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A COMPLEXIDADE DO ESTUDO DA ERGOLOGIA APLICADA À GESTÃO

EMPRESARIAL

Luiz Guilherme de Lima e Souza

Ergologia é um campo de estudo que está sendo continuamente construído e, cada


vez mais, se faz relevante diante das problemáticas vivenciadas em relação ao
trabalho na sociedade atual. Descrito como um método de investigação
pluridisciplinar, a ergologia convoca saberes da filosofia, antropologia, psicologia,
medicina, economia e sociologia (entre muitas outras) afirmando que todas as
disciplinas são necessárias e, ao mesmo tempo, nenhuma é suficiente (TRINQUET,
2010). Assim, a ergologia nasce da riqueza e diversidade epistemológica construída
pela humanidade e se sustenta nas vicissitudes das articulações de todas e
quaisquer disciplinas que contribuam para compreender a relação entre o ser
humano e seu trabalho. Conceitos como corpo-si, debate de normas, desconforto
intelectual, atividade e trabalho ganham uma dimensão ampla e profunda na
abordagem ergológica e isso se dá pois a natureza do que está sendo investigado é,
de fato, enigmática.

Às vezes parece que quanto mais se estuda este campo, menos se o compreende,
pois maior é a capilaridade percebida. Ainda sim, deve se buscar cada vez mais
dominar o tema para poder disseminá-lo e articulá-lo com outras áreas, uma vez que
muito se agrega à discussão. Pelo fato da ergologia se construir através do diálogo
pluridisciplinar, o movimento de buscar novas interfaces se faz essencial, assim
como revisar interfaces anteriormente estabelecidas. O objetivo deste texto é
discorrer brevemente sobre a complexidade inerente ao estudo da ergologia através
da discussão dos seus conceitos principais, articulando-os com aspectos da gestão
com pessoas nas empresas.

Compreender o trabalho através dos diversos aspectos evidenciados pela ergologia


não é uma tarefa simples, pelo contrário, as vezes é necessário complicar. Enxergar
o labor somente pelo viés da administração, por exemplo, é confortável pois cada
coisa já está em seu lugar e elas funcionam relativamente bem, então para quê
complicar? No entanto, a ótica que leva a pensar isso esconde uma diversidade de
fatores importantes e não promove mudanças necessárias. Costuma, inclusive,
respaldar formas de gestão pouco humanas. Por outro lado, pensar o trabalho
estritamente pela via filosófica, pode reconhecer a devida profundidade do assunto
mas, para ganhar efetividade prática, é necessário aliar-se a outras disciplinas que
abordem o mesmo, de forma mais aplicada e contextualizada. Assim, a ergologia vai
construindo um corpo teórico abrangente porém complexo, corpo este que é
necessário para enxergar as sutilezas do seu objeto de estudo, a atividade de
trabalho (TRINQUET, 2010). Porém, gerir isso de forma responsável e respeitosa
para com os principais envolvidos, os trabalhadores, muitas vezes se desdobra em
uma missão desafiadora e permeada de armadilhas.

Para Trinquet (2010), é necessário aceitar um certo desconforto intelectual para


atuar com a ergologia, definida como método pelo autor. Este desconforto implica
em assumir que não se sabe tudo quando se lida com seres humanos, uma vez que
não existe uma verdade imutável ou definitiva. Desta forma, jamais se deve estar
completamente seguro ao estudar, analisar e, principalmente, normatizar e
enquadrar as atividades humanas. Deve-se cultivar uma postura de investigação e
flexibilidade, no sentido de legitimar o imprevisto e o oculto. O autor ressalta que a
aceitação do desconforto intelectual não implica em ser passivo ou inativo:

Ao contrário, devemos agir em função de nossa “verdade” do momento, mas


aceitando que esta “verdade” pode evoluir e nos obrigar a evoluir junto com ela.
Razão a mais, quando se objetiva ser eficaz, para unir nossos saberes e
abordagens diferentes e complementares (TRINQUET, 2010, p. 100).

Neste sentido, a gestão com pessoas pode se tornar muito mais dinâmica e
autêntica, respeitando as circunstâncias do momento mas sem deixar de se
desenvolver. Ainda, o desconforto intelectual enfatiza a importância da
pluridisciplinaridade e fortalece minorias de poderes como os empregados, pois
evidencia que todos detém uma sabedoria singular, insubstituível e essencial para
executar o trabalho, seja o trabalhador como sujeito ou como sua categoria
profissional.
Através da compreensão do conceito de desconforto intelectual é possível perceber
que assumir uma postura ergológica como gestor em uma empresa é uma tarefa
árdua. Seu desafio se apresenta na intermediação constante de duas concepções
não muito fáceis de dialogar entre si: a compreensão do trabalhador como produto e
produtor de história se encontra de um lado. De outro, está a necessidade inerente
ao sistema econômico das empresas obterem lucro e resultados, independente do
desgaste ou “custo humano” utilizado. Torna-se fatigante articular essas duas
realidades para o “gestor ergológico” pois a cultura de gestão empresarial na
sociedade atual é de exploração, eufemizada como gestão de recursos humanos.
Essa visão predominante da relação com o funcionário nas empresas vai contra a
compreensão do trabalhador na ergologia que deixa de ser recurso e passa a ser
elemento ativo de produção de saberes.

