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Disciplina de Português – 10º ano

Ficha de Avaliação

Leitura: Compreensão escrita do texto autobiográfico


Funcionamento da Língua: Classes de palavras; Funções sintácticas; Frase simples/ frase complexa
Expressão escrita: Leitura de Imagem ou memória

Nome: ………………………………………………………………………………………………………………………………… N.º ……


Grupo I – Leitura

Leia o texto a seguir transcrito.

1 Já não existe a casa em que nasci, mas esse facto é-me indiferente porque não guardo
qualquer lembrança de ter vivido nela. Também desapareceu num montão de escombros a
outra, aquela que durante dez ou doze anos foi o lar supremo, o mais íntimo e profundo, a
pobríssima morada dos meus avós maternos, Josefa e Jerónimo se chamavam, esse mágico
5 casulo onde sei que se geraram as metamorfoses decisivas da criança e do adolescente. Essa
perda, porém, há muito tempo que deixou de me causar sofrimento porque, pelo poder
reconstrutor da memória, posso levantar em cada instante as suas paredes brancas, plantar a
oliveira que dava sombra à entrada, abrir e fechar o postigo da porta e a cancela do quintal
onde um dia vi uma pequena cobra enroscada, entrar nas pocilgas para ver mamar os
10 bácoros, ir à cozinha e deitar do cântaro para o púcaro de esmalte esborcelado a água que
pela milésima vez me matará a sede daquele Verão. Então digo à minha avó: «Avó, vou dar
por aí uma volta.» Ela diz «Vai, vai», mas não me recomenda que tenha cuidado, nesse
tempo os adultos tinham mais confiança nos pequenos a quem educavam. Meto um bocado
de pão de milho e um punhado de azeitonas e figos secos no alforge, pego num pau para o
15 caso de ter de me defender de um mau encontro canino, e saio para o campo. Não tenho
muito por onde escolher: ou o rio, e a quase inextricável vegetação que lhe cobre e protege
as margens, ou os olivais e os duros restolhos do trigo já ceifado, ou a densa mata de
tramagueiras, faias, freixos e choupos que ladeia o Tejo para jusante, depois do ponto de
confluência com o Almonda, ou, enfim, na direcção do norte, a uns cinco ou seis quilómetros
20 da aldeia, o Paul do Boquilobo, um lago, um pântano, uma alverca que o criador das
paisagens se tinha esquecido de levar para o paraíso. Não havia muito por onde escolher, é
certo, mas, para a criança melancólica, para o adolescente contemplativo e não raro triste,
estas eram as quatro partes em que o universo se dividia, se não foi cada uma delas o
universo inteiro. Podia a aventura demorar horas, mas nunca acabaria antes que o seu
25 propósito tivesse sido alcançado. Atravessar sozinho as ardentes extensões dos olivais, abrir
um árduo caminho por entre os arbustos, os troncos, as silvas, as plantas trepadeiras que
erguiam muralhas quase compactas nas margens dos dois rios, escutar sentado numa
clareira sombria o silêncio da mata somente quebrado pelo pipilar dos pássaros e pelo ranger
das ramagens sob o impulso do vento, deslocar-se por cima do paul, passando de ramo em
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ramo na extensão povoada pelos salgueiros chorões que cresciam dentro de água, não são,
dir-se-á, proezas que justifiquem referência especial numa época como esta nossa, em que,
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aos cinco ou seis anos, qualquer criança do mundo civilizado, mesmo sedentária e indolente,
já viajou a Marte para pulverizar quantos homenzinhos verdes lhe saíram ao caminho, já
dizimou o terrível exército de dragões mecânicos que guardava o ouro de Forte Knox, já fez
35 saltar em pedaços o rei dos tiranossauros, já desceu sem escafandro nem batiscafo às fossas
submarinas mais profundas, já salvou a humanidade do aerólito monstruoso que vinha aí
destruir a Terra. Ao lado de tão superiores façanhas, o rapazinho da Azinhaga só teria para
apresentar a sua ascensão à ponta extrema do freixo de vinte metros, ou então,
modestamente, mas de certeza com maior proveito degustativo, as suas subidas à figueira do
quintal, de manhã cedo, para colher os frutos ainda húmidos da orvalhada nocturna e sorver,
como um pássaro guloso, a gota de mel que surdia do interior deles. Pouca coisa, em
verdade, mas é bem provável que o heróico vencedor do tiranossauro não fosse nem sequer
capaz de apanhar uma lagartixa à mão.
i n J osé Sarama go, As Pe que nas Me móri as

