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BIBLIOTECA VIRTUAL DE CIÊNCIAS HUMANAS

A PSICOLOGIA NO MARANHÃO:
PERCURSOS HISTÓRICOS

Márcia Antonia Piedade Araújo


Márcia Antonia Piedade Araújo

A psicologia no Maranhão:
percursos históricos

Rio de Janeiro
2014
Esta publicação é parte da Biblioteca Virtual de Ciências Humanas do
Centro Edelstein de Pesquisas Sociais – www.bvce.org

Copyright © 2014, Márcia Antonia Piedade Araújo


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SUMÁRIO

Prefácio __________________________________________________2
A particularidade da Psicologia: a psicologia no Nordeste _____2
INTRODUÇÃO ______________________________________________5
CAPÍTULO I _______________________________________________19
A PSICOLOGIA TEM UMA HISTÓRIA... ___________________________19
CAPÍTULO II ______________________________________________30
...E ESSAHISTÓRIAOCORRE NUMCERTOESPAÇO _______________________30
CAPÍTULO III ______________________________________________46
OS PRIMÓRDIOS DA PSICOLOGIA NO MARANHÃO ______________46
CAPÍTULO IV ______________________________________________85
A PSICANÁLISE NO MARANHÃO _____________________________85
CAPÍTULO V _____________________________________________105
OS CURSOS DE PSICOL OGIA NO MARANHÃO ___________105
CONSIDERAÇÕES FINAIS ___________________________________206
REFERÊNCIAS __________________________________________210
APÊNDICES ______________________________________________217
APÊNDICE A - Relação candidatos/vagas das graduações da UFMA
APÊNDICE B - Candidatos do curso de Psicologia nos vestibulares de
1991 a 2000
APÊNDICE C - Quadro de reformulações curriculares do curso de
psicologia do UniCEUMA

1
PREFÁCIO

A particularidade da Psicologia: a psicologia no Nordeste


A história da psicologia no Brasil sempre viveu como que
encoberta, como negando sua própria existência, visto os estudos
universitários dedicarem-se principalmente às histórias europeias e norte-
americanas nas famosas disciplinas de Teorias e Sistemas, além do
conteúdo das demais matérias ser todo ele embasado em autores
estrangeiros. Esta perspectiva, não só a-histórica, mas também
universalista, pressupõe a neutralidade da ciência psicológica e garante
que os conhecimentos produzidos em outras sociedades podem ser
tranquilamente adotados em terras brasileiras.
Aos poucos, contudo, esta situação tem se modificado, graças a um
conjunto de pesquisadores interessados em desvendar o véu que encobria
nossa história e trazer à luz os diversos caminhos percorridos pela
psicologia no Brasil. Além disto, há cada vez um maior número de
psicólogos interessados em historicizar seus saberes e suas práticas.
Neste sentido, uma geração de novos pesquisadores do Nordeste
têm se dedicado a apresentar a história que a psicologia traçou em seus
respectivos Estados, o que possibilitou que já tenhamos o relato da
psicologia no Rio Grande do Norte e no Ceará.
Estes trabalhos permitem que se torne evidente a historicidade da
psicologia, haja vista a marcante diferença temporal entre o aparecimento
dos primeiros cursos de psicologia nas regiões Sul-Sudeste, nos anos 50 e
60, e seu aparecimento bem posterior na região Nordeste, acompanhando
o surto de desenvolvimento industrial de cada uma dessas regiões. Vê-se,
pois, que a psicologia necessita de um determinado solo, que implica
2
modernização tecnológica, urbanização e — por que não? — certa
psicologização prévia para que se possa ter início seu estudo sistemático,
para que surjamos cursos de psicologia.
O estudo ora publicado por Márcia Araújo insere-se nesta linha e é
um belo relato sobre a história do aparecimento da disciplina e da criação
dos cursos de psicologia no Maranhão. A autora procura traçar primeiro o
contexto histórico do Maranhão, e de sua São Luís querida, para então
apontar para as condições de possibilidade do aparecimento do saber
psicológico. Resgata um personagem ímpar e pouco conhecido pelas
novas gerações, o Padre João Mohana, grande responsável pela
divulgação de conceitos psicológicos em sua análise e trabalho de
aconselhamento na relação entre casais e na educação de filhos. Aponta a
presença pioneira dos psicólogos trabalhando no Departamento Estadual
de Trânsito (DETRAN) e dos primeiros psicanalistas — presença, e
talvez possamos dizer, hegemonia, que deixa muito clara, mostrando seus
efeitos na constituição atual dos cursos. E, enfim, fala sobre estes, das
dificuldades encontradas pela Universidade Federal do Maranhão para
conseguir criar seu curso, o primeiro do Maranhão, em contraposição às
facilidades que o Centro Universitário do Maranhão, vai encontrar alguns
anos depois.
Este é um simples resumo do livro, não mostra a garra e a emoção
da autora ao narrar episódios que viveu, experiências que sentiu na pele,
que todavia deixa transparecer em vários momentos de sua escrita,
embora procure que esta se situe ao nível do relato e análise. Por isto
mesmo, se torna um livro mais que recomendado para leitura não só
pelos psicólogos maranhenses, mas por todos aqueles que se interessam
pela Psicologia no Brasil.
Tenho uma relação especial de afeto com este trabalho, pois ele é
fruto da dissertação de mestrado de Márcia Araújo, que tive a honra e o
prazer de orientar. A dissertação foi realizada dentro de um projeto
conjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da Universidade
Federal do Maranhão, uma das experiências mais ricas de minha vida
acadêmica, pela riqueza de conteúdos que brotou do conjunto de
professores/alunos, pelo interesse e afã que demonstraram em obter
3
novos conhecimentos e, principalmente, pelos belos resultados, dos quais
este livro é um exemplo. Espero que sua trajetória seja tão positiva e tão
geradora de encontros como o foi para mim e para Márcia Araújo a
confecção da dissertação original.
Barcelona, 30 de outubro de 2004.
Ana Maria Jacó-Vilela

4
INTRODUÇÃO

[...] A história simplesmente não é


imparcial; é altamente e
inevitavelmente seletiva [...] Mesmo
que alguém tivesse muitas vidas e
p od eres in finitos d e observação
e de memó r ia , a inda a ssim
s e r i a t a r e f a impossível fazer uma
descrição completa e imparcial de todos
os eventos ocorridos [...]

Michael Wertheimer, 1982

Quando histórias são lembradas, simultaneamente são lembrados


os tempos em que as estórias eram contadas na infância e tinham sempre
finais felizes. Nelas se vivenciavam grandes momentos em que, na
imaginação, figurava-se como personagem, embora, ao mesmo tempo,
tudo parecesse um pouco distante. Hoje conta-se uma história na qual se
é o personagem real, onde não está previsto aquele final e nenhum outro,
mas onde está prevista a certeza de poder contá-la.
Conhecer uma realidade com a qual se tem uma experiência direta
é entrar em contato com o que foi visto e mesmo vivido, num
determinado tempo, e que se torna mais visível quando exposto para
análise.
Assim, durante mais de dez anos, o Departamento de Psicologia da
Universidade Federal do Maranhão — composto na ocasião em sua
maioria por professores com formação em Filosofia e Pedagogia —,
presenciou e vivenciou as questões levantadas pela comunidade
interessada pela profissão, dentre as quais, além de muitas outras, cumpre
destacar: Por que não havia o curso de Psicologia? Quando a
Universidade criaria o curso? Se já existia o Departamento, se já existiam
5
os professores e se as disciplinas já estavam sendo oferecidas a outros
cursos, o que estava faltando? Estas e outras perguntas, a comunidade as
fazia procurando compreender o presente, o que obrigatoriamente levava
a se lançar um olhar ao passado.
Ao se eleger o tema "A Psicologia no Maranhão: percursos
históricos", a escolha e interesse em estudá-lo surgiu de reflexões
vinculadas à experiência acadêmica, que se estava tendo como docente
do Departamento de Psicologia desde 1979, — acompanhando os
percalços do seu desenvolvimento que, de modo sui generis, antecedeu à
criação do curso (este, criado somente em 1991) — e, consequentemente,
da implicação por se ter envolvimento de alguma forma nessa história.
Embora tendo que relatar, em algum momento, neste trabalho,
algumas situações vivenciadas, procurou-se construir criticamente o
objeto de estudo, buscando articular as citadas vivências com os
referenciais teóricos escolhidos, no sentido de resgatar a dimensão
histórica desse estudo, na tentativa de tornar possível responder a
questões e contribuir para que outras análises possam ser realizadas.
Este trabalho não pretende enaltecer nem citar os "grandes feitos"
de alguns, mas evidenciar de forma crítica as ideias, a evolução e a
estrutura da Psicologia no Maranhão, no período que abrange os anos de
1970 a 1998 com extensão até abril de 2002. Como resultado, almeja-se
registrar, analisar, divulgar e posteriormente ampliar essa história,
documentando um período, de forma a torná-la útil para outros estudos,
na tentativa de evitar-se algo tão frequente quando se pesquisa: a
"queixa" pela falta de informação.
Entende-se que, para compreender a Psicologia, é preciso
considerar-lhe a história — não a que busca somente uma linearidade
evolutiva, mas a que está em processo e é conhecida através de amplos
estudos e pesquisas realizadas sobre essa ciência e profissão. A
compreensão de sua trajetória é indispensável para pensar-se a Psicologia
em suas transformações e problemáticas atuais.
Deste ponto decorre que é bastante válida e enriquecedora a
pesquisa histórica dessa ciência, pois ela proporciona o conhecimento de
6
que a sua aparente descontinuidade revela a existência de sua identidade
e continuidade. A busca da identidade da Psicologia parece ter, na
reconstrução histórica, o seu ponto de origem. O conhecimento do
passado pode facilitar compreender o presente. Assim, como diz Massimi
(1987, p. 114), "[...] a história, ao mesmo tempo que recupera as origens
de uma forma de saber, revela seu destino [...]".
Nesse entendimento, muitas são as razões que justificam e
encorajam as pesquisas na linha da História da Psicologia. A escolha
desse tema partiu da preocupação relacionada com o que pesquisar, por
se tratar de uma proposta de trabalho em que, ao final, deixar-se-á um
produto direto das inquietações e experiências vividas.
Como diz Catharino (1999, p. 172),
[...] questões nos inquietam e preocupam, mas também nos mobilizam
e incitam a abdicar do cômodo papel de espectador para assumir o de
atores. Atores que se enredam e que participam da construção desta rede
que é a história da psicologia, na qual figuramos como personagens que
pesquisam, que agem, que respondem e que inventam novas perguntas
para contar outras histórias.

Conhecer essa história no Maranhão, por mais recente que seja, faz
parte dos muitos estudos que estão acontecendo nessa área. Isto diz
respeito à recuperação da memória da Psicologia, tema sobre o qual os
pesquisadores, ao longo das últimas décadas do século XX, tanto no meio
nacional quanto internacional, têm demonstrado crescente interesse. A
necessidade de escrever sobre esse tema encontra eco nas palavras de
Massimi (1990, p.75-76): "[...] qualquer tentativa de preservação, coleta
ou indagação crítica, relativa a áreas ou âmbitos específicos da psicologia
brasileira representa uma contribuição fundamental".
O estudo da história abordado neste trabalho teve como objeto as
condições históricas já constituídas e a serem desenvolvidas, a partir do
estudo das redes de relações que envolvem um determinado período. O
propósito que se teve foi de tentar transformar os fatos em si em fatos
analisados, sem a pretensão de "descobrir" essa história. Acredita-se ser
importante recuperar o que for possível para futuras produções, na
7
tentativa de preencher as lacunas de memórias e documentos, tendo em
vista que a história, sempre provisória, produz efeitos diversos ao ser
contada novamente. Nesse sentido, resgata-se a visão de Jacó-Vilela
(2001, p. 177, grifo do autor) aqui expressa, a qual contribui para um
melhor entendimento Sobre o assunto:
Embora a história inevitavelmente remeta ao passado, ela o põe em
permanente movimento, construída que é em múltiplos presentes. Ação
de memórias diversas, que iluminam ou obscurecem o presente a partir
de fragmentários ou totalizantes hojes, a historicização de nossos
fazeres pode nos permitir proceder à desnaturalização do nós-mesmos
— aquele que tantas vezes insiste em repetir assim é, assim foi, assim
será – ou, num funesto destino, impedir que o façamos.

Procura-se, também, compreender o modo como a Psicologia se


apresenta enquanto comprometida com a recuperação de sua história
como uma nova forma de estar no mundo. Vista como elemento central
do agir e do fazer humano, é entendida como um conhecimento
relacionado ao próprio homem enquanto ser social e histórico, que vive o
presente, com traços do passado e pensamento no futuro. Tal saber é
concebido numa perspectiva que expressa suas ações, num processo
contínuo de transformações e mudanças nas relações em que ele se insere
e se desenvolve. Nesse panorama, o conhecimento da História da
Psicologia torna-se particularmente necessário para se compreender a
Psicologia como construção histórica.
Esta constatação é assim descrita por Bombassaro (1997, p. 90):
[...] O conhecimento tem um caráter histórico por dois motivos: em
primeiro lugar, porque o passado que o carregou até nós se manifesta
como história, como o que aconteceu; e, em segundo lugar, porque
também o presente, ao interpretar o passado, cria a história [...].

Na medida em que se avançou na investigação para alcançar os


objetivos propostos, alguns trabalhos já realizados auxiliaram no
entendimento de questões básicas, principalmente as relacionadas a
cursos de Psicologia em universidades.
8
Durante o levantamento da literatura, foi possível resgatar cinco
trabalhos realizados sobre essa temática que contribuíram sobremaneira
para o desenvolvimento do tema, pela estreita relação com o assunto.
O primeiro foi a monografia de curso de especialização de Léda
(1995) com o título "O Curso de Psicologia na Universidade Federal do
Maranhão: trajetória de um processo de formação", em que a autora
enfatiza o momento da criação e da reestruturação do curso, realizando
uma análise comparativa dos currículos constantes nas duas propostas no
sentido de proporcionar conhecimentos indispensáveis à prática
profissional dos alunos.
O segundo foi a dissertação de mestrado de Carvalho (1997)
intitulada "Reconstruindo a História do Curso de Psicologia da
Universidade Federal do Pará: um curso numa região em processo de
desenvolvimento", em cuja narrativa a autora situa o contexto da região,
o movimento para a implantação e criação do curso, sua direção mais
evidenciada na área comportamental e o problema do reconhecimento do
curso. A leitura desse material foi de grande importância, pelo fato de se
ter percorrido alguns desses contextos.
O terceiro foi o livro de Rieche (1998) com o título "O Curso de
Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro: a história
possível (1964-1978)". Sua leitura despertou interesse pelo estilo
detalhado de contar a história, o que facilitou a percepção do trato que foi
imprimido à pesquisa, e à trajetória desse curso de Psicologia, na qual se
insere o contexto da fundação da própria Universidade.
O quarto foi a dissertação de mestrado de Carvalho (2001) com o
título "A cidade e a alma reinventadas: modernização urbana e a
consolidação acadêmica e profissional da psicologia na cidade de Natal
— Rio Grande do Norte". Em sua fala o autor prioriza o ponto de vista
histórico, as relações existentes entre a modernização urbana — década
de 80 — e o desenvolvimento da Psicologia em Natal. Descreve a forma
como a Psicologia se inseriu em algumas instituições de ensino,
apontando contribuições para a área. Destaca o contexto em que foi
criado o curso de Psicologia, ao mesmo tempo em que ocorriam as

9
mudanças na cidade de Natal, denominada por ele de "Cidade do Prazer",
devido, principalmente, ao turismo que envolvia a cidade e ao estilo de
vida das pessoas.
O quinto foi o livro de Marques (2001), resultado de sua
dissertação de mestrado intitulada "Curso de Psicologia da Universidade
Federal do Ceará: história da criação/criação de uma história". Nele a
autora apresenta a reconstituição da história no sentido de compreender-
lhe a dinâmica atual e fornecer elementos para mudanças, considerando
as ocorrências e transformações relativas ao processo de criação e
funcionamento do curso, como agência criadora e divulgadora do saber
psicológico.
O esforço aqui empreendido se constituiu em fornecer subsídios e
despertar interesses para essa área de conhecimento, reconhecendo-se
que realizar uma pesquisa, produzir um conhecimento não é colocar um
ponto final, mas abrir um leque de infinitas discussões e análises,
principalmente ao escrever sobre a História da Psicologia, pois nada pode
ser definitivo. Esse processo está sempre inacabado, necessita ser
continuamente escrito.
A partir desta reflexão foi possível uma análise que vai ao encontro
das ideias de Bombassaro (1997, p. 121), em que a história como passado
somente aparece através da interpretação de documentação. Nesse
sentido, não é possível separar a história como um conjunto de eventos
ocorridos num determinado tempo e a história como o conjunto de
proposições sobre esses eventos. Por serem interdependentes, é
importante
[...] compreendermos que a historicidade do conhecimento não reside
simplesmente no fato de existir à nossa disposição um conjunto de
informações, objetivado no tempo e historicamente produzido, mas que
ela tem a ver com o modo pelo qual essas informações são transmitidas e
interpretadas.
Teve-se como objetivo analisar os percursos históricos da
Psicologia no Maranhão, considerando como recorte temporal o período
que antecedeu a criação dos cursos, 1970, até os anos noventa do século

10
XX, quando eles se criaram com prosseguimento até abril de 2002 na
tentativa de mostrar como se estruturou essa área no Estado.
Apresentada a justificativa a respeito do interesse na realização
desse estudo, apontada por pesquisadores como Pessotti (1988), Massimi
(1990) e outros, ao dizerem da importância de estudos históricos da
Psicologia brasileira, encontrou-se, nas palavras de Antunes (1999, p.
125-126), essa necessidade:
[...] A escassez de estudos nessa área, no entanto, exige que estudos
sobre o assunto venham a ser estimulados, pois constata-se com especial
clareza a imensidão de elementos, praticamente intocados, que pedem
sistematização e divulgação [...].

Percurso metodológico

Mesmo sabendo que todas as partes de um estudo estão


relacionadas, a metodologia ocupa lugar de relevo na pesquisa por
requerer procedimentos que lhe norteiam o desenvolvimento. Pesquisar
pressupõe processo integrado de etapas definidas pelo pesquisador,
visando seu objeto de estudo; portanto, optou-se por uma pesquisa
empírica, com abordagem qualitativa. Outrossim, para contar a trajetória
da Psicologia no Maranhão, a proposta de trabalho pautou-se tanto em
dados de documentos escritos — uma análise documental — quanto em
depoimentos orais, obtidos por meio de entrevistas. Por se tratar do
resgate de uma história da qual também se é protagonista, um
emaranhado de dúvidas reforçou a necessidade de atenção que se deveria
dar ao estudo.
Desse modo, para a pesquisa documental foi necessário recorrer às
instituições em busca do material a ser utilizado, necessitando-se então
de esclarecê-las sobre os objetivos da pesquisa. Dentre esses documentos
alguns foram de fácil acesso, devido à vivência que se tem no setor. Para
a obtenção de algumas fontes, contudo, foram feitas solicitações por
escrito. Vale ressaltar que alguns documentos foram enviados por e-mail,
entre eles a lista dos psicólogos inscritos nas décadas de 70 e 80 no
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Maranhão pelo Conselho Regional de Psicologia — 11ª Região. De posse
dos documentos foi realizada uma leitura prévia para facilitar sua
seleção, a fim de se direcionar o estudo de campo e a própria escrita do
texto.
Em relação aos documentos oficiais — projetos de cursos,
resoluções, ofícios, atas de reuniões, pareceres, etc — foram eles
selecionados, considerando-se sua importância em relação à pesquisa.
Nessa etapa, procurou-se estabelecer uma classificação desses
documentos, muitos deles indicados por ocasião das entrevistas, de modo
que ficassem claros os registros das fontes e a procedência do material
coletado, de tal forma que a organização facilitasse a sua posterior
análise.
A única dificuldade em relação ao empréstimo de alguns
documentos está relacionada ao desaparecimento de todos os livros de
Ata do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do
Maranhão (UFMA), os quais serviriam para um maior entendimento de
sua trajetória e do curso, visto que esses livros registravam todos os
acontecimentos importantes que marcaram sua história. A análise
documental foi, ao mesmo tempo, dificultada e enriquecida pela
diversidade de informações acrescidas e/ou suprimidas nas diferentes
versões de um mesmo documento.
O documento é aquele elemento factual, tangível, escrito, podendo
ser pego e lido, para o entendimento do que pensavam e como resolviam
suas questões aqueles que agora se tornam os personagens da história que
se pretende reconstruir.
Contudo, o documento, na sua perenidade, no seu texto enxuto,
nem sempre revela os jogos de poder, as lutas de facções, os
personalismos e tudo aquilo que envolve a relação entre homens. Em
razão disso, utilizou-se também outro instrumento de coleta de dados, a
entrevista, por ser uma técnica em que o entrevistador se apresenta frente
ao entrevistado que lhe fornece informações com propósitos definidos.
Através desse instrumento coletaram-se os dados relatados pelos

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informantes que vivenciaram uma determinada realidade num processo
de interação.
A preferência pela entrevista semiestruturada permitiu
esclarecimentos e correções necessárias para a obtenção das informações,
oferecendo um campo mais amplo de interrogativas à medida que eram
recebidas as respostas dos entrevistados. Uma das grandes vantagens foi
abrir espaços ao exame de outros dados relevantes para o estudo,
suscitando um aprofundamento ao provocar uma participação mais
privilegiada do informante, sem, contudo, perder de vista os propósitos
da pesquisa.
Em relação aos depoimentos orais, foram realizadas 44 (quarenta e
quatro) entrevistas das quais apenas algumas são citadas ao longo do
texto, de acordo com o estudo desenvolvido. Esses depoimentos foram
utilizados como meio de alcançar dados indispensáveis à pesquisa,
mesmo sabendo das críticas que lhes são feitas, relacionadas à sua
validade, principalmente por estarem baseados na visão pessoal e na
memória de um ator social, que, via de regra, transmite sua versão sobre
os acontecimentos, e não a reconstituição dos próprios acontecimentos.
Assim, segundo Hagvette (1997, p. 94),
[...] sendo a memória humana falha e deficiente, os acontecimentos ou
impressões relatados podem ser distorcidos, episódios deslocados ou
elementos omitidos. A reconstituição 'de memória' pode estar imersa em
reinterpretações, seja pela distância existente entre o fato passado e o
depoimento presente que já incorpora possíveis mudanças de perspectiva
ou de valores do ator social, seja porque o fato pode ser reinterpretado
à luz dos seus interesses.
E Antunes (1996, p. 95) justifica:
Usar a memória como recurso é trabalhar com uma leitura que se faz a
partir do presente, embora seja este um produto histórico. Resgatar o
passado tal c o m o s e d e u n a s u a t o t a l i d a d e n ã o é
completamente possível, nem é tarefa que consiga chegar a ser um
produto acabado. Deve -se p rocurar, no entanto, j untar os
elemento s disponíveis, organizá-los, buscando compreender suas
contradições e a dinâmica de seu movimento e, fundamentalmente,

13
tentar, com a limitação inerente ao olhar do presente, mais se
aproximar do passado e compreendê-lo a partir dos sinais que
permaneceram [...].
Com o cuidado sugerido pelas considerações anteriores, insistiu-se
na utilização da referida técnica por acreditar-se que ela proporcionaria
valiosas contribuições prestadas pelos informantes. Para tanto, trabalhou-
se de modo a minimizar as possíveis distorções ocorridas, confrontando
os dados dos depoentes com os dados dos documentos oficiais.
Os informantes foram selecionados a partir de um conjunto que
apresentou características consideradas importantes para atingir os
objetivos da pesquisa. Foram entrevistados alguns psicanalistas de São
Luís com a finalidade de conhecer-se um campo que se constituiu antes
da criação dos cursos de Psicologia; a família de um dos mais ilustres
pioneiros da Psicologia no Maranhão, Padre João Miguel Mohana; outros
psicólogos (profissionais autônomos) que atuavam na área antes da
criação dos cursos.
Foi também objetivo, neste trabalho, levantar as instituições que
contribuíram para a oficialização da Psicologia no Maranhão. Assim,
num segundo momento, entrevistaram-se os professores do Departamento
de Psicologia da Universidade Federal do Maranhão, que dele fizeram
parte desde antes da fundação do curso; professores dessa época que
ainda estão em exercício; e aqueles admitidos por concurso após a
criação do curso. Entrevistaram-se, também, professores de outras
instituições congêneres que ministraram cursos para os professores do
Departamento de Psicologia. Por fim, entrevistou-se a professora que
participou do processo de criação do curso de Psicologia do Centro
Universitário do Maranhão (UniCEUMA) e os professores que foram
admitidos após sua implantação.
Decidiu-se por esse universo por entender-se que ele seria o
principal vértice para fornecer os dados necessários ao estudo que aqui se
propôs realizar, graças à visão que se tinha deles como personagens
significativos na História da Psicologia no Maranhão no período
estudado. Para tanto, prepararam-se roteiros de entrevista para cada
grupo de entrevistados, estabelecendo articulações com o objeto de
14
estudo, com questões iniciais e abertura para acréscimo de outras,
submetidas às particularidades que se fizeram necessárias. Ao se entrar
em contato com as pessoas, elas foram informadas do que se tratava,
através de explicação sobre a finalidade do estudo, o porquê da pesquisa
e a justificativa da importância de suas contribuições.
Tentou-se estabelecer confiança mútua para evitar, no momento da
entrevista, silêncios, ansiedades, falta de motivação, recusa em
responder, desvios, ou mesmo uma colaboração aparente, estimulando a
comunicação e possibilitando o fluxo das informações. Para isso,
procedeu-se a um contato informal inicial para sondar a possível
colaboração, a disponibilidade em participar, o conhecimento do assunto,
para, dessa forma, evitarem-se dificuldades quanto à participação. Além
destas situações houve atenção ao que possivelmente acomete as pessoas
em seus depoimentos: falhas de memória, esquecimentos, desejos,
crenças, emoções, enfim, várias condições decorrentes das próprias
subjetividades.
A finalidade desses depoimentos foi preencher lacunas que
porventura pudessem existir nos documentos escritos, ou até mesmo
trazer esclarecimentos acerca do que está sendo pesquisado, pois muitas
vezes a informação fornecida pelas pessoas são as únicas fontes de que se
dispõe para conhecer-se uma determinada realidade. As perguntas foram
de acordo com questões básicas necessárias à compreensão de como se
constituiu a área da Psicologia no Maranhão. Ainda no que diz respeito
às questões formuladas, admite-se que elas foram mais bem trabalhadas a
partir das leituras dos documentos, o que permitiu uma visão mais ampla.
Solicitaram-se aos entrevistados autorização para gravar as entrevistas.
Além disso, o local e o horário foram combinados previamente
com os informantes. O contato se deu por telefone e pessoalmente, mas a
aceitação nem sempre era de imediato, pois alguns entrevistados pediam
tempo para pensar, dizendo que dariam um retorno futuramente, o que
invariavelmente acontecia. Em média, as entrevistas duravam cerca de 40
minutos, sendo realizadas pela pesquisadora acompanhada de duas alunas
do 5º período do curso de Psicologia da Universidade Federal do
Maranhão que foram selecionadas e treinadas para colaborar na pesquisa.
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As informações eram gravadas em fita cassete e posteriormente
transcritas pelas colaboradoras, sob a supervisão da pesquisadora com
exceção de entrevistas que aconteceram sob a forma de perguntas
enviadas (roteiro das entrevistas) e respostas recebidas através de correio
eletrônico.
Mesmo tendo sido explicado o objetivo da pesquisa, os
entrevistados consideraram de difícil concretização a intenção que se
tinha, por não existir antecedente sobre a História da Psicologia no
Maranhão. Alguns indagavam o porquê de eles terem sido os escolhidos,
principalmente os primeiros psicólogos que chegaram a São Luís.
Entretanto, depois de entenderem a proposta, resolveram colaborar e
também solicitaram que lhes fosse apresentado o trabalho ao seu término,
para que tomassem conhecimento de como se construiu essa história ao
longo desses anos, afirmando que não haviam pensado nessa
possibilidade, mesmo com toda a experiência na área.
As entrevistas foram realizadas com uma primeira leitura das
questões por parte dos entrevistados, sem nenhuma reserva, com
respostas imediatas. Contudo, um informante fez questão de ter em mãos
as questões para ler e responder, mesmo sem o claro entendimento de
algumas. Encontrou-se até quem se recusava a dar qualquer tipo de
entrevista que não fosse por escrito, negando-se a gravá-la.
Na devolução da entrevista transcrita, alguns confirmavam os
dados, outros refaziam suas falas no intuito de melhorar as informações e
esclarecer melhor as ideias. Os informantes que solicitaram a realização
de entrevista por correio eletrônico dificultaram o trabalho no sentido de
que as respostas foram limitadas. Contudo, considerou-se que as
entrevistas foram oportunas, pois contribuíram com informações sobre a
temática em estudo, constituindo-se em material fundamental pela
geração de conteúdos para a produção deste trabalho.
A apresentação dos resultados ocorre por um registro narrativo,
contrapondo-se documentos e/ou entrevistas, complementados com a
pesquisa bibliográfica feita anteriormente. Pretende-se, principalmente,
resgatar os dispositivos que resultaram na criação dos cursos de

16
Psicologia no Maranhão. Também, a análise apresentada no decorrer do
estudo não se encontra especificada em categorias prévias, mas toma
forma no texto após os dados colhidos nos documentos e revelados nas
entrevistas, que permitiram descrever e interpretar o percurso dessa
história.
Das diferentes entrevistas contidas nesse estudo, foram feitos
recortes de momentos que propiciaram a análise, como o percurso
histórico da Psicologia no Maranhão, considerando-se o pioneirismo do
Padre João Mohana, os psicólogos que entraram no Estado nas décadas
de 70 e 80 e assumiram o espaço até então não ocupado em sua
totalidade, assim como psiquiatras e psicólogos que se organizaram para
estruturar a Psicanálise na cidade.
Também abordam o fato de, na Universidade Federal do
Maranhão, diferentemente do ocorrido em outras instituições congêneres,
a criação do Departamento de Psicologia ter-se dado antes da existência
do próprio curso. E, finalmente, os dados analisados tentaram apontar o
caminho para a criação dos cursos de Psicologia no Maranhão, da
Universidade Federal do Maranhão(UFMA) e do centro Universitário do
Maranhão (UniCEUMA), onde foram evidenciadas as diversas
vicissitudes pelas quais passaram.
Com base no exposto o estudo foi estruturado em cinco capítulos.
No primeiro, apresentou-se: o interesse de pesquisadores, nas
últimas décadas do século XX, por estudos históricos na área psicológica;
o porquê de estudar a história; a necessidade de preservação e
recuperação da memória da Psicologia; e o ensino da disciplina História
da Psicologia nos cursos de graduação em Psicologia.
No segundo, fazendo uso das contribuições de Pessotti, Bock,
Antunes e Massimi, tratou-se sobre a História da Psicologia no Brasil,
considerando a necessidade apontada por eles e outros autores de investir
em estudos na difusão desse conhecimento, evidenciando sua trajetória
para uma compreensão mais ampla da Psicologia.

17
No terceiro, que aborda os primórdios da Psicologia no Maranhão,
caracterizou-se o Estado do Maranhão, destacando os aspectos da
colonização, da economia e da cultura no sentido de possibilitar ao leitor
uma visão da estruturação do panorama educacional nessa região, para, a
partir daí, mostrar como veio se autonomizando a área psicológica na
cidade de São Luís.
No quarto, com um breve histórico da Psicanálise no Brasil,
realizou-se uma narrativa sobre a Psicanálise no Maranhão, apresentando
a estruturação e a expansão desse campo em São Luís.
No quinto, apresentou-se a trajetória dos cursos de Psicologia no
Maranhão. Para tanto, caracterizaram-se as suas instituições
mantenedoras, fazendo-se um resgate da história de sua criação, com
destaque da constituição dos cursos e do Departamento de Psicologia da
Universidade Federal do Maranhão. O registro dessa história resultou de
um trabalho de análise documental, complementado por entrevistas
realizadas com os principais personagens que vivenciaram essa história.
Por último, teceram-se as considerações finais, não como texto
acabado, mas como espaço para caminhos a serem percorridos.

18
CAPÍTULO I

A PSICOLOGIA TEM UMA HISTÓRIA...

[...] a história, num mundo estático, é


desprovida de sentido. A história em sua
essência é transformação, movimento [...]
A história propriamente dita só pode ser
escrita por aqueles que encontram e
aceitam um sentido de direção na
própria história. A convicção de que
viemos de algum lugar está vinculada
de perto à convicção de que estamos indo
para algum lugar. Uma sociedade que
perdeu a confiança na sua capacidade
de progredir no futuro rapidamente
deixará de preocupar-se com seu progresso
no passado [...]

Edward Hallet Carr, 1996

A necessidade de contextualizar a Psicologia em seu âmbito social


e cultural no Brasil tem motivado um aumento progressivo de sua
historiografia. Assim sendo, considera-se que situar, inicialmente, o
porquê de pesquisar a História da Psicologia e a sua importância
contribua para o entendimento do tipo de estudo que se pretende realizar.
Historicamente, o interesse por este tema aparece nas últimas
décadas do século XX e tem avançado progressivamente. Algumas
contribuições nessa área são devidas a iniciativas e esforços de
pesquisadores preocupados em entender um campo que apresenta muitas
divergências e enfoques contraditórios. Contudo, algumas ações se
fizeram presentes em todo o mundo, reconhecidas por grandes
19
historiadores como um referencial para pesquisas, leituras e trabalhos
citados pela literatura.
Nos Estados Unidos, foi formado um grupo de estudiosos da
História da Psicologia que mais tarde se transformou na Divisão n.26 da
American Psychological Association (1965). Também durante a década
de 60 foram criados os "Akron Archives for History of Psychology", um
recurso valioso como fonte de material para os interessados na História
da Psicologia.
Nesse mesmo período foi fundado o "Journal of the History of the
Behavioral Sciences", periódico de difusão internacional especializado
nos estudos históricos em Psicologia e ciências humanas, assim como a
Cheiron, Sociedade Internacional para o Estudo da História das Ciências
Comportamentais e Sociais.
Posteriormente, em 1982, na Europa, ocorre um crescente
desenvolvimento da historiografia no campo da Psicologia, quando foi
fundada a seção europeia da sociedade Cheiron, sendo a Espanha o país
com maior produção. Ali se formou o "Grupo de Trabajo en Historia de
la Psicología" (1987) e a "Sociedade Española de Historia de la
Psicología" (1989).
Até então na América Latina as pesquisas sobre a História da
Psicologia não eram muito frequentes. Porém, nos últimos anos
observou-se um interesse maior por essa temática, fruto de dois
acontecimentos: o primeiro foi a edição, pelo colombiano Rubén Ardila,
de um livro totalmente dedicado à História da Psicologia, "La psicologia
en América Latina: pasado, presente y futuro" (1986). O segundo,
quando, no Brasil, especificamente em São Paulo, no mês de abril de
1988, aconteceu o Primeiro Seminário de História da Psicologia na
América Latina.
Mesmo como uma área nova de estudos, a História da Psicologia
no Brasil1 apresentou mudanças, consolidando-se enquanto segmento de
pesquisa e de ensino. Como destacam Brozek e Campos (1996, p. 57-63),

1 Para uma visão mais ampla, cf. capítulo 2.


20
a formação de especialistas nesse campo assim como os métodos de
reconstrução historiográfica e a intensificação no uso de fontes primárias
proporcionaram uma melhor formação dos psicólogos interessados nesse
domínio de investigação, motivando, consequentemente, a criação e a
organização de núcleos, grupos, publicações, eventos e produções
científicas na área.
No Brasil, conforme Campos e Massimi (1998, p. 305), a
preservação da memória da Psicologia mostra-se como uma tarefa
urgente para os historiadores brasileiros, pois muitos dos materiais
expressivos encontram-se em estado precário de conservação e em alguns
casos sem catalogação adequada, dificultando desse modo o acesso às
fontes.
Ressalta Massimi (1990, p. 76):
Uma questão mais grave e difícil a ser resolvida é a da recuperação da
documentação histórica mais antiga da psicologia brasileira pré-
científica, pois [...] as condições de preservação desse material são, em muitos
casos, extremamente precárias, e o levantamento e leitura do mesmo implicam
grandes recursos em termos de tempo, finanças e dedicação de pesquisadores [...].
Com efeito, seria apropriado empreender esforços para recuperar,
preservar e colocar em ordem todo esse material, criando arquivos ou
centros de documentação de História da Psicologia e das idéias
psicológicas na cultura brasileira. Lacombe (1974 apud CAMPOS;
MASSIMI, 1998, p. 305) afirma que "[...] a consciência de que a
conservação dos documentos é uma necessidade de interesse geral custa
muito a surgir [...]”, apontando assim o tamanho das dificuldades a serem
enfrentadas.
No Brasil, considera-se necessária a criação de arquivos e
catálogos de fontes para a História da Psicologia em diferentes Estados,
que possibilitem a pesquisa e ao mesmo tempo a preservação da memória
histórica de cada região em seus moldes particulares. Pensando numa
situação ideal, poderia ser organizada a história de cada curso de
Psicologia e da profissão de psicólogo nos diversos Estados brasileiros
(essa experiência já vem ocorrendo, mesmo de forma tímida).

21
Fica claro que, ao tomar a decisão de pesquisar, as fontes de
informação são consideradas essenciais para viabilizar a pesquisa. Em
alguns casos os pesquisadores defrontam-se com obstáculos devido à
ausência de dados, que dificulta a busca de informação muitas vezes
prejudicada pela falta de acesso direto a fontes primárias ou secundárias.
É sempre conveniente lembrar que as fontes de informação numa
pesquisa são o elo entre o pesquisador e a informação.
Conforme expressa Baraúna (1999, p. 175), o crescente interesse
pela História da Psicologia no Brasil é bem-vindo por muitas razões. As
mais urgentes se prendem ao valor da recuperação da história e da
memória da Psicologia mesmo recente. Explicando sua posição, a autora
afirma:
Os estudos e pesquisas mais recentes voltados para a história da
Psicologia têm evitado o anacronismo comumente encontrado nos
antigos manuais, onde as ideias aparecem como se existissem em
abstrato, como se fossem autônomas em relação à realidade. Esse tipo de
reconstrução histórica, que busca trazer as teorias e práticas psicológicas
para o seu contexto de produção, resgata um pressuposto bastante
difundido em outras áreas das chamadas ciências humanas, mas que
é frequentemente esquecido nos meios psi: o de que o
pensamento é sempre produzido num momento determinado, e que
para compreendê-lo é necessário buscar também suas determinações
históricas, até onde isso for possível.
Para uma pesquisa histórica não basta estar preocupado com
questões do tipo: O que selecionar? O que relacionar com quê? Como
interpretar? Para uma pesquisa histórica precisa-se contar com aspectos
extremamente relevantes, entre eles as fontes apropriadas para
reconstrução, onde o historiador identifica os vestígios para poder coletá-
los, organizá-los, analisá-los e interpretá-los.
Como atestam Brozek e Guerra (1996, p. 12), não há uma regra
que determine as desigualdades entre um vestígio trivial e um vestígio
significativo. Segundo eles, existem dois fatos importantes no registro
dos dados que são: "[...] 1) é impossível registrar todos os fatos

22
potencialmente relevantes; 2) é indispensável saber escolher os
documentos para um estudo aprofundado [...]".
Na pesquisa histórica em Psicologia o desafio atual das
investigações está em não se lidar com o saber já instituído, com
realidades estagnadas, de modo a evitar uma reconstrução idealista, mas,
sempre que possível, recorrer também a documentos não publicados,
fontes inéditas, tudo isso articulado com as relações entre a evolução das
ideias e o contexto sócio-histórico.
Um outro desafio pode estar relacionado ao fato de que a definição
da História da Psicologia presume o levantamento de uma multiplicidade
de interrogações. Uma História da Psicologia não se ajusta apenas ao seu
campo próprio, mas partilha conhecimentos com outras ciências, como
História, Filosofia, Medicina, Pedagogia, não só por conta de seu
conteúdo, mas devido à interface com esses e outros campos do saber.
A pesquisa histórica da Psicologia ainda conta com mais um
desafio: estudiosos envolvidos com essa área defendem que o estudo
adequado dessa história pode ajudar a centralizar as questões
fundamentais, integrar um campo de diversidades, como também auxiliar
a reunir um campo fragmentado. Os que não veem necessidade de
justificar esses estudos apontam razões como o fato de que o estudo da
Psicologia tornou-se uma prática tradicional. Outros defendem a ideia de
que o estudo da História da Psicologia é perda de tempo para um
pesquisador, pois a história pode legitimar algumas preocupações ou
tendências atuais, além de outras (WERTHEIMER, 1998, p. 21-41).
Constata-se, assim, que há algumas situações que merecem
atenção, principalmente aquelas relacionadas às fontes de informação e
ao despertar do interesse pela pesquisa e pelo estudo da História da
Psicologia.
Por muito tempo a História da Psicologia teve o encargo de narrar
todo o desenrolar dos acontecimentos, dos precursores, das grandes
ideias de uma época, de um passado, combinando significações
articuladas e apresentadas apenas em termos de fatos, supondo-se que

23
esses fatos têm uma determinação, uma causalidade determinista. Essa
visão é sintetizada por Wertheimer (1982, p. 13-14) quando diz:
Não existe algo que seja a história definitiva, correta e imutável de
coisa alguma. O que é colhido da corrente dos acontecimentos
como merecedor da nossa atenção, e a maneira como é selecionado e
interpretado, depende, em última análise, dos pontos de vista
idiossincrásicos e subjetivos do historiador. Não obstante, a visão
histórica de uma disciplina pode oferecer fundamentos, integração e
p ersp ectiva, além d e ser, por si só , algo absorvente.
O interesse pela história da psicologia parece estar-se desenvolvendo, no
correr da segunda metade do século vinte. Muitas histórias foram escritas
com a orientação cronológica, mas tem havido também livros baseados
nas escolas mais significativas, nos homens mais importantes, nas obras
de maior influência, ou nas áreas de pesquisa mais importantes [...].
Alguns pesquisadores ainda permanecem mais ou menos fiéis a
essa abordagem. Muitos estudiosos se prendem basicamente à sucessão
ordenada de dados e datas, nomes e produções. No entanto, o
conhecimento histórico, visto dessa forma, corresponde a uma
determinada concepção histórica. Hoje em dia uma vertente mais crítica
se manifesta.
Além disto, é importante ressaltar que a compreensão histórica da
Psicologia sob esse prisma crítico implica o conhecimento das relações
socais onde ela se produz e é produzida. As diferentes formas de contar a
História da Psicologia, a que se fez referência anteriormente, têm
mostrado que o processo histórico é contínuo, mas não linear, pois ele
tem idas-e-vindas, desvios, cortes e rupturas, e a forma como se conta a
história pode influenciar o porquê de ela ser contada, e ainda o que ser
contado nela.
Enquanto área de conhecimento, a Psicologia é considerada uma
produção histórica concretizada numa realidade, relacionada com
diferentes fatores de natureza política, social, cultural e científica.
Contudo, esta é uma visão recente acerca da Psicologia. Nas
últimas décadas do século XX ela tem passado por uma considerável
avaliação no que se refere à análise de sua constituição e ao seu processo
24
de mutação enquanto ciência e profissão. Nesse processo foi criticada e
questionada em seus saberes e práticas, devido ao modelo de objeto que
construiu e com o qual trabalhou por muito tempo, qual seja, a ideia de
homem possuidor de uma natureza humana, uma "essência". Outro ponto
de crítica se refere ao profissional psicólogo por assumir uma
neutralidade supostamente científica e aerifica em relação aos fatos
sociais.
As reflexões e explicações nesse sentido devem-se ao fato de que,
enquanto ser humano, se está em permanente movimento e
transformação, diferentemente da visão de homem portador de uma
natureza humana onde deveria ser buscada a sua essência. O homem está
em continua mudança e essa mudança tem sido vista, principalmente, de
forma qualitativa; logo, o homem do passado era diferente do homem
contemporâneo devido às circunstâncias sócio-históricas e, como tal,
deve ser compreendido. Assim, Bock, Gonçalves e Furtado (2001, p. 22)
esclarecem:
[...] A compreensão do 'mundo interno' exige a compreensão do
'mundo externo', pois são dois asp ecto s d e um me s mo
mo vi mento , d e u m processo no qual o homem atua e
constrói/ modifica o mundo e este, por sua vez, propicia os
elementos para a constituição psicológica do homem.
O homem se realiza e se humaniza produzindo historicamente sua
existência. Nesse processo ele cria as ideias que vão expressar suas ações
e as relações que ele estabelece consigo mesmo e com os outros. Como
enfatiza Antunes (1998, p. 365),
[...] a história é vista como construção humana coletiva, pois o
homem, seu sujeito primordial, é histórico na medida em que é
social. Assim, compreender a história humana e, sobretudo, as
ideias produzidas historicamente pelos homens, exige a busca de
compreensão das relações sociais que permeiam, determinam e são
determinadas por suas ações.
Deve-se observar que, se um homem vive e faz a história, não se
pode conceber a História da Psicologia como acabada ou mesmo
estabelecida definitivamente. Pesquisar a História da Psicologia é estudar
25
os meios e os modos como as pessoas se transformam, como
consequências das próprias alterações nas condições históricas.
A pesquisa histórica em Psicologia tem-se tornado indispensável e
fundamental para o entendimento de suas origens e de suas práticas.
Assim, para compreender a diversidade da Psicologia não se dispensa
essa recuperação, pois a história da sua construção corresponde, em cada
momento, às exigências de conhecimentos da humanidade, aos
constantes desafios da realidade social e, enfim, à inesgotável
necessidade que tem o homem de compreender a si mesmo e ao mundo
que o cerca. As possibilidades dessa compreensão passam pela
vinculação a uma dada realidade histórico-social, tornando possível uma
aproximação melhor em seu dizer e fazer.
Nesse sentido, a pesquisa histórica em Psicologia não é um
retrocesso, como pensam alguns estudiosos, mas o fundamento que
permite uma melhor compreensão do homem em relação ao contexto
social do qual faz parte.
Baraúna (1999, p. 178) esclarece um pouco mais acerca da
importância da pesquisa histórica em Psicologia, dizendo:
A construção de novas formas de pensar o psíquico passa
necessaria mente pela introdução da historicidade na
Psicologia e pelo contato dos psicólogos co m a produção
historiográfica brasileira. O desenvolvimento de pesquisas
históricas na própria Psicologia, voltadas à contextualização de
seus objetos de estudo, traria elementos valiosos para compreensão dos
tipos de subjetividade que foram sendo engendrados na nossa história,
além de tornar mais rico e intenso o contato e a troca com outras
disciplinas.
Na verdade, pensar em construir o futuro da Psicologia pode
apresentar-se como uma tarefa difícil, mas, ao mesmo tempo, urgente, no
sentido de formar a consciência histórica das novas gerações de
psicólogos e dos que demonstram estar interessados em conhecê-la. Essa
preocupação é válida para os dias atuais, quando os esquecimentos se
fazem presentes. Nesse contexto, Massimi (1996, p. 87-88) alerta:

26
[...] Nós nos enco ntramo s hoje em um clima sociocultural
que facilita o esquecimento ou a censura da memória, em jovens
e adultos, o que, por sua vez, implica num enfraquecimento d a
consciência da própria identidade cultural em indivíd uo s e
so ciedades, b em co mo em u m empobrecimento da capacidade
crítica [...]
Um aspecto que pode favorecer o interesse pela História da
Psicologia é o seu ensino nos cursos de graduação; entretanto, muitas
vezes, segundo Wertheimer (1998, p. 35), a forma como ela é ensinada
apresenta-se entediante e desconexa, com nomes, datas e fatos a serem
memorizados para uma avaliação e logo esquecidos. Justificando seu
pensamento, o autor afirma:
[...] O estudo da história da psicologia poderia ajudar o estudante a
desenvolver uma visão geral integrada desse campo, que poderia
servir para reduzir a diversidade assustadora e aparentemente
desarticulada de material encontrado em vários cursos de
psicologia [...].
Essa reflexão é compartilhada por outros estudiosos do assunto,
entre eles, Mancebo (1999a, p. 117) que, em sua análise histórica da
formação em Psicologia no Rio de Janeiro, alerta para os múltiplos
terrenos dessa ciência:
À revelia do modo como muitas vezes reproduzimos a História da
Psicologia em nossas aulas, não encontramos uma realidade
organizada em tomo de uma infindável rede de sistemas e escolas que se
sucederam e revezaram no tempo, caminhando para as formas mais
'evoluídas' do saber psicológico. Ao invés de relações de continuidade
(sucessores e predecessores), assistimos relações de lutas e
alianças travadas contemporaneamente, numa clara alusão ao fato de que
as trajetórias históricas não se dão, necessariamente, pela força dos
grandes homens, grandes feitos e ideias ou por determinações pré-
estabelecidas. [Sua preocupação vai além quando diz] [...] é preciso,
portanto, propiciar-lhe [ao aluno] as condições de exercer a crítica
diante das alternativas que lhe são apresentadas e dos impasses de nossa
disciplina [...].

27
Baraúna (1999, p. 178) também chama a atenção para esse aspecto.
Para ela a história tem sido ausente nos cursos de formação em
Psicologia:
[...] Esse desconhecimento nos leva a inúmeros equívocos, desde a
transposição direta e sem mediações de teorias produzidas em outras
épocas e contextos, até o uso descontextualizado de testes psicológicos
e modelos de intervenção em i n s t i t u i ç õ e s . Em a l g u n s
c a s o s , a p r ó p r i a reconstrução 'histórica' de nossa subjetividade é
feita com base em teorias (europeias) produzidas a partir de condições
objetivas de vida da Europa do século XIX, que pouca
semelhança tem com o Brasil da mesma época.
Antunes (1999, p. 10), analisando o pouco investimento em
estudos na área da História da Psicologia, em geral, e da História da
Psicologia no Brasil, em particular, como relegadas a um plano
secundário, declara:
[...] Poucos são os cursos de Psicologia que têm essa disciplina em
seu currículo, são escassos os estudos e pesquisas nessa área e a
bibliografia é extremamente restrita. Essa situação agrava-se
sensivelmente quando a referência é a História da Psicologia no
Brasil. É possível afirmar que é generalizado o
desconhecimento do processo de construção histórica da
Psicologia em nosso país, reflexo possível do próprio
desconhecimento da História do Brasil pela maioria da
população brasileira.
Em termos gerais, o problema pode estar vinculado à forma como
são elaborados os programas das disciplinas de História da Psicologia,
quando existem, pois poucos são os currículos de cursos de formação em
Psicologia que contemplam a disciplina; nesse caso, grande parte dos
psicólogos brasileiros desconhecem a história de sua própria profissão
(BROZEK; MASSIMI, 1998a, p. 433).
Conforme Massimi (1996, p. 89), a forma como são ministradas as
disciplinas teóricas deveria evidenciar, de maneira clara, um
entendimento mais abrangente da História da Psicologia, pois considera
que muitas vezes o modo como são apresentados tais conteúdos não

28
estimula o interesse e o despertar do pensamento empreendedor e
científico de futuros pesquisadores. Nesse sentido, recomenda que
[...] a formação dos alunos interessados nos estudos históricos
deva ser proporcionada a partir dos primeiros anos do curso, pois trata-se
de iniciá-los numa perspectiva intelectual que coloque a
d i m e n s ã o t e m p o r a l c o m o r e c u r s o p a r a compreensão de
teorias e práticas psicológicas [...].
As preocupações referidas buscam, sobretudo, o conhecimento da
História da Psicologia e a formação do profissional, que possam
contribuir com essa ciência de forma mais ativa e crítica, possibilitando
saber que rumos ela vem tomando.
Mesmo com a iniciativa dos pesquisadores da Psicologia e com as
produções de que se dispõe, em fase de difusão, algumas medidas podem
ainda melhorar esse quadro, conforme salientam Brozek e Massimi
(1998a, p. 434):
Os objetivos preeminentes a alcançar nos próximos a n o s s ã o : e d i ç ã o
de fontes documentárias importantes para o estudo e o
e n s i n o d a h i s t ó r i a d a psicologia; elaboração de manuais
introdutórios à história da psicologia que sigam abordagens
historiográficas mais recentes e proporcionem quadros comparativos
entre o desenvolvimento da psicologia e o paralelo desenvolvimento das
demais ciências e da história sociocultural; preparo de recursos
informatizados para transmissão dos conhecimentos na área.
A preocupação com a História da Psicologia no Brasil tem
motivado diversos grupos de pesquisadores, dentre eles o Núcleo Clio-
Psyché da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que vem
resgatando e divulgando a memória dessa ciência, apresentando trabalhos
diversificados com a intenção, segundo Coimbra (2001, p. 13), de trazer
concepções diferentes acerca não só da historicização dos assuntos, mas
da implicação de seus atores com a realidade cotidiana brasileira. Além
desse, têm-se os Núcleos de História da Psicologia da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo e o de Epistemologia e História da
Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, contribuindo
para o conhecimento dessa ciência.
29
CAPÍTULO II

...E ESSA HISTÓRIA OCORRE NUM CERTO ESPAÇO

[...] Se existe, pois, uma função


histórica, que especifica a incessante
confrontação entre um passado e um
presente, quer dizer, entre aquilo que
organizou a vida ou o pensamento e
aquilo que hoje permite pensá-los,
existe uma série indefinida “de sentidos
históricos” [...].

