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Introdução: Allport
O tema central no trabalho de Lewin considera que o grupo a que pertence o indivíduo
constitui a base de suas percepções, ações e sentimentos. A base do grupo social dá ao
indivíduo a base de sua configuração.
Segundo Allport, a grande contribuição de Lewin é a demonstração da possibilidade
de estudar a interdependência entre o indivíduo e o grupo e maneira mais equilibrada, por
meio da construção de novos conceitos que Lewin tece em articulação com a ação, com a
prática. Considerado um marco importante do estudo científico do homem em sociedade.
Marcado pelo que se denomina de teoria de campo, Lewin conseguiu articular a teoria
e a pratica, adaptando a experimentação (como método de pesquisa científica) a problemas
complexos da vida do grupo, somado, ainda, à observação de conflitos sociais. Allport
enfatiza a engenhosidade de Lewin de elaborar experimentos científicos no campo social,
acreditando que ele poderia ter ainda mais submetida suas hipóteses a testes experimentais.
Pois, as teroias só tem valor, segundo Allport, se verificadas na ação e a de que praticamente
em todo ato psicológico é preciso levar em conta o fundamento social da vida mental.
A pesquisa de ação pode ser vista como instrumento de mudança, introduzindo
esforços corretivos num grupo preparado para estudar os resultados de sua ação social, como
reeducação de atitudes, servindo à consciência social.
Atmosfera:
Para Lewin a atmosfera do grupo é uma propriedade da situação social como um todo,
podendo ser medida cientificamente. Retoma o experimento de Lippitt, comparativo entre a
atmosfera democrática e a autocrática, criando estruturas que permitissem a compreensão da
dinâmica subjacente do grupo. Dois grupos de jovens com uma tarefa e com lideranças
democráticas e autocráticas que, por conseqüência, criavam diferentes atmosferas.
Observou-se nos resultados do experimento que no grupo autocrático o impacto do
líder sobre o grupo era mais forte, o objetivo, estabelecido pelo líder, era induzido e tornava-
se uma barreira para o alcance do objetivo do sujeito e do livre movimento dos membros,
junto ao enfraquecimento de seus campos de força. As relações entre os membros mostraram-
se diferentes em ambos os grupos, na autocracia a hostilidade foi marcante, enquanto na
democracia, a cooperação evidenciou-se.
Frente aos resultados, o autor conclui que o estilo de vida e pensamento introduzido
pelo líder dominou as relações entre os sujeitos (hostilidade e cooperação, individualismo e
coletivismo) e entre eles e o líder (maior submissão ao líder e menor aos membros no caso da
autocracia, vice-versa na democracia).
A estrutura dinâmica é diferente no grupo autocrático e no democrático,
principalmente, no que se refere ao papel do líder que no autocrático cria uma distancia em
relação aos membros, e no democrático esta distancia é menor. Há uma diferença ainda de
originalidade dos indivíduos na tarefa e de união espontânea entre eles. Na autocracia há uma
maior rivalidade entre os membros, uma se torna inimigo em potencial das outras,
enfraquecendo-se todos, e para alcançarem algo próximo do status da liderança que lhes é
inalcançável, suprimem violentamente um dos companheiros, elegendo um bode espiatório.
Numa variação do experimento em que uma criança de um grupo era colocada no
outro, observou-se que o comportamento das crianças espelhou rapidamente a atmosfera do
grupo em que se moviam, não provendo as reações de diferenças individuais e sim da
atmosfera do grupo.
