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Atanásio nasceu em Alexandria, no Egito, em 296.

No ano de 325, deu-se o I Concílio


Ecumênico, em Niceia, para definir a doutrina autêntica contra a heresia tão capciosa dos
arianos, a qual fazia de Jesus uma criatura inferior a Deus Pai. Atanásio participou do
Concílio na qualidade de assessor do seu bispo, embora fosse somente diácono na
época.

O Arianismo foi condenado e deu-se a definição solene do Credo, o qual nós rezamos até
hoje. A atuação de Atanásio foi primorosa tanto pela lucidez de sua doutrina quanto pela
argumentação bíblica apresentada. Os erros dos arianos foram por ele refutados com
tanto brilho, clareza e evidência, que causou admiração a todos.

Atanásio foi o sucessor do bispo de Alexandria, embora tivesse apenas 31 anos, e dirigiu
a Igreja de Alexandria por 46 anos, período de muito sofrimento e perseguição. Os arianos
não lhe deram descanso e, com o apoio do imperador, espalharam muitas calúnias contra
Atanásio, que por cinco vezes teve de fugir de sua sede episcopal.

Refugiava-se no deserto onde conheceu e conviveu com o grande Santo Antão. Durante
cinco anos ficou lá escondido, saindo somente à noite para dirigir sua igreja e consolar
seus fiéis. Atanásio foi firme e inquebrantável com seus numerosos escritos. Manteve viva
a fé no Verbo Encarnado.

Faleceu reconhecido por toda a Igreja, com 77 anos. E como reconhecimento de seu
trabalho, fidelidade e fundamentais obras escritas para a Santa Igreja foi declarado Doutor
da Igreja.

Santo Atanásio de Alexandria


Bispo de Alexandria, Confessor e Doutor da Igreja;
nascido c. 296, falecido em 2 de maio de 373

Conteúdo:
1. Arianismo: heresia devastadora
2. Atanásio: sustentáculo anti-ariano
3. Moldador dos acontecimentos
4. Jovem Patriarca de Alexandria
5. A astúcia dos santos
6. Exílio causado por amor à ortodoxia
7. Perseguição inclemente ao Santo
8. O grande iluminador

século IV, a idade de ouro da literatura cristã, nos oferece em seus umbrais a figura gigantesca de Atanásio de
Alexandria, o homem cujo gênio contribuiu para o engrandecimento da Igreja muito mais que a benevolência
imperial de Constantino. Seu nome está indissoluvelmente unido ao triunfo do Símbolo de Nicéia»1, que ainda
hoje rezamos.

«Há nome mais ilustre que o de Santo Atanásio entre os seguidores da Palavra da verdade, que Jesus trouxe à
terra? Não é este nome símbolo do valor indomável na defesa do depósito sagrado, da firmeza do herói face às mais
terríveis provas da ciência, do gênio, da eloqüência, de tudo o que pode representar o ideal de santidade de um Pastor
unido à doutrina do intérprete das coisas divinas? Atanásio viveu para o Filho de Deus; Sua causa foi a de Atanásio.
Quem estava com Atanásio, estava com o Verbo eterno, e quem maldizia o Verbo eterno maldizia Atanásio»2, comenta
Dom Guéranger, o admirável autor eclesiástico do século XIX.

É esse grande Santo que comemoramos no dia 2 deste mês (Maio)

1. Arianismo: heresia devastadora


Deus nosso Senhor permitiu que houvesse várias heresias logo no início da Igreja. Com isso, ao refutá-las, os
doutores foram explicitando a verdade católica a partir da Revelação e estabelecendo assim os fundamentos básicos
sobre os quais se firmasse a verdadeira doutrina.

Uma das heresias que mais dano causou à Igreja, a partir do século III, foi o arianismo, devido ao apoio que
encontrou da parte de muitos bispos e imperadores.

Na segunda metade do século III, Melécio, Bispo de Lycopolis, rompeu com São Pedro de Alexandria,
provocando um cisma que dividiu o patriarcado de Alexandria. Melécio caiu em cisma (ou seja, provocou uma divisão)
por ter discordado da indulgência do Santo ao receber de volta à Igreja cristãos arrependidos que, por fraqueza, haviam
oferecido incenso aos ídolos para evitar a morte.

Ário, homem intrigante, habilidoso, persuasivo, vindo da Líbia, juntou-se aos cismáticos. Elevado ao
sacerdócio pelo primeiro sucessor de São Pedro de Alexandria, ambicioso e buscando preeminência, Ário começou a
pregar uma nova doutrina, que negava a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Santo Alexandre, novo Patriarca de
Alexandria, condenou-a como herética.

2. Atanásio: sustentáculo anti-ariano

«Jamais, talvez, nenhum chefe de heresia possuiu em mais alto grau que Ário as qualidades próprias para esse
maldito e funesto papel. Instruído nas letras e na filo dos gregos, dotado de uma rara fineza de dialética e de linguagem,
ele conseguia dar ao erro o aspecto e o atrativo da verdade. Seu exterior ajudava a sedução. Seu orgulho se disfarçava
sob uma simples vestimenta, sob um olhar modesto, recolhido, mortificado, que lhe dava um falso ar de santidade, e
ao qual ele sabia aliar um trato gracioso e um tom doce e insinuante»3. Isso lhe abriu a porta dos grandes e poderosos
do mundo. Eusébio de Cesaréia lhe concedeu asilo e o protegeu. Eusébio de Nicomédia tornou-se seu mais forte
defensor. Por isso sua heresia estendeu-se séculos afora, provocando grande mal à Igreja.

O crescimento e o tumulto da nova heresia preocupou o Imperador Constantino, que enviou o mais venerado
Prelado da época, Ósio de Córdoba, a Alexandria, para tentar fazer cessar a "epidemia". Este, estando com Santo
Atanásio, reconheceu logo sua ortodoxia; bem como a má-fé e erro de Ario. Por isso, aconselhou o Imperador a
convocar um concílio em Nicéia, para condenar a nova heresia. Neste foi composto o famoso Credo de Nicéia, que
alguns heresiarcas assinaram constrangidos, e outros, recusando-se a fazê-lo, foram exilados.

Foi ali, na grande assembléia, que um pequeno grande homem, secretário de Santo Alexandre, se fez notar pelo
fogo de suas palavras, eloqüência e amor à ortodoxia católica. Era ele Atanásio.

3. Moldador dos acontecimentos

«Atanásio era uma dessas raras personalidades que deriva incomparavelmente mais de seus próprios dons
naturais de intelecto do que do fortuito da descendência ou dos que o rodeiam. Sua carreira quase personifica uma
crise na história da Cristandade, e pode-se dizer dele que mais deu forma aos acontecimentos em que tomou parte do
que foi moldado por eles»4. A esta descrição psicológica devemos acrescentar sua fé profunda e inabalável, a serviço
da qual colocou suas qualidades naturais.

De estatura abaixo da média (pelo que foi objeto de debique por parte do apóstata Juliano), segundo seus
biógrafos, era de compleição magra, mas forte e enérgico. Tinha uma inteligência aguda, rápida intuição, era bondoso,
acolhedor, afável, agradável na conversação, mas alerta e afiado no debate.

A História não guardou o nome de seus pais. Pela alta formação intelectual que ele demonstra ainda jovem,
julga-se que pertencia à classe mais elevada.

4. Jovem Patriarca de Alexandria

Ainda adolescente, foi notado e apreciado por Santo Alexandre, que o tomou sob sua proteção e, com o tempo,
o fez seu secretário. No Concílio de Nicéia ainda não havia recebido a ordenação. Mas, cinco meses depois, Santo
Alexandre, ao falecer, designou-o como seu sucessor na Sé de Alexandria. Atanásio tinha apenas trinta anos de idade.

