como órgão ordenador da ocupação, do ponto de vista
legal, cabe uma responsabilidade tanto sobre as áreas rurais, quanto
sobre as urbanas, cujo domínio por assim dizer detém. A criação de
novos municípios exige que o INCRA imprima maior rapidez ao processo
de transferência das áreas urbanas aos poderes competentes, no caso, o
Governo do Território e as Prefeituras, tornando esse processo contínuo.
Esse aspecto foi abordado de forma muito procedente nos estudos de
Carpintero (op. cit. ref. 32) e de Dias & Castro 38 • Somente assumindo o
domínio das áreas urbanas (seja dos núcleos espontaneamente surgidos
no Território, seja daqueles criados pelo INCRA) poderão o Governo
de Rondônia e as Prefeituras efetuar a cobrança de impostos, a venda
de lotes urbanos, a outorga de licença para o funcionamento de indús-
trias e de estabelecimentos comerciais. Ao transferir aos órgãos compe-
tentes as áreas urbanas, ora em número de sete, devidamente demarca-
das, o INCRA também se estará desobrigando de um encargo que lhe
acarreta considerável ônus financeiro.
91
O estudo da colonização atual no Território de Rondônia será, en-
tão, apresentado aqui a partir do eixo rodoviário em causa, começando
pela colônia mais antiga e mais evoluída - o PIC Ouro Preto - se-
guindo-se-lhe as outras, situadas na mesma estrada e em ramais, .para
enfim se analisar o PIC Sidney Girão que, por se localizar no vale do
Guaporé, corresponde a uma renovação das colônias daquela região,
ora estagnadas ou decadentes.
92
tico, também no interior da selva. Esses habitantes VIVIam sobretudo
de roças de mandioca- a principal cultura- milho, feijão e banana.
Exportavam-se, de caminhão, alguns excedentes; mas o Governo do Ter-
ritório procurava cercear essa atividade, porque Porto Velho e outros
centros eram sempre carentes de alimentos. Borracha e madeiras-de-lei
eram embarcadas sem restrições.
A partir do vale do Jaru para o norte, a ocupação ao longo da BR-
364 era rarefeita, caracterizando-se como zona de grandes proprie-
dades, com extração de seringa e castanha. A mata virgem predominava
por toda parte.
O habitat era misto, nucleado e disperso. Os núcleos pequenos se
formavam, ora pelas casas reunidas nas sedes dos seringais, ora por agru-
pamentos ainda menores, de duas ou três casas de seringueiros. Não
se verificava imigração para este trecho; havia, ao contrário, emigração
da mão-de-obra dos seringais para os garimpos de cassiterita. Os serin-
galistas tiveram que modificar a relação de trabalho para enfrentar a
concorrência do mercado de mão-de-obra: passaram a pagar os serin-
gueiros a dinheiro, em ritmo mensal. Mesmo assim, não conseguiram
evitar a evasão. A estrada acarretou a desorganização do sistema de
aviamento. O trabalhador tornou-se livre, embora nômade.
No curto período de sete anos, processou-se uma transformação
completa em toda essa faixa, não apenas em conseqüência da abertura
da BR-364, mas também devida à ação do INCRA, que, através dos pro-
jetos de colonização, possibilitou o acesso à terra a numerosas famílias
de lavradores deslocadas de outras regiões, a criação de novos empregos
e, ao mesmo tempo, de uma faixa produtora de alimentos, baseada ini-
cialmente em milho, arroz e feijão e, progressivamente, também em cul-
turas permanentes, como cacau, café, seringueira e banana (Fig. 26), nos
moldes da pequena propriedade familiar, preconizada pelo Estatuto da
Terra.
4.7.2- Area
93
Flg. 26 - Café e banana, em cultivo no PIC Ouro Preto. Essa ultima cultura é utillzada, com a
m and.oca, para sombrear cacauais novos. Ao fundo, a mata.
Fot o INCRA - Setembro d e 1975.
4 .7 .2 . 1 - Plano de loteamento
94
A área de reserva e de preservação de recursos naturais, com, apro-
ximadamente 5. 550 ha, estava localizada também a 38 km de Vila Ron-
dônia, à margem direita da BR-364 (na direção de Porto Velho) . Uma
parcela de 100 ha foi reservada para instalação de jardins coloniais e vi-
veiros de hévea, com o objetivo de fornecer mudas de seringueira aos
parceleiros.
Junto ao núcleo urbano há 100 hectares destinados à construção
de um colégio agrícola, sob a responsabilidade da Secretaria de Educa-
ção do Território.
Atualmente, a área do PIC mede cerca de 490 . 000 ha, dos quais
226 . 079 estão transcritos em nome do INCRA no Registro de Imóveis
de Porto Velho.
Com o fim de mais uma vez ampliar a capacidade de assentamento
do Projeto, foram anexadas à área inicial duas glebas denominadas
Setores: o de Jaru, às margens da BR-364, distando 40 km do núcleo
urbano principal, e o de Riachuelo nas proximidades de Vila Rondônia,
a 50 km da sede do PIC.
Posteriormente, a área do setor Jaru foi desmembrada do Projeto
Ouro Preto, vindo a constituir o PIC Pe. Adolpho Rohl (444 . 366 ha).
O setor Riachuelo, com 77. 000 ha, constitui uma área descontínua do
PIC Ouro Preto. Para o núcleo urbano desse setor foram destinados 350
ha, estando em andamento os trabalhos de demarcação de lotes residen-
ciais, comerciais e industriais.
4. 7. 3 - Estrutura fundiária
4 .7 .3 . 1 - A situação inicial
95
ringais Setenta, Santos Dumont, Boa Vista, Santa Rosa, Aninga, Curra-
linho e Gleba Pirineus (esta pertencente à CALAMA S/ A), além de
diversas áreas ocupadas por posseiros.
O Seringal e Fazenda Nova Vida constituíam a única propriedade
em início de exploração agrícola orientada, encontrada no trecho da
BR-364 entre Porto Velho e Vila Rondônia. Dispunha de uma pista de
pouso para aviões leves, aberta durante a construção da rodovia. Esten-
dia-se por 32 km em ambas as margens da estrada, entre os quilômetros
245 e 277. Sua sede era rodeada de ranchos de palha, abrigando moradias
e um comércio à base de aviamento, para atender aos seringueiros.
Esse imóvel foi o único a apresentar um início de exploração pe-
cuária, com 230 cabeças de gado mestiço de zebu, bem como algumas
ovelhas. A formação de pastagens de Jaraguá, pangola e colonião se
processava ao longo da BR-364, com derrubada da mata, sem destaca-
mento, mas com a utilização de queimadas e coivaras.
A época da elaboração do Projeto Ouro Preto, na área do seringal
Boa Vista, hoje incluído no PIC, já se observava a presença de colonos
do Sul e do Nordeste, que chegaram ao Território atraídos pela CALAMA
S/ A, a qual os localizou em lotes sem possibilidades de acesso e com
falta de água. Tal situação e a total carência de apoio, levaram esses
colonos a invadirem parte da área do seringal Boa Vista.
96
d) prestação de assistência médica e técnica aos adquirentes de
lotes e aos membros de suas famílias ;
e) fomento da produção de uma determinada cultura agrícola já
predominante na região ou ecologicamente aconselhada pelos técnicos
do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, ou do Ministério da Agri-
cultura;
f) entrega de documentação legalizada, em ordem, aos adquiren-
tes de lotes".
Nenhuma das exigências acima mencionadas foi cumprida pela CA-
LAMA, como se verá adiante, o que permitiu ao IBRA impugnar a ati-
vidade colonizadora daquela pseudo-empresa. Os primeiros colonos que
ela levou para Vila Rondônia, provenientes do Paraná, não receberam
da firma qualquer tipo de apoio; tanto no aspecto sanitário, quanto no
econômico. Sem qualquer assistência, essas famílias viram-se impos-
sibilitadas de ocupar seus lotes, por falta de acesso aos mesmos; tam-
pouco dispunham de recursos financeiros para retornar aos municípios
de origem. Estima-se que 30 % das famílias que permaneceram no Terri-
tório morreram em decorrência de doenças que grassavam na região,
como malária, difteria e hepatite.
A época da implantação do Projeto Ouro Preto, cerca de 300 dessas
famílias que conseguiram sobreviver às precárias condições em que
se encontravam, recebiam assistência do Governo do Território, do co-
mando do 5.o BEC e de dois sacerdotes que trabalhavam na região.
Dessa forma, e graças à experiência agrícola que possuíam, aliada à
persistência dos colonos, a área tornou-se produtora de alimentos, sobre-
tudo de arroz.
4 . 7. 4 - Aspectos Físicos
Estudos realizados pela CEPLAC 39 em colaboração com o INCRA,
tendo em mira a implantação da cacauicultura em Ouro Preto, deixam
evidente em que medida a fisiografia da área exerce influência na for-
mação dos solos, em função de: escoamento superficial das águas plu-
viais, controle da drenagem interna, produção de matéria orgânica, umi-
dade relativa, natureza da rocha matriz, duração da estiagem, etc.
Do ponto de vista físico, a área estudada pode ser dividida em qua-
tro secções fisiográficas, que se relacionam com os diferentes tipos de
solos identificados. Essas unidades receberam as seguintes denomi-
nações:
a) Secção colúvio-aluvial, cuja geologia relaciona a sedimentos
não consolidados do quaternário. Nessa área a declividade média é em
torno de 3%. Essa faixa corresponde à de relevo mais plano; abrange
solos aluviais pouco desenvolvidos, de granulação variável, e pequenas
baixadas hidromórficas argilosas, de influência coluvial,
b) Secção coli nosa, constituída por morros cristalinos, de topo
aplainado e declividade variando de 5 a 10 %. Em algumas áreas en-
contr a-se material retrabalhado por aplainamento, o que vem a influir
na variação do solo.
c) Secção ondulada, na qual o relevo se apresenta sob a forma de
outeiros, com declividade entre 15 e 25 %, encostas pouco íngremes e
alongadas, vales em forma de "V" aberto. Há também testemunhos de
um antigo ciclo de erosão, caracterizados por cristais orientados, escul-
pidos no material do embasamento.
39 SILVA, L. F erreira da et ai. Solos do Proj eto Ouro Preto. CEPLAC, 1973 .
32 p ., 1 mapa. (Boletim técnico, 23) . .
97
d) Secção movimentada, "área montanhosa, constituída de alinha-
mentos rochosos, de declives abruptos e vertentes quase retas" (Silva,
ref. 37). Quanto à geologia, foram observadas eruptivas básicas e intru-
sivas, do complexo cristalino.
4. 7 . 4 . 1 - Solos
A área se caracteriza pela predominância de Solos Podzólicos Eu-
tráficos, Podzólicos Mesotróficos, Podzólicos Distróficos e, secundaria-
mente, por Aluviões Distróficos. É interessante observar a ausência de
Latossolos. Predominam solos com saturação de bases acima de 30 %,
pois se derivam de rochas básicas do embasamento cristalino; apresen-
tam fertilidade natural alta, contendo grande número de nutrientes,
indispensáveis ao bom desenvolvimento dos vegetais. De modo geral,
têm espessura variável, contendo quantidade suficiente de água, já que
o período seco é curto (junho a agosto). Como não estão quase sujeitos
à erosão, não há necessidade imediata do emprego de práticas conser-
vacionistas intensivas. Tais condições favorecem a implantação da la-
voura cacaueira.
4. 7 .4.1.1 - Tipos
Foram identificadas pela CEPLAC nove unidades edáficas, que pas-
sam a ser resumidamente descritas; sempre de acordo com os estudos
mencionados (mapa 12).
Unidade Ouro Preto Modal. Estes solos são ongmanos de rochas básicas
do complexo cristalino, com "B" textura!, cuja saturação é maior que 50%. São
medianamente profundos, de espessura em torno de 130 em; bem drenados,
argilosos e com boa capacidade de retenção de água. Apresentam seqüência de
horizontes A, B e C e camadas subjacentes D com baixa diferenciação morfo-
lógica. Encontram-se estruturados em blocos subangulares, com cerosidade mo-
derada. Ocorrem em relevo fortemente ondulado a montanhoso, de altitude em
torno de 350m, vertentes retas ou ligeiramente convexas, com declives acentuados.
São solos de fertilidade natural alta, providos de boa reserva de nutrientes
necessários ao bom desenvolvimento das plantas cultivadas. São susceptíveis à ero-
são, devido ao relevo movimentado, além da presença de argila natural Cpepti-
zada) na capa superficial que, aliada a um clima de estação seca definida, pro-
move intenso carreamento do horizonte orgânico-mineral. Por esta razão, devem
ser reservados às culturas perenes, sendo o cacau uma alternativa muito indicada.
Unidade Ouro Preto, Fase Rochosa. Esta unidade apresenta propriedades fí-
sicas e químicas bastante semelhantes às da unidade anterior, diferindo apenas
pela presença.de pedras superficiais e afloramentos rochosos, que constituem uma
dificuldade para o manejo agrícola. Ocorre em relevo muito acidentado, com
cristas rochosas alinhadas e matacões, impossibilitando a adoção de qualquer
tipo de manejo agrícola mecanizado. Esses solos devem ser indicados para re-
servas florestais ou cultivos substitutivos, como o cacau.
Unidade Rondônia. É constituída por solos com "B" textura!, alta saturação
de bases textura mediana, moderadamente profundos; ocorrem em áreas de
relevo ondulado a fortemente ondulado. Sua profundidade varia de 100 a 150cm;
são bem drenados e caracterizados pela presença de calhaus na superfície. Tem
sua origem relacionada a rochas metamórficas gnaíssicas. A fertilidade natural
é média, e a riqueza química decresce a partir dos primeiros suborizontes; têm
baixa capacidade de retenção de umidade e são ricos em minerais primários.
Suscetíveis à erosão, necessitam de práticas conservacionistas intensivas ; apre-
sentam, por isso, limitações ao uso de máquinas agrícolas e são carentes de
água nos períodos críticos de estiagem (junho a agosto).
De modo geral, estes solos se adaptam melhor a pastagens, podendo, no
entanto, ser utilizados com agricultura, desde que criteriosamente manejados.
Unidade Viveiro . É constituída· por solos minerais profundos, bem drenados
e de permeabilidade rápida. São solos de "B" textura!, com alta saturação de
98
SOLOS DO PROJETO OURO PRETO
TERRITÓRIO DE RONDÔNIA
PARA
LEGENDA
SO LOS EUTR ÓF ICOS
~ 0 -. r o ? ret o ~ m o d c!)
c==J Cu r o Pre to (fase rochoso }
~R on dônia
~ V 1ve i r o
SOLOS ME SOTRÓFI COS
t!_-':~.!j X 1b 11.!
UIJTIID M 1r a nte
100
natural (saturação de bases em torno de 70%) é de alta a média. A potenciali-
dade agrícola nos horizontes subsuperficiais é boa.
Dada sua textura mais leve no horizonte "A" e a presença de camadas
quartzosas entre este horizonte e o "B", estes solos não deverão ser usados
para culturas permanentes, em particular para o cacaueiro. Podem ser melhor
utilizados com pastagens. O único inconveniente é a falta de água para o gado
na maior parte da área. Este problema poderá ser resolvido aproveitando alguns
ribeirões que atravessam os vales ejou a construção de pequenos açudes, em
locais apropriados.
Quadro 10
PIG OURO PRETO. DISTRIBUIÇÃO DAS UNIDADES, AREAS E
CLASSES DE SOLOS
ÁREA
UNIDADE ClASSE
ha % (1)
FONTE : CEPLAC. Solos do Pro jeto Ouro Preto, Boletim Técnico 23.
(1) li - Boa; 111 -regul ar; IV - má e/ou inadequada.
101
Viveiro. Como são solos profundos e de textura média, supõe-se que
as raízes dos cacaueiros se aprofundem ao máximo, dadas as boas con-
dições físicas existentes, compensando, por outro lado, a baixa capa-
cidade de retenção de água que estes solos possuem.
Já os solos pertencentes à unidade Rondônia, tendo a mesma tex-
tura média, caracterizam-se pela presença de calhaus quartzosos sub-
superficiais que, além de dificultarem a implantação do cultivo do cacau
(abertura de covas), funcionam como fator drenante, diminuindo ain-
da mais a disponibilidade de água, tornando-se 60 % desta unidade pouco
viável à cacauicultura. Outra limitação é o relevo fortemente movi-
mentado. Provavelmente, nesses casos, a melhor utilização seria a pas-
toril.
Condições texturais similares apresentam os solos da unidade Mi-
rante, embora em relevo plano; por isso, também não se prestam para
a cultura do cacau, devendo ser aproveitados, de preferência, para a
criação de gado. ·
Dentre os solos distróficos (terrenos pobres), ressaltam os da uni-
dade Vermelhão, que, por serem profundos, localizam-se em áreas pra-
ticamente planas e de boa retenção de umidade. Têm, por isso, maio-
res possibilidades de utilização para certos cultivos perenes dos trópicos
úmidos, tais como: seringueira, dendê, cravo-da-índia, pimenta-do-rei-
no e guaraná.
Os demais solos de baixa fertilidade natural (unidades Paraíso e
Aluvial), após cultivos de subsistência (2 e 3 anos, no máximo), terão
nas pastagens de braquiária sua melhor alternativa de utilização.
Concluindo, os solos do PIC Ouro Preto têm grandes áreas de mé-
dia e alta fertilidade, que permitem a implantação de um programa de
expansão da cacauicultura, dentro do previsto pelas diretrizes do Go-
verno Federal.
Dos 413 . 147 hectares que constituem a área do Projeto, 126.280 fo-
ram estudados pela CEPLAC, correspondendo a 30,57 % do total. O
levantamento pedológico efetuado demonstra que, embora haja man-
chas de solos pobres, abrangendo 21,37 % da área levantada, há predo-
minância de solos de média a alta fertilidade, que compreendem as uni- .
dades Xibiu, Viveiro, Ouro Preto Modal, Ouro Preto Fase Rochosa e
Rondônia, as quais somam 99 . 280 hectares, ou seja 78,63 % do total
levantado.
É de se notar a ausência de latossolos, apesar de estarem estas
terras situadas na região amazônica, onde dominam solos deste Grande
Grupo.
Assim, de modo geral, as condições edáficas do Projeto permitem
a continuação de um programa agropecuário racionalmente diversifica-
do, com boas possibilidades para culturas permanentes, como, por exem-
plo, cacau, café, seringueira e banana, que se vêm desenvolvendo ali com
sucesso. Certamente a boa potencialidade dos solos tem, em grande
parte, garantido esse êxito.
Embora até o presente ainda não se tenha efetuado um estudo do
nível de renda dos parceleiros, percebe-se que, de modo geral, o em-
preendimento tem tido bons resultados. Em um período relativamente
curto (7 anos) o volume da produção local e o número de entidades que
atuam no PIC, entre as quais várias de crédito, atestam, de algum modo,
que a qualidade da terra é um fator de grande peso para o sucesso
de um projeto de colonização.
102
4. 7. 5 - Vias de acesso
Flg. 27 - Junção da linha 81 do Projeto Ouro Preto com a BR-364, visível no 1.0 plano. Notar
duas roças abertas na mata semidecídua, à direita do caminho vicinal, e o relevo suavemente
ondulado.
Foto INCRA - Setembro de 1975
103
madeira e cereais. Esse tráfego pesado e contínuo, durante a estação
seca, também concorre para danificar as estradas, sendo necessário pre-
ver normalmente recursos para a sua recuperação, o que deve continuar
até a emancipação dos Projetos e, no caso, do PIC Ouro Preto.
O sistema de pontilhões construídos em madeira rústica, e o de
bueiros, em pau ocado, embora seja capaz de suportar satisfatoriamente
o tráfego durante a estação seca, geralmente fica danificado no pe-
ríodo do inverno.
Todos esses fatores demonstram a necessidade de se buscar alter-
nativas para o problema da conservação das estradas vicinais. Perce-
be-se que tais encargos deveriam ser assumidos por órgão próprio do
Governo do Território, que, no entanto, não apresenta no momento
estrutura adequada para tal. Por outro lado, considerando-se a neces-
sidade de elevar o índice de participação dos parceleiros na vida dos
Projetos, e a fase de emancipação para a qual muitos deles se enca-
minham, inclusive o PIC Ouro Preto, percebe-se que seria importante
motivar os colonos para colaborarem na conservação das estradas, como
já se fez em alguns Projetos do INCRA. Essa medida, além de favorecer
a redução dos custos de conservação, certamente concorrerá para au-
mentar o interesse dos parceleiros pelo Projeto, ao mesmo tempo que
propiciará a preparação da retirada do INCRA da área, no momento
em que estiverem concluídas as tarefas inerentes à fase de emancipa-
ção de Ouro Preto e dos demais projetos. Sabe-se que essa alternativa
figura entre as preocupações da Divisão Territorial Técnica do INCRA
em Rondônia para 1978, e considera-se que, só na medida em que for
posta em prática, poderá solucionar, ao menos em parte, o problema de
conservação das estradas vicinais, a curto e médio prazos. Sendo uma
alternativa altamente educativa, ela contém ainda elevado sentido eco-
nômico e é de mais fácil execução, porque praticamente depende apenas
do INCRA.
4. 7. 6 - Assentamento de parceleiros
104
Em 1973 teve início a regularização dos parceleiros, mediante a ex-
pedição de Autorização de ocupação (A O), dadas pelo INCRA, que
foram gradativamente substituídas por títulos definitivos.
Em 1975, havia 3. 233 parceleiros assentados, sendo a maioria de
mineiros (1.115), ou seja 34% (Fig. 28). Desde o início do Projeto até
julho de 1976 ocorreram na área cerca de 700 casos de desistência,
porém todas essas parcelas vagas foram logo ocupadas por novos par-
celeiros. Esse fato é comum nos projetos de colonização oficial, onde o
parceleiro devolve seu lote ao INCRA, ou transfere a terceiros desejosos
de ocupá-lo, e que para isso pagam aos antigos ocupantes o valor das
benfeitorias existentes, mediante indenizações avaliadas pelo INCRA.
Várias razões levam o parceleiro a tomar essa atitude: às vezes, o de-
sejo de partir para outra área; a possibilidade de obter uma boa quan-
tia pela parcela, numa região onde a terra se vem valorizando; ou
talvez, ainda, um certo espírito aventureiro, de pessoas que chegam ao
PIC e aos demais Projetos sem nenhuma experiência agropecuária.
Uma pesquisa social mais profunda deveria esclarecer completamente
esta questão.
A capacidade atual de assentamento do Projeto é de 4 . 750 parce-
leiros, sendo 50 em parcelas de 200 ha destinadas à pecuária e 4. 700
em parcelas de 100 ha para agricultura. Hoje, a população do Projeto
é de cerca de 26.750 pessoas, sendo 3. 000 localizadas no núcleo urbano
principal.
Não existem lotes vagos; inclusive os do setor denominado Leitão,
que constitui uma área de ocupação espontânea, já regularizada pelo
INCRA, comportando em média 400 a 500 famílias, estão todos ocupados.
4. 7. 7 - Situação educacional e sanitária
105
PIC OURO PRETO
~REGIÃO NORDESTE
rz3 REGIÃO SUDESTE
~ REGIÃO SUL
~ REGIÃO CENTRO-OESTE
FONTE : INCRA
FIG _ 28
o que se efetua mediante a utilização de transporte do INCRA para as
escolas.
Em 1977, o Projeto beneficiou-se com a doação, por parte do MEC,
de material escolar a todas as crianças, incluindo livros didáticos.
A necessidade de capacitação do professorado é tanto mais impor-
tante quanto é grande o número daqueles que não dispõem do curso
normal. Nesse sentido, foi realizado um treinamento de orientação pe-
dagógica para 27 participantes, e 5 cursos sobre alimentação para · 82
monitores do Ensino Regular. Em 1977, no entanto, a carência de re-
cursos humanos habilitados fez com que o programa de treinamento não
pudesse ser desenvolvido, na medida das necessidades do Projeto e do
Território.
A infra-estrutura de saúde era praticamente inexistente na região
em que foi implantado o Projeto. Havia em Vila Rondônia um hospital
parcialmente concluído que pertencia à Prelazia e dispunha de um
médico, único na área. No entanto, o hospital não apresentava, na-
quela época, as mínimas condições de funcionamento para atender às
necessidades do número crescente de pessoas que se localizavam em Vila
Rondônia e em sua área de influência, vindas do Sul para as terras
da CALAMA S.A.
O quadro sanitário da população local era bastante precário; a
malária e a mortalidade infantil constituíam os problemas mais sérios.
Quanto à primeira, entre 1970 (início do Projeto) e 1975, foram regis-
trados 24.303 casos. Entretanto, graças à atuação sistemática da SU-
CAM, que efetua a borrifação anual das casas (7 .103, incluindo o
núcleo urbano), com DDT, à campanha de esclarecimento, distribuição
de medicamentos para tratamento da malária e exames de lâmina, o
índice da doença vem-se reduzindo de forma significativa: no primeiro
semestre de 1976 registraram-se apenas sete casos. Nos primeiros anos
da ocupação, a incidência de malária aumentou muito; fato compreen-
sível, por causa do elevado número de pessoas portadoras de plasmódio,
que passou a residir na área do Projeto.
Antes de 1976, não se tinha conhecimento da existência de tuber-
culose na área do PIC. Nesse ano, porém, depois de efetuados testes na
população local, registraram-se 200 casos com reação positiva, os quais
foram encaminhados a Porto Velho para tratamento.
Quanto à mortalidade infantil, tem-se reduzido à medida que me-
lhoram as condições sanitárias gerais da região e diminuem as carên-
cias alimentares dos colonos. Campanhas de vacinação em massa, anti-
poliomielítica e antivariólica, foram realizadas· através da Secretaria
de Saúde do Território.
O atendimento médico é efetuado na sede do Núcleo Urbano prin-
cipal, em um hospital particular, com 16 leitos, mas carente de pessoal.
Os dados disponíveis informam que há somente uma enfermeira e um
médico não-residente na área.
Desde o segundo semestre de 1976, a FSESP atua junto à população
rural e urbana, através de um posto de saúde, com média de atendi-
mento de 50 pessoas/ dia. Como ainda não dispõe de um médico, o tra-
balho se prende à execução de exames parasitológicos e vacinações.
Os casos graves de doenças são encaminhados a Vila Rondônia, 42
km ao sul do Projeto, a Porto Velho e mesmo a centros maiores, con-
forme a necessidade. O PIC dispõe de uma ambulância para atendimen-
to aos parceleiros.
107
Através de um convênio com o FUNRURAL (hoje lAPAS- Insti-
tuto de Administração da Previdência e Assistência Social) o Projeto
conta com certa assistência odontológica.
O PIC dispõe de um ambulatório, que em 1975 atendeu a 8. 751 ca-
sos, dos quais 1. 680 foram internados no próprio local e 248 enca-
minhados para tratamento em Vila Rondônia e Porto Velho.
4. 7. 8 - Aspectos geoeconômicos
108
Quadro 11
PIC OURO PRETO. AREA CULTIVADA, SEGUNDO AS PRINCIPAIS
CULTURAS - 1970-76
TEMPORÁRIAS
Arroz... . .. .. . .. .. . .•. ... . ... . 670 3 000 3 340 7 620 7 546 26 000
Milho . . . . ..... ... . ........... 670 2 400 2 000 6 440 7 042 11 600
Mandioca . ..... . . .. .. . .....•• 6 500
Feijão ... ... .. ........ . ... ... . 340 1 000 1 660 2 047 2 250 5 200
Algodão .................. .. . . 74 140
PERMANENTES
Banana ..... ... .. . ...... . . .. . 15 000
Cacau..... .. ... ... . ...... .. .. 13 69 115 275 1 134
Café.. ..... .. .... .. ......... . 3 341
Seringa ... .. .... . .. . ...... . . . 150
chos (fig. 29) Em 1976 a produção não era ainda comercializada pela
cooperativa local, mas vendida a atravessadores que a compravam dire-
tamente dos parceleiros, em média a Cr$ 5,00/ cacho. Utilizada como
frete de retorno dos caminhões que se dirigiam ao Território e a Manaus,
vindos do Sudeste, a banana é enviada para os mercados daquela re-
gião, sobretudo para São Paulo, assim como para Campo Grande, Bra-
sília e Manaus; nesta cidade, o cacho de bananas adquirido no PIC a
Cr$ 5,00 era revendido por Cr$ 30,00, segundo informações obtidas no
Projeto, em julho de 1976.
Inicialmente tentou-se em Ouro Preto utilizar-se a própria mata
para sombreamento do cacau. Essa alternativa, porém, não deu bom
resultado, favorecendo a incidência de pragas, daí ter-se optado pela
utilização da banana.
O programa agropecuário atual visa melhorar a qualidade da assis-
tência técnica dispensada, uma vez que dos 3. 350 parceleiros atualmen-
te assentados, apenas 2. 000 são assistidos pela ASTER-RO (Associação
de Assistência Técnica e Extensão Rural - Rondônia) e 335 pela
CEPLAC (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira) . Obje-
tiva ainda o programa ampliar as áreas das culturas permanentes já
introduzidas.
