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Rio de Janeiro
2017
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Rio de Janeiro
2017
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Agradecimentos
Sou muito grato ao apoio que recebi de minha família, que me motivaram a
seguir meu sonho, e fizeram o possível para que a minha experiência universitária
fosse a melhor possível. Agradeço muito a companhia e o apoio sempre presente de
minha namorada, Priscila, minha Clio e responsável por sempre manter meu ânimo
elevado e inspirado. Ao Bingo também.
Tenho imensa gratidão aos professores que me proporcionaram excelentes
aulas. Principalmente a minha orientadora, Maria Regina, e a todo o pessoal do NEA
que participou de uma parte importante da minha formação.
Por último agradeço a Uerj, uma universidade que apesar de todas as
adversidades, me fez sentir em casa. Dentro dela sempre tive acesso a uma
biblioteca muito interessante e a uma xerox amigável, capitaneada pelo Denilson,
que facilitou bastante a minha vida acadêmica.
4
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................8
1 PROCESSO DE EXPANSÃO DA CULTURA HELÊNICA..........................11
1.1 A promoção do helenismo....................................................................11
1.2 Novas visões acerca do Helenismo......................................................15
2 O PAN-HELENISMO COMO MOTIVADOR DA CAMPANHA.....................19
2.1 O pan-helenismo e a ameaça persa......................................................19
2.2 A liga de corinto e a guerra de represália..............................................21
2.3 Alexandre visto como libertador............................................................24
2.4 A tomada de Persepólis e a vingança helênica......................................26
2.5 As recompensas da vingança...............................................................30
3 ALEXANDRE E SUA LIDERANÇA POLÍTICA NA ÁSIA............................32
3.1 O amálgama étnico-cultural..................................................................32
3.2 As conexões divinas de Alexandre........................................................35
3.3 A herança da Realeza Aquemênida.......................................................36
3.4 A monarquia helenística inaugurada por Alexandre................................38
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................40
GRADE DE ANALISE DO CONTEUDO......................................................42
REFERENCIAS DOCUMENTAIS E BIBLIOGRAFICAS...............................48
8
Introdução
1
Ilustrando os exemplos, podemos citar dois filmes de hollywood, Alexander the Great (1956) e
Alexander (2004); dois jogos de computador focados na conquista macedônica: Alexander (2004) e
Total War: Alexander (2006); a música do Iron Maiden, Alexander the Great, lançada em 1986 e o
livro “Alexandre, o Grande. A Arte da Estratégia” de Partha Bose, que teve como intuito formar uma
teoria de planejamento empresarial a partir das estratégias utilizadas na conquista por Alexandre.
2
"Alexander the Great: empire". Map. Encyclopædia Britannica Online. Web. 02 ago. 2017.
<https://www.britannica.com/biography/Alexander-the-Great?oasmId=54536>
9
3
PLUTARCO, 2016, p. 18.
13
Porém, Levêque ressalta que mesmo com essa política de cunho conciliatório
entre o grego e o bárbaro, Alexandre ainda é o propagador do helenismo. No
decorrer de suas conquistas, ele funda novas cidades, as Alexandrias, baseadas
nas polis helenas e funcionando, como exposto anteriormente por Toynbee, como
polos de difusão da cultura grega e centro administrativos-militares, e, além disso, o
rei macedônico:
Não lhe sendo fácil, nas províncias da alta Ásia, obter livros, escreveu a
Hárpalus pedindo que lhe enviasse alguns; e Harpalus mandou-lhe as obras
de Filistes, grande números das tragédias de Eurípedes, Sófocles e Ésquilo,
e os ditirambos de Telestes e de Filoxenes. (PLUTARCO, 2016, p. 29).
palestino Edward Said, sua obra Orientalismo em 1978, fornece o arcabouço teórico
para:
:
abordagens denominadas de nativistas ou antiimperialistas que seguem os
pressupostos básicos da chamada teoria pós-colonial que apresentam
como objetivo reconstruir os estudos sobre o Império Romano [Nesse
estudo adaptaremos essa abordagem para o período helenístico], sugerindo
que as análises devem ser norteadas por três aspectos interrelacionados:
articulação das histórias ativas dos povos dominados, incluindo sua
capacidade de gerar formas abertas e ocultas de resistência; desconstrução
e definição dos modelos binários pelos quais o Ocidente categorizou os
outros, preocupando-se em afastar-se da dominância do centro na
construção do conhecimento e desenvolvendo o estudo das periferias;
investigação do poder de representação das imagens e das linguagens
coloniais, reconhecida como análise do discurso colonial (MENDES, 2010,
p. 7).