Triste herança recebeu o jovem bispo. Durante seus primeiros anos de episcopado, os melecianos e arianos
juntaram-se para tumultuar o povo e lançar o espírito de revolta, de que se alimentam as heresias. Pois o arianismo, se
bem que tivesse um suposto fundamento religioso, era mais um partido político de agitadores, como muitos
movimentos da esquerda católica de hoje em dia. Não havia calúnia, difamação e ardil que os arianos não inventassem
contra Atanásio, para minar sua autoridade.

O Imperador Constantino, perdendo sua mãe Santa Helena, ficou sob a influência de sua irmã Constância,
conquistada pela heresia. A pedido dela, fez voltar do exílio os hereges exilados em Nicéia, enquanto perseguia os
católicos ortodoxos.
5. A astúcia dos santos

Apenas retornado do exílio, Eusébio de Nicomédia convoca um concílio em Cesaréia, sede do outro Eusébio
ariano, para condenar Santo Atanásio. Este é intimado a comparecer em Tiro — para onde o concílio havia sido
transferido — a fim de responder às acusações assacadas contra ele.

Fizeram entrar uma mulher de cabelos desgrenhados que, com altos gritos, acusou o Santo de ter dela abusado.
Um dos padres de Atanásio, percebendo o jogo, levantou-se e foi até a impostora, exclamando: «Como! Então é a mim
que imputas esse crime?!» Ela, que não conhecia Atanásio, replicou: «Sim, é a ti. Eu bem te reconheço». Houve uma
gargalhada geral, e a miserável fugiu cheia de confusão.

Mas isso não desarmou os impostores. Mostrando uma mão ressequida, afirmaram pertencer a um tal Arsênio,
que havia tempos desaparecera, e certamente fora esquartejado por Atanásio para efeitos de magia. Atanásio faz entrar
na sala o próprio Arsênio, que descobrira na solidão do deserto. Mostrando-o, disse aos acusadores: "Vejam Arsênio,
com suas duas mãos. Como o Criador só nos deu duas, que meus adversários expliquem de onde tiraram essa terceira".
Os hereges, confundidos, provocaram verdadeiro tumulto e suspenderam a sessão.

6. Exílio causado por amor à ortodoxia

Com calúnias e outros artifícios, os hereges, que gozavam do prestígio do poder imperial, conseguiram que o
Santo fosse exilado cinco vezes.

O primeiro exílio, em Treveris, durou cinco anos e meio, terminando em 337 quando, com a morte de
Constantino, seu filho do mesmo nome chamou Atanásio para ocupar novamente sua Sé. No ano anterior, Ário,
sentindo-se mal quando era levado em triunfo pelos seus partidários, teve que retirar-se a um lugar escuso, onde morreu
com as entranhas nas mãos.

Entretanto, morto o heresiarca, não morreu a heresia, que em 340 conseguiu impor um bispo herege em
Alexandria, tendo Atanásio que fugir para o exílio em Roma. Foi bem acolhido pelo Papa, que condenou o intruso.

Atanásio passou três anos em Roma, onde introduziu os monges do Oriente. Publicou na Cidade Eterna grandes
obras contra os hereges arianos. Em 343 foi exilado para a Gália.

A década de 346 a 356 foi o período de ouro para Atanásio na Sé de Alexandria. Pôde dedicar-se inteiramente
ao ministério episcopal, instruindo o clero e o povo, dedicando-se aos necessitados e favorecendo a vida monástica.
Sobretudo fortaleceu na fé os católicos fiéis.

Em um novo concílio, em Milão, em 356, os arianos obtiveram que Santo Atanásio fosse mais uma vez exilado.
Ele retirou-se então para o deserto do alto Egito, levando uma vida de anacoreta durante os seis anos seguintes, vivendo
com os monges e dedicando-se a seus escritos.

7. Perseguição inclemente ao Santo


Com a subida de Juliano, o Apóstata, ao trono imperial, Atanásio pôde voltar, em 362, a Alexandria. Mas,
pouco depois, ciumento do prestígio do Santo, o ímpio imperador mandou exilá-lo de novo. Não foi por muito tempo,
pois Juliano faleceu no ano seguinte, depois de ter tentado restaurar no Império o paganismo. O novo imperador,
Joviano, anulou o exílio de Atanásio, que voltou mais uma vez a Alexandria.

Favorecido com a boa vontade do novo Imperador, o patriarca pensava desta vez poder dedicar-se inteiramente
às suas ovelhas. Joviano, entretanto, faleceu no ano seguinte, e Atanásio foi mais uma vez exilado. Conta-se que teve
de refugiar-se durante quatro meses no túmulo de seu pai.

O povo de Alexandria não podia passar sem seu zeloso pastor. Recorreu nessa ocasião a Valente, irmão do
Imperador ariano Valentiniano, e obteve que Atanásio pudesse voltar em paz à sua igreja.

Assim, depois de uma vida tão tumultuada e de tantos perigos, Santo Atanásio, como ressalta o Breviário
Romano, "morreu em paz em seu leito", no dia 18 de janeiro de 373. Havia governado, com intervalos, durante 46
anos, a igreja (diocese) de Alexandria.

8. O grande iluminador

«No caráter de Atanásio» — disse Bossuet — «tudo é grande. Toda sua vida é a revelação de uma energia
prodigiosa, que só encontramos em épocas decisivas. Indiscutivelmente, sua grandeza como homem o coloca na
primeira linha dos caracteres mais admiráveis que produziu o gênero humano. Como escritor e Doutor, pôde ser
chamado o grande iluminador, e coluna fundamental da Igreja».

https://www.ecclesia.com.br/biblioteca/pais_da_igreja/s_atanasio_de_alexandria.html

Quem de nós não gostaria de voltar atrás e testemunhar em primeira mão certos momentos da
história da Igreja — certos momentos decisivos?

Eis alguns dos meus.

Na véspera da Batalha de Lepanto, sem levantar a voz, Dom João de Áustria silenciou seus
almirantes que brigavam. “Cavalheiros”, ele disse, “o tempo para se aconselhar já passou, agora
é a hora da guerra.” Imagine só o olhar aturdido no rosto de Sebastião Veniero, veterano de
Veneza, com três vezes a idade de Dom João.

Ou imagine ouvir as carmelitas de Compiègne cantando o Veni Creator Spiritus enquanto


caminhavam, em procissão, para o cadafalso. Dias depois cessou o Terror. Imagine ainda assistir à
pequena Caterina Benincasa, com típica determinação sienense, dizer ao Papa Gregório XI,
comodamente instalado em Avinhão: Esto vir!, “Seja homem!”, e mandá-lo de volta para Roma…
Grandes momentos, todos esses.

Eis aqui mais um para fazer arder o coração. Imagine estar presente na reunião do Concílio de
Niceia. Ver o esplendor da corte de Constantino. Ver os heroicos sobreviventes da perseguição
de Diocleciano ostentando suas cicatrizes (talvez até comparando-as entre si, com um pouco de
bravata, como os homens costumam fazer), alguns sem olhos e outros sem línguas. Ver São
Nicolau acertar um golpe no maxilar do heresiarca Ário. Ver o bispo Alexandre, de Alexandria,
defendendo a divindade de Jesus Cristo. E ver, em meio a tudo isso, um brilhante diácono, sem
sequer ter chegado aos trinta anos, com os olhos ardentes e o coração cheio de confiança em
Deus, chamado… Atanásio.

Santo Atanásio. Este homem foi decisivo.

