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Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS Nº 35.203 - SP (2004/0061528-0)

RELATORA : MINISTRA LAURITA VAZ


IMPETRANTE : EURO BENTO MACIEL FILHO E OUTRO
IMPETRADO : PRIMEIRA CÂMARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
DO ESTADO DE SÃO PAULO
PACIENTE : ANTÔNIO MARTINS ARTEM
EMENTA

HABEAS CORPUS. CRIME AMBIENTAL. TRANCAMENTO DA


AÇÃO PENAL POR AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. ATIPICIDADE DA
CONDUTA. INEXISTÊNCIA DE DANO AMBIENTAL PASSÍVEL DE
ENQUADRAMENTO LEGAL. ACEITAÇÃO DO SURSIS PROCESSUAL.
ART. 89 DA LEI N.º 9.099/95. RENÚNCIA AO INTERESSE DE AGIR QUE
NÃO FOI RECONHECIDA PELO STF, QUE DEFERIU ORDEM PARA
DETERMINAR O EXAME DO MÉRITO PELO STJ.
1. O bem jurídico protegido pela lei ambiental diz respeito a áreas cujas
dimensões e tipo de vegetação efetivamente integrem um ecossistema. A lei de
regência não pode ser aplicada para punir insignificantes ações, sem potencial
lesivo à área de proteção ambiental, mormente quando o agente se comporta com
claro intuito de proteger sua propriedade, no caso, com simples levante de cerca,
em perímetro diminuto, vindo com isso, inclusive, a resguardar a própria floresta
nativa.
2. Ordem concedida para trancar a ação penal em tela.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da QUINTA


TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a
seguir, por unanimidade, conceder a ordem, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.

Brasília (DF), 12 de junho de 2006 (Data do Julgamento)

MINISTRA LAURITA VAZ


Relatora

Documento: 619118 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 01/08/2006 Página 1 de 6
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HABEAS CORPUS Nº 35.203 - SP (2004/0061528-0)

RELATÓRIO

EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ:


Trata-se de Habeas Corpus, com pedido de liminar, impetrado em favor de
ANTÔNIO MARTINS ARTEM, em face de acórdão da Primeira Câmara Criminal do Tribunal
de Justiça do Estado de São Paulo.
O ora Paciente foi denunciado perante o Juízo da Vara Distrital de Cabreúva,
Comarca de Itu/SP, como incurso no art. 40, § 1º, da Lei n.º 9.605/98, acusado do cometimento
de crime contra o meio ambiente consistente na supressão parcial de vegetação nativa, sem a
necessária licença ambiental, tendo sido oferecida e aceita proposta de suspensão condicional do
processo, nos termos do art. 89 da Lei n.º 9.099/95.
Inconformado, impetrou habeas corpus perante o Tribunal de Justiça paulista,
objetivando o trancamento da ação penal. A ordem foi denegada, ensejando o presente writ.
Alega o Impetrante constrangimento ilegal, reiterando os argumentos e a
pretensão. Sustenta, em suma, a atipicidade da conduta do réu, na medida em que não se
enquadraria no delito previsto no art. 40, § 1º, da Lei n.º 9.605/98, além da incidência do princípio
da insignificância, diante da dimensão da área e do segmento desmatado. Assevera, ainda, q ue
"o Paciente, embora tenha aceito a proposta do sursis processual, não concorda com a
acusação e nem com a obrigação assumida, mas, no entanto, preferiu aceitá-la apenas
para não se ver processado criminalmente" (fl. 06). Requer, pois, o trancamento da ação
penal em questão.
O Ministério Público Federal manifestou-se às fls. 241/246, opinando pelo
não-conhecimento do writ.
O presente habeas corpus foi julgado por esta Eg. Quinta Turma na sessão do
dia 27/02/2005, em acórdão unânime, por mim relatado e ementado nos seguintes termos:
"HABEAS CORPUS. PEDIDO DE TRANCAMENTO DA AÇÃO
PENAL POR AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. ARGÜIÇÃO DE ATIPICIDADE
DA CONDUTA OU PRETENDIDA APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE. ACEITAÇÃO DO SURSIS
PROCESSUAL. ART. 89 DA LEI N.º 9.099/95. RENÚNCIA AO INTERESSE
DE AGIR. PRECEDENTES.
1. No momento em que o acusado aceita livremente a proposta
ministerial consubstanciada na suspensão condicional do processo (art. 89
da Lei n.º 9.099/95), conseqüentemente, renuncia ao interesse de agir,
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sendo impossível buscar o trancamento da ação penal, via habeas corpus,
com fundamento na falta de justa causa para sua existência.
2. Ordem denegada." (fl. 266)

