- Intervenção de terceiros: é a permissão legal para que um sujeito alheio à relação jurídica processual originária ingresse em processo já em andamento. As intervenções de terceiro devem ser expressamente previstas em lei, tendo fundamentalmente como propósitos a: Economia processual (evitar a repetição de atos processuais); Harmonização dos julgados (evitar decisões contraditórias). - As intervenções se subdividem em: Intervenções Típicas: Assistência; Denunciação da lide; Chamamento ao processo; Incidente de desconsideração da personalidade jurídica; Amicus curiae. Intervenções atípicas: previsões legais esparsas que permitem a intervenção de um terceiro em processo já em andamento e que não são tipificáveis em nenhuma dessas cinco modalidades. Não é unânime na doutrina quais efetivamente sejam atípicas.
1.1. PROCESSO/FASE DE CONHECIMENTO
- Ainda que as intervenções típicas tenham sido projetadas fundamentalmente para o processo/fase de conhecimento, com aplicação somente subsidiária aos processos/fases de execução e cautelar, existem algumas espécies de intervenção de terceiros no processo de conhecimento que não podem ser consideradas como típicas. 1.1.1. INTERVENÇÕES DA LEI 9.469/97 - O art. 5º, caput, da Lei 9.469/1997: prevê a possibilidade de intervenção da União nas causas em que figurarem como autoras ou rés, autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e empresas públicas federais. - Parágrafo único: prevê a possibilidade de intervenção de pessoas de direito público (administração direta e indireta, federais, estaduais, municipais e distritais) em demandas já em trâmite com fundamento no eventual prejuízo indireto, mesmo que de natureza meramente econômica. Uma espécie anômala de intervenção, com fundamento em interesse econômico. - A norma legal não deixa claro qual a qualidade jurídica assumida pela pessoa de direito público, parecendo não ser correta a interpretação de que funcione como amicus curiae, como consta na Exposição de Motivos da lei. É comum a referência a essa espécie de intervenção como “assistência anômala”. O STJ já decidiu como sendo assistência simples.
1.1.2. AÇÃO DE ALIMENTOS
- O art. 1.694 do CC, segundo a doutrina tradicional, é hipótese de litisconsórcio facultativo, considerando-se que sua formação dependerá da vontade do autor. São duas as exigências legais: não ter sido formado o litisconsórcio facultativo passivo de forma inicial; não ter o réu (parente que deve alimentos em primeiro lugar) condições de arcar total ou parcialmente com o encargo alimentar. Nessa hipótese, segundo o dispositivo legal, será possível chamar a integrar a lide os demais obrigados a prestar alimentos, que responderão na proporção de seus respectivos recursos.
- Diferenças com a denunciação da lide:
As seguintes características da denunciação da lide não se apresentam nessa espécie de intervenção: entre o denunciado e a parte contrária não existe qualquer relação jurídica de direito material; no plano material, as partes da relação jurídica principal têm uma relação entre elas, e outra relação têm o denunciante e o denunciado; existência de um direito regressivo entre a parte e o terceiro que vem participar do processo em virtude da denunciação. - Não existe entre os parentes, cônjuges e companheiros qualquer direito de garantia no tocante à obrigação alimentar. O caráter dos alimentos pagos é irrepetível, o qual, aplicado para o beneficiado dos alimentos, também atinge os codevedores. Significa dizer que uma vez pagos os alimentos por obrigado que não era o que “deve alimentos em primeiro lugar”; ele jamais poderá cobrar daquele que deveria ter pago, mas não o fez (não cabe direito regressivo).
- Diferenças com o chamamento ao processo:
A obrigação alimentar não é solidária, não sendo possível exigir-se o pagamento da integralidade da dívida dessa natureza de um dos devedores, à escolha do credor. Segundo o STJ, a obrigação de os avós alimentarem os netos é espécie de responsabilidade subsidiária e complementar à responsabilidade dos pais, por isso só é exigível em caso de impossibilidade de cumprimento da prestação ou de cumprimento insuficiente pelos genitores. Cada devedor responderá dentro dos limites da sua possibilidade, o que naturalmente fará com que possam no caso concreto existir obrigações desiguais. Afasta-se assim a obrigação alimentar do rol das obrigações solidárias (inc. III, art. 130, CPC). A obrigação alimentar é divisível, porque cada devedor se exime de sua obrigação nos limites de suas possibilidades, ainda que a totalidade da obrigação ainda não tenha sido satisfeita. Admite-se que o autor chame os demais devedores ao processo, até mesmo porque tal convocação não é de interesse do réu, que responderá nos limites de suas possibilidades e não se preocupará se o autor não está totalmente satisfeito. Divergindo do chamamento ao processo que só pode ser feito pelo réu. O autor não é ouvido no chamamento ao processo, não podendo se opor a essa espécie de intervenção de terceiro. O mesmo não se poderá dizer da intervenção prevista especificamente para a demanda de alimentos, porque, sendo intervenção de iniciativa do réu, dependerá necessariamente de anuência do autor, porque este não pode ser obrigado a litigar contra quem não deseja. - Resta-se claro que se trata de uma intervenção de terceiros atípica. O STJ, entretanto, já teve a oportunidade de chamar tal forma de intervenção de chamamento ao processo.
1.2. PROCESSO/FASE DE EXECUÇÃO
- Nesta fase processual são admitidos: Assistência; Incidente de desconsideração da personalidade jurídica; Amicus curiae; Intervenções atípicas. - Sempre que um terceiro ingressa na demanda executiva durante a fase de expropriação do bem com a intenção de adquiri-lo, estar-se-á diante de uma espécie atípica de intervenção de terceiros. Imagina-se essa situação na: adjudicação por todos os legitimados que não o exequente (art. 876, § 5°, do CPC); alienação do bem realizada pelo próprio exequente, por corretor especializado ou por leiloeiro (art. 880 do CPC); alienação judicial por meio de arrematação, naturalmente por sujeito que não seja o exequente. - Haverá também intervenção anômala sempre que outros credores ingressem na demanda executiva para discutir o direito de preferência. Cada qual participará do incidente processual que se formará (concurso de credores) defendendo interesse próprio à satisfação de seu crédito em primeiro lugar.
1.3. AÇÃO PROBATÓRIA AUTÔNOMA
- No processo cautelar são inadmissíveis as intervenções de terceiros típicas. Exceção: assistência. A melhor doutrina criou uma espécie assistência provocada, na qual o requerente da produção antecipada de provas simplesmente pedirá a citação do terceiro para fazer parte desse processo. Apesar de seu tratamento procedimental de assistente, sua intervenção coercitiva (independentemente de sua vontade) afasta essa espécie de intervenção da assistência clássica. Segundo a melhor doutrina, uma vez integrado ao processo, mesmo que se mantenha omisso, a prova será plenamente eficaz contra esse sujeito. Amplia-se, assim, subjetivamente a eficácia da prova produzida antecipadamente - Existem julgados na vigência do diploma processual revogado nesse sentido. - O Novo Código de Processo Civil retirou a ação antecipada para a produção da prova do capítulo referente à tutela cautelar. Mesmo não sendo mais uma ação cautelar, continua inaplicável em demanda que visa exclusivamente à produção da prova a: denunciação da lide; chamamento ao processo.