A Atanásio pouco importava “se dar bem” com os outros. Sua preocupação era com a
Verdade.
Não quero dizer com isso, simplesmente, que ele foi bom em tomar decisões — embora ele tenha
sido também —, mas sim que, no momento em que “o mundo inteiro, surpreso, se viu ariano”,
como disse São Jerônimo, Deus levantou um homem para portar com bravura o estandarte da
ortodoxia. Como todos os heróis que a história depois trata de colocar em situações decisivas,
Santo Atanásio superou a própria vida. Entrou para a história, como se costuma dizer.

Sua biografia é, de fato, digna de uma epopeia. Atanásio foi sacerdote por mais de meio século,
tendo servido como bispo de Alexandria, a sé de São Marcos, por quarenta e cinco anos.
Conheceu cinco papas e cinco imperadores. Suportou cinco exílios, totalizando
aproximadamente duas décadas. Seus exílios e aventuras levaram-no por toda parte do Império:
desde Roma, no sudoeste, até a germânica Tréveris, no noroeste; e de Constantinopla e Niceia, no
nordeste, até Tiro, Alexandria e os desertos do sudeste.

Sua mente foi aguçada em meio aos padres da Escola de Alexandria, onde a Verdade revelada e o
pensamento grego se uniram para dar à cristandade a primeira fórmula extrabíblica capaz de
explicar, na medida do possível, o insondável mistério da relação entre o Pai e o Filho, a Primeira e
a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade: os dois são homousion, ou, como nós católicos
rezamos no Creio, “consubstanciais”.

Em nossa época miserável, é difícil conceber pessoas comuns brigando por uma questão teológica,
mas levar nossas mentes de volta a tal época pode ajudar. As perseguições dos primeiros três
séculos de Igreja deram têmpera ao coração da Esposa de Cristo. As heresias inoportunas, que
explodiram justamente quando a Igreja passou a se ver livre da tirania política, ameaçavam romper
essa consistência. Os fiéis reagiram à heterodoxia de Ário e de seus seguidores com
multidões amotinadas nas ruas.

Se a inteligência de Santo Atanásio foi formada em Alexandria, seu coração foi forjado depois,
na companhia de Santo Antão do Deserto e dos ascetas que formavam uma comunidade em
torno dele. Os primeiros monges solitários, cujas práticas Atanásio traria a Roma em seu segundo
exílio (quase dois séculos antes de São Bento), levavam bem a sério as palavras de Jesus ao
homem rico: “Vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu;
depois, vem e segue-me” (Mc 10, 21).

Santo Atanásio seguiu Nosso Senhor, nas situações favoráveis e nas desfavoráveis. Niceia
deveria ter resolvido a questão, mas o presbítero líbio Ário amava demais os holofotes sob os quais
suas novidades teológicas o haviam colocado. Alto, magro e com o cabelo meio embaraçado, ele
tinha um modo de falar peculiar e sedutor, que atraía especialmente a atenção das mulheres.
Cultivava com cuidado a aparência de alguém que levava uma vida severamente austera. Foi o
principal promotor, se não o próprio autor, da maior ameaça que a Igreja já havia enfrentado e
enfrentaria até a revolta protestante: a heresia segundo a qual o Filho passou a existir,
sendo criado por Deus Pai.

Escultura de Santo Atanásio


presente na Catedral de Lichfield, Inglaterra.
É fácil ver aonde tudo isso leva: uma criatura pode mudar. Se uma criatura pode mudar, ela pode
pecar. Se a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade foi criada, ela poderia pecar. Essa heresia,
para dizer a verdade, não desapareceu totalmente. Trata-se de um princípio mantido hoje por
mórmons e por testemunhas de Jeová.

Na época de Atanásio, porém, essa heresia não estava confinada aos seguidores de uma espécie
de “Igreja Adventista do Sétimo Dia”. O arianismo havia seduzido a maior parte do episcopado,
e até o Papa Libério foi forçado a assinar uma fórmula semiariana. Ário teve um fim trágico,
sofrendo uma morte tão indigna que qualquer homem temente a Deus teria visto nisso um castigo
divino, mas já era tarde demais. A heresia havia tomado conta dos palácios do poder, sejam os
seculares sejam os religiosos. Inseparáveis como eram, no século IV, a Igreja e o Estado, a
heresia ameaçou, ao mesmo tempo, a salvação eterna das almas e a paz temporal do Império.

E no olho do furacão estava sempre Santo Atanásio, cuja fortaleza e perseverança incendiaram os
corações de seu rebanho. Em duas ocasiões, quando os imperadores mandaram bispos arianos
para invadir a sé de Atanásio, os fiéis de Alexandria cuidaram do assunto com suas próprias mãos.

Uma corja infindável de caluniadores agiu para tentar desacreditar Atanásio. Se não podemos
contestar os argumentos de um homem — eles pensavam —, ataquemos o seu caráter. Suas
acusações eram as mais fantasiosas. Diziam que ele havia decepado a mão de um certo bispo, de
nome Arsínio, para usá-la em ritos de necromancia e, para apanhá-lo, chegaram a forjar uma mão
seca durante um julgamento público. Quando Atanásio mostrou o bispo, supostamente aleijado,
vivo e passando bem, ele se divertiu um pouco com a situação: “Talvez Arsínio tenha nascido
com três mãos?”, ele sugeriu, com um sorriso.

Ele violentou uma irmã, eles diziam. E arranjaram uma mulher para contar em detalhes tudo o que
ela havia sofrido nas mãos de Atanásio. Um dos seus, então, passando-se por Atanásio,
aproximou-se da moça. “Então eu fiz a você isto e isto?”, ele perguntou. “E isto?” “Sim, você fez!”, a
garota respondeu, antes de perceber que havia sido enganada. De tanta vergonha, ela fugiu do
julgamento.

Ainda assim, as acusações não cessavam. Quando tudo havia falhado, então, ele foi acusado de
simplesmente não se dar bem com as pessoas: era uma pessoa “divisiva”. Como São Thomas
More, que enfrentou a outra grande provação da Igreja doze séculos depois, a Atanásio pouco
importava “se dar bem” com os outros. Sua preocupação era com a Verdade. E, a exemplo
do santo inglês, Atanásio teve a coragem não somente de sofrer pela Verdade, mas também de
agir sozinho.

“Depois dos Apóstolos”, Atanásio foi “um dos principais


instrumentos por meio dos quais as verdades sagradas do
stianismo foram defendidas e transmitidas para o mundo.”
Em sua obra Arians of the Fourth Century [“Arianos do Século Quarto”, sem tradução para o
português], o bem-aventurado Cardeal Newman disse que foi Atanásio, “depois dos Apóstolos, um
dos principais instrumentos por meio dos quais as verdades sagradas do cristianismo foram
defendidas e transmitidas para o mundo”.

Além dessa obra de Newman — que é uma empreitada um pouco mais pesada —, os católicos que
quiserem compreender melhor a grandeza de Santo Atanásio podem começar com a “Vida de
Santo Antão”, escrita por ele mesmo e, depois, com seu livro sobre “A Encarnação do Verbo” — um
favorito de C. S. Lewis. Sobre Atanásio, o autor das “Crônicas de Nárnia” escreveu que “só um
gênio poderia, no século IV, ter escrito de modo tão profundo a respeito de um assunto
como esse e com uma tal simplicidade clássica”.