Kurt Lewin teria sido responsável, segundo Cartwright2, por uma mudança
fundamental no curso de desenvolvimento das Ciências Sociais. Lewin debruçara-se, de
maneira inédita em 1938, no estudo de um método de pesquisa social que pudesse, por meio
de experimentações, averiguar e compreender certos fenômenos sociais de grupo. Em seus
textos Teoria de Campo em Ciências Sociais e Problemas de Dinâmica de Grupo, Lewin
ressalta a importância dos fatos sociais, evidenciando a preocupação em colocar as Ciências
Sociais num patamar de respeitabilidade científica semelhante ao das Ciências Físicas,
desenvolvendo, para tanto, um método científico fisicista de pesquisa social, a partir da
observação e experimentação em grupos, que possibilitasse a construção de uma ciência do
comportamento humano.3
Valendo-se, para tanto, de uma psicologia topológica e vetorial, Lewin compreende as
situações sociais dentro do campo em que acontecem (daí o sentido de topológica), analisando
os fatores interdependentes e influentes neste campo, cujas tendências seriam representáveis
por meio de vetores que demonstrariam um jogo de forças, com direções e intensidades. Para
Lewin, o acontecimento depende da totalidade da situação e a lei que estabelece a relação
funcional entre os aspectos de uma situação é compreendida como estrutural. Busca, assim,
explicar as situações a partir de um sistema de leis que se tenta reconstruir por meio de
modelos matemáticos. Em sua palavras:
“Também, no caso da engenharia social, o progresso dependerá
grandemente da medida em que a pesquisa básica em Ciências Sociais possa
propiciar uma compreensão mais profunda das leis que governam a vida social.
Esta “pesquisa social básica” terá de incluir problemas matemáticos e
conceptuais de análise teórica. Terá de incluir a gama toda de averiguação
descritiva dos fatos no tocante a pequenos e grandes corpos sociais. Acima de
tudo, terá de incluir experimentos de laboratório e de campo sobre a mudança
social.”4
2
LEWIN, K. Teoria de Campo em Ciência Social. Ed. Livraria Pioneira, São Paulo; 1965.
3
LEWIN, K. Introdução. In: Teoria de Campo em Ciência Social. Ed. Livraria Pioneira, São Paulo;
1965.
4
Pg217. LEWIN, K. Pesquisa de Ação e Problemas de Minoria. In: Problemas de Dinâmica de
Grupo. Trad: Miriam Moreira Leite. Ed. Cultrix, São Paulo: 1948.
5
KAËS, R. Las Teorias psicoanalíticas del grupo. Buenos Aires: Amorrortu editores, 2000.
de pesquisa6, Lewin afirma que o aspecto social pode ser observado com precisão e num grau
de fidedignidade satisfatório às exigências científicas. 7 Ainda, numa constante tentativa de
diálogo entre a Sociologia e a Psicologia, compreende que a experimentação com pequenos
grupos permitiria a compreensão das propriedades dinâmicas de um grupo maior. Ou seja,
considera que a partir das propriedades dinâmicas do todo observadas em unidades pequenas,
como num grupo experimental, poder-se-ia pressupor a estrutura de unidades sociais maiores
que de outra maneira estariam, a seu ver, “fora do alcance” científico.
Para poder traduzir em conceitos os fenômenos observados tanto em grupos
experimentais como em situações da “vida real” 8, pretendendo construir instrumentos
conceituais e metodológicos para pensar o objeto do cientista social, a saber, o homem e a
sociedade, Lewin vale-se de um método de análise denominado teoria de campo.
A teoria de campo é considerada por Lewin um método de analisar relações causais e
de criar construções científicas, podendo ser aplicado em diversas áreas de estudo científico,
entre elas, a Psicologia Social e a Dinâmica de Grupo.9 Tal teoria, pretendendo-se um veículo
prático de pesquisa social, enfoca os aspectos dinâmicos dos acontecimentos, compreendendo
a situação como um todo. Considera que as propriedades estruturais de um todo dinâmico são
diferentes das propriedades estruturais de suas partes ou da soma delas, bem como, as
propriedades deste todo dinâmico se caracterizam pelas relações entre as partes e não pelas
partes ou elementos em si.10 Baseando-se na Gestalttheory, considera menos que o “todo é
mais do que a soma de suas partes” e mais que “o todo é diferente da soma das partes”,
afirmando não haver superioridade de valor do todo em relação às partes e insistindo na
diferença das propriedades entre estas e o todo11. Com base em tal compreensão dinâmica do
todo com partes interdependentes, a teoria de campo considera que qualquer acontecimento é
resultante de uma multidão de fatores interdependentes num campo, ainda, este acontecimento
é considerado uma função da situação no momento específico12 em que ocorre. Desta
maneira, o significado de um fato dependeria de sua posição no campo, sendo as partes deste
campo mutuamente dependentes.