Michel de Certeau, 1982

Falar sobre a História da Psicologia no Brasil pode parecer um


desafio, pelas queixas apontadas em relação à falta de estudos sobre esse
tema — o que vem ocorrendo desde a avaliação negativa de Brito
(1912 apud BROZEK; MASSIMI, 1998b, p. 209) ao dizer que até
então nada havia digno de menção — e, também, por ser essa história
considerada por muitos como área negligenciada e carente, relegada
a um plano secundário e com pouco acesso a informações. Mesmo
assim, algumas contribuições, como aquelas apresentadas
anteriormente, têm aparecido advindas de estudiosos interessados
nessa temática.
Aqueles que estão empenhados em produzir sobre esse tema
acreditam ser ele necessário, pois a História da Psicologia no Brasil
leva a pensar em questões mais abrangentes e fundamentais, como a
consciência do contexto social em que se vive no fluxo do te mpo.
Como diz Antunes (1998, p. 374), a História da Psicologia,
particularmente a do Brasil, necessita de estudos que procurem

30
compreendê-la como produção social, articulada ao movimento
histórico global da sociedade.
Nesse sentido, tornam-se urgentes os estudos nessa temática,
necessitando constantemente de ampliação e divulgação. As razões
para isso são variadas, e a Psicologia, talvez mais do que qualquer
outra ciência ou profissão, tornou-se interessada em refletir sobre a
sua história. Esse desafio tem caracterizado essa ciência nas últimas
décadas do século XX, podendo de certo modo apresenta r pontos que
merecem ser examinados. Um deles, como referido anteriormente, é
que a Psicologia procura compreender o indivíduo inserido no
contexto histórico, entendendo esse homem que se faz homem e que
ao mesmo tempo participa da construção do seu mundo. Desse modo,
o indivíduo só pode ser compreendido se estiver imerso na totalidade
social e histórica que vai dar sentido à sua singularidade, percepção
que no passado não existia.
Isto leva a compreender o quanto a Psicologia caminhou-
conquistou seu próprio espaço como área de conhecimento e campo
de práticas — e necessita caminhar, procurando consolidar sua
identidade, a partir de uma investigação esclarecedora de suas raízes
e pressupostos.
Para contar a História da psicologia no Brasil, buscou-se apoio
em dados levantados por Antunes (1999), Bock (1999b), Massimi
(1990) e Pessotti (1988). Este último organizou a história das idéias
psicológicas no país, dividindo-a em quatro períodos: período pré-
institucional — dos escritos dos missionários que aqui estiveram e
escreveram textos que seriam psicológicos até o sécul o XVIII;
período institucional — século XIX e início do século XX; período
universitário — quando a Psicologia começa a aparecer como
disciplina em cursos superiores; e período profissional — posterior à
regulamentação da profissão.
Os autores acima citados consideram que os estudos históricos
em Psicologia no Brasil têm mostrado que a preocupação com os
fenômenos psicológicos remonta a um longo passado — período colonial

31
(1500-1822) —, preocupação que surge inserida em diferentes áreas
do saber, especialmente da Medicina e da Pedagogia. A importância
desses trabalhos prende-se à compreensão da construção histórica da
Psicologia no Brasil marcada pelo choque cultural entre os
colonizadores portugueses, os negros africanos e os nativos da Terra
de Santa Cruz. Nesse período histórico definiu-se a identidade
sociocultural do Brasil, uma preocupação com a definição de um caráter
nacional.
Ressalta Antunes (1999, p. 21):
O processo de colonização do Brasil por Portugal, no contexto da
expansão econômica europeia, foi pautado fundamentalmente na
exploração. A metrópole decidia o que deveria ser produzido, a
maneira de fazê-lo e seu monopólio, tendo como finalidade exclusiva o
lucro. Não houve p r e o c u p a ç ã o d e f a t o c o m a c o l o n i z a ç ã o
propriamente dita, o que caracteriza o Brasil
mera me nte co mo colônia de exploração.
Nesse período, não se fala da Psicologia no sentido do termo
atual, mas de ideias relacionadas a processos psicológicos, com
trabalhos revelando a existência de formas de conhecimento
psicológico, com forte influência do pensamento europeu. Esses
primeiros trabalhos em muito colaboraram para o estabelecimento
dessa ciência no Brasil, o que fez com que Pessotti (1988, p. 18) lhe
realçasse a importância, considerando o período pré-institucional
como específico. Isto porque o conteúdo psicológico, publicado e
lido, era desvinculado de instituições intelectuais específicas do
mesmo modo como não havia a preocupação em construir a
Psicologia, ou mesmo explicar psicologicamente qualquer tipo de
problema.
Os trabalhos dessa época são individuais, escritos por autores
brasileiros ou que moravam no Brasil, em sua maioria autodidatas.
Os temas abordados nesse período se caracterizavam, de acordo com
Massimi (1994, p.22), pela diversificação, motivados em alguns
casos por interesse especulativo e, em outros, por interesse
doutrinário, com finalidade religiosa ou moral, ou, ainda, com a
32
necessidade prática de definir métodos para a terapia e o controle de
distúrbios de comportamento. Para Pessotti (1988, p.18), os
trabalhos produzidos, principalmente os direcionados para o
problema da conquista dos índios pela catequese ou pela educação,
demonstravam de modo especial a preocupação com a organização
do Estado e da sociedade.
Encontrando temáticas tão variadas, Massimi (1994, p.22)
agrupa tais trabalhos conforme os objetivos que abordam. Assim, um
primeiro tema trata do “conhecimento de si mesmo” nos escritos de
teólogos, filósofos, médicos e pedagogos, assumindo diferentes
enfoques em decorrência dos estilos adotados.
Essa temática, de acordo com Antunes (1999, p.19), guarda
íntima relação com questões que seriam abordadas mais tarde pela
Psicologia, destacando o autoconhecimento como um assunto que
continua sendo objeto da ciência e da prática psicológica, assim
como a objetivação da experiência interior que se constitui de
importância fundamental para a pesquisa psicológica. Entre os
representantes desse tema estão o Padre Antonio Vieira, Frei Mateus
da Encarnação Pinna, Dom Azeredo Coutinho e Mathias Aires
Ramos da Silva de Eça.
O "estudo das emoções humanas" se constitui no segundo
grupo de temas relativos a conhecimentos psicológicos, e o interesse
por ele fica claro nos escritos de cunho religioso, moral e médico.
Essas obras, conforme Antunes (1999, p. 18), se direcionam para
análises no campo comportamental em que os assuntos versam sobre
saudade, amor, ódio, vaidade ou tristeza. Muitos foram os que
escreveram sobre esse tema, entre os quais citam-se: Padre Antonio
Vieira, Frei Mateus da Encarnação Pinna e Padre Angelo Ribeiro de
Siqueira no contexto ético-religioso; Mathias Aires no contexto
moral; e Francisco de Mello Franco no contexto médico.
A esse respeito Massimi (1994, p. 22) comenta:
[...] As emoções, chamadas de 'paixões' ou 'afetos da alma' são atribuídas,
em alguns casos, a forças de natureza física ('humores'), ou ao
33
movimento dos nervos; em outros casos, elas são consideradas
afeições da alma, independentes da disposição e de constituição
do corpo [...].
Para o terceiro grupo, alguns autores aqui citados
valorizaram os fenômenos sensoriais, mais precisamente no século
XVIII, estimulados pela filosofia empirista, pois consideravam a
atividade sensorial como origem de todo conhecimento. Segundo
Antunes (1999, p. 19), em muitos estudos realizados a utilização da
observação se fazia presente com resultados obtidos através da
experimentação. Em alguns temas (que mais tarde viriam a se
desenvolver na Psicologia) figuram fatores de natureza sexual, loucura,
fantasias, instintos e ilusão de ótica. Os intelectuais que se destacaram
nesse tema foram: Padre Antonio Vieira, Mathias Aires, Encarnação
Pinna, Angelo Siqueira e Mello Franco.
Para o quarto grupo, ainda de natureza psicológica, de acordo
com pesquisas realizadas por Massimi, no período colonial houve
grande frequência de trabalhos em relação ao tema educação e controle
do comportamento infantil. Esse interesse aparece desde o século XVI
nos relatos dos missionários jesuítas, sendo abordada também a
questão do desenvolvimento da personalidade feminina.
Com referência à criança e seu processo educativo, os assuntos
eram aprendizagem, influência dos pais, desenvolvimento da criança,
formação da personalidade, controle e manipulação do comportamento,
entre outros; e, para a personalidade feminina, as obras tratam de temas
como gravidez, amamentação, comportamento maternal, sexualidade e
seus desvios. As contribuições significativas nessas áreas foram: de
Alexandre de Gusmão, Mathias Aires, Mello Franco, Azeredo
Coutinho, Fernão Cardim, Manoel Figueiredo e Americus para o tema
relativo à criança; e de Feliciano Nunes, Alexandre de Gusmão,
Azeredo Coutinho e Mello Franco, para a personalidade feminina.
Vale destacar que nas pesquisas de Massimi utilizadas por
Antunes (1999, p. 20) a problemática do trabalho se fez presente
especialmente sob a ótica moral, social e psicológica, principalmente a
censura ao ócio e ao vício, já que o indígena era visto como preguiçoso
34
e ocioso com tendência ao pecado. Nesse caso, o trabalho era usado
como meio de cura e civilização. As questões aqui discutidas por
Mello Franco, Alexandre de Gusmão e Mathias Aires giravam pela
adaptação ao trabalho, importância do trabalho para a criança, controlo
sobre a atividade produtiva e trabalho como instrumento de controle.
Ainda no final do período colonial, os conhecimentos
psicológicos aplicados à medicina por Mello Franco tratavam de
questões como psicopatologia, estudos sobre os nervos e sistema
nervoso, temperamentos, terapêuticas, teorias sobre sono e sonhos,
sexualidade e outros.
Deste modo, o pensamento psicológico, que foi fabricado nesse
período, é importante para a compreensão da História da Psicologia no
Brasil, pelos assuntos abordados, explicitando as raízes de algumas
temáticas estudadas em momentos posteriores. Entretanto, a Psicologia
do período pré-institucional foi inspirada no Brasil em uma posição
iluminista do homem e da sociedade, comprometida com os grupos
dominantes dessa época.
Nas palavras de Antunes (1999, p.110), esse período
[...] refletia as condições de sociedade na qual se inseria, não
apenas por incorporar seu pensamento dominante, como também
seus conflitos. Sobre o pensamento psicológico propriamente
dito, sua principal característica é ser tratado no interior de
outras áreas do saber, não se vinculando explicitamente a
instituições específicas, como viria a ocorrer no período
subsequente.
Com o surgimento de instituições médicas e escolares no
Brasil, a produção do saber psicológico esteve mais restrita a e sses
locais de produção do conhecimento, No século XIX, o país passava
por mudanças culturais, políticas e econômicas. Assim, o pensamento
psicológico apresentou diferenças em relação ao período anter ior,
marcadamente na produção de ideias e práticas psicológicas.
Caracterizado por Pessotti (1988, p.22-23) de institucional, esse
período e o século XX foram fundamentais para a Psicologia, na
35
preparação do seu processo de autonomização. As elaborações
teóricas durante esse período ocorrem paralelamente com o processo
de independência do Brasil e sua consolidação como Estado moderno.
Diante dessa situação, Massimi (1994, p.24) situa os conhecimentos
psicológicos como instrumentos úteis para propiciar a adaptação dos
sujeitos na busca de uma identidade nacional. Nesse contexto são
criadas faculdades, sociedades científicas e revistas.
As produções desse período foram muitas e os estudos médicos
se destacaram por promover o desenvolvimento de teorias e práticas
psicológicas de tal forma que a Psicologia Clínica define-se nesse
contexto. A Medicina brasileira do século XIX tem como proposta
um tipo de saber global acerca do homem, compreendendo não
apenas as dimensões físicas e morais, mas suas relações no meio
ambiental.
Os estudos nessa área abordavam problemáticas de natureza
psicológica, fruto de teses de doutorado elaboradas por médicos
brasileiros e defendidas publicamente, condição exigida para a
conclusão do curso de graduação pelas Faculdades de Medicina do
Rio de Janeiro e da Bahia, criadas em 1832. Embora os temas
estivessem ligados à Psiquiatria, à Neurologia, à Medicina Social e à
Medicina Legal, os assuntos tratados eram diversificados. Entre eles
citam-se paixões ou emoções, histeria, psicofisiologia, hipocondria,
sexualidade, higiene escolar.
A tese de Manoel Ignacio de Figueiredo Jaime, intitulada "As
paixões e afetos d'alma em geral, e em particular sobre o amor,
amizade, gratidão e o amor da pátria", defendida em 1836, foi a
primeira a tratar do fenômeno psicológico. A partir daí ocorre um
crescente aumento na produção de trabalhos como a tese de Henrique
Roxo "Duração dos atos psíquicos elementares", orientada por
Teixeira Brandão, no ano de 1900, apresentada à Faculdade de
Medicina da Bahia, considerada como primeiro trabalho em
Psicologia Experimental publicado no Brasil, assinalando a partir
claro início de muitos outros importantes trabalhos (PESSOTTI,
1988, p.21; ANTUNES, 1999, p.29).
36
O florescer da pesquisa mostra-se no ano de 1907, com a tese
de Maurício Medeiros sob o título "Métodos em Psicologia'',
apresentada à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, reconhecida
como o primeiro trabalho brasileiro referente à metodologia em
Psicologia. Dentro dessa abordagem contem-se as obras de Plínio
Olinto 2. Nesse momento, novas conexões surgiram, como, por
exemplo, a Psicologia com a Neurologia e com a Psiquiatria.
A institucionalização da Psicologia no Rio de Janeiro atinge seu
ápice naquela época, com a difusão de produções através:
a) do Laboratório de Fisiologia, mantido pelos irmãos Miguel,
Álvaro e Branca Osório, para investigações sobre os reflexos e a
atividade nervosa central;
b) do Laboratório de Psicologia do Engenho de Dentro, criado
em 1923, por Gustavo Riedel, destinado ao estudo, cura e profilaxia
de moléstias mentais, com aparelhagem sofisticada para medir
sensações, reflexos, memória, pensamento, discriminação, onde a
função do psicólogo estava bem definida e era vista como auxiliar
indispensável do médico, demonstrando a estreita relação da
psiquiatria com a psicologia, a que se fez referência anteriormente;
c) da Liga Brasileira de Higiene Mental, fundada em 1922, por
Gustavo Riedel, a qual, como atesta Lourenço Filho (1955 apud
MASSIMI, 1990, p. 66-67),
[...] mantém um laboratório e um “Seminário b r a s i l e i r o d e
p s i c o l o g i a ” q u e s e r e ú n e semanalmente. Além disso, organiza
anualmente as 'Jornadas Brasileiras de Psicologia', tendo uma enorme
influência na evolução da psicologia científica no Brasil [...].

Pelas extensas produções, quantidade de pesquisas e ensaios no


Laboratório, Antunes (1999, p. 51) diz que

2 Esse autor, em 1911, publica "Associação de Ideias" e em 1944, "A Psicologia


Experimental no Brasil".
37
[...] três elementos apresentam-se como particularmente significativos: a
preocupação com a f o r m a ç ã o d e p s i c ó l o g o s e a d i f u s ã o d o
conhecimento psicológico; o trabalho clinico e a aplicação da
Psicologia a questões relativas ao trabalho.
Assim, a autora destaca a importância do Laboratório de
Psicologia de Engenho de Dentro para o reconhecimento da
autonomia científica e prática da Psicologia no Brasil.
Em 1924, Waclaw Radecki assumiu a direção desse Laboratório
e foi autor de muitos trabalhos ali produzidos, devendo-se a ele,
também, a significativa divulgação e ampliação da Psicologia no
Brasil.
Conforme Pessotti (1988, p. 22), na Faculdade de Medicina do
Rio de Janeiro os estudos, as teses e as pesquisas estavam voltados,
principalmente para a Neuropsiquiatria, a Neurologia e a Psicologia.
Na Faculdade de Medicina da Bahia, os estudos eram direcionados a
pesquisar a aplicação social da Psicologia, por meio da Criminologia,
Higiene Mental, Psiquiatria Forense, sendo os médicos Artur Ramos,
Juliano Moreira, Afrânio Peixoto e Raimundo Nina Rodrigues os que
se destacaram pela produção bibliográfica. Nessa Faculdade, no
período de 1840 a 1900, foram defendidas 43 (quarenta e três) teses
sobre temas de Psicologia como a de Francisco Tavares da Cunha,
"Psicofisiologia acerca do Homem", em 1851, e a de Ernesto
Carneiro Ribeiro, "Relação da Medicina com as Ciências Filosóficas:
Legitimidade da Psicologia", apresentada no ano de 1864.
Contudo, essas contribuições não ficaram restritas ao Rio de
Janeiro e à Bahia. No ano de 1918, Francisco Franco da Rocha
difundia, na Faculdade de Medicina de São Paulo, ideias sobre
Psicanálise, o que mais tarde lhe permitiu escrever o livro "A
doutrina de Freud". Foi ele quem, em 1898, fundou o Hospital de
Juqueri, onde aplicava técnicas psicológicas e psicoterápicas, além de
criar um Departamento de Psicopatologia nessa Faculdade. Ainda em
São Paulo, o Instituto de Higiene foi outro centro de disseminação da
Psicologia, composto por médicos, educadores e engenheiros.

38
Nesse período, em Recife, o pioneiro da Pesquisa Social da
América Latina, Ulisses Pernambucano, fundou, em 1925, o Instituto
de Seleção e Orientação Profissional de Pernambuco, propiciando
uma vasta produção de pesquisas em Psicologia Aplicada. Convém
registrar sua atuação no Hospital da Tamarineira e na Colônia de
Barreiros, quando realizou “[...] uma modalidade nova de assistência
aos alienados [...] incluindo o hospital aberto, a atenção às famílias
dos doentes, a utilização do trabalho como método terapêutico [...]"
(MASSIMI, 1990, p. 68).
Para Antunes (1999, p. 64),
[...] é possível dizer que a Medicina veio a ser, nesse p e r í o d o , u m
i m p o r t a n t e s u b s t r a t o p a r a o desenvolvimento da Psicologia no
Brasil, mantendo uma tradição iniciada no fim do período colonial e
ao mesmo tempo a superando. A evolução do pensamento psicológico no
interior da Medicina até o século XIX, preparou o terreno para
que o c o n h e c i me n t o e a p r át i c a d a P s ic o l o g i a s e
desenvolvesse a tal ponto que fizeram delinear-se com maior
clareza seus contornos, tendo assim contribuído para a
penetração da Psicologia científica e sua definição como
campo autônomo d e c o n h e c i m e n t o e a ç ã o , o q u e v e i o a s e
concretizar nas décadas iniciais do século XX.
O período institucional contou também com a Pedagogia na
produção e multiplicidade de assuntos psicológicos, ministrada nos
colégios e nas Escolas Normais, com o propósito de preparar o corpo
docente brasileiro, cujas carências eram consideradas parte da
deficiência do sistema educacional do país. Nesse sentido, surge a
necessidade de se organizar o ensino, utilizando-se métodos
objetivos, inspirados nos moldes europeus e norte-americanos. A
relação da pedagogia com estudos psicológicos é, nesse momento,
extremamente reforçada, pois a educação é vista como o grande fator
responsável pelo desenvolvimento da sociedade, visão articulada pelo
pensamento positivista da época.
A relação da pedagogia com a psicologia toma-se mais forte no
final do século XIX e início do século XX, especialmente pela rigidez

39
metodológica do ensino, em que duas condições eram apontadas
como essenciais: a necessidade de conhecimento por parte do
educando e a formação do educador que, assim, deveria ter domínio
desse saber para a realização eficaz de sua ação pedagógica. Os
conteúdos de Psicologia faziam parte dos programas da disciplina
"Pedagogia" das Escolas Normais, abordando-se questões como
educação das faculdades psíquicas, aprendizagem e utilização de
recompensas como instrumentos educativos (ANTUNES, 1999, p.
28).
Como o objetivo da Pedagogia naquela época estava pautado na
direção da educação das faculdades da alma, ficou evidente sua
dependência em relação à Psicologia, uma vez que ela se ocupava do
funcionamento de tais faculdades. Sobre essa relação, diz Massimi
(1990, p. 55):
Enquanto a tarefa da psicologia é a de definir o significado, a função,
as características e a dinâmica evolutiva das faculdades
psíquicas, a pedagogia se ocupa dos meios e dos métodos para o
desenvolvimento delas.
No final do século XIX, a relação da Psicologia com a
Pedagogia se altera, conforme descreve Massimi (1990, p. 56):
[...] com o surgimento da psicologia experimental e com a substituição
dos ideais tradicionais que fundamentavam a pedagogia, por uma
visão de educação como sendo considerado dependente da
coletividade social. Nessa fase, a pedagogia será totalmente subordinada
à psicologia [...]
No nível legislativo o governo republicano propõe a Reforma
Benjamim Constant em 1890, dirigida ao ensino do Distrito Federal.
Essa Reforma propõe, entre outras mudanças: a tentativa de
substituição do currículo acadêmico por um currículo enciclopédico
com disciplinas científicas na sequência determinada pela orientação
positivista; a organização do ensino secundário, primário, normal,
com gratuidade estabelecida ao ensino primário; e a criação do
Pedagogium, instituição pedagógica pioneira no país, comprometida

40
com a educação, que propiciou a expansão desse pensamento pelas
Escolas Normais.
O Pedagogium constituiu-se em centro de pesquisas
educacionais, uma espécie de academia e museu pedagógico, onde foi
organizado o Laboratório de Psicologia Experimental, em 1906.
Considerado o primeiro Laboratório de Psicologia do país, foi
planejado por Binet, em Paris, e dirigido por Manoel Bomfim. A
produção do Laboratório resultou em muitas pesquisas e publicações,
como o livro de Bomfim, "Noções de Psicologia", editado entre 1917
e 1922, e outro, sobre Testes, em 1928 (PESSOTTI, 1988, p. 24;
ANTUNES, 1999, p. 73).
Nesse panorama, as instituições educacionais, em especial as
Escolas Normais das cidades de São Paulo, Recife, Rio de Janeiro,
Fortaleza e Belo Horizonte constituíram-se em importante marco para
o estabelecimento da Psicologia científica do Brasil, no âmbito
teórico e prático de seu conhecimento. Foi no interior dessas
instituições que os primeiros profissionais da Psicologia começaram
sua atuação profissional, como Lourenço Filho, Noemy Silveira
Rudolfer, Damasco Penna, Anísio Teixeira, e outros (PESSOTTI,
1988, p.24; ANTUNES, 1999, p.72; BOCK, 1999b, p. 69).
De acordo com Pessotti (1988, p. 26), esse período institucional
da Psicologia brasileira estendeu-se por um século: da instalação das
Faculdades de Medicina até a criação da Universidade de São Paulo
(USP), em 1934, e de outras universidades logo depois. Durante esses
cem anos fatos importantes aconteceram:
[...] a consolidação da independência, os mo vimento s
abolicio nistas, o p rocesso de industrialização no Brasil, a
imigração europeia em grande escala, a proclamação e consolidação da
República, os movimentos separatistas, a revolução p a u l i s t a d e 1 9 3 2
e , a j u l g a r p e l a s o b r a s mencionadas, todos esses
acontecimentos parecem não ter exercido qualquer influência clara
sobre a orientação do saber psicológico no país, afora a afirmação
tácita da liberdade individual de pesquisa nas mais diversas áreas e
intensa preocupação com o ensino público e com a formação de

41
pensadores e pesquisadores no campo da aplicação médica ou
pedagógica da Psicologia.
O período universitário da Psicologia, segundo Pessotti (1988,
p. 26), foi marcado, como se mencionou anteriormente, com a criação
da primeira universidade brasileira, a Universidade de São Paulo. A
partir daí, a Psicologia passa da condição de disciplina opcional e
torna-se obrigatória, no ensino superior, ministrada nos cursos de
Ciências Sociais, Filosofia e Pedagogia, como também nos cursos de
Licenciatura.
Durante esse período, outros fatos relevantes ocorreram: a
Psicologia atinge seu desenvolvimento autônomo desvinculado da
Medicina e virtualmente independente da aplicação escolar; cria-se a
cátedra de Psicologia da Educação na USP; o Instituto de Educação
da Escola Normal do Rio de Janeiro incorpora-se à Universidade do
Distrito Federal em 1935. Massimi (1990, p. 74) define a era
universitária como: "[...1 o início de uma nova fase da história da
psicologia brasileira [...]”.
Como informa Pessotti (1988, p. 27), outros acontecimentos
importantes para a Psicologia nesse período foram: a criação da
Associação Brasileira de Psicólogos; a publicação, pela revista
Arquivos Brasileiros de Psicotécnica, de um anteprojeto de lei que
tratava da formação e regulamentação da profissão; a multiplicação
de instituições, associações de pesquisadores e núcleos de estudo em
vários Estados do Brasil; a criação de Sociedades de Psicologia; e o
surgimento da Psicologia Industrial.
A Psicologia brasileira nesse período pôde contar ainda com
contribuições decorrentes de influências estrangeiras, ligadas à
Psicologia norte-americana e europeia, com a vinda de professores
para chefiar e orientar grupos de pesquisadores e estudiosos do
conhecimento psicológico através de cursos e conferências.

42
No Laboratório do Engenho de Dentro, que foi incorporado à
Universidade do Brasil, destacam-se 3 Jayme Grabois, Nilton Campos,
Antonio Gomes Penna e Eliezer Schneider; na Universidade do Rio
Grande do Sul, Décio de Souza; nas Universidades Federal e Católica
de Minas Gerais, Helena Antipoff, que muito contribuiu com seus
conhecimentos na Educação e na Psicologia.
Cumpre também ser lembrado que, embora a Medicina não
dominasse esse período, como ocorreu no período institucional, as
contribuições continuaram graças a esforços como de Durval
Marcondes, Lourenço Filho, Franco da Rocha, Raul Briquet e outros,
que fundaram em 1927, no Rio de Janeiro, a Sociedade Brasileira de
Psicanálise (PESSOTTI, 1975, p. 4).
A formação em Psicologia anterior à criação dos cursos de
Bacharelado e Licenciatura era considerada insuficiente e não
profissionalizante, uma vez que os alunos tinham conhecimento de
teorias, mas não estavam capacitados à aplicação da prática
psicológica. Os conteúdos ministrados versavam sobre teoria
gestáltica, teoria psicanalítica, teorias da aprendizagem, do
desenvolvimento e da personalidade, diferenças individuais,
psicofísica e funcionalismo (PESSOTTI, 1988, p.28).
Como comenta Bock (1999b, p. 159), no período universitário,
[...] a Psicologia vai recebendo contornos claros de um conhecimento a
serviço da adaptação dos indivíduos ao seu meio social e físico. São
concepções dominantes aquelas individualizantes, a - h i s t ó r i c a s e
c a r r e g a d a s d e u m a v i s ã o naturalizante do homem e de seu
fenômeno psíquico [...].
O período profissional, conforme Pessotti (1988, p.28), foi
importante para a Psicologia pela criação dos cursos de Bacharelado e
Licenciatura em Psicologia, e pela regulamentação da profissão de
psicólogo através da Lei n° 4.119, de 27 de agosto de 1962.

3 Cf. verbetes em CAMPOS, R. H. de F. (Org.). Dicionário biográfico da psicologia


no Brasil: pioneiros. Rio de Janeiro: Imago, 2001.
43
Na criação do primeiro curso de Psicologia do país, pela
Universidade de São Paulo — diferentemente de Pessotti, alguns autores
defendem que o primeiro curso de Psicologia foi criado na Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) em 1953 —,
incentivada por Anita Cabral, o corpo docente foi composto por
pedagogos e filósofos. Essa foi por muito tempo uma característica
dominante dos cursos de Psicologia, permanecendo até recentemente em
muitos lugares, como na Instituição a que ora se tem vínculo pelos
estudos e pelo trabalho, a Universidade Federal do Maranhão.
A análise realizada por Pessotti (1988, p. 28) sobre a formação de
psicólogos no Brasil faz referência ao fato de esta análise ter ocorrido
com a chegada da Análise Experimental do Comportamento e da
Modificação do Comportamento, na USP, a partir dos ensinamentos de
Fred S. Keller nessa área, que mais tarde foi expandida para os grandes
centros de formação de psicólogos.
A propagação dessa área foi mais evidenciada com a criação do
Departamento de Psicologia na Universidade de Brasília, em 1964, que
contou com a participação de Fred Keller, Carolina Bori, Rodolpho Azzi e
J. Sherman. Por pressão do governo militar, no ano de 1965 ocorreu a dissolução desse
Departamento, o que implicou na saída de profissionais para outros Estados,
disseminando essa abordagem teórica em Psicologia. A produção
científica e didática permaneceu, portanto, sob a orientação
comportamentalista, ainda mais fortalecida com a implantação dos cursos
de pós-graduação. Somente depois de muitos anos foi que outras
orientações técnico-metodológicas imprimiram suas posições na
psicologia.
No período profissional, como salienta Pessotti (1988, p. 30),
alguns problemas se evidenciam, a saber: a cessação da convivência com
as disciplinas da Filosofia e das Ciências Sociais; a criação de
departamentos independentes dentro da própria área de Psicologia, às
vezes antagônicos; a criação de um número excessivo de cursos de
Psicologia no país, sem planejamento, mas com o apoio da ditadura
militar; o pouco comprometimento de profissionais autônomos em
relação aos núcleos acadêmicos, entre outros. Mesmo com os problemas
44
apontados, ao longo do tempo a profissão conquistou seu espaço de
ciência autônoma.
Para Bock (1999b, p.159), nesse período,
[...] cresce uma concep ção instrumental da P s i c o l o g i a .
L i m a v i s ã o f u n d a m e n t a d a e m tendências científicas, que
empregavam métodos das ciê ncias naturais no estudo do
ho mem, demonstrando, assim, uma concepção a-histórica, um sujeito
abstraído de suas relações sociais e do seu contexto cultural [ ...]
cresce também, paralelamente, os movimentos que negam as
concepções individualizantes e a-históricas na Psicologia e que buscam a
construção de uma Psicologia crítica, que situe o homem em seu
momento social e histórico para compreender seu mundo psíquico [...].
A longa História da Psicologia originada no Brasil colonial
(período em que se pode reconstituir a história de "ideias psicológicas") e
atravessada por diferentes campos do saber mostrou que a Psicologia tem
exercido sua função social nos diferentes segmentos da sociedade,
contribuindo para a compreensão dos problemas humanos. Todavia,
torna-se cada vez mais urgente o conhecimento de sua história assim
como das condições que forneceram o substrato para o seu
desenvolvimento, evidenciando as lutas e alianças em sua trajetória até à
constituição do campo autônomo de práticas e saberes que hoje se
conhecem.

45
CAPÍTULO III

OS PRIMÓRDIOS DA PSICOLOGIA NO MARANHÃO

É consenso aos que se dedicam a


preservar a memória e a identidade
da civilização humana, ou de partes
da civilização, que o movimento do
tempo opera muito mais a favor do
esquecimento que da lembrança [...]
Este movimento de 'abandono do
passado', quando não é puro
descaso, consciente ou
i n c o n s c i e n t e m e n t e é resultado,
diriam muitos, da necessidade de
sermos modernos [...]

Ananias Martins, 2000

3.1 O Estado do Maranhão: o contexto

O Maranhão faz parte dos nove Estados que compõem a região


Nordeste do Brasil a qual, em razão da variedade de clima, vegetação e economia,
divide-se em cinco zonas: Litoral, Zona da Mata, Agreste, Sertão e Meio-
Norte. Localiza-se mais precisamente no Meio-Norte ou Nordeste
Ocidental, no Hemisfério Oeste. Portanto, limita-se, ao norte, com o
Oceano Atlântico; a leste e sudeste, com o Estado do Piauí; ao sul e a
sudoeste, com o Estado do Tocantins; e a oeste, com o Estado do Pará.
Possuindo uma extensão de 328.663 km², é considerado o 8º Estado mais
extenso do Brasil, e o 2º da região Nordeste, abrigando uma população de
5.638.381 habitantes de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), do ano de 2000. Encontra-se distribuído
politicamente em 217 municípios divididos em cinco mesorregiões —
Norte, Oeste, Centro, Leste e Sul —, caracterizadas pelos tipos de

46
atividades desenvolvidas em relação agricultura, à pecuária, à indústria, à
vegetação e aos meios de transporte.
A designação de "Maranhão" a este Estado está envolta em uma
série de controvérsias. Conhecida anteriormente como Trindade, alguns
pesquisadores acreditam que a etimologia do nome deriva da palavra
indígena maranãguaras (de maranã por paraná, semelhante ao mar, e
guara, habitante) provavelmente tupinambás chegados do sul, fugindo à
ocupação portuguesa do Brasil. Outros a explicam como "água que corre
brigando", ou, ainda, derivada do nome de algum transitório descobridor,
pois o apelido da marangnon, aportuguesado depois, já de muitos séculos
era conhecido na Espanha (MEIRELES, 1960, p. 21).
De acordo com Meireles (1960, p. 20), Maranõn era o nome do
atual rio Amazonas. Isso reforça a hipótese de o nome Maranhão estar
associado ao naufrágio de Aires da Cunha (um dos donatários da
Capitania do Maranhão) no golfão onde fica a Ilha de São Luís, pois, não
conhecendo o lugar, julgou ter naufragado onde o rio Amazonas se lança
ao mar, constituindo-se esta última a mais provável explicação acerca do
nome desta terra.
Embora o Maranhão seja conhecido pela sua história e tradição, é
importante salientar que o propósito desta exposição é delinear alguns
fatos relevantes presentes na memória de seu povo, os quais constituem
pontos considerados significativos para esse estudo, tais como o processo
de colonização, a economia e a cultura, propiciadores do atual panorama
educacional no ensino superior no Estado.
O período pré-colonial brasileiro (1500-1530) é marcado pela falta
de um plano de ocupação dessas terras por parte do governo português,
que tinha como principal interesse o lucrativo comércio de especiarias
com Oriente. Sendo assim, os colonizadores limitaram-se a explorá-las
periodicamente e a defendê-las contra intromissões estrangeiras,
principalmente francesas.
O declínio do comércio oriental, aliado à preocupação de perder a
terra para os franceses, fez com que a Coroa Portuguesa optasse pela
colonização das terras brasileiras. Para tanto, a adoção do sistema de
47
capitanias hereditárias que tinham por objetivo estimular a iniciativa
particular para a colonização das terras portuguesas na América, foi um
sistema administrativo mais conveniente para a Coroa, realizando a tarefa
de colonização sem arcar com o ônus de empreendimento.
Assim, o Brasil foi dividido em quinze lotes de terra denominados
capitanias, dentre as quais a do Maranhão, doada aos donatários João de
Barros e Fernão Álvares de Andrade que, associando-se a Aires da
Cunha, empreenderam algumas tentativas para tomar posse de sua
capitania, tentativas que, em função da difícil penetração nesta região,
resultou em fracasso.
Desse modo, dir-se-ia que a colonização do Maranhão não ocorreu
no contexto da implantação das capitanias hereditárias. Foi somente a
partir de 1612 que se iniciou efetivamente a ocupação desta região pelos
conquistadores franceses. Nos escritos de Barbosa de Godóis — História
do Maranhão (1904 apud LIMA, 1981, p. 22), lê-se que
[...] a demora da colonização do Maranhão deveu-se também à má
impressão deixada na Corte pela expedição de Pero Coelho. Foi, aliás,
este Pero Coelho, talvez o principal responsável pelo ódio que os
indígenas passaram a dedicar aos portugueses a quem chamavam
indistintamente de “pêros”, em lembrança das muitas atrocidades e
traições ignominiosas de que foram vítimas.
Ao chegarem ao Brasil, os colonizadores encontram duas raças
distintas de indígenas dominando quase a totalidade do território
brasileiro: os tupis e os tapuias. No Maranhão, os índios, principalmente
os tupinambás que aqui habitavam, eram provenientes do litoral leste do
Brasil e encontravam-se distribuídos em vinte e sete aldeias sob a chefia
de Japiaçu. Foram eles que denominaram a capital do Estado — São Luís
— de Upaon-Açu, que na língua tupi significa Ilha Grande.
Com efeito, São Luís, a Upaon-Açu dos Tupinambás, visitada por
muitos aventureiros, transformou-se no grande palco das lutas ocorridas
para conquistar o território maranhense. Dessa forma, a origem da cidade
confunde-se com interesses colonizadores e com conflitos de ocupação
territorial por portugueses, franceses e holandeses.

48
Sabe-se que as primeiras intenções colonizadoras partem dos
franceses, cujos propósitos eram ocupar terras da América, das quais
Portugal e Espanha consideravam-se os únicos proprietários. Devido a um
acordo assinado entre as duas nações no ano de 1494, denominado
Tratado de Tordesilhas, esse lado do mundo era dividido em duas partes,
cabendo o lado leste do Brasil, de Belém ao norte até Laguna ao sul, a
Portugal, e o lado oeste, à Espanha. Ocorre que, em 1500, os portugueses
chegam ao Brasil em uma esquadra comandada por Pedro Álvares Cabral,
que aporta na Bahia. Depois que o governo português toma conhecimento
da imensidão do território a ser conquistado, resolve dividi-lo em
capitanias hereditárias, cabendo a João de Barrosa responsabilidade pelos
investimentos que garantissem a ocupação das terras do Maranhão. De
fato, os franceses chegaram à Ilha de São Luís antes dos portugueses e de
outros invasores. A primeira expedição marítima data de 1535, outras
foram tentadas por terra, mas encontravam a resistência dos índios da
região. A expedição comandada por Jacques Riffault, em 1594,
estabeleceu um posto de comércio de madeiras que eram enviadas à
França para produção de tintas que coloriam tecidos (MARTINS, 2000, p.
22-23).
Outra expedição, comandada por Charles Des Vaux, aqui chega
com o objetivo de tomar posse da região. Para tanto, os franceses
aprendem a língua dos índios, conquistando-lhes a simpatia e confiança
para organizar a defesa da nova colônia, certos de que os portugueses
tentariam expulsá-los logo que tomassem conhecimento da situação.
Destarte, em 1612, a França resolve enviar ao litoral do Maranhão uma
expedição composta de três navios com quinhentos homens e os primeiros
missionários, fundando um núcleo de colonização denominado "França
Equinocial", sob o comando de Daniel de La Touche, Senhor de La
Ravardière. Em 12 de agosto de 1612, os franceses celebraram a primeira
missa no local e em 8 de setembro do mesmo ano o Senhor de La
Ravardière funda a cidade de São Luís, assim denominada em
homenagem ao rei menino francês Luís XIII.
Entretanto, ao tomarem conhecimento do sucesso da invasão
francesa, os reis portugueses enviam expedições para expulsar os

49
invasores e resgatar o processo de colonização. Então, sob o comando de
Jerônimo de Albuquerque, os franceses são derrotados em novembro de
1614 na batalha de Guanabara4.
Além disso, com o fim de assegurar o domínio sobre o território da
Ilha, Portugal passou a enviar expedições colonizadoras, uma delas no ano
de 1615 sob o comando do engenheiro-mor do Estado do Brasil, Francisco
Farias de Mesquita, que teve a missão de projetar a construção de fortes
que resguardassem a Ilha contra invasões e de elaborar o primeiro plano
de urbanização de São Luís: um conjunto urbanístico de concepção
hispânica, visto que Portugal se encontrava, naquela época, sob
dominação espanhola.
É importante destacar que o caráter civil que impera no Centro
Histórico5 da capital do Maranhão é considerado um dos mais
representativos e ricos da tipologia arquitetônica portuguesa produzida
durante a colonização do Brasil, cujas características marcantes são os
sobrados de fachadas revestidas com azulejos também portugueses.
Em meados do século XVII, em 25 de novembro de 1641, Portugal
torna a disputar o Maranhão com os invasores, dessa vez os holandeses,
que tentaram repetir o sucesso da ocupação realizada em Pernambuco em
1630, quando foram atraídos pela cultura do açúcar na zona rural. Assim
como os franceses, queriam os holandeses fazer de São Luís uma colônia
de seu país.
Com uma esquadra composta de dezoito embarcações e dois mil
homens comandados por João Cornelis Lichtardt, os invasores holandeses
ancoraram em terras maranhenses na enseada de Araçagy. Esses
holandeses saquearam a cidade, profanaram igrejas de onde roubaram
todo o ouro e pedras preciosas que adornavam os altares, provocando

4 Batalha naval travada entre portugueses e franceses, importante no processo de


expulsão destes últimos da Ilha de São Luís.
5 Em face da extensa dimensão de área construída e do caráter representativo do conjunto
arquitetônico e urbanístico do Brasil-Colônia (séculos XVIII e XIX), a cidade de São Luís é hoje
reconhecida e foi elevada pela UNESCO — Organização das Nações Unidas para a Educação e
Cultura — à categoria de Patrimônio Cultural da Humanidade.
50
pânico na população. Aprisionaram o governador Bento Maciel Parente,
obrigaram a população a prestar juramento público ao governo e à
bandeira holandesa e, por fim, designaram para governar a capital do
Estado o holandês Pieter Bas.
Após dois anos de invasão, graças à resistência dos moradores
juntamente com os reforços vindos de Lisboa, numa operação surpresa,
em fevereiro de 1644, os portugueses consumaram a expulsão holandesa,
após muitas emboscadas, lutas e mortes. Em razão disso, os maranhenses
comemoraram a vitória, e os lusitanos recuperaram a posse do território.
A partir daí, inicia-se, de fato, a colonização portuguesa no Maranhão.
Isto, na prática, significava somente a posse inconteste, já que nada foi
feito para o desenvolvimento local. As lembranças da expulsão dos
holandeses estão contidas nos dois primeiros versos da quarta estrofe do
Hino do Maranhão6 (NASCIMENTO; CARNEIRO, 1996, p.81):
Reprimiste o Flamengo aventureiro,
E o forçaste a no mar buscar guarida;
Dois séculos depois, disseste ao luso:
- A liberdade é o sol que nos dá vida.
No tocante à economia, o Maranhão e a região Norte viviam em
estado de abandono e miséria, produzindo um primário extrativismo
vegetal submetido à indigente agricultura de subsistência. O comércio
maranhense era insignificante até 1750, as produções agrícolas eram
pouco desenvolvidas, de modo que somente em 1756 o Estado começa
sua arrancada para o progresso, através da criação da Companhia de
Comércio organizada pelo Marquês de Pombal.
Ressalte-se, entretanto, que, em 1682, a Coroa Portuguesa criou a
Companhia de Comércio do Maranhão e Grão-Pará, empresa monopolista
constituída por capitais burgueses, visando, dentre outros aspectos,
aquecer o mercado colonial. A referida Companhia se dispunha a fornecer
mão de obra africana aos lavradores maranhenses; abastecer o mercado
interno com produtos manufaturados; fazer a comercialização da produção
maranhense através do envio anual de navios.

6 Letra de Antônio Baptista de Godóis e música atribuída a Antonio dos Reis Raiol.
51
Pode-se dizer que o Maranhão teve apreciável progresso econômico
em meados do século XVIII até o primeiro quartel do século XIX, quando
desempenhou importante papel na produção econômica do Brasil. Possuía
condições para ser um grande Estado: tinha na agricultura uma das
atividades mais importantes, com destaque para o algodão, o arroz e o
açúcar — que, no seu apogeu, foram exportados para o mercado exterior
—; era um porto com condições de operação; era o segundo parque
industrial do país, composto de muitas fábricas (onze fábricas de fiação e
tecelagem de algodão, sendo três em Caxias, uma em Codó — municípios
do Maranhão — e as demais em São Luís, possuindo, ainda, um de
engenho central de açúcar, uma fábrica de calçados, uma fábrica de
fósforos, uma fábrica de produtos cerâmicos, uma fábrica de chumbo e
pregos, quatro fábricas de pilar arroz, duas fábricas de açúcar e
aguardente, entre outras).
Como se pode evidenciar, a articulação do Maranhão ao mercado
externo ocorreu a partir de acontecimentos conjugados: a criação da
Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão que efetivou a
entrada da mão de obra africana; a expulsão dos jesuítas pela junta
governativa, que os considerava prejudiciais à economia na medida em
que se opunham ao trabalho escravo indígena, de interesse dos
comerciantes e fazendeiros necessitados de trabalhadores. Durante esse
período, o Maranhão se tornou a quarta economia do país, fato que alterou
profundamente a vida do Estado, ocasionando o florescimento de seu
panorama cultural.
Conforme observa Meireles (1960, p. 283), esse fato
[...] se traduziu no enriquecimento material e no aprimoramento
intelectual da sociedade, e culminaria, já no Império, no surgimento de
uma elite latifundiária e de uma nobreza rural que concederiam à então
província uma posição de primeiro plano no cenário nacional, não só no
campo econômico, como no político e no cultural.
Tal situação, em São Luís, permitia a seus habitantes importar
louças, móveis, joias e as mais famosas companhias de teatro do mundo.
No final do século XVIII e início do XIX, conforme Meireles (1960, p.
289), os futuros condes, viscondes, barões, moços fidalgos e
52
comendadores, que eram filhos dos abastados senhores rurais, educavam-
se com requinte na Europa, cursando as universidades de Coimbra ou
Lisboa, ou as universidades da França ou da Alemanha, de onde voltavam
bacharéis e doutores em Leis, Filosofia, Medicina, Matemática,
imprimindo à sociedade local costumes de apurado bom gosto e finas
maneiras que contribuíram favoravelmente na construção de grupos
literários.
Desse modo, foi-se constituindo a geração de intelectuais que mais
tarde formaria o "Grupo Maranhense" do Romantismo brasileiro que,
junto aos autodidatas, conquistaram para o Maranhão, no período áureo do
Império, o título de "Atenas do Brasil" 7. Nesse sentido, tem-se João
Lisboa, Sotero dos Reis, Gonçalves Dias, Cândido Mendes, Coelho Neto,
Graça Aranha, Aluízio de Azevedo, Barbosa de Godóis, Odorico Mendes,
Sousândrade, Teixeira de Sousa, Gomes de Sousa, Rubem Tavares,
Franco de Sá, Raimundo Nina Rodrigues, entre tantos outros que, em sua
maioria, migraram, como mariposas, para a Corte — o Rio de Janeiro,
cujo brilho os arrebatava — razão por que, até hoje, muitas vezes não são
conhecidos como tendo sua origem no Maranhão.
Meireles (1960, p. 291-292) assinala:
Este “Grupo Maranhense” abrange, no tempo, o ciclo que vai de 1832 a
1868 e corresponde assim, no campo econômico, ao Ciclo do Algodão.
Com o Ciclo do Açúcar, sobrevém Ciclo Literário de 1868 a 1894,
quando se sobrepõem as influências da Escola Naturalista, do
Parnasianismo e do Simbolismo poético, e quando, desfazendo-se o
“grupo” local, os nossos homens de letras passam a emigrar cedo para o
sul, onde, grangeando justo renome, fazem-se essencialmente literatos
nacionais.
A economia do Maranhão, segundo Lima (1981, p. 181) e Meireles
(1960, p. 290), sustentou-se precariamente até 1888, marco do começo de
sua decadência, visto que o advento da República gerou o desequilíbrio
econômico com efeitos desastrosos sobre a vida política, econômica e

7 Título atribuído a São Luís na primeira metade do século XIX devido ao grande número de
intelectuais que se destacaram no cultivo das letras — o Grupo Maranhense.
53
cultural do Maranhão no último decênio do século XIX para o primeiro
quartel do século XX. O Estado entra em declínio em virtude de fatos
considerados importantes, tais como: a Abolição da Escravatura, que
dificultou a produção agrícola e a pecuária totalmente centrada no
trabalho escravo; a inexistência de estrutura tecnológica, principalmente
no setor têxtil, quando a produção de algodão teve uma queda
considerável no mercado internacional devido ao aparecimento de um
material de melhor qualidade, menor preço e maior durabilidade; o
consequente fechamento do parque industrial maranhense; as
consequentes questões financeiras que dificultavam vencer a crise que
abateu o Maranhão — fecundo, progressista e promissor. Fica, assim, o
Maranhão, a partir de então, vivendo das glórias do passado, lutando para
não perder a tradição de "Atenas Brasileira".
Esse desejo é expresso na quinta estrofe no hino maranhense, em
que o poeta solicita que o futuro dê ao Maranhão as mesmas glórias do
passado (NASCIMENTO; CARNEIRO, 1996, p. 81):
E na estrada esplendente do futuro.
Fitas o olhar, altiva e sobranceira,
Dê-te o provir as glórias do passado
Seja de glória tua existência inteira.
Mesmo com a descrença, a falta de estímulo e apatia que tomou
conta dos intelectuais do final do século XIX, eles conseguiram em 1908,
congregar esforços e fundar a Academia Maranhense de Letras e, em
1926, o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Essas Instituições
foram fundadas pelo grupo denominado de "novos atenienses", dentre os
quais se destacaram, Antônio Lobo, Domingos Perdigão, Antônio Lopes e
outros.
Essa situação de crise continuou até o término da Primeira Guerra
Mundial, quando se inicia, em nível de exportação, a comercialização de
babaçu, fruto nativo que tem sua importância para o Maranhão, devido às
indústrias que se instalaram na região para o beneficiamento do produto
para os mercados mundiais, permitindo que aos poucos se reativasse a
economia do Estado, sem, contudo, lhe devolver a fase de riqueza já
vivenciada. A distância dos grandes centros consumidores (São Paulo e
54
Rio de Janeiro) tornava impossível a concorrência da produção
maranhense.
Com relação ao panorama educacional, conforme Meireles (1960,
p. 220), a primeira escola de que se tem conhecimento começou a
funcionar em 1626, em São Luís, com o jesuíta Luís Figueira, na
residência da Companhia de Jesus no bairro da Madre-Deus, com o
objetivo de ensinar "as letras" aos filhos dos portugueses, além dos
seminários dos capuchinhos franceses destinados aos meninos colonos e
nativos. Durante o século XVII, além das primeiras letras, a instrução se
fez presente com aulas de Filosofia, Teologia, Retórica e Gramática,
mantidas por essa Companhia. Em seguida, outras escolas foram abertas
em Alcântara8, como o Colégio de N. S. do Pilar onde os ensinamentos
eram de leitura, e latim de catecismo, e a escola gratuita de ler, escrever e
solfa dos mercedários do Convento de N. S. dos Remédios. Ainda,
segundo o autor, nos escritos de Betendorf — em sua "Crônica", de 1910,
ficou registrado que o curso de Teologia, pelo aperfeiçoamento
apresentado, permitia que a Companhia encaminhasse seus noviços e
padres de outras províncias, até mesmo do Reino, para estudar em São
Luís.
Na segunda metade do século XVIII foram instaladas, no Estado, as
aulas régias, das quais a tradição guarda boas lembranças, principalmente
da terceira que ocorreu na capital em 1794, sob a direção de Manuel do
Nascimento Câmara. Anterior a 1753, Gabriel Malagrida, da Companhia
de Jesus, fundou um abrigo para moças órfãs e senhoras desvalidas, o
Recolhimento de N. S. da Anunciação e Remédios, a primeira escola
feminina do Estado. No final desse século, quando a situação econômica do
Maranhão estava à míngua, os primeiros estudantes começaram a se deslocar
em busca de formação no Reino (MEIRELES, 1960, p. 220-221).

8 Cidade tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional, antiga aldeia de Tapuitapera, cujas origens
antecedem ao período da colonização portuguesa no Maranhão. Atualmente, por determinação do
Governo Federal, o município passou a sediar o Centro de Lançamentos Aeroespaciais, projeto do
Estado Maior das Forças Armadas.
55
Em 1820, o italiano Carlos de La Rocca funda o primeiro colégio
particular de São Luís, localizado na Quinta das Laranjeiras: Por volta de 1826 e
1827, José Cândido de Moraes e Silva e Manuel Pereira da Cunha
inauguram o segundo, no bairro de São Pantaleão.
No começo da República, o panorama educacional se alterou
devido aos reflexos de uma política estatal que agitou o poder da Igreja,
no contexto da sociedade civil exercida até então. Em 28 de setembro de
1892, com a promulgação da nova Constituição Estadual, a Lei n° 56, de
15 de maio de 1893, organizou o ensino a partir das novas condições
políticas, ficando o ensino público dividido em primário, secundário e
técnico ou profissional. Em São Luís, o colégio Liceu Maranhense, foi
mantido e seu currículo equiparado ao do Ginásio Nacional. Foram
criados um Conselho Superior de Instrução Pública, um Fundo Escolar e a
Escola Normal. Esta escola funcionava no mesmo prédio do Liceu
Maranhense. Em 1897, ainda na vigência da lei anteriormente citada, o
governador da época, Cunha Martins, criou uma Escola Modelo, anexa à
Escola Normal, destinada à educação de menores do sexo masculino e
feminino e à prática dos alunos normalistas e de várias cadeiras de ensino
primário no interior do Estado (BUZAR, 1985, p. 2).
Segundo Amaral (1896 apud BUZAR, 1985, p. 2) em 1907,
funcionavam no Maranhão 244 escolas em nível primário, 11 em nível
secundário e 4 escolas no profissional ou técnico; desse total, duas eram
federais, 143 estaduais, 54 municipais e 60 particulares que atendiam
aproximadamente 14.104 alunos.
Apesar de todas as dificuldades no âmbito econômico, foi com a
elite intelectual e a força da tradição cultural do Estado que surgiram em
1908 propostas de criação e implantação das primeiras escolas superiores
do Maranhão, efetivadas em 1918, que serão alvo de apresentação
posterior.
No período que vai de 1918 a 1930, o Maranhão teve um relativo
progresso econômico e, consequentemente, social, devido a dois
importantes fatores: a construção da Estrada de Ferro São Luís —
Teresina, que possibilitou o transporte de carga e passageiros por todo o

56
vale de Rio Itapecuru, chegando até o vizinho Estado do Piauí e, por
conseguinte, a outras cidades do Nordeste; a criação da linha de
cabotagem através de um contrato do Governo da União com a
Companhia Nacional de Navegação Costeira, com transporte para
pequenos portos do interior. Na área educacional foi construída em 1896 a
Escola Modelo Benedito Leite cujas atividades, iniciadas em 1900,
permanecem até os dias atuais, em pró do ensino fundamental e médio.
Para difundir não só a cultura maranhense, mas também a cultura
universal, foi reconstruído o Teatro Arthur Azevedo, obra de admirável
beleza.
A década de 30 é marcada por lutas revolucionárias em todo o país
e, como não poderia ser diferente, também no Maranhão, quando o
governo do presidente Getúlio Vargas substitui o governador do Estado
por um interventor, ocorrendo a partir daí sucessivas mudanças de
interventores advindos de motivos éticos e políticos, ficando assim o
Estado, durante todo o período getulista, praticamente sob dominação
federal. Foi nessa época que aqui entraram grandes levas de migrantes
nordestinos, fugindo da seca e dos problemas econômicos que assolavam
seus Estados. A partir de 1950, as mudanças provocadas pela entrada dos
migrantes começaram a ser percebidas, graças as famílias que começaram
a expandir as fronteiras agrícolas e a diversificar a produção. Também
contribuiu para isso a construção de rodovias, integrando o Maranhão com
o restante do país. Em termos políticos e econômicos essa década foi
caracterizada pelo mandonismo, que se refletia na dominação dos coronéis
e seus correligionários, sendo seu maior representante Vitorino Freire. No
campo da educação, percebem-se ações isoladas decorrentes da própria
debilidade da estrutura administrativa do Estado, que não possuía
condições de organizar ações mais globais, nem revelava presteza no
tratamento dos problemas educacionais.
Em 1965, teve início um período de grande desenvolvimento
econômico, através de uma série de obras públicas, como a construção do
porto marítimo do Itaqui e a pavimentação da rodovia São Luís - Teresina.
Outros que o sucederam construíram obras importantes para o progresso
da região.

