Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Ano 9 - Nº 84
Julho/Setembro
2018
Mensal Gratuito
jornal
Director Editorial: Rui Moreira de Sá
da
aude
A N G O L A
Doenças renais
Prémio A infertilidade em África e em Angola em Angola
A procriação
CEDUMED Dois mil novos
de educação casos por ano
médica:
candidaturas
estão abertas
medicamente assistida A doença renal crónica em An-
gola está a aumentar rapida-
Rui MoReiRa de Sá
Director Editorial
IHMT NOVA
com candidaturas abertas para
direccao@jornaldasaude.org
mestrados e doutoramentos
Prevenir a cólera n O Instituto de Higiene e Medicina
Tropical da Universidade NOVA de
MESTRADO EM SAÚDE PÚBLICA E
DESENVOLVIMENTO
DOUTORAMENTO EM DOENÇAS
TROPICAIS E SAÚDE GLOBAL
Uma campanha de sensibilização contra a cólera arrancou no iní- Lisboa (IHMT NOVA) oferece progra- Principais benefícios: Principais benefícios:
cio deAgosto,na comuna da Funda,município do Cacuaco,com mas de mestrado e de doutoramento + Capacita para a gestão eficiente + Consolida as competências nas
a participação de mais de cem agentes comunitários,que vão pas- com especificidades únicas em Por- de instituições e de projetos em diferentes componentes das
sar de casa em casa,para explicar às famílias as melhores práticas tugal e no espaço lusófono e aposta saúde; Doenças Tropicais e Saúde Global,
fortemente na formação à distância, + Habilita à implementação de so- com padrões internacionais de
de prevenção da doença,que ressurgiu no mês passado e já ma-
usando tecnologias da informação. luções adequadas que visam me- qualidade;
tou cinco pessoas. Encontram-se abertas as candidatu- dir, vigiar, avaliar e corrigir o estado + Possibilita a mobilidade e o tra-
Saudamos esta iniciativa, entre outras, que resultou da reunião ras aos mestrados e doutoramentos de saúde das populações; balho em rede;
multissectorial para reforçar as medidas de combate à doença, do IHMT NOVA. O Instituto é reco- + Desenvolver competências de + Consolida as competências de
promovida pelo Governo Provincial de Luanda, no âmbito das nhecido, a nível internacional, pela investigação epidemiológica e/ou investigação autónoma na área da
orientações da Comissão Interministerial de Combate à Cólera sua história, mas também pela quali- qualitativa em saúde pública. saúde global.
e à Malária,encabeçada pela ministra da Saúde,Sílvia Lutucuta. dade científica do ensino pós-gra-
Tratando-se de uma enfermidade com grande potencial de duado, investigação e contributo na MESTRADO EM SAÚDE TROPICAL Em colaboração com Fundação Os-
propagação e olhando para as condições à volta das grandes ci- cooperação para o desenvolvimento Principais benefícios: waldo Cruz, no Brasil.
dades e das suas periferias,não podia ser de outro modo.É pre- da saúde nos Países Africanos de Lín- + Permite o conhecimento teórico
ciso dar resposta célere e eficaz aos desafios provocados pela có- gua Oficial Portuguesa e Timor-Leste. e prático das patologias e grandes DOUTORAMENTO EM SAÚDE
lera, cujo surto se deve muito às condições nas comunidades e Fique a conhecer a oferta formativa questões da Saúde e Medicina INTERNACIONAL
do IHMT NOVA: Tropicais; Principais benefícios:
nas casas.
+ Permite a aprendizagem de mé- + Cria oportunidades para traba-
Investir na sensibilização e educação sanitária das populações MESTRADO EM CIÊNCIAS todos de investigação epidemioló- lhar com organizações internacio-
deve ser uma aposta inadiável das instituições públicas e privadas, BIOMÉDICAS gicos e laboratoriais. nais e de saúde pública;
das populações e pessoas individualmente.Se cada parte desem- Principais benefícios: + Consolida as competências de
penhar correctamente o seu papel, apesar da conjuntura parti- + Permite desenvolver competên- DOUTORAMENTO EM CIÊNCIAS investigação autónoma na área da
cularmente difícil que vivemos,não temos dúvidas do sucesso do cias na área da prevenção e diag- BIOMÉDICAS saúde internacional.