O acontecimento pode ser considerado, por exemplo, um comportamento de um
indivíduo. Assim, tal comportamento derivaria da situação no tempo em que acontece, ou
seja, qualquer comportamento dependeria do campo total com fatores influentes e
interdependentes em um momento específico. Desta forma, segundo Lewin, para se
compreender o comportamento de um indivíduo, deve-se considerar as constelações
6
Considera que o significado social de um ato pode ser objeto de pesquisa e um observador “bem
treinado” a procurar o significado social da ação “pode perceber corretamente e classificar com
segurança e fidedignidade” Pg179. Idem. Problemas de Pesquisas em Psicologia Social. In: Teoria de
Campo em Ciência Social. Ed. Livraria Pioneira, São Paulo; 1965.
7
Por exemplo, ao discutir os objetos de estudo das ciências sociais comparando-o à legitimidade
científica do conhecimento das ciências físicas, considera que o que chama de “atmosfera de grupo” é
tão real e mensurável quanto, por exemplo, um campo de gravidade física.
8
Assim se refere às situações não experimentais passível de análise e carentes de controle. Afirma que
nestas há pressões variadas que nos grupos de experimentação isolados não influenciariam.
9
Id.Ibid.
10
A partir desta compreensão de que o todo tem propriedades particulares em relação às partes, Lewin
justifica a possibilidade de transposição da dinâmica de unidades pequenas de experimentação, para
unidades maiores: “Se o ponto de vista de teoria de campo é correto, há uma boa perspectiva de
abordar experimentalmente um grande numero de problemas que pareciam fora de alcance. Se o
padrão do campo total é geralmente mais importante do que, por exemplo, tamanho, torna-se possível
estudar constelações sociais fundamentais experimentalmente ‘transpondo-as’ num grupo de tamanho
apropriado” Pg185. Id.ibid. Cap.: Problemas de Pesquisas em Psicologia Social.
11
Pg165. Id.Ibid.
12
O que seria uma de suas principais proposições, o que chama de “princípio de contemporaneidade”.
psicológicas e o campo total em que este comportamento aconteceu, considerando seu espaço
de vida. Ou seja, o espaço que se constitui da pessoa e do meio psicológico tal como existe
para ela, com suas necessidades, motivações, humor, objetivos, ansiedades, ideais, e que pode
ser afetado por partes do mundo físico, social e histórico naquele momento. 13 Assim, as
várias partes do espaço de vida são interdependentes e o meio psicológico deve ser
considerado funcionalmente como uma parte de um campo interdependente que é o espaço de
vida do indivíduo, relacionado com outras partes que também constituem este campo. O
comportamento do indivíduo depende de cada parte do campo e não apenas da parte
fisiológica, e passa a considerar constituinte do comportamento os fatores físicos, sociais e
históricos, como partes do campo que estão em interdependência dinâmica com o fisiológico
e o psicológico.
A partir desta visão, pode-se afirmar que Lewin considera a interação entre organismo
e situação, integrando as duas noções e enfatizando que o comportamento não depende
somente do organismo ou do meio, mas da interação entre ambos. 14 E seria a partir da
estrutura que se estabelece entre o indivíduo e o meio num dado momento, compreendida
como campo dinâmico de forças em equilíbrio, é que se poderia explicar a ação individual. 15
Ou seja, uma vez rompido o equilíbrio no campo, fazendo emergir tensões, o comportamento
do indivíduo iria no sentido de restabelecer o equilíbrio perdido. O comportamento de um
sujeito seria, assim, um emergente da totalidade dinâmica.