57
Em termos educacionais, houve um aumento pouco relevante no
ensino fundamental e uma preocupação centrada nos projetos
educacionais do ensino médio e superior, como base para o desenvolvimento
econômico do Maranhão. Devido ao desinteresse pelo ensino fundamental, a
criação de escolas particulares teve um acréscimo, principalmente pelo
fato de, àquela época, o ensino médio mantido pelo Governo limitar-se a
dois colégios em São Luís, o Liceu Maranhense e a Escola Normal,
apontados anteriormente, herança mantida ainda do Brasil-Império.
Aliados a essa situação, foram elaborados projetos que visavam dinamizar
o setor da educação e acelerar resultados, adequando-se à realidade local,
montados de acordo com as necessidades mais prementes, como a
implantação no Estado de empresas agropecuárias e industriais. Os
projetos foram os seguintes: Projeto Bandeirante, implantado em 1968,
somente para os municípios do Estado; Projetos TV Educativa e
Madureza, implantados, respectivamente, em 1969 e 1970 para São Luís
(BONFIM, 1985, p. 86).
Ainda durante esse governo, no período de 1967 a 1969, viriam a
ser criadas em São Luís a Escola Superior de Administração Pública, a
Escola de Engenharia do Maranhão, A escola de Agronomia e a Escola de
veterinária, a fim de prover o Estado de recursos humanos qualificados
nessas áreas, que deram origem à Universidade Estadual do Maranhão
(UEMA).
No período de 1970 a 1994 houve pouco interesse dos governadores
maranhenses pelo setor educacional no Estado, destacando-se apenas a
implantação do complexo educacional Centro Integrado do Rio Anil
(CINTRA), Fundação destinada ao ensino fundamental e médio,
funcionando em uma antiga fábrica de fiação e tecelagem desativada.
O ano de 1995 marca a entrada de dois projetos importantes no
panorama educacional, com a construção dos Faróis da Educação
(baseados em um modelo de Curitiba-PR), destinados a pesquisas de
alunos de escolas públicas de ensino fundamental e médio, e o Programa
de Capacitação de Docentes (PROCAD), na UEMA, com o objetivo de
qualificar os professores da rede pública de todo o Estado, habilitando-os
ao exercício da profissão.
58
A descrição acima sobre esses três aspectos que fundamentaram o
panorama educacional do Estado, teve como objetivo situar a História do
Maranhão para, posteriormente, mostrar sua relação com a criação das
Instituições de Ensino Superior do Maranhão e o contexto dos cursos de
Psicologia, temas que serão explanados nos capítulos seguintes.

3.2 Os Precursores da Psicologia no Maranhão

A abordagem já apresentada sobre a Psicologia no Brasil, realizada


por alguns estudiosos como Pessotti (1988), Antunes (1999), Massimi
(1990) e outros, demonstrou que o estudo dos fenômenos psicológicos
esteve inserido em diferentes áreas do saber, como a médica e a
educacional, obviamente com conotações diferenciadas entre si. E foi por
essas mesmas vias que a Psicologia chegou ao Maranhão. No entanto,
cabe ressaltar que não é aqui propósito descrever como essas produções
aconteceram, mas apenas situar que esse foi também o caminho
percorrido. Esses percursos tiveram importância fundamental para
entender como, a partir deles, e de outros campos do saber, a Psicologia
foi penetrando no Estado.
No Maranhão, esse saber esteve por muitos anos ocasionalmente
atrelado à figura de médicos-pediatras assim como, em especial, à dos
psiquiatras, pois em suas instituições estava centralizado o tratamento
relativo à saúde mental. Quanto à participação dos médicos-Pediatras
nessa área, dados colhidos em entrevistas realizadas mostram a frequência
com que esses profissionais eram procurados para atendimentos de cunho
psicológico.
Consta na história da Psiquiatria que o Hospital Nina Rodrigues,
fundado em 1941, foi a primeira instituição psiquiátrica no Maranhão a
abrigar os enfermos mentais. Contudo, foi apenas em 1987 que os
primeiros psicólogos, sem vínculo empregatício, deram início a um
trabalho nessa casa de saúde, haja vista a ausência de profissionais
qualificados para acompanhamento psicoterápico dos pacientes ali
internos.
59
Os psicólogos recém-chegados, ao tomarem conhecimento da
realidade apresentada, não só a do Hospital Nina Rodrigues, quanto de
outras instituições, partiram para um trabalho de sensibilização junto a
todos os profissionais que direta ou indiretamente encontravam-se
envolvidos com o tratamento da saúde mental, a fim de que pudessem
demarcar um campo de saber específico que, até então, não dispunha de
profissionais.
Os autores citados inicialmente apontam que uma outra via de
entrada da Psicologia no Brasil deu-se através das Escolas Normais,
surgidas a partir da segunda metade do século XIX, cujo objetivo era a
formação de um corpo docente competente e adaptado às necessidades do
sistema educacional brasileiro (MASSIMI, 1990, p. 54). A disciplina
"Psicologia" nessas Escolas objetivava oferecer uma estrutura teórica que
pudesse subsidiar as futuras professoras na solução de problemas
decorrentes da prática pedagógica. A produção das Escolas Normais,
segundo Antunes (1999, p. 80),
[...] consistiu, provavelmente numa das mais importantes
contribuições para o estabelecimento da Psicologia científica no
Brasil, quer no âmbito teórico, quer no âmbito da aplicação prática
de seus conhecimentos. Sua importância reside t a m b é m n o
f a t o d e m u i t o s d o s p r i m e i r o s profissionais da Psicologia
terem iniciado sua formação nessas escolas [...].
Durante muito tempo, no Maranhão, as escolas da rede pública e
particular do ensino de 2º grau, em especial as Escolas Normais,
contemplavam em seus currículos a disciplina Psicologia, assim como
aquelas que habilitavam para o magistério de 1° grau (1ª a 4ª séries). A
partir de 1997, aquela disciplina foi retirada dos currículos, permanecendo
apenas nas escolas de formação de professores e nas escolas do ensino
médio de Enfermagem com o título de Psicologia Aplicada e Ética
Profissional, geralmente ministrada por um bacharel em Enfermagem e,
ocasionalmente, por profissionais da área de Psicologia.
A Psicologia no Maranhão, como se está explicitando, teve sua
origem em outros campos do saber, semelhantemente aos demais Estados
brasileiros, o que evidencia a contribuição de pioneiros.
60
Dessa feita, o interesse que se tem pelos precursores vai ao encontro
dos que estão preocupados em registrar a contribuição de profissionais na
construção da Psicologia brasileira, especialmente, de acordo com as palavras de
Bock e Ferreira (2001, p. 7), quando afirmam: "A Psicologia Brasileira
sofre de escassez de imagens e informações sobre nosso território e os
personagens que marcaram tendências em seu desenvolvimento [...]".
Ao se tomar por referência os pioneiros, pode-se destacar o que
Campos (2001, p. 21) assinala:
Consideramos como pioneiros aqueles que iniciaram ou propiciaram
oportunidades de realização de trabalhos relevantes na área da Psicologia,
ou que produziram contribuições originais em continuidade ao
trabalho de outros [...]. Assim sendo, escrever sobre esse percurso é
conhecer como, no Maranhão, os saberes psicológicos tiveram
origem.
Inicia-se traçando a biografia de um dos mais importantes precursores da
Psicologia no Maranhão: Padre João Miguel Mohana9. As informações
sobre Pe. Mohana são inúmeras devido à sua formação, aos estudos e
pesquisas que realizou. A proposta que se tem visa mostrar sua atuação
como pioneiro na História da Psicologia e da Psicanálise no Maranhão.
Para se obterem estes dados foi necessário recorrer às matérias
anteriormente publicadas, além dos dados colhidos em entrevista realizada
com seus irmãos, quando se procurou saber sobre a sua história familiar, a
sua atuação como médico, escritor, psicólogo, psicanalista e sobre os
trabalhos que desenvolveu nessas áreas.
João Miguel Mohana nasceu em 1925, em Bacabal, município do
Maranhão. Era filho de Miguel Abraão Mohana e Anice Mohana, árabes
(libaneses). Primogênito de uma família de sete irmãos, sendo quatro
homens e três mulheres, sofreu fortes influências nos âmbitos cultural e
religioso. A cultural, advinda da vivência de seus pais em capitais como
São Luís e São Paulo, e das histórias contadas por eles do Oriente e do

9 Cf. Verbete sobre Mohana escrito em colaboração por Márcia Antonia Piedade
Araújo, Manoel William Ferreira Gomes e Ana Maria Jacó-Vilela publicado em
CAMPOS, R. 1-1. de F. (Org.). Dicionário biográfico da psicologia no Brasil: pioneiros. Rio de
Janeiro: Imago, 2001.
61
Ocidente, com destaque para a visita à França na vinda para o Brasil. Já a
religiosa, pela convivência pacífica com protestantes, espíritas e ateus em
Viana, município do Estado, o que lhe propiciou uma visão diferenciada
da vida e do ser humano. Vale ressaltar ainda a constituição familiar,
como declarada em entrevista pelos irmãos:
[...] o ambiente era de muito trabalho, alegria e amizades [...] O
temperamento na família sempre foi muito variado, tendendo para os
naipes mais fortes. João dizia que se Miguel e Anice vivessem hoje,
seriam separados, talvez, pois ambos eram de forte personalidade
e às vezes coléricos.
Sua formação acadêmica foi em Salvador onde concluiu o curso de
Medicina no ano de 1949, na Universidade Federal da Bahia. Um ano
depois Mohana passa a exercer a profissão na cidade de São Luís como
pediatra, o que ocorreu durante seis anos. Na capital maranhense,
paralelamente a essa atividade profissional, desenvolveu uma importante
atuação cultural, como presidente da Ação Católica, arregimentando
novos talentos em torno do teatro, cinema, música e literatura, que depois
passariam a figurar significativamente no cenário cultural brasileiro.
Como médico-pediatra, percorreu todo o interior do Estado do
Maranhão, juntamente com Dom José Delgado, arcebispo de São Luís.
Dedicava particular atenção aos pobres, que eram maioria nos
ambulatórios públicos. Com essa tendência à caridade e à solidariedade,
viu surgir, paralelamente à prática da Medicina, a vocação sacerdotal.
No auge de sua atividade profissional e literária, aos trinta anos de
idade, Mohana tomou a decisão de ser padre, o que deu origem a muitas
especulações pela imprensa de todo o país como: desilusão sentimental?
Vocação antiga aflorada? E ainda houve quem perguntasse, por que
Mohana decidiu abraçar o sacerdócio aos trinta anos, quando tinha em
mãos as satisfações que o mundo pode dar a um médico e a um escritor
vitorioso. Foi o próprio Mohana que resolveu responder a essa indagação.
Já no curso médico, de vez em quando eu me encontrava perguntando a

62
mim mesmo se tomara caminho certo. Tanto que na minha turma eu
cultivava mais amizade com aqueles que evidenciavam idealismo [...]10.
No Rio Grande do Sul, ordenou-se sacerdote no Seminário Maior
de Viamão, em 2 de julho de 1960, iniciando então um apostolado
que acabou se espalhando por todo o Brasil e por outros países, a
convite de Universidades, Dioceses e Movimentos Pastorais, através de
conferências, seminários, cursos e livros.
Ao ser ordenado clérigo, Mohana decidiu colocar seus
conhecimentos a serviço da sociedade, despertando a atenção do público
que o procurava pelo domínio demonstrado ao tratar as problemáticas
espiritual e social do homem.
Suas atuações como médico, padre, escritor, psicólogo e
psicanalista, conforme explicadas pelos irmãos, eram frutos de vocações
que iam surgindo naturalmente conforme as circunstâncias exigiam, onde
certas tendências precisavam ser catalisadas para poderem ser deflagradas.
Já na literatura, Silva (1995, p. 33) informa acerca de suas
produções:
A obra literária do escritor [...] é um valioso acervo cultural que desafia a
inteligência de quantos se propõem a estudar o seu conteúdo. Tudo
nela reflete o espírito místico e a sólida cultura de um homem cuja
intensa atividade intelectual, a serviço da fé, o autoriza a se dizer, como
Sócrates, portador de uma missão divina: a de conduzir a alma humana à
perfeição pelo caminho da verdade.
Padre Mohana, como era mais conhecido, teve destaque na
literatura nacional já em 1952, com o livro “O Outro Caminho”, que
recebeu da Academia Brasileira de Letras o prêmio de melhor
romance do ano publicado no país. O reconhecimento literário
ultrapassou fronteiras e, logo, teve suas obras traduzidas para vários
idiomas. Nesse sentido, a literatura do Maranhão teve em João
Mohana a continuidade da tradição maranhense de "Terra de Letras".
Um acervo de 44 livros, 15 mil palestras e 2 mil partituras, além dos 15

10 Extraído de memórias escritas pela família, em folha avulsa datilografada e sem data.
63
mil sermões pregados na Catedral de São Luís e outros templos pelo
Brasil, revelam a sua alta produtividade.
Como pesquisador dos valores culturais do Estado, dedicou-se
durante trinta anos a descobrir músicas maranhenses, eruditas e populares,
chegando a encontrar partituras de 169 compositores, num total de 1.416
obras, muitas inéditas, documentadas em seu livro "A grande música do
Maranhão", apresentando, assim, ao Brasil e ao mundo São Luís como a
"Atenas Musical do Brasil". Esse valioso acervo encontra-se em uma sala
especial no Arquivo Público do Estado, e é procurado por pesquisadores de
países diversos.
As obras de João Mohana foram agrupadas a partir dos seguintes
temas: educação para o casamento, espiritualidade, romances, teatro e
outros. Das muitas obras publicadas citem-se "Maria da Tempestade", um
dos melhores romances lançados no Brasil na década de 50, assim
considerado por direcionar a homens e mulheres a mensagem de um casal
que fez do casamento uma odisseia de autenticidade. Já em seu livro "O
Outro Caminho", examina os problemas humanos da sociedade
maranhense num determinado período histórico, através de uma rigorosa
crítica humanística. Em outros livros, como "Plenitude Humana" e "O
Encontro", o escritor dá um tom impecável à espiritualidade através de
diversas técnicas de composição. O livro "O Mundo e Eu" é uma obra de
doutrinação cristã, com objetivo predominantemente apologético, porque
elaborado, como diz seu autor, para o coração, a inteligência e a ação de
quem deseja ter fé (O IMPARCIAL, 1995).
Segundo seus irmãos, sua atuação como psicólogo e psicanalista
deveu-se à herança do pai, pela inteligência reflexiva e, da mãe, pela
intuição psicológica, duas influências constatadas em seus livros. Afirmam
ainda que os estudos nessas áreas iniciaram-se durante sua passagem pelo
seminário. Ensinou Psicologia (História da Psicologia) no Seminário Santo
Antônio, em São Luís.
Segundo informações apresentadas em entrevista, foi durante o
curso ginasial que João Mohana, através do Irmão Mário (Colégio Maristas
em São Luís), ouviu falar pela primeira vez sobre Psicologia e o que

64
significava essa ciência. Mas a grande influência que recebeu foi de um
jesuíta francês, radicado na Bahia. Camilo Torrend, admirado por Mohana
por sua solidez cultural e genialidade, era também botânico, zoólogo,
agrônomo, teólogo, físico, químico e psicólogo, correspondia-se com
universidades da Inglaterra, Estados Unidos e França. Através dele,
Mohana teve acesso às publicações científicas desses países, conciliando
assim estudos médicos com os de cunho psicológico, propiciado por uma
convivência de nove anos, que lhe despertou seguramente esse interesse.
Remetendo-se à amizade decisiva em sua vida com o Padre Camilo
Torrend, resgata-se a seguinte fala do Pe. Mohana:
[...] Foi quem me iniciou nos estudos de Psicologia e Higiene Mental.
Tanto que, paralelamente ao curso médico, eu ia estabelecendo
correlações entre Medicina, Neurologia, Endocrinologia,
Psiquiatria e Psicologia, as quais me abriram as portas do imenso
campo no qual hoje me movo à vontade11.
Além dos estudos e da influência na área, Mohana correspondia-se
com psicólogos do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais e com
algumas escolas de Psicanálise.
Para Mohana, o saber psicológico privilegiava a busca de um maior
desenvolvimento do ser, através de uma psicologia baseada em reflexões
sobre a vida. Tratava de assuntos do cotidiano, da intimidade humana,
especialmente da incerteza, da dúvida e de como os fatos exteriores
ocasionavam verdadeiros cataclismas interiores. Ensinava que a
adversidade, as neuroses e as dores são como nuvens escuras, que
deveriam ser tratadas como passageiras. Afirmava que o homem preferia
os valores transitórios em detrimento dos valores eternos, mergulhando,
assim, na angústia e na depressão, enfim, no tédio da vida e na perda do
significado da existência. Contemplava uma psicologia iluminada pela fé e
que indagava sobre a incerteza e a dúvida do homem perplexo diante de si
e do mundo (O IMPARCIAL, 1995).

11 Extraído de memórias escritas pela família, em folha avulsa datilografada e sem


data.
65
Pelo fato de ser padre, era constantemente questionado, em muitas
entrevistas que concedeu aos jornais de São Luís e de outras capitais, a
respeito dos conhecimentos evidenciados em várias áreas e da facilidade
com que tratava de assuntos como os conjugais. Destaca-se aqui uma
pergunta formulada por dois jornalistas de São Luís: "Como é que um
padre resolve escrever sobre assuntos conjugais, sem ter tido essa
experiência. Como explica isso?" Eis a resposta de Mohana:
Isso é um privilégio, uma maravilha, quem dera todo mundo fosse assim,
porque quando o aconselhador matrimonial é casado ele corre o perigo de
projetar sua experiência matrimonial nos casais que ele atende. Ele passa
a raciocinar dentro da perspectiva muito estreita, muito limitada, muito
reduzida da experiência dele [...] Isso leva a erros fatais. Já, quando o
aconselhador matrimonial é um celibatário, como no meu caso, ele se
serve de estudo, se serve da experiência de uma multidão de casais que
ele vai analisando, vai estudando. Afinal de contas, uma fonte de
conhecimento não é só a experiência, é o estudo [...] (BORGES; CASTRO,
1995, p. 7).
A sociedade maranhense beneficiou-se com as contribuições do Pe. Mohana
na área psicológica por muito tempo, mesmo após a chegada dos primeiros
psicólogos à cidade de São Luís, tendo em vista a imagem que a população
fazia do psicólogo e o pouco conhecimento de sua atuação. É interessante
observar que, mesmo sabendo da existência dos serviços oferecidos nos
consultórios, na maioria das vezes as pessoas primeiro procuravam o padre
que posteriormente as encaminhava aos profissionais.
Lentamente, o campo psicológico foi se constituindo com a chegada de
psicólogos a São Luís (entre as décadas de 1970 e 1980) e bem mais tarde
com a criação dos cursos. A entrada desses profissionais e o surgimento
dos cursos (1991 e 1998) no Estado, ocorreram com considerável atraso
em relação à regulamentação do exercício profissional amparado na Lei n°
4.119, de 27 de agosto de 1962.
Na década de 70, foram dados os passos iniciais na tentativa de elaboração do
primeiro projeto de criação de um curso de Psicologia na antiga Fundação
Universidade do Maranhão (FUM), hoje Universidade Federal do
Maranhão (UFMA), mas, apenas na década seguinte (1980), era iniciada a

66
trajetória que resultou na implantação do referido projeto, como se verá
adiante. Nesse período, os primeiros profissionais formados em outras
instituições brasileiras chegaram a São Luís. No Brasil, no entanto, a
atuação do psicólogo já estava avançada, ocorrendo antes mesmo da
regulamentação da profissão e dos cursos.
A contextualização histórica desse processo sustenta-se em estudos de autores
como Coimbra (1995), Mancebo (1999b), Bock (1999a, 1999b) para uma
compreensão mais ampla do panorama da Psicologia enquanto ciência e
profissão e sua relação com os acontecimentos que permeavam o Brasil
nesses períodos.
Os terríveis e inesquecíveis anos 70, assim denominados por
Coimbra (1995, p. 17), são fortalecidos pela consolidação do regime
militar de forma brutal a partir de medidas repressivas, tendo por base a
Doutrina de Segurança Nacional, pela qual a censura assume formas
violentas de controle, impedindo manifestações de toda ordem,
principalmente as que possuíam um caráter mais crítico.
Durante esses anos, o país enfrentava grandes dificuldades, fruto da ditadura
militar instaurada desde 1964 que, em nome da ordem e do progresso,
criou dispositivos como a cassação de direitos políticos, a intervenção em
entidades estudantis e sindicais, a centralização do poder na mão do
Executivo, as torturas, as perseguições, os desaparecimentos de políticos
oposicionistas e as mortes.
A década de 70 foi caracterizada pelo regime militar e pelos inúmeros
acontecimentos desastrosos que marcaram esse momento da sociedade brasileira.
Um deles, segundo Coimbra (1995, p. 29), foi a disseminação cultural de
duas categorias para o jovem não partidário do regime do país; a do
subversivo e a do drogado. No primeiro caso, como subversivo, era
apresentado com conotações de periculosidade e violência, acompanhado
de adjetivos como criminoso, traidor e ateu, considerado uma ameaça
política à ordem vigente, devendo ser identificado e controlado, pois era
contra a religião, a família, a pátria, a moral e a civilização — um anti-
social. No segundo caso, como drogado, era apresentado como um ser
moralmente danoso, devido aos hábitos e costumes desviantes.

67
Desse modo, tanto os subversivos como os drogados apresentavam
problemas psicológicos graves e sérios e eram dessa forma considerados
doentes. Essas categorias serviram para enfraquecer movimentos de
resistência. Em consequência desse fato, surge um outro, a preocupação
com a família, que é responsabilizada e chamada a cooperar no sentido de
manter a sociedade saudável, como explica Coimbra (1995, p. 31-32):
[...] esses filhos 'desviantes' e 'diferentes' são produzidos pelos
problemas por que essas famílias passam [...] O privado, o familiar, torna-
se o refúgio contra os terrores da sociedade, nega-se o que acontece fora e
volta-se para o que acontece dentro de si, de sua família.
A situação apontada acima torna-se muito valorizada nos anos 70,
quando o interesse pelos problemas da interioridade aumenta. Tudo parecia
estar reduzido ao psiquismo, surgindo daí um discurso psicologizante.
Nesse contexto, Coimbra (1995, p. 34) relata:
Acredita-se que a aproximação, a descoberta de si mesmo, a liberação
das repressões, a busca da autenticidade e do calor humano são os fatores
essenciais para o bom andamento de uma sociedade. As categorias
políticas são transformadas em categorias psicológicas; o importante não
é o que se faz, mas o que se sente. Ou seja, há um esvaziamento político,
há uma psicologização do cotidiano e da vida social.
Como tudo girava em torno de processos internos, qualquer
sentimento de mal-estar ou mesmo as angústias do dia-a-dia eram
rotuladas de "falta", necessitando para tanto de um especialista "psi" para
resgatar as vítimas (COIMBRA, 1995, p. 34).
Dentro da perspectiva desse discurso, Mancebo (1999b, p. 149)
chama a atenção para um fato considerado importante em relação aos
cursos de Psicologia que se multiplicavam nessa década:
Foi nessa cultura psicológica que os primeiros cursos de Psicologia
se desenvolveram. Foram alimentados e embalados por esse clima,
ao mesmo tempo que forneceram teorias, técnicas e modelos de
intervenção para o acirramento da psicologização da sociedade e para a
alocação das individualidades no centro da compreensão do mundo.

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Convém destacar que, após a institucionalização da Psicologia, os
cursos proliferaram, as instituições particulares deram grandes saltos nessa
época em decorrência da falta de vagas nas instituições públicas, as quais
deixavam estudantes, que haviam sido aprovados, como excedentes. O
ensino de qualidade foi deixado de lado. Mancebo (1999b, p. 147)
assinala:
[...] Na década de 70, houve um crescimento explosivo de
faculdades privadas, para atender àqueles que, excedentes da rede oficial,
desejavam obter um título universitário e, com ele, alcançar posições
mais altas na escala social. A educação passou a ser encarada como um
grande negócio, com cursos funcionando à noite, turmas superlotadas e
ministrando cursos de baixa qualidade [...] Esse também foi o
desenvolvimento do ensino superior de Psicologia [...] no país.
Ainda segundo Mancebo (1999b, p. 142-143), no Brasil dessa época,
duas condições deixaram sua marca na conjuntura do processo de criação
dos cursos de Psicologia e nos primeiros anos de seu funcionamento: a
ditadura militar, em que as universidades e, de modo especial, os
estudantes, tiveram papel de destaque na oposição à situação, e o "boom"
relativo à cultura psicológica, caracterizada pela ideia de psicologização da
sociedade, uma cultura que já se havia constituído, mas que se configurou
e ganhou forma nesse período, com o conhecimento que o homem podia
ter de si mesmo como meio de conhecer o mundo.
No final dessa década, conforme Bock (1999b, p. 78-79), o país
passava a viver um clima de expectativa. Era a abertura lenta, gradual e
segura com a retirada da censura e dos atos institucionais. Os estudantes
foram os primeiros que se organizaram com reivindicações, no setor da
educação, por mais verbas, melhoria no ensino, educação pública e gratuita
para todos, redução de mensalidades. Muito embora reprimidos em suas
manifestações, conseguiram introduzir bandeiras de luta, pois
questionavam a ditadura militar e os métodos utilizados.
Muitos outros movimentos cresceram, até que, em 1979, com a
mobilização da classe trabalhadora, greves começaram a acontecer em todo
o país. Foi ainda nesse mesmo ano que o Governo aprovou a Lei de
Anistia, abrindo as portas do país aos seus filhos, exilados políticos da
69
ditadura militar. Os psicólogos também partiram para uma reorganização
necessária da profissão, iniciada em São Paulo e, em seguida, por outros
Estados, através de ocupações e/ou criação de seus sindicatos.
Chega a década de 80 e são outros os desafios para a Psicologia e
seus profissionais. Predominou nesse período a busca por uma nova
identidade, com muitos debates, congressos, encontros, publicações,
reflexões. Cotejem-se alguns aspectos enumerados por Bock (1999b, p.
81): encerravam-se duas etapas da categoria, uma marcada pelas
intervenções e lutas corporativistas, e outra que teve como resultado a
consolidação da profissão no Brasil; engajavam-se os psicólogos nas lutas
junto aos trabalhadores e começavam a participar de movimentos sindicais
para a construção da Central Única dos Trabalhadores (CUT). A partir daí,
iniciou-se uma mudança na história desses profissionais através de debates
e reflexões sobre seus problemas, com a proposta de uma atuação mais
adequada junto à população brasileira e suas necessidades. Desse modo,
passam a questionar sua formação e modelo de atuação, ensejando a luta
para a ampliação do mercado de trabalho. Inicia-se, assim, a sua
participação nas lutas da sociedade civil.
Nessa época, os psicólogos reivindicaram espaços no serviço
público, como no setor da saúde, com a luta pela abertura de ambulatórios
de Saúde Mental, que foi referência desses anos. Questionavam a atuação
em comunidades, bem como os trabalhos na área escolar. Bock (1999b, p.
93) esclarece:
Buscava-se construir uma nova identidade. Os psicólogos queriam
participar na sociedade de modo mais 'contundente', progressista, ao lado
da maioria da população e dos trabalhadores da educação e da saúde.
Mais adiante, a autora observa:
O psicólogo dá um grande salto, então, ao perceber que, para ampliar seu
espaço e sua contribuição social, não basta o conhecimento das teorias
psicológicas, mas, pelo contrário, é preciso criticá-las, criticar nossos
instrumentos, nossa visão de homem e de mundo. Além disso, é preciso
assumir a dimensão política de sua atuação profissional e o alcance de
nossas intervenções [...] (BOCK, 1999b, p. 102).

70
O empenho dos profissionais não foi suficiente para alterar a
situação em que se encontrava a categoria, em vista dos problemas que
permaneciam os mesmos, tais como a concentração nos consultórios,
atividades pouco diversificadas, mercado restrito e poucos psicólogos no
serviço público. Assim sendo, a categoria voltou-se para si, em busca de
uma nova identidade e consequente redefinição de sua imagem social
como solução para essa crise (BOCK, 1999b, p. 109).
Ainda nessa década, segundo Bock (1999b, p.110-114), aconteceram
dois fatos considerados importantes pela marca que produziram na
categoria: o I Congresso de Psicologia realizado em São Paulo, no ano de
1988, onde os participantes se referiam à Psicologia como uma profissão
prematura, com falta de pesquisa e de postura de investigação, em que a
teoria parecia estar sempre distanciada da prática, com indefinição quanto
à natureza da ciência, se humana ou biológica, com multiplicidade de
teorias, misturada com práticas alternativas, entre outras dificuldades,
quando a busca era de definições mais nítidas do fenômeno psicológico, do
trabalho do psicólogo e da construção de um percurso social para a
Psicologia; o Congresso Unificado dos Psicólogos, realizado em 1989, em
Brasília, quando foi debatida a necessidade de reestruturação das entidades
da categoria, os sindicatos e os conselhos, e quando se deu a participação
dos psicólogos nas discussões da Lei de Diretrizes e Bases da Educação.
No final dessa década, a Psicologia ainda se encontrava como área
de atuação restrita e elitista, embora já não pudessem ser negados os
aspectos sociais e culturais ao se falar de mundo psíquico. Havia uma
predisposição de luta e debate em relação a essas necessidades, embora
esses caminhos não estivessem bem definidos.
Esse período foi considerado, ainda por Bock (1999a, p. 320-321),
como "fervilhante", em que a Psicologia precisava ser reinventada para
responder às necessidades da população com as quais os psicólogos não
estavam habituados a trabalhar. E ela afirma:
Estava dada a largada para um período em que os psicólogos iriam se
perguntar e refletir sobre a relação de seu trabalho e do próprio fenômeno
psicológico com a realidade social. A realidade social entrava na

71
Psicologia para remexer tudo o que, durante tantos anos, ficou
naturalizado e cristalizado [...].
Uma característica que chamou a atenção sobre esses anos foi o
emprego de muitos termos para designar a Psicologia e o trabalho do
psicólogo, não só na quantidade como na diversidade, principalmente os
que se relacionavam a modos de intervenção no sentido do ajustamento e
da adaptação, como também na admissão de algumas concepções sociais e
históricas. Na opinião de Bock (1999b, p. 164), estavam:
[...] de um lado, as concepções fundamentadas na ideia de natureza
humana, e de outro, as concepções fundamentadas na ideia de
condição histórica da humanidade e de seu psiquismo. “Sentir-se a si
mesmo”, “buscar seu verdadeiro eu” são expressões que convivem com
expressões como “o homem constrói seu mundo e, ao fazer isso, constrói-
se a si mesmo”.
O Brasil dessa época continuava sob o regime militar e vivenciou
novas greves resultantes do processo recessivo causado pelas perdas
salariais e pela instabilidade no emprego. O poder já não estava somente
com o Estado, mas também em instituições sociais que criticavam e
denunciavam exclusões e opressões. Com a abertura política dois
momentos marcaram o cenário nacional: a fundação do Partido dos
Trabalhadores (PT) e a mobilização da sociedade para as eleições diretas
que não aconteceram. Após vinte e um anos, no entanto, o país tinha um
presidente civil, simbolizando, assim, o epílogo de um fatídico período de
ditadura militar e o início de um novo período, o da Nova República, com
os mesmos vícios e os mesmos homens, sem dúvida.
Os passos que foram dados a partir daí, como a reformulação e
promulgação da Constituição e as eleições diretas para Presidente da
República, não deram ao Brasil bons tempos, pois a economia passou por
diferentes planos econômicos, e a sociedade mais uma vez se viu
sacrificada pela recessão com a desvalorização dos salários e perda do
poder aquisitivo. Em todos os setores sociais, o quadro era desanimador.
Na saúde, por exemplo, havia índices crescentes de mortalidade. A falta de
habitação, as moradias sem saneamento básico, o desemprego e a violência
caracterizavam a baixa qualidade de vida do povo brasileiro. Ao lado
72
dessas constatações, a sociedade manifestou seu repúdio com greves e
protestos, reivindicando melhores condições de vida.
Tal contexto levou os psicólogos a examinarem, debaterem e
criticarem aspectos específicos da profissão, como também sua
participação em relação às condições pouco propícias por que passou o
país nessas décadas. Como ficou demonstrado, o engajamento do
profissional na sociedade possibilitou-lhe repensar algumas de suas
atuações junto à sociedade brasileira.
Nesse mesmo momento, as preocupações com as questões referentes
à Psicologia ainda não faziam parte do cotidiano da maioria da população
do Maranhão em vista de aqui existirem situações mais graves ligadas a
outros problemas, como, por exemplo, o da educação.
Retomando a proposta de se conhecer a realidade encontrada pelos
psicólogos no Maranhão sobre este campo do saber, recorreu-se ao
Conselho Regional de Psicologia — 11ª Região, através da representação
na cidade de São Luís, para que fosse concedida a relação dos profissionais
com seus respectivos números de registro e data de inscrição. Da lista
enviada pelo Conselho, foram selecionados 7 (sete) psicólogos — 6 (seis)
residentes nesta cidade e 1 (um) que, atualmente, mora em Recife. Desses
profissionais, 5 (cinco) se inscreveram no Conselho na década de 70 e 2
(dois) na década de 80. Elaborou-se um roteiro de entrevista e, na análise
apresentada a seguir, os entrevistados foram identificados por letras e
números que vão de E1 a E7 (entrevistas realizas em 2001).
Antes da década de 70, inexistiam em São Luís serviços
profissionais de Psicologia, embora houvesse instituições de ensino,
empresas e hospitais psiquiátricos que passivelmente necessitassem de
especialistas na área. Esse dado só pôde ser identificado a partir da
declaração dos entrevistados ao afirmarem que, somente depois dessa
década, excetuando-se o Pe. João Mohana, é que se ouviu falar de
trabalhos realizados na área da Psicologia na cidade de São Luís.
No que diz respeito à formação na área da Psicologia, ficou evidente
que alguns informantes sentiram a necessidade de se deslocar a outros
Estados em busca dessa formação, já que não havia o curso de Psicologia
73
em seu local de origem. A maioria dos profissionais graduou-se em
Pernambuco, na Paraíba e em Brasília. A escolha pelo Estado e pela
instituição foi devida, em alguns casos, ao fato de parentes e amigos ali
residirem.
Ao serem indagados quanto à opção pela Psicologia, responderam
que isto se deveu às leituras de livros e revistas; ao interesse em poder
ajudar as pessoas; à influência familiar; à busca pelo autoconhecimento; ao
interesse pelo campo educacional; às conversas com profissionais da área e
testes de orientação vocacional. No entanto, alguns declararam que durante
a formação pensaram em desistir por não encontrarem no início do curso
aquilo que tanto esperavam, chegando até a pensar em escolher outra área.
Com base no que foi dito durante as entrevistas, é importante considerar
que, para alguns, a escolha pela Psicologia já era bem clara, enquanto para
outros oferecia dúvidas.
Segundo um dos informantes, sua decisão foi surgindo a partir do
interesse em trabalhar com crianças especiais, ou que tivessem dificuldade
de aprendizagem. Assim revela:
A minha opção sempre foi pela área da educação. Eu queria ter uma
escola, ser professora, trabalhar com crianças, mas não sabia exatamente
como chegar a isso [...] Até então eu não tinha ouvido falar de Psicologia.
Comecei a ler sobre o assunto, buscar informações [...] Quando comecei
o curso, logo no primeiro ano, com as matérias básicas, me desencantei
um pouco porque não via nada daquilo que na verdade eu queria [...]
Quando comecei a ver as matérias específicas, principalmente Psicologia
do Desenvolvimento I, fui me apaixonando, sobretudo no quarto ano do
curso quando éramos obrigados a escolher uma área, no meu caso a da
Psicologia Escolar, com a qual comecei a me identificar, passando,
assim, a gostar da escolha que fizera (E1).
Contrapondo-se a esse posicionamento, o informante abaixo declara:
Desde muito cedo demonstrei interesse em fazer Psicologia, sempre tive
uma atração pelo psíquico, pelos mistérios da mente [...] No segundo
grau, já era claro o meu interesse pelo curso de Psicologia e pela minha
opção de especializar-me na área clínica. O interesse pelas pessoas e seus
problemas sempre prevaleceu. Desde a adolescência era procurada para

74
dar conselhos, para ajudar [...] Durante o curso procurei conhecer outras
áreas de atuação do psicólogo graças ao estágio que fiz em hospitais,
escolas e empresas, o que me enriqueceu consideravelmente. (E2).
A escolha feita por um outro informante mostra que a Psicologia
aparece como uma opção "moderna", em oposição às opções
tradicionalmente destinadas à mulher:
Eu não saberia dizer se houve um insight, se houve alguma coisa mais forte
que me fizesse optar pela Psicologia. Naquela época, o curso da área de
humanas era buscado mais pelas mulheres, tanto que na minha turma 80%
fez Serviço Social, curso que não me empolgava. Então, eu achei que a
Psicologia, pelas leituras realizadas, sem influências da família, e por não
haver em São Luís psicólogos com quem eu pudesse conversar, era minha
opção pessoal e espontânea [...] Quando estava no segundo ano, pensei
abandonar tudo para fazer Direito, mas acabei gostando do curso e o
terminei. (E6).
A opção pela Psicologia foi vista como algo difícil pela falta de
conhecimento sobre a área e por divergências de opiniões familiares. Vale
ressaltar que poucos tinham um conhecimento prévio daquilo que
procuravam e outros não possuíam essa informação. Em nenhum momento
da entrevista foi percebido, em suas falas, sinal de insatisfação com a
profissão escolhida.
Analisando-se a questão referente à atuação profissional, parte dos
informantes afirmou que, devido às circunstâncias do mercado de trabalho,
optaram por iniciar sua carreira na área organizacional, ao chegarem a São
Luís. Ainda assim, outras áreas foram exploradas no início da carreira,
dentre elas a clínica, a escolar e a hospitalar. Todavia, atualmente muitos
trabalham em áreas distintas à da escolha inicial, diferente de outros que
continuaram atuando na mesma área da primeira escolha. As situações
vivenciadas nesse processo são relembradas nos depoimentos a seguir:
Minha área de atuação inicial foi a Psicologia Clínica. Quando cheguei
em São Luís montei um consultório. Naquela época, havia muito
preconceito em relação à Psicologia, as pessoas buscavam fora do Estado
o tratamento, que nunca era espontâneo, mas por indicação médica.
Fizemos [na época, trabalhava com outra psicóloga] todo um trabalho de
visita aos pediatras como uma maneira de sermos conhecidas na cidade
75
[...] Ficamos cinco anos no consultório. A parte clinica era muito lenta,
não havia retorno financeiro, nem de realização e gratificação, pois a
procura era pouca, o que nos fez buscar a Psicologia Organizacional. Na
época todos que chegavam iam para o DETRAN. Atualmente trabalho na
área organizacional no setor que engloba treinamento. (E6).
Eu não conheço aprofundadamente outra área com tanto embasamento e
vivência como a que tenho com a Educação Escolar. Já trabalhei com a
Psicologia Organizacional em um hospital psiquiátrico, assim que
cheguei em São Luís, mas minha experiência maior, atualmente, é com a
Psicologia Escolar, direcionada aos distúrbios de aprendizagem, em uma
escola e em meu consultório. (E1).

[...] sempre quis a área clínica, mas trabalhei inicialmente na área escolar
quando cheguei em São Luís. Depois em uma instituição desenvolvendo
trabalho terapêutico e preventivo com menores de rua durante dez
anos. Foi uma experiência gratificante. Paralelamente, comecei
atividades clínicas em consultório. Mais tarde, trabalhei com Recursos
Humanos, em uma empresa onde aplicava testes para seleção de
candidatos. Atualmente me dedico exclusivamente ao
atendimento no consultório, um trabalho com o qual me identifico.
(E2).
O consultório, onde a maioria declarou que trabalhou e/ou trabalha,
foi visto por alguns como negativo por oferecer pouca estabilidade
financeira; já a escolha pela área organizacional se mostrava como algo
seguro por oferecer renda fixa. Essa informação pode ser comprovada no relato
que se segue:
[...] Eu pensava trabalhar vinculada a uma empresa onde pudesse no final
do mês ter um salário “x” para receber, e não somente com o consultório,
onde correria o risco de não ter uma renda fixa (E4).
A maioria dos informantes, quando chegou a São Luís, além das
atividades de consultórios, encontrou no Departamento Estadual de
Trânsito (DETRAN) a instituição que, mesmo sem vínculo empregatício,
lhes ofereceu, de início, campo de atuação, pois, segundo eles, devido à
inexistência de psicólogos no Estado, os exames psicotécnicos eram
realizados por médicos. Logo, a partir desse dado novo, considerou-se
necessário colher informações junto a esse órgão com a intenção de
76
verificar como e quando ocorreu a entrada dos psicólogos nessa
Instituição.
De acordo com as informações obtidas no DETRAN, em 1970 foi
exigida a aplicação de exames psicotécnicos pelo Conselho Nacional de
Trânsito e, a partir de 1971, a primeira psicóloga que residiu em São Luís,
Addi Assumpção Azevêdo, formada pela Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul, foi credenciada pela Portaria n° 071/71.
A partir daí, os psicólogos eram contratados para prestar serviços
que eram realizados fora do DETRAN. Posteriormente, a direção da
Instituição construiu, em suas instalações, um espaço físico reservado para
o exame psicotécnico de candidatos requerentes da carteira de habilitação
de motorista, realizado em São Luís e em alguns municípios do Maranhão.
Essa situação é esclarecida por alguns informantes:
[...] nós prestávamos serviços, éramos muitos, trabalhávamos em sistema
de rodízio. Havia os que se deslocavam para o interior do
Maranhão, obedecendo a uma escala de trabalho [...]. (E6).
Anteriormente, no DETRAN, os psicólogos eram prestadores de
serviços na aplicação de testes psicotécnicos e não havia um
compromisso de trabalho de pesquisa educacional nem profissionais
suficientes para atender à demanda. Foi quando optamos por terceirizar, o
que levou a não se fazer mais a avaliação psicológica [...] Trabalhamos
com uma Coordenadoria de Educação para o Trânsito.
Desenvo lvemo s u m P r ojeto de Ed ucação Continuada para o
Trânsito em convênio com a Fundação Sousãndrade e a Universidade
Federal do Maranhão [...] que ofereceu um curso de Psicólogo
Perito Examinador em virtude de ser esse curso exigido por Lei para
poder ser realizada a avaliação psicológica. (E3).
Foi uma época, segundo os entrevistados, de muito trabalho e de
retorno financeiro. Assim, em decorrência da existência dessa única opção
de trabalho, os primeiros psicólogos atuaram na área organizacional e
ainda na clínica, tradicional. Além dessas, a atuação ocorria também, de
modo restrito, no campo educacional. As escolas de São Luís, segundo os
informantes, raramente contratavam o profissional e, quando isto
acontecia, esse serviço se restringia à aplicação de teste vocacional:

77
Na época, não havia Psicologia Escolar no Maranhão. Quando havia, era
uma pessoa que aparecia uma vez na semana para fazer testes com os
alunos [...] No início eu senti muitas dificuldades, porque nunca se ouvia
falar de psicólogo nas escolas, e os pais não aceitavam que seus filhos
recebessem orientação psicológica [...] Hoje, apenas algumas escolas têm o
psicólogo com trabalho de acompanhamento diário, felizmente uma área
que está se expandindo em São Luís. (E1).
Quanto aos motivos da escolha para trabalhar em São Luís,
prevaleceram aqueles essencialmente familiares, ou os exclusivamente
financeiros, bem como a conciliação de ambos. Vejam-se os motivos
esclarecidos pelos psicólogos:
Em primeiro lugar, porque sou maranhense. Eu saí daqui para estudar
[...] saí sabendo que ia voltar para minha terra, pois toda a minha
família está aqui, minhas raízes estão aqui [...] vim com o
emprego certo, um convite para trabalhar no DETRAN, pois na
época só havia uma psicóloga que trabalhava lá. (E7).

Foram motivos familiares. Meus pais moravam em São Luís. (E5).

Não foi propriamente uma escolha. Comecei a namorar uma pessoa


desta cidade. Após minha formatura nos casamos, e o fato de ele já ter
emprego fixo aqui obrigou-me a deixar Recife e começar uma
vida nova. Casei com ele sabendo que minha família ficaria lá e
eu teria que morar em São Luís, terra que eu não conhecia [...] eu tive
sorte, trabalhei logo e conciliei a saudade da terra que adoro com as
oportunidades daqui. Hoje me considero maranhense, minha
adaptação não foi tão difícil. (E2).

Vim morar em São Luís depois que me formei porque me casei


com um maranhense. (E4).

Quando me formei vim para São Luís passar férias e surgiram os


empregos: o DETRAN e logo em seguida o consultório.
Pretendia voltar para Brasília para ter mais experiência, fazer
cursos, uma especialização para me sentir mais segura para
trabalhar e atuar, até porque eu sabia da deficiência dos
profissionais na cidade e eu teria que me virar sozinha; eu não teria ajuda

78
[...] Aqui, nada havia para oferecer informações, nem Conselho
nem Associação. Quando eu cheguei havia um grupo muito pequeno e
desunido que causou sérios problemas [...] o clima era muito ruim
e ninguém prestava infor mações caso fôssemos procurar. Até
o Conselho foi chamado para resolver problemas pessoais. Além
disso, a imagem do psicólogo não era muito boa nesta cidade.
Tanto que em um episódio fomos procurar o Pe. Mohana que era a figura
respeitável da época com quem se podia conversar. Depois que
começaram a chegar outros psicólogos, melhorou bastante. Mesmo
com toda essa desunião havia respeito. (E6).

A minha vinda para São Luís é uma história [...] Hoje, eu já gosto desta
cidade, mas tive muitas dificuldades [...] Morava em Teresina e tinha
uma clínica montada que, devido a questões financeiras, teve que
ser fechada [...] Meu marido foi convidado para trabalhar como
psicólogo em uma empresa nesta cidade por quinze dias, ficou seis
meses que depois foram prorrogados, e eu fiquei sozinha dois
anos. Por questões familiares e por saber que aqui as
empresas que estavam se instalando necessitavam de psicólogo na área
organizacional, eu concordei em vir para cá, desde que ele me
conseguisse emprego [...]. (E1).
Um informante relatou que, além das questões familiares, buscava
desenvolver um trabalho para realizar-se profissionalmente:
O que me fez vir para São Luís foi a intenção de fazer um trabalho
aqui. Por incrível que pareça, sempre pensei no DETRAN, p orque
observei em Recife o trabalho que era desenvolvido naquela época,
e me interessei por fazê-lo aqui [...] sempre quis fazer algo pelo meu
Estado. (E3).
Como pôde ser observado, embora os motivos declarados fossem
familiares e financeiros, ficou explícita, em algumas colocações, uma certa
resistência quanto à mudança para São Luís para construir uma vida nova
e, ao mesmo tempo, trabalhar em uma terra onde sequer existiam pessoas
para trocar informações, ou até mesmo um Conselho ou Associação que
servisse de suporte profissional. Destaca-se, ainda, certo desconforto por
parte de um informante que traz à tona a falta de unidade do grupo, sem
deixar de considerar que entre eles havia respeito.
79
Quanto aos trabalhos que foram desenvolvidos na área da Psicologia
em São Luís, nesse período, os entrevistados informaram que o mercado de
trabalho não estava aberto, nem sensibilizado para essa profissão; havia
poucos profissionais, além da falta de conhecimento da atuação do
psicólogo, o que dificultava suas atividades até mesmo nas instituições em
que iniciaram seus trabalhos. Essas situações foram assim descritas:
Ninguém sabia a função do psicólogo na sociedade [...] O que ele
vai fazer? Contratar psicólogo para quê? (E 4 ).

Além da existência de poucos profissionais na cidade, o


conhecimento da população sobre o que é ser psicólogo era muito
reduzido naquela época [...] ainda hoje sinto que permeia aquela
história da loucura [...] o que predominava, realmente, era a
Psicologia Organizacional tradicional, onde o psicólogo fazia
recrutamento, seleção e teste. Aprova, reprova e pronto. Está apto,
mais nada. (E1 ).

[...] o único trabalho de que eu ouvia falar era o psicotécnico no


DETRAN, não tinha conhecimento de trabalhos de pesquisa ou
projetos sociais na área. (E 3 ).

A única situação que lembro é que nós nos reuníamos para tentar
criar uma Associação de Psicólogo. (E 6 ).
Em relação ao aspecto da visão distorcida do papel e imagem do
psicólogo, Jacó-Vilela, Gonçalves e Oliveira (1997, p. 178, grifo do autor)
assinalam:
Vários são os atributos e as definições de psicólogos que, numa
investigação impressionista, podem ser encontrados em nossa
sociedade. Uma característica comumente presente, mesmo em
entendimentos marcantemente negativista-como naqueles em que o
psicólogo é referido como pessoa de extrema frieza, invasora etc
— é a que o circunda com uma aura de magia, como taumaturgo,
um novo tipo de sacerdote, o portador — moderno — da bola de
cristal, o especialista nas adivinhações sobre o outro.
Apesar das dificuldades percebidas pelos entrevistados, alguns
apontaram a oportunidade de trabalho, já na década de 70, em instituições
80
como a Universidade Federal do Maranhão (UFMA), a Associação de Pais
e Amigos de Excepcionais (APAE) e a Fundação Estadual do Bem-Estar
do Menor (FEBEM). E, nos anos 80, surgiram outros espaços: o Consórcio
de Alumínio do Maranhão (ALUMAR), a Companhia Vale do Rio Doce
(CVRD), a Norte Serviços Gerais (NORSERGEL), a Empresa Brasileira
de Correios e Telégrafos (CORREIOS) e a Companhia de Águas e Esgotos
do Maranhão (CAEMA).
Uma questão interessante é que os informantes não conheciam
trabalhos de Psicologia anteriores a sua chegada em São Luís. Só depois de
estimulados alguns conseguiram se lembrar dos trabalhos realizados pelo
Pe. João Mohana, direcionados à Psicologia e à Psicanálise com famílias.
Essas informações foram encontradas nas seguintes falas de alguns
informantes:
Já ouvi falar do Pe. Mohana, li pouco sobre ele e não o conheci
pessoalmente. Ouvi falar dele como pioneiro da Psicologia no
Maranhão. (E4).

Eu não consigo lembrar se havia algum trabalho antes [...] Nós tínhamos
o padre e médico João Mohana. Eu não tenho certeza se ele era
psicólogo, embora nós conversássemos muito. Tive muitos pacientes
enviados por ele. Ele era conhecido como o psicólogo de São Luís. (E7).

Eu ouvi falar demais do Pe. Mohana através de um amigo que


trabalhava na equipe que desenvolvia trabalhos de assistência a
famílias da comunidade [...] eu tinha muita vontade de conhecê-lo, mas
não tive oportunidade de entrar em contato. Li alguns de seus livros
nos quais, realmente, havia muito de Psicologia. (E3).

O que sei a respeito do Pe. Mohana é que ele fazia aconselhamento, o


que, a meu ver, estava de acordo com sua atuação como padre, não
exigia, portanto, a Formação de Psicólogo. (E5 ).

Eu não tinha muitas informações sobre o Pe. Mohana, sabia da


existência dos livros, mas não senti interesse por eles. Sabia que ele
desenvolvia todo um trabalho sobre Psicanálise e também com

81
famílias, apesar de não ter formação na área, por isso quando
chegamos aqui o procuramos. (E6 ).
Um dado importante apontado anteriormente pelo informante E 6
durante a entrevista, foi a tentativa de criação da primeira Associação
Profissional dos Psicólogos do Maranhão. Buscou-se, então, saber como
surgiu a necessidade de criação dessa Associação. Segundo a psicóloga
Dilercy Aragão Adler — que foi a primeira representante do Maranhão no
Conselho Regional de Psicologia de 1983 a 1992 — presidente da
Associação, esse órgão foi fundado em 1985, com a proposta de atuar
junto ao Conselho na realização de atividades que normalmente não
aconteciam, como uma ação complementar. Segundo ela, a ideia de fundar
a Associação foi exatamente em função da necessidade de criar aqui as
condições para que o Maranhão também fosse engajado, como o restante
do Brasil, na questão do sindicalismo.
Na realidade, o Estado tinha uma representação no Conselho e nada
em relação à questão sindical. Assim, os psicólogos partiram para essa
luta. Conforme a presidente, "[...] o Conselho é um órgão de controle e o
sindicato é responsável por empreender lutas pela categoria, e era isso que
buscávamos".
Com pouco tempo de duração, de 1985 a 1987, a Associação prestou
serviços à comunidade, através de palestras, seminários e debates em
escolas e instituições. À época, contava com 24 (vinte e quatro) sócios,
num universo de 30 (trinta) psicólogos, em São Luís. No entanto, todo esse
empenho e mobilização não foram suficientes para dar continuidade à
Associação, mesmo cumprindo algumas exigências consideradas
necessárias para o seu funcionamento (Estatuto). Foi a partir do segundo
mandato da Diretoria que a Associação encerrou suas atividades, não tendo
sido possível resgatar o documento comprobatório desta revelação apesar
dos esforços empreendidos. Alguns psicólogos pensam na possibilidade de
retorno da Associação.
Pode-se dizer que, com os dados obtidos com os informantes, foi
possível perceber situações em que eles enfatizam a necessidade e a
importância do profissional no mercado, fazendo uma avaliação mais
positiva das duas últimas décadas do século XX, de sua inserção em
82
diferentes campos de trabalho em São Luís. Mesmo não se tendo
investigado a respeito da evolução da Psicologia nesta cidade, alguns
apontam a trajetória da Psicologia em São Luís, destacando pontos como,
por exemplo: o profissional deve deixar a marca do seu trabalho; o
mercado não está restrito só na área da Psicologia; o profissional deve
atuar de forma integrada, entre outros. Desse modo, constatou-se que os
informantes consideram que o processo de transformação da Psicologia no
Maranhão tem ocasionado mudanças e evoluções, embora precise ser
alterado especialmente no que se refere à valorização do profissional e à
união da categoria. Sendo assim, para uma psicóloga, nos últimos vinte
anos
[...] começou a surgir a necessidade e a importância do papel do
profissional. O mercado, hoje, não está bom, é regular, e o que faz a
diferença é o perfil do profissional. A atualização, a busca de
informações [...] Conheço profissionais que dizem que em São Luís não
há espaço. Eu discordo. Existem campos de atuação como escolas,
empresas e instituições, depende de cada um, dos argumentos que se tem,
do valor que se dá aquilo que se está oferecendo. Está cada vez mais
evidente a necessidade do psicólogo nesses espaços [...]. (E4).
Esse dado pode ser resumido na informação de Bock (2001, p. 25),
ao dizer:
A noção de fenômeno psicológico sofre uma transformação interessante
no decorrer dos anos, especialmente entre 1980 e 1995. Essa
transformação acompanha mudanças nos modos de inserção da categoria
na sociedade. Os psicólogos, conquistando novas formas organizativas
— grupos progressistas passam a ocupar a direção das entidades —, vão
aumentando sua participação nos movimentos sociais. Aos poucos,
ocorre também uma verdadeira transformação nas concepções de
fenômeno psicológico.
Considerando-se a situação da Psicologia quando aflorou em São
Luís no início da década de 70, e hoje, em 2001, destaca-se o seguinte
comentário:
[...] infelizmente muita coisa não pode ser acrescentada devido à falta de
registro e essa é a grande falha da Psicologia no Maranhão, o que é uma
pena. Naquela época, as pessoas eram muito individualistas, o grupo era
83
disperso, o ambiente criado afastava as pessoas, não aconteciam
reuniões para estudos, para o desenvolvimento de trabalhos comunitários
[...] acredito que foi por falta de maturidade nossa em lidar com nossos
próprios interesses, por querermos nos desenvolver sozinhos. Hoje as
coisas não funcionam assim, o trabalho é realizado em equipe e
está mais fortalecido do que naquela época. (E6).
A reflexão acima evidencia o quanto é necessária a autoconstrução e
a de seu trabalho, sem esquecer de dialogar, ouvir e avaliar continuamente.
Nesse sentido Pessotti (1988, p. 17) diz:
Quando, pois, alguém se dispõe a voltar-se para si mesmo e a analisar-se
criticamente, está a demonstrar, independentemente do grau de correção
dessa análise, um apreciável grau de amadurecimento.
Na trajetória esboçada, observa-se que a Psicologia no Maranhão
percorreu caminhos semelhantes aos que são apontados em seu percurso
histórico nacional, como já mencionado. A necessidade da presença desses
profissionais no Estado foi-se constituindo, durante essas décadas, a partir
das demandas percebidas por eles e das oportunidades por eles criadas de
verificar que esse espaço estava aberto, mesmo com restrições da
população.