5
Os reis macedônios se diziam gregos de origem, herdeiros do herói Hércules e inclusive
participavam das Olímpiadas (MOSSE, 2004, p. 19).
6
Xerxes I foi o rei Aquemênida de 486 AEC. até à data do seu assassinato em 465 AEC. Era filho de
Dario I e neto de Ciro, o Grande.
7
Um título comumente utilizado para denominar os reis Aquemênida.
8
Uma série de conflitos bélicos, ocorridos entre 499 e 449 AEC, em que polis helênicas tentam
resistir e afastar o domínio persa.
20
9
A guerra do Peloponeso, de 431 a 404 AEC, foi um conflito armado entre as duas pólis mais
proeminentes, Atenas e Esparta.
10
“A fragmentação do império marítimo de Atenas em 404 teve vastas implicações políticas,
econômicas e psicológicas. Desapareceram a confiança altiva e orgulho imodesto que transluzem em
tanto da arte, arquitetura e literatura ateniense no século V. O histórico de Atenas na primeira metade
do século IV é marcado por uma política penosa (e muitas vezes um tanto desonesta), uma retórica
carregada de fantasia, intermináveis conflitos locais (tanto internos quanto externos), e uma
determinação ferrenha, como no caso da chamada Segunda Liga Marítima Ateniense dos anos 370,
de reconquistar glórias passadas da polis num mundo onde o benefícios imperiais que foram
popularizados sob o reinado de Péricles já ficara para trás na memória” (GREEN, 2014, p. 78).
11
Epaminondas (418 - 362 AEC) foi um general e político grego, um dos responsáveis pela
transformação de Tebas em potência helênica.
21
O mais influente propagador desse ideal foi Isocrates12, que pregava uma
unificação helênica construída com base na luta contra o inimigo persa, inspirada
nos sucessos das experiências passadas em que uma Hélade unida conseguiu
derrotá-los. Como não conseguiu encontrar nenhuma polis capaz de assegurar essa
união, enxergava em Filipe II da Macedônia o melhor candidato a hegemon.
(HECKEL, 2008, p. 37-38)
É importante observar resistências helênicas tanto a Filipe quanto
posteriormente a Alexandre, sendo o orador ateniense Demóstenes13, uma das
figuras mais notáveis dessa oposição. Também houve rebeliões posteriores a
Batalha de Queronéia14, como a malsucedida revolta de Tebas em 335 AEC, que
teve como consequência a sua destruição. Porém, a tradicional ameaça persa
alimentava os temores dos gregos de tal forma, que mesmo quando Demóstenes
advogava em favor da intervenção persa contra o rei macedônio, precisava
assegurar em seus discursos que a monarquia Argeada15 era uma ameaça maior
que o Grande Rei. (NAWOTIKA, 2010, p. 62-63). Esse temor ao inimigo persa não
se restringia as elites e aos círculos intelectuais helênicos, mas se difundia ao
cidadão comum, pelo menos ao ateniense (FLOWER, 2000, p. 106).
Em 338 AEC, logo após sua vitória na batalha de Queróneia, que impõe a
supremacia macedônica sobre as polis, Filipe convoca todos os Estados gregos16 a
Corinto e forma o que ficou conhecido como a Liga de Corinto (BRIANT, 2011, p.
12
Isócrates (436 AEC - 338 AEC) foi um orador e retórico ateniense.
13
Demóstenes (384 - 322 AEC) foi um preeminente orador e político grego de Atenas, conhecido
opositor do expansionismo de Filipe II.
14
Foi uma batalha disputada entre Filipe II e uma coalizão de polis, encabeçada por Atenas e Tebas,
no ano de 338 AEC.