plano de resposta para o controlo da doença,sobretudo ali onde nóstico de doenças globais com o Principais benefícios:
ela já se encontra. auxílio de novas abordagens bio- + Capacita para a formulação, im- Para mais informações:
Educar as famílias para a tomada de medidas higiénicas ele- médicas; plementação e análise crítica de www.ihmt.unl.pt
mentares, como o tratamento de água, manipulação adequada + Contribui para uma visão inte- projetos de investigação a nível in- secensino@ihmt.unl.pt
dos alimentos e a limpeza permanente do“habitat” familiar como grada da ligação funcional entre o ternacional; +351 213 652 600
uma obrigação de todos.A ida rápida às unidades sanitárias ou laboratório de diagnóstico micro- + Possibilita a especialização e o
biológico, a prática clínica e deci- desenvolvimento de competên-
hospitalares, tão-logo sejam detectados sinais de enfermidade,
são terapêutica. cias de investigação nas áreas de
deve ser uma iniciativa familiar e pessoal de cumprimento obri- Parasitologia e Microbiologia.
gatório para bem da saúde.
As instituições do Estado, comprometidas que estão com o
surto da cólera, tudo fazem para que inicialmente tenhamos o
impacto da doença totalmente sob controlo ali onde ela já se en-
contra.Apenas assim seremos capazes de impedir que o surto
irrompa noutras localidades do país e provoque mais óbitos nas
comunidades.Acreditamos que o envolvimento das populações
é fundamental,a começar pela informação que deve ser prestada,
porque quanto mais informada estiverem as famílias menos ex-
postas ficam a determinadas enfermidades.
Deve ser cada um de nós a dar os primeiros passos porque,
como notamos com facilidade e sem alarmismo,a ameaça da có-
lera é real ali onde ela já se encontra, bem como noutras partes
potencialmente vulneráveis do surto.Essa é a mensagem que de-
ve ser passada a cada angolana e angolano para que,independen-
temente das nossas dificuldades,sejamos capazes de,naquilo que
depender de nós,evitar a cólera.
Sem perder de vista a necessidade de um forte e contínuo in-
vestimento nas infraestruturas do saneamento básico – que é
precário e põe em causa a saúde da população.A prevenção en-
volve a melhoria das condições de saneamento e do acesso à FICHA TÉCNICA
água potável.
Direcção editorial: Rui Moreira de Sá mão (Cuanza Norte); Casimiro José Delegação em Portugal:
Até ao dia 29 de Julho,a província de Luanda tinha 12 casos de Conselho editorial: Prof. Dr. Miguel Bet- (Cuanza Sul); Victor Mayala (Zaire) Beloura Office Park, Edif.4 - 1.2 - 2710-
cólera notificados pelo Instituto Nacional de Investigação da Saú- tencourt Mateus, Dra. Adelaide Carval- Marketing e Publicidade Nuno Rocha Tel.: 693 Sintra - Portugal, Tel.: + (351) 219
ho, Prof. Dra. Arlete Borges, Enf. Lic. 940 560 672 E-mail:nuno.rocha@mar- 247 670
de, sendo dois na Samba, um no Sambizanga, um na Ingombota, Conceição Martins, Dra. Filomena Wil- ketingforyou.co.ao Fax: + (351) 219 247 679
dois emViana e seis em Cacuaco. son, Dra. Helga Freitas, Dra. Isabel Mas-
socolo, Dra. Isilda Neves, Dr. Joaquim
Fotografia: Francisco Cosme.
Editor: Marketing For You, Lda - Rua Dr. Periodicidade: mensal Parceria:
Van-Dúnem, Dra. Joseth de Sousa, Prof. Alves da Cunha, nº 3, 1º andar - Ingom-
Dr. Josinando Teófilo, Prof. Dra. Maria bota, Luanda, Angola, Design e maquetagem:
Não é o peixe que está contaminado, Manuela de Jesus Mendes, Dr. Miguel
Gaspar, Dr. Paulo Campos.
+(244) 940 560 672 / 938 210 800,
nuno.rocha@jornaldasaude.org.
Fernando Almeida;
mas sim a água Director Editorial: Rui Moreira de Sá Conservatória Registo Comercial de Impressão e acabamento:
Se o peixe estiver bem confeccionado,pode ser con- rui.moreiradesa@jornaldasaude.org;
Redacção: Francisco Cosme dos Santos;
Luanda nº 872-10/100505, NIF
5417089028, Registo no Ministério da
Damer Gráficas, SA
www.jornaldasaude.org
sumido sem nenhum problema. Cláudia Pinto. Correspondentes provin- Comunicação Social Tiragem: 20 000 exemplares.