Além dos convênios existentes entre o INCRA e aquelas entidades,
há também um acordo em vigor, celebrado entre esse órgão e a Se-
cretaria de Agricultura do Território, a fim de proporcionar aos parce-
leiros a possibilidade de obtenção de sementes básicas anuais, assim
como de material botânico de seringueira, além de assistência técnica.
Há, no PIC, 13 parceleiros produzindo sementes básicas de feijão
e arroz, numa área de 122 ha, com a supervisão técnica da ASTER-RO
(Associação de Assistência Técnica e Extensão Rural), SEAC-RO (Se-·
cretaria de Agricultura de Rondônia) , e DEMA-RO (Diretoria Estadual
do Ministério da Agricultura - Rondônia).
109
.......
.....
o
Quadro 12
PIC OURO PRETO. QUANTIDADE E VALOR DA PRODUÇÃO AGRí-
COLA, SEGUNDO AS PRINCIPAIS CULTURAS- 1970-76
TEMPORÁRIAS
Arroz 1 200 5 400 8 700 13 725 13 668 54 600 379 920 2 030 400 4 437 000 9 058 500 15 308 160 76 440 000
Milho 1 200 3 600 2 700 11 596 12 078 22272 186 000 657 000 594 000 4 251 720 5 314 320 13 140 480
Mandioca 108 333 11 916 630
Feij ão 300 900 1 500 3 643 2 091 4 368 188 750 954 300 1 140 000 4 310 410 3 073 770 8 779 680
Al godão 165 320 247 500 533 500
PERMANENTES
Banana 5 000 000 320 000 000
Cac au
110~~----------------------------------------------------------------~
100000
90000
80000
70000
60000
50000
40000
30000
20000
10000
9~
8000
7000
6000
5000
4000
3~
2000
D ARROZ -ALGODÃO
F I G. 29
É objetivo do Projeto expandir a cafeicultura, cuja área é de 3 .341
ha plantados, mediante a aquisição de sementes e entendimentos com
o !BC, para que estude a possibilidade de facultar assistência técnica
adequada aos parceleiros interessados nesse cultivo, uma vez que o Ter-
ritório se encontra fora da faixa de atuação daquele órgão (Fig. 30).
PIC OURO PR E TO
AR E A CULTIVA O A 1970/76
~=.-----------------,
Ou I r o c Cultu r O$
1
20000
r1
' ' I
10000
9 000
I
n11
8 000
7 000
6000
5000
I I I
•ooo l
5 000
2 000
n
tt70/71 1971/n f972/7J ~~ 1914r, J97':l/i'6
I
CJ ARR O Z ~BANANA
E;B ~ ~~~~o Co ll t o • c l o Qo ma cA f E
ts:SJ J.IAN OI O CA FO N T E . I N C RA
- AUi OOÃO E!) SERI N GA
I2'ZZJ C AC A U
F IG 3:J
112
de 2x2 m ; 2,5x2,5 m ; 3x3 m e 4x4 m, sempre como sombreamento provi-
sório.
As pragas que mais atacam os cacauais daqui são a vaquinha (um
besouro) , tripes, o monalônio e a broca (Stenoma decora); esses inse-
tos são combatidos com BHC a 1,5 % ou com Malatol. Dentre as doen-
ças, as mais comuns são a podridão parda (Phytophta palmivorus) e a
vassoura de bruxa (Marasmus perniciosus) .
O espaçamento recomendado para os cacaueiros é o de 2,5x2,5 me-
tros, que equivale a um cacaual com 1. 600 plantas/ hectare. Com três
meses de cultura em viveiro, é feito o replantio no campo.
Todos os híbridos são distribuídos aos agricultores. Experimenta-se
também a concorrência entre diferentes híbridos.
O viveiro do Campo Experimental de Ouro Preto tinha 80.000 pés
para enxertia, em julho de 1976. Com mais ou menos sete meses as
plantas estão prontas para enxertar. Aos agricultores é recomendado
que o plantio definitivo não demore mais de 3 a 4 meses 41 •
A grande distância entre Rondônia e a Bahia, centro produtor das
sementes destinadas ao Território, faz com que elas, ao chegarem, te-
nham sofrido uma redução de cerca de 30 % no volume exportado e
de 40 % no potencial de germinação. A solução encontrada para con-
tornar o problema foi a do transporte aéreo, que permite reduzir ao
mínimo possível o tempo decorrido entre o preparo das sementes no
local de origem e seu plantio em cada Projeto. Dessa forma consegue-se
manter o máximo do poder germinativo, que assim fica em torno de
95 %.
O quadro 13 indica a evolução da área cacaueira do Projeto, a
partir do ano agrícola 1971/ 72, quando foram efetuados os primeiros
experimentos.
Quadro 13
PIC OURO PRETO. EVOLUÇÃO DAS AREAS PLANTADAS COM
CACAU - 1971/ 77
113
venientes _do Centro de Pesquisa de Cacau, da CEPLAC, na Bahia. Até
o final de 1977, mais 15 milhões de sementes devem ser distribuídas
no Território.
A quantidade de sementes híbridas enviada para o Projeto Ouro
Preto, através da CEPLAC. foi a seguinte, segundo dados do INCRA:
Ano Agrícola Quantidade
(unidade)
1971/ 72 100.000
1972/ 73 100 . 000
1973/ 74 500 . 000
1974/ 75 850.000
1975/ 76 1. 645.000
Quadro 14
COMERCIALIZAÇÃO DE CACAU PELA COOPERATIVA DO PROJETO
OURO PRETO- 1975-77
114
I '
CALENDARIO AGRICOLA
DOS COLONOS DO PIC- OURO PRETO
N2 DE N9 DE LIMPAS
/ANO
2
liiZI5!I!I5IZil Plantio do arr o z Plantio da cana
t::::::mzll Colheita
-
C o r te
fio·O··.ooo ..,..,,..,.l
3 A 4 ( + Poda e
Plan I i o do mi l h o c==- Apanha de frutas do cacau
P u l ver i z a~ão)
r:=:::::z:l Colheita Au ge da co lhe ita
Auge
FI G.3 l
para mostrar que, por dependerem essencialmente da mão-de-obra fa-
miliar, os colonos permanecem ocupados praticamente o ano inteiro.
A policultura envolve: lavouras temporárias, como o arroz, milho
e feijão; lavouras semipermanentes, como a da cana, banana (não in-
cluída no elenco de cultivos aqui representados); lavouras permanen-
tes, como o cacau, café; além da pequena criação e pecuária para lati-
cínios. É evidente que a maior parte desta variada produção se destina
ao consumo doméstico, mormente na fase pioneira em que se encon-
tram os colonos de Ouro Preto. Mas, sem dúvida, as safras de cacau são
totalmente vendidas para fora; a.s de café, em sua maior parte; exce-
dentes de arroz, milho, feijão, assim como porcos e aves, são eventual-
mente comercializados. O leite líquido é todo consumido em casa; po-
rém queijos de fabricação caseira são regularmente vendidos, não só
para a colônia, mas também para Vila Rondônia.
Embora representando uma realidade simplificada, pode-se notar
no diagrama citado que os colonos de Ouro Preto não dispõem de
nenhum período extenso de lazer, de entressafras. O único intervalo
que aí aparece nítido é o da primeira quinzena de dezembro. Observam-
se, sem embargo, fases de menor atividade agrícola, por exemplo: no final
da estação das águas, em abril-maio, quando se faz sobretudo a apanha,
quebra e secagem de frutos precoces do cacaual; todo o bimestre no-
vembro-dezembro, que tem apenas o plantio do arroz no primeiro mês
e a apanha dos primeiros frutos de cacau, na segunda quinzena do
último; por fim, a primeira quinzena de setembro, em que se trabalha
particularmente no plantio do milho.
Em contrapartida, fases existem em que a família dos colonos têm
que se aplicar em múltiplas atividades, como, por exemplo, o corte da
cana, a colheita do feijão e principalmente o início da safra do cacau,
que se operam em junho, quando começa a estiagem.
Um preconceito herdado da vivência em regiões temperadas e tro-
picais semi-úmidas faz crer aos leigos que somente na estação seca se
incrementa a atívidade agrícola. Se assim fosse, os colonos de Ouro
Preto levariam uma vida folgada, na maior parte do ano. Nada mais
errado. É óbvio que, com ·a chegada das chuvas, começa a época dos
plantios, como em todas as outras partes: em outubro, o plantio do
arroz, do milho e da cana se sobrepõem no tempo. O que surpreende,
entretanto, para quem não conhece a Amazônia, são as colheitas que
se fazem no auge da estação chuvosa : em fevereiro e março são colhi-
dos o café, o milho, cacau precoce, arroz (colheita iniciada em janeiro);
em março planta-se o feijão. Apenas na hora em que caem os grandes
aguaceiros a faina nos campos é interrompida. As sementes ãe cacau
precoce, colhidas desde meados de dezembro até maio, e toda a safra
de café precisam secar artificialmente, em estufas caseiras.
Todo o arroz produzido no Território, e particularmente no PIC
Ouro Preto, é de sequeiro. Tal como o milho, feijão e mesmo cana e
banana, ele é cultivado em terras florestais, previamente derrubadas e
queimadas. Este é o sistema de roças, denominado por Waibel 42 rotação
de terras primitivas. Não se estabeleceu, porém, um ciclo definido para
essa rotação de terras, ao longo da BR-364, porque o povoamento aí é
novo; está ainda no estágio pioneiro.
A entrevista com a família Salaroli, cujo sítio está situado a 15
km ao sul da sede do PIC Ouro Preto, fornece uma boa amostra das
atividades desenvolvidas pelos colonos e suas atuais condições econô-
42 WAIBEL, Leo. Capítulos de geografia t r opical e do Brasil. Rio de
Janeiro, IBGE, 1958. 307 p ., il.
116
micas. Está no lote há cinco anos. A mãe da família é natural de Ca-
choeira do Itapemirim; daí foi para Resplendor (MG), e sucessivamente
para o Rio de Janeiro (onde trabalhou numa fábrica de tecidos), Nova
Venécia (ES), depois Cáceres (MT), onde morou por nove anos, e final-
mente para o PIC Ouro Preto. O casal tem seis filhos homens, sendo qua-
tro casados e também com lotes em Ouro Preto, mais uma filha mo-
cinha.
A família faz rapadura, café e queijo. Tem seis vacas em lactação;
sendo no total, 20 reses e mais ou menos 60 porcos. O queijo é vendido
em Vila Rondônia, a Cr$ 20,00/ kg. Na estação das águas a produção é
de oito queijos por semana. Cultiva 10 hectares de cacau, 5 de café
e 3 de cana.
Na ocasião da entrevista, a família Salaroli tinha estoque de feijão
rosinha (5 sacos) e de cacau beneficiado (2,5 sacos). Produz arroz (cerca
de 200 sacos de 60 kg, com casca), milho (16 carros, ou 160 sacos) e
mandioca (embora não tenha casa de farinha). O milho é quase todo
destinado à criação. Na parcela trabalham marido, mulher e filhos
solteiros.
A água é tirada de poço, a 1,00-1,20 m de profundidade.
O cacaual, enquanto pequeno, requer três a quatro capinas anuais.
O arroz (variedades IAC-12 e Amarelão) exige duas limpas; o milho, _
uma, assim como o feijão. Além da limpa, o cacaual requer poda e
pulverização. O café precisa de quatro limpas por ano; é espaçado de
3 x 3m em dois hectares, o que equivale a 2. 000 pés.
Matam porcos e vendem a banha. Os suínos são alimentados com
aipim e batata doce, cultivados na propriedade.
Nas áreas de solo mais fraco foi introduzida a pecuária, em par-
celas de 250 ha (Fig. 32) . A assistência técnica ao rebanho é realizada
pela ASTER-RO (Associação de Assistência Técnica e Extensão Rural
de Rondônia), que tem efetuado campanhas de vacinação de bovinos,
suínos e eqüinos, com a finalidade de melhorar o nível sanitário do
plantei.
As áreas com pastagens plantadas atingem 19.956 ha, formadas
por diversas gramíneas, principalmente os capins colonião, jaraguá,
sempre-verde e braquiária. É necessário, porém, melhorar as condições
de manejo das pastagens, a fim de que possam suportar, de maneira
adequada, as 6 . 760 cabeças de bovinos existentes no Projeto e que re-
presentam a exploração animal de maior valor (quadro 15 e Fig. 33)
Embora não seja expressiva, a produção de leite, queijo e manteiga,
vendida em Vila Rondônia, Porto Velho e no próprio Projeto, tem im-
portância como complemento da renda familiar. Em 1976, o preço
de venda do litro de leite no PIC era de Cr$ 2,00.
Quadro 15
PIC OURO PRETO. EFETIVO E VALOR DOS REBANHOS - 1976
117
Flg. 32 - Projeto Ouro Preto: Instalações e gado de uma parcela pecuana, com pastos em
expansão (ao fundo). Notar a quantidade de palmeiras-babaçu, dispersas no pasto novo, rema-
nescentes da mata natural.
Foto INCRA - Setembro de 1975
Flg. 33 _ Parcela de pecuária no PIC Ouro Preto. A esquerda, curral; atrás, pasto de colonlão
com p~lmeiras -babaçu e árvores· mortas, dispersas.
Foto INCRA - Setembro de 1975
118
As aves, apesar de provenientes de plantéis domésticos, sem maior
preocupação tecnológica, alcançam número bastante expressivo, da or-
dem de 55 mil.
Com o objetivo de incentivar o desenvolvimento agropecuário, não
só do Projeto como de toda a região, foram realizadas duas feiras agro-
pecuárias, em 1975 e 1976, as quais levaram a Ouro Preto criadores e
interessados na compra de animais, assim como agências de financiamen-
to que facilitaram as operações de crédito para agricultores e pecua-
ristas.
4 . 7. 9 - A cooperativa e entidades de apoio
Em muitas regiões o sistema cooperativista tem permitido aos agri- ·
cultores não só auferirem maiores lucros, como organizarem sistemas
de armazenagem, transporte e comercialização da produção, capaz de
proporcionar-lhes preços compensadores por seus produtos e melhores
níveis de vida. Desde a implantação do Projeto Ouro Preto, estava pre-
vista a criação de uma cooperativa, a fim de propiciar aos parceleiros
maiores facilidades para a aquisição de gêneros de primeira necessida-
de, insumos agrícolas e, ao mesmo tempo, responsabilizar-se pela co-
mercialização e estocagem da produção, de modo a evitar os malefícios
dos atravessadores.
Com tais objetivos foi fundada a Cooperativa Agrícola Mista de
Ouro Preto, mais tarde transformada em CIRA (Cooperativa Integral
de Reforma Agrária), como uma forma de participação dos beneficiários
em todas as etapas de desenvolvimento do Projeto, ao mesmo tempo
que cumpria sua função específica de comprar e vender a produção
local.
Implantou-se a Cooperativa em 1972. Por sua localização geográ-
fica e pelo fato de ser Ouro Preto o Projeto de maior experiência acumu-
lada do INCRA no Território, a Cooperativa objetiva também atender a
mais quatro Projetos: Jiparaná, Pe. Adolpho Rohl, Marechal Dutra e
Burareiro, o que amplia muito seu potencial e área de ação.
Para fazer face aos compromissos financeiros oriundos da implan-
tação de atividades específicas de beneficiamento da produção, a Coo-
perativa recebeu recursos da ordem de Cr$ 4. 590.600, destinados a cons-
tituir o chamado fundo de implantação, para a execução das seguintes
atividades principais:
a) construção de uma central de beneficiamento do cacau (já
iniciada);
b) instalação de maquinaria para beneficiamento do arroz;
c) construção, em 1978, de uma usina de beneficiamento de sub-
produtos da banana, cuja produção é muito expressiva na área de todos
os Projetos da faixa da BR-364, onde se vem ampliando a cacauicultura.
Prevê-se, também, transferir para a Cooperativa a serraria Fran-
cisco Maurício, pertencente ao PIC, e que em 1976 se encontrava subuti-
lizada. A ela os parceleiros podiam levar a madeira que necessitassem
serrar, sem que por esse serviço pagassem qualquer tipo de taxa; apenas
o transporte para as parcelas era por conta dos beneficiários.
A comercialização era orientada, no início, pela Administração do
Projeto. A instalação da Cooperativa Agrícola Mista de Ouro Preto Ltda.,
em 1972, proporcionou melhores condições de abastecimento de gêneros
de primeira necessidade aos parceleiros; ao mesmo tempo, ela assumiu
a comercialização de boa parte da produção de todos os Projetos do
INCRA ao longo da BR-364, encaminhando-a para os mercados de Ma-
naus, Porto Velho, São Paulo e Minas Gerais.
119
· Em 1975 a Cooperativa teve problemas econômicos que determina-
ram intervenção administrativa, e no ano seguinte se encontrava em
fase de reestruturação. Contava a CIRA, em 1976, com 624 cooperados
e uma seção de venda de alimentos e insumos agrícolas a preços infe-
riores em 30 % a 40 % aos do comércio local.
· A Cooperativa procura facilitar o transporte da produção e a tiia-
gem de cereais para os cooperados, aos quais também oferece cursos de
capacitação cooperativista. Dispõe de um capital de giro de Cr$ 260.000;
sob sua responsabilidade funciona anualmente uma Feira Agropecuá-
ria, que em 1975 chegou a comercializar 1. 119 cabeças de gado, num
total de Cr$ 4 milhões, com apoio financeiro do Banco do Bràsil e do
Bradesco.
A instalação, em 1973, -de uma unidade da CIBRAZEM, com capa-
cidade para 60.000 sacos, veio solucionar em parte o problema de arma-
zenagem e comercialização dos produtos, inclusive permitir a partici-
pação do Banco do Brasil no financiamento da produção estocada. No
entanto, a capacidade de armazenamento de Ouro Preto, como dos de-
mais Projetos, é ainda insuficiente para o volume de produção a ser
classificada e estocada.
Além da CEPLAC, SEAC (Secretaria de Agricultura), ASTER-RO e
DEMA (Diretoria Estadual do Ministério da Agricultura) , que dispen-
sam assistência técnica aos parceleiros mediante convênios com o IN-
CRA, também a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agrope-
cuária) mantém um campo de experimentação a quatro quilômetros
da sede do Projeto.
Quanto ao crédito, registram-se as seguintes fontes financiadoras:
Banco de Crédito da Amazôni.a S/ A (BASA), para a cultura da serin-
gueira; Banco do Brasíl S/ A, para o cacau, lavoura branca e pecuária
(agência de Vila Rondônia, a 40 km da sede do Projeto); Banco Bra-
sileiro de Descontos S/ A (BRADESCO) , para a pecuária; INCRA, atra-
vés do Departamento de Desenvolvimento Rural, para revenda de ma-
terial agrícola, e do Departamento de Projetos e Operações, para con-
cessão de empréstimo aos parceleiros recém-assentados.
O PIC dispõe de um armazém da CIBRAZEM, com capacidade para
60. 000 sacas, insuficiente para estocar a produção local.
Nos setores da educação e da saúde, atuam também no Projeto: o
MOBRAL, a Secretaria de Educação, o Projeto Minerva, a Campanha
Nacional de Alimentação Escolar, a FSESP (Fundação Serviço Especial
de Saúde Pública), a SUCAM (Superintendência das Campanhas de Saú-
de) e o FUNRURAL, h<;>je incorporado pelo lAPAS (Instituto de Admi-
nistração da Previdência e Assistência Social).
120
Capítulo 5 - PROJETO DE ASSENTAMENTO DIRIGIDO
BURAREIRO (PAD)
121
5.2- AREA
44 LEAO, A. Ca rlos & CARVALHO Filho, Raimundo. Solos do Proj eto Bu-
rarei ro, Rondônia. Itabuna, CEPLAC, CEPEC, 1975. 30p., il. (Boletim técnico, 52) .
(mim eo.).
122
GLEBA BURAREIRO
APTIDAO PARA O CULTIVO DO CACAU
P/PORTO VELHO
ASSENTAMENTO
DIRIGIDO (INCRA)
Núcleo
ÁREA DE REGULARIZAÇÃO Apoio - N:RA
FUNDIÁRIA (INCRA)
Setenta /
/
/
D Lotes de 500ha aptos para~
/
/
m Lo.tes de 1.000 ha inaptos poro cacau, porém
com potencialidade poro outros cultivos. ( Seringueira,
•
Dendf, Pimenta- do- Reino, Guaraná e Pastagens).
Núcleo de Apoio-lncra .
e Sede de ser i n g a I
P/CUIABÁ
= Campo de Pausa
- Rodovia F.ederal
Estrada de Penetraçlro ESCALA: 1: 500.000 Fonte : INCRA
Estrada Vlcina·l
MAPA 13
de valor econômico, distinguem-se: a càstanheira (Bertholleti a excelsa) ,
seringueira (Hevea brasiliensis), cacau (Theobr oma cacao) e madeiras
de lei, como mogno, cedro, freijó, umburana, angelim, cerejeira, mara-
catiara, ro xinho, cupiúba e cumaru-ferro, de freqüente emprego na in-
dústria de construção civil.
5.3.1 - Solos
Quadro 16
PAD BURAREIRO. UNIDADE DE SOLO E AREAS, SEGUNDO A
GEOLOGIA E A FISIOGRAFIA
ÁREA
GEOLOGIA E FISIOGRAFIA ' UNIDADE DE MAPEAMENTO
ha %
QUATERNÁRIO
Pla nlci e al uvial.. .. ....... ... .. .. .... . .. ... ... . .. Aluvial + Hidromórfico 2 000 0.3
Terraço colúvio-aluvial.. .. .. . . . . .. ... .. .. . .... . . . Paralso (1)
TERCIÁRIO
Relevo de tabulei ro. . ... . ... ... .. .. .... .. ... .... . Jamari 336 000 42,2
PR~ - CAMBRIAN O (CO) E ROCHAS [GNEAS
Rel evo plano. .. .. ... .. ... . .. ...... .. .. .. . .. ... . . Anari 100 000 12.5
Rel evo suave ondul ado.. . .. ... ... .. .. .. . .. ... ... . Xi biu 151 000 19. 0
Relevo forte ondulado (rochas bás icas) ( ?) . . . . . . Ouro Preto 140 000 17,8
Re levo forte ondulado (rochas ác idas)... . .. ..... . Cipó 19 000 2,2
Associação:
Xibiu + Ouro Preto 48 000 6, 0
TOTAL. . .. ... .... ....... .. ..... .. ... .. ... . . . . 796 000 100,0
FONTE : CEPLAC.
(1) Muito pouco representativa. Não foi mapeada pela CEPLAC.
i24
I
o SOLOS DA AREA DO PROJETO BURAREIRO
%
..J
111
>
NW
GEOLOGIA
LEGENDA
~ SEDIMENTOS TERCIÁRIOS
I
TERCIARIO
I22J RELEVO DE TABULEIRO ___ • ___ .JAMARI
PRÉ-CAIIBRIANO E ROCHAS IGNEAS
e3 RELEVO PLANO-----------_ .AMARI
~ RELEVO SUAVE OfiOULAOO--.- __ XIBIU
MAPA 14
~ RELEVO 'ORTE OIIIIULAOO(IIochaa BÓalcaa) OURO PRETO
ESCALA
~ RELEVO 'ORTE OIIOULAOO (Rochal Ácidaa) CIPÓ
5 .3 . 1. 1 - Aptidão agrícola
125
planta e sua produção, como fertilidade, falta ou excesso de água, pre-
sença de minerais primários. Distingue o estudo, três classes de solos:
CLASSE UNIDADE
11 - 8 ons para cacau , ..... ............. ............ ... .. ....... . .. .. . Ouro Preto e Xibiu
111 - Regu lares para cacau........ .... .. .. .... . . .. .. .. ... ...... .. ..... Anari e Aluvial
IV - Maus e/ou inadequados p/ cacau . . . . . . . . . . . . . •. . . . . . . . . . . . . . . . . . Hidromórficos. Parafso. Jamari e Cipó.
126
põe a efetuar um estudo de solos a nível de parcela, a fim de com-
plementar o primeiro e permitir melhor ajustamento da programação
agrícola à realidade do Projeto.
5 . 3. 2 - Aspectos sociais
Dentro do objetivo de incrementar a pequena e média empresas de
cacau, procedeu-se à primeira seleção de parceleiros em 1975, dando-se
ênfase aos aspectos: capacitação agrícola, capacidade financeira e nível
de escolaridade dos pretendentes. Assim, em decorrência dos próprios
critérios que orientam a seleção dos parceleiros deste PAD, o setor da
frente pioneira que se abre no Projeto Burareiro vai constituir uma área
ocupada por proprietários médios, portadores de certo poder aquisi-
tivo e nível técnico mais elevado do que a grande maioria dos pioneiros
da Transamazônica e seus ramais. Eles constituirão, em futuro breve,
uma pequena e média burguesia rural. A febril construção das casas
e o padrão destas, em Nova Ariquemes, refletem bem tais condições.
O INCRA adotou tais medidas por considerar que o cacau é plan-
ta exigente do ponto-de-vista técnico, necessitando de tratos culturais
especializados. Há 641 famílias já localizadas em lotes de 250 hâ, área-
módulo de propriedade adotada para o cultivo de cacau, no Projeto.
Entre os parceleiros assentados, há onze antigos seringueiros e sete bu-
rareiros baianos.
Como o Projeto data de 1976, o programa de assentamento ainda
não foi concluído, e os de educação e saúde encontram-se apenas em
fase de implantação. Assim, das 87 escolas programadas para a fase de
emancipação do Projeto, prevista para 1980, apenas oito estão construí-
das e têm cerca de 240 alunos matriculados.
Nova Ariquemes é o núcleo-sede do Projeto Burareiro. Sua constru-
ção foi iniciada em maio de 1976, num local situado a 2 km do velho
aglomerado de Ariquemes. Tem traçado em xadrez e suas casas são todas
de tábuas verticais, cobertas de cavacos. Esse tipo de habitação reflete
bem a origem dos seus habitantes: 80% procedem do Paraná. Uns des-
cendem de colonos europeus, em terceira geração; outros são mineiros
e capixabas, geralmente vindos também daquele Estado, desanimados
de lá permanecerem, após as perdas sofridas com as fortes geadas ocor-
ridas no inverno de 1975.
Chegados de caminhão com as famílias e pertences, instalam-se
provisoriamente num rancho de ramagens ou numa tenda de plástico,
até que a residência permanente seja terminada.
As queimadas, os arruamentos e casas em construção, os ranchos
provisórios retratavam, em julho de 1976, a paisagem típica de um nú-
cleo de zona pioneira.
5. 3. 3 - Perspectivas agroeconômicas
Apesar de o Projeto haver sido criado para ter no cacau seu princi-
pal suporte econômico, essa diretriz vem sendo em parte alterada,
ante a verificação de que somente 50% dos solos da área são favoráveis
à cacauicultura. A partir desse fato e da necessidade de se introduzir
outras culturas permanentes adaptadas à região, para aproveitamento
racional das áreas disponíveis, até o final de 1977, deve-se concluir a
implantação de 100 hectares de seringueira, através da Secretaria de
Agricultura do Território e com a assistência técnica da ASTER-RO. Tal
127
atividade deve ser realizada, de preferência, nas áreas compreendidas
pelas unidades Anari e Aluvial. Prevê-se; também, a implantação de 20
ha de citrus e 300 ha de café.
Quanto ao cacau, considerando-se que o Projeto teve início em 1976,
a área plantada é de 200 ha. Foi planejada sua ampliação em mais
1. 500 ha, dentro da Programação Operacional do Projeto para 1978.
Dentre as culturas temporárias iniciadas, o milho foi a única a
alcançar maior representatividade, com 282 ha plantados e uma pro-
dução de 541 t.
Tendo em vista a importância do crédito para o desenvolvimento
da atividade agrícola em escala comercial, a que se propõe o Projeto, a
CEPLAC selecionou 68 dos parcel~iros assentados para serem os pri-
meiros a receber financiamentos através do Banco do Brasil. A média
de área financiada por parceleiro é de 15 ha, perfazendo um total de
1. 020 ha. Essa operação atinge Cr$ 414.120.000,00, a serem liberados
em quatro anos.
128
Capítulo 6 - PROJETO DE ASSENTAMENTO DIRIGIDO
MARECHAL DUTRA (PAD)
129
Gerais, Espírito Santo e Paraná, onde residiram antes de se dirigirem
a Rondônia, em busca de novas perspectivas de trabalho.
O cacau e a seringueira, nativos no vale do Jamari, são as culturas
permanentes previstas como principal suporte econômico do Projeto.
A tendência do cacau é a de tornar-se a principal cultura, dentro do
programa do Governo de expansão da cacauicultura em Rondônia. Du-
rante o ano agrícola 1975/ 76 foram plantados. 350 hectares, com assis-
tência técnica da CEPLAC, através de convênio com o INCRA. Em 1977,
o convênio foi de Cr$ 780. 000,00.
Entre as culturas temporárias, o milho foi a que teve maior expres-
são: 2. 926 t produzidas em 1. 524 ha, no mesmo período. O INCRA man-
tém convênio com a ASTER-RO, no valor de Cr$ 1. 250.000,00, para as-
sistência técnica aos parceleiros.