84
CAPÍTULO IV

A PSICANÁLISE NO MARANHÃO

[...] ninguém pode saber melhor do que eu


o que é psicanálise, em que ela difere de
outras formas de investigação da vida
mental, o que deve precisamente ser
denominado de psicanálise e o que seria
melhor chamar de outro nome qualquer [...].

Sigmund Freud, 1914d/1974.

Sabe-se que a Psicanálise chega ao Brasil, o primeiro país americano


a implantar o freudismo, entre os anos de 1914-1930, quando os
psiquiatras Arthur Ramos, Júlio Porto-Carreiro, Francisco Franco da
Rocha e Durval Marcondes fizeram sua progressiva implantação nos
Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, adequando a doutrina de Freud às
preocupações terapêuticas dirigidas ao tratamento da loucura e ao
entendimento das temáticas infantis.
Em 1945 o movimento psicanalítico no Brasil começou a fazer parte
da International Psychoanalitical Association (IPA) e a aceitar suas
normas. Mesmo em meio a graves conflitos ocorridos no Brasil entre Mark
Burke e Wener Kemper, foi fundada e reconhecida pela IPA em 1955 a
Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro (1953) por Kemper, e logo em
seguida (1959) os simpatizantes de Burke associaram-se a outros
psicanalistas e criaram a Sociedade Brasileira de psicanálise do Rio de
Janeiro.
Em 1947, Mário Martins encabeçou a organização da Sociedade
Psicanalítica de Porto Alegre que obteve seu reconhecimento pela IPA em
1963. Em 1967, cria-se a Associação Brasileira de Psicanálise (ABP), com
85
o objetivo de reunir as Sociedades de Psicanálise do Brasil filiadas à IPA,
passando a se constituir como órgão federativo.
Apesar do grande número de associações que surgiram no Brasil,
seu fortalecimento só tem início com a aceitação da Psicanálise pela
sociedade, para a qual, é lógico, a constituição das sociedades e
institucionalização da Psicanálise em muito contribuíram.
Entretanto, nos anos 70 surge uma crise. O cenário psicanalítico
estava se desgastando pelas pressões quanto à formação analítica, à
proibição de formação como analistas de outros profissionais que não
fossem médicos, à rigidez de regulamentos e hierarquias, ao discurso
girando em torno da "verdadeira" Psicanálise12 (COIMBRA, 1995, p. 65-
67).
No Brasil dos anos 70, as práticas da Psicanálise avançam nos
grandes centros urbanos, penetrando na imprensa, aparecendo em
publicações como livros, revistas especializadas com seções de
aconselhamento psicológico, assinadas por psicólogos e/ou psicanalistas,
de modo a produzir a chamada "cultura psicológica" já mencionada no
capítulo anterior.
Na década de 80, violentas crises ocorreram no interior das
Sociedades "oficiais" com diferentes justificativas: uns entendendo que
eram decorrentes dos pressupostos autoritários que alguns grupos
adotavam, e outros, que podiam ser devidas à entrada do movimento
lacaniano, que acabou com a hegemonia existente. Tudo isso de alguma
forma serviu para uma reestruturação das Sociedades “oficiais”, uma
solução para o movimento psicanalítico, ou seja, uma busca de autorização
da Psicanálise (COIMBRA, 1995, p. 184).

12 Produção de uma prática, de um território onde a "verdade" está presente, onde os


que não fazem parte de uma formação específica não podem a ela ter acesso, nem
os que a exercem — a realizada nas Sociedades "oficiais". Cf. COIMBRA, C. M. B.
Guardiães da ordem: uma viagem pelas práticas psi no Brasil do "milagre". Rio de
Janeiro: Oficina do Autor, 1995, p. 67. A citação de Freud que serve de epígrafe a este
capítulo ilustra bem a importância do tema na instituição psicanalítica.
86
Nesse momento, afirma-se o lacanismo, fazendo críticas à
“verdadeira” Psicanálise e à formação estabelecida pela IPA, por não
aceitar dar continuidade ao tipo de ensino e de hierarquia vigente nas
Sociedades, por recusar a forma burocratizada de formação do psicanalista,
bem como a leitura que faziam da obra de Freud. Seus efeitos refletiram-se
nas instituições, caminho enveredado pela maioria dos profissionais,
inclusive os do Maranhão13.
A psicanalista Elizabeth Roudinesco (2000, p. 3) diz que a
Psicanálise está disseminada em todo o mundo, e novas gerações de
analistas estão surgindo e vendo novos problemas, entre eles que
Psicanálise não apresenta a mesma prática de antes, que ela mudou do
ponto de vista da técnica e da prática.
Especificamente em relação ao Maranhão, segundo os informantes,
o campo psicológico se constituiu principalmente através da divulgação da
Psicanálise. Considerando-se que a psicanálise se estruturou aqui — como
também no Rio de Janeiro e em São Paulo — anteriormente à criação dos
cursos de Psicologia, esse foi o indicador que impulsionou a pesquisar
sobre esse campo no Estado, por se entender que a trajetória de vida,
especialmente de vida profissional, pode ser um dispositivo útil para se
entender a dinâmica de um dado campo de saber.
Para discorrer sobre a Psicanálise no Maranhão, centralizou-se a
atenção na cidade de São Luís. Conseguiu-se localizar e entrevistar
membros de quatro grupos que atuam na cidade (em 2000) além de
profissionais que deles não fazem parte. Destes entrevistou-se a pioneira da
Psicanálise nesta localidade. Embora tais profissionais, em sua maioria,
tenham autorizado sua identificação pelo nome, optou-se por não fazer
isto, utilizando-se, para tanto, o código "P" (psicanalista) e a numeração 1
a 9 para distingui-los, não significando que a ordem seja a mesma das
entrevistas.
O procedimento para conhecer essa realidade foi a elaboração de um
roteiro de entrevista. Com seus resultados passou-se a descrever os

13 Voltar-se-á a essa questão mais à frente neste capítulo.


87
acontecimentos de forma sequenciada, visando construir uma narrativa
acerca da Psicanálise no Maranhão.
Dos 9 (nove) psicanalistas entrevistados, 6 (seis) são professores na
UFMA, sendo 5 (cinco) da carreira do magistério superior e 1 (um)
substituto. Contudo, uma psicanalista (com formação em Psicologia na
Universidade Federal do Rio de Janeiro), aprovada em concurso público,
permaneceu na Instituição no período de 1991 a 1994, quando solicitou
exoneração. Como os demais, tem atividades em consultórios. Observou-se
que a maioria segue a Psicanálise lacaniana. Assim, ao transcreverem-se
suas trajetórias, optou-se por utilizar suas próprias palavras, reveladoras do
pensamento que partilham.
A primeira psicanalista de São Luís, P1, teve uma formação
acadêmica diversificada. Segundo ela, seu interesse pela Psiquiatria e pela
psicanálise se pautava em seu percurso de vida explorando seus conflitos,
percebendo em que a Psicanálise poderia ajudar a entendê-los, assim como
em seu comprometimento com as questões político-sociais (encontrava-se
no Brasil, num sistema capitalista) que se presentificavam, com
interrogações como: Até que ponto um sistema político é produtor de
doenças mentais? O que escapa ao controle político, econômico ou social?
O que significa pensar que todo sintoma é automaticamente social, já que
não se pode pensar em sujeito sem laço social? Qual o lugar da
Psicanálise?
De acordo com P1 pode-se perceber a presença da Psicanálise nos
movimentos sociais na medida em que o sujeito está no campo da ética
cujos efeitos são sentidos na clínica. Parte daí sua paixão pela Psicanálise,
ao pensá-la como uma prática libertária, embora saiba e registre sempre
que não se pode pensar o Brasil psicanaliticamente14.

14 Em seu discurso parece não haver incoerência entre a presença das questões político-
sociais e sua prática profissional, pois, segundo ela, trata-se de uma área legítima da
investigação psicanalítica. Contudo, considera que isto não significa fazer do
consultório um local de proselitismo de ideias, tendo em vista que nele ela ocupa o seu
lugar de analista, mas, fora desse espaço, ela, a psicanalista, é uma cidadã engajada
nas lutas que podem conduzir a uma mudança na sociedade brasileira.
88
Começou a estudar Psicanálise quando da sua formação no curso de
Medicina, estudo que foi intensificado nessa época por sua própria análise
pessoal e pelo estudo em grupo da obra de Freud. Durante esse tempo
outras questões a acompanhavam: Como estabelecer possibilidades de
interlocução da Psicanálise com outros campos do saber? Como se poderia,
por exemplo, compreender a questão da política no discurso psicanalítico?
Como articular desejo15, poder e produção?
O seu processo de formação reside na própria influência da
Psicanálise e de psicanalistas comprometidos em transformar o exercício
da Psicanálise no Brasil, especialmente de Helio Pellegrino, Joel Birman,
Jurandir Freire, que marcaram o seu posicionamento como analista.
Em 1983, com um grupo de profissionais de diversas áreas, fundou a
Associação Maranhense de Medicina Psicossomática, da qual foi
presidente durante duas gestões. Era um espaço de discussão sobre o
paciente sob a ótica biopsicossocial. Durante alguns anos essa Associação
participou das políticas de atendimento à saúde mental nos hospitais em
São Luís.
Segundo P1, nesse grupo havia alguns psiquiatras que faziam uma
abordagem mais dinâmica, o que se poderia chamar de psicoterapia de
base analítica, além de outros profissionais que foram buscar sua formação
em outros centros, surgindo então o interesse de pensar a Psicanálise em
São Luís, dando enfoque à obra de Lacan. É assim que aparece o primeiro
grupo local de Psicanálise, composto por psicólogos e psiquiatras, entre
eles a entrevistada, que permaneceu nesse grupo por um período curto de
tempo. Em algumas reuniões foi proposta a formação de uma Sociedade. A
ideia desta entrevistada era de não haver de imediato essa criação, e sim,
buscar um caminho para saber onde poderiam chegar. Posteriormente,
mais 2 (dois) psicólogos passaram a fazer parte do grupo. O grupo

15 Termo empregado em Filosofia, Psicanálise e Psicologi a para designar, ao mesmo


tempo, a propensão, o anseio, a necessidade, a cobiça ou o apetite, isto é, qualquer
forma de movimento em direção a um objeto cuja atração espiritual ou sexual é
sentida pela alma e pelo corpo. Cf. ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicion ário de
psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998, p.146.
89
dissolveu-se e dele saíram pessoas que formaram outros grupos, hoje
Escolas e Instituições, em São Luís.
Segundo a entrevistada, na ocasião viajava quinzenalmente ao Rio
de Janeiro, para continuar sua análise (realizada com uma psicanalista
kleiniana) e manter-se ligada aos seus antigos supervisores. Sua opção de
formação foi pela SPID (Sociedade de Psicanálise Iracy Doyle), da qual
participou como membro cursista por quatro anos, tendo sido secretária do
Centro de Estudos. Continua ligada a essa Sociedade, mantendo sua
supervisão e sua análise.
Seu processo de formação como analista ocorreu pela própria análise
como condição sine qua non para tal e pelo aporte teórico sua função — o
divã. Nesta formação, ela declara:
[...] vejo a revolucionária contribuição de Lacan à Psicanálise, trazendo a
linguística de Saussurre junto com o estruturalismo antropológico de
Lévi-Strauss, construindo a concepção do inconsciente estruturado como
linguagem. Pensar o inconsciente desta maneira determinou uma nova
forma de escutar o cliente, o lugar do analista no processo, a direção da
cura, o fim da análise [...].
A psicanalista tece críticas a alguns analistas lacanianos que fazem
uso do hermetismo da linguagem de Lacan que, por ser realmente difícil de
ler, pode ter permitido várias interpretações. Critica também, a forma de
tratar a formalização deixada por ele através de seus esquemas, grafus,
aforismos e matemas, sustentando um culto à obscuridade.
Em sua observação, a transmissão16 da Psicanálise no Maranhão
lembra o sentido que Lacan deu à Proposição de 9 de outubro de 1967: "O
analista só se autoriza17 por si mesmo". A partir daí coloca algumas
questões, como: Será que esta Proposição não está sendo usada ao pé da

16 Diz respeito ao processo de análise, requisito fundamental à formação do analista e aos


dispositivos institucionais da sessão clínica e do cartel. (Definição verbal de uma
psicanalista entrevistada).
17 Refere-se à Proposição de Lacan segundo a qual o analista só se autoriza por si mesmo. A

autorização se dá no processo de análise e permite ao analista sustentar sua posição


diante do psicanalisando. (Definição verbal de uma psicanalista entrevistada).
90
letra por analistas auto-autorizados? Será que está sendo valorizado o
estatuto social ou institucional do psicoanalista, e não o seu desejo como
mola central de sua formação? Haverá alguma relação entre o grande
número de "psicanalistas" abrindo novos consultórios na cidade, o número
de Escolas e o fato de estes psicanalistas autorizarem-se por si mesmos?
Finalizando, diz que é preciso compreender que aquilo que Lacan
propôs é que "auto-autorizar-se analista é autorizar-se pelo seu desejo".
Contudo, afirma que há sempre mercado para o bom profissional que tem o
que trocar, considerando a ética como um dado fundamental nesta relação.
Observa-se que, após o grupo inicial de que P1 participou, a
institucionalização da Psicanálise em São Luís ocorre pela fundação, em
1985, da Escola de Psicanálise do Maranhão. Dentro do espírito de seguir
na historicização da Psicanálise, passa-se a apresentar sinteticamente sua
trajetória, a partir das entrevistas realizadas.

4.1 Escola de Psicanálise do Maranhão

Para melhor compreender a história da Escola de Psicanálise do


Maranhão (EPM), fundada em 1995, após dez anos de experiência
institucional de seus membros, entrevistou-se P2, presidente dessa Escola,
que, naquele momento, era composta por vinte membros. Ela é
consequência do percurso de alguns analistas formados pelo Núcleo de
Estudos Freudianos (NEF), criado em 1985, e pela Sociedade Psicanalítica
do Maranhão (SPMA), criada em 1989. Após a dissolução desta
Sociedade, foi fundado um movimento que teve a duração de um ano: a
Liça Freudiana. Seu objetivo era estudar os dispositivos de funcionamento
de uma Escola de Psicanálise, conforme estabelecidos por Jacques Lacan,
e produzir um conhecimento que permitisse seguir em direção à fundação
da EPM, o que ocorreu. A Escola é dirigida por uma Comissão Diretora de
acordo com a teoria e a prática psicanalítica.
A presidente da Escola, desde o início, é P2. Sua formação
acadêmica em Psicologia se deu na Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UPRJ), curso concluído em 1978. Começou a estudar Psicanálise em
1975, durante o curso de Psicologia. A finalidade, a princípio, ligava-se à
91
seleção para estágio na clínica da UFRJ, onde a orientação era
psicanalítica. Seu processo de formação de analista é concebido tal como
Lacan o concebe, contínua e ininterrupta. Diz ela:
[...] Por isso ao falar dela não conjugo o verbo no passado. Minha
formação não apenas foi, continua sendo realizada através de análise
pessoal, de supervisões realizadas no Rio de Janeiro e de estudo e
produção teórica [...].
As atividades desenvolvidas por essa Escola e restritas aos seus
membros são as sessões clínicas, as reuniões institucionais, a Comissão de
Garantia, o pertencimento ao Conselho Consultivo e à Comissão Diretora.
Considera-se seu objetivo fundamental a transmissão da Psicanálise,
destacando-se o cartel18 como principal dispositivo para a formação do
analista na Escola.
Além destas atividades, a EPM tem outras, dirigidas especificamente
à comunidade, cujo objetivo é fazer circular a produção e oferecer uma
programação para os que estejam interessados em Psicanálise. As
programações anuais abertas à comunidade constituem-se das atividades
consideradas importantes para o momento, assim como aquelas que se
tornaram rotineiras, cuja finalidade e objetivo é o compromisso com a
transmissão da Psicanálise comprometida com a letra de Freud e o ensino
de Lacan.
Pela EPM passaram alguns membros que dela se desligaram para
formar outras Escolas/Instituições nessa cidade. Por questões de afinidades
institucionais, essa Escola mantém permanente troca com a Tempo
Freudiano Associação Psicanalítica, instituição localizada no Rio de
Janeiro. A Escola conta com uma Coordenação de Publicações (conselho
Editorial) com o compromisso de fazer circular, anualmente, a "Revista da
Escola de Psicanálise do Maranhão" com textos da autoria de seus

18 É o dispositivo institucional com a formação de um pequeno grupo em que três se


escolhem e escolhem mais um. O número de componentes de um cartel não pode
ser três e não deve ultrapassar cinco membros. Eles escolhem um texto, uma obra e a
estudam durante certo tempo, que deve estar fixado. Ao fim do prazo, o cartel deve
dissolver-se, para que novos cartéis se formem, nos mesmos moldes. (Definição verbal
fornecida por uma entrevistada).
92
membros. Quanto à transmissão da Psicanálise no Maranhão, P 2 se
posiciona do seguinte modo:
Só posso falar daquela que acompanho na Escola da qual faço parte. É
um trabalho árduo, difícil, que exige muita dedicação e determinação, o
que não considero um privilégio nem desta Escola nem do Maranhão. É
o que se espera, desde Freud, na transmissão de um saber (não todo) e de
uma práxis (do inconsciente) que opõem sempre as mais duras
resistências.
A psicanalista P3 também é membro dessa Escola. Com formação
acadêmica em Psicologia pela Universidade de Brasília, concluída no ano
de 1980, começou a estudar Psicanálise em 1991, quando essa Instituição
ainda se denominava Sociedade Psicanalítica do Maranhão. Seu objetivo
era fazer sua formação para tornar-se psicanalista, por isto nesse mesmo
ano de 1991 inicia também sua análise pessoal.
Quanto à formação de analista, considera, da mesma forma que P2,
que ela não apenas foi, mas continua sendo. Comunga, assim, da definição
de Lacan sobre a formação que se faz sempre no sentido das "formações do
inconsciente", de tal modo que a formação do analista, na qual se inclui, é
permanente. Iniciou sua formação nos anos 90 e continua. Assim, declara:
[...] Lacan não distingue a análise pessoal da análise didática19. Para ele
toda análise é didática, entretanto há pelo menos dois tempos na análise
que se definem conforme a posição do analisando e a posição que o
analisando supõe ao analista. Considero que estou no segundo tempo de
minha análise, portanto próxima de seu fim. Sim, as análises terminam,
as formações não.
A transmissão da Psicanálise no Maranhão é observada por P3 como
um desafio para qualquer instituição de Psicanálise, remetendo a uma
questão: É possível a transmissão da Psicanálise na instituição?

19 Termo empregado a partir de 1922 e adotado, em 1925, pela International Psychoanalytical


Association (IPA), para designar a psicanálise de quem se destina à profissão de psicanalista.
Trata-se de uma formação obrigatória. Cf. ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário de
psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998, p.17.
93
A resposta só é possível a partir da experiência, isto é, na medida em que
os membros da instituição — guardadas as diferenças — sustentam a
Psicanálise, suas posições, seus conceitos, etc. Bom, em nossa
instituição, a EPM, é possível testemunhar isso.
Contudo, apesar de ver com bons olhos as outras Instituições
existentes na cidade, não considera necessário que elas se comuniquem,
participem umas das atividades das outras, ou que tenham os mesmos
objetivos. Esclarecendo melhor sua posição, comenta:
Quando se fala de instituição, deve-se apostar no seu funcionamento,
em sua experiência e na possibilidade de sustentar ou
testemunhar a Psicanálise, devendo cada uma falar por si [...].
Entretanto, sabe-se da existência de profissionais que não estão
ligados a qualquer instituição e que também não fazem circular suas
posições e, o que é mais perigoso ainda, tem-se a denúncia, já
oficializada, do funcionamento de um curso de dois anos que diploma
psicanalista e não faz exigência quanto à análise ou supervisão. Isto é
inadmissível. Isto não é Psicanálise e o público deve ser
informado a esse respeito20.

4.2 Escola Brasileira de Psicanálise

Um grupo de pessoas interessadas em estudos psicanalíticos criou


uma instituição denominada "Articulações em Psicanálise", com
surgimento formal em 1992, (embora seus membros já tivessem um longo
percurso de estudos sobre a temática, desde o ano de 1985) a qual, após
reflexões de seus membros quanto ao processo de formação, foi dissolvida
em 1994, depois de dois anos de atividades. Logo em seguida, no ano de
1995, deu-se a criação da V Escola do Campo Freudiano — Escola
Brasileira de Psicanálise.
A Escola, segundo os informantes, tem por objetivo a Psicanálise e,
por finalidade, a restauração de sua verdade, a transmissão de seu saber,
oferecendo-o ao controle e ao debate científico, para, em consequência,

20 Neste caso, a psicanalista refere-se à Sociedade Psicanalítica Ortodoxa do Brasil (SPOB).


94
conseguir o estabelecimento da qualificação do psicanalista. Ela ministra
uma formação, garante a relação do psicanalista com esta formação, e se
propõe a colocá-la em debate.
Essa Escola é nacional e conta com várias Seções e Delegações no
Brasil. No Maranhão a Delegação está vinculada à Seção de Minas Gerais.
Em São Luís a Delegação é coordenada por membros aderentes e
correspondentes.
A psicanalista P4 teve sua formação acadêmica como psicóloga na
Universidade Gama Filho no Rio de Janeiro concluída no ano de 1982.
Começou a estudar Psicanálise em 1989, num seminário intitulado
"Constituição do Sujeito", ministrado numa instituição ligada ao Campo
Freudiano denominada "Articulações em Psicanálise”. Antes da fundação
da Escola Brasileira de Psicanálise, vários psicanalistas do Rio de Janeiro,
de São Paulo, de Belo Horizonte vieram a São Luís, sustentando uma
transmissão.
As atividades programadas pela Escola, abertas à comunidade para
analistas, ou não, têm por objetivo propiciar novas vias de discussão que
permitam aos interessados um aprofundamento continuo na teoria
psicanalítica, dando prosseguimento a projetos já iniciados. A importância
dessas atividades, tanto as restritas aos membros quanto às abertas à
comunidade, contribuem para a discussão e reflexão de questões
psicanalíticas, provocando uma transferência de trabalho. As restritas aos
seus membros são, segundo a entrevistada, as sessões clínicas, cuja
importância para sua formação está presente em sua declaração:
O analista não vive sozinho. A Escola apresenta o passe21 como um
procedimento no qual um analista, para fazer-se autorizar como analista
da Escola, falará de sua análise. A autorização, assim, não é dada apenas
por ele, mas por outros também.

21 Termo empregado em 1967 por Jacques Lacan para designar um processo de travessia que consiste em
o analisando (passante) expor a analistas (passadores), que prestarão contas disso a um júri dito de
credenciamento, aqueles dentre os elementos de sua história que sua análise o levou a considerar
como suscetíveis de dar conta de seu desejo de se tornar analista. Cf. ROUDINESCO, E.; PLON, M.
Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998, p. 575.
95
A finalidade de seus estudos psicanalíticos ligava-se a questões de
seu trabalho como psicóloga e ao fato de fazer análise desde 1986,
considerando ser essa uma consequência, um efeito da própria análise.
Portanto, seu processo de formação de analista se deu através da análise
pessoal, de participações em todas as jornadas do Campo Freudiano a
partir de 1993, seja como palestrante, debatedora, ouvinte, seja pelo fato de
sustentar uma transmissão de Psicanálise desde 1990. Pretende fazer o
passe de entrada na Escola Brasileira de Psicanálise, já que a
transferência22 de trabalho se direciona ao Campo Freudiano.
A seu ver, a transmissão da Psicanálise no Maranhão ocorre com
seriedade. Segundo ela existem muitas pessoas fazendo leituras e estudos
de Freud e Lacan. Mostrou-se preocupada com a Sociedade Psicanalítica
Ortodoxa do Brasil (SPOB) por sua proposta de usar de forma deturpada o
nome da Psicanálise.
Ainda dentro dessa Escola, entrevistou-se também a psicanalista P5.
Ela teve a formação acadêmica em Psicologia concluída na Universidade
Gama Filho no Rio de Janeiro em 1983. Interessou-se pela Psicanálise
desde a época em que frequentava a Universidade, na condição de
estudante de Psicologia, quando procurava participar de atividades
extracurriculares promovidas por outras instituições, participando de
cursos e eventos como também fazendo sua análise pessoal, um referencial
que mais tarde, como profissional, viria a sustentar sua prática de trabalho.
No ano de 1989, já em São Luís, foi convidada pela psicanalista
promotora do seminário intitulado “Constituição do Sujeito”, para dele
participar, o que lhe possibilitou continuar seus estudos em Psicanálise,
participando das atividades promovidas pelo grupo "Articulações em
Psicanálise". Segundo a psicanalista, sua opção por essa Escola foi devido
à forma pela qual ela se diferencia das demais em termos de práticas

22 Termo progressivamente introduzido por Sigmund Freud e Sandor Ferenczi (entre 1900 e
1909), para designar um processo constitutivo do tratamento psicanalítico mediante o qual os
desejos inconscientes do analisando concernentes a objetos externos passam a se repetir, no
âmbito da relação analítica, na pessoa do analista, colocado na posição desses diversos objetos. Cf.
ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar. 1998,
p.766-767.
96
institucionais como, por exemplo, o dispositivo do passe que, para essa
Escola, é considerado "[...] o pivô que articula a direção do tratamento na
experiência analítica [...]". Quanto ao seu processo de formação de
analista, acredita que
[...] seja possível não só a partir do encontro entre o analista e o
analisando, mas também, e fundamentalmente, entre o analista e uma
instituição para onde possa endereçar as suas questões relativas aos
conceitos e instrumentos utilizados na sua prática, podendo, assim,
discutir acerca do seu trabalho solitário e partilhar com os demais colegas
as suas experiências.
A transmissão da Psicanálise no Maranhão, no seu entendimento,
não ocorre apenas pela Escola Brasileira de Psicanálise, pois existem
outras instituições psicanalíticas em São Luís, que se diferenciam
especialmente por adotarem concepções distintas quanto ao final da
análise.

4.3 Escola Lacaniana de Psicanálise do Maranhão

Um grupo dissidente da Escola de Psicanálise do Maranhão fundou,


em 1997, a Escola Lacaniana de Psicanálise do Maranhão, constituída, no
momento (2000), por dez membros.
A psicanalista P6 é a diretora geral da Escola. Concluiu o curso de
Psicologia em 1975, pela Universidade Gama Filho no Rio de Janeiro.
Começou a estudar Psicanálise em 1985, com um grupo de psicanalistas
interessados que, posteriormente, fundou a Escola de Psicanálise do
Maranhão, com a finalidade de aprofundar conhecimentos anteriores. Para
a psicanalista, seu processo de formação como analista ocorreu tanto por
sua análise pessoal — iniciada em São Luís e continuada na Escola
Lacaniana no Rio de Janeiro — quanto pela supervisão a que se submete.
As atividades restritas aos membros da Escola são as sessões
clínicas e o cartel, considerados de importância fundamental para a
formação do analista. As atividades abertas à comunidade têm por objetivo

97
a produção e formação dos membros da Escola e articulações com outras
instituições. A transmissão da Psicanálise no Maranhão segundo ela é:
[...] lenta, porque tem a ver com o sujeito que está fazendo a formação; é
algo particular. Na formação lacaniana você está sempre em formação,
você está sempre se autorizando. Não existe um diploma.
Outro membro dessa Escola entrevistado foi a psicanalista P7, cuja
formação acadêmica em Psicologia ocorreu na União das Escolas
Superiores do Pará (UNESPA), atual Universidade da Amazônia
(UNAMA), em 1993. Começou a estudar Psicanálise quando cursava o
último ano do curso de Psicologia, ainda nesse momento somente com
interesse acadêmico; o estudo ligado à formação de analista ocorreu ao
entrar para a Escola Lacaniana de Psicanálise do Maranhão, em 1997. A
finalidade dos seus estudos foi o desejo de ocupar o lugar de analista.
Quanto às atividades restritas aos membros da escola, concebe a
sessão clínica como a sua prática analítica por ser testemunhada por seus
pares, o que considera fundamental no processo de autorização, sendo o
cartel um lugar privilegiado de formação, pela própria produção (texto) a
partir das questões que provocam uma demanda. Considera essas
atividades importantes por estarem implicadas com o estudo da psicanálise
e por requererem um percurso nos campos teórico e prático, sustentando
sua autorização.
Com relação às programações comentadas por P6, voltadas à
comunidade, P7 considera que têm como objetivo a transmissão da
Psicanálise a partir dos estudos de Freud e Lacan, para a formação de
analistas e também para estudo dos que se interessam teoricamente pela
Psicanálise.
Seu processo de formação como analista começou como participante
das atividades da Sociedade Psicanalítica do Maranhão, atual Escola de
Psicanálise do Maranhão, declarando que não chegou a fazer o pedido para
ser membro dessa Instituição em função de suas próprias resistências
(segundo ela, como já dizia Freud, onde há muita resistência, há muito
desejo), que apontavam para o seu desejo de ocupar o lugar de analista,
com a exigência do seu percurso teórico e do seu processo pessoal de
98
análise. Passou, então, a fazer parte da Escola Lacaniana de Psicanálise do
Maranhão, para depois de um ano começar a clinicar e a dar testemunho de
sua escuta nas sessões clínicas. Considera-se numa categoria de analista
iniciante que recebe a denominação de analista praticante, havendo
momentos em que se sente mais autorizada e outros em que não, situação
que enfrenta com cada paciente em razão dos próprios atos analíticos.
Observa que a transmissão da Psicanálise no Maranhão ocorre em
[...] um local muito propício por apresentar um leque de opções de
instituições e pelo modo como essas instituições estão trabalhando,
trazendo profissionais de outros Estados, promovendo seminários e
cursos, que se constituem em uma importante fonte de formação
para analistas e também em instrumento de transmissão. Mesmo
assim, ainda percebe a cidade isolada em relação a outros centros, o
que é um fator complicador da formação.

4.4 Centro de Estudos Psicanalíticos do Maranhão

O Centro de Estudos Psicanalíticos do Maranhão, outra instituição


de formação psicanalítica existente em São Luís, foi criado, em setembro
de 1997, por um grupo de pessoas que possuíam uma "mesma
transferência de trabalho" e que, por não encontrarem identificação com as
outras instituições psicanalíticas desta cidade, resolveram fundá-lo, de
acordo com suas compreensões do lacanismo. No momento (2000) é
composto por dezesseis membros.
O Centro é coordenado pelo psicanalista P8 que tem formação
acadêmica em Letras (1986) e em Filosofia (1990), ambas na Universidade
Federal do Maranhão. Começou a estudar Psicanálise em 1987 com a
finalidade, em princípio, de conhecer a teoria, mas com a análise pessoal
veio a descoberta do desejo de formação. Para ele a formação do analista é
contínua. A sua foi realizada no Centro de Estudos Freudianos do Recife
— uma formação sustentada por análise pessoal, teoria, supervisão clínica
e escrita.
Segundo o psicanalista, todas as atividades da Instituição são para os
membros, mas, restritas mesmo, só as de intercontrole e sessões clínicas,
99
que considera importantes para a formação. A programação da Instituição
para a comunidade conta com grupos de estudos, seminários e um projeto
intitulado "Sexta-Analítica", realizado mensalmente, no qual a finalidade é
discutir com profissionais de outras áreas os significantes da cultura. O
objetivo dessas atividades para a comunidade é a transmissão e difusão da
Psicanálise. A transmissão da Psicanálise no Maranhão para ele é
[...] bastante curiosa, uma vez que formalmente a Psicanálise chegou
bem antes que a Psicologia. Por existirem várias instituições
nesta cidade é natural que essa transmissão não seja uniforme, pois
cada uma tem seu estilo próprio. O fato de São Luís ficar isolada
dificulta o contato com outros estilos, o que é lamentável, e a falta de
eventos interinstitucionais talvez justifique o pequeno público
que aqui temos.
O psicanalista P9 é membro dessa Instituição. Sua formação
acadêmica foi em Medicina pela Universidade Federal do Maranhão,
concluída em 1980, e especialização em Psiquiatria pela Universidade do
Estado do Rio de Janeiro em 1984. Começou a estudar Psicanálise no Rio
de Janeiro em 1980, e seu primeiro contato com essa área de conhecimento
foi através da teoria, que o deixou fascinado. Isto o levou a procurar a
análise pessoal, decorrente de seu interesse pela formação. É um dos
membros fundadores do Centro de Estudos Psicanalíticos do Maranhão.
A formação em Psicanálise, segundo P9, é permanente. As
atividades restritas aos membros são analisadas por ele como
fundamentais; participa, portanto, de todas, considerando-as um processo
de ajuda em sua formação psicanalítica. Existem várias programações para
a comunidade, entre elas os seminários, as jornadas, os fóruns, os
encontros anuais e a "Sexta-Analítica" referida anteriormente, com o
objetivo de disseminar a Psicanálise.
Seu processo de formação como analista foi iniciado no Rio de
Janeiro em 1981, depois participou por vários anos em São Luís da
instituição intitulada "Articulações em Psicanálise" (no período de 1984 a
1985). Suas supervisões ocorreram no Rio de Janeiro em 1981, em São
Luís em 1985 e em Recife em 1996, dando sempre continuidade a seu
projeto. Para ele, a transmissão da Psicanálise no Maranhão é difícil, por
100
[...] faltarem muitas coisas, por ser esta cidade geograficamente
distante dos grandes centros, dificultando, assim, que as
pessoas tenham oportunidade de ver e observar outros estilos,
aprender com eles.
Considerando o número de escolas em São Luís, investigou-se sobre
os motivos que levaram a esse fato e se havia demanda para comportar
essas opções. Os entrevistados consideraram que não existia (e não existe)
uma demanda elevada da comunidade local. Aventaram como motivos do
número de escolas, a questão da orientação quanto à formação contínua e
ininterrupta, que caracteriza a sua prática, como também a análise pessoal
didática, considerada a pedra fundamental da formação para o psicanalista.
Ficou evidente, ainda, que isso ocorre pela própria história de dissidências
e/ou cisões comuns na Psicanálise, fruto de interesses das pessoas que dela
fazem parte e da identificação dessas pessoas com a proposta de cada
Escola, como uma forma de iniciação à "verdade" da Psicanálise de que
cada uma se propõe ser detentora. Foi afirmado, espontaneamente, por
membros de duas instituições, que há demanda elevada dos interessados
em delas fazer parte.
Pode-se encontrar nas palavras de Russo (1993, p. 102) a descrição
das consequências desta situação:
É interessante constatar que a 'reforma' lacaniana, com toda sua
crítica à institucionalização da p sicanálise, signi fico u, na
verd ad e, u ma proliferação de instituições que passam a disputar entre
si a legitimidade da transmissão do título de psicanalista [...].
O processo de difusão da Psicanálise em São Luís, iniciado na
década de 80, surgiu em meio a acontecimentos marcantes no país como o
regime militar, crises nas Sociedades "oficiais" de Psicanálise do Rio de
Janeiro, sempre o modelo hegemônico para o Brasil, e a inauguração do
espaço para diferentes e variadas formas de "verdadeiras" psicanálises,
uma reorientação no campo psicanalítico, promovida pelo lacanismo
(COIMBRA, 1995, p. 67-68).
A intenção no trabalho não foi esclarecer esses momentos, mas
conhecer como em pouco mais que uma década esse campo se estruturou e
se expandiu na cidade, possibilitando que um dos informantes pudesse
101
declarar que "a Psicanálise formalmente chegou antes da Psicologia",
referindo-se ao fato de que, até aquele momento (1985), não havia sido
criado o curso de Psicologia no Maranhão, desconhecendo naturalmente as
práticas psicológicas pré-existentes em São Luís.
Observa-se que o universo de entrevistados, nesta etapa do estudo,
realizada no ano 2000, como já foi mencionado, constituiu-se de 9 (nove)
profissionais, sendo 6 (seis) psicólogos, 2 (dois) psiquiatras e 1 (um)
filósofo. Percebe-se que os psicólogos definiram seu interesse pelos
estudos psicanalíticos a partir do curso de Psicologia, tendo os demais
sentido necessidade de aprofundar conhecimentos anteriores, ou de buscar
formação para tornarem-se psicanalistas. De qualquer forma, todos
destacaram que, no momento de sua análise pessoal, houve a decisão pela
Psicanálise.
Como foi visto, a fala da entrevistada P1 chama a atenção para o
grande número de psicanalistas abrindo novos consultórios e escolas de
Psicanálise em São Luís. Essa observação vai ao encontro dos
questionamentos que se teve com relação ao número de escolas, embora se
tenha que admitir que os demais entrevistados justificaram tal fato pelas
cisões existentes e pelas concepções distintas que ocorrem ao final da
análise.
As Escolas foram fundadas no período de 1989 a 1997. O que se
pôde verificar é que as pessoas do primeiro grupo permaneceram algum
tempo juntas em uma Escola e, mais tarde, com as dissidências, foram
fundando outras instituições. Desse modo, o número de membros em cada
uma ficou reduzido no início, mas, aos poucos, ampliou-se, aparentemente
por sempre haver novas pessoas interessadas em fazer parte dessas
Instituições.
Pelo que se vê, essa procura é desencadeada pela falta de outras
opções de pós-graduação em São Luís. Observa-se que esse interesse pelas
"escolas de psicanálise" se intensificou, após a criação dos cursos de
Psicologia em São Luís, pois alguns alunos e ex-alunos do curso de
Psicologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), e alunos do
Centro Universitário do Maranhão (UniCEUMA) deles participam, além

102
de vários professores destes cursos serem membros das referidas Escolas.
Parece que as Escolas de Psicanálise, nesta cidade, se tornaram um espaço
de qualificação do profissional psicólogo, mais que simplesmente uma
especialização ou ampliação do conhecimento nessa abordagem.
No caso específico dos ex-alunos e alunos do curso de Psicologia da
UFMA, provavelmente esse interesse tenha surgido desde o início do curso, já
que 8 (oito) professores admitidos por concurso possuem formação psicanalítica, ou se
deva ao fato de, até o momento (2002) o curso ter condições de oferecer
estágio na área clínica somente na abordagem psicanalítica.
Uma queixa constante dos informantes se referiu ao distanciamento
dos grandes centros, o que dificulta a troca de informações e obriga alguns
deles a sempre se deslocarem, mesmo que por curto espaço de tempo, a fim de
manterem supervisão e realizarem trocas entre as escolas, a partir de
afinidades institucionais. Ficou evidente que a inviabilidade dessa troca
entre as Escolas locais ocorre por razões ligadas ao objetivo de cada uma,
embora a maioria das instituições seja de orientação lacaniana. Esse aspecto
pode ser mais bem entendido quando Russo (1993, p. 103) esclarece:
[...] As diversas instituições de formação lacanianas, apesar de
terem propostas aparentemente bastante semelhantes e usarem os mesmos
argumentos para justificá-las, não abrem mão de uma existência própria,
às vezes agindo como se fossem únicas [...].
Uma preocupação demonstrada pelos membros das Escolas foi em
relação à transmissão da Psicanálise no Maranhão. Consideraram
complexas e de difícil entendimento as questões que se encontram
implicadas nesse processo — transmissão. O que realmente se percebeu —
e foi ressaltado na fala dos informantes — é que a transmissão é
caracterizada pela proposta apresentada por cada Escola, pois, como
afirmaram, apresentam diferentes estilos, de acordo com o modo como
sustentam a Psicanálise -suas posições e conceitos, exigindo de quem está
buscando a formação muita dedicação e determinação, entre outras
qualidades. No entanto, o ponto comum dessas declarações foi o
distanciamento entre a cidade de São Luís e as demais capitais, como um
fator complicador da viabilidade desse processo de transmissão. Entende-
se que isso talvez se deva ao fato de que, de certo modo, a Psicanálise
103
esteja constantemente sendo discutida em relação à formação de novos
adeptos. Como diz Russo (1993, p. 90):
[...] A transmissão do conhecimento psicanalítico, portanto, não pode ser feita da
mesma forma que outros tipos de conhecimento (através de aulas, cursos
convencionais, um determinado currículo ou mesmo [...] através de uma
linguagem convencional).
Vale ressaltar ainda que o espaço de transmissão, definido pela
maioria dos informantes, se constitui através das atividades desenvolvidas
para a comunidade, cujos objetivos foram descritos como transferência de
trabalho, produção e formação dos membros, disseminação do saber,
circulação da produção aos interessados e aos que buscam conhecimentos
teóricos sobre a Psicanálise.
Assim, pelo que se pôde captar das entrevistas, constatou-se que o
percurso da Psicanálise em São Luís encontra-se em expansão. No entanto,
esta abordagem, apesar de todo o empenho de seus seguidores, encontra-se
num plano que possibilita a apropriação por atores diversos,
desrespeitando requisitos essenciais de sua teoria e prática, banalizando
essa área, como observa Roudinesco (2000, p. 3). Em síntese, pode-se
dizer que, devido à inexistência de outras abordagens em São Luís, ela
assume papel hegemônico, hierarquizando a formação "psi", passando a
impressão de uma grande distinção entre o graduado em Psicologia e o
psicanalista, sendo este último sempre referido como ocupante de uma
"classe" mais elevada.

104
CAPÍTULO V

OS CURSOS DE PSICOLOGIA NO MAR ANHÃO

Aonde, afinal, pode ir se formando um


psicólogo? (e digo 'ir se formando' porque
n u n ca estaremos
completamente formados). Na
universidade, em parte. Nas instituições de
ensino e formação especializadas,
também em parte. Em práticas
supervisionadas, em grande parte. Mas
também, e indispensavelmente, num
contato amplo e variado com a boa
literatura, com as obras de arte, com a
meditação filosófica, com os estudos
históricos e antropológicos, de um lado, e,
de outro, no acompanhamento, mesmo
que à distância, do rico campo dos
estudos psicobiológicos e etológicos.
Realmente, uma tarefa interminável e
para toda uma vida, mas sem dúvida,
uma vida muito interessante e sempre
em movimento.

Luís Cláudio M. Figueiredo, 1995

A década de 90 marca a entrada, no Maranhão, dos cursos de


Psicologia. A chegada desses cursos resultou em um maior conhecimento a
respeito dessa ciência e do profissional psicólogo, que já estava inserido
em alguns campos da sociedade maranhense, mas que ainda necessitava
buscar sua formação e outros Estados. Nesse sentido, considera-se
necessário situar a realidade da Psicologia brasileira durante esse período.
Para tanto, recorre-se a Bock (1999b, p. 126-127) que caracterizou a
década de 90 como importante para a sistematização da diversidade

105
construída na década de 80, quando os psicólogos refletiram e construíram
novas ideias.
A categoria que, anteriormente, almejava uma identidade para o
psicólogo, deu lugar, na década de 90, à preocupação com a imagem da
Psicologia e do psicólogo junto à população. Segundo Bock (1999b, p.
127): "[...] Em 1990, vamos nos deparar com mais certezas e posições. Se
a década de 80 levantou questões, a década de 90 parece se propor a
respondê-las". Para isso, ainda segundo a autora, os congressos, as
publicações e a realização sistemática de pesquisas sobre a categoria no
Brasil tiveram papel importante na discussão de questões relativas à
profissão e à própria ciência. Assim sendo, essa década obteve alguns
resultados para suas reivindicações, entre eles: o psicólogo começou a ser
visto como profissional da saúde; a profissão se aproximou dos contextos
sociais; houve aumento do número de profissionais em outros campos de
trabalho, não tradicionais, o que levou à necessidade de rever a formação
tradicional dos psicólogos.
Com relação a essa revisão, uma importante contribuição foi a
elaboração, em 1995, de um documento pela Comissão de Especialistas de
Ensino de Psicologia — MEC/SESu, intitulado "A formação em Psicologia
- contribuições para estruturações curriculares e avaliação dos cursos", cuja
proposta enfatiza pontos considerados importantes, que ainda os cursos
tentam introduzir em seus currículos, quais sejam:
I. [...] formação básica pluralista e sólida;
II.[...] formação generalista;
III.[...] formação interdisciplinar;
IV. preparação do psicólogo para uma atuação multidisciplinar;
V. certeza de uma formação científica, crítica, reflexiva;
VI. permissão para uma efetiva integração teoria-prática;
V II. c o mp r o mi sso com o a t endi me nt o d as demandas
sociais;
VIII. compromisso ético, que deve permear todo o currículo;
IX. rompimento do modelo de atuação 'tecnicista';
X. especificação das “terminalidades” dos cursos de Psicologia
(BOCK, 1999b, p. 154).
106
Esses pontos chamaram a atenção, pois alguns deles fazem parte da
nova proposta enviada pelo Fórum de Entidades Nacionais às
universidades brasileiras neste ano (2002), demonstrando com isso que há
uma necessidade de alterar a estrutura curricular de modo que não se
restrinja apenas à inclusão e exclusão de disciplinas, mas que resulte de
mudanças no sentido de ampliar a qualidade da formação do profissional,
comprometida com as necessidades sociais, pautada em princípios éticos,
técnicos e científicos.
Branco (1998, p. 30) salienta que a sociedade brasileira apresenta
características sobre as quais o futuro profissional deve refletir,
considerando o campo de atuação, a atividade exercida e a instituição
responsável por essa formação. Esse pensamento é reforçado pela autora
quando afirma que
[...] novas possibilidades de atuação têm sido criadas,
buscando responder a outros tipos de demanda anteriormente
negadas [...] Na medida se rompe com as amarras da demanda
tradicional, o espaço de atuação do psicólogo se amplia, novos empregos
se abrem e o profissional necessita de uma visão de totalidade,
capacidade de refazer a prática e não simplesmente trajá-la com novas
cores recobrindo um mesmo conteúdo.
Uma abordagem sobre a criação dos cursos de Psicologia no Estado
se faz então necessária para o conhecimento do processo de sua
constituição, suas reformulações e seu reconhecimento oficial, sempre
lembrando que sua criação ocorre nessa época de uma nova proposta a respeito da
Formação de Psicólogo. Para tanto, além da análise documental, foram
realizadas 12 (doze) entrevistas com professores do Departamento de
Psicologia da Universidade Federal do Maranhão, incluindo-se os
aposentados, os que pediram para sair, os que estão em exercício e 5
(cinco) professores do Centro Universitário do Maranhão, aqui
identificados por terem autorizado a citação de seus nomes.
No Maranhão, até o ano 2000, o ensino superior é ministrado por 8
(oito) estabelecimentos de ensino, sendo 2 (duas) instituições públicas
federais (Universidade Federal do Maranhão e Centro Federal de Educação
Tecnológica do Maranhão), 1 (uma) instituição pública estadual
107
(Universidade Estadual do Maranhão) e 5 (cinco) particulares (Faculdade Santa
Terezinha; Faculdade Santa Fé; Centro Universitário do Maranhão; Faculdade
Atenas Maranhense e a Faculdade São Luís). Embora existindo essas
instituições, o curso de Psicologia é oferecido pela Universidade Federal
do Maranhão (UFMA) e pelo Centro Universitário do Maranhão
(UniCEUMA), razão pela qual somente a trajetória destas duas é aqui
apresentada.

