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Universidade do Estado do Rio de Janeiro


Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Departamento de História

Rafael Duarte Pinto de Oliveira Coelho

Alexandre, o Grande: de vingador pan-helênico a sucessor dos


Aquemênidas

Rio de Janeiro
2017
2

Rafael Duarte Pinto de Oliveira Coelho

Alexandre, o Grande: de vingador pan-helênico a sucessor dos Aquemênidas

Monografia apresentada como requisito


parcial para obtenção do título de Bacharel,
na Graduação em História da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Regina Candido.


Coorientador: Prof. Dr. José Roberto de Paiva Gomes.

Rio de Janeiro
2017
3

Agradecimentos

Sou muito grato ao apoio que recebi de minha família, que me motivaram a
seguir meu sonho, e fizeram o possível para que a minha experiência universitária
fosse a melhor possível. Agradeço muito a companhia e o apoio sempre presente de
minha namorada, Priscila, minha Clio e responsável por sempre manter meu ânimo
elevado e inspirado. Ao Bingo também.
Tenho imensa gratidão aos professores que me proporcionaram excelentes
aulas. Principalmente a minha orientadora, Maria Regina, e a todo o pessoal do NEA
que participou de uma parte importante da minha formação.
Por último agradeço a Uerj, uma universidade que apesar de todas as
adversidades, me fez sentir em casa. Dentro dela sempre tive acesso a uma
biblioteca muito interessante e a uma xerox amigável, capitaneada pelo Denilson,
que facilitou bastante a minha vida acadêmica.
4

RESUMO

COELHO, Rafael Duarte Pinto de Oliveira. Alexandre, o Grande: de vingador pan-


helênico a sucessor dos Aquemênidas. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Regina
Candido. 2017. 51 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em História) -
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, 2013.

Alexandre, o Grande, ao promover a conquista dos territórios dominados por


séculos pela realeza palaciana Aquemênida, proporcionou a formação de uma nova
dinâmica no mediterrâneo, que passou a ter a cultura helenística como matriz social,
cultural e política. Será analisado o contexto que levou Alexandre a iniciar sua
campanha militar no oriente, baseada no discurso pan-helênico e na vingança contra
as ofensas históricas provocadas pelos invasores persas. Também será promovido
o debate sobre suas atitudes como novo governante de um vasto território, com foco
na absorção de costumes orientais, no mesmo momento em que também há a
intenção de se inserir valores helênicos para a consolidação de seu domínio. A
formação das monarquias helenísticas após a morte de Alexandre deve ser
entendida como uma consequência direta de suas ações conciliatórias entre o
helênico e o bárbaro, que permitiram a formação de uma nova identidade para
ambos.

Palavras-chave: Período Helenístico. Alexandre, o Grande. Realeza palaciana


Aquemênida. Helenismo. Antiguidade Clássica. Pan-helenismo.
5

ABSTRACT

Alexander the Great, promoted the conquest of territories dominated for


centuries by the Achaemenid, providing the formation of a new dynamics in the
Mediterranean, which came to have the Hellenistic culture as a social, cultural and
political matrix. It will be analyzed the context that led Alexander to begin his military
campaign in the East, based on the Pan-Hellenic discourse and revenge against the
historical offenses provoked by the Persian invaders. It will also be promoted the
debate about his attitudes as new ruler of a vast territory, focusing on the absorption
of oriental customs, at the same time that also intends to insert Hellenic values for
the consolidation of his domain. The formation of the Hellenistic monarchies after the
death of Alexander must be understood as a direct consequence of his conciliatory
actions between the Hellenic and the barbarian, which allowed the formation of a
new identity for both.

Keywords: Hellenistic Period. Alexander, the Great. Achaemenid palacian royalty.


Hellenism. Classic antiquity. Pan-Hellenism.
6

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Mapa dos territórios conquistados por Alexandre.................................8


Figura 2 - Busto de Alexandre, por Lísipo.............................................................12
Figura 3 - Busto de Filipe II da Macedônia............................................................22
Figura 4- Relevo de Alexandre em moeda............................................................31
7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................8
1 PROCESSO DE EXPANSÃO DA CULTURA HELÊNICA..........................11
1.1 A promoção do helenismo....................................................................11
1.2 Novas visões acerca do Helenismo......................................................15
2 O PAN-HELENISMO COMO MOTIVADOR DA CAMPANHA.....................19
2.1 O pan-helenismo e a ameaça persa......................................................19
2.2 A liga de corinto e a guerra de represália..............................................21
2.3 Alexandre visto como libertador............................................................24
2.4 A tomada de Persepólis e a vingança helênica......................................26
2.5 As recompensas da vingança...............................................................30
3 ALEXANDRE E SUA LIDERANÇA POLÍTICA NA ÁSIA............................32
3.1 O amálgama étnico-cultural..................................................................32
3.2 As conexões divinas de Alexandre........................................................35
3.3 A herança da Realeza Aquemênida.......................................................36
3.4 A monarquia helenística inaugurada por Alexandre................................38
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................40
GRADE DE ANALISE DO CONTEUDO......................................................42
REFERENCIAS DOCUMENTAIS E BIBLIOGRAFICAS...............................48
8

Introdução

Analisar o período da realeza palaciana de Alexandre na Ásia, com enfoque


nas relações entre a cultura invasora e a conquistada, possui grande importância
para compreender um dos mais importantes momentos do contato entre o que hoje
conhecemos como o Ocidente e o Oriente, principalmente no imaginário social que
se criou em torno dessa conquista e de sua figura.
É evidente que o conquistador macedônico, Alexandre o Grande, se tornou
uma das figuras mais importantes e simbólicas da antiguidade no imaginário
contemporâneo. Ao ser representado amplamente em diversas mídias, como filmes,
jogos, romances, músicas e inclusive como exemplo a ser seguido na cultura
empresarial1, torna-se clara a influência, admiração e o mistério que a história de
sua conquista ainda suscita nas pessoas.

Figura 1- Mapa dos territórios conquistados por Alexandre.2

1
Ilustrando os exemplos, podemos citar dois filmes de hollywood, Alexander the Great (1956) e
Alexander (2004); dois jogos de computador focados na conquista macedônica: Alexander (2004) e
Total War: Alexander (2006); a música do Iron Maiden, Alexander the Great, lançada em 1986 e o
livro “Alexandre, o Grande. A Arte da Estratégia” de Partha Bose, que teve como intuito formar uma
teoria de planejamento empresarial a partir das estratégias utilizadas na conquista por Alexandre.
2
"Alexander the Great: empire". Map. Encyclopædia Britannica Online. Web. 02 ago. 2017.
<https://www.britannica.com/biography/Alexander-the-Great?oasmId=54536>
9

Alexandre dominou uma quantidade impressionante de territórios e povos,


cujas fronteiras se estendiam desde os Bálcãs até o rio Hindu. Sua conquista
representou para a história mundial algo muito maior do que simplesmente uma
formidável campanha militar, pois estabeleceu uma nova dinâmica nas relações do
mediterrâneo, dando protagonismo a tradição helênica. É através do domínio
macedônio que a cultura helênica, ela própria influenciada por um forte intercâmbio
com culturas vizinhas através dos séculos, se espalha muito além das fronteiras das
antigas e tradicionais polis para a vasta região da Ásia Menor e passa a exercer um
papel hegemônico.
Esse tema se mantém muito atual ao verificarmos a importância não só da
região no contexto global, mas também dessa população “oriental”, hoje marcada
fortemente pela religião islâmica, que migrou durante as últimas décadas para os
países desenvolvidos da Europa, e que ainda mantém esse fluxo, agravado pela
questão da guerra na Síria e dos conflitos recorrentes no entorno do mediterrâneo
árabe. O crescimento da xenofobia nos países europeus, em um contexto de grave
crise do modelo capitalista financeiro e globalizado, adotado mundialmente no final
do século passado, e do medo provocado pelas organizações terroristas, evoca a
grande necessidade de entendermos as relações entre o Ocidente com o que nós,
ocidentais, construímos como o “Oriente”, para compreendermos melhor a
historicidade das complexas relações interculturais, refletir sobre a situação na
atualidade, e percebermos que o outro não é tão distante quanto nós imaginamos.
O trabalho analisará a relação entre os helenos conquistadores e as antigas
aristocracias dos povos que formavam o vasto reino persa dos Aquemênida,
analisando as absorções, fusões e imposições no âmbito cultural no domínio de
Alexandre, o Grande. A metodologia usada neste trabalho se utiliza da vasta
historiografia de especialistas no assunto, constantemente construída através de
várias décadas, além da análise e interpretação das principais documentações que
nos alcançaram até os dias de hoje. Temos duas vertentes nas biografias antigas de
Alexandre, a vulgata, composta por Diodoro, Quinto Cúrcio e Justino, que tende a ter
uma visão mais crítica, e a outra é composta por Arriano e Plutarco, de caráter mais
enaltecedor da figura política de Alexandre.
Com o objetivo de enfatizar os dois momentos da campanha de Alexandre, o
da conquista e o do governo na Ásia, a análise foi dividida em três capítulos. O
10

primeiro apresentará os conceitos que surgem com a penetração da cultura helênica


e os questionamentos a ideia de helenização. O segundo trabalhará o impulso para
a conquista e em seu momento inicial, ou seja, o pan-helenismo e suas
consequências. O terceiro analisará os diálogos de Alexandre com a aristocracia e
estrutura política asiática, e a formação dessa nova monarquia helenística que sua
conquista inaugurou.
11

1 PROCESSO DE EXPANSÃO DA CULTURA HELÊNICA

Ao conquistar territórios dominados pela realeza persa por séculos e


habitados por povos milenares, Alexandre, o Grande, deu início à penetração
maciça da cultura helênica no Oriente Próximo:

O início e o fim dessa luta secular estão prefigurados nos limites e na


estrutura geográfica do mundo antigo. Europa e Ásia se defrontam no mar
Jônio e se misturam nas estepes do Volga. Os dois séculos da luta
encarniçada que os helenos travaram contra os persas – o primeiro grande
conflito entre Oriente e Ocidente que a história nos legou -, Alexandre os
encerrou ao aniquilar o império dos pesas, ao conquistar todo o território
situado entre o deserto africano e a Índia, ao afirmar a supremacia da
civilização grega sobre a cultura declinante dos povos asiáticos. Enfim, ao
gerar o helenismo. Seu nome assinala o fim de uma época e o começo de
uma nova. (DROYSEN, 2010, p. 37)

Esse processo proporcionará as bases do período helenístico, termo cunhado


pelo historiador alemão Johann Droysen no século XIX, que é marcado pela
emergência de uma nova configuração das relações no mundo grego e no
mediterrâneo oriental. Nesse momento se formaram grandes reinos helênicos que
assumiram o protagonismo político da região, antes emanado das polis e dos
Aquemênida, perdurando por séculos até a dominação romana.
Junto a historiografia, o termo “período helenístico”, helenismo, helênico e
helenização detêm especificidades entre si. Podemos definir uma diferença entre o
conceito de helenismo e helenização, sendo o ultimo muito mais ligado a ideia de
um processo de imposição da cultura helênica. O helenismo por outro lado, abrange
melhor a ideia de um processo em que a própria tradição helênica sofre
transformações formando e absorvendo novos costumes, originando uma nova
cultura, embora de matriz helênica. Helênico foi usado pela primeira, que se tem
registro, por Herodoto, em oposição as culturas do oriente (MORRIS, p. 20, 2003).