Inconformado, impetrou habeas corpus perante o Excelso Supremo Tribunal


Federal que, em acórdão relatado pelo eminente Ministro Marco Aurélio, deferiu em parte a
ordem "para que o Superior Tribunal de Justiça proceda ao exame da impetração,
afastando o óbice vislumbrado" (fl. 285), sendo mantida a liminar que concedera a suspensão
do processo até o julgamento do presente writ.
Foram os autos remetidos para o Ministério Público Federal, que emitiu novo
parecer às fls. 299/304, opinando pela concessão da ordem, nos termos da seguinte ementa,
litteris:
"HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSO PENAL. CRIME
AMBIENTAL. FATO DE PEQUENA PROPORÇÃO. APLICAÇÃO DO
PRINCÍIO DA INSIGNIFICÂNCIA. DENÚNCIA QUE NÃO ESPECIFICOU
OS FATOS. INÉPCIA. CONCESSÃO DA ORDEM.
- Constata-se de plano, a pequena proporção em que se deu o ato
do agente, dando ensejo à aplicação do princípio da insignificância. É
destituída de razoabilidade decisão no sentido de condenar o paciente nos
termos da denúncia ora em apreço. Não foram constatados resultados
substancialmente danosos no contexto aferido.
- A denúncia não especificou o fato delituoso nem as ações
praticadas pelo paciente, fazendo referência apenas ao laudo pericial,
comprovando o dano ambiental. Com isso, conclui-se pela inépcia da
denúncia que desencadeou o presente procedimento.
- Posiciono-me pela concessão do writ."

É o relatório.

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EMENTA

HABEAS CORPUS. CRIME AMBIENTAL. TRANCAMENTO DA


AÇÃO PENAL POR AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. ATIPICIDADE DA
CONDUTA. INEXISTÊNCIA DE DANO AMBIENTAL PASSÍVEL DE
ENQUADRAMENTO LEGAL. ACEITAÇÃO DO SURSIS PROCESSUAL.
ART. 89 DA LEI N.º 9.099/95. RENÚNCIA AO INTERESSE DE AGIR QUE
NÃO FOI RECONHECIDA PELO STF, QUE DEFERIU ORDEM PARA
DETERMINAR O EXAME DO MÉRITO PELO STJ.
1. O bem jurídico protegido pela lei ambiental diz respeito a áreas cujas
dimensões e tipo de vegetação efetivamente integrem um ecossistema. A lei de
regência não pode ser aplicada para punir insignificantes ações, sem potencial
lesivo à área de proteção ambiental, mormente quando o agente se comporta com
claro intuito de proteger sua propriedade, no caso, com simples levante de cerca,
em perímetro diminuto, vindo com isso, inclusive, a resguardar a própria floresta
nativa.
2. Ordem concedida para trancar a ação penal em tela.