ciais: Elsa Inakulo (Huambo); Diniz Si- nº 141/A/2011, Folha nº 143. Audiência estimada: 80 mil leitores. Jornal da saúde de Angola
Jul/Set 2018 JSA ACTuAlIdAde 3
Diabetes
EXPLICADOR
Se existem suspeitas de doença renal, o • Ecografia ou Tomografia Axial crónica? para a urina. Quando os rins não funcionam bem, a creatinina
acumula-se no sangue. Uma análise ao sangue permite deter-
médico poderá pedir alguns exames Computorizada (TAC) para obter ima- Tem um maior risco de desenvol- minar a rapidez de eliminação da creatinina do sangue.A crea-
para avaliar a função renal e começar a gens dos rins e do sistema urinário. Es- ver doença renal crónica se: tinina é uma boa medida da função renal porque não se altera
planear o tratamento. Estes exames in- tes exames mostram o tamanho dos •Tiver tensão arterial elevada com a alimentação. No entanto, varia com a idade, o género
cluem: rins, identificam a presença de pedras •Tiver diabetes (masculino ou feminino) e o peso e, por isso, não é uma forma
•Pesquisa de albumina (um tipo de nos rins ou tumores e permitem deter- •Tiver problemas cardíacos (insufi- completamente fiável de avaliar a função renal global.
proteína) e/ou de sangue na urina. minar eventuais problemas na estrutu- ciência cardíaca ou passado de ata- A Ureia é um outro resíduo tóxico produzido pelo organis-
•Análises ao sangue para medir o ní- ra dos rins e do sistema urinário. que cardíaco) e/ou se já tiver tido mo, à medida que este utiliza as proteínas a partir daquilo que
vel de certas toxinas no sangue e calcu- Poderá ser necessária uma consulta uma trombose cerebral comemos. Quando se começa a perder a função renal, os rins
lar a taxa de filtração glomerular (ver com um especialista, um médico nefro- •Tiver história familiar de insufi- não são capazes de eliminar toda a ureia do sangue e esta
mais informação na secção seguinte). logista, para gerir o tratamento e deci- ciência renal também se acumula.
•Medição da tensão arterial, uma dir se é necessária uma biopsia renal. •Tiver obesidade (índice de massa O Potássio é um mineral presente em muitos alimentos. Se
vez que a doença renal causa hiperten- Na biopsia renal é retirado um pouco corporal ≥30) os rins funcionam bem, conseguem remover o potássio em
são arterial, a qual pode danificar os pe- do tecido renal, o qual é observado no • For fumador excesso do sangue. Se os rins tiverem algum tipo de lesão, o
quenos vasos sanguíneos dos rins.A microscópio para determinar qual o ti- •Tiver 60 anos ou mais nível de potássio pode subir e afetar o funcionamento do co-
tensão arterial elevada também pode po de doença renal e verificar a exten- •Tiver tido um episódio de doença ração. Um nível elevado ou baixo de potássio pode causar ba-
causar doença renal. são das lesões nos rins. renal aguda timentos cardíacos irregulares (arritmia cardíaca).
JSA Jul/Set 2018 SAúde dA Mulher 9
A infertilidade
no continente
africano
e em Angola
Prof. Doutor Carlos alberto Pinto De sousa
Professortitular na faculdade de Medicina da uan
bastonário da ordem dos Médicos de angola
10 SAúde dA Mulher Jul/Set 2018 JSA
1. Introdução marões) em 2010, em Coto- de África que são socialmen- Norte. De toda a maneira, no d’infertilité en Afrique et une tá contido no Relatório En-
O tema da infertilidade em nou (Benin) em 2011, e em te sujeitas a ultraje dramáti- Congresso de Dakar ficou menace à certaines procé- frentar o Desafio da Saúde
África tem sido abordado Dakar, no Senegal, por dili- co, uma ostracização e mes- registado que a prevalência dures de traitement de l’in- da Mulher em África (2012):
abundantemente. Em Áfri- gência do Grupo Africano mo uma auto-culpabiliza- da infertilidade é mais eleva- fertilité. A côté de ce thème «Apelo por este meio a to-
ca, pensa-se seriamente Inter Estudo, Pesquisa e ção pelo facto de não da em África do que nos paí- principal, le congrès s'est dos os governos para que re-
neste problema, como o de- Aplicação em Fertilidade poderem procriar – um dos ses do Norte, sendo as infec- aussi penché sur l’apport forcem o seu empenho e
monstra a realização de di- (GIERAF). supremos bens que os deu- ções responsáveis por esta des nouvelles technologies educação, acelerando a re-
versos encontros para dis- Deve afirmar-se com cla- ses lhes conferem. Daqui re- situações em cerca de 80% dans la prise en charge de dução da mortalidade ma-
cussão, quer em eventos em reza que, não obstante a vi- sultam problemas psicológi- de casos. É mister reter o que l’infertilité. Ce sous-thème a terna e neonatal, como um
alguns países, quer em ini- ragem de século, a globaliza- cos e sociais graves com in- sobre a infecção como causa permis aux spécialistes afri- direito fundamental à vida e
ciativas de grande alcance, ção tecnológica e cultural1, cidência ética por se de infertilidade foi divulga- cains de mettre à jour leurs ao desenvolvimento. Deve-
agrupando países para abor- permanecem vivas algumas verificar o incumprimento do2: connaissances et de s’ap- mos também lembrar-nos
dar esta matéria. Refira-se, idiossincrasias sociais e cul- dos direitos humanos. «Le congrès de Dakar proprier ces nouvelles tech- de envolver activamente as
como exemplo de grande turais. Não diferem muito as s’est plus spécifiquement nologies en les adaptant à la mulheres em todas as deci-
envergadura, a realização de É o que se passa com as causas de infertilidade e de penché sur l’infection qui re- pratique en milieu africain.» sões relacionadas com a sua
congressos em Douala (Ca- mulheres em muitas partes esterilidade entre o Sul e présente la première cause saúde e bem-estar.»