1.1 A promoção do helenismo

O historiador britânico Arnold Toynbee define o helenismo como a


concretização do objetivo de Alexandre de difundir a cultura helênica nos territórios
conquistados na Ásia, criando polos, defendidos e administrados pelos aristocratas
helenos, em que a civilização grega se espalharia na Ásia (TOYNBEE, 1963, p. 15).
12

Em contra partida a essa visão de uma conquista preocupada principalmente


em helenizar o Oriente, Pierre Levêque, historiador francês, ao analisar a conquista
macedônica, levanta a ideia de um Império Universal. O acadêmico afirma que as
atitudes de Alexandre, ao manter boa parte da estrutura administrativa Aquemênida,
e ao promover o alistamento de soldados e o casamento com populações asiáticas,
entre outros exemplos, geraram uma política de colaboração que “não comunga do
ideal pan-helênico, não quer submeter e humilhar o bárbaro, mas sim fundi-lo com o
Grego num conjunto harmonioso onde cada um terá a sua parte.” (LÉVÊQUE, 1987,
p. 14). Essa visão se afasta de uma versão mais helenocêntrica da conquista e
enfatiza a necessidade de dialogar com a estrutura política já estabelecida como
forma de manutenção do domínio de Alexandre.

Figura 2- Busto de Alexandre, por Lísipo.3

3
PLUTARCO, 2016, p. 18.
13

Porém, Levêque ressalta que mesmo com essa política de cunho conciliatório
entre o grego e o bárbaro, Alexandre ainda é o propagador do helenismo. No
decorrer de suas conquistas, ele funda novas cidades, as Alexandrias, baseadas
nas polis helenas e funcionando, como exposto anteriormente por Toynbee, como
polos de difusão da cultura grega e centro administrativos-militares, e, além disso, o
rei macedônico:

Manda aprender o grego o mais largamente possível a sua volta. Chama


artistas gregos, tais como Lísipo ou Apeles, para celebrar a sua glória.
Institui, com grande prazer, diante dos Bárbaros mostras musicais ou
gímnicas a maneira dos gregos. Não cessa de honrar as divindades gregas.
Mas é suficientemente liberal e generoso para admitir as crenças de cada
um. (LÉVÊQUE, 1987, p. 15)

Apesar de discursos que utilizavam de uma pureza da identidade helênica


para fins políticos, também havia uma outra interpretação sobre o que seria o
bárbaro:

A palavra “bárbaro” tem certamente uma conotação pejorativa, mas o seu


sentido inicial significa simplesmente “aquele que não fala grego e parece
estar balbuciando”. Não se tratava de uma oposição de “raças”. Muitos
gregos escreveram: torna-se grego pela educação, a paidéia, e não pelo
nascimento. A Grécia se fez Grécia. É o que Tucídides explica já no início
da sua obra-prima, História da guerra do Peloponeso. (VIDAL-NAQUET,
2011, p. 37)

Se havia certa discussão sobre poder se tornar ou não helênico, a difusão de


sua cultura poderia funcionar como uma forma de criar coesão no reino de
Alexandre, interessado em manter sua integridade da forma mais equilibrada
possível, pois não seria possível governar permanentemente em estado de guerra.
Essa interpretação também suscita pensarmos até que ponto o macedônio visto
como um bárbaro era um discurso anti-Argéada, pois é inegável a conexão, em
variados graus, desse povo com a cultura helênica.
Depois de conquistado o Egito, Alexandre projetou a construção duma cidade
grega, grande e populosa, dando-lhe seu próprio nome. (PLUTARCO, 2016, p.52).
Apesar, da maior parte dos assentamentos estabelecidos por Alexandre terem um
caráter voltado para guarnições militares ou soldados aposentados, por volta de uma
dúzia delas se desenvolveram no modelo da polis, possuindo um mercado, um
teatro e um ginásio e uma intensa vida cívica. Essas novas cidades estabeleceram
14

uma nova dinâmica na administração, comércio e de segurança em suas regiões,


facilitando a penetração da cultura helênica a partir da força delas.
(WORTHINGTON, 2014, p. 198-199)
Arnaldo Momigliano, historiador italiano, também comenta sobre a
importância da penetração do idioma e dos hábitos gregos no continente asiática,
que permanecerão como uma das características principais dessa civilização
helenística. Ao longo do tempo, através desse contato e da relativa absorção de
características da cultura helênica, os outros povos adotam uma postura bilíngue
que amplia a intercomunicação no âmbito da erudição e na afirmação de suas
próprias histórias e tradições, reduzindo a distância entre esses povos, incluindo os
helênicos (MOMIGLIANO, 1991, p. 13-14). Essa atitude em relação a imposição de
uma língua franca de tamanho alcance é uma novidade que emerge com a
helenização, pois:

O mundo mediterrâneo encontrara uma língua comum e a acompanhou


uma literatura incomparavelmente aberta a toda sorte de problemas,
discussões e emoções. [...] durante o Império persa, o aramaico não atuou
como língua internacional da mesma forma que o grego atuou no período
após Alexandre. O aramaico não penetrou profundamente na Grécia ou na
Itália. (MOMIGLIANO, 1991, p. 15).

É importante analisar a própria bagagem cultural helênica de Alexandre e seu


respeito por sua tradição. O rei era um leitor voraz dos historiadores, poetas e
dramaturgos gregos (GREEN, 2014, p. 47). Tanto que durante sua campanha:

Não lhe sendo fácil, nas províncias da alta Ásia, obter livros, escreveu a
Hárpalus pedindo que lhe enviasse alguns; e Harpalus mandou-lhe as obras
de Filistes, grande números das tragédias de Eurípedes, Sófocles e Ésquilo,
e os ditirambos de Telestes e de Filoxenes. (PLUTARCO, 2016, p. 29).

Em sua juventude, um de seus mentores foi o famoso filósofo Aristóteles, que


presenteou-o com a sua própria cópia pessoal da Ilíada, uma das mais valiosas
posses para Alexandre, a ponto de supostamente a guardar debaixo do travesseiro
quando ia dormir (WORTHINGTON, 2014, p. 186).
Outra demonstração de respeito a cultura helênica foi ter poupado a antiga
casa do poeta lírico Píndaro, quando Alexandre destruiu Tebas após a malfadada
rebelião. Como demonstrado, o rei macedônio valorizava a tradição artística
helênica e promoveu a difusão de:
15

Homero, e os autores atenienses de tragédias do século V, Ésquilo,


Sófocles, e Eurípides. A preferência de Alexandre pelas suas peças
asseguraram a recepção e longevidade delas na parte oriental de seu
império. As cidades que ele fundou do Egito a Índia foram estabelecidas por
razões estratégicas e econômicas, mas eventos culturais gregos ainda eram
parte e uma parcela da vida nelas. Arriano nos conta que ele regularmente
promovia concursos literários e também competições de música e atletismo
(o que incluía combate armado) na Ásia e patrocinava projetos de
construções em estilo grego.. Alexandria no Egito era uma cidade grega em
todas as intenções e propósitos, como também eram — a centenas de
milhas a leste — Ai-Khanoum no Afeganistão, que começou sua existência
como uma guarnição de posto de vigia. Escavações da Helenística Ai-
Khanoum, tem mostrado que ela possuía templos gregos, teatro e até um
Odeon para performances musicais. Quando ela ainda era uma cidade
próspera. (WORTHINGTON, 2014, p. 186)

Em Alexandria, desde o início havia sido separado um local para a ágora e


para santuários sagrados a divindades do panteão helênico, sob a direção de um
arquiteto de Rodes. Os cidadãos de Alexandria eram exclusivamente helênicos, com
os egípcios vivendo em bairros próprios e segregados, pelo menos até a conquista
romana (MOSSE, 2004, p 63). Isso demonstra que havia uma predileção pelo
heleno, e que o caráter de um enclave helênico, configurado nessas Alexandrias,
realmente possuía uma força difusora. Essas novas cidades se tornaram
importantes a ponto de a Alexandria egípcia ter se tornado, no posterior domínio dos
Lágidas4, o centro cultural mais importante do mediterrâneo oriental (MOSSE, 2004,
p 62).
No início da era helenística, houve um processo de urbanização sem
precedentes, causado pelo grande crescimento populacional e pelos amplos
movimentos migratórios. O tráfego marinho e terrestre intensificou pelo aumento do
comércio e as cidades cresceram de forma que a administração cívica ficou ainda
mais complexa (GREEN, 2014, p. 80).

1.2 Novas visões acerca do Helenismo

Lançado os alicerces da discussão sobre o helenismo na historiografia, é


importante pensarmos de forma crítica a historicidade desse conceito. Com base em
uma nova perspectiva em relação as relações entre dominador e dominado, e na
própria construção da cultura como discurso, que tem como expoente o intelectual
4
Dinastia inaugurada pelo general macedônio Ptolomeu, que será o governante do Egito após a
morte de Alexandre.
16

palestino Edward Said, sua obra Orientalismo em 1978, fornece o arcabouço teórico
para:
:
abordagens denominadas de nativistas ou antiimperialistas que seguem os
pressupostos básicos da chamada teoria pós-colonial que apresentam
como objetivo reconstruir os estudos sobre o Império Romano [Nesse
estudo adaptaremos essa abordagem para o período helenístico], sugerindo
que as análises devem ser norteadas por três aspectos interrelacionados:
articulação das histórias ativas dos povos dominados, incluindo sua
capacidade de gerar formas abertas e ocultas de resistência; desconstrução
e definição dos modelos binários pelos quais o Ocidente categorizou os
outros, preocupando-se em afastar-se da dominância do centro na
construção do conhecimento e desenvolvendo o estudo das periferias;
investigação do poder de representação das imagens e das linguagens
coloniais, reconhecida como análise do discurso colonial (MENDES, 2010,
p. 7).