6.1 - CARACTERíSTICAS FíSICAS
130
6 .2 - VEGETAÇÃO
FONTE: SENSORA: Levantamonto de recursos natcrais e diretrizes para co lonização de parte do polígono de Ariquemes, Rondônia, 1977.
131
Quadro 18
RONDôNIA, POLíGONO DE ARIQUEMES- ESPÉCIES FLORESTAIS DE MAIOR POTENCIAL COMERCIAL
~
CLASSE I CLASSE 11 .CLASSE 11 1
N I v I N
I v N I v I N
I v N I v
I N
I v
1. Breu ... ................. 86 115.2293 4.91 8,5845 80 67.8032 4.57 . 3,8745 7 5,5816 0.4 0,3189
2. Cedro ... . .. . ... ....... .. 8 11,9565 0.46 0.6832 . 1 0.4480 0,06 0,0256
3. Copafba . . . ...... ...... .. 9 14.7415 0.51 0,8424 3 3,8124 0,017 0,2178
4. Coraçã o de Negro ... .. .. 9 21,3109 0,51 1.2182
5. Cumaru .. .. .............. 20 145,7202 1,14 8,3269 1 0.4480 0.06 0,0256
6. Jitó........ ... ..... .. ... 21 44.7970 1,20 2,5598 2 0,11 5,5369 0,3164
7. lpê.................. . . . 30 105,5957 1.71 6,0340 8 9,5429 0.46 0,5453 0,2240 0,08 0.0128
8. ltaúba .. ....... .......... 10 20,7331 0,57 1,1847 4 4.4498 0,23 0,2543 0.4743 0,08 0,0271
9. lmburana .. .... .... ...... 9 37.4403 0,51 2,1394 4 6,2145 0,23 0,3551
10 .Jatobá .. .. ...... .. .. .... 14 53.1333 0,80 3,0362
11. louro ......... .. ......... 36 104,9830 2,06 5.9990 4 3,6316 0,23 0,2075
12. Maracatiara ............. 12 50.9137 0.69 2,9093
13 . Roxinho .... . ........... . 70 243.4938 4,00 13,9139 2 1,0965 0.11 0,0328
14. Ta chi.. . .... .. ..... ... ... 32 72.8148 1.83 4,1608 4 2,9536 0,23 0.1688 1,2303 0,06 0,0703
15. Tauari . .. ........ ... .. .. . 7 65,3023 0.40 3.7316
16 . Ucuuba .... .... . ......... 1 00,592 0,06 0,0491 2 3.8316 0.11 0,2189
17. Farinha Seca ............ 9 9,3459 0,51 0.5340 4 3,5826 0,23 0,2047 2 1,3630 0,11 0,0779
18. Matamatá ............... 10 30,1964 0,57 1.7255 1 1,0164 0,06 0,0533
19 .Sucupira .. .............. 7 26,5228 0.40 1.5156 1 0,7454 0,06 o.om
20. Xuru .......... ... ....... 10 69,8198 0,57 3,9897 2 1,6061 0,11 0.0318
SUB-TOTAL . .... ... .. , ... 410 1244,9175 23.43 71 .1381 123 111,1837 7,03 6,3533 12 8,8732 0,68 0,5070
21. Castanheira .. ... .. . ...... 14 358,5180 0.80 20.4867
22. Caucho .................. 20 47,7096 1,14 2.7263 2 2.1482 0,11 0.1227
23. Seringueira .......... .. . . 8 22,2083 0,4571 1.2690 1 0,8887 0.06 0,8538
LV11 LV! , LV 8 • Esses solos abrangem um total de 22.385 ha, ou seja, 14,05%
de área estudada pela SENSORA.
LA - Latossolo Amarelo Distrótico. Os solos dessa unidade apresentam tex-
tura argilosa, perfis profundos e porosos. São bem a excessivamente drenados e
ocorrem sobre sedimentos semiconsolidados do Terciário, em áreas de relevo
plano a suavemente ondulado, sob cobertura de floresta subperenifólia. Os hori-
zontes A, B e C são pouco diferenciados do ponto de vista morfológico. Têm
consistência dura quando secos, friáveis quando úmidos, pegajosos e plásticos
quando molhados. Ocasionalmente apresentam concreções lateríticas de 80 a
100 em de profundidade. Dentro da unidade ocorrem, como inclusões, solos das
unidades Latossolo Vermelho-Amarelo e Laterita Hidromórfica. Os Latossolos
Amarelos têm características morfológicas semelhantes às do grupo anterior, mas
apresentam elevado teor de alumínio trocável e baixa fertilidade. São, também,
pouco suscetíveis à erosão e requerem, como os primeiros, práticas simples de
~onservação. Esses solos correspondem a 9. 251 ha, perfazendo, apenas, 6% da
area levantada.
133
Solos com "B" Textura! não Hidromórficos abrangem :
PV, - Podzólicos Vermelho-Amarelos. Têm horizontes A, B e c bem dife-
renciados. São ácidos, com pH em torno de 5, apresentam teores baixos de
cálcio e magnésio. Ocorrem em áreas de relevo suavemente ondulado, sob flo-
resta subperenifólia. Encontram-se associados aos Latossolos Vermelho-Amarelos.
PV, - Prodzólico Vermelho-Amarelo com Cascalhos. São solos minerais bas-
tante drenados, com pH em torno de 4,5; desenvolveram-se a partir de rochas
intrusivas de cristais porfiróides. Os horizontes A e B são bem diferenciados,
sendo que o A apresenta textura arenosa e grosseira, e o B textura franca argila-
arenosa a argilosa.
PV, - Podzólico vermelho-Amarelo. Os perfis desses solos são semelhantes
aos descritos nos PV1 e PV 2 ; diferenciam-se, porém, por ocupar áreas de relevo
movimentado. Desenvolveram-se sobre rochas intrusivas graníticas e diversos
tipos de gnaisses. Essa complexidade litológica está relacionada com o relevo e
com o tipo de cobertura vegetal. Nesta unidade ocorrem como inclusões solos
cambissólicos e litólicos, que geralmente se localizam em zonas de declives pro-
nunciados.
PV, - Podzólico vermelho-Amarelo Distrójico, fase pedregosa. Constituem
uma variação dos Podzólicos. Caracterizam-se pela presença de pedras, matacões
e outros tipos de afloramentos rochosos. Formaram-se a partir de rochas intru-
sivas e gnáissicas, que ocupam relevo predominantemente suave e ondulado.
· Laterita Hidromórjica associada a Podzólico Vermelho-Amarelo. São solos
mal drenados, rasos e medianamente profundos, com horizonte A bem diferen-
ciado, textura arenosa ; o horizonte B apresenta textura argilosa.
PV, - Podzólico Vermelho-Amarelo + Laterita Hidromórjica Distrójica.
Ocorre em relevo suave ondulado e floresta subperenifólia.
PV, - Tem as mesmas características da unidade anterior, porém ocorre
em áreas de relevo suavemente ondulado .e ondulado, sob floresta subpereni-
fólia.
Em geral os solos Podzólicos Vermelho-Amarelos apresentam fertilidade mé-
dia a baixa, são pouco profundos e facilmente sujeitos à erosão, o que traz
como conseqüência a necessidade de utilização de práticas conservacionistas, às
vezes intensivas, de acordo com as áreas onde estejam localizados. Os sucessivos
desmatamentos e queimadas tendem a provocar a degradação acelerada desses
solos, sobretudo quando ocorrem associados à Laterita Hidromórfica. Devem ser
usados com o devido cuidado para culturas permanentes adaptáveis à região,
desde que tal medida seja acompanhada de práticas intensivas de conservação.
Esses solos, em conjunto (PV1 , PV 2 , PVR, PV4 , PV5 e PV6 ) somam 54.468 ha, o
que corresponde a 36,24% da área estudada.
Podzólico Vermelho-Amarelo Equivalente Eutrójico + Terra Roxa Estruturada
Similar Eutrójica PE. Esses dois tipos de solos desenvolveram-se sobre rochas in-
termediárias e básicas. São bem drenados e medianamente profundos. É comum
encontrarem-se pedras soltas nos perfis. Ocorrem também matacões e outros
afloramentos rochosos, o que dificulta o uso de implementas agrícolas. O pH no
horizonte A varia de 4,6 a 6,0, decrescendo ligeiramente nos demais. Os solos do
grupo Podzólico Vermelho-Amarelo Equivalente Eutrófico em associação à Terra
Roxa Estruturada Similar apresentam fertilidade média a alta e são suscetíveis
à erosão. Ocorrem em relevo movimentado, o que vai indicar o tipo de práticas
conservacionistas intensivas ou simples, quando utilizados para cultivos perenes
ou anuais, adaptados à região. O cacau nativo ocorre na Terra Roxa Estruturada,
enquanto a seringueira cresce no Podzólico Vermelho-Amarelo Equivalente Eu-
tráfico. Esses dois tipos de solos alcançam apenas 7% da área estudada, ou seja,
10 . 677 ha.
Solos com "B" Incipiente (Câmbico) abrangendo os solos Cambissólicos.
São pouco ou medianamente profundos; têm o horizonte "B" incipiente e pre-
sença de minerais primários em decomposição; desenvolveram-se sobre rochas
graníticas e diversos tipos de gnaisses, ocupando relevo desde suave a forte-
mente ondulado, em áreas de floresta subperenifólia. Ocorrem em associação
com solos Podzólicos e Litólicos. Os solos Cambissólicos, de modo geral, são pouco
profundos; apresentam média a alta fertilidade natural e necessitam práticas
intensivas de conservação, quando cultivados. São mais indicados para culturas
perenes adaptáveis à região. Ocorrem freqüentemente em áreas de relevo decli-
134
voso, ou pedregoso, apresentando, às vezes, matacões. Abrangem 22.630 ha, o que
corresponde a 14% da área levantada.
Solos pouco desenvolvidos, compreendendo os AE-Solos Aluviais. Deseiwol-
vem-se a partir de materiais recentes depositados pelos rios, em cujas margens
estão localizados. Ocupam pequenas áreas, sujeitas a inundações na época das
chuvas. Ocorrem em relevo plano, com cobertura de floresta perenifólia. Nesses
solos encontram-se concreções lateríticas e gleização. Os Solos Aluviais gleiza-
dos em maior ou menor grau ocorrem em pequenas manchas. Podem ser utili-
zados sem restrições, salvo nas zonas sujeitas a inundações ou onde aparecem
concreções ou camadas de laterita; nesses casos, requerem prática simples de
conservação. O AE corresponde a 0,38 % da área estudada e abrange 609 ha.
Solos Litólicos RE. Formaram-se a partir de rochas do Pré-Cambriano, intru-
sivas e gnáissicas. Localizam-se em relevo montanhoso a fortemente ondulado,
em encostas íngremes. A floresta que aí existe é do tipo subcaducifólia. A fer-
tilidade dos solos Litólicos é bastante variável, e, uma vez retirada a cobertura
natural, sofrem intensa lixiviação e são rapidamente erodidos.· Nessas manchas
deve ser mantida a vegetação original; semente em casos especiais esses solos
poderiam ser utilizados para culturas permanentes adaptadas à região. Abrangem
23 . 250 h a, compreendendo 16% da área estudada.
6. 4 - EDUCAÇAO E SAúDE
135
Ji-Paraná ou Machado, atingindo também a reserva biológica do Jaru
e a fronteira com o Estado de Mato Grosso, em direção a Aripuanã.
O traçado da BR-421 se estende no sentido SW, desde Ariquemes,
na BR-364, até Guajará-Mirim. A conclusão dessa rodovia, cujos pri-
meiros 49 km se localizam em terras do Projeto, permitirá a ligação
direta do oeste do Território, mais especificamente do vale do Mamoré
com a Cuiabá-Porto Velho e, portanto, com o Sudeste, sem se passar por
Porto Velho.
Constituindo hoje o mais importante eixo de circulação do Terri-
tório, a BR-364 atravessa o Projeto no sentido NW-SE e permite o escoa-
mento da produção local para Porto Velho, 194 km ao norte; para Rio
Branco, a 602 km; para Manaus, pela BR-319, e também para os mer-
cados do Sudeste.
Além dessas rodovias, o Projeto conta com 330 km de estradas vici-
nais abertas, às quais devem somar-se 102 km em construção. Quando
forem concluídas, o Projeto contará com 1. 078 km de estradas próprias,
cuja principal finalidade é permitir o escoamento da produção local e,
ao mesmo tempo, a intercomunicação entre as 3 . 858 parcelas em que
a área está dividida.
O significado da BR-421 como eixo de penetração do povoamento
tornou-se de tal ordem que o INCRA se apressou em fazer estudar a
faixa de terras por ela servida, a fim de disciplinar a sua ocupação, evi-
tar conflitos e assegurar aos lavradores o acesso e a fixação em lotes
rurais.
136
Capítulo 7 -PROJETO INTEGRADO DE COLONIZAÇÃO
JI-PARANA (PIC)
F!g. 34 - Caminho viclnal no Setor Abaitará do PIC Ji-Paraná. Notar as parcelas recém-des-
bravadas e o relevo ondulado.
Foto INCRA - Setembro de 1975
137
e Prosperidade. Uma área da ordem de 400.000 ha, contígua ao PIC 47,
foi liberada pela FUNAI e está sendo transcrita em nome da União.
Nela se localiza o setor Projeto Novo, denominação dada pelos próprios
ocupantes e que se ajusta à realidade, pois constitui área de expansão
do PIC.
O setor Ji-Paraná, área inicial do Projeto, começou a ser implan-
tado em 1972, à margem direita do rio Ji-Paraná e da BR-364. Recen-
temente, foi anexada ao PIC a gleba Tatu, com 31.358 ha, que estava
inserida no perímetro da área de licitação Corumbiara. Hoje, o PIC
se estende pelas margens da BR-364, num percurso de 47 km (km 455 a
502) em direção a Porto Velho.
7 .1 - ASPECTOS FíSICOS
138
são descritos a seguir, de acordo com o estudo realizado pelo IPEAN
(ref. 43):
a) Podzólico vermelho-Amarelo Eutró!ico. Esses solos são profundos, com
o horizonte A moderado, dotado de textura franco-argila-arenosa e franco-are -
nosa, com estrutura pequena e média, em blocos subangulares. O horizonte B
apresenta textura argilosa, estrutura fraca, pequena e média, em forma de bloco
subangular. Quando úmidos, esses solos· têm consistência friáv-el a firme, e quan-
do molhados são plásticos e ligeiramente pegajosos.
Quanto à fertilidade, apresentam teores baixos de fósforo assimilável, mé-
dios e baixos de nitrogênio assimilável, médio, médio-alto e alto de potássio, e
de cálcio e magnésio. O alumínio trocável apresenta valores baixos e médios.
O pH varia de fortemente· ácido a moderadamente ácido.
As áreas onde ocorre esta unidade podem ser utilizadas com culturas anuais
adaptadas às condições locais, pelo emprego de algumas práticas agrícolas espe-
ciais, dependendo das exigências de cada cultura, bem como de adubação fos-
fatada, da qual esta unidade é carente. Foram encontrados em algumas faixas
cultivos itinerantes de arroz, milho, feijão e cana-de-açúcar. A pimenta-do-reino
poderá ser indicada como cultura econômica, necessitando, no entanto, de adu-
bação adequada e de práticas especiais exigidas por esta lavoura. Também a
exploração da seringueira poderá ser efetuada em áreas onde houver a devas-
tação da floresta.
No vale do Ji-Paraná, onde se localiza o Projeto, o cacau é nativo, apresen-
tando ótimas possibilidades de exploração econômica, em decorrência das con-
dições climáticas e pedológicas observadas.
b) Podzólico Vermelho-Amarelo Distrójico. Esta unidade ocorre também
em glebas já cultivadas com lavouras anuais e semiperenes. Apresenta solos de
classe textura! média, com estrutura, profundidade e drenagem satisfatórias. A
fertilidade química natural é baixa com pH variando de excessivamente ácido
a fortemente ácido, evidenciada pelos baixos valores de soma de bases permu-
táveis e da saturação de bases permutáveis, representada pelos teores de ele-
mentos químicos necessários ao desenvolvimento das plantas. As deficiências quí-
micas desses solos podem ser compensadas pelo emprego de corretivos e ferti-
lizantes, porém suas características físicas são boas.
Quando de sua utilização, deverão ser observadas práticas de conservação
e de combate à erosão, principalmente levando-se em conta o relevo e a textura
dos mesmos. Poderão ser implantados nesses solos sistemas racionais de reflo-
restamento e de formação de pastagens. Na implantação de culturas de subsis-
tência, dever-se~á levar em conta a necessidade de utilização de corretivos e de
práticas adequadas de manejo.
c) Latossolo Vermelho-Amarelo, textura média. Estes solos estão associa-
dos a Areias Quartzosas Vermelhas e Amarelas Dístróficas, que ocorrem como
inclusão na área estudada. São solos profundos, com seqüência de horizontes A,
B e C. O horizonte A apresenta-se fraco a moderado, de textura arenosa e
franco-arenosa, enquanto o horizonte B latossólico, de textura franco-argila-
arenosa e argila-arenosa leve. Quanto à consistência, quando úmido é friável, e
quando molhado torna-se ligeiramente plástico e pegajoso. Apesar de serem do-
tados de boas propriedades físicas, esses solos apresentam fertilidade natural
baixa, evidenciada pelos valores modestos em bases permutáveis. São muito sus-
ceptíveis à erosão, devido apresentarem textura média, em relevo suave ondu-
lado. São excessivamente ácidos, apresentando um pH de 3,9. É aconselhável
utilizá-los para culturas permanentes, desde que indicados para as condições
ecológicas da área, objetivando programas de reflorestamento, ou então a for-
mação de pastagens. .,
Para as culturas de subsistência, torna-se necessária a aplicação de fertili-
zantes e corretivos, bem como o emprego de práticas racionais de manejo do
solo para controle da erosão, visando principalmente à obtenção de boas co-
lheitas.
d) Terra Roxa Estruturada Eutrójica. Os solos que constituem esta uni-
dade pedogenética são férteis, originados de rochas básicas e dotados de elevado
teor de ferro. Possuem coloração vermelha, com pouca variação entre os hori-
zontes, e perfis bem diferenciados de seqüência A, B e C, cuja profundidade atin-
ge aproximadamente dois metros. Ocorrem em áreas de floresta tropical subpe-
renifólia. Os valores de pH oscilam de 5,6 (medianamente ácido) a 6,4 (ligeira-
mente ácido), evidenciando índices de acidez situados numa faixa ótima para o
desenvolvimento da maioria das culturas.
Quando explorados intensivamente, esses solos terão que ser submetidos a
técnicas especiais, visando ao manejo adequado e à sua conservação. Evitar-se-á,
assim, o desgaste e o arraste das camadas superiores pelas águas pluviais. Po-
139
derão ser utilizados com culturas de subsistência, como feijão, milho, arroz e
hortaliças, além de outras que, pela correção da deficiência de fósforo, tenham
condições ótimas de desenvolvimento, e também com culturas perenes, como por
exemplo, o café e o cacau. '
e) Solos Hidromórjicos Indiscriminados. Ocorrem em áreas relativamente
pequenas, que constituem os vales onde estão localizados os cursos d'água perma-
nentes e temporários. Apresentam perfis pouco desenvolvidos, principalmente por
serem solos dotados de drenagem deficiente. Seu uso agrícola é restrito devido à
pequena extensão de sua área de ocorrência, como, também, pela drenagem im-
perfeita, fator este limitante ao bom desenvolvimento da maioria das culturas.
7.1 . 2 - Area de floresta tropical subcaducifólia
Trata-se de área praticamente plana a suavemente ondulada, com
vegetação pouco densa e de médio porte (floresta tropical subcadu-
cifólia). lÉ constituída, provavelmente, por sedimentos detríticos do
Pré-Cambriano, com ocorrência de rochas metamórficas, aflorando
gnaisses. Encontram-se nessa área espécies retorcidas de cerradão e
algumas Párkias, e, nas faixas mais úmidas, a bananeira brava.
Os tipos de solos encontrados nessa categoria de área são o La-
tossolo Vermelho-Amarelo, textura média (já caracterizado anterior-
mente), o Concrecionário Laterítico e as Areias Quartzosas Vermelhas
e Amarelas Distróficas. O estudo do IPEAN, já citado (ref. 43), descreve
os dois últimos tipos da maneira abaixo transcrita:
Concrecionário Laterítico. Comoreende solos de nrofundidade média, apre-
sentando perfis de horizontes do Üpo Acn e Ben, constituídos de partículas
finas e concreções lateríticas, de diversas formas e diâmetros, em torno de 2
em na maioria delas.
As análises de fertilidade revelaram teores baixos de fósforo, cálcio + mag-
nésio e nitrogênio, enquanto que os teores de potássio apresentam-se médios-
altos. São solos excessivamente ácidos, variando de 4,1 a 4,8 o pH.
A utilização agropecuária é limitada pela presença de grande quantidade de
concreções lateríticas ferruginosas, que dificultam o desenvolvimento normal do
sistema radicular das plantas, assim como o uso de máquinas agrícolas.
Ocupam restritas extensões, estando localizadas em geral no topo das pe-
quenas elevações; podem ser utilizados como reserva florestal ou para a formação
de pastagens, em função do próprio sistema radicular das gramíneas.
Areias Quartzosas Vermelhas e Amarelas Distrójicas. Ocupam pequena ex-
tensão, e estão associadas ao Latossolo Vermelho-Amarelo de textura média. São
solos muito pel'meáveis, com teor de argila que não ultrapassa 17%; possuem
coloração vermelho-amarelada e transição difusa entre os horizontes. São friá-
veis quando úmidos e não pegajosos quando molhados.
Esses solos são muito arenosos, de baixa fertilidade natural, evidenciada pelos
teores baixos das bases permutáveis. A acidez é bastante acentuada (de 4,0 a
4,2) . Trata-se de solos muito suscetíveis à erosão, por causa de sua textura
arenosa. Poderão ser utilizados para culturas perenes e de ciclo curto, desde
que seja feita a aplicação adequada de fertilizantes e corretivos, bem como a
adoção de técnicas racionais de manejo, objetivando controlar a erosão e a in-
tensa lixiviação.
As áreas de ocorrência desta unidade devem ser preferencialmente mantidas
nas condições naturais e como reserva florestal.
7.1.3- Area de cerrado
Outra unidade fisionômica compreende área praticamente plana e
suavemente ondulada, com vegetação de cerrado. O relevo apresenta
pequenas ondulações, dissecadas por vales estreitos, em forma de V. Per-
tence ao Mesozóico Indiviso, Série Parecis, com afloramento de arenito 40 •
Foi verificada a existência de siltito e folhelho, provavelmente perten-
cente ao Permiano.
A vegetação é de campo cerrado ou cerrado, constituída de gra-
míneas, ciperáceas e arbustos retorcidos, principalmente lixeira (Cura-
tella americana).
140
Os tipos de solos encontrados nesta unidade são os Hidromórficos
Indiscriminados, descritos anteriormente, que ocorrem em menor escala,
e Lateritas Hidromórficas, cuja caracterização pelo IPEAN (ref. 43) é
reproduzida a seguir:
141
Apesar de a área do PIC estar situada fora daquela em que atua
o IBC (Instituto Brasileiro do Café) , a cultura do café vem-se desen-
volvendo no PIC, com a assistência técnica da ASTER-RO, mediante
convênio com o INCRA. A comercialização é feita em parte pela Coope-
rativa Agrícola Mista de Ouro Preto (CAMOP) e, em parte, diretamente
pelos parceleiros, através de intermediários.
O quadro 19 mostra a área cultivada e a produção obtida no PIC
no período 1973-77. Quanto à pecuária, havia neste último ano, se-
gundo dados da Divisão Técnica Territorial de Rondônia, 5. 037 bovinos,
18.711 suínos e cerca de 100 mil aves, além de pequenos números de
caprinos, ovinos e animais de trabalho.
O crédito concedido no primeiro semestre de 1977, alcançou ....
Cr$ 2. 790.000,00 através de agências do Banco do Brasil situadas fora
da área do PIC, para compra de moto-serras. Além disso, o INCRA
forneceu recursos no valor de Cr$ 271.000,00 para atendimento médico
e hospitalar das famílias.
A fim de solucionar o problema de transporte da produção no
Projeto, há necessidade de se estudar uma forma de financiamento para
compra de carroças e animais de tração. Tal medida facilitará a reti-
rada da produção dos colonos, prejudicada principalmente na época
das chuvas, dando-lhes mais fácil acesso às estradas principais, sobre-
tudo à BR-364.
7 .3 - VIAS DE ACESSO
7 .4 - ASSENTAMENTO
142
Quadro 19
PIC JI-PARANA- AREA CULTIVADA E PRODUÇÃO AGRíCOLA -
1973-77.
PRODUÇÃO
ÁREA CULTIVADA (h a)
CULTURAS Quantidade (t) Valor (Cr$)
PERMANENTES
Banana (2) .. . ..... .. .. .. .. . . . . 1 500 1 293 510 000 154 216 32 640 000 9 869 824
144
Flg. 35 - Sede administrativa do Projeto Ji-Paranã. Ao fundo , o núcleo de Cacoal.
Foto INCRA - Setembro de 1975
7 .6 - ASPECTOS SOCIAIS
145
a conclusão do normal regional. Malgrado os esforços envidados pelo
INCRA e a Secretaria de Educação do Território, há ainda insuficiência
de recursos educacionais para a população assentada, especialmente nos
Setores Rolim de Moura e Abaitará.
Com referência à educação de adultos, o MOBRAL atua na área,
contando com 20 Postos de Alfabetização Funcional. Para o ano de
1978 prevê-se a instalação do Programa de Educação Integrada daquele
órgão. Assim como na educação regular, a de adultos não conseguiu
ainda atender satisfatoriamente à demanda da área.
Com relação à saúde, os recursos públicos existentes são insufi-
cientes. A área está sob a jurisdição da Fundação SESP, que não teve
ainda condições de estender seus serviços médico-hospitalares à popu-
lação do Projeto. Sobressai, no entanto, de forma muito positiva, a
participação da SUCAM no combate às endemias, sobretudo à malária.
A atuação do FUNRURAL é também deficiente na área do PIC.
Apesar do núcleo urbano de Cacoal possuir dois hospitais parti-
culares e cinco médicps residentes, os parceleiros recorrem ao INCRA
para encaminhamento a outros centros, onde possam receber tratamento
adequado, a custos menos elevados. Prevê-se, em 1978, a dinamização
dos trabalhos da Fundação SESP.
146
Capítulo 8 -PROJETO INTEGRADO DE COLONIZAÇÃO
PADRE ADOLPHO ROHL (PIC)
147
8 .1 - ASPECTOS FíSICOS
8 .1 .1 - Solos
148
SOLOS DA AREA DO PlC P~ A. Rohl
/
o 1 2 3 4 5 kO\
!Z::J XIBIU ~ HIDROMÓRFICO t ALUVIAL+ PARAISO
MAPA 15
Unidade Paraíso. É formada por solos de baixa fertilidade, pro-
fundos, bem a moderadamente drenados e com baixa capacidade de
retenção de umidade. Estão relacionados a materiais colúvio-aluviais.
Na superfície predomina a textura arenosa e a franco-arenosa nos hori-
zontes inferiores. Seu pH varia de 4,8 a 5,0.
Solos Hidromórjicos. Essa unidade abrange solos formados a partir
de sedimentos colúvio-aluviais recentes. São mal drenados e apresen-
tam fertilidade variável, de acordo com o tipo de material depositado.
Estão em geral localizados nas partes mais baixas do relevo.
Solos Aluviais. São profundos, com mais de 1,5m, e apresentam
média retenção de umidade. São solos jovens, ainda em formação e têm
sua origem em sedimentos aluviais recentes. O pH varia de 4,0 a 5,0.
As unidades Anari, Aluviais, Hidromórficas e Paraíso são consti-
tuídas de solos pobres, que totalizam 15 % da área estudada. Podem ser
utilizados para cultivos menos exigentes em nutrientes. Assim, a serin-
gueira, o cravo-da-índia e o dendê são alguns dos cultivos possíveis de
se desenvolver bem nos solos da Unidade Anari. Para pastagens, deve-se
dar preferência às manchas da Unidade Paraíso, enquanto as de solos
Aluviais e Hidromórficos são indicadas para o plantio do arroz. No qua-
dro 20 correlacionam-se os aspectos geológicos e fisiográficos com os tipos
de solos encontrados na área e seu potencial de uso.
Quadro 20
RONDôNIA, PIC PADRE ADOLPHO ROHL. ASPECTOS FíSICOS,
TIPOS DE SOLOS E CAPACIDADE DE USO
UNIDAD E DE CAPACIDADE
GEOLOGIA FISIOGRAFIA
MAPEAMENTO DE USO
8 .2 - ASSENTAMENTO
150
Federação. Naquela data, era a seguinte a origem dos parceleiros, se-
gundo as macrorregiões.