Em sentido análogo, pode-se pensar o grupo, considerando-o como uma totalidade de
partes interdependentes (membros e elementos do campo- finalidade, normas, papéis, status,
etc.) com propriedades próprias que, junto ao seu ambiente, constitui-se num campo social
dinâmico. O todo é irredutível aos indivíduos e elementos que o constituem, compreendendo-
se o indivíduo apenas a partir de suas relações com todas as outras partes. Fernandez expressa
resumidamente e com clareza a concepção de grupo para Lewin:
“(...) para K. Lewin um grupo é um conjunto de pessoas reunidas, por
razões experimentais ou de sua vida diária, para realizar algo em comum e que
estabelecem relações entre si; conformarão desse modo uma totalidade que
produz maiores efeitos que os mesmos indivíduos isolados. Isso quer dizer que
o grupo é irredutível aos indivíduos que o compõe, na medida em que estes
estabeleçam um sistema de interdependência; disso dependerá a força ou
dinâmica de um grupo.”16
13
Id.Ibid.
14
PICHON-RIVIÈRE, E. “Vinculo, campos de interação e de conduta”. In: PICHON-RIVIÈRE, E.
Teoria do Vínculo. São Paulo: Martins Fontes, 1982.
15
FERNANDEZ, A. M. O Campo Grupal. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
16
Pg73. Id.Ibid.
17
LEWIN, K. Problemas de dinâmica de grupo. Trad: Miriam Moreira Leite. Ed. Cultrix, São Paulo:
1948.
18
Definição de dinâmica para Fernandez: “em um meio definido, certa distribuição de forças
determina o comportamento de um objeto que possui propriedades definidas” Pg67. Ibidem.
a modificação de um elemento no campo pode modificar a estrutura desta totalidade 19. Ainda
nas palavras de Fernandez:
“(para Lewin), o funcionamento do grupo se explica pelo sistema de
interdependência próprio daquele grupo em determinado momento, seja esse
funcionamento interno (subgrupos, afinidades ou papéis) ou referido à ação
sobre a realidade exterior. Nisso reside a força do grupo ou, em termos mais
precisos, nisso reside o sistema de forças que o impulsiona, isto é, sua
dinâmica.”20
25
LEWIN, K. Problemas de Dinâmica de Grupo. Trad: Miriam Moreira Leite. Ed. Cultrix, São Paulo:
1948.
26
Pg65. FERNANDEZ, A. M. Ibidem.
27
LEWIN, K. Ibidem.
partir disso, o que chama de “grupo solidário” 28. Este grupo, onde os membros teriam a
consciência de a ele pertencer, poderia ser um meio de aprendizado de novos valores num
processo em que os membros participariam juntos, por meio de discussões, da descoberta e
entendimento dos fatos. Lewin aponta a importância de incluir as pessoas no processo de
pesquisa sobre um determinado fato, como “treinamento”, pois, ao participarem do processo,
as pessoas se apropriariam da compreensão e da resolução a ser tomada frente à situação
pesquisada. Ou seja, considera que tanto a atuação em grupo é mais eficaz do que trabalhar
com indivíduos, como considera que a participação é uma forma de aprendizado e que a ação
decorrente da pesquisa é mais bem aceita quando as partes participam de sua decisão.
Concedendo o exemplo de um trabalho realizado por psicólogo numa fábrica 29,
trabalho este marcado pelo envolvimento ativo das partes na solução de um problema de
relações originado num conflito, Lewin aponta que aquilo que denomina de “entrevista de
ação”, ao envolver as pessoas relacionadas a um dado conflito no planejamento das ações,
acaba por torná-las mais aptas a se identificar com a solução proposta. Neste trabalho descrito
em A solução de um conflito crônico na indústria, constata-se que a implicação das partes
facilita o processo de pesquisa e ação muito mais do que se a intervenção for imposta.
Confere que a atmosfera democrática estimula a produtividade e influencia nas relações entre
líder e liderado, estimulando, ainda, a cooperatividade entre liderados.