Essa nova perspectiva abre espaço para novas interpretações também no


estudo da antiguidade, e principalmente nos dois modelos de dominação antiga que
o mundo ocidental se identifica, o romano e o helênico, esse último sendo o objeto
dessa investigação.
Relacionando, com o cuidado de evitar anacronismo e um paralelo falho, o
Helenismo com o Imperialismo, os conceitos apresentados na obra Cultura e
Imperialismo de Edward Said, podem ser empregados ao adaptar seu arcabouço
conceitual para a Antiguidade. Um dos conceitos-chave a ser utilizado é o de cultura:

A cultura é uma espécie de teatro em que várias causas políticas e


ideológicas se empenham mutuamente. Longe de ser um plácido reino de
refinamento apolíneo, a cultura pode até ser um campo de batalha onde as
causas se expõem à luz do dia e lutam entre si.” (SAID, 2011, p. 12)

O autor demonstra que no estudo da história e da cultura do imperialismo,


devemos considerar esses elementos como dinâmicos e maleáveis, sendo a cultura
e as práticas imperialistas produtoras de inúmeras relações de poder. Said ressalta
que os contatos culturais são compostos pela coexistência, cooperação e o combate
ao longo das interações socioculturais produzidas entre as sociedades.
Said nos auxilia a construir um estudo sistemático sobre estruturas das quais
os impérios se utilizaram no processo de conquista e preservação do poder nos
territórios conquistados, e essas ações político-culturais são vitais na tomada e
consolidação do poder imperialista nas áreas provinciais.
17

O helenismo em Alexandre se valeu de uma estrutura de atitudes e


referências, que são um aparelho elaborado pelo processo de conquista para
assegurar a dominação política, cultural, social e econômica, por meio de elementos
literários, arquitetônicos, religiosos, etc. Esse mecanismo seria voltado para educar
como o sujeito deveria ser e agir nesse novo mundo, amalgamado entre os
conquistadores helênicos e os habitantes orientais, integrando-os nessa nova
monarquia helênica.
Entre as referências criadas pelo centro de poder de Alexandre, está o
recrutamento dos jovens das aristocracias nativas e os casamentos interculturais, de
forma em que a conexão com o mundo helênico era símbolo de prestígio e podia ser
feita através do treinamento militar, educação ou relações familiares.
De acordo com Said, o delineamento do espaço é uma formação de
construção histórica, tanto de quando o é feito de forma concreta ou abstrata, guiada
pelos interesses das forças que o propõe. Sendo assim, as conquistas de Alexandre
produziram entidades geográficas e culturais, a modelagem do espaço físico
resultado da ação humana. Quando funda suas Alexandrias, demarcando as
fronteiras através das práticas culturais que dão forma as ideias de identidade e
alteridade, Alexandre materializa uma força cultural que irá se relacionar com o
ambiente a qual foi inserido.
A cidade, nesse caso a ideia de polis, como motor principal, mesmo que em
uma dinâmica diferente no período e no território de Alexandre, é um meio eficaz de
construir padrões de condutas a partir da modelo metrópole que conduz e organiza o
espaço do subjugado, ensinando-o como ele deveria “ser” e “agir”, para que, desta
maneira, ao “criar um modelo de atitude e referências”, fosse possível assegurar os
interesses de Alexandre.
Embora o centro de poder de Alexandre não seja distante como nas
metrópoles imperialistas do século XIX, pois o rei macedônico se estabeleceu em
cidades orientais, como a Babilônia, e nunca conseguiu retornar a Macedônia; o
modelo cultural de cidade e civilização é o das polis na península grega e o da
sociedade do reino macedônico.
Said também afirma em seus escritos que um império é sustentado por
ambos os grupos dominantes que se inserem nessa relação dominador-dominado.
No caso de Alexandre houve a promoção de uma colaboração política com as elites
18

locais, que muitas vezes ascenderam politicamente ou se mantiveram no poder


graça a essa dinâmica.
Também é importante ressaltar que a própria ideia de uma cultura helênica
pura é falsa, ainda mais se tentarmos afastar ela da influência persa, que esteve
conectada as polis gregas, o que aponta que mesmo antes desse amalgama cultural
que Alexandre irá proporcionar, o “ser helênico” dialogava e foi construído com forte
contato com o mundo Aquemênida (VLASSOPOULOS, 2007, p. 34).
Por conta dessa dinâmica, tanto em Alexandre quanto em seus sucessores, o
helenismo se forma como uma espécie de “alta cultura” do reinado helenístico, como
forma de identidade comum em um estado formado por uma grande variedade
étnica, cultural e de sistemas políticos. Então, embora de matriz cultural helênica
anterior a conquista, o helenismo se transforma como uma forma de “helenicidade”
cosmopolita, que absorveu vários aspectos das culturas locais. E a aristocracia local
que se conectava a essa corte helenística garantia uma influência maior nos círculos
de poder do que as que permaneceram restritas a sua cultura tradicional
(STROOTMAN, p. 21).
19

2 O PAN-HELENISMO COMO MOTIVADOR DA CAMPANHA

A conquista da Ásia por Alexandre, iniciada ainda no reinado de Filipe II da


Macedônia, teve como condutor o recorrente discurso pan-helênico de embate com
o bárbaro, nesse caso os persas, rivais de longa data dos helenos. Esse ideal foi
parte importante do contexto que possibilitou o rei de um povo estrangeiro ao norte,
embora culturalmente próximo5, ter conseguido alcançar a posição de hegemon.
Quando Alexandre faz a travessia para a Ásia Menor, e executa o ato
simbólico de fincar a lança no território marcando o início de sua conquista, o
discurso do pan-helenismo é o grande motivador da campanha.
Como retaliação simbólica pelo que Xerxes6 fez em Atenas, a vingança
helênica culminará em um enevoado e importante episódio da conquista quando
Alexandre ateia fogo em Persépolis, cidade persa de grande importância religiosa e
política; pois era o lugar tradicional das sepulturas da realeza, o repositório dos
tesouros acumulados e a capital religiosa do reino Aquemênida (GREEN, 2013, p.
314). É a partir desse evento, que o discurso pan-helênico perderá parte do seu
sentido na empreitada e veremos uma mudança para uma já crescente postura do
conquistador macedônio de tentar absorver os atributos de poder tradicionais dos
Grandes Reis7 e se legitimar como novo governante.

2.1 O pan-helenismo e a ameaça persa

Mesmo derrotada nas Guerras Médicas8, a realeza Aquemênida continuava a


exercer grande influência no mundo helênico. Para compensar a ineficiência das
armas nas tentativas de domínio anteriores, passou a adotar um intricado jogo
diplomático e de suporte a simpatizantes que possibilitou a recuperação de território
na Ásia Menor e nas ilhas do Egeu. Essa abrangência da área de influência persa é

5
Os reis macedônios se diziam gregos de origem, herdeiros do herói Hércules e inclusive
participavam das Olímpiadas (MOSSE, 2004, p. 19).
6
Xerxes I foi o rei Aquemênida de 486 AEC. até à data do seu assassinato em 465 AEC. Era filho de
Dario I e neto de Ciro, o Grande.
7
Um título comumente utilizado para denominar os reis Aquemênida.
8
Uma série de conflitos bélicos, ocorridos entre 499 e 449 AEC, em que polis helênicas tentam
resistir e afastar o domínio persa.
20

encontrada no auxílio aos dois lados durante a guerra do Peloponeso 9, que


demonstrava o poder do Grande Rei e seu interesse em impossibilitar que uma polis
exercesse hegemonia excessiva sobre as outras (MOSSE, 2004, p. 15-16).
Ao longo do século IV AEC, a posição de Esparta havia sido bastante
enfraquecida a partir da perda da importante região da Messênia. Atenas havia se
recuperado do pós-guerra, porém não possuía mais as posições no Egeu que a
fizeram poderosa no século anterior10. Tebas era a polis mais proeminente no
período, mas sua ambição de dominar a Hélade continental se desestruturou a partir
da morte de Epaminondas11 (MOSSE, 2004, p. 17-18). Foi esse enfraquecimento
das polis mais tradicionais que possibilitou a emergência da Macedônia como
potência no mundo helênico.
É nesse ambiente de vácuo de poder em que a ideia do Pan-helenismo, uma
identidade comum que deveria unir os helenos, ganha prominência, sendo proferida
nos discursos de oradores e escritores que buscam na união entre as polis um
objetivo comum para remediar a situação de conflitos por poder (NAWOTIKA, 2010,
p. 66). É importante ressaltar que a resistência aos persas era uma das
características definidoras dessa identidade (STONEMAN, 2008, p. 64), e poderia
ser explorada como objetivo dessa união pan-helenística, pois:

A noção geral de invadir a Pérsia não era nova. Já desde a Lisístrata de


Aristófanes, pairava no ar um sonho de que os estados gregos, estagnados e
eternamente em guerra, se unissem contra o monolítico bárbaro do Oriente. A
marcha bem-sucedida de Xenofonte até o mar Negro com o que restava de 13 mil
mercenários, após a tentativa fracassada de Ciro em Cunaxa (401) de usurpar o
trono do irmão, dava uma impressão enganosa de fraqueza dos persas (GREEN,
2014, p. 45).

9
A guerra do Peloponeso, de 431 a 404 AEC, foi um conflito armado entre as duas pólis mais
proeminentes, Atenas e Esparta.
10
“A fragmentação do império marítimo de Atenas em 404 teve vastas implicações políticas,
econômicas e psicológicas. Desapareceram a confiança altiva e orgulho imodesto que transluzem em
tanto da arte, arquitetura e literatura ateniense no século V. O histórico de Atenas na primeira metade
do século IV é marcado por uma política penosa (e muitas vezes um tanto desonesta), uma retórica
carregada de fantasia, intermináveis conflitos locais (tanto internos quanto externos), e uma
determinação ferrenha, como no caso da chamada Segunda Liga Marítima Ateniense dos anos 370,
de reconquistar glórias passadas da polis num mundo onde o benefícios imperiais que foram
popularizados sob o reinado de Péricles já ficara para trás na memória” (GREEN, 2014, p. 78).
11
Epaminondas (418 - 362 AEC) foi um general e político grego, um dos responsáveis pela
transformação de Tebas em potência helênica.
21

O mais influente propagador desse ideal foi Isocrates12, que pregava uma
unificação helênica construída com base na luta contra o inimigo persa, inspirada
nos sucessos das experiências passadas em que uma Hélade unida conseguiu
derrotá-los. Como não conseguiu encontrar nenhuma polis capaz de assegurar essa
união, enxergava em Filipe II da Macedônia o melhor candidato a hegemon.
(HECKEL, 2008, p. 37-38)
É importante observar resistências helênicas tanto a Filipe quanto
posteriormente a Alexandre, sendo o orador ateniense Demóstenes13, uma das
figuras mais notáveis dessa oposição. Também houve rebeliões posteriores a
Batalha de Queronéia14, como a malsucedida revolta de Tebas em 335 AEC, que
teve como consequência a sua destruição. Porém, a tradicional ameaça persa
alimentava os temores dos gregos de tal forma, que mesmo quando Demóstenes
advogava em favor da intervenção persa contra o rei macedônio, precisava
assegurar em seus discursos que a monarquia Argeada15 era uma ameaça maior
que o Grande Rei. (NAWOTIKA, 2010, p. 62-63). Esse temor ao inimigo persa não
se restringia as elites e aos círculos intelectuais helênicos, mas se difundia ao
cidadão comum, pelo menos ao ateniense (FLOWER, 2000, p. 106).

2.2 A liga de corinto e a guerra de represália

Em 338 AEC, logo após sua vitória na batalha de Queróneia, que impõe a
supremacia macedônica sobre as polis, Filipe convoca todos os Estados gregos16 a
Corinto e forma o que ficou conhecido como a Liga de Corinto (BRIANT, 2011, p.