5.1 Sobre a Universidade Federal do Maranhão

O percurso do ensino superior no Maranhão iniciou, como foi regra


em todo o Brasil, com Escolas Superiores Isoladas. Assim, em 1908 a elite
intelectual da época, representada por Antônio Lobo, Fran Paxeco e
Domingos de Castro Perdigão, na tentativa de preservar a tradição de
"Atenas Brasileira" para São Luís, idealizou a criação das instituições de
ensino superior, optando por primeiro criar uma Faculdade de Direito.
Entretanto, isto não foi viabilizado.
Somente em 1916 o literato Domingos de Castro Perdigão retomou a
ideia. Para tanto, foi formada uma comissão composta pelos intelectuais acima
citados, mais Antônio Lopes, Alfredo de Assis e José de Almeida Nunes.
Finalmente, em 28 de abril de 1918, em Assembleia realizada na
Biblioteca Pública do Estado do Maranhão, foi criada a Faculdade de
Direito, ocasião em que foi homologado o Estatuto e iniciada a elaboração
do Regimento Interno da Faculdade, os quais foram aprovados em 20 de maio de
1918, sendo no dia 1° de julho de 1918 realizada a sessão inaugural, no Teatro
Arthur Azevedo, das aulas do curso Jurídico e Social23.
A segunda instituição de ensino superior foi a Escola de Farmácia,
fundada no dia 03 de maio de 1922, oriunda de movimento de contestação
liderado pelos médicos Luís Viana e Cesário Veras, contra o apoio legal

23 O pesquisador prof. Ramiro Corrêa Azevedo diz, diferentemente, que o primeiro curso
universitário coube à área biomédica, em 1911, com a fundação da Escola de
Enfermagem, pioneira do ensino universitário no Maranhão. Cf. AZEVEDO, R. C. Breve
histórico sobre as instituições de 3° grau no Maranhão. CEUMA Perspectivas, São Luís, ano 4,
v.5, out. 2000.
108
fornecido pelo Estado do Maranhão aos farmacêuticos práticos para o
exercício de atividades, tendo em vista a inexistência de profissionais
diplomados naquela época. Tal mobilização visou atender, também, às
exigências legais da União que impedia a abertura e direção de farmácias
por profissionais não habilitados.
Em 1925, por iniciativa também do Dr. Luis Viana, juntamente com
a direção da Escola de Farmácia, tentando suprir a falta de cirurgiões-
dentistas diplomados e, assim, atender ás necessidades do Estado, foi
criado o curso de Odontologia, passando então a instituição a ser
denominada Faculdade de Farmácia e Odontologia que funcionou no
mesmo prédio e assim permaneceu até o ano de 2001.
No ano de 1929, através da imprensa do Estado, com os artigos do
jornalista Paulo Kruger de Oliveira, foi lançada a ideia da criação de uma
Faculdade/Escola de Medicina, composta por professores e médicos. A
comissão liderada pelo farmacêutico Silveira Teixeira ficou encarregada de
tomar as providências necessárias para sua implantação, inclusive de obter
suportes financeiros para que fosse criada. Mesmo com o empenho de
todos, divulgada sua criação e escolhido o diretor em 1930, a Faculdade
não funcionou.
Devido às intervenções que ocorreram no Estado, no período
compreendido entre 1930 e 1931, o ensino superior entra em declínio.
Somente no ano de 1933 instalou-se novo movimento de continuidade do
ensino superior, com a criação da Faculdade de Agronomia que, depois de
reconhecida pelo Estado do Maranhão como entidade de utilidade pública,
só funcionou até o ano de 1938, tendo em vista a falta de reconhecimento
pela União.
Em 1941, após crises políticas e intervenções federais no Maranhão,
as Faculdades de Direito e de Farmácia e Odontologia foram fechadas pelo
Departamento Nacional de Ensino, que constatou irregularidades em suas
estruturas de funcionamento relativas às suas instalações e ao exame
vestibular. Em 1944, o Interventor Federal Dr. Paulo Martins de Sousa
Ramos criou a Fundação Paulo Ramos, com fim estatutário de manter o
ensino superior no Estado. Dessa forma, as Faculdades citadas foram

109
instituídas e autorizadas a funcionar pelos Decretos n° 17.558/45 e
17.553/45, respectivamente (BUZAR, 1985, p. 12).
No decorrer dos anos de 1948 a 1949, por iniciativa das Irmãs
Terceiras Capuchinhas e de um grupo de médicos, considerando-se a
precariedade da saúde pública no Maranhão, foi fundada a Escola de
Enfermagem São Francisco de Assis, reconhecida oficialmente pelo
Decreto Federal n° 30.628, de 11 de março de 1952.
Com a federalização das Faculdades de Direito, Farmácia e
Odontologia, que deixam assim de ser escolas superiores de natureza
particular, transformando-se em órgãos da Administração Pública, a
Fundação Paulo Ramos foi extinta. Desse acontecimento surgiu a idéia -
articulada pelos professores das Faculdades acima e membros da
Academia Maranhense de Letras, juntamente com o recém-chegado
Arcebispo D. Adalberto A. Sobral — de criar-se a Faculdade de Filosofia,
fato ocorrido em 15 de agosto de 1952.
Em abril de 1953 foram autorizados a funcionar quatro cursos em
nível de Bacharelado: Filosofia, Letras Neolatinas, Geografia e História e
Pedagogia, com a finalidade de preparar futuros professores para o ensino
médio. Nesse mesmo ano foi criada a Escola Maranhense de Serviço
Social — mantida pela Sociedade Feminina de Instituição e Caridade e
reconhecida pelo Estado em 1954 e pelo Ministério de Educação e Cultura
em 1956 — cujo objetivo era disseminar a educação social e elevar o
índice de cultura no Maranhão.
Como a educação superior estava avançando e objetivando estimular
seu crescimento, o arcebispo metropolitano D. Delgado fundou, em 1956,
a Sociedade Maranhense de Cultura Superior (SOMACS), com a
finalidade de promover o desenvolvimento da cultura e instituir a
Universidade Católica do Maranhão (BUZAR, 1985, p. 16).
Segundo Buzar (1985, p. 17), nessa época para instituir e manter
uma Universidade era necessário criar mais duas Faculdades no Estado,
exigência da legislação federal. Assim, D. Delgado fundou, em 20 de
janeiro de 1957, com o apoio do Presidente Juscelino Kubitschek, a
Faculdade de Ciências Médicas do Maranhão, autorizada a funcionar pelo
110
Decreto n° 43.941 de 3 de julho de 1958. Ainda julho de 1958, o professor
Waldemar Carvalho idealizou a criação da Faculdade de Ciências
Econômicas nos Estados do Maranhão e Piauí, para cujo propósito
encaminhou ao Ministério de Educação e Cultura, por duas vezes,
solicitação para a autorização e funcionamento, os quais foram negados,
tendo como principal justificativa a falta de qualificação dos professores.
Somente em abril de 1965, no Governo de Castelo Branco, a autorização
foi concedida.
A criação da Universidade Católica se deu pela reunião das
Faculdades de Filosofia, Ciências Médicas e Serviço Social, e da Escola de
Enfermagem, e seu reconhecimento como Universidade Livre pela União,
pelo Decreto n° 50.832 de 22 de junho de 1961. À Universidade Católica
foram integrados órgãos suplementares, entre eles a Rádio Educadora do
Maranhão Rural Limitada. A esse tempo também foi criada a Faculdade
Católica de Direito, tendo sido escolhido nesse mesmo ano como Diretor
da Instituição o professor Antenor Bogéa, que não chegou a assumir o
cargo, em razão de o Ministério não ter considerado necessária a criação de
mais uma instituição de Direito em São Luís, que já contava com uma
funcionando.
A Universidade Católica existiu durante 6 (seis) anos, enfrentando
graves dificuldades financeiras, fato que chegou ao conhecimento do
Ministério da Educação e Cultura, que propôs como alternativa sua doação
à União, na tentativa de solucionar o problema. Tájra (1985, p. 27)
esclarece:
Esta proposta foi formalizada em memorial apresentado ao Ministério da
Educação e Cultura, pelo Reitor da Universidade Católica, D. Antônio
Batista Fragoso, e resultou na Lei n° 5.152 de 21 de outubro de 1966 que
autorizou o poder executivo a instituir a Fundação Universidade do
Maranhão, entidade de direito público, que tem a finalidade de implantar,
progressivamente, a nova Universidade no Maranhão e declarou, através do
seu Art. 4°, extinta a Universidade Católica do Maranhão [...].
Na nova instituição de ensino, a Fundação Universidade do
Maranhão (FUM), foram inicialmente integradas as Faculdades de Direito,
Farmácia e Odontologia, Filosofia, Ciências e Letras, Serviço Social,
111
Ciências Médicas, e a Escola de Enfermagem. Tendo autonomia didática,
administrativa, financeira e disciplinar, conferida por Lei, a FUM elaborou
seu Estatuto que, depois de homologado pelo Conselho Federal de
Educação, em 1967, instituiu o Conselho Diretor, nomeado pelo Presidente
da República, tendo sido seu primeiro Reitor o professor Pedro Neiva de
Santana.
A Fundação logo em seu primeiro ano de funcionamento passou por
sérias dificuldades financeiras e problemas de ordem legal, que
ocasionaram, em outubro de 1968, a renúncia do Reitor Pedro Neiva de
Santana e do Vice-Reitor Administrativo, o professor Mário Martins
Meireles. Desse modo, assumiu interinamente a Reitoria da Universidade o
Vice-Reitor Pedagógico, Cônego José de Ribamar Carvalho. Nesse mesmo
ano, o Governo Federal estabeleceu as novas Bases e Diretrizes para a
Educação Superior Brasileira — a chamada Reforma Universitária de 1968
— e o Reitor planejou obter, através da Reforma, a implantação da
Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Segundo Buzar (1985, p.29), uma das primeiras medidas adotadas
pelo Reitor na política de implantação da nova instituição foi a reforma
estatutária, no sentido de atender às mudanças decorrentes da nova
legislação do ensino superior, começando em janeiro de 1970 a organizar
sua estrutura administrativa24.
Para substituir o Reitor, Cônego José de Ribamar Carvalho, foi
nomeado, em 1972, o professor Josué de Sousa Montello como Reitor pro-
tempore, tendo sido substituído, interinamente, no ano de 1973, pelo então
Vice-Reitor professor Manoel Soares Estrela, que permaneceu nessa
condição até 1975, época em que foram criados os cursos de Engenharia
Elétrica e o de Eletrônica. Nesse mesmo ano um novo Reitor tomou posse,
desta vez o professor José de Maria Ramos Martins. Mesmo com as
mudanças ocorridas na Reitoria, continuou o plano de implantação da
Reforma Universitária. Em julho de 1979 o Reitor deixa o cargo e a Vice-
Reitora em exercício, professora Maria de Lourdes Portela Nunes, assume
interinamente a Reitoria da Universidade, transmitindo o cargo de Reitor,

24 Para uma visão mais ampla, cf. o item 5.1.1.


112
ainda nesse ano, ao professor José Maria Cabral Marques, que continuou a
ação desenvolvimentista iniciada pelos seus antecessores, permanecendo
no cargo durante nove anos, até 1988.
Em 1988, assumiu o lugar de Reitor o professor Jerônimo Pinheiro,
eleito por consulta à comunidade acadêmica e nomeado pelo Presidente da
República, após apreciação da lista sêxtupla enviada pelo Conselho
Universitário, permanecendo no cargo até 1992. Durante a sua gestão,
quando da realização da VII Semana de Psicologia, ele assumiu
publicamente o compromisso de criar o curso de Psicologia, que começou
a funcionar em 199125. Em 1992, o oitavo Reitor é empossado — professor
Aldy Mello de Araújo. E em 1996 assumiu a Reitoria o professor Othon de
Carvalho Bastos cujo primeiro mandato ocorreu até outubro de 2000.
Nesse mesmo ano foi reconduzido ao cargo por mais quatro anos, até
2004.
Conforme observa Tájra (1985, p. 37),

[...] o aparecimento do ensino superior no Maranhão, devido


a aspectos peculiares do Estado apresenta características
um pouco diversificadas daquelas que compõem o perfil
de outras universidades brasileiras [...] na medida em
que a vida intelectual era organizada como parte de
uma situação colonial de dependência cultural.

Neste retrospecto da história da Universidade, com a história da


Psicologia no Maranhão como objeto de estudo deste trabalho, torna-se
necessária uma incursão pela Faculdade de Filosofia, através da qual
alguns cursos foram autorizados a funcionar, entre eles o de Pedagogia,
cuja regulamentação ocorreu em 1939, através do Decreto-Lei nº 1.190,
em nível nacional, para somente 14 (quatorze) anos depois (1953) ser
regulamentado no Maranhão.
Com o objetivo de formar bacharéis e licenciados para as áreas de
conteúdo e para o setor pedagógico, o curso foi estruturado sob a

25 Cf. item 5.1.2.


113
configuração do Esquema 3+1. Desse modo, o Bacharelado em Pedagogia,
com duração de 3 (três) anos, habilitava o concludente como técnico em
educação enquanto a Licenciatura em Pedagogia, com mais 1 (um) ano de
estudos sobre Didática, habilitava seu portador como professor para o
magistério de nível médio (BUZAR, 1985, p. 43).
Com a criação da Faculdade de Educação (FACED), em 1971, e a
necessidade subsequente de atender a outras habilitações, ocorreu nesse
mesmo ano a reformulação da estrutura curricular, que passou a conter não
só disciplinas obrigatórias para o 1° Ciclo, entre elas Introdução à
Psicologia, mas também, para o Núcleo Comum, a disciplina Psicologia
Educacional I, II, III e IV.
Ressalta-se a importância do curso de Pedagogia na história dos
cursos de Psicologia, visto que, ao longo de sua existência, esse curso
priorizou a disciplina Psicologia em sua estrutura curricular, em nível local
ou nacional.
Clara referência sobre essa relação é encontrada em Bock (1999a, p.
319), ao dizer:
[...] A educação foi vista como a grande responsável pelo
desenvolvimento da sociedade. A relação P ed ago gia -
estud o s p sico ló gico s ser á, então, altamente reforçada. A
Psicologia permitia que a E d u c a ç ã o f o s s e p e n s a d a a p a r t i r
d e b a s e s científicas.
A Universidade Federal do Maranhão está estruturada em Órgãos
Deliberativos, constituídos de Colegiados Superiores, Colegiados
Acadêmicos e Órgãos Executivos, que, por sua vez, são compostos de
Órgãos Executivos Centrais, Auxiliares e Acadêmicos. O espaço físico da
Universidade está composto pelo Campus Universitário do Bacanga, que
recebeu essa denominação por estar localizado à margem esquerda do Rio
Bacanga, situado à oeste da Ilha de São Luís. Construído na década de 70,
abrigou gradativamente os cursos que se situavam fragmentariamente no
centro da cidade. No momento (2002), somente 2 (dois) cursos e parte da
Administração Superior ainda não se encontram incorporados a essa
estrutura. Conta também com campi avançados no Estado nos municípios

114
de Codó e Imperatriz, atendendo somente a alguns cursos da área de
Ciências Sociais.
De acordo com o Sistema de Informações da UFMA (SIUFMA-
2001), a Universidade possui 31 (trinta e um) cursos de graduação nas
áreas de Saúde, Tecnológica, Humanas e Sociais, atendendo a 10.360
alunos, e oferece Pós-Graduação lato-sensu em várias especialidades e
stricto-sensu — mestrado e doutorado — em algumas áreas do
conhecimento. Na tentativa de qualificar seu corpo docente com maior
rapidez, a Universidade tem buscado convênios em programas alternativos
de qualificação criados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (CAPES), na modalidade Interinstitucional (MINTER) e
depois na do Programa de Qualificação Institucional (PQI).

5.1.1 Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Maranhão

A Reforma Universitária de 1968 foi desencadeada por uma


campanha nacional de reivindicações e críticas à estrutura da Universidade
brasileira promovida pelos estudantes universitários. Tal medida provocou
uma reviravolta não só no ambiente universitário, mas também no meio
político. Nesse clima, Coimbra (1995, p. 116) afirma:
A Reforma Universitária é feita de forma autoritária, impositiva e
antidemocráti ca, sem nenhuma participação da
c h a m a d a “ c o m u n i d a d e ” universitária [...] Seu principal
objetivo é diminuir e mesmo impedir a pressão exercida pela
classe média para ascender socialmente via Universidade. Tal fato,
caracterizado como “crise universitária”, agrava-se ainda mais pela
pressão estudantil que atinge seu auge em 1968 [...].
Em suas reivindicações, buscavam os estudantes, principalmente,
dotar os estabelecimentos de ensino superior de autonomia administrativa e
financeira, extinguir a cátedra vitalícia e garantir a participação estudantil
na administração da Universidade. Isso ocasionou a criação de grupos de
trabalho para estudar a proposta de implantação da Reforma Universitária.

115
Ao lado desse fato, o Conselho Federal de Educação, no período
compreendido entre 1962 e 1963, estudou a reformulação do currículo
mínimo e a carga horária dos cursos superiores. A proposta não foi aceita
por todas as instituições de ensino superior, à época, por não advir de um
decreto presidencial.
No mesmo período, também foram criados, na Universidade do
Brasil, grupos de trabalho com a finalidade de estudar a proposta de
diretrizes para a Reforma Universitária e ainda de elaborar um Regimento
Analítico da Universidade Brasileira (BUZAR, 1985, p. 27).
A partir dessas inúmeras pressões, e ao ensejo de aspectos das
reivindicações que iam ao encontro de interesses dessa Instituição e do
regime militar, novos desdobramentos foram surgindo, complementando o
estudo inicial sobre a Reforma Universitária, concretizada finalmente na
Lei n° 5.540/68. Um relatório foi apresentado destacando-se os pontos
considerados essenciais que implicaram em mudanças estruturais na vida
acadêmica, como a criação de estruturas orgânicas e flexíveis; a unificação
do concurso vestibular; a adoção do sistema de créditos; a integração e
participação dos estudantes na universidade; a dissolução da cátedra e a
departamentalização; a estrutura do ensino básico e do profissionalizante;
os dois níveis de pós-graduação (mestrado e doutorado); a organização das
universidades sob a forma de autarquia, fundação ou associação, sendo
assegurada a autonomia universitária em qualquer um dos regimes adotados,
entre outras mudanças (BUZAR, 1985, p. 28-29).
A Universidade Federal do Maranhão praticamente nasceu (1966) e
cresceu com a Reforma Universitária. Em novembro de 1968, ao assumir a
Reitoria, o Cônego José de Ribamar Carvalho se comprometeu em
implantá-la, iniciando-a experimentalmente em 1969. Para tanto, foram
realizadas as reformulações pertinentes, 'aprovadas pelos Decretos n°
67.047 e 67.048 de 13 de agosto de 1970, respectivamente o novo Projeto
do Estatuto da Fundação e o Anteprojeto do Estatuto da Universidade
(TMRA, 1985, p. 28).
Assim, em consonância com as diretrizes nacionais e a infraestrutura
adotada pela Universidade, o Reitor começou nesse mesmo ano a

116
implantação progressiva da nova estrutura administrativa em observância
aos princípios e normas da Reforma Universitária, pela qual os Institutos e
Faculdades isoladas passaram a funcionar.
A nova concepção acadêmica ficou estruturada em Unidades
compostas por Institutos e Faculdades que se subdividiram em
Departamentos assim distribuídos:
 o In s t i t ut o de Ci ênci a s Fí si c as e Nat ur ai s, c o m
os Departamentos de Química, Morfologia,
Parasitologia, Matemática e Física e Ciências Fisiológicas;
 o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, constituído
pelos Departamentos de Filosofia, Psicologia, Sociologia,
Geografia e História;
 o Instituto de Letras e Artes, composto pelos Departamentos
de Estudos Luso-Brasileiros, Letras, Artes e Comunicações;
 a Faculdade de Farmácia, com os Departamentos de
Farmácia e Pesquisas Clínicas e Tecnologia Farmacêutica;
 a Faculdade de Odontologia, formada pelos Departamentos de
Dentística e Clínica, Odontologia Preventiva, Prótese e
Cirurgia Oral;
 a Faculdade de Ciências Médicas, que deu origem aos
Departamentos de Cirurgia, Medicina, Patologia,
Neuropsiquiatria, Obstetrícia e Ginecologia, Higiene e
Medicina Legal e Pediatria;
 a Faculdade de Enfermagem, com os Departamentos de
Enfermagem e de Enfermagem Clínica;
 a Faculdade de Direito, formada pelos Departamentos de
Direito Jurídico e Propedêutico, Direito Privado, Direito Público e
Processo;

117
 a Faculdade de Serviço Social, instituída com
o s Departamentos de Teoria e Fundamentação e
Metodologia e Aplicação;
 a Faculdade de Ciências Econômicas, constituída pelos
Departamentos de Economia, Contabilidade e
Administração;
 a Faculdade de Educação, com os Departamentos de
Administração e Planejamento e Métodos e Técnicas.
A ideia central era que os Departamentos fossem agrupados
conforme as áreas de conhecimento. Para tanto, três grandes Centros foram
criados: a Área de Estudos Gerais, abrangendo os Institutos de Ciências
Físicas e Naturais, Filosofia e Ciências Humanas e Letras e Artes; a Área
Médica, compreendendo as Faculdades de Farmácia, Enfermagem,
Odontologia e Medicina; e a Área de Estudos Aplicados, integrada pelas
Faculdades de Direito, Serviço Social, Ciências Econômicas e Educação.
A esse respeito, Tájra (1985, p. 32) diz:
Esses Centros tinham como principal finalidade coordenar didática e
cientificamente as Unidades, agrupadas por áreas específicas de
conhecimento, e, brevemente, com a extinção dos institutos e Faculdades
coordenariam diretamente os Departamentos referentes à sua área de
ação, integrando, assim, o ensino dos diversos cursos o que eliminava
a duplicação dos meios para fins idênticos ou equivalentes, objetivo
fundamental da Reforma Universitária.
A criação dos Departamentos na Universidade visou substituir as
cátedras que, pela sua rigidez, impediam a integração do ensino e
dificultavam a formação de equipes interdisciplinares das quais dependia a
qualidade didático-pedagógica das atividades desenvolvidas (TÁJRA,
1985, p. 31).
A adoção dessas medidas foi fundamental na estrutura da
Universidade, pois lhe deu poder de assumir formas diferentes, de acordo
com as necessidades apresentadas por cada curso, especialmente pela
inclusão de novas disciplinas oferecidas, e, em alguns casos, pela criação
de outros Departamentos.
118
Conforme constatado, esses Departamentos foram criados como
parte integrante dos Institutos e Faculdades existentes. Cabe ressaltar a
inclusão do Departamento de Psicologia (1970), sem ainda haver sido
criado o curso de Psicologia, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas.
De acordo com os docentes desse período, quando ocorreu a
transformação da Universidade Católica em Fundação Universidade do
Maranhão, as Faculdades que existiam foram agrupadas e os professores
que ministravam disciplinas de Psicologia passaram a compor o
Departamento de Psicologia, pequeníssimo, com 5 (cinco) docentes. Esse
corpo docente se constituía de professores já contratados pela Instituição,
com exercício em outros Departamentos, Licenciados em Filosofia e
Pedagogia.
Uma situação bastante desconfortável existiu durante muitos anos
em relação ao próprio espaço físico, deixando os professores insatisfeitos.
A professora Terezinha Godinho, que participou de todo o processo de
departamentalização de onde se originou o Departamento de Psicologia da
Universidade Federal do Maranhão e esteve na chefia desse órgão durante
dezessete anos, recorda:
[...] não tínhamos um paradeiro fixo, a cada necessidade
solicitada cedíamo s o espaço e éramos alocados em outro
prédio, não tínhamos espaço disponível, só existia a sala da chefia e
uma s a l a d e p r o f e s s o r e s o n d e r e a l i z á v a m o s a s
A s s e m b l e i a s . O ú n i c o e s p a ç o c o m q u e o Departamento
contava era uma sala no prédio da área tecnológica, junto ao curso
de Engenharia Elétrica, onde ficava montado, precariamente, o
Laboratório de Psicologia Experimental.
O Departamento também passava, àquela época, por situações
difíceis em relação ao quadro docente. Nesse sentido, Terezinha Godinho
comenta:
Com a obrigatoriedade da disciplina Psicologia em quase todos os
cursos da UFMA, o Departamento realizou o primeiro concurso público
em 1970, para a admissão de docentes, visando atender a
demanda solicitada, que ficava Cada vez mais difícil devido aos cursos
que eram criados e/ou a inclusão de mais disciplinas de Psicologia em
119
seus currículos [...] [Depois disso] o curso de Pedagogia, em 1972, a
partir de um parecer do Conselho Federal de Educação,
resolveu retirar os professores e as disciplinas de Psicologia da
Educação e Psicologia Educacional que faziam parte do Departamento
de Psicologia, para co mp or o Departamento de Educação —
situação que persiste. Perdemos assim quatro professores.
Solicitamos, então, que o Conselho de Centro se manifestasse quanto
a esse procedimento e a resposta foi que era possível, pois já havia
precedente numa outra universidade brasileira, ficando, desse modo,
os docentes divididos em dois Departamentos.
A partir daí o Departamento de Psicologia ficou sem o número de
professores suficientes para funcionar. A grande consequência desse fato
foi a fusão com o Departamento de Biologia, fusão que sempre chamou
muita atenção pela própria denominação — Departamento de Psicologia e
Biologia —, o que em nenhum momento dificultou a convivência pessoal,
mas, sim, a administrativa. Considerando esse fato, Terezinha Godinho
esclarece:
Havia a determinação de que deveria existir um número
mínimo de professores para que um Departamento fosse
constituído [...] [Desse modo] ficou resolvido que os docentes da
Psicologia e da Biologia seriam agrupados sob a denominação de
Departamento de Psicologia e Biologia, embora não houvesse
afinidade entre as duas áreas.
A fusão dos Departamentos só foi operacionalizada em 23 de maio
de 1979, apesar de a determinação ter acontecido em 24 de agosto de 1977,
em razão da Portaria nº 471/79-GR (Gabinete do Reitor), que transferiu os
professores de Biologia do Departamento de Ciências Morfológicas e
Fisiológicas para o Departamento de Psicologia, justificada pela
Administração Superior, daquela época, como um ato necessário em
virtude de os dois Departamentos não possuírem número legal para existir.
Apesar dessa fusão legal, na prática os dois Departamentos
continuaram funcionando isoladamente. Na realidade, os professores e
pesquisadores oriundos do Departamento de Biologia tinham um
funcionamento autônomo, no Laboratório de Hidrobiologia (Labohidro).
Portanto, embora de forma precária, possuíam espaço físico e instalações
120
destinadas para suas atividades, localizado fora do Campus Universitário
do Bacanga, distante do Departamento de Psicologia. Além disso, elegiam
seu próprio Diretor. Somente quando necessitavam do aparato
administrativo é que solicitavam apoio do Departamento de Psicologia. A
aproximação era pouca, acontecia quinzenalmente quando eram realizadas
as Assembleias, em que todos se faziam presentes, relatando as atividades
desenvolvidas e as comunicações de praxe.
O estudo da proposta para o desmembramento dos Departamentos
foi iniciado em janeiro de 1981, considerando-se as seguintes
características: a) formação profissional e interesses acadêmicos
acentuadamente distintos — enquanto os professores de Psicologia
desenvolviam atividades didáticas, os de Biologia, em sua maioria,
dedicavam-se às atividades de pesquisa no Labohidro —; b) a limitação de
verbas que muitas vezes impedia o atendimento das reivindicações dos
dois Departamentos; c) a dificuldade de acompanhamento, pelo
Departamento, dos professores de Biologia, pelo fato de terem exercício
distante do Campus Universitário; d) o número de docentes nesse período
(Departamento de Psicologia e Biologia contava com 26 (vinte e seis)
docentes, sendo 14 (quatorze) professores de Psicologia e 12 (doze) de
Biologia); e) a determinação do Reitor José Maria Cabral Marques de criar
o curso de Biologia.
O desdobramento foi aprovado em 29 de novembro de 1982, através
da Resolução n° 11/82-CONSUN (Conselho Universitário), vinculando o
Departamento de Biologia ao Centro de Ciências da Saúde.
Mesmo com todos esses entraves, o Departamento de Psicologia, ao
longo do tempo — três décadas —, veio se preparando para a criação do
curso de Psicologia que, como foi mencionado anteriormente, era um
anseio dos professores e da comunidade ludovicense26.
Especificamente, o interesse emergiu da vivência que se teve e se
continua tendo nesse Departamento. Assim, considera-se importante poder
rever e compartilhar sentimentos e dificuldades em relação àquele

26 Termo designativo dos nascidos em São Luís.


121
cotidiano de trabalho. Acredita-se também ser necessário resgatar a
história do Departamento de Psicologia como um local onde se configurou
a emergência do curso de Psicologia. Desse modo, entrevistaram-se
professores daquela época com a intenção de complementar as lembranças
guardadas desse processo com a memória dos demais integrantes do
Departamento.
Os profissionais — não psicólogos, mas com titulação e contrato
para o exercício da docência em disciplinas de Psicologia em quase todos
os cursos de graduação da UFMA — tinham o propósito de criar o curso
de Psicologia, embora ainda sentissem necessidade de conhecimentos mais
aprofundados de natureza psicológica. Contudo, devido à escassez de
recursos financeiros e a distância geográfica em relação a outros centros,
dificultando o acesso às informações e conhecimentos específicos da área,
o Departamento resolveu qualificar seus docentes, utilizando diferentes
estratégias, como as Semanas de Psicologia e a realização de cursos de
atualização e especialização na própria Instituição, além de oficinas. Para
tanto, foram convidados professores de outras Instituições de Ensino
Superior.
As semanas de psicologia, promovidas pelo Departamento,
começaram a acontecer a partir de 1981 e se estenderam até 1990, desde
antes da criação do curso, com os objetivos de informar sobre o campo
psicológico, favorecer trocas de experiências e também sondar o interesse
da comunidade maranhense pela área psicológica. Juntamente com esses
eventos, aconteciam os cursos e as oficinas.
Para os eventos havia sempre um convite prévio a docentes de
universidades brasileiras. Seus currículos eram analisados de acordo com a
temática central e disponibilidade de, para além das palestras, ministrarem
pequenos cursos. Na época, o Departamento contava com recursos
financeiros para atender aos custos com passagens, diárias e hospedagem
dos convidados. Os demais ministrantes eram profissionais de outros
Departamentos da UFMA e psicólogos e psicanalistas da comunidade de
São Luís.

122
O tema central era trabalhado no turno matutino com palestras e
mesas-redondas e, no período vespertino, eram ministrados pequenos
cursos com carga horária entre 30 e 40 horas. Os temas eram variados.
Entre eles podem-se citar o problema da delinquência, a família, a
psicanálise, a consciência, a terceira idade.
Durante esse período de realização das Semanas, a comunidade, em
especial a acadêmica, demonstrava interesse em participar, o que era
comprovado pelo número elevado de inscrições de participantes nos
eventos. Foi durante a realização da VII Semana de Psicologia (1990),
quando se estava na coordenação, que os participantes indagaram do
Reitor, professor Jerônimo Pinheiro, quanto à criação do curso de
Psicologia no Maranhão, tendo ele, ao final de sua fala, se manifestado
com uma surpresa para a Assembleia: a criação do curso de Psicologia,
com vestibular para o ano seguinte. Após a criação do curso, em 1991,
somente duas outras Semanas foram realizadas. Acredita-se que os
motivos são vários, entre eles as constantes greves com alterações no
calendário acadêmico e a falta de recursos financeiros para promover a
vinda de profissionais de outras universidades.
A outra estratégia para qualificar os professores e criar o curso de
Psicologia, como dito anteriormente, está relacionada aos cursos
oferecidos pelo Departamento de Psicologia. Convém frisar que foram
muitos, de tal modo que os professores às vezes se sentiam
sobrecarregados, já que os cursos aconteciam ao mesmo tempo em que as
outras atividades acadêmicas, sem liberação de carga horária. Essa situação
era sentida por todos, pois, quando se acabava de escrever o trabalho final
de um curso, já estava programado um outro. Esses cursos, segundo os
coordenadores, eram trabalhosos no que diz respeito à sua execução,
devido à pouca estrutura para funcionamento, à necessidade de espaço
físico e, ainda, a questões administrativas.
É interessante registrar que alguns desses cursos eram somente para
o grupo de professores do Departamento, com exceção dos mestres e
doutores; outros eram para o grupo, mas também abertos à comunidade em
geral e acadêmica, desde que atendesse à exigência de áreas afins.

123
Os cursos oferecidos pelo Departamento foram de atualização e de
especialização em áreas da Psicologia. Os de especialização (Metodologia
da Pesquisa em Psicologia, Psicofisiologia, Psicologia da Personalidade,
Instrumentação e Experimentação em Psicologia e Psicologia Social)
foram realizados de 1981 a 1986. Os cursos de atualização (Psicofisiologia
e Psicopatologia do Comportamento, Psicologia da Consciência,
Psicologia Social Comunitária e Desenvolvimento Humano: aspectos bio-
psico-sociais) foram ministrados no período compreendido entre 1979 e
1991.
Esses cursos ganharam força e foram intensificados quando foi
contratado o primeiro psicólogo de Departamento, Houshang Khazrai,
como professor visitante, em 1980. Com doutorado em Medicina e pós-
doutorado em Psicologia, ambos em Paris, o professor Khazrai
permaneceu no Departamento até 1990, quando solicitou exoneração da
Instituição.
O professor Khazrai planejava e ministrava vários cursos de
especialização cujas propostas eram aprovadas pelos docentes em
Assembleia Departamental, após análise dos objetivos, da programação e
dos conteúdos das disciplinas. Em alguns, todo o grupo participava e, em
outros, os professores optavam pelo que desejavam fazer. Para saber um
pouco mais sobre a vinda desse professor para o Departamento de
Psicologia, considerou-se necessário indagar da professora Terezinha
Godinho como foi o processo de sua contratação. Ela revela:
Quando o reitor da Universidade, José Maria Cabral Marques, mandou o
currículo do professor Houshang Khazrai para o Departamento apreciar,
eu estava na chefia. Foi bastante problemático. A Assembleia
Departamental viu que o currículo era riquíssimo, mas nós não tínhamos
o curso de Psicologia. Como existia o curso de Medicina e professor era
médico e psicólogo, com doutorado e pós-doutorado em Paris, o
Departamento respondeu louvando o currículo, mas dizendo que ele
estaria mais bem situado no Departamento de Medicina. A resposta que
eu tive era que eu não tinha sido consultada para aceitar o currículo, mas
para apreciá-lo, Pelo que sei, foi em Brasília que ele conseguiu o
professor. No princípio, o professor ficou limitado a dar cursos de
especialização para nós, porque ele não falava a nossa língua. Então, não
124
se tinha condição de colocar o professor imediatamente na sala de aula,
embora ele tivesse um conhecimento superior a todos nós. Ninguém
estava questionando o saber e a competência dele [...] mas ele precisava
dominar melhor a língua para poder entrar em contato com os alunos. O
professor Khazrai inicialmente passou a fazer parte do Departamento de
Psicologia como professor visitante e mais tarde submeteu-se a concurso
para professor titular, sendo aprovado e passando a ministrar aulas de
Psicologia no curso de Medicina, pois, até então, não havia sido criado o
curso de Psicologia.
Para poder contar de que forma o Departamento de Psicologia da
UFMA se preparou para a criação do curso de Psicologia, procurou-se
reconhecer que atividades foram desenvolvidas pelos docentes durante
esse período.
Para tanto, foram elaborados dois roteiros de entrevista para os
professores participantes e para os que ministraram os cursos, dos quais 7
(sete) eram professores participantes do Departamento de Psicologia,
residentes em São Luís e atualmente aposentados, 3 (três) eram professores
convidados a ministrar os cursos, residentes no Rio de Janeiro, cujas
entrevistas foram realizadas durante o período de estágio que se fez na
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
O propósito foi fazer uma análise com as informações obtidas dos
participantes e dos ministrantes de cursos. Com os resultados das
entrevistas, foi possível conhecer e compreender como o Departamento
administrou o volume de cursos realizados e que resultados foram
alcançados.
Tentou-se, assim, descobrir de que cursos os docentes haviam
participado e por quem foram ministrados. Nesse processo de coleta de
dados, percebeu-se que os entrevistados revelaram muita disposição de
falar sobre a sua participação nos cursos, embora dissessem ser melhor
verificar nos certificados as informações mais precisas. Foi possível
entender melhor esta colocação quando se constatou que a maioria dos
professores possui quatro das cinco especializações que foram oferecidas,
além dos quatro cursos de atualização. Alguns desses cursos foram

125
realizados em módulos, ainda que não se tratasse de uma escolha pessoal
em alguns casos.
Nesse sentido, o professor Milton Athayde da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, afirma:
Fui co nvid ad o p ara min istr ar u m curso d e atualização em
Psicologia Social Comunitária, com carga horária de 120 horas. Foi um
curso programado para ser intensivo, manhã e tarde, distribuído em
dois módulos de 60 horas [...].
Tanto ele quanto os professores João Ferreira da Silva Filho e
Ângela Arruda, ambos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
que ministraram os cursos de Psicofisiologia e Psicopatologia do
Comportamento e Psicologia Social, respectivamente, destacaram que
tiveram de se deslocar a São Luís mais de uma vez para ministrá-los.
Ficou demonstrado nas falas que essa situação era frequente em
todos os cursos oferecidos. Isto se devia ao compromisso assumido pelos
professores do Departamento de Psicologia, de que os cursos aconteceriam
sem prejuízos de outras atividades acadêmicas.
Embora os dois grupos de entrevistados soubessem da necessidade e
finalidade dos cursos, os participantes revelaram em suas falas que a
preocupação maior era com a questão da qualificação voltada para o ensino
das disciplinas de Psicologia, com a futura criação do curso, com a
reciclagem do professor com vistas à melhoria e ao aprimoramento do seu
desempenho, com a aplicação da prática pedagógica em sala de aula e com
um conhecimento mais aprofundado dos diferentes estudos apresentados
nessa área, por solicitação dos cursos de graduação a que o Departamento
atendia na ocasião. Essas justificativas ficaram evidentes na fala da
professora Teresinha Raposo ao afirmar: "[...] tornou-se necessária a
qualificação desses profissionais na aquisição de conhecimentos
específicos na área psicológica [...]"; e da professora Penha Santos
segundo a qual "[...] havia interesse do Departamento em reciclar e
qualificar os docentes, dando-lhes a oportunidade de aplicar os
conhecimentos dessa 'área na sua prática pedagógica".

126
Nesse mesmo contexto, os ministrantes informaram que tinham
conhecimento do número reduzido de psicólogos no Departamento, do
empenho para a criação do curso de Psicologia e de uma capacitação
científica especializada, com conteúdos específicos, que estavam sendo
solicitados pelos cursos da Universidade. Além disso, o professor Milton
Atayde, acrescenta:
[...] as pessoas achavam [professores de Psicologia da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB)] muito positivo o esforço que vocês punham
em prática, de tal modo que a sondagem inicial que me foi feita tinha
esse tom: apoiar do melhor modo esse movimento profissional
afirmativo dos colegas do Maranhão [...].
Observou-se que todos os informantes tinham conhecimento da
necessidade e finalidade dos cursos, pela forma como foram se
expressando no transcorrer de seus depoimentos, pela experiência que
vivenciaram, pela compreensão dos compromissos assumidos que
confirmaram a proposta básica de qualificação e aprofundamento na área
psicológica e deram oportunidade de reflexão na busca de novos caminhos
para a constituição do curso de Psicologia.
Observou-se, também, que a comunicação administrativa acerca dos
cursos era eficaz, já que os entrevistados, ministrantes e participantes
sabiam que os cursos eram patrocinados pela Universidade Federal do
Maranhão, através das Pró-Reitorias de Graduação, de Pesquisa e Extensão
e de Administração. Além desse, o apoio efetivo do antigo Centro de
Estudos Básicos (CEB), denominado depois de Centro de Ciências
Humanas (CCH) do qual o Departamento de Psicologia sempre fez parte, é
ressaltado por aqueles que participaram dos eventos.
Com relação aos critérios de seleção para os cursos, os participantes
informaram que todos os docentes lotados no Departamento de Psicologia
estavam automaticamente inscritos nos cursos. Esse ponto é comentado
pela professora Conceição Jorge, ao dizer:
A UFMA, através do Departamento de Psicologia, teve quase que a
obrigação de oferecer inúmeros cursos ao longo de mais de vinte anos,
nos quais a motivação não se expressava em uma escolha pessoal,

127
mas na necessidade de qualificação profissional, uma vez que os
docentes do Departamento eram escritos ex-offício nos cursos.
As vagas restantes eram abertas à comunidade para docentes de
áreas afins, mediante a análise dos currículos, exceto quando o curso se
destinava apenas para os professores do Departamento. Outro critério
adotado estava ligado à administração do curso, expressa através de
pagamento da taxa de inscrição, cobrada pelo setor competente da UFMA
a todos os participantes. Os ministrantes, por sua vez, sabiam ser essa a
clientela dos cursos, o que facilitou o desenvolvimento da programação de
suas atividades.
Uma questão bastante discutida à época pelos professores
participantes era acerca dos critérios de escolha dos docentes a serem
convidados. Segundo os informantes, esses docentes eram selecionados:
pela competência e experiência nas áreas dos cursos, considerados critérios
prioritários; por indicações, após análise e aprovação dos currículos
enviados pelas Instituições de Ensino Superior que atendiam à solicitação
do Departamento de Psicologia; por serem de universidades mais próximas
do Maranhão (ficando aí implícita a questão financeira, com os convites
privilegiando mais as universidades do Nordeste); e, também, por contatos
diretos com professores em congressos, seminários e cursos na área
psicológica, realizados em outras capitais do país. Essas informações
foram confirmadas pelas professoras Liba Lago e Terezinha Rabelo.
De modo análogo, os ministrantes, por sua vez, informaram ter sido
convidados por motivos diversos: o professor João Ferreira da Silva Filho
disse que na época era pesquisador do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), professor da
Universidade Santa Úrsula e da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e
que foi convidado pela Pró-Reitoria de Ensino e Pesquisa da UFMA e pela
professora Conceição de Maria Ferreira da Silva Jorge do Departamento de
Psicologia; a professora Ângela Arruda, que na ocasião era da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB), considerou que sua indicação foi
por informações colhidas junto ao Departamento de Sociologia e
Antropologia da UFMA; e o professor Milton Athayde, que também nesse
período era professor da UFPB, justificou que os motivos da escolha de
128
seu nome tinham a ver com sua atuação profissional no Nordeste, inclusive
no Maranhão, e ainda com o fato de a professora Ângela Arruda haver
comentado a respeito do trabalho que o Departamento de Psicologia da
UFMA estava desenvolvendo.
Ficou claro que, apesar de os docentes participantes afirmarem que a
escolha dos docentes ministrantes considerava mais as universidades do
Nordeste, algumas exceções ocorriam, como na escolha do professor João
Ferreira da Silva Filho, que indicou outros docentes de universidades do
Rio de Janeiro, que aqui vieram ministrar cursos. Infelizmente, não foi
possível entrevistá-los.
Na avaliação do resultado desses cursos, os informantes
participantes afirmaram a proficuidade dos conhecimentos adquiridos para
um desempenho acadêmico mais atualizado, com formação ampla e crítica;
outros declararam, entre eles as professoras Teresinha Raposo e Socorro
Polary, que o aproveitamento se multiplicava com a elaboração da
monografia ao final dos cursos, destacando os cursos da área social, no que
concerne a uma visão crítica da ciência psicológica e sua função social, e
também a necessária qualificação dos docentes do Departamento.
Por outro lado, a avaliação dos resultados pelos ministrantes também
é positiva. Cada um deles chama a atenção para um aspecto. Assim, o
professor João Ferreira da Silva Filho afirmou: "O resultado mais
importante foi a criação do curso de Psicologia, para o qual estávamos
capacitando os professores". A professora Angela Arruda, após encontrar
professores participando de eventos em outros Estados brasileiros e ter
sido convidada mais uma vez pelo Departamento para participar de uma
mesa redonda em uma Semana de Psicologia da UFMA e ministrar outro
curso junto com outros professores da UFPB, concluiu: "Considerei que
era uma expressão do interesse do debate sobre as questões da Psicologia
Social no panorama brasileiro daquele momento". O professor Milton
Athayde, após considerar a seriedade e a assiduidade dos participantes,
destacar a troca de conhecimentos e experiências vivenciadas em sala de
aula, ressaltou:
[...] ao final do curso, ao lado do sentimento de que não havia d ado
co nta da gr and eza d a responsabilidade e da demanda, fiquei com uma
129
sensação muito positiva pelo trabalho feito em conjunto. O próprio fato de
o curso ser dado em dois períodos permitiu alguma avaliação, em
processo, ao que me lembre, positiva.
Com os resultados obtidos nas entrevistas, concluiu-se que, embora
com a carência de profissionais em São Luís para ministrar cursos, o
Departamento atingiu sua finalidade, que era a qualificação dos docentes,
destacando-se o aprofundamento dos conteúdos em diversas áreas com os
vários cursos realizados, com melhoria do desempenho no exercício da
docência. Verificou-se, também, que o objetivo foi alcançado, o que é
constatado com a criação do curso de Psicologia.

5.1.2 O Curso de Psicologia da Universidade Federal do Maranhão


A história do curso de Psicologia da Universidade Federal do
Maranhão está intrinsecamente ligada à necessidade de oferecer
oportunidades para o Maranhão ingressar no cenário nacional, nessa área,
assegurando à comunidade mais uma opção profissional.
Esse foi o pensamento do grupo de professores do Departamento de
Psicologia que sempre alimentou o desejo de sua criação. De certo modo, a
cada tomada de posicionamento para que o curso se consolidasse poder-se-
ia contar uma história em separado, mas não é esse o objetivo para o
momento. Nesse sentido, tentou-se não descrevê-la em minúcias, mas
apontar os principais marcos de seu percurso até o momento atual (abril de
2002). Um dado característico desse trajeto foi o número de reformulações
pelas quais o projeto passou durante esses anos. Não se fará uma análise
comparativa entre elas, mas é interessante ressaltar como tudo foi se
desdobrando.
As reformulações do projeto do curso, segundo se pôde apurar,
estiveram ligadas à preocupação com a atuação do profissional formado
neste Estado, na expectativa de que essa atuação não estivesse muito
distante da realidade nacional, que atendesse, sim, às características locais.
Esse caráter regional serviu para facilitar a criação do curso. No projeto
original, onde estava inserido, pouco se observou desse caráter, mesmo
porque as questões práticas e legais que direcionam um curso, em geral,
130
dificultam a viabilidade dessa ação. De fato, seria importante que os cursos
pudessem servir às reais necessidades de suas comunidades, devendo esse
compromisso estar previsto no processo de criação ou reformulação desses
cursos. Essa proposta fica evidente nas palavras de Branco (1998, p. 28),
ao dizer: "Não há como refletir sobre o profissional que se pretende formar
sem se analisar a sociedade onde ele atuará, a atividade que exercerá e a
agência que o educará [...]".
Para escrever sobre a criação do curso de Psicologia da Universidade
Federal do Maranhão, procurou-se examinar as condições de sua implantação,
analisando os caminhos legais que foram sistematizados durante o
processo.
Embora não existindo comprovações documentadas, a primeira tentativa de
criação do curso de Psicologia da Universidade Federal do Maranhão
surgiu em 1971, quando o professor João Pereira Martins Neto, que
ocupava o cargo de Diretor do Centro de Estudos Gerais, a que o
Departamento de Psicologia pertencia, solicitou a elaboração de um
projeto que promovesse a habilitação de psicólogos.
Para tanto, a Assembleia Departamental elegeu uma comissão
composta pelas professoras Conceição de Maria Ferreira da Silva Jorge,
Terezinha de Jesus Vieira da Silva Godinho e Terezinha Fernandes Franco
Rabelo. A equipe começou a trabalhar e, antes de concluir o projeto,
esbarrou em algumas exigências fundamentais para que um curso pudesse
ser criado, entre as quais, a contratação de professores na área da
Psicologia, o que implicaria na realização de concursos para admissão desses
docentes. A UFMA, sob a administração do Reitor Cônego José de Ribamar
Carvalho, decidiu não criar o curso naquele momento. Entretanto, os
professores do Departamento de Psicologia não desistiam do sonho e
continuamente se mobilizavam, solicitando aos setores competentes da
Universidade providências no sentido de agilizar a sua criação embora a
resposta fosse sempre a mesma: qualificação e quadro docente.
A professora Terezinha Godinho comenta a respeito desse processo:
[...] esse projeto foi montado com grande dificuldade, porque nós não
tínhamos naquela época acesso fácil a outras universidades e nem
131
psicólogos no Departamento [...] começamos a consultar catálogos de
cursos para elaborar o projeto, que mesmo antes de ficar pronto foi
negado pela Administração Superior, devido ao fato de o Departamento
não contar em seu quadro com professores pós-graduados [...] na
UFMA, era raro o professor que saía em busca dessa qualificação. Esse foi
um grande entrave para a criação do curso.
Apesar desses fatores contrários, houve persistência dos professores
do Departamento de Psicologia em seu objetivo, conseguindo chamar a
atenção da Administração Superior da Universidade que, através da Pró-
Reitoria de Ensino e Pesquisa, solicitou, em 1977, sob a administração do
Reitor José de Maria Ramos Martins, um projeto de pesquisa com o título
"Pesquisa junto à comunidade para a criação do curso de Psicologia",
objetivando sondar as possibilidades do mercado de trabalho e a clientela
interessada no curso.
O Departamento, em Assembleia, elegeu um grupo de professores
para elaborar o projeto e implementar a pesquisa que contou com a
participação de Terezinha de Jesus Vieira da Silva Godinho, Lilia Maria
Ferreira Lago e Maria do Socorro Nogueira Polary.
Foram então selecionadas 5 (cinco) escolas de 2 grau da rede pública
e particular de São Luís para a realização dos trabalhos. O levantamento
consistiu na aplicação de questionários elaborados pela comissão, com a
aprovação da Assembleia Departamental, haja vista ser de interesse de
todos a criação do curso. De posse dos dados, foi elaborado o relatório
final que não foi entregue porque a UFMA, nessa época, resolveu
interromper algumas pesquisas que estavam em andamento. Embora sem
registro documental, a partir dos dados colhidos com as professoras que
participaram dessa pesquisa, soube-se que a conclusão a ser apresentada no
documento sinalizava haver um forte interesse por parte de alunos quanto à
criação do curso de Psicologia, mas que o mercado de trabalho era muito
restrito e alguns desconheciam as possibilidades de atuação do profissional
psicólogo. Segundo elas, essa foi mais uma experiência frustrada.
Mais uma vez a professora Terezinha Godinho fala a respeito dessa
pesquisa:

132
O que apuramos na ocasião é que havia muita clientela interessada em
Psicologia, mas esbarramos no mercado de trabalho, por ser um campo
muito restrito, e na falta de conhecimento por parte dos alunos da atuação
do profissional [...] naquela época poucas escolas tinham serviços de
Psicologia estruturados, algumas tinham projeto de contratar psicólogos.
O único mercado que nós tínhamos aqui era o DETRAN e estava
chegando a ALUMAR, que possivelmente abriria mais uma opção de
trabalho nessa área.
Em maio de 1986, já sob a administração do Reitor José Maria
Cabral Marques, o Departamento de Psicologia enviou, por solicitação da
Pró-Reitoria de Graduação (PROG), em caráter de urgência, uma proposta
simplificada de criação do curso de Psicologia, com as habilitações de
Bacharelado e Licenciatura, visando à oferta de vagas ao concurso
vestibular em julho desse mesmo ano. Em abril de 1987, a proposta foi
devolvida para a elaboração do projeto definitivo, mas o teor do
documento não afirmava que o curso seria criado de imediato, informando
apenas que era de interesse da Administração Superior dar prosseguimento
ao estudo de criação de novos cursos na UFMA.
Essa comunicação provocou nos professores do Departamento, que
há muito tempo desejavam a criação do curso, a disposição de agilizar os
trabalhos, o que ficou demonstrado na apresentação do projeto, na qual é
afirmado:
Ao Departamento de Psicologia coube natural e necessariamente o
primeiro e mais importante passo na conquista ou no alcance desse
desafio — a elaboração do projeto do Curso de Psicologia da Universidade
Federal do Maranhão [...] (PROJETO..., 1988, f.1).
Desse modo, foi necessário constituir duas comissões formadas
pelas professoras do Departamento de Psicologia: uma em 1986 - Norma
de Serviço DE. PSI. nº 003/86 —, para elaborar a proposta simplificada
para a criação do curso, composta pelas professoras Conceição de Maria
Ferreira da Silva Jorge, Maria do Socorro Nogueira Polary, Terezinha
Fernandes Franco Rabelo e Terezinha de Jesus Vieira da Silva Godinho;
outra em 1987 — Ordem de Serviço DE. PSI. n'' 005/87 —, para preparar
o projeto definitivo do curso de Psicologia, composta pelas mesmas

133
professoras e mais a professora Heloisa Moreira Lima Leite —
posteriormente a primeira coordenadora do curso de Psicologia.
O projeto do curso, denominado aqui de "Projeto... (1998)",
elaborado e discutido no Departamento de Psicologia, ficou pronto em
janeiro desse ano e foi encaminhado à Pró-Reitoria de Graduação (PROG)
para apreciação e aprovação. A espera foi longa, tanto por parte dos
professores do Departamento como da comunidade, e esta, que já havia
tomado conhecimento da intenção da UFMA de criar o curso, aguardava
ansiosa pelo anúncio do vestibular. Isso, contudo, somente aconteceu
depois de 2 (dois) anos da entrega do projeto e 20 (vinte) anos após a
tentativa inicial. O primeiro curso de Psicologia no Maranhão foi
finalmente criado em 1990, sob a administração do Reitor Jerônimo
Pinheiro, de acordo com o Processo n° 000768/88-24, nas modalidades de
Bacharelado e Licenciatura com o primeiro vestibular realizado em agosto
de 1991. A escolha dessas habilitações iniciais provocou mais tarde sérios
momentos de tensão.
Em entrevista concedida por quatro membros da comissão,
procurou-se saber que ligações tinham com a Psicologia e por que foram
escolhidos para tal tarefa. Os informantes afirmaram serem todos do
Departamento de Psicologia, terem vivência em sala de aula em diferentes
disciplinas de Psicologia nos diversos cursos da UFMA, e, ainda, serem os mais
antigos no Departamento. Relataram, inclusive, as dificuldades e
implicações existentes na criação de um curso, como busca de contatos e
reuniões com professores de outras universidades, análise de currículos
enviados, além das questões burocráticas pertinentes ao processo,
principalmente porque, no caso do curso de Psicologia, contavam na época
com apenas um psicólogo no Departamento, o professor doutor Houshang
Khazrai, mas que, apesar disso, se encontravam abertos para receber
contribuições de outras pessoas. A grande preocupação, conforme
declarado, era a consciência de estarem contribuindo para a futura
formação de profissionais em uma área insistentemente cobrada pela
comunidade em geral. Esse dado pôde ser observado mais tarde através da
demanda para o primeiro concurso vestibular, quando o curso foi o

134
terceiro27 mais procurado e, também, quando 53 (cinquenta e três) alunos
de vários cursos da UFMA solicitaram vagas via transferência para o curso
de Psicologia, conforme consta na Ata do Colegiado de Curso de 8 de
julho de 1993.
Após a decisão da UFMA de criar o curso de Psicologia, embora
estivesse declarado o interesse em receber contribuições externas, não se
encontrou nenhum documento da comissão que indicasse o contato, quer
com os psicólogos que já trabalhavam na cidade, conforme se fez
referência anteriormente, presentes aqui desde 1970, para que
colaborassem na elaboração do projeto, através de suas experiências, quer
com os psicólogos já contratados como técnicos pela própria Universidade.
Tendo em vista as justificativas já apresentadas para a criação do
curso, os informantes apontaram outra, ao afirmarem que, ao longo do
tempo, o Departamento de Psicologia atendeu a algumas solicitações da
UFMA, entre elas a qualificação de seus professores. Como se constatou, o
fato de já existir o Departamento de Psicologia e esses professores
ministrarem disciplinas a quase todos os cursos da UFMA foi um forte
argumento utilizado para justificar a criação do curso. A respeito desses
pontos os informantes foram unânimes, como se pode verificar abaixo:
[...] com quase 25 anos servindo a toda a Universidade e qualificando
seus docentes, o Departamento de Psicologia se empenhou e
enfrentou o desafio da criação do curso, mesmo a despeito do quadro
restrito de professores, acreditando no papel que o profissional da
área p o d e r i a r e p r e s e n t a r n u m e s q u e m a d e desenvolvimento
regional, nas expectativas da comunidade em favor do curso, no
respeito, credibilidade e, sobretudo, na sua identidade. (SOCORRO
POLARY).

Aspiração antiga dos docentes do Departamento de Psicologia desde


1970, quando de sua implementação na UFMA, o curso de Psicologia,
para se constituir, necessitou de uma primeira pesquisa realizada por um
grupo de professores, com o objetivo de definir as necessidades e,

27 Embora no teor do documento pesquisado conste como sendo o terceiro curso mais procurado, em análise
posterior comprova-se que ele ocupa a segunda posição, como pode ser comprovado em quadro anexo.
135
principalmente, o desejo da comunidade de São Luís, dos estudantes do
ensino médio e da Universidade. Depois foram criadas duas
comissões para preparar o projeto do curso, o que só veio a ocorrer
por vontade política da Administração Superior da UFMA nos anos
90. (CONCEIÇÃO JORGE).

A constituição do curso se deu a partir de um grupo de professores do


Departamento de Psicologia que não eram psicólogos, mas que
trabalhavam em disciplinas de Psicologia para outros cursos da UFMA
[...] criado também a partir do interesse e necessidade da comunidade
em geral, expressa através de uma pesquisa realizada nas escolas de ensino
médio de São Luís e da UFMA [...] esse grupo levou em frente essa ideia
até acontecer realmente o curso de Psicologia. (MANOEL WILLIAM).

O curso de Psicologia foi em primeiro lugar um desejo do Departamento


de Psicologia [...] nós nos questionávamos muito a respeito, não tínhamos
identidade própria. A disciplina Psicologia ministrada em
diversos cursos da UFMA permitiu a criação do Departamento de
Psicologia, sendo este o primeiro passo para a criação do curso [.,.] em
segundo, a própria Universidade começou a perceber que tinha
necessidade de criar o curso, que era bom para ela, porque já havia
naquela época vários profissionais, em nossa comunidade, formados em
outras instituições, fora do Maranhão. (HELOISA LEITE).

O Departamento de Psicologia alimentava a ideia de criar o curso de


Psicologia há muito tempo. A chefe do Departamento, professora
Terezinha Godinho, deu os primeiros passos. Muitos cursos de
especialização vinham sendo realizados e este fato foi intensificando a
necessidade de ampliar o raio de atuação do Departamento, que até
então oferecia disciplinas em muitos cursos da Universidade.
(MOACIR COL DEBELLA).