Este elemento ativo é melhor explicado com a noção de corpo-si. De acordo com
Schwartz (2014), para abarcar a multiplicidade de aspectos inerentes à atividade de
trabalho, foi necessário elaborar uma definição que permitisse transitar por esse
novo ângulo de visão. O corpo-si transgride as fronteiras entre o biológico e o
histórico ao associar o corpo e o organismo humano, que operam as situações de
trabalho, com a história pessoal, social e cultural que o sujeito detentor deste corpo
vivenciou/vivencia e produziu/produz. Assim, ao contrapor essas duas âncoras,
cria-se uma terceira: a do singular, que é a característica dessas articulações
biológicas e históricas que são construídas na experiência de vida de cada um
(SCHWARTZ, 2014). Apesar do organismo humano representar uma espécie inteira,
ele se diferencia de indivíduo para indivíduo tanto a nível biológico como subjetivo e
é justamente nessa diferenciação que reside a definição do corpo-si. Este é um
conceito complexo pois abrange instâncias abstratas e profundas e ainda por cima
perpassa outras categorias que, por sua vez, também são abstratas e profundas,
como a noção ergológica de atividade, que será explicada mais à frente.

Ao trazer o conceito de corpo-si para o metiê corporativo, faz-se evidente a


necessidade de buscar transparência nas relações de trabalho. Neste sentido,
torna-se inviável tentar gerir o funcionário conforme a administração tradicional nos
convida. A partir do momento que se compreende estar lidando com outro corpo-si,
resta uma única alternativa, a de gerir COM o trabalhador e isso se concretiza com
transparência nas atitudes e decisões, uma vez que o funcionário detém uma parte
essencial das soluções das tarefas demandadas nas situações de trabalho. Além de
guardar parte da sabedoria, o corpo-si guarda também relações subjetivas e
enigmáticas que torna inviável adestrar, controlar ou regrar demasiadamente outro
funcionário. Ao fazer isto, o gestor “mata” não só parte do funcionário da sua equipe
como também mata parte da sabedoria produzida naquele ambiente.

Ao interagir com a sua realidade, o corpo-si passa por “debates de normas” pois
precisa lidar com suas condições (normas) pessoais diante das normas externas,
sejam elas explícitas ou implícitas. “Temos de agir num mundo que não criamos,
saturado portanto por inúmeras normas antecedentes de diversos níveis e graus de
proximidade com as exigências do presente” (SCHWARTZ, 2014, p. 264). Por conta
disso, é necessário estar o tempo inteiro renormatizando e ressingularizando o
momento atual, para poder lidar com ele, respeitando (ou não) as normas pessoais,
assim como as normas externas. Nesse contexto, identificamos a concepção
ergológica da atividade: “trabalho de ressingularizações permanentes, encontradas
no coração dessas situações laboriosas, no coração das sociedades modernas,
entre as normas antecedentes e as renormalizações possíveis” (CUNHA, 2013, p.
30). Assim, a definição de “atividade” na ergologia atinge uma condição quase que
etérea pois perpassa e permeia o trabalho ​stricto sensu​. “E, por seus contornos
indistintos, por ela ser transgressora e mediadora entre as dimensões macro/micro,
corpo/espírito, público/privado –, ela não poderia ser objeto de nenhuma disciplina
isoladamente” (CUNHA, 2013).

Em uma dimensão mais externa, a noção do debate de normas convida as


empresas a legitimarem a importância dos saberes tácitos e desapegarem um pouco
das normas formais. Apesar de serem importantes, estas últimas nunca darão conta
completamente da realidade corporativa e, quando utilizadas levianamente, inibem a
potencialidade do funcionário. Na dimensão mais interna, é necessário que os
gestores compreendam e, mais uma vez, legitimem a complexidade do debate de
normas que ocorre com o trabalhador. Esta postura traz uma outra forma de abordar
as situações de trabalho pois respeita as condições subjetivas inerentes ao
trabalhador e as estimula a agregarem às soluções necessárias ao trabalho.

Mesmo com toda essa abrangência e profundidade, Cunha (2013) demonstra que o
conceito de atividade não substitui o conceito de trabalho, na realidade ele enfatiza a
complexidade da atividade humana requerida pela experiência de trabalho. No
entanto, evidencia a impossibilidade de definir claramente o significado de trabalho
na ergologia, colocando-o inclusive como uma unidade enigmática, geradora de
desconforto intelectual e produtora de saberes.