Atanásio conclui esse seu trabalho, a propósito, com as mesmas palavras pelas quais ele tão
ardorosamente viveu:
Para entender corretamente as Escrituras, é necessário ter uma vida reta e uma alma pura; e, para a
virtude cristã guiar a mente, é necessário apegar-se, tanto quanto pode a natureza humana, à verdade
referente ao Verbo de Deus. Ninguém é capaz de entender a doutrina dos santos, a menos que
tenha uma mente pura e procure imitar-lhes a vida… Quem quer que deseje entender a mente dos
escritores sacros deve, em primeiro lugar, purificar a própria vida e aproximar-se dos santos reproduzindo
os atos que eles praticaram. Só assim, unindo-se assim a eles na comunhão de vidas, será possível
entender as coisas que lhes foram reveladas por Deus e, escapando do perigo que ameaça os
pecadores no julgamento, receber o que lhes está reservado no Reino dos céus.
https://padrepauloricardo.org/blog/o-santo-que-lutou-sozinho-contra-o-mundo-inteiro

Atanásio, nascido em Alexandria em 295, é a figura mais dramática e desconcertante da galeria


dos Padres da Igreja.
Obstinado defensor da ortodoxia durante a grande crise ariana, imediatamente após o concílio de
Niceia, pagou a sua heroica resistência à difundida heresia com cinco exílios que lhe foram
impostos pelos imperadores Constantino, Constâncio, Juliano e Valente. Ário, sacerdote
proveniente da própria Igreja de Alexandria, negando a igualdade substancial entre o Pai e o Filho,
ameaçava ruir as estruturas do cristianismo. De fato, se Cristo não é o Filho de Deus, a que se
reduz a redenção da humanidade?

Em mundo que despertou de improviso ariano, segundo a célebre frase de são Jerônimo, ficava
ainda em pé grande lutador, elevado aos trinta e três anos à sede episcopal de Alexandria. Tinha
a fibra do lutador e quando era preciso dar combate aos adversários era o primeiro a partir com a
lança apontada: “Eu me alegro em ter de me defender”, escreveu na Apologia de sua fuga. Atanásio
tinha coragem de sobra, mas sabendo com quem havia de lidar (entre tantas acusações feitas pelos
seus inimigos houve a de ter assassinado o bispo Arsênio, que depois apareceu muito vivo!), não
esperava que viessem manietá-lo. Às vezes suas fugas foram sensacionais. Ele mesmo fala delas
com muito orgulho.

Passou os dois últimos exílios no deserto, junto com seus amigos monges, estes simpáticos
anárquicos da vida cristã, que embora fujam das normais estruturas das organizações sociais e
eclesiásticas, se dão bem na companhia de bispo autoritário e intransigente como Atanásio. Para
eles o batalhador bispo de Alexandria escreveu grande obra, A História dos arianos, dedicada aos
monges, da qual possuímos apenas algumas páginas, porém, suficientes para nos revelarem o
temperamento de Atanásio: está consciente de falar com homens que não entendem metáforas e
por isso com ele pão é pão e pedra é pedra; rebaixa o imperador chamando-o por apelidos
irreverentes e caçoa dos adversários, mas fala com calor e entusiasmo das verdades que os
impulsionam para arrancar os fiéis das garras dos falsos pastores.

Durante as numerosas e involuntárias peregrinações esteve também no Ocidente, em Roma e em


Tréveros, onde fez conhecer a vida monacal do Egito, como estado de vida organizado de modo
todo original no deserto, apresentando o monge ideal, na sugestiva figura de anacoreta, santo
Antão, cuja célebre vida escrita por ele, pode ser considerada manifesto da vida monástica.
Extraído do livro:
Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.

https://www.paulus.com.br/portal/santo/santo-atanasio-bispo-e-doutor-da-igreja#.Xaoq_5JKjIU

Alexandria é a terra que deu à igreja este grande doutor e defensor da doutrina católica. Atanásio nasceu em
296. Dotado de inteligência raríssima, fez Atanásio rápidos progressos nas ciências divinas e profanas. À
medida que os conhecimentos se alargavam, mais se lhe solidificavam as virtudes e a piedade. O desejo de
vida perfeita levou-o à solidão de Santo Antão, na companhia do qual passou dois anos, até que o seu antigo
mestre Santo Alexandre, que havia sido elevado à dignidade de Patriarca, chamou-o para perto de si, a fim
de se lhe aproveitar do talento, na luta contra os hereges.

Quando se realizou o concílio de Nicéia, Atanásio, sendo apenas Diácono, acompanhou o Prelado para
aquela eminente demonstração de fé Católica. Os erros arianos foram por ele refutados com tanto brilho e
clareza, que causou admiração de todos os assistentes. Seu discurso foi um triunfo para a causa católica,
conquistou-se-lhe também o ódio dos arianos, que lhe declararam implacável guerra, a começar daquele
momento, até o dia de sua morte.

Prevendo o próximo desenlace fatal do Patriarca Alexandre, Atanásio esquivou-se da mais que provável
eleição e fugiu para Alexandria. Santo Alexandre, conhecendo o plano do amigo, declarou-lhe que de nada
adiantava prosseguir na sua humilde trama, pois que não se livraria do cargo de futuro patriarca.

Efetivamente foi eleito Atanásio sucessor de Alexandre e só seis meses depois da eleição, lograram os fiéis
descobrir o esconderijo do novo Pastor. De nada lhe valeram as desculpas inspiradas pela humildade, pois
que o povo conduziu-o como que em triunfo à capital, e Atanásio, se bem que em lágrimas, tomou posse do
cargo.

O governo sapientíssimo, enérgico e resoluto que teve a diocese, é prova patente de sua administração,
elevando-o à sede patriarcal de Alexandria.

Os arianos não viram de bons olhos este estado de coisas e, como se lhes não fosse possível reverter a
eleição de Atanásio, recorreram à vil calúnia, para desta maneira lhe destruir o prestígio junto do Imperador.
Este convocou um concílio na cidade de Tiro para que Atanásio respondesse às acusações levantadas. A
Assembléia compunha-se na maioria de bispos arianos, portanto de inimigos de Atanásio que, ainda assim,
compareceu à audiência.

A primeira acusação foi feita por uma mulher paga pelos inimigos do patriarca, a qual , em plena
assembléia, dirigiu-se erroneamente em acusações para o Secretário Timóteo , pensando ser este Atanásio, já
que não o conhecia pessoalmente. Timóteo, após receber as acusações em rosto disse: “Como eu teria
entrado em tua casa? Teria te feito propostas indignas?” Ela, mediante juramento, corroborou suas palavras.
Diante desta cena, e bem que contrafeita, a assembléia toda declarou a inocência de Atanásio.

Recorreram os inimigos a uma outra astúcia que, segundo lhes parecia, não havia de falhar. Espalharam o
boato de ter Atanásio assassinado um bispo de nome Arsênio, cuja mão direita levava consigo para fazer
obras de feitiçaria, chegando mesmo a apresentar uma caixa com a tal suposta mão, que diziam ser do bispo
assassinado. Atanásio, tendo absoluta certeza de que o tal bispo Arsênio estava vivo, localizou-o e pô-lo a
par do que se tratava, convidando-o a vir até Tiro.

Em uma das sessões que tratava da questão de Arsênio, Atanásio perguntou aos bispos arianos presentes, um
por um, se conheciam Arsênio, quando alguns deles responderam afirmativamente. Era o momento
escolhido por Atanásio para desmascarar e humilhar os seus inimigos. A um sinal, abriu-se a porta da sala e
entrou Arsênio, dando com sua presença, testemunho da inocência de Atanásio.