Norte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Nordeste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 299
Sudeste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 718
Sul . . .. .. . . . . .. .. ·. . . . ...... 77
Centro-Oeste . . . . . . . . . . . . . . . 37
1.160
8. 3 - EDUCAÇÃO E SAúDE
151
voura permanente, o cacau representa excelente proteção para os solos
facilmente lixiviáveis da região, além de também garantir uma renta-
bilidade satisfatória ao parceleiro. A área plantada em 1975, que era
de 57 ha, vem-se expandindo progressivamente, uma vez que no ano
seguinte chegou a 397 ha. Em 1977, o convênio INCRA-CEPLAC, no
valOr de Cr$ 1. 350.000,00, prevê o atendimento de 350 parceleiros, ·de-
vendo ser ampliado para Cr$ 1. 800.000,00 no ano subseqüente.
A banaiJ.eira, plantada em 1.890 ha, tende a expandir sua área, na
medida em que se amplia a do cacau. A produção, vendida ainda a
atravessadores, é enviada a Manaus, pela BR-364 e BR-319 assim como
por via fluvial, quando o volume a ser comercializado é muito grande.
Acrescentam-se a esse mercado os de Campo Grande, Mato Grosso e
São P~ulo, atingidos através da BR-364.
Como o Projeto se localiza fora da faixa de atuação do IBC, a
cultura do café, que abrange 989 ha, recebe assistência técnica somente
do INCRA e da ASTER-RO. A zona de maior produção no Território
se situa entre as localidades de Presidente Médici e Pimenta Bueno, na
faixa da rodovia Cuiabá-Porto Velho.
Considerando-se que culturas permanentes não se encontram ainda
em fase de produção, as culturas temporárias constituem, até o mo-
mento, a base econômica do Projeto como demonstra o quadro 21. Entre
elas, a do arroz é a mais difundida, com 15.510 ha plantados durante
o ano agrícola 75/ 76, atingindo a produção de 29 . 179 t. Esta se destina
principalmente a Porto Velho e ao Sudeste do País. Todas as cultoras
t emporárias são produzidas pelo sistema de roças.
Quadro 21
AREA CULTIVADA E PRODUÇAO AGRíCOLA- 1974-76.
RONDóNIA, PIC PADRE ADOLPHO ROHL.
PERMANENTES
Banana 1 .. .... 893 1 890 10 716 3 780 000 685 824 241 920 000
Café .... ... 630 989
Cacau... ····· ·· ···· · 57 397
FONTE : !NCR.A, Programaçã o Op eracional 75/76 ; Boletim Informativo, Divisão Territorial Técnica de Rondônia , 1976.
1 A quantidade é dada em cachos. O va lor da produ ção foi calculado com base em informações da CEASA de Bras!-
ia, q~ e recebe parte da bana na produzi da em Rondônia.
152.
Quadro 22
RONDôNIA, PIC ADOLPHO ROHL. EFETIVO E VALOR
DOS REBANHOS - 1976.
QUANTIDADE VALOR
REBANHOS (Cr$)
(cabeças)
153
Capítulo 9 - PROJETO INTEGRADO DE COLONIZAÇÃO
PAULO DE ASSIS RIBEIRO (PIC)
154
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P.I.C. PAULO DE ASSIS RIBEIRO
.
MALHA FUNDI.ÁRIA, RELEVO E DRENAGEM
ESCALA
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MAPA 16
FONTE : - I.N . C.R .A. J
Flg. 36 - Via de acesso ao P.IC Paulo de Assis Ribeiro, perto de VUbena. Notar a vegetação de
cerrado degradado, sobre a chapada dos Parecis.
Foto INCRA - Setembro de 1975
155
-verificado casos de invasões no Projeto, sobretudo às margens dos rios
e nas faixas limítrofes com outras áreas.
Previsto para comportar 3.656 famílias, o Projeto conta atualmente
com 2.757 parceleiros, localizados em lotes de 100 ha.
Considerando-se a média adotada pelo IBGE, de cinco pessoas por
família, a população rural do PIC totaliza cerca de 13.785 pessoas.
As famílias que se destinam ao Projeto são inicialmente identifi-
cadas num posto de triagem situado à entrada de Vilhena, à margem
da BR-364 e junto à barreira fiscal, por onde normalmente circulam
os veículos que entram no Território, vindos do sul e de Mato Grosso.
Muitas são originárias do Nordeste e chegaram ao Território depois
de trabalharem algum tempo em Minas Gerais e São Paulo. Há também
mineiros, que inicialmente migraram para o Paraná, antes de se diri-
girem a Rondônia. Os mato-grossenses são originários sobretudo dos
municípios de Dourados, Tangará da Serra, Jauru e Cáceres.
O maior contingente é, no entanto, de paranaenses, tanto em Vi-
lhena quanto no Projeto. Tal fato decorre de problemas que se verificam
em sua região de origem, a saber: ocupação total das terras devolutas
no oeste do Paraná; incorporação de pequenas e médias propriedades,
no planalto paulista-paranaense; liberação de mão-de-obra nessa região,
em conseqüência da substituição dà lavoura do café, intensiva de tra-
balho, pela rotação trigo-soja, intensiva de capital (com vultosos inves-
timentos em máquinas e fertilizantes), tudo isso acelerado pelas severas
geadas ali ocorridas no inverno de 1975.
Os que são inicialmente identificados aguardam a seleção, traba-
lhando muitas vezes em empreitadas para a formação de pastagens,
em fazendas próximas.
A ocupação da área se faz em ritmo acelerado, especialmente a
partir da abertura da nova estrada ligando o Projeto à BR-364 (Figs. 37
e 38).
Há três núcleos urbanos previstos: o principal, também chamado
Patrimônio, é a Vila Colorado do Oeste, cuja construção começou no
primeiro semestre de 1976. Em julho do mesmo ano havia cerca de
600 lotes ocupados na área urbana. Além dos prédios da Administração
do INCRA, a Vila conta com uma escola de 1.0 grau e um hospital,
ambos em construção na época em que a equipe visitou a colônia,
serraria (uma instalada e mais quatro para serem implantadas), pen-
são, padaria e mercearia. Está programada a implantação dos dois
núcleos secundários em 1978.
São três os tipos de lotes urbanos: os residenciais, de 20 m X 40 m
e de 20 m X 50 m; os industriais, de 200 m X 200 m, principalmente
para serrarias, e os de 80 m X 200 m, onde serão instaladas olarias,
máquinas de arroz, descascadoras, etc.
O sítio da Vila Colorado do Oeste, localizado em área de relevo
movimentado, não é propício à futura ampliação do núcleo.
9 .1 . 2 - Aspectos sociais
156
Flg. 37 - Tapiri no PIC Paulo de Assis Ribeiro.
Foto INCRA - Setembro de 1975
Flg. 38 - Rancho provisório, de colono-recém-chegado à vila Colorado, sede do PIC Paulo Assis
Ribeiro.
Foto INCRA - Setembro 1975.
157
na Vila Colorado do Oeste, o qual, por sua vez, deverá manter convênio
com o FUNRURAL. Assim, só os casos mais graves serão encaminhados
a centros maiores.
A população infantil em idade escolar (7 a 14 anos) era de 5.416
pessoas em 1976 e 8.816 em 1977. O cálculo para 1977 foi feito levando-se
em conta somente o número de novas famílias a serem assentadas,
sem considerar-se o crescimento vegetativo.
Em 1977 o total de alunos matriculados foi de 1.500, em 10 escolas.
Essas são construídas em madeira, com recursos do INCRA. A mão-
de-obra utilizada para esse fim é a dos próprios parceleiros, que recebem
remuneração pelo trabalho. A Secretaria de Educação do Território'
assume o pagamento dos professores. Em geral, há interesse dos parce-
leiros na construção das escolas, não só pela remuneração que recebem,
mas porque desejam que os filhos tenham possibilidades de estudo e
perspectivas de melhores condições de vida.
As professoras são sempre recrutadas entre as esposas e filhas dos
parceleiros, quase todas sem curso normal. Essa situação ocorre também
nos outros Projetos do INCRA e no Território, de modo geral, como
decorrência da falta de quadros especializados e da carência de recursos
humanos em regiões pioneiras.
Na Vila Colorado está sendo construída uma escola de 1.0 grau
(l.a a 8.a série), com 8 salas de aula, biblioteca e sala de reuniões,
a qual será mantida pela Secretaria de Educação do Território.
A fim de permitir à população adulta o acesso à alfabetização, as
escolas existentes são utilizadas à noite pelo MOBRAL, que, mediante
convênio com o INCRA, mantém na área o Prograr.na de Alfabetização
Funcional. ·
Até 1980 devem ser instaladas 229 escolas para atender à população
infantil em idade escolar, devendo também ser ampliada a escola de
primeiro grau da Vila Colorado do Oeste.
Quanto à habitação, procura-se implantar um sistema adaptado
às condições ecológicas e que leve em conta a utilização de matéria-
prima regional madeiras, palmáceas, etc.), e a distribuição de plantas
para construções rurais. No que se refere ao uso da madeira derrubada
nas parcelas, o programa visa incentivar a troca de madeira bruta por
outras beneficiadas, através das serrarias existentes na área.
O pessoal técnico que trabalha no setor social é constituído por
três assistentes sociais e um técnico em desenvolvimento de comunidade.
9 .1 . 3 - Aspectos econômicos
158
Há, por parte dos técnicos, a preocupação de propiciar aos parce-
leiros condições de elevar o nível tecnológico tradicionalmente utilizado
para os cultivos de subsistência, visando ao aumento da produção e
da produtividade. O convênio assinado em 1977, entre o INCRA e a
ASTER/ RO (Associação de Assistência Técnica e Extensão Rural), no
valor de Cr$ 1.454.000,00, objetiva propiciar assistência técnica a 2.500
parceleiros do Projeto. Essa assistência é efetuada sob a coordenação
do INCRA, que dispõe na área de um economista, seis engenheiros/
agrônomos e dez técnicos agrícolas; a esses deve-se somar, também, a
equipe da ASTER/ RO, que atua dentro do Convênio mencionado. Dessa
forma, pode-se atender a todos os parceleiros assentados.
Considerando-se que o Projeto tem apenas três anos de implan-
tação, os dados relativos à produção se referem somente à faixa em
que há ~ parceleiros assentados. Na área cultivada de 1.500 ha predomi-
nam, ainda, os cultivos temporários, característicos de uma fase pioneira
de -ocupação, na qual se enquadra o Projeto. As chamadas lavouras
brancas são as mais expressivas, sendo a mais importante o arroz,
com 588 ha plantados e uma produção de 2.994 t; a pequena produção
de mandioca (200 t, em 12 ha) se destina basicamente ao consumo
familiar (quadro 23).
As variedades de feijão plantadas são Rosinha e Jaule; a de arroz
é a IAC-12; a de milho, a Azteca. O valor da produção foi calculado
com base nos dados da CFP (Comissão de Financiamento da Produção),
que se fundamentam na média dos preços das zonas geoeconômicas
de cada Estado ou Território.
Quadro 23
RONDôNIA, PIC PAULO DE ASSIS RIBEIRO. AREA CULTIVADA E
PRODUÇÃO AGRíCOLA - 1975-76
PRODUÇÃO
CULTURAS ÁREA (ha)
Quantidade (t) Valor (Cr$)
TEMPORÁRIAS
Arroz .. ... . 588 2 994 3 493 000
Milho . . ... 400 768 69 120
Feijão .... 500 420 810 600
Mandioca . . .. . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . 12 200 22 000
PERMANENTES
Banana 1_ . .... ···· · ··•···· 15 18 000 115 200 000
Café ..... .. ···· · · ··· · · ······· 221
FONTES : INCRA. Divisão Territorial Técnica de Rondônia, 1977; Comissão de Financiamento da PíOdução, Anuário Es-
tatfstico, 1977 ; CEASA, Brasfl ia, 1976.
1 Cachos.
159
não têm tradição em criá-los, e nem interesse, porque são inferiores
aos suínos, como produtores de carne.
Como ainda não existe uma cooperativa para comercializar a pro-
dução, esta é vendida diretamente a intermediários, que a vêm buscar
na porta e enviam-na em grande parte para São Paulo. O valor da
saca de arroz era de Cr$ 70,00 e a de feijão, de Cr$ 650,00 a Cr$ 700,00
(preços locais, em julho de 1976). Em São Paulo, o mesmo feijão era
vendido por cerca de Cr$ 1. 200,00 na mesma época.
Embora o sistema de comercialização utilizado não evite o atra-
vessador, é, no entanto, o mais viável no momento, considerando-se
que os parceleiros ainda não dispõem de urna organização sócio-eco-
nômica capaz de fazê-los superar a presente situação. Por outro lado,
dada a elevada produção atual de cereais em Rondônia, originária em
grande parte dos Projetos do INCRA, a COBAL e a CIBRAZEM não
vêm tendo possibilidade de escoá-la. O sistema utilizado no PIC Paulo
de Assis Ribeiro, embora precário, vem permitindo ao colono obter pre-
ços compensadores, em termos locais, e deste modo conseguir recursos
financ eiros para sua manutenção, mas também importantes em termos
de renda para o pequeno empresário rural que ele pretende ser.
No primeiro semestre de 1977, o Banco do Brasil financiou a compra
de moto--serras, no valor de Cr$ 2.790.000,00. A administração do Pro-
jeto permite aos parceleiros vender a madeira derrubada, medida que
facilita a limpeza e a desobstrução do terreno para o plantio, além de
garantir-lhes urna renda complementar. Em julho de 1976 a área des-
matada era de 1.218,5 ha.
O INCRA fornece madeira para ser beneficiada pelas serrarias do
Patrimônio (Vila Colorado do Oeste) e de Vilhena, e estas lhe devolvem
parte já beneficiada, para utilização no PIC.
A fim de solucionar os problemas decorrentes da falta de transporte
para o escoamento da produção das parcelas, e levando-se em conta a
dificuldade de acesso a muitas áreas, em decorrência da movimentação
do relevo, é pens amento da Coordenadoria Regional estudar, com as
entidades creditícias, uma forma de financiamento de carroças e ani-
mais de tração para os colonos. Tal alternativa, além de não ser de
custo elevado, em comparação ao dos veículos motorizados, dispensaria
o uso de combustível e, ao mesmo tempo, teria possibilidade de ser utili-
zada mesmo no período da prolongada estação chuvosa regional, quando
as estradas se tornam, em regra, praticamente intransitáveis.
9.1. 4 - Vi lhena e sua r elação com o PIC
Vilhena está situada, conforme foi visto, fora do âmbito do PIC
Paulo de Assis Ribeiro, mas comanda suas atividades como um quartel-
general na BR-364. É a etapa secundária desta frente pioneira. Como
núcleo talvez mais antigo do Território no percurso daquela estrada,
Vilhena surgiu no segundo decênio deste século, de um posto tele-
gráfico instalado pela Comissão de Linhas Telegráficas Estratégicas,
chefiada pelo ent ão Coronel Cândido Mariano da Silva Rondon.
A construção da BR-364, com melhores especificações que a velha
picada do telégrafo, mudou em várias partes o traçado desta última.
Em conseqüência, o núcleo de Vilhena teve de mudar-se para a beira
da nova rodovia.
Em 1968, membros da equipe visitaram a cidade, vindos de Cuiabá,
em pesquisas de campo. Colheram então as informações que se seguem :
desde quase 80 km para sudeste de Vilhena, a floresta passa a predo-
minar sobre a vegetação campestre da chapada dos Parecis. Era, porém,
mata semidecídua, que apresentava naquele final de agosto árvores
160
despidas de folhas, mas sobretudo copas de tons variegados, que iam
desde o verde escuro, passando pelo verde claro, o amarelo, até ocasta-
nho. Cerradões, com perda de folhas ainda mais acentuada, se inter-
calavam nessa floresta, chamada em Goiás de mata de segunda classe.
Os trechos de cerrados reduziam-se a clareiras naturais: uma, perto
do lugar Cachoeira; outra, menor, mas com divisas mais definidas,
com 13 km de extensão, onde se situava, no seu extremo noroeste, a
cidade de Vilhena. Quanto à posição, Vilhena é, pois, um aglomerado
de borda de mata, como muitos outros no Planalto Central 5 2 •
Nessa porta de entrada a SW da Amazônia, a população continuava
rarefeita. A agricultura se resumia a mesquinhas roças de subsistência.
A economia do local se baseava principalmente na extração de borracha
silvestre (em pelas, de cocho e cernambi), assim como em garimpos
de diamantes. A pecuária extensiva se encontrava em estágio incipiente.
Casas de seringueiros com paredes de paxiúba, cobertas com a palha
desta palmeira ou com cavacos de madeira, retratavam não somente a
ocorrência desta palmeira típica da hiléia, mas também a tradição
seringueira da área de onde elas provinham, a adaptação ao clima
chuvoso da região e o baixo nível de vida dos habitantes.
Vilhena era então um alinhamento frouxo de casas, do lado es-
querdo (SW) da estrada, incluindo uma pensão e um posto de gasolina.
Do lado oposto ficavam estabelecimentos militares: as instalações da
FAB e do 5. 0 BEC com seus ocupantes davam a Vilhena um estímulo,
embora modesto. Uma linha comercial de aviões fazia escala no cámpo
de pouso militar. As ruas transversais do núcleo civil apenas se esbo-
çavam.
Esses melhoramentos começaram por volta de 1963. O que restava
do tempo de Rondon era o posto telegráfico e um depósito, retirados
da cidade. Em 1976, Vilhena contava com cerca e 10.000 habitantes.
Um traçado em xadrez, aproveitando a topografia plana dos arredores,
permite a futura expansão do núcleo. O equipamento urbano se tornou
muito mais complexo. Enquanto o setor secundário se restringe sobre-
tudo a várias serrarias e padarias, o setor terciário envolve uma intensa
atividade comercial: restaurantes, cinema, seis hotéis, várias farmácias
e oficinas mecânicas, borracheiros, bombas de gasolina, lojas de auto-
peças, de móveis, de materiais de construção, uma agência bancária
(do BAMERINDUS) uma de transportes terrestres (Andorinha) e outra
de transportes aéreos (da VASP), com dois vôos semanais.
Os serviços ligados à saúde contam com dois hospitais, sendo um
do governo, mal instalado, e outro particular, somente com ·oito leitos,
porém bem montado; dentistas e um laboratório de análises clínicas.
No tocante a serviços administrativos, contam-se em Vilhena:
agência de correios e telégrafos, estação da TELERON (comunicações
telefônicas), um posto do IBDF e um da fiscalização da receita federal.
A educação primária é complementada por colégios secundários na
cidade.
Vilhena está, portanto, situada na chapada dos Parecis, a 580 metros
de altitude, no contato entre o cerrado e a mata. Os campos de Vilhena
constituem um planalto muito regular, por volta dos 600 metros de
altitude, revestido de cerrados muito degradados (cerradinho), ponti-
lhados de capões nas nascentes (bacias de recepção) . São vazios demo-
gráficos de grande extensão.
161
A estrada que liga Vilhena ao PIC Paulo de Assis Ribeiro transpõe
a frente da cuesta formada pela borda da referida chapada. O contato
entre os campos de Vilhena e a mata fica, nessa estrada, na cota de
620 metros.
A encosta superior da serra tem relevo muito dissecado, e desce
dos 620 metros, no contato cerrado-mata, aos 280 m, no igarapé da
Divisa. Observa-se aí uma interpenetração muito complicada entre mata
semidecídua e cerradão. Ambas as formações têm troncos finos, espe-
cialmente esta última, que é também mais baixa. Não .se deve rela-
cionar estritamente este contato a uma curva de nível. De fato, perto
do contato, a mata ocupa os fundos de vales e parece ir-se tornando
. mais baixa à medida que se .sobe, cedendo lugar ao cerradão. O limite,
porém, .se encontra em cotas diferentes; parece estar mais ligado ao
lençol d'água subterrâneo.
No trecho mais alto prevalece o latossolo amarelo, fase arenosa;
nos trechos de cerradão, entretanto, o solo é muito arenoso, com capa
de húmus, parecendo um podzol que forma terríveis areiões na estrada.
A drenagem fluvial tem, a certa altura, características de um carst.
Na cota de 485 m a estrada passa sobre uma ponte natural, formada
por um ribeirão; um grande sumidouro faz desaparecer outro rio, a
365 m de altitude. Isto se explica pela ocorrência de uma camada
calcária intercalada no arenito Parecis, nessa faixa hipsométrica.
Pastos de braquiária e de colonião estavam aí sendo formados, em
julho de 1976, por uma grande empresa. Mas não havia ainda gado;
apenas muito pouca gente.
Transposto o igarapé da Divisa, em cujo leito se encontra o contato
muito nítido entre o solo claro, arenoso, e a terra roxa, entra-se, pouco
depois, nas terras do PIC Paulo de Assis Ribeiro. Mesmo antes de nelas
se penetrar, nota-se a presença de uma população rural relativamente
densa, vinda do Paraná, constituída sobretudo de nordestinos e minei-
ros, que esperam vaga para obter suas parcelas. Caminhões entram
todos os dias na colônia trazendo mudanças: trastes, animais, crianças
se amontoam na confusão mais incrível. ·
Em plena floresta da colônia, observa-se como é rica em palmitos;
em paxiúbas, de graciosos leques e raízes adventícias; em mulungus,
com linda folhagem vermelha. A imburana ocorre nos altos; o mogno,
a meia encosta. Estas duas são as únicas madeiras-de-lei exploradas
pelas serrarias da região, mas vendidas a preço vil. A peroba é queimada,
porque não tem preço.
Em julho de 1976, as roças de arroz, já colhidas, guardavam ainda
as espigas amontoadas em pilhas, nos campos; o feijão estava maduro ;
o amendoim, também colhido, deixara apenas o restolho; milho, man-
dioca ainda vicejavam. O café já se evidenciava como a principal cultura
permanente, mas estava novo. Será provavelmente a lavoura comercial,
por excelência, da colônia.
As casas dos colonos são todas cobertas de cavacos. Muitas exibem
influência cultural sulista: erguem-se sobre estacas e têm paredes de
tábuas verticais, com sarrafos cobrindo as juntas. Outras aproveitam
o taquaruçu, planificando-o para formar as paredes.
Como autêntica zona pioneira, a mais expressiva que vimos em Ron-
dônia, a paisagem do PIC Paulo de Assis Ribeiro está em organização.
Colonos instalam-se em ranchos provisórios, feitos de ramagens, às
vezes recobertos de plástico preto. Por toda parte se ouvem pancadas
de machado e o troar de árvores caindo, como antes também se ouvira
o zumbido das moto-serras abrindo invernadas.
Colorado, patrimônio-sede da colônia, está em construção. Situa-se
a 88 km de Vilhena. É bem mais pobre que o de Nova Ariquemes.
162
Capítulo 10 - PROJETO INTEGRADO DE COLONIZAÇÃO
SIDNEY GIRAO (PIC)
163
que, passando pela BR-364, se dirigisse para a faixa da atual BR-425,
no eixo Abunã-Guajará-Mirim. O projeto, inicialmente denominado
Mamoré, foi criado pela Portaria INCRA-692, de 13-8-1971, recebendo
depois o nome de Sidney Girão, em homenagem a um piloto do IBRA,
morto em acidente na região.
10.1 - ÁREA
164
PIC SIDNEY GIRAO MALHA FUNDIÁRIA RELEVO E DRENAGEM
DISTRIBUIÇÃO DAS ESCOLAS
-- ÁREA-48000 ho
I
I
I
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PI-LAJES
N
fNDIOS URURAM
~- -- Rios
Drenagem
Elevação
13onco de areia emerao
ESCALA
O 1 2 3 4 5 km
MAPA 17
A área se caracteriza pelo predomínio de temperatura e umidade
relativa elevadas, em conseqüência de sua localização em baixas lati-
tudes (cerca de 11° lat. Sul) e de situar-se em região de reduzida
altitude (cerca de 100 m).
A rede hidrográfica é constituída pelos rios Mamoré, Madeira e
alguns de seus afluentes, entre os quais o Laje, o Ribeirão e o Mise-
ricórdia. O Madeira apresenta um trecho de corredeiras na área do
PlC, que tem início a jusante da cidade de Guajará-Mirim e continua
até a cachoeira de Santo Antônio, a montante de Porto Velho (Fig.
n. 0 39). Este rio está incluído entre aqueles que apresentam regime
tropical austral, observando-se uma diferença cronológica entre o má-
ximo pluvial, em dezembro, e o máximo fluvial que se registra em
fevereiro. Esta diferença deve-se a vários fatores: a grande distância
em que se encontram suas nascentes principais, nas vertentes orientais
dos Andes; o longo trajeto de formadores e tributários seus como rios
de planalto; e, finalmente, a permeabilidade e o ressecamento dos solos
durante o período da estiagem, que os leva a absorver grande parte
das águas pluviais. Este fato diminui o aproveitamento dessas águas
pelos rios, até que se dê a saturação dos terrenos e conseqüente libe-
ração das mesmas. Por essa razão, normalmente em janeiro e sobretudo
fevereiro, é que se registram as cheias máximas, apesar de já não
ocorrerem nessa época precipitações tão elevadas.
Na área de ocupação mais antiga predominam os Latossolos Ver-
melho-Amarelos, muito profundos, permeáveis, acentuadamente drena-
dos, com estrutura granular no horizonte B. O pH da maioria das
amostras examinadas na colônia de lATA e ·no Projeto é superior a
5,5, com nível de Al trocável nulo ou insignificante. Os teores de fós-
foro trocável são baixos a muito baixos. Os de potássio são sempre
altos nos solos franco-argilosos, e variáveis de médio a alto nos solos
arenosos e argilosos. O teor de matéria orgânica é de médio a baixo.
As características químicas e físicas desses solos demonstraram que são
favoráveis a culturas tropicais, em especial ao dendê.
Na área de expansão, embora não se tenha ainda efetuado um
levantamento pedológico, as observações realizadas indicam a existência
de solos bruno-avermelhados escuros, argilosos, com pH em torno de
5,0 a 6,0. Ao que parece, nessa faixa, a potencialidade dos solos é bem
maior que na primitiva área do Projeto.
A vegetação predominante é a floresta tropical perenifólia e semi-
decídua, com árvores de grande porte. Entre as espécies nativas encon-
tram-se a seringueira, a castanheira, o cacaueiro, o mogno e outras
de grande valor econômico. Nas áreas desmatadas observam-se manchas
de capoeirão, babaçu e sapê, este resultante da pobreza e acidez dos
solos, degradados com a rotação de terras para os cultivos de subsis-
tência e sem as práticas conservaeionistas necessárias (Fig. 40) .
10 . 3 - SITUAÇÃO SOCIAL
165
Fi. 39 - Cachoeira de Santo Antônio, no rio Ma deira, a 6 km a montante de Porto Velho. ~
talhada em granito. Nota r, ao fundo, a elevação da margem esquerda, de cerca de 20 metros.
Foto Herond!no Chagas - 8.7.76
Flg. 40 - Capoeira tomada nelo sanesal e nelo ~--a-peixe e teto de uma casa de farinha, na
linha D, do núcleo Sidney Girão, perto de Ribeirão.
Foto H. Chagas - 24 . 7. 76
166
Quanto à naturalidade, os cearenses constituíam 80 %, enquanto
os demais eram originários das seguintes unidades da Federação:
Paraíba . . . . . . . . . . . . . . . . 10 %
Amazonas . . . . . . . . . . . . . . 4%
Maranhão . . . . . . . . . . . . . . 4%
Pará . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1%
Pernambuco . . . . . . . . . . . . 1%
Hoje, os cearenses ainda predominam no Projeto (146) , seguidos
dos mineiros (110), mas estão representadas todas as Unidades da
Federação, exceto Roraima (Fig. 41). Atualmente, há no PIC 511 fa-
mílias, no total de 2.555 pessoas.
As desistências de parceleiros, ocorridas na área do Projeto, são
atribuídas à forte incidência de malária, nos primeiros anos de sua
implantação e ao fato de só recentemente estarem sendo introduzidas,
de forma sistemática, culturas permanentes adaptadas à região; in-
fluindo ainda, no caso, os prol;llemas decorrentes da redução da área
do PIC, já solucionados com a nova área, denominada de expansão.
O desenvolvimento do Projeto se processa em ritmo mais lento que
o daqueles localizados na faixa de Cuiabá-Porto Velho, pelas razões
mencionadas, e também pelo fato de estar o PIC situado numa posição
marginal, fora da zona de maior fluxo migratório, proveniente do Cen-
tro-Sul, que até o presente converge para a faixa da BR-364, onde os
solos em geral apresentam maior potencialidade. Observa-se que, ao
contrário do que ocorre nos Projetos situados ao longo dessa rodovia,
o número de famílias originárias dos estados sulinos e do Espírito Santo
é bastante reduzido.
Quanto ao tempo de permanência na área, a pesquisa demonstrou
que a ocupação das terras é antiga, pois mais de 50 % das famílias ai
residiam há mais de 10 anos.
Tempo de permanência na área:
Menos de 3 anos . . . . . . . . O%
3 a 5 anos . . . . . . . . . . . . . . 15 %
5 a 10 anos . . . . . . . . . . . . . 33 %
10 a 20 anos . . . . . . . . . . . . 42 %
Mais de 20 anos . . . . . . . . 10 %
Considerando-se que 52 % das famílias objeto da pesquisa
realizada pelo INCRA ocupavam a área há mais de 10 anos, verifica-se
que, ao contrário do que acontece na faixa da BR-364, a da BR-425
apresentava à época um índice de ocupação bem mais antigo, anterior
mesmo à abertura da rodovia.