15
Dinastia de Filipe II e Alexandre, o Grande.
16
Esparta recusa fazer parte da liga e posteriormente lideraria uma revolta durante a campanha de
Alexandre na Ásia.
22
A escolha de Corinto como sede dessa reunião não foi ao acaso, pois havia
sido nesta mesma cidade que em 480 AEC a maioria das polis continentais
formaram a symmachia (Aliança) que repeliu a invasão de Xerxes I (NAWOTIKA,
2010, p. 54).
17
“Paz Universal”, um mecanismo diplomático muito utilizado no Século IV AEC, que foi marcado por
muitas guerras e instabilidades, e tinha objetivo de restaurar a ordem na Hélade (NAWOTIKA, 2010,
p. 55).
18
Philip II of King of Macedon, a Hellenistic-era sculpted bust, Ny Carlsberg Glyptotek. Web. 02 ago.
2017. <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Filip_II_Macedonia.jpg>
23
Quando a declaração de guerra de Filipe é sancionada pela Liga, ela tem dois
objetivos oficiais: Libertar os helenos da Ásia Menor e vingar os crimes cometidos
pelos persas 150 anos antes, principalmente a destruição dos templos.
Independentemente da sinceridade das razões declaradas, elas correspondem a
expectativa da sociedade helênica, temerosa em relação a ameaça persa, e
consequentemente fornecem maior coesão e importância ao papel de Filipe II como
hegemon; além de, com uma possível vitória da Liga, afastar a possibilidade de uma
interferência persa na Hélade, consolidando a proeminência macedônica
(NAWOTIKA, 2010, p 67-68).
Logo, teria sido então a campanha contra a Pérsia somente uma guerra de
represália? Claramente, uma vitória, mesmo que somente dominando parte da Ásia
Menor, já aumentaria o poder do reino da Macedônia e o seu prestígio como
hegemon, mantendo a Pax Macedonica e ampliando sua influência regional
(BRIANT, 2011, p. 30-31). Também não podemos saber até que ponto Alexandre,
movido por seu pothos19, enxergava a empreitada como um desafio pessoal de se
equiparar aos heróis homéricos.
A campanha contra os Aquemênida também poderia ser usada como forma
de Filipe amplificar seu poder não só como hegemon, mas dentro da própria
sociedade macedônica. A instituição do exército era uma das mais fortes no sistema
político macedônio, e de certa forma esse segmento social era um dos limitadores
do poder real. Quando Filipe começou a recrutar homens de camadas inferiores
para seu exército, antes de predomínio aristocrático, Filipe II fortalecia o seu poder
interno, pois esses novos soldados eram mais leais a figura do rei do que a estrutura
militar.
De fato, quando Alexandre concretizou a conquista, nem as tensões com o
exército foram o suficiente para frear o aumento do poder autocrático (BERNADINO,
2015, p. 22), demonstrando a força monárquica construída por Filipe e expandida
por seu filho durante a campanha asiática, que soube fortalecer os alicerces de seu
poder além da tradição macedônica.
Ao assumir o trono macedônico, Alexandre possuía um problema que pode
ter apressado e estimulado a sua campanha no Oriente por motivos bem
19
Desejo, anseio.
24
Por trás das corajosas juras de vingança pelos crime de Xerxes na Grécia, muitos
menos que qualquer noção de proselitismo cultural, estava a necessidade urgente,
por parte de Alexandre e todos os seus oficiais de alto escalão, de transformar sua
campanha, tão cedo quanto possível, numa operação geradora de lucros
(GREEN, 2014, p. 43)
a guerra iria se tornar por sua própria natureza uma guerra de conquista, pois
dificilmente seria possivel punir os Persas pelos erros de 480 sem conquista-los.
Segundamente, Isocrates, quem chancelava inesgotavelmente a ideia de
vingança, inquestionavelmente a via como uma 'Eroberungskrieg' - i.e., prover,
pelo menos na Asia Menor, para colonização grega, de forma a aliviar as tensões
sociais na Grécia. Naquele momento, a colonização grega na Asia Menor sem a
conquista seria impossível – e é o porque de Isocrates ver uma conexão
inseparável entre os dois. (BLOEDOW, 2003, p. 273).