Essas transformações e suas consequências deixam claro que, ao se pensar o


trabalho humano, é todo um conjunto de valores que está num jogo (que não é
estanque) produtor de e produzido por normas, normas que não são leis naturais,
mas passíveis de retrabalho, de renormalizações. Jogo esse que é um vaivém
entre o micro do trabalho e o macro da vida social, um fluxo de valores religiosos,
políticos e sociais que afetam o estatuto social do trabalho (HOLZ; BIANCO, 2014,
p. 161).

Esse movimento de teorizar sem delimitar ou restringir é bastante presente na


ergologia e, apesar de recorrer na dificuldade de compreensão debatida neste texto,
respeita a essência da abordagem ergológica que é a liberdade e autonomia do ser
humano visto como detentor de infinitas possibilidades, um universo dentro de outro
universo. Ao expor essas indelimitações, a margem de atuação do indivíduo
aumenta, pois ele se torna mais “senhor de si” sem se limitar ou diminuir.

No contexto corporativista, é desafiante ganhar credibilidade trazendo noções


abstratas e menos palpáveis. Apesar de estas serem exatamente as características
dos conceitos abordados pela ergologia, cada vez que se estuda mais o ser
humano e sua atividade é evidenciado estas subjetividades inerentes, especialmente
nas situações de trabalho. Neste aspecto, a ergologia é assertiva ao debater
fenômenos fundamentais do cotidiano corporativo. Assim, o gestor é convidado a
assumir uma postura ergológica para abordar as situações de trabalho na totalidade
de suas contingências de forma autêntica. Apesar de não ser tão cômodo como
aplicar um método engessado de administração que ignora uma série de realidades
nos âmbitos macro e micro, a ergologia traz a possibilidade de elaborar princípios de
gestão que respeitem as condições e potencialidades do trabalhador de forma
efetiva.

À primeira vista, a ergologia não dá ferramentas ou métodos muito concretos para


atuar no cenário capitalista. Isso ocorre muito em decorrência da premissa da
abordagem, que é de questionar os enquadramentos e prescrições que muitas
vezes acabam limitando a atividade na prepotência de serem suficientes ou até
mesmo absolutos. Porém, a ergologia fornece insumos valiosos e eficazes para
atuar com o trabalhador por meio desta postura ergológica, que é a de compreender
e respeitar essa profundidade, imprevisibilidade e complexidade da atividade
humana perante o trabalho ​stricto senso​.

A ergologia denuncia uma fissura na compreensão de trabalho e atividade humana,


convidando a tudo e a todos para investigarem essa lacuna na possibilidade de um
dia preenchê-la, não com prescrições ou antecipações, mas com respeito à
diversidade e imprevisibilidade inerentes a tudo que envolve o ser humano. As
produções conceituais ergológicas, apesar de nem sempre serem de fácil
compreensão, são ferramentas relevantes e naturalmente viáveis para a discussão
pluridisciplinar e criação de interfaces com todas as áreas que, de alguma forma,
abordam a atividade humana.

O papel do gestor neste contexto acaba sendo de se infiltrar nas estruturas e


hierarquias empresariais, semeando e plantando princípios ergológicos com o intuito
de tornar mais saudável o ambiente corporativo. Porém, ele ainda precisa equilibrar
os esforços com a exigência por resultados feita pelas organizações. Caso contrário,
o gestor não conseguirá permanecer em seu posto para servir a este propósito mais
nobre e profundo. Apesar das reflexões propostas pela ergologia promoverem um
desenvolvimento humano no trabalhador e, consequentemente, melhoria de
resultados no serviço prestado, nem sempre essa relação se faz visível no primeiro
momento. Assim, cabe ao gestor saber articular e orquestrar essas variáveis com a
maior impecabilidade que lhe for possível.
REFERÊNCIAS

CUNHA, Daisy Moreira. Trabalho, humana atividade. ​Cadernos de Psicologia


Social do Trabalho​, Belo Horizonte, v. 16, n. especial 1, p. 25-35, 2013.

HOLZ, Edvalter Becker; BIANCO, Mônica de Fátima. O Conceito de Trabalho na


Ergologia: da representação à atividade. ​Revista Trabalho & Educação​, Belo
Horizonte, v.23, n.2, p.157-173, mai-ago. 2014.

SCHWARTZ, Yves. Motivações do conceito de corpo-si: corpo-si, atividade,


experiência. ​Revista Letras de Hoje​, Porto Alegre, v. 49, n. 3, p. 259-274, jul.-set.
2014.

TRINQUET, Pierre. Trabalho e educação: o método ergológico. ​Revista HISTEDBR


On-line​, Campinas, número especial, p. 93-113, ago. 2010.

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