Mesmo assim, enfurecidos contra o Patriarca, tanto insistiram ao Imperador Constantino, que este
determinou o exílio de Atanásio para Treves. Lá foi recebido pelo Bispo (São Maximiliano) com todas as
honras e, as notícias recebidas por Atanásio de Alexandria, davam conta de que os fiéis cada vez mais
rejeitavam toda e qualquer comunicação com a igreja ariana. Diversos pedidos foram feitos ao Imperador
para a reabilitação do Patriarca, que não foram atendidos, sob a alegação de que não poderia interferir numa
decisão do concílio.

O Imperador Constantino morreu em 12 de Maio de 337. No leito de morte, depois de ter recebido o santo
Batismo, reconheceu a inocência de Atanásio e decretou-lhe a volta para Alexandria. Só em 388 foi
executada esta ordem.

O império foi dividido entre os três filhos de Constantino: Constantino, Constâncio e Constante. O primeiro,
Constantino, a quem coube a parte da Gália, deu liberdade a Atanásio, o qual em triunfo foi recebido na sua
metrópole, Alexandria.

Os arianos, não descansaram, e armaram novas perseguições a Atanásio. Alegando que as decisões de um
concílio só poderiam ser alteradas por outro, com consentimento do Imperador do Oriente, recorreram à
Constâncio e, convocando um novo concílio, fizeram eleição de um novo bispo de Alexandria. . O eleito era
o sacerdote ariano, Gregório.

Diante disso, Atanásio dirigiu-se à Roma e invocou a autoridade do Papa Júlio, o qual pessoalmente presidiu
o concílio de Sárdica, bem como um sínodo convocado pelos imperadores católicos Constantino e
Constante, que reconheceram e confirmaram Atanásio como legítimo Patriarca de Alexandria. Uma carta de
Constante dirigida a Constâncio, em tom ameaçador, fez com que este respeitasse as deliberações dos
concílios católicos e restabelecesse Atanásio no uso dos seus direitos.

Morreu Constante, e desencadeou-se nova tempestade contra Atanásio. Constâncio, cedendo às exigências
dos Arianos, acabou cedendo, tendo sido convocado o concílio de Milão pelos arianos, que novamente
condenou Atanásio e exigiu da Igreja de Alexandria a agremiação à seita ariana. Foram cometidas tantas
atrocidades e crueldades que Atanásio fugiu, e permaneceu exilado por cinco anos numa cisterna seca, ao
abrigo de um amigo, período em que escreveu as obras mais importantes contra a seita ariana. Somente por
ocasião da morte de Constantino, foi-lhe permitido voltar à Diocese por um decreto de Juliano, o Apóstata,
que deu liberdade a todos os bispos católicos exilados. Não tardou , porém, nova perseguição , e Atanásio,
para não cair nas mãos dos inimigos que lhe queriam a morte, procurou salvação na fuga navegando o Santo
para o exílio. Só durante o governo de Joviano foi concedida paz e prosperidade para a fé católica, por um
período de três anos.

O Sucessor de Joviano, Valente, empregou novamente medidas extremas contra os bispos católicos,
mandando-os para o exílio. Atanásio, escondeu-se no túmulo do pai, por um período de quatro meses. Foi
esta a última perseguição sofrida pelo grande Bispo. As autoridades, receando uma revolução em Alexandria
caso não fosse reconduzido, chamaram de volta Atanásio, que dirigiu a diocese até à morte. Em 373 foi o
grande propugnador da Igreja Católica, receber a recompensa na eternidade. São Gregório Nazianzeno, diz:
“Atanásio, foi uma coluna da Igreja e o modelo dos Bispos”. Ortodoxo era aquele que confessava a doutrina
de Atanásio.
A vida toda de Santo Atanásio consumiu-se na luta contra os hereges. Hereges houve sempre, ainda existem
e sempre os haverá. Quem observa bem o movimento das heresias, na história da Igreja, facilmente chega a
descobrir os seguintes característicos, que estigmatizam os hereges e suas obras:

– Vestem-se sempre da capa da virtude e santidade para enganar os incautos. São Bernardo caracteriza os
maniqueus do seu tempo com as seguintes palavras: “Tem costumes ilibados: não oprimem a ninguém; a
ninguém fazem mal; o rosto denuncia-lhes mortificação e jejum; não são ociosos e ganham honestamente a
subsistência”.

– São inimigos da autoridade da Igreja e tudo fazem para subminá-la. Dizem ser a Igreja retrógrada, inimiga
da ciência, do Progresso, obscurantista. Segundo eles, o Papa, é ‘conservador’, ultrapassado, e não adapta a
Igreja à nova realidade do mundo”.

– “A seu bel prazer interpretam as palavras da Sagrada Escritura – diz Santo Ambrósio – para, sob a capa de
santas citações com mais facilidade poderem inocular o veneno dos erros”. Também o demônio sabe citar
lugares bíblicos.

2. Para justificar sua conduta, proferem mil acusações e queixas contra a Igreja Católica: dizendo que é
ambiciosa, despótica, os bispos são amigos do luxo, ninguém há mais orgulhoso que os Cardeais; hipócritas
são os sacerdotes e os religiosos. Não há heresia que não toque nesta tecla batidíssima.

Referencias bibliográficas:
*Na Luz Perpétua – pelo Padre João Batista Lehmann, V Ed. – I Vol. – Editora Lar Católico, 1959.

https://www.veritatis.com.br/biografia-de-santo-atanasio-de-alexandria/

I. Vida
Nasceu em 295, na cidade da Alexandria, de pais provavelmente não cristãos e de língua grega,

entretanto de sua infância pouco se sabe. Consta que


ele tenha recebido uma sólida educação de base, iniciando-se inclusive na filosofia. Estima-se que
se tenha convertido relativamente jovem, pois sabe-se que aos 17 anos foi escolhido pelo bispo
Alexandre para ocupar o cargo de leitor. Em 318, com 23 anos é ordenado diácono e se torna
secretário episcopal.

Conta-nos São Gregório de Nazianzo que ele desde sua conversão se aplicou a sérias e profundas
meditações sobre as Sagradas Escrituras, que, a partir de então foram sua principal fonte de saber.

Neste período, a magna cidade de Alexandria era açoitada, sendo um foco incandescente da
heresia ariana[2]. No entanto desde o início Santo Atanásio apoiou incondicionalmente a seu bispo,
unindo-se a este que foi o primeiro adversário de Ario, condenando-o num sínodo (320).

Devido a expansão desta heresia, Constantino, temendo uma rachadura eminente de seu império,
convocou o Concílio de Nicéia (325), para solucionar tais desavenças. Lá foi então, acompanhando
seu bispo o diácono-secretário Atanásio. Pelas vias da Providência, vemos então que entra em
sena neste concílio, em meio ao bispos que tinham a primazia da palavra, um simples diácono que
começa a ser temido pelos adversários de fé. Diz-nos São Gregório de Nazianzo sobre a
participação da Atanásio: “Em Nicéia, os arianos observam o valoroso campeão da Verdade: de
estatura baixa, quase frágil, mas de postura firme e de cabeça levantada. Quando se levanta, como
que se sente passar uma onde de ódio através dele. A maioria da assembléia olha com orgulho
para aquele que é o intérprete do seu pensamento”.[3] No final, foi aprovada uma fórmula de fé,
que passou a se chamar “Credo de Nicéia”. Ario foi exilado…

Aos 17 de abril de 328, estando prestes de entregar sua alma a Deus, o bispo Alexandre levando
em consideração as virtudes de seu secretário, indica-o para lhe suceder.

Claro está que tal escolha não agradou aos hereges (arianos e melecianos), que tentaram de todos
os modos contestar. No entanto o sufrágio do clero e do povo ratificou, sendo 2 meses e meio mais
tarde (7 de junho de 328) indicado para assumir a sede do patriarcado de Alexandria, tendo o
reconhecimento do imperador Constantino.