VOTO

EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ (RELATORA):


Resta, pois, em cumprimento à decisão da Suprema Corte, a análise do mérito
deste habeas corpus.
Assevera o Impetrante que:
"[...] a área específica em que se localiza a propriedade do
Paciente, segundo as leis ambientais, pode ser definida como uma zona de
conservação hídrica de uma Área de Proteção Ambiental, a qual é tida como
categoria ambiental integrante do grupo de Unidades de Uso Sustentável,
que, por sua vez, é espécie do gênero "Unidades de Conservação", que é,
justamente, a expressão mencionada pelo legislador no caput, do art. 40, da
Lei Federal n.º 9.605/98.
E, numa área como essa, segundo específica disposição do Decreto
Estadual n.º 43.284, de 1998, é absolutamente "admissível a execução de
empreendimentos, obras e atividades", desde que o proprietário não incorra
em alguma das condutas mencionadas nos incisos I, II e III, do art. 24.
[...]
In casu, como já dissemos, o "bosqueamento" realizado pelo
Paciente, que visava, apenas, à "limpeza das áreas" limítrofes do seu
terreno para permitir a colocação de cerca (alambrado) em sua volta, não
exigia qualquer tipo de licença.
Não bastasse isso, é certo que a realização de "obras" ou
"atividades" naquele terreno era, como de fato é, absolutamente permitida.
Logo, se o Decreto Estadual que regulamentou a Área de Proteção
Ambiental de Cabreúva permite a realização de "obras", "atividades" ou
"empreendimentos" em zona de conservação hídrica – local em que se
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encontra o terreno do Paciente –, bem como, se é o próprio Decreto que
afirma que a licença ambiental só é necessária em casos extremos – uso
indevido de recursos ambientais ou possibilidade de degradação ambiental
–, é induvidoso que a conduta atribuída ao Paciente, que se limita ao mero
"bosqueamento" – ou seja, corte de vegetação rasteira – da área limítrofe
do seu terreno para posterior colocação de alambrado, não pode,
positivamente, ser erigida à categoria de conduta típica para o Direito
Penal." (fls. 25/26)

E pondera ainda que:


"[...] a "mata" existente na parte interna do terreno não chegou a
ser atingida, mas sim, e tão somente, a vegetação de capoeira localizada na
porção periférica, o que não representa "dano ambiental" capaz de gerar a
necessidade de intervenção do Direito Penal.
Ante o exposto, impõe-se, assim, também por esse ângulo de visada,
a concessão da ordem para trancar a malfadada ação penal inaugurada
contra o Paciente, já que a conduta que lhe é atribuída pelo Parquet, além
de insignificante, também não causou qualquer "impacto" ou "degradação"
ambiental à Área de Proteção Ambiental de Cabreúva." (fls. 32/35)

De fato, o bem jurídico protegido pela lei ambiental diz respeito a áreas cujas
dimensões e tipo de vegetação efetivamente integrem um ecossistema. A lei de regência não
pode ser aplicada para punir insignificantes ações, sem potencial lesivo à área de proteção
ambiental, mormente quando o agente se comporta com claro intuito de proteger sua propriedade,
no caso, com simples levante de cerca, em perímetro diminuto, vindo com isso, inclusive, a
resguardar a própria floresta nativa.
No mesmo sentido é o parecer ministerial, in verbis:
"A ordem comporta guarida. Os fundamentos que dão suporte a
esta interposição revestem-se de inquestionável plausibilidade jurídica, pois
o caso em discussão põe em evidência questões que já restaram pacificadas
no ordenamento jurídico pátrio.
No campo do direito penal do meio ambiente, o princípio da
insignificância deve ser aplicado com temperamentos, uma vez que não
basta a análise isolada do comportamento do agente causador do dano,
como medida para avaliar a extensão da lesão. É preciso levar em
consideração os efeitos ocasionados no contexto em que praticado o ato
ilícito.
No caso em discussão, verifica-se, ao compulsar os autos que o
paciente realizou “bosqueamento” em área equivalente a 0,6 hectares, sem
a correspondente licença ambiental, em região tipo como “Área de Proteção
Ambiental”.
Ocorre que, o alegado “bosqueamento” significa o corte parcial da
vegetação para a colocação de cercas, com a finalidade de proteção da
propriedade do paciente, não ocorrendo, com isso, supressão da referida
vegetação protegida por lei.
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O próprio Auto de Infração Ambiental, acostado às fls. 78, assim
expõe: “Relação de produtos/mercadorias (especificação e quantidade): Não
houve apreensão. Por tratar-se de vegetação de pequeno porte.” E o Laudo de
Vistoria (fls. 185) dispõe: “O Sr. Antônio Martins Artem, proprietário do terreno
de 7.000m² situado na confluência das Vias das Tulipas e Via das Palmas,
realizou o bosqueamento da vegetação e a retirada de entulho nesta área, sendo
por isso autuado pela PFM.”
Constata-se de plano, a pequena proporção em que se deu o ato do
agente, dando ensejo à aplicação do princípio da insignificância. É
destituída de razoabilidade decisão no sentido de condenar o paciente nos
termos da denúncia ora em apreço. Não foram constatados resultados
substancialmente danosos no contexto aferido.
Como bem afirma o impetrante, não houve prejuízo ao meio
ambiente, nem sequer perigo de prejuízo ao equilíbrio natural, mormente
diante da extensão de 0,6 hectares, pertencentes ao paciente, em relação à
Área de Proteção Ambiental de Cabreúva. Não foi atingido o bem jurídico
tutelado pela lei que prevê o tipo penal." (fls. 302/304)