É referido ainda que :
«Le taux d’infertilité en Afri- E em Angola?
que subsaharienne serait Parece oportuno transcre-
même un des plus élevés au ver algumas das ideias abor-
«Em Angola não monde. 15 à 30% des cou- dadas por Pedro de Almei-
existem dados ples seraient touchés par ce da5, ginecologista obstetra,
problème contre 5 à 10% des especialista em medicina
oficiais sobre a couples des pays dévelop- reprodutiva e técnicas de re-
população afectada pés. Expliquant les causes produção assistida, ao Jor-
pela infertilidade, de l’infertilité, le Pr. Cissé nal de Angola em que refere
note qu’en Afrique 80 à 90 % o seguinte:
mas tendo em des cas sont dus à des sé- «Em Angola não existem
conta as quelles d’infections, que ce- dados oficiais sobre a popu-
estimativas da la soit chez l’homme ou la lação afectada pela infertili-
femme. Il s’agit des infec- dade, mas tendo em conta
OMS, é possível tions contractées dans le as estimativas da Organiza-
que, no país, jeune âge et qui n’ont pas ção Mundial da Saúde
tenhamos cifras na été diagnostiquées ou qui (OMS) para a região africa-
n’ont pas été traitées correc- na, é possível que, no país,
ordem de mais de tement.» tenhamos cifras na ordem
meio milhão de As mulheres no mundo de mais de meio milhão de
casais afectados de em desenvolvimento, parti- casais afectados de uma
cularmente na África, detêm maneira ou de outra. Con-
uma maneira ou as altas taxas de infertilidade trariamente ao que se pen-
de outra” secundária. No designado sava, o problema de inferti-
"cinturão de infertilidade" lidade atinge de modo igual
da África Subsaariana, o mulheres e homens.»
“Contrariamente percentual de casais com in- E acrescentava:
ao que se pensava, fertilidade secundária exce- «Num dos últimos estu-
o problema de de 30% em alguns países. dos preliminares que reali-
Em África a maioria das zámos em Luanda com 424
infertilidade atinge doenças sexualmente trans- mulheres de diferentes es-
de modo igual missíveis que podem causar tratos da sociedade, com
mulheres e a infertilidade pode ser pre- história de dificuldade em
venida ou curada, mas não engravidar, registámos que
homens” são, porque os serviços de 53 por cento delas apresen-
saúde não são adequados, tavam problemas relacio-
acessíveis, ou a preços aces- nados com afectação das
síveis3. trompas. Isso leva-nos a re-
Como se repara, há, por flectir que, provavelmente,
um lado, causas agravantes as infecções de transmissão
ao surgimento da infertili- sexual não tratadas ou in-
dade e da esterilidade, e que correctamente tratadas po-
são detectadas muito tardia- dem estar na base das le-
mente e, por outro, circuns- sões apresentadas por
tâncias que relevam da difi- aquelas mulheres, nas
culdade de intervir no âmbi- trompas, que constituem
to da PMA4. órgãos de suma importân-
Decerto que a saúde das cia para a reprodução hu-
mulheres (e das crianças e mana natural. As mulheres
dos nascituros) está na sem afectação tubária, pro-
agenda das políticas de saú- vavelmente não engravida-
de quer da OMS quer dos ram por problemas hormo-
países africanos. É oportuno nais ou ligados ao aparelho
recordar o valor atribuído à reprodutor dos seus com-
mulher africana nos areópa- panheiros, nomeadamente
gos realizados em África, re- a deficiente produção de es-
tendo, pela sua evidente permatozoides (oligosper-
marca internacional, o pen- mia) ou a ausência total de
samento de Presidente da espermatozoides (azoos-
República da Libéria que es- permia).»