Vem então um período muito conturbado: os 46 anos de episcopado de Atanásio (328-373), época
em que nosso Santo pôde mostrar todo o seu zelo pela fé, em que ele só lutou contra Ario e seus
correligionários, contra os melecianos cismáticos, contra o próprio imperador Constantino, e por
vezes, contra certos defensores tortos e intransigentes do Símbolo de Nicéia. Todos os que dele
tentaram se livrar fracassam… diante de sua firmeza e intransigência.

Consta que este defensor da fé tenha sido exilado cinco vezes. Dos quarenta e cinco anos que
durou seu ministério episcopal, na sede de Alexandria, Santo Atanásio esteve dezessete anos no
exílio, devido à flutuação política e aos incessantes ataques dos hereges, aos quais a resistência
dele irritava…:

A primeira foi-lhe imputada pelo imperador Constantino, que o exilou a cidade de Tréviris, após ter
ficado desgostoso pelo fato dele ter se recusado a receber Ario na comunhão da Igreja.

Tendo falecido o imperador (337) Santo Atanásio volta para reocupar sua sede episcopal, mas eis
que em 339 um sínodo em Antioquia, por instigação do Bispo Eusébio de Nicomédia, o depõe
novamente. Sendo assim restou-lhe apenas procurar refúgio junto ao Papa Júlio I, em Roma.

Morto o Bispo intruso Gregório (343), há uma nova volta de Atanásio, com a autorização do
Imperador Constâncio. Porém um outro sínodo em Milão o declara uma vez mais deposto
ocasionando seu recesso para junto dos monges do deserto egípcio, dos quais era familiar.

Seu quarto exílio se dá pois o imperador Juliano julgando prejudicar à Igreja reintroniza bispos
depostos (que ele julgava serem maus). Mas tendo voltado à sua sede Santo Atanásio continua a
lutar pela união dos cristãos, o que desagrada ao imperador que por sua vez queria vê-los em
cizânia… e expulsa Atanásio “como perturbador da paz e inimigo dos deuses.”

Por fim… Santo Atanásio retorna a Alexandria, tendo Juliano falecido (363), Entretanto, sob o novo
imperador Valente, teve novamente de deixar sua sede, retirando-se para uma casa de campo nas
cercanias de Alexandria, permanecendo apenas quarto meses, pois o povo fiel, descontente com
a atitude do soberano, ameaça um motim. O que o fez permitir a volta do verdadeiro bispo de
Alexandria. Santo Atanásio lá permanece, enfim até sua santa morte em 373.

II. Escritos

Apesar de levar uma vida de “peregrino” de exílio em exílio, as vicissitudes ininterruptas não lhe
impediram de ser um profícuo escritor.Sua produção literária é ampla, abrange gêneros
apologéticos, históricos, exegéticos, homiléticos e epistolares.

A maioria de suas obras está relacionada com a defesa do Credo de Nicéia, ou seja da
consubstancialidade, ou seja da divindade do Verbo.

Santo Atanásio era um polemista hábil, por isso sabia servir-se de sua pena para defender seu
rebanho, como a si-mesmo, tendo sido ele perseguido e atacado de todos os modos, valeu-se de
seus escritos, tendo sempre a segurança que defendia a fá, numa unidade ímpar com a doutrina
ortodoxa.

Sua primeira obra é uma apologia Contra os pagãos e sobre a encarnação do Verbo. Nela se
delineia as grandes linhas de sua Cristologia: “O Verbo de Deus que se fez homem para que nós
sejamos Deus.”
Sua grande obra é um tratado de três livros contra os arianos, no qual discute longamente textos
bíblicos nos quais Ario pretendia fundamentar sua heresia. O primeiro defende a definição do
Concílio de Nicéia, a eternidade do Filho de Deus e a unidade da essência divina. O segundo e o
terceiro fazem uma exegese dos textos bíblicos que eram debatidos nas controvérsias contra os
arianos, e consideram passagens referentes às relações do Filho com o Pai.

O Símbolo Atanasiano que é um compêndio de fé católica redigido em quarenta sentenças rítmicas.


Esta obra fora atribuída a ele a partir do século VII, ou seja tardiamente, entretanto era considerada
autêntica até o século XVII, quando se averigüou que o texto original é latino e não grego. Neste
livro o autor propõe os mistérios da Santíssima Trindade e da Encarnação do Verbo, começando e
terminando pela afirmação: “Esta é a fé Católica e quem não a professa com firmeza e fidelidade
não pode ser salvo.”

Apologia contra os Arianos que foi redigida aproximadamente em 357, quando Santo Atanásio
voltou de seu segundo exílio. Trata-se de cartas, atas e decisões de Concílios Regionais. Sendo
que uma facção ariana desprezava o Concílio de Nicéia e ao Papa, Santo Atanásio transcreve uma
passagem de um Papa:

“Não sabeis que a praxe manda que primeiramente se escreva a nós e que daqui proceda a justa
decisão? Se alguma suspeita estivesse pesando sobre o Bispo de Alexandria, era preciso escrever
a respeito à Igreja de Roma. Ora os arianos, sem ter comunicado coisa alguma, procederam como
lhes agradava e agora querem que lhes demos nossa aprovação, sem mesmo ter examinado a
causa. Tais não são os preceitos que Pedro e Paulo nos entregaram. Ocorre agora um modo de
agir e uma prática totalmente novos. Rogo-vos, pois: estai dispostos a atender-me: o que escrevo
é para o bem comum, pois o que vos dizemos é precisamente o que recebemos do bem-
aventurado apóstolo Pedro.”

Apologia ao Imperador Constâncio, tendo ele sido acusado de instigar o imperador Constante
contra seu irmão Constâncio, escreveu esta obra que é uma auto-defesa (357).

No mesmo ano, tendo ele sido novamente acusado, mas desta vez por abandonar sua diocese,
escreveu a Apologia da sua fuga para responder aos que o acusavam.

Estando refugiado junto aos monges da Tebaida, escreve a História dos Arianos.

Há ainda muitas outras obras escritas pelo Santo, tais como:

– Vida de Santo Antão.

- Sobre a Virgindade (autoria um tanto incerta…).

– Epístola a Marcelino sobre a interpretação dos Salmos.

– As Cadeias (catanæ).

– Diversas cartas as quais infelizmente muitas estão perdidas. Porém sabe-se que são escritos de
caráter doutrinário, quase como que tratados, onde Santo Atanásio comunica as decisões dos
Concílios, normas da Igreja sem entretanto (e aí vemos particularmente sua santidade, sua
preocupação com a obra de Deus e seu desapego a si-mesmo) tratar de assuntos pessoais ou
particulares. Destacanm-se:

– As Cartas festivas.

– Cartas Festivas Sinodais.


– Cartas dogmático-polêmicas.

-Epístola ao Bispo Epicteto de Corinto.

-Carta a Adélfio, Bispo e confessor.

Enfim vemos que a vida de Santo Atanásio foi uma constante defesa da expressão da fé definida
no Concílio de Nicéia. Ele pertencia aos grandes doutores Capadócios, herdeiros da tradição de
Orígenes, elaborando uma teologia da Trindade, particularmente determinando o sentido de
algumas fórmulas (pessoa ou hipóstase, substância; uma substância em três hipóstases).

Bibliografia

-ATANÁSIO, Santo. Contra os pagãos, A encarnação do Verbo, Apologia ao imperador Constâncio,


Apologia de sua fuga, Vida e conduta de Santo Antão. Coleção Patrística. São Paulo, Paulus: 2002.