12
Isócrates (436 AEC - 338 AEC) foi um orador e retórico ateniense.
13
Demóstenes (384 - 322 AEC) foi um preeminente orador e político grego de Atenas, conhecido
opositor do expansionismo de Filipe II.
14
Foi uma batalha disputada entre Filipe II e uma coalizão de polis, encabeçada por Atenas e Tebas,
no ano de 338 AEC.
15
Dinastia de Filipe II e Alexandre, o Grande.
16
Esparta recusa fazer parte da liga e posteriormente lideraria uma revolta durante a campanha de
Alexandre na Ásia.
22

29). Nela, de acordo com os princípios diplomáticos da koine eirene17, os


participantes eram:

obrigados a: permanecer em paz e não fomentar guerras com os outros estados


membros; não ocupar suas cidades, fortes ou portos; não se opor a liderança de
Filipe ou de seu sucessor (Alexandre); não interferir nos assuntos internos de
outro estado e se opor a qualquer quebra no tratado como especificado pelo
synedrion (conselho) e ordenado pelo hegemon da liga, que naturalmente era o rei
da Macedonia. (NAWOTIKA, 2010, p. 54)

A escolha de Corinto como sede dessa reunião não foi ao acaso, pois havia
sido nesta mesma cidade que em 480 AEC a maioria das polis continentais
formaram a symmachia (Aliança) que repeliu a invasão de Xerxes I (NAWOTIKA,
2010, p. 54).

Figura 3- Busto de Filipe II da Macedônia18

17
“Paz Universal”, um mecanismo diplomático muito utilizado no Século IV AEC, que foi marcado por
muitas guerras e instabilidades, e tinha objetivo de restaurar a ordem na Hélade (NAWOTIKA, 2010,
p. 55).

18
Philip II of King of Macedon, a Hellenistic-era sculpted bust, Ny Carlsberg Glyptotek. Web. 02 ago.
2017. <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Filip_II_Macedonia.jpg>
23

Quando a declaração de guerra de Filipe é sancionada pela Liga, ela tem dois
objetivos oficiais: Libertar os helenos da Ásia Menor e vingar os crimes cometidos
pelos persas 150 anos antes, principalmente a destruição dos templos.
Independentemente da sinceridade das razões declaradas, elas correspondem a
expectativa da sociedade helênica, temerosa em relação a ameaça persa, e
consequentemente fornecem maior coesão e importância ao papel de Filipe II como
hegemon; além de, com uma possível vitória da Liga, afastar a possibilidade de uma
interferência persa na Hélade, consolidando a proeminência macedônica
(NAWOTIKA, 2010, p 67-68).
Logo, teria sido então a campanha contra a Pérsia somente uma guerra de
represália? Claramente, uma vitória, mesmo que somente dominando parte da Ásia
Menor, já aumentaria o poder do reino da Macedônia e o seu prestígio como
hegemon, mantendo a Pax Macedonica e ampliando sua influência regional
(BRIANT, 2011, p. 30-31). Também não podemos saber até que ponto Alexandre,
movido por seu pothos19, enxergava a empreitada como um desafio pessoal de se
equiparar aos heróis homéricos.
A campanha contra os Aquemênida também poderia ser usada como forma
de Filipe amplificar seu poder não só como hegemon, mas dentro da própria
sociedade macedônica. A instituição do exército era uma das mais fortes no sistema
político macedônio, e de certa forma esse segmento social era um dos limitadores
do poder real. Quando Filipe começou a recrutar homens de camadas inferiores
para seu exército, antes de predomínio aristocrático, Filipe II fortalecia o seu poder
interno, pois esses novos soldados eram mais leais a figura do rei do que a estrutura
militar.
De fato, quando Alexandre concretizou a conquista, nem as tensões com o
exército foram o suficiente para frear o aumento do poder autocrático (BERNADINO,
2015, p. 22), demonstrando a força monárquica construída por Filipe e expandida
por seu filho durante a campanha asiática, que soube fortalecer os alicerces de seu
poder além da tradição macedônica.
Ao assumir o trono macedônico, Alexandre possuía um problema que pode
ter apressado e estimulado a sua campanha no Oriente por motivos bem

19
Desejo, anseio.
24

pragmáticos, numerosas dívidas e o pagamento do exército estava bastante


atrasado:

Por trás das corajosas juras de vingança pelos crime de Xerxes na Grécia, muitos
menos que qualquer noção de proselitismo cultural, estava a necessidade urgente,
por parte de Alexandre e todos os seus oficiais de alto escalão, de transformar sua
campanha, tão cedo quanto possível, numa operação geradora de lucros
(GREEN, 2014, p. 43)

Podemos apontar também interesses de outros setores da sociedade


helênica, que se expandia demograficamente e viam na conquista a possibilidade de
colonizar outras áreas:

a guerra iria se tornar por sua própria natureza uma guerra de conquista, pois
dificilmente seria possivel punir os Persas pelos erros de 480 sem conquista-los.
Segundamente, Isocrates, quem chancelava inesgotavelmente a ideia de
vingança, inquestionavelmente a via como uma 'Eroberungskrieg' - i.e., prover,
pelo menos na Asia Menor, para colonização grega, de forma a aliviar as tensões
sociais na Grécia. Naquele momento, a colonização grega na Asia Menor sem a
conquista seria impossível – e é o porque de Isocrates ver uma conexão
inseparável entre os dois. (BLOEDOW, 2003, p. 273).

Filipe, e posteriormente Alexandre, utilizavam do discurso pan-helênico como


argumento principal da campanha, que era um elemento importante de manutenção
e ampliação de seus poderes. Mas também procuravam alinhar os vários segmentos
da sociedade que possuíam interesse na conquista, de forma a ampliar seu apoio na
empreitada.

2.3 Alexandre visto como libertador

Conforme o exército de Alexandre avançava na Ásia, o conquistador se


apresentava como libertador dos vários povos que estavam sob domínio
Aquemênida, os primeiros sendo os próprio helenos da Ásia Menor.
Mantendo um forte simbolismo pan-helênico, ao mesmo tempo em tenta
agradar as polis jônicas, e talvez satisfazer a sua própria adoração pela lenda
homérica, Alexandre:

Antes da travessia, fez sacrifícios no templo de Protesilau, tradicionalmente o


primeiro grego a desembarcar em Tróia. Seguiu a rota inversa de Xerxes, fazendo
uma libação no meio do Helesponto, assim como Xerxes fizera. Em Ílio, dedicou
sua própria armadura no templo de Atena (um sinal para a cidade de Atenas) e foi
25

presenteado, em troca, com um escudo e uma panóplia que supostamente eram


da Guerra de Troia. Ele e Heféstion apostaram uma corrida, nus, em volta dos
túmulos de Aquiles e Pátroclo. Mas ele também (tenso sangue troiano nas veias
de seu lado materno, através de seu antepassado mítico, Neoptólemo, filho de
Áquiles) fez sacrifícios para Príamo (que Neoptólemo matara)e oferendas em
memória a Andrômaca, viúva de Heitor e prêmio de Neoptólemo. Os troianos (uma
decisão voltada para as cidades gregas da Jônia, muitas das quais apoiavam a
Pérsia) deviam ser considerados gregos da Ásia: um dos primeiros exemplos
sintomáticos das tentativas de Alexandre de satisfazer a todos ao mesmo tempo
para garantir cooperação (GREEN, 2014, p. 48-49).

Após a vitória na batalha de Grânico20, Alexandre conseguiu que as polis


jônicas, que mantinham boas relações com o Grande Rei, aderissem ao vencedor,
cedendo-lhes autonomia, e impondo, em geral, um regime democrático e a
supressão do tributo que antes pagavam (MOSSE, 2004, p. 29).
Porém cada polis conquistada teria um tratamento diferenciado de acordo
com sua importância e postura durante a resistência a Alexandre, então essa
“libertação” é mais um discurso do que uma prática. Pois em alguns casos apenas
redirecionou os tributos para ele, além de instalar guarnições na Ásia menor que
garantiam a obediência, e a nenhuma delas foi permitida a entrada na Liga de
Corinto (WORTHINGTON, 2014, p. 162).
Em algumas regiões importantes do vasto domínio persa, ele conseguia se
apresentar, em graus diferenciados, na figura e um libertador de povos de culturas
milenares e de grande proeminências históricas, como o Egito e a Babilônia,
explorando essa herança anterior aos Aquemênida.
No caso do Egito, ele já havia se rebelado e conquistado sua independência
no início do séc. IV, inclusive com apoio de estrategos atenienses e do rei espartano
Agesilau, mas foi reconquistado por Artaxerxes III em 345 AEC (MOSSE, 2004, p.
20-21). Por ter sido reconquistado e com a insatisfação egípcia ainda recente e
sufocada, o conquistador macedônico conseguiu com relativa facilidade o apoio dos
egípcios interessados em tirar proveito da intervenção de Alexandre e reestruturar
as relações de poder.
Buscando manter um bom relacionamento com os egípcios e por que a
dominação do Egito não estava previsto nos objetivos da Liga de Corinto, Alexandre

20
Foi a primeira grande vitória de Alexandre contra os Aquemênida. Ocorreu em maio de 334 AEC e
foi travada no noroeste da Ásia Menor. Nela os macedônicos venceram as forças dos sátrapas de
Dario III e um grande número de mercenários gregos.
26

foi cauteloso, não nomeando um sátrapa21 e mantendo sua autonomia, embora


tenha instalado guarnições em posições fortificadas como precaução. Mesmo assim,
fez questão de exercer sua soberania, mas na qualidade de sucessor dos faraós, e
não através da autoridade da estrutura Aquemênida, adotando parte de sua titulação
tradicional (MOSSE, 2004, p. 30-31).
Alexandre também reconheceu que para a população egípcia, o costume
milenar é de que a figura do rei também deveria estar ligada de forma direta ao
divino, de forma que além de monarca também fosse aclamado como um deus.
(OLMSTEAD, 1948, p. 512). Era esse o peso que sua associação com a posição de
faraó trazia, e essa postura era claramente contrária ao ideal helênico, mostrando
com clareza que o pan-helenismo na campanha de Alexandre era subordinado a
manutenção de sua conquista. Essa ideia de uma monarquia divina permanecerá no
expandido mundo helênico após sua morte (MOSSE, 2004, p. 146).
É importante ressaltar que as culturas persa e babilônica haviam se
conectado de maneira relevante no Estado multicultural que os Aquemênida haviam
formado, essa convergência cultural podia ser observada nos recorrentes persas
com nomes babilônicos e vice-versa (STONEMAN, 2008, p. 65). Porém, mesmo com
essa maior conexão intercultural, Alexandre ainda conseguiu utilizar de alguma
forma do discurso de libertação na Babilônia, explorando as raízes de uma cultura
de identidade forte e como importância muito anterior ao domínio persa, além de ser
importante para Alexandre a ponto de ter feito dela sua capital (ANSON, 2013, p.
121). Apesar de uma relativa integração, a dominação persa não havia se imposto
tão pacificamente, governantes persas haviam destruído o templo do deus patrono
da cidade, Marduk, e derreteram sua estátua de ouro. Alexandre aproveitando-se
desse ressentimento, respeitava os costumes religiosos babilônicos e prometeu
reconstruir o templo (WORTHINGTON, 2014, p. 195).