JSA NJul/Set 2018 SAúde dA Mulher 11
proíbe constitucionalmente
a reprodução assistida por
Americana de Medicina Re-
produtiva (ASRM) interro-
clusões absolutas, mas não
pode considerar-se simples-
cas, biológicas significativas
entre os homens e as mu- 2.5 O questionamento da
homossexuais ou os não-
casados, a condenação mo-
ga-se se os casais do mesmo
sexo podem proporcionar
mente que as crianças se
dão melhor quando são
lheres e por isso entre as
mães e os pais. No entanto,
Procriação Medicamente
ral da homossexualidade ou os mesmos benefícios aos criadas por pais casados de adverte que em todos os ca- Assistida: aspectos
monoparentalidade não é
por si só uma base aceitável
filhos do que os casais de
heterossexuais. Não há con-
sexo oposto. Mais refere que
há diferenças inatas, genéti-
sos, as crianças criadas por
casais do mesmo sexo são e limites clínicos
para limitar a criação dos fi- sempre privadas do seu pró-
Para além do respeito pelas normas do Código Deontológico,
lhos ou a reprodução.» prio pai ou da sua própria
os médicos e outros profissionais que estejam envolvidos na
Mas enfatiza também, por mãe (Kaczor, 2013).
PMA deverão estar preparados técnica e cientificamente de
outro lado, que se deve ter em Em alguns países, o inte-
modo a dar resposta aos pedidos dos casais interessados na
atenção os direitos dos nasci- resse da criança é colocado
procriação.As diversas legislações põem o acento tónico na ob-
turos, das crianças (assunto acima de tudo, como refere rigatoriedade de não instrumentalização do ser humano, afir-
que já atrás foi aflorado): Machado12, pois as legisla- mando claramente a dignidade humana.
«Não existem, no entan- ções prevêem expressa-
to, "direitos de reprodução." “…as mulheres em muitas partes de mente que o interesse da
Assim, considerando que as práticas de PMA são actos médi-
cos, as equipas médicas devem tomar em atenção:
Isto representaria o direito África são socialmente sujeitas a ultraje criança a nascer seja tido a) O primado do ser humano enquanto sede de valores e sujei-
de ter um filho, mas as dramático, uma ostracização e mesmo em consideração na decisão to de direitos (naturalmente com obrigações ou deveres);
crianças – como outros se- sobre o acesso à PMA: Chi- b) Usar do seu conhecimento para actuar com certeza e segu-
res humanos – não são pro- uma auto-culpabilização pelo facto de pre, Irlanda, Holanda e Rei- rança que a leges artis confere;
priedade sobre a qual outras não poderem procriar – um dos no Unido, Estados Unidos; c) Necessidade de intervenção mediante diagnóstico de inferti-
pessoas podem ter direitos. supremos bens que os deuses lhes na Austrália, a lei de 1988 es- lidade ou ainda para tratamento de doença grave ou do risco de
A ausência de tal "direito" tipula que esse interesse de- transmissão de doenças graves de origem genética, infecciosa
aplica-se de igual modo a conferem” ve ser considerado como da ou outras13.
não casados e casados, a maior importância. No Rei- As equipas médicas deverão respeitar os seguintes aspectos, li-
mitando a sua intervenção a valores científicos e éticos, designa-
pessoas hetero, gay, e lésbi- “Em África a maioria das doenças no Unido, o “Human Fertili-
damente:
cas. As pessoas de facto têm sation and Embryology Act”,
"direito de pais", não direito sexualmente transmissíveis que podem de 1990, determina que seja a) Utilização de técnicas com evidência científica claramente
a ter filhos.» causar a infertilidade pode ser prevenida tida em conta não só a demonstrada;
b)Acesso em condições de equidade, aos casais a quem tenha
Trata-se, de facto, de uma ou curada, mas não são, porque os criança que pode vir a nas-
sido efectuado o diagnóstico de infertilidade;
discussão interessante do cer mas também «any other
ponto de vista bioético. Por serviços de saúde não são adequados, child who may be affected c) Promoção da privacidade individual, que deve ser garantido a
todas as pessoas envolvidas no processo de procriação assisti-
outro lado, a Sociedade acessíveis, ou a preços acessíveis” by the birth».
da.
d) Garantia da confidencialidade dos dados pessoais e de saúde
e o escrupuloso cumprimento do segredo profissional por par-
te de todos os agentes envolvidos nas técnicas de PMA;
e) Garantia de anonimato do dador de gâmetas, excepto por
razões de ordem médica devidamente fundamentadas;
f) Não comercialização e não-patenteamento de produtos bio-
lógicos humanos.