-BETTENCOURT, Estêvão Tavares Pe. Curso de patrologia. Rio de Janeiro, Mater Ecclesiæ, 2003

-Dicionário patrístico e de atigüidades cristãs. Trad. Cristina de Andrade. Org. Angelo Di Berardino.
Petrópolis, Vozes: 2002.

-VV.AA. Initiation théologique vol. I – les sources de la théologie. Paris, Cerf: 1952.

[1] O termo Doutor da Igreja, muitas vazes se associa ao de Padre da Igreja, sendo que não é
simplesmente um sinônimo. Indica um grau a mais, pois nem todos os Padres são Doutores.

[2] Esta heresia afirmava que o Filho (Nosso Senhor) não existia antes de ter sido gerado, negando
assim a co-eternidade Dele com o Pai, que o Filho é a primeira das criaturas, que é uma espécie
de “segundo deus” (déutero theós), mas que ele permanece alheio à essência divina do Pai. Eles
separavam assim o Filho do Pai.

[3] Elogio de Atanásio. PG. 25, col. 1081.

https://www.arautos.org/secoes/artigos/doutrina/santos/santo-atanasio-o-grande-143680

cont.

Uma das maiores heresias da História


Santo Atanásio viveu no tempo do Imperador Constantino e de seus sucessores imediatos.
Quer dizer, quando a Igreja estava saindo das catacumbas e se organizando à
luz do dia. Nessa época, ao mesmo tempo em que
as perseguições promovidas pelos pagãos estavam em declínio, a Esposa de Cristo sofria um outro
flagelo, certamente pior do que a perseguição dos pagãos, e que nós conhecemos muito bem: as
heresias e as divisões internas.

Uma das maiores heresias de toda a História grassou exatamente no tempo de Santo
Atanásio e Constantino, a dos arianos. Estes afirmavam que Nosso Senhor Jesus Cristo tinha uma
natureza apenas humana; não era Deus, era um grande homem, um homem extraordinário. E essa
heresia, como percebem, importava na negação completa da Religião Católica. Reduzir Nosso
Senhor Jesus Cristo a um puro homem é negar a Doutrina da Igreja por inteiro.

Os arianos eram muito poderosos, espalharam-se rapidamente por todo o Império Romano
— que se localizava mais ou menos em torno da bacia do Mediterrâneo — e, por serem exímios em
toda espécie de difamação, obtiveram influência na corte imperial; arrastaram atrás de si tal
número de fiéis, mesmo sacerdotes e bispos, que Santo Atanásio declarou que um belo dia o
mundo inteiro gemeu porque, ao amanhecer, deu-se conta de que era ariano. Quer dizer, de um
momento para outro essa heresia grassou por toda parte e, como que, todo o mundo se tinha
tornado ariano.

Nesta luta contra o arianismo, o gigante foi Santo Atanásio, Patriarca — quer dizer, mais
do que um arcebispo — de Alexandria, que era uma das grandes sedes episcopais da antiguidade.

Seis anos no fundo de um poço


Santo Atanásio foi obrigado a fugir da cidade de Alexandria, por causa das conspirações dos
arianos, os quais conseguiram vários decretos imperiais expulsando-o para esta ou aquela parte
do Império Romano, e muitas vezes sendo perseguido de morte; e, ao longo dessas perseguições
e dessa luta tremenda que ele travou, alguns fatos não são tão conhecidos.

Conhece-se a história da querela dele com os arianos no terreno doutrinário, mas sabe-se
menos a respeito dos episódios policialescos de sua luta com os arianos. Parece-me, entretanto,
que na vida de um santo, mesmo alguns fatos menores têm muito de edificante, e que valeria a
pena referir aqui alguns desses episódios.

Para terem ideia do quanto importava, muitas vezes, resistência a favor da ortodoxia
contra a heresia, basta dizer o seguinte: Santo Atanásio, num lance de sua luta, para fugir aos
hereges passou seis anos no fundo de um poço! Não sei se os aqui presentes se dão bem contado
que significa isso: sem ver sequer a luz do dia! Havia apenas um católico fiel o qual, na hora em
que o poço estava abandonado, lhe jogava o necessário para viver.
O poço, ao menos água lhe fornecia… E ele ficava ali lendo, refletindo, rezando, de maneira que
Deus, no mais alto dos Céus, recebeu durante seis anos o louvor perfeito que um santo lhe enviava
do fundo de um poço.

Sempre confiando na Providência, disposto a lutar, inquebrantável no seu propósito, de


maneira que, ao cabo de seis anos, a perseguição se amainou e o amigo dele lhe avisou do alto
do poço. Ele, então, saiu e continuou sua luta contra o arianismo.

Numa outra ocasião — a provação foi menor, mas não deixou de ser também impressionante
— ele teve que fugir pelos desertos do Egito, e não encontrou lugar para se refugiar a não ser a
sepultura do próprio pai. E passou ali dentro durante quatro meses! Lúgubre é, não para a alma
de um grande santo, mas, em todo caso, para a sensibilidade humana. De lá ele saiu e conseguiu
retomar a luta contra o arianismo. E fazia isso por meio de sermões extraordinários, que eram
anotados, e as cópias transmitidas de católico para católico, por toda a extensão do Império
Romano.

Um conciliábulo de arianos
Certa vez, Santo Atanásio foi intimado a comparecer a um grande concílio de bispos
arianos. Ele declarou que não iria porque eram bispos hereges, não os reconhecia como
verdadeiros católicos e não tinha comunhão com aquela gente. Mas o santo recebeu do Imperador
Constantino um decreto, obrigando-o comparecer para discutir com os hereges. Aí mudava a
situação. Não era mais aceitar o concílio como uma assembleia legítima, da qual ele participaria,
mas ir lutar contra o pseudo-concílio, aliás, um conciliábulo de hereges.

Ele, então, foi; estavam presentes cento e tantos bispos, o que para aquele tempo era
muita coisa, e com os hábitos de seriedade e solenidade daquela época. Acompanhado de um
sacerdote que lhe era fiel, Santo Atanásio entra na assembleia, onde todos os bispos
paramentados o recebem. Não lhe destinam lugar para sentar-se; ele fica em pé e percebe logo
que os arianos não queriam discutir doutrina — porque os hereges não gostam de discutir doutrina,
eles vão fazendo afirmações e depois caluniam.

Santo Atanásio percebeu que se tratava de uma acusação; ele ia ser julgado, numa
atmosfera de calúnia e de ódio tal que nem se constituía um tribunal regular, o qual ele recusaria.
Foi um puro vozeiro contra ele. E a primeira investida foi essa: uma mulher de má vida levantou-
se e disse que ela estava rica devido ao dinheiro que Santo Atanásio lhe dava; tinha presenciado,
durante os períodos em que ele passava em lugares que não se sabia onde, tais e tais abominações;
e que podia dar provas disso porque ela era testemunha.

Então, à medida que ela falava, os bispos arianos bramiam que ele precisava ser deposto,
condenado etc. — porque não há como um herege para se fingir de zelador
dos bons costumes, quando se trata de perseguir
um verdadeiro católico. Santo Atanásio, com uma inteligência extraordinária, sutil, não disse
nada. Conservou-se sereno e deixou o pessoal vociferar. Apenas ele soltou um cochicho no ouvido
do padre que o acompanhava. Quando o sacerdote pôde cortar a palavra da meretriz, ele lhe
disse, fingindo que era Santo Atanásio: “Então, você afirma realmente que me conheceu, que me
viu etc.?”
A tonta pensou que aquele fosse Santo Atanásio, o qual ela nunca tinha visto. Então, declarou:
“Afirmo.” “Jura?” “Juro.” Notem com que superior inteligência ele decidiu a situação!