Em relação ao tipo da experiência profissional, 83 % dos chefes
de família tinham na agricultura sua atividade principal, enquanto os
r~tantes 1_7 % se dedicava~ à pecuária. Quanto ao tempo de experiên-
cia na agncultura, a pesqmsa apresentou o seguinte resultado:
2 a 5 anos . . . . . . . . . . . . . . 15 %
5 a 10 anos . . . . . . . . . . . . . 10 %
10 a 20 anos . . . . . . . . . . . . 42 %
Mais de 20 anos . . . . . . . . . 33 %
. Essa ~ar_acterística cons~ituía fator imp?rtan.te, uma vez que o
ProJeto ObJetivava tornar emmentemente agncola uma área de extra-
tivismo vegetal tradicional.
167
PIC SIDNEY GIRÃO
,.
PROCEDENCIA DOS PARCELEIROS-1975
[]]]REGIÃO NORTE
~REGIÃO NORDESTE
~REGIÃO CENTRO-OESTE
FONTE : IN CRA
FIG . 41
10.3.1 -Habitação
Na ·fase de implantação do PIC, 40% das casas eram de barrote,
cobertas de palhas; 50% de palha, cobertas de palha; e 10% de barrote,
cobertas de cavaco. Tal situação, hoje, não mudou muito. Embora o
INCRA tenha construído cerca de 63 casas de madeira no Projeto, a
Cr$ 35.000,00 (custos de 1976), ainda predominam as habitações de
palha ou de sopapo.
A política adotada pelo órgão, quanto à habitação, onera o custo
da parcela, uma vez que os recursos despendidos na construção cons-
tituem um capital imobilizado para o parceleiro. Além disso, o tipo de
construção adotado, embora se enquadre nos padrões mínimos de hi-
giene e habitabilidade, não se coaduna totalmente com a tradição da
arquitetura rural amazônica, onde o homem conseguiu um tipo de
habitação adaptado às condições ecológicas. Ao contrário, sem orien-
tação alguma, tanto os colonos de IATA como os de Sidney Girão
construíram sua moradia tradicional do sertão do Nordeste - a casa
de sopapo ou barrote, típica de regiões cobertas com vegetação des-
provida de madeiras grossas e retas.
A contratação pelo INCRA de firmas especializadas para construir
as casas onera os custos globais do Projeto e o parceleiro, mesmo que
este venha a ressarcir aquele órgão, ao fim de determinado período.
Numa região onde as madeiras-de-lei são abundantes, os custos com
habitação poderiam ser reduzidos, se, em lugar de construir, o INCRA
apenas financiasse o material de construção a ser adquirido e desse aos
parceleiros orientação técnica para que a casa tivesse condições de
habitabilidade. A construção poderia ser feita pelos interessados, por
iniciativa própria, ou em regime de mutirão, o que não acontece na
proporção de vida.
1O. 3. 2 - Educação e saúde
A época da implantação do Projeto, o estudo realizado demonstrou
que 61% dos chefes de família entrevistados eram analfabetos; 22%
semi-alfabetizados; 14% possuíam até o terceiro ano primário, e ape-
nas 3% tinham o primário completo.
Da população de 2.555 pessoas, em 1976, 1.028 constituíam a par-
cela em idade escolar. Nas 27 escolas existentes, há 685 alunos de
7 a 14 anos, mais 70 adultos matriculados em postos do MOBRAL.
A área apresentou elevada incidência de malária, fato que concor-
reu para a desistência de muitos parceleiros nos primeiros anos da
implantação do PIC. O levantamento realizado pelo INCRA, àquela
época, revelou que o índice da doença era de 80%, seguida pela vermi-
nose (70%), anemia (65%) e hepatite (5%).
A população entrevistada não tinha assistência médica. No início
da década de 70, 30% da população urbana de Guajará-Mirim ainda
era atingida pela malária. Graças à ação da SUCAM (Superintendêncià
da Campanha de Erradicação da Malária), o índice de incidência dessa
endemia baixou em 1976 para 7% na área do Projeto. :
A infra-estrutura de saúde da região é constituída por um hospital
de 61 leitos em Guajará-Mirim, uma maternidade com 40 leitos, e um
posto de Assistência Social da Prelazia, também naquela cidade. Essa
infra-estrutura ainda é deficitária para atender à atual população do
Projeto, que em futuro relativamente próximo deverá ser acrescida de
1.975 famílias. Os recursos disponíveis certamente deverão ser aumen-
tados, em face da ampliação do Projeto, que dispõe de um posto médico,
com quatro leitos, localizado no núcleo secundário, a 34 km da sede.
169
O atendimento é feito por um médico, duas vezes por semana,
e um dentista, diariamente. Ambos atuam mediante convênio com o
FUNRURAL. Além disso, o PIC conta com um prático e dois auxiliares
de enfermagem. Os casos graves são encaminhados aos hospitais de
Guajará-Mirim, Porto Velho e Manaus.
Graças à ação integrada do INCRA, SUGAM e Secretaria de Saúde
do Território, o índice de doenças da área tem-se reduzido bastante
nos últimos anos. Basta comparar os dados da pesquisa realizada à
época da implantação do Projeto com os mencionados na Programação
Operacional de 1978, para se ter um quadro da situação atual:
10 .4 - ASPECTOS ECONôMICOS
1972/73
l 1973/74 ! 1974/75 l 1975/76 l 1976/77 1972/73 1 1973/74 J 1974/75 j 1975/76 1972/73 1 1973/74 !1974/75 l 1975/76
TEMPORÁRIAS
Arroz . .. ... . 485 1 080 1 502 3 442 874 2 100 2 704 6 609 445 740 1 386 000 3 028 480 9 252 600
Milho . .... . 319 1 002 1 093 1 854 574 1 860 1 968 3 560 126 324 688 200 865 920 1 161 120
Feijão ..... . 288 426 1 856 208 332 1 559 238 740 488 451 3 133 670
Mandioca . 836 10 226 1 129 260
·PERMANENTES
Dendê . .. ..... . .• .•.. ... .• • 100
Café. .. ..... . . . . . ..•. 300 355
Bananal .... .. .... . .. . ... .• 43 36 000 2 304 000
Cacau .. .... ... .. ... .... ..• . 20
Seringa ... .. ... . . .. •. .... .. 43 117
Guaraná ... .... .. .. . ... . •.. . 6
10.4.2 - A pecuária
172
PIC SIDNEY GIRAO
~000.-----------------------------------------------~
10000
5000
o
1972173 1973 /74 1974/75 19 75 / 76
!ZZn ARROZ
~ MILHO
~ FEIJÃO
rrm MANDIOCA
FONTE: INCRA
I2Sm BANANA
FIG. 42
PIC SIDNEY GIRÁO
45001
Mctarcs
r--
3 000
3 000
1 500
-
,--
D ARR OZ
o
n
19 72 / 73 1973/ 74 1974/75 1975/76 ·.
~ ~~~~~o
t2Z2J ~AND I OCA
~CA F É
0IIIIIIJ BANA NA FONTE : IN CRA
-CAC A U
F IG . 43
174
Faz-se necessar10 intensificar os entendimentos com as entidades
financiadoras que operam na região, no sentido de serem ampliadas
as facilidades creditícias aos parceleiros. Tal medida ganha maior im-
portância para as culturas permanentes que vêm sendo introduzidas
e que devem constituir o suporte econômico do Projeto.
O sistema de comercialização, incluindo armazenagem e transporte,
ainda constitui sério entrave ao desenvolvimento do PIC. Está sendo
implantada a cooperativa, mas a produção ainda é vendida diretamente
pelos parceleiros a intermediários, para os mercados de Guajará-Mirim,
Porto Velho, Rio Branco e Guayaramerín (Bolívia).
Torna-se premente a necessidade de ampliar a capacidade de arma.:.
zenamento da produção, uma vez que o Projeto conta apenas com dois
armazéns de madeira, com capacidade para 10.000 sacos cada um.
O sistema viário implantado na Amazônia Ocidental, a partir da
década de 60, teve o objetivo de integrar essa região ao Sudeste do
País, através da BR-364, da BR-319 e da BR-425. Esta liga Guajará-
Mirim e Abunã a Porto Velho, e veio substituir a estrada de ferro
Madeira-Mamoré, hoje erradicada. A ferrovia deu lugar a uma ocupa-
ção linear, nucleada em alguns pontos ao longo do seu leito. Esses
núcleos permanecem estagnados, apesar da construção da BR-425, que
garante a ligação do oeste do Território com o Sudeste do País, Rio
Branco e Manaus, através da conexão com a BR-364, na altura de
Abunã.
A construção da BR-425 permitiu intensificar as relações de Gua-
jará-Mirim com Porto Velho e o Centro-Sul, tornando-as mais regu-
lares e mais rápidas. A área do Projeto é cortada por esta rodovia, pela
antiga ferrovia e futuramente poderá ser também pela BR-421, que
deverá ligar a BR-364, a partir de Ariquemes, a Guajará-Mirim, utili-
zando, possivelmente, como alternativa do traçado uma estrada vicinal
do Projeto Sidney Girão, em boas condições de tráfego, e que dá acesso
ao Núcleo Urbano n. 0 2, mais conhecido como Núcleo Secundário. Se
tal acontecer, novas perspectivas de desenvolvimento surgirão para a
área, uma vez que se poderá utilizar o frete de retorno para o Sudeste,
através dessa rodovia.
Situado a 64 km ao norte de Guajará-Mirim, o Projeto dista 270 km
da Capital do Território e 420 km de Rio Branco, constituindo essas
cidades mercados potenciais para o incremento da atividade agrícola.
Além disso, há também a possibilidade de exportação de produtos para
a Bolívia, através de Guayaramerín, cidade boliviana à margem esquerda
do Mamoré, na fronteira com o Brasil. O acesso a Manaus, tanto para
o escoamento da produção regional como para a importação de bens
inexistentes em Porto Velho, é garantido pela BR-319, que conecta com
a BR-364 e esta, por sua vez, com a BR-425.
Em conseqüência da abertura dessas rodovias, o comércio de Gua-
jará-Mirim se intensificou a partir da década de 60, muito mais com o
Sudeste, especialmente com São Paulo e o Rio de Janeiro, do que com
a região Norte. Guajará-Mirim distribui bens e serviços para a cidade
boliviana de Guayaramerín e constitui o centro urbano mais importante
do oeste do Território, atendendo não só à população do Projeto, como
à de lATA e à do vale do Guaporé.
Para dar acesso às parcelas e facilitar o escoamento da produção,
o PIC conta na área ocupada com 168,5 quilômetros de estradas vici-
nais, dos quais 131,5 km estão encascalhados, oferecendo condições de
tráfego durante todo o ano. Na área de expansão foi prevista a cons-
trução de 881 km de estradas vicinais nos próximos três anos, o que
dará ao Projeto uma rede viária interna de 1.049,5 km.
175
Quanto aos transportes aéreos, existem vôos comerciais da TABA
(Transportes Aéreos da Bacia Amazônica), entre Porto Velho e Guajará-
Mirim, e linhas de ônibus diárias entre as duas cidades, passando pelo
PIC. Este dispõe de uma pista de pouso encascalhada, com 1.150 m de
extensão, uma estação de rádio para transmissão e recepção, bem como
um posto da TELERON (Telecomunicações de Rondônia, Posto
Ribeirão).
Os 201.800 ha anexados aos 53.700 ha, que até recentemente cons-
tituíam o PIC, possibilitarão o assentamento de mais 1.975 famílias,
em parcelas de 100 e de 250 ha. Esses novos beneficiários deverão ser
transferidos de outros Projetos do INCRA em Rondônia, onde há exce-
dentes de pessoas que permanecem junto a famílias de parceleiros, na
esperança de virem, também, a obter seu lote. Além desses, a nova
área deverá receber igualmente os que já foram selecionados e aguar-
dam oportunidade de aproveitamento em algum Projeto, assim como
os que se deslocam pela BR-425 no fluxo migratório que demanda ao
Território.
A região de Guajará-Mirim é ainda economicamente estagnada,
mas de expressiva importância política, em vista de sua localização na
faixa de fronteira com a Bolívia. Com uma população bastante rarefeita,
a área ainda não conseguiu substituir a atividade extrativista deca-
dente por outra de maior rentabilidade.
Embora devesse constituir uma faixa agrícola em zona de extra-
tivi.Smo tradicional, o Projeto Sidney Girão não criou ainda na região
maiores impactos, sobretudo porque sua base econômica continuou
sendo a das culturas temporárias tradicionais (arroz, milho e feijão)
pelo sistema de roças, o que em nada ajudou a elevar o nível de ingressos
dos parceleiros. Só recentemente o INCRA incrementou um programa
de introdução sistemática de culturas permanentes que, além de favo-
recerem a proteção do solo, devem proporcionar à população local a
médio prazo, uma renda compatível com a do pequeno empresário
rural, que todos se propõem a ser. Esse fato, e a inclusão no Projeto
de uma área que possibilita aumentar de imediato a população benefi-
ciada de 2.555 para 12.430 pessoas, podem trazer novas perspectivas
para a região; naturalmente, se não faltarem os necessários mecanismos
creditícios e um sistema de comercialização que inclua armazenagem
e transporte da produção.
176
Capítulo 11 - A BR-421, DE ARIQUEMES A GUAJARA-MIRIM
177
Os dados da SUCAM, referentes a 22 localidades do Setor BR-421
no município de Porto Velho, tomados em diferentes épocas entre 1968
e 1974, revelam a existência de 914 habitações com 2.150 pessoas, núme-
ros que em 1976 baixaram para 830 (menos 9,2 %) e 1.777 (menos
17,3 %), respectivamente (quadros 25 e 26).
Quadro 25
RONDôNIA, BR-421, MUNICíPIO DE PORTO VELHO. HABITAÇõES,
SEGUNDO O SETOR DE ATIVIDADE DOS MORADORES -
1968/ 74 E 1976
VARIAÇÃO
SETOR DE AT IVIDADE 1968/74 1976
Abso luta Relativa (%) -
Quadro 26
RONDôNIA, BR-421, MUNICíPIO DE PORTO VELHO. HABITANTES,
SEGUNDO O SETOR DE ATIVIDADE ECONôMICA - 1968/ 74 E 1976
VAR IAÇÃO
SETOR DE ATIVIDADE 1968/74 1976
Absoluta Rel ativa (%)
178
Quadro 27
Quadro 28
HAB ITANTES
LOCALIDADES Variação
1968/74 1976
Absoluta
I Relativa (%)
179
Embora os números não demonstrem toda a intensidade do pro-
cesso de ocupação na faixa da BR-421, permitem todavia deduzir que
a atividade agrícola assuma um papel cada vez mais importante, ao
lado da mineração. Esta é de grande valor econômico, mas emprega
hoje menor número de pessoas, ao passo que a agricultura, embora
ainda incipiente, tende a tornar-se preponderante, na região, quanto
ao total de área explorada e número de pessoas ocupadas, pois os dois
Projetos do INCRA têm sua base econômica fundamentada no cultivo
do cacau, produto destinado sobretudo ao mercado externo.
A mudança tecnológica que se processou nas zonas de cassiterita,
com o fechamento dos garimpos e a instalação da lavra mecanizada,
explica o decréscimo de população naquelas áreas. Exigindo mão-de-
obra menos numerosa, porém, mais qualificada, a lavra liberou muitos
dos antigos garimpeiros. Esse fato coincidiu com o início da implantação
pelo INCRA, dos Projetos de Assentamento de Agricultores sem terra,
em Rondônia. O primeiro Projeto, Ouro Preto, começou em 1970, e o
fechamento dos garimpos se deu em 1971. Desse modo, um certo per-
centual de antigos garimpeiros se transformou em agricultores e muitos
hoje vivem em Projetos de Colonização, ao lado de parceleiros de outras
regiões do País.
Quando concluída, a BR-421 se estenderá por 282 km e completará,
com a R0-02, a ligação do oeste do Território com o Sudeste brasileiro,
através da Cuiabá-Porto Velho. Tal fato trará novas perspectivas de
desenvolvimento para os vales do Mamoré e do Guaporé, que ainda
permanecem bastante isolados, em razão de serem os dois rios as únicas
vias naturais de circulação até Guajará-Mirim. Daí até Porto Velho,
a BR-425 garante o tráfego durante todo o ano, ao longo do trecho
encachoeirado do Madeira, em substituição à antiga ferrovia Madeira-
Mamoré.
Com a construção da BR-421 e da R0-02, tornar-se-ão mais fáceis
e rápidas as relações da fronteira Brasil-Bolívia com o Sudeste, as
quais hoje se fazem apenas através da BR-425 que, em Abunã, en-
tronca-se com a BR-364, possibilitando assim a ligação com Porto Velho,
Manaus e os mercados do sul.
Estima-se que a conclusão da BR-421 permitirá reduzir, em pelo
menos seis horas, o tempo de duração das viagens para Rio Branco
dos veículos que vêm do Sudeste. Esse deslocamento, que hoje se faz
via Porto Velho, poderá então ser efetuado pela BR-364 até Ariquemes;
daí até Guajará-Mirim pela BR-421, para prosseguir pela BR-425 até
Abunã, quando novamente seria utilizada a BR-364 em direção a Rio
Branco. Tal fato poderá concorrer para dinamizar a faixa da antiga
ferrovia Madeira-Mamoré, entre Abunã e. Guajará-Mirim, que hoje se
encontra estagnada, uma vez que a tendência seria aumentar o fluxo
de veículos e de mercadorias.
Não se pode minimizar a importância da rodovia para o desenvol-
vimento do Território, uma vez que, apesar das suas más condições de
tráfego já permite o abastecimento e o escoamento da produção de
cassiterita do alto Candeias e do Massangana e, no futuro, servirá
também ao transporte do cacau dos Projetos Burareiro e Marechal
Dutra.
Além disso, se tiver sucesso a cultúra do dendê para a faixa de
Guajará-Mirim ora em implantação pela Secretaria de Agricultura de
Rondônia e pelo INCRA e.ssa produção, já beneficiada, poderá sair tam-
bém pela rodovia, que desse modo, servirá para o escoamento de três
importantes produtos industrializáveis, além de permitir também a
dinamização da vida de relações de parte da região oeste do Território
e da área boliviana fronteiri ça com o Brasil.
180
Capítulo 12 - MINERAÇÃO DA CASSITERITA
12 .1 - A GARIMPAGEM
181
+
+ +
+ + + +
+ + + +
+ + +~
4: +
+
+
+
+
+
+ ~:
ij :t::
~ +-+++
+ + + +
+ +
+
+ + + +~+
++++++
R
RONDÓNIA E REGIÕES VIZINHAS
AREA MINERALIZADA
ESTANHO ESCALA : 1:5.000.000
METALOGENIA DA
BASE TECTÔNICO- GEOLÓGICA PLATAFORMA CRATONIZADA
Cobertura Sedimentar Não- Da brada lntracratônica
(Mais Antiga) AREA MINERALIZADA-ESTANHO
Cobertura Sedimentar Dobrada-
Dom{nio Te_c tônico da Plataforma Amazônica
Embasamento Cri~talino
Plataforma Amazõnica (Mais Antiga)
Zona Tectônica Rondônica Fonte : Mapa Metalogenético do Brasil -DNPM -1973
MAPA 18
se iniciaria em 1959. A seguir, a produção aumentou progressivamente,
como indicam a figura 44 e os dados do DNPM, abaixo transcritos
(em toneladas) :
1959 .... .. . . 18 1968 • • o ••• •• 2 800
1960 . . .. .. . . 49 1969 • • •• o •• • 3 500
1961 ..... . . . 35 1970 • o •• ••• • 5106
1962 .. . .... . 678 1971 • ••• o o • • 1 702
1963 .. . .. .. . 1038 1972 . ....... 3 752
1964 . . ..... . 818 1973 o • • •• • o. 3 672
1965 ... ... . . 2 459 1974 • o •• o ••• 3 935
1966 .. . .... . 2 040 1975 o • • • •• •• 5 094
1967 . . .... . . 2 239
-·-
EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO
DE CASSITERITA EM RONDÔN IA
5!:>00
5000·
4500
4000
3500
3000
~500
2000
1500
1000
500
o L,~~~~~~~~~~~~~~~--
59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75
Fonte : DNPM
FIG.44
Dois motivos explicam esse crescimento da produção: a) os serin-
galistas se interessaram em mandar pesquisar suas propriedades; e
b) atraído pelas possibilidades de garimpagem, afluiu para o Terri-
tório grande número de pessoas do meio norte (Maranhão e Piauí) e
nordeste (Ceará e Pernambuco) , além de elementos evadidos dos serin-
gais. Acresce que a abertura da BR-364 (Rodovia Porto Velho-Cuiabá)
facilitou a movimentação de pessoas e o incremento da produção .
.Os garimpos concentravam-se nos altos cursos dos rios Candeias,
Massangana, Jamari, Jacundá, Machadinha e no próprio rio Madeira
(mapa 19) .
Os seringalistas, no entanto, não podiam assumir o controle da
exploração, por falta de capital e de experiência no ramo. Constituíram-
se, então, grupos de fora do Território, com capitais nacionais e estran-
geiros, que foram adquirindo seringais, responsabilizando-se, assim, pela
transformação da economia local. Desta forma, a CESBRA- Compa-
nhia Estanífera Brasileira - comprou os seringais Esperança (onde
instalou a Mineração Santa Bárbara); São Pedro, no alto Candeias;
183
TERRITÓ RIO FEDERAL DE RONDÔNIA
(B · LAVRA
c GARIMPO
ESCALA r5.000.000
12.1 .1 - Técnicas
185
F1g. 45 - Formação de urna frente no antigo garimpo de cassiterita de Campo Novo, no alto
Candeias, em 19 . 8.1968. Not ar, na cata do 1. 0 plano, o cascalho que será bateado.
Foto Gilson Costa
Flg. 46 - Garimpagem de cassiterita, numa a n tiga f rente em Campo Novo, em 19 .8. 1968. Notar,
na bateia à direita, a cassiterita concentrada pelo movimento manual de rotação.
Foto Gilson Costa
186
cia, oxidava-se. Numa separadora magnética, extraía-se, então, a
ilmenita da cassiterita. O pagamento ao garimpeiro era feito após
abater-se o teor de ferro. As impurezas minerais, como a ilmenita, não
eram e continuam não sendo aproveitadas.
Os garimpos não chegavam a ocupar 60 % da área mineralizada,
porque se concentravam nas zonas de melhor produção, temendo os
garimpeiros que houvesse queima ou blefe. Assim, as áreas intensa-
mente garimpadas eram: Alto Candeias, Massangana, Cachoeirinha,
Igarapé Preto, São Francisco, FAG-2 e Ribeirão do Riachuelo; as menos
exploradas: São Lourenço, MACISA, CERIUMBRAS, Jacundá, Oriente
Novo e Rio das Garças.
Uma cata de 40m 3, por exemplo, poderia produzir seis sacos de
50 kg de cassiterita, isto é, 300 kg, rendendo o material desmontado,
7,5 kg de Sn 02 (dióxido de estanho) por metro cúbico (Souza & Curvelo,
ref. 58) . Esta era, segundo o jargão local, uma cata bamburrada, isto é,
que dava bom lucro. Menos que isto, diziam-na cata blefada. Sabendo-se
que, com a mecanização, podem-se aproveitar, economicamente, minas
com teor de até 0,350 kg de Sn Q2/ m 3 , tem-se a perfeita noção da
precariedade do processo de garimpagem (DNPM, 8.0 Distrito , ref. 53).
O acesso ao garimpo era difícil. Todas as companhias dispunham
de campos de pouso, homologados pelo Ministério da Aeronáutica, e
para eles era levada a produção das várias frentes de trabalho, em
lombo de burro ou em pequenos tratores. Do garimpo, o minério saía
de avião até Ariquemes- que era o centro de convergência- de onde
partiam os caminhões, para o Sudeste ou Porto Velho, pela BR-364
(Porto Velho-Cuiabá). Existiam 15 aviões de transporte em 1968, com
a capacidade de 400 kg cada um. Eram de particulares, e faziam seis
viagens diárias em média. O piloto recebia 20 % sobre o frete (Mesquita,
ref. 57).
Junto ao campo de pouso, geralmente, crescia um núcleo, com as
casas dos garimpeiros, escritório, depósito e local de beneficiamento da
cassiterita da Companhia, formando um habitat do tipo Reihensiedlung.
187
ou Cr$ 3.000,00 (Souza & Curvelo, op. cit., ref. 58). Quarulo o garimpeiro
chegava, não tinha dinheiro para pagá-la. Começava, então, como dia-
rista; mais tarde podia tornar-se sócio.
Segundo Mesquita (ref. 57), um garimpeiro conseguia extrair, em
média, por dia, um litro de cassiterita, que equivalia a 5 kg do minério.
O preço d.o quilo, livre de impurezas, era de Cr$ 3,30; abatendo-se 50 %
da avaliação das impurezas contidas, reduzia-se a Cr$ 1,65. Ele, então,
ganhava Cr$ 8,25 diários, ou Cr$ 247,50 mensais, contando-se apenas
um dia de descanso por mês. Só para comprar pá e bateia, necessitava
trabalhar quatro dias por mês, mas como é de 30 dias a durabilidade
média desses instrumentos, o desconto se tornava permanente. Levando-
se em conta os preços dos gêneros de primeira necessidade, as declara-
ções que os donos das companhias de mineração faziam ao governo
sobre os lucros e gastos dos garimpeiros eram completamente falsas.
Na realidade, a garimpagem proporcionava tão só a mera sobrevivência
ao trabalhador e à sua família, mas com um padrão de vida miserável,
residindo em casas temporárias e improvisadas, localizadas nas frentes
(fig. 47) ou em bairros paupérrimos de Porto Velho.
12.2 .1 - Técnicas
188
No desmonte hidráulico (fig. 48) faz-se uma barragem do tipo
chinês, isto é, construída com galhos, estacas e folhas de palmeir.as, .
com capacidade para grandes quantidades de água (350.000 m 3 ). Uma
bomba alimenta monitores, com vazão de 350m 3 / h e pressão de 7 kg/ cm2 •
Um dos monitores desmonta e desagrega o material e o outro dilui
e arrasta o minério até o poço de acumulação. Em seguida, o material
é. succionado por bomba de cascalho (Souz!l & Curvelo, op. cit., ref. 58).
A dragagem (fig. 49) exige grande volume de material e que ele
~eja facilmente desagregável; é indispensável, também, água abun-
dante. A vantagem do seu emprego é o aproveitamento total da jazida,
que trabalha com teores de até 600 g de Sn 0 2 / m 3 • Uma draga tem
capacidade para lavrar 60.000 m 3 / mês, trabalhando 24 horas por dia
(19) (Souza & Curvelo, op. cit., ref. 58).
Há vários métodos de tratamento do minério, com o uso de peneiras
e jigs, hidrociclones etc. As instalações (plantas) variam da washing
plant ao trem (DNPM, 8.o Distrito, op. cit., ref. 53).
A MIBRASA utiliza, em Santa Bárbara, a washing plant (fig. 50),
alimentada por retroescavadeira. No caso, o teor de cassiterita é baixo
(200 g/ m 3 ), mas o de óxido férrico (Fe 203 ) é de apenas 6 %. No setor
Candeias, faz-se o desmonte hidráulico e · emprega-se uma draga Yuba.
Aí, a cassiterita tem alta pureza; seu teor mínimo é de 70 %, e não
contém impurezas, como arsênico e enxofre.
A Mineração Taboca usa também o desmonte hidráulico e a washing
plant, nos três setores (fig. 51). Em Massangana, ocorrem até 10 %
de ilmenita, e a cassiterita é levada à separadora magnética para reti-
rar-lhe a impureza. O teor de estanho é de 65 % e, em média, encontra-se
1 kg de .cassiterita por metro cúbico de material. No setor Igarapé
Preto, a zirconita aparece numa proporção de 15 % do concentrado,
constituindo valioso subproduto, ainda não aproveitado.
A Mineração Oriente Novo S.A. recorre, também, ao desmonte
hidráulico, exceto no setor Cachoeirinha, onde está instalada uma
draga. Ao desmonte hidráulico associa-se o trem, uma instalação com-
pleta que contém concentração e separação, exceto a magnética (fig. 52).
O desmonte hidráulico é empregado, também, nos dois setores (Caneco
e São Sebastião) da Mineração Jacundá.
A água é fundamental no processo da mineração. Todas as empresas
aproveitam os igarapés. Na área da Santa Bárbara, a estação seca é
particularmente pronunciada e a empresa construiu sete represas, com
capacidade total de acumulação de 600.000 m 3 de água, para atender
às necessidades da mineração.
O problema da energia em Rondônia é crucial, e mais ainda se
torna em áreas de mineração. Em Massangana, por exemplo, gastam-se
150.000 litros de óleo Diesel por mês, que somados ao consumo das
escavadeiras empregadas no desmonte hidráulico totalizam 240.000 li-
tros mensais.