Por outro lado, nos vários países é obrigatória a regulamenta-
ção de entidades que sejam idóneas para a utilização de PMA.
Em especial, defende-se a criação de centros onde se reúnam os
meios humanos, materiais e organizativos, bem como a respon-
sabilização individualizada a um director / chefe / coordenador
que garanta o cumprimento das condições e critérios de admis-
sibilidade à prática das distintas técnicas de PMA14.
Serrão (2008) chama a atenção particular para os cuidados
que deve haver nos centros de fertilização em vários domínios,
designadamente quanto a: (i) factores que influenciam o sucesso
de uma fertilização in vitro (a idade da mulher, as causas de infer-
tilidade…); (ii) taxas de sucesso, na medida em que se podem
sobrevalorizar números que não serão de todo científicos, pois
tais centros podem seduzir a clientela com melhores indicado-
res de fertilização.
Acrescenta-se que a utilização das técnicas de PMA em esta-
belecimentos de saúde dotados das condições necessárias para
o efeito, devendo estes ser objecto de processos de certificação
e acreditação de qualidade por parte de entidades credíveis.
Refira-se ainda a possibilidade de os médicos e outros profissio-
nais de saúde envolvidos poderem usar o direito inalienável à
objecção de consciência.
Foram enumerados alguns aspectos que merecem uma profun-
da reflexão no âmbito da Bioética e do Biodireito. Fica o desafio.
1É consabido que há os defensores e os opositores à globalização. Ela traz consigo enormes vanta- Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM), intitulada "Acesso a tratamentos de fertilidade por realidade, aliás, conforme referido, tem contribuído para que muitas mulheres portuguesas, perante
gens, mas arrasta, igualmente, creio bem, uma espécie de conformidade, adaptação e fragmentação gays, lésbicas, e pessoas não-casadas.” – Cf. a obra já citada “A Defense of Dignity – Creating Life, and a impossibilidade de encontrarem uma solução conforme à lei no território nacional, se desloquem
que pode causar desequilíbrios e cortes sociais e culturais. Protecting the Rights of Conscience”); (ii) Questões ético-jurídicas no âmbito da Lei da Procriação a estabelecimentos de saúde no pais vizinho ou em países terceiros, em busca da realização de um
2 4e Congrès international du Gieraf sur la fertilité : Du bon usage de la procréation médicalement Medicamente Assistida (Portugal Lei 32/2006, de 26 de Julho.), de Falcão e Trigo (Disponível em direito à sua realização individual no campo da maternidade.
assiste. Disponível em htpp://www.leral.net/4e-Congres-international-du-Gieraf-sur-la- www.jus.com.br/artigos/17007/questoes-etico-juridicas-no-ambito-da-lei-da-procriacao- 11 Kaczor; cf. obra já citada (nota 3).
fertilite. medicamente-assistida-portugal). 12 Relatório sobre o Projecto de Proposta de Lei Relativa à Procriação Medicamente Assistida, 1997.
3 Cf. Bosco Ebere Amakwe, in The Human Life Review, 2013. 7 Lei n.º 32/2006, de 26 de Julho. 13 Há fortes opositores à ideia, plasmada nas diversas legislações, do “tratamento”, com o argumento
4 No entanto, a África Subsariana tem a taxa de fertilidade mais alta de todo o mundo, estimada em 8 Curiosamente, com a publicação do diploma que permite o casamento entre homossexuais, surge de que a procriação heteróloga não é tratamento, afirmando que aí não se supera uma situação de
5,2 %. um conflito entre dois diplomas. doença dum potencial genitor, substitui-se.