[...] nós já havíamos tentado muitas vezes a criação desse curso em outras
gestões [...] a falta de recursos financeiros para equipamentos,
laboratórios e contratação de professores foi sempre um empecilho
[...] veio a elaboração dos p roj eto s q uando enco ntramo s u ma
certa dificuldade, tendo em vista que teríamos de buscar em outras
instituições uma série de informações, pois não tínhamos onde pesquisar.

136
E o tempo de elaboração desses projetos era em curtíssimo prazo.
(TEREZINHA GODINHO).
Pode-se observar nas falas acima que a necessidade de criação do
curso de Psicologia aparecia de forma mais concreta no empenho dos
professores do Departamento, os quais estavam diretamente envolvidos
com a comunidade e, portanto, eram sempre procurados para informar
sobre uma possível criação do curso. A falta de identidade, apontada por
dois informantes, tem a ver com a ausência do curso, a não formação na
área, o que acarretava certo desconforto, além de que, com o curso,
algumas atividades poderiam ser desenvolvidas, principalmente as
direcionadas à pesquisa e à extensão, que ocorriam de forma escassa no
Departamento. Outro ponto percebido é que havia uma ocupação do
espaço nessa área que, apesar de reduzido, acenava com possibilidades de
expansão, sendo preenchido por profissionais formados em outras
localidades. É interessante observar que a UFMA demorou a perceber a
importância do curso para o Estado: havia uma incoerência entre a
solicitação do projeto e a sua efetivação, principalmente em relação ao
prazo de implantação. Convém destacar que durante o tempo de espera,
para que essa implantação se efetivasse, foram criados 6 (seis) outros
cursos, distribuídos nas áreas de Saúde, Humanas e Tecnológica.
No Projeto... (1988, f.1-2), a comissão desenvolveu várias ideias
para a criação do curso, quais sejam: um curso se operacionaliza ao longo
de um currículo e constitui um conjunto estruturado de conhecimentos que
se requerem mutuamente, a partir de um ponto de vista determinado; o
conhecimento em Psicologia é suscetível de redefinições em função do seu
avanço, mas, sobretudo, em função das respostas que procura dar a uma
determinada realidade; e, principalmente, o estudo de um instrumental
reconhecido como científico não basta se ele permanece totalmente
desvinculado do contato com a realidade social em que se inscreve. É
preciso, portanto, além de preparar o profissional, preparar o pesquisador,
torna-lo capaz de superar a condição de mero consumidor de
conhecimentos e de se defrontar com os problemas da sociedade,
assumindo posição crítica, contribuindo para a sua compreensão e solução.
Daí a necessidade de direcionar o curso para uma perspectiva de

137
compromisso social, considerando em primeiro lugar essa região singular
em termos de Brasil - o Nordeste - que, segundo dados apresentados no
projeto, naquela época apresentava uma realidade com várias dificuldades,
em que conviviam o árido e o fértil, o rural e o urbano, o tradicional e o
moderno, interagindo e modificando-se, mesmo que lentamente, e com
reflexos sobre a mentalidade, a maneira de pensar, de perceber e de viver
das pessoas.
Ainda no Projeto... (1988, f. 3-4), o Maranhão, situa-se num nicho
ecológico, uma região pouco desenvolvida e também não explorada em
termos de conhecimento, que vai do mar até o sertão, povoada pelo homem
tão ligado à sua terra, em constante migração do campo para a cidade, do
norte para o sul, sendo que o enfoque do universo psíquico que acompanha
a trajetória de sua gente torna-se necessário na compreensão dessa
realidade psicossocial.
Foi com essa intenção que os participantes da comissão entenderam
que havia uma lacuna no quadro a ser preenchida com o profissional de
Psicologia. Essa lacuna se refletia, no Estado, nos programas de
desenvolvimento econômico, nos planos de pesquisa e comunicação, no
ensino de nível médio, na tecnologia e na saúde, ou seja, no próprio
desenvolvimento da região. Assim se posicionaram na justificativa do
projeto:
[...] Necessária se faz a presença de profissionais capazes de penetrar na
realidade concreta em que se inserem, para conhecê-la e agir de acordo
com ela, sem o transplante de modelos importados. (PROJETO...,
1988, f. 4).
As ideias trabalhadas pela comissão permitiram um estudo das
diretrizes que norteariam a apresentação dos conhecimentos psicológicos a
serem incorporados pelos alunos, entre eles: conhecimentos básicos da
ciência psicológica e de outras ciências que fundamentam e
complementam o estudo dos fenômenos psicológicos, como também uma
reflexão epistemológica sobre a Psicologia, de modo a colocar em
perspectiva a diversidade de teorias e métodos que coexistem nessa
ciência.

138
A partir dessas ideias, foi proposto um currículo que buscasse
estabelecer campos de análise específicos com os quais se fundamentaria a
intervenção do profissional dessa área em diferentes contextos, de modo a
lhe permitir compreender o conjunto de determinações (sociais, políticas e
ideológicas), bem como a perspectiva histórica da Psicologia no Brasil.
Cabe aqui destacar a importância de contemplar, nessa época, a Psicologia
no Brasil como um ponto positivo dessa proposta curricular, uma vez que
em muitos currículos de cursos de Psicologia ela é pouco valorizada.
A partir dessas considerações e análises de currículos de outras
universidades brasileiras, o curso foi organizado de uma forma que
possibilitaria a integração das disciplinas do currículo mínimo definido
pelo Conselho Federal de Educação (CFE), com duração de 3.240 (três
mil, duzentas e quarenta) horas para o Bacharelado e 3.420 (três mil,
quatrocentas e vinte) horas para a Licenciatura, composto de disciplinas
nucleares, complementares (obrigatórias), eletivas, legislação específica,
disciplinas eletivas, Estágio Supervisionado e monografia de conclusão de
curso (este último sempre presente em todas as reformulações).
Nessa proposta, a comissão procurou não enfatizar divisões como
Psicologia Geral, Psicologia Experimental e Psicologia da Personalidade,
muito atreladas a uma tradição positivista. Entretanto, por exigência do
currículo mínimo, foi mantida, em caráter formal, a denominação
tradicional das disciplinas, ficando registrada ao lado a terminologia
proposta. Para tanto, no Projeto... (1988, f. 35-41), foi definida a seguinte
estrutura:
1. Eixo das Macro-Teorias, em que se concentrava o conhecimento
teórico básico do curso, organizado deforma que o aluno
pudesse ter uma visão simultânea de diferentes abordagens
teóricas da Psicologia, bem como das disciplinas ligadas
diretamente à questão do desenvolvimento (Psicologia Geral I, II
e III — Teorias da Consciência I, II e Psicologia Experimental I,
II e III — Teorias do Comportamento I, II e III, Psicologia da
Personalidade I, II e III — Teorias do Inconsciente I, II e III e
Psicologia Evolutiva I e II);

139
2. Eixo da Filosofia, que proporcionaria ao aluno condições de
análise, reflexão crítica e compreensão das questões filosóficas
associadas aos sistemas teóricos em Psicologia (Iniciação ao
Pensamento Filosófico, Antropologia Filosófica e Metodologia
Científica);
3. Eixo da Sociologia, Antropologia, Psicologia Social, um estudo
da sociedade humana, que forneceria ao aluno uma base teórica
e um espaço para relativizar a Psicologia e sua prática em termos
do contexto social (Sociologia, Antropologia Cultural e
Psicologia Social I e II);
4. Eixo da História Social da Psicologia, que se juntava aos dois
anteriores com o objetivo de fornecer ao aluno elementos para
contextualizar a Psicologia e sua prática (História da Psicologia
Social no Brasil e Introdução à Psicologia);
5. Eixo da Biologia, cujo conhecimento, de caráter mais geral, era
considerado necessário ao profissional da Psicologia (Biologia e
Neurofisiologia I e II);
6. Eixo da Pesquisa, que oferecia um espaço relevante para o
estudo da pesquisa e suas técnicas, considerando-se não só o
aspecto profissionalizante do curso, mas também, e sobretudo, a
preparação para a produção científica no curso universitário
(Matemática, Estatística I e II, Pesquisa Experimental em
Psicologia e Pesquisa não Experimental em Psicologia);
7. Eixo Profissionalizante, no qual os conteúdos diziam respeito de
forma mais direta à prática do profissional de Psicologia
(Psicopatologia I e II, Medidas em Psicologia, Psicologia Social
Comunitária, Psicologia Social das Organizações, Psicologia
Escolar, Psicologia Ecológica, Dinâmica de Grupo e Relações
Humanas, Marginalidade Social e Psicologia do Excepcional) e
no qual se encontravam também as disciplinas de formação
pedagógica destinadas ao aluno de Licenciatura (Didática I, II e
Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1° e 2° graus);

140
8. Eixo do Ciclo Geral de Estudos, em que se concentravam, por
exigência do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão
(CONSEPE), através da Resolução n° 40/88-CONSEPE, as
disciplinas instrumentais Métodos e Técnicas de Estudo e
Pesquisa Bibliográfica e Língua Portuguesa, além das
disciplinas da legislação específica, Estudo de Problemas
Brasileiros I e II e Prática Desportiva — (Educação Física I, II,
III e IV).
As disciplinas eletivas (Psicologia Preventiva, Psicologia
Diferencial, Psicofarmacologia, Sociologia do Desenvolvimento,
Psicologia da Criatividade, Psicologia da Comunicação, Psicologia da
Indústria, Psicologia Aplicada à Administração, Introdução à Educação e
Família na Sociedade) seriam oferecidas a partir do 5° período, tendo o
aluno do Bacharelado que cursar obrigatoriamente cinco disciplinas, e o de
Licenciatura, quatro.
Essa forma de cursar as disciplinas eletivas era determinada pela
própria divisão das vagas oferecidas pelo curso, com 15 destinadas ao
Bacharelado e 15 à Licenciatura Plena. Previstas na admissão no curso,
essas opções foram retiradas quando da primeira reformulação do projeto.
O Estágio Supervisionado (Estágio Curricular) fazia parte da vida
acadêmica do aluno a partir do 8° período, devendo obedecer às normas de
estágio da Universidade Federal do Maranhão UFMA — Departamento de
Psicologia.
Conforme se observou, além da necessidade de criação do curso
(justificativa) e do currículo proposto para tal fim, fizeram parte também
do Projeto... (1988, f. 5) os objetivos, o perfil profissiográfico, o
regulamento de funcionamento do curso e a previsão de necessidades para
a sua implantação. Quanto aos objetivos gerais estabelecidos no Projeto...
(1988, f. 5), podem-se relacionar:
a) formar profissionais capazes de conhecer a realid ade
psicossocial brasileira e de nela integrar-se como agentes de
transformação;

141
b) o f e r e c er f o r ma ç ã o t e ó r i c o -p r á t i c a ne c ess á r i a ao
conhecimento da dinâmica psicossocial das organizações
com a finalidade de operacionalizar técnicas psicológicas
que ensejem a minimização dos conflitos psicossociais;
c) capacitar bacharéis e licenciados em Psicologia com o fim
de promover o ajuste individual e social do ser humano,
bem como de exercer o magistério das disciplinas de sua área
em diferentes instituições de ensino;
d) propiciar conhecimentos básicos de ciência, necessários à
investigação psicológica, para o desenvolvimento do
espírito crítico.
De acordo com os objetivos citados, o profissional de
Psicologia, formado pela UFMA, seria aquele que estuda os aspectos
psicológicos da vida humana; que descreve, analisa e explica o
comportamento; que é capaz de interagir com pessoas, com
flexibilidade em sua adaptação ao ambiente e às situações; que
estabelece formas variadas de relação interpessoal assim como tem
interesse científico pelos problemas humanos; que utiliza métodos
científicos para a interpretação da realidade do homem numa
perspectiva crítica e transformadora. Esse perfil foi apresentado
considerando-se a formação do profissional nessas habilitações.
Assim:
a) o bacharel em Psicologia é o profissional capacitado para
estudar e avaliar os mecanismos do comportamento,
habilitado para a pesquisa psicológica, podendo realizar
pesquisas, planos e projetos pertinentes à realidade
psicossocial;
b) o licenciado em Psicologia é o profissional capacitado a
estudar e avaliar os mecanismos do comportamento,
podendo realizar pesquisas, planos e projetos pertinentes à
realidade psicossocial e educacional, como também
exercer o magistério em disciplinas de Psicologia.

142
O dado mais importante no Projeto... (1988) foi a escolha dessas
habilitações. Assim sendo, tentou-se verificar com os fundadores os
mecanismos que influenciaram essa decisão. Acreditou-se ser necessário
conhecer as razões dessas opções para entender os efeitos delas advindos.
Algumas das respostas obtidas foram:
[...] essas escolhas surgiram como uma resposta das próprias
características do Departamento. Formado por pedagogos e filósofos,
preocupou-se primeiro em habilitar profissionais para atender à
demanda de docentes na comunidade. A ideia inicial era a implantação
progressiva da habilitação Formação de Psicólogo [...] daí resultou o
interesse e a preocupação em montar um curso que se identificasse
com as necessidades do Departamento e, por extensão, com as
necessidades do mercado de trabalho. (MOACIR COL DEBELLA).

A escolha das habilitações do curso de Psicologia, descritas no projeto


e aprovadas pelos Colegiados Superiores da UFMA, deveu-se ao fato
de haver recursos humanos e materiais no Departamento de
Psicologia, naquela ocasião, apenas para aquelas duas
habilitações. (CONCEIÇÃO JORGE).

[...] essas habilitações ocorreram considerando-se o quadro


profissional do Departamento de Psicologia [...] composto em sua
maioria de pedagogos e filósofos especialistas em diversas
áreas da Psicologia, aguardando-se a expansão do quadro e a entrada de
psicólogos, um compromisso da Administração Superior da UFMA.
(SOCORRO POLARY).

O curso elaborado não foi de Formação de Psicólogo, e isso ocasionou uma


certa confusão. Decidimos então criar as habilitações de Bacharelado e
Licenciatura [...] pode ter sido um pouco de falha nossa [da comissão],
porque era mais fácil criar dessa maneira e porque não tínhamos o quadro
de professores. Esse pensamento era compartilhado pelo grupo [...] um
fato é criar o curso, outro é ter professores para dar aula, cuja autorização
para contratação era feita pelo MEC. Foi uma necessidade de facilitar a
criação, depois as modificações iriam surgindo naturalmente. (HELOISA
LEITE).

143
[...] era difícil criar um curso de Psicologia com essas habilitações. O que
dizer então do curso de Formação de Psicólogo, se esse curso exigia
maiores recursos para criação de laboratórios, clínicas etc.? [...] a
dificuldade era grande [...] para não dar um passo temerário, a comissão
decidiu inicialmente que seria criado dessa forma, com projeção
futura para Formação de Psicólogo, embora sabendo que o grande
anseio da comunidade era essa habilitação. Isso gerou posteriormente
sérios problemas para o curso. Fomos então ao Reitor falar de nossa
dificuldade e ele disse: 'um curso não se cria por inteiro, se cria por
semestre, então vamos avançar aos poucos' e resolvemos prosseguir.
(TEREZINHA GODINHO).

[...] não houve intenção inicialmente de escolher a habilitação de


Formação de Psicólogo, visto que naquela época havia grande
dificuldade de professores na área da Psicologia, haja vista o número
reduzido de psicólogos na cidade. Para que pudéssemos iniciar o curso,
teríamos, naquele momento, de ter em nosso quadro um número de 22
(vinte e dois) professores com DE (Dedicação Exclusiva) e formação
em Psicologia. Para ilustrar essa situação, podemos citar os diversos
concursos realizados pelo Departamento de Psicologia, onde os
candidatos eram de outros Estados brasileiros, além de um concurso
sem inscritos e outros com total desistência, ficando a Banca
Examinadora composta de professores de outras Instituições de Ensino
Superior, sem atividade. (MANOEL WILLIAM).
Ao decidirem criar o curso com as habilitações de Bacharelado e de
Licenciatura, a comissão sabia das consequências advindas dessa decisão,
mas não previa que fosse mais tarde alvo de tantas turbulências diante da
expectativa dos candidatos ao vestibular que ansiavam pela criação de um
curso de Psicologia (Formação de Psicólogo) em São Luís. Ao ingressarem
no curso e ao tomarem conhecimento de que se tratava de Licenciatura e
Bacharelado, os alunos organizaram-se em protestos e reivindicações,
visando à criação da habilitação de Formação de Psicólogo que, na
realidade, era a por eles pretendida. A comissão, no entanto, sentia-se
impotente para modificar o curso, tendo em vista a Universidade não ter
oferecido condições para tal. Esse fato envolveu, além da comunidade
universitária, a ludovicense, e esse envolvimento, posteriormente, implicou

144
na criação do curso de Psicologia do Centro Universitário do Maranhão
(UniCEUMA), como será abordado mais adiante.
A grande discussão da época era saber se os alunos tinham ou não
conhecimento de que o curso oferecia apenas aquelas habilitações. Na
realidade, ao prestarem vestibular, eles pensavam que estariam formados
como psicólogos e isso de fato não ocorria, o que ocasionava grande
descontentamento no corpo discente. Conforme dados colhidos com dois
membros da comissão, os alunos tinham conhecimento das habilitações
por elas constarem no Manual do Vestibular, onde se encontrava
explicitado o curso oferecido, as modalidades e o campo de atuação,
embora concordassem com a possibilidade de eles não terem lido o
informativo. A primeira coordenadora do curso, professora Heloisa
Moreira Lima Leite, que permaneceu até fevereiro de 1993, afirmou:
[...] constava no Manual do Vestibular que o curso oferecido só tinha
Licenciatura e Bacharelado. Eles não tinham lido o manual e, na cabeça
deles, era Psicologia Clínica [...] eu levei para a sala de aula essas
informações e apresentei a eles o curso, dizendo do que se tratava. O erro,
no caso dos nossos alunos, foi assinar e se inscrever sem ler o que
estavam fazendo. No primeiro ano os alunos criaram muita confusão
[...].
Para a segunda coordenadora do curso, que assumiu nesse mesmo
ano, a professora Loide Célia de Brito, houve uma certa dificuldade de
interpretação. Disse ela: "Creio que a maioria tinha conhecimento, mas
eles pensavam que o Bacharelado era que dava direito a ter a Formação de
Psicólogo".
Como se pode perceber, embora a execução do Projeto... (1988)
tenha se retardado muito, a comunidade só estava informada de que seria
criado o curso de Psicologia, mas pouco sabia de sua estruturação. Não
houve por parte da UFMA e nem do Departamento de Psicologia maiores
esclarecimentos sobre que tipo de profissional seria formado. Como já
referido, o anseio da comunidade era muito grande, pois o pensamento era
de que se formariam psicólogos clínicos, não havendo por nenhum
momento dúvidas quanto à não inclusão da habilitação em Formação de
Psicólogo.
145
Esta nova habilitação só foi aprovada e efetivada em 1994, e, por
uma outra falha da Instituição, durante muito tempo — até 1998 — ela não
constava no Manual do Vestibular. Muitos candidatos ao curso acabaram
desistindo desse intento devido a comentários de que o curso da UFMA só
oferecia Licenciatura e Bacharelado. Esse fato repercutiu na comunidade e
foram constantes as explicações dos professores do Departamento de
Psicologia e da Coordenação do Curso a esse respeito. A última
informação que se tem a respeito dessa situação, datada desse ano (2002),
se refere àquela contida na home page da UFMA que apresenta o curso
ainda com aquelas duas habilitações. Somente ao descrever a grade
curricular é que se refere à habilitação Formação de Psicólogo, gerando
equívocos e confusões sobre o curso. Ao longo desses anos o maior
divulgador sobre as habilitações oferecidas tem sido o próprio aluno.
O currículo, de acordo com as informações obtidas nas entrevistas,
foi baseado em grande parte no projeto de reformulação curricular que
estava em estudo na Universidade Santa Úrsula no Rio de Janeiro, como
no de outras como a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a
Universidade Federal da Paraíba e a Universidade Federal de Pernambuco.
Nesse sentido, a professora Terezinha Godinho comenta a escolha dessas
Universidades que serviram de parâmetro na montagem do curso proposto:
[...] nós tivemos acesso a outras universidades, mas a Santa Úrsula foi a
principal, pela facilidade de poder tirar dúvidas a partir do contato que
tínhamos com os professores que nos auxiliaram na elaboração do
projeto, pois foram eles que anteriormente vieram dar cursos de
especialização para os docentes do Departamento de Psicologia.
Esse relato é confirmado pela professora Socorro Polary: “A
comissão pesquisou e analisou vários projetos de cursos, optando, na
estruturação curricular, pelas diretrizes delineadas na Universidade Santa
Úrsula, em estudos realizados naquele momento”.
Com relação à declaração dos informantes, a decisão da escolha por
essa Universidade deveu-se ao fato, já referido, de o professor João
Ferreira da Silva Filho, docente daquela Instituição, ter vindo ministrar
cursos para os professores do Departamento de Psicologia. A proximidade
desse professor, por ter familiares na cidade, propiciou uma integração e
146
um interesse por parte dos docentes da UFMA, já que o acesso a outras
instituições, naquela época, era mais difícil.
Continuando sua trajetória na Pró-Reitoria de Graduação (PROG), o
Projeto... (1988) foi analisado e o Parecer nº 24/88, da técnica de assuntos
educacionais, Lidmar Figueiredo V. Pereira, considerou pertinente a
necessidade social proposta, as habilitações de Bacharelado e Licenciatura,
os objetivos, o perfil profissiográfico, admitindo que atendiam à Resolução
de 19 de dezembro de 1962 do Conselho Federal de Educação e ao Parecer
n° 403/62, que fixa os mínimos de conteúdos e a duração do curso, e
regulamentam a profissão. Contudo, solicitou algumas providências que
julgou necessárias, visando particularmente o posterior reconhecimento do
curso pelo Conselho Federal de Educação. As principais exigências
referiam-se à ausência da minuta do anteprojeto de resolução, cujo teor era
o próprio regulamento do curso; de docentes para ministrar a maioria das
disciplinas que constavam no currículo; de informações sobre a biblioteca
(títulos e periódicos), indispensável ao bom andamento do curso.
Referiam-se, ainda, à necessidade de acertos na creditação de disciplinas;
de alteração da estrutura curricular na parte referente às disciplinas
pedagógicas e outras; e da mudança do curso do Centro de Estudos
Básicos (CEB) — nova denominação do Centro de Estudos Gerais — para
o Centro de Ciências Sociais (CCSo), como se pode ver a seguir:
[...] a alocação do Curso no Centro de Estudos Básicos naturalmente ocorreu
em função do Departamento de Psicologia, que abrange maior número
de disciplinas do curso. Essa área de conhecimento, no entanto, deveria
estar alocada no Centro de Ciências Sociais, sendo necessária uma revisão
nesse campo na Universidade, a fim de que a distribuição dos
Departamentos e Cursos, nos respectivos Centros, corresponda às áreas de
conhecimento [...] (PROJETO..., 1988, f. 55).
O projeto retornou ao Departamento de Psicologia, onde a comissão
atendeu às solicitações da relatora, principalmente as referentes à estrutura
curricular, e enviou-o ao Centro de Estudos Básicos, que novamente o
encaminhou à PROG, onde por duas vezes foi analisado e as relatoras
Edna Antônia Pinheiro Costa (técnica em assuntos educacionais) e Maria
de Fátima R. Caracas (subcoordenadora de graduação) enfatizaram os três

147
pontos contidos no primeiro parecer, a saber: 1) a efetiva disponibilidade
de meios necessários ao funcionamento do curso, referente à instalação,
manutenção, execução e, principalmente, à falta de docentes para ministrar
a maioria das disciplinas; 2) o acervo bibliográfico, indispensável e
imprescindível para um bom andamento do curso e seu posterior
reconhecimento; 3) a alocação do curso no Centro de Ciências Sociais.
Desse modo, o projeto retornou ao Centro de Estudos Básicos e o Diretor
solicitou que a chefe do departamento de Psicologia, como membro desse
Conselho, relatasse o projeto do curso, considerando as ponderações feitas.
Em seu parecer, a professora Socorro Polary retomou a questão da
necessidade social do curso de Psicologia para o Maranhão, ressaltando
pontos contidos no projeto do curso, detendo-se nas apreciações relatadas,
dizendo que as modificações solicitadas em relação à alocação de
disciplinas haviam sido atendidas. No tocante à disponibilidade de meios,
manifestou sua posição e a do Departamento de Psicologia:
[...] é preciso superar as limitações sem prejudicar a implantação de
um curso, por não ter as condições ideais. Esta posição é unânime
no Departamento de Psicologia mesmo porque existe há quase 25
anos, serve a toda a Universidade e se ressente da falta do seu
próprio Curso que, sem dúvida alguma, virá conferir ao
Departamento maior identidade, maior força, respeito e
confiabilidade a nível desta Universidade e da sociedade como um
todo. (PROJETO..., 1988, f. 107).
E quanto à alocação do curso, a professora Socorro Polary assim se
manifesta: "[...] nos parece ser mais uma questão de revisão do nome do
Centro (Estudos Básicos) que, a nosso ver, não define sua abrangência,
questão que deve ser estudada e repensada na UFMA" (PROJETO..., 1988,
f. 107).
Como se pode perceber, essas observações demonstravam o nível de
insatisfação dos professores do Departamento de Psicologia em aceitar
prorrogar por mais tempo a implantação do curso. De um lado, não
contavam com situações ideais de funcionamento — como, aliás, é a
situação até o presente (2002) —, de outro, tinham que admitir a mudança
do curso para outro Centro, isto porque o Departamento, desde a
148
implantação da departamentalização em 1970, fazia parte do Centro de
Estudos Gerais (primeira denominação do Centro de Estudos Básicos) e
havia uma promessa de que, no novo prédio a ser construído, o curso teria
espaço destinado a suas instalações.
Com a aprovação do parecer da professora, o Diretor do Centro de
Estudos Básicos, professor Moacir Antônio Col Debella, enviou o Projeto... (1988),
em julho desse ano, para apreciação pelo Conselho Universitário
(CONSUN). Em seu despacho um dado chama atenção no que se refere à
alocação do curso:
[...] tendo em vista também, além do argumento levantado pela relatora,
que o Centro programou, em termos de espaço físico, laboratório e
salas de professores [...] será o primeiro curso de Psicologia do
Brasil a iniciar suas atividades com um Centro de Psicologia Aplicada,
que comportará diferentes equipamentos e salas especiais a servirem
tanto à comunidade quanto à clientela do curso no novo prédio do
CEB. Desta forma seria um contra-senso deslocar o curso para o Centro
de Ciências Sociais. (PROJETO..., 1988, f. 108).
O espaço físico que era um fator importante para o funcionamento
do curso, simplesmente não existia. Embora tivesse sido solicitado desde a
proposta de criação, somente foi conseguido em 1995, quando da
administração do Reitor Aldy Mello de Araújo. O investimento por parte
da UFMA na construção de um novo prédio para instalação do Núcleo de
Psicologia Aplicada, com todo o equipamento de laboratório e campo de
estágio específico, já visava à futura implementação da habilitação
Formação de Psicólogo, que não podia mais ser adiada, sob pena de causar
prejuízos aos alunos, à própria Universidade e à comunidade maranhense.
Esse processo foi agilizado com a colaboração do professor do
Departamento de Psicologia, Moacir Antônio Col Debella, que na época
assumira a direção do Centro de Estudos Básicos. Embora considerasse sua
participação como modesta, seu próprio relato mostra a importância de sua
atuação:
[...] este apoio se traduziu pela preocupação em adquirir o Laboratório de
Psicologia, a ser organizado no novo prédio com a participação do
professor Houshang Khazarai, que desenvolveu o projeto estrutural,

149
definiu equipamentos e acompanhou a implantação, sendo que sua saída
da UFMA, antes do término dessa implantação prejudicou sensivelmente
a execução do projeto, que só foi reorganizado a partir da entrada de
psicólogos no Departamento, após a realização dos concursos.
Nesse sentido, a questão do melhor lugar para o curso se instalar
estava praticamente solucionada, uma vez que o parecer posterior emitido
pela Secretaria dos Colegiados Superiores foi favorável à permanência do
curso no Centro de Estudos Básicos (CEB), com a proposta de criação do
novo prédio com instalações destinadas a atender ao curso. Dois aspectos
chamam a atenção: de um lado, o nome do Centro, que deixou de ser
relevante quando passou a se denominar Centro de Ciências Humanas
(CCH); e de outro, a afirmação do Diretor de que havia a intenção de
posteriormente ser incluída a habilitação Formação de Psicólogo, que
nesse período não tinha possibilidade de ser implantada.
Depois de entregue, em 12 de julho desse ano, pelo Centro de
Estudos Básicos para ser votado no Conselho Universitário, o Projeto...
(1988) foi retirado de pauta em agosto do mesmo ano, a pedido da
Administração Superior, por falta de recursos necessários à implantação de
um novo curso à época, retornando à PROG por solicitação daquele órgão
e voltando à Secretaria dos Colegiados Superiores em 30 de outubro de
1990, para ser apreciado na sessão do CONSUN, de 05 de novembro de
1990, através da relatora Iraci de Jesus Barros Malheiros. O CONSUN foi
favorável à criação do curso, após considerar que o currículo fora
atualizado e após ouvir o Diretor do CEB a respeito dos entendimentos da
Administração Superior com o Departamento de Psicologia sobre a
possibilidade de serem colocados três funcionários formados em
Psicologia para dar apoio ao curso em tempo total ou parcial. Aprovado,
por unanimidade, o parecer da relatora se transformou na Resolução n°
13/90-CONSUN, onde consta que o Processo n° 000768/88-24, em
decorrência da premência do tempo, necessitava ser atualizado. Para tanto,
uma comissão deveria ser designada pela PROG, para proceder à revisão
do Projeto... (1988) e submetê-lo novamente à aprovação do Conselho
Universitário no prazo de 5 (cinco) meses.

150
Em janeiro de 1991, a Pró-Reitoria de Graduação designou um
grupo de estudo para proceder à atualização do Projeto... (1988), através da
Portaria n° 001-PROG, composto por quatro técnicos e dois professores, a
saber: Alzira Maria Barbosa Pinheiro Nunes (coordenadora), Claudia
Sousa Bacelar (psicóloga), Edna Antonia Pinheiro Costa (técnica em
assuntos educacionais), Heloisa Moreira Lima Leite (professora do
Departamento de Psicologia), Moema Figueiredo Viana Pereira Brandão
(advogada) e Teresinha de Jesus Rocha Raposo (professora do
Departamento de Psicologia), com data limite de entrega em 31 de março
de 1991. De acordo com o documento, a comissão solicitou a prorrogação
do prazo de entrega, considerando ser o projeto uma experiência inovadora
e destacando a necessidade de subsídios que assegurassem uma estrutura
adequada para a implantação do curso, fazendo-se necessária a
participação de um consultor junto à equipe.
O projeto de reformulação ficou pronto em janeiro de 1992 e
aprovado pela Resolução n° 08/92-CONSUN. Nele ocorreram mudanças:
no currículo, como se observará mais adiante; nos turnos de
funcionamento, de matutino-vespertino para véspero-noturno; na forma de
entrada no curso, quando havia a divisão de habilitações, passando a
escolha de habilitação a ser feita somente a partir do 7º semestre letivo, de
modo que o aluno só teria acesso a outra habilitação mediante novo
vestibular, ou mediante vagas para graduados; na implantação do regime
semi-seriado, com eliminação das disciplinas eletivas. Vale conferir como
algumas dessas decisões alteraram a dinâmica do curso.
No que diz respeito aos turnos de funcionamento do curso, essa foi
uma experiência que, na prática, demonstrou causar dificuldades para os
alunos, pois algumas disciplinas tinham suas aulas iniciadas no final do
turno vespertino e a maior parte se concentrava no turno noturno. Ao longo
desse tempo a situação vem sendo modificada, pois os alunos, a partir do
ano de 1999, iniciam suas atividades no turno vespertino e terminam no
primeiro horário do turno noturno. A proposta em estudo pretende
concentrar as atividades de sala de aula somente no turno vespertino, o que
ainda não foi possível devido à extensa carga horária, conforme a grade
curricular do curso.

151
Quanto ao regime adotado, o semi-seriado está em vigor até o
momento (abril de 2002). Nesse regime a inscrição é realizada em blocos
de disciplinas em cada semestre letivo, o que também tem causado sérias
dificuldades para alunos e professores, uma vez que, em razão da entrada
anual dos alunos e da carência de professores as disciplinas só são
ministradas uma vez ao ano, ficando os reprovados sem condições de
cursar novamente a(s) disciplina(s). Contudo o Art. 3 da Resolução n°
02/94-CONSUN é esclarecedor parágrafos que asseguram ao aluno esse
direito:
§ 2° O aluno que não obtiver aprovação em mais de 02
(duas) disciplinas do bloco cursado será,
automaticamente, considerado reprovado e obrigado a
inscrever-se apenas nas disciplinas em que ficou
reprovado.
§ 3° Ficando reprovado em até 02 (duas) disciplinas
do bloco, o aluno deverá recuperá-las no término do
semestre letivo correspondente, desde que a soma total
das mesmas não ultrapasse 120 (cento e vinte) horas.
§ 4° O aluno terá direito a inscrever-se no bloco
fixado para o semestre letivo subsequente e cursar, sob
forma de 'dependência', até 02 (duas) disciplinas do
semestre anterior nas quais não obteve aprovação na
recuperação, desde que as mesmas não correspondam
a matéria do currículo mínimo (PROJETO..., 1993a,
f.110).
Entre outros problemas verificados ao longo desses 11 (onze) anos,
o mais comum é que, na maioria das vezes, na prática, o sistema semi-
seriado não acontece. Os blocos de disciplinas que deveriam ser cursadas
pelos alunos são alterados em decorrência da falta de professores. Devido a
essa escassez, torna-se delicada a ampliação do número de vagas, embora
exista demanda da comunidade. O curso oferece 30 (trinta) vagas anuais
(tendo sido acrescidas a partir do Vestibular/02 com mais 6 (seis) vagas).
Um ponto que merece ser comentado, é que o Departamento de Psicologia
se ressente de um quadro de professores para atender às recomendações do
regime adotado.
152
Caberia aqui questionar o trabalho realizado pela comissão, quanto à
possibilidade da introdução, naquele momento, da habilitação de Formação
de Psicólogo, pois havia se passado 1(um) ano da entrega do projeto e a
comissão poderia ter sugerido uma mudança de direcionamento do curso,
contemplando essa habilitação, tendo em vista os protestos dos alunos que
vinham ocorrendo no interior do curso, como foi aludido anteriormente.
Em consulta à nova proposta apresentada pela comissão, no que se
refere ao projeto, observou-se que a apresentação, as ideias trabalhadas e a
justificativa permaneceram as mesmas do projeto original, embora a carga
horária tenha sido alterada para 3.390 (três mil, trezentas e noventa) horas
para o Bacharelado e 3.630 (três mil, seiscentas e trinta) horas para a
Licenciatura. No que se refere aos objetivos já citados ocorreram pequenas
mudanças na definição para o licenciado e para o bacharel, assim como no
perfil profissiográfico.
A alteração que se processou no currículo foi a inclusão e retirada de
disciplinas e adendos dentro dos eixos já existentes, conservando-se os
enunciados anteriormente apresentados. Conforme a reformulação e
atendendo à equivalência do Currículo Pleno da UFMA com o Currículo
Mínimo do Conselho Federal de Educação, a proposta apresentada ficou
assim definida:
1. Eixo das Macro-Teorias, em que foram mantidas as disciplinas
Teorias da Consciência I, II e III, Teorias do Inconsciente I e II,
Teorias do Comportamento I e II e Psicologia Evolutiva I e II,
adotando a nomenclatura Psicologia do Desenvolvimento I e II e
incluindo Teorias e Sistemas I e II;
2. Eixo da Filosofia, em que foi mantida a disciplina Metodologia
Científica, suprimidas Iniciação ao Pensamento Filosófico e
Antropologia Filosófica e incluídas Lógica, Filosofia da
Educação (Licenciatura) e Filosofia das Ciências Sociais;
3. Eixo da Sociologia, Antropologia, Psicologia Social, em que
foram conservadas as disciplinas Antropologia, Sociologia e
Psicologia Social I e II, foi retirada Antropologia Cultural e
introduzida Sociologia do Desenvolvimento;
153
4. Eixo da História da Psicologia (antes sob a denominação de
Eixo da História Social da Psicologia), de onde foram retiradas
História da Psicologia Social no Brasil e Introdução à
Psicologia, e acrescentada História da Psicologia;
5. Eixo da Biologia, em que foi mantida Neurofisiologia I e II,
retirada Biologia e incluídas Psicopatologia I e II e
Neuroanatomia;
6. Eixo da Pesquisa, em que foi mantida a disciplina Estatística I e
II, suprimida Matemática e ainda as disciplinas Metodologia da
Pesquisa não Experimental em Psicologia e Pesquisa
Experimental em Psicologia, com a antiga nomenclatura e
adendos (Psicologia Experimental I e II);
7. Eixo Profissionalizante, em que foram conservadas Psicologia
Social Comunitária, Psicologia Social das Organizações,
Psicologia Escolar, Psicologia Ecológica, Medidas em
Psicologia, Dinâmica de Grupo e Relações Humanas,
Marginalidade Social e Psicologia do Excepcional, acrescidas
Psicofarmacologia, Psicolinguística, Psicologia da Criatividade,
Psicologia Diferencial, Psicologia Clínica, suprimida
Psicopatologia I e II (que passou a fazer parte do Eixo da
Biologia) introduzidas, para a formação pedagógica, Filosofia da
Educação, Prática de Ensino, Estágio Curricular e mantidas
Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1 e 2° graus e Didática
(sem os adendos I e II);
8. Eixo do Ciclo Geral de Estudos, em que foram mantidas as
disciplinas instrumentais Métodos e Técnicas de Estudo e
Pesquisa Bibliográfica e Língua Portuguesa, além das
disciplinas da legislação específica, Estudo de Problemas
Brasileiros I e II e Prática Desportiva I, II, II e IV.
As disciplinas eletivas constantes no primeiro currículo, em função
do regime adotado, já não fazem parte desta grade curricular. Algumas
passaram para o Eixo Profissionalizante, outras foram retiradas (Psicologia
Preventiva, Sociologia do Desenvolvimento, Psicologia da Comunicação,
154
Psicologia Aplicada à Administração, Introdução à Educação e Família na
Sociedade), ficando a disciplina Psicologia Industrial, com a nomenclatura
Psicologia Organizacional, incluída em reformulações posteriores
(PROJETO..., 1988, f. 121-122).
Procedida a revisão, o Projeto... (1988) foi enviado para o
CONSUN em 15 de setembro de 1992, quando o curso já se encontrava em
pleno funcionamento. O parecer da relatora Maria José das Mercês Farias
considerou que todas as alterações e, principalmente, o currículo do curso
foram atualizados pela comissão, atendendo às exigências legais,
conceituais e de formação profissional. Essa análise foi procedida após
uma síntese de todo o projeto do curso, especialmente no tocante à
estruturação curricular considerada bem elaborada a partir dos eixos
epistemológicos que, segundo ela, deveriam possibilitar a integração dos
currículos das disciplinas, o que evitaria o paralelismo, a dispersão e a
repetição.
Como se pode observar, a gestação do curso de Psicologia na
Universidade de Federal do Maranhão foi bastante demorada, com muitas
idas-e-vindas, ocasionando desgaste ao corpo docente do Departamento de
Psicologia e à comunidade, fazendo com que muitos alunos deixassem de
lado a opção pela Psicologia.
Uma questão crítica durante toda a trajetória do curso de Psicologia,
e que permanece até hoje — 2002, diz respeito à contratação de
professores. Essa necessidade, como se constatou, foi sentida desde sua
criação e observada por inúmeros pareceres constantes do projeto em favor
da composição de um quadro docente que atendesse à realidade do curso.
Segundo informações não oficiais, o curso deveria ter um quadro com 22
(vinte e dois) professores com regime de trabalho de Dedicação Exclusiva
(DE).
Quando o curso entrou em funcionamento, o Departamento de
Psicologia contava com 13 (treze) professores, sendo 2 (dois) doutores, 2
(dois) mestres e 9 (nove) especialistas. No período de 1990 a 1995, 1 (um)
professor solicitou exoneração e 10 (dez) se aposentaram, alguns deles
para não perder as vantagens oferecidas, em decorrência da implantação do

155
Regime Jurídico Único, fato que atingiu toda a rede pública de
universidades. Assim, do antigo quadro permaneceram somente 2 (dois)
docentes, o que tornava a situação cada vez mais crítica, a ponto de ser
solicitada a abertura de concursos à Administração Superior. No período
compreendido entre 1991 e 1996, esses concursos foram sendo realizados,
em diversas áreas do conhecimento, permitindo a entrada de 20 (vinte)
professores, sendo 17 (dezessete) psicólogos, (12 graduados, 3
especialistas e 2 mestres), 2 (dois) médicos psiquiatras, 1 (uma) pedagoga
(com mestrado em Psicologia da Personalidade). Observe-se que 8 (oito)
desses novos professores tinham formação em Psicanálise, o que, de certa
forma, pode ter causado alguma influência no curso, como já se comentou
e se voltará a comentar a seguir.
Com relação ao primeiro concurso realizado nas áreas clínica e
escolar ocorreram dois fatos marcantes: para a primeira não houve
inscrições e para a segunda os candidatos não compareceram para a
realização dos exames. Isso demonstrou a principal dificuldade para a
criação do curso — a distância dos centros desenvolvidos, responsável
pelos grandes transtornos para a continuidade do curso, principalmente
devido ao regime adotado (semi-seriado). Então, para que os concursos
acontecessem, houve necessidade de comunicação com outras instituições
do Norte e Nordeste, em busca de candidatos para o preenchimento de
vagas, o que veio a ocorrer realmente. Daí a presença no Departamento de
Psicologia de professores oriundos de universidades do Pará, da Paraíba e
também do Rio de Janeiro.
Alguns acontecimentos motivaram a saída de 9 (nove) professores,
em consequência de situações variadas, entre as quais cumpre citar:
pedidos de exoneração da Instituição, transferência para outra Instituição,
ou para outro Departamento na própria UFMA, ocasionada por problemas
de relacionamento com alunos, com a Coordenação do Curso e a Chefia do
Departamento.

156
Conseguiu-se entrevistar somente 2 (dois) desses professores, que
assim analisaram sua saída28:
Resumo os acontecimentos do meu amplo desapontamento com a
UFMA, pela total e contínua dificuldade e/ou falta de condições de
desempenho e desenvolvimento profissional. Isso desestimulou,
bloqueou, restringiu, dificultou e impediu a realização do meu
trabalho [resultando na exoneração a pedido da professora].
(INFORMANTE 1).

No meu caso pedi transferência para outro Departamento por não


concordar com os caminhos que o curso estava tomando [...] na época
de forma bastante improvisada, o que dificultava o trabalho dos
professores. Era impossível continuar sem a existência de normas
complementares específicas ao curso que era semi-seriado e véspero-
noturno. A Coordenação não possuía controle e os alunos faziam o
que bem entendiam. Considero, em linhas gerais, que esses, entre
outros, foram os principais motivos que me levaram a sair do
Departamento de Psicologia. (INFORMANTE 2).
Alguns dos professores que ficaram comentaram tais saídas da
seguinte forma:
Vários foram os professores concursados que pediram para sair do
Departamento de Psicologia. As razões foram desde doença, interesse
maior em dedicar-se ao consultório, envolvimento em situações
problemáticas com alunos do curso, as quais culminaram em
processos movidos pelos mesmos alunos em duas situações [...]
animosidades entre professores no próprio Departamento e desejo de
regresso à sua terra natal. Um caso único foi o de uma professora que
fez o concurso já com planos de pedir transferência [...] (DENISE
LÉDA).

Eu acredito que muitas pessoas que entraram para o quadro docente


do nosso Departamento, apesar de terem um bom conhecimento da
disciplina que iriam ministrar, não tinham experiência de magistério,
o que determinou muitos conflitos na relação professor-aluno. Outro
motivo foi um certo desencanto de alguns professores com a questão

28 Para essa resposta os informantes não autorizaram identificação.


157
salarial, pois achavam que o consultório deles era mais interessante
que dar aula na Universidade. (GERALDO MELÔNIO).

Alguns professores, logo após iniciarem seus trabalhos como


docentes no Departamento de Psicologia, ficaram insatisfeitos com
fatos variados ocorridos, como o número de disciplinas e a
diversidade delas, já que deveriam lecionar disciplinas diferentes da
área do concurso a que se haviam submetido na UFMA. Ao lado
disso, havia o problema de relacionamento pessoal, naquela época
entre docentes, chefia, coordenação e alunos. (PAULA
FRASSINETTI).

A saída desses professores foi motivada por questões de conflitos


administrativos e acadêmicos. (MANOEL WILLIAM).
As repercussões desses episódios provocaram, em 1995, a saída do
chefe do Departamento e da coordenadora do curso. Soma-se a isso o fato
de que nenhum dos professores, a partir daí, se sentia em condições de
assumir esses cargos, o que obrigou a Administração Superior a
estabelecer um prazo para que os docentes se pronunciassem. O impasse
continuou ainda por algum tempo, quando os professores foram
informados de que um interventor seria colocado para administrar esses
setores. Desse modo, a Assembleia Departamental solicitou a presença do
Reitor para melhores esclarecimentos sobre a situação. O Reitor enviou a
Pró-Reitora de Graduação em seu lugar, que informou a intenção de
realmente indicar um interventor para o Departamento e a Coordenação,
caso os professores não assumissem os cargos. Após muitas discussões,
três professores resolveram aceitar, sob a forma de comissão, os dois
cargos, até que fossem realizadas as eleições. Antes que elas ocorressem,
dois professores concordaram, a pedido de Reitor Aldy Melo de Araújo,
em assumir os referidos cargos como pro-tempore. Para o Departamento, a
professora Paula Frassinetti da Silva Sousa e, para a Coordenação, a
professora Denise Bessa Léda. Procurou-se saber o que motivou essa
situação, obtendo-se respostas bastante reveladoras. O professor Manoel
William Ferreira Gomes, que estava na chefia do Departamento de
Psicologia nessa época desabafou:

158
Tendo chegado ao nosso conhecimento que o Reitor atribuiu
responsabilidade ao chefe do Departamento de Psicologia por
acontecimentos relacionados com o curso de Psicologia e, como
tínhamos a certeza de que em momento algum contribuímos para que
tais ocorrências viessem a se efetivar — ao contrário, sempre fizemos o
melhor de nós, pautado nas decisões da Assembleia Departamental —,
decidimos entregar, em caráter irrevogável, a função de chefe do
Departamento de Psicologia. Em virtude desse acontecimento, os
professores, em Assembleia, elaboraram uma exposição de motivos
enviada ao Reitor, solicitando a sua presença no Departamento para
esclarecimento dos fatos que ocasionaram nosso pedido de afastamento.
O Departamento ficou, então, sem chefia e sem candidatos a exercê-la.
Depois de algumas semanas e pela gravidade dos fatos, a Reitoria,
através da Pró-Reitora de Graduação, em reunião do Departamento
de Psicologia, solicitou mais uma vez que alguém se candidatasse à
chefia do Departamento, e à Coordenação. Não sendo atendido esse
pedido, haveria uma intervenção nesses setores. A Assembleia se
manifestou contrária a essa situação, e depois de muitas discussões
decidiu-se pela constituição de uma comissão, composta por três
professores, que permaneceu três meses assumindo as atividades
administrativas do Departamento e da Coordenação.
A professora Loide Brito, que era a coordenadora do curso de
Psicologia, disse:
Como coordenadora, à época, eu estava dentro de todo esse processo, mas
eu acho que a situação se tornou insustentável quando eu desaprovei a
atitude de uma professora que injustiçou uma aluna, rebaixando sua
nota. Além disso houve uma divisão de opiniões entre professores, uma
mudança brusca no Departamento com a chegada de muitos novatos em
um só momento e uma certa animosidade entre um grupo de professores
com alunos do curso. Em seguida, o assunto saiu do campo acadêmico e
foi para o político, envolvendo interesses pessoais. Em razão disso solicitei
dispensa da função.
O professor Geraldo Melônio, membro da comissão que assumiu o
Departamento de Psicologia e a Coordenação do Curso, assim se
posicionou:

159
Foi um momento que eu chamo de crise institucional do Departamento e
da Coordenadoria do Curso, quando ninguém queria assumir esses cargos
em virtude de uma série de conflitos de difícil solução, até que o Reitor
foi chamado e nomeou uma comissão, da qual eu fazia parte, para tentar
minimizar os problemas. Os alunos foram importantes nesse processo,
pois eles sempre negociavam conosco em busca de soluções práticas,
durante reuniões com os professores. A comissão permaneceu em
atividade até duas professoras assumirem os cargos como pro-tempore.
Ainda no ano de 2001, os declarantes consideram que esse assunto é
algo difícil de comentar. Chegaram a perguntar se haveria mesmo
necessidade de falar-se a respeito. Segundo eles, relembrar esses fatos
considerados maléficos traria de certo modo muito sofrimento. As
lembranças a que se referem têm a ver com situações que levam a refletir
sobre a forma como se vivia, sempre esperando o pior, com Assembleias
Departamentais constantes e desgastantes. Nunca se sabia o que poderia
acontecer. Quando um professor solicitava exoneração, por força da luta
que se tinha para ver acontecerem os concursos, a preocupação era grande,
pois o quadro de professores para o curso, que a todo custo se queria
manter, parecia escapar ao controle e à vontade do grupo. Conversava-se
com os insatisfeitos, tentando demovê-los da ideia de abandonar o curso,
pois, afinal, algumas conquistas tinham sido alcançadas, embora esta
estratégia nem sempre desse bons resultados.
A situação se tornou tão insustentável que, em 08 de julho de 1996,
o Departamento de Psicologia, em Assembleia, resolveu encaminhar ao
Pró-Reitor de Graduação uma exposição de motivos através do Ofício n°
047/96-DE. PSI., solicitando a suspensão do concurso Vestibular/97 para o
curso de Psicologia. Tal exposição era justificada pela grave situação
existente, vez que na época o quadro docente se encontrava composto
apenas por 8 (oito) professores permanentes e 9 (nove) professores
substitutos, alguns deles com contratos em fase final. Some-se a isso que
os 3 (três) professores concursados em janeiro de 1996 ainda não haviam
sido efetivados em seus cargos. Como consequência 6 (seis) disciplinas do
curso deixaram de ser ministradas, alunos prestes a graduar-se não tinham
orientador para suas monografias, o Laboratório de Psicologia e o Núcleo
de Psicologia Aplicada não funcionavam por falta de docentes e,
160
finalmente, o Departamento não vinha atendendo a todas as solicitações de
disciplinas dos outros cursos, num total de 37 (trinta e sete).
A professora Maria José das Mercês Farias, Diretora do
Departamento de Desenvolvimento de Ensino e Graduação (DEDEG), em
seu parecer, ratificou os dados contidos no documento, mas, por se tratar
de reduzir o total de ingressos no curso, sugeriu que tal situação fosse
analisada pelo Colegiado de Curso e decidida pelo Conselho de Ensino,
Pesquisa e Extensão (CONSEPE), sugestão que mereceu o apoio do Pró-
Reitor. O Colegiado de Curso, em reunião realizada no dia 26 de agosto de
1996, decidiu por unanimidade pela não realização do Vestibular/97. O
processo retornou ao Pró-Reitor que, após análise, emitiu parecer, dizendo
da impossibilidade de alterar decisões hierarquicamente superiores e
sugerindo que o referido processo deveria ser apreciado pelo Conselho
Universitário (CONSUN), o que não chegou a acontecer, ficando a UFMA,
sob a administração do Reitor Othon de Carvalho Bastos, com a
responsabilidade de agilizar a contratação dos professores concursados
com a garantia de mais professores substitutos para o quadro.
A continuidade desse tipo de prática, acarreta uma fragilidade no
sentido de que se torna impossível uma sistematização por sub-áreas de
conhecimento; o corpo docente é individualizado e não segue diretrizes
normativas e seletivas de estudo e pesquisa, tendo muitas vezes que
lecionar disciplinas para as quais não se sente bem preparado.
Notadamente há um esforço por parte do grupo em criar algumas áreas em
comum e distribuir mais equilibradamente as disciplinas entre os colegas,
evitando sobrecarga individual de trabalho. Assim é que as seleções para
os professores substitutos são direcionadas para as áreas em que há maior
carência de docentes, mas, assim mesmo, constata-se que a dificuldade
apresentada no início do curso persiste. O Departamento de Psicologia,
como se vê, continua enfrentando sérias dificuldades em relação ao
número de professores para compor seu quadro docente, constituído
(abril/2002) apenas por 14 (quatorze) professores efetivos e 10 (dez)
substitutos para atender a demanda de seu próprio curso, assim como os
demais cursos da UFMA que contemplam a disciplina Psicologia em seus
currículos.

161
Tendo em vista as situações difíceis enfrentadas pelo curso após a
entrada da primeira turma, presença marcante na história do curso de
Psicologia da UFMA, pelo movimento empreendido por ela na busca da
implantação da Formação de Psicólogo (lembrada tanto pelos professores
que participaram do projeto das primeiras habilitações quanto pelos que
trabalharam na criação dessa nova habilitação), procurou-se saber quais as
necessidades que motivaram o surgimento desse processo, apontado por
todos os entrevistados como uma pressão dos alunos em todas as instâncias
da UFMA, como se pode ver a seguir:
Constatou-se que o mercado de trabalho para bacharéis e licenciados em
Psicologia não era tão promissor quanto se pensou inicialmente e que a
extrema ansiedade nascia entre os alunos que estavam preocupados com
a natureza do curso e com a atividade profissional que iriam
desempenhar. Na prática os alunos que ingressaram na Universidade
estavam motivados a ser psicólogos, e não professores ou pesquisadores
em Psicologia. (MOACIR COL DEBELLA).

Foram os alunos que brigaram muito por isto: entraram com a habilitação
de Bacharelado e Licenciatura e saíram do curso com a Formação de
Psicólogo [...] esse foi um mérito que se deve a eles. (HELOISA LEITE).
Tão logo os alunos tomaram conhecimento de que o curso não oferecia
essa habilitação, iniciaram uma luta em favor de sua criação. (LOIDE
BRITO).

Logo no primeiro ano sentiu-se a necessidade dessa implantação por


pressão dos alunos, através de seu representante no Colegiado de Curso,
que insistentemente apresentava em reuniões a solicitação de seus
colegas. Essa questão tomou proporções além da comunidade acadêmica,
exigindo uma posição da Administração Superior da UFMA [...]
surgindo daí uma comissão que elaborou o projeto da nova habilitação.
(MANOEL WILLIAM).