A cassiterita produzida tem destino variado, relacionado com a
localização da indústria metalúrgica do grupo ao qual pertença a com-
panhia mineradora. Assim, a produção da MIBRASA se destina a Volta
Redonda; a da Mineração Jacundá, à usina metalúrgica da Companhia
Industrial Fluminense, localizada em São João del Rei; a da Mineração
Taboca vai para a Fundição Mamoré, em São Paulo; a da Mineração
Oriente Novo, do grupo Itaú, segue parte para Manaus (Companhia
Industrial Amazonense) e parte para São João del Rei.
Como a lavra tem acesso à estrada, o caminhão sai diretamente
da mina para a metalurgia, representando isto um progresso, também,
em relação à garimpagem.
189
13
LEGENDA
9 -1500rpm
>----.-11 CONCEN TR ADO
5- PENEIRA PARAB ÓLICA
6- JIGS YUBA 42" X 42"
REJEITO 7- BOMBA DE 2 1/2"-MOTOR ELETRICO DE~ HP-
1500 r pm
11
8- CIC LON E 14"
9- J IG CLEANE R
I O - BOMBA BRANDÃO DE 6"- MOTOR - 80 HP
I I- BARRAGEM PARA DECA NTAÇÃ O E RECEP. ÁGUA
I 2- MESA VIBRATÓRIA V ILFLEY
I 3- B OMBA PARA ALIMENTAÇ~O DOS JIGS- DE
240 m / h - M OTOR ELETRICO - 30 HP
DESMONTE HIDRÁULICO
FIG.48
FONTE ; Souza, W . O. e Curve lo, J . L.-"M é t od o de lavro de cassiterita na Pr ov{nci a Est an(fera de Rond Ô nio 1 ~
i.n- Geoloa ig e ";'etalurgi<~, n!32, pQs . 283-317 . Centro Mor aes Rego- Escola PolitEicnica, USP. 1971 . pc;~ , 314.
TRATAMENTO DA DRAGA
8 1- MATERIAL A DESMONTAR
REJEITO
LEGENDA
FIG.49
FONTE: Souza, W.O. o Curvelo, J.L.- "Método de lavra de cassiterita na Provlncla Estanlfera de RondÔnia~'
In.- Geologia e Metalurgia., n.!. 32, pgs. 283 -· 317. Centro Moraes Rego- Escola Pol.itécnica, US P. 1971. pg. 306
ALIMENTAOOR :
3 Bomba de água- alta pressao
ESCAVADEIRA, produção mensal média: 25 000 m
Tanque
deslamador
Rejeito do desl amador
11
Jig 11 prímcirio
r ~
11 11
TRATAMENTO DA WASHING PLANT
FIG . 50
193
12.2. 2 - Aspectos sociais
194
Todas as minas têm escolas primárias; a da MIBRASA já é reco-
nhecida pela Secretaria de Educação do Território; a da Mineração
Jacundá está em fase de oficialização. As professoras são pagas, geral-
mente, pelas empresas mineradoras.
Habitualmente, o operário recebe, da companhia, casa com luz.
quando casado . .Os solteiros ficam em dormitórios, como em Massan-
gana. Estes últimos têm direito a restaurante. Os casados adquirem
produtos no armazém das empresas, ao preço de Porto Velho, onde
eles compram alimentos e outros bens de consumo. Algumas empresas
se abastecem no Sudeste, adquirindo em Porto Velho apenas produtos
perecíveis e remédios, em caso de urgência.
As diversas construções existentes nas áreas de lavra mecanizada,
tais como residências dos casados, alojamento dos solteiros, restaurante,
enfermaria, depósito de minério, depósito de combustível, escritório da
companhia, localizam-se próximas umas das outras, formando um
habitat concentrado (figs. 53 e 54).
195
Flg. 53 - Vista parcial das instalações da MIBRASA, em Santa Bárbara. Notar o relevo granítico,
suavemente ondulado.
Foto Irene Garrido Fllha - 1. 7. 76
196
TERRITÓRIO FEDERAL DE RONDÔNIA
MAPA 20
Escala : l: 10.000.000
GRUPOS E SETORES
PRODUÇÃO DE CASSITERITA
19 7 5
I) GRUPO PATINO-ENGLARDT
• GRUPO PARANAPANEMA
( ) GRUPO BRASCAN
@GRUPO I TA Ú
MAPA 21
Do ponto de vista financeiro, o controle das empresas vem mudando
seguidamente, no decorrer do desenvolvimento das atividades mineiras.
Com base nas pesquisas realizadas em ·1968 por M. Mesquita (ref. 57);
em 1972 pelo DNPM; o4 e em 1976 pela equipe técnica do IBGE, que
apresenta o presente relatório, podem--5e observar aquelas modificações,
através da análise da situação das empresas nessas três épocas (fig., 55).
&~m: -
199
1968 1972 1976
1 SETOR JACUNDA
I
li II DRAMIN DO BRASI L S.A. (Grupo português]
11 SETOR CANDEIAS
FERUSA - FERRO UNION S.A. FERUSA - FERRO UNION S.A. 11 1
11 : I
(BI LLITON - SHELL + 1.8. SABBÁ)
MINERAÇÃO ROCHA - garimpo - - - - - - - - - -+
MIN ERAÇÃO JACUNDÁ
{BILLITON - SHELL + 1.8. SABBÁ)
MINERAÇÃO ROCHA LTOA {pesquisa) - - - - -
MINERAÇÃO JACUNDÁ LTDA.
-* -:-
11
SÃO LOURENÇO - garimpa •••••••••...•. . .• . •••. .•• .'. .. .. . MINERAÇiiO JAMARI S.A. (pesquisa) ======= -' I
CIA. INDUSTRiAL FLUMINENSE (çrupo português)
MINERAÇÃO JACUNDÁ LT DA •
..+ MINERAÇÃO SÃO LOURENÇO (pesquisa).. . •.•• • •• •.. :
FIG. 55
12.3 - PROBLEMAS E PERSPECTIVAS DA MINERAÇÃO
201
isto é, 360 t de estanho, do qual se obtêm soldas e ligas. Para cumprir
parte do programa, a CIA teve de importar cassiterita da Malásia, em
1975, porque a maior parte da produção de Rondônia se destina ao
Sudeste do Brasil. Em conseqüência, a empresa viu-se forçada a baixar
sua quota de produção os.
Apesar dessas dificuldades, sabe-se que o grupo Patifí.o, através
da CESBRA, está interessado em instalar uma metalurgia de estanho
em Manaus, para a produção de soldas, ligas e produtos químicos do
estanho, com investimentos da ordem de Cr$ 120 milhões, visando pro-
duzir 4.000 t anuais. A matéria-prima procederá de Rondônia e da
Bolívia. A produção destinar-se-á ao mercado externo, uma vez que
já há um compromisso com a AMC - Amalgamated Metal Company
para remessa de 90 % da produção para esta empresa americana 09 •
Rondônia perdeu excelente oportunidade para a implantação dessa
indústria.
Quanto à mineração propriamente dita, há grandes perspectivas
de abertura de novos setores, porque a Província Estanífera de Rondônia
tem, efetivamente, grande potencial. As mineradoras continuam a pes-
quisar em suas próprias áreas, ou em outras que apresentem possi-
bilidades.
12.4 - CONCLUSõES
202
Capítulo 13 - OS PROBLEMAS FUNDIARIOS E AGROPASTORIS
•o O emprego que aqui se faz dos termos minifúndio e latifúndio nada tem
em comum com a classificação do INCRA. Eles indicam, através das dimensões
das propriedades, as possibilidades de sua utilização: inferior a 25 ha, no primeiro
caso, não permite o sustento de uma família, sob sistema de roça; superior a
5.000 ha, no segundo caso, é imóvel que mesmo adotando sistemas agrícolas ex-
tensivos subutiliza sua área. Estas considerações, embora não esgotem a concei-
tuação· desses tipos de propriedade, atendem aos objetivos do presente trabalho.
203
Apenas cerca de 43 % da área dos imóveis, em conjunto, é explo-
rada. Contraditoriamente, os latifúndios têm, entre todas as classes de
imóveis, a maior utilização das terras (47,7 %) porque sua atividade
principal é o extrativismo, que requer grandes extensões. A área explo-
rada das grandes propriedades, de pecuária extensiva e também extra-
tivistas, representa 38,3% do total. As pequenas e médias propriedades,
bem como os minifúndios, se dedicam à produção agrícola e pecuária
(Quadro 30).
Quadro 30
RONDôNIA. AREA EXPLORADA, SEGUNDO A CLASSE DOS
IMóVEIS RURAIS E A NATUREZA DA EXPLORAÇÃO- 1972.
Minifúndio .. . ..... .. . . 2 431,6 38,3 323,8 13,3 449,1 18,5 1 658,7 68,2
Pequeno e médio .. .. . 47 914, 9 21,2 15 123,6 31,6 16 542,2 34,5 16 249,1 33,9
Grande .. .......... . . . 167 122,2 38,3 140 634, 8 84, 1 23 153,1 13,9 3 334,4 2,0
latifúndio ... .... .... . 700 400,4 47,7 682 562,2 97,4 16 756, 0 2,4 1 08 2,2 0, 2
TOTAL. ... . .. . . .. 917 869,1 42,9 838 644.4 91 ,4 56 900,4 6,2 22 324,4 2.4
204
sequencia dos trabalhos do INCRA, não foram por ele introduzidas.
Fizeram-se anteriormente tentativas para a formação de pequenas pro-
priedades em Rondônia. A partir de 1948, o governo do Território pla-
nejou a implantação de colônias agrícolas, com o objetivo de abastecer
os principais núcleos urbanos: Porto Velho e Guajará-Mirim. Assim,
foram criadas a Colônia Agrícola do lata, distante 33 km de Gua-
jará-Mirim; a do Candeias, a cerca de 22 km de Porto Velho e a
Fazenda Milagres, nas proximidades da Capital. Na década de 50, im-
plantaram-se a Colônia Treze de Setembro (1954) e a Paulo Leal (1959);
mais tarde (1963), a de Areia Branca todas nas cercanias de Porto Velho.
Esses projetos de colonização falharam, porque o tamanho dos lotes
(25 ha) não se adaptava ao sistema agrícola empregado- a roça, que
exige maior área, para que seja realizada a rotação de terras. Além
disso, os colonos não tiveram orientação técnica, nem apoio financeito.
A expansão das pequenas e médias propriedades pode ser aquila-
tada através das informações sobre assalariados. Eles têm relevan.te
papel nessa expansão e no processo de transformação da economia do
Território. Considerando o número máximo de assalariados, inclusive
temporários, vê-se que 64 % deles se encontram nas pequenas e médias
propriedades. Pode parecer paradoxal porque, pela própria definição,
elas excluem o trabalho assalariado; mas, neste caso, tais trabalhadores
são empreiteiros que derrubam a mata para iniciar a exploração dos
lotes.
Assim, latifúndios e grandes propriedades são, na realidade, re-
manescentes de uma estrutura anteriormente implantada - a explo-
ração extrativista, com base principalmente na borracha. Os latifún-
dios, como imóveis com título definitivo e como unidades de explora-
ção, estão relacionados ao extrativismo. Deste modo, a situação fundiá-
ria de Rondônia, em 1944, data da instalação do Território, era de
predominância quase absoluta das propriedades com áreas superiores
a 5. 000 ha (89,9 %), conforme dados do INCRA, referentes aos títulos
concedidos pelos Estados do Amazonas e de Mato Grosso, aos quais
pertenciam, respectivamente, os municípios de Porto Velho e Guajará-
Mirim (quadro 31).
Quadro 31
RONDôNIA. ESTRUTURA FUNDIARIA NO ANO DA CRIAÇAO DO
TERRITóRIO - 1944.
NÚMERO ÁREA
ClASSE DE IMÓVEIS (1)
Relativo
Absoluto Hectares (%)
(%)
FONTE : INCRA.
1 Minifúndio = menos de 25 ha; pequeno e médio = 25 a menos de 500 ha; grande = 500 a menos de 5. 000 ha;
latifúndio = mais de 5. 000 ha.
205
. Daí porque pouco menos da metade dos atuais latifúndios (61 %
da sua área total) são registrados, enquanto a proporção para as de-
mais classes de imóveis é insignificante (quadro 32), predominando
os. posseiros.
·Quadro 32
Quadro 33
206
Os dados do INCRA informam da predominância da atividade
extrativa nas grandes propriedades e nos latifúndios. Deve-se compre-
ender este fato como uma situação de estagnação da economia nessas
propriedades. Por outro lado, os dados de produção mostram a dinâ-
mica da atividade agrícola nos imóveis rurais pequenos e médios.
As relações de produção vêm corroborar a vantagem da instalação
desse tipo de propriedade, no qual é elevada a participação do trabalho
familiar. Embora também exista mão-de-obra assalariada, ela se em-
prega principalmente sob a forma de empreitada para a derrubada da
mata (quadro 34).
Quadro 34
RONDôNIA. PESSOAL OCUPADO NOS ESTABELECIMENTOS
RURAIS, SEGUNDO AS CLASSES DOS IMóVEIS E A CONDIÇÃO
DA MÃO-DE-OBRA - 1972.
CONDIÇÃO DA MÃO-DE-OBRA
CLASSE DOS
Dependente do proprietário I Assa lari ada
IMÚVEIS Perman ente Temporária
(1)
N.' N. '
abso luto relativo (%) N.' I N.' N-' I relativoN.' (%)
absoluto I re lativo (%) absoluto
207
SERINGAIS FINANCIADOS
PELO BANCO DE CRÉDITO
DA AMAZÔNIA
1954
--•
SERINGAI S
ESTRADA DE FERR O
NUCLEO S URBAN OS
MAPA 22
ES CALA : l .5000000
Fonte : INCRA
Quadro 35
RONDôNIA. EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO RURAL, SEGUNDO OS
PRINCIPAIS PRODUTOS - 1940-75.
PRODUTOS
ANO
Arroz Mandioca Bovinos Borracha Castanh a- do·
lt) jt) I jca b.) jt) -pará jt)
I
1940 54 235 1 465 109 96
1950 154 1 629 2 052 2 379 133
1960 1 713 11 859 3 475 3 563 505
1970 9 593 33 743 23 125 3 495 458
19751 122 770 122 740 51 404 1 507 2 543
FONTE : IBGE, Censo Agropecuário , 1940,195 0, 1960, 1970; Anuário Estatísti co do Brasil , 1977.
1 Último ano para o qual há dad os disponíve is.
RONDÔNIA
j
tonelada unidade
40000 4 0000
ARROZ
30000 30000.
20 000 20000
'· MANDIOCA
I
I
1000 0 10000
I BORRACHA
I
- --.!
, /f
.,.,.., ....~ ... . ·
1940 1950 19 6 0 1970 73 19 4 0 1950 1960 1970 73
Fonte : FIBGE
F IG.56
209
faz pelo processo de pelas 71 forma de comercialização com vanos in-
termediários; dificuldades de arregimentação de mão-de-obra, que pro-
cura trabalho em outras atividades menos depreciáveis. Assim, os serin-
gais, de maneira geral, permanecem nas áreas mais afastadas das vias
de comunicação, ocupando vales de rios (mapa 23).
Abrem-se novas oportunidades para a expansão dos seringais, com
a perspectiva do desenvolvimento dessa cultura em lotes coloniais. A
ASTER elaborou projetos aprovados no PIC Ouro Preto (50 colonos),
no PIC Sidney Girão (16 colonos) e no de lata (2 colonos). Há
também possibilidade de introduzir a cultura na Gleba Corumbiara,
em lotes de 2. 000 hectares, dos quais 50 ha serão destinados à serin-
gueira. O cultivo faz-se em terreno plano, com solos profundos e bem
drenados, utilizando-se seleção de clones e espaçamento de 7 m X 3 m.
O plantio de clones é feito no início da estação chuvosa, e a cultura
deve ser adubada. Tais medidas fazem parte do Programa de Incentivo
à Produção de Borracha Vegetal (Decreto-Lei n. 0 1. 232, de 17-2-72).
Todavia, a questão do cultivo da seringueira ainda não está solucio-
nada, porque a formação de áreas homogêneas de plantio facilita a
propagação de doenças e pragas, que têm alta proliferação nas condi-
ções climáticas da Amazônia e, por isso, são dificilmente controladas.
Várias tentativas de combate, infrutíferas, se realizaram na Amazônia
e fora dela.
Nos programas de colonização do INCRA, têm-se introduzido cultu-
ras per:rpanentes, o que permite maior fixação do homem à terra, por-
que representam investimento de capital e trabalho por alguns anos,
ao contrário das culturas temporárias, que se renovam anualmente, de
maneira geral. Das culturas permanentes, as mais importantes são
as do cacau, café e pimenta-do-reino. Todavia, em 1973, somente a
última já se transformara em produto comercial. Em valor, o arroz é
o segundo produto na atividade agropecuária e extrativa, depois da
borracha (quadro 36).
Quadro 36
RONDôNIA. QUANTIDADE PRODUZIDA E VALOR DOS PRINCIPAIS
PRODUTOS AGRíCOLAS E EXTRATIVOS VEGETAIS - 1973 l
QUANTIDADE VALOR
PRODUTO
(t) (Cr$ 1. 000)
Arroz . . . 34 29 0 24 726
Mandio ca . 18 535 4 785
Milho .. 2 95 0 1 650
Feijão ... 3 672 4 538
Pi menta- do-reino 90 900
Hévea .. 5 54 8 49 93 2
FONTE: IBGE.
1 - Último ano para oqual há dados disponíveis quanto ao va lor daproduçã o.
210
LOCALIZAÇÃO APROXIMADA
DOS SERINGAIS NATIVOS
ASSISTIDOS PELA EMATER
1976
0 SERINGAIS
RODOVIAS
MAPA 23
ESCALA: 1:!) 000 000
Em conclusão:
212
Capítulo 14- OS PROBLEMAS DO SETOR MADEIREIRO
213
14.1 - EXPLORAÇÃO FLORESTAL
214
Quadro 37
215
14. 2 -· COMÉRCIO DE MADEIRA
216
TERRITÓR IO FEDERAL DE RONDÔNIA
DISTR IBUICAO DAS SERRARIAS
E SCALA . 1: 5.000.00 0
Fon te : .IB DF
MAPA 24
_ _ _ _ _______ __ _ ..
Quadro 38
SUPERFICIE PRODUÇÃO
GRANDES REGIÕES
E 1970 1973 1974
UNIDADES DA FEDERAÇÃO
km~ % Ouant. Valor Ouant. Valor Ouant. Valor
(Cr$ 1 000) (m3)
(m')
I (m ' )
I (Cr$ 1 000)
I (Cr$ 1 000)
NORTE 3 581 180 42, 07 2 059 000 43 680 8 945 309 995 821 8 357 509 946 352
Rondônia 243 044 2,86 35 000 1 159 3 825 629 535 594 4 008 975 581 301
Acre 152 589 1.79 16 000 721 79 750 6 094 54 625 3 880
Amazonas 1 564 445 18,38 543 000 14 886 1 732 112 237 238 1 137 261 115 389
Região em 2 680 0,03
Litígio AM/PA
Roraima 230 104 2)0 30 000 984 1o 71 o 927
Pará 1 248 042 14,66 1 375 000 24 462 3 050 668 21o 876 2 880 938 238 115
Amapá 140 276 1,65 60 000 1 468 257 150 6 019 265 000 6 740
SU L 577 723 6.79 8 123 000 502 691 15 880 374 2 733 141 13 148 436 2 681 509
Paraná 199 554 2,34 6 266 000 399 403 7 619 398 1 142 004 6 656 010 1 259 356
Santa Cata rina 95 985 1,13 1 412 000 85 254 5 650 260 1 132 552 5 202 340 1 073 002
Rio Grande do Sul 282 184 3,32 445 000 18 034 2 610 716 458 585 1 290 086 349 151
OUTRAS REGIÕES 4 353 062 51,14 11 839 319 779 191 g 405 846 1 341 622
BRASIL 8 511 965 100,00 36 665 002 4 508 153 30 911 791 4 969 483
FONTE: IBGE, Censo Agropecuário, 1970, e An uário Estatístico do Brasil. 1975 e 1976.
Capítulo 15 - O PROBLEMA INDíGENA
219
O processo de integração das populações indígenas à sociedade na-
cional está ligado às diferentes formas de economia - a extrativa, a
pecuária e a agricultura. Cada uma dessas atividades impõe aos grupos
tribais condições diferentes de integração.
A economia extrativa representa para o índio a negação de tudo
que ele necessita para viver : ocupa-lhe as terras ; dissocia sua família,
dispersando os homens e tomando as mulheres; destrói a unidade tri-
bal, sujeitando-a ao domínio de um elemento estranho ao grupo. O
índio é submetido a um regime de exploração no qual dificilmente
sobrevive.
A dispersão das espécies de valor econômico no interior da mata
induziu as penetrações por bandos móveis, à cata de drogas, especiarias
e outros produtos de valor mercantil. A participação do índio foi deci-
siva: eram aliciados para localizarem áreas ricas de reservas florestais.
e para trabalhar como remeiros e carregadores, enquanto as mulheres
serviam como amásias e produtoras de gêneros alimentícios.
Os extratores, por constituírem bandos móveis, penetravam mata
a dentro, destruindo as aldeias que encontravam, eliminando grupos in-
dígenas inteiros. Quando não, ocupavam as malocas, seqüestravam mu-
lheres e crianças para assegurar a cooperação dos homens no trabalho
de extração do látex.
Apesar da imensa área territorial da Amazônia e da dispersão da
população, o extrativismo foi um importante fator de extermínio das
populações indígenas. Quando o índio conseguia escapar à marcha
devastadora, refugiava-se no interior, longe dos rios, fora do alcance
dos invasores. Muitas vezes, essa mudança lhe foi fatal. Ali, faltava-lhe
o suprimento de artigos de comércio aos quais se havia acostumado,
como ferramentas, sal, medicamentos.
Enquanto a economia da Amazônia esteve voltada exclusivamente
para a extração do látex, do caucho e da seringueira, a mão-de-obra
em.pregada foi a indígena, ao lado dos flagelados pelas seca.S do Nor-
deste, .que possibilitaram o desbravamento da região. O colapso da eco-
nomia extrativa representou a salvação das populações indígenas re-
manescentes da Amazônia. Os grupos que conseguiram escapar à opres-
são, ao extermínio, ao terror de se defrontarem com os civilizados, vol-
taram aos antigos territórios dos quais haviam sido despojados.
. Não menos agressiva que a expansão extrativa, a pastoril exter-
minou grande número de índios. Os criadores em busca de novas áreas
para os rebanhos invadem as terras dos índios, entre a povoação de
Vilhena e a vila de Rondônia.
Enquanto no extrativismo os elementos que exploram a mata são
bandos livres das formas tradicionais de controle social, na atividade
pastoril são famílias constituídas, cujo objetivo consiste em ocupar as
terras, mas não interessadas na mão-de-obra indígena. Para expandir
as pastagens, o índio é rechaçado de seus territórios e compelido a
dispersar-se, por falta de condições para prover sua subsistência.
Na expansão agrícola, o objetivo de ganhar espaço para as lavou-
ras não preocupa o invasor em poupar vidas para o trabalho escravo,
mas tão somente em desocupar a terra. O equipamento e o número de
pessoas é bem maior do que nas duas atividades anteriores. O início
representa empecilho que tem de ser removido. Ele é forçado a aban-
·donar seus territórios e procurar áreas onde possa caçar, pescar e fazer
roça, não causando a grande transformação ecológica que vem
na esteira da expansão agrícola e à qual dificilmente se acomoda para
sobreviver.
220
RONDÔNIA E REGIÕES VIZINHAS
MAPA 25
3 9
2 10
5
6
4
Escalo • 1 • 10.000.000
1 I<ARITANA
2 PAKAA' NOVA
3 URUPA'
4 PURUBORÁ
5 SURU I'
6 PARANAWÁT, TUKUNAFE D, WIRAF ÉD (I< A WA H I B)
7 SABANÉ,TAWANDÉ
8 KARARAb (KAYAPd)
9 DIGÜT
lO CINTA LARGA
11 NAMBIKUA'RA
12 A R I K A PU,
13 NAMAINDE ( NAMBIKUÁRA)
222
' RONDÔNIA E REGIÕES VIZINHAS
MAPA 26
~ Suruí
EZZ2l C i n t a Larga o Grupos em vias de i ntegração
§ Nambil<uÓra • . Grupos isolados
I
0::
ali
I
SUR UÍ
I
RONDÔNIA NAMBII-<UARA
-f-. ' X
-- +- - j - - - ,'- ..._ --;..x MATO
'x GROSSO
' I
BOLIVIA +
I o 50 100 200 km
~
225
Capítulo 16 - A REGIÃO DE PORTO VELHO
226
à da cidade de Guajará-Mirim. Assim, dos 146.242 habitantes, a cidade
de Porto Velho no referido ano concorria com 54,7 % (80. 000 pessoas),
vindo em seguida Vila Rondônia com 13,7 % (20. 000).
Ainda ao longo da BR-364 notam-se os núcleos de Cacoal, Vilhena
e Pimenta Bueno com, respectivamente, 10.455, 5. 509 e 5. 820 habitan-
tes, perfazendo os percentuais de 7,2 e 4,0 da população total. Incluindo
Ariquemes, que possuía 2. 000 habitantes, o montante urbano dessa área,
com exclusão de Porto Velho, é de 44.180 pessoas, ou seja 30,2 % da
população global. A antiga cidade de Guajará-Mirim contava com 16.855
habitantes, concorrendo só com 11,5 % do global. Os demais núcleos
urbanos, tais como Calama, Jaciparaná, Pedras Negras, Príncipe da
Beira e a cidade de Humaitá possuíam contingentes populacionais que
variavam entre 1. 512, observado em Humaitá, a 265 em Pedras Negras.
Ao todo, a participação desses núcleos era de 5. 207 pessoas que, so-
madas às residentes em Guajará-Mirim, atingia a 22. 062, equivalendo
portanto a 15,1 % do global de 146.242 habitantes segundo dados da
SUCAM.
Pelo exposto verifica-se que a região de Porto Velho, apresenta uma
área mais dinâmica, situada ao longo da BR-364, entre Vilhena e Porto
Velho, onde se alinham os núcleos urbanos mais populosos, e outras
áreas que não sofreram o impacto da imigração, apresentando-se estag-
nadas e mesmo decadentes, com centros bem menos populosos.
Vejamos agora como se hierarquizam e como ocorrem os relacio-
namentos entre os núcleos, no interior dessas áreas polarizadas pela
cidade de Porto Velho. Esses são descritos no decorrer da abordagem
de cada centro, porém oª serviços de saúde e de ensino merecem uma
análise mais pormenorizada, tendo em vista a preocupação atual do
Governo Federal, Territorial e do Estado do Amazonas de melhor
equipá-los.
227
jornal local chamado Extremo Norte, serviço telegráfico, dois cine-
mas e uma orquestra.
A 2 km da cidade, subindo o rio Madeira, situado também na mar-
gem direita, existia o local conhecido como Candelária, que abrigava
as instalações hospitalares com 250 leitos e os serviços médiccs e .'Sani-
tários. Neste mesmo lugar residiam os médicos, que dividiam suas ta-
refas entre o atenclimento hospitalar e o atendimento às populações
residentes ao longo da linha férrea, percorrendo-a periodicamente em
automotrizes. Oswaldo Cruz esteve em Porto Velho e em Candelária,
tendo feito o saneamento desses lugares.
Com a crise da borracha, a cidade ficou estagnada, sobrevivendo
graças às suas funções de compradora de produtos da economia re-
gional e distribuidora de bens, comércio este já exercido também por
seringalistas no meio rural. Alguns seringalistas migraram para a ci-
dade, procurando garantir sua posição como compradores desses pro-
dutos e distribuidores de bens de consumo. A crise da borracha no mer-
cado mundial e o interesse dos mercados paulista e carioca pela casta-
nha-do-pará geraram relações da região com esses centros, através de
Manaus e de Belém.
A criação do Território, em 1943, exigiu a implantação de um con-
junto de serviços indispensáveis à própria administração; o serviço ban-
cário foi implantado e outros incentivados, como os de saúde e de ensino
médio, com a instalação de postos de saúde e de um ginásio público.
O surto da borracha nativa no mercado mundial durante a Segunda
Guerra Mundial provocou o incremento do comércio distribuidor de
bens, observando-se já alguma diferenciação entre o atacado e o varejo,
com o surgimento de alguns estabelecimentos varejistas, embora con-
tinuassem a predominar largamente os mistos (atacado-varejo).
Segue-se uma fase de diminuição no ritmo de expansão da cidade,
dada a decadência da borracha no comércio internacional, embora, para
ela, tenham imigrado habitantes rurais, à procura de melhores condi-
ções de vida.
A partir da segunda metade da década de . 50, a cidade toma novo
impulso, em conseqüência do desenvolvimento de novas atividades ru-
rais e da explotaçã.o da cassiterita sob a forma de garimpagem, sendo
comum famílias de garimpeiros, colonos e feirantes com residência
urbana.