Vocabulário
esborcelado - quebrado
atrabilioso – melancólico, injusto, violento
escafandro - fato impermeável e hermeticamente fechado, provido de ar para respiração e próprio
para ser utilizado pelo mergulhador que tenha de ficar muito tempo debaixo de água
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Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

1. No início do texto o narrador refere um espaço muito significativo e que ficou marcado na
sua memória. Identifique e caracterize esse espaço.

2. O narrador afirma “Essa perda, porém, há muito tempo que deixou de me causar
sofrimento…” (l.l. 5 e 6). Justifique esta afirmação.

3. A voz narrativa refere a importância das fugas para o campo, naquele tempo da infância.
Caracterize o espaço para onde o narrador se evadia.

4. No texto, é explicitada a diferença entre a infância do narrador e a das crianças “do mundo
civilizado”. Clarifique essa diferença.

5. O narrador/personagem, indirectamente, constrói parte do seu retrato enquanto criança ao


longo do texto. Indique dois traços caracterizadores do eu/personagem, fundamentando-se
através de elementos textuais.

6. De entre os diversos textos autobiográficos que conhece, como classificaria esta narrativa?
Justifique a sua resposta.

7. Identifique um recurso expressivo presente na frase transcrita, referindo o seu sentido


expressivo.

«Atravessar sozinho as ardentes extensões dos olivais, abrir um árduo caminho por entre os arbustos,
os troncos, as silvas, as plantas trepadeiras que erguiam muralhas quase compactas nas margens dos dois
rios, escutar sentado numa clareira sombria o silêncio da mata somente quebrado pelo pipilar dos pássaros e
pelo ranger das ramagens sob o impulso do vento, deslocar-se por cima do paul…» (linhas 22 a 27)

Grupo II – Funcionamento da Língua

1. Identifique a classe a que pertencem as seguintes palavras:

1.1.nasci (l.1)
1.2. que (l.4)
1.3. que (l. 7)
1.4. inextricável (l. 14)
1.5. exército (l. 30)

2. De entre as afirmações seguintes, escolha, identificando-a através da alínea respectiva, a


hipótese que corresponde à alternativa correcta.

2.1. Na frase “…posso levantar em cada instante as suas paredes brancas, plantar a
oliveira que dava sombra à entrada” (ll. 6 e 7) a expressão destacada é uma oração:
a) subordinada consecutiva.
b) subordinada relativa restritiva.
c) subordinada relativa explicativa.
d) subordinada completiva.

2.2. A frase “Já não existe a casa em que nasci, mas esse facto é-me indiferente...”
(l. 1) é constituída por:

a) Três orações: principal, subordinada causal e coordenada adversativa.


b) Duas orações: principal e coordenada adversativa.
c) Três orações: principal, subordinada relativa explicativa e coordenada adversativa
d) Três orações: principal, subordinada relativa restritiva e coordenada adversativa.

2.3. A frase “Sempre que saía para o campo, o rapazinho sentia-se um


aventureiro” contém uma oração:
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a) subordinada condicional.
b) subordinada temporal.
c) subordinada causal
d) subordinada completiva.

3. Construa três frases complexas utilizando o articulador/conector proposto:

3.1. a conjunção subordinativa completiva que

3.2. o pronome relativo que

3.3. a locução subordinativa temporal logo que

Grupo III - Expressão Escrita (50 pontos)

1. A partir de um dos modelos estudados, elabore um texto escrito, de 150 a 200


palavras, onde desenvolva UM dos temas propostos.
a) Construa uma memória a partir da recordação de um momento que, por alguma razão,
foi significativo para si.
b) A partir do quadro de Monet, construa um texto onde descreva a imagem visualizada.

"Poppies at Argenteuil", Claude Monet 1873, oil on canvas 50 x 65 cm, Musee d Orsay, Paris France
FIM
Bom Trabalho!
Carla Diogo

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