Fiquei tão surpreendida quanto os alunos da primeira turma ao saber que


o curso não formaria psicólogos. Posso deduzir, então, que a insatisfação
por essa condição ímpar impôs, por si mesma, o movimento no sentido
de mudá-la. (ALAYDE MARTINS).

162
Acredito que a Psicologia Clínica surgiu em virtude de uma ampliação do
mercado de trabalho. (THAIS MORAES).
Decorridos dois anos de ingresso da primeira turma, já estava
evidente a necessidade de implantação da Formação de Psicólogo. Face a
essa realidade, a Assembleia Departamental e o Colegiado do Curso
decidiram proceder às alterações necessárias à sua implantação e à
reformulação curricular das habilitações já existentes, decorrentes do
Núcleo Comum de Formação. Para tanto foi designada uma comissão
composta pelas professoras Loide Célia de Brito, Cláudia Sousa Bacelar,
Alayde Maria Ferreira Martins e Denise Bessa Léda.
De acordo com a nova reformulação do projeto, Processo n°
9456/93-06, a comissão observou que não bastava incluir disciplinas ou
acrescentar carga horária, o que poderia comprometer a coerência da
proposta e a compatibilidade entre o currículo e o perfil profissiográfico do
aluno que seria formado. Assim, na apresentação do projeto, foi feita uma
análise dos 30 anos de existência da Psicologia no Brasil como profissão,
tomando-se por base um processo de discussão coordenado em nível
nacional pelo Conselho Federal de Psicologia, a fim de obter-se uma nova
regulamentação da profissão, redefinindo a formação do psicólogo e sua
atuação no mercado. A comissão fez questão de incluir as mais amplas
formas de atuação em sua proposta, já que eram identificadas de modo
consensual no país, tais como: dissociação teoria-prática; prevalência de
posturas unidirecionais, parciais e estáticas; e ausência ou escassez de
disciplinas que assegurassem a formação de um juízo crítico e inovador,
características apresentadas como componentes do modelo de formação
profissional vigente.
Na tentativa de buscar a qualidade da formação profissional, a
proposta elaborada foi baseada em princípios norteadores relacionados em
itens que incluíam o agrupamento de disciplinas, explicitando-se sua
função para a formação profissional. Para tanto, a comissão apresentou,
entre outras, a seguinte justificativa:
[...] a necessidade de reformulação curricular das habilitações já
existentes decorre do fato de que o “'Bacharelado”, a “Licenciatura” e a
“Formação de Psicólogos” contam com um ciclo comum de estudos com
163
duração de quatro anos. Desta forma, todas as disciplinas teóricas,
excetuando-se as de formação pedagógica, serão cursadas pelos alunos
das três habilitações em conformidade com os princípios [norteadores]
que tentam superar a dissociação teoria / prática. Portanto, dispensar do
bacharel o conhecimento sobre a teorização já elaborada a partir das áreas
de atuação profissional, ou, do psicólogo e do licenciado, os
conhecimentos requeridos para a pesquisa, por exemplo, seria reforçar a
distinção entre um profissional apto a pesquisar (sem conhecer
suficientemente as questões apresentadas pela prática) e um profissional
da técnica (incapaz de teorizar sua própria prática). (PROJETO..., 1993a,
f. 5).
As cargas horárias destinadas às habilitações foram de 3.840 (três
mil, oitocentas e quarenta) horas para o Bacharelado; 4.080 (quatro mil e
oitenta) horas para a Licenciatura; e 4.200 (quatro mil e duzentas) horas
para a Formação de Psicólogo. Essa distribuição tornou-se necessária para
diferenciar as habilitações, contemplando a parte diversificada do currículo
(PROJETO..., 1993a, f. 5-6).
A proposta de reestruturação do curso de Psicologia foi estabelecida,
conservando-se a maioria das disciplinas presentes na reformulação
anterior, acrescidas de outras, alterando-se a carga horária e o enunciado
dos eixos, que passaram a ser denominados de princípios norteadores,
conforme descritos abaixo:
1. formação teórica baseada numa fundamentação epistemológica
consistente, capaz de promover posturas críticas investigadoras
livres de dogmatismo, por meio de disciplinas que favoreçam o
discernimento a relativização do saber psicológico e o
questionamento dos fundamentos lógicos e éticos da Psicologia,
incentivando o posicionamento crítico e abrindo espaço para a
postulação de novas proposições teóricas (História e
Fundamentos do Saber Psicológico I, II e III, Filosofia das
Ciências Sociais, Sociologia, Antropologia Cultural e Estrutural,
Prática Profissional e Ética do Psicólogo I e II);
2. formação básica pluralista, fornecedora de análise comparativa e
crítica entre as diferentes concepções de homem e ciência, da

164
qual fazem parte as teorias coexistentes na Psicologia,
distribuídas em disciplinas organizadas em eixos de macro-
teorias definidos de acordo com seus fundamentos
epistemológicos, cuja carga horária equitativamente distribuída
entre os eixos reflete a recusa do pré-julgamento e/ou das opções
teóricas não fundamentadas (Teorias do Comportamento I, lI e
III, Teorias da Consciência I, II e III, Teorias do Inconsciente I,
II e III, Psicologia do Desenvolvimento I, II e III);
3. incentivo à integração entre as funções práticas e científicas do
profissional, por meio da metodologia do ensino e de ementas,
que asseguram a prática de investigação voltada
preferencialmente para a realidade sociocultural, cujos
conhecimentos instrumentais agrupam disciplinas que oferecem
meios indispensáveis à produção do conhecimento e à formação
técnico-profissional, onde saberes afins constituem-se em
instrumentos para distinção e delimitação do campo de
investigação e atuações profissionais (Metodologia Científica,
Métodos e Técnicas de Estudo e Pesquisa Bibliográfica,
Estatística I e II, Metodologia da Pesquisa não Experimental em
Psicologia, Lógica, Psicolinguística, Neuroanatomia,
Neurofisiologia, Psicofisiologia, Psicofarmacologia,
Psicopatologia I e II, às quais é acrescida a disciplina "Língua
Portuguesa" obrigatória, àquela época, em toda a UFMA pela
Resolução n°40/88 do CONSEPE);
4. formação que destaca a intervenção profissional, privilegiando a
produção teórica sem restringi-la a simples execução técnica,
onde a área do saber aplicado agrupa conhecimentos diretamente
ligados à formação técnico-profissional, oferecidos em
disciplinas que buscavam preservar a distinção do objeto
conceitual, apesar de atreladas ao currículo mínimo e à realidade
empírica das áreas de atuação profissional (Psicologia da
Aprendizagem, Psicologia Social I e II, Psicologia Escolar,
Psicometria, Técnicas de Exame I e II, Psicologia
Organizacional, Psicologia Hospitalar, Psicologia do

165
Excepcional I e II, Aconselhamento Psicológico I e II,
Psicomotricidade, Teorias e Técnicas Psicoterápicas I e II,
Dinâmica de Grupo e Relações Humanas, Psicopedagogia
Terapêutica, Seleção, Treinamento e Orientação de Pessoal);
5. busca de identificação e consolidação de áreas de atuação
profissional emergentes, através de uma visão pluralista da
realidade do campo de atuação do psicólogo e de uma visão
ampliada das concepções tradicionais das áreas já consolidadas
(clínica, escolar, organizacional, social), que têm no Estágio
Curricular a orientação para o exercício de uma prática
fundamentada em posicionamentos teóricos explicitados, a fim
de que o exercício profissional não se restrinja à reprodução de
técnicas determinadas a priori por concepções pré-formadas do
campo de atuação profissional;
6. legislação específica que faz constar ainda no currículo pleno a
disciplina Prática Desportiva, por força da Resolução n° 07/93-
CONSUN (PROJETO..., 1993a, f. 3-4).
Considerando-se o redirecionamento do currículo ora apresentado,
pode-se traçar uma correlação entre os dois currículos. Os princípios 1 e 2
correspondem aos Eixos Macro-Teorias, Filosofia, Sociologia,
Antropologia, Psicologia Social e História da Psicologia; o princípio 3
corresponde aos Eixos Biologia e Pesquisa; e os princípios 4 e 5
correspondem ao Eixo Profissionalizante. A legislação específica
corresponde ao Eixo Ciclo Geral de Estudos, com a retirada da disciplina
Estudo de Problemas Brasileiros. Esse projeto encontra-se em vigor,
embora, como se verá mais adiante, nova proposta de reformulação tenha
ocorrido e outra já esteja em processo.
A implantação da habilitação Formação de Psicólogo, juntamente
com a reformulação do currículo no curto espaço de tempo de
funcionamento do curso, foi justificada pela comissão a partir das
seguintes situações constantes no Projeto do Curso (PROJETO..., 1993a, f.
7), tais como:

166
a) a insatisfação geral dos alunos do curso, face à inexistência da
Formação de Psicólogo;
b) a brusca diminuição de demanda da comunidade pelo curso que,
da 3ª posição no concurso vestibular de 1991, caiu para a 11ª em
199229 (APÊNDICE B);
c) a grande evasão registrada no decorrer dos anos de 1991 e 1992,
através de transferência externa e abandono, que equivaleu, na
primeira turma, a uma redução de quase um terço do número
inicial de alunos (dos trinta que ingressaram restaram vinte e
dois), dos quais uma média superior a cinco alunos tomou
providências para efetuar suas transferências para outras
Instituições de Ensino Superior que ofereciam a Formação de
Psicólogo;
d) o mercado de trabalho para o psicólogo no Maranhão,
particularmente em São Luís, evidenciava a carência da atuação
desse profissional, ao passo que, enquanto licenciados e
bacharéis, os egressos deparar-se-iam com a oferta hipertrofiada
de professores de 1° e 2° graus mal remunerados e com a
ausência de incentivo e tradição na área da pesquisa;
e) a aquisição de todo o equipamento necessário à instalação de um
Laboratório de Psicologia pela UFMA que destinara espaço
físico no novo prédio do Centro de Estudos Básicos para a
instalação de um Núcleo de Psicologia Aplicada o que, além de
outros objetivos institucionais, tinha como meta primordial
constituir-se em campo de estágio específico para a formação do
psicólogo.
O documento finaliza afirmando que continuar adiando as
providências quanto à implantação da habilitação Formação de Psicólogo
se constituía em prejuízo, não só aos alunos, mas à Universidade e à
comunidade maranhense. Esse entendimento pôde ser verificado quando,

29 Em pesquisa posterior esta informação foi alterada conforme quadro anexo.


167
em 1997, ano da graduação da primeira turma, somente 18 (dezoito) alunos
concluíram o curso.
Conforme tabela anexa (APÊNDICE A), a 3ª posição no concurso
vestibular de 1991 foi corrigida para 2ª, em razão de a divisão do curso de
Direito em turnos ter sido equivocadamente considerada como dois cursos.
Em 22 de setembro de 1993, a Coordenação do Curso, após
aprovação pelo seu Colegiado em 02 de setembro, encaminhou para
apreciação do Conselho de Centro (CONCEB) o Projeto... (1993a), com a
proposta de implantação da habilitação Formação de Psicólogo e da
reformulação curricular das habilitações Licenciatura e Bacharelado. De
acordo com observações colhidas no documento, a relatora Regina Helena
Martins de Farias, após verificar a adequação da proposta de reforma
curricular às normas sobre currículos existentes na UFMA, emitiu seu
parecer com questões que deveriam ser respondidas pela Pró-Reitoria de
Graduação.
Segundo seu entendimento, para o profissional com a Formação de
Psicólogo, o mercado de trabalho acenava com possibilidades abrangentes;
contudo, para as outras habilitações, o mesmo não ocorria. No caso do
licenciado, estava definida sua atuação, mas o mercado de trabalho não era
propício, afirmando a relatora que a disciplina Psicologia já não constava
do currículo da maioria das escolas de 2° grau; além disso, destacava a
extensa carga horária destinada ao 9° (nono) período, num total de 600
(seiscentas) horas, entre teoria e prática para serem cumpridas no turno
noturno, onde se encontrava o maior número de disciplinas, questionando,
nesse aspecto, sua operacionalização. Para o bacharel, as colocações feitas
questionavam a atuação desse profissional e indagavam se o Conselho
Federal de Psicologia permitia a retirada dessa habilitação, constatada a
sua inexistência no projeto do estágio obrigatório.
Em 30 de setembro de 1993, o parecer foi encaminhado à PROG,
que respondeu justificando ter sido o projeto elaborado por professores do
curso e aprovado por seu Colegiado. Sugeriu, então, sua devolução para a
Coordenação do Curso no sentido de que esse órgão prestasse informações
sobre o projeto para posterior parecer. Para tanto, anexou o Parecer n°

168
403/62, a Resolução de 19 de dezembro de 1962, a Lei n° 4.119/62, o
Decreto n° 53.464, a Resolução n° 9, de 10 de outubro de 1969, a Portaria
Ministerial n° 159/65, que fixa os novos critérios e a duração dos cursos
superiores, a Resolução n° 37/90-CONSEPE, que disciplina o
funcionamento do Estágio Curricular, e a Resolução n° 04/81- CONSUN,
que trata dos turnos de funcionamento da UFMA.
A Coordenação do Curso, em reunião de Colegiado, procedeu aos
ajustes que julgou necessários, mas decidiu manter a oferta do
Bacharelado, incluindo o estágio e a ementa correspondente, mantendo o
horário nos turnos véspero-noturno, considerando o elevado total de carga
horária no curso. Após novo parecer, emitido também pela relatora Regina
Helena Martins de Farias, o projeto foi aprovado em sessão do Conselho
Universitário do dia 04 de março de 1994 através da Resolução n° 02/94-
CONSUN, com a criação da Formação de Psicólogo e a reformulação do
curso de Psicologia nas modalidades de Bacharelado e Licenciatura.
Desse modo, ficou assegurada a habilitação almejada para os alunos
ingressos desde 1991, tendo sido os currículos adaptados em atendimento
às novas exigências da Resolução.
Pelo que se percebe, a comissão que reformulou o projeto deveria ter
sugerido a alteração do parágrafo 1º do Art. 16, da Resolução 02/94-
CONSUN, que diz:
A partir do 9° semestre letivo o aluno deverá seguir o Bacharelado,
Licenciatura Plena ou Formação de Psicólogo em conformidade com sua
opção pessoal, formalizada no semestre imediatamente anterior.
Admite-se isso por se entender que essa orientação se constitui em
uma forma excludente entre as habilitações. Esse aspecto é considerado,
até hoje (abril de 2002), desfavorável para o aluno em vista da escolha de
uma única habilitação, impossibilitando-o de graduar-se em outra. Talvez
por esse motivo, durante esses 11 (onze) anos de curso, nenhum aluno
tenha optado por outra habilitação que não fosse a de Formação de
Psicólogo. O aluno tem questionado a situação em que se encontra e a
Coordenação do Curso está tentando resolver esse impasse, na nova
proposta de reformulação curricular em estudo.
169
No tocante à necessidade de reformulação curricular, os informantes
afirmaram:
Ainda em 1992, o Colegiado do Curso de Psicologia iniciou estudos,
visando a uma reforma curricular, ou melhor, à criação da habilitação
Formação de Psicólogo. Naquela época o projeto foi elaborado e seguiu
as tramitações legais dentro da UFMA para aprovação. (PAULA
FRASSINETTI).

[...] lembro que naquela época eu fazia parte do Colegiado do Curso e


logo no início se propôs a reforma curricular, mas houve uma certa
resistência por parte da coordenadora, explicando os motivos, em níveis
acadêmicos e administrativos, da impossibilidade de realização naquele
momento [...] segundo ela o curso teria que amadurecer para poder
realizar isso. (MANOEL WILLIAM).
Em julho de 1999, o projeto do curso foi novamente reformulado.
Desta vez a reformulação ligava-se à necessidade de rever e implementar
uma nova caracterização e concepção pedagógica do curso, a partir de um
estudo desenvolvido pelo Núcleo de Avaliação de Cursos (NAC),
discussões no Colegiado do Curso e Assembleia Departamental, com base
nas propostas das Diretrizes Curriculares para os cursos de Psicologia no
país. Essas ideias foram reforçadas após a primeira visita da Comissão de
Avaliação do Ministério da Educação e Cultura (MEC) para
reconhecimento do curso nesse mesmo ano. Esse processo resultou em
significativas alterações, entre elas a retirada da habilitação de
Bacharelado, atualização de ementas, inclusão e exclusão de disciplinas,
explicitação das atividades práticas, aprimoramento da sequência das
disciplinas com melhor adequação da carga horária, em especial a do
Estágio Supervisionado. A duração do curso nessa nova proposta previu,
para a Formação de Psicólogo, um mínimo de 4.200 (quatro mil e
duzentas) horas; já para a Licenciatura, um mínimo de 3.150 (três mil,
cento e cinquenta) horas. Para tanto, a Pró-Reitoria de Graduação resolveu
instituir uma comissão através da Portaria n° 50/99-PROG, para o processo
de reconhecimento do curso, composta por técnicos daquele setor e
professores do Departamento de Psicologia, ficando assim designados:
Maria de Nazaré Ferraz Thomas, Maria Célia Macedo de Araújo Melo,

170
Manoel Pereira Fonseca, Manoel William Ferreira Gomes, Márcia Antônia
Piedade Araújo, Denise Bessa Léda e Cada Vaz dos Santos Ribeiro.
Com os resultados do NAC, a comissão decidiu analisar
principalmente os conteúdos ministrados, considerando os aspectos
relevantes das disciplinas oferecidas, partindo de um amplo debate com os
professores do curso e de outros Departamentos, a fim de serem
encontradas alternativas para uma nova proposta de reformulação,
considerando-se ainda as propostas de implantação das Diretrizes
Curriculares, especialmente no que se referia às competências e
habilidades na formação do aluno. Nesse sentido, foram modificadas a
concepção do curso, o núcleo comum de formação, o perfil
profissiográfico, a finalidade do curso, os objetivos gerais e específicos
para cada habilitação, a pesquisa e a extensão a partir dos serviços
oferecidos pelo Núcleo de Psicologia Aplicada, que podem abranger as
áreas Psicologia Clínica, Psicologia Hospitalar, Psicologia do Trabalho,
Psicologia Escolar e Psicologia Social (PROJETO..., 2000, p. 1-2).
Visando à qualidade da formação profissional, a proposta apresentada se
apoiava em eixos estruturantes, que articulavam os conteúdos curriculares.
Com a finalidade de assegurar a objetividade da proposta, tais eixos
apresentavam um núcleo comum de formação, necessário ao profissional
de Psicologia, conforme será demonstrado a seguir:
1. fundamentos epistemológicos e históricos, que permitissem ao
formando uma visão do processo de construção do
conhecimento psicológico, desenvolvendo nele a capacidade para
avaliar criticamente diferentes teorias e metodologias em Psicologia
(História e Fundamentos do Saber Psicológico I e II, Filosofia
das Ciências Sociais, Introdução ás Ciências Sociais, Teorias da
Consciência I, Antropologia Cultural e Estrutural, Teorias do Inconsciente I,
Sociologia, Teorias do Comportamento I e Introdução à
Filosofia);
2. fenômenos e processos psicológicos básicos, que
desenvolvessem uma compreensão aprofundada dos fenômenos
que constituem, classicamente, o campo da Psicologia enquanto
ciência e, também, dos desenvolvimentos recentes nas diversas
171
áreas de investigação psicológica (Teorias da Consciência II e
III, Psicologia da Aprendizagem, Teorias do Comportamento III,
Psicologia do Desenvolvimento I, II e III, Psicologia Escolar,
Psicologia Hospitalar, Psicologia do Trabalho I e Psicologia
Aplicada aos Portadores de Necessidades Especiais);
3. fundamentos metodológicos, que garantissem a apropriação
crítica do conhecimento disponível e a capacitação para a
produção de novos conhecimentos, assegurando uma visão
abrangente dos diferentes métodos e estratégias de produção do
conhecimento científico em Psicologia (Métodos e Técnicas de
Estudo e Pesquisa Bibliográfica, Metodologia Científica,
Teorias do Comportamento II, Metodologia da Pesquisa não
Experimental em Psicologia, Psicologia Social I e II e Teorias
do Inconsciente II);
4. procedimentos para investigação científica e prática profissional,
que garantissem tanto o domínio técnico envolvido no uso de
instrumentos de avaliação e de intervenção, quanto a competência para
construir, avaliar e adequar instrumentos a problemas e contextos
específicos de investigação e ação profissional (Técnicas de
Exame I e II, Psicodiagnóstico, Dinâmica de Grupo e Relações
Humanas, Prática Profissional e Ética do Psicólogo,
Aconselhamento Psicológico, Teorias do Inconsciente III,
Teorias e Técnicas Psicoterápicas — abordagem psicanalítica,
Teorias e Técnicas Psicoterápicas — abordagem —
existencialista e Teorias e Técnicas Psicoterápicas — abordagem
comportamentalista);
5. interfaces com campos afins do conhecimento — ciências da
vida, humanas e sociais —, que demarcassem a natureza e a
especificidade do fenômeno psicológico, de forma a torná-lo
perceptível em sua interação com fenômenos físicos, biológicos,
sociais e culturais e a assegurar uma compreensão integral e
contextualizada do campo de estudo da Psicologia
(Neuroanatomia, Psicofisiologia, Estatística Geral, Estatística
Aplicada à Psicologia e Psicopatologia I);
172
6. práticas em campo, que assegurassem um núcleo básico de
competências, de forma a permitir a inserção do graduado em
diferentes contextos institucionais e sociais, articuladamente
com profissionais de áreas afins (Psicologia do Trabalho II,
Psicopatologia II).
É conveniente lembrar que o Estágio Supervisionado nessa
reformulação foi dividido em Básico e Curricular (PROJETO..., 2000, f. 3-
4).
As disciplinas eletivas propostas para essa reformulação foram:
Dinâmica de Grupo Aplicada à Seleção e Treinamento nas Organizações,
Educação Especial, Genética do Comportamento, Gestão de Pessoas,
História e Política Educacional no Brasil, Psicodiagnóstico Miocinético
(PMK), Psicofarmacologia, Psicolinguística, Psicologia Ambiental,
Psicologia Comunitária, Psicologia das Relações Familiares, Psicologia do
Esporte, Psicologia Hospitalar II, Psicologia Social III, Psicomotricidade,
Psicopedagogia Terapêutica, Saúde e Qualidade de Vida no Trabalho e
Psicologia da Terceira Idade.
Ainda nesse projeto, o aluno de Licenciatura deveria cursar as
disciplinas de formação pedagógica (Didática, Filosofia da Educação.
Estrutura e Funcionamento do Ensino Fundamental e Médio) e Prática de
Ensino — Estágio Curricular.
Ressalte-se aqui que, na elaboração desse projeto, houve a intenção
de proporcionar ao corpo discente a oportunidade de vivenciar uma
estrutura curricular que viesse atender ao perfil do profissional adequado à
realidade maranhense, embora não se distanciando da realidade nacional,
assim como de reverter situações que têm dificultado, como já exposto, a
vida acadêmica do aluno. Portanto, optou-se pelas propostas das Diretrizes
Curriculares, mesmo sem terem sido regulamentadas.
Concluídos os trabalhos, o Projeto... (2000), depois de aprovado no
Colegiado de Curso, foi encaminhado em 28 de agosto desse ano para o
Conselho de Centro de Ciências Humanas (CONCCH), a fim de ser
relatado. Em seu parecer, a relatora Márcia Manir Miguel Feitosa
considerou alguns aspectos positivos, entre eles os eixos temáticos, a
173
duração do curso e a formação do profissional na habilitação Formação de
Psicólogo, sugerindo, contudo, algumas modificações, entre as quais que
fossem mais bem explicitados os motivos que nortearam a retirada da
habilitação de Bacharelado como um dos perfis, de formação do
profissional em Psicologia, de modo a configurar mais claramente,
inclusive, a escolha pela habilitação Licenciatura. Destacou, ainda, que
talvez fosse conveniente precisar quais eram as necessidades do Estado do
Maranhão, no que tange à formação do profissional de Psicologia, para que
houvesse maior adequação dos objetivos reais do curso à realidade
psicossocial.
Em resposta às observações emitidas pela relatora, o Colegiado de
Curso assim se manifestou: justificou a decisão de excluir a habilitação em
Bacharelado pela falta de demanda dos discentes no decorrer desses anos,
embora o principal objetivo dessa habilitação — a formação do
pesquisador —, estivesse sendo incorporada e sustentada pela formação
como um todo, podendo o aluno, se desejasse, desenvolver essa atividade,
optando pela pesquisa junto ao Núcleo de Psicologia Aplicada (NPA);
também fez questão de lembrar que, a partir dessa nova proposta, o aluno
deixaria de realizar apenas uma escolha entre as habilitações propostas,
restrição do modelo anterior. Quanto à necessidade de formação do
profissional no Estado, respondeu que a sugestão estava correta em
abstrato, mas que implicaria realização de pesquisas para obtenção desses
dados; que esforços estavam sendo empreendidos no sentido de adequar o
curso de Psicologia à realidade sociocultural; que o aluno contaria com
uma carga horária destinada a atividades complementares e haveria
inclusão de disciplinas nas diversas áreas de atuação, possibilitando uma
articulação teórica-prática baseada em possíveis necessidades; e,
finalmente, que a Licenciatura não seria uma escolha, pois já fazia parte do
curso desde sua criação.
Esse projeto não foi aprovado no Conselho de Centro de Ciências
Humanas. Está sendo objeto de estudo de várias comissões compostas de
acordo com as áreas da Psicologia, em conformidade com as
recomendações da Associação Brasileira de Ensino de Psicologia (ABEP),
que trata da formação em Psicologia, assim como as sugeridas no Projeto

174
de Resolução, emitido pelo Fórum de Entidades Nacionais da Psicologia,
visando instituir as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de
graduação em Psicologia no país. Alguns pontos já acordados foram: a
reintrodução da habilitação de Bacharelado; a volta do regime de créditos,
visando contemplar as disciplinas eletivas; a carga horária do curso
permitindo a inclusão de reestruturação das atividades complementares, de
ensino, de pesquisa e de extensão.
Um dado que chamou a atenção no curso de Psicologia, durante
todos esses anos, foram os Estágios Supervisionados. Iniciados em 1996
apenas nas áreas de Psicologia Organizacional e de Psicologia Clínica, esta
com abordagem psicanalítica, somente a partir de 1997, com a nomeação
de mais professores, foram sendo definidos outros, entre eles o de
Psicologia Escolar e o de Psicologia Hospitalar, este também com
abordagem psicanalítica. No ano 2000, começou o estágio em Psicologia
Social e só a partir deste ano (2002) está sendo oferecido o de Psicologia
Jurídica. Observa-se, no entanto, uma preferência dos alunos para a prática
do Estágio Supervisionado na área clínica, apesar de só haver a
psicoterapia de base psicanalítica. Uma das explicações para esse fato é a
carência de professores com outras abordagens para essa atividade, de
modo a permitir ao aluno outras opções, conforme alusão feita
anteriormente. Isso tem direcionado o corpo discente a escolher outros
campos de estágio que, a princípio, podem não ser a sua primeira opção.
Esse dado pode ser comprovado pela contratação de um professor
substituto atuando como supervisor no Núcleo de Psicologia Aplicada na
linha comportamental, o que gerou uma demanda ainda maior pelo estágio
na clínica.
No que se refere ao reconhecimento do curso, foram realizadas duas
visitas pelo Ministério de Educação e Cultura (MEC), sendo a primeira em
julho de 1999 e a segunda em setembro de 2000. Estas Comissões de
Verificação foram constituídas pelos professores Maria Ângela Guimarães
Feitosa (Universidade de Brasília), Francisco José Batista de Albuquerque
(Universidade Federal da Paraíba) e Reinier Johannes Antonius
Rozestraten (Universidade Federal do Pará) — Portaria SESu-MEC n°
887/99, de 22/06/99 —, para avaliar "in loco", com base nos Padrões de

175
Qualidade, as condições de funcionamento do curso de Psicologia da
UFMA, conforme o Processo n° 23017.000453/98-11, objetivando o
reconhecimento legal e consequentemente a expedição de diplomas.
Por ocasião da primeira visita, verificou-se a ausência de evidências
de que o curso havia sido previamente autorizado pelo MEC e apreciado
pelo Conselho Nacional de Saúde. Esses impasses foram solucionados
após esclarecimentos dos professores do Departamento de Psicologia e da
Pró-Reitoria de Graduação de que o projeto original, nas habilitações
Licenciatura e Bacharelado (e não o reformulado, que incluía a Formação
de Psicólogo) foi enviado diretamente ao MEC.
Conforme observado no documento expedido imediatamente pela
Comissão de Verificação, o parecer final dessa visita foi pouco favorável,
com as recomendações assumindo caráter de exigência, com a
determinação do prazo de 3 (três) meses para que fossem implementadas
pela Instituição. As mais urgentes foram as seguintes:
a) necessidade de cumprimento de exigências legais quanto à
autorização inicial do curso;
b) apresentação, pela Administração da Universidade, de um plano,
institucionalmente aprovado, de capacitação docente para os
professores de Psicologia, através da proposição de Mestrado
Interinstitucional ou de saídas individuais para aperfeiçoamento;
c) consolidação da documentação do curso de forma a assegurar
organização, atualidade e precisão;
d) apresentação, pela Instituição, de um plano de ampliação do
quadro docente com professores permanentes, de forma a
viabilizar uma diversificação dos referenciais teóricos dos
diferentes tipos de intervenção profissional a que os alunos
devem ser expostos e possibilitar um maior envolvimento dos
professores com atividades de extensão e pesquisa;
e) plano institucional de expansão e atualização cdo acervo
bibliográfico, quanto à aquisição de livros e de revistas
especializadas;
176
f) projeto do curso, em especial sua concepção, melhor detalhado,
com as disciplinas contemplando atividades práticas, quando
necessário, revisão dos créditos referentes às diferentes atividades e,
principalmente, ao Estágio Supervisionado;
g) adequação das salas de aula ao tamanho das turmas, respeitadas
as exigências de conforto e salubridade.
Além dessas recomendações, a comissão destacou em suas
observações: a) o ponto fraco da exclusão das habilitações, uma vez que o
aluno, ao optar por uma delas, só terá acesso a outra através de novo
vestibular, ou, então, recorrendo ao reingresso como portador de diploma
de nível superior; b) o número insuficiente de professores com regime de
Dedicação Exclusiva, priorizando as atividades didáticas, inviabilizando a
pesquisa e a extensão; c) a proposta curricular que, apesar de respeitar o
currículo mínimo de 1962, não contempla inovações como também não
evidencia esforço de adaptação às necessidades regionais; d) as mudanças
nas disciplinas a serem ministradas pelos professores, em média três
disciplinas diferentes por semestre; e) os serviços assistenciais oferecidos à
comunidade, no Núcleo de Psicologia Aplicada (NPA), de acordo com a
disponibilidade docente e discente, e não com a demanda apresentada; f) as
dependências do Núcleo distantes do centro da cidade, sendo um motivo
do não alcance da clientela em potencial; g) a área física do NPA que,
embora compatível com o volume de atendimento, não permite uma
expansão para melhor conformidade com as necessidades pedagógicas e de
prestação de serviço à comunidade (BRASIL, 1999, p. 2-18).
Com as providências a serem tomadas, essa visita causou transtorno
para o curso, principalmente para os alunos já graduados, que
necessitavam do reconhecimento para poder atuar no mercado. Desse
modo, ao mesmo tempo em que a Coordenação do Curso, o Departamento
de Psicologia e a Administração Superior da UFMA trabalhavam para
sanar as deficiências detectadas, solicitou-se prorrogação do prazo por 6
(seis) meses para o cumprimento das exigências.
Conforme recomendado, a exigência legal foi atendida no que se
refere à consulta ao Conselho Nacional de Saúde. Além dessa, outras

177
recomendações foram também atendidas, a saber: a documentação do
curso foi organizada e atualizada; para o plano de capacitação docente foi
firmado um convênio nos moldes de Mestrado Interinstitucional entre a
Universidade Federal do Maranhão e a Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UFMA/UERJ), para capacitação de oito professores do quadro
permanente; as salas de aula foram ampliadas; o projeto pedagógico do
curso foi reestruturado; e foram adquiridos livros e periódicos para o
acervo bibliográfico. Deixaram, no entanto, de ser cumpridas as exigências
de ampliação do quadro docente — embora tenha sido firmado um Termo
de Compromisso entre a UFMA e a Secretaria de Educação Superior
(MEC/SESu), no sentido de abertura de vagas tão logo sejam autorizadas 30
— e da expansão da área física do NPA.
A segunda visita aconteceu no período de 13 a 16 de setembro de
2000. Desta vez, o documento não foi entregue de imediato e as
expectativas e dúvidas para o reconhecimento foram maiores. Em reunião
com os docentes do curso, a Comissão de Verificação, depois de proceder
à investigação do cumprimento das recomendações anteriores, considerou-
as cumpridas em grande parte, ressaltando o trabalho do corpo docente
bem como da Instituição na busca das soluções. No entanto, o curso
novamente não foi reconhecido, e sim estabelecido o prazo de 6 (seis)
meses para atender pontos que incluíam o acervo bibliográfico atualizado
quanto ao número de títulos e volumes de livros e de periódicos, não tendo
sido apresentado um plano institucional de expansão do acervo da área de
Psicologia; de efetivação do plano de expansão do corpo docente de forma
a viabilizar envolvimento mais abrangente em atividades de pesquisa e
extensão; de estabelecimento de relações mais claras entre a formação e a
atuação profissional, inclusive em relação ao exercício do Magistério; e de
atualização do conteúdo da disciplina Ética.
Além dessas exigências — que significam a percepção de
deficiências —, a Comissão Avaliadora verificou a grande carência de
ambiente adequado para o funcionamento do Laboratório de Psicologia
Animal e do Núcleo de Psicologia Aplicada (NPA). Para assegurar as

30 É interessante que o MEC exija, para a melhoria do curso, a ampliação do corpo docente, mas é
lamentável que esta mesma ampliação seja sempre protelada.
178
condições éticas e sanitárias desses ambientes, recomendou que fossem
reformulados e separados fisicamente. Forneceu ainda sinais de que
recomendaria o reconhecimento do curso, mesmo que somente para os
alunos formados até aquela data.
Em junho de 2001, foi enviado para a UFMA o Relatório MEC/
SESu e o Parecer n° 125/2001-CES, do Processo n°23017.000453/ 98-11,
relatado pela conselheira Eunice Ribeiro Durham que, após a análise do
parecer apresentado pela Comissão de Verificação e as recomendações do
Relatório acima, votou favoravelmente ao reconhecimento do curso de
Psicologia, nas modalidades de Licenciatura e Formação de Psicólogo pelo
prazo de 1 (um) ano, quando a Instituição deveria atender às
recomendações da comissão, a fim de obter a renovação do
reconhecimento.
Observe-se que, nessa época, o curso já havia formado 74 (setenta e
quatro) alunos, impossibilitados de exercer a profissão por questões legais.
Em relação a esse ponto, o Relatório da Comissão de Verificação destaca:
O curso deve ser reconhecido para finalidade exclusiva de permitir
diplomação dos alunos que já o concluíram até a presente data, uma vez
que as exigências adicionais de cumprimento necessário não os
beneficiaria (BRASIL, 2001, p. 6).
Nesse momento (abril de 2002) está sendo providenciado o
atendimento a essas últimas recomendações. Em relação ao quadro
docente, foram destinadas três vagas para realização de concurso na
Carreira do Magistério, tendo em vista a autorização pelo Ministério31. O
acervo bibliográfico foi contemplado com aquisição de exemplares
provenientes do projeto do Mestrado Interinstitucional. Quanto ao NPA e
ao Laboratório de Psicologia Animal, foi enviado documento à
Administração Superior solicitando as modificações sugeridas pela
Comissão de Verificação.

31 Estas vagas nos foram destinadas pela percepção, por parte da Reitoria da UFMA, das
necessidades existentes. Na verdade fazem parte do conjunto de vagas ofertadas pelo MEC ao
total das universidades federais, conjunto que supre, no máximo, a 1/3 dos afastamentos do corpo
docente do Magistério Superior Federal.
179
Conforme os informantes, o reconhecimento do curso tem sido
motivo de muito trabalho, visto que as recomendações do MEC têm prazos
definidos para serem cumpridas e envolvem toda a estrutura acadêmica e
administrativa da UFMA. Ressaltaram que, de acordo com as novas
políticas a serem empreendias pelo MEC a todos os cursos de graduação
no país, esse reconhecimento não será mais definitivo, pois passarão a ser
consideradas as avaliações realizadas pelo Exame Nacional de Cursos
(ENC) e as condições de oferta do curso.
Aqui, é importante lembrar que, a partir de 1995, um outro elemento
foi incluído no processo de avaliação dos cursos de graduação no país, o
Exame Nacional de Cursos, por meio da Lei n° 9.131 de 24/11/95,
conhecido como provão com a finalidade de ser um indicador de qualidade
do ensino nos cursos de graduação, num amplo processo de avaliação das
instituições de educação superior. Essa medida, até hoje (2002), não foi
bem aceita pelas instituições e pelos alunos, provocando muitos protestos.
Os exames começaram a ser realizados em alguns cursos no ano de 1996.
As avaliações dos cursos de Psicologia foram iniciadas em 2000,
consequentemente por duas vezes já aconteceram.
Na primeira avaliação do curso de Psicologia da UFMA, realizada
em junho de 2000, participaram todos os concludentes num total de 25
(vinte e cinco) alunos, obtendo-se o conceito C. Em novembro desse
mesmo ano, uma Comissão de Especialistas em Ensino de Psicologia
(CEEPSI), composta pelos consultores, professores Tânia Maria Santana
de Rose (Universidade Federal de São Carlos) e Romariz da Silva Barros
(Universidade Federal do Pará) veio proceder à Avaliação das Condições
de Oferta do Curso. O relatório apresentado apontou os seguintes
resultados: a avaliação do corpo docente e das instalações recebeu o
conceito CR (Condições Regulares), a organização didático-pedagógica
recebeu o conceito CI (Condições Insuficientes) e a avaliação das
instalações CR (Condições Regulares) (BRASIL, 2000, p. 42).
Essa avaliação de 2000, portanto, revela que o curso, como um todo,
apresentava extremas dificuldades. Aliás, se o corpo docente e as
instalações são somente "regulares" e a organização didática pedagógica é

180
"insuficiente", como estranhar que o conjunto dos alunos concludentes
receba nota "C" no provão?
Em junho de 2001, foi realizada a segunda avaliação e 24 (vinte e
quatro) graduandos submeteram-se ao ENC, obtendo o conceito A.
Conforme a Portaria n° 1781, de 17/12/99, a avaliação considera o perfil
do graduando, as habilidades e o conteúdo programático objetivados no
curso de graduação em Psicologia.
O que causa estranheza é a rápida mudança do conceito dos alunos
no "provão" — de "C" para "A" — se, como se sabe, os efeitos de uma
transformação no corpo docente ou na organização pedagógica demoram
algum tempo para se fazerem sentir.
Foi traçado o percurso do curso de Psicologia da Universidade
Federal do Maranhão, com suas idas-e-vindas, o empenho dos professores,
a luta dos alunos, tudo objetivando fornecer uma formação de qualidade à
comunidade maranhense, ultrapassando aos poucos as dificuldades e
barreiras apresentadas durante esse processo.

5.2 Sobre o Centro Universitário do Maranhão

A partir do ano de 1989 ocorre mais uma mudança no sistema de


ensino superior, em São Luís, instaurando uma nova fase na história da
educação no Maranhão: a criação de cursos particulares. A primeira, no
Estado, foi o Centro de Ensino Unificado do Maranhão (FICEUMA), de
que faziam parte a Faculdade de Ciências Contábeis e Econômicas de São
Luís, a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras "Gonçalves Dias" e a
Faculdade de Ciências Jurídicas e Administrativas de São Luís (CENTRO
DE ENSINO UNIFICADO DO MARANHÃO, 1998, p. 9).
Na criação destas Faculdades, observam-se aspectos semelhantes ao
que ocorreu nas outras instituições públicas de ensino no Maranhão32. Na
documentação oficial do Centro de Ensino Unificado do Maranhão

32 A esse respeito, cf. item 5.1 Sobre a Universidade Federal do Maranhão.


181
(CEUMA) consta tratar-se de uma associação cultural e educativa que tem
por finalidade ministrar o ensino superior em áreas diversas e também o
ensino médio e que surgiu
[...] das necessidades educacionais de um Estado potencialmente rico, onde o
Ensino Superior se restringia a uma Universidade Federal e uma
Estadual, que ministram apenas cinco cursos no período noturno. Implantou-
se, assim, as FICEUMA com o objetivo de criar novas alternativas para os
que desejassem qualificação para o mercado de trabalho, embora não
pudessem ser estudantes profissionais. (PROJETO..., 1993b, não paginado).
Em 1990, a direção das FICEUMA solicita a unificação das
entidades mantenedoras das Faculdades numa única — o Centro de Ensino
Unificado do Maranhão (CEUMA) —, solicitação que é deferida através
do Parecer n° 939/90-CEF. A partir dessa unificação, foi adotado um
modelo de organização que permitiu a integração administrativa e didática
das Faculdades no sentido de uniformizar os procedimentos operacionais
da Instituição.
Nesse mesmo momento, ocorre de forma galopante a criação de
novos cursos nessa Instituição, entre eles o de Psicologia (1998), como se
verá adiante, cuja justificativa se baseia na necessidade social, decorrente
das mudanças estruturais no conjunto da organização espacial do Estado,
resultantes da aglomeração urbana ocasionada pelo fluxo migratório nas
últimas décadas do século XX.
Os projetos do Governo Federal, entre eles a Ferrovia Carajás-Ponta
da Madeira, a implantação do Distrito Industrial, as construções do Porto
do Itaqui, o Terminal Pesqueiro e a Base Espacial de Alcântara são
considerados os fatores que geraram os sérios problemas de ordem social
apontados pelo CEUMA. Associado a essa problemática foi ressaltado um
dos efeitos perversos do processo de urbanização, o habitacional, com o
surgimento de favelas na periferia dos municípios do Maranhão —
cortadas pela Ferrovia Carajás ou de alguma forma afetadas por algum dos
projetos — e mesmo na capital. A questão social, segundo o CEUMA, é
mais acentuada nesta cidade que, ao longo das últimas décadas, tem
sofrido uma degradação de qualidade de vida, ocasionada pela ocupação
espacial desordenada.
182
Em seus 12 (doze) anos de funcionamento a Instituição alcançou
mais uma meta, que foi tornar-se Centro Universitário do Maranhão
(UniCEUMA), em 27 de setembro de 2000, através do processo de
reconhecimento do MEC — Parecer CNE/CES n° 839/2000. Seu objetivo
é galgar o nível de universidade.

5.2.1 O Curso de Psicologia do Centro Universitário do Maranhão

Conforme descrito anteriormente, a ideia da criação de uma


universidade particular no Maranhão surgiu quando seu principal dirigente
Mauro Alencar Fecury procurou colocá-la em prática, convocando um
grupo de professores e técnicos para iniciar a tarefa de sua concepção e
implantação, sendo constituída em 1989 como Centro de Ensino Unificado
do Maranhão (CEUMA). Contava, então, essa Instituição com 19
(dezenove) cursos superiores, atendendo a 8.472 alunos. Em sua estrutura
organizacional, com um Conselho Universitário (CONSU), órgão superior
de natureza deliberativa e normativa e de instância final para todos os
assuntos acadêmico-administrativos —; com um Conselho de Ensino,
Pesquisa e Extensão (CEPE), órgão central de supervisão das atividades de
ensino, pesquisa e extensão, possuindo atribuições deliberativas,
normativas e consultivas —; e com um Conselho de Curso, composto pelo
coordenador, seu representante nato, por 5 (cinco) professores e por 1 (um)
representante discente indicado pelo Centro Acadêmico. Além da sede
central, sua estrutura física é composta de dois campi, localizados em
bairros distintos da cidade de São Luís, com funcionamento nos turnos
matutino, vespertino e noturno.
Para a criação do curso de Psicologia do Centro Universitário do
Maranhão — UniCEUMA, foi elaborado um projeto de autorização em
1993, para o qual foi contratada como consultora a professora Eleusina
Rêgo Oliveira, que contou com a colaboração do professor Carlos Augusto
Ancilon Cavalcante e posteriormente com a professora Maria Lúcia
Martins Lobato e a professora Maria de Fátima Costa Teixeira. Constam
do documento a concepção, os objetivos, o perfil profissiográfico, a
organização curricular e a estrutura física, assim como a experiência na
183
área educacional das 3 (três) Faculdades já existentes e seus respectivos
cursos, os órgãos de apoio e a justificativa da necessidade social para a sua
criação. Nesse ponto o documento assinala o meio ambiente, a economia, a
atividade industrial, o crescimento populacional, contemplando a situação
do ensino no Estado do Maranhão, do nível pré-escolar ao superior,
considerando os dados da época e as projeções.
Em seu projeto de autorização encaminhado em 1994, o
UniCEUMA solicitou 240 (duzentas e quarenta) vagas anuais distribuídas
em 120 (cento e vinte) por turno (diurno e noturno), com regime escolar
seriado anual para a habilitação Formação de Psicólogo, alocado na
Faculdade de Ciências da Saúde de São Luís. Nessa proposta, o curso
habilitaria o profissional para atuar em escolas, organizações e clínicas,
através da aplicação de conhecimentos psicológicos teóricos e técnicos. A
organização curricular foi elaborada nos termos da Resolução do Conselho
Federal de Educação de 19 de dezembro de 1962, embasada no Parecer n°
403/62 da legislação que criou o curso de Psicologia.
Especificamente em relação ao ensino superior no Maranhão, o
UniCEUMA justificou a criação do curso de Psicologia a partir da
demanda crescente à Universidade Federal do Maranhão (UFMA), através
de dados colhidos junto ao Ministério de Educação e Cultura (MEC), que
mostrou dispor a UFMA de apenas 30 (trinta) vagas anuais, não
conseguindo oferecer, segundo a proposta, oportunidades à maioria dos
interessados em graduar-se no curso.
Baseada nesses dados, a Instituição enumerou os seguintes aspectos
para explicar a criação do curso: atendimento às necessidades do ensino de
1° e 2° graus, tanto na capital São Luís como em todo o Maranhão,
indicando que há um efetivo crescimento na taxa de escolarização; relação
demanda-oferta de vagas para o curso ser 3,43 vezes superior à média do
país; processo de mudanças socioeconômicas e políticas, com destaque
para o pólo industrial do Estado, para a evolução portuária, com a
aceleração do transporte navegável, e, ainda, a Ferrovia Carajás, pelos
níveis elevados de transporte de produtos extrativos minerais; grande
número de pessoas interessadas nos turnos vespertino e noturno.

184
O curso de Psicologia foi então autorizado — Processo n°
23000.006744/96-59 —, pela Portaria n° 206 de 06 de março de 1998
(PROJETO..., 1993b, não paginado). O processo de constituição desse
curso, conforme apresentado pelos docentes entrevistados, em linhas gerais
reforça a justificativa do projeto de autorização para o seu funcionamento,
pois havia uma demanda para psicólogos no Estado do Maranhão e
adjacências, portanto a necessidade de um curso com Formação de
Psicólogo, já que a UFMA oferecia apenas as habilitações de Licenciatura
e Bacharelado. Sobre esse aspecto, os professores entrevistados afirmam:
O curso perpassa todo o percurso histórico da necessidade de criação de
uma universidade particular no Maranhão [...] Foi estudando os cursos
onde havia maior demanda de alunos na sociedade maranhense, que se
pensou na criação do curso de Psicologia [...] mesmo existindo um curso
na UFMA, que oferecia 30 vagas por ano. (FRANCISCO SOUSA).

[...] tínhamos uma demanda e uma responsabilidade para com a


comunidade [...] evitando que as pessoas se deslocassem para a Paraíba e
outros Estados, resolvemos montar o nosso curso e hoje ele é uma
realidade [...] (CARLOS AUGUSTO CAVALCANTE).

O processo do curso do UniCEUMA foi elaborado em cima do processo


da Universidade Federal do Maranhão. Nós ficamos sabendo que o curso
da UFMA oferecia apenas Licenciatura e Bacharelado [...] sentindo esse
espaço, surgiu o interesse em criar um curso de Psicologia Clínica [...]
com uma visão holística, diferente do que estava sendo feito até então.
(MARCOS LIMA).
Como se pode observar, o processo de constituição do curso no
UniCEUMA, segundo os informantes, foi baseado na necessidade de uma
universidade, no Estado, que atendesse a elevada procura pelo curso e pela
habilitação Formação de Psicólogo, a fim de que se evitasse o
deslocamento para outros Estados. É interessante notar que essas
justificativas contradizem a realidade, tendo em vista que, a partir de 1993,
a UFMA havia feito as alterações necessárias em seu Projeto Pedagógico
para a implantação da habilitação Formação de Psicólogo que entrou em
vigor em 1994, descartando a necessidade de transferência para outras

185
regiões. No entanto, o número pequeno de vagas oferecidas pela UFMA
ainda é uma realidade.
Após o envio do projeto de autorização, a Comissão de Especialistas
de Ensino de Psicologia da Secretaria de Educação Superior, composta
pelos professores Maria Ângela Guimarães Feitosa, Antônio Virgílio
Bittencourt Bastos e Olavo de Faria Galvão, designada pela Portaria SESu
n° 151/96, de 21 de fevereiro de 1997, procedeu à avaliação do projeto do
curso de graduação em Psicologia do UniCEUMA, Processo n°
23000.006744/96-59. A comissão, com base no Art. 40 da Portaria n° 181
de 23/02/96 do MEC, emitiu o Parecer Conclusivo n° 3.604/97-
DEPES/SESu, não recomendando a autorização solicitada.
Em outubro de 1997, o relator Yugo Okida, em seu despacho no
Processo n° 23000.005866/96-09-CES, antes de proceder à apreciação
final dos projetos de autorização dos cursos de Psicologia no país, decidiu
ouvir as instituições interessadas, entre elas o UniCEUMA, sobre o
relatório expedido pela comissão citada anteriormente, estabelecendo o
prazo máximo de 30 (trinta) dias para que a Instituição se manifestasse
sobre as observações contidas nesse documento.
Em atendimento a essa solicitação, o UniCEUMA respondeu em 18
de novembro de 1997, através do Ofício n° 09/97-CEUMA, comentando
os itens do relatório do Parecer Conclusivo, posicionando-se contrário a
alguns conceitos insatisfatórios, especificamente no que se refere à
caracterização do curso, no tocante ao regime escolar (vagas, turnos,
turmas), à estrutura curricular (na qual a comissão havia constatado a
insuficiência ou inexistência de algumas informações no Projeto
Pedagógico) e ao corpo docente (em relação à política de sua
remuneração), justificando para cada um deles os motivos de não
concordar com a avaliação. Finalmente, o UniCEUMA considerou a
pontuação obtida no Projeto Pedagógico favorável ao prosseguimento de
autorização do curso, haja vista os conceitos satisfatórios nos outros itens,
como a necessidade social (demanda por vestibular, importância para a
região), a estrutura curricular (compatibilização da carga horária ao
conteúdo), a biblioteca (acervo, área física, plano de expansão) e a

186
infraestrutura física (edificação, salas de aulas, laboratórios,
equipamentos).
A essa análise o UniCEUMA juntou cópia do ofício enviado pela
Secretaria de Estado da Saúde do Maranhão que informava, a seu pedido,
sobre a necessidade social de criação de dois de seus cursos de graduação,
Odontologia e Psicologia — Formação de Psicólogo. O secretário e
presidente do Conselho Estadual de Saúde/SES/MA expediu então o
Ofício n° 036/GS/SES em janeiro de 1997, sugerindo, respeitosamente,
que o Ministro da Saúde recomendasse ao Ministro de Estado da Educação
e Desportos a aprovação desses cursos, por haver necessidade social
comprovada no programa de saúde do Governo do Estado, para a sua
criação, afirmando a inexistência de profissionais graduados suficientes
nessas áreas para prestar serviços de saúde à comunidade maranhense,
visto que o número de vagas oferecidas para o curso de Odontologia (da
UFMA) era insuficiente para suprir a necessidade que se apresentava à
época e, ainda, a inexistência do curso de Psicologia — Formação de
Psicólogo — no Estado do Maranhão.
Pelo que se vê, a necessidade de implantação do curso de
Odontologia não era tão premente como foi apresentada, pois, conforme
visto anteriormente, ele foi criado na segunda década do século XX, e,
mesmo vivenciando dificuldades, funcionou sem interrupções. Portanto, o
número de profissionais graduados durante todos esses anos, embora não
sendo suficiente, acredita-se que vinha atendendo à necessidade da
população. Com relação ao curso de Psicologia, parece que houve, no
mínimo, uma falta de informação, considerando-se a existência do curso de
Psicologia criado pela UFMA em 1991 que já graduava seus primeiros
alunos em Formação de Psicólogo, naquele ano de 1997.
Em 02 de dezembro de 1997 o relator Yugo Okida elaborou o
Parecer n° 705/97, referente ao Processo n° 23020.002126/96-56, que
tratava da autorização de novos cursos de Psicologia no país, e, em seu
Relatório/Mérito, analisando as observações do Conselho Nacional de
Saúde (CNS), quanto à necessidade social, observou que este órgão havia
se manifestado desfavoravelmente ao prosseguimento da criação de novos
cursos de Psicologia. Essa posição foi ratificada pelo Conselho Federal de
187
Psicologia, ao considerar inoportuna a criação de novos cursos,
principalmente em universidades particulares. Em decorrência dos 153
(cento e cinquenta e três) pedidos de novos cursos de Psicologia, consta em
seu relato que foi constituída uma Comissão de Especialistas da SESu/
MEC para analisar os processos. O relatório conclusivo elaborado pela
comissão recomendou o prosseguimento da tramitação de apenas 4
(quatro) instituições, sendo 1 (uma) na região Centro-Oeste, 2 (duas) no
Nordeste e 1 (uma) no Sudoeste. Eis o que consta do Relatório/Mérito:
Considerando que em algumas regiões do território brasileiro, segundo
levantamento feito por meio da “Sinopse Estatística da Educação
Superior, Graduação, Censo Educacional 94”, editada pela Coordenação
do Sistema Estatístico da Educação do MEC, não existem cursos de
Psicologia em funcionamento ou que, ainda, carecem de profissionais da
área, como é o caso de alguns Estados como o Piauí, Amazonas, Pará,
Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Alagoas,
Rondônia, Acre, Roraima, Tocantins, Maranhão, Sergipe, Espírito
Santo, Goiás, parte do Paraná e Distrito Federal, solicitamos à SESu o
envio dos processos dessas regiões para uma análise mais acurada,
levando em conta que, além da possível necessidade de implantação do
referido curso nas regiões supra mencionadas, pudéssemos detectar
projetos que apresentassem alguns indicadores de qualidade.
(PROJETO..., 1993b, não paginado, grifo nosso).
O relator relembrou o despacho enviado anteriormente para as
Instituições e elaborou seu parecer, segundo ele, com base nas informações
obtidas, votando favoravelmente à continuidade da tramitação de 13 (treze)
processos de autorização, entre os quais o do UniCEUMA. Contudo, o
relator alertava que seria necessária a visita de uma Comissão Verificadora
ao local, para proceder-se à conferência das informações contidas no
projeto.
A criação de novos cursos de Psicologia no país era uma questão
que vinha sendo discutida e analisada pelas entidades representativas
(sindicatos e conselhos), em eventos realizados pela categoria. Por ocasião
do Congresso Unificado dos Psicólogos em Brasília, no ano de 1989, além
das problematizações das estruturas organizativas da profissão, tomaram-

188
se, segundo Bock (1999b, p. 115), várias decisões acerca de pontos que
estavam em debate, entre elas
[...] a participação nas discussões da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, o
apoio à criação do Conselho Federal do Ensino Superior e a defesa
intransigente do ensino público e gratuito, a criação de um fórum de
debates sobre a formação do psicólogo, a luta para impedir a
abertura de novos cursos de Psicologia, a necessidade de avaliar a
qualidade dos cursos existentes, a defesa de redução de vagas nos cursos
de Psicologia, o fechamento de cursos de má qualidade, a defesa da
supervisão de estágios de Psicologia só por psicólogos, a formação dos
psicólogos reorientada para as prioridades sociais, a garantia de um ensino
crítico e reflexivo, a extinção da hora/aula como forma de contratação no
30 grau, o incremento aos recursos de pesquisas [...].
Assim, em janeiro de 1998 o projeto de autorização para o
funcionamento do curso foi apreciado pela Comissão de Verificação do
MEC, composta pelos professores Olavo de Faria Galvão (Universidade
Federal do Pará), Maria Emília Yamamoto (Universidade Federal do Rio
Grande do Norte) e a técnica em assuntos educacionais Maria Célia
Macedo Araújo Melo (Delegacia Regional do MEC — São Luís — MA),
que, designados pela Portaria n° 697/97-SESu-MEC, de 31 de dezembro
de 1997, procederam à verificação das reais condições para o
funcionamento do curso de Psicologia do UniCEUMA com vistas à sua
autorização. Desse modo, a comissão avaliou, como consta no relatório
apresentado, entre outros dados, a confirmação da necessidade social
apresentada no projeto a partir da alta demanda por vestibular, a
necessidade de profissionais na área da Psicologia e a ausência de um
curso com formação regular de psicólogos.
Mesmo constatando a necessidade de profissionais no Estado, a
comissão, em suas recomendações, avaliou que 240 (duzentas e quarenta)
vagas seria um número excessivo, o que implicaria lançar no mercado
cerca de 200 (duzentos) profissionais por ano, muito além da necessidade
— um universo superdimensionado —, o que ocasionaria acelerada
saturação de profissionais, dificultando a manutenção da qualidade
almejada pela Instituição, já que na cidade de São Luís não existiam
muitos profissionais com pós-graduação stricto-sensu em quaisquer das
189
áreas da Psicologia, e ainda era difícil a vinda de profissionais de outros
centros com esse perfil em curto prazo. A Comissão Avaliadora
recomendou a autorização para o funcionamento do curso de Psicologia
com a abertura de 120 (cento e vinte) vagas, possibilitando uma gradação
na ocupação do mercado profissional (PROJETO..., 1993b, não paginado).
Considerou ainda que a estrutura curricular apresentada no projeto
necessitava ser reformulada quanto ao currículo mínimo, adequando-o ao
perfil do profissional que atendesse às características regionais,
considerando três aspectos: o próprio projeto, montado em 1993, as
modificações da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e o trabalho realizado
pela Comissão de Especialistas do MEC. Resolveu-se que, embora a
Instituição tenha realizado a reformulação do currículo em relação ao
primeiro ano do curso, ela deveria estender-se para os demais anos. Além
disso, sugeriu-se que ela elegesse áreas prioritárias e as fortalecesse através
da contratação de pessoal qualificado, treinando e atualizando professores
nas respectivas áreas.
Embora a Instituição já houvesse alterado o quadro docente,
objetivando a autorização, a comissão considerou-o ainda fraco, mesmo
com formação compatível nas disciplinas que os docentes se propunham a
ministrar. Em suas recomendações sugeriu a contratação de pessoal com,
no mínimo, especialização e, preferencialmente, com mestrado, sendo
necessário um planejamento de qualificação formal, com previsão de
tempo para a pesquisa e extensão; uma qualificação formal dos seus
docentes (mestrado e doutorado), através de convênios, ou mestrados
interinstitucionais e, ainda, que fosse retirada a política de remuneração na
forma de hora/aula para a implantação do regime de trabalho em tempo
parcial e tempo integral (PROJETO..., 1993b, não paginado).
Em relação à biblioteca, considerada bastante adequada, a comissão
apenas recomendou a aquisição de periódicos nacionais e internacionais na
área da Psicologia. A infraestrutura física foi avaliada favoravelmente, com
laboratórios bem equipados, sendo recomendada apenas a construção de
salas de trabalho para os professores, prevendo-se a implantação dos
regimes de trabalho mencionados.