Ante o exposto, CONCEDO a ordem para determinar o trancamento da ação


penal em tela.
É o voto.

MINISTRA LAURITA VAZ


Relatora

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

Número Registro: 2004/0061528-0 HC 35203 / SP


MATÉRIA CRIMINAL
Números Origem: 242001 4487513

EM MESA JULGADO: 06/04/2006

Relatora
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Presidenta da Sessão
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. BRASILINO PEREIRA DOS SANTOS
Secretário
Bel. LAURO ROCHA REIS

AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : EURO BENTO MACIEL FILHO E OUTRO
IMPETRADO : PRIMEIRA CÂMARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO
DE SÃO PAULO
PACIENTE : ANTÔNIO MARTINS ARTEM

ASSUNTO: Penal - Leis Extravagantes - Crimes Contra o Meio Ambiente (lei 9.605/98)

SUSTENTAÇÃO ORAL
SUSTENTAÇÃO ORAL: DR. EURO BENTO MACIEL FILHO (P/PACTE)

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"Após o voto da Sra. Ministra Relatora concedendo a ordem, pediu vista,
antecipadamente, o Sr. Ministro Gilson Dipp."
Aguardam os Srs. Ministros Arnaldo Esteves Lima e Felix Fischer.

Brasília, 06 de abril de 2006

LAURO ROCHA REIS


Secretário

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HABEAS CORPUS Nº 35.203 - SP (2004/0061528-0)

VOTO-VISTA

EXMO. SR. MINISTRO GILSON DIPP:


Trata-se de habeas corpus, substitutivo de recurso ordinário, contra acórdão do
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que denegou ordem anteriormente impetrada em
favor de ANTÔNIO MARTINS ARTEM, visando ao trancamento da ação penal contra ele
instaurada pela suposta prática de crime ambiental.
Os autos revelam ter sido o paciente denunciado pela suposta prática do delito
explicitado no art. 40, § 1º, da Lei 9.605/98, pois teria procedido à supressão parcial de vegetação
nativa, sem a necessária licença ambiental (fls. 177/178).
Oferecida a proposta de suspensão condicional do processo, foi aceita pelo
paciente e homologada pelo Magistrado.
No entanto, a defesa impetrou habeas corpus perante o Tribunal a quo,
buscando o trancamento da ação penal instaurada contra o paciente.
A ordem, contudo, foi denegada, nos termos do acórdão de fls. 199/202.
Daí a presente impetração, por meio da qual se reitera o pleito originário,
sustentando-se ser atípica a conduta do paciente, pois a área em que retirada a vegetação nativa
não poderia ser considerada unidade de conservação, por não se enquadrar no conceito de “Área
de Proteção Ambiental”.
Aduz-se, de outro lado, que a dimensão da área e do segmento desmatado
autorizaria a incidência do princípio da insignificância.
Alega-se, ainda, que “o Paciente, embora tenha aceito a proposta do sursis
processual, não concorda com a acusação e nem com a obrigação assumida, mas, no
entanto, preferiu aceitá-la apenas para não ser ver processado criminalmente” (fl. 06).
O Ministério Público Federal manifestou-se pelo não conhecimento do writ (fls.
241/246).
Esta Turma, inicialmente, não conheceu da ordem, nos termos da seguinte
ementa:

“HABEAS CORPUS. PEDIDO DE TRANCAMENTO DA AÇÃO


PENAL POR AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. ARGÜIÇÃO DE ATIPICIDADE
DA CONDUTA OU PRETENDIDA APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE. ACEITAÇÃO DO SURSIS
PROCESSUAL. ART. 89 DA LEI N.º 9.099/95. RENÚNCIA AO INTERESSE
DE AGIR. PRECEDENTES.

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1. No momento em que o acusado aceita livremente a proposta
ministerial consubstanciada na suspensão condicional do processo (art. 89
da Lei n.º 9.099/95), conseqüentemente, renuncia ao interesse de agir,
sendo impossível buscar o trancamento da ação penal, via habeas corpus,
com fundamento na falta de justa causa para sua existência.
2. Ordem denegada.”

Inconformado, o paciente impetrou habeas corpus perante o Supremo Tribunal


Federal, tendo sido acolhido em parte para que este STJ proceda ao exame da impetração,
afastado o óbice da aceitação de proposta de suspensão condicional do processo.
Eis a ementa do julgado:

“PROCESSO – SUSPENSÃO – HABEAS CORPUS . A


suspensão do processo, operada a partir do disposto no artigo 89 da Lei nº
9.099/95, não obstaculiza impetração voltada a afastar a tipicidade da
conduta.” (fl. 285).

Em nova manifestação, a Subprocuradoria-Geral da República opinou pela


concessão da ordem (fls. 299/304).
Submetendo o feito à apreciação desta Turma, a Ministra Relatora, Laurita Vaz,
concedeu a ordem, nos termos da ementa a seguir:

“HABEAS CORPUS. CRIME AMBIENTAL. TRANCAMENTO


DA AÇÃO PENAL POR AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. ATIPICIDADE DA
CONDUTA. INEXISTÊNCIA DE DANO AMBIENTAL. PASSÍVEL DE
ENQUADRAMENTO LEGAL. ACEITAÇÃO DO SURSIS PROCESSUAL. ART.
89 DA LEI N.º 9.099/95. RENÚNCIA AO INTERESSE DE AGIR QUE NÃO
FOI RECONHECIDA PELO STF, QUE DEFERIU ORDEM PARA
DETERMINAR O EXAME DO MÉRITO PELO STJ.
1. O bem jurídico protegido pela lei ambiental diz respeito a
áreas cujas dimensões e tipo de vegetação efetivamente integrem um
ecossistema. A lei de regência não pode ser aplicada para punir
insignificantes ações, sem potencial lesivo à área de proteção ambiental,
mormente quando o agente se comporta com claro intuito de proteger sua
propriedade, no caso, com simples levante de cerca, em perímetro diminuto,
vindo com isso, inclusive, a resguardar a própria floresta nativa.
2. Ordem concedida para trancar a ação penal em tela.”.

Os impetrantes apresentaram memoriais, repisando a pretensão de trancamento


da ação penal instaurada contra o paciente.
Pedi vista dos autos para melhor exame.
Narra a peça acusatória:

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“Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, em data


incerta, em meados do mês de agosto de 2000, no interior do imóvel
localizado no cruzamento da Via das Azaléias com via Palmas, s/nº, Bairro
Pinhal, nesta Cidade de Cabreúva, Comarca de Itu, ANTONIO MARTINS
ARTEM, identificado a fls. 20, causou dano em Unidade de Conservação,
qual seja, na Área de Proteção Ambiental Cabreúva (APA Cabreúva),
declarada tal por força da Lei 4023/84 e regulamentada pelo Decreto
43284/98, determinando a supressão parcial de vegetação nativa do tipo
capoeira, através de bosqueamento, em área correspondente a 0,6 há, sem
a necessária licença ambiental.
Conforme se apurou, policiais militares florestais realizavam
vistoria no local, oportunidade em que constataram a supressão parcial de
vegetação nativa do tipo capoeira, através de bosqueamento, em área
correspondente a 0,6 há, em imóvel de propriedade do denunciando, que
havia determinado a supressão de referida vegetação sem a necessária
licença ambiental para tanto.
O laudo pericial acostado a fls. 31/ 35 comprova o dano
ambiental.
Em face do exposto, denuncio ANTONIO MARTINS
ARTEM, identificado a fls. 20 como incurso no art. 40, § 1º, da Lei
9.605/98.” (fls. 177/178).

Eis a redação do dispositivo que contém o tipo penal atribuído ao paciente:

“Art. 40. Causar dano direto ou indireto às Unidades de


Conservação e às áreas de que trata o art. 27 do Decreto nº 99.274, de 6 de
junho de 1990, independentemente de sua localização:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 1o Entende-se por Unidades de Conservação de Proteção
Integral as Estações Ecológicas, as Reservas Biológicas, os Parques
Nacionais, os Monumentos Naturais e os Refúgios de Vida Silvestre.”

Como bem ressaltado pelo Ministério Público Federal e pela Ministra Relatora, a
legislação ambiental visa a coibir condutas que sejam capazes de lesar, efetivamente, o
ecossistema, seja em razão das dimensões da área atingida, seja em virtude do tipo de vegetação
que nela existe.
Na hipótese dos autos, a ação do paciente limitou-se a realizar “bosqueamento”,
ou seja, supressão de parte da vegetação nativa em área de sua propriedade, cuja dimensão é de
0,6 hectares, com o intuito de levantar uma cerca, um alambrado.
Não se pode concluir, então, que a conduta do paciente tenha atingido o bem
jurídico tutelado pela legislação do meio ambiente.
A propósito, eis os trechos do Auto de Infração Ambiental (fl. 78) e do Laudo de

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Vistoria (fl. 185), destacados também pela Subprocuradoria-Geral da República:

“Relação de Produtos/Mercadorias (especificação e


quantidade):
Não houve apreensão, por tratar-se de vegetação de pequeno
porte.”

“O Sr. Antônio Martins Artem, proprietário do terreno de


7.000 m2 situado na confluência das Vias das Tulipas e Via das Palmas,
realizou o bosqueamento da vegetação e a retirada de entulho nesta área,
sendo por isto autuado pela PFM. (...).”

Resta configurado, por conseguinte o constrangimento ilegal decorrente da


instauração de processo-crime contra o paciente, fazendo-se mister a reparação pela via eleita do
habeas corpus.
Diante do exposto, acompanho a Relatora e concedo a ordem para determinar o
trancamento da ação penal instaurada contra o paciente.
É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

Número Registro: 2004/0061528-0 HC 35203 / SP


MATÉRIA CRIMINAL
Números Origem: 242001 4487513

EM MESA JULGADO: 12/06/2006

Relatora
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Presidenta da Sessão
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. GILDA PEREIRA DE CARVALHO
Secretário
Bel. LAURO ROCHA REIS

AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : EURO BENTO MACIEL FILHO E OUTRO
IMPETRADO : PRIMEIRA CÂMARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO
DE SÃO PAULO
PACIENTE : ANTÔNIO MARTINS ARTEM

ASSUNTO: Penal - Leis Extravagantes - Crimes Contra o Meio Ambiente (lei 9.605/98)

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"Prosseguindo no julgamento, a Turma, por unanimidade, concedeu a ordem, nos termos
do voto da Sra. Ministra Relatora."
Brasília, 12 de junho de 2006

LAURO ROCHA REIS


Secretário

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