2.4 A tomada de Persepolis e a vingança helênica

No momento em que Alexandre adentra no solo iraniano, não é mais possível


utilizar do discurso de libertador como no Egito, na Ásia Menor ou até na Babilônia.
Nessa etapa da conquista o discurso de vingança grega se reafirma, embora tenha
21
O território Aquemênida era dividido entre satrapias, unidades de governo regionais que
administravam em nome do grande rei.
27

sido necessário conciliar com a aristocracia persa, disposta a tirar proveito da


invasão estrangeira, para assegurar sua sucessão como Grande Rei (GREEN, 2013,
p. 299).
Ciente dessa necessidade de construir apoio iraniano para sua reivindicação,
o discurso da guerra de represálias ainda movimenta a conquista, mas passa a ter
um caráter ambíguo, fazendo com Alexandre tenha uma postura cada vez mais
cautelosa, que paulatinamente se transformará em uma política de fusão quando
seu domínio estiver consolidado (FERGUSON, 1973, p. 9-10).
E então, como momento importante da conquista, temos o incêndio do palácio
em Persepólis. Ele ocorreu meses depois da tomada da cidade por Alexandre, que
teria permito seus soldados saquearem a cidade assim que adentraram nela,
cansados e raivosos após uma longa batalha. O massacre, os estupros e a
destruição de construções não haviam afetado o palácio, que ficara intacto na
tomada da cidade (NAWOTIKA, 2010, p. 250).
Pierre Briant afirma que a brutalidade praticada no saque de Persepólis não
possuía precedentes na campanha de Alexandre desde o seu desembarque na Ásia
Menor (BRIANT, 2002, p. 851). Porém, após vencer o cerco de Tiro, Alexandre
vendeu trinta mil prisioneiros como escravos e crucificou dois mil deles, isso
demonstra que a violência exacerbada não era uma opção descartada
(STONEMAN, 2008, p. 87).
É importante ter em mente o contexto que acompanha esse período da
conquista: Havia uma rebelião espartana em curso e o Grande Rei Dario ainda
estava vivo. Com essas ameaças presentes, a campanha militar de Alexandre ainda
estava em risco, o que pode justificar uma postura mais dura, e contrária a crescente
busca de conciliar a aristocracia persa.
Ao executar um ato firme e simbólico ao arrasar a capital persa, e
posteriormente seu palácio, nesse momento de ameaças a concretização da
conquista, a finalidade desse ato pode ter sido enviar uma mensagem, tanto para os
helênicos rebelados quanto para a realeza Aquemênida e seus súditos, que
demonstrava sua força e as consequências de resistir. (HAMMOND, 2005, p. 133).
O grande ato a ser vingado, marcado no imaginário helênico, foi quanto
Xerxes ocupou e destruiu templos atenienses, esse foi por séculos, considerado o
ato supremo da barbárie oriental (NAWOTIKA, 2010, p. 62). Logo, seguindo a lógica
28

da guerra de represálias, a capital religiosa Persepólis seria o alvo ideal da


retribuição. A destruição do palácio com o fogo, o elemento mais sagrado na religião
dos Aquemênida, o Zoroastrismo, carregava um grande simbolismo e tinha como
objetivo quebrar o espírito de resistência entre os persas, embora possa ter
aumentado a visão de Alexandre como um invasor (NAWOTIKA, 2010, p. 254).
O historiador John M. O’Brien ao analisar as documentações mais conhecidas
que citam o incêndio de Persepólis, identifica que três dos autores atribuem o
protagonismo e a encarnação do sentimento de vingança helênico na figura de Tais,
uma cortesã ateniense e amante de Ptolomeu.
Diodoro22 descreve o evento como um ato que empolga os soldados
motivados pelo discurso da mulher, a primeira a atear fogo com sua tocha, antes
mesmo de Alexandre, que teria sido o segundo. Plutarco23, conhecido por
representar Alexandre de forma virtuosa, afirma que logo após o início do incêndio o
rei se arrepende e ordena a extinção das chamas. Quinto Cúrcio24 também
corrobora da tese de Plutarco em que Alexandre teria mudado de ideia, mas afirma
que o motivo teria sido a recuperação de sua sobriedade (O’BRIEN, 1994, p. 103).
A figura da cortesã Tais é polêmica, pois articula uma versão potencialmente
depreciativa que denuncia Alexandre como servo de suas paixões e pouco racional,
que deixou ser movido por um capricho que teria proporcionado um evento
responsável por mais estrago do que benefício na campanha macedônica (BORZA,
1972, p. 234). Também é duvidoso que o incêndio tenha sido um ato não
premeditado, pois o tesouro já havia sido deslocado para a cidade de Susa
(NAWOTIKA, 2010, p. 250).
Diferindo dos três autores já citados, O’Brien observa que Arriano 25 apresenta
uma visão bem diferente das dos três anteriores, em sua documentação ele não
menciona a incitadora Tais (O’BRIEN, 1994, p. 103). Na sua versão é descrito um

22
Diodorus da Sicília (90 EC – 30 EC), foi um historiador grego cujo a obra abrangia desde a
destruição de Tróia até o império Romano, consequentemente passando pela conquista de
Alexandre.
23
Plutarco (46 EC – 120 EC), foi um historiador, biógrafo, ensaísta e filósofo grego, nascido na
Queronéia, conhecido principalmente por suas obras Vidas Paralelas e Moralia.
24
Quinto Cúrcio Rufo foi um senador romano e biografo de Alexandre que escreveu a Historiae
Alexandri Magni Macedonis e provavelmente viveu no século I EC.

25
Arriano, nascido na Nicomedia (c. 89 – 160 EC) foi um filososo e historiador grego conhecido por
ter escrito a Anabase de Alexandre.
29

diálogo em que Parmênio aconselhou Alexandre a não destruir Persepolis, pois


agora pertencia a ele, e o rei não deveria permitir que os asiáticos o vissem somente
como um conquistador, mas como um novo Grande Rei. Alexandre teria rejeitado o
conselho, pois estava imbuído da ideia de vingar o sacrilégio de Xerxes (RICE,
2011, p. 33).
Também é possível que o ato tenha sido provocado para encerrar
simbolicamente todas as conexões entre o governo central persa anterior e suas
satrápias (SANCISI-WEERDENBURG, 1993, p. 184-185). Porém, como Parmênio
teria dito, agora o governo central era o próprio Alexandre.
Uma outra hipótese que leva em conta uma motivação mais emocional do que
pragmática, é a de que o incêndio também foi o resultado da represália de Alexandre
ao descobrir no caminho a Persépolis um grande grupo de gregos mutilados, alguns
sem mãos, pés, nariz ou orelhas que teriam sido escravizados pela realeza persa
(ANSON, 2013, p. 155). Levando em conta o caráter geralmente pragmático das
ações de Alexandre, é improvável que esse acontecimento tenha sido decisivo, no
máximo poderia ser um agravante.
Concluído o incêndio, a motivação de Alexandre não possui tanta relevância
quanto suas consequências. No nível do sentimento popular helênico, a lenda da
destruição do símbolo do ofensor Aquêmenida sendo efetuada por uma mulher
ateniense, foi encarada como um ato de vingança ancestral e era o tipo de notícia
que os helenos queriam receber (FLOWER, 2000, p. 114). E mesmo a versão de
Arriano carrega esse peso na ação de Alexandre, com ou sem Tais, a vingança
helênica foi comemorada.
É interessante notar que o forte discurso de vingança do rei macedônio
possuía alguma limitação, pois os macedônios, como vassalos de Xerxes, tiveram
sua parcela de culpa na devastação de Atenas. Provável que por essa razão,
Alexandre tenha sido firme ao impor a decisão de queimar o palácio, se apropriando
de vez do discurso de vingança helênica e não fazendo distinção entre as ofensas
aos gregos ou macedônios, como forma de fortalecer a ideia de uma mesma
herança cultural (BLOEDOW, 2003, p. 267-268).
O ato simbólico e firme satisfez os soldados macedônios e os aliados gregos,
mas se a motivação dele foi elevar o moral das tropas para o avanço da conquista
de Alexandre na Ásia, é provável que essa decisão política tenha sido falha, pois
30

essa ação, conjuntamente com a queda do Grande Rei26, serviu para espalhar o
boato de que a campanha militar estava para terminar e eles retornariam para seus
lares, algo que muitos de seus soldados ansiavam após uma longa campanha longe
de suas terras (ANSON, 2013, p. 158-159).
Briant defende que o incêndio não foi um símbolo de Pan-helenismo, embora
a propaganda o tenha utilizado, mas era um ato político destinado a aleijar a realeza
Aquemênida do seu centro ideológico, de autoridade e de grandeza de sua dinastia
(BRIANT, 2002, p. 851). De fato, o palácio de Persépolis era um dos mais
grandiosos símbolos da dinastia de Dario, “O complexo palaciano servia como um
museu do poder Aquemênida, onde os esplendores refletiam a herança das
conquistas persas e eram expostas orgulhosamente” (HOLT, 2016, p. 82).

2.5 As recompensas da vingança

Os palácios dos reis persas possuíam uma vastidão de objetos valiosos,


desde caros tapetes e móveis até moedas e pedras preciosas entesouradas ao
longo dos séculos. Ao saquear a riqueza dos reis persas, Alexandre passou a ter
acesso a uma abundante fonte para sustentar sua campanha e recompensar o apoio
que teve até o momento. De fato, a partir dos erários de Susa, Persepolis e
Ecbátana, Alexandre se tornou o homem mais rico de todo o mundo conhecido
(GREEN, 2014, p. 51)
Em um desses palácios, Alexandre encontrou obras de artes roubadas por
Xerxes em sua invasão, e entre elas estava as famosas estátuas de dois tiranicidas
atenienses do século VI AEC, Harmódio e Aristogeitão. Essas estátuas
simbolizavam a democracia como melhor forma de governo, e foram retornadas para
Atenas. Esse importante ato, repleto de significado, representa uma das mais
importantes manifestações do sucesso da sua campanha pan-helenística até o
momento (WORTHINGTON, 2014, p. 201).
Essa riqueza era muitas vezes utilizada por Alexandre com o intuito de
estimular a leal de seus súditos. Era uma atitude comum do rei distribuir moedas,
bens luxuosos e terras para aquietar os descontentes e melhorar a moral do
exército, principalmente após decisões polêmicas do rei. (HOLT, 2016, p.114).

26
Dario foi traído por um de sues sátrapas, Besso, que se declarou o novo rei.
31

Deixando de lado todo o aspecto simbólico dessa campanha movida através


do ideal pan-helenístico, é evidente que uma conquista tão dispendiosa e
dependente de uma grande rede logística, um vasto contingente militar, além do
apoio de um amplo grupo de elites locais, tanto das estabelecidas nos seus
domínios europeus, quanto nos novos domínios asiáticos, fez movimentar uma vasta
quantidade dessa riqueza antes entesourada. O impacto da expedição de Alexandre
causou uma maior circulação de moedas, pois os metais se desvalorizaram pela sua
ampliada circulação (GREEN, 2014, p. 85) Essa movimentação estimulou o
comércio, além da maior integração territorial promovida pela conquista que
estabeleceu uma nova dinâmica regional (MOSSE, 2004, p 149-151).

