Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
id=86143
MC/Ecclesia |
D. António Vitalino, bispo de Beja e presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana, fala à Agência ECCLESIA da
importância da religiosidade popular e do seu entendimento, à luz da fé e da necessidade de “festa” que é sentida por todos os
seres humanos. Para este responsável, é fundamental que as duas dimensões se encontrem e se promova uma síntese que não
deixe de lado a verdadeira motivação religiosa.
Agência ECCLESIA (AE) – Na estação do verão, as festas e procissões são uma constante nas paróquias portuguesas. Na
linha do documento dos bispos «Repensar juntos a Pastoral da Igreja em Portugal» o capítulo da religiosidade popular tem sido
estudado?
D. António Vitalino (AV) – A religiosidade popular tem de ser repensada e renovada. Com o fluxo dos tempos inserem-se aspetos
que não provêm da inspiração evangélica. No entanto, não se pode colocar de lado que o homem necessita de festas, romarias
e peregrinações. A religiosidade popular tem a particularidade de lhe dar esses símbolos concretos.
Em Portugal realizam-se muitas festas, mas a principal procissão é a do «Corpo de Deus». A Eucaristia é o centro de toda a
religiosidade cristã. Depois, vêm as festas de Nossa Senhora e em honra dos santos dos padroeiros. Todavia, nem sempre elas
estão, totalmente, sintonizadas com o objetivo de honrar o padroeiro.
AE – Mas um Natal tem um momento preparatório – o Advento -, suponho que tal não acontece em relação às festas em honra
do padroeiro?
AV – Antigamente havia…. Nalguns lados ainda existe o tríduo preparatório, mas é concorrido por pouca gente. Noutros, a festa
da Imaculada Conceição é preparada por uma novena.
Prepara-se a festa mais do lado exterior (arranjos dos andores e outras coisas) do que do lado interior. O aspeto económico,
cultural e lúdico prevalece.
AE – A diocese de Beja tem poucos padres. Como conseguem conciliar a vida pastoral do dia a dia com estes «extras»?
AV – Alguns padres têm duas festas no mesmo dia. Às vezes, os párocos vizinhos dão uma ajuda, mas é impossível estar em
simultâneo em dois lados. Após a Páscoa até meados de setembro há muitas festas em todo o Alentejo.
1 de 3 15-06-2011 11:49
Agência Ecclesia http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/print.pl?id=86143
AE – É fundamental a renovação pastoral para que os cristãos sejam mais adultos na fé.
AV – Neste repensar é preciso muito cuidado, sobretudo quando se mexe na religiosidade popular. Por vezes, as pessoas
herdaram as tradições e não estão abertas à novidade. Dizem: «sempre foi assim e vai continuar assim».
Este processo exige muito diálogo e preparação. É fundamental evitar tocar em aspetos sensíveis ou, então, explicar e ver se a
reação é positiva. Outras vezes deve-se permutar com outro aspeto que seja mais realista. Não se deve entrar em choque.
AE – Não considera que o evangelho, muitas vezes, é servido de «forma enlatada» e sem novidade?
AV – Na pastoral temos de usar os meios todos, mesmo os meios interativos. Confesso que faço muita coisa através do email
porque é mais personalizado. Através deles faço formação e catequização.
Repensar a Pastoral
AE – O documento «Repensar juntos a Pastoral da Igreja em Portugal» foi publicado há cerca de um ano. Já existem diretivas
2 de 3 15-06-2011 11:49
Agência Ecclesia http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/print.pl?id=86143
AE – Perante estes dados, conclui-se que a igreja tem mesmo de repensar a sua pastoral?
AV – Está na «Hora H». O II Concílio do Vaticano alertou-nos, mas essa renovação ficou muito no aspeto litúrgico. A vida cristã
não é apenas o aspeto litúrgico. No acompanhamento da fé dos adultos e da família fizemos pouco.
LFS
Entrevistas | Luís Filipe Santos | 2011-06-14 | 16:17:34 | 9803 Caracteres | Religiosidade Popular
3 de 3 15-06-2011 11:49