20
Foi a primeira grande vitória de Alexandre contra os Aquemênida. Ocorreu em maio de 334 AEC e
foi travada no noroeste da Ásia Menor. Nela os macedônicos venceram as forças dos sátrapas de
Dario III e um grande número de mercenários gregos.
26
22
Diodorus da Sicília (90 EC – 30 EC), foi um historiador grego cujo a obra abrangia desde a
destruição de Tróia até o império Romano, consequentemente passando pela conquista de
Alexandre.
23
Plutarco (46 EC – 120 EC), foi um historiador, biógrafo, ensaísta e filósofo grego, nascido na
Queronéia, conhecido principalmente por suas obras Vidas Paralelas e Moralia.
24
Quinto Cúrcio Rufo foi um senador romano e biografo de Alexandre que escreveu a Historiae
Alexandri Magni Macedonis e provavelmente viveu no século I EC.
25
Arriano, nascido na Nicomedia (c. 89 – 160 EC) foi um filososo e historiador grego conhecido por
ter escrito a Anabase de Alexandre.
29
essa ação, conjuntamente com a queda do Grande Rei26, serviu para espalhar o
boato de que a campanha militar estava para terminar e eles retornariam para seus
lares, algo que muitos de seus soldados ansiavam após uma longa campanha longe
de suas terras (ANSON, 2013, p. 158-159).
Briant defende que o incêndio não foi um símbolo de Pan-helenismo, embora
a propaganda o tenha utilizado, mas era um ato político destinado a aleijar a realeza
Aquemênida do seu centro ideológico, de autoridade e de grandeza de sua dinastia
(BRIANT, 2002, p. 851). De fato, o palácio de Persépolis era um dos mais
grandiosos símbolos da dinastia de Dario, “O complexo palaciano servia como um
museu do poder Aquemênida, onde os esplendores refletiam a herança das
conquistas persas e eram expostas orgulhosamente” (HOLT, 2016, p. 82).
26
Dario foi traído por um de sues sátrapas, Besso, que se declarou o novo rei.
31
27
PLUTARCO, 2016, p. 20.
32
na corte real. Três decisões políticas de Alexandre ilustrarão bem essa sua
aproximação com o Oriente e a absorção e adaptação necessárias para construir
um novo tipo de monarquia.
No próprio exército de Alexandre, já haviam unidades de cavalaria persas
lutando lado a lado dos macedônios desde 330 AEC, na forma de uma tropa
irregular, mas posteriormente seriam integrados a própria cavalaria dos hetairoi29.
Alexandre também recruta trinta mil jovens iranianos, “selecionados cuidadosamente
entre as melhores famílias sob os critérios rigorosos de força física e inteligência”
(BERNADINO, p. 23). Eles deveriam ser treinados a maneira macedônia e aprender
a língua grega (BRYANT, 2011, p. 92), e futuramente iriam ser anexados as
falanges ao lado dos soldados macedônios.
Esse alistamento aconteceu antes de Alexandre começar a campanha da
Índia. Porém, os principais movimentos de descontentamento com essas
incorporações nas fileiras macedônicas, só ganharam força em 324 AEC, quando os
jovens começaram a ser efetivamente incorporados (BERNADINO, 2015, p. 26).
“Eles estavam equipados ostensivamente de cima a baixo, a maneira macedônica”
(Diodoro, XVII, 108) e provocaram a ira dos veteranos dispensados 30, mesmo que o
prêmio de aposentadoria tenha sido o perdão das dívidas e a distribuição de
moedas, tendo que ser aplacada por Alexandre (BERNADINO, 2015, p. 26).
A decisão treinamento dos jovens asiáticos demonstra uma importância da
população asiática na manutenção do poder de Alexandre, e se não foi movida por
um ideal universalista de Alexandre, pelo menos era por um aspecto pragmático de
reposição dos soldados, crucial a ponto de enfrentar o descontentamento de seus
veteranos (MOSSE, 2004, p 77).