Figura 4- Relevo de Alexandre em moeda.27

27
PLUTARCO, 2016, p. 20.
32

3 ALEXANDRE E SUA LIDERANÇA POLÍTICA NA ÁSIA

É possível definir o incêndio de Persepólis e a morte de Dario como uma


mudança de foco da guerra de represálias para a guerra de conquista. É esse
momento que estabelece a concretização da ideia de que Alexandre desejava criar
um amalgama de raças e culturas e se tornar rei de todas elas (BOSWORTH, 1988,
p. 273). Com essa mudança de postura, Alexandre agora se declarava o rei da Ásia
e precisaria dos persas, que eram a espinha dorsal do exército e do governo
Aquemênida, como aliados e não mais como inimigos e alvo de uma coalizão pan-
helênica (ANSON, 2013, p. 157), tendo que reverter todo o discurso que o guiou até
esse momento.
A aristocracia persa não atuou de forma passiva na corte de Alexandre, tendo
influência a ponto de fazê-lo adotar costumes tradicionais dos antigos Grandes Reis,
desagradando seus súditos helênicos. No geral, os aristocratas asiáticos também
agiram ativamente para manter seu prestígio através dos casamentos com a nova
elite dominante e da educação e treinando militar de muitos de seus filhos aos
moldes helênicos, garantindo uma continuidade de suas famílias nos círculos de
poder.

3.1 O amalgama étnico-cultural

Durante o início de suas conquistas, Alexandre delegava a administração dos


territórios conquistados para seus súditos macedônios, demonstrando claramente a
política de um território dominado pela lança (WORTHINGTON, 2014, p. 197).
Depois da batalha de Gaugamela28, a medida em que adentrava nas províncias
centrais do império persa, passou a nomear, como satrápas, aristocratas asiáticos,
em sua maioria de origem persa, pois era preferível que os governantes fossem
capazes de compreender as línguas locais e era favorável estar em boas graças
com os notáveis iranianos, conforme Alexandre se consolida militarmente (MOSSE,
2004, p. 75).
Por outro lado, Alexandre não permitiu que mantivessem a totalidade do
poder que antes era delegado aos sátrapas, principalmente nos assuntos militares e
28
A Batalha de Gaugamela, travada em 331 a.C., é considerada a batalha decisiva onde Alexandre III
da Macedônia derrotou Dario III no campo de batalha.
33

financeiros. Então, a liderança dos sátrapas asiáticos passava a ser de caráter


estritamente civil, pois Alexandre costumava delegar o poder militar da satrapia para
um macedônico. Essa medida tomada era prudente, mas não deixou de gerar certo
desconforto a uma elite local que viu seus poderes tradicionais serem diluídos
(WORTHINGTON, 2014, p. 198).
A manutenção de alguns sátrapas aquemênidas em seus postos, ou a
substituição por asiáticos, em vez de macedônios, gerou bons resultados. Podemos
ver isso no fato de nenhuma das satrapias centrais terem se levantado contra ele
durante sua ausência na continuidade de sua campanha militar em direção a Índia.
(HAMMOND, 2005, p. 202). Embora, no seu retorno da Índia em 325 AEC,
Alexandre precisou destituir e executar alguns sátrapas asiáticos de outras regiões,
apontando macedônios em seus lugares (WORTHINGTON, 2014, p. 200).
Alexandre também seguiu a prática de seu pai de estabelecer assentamentos
defensivos em áreas problemáticas, de forma que dissuadisse os sátrapas de se
revoltar. A maior parte das Alexandrias posteriores à do Egito possuíam esse caráter
de manutenção de sua autoridade, mas também acabavam por servir como polos
helênicos em regiões distantes. (WORTHINGTON, 2014, p. 199)
Embora tenha uma discussão das motivações que levaram Alexandre a se
casar com a asiática Roxana, é inevitável associar o matrimônio a uma decisão
movida por interesses políticos, como foi costume de seu pai, Filipe II. Sua esposa
era filha de um poderoso aristocrata da região da Báctria e Sogdiana, que seria um
importante patrocinador de seu domínio nessa já distante e instável região
(WORTHINGTON, 2014, p. 232). Tendo o próprio rei escolhido se casar com uma
asiática, em detrimento de um casamento com uma helênica, o caráter pragmático
do governo de Alexandre se mostra de forma explícita, colocando mais uma vez em
cheque o ideal estritamente pan-helênico de sua campanha e demonstrando a
importância das elites locais.
A sustentação do sistema político Aquemênida, embora adaptado, mostra que
esse vasto território impõe permanências, como a estrutura política dos sátrapas e o
respeito a certas tradições que foram capazes de agrupar os diversos povos da
região. O envolvimento de aristocratas locais nos círculos de poder, a ponto de sua
força ter possibilitado um casamento de uma asiática com o próprio rei, demonstra a
sólida possibilidade, e talvez necessidade, de uma convivência intercultural também
34

na corte real. Três decisões políticas de Alexandre ilustrarão bem essa sua
aproximação com o Oriente e a absorção e adaptação necessárias para construir
um novo tipo de monarquia.
No próprio exército de Alexandre, já haviam unidades de cavalaria persas
lutando lado a lado dos macedônios desde 330 AEC, na forma de uma tropa
irregular, mas posteriormente seriam integrados a própria cavalaria dos hetairoi29.
Alexandre também recruta trinta mil jovens iranianos, “selecionados cuidadosamente
entre as melhores famílias sob os critérios rigorosos de força física e inteligência”
(BERNADINO, p. 23). Eles deveriam ser treinados a maneira macedônia e aprender
a língua grega (BRYANT, 2011, p. 92), e futuramente iriam ser anexados as
falanges ao lado dos soldados macedônios.
Esse alistamento aconteceu antes de Alexandre começar a campanha da
Índia. Porém, os principais movimentos de descontentamento com essas
incorporações nas fileiras macedônicas, só ganharam força em 324 AEC, quando os
jovens começaram a ser efetivamente incorporados (BERNADINO, 2015, p. 26).
“Eles estavam equipados ostensivamente de cima a baixo, a maneira macedônica”
(Diodoro, XVII, 108) e provocaram a ira dos veteranos dispensados 30, mesmo que o
prêmio de aposentadoria tenha sido o perdão das dívidas e a distribuição de
moedas, tendo que ser aplacada por Alexandre (BERNADINO, 2015, p. 26).
A decisão treinamento dos jovens asiáticos demonstra uma importância da
população asiática na manutenção do poder de Alexandre, e se não foi movida por
um ideal universalista de Alexandre, pelo menos era por um aspecto pragmático de
reposição dos soldados, crucial a ponto de enfrentar o descontentamento de seus
veteranos (MOSSE, 2004, p 77).
O processo de integração dos jovens das aristocracias orientais nas falanges
de Alexandre não visava somente a manutenção de seu poderio militar, mas
também a introdução de uma identidade cultural helênica como forma de domínio,
ao educar os filhos dessas elites locais pelos mesmos moldes da tradição
macedônica. Por outro lado, se analisarmos através do prisma da estrutura de
atitudes e referências, a própria cessão dos filhos dessa aristocracia para serem

29
Cavalaria de elite formada por aristocratas macedônios, que compunham a guarda pessoal do rei.
O grupo possuía relevância dentro da corte e da estrutura política macedônia e muitas vezes eram
delegados ao papel de generais (BERNADINO, p. 17).
30
A campanha já durava uma década.
35

criados e treinados aos moldes helênicos, seria uma forma da elite local se renovar
nos círculos de poder e manter, ou até aumentar, o seu prestígio, se tornando cada
vez mais parte funcional da estrutura política.
Um episódio importante de uma integração multi-étnica efetivada de forma
direta pela interferência de Alexandre, foi o que ficou conhecido como “bodas de
Susa”, que ocorreu em 324 AEC, após sua volta da Índia. Esse evento foi uma série
de casamentos, promovidos por Alexandre, entre seus subordinados macedônios e
orientais (MOSSE, 2004, p.46).

Dado os relatos das fontes, pode-se notar a importância desses


casamentos, visto a sua suntuosidade e os envolvidos, integrantes da alta
nobreza, tanto macedônica, quanto iraniana. Dessa maneira, supõe-se um
forte interesse de Alexandre em unir, definitivamente, a nobreza
macedônica com a nobreza persa. (BERNADINO, 2015, p. 26)

Alexandre ao tomar como esposa Roxana, filha do sátrapa da Báctria,


Oxiartes, demonstrava a importância que ele dava a aristocracia regional. Mas há
uma mudança significativa em Susa que pode evidenciar uma intensificação, quando
Alexandre casa novamente, agora com duas princesas Aquemênida 31, os ritos foram
conduzidos a maneira persa, tanto os do matrimônio real quanto os dos outros
súditos (HAMMOND, 2005, p. 206).
Chama atenção que Alexandre ao adotar a prática do hárem e da poligamia,
novamente se sujeitava a práticas persas em detrimento de sua base cultural
helênica. Sendo que esses costumes eram considerados ultrajantes para os
helênicos que só tinham uma esposa legítima e no máximo uma concubina
(MOSSE, 2004, p.73).

3.2 As conexões divinas de Alexandre

Mesmo antes da conquista Alexandre já possuía uma identidade ligada aos


mitos tradicionais da cultura helênica. Corria em suas veias o sangue de grandes
heróis, através de Filipe viria o de Hércules, ancestral utilizado ao longo dos séculos
pela dinastia Argeada como legitimadora de seu poder e seu vínculo direto com a
Hélade. Por parte materna há o de Aquiles, grande herói homérico, e muitas vezes

31
Inclusive uma delas era filha do vencido Dario III. Outra filha de Dario foi casada com Heféstion, o
amigo mais próximo de Alexandre.
36

imaginado como aquele a quem Alexandre se espelha, o que não é improvável,


tendo em vista a adoração de Alexandre pela Ilíada. (MOSSE, 2004, p.80).
No Egito, Alexandre tomou uma atitude mais incisiva de sua conexão com o
divino, ao adotar a titulação de faraó, pois nessa estrutura política, o próprio
governante seria um deus na terra. Os Aquemênida não reivindicavam nenhuma
ascendência divina, como no caso do Egito, mas se consideravam representantes
diretos dos deuses, o que mostra que a divinização da figura de Alexandre
extrapolaria até o próprio costume persa (MOSSE, 2004, p.83-84).
Apesar de não se considerarem uma realeza divina, a monarquia persa, como
as orientais em geral, sempre foram vistas pelos helenos como bárbaras e de
caráter despótico, em que não há cidadãos, somente escravos (MOSSE, 2004,
p.134).