A recente expansão da atividade agrária, decorrente da colonização
pelo INCRA, exigiu a implantação de órgãos federais encarregados da
administração dos projetos e da assistência ao trabalhador rural. Em-
presas privadas, atraídas pelo surto desenvolvimentista, que ora ocorre
na área rural, instalaram na cidade escritórios locais. Profissionais
liberais, mobilizados no começo pela iniciativa governamental, depois
pela iniciativa privada, implantaram em Porto Velho escritórios de
firmas comerciais especializadas. Tais fatos mobilizaram recursos hu-
manos com a entrada de pessoas de maior poder aquisitivo que a
maioria da população da região, ampliando-se assim o mercado consu-
midor local e regional, incentivando-se a instalação de novos estabele-
cimentos comerciais e de serviços, principalmente os referentes ao cré-
dito, saúde e ensino.
Porto Velho já dispõe hoje de serviços especializados comumente
encontrados em centros de hierarquia correspondente a capital regional:
escritórios de assessoria e consultoria, de administração imobiliária, de
engenharia civil, de advocacia e de contabilidade. Como Capital do Ter-
ritório, tem instaladas as Secretarias do Governo, além da Delegacia
228
PORTO VELHO
EVOLUCAO
- DO ESPACO
- URBANO
...;;
•4
"'~ E
""' ·
".. DELIMITAÇÃO DO CENTRO
00 1943
00 1953
E?Z3 1963
~
-
ATUAL
CENTRO
.o.q
.,~
1-/
<~
"'o"'o
o+,.,
o 100 500
L I Tooo,..
ESCALA
MAPA 28
FONTE : Atlas de RondÔnia
Pesquisas Realizados no Região em 1968 e 1976
Regional de Estatística do IBGE, a Diretoria Regional de Correios e
Telégrafos, chamada Noroeste, que serve também ao Estado do Acre.
É um centro de comércio de produtos rurais, possuindo beneficia-
mento de arroz, borracha, castanha e mais de 20 serrarias. Seu comércio
varejista já apresenta relativa diversificação, sendo encontradas lojas de
eletro-domésticos, jóias e relógios, mobiliário, ferragens e outras; em-
bora de âmbito local, sua área de influência se estende a todos os
núcleos da região.
Concentra metade das 18 agências que servem à região. As agên-
cias de bancos oficiais lá existentes são: do Banco do Brasil, da Caixa
Econômica Federal, ambas com sede em Brasília; do Banco da Ama-
zônia S.A., com matriz em Belém, e do Banco do Estado do Acre, com
sede em Rio Branco. Quanto às agências de banco3 particulares, as
matrizes situam-se em áreas metropolitanas do Sudeste e do Sul. Assim,
as do Itaú e Real na metrópole de São Paulo, a do BRADESCO em
Osasco, a do Nacional em Belo Horizonte e a do BAMERINDUS em
Curitiba, o que demonstra seu forte relacionamento com essas ma-
crorregiões.
Conclui-se, pois, que a ligação rodoviária de Porto Velho com o
Sudeste acarretou a melhoria de seu equipamento comercial e trouxe
modificações profundas nos relacionamentos de dependência mantidos
outrora com Manaus e Belém. O comércio da cidade é hoje abastecido
particularmente por atacadistas e representantes comerciais de firmas
estabelecidas no Sudeste sobretudo em São Paulo. Através de seus esta-
belecimentos comerciais, Porto Velho distribui bens para todo o Territó-
rio, para a cidade de Humaitá, e para as cidades de H.io Branco e
Xapuri, no Acre. Firmas comerciais com matrizes em Porto Velho
mantêm filiais em Guajará-Mirim, Vila Rondônia e Rio Branco.
Porto Velho, como centro regional, mantém relacionamento com as
outras localidades, o que pode ser comprovado pela freqüência diária
de linhas de ônibus: quatro viagens redondas para Vila Rondônia, três
para Humaitá e para Guajará-Mirim, duas para Vilhena, servindo estas
também a Pimenta Bueno. Quanto às ligações inter-regionais, Porto
Velho vincula-se a Cuiabá e a Campo Grande através de uma viagem
diária, constituindo estas cidades baldeações para as linhas que se diri-
gem ao Sudeste. É , portanto, um centro dispersar de linhas, início de
umas e final de outras, não havendo nenhuma ligação direta Cuiabá-
Rio Branco, Cuiabá-Humaitá e Cuiabá-Guajará··Mirim. É sede de em-
presa rodoviária com filial em Rio Branco, e filial de outras, cujas
matrizes situam-se em Presidente Prudente.
A cidade apresenta padrão urbanístico chamado de tabuleiro de
xadrez, favorecido pela topografla de terrenos suavemente ondulados.
A primeira parte ocupada foi a mais baixa, próxima ao rio Madeira,
estendendo-se mais em direção norte, ocupando terrenos mais altos.
Embora a topografia fosse favorável, a cidade praticamente não cresceu
até o início da década de 40. A criação do Território, em 1943, e as
transformações ocorridas na área rural se refletiram no espaço urbano
que se expandiu de forma descontínua, ficando no seu interior nume-
rosos lotes não ocupados. O problema de regularização de terras, que
ocorre na área rural, existe também no espaço urbano, sendo as mes-
mas pertencentes à União. Dessa maneira, os proprietários de constru-
ções não têm a posse do terreno. Tal fato contribuiu para que a maio-
ria das casas residenciais sejam toscas construçÕ·3S de madeira ou de
palha, dando impressão de pobreza, apesar do atual dinamismo da ci-
dade. Contudo, tanto o centro quanto o antigo bairro do Caiari cons-
tituem exceções, pois neles são freqüentes as construções de alvenaria.
O primeiro, balizado pela Av. Faquhar, ruas Almirante Barroso, Campos
229
Sales e Pedro II, tem os prédios utilizados, na maioria das vezes, para
fins comerciais e de serviços, embora tenham também função residen-
cial, principalmente para comerciantes que fixam sua moradia junto à
loja ou escritório. O denominado Caiari, situado mais ao norte em ter-
renos mais altos, é o preferido pela burguesia local, composta de
comerciantes, profissionais liberais, professores, bancários, funcionários
e militares.
Atualmente a expansão se processa para o norte, partindo da Ave-
nida Presidente Kennedy, artéria que interliga a BR-364 à BR-319, e
nas proximidades dessas duas rodovias (mapa 28).
230
É um centro médico-hospitalar bem inferior ao de Porto Velho · e
conta com estabelecimentos de ensino secundário de 1.0 e 2. 0 ciclos.
A cidade ocupa área de relevo ligeiramente ondulado; espraia-se
por ambas as margens do Ji-Paraná e ao longo da rodovia, apresentando
a fisionomia de um tabuleiro de xadrez. A parte mais antiga corres-
pende à margem esquerda, onde estão as construções que abrigam a
administração pública e o velho comércio. Na margem direita, trecho
mais recentemente ocupado, situam-se o comércio atacadista, o vare-
jista, alguns serviços e pequenas indústrias localizando-se estas junto
à rodovia. O espaço urbano é descontínuo em ambas as margens, dadas
as dificuldades que o sítio apresenta. Na margem esquerda, o igarapé
2 de Abril provoca o aparecimento dos alagados, e na direita observa-se
uma apreciável área pantanosa, que já vem sendo ocupada em con-
dições precárias de salubridade.
231
já estar saturado. Alguns deles se fixam na cidade, na esperança de
exercer uma atividade urbana; outros estacionam nela até serem con-
tratados pelos colonos já assentados, trabalhando geralmente no des-
matamento de áreas novas. É, como Vilhena, centro médico-hospitalar.
Sua área de influência se restringe à população rural do projeto
Ji-Paraná.
Pimenta Bueno, posicionada entre Vilhena e Cacoal, na confluência
dos rios Apediá e Comemoração, é um centro de comercialização dos
produtos da economia rural, possuindo aproximadamente 7 serrari~s . Seu
comércio varejista se assemelha ao de Cacoal, com distribuição limi-
tada ao aglomerado Espigão do Oeste e à população rural dispersa.
Como os demais núcleos situados à beira da BR-364, nasceu de um
antigo posto telegráfico, tendo Rondon deixado no local um destaca-
mento comandado pelo cabo Francisco Pimenta Bueno. Este destaca-
mento gerou um pequeno núcleo, mantido graças à garimpagem do
diamante nos rios Apediá e Comemoração e ao extrativismo da borracha,
como centro em que a produção era reunida para exportação, via Porto
Velho, em troca de alguns bens de primeira necessidade. Com a aber-
tura da rodovia, o núcleo tomou impulso e seu centro se deslocou para
a beira da estrada. Seu crescimento foi acelerado principalmente a par-
tir de 1969, quando se tornou local de atração para imigrantes que
ambicionavam terras da colonização particular de Espigão do Oeste.
Posteriormente, o INCRA instalou em Pimenta Bueno a sede do projeto
Corumbiara.
16.3 - O CENTRO LOCAL DE ARIQUEMES
232
que a população rural é mais rarefeita, ao norte e a sudoeste da cidade
de Porto Velho. Contudo, figura entre eles a cidade de Guajará-Mirim,
que embora não apresente o dinamismo dos núcleos alinhados ao longo
da BR-364 entre Vilhena e Porto Velho, possui área de influência já
mais ou menos definida desde o início da segunda década do século XX.
233
Entre eles nota-se o da velha cidade de Humaitá, cujo nível hie-
rárquico pode ser classificado abaixo do de Guajará-Mirim e do de
Vila Rondônia. Situada na marg·em esquerda do Madeira, é atualmente
nó rodoviário das estradas Porto Velho-Manaus e da Transamazônica.
Sua ligação rodoviária com Porto Velho concorreu para definir mais
nitidamente sua vinculação com esta cidade, pois desde a construção
da BR-364, que a mesma já dividia com Manaus a função de abaste-
cedora de bens, embora os produtos importados por Humaitá fossem
ainda escoados pelo rio Madeira.
Surgida na segunda metade do século XIX, Humaitá foi durante
o surto .da borracha a maior cidade da região. Seu período áureo
ocorreu durante o início do século XX, quando foi o maior centro
exportador de borracha, concentrando a produção dos seringais esta-
belecidos no Madeira a jusante de Porto Velho, e no Ji-Paraná. Já dis-
punha, na época, de água encanada, luz elétrica, oficina gráfica, onde
era editado um jornal, o Humaythaense, fábrica de gelo, estabeleci-
mentos educacionais. Mais tarde, em 1919, surgiu um semanário que
teve existência efêmera (pouco máis de um ano) , sendo as máquinas
vendidas e levadas para Porto Velho. Por essa época, a cidade já
apresentava os sinais da decadência que ocorria no meio rural amazô-
nico, em conseqüência da perda de valor da borracha nativa no mer-
cado mundial.
Contudo, como aconteceu com outras cidades da região e da Ama-
zônia em geral, permaneceu como centro comprador de produtos da
economia rural e distribuidor de bens e serviços. É, portanto, um centro
de comercialização da borracha, castanha, sorva e madeira, que são
enviadas, em maior parte, para Manaus.
É sede de município. Possui agências do BASA, Banco do Brasil,
Banco do Estado do Amazonas e Caixa Econômica Federal. Seu co-
mércio varejista é inferior ao de Guajará-Mirim e ao de Vila Rondônia,
distribuindo bens para a população rural residente ao norte de Calama.
o abastecimento desse comércio nos ramos de material de construção,
ferragens , combustíveis líquidos em geral e outros artigos (produtos
farmacêuticos, roupas, confecções e mais) é feito através de Porto
Velho, que funciona como intermediário do Sudeste.
O espaço urbano ocupa terrenos de topografia suave, estenden-
do-se por áreas de terra firme e de várzea alta. A ocupação urbana
tem como limitadores o rio Madeira, o igarapé de Belém e é dificultada
pela existência de uma série de pequenos vales secos, paralelos entre
si, que se dirigem para o rio Madeira, num ângulo de 45° em relação
ao mesmo, ao longo da margem esquerda. A parte que ocupa a várzea
alta tem habitações apoiadas em estacas, aparecendo nas paredes as
marcas das águas das cheias. O porto não tem cais de atracação; res-
tringe-se ao barranco do rio; já está prevista sua conexão com a Tran-
samazônica. Ao longo do mesmo desenvolve-se a rua onde se localizam
as casas aviadoras, demonstrando a importância do comércio de Hu-
maitá no passado, totalmente dependente da via fluvial. Na rua que
dá acesso ao entroncamento rodoviário dispõem-se estabelecimentos vin-
culados ao trânsito de caminhões, ônibus e carros de passageiros, tí-
picos das localidades que se caracterizam por estarem muito próximas
a nós rodoviários, tais como hotéis, restaurantes, bares, oficinas me-
cânicas.
Os demais núcleos urbanos são os de Calama, Jaciparaná e Abunã,
que merecem alguma referência apenas por serem sedes de distrito. A
semelhança de Humaitá, estão dentro da área de influência direta de
Porto Velho; situam-se na confluência de afluentes do Madeira ou
nas suas proximidades, cujos vales são produtores de borracha. Foram
234
e continuam a ser, até hoje, centros compradores de borracha e castanha
e distribuidores de alguns bens de primeira necessidade.
O primeiro, junto à foz do Ji-Paraná, serve até hoje como ponto
de parada para as embarcações que se dirigem para esse rio e procuram
atingir o povoado de Tabajara. Jaciparaná, na do rio de mesmo nome,
teve relativa importância como estação ferroviária . O último, muito
perto da confluência do rio Abunã, foi entre todos o mais importante,
não só pela posição fronteiriça à localidade boliviana de Manoa, como
ainda por ser local de conexão da ferrovia com a navegação do Abunã,
articulando-se assim com o nordeste acreano. Hoje é entroncamento
das rodovias que ligam Porto Velho a Rio Branco e Porto Velho a
Guajará-Mirim, BR-364/ 425, sendo de se esperar que, com a penetração
de novas atividades econômicas nesta área, o núcleo urbano venha a
crescer (mapa 29).
* * *
Pelo exposto conclui-se que a expansão da zona pioneira provocou
transformações nos núcleos urbanos nela situados. Contudo, percebe-se
que o respectivo equipamento urbano é recente e não corresponde ainda
às necessidades de atendimento adequado à população. O intenso ritmo
que caracteriza o processo migratório, transcende à capacidade dos
núcleos de se equiparem proporcionalmente. A insuficiência da estru-
tura administrativa concentrada mis cidades de Porto Velho e Gua-
jará-Mirim concorre para a falta de funções básicas observadas nos
demais núcleos. Por esta razão, o Governo Federal criou, pela Lei nú-
mero 6 . 448, de 11 de outubro de 1977, o município de Ji-Paraná, cuja
sede deverá ser o núcleo do projeto de colonização de nome idêntico,
tendo como distritos Ouro Preto, Cacoal, Pimenta Bueno e Vilhena.
Ariquemes deverá ser elevado a município. I!: ainda pela mesma razão
que os serviços de saúde escalonam os núcleos urbanos de modo dife-
rente, situando-se Vila ftondônia abaixo de Guajará-Mirim.
A situação dos serviços de saúde e educação na região de Porto
Velho é abaixo descrita mais minuciosamente.
235
REGIÃO DE PORTO VELHO
J!? NÍVEL
CENTRO REGIONAL
29N(VEL
CENTROS SUB-REGIONAIS
39 NÍVEL
CENTROSLOCAIS MAISEQUIPADOS
49 NÍVEL
CENTROS LOCAIS MENOS EQUIPADOS
SERVICOS DE SAÚDE
f
I
I
I
\'
j\
M É OI CO
N9 DE MÉDICOS
HOSPITALAR
@
Cill OBSTETRÍCIA E GINECOLOGIA POSTO DE PUERICULTURA
_\60 • SUB-POSTO DE SAÚDE
- L E P RA
50 o 50
L___L___l___J
100km
- 30
238
Segue-se a localidade de Vila Rondônia, que possui quatorze mé-
dicos, dos quais sete são de clínica geral, três cirurgiões, três gine-
cologistas-obstetras e um traumatologista-ortopédico. Vila Rondônia
tem dois hospitais, com o total de 90 leitos.
Abaixo de Rondônia situa-se Vilhena com oito médicos, sendo qua-
tro de clínica geral, dois cirurgiões, um ginecologista-obstetra e um
pediatra. Vilhena dispõe de dois hospitais, com 61 leitos, um mantido
pela Fundação de Serviços de Saúde Pública - FSESP -, com 50 leitos
e que foi até recentemente especializado em Tisiologia. Vilhena possui
ainda um posto de saúde.
Em posição inferior e mais ou menos equivalente estão as loca-
lidades de Cacoal, do núcleo colonial de Ouro Preto e de Humaitá, cujo
número de médicos varia entre cinco e dois e o de leitos hospitalares
de 90 a 30. Nas duas primeiras, situadas no eixo da BR-364 entre
Pimenta Bueno e Ariquemes, próximas a Vila Rondônia, as unidades
hospitalares foram implantadas a partir de 1973 e são particulares,
para fins lucrativos. Cacoal embora possua somente 30 leitos, conta
com maior número de médicos, cinco ao total, dos quais quatro são de
clínica geral e um cirurgião. Ouro Preto tem 90 leitos e dois médicos,
sendo estes clínicos gerais. Humaitá dispõe de dois médicos de clínica
geral, um hospital estadual com 53 leitos e seis berços. Conta ainda
com um posto de saúde.
As outras localidades não possuem hospital nem mesmo posto de
saúde: são servidas apenas por sub-postos localizados ao longo dos eixos
de circulação rodoviária e fluvial, predominando os do Madeira, entre
Porto Velho e Humaitá.
Quanto à área de atendimento médico-hospitalar, apenas Porto
Velho, Guajará-Mirim e Vila Rondônia a têm mais ou menos definida.
A de Porto Velho abrange toda a região, recobrindo a dos outros dois
centros. Para as especializações médicas não existentes nesta cidade,
os doentes procuram, na maioria das vezes, a cidade de Manaus. A
área de influência de Porto Velho segue a de Guajará-Mirim, que recebe
doentes de Guayaramerín, das colônias de rata e de Sidney Girão, das
localidades de Abunã e Fortaleza do Abunã. Para o sul, estende-se em
direção ao Mamoré-Guaporé, atendendo à população aí residente, abran-
gendo inclusive as vilas de Príncipe da Beira, Pedras Negras e os povoa-
dos de Costa Marques, Rolim de Moura e Cabixi. Quanto a Vila Ron-
dônia, a área de atendimento se espraia ao longo da BR-364, entre
Ariquemes e Vilhena. Vila Rondônia recebe doentes de Nova Vida, Ouro
Preto, Presidente Médici, Cacoal, Pimenta Bueno e Vilhena.
Os centros de Ouro Preto, Cacoal e Vilhena têm área de atendi-
mento limitada à população rural residente nas respectivas proximi-
dades.
16. 6 - SERVIÇOS DE ENSINO
239
fluxo migratório, refletiram-se na rede escolar. Assim, das 351 escolas
que declararam o ano de instalação, 84,6% (297) são posteriores a 1968
e 15,3 % (54) são anteriores. Até 1975 não havia sido implantada a
reforma do ensino, mantendo-se o sistema educacional antigo, dividido
em ensino primário ou elementar e ensino secundário ou ginasial, este
constando dos 1.0 e 2.o ciclos. Não existiam estabelecimentos de ensino
superior, a não ser um Campus Avançado da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, localizado na cidade de Porto Velho, que oferecia
curso intensivo de licenciatura, ministrado no período de férias escolares
e destinado à formação de professores do curso secundário.
Na rede escolar do ensino primário nota-se a importância das es-
colas disseminadas nas áreas rurais, concentrando 10.819 alunos e cons-
tando, na maioria das vezes, de uma sala de aula e de um professor,
este quase sempre com curso de primeiro grau incompleto (mapa 31).
Geralmente, tais escolas se destinam mais à alfabetização, e o ensino
limita-se às três primeiras séries, pois raramente são encontradas es-
colas com quatro anos de curso. Em 1975 o número das mesmas era
de 345, das quais 322 (93,3 %) eram mantidas pelo Governo Federal;
13 (3,7 %) pelo Governo do Estado do Amazonas (município de Humaitá)
e 10 (2,9 %) pelos governos municipais. Das 345 escolas, 24 (7 %) esta-
vam fechadas por falta de professores. A maioria dessas escolas é re-
cente e resulta principalmente da política do Governo Federal de re-
duzir o número de analfabetos e proporcionar garantias de escolaridade
primária para os filhos dos imigrantes.
Comparando-se a expansão das escolas verifica-se que, a partir de
1968, o número delas sofreu aumento sensível, que se intensificou na
década de 1970, atingindo o auge em 1975. Das escolas que declararam
a data de instalação, e que somam 291, somente 34 (11,7 %) foram
instaladas até 1967; entre 1968 e 1972 criaram-se 71 (24,4 %), e a partir
de 1973, 186 (63 ,9 %). Entre estas últimas só no ano de 1975 entraram
em funcionamento 115 (39,5 %), das quais 100 (34,3%) foram implan-
tadas no distrito de Rondônia. De modo geral, o número de escolas ru-
rais varia segundo o montante da população rural predominando nos
distritos em que há projetos de colonização do INCRA e nas proximi-
dades da capital do Território.
O distrito de Rondônia, com 175 escolas, o que corresponde a 50,7 %
do total delas, é o que possui maior número. Destas, 148 foram instala-
das entre 1973-1975. O número de alunos em 1975 era de 5. 825, equi-
valente a 53,8 % de discentes. A participação da população rural entre
os alunos é superior a um quinto, correspondendo a 22,1 %. Entre as
unidades escolares e o contingente de alunos devem ser notados os nú-
meros relativos aos projetos de colonização. O INCRA mantém, na área
rural, cerca de 78 escolas, freqüentadas por 2. 354 alunos. O número de
professores para cada grupo de 35 alunos é de 1,2, ligeiramente superior
ao mínimo necessário ao aproveitamento dos alunos, que no ensino
primário é, em geral, considerado como 1. Nas outras 97 escolas, que con-
centram 3. 471 alunos, o número de professores para 35 estudantes é
mais baixo, sendo inferior a 1 (0,9).
Abaixo do distrito de Rondônia situa-se o de Porto Velho, cuja
área rural se beneficiou da proximidade da Capital. Aí existiam, em
1975, 75 escolas e 2. 093 alunos, correspondendo, respectivamente, a
21,7 % e .19,3 % dos totais globais dessas escolas. A participação da
população rural entre os estudantes é bem menor, equivalendo a 10,7 %.
O número de professores para 35 alunos é de 1,1; inferior, como já foi
visto, ao das escolas mantidas pelo INCRA.
Segue-se o número de escolas e de alunos da área rural do distrito
de Guajará-Mirim, com 50 e 1. 370, respectivamente, que correspondem
240
~---------------- --------------------,
... -
RONDONIA E REGIOES VIZINHAS
,
ENSINO PRIMARIO RURAL
1975
NÚMERO ~ALUNOS
NÚMERO~ ESCOLAS
---- + 75
____ 17 a 25
90 a 130
2000 a 5000
Mais de 5000 ESCALA L 5 .000 .000
MAPA 31
aos percentuais de 14,5 e 12,7 dos totais. A participação da população
rural entre os alunos é bem inferior à de Rondônia e se aproxima da
de Porto Velho, com 10,6 %. Embora nessa área rural haja o projeto de
colonização Sidney Girão, o número de escolas mantidas pelo INCRA
é apenas de cinco e o de alunos 117. Tal fato decorre, possivelmente,
de não ser esse distrito área de maior atração para imigrantes.
O número de escolas rurais situadas nos outros distritos é bem
inferior, somam 45 (13,0 %), assim distribuídas: 16 em Calama, 14 em
Humaitá, oito em Príncipe da Beira, três em Pedras Negras, duas em Ja-
ciparaná e duas em Abunã. O número total de alunos eleva-se a 1. 531
(14,1 %). Geralmente, o número de alunos dessas escolas oscila entre
93 e 193, excetuando-se contudo os distritos de Humaitá e Calama, com
506 cada um.
Os centros urbanos dispõem de escolas primárias, que comumente
ministram todo o curso primário. Alguns possuem estabelecimentos
de ensino secundário, apesar das dificuldades para se conseguir pro-
fessores realmente capacitados, pois geralmente estes possuem formação
até o 2.0 grau, mas dificilmente são encontrados professores com o 3.0
grau completo (mapa 32) .
O centro mais bem equipado é a cidade de Porto Velho, com 28
escolas primárias, das quais 16 são mantidas pelo Governo Federal, três
pelo Governo do Território e nove particulares. O número de alunos é de
1O. 487; o de professores 282, não chegando a 1 (O ,9) professor para
35 alunos. Porto Velho possui onze unidades escolares que ministram
o curso secundário, sendo sete do Governo Federal, uma do Governo
do Território e três particulares, que concentram ao todo 6. 253 estu-
dantes. Destes, 79,0 % (4.943) pertencem ao 1. 0 ciclo e 29,9% (1.310)
ao segundo. Observa-se, pois, um estrangulamento no prosseguimento
dos estudos, do 1.0 para o 2. 0 ciclo. Neste já se nota a preocupação
com o ensino profissionalizante; existem cursos de técnico de admi-
nistração, normal e comercial, cujas percentagens sobre o total do 2.o
ciclo são, respectivamente, de 37,7 (494), 21,9 (287) e 21,4 (281) alunos.
A rede escolar, tanto do ensino primário como do ginasial vem-se ex-
pandindo, acompanhando as transformações que ocorrem na região.
Assim, entre os 20 estabelecimentos de ensino primário que declararam
o ano de instalação, doze são anteriores a 1968 e oito posteriores, sendo
sete relativos ao período 1973-1975. Entre os que ministram o curso
secundário, dos dez que prestaram declaração, cinco são posteriores
a 1968.
Em segundo lugar situa-se a cidade de Guajará-Mirim, pelo fato de
nela existirem três unidades de ensino secundário, com o total de 1 . 983
· alunos, sendo apenas uma posterior a 1968. Trata-se de cidade em que
o ensino secundário já foi instalado há mais de três décadas. O 2.o ci-
clo em Guajará-Mirim é profissionalizante; consta do curso de técnico
em contabilidade e curso normal, com, respectivamente, 213 e 82 alunos.
Quanto às escolas primárias, em 1975 Guajará-Mirim possuía dez uni-
dades, das quais seis do Governo Federal, uma do Governo do Território
e três particulares, com o total de 2. 425 alunos e 79 professores. A re-
lação professor/ aluno é de 1,1/ 35.
Segue-se o núcleo urbano de Vila Rondônia, onde o ensino, tanto
primário como secundário, vem-se desenvolvendo rapidamente, a partir
da implantação da rodovia e dos projetos de colonização do INCRA,
apresentando um dinamismo que, leva a crer, breve ultrapassará a ci-
dade de Guajará-Mirim. Das quatorze escolas primárias existentes em
1975, nove declararam a data de instalação, todas são posteriores a
1967, sendo quatr o de 1975. O número de alunos é de 4.240; o de pro-
fessores 145, e a relação professor para 35 alunos é igual a 1,0. Vila
242
RONDÔNIA E REGIÕES VIZINHAS
SERVIÇOS EDUCACIONAIS
NÚMERO DE ALUNOS
- Menosde300
c:::J 300 o 1 000
~ 1000 o 2000
~ 2000 o 4000
c::::::J 4000 c 10000
~ Mo i1 de 10000
NÚMERO DE ES COLAS
En•in o Méd i o
En1 i no Primário
.:. _ moitdelO
3 o 10
-- o,,.
--
2
r:::::::J 1°C!CLO
C=::J 2°CICLO
'
50 50 100km
'----'----'---'
FOflte : Servi~o de Estottnica do Educaçao e Cultura - MEC
MAPA 32
\
244
Capítulo 17 - CONSIDERAÇõES FINAIS E CONCLUSõES
ORLANDO VALVERDE
245
4.a - A extração da cassiterita está trazendo riqueza efetiva para
o Território, ou equivale simplesmente a um saque, deixando apenas
terras reviradas e crateras quando as jazidas estiverem esgotadas?
5.a - O Território Federal de Rondônia tem atualmente condições
econômicas, sociais e políticas para se elevar a Estado da Federação,
em breve prazo, conforme projeta o governo?
As pesquisas de campo e de gabinete, realizadas pela equipe con-
junta, IBGE/ INCRA responsável pelo presente relatório, permitem agora
dar respostas fundamentadas a essas questões. Tais respostas, acompa-
nhadas de considerações finais, estão distribuídas nos três títulos sub-
seqüentes, os quais constituem nossas conclusões sobre a matéria, num
plano científico, desapaixonado.
246
brotam e crescem rapidamente na BR-364 e seus ramais; o otimismo e
a ânsia de prosperar dominam os povoadores.
Premido pela demanda incrementada de terras, o setor jurídico do
INCRA foi compelido, pela primeira vez no âmbito federal, a aplicar e
desenvolver amplamente, na prática, princípios de direito agrário.