Ao mesmo tempo, em relação à sua compreensão acerca da participação do indivíduo
num grupo, Lewin enfoca a importância do grupo na vida do indivíduo e na necessidade de se
estabelecer um equilíbrio entre as necessidades pessoais e as grupais, sem que as individuais
interfiram com os interesses do próprio grupo. Aponta, assim, que a “renúncia de certa dose
de liberdade é condição de participação em qualquer grupo” 30. Segundo Lewin, há forças que
impelem ou afastam o indivíduo à participação no grupo, pois, a satisfação das necessidades
do indivíduo pode ser favorecida ou dificultada por sua participação no grupo: esta
necessariamente limita a liberdade de ação do membro individual.
Sempre considerando que “qualquer pesquisa em grupo é até certo ponto, ação social,
pois, pressupõe uma mudança”31, Lewin refere-se à pesquisa necessária para a prática das
relações intergrupais como uma pesquisa para a “administração ou engenharia social”,
afirmando que esta seria:
“um tipo de pesquisa de ação, uma pesquisa comparativa acerca das
condições e resultados de diversas formas de ação social, e pesquisa que leva à
ação social”.32
Neste mesmo sentido, em Pesquisa de Ação e problemas de minoria 33, Lewin discute
aspectos da pesquisa social em relações intergrupais para a prática social. Requisitado por
organizações, instituições e indivíduos, Lewin concedera assistência no campo das relações de
grupo uma vez que não se sabia como lidar com os problemas que surgiam nas relações
sociais dentro das instituições. A Pesquisa de Ação nasce como uma resposta à demanda das
organizações e seu diferencial é a participação dos envolvidos nos problemas para a melhoria
das relações intergrupais, averiguando-se os fatos sobre os diferentes tipos de problemas
28
Id.Ibid. Cap.: Conduta, conhecimento e aceitação de novos valores.
29
Id.Ibid. Cap.: A solução de um conflito crônico na indústria.
30
Pg117. Id.Ibid. Cap.: A Origem do conflito no casamento.
31
Pg190. Idem. Problemas de Pesquisas em Psicologia Social. In: Teoria de Campo em Ciência
Social. Ed. Livraria Pioneira, São Paulo; 1965.
32
Pg217. Idem. Pesquisa de Ação e Problemas de Minoria. In: Problemas de Dinâmica de Grupo.
Trad: Miriam Moreira Leite. Ed. Cultrix, São Paulo: 1948.
33
Idem. Problemas de Dinâmica de Grupo. Trad: Miriam Moreira Leite. Ed. Cultrix, São Paulo:
1948.
intergrupais e estudando-se os grupos desta relação: estabelece um triângulo entre ação,
pesquisa e treinamento.
A pesquisa, neste contexto, refere-se à pesquisa da ação de instituições como forma de
treinamento e intervenção para melhorar as relações intergrupais e a ação que se pesquisa:
pesquisa-se, portanto, a ação com o intuito de melhorá-la. Propõe processos de averiguação de
fatos sociais do interior da ação social, pesquisando por meio da prática social, como forma de
aprendizado e treinamento daqueles que agem e pesquisam, cuja finalidade consiste em
melhorar as relações intergrupais e a ação na instituição. O foco está, portanto, na pesquisa
como ação, pesquisando-se a ação que se produz, e ao se pesquisar os grupos em grupo,
observa que o envolvimento participativo das pessoas facilita a prática da ação a ser tomada.
Neste mesmo sentido, David Tripp34, ao desenvolver uma discussão a respeito do que
constitui a pesquisa-ação, lembrando o papel de Lewin como aquele que primeiro empregara
o termo, define-a como “toda tentativa continuada, sistemática e empiricamente
fundamentada de aprimorar a prática”35. Considera a Pesquisa-Ação como um dos tipos de
investigação-ação, caracterizada pelo:
“ciclo no qual se aprimora a prática pela oscilação sistemática entre
agir no campo da prática e investigar a respeito dela. Planeja-se, implementa-
se, descreve-se e avalia-se uma mudança para a melhora de sua prática,
aprendendo mais, no correr do processo, tanto a respeito da prática quanto da
própria investigação.”