3.3 A herança da Realeza Aquemênida

Alexandre demonstra em sua conquista uma certa admiração e benevolência


com a realeza persa, podemos ver isso quando a família de Dario III é capturada, e
o rei macedônio as trata de forma que:

não deviam ter medo de Alexandre, porque ele não fazia a guerra senão
para reinar e, quanto a elas, teriam dele tudo o que tinham de Dário,
enquanto ele reinasse e tivesse todo o seu império [...] não lhes negou
nenhuma honra, nem quanto ao número de oficiais e servidores, nem
quanto ao conforto que tinham antes, mas ordenou que lhes pagassem
pensões ainda maiores do que costumavam ter; (Plutarco, 2016, p. 45-46)

Também vemos esse respeito a família real Aquemênida quando Dario é


encontrado, assassinado por Besso, e Alexandre prepara o corpo para um funeral
digno de um rei (MOSSE, 2004, p. 36).
Ao longo da campanha, Alexandre adotará parcialmente a vestimenta
tradicional dos Grandes Rei e com adaptações:

não se vestiu inteiramente como os medas, cuja roupagem era estranha e


bárbara demais; não adotou nem as largas calças, nem o vestido comprido,
nem a tiara, e sim um costume que intermeava entre o dos persas e dos
medas, menos luxuoso do que o destes últimos, mas mais majestoso que o
daqueles. (PLUTARCO, 2016, p. 75)
37

Plutarco escreve, em defesa da atitude de Alexandre, contra os críticos que o


acusavam de se rebaixar aos povos orientais ao adotar seus trajes. Em sua visão, o
rei macedônio tinha como intuito emular o hábito dos caçadores de se vestir como
suas presas de forma a abrandar esses animais. Nesse caso as vestes do Grande
Rei seriam para domesticar e acalmar os povos bárbaros, e que por isso todos
deveriam admirar sua sabedoria, que buscava o domínio na paz e não somente
através da espada, ao conquistar os corações dos asiáticos:

Plutarco respondia assim aos autores de seu tempo, que cobrem Alexandre
de críticas por ele ter aceitado se identificar com o vencido e por ter
introduzido no seu círculo a etiqueta que regia a corte Aquemênida. Além de
seu aspecto polemico, o texto evidencia muito bem uma das armas de
Alexandre, a saber, a colaboração das elites do império que ele estava
conquistando: ou seja, as grandes famílias persas e iranianas de Dario, mas
também os dirigentes das comunidades sujeitadas. Essa política consciente
e constante, representa uma das facetas mais decisivas da estratégia de
Alexandre. (BRYANT, 2011, p. 83-84)

O cuidado de Alexandre na adoção dos adereços da realeza Aquemênida era


uma forma de evitar que fosse contestado como um rei orientalizado. Embora a
imposição da proskynesis, um ato tradicional persa em que os súditos se curvavam
perante o rei como reverência, era algo visto como indigno e repulsivo para os
gregos, pois homens livres só deveriam ter essa postura perante os deuses. Essa
prática, ligada diretamente a divinização da figura de Alexandre e que era
costumeira e bem recebida pelos súditos asiáticos, seria causa de grande discórdia
entre os conterrâneos do rei (STONEMAN, 2008, p. 128-129).
Podemos ver que Alexandre precisa equilibrar as forças que constituem seu
reino, não sendo simplesmente um conquistador e propagador de uma cultura
helênica que penetraria de forma inexorável, convertendo o “bárbaro”. Logo, os
povos dominados não são atores passivos de um conquistador que estaria sendo
benevolente por ter feito concessões, mas permanecem como forças constituidoras
do próprio império que Alexandre toma dos Aquemênida. Alexandre pode inclusive
ser considerado um divisor de águas na dicotomia “grego” e “bárbaro”, pois a:

Consequência das conquistas de Alexandre foi a eliminação, num curto


prazo, da ideia do bárbaro como um outro que, durante dois séculos, não
apenas figurara como o inimigo natural do mundo helênico, mas também
fornecera o principal ímpeto para todo o conceito do pan-helenismo. OS
propagandistas gregos, tais como Isócrates, haviam pintado uma imagem
do orientalismo persa em que a riqueza fabulosa de Creso era equiparada
38

apenas pela corrupção e decadência exausta de seus guardiões indignos.


Ali estava um prêmio a ser tomado à força, e a invasão da Grécia por
Xerxes em 480 sempre podia ser invocada como desculpa natural para
quaisquer retaliações. O pan-helenismo era a bandeira inicial sob a qual
Alexandre lançou seu próprio ataque esmagador; mas, por ironia, seu
grande sucesso imediatamente tornou esta causa obsoleta. (GREEN, 2014,
p. 79)

O novo soberano irá molda-lo não só de acordo com sua visão individual, pois
é submetido a todo um contexto da sua bagagem helênica, mas também pelas
relações dessas forças nativas de igual importância. Pois estas, mesmo
conquistadas, ainda detém certo poder, afinal Alexandre busca sempre construir e
manter a sua legitimidade como Grande Rei, sabendo que nunca teria tropas o
suficiente para sufocar uma revolta indefinida em território tão vasto, são esses
“dominados” que também vão determinar as margens de manobra que o novo rei
possuí.

3.4 A monarquia helenística inaugurada por Alexandre

O que se convencionou chamar de Reino Helenístico foi essa mistura de


antigas tradições políticas macedônicas, helênicas e asiáticas. Mesmo que muitos
aristocratas macedônios tenham denunciado uma postura orientalizante de
Alexandre, aqueles que conseguiram vencer nas guerras de sucessão, mantiveram
sua política de conciliação.
Os reis helenísticos construíram suas tradições reais do mesmo jeito que
Alexandre o fizera, misturando elementos nativos e da macedônia, foi o caso dos
Selêucidas com os babilônicos e dos Ptolomaicos com os atributos faraônicos
(GREEN, 2014, p. 52). Em relação a estrutura política macedônica, organizada ao
redor de um sistema monárquico, ela se aproximava muito mais da Aquemênida do
que a da polis simbolizada pela democracia ateniense (GREEN, 2014, p. 80).
Por esse caráter conciliatório com as estruturas políticas nativas e o foco na
vida na corte, as monarquias helenísticas podem se caracterizar como estados de
sistemas supranacionais, baseados no poderio militar e mais na cobrança de tributos
de que na administração direta de terras e da população, intervindo pouco nela.
(STROOTMAN, 2007, p. 19)
As monarquias helenísticas apresentavam em si mesmas múltiplas formas, se
manifestando de acordo com o local e sua tradição, uma conduta herdada dos
39

Aquemênida. Essa adaptação do discurso real é exemplificado quando Alexandre se


mostrava como faraó no Egito, e não como rei da Ásia ou sucessor Aquemênida.
Os monarcas helenísticos moldavam os atributos dessas realezas tradicionais
com elementos filosóficos e morais helênicos, de forma que esse governo
primordialmente despótico e oriental fosse o mais aceitável possível para os seus
súditos helenos (STROOTMAN, 2007, p. 24). Porém, mesmo com essa cautela, os
sucessores de Alexandre encontraram um ambiente mais favorável a deificação da
figura dos monarcas, e a usaram como ingrediente extra fortalecer sua legitimação
dinástica, rejeitando a ideia helênica de hybris, em que mortais não poderiam se
equiparar a deuses (GREEN, 2014, p. 83).
A alteridade entre a figura de conquistador e de um rei imbuído nas tradições
nativas, reforçava a ideia de força, necessária na coleta dos tributos e impostos e na
imposição da ordem; mas também o colocava como fonte de dádivas e favores,
usando de uma simbologia familiar e legítima para o dominado (GREEN, 2014, p.
52). Esse tipo de variação das faces de poder legítimo foi usada extensamente pelos
reinos helênicos que o sucederam (STROOTMAN, 2007, p. 20).
40

Considerações Finais

Ao intensificar sua posição de Rei de toda a Ásia, não mais sendo somente o
Rei macedônico, hegemon helênico ou libertador das polis da Ásia Menor, Alexandre
afasta-se do ideal pan-helênico e das ideias de subjugação dos povos considerados
inferiores, propostos por pensadores como Aristóteles e Isocrates.
Porém, mesmo se afastando desse ideal e da guerra de represália, e se
aproximando cada vez mais dos simbolismos e das estruturas do poder
Aquemênida; Alexandre ainda se apoia principalmente na base macedônica de seu
poder, como percebemos ao observar que mesmo nas satrapias dirigidas por
aristocratas locais, paralelamente sempre há guarnições comandadas por
macedônios de confiança.
Mesmo dialogando com a estrutura política e cultural local, Alexandre não
deixa de assegurar a helenização do Oriente, no sentido de que inaugura uma
penetração sem precedentes da cultura helênica. Podemos ver isso claramente nas
Alexandrias, é nelas que melhor se realizam a síntese cultural que compõe o seu
novo domínio (SALES, 1999, p. 70).
O pan-helenismo foi uma importante ferramenta para os Argeadas, que
souberam se sustentar em um discurso anti-persa, glorificado no uso da memória de
um período em que as polis possuíam grande poder e a potência comercial e
cultural, Atenas, estava em seu auge. O grande inspirador do pan-helenismo era a
vitória sobre os persas nas guerras médicas, mas Alexandre não só conseguiu unir o
mundo helênico ao estabelecer uma guerra de represálias, como foi muito além do
considerado possível.
Porém, conforme a conquista se efetivou, Alexandre soube enfraquecer esse
discurso do pan-helenismo para conciliá-lo com os seus novos objetivos como Rei
da Ásia, possivelmente usando de Persépolis como o último ato embebido nesse
ideal e enterrando de vez a ameaça persa, abrindo espaço para seu próprio
domínio.
O novo tipo de monarquia que Alexandre inaugura que carrega em si muitos
elementos helênicos, mas não está restrito a eles. A conquista apresentou uma forte
ruptura e pode inclusive ser considerado um divisor de águas na construção da
identidade helênica, pois a:
41

Consequência das conquistas de Alexandre foi a eliminação, num curto prazo, da


ideia do bárbaro como um outro que, durante dois séculos, não apenas figurara
como o inimigo natural do mundo helênico, mas também fornecera o principal
ímpeto para todo o conceito do pan-helenismo. OS propagandistas gregos, tais
como Isócrates, haviam pintado uma imagem do orientalismo persa em que a
riqueza fabulosa de Creso era equiparada apenas pela corrupção e decadência
exausta de seus guardiões indignos. Ali estava um prêmio a ser tomado à força, e
a invasão da Grécia por Xerxes em 480 sempre podia ser invocada como
desculpa natural para quaisquer retaliações. O pan-helenismo era a bandeira
inicial sob a qual Alexandre lançou seu próprio ataque esmagador; mas, por ironia,
seu grande sucesso imediatamente tornou esta causa obsoleta. (GREEN, 2014, p.
79)

Dialogando com as elites locais, Alexandre, embora tenha morrido após


poucos anos, conseguiu consolidar seu domínio de tal forma que mesmo a disputa
pelo poder deixado por sua morte, não enfraqueceu os macedônios, só os dividiu,
originando as dinastias que durarão séculos.
A sociedade grega se transformou de tal forma que os séculos subsequentes
a morte de Alexandre, o chamado período Helenístico, foi marcado por grandes
reinos despóticos, bem diferentes das tradicionais polis gregas que marcaram a
antiguidade clássica.
O que se criou foi uma cultura de corte de matriz helênica, mas agregada de
várias outras influências, e que se utilizava de várias manifestações monárquicas, de
acordo com a região. Essa “alta cultura” era o elemento que diferenciava os estratos
político-sociais e fomentou uma integração ideológica entre as monarquias
helenísticas e suas cortes (STROOTMAN, 2007, p. 22).
Logo, o helenismo como transplantação da cultura helênica unilateral na Ásia
é falho, pois a própria identidade e realidade do mundo helênico é transformada e
influenciada pelo “Oriente” de forma definitiva, e a penetração da cultura helênica
cria uma nova dinâmica em todo o território conquistado.
42

GRADE DE ANÁLISE DE CONTEÚDO

CANDIDO, M. R. et alli. Novas perspectivas sobre a aplicação metodológica em


História Antiga. In: BELTRÃO, C. et alli. A Busca do Antigo. Rio de Janeiro: NAU
Editora, 2011, 16-17.