O processo de integração dos jovens das aristocracias orientais nas falanges
de Alexandre não visava somente a manutenção de seu poderio militar, mas
também a introdução de uma identidade cultural helênica como forma de domínio,
ao educar os filhos dessas elites locais pelos mesmos moldes da tradição
macedônica. Por outro lado, se analisarmos através do prisma da estrutura de
atitudes e referências, a própria cessão dos filhos dessa aristocracia para serem
29
Cavalaria de elite formada por aristocratas macedônios, que compunham a guarda pessoal do rei.
O grupo possuía relevância dentro da corte e da estrutura política macedônia e muitas vezes eram
delegados ao papel de generais (BERNADINO, p. 17).
30
A campanha já durava uma década.
35
criados e treinados aos moldes helênicos, seria uma forma da elite local se renovar
nos círculos de poder e manter, ou até aumentar, o seu prestígio, se tornando cada
vez mais parte funcional da estrutura política.
Um episódio importante de uma integração multi-étnica efetivada de forma
direta pela interferência de Alexandre, foi o que ficou conhecido como “bodas de
Susa”, que ocorreu em 324 AEC, após sua volta da Índia. Esse evento foi uma série
de casamentos, promovidos por Alexandre, entre seus subordinados macedônios e
orientais (MOSSE, 2004, p.46).
31
Inclusive uma delas era filha do vencido Dario III. Outra filha de Dario foi casada com Heféstion, o
amigo mais próximo de Alexandre.
36
não deviam ter medo de Alexandre, porque ele não fazia a guerra senão
para reinar e, quanto a elas, teriam dele tudo o que tinham de Dário,
enquanto ele reinasse e tivesse todo o seu império [...] não lhes negou
nenhuma honra, nem quanto ao número de oficiais e servidores, nem
quanto ao conforto que tinham antes, mas ordenou que lhes pagassem
pensões ainda maiores do que costumavam ter; (Plutarco, 2016, p. 45-46)
Plutarco respondia assim aos autores de seu tempo, que cobrem Alexandre
de críticas por ele ter aceitado se identificar com o vencido e por ter
introduzido no seu círculo a etiqueta que regia a corte Aquemênida. Além de
seu aspecto polemico, o texto evidencia muito bem uma das armas de
Alexandre, a saber, a colaboração das elites do império que ele estava
conquistando: ou seja, as grandes famílias persas e iranianas de Dario, mas
também os dirigentes das comunidades sujeitadas. Essa política consciente
e constante, representa uma das facetas mais decisivas da estratégia de
Alexandre. (BRYANT, 2011, p. 83-84)
O novo soberano irá molda-lo não só de acordo com sua visão individual, pois
é submetido a todo um contexto da sua bagagem helênica, mas também pelas
relações dessas forças nativas de igual importância. Pois estas, mesmo
conquistadas, ainda detém certo poder, afinal Alexandre busca sempre construir e
manter a sua legitimidade como Grande Rei, sabendo que nunca teria tropas o
suficiente para sufocar uma revolta indefinida em território tão vasto, são esses
“dominados” que também vão determinar as margens de manobra que o novo rei
possuí.
Considerações Finais
Ao intensificar sua posição de Rei de toda a Ásia, não mais sendo somente o
Rei macedônico, hegemon helênico ou libertador das polis da Ásia Menor, Alexandre
afasta-se do ideal pan-helênico e das ideias de subjugação dos povos considerados
inferiores, propostos por pensadores como Aristóteles e Isocrates.
Porém, mesmo se afastando desse ideal e da guerra de represália, e se
aproximando cada vez mais dos simbolismos e das estruturas do poder
Aquemênida; Alexandre ainda se apoia principalmente na base macedônica de seu
poder, como percebemos ao observar que mesmo nas satrapias dirigidas por
aristocratas locais, paralelamente sempre há guarnições comandadas por
macedônios de confiança.
Mesmo dialogando com a estrutura política e cultural local, Alexandre não
deixa de assegurar a helenização do Oriente, no sentido de que inaugura uma
penetração sem precedentes da cultura helênica. Podemos ver isso claramente nas
Alexandrias, é nelas que melhor se realizam a síntese cultural que compõe o seu
novo domínio (SALES, 1999, p. 70).