5 Entrevista ao Jornal de Angola, 16 de Maio de 2011. 9 No entanto, são relatadas várias situações de recurso às técnicas de PMA de forma clandestina (so- 14 Los equipos biomédicos y la dirección de los centros o servicios en que trabajan incurrirán en las
6 É vastíssima a literatura, de que salientamos: (i) Relatório PMA, de Santos et al, membros do Con- bre este assunto, cf. a obra Lei da Procriação Medicamente Assistida Anotada – Lei n.º 32/2006, de 26 responsabilidades que legalmente correspondan si violan el secreto de la identidad de los donantes,
selho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, Julho, 2004 (obra já citada, desnível em de Julho, já citada). si realizan mala práctica con las técnicas de reproducción asistida o los materiales biológicos corres-
www.cnevc.gov.pt. Este Relatório é muito esclarecedor sobre esta matéria em particular, e coloca 10 No Direito Comparado encontramos soluções mais abertas do que aquela que consta da lei por- pondientes o si, por omitir la información o los estudios establecidos, se lesionan los intereses de do-
questões éticas actuais muito importantes, dos pontos de vista da mulher, do marido ou companhei- tuguesa, admitindo-se o acesso a mulheres solteiras, bem como a casais de mulheres casadas ou uni- nantes o usuarios o se transmiten a los descendientes enfermedades congénitas o hereditarias, evi-
ro, do nascituro e seus direitos, do doador…que posteriormente vieram a ser aprofundadas em vários das de facto em relações do mesmo sexo em Espanha, na Holanda, na Noruega, na Suécia (desde tables con aquella información y estudio previos.
textos (por exemplo a contribuição importante publicada em 2009 pelo Comité de Ética da Sociedade 2005), na Bélgica (desde 2007) e na Dinamarca (desde 2006), para referir apenas alguns casos. Esta
JSA Jul/Set 2018 PRODUTOS 13
da Hepatite B
vacina contra a Hepatite B 16
anos mais tarde, em relação a
outros países africanos, o que
agravou a situação.
Antónia Constantino, sa-
lientou que sendo a Hepatite
Francisco cosme dos santos
Para além das generalidades sobre a patologia e a sua epidemio-
B uma doença transmitida
comrui moreira de sá logia, os palestrantes da conferência abordaram as guidelines te- pelo vírus VHB, que afecta o
rapêuticas mais actuais, as opções terapêuticas disponíveis em fígado, pode causar infecção
A farmacêutica Roche pers- Angola e o projecto Roche para a Hepatite B no país aguda ou crónica. Na fase ini-
pectiva o lançamento de um cial, as pessoas não sabem
projecto para o rastreio da que são portadoras do vírus,
Hepatite B junto a trabalha- porque a mesma não mani-
dores de empresas,e popula- festa sintomas.
ção em geral,nas zonas urba- Para mudança do quadro,
nas e não urbanas.Para o efei- Antónia Constantino disse
to,irá financiar as campanhas que é necessário trabalhar
e baixar o preço dos medica- mais na prevenção junto da
mentos para as instituições comunidade, fornecer mais
aderentes. informação sobre sexualida-
de e da saúde reprodutiva da
n A garantia foi dada ao JS pe- mulher.
lo responsável da Roche para Por sua vez, a médica gas-
África Subsaariana, Oriental trenterologia, Giza Carlos ga-
e dos Países de Língua Oficial rantiu que as mães portado-
Portuguesa, João Paulo Ma- ras do vírus da hepatite B po-
galhães, à margem da confe- dem amamentar sem riscos
rência sobre a Hepatite B que de transmissão da doença
decorreu no final de Maio, na aos filhos, até aos seis meses
capital, sob o lema "Uma no- de vida. Segundo a especialis-
João Paulo Magalhães Centramos a nossa ac-
va luz sobre uma velha doen- tividade numa perspectiva multissectorial, desde zadas as clínicas de hemodiá- ta, muitas mães têm receio de
ça". a sensibilização da população, o diagnóstico pre- lise, como é o caso de Ben- amamentar devido a trans-
Disse ainda que todos pa- coce, a formação dos profissionais de saúde, o guela, Huambo e Cabinda”, missão do vírus, e por falta de
cientes que forem detectados apoio às instituições públicas e privadas do sec- adiantou. A estratégia passa informação sobre os cuida-
tor, ao acesso às terapêuticas inovadoras Roche
com Hepatite B farão o trata- e respectivos tratamentos por identificar parceiros cre- dos da doença. De acordo
mento durante um ano, a díveis. com a fonte, a amamentação
preços subsidiados. Os indi- deve ser feita mesmo que o
víduos sem a doença recebe- Prevalência em Angola bebé ainda não tenha recebi-
rão uma vacina de oferta. é de 14 por cento do a vacina da hepatite B.