PLUTARCO. Alexandre e César: as vidas comparadas dos maiores guerreiros da


antiguidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 2016.

I. 1 - Processo de Descrição
Autor / Obra / Ano Plutarco, Vidas Paralelas, 46-120.
Período / Região Mundo greco-romano, século I d. C. Queroneia-Delfos (etnia
grega).
Gênero do A biografia como gênero de discurso. Palestras para classes
discurso abastadas de Roma.
Público / Privado
Manifestação da Grego.
Língua

I. 2 – Análise do Texto
Propriedade da Discurso para a educação escolar ou para os homens
Linguagem do virtuosos. Preceptor de Alexandre, o Grande.
Texto
Qualificação do Exalta os feitos de Alexandre,o Grande, o colocando como
Texto grande governante, em paralelo a Júlio César.
Comunicação do Uma obra biográfica sobre Alexandre, o Grande.
Texto
Processo de A obra consta com 23 pares de biografias (Alexandre e
Interseção César). Quatro biografias ficaram sem par específico –
Artaxerxes, Arato, Otão e Galba.
Conceitos Paralelismo biográfico e herança grega no Império Romano,
operacionais do estabelecendo as similaridades entre os homens valorosos,
Texto pares de gregos com romanos, que para Plutarco servem
como modelo de moralidade para os jovens.
43

I. 3 - Categorias Temáticas
Temas Pertinência Citação Objetividade
- Descreve É coisa tida como inteiramente PLUTARCO, - Plutarco
os mitos certa que Alexandre, o Vida de apresenta a
que Grande, pelo lado paterno, Alexandre, p. descendência
envolvem o descendia da raça de Hércules 19-21. heroica e divina
nascimento através de Carano, e pelo lado de Alexandre.
de materno provinha do sangue
Alexandre e dos Eácidas, por Neoptólemo.
sua [...] Não obstante, depois que
ancestralida teve essa visão, Felipe enviou
de. Queronte de Megalópolis ao
oráculo de Apolo em Delfos,
para indagar o que seria aquilo
e o que devia fazer; e ali lhe foi
respondido que sacrificasse a
Júpiter Âmon e o
reverenciasse acima de todos
os outros deuses"; mas perdeu
um dos olhos, aquele que
pusera no buraco da
fechadura do quarto, quando
viu esse deus em forma de
serpente deitado junto com
sua mulher...”
- Primeiro Recebeu uma vez PLUTARCO, - Plutarco exalta
contato com embaixadores do rei da Pérsia, Vida de a capacidade
os Persas e enquanto o pai tinha saído Alexandre, p. precoce de
demonstraç para qualquer viagem fora do 23. Alexandre de
ão de sua reino, e, privando com eles, os lidar no ambiente
capacidade conquistou pela cortesia de político e sua
como líder. que usou e pela boa curiosidade pelo
hospedagem que lhes diferente, além
proporcionou; e, como não do primeiro
lhes perguntasse nada de contato com a
pueril nem de insignificante, Pérsia.
mas os interrogasse sobre as
distâncias existentes entre um
lugar e outro, e sobre a
maneira pela qual se ia mais
depressa às altas províncias
da Ásia, e sobre o próprio rei
da Pérsia, como ele se portava
com os inimigos, e que forças
44

e poderio tinha.
- Alexandre Assim, todas as vezes que PLUTARCO, - Plutarco
e as chegavam notícias de que o Vida de apresenta a
conquistas pai tomara alguma cidade Alexandre, p. ambição do
de Felipe. importante ou ganhara alguma 23. jovem e a
grande batalha, ele não preocupação de
gostava muito de ouvi-las, mas Alexandre de
dizia a seus iguais em idade: viver à sombra
"Meu pai tomará tudo, das conquistas
meninos, e não deixará para do pai.
mim nada de belo nem de
magnífico que fazer e
conquistar convosco". Não
amando a volúpia nem o
dinheiro, antes a virtude e a
glória, achava que quanto
mais o pai lhe deixasse de
grandes e gloriosas
conquistas, tanto menos lhe
ficaria de bom para fazer por si
mesmo.
- Alexandre Mandou chamar Aristóteles, o PLUTARCO, - Plutarco revela
e sua mais celebre e o mais sábio Vida de a presente
formação dos filósofos, cuja tarefa era Alexandre, p. educação
cultural orientar-lhe e aprimorar sua 27-29. helênica que
helênica. educação [...] Alexandre acompanhou a
também tinha uma atração formação de
natural pela literatura: gostava Alexandre.
de estudar e de ler.
Considerava a Ilíada como um
arsenal para a arte da guerra,
e era assim que a chamava.
Aristoteles lhe deus a edição
desse poema, por ele próprio
corrigida, [...] Alexandre
punha-a todas as noites à
cabeceira, como fazia com a
espada. Não lhe sendo fácil,
nas províncias da alta Ásia,
obter livros, escreveu a
Hárpalus pedindo que lhe
enviasse alguns; e Harpalus
mandou-lhe as obras de
Filistes, grande números das
tragédias de Eurípedes,
Sófocles e Ésquilo, e os
ditirambos de Telestes e de
45

Filoxenes.
- Alexandre Os gregos estavam reunidos PLUTARCO, - Plutarco
recebe o no istmo e haviam resolvido, Vida de escreve sobre a
comando da com um decreto, que se Alexandre, p. decisão de
campanha agregariam a Alexandre na 35. começar a
contra os guerra contra os persas. expedição e a
Persas. Alexandre foi nomeado chefe confirmação de
da expedição, e recebeu as Alexandre no
visitas de uma multidão de cargo de seu pai,
estadistas e de filósofos, que Felipe.
iam felicita-lo pela escolha dos
gregos.
- Alexandre Foi-lhe anunciado que, entre PLUTARCO, - Plutarco relata o
captura a os cativos, estavam Vida de comportamento
família de conduzindo a mãe e a esposa Alexandre, p. respeitoso que
Dario após a de Dario, com suas duas 45. Alexandre adota
batalha de filhas, que,ao verem o arco e o em relação a
Íssus. carro de Dario, prorromperam família de seu
em altas lamentações, oponente, sendo
desnundando os seios, na um dos primeiros
crença de que Dario tivesse indícios do
perecido. Alexandre, mais respeito do rei
sensível a desventura delas macedônico pela
que a sua própria felicidade,
cultura persa.
depois de alguns momentos
de silêncio, enviou Leonato
para comunicar-lhes que Dario
não estava morto, e que elas
nada tinham que temer da
parte de Alexandre; que este
não fazia guerra contra Dario
senão pelo império, e que
nada lhes faltaria das honras
com as quais estavam
acostumadas enquanto Dario
reinava.
- Alexandre Depois de conquistado o Egito, PLUTARCO, Plutarco
constrói Alexandre projetou a Vida de descreve a
Alexandria. construção duma cidade Alexandre, p. construção de
grega, grande e populosa, 52. uma cidade aos
dando-lhe seu próprio nome. moldes helênicos
no Egito. A
primeira de várias
que Alexandre irá
construir.
- Alexandre Tornando-se senhor de Susa, PLUTARCO, Plutarco
46

toma posse Alexandre encontrou no paço Vida de descreve as


das 40 mil talentos de prata em Alexandre, p. riquezas que
riquezas da moeda e uma quantidade 66. Alexandre toma
realeza incomensurável de móveis e posse, tornando-
Aquemênida coisas preciosas de toda o um dos homens
. espécie, entre as quais 5 mil mais ricos do
talentos de púrpura de
mundo.
Hermion, que ali estava
amontoada havia 190 anos e
que conservava ainda toda
sua frescura e primitivo
esplendor.
Alexandre é O próprio rei, arrastado por PLUTARCO, Plutarco relata os
convencido essa sugestão e pelas Vida de acontecimentos
a por fogo incitações dos amigos, Alexandre, p. que geraram o
no palácio levanta-se da mesa, a coroa 68-69. incêndio do
de de flores na cabeça e uma palácio de
Persepólis tocha na mão, e avança. Persépolis, e o
por Taís. Seguido por todos os sentimento de
convivas, que , dançando e vingança e
levantando altos gritos, vão vontade de voltar
cercar os bárbaros. Os outros para suas terras
macedônios, informados do
que os helênicos
que se passava, acorriam com
sentiam.
tochas, cheios de alegria, com
a esperança de que Alexandre
pensasse em regrassar à
Macedônia e não quisesse
mais permanecer entre os
bárbaros, visto que ele próprio
incendiava e destruía o palácio
real. [...] logo se arrependeu e
deu ordem para extingui-lo
Alexandre não se vestiu inteiramente PLUTARCO, Plutarco
adota como os medas, cuja Vida de descreve a
parcialment roupagem era estranha e Alexandre, p. adoção parcial
e os trajes e bárbara demais; não adotou 75-76. dos trajes da
costumes nem as largas calças, nem o realeza palaciana
da realeza vestido comprido, nem a tiara, Aquemênida, e
palaciana e sim um costume que os motivos que
Aquemênida intermeava entre o dos persas levaram
. e dos medas, menos luxuoso Alexandre a
do que o destes últimos, mas mesclar a
mais majestoso que o roupagem.
daqueles.
Alexandre Escolheu entre ele 30 mil PLUTARCO, Plutarco escreve
seleciona 30 crianças e mandou que lhes Vida de sobre a tentativa
mil jovens Alexandre, p. de Alexandre em
47

asiáticos ensinassem o grego e as 77. propagar a


para serem instruíssem nos exercícios cultura helênica
educados militares macedônicos. através dos filhos
aos moldes Encarregou vários professores das aristocracias
helênicos. de dirigir a sua educação. da Ásia.
Alexandre Quanto ao casamento com PLUTARCO, Plutarco
se casa com Roxana, só o amor foi seu Vida de descreve o que
Roxana móvel. Conheceu-a em um Alexandre, p. moveu Alexandre
festim, em casa de Cortano, e 77. a se casar com
apaixonou-se por sua beleza e uma mulher
seus encantos. Essa ligação bárbara e as
pareceu bastante conveniente consequências,
ao estado presente dos que ao seu ver,
negócios: inspirou aos bárbaro foram positivas.
muito confiança em Alexandre;
passaram a estima-lo, vendo-o
seguir tão rigorosa continência
que só se aproximou da única
mulher pela qual se
apaixonara em virtude do
legitimo casamento.
48

REFERÊNCIAS DOCUMENTAIS E BIBLIOGRÁFICAS

Documentos

ARRIANO. Anabasis of Alexander. London. Harvard University Press. 1983.

DIODORO DA SICÍLIA. Diodorus Siculus. Library of History. London. Harvard


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