Deu-se, então, na assembleia o que ocorreu aqui com os presentes: os próprios hereges
estalaram na gargalhada. Porque a farsa ficou de tal maneira evidente, que não era mais possível
continuar. E houve um movimento para dissolver todo mundo, porque a coisa tinha terminado em
chanchada.

Acusado de ter decepado a mão de um bispo


Aí, alguns mais fanáticos dentre os arianos começaram a exclamar: “Tem mais essa
acusação, que é gravíssima!” É tal a má-fé dessa gente que voltaram para ouvir a segunda
acusação. Depois de se ver que a primeira era uma chanchada, do que valeria a autoridade desses
mesmos homens para levantarem outra acusação?

E Santo Atanásio foi mais uma vez extraordinariamente servido pela Providência. Levantou-
se um bispo herético, tirou de uma caixa uma mão ressequida de um morto, e disse: “Aqui está a
mão de tal bispo meleciano — havia uma heresia colateral, meio metida com a dos arianos,
chamada dos melecianos2 —, morto por Atanásio em tal ocasião. E isso foi um crime nefando.
Para provar que ele realmente foi morto, aqui está a mão desse venerável homem de Deus, que
se afundou no deserto — era o mesmo deserto onde estava Santo Atanásio. Quem é que poderia
ter cometido esse assassinato senão Atanásio?”
Santo Atanásio ouviu isso também com toda a serenidade possível.

Entre os assistentes — é uma coisa que só se explica por intervenção divina — havia um
homem de cabeça baixa e recoberto com aqueles panos do Oriente. Santo Atanásio foi até ele e
perguntou aos arianos: “O bispo tal morreu? Vocês têm certeza?” “Temos.” O santo puxou o pano
e disse: “Olhem, aqui está ele.” Era o próprio bispo meleciano… Então, Santo Atanásio,
gracejando, disse o seguinte:

“Deus não deu a cada um de nós mais do que duas mãos; levante uma mão!” Ele levantou.
“Agora levante a outra.” Ele o fez e o santo concluiu: “Bem, compete a vocês explicar em que
parte do corpo dele se encaixava outra mão.” Cumprimentos… e o caso estava liquidado.

Os arianos desarmaram? Não. Começaram a gritar atrás de Santo Atanásio: “Mágico,


praticou crime de magia! Não se pode explicar, a não ser por magia, que esse homem estivesse
aqui presente nesta hora!” Essa é a psicologia do herege. Diante das provas mais capazes de cegar,
mais deslumbrantes de que estão com má-fé, eles não desanimam; encontram outra calúnia e
mais outra, e vão sempre para a frente. Mas a coisa ficou tão desmoralizada que acabou.

Sagacidade de Santo Atanásio


Santo Atanásio, como verdadeiro santo, tinha horror à mentira. Evidentemente, não mentia
nunca, nem em matéria leve. Certa vez, ele estava andando pelo deserto e, em determinado
momento, apareceram tropas imperiais à procura dele, e alguém lhe perguntou: “Sabes onde está
Atanásio?” Não o reconheceram. Diz o santo: “Sei sim, ele não está longe daqui.” Os militares
foram à sua procura, e ele desviou…

Da parte de um Doutor da Igreja, exímio teólogo com profundidade de espírito, herói de


grande sisudez, esses traços enriquecem a fisionomia dele, mostrando a pluralidade e a riqueza
de aspectos que tem a alma de um verdadeiro santo. Sobretudo, destroçando um pouco a ideia
sentimental que certas imagens projetam sobre o fiel a respeito do santo. Não me refiro às
imagens monstruosas da “arte” moderna, mas a certas imagens que apresentam o santo com uma
carinha muito bem-feitinha, sem barba, com um sorrisinho de quem não compreendeu nada.

Não é isso de nenhum modo um Doutor da Igreja, sobretudo um Santo Atanásio, um dos
maiores santos de toda a História, e ele sozinho um lutador contra a heresia, como talvez a Igreja
não tenha tido nem antes nem depois dele.

Horrível morte de Ario


Para conhecerem os lados dramáticos da vida dele, menciono apenas um episódio, e com
isso encerro este comentário sobre Santo Atanásio.

Constantino, o Grande, que libertou a Igreja, foi enredado pelas intrigas dos arianos. Aliás,
a vida pos-conversão de Constantino é um tanto discutida. Em certo momento, ele tomou partido
decidido por Ario, chamou Santo Atanásio e o expulsou para a Gália. O santo lhe disse: “Vós me
proibis de voltar para meu trono patriarcal e apoiais os hereges. Prestareis em breve contas a
Deus por isso!”

E dirigiu-se para a Gália, onde foi recebido, aliás, com todas as atenções e toda a cortesia
por Constâncio, filho de Constantino, o Grande. E ali esteve durante algum tempo. Depois foi para
Roma, e justificou-se perante o Papa, que lhe deu toda a razão. E aproveitou a ocasião — assim
são os santos: eles são expulsos de um lado e aproveitam para fazer maravilhas de outro; ninguém
consegue tolher sua capacidade de ação — para fundar o estado monástico em Roma, diz seu
biógrafo.

Posteriormente, chegou a notícia de que Constantino tinha morrido, e ao mesmo tempo a


informação de que também Ario falecera. Este havia sido colocado por Constantino no trono
patriarcal, onde ele era um arcebispo usurpador, não o patriarca legítimo. No ato de sua posse,
Ario organizou a procissão com aquela solenidade que se fazia antigamente para a posse de um
bispo; e quando a procissão transcorria, ele, em determinado momento, estando perto de
instalações sanitárias públicas, sentiu-se mal. Então desceu do animal em

que montava e entrou numa dessas instalações, e


ali morreu do modo mais horrível que possa haver: parece que o abdome dele se rompeu e suas
vísceras se derramaram no chão. Assim, em pouco tempo, morreram Constantino e também Ario;
e Santo Atanásio ficou senhor da diocese.

Acolhido triunfalmente em Alexandria


Mas pouco tempo depois recomeçaram as perseguições; ele levou sua vida, quase até o
fim, de perseguição em perseguição.

O povo de Alexandria gostava muito dele e, em geral, quem o perseguia eram pessoas
corrompidas das classes dirigentes. Numa das ocasiões em que voltou para essa cidade, ele foi
reempossado na Arquidiocese como legítimo pastor. A população preparou-lhe uma grande
recepção, tão afetuosa e extraordinária, que passou como provérbio, em Alexandria e naquelas
partes do Egito, a seguinte expressão, quando se queria dizer que alguém foi muito bem acolhido:
“Foi recebido como Santo Atanásio.” Era o último grau da popularidade, da acolhida respeitosa,
cheia de veneração, filial e, ao mesmo tempo, plena de entusiasmo.

Há um outro aspecto da vida de tantos santos perseguidos. As cúpulas corrompidas


organizam contra eles toda espécie de difamação. Mas o Espírito Santo sopra onde quer e previne
a opinião pública a respeito da realidade das coisas. De maneira que, de um modo ou de outro,
acontece com frequência — não é uma regra absolutamente geral, pois nessa matéria não há
regras absolutamente gerais — que o povo vê claro e faz justiça àquele que os poderosos estão
perseguindo. Plinio Correa de Oliveira, Extraído de conferência de 20/2/1971
1) * 295 – † 373.
2) Sequazes do Melecianismo, heresia que deve seu nome aMelécio de Licópolis († c. 325).
Inicialmente contrários aos arianos, uniram-se a estes para atacar Santo Atanásio.

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