A Roche dispõe da solução Angola apresenta uma preva- Apesar do vírus ser encontra-
injectável Pegasys indicada lência de 14 por cento de He- do no leite materno da mu-
no tratamento da hepatite B patite B, uma taxa considera- lher infectada, a quantidade
crónica (HBC), positiva ou da das mais altas a nível da não é suficiente para causar a
negativa para o antigénio do África Subsaariana, de acordo infecção na criança.
envelope da hepatite B (AgH- com o professor e médico Giza Carlos afirmou que
Be), em doentes adultos com gastrenterologista, Rui Mari- apesar de ser uma patologia
doença hepática compensa- nho, que caracterizou a doen- assintomática, os adultos e
da e evidência de replicação ça como sendo um problema crianças com idade superior
viral. de saúde pública. a 5 anos são mais propensos a
Para além desta iniciativa, O gastrenterologista asse- ter sintomas.
João Paulo Magalhães reve- gurou que a vacina é a melhor Realçou que os sintomas
lou também que a Roche pre- forma de prevenção em be- da hepatite B aguda podem
tende reatar o acordo assina- bés e mulheres em idade fér- incluir febre, fadiga, náuseas,
do em Dezembro de 2016, til. perda de apetite, vómitos, do-
com o Instituto Angolano do "Existe a possibilidade de res abdominais e nas articu-
Câncer (IAC), que será apoia- transmissão de mãe para fi- lações, dentre outros sinto-
do financeiramente de forma lho, no momento do nasci- mas.
a permitir descontos nos me- mento, uma forma de contá- Considerou ser importan-
dicamentos para o tratamen- gio grave, dada à tendência de te que a informação sobre a
to do cancro da mama, insta- se tornar crónica, muito co- prevenção da doença e trata-
lação dos equipamentos para mum em zonas híper endé- mento sejam comunicadas
diagnóstico das doenças can- micas em países em desen- com frequência de maneira
cerígenas e formação dos téc- volvimento, onde a maior transversal, por todos os ór-
nicos do instituto. parte dos infectados contrai o gãos institucionais e não só,
Referiu que o cancro da vírus durante a infância". por se tratar no momento de
mama, do útero, hepatite B, e Rui Marinho que falava uma questão de saúde públi-
anemia renal são as áreas te- durante a conferência so- ca.
rapêuticas de maior envolvi- bre a Hepatite B, salientou Finalmente, advertiu que
mento da Roche em Angola. que, a nível de África, a a Hepatite B é uma doença
A farmacêutica pretende transmissão ocorre mais na que não afecta apenas o sec-
expandir a empresa para ou- primeira infância, acres- tor da saúde, mas tem impac-
tras províncias em Angola, centando que é uma situa- to em todo o sector socioeco-
gonçalo Marques A Roche está comprometida com a melhoria da qualidade da saúde em An-
“sobretudo onde estão locali- gola e vai expandir as suas actividades ção que não podia existir, nómico do país.
15 cólerA Jul/Set 2018 JSA
Médicos empenhados
na criação de um ambiente
favorável para a saúde
Os 45 cursos pré-congresso registaram o dobro
de participantes face à edição anterior
Leite Cruzeiro
“Angola tem muitos casos de epilepsia
e paralisia cerebral em crianças”
Francisco cosme dos santos
n No encerramento do 1º
Simpósio dos Principais Pro-
blemas em Neuropediatria, o
médico Leite Cruzeiro afir-
mou que “existem muitos ca-
sos de doenças de neurope-
diatria em Angola, como pa-
ralisias cerebrais e epilepsias,
causadas por doenças infec-
ciosas como as meningites,
encefalites e malária cerebral”. hospitais. “Estes procedimen- rology Association (ICNA).
Segundo o neuropediatra que tos têm feito com que muitos Entre os temas debatidos,
exerce no Hospital Pediátrico doentes cheguem tardiamen- destaca-se a nova classifica-
David Bernardino “são neces- te aos serviços de saúde, o que ção das epilepsias na infân-
sários mais quatro pediatras e dificulta o tratamento”. cia, as encefalopatias cróni-
clínicos gerais para tratar os cas não evolutivas, autismo,
pacientes”. Programa de excelência síndromes epiléticas, even-
O especialista alegou que Sala cheia de profissionais de tos paroxísticos não epiléti-
actualmente observam-se, saúde muito interessados cos, anemia falciforme, dis-
nas zonas urbanas e não ur- neste 1º Simpósio, promovi- túrbios do movimento, neo-
banas do país, muitos casos do pela Sociedade Angolana plasias do SNC, mau
de epilepsia em crianças que de Pediatria, que decorreu na rendimento escolar e malfor-
são assistidas nos centros de capital, em Maio. O pales- mações cerebrais.
medicina tradicional sem trante principal foi Sérgio Ro- O secretariado executivo
condições apropriadas, em senberg, membro da direc- esteve a cargo da HE Farma-
vez de serem tratadas nos ção executiva da Child Neu- cêutica.