O pan-helenismo foi uma importante ferramenta para os Argeadas, que
souberam se sustentar em um discurso anti-persa, glorificado no uso da memória de
um período em que as polis possuíam grande poder e a potência comercial e
cultural, Atenas, estava em seu auge. O grande inspirador do pan-helenismo era a
vitória sobre os persas nas guerras médicas, mas Alexandre não só conseguiu unir o
mundo helênico ao estabelecer uma guerra de represálias, como foi muito além do
considerado possível.
Porém, conforme a conquista se efetivou, Alexandre soube enfraquecer esse
discurso do pan-helenismo para conciliá-lo com os seus novos objetivos como Rei
da Ásia, possivelmente usando de Persépolis como o último ato embebido nesse
ideal e enterrando de vez a ameaça persa, abrindo espaço para seu próprio
domínio.
O novo tipo de monarquia que Alexandre inaugura que carrega em si muitos
elementos helênicos, mas não está restrito a eles. A conquista apresentou uma forte
ruptura e pode inclusive ser considerado um divisor de águas na construção da
identidade helênica, pois a:
41
I. 1 - Processo de Descrição
Autor / Obra / Ano Plutarco, Vidas Paralelas, 46-120.
Período / Região Mundo greco-romano, século I d. C. Queroneia-Delfos (etnia
grega).
Gênero do A biografia como gênero de discurso. Palestras para classes
discurso abastadas de Roma.
Público / Privado
Manifestação da Grego.
Língua
I. 2 – Análise do Texto
Propriedade da Discurso para a educação escolar ou para os homens
Linguagem do virtuosos. Preceptor de Alexandre, o Grande.
Texto
Qualificação do Exalta os feitos de Alexandre,o Grande, o colocando como
Texto grande governante, em paralelo a Júlio César.
Comunicação do Uma obra biográfica sobre Alexandre, o Grande.
Texto
Processo de A obra consta com 23 pares de biografias (Alexandre e
Interseção César). Quatro biografias ficaram sem par específico –
Artaxerxes, Arato, Otão e Galba.
Conceitos Paralelismo biográfico e herança grega no Império Romano,
operacionais do estabelecendo as similaridades entre os homens valorosos,
Texto pares de gregos com romanos, que para Plutarco servem
como modelo de moralidade para os jovens.
43
I. 3 - Categorias Temáticas
Temas Pertinência Citação Objetividade
- Descreve É coisa tida como inteiramente PLUTARCO, - Plutarco
os mitos certa que Alexandre, o Vida de apresenta a
que Grande, pelo lado paterno, Alexandre, p. descendência
envolvem o descendia da raça de Hércules 19-21. heroica e divina
nascimento através de Carano, e pelo lado de Alexandre.
de materno provinha do sangue
Alexandre e dos Eácidas, por Neoptólemo.
sua [...] Não obstante, depois que
ancestralida teve essa visão, Felipe enviou
de. Queronte de Megalópolis ao
oráculo de Apolo em Delfos,
para indagar o que seria aquilo
e o que devia fazer; e ali lhe foi
respondido que sacrificasse a
Júpiter Âmon e o
reverenciasse acima de todos
os outros deuses"; mas perdeu
um dos olhos, aquele que
pusera no buraco da
fechadura do quarto, quando
viu esse deus em forma de
serpente deitado junto com
sua mulher...”
- Primeiro Recebeu uma vez PLUTARCO, - Plutarco exalta
contato com embaixadores do rei da Pérsia, Vida de a capacidade
os Persas e enquanto o pai tinha saído Alexandre, p. precoce de
demonstraç para qualquer viagem fora do 23. Alexandre de
ão de sua reino, e, privando com eles, os lidar no ambiente
capacidade conquistou pela cortesia de político e sua
como líder. que usou e pela boa curiosidade pelo
hospedagem que lhes diferente, além
proporcionou; e, como não do primeiro
lhes perguntasse nada de contato com a
pueril nem de insignificante, Pérsia.
mas os interrogasse sobre as
distâncias existentes entre um
lugar e outro, e sobre a
maneira pela qual se ia mais
depressa às altas províncias
da Ásia, e sobre o próprio rei
da Pérsia, como ele se portava
com os inimigos, e que forças
44
e poderio tinha.