190
A comissão, depois da análise realizada, emitiu parecer conclusivo,
autorizando o funcionamento do curso, enumerando os pontos essenciais
que a Instituição deveria ainda atender. Assim, conforme teor do
documento constante no projeto do curso, reafirma
[...] fortemente que a instituição: 1. Aprove rapidamente um
novo Plano de Cargos e Salários de Pessoal Docente prevendo a
contratação de docentes em regime de tempo integral, com carga
horária para atividades extra-aulas, desde atendimento de alunos
e preparação de aulas, até dedicação a pesquisa e serviços, e
condições para afastamento para pós-graduação stricto-sensu
com vencimentos em tempo parcial e integral, em São Luís ou
fora; 2. Redefina o Perfil do Profissional Psicólogo a ser
formada nas FICEUMA, que vai nortear a definição do currícul o
pleno, em concordância com as Diretrizes Curriculares para o
Curso de Psicologia, em elaboração na SESU/MEC; 3. Adote
uma política de incentivos que permita a atração de um núcleo
mínimo de professores titulados, garantindo a excelência da
formação para a primeira turma. (PROJETO..., 1993b, não
paginado).
Em 17 de fevereiro de 1998, o relator Yugo Okida, no Parecer n°
136/98-CES, em seu Relatório/Mérito, comentou o Parecer n° 705/97-
CES, da Comissão Verificadora, que visitou "in loco" as instalações do
futuro curso, aprovando o prosseguimento da tramitação do processo
baseado nas análises da comissão citada e autorizando a implantação do
curso de Psicologia na habilitação Formação de Psicólogo. Após tal
análise, entre outras considerações, disse que dificilmente a Instituição
poderia redefinir naquele momento o perfil do profissional a ser formado;
que ela previa uma reformulação curricular tão logo fossem divulgadas as
Diretrizes Curriculares, tendo, para isso, designado uma comissão de
professores; e, finalmente, que vários benefícios foram propostos para
melhoria do corpo docente, os quais deveriam ser incrementados e
oficializados pela Instituição. Em seu voto, o relator foi favorável ao
funcionamento do curso, com 100 (cem) vagas totais anuais, divididas nos
turnos vespertino e noturno, como sugerido pela Câmara de Ensino
Superior. Embora tenha sido essa a decisão, o UniCEUMA oferece 100
(cem) vagas por semestre no vestibular.
191
Antes da emissão desse Parecer, o UniCEUMA enviou um
documento, aprovado pelo seu Colegiado Superior, contendo o
regulamento do Magistério, onde incluiu, por sugestão da comissão, o
Plano de Carreira de Magistério — mesmo não sendo obrigado a
apresentá-lo — que previa a contratação de professores em tempo integral33
(PROJETO..., 2001, p. 29).
Em relação aos incentivos e vantagens para estimular a fixação e
melhoria do corpo docente, conforme sugerido pela comissão, o
UniCEUMA pretende criar um programa de pós-graduação
interinstitucional com a Universidade Federal do Pará em Teoria e
Pesquisa do Comportamento, objetivando promover a imediata
qualificação dos docentes. A escolha dessa Instituição deve-se à
proximidade geográfica, o que, segundo eles, torna possível a
concretização dessa iniciativa.
A partir das considerações da Comissão de Verificação, o projeto
que autorizou o funcionamento do curso foi revisto e atualizado em 2001,
servindo de suporte para atender ao curso e também para obter seu
reconhecimento, principalmente no que se refere à concepção, justificativa,
objetivos, perfil profissiográfico (habilidades básicas e profissionais),
filosofia educacional, missão do curso, princípios e fundamentos do curso,
organização do curso (eixos norteadores), conforme sintetizado a seguir.
O UniCEUMA explicita a Psicologia enquanto ciência e profissão
como um campo autônomo de saber que tem ainda uma curta história, mas
que vem aos poucos se consolidando. Esse fato poderá conferir à
Psicologia, dentre as profissões do futuro, um papel de destaque como uma
das mais promissoras. A Instituição assume seu papel no atendimento à
necessidade de formação de profissionais psicólogos, conforme se segue:
[...] toma para si parte da incumbência de constituir um pólo de
preparação de profissionais da Psicologia alinhados com o
desenvolvimento mais recente dessa peculiar ciência. Neste

33 Embora conste no projeto de reconhecimento do curso o regime de trabalho de 40 horas semanais ou DE


(Dedicação Exclusiva), na prática, o que se observa é que até o ano de 2001 os professores continuavam
recebendo por hora/aula, de acordo com a titulação que possuíam.
192
contexto, em março de 1998, foi criado o Curso de Psicologia,
objetivando atender à demanda não só da Ilha de São Luís, do interior
do Estado, incluindo as mais longínquas localidades do Estado do
Maranhão e até outros Estados da região Nordeste [...] Nessa grande
região geográfica, o acesso ao serviço psicológico e ao ensino em
Psicologia tem sido basicamente possível pela vinda de profissionais de
outros Estados. Essa situação é a que ainda se vivencia hoje inclusive
para o desenvolvimento e estruturação do curso. (PROJETO...,
2001, p. 45).
O UniCEUMA justifica a implantação do curso pelo fato de o
Maranhão ter hoje (2001) cerca de 253 (duzentos e cinquenta e três)
psicólogos, de acordo com dados oferecidos pela representação do
Conselho Regional de Psicologia (CRP) local, sendo esse um número
insuficiente para atender à demanda do mercado que vem crescendo a cada
dia, nas diversas áreas da Psicologia e pelo fato de somente em 1991 a
Universidade Federal do Maranhão ter criado seu curso de graduação em
Psicologia, oferecendo, naquele momento, apenas as habilitações em
Licenciatura e Bacharelado (PROJETO..., 2001, p. 46).
Quanto aos princípios e fundamentos do curso, conforme o
documento, o aluno terá uma formação diversificada (generalista), o que
implica oferecer, desde cedo, disciplinas que deem boa fundamentação
teórica, mas que incluam também conteúdos e experiências práticas, que
ofereçam ao aluno oportunidade para realizar trabalhos de campo,
pesquisas acadêmicas, vivências relacionadas ao conteúdo estudado,
visando a um conhecimento horizontal orientado pela
multidisciplinaridade, de modo a favorecer a interseção da Psicologia com
as diferentes ciências, tanto no sentido epistemológico, quanto no sentido
da instrumentalização metodológica.
Através de sua filosofia educacional, o curso de Psicologia propõe
oferecer uma educação integral, compreendendo a totalidade do ser
humano, formando o cidadão crítico e transformador, preparando-o para o
exercício profissional, no que diz respeito à pesquisa e atualização
científica.

193
Referente à missão, o curso oferece, nos últimos semestres, além das
disciplinas teóricas e práticas, o Estágio Supervisionado: o Básico, em 4
(quatro) áreas de atuação, e o Específico, com concentração em 2 (duas)
áreas, o que, de certo modo, vem minimizar falhas históricas da formação
do psicólogo quando era comum o aluno, ao chegar ao 5° ano, fazer opção
pelo estágio sem nenhum conhecimento concreto das áreas de atuação. Tal
medida permite a concentração em determinadas áreas de interesse do
aluno durante a sua formação.
O curso tem por objetivo a formação integral do psicólogo,
assegurando-lhe um sólido conhecimento, a partir de uma linha
praxiológica que lhe proporcione, como futuro profissional, efetivas
oportunidades de aperfeiçoamento pessoal e melhoramento da sociedade.
Outrossim, em seu perfil profissiográfico, o psicólogo, entre outras
características, deve apresentar um conhecimento abrangente de áreas afins
da Psicologia e o desenvolvimento de habilidades básicas e profissionais
que fundamentem o trabalho em equipe e possibilitem as efetivas práticas
interdisciplinares.
Em relação à organização (eixos norteadores), o curso busca
possibilitar ao aluno uma atuação progressista na construção do
conhecimento científico. Desse modo, a estrutura curricular contempla
disciplinas fundamentais à formação do profissional psicólogo generalista,
podendo desenvolver uma maior concentração em uma das áreas propostas
pelo curso (hospitalar, organizacional, clínica, escolar). Assim, as
disciplinas Antropologia, Sociologia, Filosofia, Psicologia Social ampliam
a visão dos alunos, levando-os a contemplar o social; as disciplinas
Genética Humana, Fisiologia Humana, Neuroanatomia, Psicofarmacologia
e Psicopatologia Geral oferecem uma melhor compreensão do homem no
aspecto biológico, podendo facilitar interfaces com outras ciências; e as
disciplinas Teorias e Técnicas Psicoterápicas Comportamentais, Teorias e
Técnicas Psicoterápicas Psicanalíticas, Teorias e Técnicas Psicoterápicas
em Gestalt e Teorias e Técnicas Psicoterápicas Humanísticas oferecem um
melhor entendimento das abordagens psicológicas através dos conteúdos
teóricos e práticos. Além dessas disciplinas há também as específicas das

194
áreas de Psicologia Hospitalar, Psicologia Organizacional e Psicologia
Escolar.
Além do que é oferecido, cabe ao aluno complementar o currículo
com atividades extracurriculares como pesquisas, congressos, seminários,
encontros promovidos pela Instituição ou por órgãos da iniciativa pública
ou privada no Estado ou fora dele, com apoio e incentivo do UniCEUMA e
da Coordenadoria do Curso (PROJETO..., 2001, p. 53-54).
A estrutura curricular apresentada no projeto para autorização,
elaborada nos termos da Resolução do CFE de 19 de dezembro de 1962,
originária do Parecer n° 403/62, mantém congruência com os objetivos do
curso, o perfil do profissional e as condições socioculturais da região.
Assim, o currículo do curso previu inicialmente um sistema anual com um
total de 4.332 (quatro mil, trezentos e trinta e duas) horas, mas nas
reformulações subsequentes houve pequenas alterações, encontrando-se
em abril 2001 com apenas 4.064 (quatro mil e sessenta e quatro) horas.
Após a primeira reformulação curricular (solicitada pela Comissão
de Verificação), a estrutura do curso, para a entrada dos alunos em 1998,
conservou o sistema anual da distribuição de disciplinas nos dois primeiros
anos, alterando-o a partir daí para uma organização semestral. Na segunda
reformulação, em 1999, o aluno cursava um bloco de disciplinas
anualmente e os demais por semestre. Em 2000 e 2001, foi adotado o
sistema semestral. Além disso, algumas disciplinas do projeto de
autorização foram mantidas, outras foram suprimidas, algumas ganharam,
outras perderam adendos (I, II e III) e outras ainda mudaram de
nomenclatura. Assim sendo, a estrutura curricular foi alterada quatro
vezes, dificultando, pelo que se percebe, a passagem do aluno por esse
processo, pela exigência dos pré-requisitos e do aumento e diminuição da
carga horária total do curso. Vale frisar também um redirecionamento do
curso no que se refere às abordagens psicológicas, pois inicialmente havia
uma grade curricular com ênfase na abordagem comportamental e, com a
inclusão de disciplinas relativas ao Inconsciente, parece haver um
equilíbrio.

195
Para melhor demonstração das sucessivas reformulações do
currículo, considerou-se necessária a construção de um quadro
(APÊNDICE C), que pudesse promover visualização mais fácil e
entendimento das modificações ocorridas no curso em tão curto espaço de
tempo, antes que houvesse, a graduação da primeira turma. As informações
sobre essas alterações, nesse sentido, foram escassas. O que se soube,
informalmente, e depois com as entrevistas, foi que as turmas
reivindicavam disciplinas que consideravam importantes para sua
formação.
A justificativa apresentada para as reformulações foi a de promover
uma adequação aos eixos norteadores, aludidos anteriormente. A
preocupação do curso em atender a formação dos alunos ficou explicitada
em sua própria organização, conforme se pode ver a seguir:
[...] foi estruturado para contemplar uma formação p r o f i s s i o n a l
p a u t a d a n o c o n h e c i m e n t o epistemológico e histórico dos
fenômenos e processos psicológicos básicos, que permitam ao discente
uma visão do processo de construção do conhecimento psicológico,
desenvolvendo a capacidade para avaliar criticamente diferentes
teorias e metodologias em psicologia com vistas a uma atuação
profissional de qualidade [...] o educando deve adquirir o domínio
das técnicas de avaliação e intervenção psicológica que respaldem uma
atuação profissional em uma das áreas que o curso propõe (Hospitalar,
Organizacional, Clínica, Escolar), assegurando, desta forma, a
formação integral centr alizada no conhecimento dos
fenômenos e processos psicológicos, fundamentais ao desempenho
profissional do discente.
A formação em Psicologia, proposta pelo UniCEUMA, objetiva
despertar no formando a necessidade de constante aperfeiçoamento e
atualização técnica e científica, priorizando a capacitação para atuar de
maneira interdisciplinar e multiprofissional, no sentido de atender à
demanda do mercado e inclusão do mesmo nas áreas profissionais afins.
(PROJETO..., 2001, p. 53).
Como previsto no Projeto... (2001, p. 54), nos últimos 4 (quatro)
semestres do curso o aluno entrará em contato com a prática profissional,
sendo que, no 7° e 8° semestres manterá contato com as quatro áreas de
atuação e, no 9° e 10º semestres realizará o estágio no máximo em duas
196
áreas de atuação, conforme sua escolha. Contudo, no Estágio
Supervisionado Específico Clínico terá a formação oferecida em, no
mínimo, três abordagens teóricas.
O Estágio Supervisionado, então, encontra-se estruturado em Básico
e Específico. No Básico, o discente entrará em contato com as seguintes
áreas: Psicologia Organizacional, Psicologia Escolar, Psicologia Hospitalar
e Psicologia Clínica, com 240 horas, sendo 60 horas para cada área de
atuação. Esse primeiro momento visa oferecer ao aluno subsídios para uma
opção mais consciente do(s) campo(s) que deverá escolher para o Estágio
Específico.
As atividades desenvolvidas nos estágios devem receber sua
fundamentação teórica de forma sistematizada e culminar com a
elaboração de um trabalho ao final de curso, cujas características
variarão em função das habilitações ou áreas de concentração escolhidas
pelos discentes (Psicologia Clínica, Organizacional, Hospitalar e
Escolar) e especificidade da atuação desenvolvida pelo estudante.
O Trabalho para a conclusão de curso consistirá na elaboração de um
projeto de pesquisa, relato de caso, ou relato de experiência durante
o estágio específico, que contemple diagnóstico, bibliografia,
intervenção e conclusão, de acordo com a área escolhida, a ser
defendido perante uma banca examinadora constituída de três
psicólogos, sendo o supervisor docente membro nato. (PROJETO...,
2001, p. 55).

O curso de Psicologia do UniCEUMA pretende oferecer quatro


opções de abordagem na área clínica (Comportamental, Psicanálise,
Gestalt e Humanismo). Por enquanto estão em funcionamento as de
Humanismo e Gestalt e a predominância dos alunos da primeira turma foi
pela área clínica, na abordagem Gestalt, ocorrendo uma mudança
significativa na proposta inicial do curso, cujo enfoque era o
comportamental.
Para tanto, o UniCEUMA conta com uma clínica de atendimento
psicológico — Clínica Pe. João Mohana —, na qual os estudantes poderão
ampliar a atuação nesse campo da Psicologia. O espaço físico da Clínica é
constituído de salas de atendimento individual e grupal, supervisão e
197
atividades lúdicas. Em outro espaço está situado o Laboratório de
Psicologia Experimental. Administrativamente, o curso é constituído pelo
Conselho de Curso e Coordenação de Curso, tendo em 2001, 30 (trinta)
professores ministrando aulas.
Como anteriormente foi demonstrado nas falas, para a compreensão
dos momentos da criação desse curso foi necessário buscar, além dos
documentos, informações junto aos professores que acompanharam o
processo. Para tanto, foi elaborado um roteiro de entrevista, elegendo
questões como a constituição do curso, a participação no processo de
criação, as relações desses professores com a Psicologia, a decisão do
UniCEUMA para a escolha da habilitação Formação de Psicólogo, as
universidades que serviram de parâmetro para a grade curricular, a
reformulação curricular e o reconhecimento do curso. Os professores que
participaram do processo de criação do curso e outros que posteriormente
colaboraram nesse processo revelaram suas atuações conforme descrito a
seguir.
A coordenadora do curso, professora Eleusina Oliveira, afirmou:
"Minha participação foi integral no projeto de autorização do curso."
O professor Carlos Augusto Cavalcante, que na época era
Superintendente de Ensino, Pesquisa e Extensão, declarou:
[...] minha participação foi ativa. Eu era responsável por coordenar a
montagem de todos os cursos do UniCEUMA [...] dando opiniões,
procurando sempre o que havia de melhor no Brasil e no mundo para
que não fizéssemos algo desatualizado, não condizente com a
necessidade da nossa comunidade.
A professora Cláudia Valeska comenta:
[...] fui convidada posteriormente para ser coordenadora dos laboratórios
multidisciplinares [...] e como dispunha de tempo acompanhei o
desenvolvimento do curso junto à coordenadora e também a elaboração
da proposta pedagógica do curso a fim de organizar os horários das
aulas e dos professores, decidir sobre a clínica e a sua criação.
Já o professor Marcos Lima declara:

198
A professora Eleusina Oliveira elaborou todo o projeto de autorização
do curso [...] posteriormente participei de reuniões em que discutíamos a
grade curricular e a reorganização do curso.
Conclui-se, pois, que a coordenadora do curso realizou todas as
atividades necessárias, trabalhando e discutindo questões, com seus
colaboradores, para a construção e desenvolvimento do curso.
Ao serem perguntados a respeito da ligação que tinham com a
Psicologia, os entrevistados informaram serem todos psicólogos. No
entanto, o professor Carlos Augusto Cavalcante destaca:
A maioria era de psicólogos, mas havia pedagogos e assistentes sociais,
trabalhando de modo interdisciplinar [...] trouxemos psicólogos do Rio
de Janeiro, São Paulo, a presidente do Conselho Federal de Psicologia
nessa época, a professora Ana Bock, e conversamos com professores da
UFMA.
Partilhando desse dado, o professor Francisco Sousa complementa:
"[...] Ainda hoje, nós temos a participação de consultores de outras regiões
que vêm para trabalhar principalmente na elaboração do projeto de
reconhecimento do curso", e segundo as professoras Eleusina Oliveira e
Cláudia Valeska, "[...] eram todos psicólogos com larga experiência na
docência".
Percebe-se, portanto, que a qualificação dos colaboradores no que
diz respeito às suas ligações com a área da Psicologia e a
interdisciplinaridade não foi suficiente para evitar a sobrecarga do curso
em uma só área da Psicologia, nesse caso específico, da área
comportamental. Contudo, é interessante registrar que o curso conseguiu, a
partir das reformulações curriculares, redirecionar essa escolha inicial, o
que ficou mais evidente nas opções por outras áreas no Estágio
Supervisionado.
É importante chamar a atenção para o fato de que, embora não tenha
sido mencionado no projeto de autorização que universidades serviram de
parâmetro para a montagem da grade curricular, nas entrevistas foi obtida
essa informação. De acordo com os entrevistados, foram elas: a
Universidade Federal do Pará (UFPA), o Centro de Ensino Unificado de
199
Brasília (CEUB), a Universidade de São Paulo (USP), a Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a Universidade Federal do
Maranhão (UFMA), além da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), da
Universidade de Brasília (UnB), da Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE) e da Universidade da Amazônia (UNAMA). Observa-se, contudo,
que o grande número de instituições citadas não permite que se possa
afirmar quais serviram de parâmetro. As declarações seguintes esclarecem
este ponto.
A proposta de conhecer a grade curricular de outras universidades,
segundo o professor Carlos Augusto Cavalcante, deu-se da seguinte forma:
[...] procuramos estruturar o curso de uma maneira bem abrangente
pensando na realidade local [...] nós trouxemos também algumas ideias
do exterior, na época principalmente dos Estados Unidos da América.
Já o professor Marcos Lima afirma ter sido a Universidade Federal
do Pará, por isso,
[...] carregou-se muito na área comportamental, o que já está sendo
modificado [...] Até porque o primeiro consultor era psicólogo, com
doutorado na área comportamental e foi ele que deu respaldo científico
para a autorização do curso.
O professor Francisco Sousa diz:
Não houve predominância de uma instituição para a montagem da grade
curricular. Foram consultas bem abrangentes, mas uma universidade
bastante consultada foi a UFPA.
Apesar deterem sido consultadas diversas universidades com o
objetivo de promover um currículo abrangente, de acordo com a maioria
dos entrevistados houve um predomínio das relações com a UFPA, o que
resultou em maior ênfase na área comportamental, provocando, mais tarde, a
necessidade de reformulação curricular.
Mesmo sendo um curso recente, passou por várias reformulações,
como já foi comentado. Destarte, sente-se necessidade de conhecer como

200
foram essas sucessivas reformulações. A seguir, alguns esclarecimentos a
esse respeito:
O curso já está na segunda reformulação curricular por orientação dos
consultores que vieram analisar e avaliar o curso para ser autorizado.
Esse processo foi realizado através de reuniões para discussão das
ementas e adoção de sugestões feitas pelo consultor, que geralmente é
alguém ligado ao MEC. No UniCEUMA, como o curso é novo ainda,
está no quarto ano, não existem professores para todas as disciplinas.
Existem disciplinas sem professor titular. Na verdade, existe uma
comissão que faz a avaliação geral. Um dado importante nessas
reformulações foi o questionamento dos alunos acerca do
direcionamento do curso, montado dentro de uma proposição voltada
para a formação clínica, com ênfase na comportamental. Houve, então,
reivindicação de disciplinas do Inconsciente, que foram inseridas para
atender a essas solicitações. (FRANCISCO SOUSA).

Já foram feitas várias mudanças. Para tanto, foi


solicitado um professor de Brasília (UnB), o qual junto
com outros professores procederam às reformulações no sentido de
inclusão e retirada de disciplinas, alterações de nomes e comparação de
conteúdos, visando à melhoria da qualidade do ensino e ao enxugamento
do curso segundo as orientações do MEC. (CLÁUDIA VALESKA).

Por orientação do MEC nós temos uma comissão permanente de


atualização curricular, cujos professores verificam, constantemente, o
que há de novo e o que está ultrapassado para poder atualizar. Essa
atualização ocorre a partir das ementas, atingindo toda a grade curricular
aprovada pelo Colegiado de Curso e depois pelo Conselho Superior.
(CARLOS AUGUSTO CAVALCANTE).

Há constantes reuniões de reajuste da grade curricular. Há uma comissão


designada para essa atividade, principalmente para o realinhamento do
curso, notadamente nas disciplinas introdutórias referentes à História da
Psicologia, a fim de evitar choques de conteúdo de disciplinas.
(MARCOS LIMA).
Como se pode constatar, parece haver uma prática no curso voltada
para a atualização dos currículos em atendimento às solicitações do MEC e

201
às reivindicações dos alunos, prática subsidiada por professores não só da
Instituição mas também de outros Estados. Esse dado demonstra a
tendência do curso em redirecionar-se para outras áreas além da
comportamental, fazendo jus ao perfil generalista proposto.
Quanto à decisão da escolha da habilitação Formação de Psicólogo
tanto no projeto que autorizou o funcionamento do curso como no de seu
reconhecimento sobre a existência de outra habilitação, os informantes
declararam:
Exatamente porque a UFMA oferecia apenas Licenciatura e
Bacharelado, foi que o UniCEUMA concluiu: existe espaço no mercado
para um curso que ainda não existe [...] isso facilitou a aprovação pelo
MEC do curso de Psicologia [...] O UniCEUMA tem apenas Formação
de Psicólogo nas áreas organizacional, clínica, escolar e hospitalar e
habilita o profissional em duas dessas áreas. (MARCOS LIMA).

Nós sempre acreditamos muito nessas habilitações básicas: clínica,


escolar e organizacional. A habilitação é Formação de Psicólogo nessas
áreas, além do Bacharelado e futuramente da Licenciatura. (CARLOS
AUGUSTO CAVALCANTE).

Essa decisão foi basicamente minha, uma vez que não tínhamos, na
ocasião, nenhum curso de Formação de Psicólogo. (ELEUSINA
OLIVEIRA).

[...] o que sei é que a professora Eleusina Oliveira, desde o início, tinha a
idéia da clínica [...] Eu lembro que existia uma tendência muito grande no
curso de Psicologia da UFMA para a área de educação, então ela queria
formar um profissional generalista [...] Quando eu cheguei do Pará, eu
pensava que a UFMA seguia o mesmo esquema da UFPA, onde o curso
contempla Licenciatura, Bacharelado e Formação [...] mas eu nunca fui
até lá para saber, embora ouvisse as pessoas comentarem que havia
Formação [...] sei que o aluno do UniCEUMA sai com diploma de
Formação de Psicólogo, mas a grade curricular abrange o Bacharelado.
(CLÁUDIA VALESKA).

O UniCEUMA partiu para uma habilitação de clínica porque havia uma


falta de informação ou mal entendimento em relação ao curso da UFMA
202
de que só oferecia Licenciatura e Bacharelado, e não Formação de
Psicólogo, como foi efetivamente o processo de formação inicial. Por
conta disso, o UniCEUMA solicitou e propôs a criação de uma
habilitação voltada para a atuação na clínica. Tanto é que hoje o nosso
curso só tem essa habilitação e não tem formações intermediárias de
licenciado e nem bacharel. Não existem outras habilitações.
(FRANCISCO SOUSA).
Embora alguns informantes tenham declarado a existência de uma
outra habilitação além da Formação de Psicólogo, nos projetos de
autorização e reconhecimento, como já assinalado, não consta esse dado.
Quanto à questão do reconhecimento, de acordo com os
entrevistados, o curso de Psicologia do UniCEUMA encontra-se em fase
de pré-reconhecimento pelo MEC, estando o seu projeto sendo elaborado.
A Coordenação do Curso vem preparando a documentação, para que ele
seja reconhecido antes da formação da primeira turma, em dezembro de
2002.
Assim, pela Portaria SESu/MEC n° 2.243/2001, foi designada a
Comissão Verificadora composta pelos professores Ronald João Jacques
Arendt (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Maria Emília
Yamamoto (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e Eulina da
Rocha Lordelo (Universidade Federal da Bahia), responsável pela
avaliação "in loco" das condições de funcionamento do curso, que ocorreu
no período de 13 a 15 de dezembro de 2001, ficando o curso à espera do
relatório do MEC.
Em abril de 2002 foi enviado pelo Ministério da Educação ao
UniCEUMA o Relatório que trata do reconhecimento do curso de
Psicologia, na habilitação de Formação de Psicólogo, decorrente do
Processo n° 23000.014610/2001-85 —, relatado pelo conselheiro Lauro
Ribas Zimmer, que emitiu Parecer n° 126/2002-CNE/CES, aprovado pela
Câmara de Educação Superior em 2 de abril de 2002.
As considerações constantes no documento referem-se inicialmente
às vagas oferecidas pelo curso, num total de 200 (duzentas). O relator
solicitou ao UniCeuma esclarecimento sobre este número, pois o curso
havia sido autorizado com somente 100 (cem) vagas totais anuais pelo
203
Conselho Nacional de Saúde e pela Comissão de Especialista de Ensino de
Psicologia da SESu/MEC. O UniCeuma informou que o seu Conselho de
Ensino e Pesquisa, através da Resolução CEPE n° 006/2000-UniCEUMA,
de 28 de setembro desse mesmo ano, autorizou o aumento do número de
vagas oferecidas, com duas entradas semestrais, distribuídas nos turnos
vespertino e noturno.
O conselheiro fez também referência à visita da Comissão
Avaliadora que, após a análise das condições de funcionamento do curso,
recomendou seu reconhecimento pelo prazo de 1 (um) ano, somente para
os alunos que ingressaram nos anos de 1998 e 1999, solicitando que o
Conselho Nacional de Educação determinasse ao UniCEUMA o
atendimento, no prazo máximo de 6 (seis) meses, das recomendações
abaixo, feitas quando da visita seguinte:
a) reformulação do Projeto Pedagógico apresentado pela
Instituição, em todos os seus componentes, devendo adequar-se
e ajustar-se às Diretrizes Curriculares;
b) número elevado de vagas, que poderá comprometer a qualidade
do curso, em decorrência da situação do Estado do Maranhão,
em termos de disponibilidade de recursos para prover a
Formação de Psicólogo e a demanda local por cursos de
Psicologia;
c) avaliação das condições limitadas de convênios para a realização
dos estágios curriculares, pelo número pequeno de psicólogos no
Estado e de empresas que contam com serviços de psicologia;
d) adequação das instalações físicas em relação ao grande número
de alunos no Centro de Psicologia Aplicada;
e) ampliação do acervo da biblioteca, considerado insuficiente, no
que diz respeito às fontes de consulta em periódicos
internacionais;
f) implantação em curto prazo de um plano de carreira docente
com a fixação de cargas horárias que incluam ensino, preparação

204
de aulas, pesquisa ou extensão e a implementação de uma
política de efetivo apoio e capacitação docente.
Após sua apreciação, o relator discordou da avaliação da comissão
quanto ao reconhecimento do curso apenas para os alunos que ingressaram
nos dois primeiros anos (1998/1999), considerando que ficariam excluídos
os alunos que ingressaram em 2000 e 2001, embora uns se encontrem
realizando o curso nas mesmas condições que os outros. Também não
concordou com a conclusão da SESu/MEC, em conceder o reconhecimento
pelo prazo de 1 (um) ano, analisando o curto prazo destinado à Instituição
para o atendimento de todas as recomendações arroladas. Dessa forma,
votou favoravelmente ao reconhecimento do curso pelo prazo de 3 (três)
anos, com um total de 200 (duzentas) vagas, devendo o UniCEUMA
atender as solicitações da Comissão de Avaliação. A Câmara de Educação
Superior aprovou por unanimidade o voto do relator (BRASIL, 2002, p. 1-
3).
Observa-se, pelo exposto no documento, que, embora o número
elevado de vagas comprometa o próprio funcionamento do curso, no
tocante ao espaço físico do Centro de Psicologia Aplicada e ao
encaminhamento de alunos para estágios, devido às condições
apresentadas, o curso foi aprovado com 200 (duzentas) vagas, quase
alcançando a proposta inicial, quando o UniCEUMA solicitou, no projeto
de autorização, 240 (duzentas e quarenta) vagas para o curso.
A análise da trajetória do curso de Psicologia do UniCEUMA
demonstrou o seu crescimento com o alcance de um dos seus principais
objetivos à época, que era o de oferecer um número maior de vagas aos
interessados pela área. Entretanto, outros objetivos importantes, inerentes a
um curso de graduação, ainda estão por ser atingidos totalmente, como, por
exemplo, a definição funcional do quadro docente, recomendada em quase
todos os pareceres e/ou relatórios, como uma condição para o bom
funcionamento do curso ainda não atendida pela Instituição.

205
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Toda a história — na qual se podem


interpolar à vontade novos
capítulos, mas na qual não é
conveniente que se pule nenhum,
porque quando menos se espera
reaparecem velhos personagens —
envolve centenas de nomes e
centenas de viagens por florestas
densas, palácios, estradas,
encruzilhadas etc. [...].

Luís Cláudio Figueiredo, 2002

Finaliza-se este estudo dizendo que em momento algum se teve a


pretensão de dar conta da amplitude que engloba o tema — "A Psicologia
no Maranhão" — pois, como se pode observar, a história narrada se
constituiu de fragmentos considerados importantes para o entendimento da
estruturação do conhecimento da área psicológica no Estado, mais
especificamente em sua capital — São Luís. Por isso, o objetivo, neste
espaço, não é o de estabelecer conclusões, mas o de apontar
acontecimentos que merecem ser mais bem pesquisados, para que não se
perca o registro das experiências históricas. Reconhece-se, assim, que há,
para cada aspecto abordado, possibilidades de outros estudos,
especialmente em relação aos cursos de Psicologia. Lamenta-se a não
inclusão de alunos entre os entrevistados e, em relação à contribuição do
Padre João Miguel Mohana, não ter havido condições de contatar com
aqueles que conviveram com ele e desfrutaram de seus ensinamentos e
atendimentos.

206
Escolheu-se trilhar esse caminho por entender-se que um primeiro
passo necessitava ser dado. Este passo se ampliou na medida em que o
fazer e o dizer deste trabalho ganhou mais força, principalmente após
algumas dificuldades encontradas na coleta de documentos e nos contatos
com alguns entrevistados, tanto com os que incentivaram quanto com os
que desestimularam esta caminhada. Torna-se necessário dizer mais uma
vez da implicação que se teve no estudo em relação ao trabalho
desenvolvido no Departamento de Psicologia e na criação do curso de
Psicologia da Universidade Federal do Maranhão, pois a trajetória
apresentada esteve permeada de muitas recordações a tal ponto que,
mesmo tentando estabelecer um distanciamento, não foi possível deixar de
ver que sempre se esteve ocupando um determinado lugar.
Constatou-se que o caminho percorrido pela Psicologia no
Maranhão, em relação à conquista do seu espaço, aconteceu de forma
lenta, motivada: 1) pelo desconhecimento da população quanto à atuação e
imagem do profissional psicólogo; 2) pela escassez da oferta de trabalho
no Estado, com raras oportunidades de campo para o psicólogo; 3) pela
demora, no meio universitário, da criação do primeiro curso de Psicologia.
Para suprir todas essas carências, o Estado contava apenas com a
experiência pioneira do Padre João Mohana.
A pesquisa realizada possibilitou fazer o levantamento da
documentação pertinente aos assuntos abordados, considerando o período
proposto neste trabalho, entre 1970 e 1998, com prosseguimento até abril
de 2002. Apesar de haver dispersão e mesmo ausência de fontes para
alguns casos, trabalhou-se na tentativa de ultrapassar as barreiras que o
documento impõe.
[...] Ao mesmo tempo, o valor heurístico e a significação do documento
dependem também da acuidade da leitura e do esforço interpretativo do
historiador: este, ao extrair de uma fonte de informação algum
conhecimento útil, é movido e orientado por seu objeto de interesse. Além
disso, o documento põe limites ao esforço de investigação, porque
nem sempre as questões que i n t e r e s s a m a o p e s q u i s a d o r s ã o b e m
documentadas, nem sempre os documentos conservados são os que se
desejaria. (MASSIMI, 1990, p. 76).

207
Foi possível, também, trabalhar com as memórias, nas falas dos
atores sociais que vivenciaram esses percursos, sendo que esses atores, em
sua maioria, foram (e são) a própria história. Como explica Antunes (1996,
p. 96),
[...] trabalhar com a memória é como brincar com fios e lanternas. Um fio
puxa outro, e este, mais outro. Um foco de luz ilumina espaços que mostram
outros e mais outros. Não se anda em linha reta, assim como não se puxam
todos os fios, nem se iluminam todos os cantos.
O que realmente aqui se tentou assinalar foi como se autonomizou a
Psicologia no Estado do Maranhão, embora com considerável atraso em
relação a outras regiões do país. Em resumo pode-se expressar que nessa
passagem foi possível verificar que:
a) durante muito tempo o conhecimento psicológico esteve atrelado
ao Padre João Mohana, com .o reconhecimento da população
que o procurava para tratar de assuntos dessa ordem,
provavelmente sem diferenciar entre o atendimento psicológico
e o religioso (ou espiritual);
b) os psicólogos enfrentaram várias dificuldades entre as décadas
de 70 e 80, na cidade de São Luís, para o reconhecimento, pela
população, desse campo de conhecimento e trabalho;
c) a partir das dissidências ocorridas no primeiro grupo de
psicanalistas, houve uma proliferação de instituições
psicanalíticas na cidade com demanda interna significativa, sem
que se percebesse demanda externa capaz de justificar tal
expansão;
d) em relação ao curso de Psicologia da Universidade Federal do
Maranhão, apesar de todos os percalços, desde a criação do
Departamento de Psicologia e a luta empreendida pelos seus
docentes para a criação do curso, tem conseguido manter-se,
porém deixa a desejar com relação às expectativas do alunado:
1) pela ausência de outras abordagens na área clínica sem ser a
psicanalítica; 2) pela continuidade da carência de professores,
responsável pela sobrecarga de atividades docentes e pela
208
inviabilidade da pesquisa e da extensão de forma mais intensa;
3) pelo tipo de sistema adotado (semi-seriado); 4) pela
impossibilidade de o aluno cursar mais de uma habilitação
proposta pelo curso, em razão da natureza excludente das
habilitações; 5) pela extensa carga horária que dificulta o
funcionamento do curso apenas em um turno;
e) em relação ao curso de Psicologia do Centro Universitário do
Maranhão, apesar da existência de estrutura física adequada ao
seu funcionamento, existe a necessidade de rever sua política de
pessoal.
Considera-se que o propósito deste estudo, de conhecer como se
estruturou a área da Psicologia no Maranhão, foi atingido, reconhecendo-se
que, de fato, só através da história dessa ciência é que foi possível entendê-
la neste processo. Afinal, com base nas contribuições registradas e na
pesquisa empírica, pôde-se chegar a esse entendimento, a ponto de se
sugerir um repensar crítico dessa ciência, a partir dos cursos existentes. Por
ser uma área relativamente recente no Maranhão, vislumbrou-se a
construção do futuro da Psicologia voltada a objetivos mais concretos, com
vistas a atender à realidade social, considerando o agir e o fazer humano.
Os avanços conseguidos pela Psicologia no Maranhão e as várias lacunas
que permeiam esses avanços, como visto no decorrer deste estudo,
dificultam que essa ciência possa galgar uma posição de igualdade em
relação aos centros mais avançados. Destarte, a situação atual exige
intenso trabalho consorciado entre os interessados na Psicologia, capaz de
eliminar barreiras que venham a prejudicar o crescimento dessa área.
Enfim, com esta narrativa crê-se que o trabalho tenha contribuído
para o registro dessa história e ainda para o despertar da necessidade de a
Psicologia no Maranhão trilhar por outros caminhos que não aqueles
recorrentes. Em especial, pelos cursos de Psicologia que se acredita serem
os maiores veículos para a realização dessas mudanças.

209
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216
APÊNDICES

217
APÊNDICE A

Relação candidatos/vagas das graduações da UFMA

218
Área / Curso
1.991 1.992 1.993 1.994 1.995 1.996 1.997 1988.1 1988.2 1999.1 1999.2 2000.1 2000.2
Bibliotecono
mia 2,93 3,59 4,82 3,64 5,56 2,6 4,58 2,88 8,48 7 7,56 7,2 7,72
Ciência da
computação
15,14 11,7 19,96 14,2 18,32 15,12 12,88 22,04 15,16 22,16 15,6 14,2 16,88
Ciências
imobiliárias 7 6,69 4,51 4,89 3,6 3,43 0 5,46 0 4,03
Ciências
aquáticas 8,2
Ciências
biológicas 6,91 6,09 11,82 5,18 10,04 7,24 6,31 11,36 0 16,8 0 15,44 13,9
Ciências
contábeis 12,6 10,3 18,11 12,51 15,79 9,34 10,39 1309 11 19,23 12,4 7,77 13,11
Ciências
econômicas 9,91 5,92 12,33 8,02 10,34 7,01 4,36 8,1 5,86 0 0 4 0
Ciências
sociais 6,82 3,18 7,82 4,33 7,46 4,09 3,11 12 0 10,66 0 9,89 0
Comunic.
social -
Jornalismo 11,9 9,33 17,2 8,77 10,43 11,38 9,83 18,67 16,33 22,25 14,27 17,4 14,8
Comunic.
social -
Radialismo 2,97 7,27 7,03 4 6,6 4,13 6 18,67 7,33 8,17 9,93 7,93 11,27
Comunic.
social - Rel.
Públicas 7,27 6 9,2 7,87 6,63 9,96 5,92 13,33 80,08 17,25 9,6 13,4 14,67
Desenho
industrial 6,5 6,66 9,61 5,14 8,55 4,5 5,28 8,45 7,05 8,25 7,55 5,85 6,6
Direito
(Mat/Not) 17,38 16,88 26,35 23,94 21,74 19,58 18,24 36,11 26,37 34,54 30,96 28,03 29,33
Educação
artística 3,04 4,21 6,93 4,69 7,19 3,2 3,87 6,89 6,03 9,26 7,86 8,23 8,46
Educação
física 3,67 4,04 5,11 3,63 4,96 4,6 4,09 6,97 8,03 11,69 8,94 13,26 12,69
Enfermagem
6,04 7,11 13,34 9,21 12,4 11,15 7,74 20,54 18,07 20,04 24,47 18,17 20,23
Engenharia
elétrica 11,58 9,04 12,19 7,06 8,44 7,27 4,39 12,32 8,48 10,04 7,22 7,33 7,67
Farmácia
9,77 10,41 13,98 11,82 15,16 11,48 9,38 20,83 19,27 18,63 24,63 15,83 19,37

Filosofia
3,2 2,64 6,3 2,98 5,76 2,77 3,73 5,23 7 7,86 7,57 6,71 9,4
Física
3,11 2,7 4,39 2,15 2,9 2,88 2,22 4,73 3,91 3,64 4,68 3,95 5,05
Geografia -
Bacharelado
1,98 5,6 6,8 6,5 9,3 7,15 9,68
Geografia -
Licenciatura
4,11 3,51 8,74 4,44 5,96 5,03 4,18 8,1 7,65 7,25 13,5 8,9 12,56
História -
Bacharelado 2,43 4,3 2,93 6,67 2,37 2,37 6,67 4 6,53 8,13 6,73 10,33 5,93
História -
Licenciatura
plena 4,03 3,4 7,55 4,58 5,7 8,5 4,18 12,25 14,8 10,7 17,72 11 16,72
Hotelaria
2,63 5,37 4,93 4,97 5,77 3,8 4,66 6,83 10,41 0 11,2 0 13,27
Letras
4,6 4,77 7,87 6,16 6,9 7,34 4,4 11,8 10,2 12,66 13,05 11,88 13,73
Licenciatura
Ciências
exatas - 0 0 0 1,27 0,97 0 0 0 0 0 0
Matemática
3,74 4,27 6,24 3,21 5,59 3,98 3,7 7,12 6,32 5,97 6,1 5,17 4,34
Medicina
22,57 21,94 28,84 25,01 30,94 29,89 23,96 41,31 44,23 41,89 51,23 28,91 58,63
Odontologia
17,21 16,25 18,48 16,25 20,77 21,08 13,36 33,05 24,6 28,9 25,35 19,4 24,15
Pedagogia
7,34 6,27 12,91 8,34 6,33 8,74 7,16 12,51 18,43 17,71 10,66 18,57 9,03
Pedagogia
Magistério 4,51 0 0 0 0 6,9 0 8,89 0 7,31
Psicologia
18,9 8,67 17,1 11,9 20,47 14,9 12,31 20,9 0 21,8 0 24,43
Química
Bacharelado/
Lic. Plena 2,38 2,03 2,73 2,7 3,3 2,64 2,66 2,68 5,28 4 5,36 3,12 5
Química
industrial 4,35 3,05 5,39 4,11 4,08 5,28 2,42 5,64 4,8 6,48 4,12 4,64 4,08
Serviço social
11,86 7,96 16,59 9 14,11 7,8 8,97 8,89 12,48 15,68 10,4 15,63 13,87
Turismo
4,73 7,33 6,83 6,8 10,51 9,34 7,26 14,86 0 25,83 0 15,84 0

Em 1991 (1º vestibular do curso de Psicologia) o curso de Psicologia foi o


2º mais procurado na UFMA, ficando atrás apenas do curso de Direito.
Em 1992, cai para a 9ª posição, ficando à sua frente os cursos já
tradicionalmente com maior demanda, (Medicina, Direito, Odontologia, Farmácia,
Ciência da Computação...).
Em 1993, devido aos problemas já explicitados anteriormente, referentes à
ausência da habilitação Formação de Psicólogo, aconteceu a maior queda na
preferência, ficando o curso de psicologia em 15ª colocação nas opções dos
vestibulandos.
A partir de 1994, acontece a retomada do crescimento da demanda,
ficando, logo naquele ano, em 6º lugar na preferência dos candidatos.
De 1995 a 1999 houve uma relativa estabilidade quanto á opção por
Psicologia dentre os vestibulandos, situando-se, em média, no 5º lugar.
Em 2000 a escolha dos candidatos pelo curso de Psicologia dá novo salto,
desta feita para aproximar-se dos mais escolhidos (3º lugar) ficando atrás apenas
dos cursos de Medicina e Direito.
APÊNDICE B

Candidatos do curso de Psicologia nos vestibulares de 1991 a 2000

Ano Vagas inscritos Relação Classificação Aprovados Eliminados Classificados


Cand./Vaga Cad./Vaga

1991 30 567 18,9 2 259 308 30


1992 30 260 8,67 9 98 162 30
1993 30 513 17,1 15 86 427 30
1994 30 757 25,23 6 172 585 30
1995 30 614 20,47 4 30 584 30
1996 30 447 14,9 5 30 417 30
1997 35 431 12,31 5 35 396 35
1998 30 627 20,9 4 30 597 30
1999 30 654 21,8 6 30 624 30
2000 30 733 24,43 3 30 703 30

A demanda de candidatos ao vestibular para o curso de psicologia sofreu


uma brusca queda no segundo ano (1992), pois passou de 2º mais procurado
dentre os cursos de graduação da UFMA (1991) para o 9º lugar e, em 1993, para o
15º. Em que pese o interesse inicial por um novo curso (1º no Estado do
Maranhão) a constatação de que não se tratava de curso de Formação de
Psicólogo, e sim de Licenciatura e Bacharelado, levou ao desinteresse pelo curso.
Em 1994, com a aprovação da reformulação do projeto inicial do curso de
Psicologia, acrescentando a habilitação Formação de Psicólogo, novamente
elevou-se o percentual da demanda, vindo a alcançar em 2000 a colocação de 3º
mais procurado na UFMA.
APÊNDICE C

Quadro de reformulações curriculares do curso de psicologia do UniCEUMA

Disciplinas 1993 1998 1999 2000 2001


Comunicação e x x Língua I e II -
Expressão portuguesa*
Filosofia x x x I e II x
História da Psicologia x x Hist. e Sist. Idem 1999 I e II Idem
Da Psi.* 1999
Antropologia x x I e II Antropologia e Idem
Sociologia* 2000

Metodologia x x x I e II x
Científica
Complementos de x x Estatística* Idem 1999 I e II Idem
Estatística 1999
Psicologia Geral x x idem 1998 Idem 1999 x
Psicologia x x x I e II Idem
Experimental 2000
Psi. do x I, II e III I e II I e II Idem
Desenvolvimento 2000
Biologia x x x x Gen.
Hum.
Apli. à
Psi.*
Fisiologia Humana x x x x x
Neuropsicologia x - - - -
Teorias e Sist. em Psi. x - - - -
Psicologia Social x I e II idem 1998 Idem 1998 Idem
1988
Psi. da Personalid. I e x x x x x
II
Téc. De Exa. e Acons. x s/adendo idem 1998 idem 1998 Idem
Psi. I e II 1988
Psicologia Escolar x Psi. Esc. e Dif. x x x
de Aprend.*

Psicologia x I e II idem 1998 Idem 1998 Idem


Organizacional 1988
Psicologia do x I e II idem 1998 Idem 1998 Idem
Excepcional 1988
Psicopatologia Geral x I e II idem 1998 Idem 1998 Idem
1988
Ética Profissional x x x x x
Psicologia da x x x x x
Aprendizagem
Din. de Grupo e Rel. x I e II idem 1998 Idem 1998 Idem
Humanas 1998
Psicomotricidade x x x x x
Teorias e Téc. x A partir de 1998
Psicoterápicas a disciplina foi
dividida em
abordagens:
Teorias e
técnicas em
Gestalt, em
Psicanálise, em
Humanística e
Comportamental
Seleção e Orient. x x x x x
Profissional
Psicologia da x - - - -
Percepção
Clínica Experimental x - - - -
Técnicas de Entrevista x - - - -
Prática Pro. em Psi. x - - - -
Clínica
Prática Pro. em Psi. x - - - -
Escolar
Prática Pro. em Psi. x - - - -
Organiz.
Informática - x x I e II -
Psicologia Ciência e - x x I e II x
Profissão
Anatomia e - x x Neuroanatomia* Idem
Neuroanatomia 2000
Psicologia Hospitalar - x x x x
I e II
Estágio Superv. - x x x x
Básico I e II
Estágio Superv. - x x x x
Específico I e II
Psicofarmacologia - x x x x
Técnicas Projetivas I - x x x x
e II
Psicometria - x x x x
Psicodiagnóstico - x x x x
Dificuldade de - - x x x
Aprendizagem
Teorias da - - - x x
Consciência
Teorias do - - - x x
Inconsciente
Psicolinguística - - - x x

Legenda:

(x) = Disciplina mantida


(-) = Disciplina suprimida
(I, II e II) = Adendos da disciplina
(*) = Nova nomenclatura da disciplina

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