Não será isso um êxito fugaz, que cessará logo que os solos se
exaurirem, como no vale do Madeira-Mamoré? ·
247
área mínima de que deve dispor um colono, a fim de manter a si
e sua família, num padrão de vida decente, baseado exclusivamente
em atividades agropecuárias, auxiliado normalmente pela mão-de-obra
familiar. O valor do minimale Ackernahrung depende, basicamente, da
fertilidade do solo, do sistema agrícola empregado pelo colono e, no
caso de lavouras comerciais, do preço alcançado pela sua produção no
mercado.
Ora, no Núcleo Colonial de lata, o maior das velhas colônias, essa
avaliação é simples. Os colonos são de origem nordestina; sua alimen-
tação depende sobretudo da farinha de mandioca. Esta constitui, junto
com o arroz, seus produtos comerciais, por excelência; mas os preços
de venda da farinha e do arroz são baixos. Assim, cada colono precisaria
cultivar, no mínimo, 7 hectares de roça por ano, para obter uma renda
apenas aceitável. ·
Praticando a rotação de terras se o agricultor quiser deixar o solo
em cultivo descansar um ano, tem que dispor de outra área igual para
plantar, enquanto a primeira fica em pousio; se quiser fazer o solo
repousar dois anos precisa ter o dobro dessa área, além daquela que
ora ocupa. Desse modo, sendo :
S = superfície do minimale Ackernahrung;
a = área em cultivo/ ano;
n = número indispensável de anos em capoeira,
o valor do minimale Ackernahrung será expresso pela fórmula:
S =a X n +a.
Em suma, o lote que recebeu cada colono em lata foi, pelo menos,
quatro vezes e meia inferior ao que deveria ter ganho. ~
A situação difere muito em Outro Preto e nos projetos similares.
Dos 100 hectares recebidos, o parceleiro se compromete . a deixar ' 50
em reserva de mata. De acordo com as informações colhidas em entre~
vista, em Ouro Preto, cada família precisa manter em cultivo 5 hectares,
em média. Nessas condições, nos 50 ha ctisponíveis para lavoura, o
colono pode praticar uma rotação de terras com um ciclo de nove anos
(valor de n) . Isso não parece pouco. Ademais, cacau, café e banana são
produtos bem mais valorizados que farinha e arroz. ,
Respondida positivamente a 1.a questão, a 2.a fica ipso facto pre-
judicada.
Não se justifica, nem do ponto de vista ético, e muito menos do
ponto de vista econômico e social, que trabalhadores brasileiros sejam
proibidos de se deslocar livremente no território nacional, em busca
248
de melhores horizontes de trabalho. Tanto mais que eles estão valori-
zando e incorporando, ao nosso espaço econômico, novas e preciosas
regiões.
Se o INCRA não dispõe de meios de promover adequadamente o
assentamento dos povoadores que afluem em massa para Rondônia,
a crítica não deve ser feita aos migrantes, que se instalam ilegalmente
nas vizinhanças, à espera de uma oportunidade; mas, antes, ao próprio
Governo Federal, que não equipa suficientemente aquele órgão, para
que atenda satisfatoriamente às suas finalidades. Todos sairiam lucran-
do com isso.
Pessoas que desconhecem objetivamente os problemas da coloniza-
ção pelo INCRA têm manifestado, ante o noticiário sensacionalista di-
vulgado pela imprensa, temores a respeito das alterações ecológicas
que poderão sobrevir, em decorrência da colonização que se efetua ao
longo da estrada.
Na faixa ocupada pelo PIC-Ouro Preto, o mais antigo dos projetos
implantados pelo INCRA, situado entre Vila Rondônia e Jaru, o assen-
tamento de parceleiros progrediu não apenas ao longo da BR-364 e de
caminhos transversais, mas igualmente às margens de estradas para-
lelas à citada rodovia. Porém, mesmo ao redor de Vila Rondônia, a
devastação não tomou proporções alarmantes. O motivo é simples: não
dispondo de capitais elevados, os parceleiros derrubaram a mata uti-
lizando simplesmente foices e machados, trabalhando individualmente
ou em pequenos grupos (homens jovens da família, vizinhos em muti-
rão, um ou outro lenhador contratado). Não dispunham de tratores
pesados; não possuíam arados de aço, capazes de fazer sulcos profun-
dos; não empregavam desfolhantes, borrifados de avião. Suas ferramen-
tas, seus insumos, suas técnicas tradicionais não lhes permitem deixar
amplas áreas de solo desnudo, alterar severamente os perfis de solo,
nem dar-se ao luxo de devastar mais do que o estritamente necessário
para a instalação das lavouras e das benfeitorias. Ademais, não sendo
a floresta inflamável, os incêndios não se propagam além dos limites
dos lotes; dispensam aceiros e se restringem a chamuscar algumas ár-
vores, à beira dos roçados. As técnicas rotineiras, tão criticadas, foram
afinal um benefício, com o qual não contaram os tão louvados projetos
agropecuários.
Eis as razões porque, nem nos mosaicos de radar, nem nas obser-
vações em sobrevôo ou no solo, podem-se observar sinais apreciáveis
de erosão acelerada.
Dá-se, em Geografia, a denominação de habitat ao padrão de dis-
tribuição das casas 81 . Divide-se liminarmente em habitat urbano e ru-
ral. Conforme o grau de aproximação das casas, este último se subdivide
em três tipos: concentrado, nucleado e disperso. Cada um desses tipos
se individualiza, por sua vez, segundo a forma: linear, redondo, oval,
em xadrez etc., adotando os autores, em certos casos, nomenclaturas
regionais.
Vários fatores podem influir para que o povoamento de uma região,
seja ele dirigido ou espontâneo, adote determinado padrão de habitat
rural. Alguns desses fatores são de origem natural: relevo, drenagem
superficial ou subterrânea; outros são puramente de caráter social: tra-
dição, relações de trabalho, malha fundiária.
Cada padrão de habitat rural apresenta vantagens e desvantagens;
não existe um padrão perfeito. Assim, numa colonização dirigida, os
249
técnicos do órgão promotor devem aconselhar o padrão de habitat que
melhor se adapte às condições naturais da região, às condições sociais
dos colonos, bem como aos objetivos que o citado órgão tem em mira.
Quando os dirigentes atribuem um valor primordial ao trabalho social
-saúde, educação, doutrinação religiosa ou política -preferem geral-
mente o habitat concentrado. Os membros da família que trabalham no
campo precisam então deslocar-se diariamente (em certos casos se-
manalmente) entre a propriedade rural, onde estão suas lavouras, e a
residência no aglomerado. Esse foi o tipo de habitat adotado, por exem-
plo, no Paraná, pelos colonos holandeses de Carambeí-Castrolândia, no
município de Castro; pelo governo da Alemanha nazista (na década
de 30), na colônia de Terra Nova, no mesmo município; na colônia me-
nonita de Witmarsum, no município de Palmeira; nas de alemães do
Volga, nesse município e nos de Ponta Grossa e Lapa.
No Novo Mundo, onde a colonização obedeceu mais freqüentemente
aos ideais liberais de pequenas propriedades de tipo familiar, indepen-
dentes, o tipo predominante de habitat rural foi o disperso. Nos Estados
Unidos, por exemplo, esse tipo de habitat associado à pequena proprie-
dade, lá chamada de homestead, iniciou-se nos tempos coloniais, na
parte norte da Nova Inglaterra, e espalhou-se pelas planícies centrais.
Uma paisagem geométrica, de retângulos cultivados, de estradas orto-
gonais, ali se perde de vista no horizonte. Uma numerosa sociedade
individualista, de agricultores autônomos, os farmers, se constituiu soli-
damente.
No Brasil, esse tipo de malha fundiária se divulgou apenas no
Planalto Meridional, particularmente no Rio Grande do Sul, sobretudo
com colonos de origem alemã e italiana.
No Território de Rondônia seguiu-se o mesmo princípio, baseado no
módulo fundiário de 100 hectares. O lote-padrão mede normalmente
400 metros de frente por 2. 500 metros de fundo. Dizem os colonos que
seu terreno "mede duzentas braças por mil" 82 .
Analisando-se as plantas dos PICs e PADs, observa-se que a malha
fundiária obedece, em regra, a duas orientações: uma, com as parcelas
ortogonais à estrada principal, como prevalece em Ouro Preto; outra,
orientada exclusivamente segundo os pontos cardiais (pelo N magné-
tico, por certo), conforme se observa no PIC Paulo de Assis Ribeiro
(mapa 16, pág. 155).
O primeiro modelo segue o padrão fundiário que os alemães deno-
minam Hufe, organizado quando a Ordem dos Cavaleiros Teutônicos
colonizou com germânicos, na Idade Média, as planícies da Europa Cen-
tral, em terras por ela conquistadas aos eslavos. O segundo modelo se
assemelha mais ao padrão já referido do vale do Mississipi, por eles
designado homestead.
Tanto o primeiro como o segundo modelo de malha fundiária aten-
dem a certos objetivos momentâneos, em Rondônia. Satisfazem aos co-
lonos, que ansiosamente aguardavam entrar na posse de suas parcelas,
para começarem desde logo a trabalhar na terra; e aos técnicos de campo
do INCRA, sempre premidos, de um lado, pelos camponeses para que .
entreguem os lotes medidos e demarcados, de outro, pelos administra-
dores, que desejam mostrar os resultados de seus serviços e, ao mesmo
tempo, evitar problemas de inquietude social. Os padrões geométricos
rígidos dos modelos mencionados simplificam o trabalho dos topógrafos,
que em poucas visadas fazem a locação de grande número de lotes, pos-
sibilitando a colocação imediata dos piquetes.
82 A braça portuguesa equivale a 2,20 metros.
250
Esses tipos de rede fundiária geram, em regra, um habitat linear
disperso, que dificulta, mais tarde, o funcionamento dos serviços mé-
dicos e educacionais. Outros inconvenientes, não menos graves e de
caráter permanente, transparecem porém nos mapas, fotografias aéreas
(quando as há) e imagens de sensores remotos.
A malha fundiária, que funcionaria bem numa região plana (como
a do Middle West norte-americano), revela completo descaso pela topo-
grafia acidentada de algumas partes. Encostas íngremes perturbam ou
mesmo interceptam a circulação e a utilização do solo, dentro de várias
parcelas. Muitas destas têm dificuldades de acesso à estrada e à água
embora geralmente prevaleça uma rica rede fasciculada de drenagem
superficial, na faixa servida pela BR-364.
Esses tipos simples de parcelamento da terra induzem a certas
atitudes individualistas, que no futuro redundarão em prejuízo coletivo.
Assim, por exemplo, conquanto sejam os colonos obrigados por lei a
deixàr metade de suas terras em reserva florestal, nada os obriga a
deixá-las formando áreas contíguas. É claro que a tendência geral é a
de ir derrubando a parte da frente do lote e deixar os 50 % de mata
no fundo. As vezes, porém, uma elevação se interpõe, e o colono pode
optar por devastá-la - quando não deveria -, deixando terras planas,
agricultáveis, sob ~flQresta.
É curioso que um estudo aprofundado da colonização no Rio Grande
do Sul revelaria) J.ui o mesmo erro foi cometido e depois retificado. Nas
velhas colôniaf itálianas do planalto, a nordeste - Caxias do Sul,
Antônio Prado~.. ..véranópolis - o padrão ortogonal N-S e E-W foi obe-
decido rigorosamente, com sérios inconvenientes junto aos profundos
vales encaixados. Já nas colônias mais novas do oeste, como a de ale-
mães, de Santa Rosa, e a mista de Ijuí, as estradas foram traçadas
sobre os interflúvios achatados, enquanto os lotes em Hufen descem até
a beira do rio. Se a colonização do INCRA na Rondônia se tivesse pro-
cessado em moldes menos apressados e imediatistas, por certo não repe-
tiria os erros já de há muito superados no Rio Grande do Sul.
Pretendendo aparentemente evitar os mesmos inconvenientes e pla-
nejar com maior cuidado a ocupação de novas áreas, o INCRA enco-
mendou à firma SENSORA o levantamento dos recursos naturais de
um trecho da BR-421, de Ariquemes a Guajará-Mirim, e um antepro-
jeto de colonização para a mesma área 83 , que tem 155. 000 hectares de
superfície.
No relatório da citada empresa, o habitat linear disperso, predo-
minante no trecho próximo a Ariquemes, já invadido por posseiros, deve
ser substituído, na faixa estudada, por um proposto habitat rural nu-
cleado, formando aglomerados de forma octogonal. Cada núcleo desses
conta com oito lotes, ou pouco menos, nos casos em que a topografia não
permite o fechamento completo do polígono. Os lotes têm forma trian-
gular, medindo 50 a 60 hectares, totalmente situados em terras agri-
cultáveis planas.
O restante das terras, fora dos núcleos e das estradas, deve ser
deixado em reservas florestais coletivas, revestindo os morros e as terras
planas excedentes (mapa 33). Essas matas defenderiam os solos contra
a erosão e protegeriam as nascentes, a flora e a fauna silvestres. Tais
reservas cobririam cerca de 50 % da área total estudada; seriam cuida-
das pelos habitantes das comunidades vizinhas, o que corresponderia,
em última análise, a uma obediência ao módulo de 100 hectares, pre-
conizado para a Amazônia.
· sa SENSORA - Sensoriamento e Interpretação de Recursos Naturais Ltda.
Levantamento de recursos .naturais e diretrizes para colonização de parte do
Polígono de Ariquemes, Rondônia. Rio de Janeiro, 1977, 2 v. (multilit).
251
IO"OO's 63°15'w IO"'o'S
(REPRODUÇÃO DE UM TRECHO)
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LEGENDA
DETALHE DE NÚCLEO COMPLETO
LIMITE DA AREA OBJETO
RODOVIAS PRINCIPAIS
RODOVIAS VICINAIS
RIOS
IO"Is' s IO"Is' S
CENTRO COMUNITÁRIO
63"15'W
Os núcleos ficariam interligados por caminhos vicinais, desenvolvi-
dos inteiramente sobre terrenos planos ou suavemente ondulados, con-
duzindo todos à BR-421. Desse modo, o número de pontes, pontilhões e
cortes ficaria sensivelmente reduzido, diminuindo os custos da implan-
tação do projeto.
Ao longo da rodovia principal, postos de gasolina e paradas de ôni-
bus proporcionariam uma infra-estrutura de apoio ; entretanto, a mais
importante seria fornecida por pequenos centros de prestação de servi-
ços, localizados a distâncias razoáveis dos aglomerados rurais, onde se-
riam encontrados: escola, ambulatório, armazém ou venda, comércio
de leite e carne, entreposto de cooperativa, áreas de lazer etc.
Todos os lotes disporiam de recursos de água, dentro dos seus li-
mites ou muito perto deles. Situadas embora dentro das respectivas
parcelas, as casas, erguidas junto ao vértice do triângulo, constituiriam
as bases materiais da pequena comunidade. Pelas relações de vizinhança
emergiriam os líderes rurais, elementos indispensáveis ao trabalho
social.
Os dados numéricos, obtidos do plano proposto no mencionado rela-
tório, assim podem ser resumidos:
Número de lotes projetados . . ... . .. . . 1.117
Area total dos lotes . . . . . . . . . . . . . . . . 60.200 ha
Extensão total dos caminhos vicinais . . 358 km
Area total dos núcleos ......... .. .. . 437 ha
Area comum .... .. ...... ... .. . . ... . . 5,9ha
Area média do lote (efetivamente . .. .
ocupada) . . .......... . . . . .. .. . . 53,9 ha
O padrão nucleado de habitat rural representa uma fórmula de
compromisso entre os padrões concentrado e disperso. Sem contar com
as vantagens daquele, no plano da organização de comunidade, não
impõe, por outro lado, os seus defeitos; sobretudo os deslocamentos
diários entre o campo e a casa. Em contrapartida, quebra o isolamento
das famílias camponesas, inconveniente supremo do habitat disperso.
O estudo da SENSORA envolveu a maior parte da faixa servida
pela BR-421. Estendendo os mesmos princípios à faixa inteira, assim
avaliaram os técnicos do INCRA os resultados comparativos entre os
padrões de malha fundiária nucleada e em xadrez (como no PAD-Bu-
rareiro), na BR-421:
252
plia em cerca de 10 % a área de reserva florestal (protegendo as ele-
vações), ao mesmo tempo que reduz a 2/ 3 a extensão dos caminhos
~icinais projetados e a apenas 44 % o número de obras de arte.
253
maior valor são ainda, em primeiro lugar, a cassiterita; em segundo,
a madeira.
A economia rondoniense perdura, por conseguinte, essencialmente
extrativista, se bem que os produtos básicos tenham mudado, e a par-
ticipação da agricultura seja agora muito maior. A mineração da cas-
siterita melhorou bastante, do ponto de vista econômico e social, pas-
sando do garimpo para a lavra mecanizada; tornou-se mais rendosa,
ao mesmo tempo que elevou os níveis salariais dos trabalhadores, deu-
lhes mais assistência social, livrou-os da escravidão econômica.
A atividade madeireira permanece desvinculada da silvicultura. Li-
mita-se a ·cortar um número muito restrito de espécies nobres e efetua
apenas um beneficiamento primário. · A madeira é exportada em pran-
chões e as serrarias são poucas e modestas, gerando excassos empregos.
Os núcleos de população correspondem a centros comerciais e de
prestação de serviços; são quase totalmente desprovidos de indústrias
significativas.
Não há por isso, acumulação importante de capitais em Rondônia;
falta-lhe a industrialização. Por quê?
17.3 .1 - O Problema Energético
O gargalo se encontra na falta de energia. Toda ela é, até hoje,
de origem termoelétrica. No entanto, as condições naturais são ali ex-
tremamente favoráveis: clima úmido, rios caudalosos e razoavelmente
encaixados, bons desníveis, embasamento de rochas cristalinas muito
resistentes.
A situação de Rondônia, no setor da energia, é similar à da Ama-
zônia inteira: nos dias atuais baseia-se apenas na energia térmica,
gerada pela lenha ou por motores a gasolina ou a óleo. Entretanto, todo
o potencial dos volumosos rios que descem das vertentes do Planalto
Brasileiro e Guiana, jaz quase inaproveitado.
Preocupado com o problema, o Governo Federal criou, dentro da
ELETROBRAS, o Comitê Coordenador dos Estudos Energéticos da Ama-
zônia (ENERAM), pelo Decreto n. 0 63.952, de 31-12-1968. Esse órgão
empreitou, a diversas empresas técnicas, pesquisas sobre o potencial
hidráulico de vários rios e a viabilidade econômica do seu aproveita-
mento. O estudo dos rios de Rondônia foi entregue à firma SONDO-
TÉCNICA, que concentrou suas pesquisas na cachoeira do Samuel, no
rio Jamari, bem como nas cachoeiras de Santo Antônio, Teotônio e
Jirau, no rio Madeira 84 •
O referido estudo, após reunir informações sobre as condições na-
turais da região, elaborou uma projeção qüinqüenal da demanda de
energia dos principais centros, de 1970 até 1985, que assim foi apre-
sentada:
Cidades 1970 1975 1980 1985
PORTO VELHO :
Demanda (~W) 2 168 4 880 9 740 20 140
Crescimento (% a.a.) 17,6 14.8 15.7
GUAJARA-MIRIM :
Demanda (KW) 1 130 2 015 3 600 6 175
Crescimento (% a.a.) 12,3 12,3 11,4
254
Esses dados revelam, desde logo, uma falha, visto que em 1971,
quando foi publicado o relatório, não eram conhecidos ainda os resul-
tados do censo demográfico de 1970, que surpreendentemente revelaram
ter Vila Rondônia crescido ma_is em população do que Guajará-Mirim.
É compreensível este fato, pois Rondônia é o centro da principal e
mais dinâmica região agrícola do Território, enquanto a estagnação
do vale do Guaporé-Mamoré, que apenas começa a ser rompida pelo
desenvolvimento do PIC Sidney Girão, reflete-se bem em Guajará-Mirim.
Sem entrar numa análise semelhante à realizada pelos mencio-
nados assessores técnicos, pode-se presumir que a demanda energética
de Vila Rondônia para 1985 deve estar mais ou menos a meio caminho
entre a de Porto Velho e a de Guajará-Mirim, isto é, cerca de 13.100 Kw.
A cachoeira do Samuel, no rio Jamari, está situada a 50 km de
Porto Velho. Sua queda bruta é de 28 metros, entalhada em granito
bastante fraturado, mas pouco intemperizado. A construção de uma
barragem naquele local exigirá, segundo os técnicos, a vedação das
fissuras com cimento e a procura de areia para construção em lugares
próximos. Esses são os problemas mais sérios a resolver.
Em compensação, enquanto estudos anteriores previam o aprovei-
tamento de apenas 20.000 kw, isto mesmo com restrições nas cheias,
as mensurações efetuadas pela SONDOTÉCNICA demonstraram uma
potencialidade de 60.000 kw instalada, que se tornaria competitiva com
o preço da energia termoelétrica desde o momento em que a demanda
de Porto Velho se eleve a 15.000 kw, o que deverá ocorrer em breve.
O rio Madeira foi estudado no trecho cristalino em que é exclusi-
vamente brasileiro, isto é, no segmento entre Porto Velho e Abunã.
Na altura daquela cidade, ele possui imenso caudal, com uma descarga
de 17.000 m 3 /segundo, drenando uma superfície de cerca de
1.000.000 km2 , de terras em sua maioria bolivianas.
O perfil longitudinal do rio, no trecho em causa, se apresenta como
uma curva côncava para baixo - o que denuncia a juventude do seu
ciclo de erosão -, com dois grandes desníveis: um no salto do Jirau
(junto da antiga estação ferroviária de igual nome) e outro na cachoeira
do Teotônio (Fig. 57). Três pontos foram estudados neste percurso, para
fins de aproveitamento da energia: Jirau, Teotônio e a cachoeira de
Santo Antônio.
Esta última está situada a somente 8 km para montante de Porto
Velho e apresenta um desnível de 24 metros de queda bruta, esculpida
em granito, com vertentes que se elevam até 20 metros. Construindo-se
aí comportas de 18 metros de altura, com comprimento útil da crista
igual a 400 metros, obter-se-ão 600. 000 kw de energia contínua.
No salto do Jirau, construídas comportas de idênticas dimensões,
poderão ser gerados 500.000 kw e energia contínua. A queda bruta
nesse ponto é de 21 metros. A corrente poderá ser também facilmente
conduzida a Porto Velho, que se situa a 126 km de distância.
O sistema Santo Antônio-Jirau poderá produzir, quando integral-
mente aproveitado, mais de 2. 000 megawatts de energia, ultrapassando
bastante as necessidades regionais, num futuro a médio prazo.
Para o aproveitamento completo do potencial energético do trecho
brasileiro do Madeira, os autores propõem duas soluções, cuja opção
dependerá de análises futuras, mais aprofundadas. A primeira será como
· enunciado acima, com duas barragens, sendo uma em Santo Antônio,
vedando os 24 metros, e outra em Jirau, aproveitando a queda de 21
metros. A segunda hipótese prevê uma só barragem em Santo Antônio,
elevando o nível d'água de 45 metros; mas, neste caso, a represa inun-
daria trecho do leito da antiga ferrovia e da própria estrada de rodagem
255
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de Guajará-Mirim a Porto Velho. Resta saber se a economia feita, cons-
truindo-se uma obra só, compensaria os desvios das estradas e as desa-
propriações.
De qualquer modo, nenhuma das soluções propostas pela SONDO-
TÉCNICA inundaria terras bolivianas, isto é, a montante da foz do
Abunã.
No momento, entretanto, a construção de tal sistema energético iso-
lado estaria superdimensionado, mesmo prevendo-se a atração exercida
sobre as indústrias para suas vizinhanças, em vista da disponibilidade
de energia abundante e barata.
Tendo em mira uma solução mais imediatista, a fim de atender
ao mercado de consumo de Porto Velho, o citado relatório sugere o
aproveitamento parcial da cachoeira do Teotônio, localizada a uns 20 km
em linha reta, águas acima de Porto Velho. Essa cascata tem uma
queda nominal de 5,8 metros, que pode atingir à altura máxima de 11
metros, no auge da vazante. A energia potencial ali disponível seria
de 700. 000 kw.
A produção de energia por Teotônio se tornaria competitiva com
a energia térmica, quando o consumo de Porto Velho alcançasse cerca
de 6,5 mw, o que já deve ter acontecido.
A solução final oferecida pela SONDOTÉCNICA para o pólo de
desenvolvimento de Porto Velho, a curto e médio prazos, tendo em vista
a economicidade dos investimentos e as perspectivas da demanda de
energia, é a seguinte:
Aproveitamento parcial imediato, por desvio, a fio d'água, da ca-
choeira do Teotônio, gerando cerca de 12. 000 kW firmes. Essa potência
seria complementada por motores termoelétricas, ao mesmo passo que
seria iniciada a construção da barragem do Samuel, no Jamari. Quando
esta entrasse em funcionamento, por volta de 1985, toda a energia de
origem térmica seria suprimida na área.
Mais tarde, quando for instalada a barragem de Santo Antônio, as
despesas com a instalação do desvio de Teotônio já estarão cobertas,
bastando por isso afogá-las na represa.
Para o suprimento energético de Guajará-Mirim propõe-se o estudo
fluviométrico dos rios Pacaás Novos e Ouro Preto, afluentes da margem
direita do Guaporé, que descem das encostas da chapada dos Parecis.
O que o relatório tantas vezes citado não aborda, mas aqui se
sugere, é que para o fornecimento de energia hidroelétrica de Vila
Rondônia seja estudado um trecho encacroeirado do Ji-Paraná a mon-
tante e a jusante daquela cidade.
O mesmo relatório não deveria menosprezar tampouco a recomen-
dação de que, nos estudos finais para construção do sistema hidrelé-
trico do Madeira brasileiro, seja prevista a construção de eclusas, que
permitiriam a utilização de Abunã e Vila Plácido como alternativas
para anteportos de Rio Branco e Guajará-Mirim em lugar de Boca do
Acre e Porto Velho.
Parece claro que o aproveitamento do potencial do Madeira bra-
sileiro só será cogitado quando sua rede de transmissão de energia
puder ser conectada à do restante do Brasil, por intermédio de Tucuruí
(em construção) e outras que venham a ser instaladas nos bravios cursos
do Xingu, Tapajós e tributários. Contudo, quando forem iniciados os
estudos preliminares para o aproveitamento integral da energia hidráu-
lica do Madeira, não deve ser esquecido o trecho limítrofe Brasil-Bolívia,
até Guajará-Mirim. Um sistema completo de barragens e eclusas até
essa altura iria abrir a circulação fluvial, desde Belém, toda a nave-
257
gação do Guaporé até Vila Bela do Mato Grosso, hoje confinada entre
esse porto e o de Guajará-Mirim.
A Bolívia terá· empenho maior em colaborar num projeto desses que
o próprio Paraguai demonstra em Itaipu, pois, além da produção de
energia abunqante e barata, ele significará o acesso do país à navegação
marítima, a partir do rio Beni. As velhas divergências sobre a questão
do Acre ficarão, asim, definitivamente superadas.
A disponibilidade de energia elétrica abundante e barata repercu-
tirá imediatamente no Território, por meio da implantação de indústrias,
tais como: metalurgia do estanho (particularmente em Porto Velho e
Ariquemes), beneficiamento da borracha, da madeira, de cereais (esta
sobretudo em Rondônia e Ouro Preto), talvez, mesmo, de produtos
derivados do cacau. Com isso, novos horizontes de trabalho e novos
padrões econômicos e sociais serão inaugurados.
Se as providências relativas a captação de energia elétrica forem
logo tomadas, 1985 poderá ser o ano que marcará o início de um novo
surto de progresso no Território. Somente então estaria o seu governo
apto a sustentar, através dos impostos coletados, sua própria máquina
político-administrativa.
Qualquer medida tendente a tornar autônomo o Território de Ron-
dônia, isto é, transformá-lo em novo Estado da Federação, antes da-
quela data, será portanto prematura. O exemplo do Acre parece que
não foi, até hoje, devidamente analisado.
Até 1985, porém, haverá tempo suficiente para se preparar a adap-
tação para a fase de autonomia : organizar secretarias, construir pré-
dios, pôr novos serviços administrativos e sociais a funcionar.
Rondônia se revelaria, nestas circunstâncias, uma obra-prima de
sabedoria política do governo brasileiro, evolvendo para Estado, sem
choques nem despesas astronômicas. Seria especialmente um caso único
na Amazônia brasileira: a :primeira unidade político-adm~nistrativ'a
onde predominarão no quadro econômico e social, como no sul do Brasil,
as pequenas e médias propriedadeS rurais.
Uma sociedade moderna e mais dinâmica se estrutura no Território,
à proporção que se acentua a decadência dos velhos latifúndios, apoia-
dos no extrativismo vegetal. Dinâmica não só no sentido espacial; de
conquista de novas terras, antes abandonadas a uma economia natural,
capturadas para a economia mercantil, ligada aos grandes mercados
do Sudeste e do exterior; mas, sobretudo, no sentido vertical, isto é,
escancarada à ascensão social de contingentes apreciáveis das camadas
carentes do povo brasileiro, que efetiva e diretamente trabalham na
terra. Uma sociedade realmente democrática se inaugura na Amazônia
brasileira.
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