- Alexandre Assim, todas as vezes que PLUTARCO, - Plutarco
e as chegavam notícias de que o Vida de apresenta a
conquistas pai tomara alguma cidade Alexandre, p. ambição do
de Felipe. importante ou ganhara alguma 23. jovem e a
grande batalha, ele não preocupação de
gostava muito de ouvi-las, mas Alexandre de
dizia a seus iguais em idade: viver à sombra
"Meu pai tomará tudo, das conquistas
meninos, e não deixará para do pai.
mim nada de belo nem de
magnífico que fazer e
conquistar convosco". Não
amando a volúpia nem o
dinheiro, antes a virtude e a
glória, achava que quanto
mais o pai lhe deixasse de
grandes e gloriosas
conquistas, tanto menos lhe
ficaria de bom para fazer por si
mesmo.
- Alexandre Mandou chamar Aristóteles, o PLUTARCO, - Plutarco revela
e sua mais celebre e o mais sábio Vida de a presente
formação dos filósofos, cuja tarefa era Alexandre, p. educação
cultural orientar-lhe e aprimorar sua 27-29. helênica que
helênica. educação [...] Alexandre acompanhou a
também tinha uma atração formação de
natural pela literatura: gostava Alexandre.
de estudar e de ler.
Considerava a Ilíada como um
arsenal para a arte da guerra,
e era assim que a chamava.
Aristoteles lhe deus a edição
desse poema, por ele próprio
corrigida, [...] Alexandre
punha-a todas as noites à
cabeceira, como fazia com a
espada. Não lhe sendo fácil,
nas províncias da alta Ásia,
obter livros, escreveu a
Hárpalus pedindo que lhe
enviasse alguns; e Harpalus
mandou-lhe as obras de
Filistes, grande números das
tragédias de Eurípedes,
Sófocles e Ésquilo, e os
ditirambos de Telestes e de
45
Filoxenes.
- Alexandre Os gregos estavam reunidos PLUTARCO, - Plutarco
recebe o no istmo e haviam resolvido, Vida de escreve sobre a
comando da com um decreto, que se Alexandre, p. decisão de
campanha agregariam a Alexandre na 35. começar a
contra os guerra contra os persas. expedição e a
Persas. Alexandre foi nomeado chefe confirmação de
da expedição, e recebeu as Alexandre no
visitas de uma multidão de cargo de seu pai,
estadistas e de filósofos, que Felipe.
iam felicita-lo pela escolha dos
gregos.
- Alexandre Foi-lhe anunciado que, entre PLUTARCO, - Plutarco relata o
captura a os cativos, estavam Vida de comportamento
família de conduzindo a mãe e a esposa Alexandre, p. respeitoso que
Dario após a de Dario, com suas duas 45. Alexandre adota
batalha de filhas, que,ao verem o arco e o em relação a
Íssus. carro de Dario, prorromperam família de seu
em altas lamentações, oponente, sendo
desnundando os seios, na um dos primeiros
crença de que Dario tivesse indícios do
perecido. Alexandre, mais respeito do rei
sensível a desventura delas macedônico pela
que a sua própria felicidade,
cultura persa.
depois de alguns momentos
de silêncio, enviou Leonato
para comunicar-lhes que Dario
não estava morto, e que elas
nada tinham que temer da
parte de Alexandre; que este
não fazia guerra contra Dario
senão pelo império, e que
nada lhes faltaria das honras
com as quais estavam
acostumadas enquanto Dario
reinava.
- Alexandre Depois de conquistado o Egito, PLUTARCO, Plutarco
constrói Alexandre projetou a Vida de descreve a
Alexandria. construção duma cidade Alexandre, p. construção de
grega, grande e populosa, 52. uma cidade aos
dando-lhe seu próprio nome. moldes helênicos
no Egito. A
primeira de várias
que Alexandre irá
construir.
- Alexandre Tornando-se senhor de Susa, PLUTARCO, Plutarco
46
Documentos
Bibliografia
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