Tripp posiciona a PA entre a prática e a pesquisa, pois, esta tanto altera o que está
sendo pesquisado quanto é limitada pelo contexto e pela ética da prática. Para Lewin o
importante era não haver ação sem pesquisa, nem pesquisa sem ação. No entanto, Barbier 36
levanta uma concepção acerca da PA lewiniana que nos parece um pouco diferente daquela
apresentada por Tripp. Enquanto Tripp nos parece enfocar o aspecto da melhora da ação por
meio da pesquisa, Barbier enfoca o caráter da participação e da mudança social nesta
metodologia de pesquisa, afirmando que a PA apoiara-se na “ação dos grupos e na
necessidade de fazer com que as pessoas participem na sua própria mudança de atitude ou
comportamento num sistema interativo”37. Ainda, Barbier afirma que Lewin dava a ênfase
maior ao pólo da pesquisa, porém, fora após seu falecimento, que o enfoque dado por seus
sucessores passou a remeter gradualmente mais à ação, encaminhando para uma crescente
participação da população envolvida nos trabalhos sociais.
Ao apresentar a diversidade dos tipos de Pesquisa-ação em seu livro A Pesquisa Ação,
Barbier aborda as pesquisas-ações de inspiração lewiniana e neolewiniana, apontando o
caráter experimental destas pesquisas e de envolvimento dos atores em seu próprio campo.
Compreende que, em Lewin, a partir da experiência em grupo os atores poderiam elaborar um
paradigma de ação ou resolver um problema, podendo ser aplicado posteriormente em larga
escala. Apresenta-se, assim, como uma metodologia científica aplicável a um problema de
ação. No entanto, construindo-se como resposta à uma demanda social e econômica, sofrendo
transformações ao longo dos anos, tal metodologia de pesquisa, intervenção e análise
lewinianas foram, no campo do grupal, fundamental para a instauração de dispositivos grupais
34
TRIPP, David. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Educ. Pesqui. , São Paulo, v.
31, n.3, 2005.Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151797022
005000300009&l g=pt&nrm=iso>. Acesso em: 04 Set 2007.
35
Id.Ibid.
36
BARBIER, R. A Pesquisa-Ação. 1ªed. Brasília: Líber Livro Editora, 2004. (Série Pesquisa em
Educação v.3).
37
Pg29. Id.Ibid.
para o trabalho em diversas áreas de atuação e sendo hoje, mesmo que de maneiras variadas,
muito utilizadas.
Contudo, na Pesquisa de Ação, a participação das partes no processo de pesquisa e de
ação era considerada fundamental para alcançar o objetivo que propunham, ou seja,
confrontar e resolver no campo concreto um problema de ação. Além de ressaltar o efeito do
trabalho em grupo sobre o indivíduo, Lewin ressalta que um grupo democrático possui mais
eficácia do que outro autoritário ou de laissez-faire. Apresenta, portanto, suas preocupações
em relação à democracia, buscando demonstrar cientificamente o caráter facilitador para o
trabalho de pesquisa e das relações em grupo num ambiente democrático. Por outro lado, sua
teoria de campo nos faz pensar sobre como o comportamento do indivíduo no grupo é um
emergente de uma totalidade, constituindo-a em interdependência com as demais partes do
campo em que se encontra, ao mesmo tempo em que está atravessado pelos efeitos e
influências desta totalidade sobre ele. A partir destas colocações, como poderíamos pensar o
ato de participar de um indivíduo no grupo, considerando a teoria de campo e a dinâmica de
grupo, no contexto de um processo participativo de pesquisa? Poderíamos analisar o problema
de ação a ser resolvido à luz destas compreensões lewinianas, mas como analisar, a partir
destas, o processo de pesquisa e ação em si?